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1. INTRODUÇÃO
O consenso da comunidade científica em relação ao aquecimento do planeta, devido ao aumento das
emissões de poluentes provenientes da queima de combustíveis fósseis, reacendeu o interesse sobre os
biocombustíveis. O etanol que antes era tido como um anacronismo de outras décadas se tornou, no século
XXI, uma grande oportunidade de negócios para o País. A principal matriz energética mundial continua a
mesma: o petróleo. Mas as preocupações mudaram, principalmente em relação ao meio ambiente, devido às
mudanças climáticas.
O Brasil possui características adequadas à produção de biomassa para fins energéticos: clima tropical
úmido, terras disponíveis, mão-de-obra rural abundante, e nível industrial e tecnológico compatível” (MELO,
2001.). O uso da biomassa para a produção de álcool no Brasil está concentrado totalmente no setor
sucroalcooleiro, tendo como fonte principal a cana-de-açúcar (RODRIGUES JR., 2002). No entanto a busca
de novas matéria-primas para a obtenção de bioenergia devem ser alvo de estudo visando aproveitar o imenso
potencial existente neste ambiente tropical (CAMPOS et al., 2002.).
A batata-doce [Ipomoea batatas (L) Lam] é uma cultura de origem americana e é considerada como
uma das espécies mais eficientes no processo de conversão da energia solar em energia química (SOUZA,
2005). Apresenta-se como uma excelente matéria-prima para a obtenção de álcool combustível, associada ao
baixo custo de produção e rusticidade. Silveira et al. (2002) indicaram resultados promissores no processo de
seleção de clones com produtividades entre 28 e 65 ton/raiz/ha nas condições edafoclimáticas do Tocantins.
Este fato indica uma superioridade desses novos clones entre 154% a 400% em relação às produtividades
obtidas na década de 70, quando se iniciou pesquisas com esta cultura para produção de etanol combustível.
Araújo et al. (1978) obtiveram 158 litros de etanol por tonelada de raiz de batata-doce na década de
70. Entretanto, há mais de 30 anos, uma imensa lacuna sobre o conhecimento de potencialidade da cultura
como fonte promissora para produção de etanol foi formada (SOUZA, et al., 2005).
Considerando-se as questões ambientais, sociais e econômicas nos cenários nacional e internacional,
torna-se clara a importância de se utilizar a batata-doce como uma fonte alternativa de energia renovável a
fim de minimizar a dependência por fontes fosseis. Assim, as atividades descritas neste artigo pretendem
demonstrar a viabilidade da fermentação alcoólica do hidrolisado enzimático de batata-doce e avaliar o
desempenho da fermentação com diferentes concentrações da levedura Saccharomyces cerevisiae.
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2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização do ensaio, utilizou-se os clones BD# 08; BD# 52; BD# 106; BD# 112; BD# 113;
BD# 114 e PALMAS, previamente tratadas no LASPER - UFT (Laboratório de Produção de Energia a partir
de Fontes Renováveis da Universidade Federal do Tocantins). As raízes foram preparadas a fim de se obter a
farinha dos mesmos. Para tanto foi utilizada a metodologia de Savelli et. al. (1995), na qual, as raízes, depois
de lavadas, foram descascadas e fatiadas em raladores manuais. O material resultante foi disposto em
bandejas para secagem em estufa com circulação e renovação de ar a 55ºC, durante 24 horas. O material
desidratado foi moído em multiprocessador, sendo que as partículas de menor tamanho foram separadas em
peneira de 20 Mesh.
Para o levantamento da curva padrão de glicose, foi preparada uma solução padrão de glicose
(0,2g/L), sendo os açúcares redutores quantificados pelo método espectrofotométrico (540 nm) de Southgate
(1976). A equação de reta da curva padrão de glicose foi a seguinte: Y = 429,4 X – 2,184 (R2 = 0,999), que
possibilitou a determinação de glicose decorrente da hidrólise enzimática do amido da batata-doce, bem como
o monitoramento da concentração de substrato durante os processos fermentativo. Os experimentos de
hidrólise enzimática foram conduzidos em 6 frascos de Erlenmeyers de 4 litros. A massa total de 3,04 Kg de
farinha de batata-doce, dos clones citados anteriormente, foi dividida nos 6 frascos. O pH do meio foi
ajustado com solução de HCl (2M) a 6,5, segundo as condições ideais de atuação enzimática para α-amilase.
Em seguida, foi acrescentado em cada frasco 70 µL de Termamyl 120L (α-amilase), que foram aquecidos em
banho-maria a 90ºC, durante 20 minutos sob agitação constante. Finalizada esta etapa, promoveu-se o
resfriamento a 60ºC, e ajustado o pH para 4,5. Adicionou-se 70 µL de AMG 300 L (amiloglucosidase),
mantendo-se a temperatura do sistema em 60ºC, durante 30 minituos sob agitação.
