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Você pode estar se perguntando como saberá quando seus

modos de playboy estão terminando. Para alguns, pode ser uma


gravidez inesperada (ahem... você sabe quem), para outros, pode
finalmente conseguir a mulher que você sempre quis (tosse... não vou
mencionar nomes). Para mim, foi a morte do meu mentor e a
subsequente leitura do seu testamento.

Os sinais estavam lá, eles sempre estão. Mas não os notei até
que fosse tarde demais e minha morte estava completa.

Sinal de Fim # 1 – Você se vê empurrado para a terra da


responsabilidade e não sai imediatamente da cidade.

Sinal de Fim # 2 – Apesar de estar preso à maior Jekyll & Hyde do


mundo, alguma parte sádica de você gosta de passar um tempo com
ela.

Sinal de Fim # 3 – De repente, sua família deixa de querer


considerar todas as decisões em sua vida.

Sinal de Fim # 4 – De alguma forma, você acaba sendo a voz da


razão em sua tumultuada parceria.

Sinal de Fim # 5 – Você começa a pensar em outras


pessoas antes de si mesmo.

Sinal de Fim # 6 – Você concorda em se colocar no


meio de um reality show do Alasca, onde ambos
dormem na mesma tenda.

Completa extinção.
A morte é uma droga.

É péssimo principalmente para a pessoa que morreu.


Sim, tudo bem, definitivamente é uma droga para a pessoa que
morreu. Ou talvez não. Talvez não exista nada depois que você
morre e é realmente o pior para todos nós que somos
abandonados, lidando com o buraco daquele que perdemos.

Mas você quer saber o que é pior do que assistir ao


funeral de alguém? A leitura de seu testamento. Não que eu já
estive em muitos. Esse é meu primeiro.

E posso lhe dizer, é um desperdício completo de uma


tarde.

Especialmente quando a pessoa mais importante que


deveria estar aqui, não está.

Olho para o pequeno relógio de ouro na parede. Gostaria


de saber se Luther Lloyd, advogado, tem um cronômetro para
que ele possa tirar cada centavo de seus clientes. Pelo menos
isso não está me custando nada. Embora, certamente,
custasse para Chip. O que é péssimo. O homem morreu jovem
demais.

Quando Luther ligou e pediu que eu estivesse presente


para a leitura do testamento, fiquei surpreso. Chip não era o
tipo de homem que eu pensaria que deixaria um testamento.
Ele era mais o tipo de cara que eu pensaria que deixaria um
bilhete dizendo: — Jogue minhas cinzas em Lake Starlight. Eu
vivi uma vida feliz. Eu vou te pegar do outro lado. — Não
alguém que escolheu itens especiais para deixar para alguém
que os classifique como lixo. Não quero o diploma do ensino
médio, a cafeteira ou qualquer coisa dele, se ele não estiver
junto comigo.

— Quanto tempo vamos esperar? — Pergunto.

Luther verifica o relógio, porque é o tipo de homem cuja


vida é ditada por um horário. — Fui claro sobre o nosso horário
de reunião no telefone com ela. Vamos dar mais cinco minutos.

Concordo, batendo meus dedos no meu Vans. Não é a


coisa mais prática para um inverno no Alasca, mas, a menos
que esteja caindo neve fresca, eu as faço funcionar.

— Você tem uma excursão hoje?

Balanço a cabeça.

— E como vão os negócios?

Dou de ombros. Gostaria de dizer ocupado, mas,


infelizmente, não estou. E o fato de eu assistir a empresa de
Chip, Lifetime Adventures, ser tomada pela mulher que
estamos esperando, me faz querer vomitar em sua bolsa Gucci.
Ela vai jogá-la no chão. O que significa que tudo que Chip
desejava para a empresa morreria junto com ele. Seu legado
terminará em falência ou será vendido ao maior lance.

— Sei que isso é difícil para você. Você e Chip eram


próximos.

Dou de ombros novamente. O que Luther quer de mim?


Ele espera que eu peça um lenço de papel enquanto coloco meu
coração em sua mesa? Não vai acontecer. Estou acostumado
com a morte. Quando seus pais morrem e você tem quatorze
anos, é uma marreta bem no coração. Rapidamente percebi
que todos os contos de fadas ‘felizes para sempre’ são
besteiras. Aprendi que a vida é frágil e não há como saber
quando seu tempo acabou. Porcaria que você não deveria
saber aos quatorze anos, quando ainda pensa que é invencível.

Quando Chip me disse que sua Doença Pulmonar


Obstrutiva Crônica estava piorando, a escrita estava na parede
– ele ia morrer. Fiquei com ele, ajudando onde podia,
assumindo as viagens e as operações do dia-a-dia, porque é
isso que você faz para as pessoas de quem gosta. Hoje, sinto
um pouco de alívio, porque sua filha, Cleo Dawson, será
informada de que está herdando a empresa e posso voltar à
minha vida fácil de piloto. Mas tudo o que sinto é pavor ao
pensar nela arruinando a empresa que seu pai trabalhou tanto
para construir e manter.
Olho novamente para o relógio, o que leva Luther a
também olhar para o seu. Sem esperança de ter uma conversa
comigo, solta um suspiro e abre a pasta de arquivos de Chip.

— Quantos deles você tem aí? — Aceno em direção a seu


arquivo. Quatro gavetas na vertical. Provavelmente a vontade
da vovó Dori está lá, listando a porcentagem de Bailey Timber
que será dividida entre mim e meus oito irmãos. Meu estômago
revira com o pensamento.

Ele segue minha linha de visão e suas sobrancelhas


grossas e brancas se juntam. Ele provavelmente está se
perguntando O que há de errado com você, Denver? Você vem
aqui vestindo jeans, uma camiseta e um par de Vans surrado.
Você não fará uma conversa educada. Tenho certeza de que ele
assume que estou de ressaca. Mas então ele se lembrará das
minhas trágicas circunstâncias e a pena surgirá. A parte em
que seus olhos ficam gentis e ele assente, me presenteando
com a expressão ‘Eu sei, seus pais morreram muito jovens e
isso é uma merda’.

Estou acostumado a isso agora. Isso saiu das minhas


costas.

Na maioria das vezes.

— Quase todo o Lake Starlight. Você já pensou em


escrever um testamento? — Luther se recosta, e a pequena
elevação do canto dos lábios diz que acha sua pergunta tão
engraçada quanto eu.
— Nós dois sabemos que não tenho nada para deixar para
ninguém.

— Todo mundo tem alguma coisa, — diz ele, as mãos


segurando as pontas de uma caneta em uma linha reta na
frente dele.

— Eu não possuo uma casa e não tenho dinheiro para


poupar. — A menos que alguém queira meu telefone com
muitos números de garotas, há apenas meu avião, que ainda
estou pagando. Como meu irmão gêmeo, Rome, está noivo e
Liam, meu melhor amigo, está a um passo do mesmo com
minha irmã Savannah, esse telefone não seria útil para
nenhum deles.

— E os itens pessoais? Eu mediei meu quinhão de brigas


entre membros da família por algo tão simples quanto uma
televisão.

— Estou morando na casa da Savannah agora. São todas


as coisas dela.

Ele se endireita na cadeira. — Você sabe o que eu quero


dizer.

A porta se abre e os olhos de Luther se fecham atrás de


mim. Juro que um calafrio entra na sala com ela.

Cleo Dawson.

Filha de Chip.
Não preciso me virar, porque seus saltos anunciam sua
chegada. A única surpresa, que realmente não deveria ser
surpresa, é que a meia-irmã, a mãe e o padrasto estão ao seu
lado. Deus não permitiria que ela lidasse com isso sozinha.

O sorriso de Luther desaparece quando a comitiva


encontra seus assentos.

Ela, é claro, senta-se na cadeira com capa de couro ao


meu lado, cruzando as pernas. Apenas Cleo usaria salto alto e
um vestido no meio do inverno no Alasca.

— Denver. — Sua voz é fria com um toque de polidez


forçada.

Eu me viro para ela, suas pernas bronzeadas deixando


claro que ela é do sul. Eu mentiria se dissesse que a suavidade
não me agrada, mas é isso que acontece com o diabo –
ninguém disse que ele ou ela não era uma sedutora.

— Cleo. — Aceno.

— Srta. Dawson, receio que a decisão era de apenas você


e o Sr. Bailey para a leitura do testamento.

— Por quê? — Cleo pergunta.

Seu padrasto se levanta e descansa a mão nas costas da


cadeira de Cleo. A mãe dela vem do meu outro lado.

— Somos os pais dela, — diz a mãe.


Examino o casaco de pele de vison da mãe de Cleo. Aposto
que ela comprou especificamente para esta viagem, desde a
última vez que verifiquei, o Texas não exige que você o use.

— Cleo tem mais de dezoito anos e é adulta. Vou ler o


testamento e Cleo pode discutir isso com você depois, se ela
escolher.

— Isso é ridículo, — diz a mãe. — Ele era meu marido.

— Ex, — eu corrijo.

Todas as cabeças deles chicoteiam na minha direção com


olhares horrorizados, já que tive a audácia de falar.

— Por que ele está aqui? Ele não é parente de Chip. — A


mãe de Cleo me olha como se eu fosse lixo de cidade pequena.

— Você está preocupada que não pode tirar o último


centavo dele? — Reviro os olhos.

Cleo se vira na cadeira e coloca a mão na mãe. — Vá em


frente e espere lá fora.

— Eu deveria pelo menos poder estar aqui, sendo sua


mãe. — Ela dá a Luther um bufo irritado e os três vão embora.

— Acha que pode se controlar sozinha? — Pergunto a


Cleo.

— Espero que você tenha as chaves com você.

Afago meus bolsos. — Merda, sabia que tinha esquecido


alguma coisa.
Os olhos dela se estreitam. Observo suas narinas se
encherem de ar que deixa seu corpo praticamente em chamas.

— Ok. Vamos apenas começar. Já estamos atrasados. —


Luther bate a caneta na mesa.

— Eu me pergunto por que isso?

— Não é exatamente o tempo seco lá fora. As estradas são


horríveis. — Ela gira para concentrar sua atenção em Luther.

— Você pensaria que o que você está vestindo são uns


agradáveis 26 graus.

— Você pensaria que, com o que está vestindo, estava a


caminho do parque de skate local.

Rio e balanço minha cabeça. — Vamos lá, Luther.

Luther abre a pasta de arquivos novamente e limpa a


garganta. — Chip Dawson era meu cliente, e vou ser sincero
ao dizer que ele mudou seu testamento há dois meses, mas
estava em sã consciência ao fazê-lo. Sugiro que nenhum de
vocês vá e tente dizer o contrário. Fiz questão de ter
testemunhas presentes.

— Ela pode argumentar, mas eu não vou. — Nem


menciono o que ele me deixou, que não vale nada de qualquer
maneira. Sem o próprio Chip, tudo não faz sentido.

— Cleo, você ficou com a casa de Chip e todos os


pertences lá dentro.
Ela endireita e olha meus bolsos, dizendo
silenciosamente: — Entregue as chaves da Lifetime
Adventures, idiota.

— Cleo também está recebendo sua caminhonete, — diz


Luther.

— Espero que uma escada de mão venha com ela. — Eu


rio.

Ela bufa. — Você sabe, podemos sair daqui mais rápido


se você parar de interromper.

Luther espera um segundo e eu aceno para ele continuar.

Ele analisa todas as contas financeiras de Chip e, como


esperado, tudo está indo para Cleo. Se pudéssemos chegar à
minha torradeira ou o que quer que ele esteja me dando para
que eu possa sair daqui, apreciaria.

— Agora Lifetime Adventures. — Ele bate os papéis na


mesa. Minha atenção é despertada, porque pela primeira vez,
sinto apreensão em sua voz. — A Lifetime Adventures deve ser
dividida em 50% para Cleo Dawson e 50% para Denver Bailey.
Se um não quer sua parte, o outro tem a primeira opção de
comprar a do outro.

Meu estômago cai como um pedaço de calota de gelo no


oceano. Chip me deixou a empresa dele? O que ele estava
pensando? Olho para Cleo.
Mesmo com suas camadas de maquiagem, seu rosto
empalidece e sua cabeça se inclina. — Ele deixou para nós
dois?

Luther sorri. — Dawson. Vocês também possuem tudo o


que tem a ver com a Lifetime Adventures.

Ela afunda na cadeira e as unhas feitas pousam na boca.


— Não posso ter um negócio com ele. Nós vamos nos matar.

Sento-me ereto. Savannah não é exatamente um anúncio


de outdoor, para todas as grandes coisas da vida que
acompanham a administração de sua própria empresa. Ela
deixa Bailey Timber parecendo exausta na maioria dos dias.
Não estou pronto para uma vida assim. Posso fazer isso?
Dirigir uma empresa quando odeio qualquer coisa que venha
com amarras? Lifetime Adventures vem com uma série de
cordas, Cleo Dawson, aparentemente, sendo a mais grossa e
mais vinculativa delas.

Luther vasculha a pasta do arquivo e pega dois envelopes


e alguns papéis, entregando a cada um de nós um pacote. —
Eu sei que isso é uma grande notícia, então ele escreveu uma
carta para vocês dois. Por que vocês não tiram um tempo, leem
a carta e me avisem se tiverem alguma pergunta?

Nós alcançamos ao mesmo tempo. Na caligrafia de Chip,


‘Cleo’ está escrito em um envelope branco e ‘Denver’ no outro.

— Por que ele não deixou comigo? — Cleo pergunta a


Luther.
— Dawson, não pergunto a meus clientes o porquê.
Talvez a carta forneça uma explicação melhor.

Ela se levanta e me encara. — Eu vou comprar de você.

Tenho certeza de que ela adoraria me comprar. Eu não


tinha certeza há um segundo, mas o pensamento de Cleo
destruindo o que o pai dela trabalhava tanto me fez me
esquivar. — Minha metade não está à venda.

— Você sabe assim como eu que isso nunca vai dar certo.
— Ela cruza os braços.

A pior coisa de Cleo Dawson, o que me deixa louco, é que


ela é gostosa como uma merda, mas nunca vou poder colocar
uma mão nela. Ela sempre foi desprezível comigo – não sei,
mas estou feliz em retribuir o favor.

Eu estou de pé sobre ela. — Bem, nós podemos usar a


faculdade. — Eu aceno para Luther. — Obrigado.

Colocando a carta no bolso de trás do meu jeans, eu pisco


e evito ela.

— Você foi para a faculdade? — Ela chama atrás de mim.

— Não se preocupe, Cleo, conheceremos todos esses


detalhes divertidos um sobre o outro trabalhando lado a lado.
— Eu ando pela porta.

A comitiva dela fica de pé e eu caminho por eles.


A diversão de brigar com ela pode ser o lado positivo para
uma situação de merda.
Denver sai apenas com o aroma persistente do que
suponho que seja a colônia de um dia depois de uma noite de
festa.

— Obrigada, Sr. Lloyd. — Agradeço e pego a carta. O


único conselho que meu pai me deu quando se trata da cidade
de Lake Starlight é que você nunca sabe com quem está
falando, então seja educada. Segundo ele, minha mãe deixou
uma impressão duradoura nesta cidade. Eu nunca perguntei
se era quando ela apareceu ou quando fugiu.

— De nada, senhorita Dawson.

Eu pego sua expressão. O que diz: ‘Não sei por que seu
pai deixou tudo o que tinha quando você nem podia visitá-lo’.
Ele pode pensar o que ele quiser. Não faz diferença para mim.

Minha mãe e Bridget já estão de pé. Phil está ao telefone.


Seu chapéu de cowboy, jeans apertado e com botões de prata
nos bolsos dizem que estamos fora da cidade. Estou surpresa
que ele veio hoje e que ele não voou logo após o funeral. Minha
mãe ficou por aqui porque quer ver o que deixou todos esses
anos atrás. Minha meia-irmã, Bridget, nunca me permitiu lidar
com isso sozinha, então eu esperava que ela ficasse.

Bridget desliza o braço pelo meu. — Ele é meio gostoso.

— Ele é o inimigo, — lembro-a pela quarta vez. — E agora


ele é dono de metade da empresa.

Bridget arranca a papelada das minhas mãos e a lê como


se entendesse o jargão jurídico. Eu não estou dizendo nada de
ruim sobre ela. É que as pessoas em seu círculo pagam aos
outros para lerem o jurídico para eles.

Tínhamos dezesseis anos quando minha mãe se casou


com Phil. Naquela época, nós tínhamos passado por tantos
irmãos e padrastos que decidimos nos abraçar em vez de
brigar. Ajudou que ela tivesse um armário cinco vezes maior
que o meu. As pessoas em Dallas ainda comentam sobre o
quão surpreendente é que nos tornamos as melhores amigas.

Quando nosso amigo Miguel está perdido em meia garrafa


de rum e falha mais uma vez em colocar uma de nós em sua
cama durante a noite, sempre diz que devemos esperar até que
a última vontade seja lida. Nós nos odiaremos então. Mas eu
realmente não me importo se ela herdar todo o dinheiro de Phil.
Pelo menos minha mãe não conseguiu o que ela queria quando
se casou com ele. Uma lição que ela ainda não aprendeu com
os cinco maridos anteriores. Eu poderia dissecar cada
casamento e porque não deu certo, mas é a mesma história
para cada um deles – eles não foram construídos sobre uma
base de amor. Alguém estava sempre nele para a vantagem.
Meu pai foi o primeiro degrau na escada de mamãe de
casar-se por dinheiro. Phil é de longe a sua captura mais bem-
sucedida, e é por isso que faz sentido que ela ainda esteja
casada com ele todos esses anos depois.

— O que você quer dizer com ele ficou com metade? —


Minha mãe estende a mão.

Bridget dá de ombros como se ela não entendesse


nenhuma das palavras escritas nos papéis e as entrega para
minha mãe.

— Nós possuímos a empresa 50% cada um.

Mamãe lê os papéis e eu enfio a carta na minha bolsa


antes que ela perceba.

— Você vai trabalhar lado a lado com esse homem todos


os dias? — Bridget obviamente não compartilha da minha
opinião de que nada poderia ser pior. Os olhos dela o envolvem
pelo estacionamento. — Eu sempre pensei que havia algo sobre
um homem em uma caminhonete.

Olho para o corredor e vejo ele se aproximando da escada


e respiro fundo, ignorando a maneira como seus jeans
penduram nele. Ele tira sarro dos meus sapatos enquanto usa
aqueles Vans. Idiota.

— Ele tem a aparência de 'quem se importa com o que a


vida joga em você, eu vou pegá-lo com minhas próprias mãos'.
— Você quer dizer aquele que diz: 'Eu me esquivo da
responsabilidade'?

— Não, o visual descontraído.

Bridget só me acompanhou uma vez a Lake Starlight por


uma semana durante meu último verão com Chip, antes de
completar dezoito anos. Mas ouvi os rumores e vi Denver em
ação. Um homem que ainda se comporta como um garoto só
pode administrar a empresa do meu pai de uma maneira – no
chão.

— Eu tenho que vendar você? — Digo para Bridget.

Ela ri quando descemos as escadas. Quando chegamos


ao pé da escada, Denver para sua caminhonete na frente de
nós. A calçada é larga, então estamos pelo menos a três metros
de distância, mas eu o encaro, esperando que ele possa sentir
a animosidade saindo de mim. Abaixando a janela, seu rosto
aparece por trás do vidro colorido. Ele é realmente um homem
bonito. Não que eu admitisse isso para ele ou qualquer outra
pessoa.

— Estarei na Lifetime Adventures se você quiser discutir


alguma coisa, querida. — Seu sorriso é enorme e seu ego ainda
maior.

A raiva passa por mim como um pontapé inicial que só


ele pode inflamar, e endireito minhas costas para caminhar e
dar a ele um pedaço da minha mente. Ele deve ver algo no meu
rosto porque estaciona a caminhonete para me esperar. O
braço de Bridget desliza para fora do meu, e minha mãe e Phil
ficam para trás, discutindo a papelada. Principalmente, é Phil
explicando isso para minha mãe. Eu acho que ela só pode ler
um decreto de divórcio como um profissional.

Quero comprar a metade dele, mas isso implica pedir


dinheiro a Phil, o que gera um sentimento totalmente diferente
no meu estômago. — Precisamos marcar uma reunião.

— Cuidado.

Ele aponta para o chão e eu olho para baixo, perdendo o


equilíbrio em um pedaço de gelo. Minha bolsa voa no ar e o
chão frio, duro e úmido acolhe minha bunda.

Denver abre a porta e sai como o cavalheiro, tenho certeza


de que não. — Se você vai ficar em Lake Starlight, deve
comprar calçados novos.

Uma vez que ele me ajuda, puxo meu braço da mão dele.
Enquanto ajeito minha jaqueta, Bridget me entrega minha
bolsa.

— Eu sou Bridget, — diz ela a Denver em sua voz de bar


glamour – aquela que ganha suas bebidas gratuitas a noite
toda.

Denver olha, aperta a mão dela e volta sua atenção para


mim. — Você está bem?

— Com o que você se importa?


Bridget está olhando para Denver como o que diabos?
Você não me vê parada aqui? Ela pode estar a um milissegundo
de desabotoar o casaco para mostrar sua figura. Eu amo a
garota, mas ela pode ser um pouco egoísta.

— Ei, eu sei que não nos vemos muito, mas não sou um
idiota, — diz ele.

— Você não é? — Pergunto.

Eu olho em seus lábios. Não posso evitar. São rosados,


com um toque fresco de Chapstick, e ele passa a língua neles.
É a maneira como se move de um lado para cima com diversão,
que me faz pensar. É sexy e tentador e não deveria estar tendo
esses pensamentos.

Cleo ruim. Eu mentalmente bato no meu pulso.

— Não. Você quer perguntar para minhas irmãs? — Ele


dá um passo à minha frente e se inclina atrás de mim.

Eu mudo minha bunda para longe de seus olhos


curiosos. — O que diabos você pensa que está fazendo?

— Eu não entendo, — Bridget diz para si mesma,


provavelmente ainda tentando descobrir por que a língua de
Denver não está saindo da boca dele.

— Eu estava me certificando de que você não estivesse


muito molhada. Eu tenho um cobertor na...

Eu coloquei minha mão na cara dele. — Não. Não preciso


de nada de você.
Ele segura as mãos no ar e recua um passo. — Faça do
seu jeito.

Abrindo a porta da caminhonete, ele olha para o SUV


alugado com um motorista que sai do estacionamento nos
fundos. — Eu suponho que esse seja o seu carro?

— Sim. — Eu fico com minhas costas retas, para que ele


não pense que minha bunda dói como uma cadela agora.

— Como eu disse, estarei na Lifetime por algumas horas.


Se você quiser conversar.

— Tchau, — diz Bridget.

Denver preguiçosamente levanta a mão para ela, mas


seus olhos permanecem em mim. Ele está fazendo isso de
propósito. Ninguém ignora Bridget. Ela é como um objeto
brilhante. Você não pode desviar o olhar.

— Coloque um pouco de gelo na sua bunda. — Ele pisca


e fecha a porta antes de ir embora.

Quando nosso carro para, minha mãe e Phil se amontoam


lá dentro.

Bridget me para, colocando a mão no meu braço. — Eu


sou bonita demais para este lugar? Eles gostam de suas
mulheres mais ao ar livre ou algo assim?

Devo dizer que ignorá-la é provavelmente o plano de


Denver. Ele parece ser o tipo de homem que sempre tem uma
intenção. Eu só preciso descobrir qual é.
Por outro lado, talvez ele já tenha conseguido isso – já que
possui metade da empresa do meu pai.

Duas horas depois, após um longo almoço em que eu era


covarde demais para pedir dinheiro a Phil, sentamo-nos no
aeroporto, esperando o jato particular dele estar pronto para a
decolagem. Mamãe está pegando revistas e tentando encontrar
frutas e legumes frescos. Bridget está na mesa, flertando com
o cara que trabalha lá, ainda tentando provar que sua atração
não desapareceu no voo de Dallas para o Alasca. O que deixa
Phil e eu em paz.

— Posso enviar o avião de volta sempre que você estiver


pronta para voltar para casa, — diz ele, sem pensar, com os
olhos no telefone.

Eu cruzo e descruzo minhas pernas. — Tenho que limpar


a casa dele e outras coisas.

— Ainda bem que você tem tempo agora. — Ele sorri para
mim antes de enterrar a cabeça de volta no que assumo serem
e-mails.

Eu poderia responder com uma observação, porque a


razão pela qual tenho tempo livre é que ele recentemente me
demitiu da fazenda. Não que não tivesse um bom motivo. Eu
acidentalmente dei aos nossos animais de ração orgânica a
ração com hormônios de crescimento. Sim, não é o meu
momento mais brilhante. Mas em minha defesa, eles deveriam
marcar melhor os contêineres. Então Phil perdeu dinheiro, já
que não pode mais dizer que a carne que abate dos pobres
animais é orgânica. Ele foi legal com isso, mas me avisou que
talvez a vida no rancho não fosse para mim.

Sou formada em administração de empresas pela


Universidade de Indiana. Após a formatura, fiz entrevistas em
muitos lugares, mas nada deu certo. Por fim, abaixei a cabeça
e perguntei a Phil se sabia de alguém contratando. Eu disse a
mim mesma que estava no mercado e usando minhas conexões
como qualquer pessoa inteligente faria, mas odiava ter que
fazer isso.

Meu primeiro emprego foi na sala de correspondência de


um grande estúdio de televisão. Duas semanas depois, levei
meu carrinho de correio para o estúdio. Entregando nos
escritórios atrás do set, parei meu carrinho e comecei a
conversar com uma colega de trabalho sobre o episódio de
Roswell na noite anterior. Acho que esqueci de pisar no
carrinho porque um cara correu por cima dele e ele rolou,
então, corri atrás dele. Felizmente, parou logo antes de
começar a fotografar. Depois de receber olhares ferozes do
produtor e dos operadores de câmera, fui com a ponta dos pés
para recuperá-lo, mas havia um fio enrolado ao redor da roda.
Quando puxei com mais força para libertá-lo, o microfone
conectado à câmera caiu e o cara da câmera se moveu para ver
o que era toda a ação – me colocar na TV ao vivo. Minha mãe
chama de meus dez segundos de fama. Chegou a notícia
naquela noite em um engraçado engasgo. Tecnicamente, foi a
falha do cara que bateu no carrinho, não minha, mas eu fui
demitida.

Minha segunda tentativa de emprego veio na forma de um


cargo de assistente. Minha chefe sempre ganhava a mesma
coisa todas as manhãs – um bolinho de limão com semente de
papoula e um café grande. Estávamos nos tornando amigas,
conversando sobre nosso trajeto matinal e o clima enquanto
eu os colocava na mesa dela. Só que naquela manhã não
verifiquei a ordem e ela não se incomodou em desviar o olhar
do computador enquanto pegava uma mordida. Acontece que
era um muffin de banana e nozes. Eu sei o que você está
pensando. E daí? Quem não pode lidar com um tipo diferente
de muffin? Quando eu estava ligando para o 9-1-1 e
esfaqueando sua coxa com uma caneta de epinefrina, eu
estava pensando a mesma coisa.

Acrescente o lugar de iogurte gelado onde esqueci de


guardar os itens refrigerados à noite ou a livraria onde fui pega
muitas vezes no canto da seção de romances lendo durante o
horário de trabalho... as coisas simplesmente não deram certo
para mim. Estou determinada a fazer meu próximo trabalho
funcionar, venha para o inferno ou para o mar.

Mas não posso fazer isso com Denver Bailey respirando


no meu pescoço, então engulo o grande nó na garganta. — Ei,
Phil?
Ele espia e sorri. — Eu acho que isso é bom para você.
Você pode descobrir algumas coisas aqui em cima. Longe de
sua vida normal.

— Bem, não posso fazer isso com Denver Bailey. — Dou


a dica número um. Vi Bridget coagi-lo a dar-lhe dinheiro um
milhão de vezes. Sou uma aprendiz rápida.

— Administrar uma empresa não é fácil. Você tem que se


cercar de pessoas mais inteligentes que você.

— O que isso significa?

O sorriso dele cresce. — Neste momento, esse garoto é


mais esperto que você. Ele sabe como administrar essa
empresa. Sabe tudo que está envolvido. Você precisa encontrar
uma maneira de funcionar. Pense nisso. — Ele bate o dedo na
testa. — Você não pode levar as pessoas até as montanhas.
Você se perderia ou seria comida por um urso. — Ele ri.

Um sorriso tenso estica meu rosto. — Sim, claro.

— Não seja tão azeda quanto a isso. Verdade é verdade.


Fatos são fatos, querida. Você encontrará o que deve fazer um
dia desses, mas não se apresse aqui. Analise as coisas do seu
pai. Tire algum tempo para lamentar.

— Mas não administre a empresa? — Eu deveria esconder


a amargura no meu tom, mas não posso me incomodar em
mascará-la agora.
— Se fosse uma cafeteria ou uma padaria, talvez eu
pudesse ver. Mas uma empresa de excursões ao ar livre no
Alasca? — Seu rosto muito bronzeado parece que pode quebrar
com o tamanho do seu sorriso. — Eu simplesmente não acho
que é você.

Então, acho que é um não ao empréstimo então.

— Por que você parece que está doente? — Minha mãe se


senta ao lado de Phil com nada além de uma revista na mão.

— Estou bem.

— Estamos falando do futuro dela. Eu disse a ela para


tomar um tempo aqui em cima para descobrir as coisas.

Minha mãe sorri para Phil como se ele fosse tão


inteligente quanto Einstein. — Não demore muito. Eu odiaria
que minha filha se transformasse em uma dessas pessoas.

Deslizo para trás na minha cadeira e pego meu telefone


para me distrair até que eles saiam. Não diga que nunca mordo
minha língua
Duas horas após a reunião, ainda estou sentado do lado
de fora da pequena cabana de um prédio de escritórios da
Lifetime Adventures, refletindo sobre o que aconteceu no
escritório de Luther. Não consegui ler a carta que Chip me
escreveu.

O escritório está localizado em uma colina, a vista ė


espetacular. Não sei se Chip escolheu esse local por esse
motivo, mas se você estava pensando em fazer uma excursão
ao ar livre por aqui, não há publicidade melhor do que o
cenário que estou vendo agora. Existem três galpões cheios de
aviões, snowmobiles e outros equipamentos atrás do pequeno
escritório. Agora metade dela é minha.

Mas não tenho certeza se quero. É claro que eu disse a


Cleo que fiz isso apenas para irritá-la, mas não sou obrigado a
administrar uma empresa. Eu nem gosto de trabalhar para
outras pessoas, muito menos de ter pessoas trabalhando para
mim. Gosto de ser meu próprio chefe de uma operação solo. É
uma grande parte do motivo pelo qual participei da pilotagem
de exploração. Defino minhas horas, minhas viagens e meu
tempo.

Decido que agora é o melhor momento para ler as


palavras finais de Chip para mim, então pego o envelope do
banco do passageiro e o abro.

Denver,

Vou ser clichê dizendo que se você está lendo isso, perdi a
batalha. Além disso, se você estiver lendo isso, Luther acabou
de informar que metade da Lifetime Adventures é sua e a outra
metade é de Cleo.

Você e eu tivemos muitas conversas sobre fogueiras e


passeios de avião sobre o Alasca. Eu sei onde você está e para
onde vê sua vida. E percebo que isso te envia em uma direção
que você nunca quis seguir. Você provavelmente está xingando
meu nome agora. Ouça-me antes de assinar sua metade para
Cleo ou vocês dois decidirem vender.

Você veio até mim querendo aprender a voar. Eu lhe disse


que você era muito imprudente, porque nós dois conhecemos sua
reputação em Lake Starlight ao longo de sua adolescência. Mas
você voltou várias vezes, concordando em pagar as lições
trabalhando na Lifetime. Você teve o impulso de seguir em frente
e, através de todas as habilidades que eu ensinei, vi algo dentro
de você. Não tenho certeza se você sabe que existe. Você merece
essa oportunidade e deve aproveitá-la.
Além do mais – e eu vou ser um pai superprotetor aqui –
vou pedir um favor a você. Cleo está perdida, como você estava
quando veio a mim. Ela não tem ideia de onde se encaixa neste
mundo, e tenho uma ideia de que ela poderia se encaixar aqui
em Lake Starlight. O calor das pessoas nesta cidade fará bem
a minha filha. Mas não há como ela conseguir fazer isso
sozinha. Não tem o conjunto de habilidades. Então, por favor,
lhe dê uma chance como eu fiz?

Nunca poderia lhe pagar por estes últimos meses.


Obrigado Denver. Você é realmente uma pessoa incrível e espero
que encontre a felicidade que merece. Voe alto, meu amigo.

Ame,

Arrisque

PS: Eu quero que você viaje com Cleo para o norte e deixe
que ela escolha onde espalhar minhas cinzas. Faça-a escolher
um lugar que fale com seu coração, um lugar bonito que nunca
esquecerá. Sem pressa, sempre que ela estiver pronta. Eu não
estou indo a lugar nenhum. ;)

Pisco algumas vezes para manter as lágrimas afastadas.


‘Como diabos eu devo dizer não agora, velho?’

Meu telefone toca pelo Bluetooth e o nome de Savannah


aparece na tela do meu painel. Ela é a única pessoa que
provavelmente se recorda de que hoje foi a leitura do
testamento. Aposto que ela usa nove cores diferentes em sua
agenda para cada uma das agendas de nossos irmãos. Hoje em
dia ela deve estar usando dez para dar conta de Liam – meu
melhor amigo virou namorado dela.

— Ei, Sav, — respondo.

— Estou feliz por ter te achado. Não sabia se você teria


uma excursão ou algo do tipo na Lifetime Adventures.

Bato meus dedos no volante. Ela realmente não se lembra


do que estava acontecendo hoje? — Não. É inverno e Chip
não... não fez um excelente trabalho ao reservar viagens, o que
faz com que esteja tudo parado.

Savannah fica quieta por um momento. — Eu sinto


muito.

— Eu sei que você sente.

Há outro longo segundo de silêncio que não preencho.

— Queria marcar um encontro com você para mais uma


noite de cinema dos anos oitenta, mas você tem muita coisa
acontecendo. Isto pode esperar.

— Você está sendo legal, — digo com suspeita no meu


tom.

— Eu sou sempre legal hoje em dia.

Uma coisa boa do meu melhor amigo que mora com


minha irmã é que ele cavou tão fundo dentro dela, que trouxe
de volta a Savannah, que não leva tudo tão a sério – a de antes
de meus pais morrerem.

Não digo nada, esperando que ela pergunte sobre a


leitura do testamento.

— Na verdade, é hora de não ser tão legal. Quando você


acha que vai me pagar o aluguel? — Ela pergunta.

Eu garanto que Phoenix também não pagou. — Eu não


sei. Não pude pilotar por causa das excursões, mas você se
lembra que a leitura do testamento e foi hoje, certo?

Minha pergunta é recebida em silêncio.

— Merda, esqueci. Eu deveria estar lá com você.

Antes de Liam, ela teria ido. Não que ela precisasse. Eu


posso me cuidar bem com Luther Lloyd. — Está tudo bem.

— Não, não está. Eu deveria...

— Pare com isso, Sav. Você tem uma vida e, além disso,
tenho vinte e sete anos. Mas há algo que eu queria conversar
com você e Austin. — Meus dois irmãos mais velhos são como
meus pseudo pais. Um deles vai me dizer o que fazer.

— Ok, — diz ela cautelosamente. — Que tal jantar?


Podemos nos encontrar em qualquer lugar. Eu ligo para
Austin.

— Certo. Que tal seis horas em Terra e Mare? Também


quero que Rome participe disso.
— Ok.

— Vejo você então.

— Denver? — Sua voz mantém aquele tom suave que ela


usa quando teme que algo esteja errado.

— Está tudo bem. Só preciso de alguns conselhos.

Mais alguns segundos de silêncio. — Vou vê-lo hoje à


noite.

— Obrigado.

Desligamos e eu saio da caminhonete, meus pés


esmagando a neve enquanto caminho para as portas do
escritório. Perco minha tração, mas me recupero antes de cair
na minha bunda, o que traz de volta memórias da queda de
Cleo de horas antes.

Talvez ela não seja a única que precise comprar sapatos


novos.

Às seis e quinze, atravesso as portas dos fundos de Terra


e Mare. Rome está na cozinha vestindo seu jaleco e chapéu de
chef, parecendo profissional. Às vezes, ainda me leva um
segundo para lembrar que ele cresceu muito nos últimos dois
anos.
— Onde estão minha sobrinha e sobrinho favoritos? —
Pergunto, roubando um pedaço de carne e deslizando sobre o
balcão.

Rome olha onde minha bunda está no balcão e revira os


olhos. — Eles estão lá em cima com a Harley. Você esqueceu
que disse seis para todo mundo?

Colin volta da geladeira e eu bato com ele.

— São seis, — digo em torno do pedaço de carne.

— São seis e quinze, — diz Rome.

Olho em volta procurando um relógio e encontro um na


porta da sala de jantar. Eu dou de ombros. — Perto o
suficiente.

Rome solta um suspiro e Colin ri enquanto corta


pimentas. Pego um pedaço de pimenta vermelha e Colin desliza
uma pilha para mim no canto da tábua. As boas ações de
Colin.

— Vamos. Sav e Austin já estão aqui. — Rome pega um


prato com carne e uma travessa de batata. — Tudo bem por
você, Colin?

— Sim, — diz Colin, e Rome olha para ele com gratidão.

Saio do balcão, dou um tapa nas costas de Colin e pego


mais alguns pimentões vermelhos. Eu não deveria ter pulado
o almoço.
A sala de jantar está três quartos cheia, e minha irmã e
irmão mais velhos estão na mesa do canto, conversando um
com o outro.

— O que houve? — Eu pergunto, deslizando em uma


cadeira ao lado de Austin.

— Essa não é a pergunta que devemos fazer para você?


— Austin diz.

Savannah toma um gole de vinho e se recosta na cadeira.


Ela está vestida como se tivesse vindo direto do trabalho, e
Austin está de jeans clássico e abotoado depois de ensinar
biologia no ensino médio. Rome coloca o prato na mesa e
levanta o dedo para ir ao bar.

Eu deveria estar agradecido por poder convocar uma


reunião de última hora e minha família chegar. Eles são os
únicos com quem posso contar.

Rome volta com uma cerveja para mim e água para ele.
Ele serve comida enquanto Sav e Austin se concentram em
mim.

— Chip me deixou metade da empresa, — deixo escapar.

Savannah pisca de surpresa. — E a filha dele?

— Ela pegou a outra metade. — Tomo um gole da minha


cerveja.

— Oh. — Ela suspira e toma um gole de vinho novamente,


olhando por cima da borda da taça para Austin.
— E? — Austin pergunta.

— E não tenho certeza do que fazer. Ela vem dessa família


rica e eu sei que ela quer comprar a minha parte. Todos
sabemos que não posso comprar a dela. Não que eu queira
administrar uma empresa por conta própria. Mas nem sei se
quero administrar uma empresa, muito menos com ela.

Rome termina de servir a comida e fica


surpreendentemente quieto, colocando o guardanapo no colo
e colocando os talheres de cada lado do prato.

— Bem, deixe-a comprar sua parte então, — diz Austin e


olha para Savannah.

Ela encolhe os ombros. — Se você não quiser, venda para


ela.

Eu tenho que admitir, pensei que haveria alguma reação.


Todos eles têm suas opiniões sobre a minha vida, querendo
que me esforce para ser mais responsável, para fazer algo
mais. Pensei que talvez essa fosse a oportunidade ideal para
eles me empurrarem.

— Rome? — Pergunto.

Ele olha para mim com olhos que combinam com os


meus. — Não sei por que você quer algum de nossos conselhos.
Não somos nós quem terá que conviver com a decisão.
Essa não é a resposta que pensei que meu irmão gêmeo
me daria. Entendo que a paternidade o mudou, mas desde
quando ele não tem uma opinião?

— Ei, como está Holly? — Savannah pergunta do nada.


— Ela parecia um pouco pálida na outra noite.

Austin se encolhe. — Ela está bem. Talvez tenha sido sua


culinária. — Ele ri, derrubando sua garrafa de cerveja.

— Engraçado, idiota. — Ela pega o garfo e apunhala um


pedaço de carne.

— Podemos voltar para mim? — Pergunto.

Todos eles se voltam para mim.

— O que você quer fazer? Isso não é sobre nós. Não


podemos dar a resposta. — Austin pega o garfo e come.

— Certamente você pode. O que você acha que eu deveria


fazer? Quero dizer, Savannah, administrar uma empresa é
uma merda, certo?

Rome enterra a cabeça em sua refeição. O que há com ele


hoje à noite?

Austin olha para Savannah.

Ela encolhe os ombros, termina de mastigar e pousa o


garfo. — Rome, isso é incrível. Posso pedir uma marmita de
viagem para Liam? Ele está na loja e eu ia parar lá depois.
— Podemos, por favor, parar de falar sobre suas caras-
metades? — Minha voz é alta o suficiente para que a mesa ao
nosso lado olhe.

Mas chamou a atenção dos meus irmãos.

Savannah me dá seus olhos maternais. — Administrar


uma empresa é uma droga às vezes, mas também há muitos
benefícios. A verdade é que amo poder dar emprego às pessoas.
Que algo que eu faço afeta essa cidade de uma maneira
positiva. É péssimo quando é negativo e esses dias são difíceis,
mas por mais que eu às vezes odeie, não tenho certeza se faria
algo diferente.

Claro, ela é chata e tem TOC. Além disso, entrou em uma


empresa estabelecida. Chip deixou aquela inativa por muito
tempo e ela definhou. Suspeito que esteve doente por mais
tempo do que deixou transparecer.

— Mas você pode fazer tudo sozinha.

Savannah inclina a cabeça. — Você já ouviu falar de


alguém chamada vovó Dori?

Eu cortei minha carne. — Eu entendo o seu ponto. Mas


se não puder comprar a parte de Cleo, farei isso com ela, e ela
é simplesmente terrível.

Austin ri, e quando olho para ele, desvia empurrando


uma pilha de batatas na boca.
— Você está nos pedindo um empréstimo? — Savannah
pergunta. — Porque Bailey Timber não pode investir em nada
no momento. Talvez Wyatt?

— Não estou pedindo empréstimo ao meu cunhado. —


Enfio um pedaço de carne na boca.

Porra, meu irmão sabe cozinhar. Isso é delicioso.

— Desculpe, mano, eu não posso, — diz Rome. — Entre


o restaurante e as crianças, estamos presos.

— Aqui está uma ideia, talvez vocês usem proteção, —


comenta Austin com uma nota amarga em sua voz, o que é
estranho.

— Para sua informação, estávamos usando proteção


quando nossos dois filhos foram concebidos. Meus
espermatozoides são tão poderosos que conquistam qualquer
coisa em seu caminho. — Ele olha para mim. — Cuidado, cara.

— Eu tive sorte até agora. — Tomo outro gole da minha


cerveja.

Austin resmunga enquanto Rome toma sua água.

— Eu tenho que voltar para a cozinha. Desculpe não


poder lhe emprestar. — Ele se levanta e aperta meu ombro.

— Jesus, não estou pedindo um empréstimo. Estou


pedindo alguns conselhos, que todos ficaram felizes em me dar
até me encontrar no meio de uma bifurcação na estrada.
Rome se senta e seus ombros caem. Os lábios de
Savannah se abaixam e Austin continua comendo.

— Escute, — diz Rome, — há uma razão pela qual Chip


deixou metade da empresa. Eu vi você fugir da
responsabilidade a vida toda. Talvez seja a única vez que você
não corra.

— Não podemos decidir isso por você, — acrescenta


Austin. — Considere isso um salto gigante na maturidade.

Rome dá um tapinha no meu ombro e volta para a


cozinha.

Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos.

— Denver, — Savannah suspira, mas não estou


levantando a cabeça.

— Com licença? — Alguém vem para a mesa. — Eu só


queria dizer o quanto estamos felizes por você ter assumido o
controle da Lifetime Adventures. Chip era uma parte tão
integrante desta cidade que não consigo imaginar perder os
negócios também.

Eu levanto minha cabeça para ver a quem a voz pertence.


Não conheço o homem parado no final da mesa, mas lembro
de vê-lo no funeral, conversando com Cleo. — Você o
conheceu?

— Eu conheci. Ele foi um grande homem.

Pego minha cerveja e a levanto. — Isso é certo.


O homem sorri. — Tenha uma boa noite.

Com isso, o vejo sair para a Main Street como se fosse


uma miragem.

— Como ele descobriu? — Me pergunto.

Mas minha pergunta é respondida quando as


sobrancelhas levantadas de meu irmão e irmã sugerem que
sou burro.

Austin pega o telefone, pressiona alguns botões e o


entrega. O Lake Starlight Buzz Wheel está na tela, e o blog de
fofocas local tem uma foto de Cleo e eu nos degraus do prédio
de escritórios de Luther Lloyd.

O que significa que, se eu recusar essa oportunidade, não


decepcionarei apenas Chip, mas toda a cidade.

Perfeito.
Phill dá um abraço em Bridget enquanto minha mãe e eu
nos abraçamos, depois trocamos de parceiro antes de assistir
nossos pais caminharem para a pista, para o avião e subirem
as escadas. Nenhum deles nos dá uma olhada para trás ou um
último aceno. Não que eu esteja surpresa.

Quando fui para a faculdade, fui colocada em um avião


com uma mala e a promessa de que minhas coisas seriam
entregues no dia seguinte. Cheguei ao campus e vi os pais de
todos chorando, as mães se agarrando aos filhos até o último
segundo possível, enquanto fingia ter tido sorte porque os
meus não tinham chegado.

— Só nós agora! — Bridget desliza o braço pelo meu como


sempre faz, e assistimos os motores ligarem e o avião rolar pela
pista. — Papai disse que eu posso ficar o tempo que quiser.

A verdade é que não sei quanto tempo quero Bridget aqui.


Eu gosto de fazer as coisas por conta própria, enquanto Bridget
gosta que as pessoas façam coisas por ela.
— Vamos voltar para o hotel e fazer um tratamento de
spa e solicitar serviço de quarto. — Seus olhos já estão
voltando para sua cabeça e sua voz baixando a um sussurro,
como se ela tivesse mergulhado na água morna.

— Eu tenho que ir para o lugar do meu pai. Nós podemos


ficar lá.

Seu braço desliza para fora do meu. — Não vou ficar lá.

— Por que não? — Minha testa enruga.

— Como você precisa fazer essa pergunta? Está escuro,


sujo, bagunçado e simplesmente, não.

Eu tento não me decepcionar. Meu pai e eu não éramos


muito próximos, mas ainda estou lidando com a perda dele e
o comentário dela parece insensível.

— E pensar que as pessoas dizem que você é esnobe, —


digo enquanto subimos no Uber que pedi.

— Eu não sou esnobe.

Não digo nada porque não mentimos uma para o outra.


Além disso, tenho coisas maiores com que me preocupar agora.

Bridget se inclina para a frente para dizer ao motorista do


Uber: — Glacier Point Resort, em Lake Starlight.

— Ele sabe. Eu tive que dizer a ele quando o coloquei no


aplicativo.

Bridget sorri amplamente para o cara.


— Claro. Eu sou de Lake Starlight, então não se
preocupe, — diz ele. Olho para o uniforme de segurança do
cara, e ele me pega fazendo isso pelo espelho retrovisor. —
Segurança no aeroporto e motorista do Uber. Sinto muito pelo
seu pai, Cleo. — Ele se vira e senta a mão. — Duke Thompson.

Eu aperto a mão dele. Ele poderia ter conseguido meu


nome no aplicativo Uber, mas teria que conhecer meu pai para
saber sobre mim.

— Como você sabe sobre o pai dela? — Bridget pergunta.

Duke ri. — Seu pai nunca te contou?

— Me contou o quê?

Ele se afasta do meio-fio, mas imediatamente paramos


em uma luz. — Buzz Whell. Há um blog on-line que informa as
notícias da cidade. Você e Denver Bailey vão dirigir o Lifetime
Adventures juntos, não é? Minha aposta foi em Denver, mas...

— Sinto muito, o que é o Buzz Wheel? — Bridget dá a


impressão de que pedimos que ela trabalhasse em uma
lanchonete de fast food. Seu nariz pequeno enruga na minha
direção e ela sussurra ‘Buzz Wheel’ para mim.

Duke passa seu telefone para nós e Bridget o pega antes


que eu possa. Ela ri e vira o telefone para mim.

— Você é famosa, mana, — diz ela.

Pego o telefone da mão dela e, com certeza, há uma foto


de Denver Bailey e eu. Na verdade, estou de bunda na calçada
e Denver está parecendo um santo, estendendo a mão para
mim. Ótima primeira impressão.

Começo a ler o artigo para mim mesma, mas Bridget pega


o telefone de volta. — Deixe-me ler. Para praticar no emprego
de garota do tempo.

Tento fazer com que meu olho não revire. Bridget usou o
favor do seu pai e será entrevistada para a garota do fim de
semana em uma estação de notícias do Texas.

Ela limpa a garganta. — ’Não admira que o Denver Bailey


se encontrasse com uma mulher em perigo’.

— Perigo? Eu não estava em perigo.

Bridget assente. — Definitivamente não em perigo. — Ela


olha de mim e para o telefone, pedindo permissão para
continuar. — ’Mas o fato da mulher ser a filha distante do
falecido Chip Dawson...’

— Distante? Eu não estava distante. Eu estive aqui em


cima. Só porque não assisto à estúpida parada do Dia dos
Fundadores...

Bridget coloca a mão na minha coxa para parar. É então


que percebo que meu batimento cardíaco está no ritmo
máximo.

— Vá em frente, — eu digo.

— Ok, eu vou começar do começo. Tente não interromper,


você está arruinando meu fluxo.
Reviro os olhos e aceno, observando os bancos de neve ao
lado da estrada passando.

Ela limpa a garganta novamente. — Não admira que o


Denver Bailey se encontrasse com uma mulher em perigo. Mas
o fato da mulher ser a filha distante do falecido Chip Dawson,
que acabou de herdar todos os bens de Chip, é a surpresa. Os
boatos se espalharam enquanto Chip estava doente, dizendo
que esses dois não se veem nos olhos. Ninguém sabe realmente
por que há tanta tensão entre Cleo e Denver, e mais rumores
se espalharam pela cidade hoje que os dois agora são parceiros
de negócios. Chip deixou para cada um deles cinquenta por
cento da Lifetime Adventures.

Acho que falo por todos nós quando digo que será
interessante ver como será. Denver Bailey, que não pode se
comprometer com um peixe dourado, e uma mulher que não
tem ideia de como se vestir para um inverno no Alasca e
provavelmente não deve ser a maior perita em como sobreviver
a ele. Pelo menos sabemos uma coisa – será divertido assistir
esses dois de longe.

Desejo-lhes boa sorte. Perdemos Chip Dawson muito


cedo, portanto o fato de sua empresa continuar vivendo pode
nos dar todo o conforto.

Em outras notícias, deve haver algo nos genes de Bailey,


porque foram tiradas fotos de Savannah Bailey e Liam Kelly se
beijando do lado de fora de sua loja de tatuagens na outra
noite. Como viveram a vida toda em Lake Starlight, eles
deveriam saber que, mesmo à uma da manhã, há olhos por
toda parte.'

Bridget devolve o telefone para Duke, mas rapidamente


pega o site em seu próprio telefone. — Savannah e Liam
parecem meu tipo de pessoa. — Ela se recosta no assento e
estuda a tela por um momento. — Eu quero chegar lá. — Ela
aperta a cabeça entre os dois bancos da frente. — Como eu sou
mencionada lá?

Duke ri. — A maioria das pessoas não quer ser


mencionada lá.

— Oh, Bridget acha que as Kardashians são objetivos, —


eu digo.

Duke ri de novo. — Não se preocupe, Cleo. Faltam apenas


vinte e quatro horas, depois desaparecem e uma nova é
colocada.

— Graças a Deus, — eu digo. — Pelo menos há um


pequeno lado positivo.

— Eu odeio quando você diz isso, — diz Bridget.

— Eu não ligo.

— Você sempre olha para o lado ruim de tudo. Seu pai


morreu. Isso é péssimo. — Sua mão encontra minha perna
novamente e ela aperta. — Mas ele lhe deixou a empresa.

— Metade.
— Metade com um cara gostoso que é dono da outra
metade.

