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POTENCIAL FISIOLÓGICO DE SEMENTE DE SOJA: TESTES DE

AVALIAÇÃO RÁPIDA E DE VIGOR.

PHYSIOLOGICAL POTENTIAL OF SOYBEAN SEED: QUICK


EVALUATION AND VIGOR TESTS.

Juliana Faria dos Santos, Roberval Daiton Vieira, Elenice de Cássia Conforto – Câmpus de São José do
Rio Preto – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – Ciências Biológicas – julianafariaa@hotmail.com –
FAPESP.

Palavras-chave: testes de avaliação rápida; condutividade elétrica; envelhecimento acelerado.


Keywords: quick evaluation tests; electrical conductivity; accelerated aging.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja. Na safra 2006/07, a


cultura ocupou uma área de 20,7 milhões de hectares, o que totalizou produção de 58,4 milhões de
toneladas (EMBRAPA SOJA, 2009). Por ser considerada de grande importância econômica no
cenário agrícola brasileiro, a semente de soja é avaliada por diversos testes que permitem verificar
seu potencial fisiológico.
O método oficial para determinar a qualidade da semente é o teste de germinação, que,
embora muito útil, é demorado e não informa sobre o potencial de desempenho considerando seu
vigor, longevidade e emergência de plântulas em campo. Assim, é de fundamental importância a
utilização de testes complementares, que avaliem a qualidade da mesma permitindo maior
diferenciação entre lotes e de modo rápido, uma vez que tomadas de decisões antecipadas durante
as etapas de produção de semente diminuem riscos e prejuízos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O controle da qualidade de semente de soja está cada vez mais eficiente e dinâmico,
principalmente em função da competitividade do mercado. Os testes de vigor têm se constituído em
ferramentas de uso cada vez mais rotineiro pela indústria de semente para a determinação do
potencial fisiológico (BARROS E MARCOS FILHO, 1997). Dentre os testes mais tradicionais
estão o teste de envelhecimento acelerado e o de condutividade elétrica.
Pesquisas realizadas envolvendo esses testes mostraram que ambos são satisfatórios na
avaliação do potencial fisiológico de semente. De acordo com Rossetto e Marcos Filho (1995), o
teste de envelhecimento acelerado possibilita a identificação de diferenças de potencial fisiológico
entre lotes. No que tange ao teste de condutividade elétrica, este também apresenta bons resultados
com relação à separação de lotes em diferentes níveis de qualidade (BARROS E MARCOS FILHO,
1997).
Além dos testes de vigor, testes de avaliação rápida são importantes, pois evitam o
descarte de semente que aparentemente não se encaixa nos padrões mínimos de germinação. Dentre
esses testes estão o de embebição em água e de hipoclorito de sódio. Para Carbonell et al. (1993), o
teste de hipoclorito de sódio é tão eficiente quanto o teste de tetrazólio para avaliar o percentual de
dano mecânico (ruptura do tegumento). Vieira et al. (1982) verificaram pelo teste de embebição em
água que o retardamento da colheita dessa cultura reduz a qualidade, o vigor e a germinação das
sementes, pois a hidratação e desidratação ocorrida em campo aumentou o grau de deterioração da
semente.

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3 OBJETIVO

O projeto teve como objetivo avaliar o potencial fisiológico de semente de soja usando-
se testes de avaliação rápida, como teste de embebição em água e de hipoclorito de sódio, e
comparar os resultados com aqueles obtidos por testes de vigor tradicionais, como envelhecimento
acelerado e condutividade elétrica.

