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Título Original: A Obsessão do Consigliere


LIVRO 2
Capa: Angel Dias
Diagramação: Angel Dias
Ilustração: Angel Dias
Leitura Reader e Beta: Helô Oliveira
Imagens: Canva e Adobe Stock

Todos os direitos reservados. É expressamente proibida e


totalmente repudiável a venda, aluguel ou quaisquer usos
comerciais do presente conteúdo sem o consentimento escrito da
autora. A violação dos direitos autorais é um crime, estabelecido na
Lei n. º9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Criado no Brasil.
Obra Registrada.
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com
nomes, personagens, sobrenomes, lugares e acontecimentos reais,
é mera coincidência.
Sumário
Sumário
Dedicatória
Sinopse
Playlist
Notas da autora
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Epílogo
Sobre a Autora
Outras obras
Agradecimentos
Dedico cada uma das palavras presentes nesta obra ao amor e à
ousadia. À força do desejo que está presente nos encontros apaixonados.
Aos corações que buscam a doçura romântica e a chama ardente da
luxúria. Que cada página seja como um convite à entrega, uma dança
entre o delicado e o rude. Que a leitura seja uma viagem pelos caminhos
do afeto e da sensualidade, explorando os limites da emoção e do desejo.
Àqueles que se permitem viver o romantismo e a intensidade na mesma
medida.
Diana casou-se muito jovem com Christopher Rockefeller, um
homem de beleza avassaladora que irradiava poder por todos os
poros. Quando Christopher colocou os olhos em Diana, uma jovem
doce e bela, decidiu que ela o pertenceria. Inicialmente, agiu como
um verdadeiro cavalheiro, mimando-a, trazendo flores e encantando
Diana e todos ao seu redor. O homem perfeito. Pelo menos, foi o
que ela pensou
Anos depois, Diana toma uma decisão audaciosa. Ela não
quer mais continuar ao lado de seu marido, e está disposta a tudo
para sair desse relacionamento. É quando o destino a leva a cruzar
caminhos com Pierre Lucchese.
Pierre é o Consigliere da Ndrangheta, um homem de
aparência sedutora e descontraída, mas, ao mesmo tempo,
aterrorizante. Aqueles que conhecem seu nome sabem que há
muito mais por baixo da superfície tranquila. Uma viagem de
negócios se transforma em um ponto de virada na vida de Diana,
mexe com o mundo do Lucchese e perturba o Rockefeller quando
ele descobre que sua esposa desapareceu.
Para ouvir enquanto lê:

Acesso ao Spotify
Este livro contém: Cenas de sexo explícito e palavras de baixo
calão, não sendo recomendado para menores de 18 anos.
Contém gatilhos: Agressão, assassinato, pressão psicológica e
relacionamento abusivo.
A autora não romantiza os tópicos citados acima.
As regras da máfia são inventadas pela autora e o livro não se
desenvolve para contar o convívio dentro da máfia, mas sim no
romance entre os personagens.
Cresci em um lar repleto de felicidade, recheado de sonhos e
imerso no amor dos meus pais. Quando conheci Christopher, meu
marido, ele já era um homem maduro, uma década à frente de mim
em idade. Naquela época, imaginávamos que ele seria o guardião
dos meus sonhos e minha proteção, mas com o tempo mostrou
quem era de verdade, que ingenuidade a minha!
Christopher costumava me chamar de 'minha joia' e afirmava
que nunca encontraria algo de valor superior ao que eu
representava. Ele prometia a lua e as estrelas, a plenitude da
felicidade que qualquer mulher sonha, e eu, iludida, me enredava
em sua teia de falsidades.
Tinha apenas dezoito anos quando o conheci. Naquele dia,
voltei mais cedo da faculdade e levei uma encomenda de minha
mãe a um hotel de luxo na cidade em que morávamos. O local era
deslumbrante, com lustres reluzentes e uma decoração toda em
mármore escuro com detalhes dourados. Pensei que as pessoas da
alta classe viviam vidas perfeitas, mas logo descobri que estava
enganada.
Disseram-me para entregar o vestido na suíte presidencial,
onde minha entrada já estava autorizada. Todo aquele luxo era de
deixar até os menos humildes boquiabertos. Um rapaz passou o
cartão no elevador, e ele me levou diretamente à cobertura.
Assim que as portas se abriram, fiquei diante de um
magnífico hall. Não estava preparada para o que vi em seguida: um
homem incrivelmente bonito, vestindo apenas uma toalha ao redor
da cintura, com cabelos loiros desgrenhados, gotas d'água
escorrendo pelas pontas dos fios e descendo por seu tórax bem
definido.
Fiquei sem palavras, minha boca formou um 'O' que parecia
impossível de fechar. Depois de uma eternidade, desviei o olhar,
minhas maçãs do rosto queimando de vergonha. Eu estava com
certeza ruborizada.
— Vai ficar parada aí como uma estátua ou vai entrar? — Ele
perguntou, com um tom bem-humorado, deixando claro que estava
se divertindo às minhas custas.
Desviei meus olhos.
— Posso esperar até que o senhor esteja vestido. Não me
importo de aguardar um pouco aqui — respondi, mantendo meu
rosto virado, olhando para qualquer lugar que não fosse ele.
— Pode vir até o quarto. Vou me vestir no closet — disse,
enquanto seguia em frente.
Eu estava completamente desconfortável com a situação.
Para ser sincera, eu era completamente inexperiente quando se
tratava de homens. Tinha trocado alguns beijos há alguns meses,
mas quando o último tentou avançar demais, acabei quebrando seu
nariz.
— Pode se sentar e fique à vontade. Vou voltar para acertar o
pagamento com você em um momento — ele disse, desaparecendo
no closet da suíte.
Enquanto ele se vestia, observei a ostentação ao meu redor.
Provavelmente, nunca mais teria a oportunidade de colocar os pés
em um lugar tão luxuoso. As paredes tinham tons claros, móveis
modernos e caros, pinturas, bustos e vários enfeites, todos
dispostos elegantemente pelo ambiente.
Não demorou muito para que o homem com o corpo de
Adônis voltasse.
— Aqui está o dinheiro. Acredito que não preciso verificar,
pois sei que a estilista nunca decepciona.
Pela primeira vez, olhei nos olhos dele, o que me deixou
ainda mais desconcertada. Seus olhos eram os mais profundos e
ardentes que já tinha visto, causando uma sensação no meu ventre
que nunca tinha experimentado antes. Ele ainda não estava
completamente vestido, apenas com a calça, o que continuava a
nublar meus pensamentos. Limpei a garganta e finalmente encontrei
a voz.
— Sim, minha mãe nunca entrega nada que não seja de
qualidade. Muito obrigada pela compra, senhor. Tenha um bom dia
— disse, desejando sair dali o mais rápido possível, pois estava com
dificuldade para pensar claramente.
— Espere. — Disse segurando meu pulso quando me virei
para sair. Seu toque em minha pele causou uma descarga elétrica
que percorreu todo o meu corpo, fazendo-me sentir como um farol
aceso. — Qual é o seu nome? — Perguntou com um sorriso
descarado no rosto.
Olhei profundamente nos olhos dele, que talvez refletissem
todo o meu desconforto, pois ele soltou meu pulso imediatamente.
— Diana. — Respondi, erguendo o queixo e tentando
controlar minhas emoções confusas por aquele estranho.
— É um prazer, Diana. Eu sei que estou sendo indiscreto,
não quero te assustar, mas também não quero perder a
oportunidade de te dizer: você é linda. — Um sorriso largo e sensual
apareceu em seu rosto.
Meus olhos quase saltaram das órbitas. O homem era direto,
sem rodeios, e senti meu rosto esquentar novamente, meu coração
acelerar. Eu nunca tinha reagido assim a elogios.
— Obrigada. Tenho que ir. Tenha um ótimo dia, senhor.
Ele parecia prestes a dizer algo mais, mas uma mulher saiu
do banheiro, também enrolada apenas em uma toalha. Parecia ser
um hábito entre os ricos.
— Quem é você? — A pergunta direcionada a mim veio em
um tom nada amigável, seus olhos cortantes lançando olhares
afiados na minha direção.
— Vim apenas fazer a entrega do vestido. Já estou de saída.
Tenham um bom dia. Com licença. — Aproveitei a oportunidade que
a mulher me deu para me retirar. Virei-me, mas ainda sentia o olhar
do homem em mim.