Eu respiro fundo. Ela não entende, já que tem seu fundo


fiduciário.

— Quero dizer, você é a pior vadia que eu conheço.


Vamos. Pare de zombar. Quem se importa com essa coisa da
Buzz Wheel? — Bridget pergunta.

— Você parece se importar. — Eu olho para ela e levanto


uma sobrancelha.

Ela encolhe os ombros. — Você sabe o que eu quero dizer.


Vá lá e mostre a Denver Bailey quem é a chefe.

A conversa animada de Bridget me deixa esperançosa


pela primeira vez hoje.

— Seja feito com a negatividade. Não compensa perder


seu pai, mas ele obviamente pensou que você poderia fazer
isso. Nós vamos passar o resto do dia relaxando no spa e você
vai acordar amanhã pronta para vencer esta guerra.

O olhar de Duke vai de mim para Bridget e de volta para


mim, um pequeno sorriso inclinando seus lábios.

— Quão? Ele tem as habilidades de sobrevivência e


pilotagem que eu não tenho.

— Lembra daquela vez em que fomos acampar? — Bridget


pergunta. — Com todo mundo depois que nos formamos?
— Você quer dizer quando você e Miguel alugaram um
trailer para todos nós ‘acamparmos’?

— Sim, e nós só tínhamos aquele banheiro e chuveiro


para todos nós? — Seu corpo treme um pouco como se ela
tivesse calafrios. — Você foi quem iniciou o nosso incêndio.

— Com um fósforo, — eu brinco.

Duke desvia um pouco na estrada de tanto rir.

— E quando nos perdemos depois que Miguel quis fazer


caminhadas, porque ele tinha acabado de comprar todo aquele
novo equipamento North Face?

— O que tem isso?

Ela me cutuca. — Você nos tirou de lá.

Ela tem razão, mas ser sobrevivente de oito crianças ricas


e mimadas não é o mesmo que ser jogada em algum lugar no
meio da floresta e encontrar a saída. Eu nem tenho certeza de
que gostaria de entrar nesses pequenos aviões. — Eu não sei
a primeira coisa sobre...

A mão dela cobre minha boca. — Isso me parece


negatividade.

Afasto meu rosto da mão dela. — É a verdade. — Ela


aperta meu braço. — Ai!

— Toda vez que você diz que não pode, eu vou beliscar
você.
— Isso é abuso.

Ela balança a cabeça e seu cabelo ruivo balança de um


lado para o outro. Sempre parece que ela fez isso
profissionalmente todos os dias. — Não, é amor de irmã.

— Tecnicamente, você não é minha irmã.

Seus lábios abaixam e ela me belisca novamente.

— Droga! — Coloquei minha mão no meu braço. — Pare


com isso.

— Vou parar depois que você começar a encontrar a


positividade nessa situação. Você consegue, e eu vou ficar aqui
o tempo que for preciso.

Sorrio com a melhor coisa que veio da minha mãe,


decidindo que a missão de sua vida era se casar com ricos. —
Te amo, — digo com lágrimas nos olhos – tudo desde a semana
passada me alcançando.

Ela deita a cabeça no meu ombro. — Também te amo.

Ficamos quietas pelo resto do trajeto até o resort.

Eu amo Bridget e sua atitude de líder de torcida, mas


Bridget pode viver com o dinheiro do seu papai pelo tempo que
ela quiser. Podemos ter crescido juntas, mas vivemos vidas
diferentes e às vezes ela esquece que eu não tenho uma rede
de segurança. Especialmente desde que meu pai acabou de
morrer.
Desde que os meus irmãos não deram muitos conselhos
sobre a pedra que caiu no meu colo, desço a rua para
conversar com Liam. Certamente meu melhor amigo, que é um
empreendedor, terá bons conselhos. Bônus, ele me conhece
tão bem quanto qualquer um.

O problema é que Savannah, minha irmã e agora


namorada de Liam, está andando ao meu lado, carregando o
jantar. — Eu realmente acho que Liam vai amar esse prato. A
outra noite...

Eu levanto minha mão para detê-la. — Eu não quero


ouvir sobre como vocês pintam uns aos outros e rolam como
preliminares.

Ela zomba, mas acredite, eles fizeram isso. Liam


encontrou um lado esquisito de Savannah que eu nunca
pensei que existisse. Como estou falando como colega de
quarto anterior, você não precisa de uma segunda opinião.

Ela torce o rosto. — Eu nunca compartilharia isso com


você.
Balanço meu corpo como se estivesse tentando me livrar
de um inseto e pulo para cima e para baixo. — Jesus, Sav, eu
não quero imaginar isso.

— Você e Liam trocavam histórias o tempo todo.

Eu a encaro por um longo e prolongado segundo. — Ele


não estava transando com minha irmã na época.

— Se você não quer que eu compartilhe, não compartilhe


com o resto de nós.

— Eu não compartilho.

— Hum. Você sabe quantas garotas eu tive que ouvir


gritar o nome do meu irmão ou – e essa é a pièce de résistance1
– a garota que foi tão explícita em lhe dizer exatamente que
queria que eu saísse para correr à uma da manhã para ser
comida por um urso?

— Vamos esclarecer uma coisa, ela estava me dizendo


para continuar fazendo o que eu já estava fazendo. Eu não
preciso de tanta direção – eu tenho tudo coberto. — Nós
paramos no Smokin 'Guns e eu mantenho a porta aberta para
ela. — E... leve exagero.

— Talvez a parte do urso, mas você sabe quantas vezes


eu dormi com meus fones de ouvido?

1Expressão francesa que faz referência à parte mais significativa ou valorizada de algo (um prato ou
um espetáculo, por exemplo).
Nossa conversa morre com o som de armas de tatuagem
e conversas. Liam espia de onde ele está curvado sobre um
bloco de desenho e depois sorri o sorriso que ele parece usar
apenas para Savannah.

— Ei, querida, — diz ele.

— Trouxe o jantar para você. — Ela segura a caixa da


Terra e Mare.

— Estou esfomeado. Obrigado. — Ele se levanta.

Ela acena para Rhys e Moose, que cada um acena. Minha


irmã e Liam desaparecem lá atrás. Eu nem quero saber o que
eles estão prestes a fazer.

Então noto uma garota de cabelos escuros deitada com o


peito em cima da mesa, apenas de sutiã e calça. Algo parece
familiar nela, mas não consigo identificá-la.

— O que há, Moose? — Pego uma cadeira sobressalente


e a rolo.

— Nada. — Ele sorri para mim maliciosamente e depois


espia a garota.

Ele gosta dela? Moose é um cara careca muito alto que


quase não tem um centímetro de pele sem tinta. Ele recebeu
esse apelido porque tem o mesmo comportamento de um alce
– ele é mal-humorado e não suporta pessoas. Se você o
provocar, é melhor correr o mais rápido que puder. Só o
tamanho dele se encaixa no nome.
Eu olho para a garota novamente. Bunda bonita, mas eu
sou um homem de peito, então dou de ombros para ele como
‘claro, o que te excitar’.

Quando penso em seios, Cleo vem à mente. Outra


perdição nela são seus grandes seios. Eu sei que é bruto, mas
caramba, ela é abençoada com mais do que um punhado. Se
eu não a detestasse tanto quanto eu destesto, eu me arriscaria
totalmente e perguntaria se eu podia sentir um pouco.

Porra. O que eu estou fazendo? Eu preciso endireitar


minha cabeça.

A morena vira a cabeça na direção de Moose, e a mesma


experiência com Savannah, onde eu senti como se tivesse
aranhas rastejando por toda parte, é repetida.

— Merda. Ai, credo. Moose acabou de me fazer checar sua


bunda. — Eu me levanto, a cadeira batendo em algo atrás de
mim.

Minha irmã Phoenix me olha com seus maus olhos


escuros e sorrisos. — Como você não me reconheceu? Você me
vê todos os dias.

— Eu não olho para sua bunda! — Eu digo.

Ela e Moose compartilham uma expressão de ‘peguei ele’


e ela ri. É então que finalmente olho para ela e vejo uma
tatuagem familiar de pássaro.

— Você fez a mesma tatuagem que Brooklyn e Juno?


— Sim, eu estou meio chateada que ninguém me disse
que temos uma tatuagem de família.

— Nós não temos.

— Rome, Brooklyn e Juno têm a mesma.

— E somos nove, então isso é apenas um terço.

Rhys bate palmas lentamente atrás de mim. — Olhe para


o matemático.

Eu o tiro pelas minhas costas.

— Eu amo que isso representa mamãe e papai, então eu


estou fazendo uma. Por que você não tem uma?

Pego o banquinho e o volto de novo. — Porque eu não sou


um adepto.

Ela revira os olhos. — Isso é fraco.

Moose continua com sua tatuagem. Não posso negar que


amo o design do pássaro. Quando Rome fez, eu quase fiz, mas
somos gêmeos, então isso seria esquisito.

— Eu disse a Sedona, então da próxima vez que ela voltar


à cidade, ela fará Moose fazer a dela.

— Sem ofensa, Moose, mas por que você não pediu pro
Liam fazer isso? — Eu pergunto.

Liam é o nosso tatuador de família. Bem, ele é meu e de


Rome. Brooklyn e Juno eram ambas únicas.
— Ele disse que não queria arriscar que Savannah
estivesse brava com ele, porque realmente gosta de transar
todas as noites.

Eu tremo. Novamente. — Eles não podem manter a


conversa sobre sexo no quarto?

— Você se gabaria também. — Liam surge de trás e se


senta com seu bloco de desenho. — Vocês são todos
ciumentos.

— Nós não estamos com ciúmes, — Phoenix e eu


dissemos em uníssono.

— Eu estou. — Moose levanta a mão.

— Eu transo todas as noites. — Rhys ri.

Moose tosse. — Besteira.

— Então eu ouvi que você queria falar comigo? — Liam


diz nas minhas costas.

Empurro os calcanhares, me virando para ele. —


Savannah tem uma boca grande.

Ele inclina a cabeça. — Lembre-se, eu te amo como um


irmão, mas ela é a número um agora. — Finjo vomitar, e ele
retira o esboço em que estava trabalhando e o joga na minha
cabeça. — Pare de agir como se tivesse 13 anos.

Desvendando o papel – porque qualquer coisa que Liam


desenha é uma maldita obra-prima – olho para uma foto de
uma flor com um caule que se parece com um símbolo do
infinito. — Namorar minha irmã o deixou delicado?

— É uma orquídea. — Ele olha de volta para o escritório.


— Estou tentando convencê-la. Significa amor, beleza e força.
O símbolo do infinito é óbvio.

Coloquei no banco dele. — Sav fazendo uma tatuagem?


Okay, certo.

Liam encolhe os ombros. — Eu tenho que tentar.

— Bem, você definitivamente encontrou uma Savannah


que eu nunca conheci, então não devo dizer nunca.

Nesse momento, Savannah se junta a nós e Liam bate no


colo dele. Ela se senta e encontra o desenho de orquídea em
cima da mesa na frente deles. Ela estuda por um momento e
depois olha para Liam.

— Apenas um pensamento, — diz ele.

Seu olhar se move para ele e depois para mim. Eu levanto


minhas sobrancelhas e ela olha para Liam. — Vamos conversar
sobre isso.

Liam beija sua bochecha como se ela dissesse sim. Eu


tenho que estar perdendo alguma coisa. Como ela pode dar a
ele tanta alegria?

— Você faria uma tatuagem? — Eu deixo escapar.


Ela sorri para Liam. — Quem disse que eu ainda não
tenho uma?

Eles estão jogando algum jogo que não estou


participando, e a irritação cresce dentro de mim ao vê-los
juntos. Voltar no dia, este lugar era o meu porto seguro. Liam
e eu já estávamos no meio do caminho para resolver meu
problema. Mas agora ele teve que jantar primeiro – o que,
espero, não incluiu nenhuma parte do corpo da minha irmã –
e tive que esperar que ele aparecesse, e agora ela está sentada
no colo dele, monopolizando sua atenção.

— Ok, você sabe o que? Está na hora do Denver.

Eu levanto e pego a mão dela, mas Liam finge segurá-la


para ele. Quando puxo com mais força, ele rosna como um
cachorro e Savannah ri. Olho ao redor da sala como se eu
estivesse em um universo paralelo, e todos devem compartilhar
meu pensamento.

— Meu conselho não foi bom o suficiente, — diz ela, de


pé.

Eu pego Liam batendo na bunda dela. Se eu passar hoje


sem vomitar, ficarei chocado. Savannah desaparece na sala
dos fundos e Liam bate em sua bancada.

— O quê? — Eu pergunto.

— Já faz um tempo, e você sabe que a mesa e a tinta


ajudam a resolver seus problemas. Você confia em mim, certo?
Com a minha vida. E ele não está mentindo sobre um
novo pedaço de tinta me ajudando a descobrir a minha merda.
Quando me formei no ensino médio, sem saber o que queria
fazer, eu era o porquinho-da-índia de Liam, o que resultou em
uma âncora com uma cara de bússola que dizia que eu sempre
encontraria o caminho de casa. Ele tentou me fazer encobrir,
mas diabos, não escondi. É um original de Liam Kelly. Acho
que ele sabia o que eu queria antes de mim.

Ele me deu uma ferradura na minha omoplata direita


depois que meu avião caiu alguns anos atrás e eu quase morri.
Então um ramo de oliveira ao longo da caixa torácica direita
quando Rome conheceu Harley, e eu lutei para me tornar o
segundo na vida de meu irmão gêmeo. A única parte que ele
não tocou é no meu peito.

Não foi por isso que vim aqui?

Jogo minha camisa e me deito de costas. — Como você


sabia?

Assim como quando tínhamos seis anos, e concordamos


em fazer uma festa de papel higiênico no banheiro da
biblioteca. Estamos sempre na mesma sintonia. Bem, exceto
Savannah. Definitivamente, não estamos na mesma sintonia
lá.

Moose termina com Phoenix, e ela diz que vai incomodar


Savannah por algo nas costas. Liam e eu compartilhamos um
olhar que diz que sabemos que os gritos entre as duas devem
começar em cinco minutos.
A ideia de ser proprietário de uma empresa é meu único
foco, enquanto Liam lava as mãos, coloca as luvas, faz o
estêncil e retorna. Posso fazer o que Chip me pediu? Ele fez
muito por mim ao longo dos anos. Existe mesmo uma parte de
mim que poderia dizer não?

— Me dê uma dica, — diz Liam, começando o esboço do


estêncil de tatuagem que ele escolheu para mim.

— Será restritivo, cortado no meu estilo de vida.

— Como assim? Você ainda passaria algum tempo lá fora.


Você pode reservar quantos clientes querer ou quiser. — Liam
nunca olha para mim, mantendo os olhos na tinta que está
arrancando minha pele, limpando de vez em quando com uma
precisão que ele aperfeiçoa.

— Eu teria que manter as coisas à tona. Isso é muita


pressão.

Não sei dizer por que ele está quieto, mas presumo que
ele tenha seu sorriso clássico. Nós dois sabemos que as
pessoas nunca confiariam em mim.

— É verdade, mas você gosta das excursões, não é?

Estremeço quando ele bate na minha costela. — Eu gosto,


mas há muitos ‘e se’. Além disso, nem sequer sou apenas eu.
Eu tenho que administrar com a filha dele.

Ele concorda. — Cleo Dawson. Sav diz que é meio e meio?

— Sim.
— Ela não tem experiência.

— Exatamente. Ela mencionou comprar minha parte.

Seu olhar chama o meu quando ele mergulha a arma na


tinta. — E você está bem com isso?

— Não tenho certeza. Quero dizer, odeio o pensamento da


empresa de Chip falhar. Não há como ela continuar sozinha.
Eu vi os livros quando estava gerenciando as coisas para ele
enquanto ele estava doente. Ele mal está fazendo a folha de
pagamento neste momento. Além disso, sejamos honestos,
está super desatualizado. Os sobreviventes querem emoções
hoje em dia.

Ele fica quieto por um momento. — Parece-me que você


pensou muito nisso?

— Eu fiz. A razão pela qual eu amo esse tipo de pilotagem


é por causa dos lugares que ela me leva. Posso voar para
lugares onde poucas pessoas já estiveram e é algo que não
quero desistir. Liderar excursões é bom, mas não tão
emocionante quanto a pilotagem de exploração.

— Talvez você possa fazer as duas coisas ou combiná-las


de alguma forma? Talvez você seja o homem que dará à
Lifetime Adventures um novo começo.

— Mas?

Ele mergulha a arma na tinta. — Ouça, vamos cortar a


porcaria. Nós dois sabemos que você quer fazer isso, mas você
está com medo. Entendi. Quando abri este lugar, fiquei
assustado, mas não podia estar mais feliz sendo meu próprio
chefe. Você continua perguntando a opinião de todos como se
quisesse que alguém lhe dissesse para não o fazer.

Eu viro minha cabeça para longe dele. A verdade que ele


está falando é difícil de ouvir.

Ele se ocupa da minha tatuagem enquanto penso na


última vez que pedi conselhos a alguém. Faço o que quero, que
se danem as consequências na maioria das vezes. Chip sempre
foi um dos meus caras a quem recorria, e eu já sei o que ele
pensava.

Por que sou tão rápido em pressionar as pessoas a me


dizerem para não fazer isso? Liam está certo – estou com medo
de falhar. Eu gosto da minha vida simples e fácil.

Enquanto tudo passa pela minha mente, Liam termina a


tatuagem e me senta para olhar no espelho. Examino a
tatuagem do pássaro logo abaixo do meu peitoral esquerdo. Ao
longo da caixa torácica, há dois pássaros sentados em um
galho. Porra, Liam. Ele é talentoso demais para o seu próprio
bem. Ele descobriu uma maneira de me dar os pássaros sem
copiar o que minhas irmãs têm.

Ele sorri para mim por cima do meu ombro. Ele não diz
nada sobre o simbolismo de ter os dois melros bem perto do
meu coração.

— Obrigado, cara.
Quando eu estou prestes a me sentar para ele me
enfaixar, a porta do Smokin 'Guns abre e me deparo com
ninguém mais que Cleo Dawson.
— Esse não é o que...? — Bridget me dá uma cotovelada
na costela e dou um passo para a direita, segurando o meu
lado. Ela bebeu muito vinho tinto no restaurante.

Como eu não sabia que Denver tem tatuagem? E por que


acho isso tão atraente? Além do nosso amigo Ford, que foi
desonesto na multidão do country club, ninguém em nosso
círculo tem tatuagens. A pele tatuada tem um lugar macio no
meu coração há anos, e agora estou olhando para o homem
que odeio e todo o sangue nas minhas veias está zerando entre
as minhas pernas.

— Cleo Dawson. — O olhar de Denver segue as curvas do


meu corpo no meu casaco, como se ele soubesse como estou
nua, e meu corpo responde com calafrios.

— Denver Bailey. — Eu propositadamente adiciono um


tom frio à minha voz, mas do jeito que Bridget está olhando
para mim, ela sabe que é forçado.
Seus olhos se arregalam como se ela estivesse
silenciosamente me perguntando por que eu nunca disse a ela
que não me importaria de fode-lo também.

— Posso ajudar vocês, senhoras? — Um cara de corte


limpo, com cabelos escuros e sem piercings ou tinta chega até
a mesa.

— Eu gostaria de fazer uma tatuagem, — diz Bridget com


a bravata de uma cliente veterana.

Balanço a cabeça para ele atrás dela. Eu a trouxe aqui


para dar um humor nela antes de irmos para o hotel, onde
darei mais alguns copos de vinho antes que ela desmaie.
Quando ela acordar de manhã, direi a ela que a salvei de
marcar permanentemente sua pele.

— O que você está procurando?

Balanço a cabeça com mais firmeza, mas o cara não está


prestando atenção em mim. Se Bridget estava preocupada se
é considerada atraente nesta cidade, esse cara está pronto
para provar a ela que tem mais de dez anos. Ele está olhando
para ela como a maioria dos homens, o que significa que vai
agradá-la e vai contra os meus desejos.

— Algo fofo e feminino, — diz Bridget.

Ele concorda. — Uma flor? Um coração? Onde você quer


isso?
A porta se abre e cinco pessoas entram na loja, cada uma
com uma infinidade de tatuagens. Sim, definitivamente somos
como freiras na mansão da Playboy aqui.

Bridget se inclina sobre o balcão. — Em algum lugar


privado.

Eu a alcanço. — Sério, Bridge, vamos lá. Você não precisa


de uma tatuagem.

Ela desliza o braço para fora do meu abraço. — Sim, eu


quero.

— Não existe algum tipo de lei sobre tatuar pessoas sob


influência de álcool? — Eu imploro.

— Não é uma lei, — o sujeito diz com um encolher de


ombros.

— Rhys. — O cara que estava com Denver se aproxima.


Sei que nos conhecemos antes, quando ele entrou na Lifetime
Adventures, pedindo uma doação para um leilão de caridade
quando meu pai estava doente. Eu não tenho certeza do nome
dele, no entanto.

Meus olhos me traem enquanto vejo Denver colocar sua


camisa de volta, um curativo sobre onde ele fez sua tatuagem.
De camisa, ele voltou a ser um cara limpo.

— Ela bebeu muito? — Rhys, como agora eu sei que ele


se chama, pergunta.
— Apenas um pouco de vinho tinto. — Bridget não pode
segurar seu insulto.

O cara que veio me buscar. — Cleo Dawson?

Eu respiro fundo. — Sim.

— Liam Kelly. — Ele estende a mão. — Nós já nos


conhecemos antes. — Eita, eu esqueci como ele é bonito. O que
há na água desta cidade para deixar todo mundo tão bonito?

Eu aperto a mão dele. — Bom te ver de novo.

— Eu sou o melhor amigo dessa pessoa. — Ele balança a


cabeça em direção a Denver.

Personagens.

— Então você ouviu que somos notícias quentes em Lake


Starlight, certo? — Denver se junta aos dois homens do outro
lado da mesa.

Eu estreito meus olhos. — É ridículo. Eu nem sabia que


isso existia.

— Acabei de ver outro de vocês. Você é um chef? —


Bridget aponta para Denver.

— Gêmeo, lembra? — Eu digo a ela.

Ela olha interrogativamente para mim e depois assente


como ‘sim, você está certa’.

Eu sei que estou certa.


— Por que você não ajuda essas pessoas lá, Rhys? Eu
acho que eles são seus próximos clientes. — Liam aponta para
as pessoas vasculhando o quadro de tatuagens em exibição.

— Você pode levá-los, eu prefiro fazer esta. — O olhar de


Rhys não se afastou de Bridget.

— Você não teve o seu preenchimento de flores este mês?


— Liam diz para Rhys.

— Isso me torna a melhor opção dela. Sou especialista. —


Rhys se inclina sobre o balcão e envio um olhar suplicante
para Liam.

— Rhys, vá. — Liam cutuca o cara, então ele se vira para


a minha Bridget. — Escute, eu adoraria fazer uma tatuagem,
mas você vai sangrar tanto que ficará uma merda quando se
curar. Então, se você quiser voltar amanhã, eu ficaria feliz em
tatuá-la.

— Eu quero que ele me tatue. — Ela aponta para Rhys.

— Claro, ele pode tatuá-la... amanhã.

Bridget se vira para mim, mas seu olhar volta


rapidamente para o cara, dando-lhe toda a atenção. — Quando
você sai?

Rhys lança um olhar desesperado para Liam.

Liam é definitivamente o chefe então.


— Ele tem mais alguns clientes, mas você pode ficar por
aqui. — Liam sorri e depois olha para Denver e eu. — Se vocês
dois querem conversar?

— Não, — dizemos ao mesmo tempo.

— Ok. Bem, tenho que chegar a outro cliente. Prazer em


vê-la novamente. Tenho certeza de que vou te ver por aí. — Ele
anda por trás do balcão e sinaliza para um cara vir.

— Espere por mim? Terminarei no máximo meia hora, —


Rhys diz para Bridget.

— Nós estamos indo para o hotel, — digo a ele, deslizando


meu braço através do de Bridget.

— Eu vou esperar, — diz ela, me ignorando. — Posso


assistir você trabalhar?

— Claro. — Rhys abre a pequena porta do posto e Bridget


entra.

— Bridge.

Ela se vira e sorri para mim, levantando o dedo. Eu já


estive nessa situação mais de uma vez, e depois de tudo nas
últimas duas semanas, não tenho mais nenhuma briga dentro
de mim. Quando eu desvio minha atenção dela, Denver está
me encarando.

— O quê? — Eu pergunto a ele.

— Ainda vai comprar a minha parte?


— Você disse que não estava à venda.

— Talvez seja a oferta certa.

Definitivamente, não quero que ele saiba que o comprar


não é uma possibilidade. — Talvez devêssemos encontrar um
comprador juntos.

Ele se senta no banquinho atrás do balcão. — Você vai de


comprar a minha parte para sair completamente?

— Estou apenas dizendo. Eu tenho acesso às contas dele.


— Olho em volta e me inclino para frente. — Ele não tinha
dinheiro.

— Eu imaginei. Quero dizer, tenho estado no comando


nesses últimos meses e a empresa mal fazia a folha de
pagamento.

Meus ombros caem. Eu esperava que a empresa estivesse


prosperando e papai estivesse tomando muito pouco para si. A
ideia dele lutando me faz querer chorar, mas não vou fazer isso
aqui. — Você está me dizendo que herdamos uma empresa
falida?

— Não é como se não pudesse se recuperar. — Ele apoia


os pés na beira do balcão, e noto todos os rabiscos e anotações
no pedaço de madeira.

— Como?
— Sem o seu envolvimento. — Ele coloca os braços
preguiçosamente em volta dos joelhos e os dedos longos batem
nas canelas ao ritmo da música que sai dos alto-falantes.

É Imagine Dragons, mas não consigo lembrar o nome da


música. Não que isso importe.

— Você esquece que precisa do meu envolvimento, — eu


digo.

— Na verdade, não. Você sabe que não quer.

— Por que você diz isso?

Ele ri e seu olhar cai no meu casaco de lã. — Você está


quente agora?

— Eu estou quente.

Ele acena para o lado de fora, onde as rajadas caem. —


Quente o suficiente para passar a noite lá fora?

— Eu não tenho que fazer as excursões, então o que isso


importa? — Meus punhos cerram ao meu lado.

— Você não duraria cinco minutos sem reclamar sobre


como está com frio. O que na Terra faz você pensar que poderia
administrar uma empresa de excursões que não está indo para
algum resort de praia rico?

Denver está certo, mas nunca direi isso a ele. Eu deveria


ter tentado aprender mais com meu pai, mas Denver
subestima meu desespero. Eu não tenho nada, exceto isso.
Falhar não é uma opção.

— E você não pode ficar dentro do cronograma por cinco


minutos. Sem mencionar uma rotina diária, provavelmente
não funcionaria para você.

Seus pés caem e ele se levanta.

Oh, eu atingi um nervo. Bom.

— Não obtenha todos os seus fatos sobre mim no Buzz


Wheel, — diz ele.

— Então, qual é o nome do seu peixe dourado, então?

Ele me estuda por tanto tempo que minhas costas retas


quase vacilam, e quando suas mãos pousam na beira do
balcão e ele se inclina para frente, minha respiração para por
um momento. Seu aroma limpo e terroso me alcança.

— Basta vender suas coisas e sair da cidade, — diz ele


em voz baixa.

— Não vai acontecer. Se for o caso, ficarei para te irritar.

— Você sabe que eu poderia expulsá-la. — Sua postura


arrogante diz que acredita no que está cuspindo.

— Como você sabe?

— Por que eu te diria? É como revelar meus segredos.


Eu estreito meus olhos, mas ele enfrenta meu desafio com
um sorriso. Má energia nos rodeia como se estivéssemos no
meio de um tornado que ganha velocidade quanto mais tempo
nenhum de nós fala.

— É assim que você quer que caia? — Ele cruza os braços,


então estremece e os deixa cair.

— Oh, coitadinho, por conta da tatuagem nova?

— Não se preocupe comigo, princesa, se preocupe com


você.

— Ugh! — Eu quero gritar, gritar e dar um soco. De todos


os homens com quem eu poderia estar presa nessa situação,
tem que ser ele – um arrogante e filho da puta que quer
continuar sendo um adolescente pelo resto da vida.

— Ok, vocês dois. Agora vocês estão incomodando meus


clientes. — Liam se aproxima, agarra meu braço e o de Denver
e nos leva ao corredor dos fundos. Ele nos para e abre a porta
no final do corredor.

Uma loira bonita com um coque bagunçado que parece


familiar aparece do computador com uma caneta na boca.

— Desculpe, querida, esses dois precisam de privacidade,


— diz Liam.

Ela sorri, desliga o computador e deixa cair a caneta, de


pé. — Cleo Dawson? Prazer em vê-la novamente.

Eu dou a ela um sorriso tenso.


— Savannah Bailey. — Ela assente para mim.

— Claro. Outro Bailey. Vocês estão em toda parte. — Eu


puxo meu braço do de Liam com força desnecessária porque
seu aperto era leve. Se Bridget não estivesse flertando com
Rhys, eu teria saído deste lugar.

— Deixe-os conversar, — diz Liam.

Savannah desliza entre nós. — Claro.

Liam empurra Denver para o escritório, e ele fica em pé


antes de sua testa encontrar um arquivo. Que pena. Isso teria
me dado um grande prazer.

Antes que eu possa entrar, Savannah corre de volta, pega


seu laptop e sorri para mim. Então a porta se fecha com um
estrondo e ficamos ali quietos por um momento. Denver senta-
se na mesa e coloca os pés na cadeira.

— Que cavalheiro você é.

Sua expressão confusa quando olha para cima diz que eu


tenho que me explicar.

— Você não deixa a senhora escolher seu assento


primeiro?

Ele chuta a cadeira na minha direção. — Por todos os


meios, princesa. Senta.

— Eu não sou uma princesa.


Ele não discute, em vez disso, solta um suspiro frustrado.
— Eu não quero brigar com você, mas isso nunca vai funcionar
entre nós. — Sua voz é calma e segura. — Nós dois não
podemos administrar a empresa.

Sento e cruzo as pernas. Seus olhos seguem o meu


movimento. Estaria mentindo se dissesse que uma emoção não
disparou em minhas veias.

— Eu não posso comprar sua parte. Isso não é uma


opção. — Eu odeio admitir isso, mas que escolha tenho?

— Sério?

Encontro seu olhar para que ele saiba que estou dizendo
a verdade, por mais embaraçosa que seja. — Sério. Portanto, a
menos que você possa comprar a minha, não há muitas opções
no momento. Exceto vender imediatamente.

Ele me estuda por um minuto. — Por que você quer a


empresa?

É a pergunta que eu gostaria de ter a resposta. Poderia


lhe dar muitas razões – ser legado de meu pai; perguntas feitas
a mim mesma do porquê a empresa sempre ter sido mais
importante para meu pai, mais do que eu; encontrar meu lugar
no mundo, já que parece que estou procurando em todos os
lugares errados. Mas, por alguma razão, escolhi contar a
verdade. — Ainda não sei. Você?

O vejo soltar um suspiro como se não gostasse da minha


resposta. — Você leu sua carta?
— Sim.

— E?

— E o quê?

— O que ele disse?

Descruzo e cruzo as pernas, mudando de posição. — Não


é da sua conta.

Ele assente, mas seu sorriso habitual brilha. Estou


assumindo que nossas cartas são semelhantes. Se os motivos
que deu a Denver são tão válidos quanto os que ele me deu,
deveríamos encontrar uma maneira de salvar a empresa
juntos, em vez de discutir sobre todos os motivos pelos quais
a outra pessoa não pode administrá-la.

Seus ombros caem. — Escute, seu pai era meu mentor.


Ele me ensinou muito, então vou ficar por aqui e levar essa
empresa para onde ela pertence, onde ele merecia estar. Não
posso me comprometer com nada, mas posso me comprometer
com isso.

Solto um suspiro e inclino a cabeça para trás.

— Estou tentando aqui, — diz ele.

Ele está, e eu estou sendo difícil. — Eu posso me


comprometer com isso também.

— Então, vamos realmente fazer isso juntos?

— Eu acho.
— Se tudo mais falhar, podemos vender, — diz ele.

— Estou vendo que já tem seu plano de saída pronto? —


Eu me levanto da cadeira e vou para a porta.

Não alcanço a porta antes que a mão dele segure meu


cotovelo. Ele está atrás de mim, sua respiração irregular. —
Estou oferecendo sugestões. Acredite, se eu fizer isso, estou
dentro. Não sou um cara meio idiota. — Ele parece sincero,
mas quieto, como se não quisesse que alguém soubesse isso
sobre ele.

— Vejo você amanhã, Denver. — Minha mão está na


maçaneta da porta.

— Só para mostrar o quão bom parceiro vou ser, aposto


que posso tirar sua meia-irmã daqui.

Eu me viro e ele ainda está tão perto, seus lábios na frente


e no centro. Eu só teria que subir na ponta dos pés e a minha
boca poderia encontrar a dele. Aposto que ele sabe cuidar de
uma mulher, sabe o que fazer. Deus, já faz muito tempo para
mim. — O vencedor ganha café?

— Gosto de cerveja gelada, preta. — Sua mão torce a


maçaneta da porta e ele sai para o corredor.

Eu nem estou fora da sala quando o alarme de incêndio


dispara e todos se mexem. Bridget está me procurando
freneticamente quando chego à frente da loja. Posso não
concordar com suas palhaçadas, mas ele foi bem-sucedido.
Liam olha para Denver e acho que vou sair de Dodge antes que
a luta comece.

Denver pisca para mim enquanto Bridget desliza o braço


pelo meu e caminhamos em direção à saída. Ele fala “cerveja
gelada, preta” mais uma vez para ter certeza de que ele venceu
a rodada.
Nancy está bebendo seu café, lendo o Lake Starlight
Journal. Eu juro, ela, o centro sênior da vovó Dori, e Liam,
devem ser os únicos a manter esse jornal nos negócios. Ela
levanta a cabeça.

— Bom dia, — diz ela, colocando os óculos no jornal e


indo para a cafeteira.

— Eu vou dizer isso de novo. Você não é minha assistente


pessoal. — Largo minha bolsa de computador e corro para a
cafeteira antes que ela possa me servir uma xícara. Meu
movimento retira seu sorriso brilhante do rosto.

— Eu sempre peguei o café de Chip.

Já falamos sobre isso, mas também entendo que ela está


sentindo falta do companheiro de vinte anos. Tenho saudade
dele também.

— Ok, mas não sinta que precisa pegar meu café todas
as manhãs.

Ela sorri e me tira do caminho com o quadril. — Preto?


Não tive coragem de dizer a ela que gosto de cerveja
gelada. Não sou realmente um tipo de pessoa com bebida
quente, a menos que esteja acampando. Hoje não é o dia de
mencioná-lo, considerando seus olhos vermelhos. Ela está
sofrendo. Todos nós estamos. Alguns de nós apenas escondem
isso melhor do que outros.

— Perfeito, — digo com o máximo de sorriso que posso


reunir.

Ela derrama e me entrega uma das canecas de Chip. É


branca, com letras em negrito em preto que diz: 'Melhor chefe
de todos os tempos'. Eu relutantemente aceito para tornar o
dia de Nancy um pouco melhor.

— Eu estarei no escritório. Não temos nada planejado


hoje, mas tenho certeza de que Cleo estará presente.

— Eu ligo para você assim que ela chegar.

— Ela é dona de parte, então, pode simplesmente entrar.


— Embora eu imagine por um momento a reação de Cleo se
Nancy a detivesse e dissesse que tinha que me chamar
primeiro. Um brilho satisfatório deve atingir meu rosto, porque
Nancy está sorrindo de orelha a orelha quando a olho. — Se
você pudesse obter as finanças do ano passado, isso seria
ótimo.

Suas costas se endireitam. — Sim. Claro que posso fazer


isso. — Ela praticamente corre atrás da mesa. — Apenas me
dê um momento para iniciar isso.
Nós dois olhamos para o computador extremamente
antigo. Está na última mesa e, quando ela pressiona o botão
iniciar, um zumbido soa.

Isso é típico. O velho fiel é irritante, mas confiável. Ela se


senta, colocando os óculos de leitura e fechando o jornal.

Nunca vi alguém tão entusiasmado por trabalhar. —


Ótimo. Obrigado, Nancy.

— O prazer é meu. — Ela aperta uma tecla repetidamente.


A tela pisca e fica preta novamente. — Honestamente, estamos
bem. Você vai começar o seu dia.

Concordo com a cabeça e hesito antes de entrar no


escritório, ou como Chip se referiu a isso. Não fiz nada aqui
além de mudar a papelada para o lado da mesa. Mapas antigos
estão enrolados no canto, e papel, agora colorido em amarelo,
paira nas paredes, anunciando aventuras com pessoas dos
anos oitenta. É um escritório. Um pequeno com o cheiro velho
de fumaça de cigarro, e imagino que parecerá ainda menor
quando Cleo chegar.

Largo minha bolsa em uma das duas cadeiras ao redor


da mesa usada para consultas dos clientes. Gostaria de saber
quando foi a última vez que Chip apareceu aqui para reservar
uma viagem? Hoje em dia, as pessoas planejam essas viagens
online. Examinando seus papéis, tento entender tudo, mas as
notas com selos vermelhos não precisam ser explicadas para
mim. Chip não me pediu para lidar com nada disso quando ele
estava doente – eu apenas tive que fazer os passeios com os
quais ele já estava comprometido. Eu sabia que a Lifetime
Adventures não estava tendo muito lucro, mas, pelo que
parece, estamos a um segundo de fechar nossas portas.

A porta do escritório se abre e um cheiro estranho atinge


minhas narinas antes que eu possa olhar para cima.

Cleo fica na porta com uma bandeja de cafés gelados, um


de cor caramelo e outro preto. Ela está de jeans e um suéter,
mas suas vestes, sem meias, gritam que ela não é da região.

— Eles são tudo que eu tenho, ok? — Ela entra e percebo


o quanto ela é mais baixa sem os saltos de sempre.

Eu balanço minha cabeça para ela. — Precisamos ir às


compras.

— Ei, Nancy está bem? — Ela sussurra, procurando um


lugar vazio na mesa para colocar os cafés. — Entrei, ela olhou
para minha bandeja de café e começou a chorar. Trouxe um
para ela e disse que não ficaria ofendida se não gostasse.

Eu levanto minha melhor caneca do chefe. — Ela está


sentindo falta do seu pai.

Ela franze os lábios e assente, toma a bebida e senta-se


na cadeira, pernas cruzadas. A maneira como seus jeans são
moldados nas pernas enche minha mente com pensamentos
sexuais indesejados de envolver essas pernas em volta da
minha cintura. — Então, recrutá-la para me ajudar na casa
dele não é uma opção.
Inclino-me na minha cadeira. — Eu diria que isso é
negativo no momento.

— Você acha que eles…— Ela toma um gole de bebida, as


sobrancelhas subindo até a linha do cabelo.

— Não. Acho que não. — Puxo em meu cérebro para


lembrar de suas interações. Nada de sexual vem à mente, mas
tendo a não perceber tudo ao meu redor. — Eu acho que podia
ver isso. Ela está solteira. Ele era solteiro.

— Os dois serem solteiros não significa que eles estavam


juntos, — diz ela usando um tom que sugere que eu sou tão
desprezível.

— Pessoas solteiras podem, e acho que os dois eram


solteiros.

Chip sempre dizia que só precisava de uma xícara de café


quente, um fogo quente e um nascer do sol todas as manhãs.
Ele nunca mencionou querer um corpo quente ao lado dele,
mas quem poderia culpá-lo?

— Mesmo se eu estivesse sozinha, isso não significa que


dormiria com alguém apenas para dizer que dormi.

— Você está jogando punhais no meu caminho?

Ela sorri docemente. — Não tenho ideia do que você quer


dizer.
Concordo e deixo o assunto passar. Temos muito o que
fazer. — Pedi a Nancy para trazer as finanças do ano passado.
E, nota lateral, ela precisará de um novo computador.

Ela assente. — Ela estava pressionando algum botão no


teclado várias vezes quando entrei.

— Sim, bem, seu pai nunca adotou novas tecnologias.

— Você acha? Ele ainda tinha um telefone flip.

— Toda vez que eu mandava uma mensagem para ele,


ele...

— Ligava para você? — Ela ri um pouco. — Para mim,


também.

— Tentei mandar uma mensagem de texto pelo telefone


dele, e era uma habilidade. Pressionando um botão três vezes
antes de uma letra aparecer?

Ela balança a cabeça. — Nunca o entendi. — O rosto dela


cai e ela se distrai ao tirar as fotos na parede.

Deixo alguns momentos de silêncio passarem porque não


tenho certeza do que dizer. Não entendi meus pais, mas tinha
13 anos e fui egoísta quando eles morreram.

Pego a pilha de contas. — Bem, há muitas dívidas aqui.


Estou começando a pensar que talvez não consigamos salvar
esta empresa.
Ela solta um suspiro. — Nada que possamos fazer, além
de ver como é ruim.

Ela desliza a cadeira para o outro lado da mesa, puxa o


cabelo para trás em um rabo de cavalo e pega uma pilha de
papéis para começar.

Duas horas depois, temos duas pilhas de papéis. O mais


alto são contas a pagar. O menor, faturas pagas. Um jardim de
infância poderia ver para onde esta empresa está indo.

Nancy trouxe as finanças não apenas do ano passado,


mas dos últimos cinco anos.

— Dois anos atrás, ele estava indo forte. Ele diminuiu,


mas ficou muito ruim quando ficou doente, — diz Cleo.

— Me sinto culpado. Eu deveria estar recrutando


negócios. Tudo o que fiz foi fazer as viagens das pessoas que
ele já havia reservado. Poderia estar ativamente tentando
conseguir novos negócios.

Cleo gira o computador na minha direção e se inclina


para trás, apoiando uma perna na borda da cadeira. — Não há
uma tonelada que você poderia ter feito. Ele não apenas não
possui Wi-Fi decente neste escritório, como também é um
desastre. Ele estava trabalhando inteiramente no boca a boca.
Clico em algumas coisas, mas, além das mesmas fotos
dos anos oitenta que adornam a parede, não há nada que faria
alguém escolher essa empresa.

— O nome dele é enorme na rede profissional de


sobrevivência. — Chip Dawson é um nome que a maioria dos
extremistas e sobreviventes reconhece. Mas com o passar do
tempo, novas pessoas na indústria podem não ser tão
familiares.

— Precisamos apelar para uma multidão mais familiar.


Ou faça excursões em equipe no local de trabalho, — diz ela.
— Existem muitas possibilidades, mas acho que a base de
clientes é muito estreita agora.

— Deixe-me adivinhar, você tem um MBA?

Ela balança a cabeça. — Apenas meu diploma de


bacharel.

— Acho que Chip tem um nicho que devemos manter,


mas devemos encontrar uma maneira melhor de anunciar o
serviço.

Ela já está balançando a cabeça e solto um suspiro antes


de ter que ouvir sua discordância.

— Precisamos de excursões para os que não procuram


emoção. Quem quer pegar um ônibus para percorrer uma
geleira ou caminhar por uma trilha, não escalar uma
montanha.
— Isso não é a Lifetime Adventures.

— Mas talvez deva ser. — Ela solta o cabelo do rabo de


cavalo e a vejo balançar para frente e para trás como um
pêndulo. Gostaria de saber se é tão macio quanto parece.

— Essa é uma empresa diferente.

— Isso é porque você é um candidato a emoção. Você quer


a pressa de estar à beira da morte.

Inclino minha cabeça. — Já tive um desses. Não estou


procurando uma repetição. O acidente em que estive alguns
anos atrás me abalou tanto que quase parei de pilotar. Meu
coração ainda palpita quando sobrevoo o mesmo local em que
Griffin Thorne e eu caímos.

— Ah, sim, eu esqueci que você foi famoso por alguns


segundos.

— Não fui eu. Era o produtor musical que eu tinha no


avião. Você sabe, de salvar a vida dele.

Ela ri, mas sua diversão diz que está se acostumando com
o meu humor seco. — Isso teve que impulsionar esse seu ego
até o mesmo nível do Monte Everest.

Dou de ombros. Ela nunca entenderia o quão profundo


esse momento era para mim.

— De qualquer forma, precisamos decidir o que vamos


fazer, — digo. — Depois de pagar essas contas, precisamos de
dois meses de clientes sólidos para continuar. Não podemos
mudar a maneira como os negócios são administrados.
Precisamos de uma solução.

— Talvez devêssemos vender? — Ela leva os joelhos ao


peito e os aperta firmemente ao corpo.

— Talvez, — concordo e seu olhar se lança ao meu. — O


que? Você disse primeiro.

— Porque quero que você se oponha.

— Por que eu iria me opor?

Ela descansa o queixo nos joelhos. — Porque você ama


isso. Isso é coisa sua.

— Não exatamente.

Ela muda a cabeça para que a bochecha fique no joelho.


Ela está tão triste quanto Nancy, mas está tentando esconder.

Balanço a cabeça. — Vamos colocar esse negócio no


escuro. Tenho algumas ligações que posso fazer para quem
queira fazer uma viagem comigo.

— E quanto a mim?

— Você pode ficar aqui e ser o rosto bonito. — Seus olhos


se estreitam e eu meio que quero rir, mas mantenho minha
compostura. — Estou brincando.

— Você sabe, posso sobreviver à vida selvagem.

— Sério?
— Sim. — Suas sugestões não verbais não correspondem
às suas palavras nem um pouco.

— Então, quando formos espalhar as cinzas do seu pai,


podemos ficar alguns dias.

— Isso não é por alguns meses.

— Oportunidade perfeita para você assistir ao Discovery


Channel e obter algumas dicas.

Ela pega uma caneta e joga em mim. O telefone na mesa


toca e nós dois o encaramos como 'quem diabos está ligando?'
Então vejo que é a recepção.

— Ei, Nancy, — respondo.

— Há algumas pessoas aqui para Chip?

Cleo e eu olhamos um para o outro, depois para o telefone


como se fosse nos dar todas as respostas.

— Quem? — Pergunto.

— Selma Torres com a descoberta da beleza da América.

— Por que ela está aqui? — Cleo pergunta, e nós ficamos


de pé ao mesmo tempo.

— Vamos descobrir.
Uma pequena mulher que veste o oposto completo de
Cleo fica na outra sala. Você acha que estamos no Ártico e nos
preparando para uma nevasca de um mês. Ela está usando
uma enorme jaqueta que chega aos tornozelos, onde há botas
de sola de borracha forradas com pelo.

— Chip? — Ela sorri e estende a mão.

Nancy chora, e Cleo entra lentamente na frente da mesa


de Nancy para impedi-la de interromper a conversa.

— Denver Bailey, na verdade. — Aperto a mão dela. —


Esta é Cleo Dawson.

— Prazer em conhecê-la. — Cleo aperta a mão dela, mas


a mulher parece confusa.

— Você é a esposa de Chip?

— Não, — Cleo responde, mas não oferece explicações.

Ótimo. Eu vejo que isso é tudo sobre mim.


Dois homens estão atrás de Selma e não conseguem
parar de olhar para Nancy enquanto ela assoa o nariz em voz
alta, aumentando a pilha de lenços ao lado do jornal. Tenho
certeza de que ela estava lendo quando eles entraram. Ótima
impressão.

— Você gostaria de entrar no escritório? — Pergunto.

— Posso perguntar do que se trata? — Cleo pergunta


antes que Selma possa responder.

— Temos negócios com Chip Dawson. Estou confusa. É a


Lifetime Adventures, certo? — Ela olha em volta da sala
procurando algum sinal.

Não há um, é claro. Chip deve ter pensado que quando as


pessoas chegavam aqui, sabiam onde estavam.

— É, mas um… — Olho para Cleo. Nancy parou de


chorar, para que possamos conversar aqui. — Chip faleceu há
duas semanas.

Um grito alto de Nancy ecoa pela sala.

Os dois homens olham para ela, um pouco mais perto. —


Ela está bem?

— Ela está, — diz Cleo. — Na verdade, talvez eu a leve ao


banheiro.

Agarro seu suéter antes que ela possa fugir e a puxo de


volta para o meu lado. Ela está me ajudando com isso, goste
ou não.
— Oh, sinto muito por sua perda, — diz Selma. — Ele
colocou seu nome para fazer parte de um reality show baseado
em empresas de excursões no Alasca. Quando não
conseguimos encontrá-lo, meu chefe, que está familiarizado
com a reputação de Chip, me pediu para vir aqui e encontrá-
lo.

Eu sabia que Chip era bem conhecido em seu círculo,


mas não que apenas o nome dele pudesse levá-lo a participar
de um show. Ele não tinha uma personalidade muito amigável
e animada, e seu limiar para o drama era mínimo.

— Desculpa, — digo. — Se soubéssemos que ele tinha


feito isso, um de nós teria entrado em contato com você. —
Olho para Cleo, que não acrescentou nada à conversa.

— Não precisa pedir desculpas. Tenho certeza de que você


esteve ocupado com outras coisas, dada a situação. — Selma
acena para nós três, incluindo Nancy, que está tentando se
recompor. O comentário de Selma apenas gera outra rodada
de lágrimas e choro incontrolável.

Selma se vira e fala com o rapaz mais jovem dos dois. —


Zeke ficará triste com esta notícia. Vamos ligar de volta para o
hotel. É uma pena, o dinheiro poderia ser capaz de enfeitar
esta sala de espera.

O cara mais jovem ri. Sim, não é o Ritz Carlton aqui. Não
que eu soubesse, porque nunca estive em um. Mas tenho
certeza de que Cleo tem.
— Dinheiro? — Eu avanço. — Chip seria pago para fazer
o show?

O cara de barba grisalha acena com uma expressão


ansiosa como se quisesse que eu perguntasse. Mas acho que
ele faria qualquer coisa para fazer Nancy parar de chorar.

— Claro. Você realmente achou que as estrelas da TV na


realidade não foram pagas? Todo episódio, — diz Selma. —
Muitos deles ampliam suas personalidades para permanecer
no ar para que possam manter o salário.

Cleo e eu olhamos um para o outro. Só consigo pensar


nos selos vencidos em vermelho e no fato de que nosso anjo
salvador, chamado Selma, está em pé na nossa sala de espera.
Cleo assente como se pudesse ler minha mente.

— Nós somos os novos proprietários. — Eu balanço meu


dedo entre nós.

Os olhos de Selma mudam de mim para Cleo e depois


para o homem mais jovem com ela, que também está vestido
para a tundra. — Vocês são um casal?

— Inferno, não, — respondo.

— Como se…— diz Cleo com um revirar os olhos. — Eu


quero dizer não. Nós mal nos conhecemos.

Selma sorri e olha para o cara novamente. Como Cleo e


eu acabamos de fazer, eles têm uma conversa silenciosa. — Eu
não sei. Zeke escolheu Chip, e vocês dois não parecem ter
muita experiência. Talvez se vocês fossem um casal. Os
Estados Unidos adoram assistir casais trabalhando juntos.
Melhor ainda se houver problemas.

Crescendo com irmãs, já vi minha parte na televisão da


realidade. Eu sei que isso se inclina para o dramático.

— Que tal eu te levar para almoçar? Você pode ver a


cidade. Acredite, deve haver um reality show baseado nisso, —
digo. Ela continua ali, e eu tomo isso como um bom sinal. Ela
está me deixando convencê-la. — Eu sou um de nove filhos.

— Você é? — Cleo pergunta.

Eu concordo. — Cada um de nós tem o nome da cidade


em que fomos concebidos.

— Você tem? — Cleo pergunta novamente.

Eu concordo. — Meus pais morreram quando eu tinha


treze anos.

Os ombros de Cleo caem e sua mão toca meu antebraço


brevemente. Eu olho para ela e aceno que está tudo bem.

— Meu irmão me criou. Ele é um professor casado com a


diretora do ensino médio. Meu irmão gêmeo é dono de um
restaurante na cidade. — Penso em qualquer outra coisa que
eu poderia dizer a ela. — Meu cunhado é dono do Glacier Point
Resort.

— É onde estamos hospedados, — diz Selma.


— Eu também! — Cleo diz, apontando para si mesma.

— Vamos ver, o que mais posso lhe dizer... — Pronto, meu


cérebro busca qualquer outra coisa que possa ser suculenta e
interessante o suficiente para fazer Selma nos considerar.