O pH dos meios de fermentação foi ajustado a 4,5 com H2SO4 (2M) e os mesmos esterilizados a 0,5
atm por 15min. Posteriormente, o material hidrolisado foi centrifugado em uma centrífuga Danon IEC
Division modelo A2678x-2, por 10 minutos a 15.000 rpm e depois esterilizado por 10 min a 0,5 atm. O
microrganismo agente da fermentação alcoólica utilizado foi Saccharomyces cerevisiae de panificação,
industrializado por Fleischmann Royal Ltda. Os ensaios de fermentação foram realizados em
fermentômetros, que possibilitaram acompanhar o processo fermentativo por meio da perda de peso,
observada através do desprendimento de CO2. Para o estudo da influência da concentração inicial do
substrato, foram fermentados meios hidrolisados enzimaticamente com três concentrações iniciais de
substrato diferentes. Para a avaliação da influência do tamanho do inoculo foram realizadas fermentações
com três concentrações diferentes de células (10g, 40g e 75g de peso úmido de Saccharomyces cerevisiae em
200 mL de meio hidrolisado), sendo o pH ajustado entre 4,5 e 5,0. Após inoculação, alíquotas de 1,0 mL
foram retiradas para as medidas das concentrações iniciais de substrato pelo método de SOUTHGATE
(1976).
Os fermentômetros foram colocados em agitador orbital à temperatura de 30oC com agitação de 250
rpm. Em intervalos de 60 minutos, os frascos eram retirados do agitador e pesados, registrando-se as
respectivas massas, em um tempo total de fermentação de 6 horas. Ao final do processo fermentativo
amostras de 10 mL foram retiradas, seguindo de centrifugação para a separação das células. O sobrenadante
foi destinado à dosagem dos açúcares redutores pelo método de Southgate (1976), sendo a conversão do
substrato consumido em etanol (YP/S), a produtividade volumétrica em etanol (Qp) e a eficiência (Ef)
realizados para todos os clones e durante todos os ensaios fermentativos.
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3. RESUTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Hidrólise do amido
Tabela 1: Variáveis de respostas para o ensaio de fermentação em bancada para 07 clones de batata-
doce
Com 6 horas de fermentação, o rendimento médio de substrato consumido em etanol foi 0,408 g/g,
correspondendo a uma eficiência de fermentação de, aproximadamente, 80 %, sendo considerado um valor
satisfatório tendo em vista ser este um experimento preliminar e também porque neste cálculo não foi
considerado os açúcares redutores totais não fermentáveis existentes na matéria-prima. Ainda como mostra a
Tabela 1 a segunda produtividade máxima foi alcançada pelo clone BD#PALMAS no tempo de 5 h,
apresentando o valor de 68,34g de etanol/ L.h. Com estes resultados, conclui-se que a eficiência fermentativa
e a produtividade do sistema, no presente estudo são promissores para a produção de etanol utilizando a
batata-doce como matéria-prima.
3
3.2 Influência da concentração inicial de células da levedura Saccharomyces cerevisiae.
70
60
50
40
30
20
10
10 40 75g
De acordo com PEREIRA (1982) o monitoramento de CO2, é um instrumento bastante útil para
avaliar atividade fermentativa das células microbianas, bem como de seu crescimento. O dióxido de carbono
é um produto terminal do catabolismo e como tal, reflete a geração de ATP. Se a razão da massa de células
geradas por mol de ATP for constante, então a correlação da produção de CO2 com o crescimento/produção
deverá ser boa. Segundo BON e PEREIRA JR. (1999) a relação do CO2, produzido por unidade de massa
celular sintetizada depende de fatores tais como: o caminho metabólico e a eficiência da ligação de energia
gerada no catabolismo com a energia consumida no anabolismo.
A medida da perda de CO2 é uma das vantagens consideráveis do uso do fermentômetro, pois
permite eliminar a retirada de amostra numa cultura em crescimento evitando, conseqüentemente, o risco de
contaminação e os resultados são obtidos imediatamente, seja a fermentação conduzida em biorreatores ou
em frascos agitados. Neste caso, pode-se analisar a eficiência do processo fermentativo através do
desprendimento de CO2 e relacioná-lo estequiometricamente à produção de etanol, conforme se pode
observar nos gráficos de desprendimento de CO2, e produção de etanol equivalente (Figura 2), calculado
estequiometricamente nas diferentes concentrações de massas celulares inoculadas.
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Etanol Equivalente (g/L)
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00 gg
10,00
0,00
0 100 200 300 400
Tempo de Fermentação (min)
10 40 75
Figura 2: Produção de EtOH teórico para os valores de 10g, 40g, e 75 g/L de levedura
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RESUMO
Raízes como a mandioca e a batata-doce (Ipomoea batatas (L.)Lam) são fontes de biomassa citadas no Brasil
como importantes para produção de etanol. O presente trabalho teve como objetivo quantificar a
produtividade de álcool combustível, a partir de 7 clones de batata-doce (Ipomoea batatas (L.). Foi preparada
uma farinha, pelo método de Savelli et. al., (1995) dos clones, que foram submetidas a um processo de
hidrólise seguido de fermentação alcoólica com Saccharomyces cerevisiae. Foram inoculadas concentrações
de 10g 40g e 75g de massa úmido de Saccharomyces cerevisiae em 200 mL de meio hidrolisado. Com 6
horas total de fermentação para os ensaios, relacionou-se partir da estimativa dos parâmetros, a melhor
produtividade para 18 g/L.h de levedura com 97 % de conversão de substrato em produto. Quando
comparam-se os efeitos da concentração de inóculo de 75 e 40g de células verificam-se valores de conversão
próximos em torno de 95% e uma redução na produtividade volumétrica para o sistema inoculado com a
menor concentração de células, que ainda se encontra acima dos observados industrialmente para a
fermentação convencional de caldo de cana, apontando para desdobramentos industriais.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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