A partir daquele momento, Christopher começou a me


procurar com frequência. Todos sabiam como encontrar minha mãe,
era fácil, então ele estava sempre à minha volta. Ele ia até a
faculdade, em casa, sempre trazendo flores, bombons, cestas de
café da manhã e uma infinidade de coisas.
Depois de muita insistência e muitos pedidos, eu finalmente
aceitei sair com ele para jantar, no meu aniversário de dezenove
anos que estava próximo. Durante nosso primeiro jantar, ele me
pediu em namoro, e eu aceitei. Ele era um príncipe, gentil e
atencioso. Meus pais o adoravam, e eu também estava encantada.
Ele organizou uma festa de aniversário espetacular para mim,
repleta de luxo, com um pedido formal de namoro aos meus pais,
todos os meus amigos presentes. Parecia um verdadeiro conto de
fadas. Ele era perfeito, sabia mentir com perfeição, e cegou a todos
nós, principalmente a mim.
Durante o ano seguinte, namoramos, noivamos e me casei
aos vinte anos de idade, sem ter vivido nada.
Se eu pudesse voltar no tempo...
Capítulo 1
Inspiro profundamente e abro os olhos. O homem que está
pendurado por uma corda presa ao teto diante de mim implora por
misericórdia. Apenas a ponta de seus pés toca o chão, e ele tenta se
afastar de mim como pode.
— Juro, juro que não sei de nada, Pierre, já te contei tudo o que
queria saber. — Brinco com a navalha em minhas mãos enquanto o
sangue dele escorre do último lugar em que o perfurei.
Estamos em um lugar sombrio, um cômodo sujo e abandonado,
como apelidamos carinhosamente de "quartinho", o parque de diversões
decadente que pertence ao meu primo e a mim. O cheiro de medo paira
no ar, misturado ao odor de sangue que está impregnado nessas
paredes.
— Estou começando a ficar extremamente entediado — digo a
ele com um sorriso no rosto. — Podemos fazer um trato, você me diz
logo o que quero saber, e eu te dou uma morte rápida. Acredite em mim,
você não quer ficar aqui mais do que o necessário.
O prisioneiro ofegante balbucia, com os olhos cheios de terror:
— Pierre, eu não sei de nada que possa te ajudar. Eu juro, não
tenho informações. Por favor, acredite em mim!
Sigo brincando com a navalha, observando o brilho frio da lâmina
à luz fraca que penetra pelas frestas das janelas empoeiradas.
— Você acha mesmo que vou acreditar em um traidor como
você? — murmuro, aproximando-me lentamente do homem, fazendo-o
recuar como pode contra a parede úmida.
— Eu não sou um traidor, Pierre, eu juro. Só quero viver! — O
desespero na voz dele é doce, os olhos vidrados fitando a lâmina que
oscila ameaçadoramente.
Com um movimento rápido, seguro o queixo dele e faço um corte
superficial, deixando um filete de sangue escorrer por seu queixo. Seu
grito ecoa pelo quartinho.
— Você ainda tem uma chance, amigo. Diga-me o que quero
saber, e talvez eu possa ser misericordioso — sussurro, encarando-o
com um olhar gélido. — Os irlandeses não entrariam em nosso território
sem ajuda, e, para o seu azar, era você quem estava encarregado de
monitorar a porra daquela parte do nosso território!
Sem paciência, faço um novo corte, dessa vez mais profundo, e
sua voz se transforma em um grito angustiado. O sangue escorre
livremente, tingindo a lâmina da navalha de vermelho.
— Acho que você pode ser mais útil morto do que vivo —
murmuro, deixando a ameaça no ar enquanto aproximo a navalha de
seu pescoço.
O traidor luta para encontrar palavras que possam salvá-lo, seus
olhos desesperados encarando a lâmina de minha navalha que
permanece a centímetros de tirar sua vida.
— Eles... eles só queriam observar, nada demais. Ainda são
nossos aliados, não são? — balbucia ele, sua voz trêmula quase não
audível.
Minha expressão permanece imperturbável. Ele deve pensar que
está lidando com algum idiota.
— Observar? — minha voz soa glacial. — E você espera que eu
acredite que eles estão apenas observando? Não é assim que as coisas
funcionam neste mundo, meu amigo, e você o entende tão bem quanto
eu.
Ele engole em seco, tentando encontrar as palavras certas para
se redimir.
— É a verdade! — ele insiste, sua voz trêmula.
Decido dar um passo para trás e arrasto uma cadeira velha de
metal do canto do "quartinho". Sento-me diante dele, mantendo a
navalha ao alcance das mãos. Delicadamente, tiro algumas fotos de
meu bolso.
— Veja, temos aqui algumas fotos muito comprometedoras —
digo, passando foto após foto para ele. Faço questão de deixar claro
que não há para onde correr. — Você com os irlandeses e também parte
de uma carga que eu sei que pertence à Ndrangheta[1].
O homem observa as imagens, seu rosto empalidecendo à
medida que o peso das evidências o atinge. O silêncio se torna quase
opressivo. Continuo passando as fotos, uma após a outra, até que
chego a uma imagem que revela sua esposa, abraçando ternamente
seus filhos pequenos. A expressão feliz no rosto da mulher e a inocência
das crianças são um contraste doloroso com a situação atual.
Ele encara a foto, e seu rosto se contorce de angústia. Seus
olhos se enchem de lágrimas, e ele engole em seco, incapaz de conter o
pânico que o toma.
O prisioneiro observa a foto da esposa e dos filhos, uma lágrima
escorrendo pelo seu rosto. Sua voz treme quando ele começa a
implorar:
— Por favor, Pierre, você não pode envolvê-los nisso. Eles não
têm nada a ver com os meus erros. Eu imploro, não faça nada com
minha família.
As lágrimas continuam a fluir por seu rosto, enquanto ele treme
incontrolavelmente. A foto é uma dolorosa lembrança de tudo o que ele
tem a perder, e ele se encontra à mercê de minhas decisões. Sou eu
quem vai determinar seu destino, embora saiba que daqui ninguém sai
com vida, então o destino já está selado.
Observo o homem diante de mim, sua expressão desesperada, e
me pego refletindo sobre as escolhas que nos trouxeram até aqui.
— Você acha que eu deveria considerar seus pedidos, depois de
tudo o que você fez? — pergunto com um tom mais suave e ofereço a
ele um sorriso.
Ele tenta controlar o soluço que ameaça escapar de seus lábios e
balança a cabeça afirmativamente.
— Eu sei, eu sei. Mas por favor, há alguma maneira de garantir
que eles fiquem fora disso? Prometo que colaborarei, direi o que você
quiser. Só não faça mal à minha família.
Ainda segurando a foto, afasto a cadeira um pouco, dando
espaço entre nós. A atmosfera no quartinho fica menos sufocante,
permitindo-nos respirar um pouco mais facilmente. O prisioneiro olha a
foto de sua família, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.
— Eu considerarei a sua proposta — digo, mantendo a voz calma
e controlada. — Mas você deve entender que a confiança é difícil de
conquistar em nosso mundo. E, até que prove ser útil e confiável, sua
família continua em risco. — Jamais faria mal a família dele, mas ele
não precisa saber disso.
Ele balança a cabeça freneticamente, concordando com as
condições. Ele está disposto a fazer qualquer coisa para proteger sua
família. Minha expressão permanece impassível, enquanto pondero
sobre como proceder a partir desse ponto.
— Vamos fazer um acordo, então. Você vai colaborar conosco,
fornecer informações cruciais, e eu considerarei manter sua família fora
disso. Mas esse acordo não se estende a você, traição não é perdoável,
sabia disso quando resolveu nos trair.
Ele balbucia uma resposta afirmativa.
— Você não sairá com vida dessa sala, aqui será seu túmulo,
mas antes de querer fazer qualquer coisa, pense nas pessoas que
sofrerão as consequências dos seus atos.
Saio do local, deixando-o para refletir sobre o destino horrível que
o aguarda. À medida que a porta range ao se fechando atrás de mim. O
quartinho silencioso parece mais sombrio a cada vez que Damon ou eu
saímos de lá, mas, de uma maneira perturbada, esse lugar sempre
acaba me trazendo uma sensação de paz. Cada um dos meus atos
terríveis, daqueles que revirariam o estômago da maioria dos seres
humanos, me deixa mais calmo, como quando sofremos de abstinência
e finalmente cedemos ao prazer de consumir nosso vício.
A porta fecha com um som pesado e inquietante, isolando o
traidor do mundo exterior. Ele está sozinho com seus pensamentos,
atormentado por suas escolhas e pelo peso de suas ações. Enquanto
isso, eu continuo com um fardo pesado nas costas, mas com a certeza
de que essas ações sempre serão necessárias, de alguma forma, para
manter o equilíbrio precário deste mundo sombrio em que vivo.
Capítulo 2
— Teremos um jantar hoje, esteja pronta as 19 horas. Não
quero atrasos Diana, espero que esteja deslumbrante quando eu
vier te buscar.
— E algum dia eu estive diferente Christopher? O único aqui
que faz o que pode para não ver isso é você! — Respondi com
raiva.
Já se passaram sete anos e as coisas começaram a mudar
meses depois de estarmos juntos. Tínhamos combinado que eu
terminaria a faculdade, ele me garantiu que jamais implicaria com
meus estudos.
Que piada...
Meu casamento foi perfeito, o casamento dos meus sonhos,
todo decorado em branco e bordô, o vestido que minha mãe fez
para a ocasião, foi de fazer qualquer homem babar e todas as
mulheres invejarem, ele se moldou com perfeição a cada curva de
meu corpo, eu me senti uma princesa, e a mulher mais feliz e
realizada do mundo naquele dia.
Nós passamos um mês passeando por toda a Itália em nossa
lua de mel, fomos a todos os lugares que eu dizia que gostaria de
conhecer. Christopher era um cavalheiro, atencioso, cuidadoso,
amoroso, eu pensei que tudo seria perfeito entre nós.
Para mim, jamais existiria outro homem no mundo, pensei
que tinha tido a sorte de ter encontrado minha alma gêmea logo de
primeira, mas como minha mãe dizia, a vida é uma caixinha de
surpresas.
É... ela dizia, antes de falecer com meu pai em um acidente
de carro, perdi os dois ao mesmo tempo, eu nem tinha completado
um ano de casada ainda quando isso aconteceu. Então eu fiquei
sozinha... e Christopher se tornou a minha prioridade, meu porto
seguro, a única família que eu tinha.
Atualmente, somos como dois estranhos dentro de casa, mas
quando estamos juntos no meio da alta sociedade, fingimos que
somos o casal perfeito.
Ele conseguiu multiplicar enormemente os negócios da
família, minha sogra me odeia, e meu sogro é o único na família que
parece ter alguma consciência, é um bom homem, não sei como ele
se casou com a víbora que é minha sogra.
— Não teste a minha paciência Diana! Eu não estou para
brincadeira hoje. — Seus dedos apertaram meu rosto, me obrigando
a olhar para ele muito de perto, não consigo reconhecer nele o
homem que eu conheci.
Seu maxilar estava travado com a força que estava fazendo,
talvez tentando controlar a fúria para não me machucar antes de um
evento importante, é sempre assim, ele só não me machuca quando
precisa me exibir como um troféu.
— Não estou testando nada, querido, só estou falando a mais
pura verdade. — Eu nunca escondo dele a minha raiva, por mais
que me machuque e me magoe depois, nunca consigo ficar calada,
eu o enfrento sempre que posso. Nunca fui de baixar a cabeça e
isso o deixa completamente fora de si.
— Por que você faz isso Diana? Por que você nunca
consegue apenas fazer o que eu digo, sem tentar me irritar?
— Ah, mais essa é a única diversão que tenho na droga da
minha vida, por que eu deveria parar? Acha que eu tornaria as
coisas mais fáceis para você? Jamais!
Estamos sempre nos enfrentando, como dois animais
arredios, como dois estranhos que se odeiam, mas nem sempre foi
assim. A primeira discussão que tivemos foi sobre meus estudos.
Christopher não aceitava a ideia de ter que me “DIVIDIR”
como ele costumava dizer. Para ele, meu único papel deveria ser de
esposa, cuidar da casa e gerar filhos, mas eu nunca aceitei isso,
quando nos casamos, deixei bem claro que terminaria minha
faculdade, e ele fingiu que aceitou bem só para que eu me casasse
logo. Pensou que depois que estivéssemos juntos me faria mudar
de ideia, mas não saiu como ele planejou.
— O que é tudo isso? — Ele me perguntou quando comecei
a arrumar as minhas coisas para a aula.
— As aulas começaram — Andei em sua direção para dar um
beijo.
— Mas como você voltaria sem nem ao menos me
comunicar? Não acha que ainda dá para esperar um pouco mais?
Tem pouco mais de um mês que nos casamos.
Estreitei os olhos para ele.
— Não foi isso que nós combinamos, eu te avisei que não
esperaria, disse que o casamento poderia vir depois que eu me
formasse, quem insistiu que fosse antes foi você, e eu te disse que
não iria desistir dos meus planos. — Retruquei ríspida.
Ele mudou instantaneamente a maneira de falar comigo,
tornando a voz mais suave.
— É algum pecado querer a minha esposa apenas para mim
por mais alguns dias?
— Pecado nenhum, mas o que tínhamos combinado se
mantem de pé eu vou para a faculdade, como eu havia lhe dito.
Ele não gostou de ter sido contrariado, deu para perceber,
mas não discutimos mais, não a respeito de minha volta, as
discussões que vieram a seguir foram: “Essa roupa está apertada
demais”, “Esse vestido está muito curto”, “Por que passar
maquiagem?”, etc. etc. etc.
Ele ia todos os dias me levar e me buscar na faculdade,
mesmo que tivesse que desmarcar algum compromisso. A princípio
eu pensei que era apenas cuidado excessivo, mas depois notei que
era muito mais.
Ainda que entre muitos altos e baixos, eu consegui terminar
minha faculdade, apenas a pós ele me impossibilitou
completamente, mesmo assim a faculdade foi uma vitória.
Hoje iremos neste maldito jantar, semana que vem, a mais
algum evento que ele julga importante, e eu tenho que ir como a
esposinha boa e submissa.
— Ponha o vestido azul marinho que te comprei há algumas
semanas atrás, ficará perfeito.
— Nem mesmo o que vou vestir posso escolher? É sério
isso?
— Não quero ter que discutir com você Diana, só faça o que
lhe pedi. E deixe os cabelos soltos.
Ele tinha uma cisma com o meu cabelo que eu só posso dizer
que é uma obsessão doentia, ele detesta que eu prenda e me
proíbe de cortar. Ai de mim se tentar cortar um dedo a mais do que
as pontas. Ele sempre me acompanha no salão, fica sentado
olhando cada movimento da tesoura perto do meu cabelo.
— Meu cabelo está enorme, preciso ir cortar.
— Não tenho como ir te levar, vai ter que ir do jeito que está!
— Eu posso ir sozinha Christopher! Não vou voltar aqui com
um chanel, não se preocupe com isso. — Ele me olhou desconfiado,
mas por fim disse que o motorista me levaria.
Avisei também que iria ao shopping comprar maquiagem que
algumas das minhas coisas tinham acabado. Ele não gostou de eu
ter dito tudo em cima da hora, já que ele gosta de saber tudo o que
preciso com antecedência.