Ela olha para o rapaz uma última vez. Quero ficar entre
eles e divagar sobre todas as razões pelas quais isso poderia
funcionar, mas antes que eu tenha uma chance, a porta do
lado de fora se abre. Uma lufada de vento frio entra na sala,
então alguém empurra o jovem para fora do caminho.

Vovó D fica na frente de Selma, olhando-a de cima a


baixo. — Oh, querida, é o Alasca, não a Sibéria. — Ela se
aproxima de mim e beija cada bochecha. — Estou aqui para
oferecer meus conhecimentos de negócios. Savannah disse que
você precisava de mim. — Ela abriu o cachecol e desabotoou a
jaqueta. — Oh, Cleo, bem-vinda de volta.

Minha avó conhece Cleo?

— Oi, Dori.

Minha avó se aproxima e beija as bochechas de Cleo. —


Você precisa de sapatos melhores. Denver a levará às compras.

Eu reviro meus olhos.

— Oh, Nancy. — Vovó D contorna a recepção e abraça


Nancy. Ela me lança um olhar para dizer: — Pobre bebê.

— Quem é essa? — Selma pergunta.


— Essa é minha avó, — digo.

Selma assente, mas seus olhos não se desviam de Dori.


— Dê-nos um minuto, ok?

Ela levanta a mão e sinaliza para os dois homens a


seguirem para fora.

Vovó D fica com Nancy enquanto Cleo e eu voltamos ao


escritório para discutir se isso é algo que queremos fazer.
Quero dizer, o dinheiro despertou nosso interesse, mas
poderíamos falhar na televisão nacional.

— E se não funcionar? — Cleo pergunta. — Eu seria o


motivo de piada de Dallas.

— Melhor do que ser motivo de piada de Lake Starlight.

— Dificilmente comparável. — Ela se senta na cadeira e


cruza as pernas. Ela precisa fazer coisas propositadamente
para chamar minha atenção para o corpo dela?

— Você leu Buzz Wheel, certo?

— Você não tem ideia do círculo de fofocas que rodeia


Dallas, — diz ela.
— Então acho que temos que decidir se valerá a pena, —
digo.

Não sou idiota, sei que reajo primeiro, acho que sou esse
tipo de cara. Fiz as pazes com isso há muito tempo. Quando
você faz tantas brincadeiras quanto eu quando criança, você
descobre isso rapidamente. Eu nunca quis que o diretor
Gregory encontrasse a cueca de Rome na mesa de nossa
professora de inglês e ameacei demiti-lo por assumir que ele
estava dormindo com uma aluna. Também não pensei que,
quando ameaçava raspar a cabeça de Juno com tesoura, a
jovem Sedona os pegaria depois que eu lançasse Juno no chão
e raspasse um moicano no centro de sua cabeça.

— Temos outra opção? — Ela pergunta.

— Estamos no buraco. Podemos fazer algum trabalho


duro para tentar nos desenterrar, mas esta é a nossa melhor
opção.

Ela pensa sobre isso. — Eu nem tenho certeza se ela nos


aceitaria.

— Aceitá-lo? Quem? — Vovó D entra na sala com uma


Nancy semi-feliz.

— A mulher que você insultou é produtora de televisão


para Descobrir a beleza da América, — digo. — Chip deveria
estar no show.
— Um daqueles programas em que pessoas estúpidas
propositalmente brigam para que outras pessoas pensem que
suas vidas são melhores? — Vovó D pergunta.

— Mostraria a empresa e as excursões. Nós seríamos


pagos e... — Olho para Cleo, e ela respira fundo como se tivesse
sete anos e se preparando para pular do mergulho. — Seria
uma grande publicidade para a empresa.

Vovó D faz uma careta. — Eu não gosto disso.

Claro que ela não gosta. Ela odeia todos os reality shows,
o que me surpreende, já que geralmente é o centro das fofocas
de Lake Starlight.

Selma e os dois homens atravessam a porta do escritório


e Cleo se levanta.

— Bem, Zeke está intrigado. Ele disse que vamos filmar


um e ver o que acontece na câmera. Mas ele quer tentar
convencer alguém conhecido a estrelar o primeiro episódio
para atrair a audiência. Tommy... — Selma aponta para o mais
novo dos dois homens... — tem algumas conexões através de
um amigo de um amigo, então ele verá o que pode fazer e
entraremos em contato.

Os lábios de Cleo se inclinam para baixo. Me sinto da


mesma forma. Não quero uma estrela de Hollywood mimada
arriscando a vida toda por aí.

— Isso não é necessário. — Vovó D se aproxima entre Cleo


e eu. — Denver conhece Griffin Thorne, o produtor musical.
Os olhos de Selma se arregalam como os de Tommy, que
dizem que Griffin é melhor do que qualquer um de seus
prospectos.

Eu balanço meu braço em volta dos ombros de Vovó D.


— Ela está certa. Eu conheço.

— Ligue para ele, querido, tenho certeza de que ele fará


isso. — Ela me cutuca com o cotovelo.

— Você ainda fala com Griffin Thorne? — Cleo pergunta.


Eu meio que gosto do jeito que ela parece impressionada.

— Ele o salvou há alguns anos. Aquele homem teria


morrido se não fosse o meu garoto lá para puxá-lo para fora,
— Vovó D se gaba.

Selma, assim como Cleo, acenam quando eu me afasto e


ligo para Griffin.

Griffin responde no segundo toque. — Denver, como você


está?

— Lembra daquele favor?

Griffin ri. — O que você precisa?

— Bem, é grande.

— Eu disse qualquer coisa e quis dizer isso. Desembucha.

Respiro o mesmo suspiro que Cleo tomou mais cedo e


pulo mentalmente do trampolim, preparando-me para
mergulhar na água fria. — Como você se sente em fazer outra
viagem de sobrevivência, mas desta vez seria filmada para um
novo reality show?

Eu o ouço soltar um suspiro. — Diria que se isso ajudar


você, eu estou dentro. Apenas me informe os detalhes e
organizarei meu calendário.

Dou um soco no ar. — Obrigado.

— Deixe-me ligar mais tarde esta noite. Estou no meio de


alguma coisa.

Eu ouço pessoas barulhentas ao fundo. Ele


provavelmente está no meio da gravação ou algo assim. — Sim,
definitivamente. Obrigado, Griffin.

— A qualquer momento. Falo com você hoje à noite.

A linha morre e ponho meu telefone no bolso. — Ele está


dentro. Nós apenas temos que dar a ele as datas.

Os olhos arregalados de Selma dizem que ela estava


pronta para chamar meu blefe. — Impressionante. Ok... — Ela
olha para Tommy e o cara de barba cinza, agora conversando
com Nancy. — Vou voltar para Los Angeles e entraremos em
contato. — Ela estende a mão. — Isso é ótimo. Griffin Thorne.
Incrível. — Ela está falando mais consigo mesma do que
qualquer um de nós.

Quando eles saem, pego Cleo e a balanço pela sala. Nós


dois estamos gritando quando percebo que ela está em meus
braços, seus peitos pressionados contra o meu peito e estamos
realmente gostando da companhia um do outro. A largo em
seus pés e recuo.

— Ok, meu trabalho aqui está feito. — Vamos lá abotoar


o casaco como se ela tivesse alguma ideia de que Selma estava
aqui. — Agora, não se esqueça do jantar de domingo.

— Como poderia esquecer?

Ela dá um tapinha na minha bochecha. — Estou


conversando com Cleo. Por favor junte-se a nós. É no Austin –
bem, Denver pode te levar.

Cleo olha para mim e ri da minha testa franzida. — Eu


adoraria, Dori, mas tenho uma amiga comigo.

— Leve-a. Quanto mais melhor. Tenho outro neto,


Kingston. — Ela se aproxima. — Ele é bombeiro.

— E apaixonado por sua – bem, é complicado, — digo.

— Vou pensar sobre isso.

Vovó D abraça Cleo. — Não pense. Apenas vá. Vocês dois


são parceiros de negócios agora, então são da família.

Cleo recua e assente. — Está bem então.

Estou atordoado, vendo Vovó D andar até a porta. — Oh,


e Denver, da próxima vez, você vem me pedir conselhos, não
seus irmãos. Eu sou a esperta. — Ela olha ao redor e pela
janela para onde Selma está fumando um cigarro ao lado do
carro. — Mas você fez bem aqui. Estou orgulhosa de você.
Cleo olha para mim com um sorriso suave. O elogio da
Vovó D não deve me atingir bem no coração, mas atinge. Já faz
um tempo desde que alguém se orgulhava de mim por
qualquer coisa.
Naquele domingo, Bridget e eu esperamos no bar do
Glacier Point Resort que Denver nos pegue. Ele me deu um
fora todos os dias desta semana, mas porque parecia tão
preocupado que eu fosse ao jantar de domingo de sua família,
insistir que amaria ir. Irritá-lo está se tornando um mau hábito
meu.

— Você disse que Denver tem irmãos? — Bridget se senta


no banco do bar ao meu lado, tomando sua taça de vinho. Está
vestida como se estivesse indo a um restaurante sofisticado
para uma refeição de cinco pratos. Um vestido justo mostra
suas pernas longas, saltos de dez centímetros e sua
maquiagem é tão grossa que se eu corresse minha unha pela
bochecha, pareceria que ela tinha uma cicatriz. Mas ela ainda
é a garota mais bonita que já conheci.

— Sim, mas acho que a maioria deles já foram enlaçados.

— Bem, você sabe que posso mudar isso. — Envio a ela


um olhar que diz ‘por favor, não’ e ela ri. — Vamos. Você sabe
que eu nunca faria isso.
Na verdade, ela não faria. Sua mãe traiu o pai, o que o
levou a uma espiral de casamentos rápidos e divórcios ainda
mais rápidos. Até hoje, ela nunca fala sobre sua mãe. Mas a vi
entrar na linha com caras que estavam envolvidos com garotas
que conhecíamos. Ela sempre teve aquela vontade de ser o
centro das atenções.

— Só, por favor, não me envergonhe, — digo, desejando


não estar tão nervosa e poder ter dito melhor.

— Envergonhar você? Desde quando te envergonho?

Veja? Por que não pensei mais nos sentimentos dela? —


Não é vergonha, mas você tende a bater em todos os homens
ao redor e se os irmãos de Denver se parecem com ele...

— Sabemos que sim, — diz ela com um brilho nos olhos


que me coloca em alerta.

— Basta ficar com os solteiros, ok?

— Eu pensei que nós discutimos isso. Eu não vou atrás


de homens. Caramba, Cleo, talvez eu não deva ir. — Ela leva a
taça de vinho aos lábios.

— Isso não foi o que eu quis dizer. Só... olhe para você. —
Aponto para toda a roupa dela. — E olhe para mim.

— Você está usando legging e um suéter com botas.


Parece que vamos às compras.

Levanto minhas botas de salto pontudo. — Essas não são


roupas de compras.
Ela encolhe os ombros. — Você quer que eu me troque?
Isso te deixaria mais confortável?

Respiro fundo e empurro o vinho para mais perto dela. —


Não, você está ótima. Esqueça. Estou nervosa.

Ela toma um gole de vinho e se recosta no banquinho. —


Nervosa por ver Denver?

— Não, — digo, como se estivesse ofendida.

— Vamos. Ele é gostoso, e sei que você gosta dele. Toda


noite nesta semana, você volta ao quarto de hotel, e tem sido
tudo em Denver isso e Denver aquilo.

— Porque estamos trabalhando juntos. Isso é tudo. —


Olho para a porta do bar novamente, com a esperança de que
ele entre, dando início à noite, para que possa terminar
rapidamente.

— Você tem certeza de que não é porque ele conhece


Griffin Thorne? Vi no seu computador que você estava
procurando artigos sobre o acidente.

Abro a boca e depois a fecho. — Isso se chama


curiosidade. Eu queria saber o que aconteceu, para que,
quando encontrar Griffin na excursão, tenha algo para
conversar com ele.

Ela levanta a mão perfeitamente cuidada. — Espera. Você


também vai?
— Sim, essa é a estipulação do show. Denver e eu temos
que fazer as excursões junto com os convidados. Acho que eles
esperam que briguemos e promovamos uma boa TV. Você
sabe, quanto mais drama, melhor.

— Por favor, sou a rainha da realidade assistindo TV.


Você deveria assistir o Bravo. Descubra o que essas pessoas
estão fazendo para que você possa reproduzi-lo e garantir que
seu programa seja escolhido.

Bridget é uma viciada em reality show. Ela pode lhe


contar todas as informações sobre cada dona de casa, conhece
todas as pessoas da franquia Bachelor e onde elas estão agora.
Você sabe quanto tempo levei para convencê-la de que The
Hills não era realidade?

Esta provavelmente não é a melhor hora para eu


perguntar isso a ela, mas desde que fico com o dinheiro dela
aqui, meio que preciso de uma resposta. Bridget tende a viver
de acordo com o que ela gosta no momento, e é ótimo que ela
ame Lake Starlight agora, mas seu interesse diminuirá
eventualmente.

— Quando você pensa que vai voltar para Dallas? —


Pergunto, meu dedo seguindo o grão de madeira do bar
superior.

Ela bufa. — Primeiro você me diz para não a envergonhar,


e agora você está perguntando quando eu vou embora?
Maneira de fazer uma garota se sentir desejada.
— Não, — suspiro. — Estou perguntando, porque quando
você sair, vou precisar encontrar um lugar para ficar. — Meus
olhos vasculham os lustres, a vista de um milhão de dólares
do lago, qualquer coisa que não seja o rosto dela. — Eu não
posso ficar em um hotel pelo resto do meu tempo aqui. Eu
pensei que poderia ficar na casa do meu pai, mas...

Tentei ir para lá outro dia e não consegui nem entrar. Em


algum momento, preciso lidar com tudo na casa dele, mas até
estar pronta, precisarei de outro lugar para ficar.

— Vou cobrir a suíte no meu cartão de crédito, mesmo


que eu saia. Não precisa se preocupar. — Ela encolhe os
ombros.

Balanço a cabeça. — Não posso deixar você fazer isso.

Ela fica de mau humor, mas desde que somos irmãs,


deixei claro que posso aceitar o que ela oferece quando estamos
juntas, mas não aceitarei nada se não estiver comigo. — Você
é tão difícil às vezes. Eu tenho que voltar na próxima semana
para a minha entrevista para a garota do tempo.

— Oh, certo. Você está animada? Com tudo acontecendo,


eu tinha esquecido completamente.

Ela sorri. — Certo. Veremos o que acontece.


Balanço a cabeça. Eu acho que é fácil ser laisse faire2
sobre como será uma entrevista de emprego quando você tiver
um fundo fiduciário para recorrer.

Ela me leva por um minuto, ficando sombria. — Eu temo


que com você fazendo tudo isso aqui em cima... eu vou te
perder. — Lágrimas caem bem em seus olhos.

Coloco minha mão sobre a dela. — Você nunca vai me


perder.

Há muito mais que eu quero dizer a ela. Sobre a carta do


meu pai, ou que provavelmente voltarei a Dallas em breve
porque vou falhar, mas Denver entra no bar. Ele está vestindo
jeans, botas e um boné de caveira. Quando ele o tira, alguns
flocos de neve caem e ele consome a distância entre nós com
seus longos passos.

— Vocês estão prontas? — Seu olhar cai sobre nós, e ele


balança a cabeça.

— O quê? — Eu levanto e pego meu casaco na parte de


trás da cadeira.

— Vocês sabem que está nevando? — Ele olha para fora.

Também olho e a janela mostra que está nevando, mas


não é tão ruim assim.

2 Uma política ou atitude de deixar as coisas seguirem seu próprio caminho, sem interferir.
— Nós não estamos apenas entrando e saindo de um
veículo? — Bridget pergunta.

— E a calçada na qual você tem que andar para chegar


ao veículo é escorregadia, — diz ele a Bridget como se ela fosse
uma idiota.

— Ei, — eu digo.

Denver balança a cabeça. Ele não pode ter um problema


com Bridget – imaginei que ela era o tipo dele. — Desculpe,
mas vocês, meninas, precisam fazer compras.

Uma vez que abotoamos nossos casacos, ele acena para


nós irmos primeiro.

— Bem, obrigada, — diz Bridget, e eu não digo nada.


Chegamos à porta e Bridget para abruptamente, olhando para
a neve acumulada no chão. — Isso é muito.

— Ah, não é horrível. — Denver abre a porta do


passageiro e a porta dos fundos para nós.

— Um... — Bridget fica parada do lado de fora da porta


deslizante do resort.

Eu saio e deslizo na calçada lisa imediatamente, mas


Denver agarra meu cotovelo antes de cair completamente na
minha bunda novamente. Ele me lança um olhar que diz: ‘Vá
às compras e compre sapatos de verdade’.

— Sim, estou fora. Vou comer no restaurante, — diz


Bridget.
Olho para Denver depois que ele me coloca de pé, e ando
apenas na ponta dos pés até ela. — Vamos. É apenas neve.

Ela se inclina para o meu lado, olha para trás e volta para
me encarar. — Não é. Vocês dois vão. Sério, estou bem aqui.

— Isso é sobre mais cedo? Eu não quis dizer nada do que


pareceu para você. — Meus ombros caem.

Eu poderia bater na minha testa por fazer isso com ela,


porque sei que já recebe merda suficiente de Phil. Ela não me
envergonha. Quero dizer, além do tempo em que ela entrou na
minha aula de economia na faculdade, começou a flertar com
o assistente por toda a aula e acabou voltando para o
apartamento dele em sua companhia. Pelo resto do semestre,
ele continuou perguntando sobre ela e eu tive que evitar o
assunto, para que ele não me castigasse por dizer que ela tinha
acabado de gostar de caras de óculos naquela semana.

— Não é isso. — A linguagem corporal dela diz que está


dizendo a verdade.

— Então, vou ficar também.

Denver solta um suspiro e me viro para dar a ele um olhar


malvado.

— Não, você vai. Eu vou ficar bem. Tenho que equilibrar


meu talão de cheques de qualquer maneira. — Inclino minha
cabeça, e ela ri. — Vá. Denver, leve-a.
Ela me empurra levemente, mas não estou preparada e
praticamente escorrego nos braços de Denver. Porra, odeio que
ele seja tão forte. Ele envolve o braço em volta da minha cintura
e aproveito a oportunidade para cheirá-lo.

Péssima ideia.

— Bridge... — digo, mas ela está balançando a cabeça.

— Eu e neve no bueno.

— Mas tem neve aqui o tempo todo, — digo.

Ela aponta. — Não assim.

— Minha família fará uma marmita para Cleo trazer para


você, — diz Denver, fechando a porta dos fundos e segurando
a porta do passageiro aberta para mim.

— Ótimo, obrigada. — Bridget sorri e acena, voltando


para dentro. As portas se fecham e ela puxa o telefone da bolsa.

Subo na caminhonete de Denver. Quando meu telefone


vibra na minha bolsa, pego meu celular.

Bridget: Você pode me agradecer mais tarde e eu não vou


esperar por você. ;)

Balanço a cabeça quando a vejo rir dentro do foyer. A


garota é inacreditável.

— Vamos acabar logo com isso, — diz Denver, ligando a


caminhonete e colocando-a na estrada.
— Talvez eu deva ficar com ela.

Eu mudo meu peso em direção à porta, mas a mão dele


pousa na minha coxa. Dedos grandes e fortes ligeiramente
impressos na parte interna da minha coxa. Olho para eles e
percebo que estou com muito tesão para que ele me toque
assim.

— Vão me matar se você não aparecer comigo. — Quando


não me mexo, ele aperta minha coxa mais uma vez. — Por
favor.

Aceno e relaxo na minha cadeira. — Eu escolho a música


então.

Ele tira a mão da minha coxa e faz um sinal para o rádio.


— Seja minha convidada.

E só para irritá-lo, conecto meu telefone ao Bluetooth e


coloco Spice Girls. É claro que canto junto com seus grunhidos
e gemidos. Por que sinto tanto prazer com o descontentamento
dele?
Denver vira em uma longa entrada de automóveis cercada
por bosques de ambos os lados. Quando a densa floresta
limpa, uma bela casa de dois andares aparece.

— É deslumbrante, — sussurro – embora esteja supondo


que não muito baixo, porque Denver se vira para mim
brevemente antes de estacionar ao lado de outra caminhonete
que me lembra os de Dallas. As caminhonetes caras com todos
os extras que nunca são usados. Não que a caminhonete de
Denver seja ruim. Não é antiga nem nada, mas não tem um
milhão de sinos e assobios. Você pode dizer que ele usa sua
caminhonete para mais do que apenas dirigir por aí.

— É aqui que eu cresci, — diz Denver, interrompendo


minha comparação interna entre Dallas e Lake Starlight.

— Sério?

Ele desliga o motor. — Você imaginou um barraco?

Antes que eu tenha a chance de responder, ele está fora


do veículo e pega alguma coisa por trás do banco do motorista.
Eu saio. Felizmente, alguém aqui salgou a entrada de
automóveis, para que minhas botas não escorreguem muito.
Denver segura uma sacola grande com Lard Have Mercy
impresso ao lado.

— O que é isso? — Eu o encontro na traseira de sua


caminhonete.

— Tortas. Todo mundo tem que trazer alguma coisa e,


como não cozinho, trago a sobremesa. Comprada na loja.

Olho para a bolsa. — Elas parecem deliciosas.

Ele sorri para mim por um momento.

— O que?

— Eu praticamente coloquei a adaga na sua mão, e você


não a jogou. — Ele pega minha mão e nos leva até a garagem.

Mais uma vez, concentro-me em ficar na ponta dos pés.


— Por que você está sendo tão legal?

— Porque você está sendo legal. Eu sou legal quando você


é legal, — ele responde rapidamente, como se não precisasse
pensar.

— Estou sendo legal porque estou entrando na casa da


sua família. Eles estão me aceitando e você é o único que eu
conheço.

Ele para no pé da escada e solta minha mão. Flocos de


neve pousam em seus cílios longos. Sem piscá-los, seu olhar
permanece colado ao meu. — Você conhece Dori, correto?
— Eu a conheci na casa da minha avó algumas vezes,
mas estou surpresa que ela tenha se lembrado de mim. É claro
que ser publicada em algum blog de fofocas permitiu que a
maioria desta cidade se referisse a mim pelo nome. — Um
sorriso aperta meus lábios. Minha avó faleceu há mais de uma
década, mas as poucas lembranças que tenho dela me fazem
sorrir.

— Ela gosta de você, — diz ele.

— Eu gosto dela também.

Sua mão preguiçosamente corre pelo meu braço e


captura minha mão novamente antes que ele nos leve pelas
escadas. — Ela está tentando nos juntar. Considere-se
avisada.

Não alcançamos a porta antes que eu o pare. — O quê?

Ele ri da minha expressão, que devo imaginar parecer


horrorizada. — Ela joga de casamenteira há alguns anos.
Empurra um de nós, irmãos, em direção a alguém.

— Por quê?

Ele olha para mim e noto que seus olhos se enrugam


quando ele pensa profundamente. Por que é fofo? Não é fofo.

— Eu acho que ela só quer que sejamos felizes? — Ele


bate na porta. — Eu bato para ser educado, agora que Austin
mora aqui com sua esposa.
— Sim, tudo bem. — Estou distraída e pensando sobre o
que ele disse sobre as ações de Dori. Ouço um movimento do
outro lado da porta e meu estômago se enche de inquietação.

— Ah, e não se preocupe, não vou me estabelecer tão


cedo. Não importa o quanto ela tente, você está livre.

Minha boca está entreaberta quando a porta se abre e um


cachorro voa, pulando de forma desajeitada. Aproximo-me de
Denver e o cachorro segue, farejando-me obsessivamente e me
dando uma palmada.

— Myles! — O homem na porta grita.

— Eu pensei que era apenas Wyatt que ele amava tanto?


— Denver diz, tentando me bloquear entre ele e o parapeito da
varanda, longe do cachorro.

Minhas botas deslizam, mas sou grata pelo sal, para não
me envergonhar muito ao cair de bunda.

— Aparentemente, ele tem algo para as pessoas ricas, —


diz o homem na porta.

— Eu não sou rica, — digo.

Mas os dois estão ocupados demais tentando convencer


o cachorro a não prestar atenção em mim.

— Myles! — Uma mulher diz calmamente. — Pare.


Myles para e olha para mim como se estivesse debatendo
se vale a pena arriscar sua chance de um presente. Felizmente,
eu não sou, e ele sai de casa.

— Desculpe por isso. — O cara estende a mão. — Austin.

Eu aperto a mão dele. — Cleo.

— Sim eu sei. Bem-vinda em Lake Starlight, onde você


não pode se infiltrar na cidade sem ser mencionada no Buzz
Wheel. Minha esposa fez sua estreia lá, e Harley também. —
Ele se afasta.

Denver faz um gesto para eu entrar na frente dele. Abro


o zíper e deslizo minhas botas antes de colocá-las ao lado de
um monte de botas externas semelhantes às que Denver está
usando. Claramente, essa é uma situação de ‘uma coisa não é
como a das outras.' Denver ri, colocando as botas ao lado das
minhas e levanta uma sobrancelha. Surpreendentemente, ele
mantém a boca fechada.

— Eu vou levar as tortas. — Austin pega a alça da bolsa.


— Você pode mostrar Cleo ao redor e apresentá-la a todos.
Você é o último a chegar, como sempre. — Austin dá a volta no
corredor.

— Não é um cara muito pontual, hein? De alguma forma,


isso não me surpreende, — digo.

— Estamos saindo do trem educado tão cedo? — Denver


se alinha comigo.
As risadas que saem de uma sala próxima me enojam e
eu dou de ombros. — Desculpe.

— Eu poderia deixar você para os abutres, se você não


tomar cuidado. — Ele acelera e vira o corredor, mas no último
minuto para.

Eu corro em suas costas antes de deslizar para o lado


dele. Todas as risadas na sala param.

— O que há com todo mundo? É apenas Cleo Dawson, —


diz Denver.

Todos riem e se levantam de onde se sentam em torno de


uma grande mesa de comidas e se apressam. Denver fica
atento quando todos se apresentam.

No final, Savannah, de quem me lembro do lugar da


tatuagem, coloca uma taça de vinho branco na mão. — É o
trabalho de Holly.

O tornado das pessoas me deixou tão revirada que eu não


poderia colocar crachás em nenhuma delas se tentasse.

Denver volta para o meu lado. — Pronta para embarcar


no trem educado novamente?

— Por favor. — Eu me agarro ao seu braço por um


segundo.

— Ok, vamos fazer isso rápido e eficiente. — Ele estende


o braço e levanta a voz. — Na cozinha, a ruiva é Holly, e você
conheceu Austin. Esta é a casa deles. O cachorro delinquente,
Myles, era o terror na porta da frente, e sua esposa cachorra é
Daisy. Eles estão no vestíbulo, provavelmente transando
porque é tudo o que veem seus donos fazer.

Austin mostra o dedo para ele, mas Holly ri, acenando


enquanto serve uma taça de vinho.

— Então você tem Savannah e Liam, que você já


conheceu.

Savannah está no colo de Liam. Eles desviam a atenção


um do outro para acenar para mim.

— Sentado ao lado deles está meu irmão gêmeo, Rome,


mas a versão mais feia. — Rome mostra o dedo para ele, mas
Denver não diz nada. — Sua noiva, Harley.

Uma linda garota de cabelos castanhos corre e abraça os


joelhos de Denver.

— E esta é a filha deles, Calista. O garoto preso em um


envoltório a vida inteira é Dion.

— Tio Denver? — A garotinha pergunta, seus olhos em


mim.

— Sim?

— Esta é a garota de quarta-feira à noite?

Embora ela seja difícil de entender, acho que peguei essa


corretamente. O riso de todos na sala diz que sim.
Denver olha para mim. — Essa é Cleo. Você pode dizer
olá?

Ela acena para mim. — Você gosta de 'Baby Shark'?

‘Essa música irritante que nunca parece parar?’ É a


resposta que quero dar, mas tenho boas maneiras. — Uma das
minhas favoritas.

Seu rosto bonito se ilumina. — Toque, — diz ela a Denver.

Ele pega o telefone e entrega a ela. — É todo seu, garota.


— Ele bagunça o cabelo dela, e juro que acabei de ouvir meus
ovários suspirar.

Calista corre para a sala da família. Logo ouço o começo


da música e todo mundo geme.

— Todos os nossos telefones estão ‘mortos’, — diz Rome,


fazendo aspas em torno da palavra morto antes que sua testa
atinja a mesa.

— É uma fase. Ela crescerá com isso. — A morena se


levanta e vem até mim, segurando um bebezinho gordinho no
quadril. — Eu sou Harley e esse carinha é Dion.

— Oi.

Ela se desvia para a filha, dançando no caminho, mas


tentando convencê-la de que o tio Denver precisa do telefone
dele para emergências.
A mão de Denver cai nas minhas costas e ele se inclina
para mais perto. Os cheiros frescos de sabão e homem
despertam minhas partes femininas. — Phoenix está por aqui
em algum lugar, e sua irmã gêmea ainda está em Nova York,
na faculdade. Meu irmão Kingston está em turno em
Anchorage agora como bombeiro. Então você tem minha irmã
Brooklyn e seu marido, Wyatt, que você pode reconhecer de
Glacier Point. — Ele se aproxima e sussurra: — Ele é o
proprietário. — Apontando para mim, ele grita: — Ela é uma
das suas convidadas, então não, repito, não se envergonhe
esta noite.

— Você ficou no Glacier Point? Todo esse tempo? — Rome


pergunta.

Eu concordo. Não há necessidade de mencionar que


custeado pelo dinheiro de minha irmã. — Sim.

Rome olha para Wyatt, que eu percebo ter visto andando


pelos corredores do resort, geralmente de terno. — Ela é
provavelmente mais rica que você, Whitmore.

Wyatt levanta a garrafa de cerveja e a bebe, sem se


incomodar. Ele provavelmente sabe quem está pagando minha
conta do hotel.

— Você não pode ficar em um hotel para sempre. — Dori


vem do nada. — Você sempre pode ficar na casa da Savannah.
Denver e Phoenix estão lá agora.

Todos riem.
— Pare de arrumar todo mundo. Você nunca pensaria
que, com a maneira como continua pressionando as pessoas a
viver em pecado, que você tem setenta anos. — Savannah
envolve os braços em torno de Liam, e ele beija sua bochecha
antes de sussurrar algo em seu ouvido que a faz corar.

— Oh, calma. — Dori pega uma cenoura e mergulha no


que parece ser hummus na grande ilha. — Venha, Cleo. Longe
de Denver. — Ela me acena.

Dou um passo à frente, mas Denver envolve os dois


braços em volta de mim, prendendo-me a ele.

— Não ouça nada do que ela tem a dizer. Eu não sou um


cara legal, — ele sussurra e me libera.

Ainda assim, eu avanço, e ela me vira em direção à sala


de estar, onde Calista está repetindo ‘Baby Shark’ como se
fosse o trabalho dela e estivesse sendo paga para isso.

— Calista, seja querida e vá para o porão, — diz Dori. O


lábio inferior de Calista se destaca e Dori muda de tom. — Você
pode sentar aqui, mas não podemos ter a música, ok?

— Ok. — Ela arrasta a palavra e revira os olhos. Calista


pega uma boneca que foi descartada no chão e a coloca no
carrinho antes de sair.

Observo Harley e Holly subirem enquanto Rome e Austin


saem. Dori suspira. Existe algum drama familiar que eu não
saiba? Savannah se aproxima, senta no chão ao nosso lado e
coloca Dion entre as pernas dela antes de espalhar alguns
brinquedos que vão direto para a boca dele.

— Sinto muito pelo seu pai, — diz Dori. Ela me disse a


mesma coisa no funeral.

— Obrigada.

— Você está gostando de Lake Starlight?

— Além de estar no Buzz Wheel, estou gostando.

Rimos.

Uma garota de cabelos escuros se aproxima. — Qual é o


segredo? — Ela acena em direção às escadas onde Holly e
Harley acabaram de subir as escadas. — Phoenix, a propósito.

— Oi, Phoenix.

Ela realmente não presta atenção em mim. Sua atenção


está em Savannah e Dori.

Savannah olha para Liam, que está tentando ser discreto


ao olhá-la. Eles olham para as escadas e a porta como se
estivessem preocupados com a destruição iminente.

— Nada, — Savannah diz sem olhar para Phoenix.

Phoenix se encolhe na grande cadeira de grandes


dimensões. — Como é bom saber tudo. — Ela revira os olhos.

Esta família é divertida. Não é como a de Phil, que, com


sua mentalidade abafada são mal educados.
— Agora que você tem o programa de TV chegando,
presumo que você fique por um tempo? — Dori pergunta.

Meus olhos se concentram no cabelo azulado de Dori. Ela


acabou de fazer?

As costas de Phoenix se endireitam como as orelhas de


um cão de guarda. — Programa de TV?

Savannah faz com a boca ‘desculpe’ para mim.

— Denver! — Phoenix pula e vai para a cozinha e fica bem


no rosto de dele. Ele deve informá-la sobre Descobrir a beleza
da América, porque ela o atinge no estômago e pula no ar.
Griffin Thorne!

Ele a esquiva e vem no meu caminho com a garrafa de


vinho.

Phoenix segue e pula na frente dele. — Você tem que me


dar uma introdução. Ele tem que me ouvir cantar!

— Não, — diz ele, deslizando por ela e se aproximando de


mim. — Não é o American Idol.

Ele estende a garrafa e eu levanto minha taça de vinho


para que possa encher novamente. Veja como estamos sendo
cordiais.

A porta da frente se abre e Austin sobe as escadas, mas


Holly e Harley já estão descendo. Harley encontra Rome na
parte inferior da escada, enquanto Austin sussurra para Holly.
Ela sorri e coloca a mão no braço dele, quase assegurando que
está bem. Ela estava doente ou algo assim?

— Ei, pessoal! — Holly grita para chamar a atenção da


família.

Uma vez em silêncio, Denver olha para o irmão gêmeo e


observa toda a cena. — Oh, merda, — Denver diz baixinho.

— Harley e Rome têm um anúncio, — continua Holly.

Como alguém de fora, eu entendo as dicas não verbais de


todos.

— Você está se mudando? — Juno pergunta e ri.

— Você finalmente vai dar o nó? — Phoenix diz.

Os olhos de Harley mudam de Holly para Rome, quase


implorando para ele.

— Estamos grávidos, — diz ele.

Holly bate palmas e grita woohoo, mas, como aplaudo


parabéns, estou hiper consciente de todos na sala. Por que eles
não estão todos abraçando e continuando?

— Venham todos. Parabéns estão em ordem! Vou abrir o


champanhe. — Holly foge para a cozinha, mas quando todo
mundo fica sentado, ela se vira. — Abrace-os!

Todo mundo se levanta e abraça o casal, parabenizando-


os pelo terceiro bebê.
Denver se inclina para mim enquanto esperamos na fila
pela nossa vez. — Eu vou te informar mais tarde.
Se Dori sabia que Rome e Harley anunciariam a gravidez
e pediu, propositalmente, a Cleo para jantar, ela e eu teríamos
que ter uma conversa séria. As coisas ficaram estranhas a
noite toda – Holly agindo como se fosse a melhor notícia de
todos os tempos e a perna de Austin tremendo o tempo todo.
Harley estava praticamente chorando e Rome passou a mão
pelos cabelos com tanta frequência que estava arrepiando
quando eu disse que tínhamos que sair.

— Nós poderíamos ter ficado mais tempo, — diz Cleo no


assento ao meu lado.

— Devemos levá-la de volta antes que a neve piore.

Ela não diz mais nada, e meu silêncio não ajuda na


situação. Estou mentindo sobre sair por causa do tempo. Nós
dois tivemos uma noite agradável, onde nenhum de nós
escolheu o outro. Eu deveria ser sincero, mas sou sempre
tímido em revelar fofocas da família a qualquer pessoa que não
esteja em nosso círculo.
Eu respiro fundo e mergulho adiante. — Holly e Austin se
casaram no ano passado.

— Eles são um ótimo casal.

— Eles estão tentando ter um bebê há um tempo, — digo.

Seu longo e lento aceno de cabeça diz que ela está


juntando todas as peças. — Oh, isso é difícil. Não que eu
soubesse ou algo assim. Não estou me preparando para um
bebê ou... — Ela para e eu ri dela divagando. — Não tenho
certeza de onde tudo isso veio.

— Está tudo bem. — Eu toco sua coxa. Preciso parar de


tocá-la tanto, mas não consigo segurar minhas mãos quando
elas a alcançam.

Cleo e eu somos tão compatíveis quanto um crocodilo e


um pássaro, e trocamos de lugar diariamente sobre quem é o
mal-humorado.

— Só quero dizer que é difícil para todos eles. Mas cara,


Harley e Rome... três filhos tão próximos.

Eu respiro fundo. — Supostamente eles usam controle de


natalidade. — Eu arqueio uma sobrancelha.

— Ela deve ser extremamente fértil. — Ela ri.

— É assustador como o inferno para mim, — digo.

Ela inclina a cabeça como se não entendesse.


— Sou o gêmeo dele. Temos que ter esperma
superpoderoso.

Ela ri de novo, mas mais forte desta vez. Tanto que ela se
inclina para a frente e não consegue parar de balançar a
cabeça. — Só você.

— O que isso significa? — Paro em um cruzamento e o


brilho vermelho da luz me permite ver seu sorriso largo.

Ela é tão linda. Pensei que ela sabia que era, mas estou
começando a pensar que não.

— Você tem um ego tão grande, faz sentido que você ache
que tem espermatozoides tão poderosos que podem romper um
preservativo.

— Supostamente Rome fez. E eu gosto de competir contra


ele.

Um olhar de medo cruza seu rosto. — Faça um favor a si


mesmo e não conte isso a uma garota até que você coloque um
anel nela.

— Tenho certeza de que existem mulheres por aí que


gostariam de ter meus filhos.

— Não por causa de alguma competição imatura. Você já


está três atrás dele. — Ela ri.

Não posso deixar de rir também, porque me imaginar


cuspindo filhos com uma esposa é um pensamento absurdo.
— Você acha que eu não poderia fazer isso?
Isto é divertido. Não é algo que estou acostumado quando
se trata de ter uma mulher na minha caminhonete. A mão dela
não está no meu lixo. Os lábios dela não estão no meu pescoço.
E é a mais divertida que já tive há algum tempo.

— Oh, não, acho que você poderia. Essa é a parte


assustadora.

Seus olhos disparam para a estrada e sua risada morre


lentamente, deixando-nos com um silêncio desconfortável,
porque à direita, vamos passar a estrada para a casa de Chip.
Quando decidi seguir uma rota alternativa, esqueci que a
passaríamos.

— Então você não quer ser essa garota? — Eu pergunto,


mas a vejo balançar a cabeça distraidamente e, com os olhos
ainda fixos na rua em que estamos nos aproximando, minha
tentativa de distraí-la falha.

— Eu não fui capaz de entrar. — Seus dedos roçam o


vidro quando estamos prestes a passar.

Eu travo e viro a caminhonete para a estrada.

— Não, Denver. — Ela balança a cabeça. — Agora não.

— Eu também não fui. Desde que o colocaram no


hospital. — Engulo um nó na garganta.

Ela não diz mais nada até que as luzes da caminhonete


brilhem em sua direção e eu entro, iluminando a pequena
cabana de madeira que poderia mudar com um pouco de amor.
Chip nunca se importou muito com a maneira como ele viveu.
Ele passou a maior parte de sua vida no escritório ou no
deserto.

— Você quer entrar? Vou com você. — Desligo o motor


que agarra sua atenção, porque ela muda o olhar para a minha
mão na porta.

— Eu deveria fazer isso sozinha. — Ela não se move.

— Por quê?

Seu olhar se concentra na casa escura. — Por que o quê?

— Fazer isso sozinha.

Sua cabeça gira lentamente na minha direção. — Porque


ele era meu pai.

— Então?

Sua mão se move para a porta da caminhonete, e meu


próprio ritmo cardíaco aumenta ao vê-la se convencer a fazê-
lo. Quase consigo ver a mesma guerra que estava dentro de
mim cinco anos após a morte de meus pais, quando finalmente
fui ao túmulo.

— É o meu trabalho, — diz ela.

Eu gostaria que estivéssemos mais perto e poderia dizer


a ela que não precisa enfrentar tudo sozinha, que não há
problema em se apoiar em mim. Ela pode me odiar, mas se
precisar de alguém agora, posso ser essa pessoa.
— E Bridget? — Pergunto.

Ela balança a cabeça. — Amo a garota e ela me ajudaria


se eu perguntasse, mas ela teria dificuldade em andar por aí
sem julgar. Eu simplesmente não suporto ouvir isso.

Abro a porta, a luz interior nos cegando por um momento.


— Eu irei com você.

— Tudo bem, — diz ela em voz baixa.

Quando dou a volta na frente da minha caminhonete, ela


ainda está dentro. Abro a porta e sua mão fria cai na minha.
Ela desce lentamente da caminhonete e tira as chaves da
bolsa. Mas antes de chegarmos à varanda, para.

— Não estou pronta, — diz ela, recuando para a


caminhonete.

— Ok.

Um minuto depois, estamos de volta na caminhonete e


estou dando meia-volta na calçada para voltar à estrada.

Ela não diz nada por cinco minutos. — Por que você não
me empurrou?

— Empurrar você?

— Para entrar. A maioria das pessoas teria tentado me


pressionar a fazê-lo. Você acabou de dizer que tudo bem, e
voltamos para a caminhonete.
Eu paro no Glacier Point e paro na seção de manobrista.
— Você disse que não estava pronta. — Coloco minha mão em
sua perna novamente, mas a retiro imediatamente. Preciso
trabalhar na minha autodisciplina. — Mas você vai estar um
dia.

Ela olha nos meus olhos, e permito que veja a verdade


que estou falando. Estive onde está, e tenho certeza de que
encontrará seu caminho um dia.

— Obrigada.

— De nada.

Ela assente e abre a porta. — Vejo você amanhã.

— Sim.

Nós olhamos um para o outro por alguns batimentos


cardíacos e uma energia enche a cabine. Uma com a qual não
estou acostumado. Se ela não fosse minha parceira de
negócios, poderia quebrar a tensão puxando-a para o meu lado
para beijá-la. A língua dela desliza sobre o lábio inferior. Por
um momento, acho que ela está pensando a mesma coisa que
eu – até sair correndo da minha caminhonete e fechar a porta,
nunca olhando para trás.

Essa relação entre nós está dando uma guinada por um


caminho proibido, e precisamos voltar à estrada principal para
andarmos juntos, sem atravessar outras partes da vida um do
outro que possam deixar tudo confuso.
Quando saio de Glacier Point, lembro novamente que os
negócios e o legado de Chip são o que importa aqui. Meu pau
não tem voz desta vez. Seria mais fácil se eu o tivesse treinado
melhor no passado.
Bridget não está na suíte quando volto, mas o vestido dela
está enrolado no canto do meu quarto. Sua maquiagem está
derramada no balcão do banheiro, e uma toalha molhada está
na minha cama. Há uma nota no meu travesseiro, então pego
minhas botas e pego o pedaço de papel.

Conheci um caçador no bar. Vejo você de manhã ou espero


que seja de tarde. ;)

Eu aperto a nota e sinto falta da lata de lixo com um bom


pé.

Caindo no colchão de pelúcia que um hotel sofisticado


como esse oferece, olho para o teto branco. Inspiro
profundamente e fecho os olhos, imaginando o que teria
acontecido se eu tivesse beijado Denver Bailey na cabine da
caminhonete minutos atrás.

Seus lábios macios tocando os meus, sua língua


deslizando lentamente na minha boca enquanto sua mão
grande pousa nas minhas costas e me cutuca o mais perto que
nossos corpos podem chegar. Aposto que ele aperfeiçoou o
movimento de deslizar o encosto para dar espaço para eu
montar nele. Eu quase posso sentir o volante pressionado nas
minhas costas enquanto suas mãos deslizam pela barra do
meu suéter.

Ergueria minhas costas enquanto ele lançaria beijos ao


longo da minha mandíbula, e eu moeria ao longo de seu
comprimento, pressionando contra a calça jeans. As janelas
embaçadas. Nossos corpos suados com roupas parcialmente
fora. Ele incapaz de parar de me beijar.

Meu telefone vibra ao meu lado e me sento em pânico


como se alguém soubesse o que eu estava pensando.

Agarrando o telefone da minha bolsa, o nome de Denver


aparece e não posso deixar de sentir como se soubesse que eu
estava a um segundo de deslizar minha mão por baixo da
minha calça.

Denver: Griffin está na cidade. Ele vem amanhã.

Envio um polegar para cima como resposta, porque


minhas mãos estão tremendo.

Não quero um homem como Denver Bailey. Alguém que


acha que tem esperma no nível olímpico e pode me engravidar
do outro lado da sala. Um homem que vê o compromisso como
uma sentença de prisão perpétua sem liberdade condicional.

Enquanto tento me convencer, seus lábios imaginários


deslizam pelo meu ombro nu e suas mãos exploram o resto de
mim. Eu gosto da forte constituição de seu peito.
Não pare.

Ele é um homem nojento que não respeita as mulheres.


Mas até eu sei que é mentira. Sei pouco sobre Denver, mas
estou percebendo que posso estar em apuros se não conseguir
impedir que essa energia sexual desafie meu ódio por ele.

Entro na Lifetime Adventures armada com cafés gelados


para Denver e para mim. Adicionei um café quente ao meu
pedido hoje, porque, embora Nancy sempre aceite
educadamente a bebida gelada que eu a compro, a peguei
aquecendo no micro-ondas na outra manhã.

— Oi, Nancy, — digo.

Ela olha do jornal por cima da borda dos óculos de


leitura. Entrego-lhe o café quente, e a vejo sorrir em minha
direção, me agradecendo como sempre faz, e depois o coloca
ao lado de uma xícara de bebida gelada.

— Você gosta da bebida gelada? — Pergunto. Talvez eu


estivesse errada.

Ela me acena e bebe o café que eu trouxe para ela. —


Denver me trouxe um antes.

Aceno e deixo que nós duas finjamos que ela vai beber.
Entro no escritório que só conseguimos limpar pela
metade. Eu continuo querendo vir em uma noite e terminar o
trabalho sem Denver. Ele é um pouco como Chip – um tesouro.
Denver está recostado na cadeira, com os pés na beira da mesa
e um telefone no ouvido.

— De jeito nenhum, Phoenix. Ele está aqui para a Lifetime


Adventures. — Ele revira os olhos e eles se fecham brevemente,
então, entro na sala, fechando a porta. — Talvez se o assunto
surgir. Apenas deixe-me passar por isso e então podemos
revisitá-lo ouvindo sua demonstração.

Seus olhos se abrem e, quando ele me vê, um sorriso


rapidamente invade sua boca. Porra, uma garota poderia se
acostumar com essa saudação. Coloco a bandeja de bebidas
em cima da mesa, mas vejo uma cor de caramelo ao meu lado
e uma preta ao seu lado. Ele também me pegou café.

Ele ri, olhando para a minha bandeja, e digo obrigada,


recebendo um aceno de cabeça como resposta.

— Você precisa relaxar, — diz ele ao telefone. Outra


pausa.

Pego alguns papéis e carrego meu laptop, esperando que


o site seja carregado como nosso novo designer prometeu.

— Tenho que trabalhar. Tchau. — Ele desliga e coloca os


dedos nas têmporas, massageando-as.
— Por que você é contra a apresentação de Griffin? — Eu
tomo minha bebida enquanto meus dedos deslizam pelo
trackpad, pesquisando em nosso site.

— Eu não sou contra, mas apenas pedi ao cara que


arriscasse sua vida por nós. Não vou dizer: ‘E, a propósito, que
tal checar minha irmã, a aspirante a cantora?’— Ele volta sua
atenção para o computador. — Está tudo bem e parece incrível.
As pessoas não estão mais nas cores neon, usando tainhas,
então é um bom começo.

Ele gira seu laptop em minha direção. Tínhamos o Wi-Fi


instalado na semana passada, portanto, não precisamos mais
usar hotspot nos nossos telefones, para grande alívio do meu
plano de dados.

— Havia uma mensagem de Selma no meu telefone esta


manhã. Eu me pergunto se essa mulher já dormiu? — Ele diz.

— O que ela disse? — Continuo pesquisando sem pensar


no site para garantir que todas as alterações solicitadas
estejam completas. Tudo parece incrível. Agora precisamos
seguir para a publicidade, o que é difícil quando você não tem
dinheiro para anunciar.

— Ela disse que eles querem ver como é a gravação com


Griffin e depois mostrar para um grupo de teste. Se a resposta
for boa, continuamos. Eles estão comprometendo-se a seis
episódios, se tudo correr bem, mas depois disso, eles verão
como estão as classificações e a base de fãs.
Inclino-me para trás do meu computador, puxando
minha bebida gelada contra o peito. — Estou um pouco
preocupada.

— Preocupada com?

Precisando me levantar, fico em pé. Não deveria admitir


isso para ele, mas estamos nisso juntos. Ele precisa conhecer
minhas fraquezas como eu. — Não sou como você.

— Você pode não ter uma bunda como a minha, mas o


seu conjunto de seios é melhor.

Eu giro. Ele pisca, e balanço minha cabeça com a


necessidade dele de usar o humor para desviar sempre que
alguém está vulnerável com ele.

— Eu não sou extrovertida e gentil. Eu não posso inventar


uma piadinha. Por que eu tenho que filmar também?

Ele se recosta, os braços apoiados nos braços da cadeira.


Ele é tão relaxado. Como ele pode não se importar com o
mundo? — Você me odeia. Deixe isso brilhar. O público vai
adorar.

Balanço a cabeça. — Mas...

— Oh, merda, não me diga que está gostando de mim.

Oh, não, não mesmo. Acabei de me masturbar pensando


em você ontem à noite.
— Como se... — Mesmo eu não estou convencida da
minha resposta.

— Não se preocupe, farei o suficiente para irritar você,


mas talvez devêssemos descobrir nossos papéis antes de
irmos?

— O que você quer dizer?

— Pesquisa. Selma disse que a equipe de filmagem estará


aqui na próxima semana, então tenho que enviar a eles todos
os detalhes de onde estamos indo. Temos tempo para descobrir
quem queremos ser na câmera. Eu digo que assistimos aos
mais famosos casais da realidade e identificamos por que são
bem-sucedidos.

O fato de ele não estar sorrindo diz que está falando sério.
— Mas é um reality. Por que não podemos simplesmente ser
nós mesmos?

— Você acha que estrelas de realitys não fingem? Lembra


que Selma disse que alguns deles ampliam suas
personalidades para permanecer nos shows?

Mordo minha unha. Ele tem razão. Eu poderia realmente


agir como outra pessoa e não parecer falso?

— E estamos de acordo, o que somos pagos vai para a


empresa? — Pergunto.

Ele concorda. — Cem por cento.


Então, eu estou fazendo isso na empresa do meu pai, que
é o ponto principal de qualquer maneira, mesmo que não tenha
ideia do que vai acontecer depois que mudarmos este lugar. —
Ok, esse é um bom plano. Vamos começar hoje à noite. Você
pode vir ao meu quarto de hotel.

— Hum, não, você pode vir à minha casa. Vou até pedir o
jantar. — O telefone em sua mesa toca e Denver pressiona o
botão do viva-voz. — Ei, Nancy.

— Senhor Thorne está aqui para vê-lo.

— Estaremos aí. — Ele pressiona o botão e mantém os


olhos em mim. — Hoje às seis?

Eu aceno, ainda nauseada com a ideia de estar na


câmera.

— Então vamos ver o homem que vai fazer chover para


nós. — Eu me dirijo em direção à porta, mas Denver coloca a
mão nela, me impedindo de abri-la. Quando olho para cima,
ele está olhando para mim com olhos sinceros. — Eu não vou
nos deixar falhar.

Minha respiração para e eu aceno, incapaz de dizer


qualquer coisa. Ele está propositalmente chegando perto e
dizendo coisas boas para mim? Oh merda, ele poderia estar
brincando comigo. Mascarando-se como alguém que ele não é,
apenas para roubar a empresa de mim.
Ele abre a porta antes que eu tenha coragem de perguntar
e dá um grande sorriso que parece genuíno. — Griffin, faz
muito tempo.

Eles apertam as mãos e trocam um abraço viril, onde


nenhuma parte do corpo se toca.

Os olhos de Griffin se fixam em mim por cima do ombro


de Denver. — E quem é esta?

