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AVALIAÇÃO TECNOLÓGICA DE CULTIVARES TARDIOS DE CANA-DE-

AÇÚCAR, NA REGIÃO DE RIBEIRÃO PRETO, SP, DURANTE A SAFRA


2009/2010
TECHNOLOGY ASSESSMENT OF CULTIVARS LATER OF SUGAR CANE,
IN RIBEIRÃO PRETO, SP, DURING THE CROP SEASON 2009/2010
Ivan Santin, Hélio Francisco da Silva Neto, Joana Diniz Rosa da Silva, Luiz Carlos Tasso Júnior,
Marcos Omir Marques – Unesp – Campus de Jaboticabal – Departamento de Tecnologia – Laboratório de
Tecnologia do Açúcar e Etanol – Engenharia Agronômica – santinivan@hotmail.com

Palavras-chave: Saccharum spp; variáveis agroindustriais; variedade


Keywords: Saccharum spp; agroindustrial parameters; varieties

1. INTRODUÇÃO
A análise tecnológica tem fundamental importância para avaliação da qualidade
agroindustrial da matéria prima a ser entregue nas unidades de processamentos. Dentre os diversos
aspectos que compõem esta análise, a riqueza da cana em açúcares exerce papel de destaque. Dentre
as variáveis empregadas nessa avaliação podemos destacar: Pol (porcentagem aparente de
sacarose), pureza aparente, o brix (porcentagem de sólidos solúveis), AR (açúcares redutores), ART
(açúcares redutores totais) e a porcentagens de Fibra e Umidade (EMBRAPA, 2007).
A fibra da cana-de-açúcar é a parte sólida da planta, insolúvel em água, formada por
celulose, hermicelulose, ligninas, pentosanas, pectinas e outros componentes. É responsável pela
sustentação da planta, auxiliando na formação de vasos condutores de seiva, além de armazenar o
caldo e seus constituintes (FERNANDES, 2000).
Na lavoura, a fibra está associada à colheita da cana, evitando o seu acamamento. Na
indústria, relaciona-se ao momento da moagem e ao balanço térmico da fábrica. Em níveis elevados
pode dificultar a extração do caldo pelas moendas, além de ter relação inversa com o teor de
sacarose na cana (MARQUES et al., 2008) e, em menores valores, podem resultar em maior
número de colmos acamados no campo, acarretando maiores perdas na colheita, especialmente a
mecanizada.
A fibra também é utilizada nos cálculos de determinações expressas em porcentagem de
cana, como a Pol, AR, ART e outros recursos que venham a definir a qualidade da cana-de-açúcar.
(STUPIELLO, 2002).
A umidade também está relacionada a vários cálculos do setor industrial e seu conteúdo
pode atingir valores de até 80 e 85% sem que haja excesso de água (ICIDCA, 1999). No entanto, o
teor de umidade da cana-de-açúcar deve ser próxima a 69 % (MARQUES et al., 2001) e quando
presente em elevados valores pode dificultar a queima de bagaço nas caldeiras.
A Pol pode ser interpretada como sendo a porcentagem de sacarose contida numa solução de
açúcares. Segundo Deuber (1988) uma cana-de-açúcar torna-se madura no momento em que
apresentar um teor mínimo de sacarose com Pol% cana acima de 13%. O teor de açúcares redutores
totais expressa a quantidade de açúcares presente na matéria-prima, os quais poderiam ser utilizados
dentro do processo industrial.
Neste sentido, a hipótese inicialmente formulada era de que os cultivares de cana apresentam
diferentes valores para estas variáveis e assim poderíamos identificar os cultivares de melhor
desempenho.

2. OBJETIVO
Este trabalho teve como objetivo avaliar seis cultivares de cana-de-açúcar com ciclo de
maturação tardio a partir das variáveis tecnológicas realizadas na cana.

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3. MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na Fazenda de Ensino, Pesquisa e Produção, localizada na
FCAV/UNESP, Jaboticabal, SP. A altitude média do local é de 575m, latitude de 21º 15’ 22’’ S,
longitude 48º 18’ 58’’ WG, temperatura média anual de 22º C, precipitação anual de 1425 mm,
clima Aw (Köppen). O solo utilizado no experimento foi um Latossolo Vermelho eutroférrico
(LVef) textura muito argilosa, A moderado (EMBRAPA, 1999).
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com seis tratamentos
e três repetições. Os tratamentos foram os seis cultivares de cana-de-açúcar classificados como de
maturação ao final de safra: CTC 2, CTC 6, CTC 8, IACSP94-2101, RB72454, RB867515.
No campo, as parcelas experimentais, eram compostas por 5 linhas de cana com 12 metros
de comprimento, espaçadas de 1,5 m, totalizando 90 m², sendo considerada como área útil as 3
linhas centrais, descartando-se 1 metro nas extremidades de cada linha, totalizando 45 m².
Em cada parcela foi coletado um feixe de cana contendo 10 colmos industrializáveis,
retirados em seqüência, que foram despontados, despalhados, pesados e encaminhados ao
Laboratório de Tecnologia do Açúcar e Etanol da FCAV/UNESP para determinação das seguintes
variáveis: Fibra, Umidade, ART e Pol na cana, segundo as normas preconizadas pelo
CONSECANA-SP, (2006).
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F e, quando houve
significância, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na tabela 1 estão expressos os resultados das variáveis tecnológicas obtidas pelos cultivares
de cana-de-açúcar. Os cultivares CTC 8 e CTC 2 apresentaram os maiores teores de fibra (14,66%),
seguidos pelo cultivar RB72454 (14,00%). Estes valores estão acima dos encontrados por
Cavichioli et al., (2009) e acima da média recomendada por Ripoli e Ripoli (2004) que é de 11 a 13
%. Estes maiores valores de fibra podem aumentar o desgaste das moendas, no momento da
extração do caldo, ocasionado menor eficiência e aumento dos custos no processo industrial. Os
demais cultivares apresentaram teores adequados de fibra.