Depois que ele saiu, me aprontei para sair também, mesmo


que com aqueles brutamontes, sair sem ele na minha cola era um
enorme alívio, respirar um pouco era bom demais, meu humor
melhorou instantaneamente.
Meu marido se tornou muito possessivo e controlador, eu
jamais desistia de tentar mudar as coisas, mas também não tentava
mais lutar tanto.
Ele amava me exibir por aí como uma joia rara, mas dentro
de casa somente eu sabia o que tinha de enfrentar. Christopher
queria um herdeiro, mas eu fazia todo o possível para não
engravidar, tomava anticoncepcionais sem que ele soubesse.
Passei a comprar várias caixas sempre que eu conseguia sair de
casa sem ele, como agora. Misturo elas com o restante de minhas
compras e coloco junto de minhas maquiagens que é onde ele
nunca se interessa por mexer.
Despenquei do céu para o inferno e preciso que isso chegue
ao fim.
Capítulo 3
A primeira coisa que Christopher fez assim que cheguei em
casa foi verificar o tamanho dos meus cabelos.
— Não quero que perca sua feminilidade, é por isso que não
gosto que corte seu cabelo.
Revirei os olhos.
— A última coisa que pode me fazer não ser feminina é meu
cabelo, Chris, acredite. — Suspirei. — O que faz em casa tão cedo?
Pensei que chegaria mais perto do horário do jantar.
— Minha reunião foi adiada, eles querem que eu vá até lá. —
Suspirou. — Eu não entendo qual a necessidade, mas não posso
perder essa venda, é importante. Terei que ir até Las Vegas amanhã
mesmo.
Meu peito se encheu de esperança.
— Amanhã? Muito repentino. E quando você volta? — Raras
são as vezes que eu consigo ficar em casa sem ele. Geralmente,
quando as viagens são rápidas e em cima da hora, ele me deixa
ficar.
— Nós vamos, não vou te deixar em casa sozinha por tanto
tempo.
— Eu não quero ir. — Resmunguei.
— Não vou discutir sobre isso novamente com você, Diana.
Termine de se arrumar logo, não quero me atrasar. — Ele me olhou
por alguns segundos. — Você está deslumbrante nesse vestido.
Passe uma maquiagem leve — sorriu me olhando intensamente.
Não consigo mais entender como é que ele funciona. Na
maior parte do tempo, ele é um idiota desprezível, mas em alguns
momentos seus olhos brilham como antes.
Assim como imaginei, o jantar foi a mesma coisa de sempre,
frustrante e irritante, com as mesmas pessoas ridiculamente falsas e
infelizes.
— Diana querida, que bom que veio nos agraciar com sua
beleza. — Ah, não. — E quando é que vem um herdeiro? Não
acham que estão demorando um pouco demais? Eu me lembro o
quanto Chris era ativo, talvez você não consiga dar conta... não é?
Revirei os olhos.
— É sério, Srta. Bashar? Estou cansada desse seu disco
arranhado. Sabe por que ainda não temos filhos? Porque eu não me
preocupo com isso, não quero estragar esse corpinho lindo. Afinal
de contas, foi essa beleza estonteante que me deu o título de
senhora, enquanto você continua sendo a senhorita, não é mesmo?
Quem me dera que eu não tivesse entrado naquele maldito
quarto de hotel. Christopher jamais teria colocado os olhos em mim,
e ele provavelmente teria se casado com ela, Karina Bashar, a
mulher que estava na suíte com ele quando nos conhecemos.
Ela puxou o ar com força, me encarando como se quisesse
me matar.
— Não pense que, apenas por você ser a esposa oficial, seja
a única na vida dele.
— Acredite, querida, eu sei, e não me incomodo nem um
pouco. Porque ainda não teve mulher que fosse suficiente para tirar
o título de esposa de mim, enquanto você e sei lá quantas outras,
não passam de buracos onde ele coloca o pau.
A hostilidade que vejo em seus olhos grita que ela quer me
estrangular.
Seu rosto ficou vermelho.
— Você não tem nem um pingo de classe, o dinheiro dele
não foi capaz de tirar a pobreza das suas veias.
— E a sua riqueza não te ensinou a ter dignidade, então... —
dei de ombros.
— O que está havendo aqui? Todos estão olhando para
vocês! — Christopher se posicionou ao meu lado.
Abri um sorriso imenso para ele.
— Acho melhor que você mantenha suas amantes sob
controle, Chris, elas vão acabar fazendo um show qualquer dia
desses. — Comentei com meu sarcasmo habitual.
— Diana! — Usou aquela voz de "continue falando e eu
arranco seu pescoço fora." — Pare com isso.
Revirei os olhos puxando o ar com força.
— Chris, não é a mim que você deve se dirigir, a Srta. Bashar
está dizendo que, apesar do meu título, não sou a única mulher em
sua cama. Então, estava ajudando-a a entender que eu sei disso e
que, mesmo assim, eu ainda não deixei de ser a maldita esposa. —
Seus olhos se arregalaram.
— Sua esposa ainda é uma selvagem, não sabe se
comportar em sociedade. — Ela reclamou. — É realmente uma
pena que você seja tão cego, Chris.
— Vocês estão armando um escândalo. — Falou entre
dentes. — Diana, venha comigo um momento, querida.
O acompanhei até uma sala restrita.
— O que foi? Por que me trouxe aqui? — Perguntei,
cruzando os braços.
— Por que diabos você ainda dá atenção ao que ela diz? —
Jogou as mãos para cima. — Eu já cansei, cansei de dizer que você
deve ficar longe dela!
Gargalhei.
— Você é quem tem que colocar suas cadelas na coleira,
Christopher, não sou eu que tenho tantos amantes por aí que não
tenho mais controle sobre eles! Não importa aonde eu chego,
aquela maldita vadia vem atrás de mim para me importunar. Quer
falar com alguém, fale com o seu "depósito de esperma", não
comigo!
Ele levantou a mão para mim, mas deve ter se lembrado de
onde é que estávamos.
— Não me provoca, Diana.
— Por que porra você não se separa de mim e vai ficar com
ela? Eu não ligo! Seria o melhor para nós.
Seus olhos se arregalaram, a fúria dele chega a ser
assustadora.
— Nunca mais me diga isso! Nunca mais! Você é minha,
Diana! Minha! Você nunca vai sair do meu lado, você tem que me
amar...
Ouvimos uma batida na porta, e ele foi ver quem era.
— O que está acontecendo aqui? Por que você não está
falando com as pessoas importantes que deveria? — A voz da
minha sogra agrediu meus tímpanos.
— Estava conversando com Diana.
— Faça isso em casa!
Fiz questão de aparecer atrás dele na porta.
— Oi, sogra! — Abri meu sorriso mais falso. — Que bom te
ver.
— Diana, como vai? — Seu rosto se torceu em uma careta
de desgosto. — Voltem para lá.
— Diga isso ao seu filho, eu estava lá quietinha. — Ela
revirou os olhos. — Além disso, tenho certeza de que alguém deve
ter escutado sua queridinha falando sobre ser amante do meu
marido, o seu filhinho.
Eu não sei quem é a cobra mais peçonhenta, minha querida
sogra ou Karina. As duas adoram me importunar.
Meu sogro apareceu.
— Chris, Diana, as pessoas estão começando a comentar,
vamos voltar de uma vez. — Disse com seu tom brando, porém
firme.
Minha sogra e o lindo filho foram na frente, enquanto eu e
meu sogro fomos batendo papo mais atrás.
— Como o senhor tem passado? Senti falta de recebê-lo para
tomar um chá. — Entre todos da família, meu sogro é a única
pessoa boa. — Aquela casa é incrivelmente insuportável, e sua
companhia é agradável.
Ele sorriu.
— Vou aparecer, não se preocupe. Querida, evite deixar
aqueles dois irritados, você é uma boa menina, e eu detesto vê-los
te destratando como fazem. Meu filho é um homem complicado, sei
disso, mas se você não o desafiar tanto, talvez o casamento de
vocês finalmente possa dar certo, não acha?
O homem realmente não conhece o filho que tem.
— Nada entre mim e seu filho pode dar certo, mas obrigada
mesmo assim.
— Sabe, não consigo entender o que é que aconteceu. Ele te
ama tanto, vocês dois pareciam tão felizes no começo.
Eu nem consigo me lembrar da última vez em que eu e ele
estivemos no mesmo ambiente sem discutir.
O resto da noite passou se arrastando, enquanto eu me
afundava no mesmo poço de desespero de sempre, isso é
entediante demais.
— Vamos, querida? Amanhã temos uma viagem longa pela
frente, e ainda não temos nada pronto. — Disse sorrindo na frente
dos outros. — Ela já está com muito sono.
Voltamos em silêncio, fiz uma prece silenciosa para que ele
tenha ficado irritado demais para querer qualquer coisa comigo,
porque essa era uma outra guerra longa.
Capítulo 4
— Por que é que não posso ficar em casa? Você não precisa
de mim nesses lugares. — Perguntei a Christopher enquanto
começava a fazer as malas. Já estava cansada das viagens
constantes que ele insistia que fizéssemos.
Ele suspirou e olhou para mim com um olhar cansado.
— Diana, já discutimos isso antes. É importante para mim
que estejamos juntos, que apareçamos como um casal unido
nesses eventos. Não quero que as pessoas comecem a fazer
perguntas. Além disso, tenho planos para você nessa viagem.
Revirei os olhos. Os "planos" de Christopher geralmente
significavam que ele esperava que eu desempenhasse o papel de
esposa perfeita e ficasse ao seu lado, sorrindo e acenando,
enquanto ele fazia negócios e se exibia para sua elite social. Eu
havia me tornado uma mera peça de decoração em seu mundo
extravagante.
— Já sabemos que esse casamento é mais sobre aparências
do que qualquer outra coisa, não é? — Respondi com amargura.
Ele se aproximou de mim e pegou meu rosto entre as mãos.
— Diana, tente entender. As aparências são importantes no
nosso mundo. Você é linda e elegante, e isso reflete bem em mim.
Além disso, você sabe que eu me importo com você.
Engoli em seco e desviei o olhar. Ele estava calmo demais.
Christopher tinha seu jeito de manipular a situação a seu favor,
usando palavras doces para encobrir sua falta de caráter. Mas já faz
tempo que isso não funciona comigo.
— Está bem, farei as malas, como sempre. — Concordei
resignada. — Você nunca me dá escolha.
Ele me beijou na testa e sorriu.
— Isso mesmo, minha querida. Você será a esposa
deslumbrante que todos invejam. E eu, o homem de sorte por tê-la
ao meu lado. — Seus olhos encontraram os meus, e senti um frio
intenso percorrer minha espinha.
Sabia por que ele estava tentando ser doce, sexo. Suas
mãos alisaram minha cintura, e ele se aproximou lentamente de
mim.
— Há muito mais que uma boa esposa deve fazer por seu
marido, não acha? Depois do vexame desse jantar, acredito que
você deva me compensar, Diana.
— Por que não procura a sua amante para isso? Não me
faça sentir ainda mais suja do que me sinto apenas por ter seu
sobrenome.
Christopher soltou minha cintura bruscamente e seus olhos
faiscaram com raiva.
— Não ouse falar assim comigo, Diana. Você é minha
esposa, e tem deveres a cumprir.
— Deveres? — Respondi, enfrentando-o com fúria. —
Deveres não incluem destruir minha dignidade e meu amor-próprio.
Você transformou nossa vida em um pesadelo, e não vou ceder às
suas vontades, isso seria cruel demais comigo mesma!
Não importava o quão deslumbrante fosse nossa fachada em
público, a realidade de nosso casamento era uma guerra constante,
onde nenhum de nós estava disposto a ceder. Havia um abismo
entre nós.
— Diana, você precisa entender o seu lugar. — Christopher
declarou com amargura em sua voz.
— E qual é o meu lugar, Christopher? — Disse eu, minha
raiva se transformando em determinação. — Um acessório brilhante
que você exibe como um troféu?
Ele se aproximou, seu rosto vermelho de raiva.
— Você é minha esposa. Deveria me respeitar.
— Respeito? E que respeito você tem por mim? — Retruquei,
mantendo minha postura. — Eu me casei com você por amor, mas
você transformou tudo em um pesadelo. Não é assim que um
casamento deve ser!
Christopher olhou para mim, um misto de raiva e
incredulidade em seu olhar. Nossos olhos se encontraram, e por um
momento, pude jurar que ele estava sentindo alguma tristeza.
— Não vou tolerar que fale assim do nosso casamento,
Diana. — Sua voz era gélida.
— E eu não vou viver como uma prisioneira para sempre. —
Afirmei, determinada a me fazer ouvir.
— Termine de fazer as malas. Partiremos amanhã muito
cedo. — Ele falou secamente. — E depois, espero que esteja pronta
para desempenhar seu papel de mulher, porque se quiser mesmo
um conflito, saiba que estou realmente torcendo por isso.
Eu assenti, meu coração pesado de tristeza. Separando
minhas roupas, pensava nos sonhos que costumava ter antes de
me casar com Christopher. Eu tinha tantos planos e aspirações,
ansiosa por seguir minha carreira e construir uma vida ao lado de
alguém que me apoiasse. Mas minha realidade se transformou em
uma prisão de luxo e opressão.
Enquanto arrumava minha mala, olhei para o estoque de
anticoncepcionais que escondia. Era minha pequena rebelião
silenciosa contra o desejo de Christopher de me prender ainda mais
a si. Eu sabia que isso só aumentava o atrito entre nós, mas não
estava disposta a trazer uma criança para esse casamento infeliz.

Assim que saí do closet inspirei aliviada porque não o vi ali,


mas não demorou para que Christopher entrasse no quarto
trancando a porta atrás de si, ele se aproximou de mim, sua
respiração pesada de desejo. Seu toque, no entanto, não era
carinhoso, era possessivo e autoritário.
— Você não consegue ver o quanto me deixa louco? O
quanto sou louco por você? por que se comporta assim? Meu tesão
por você me deixa completamente insano. — Sua voz estava
carregada, mas tudo o que ele fazia servia apenas para me dar
repulsa.
Eu o empurrei com firmeza, evitando seu toque.
— Não se atreva!
— Diana, você está aqui para me satisfazer em todos os
aspectos. Isso é parte do seu papel como minha esposa. — Ele
tentou se aproximar novamente, mas eu me afastei com firmeza.
— Eu não sou propriedade sua, Christopher! — Eu o encarei
com determinação. — Não sou um objeto para satisfazer suas
vontades. Há mais em um casamento do que você entende.
Respeito e amor são partes fundamentais, e você parece ter
esquecido disso.
Ele cerrou os punhos, sua frustração óbvia.
— Você deve obedecer às minhas vontades!
— Não sou sua submissa, Christopher! — Eu estava quase
gritando agora. — Não vou permitir que você me trate como tal.
Uma relação precisa de compreensão, respeito e igualdade, não
dessa dinâmica de controle e submissão.
A briga estava se tornando mais intensa a cada momento.
Christopher já estava acostumado a enfrentar resistência, e minha
postura desafiadora o enfurecia. No entanto, eu não ia recuar. Eu
nunca o aceitava que ele me levasse para a cama, sem antes ter
perdido todas as minhas forças.
E era apenas assim que ele conseguia algo de mim, depois
que me levava ao limite da exaustão, e também era assim que ele
sempre precisava encontrar desculpas para minha ausência, afinal
ele não poderia exibir sua esposa perfeita cheia de marcas.
Depois de tudo, continuei deitada na cama, me sentindo
esgotada física e emocionalmente. Christopher se deitou ao meu
lado, mas a distância entre nós era como um abismo. O silêncio
naquela noite foi um lembrete doloroso de quanto nosso casamento
havia se deteriorado.
Capítulo 5
Levanto-me de mau humor porque Damon me pediu para que eu
fosse encontrá-lo, e sempre que isso acontecia era por algo que eu não
iria gostar.
— Por que essa cara? — Me pergunta assim que chego. —
Parece que vai a um enterro.
— Se fosse um enterro eu estaria sorrindo. É um enterro?
— Não, você vai a Las Vegas. — Me olhou diretamente.
— Posso escolher o enterro? Tem um no quartinho que pode ser
o próximo. — Bufo me sentando.
— Sabe que não te pediria se não fosse importante. Não confio
em outra pessoa para me representar.
— Não adianta puxar meu saco, sabe que odeio lidar com idiotas
tanto quanto você!
— Fico te devendo uma, Pierre — ele diz como um pedido de
desculpas.
Damon e eu temos uma boa relação, não apenas como Don e
Consigliere, mas como família. Fiz questão de proteger meu primo no
passado, quando estava apenas aprendendo e não sabia como nossa
vida era. Agora, ele é tão duro e frio como aço.
— Eu não caio mais nessa, Damon. Você nunca me paga o que
fica devendo. — Dispenso seu comentário com uma das mãos.
— Mas sempre me lembro... — Ele respondeu. — É importante, e
eu não tenho paciência para aqueles engomadinhos. Você é melhor em
negociações do que eu. Se me tirar do sério, vou acabar matando
alguém e dando mais trabalho para você.
Maldição!
O pior é que ele está certo. Eu sou melhor cuidando disso, mas
queria não ser. Ele vai acabar fazendo alguma coisa por aqui. Damon
virou uma máquina de matar e gosta disso, o que gera problemas e
muitos inimigos.
— Eu preciso de férias! — Exclamo frustrado.
— Aproveite um tempo em Vegas. Aquele lugar tem muito o que
pode te distrair. Fique algum tempo, e se precisar de você, eu aviso. —
Ele sabe ser convincente. — Cidade do pecado, Pierre, isso tem que
significar algo para você.
— Acho que já tenho pecados suficientes pelas próximas
centenas de encarnações. — Suspirei e assenti. — Está bem. Eles vão
ficar uma fera por você não ter ido.
— Eles têm muito medo de você para pensar em reclamar, terão
ainda mais sabendo que você não queria ir.
— Você já me convenceu, pode parar de me bajular. — Sorrio. —
Vou me preparar para partir. Nos vemos em alguns dias. Não vou
demorar. Eu também odeio aqueles engomadinhos medrosos.