Denver se afasta do abraço e estende a mão para mim. —


Cleo Dawson, minha parceira de negócios.

— Apenas negócios? — Pergunta Griffin.

— Sim. — Dou um passo à frente e aperto a mão dele. É


macia. Um completo contraste com o cabelo bagunçado na
altura dos ombros, loiro sujo e barba mais que desarrumada.
Ele é um galã total.

— Prazer em conhecê-la, Cleo. — Seus olhos se fixam nos


meus, e eu posso imaginar nosso casamento por um momento.

— Papai!

Essa caminhada imaginária pelo corredor chega a um


ponto estridente.

— Maverick, venha aqui. — Ele acena para uma criança


das antigas máquinas de doces.

Tenho certeza de que o doce é antigo. Nota para si mesma,


livre-se deles.
— Eles têm doces, — diz Maverick, sem se mexer.

— Sim, sim, em um segundo. — Griffin olha de volta para


nós. — Eu sou divorciado, — ele diz um pouco mais baixo,
presumivelmente para que seu filho não ouça. — Ele tem seis
anos, então nós trocamos no meio da semana agora.

— Eu quero agora! — Maverick diz.

— E eu te disse em um segundo. — Griffin se aproxima e


o pega fisicamente, o que estimula Maverick a chutá-lo nas
canelas.

— Eu tenho alguns doces aqui. — Nancy contorna a


recepção, segurando um doce embrulhado em caramelo.

Abençoe o coração dela.

— Aqui está, Maverick. — Ela segura para ele.

Ele a encara como se fosse uma bomba-relógio. Olho para


Denver e fazemos contato visual. Ele entende exatamente o que
está prestes a acontecer e meu coração já está partido por
Nancy.

Maverick bate o doce da mão de Nancy com um tapa.


Griffin abaixa Maverick e abaixa a voz. Nancy olha para o
garoto como se ele fosse a semente de Satanás, com uma
lágrima nos olhos, e desaparece no banheiro. Denver e eu
desajeitadamente ficamos ao redor e tentamos agir como se
não pudéssemos ouvir Griffin repreendendo seu filho irreal.
— Desculpe, ainda estamos pisando nas águas do
divórcio e Maverick está se adaptando. Ele realmente não é um
garoto mau, — diz Griffin.

Nós assentimos como se estivéssemos de acordo.

— Sim, eu testei meus limites também, — diz Denver.

— Ainda faz, — eu digo.

Denver assente como ‘legal’. Tudo o que consigo pensar é


como esses serão nossos novos papéis. Preciso voltar
mentalmente com piadinhas para sermos bem-sucedidos?

— Você é engraçada, — diz Griffin.

Eu endireito minhas costas. — Na verdade não.

— Ela é engraçada às minhas custas, — diz Denver.

Eu belisco suas bochechas. — É muito fácil.

— Vocês têm certeza de que não são um casal? — Griffin


pergunta.

— Não! — Gritamos em uníssono.

Ele levanta as mãos e recua. — Se isso é verdade, talvez


tentem não ser tão defensivos quanto a isso.

Não vou explorar o que ele disse. — Ele é como um


irmãozinho, — minto.

— Irmão maior.
— Mais velho? — Ofereço.

— Prefiro a palavra maior.

Eu reviro meus olhos. — Acho que pequeno é uma


palavra melhor.

Griffin ri e Denver me coloca em um bloqueio, me dando


um cascudo. Quando nos transformamos em uma dupla de
irmãos? Não tenho certeza, mas talvez isso ajude a afastar meu
desejo perturbador de montá-lo.
O Work For U entregou a comida e eu peguei às
gravações, que Phoenix anteriormente me entregou, para
escolher os reality shows que deveríamos assistir. De
propósito, não comprei álcool porque minha atração por Cleo
está crescendo, e assim como os remédios e o álcool não se
misturam, Cleo e álcool também não. Essa combinação
provavelmente resultaria conosco em uma cama ou seu joelho
nas minhas bolas quando eu tentasse alguma coisa. E eu meio
que gosto das minhas nozes onde elas estão.

Phoenix desce as escadas e vira a esquina, me olhando


colocando a comida no balcão. — Encontro a noite?

— Você não tem um lugar para estar?

Ela rouba um pedaço de frango laranja e se joga no sofá


da sala de estar, pegando o controle remoto. — Não. Essa é a
melhor coisa de ser a pessoa mais malsucedida na sua turma
do ensino médio – você nunca tem ninguém com quem sair.

— Você tem irmãos. Oito deles, na verdade.


Ela coloca a mão na minha direção. — E eu estou saindo
com um agora.

— Onde estão os outros?

Ela lambe os dedos, limpando-os um a um como se


estivesse comendo churrasco. — Eu não posso mais sair com
Juno e Colton. Eles estão ficando chatos, agindo
constantemente como se fossem apenas amigos.

— Eu acho que eles são apenas amigos.

Ela revira os olhos. — Nós dois sabemos que eles não são.
Embora tenha ouvido Colton falar sobre sair em um encontro.

— O que Juno disse? — Coloquei alguns pratos.

— Ela disse que achou uma ótima ideia. — Ela revira os


olhos novamente.

Estou acostumado com os olhos de mármore de Phoenix.


A menina costumava ser tão doce e gentil, mas após a
adolescência, uma Phoenix diferente surgiu.

— Bem, é da conta dela. Fique fora disso, — digo.

— Então ouvi rumores de que Griffin Thorne estava na


cidade hoje. Obrigada por nada, mano.

Ela se recusa a olhar para mim desta vez, e solto um


longo suspiro. Isso vai ser um problema conosco.

— Onde você ouviu isso?


— Estou perseguindo Griffin. — Seu sarcasmo não é bem-
vindo. — Onde você acha?

Pego meu telefone e abro o site Buzz Wheel. Lá estou eu,


de frente e no centro novamente. Bem, Cleo e eu.

— Mas é uma imagem fofa, — diz Phoenix.

A foto é minha segurando Cleo do lado de fora da minha


caminhonete quando ela quase caiu naquelas botas ridículas
com saltos pontiagudos. Eu examino o artigo sobre como um
reality show está chegando na cidade e Griffin Thorne vai
salvar Lifetime Adventures. A imagem que eles usam dele é do
Grammy há dois anos. É claro que também menciona como
Cleo e eu fomos vistos brincando e sorrindo ultimamente.
Talvez eu tenha que ter uma conversa com Nancy sobre fofocar
sobre nós. Então, novamente, com o que eu me importo? Estou
no Buzz Wheel desde que começou. Tenho certeza de que vai
denunciar minha morte algum dia. Quem se importa? Não sou
uma pessoa tão interessante.

Phoenix se levanta e volta para o balcão. — Então você


gosta dela?

— Ela é legal. — Dou de ombros enquanto pego os


talheres.

— Não me lembro de deslizar minha mão pela coxa de


uma pessoa que eu achasse ela legal. — Ela pega outro pedaço
de frango laranja do recipiente, eu pego um garfo e finjo
esfaquear sua mão.
— Ela é gostosa, mas não vou fazer nada sobre isso.

Ela assente. A expressão dela grita ‘sim, certo’.

— Eu não vou. Quero fazer essa empresa crescer e ter


sucesso para nós dois.

— E então o quê? Tipo, qual é o plano do jogo aqui?

Eu me inclino para trás. Qual é o nosso jogo final?


Vender? Comprar um ao outro? Trabalhar juntos? — Um
passo de cada vez. Estamos apenas tentando obter lucro agora.

As palavras da carta de Chip ressoam novamente em


minha mente.

A campainha toca. Embora eu desejasse que Phoenix


tivesse algum lugar para ir, mas, não há razão para que não
possa sair com Cleo e eu. Então, permito que ela atenda a
porta, já que ela é como um cachorro abanando o rabo para
brincar.

— Ei, Cleo, — diz ela.

De pé na porta da cozinha, olho para o corredor e as vejo


se abraçar, o que me surpreende. Phoenix não se apega
facilmente, mas poderia dizer, no jantar de domingo, que ela
gostava de Cleo. Provavelmente porque me pegou tocando a
coxa de Cleo na mesa de jantar.

— Oi, Phoenix. — Ela segura uma sacola da Liquory Split.


— Você tem 21 anos?
— Acabei de comemorar com minha irmã gêmea em Nova
York, três meses atrás. — Ela pega a bolsa e me olha.

Rezo para que haja apenas refrigerantes de uva lá, então


não tenho tentação.

— Oi, Denver, — diz Cleo, passando por mim em outro


par de jeans skinny e um suéter curto.

Nunca fiquei tão excitado quando há tanta roupa em uma


mulher. Seguindo-a, gemo interiormente ao encarar sua
bunda.

Definitivamente sem álcool.

— Eu peguei comida chinesa. Devo esperar que funcione?


— Pergunto.

— Perfeito. Eu amo isso.

Phoenix serve um prato para si e oferece um para Cleo.


— Então você vasculhou minhas gravações e não escolheu
nenhum dos reality shows? — Phoenix senta na cadeira
confortável e pega o controle remoto.

— Nós precisamos de drama. Queremos descobrir o que


as pessoas amam neles, — digo, entregando um garfo a Cleo.

Ela me agradece e meus olhos se concentram em seu


brilho labial. É como as luzes da pista de pouso, esses lábios
estão acenando para meus lábios pousarem.
— Tenho certeza de que sou chata no que diz respeito à
realitys. Uma vez tentei assistir a um grupo de pessoas que
estavam presas em uma ilha. Eles pareceram arrogantes,
estúpidos ou loucos. — Cleo se senta em um lado do sofá e
coloca os pés descalços embaixo dela, pondo a comida na mesa
lateral.

Vasculho a bolsa que ela trouxe, encontrando um pacote


de seis cervejas e uma garrafa de vinho. Merda.

— Ok, meninas, o que vocês querem? — Pergunto.

Eles apontam para o vinho antes de continuarem


conversando. Phoenix está argumentando porque eu deveria
apresentá-la a Griffin, e Cleo está assentindo como se fosse o
Grinch roubando o Natal.

Quando estamos todos acomodados e estou do lado


oposto do sofá – o mais longe que posso de Cleo – Phoenix
pressiona Play no primeiro reality show. Um que gira em torno
de uma pequena cidade do sul e um grupo de amigos. Tento
me concentrar nas discussões e brigas, mas meus olhos se
desviam para os pés descalços de Cleo com esmalte de unha
rosa aconchegados sob sua bunda perfeita.

Porra, estou ferrado.


Três horas depois, ouvi mais reclamações e gemidos do
que quando morava com minhas cinco irmãs na adolescência.
Diria que terminei com o reality show por enquanto.

Cleo e Phoenix gostam muito das donas de casa,


comentando como algumas são parecidas com a mãe e as
amigas.

Vai para o comercial. Phoenix está enchendo sua taça de


vinho, e nem Cleo nem eu, nos levantamos para recuperar o
controle remoto para avançar.

— Você sente falta de Dallas? — Pergunto.

Ela encolhe os ombros e toma um gole de vinho, o resíduo


de seu brilho labial na borda da taça. — Na verdade, não.

— Sua mãe?

— Eu deveria, mas infelizmente, não.

— Você não é próxima de sua mãe? — Phoenix se senta


na cadeira e encara Cleo. Ou ela está fazendo tudo isso para
incentivá-la a falar com Griffin sobre sua música, ou realmente
gosta da companhia de Cleo.

— Nós somos realmente diferentes.

— Bem, você não é como essas mulheres. — Phoenix


aponta para a televisão. — Você não parece tão plástica quanto
sua meia-irmã.

Cleo ri e assente. — Meninas Malvadas?


Eu claramente não estou no circuito, mas não vou
interrompê-las para descobrir a peça que estou perdendo.

— Ela não é uma garota má, — diz Cleo. — Ela apenas


cresceu com privilégios e dinheiro – uma quantidade enorme –
e nunca se preocupa em não o ter.

— Você fez também? — Phoenix coloca isso mais como


uma pergunta.

Deslizo um pouco mais para perto porque assumi o


mesmo.

— Eu morava na mesma casa. Meu padrasto me comprou


um carro aos dezesseis anos. Minha faculdade foi paga. Eu
colhi muitos benefícios, mas não é como se eu tivesse o
dinheiro do seu fundo fiduciário. Quando ela fizer vinte e
cinco... bem, digamos que ela não precisa trabalhar pelo resto
da vida se não quiser.

— E ela não sabe? — Phoenix pergunta.

Agora estou feliz que ela se juntou a nós. Nunca quis


bisbilhotar a vida de Cleo – Deus sabe que odeio quando as
pessoas bisbilhotam a minha – mas estou feliz por minha irmã.

— Ela quer ser uma garota do tempo, então vamos ver.


Ela é realmente incrível. Seu lado bom fica oculto pelos efeitos
de sua educação, às vezes, mas seu coração é bom.

Sorrio para isso. Pelo menos ela tem Bridget se não tiver
nenhum dos pais.
— Como é viver uma vida assim? — Phoenix se inclinou,
os olhos arregalados.

Cleo ri. — Como o quê?

— Com crianças que têm acesso a tudo?

O sorriso de Cleo murcha e meu coração se aperta. — É


difícil quando você não é um deles. Eles me aceitaram por
causa de Bridget e meu padrasto, mas ouvi os murmúrios
sobre minha mãe garimpeira. As meninas são más, e assim
que qualquer cara me desse um pouco de atenção, suas garras
poderiam ser afiadas. Mas você tem que sair de férias e gastar
quatrocentos dólares em um par de jeans.

Phoenix está apaixonada pela vida da alta sociedade. Eu


me preocupo que essa seja uma das razões pelas quais está
perseguindo a música. Sua estrela sempre foi mais brilhante
que o resto da nossa. Sua voz é incomparável, mas talvez
porque ela era tão jovem quando nossos pais morreram,
perdeu a única lição que sempre nos ensinou. Não é a
quantidade, é a qualidade dos amigos.

— Eu simplesmente nunca me encaixo totalmente lá. —


Cleo gira sua taça de vinho.

Phoenix permanece quieta. Me pergunto se ela se sente


como se não se encaixasse aqui e entenda como Cleo se sente.
Sempre amei Lake Starlight e nunca sonhei em morar em outro
lugar, mesmo com a tentação de correr. Especialmente depois
que Rome fugiu para a Europa.
Phoenix se vira na cadeira. — Bem, você está se
encaixando aqui.

— Exceto quando as pessoas olham para os pés dela, —


brinco.

Cleo ri e dá um soco no meu braço. — Eu gosto dos meus


sapatos.

Gosto deles também. Especialmente os saltos. Mas ela


não poderá subir a montanha na próxima semana com eles.

Ela e Phoenix continuam assistindo o reality show e


brincando sobre como Cleo poderia agir e se deveríamos fingir
ser um casal, o que parece atraente apenas porque passar a
noite em uma barraca com ela parece ganhar na loteria agora.
Ter aqueles pés lisos com dedos rosados subindo e descendo
em minhas pernas... talvez Phoenix tenha razão.

— Talvez devêssemos? — Digo em voz alta antes de


pensar a coisa toda.

— Deveríamos o quê? — Cleo pergunta.

— Agir como se fossemos um casal. Nossas brigas


tornarão tudo mais atraente para as pessoas.

— Ou você poderia seguir a linha de somos ou não


somos? — Phoenix sugere. — Vocês podem ser irritantes como
Juno e Colton e agirem como se não se amassem.
Dormir na mesma tenda com Cleo parece muito mais
atraente do que o que minha irmã está sugerindo. — Não, eu
digo que vamos de casal.

Cleo empalidece e morde o lábio como se não estivesse


comprando a ideia. — Hum.

— É perfeito, — insisto.

Cleo olha para Phoenix, que é louca o suficiente para


acreditar que é a escolha certa. Ela assente.

— Você está fazendo isso para me fazer dormir com você?


— Cleo pergunta.

Cara, ela me conhece bem.

— Bem, eu não posso mentir que há um bônus no acordo.

Ela bebe o resto do vinho como se precisasse de coragem


líquida, depois assentiu. — Ok.

Inclino-me para a frente, franzindo os lábios. — Vamos


selá-lo com um beijo.

Ela coloca a mão no meu rosto e me afasta, mas seu


sorriso diz que ela pode ter pensado nisso por um momento.

Meus pais realmente deveriam ter me ensinado a não


brincar com fogo.
Cinco dias depois, tenho que me despedir de Bridget.
Estou triste, mas é uma bênção, pois ela acha que o novo
acordo com Denver é uma desculpa para foder ele.

— Não é como se ele fosse um cara monogâmico de


qualquer maneira. — Ela me cutuca com o cotovelo. — É como
se divertir.

— Boa viagem. — Beijo Bridget na bochecha e a


acompanho até a entrada privada que leva ao avião de Phil. —
Boa sorte. Você tem isso totalmente.

— Eu voltarei antes que você perceba.

Eu a abraço com força. — Consiga o emprego primeiro.

A verdade é que ela provavelmente já conseguiu o


emprego. A entrevista é uma formalidade, porque as conexões
de Phil são concretas.

— Nós realmente não nos separamos desde a faculdade.


— Ela dá um passo para trás, e seu biquinho que normalmente
é reservado para sua persona falsa está lá, mas tudo bem.
Bridget tem dificuldade em ser real com as pessoas. É por isso
que nos damos tão bem. Nenhuma de nós fala a outra sobre
nossos problemas. — Paguei você pelo resto da semana e não
quero ouvir nada sobre isso. Eu teria feito isso por mais tempo,
mas eu te conheço.

Eu rio. — Obrigada. Eu acho que há uma pousada que


pode ficar um pouco mais barato, mas eu realmente preciso ir
à casa do meu pai e ficar lá.

— Bem, você tem uma semana. Se precisar de mais, basta


ligar.

Eu aceno, sorrindo. — Você é a melhor irmã.

A aeromoça chama ela e Bridget se joga nos meus braços.


— Não fique aqui por muito tempo.

Eu enxugo uma lágrima. — Como se eu pudesse viver


nesta pequena cidade por muito tempo.

Ela olha através de mim. Embora nada sobre o meu


futuro tenha sido definido, há uma conversa subjacente entre
nós. — Sim, este é o pior lugar para você.

— Exatamente.

Ela usa a palma da mão para enxugar as próprias


lágrimas. — Te amo, irmã.

— Te amo, — digo.
Ela pega sua bolsa e vai embora, nunca olhando para
trás. Corro para a janela e a vejo subir as escadas do avião
particular. Logo antes de entrar, ela se vira e acena. Eu aceno
de volta, pressionando minha mão na janela. O membro da
equipe de terra retrai a escada e eu observo o avião indo em
direção à pista.

Solidão rasteja dentro do meu intestino. A última parte


normal da minha vida se foi e estou sozinha. Eu vou fazer o
que a carta do meu pai pediu. Preciso pegar toda a minha
coragem e dar tudo o que tenho.

E se isso significa agir como a namorada de Denver


Bailey, acho que é isso que significa.

Entrando no hangar na propriedade da Lifetime


Adventures, encontro Denver vestindo jeans e uma camiseta
encharcada de suor. Seis enormes bolsas cheias, não tenho
ideia do que, o rodeia.

— Eu te trouxe um presente. — Ele pega uma sacola de


varejo colocada ao lado e caminha com as mãos atrás das
costas.

— Uma camisola sexy não faz parte do acordo.

Ele ri. — Você é realmente engraçada.


Isso não deve fazer a felicidade brotar dentro de mim, mas
sim.

— Feche os olhos e estenda as mãos.

— Não. — Cruzo os braços. — Se você acha que vai fazer


alguma coisa de iniciação onde coloca um escorpião na minha
mão, não estou me apaixonando.

Sua risada fica mais alta. — Não estamos na Austrália.


Se pudesse colocar um urso na palma da sua mão, eu seria
um mágico. — Ele levanta aquelas sobrancelhas escuras que
são naturais e não estão perfeitamente arrumadas como os
caras de onde morava costumavam ter. — Confie em mim. Já
te enganei?

— Tudo bem, mas minha perna pode alcançar suas bolas


e eu chutarei se me sentir ameaçada. — Fecho os olhos e
estendo as mãos.

— Anotado. — Tudo o que ouço é algo saindo de uma


bolsa, então sua respiração está mais próxima.

Todo som e cheiro é mais forte com meus olhos fechados.


Seu hálito mentolado. O som dele engolindo e sua língua
lambendo seus lábios. Lábios que eu quero nos meus. Espera,
aqui é Denver. O que ele está tramando?

— Você não vai colocar seu pau nas minhas mãos, vai?

— Porra, Cleo. Que tipo de cara você pensa que eu sou?


Meus olhos se abrem e há uma grande caixa em suas
mãos.

Ele a empurra em minha direção. — É um maldito par de


botas.

A dor em seus lindos olhos castanhos me enerva. O fato


de eu ser a causa desse olhar enrola um nó no meu estômago.

— O pau teria sido melhor. — Ele espirra um grande


sorriso para mascarar a dor, mas eu ainda posso vê-la. É uma
expressão que nunca vi nele antes.

Abaixo-me e abro a caixa, revelando um par de botas


como as que estavam alinhadas na casa de Austin e Holly. Eles
provavelmente têm algum tipo de logotipo personalizado da
maneira como as pessoas amam essa família. Mas em vez de
marrom ou preto, o pelo que reveste o interior é rosa neon
quente. — Obrigada.

Tiro o tênis e calço as botas, sentando-me para amarrá-


las.

— Você precisa apertá-las. — Denver se ajoelha,


amarrando minha bota como se eu fosse criança. Ele faz isso
com uma diligência que eu admiro.

— Obrigada, Denver, — digo.

Ele deve pegar o nó na minha voz, porque olha para mim


e sua expressão suaviza. O mesmo que Bridget ouviu quando
tive que pedir dinheiro a ela durante o meu primeiro ano de
faculdade porque tinha sido demitida.

Ele termina de amarrar minha bota, tira meu outro


sapato, coloca a bota e amarra aquela antes mesmo de me
olhar. Sentado sobre os calcanhares, ele olha para as minhas
botas amarradas como uma obra de arte que levou cinco anos
para terminar, então seu olhar lentamente se move para o meu
e fica lá. — De nada. Ainda temos que levar você para a neve.
Até minhas irmãs não têm uma tonelada de coisas que a
manterão aquecida o tempo todo lá em cima.

Concordo, incapaz de dizer qualquer coisa. Meu pedido


de desculpas por pensar o pior dele repousa na ponta da
minha língua.

Ele fica de pé. — Podemos fazer isso amanhã.

Minha bunda esfria no chão de concreto, embora o


hangar esteja aquecido. Levanto-me, limpo minha bunda e
pego meus tênis, indo para o escritório para deixá-lo levar todo
o nosso equipamento. Vou encontrar uma maneira de me
desculpar com ele em algum momento.

No final do dia, entro no saguão do Glacier Point Resort.


Ficarei aqui apenas por mais três noites. Parando na área de
recepção, informo o funcionário que vou fazer o checkout –
porque não estou gastando o dinheiro de Bridget quando nem
sequer estou aqui, mas na encosta de uma montanha. Bridget
sabia que eu estava indo embora, mas ainda assim, pensou
que pagar por um quarto em que eu não estaria dormindo por
noites a fio era nada. No momento em que estou contando
meus planos aos funcionários do resort, Wyatt sai do escritório
que diz Gerente na porta.

— Cleo! — Ele faz parecer que são nove da manhã, do


jeito que seu terno ainda está sem rugas e sua gravata em um
belo nó de Windsor. Até o cabelo está gelificado para trás. —
Ouvi dizer que você e Denver estão saindo em uma excursão.

Eu aceno nervosamente enquanto repito mentalmente


para mim mesma que posso fazer isso.

— E com Griffin Thorne?

— Wyatt, você lê Buzz Wheel por acaso?

Ele ri. — Uma vez que você já esteve nele, você meio que
gosta quando não é o centro disso.

— Tudo bem, temos tudo pronto para sair em três noites,


— diz o recepcionista.

— Três noites? — Wyatt pergunta, olhando por cima do


ombro para seu empregado. — Acabei de fazer acordos com
Bridget pelo resto da semana.
— Estou saindo em quatro dias para a excursão, então
não há razão para ficar com um quarto.

Ele coça a cabeça. — Onde você vai ficar quando voltar?

— Ainda não descobri isso. Mas não posso pagar aqui.

O funcionário se afasta educadamente e Wyatt faz um


gesto para eu segui-lo até o lado do balcão comprido. Ele
parece ser um cara legal. Os Baileys o amam. Brooklyn está
apaixonada por ele, isso é óbvio.

Tenho certeza de que ele está prestes a me oferecer um


armário de vassouras ou, conhecendo esta cidade, talvez até
um quarto em sua casa, mas endireito as costas e levanto a
mão. — Antes que você ofereça algo, tenho que recusar. Eu vou
encontrar algum lugar. Se necessário, sempre há a casa do
meu pai.

Ele dá um passo para trás e deixa minhas palavras


penetrarem. Eu me sinto como uma aluna desprezada. Quero
levantar a mão e admitir que ainda estou na casa do meu pai
porque sou uma merda.

— Brook vai me matar se você acabar em uma caixa na


Main Street. — Seus lábios se levantam. Definitivamente, vejo
como o sorriso dele poderia atrair Brooklyn para ele.

Coloquei minha mão em seu braço. — Prometo que não


vou acabar em uma caixa. Duvido que alguém nesta cidade vai
permitir que isso aconteça.
Ele concorda. — Bem, deixe-me saber se isso mudar.
Você é praticamente da família.

Eu dou uma risada. — Hum, na verdade, não.

Ele pisca, pega uma bolsa e toca no meu braço. — Pelo


menos eu sei que com Denver, você estará em segurança lá em
cima. — Ele se despede e se afasta em direção à porta da frente.

Pensando em Denver, meu estômago revira de emoção.


Eu coloco minha mão sobre ela.

— Oh, Cleo? — Wyatt se vira no meio do saguão que é


mais como um grande vestíbulo. — Você teve um monte de
caixas entregues hoje, então eu pedi ao Mac que as colocasse
no seu quarto.

— Caixas?

Ele concorda. — Sim. Alguém te ama. — Ele pisca e se


despede do jovem mensageiro Mac e desaparece pelas portas.

A mulher atrás do balcão dá um passo atrás. — Dawson?


Mais alguma coisa?

— Não. Obrigada.

Ela assente educadamente e volta a fazer o que eles fazem


entre os convidados.

Indo para o elevador, não tenho ideia de quem me


enviaria algo, mas é a primeira coisa em semanas que me
empolga – além de ver Denver. E isso precisa mudar.
Quando as portas do elevador se abrem no meu andar,
estou pulando como uma criança a caminho de uma loja de
brinquedos. Usando minha chave, abro a porta e empalideço.
Quando Wyatt mencionou caixas, pensei em algumas caixas
da Amazon, e não em caixas.

Todos eles têm um logotipo da empresa que eu não


conheço estampado nas laterais. Jogando minha bolsa em
cima da mesa, tento tirar minhas botas, mas não é tão fácil
quanto meus calçados normais. Quando finalmente estou
livre, pulo na cama e arrasto sobre uma caixa.

Puxando e rasgando, pego uma roupa de neve branca de


uma peça com ouro em volta da costura.

— Parece uma fantasia de Elvis, — murmuro.

Isso é totalmente Bridget.

Vou para a próxima caixa e encontro uma roupa retrô


com listras coloridas que me lembra a boneca dos anos 80,
Rainbow Bright. Isso puxa um sorriso de mim.

Quando termino, há três roupas de neve, todas feias e


brilhantes. Calcinha longa, luvas, chapéus, lenços, meias
térmicas e até um protetor de rosto que parece que vou roubar
um banco.

Está tudo espalhado na cama e eu pego meu telefone.

Eu: Você não precisava.


Bridget: Eu queria ter certeza de que se você desaparecer,
fosse fácil encontrá-la.

Sorrio e abraço meu telefone como se ela estivesse bem


na minha frente.

Eu: Você é a melhor irmã.

Bridget: Nah, você é.

Eu: Muito obrigada.

Bridget: Salve aquele com as listras para mim. Eu acho


que vou arrasar.

Eu: Conseguiu. Te amo.

Bridget: Te amo.

Desligando o telefone, olho para as roupas novas que


provavelmente lhe custaram milhares de dólares. Espero poder
estar lá para ela um dia do jeito que ela esteve aqui comigo por
isso.

Depois de tirar uma foto com o meu telefone, a envio para


Denver, e ele responde instantaneamente.

Denver: Cara, quem é seu Papai Noel? E onde eles


compram porque eu nunca vou lá.

Eu: Acho que vou guardar tudo para mim.

Denver: Não posso dizer que vamos te perder nessa


roupa.
Eu: É melhor você não me perder.

Denver: Eu sempre tenho um olho em você, Cleo.

Meu coração dá voltas e cai quando caio na suavidade do


meu colchão. Estou com tantos problemas. Estou indo para o
deserto do Alasca e tenho mais medo de dormir com Denver do
que ser atacada por um urso.
Dias depois, às seis da manhã no escuro, uma deusa
branca entra na Lifetime Adventures. Cleo está toda vestida
com uma roupa de neve branca com detalhes dourados
metálicos.

— Tudo que você precisa são algumas botas de camurça


azul, — eu digo.

Ela tira o chapéu. — Engraçado. Mas é o melhor dos três.


— Parando, ela olha para mim e franze a testa. — Onde está o
seu?

— Na minha bolsa. Você não vai querer usar isso no


avião. Estaremos aconchegados lá como estão.

— Oh, tudo bem.

Balanço a cabeça. — Tire, baby. — Meus olhos caem


sobre seu corpo. Eu meio que espero que ela não use nada com
essa roupa de neve.

— Eu tenho roupas por baixo, — diz ela como se pudesse


ler minha mente.
— Droga. — Eu rio e finalizo a papelada, já que Nancy
está de folga no fim de semana. Endireitando, coloco dentro da
pasta e viro para ela. Ela ainda não tirou a roupa de neve. —
Você quer ajuda?

— Não.

— Estou sempre aqui para dar uma mão ou um dedo ou...


o que você precisar. — Eu rio, entrando em nosso escritório.
Está quieto aqui esta manhã, então ouço o som tortuoso dela
abaixando o zíper. As expectativas de preparação para a
decolagem atingiram minha região inferior.

Desculpe, cara, hoje não.

— Onde está Griffin? — Ela fala.

— Ele e a equipe de filmagem vão nos encontrar hoje à


tarde.

— Por que eu não sabia disso? Teria me poupado de


acordar às quatro da manhã para fazer meu cabelo e
maquiagem.

Viro minha cabeça em direção à porta. — Você parece


bem. — Queria elogiá-la, mas não estamos filmando até hoje à
noite. — Eles estão me deixando montar o acampamento
primeiro, principalmente porque se importam mais com como
eu vou ensinar você e Griffin a jantar.

— Então somos apenas nós? — Ela pergunta.


Sorrio quando ouço a hesitação em sua pergunta. Talvez
eu não seja o único a pensar sobre a nudez do outro. Isso vai
ser interessante.

Eu saio do escritório e ela está saindo de suas botas para


tirar a roupa de neve. Vejo que está de fato vestindo calças e
camiseta. Não há roupas suficientes para mantê-la aquecida
quando levantamos o ar. Pego meu moletom da mesa e o jogo
para ela.

— O que é isso? — Ela pergunta.

— Você precisará disso no avião.

— Então por que estou saindo da minha roupa de neve?

— Porque eu não quero cair quando uma águia voar


contra nós, pensando que Deus a está chamando para casa.

Ela não ri da minha piada, mas distorce o rosto em um


olhar que diz: 'Isso é o melhor que você tem?'

Volto ao escritório e pego a camiseta que usei ontem e


esqueci aqui e enfio na minha mochila. — Está pronta?

Ela inala. — Sim.

— Você já voou em um avião antes?

— Com meu pai quando eu tinha uns quinze anos.

— Então você sabe o que esperar.

— Eu sei.
Ela me segue até o hangar e abro a porta. Nós pegamos o
avião. É um timing perfeito, porque o sol está nascendo no
horizonte.

Vinte minutos depois, seu traje de neve branco é enfiado


atrás com nossas malas, ela está sentada logo atrás de mim e
cada um de nós está usando nossos fones de ouvido. Ela é
definitivamente mais familiarizada com essa rotina do que eu
pensei que seria.

— Diga-me que você não tem medo de voar?

— Não. — A voz dela tem esse problema que eu percebi


que ela recebe quando não está admitindo algo. Pegar um avião
de passageiros não é algo fácil para algumas pessoas.

— Então vamos em frente. — Eu inicio o avião e me


prendo. Em questão de minutos, decolamos depois de taxiar
pelo caminho arado feito apenas para os aviões de exploração.
— Você está bem?

— Sim.

Ainda estamos subindo, mas com firmeza suficiente para


não a assustar muito. Manobro o avião e toda a minha
ansiedade por essa viagem desaparece com a nossa visão da
paisagem abaixo. Quando viajo, costumo esquecer que estou
com pessoas, a menos que esteja em turnê.

Eu devo ter zoneado porque quando Cleo fala pelos fones


de ouvido, me assusto.
— É tão bonito. A terra. A neve. A água azul.

Olho por cima do ombro e vejo o rosto dela estampado na


janela. — Eu meio que pensei que você colocaria a cabeça entre
as pernas e rezaria até voltarmos ao chão.

Ela ri. — Eu te disse que já voei em um antes.

— Sim, mas você está confiando em mim para levá-la


aonde você está indo.

Há um silêncio. Eu odeio não poder olhar para ela


enquanto conversamos. — Então?

— Então confiar em seu pai e confiar em mim são duas


coisas diferentes. Especialmente desde que você me odeia. —
Eu lentamente nos viro para o sul.

— Você quer saber um segredo? — Ela diz, sua voz baixa


como se não devesse me contar.

— Quem não ama segredos?

Outra pausa. — Eu não te odeio. Eu meio que admiro


você.

— Me admira? — Dirigimos por uma geleira e eu nos


abaixo para dar a ela a visão de um milhão de dólares. E para
mostrar um pouco, se eu for honesto.

— Você está fazendo o que ama. Muitas pessoas sonham


com isso e nunca o encontram. Acordar todos os dias e fazer o
que você ama.
Penso por um momento, permitindo que ela diga 'ooh' e
'aah' sobre a geleira. — É por isso que eu não tinha certeza de
assumir a Lifetime Adventures. Isso tira a minha liberdade de
poder entrar no meu avião e partir. Eu costumo usá-lo para
escapar.

Sua mão toca a parte de trás do meu pescoço de maneira


gentil. — Todo mundo precisa de uma fuga às vezes.

Concordo com a cabeça, mas penso em quantas vezes


desapareci por dias para evitar as merdas da família.
Reconheço como era para eles agora apenas porque Kingston
está fazendo a mesma coisa. Usando a desculpa de seu
trabalho para evitar seus problemas.

— Se mantivermos a Lifetime Adventures, isso mudará


para mim, — digo.

— Não precisa. Se ainda somos parceiros, agendamos um


horário para você escapar. — Eu rio e ela se junta a mim. —
Talvez eu deva aprender a voar para poder assumir as viagens
quando você quiser escapar.

— Você está realmente pensando a longo prazo, hein? —


Eu nunca perguntei diretamente, para que ela não me
perguntasse.

— Não tenho certeza, mas se eu pudesse fazer isso todos


os dias? Talvez.
Aumento nossa altitude e me afasto da geleira,
encabeçando um grande lago no meio de uma cordilheira. —
Eu posso te ensinar.

Ela está calada de novo.

Temos meia hora para ir, já que eu não queria ir muito


longe com Griffin depois do que aconteceu da última vez. Nós
estamos indo para um lugar em que estive várias vezes para
que o outro avião possa entrar, mas quando eu voar as cinzas
de Chip para o norte em cerca de um mês, estarei voando.
Ainda tenho que contar a Cleo o que estava em sua carta para
mim. Hoje não é o dia de dizer isso a ela. Não serei responsável
por tirar esse sorriso do rosto dela.

— Ei, Cleo, — eu digo.

— Sim, — diz ela, pousando a mão no meu ombro.

— Eu também não te odeio.

Ela aperta meu ombro e eu quero pousar este avião na


borda da Terra e deitá-la em um cobertor. Pena que essa não
é uma das minhas opções. Mais cedo ou mais tarde, terei que
decidir se quero que seja.
Você sabe o que não fazer quando você já está atraída por
alguém que não deveria?

Não permita que ele voe em um pequeno avião sobre o


terreno mais bonito que você já viu. Não permita que ele diga
coisas doces pelo microfone. Não o testemunhe fazendo, com a
habilidade e precisão de um mestre, algo que muitos não
podem.

E não permita que ele mostre todos os seus talentos ao


longo de um dia. Eu o testemunhei montar duas tendas, um
acampamento inteiro e acender uma fogueira, que ele começou
em sua primeira tentativa. Tudo isto com uma arma amarrada
ao peito no colete. Estou começando a pensar que ele poderia
lutar contra um urso pardo com as próprias mãos.

Nada disso é bom para mim e minha libido já próspera


para este homem.

Minha única chance é a distração do cara da câmera e


Griffin, que finalmente aparecem no final do dia. O outro avião
pousa e taxia ao lado do de Denver.
— Não chore, princesa. Seu tempo sozinha comigo
acabou. — Ele se afasta enquanto me sento no tronco que ele
encontrou para mim. Ele para antes de estar muito longe. —
Até hoje à noite. Estamos dividindo uma barraca.

Minha cabeça vira. — Existem duas!

— Sim, nós ocuparemos a menor. Griffin e o cara da


câmera pegam a outra porque é maior.

— Parece uma barraca de uma pessoa.

— Bem, você não deveria se importar. Nós somos um


casal. — Ele sorri e vai em direção ao avião.

Griffin sai, olhando estranhamente em seu elemento.


Suas roupas parecem quentes, escuras e moderadas. O
cinegrafista, um homem ruivo com uma barba aparada e um
corpo magro, se junta a ele. O piloto e Denver conversam e,
cinco minutos depois, ele está decolando.

Como eu não percebi que seria apenas eu e três homens?

— Cleo! — Griffin me abraça e beija minha bochecha. —


Está tão frio.

Tremo em seus braços porque me afastei do fogo. — Eu


sei. Não poderíamos ter feito isso no verão?

— Certo? Este é o nosso cara de câmera, Heath.

Aperto educadamente a mão dele.


— Então você e Denver são donos da Lifetime
Adventures? — Ele diz.

Eu me pergunto se ele vai me entrevistar, mas depois que


respondo, ele se ocupa ao lado do fogo com sua câmera. Ele é
todo negócio.

— Então, qual é o protocolo aqui? Tipo, nós apenas


agimos normalmente? — Eu digo.

Ele sorri para mim como se eu não fosse a primeira a fazer


essa pergunta. — Sim, vocês dois são um casal, certo?

Denver fecha a porta do avião e se aproxima, então eu


minto. — Nós somos.

— Então eu não me preocupo, teremos boas imagens.


Sempre fazemos.

— Espere. — Griffin coloca o dedo na minha direção e


depois em Denver. — Eu pensei que vocês dois não eram um
casal?

Eu olho para Denver. Ele é um mentiroso melhor do que


eu.

Denver sorri facilmente e vem para o meu lado. — É meio


novo, desculpe antecipadamente se você acha que ouve ursos
no meio da noite. Cleo pode ficar um pouco alta.

Minha boca se abre quando o encaro, incrédula. — Eu


acho que ele está enganado. Geralmente é ele quem faz com
que a polícia apareça por um distúrbio de ruído. Ele não
consegue lidar com um pouco de dor dos grampos nos
mamilos.

Mas é claro que meu comentário não é uma vingança,


porque Denver nunca fica constrangido com nada.

— Oh, vejo dólares no seu futuro. — Heath ri, enterrando


a cabeça na câmera.

— Interessante, — diz Griffin e entra em sua barraca. —


Obrigado por arrumar isso para mim. O que estamos fazendo
primeiro?

Denver esfrega as mãos enluvadas. — Você está pegando


o nosso jantar.

— Eu posso ficar aqui e manter o acampamento, — eu


digo.

Todos os três homens olham para mim.

— Você tem que estar em todo lugar que estiver, a menos


que eu esteja entrevistando você, — Heath me informa.

Eu gemo. Quero dizer, não estava de pé e lia um livro,


mas ficar perto do fogo parece uma opção melhor.

— Dê-me dois minutos e eu estou pronto, — diz Heath.

— Você filma muito no Alasca? Você está tão preparado,


— eu digo.

— Sim. Eu faço o show de pesca de barco de caranguejo


e a família pioneira. Eles me chamaram aqui para isso desde
que eu estava próximo e familiarizado com os elementos.
Apenas fique feliz por não ter Roman. Ele provavelmente ficaria
em sua barraca o tempo todo.

Não sei se isso é uma coisa ruim.

— E então você nunca tiraria um show disso.

Verdade. Nota mental para ouvir Heath. Ele sabe o que


diabos está fazendo.

Caminhamos até o lago, que não é muito longe. Denver


realmente escolheu uma boa localização. Ele segura minha
mão porque devemos parecer um casal. Ele está com uma
mochila e deu uma a Griffin. Heath nos segue. Inspiro
profundamente um pouco antes de chegarmos à beira do lago.
Vou ter que tocar um peixe.

Denver se aproxima. — Apenas relaxe. — Ele beija meu


pescoço. Obviamente para o show. — Temos que conversar
sobre perfume, querida, — diz ele alto o suficiente para os
outros ouvirem.

— Você disse que gostou desse perfume, — digo mais alto.

Griffin olha para Heath.


— Sim, mas não quando estamos perto de ursos pardos
que querem comer você tanto quanto eu.

Eu dou um tapa no meu sorriso falso e o empurro de


volta. — Oh, querida, você é tão ciumenta. — Olho para a
câmera. — Ele é tão ciumento o tempo todo. — Ugh. Eu sou
péssima nisso, nas coisas da câmera.

— Cuidado, ele mijará ao seu redor em breve, — diz


Griffin, ajoelhando-se na beira do lago.

Eu rio, mas é obviamente muito falso. Denver balança a


cabeça. Até agora, não estamos exatamente lidando essa coisa
de atuação.

Enquanto Denver e Griffin conversam sobre a última vez


que estiveram juntos, Heath abaixa a câmera e sinaliza para
eu me aproximar dele.

— Cleo, você deveria ser você mesma. Aja como se eu nem


estivesse aqui ou que sou sua melhor amiga filmando nossa
viagem. Prometo que nossos editores farão maravilhas por
você. — Ele descansa a câmera no ombro.

Denver está ensinando Griffin a pescar com uma rede,


como se a encontrassem na floresta. Griffin está usando botas
de água, então, entra no lago e lança a rede. Os dois trabalham
bem juntos, enquanto eu fico lá, admirando-os como se fosse
um espectador em casa e não um participante ativo do
programa.
Denver olha de volta para mim antes de dizer: — Agora
vamos esperar.

Heath abaixa a câmera e todos filmamos nossos planos


para os próximos dois dias. Griffin fala sobre seu divórcio e
como ele está feliz por estar longe dessa situação por enquanto.

O que parece ser para sempre mais tarde, os erros de rede


e Heath pega a câmera. — Vamos pedir que Cleo faça isso. Ela
precisa se envolver.

Eu disse para ouvir Heath mais cedo? Heath realmente


deveria calar a boca.

— Ideia perfeita. — Denver me acena.

Griffin me ajuda, e Heath acaba filmando na água para


ter a melhor vista. O peixe não está feliz por estar preso e estou
tentando usar as habilidades que meu pai me ensinou há mais
de uma década atrás, mas assim que o tiro da rede, ele fecha
a boca em volta da minha mão e eu grito.

— Relaxe, — diz Denver, pegando o peixe e entregando a


Griffin para segurar com a boca aberta.

Lágrimas estão picando meus olhos quando Denver me


leva para fora da água.

Ele tira um pano antisséptico da mochila, me senta e me


enfaixa. — Você está bem?

— Além de ser humilhada? Eu vou estragar tudo isso.


Ele se ajoelha, coloca as mãos nas minhas bochechas e
olha nos meus olhos. — Não, você não vai. A plateia vai amar
você. — Deslizando o dedo sobre minha bochecha, ele enfia
uma mecha solta do meu cabelo atrás da orelha e ajeita o
chapéu.

— Se conseguirmos sair daqui, você pode ser um idiota


de novo?

Ele ri e minha testa cai em seu peito. — Você tem certeza


de que está bem? Eu acho que você pegou alguma coisa. Parece
que talvez você não me odeie mais, — ele sussurra.

Sua voz é tão suave que quero pedir que ele a repita, mas
olho para cima e a câmera de Heath está focada em nós.

— Eu vou ser o próximo com uma lesão, se você não se


apressar aqui, — diz Griffin.

Heath gira a câmera enquanto Denver me deixa para ir a


Griffin. Sento-me na neve molhada e vejo Denver ser um herói
novamente. Sim, eu peguei alguma coisa. Isso é chamado de
sentimentos.
A noite cai e, enquanto nos sentamos ao redor da
fogueira, Cleo relaxa. Nós nos beijamos algumas vezes, o que
Griffin e Heath parecem amar. Discutimos sobre quem
limparia o peixe e como ela se calou quando eu ensinei a Griffin
como filetá-lo. Definitivamente, ela não assumiu o papel de
mestre em sobrevivência, mas é uma ajudante engraçada que
apresenta melhores falas do que eu.

— Devemos contar histórias de fantasmas, — diz ela,


envolvendo o cobertor com mais força em volta das pernas.

— Acho que deveríamos falar sobre o ataque de animais


selvagens. Torne isso mais real, — ofereço, sentando-me e
entregando-lhe um chocolate quente.

Em vez de qualquer uma das sugestões, Cleo inicia uma


conversa com Griffin, o que é um bom pensamento, já que esse
é provavelmente o tipo de coisa que os espectadores
esperariam quando assistissem.

— Onde você cresceu? — Cleo pergunta a Griffin.

— Georgia, — ele responde.


— E por que você ama essa coisa de sobrevivência?

O rosto de Griffin se ilumina e ele fala sobre o quão


diferente é aqui em cima. As pressões dos negócios e o sucesso
em LA se foram há muito tempo. Quando ele vem para o
Alasca, ninguém realmente o reconhece e realmente se sente
como Griffin Thorne, não Griffin Thorne, produtor musical.

— Você está bem falando sobre o acidente com Denver?

Heath tem a câmera, e ele está certo, você esquece que


ele está lá às vezes. Os olhos de Griffin encontram os meus, e
eu aceno.

— Foi um inferno, — diz Griffin.

— Mas você voltou para mais, — diz Cleo.

Eles riem, mas meus olhos estão focados em Cleo. Suas


bochechas rosadas pelo frio, seus lábios rosados por camadas
de Chapstick. Ela encontrou onde se encaixa, e é isso. Ela pode
entrevistar os convidados.

— Devo minha vida a Denver. O que ele fez por mim? Eu


nunca poderia retribuir. Além disso, nunca recuso a
oportunidade de dormir sob as estrelas. — Griffin olha para o
céu.

Eles continuam a conversa sobre o passado dele, seu


primeiro intervalo. Griffin toca brevemente em seu divórcio e
menciona pouco sobre Maverick. Nós três temos uma conversa
honesta, e anoto, mentalmente, para agradecer a Griffin por
ser tão próximo.

— E novo casamento? — Cleo pergunta.

Griffin geme. — Não tenho certeza se sou do tipo que se


casa. Às vezes você tem que falhar em algo para perceber que
é meio ruim.

Eles riem e Cleo olha para mim. Eu me pergunto o que


ela está pensando.

— O que há com homens que não querem se


comprometer?

Acho que não preciso mais me perguntar.

— Há muitas mulheres que também não, — digo.

— Muito mais homens, — ela responde.

— Ok, pessoal, vocês podem continuar lutando contra


isso. Vou para a cama. — Griffin se levanta.

Heath também. — Podemos desligar a noite. Essa foi uma


ótima conversa honesta. Você tem essas perguntas escritas,
Cleo?

Ela olha para mim e volta para ele. — Eu estava apenas


conversando.

— Bem, você fez um ótimo trabalho. Os fãs de Griffin vão


adorar dar uma olhada profunda em sua vida.
Eles entram na tenda e eu ponho outro tronco no fogo,
esperando que isso nos mantenha aquecidos a noite toda.

— Você está pronta para dormir um pouco? — Pergunto


a Cleo, e ela assente.

Entramos em nossa barraca. Já tinha jogado os sacos de


dormir. Ela tira as botas e o traje de neve antes de deslizar
para a bolsa com o chapéu. Eu faço o mesmo.

É estranho estar tão perto dela, mas ao mesmo tempo


emocionante. O perfume dela permanece no nosso pequeno
espaço. Eu gostaria que tivéssemos uma desculpa para nos
despirmos para o calor do corpo.

— Denver? — Ela diz, com a voz baixa. Acho que os caras


não nos ouvem.

— Sim?

— Você é um cara que nunca quer se comprometer?


Quero dizer, eu sei que você gosta da sua variedade e nunca
tem ninguém falando sério, mas você acha que vai ser assim
para sempre?

Huh, ela é franca. Eu não sou cego para o que está


acontecendo entre nós. Ela provavelmente quer saber agora se
estaria perdendo seu tempo. Ela quer que eu a cale e diga:
‘Sim, eu serei assim para sempre. Eu nunca vou me
estabelecer com ninguém.’ Mas acho que não posso.
— É uma pergunta difícil. Estou meio fodido, — respondo.
— Eu não sou contra o compromisso. Só não tenho certeza se
posso fazê-lo, por mais que eu queira.

— Oh... tudo bem. — Ela mexe mais um pouco no saco


de dormir.

Embora ela provavelmente pense que estou lhe dando


uma resposta besta, fui mais sincero com ela do que nunca.
Enquanto espero ouvi-la relaxar até dormir, ouço os ruídos da
vida selvagem ao nosso redor, mas tenho mais medo da mulher
deitada ao meu lado do que dos animais que podem me matar.

Vivemos ao ar livre há dois dias e estou fedorento e


nojento, mas terminamos de filmar. O outro piloto levou Griffin
e Heath de volta a Anchorage, e vou nos levar para Lake
Starlight. Cleo dorme o voo inteiro. Se eu tivesse que nos dar
uma pontuação, digo que obtivemos um B. Cada um de nós
tem nossos talentos e acho que complementamos a
personalidade um do outro.

Antes de sair, Griffin me puxou para o lado e me disse


que eu era um idiota se não pegasse Cleo para mim logo. Vi o
jeito que ele olhava para ela, mas quando perguntei sobre isso,
disse que era mais um tipo de morena.
Quando pousamos e guardamos o avião e o equipamento,
já é tarde na segunda-feira à noite.

— Aonde você vai hoje à noite? — Pergunto a Cleo.

Propositalmente não bisbilhotei, sabendo que ela não tem


para onde ir além da casa do pai. Wyatt me ligou antes de
sairmos e me deu a informação de que ela não ficaria em
Glacier Point, embora estivesse disposto a lhe oferecer um
quarto grátis.

Geralmente, as fofocas de uma grande família, trabalham


contra você, mas há aquelas raras ocasiões em que isso
funciona para você.

— Eu estou indo para a casa do meu pai.

Estamos no escritório com as luzes acesas, para que


possa ver como ela está nervosa – suas mãos trêmulas, seus
olhos correndo em qualquer lugar, menos em mim.

— Você é bem vinda a minha casa. Temos um quarto


extra e Phoenix te ama tanto...

— Preciso ir, — diz ela.

— Ok. Posso te levar.

— Eu tenho meu carro de aluguel.

— Faz alguns dias e você está cansada. Deixe-me levá-la.

Ela hesita por um momento, mas depois assente.


— Você realmente deveria devolver o carro. Posso levá-la
ao escritório todos os dias. Estou feliz por ser seu motorista.

— Hmm, talvez. Deixe-me pegar minha mala, deixei no


escritório. — Ela desliza por mim.

Nas últimas semanas, notei que Cleo Dawson abriu uma


frente quando ela chegou a esta cidade, toda empenhada em
me colocar em jogo. No momento, essa mesma máscara está
ativada. A mulher que não podia entrar na casa de seu pai há
duas semanas reuniu coragem para passar a noite lá?

Eu chamo de besteira.