4 METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Análise de Sementes do Departamento


de Produção Vegetal da UNESP, Câmpus de Jaboticabal, utilizando-se sementes de soja
provenientes de cinco lotes de cada uma das variedades, BRS-Valiosa RR e CD 208. O potencial
fisiológico da semente foi avaliado por meio de testes laboratoriais conduzidos com quatro
repetições de 50 sementes de cada lote, excetuando-se a determinação do teor de água, que foi
realizada com duas repetições de 50 sementes. Os procedimentos de cada teste estão descritos a
seguir:
Determinação do Teor de Água: foi realizado em estufa a 105±3 ºC, durante 24 h,
segundo as instruções das Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992).
Germinação (substrato papel): as sementes foram semeadas em rolos de papel de
germinação, umedecidos com quantidade de água equivalente a 2,5 vezes o seu peso seco, e
colocadas para germinar a 27 ºC (BRASIL, 1992). As avaliações foram realizadas no quinto dia.
Germinação (substrato areia): as sementes foram semeadas a três centímetros de
profundidade, em caixas plásticas (26 x 16 x 9 cm) contendo areia peneirada, esterilizada e
umedecida com água destilada a 60 % da capacidade de retenção. As caixas foram mantidas em
condições laboratoriais, temperatura de 20 a 30 ºC, e a avaliação foi realizada no oitavo dia após a
instalação do teste (BRASIL, 1992).
Teste de embebição em água: inicialmente, determinou-se a massa inicial de cada
repetição (PI). As sementes foram colocadas em copos plásticos com 60 mL de água e submetidas à
embebição por período de seis horas, em condições ambiente. Posteriormente, as sementes foram
secas, mediante passagens sucessivas por bandejas de plástico com papel mata-borrão no fundo, e
as repetições foram pesadas para obtenção da massa final (PF) (VIEIRA et al., 1981 e 1982). Os
resultados foram expressos em percentagem média de embebição.
Teste do hipoclorito de sódio: sementes aparentemente íntegras foram colocadas em
recipientes e cobertas com solução hipoclorito de sódio (5%). Decorridos 10 minutos, a solução foi
escorrida e as sementes distribuídas sobre folhas de papel toalha, sendo contado o número de
sementes intumescidas. Os resultados foram expressos em percentagem média por amostra
(KRZYZANOWSKI et al., 2004).
Vigor – Envelhecimento acelerado: as sementes foram distribuídas em camada única e
uniforme sobre telas de inox e colocadas em caixas de germinação tampadas (11 x 11 x 3,5 cm),
com 40 mL de água desionizada ao fundo. Estas foram mantidas em câmara de germinação a 41 °C
por 48 horas (MARCOS FILHO, 1999b). Posteriormente, duas repetições de 50 sementes foram
colocadas em estufa a 105±3 ºC, durante 24 h, para determinação do teor de água e quatro
repetições de 50 sementes foram submetidas ao teste de germinação (substrato papel), sendo a
avaliação realizada no quinto dia após a semeadura.
Vigor - Condutividade elétrica: as sementes foram pesadas e colocadas para embeber
em 75 mL de água desionizada e mantidas em germinador a 25 ºC, por 24 h. Após a embebição foi
medida a condutividade elétrica da solução e os resultados expressos em µS.cm-1.g-1 (VIEIRA E
KRZYZANOWSKI, 1999).
Os dados obtidos foram analisados com auxílio do software ESTAT (UNESP, 1991),
utilizando-se o delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições. A comparação das
médias foi realizada por intermédio do Teste de Tukey, em nível de 5% de probabilidade.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos na verificação inicial do potencial fisiológico de semente de soja


das variedades BRS-Valiosa RR e CD 208 encontram-se nas Tabelas 1 e 2, respectivamente. Nota-
se que os resultados dos testes de germinação em papel, de envelhecimento acelerado, de
condutividade elétrica e de hipoclorito de sódio não apontaram diferenças significativas no
potencial de desempenho entre os lotes das duas variedades, sendo insuficientes para classificá-los
em diferentes níveis de potencial fisiológico. Esses resultados indicam a importância da utilização
de mais de um teste para determinar o vigor de semente, em função da variação da eficiência dos
procedimentos disponíveis (MARCOS FILHO, 1999a).
Apesar do teste de hipoclorito de sódio não ter mostrado diferença entre os lotes, seus
resultados foram semelhantes aos obtidos com o teste de germinação em papel, podendo, assim, ser
utilizado como alternativa durante as etapas da produção de semente para verificar rapidamente os
danos mecânicos.