Algumas horas depois, eu já estava a caminho de Vegas. Meu


humor piorando a cada segundo dentro da aeronave.
— Assim que pousarmos, vou até o hotel. Tenho muito o que
fazer lá. Vocês podem verificar a casa, não sei como está, faz tempo
que não voltamos aqui por problemas. Arrumem alguém que cuide e
limpe tudo. Amanhã vou para lá. — informei.
— Sim senhor. — Os poucos homens que trouxe comigo
responderam.
— Quem vai acompanhá-lo até o hotel? — Um deles me
perguntou.
— Vou sozinho. Não se preocupem comigo. Eu me viro bem. —
Como se eu precisasse de alguma babá. Damon às vezes me tira do
sério.
Não havia a menor necessidade de que ninguém me
acompanhasse, mas como ele nunca consegue me escutar, aqui estou
eu.
Minha chegada ao hotel causou um grande alvoroço. Eu sabia
que não era a mim que esperavam, mas com a expressão de poucos
amigos, duvido muito que alguém vá mencionar isso.
— Boa noite, Sr. Lucchese, que bom revê-lo. — A mentira dele
chega a ser ridícula. — Preparei suas acomodações, espero que tudo
seja do seu agrado.
— Eu também espero, mas não vou ficar muito tempo, quero
resolver a merda que vocês fizeram e voltar para casa. Odeio que me
tirem a paz por irresponsabilidade. — Ele engoliu seco.
— Vou levá-lo até seu quarto, me acompanhe por gentileza.
— O que sabe me dizer sobre o que tem se passado aqui? —
Perguntei no caminho. — A última vez em que estive aqui, me lembro
bem de ter avisado que detesto incompetência.
— Sinto muito Sr. Lucchese, não queríamos ter que importuná-
los, mas sua presença se fez necessária, é melhor que tudo seja
explicado de uma vez na reunião, assim também terá tempo para
descansar e aproveitar um pouco de nossas acomodações.
— Tenho cara de quem está aqui para descansar? Parece que
estar no inferno é algum lazer? — Seu rosto perdeu a cor. — Foi o que
pensei.
A reunião foi marcada para o dia seguinte à tarde, então ainda
teria tempo demais, e como dizem: mente vazia, oficina do demônio, e o
meu tenta me entreter com muita facilidade. Decido usar um pouco a
piscina do hotel e depois ir até o cassino. Era o máximo que eu faria
neste inferno e além disso, ficar no quarto só serviria para me deixar
mais irritado.
No meu andar, há apenas uma suíte. É impossível que alguém
chegue até mim sem um cartão de acesso no elevador, assim ninguém
pode me importunar.
Passo algum tempo nadando, antes de anoitecer e eu me cansar.
Volto para um banho rápido e desço para o cassino.
Assim que entrei, meus olhos caíram sobre uma mulher que
estava do outro lado da mesa de blackjack. Eu raramente reparo em
mulheres ao meu redor, mas essa, seu olhar marcante e a boca
vermelha chamaram minha atenção. Principalmente porque assim que
apareci, seus olhos se prenderam aos meus.
Caminhei lentamente até a mesa, e me juntei ao jogo.
— Boa noite. — Sorri a olhando diretamente.
Há muito tempo uma mulher não me interessava, mesmo que
seja apenas por sua aparência. A mulher é uma gostosa. O vestido
vinho se ajusta com tanta perfeição ao corpo que parece uma segunda
pele.
— Boa noite. — Sua voz é como música e enfeitiça diretamente o
meio de minhas pernas... Virei um tarado.
Seus olhos também não desgrudaram dos meus, o que me faz
sorrir amplamente. E ela está ganhando e muito, ao que parece.
— Além de muito bonita, é inteligente e sabe blefar. — Um dos
senhores à mesa cochichou alto para mim, fazendo-a sorrir. — Esteja
preparado para perder, a beleza dela engana.
Não pude deixar de rir das informações que ele me passou.
— Estou pronto para deixar uma grana aqui, pode deixar. —
Cochichei de volta. — E farei questão de perder só para conseguir
admirar a beleza dela por mais um tempo. — Pisquei.
— É bom saber que veio preparado. — Ela me responde com
diversão.
Não sabia que ela estava acompanhada até um homem aparecer
ao seu lado.
— Preciso roubar minha esposa por um instante cavalheiros —
pontuou. — Ela parece já ter chamado atenção demais por aqui. — Seu
olhar raivoso se prendeu em mim. — Parece que terei que comprar uma
aliança maior.
— Mas eu estava ganhando... — ela resmungou olhando para o
marido. — Quero jogar só mais um pouquinho.
Ele a pegou pelo braço, e não pude deixar de notar que não foi
com delicadeza. A pele ao redor dos dedos ficou branca pela pressão de
sua mão.
— Vamos, querida, você tem dinheiro o bastante, não precisa do
da mesa de jogo... — Rosnou com raiva mal contida.
— A senhorita estava contente com o jogo, por que está tirando-a
daqui? Se junte a nós. O que acha? — Provoquei-o.
O rosto do homem ficou num tom de vermelho vivo.
— Como eu disse, ela é minha esposa, é senhora, não senhorita!
E acho que ela está cansada. — Olhou para ela. — Não é querida? —
Ela o encarou sem responder. — Tenham uma boa noite.
Os seguranças do cassino se aproximaram de nós.
— Sr. Lucchese, algum problema aqui? — Fuzilaram o marido
com o olhar.
— Se ela disser que está tudo bem, então está tudo bem. — Sorri
para ela e vi o aperto ficando mais forte em seu braço. — Está tudo
bem? — Perguntei, olhando diretamente em seus olhos.
— Está sim. — Ela se levantou. — Tenham uma boa noite.
Observei enquanto os dois se afastavam e vi quando ela olhou
para mim uma última vez. Era como se estivesse pedindo socorro, mas
a chance de pedir ajuda eu dei. Ela foi covarde e não aceitou.
Continuei a jogar e não a vi pelo resto da noite, só esbarrei com o
marido em algumas mesas de jogos cercado por outras mulheres.
Sempre que me via, ele fechava a cara, e eu sorria.
É cansativo ser o racional. Muitas vezes só quero deixar que meu
monstro interior saia e destrua tudo ao meu redor, mas como Damon já
assumiu esse papel, alguém tem que dosar e ser mais comedido.
Deixei isso de lado. É apenas um idiota que se casou com uma
bela mulher. Não vim aqui para adquirir mais dor de cabeça.
Capítulo 6
Passamos entre os conhecidos com o mesmo sorriso falso de
sempre no rosto. Aqueles eventos sociais eram sempre um suplício
para mim, mas Christopher adorava o luxo e circunstância, então eu
o acompanhava, sofrendo em silêncio.
— Voltarei em breve para o cassino, vou apenas levar minha
esposa até a suíte, ela já está cansada. — Christopher anunciou,
ignorando o fato de que eu poderia tomar minhas próprias decisões.
Ele era assim, controlador e sempre queria parecer o marido
perfeito perante os outros.
Assim que saímos das vistas das pessoas, Christopher tirou
aquela máscara de marido amoroso. Sua expressão furiosa estava
à mostra.
— O que pensa que está fazendo? Flertando com outro na
minha cara, Diana! — Rosnou com raiva. — Eu deveria ter
quebrado a cara daquele maldito babaca! — Sua raiva era palpável,
e eu não podia evitar uma pontada de satisfação por vê-lo daquele
jeito. — DO QUE PORRA ESTÁ RINDO? — Ele explodiu, seu rosto
vermelho de fúria.
Revirei os olhos e entrei no quarto. Sua explosão de raiva
não me afetava mais. Eu sabia que ele era um monstro disfarçado
de homem, e qualquer centelha de medo que eu já tivera havia se
apagado há muito tempo.
— De você, é claro. — Parei e olhei para ele novamente. —
Como é que consegue ser tão duas caras assim? Agora mesmo
estava todo contente na frente dos seus sócios, amigos, ou sei lá o
que. Agora falta me jogar pela sacada.
Ele se aproximou como um touro bravo, pensei que iria
mesmo me machucar, mas parou, olhando para mim bem de perto.
Seus olhos estavam injetados de raiva.
— Você tem muita sorte, Diana, muita sorte que eu não
consigo viver sem você, sorte por te amar tanto, porque eu juro, juro
que já teria acabado com você se não fosse por isso!
— Amor? Como pode falar sobre um sentimento que
desconhece? Você nunca me amou, Christopher. Você me quis, e
fez o suficiente para me conquistar, mas eu não sei, não entendo
por que você mudou tanto...
Ele deu uma risada sem emoção.
— Agora você vai tentar me culpar? Isso é bem típico
mesmo. Depois de cometer o erro, me pergunta por que é que EU
mudei. — Sua mão encostou em meu pescoço. — Quero que faça
uma coisa para mim.
— Diga... Se estiver ao meu alcance, garanto que farei com o
menor prazer possível, seja o que for. — Respondi, esforçando-me
para manter a calma.
Ele sorriu, um sorriso que não alcançou seus olhos.
— Não esperava menos de você! — Ele foi até sua mala e
tirou uma embalagem de dentro. — Faça esse teste.
Peguei o teste de gravidez nas mãos, e meus pensamentos
se embaralharam. Eu não estava preparada para esse pedido. A
ideia de um filho com Christopher era aterrorizante.
— Não estou grávida! — Exclamei, quase com desespero na
voz, negando e estendendo o teste de volta para ele.
— Por que é que tem tanta certeza disso? Eu sempre faço
questão de te encher de porra quando vamos para a cama. — Ele
acariciou meu rosto sem delicadeza. — Será que é pelo
anticoncepcional que você estava tomando escondida?
Arregalei os olhos. Ele sabia sobre o anticoncepcional que eu
tomava escondido? Como?
— Como é que você sabe disso?
— Não há nada que você faça que eu não saiba, Diana. Você
tem tomado placebo desde que eu descobri. E já deve estar grávida.
Meus parabéns, querida. Tenho certeza de que agora seremos pais.
Corri com o teste para o banheiro, mas ele me impediu de
fechar a porta. Meu coração estava em disparada, e o chão parecia
se abrir sob meus pés. O medo e a angústia eram esmagadores.
— Diana, você não pode fugir disso. — Ele empurrou a porta
para trás e entrou no banheiro. — Você está grávida, e eu sou o pai.
Nada vai mudar isso.
O medo me fez pensar em alternativas, qualquer coisa para
não ter que ter um filho com ele.
— Você não tinha o direito de fazer isso! — Gritei, encarando-
o.
— Você não me deu escolha. — Christopher pegou o teste de
minhas mãos trêmulas. — É claro que eu tinha o direito. Você vai
ser mãe, quer goste ou não.
A revolta cresceu dentro de mim, e eu gritei. Christopher não
merecia ser pai. E eu faria qualquer coisa para impedir que isso
acontecesse.
— O que está fazendo, seu idiota? — Tentei fechar a porta
novamente, minha voz tremendo de ansiedade e desespero.
Christopher olhou para mim, segurando o teste de gravidez
em suas mãos. Sua expressão não era a de alguém que desejava
apaziguar a situação, mas sim a de quem estava determinado a me
enlouquecer.
— Eu quero ver, não vou deixar que você simplesmente
jogue água e diga que não está esperando nosso filho. — Sua voz
soou autoritária, como se ele tivesse todo o direito de tomar essa
decisão por nós.
Apesar de odiar a ideia de ceder a qualquer pedido dele, uma
parte de mim queria saber a verdade, queria saber se estava
grávida. E, que os deuses me ajudassem, eu esperava
sinceramente que a resposta fosse negativa. Eu não suportaria a
ideia de gerar um filho dele, uma criança que seria criada no meio
desse caos e com um pai tão instável.
Não precisei esperar muito, pois assim que olhei para o teste,
lá estava a resposta. Dois tracinhos perfeitamente desenhados
naquele pequeno espacinho. Meu coração afundou, e lágrimas
vieram aos meus olhos. Isso não poderia ter acontecido. Eu não
podia ter um bebê, pelo menos não antes de me livrar dele.
Os olhos de Christopher brilhavam como duas joias,
completamente satisfeito com o resultado. Quem o conhecia como
eu, sabia que a beleza exterior era o máximo de beleza que ele
possuía, pois sua essência era obscura.
— Está feliz, querida? — Perguntou, com um sorriso
asqueroso no rosto. — Eu estou... agora talvez você me ame como
deveria, me ame como eu te amo.
Soltei uma gargalhada desprovida de qualquer traço de
felicidade. Era um sorriso de loucura, um sorriso que revelava toda a
raiva e desespero que eu sentia.
— Quer que eu responda? — Senti que estava beirando a
insanidade. — Isso não é problema. Com a vida que eu levo e a
raiva constante que passo, fora as suas “leves” agressões, em
breve essa criança não vai existir mais.
Seu rosto ficou vermelho de raiva, e ele avançou em minha
direção, parando a centímetros do meu corpo.
— Deseja mal para o seu próprio filho? Me odeia tanto
assim? — Sua voz soou ameaçadora, e seu hálito quente atingiu
meu rosto.
— Muito mais do que você pode imaginar! — Gritei, deixando
toda a raiva transparecer, expondo toda minha repugnância por ele.
Um tapa forte acertou meu rosto, e a ardência queimou
minha pele imediatamente. A dor física não se comparava à dor
emocional que eu estava sentindo.
— Porra, Diana! Por que diabos não consegue calar essa
boca? Olha o que me faz fazer! — Christopher fechou as mãos em
punho, respirando profundamente. — Não saia daqui, vou deixar a
porta fechada, e os seguranças estarão aqui fora. Se precisar de
algo, chame.
Ele saiu do quarto, me deixando finalmente sozinha com a
minha dor e desespero. A situação era insuportável, e eu sabia que
precisava sair daquele pesadelo o mais rápido possível.
Um filho? Como eu conseguiria gerar uma vida nessa
situação? Como essa criança cresceria? Qual tratamento receberia
do pai?
Eu precisava sair dali, me livrar daquele homem e daquela
situação. Não podia criar um bebê no meio desse inferno, desse
caos que era a minha vida. O medo e a incerteza me consumiam,
mas eu estava disposta a fazer qualquer coisa para proteger a mim
e à criança que agora existia dentro de mim.
capítulo 7
Há algo particularmente irritante em ter que lidar com essas
pessoas. Eles veem a vida como algo simples, como se todos os
problemas pudessem ser resolvidos com um simples estalar de dedos.
No entanto, na minha realidade, nada é simples, nada é fácil, e a noite
que se segue é prova disso.
Depois de voltar para a suíte, passei horas ao telefone, em
reuniões intermináveis com os nossos aliados. Eu não queria deixar
todos os assuntos nas mãos do meu primo, Damon. Conheço a sua
natureza impulsiva e cabeça quente, e sabia que a situação exigia mais
cautela.
Liguei para alguns dos meus homens de confiança, aqueles que
foram incumbidos de lidar com o indivíduo que estava preso no
quartinho.
— Fizeram o que mandei? — Minha voz estava impregnada de
impaciência. Não posso, de forma alguma, virar as costas, nem mesmo
por um instante. O mundo em que vivemos é cruel e impiedoso, e
qualquer deslize pode ser fatal.
— Sim, senhor, mas tivemos um problema. — A voz do meu
homem soava tensa, e meu estômago se contraiu. Problemas não são
exatamente o que quero ouvir.
— Problemas? Por favor, não era uma tarefa tão complicada. —
Minha mão apertou com força o telefone, e eu me viro inquieto na cama.
Os lençóis amarrotados testemunham a noite de insônia que estou
tendo.
— Antônio apareceu, senhor. Ele queria informações sobre tudo,
especialmente sobre os irlandeses que estavam sondando o nosso
território. — A menção do nome de Antônio fez meu sangue ferver. Ele é
como um espinho cravado na minha carne, uma ameaça constante que,
nem Damon e nem eu conseguimos eliminar.
Antônio, o figlio de puttana[2] que acredita que pode desafiar
Damon e seu domínio, e passar por cima da minha autoridade. Ele é um
problema que nunca parece desaparecer por completo. Respirando
fundo, tento conter a fúria que ameaça me dominar. A verdade é que
Antônio nunca esteve ao nosso lado, está apenas nos vigiando.
— O que ele fez? — Minha voz soou fria. O problema com
Antônio é que ele não é apenas um intrometido; ele é astuto e perigoso,
e sempre quer estar a um passo à frente de todos.
— A verdade é que não nos deixou a par de tudo, senhor, mas
parece haver alguém por trás disso, alguém muito maior do que o
soldado que estava no quartinho. — A preocupação na voz do meu
subordinado era evidente.
— Mantenham-me informado! — Encerrei a chamada.
Por ora, eu estava sozinho na suíte, mergulhado em meus
pensamentos e em uma luta constante para manter o controle sobre o
caos que ameaçava se desencadear. Não é uma vida fácil, e ninguém
sabe disso melhor do que eu.