Já a teria chamado atenção, mas temos muito em


comum. Escondemos nossas vulnerabilidades para que
ninguém possa vê-las. Ela desvia por parecer má, e eu com
meu humor.

Tirando a mala, ela sorri com força e passa por mim. —


Estou exausta. Podemos nos apressar, por favor?

— Vem, princesa.

Depois de trancar o escritório e checar tudo, a sigo até


minha caminhonete. Ela já está sentada, com a mala atrás.

— Eu poderia ter conseguido isso para você.

— Não há necessidade. Eu sei que você não percebe, mas


sou mais forte do que você pensa.
Ligo a caminhonete, repetindo para mim mesmo que devo
ficar de boca fechada e dirigir. Mas antes de sairmos do
caminho de cascalho para as estradas pavimentadas de Lake
Starlight, acho meu silêncio muito difícil de segurar. — Vou
jogar a oferta mais uma vez.

— E eu disse obrigada, mas estou bem. Está na hora de


ser uma garota grande agora. — Ela olha pela janela.

Dirijo com o volume do rádio baixo, os sons de Van Halen


enchendo suavemente a cabine.

Ela segura a bolsa com mais força no peito quando tenho


que parar na rua, meu sinal de volta indicando que vou dirigir
pela estrada de Chip a qualquer segundo. Meus pneus caem
na estrada de terra e cascalho, e a ouço inalar profundamente.
Passar a noite comigo é realmente a menor das duas opções?

— Você está bem? — Pergunto.

Desta vez, não recebo uma resposta que não seja um


ruído baixo no fundo de sua garganta.

Minhas luzes brilham, como fizeram duas semanas atrás,


na casa de Chip, que precisa, desesperadamente, de reparos.
Cleo abre a porta da caminhonete, fecha, abre a porta de trás
e arrasta a mala antes que eu tenha uma chance de fazer isso
por ela. Acabamos nos encontrando ao lado da caminhonete.

— Quer que eu entre com você?


Está escuro e difícil de ver sua expressão, mas acho que
pelo seu silêncio é um retumbante não.

— Você poderia me buscar amanhã? — Ela pergunta.

— Sim, com certeza.

— Obrigada.

Sua mala rola no cascalho até atingir as tábuas de


madeira da varanda. Ela para na porta da frente. Eu estava
completamente errado. Ela está bem em ir para o pai dela. Hã.
Fiz algo errado por fazer aquele sentimento ruim voltar então?

— Tchau, Denver, — diz ela e acena.

— Eu só vou depois de ter certeza de que você entrou.

Está tão quieto lá fora, a ouço colocar a chave na


fechadura e girar a maçaneta antes de desaparecer lá dentro.
Acendendo a luz, ela acena mais uma vez. — Veja. Eu estou
bem. Boa noite.

A porta se fecha e fico lá tentando envolver meu cérebro


em torno do que está acontecendo. Uma garota que não pôde
entrar lá semanas atrás simplesmente o fez sem hesitar.

Subo na minha caminhonete e a viro quando ela não sai


correndo pela porta em lágrimas. Enquanto desço a garagem e
a imagino lá dentro, meu estômago afunda. Memórias de
quando eu andei até o cemitério, onde fica a lápide dos meus
pais. Quão pesado cada membro parecia, como se meu corpo
estivesse tentando me convencer a não seguir adiante.
Então me lembro do alívio que senti quando Rome estava
lá, esperando por mim. Como se ele soubesse que eu estava
vindo e que nunca tinha estado. Telepatia de gêmeos, talvez.
Sentamos no banco e recontamos histórias de papai nos
treinando na liga pequena ou na capacidade de mamãe de
saber sempre quando estávamos prestes a fazer algo estúpido.
Nós éramos honestos um com o outro sobre o quanto
sentíamos falta deles.

Chego à estrada principal e faço uma curva em U, volto


pela estrada de Chip e piso no freio na beira da casa. Correndo
para a porta, paro na varanda quando a encontro sentada nas
pranchas de madeira, os joelhos dobrados e a cabeça baixa,
soluçando.

Eu deveria ter ouvido meu instinto.

— Shhh, eu tenho você. — Pego-a sem qualquer


argumento dela, coloco-a na minha caminhonete e passo o
cinto em seu corpo.

Depois de pegar sua mala e garantir que a casa esteja


trancada, a levo para onde deveria ter levado na primeira vez –
minha casa.
Quando estou na cabine da caminhonete de Denver,
limpo os olhos, agradecida por estar escuro lá fora. — Estou
realmente bem, — digo logo antes de outro soluço escapar.

— Você não está e vai voltar para casa comigo esta noite.
Voltaremos juntos quando estiver pronta.

O caminho para a casa dele é silencioso até que o vejo


conduzir o carro para entrar na garagem e estacionar. Uma luz
fraca ilumina uma janela. Acho que isso significa que Phoenix
está acordada.

Tenho vinte e sete anos. Eu deveria poder entrar na casa


dele e dormir.

Denver solta o seu cinto e o meu. Ele desce, abre a porta


dos fundos e pega minha mala. Antes que eu tenha tempo de
pensar, ele está abrindo minha porta e estendendo a mão.

— Talvez fosse melhor me levar de volta ao hotel? —


Tenho certeza de que posso pagar uma noite em Glacier Point.
— Estou colocando meu pé no chão. Você vai ficar aqui.
— Ele diz, colocando a mão na porta. — Vamos. Prometo
manter minhas mãos para mim.

Respiro fundo. Antes que possa responder, Phoenix abre


a porta da frente.

— Como estava Griffin? Estou assumindo que ele ainda


não sabe nada sobre mim? — Ela está vestindo um lindo
conjunto de pijama. De alguma forma, Phoenix parecia uma
garota tipo boxer e camiseta para vestir à noite, mas
aparentemente não.

Denver levanta a mão. — Agora não. Estamos no meio de


alguma coisa.

Phoenix espia dentro da caminhonete e acena.

— Ei, Phoenix. Por favor, vá em frente e interrogue seu


irmão, mas se você não se importa, vou passar a noite.

— Oh. — Seu olhar dispara para Denver, e eles têm uma


conversa silenciosa entre irmãos que não conheço. Eu posso
sentir a crueza ao redor dos meus olhos pelas minhas
lágrimas, então, tenho certeza de que ela não perde o fato de
que estava chorando. — Definitivamente. Vou garantir que o
quarto de visitas esteja pronto.

Ela desaparece lá dentro e saio da caminhonete, não


aceitando a mão de Denver. Ultimamente estou recebendo
muita ajuda dele, mas, não parece se ofender e me segue até a
casa deles. Phoenix deixou a porta de tela destrancada e a
porta interna se abre. Quando entro, vejo-a passar pelo topo
da escada com um cobertor e um travesseiro.

— Vou levar isso para o quarto de hóspedes, — diz


Denver, apontando para a minha mala. — Você está com fome?

Odeio admitir, mas estou morrendo de fome. Comer peixe


durante todo o fim de semana me deixou com vontade de
comer uma porcaria gordurosa. — Sim, mas deveria apenas ir
para a cama.

— Tenho certeza de que temos algo. Também estou com


fome. — Ele sobe as escadas e segue na mesma direção que
Phoenix fez.

Ouço seus murmúrios e decido ir à cozinha para não ter


que ouvir o que Denver deve estar divulgando para Phoenix –
que sou um caso perdido que não consegue controlar suas
emoções.

Escuto Denver descendo as escadas antes de vê-lo.

Ele me ignora e vai para a geladeira. — Honestamente,


não temos muito e não há lugar para entrega ou retirada tão
tarde. Que tal cereal?

Ele abre os armários, pega cinco caixas de cereais e as


leva ao balcão. Todos eles são cereais infantis cheios de açúcar,
mas não estou reclamando agora. Em questão de minutos, nós
dois temos uma tigela cada um – os Fruit Loops e os meus
Lucky Charms – e o único barulho na cozinha é o de comer.
Phoenix não se junta a nós e, embora eu realmente goste da
companhia dela, estou agradecida pela paz no momento.

— Você sabe que quando meus pais morreram, levei cinco


anos para visitar seu túmulo após o funeral. — Ele enxágua
sua tigela na pia. — Chip acabou de morrer. Vai levar tempo.
Talvez você esteja se apressando.

Quando ele se senta na minha frente, termino minha


tigela. Estou feliz com a distração de lavar minha tigela, então
não preciso olhar para ele. Está tentando, e entendo o que ele
está fazendo. Só não tenho certeza de que de todas as pessoas
da minha vida, Denver é a pessoa que eu deveria divulgar meus
mais profundos arrependimentos e medos. Se ele puder, de
alguma forma, melhorar, isso apenas carimbará o salvador em
seu peito. E, então, não estou nem perto de manter as coisas
descomplicadas entre nós. Mas, ao mesmo tempo, pode ser
bom conversar com alguém sobre o que está agitando dentro
do meu cérebro.

Sento-me à mesa e pego o jogo americano. — Você quer


saber por que não gostei de você?

— Desde que você disse que não, isso significa que você
gosta de mim agora? — Sua arrogância brilha através de seu
sorriso.

Eu sorrio de volta. — São como cinquenta e cinquenta.


— Oh, acho que é um pouco mais do que isso. — Sua
língua desliza para fora da boca, passando pelo lábio inferior e
meu estômago dá um salto.

Sim, é mais do que isso.

— Chip era um pai de meio período, na melhor das


hipóteses. — Sinto-me culpada por dizer as palavras agora que
meu pai se foi, mas não posso mudar o passado.

Denver não diz nada. Não tenho certeza do quanto se


sabe em torno de Lake Starlight sobre Chip e eu, mas ele
nunca saiu do Alasca para me visitar.

— Eu vim aqui todo verão por duas semanas até


completar dezoito anos, e toda vez que conversava com ele,
tudo o que o ouvia falar era de você.

— Eu? — Ele aponta para si mesmo.

— Ele te ensinou a voar, não foi?

Ele concorda.

— E habilidades de sobrevivência?

Acena a cabeça novamente, e vejo o momento em que ele


se dá conta. Ele agarra minha mão. — Ele te amou.

Eu não me afasto dele. — Ele me amava porque eu era


filha dele, sua carne e sangue. Mas sempre senti que ele
desejava que você fosse filho dele.
Seus dedos apertam os meus, e, quando não olho, ele os
aperta novamente. — Quando eu estava com ele, ele se gabava
de sua filha estar na faculdade. Quão inteligente e bonita você
era. Que você ia fazer algo grande de si mesma.

Um sorriso suave enfeita meus lábios. Na minha


cerimônia de formatura, eu sabia que ele estava orgulhoso,
mas não compareceu.

— Então ele deixou para você metade da empresa, e fiquei


tão brava porque ele assumiu que eu precisaria da sua ajuda.
Me ofendi e isso trouxe à tona todos esses sentimentos. A
verdade é que você estava mais perto dele do que eu.

— Isso não é verdade.

É bom que ele esteja tentando ser educado, mas nós dois
sabemos a verdade. — Você estava. E agora que ele se foi, é
pior, porque nunca posso mudar isso.

— Eu nunca vi isso como uma competição.

— Porque você é... — Minhas próximas palavras podem


causar uma discussão. Ultimamente, estamos nos dando tão
bem que não tenho certeza se quero arriscar.

— O quê? Apenas diga.

— Você é o vencedor. Você teve sua única atenção. Eu


tive sua atenção obrigatória. Ele sentiu que tinha que me dar
porque compartilhamos DNA.
Denver franze a testa. — Sinto muito por você ter se
sentido assim, e percebo que seus sentimentos são seus
sentimentos. Nada que eu possa dizer vai mudar isso. Mas pelo
que vale, você era tudo sobre o que ele falava quando
estávamos acampando. Como você estava lá fora, vendo as
coisas e fazendo mais do que ele jamais fez.

Seu telefone toca e eu aproveito a oportunidade para ficar


de pé. É surreal que o homem de quem sinto ciúmes seja o
mesmo homem com quem estou dizendo tudo isso.

— Posso fazer uma pergunta? — Denver diz, embolsando


o telefone e indo para o freezer.

Se aventurando na sala da família, o vejo pegar um


sorvete.

Ele levanta o pote. — Phoenix deve gostar de você. Ela


está oferecendo seu sorvete de chocolate com menta.

— Ela é doce.

O som de uma gaveta se abre e o barulho de talheres vem


a seguir. — Você pode ser a primeira pessoa a dizer isso.

Eu rio. Ele se junta a mim na sala de estar e faz um gesto


com a cabeça para mim me sentar no sofá e faço o que ele
sugere. Com cada um de nós armado com uma colher, ele me
oferece a primeira colher.

— Nunca pensei que você fosse um cavalheiro.


— Você nunca pensou que essa é a razão pela qual as
mulheres gravitam em minha direção?

— Eu sempre pensei que você gravitava em direção a elas.

Ele zomba da ofensa e afasta o recipiente de sorvete de


mim quando minha colher está prestes a cavar o seu conteúdo
cremoso.

— Eu sou irresistível, — diz ele, trazendo o sorvete de


volta entre nós.

Concordo. Ele é, e demorei muito tempo para vê-lo.

— Por que você decidiu ficar e assumir metade da


empresa quando não tinha interesse nela todos esses anos? —
Devo fazer uma cara estranha, porque ele acrescenta: — Isso
não tem nada a ver com a nossa propriedade e com todas as
conversas de aquisições que tivemos. Só estou curioso porque
você nunca parecia se importar antes, e agora você é um castor
ansioso.

Eu levanto uma sobrancelha para sua escolha de


palavras. Mas ele está certo. O que uma garota que cresceu na
alta sociedade está administrando uma empresa de turismo no
Alasca? A resposta é tão fácil, mas é muito mais profunda do
que já fui com Denver.

Eu tomo uma colher cheia. Quando olho para cima, ele


está me encarando com tanta reverência que as palavras caem
da minha boca. — Eu não tenho mais nada.
Se ele está surpreso com minhas palavras, não mostra.
Em vez disso, cava novamente o sorvete. — Posso fazer mais
uma pergunta? — Sua voz diminui desta vez como se ele
soubesse que poderia estar cruzando uma linha.

— Sim.

— Você acha que poderia ser feliz aqui? — Agora, seus


olhos parecem estar procurando algo nos meus.

— Eu acho que talvez pudesse.

Seus lábios se inclinam em um sorriso que nunca vi em


seu rosto. Quase como se ele estivesse segurando a respiração,
esperando minha resposta.
Cleo está sentada na sala de estar mal iluminada,
dividindo um pote de sorvete comigo. Agora percebo que temos
muito em comum, embora meus problemas existem há uma
década a mais que os dela. O que me torna um veterano e o
mais experiente.

Provavelmente deveria dizer boa noite e subir as escadas


– para nossos quartos separados – mas continuo fazendo
perguntas, precisando saber mais sobre o que faz essa mulher
se mexer. — Então você gostaria de ficar e administrar a
Lifetime Adventures?

Seus ombros sobem e descem. — Sim. Quero dizer, estou


gostando de construí-la do zero novamente. E, eventualmente,
vou ganhar o debate com você sobre a incorporação de uma
dinâmica familiar.

Balanço a cabeça e ela ri. Tem sido uma conversa em


andamento desde o primeiro dia. Eu acho que ela herdou o
lado teimoso de Chip, o que significa que em algum momento
provavelmente vencerá.
— E você? — Ela me cutuca no peito e rouba o recipiente
de sorvete.

— E quanto a mim?

— O que você está procurando?

Penso em uma maneira de responder a essa pergunta.


Também estou gostando de dirigir a Lifetime Adventures e
amei filmar o programa neste fim de semana. Era o melhor dos
dois mundos, permitindo-me explorar, mas também ser bem
pago.

— Eu nunca procurei nada na minha vida. — É a


resposta mais honesta que posso dar a ela. Embora tenha
enganado muitas mulheres no meu tempo, tento não fazer isso
com Cleo.

— Nada?

Balanço a cabeça. — Desde que meus pais morreram. Eu


gosto de viver minha vida um dia de cada vez. Qual é o sentido
de fazer planos se você não consegue vê-los concretizados?

Seus lábios caem e ela me devolve o sorvete, olhando para


mim como se estivéssemos tendo um concurso. Eu pisco
primeiro.

Ela se levanta e lambe a colher limpa. — Eu


provavelmente deveria ir para a cama.
Quando ela desliza pelo espaço entre minhas pernas e a
mesa de café, a paro, pegando seu pulso. — Eu disse algo para
chateá-la?

Ela sorri, mas é falso. Como o que ela usou no escritório


do advogado. — Não, só estou cansada.

Eu a solto e ouço enquanto ela coloca a colher na


máquina de lavar louça.

— Boa noite, — ela murmura.

Ela realmente quer fazer isso agora? Porque tem o


potencial de arruinar tudo o que desenvolvemos nas últimas
semanas.

— Você quer me fazer uma pergunta mais direta?

Ela não diz nada, mas pela falta de movimento atrás de


mim, fica claro que ela parou de se mover em direção às
escadas. — Não.

— Você tem certeza?

— Acho que você me deu pistas suficientes para descobrir


a resposta por mim mesma.

— Talvez eu esteja me esquivando, — digo, de pé e me


virando para encará-la.

— Você está?
Eu passo a mão pelo meu cabelo e olho para baixo. —
Quero você. Não posso negar isso. Quero você de uma maneira
que nunca quis outra mulher.

Um rubor sobe por seu pescoço em suas bochechas. —


Mas?

— Mas estamos construindo essa empresa juntos e


costumo estragar tudo. Se eu dormir com você, isso arruinará
a frágil amizade que desenvolvemos, e acho que nós dois
precisamos que isso seja bem-sucedido. Então, pela primeira
vez na minha vida, não vou ouvir meu pau, mas meu cérebro.

Nossos olhares se prendem e nenhum de nós desvia o


olhar.

— Então talvez precisemos definir algumas regras,


porque também não posso mentir... quero você da pior
maneira possível.

Porra. Já ouvi mulheres me dizerem que me querem. Cleo


não é a primeira. Mas é a primeira mulher que acho que quero
mais do que ela me quer. Eu sei que esse desejo dentro de mim
só será satisfeito quando ela gritar meu nome e eu estiver
dentro dela.

— Então vamos fazer algumas regras básicas, — digo.

Ela dá um passo à frente, mas se senta na cadeira e me


sento no sofá.

— Antes de tudo, não posso morar aqui, — diz ela.


— Depois de definir as regras, você poderá morar aqui.

Tenho força de vontade quando escolho. Parei de beber


por seis meses inteiros para uma aposta. Fui até celibatário
por três meses – felizmente minha mão não contou. Eu me
contorço só de pensar em como fiquei irritado depois daquela
passagem.

— Ok. Regra número um, sem mais insinuações ou


piadas sexuais. — Ela me encara porque eu sou o rei disso.

— Uma por dia?

Ela solta um suspiro. — Uma por semana?

— Isso nunca vai funcionar. Precisamos definir


parâmetros que eu possa gerenciar de fato. E se tiver que ficar
perto de você o dia todo, não será possível.

O rosto dela se ilumina. Talvez eu não tenha força de


vontade para isso, porque faria qualquer coisa para beijá-la
agora.

— Tudo bem, — diz ela.

— Não ande de toalha, — deixo escapar.

— Eu realmente não faço isso, — diz ela.

— Então você leva suas roupas para o banheiro quando


toma banho e se veste lá?

Ela ri. — Ok. Então não ande descalço.


Eu arqueei uma sobrancelha. — Com os pés descalços?
— Então penso em seus lindos dedos e sorrio para o tom cor
de rosa de suas unhas, percebendo que ela acha meus pés tão
atraentes quanto os dela. — Combinado.

— Não seja legal, — diz ela, apontando um dedo para


mim.

— Legal?

— Você tem sido quase doce ultimamente, e quando você


o mistura com suas habilidades na natureza, é irreal pensar
que não vou pular em você um dia.

Uma imagem dela me derrubando e nós dois caindo no


chão em um beijo frenético que se transforma em roupas sendo
arrancadas um do outro agride minha mente. Eu mudo para
manter meu pau semiereto encoberto.

— E não se masturbar com pensamentos um do outro, —


diz ela.

Fale sobre questão intrigante. — Você se masturbou


pensando mim?

Aquele rosa nas bochechas fica vermelho como maçã.


Provavelmente deveria admitir a derrota nisso, porque todas as
regras que ela está colocando são regras que quebrei.

— Sim, — ela diz calmamente. — Não é como todas as


noites ou qualquer coisa. Mantenha seu ego sob controle.
Me inclino para frente, meu pau endurecendo
pressionando contra minhas calças. — Diga-me o que faço.

Ela se inclina para frente e empurra meu ombro. — Isso


é contra as regras e agora vou voltar para o pornô.

— Ugh, isso é tão injusto. — Coloquei as palmas das mãos


nos meus olhos e gemi.

— O quê?

— Você me deu um visual da sua mão na calça,


assistindo pornô.

— Desculpe.

Tento apagar a imagem, mas quando meus olhos se


abrem e a veem, tudo aparece magicamente novamente. —
Você me imaginou cortando madeira sem camisa?

Ela olha para o teto e franze os lábios. — Não.

Mas ela cruza as pernas, o que sei que ela está fazendo
para liberar alguma pressão que está aumentando. Após essa
conversa, se não cairmos na cama um com o outro, será um
milagre.

— O que você acha de fazermos uma vez... quero dizer,


apenas uma vez para tirar a vontade do nosso sistema? — Jogo
a ideia lá fora.

— Cale-se. Isso não funciona para ninguém. É melhor


definirmos essas regras. Eventualmente, parecerá platônico
entre nós. — Ela sorri. Acho que ela pode realmente acreditar
no que está vomitando. Espero que seja realmente mais
esperta do que eu.

— Foi apenas uma sugestão. — Dou de ombros.

— Uma sugestão ruim.

— Então... não temos piadas sexuais, nos vestimos no


banheiro, não nos masturbamos pensando um no outro, e não
posso ser legal porque isso te excita?

— Especialmente quando estamos nas excursões.

Concordo. — Então, em excursões, sou um idiota para


você.

— Sim.

— Isso deve ser uma ótima cena para a televisão. A plateia


vai me odiar.

— Mas não vamos dormir juntos, então a missão é


cumprida.

Comecei a rir. — Algo mais?

Ela pensa por um momento e tudo o que percebo é o


comprimento do seu pescoço. Faria qualquer coisa para ter
meus lábios lá para sentir seu pulso.

— Nós podemos adicionar conforme necessário. — Ela


coloca a mão entre nós. — Aqui está, para selar minha amizade
com você, Denver Bailey.
Aperto a mão dela. — Nunca fui amigo de uma garota
antes.

— Bem, estou honrada em ser a sua primeira.

Tantas piadas me vêm à mente, mas as empurro. — Bem,


amiga, você quer assistir a um filme? — Vale a pena tentar. Eu
sei que nós dois dissemos que queríamos tomar banho e ir
dormir, mas agora me vejo querendo passar mais tempo ao seu
lado.

Ela fica de pé. — Em um quarto escuro com você? Ainda


não estou pronta para isso.

— Eu sou difícil de resistir.

Ela ri. — Vai levar algum tempo para chegarmos a um


estado normal. — Diz, dando um tapinha no meu ombro. —
Boa noite.

Sento-me no escuro, apenas com o brilho da luz da


cozinha atrás de mim. Não tenho certeza se estarei em um
estado normal novamente. — Boa noite. Lembre-se, não deslize
sua mão para qualquer lugar que não tenha controle.

— Tecnicamente, — ela diz atrás de mim, — posso


deslizar minha mão. Só não posso pensar que a mão é sua.

Eu giro, mas ela está rindo pelo corredor. — Lembre-se,


se você jogar sujo, jogarei mais sujo.

A risada dela para. Tenho certeza de que está me


imaginando ficando muito sujo com ela agora. A verdade é que
este acordo é besteira. Se continuarmos assim, ela estará
debaixo de mim em uma semana.
Uma semana inteira se passou, e Denver e eu não
cumprimos metade das regras que estabelecemos. Piadas
sobre o outro nu ou nós dormindo juntos estão em constante
repetição. Conversamos abertamente sobre como poderíamos
ter nos masturbado na noite anterior, dizendo que era
pensando em outra pessoa, muito embora, ambos sabemos,
quem era a ‘outra pessoa’ provocando nossos pensamentos.

Selma ligou. Não saberemos nada de concreto por quatro


a seis semanas por causa da edição necessária antes que eles
possam mostrar o primeiro episódio ao grupo piloto. Mas eles
nos deram uma boa quantia pelo nosso tempo até agora, o que
nos permitiu pagar a Nancy.

— O clima deve cair na próxima semana. Acho que


podemos estar super ocupados depois de ouvirmos Selma, por
isso talvez planejemos espalhar as cinzas de Chip mais cedo
ou mais tarde. — Denver se recosta na cadeira do escritório,
passando os dedos pela barriga lisa.

— Oh. — Em minha mente, ainda tínhamos algum tempo


antes que isso acontecesse.
— Se você preferir, podemos esperar.

— Não. Vamos fazer isso. Onde ele os quer espalhados?


— Dói um pouco que Denver sabe, e eu não, mas ele sabe onde
estavam os lugares favoritos de Chip.

Ele suspira. Eu me familiarizei com esse hábito dele. Ele


suspira assim, quando hesita em compartilhar informações. —
Lembra das cartas que seu pai nos escreveu?

Olho para minha bolsa onde a minha ainda está. — Sim.

— Ele me disse que quer que eu te leve no avião dele e...

Detesto o quão lento ele é para me dizer qualquer coisa


que possa me perturbar – porque significa que ele se importa,
e se importa, então há algo mais do que luxúria entre nós. —
O quê?

— Ele quer que você escolha o local.

— Eu! — Grito, deslizando para trás na cadeira e


levantando meus joelhos.

Denver se levanta e se senta na beira da mesa na minha


frente. — Ele quer que voemos junto e que você escolha o lugar
que acha que é o mais bonito. Mas as instruções eram claras:
você deve escolher o local de descanso final.

Meu queixo cai. — Por quê? Sinto como se mal o


conhecesse.
A mão de Denver cai no meu joelho. — Você o conheceu.
Mas acho que esse era mais o jeito dele de se sentir conectado
a você.

— Parece muita pressão.

Ele ri e desliza para mais perto, levantando meu queixo


para me fazer encontrar seu olhar. — Eu estarei lá com você.
Prometo que você saberá quando vir. Tudo o que você precisa
fazer é escolher o lugar mais bonito para você.

— Ok, — digo em voz baixa.

Ele sorri e tira o dedo. — Vamos sair na quarta-feira e


voltar para casa no domingo. — Contornando a mesa, ele se
senta e desliza na cadeira, os olhos voltados para o
computador.

— Por que diabos temos que ficar longe por tanto tempo?

Ele olha para cima, parecendo surpreso. Eu pensei que


seria no máximo uma viagem de dois dias. — Estamos indo
para o norte, o que significa algumas paradas no caminho.
Relaxe, vai ser divertido. — Ele pisca e enterra a cabeça de
volta no computador.

Quatro noites. Quatro noites com Denver. Sozinha.

— Eu quero minha própria barraca, — digo.

Ele ri. — Não se preocupe, vamos ficar em barracas


separadas. Não queria que fosse duro para você, já que será
difícil de qualquer maneira.
— Eu disse para você não ser legal.

Seu sorriso diz que ele adora tirar uma reação de mim.
Parece que não consigo ajudá-lo. Desculpe, não, desculpe.

Ele age como se não me notasse olhando para ele, o que


é bom. Se ele reconhecesse, provavelmente estaria montando
nele agora. Preciso falar com alguém. Alguém que pode me dar
o conselho que preciso sobre ele, porque estou prestes a perder
a cabeça.

Bridget ainda está em Dallas. Ela está fazendo o


programa do tempo agora. Poderia ligar para ela, mas acho que
me mandaria dormir com ele e esquecer. Detestaria envolver
uma de suas irmãs, por isso decido estender a mão às
mulheres que os homens Bailey conquistaram.

Phoenix me colocou em um bate-papo em grupo da


família, no qual tentei sair, mas continuo sendo adicionada
novamente. Colton também está nele e não está com um
Bailey, então imaginei que não faria nenhum mal. Uso isso
para mandar uma mensagem para Harley e Holly, pedindo que
possamos nos encontrar para almoçar esta semana.
Concordamos na terça-feira e nos encontraremos na cidade
vizinha de Greywall. Há muitos olhos em Lake Starlight.
Entro no café que Harley escolheu. Ela está escondida em
uma cabine de canto sozinha.

— Holly deve estar aqui em breve, — diz ela, levantando-


se e me abraçando — Olá.

— Ótimo.

— Rome e eu encontramos esse lugar há alguns meses.


Ótimos sanduíches e eles têm biscoitos que Calista ama. Rome
tentou reproduzi-los porque ama um desafio, mas Calista
continua dizendo: 'Não, não, papai'. — Ela ri.

Um pingo de ciúme me atinge bem no coração. Sua vida


é tão cheia, tão feliz, tão pacífica. Bem, não é pacífico. Talvez
consistente seja uma palavra melhor. — Isso é muito fofo.

Ela toma um gole de chá. — Sim, eles têm festas de chá


fofas para crianças também. Acho que quando Calista for mais
velha, todos nós viremos aqui.

— Todos?

Ela ri de novo. — Você logo descobrirá que, quando se


trata dos Bailey, é tudo, não apenas alguns. — Ela olha para a
porta. — Oh, aqui Hols. — Sua mão se levanta, e eu me viro
para encontrar Holly olhando atrás dela e correndo para a
nossa mesa.

— Eu sinto muito. Ela me seguiu e o xerife Miller não a


viu sair dos limites da cidade. — Ela desliza para dentro do
estande.
— Quem? — Pergunto.

Holly e Harley se entreolham. — Dori, — elas dizem em


uníssono.

— Mas eu não...

Holly ri. — Você não precisa. Eu deveria saber. Ela tem


aparecido onde quer que eu esteja ultimamente. Outro dia no
consultório médico, disse que também vê o médico lá. Ela está
tentando engravidar, você acha? — Ela revira os olhos. Harley
não ri e os ombros de Holly caem. — Pare de se sentir culpada.

— Mas...

Elas não têm tempo para conversar sobre isso, porque


Dori entra com outra mulher como se não estivesse nos
procurando.

— Olhe para ela agindo de maneira astuta, — sussurra


Harley.

Enquanto ela diz, Dori circula e aponta para nós. —


Meninas! — Quando ela cutuca a amiga, elas vêm para o nosso
estande. — Cleo, oi, querida. Esta é Ethel, minha amiga.

A mulher ruiva sorri e estende a mão. — Reconheço você


do Buzz Wheel.

— Obrigada. — Dou-lhe um pequeno sorriso. — Sempre


pareço angustiada e Denver é meu cavalheiro de armadura
brilhante nessas fotos.
Harley e Holly riem.

— Oh, podemos contar algumas histórias, — diz Harley.

— Devemos arrumar uma mesa para cinco? — Dori


pergunta, desconsiderando toda a conversa do Buzz Wheel.

Eu me pergunto se ela já esteve lá. Algo me diz que eles


se afastariam dela por medo de suas vidas. Dori tem uma
daquelas personalidades que você procura por segurança, mas
também é como uma mamãe cachorra e se você for para os
filhotes, ela vai morder você com força.

— Bem, Cleo queria...

Holly é interrompida por Dori acenando para a garçonete.


— Precisamos de uma mesa para cinco.

A garçonete olha para nós.

— Desculpe, — Harley diz calmamente.

— Tenho certeza de que este homem não se importaria de


se mexer.

O cara na mesa ao nosso lado ergue os olhos da tigela de


sopa. Depois de olhar para as duas senhoras mais velhas, ele
limpa a boca e fica de pé. — Com certeza.

— Perfeito. Que cavalheiro. — Dori sorri e ela e Ethel


movem a mesa do pobre homem para se juntar à nossa mesa
de quatro. — Vamos lá, meninas.
A garçonete nos dá um olhar de desaprovação e coloca
alguns menus para baixo, pega nosso pedido de bebida e foge
– para reclamar de nós lá atrás, tenho certeza.

— Então, por que vocês estão se encontrando? E se


encontrar em Greywall? — Dori pergunta.

— Por que você e Ethel estão em Greywall? — Harley


pergunta.

— Rome me falou sobre esse lugar, e queríamos algo


diferente. Certo, Ethel?

Incrível como a história dela é crível.

— Sim. — Ethel se inclina para mais perto de mim. —


Você é mais bonita pessoalmente.

Foi um bom elogio e sinto minhas bochechas


esquentando. — Obrigada.

— Entendo por que Denver está tão apaixonado, —


continua ela.

— Posso te beijar? — Digo, e Harley ri.

— Oh, querida, não sou lésbica. — Seu rosto está sério,


então reprimo minha risada para não a envergonhar.

— Voltando ao motivo de vocês estarem aqui. — Dori não


vai deixar isso passar.

— Estávamos apenas conhecendo Cleo, — diz Holly.


Harley bebe seu chá gelado em silêncio.

Agradeço as meninas que tentam mascarar a verdadeira


razão pela qual estamos todas aqui, mas vou morder a isca que
Dori está jogando. Ela responderá honestamente. — Pedi que
me encontrassem porque estou tendo problemas com Denver.

Dori suspira e os cantos da boca se abaixam.

Ethel olha para a mesa. — Por que todo mundo está tão
quieto? Todos sabemos que Denver tem problemas.

— Ethel, cale-se, — diz Dori.

— O que estou perdendo? — Pergunto.

Dori olha para as meninas. — Qual era exatamente o seu


plano? O que você ia dizer a ela?

Holly encolhe os ombros. Não expliquei por que perguntei


aqui, mas são mulheres inteligentes, tenho certeza de que
tiveram uma ideia. — Íamos contar a ela nossas experiências,
só isso.

— Sim, só que às vezes é difícil se apaixonar por um


Bailey, — diz Harley.

Felizmente, nossa garçonete chega e nos distraímos


pedindo comida.

Mas assim que ela sai, Dori coloca seu foco


exclusivamente em mim. — Você gosta de Denver?
Náusea revira meu estômago como se uma parede de
ondas estivesse me batendo repetidamente.

— Desculpe-me por um momento. — Eu corro pelo


corredor em direção ao banheiro.
Uma batida na porta do banheiro.

— Cleo? — Holly diz. — Sou só eu. Harley está


entretendo-as, conversando sobre Calista e Dion, então temos
algum tempo.

Abro a porta do box. Não vomitei. Nem tenho certeza de


onde veio o desejo.

Holly toca minha testa. — Você está grávida?

— A menos que seja uma concepção milagrosa, não.

— Então você e Denver não...?

Balanço a cabeça.

Tenho certeza de que Holly não quer parecer aliviada,


mas suas emoções são transparentes. — Eu sinto muito. Não
é da minha conta. Estou muito feliz por Rome e Harley, mas
não tenho certeza se posso receber outra notícia desta agora.

Coloquei minha mão no ombro dela. — Entendo


completamente. Não se preocupe comigo.
Nós vamos para a pia para que eu possa lavar minhas
mãos.

— Dori protege todos eles, como você pode entender. —


Holly se inclina contra a parede. — Eles foram afetados de
maneiras diferentes quando seus pais morreram. Acho que o
que Dori tenta esconder é o quanto Denver teme o
desconhecido agora.

Eu concordo. Sei disso sobre ele agora.

— O que vocês estão fazendo com Lifetime Adventures,


quero dizer, a família está admirada por ele ter permanecido
comprometido por tanto tempo. — Ela deve entender o que
disse, porque coloca a mão no ar como — desconsidere isso.

— Eu não acho que ele é incapaz disso. Ele nunca tentou


algo assim antes. Não estou dizendo que não pode mudar. Não
quero que você conclua desta forma pela que estou lhe
dizendo.

Balanço a cabeça, embora pense que sei aonde isso está


indo.

— Quando Austin mencionou sua propriedade


compartilhada e vi você no funeral, sinceramente pensei que
um de vocês já teria fugido neste momento. Mas o fato dele
estar trabalhando lado a lado com você e vocês dois não terem
dormido juntos, é chocante.

— Por quê?
O rosto dela suaviza. — Por que o quê?

— Por que você achou que não podíamos trabalhar


juntos?

Holly sorri de um jeito terno. Mas não preencho o silêncio,


então ela finalmente continua. — Porque vocês dois sofrem de
maneiras semelhantes.

Não digo nada porque não tenho certeza do que posso


dizer.

— Vocês dois ignoram as coisas em vez de abordá-las.


Denver ignora a morte de seus pais há anos. E talvez seja
porque eu tenho meus próprios problemas com o pai, talvez
seja necessário reconhecer um. Você escondeu bem suas
emoções no funeral. Você nunca chorou. Quando Austin me
contou um pouco mais sobre o que você experimentou, percebi
que temos muito em comum.

— Eu acho que você acabou de responder à pergunta que


vim aqui buscar resposta.

Ela inclina a cabeça. — O que é?

— Quando se trata de Denver, devo ficar longe.

Ela se move para frente e depois recua um passo. — Eu


nunca diria isso. Nunca. Você está apenas ouvindo o negativo.
O que eu estava dizendo, originalmente, é que ele é diferente
ao seu redor. Ele é... nunca o vi assim. Sempre...

— Eu não tenho ideia do que fazer neste momento.


— Você gosta dele? — Ela coloca a mão no meu ombro
enquanto a porta do banheiro se abre.

Uma mulher de meia idade entra e nós deslizamos para


fora do caminho. Concordo com a cabeça em resposta à sua
pergunta.

Holly me envolve em um grande abraço. — Por que você


está chateada com isso?

Eu murmuro em seu peito o grande medo que tenho. —


Ele vai partir meu coração.

Ficamos ali abraçadas e, pela primeira vez, sinto como se


alguém me segurasse. Ela não tenta me dizer não ou mudar
de ideia. Apenas me abraça com força, deixando o silêncio
descansar entre nós.

A porta se abre novamente. — Você tem cerca de dez


segundos. Dori acabou de me dizer que falo demais sobre as
crianças. — Harley corre para uma das portas do banheiro. —
Tenho que fazer xixi. Uma de vocês precisa voltar.

Ela nem parece perceber que estamos nos abraçando.


Nós nos separamos, rindo uma para o outra. Holly olha para
mim com uma pergunta nos olhos, perguntando se estou bem,
e aceno com a cabeça.

— Vamos sair, não se apresse, — diz Holly a Harley.

Tudo o que ouvimos é um suspiro de alívio seguido por


um fluxo de xixi no banheiro. — Venha me pegar depois do
almoço. Apenas peça à garçonete que entregue minha refeição
aqui.

A outra mulher que entrou olhando para a porta de


Harley como — Qual é o problema dela?

— Ela está grávida, — diz Holly, e a mulher acena com


um sorriso.

Voltamos para o restaurante. Nossa comida está na


mesa. Graças a Deus, este almoço terminará rapidamente.

— Você está bem? — Ethel pergunta.

Olho para o meu prato de peru e batatas fritas. — Sim.


Obrigada por perguntar.

— Vou colocar isso e você pode fazer o que quiser com as


informações, — diz Dori. — Ethel e eu vamos comer nossa sopa
e você pode continuar conversando com Holly e Harley.
Entendo que sou apenas uma velha senhora para todos vocês.

— Isso não é verdade, — diz Holly. — Só acho que Cleo


queria ter uma visão diferente da dos Baileys.

— Você e Harley são Baileys, — diz ela, como se Holly a


ofendesse dizendo que não.

Ela os ama. Claramente, qualquer pessoa com quem seus


netos se casam, ela inclui em seu cobertor de segurança. É
realmente muito doce.
Holly coloca a mão na de Dori. — Eu sei. Eu não quis
dizer isso...

Dori a interrompe. — Denver é meu neto selvagem. Ele


nunca fugiu de Lake Starlight, no entanto. Pensei que assim
que ele completasse dezoito anos, ele iria embora.

Harley desliza em sua cadeira, sem interromper a


conversa.

— Rome fez isso. — Os olhos de Dori vão para Harley. —


Ele correu. Eu acho que isso machucou Denver também e
causou uma impressão duradoura.

— O que você quer dizer? — Pergunto e, em seguida, tomo


um gole da minha bebida.

— Quando Denver tinha cinco ou seis anos, ele implorou


por um animal de estimação. Os pais dele pegaram um peixe
porque não queriam animais, já que a casa já estava cheia de
crianças. — Ela toma a sopa e bebe a bebida enquanto todos
esperamos pacientemente. — Ele alimentou tanto e mudou a
água tantas vezes como uma desculpa para tocá-lo, que o peixe
morreu em três dias.

Os lábios de Holly se inclinam enquanto imagino um


garotinho decepcionado com uma mecha de cabelo castanho.

— Na próxima vez, eles pegaram um gato para ele. Ele


quase sufocou a coisa. O mantinha na coleira. Ele queria essa
coisa com ele o tempo todo. Ele apertava com tanta força que
pensei que seus olhos iriam sair. Assim que envelhecesse,
esconderia de Denver.

— Denver e animais de estimação não são compatíveis,


— concorda Ethel.

Eu me pergunto há quanto tempo elas são amigas?

— O pior foi a geleira. — Dori balança a cabeça. — Não


foi culpa de Denver, mas todo mundo meio que zombou dele e
disse que era.

Ethel se junta à conversa. — Eles conseguiram um


cachorro de abrigo e, é claro, o cachorro não podia fazer xixi
sem Denver ficar de guarda por cima dele. Ele fugiu depois de
um mês e ninguém mais o viu.

Pego o significado de cada história e acrescento a morte


de seus pais e, finalmente, descubro do que Denver tem tanto
medo. Ele não quer amar ninguém ou se comprometer com
nada, porque também não quer que seu coração seja partido.
Nós temos o mesmo medo. Foi o que Holly quis dizer no
banheiro.

— Meu Denver ama ser forte e feroz, ou pelo menos ele


costumava. Mas ele age como se fosse uma doença mortal
agora. Então, quando perguntei se você gostava dele, eu quis
perguntar se você gosta dele o suficiente para lutar por ele. Eu
vejo o jeito que ele olha para você, — diz Dori. — A maneira
como ele está cuidando de você, assim como o peixe dourado,
o gato e a geleira, o cachorro. Mas ele provavelmente não vai
admitir isso sem uma pequena ajuda.

Afasto meu sanduíche. Não foi isso que vim procurar


aqui. Queria saber se deveria dormir com ele. Alguma conversa
com outras mulheres que, ao mesmo tempo, já se sentiram
despedaçadas. Sei que a história de Harley e Rome é diferente
e com muito mais bagagem, mas em algum momento ela teve
que decidir confiar nele. E Austin e Holly tiveram que aprender
a combinar um relacionamento pessoal e profissional.

Definitivamente, não queria saber que Denver é como um


cão de abrigo ferido, que é devolvido várias vezes, para que ele
não confie mais ou acredite que as pessoas não o
desapontarão. Isso não faz nada para me impedir de dormir
com ele. De qualquer coisa, quero abraçá-lo e beijá-lo, ainda,
dizer-lhe que cara legal ele é.

— É por isso que você ficou fora disso até agora? — Holly
pergunta a Dori.

Holly está parcialmente certa. Desde o jantar em família,


Dori desapareceu. Pelas histórias que Phoenix conta, parece
que Dori está presente em todos os casais Bailey. Eu meio que
imaginei que ela viu algo entre Denver e eu e recuou porque
não era o ajuste certo para o neto dela.

Ela coloca a colher ao lado da tigela. — Todo casal precisa


de algo diferente. — Dori toca a mão de Holly. — Então, vou
perguntar novamente, Cleo, você gosta de Denver?
Engulo, e todos os olhos delas pousam em mim. — Acho
que gosto.

— Acha? — Ethel diz.

— Gosto. Eu gosto. — Corrijo, e Holly e Harley riem.

Harley estende a mão sobre a mesa. — Eu sei que não era


o que você estava procurando quando veio aqui, mas acho que
ainda assim, responde à sua pergunta.

Para nossa sorte, Dori para a garçonete para perguntar


sobre a sobremesa.

Harley abaixa a voz. — A coisa toda 'dormir com ele agora


e descobrir depois' não é realmente uma opção para Denver.
Pelo menos não no que diz respeito a ele.

Isso é para pesarmos. Se eu estou tão ferida, como


poderia esperar curar a dor de outra pessoa?
Estou no escritório quando Cleo entra com uma caixa
marrom. — Trouxe o almoço para você.

Olho para os novos logotipos que o designer gráfico


enviou. Não poderemos alterar todas as sinalizações de uma
só vez, mas o avanço da Uncovering America's Beauty ajudará.
— Obrigado.

— E quero ir para a casa do meu pai. Você vem comigo?


— Ela deve ver minha expressão de surpresa porque
acrescenta. — Se não, posso fazer isso sozinha. Não deveria
perguntar, é só que...

Fico de pé e contorno a mesa. — Quantas xícaras de café


você tomou?

— Nenhuma, tomei chá gelado.

— Se você quiser dirigir, eu como no caminho e podemos


ir agora. — Pego minha jaqueta na parte de trás da porta e ela
sorri para mim.

— Você vai me deixar dirigir sua caminhonete?


— Sim. Por quê?

Ela balança a cabeça. — Sem razão. Alguém já te disse


que você é um cara legal?

Agora, enrugo minha testa. — O que está acontecendo?

Ela está tentando realmente agir como se tudo estivesse


normal, mas está praticamente pulando de um pé para o outro.
— Quero me curar. Estou cansada disso me pesando. Preciso
senti-lo novamente, em vez de apenas sofrer a perda dele.

— Ok. — Pego a caixa marrom e jogo as chaves para ela.


Trancamos o escritório. Nancy está no almoço, então, vou lhe
mandar uma mensagem durante o passeio. — Esqueci de lhe
dizer, Nancy nos fez café gelado esta manhã.

— Ela fez?

— Bem, ela derramou café sobre gelo. — Eu balanço


minha cabeça.

Cleo ri. — Ela está realmente tentando.

— Sim. Acho que ela sente falta de seu papel. Eu


realmente nunca soube o que era.

Entramos na caminhonete e sentar no banco do


motorista faz Cleo parecer uma criança. — Você quer um livro
ou algo para sentar?
— Haha. — Ela liga a caminhonete, dá a ré, e eu quase
engasgo com meu sanduíche quando ela acelera de volta. —
Você tem gás sensível.

Levanto minhas sobrancelhas como — É o que você diz.

Quinze minutos depois, minha caminhonete está


estacionada em frente à casa de Chip pela terceira vez com
Cleo ao meu lado, mas ela parece determinada desta vez.
Saímos e a sigo até a porta da casa em estilo de cabana.

Coloquei minha mão nas costas dela, e ela parou com a


chave na fechadura. — Você tem certeza?

Ela olha para mim e quero desesperadamente beijá-la e


garantir que estou aqui para pegá-la se cair. — Tenho certeza.

Cobrindo a mão dela com a minha, giramos a chave


juntos. A maçaneta da porta gira e a porta se abre. O cheiro de
fumaça de cigarro velho nos atinge primeiro, mas Cleo parece
não perceber.

Ela fica na entrada, que é praticamente a sala da família.


A combinação de sofá e cadeira xadrez verde e vermelho fica
na frente de uma televisão. Seu jornal e um par de óculos estão
ao lado da cadeira em uma bandeja de TV. Uma mesa de
cozinha tem um buquê de flores falsas em um vaso. A pequena
cozinha é arrumada e organizada. Em todas as vezes em que
estive aqui, esse lugar nunca foi tão limpo ou organizado.

— Você acha que alguém esteve aqui? — Pergunto.


Cleo olha para mim. — Você voltou depois que ele foi para
o hospital?

Balanço a cabeça.

— Vim uma vez para limpar a cozinha quando ele ainda


estava em cuidados paliativos, mas a mesa estava cheia de
livros sobre o Alasca e aviões. — Ela caminha mais longe, sua
curiosidade agora substituindo seu medo de estar aqui em
primeiro lugar. Abrindo a geladeira, ela encontra um pequeno
bolo e meio galão de leite. Ela enfia a mão. — Está gelado. —
Quando fecha a geladeira e abre o freezer por cima, puxa uma
bandeja de cubos de gelo. — Estes ainda nem estão
completamente congelados. Isso é estranho.

Ela vai para os fundos, onde fica o quarto e o banheiro


dele. — A cama está arrumada e sei que não fiz isso. Estava
pensando que tinha que limpar os lençóis, mas não consegui.

Olho para duas caixas empilhadas na mesa da cozinha.


Uma etiqueta na caligrafia de Chip na caixa superior diz:
‘Caixa de papéis importantes número um’. Como deve ser
saber que você está saindo desta terra?

Eu imaginei o que os pensamentos dos meus pais


poderiam ter sido logo antes do seu snowmobile bater na
árvore. Eles se apegaram um ao outro? Pensaram em todos
nós? Eles achavam que isso poderia doer ou sabiam que iriam
morrer? Ou surgiu do nada e eles estavam rindo e, de repente,
não havia mais nada?
Ser capaz de planejar as coisas como Chip foi capaz... não
tenho certeza de qual caminho é melhor. Especialmente
porque, por mais que admire Chip, a filha dele ainda está
procurando seu lugar neste mundo. Ela nunca encontrou paz
com o relacionamento deles, e agora precisa fazer isso olhando
as coisas dele. Um leito de morte não é feito para buscar perdão
daqueles que você prejudicou, para que a pessoa que você fez
sofrer possa aceitá-lo e perdoá-lo porque ela quer que você vá
em paz?

Cleo sai da sala dos fundos. — Alguém mais esteve aqui.


O tapete de banho é novo e as toalhas também.

— Estes são claramente rotulados. — Aponto para as


caixas.

Os ombros dela caem. — Não entendo. Quero dizer, ele


contratou uma equipe de limpeza? Estou tão confusa. — Ela
quase parece decepcionada por não poder fazer isso sozinha.

— Você quer passar pelas caixas?

— Quero descobrir quem mais tem a chave desta casa.


Ele estava namorando alguém? — Ela pergunta, então espia
algo no manto da lareira e se aproxima dele.

Eu já vi a foto antes, mas estava sempre em seu


escritório. É de uma jovem Cleo parada ao lado de um rio local
e segurando um peixe que ela pegou.

Seus dedos correm ao longo da moldura e ela pega. —


Lembro-me deste dia. Foi a primeira vez que peguei um peixe
grande e meu pai tentou me ensinar como limpá-lo. Eu estava
tão enojada. — Um sorriso triste inclina seus lábios. Ela
balança a cabeça, segurando a foto no peito.

— Você quer se sentar? — Eu envolvo meu braço em volta


de sua cintura, porque quanto mais ela fica, mais pálida se
torna.

Ela coloca a foto de volta na lareira. — Denver?

— Sim? — Eu a abraço, querendo estar aqui para ela da


maneira que precisar.

— Eu quero sair, — diz ela suavemente.

— Ok.

Subimos de volta à minha caminhonete, mas desta vez


estou dirigindo.

— Acho que foi um sucesso, — digo.

— Eu acho que me engasguei, — diz ela, olhando pela


janela enquanto dirijo através de Lake Starlight.

— Você foi até o quarto.

— Só porque senti que éramos os três ursos procurando


descobrir quem comeu nosso mingau.

— É estranho, — eu digo. — Talvez devêssemos perguntar


a Luther Lloyd. — Seus olhos se arregalam quando eu viro a
próxima estrada para voltar para o escritório dele. — Ele
deveria saber, certo?
— Eu imagino.

Seu humor melhora com a ideia de que ela conseguirá


pelo menos uma resposta, e uma peça do quebra-cabeça do
Chip será resolvida. Cleo não gosta do desconhecido, e a vida
de Chip é um monte de desconhecidos.

Vinte minutos depois, estamos de volta ao escritório de


Luther Lloyd sem respostas.

Segundo Luther, Cléo recebeu a única chave. Ninguém


deveria estar ocupando a casa sem o consentimento dela. Ele
fez várias perguntas sobre se ela tinha certeza de que era
diferente do que encontrou depois que Chip saiu do hospital.
Como se estivesse enganada, talvez sofrendo e se esquecendo
de ter arrumado a cama e promovido a limpeza.

— Ele acha que sou louca, — diz ela enquanto descemos


as escadas.

— Eu sei que você não é.

— Você acha que ele tem outro... filho?

— Não! — Ao mesmo tempo, me questiono se eu saberia.


Ele falou sobre Cleo, mas, na maior parte, ficou quieto sobre
seus assuntos pessoais.
— Uma esposa?