Tabela 1. Valores de teor de água inicial (TAi) e após envelhecimento acelerado (TA após EA) e
dos testes de germinação em papel (TPGp) e em areia (TPGa), de embebição em água (%E), de
hipoclorito de sódio (HS), de envelhecimento acelerado (EA) e de condutividade elétrica (CE) de
cinco lotes de semente de soja da variedade BRS-Valiosa RR.
Lote TAi TA após EA TPGp TPGa %E HS EA CE
------------------------------------------------ % ------------------------------------------------ µS.cm-1.g-1
1 9,0 26,0 89 a 95 a 122,63 b 85 a 89 a 71,12 a
2 8,9 26,5 91 a 95 a 122,13 b 84 a 86 a 79,93 a
3 8,8 26,9 87 a 89 ab 134,08 a 83 a 87 a 85,10 a
4 8,9 27,1 94 a 94 a 123,90 b 85 a 91 a 71,24 a
5 9,2 27,7 90 a 86 b 138,08 a 85 a 91 a 84,72 a
CV (%) 4,35 4,19 1,83 6,85 4,60 15,48

Tabela 2. Valores de teor de água inicial (TAi) e após envelhecimento acelerado (TA após EA) e
dos testes de germinação em papel (TPGp) e em areia (TPGa), de embebição em água (%E), de
hipoclorito de sódio (HS), de envelhecimento acelerado (EA) e de condutividade elétrica (CE) de
cinco lotes de semente de soja da variedade CD 208.
Lote TAi TA após EA TPGp TPGa %E HS EA CE
------------------------------------------------ % ------------------------------------------------ µS.cm-1.g-1
1 9,0 27,1 89 a 89 a 131,43 b 89 a 71 a 99,95 a
2 9,0 27,2 87 a 89 a 127,98 b 87 a 69 a 100,99 a
3 9,0 27,3 87 a 90 a 133,73 ab 88 a 78 a 101,42 a
4 9,1 27,8 91 a 88 a 134,20 ab 89 a 77 a 110,04 a
5 9,1 27,7 89 a 89 a 139,10 a 91 a 78 a 100,36 a
CV (%) 5,71 4,63 2,41 6,32 7,52 13,79

O teste de germinação em areia detectou diferenças significativas entre os lotes da


variedade BRS-Valiosa RR, sendo os lotes 1, 2 e 4 os mais vigorosos quando comparados com o 3
e o 5. Esses resultados coincidiram com os obtidos pelo teste de embebição em água, sendo
considerados lotes de melhor qualidade aqueles que apresentaram menor porcentagem de
embebição de água pela semente e de pior qualidade, aqueles que tiveram maior embebição. Essas
diferenças na embebição podem ser atribuídas à menor resistência oferecida pelo tegumento, dado o
aumento da permeabilidade com a elevação do grau de deterioração da semente (VIEIRA et al.,
1982).
Para a variedade CD 208, o teste de germinação em areia não obteve diferença
significativa. Apenas o teste rápido de embebição em água pode detectar as diferenças de potencial
fisiológico entre os lotes, sendo os lotes 1 e 2 superiores em relação aos outros.

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6 CONCLUSÕES

O teste de embebição em água (avaliação rápida da viabilidade de semente) foi o único


que possibilitou a classificação dos lotes das duas variedades estudadas em diferentes níveis de
qualidade, sendo um teste promissor para análise de semente durante as etapas de produção. Os
demais testes realizados nesse trabalho não evidenciaram diferenças entre os lotes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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soja. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v. 19, n. 2, p. 288-294, 1997.

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http://www.cnpso.embrapa.br/ (acesso em 12 de janeiro de 2009).

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