Aguardei impaciente até o horário que estava marcada a reunião,


e encontrei o gerente do Caesars Palace[3] me aguardando próximo a
sala.
— Senhor Lucchese? Que bom vê-lo novamente, temos alguns
problemas, temo que não irá lhe agradar, mas como sei que esse tipo de
coisa vocês preferem resolver pessoalmente, eu não tive outra escolha.
Os eventos da noite anterior ainda ecoavam em minha mente
quando o encontrei, e meu humor estava péssimo. Damon tem total
controle sobre três cassinos aqui, e isso tem sido motivo de diversas
encrencas. A disputa territorial é uma constante nesse mundo, e todos
parecem querer uma fatia do nosso império.
— O que foi dessa vez? — Minha voz soava cansada, mas a
irritação estava clara em meu tom. Os problemas nunca parecem ter fim.
— Ofereceram um serviço aqui, que vai contra as vontades de
sua família, mas que tem tido um crescimento ao redor e nos deixando
para trás.
O olhar do meu interlocutor era repleto de apreensão, como se
soubesse que estava trazendo más notícias. Eu cerrei a mandíbula,
preparando-me para o pior.
— O que quer? Diga de uma vez. — Minha impaciência se fazia
sentir, e eu não tinha tempo a perder.
— Um serviço de acompanhantes aqui. — Ele proferiu as
palavras com uma cautela que indicava que estava ciente da nossa
aversão a determinado tipo de negócio.
Senti meu sangue ferver. O negócio de acompanhantes é um
território sensível para a nossa família. Prezamos pela liberdade e pela
dignidade das mulheres que estão ao nosso redor. O mero pensamento
de alguém forçado a algo desse tipo me revoltava.
— Sabe que detestamos que as garotas sejam obrigadas a algo,
se estivéssemos mais perto faríamos nós mesmos, mas estamos longe
e o Don não gosta de seu nome envolvido nesse tipo de sujeira.
Ele tentou me acalmar, explicando que o serviço em questão
estava operando de forma ética, sem explorar as mulheres. Por um
momento, considerei a possibilidade de que pudesse ser verdade.
— Tem certeza? — Minha desconfiança ainda persistia. Afinal,
essa é uma área sombria, onde as aparências muitas vezes escondem
uma realidade perturbadora.
— Sim...
— Ótimo... — Coloquei minha arma na mesa, mostrando que
estava disposto a ouvir mais. No entanto, fiz questão de ressaltar: —
Mas fique ciente de que se algo acontecer, eu virei cobrar de você!
Onde está o maldito homem que fez com que você me obrigasse a vir
até aqui?
— Eu também precisei obrigá-lo a vir, é um homem ocupado, mas
sabe da importância desse negócio.
Suspirei pesadamente. Damon não é o único com temperamento
forte na família. Todos nós somos igualmente teimosos, e todos têm
suas próprias ambições e agendas.
— Pare de puxar o saco, se eu não gostar, é não e acabou, sabe
bem disso, não sabe? — Minha voz soava exausta, até mesmo aos
meus ouvidos, e eu me perguntava se alguma vez teria paz.
— Vou chamá-lo.
Enquanto esperava pelo tal homem, meus pensamentos
vagueavam. Não era a primeira vez que estava envolvido em uma
situação delicada como essa. No submundo que habito, é vital manter o
controle sobre as atividades que podem desestabilizar nosso império.
Quando ele finalmente entrou na sala, não pude deixar de sorrir.
Seus olhos demonstravam surpresa, como se ele não acreditasse que
estava diante de mim.
— Vou te fazer apenas uma pergunta, as garotas estão de livre e
espontânea vontade? É tudo o que quero saber.
Ele parecia atordoado por um momento, talvez pela gravidade da
situação ou por estar diante de alguém com a minha reputação. As
palavras saíram de seus lábios com hesitação.
— Sim, nenhuma obrigada a nada e pode ir embora quando bem
entender.
Meus olhos penetraram os dele, e a ameaça subjacente em
minhas palavras estava clara.
— Eu sei que você deve ter um bom poder para conseguir se
manter no ramo, mas acredite, você não chega nem mesmo perto de ter
tanto poder quanto a família Lucchese, então faça um favor a todos nós
e não tente me enrolar, porque se eu descobrir, se ao menos sonhar...
acredite, eu vou destruir tudo o que você pensa que tem em piscar de
olhos.
Ele engoliu em seco, finalmente compreendendo a gravidade da
situação. Era importante que soubesse com quem estava lidando.
Somos Lucchese, pertencemos a Ndrangheta, e nosso nome é sinônimo
de poder e influência.
— Você disse Lucchese?
— Sim, já deve ter ouvido falar, não é mesmo? — Sorri, mas não
havia calor em meu olhar.
— Sim, Damon e Pierre Lucchese, certo?
— Sou Pierre, o Demônio não estava disponível. — Era
importante que ele soubesse com quem estava se metendo, que a
nossa fama era justificada. — Mas como deve saber, qualquer um dos
dois consegue se livrar de tudo e todos ao seu redor como se fossem
insetos, então eu não cometeria nenhum erro.
Sua expressão era uma mistura de medo e respeito, mas eu
ficaria de olho, um homem como ele, mesmo que não chegue a ser o
que somos, pode ser um problema em potencial. No entanto, sua
próxima observação me pegou desprevenido.
— Nos conhecemos de um jeito desagradável, mas você deve
imaginar que não é fácil manter uma mulher daquela longe dos gaviões,
minha esposa chama muita atenção por onde passa, e eu cuido para
que ela esteja sempre em segurança.
Eu me levantei, cansado da conversa. Não tinha tempo para ouvir
detalhes sobre sua vida particular.
— Poupe-me de seus problemas conjugais, isso não me
interessa. — Dispensei o assunto com um gesto impaciente. — Tudo o
que quero é que se mantenha na linha. — Dei dois passos em direção à
saída, mas parei e olhei para ele. — Existe um meio mais prático de
manter os gaviões afastados... tratar sua mulher como ela gostaria de
ser tratada, ela mesma afastará quem quer que se aproxime. — Sorri
ironicamente para ele. — Tenha uma boa tarde.
Seu rosto se fechou em resposta às minhas palavras, e ele
finalmente parecia entender que eu não tinha tempo para suas
justificativas ou explicações. Por enquanto, ele iria manter distância, pois
sabia que qualquer deslize seria impiedosamente punido.
— Que bom que tudo deu certo! — O gerente do cassino correu
até mim, aliviado por ver que a conversa havia chegado ao fim. —
Deseja algo, senhor?
Eu observei o homem atentamente, avaliando sua reação após
nossa discussão. Sabia que ele estava aliviado pelo acordo que acaba
de ser selado.
— Aproveitando que já estou aqui, ficarei um pouco mais para
analisar tudo o que tem acontecido nos nossos negócios.
Meus olhos percorreram o cassino, captando todos os detalhes
do ambiente. Um lugar como aquele, onde o dinheiro flui
constantemente, sempre guardava segredos e traições. Eu tinha que
manter meu império seguro, e isso significava estar ciente de tudo o que
ocorria.
— Como desejar, senhor. — O representante do cassino
respondeu, claramente disposto a cooperar. — O contrato a respeito do
novo projeto estará pronto em breve.
Balancei a cabeça em sinal de aprovação, mas não pude deixar
de lembrá-lo das regras que regiam nosso mundo.
— Sabe que não podemos ter provas físicas de coisas ilícitas.
Ele assentiu, compreendendo a necessidade da discrição em
nossos negócios.
— É apenas para que conheça todos os termos, não se
preocupe, tudo é feito sigilosamente.
Minha estadia ali seria breve, mas intensa. Eu tinha negócios
para cuidar, e não havia tempo a perder. Aquela cidade podia seduzir e
corromper, mas eu estava determinado a mantê-la sob controle.
Capítulo 8
Christopher não voltou para o quarto na noite anterior, e uma
sensação de solidão e angústia tomou conta de mim. Os homens
que ele deixou do lado de fora não me permitiram sair. A única
explicação que me davam era: "Ordens do Senhor Rockefeller".
Aquelas palavras eram como um cárcere que me mantinha
confinada.
A ideia de que havia um pequeno ser indefeso crescendo
dentro de mim me assombrava, tornando o sono inalcançável. A
noite foi longa e solitária, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Finalmente, ouvi o som da porta se abrindo, e Christopher
entrou no quarto. O cheiro de álcool e perfume feminino barato
impregnava o ar, e a raiva fervia dentro de mim.
— Pretende me manter presa aqui por quanto tempo,
Christopher? — Minha voz trazia um tom de desafio e frustração.
Ele se aproximou de mim com um olhar frio, sua expressão
imperturbável.
— Pelo tempo que for necessário, Diana. Sabe que se
comportou muito mal na noite passada. — Seus olhos estavam fixos
em alguma marca em meu rosto. — E você não pode ser vista com
essa marca horrível.
Uma risada amarga escapou de meus lábios.
— Por sua culpa! — Acusei, a raiva fervilhando em mim.
— Não, por sua culpa, por me tirar do sério, por me fazer
perder o controle! — A lembrança da noite anterior, do desespero e
do medo me atingiu como um soco no estômago.
Ele suspirou, parecendo cansado.
— Diana, você sabe que não gosto de discutir. Apenas quero
que fique tranquila.
Minha frustração aumentou diante de sua indiferença.
— Tranquila? Como posso ficar tranquila quando estou
trancada aqui como uma prisioneira?
Ele se aproximou de mim, seus olhos buscando os meus. Um
misto de emoções passou por seu rosto, mas sua voz permaneceu
fria e controlada.
— Você sabe que temos que manter as aparências, Diana.
Todos estão à espreita, esperando uma oportunidade para nos
atingir. Precisamos ser cuidadosos.
Senti o desespero e a impotência se acumulando dentro de
mim.
— E eu? O que sou nessa história? Uma peça que pode ser
usada e descartada a seu bel-prazer?
Christopher pareceu hesitar por um momento, como se
lutasse consigo mesmo. Então, finalmente, suas palavras saíram
com mais sinceridade.
— Você é minha esposa, Diana. Não quero que nada de mal
lhe aconteça. Mas precisamos ser prudentes, por enquanto. Esse
não é lugar para você querer ser rebelde.
Eu o encarei, sentindo-me completamente inútil, e uma
pergunta não parava de ecoar em minha mente.
— E o bebê? O que acontecerá com ele? Será criado nesse
inferno em que vivemos, Christopher? Entre as nossas brigas, suas
agressões, traições... como acha que será essa criança?
Minha voz tremia enquanto eu falava, carregada de
preocupação e medo. O futuro da criança que estava a caminho
pesava em minha mente, e eu não conseguia evitar pensar no caos
que ela enfrentaria. Aquela criança seria criada em meio às brigas e
nas sombras de um mundo perigoso e cruel que Christopher havia
escolhido e que me mantinha completamente no escuro.
Christopher parecia compreender a gravidade da situação,
embora sua expressão permanecesse tensa.
— Diana, eu sei que as coisas entre nós têm sido difíceis.
Mas isso não significa que não possamos fazer o melhor para o
nosso filho. Eu vou protegê-lo a todo custo, você sabe disso, não
sabe? — Christopher olhou para mim com um brilho de
determinação em seus olhos, embora sua expressão permanecesse
tensa.
Uma lágrima solitária rolou pelo meu rosto, e meu coração se
apertou. Em mim, havia uma mistura de sentimentos.
— Eu gostaria de poder acreditar em você, Christopher. Eu
realmente gostaria. Mas você mudou. Não podemos continuar
assim. — Minha voz soava como um apelo sincero. — Não quero
que nosso filho cresça em um ambiente de ódio e violência.
Ele abaixou a cabeça por um instante, parecendo refletir
sobre minhas palavras.
— Você foi quem estragou tudo.
A dor de suas palavras cortou fundo, e meus olhos se
encheram de lágrimas. Era um ciclo de culpa e ressentimento que
nos corroía. Christopher e eu éramos como fogo e gasolina, e cada
discussão só alimentava o ódio que existia entre nós. O amor que
um dia compartilhamos havia desaparecido, substituído por um
sentimento doentio de possessão da parte dele e pela exaustão da
minha.
Eu desejava que as coisas pudessem ser diferentes, que
pudéssemos encontrar uma maneira de construir uma família
saudável para o nosso filho. Mas a cada discussão, a cada ferida
aberta, essa possibilidade parecia mais distante.
— Para não dizer que sou um monstro, tenho uma reunião
em breve, quando terminar, podemos ir até a piscina, se você
conseguir se livrar dessa marca em seu rosto, cubra com
maquiagem, ou coisa assim.
— Você fala como se isso te tornasse mais humano. — Sorri
amargamente. — Como se isso fosse uma coisa grandiosa, quando
na verdade eu deveria ter o direito de ir e vir quando eu bem
entender, até porque é para isso que você paga esses brutamontes
que me seguem para todos os lados.
— Acha que eu deixaria que você ficasse de biquíni diante
dos olhos dos homens sem estar presente? — Christopher retrucou,
sua voz soando ríspida.
Sua possessividade estava mais uma vez clara, como se ele
acreditasse que tinha o direito de controlar cada aspecto da minha
vida. Eu me sentia sufocada por sua presença constante.
— Christopher, isso não é uma questão de deixar ou não. É
uma questão de que eu deveria ter liberdade e privacidade. Não sou
sua propriedade. — Minha voz tremia de frustração.
Ele deu um suspiro exasperado, passando a mão pelo
cabelo. Parecia à beira de explodir, mas em vez disso, ele deu um
passo em minha direção.
— Diana, não vamos começar uma briga agora. Nós temos
um filho a caminho, lembra? — Sua voz suavizou um pouco, como
se tentasse apelar para o lado racional da situação.
Eu recuei, mantendo a distância entre nós.
— Eu lembro, Christopher. E é por isso que eu quero que as
coisas mudem. Quero um ambiente saudável para nosso filho
crescer. Não quero que ele testemunhe mais brigas e discussões
intermináveis.
Nosso relacionamento estava em frangalhos, e eu sabia que
era impossível consertá-lo, mas para que eu conseguisse fugir, eu
precisava que ele acreditasse que eu queria nos dar uma chance.