— Não.

Abro a porta da minha caminhonete e ela entra. —


Chamamos a polícia?

Fechei a porta para ter tempo de pensar no que fazer. Dou


a volta na frente da caminhonete. É tudo tão estranho. Nosso
departamento de polícia não é enorme, e talvez estejamos
tirando conclusões precipitadas. Talvez ele tivesse uma
namorada que limpou, mas depois parou de vir.

Já fiz nossas reservas para a viagem para espalhar as


cinzas de Chip. Estamos programados para partir amanhã.
Espero que esse novo acontecimento não comprometa isso.

Subo na caminhonete e ligo o motor, mas Cleo ainda está


pensando profundamente. — Ainda vamos sair amanhã.
Quando voltarmos, se encontrarmos algo fora do lugar,
alertaremos a polícia de que algo está acontecendo.

Ela assente. — Ok, isso soa como um plano. Espero que


tenha sido alguém com quem ele compartilhou sua vida. Isso
me faria feliz, porque eu era uma filha de merda.

Minha mão toca sua coxa, mas a movo porque estamos


atravessando os limites com os quais estamos indo tão bem.
Bem, fizemos tudo bem até agora. Não daria um A, mas um C
sólido com certeza.
Ela puxa minha mão de volta e cobre a minha com a dela.
— Preciso disso agora.

Eu puxo a caminhonete para o lado da estrada e saio


antes de caminhar para o lado dela. Abro sua porta quando ela
olha para mim como se eu estivesse louco. Abrindo meus
braços, aceno para mim.

Ela não espera, abre o cinto de segurança e quase cai nos


meus braços. A abraço o mais forte que posso.

— Nós vamos descobrir isso, prometo, — sussurro em seu


ouvido.

Ela não chora ou soluça, mas seu corpo afunda no meu.


Eu poderia segurá-la assim por dias. Depois de alguns
minutos, ela dá um passo atrás, e meus braços estão vazios.

— Lá vai você ser legal de novo. — Ela ri e volta para a


caminhonete, fechando a porta.

Uma constatação bate em mim. Minha necessidade de


consertar tudo em sua vida, colocá-la acima de mim... preciso
lhe dar algum espaço antes de sufocá-la, de modo que fuja
para sempre.
Na manhã seguinte, estamos de volta à Lifetime
Adventures, exceto que desta vez Denver está carregando o
avião do meu pai. A única coisa boa de pegar o avião do papai
é que poderemos sentar lado a lado.

— Estou trazendo uma barraca por precaução, — diz ele.

— Ok, mas as cabines... nós somos...

Ele se vira de ter sua bunda na minha frente, o que não


foi um problema para mim. — Compartilhando, sim. Desculpe,
mas vou dormir no chão ou na banheira. Só não temos
dinheiro para duas...

Eu levantei minha mão para detê-lo. — Não, claro que


não. Vamos descobrir algumas novas regras.

A verdade é que acabei com as regras. Depois do que Dori


disse, decidi admitir que gosto de Denver e acabei de negar.
Mas ainda há o problema de como ele se sente sobre mim.
Atração é uma coisa. Compromisso é outro.
Eu tenho pensado que ele tem feito tudo porque se
importa mais comigo do que em como minha bunda fica bonita
em jeans, mas, e se estiver fazendo isso porque gosta de cuidar
dos outros? Então lembro das palavras de Dori. É porque ele
também gosta de mim que quer ter certeza de que estou bem?
Ugh, talvez minha vida tenha sido melhor em Dallas quando
eu era uma perdedora que arruinou a fazenda de gado do meu
padrasto, e todos olhavam para mim como se eu não fosse boa
o suficiente.

— Certifique-se de me avisar, porque precisarei me


preparar mentalmente para aderir às nossas regras. — Seus
olhos brilham com travessuras, e meu estômago ondula com
calor.

— Ei, vocês dois. — Nancy entra no hangar. — Eu fiz para


vocês um jarro de bebida gelada para levar. — Ela oferece para
mim. Está em uma garrafa térmica, e não em uma que pareça
que pode ficar quente e fria.

Pego e entrego a Denver para fazer as malas. — Muito


obrigada.

— Você é a melhor, — diz ele.

— Posso falar com você por um segundo? — Eu sussurro


para ela enquanto Denver entra no avião para organizar todo
o equipamento.

Nancy me olha com ceticismo, mas se afasta.

— Nós já voltamos, — digo.


Denver assente e acena.

Quando estamos a uma distância segura, a paro. — Eu


quero refazer o escritório. Nada grande, mas pelo menos nos
dê duas mesas. Eu terminei de sentar em molho de maçã na
cadeira, porque não há lugar para minhas pernas.

Nancy ri.

— Você também poderia... e se eu estiver ultrapassando,


por favor me avise. — Coloquei minhas mãos na minha frente
em um gesto apaziguador.

— Cleo, estou literalmente morrendo de tédio. Por favor,


seja o que for, fico feliz em fazê-lo.

Eu rio. — Obrigada. Esperava que não fosse um


problema. Então, tenho duas mesas sendo entregues. Elas
devem caber no escritório. A maior coisa que preciso são as
coisas do meu pai. Não jogue nada fora. Talvez apenas
encaixote e possamos analisá-lo mais tarde?

— Claro. — Ela toca meu braço. — Tudo estará resolvido


quando você voltar.

— Obrigada.

— O que você e Denver estão fazendo com a Lifetime


Adventures é incrível. Vocês dois merecem fazer isso por conta
própria. Estou muito orgulhosa de vocês.

Não me lembro da última vez que uma pessoa me disse


isso. — Isso significa muito para mim.
Ela me abraça. — Espero que você fique.

Ainda não tomei uma decisão final sobre o que vou fazer.
No momento, estou aceitando o que vem. Além disso, muito vai
depender do que acontece com o show. Tudo em Lake Starlight
parece certo. Meus olhos permanecem em Denver, que está
saindo do avião. Tudo realmente parece certo com ele também.

— Eu gosto daqui, — digo a ela.

Nancy se afasta, suas mãos entrelaçadas nos meus


braços. — Você é muito parecida com seu pai. — Ela aponta
para o meu coração. — Sempre guardando esse músculo
gentil. — Seu olhar acena para Denver e volta para mim. — Eu
gostaria que todos pudessem amar. Não há jogo.

— Em um mundo perfeito. — Eu ajo como se não tivesse


ideia de que ela está se referindo a Denver e a mim.

— Pronta, Cleo? — Denver diz, tirando algo do jeans.

— Sim.

— Quantas roupas de neve retrô feias você trouxe? Sua


bagagem estava pesada. — Ele ri, e Nancy também.

Eu a abraço mais uma vez. — Vejo você segunda-feira.

— Tenham uma boa viagem, vocês dois.

Denver passa por Nancy e beija sua têmpora. —


Obrigado, Nancy, mas você sabe que sou especialista.

— Não brinque com nós, — digo.


Ele para na porta antes de abri-la. — Não há brincadeira
quando você está em minhas mãos.

Nancy contrai os lábios e arregala os olhos como: 'Como


você não pode se apaixonar por esse homem?'

Dez minutos depois, estamos lado a lado no avião, e pude


testemunhar Denver fazer o que ele ama sem espiar por cima

do ombro. Lá vão meus ovários novamente, colocando o


homem ao meu lado no topo da lista de tarefas deles.

Viajamos para o norte, de acordo com o que Denver diz


pelo rádio. Ele é muito mais vocal nessa viagem, como se
estivesse dando uma turnê. Ainda estou impressionada com a
facilidade com que ele manobra o avião. Ele voa mais baixo
sobre o vale entre duas cadeias de montanhas e depois volta
como se estivesse se movendo com as montanhas e o terreno.
Tudo é impecável e me faz sentir como se estivesse sentada em
uma grande nuvem confortável deslizando pelo ar.

— Vamos pousar aqui pela primeira noite. — Sua voz me


acalma como mel em uma dor de garganta.

Vejo cabanas ao longe e um lago azul abaixo de nós. — É


onde nós estamos ficando?
— Sim, imaginei que veríamos a caverna de gelo e depois
jantaríamos.

— Perfeito.

Ele pousa e nós taxiamos até onde os outros aviões estão


estacionados e fazemos o check-in. Nossa cabana é pequena,
mas pitoresca. Se ele não vai dormir na cama comigo, a
banheira é sua única outra opção, porque quase não há espaço
nos dois lados da cama.

— É pequena, — digo.

— Sim, não me lembro bem de ser tão pequena. — Ele ri,


colocando as malas no armário e caindo na cama. — Então,
estabeleça as regras para mim.

Meu coração e minhas partes femininas se contraem ao


ver seu corpo grande espalhado pela cama. — Hum.

— Você está tão cansada quanto eu? — Ele muda de


assunto exatamente quando eu estava indo à falência. Sua
camisa repousa alguns centímetros acima do cós da calça
jeans, com as mãos atrás da cabeça assim.

— Na verdade não, mas eu não voei. Eu preciso aproveitar


o passeio. — Abro minha mala e pego minha bolsa de higiene
pessoal para ir ao banheiro, a fim de me distrair da vista de
sua trilha feliz.

— Vamos tirar uma soneca, — ele murmura, e acho que


já está meio adormecido.
Vamos, Cleo. Você literalmente pensou em todos os
caminhos que isso pode dar. Você está preparado para o que
acontecer. Apenas fale com ele.

— Eu estava pensando em alguma coisa... — Eu volto


para o quarto.

Seus olhos se abrem e ele sorri. — Você está sempre


pensando em alguma coisa.

— Sim, provavelmente.

Ele dá um tapinha na cama e me sento. — E aí? Você


quer que eu durma no avião?

Balanço a cabeça. — Não tenho certeza se quero mais


viver com as regras.

Ele se senta e, se eu achava que ele estava cansado,


estava errada. Seus olhos estão alertas e focados apenas em
mim. — O que isso significa?

— Bem, não vou dormir com você sem que isso signifique
nada.

Ele concorda.

— Ah, esqueça. Isso é tão estúpido. O que nós temos,


treze anos e estou pedindo para você ficar sério comigo? — Eu
me levanto, mas ele se inclina sobre a cama e pega minha mão,
me puxando de volta para baixo.

— Não faça isso, — diz ele.


— Fazer o que?

— Não desconsidere seus sentimentos e o que deseja.

A mão dele não saiu da minha. Meu estômago sente que


é uma máquina de pinball agora, a bola de prata quicando por
todo o lugar e nunca aterrissando. — Eu só...

Ele coloca o dedo nos meus lábios. — Não atenue. Me diga


o que você quer.

Não digo nada e ele tira o dedo, esperando. É agora ou


nunca. — Eu quero você. Mas não apenas por esta noite. Eu
sei que nós possuímos essa empresa juntos e é estúpido se
envolver, mas, a essa altura, parece mais estúpido que
estivéssemos evitando essa... coisa entre nós.

— E por essa coisa, você quer dizer...?

Eu mordo meu lábio. — Você realmente vai me fazer dizer


isso?

— Deixe-me ouvir. — Ele sorri.

Xingo. — Quero namorar você. — Eu caio para frente,


então meu rosto bate na cama. Ele vai pagar por isso.

Ele me empurra de costas, então está meio deitado em


cima de mim. — Isso é uma pergunta?

O vejo rir quando o empurro de cima de mim. — Não


posso acreditar que você acabou de me fazer dizer isso!
— Você não quer ouvir a minha resposta? — Ele rola de
costas e me puxa para deitar em cima dele. É difícil não se
distrair com a sensação do corpo duro dele debaixo do meu.

— Eu acho que não. — Me mexo, mas ele me aperta com


mais força.

Eventualmente, desisto da luta e suas mãos pousam em


ambos os lados do meu rosto. — Sim, Cleo Dawson, adoraria
namorar você.

Estou balançando a cabeça com o completo ridículo que


essa situação chegou. Me sinto uma idiota. Mas então ele nos
rola de volta e seus dedos afastam meu cabelo do meu rosto.
Ele olha nos meus olhos com tanto desejo reprimido que
esqueço tudo do meu constrangimento.

— Eu realmente gosto de você, — diz ele antes de


mergulhar os lábios para encontrar os meus. Ele os roça
levemente ao longo dos meus, mal tocando. Sua provocação
faz meu corpo responder como um incêndio se espalhando
através de mim com apenas um beijo. — Eu quero você há
muito tempo. — Ele coloca seus lábios nos meus, um pouco
mais forte desta vez. — E não apenas seu corpo. — Seus dedos
deslizam pela minha caixa torácica. — Você. Eu quero você.
Eu quero que você seja minha.

De onde veio esse lado dele? Não deveria me importar ou


pensar duas vezes sobre isso, apenas aproveitar, mas ele não
era um cara de relacionamento estável quando nos
conhecemos. Mas posso ver, sentir e ouvir a sinceridade em
suas palavras, então me permito afundar em nosso beijo. Ele
puxa seus lábios dos meus antes que se torne uma sessão
completa de beijos.

— Não vou fazer sexo com você agora, — ele sussurra no


meu ouvido e seus lábios continuam a se aventurar, sua língua
provocando. — Não importa o quanto eu esteja chutando meu
cérebro agora.

— Por que não? — Eu me engasgo. Estou em chamas e


ele decidiu não usar a mangueira? Que diabos?

Quero gritar que lhe dei a ele a luz verde. Todo o flerte.
Todas as insinuações sexuais. Todo o toque. Todas as
conversas sinceras. E ele está pisando no freio?

Ele se ajoelha e ajeita minha camisa para que caia no topo


da minha calça jeans. — Porque vou levá-la a um encontro.

— Um encontro? — Gemo.

Ele ri. — Sim, caverna de gelo, jantar, então vamos voltar


aqui para a sobremesa.

Eu me sento. — Você está gostando disso, não é?

Ele rasteja de joelhos para me alcançar e, novamente,


enfia uma mecha de cabelo atrás da minha orelha antes de
beijar meus lábios brevemente. — Eu omiti o que quero fazer
com você há meses. Quero uma noite com você que não inclua
regras. E vou te mostrar como será me namorar.
Como uma garota pode dizer não a isso? Denver Bailey é
um romântico? Nem mesmo Buzz Wheel teve a chance de saber
disso.
Denver levou essa coisa de encontro tão longe que se
vestiu e esperou do lado de fora da nossa cabana para eu me
arrumar. Claro, estamos entrando em uma caverna de gelo,
então não é como se eu estivesse usando um vestido e salto
alto. Estarei completamente encoberta.

Mas coloquei meu jeans mais apertado e o suéter curto


que tenho certeza de que ele gosta, com uma top por baixo.
Cobri com minha parka3 e as botas que Denver me comprou.
Pego minha touca, cachecol e luvas para levar comigo. Verifico
três vezes meu reflexo no espelho antes de sair. Consegui
colocar um pouco de maquiagem extra, pesando no delineador
e no rímel.

Quando saio da nossa cabana, Denver está conversando


com um homem alto, anos mais velho que ele. Ele me vê e
acena como se eu não tivesse visto ele. Então, aperta a mão do
homem e segue em minha direção.

Quando ele me alcança, ele beija minha bochecha. —


Você deveria ter planejado sua festa de debutante em um

3 Modelo de jaqueta.
momento melhor. Embora eu me divirta tirando essas
camadas mais tarde.

Uma rápida propagação de calor me atinge da cabeça aos


pés. Se é isso que eu tenho que esperar quando se trata de
namorar Denver, estou me chutando por esperar tanto tempo.

Eu levanto meu quadril para o lado. — Você já poderia ter


tirado eles.

Ele pega minha touca e a coloca na minha cabeça,


envolve meu cachecol no pescoço e estende minhas luvas para
eu enfiar as mãos.

— Isso é tão romântico, — digo sarcasticamente, mas


meio que é, porque eu nunca imaginei que ele fosse tão
atencioso.

— Espere até eu te beijar em uma caverna de gelo. — Ele


balança as sobrancelhas.

— Promessas, promessas, — provoco, e ele me oferece seu


braço. Deslizo minha mão pela dobra do cotovelo. — Você é
demais.

— Você tende a cair muito na minha presença.

Reviro os olhos, mas permito que ele me guie para onde


quiser.

Acontece que o local em que estamos hospedados possui


um serviço de traslado que nos leva à caverna de gelo. Meia
hora depois, estamos fora disso. Eu tenho que admitir, a
caverna é um pouco aterrorizante. O gelo azul é um banquete
para os olhos, mas estou entrando em um abismo de gelo para
ganhar aquele beijo que Denver prometeu.

Quando estamos mais longe, dentro e fora do grupo,


olhamos de um lado para o outro. Enquanto eu estava com
medo de entrar aqui, agora que estamos nas profundezas,
parece pacífico e silencioso. Como se o mundo lá fora não
existisse realmente e estivéssemos enclausurados dentro deste
lugar só nosso.

Realmente espero não ser uma das muitas garotas que


ele beijou aqui. Estou irritada com esse pensamento.

Denver me coloca em um lugar onde não há muitas


testemunhas e desamarra meu cachecol em volta da minha
boca. — É lindo, certo? — Sua voz é baixa e suas mãos estão
nos meus quadris, mas há muitas camadas para realmente
senti-lo.

— É, — digo.

— Não é tão bonito quanto você. — Ele abaixa a cabeça.

Levanto a minha enquanto meu batimento cardíaco


dispara. Seus lábios tocam os meus como um abraço suave,
os nós dos dedos percorrendo minha bochecha. Como ele é tão
perfeito? Admito que quero namorar com ele, ele concorda,
adia o sexo e me dá um beijo em uma caverna de gelo que
lembrarei pelo resto da minha vida.
Sua língua desliza na minha boca e todos os meus
membros relaxam. Com todos os homens que beijei – e não é
como se houvesse uma tonelada – nunca senti minhas pernas
ficarem pesadas e querer ceder. Mas com Denver, meu corpo
inteiro derrete e formiga. Suas mãos seguram meu rosto como
se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo. Um gemido baixo
soa em sua garganta logo antes de nos separarmos, e sou um
caso perdido. Ele me arruinou para qualquer homem que vier
depois dele.

Enquanto ele descansa sua testa na minha, nossos olhos


se fecham e um pequeno sorriso ilumina todo o seu rosto.

— Eu sou a primeira? — Deixo escapar. Droga. Quão


estúpida sou para perguntar isso?

Denver dá um passo para trás, o sorriso limpou seu rosto


tão bem que parece que nunca esteve lá. — Não posso mudar
meu passado. Você entende isso, certo?

Sou tão estúpida. Por que posso falar durante momentos


como este? — Sim, e nunca gostaria que seu passado não
existisse. Você é quem você é de todas essas experiências. Foi
uma coisa estúpida de se perguntar, me desculpe.

Denver assente.

Mas então uma nova bravata me atinge. Devo perguntar


a mim mesma e não vou imaginar esse grande beijo especial
apenas para descobrir mais tarde que ele traz todas aqui.
Preciso saber o que é isso.
— Você sabe o quê? Tenho que saber. Me desculpe se isso
te incomoda, mas o que sei de você, gosto muito. Fato é que
você tem uma reputação. Eu preciso saber por que você está
sendo tão diferente comigo e tão facilmente aceitando essa
coisa de namoro. Talvez seja porque não é grande coisa e você
trouxe um milhão de garotas aqui?

Ele solta um suspiro e tira a touca, coçando a nuca. —


Talvez tenhamos mudado a nossa condição muito rápido.

— Muito rápido? Você é louco? Me joguei em você, mas


gritou para que parássemos.

Denver olha em volta porque minha voz ficou um pouco


alta por um momento. Ele nos afasta ainda mais do grupo. —
O que posso dizer? Gostei de mulheres sem compromisso.
Todas elas conheciam o placar, embora algumas agissem como
se não tivessem entendido. Nunca disse a uma mulher que
queria namorar com ela. Nunca levei uma mulher para uma
caverna de gelo porque, na maioria das vezes, só as levei para
minha cama. Mas Cleo... não queria fazer sexo com você logo
depois que me disse que estava tendo sentimentos por mim
porque é tudo diferente. Você merece ter um encontro em que
eu te beijo em uma caverna de gelo e te conheço durante o
jantar. Onde te levo de volta para a cama sem beber demais.
Você merece os beijos doces, os toques suaves, as provocações
de roupas que caem da sua pele. Você merece tudo isso, e
quero dar a você. — Ele respira fundo e empurro as lágrimas.
— Você merece tudo o que tenho e provavelmente muito mais.
Mas estou lhe dando tudo de mim, e só posso esperar que seja
o suficiente para você.

Respiro fundo porque, em algum momento durante seu


discurso, eu esqueci de respirar. — Sinto muito.

Ele balança a cabeça, olha para os nossos pés, depois


volta para mim. — Nunca se desculpe por se defender. Eu
deveria ter lhe contado tudo isso esta tarde, quando você
estava tão aberta comigo. Mas as palavras são uma coisa, e
estava tentando provar com minhas ações que não sou o cara
que você pensa que sou.

Rio, e seus olhos encontram os meus. — Você não tem


ideia.

— O quê? — Irritação em seu tom.

— Acho que você é maravilhoso do jeito que é. A maneira


como você navegou em meus problemas com meu pai? Você foi
minha rocha o tempo todo. Enquanto isso, meus problemas o
lembram de perder seus pais. O que você fez com a Lifetime
Adventures... para um cara que não queria toda a
responsabilidade adicional no começo, você é o primeiro a
chegar lá de manhã. Vejo você pesquisando à noite. E agora
você quer namorar comigo. Denver, o que quer que tenha
mudado você, vejo e amo.

Ele se aproxima de mim e suas mãos cobrem minhas


bochechas. — É você. Você é o que me mudou.

— Denver?
Ele pressiona seus lábios nos meus. — Sim?

— Você pode me dar o romance amanhã? — Murmuro


contra seus lábios e sinto seu sorriso.

— Por que pergunta isso?

Me afasto e olho diretamente nos seus olhos para que ele


possa ver o quanto eu quero dizer isso. — Porque preciso de
você. Só eu e você sem nada entre nós.

— Como sempre, princesa, você consegue o que quer.

Nós corremos para o ônibus e não podemos manter


nossos lábios afastados um do outro durante toda a volta.

Denver coloca a chave na fechadura e nós entramos na


pequena cabana. Cada um de nós tira nossas toucas, lenços,
luvas.

Abro o casaco, mas ele para as minhas mãos. — Deixe-


me despir você.

Ele se senta na cama, diminuindo o ritmo. Olha para mim


enquanto seus dedos deslizam o zíper do meu casaco para
baixo até que ele se abra.
— Minha roupa favorita, — diz ele quando vê minha blusa
e empurra meu casaco para o chão.

— Você estava mais sedutor comigo quando eu usei isso.

Ele pressiona a cabeça no meu estômago e envolve seus


braços em volta de mim. Depois de desabotoar minhas calças
e empurrá-las pelas minhas pernas, ele sinaliza para eu
levantar minha perna. Ele desata e tira cada uma das minhas
botas.

— Acho que você precisa se atualizar, — digo, olhando


para ele ainda completamente vestido e sentado na cama. O
despi da mesma maneira que ele me despiu.

Uma vez que nós dois estamos nus, cada um de nós


aceita o outro. Não poderia ter sonhado com um corpo mais
perfeito do que o de Denver. Músculos compridos, abdominais
com o V que compõem o decote perfeito na virilha e uma trilha
de cabelos que leva à sua masculinidade grande e ereta,
pressionando o umbigo.

Curiosamente, não me sinto constrangida em pé na frente


dele. O jeito que ele está me olhando me faz sentir a mulher
mais desejável do mundo. Seus olhos castanhos estão mais
escuros do que o habitual, e o calor que derrama deles é
abrasador.

Denver me joga na cama de costas, pressionando seus


lábios nos meus. E é então que descubro que Denver mexe da
mesma maneira que ele brinca. Ele brinca, aumentando a
tensão sexual a cada movimento. Ele é definitivamente um
homem do peito, porque, embora não fique em um lugar por
muito tempo, visita meu peito repetidamente. Lambendo,
mordendo e puxando meus mamilos até que eu esteja
desesperada por mais atenção dele. Meus dedos passam por
seus cabelos e meu corpo se estica para cima sob sua língua e
mãos experientes.

Ele é vocal, como supus que seria. Ditando, buscando


orientação e precisando de confirmação de que o que ele está
fazendo está me enviando para o limite. Por alguma razão,
nossos corpos descansando um sobre o outro parecem
familiares, mesmo que não saiba nada sobre seu corpo.

O que eu mais amo é empurrar e puxar entre rápido e


devagar. Dois extremos sem meio termo, mas isso é verdade
em Denver em todas as coisas. É tateando e puxando ou
pastando e planando. Há uma luta dentro dele, e o fato de ele
estar tendo dificuldade em se controlar só me excita mais.

— Tenho que conseguir uma camisinha. — Ele levanta


meu corpo.

Já parece estranho não o ter lá. O vejo vasculhar sua


mala. — Você achou que íamos dormir juntos?

Ele coloca a camisinha e desliza de volta para mim. —


Esperava. Esperei. As coisas entre nós têm sido mais intensas,
e não seria o idiota que não estava preparado.
Beijo seu pescoço, a pequena quantidade de barba por
fazer produz cócegas na minha pele.

— Graças a Deus você é um sobrevivente, — digo


enquanto a ponta dele perfura minha abertura. — Sempre
preparado.

— Você pode me agradecer mais tarde. — Ele lentamente


empurra dentro de mim, polegada por polegada, até que esteja
totalmente em mim.

Envolvo meus membros em torno dele. Sinto-me mais


cheia do que jamais estive e quero memorizar esse sentimento.

Antes, Denver me tratava como uma joia preciosa, mas


não há nada lento e gentil nele agora. Sua cabeça está
enterrada no meu pescoço, sussurrando elogios sobre mim e
meu corpo enquanto entra e sai de mim. Minhas pernas
apertam em torno de sua cintura enquanto mal consigo
segurar meu orgasmo. Tudo acontece tão rápido – suor
cobrindo nossos corpos, minhas mãos segurando seus ombros
e ele me ancorando em seu corpo como se fôssemos um.

Ele recua quando um som estrangulado sai de mim. Deve


ver que eu estou quase lá, porque empurra com mais força e
muda um pouco o ângulo, atingindo meu ponto G. Meu corpo
aperta e fica tenso até o alívio misturado com êxtase chegar.
Explodo em um milhão de partículas, como poeira estelar
flutuando no espaço, e grito.
Ele me observa desmoronar debaixo dele. — Tão
fodidamente linda.

Levanta-se nos cotovelos e me beija enquanto acelera e


me segue com sua própria libertação, meu nome escorregando
de seus lábios. O peso dele sobre mim depois que veio é algo
que ficará comigo para sempre, porque parece que é assim que
sempre deveria ser. Ele me beija até não ter escolha a não ser
se livrar da camisinha.

Denver Bailey é o meu dono agora, e eu deveria estar mais


assustada do que estou, mas nunca me senti como se
pertencesse a alguém antes e não posso deixar de me
perguntar como será.
Cleo é tudo o que imaginei quando peguei meu pau tarde
da noite, quando a dor de não a ter era muito forte.

— Eu provavelmente deveria admitir que violei a regra de


não me masturbar com você. — Deslizo para mais perto dela
debaixo dos lençóis, e ela corta um pedaço de bife e o coloca
na frente da minha boca.

— Tudo bem. Eu também, — ela diz, com um sorriso no


rosto.

Nós dois mastigamos. Depois de duas rodadas, nossos


estômagos decidiram que, sem comida, poderíamos não ser
capazes de lutar juntos novamente. Então, vesti algumas
roupas e paguei a um adolescente que trabalha aqui para ir ao
restaurante mais próximo e nos trazer alguma comida.

Quando voltei, Cleo me cumprimentou nua na cama em


uma pose sexy, a flor falsa do pequeno vaso no balcão do
banheiro entre os dentes. Tão clichê, mas deixei cair a comida
e pulei nela. Ela gritou e tentou se afastar por causa do frio
que eu sentia.
Agora estamos quentes e comemos nus na cama. Sem
televisão e serviço de celular, a tenho para mim. A vida poderia
ficar melhor?

— Então, basicamente, deveríamos estar fazendo isso


semanas atrás, — digo.

Depois de cortar as batatas assadas, ela posiciona o garfo


na frente da minha boca novamente, e dou uma mordida. —
Provavelmente, mas acho que o tempo valeu a pena.

— Você diz isso agora, mas poderia facilmente estar


dormindo na banheira agora.

Ela sorri sobre a mastigação. — Eu admito, tê-lo aqui


comigo é melhor do que você na banheira.

— Para mim também. Queria ser um cavalheiro, mas,


caramba, no final da viagem, não seria capaz de suportar.

Ela ri e sua cabeça cai no meu peito. Aproveito a


oportunidade para beijar a pele macia em seu ombro. Estou
um pouco surpresa com o quão fácil foi admitir o que estava
sentindo por ela. Não tenho ideia de como Cleo me mudou tão
rápido. Ela é a única pessoa que poderia ter feito isso. Uma
coisa é verdade: vou fazer tudo ao meu alcance para mantê-la.
Algo sobre nós dois parece certo.

— Então isso funcionou bem para você, — diz ela.


Pego a bandeja e a movo para a pequena mesa lateral. —
Você está colhendo muitas recompensas na forma de
orgasmos.

Coloco a parte superior do corpo na cama, minha


necessidade eterna de tê-la debaixo de mim, demais para
resistir. Nós olhamos nos olhos um do outro, e ela tem um
sorriso que diz que está gostando do que está acontecendo. É
espetacular, tenho que dizer. Não posso me cansar dela. Não
quero parar de tocá-la ou ouvir o que vai sair de sua boca.
Parece eufórico, e não aguento mais pensar nisso terminando.

— Vamos esquecer esta viagem e ficar aqui até domingo,


— diz ela.

Beijo sua testa, seu nariz e depois sua boca. — Tenho


alguns lugares incríveis para mostrar a você.

— Tudo bem, mas acho que vamos passar muito tempo


dentro das cabanas.

Eu rio e amplio suas pernas com minhas coxas, e ela as


abre de bom grado. — Tudo bem por mim. Nós poderíamos
acampar uma noite e ver se você pode ser mais alta que os
lobos. — Ela me bate no peito e rio novamente. — Você é
barulhenta, mas amo isso.

Meu pau encontra seu lugar entre as coxas dela, mas


tenho que decepcionar o cara, porque preciso fazer uma coisa
que ainda não fiz. Deslizo pelo corpo dela, aproveitando o
tempo para chupar seus mamilos – ela tem seios incríveis e
não estou perdendo a oportunidade de tê-los na minha boca.
Seus dedos tecem através do meu cabelo e parece uma carícia.
Beijando seu estômago, além do umbigo, me situo entre suas
coxas.

Ela suspira meu nome, como se eu precisasse de outro


incentivo para mostrar a ela que essa minha boca não é boa
para brincadeiras. Tenho uma língua muito talentosa também.

Está escuro lá fora quando finalmente terminamos nossa


refeição fria. Sua cabeça está no meu peito e meu dedo corre
para cima e para baixo em sua espinha.

— Qual é a sua cor favorita? — Ela pergunta.

Jogamos esse jogo como se estivéssemos nos preparando


para uma entrevista de imigração depois de nos casar com um
green card.

— Azul. — Ela acena com a cabeça no meu peito e


pergunto: — Filme favorito?

Ela leva um tempo para pensar sobre isso. — Mágico de


Oz.

— Ah, não há lugar como o lar.


Ela me aperta mais forte. — Sim, acho que sempre senti
que estava procurando por algo. Poderia me relacionar com
Dorothy.

Corro minha mão sobre seus cabelos sedosos. É tão


suave como sempre pareceu. Inclino a cabeça dela para que
olhe nos olhos. — E agora?

Ela encolhe os ombros. — Eu gosto de Lake Starlight.


Muito.

— Tanto que você acha que se encaixa lá? — Seria difícil


para mim mudar para Dallas – não há necessidade de pilotos
de exploração por lá – mas faria se ela quisesse.

Até eu estou chocado com esse pensamento, mas não


sinto nenhum tipo de pânico.

— Me sinto mais em casa lá do que em qualquer outro


lugar, mas é por sua causa? — Ela pergunta.

— Espero que sim. Às vezes não é onde você se encaixa,


mas com quem.

Ela parece pensar sobre isso e depois rasteja em cima de


mim. — Bem, você definitivamente se encaixa em mim, — ela
brinca, e reconheço o movimento pelo que é – um mecanismo
de defesa. — Posição preferida?

Sim, ela definitivamente quer mudar de assunto. Como


tudo isso é tão novo, vou deixar passar, mas temos mais três
noites juntos. No domingo, ela saberá onde se encaixa –
comigo.

Deslizo minhas mãos pelos seus lados e as descanso em


seus quadris, onde ela está balançando sobre o meu pau duro.
— Adoraria seus peitos no meu rosto enquanto você me monta.

Ela abaixa e eu capto um mamilo com os dentes,


agarrando. Ela geme e se abaixa, permitindo que toda a minha
boca chupe seu peito. Levantando minha outra mão, aperto-a
livre. Ela alcança a mesa de cabeceira para pegar outra
camisinha.

Vou ter que parar em uma loja para obter um suprimento


maior. Não é um problema ruim de se ter.

Alguns dias depois, agradeço a Gene, nosso último


anfitrião, por nos receber e subimos no avião. Desta vez,
viajamos entre as montanhas, observando a neve descongelar
em cascata até os rios abaixo. Ouvindo seus 'oohs' e 'aahs'
através do fone de ouvido, tenho que trabalhar para manter
meu pau a meio mastro.

É a minha última noite com ela, e depois de passar por


duas caixas de preservativos, ainda tenho dificuldade em olhá-
la sem a querer. Acho que ela se sente da mesma maneira
porque também não pode parar de me tocar.

Eu realmente não quero voltar à realidade. Hoje à noite


vamos passar a noite na barraca, e estou animado para
realmente mostrar minhas habilidades ao ar livre. Ela gostou
da última vez.

Nós pousamos e montamos acampamento. Acendo o fogo,


e quando olho em sua direção, a vejo segurando a urna de
Chip, olhando para ela. Com tudo o que fizemos nesta viagem,
ainda não espalhamos suas cinzas.

Eu apago o fogo para posicionar o tronco do jeito que


preciso. — Você decidiu onde quer espalhá-los?

— Estou pensando em algum lugar alto.

— Se você quiser, poderemos abrir uma janela enquanto


voamos.

Ela ainda segura a urna. Não é apertado ou protetor,


apenas meio que lá. — Ainda sinto que mal o conheci.

Sentado no tronco ao lado dela, envolvo meu braço em


volta de sua cintura e beijo sua têmpora. — Eu acho que você
está colocando muita pressão em si mesma.

— Porque isso está deixando-o em algum lugar.

— Você realmente acredita que é ele?


Ela olha para a urna como se estivesse esperando que ele
aparecesse como aqueles malucos. — Não, mas por que ele me
colocou no comando?

Eu gostaria de ter algumas ideias para lhe oferecer. —


Não precisamos fazer isso nesta viagem. Nós podemos voltar.

Os ombros dela caem. — Isso é um desperdício de uma


viagem.

— Acho que foi uma ótima viagem, por isso não me


oponho a repetir.

Ela sorri. — Talvez possa voar com você na próxima vez.


— Ela me bate na costela com o cotovelo.

Reviro meus olhos. Ela quer aprender a voar e quer que


eu a ensine. Sou a favor, mas Rome me pediu para ensiná-lo e
quase brigamos a dez mil pés. Às vezes você não deve ensinar
quem você é próximo.

— Talvez, — digo.

— Para que possamos esperar? — Ela pergunta.

— Podemos esperar. — Aperto seu joelho e me levanto. —


Pronta para ir para a cama?

— Quando não estou pronta para ir para a cama com


você? — Ela se levanta e coloca a urna de volta em sua caixa.
— Onde devemos colocar isso?
— Sinto muito, mas isso não está entrando na barraca,
— digo.

— Então você acredita que ele está aqui? — Ela joga


minhas palavras de volta para mim.

— Não vou transar com a filha dele enquanto suas cinzas


estiverem em uma barraca conosco.

Ela ri e fico feliz que o momento sério acabou. — Avião?

— Avião. — Pego a urna e vou em direção ao avião. —


Sinto muito, Chip, mas acho que, de certa forma, você queria
que eu estivesse com Cleo. Pelo menos foi o que recebi da sua
carta. Se eu estou errado e você está lá em cima, irritado por
eu estar com Cleo, desculpe, mas não vou desistir dela.

Depois de trancar a urna no avião, volto rapidamente


para a tenda, de volta para Cleo. Eu tiro a roupa antes de
entrar, e ela já está rindo.

— É melhor você ficar nua naquele saco de dormir. — Nos


fecho na tenda e me arrasto para dentro do saco de dormir em
que ela está.

— Você me ensinou a estar sempre preparada.

Mais tarde naquela noite, ela está nos meus braços


quando inicia outra rodada de perguntas. Acho que já conheço
todos os seus favoritos agora. Ela adora Three Musketeers, o
que eu disse a ela que não é uma barra de chocolate de
verdade. Ela gosta de sorvete de chocolate sem nada, o que
parece uma farsa quando você tem coisas como calda de
caramelo disponível. Sua massa favorita é lasanha, com a qual
fico triste. Provavelmente, eu poderia responder a um
questionário sobre ela neste momento, e acho que gosto de
saber todas essas coisas.

— Do que você tem mais medo? — Ela pergunta.

Levanto minhas pálpebras, desde que estava quase


dormindo. Obviamente, estamos investigando as questões
sérias esta noite. Levo um minuto para considerar se quero ser
aberto com ela ou não e descobrir o que quero. —
Honestamente? Tenho medo de ficar arrasado como quando
meus pais morreram. Tenho medo de alguém que amo me
deixar.

Ela levanta a cabeça enquanto sua mão segura minha


bochecha. Minha barba está mais cheia do que costuma ser,
já que não fiz a barba nessa viagem.

— Não consigo imaginar você sendo tão jovem quando os


perdeu. Mas você tem toda a sua família.

Aceno, durmo assumindo. Entrando e saindo da


consciência, beijo sua testa. — Durma, princesa.

— Vá dormir. — Ela beija meu peito e a puxo para mais


perto. Não tenho certeza se sonho ou não, mas juro que ela
sussurra: — Nunca vou te deixar, Denver Bailey. Não de
qualquer maneira.
Nós ficamos cinco minutos na cidade antes que as
notícias sobre Denver e eu chegassem. De alguma forma,
enquanto estávamos a quilômetros de distância de Lake
Starlight, começou o boato de que havíamos feito uma viagem
romântica juntos, quando na verdade fomos espalhar as cinzas
de meu pai. Não é à toa que não acabamos fazendo isso.

— É a primeira vez que eles entendem errado. — Phoenix


empurra o iPad para mim. — Em todos os meus anos, o que
há lá sempre foi verdade, mas um segredo que ninguém queria
descobrir.

Eu mordo meu lábio e me levanto. Denver e eu não


discutimos se estávamos saindo como um casal ou planejando
escondê-lo.

— Hey, eu e Juno vamos sair em Sunrise Bay neste fim


de semana. Venha passar um fim de semana de meninas
conosco. — Phoenix coloca seu sorvete de menta na boca. Mais
uma vez, ela está vestindo um pijama combinado às seis da
noite.
— Ok, deixe-me pensar sobre isso.

— E não se preocupe com Denver se juntar a nós. Os


caras também estão saindo.

— Denver vai sair com os caras neste fim de semana?

— Sim, Kingston e seu amigo idiota Owen planejaram a


coisa toda. Denver provavelmente foi convidado para impedir
que esses dois brigassem.

Balanço a cabeça. — Desculpa, o quê?

Ela assente como 'Sim, você não sabe?' — Kingston e


Owen têm esse relacionamento extremamente competitivo.
Eles são melhores amigos, mas tudo sempre foi uma
competição desde que eram jovens.

— Parece imaturo, — eu digo.

— Bem, sim, é Kingston.

Kingston é o único irmão com quem ainda não passei


algum tempo. Ele parece legal, mas mais reservado, pelo
menos na minha frente.

— De qualquer forma, você está totalmente vindo


conosco, — diz ela antes de dar outra grande mordida no
sorvete.

— Indo onde? — Denver entra, pousa a bolsa do


computador e olha o iPad. — Vejo você lendo que eles
descobriram o que fizemos neste fim de semana.
Quando ele pega uma água da geladeira, congelo, mas
Phoenix ri. — Sim, você planejando um fim de semana
romântico? Disse a Cleo que é a primeira vez que Buzz Wheel
entendeu errado.

A garrafa de água permanece na boca dele, e ele me olha


por cima da garrafa. Tento transmitir que não tenho certeza de
como quer lidar com isso.

— Sim, eu não sou nada romântico, certo, Cleo? A fiz


dormir lá fora enquanto estava na cabana? — Ele me olha
enquanto me mexo no meu assento.

Phoenix deve ouvir sua mudança de tom porque sua


cabeça gira de um lado para o outro entre nós dois. — Cale-se!

Eu respiro fundo. — Eu não sabia se você queria que as


pessoas soubessem, — digo a Denver.

Ele balança a cabeça, coloca a água no balcão e envolve


o braço em volta da minha cintura, beijando meu pescoço. —
Eu quero.

— Vocês estão juntos? — Os olhos de Phoenix estão


arregalados e sua boca está aberta.

Ri de sua descrença.

— Por que isso é tão difícil de acreditar? — Os lábios de


Denver viajam para os meus lábios, e ele me beija. — Eu sou
um bom partido.

— Cleo é melhor, — diz Phoenix. — O que você vê nele?


Denver pega a garrafa de água e a inclina para que a água
espirre por todo o corpo. Ela ri, e não posso deixar de pensar
que assistir à interação entre irmãos é divertido.

— Espero que ela não encontre alguém melhor neste fim


de semana quando eu a levar para Sunrise Bay, — diz Phoenix.

— Ouvi dizer que você vai sair com os caras neste fim de
semana, — eu digo. Não me preocupou com isso. Não, de jeito
nenhum.

Ele olha para mim como se não se lembrasse. — Merda,


sim. Eu concordei com isso antes de você pular em meus ossos
esta semana.

Eu bati no estômago dele e revirei os olhos.

— Cleo, quanto você mantém em sexo até que ele me


apresente a Griffin? — Phoenix pergunta.

Eu ri. Ela está sempre trabalhando em um ângulo, essa


garota. Denver envolve os braços em volta da minha cintura
para que minhas costas estejam coladas ao peito dele. Ele beija
meu pescoço, arrastando aqueles deliciosos lábios até minha
mandíbula. — Desculpe, ela é a ninfomaníaca, não eu.

O calor se espalha da minha cabeça aos pés. É assim que


vai ser com Denver? Porque eu gosto disso.

Phoenix tira uma foto. — Estou enviando para o Buzz


Wheel.
— O quê? — Eu me viro para Denver. Isto está saindo do
controle.

Denver não se afasta de mim. — Continue. Então todo


cara vai manter as mãos e os olhos longe de Cleo, porque eles
sabem que eu vou chutar a bunda deles.

Eu gosto que ele seja dono desse relacionamento. Isso faz


com que todos aqueles pensamentos ruins traquinas fiquem
na parte de trás da minha cabeça.

— Isso me lembra que temos que ir à casa do meu pai, —


digo. Preciso lidar com o lugar dele e, depois de um tempo com
Denver, finalmente me sinto melhor preparada para fazê-lo.
Além disso, precisamos ver se o — convidado— dele voltou.

Ele concorda. — Vamos lá e pegamos comida também.

— Olá? — Phoenix fecha o sorvete. — Estou entediada.


Estou chegando.

Denver me puxa pela mão e eu rapidamente pego minha


bolsa. Tenho certeza de que ele quer fazer mais do que apenas
beijar quando entrarmos na caminhonete.

— Você está de pijama. — Ele olha para o relógio do


micro-ondas. — As seis horas. Talvez você deva morar com
Vovó D no Northern Lights.

— Eu estou desempregada. Dá um tempo. — Ela nos


segue de pijama, vestindo um par de Uggs e uma jaqueta
grande.
— Você está arruinando totalmente o meu jogo aqui, —
diz ele enquanto abre a porta para mim.

Phoenix entra na traseira da caminhonete. — Cleo


também é minha amiga, e agora ela fará parte da família.

Denver fecha a porta. Não tenho ideia se o que ela disse


o deixou nervoso ou não, porque quando ele entra na
caminhonete, liga a ignição e saímos.

— Quanto mais cedo sairmos, mais cedo ela sai do nosso


caminho, — diz ele.

Sorrio, mas Phoenix bufa no banco de trás. — Eu não


tenho certeza se posso morar aqui se vocês dois estão
transando a cada minuto do dia.

— Nem todo minuto. Eu prometo, — digo a ela.

— Mas talvez feche os olhos e anuncie antes de entrar em


uma sala. — Denver pisca para mim, pega minha mão e aperta.

Porra, as borboletas estão vivas e chutando no meu


estômago.

Quinze minutos depois, paramos na casa do meu pai e


noto um conjunto de estrelas decorativas de metal penduradas
na parte externa da casa que não estavam lá da última vez que
estivemos aqui.

— Um... — Eu aponto para elas, uma acidez afogando as


borboletas de momentos atrás.
— Eu sei.

Phoenix nos segue em direção à casa. — Então, qual é o


problema? Você acha que Chip tinha um outro filho?

Entrego as chaves para Denver porque estou assustada


agora.

— Estou começando a me perguntar. — Denver destranca


a casa e abre a porta, acendendo a luz.

— Agora há flores frescas, — digo a Denver com os olhos


arregalados depois de ver o vaso na mesa da cozinha.

Ele assente e vai para os fundos da casa, retornando


cinco segundos depois. — Estavam sozinhos.

Pego o manto no sofá. — Isso também é novo!

Phoenix se contorce como se tivesse visto uma aranha. —


Isso é assustador. Por que eu vim?

Eu a ignoro principalmente porque Denver diz para ela ir


esperar na caminhonete. Phoenix diz que não vai a lugar
nenhum sozinha.

Na mesa perto da cadeira, vejo outra adição. Eu aponto


repetidamente.

Denver revira os olhos como se minha reação fosse


injustificada. Tanto faz. Ele pega o livro – um best-seller que
saiu depois que meu pai morreu.

— Precisamos chamar a polícia, — digo.


— E dizer o que? Cachinhos Dourados veio ler na minha
cadeira e deixou flores e um cobertor? — O tom sarcástico de
Denver não é apreciado.

— Não! Para dizer a eles que alguém está invadindo


propriedades particulares. — Pego meu celular e ligo para a
delegacia.

Denver geme. — Estou faminto.

— Vamos comer depois que eles chegarem aqui.


Precisamos descobrir isso.

Ele se senta no sofá.

— Denver, levante-se. Impressões digitais! — Eu digo.

Ele não se mexe. — Isso não é CSI, querida, eles não vão
imprimir nada. Mesmo se o fizessem, tenho certeza de que
criminosos com impressões digitais no banco de dados não
enfeitam a casa enquanto a roubam.

Phoenix está andando. — Talvez não seja CSI, mas


Atividade Paranormal. Precisamos ir. — Um arrepio percorreu
todo o seu corpo.

— Todo mundo, acalme-se, — diz Denver.

Alguém na delegacia finalmente responde, e me disseram


que o xerife Miller vai parar no caminho de casa para a noite.
Apenas em uma cidade pequena, eu juro. Se fosse Dallas, já
teriam cinco carros da polícia aqui.
O xerife Miller leva seu tempo para chegar. Denver está
prestes a roer seu braço, em razão da fome, mas não vou deixá-
lo comer nada nesta casa. Phoenix não se senta e continua
golpeando coisas imaginárias, dizendo que sentiu uma brisa
fria.

Abro a porta e o xerife Miller entra. — Cleo Dawson,


correto?

— Sim, senhor. Esta é a casa do meu pai.

Ele estende a mão e eu a pego. — Ah, Denver Bailey.

Denver se levanta, mas não tem pressa. — Xerife. — Ele


finge inclinar um chapéu que não está usando. — Parou para
jantar no caminho?

Eu atiro para ele um olhar como 'O que diabos você está
fazendo?'

— Olá, xerife. Vocês têm uma divisão paranormal? —


Phoenix pergunta.

— Olá, Phoenix, e não.

Ele parece um cara sem noção. Seus polegares


descansam em seu cinto, e anda como se pesasse cem quilos.

— Fui eu quem ligou. Denver e eu viemos aqui na semana


passada e notamos que as coisas haviam mudado. Quando
chegamos aqui hoje à noite, era a mesma coisa. Esta manta e
esse livro estavam aqui. — Aponto para os dois. —
Conversamos com Luther Lloyd, e ele disse que somente eu
tenho a única chave.

O xerife parece me ouvir, mas então olha fixamente para


Denver. — Vocês dois são um casal, eu ouvi.

Denver balança a cabeça em descrença. Estou


claramente sentindo a animosidade entre esses dois. — Nós
somos.

O xerife Miller olha para mim e depois para Denver. —


Você está fazendo uma brincadeira com sua namorada?

Eu coloco minha cabeça para trás. — Ele não tem quinze


anos.

Phoenix ri depois de pular um pé para a direita e olhar na


direção em que pulou.

— Oh, Denver gosta de brincadeiras. Faz apenas dois


anos, ele, Rome e Liam decidiram cobrir um carro com post-
its e colocar um anúncio na Lard Have Mercy sobre o dia sem
calças.

Phoenix ri mais. — Oh, eu perdi essa.

Eu olho para Denver. Ele encolhe os ombros, mas seu


sorriso deixa claro que o xerife está certo.

— Não tenho nada a ver com isso, — diz Denver.


— Rome?

— Ele está muito ocupado criando seus filhos. Eles têm


outro a caminho, você sabe.

O xerife sorri. — Ofereça-lhes meus parabéns.

— Claro.

— Liam?

— Você acha que Savannah o deixaria se afastar tão


longe?

Eles vão e voltam como se fosse um jogo que jogam com


frequência.

O xerife parece pensar na coisa de Savannah e assente.


— Bem, tudo o que posso fazer é dirigir algumas vezes ao dia
e ver se pegamos alguém. Você pode instalar câmeras, se
quiser. Você encontrou alguma coisa faltando?

— Apenas as flores falsas que eles substituíram por flores


reais, — Denver diz e me lança um olhar que diz: 'Eu te disse.'

O xerife olha por cima da porta novamente. — Não há


entrada forçada, então acho que a pessoa tem uma chave.
Denver, você deve vigiar o lugar. Você, Rome e Liam gostavam
de esperar até que fosse tarde o suficiente para causar
problemas. Essas habilidades serão úteis. — Ele diz isso como
se estivesse falando sério.
Denver ri. — Esses dias acabaram. Agora tenho coisas
muito melhores para fazer à noite.

Phoenix para de fazer movimentos de kung fu no ar para


rir.

Eu arregalo meus olhos para Denver novamente para


dizer: 'O que há de errado com você?' Ele nem sequer olha para
mim.

O xerife apenas revira os olhos. — É melhor eu ir. Vou


dar uma volta oficial algumas vezes. Mas pense nessas
câmeras. Se alguma coisa estiver faltando ou forçada, ligue
para mim.

— Obrigada, xerife, — digo, caminhando em direção à


porta, embora não tenha certeza do que estou agradecendo por
considerar que ele acabou de me dispensar.

— Prazer em conhecê-la, Cleo. Denver, Phoenix.

— Xerife. — Denver assente.

Fecho a porta e observo pela janela quando ele entra no


carro e sai.

— Podemos ir agora? — O karatê de Phoenix corta o ar


novamente, indo em direção à porta.

— Estou morrendo de fome. — A mão de Denver desliza


na minha, fazendo-me sentir quente e segura.
— Acho que você e o xerife não estão nos melhores
termos? — Pergunto enquanto Denver tranca.

— Você entendeu direito. Para ser honesto, fiz algumas


merdas estúpidas quando era mais jovem. — Ele encolhe os
ombros enquanto caminhamos para a caminhonete em que
Phoenix já está.

— Então você é como um menino mau?

Ele abre minha porta para mim. — Posso ser o que te


excita, mas sim, era um menino muito arteiro. Provavelmente
mereço ser punido.