Tabela 1: Valores das variáveis tecnológicas realizadas nos cultivares tardios de cana-de-açúcar,
safra 2009/2010.
Cultivares Fibra Umidade ART Pol
-------------------- % cana --------------------
CTC 2 14,66a 67,66c 16,00a 15,00a
CTC 6 12,33cd 69,33b 17,33a 16,33a
CTC 8 14,66a 68,33bc 12,33b 11,66bc
IACSP94-2101 11,66d 68,33bc 15,33ab 14,66ab
RB72454 14,00ab 67,33c 15,33ab 14,33abc
RB867515 13,00 bc 72,00a 12,33b 11,33c
Teste F 21,25** 31,08** 9,67** 9,14**
Média Geral 13,38 68,83 14,77 13,88
DMS (5%) 1,29 1,44 3,10 3,10
CV (%) 3,52 0,77 7,65 8,14
1
Médias seguidas de letras distintas, na mesma coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey, ao nível de 5 % de
probabilidade. ** - Significativo ao nível de 1 % de probabilidade pelo Teste F, respectivamente.

Elevados teores de umidade foram encontrados para o cultivar RB867515. Este teor está
acima da média para a cana-de-açúcar, relatada por Marques et al. (2001), e nestas condições

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poderá ocasionar problemas durante a queima do bagaço nas caldeiras, etapa a ser realizada no
processo de geração de energia.
Para os valores de ART e porcentagem de sacarose aparente o destaque positivo foi para os
cultivares CTC 2 e CTC 6, seguido pelos cultivares IACSP94-2101 e RB72454. Os cultivares CTC
8 e RB867515 apresentaram resultados insatisfatórios com valores inferiores ao preconizado por
Ripoli e Ripoli (2004) que é de acima de 14% (para ART) e acima de 15% (para Pol). Tais
resultados expressam o menor desempenho destes cultivares, os quais disponibilizaram menores
quantidades de açúcares.

5. CONCLUSÕES
Pode-se concluir que os cultivares CTC 8 e RB867515 obtiveram os resultados menos
satisfatórios, sendo observado elevado teor de fibra e umidade, respectivamente e baixos valores de
ART e Pol, indicando sua menor qualidade de matéria-prima. Os demais cultivares apresentaram
níveis adequados de fibra e umidade e elevados valores de ART e Pol.
Desta forma, a hipótese formulada anteriormente foi confirmada.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVICHIOLI, L.C.; SILVA NETO, H.F.; TASSO JÚNIOR, L.C.; MARQUES, M.O. Comparação
de cultivares de cana-de-açúcar em relação aos teores de fibra e umidade. In: Congresso de
Iniciação Científica da Unesp, 21, 2009, São José do Rio Preto. Anais... 2009. CD Room

CONSELHO DOS PRODUTORES DE CANA-DE-AÇÚCAR, AÇÚCAR E ÁLCOOL DO


ESTADO DE SÃO PAULO. Manual de Instruções. Piracicaba: Consecana , 2006. 112p.

DEUBER, R. Maturação da cana-de-açúcar na região sudeste do Brasil. In: SEMINÁRIO DE


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EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 2005-2007. Disponível em: <


http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/ <.

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Centro Nacional de Pesquisa de


Solos 1999. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília, Embrapa. Produção de
informação. Rio de Janeiro; Embrapa solos, 1999, 412p

FERNANDES, A. C. Cálculos na Agroindústria da cana de açúcar. Piracicaba, STAB: Açúcar,


Álcool e Subprodutos, 2000. 193p.

ICIDCA (Instituto Cubano de Pesquisa dos Derivados da Cana-de-Açúcar). Manual dos Derivados
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melaço, outros derivados, resíduos, energia. Brasília: ABIPTI, 1999. 474p.

MARQUES, M.O.; MACIEL, B.F.; FIGUEIREDO, I.C.; MARQUES, T.A. Considerações sobre a
qualidade da matéria-prima. In: MARQUES M.O., MUTTON, M.A., NOGUEIRA, T.A.R., TASSO
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Jaboticabal: FCAV, 2008. p.9-16.

MARQUES, M. O.: MARQUES , T. A.: TASSO JÚNIOR, L. C. Tecnologia do Açúcar.


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v. 21, n. 2, 2002. 12p.

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