Christopher mandou que me trouxessem o café da manhã na


suíte e o almoço também. Alguns minutos depois, ele apareceu,
com uma expressão carrancuda no rosto.
— Você vai me deixar sair um pouco? — perguntei, minha
voz refletindo meu anseio por liberdade.
Ele inspirou profundamente antes de responder.
— Não!
— Mas você disse que desceria para a piscina, eu não quero
ficar aqui olhando para as paredes!
— Está bem, mas não vamos ficar muito tempo.
Eu sabia que sua calma era apenas temporária, mas mesmo
que fosse apenas por um breve momento, a sensação de ter
alguma liberdade era revigorante.
Descemos para a área da piscina, e minha tentativa de
aproveitar a tranquilidade foi abruptamente interrompida quando
meus olhos encontraram os do homem que vi no cassino. Um
arrepio percorreu minha espinha, e meu coração deu um salto de
surpresa. O nervosismo me tomou.
Ele estava lá, deitado em uma espreguiçadeira, os olhos
atentos, fixos em mim. Senti seu olhar percorrer demoradamente
cada centímetro do meu corpo, e não pude evitar notar a
intensidade de seu olhar. Ele era um homem de beleza
impressionante, o tipo de pessoa que não poderia passar facilmente
despercebido.
Seu cabelo estava desalinhado sobre a testa, e a barba
acentuava a masculinidade de seu rosto. Estava apenas com uma
bermuda, e a confiança com que ocupava o espaço ao seu redor
era inegável. Aquela mistura de virilidade e autocontrole era
intrigante.
Os segundos que se seguiram foram marcados por um
silêncio tenso, enquanto nossos olhares permaneciam entrelaçados.
Era como se o mundo ao nosso redor desvanecesse, e só restasse
nós dois naquele instante. Como se aquele olhar significasse muito
mais do que realmente era.
Mas a realidade não demorou a se fazer presente, e o
nervosismo tomou conta de mim. Christopher percebeu a expressão
em meu rosto e franziu a testa.
— O que houve, Diana? Por que está olhando assim?
Tentei disfarçar, mas minha inquietação era evidente.
— Nada, não é nada. Apenas... pensei que tivesse... — não
sabia o que dizer.
Ele seguiu meu olhar até o homem, que estava sentado em
uma espreguiçadeira próxima, observando-nos com interesse.
Fiquei imediatamente tensa quando os vi se encarar.
Christopher apertou a mão no meu ombro.
— Ah, ele... então você tem coragem de olhá-lo depois de ter
flertado com ele ontem à noite.
— Eu não fiz isso! — Defendi-me
— Vamos! — Sua mão se fechou em meu cotovelo e nenhum
de nós notou que o homem que minutos atrás me encarava, estava
se aproximando.
Capítulo 9
Assim que a vi chegar, experimentei uma mistura de sentimentos
difíceis de definir. A imagem dela usando apenas um pequeno biquíni
fez meu corpo reagir instantaneamente. Senti a necessidade de
concentrar-me para que minha excitação não se tornasse visível. Era
um desafio manter a compostura naquele dia quente e ensolarado,
diante da visão que era essa mulher.
Ela se aproximou da piscina com uma graça natural, seus passos
leves e confiantes, revelando uma elegância que parecia fora de lugar
naquele ambiente. Seus longos cabelos escuros caíam sobre os ombros
e balançavam suavemente enquanto ela se movia. Cada gesto, cada
movimento, era quase hipnótico.
Seus olhos, profundos e expressivos, pareciam varrer o entorno
com curiosidade, como se estivesse absorvendo cada detalhe do
ambiente. No entanto, em um momento, seu olhar se prendeu aos
meus, e, de alguma forma, criou uma conexão difícil de ignorar. Era
como se ela pudesse ler meus pensamentos, desvendar meus segredos
mais profundos. Aquele breve encontro de olhares deixou uma
sensação de inquietação no fundo da minha mente, uma curiosidade
crescente sobre aquela mulher que cruzou o meu caminho.
Não me importei em perceber que seu marido estava ao lado,
pelo menos não até vê-lo querer arrastá-la à força. Observei,
discretamente, enquanto Christopher e sua esposa permaneciam à beira
da piscina. Era impossível não notar que estavam entrando em uma
discussão, mesmo à distância. Ela estava de pé, uma figura esbelta e
bela em seu biquíni, mas havia um toque de tristeza e apreensão em
seu olhar. Christopher, por outro lado, exibia sua postura usual de
controle, mas seus olhos ardiam com uma fúria contida.
Levantei-me e caminhei até os dois.
— Parece que você não entendeu o meu recado mais cedo,
Rockefeller. Tratar a mulher como ela gostaria de ser tratada, lembra-
se? — Sorri com uma ponta de desafio em minha voz, dirigindo minhas
palavras diretamente ao marido.
Ela olhou entre nós dois, visivelmente desconfortável com a
situação. Christopher, por outro lado, parecia tenso, e pude notar uma
fagulha de raiva em seus olhos. Ele não estava acostumado a ser
desafiado.
— Ela é minha esposa, e eu sei o que é melhor para ela —
Christopher argumentava, sua voz carregada de autoridade. — Está
muito quente, ela pode acabar passando mal.
Havia uma tensão entre os dois, como se estivessem em um
campo de batalha, lutando por algo que só eles compreendiam.
Meu olhar se fixou no dela, e eu não pude deixar de admirar sua
beleza. Seus cabelos escuros caíam em cascata sobre os ombros, e o
sol realçava os tons dourados de sua pele. Seus olhos, profundos e
expressivos, pareciam varrer o entorno com curiosidade. Até que se
prenderam aos meus, e por um breve instante, nossos olhares se
encontraram. Eu podia sentir a intensidade de seu olhar, como se ela
estivesse tentando decifrar algo em mim.
Sua beleza era inegável, mas havia algo mais nela, uma
vulnerabilidade que me intrigava.
Christopher estava ciente de meu olhar, e isso o incomodava.
Sua raiva estava clara enquanto me encarava.
— E você, Christopher, parece esquecer que ela tem voz e
vontade própria. Talvez seja hora de deixá-la decidir o que é melhor para
ela.
Nos encaramos por alguns momentos em silêncio.
— O que quer, Sr. Lucchese? Pensei que meus problemas
conjugais não fossem do seu interesse. — Ele quebrou o silêncio, sua
voz soava tensa.
— E não são! — Eu estava tentando manter minha compostura.
— Vocês ficaram de me entregar algumas informações, mas parece que
estão escrevendo a mão. Não tenho o resto da vida para aguardar.
Os olhos da esposa encontraram os meus, e por um momento,
pensei ter visto um lampejo de desespero. Ela queria falar, mas estar ao
lado do marido a impedia. Avaliei o rosto delicado dela por um instante,
e foi quando notei a marca em sua bochecha, mesmo com a maquiagem
cuidadosamente aplicada para tentar escondê-la.
O que porra havia acontecido? Eu não conseguia entender, mas
a raiva cresceu dentro de mim. Mesmo sem saber o motivo, era como se
alguém tivesse me atingido com um soco no estômago.
Eu não podia explicar aquela reação visceral, mas algo naquela
situação estava mexendo comigo de uma maneira que não deveria.
— Vou pedir que tragam o mais rápido possível, sinto por fazê-lo
esperar. — O Rockefeller tentou soar mais calmo, talvez por ter sido
lembrado dos nossos negócios e de quem eu sou.
— Sentem-se e me acompanhem em uma bebida, eu insisto. —
Apontei para a mesa mais próxima. — Gosto de conhecer melhor as
pessoas com quem faço negócios.
Christopher ainda parecia irritado, mas depois de olhar para a
esposa, ele cedeu. Sentaram-se, um de cada lado da mesa, e eu me
posicionei de forma a ficar de frente para os dois.
Pedi que trouxessem uma garrafa de champanhe e três taças.
Enquanto esperávamos, o silêncio pairava sobre nós. Pude sentir que
havia algo muito mais profundo do que apenas uma discussão trivial
sobre o calor estar à beira da piscina. Mas aquilo não era da minha
conta, pelo menos por enquanto.
Quando as taças de champanhe chegaram e o líquido
borbulhante foi servido, levantei a minha taça em um brinde informal.
— Aos negócios e à boa companhia. — Fiz um brinde e tomei um
gole da bebida, meus olhos fixos nos da bela mulher diante de mim.
Eles seguiram o meu exemplo.
Em meio a um silêncio constrangedor, decidi tentar aliviar o clima,
Damon diz que é isso que me faz ser o mais perigoso entre nós dois,
tento não demonstrar o quanto posso ser agressivo. Embora que estar
aqui tenha me deixado de péssimo humor.
— Vegas é realmente um lugar bonito. A piscina, o sol, tudo
parece perfeito para relaxar. — Olhei diretamente para a esposa de
Christopher. — Vocês veem aqui com frequência?
Ela olhou para o marido antes de responder, como se buscasse
aprovação. Ele apenas acenou com a cabeça, e ela finalmente falou.
— Sim, costumamos vir aqui de vez em quando. — Sua voz era
suave, mas havia uma hesitação perceptível em suas palavras.
— E quanto aos negócios, Christopher? Como vão as coisas no
seu lado do mundo?
Ele pareceu relaxar um pouco diante da mudança de assunto, e
começou a falar sobre alguns dos seus empreendimentos. É claro que
não notou que o estava sondando.
Enquanto a conversa fluía, minha atenção estava completamente
voltada à esposa de Christopher. Ela tentava disfarçar a marca em seu
rosto, colocando o cabelo na frente sempre que meus olhos paravam ali,
mas eu podia vê-la, uma mancha visível em sua pele perfeita. Minha
fúria cresceu a cada olhar naquela direção.
Não havia nada que eu odiasse mais do que um homem que
levantasse a mão para uma mulher, especialmente para sua esposa.
Mas não tinha o direito de interferir nos assuntos deles, a menos que ela
pedisse. Isso não impedia, no entanto, que minha raiva fervilhasse
internamente.
Tentei aparentar que estava genuinamente interessado nos
negócios do Rockefeller. Isso era parte do meu papel, afinal de contas,
saber se estávamos nos envolvendo com as pessoas certas.
Quando a tarde aos poucos se transformou em noite, eles se
despediram de mim com um aperto de mãos e voltaram para a suíte,
deixando-me sozinho na beira da piscina.
Assim que a pele suave dela entrou em contato com a minha,
senti uma corrente elétrica percorrer meu corpo inteiro.
Depois que partiram, me peguei pensando naquela marca no
rosto dela que continuava a me atormentar. Eu não conseguia entender
por que estava tão incomodado com aquilo, mas algo naquela situação
me perturbava profundamente.
Fiquei ali, na beira da piscina, olhando para a escuridão da noite.
O que quer que estivesse acontecendo entre Christopher e ela, não era
da minha conta, mas aquela mulher me deixava intrigado, tinha algo
cativante, algo que eu não conseguia ignorar.
A noite avançava, e eu estava evitando a hora de retornar à
minha suíte. No entanto, antes de partir, decidi tomar uma última bebida
na piscina, tentando clarear minha mente. Me acomodei em uma das
espreguiçadeiras à beira da piscina, o garçom se aproximou,
oferecendo-me o cardápio. Pedi um uísque, e ele se afastou para
buscar.
Quando a bebida chegou, peguei o uísque e tomei um gole,
sentindo o calor do álcool queimando minha garganta. Talvez eu
devesse simplesmente esquecer o que tinha visto e me concentrar nos
negócios. Mas a imagem da mulher não saía da minha mente.
Eu não a conhecia, e não sabia nada sobre a sua vida. Mas havia
algo nela que despertava minha curiosidade, algo que me fazia querer
saber mais sobre ela, o que era impossível. Não tínhamos mais razões
para nos encontrarmos, e o que acontecia entre Christopher e sua
esposa não era da minha conta.
Era isso que eu estava tentando desesperadamente me
convencer. Decidi que era hora de encerrar a noite e voltar à minha
suíte. Levantei-me da espreguiçadeira.
Caminhei de volta ao interior do hotel, não consegui evitar a
sensação de que algo aqui iria voltar para me assombrar. E, por mais
que tentasse ignorar, a mulher continuava a voltar para minha mente
para me atormentar.
Capítulo 10
Christopher estava agindo de maneira estranha diante
daquele homem, revelando uma calma que eu jamais vi nele.
Parecia estar tomando cuidado para não irritar o outro. Era a
primeira vez que testemunhava meu marido demonstrando qualquer
vestígio de medo diante de alguém. A insegurança que refletia em
seu rosto me inquietava profundamente. Se ele sentia medo, por
que eu não deveria?
Eu observava aquela interação com atenção, percebendo
que algo estava acontecendo entre eles, algo que poderia ser útil
para mim. Se Chris teme esse homem, talvez eu possa usar isso a
meu favor. No entanto, uma voz em minha mente me advertia: o
desconhecido poderia ser ainda mais perigoso.
Christopher, com seu semblante endurecido, voltou a sua
atenção para mim.
— Você não vai mais sair deste quarto! — anunciou entre os
dentes, sua autoridade transbordando.
— Você deveria ter me deixado em casa, Christopher. Não
tem o direito de me prender aqui! — Minha paciência estava se
esgotando, e não podia mais aceitar ser tratada como uma
prisioneira.
Ele ignorou minha reclamação e continuou com sua
repreensão.
— Deveria tê-la mantido longe dos olhares dos homens deste
lugar, Diana. Sua atitude tem sido inapropriada.
— Eu não vou ficar presa aqui! Não sou uma propriedade
sua, Christopher! — Minha frustração aumentava, e minhas palavras
escapavam de meus lábios.
— Você parece ter gostado da atenção que o Lucchese te
deu, não é? Tornou-se uma mulher vulgar. — Ele soltou um riso
amargo, sua voz carregada de desdém.
Minha incredulidade cresceu perante a acusação infundada.
— O que? Eu não fiz nada! Não pode simplesmente inventar
coisas! — Minha raiva crescendo mais a cada segundo.
Christopher não era conhecido por sua paciência, e agora, a
chama de sua fúria queimava mais intensamente. Em sua
frustração, ele agarrou meus braços com firmeza, seus dedos
pressionando minha pele com força. Senti a dor se espalhar
rapidamente, e meu coração disparou em resposta.
— Diana, você não pode agir assim. — Ele sacudiu-me com
uma força que me fez estremecer. — Precisa entender de uma vez
que é minha! Apenas minha!
Christopher usava sua força para me controlar, sempre de um
jeito possessivo que eu conhecia muito bem ao longo de nosso
relacionamento.
— Christopher eu não posso viver assim! — Tentei
argumentar, meu rosto exibindo a dor que ele causava em meus
braços. — Não quero mais viver com você, por que não entende
isso?
— Diana, você não vai me deixar! E agora tem o nosso filho!
— Ele me olhou com um misto de raiva e desespero, tentando fazer
com que eu me sentisse culpada.
Usar o nosso filho era um golpe baixo, e ele sabia disso. Eu
sabia disso. Ele agora iria usar o bebê como um meio de
manipulação, como se fosse o único caminho para me fazer ceder.