Eu o afasto e ele ri até entrar na caminhonete. Não me


lembro da última vez que minhas bochechas doeram de tanto
rir, mas esse é um sentimento que poderia me acostumar
Sábado a noite, estou sentado no apartamento de Juno e
Kingston, esperando para sair para a noite. Isso bate no meu
íntimo. Já poderia ter transado com Cleo cinco vezes. Ok,
talvez um leve exagero.

— Owen estará aqui em, tipo, dez minutos e depois vamos


embora, — diz Kingston, saindo do banheiro, parecendo que
se esforçou demais para se preparar.

— Só para você saber, não vou brigar hoje à noite. Vocês


não podem jogar dardos, não podem jogar sinuca e
definitivamente não podem apostar em quem fica com a garota.
— Aviso Kingston, porque não vou acabar na prisão hoje à
noite por causa de suas travessuras habituais.

Kingston olha para Colton no sofá. Kingston sabe que isso


vai acontecer. Eles encontrarão algo insano para competir.

— De jeito nenhum. Não olhe para mim, — diz Colton.


Colton se parece comigo, não se esforçando para parecer bem
esta noite.

— Como está a vida de veterinário? — Pergunto a ele.


— O mesmo de sempre. Aventuras ao longo da vida?

Colton e eu fomos juntos à escola. Com apenas um ano


de diferença e ele sendo o melhor amigo de Juno, é
praticamente outro irmão para mim.

— Alguma mulher na sua vida? — Pergunto.

Ele encolhe os ombros. — Não, é difícil com o


cronograma.

— Deve ser difícil também com a sua agenda Juno. Você


passa todo o seu tempo livre com ela. — Kingston levanta as
sobrancelhas, trazendo uma cerveja para todos nós.

Recuso, desde que sou motorista hoje à noite – e porque


não estarei fedendo a uísque quando me arrastar para a cama
de Cleo – levanto o relógio – quatro horas no máximo.

— Somos amigos, — diz Colton, mas ele parece defensivo.

— Cara, você está permanentemente em zonas de amigos,


entende isso, certo? — Kingston toma um gole de cerveja.

— Eu estou bem em ser zoneado por amigos.

— Denver, você encara seus amigos da maneira que


Colton encara Juno? — Kingston tem esse humor seco que
sempre racha um quarto.

Colton está rindo agora, balançando a cabeça.


— Sim, e agora estou namorando com ela, então... —
Olho para o meu relógio. Três horas e cinquenta e oito
minutos.

— Exatamente. — Kingston olha Colton como 'Vamos,


cara, admita que você quer minha irmã.'

Colton circunda sua cerveja na mão e parece aliviado


quando há um barulho alto na porta.

— Owen, — dizemos em uníssono.

Colton me dá o mesmo olhar, o mesmo que retribuo a ele.


— Isso é péssimo, e eu prefiro estar fazendo outra coisa que
não seja isso. — Ouvi você, amigo.

Owen aparece, contando a 'melhor história de sempre'


sobre o que aconteceu com ele no caminho. Provavelmente é
tão exagerado que a verdade é marginal, na melhor das
hipóteses. Pego meu telefone.

Eu: Tire uma foto e envie-me.

Aparecem três pontos, e espero que a resposta rápida


signifique que ela está sentindo minha falta como se estou
sentindo dela.

Cleo: Foto do pau primeiro.

Eu: Isso é um desafio?

Cleo: Eu sei melhor do que desafiá-lo.

Levanto-me e vou para o banheiro.


Eu: Se você me enviar nudes seu primeiro, poderei lhe
mostrar toda a sua glória.

Um segundo depois, uma foto aparece no meu telefone –


são os seios dela enfiados em um sutiã.

Pego meu pau, dou-lhe um pouco de força para fazê-lo


parecer o mais real possível e tiro uma foto antes de enviá-la
para ela.

Cleo: Não sei o que dizer para uma foto de pau.

Eu: Não se preocupe querida, engula a baba primeiro e


depois responda.

Cleo: Eu sinto muita falta de você e dele.

Eu: Eu sinto muito a sua e da sua... me encontra em uma


hora na minha cama?

Cleo: Eu vou correr com você lá.

Uma batida na porta de Owen me faz voltar a me enfiar


nas calças.

Cleo: As meninas estão me chamando. Até logo.

Eu: Vejo você primeiro.

Abro a porta e Owen sorri com aquele sorriso bobo que


odeio. Não tenho ideia do porquê de Kingston gostar desse
cara.
— Owen. — Estendi minha mão. Ele sacode com muita
força, como se estivesse tentando quebrar meus ossos.

Vou terminar em uma briga hoje à noite, apenas sei disso.

— Vamos. Estou morrendo de vontade de sair. Faz meses.

— O que você faz agora? — Pergunto, seguindo-o para a


sala de estar.

Colton já está revirando os olhos.

— Eu estava pescando salmão, mas agora estou


administrando plantações. — Ele se senta ao meu lado no sofá.
Owen é maior e mais alto que Kingston ou qualquer um de nós,
Baileys, mas ele não é tão lindo.

— Eu pensei que Jed Lear estava no comando da fábrica?


— Colton pergunta.

No momento, amo o fato de Colton conhecer todos e estar


disposto a chamar as pessoas de merda. Bem, todos menos
Juno e ele próprio.

— Bem, sim, Jed ainda está lá, mas vou assumir quando
ele se aposentar, — diz Owen.

— Ele não tem quarenta e cinco anos?

Amo Colton, porra.

Owen se atrapalha com algumas respostas que se


transformam em uma gagueira: — Tanto faz, Stone, você
finalmente já fodeu Juno?
Colton se levanta.

Kingston se coloca à sua frente e segura a mão no peito


de Colton. — Ei. Ei! Não há conversa sobre nenhuma das
minhas irmãs transando com alguém.

Estou de acordo. Nós terminamos com Liam saindo com


Savannah sem ter que ouvir nada disso. Eu dou a Owen um
olhar de cheque.

Owen ri, mas Colton é quem está prestes a ficar louco.

— Então não vale a pena, — digo, e Colton se afasta. —


Vamos dar o fora daqui.

— Boa ideia, — murmura Colton.

Quanto mais cedo sairmos daqui, mais cedo estou em


casa.

Depois que todos bebem a cerveja e jogam as garrafas


fora, Owen coloca a mão no meu ombro. — Ouvi dizer que você
está se acalmando? Você costumava chicotear boceta e agora
você é chicoteado? Mal posso esperar para conhecê-la. Ela deve
ser assassina na cama para mantê-lo amarrado, hein?

Olho para Kingston e ele encolhe os ombros. A verdade é


que eles não estão tão próximos quanto antes. Não tenho
certeza de que eles estarão onde estavam antes do ensino
médio quando brigaram por Stella.
— Não é da sua conta, — digo. — E se eu descobrir que
você falou com ela, vou colocar você no seu rabo muito mais
rápido do que Kingston já fez.

Saímos do apartamento de Kingston, no centro de Lake


Starlight.

Owen levanta as mãos. — Jesus, você é protetor sobre


esta.

Não digo nada porque Owen gosta de nada mais do que


fazer as pessoas perderem a paciência. Ele ainda pode ficar sob
a pele de Kingston, mas foda-se se vou lhe dar este prazer.

Acabamos em um bar em Sunrise Bay, um novo chamado


The Merry Moose. É muito parecido com o de Lucky, exceto
porque tem o dobro do tamanho. O que significa mais mesas
de bilhar e dardos de que preciso para manter Kingston e Owen
longe.

Colton e eu nos sentamos à mesa. Meio que quero guiá-


lo para outra pessoa. Quero dizer, estou namorando
ativamente, mas ele não está. Ele deveria estar com Kingston
e Owen, tentando pegar mulheres. Mas não é da minha conta,
e se Juno realmente gosta dele, isso é um golpe de pau de seu
próprio irmão.
— Então, como está a Lifetime Adventures? — Ele
pergunta.

Respondo. — Está realmente indo bem. Estamos


aguardando a conclusão do contrato. Eles têm o episódio que
filmamos com Griffin Thorne com um grupo de trabalho agora.
Se eles gostarem, temos a luz verde para mais cinco. Eles vão
exibi-los como preenchimento entre o final de uma temporada
de um programa e o início de outro, e nós vamos a partir daí.

Cleo e eu fomos tão discretos quanto pudemos sobre as


questões financeiras da empresa e o fato de estarmos apenas
fazendo o show pelo dinheiro. Não queremos manchar a
reputação de Chip nesta cidade.

— Fantástico. Acho que preciso reservar algo com você.


Estou ficando nervoso aqui.

Deveria dizer a ele para encontrar alguém que possa foder


regularmente e, em seguida, sua vida seria muito mais
interessante, mas novamente, tem a coisa de Juno. — Você
está assumindo o escritório do Dr. Murray?

— Provavelmente. Ele vai me deixar comprá-lo com o


tempo e um plano de pagamento. É a coisa mais inteligente a
se fazer. — Ele leva a cerveja aos lábios.

— Eu ouvi um mas?

Ele encolhe os ombros, bebendo sua cerveja. — Como eu


disse, sou impaciente.
— Talvez você queira deixar Lake Starlight?

Ele fica quieto por um momento. — Não diga nada a Juno,


mas pensei sobre isso.

É fácil pensar que ele não vai embora porque Juno nunca
deixaria seus negócios, mas quem sabe? Ela seria estúpida em
mudar seu negócio de casamentos. Quero dizer, teria que
começar completamente de novo. Além disso, Juno ama estar
com a família, e com Rome tendo outro bebê e Austin e Holly
não muito atrás, não vai ser legal perder isso.

— Não direi nada.

A garçonete traz uma bebida e a coloca na frente de


Colton. — Isso é da morena no bar.

Colton olha para cima para ver de quem ela está falando.
A garota é fofa e estou surpreso que ela mande uma bebida, já
que se parece mais com a garota do lado do que com quem
estaria à frente.

Colton sorri e assente, pegando a bebida. — Eu deveria


agradecer a ela. — Ele desliza para fora do banco do bar.

— Sim. — O vejo se aproximar dela. Se Juno o quiser, é


melhor que o pegue logo, porque ele não vai esperar para
sempre.

Olho pela sala e encontro Kingston e Owen em uma mesa


cheia de garotas para uma festa de despedida de solteira. Owen
está em volta da noiva, que tem pênis por todo o véu e tiara, e
Kingston está com outra garota ao lado. Ele chama minha
atenção e me acena com a cabeça, mas não vou passar minha
noite com garotas bêbadas com pênis falsos por todas elas. Os
dias em que chupei um salva-vidas de uma camisa terminaram
– a menos que seja de Cleo.

Tomo um gole de refrigerante de limão, pensando em


mandar uma mensagem novamente, mas não quero ser o
namorado que nunca a deixa em paz.

— Denver Bailey. — A voz que carrega acusação em seu


tom diz que eu provavelmente fodi essa garota e nunca liguei.

Viro para descobrir que sim, essa é uma garota que já


peguei por várias vezes e por um período de dois anos. Polly
McAlister.

Certamente, ela não espera que a convide para sentar,


deslizando um banquinho do bar mais perto e se juntando a
mim na minha mesa. Ela coloca sua bebida feminina completa
com guarda-chuva na mesa. Ela é de Greywall, e eu a encontrei
algumas vezes. Ligamos ocasionalmente. Pelo jeito que está me
olhando como se eu fosse o buffet e ela apenas fumou um
pouco, acredito que ache que hoje à noite pode ser uma
repetição.

Infelizmente para ela, não vai.

— Esse não é seu irmão mais novo? — Ela aponta para


Kingston.
Concordo. É realmente triste, mas algumas pessoas têm
uma queda pelos Baileys. Chamamos atenção por causa da
empresa e pelo fato de nossos pais terem morrido. Razões de
merda. Às vezes, nossas ações são desculpadas porque as
pessoas têm pena de nós. Ela provavelmente está pensando
em passar para a minha versão mais jovem.

— Ele é gostoso. O que ele faz de novo?

— Ele é bombeiro.

Seus olhos se iluminam e ela o olha de cima a baixo,


praticamente lambendo os lábios. Ela coloca a mão na minha
coxa e se inclina para frente. — Ele é legal e tudo, mas eu
prefiro um piloto. Eles sabem como dirigir bem.

Triste, linha de captação triste.

Afasto a mão dela da minha coxa e a coloco de volta na


dela, assim como alguém coloca as mãos nos meus olhos. Em
vez de dizer qualquer coisa, as mãos caem e ouço um suspiro.

Fecho os olhos porque sei exatamente quem é.


Minhas mãos caem dos olhos de Denver quando noto a
mão dele na coxa dela.

— Quem é essa? — A mulher diz com uma voz que


insinua que eu sou a intrusa aqui.

Denver gira no banquinho, fica de pé e coloca o braço em


volta de mim. — Esta é minha namorada, Cleo. — Ele se inclina
para beijar meu pescoço, mas recuo. Ele geme.

Realmente não dou a mínima para o que ele pensa agora.


Gostaria de ver como ele se sentiria se eu colocasse minha mão
na coxa de outro homem.

— Namorada? Desde quando? — Ela pergunta com um


olhar de nojo.

— Ouça, Polly, — diz ele, sua mão não deixando meu osso
do quadril. — Eu estava prestes a lhe contar antes que Cleo
me surpreendesse. Nós namoramos...

Eu faço as contas na minha cabeça. Quanto? Por nove


dias. É isso que ele vai dizer a ela?
— Por um tempo, e estou com ela agora.

Polly me olha de cima a baixo, bebe o resto de sua bebida


cheia de açúcar e desliza para fora do banquinho. — Você sabe
onde me encontrar quando isso acabar. — Ela balança o dedo
entre nós dois.

Denver me aperta mais forte. Eu não sei se ele está


fazendo isso porque gosta de estar certo e Polly está duvidando
que ele possa permanecer fiel ou o quê. — Isso não vai acabar.

Sua conversa doce não vai funcionar desta vez. Polly lhe
dá o mesmo olhar que eu, que ele é louco.

— Com licença, — digo antes que ela tenha a chance de


sair primeiro.

Procuro Juno ou Phoenix para dizer que vou ligar para


um Uber e voltar para casa. Encontro Juno sozinha em uma
mesa e dou uma volta para seguir sua linha de visão. Colton
está conversando e rindo com uma morena no bar. Meu palpite
é que ele nem percebeu Juno aqui.

— Cleo. — Denver se aproxima de nós. — Não foi nada.


Eu estava prestes a mandar uma mensagem para você.

— Isso é conveniente.

— O que está acontecendo? — Juno inclina a bebida de


volta e termina com o olhar ainda colado em Colton.

— Parece que Denver e Colton encontraram algumas


mulheres hoje à noite, — digo amargamente.
— Jesus. — Denver geme. — Isso nem chega perto da
verdade.

— Estou voltando para Lake Starlight. Você quer vir? —


Pergunto a Juno.

— Estou te levando para casa, — Denver praticamente


rosna.

— Não, acho que vou ficar por aqui. — Ela desliza do


banquinho, passa os dedos pelos cabelos e caminha até um
grupo de caras jogando dardos.

— Isso não vai acabar bem. — Denver se senta e me puxa


para seu colo. — Ouça.

Eu teimosamente olho em volta.

Suas mãos seguram minhas bochechas e inclinam meu


rosto para ele. — Não quero Polly ou qualquer outra mulher
neste bar. Eu estava contando os minutos até poder ver você.
Se você não confia em mim, isso nunca vai funcionar.

Eu sei que ele está certo, e disse a mim mesma quando o


vi conversando com ela que não era nada. Ele conhece muitas
pessoas. Ela poderia ser uma amiga do ensino médio. Por isso
me aproximei deles. Mas então sua mão na coxa dela me jogou.

— Ela colocou a mão em mim e eu a removi. Você veio no


pior momento possível.

— Mas...
Ele balança a cabeça. — Não há mas. Estou louco por
você. Este é um terreno novo e estranho para mim, mas a
última coisa que faria seria arriscar o que temos por uma
garota de bar. Eu não conseguia nem pedir para ninguém além
de você.

Eu levanto minha sobrancelha, e ele ri.

— Estou falando sério, ele estava flácido até você chegar.


— Ele pega minha mão e a coloca entre as pernas. Denver
típico. — Dê a ele algum tempo. Ele está com um pouco de
medo de sair agora por medo de sua vida.

Não consigo segurar minha risada. — Como é que,


quando temos uma conversa, ele está sempre envolvido?

— Ele e eles, — ele olha para os meus seios, — são os


principais membros desse relacionamento.

Concordo. Ele coloca um argumento convincente. — Se


você me trair, você sabe que não haverá mais 'ele', certo?

— Devidamente anotado. — Ele se levanta e se eleva sobre


mim. — Vamos para casa, foder e fazer as pazes.

Passo meus braços em volta do pescoço dele e pressiono


meu corpo contra o seu.

— Você não tem ideia do quanto senti sua falta e faz


apenas duas horas, — diz ele.

Eu rio no seu pescoço. Eu me senti da mesma maneira


quando estava com as meninas antes. Quando elas disseram
que queriam dar uma olhada no The Merry Moose, eu não
disse a elas que os caras estavam indo para lá porque sentia
falta de Denver e queria encontrá-lo.

— Vamos. Eu tenho que contar para os caras. — Sua mão


desliza pelo meu braço, juntando nossas mãos, e nos
afastamos da mesa vazia.

Quando chegamos ao fundo do bar, o som claro da


discussão pode ser ouvido.

— Você não venceu, — diz Kingston ao lado da mesa de


sinuca no canto.

— Foda-se. — Denver suspira e solta minha mão, se


aventurando em direção a seu irmão.

— Eu também. — Owen está bem no rosto de Kingston


agora.

— Você arranhou a bola oito, — diz Kingston.

— Eu arranhei a bola quatro. Quanto você bebeu hoje à


noite?

Ambos estão meio bêbados e discutindo sobre quem


ganhou um maldito jogo de sinuca. Pelo que entendi, vem de
algo muito mais do que isso, mas ninguém parece querer
abordar isso.

— Vamos lá. — Denver coloca a mão em Kingston, e ele


empurra Denver. — Isso não vale a pena.
Kingston toma um gole de cerveja e depois espalha sobre
Owen. — Você é um idiota. Sempre foi.

— Kingston Bailey, o idiota ciumento que não conseguiu


a única coisa que realmente queria em Lake Starlight. Você
nunca superará o fato de que ela me queria. — Owen aponta
para si mesmo como se alguém devesse dar um tapa nele. A
menos que seja o maior imbecil do mundo, ele não merece.

Colton aparece do nada, afastando Kingston.

Kingston luta contra Colton segurando-o. — Ela largou


sua bunda. Não esqueça esse fato.

Denver empurra Owen de volta enquanto diz: — Eu não


poderia dar a mínima para ela. O fato é que ela me pegou em
cima de você e isso está te corroendo há anos. Como ela
poderia não querer a porra do príncipe de Lake Starlight,
certo? A estrela. O irmão Bailey.

Owen empurra para frente, e logo as costas de Colton e


Denver estão pressionadas uma contra a outra.

— Você acha que estou com ciúmes? Você ficou com


ciúmes de mim a vida inteira. Você só foi atrás dela para que
eu não pudesse tê-la. Que tipo de melhor amigo você é?

— Ela veio até mim, Bailey. Lembre-se disso.

Colton dá um último empurrão, e Phoenix e Juno ajudam


cada um pegando um braço.
— Estamos indo embora, vamos lá. — Denver empurra
Owen em direção à porta. — Eu vou levar Owen, você leva
Kingston, Juno.

— Parece bom.

Parece que o Merry Moose não é tão divertido para todos.

— Eu não entendo por que o levamos para casa, se não


gostamos dele, — digo do banco da frente, depois de deixarmos
Owen.

— Porque ele é como uma família, — diz Phoenix. —


Amanhã ele e Kingston vão se desculpar e fazer as pazes. É um
ciclo bagunçado entre os dois.

— De quem é a garota que eles estavam falando? —


Pergunto.

Denver olha pelo retrovisor para Phoenix.

— Acho que você ainda não a conheceu, — diz Phoenix.


— Sua mãe, Selene, é dona do Cozy Cottage B&B. Stella, sua
filha, não mora mais aqui. Ela foi para a escola e não voltou.
Muitos de nós pensam que é porque ela não conseguiu lidar
com a situação entre os três. É a história clássica de dois
melhores amigos apaixonados pela mesma garota.
— Eles são bastante agressivos entre si por algo que
aconteceu há muito tempo.

— Álcool e egos não se misturam. É melhor quando


Kingston fuma, na primavera e no verão, e ele não está perto
de Owen, — diz Denver.

— Eu acho isso triste.

Nenhum deles diz nada. Parece que, na época, as coisas


estavam muito ruins, então deixei o assunto por enquanto.
Minutos depois, estamos em casa e tiramos nossos sapatos e
casacos no saguão.

— Boa noite, Phoenix, eu tenho algumas coisas para


fazer, — diz Denver, pegando minhas mãos.

— Ai credo! Muita informação, mano.

— Coloque seus tampões hoje à noite. — Ele ri, me


arrastando pelas escadas. Quando ele me coloca em seu
quarto, pressiona minhas costas na porta. — Acho que não
haverá mais noites de garotas e garotos até que fiquemos bem
e cansados um do outro.

Eu me abaixo debaixo do braço e entro na sala. — Você


vai ficar doente de mim, hein?

Ele vem atrás de mim e suas mãos deslizam sob a minha


camisa. — Não, você vai ficar doente de mim.
Seus lábios espalham beijos na parte de trás do meu
pescoço e circulo em seus braços. — Você disse algo sobre
rastejar?

Ele levanta minha camisa sobre minha cabeça e a joga no


chão. Sua boca pousa na minha, e sua língua desliza para
dentro ao mesmo tempo em que suas mãos alcançam atrás de
mim e abrem meu sutiã.

— Nunca vou me cansar disso, — diz ele em nosso beijo,


suas mãos agarrando meus seios.

Terminamos de nos despir e o empurro levemente no


colchão. Pelo olhar em seu rosto, ele sabe o que está vindo
quando caio de joelhos ao lado da cama.

Ele geme. — Não hoje à noite, eu quero me enterrar


dentro de você.

— Você pode fazer isso mais tarde.

Eu seguro seu comprimento duro e giro minha língua em


torno da ponta do cogumelo, então o engulo todo o caminho e
arrasto minha boca de volta, minha mão firme em sua base.

Suas mãos deslizam nos meus cabelos, e ele faz barulhos


na parte de trás da garganta que apenas agitam minha
excitação. Quero que ele se masturbe com essa memória da
próxima vez. A versão ao vivo de mim chupando seu pau. Não
é o que ele pensa que eu faria. Não é o que ele imagina. Mas a
realidade é o que eu faço.
Eu o bombeio enquanto chupo e lambo por toda parte,
profundamente na garganta, mais uma vez, olho para ele
quando entra na minha boca, um olhar de puro desespero em
seus olhos.

— Merda, baby. — Ele enfia uma mecha de cabelo atrás


da minha orelha.

De todos os movimentos que pensei que ele faria quando


estava lhe dando um boquete, nunca imaginei algo tão íntimo
como isso. Eu me sinto um pouco tola por não confiar nele esta
noite. Ele não fez nada para me fazer adivinhar. É apenas a
reputação dele que me assusta, mas as pessoas mudam.

— Eu vou gozar, — diz ele, lutando para divulgar as


palavras.

Continuo girando e empurrando-o mais profundamente


na minha garganta enquanto o bombeio. Ele agarra meu
cabelo com mais força e força seus quadris para cima, seu
corpo tenso logo antes de seu esperma derramar em minha
boca. Engulo, e ele solta um gemido longo e satisfeito.

Uma vez que ele se recuperou, me agarra pelos braços e


me leva até ele na cama. — Agora é sua vez.

Ele beija meu corpo, e amplio minhas pernas, abrindo


espaço para seus ombros largos até que eu seja a única que
geme, fica tensa e goza. Estou caindo muito forte e muito
rápido. Quando nos deitamos nus na cama, como todas as
noites desde que começamos a namorar, sou rápida em
perceber que não há queda – já caí.
Entro no escritório na segunda-feira de manhã e encosto
no batente da porta, estudando as mudanças. Cleo ri.

— Mesas dele e dela, hein? — Eu pergunto.

Quando voltamos da nossa viagem ao norte, ela já tinha


mandado Nancy limpar todas as coisas de Chip. Nancy, sendo
Nancy, decidiu fazer mais limpeza do que o solicitado. De
alguma forma, até sentiu o cheiro de cigarro velho.

Mas isso é diferente. Agora existem duas mesas de frente


para o outro. A dela é branca e a minha cinza escuro. Um vaso
com flores fica no canto da dela e um relógio no meu. As
paredes foram pintadas de cinza claro, e o antigo mapa de Chip
do Parque Nacional Denali está emoldurado e pendurado em
uma parede. O novo logotipo está em exibição orgulhoso na
parede traseira.

— Aqui está o seu bolinho, sua trapaceira. — Eu me


abaixo e a beijo.

— Ouvi dizer que houve uma grande demanda esta


manhã, — diz ela nos meus lábios pressionados.
— Quando Sweet Suga está vendendo, compre um, eu
diria.

Ela ri e coloca os braços em volta do meu pescoço. — Fiz


o máximo que pude. Agradeça a Nancy, porque ela pintou e
colocou as fotos emolduradas. Phoenix recrutou Kingston, e
eles vieram e montaram as mesas ontem. Então tudo que eu
tinha que fazer era decorar um pouco esta manhã.

— E valeu a pena não ter o seu orgasmo matinal? — A


beijo novamente, o que vale a pena porque suas costas
inclinam.

Ela olha em volta de mim para o relógio. — Ainda é de


manhã.

Chuto a porta e a pego, colocando-a sobre a mesa. —


Vamos torcer para que Kingston arrume sua mesa, não
Phoenix.

Suas pernas se abrem para abrir espaço para mim. Meus


lábios descem em seu pescoço, minhas mãos subindo por sua
blusa. Mal posso esperar para o clima mais quente chegar,
para que ela use menos roupas para facilitar. Meus dedos
estão no fecho do sutiã quando o telefone toca.

Nancy deve atendê-lo, então continuo minha missão de


batizar o novo escritório. Nosso escritório. Todas as peças estão
se juntando. Decorar o escritório deve significar que ela ficará
para sempre, que Dallas não é mais uma opção em cima da
mesa.
O telefone na mesa de Cleo vibra e ela pressiona o botão.
— Ei, Nancy.

Meu queixo bate no meu peito em decepção.

— Cleo, Selma está ao telefone.

Eu me inclino para trás e Cleo olha para mim como se


estivéssemos prestes a descobrir o resultado de um teste de
gravidez. É isso. No momento em que descobrimos se podemos
salvar esta empresa.

Sento na cadeira dela e a puxo para o meu colo.

— Pode passar a ligação, — diz Cleo, e ela beija minha


bochecha. — Se não, vamos encontrar outro caminho.

Concordo. Fico feliz que ela esteja otimista, mas não


tenho certeza se temos a opção de permanecer abertos se isso
não acontecer. Precisamos desse dinheiro para exibir alguns
anúncios e atualizar alguns equipamentos, oferecer novos
serviços.

Tê-la tão perto tornará mais fácil levar essa bala.

— Selma? — Eu respondo no viva-voz. — Como você está


nesta manhã?

— Ei, pessoal, estamos bem. Eu tenho Tommy e Glen


comigo. Vocês dois estão aí?

— Oi pessoal, — diz Cleo.

Eles dizem oi em troca.


— Bem, deixe-me começar dizendo que ficamos surpresos
com a notícia de que agora vocês são um casal. Embora isso
geralmente melhore a televisão, vocês são um casal novo, o que
significa um momento agradável com a câmera, já que nesta
fase doce é fácil capturar o romance. Como Denver é atencioso
com você, Cleo, e como você o procura por orientação antes de
fazer qualquer coisa. Isso é ótimo e tudo, mas geralmente não
é um bom entretenimento a longo prazo.

Os lábios de Cleo se abrem de espanto e ela encosta a


cabeça no meu ombro.

Se é entre o show ou Cleo, vou escolhê-la, certamente.

— Mostramos o grupo focal, e eles pensaram o contrário.


Eles acharam que vocês dois eram adoráveis e amaram a parte
da entrevista com Griffin. Você fez um trabalho incrível, Cleo.
— Selma inspira e exala. Ela deve estar fumando.

— Então conseguimos ou não? — Pergunto.

Cleo morde o lábio.

O silêncio cai sobre o receptor por um momento. — Você


entendeu.

Cleo e eu gritamos e nos abraçamos.

— Mais cinco episódios? — Cleo pergunta, seu corpo


praticamente zumbindo.

— Na verdade, Zeke te preparou para treze. Uma


temporada completa.
Acho que os olhos de Cleo estão tão arregalados quanto
os meus e nossas bocas estão abertas.

— Vocês aceitam, certo? — Selma esclarece quando não


dizemos nada. — Queremos começar a filmar imediatamente,
porque a maioria dos convidados deseja fazê-lo com um tempo
melhor. Vamos tentar convencer mais pessoas que estão no
radar do público a fazer essas excursões com você. Mais ou
menos como fizemos com Griffin.

Olho para Cleo. Não estamos apenas concordando com o


show – estamos concordando em fazer parte da vida um do
outro no futuro próximo. Ela assente.

— Claro que aceitamos. Nós nunca diríamos não, — digo.

Cleo me monta na cadeira e pressiona seus seios no meu


rosto, um sorriso enorme em seus lábios.

— Ótimo. Enviaremos os detalhes e o contrato. Peça ao


seu advogado para examiná-los. Entraremos em contato com
a programação de gravação assim que confirmarmos alguns
detalhes do nosso lado.

— Obrigada, Selma, tchau, — diz Cleo, inclinando-se


para trás e encerrando a ligação.

Cleo grita e a pego, nos abraçando.

— Parabéns, — sussurro antes de capturar seus lábios.


Seus gemidos e coxas firmes me envolvem. Quando a
deito em nossas mesas, ela mexe e puxa um grampeador por
baixo da cintura.

Eu pressiono o botão no telefone. — Nancy, almoce cedo.

— Mas é só...

— Almoço, Nancy. — Eu clico e minhas mãos deslizam


para cima da camisa de Cleo.

Ela levanta os cotovelos e desabotoa minha calça. Não


apenas recebemos o dinheiro para manter a Lifetime
Adventures, mas estamos batizando nosso escritório com o que
tenho certeza de que será o primeiro de muitos almoços para
Nancy.

Entramos em Terra e Mare naquela noite. Como segunda-


feira é um dos dias em que o restaurante está fechado, a
família veio apenas para a celebração improvisada de Cleo e
minhas boas notícias sobre o show.

Cleo beija minha bochecha, mas se dirige para Harley e


pega Dion. Ela o gira e coloca seu rosto no dele. Ele sopra
bolhas de saliva enquanto sorri para ela. Não posso culpar a
criança. Suas coxas são enormes, mas Harley se ofendeu
quando eu mencionei isso antes, então esse tópico está fora
dos limites. Quero dizer, eu estava apenas elogiando-as como
se ela fosse uma lutadora incrível ou algo assim.

— Cerveja? — Kingston me entrega uma garrafa.

Eu levanto uma sobrancelha porque não falo com ele


desde The Merry Moose.

— Desculpe, — ele murmura.

— Você e Owen devem realmente se separar. Vocês não


são saudáveis juntos.

Ele já está balançando a cabeça. Odeio ser o único a dar


conselhos à Kingston. Ele e Austin são tão distantes em idade
que sempre tiveram uma dinâmica mais pai/filho, mas
permaneci fiel ao papel de irmão mais velho.

— Ele é meu melhor amigo, — diz ele.

— Ele é mesmo? — Pergunto.

Ele encolhe os ombros e bebe mais cerveja. — É por isso


que gosto de primavera e verão. Gosto de não estar aqui.

Concordo. É uma conversa que ele deveria ter com Rome,


porque também queria sair. Eu nunca quis. Mesmo se eu
dirigisse cinco minutos para evitar passar pelo cemitério,
nunca pensei em deixar Lake Starlight. É aqui que nossas
memórias existem, algumas delas tão dolorosas quanto são. O
problema com Kingston é que suas memórias torturadas não
são apenas de nossos pais. Eles são da Stella. Ele acha que
ninguém sabe, mas eu sei. Fiquei de boca fechada porque não
é da minha conta.

— Por que você não consegue um lugar em Anchorage


para o inverno?

— E Juno?

Eu vasculho a sala, encontrando-a no canto com Colton.


Ela está rindo e seus olhos estão nela, como se ele desistisse
de sua vida por apenas um beijo. Como minha irmã
casamenteira é tão cega? — Ela vai cair de pé eventualmente.

Depois de tomar um gole de cerveja, Kingston diz: — Você


sabe naquela noite da luta, Colton dormiu no sofá em vez de
voltar para a casa dele.

— Por quê?

Kingston me olha como 'Você sabe o porquê'. — Ele disse


que Owen poderia voltar e não queria arriscar que nada
acontecesse com Juno.

— Mas você estava lá.

Kingston assente. — Exatamente.

Balanço a cabeça, mas então ouço a risada de Cleo do


outro lado da sala. Ela está com Brooklyn agora e está olhando
para o telefone dela. Dori se aproxima e beija a bochecha de
Cleo antes de ir em direção a Calista. Rome surge da cozinha
e coloca um pouco de comida na mesa, acenando um olá para
mim.
Phoenix chama a atenção de todos e fica em uma cadeira.

— Phoenix, você sabe como essas cadeiras são caras? —


Diz Rome.

— Vou comprar uma nova para você. — Ela tem o telefone


levantado e apontando para todos nós. A tela é tão pequena
que todo mundo está apertando os olhos e se inclinando para
ver o que há nela.

— Com o que? Você não tem emprego. — Rome está a um


minuto de explodir.

Harley chega ao seu lado e beija sua bochecha,


sussurrando algo que parece acalmá-lo.

— É Sedona, — diz Phoenix. — Ela está no FaceTime


comigo.

— Oi, pessoal! — Sedona acena. — Eu tenho Jamison


comigo.

Phoenix revira os olhos.

— Oi! — Todos gritam.

— Jamison está de volta à cena? — Pergunto a Kingston.


Ele é o mais próximo em idade das gêmeas, então acho que ele
saberia.

— Acho que ele está jogando futebol em Nova York e eles


voltaram a se falar.
Eu não tenho uma opinião sobre isso, mas o fato de
Phoenix desperta um alarme no meu cérebro. Sedona e
Jamison namoraram na escola quando ele era um estudante
de intercâmbio na Escócia. Eu nunca pensei em nada sobre o
garoto, mas Rome me disse que os encontrou uma vez e tinha
certeza de que eles estavam fazendo sexo. Jamison foi
respeitoso e pediu desculpas mais tarde. Rome deu-lhe uma
caixa de camisinha e disse que, se ela engravidar, eles
conversarão.

Todo mundo faz algumas perguntas sobre a escola, o


clima e a carreira no futebol de Jamison, mas Phoenix conclui
a ligação rapidamente e desce da cadeira.

— Phoenix realmente não está feliz por eles estarem


juntos novamente, hein? — Eu digo a Kingston.

— Eu acho que é a coisa de gêmea. Talvez Phoenix esteja


com um pouco de inveja e um pouco de ciúmes porque Sedona
está descobrindo sua vida enquanto ela está em um padrão de
espera. — Ele dá um tapinha no meu ombro. — Eu conheci
um irmão gêmeo assim uma vez, quando o irmão dele
encontrou uma esposa e um objetivo e teve dois filhos. — Ele
pisca e se afasta. Ele se senta ao lado de Phoenix e a faz sorrir
com o que provavelmente é uma piada sobre um de nós.

— Ei, você. — Cleo aparece ao meu lado. — O que você


pensa sobre?

— Que idiota eu era uma vez. — Eu era um idiota


completo para Rome e Harley quando eles começaram. Olho
para Cleo enquanto todos os pontos se conectam. Rome não
queria sair naquela época. O restaurante e sua família eram
importantes porque ele os amava muito.

— Bem, tudo o que importa é que você não é um idiota


agora.

— Então você concorda? Eu era um idiota?

Ela encolhe os ombros. — Você disse isso. Eu não fiz.

Trazendo-a na minha frente, me inclino para beijá-la,


mas logo antes de meus lábios tocarem os dela, murmuro: —
Você está feliz, Cleo Dawson?

Um sorriso largo, brilhante e arrepiante se espalha em


seu rosto. — Mais feliz que eu já estive.

Eu pressiono meus lábios nos dela. Quando os assobios


começam na minha família, paro em um esforço para não a
envergonhar demais.

Rome anuncia que a refeição está pronta, e todos nós nos


sentamos, passando a louça e conversando sobre nossos
trabalhos e as notícias em Lake Starlight. No final da refeição,
Rome apresenta um bolo com um avião de exploração e
'Parabéns, Cleo e Denver' escritos por cima.

Pego os olhos de Cleo embebendo na minha família. Sim,


às vezes eles podem ser um pouco demais, intrusivos em um
grau insondável, mas eles já a amam. Se eu for honesto, acho
que também a amo.
Estou na nuvem, andando no ar, fazendo cócegas em
rosa, sobre a lua e todos os outros idiomas que podem ser
usados para descrever como estou feliz neste momento, saindo
de Terra e Mare com a mão de Denver na minha.

— Vamos parar na casa do Chip e verificar o local, — diz


ele.

— Claro. — Eu quase tinha esquecido as coisas estranhas


acontecendo por lá. Acabei de entrar nesta bolha feliz com
Denver e não quero que ninguém ou nada a exploda.

Ele me para em sua caminhonete, pressionando minhas


costas na porta. — Minha família te ama.

— Adoro eles.

Eu nunca tive esse sentimento antes. Tão casual e nada


forçado. Apenas ser eu mesma com um grupo de pessoas que
me aceitam como sou. É como ganhar na loteria. Tenho
procurado por isso por tanto tempo, e acho que meu pai foi
quem fez tudo isso acontecer. Perdi meu tempo com minha
mãe. Deveria ter morado com meu pai.
As juntas de Denver correm pela minha bochecha, e seus
olhos dizem o que sua boca não diz. Sei por que é a mesma
coisa que sinto. Mas estamos namorando há pouco mais de
duas semanas. Seria absurdo admitir, certo?

Nós dirigimos os quinze minutos para a casa do meu pai


com as mãos entrelaçadas, o polegar roçando o meu
preguiçosamente. O sentimento de ansiedade que costumava
me deixar enjoada quando parávamos na entrada de cascalho
do meu pai não vem desta vez.

Até Denver parar a caminhonete na casa. Há um carro


estacionado em frente. Um carro que nós dois estamos
familiarizados. Um carro que vemos todos os dias.

— Fique aqui, — diz Denver, mantendo a caminhonete.


— Se algo acontecer, apenas vá embora.

Reviro os olhos para o drama dele. Agarrando as chaves,


desligo a ignição e saio.

— Cleo, eu disse para ficar no carro.

— É Nancy, — digo, passando por ele.

Ele alcança e pega meu braço. — Pelo menos me deixe ir


primeiro.

Levanto minhas mãos. — Ok, guarda-costas. Ela pode


realmente fazer um bolo ou algo assim.

Denver bate, o que mostra como isso é ridículo. Nancy


abre a porta com um livro na mão e óculos de leitura na ponta
do nariz. Ela não sorri, mas se encolhe com a expressão 'me
desculpe'. Denver e eu entramos, e ele vai direto para os fundos
da casa para verificar as coisas.

— Ei, Nancy, — digo. Sua linha de visão está em Denver,


e aceno para ele. — Não ligue para ele.

Ele volta sem nada. Claro que sim. Me sinto muito


estúpida por não suspeitar que Nancy veio aqui em primeiro
lugar.

— Oi, pessoal. — Ela coloca o marcador no livro, coloca-


o ao lado da cadeira e coloca os óculos de leitura em cima.
Então ela dobra o manto e o coloca na parte de trás do sofá.

— Então você tem uma chave? — Pergunto.

Ela assente.

— E você nunca mencionou isso.

Denver ainda está em alerta máximo, quase deslizando


ao longo da parede para me alcançar como se Nancy fosse
esgueirar-se para atacar.

— Ouvi você dizer que não pôde vir aqui, então achei que
seria legal quando você pensasse que poderia. Além disso... —
Ela cai no sofá e sua cabeça cai em suas mãos. Suas costas se
soltam dos soluços. — Sinto falta dele.

Dou um passo à frente para me aproximar dela, mas


Denver me para, balançando a cabeça. Desprezando-o, sento-
me ao lado dela e ele solta um suspiro como agora que fiz.
Esta é a Nancy. Doce Nancy, que está de luto. Eu sabia
que minha intuição estava certa. Nunca deveria ter ouvido
Denver. Homens são cegos.

— Nancy, você e meu pai estavam... envolvidos?

Ela assente.

— Sinto muito, — digo e coloco um braço reconfortante


em volta dos ombros dela. — Por que você não disse nada?

— Você... sabe... Chip.

Na verdade, não tenho certeza. Um fato que eu tive que


fazer as pazes.

— Ele... apenas... não gostava da... fofoca

Denver se senta na cadeira, provavelmente pensando que


deveria estar perto, caso ela puxe uma espátula ou algo assim.

— Então vocês permaneceram em segredo todos esses


anos? — Pergunto.

Ela encolhe os ombros.

— Como você se esquivou do Buzz Wheel? — Denver


pergunta. — Você pode ter um best-seller em suas mãos,
Nancy.

Ela ri, embora tenha vida curta. Denver consegue fazê-la


levantar a cabeça e olhar para nós. — Ficamos muito tempo.
Você sabe que ninguém realmente perturbou muito o Chip.
Eles tinham medo dele.
Olho para Denver e ele assente.

— Fizemos muitas viagens e ficamos longe de Lake


Starlight. — Denver passa a caixa de lenços de papel sobre a
mesa e Nancy pega quatro de uma vez. — Eu sinto muito.

— Você não tem nada para se desculpar, — digo.

Ela se senta no canto do sofá e coloco minhas mãos no


meu colo. Embora suspeitasse, não esperava por isso.

— Deveria ter te contado. A primeira vez, disse que era a


última vez. Fiquei aqui por uma hora para senti-lo, sabia?

Infelizmente não.

— Então vocês fizeram a viagem com Griffin Thorne e eu


sabia que não precisava me preocupar com vocês vindo aqui.
Eu só queria fazer as coisas agradáveis, como se tivéssemos
alguma vez... — Ela não termina sua frase porque uma nova
onda de lágrimas cai em suas bochechas. Obviamente, era
Chip que não queria tornar seu relacionamento público ou
permanente. — Uma coisa meio que levou a outra, nunca vi
um sinal de que você esteve aqui, então continuei vindo e
lendo. E agora…

Olho para Denver e ele encolhe os ombros como se não


tivesse ideia do que fazer.

— Eu conversei com o xerife Miller, — digo.

Ela assente. — Ele veio enquanto vocês estavam no Norte.


Ele pode ser discreto quando quiser.
Isso me preocupa um pouco. É responsabilidade dele me
dizer. Sou a dona da propriedade. Mas então vejo Nancy, que
está sofrendo por um homem pelo qual ainda tenho que
derramar uma lágrima. Talvez o xerife seja um cara legal que
viu uma mulher sofrendo e fez o que pôde para ajudar.

— Eu disse a ele que não voltaria, mas sabia que você


estava jantando hoje à noite, — diz Nancy.

— Você não tem dispositivos rastreadores, não é? —


Denver pergunta, e eu hesito. — O quê? É uma pergunta
legítima. Ela teve acesso aos nossos telefones.

Nancy parece magoada, o que deveria.

— Esqueça-o. Ele ainda está absorvendo tudo isso. —


Levanto-me e cavo dentro da minha bolsa. Quando me sento,
abro a mão dela. — Este local é seu. Obviamente, significa
muito mais para você do que para mim. — Coloco minha chave
na mão dela.

— Não. Chip estava convicto. Ele queria que você tivesse


a casa.

Olho para Denver. Nunca poderia começar uma vida aqui


com ele. Se mudarmos juntos por conta própria, quero um
lugar novo. — Ele estava errado. Este lugar é seu.

— Não. Não. Vou pelo menos pagar o aluguel. Você


precisa do dinheiro.
Balanço a cabeça. — Não, temos o show chegando. Nós
vamos ficar bem, e nunca pensei que iria vender este lugar de
qualquer maneira. Realmente quero que você o tenha.

Nancy olha para a chave. Embora deva ter outra em seu


chaveiro, é um gesto de minha parte mostrar que estou falando
sério. — Ele te amou, Cleo. Eu sei que você duvida disso, e
nunca quis quebrar sua confiança, mas ele desejou ter feito
isso de maneira diferente com você. As coisas com sua mãe
eram difíceis. Ele me disse tantas vezes que desejou ter lutado
mais.

Concordo. Suas palavras têm peso. Eles estavam


obviamente próximos. Eu me inclino no sofá. — Acho que o
entendo um pouco melhor agora. E sei que minha mãe é difícil
de lidar. Você pode me contar a história de como vocês se
conheceram?

Seu rosto se ilumina como se eu tivesse lhe dado um


presente de aniversário inesperado. Denver me encara como
'Vamos sentar aqui e ouvir a história de amor deles?
Realmente?' Mas quando aceno, ele se recosta na cadeira e
assente.

Tenho certeza de que ele vai dizer não para mim um dia
desses.

Nancy fala sobre como, quando ela foi entrevistada para


o trabalho na Lifetime Adventures, houve uma atração entre
eles. Ela começou na semana seguinte e as coisas progrediram
lentamente a partir daí.
Em algum momento, ela muda para falar sobre meu
relacionamento com meu pai. Como ele tirava férias de duas
semanas todos os anos quando eu aparecia para que pudesse
passar um tempo comigo. Como ela gostaria de ter empurrado
ele para ser mais aberto sobre o que havia acontecido ao longo
dos anos nos bastidores, mas esse não era o jeito de Chip.
Todas as conversas que ela ouviu entre meus pais. Como em
um verão, minha mãe disse que não estava me mandando, e
ele colocou o pé no chão. Como ele saía do escritório algumas
vezes depois de desligar o telefone comigo e contar a ela tudo
sobre o que eu estava fazendo.

Suas palavras me fazem examinar meu relacionamento


com meu pai com olhos frescos e sem o ressentimento que pesa
sobre mim há anos. Percebo que ele nunca demorou muito sem
ligar e me enviou uma mensagem quando recebi meu primeiro
telefone celular. Eu quase ri, lembrando como ele tinha um
telefone flip e quanto tempo deve ter levado para ele escrever
algumas dessas mensagens.

— Você acha que ele realmente me amava? — Pergunto,


lágrimas ameaçando.

Denver corre para o meu lado.

Nancy se endireita. — Ouça, Chip Dawson tinha muitas


falhas. Eu amei cada uma delas, mas não as desculpo. Uma
coisa que sei mais do que tudo neste mundo é que seu pai a
amava. Ele nunca foi bom em mostrar isso. Ele pensou que
estava fazendo a coisa certa, deixando sua mãe levá-la a todas
essas cidades diferentes com o privilégio de dinheiro.

Denver me aperta ao seu lado enquanto minhas lágrimas


enchem sua camisa. Ficamos sentados por alguns momentos,
ninguém falando antes que Nancy finalmente se levante.

Ela pega um conjunto de recipientes de armazenamento


que notei na primeira vez que estivemos aqui e os coloca aos
meus pés. — Não quero pressionar você, querida, mas acho
que o que você está procurando estão nessas caixas. Chip
nunca jogou nada fora, então, se você quiser saber sobre a vida
dele, esses documentos podem lhe dar o fechamento que você
está procurando.

Eu olho para as caixas rotuladas.

— Denver e eu vamos tomar um sorvete e dar um tempo


a você. Tudo bem? — Ela pergunta.

Eu entro em pânico. Ficar aqui sozinha?

— Se você não está disposta... — Denver não se encontra


com Nancy na porta.

Respiro fundo e, com toda a coragem que posso reunir,


digo: — Ela está certa, preciso fazer isso. — Agarro sua mão.
— Por mim e por nós.

Ele sorri e aperta minha mão. — Estou a apenas um


telefonema de distância e vou voltar aqui. Não tenho medo do
xerife Miller. — Ele pisca. Meu estômago ainda dá um salto
toda vez que faz isso.

Um minuto após, depois de tranquilizar Denver, que não


vou correr para a floresta e surtar, eles vão embora. Espero
ouvir seus pneus triturarem sobre o cascalho antes de levantar
a tampa da primeira caixa e entender a vida de Chip Dawson.
Eu estou na metade da primeira caixa quando descobri
que isso pode ser um trabalho de dois dias. Encontrei a
papelada de quando ele comprou seu primeiro avião, mantido
desde então. Ele realmente manteve tudo. Mas então encontro
uma pasta de arquivo chamada 'University of Indiana'. Por que
ele teria um arquivo da minha faculdade?

Ao abri-lo no meu colo, encontro faturas e contas. Meu


dormitório e minha mensalidade. Até uma conta para o meu
apartamento no meu primeiro ano. Existem cópias de cheques
escritos para minha mãe. Eu pensei que Phil pagou pela minha
faculdade, mas de acordo com isso, meu pai pagou. Por que
ele nunca me contou?

Inclinando-me no calor do sofá, absorvo o fato de que


Chip fez isso. Certamente minha mãe não o fez fazer isso.
Quando Bridget e eu começamos a fazer nossas ACTs no
primeiro ano e a aplicar em faculdades no último ano, Phil
disse que iria cuidar da minha mensalidade. Eu pensei que
poderia conseguir ajuda financeira, mas ele disse que
consideraria uma honra pagar pela minha faculdade.
Chip tinha seu próprio sistema organizacional, então,
procuro por pastas rotuladas com coisas familiares para mim.

Depois da caixa um, passo para a caixa dois, onde ele tem
arquivos para todos os anos da minha infância.

Cleo (um ano), Cleo (dois anos), Cleo (três anos).

Pego a pilha e as coloco na mesa de café, empurrando


todos os outros papéis para o lado. Meu estômago aperta
quando vejo fotos e contas pagas. Minhas aulas de dança aos
três anos, pagas por Chip Dawson. Minhas aulas de karatê aos
seis anos, pagas por Chip Dawson. No meu décimo terceiro
aniversário, duas passagens de avião para o Havaí com um
número de cancelamento e reembolso escritos nelas. Eu tenho
que assumir que minha mãe interferiu de alguma forma nisso.
Fotos dele e de mim naquele ano em que apareci no verão. O
cabelo guardado na minha pasta de sete sano, a partir de
quando decidi cortar a franja. Um dente na minha pasta de
cinco anos e uma foto minha com o dente da frente faltando,
segurando uma nota de um dólar da fada dos dentes.

— Ele me amava, — digo.

Meu recibo do vestido de baile com uma cópia de um


cheque para minha mãe. Minhas mãos tremem enquanto
passo por tudo o que ele guardou. Todas as lembranças das
minhas duas semanas de cada ano que passei em Lake
Starlight, no Alasca.
A de quatorze anos é mais espessa que o resto e está
repleta de documentos legais. Seu pedido de colocação
permanente de mim. Os registros do tribunal e um cronograma
de entrevistas. Uma passagem para Dallas, cancelada e um
código de reembolso rabiscado em seus escritos. Uma carta da
minha mãe, grampeada como se fosse o encerramento final do
caso. Ela escreve que estou indo tão bem, prosperando. Que
ela está namorando um homem que pode me dar o que eu
quiser. Implorando para ele deixá-la ficar comigo e ela promete
mais tempo. Feriados e viagens de verão mais longas.

Ele deve ter concordado. Mas nunca passei um Natal com


Chip, então ela mentiu.

Depois de completar dezoito anos, as pastas de arquivos


param. Mas há uma última, rotulada com meu nome e este
ano. Percebendo que isso será mais sentimental, meu coração
fica pesado quando abro a pasta de papel pardo.

Sua vontade. Os números da conta dele. Praticamente


tudo o que o advogado me deu. Um envelope escondido debaixo
de tudo, com o meu nome. Como ele sabia que eu passaria por
todas essas coisas?