Mas eu não podia aceitar mais uma forma de controle.
— Chris, o que você está fazendo é errado. — Minha voz
vacilou, estava buscando trazer qualquer vestígio do homem que
um dia eu amei. — Não quero que nosso filho cresça vendo esse
relacionamento tóxico.
Ele soltou um suspiro profundo, soltando meus braços.
— Você não vai me deixar, Diana, eu nunca vou te deixar sair
da minha vida, quanto antes entender isso, melhor será para você!
— Eu não te amo mais! — Gritei. Eu queria sair daquele
pesadelo, mas Christopher não estava disposto a me deixar partir.
Minha voz ainda ecoava no ar quando sua mão apertou meu
pescoço, e a brutalidade daquele gesto me atingiu como um raio.
Minha cabeça bateu com força na parede fria. A dor me fez
ficar zonza, e lágrimas brotaram imediatamente. Minha visão turvou-
se, mas eu podia sentir a fúria emanando dele como uma aura
sufocante.
Tentei desesperadamente alcançar sua mão, implorando
silenciosamente que me soltasse, mas o aperto só se intensificou.
Cada respiração era um desafio, e eu me via à mercê da ira de
Christopher.
Meu corpo clamava por ar enquanto minha visão começava a
escurecer. Eu estava à beira do desespero quando, de repente, ele
me soltou. Caí no chão, tossindo e tentando recuperar o fôlego. As
lágrimas escorriam pelo meu rosto, misturando-se à sensação de
impotência e medo.
Christopher aproximou de mim, olhos faiscando de raiva, e
sua voz soou como um trovão.
— Nunca mais ouse dizer essas palavras, Diana! Você me
pertence, e nunca vai deixar de estar ao meu lado!
Ele pegou minha mão com brutalidade e me arrastou até a
cama, saiu e trancou a porta atrás de si. Eu estava sozinha, presa
em um pesadelo do qual parecia impossível acordar. Cada ferida em
meu corpo e alma servia como lembrança cruel de que minha vida
estava sob seu controle absoluto. O medo me consumia, e eu sabia
que teria que encontrar uma maneira de escapar desse inferno ou,
de outra forma, seríamos ambos consumidos por ele.
Caminhei até a varanda, minha única alternativa. O medo e a
ansiedade fervilhavam em minha mente enquanto planejava minha
fuga arriscada. O pequeno beiral do lado de fora me levaria até a
suíte ao lado.
Fui até o banheiro, o reflexo no espelho mostrava a mulher
que eu era, mas não queria mais ser. Segurei a máquina de barbear
de Christopher.
— Se você não morrer na queda, você provavelmente vai
morrer por isso — sussurrei para o meu reflexo. Com mãos
trêmulas, comecei a passar a máquina pelo meu cabelo, cortando
os fios que ele tanto amava. O som das lâminas zumbindo ecoava
no banheiro.
Não tinha mais volta.
Quando terminei, meu cabelo caía em mechas no chão, e eu
me sentia mais leve, quase renascida. Vestindo um short e uma
camiseta, estava pronta para enfrentar o mundo pela minha vida de
volta.
Caminhei até a varanda, o coração martelando no peito.
Olhei para a imensidão da noite, para as estrelas distantes,
cúmplices do meu maior ato de coragem.
— Se alguém aí estiver me ouvindo, eu realmente preciso de
ajuda — murmurei, minhas palavras se perdendo na escuridão.
Estava prestes a arriscar minha vida em uma queda que,
esperançosamente, poderia me levar à liberdade.
Pendurei-me na beirada da varanda, tentando não olhar para
baixo. O beiral era estreito, e cada passo exigia equilíbrio. Meu
corpo estava tenso, e cada movimento era calculado. Eu não podia
dar ao luxo de cometer um erro.
O tempo parecia arrastar-se enquanto eu caminhava
lentamente pelo beiral. A escuridão tornava tudo ainda mais
assustador, mas eu não podia hesitar. Christopher poderia retornar a
qualquer momento.
Finalmente, alcancei a varanda do quarto ao lado. O alívio
inundou meu corpo quando vi a porta da sacada aberta. Estava um
passo mais perto da liberdade.
Com o coração disparado, entrei no quarto e fechei a porta
com cuidado. Agora, precisava ser cuidadosa e evitar ser
reconhecida. As portas dos quartos, pelo lado de fora, só abriam
com um cartão magnético, mas eu estava do lado de dentro, onde
era possível abrir a porta se ela não estivesse trancada do lado de
fora.
Andei silenciosamente, mantendo a cabeça abaixada para
que meus cabelos curtos ocultassem meu rosto. Tudo o que os
seguranças deveriam ver eram minhas costas. Continuei a caminhar
lentamente até o elevador de serviço.
O elevador começou a descer, mas parou inesperadamente.
Meu coração deu um salto. A porta se abriu, revelando uma
funcionária do hotel.
— Senhora? — Ela expressou surpresa. — Você não deveria
estar aqui. Este é o elevador de funcionários.
— Ah, eu não percebi. Não sei onde estou com a cabeça.
Estou me sentindo um pouco tonta. Não tomei meu remédio antes
de descer e não encontrei meu cartão de acesso. Estava indo ver se
meu marido está no cassino e se ele pegou meu cartão. — Eu fingi
uma fraqueza, como se estivesse prestes a desmaiar, e ela me
segurou.
— Onde é o seu quarto? Eu tenho os cartões. Por favor, não
conte a ninguém, ou posso ter problemas.
— Claro, não direi nada. Estou na cobertura.
— Ah sim, me lembro que alguém estava realmente lá,
inclusive pediram para limpar a pouco tempo.
Ela olhou os cartões e me ajudou a chegar no elevador de
hóspedes, abriu a suíte para mim e avisou que pediria a alguém da
recepção para encontrar meu esposo. Agradeci sua ajuda e a vi se
afastar. Agora, estava na suíte de um desconhecido, sem um plano
claro, mas pelo menos estava um passo mais perto da liberdade.
O que vai fazer agora, Diana?
Capítulo 11
No caminho para a suíte, passei pela recepção e o gerente veio
até mim. A atmosfera do hotel estava carregada com o aroma do luxo e
a excitação dos jogadores e hóspedes em busca de entretenimento.
Nada disso me agrada. O gerente, um homem de postura impecável, se
aproximou com elegância.
— Sr. Lucchese, deseja algo? Uma acompanhante? — Sua voz
era polida, embora a oferta implícita estivesse longe do que eu
precisava naquele momento.
— Paz... eu vou resolver outras questões e não quero ser
incomodado, não me perturbe, nem que tudo esteja pegando fogo,
entendeu? — Minha voz era firme e autoritária, e o gerente assentiu
com uma expressão temerosa.
— Entendido, senhor. Não incomodarei. Estaremos à sua
disposição quando precisar. — Ele se afastou.
Eu tinha outros negócios e mais questões a resolver por ali,
envolvendo outros cassinos, dinheiro, drogas... O submundo do jogo era
complicado, e eu tinha que manter tudo sob controle.
Retornei à minha suíte, cansado e necessitando de um breve
descanso. Um banho e algumas horas de sono seriam bem-vindos. Mas
assim que as portas se abriram, um calafrio percorreu minha espinha,
como se não estivesse sozinho no quarto.
Apreensivo, peguei minha arma da cintura, mantendo-a pronta
em minha mão. Minha voz ecoou pelo quarto.
— Quem está aqui? — Meus olhos examinaram cada canto,
procurando qualquer sinal de intruso. — É melhor que apareça de uma
vez, porque se eu te encontrar vou atirar primeiro e fazer perguntas
depois.
Um ruído abafado veio do maleiro do quarto. Avancei
cautelosamente, a adrenalina já correndo em minhas veias.
— Por favor, por favor, não atire, eu só quero dar um jeito de sair
daqui. — Uma voz feminina implorou, fazendo-me hesitar.
— Saia. Agora e devagar. Com as mãos para cima. — Minha voz
era firme, mas havia um tom de curiosidade que mal conseguia
disfarçar.
A porta se abriu na penumbra, e eu me posicionei em um ângulo
que a obrigaria a abrir completamente as portas para me ver. Minha
desconfiança aumentando a cada segundo.
— Quem é você e por que está no meu quarto? — Minhas
palavras eram duras, e meus olhos se mantinham fixos na intrusa.
— Vou só acender a luz... — Ela se moveu com cautela, indo em
direção ao interruptor, revelando quem era.
— Você? — A desconfiança deu lugar à surpresa, e minha
expressão endureceu. — O que faz no meu quarto?
— Eu quero ir embora, por favor, eu só quero ir embora daqui...
— O desespero transparecia no rosto da mulher, e suas palavras
pareciam muito verdadeiras.
— Você é a esposa do homem com quem eu vim fazer negócios
— Meus olhos examinaram seus traços, e a dúvida surgiu. — O que me
faz pensar... será que está aqui a mando do seu marido?
— Por favor, não o chame aqui, por favor... se ele me achar, vai
me matar. — Ela implorou, e notei que sua agonia era real.
— Eu não tenho nada com isso, só vá embora antes que seu
marido arme um escândalo por você estar no meu quarto — suspirei,
ciente do que sua presença poderia trazer. — Você não é problema
meu.
O som da campainha interrompeu nosso diálogo, e a mulher
pareceu entrar em pânico.
— Por favor... eu não posso voltar... — Sua voz quase sumiu,
cheia de medo.
— Quem é? — Perguntei alto o bastante para que escutassem.
— Senhor, sei que não queria ser incomodado, mas como não faz
muito tempo que veio, imaginei que ainda não estivesse descansando...
— Idiota. — Uma hóspede sumiu, a esposa do senhor Rockefeller, e eu
vim perguntar se o senhor a viu em algum lugar.
Ela sacudiu a cabeça compulsivamente, seus olhos suplicantes
pedindo que eu não a entregasse.
— Não, eu não vi ninguém, e se eu precisar abrir essa porta, vai
ser metendo bala em você, entendeu? — Minha voz estava firme e
ríspida.
— Sim, senhor, não se preocupe, não virei novamente. — O
gerente respondeu apressadamente.
Virei-me novamente para a mulher, meu olhar pairando sobre ela
com desconfiança.
— Sabe o problema que pode me causar com isso? — Estreitei
os olhos, exalando um suspiro frustrado. — Por que diabos isso
acontece comigo? — Esfreguei meu rosto. — Eu não deveria me meter
em assuntos que não são meus!
Ela parecia aliviada e agradecida.
— Obrigada. Muito obrigada por não me entregar. Você poderia
me ajudar a sair daqui de alguma forma? Eu preciso ir para longe, o
mais longe possível.
Ela se aproximou de mim rapidamente, segurando minha mão, e
minha primeira reação foi recuar.
— O que pensa que está fazendo? — Minha voz soou áspera,
mas a ansiedade nos olhos dela mexia comigo.
— Me ajuda... eu prometo que desapareço, basta me tirar daqui
de dentro e eu nunca mais cruzo seu caminho, é uma promessa.
Eu queria recusar. Queria mandá-la cuidar dos próprios
problemas. Mas não podia ignorar o fato de que, de certa forma, eu
havia oferecido ajuda no cassino. E agora, ela estava aqui diante de
mim, desesperada e vulnerável.
— Eu tiro, mas temos que sair daqui rápido, em breve esse lugar
vai estar lotado, inclusive de polícia. Seu marido não parece ser alguém
que gosta de tirar os olhos de você, não é? Como escapou?
— O parapeito do lado de fora, pulei para a suíte do lado... — Ela
respondeu com uma notável coragem.
Observei seu cabelo curto, e a pergunta escapou de meus lábios.
— O que aconteceu com seu cabelo?
— Cortei para evitar que me reconhecessem de costas. — Sua
resposta foi direta e ela soou estar sendo honesta.
Ela parecia genuinamente desesperada e determinada a fugir a
qualquer custo. Olhei para a mala maior de roupas e comecei a
transferir minhas roupas para uma menor, amassando tudo no processo.
— Você é pequena, cabe dentro da mala encolhida. Vai ter que
suportar ir assim até estarmos na estrada. Depois, eu paro no caminho e
te deixo sair. — Minhas palavras soaram duras. Se fosse outra pessoa,
eu não faria isso, mas essa mulher mexe comigo.
Ela olhou para a mala com os olhos arregalados.
— Tudo bem, eu consigo, eu consigo... só deixe um espacinho
aberto para que eu consiga respirar, por favor...
Ela estava verdadeiramente desesperada, e eu não conseguia
evitar a sensação de que estava prestes a me envolver em algo que não
deveria.
Meus olhos pousaram em seu pescoço e a raiva ferveu dentro de
mim quando observei as marcas roxas e evidentes em volta do pescoço
dela. Os hematomas fizeram meu estômago se contorcer de repulsa.
Não pude evitar que meus olhos estreitassem, e minhas mãos se
fecharam em punhos.
— Quel figlio di puttana[4] — Murmurei, a voz saindo mais dura do
que eu pretendia.
— O que? — Ela perguntou confusa.
— Nada.
Diante da situação, sabia que não tínhamos tempo a perder.
Encarei a mulher, minha mente a mil por hora, enquanto minhas mãos
ainda se ocupavam de encaixar as roupas na mala menor.
— Agora, escute atentamente. — Minha voz saiu firme. — Você
vai entrar na mala, e eu vou te levar daqui. Terá que se manter calma e
silenciosa. Não podemos arriscar que alguém te ouça.
Ela olhou para a mala, ansiosa e nervosa, enquanto acenava
positivamente com a cabeça.
— Eu entendo, farei o que for preciso. Só me tire daqui o mais
rápido possível.
Peguei uma das minhas facas e cortei fendas na lateral e atrás da
mala para garantir que ela pudesse respirar. Em seguida, ajudei-a a se
acomodar.
— Lembre-se, seja o mais silenciosa possível. Só vamos parar
quando estivermos longe o suficiente, e então você poderá sair.
Antes que eu fechasse, a mulher segurou em minha mão.
— Obrigada. — Assenti.
Fechei a mala cuidadosamente, deixando que ainda ficasse um
espaço no zíper e ela tivesse como respirar, estava temendo que
sufocasse lá dentro. Peguei o celular, as chaves do quarto, minhas
armas, garantindo que nada pudesse nos impedir de sair.
Saímos da suíte e nos dirigimos ao elevador. A mulher
permaneceu calma, e eu admirava sua coragem. Finalmente, o elevador
chegou, e, quando as portas se abriram, entramos. Eu estava tenso.
Conseguimos chegar ao andar térreo, e eu saí rapidamente do
elevador. O gerente da recepção não estava à vista, e eu não podia
deixar de acreditar que tínhamos tido alguma sorte até então.
— Estamos quase lá. — Sussurrei, mas então ouvi meu nome ser
chamado.
Capítulo 12
Eu não conseguia acreditar que aquele homem de semblante
duro estava realmente me ajudando. Era uma situação surreal, e
meu coração martelava de medo e incerteza enquanto ele me
acomodava na mala. Toquei sua mão e o agradeci antes que ele
fechasse a mala comigo lá dentro.
O anjo Mal-humorado me encarou com seus lindos olhos
azuis por um momento e assentiu levemente.
Enquanto estávamos no elevador, minha ansiedade só
aumentava. Cada parada, fazia meu coração bater mais rápido, e a
falta de ar tornava-se quase insuportável. Até que, finalmente,
saímos do elevador, e ele foi abordado por um homem.
— Sr. Lucchese, já está de saída? Está tudo bem? — O
homem perguntou. Seu tom era de alguém temeroso.
— Vocês são um bando de incompetentes, não vou ficar aqui