Antes de ler esta nova carta, pego a que Luther Lloyd me


deu e a li novamente. Eu a carrego na minha bolsa desde que
li pela primeira vez, incapaz de colocá-lo em algum lugar por
segurança.
Cleo,

Não fique brava. Escute-me primeiro. Eu sei que você pode


não me entender deixando metade da empresa para Denver
Bailey. Você recebe tudo o que é meu, porque sempre o que é
meu é seu. Mas Denver a ajudará a manter a Lifetime
Adventures em execução. Seu conhecimento é grande demais
para ser jogado fora, e acho que, se você der uma chance, verá
que vocês dois poderiam ter uma ótima parceria.

Não sei por que você nunca gostou dele, mas peço que tente
deixar isso de lado por enquanto. Você não vê isso agora, mas
é um sócio de negócios perfeito. Sei que anulei suas ideias de
marketing antes, mas sou um velho irritadiço e me ponho no
caminho. Invente uma nova aventura na vida. Não há limite
para o que você pode fazer. Obtenha sua licença de voo. Faça
Denver levá-la em excursões. Eu sei que com muito trabalho e
dedicação, você terá sucesso.

Eu vi você lutando de longe. Eu provavelmente sou o


culpado por isso. Você está tentando encontrar um lugar onde
se encaixa neste mundo. Experimente Lake Starlight, querida.
Prometo que as pessoas são gentis e atenciosas e não a
desapontarão como as pessoas mais próximas a você ao longo
da vida. Não voe de volta para Dallas. Fique um pouco. Dê uma
chance à Lifetime Adventures e, quem sabe, talvez seja a
aventura de uma vida para você.

Sempre saiba, não importa o quê, eu te amo.

Amor,
Papai

De alguma forma, ele sabia. Ele sabia que eu pertencia


aqui. E relendo sua carta agora, sabendo o que foi desenvolvido
entre Denver e eu, tenho que me perguntar se isso fazia parte
do plano dele o tempo todo.

Coloco a carta na mesa e pego o envelope lacrado que


contém a carta não lida. Meu dedo desliza sob a costura do
envelope. Pego lentamente o papel como se ele se
desmoronasse se eu me movesse rápido demais.

É outra carta manuscrita do meu pai.

Cleo,

Se eu te conheço, você esperou algum tempo antes de


investigar isso e provavelmente precisou de algum incentivo de
Denver. Eu poderia ter jogado tudo isso fora. Eu poderia ter
morrido e ficado em silêncio. Mas precisava – não, isso não está
certo – queria que você soubesse que cuidei de você. Paguei
todas as contas incluídas. E não digo isso para me gabar, mas
temo que depois que eu for embora desta terra, sua mãe lhe diga
algo diferente e não posso suportar o pensamento de você
pensar que as coisas eram algo diferente do que eram. Oro para
que esta carta não seja lida em uma fogueira. Merda, agora
estou pensando em contar isso pessoalmente. Mas não quero
que você passe pelo meu funeral e pela leitura do testamento,
sabendo o que estou prestes a lhe dizer, porque temo que isso o
mude e você nunca dará uma chance à vida em Lake Starlight.

Entre o envelope está a sua certidão de nascimento. Você


verá que o nome do pai está em branco.

Largo o papel e abro o envelope. Na certidão de


nascimento está o nome da minha mãe, mas nenhum pai
listado, como ele disse. Nunca vi essa certidão de nascimento.
A que tenho tem o nome dos meus pais. Largo isso na mesa de
café e pego a carta novamente.

Está em branco porque sua mãe nunca colocou o nome do


pai. Há mais uma pasta Cleo, e está na Lifetime Adventures na
mesa de Nancy. Tem seus documentos de adoção. Eu conheci
sua mãe logo depois que ela ficou grávida de você, e eu a adotei
assim que você nasceu.

O papel desliza das minhas mãos e cai no meu colo. Fico


sentada em silêncio, atordoada, porque não sei por quanto
tempo, incapaz de entender as palavras. Mas tenho que ler o
que mais ele escreveu.

Eu sou seu pai, Cleo. Acredita nisso. Sua mãe nunca me


disse quem era seu pai biológico, e eu nunca perguntei por que
egoisticamente queria que você fosse minha. Quando sua mãe e
eu nos divorciamos, vendo você entrar naquele avião para outro
estado, um pedaço de mim morreu porque, embora a adotasse,
os tribunais não entendiam que a biologia nada significa
quando você ama uma criança. Eu lutei, mas sua mãe também.
Ela tinha recursos através do casamento que não consegui
igualar. Nunca quis que você acabasse no meio de uma guerra
entre nós, então recuei. Questionei se isso era a coisa certa a se
fazer todos os dias desde então.

Nunca pensei em você como não sendo minha. Se você


receber alguma coisa desta carta, tire-a. Você é minha filha em
todos os aspectos que contam.

Te amo,

Papai

Os faróis lançam um brilho na janela e eu chego ao meu


estupor chocada. Saio do sofá, precisando de ar, precisando
escapar, precisando estar em qualquer lugar, menos aqui.

Enfio a carta e a certidão de nascimento na minha bolsa,


pronta para dar o fora daqui. Mas quando a porta se abre e
Nancy me vê, ela instantaneamente sabe. Ela deve saber. Os
arquivos estão na gaveta dela.

— Você sabia, — digo através de soluços sufocados. —


Você nunca me contou.

Denver me olha e entra em pânico. — O quê? O que ela


sabe? Querida? — Denver deixa cair o sorvete no balcão e vem
para o meu lado.

Nancy fica lá, sem dizer nada.


Ela me permitiu agir como se eu fosse alguém que não
sou. Para sentir como se pertencesse aqui. Não pertenço a este
lugar. Não tenho laços aqui. A raiva me enche, e a recebo com
alívio. Porque descobri antes que estava muito perdida.

Então a mão de Denver cai nas minhas costas e olho para


ele. — A empresa é sua, — digo.

— Cleo, não decida isso agora. Não seja precipitada. — A


mão de Nancy estica quando tento passar por ela, mas recuo.

Soluço entre soluços que não param.

— Por favor, me diga o que diabos está acontecendo? —


Denver levanta a voz.

— Deixe-a te contar. Oh, não importa, ela gosta de


guardar segredos demais. — Eu me viro dela para Denver. —
Chip Dawson não era meu pai.

Denver balança a cabeça. — Sim, ele era.

Olho para Nancy.

— Seu pai queria que você passasse por todas essas


coisas para que soubesse que era filha dele. Ele planejou essa
descoberta porque estava preocupado que sua mãe lhe
dissesse às pressas apenas para ser rancorosa. Ele queria que
você soubesse exatamente como ele se sentia sobre isso. —
Nancy diz.

— Eu preciso sair.
— Vamos, — diz Denver, me incentivando a sair. — Ligo
para você, Nancy.

Não faço ideia do que ela diz, porque estou a meio


caminho da caminhonete.

Denver nos leva à casa de Savannah. Outro porto seguro


temporário na minha vida. Um lugar que pensava pertencer,
mas só pertenço aqui por causa de Denver. Porque meu pai
falso me deixou metade de uma empresa que não tenho o
direito de possuir. A família de Denver passou os braços em
volta de mim, me deixando de castigo nesta cidade, mas não é
onde meu pai viveu e morreu. É onde um estranho que eu mal
conhecia pagou minhas contas.

— Podemos conversar? — Denver pergunta.

— Não há nada para conversar. Não quero a empresa. É


sua.

Saio da caminhonete e corro para a casa. A porta está


destrancada e subo as escadas, mas os passos de Denver
seguem logo atrás de mim.

— Cleo?

Pego minha mala e a encho.

— O que você está fazendo? — Ele pergunta da porta de


seu quarto.

— Estou fazendo as malas.


— Para quê?

Olho por cima do ombro para olhar para ele. Todas as


histórias que Dori me contou sobre o cachorro, o gato, o
peixe... odeio vê-lo chateado, mas não posso estar aqui agora.
Não posso. Sento-me na cama. — Eu tenho que sair. Preciso
limpar minha cabeça.

Ele cai de joelhos na minha frente, com as mãos em


ambos os lados das minhas coxas. — Nós vamos descobrir isso
juntos. Isso não muda nada. É aqui que você pertence.

— Preciso sair desta cidade. — Novas lágrimas escorrem


pelo meu rosto.

Ele se senta sobre os calcanhares, tirando as mãos de


mim. — Onde você vai?

— Dallas? Eu não sei. Apenas longe daqui.

— OK. Eu te pego. Vamos voar amanhã, ficar longe o


tempo que você precisar.

Balanço a cabeça. — Denver, você é Lake Starlight.

Seu rosto fica sem cor, e ele se levanta. — Então o que


você realmente está dizendo é que precisa se afastar de mim?

— Você sabe o que quero dizer.

Continuo fazendo as malas porque ele tem o poder de me


convencer a ficar. Ele é a pessoa que poderia me ancorar nesta
cidade. Mas por quê? Então, lembro que por trás de cada curva
da estrada havia um homem que fingia ser meu pai? Não, ele
mentiu e minha mãe junto com ele. Ela, eu esperava.
Enquanto ele pagava as contas, com o que ela se importava?
Mas ele? Entendi, nós não éramos pai e filha próximos, mas
nunca soube que ele era outra coisa senão meu pai verdadeiro.

— Não tenho certeza se sim. — Ele se apoia no batente


da porta e cruza os braços. — Então, deixando Lake Starlight,
você está me deixando?

— Não. Quero dizer por uma semana ou algo assim. —


Pego todo o conteúdo da minha gaveta de roupas íntimas e
enfio na mala. — Não posso ter essa conversa agora.

— Você não pode?

— Você não entende o que aconteceu? Chip não é meu


pai! Não tenho vínculos com a Lifetime, suas contas bancárias
ou mesmo meu sobrenome.

— O que entendo é que você está fugindo, — ele


resmunga.

— Não estou fugindo.

Ele entra no quarto e coloca as mãos sobre as minhas. —


Se você sair daqui sem mim, terminamos.

Ele é tão calmo, misterioso.

Uma nova dose de raiva toma conta de mim. Ele acha que
vai me dizer como lidar com o fato de que o homem que eu
pensava ser meu pai não era? — Então terminamos, acho.
Ele recua como se eu tivesse lhe dado um tapa.

Pego minha mala, esquecendo qualquer outra coisa que


deixei, e passo por ele.

— Não há voos no momento. Você está sendo ridícula, —


ele diz atrás de mim.

Desço as escadas com a minha mala e ela desce cada


degrau com um baque. Quando chego ao fundo, percebo que
não tenho carro para chegar ao aeroporto.

Denver também deve perceber, mas ele levanta as mãos.


— Ei, nós terminamos. A obrigação do namorado de ser seu
motorista acabou.

— Eu vou levá-la. — Phoenix caminha pelo corredor em


outro conjunto de pijama correspondente. Ela enfia a calça
Uggs e pega a jaqueta.

— Phoenix, — alerta Denver.

Ela abre a porta da frente para mim, mas provavelmente


descobre que preciso de um tempo, porque ela foge diante de
mim, colocando a mão no meu ombro e apertando enquanto
caminha. Eu me viro. Denver está no meio da escada com as
mãos enfiadas nos bolsos. Como chegamos aqui tão rápido?
Em um minuto, eu estava tão encantada que pensei que tinha
passado por toda essa besteira para o meu felizes para sempre,
e agora estou com o pescoço no chão.

— Sinto muito, que acabou assim, — digo.


Ele desce correndo os degraus. Estou desesperada por ele
entender e vir até mim. Pegue minha cabeça nas mãos dele e
me diga para levar o tempo que eu quiser. Que ele esperará por
mim. Mas quando ele chega ao pé da escada, apenas olha na
minha direção e vai para a cozinha.

Meu coração está vazio. Girando, fecho a porta


silenciosamente e vou para o carro de Phoenix.
Eu bato na porta de Kingston e Juno, um pacote de doze
cervejas na mão. De jeito nenhum vou ficar na minha casa.
Não posso ir ao Rome por causa das crianças e Harley não
precisa de mim no sofá deles quando está grávida. Liam está
transando com minha irmã, e Austin e Holly? De jeito nenhum.
Sobram Kingston e Juno.

Kingston abre a porta em sua cueca boxer, passando a


mão pelo cabelo bagunçado. — Que diabos?

Juno sai do quarto, com os cabelos soltos e não do jeito


que acabei de acordar. Ela fecha a porta silenciosamente. —
Denver?

Nem quero saber do que se trata agora. — Vocês dois,


permaneçam solteiros. — Vou direto para o sofá. — Você pode
voltar para a cama. Vou beber até desmaiar. — Abro uma
cerveja e coloco os pés na mesa de café.

— Eu já volto. — Kingston entra em seu quarto antes de


reaparecer em um par de calças de pijama e sua camisa
esfarrapada de bombeiro.
— O que está acontecendo? Aconteceu algo com Cleo? —
Juno pergunta.

Eu hesito. — Por que você diz isso? Não poderia dar a


mínima para Cleo.

Juno olha para Kingston e os dois respiram fundo.

— Tenho certeza de que todos vocês sabiam que isso ia


acabar. Quero dizer, eu em um relacionamento sério? Por
favor. — Engulo metade da minha cerveja. — Isso não é para
mim. Ela me fez um favor saindo.

— Talvez devêssemos ligar para Rome, — diz Kingston.

Termino uma cerveja e abro a segunda. — Por que


precisamos de Rome? Só preciso do seu sofá porque não posso
passar a noite na minha cama.

— Por quê? — Pergunta Kingston.

— Porque tenho que lavar os lençóis e percorrer a casa


para tirar qualquer lembrança dela da minha vida.

Juno se move para o sofá e coloca a mão no meu joelho.


— Vamos conversar sobre isso.

— Eu não estou dizendo que é uma coisa ruim, é apenas


um inconveniente. — Eu clico na televisão deles e saboreio
minha cerveja.

— Vocês pareciam felizes, — diz Juno.


Kingston está quieto. Isso não é coisa dele. Sentimentos
e emoções. Ele desistiu deles há muito tempo.

— Ela era ótima, mas agora acabou. Ah, bem. Vou ter que
cuidar da empresa. Ela tinha muitas ideias femininas de
qualquer maneira. Agora posso executá-la como Chip fez. —
Olho Juno nos olhos, para que ela saiba que não sou apenas
um Denver meio bêbado e irritado. — É uma benção.

Ela respira profundamente como se estivesse irritada


comigo, mas agora não é a hora. — Eu acho que você está
errado. Vocês dois eram ótimos juntos e está agindo como um
completo idiota dizendo as coisas que está dizendo. — Ela se
levanta. — Arrume-se e vá atrás dela, se você está tão chateado
com isso. Mas toda essa atitude de 'eu não me importo' é
besteira e todos nós vemos isso.

Ela sai do quarto e bate à porta, trancando-a.

— Ela está tão sensível, — digo a Kingston. — Ela está


menstruada?

Ele olha para mim.

— Legal, mano, não precisamos conversar sobre isso. —


Pego uma cerveja. — Quer uma?

Ele pega, desenrosca a tampa e levanta os pés para


assistir a ESPN comigo. Kingston é a pessoa perfeita para
quem você vai quando está triste. Ele não vai me chamar de
nomes e me dizer que sou burro. Eu amo meu irmão.
Coloquei minha segunda lata vazia na caixa e pego outra.
Sinto falta disso desde que Cleo entrou na minha vida.
Graças a Bridget, que colocou um voo de última hora para
Dallas no cartão de crédito, aterrisso às nove da manhã
seguinte. No caminho para o aeroporto, liguei para Luther
Lloyd e deixei uma mensagem para preparar a papelada para
assinar o documento necessário para passar minha metade da
empresa para Denver. Estou dolorosamente ciente de que são
apenas seis em casa. Ugh. Não em casa, Lake Starlight. Minha
mente vagueia para o que Denver poderia estar fazendo.

Quando peguei minha mala, Bridget está lá de braços


abertos. Imaginei que ela estivesse de pijama, mas está
completamente vestida, com maquiagem e cabelo.

— Você parece tão bem, — digo, sentindo-me um pouco


constrangida por causa dos meus olhos que estão crus,
vermelhos e inchados.

— É o show inteiro da televisão. As pessoas estão


começando a me reconhecer, então, não quero parecer suja em
público.
Ela coloca o braço no meu, e é como se nunca
estivéssemos separadas. Caminhando para o carro, não me
pergunta nada. Fala sobre seu trabalho no programa e como
está saindo da casa de Phil e entrando em seu próprio
condomínio na cidade. Na escada rolante, realmente olho para
ela, e vejo como está brilhando, feliz e próspera. Pensei que
estava feliz e prosperando também.

Colocamos minha mala no carro dela e deixamos o


aeroporto. Ela dirige por alguns minutos antes de trazer o
proverbial elefante no carro.

— Eu sei que você não quer falar sobre isso, mas você vai
precisar. — Ela se funde na estrada.

— Chip não é meu pai, — digo.

Ela não diz nada.

— Ouviu? Chip não é meu pai. Não biologicamente.

Ela olha para mim. — Eu sei.

— Você sabia! — Grito. — Como você sabia?

— Está com fome? Vamos tomar o café da manhã


primeiro.

Suspiro. — Não estou com fome, Bridge.

— Burritos de café da manhã e um passeio pelo Lago


White Rock?

— Apenas me diga há quanto tempo você sabe?


— Quase desde o começo.

O chute rápido da mentira me derruba. Quero abrir a


porta e pular para fora, sem me importar se um carro me
atropela porque já sinto que a vida me intimidou e não pode
me dar um tempo. Quando pensei que tinha encontrado onde
me encaixava, descobri sobre Chip. Pensar em Chip me faz
pensar em Lifetime Adventures, que por sua vez leva a Denver.
Tiro meu telefone da minha bolsa. Nenhuma chamada perdida.

— O que aconteceu com Denver? — Bridget pergunta.

— Nós terminamos.

Ela olha para mim, aparentemente chocada. — Você não


fez!

Aceno com um brilho de satisfação. Sabia que ele não era


para um relacionamento, que não era um príncipe envolvido
em uma reputação de solteiro. Estava certa o tempo todo.
Aquela garota do bar provavelmente era a peça dele ao lado.

— Não faça isso consigo mesma, — diz ela, mudando de


faixa.

— Não estou fazendo nada.

— Você está se convencendo de que Denver não é o único.


Que você não se apaixonou por ele.

— Eu não me apaixonei.

— Sério?
Balanço a cabeça e cruzo os braços. — Estava
simplesmente me lembrando de confiar no meu instinto.

— Eu falei com você lá em cima. Você era feliz. Vi seu


Instagram. Vocês dois usavam o amor muito bem.

— Você está errada. Se estivesse lá pessoalmente, saberia


que o encontrei com outra garota no bar. — Até eu estou
batendo na minha cabeça, me perguntando se alguém está em
casa agora. Estou saindo do fundo do poço. Mudo de assunto
rapidamente porque sei que ele não estava fazendo nada com
aquela garota. Estou apenas procurando por algo que me faça
sentir melhor sobre a nossa separação. — Isso não é sobre ele
de qualquer maneira.

— É se você terminou com essa nova revelação, — diz ela


e entra no pequeno drive-thru, pedindo, em sequência, quatro
burritos do café da manhã, uma bebida gelada e um café com
leite.

Verifico meu telefone novamente porque pensei que ele


vibrou. Não.

Acabamos no caminho à beira do lago, comendo nossos


burritos e bebendo nossas bebidas.

— Perdi isso, — digo.

— Eu também. — Ela bate seu ombro no meu. — Mas


você sabe que não pertence aqui, certo?

Suspiro. — Não tenho certeza de onde pertenço.


Ela me bate de novo.

Se não tomar cuidado, vou acabar no lago. — Você pode


parar de fazer isso?

— Talvez você precise de uma bebida gelada para


recuperar seu cérebro em bom funcionamento.

— Por que você nunca me contou sobre o meu pai? —


Pergunto.

Ela amassa a embalagem e procura na bolsa o número


dois. Uma coisa que temos em comum desde o primeiro dia é
que somos comedoras de estresse. — No começo pensei que
você sabia. Ouvi meu pai e sua mãe conversando um dia.
Quando perguntei a ele sobre isso, jurou que a informação era
sigilosa. Disse que te incomodaria se descobrisse de mim, e
nunca quis te machucar. Depois disso, não pensei muito nisso.
No meu mundo, existem todos os tipos diferentes de famílias.
Mesmo agora, não vejo grande coisa.

— Você não vê o grande problema? — Lamento. — Tenho


uma mãe que pulou em torno de maridos e um pai morto que
realmente não era meu pai. Não tenho raízes. Você pertence a
Phil. Ele é seu sangue.

Ela bebe sua bebida e me olha de lado. — Não tenho


certeza se sangue significa alguma coisa.

— Isso é porque você tem, — responde, e ela não diz nada.

Andamos alguns passos, terminando nossos burritos.


— Então você só vai voltar para o rancho?

Suspiro. — Não sei. Não quero morar com minha mãe


depois disso. Talvez consiga um emprego em algum lugar.

— Você sempre pode voltar para Lake Starlight e


administrar a empresa que seu pai deixou.

— Você me ouviu?

Ela bebe seu café com leite e joga fora depois de terminar
apenas a metade. — Estou ouvindo. Eu te amo, Cleo, você é
minha irmã, mas adivinhe?

— O quê? — Eu gemo, esperando por sua próxima pérola


de sabedoria.

— Nós não somos sangue.

Paro de andar e ela continua, mas vira-se lentamente


quando percebe que seu argumento foi feito com tanta
facilidade.

— Isso é diferente. Nós sabíamos desde o começo. — A


alcanço, mas tenho que dizer que meu 'argumento' paira na
minha frente como um sinal de néon irritante.

— Se você diz. — Ela desliza o braço pelo meu.

Andamos por todo o caminho ao redor do lago. Então ela


me leva ao rancho para que possa confrontar minha mãe.
Alguém fez uma brincadeira comigo. Essa é a única
explicação de porque minha boca parece cheia de bolas de
algodão. Segundos depois, ouço vozes fracas.

— Você não vai derramar água nele. Vai estragar o meu


sofá.

Juno.

— Ele vai se levantar e parar de agir como uma criança.

Austin.

— Vamos escrever 'Você é um idiota' em tinta permanente


sobre ele.

Phoenix.

— Vamos lá, pessoal. Todos já estivemos aqui.

Holly.

— Nunca estive onde ele está. Eu lutei pela minha noiva.

Rome.
— Tivemos nossos problemas. Isso é um obstáculo para
eles.

Harley.

— Wyatt correu.

Brooklyn.

— Eu não corri.

Wyatt.

— Você foi para Nova York.

Brooklyn.

— Voltei em um dia.

Wyatt.

— Mamãe e papai, parem de brigar.

Kingston.

— Ele não vai falar com nenhum de vocês.

Liam.

— Temos que tentar. Devemos ligar para Dori?

Savannah.

— O que há de errado com o tio Denver?

Calista.
Meus olhos se abrem. A cabeça da minha sobrinha está
inclinada sobre a minha, olhando em minha direção. A pego e
me sento, sentindo como se meu cérebro estivesse girando. Ela
grita, e uma felicidade que não sinto desde antes da
tempestade de merda da noite passada me aquece. Até eu
olhar para todos os meus irmãos com significativos olhares
para mim.

— Hora de conversar, — diz Austin.

Olho para o relógio na parede. Merda. São apenas sete da


manhã. Solto Calista e deito-me. — Agora não.

Austin pega o travesseiro debaixo da minha cabeça e bate


no braço do sofá.

— Droga, — lamento.

— Talvez isso faça você pensar claramente. Todos temos


empregos para ir. Não podemos tomar conta de você o dia todo.

Eu me sento novamente.

— Calista, entre no quarto da tia Juno e assista televisão.


— Harley a cutuca dessa maneira.

Juno corre até a porta antes que Calista possa chegar lá.
— Vá para o quarto do tio Kingston. O meu está bagunçado.

Todo mundo olha fixamente para ela. Calista não dá a


mínima se um quarto está bagunçado. Mas Calista, sendo
descontraída com tudo, pula para o quarto de Kingston. Um
segundo depois, ouvimos 'Baby Shark' tocando.
— Droga, deixei meu telefone lá. — Kingston dá um
tapinha nas calças do pijama.

— Denver, — Rome desliza as garrafas de cerveja e senta-


se na mesa de café — O que aconteceu?

Não são minhas notícias para compartilhar. Não sei se


Phoenix abriu a boca, mas não estou contando a ninguém
sobre a situação de Cleo com o pai dela sem falar comigo
mesmo.

— Isso realmente não importa. Nós terminamos e minha


irmã caçula a levou para o aeroporto. — Reviro os olhos para
Phoenix.

— Sim, porque ela estava sofrendo, e você só estava lhe


dando ultimatos. Ela estava claramente enlouquecendo, e
pensei que precisava de espaço. Planejei tentar convencê-la a
não ir para o aeroporto, o que tentei, mas caramba, essa garota
pode ser teimosa.

Todas as mulheres na sala me dão um olhar mortal.


Levanto minha mão porque não preciso de um momento de
'venha a Jesus'.

— Você está agindo como um dos nossos alunos, — diz


Holly. — Às vezes as pessoas precisam de espaço para
entender as coisas. Isso não significa que eles não se importam
com você.

Levanto-me do sofá. — Tenho que ir trabalhar. Minha


parceira me deixou sozinho e ocupado. Ei, algum de vocês quer
fazer um reality show comigo? — Circulo meu dedo indicador
ao redor. — Não? Imaginei.

— Denver, podemos ser reais por um momento? — Diz


Austin.

Abro a porta da frente. — Não. — Então, bato para que


eles saibam que a conversa acabou.

Estou quase na minha caminhonete quando a janela do


apartamento se abre.

— Pode querer checar o Buzz Wheel! — A porta se fecha


novamente.

Sentado no meu carro, pego a isca que Phoenix jogou


para fora, puxando Buzz Wheel no meu telefone. A imagem do
sinal de boas-vindas a Dallas é uma dica certa de que é sobre
Cleo.

TENHO notícias tristes para os residentes de Lake


Starlight. Pensamos que depois de perder Chip Dawson, não
teríamos que mudar o tamanho da população porque a filha
dele, Cleo, ocuparia o lugar dele, mas há rumores de que ela
pulou de avião para o Texas na noite passada. Aparentemente,
ela e Denver Bailey estão terminados sendo transferido a
Denver a metade de sua parte da Lifetime Adventures. Espero
que esse boato não seja verdade, mas os Baileys foram vistos
se reunindo na casa de Kingston e Juno nesta manhã.
Acrescente o fato de que a caminhonete de Denver estava lá a
noite toda, e alguém viu Phoenix estacionar na entrada de sua
casa à uma da manhã de hoje, e parece que as linhas do tempo
se encontram. Estou triste por termos perdido o novo e
melhorado Denver Bailey junto com ela. Tenho confiança de
que esses dois possam encontrar uma maneira de descobrir as
coisas se decidirem ficar juntos. Se você estiver no Texas, Cleo,
volte para casa em Lake Starlight.

Jogo meu telefone no banco do passageiro. Tudo o que


posso ver é Cleo sentada ali, com as pernas cruzadas, e seu
sorriso sedutor apontado na minha direção.

Porra, meu coração dói. Esfrego meu peito. Quantas vezes


sofrerá assim antes de esquecer completamente? Estou
cansado de passar por essa merda.

Meia hora depois, entro na Lifetime Adventures.

Nancy está sorrindo na frente da cafeteira. — Eu fiz uma


bebida gelada para você.

— Obrigado. — Olho para ela, depois para a porta escrita


‘gerente’. — Vou trabalhar no hangar hoje.
Saio e fecho a porta. Hoje vai ser um dia de reorganização.
Vou me enterrar no armário de armazenamento.

— Denver Bailey!

Porra. Vamos lá. Não posso ter nem uma pequena pausa
hoje? Ela acha que os irmãos não falam sobre sua necessidade
incessante ultimamente para consertar todos nós.

Eu digo: — Vá embora. Não preciso de histórias.

— Oh, não vou lhe contar nenhuma história. — Ela me


segue até o armário de suprimentos. — Eu vou dizer isso uma
vez, e você vai descer dessa escada e me ouvir.

Desço a escada porque esta mulher provavelmente vai me


agarrar pelo cinto, se não o fizer. — O quê?

— Você tem alguma ideia de como foi difícil colocar todas


as peças no lugar para reunir você e Cleo, fazendo parecer que
não tinha nada a ver com isso?

— Desculpe por desperdiçar seu tempo. — Me viro, mas


ela agarra meu braço e me joga ao redor. Não sei se já a vi tão
louca.

— Oh, você não terá que se desculpar comigo, porque


você vai entrar naquele avião e voar para Dallas e rastejar.

Eu ri. — Uh. Não.

— Pare de destruir seu futuro com suas próprias mãos.


Então você foi ferido. Todos nós fomos machucados. Eu perdi
seu avô. Perdi meu filho e minha nora. Seus oito irmãos
também perderam os pais. — Ela colocou a mão no meu
coração. — Eu sei que dói e você não quer passar por isso de
novo, mas é a vida, querido. Vida e morte andam de mãos
dadas. Cleo perdeu o pai apenas para perdê-lo novamente ao
descobrir que ele não é o pai biológico dela. Se coloque no lugar
dela.

— Ela me deixou. — Sento-me em uma caixa. — Sua


primeira reação foi fugir. — Eu olho para ela. — Fugir de mim.

Vovó D está sentada em um degrau da escada. — Eu sei,


e ela terá que se desculpar por isso e resolver o problema, mas
você realmente vai se sentar aqui e não ir atrás dela? Onde
está o Denver Bailey que luta até não ter mais nada? Você está
aceitando a derrota.

— Quem sabe para onde estávamos indo?

Ela me bate na nuca. — Essa merda pode funcionar com


outra pessoa, mas não comigo. Você ama a garota.

Eu não discuto – porque ela está certa. Em algum lugar


nessa situação louca, me apaixonei tanto por ela. Dói muito
que talvez não me ame como eu a amo. Caso contrário, sua
primeira reação não teria sido me deixar. — Eu não acho que
ela me ama.

— Acho que sim, mas só há uma maneira de descobrir.


— Quando olho para ela, parece exasperada. — Vá buscá-la.

— Ela provavelmente não vai me aceitar de volta.


Vovó D pega meu telefone da prateleira e entrega para
mim. — Existe uma maneira fácil de descobrir.

Phoenix sai do nada. — Não. Ele precisa ir até ela. — Ela


se vira para mim. — Você precisa ir.

Vovó D assente.

— Merda. — Olho para mim mesmo. — Sinto o cheiro de


uma cervejaria. Não posso ir agora.

Vovó D me empurra para fora da sala de armazenamento.


— Significará mais que você não pode esperar um segundo.

Concordo. — Tenho que pegar um voo.

Phoenix morde o lábio e sorri.

— O quê? — Pergunto.

— Vi no Instagram que Griffin Thorne voou em seu jato


particular ontem.

Não sei por que ele está aqui, mas isso não importa. Não
tenho muito orgulho de implorar. Não posso deixar Cleo
escapar de mim sem ao menos tentar arrastá-la de volta para
Lake Starlight. Eu ligo para ele, que atende imediatamente.
Depois que explico a situação, pede para encontrá-lo no
aeroporto regional que providenciará tudo.

— Eu também vou, — diz Phoenix.

— Você não está indo.


— Peguei a informação! Vamos lá, apenas uma
apresentação. — Ela me segue para fora do hangar, pulo na
minha caminhonete e tranco as portas antes que ela possa
subir no banco do passageiro. — Denver!

Vou consertar isso mais tarde, mas agora só estou em


uma missão de pedir desculpas a Cleo e reconquistá-la.

Quarenta e cinco minutos depois, estou no aeroporto.


Maverick está circulando em torno de Griffin no pequeno
saguão. Jogo a caminhonete no estacionamento e saio.

Griffin me encontra na porta. — O avião está pronto e vai


estacionar no aeroporto durante a noite, mas amanhã de
manhã tem que voltar aqui, porque Maggie terá uma coronária
se eu não o levar de volta a Los Angeles a tempo.

Eu aperto a mão dele. — Te devo muito.

— Te devo minha vida. Isso não é nada. — Ele enfia o


cabelo atrás da orelha.

— Ei, Maverick. — Estendo meu punho para esbarrar


nele.

Ele faz isso e depois pula de cadeira em cadeira.


— Há uma data de validade nessa coisa de devo-a-sua-
vida, — chamo e corro pelo conjunto de portas.

Eu embarco no avião. Quando ele disse pronto, quis dizer


pronto. As escadas sobem, o piloto dá partida no motor e mal
coloco o cinto de segurança antes de descermos a pista.
Bridget me leva à casa de Phil. Por alguma razão, me
referi a ela apenas como dele desde o dia em que me mudei.
Vim a essa casa todos os dias depois da escola por três anos,
mas nunca estava em casa. Deveria ter sido, porque minha
mãe mora aqui, mas Phil me fez sentir mais bem-vinda aqui do
que minha mãe já fez. Fale de uma mãe que a trata como uma
enteada e de um padrasto que a trata como uma filha real.

— Você tem certeza disso? — Bridget pergunta.

Nós duas olhamos para o rancho de expansão onde os


paisagistas fazem sua manutenção semanal.

— Enquanto você estiver comigo.

A mão dela cabe na minha. — Eu estou sempre com você.

— Porque depois disso, você está me levando para o


aeroporto. — Ela enruga as sobrancelhas perfeitamente
estilizadas e acrescento: — Estou indo para casa.

— Você está me dizendo que algo que eu disse chegou até


você?
Eu rio e a abraço. — Sim. Eu te amo. Obrigada.

— Estou tão tonta que minhas palavras de sabedoria a


ajudaram a fazer seu cérebro funcionar.

Nós nos afastamos do abraço. — Bem, não vamos longe


demais.

Nossos pés caem na calçada de paralelepípedos.

— Não vou deixar isso passar por muito tempo, — diz ela,
mas não digo nada porque meu coração está batendo como um
tambor em uma banda de rock. — Você entendeu. — Bridget
abre a porta da frente. — Papai! Tolet!

— Eles provavelmente estão lá fora, — digo.

Ela assente e nós seguimos pelo vestíbulo, pela cozinha


até a sala de jantar e saímos para a varanda coberta. Como
presumi, Phil e minha mãe estão na varanda, bebendo Bloody
Marys e almoçando. Eles não viram quando abrimos as portas,
Phil absorto em sua revista e minha mãe em seu telefone.

— Garotas?

Nós pulamos e giramos.

— Audrina! — Bridget toca seu braço. — Você nos


assustou.

— Cleo, você voltou? — Ela me abraça em seu peito


grande. — Muito rápido.
— Ela teve um lapso mental, mas vai voltar hoje à noite,
— diz Bridget.

Audrina, a empregada de Phil, não é sangue, mas ela


sempre soube o que estava acontecendo comigo e Bridget.

— O garoto? — Audrina pergunta.

Entendeu o que eu quis dizer? Mas, neste caso, acho que


Bridget teve algo a ver com sua telepatia.

Bridget desliza o braço através do de Audrina como ela


sempre faz com o meu. — Ela está apaixonada.

— Amor? Muito jovem. — Audrina acena como se não


fosse verdade.

Não digo que estou apaixonada. Bridget sabe, mas há


uma pessoa que precisa ouvir primeiro.

— Vá, vá, seus pais estão saindo em uma hora. — Ela nos
lança para fora da porta. Bridget vai primeiro, mas Audrina
agarra meu braço para me manter perto dela. — Você está
bem? Lá em cima?

Concordo. — Sim.

Ela sorri e suas mãos enrugadas cobrem minhas


bochechas. — Estou orgulhosa de você. Demorou muito para
ir lá. Veja, estou sempre lhe dizendo, às vezes, arriscar vale a
pena, vale ouro.
Corro em seus braços, abraçando-a com força, porque
depois do que estou prestes a fazer, talvez nunca mais seja
bem-vinda aqui novamente. — Estou louca de saudades.

— Eu sinto sua falta. Bridget nunca está por perto. A casa


está quieta.

— Cleo, — Bridget sussurra. — Você está fazendo um


abraço em grupo sem mim?

Audrina e eu abrimos nossos braços e Bridget cai em


nossos braços. Quando todas recuamos, cada uma de nós tem
lágrimas nos olhos.

— Agora vá. Preciso trabalhar. — Audrina nos dá um


tapinha para frente.

Antes de dizer qualquer coisa, ela fecha a porta atrás de


nós.

Eu olho para Bridget, e ela liga a mão dela com a minha.

Minha mãe deve finalmente nos notar porque se vira. Ela


bate no braço de Phil, fazendo com que ele se vire em nossa
direção. Nenhum deles desliza para fora de suas cadeiras. Phil
se vira para o jornal uma última vez antes de dobrá-lo e colocá-
lo ao lado do prato.

— Cleo? — Minha mãe pergunta.

— Ei, — digo.

— Pai, você quer dar um passeio? — Bridget pergunta.


Ele sacode o pulso para olhar o relógio. — Não tenho uma
tonelada de tempo, querida.

— O que você está fazendo de volta aqui? Por que não


ligou? — Minha mãe ainda não está de pé para me abraçar.
Ela nunca foi de demonstração de carinho.

— Pai. — Bridget puxa a voz que leva Phil a fazer


praticamente qualquer coisa por sua garotinha.

Ele se levanta da mesa e toca meu ombro. — Prazer em


vê-la, Cleo. Tenho certeza de que vou descobrir o que é isso
tudo mais tarde.

— Obrigada, Phil.

Ele abaixa a cabeça, provavelmente entendendo que essa


conversa de mãe e filha está atrasada. Phil e Bridget vão em
direção aos estábulos, e me sento na cadeira vazia do outro
lado da minha mãe.

— Cleo, por que está me olhando assim? — Ela acena com


a mão no ar.

— Como você pôde não me dizer?

Ela arqueia uma sobrancelha. — Dizer? Você precisa ser


mais específica.

— Encontrei a papelada. Ele me deixou uma carta

Sua mandíbula aperta e ela respira fundo. — Que


papelada?
— Sério?

— Não tenho certeza do que você está procurando aqui.

— Estou procurando respostas, mãe. Como você pôde me


deixar acreditar que ele era meu pai esse tempo todo? Talvez
eu pudesse entender se você ficou casada com ele. Ou se você
me permitisse vê-lo mais de duas semanas por ano. Mas você
deixou que ele me adotasse, pegou o dinheiro dele e negou-lhe
um relacionamento comigo.

Ela se recosta e cruza as pernas. — Nós éramos casados


quando ele adotou você. Ele queria pagar por tudo, porque era
seu pai. E, tanto quanto te vejo, não me lembro dele pedindo
mais de duas semanas.

Não tenho certeza de como pensei em obter respostas


dela. — Ele tentou obter a custódia total de mim aos catorze
anos.

— Não me lembro disso. — Ela acena a acusação como se


fosse um inseto irritante.

— Não importa. — Volto para a casa. Vou esperar por


Bridget lá fora.

Sua cadeira chia ao longo do concreto. — O que você quer


de mim?

Eu me viro. — Para não soar como Jack Nicholson em


Questão de Honra, mas quero a verdade. Quero saber por que
você enganou um homem a me adotar para esconder o que
presumo ser uma gravidez não planejada. Porque você roubou
o dinheiro dele com a promessa de um relacionamento. Porque
você me deixou acreditar que Phil estava comprando tudo para
mim quando, na verdade, era Chip. Diga-me por que você
nunca pensou que eu deveria saber. — Minha voz aumenta de
volume quanto mais tempo eu continuava.

Seus punhos cerram, o primeiro sinal de qualquer


emoção que tenho dela. — Fiquei grávida e conheci Chip logo
depois. Ele me amava e queria adotá-la. Foi melhor assim.
Você prefere saber que seu pai era um homem que nunca
poderia apoiá-la emocional ou financeiramente? Eu fiz o que
foi melhor para você. Melhor para nós. — Os olhos dela se
estreitam.

— Você fez o que foi melhor para você. — Apunhalo meu


dedo indicador na direção dela. — Se você fizesse o que era
melhor para mim, não teria fugido de Lake Starlight. Você teria
me permitido ver Chip, independente se ele era meu pai
biológico ou não. E você teria me contado a verdade quando
tivesse idade suficiente. Tudo o que você já se importou é com
você mesma!

Ela zomba. — O quê? Você cresceu uma espinha dorsal


lá em Small Town, EUA? Ele pode ter pago por algumas coisas,
mas Phil colocou um teto sobre sua cabeça e comida na mesa.
Ele comprou roupas de grife para você. Férias caras. Então
Chip fez algumas coisas. Phil também. — Ela cruza os braços.
— Porque você nunca permitiu que Chip fizesse mais.
Você era tão egoísta.

Vejo Phil e Bridget caminhando de volta. Bridget retém


Phil, mas seus olhos estão em nós e ele parece preocupado.

— O que você quer tirar disso, Cleo? Para me fazer sentir


como uma mãe ruim?

— Você era uma mãe ruim. Olhe para mim, mãe. Estou
confusa. Eu apenas fugi do lugar onde me encaixava. Deixei o
primeiro homem que eu já... — Eu deixo lá porque ela não se
importa nem merece saber o quanto Denver me mudou.

Meu telefone toca na minha bolsa.

— Você é sempre tão dramática. Você acha que essa é


uma vida difícil. — Ela abre os braços para indicar a casa e o
rancho.

— Não foi. Não estou dizendo isso. Sempre tive comida e


roupas mais do que suficientes, mas emocionalmente isso me
assustou. Ela me assustou.

— Você não tem ideia do que é uma vida difícil, — diz ela.

— Você se importa que eu descubra? Importa a você que


estou aqui e você ainda não pediu desculpas ou falou comigo
sobre quem é meu pai biológico?

Ela joga os braços no ar. — Ele era viciado em drogas e


morreu quando você tinha dois anos. Ok. Isso faz você se sentir
melhor?
Fico lá, absorvendo as informações, porque quando eu
sair desta casa, não terei mãe. Pelo menos com esta. —
Obrigada por isso. É o mínimo que você poderia fazer. — Viro-
me para sair.

— Cleo! — Ela grita, e giro de volta.

Phil e Bridget sobem para a varanda, e Bridget olha para


mim. Meu telefone toca novamente. Mamãe balança a cabeça,
mas nem uma lágrima, nem um pedido de desculpas. A mulher
com quem compartilho sangue não é nem de longe tão
preocupada quanto as pessoas próximas a ela que não
seguram uma gota do mesmo sangue que eu.

— Tenha uma ótima vida, mãe.

— Calma, Cleo! — Bridget corre atrás de mim, mas já


estou na cozinha da cozinheira quando ela a alcança. — Não é
bom, hein? — Ela coloca o braço em volta de mim enquanto
meu telefone toca pela terceira vez.

— Não. — Pego meu telefone.

Phoenix: Avião particular. Dallas Love Field4. Chega às


nove horas da noite.

— Ele está vindo, — digo.

— Quem? — Ela olha por cima do meu ombro e depois


beija minha têmpora. — Oh, ele.

4 Nome do aeroporto de Dallas


Rio.

— Então, preciso passar o dia preparando você para ele.

— Não, — digo. — Você já fez muito.

— Um último alarde sobre minha irmã antes que ela se


afaste para sempre, — diz ela e abre a porta da frente da casa
de Phil.

Lá fora, olho de volta para a casa. — Vou sentir falta.

Bridget vai para o lado do motorista do carro. — Não, você


não vai.

Entramos no carro e ela se afasta. Nunca me viro para


um último olhar. Estou no próximo capítulo da minha vida
agora.
O avião pousa e eu solto o cinto de segurança. No
caminho, encontrei a casa de Phil no meu telefone. Isso tem
que ser onde ela está.

— Aluguel de carro? — Pergunto à aeromoça.

— Um Uber deve estar esperando por você quando você


pousar.

— Ok, obrigado.

Enquanto o avião está taxiando, me levanto. Quando


finalmente para, as escadas descem e corro para dentro do
terminal, sem parar para nada. Eu sigo as indicações para a
área de coleta de terceiros. É um pequeno aeroporto particular,
então quase não há ninguém aqui.

— Denver? — Alguém diz atrás de mim, e devo estar louco


porque parecia Cleo.

Continuo correndo e coloco minhas mãos na porta para


abri-la.

— Denver!
Me viro, pensando que esqueci algo no avião, mas lá está
ela, como se eu estivesse sonhando.

— Cleo? — Digo, como se pudesse estender minha mão e


ela desaparecesse.

Posso dizer que ela está chorando em algum momento.


Ela parece um pouco pior, mesmo assim a visão me aquece por
dentro e já me sinto mais em paz, mesmo que não saiba como
isso vai acontecer.

Corro até ela. — O que você está fazendo aqui? — A


expressão aberta em seu rosto me dá esperança.

Ela sorri. — Eu moro aqui. Ou eu costumava morar.

Não importa porque ela está aqui. Mal posso esperar para
dizer o que preciso para ela. — Sinto muito. Sou tão idiota.
Quanto tempo você precisa ficar aqui? Posso ficar ou posso
voltar para Lake Starlight e esperar por você. O que você
quiser, mas por favor, não quero terminar.

Ela se aproxima e coloca o dedo nos meus lábios.

— Essa é a minha jogada, — sussurro, e ela ri novamente.

Estes devem ser grandes sinais, certo?

— Eu sinto muito. Não quero tempo para pensar. Fui


estúpida por explodir. Você pode me perdoar? — Ela remove o
dedo da minha boca.
— Não, eu estava errado. Isso foi demais para você, mas
eu apenas... — A pequena voz dentro de mim diz que é hora.
— Eu te amo, Cleo. Eu te amo, porra, e te peguei saindo e me
rejeitando... rejeitando o ‘nós’. Meu coração estava implodindo
enquanto assistia você fazer a mala. Reagi mal. Deveria ter
deixado você ir e lhe dado espaço para voltar para mim.

— Não. — Ela pega minhas mãos, entrelaçando nossos


dedos. — Somos parceiros. Estamos nisso juntos. Nunca
deveria ter corrido.

Aperto meus dedos nos dela. — Então você está dizendo


que nós dois estávamos errados?

Ela ri e assente. — Eu te amo, Denver.

Fecho os olhos, saboreando o som das palavras que


inflamam pura felicidade dentro de mim. Eu imagino meu
coração como aqueles bonecos Glo Worm dos anos 80.

— Ei. — Cleo dá um passo à frente e seguro seu rosto com


as mãos.

— O quê?

— Você pode fazer algo por mim? — Ela sussurra.

— Qualquer coisa.

— Me leve para casa.

Inclino-me e meus lábios pressionam os dela.


— Desculpe, pequenos, mas vocês não vão a lugar
nenhum até amanhã de manhã, — Bridget interrompe.

Eu aceno, deslizando minha língua na boca de Cleo. Nem


percebi que ela estava aqui.

Acontece que Bridget está certa. Então, Cleo e eu vamos


para um hotel, e nosso sexo de reconciliação é o próximo nível.
Talvez eu tenha que começar algumas brigas de vez em
quando.

Na manhã seguinte, embarcamos no avião de Griffin e


levo Cleo Dawson para casa, onde ela pertence.
Cerca de um ano depois...

— Isso foi um voo incrível. Acho que você pode ir sozinha


na próxima vez.

Cleo olha para mim do assento do piloto do avião de Chip.


— Acho que nunca quero ir sozinha.

Eu entendo o que ela quer dizer. Eu adorava voar sozinho,


mas agora prefiro quando ela está comigo.

Nosso show começou a ser exibido quatro meses atrás.


Até agora, as classificações são boas, e Selma ligou para mais
uma temporada. Lifetime Adventures está melhorando a cada
dia, e este ano estamos começando excursões familiares. Sim,
Cleo conseguiu o que queria.

Ainda estamos morando na casa da Savannah, mas


atualmente pago o aluguel dela. Phoenix ainda está lá também.
Não pude expulsá-la e, felizmente, Cleo se sentiu da mesma
maneira. Demos Phoenix um par de AirPods para o Natal que
ela usa todas as noites. Ok, não toda noite.
O hangar se abre e está escuro como breu.

— Nancy não acendeu as luzes? — Ela pergunta.

— Desligue o motor. Talvez o circuito tenha corrido mal


ou algo assim.

Ela para o motor, pulo na asa e desço no chão. Ela faz o


mesmo do seu lado. — Eu estava ansioso para puxá-lo no
hangar.

— Você pode, assim que vermos o que está acontecendo.

No minuto em que entramos no hangar, as luzes acendem


e todos gritam: — Feliz aniversário!

Cleo olha para mim. A maioria da minha família está


presente, juntamente com Bridget, Nancy, Luther Lloyd, os
caras do Smokin 'Guns. Quase todo mundo em Lake Starlight
que conheceu Cleo, porque todos se apaixonaram por ela.
Sedona ainda está em Nova York e o mais novo membro da
família, a bebê Phoebe, está amarrada ao peito de Rome
enquanto Dion se encontra andando, Calista circulando em
volta dele. Savannah está ocupada mostrando seu anel de
noivado para todos que ainda não o viram, enquanto Liam fica
ao seu lado recebendo elogios de todas as mulheres sobre o
bom trabalho que ele fez ao escolher o anel perfeito.

Cleo faz as rondas e abraça a todos. Assisto suas


bochechas recuarem ainda mais a cada abraço. Seus olhos se
iluminam a cada feliz aniversário.
— Às vezes é uma estrada longa e às vezes é uma estrada
curta, — diz Vovó D ao meu lado, me entregando uma cerveja.

— Essas são suas palavras de sabedoria?

— Ela está brilhando. Demorou muito tempo para sentir


o que está sentindo agora. — Alguns entendem rápido, mas
algo me diz que Cleo não aceita isso como garantido.

— Eu também demorei.

Vovó Dori coloca o braço atrás das minhas costas para


me abraçar. — Foi preciso muita perda para você chegar onde
está. Mas é meio inacreditável, certo?

— Sim. — Beijo o topo de seus cabelos azuis. — Obrigado


por me chutar na bunda.

— Você já teria percebido isso em algum momento, mas


desta maneira não estava sofrendo por muito tempo.

Não acredito que já faz um ano que estou com Cleo. Não
estávamos apenas em Dallas, nos acomodando em um quarto
de hotel? Eu tive um ano dormindo ao lado dela. Um ano de
sua risada. Um ano de seus sorrisos. Um ano de seus beijos.
E mal posso esperar para ver o que o futuro nos reserva.

Vovó D se afasta quando vê Cleo se aproximando.

— Ei, você, — diz Cleo, colocando os braços em volta do


meu corpo. — O que você está pensando, por aqui sozinho?

Eu beijo o topo da cabeça dela. — Você.


— Deixe-me adivinhar. Eu nua na sua cama hoje à noite.

— Não. Você está nua na nossa cama. — Ela ri e digo: —


Mas também o quanto eu te amo.

Ela me aperta mais forte. — Te amo. Nós podemos entrar


sorrateiramente no escritório. — Ela golpeia os cílios.

— Outra razão pela qual eu te amo. — Deslizo minha mão


na dela e seguimos em direção ao escritório.

Phoenix pula na nossa frente. — Onde ele está?

— Quem?

Cleo ri que estou perguntando quem.

— Você sabe quem, — diz Phoenix.

Eu dou um tapinha no ombro dela para acalmá-la. — Não


se preocupe, ele está se mudando para cá neste verão, mas não
conte a ninguém. Ele não quer que ninguém descubra.

Ela revira os olhos. — Hum, eu nunca faria isso porque


não quero nenhuma competição. Então você vai me apresentar
finalmente?

— Depois que ele se estabelecer, é claro. Ele está em


busca de uma babá agora. Eu prometo, Phoenix, não estou
mentindo. Depois que ele se mudar, o convido para jantar.

— Uma babá? Ele tem um filho? — Ela pergunta.


— Sim, agora com licença. Cleo gostaria de me agradecer
adequadamente por esta grande festa. — Eu arrasto Cleo para
longe.

— Hum, eu fiz a maior parte do trabalho, — grita Phoenix.

— Ninguém gosta de se gabar, — grito de volta.

Abrindo a porta do escritório, deixei Cleo entrar primeiro,


depois fecho porta.

— Hora do seu presente de aniversário real.

Ela ri, pulando em cima da mesa. — Vamos ver o que você


conseguiu, grandalhão.

— Oh, eu vou abalar o seu mundo.

— Não duvido nem um pouco.

Desço sobre ela e, no escritório, enquanto todo mundo


está bebendo e comendo, descubro outra coisa que leva Cleo à
loucura. Nunca houve um momento de tédio conosco. Diria
que esta é a boa vida.

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