aguentando ser importunado por você! Fui bem claro quando disse
que não queria ser incomodado e o que foi que fez? Foi me chamar
por assuntos que não são meus! Prefiro ficar no hotel da
concorrência a ficar aqui!
— Aonde vai Sr. Lucchese? Fui informado de que ainda tinha
negócios por aqui e agora, bem no momento em que minha esposa
desaparece, vai embora?
Minhas mãos começaram a tremer quando ouvi a voz de
Christopher. O desespero tomou conta de mim, e a voz de Chris
enviou arrepios pela minha espinha.
Ouvi a risada baixa do Lucchese.
— Veja bem como fala, Sr. Rockefeller, a minha paciência
pode acabar com muita facilidade. Se você não sabe cuidar da sua
esposa, não culpe alguém que está querendo apenas uma boa noite
de descanso, culpe a si mesmo por ser um idiota!
Sua resposta afiada a Chris fez meu coração acelerar ainda
mais. Parecia que as coisas estavam prestes a sair do controle.
— Você tem algo com isso? Não tem? — Pude ouvir o som
de armas sendo engatilhadas, e aquilo só aumentou meu medo.
— Está tudo bem — O Lucchese falou. — Abaixem as armas.
Deixe-me te falar uma coisa, Rockefeller. Vou levar em
consideração que deve estar com raiva e também chateado com o
sumiço da sua esposa, mas se falar comigo assim novamente —
seu riso rouco preencheu o ar — vou arrancar sua língua e fazer
você comê-la, entendeu?
— Sr. Rockefeller, não faça nada imprudente. O Sr. Lucchese
não teria motivos para fazer nada a sua esposa e, como pode ver,
ela não está aqui com ele, vamos encontrá-la, não se preocupe. —
O primeiro homem que falou, intercedeu.
O Lucchese continuou a andar, ignorando todo o resto. Eu
estava colocando minha vida nas mãos desse homem, e não sabia
ao certo se poderia confiar nele.
Finalmente, Lucchese parou no meio da estrada e abriu a
mala para me tirar de dentro.
— Está tudo bem? Você está muito pálida. — Perguntou
seriamente.
— Estou bem, só preciso recuperar o fôlego. — Respondi
com dificuldade, tentando acalmar os nervos.
Dirigiu até sua casa. No caminho, ele quebrou o silêncio.
— Qual o seu nome? — Me perguntou. — Não sei se ouvi
seu marido dizer, mas não consigo me lembrar.
Respirei profundamente antes de finalmente responder:
— Talvez seja melhor que não saiba, tente não descobrir, por
favor, não fará bem a nenhum de nós dois, você tem negócios com
meu marido, eu não quero que ele chegue até mim, muito menos
que culpe você.
Pierre assentiu e respeitou minha vontade.
— Do que devo te chamar então?
— Ana, pode me chamar de Ana, e esqueça do meu marido,
por favor. — Meu nome verdadeiro seria uma maneira de chegarem
até mim e, de qualquer forma, eu não iria mais utilizá-lo.
Ele assentiu com compreensão.
— Ana é o nome de alguém muito especial para mim. —
Senti algo estranho — Era a ex-esposa do meu primo, ela era como
uma irmã para mim. — Explicou brevemente antes de prosseguir. —
Não foi exatamente com ele que fiz negócio; tenho assuntos com
alguns cassinos, e este em específico queria fechar um contrato
com seu marido. No entanto, dependendo do negócio, ele pode
entrar em conflito com os princípios de minha família. Nesse caso,
eles são obrigados a pedir nossa autorização — explicou. —
Portanto, seu marido não tem motivos para querer entrar em contato
comigo.
Ele explicou sua situação com os cassinos e o que envolvia
meu marido. Eu estava aliviada em saber que Chris não tinha
motivos para contatá-lo. Entramos na casa, e Pierre me conduziu
até a cozinha.
— É uma casa encantadora...
— Ninguém conhece esse lugar, gosto de manter a discrição.
— Comentei, e eu me senti mais à vontade para conversar.
— Que bom que é assim...
— Posso fazer-lhe uma pergunta? — Assenti com a cabeça.
— Por que está fugindo de seu marido? Se quiser compartilhar, é
claro.
— Não conseguiria contar nos dedos os motivos, são muitos,
mas agora, descobri que estou grávida, ou pelo menos foi o que ele
me disse... não acredito nele, nem no teste que me mandou fazer,
mas se estou mesmo, não quero criar esse bebê perto de
Christopher, ele poderia acabar matando a mim, ou até mesmo o
meu filho. Não posso deixar... Qual o seu nome?
— Pierre Lucchese.
— É o nome de verdade, ou está inventando um também?
— É o meu mesmo, não tenho medo de nada, muito menos
do seu marido. — Pierre sorriu, e eu não pude deixar de notar como
seu sorriso é lindo e diferente do de Chris. — Está com fome? A
casa ainda não deve estar completamente arrumada, mas o mínimo
deve estar aqui, começando pelas compras.
Aceitei a oferta de Pierre, mas fiz questão de retribuir.
— Aceito sim, estou começando a sentir fome, mas eu faço,
como agradecimento pela ajuda. — Ajudar na cozinha me dava uma
sensação de normalidade que eu estava precisando. — Eu sou uma
boa cozinheira, garanto.
Ele se sentou na banqueta e me observou enquanto eu
preparava o jantar.
— Estou me perguntando... O que um idiota como ele fez
para que queira fugir?
— Não é uma boa história, por que quer saber?
Enquanto mexia na panela, eu não conseguia evitar pensar
que Pierre era um enigma, e eu estava me envolvendo em algo que
ia muito além da minha compreensão. Mas, naquele momento, tudo
o que eu queria era escapar de Christopher e manter meu filho, ou
filha, a salvo. Pierre poderia ser minha única chance.
— Para que eu não faça nada parecido. Você é linda, sabia?
Ele deveria ter mais cuidado.
Senti um calor subir ao rosto com o elogio de Pierre.
Respirando fundo, continuei a conversa.
— Ele nem sempre foi assim, costumava ser bem diferente,
começou a mudar quando fui para a faculdade, até hoje não
entendo os motivos dele. A única coisa que ele me diz é que eu
errei com ele, mas honestamente nunca soube em quê. O ciúme
possessivo começou quando ia me levar e buscar na faculdade,
afastando qualquer pessoa de mim. Dizia que eu deveria ser apenas
dele e que ele deveria bastar em minha vida.
— Ele teve ciúmes da faculdade, ou dos homens?
— Acho que dos dois. Ele pensou que eu desistiria de tudo
depois que me casasse, mas eu quis prosseguir com meus sonhos,
e ele não ficou feliz com isso. — Pierre pareceu refletir por um
momento. — Ah... sinto muito, estou te enchendo com essas
histórias chatas. Sinto muito. É que acho que faz muito tempo que
não converso com alguém assim, livremente, sem seguranças ou
sem ele por perto. Anos.
— Não está me enchendo, Ana. Na verdade, ouvir você falar
está me impedindo de voltar lá e meter uma bala na testa do seu
marido... — Meus olhos se arregalaram. — Ele fazia o que? Te
mantinha em cárcere privado?
A forma como Pierre falou, como se matar alguém fosse algo
normal no seu cotidiano, me causou um arrepio. Quem era esse
homem...
— Não deveria estar falando assim, sinto muito... — Ele
pareceu realmente arrependido — Não queria te assustar — seus
olhos percorreram meu corpo, me deixando desconfortável e, ao
mesmo tempo, excitada. — Eu...
De repente, uma tontura me atingiu, e minhas pernas
vacilaram. Larguei a faca na pia e levei as mãos à cabeça.
— Está tudo bem?
— Sim, eu só... — Minhas pernas cederam, e eu teria caído
no chão se não fosse pelos braços fortes de Pierre, que me
seguraram com firmeza.
— Vamos para o quarto. Pedirei comida, e você descansa.
Também chamarei alguém para avaliar sua saúde.
Ele me levantou como se eu pesasse menos que uma folha
de papel e me conduziu até o quarto. Descansei minha cabeça em
seu peito musculoso, sentindo seu perfume envolvendo-me. Era
uma sensação reconfortante, embora eu estivesse ciente de que
não deveria me envolver com outro homem enquanto fugia de meu
marido.
O que diabos estou fazendo?
Capítulo 13
Sei bem que estou cometendo um erro. Não devo me envolver
em assuntos assim, afinal, não foi para isso que vim até aqui. Damon
me pede para resolver um problema, e eu estou criando um problema
ainda maior.
Observo a mulher em meus braços e sinto a pele se arrepiar.
Céus, como ela é linda. Ana... esse nome até que combina com ela.
Outra Ana em minha vida.
Ela me pega de surpresa com sua pergunta.
— O que está olhando? — Pergunta de forma tímida.
Sorrio, não posso evitar.
— A verdade? — Ela acena um sim. — O quanto é bonita e que
Ana até combina com você, sei que não é seu nome real, mesmo assim,
combina.
Seus olhos se fixam nos meus e eu preciso de todas as minhas
forças para não a beijar. Não quero que ela se sinta intimidada e nem
obrigada a nada.
— Você é sempre assim?
— Assim como? Tem que ser mais específica.
— Fala o que pensa sempre?
— Prefiro que as pessoas que me conhecem saibam exatamente
quem eu sou — sorriu levemente. — Você não prefere assim?
— Acho que sim.
A coloquei gentilmente na cama inalando seu perfume um pouco
mais profundamente antes de soltá-la, senti falta do calor de seu corpo
próximo ao meu imediatamente e queria ter algum motivo para mantê-la
mais perto de mim.
— Vou pedir algo para jantar, você tem alguma preferência?
— Pode escolher.
Na manhã seguinte, o médico estava em casa, e Ana pediu para
fazer um exame de gravidez.
— Pode ser isso, não pode? Estar passando mal assim...
— Sim, pode ser. Não devemos descartar essa possibilidade,
mas pode ser estresse também. É bom que descanse um pouco. —
Tento tranquilizá-la. — O médico disse que você está bem. Não há com
o que se preocupar. Faça o teste para ter certeza.
Enquanto espero que ela saia do banheiro, sinto um forte impulso
de protegê-la, de mantê-la a salvo. Não quero que ela fique triste.
Ana entrou no banheiro, com as mãos trêmulas. Enquanto
espero, sinto como se fosse o pai, ansioso pelo resultado.
Ela finalmente saiu do banheiro, com um rosto sério quase
indecifrável.
— Deu negativo, mas não entendo. O que ele me pediu para
fazer deu positivo. Este pode ser um falso negativo.
— Ou pode ser que ele tenha te enganado, não é? — Concorda
com um gesto de cabeça. — Bem, a gravidez não é uma coisa que se
possa esconder. Se for, você vai começar a sentir, a barriga vai
crescer... Agora, você precisa seguir a recomendação médica e
descansar.
Ela negou veementemente.
— Não posso. Tenho que sair daqui o mais rápido possível. Chris
não vai parar de me procurar. Tenho que ir para longe!
— Eu sei que você acha que fugir é o mais seguro agora. Mas
pense nisso. Nesse momento, ele deve ter enviado muitos dos homens
dele para lugares onde você pode pegar um ônibus, avião ou alugar um
carro. É o que eu faria, e ele não me parece um homem burro, não é?
— E o que acha que eu tenho que fazer?
— Ele vai pensar exatamente isso, que você vai estar
desesperada para sair da cidade. Então, quando alguns dias se
passarem, ele vai achar que você conseguiu escapar. Peço a um dos
meus homens que vá o mais longe que puder nos próximos dias, e de
lá, ele usará um cartão seu. Seu marido vai correr para lá, e só então é
o momento de você escapar.
Ela fica pensativa, olhando para o nada por alguns momentos,
provavelmente se perguntando se essa é realmente uma boa ideia.
— Tem razão, essa é mesmo uma ótima ideia, mas eu não quero
te atrapalhar. Eu disse que, se me ajudasse a sair de lá, eu ia
desaparecer, e não estou cumprindo com a minha promessa. — Seu
rosto entristeceu. — Sinto muito por estar causando problemas para
você.
Respirei fundo e me aproximei.
— Não está. — Toquei seu rosto. — Se houvesse problema com
isso, acha que eu não diria? Não me conhece ainda, uso a sinceridade
acima de tudo, doa a quem doer.
— Se incomodar, é só me dizer.
— Vá descansar, eu trago o seu jantar.
A deixei no quarto com uma sensação estranha. Não quero que
ela vá embora, e preciso encontrar um jeito de fazê-la ficar, mas qual?
Fiz um lanche leve para ela comer antes de dormir. Quando entrei
no quarto, Ana estava saindo do banho.
— Eu estava com calor... — Deixou a frase ir morrendo aos
poucos, sem terminar de falar.
Engoli em seco vendo o cabelo dela pingar na pele úmida.
— Eu deveria ter batido na porta primeiro... Vim trazer um lanche
para você...
Não consegui deixar de olhar para ela nem por um segundo. Me
aproximei lentamente enquanto ela se manteve parada, coloquei a
bandeja na mesa de cabeceira atrás dela, meu corpo colado ao seu,
mantendo meu olhar fixo nos seus olhos.
Minha boca ficou tão perto da dela que consigo sentir sua
respiração acelerada. Seu peito sobe e desce rapidamente, ela está tão
afetada quanto eu.
— Pierre... — Seu sussurro desejoso fez minha calça ficar
apertada demais.
— O que foi? — Perguntei ficando ainda mais próximo. — Você
está sentindo isso, não está? — Encostei os lábios levemente no
pescoço dela. — Por que eu estou...
— Eu não posso... eu acabei de...
— Você o ama? — Negou. — Então o que você não pode? —
Não a deixei responder e tomei seus lábios para mim.
Desde que a vi naquela maldita mesa de jogo, que quero fazer
isso, e não vou deixar essa chance passar.
O choque inicial a fez travar, mas levou apenas uma fração de
segundos para que ela correspondesse, beijando de volta com igual
desejo.
Os lábios dela eram suaves e quentes, e o sabor inebriante do
seu desejo preencheu minha boca. Nossas línguas se movendo em
sincronia, explorando cada canto e recanto, enquanto nossos corpos se
pressionavam um contra o outro, queimando de luxúria.
Cada respiração se tornou um gemido abafado de prazer,
enquanto nos entregávamos ao momento, como se o mundo ao nosso
redor não importasse. E eu sabia que aquele momento ficaria gravado
em minha memória para sempre.
Seus suspiros e gemidos me instigam ainda mais. Suas mãos se
afundam em meus cabelos, e a toalha que segurava instantes antes cai
no chão, deixando seu corpo de deusa completamente à mostra.
Soltei seus lábios e me afastei um pouco, olhando para cada
centímetro de sua perfeição.
— Você é muito gostosa... — sua respiração ofegante e suas
pupilas dilatadas me deixaram ainda mais excitado. — Quis fazer isso
desde que coloquei meus olhos em você.
Seu rosto está vermelho, sua respiração pesada, nunca vi nada
tão bonito e tão sexy em toda a minha vida.
Volto a beijá-la, passando as mãos por seu corpo nu, indo até um
de seus seios e massageando, ela emite um gemido delicioso e eu
absorvo cada um deles enquanto a beijo com urgência. A coloco deitada
na cama, beijo seu pescoço, descendo até a clavícula, entre os seios e
em seguida chupo cada um de seus bicos excitados, sugando,
mordendo levemente, fazendo com que ela se contorça debaixo de
mim.
Desço entre seus seios distribuindo beijos por sua barriga, até
chegar a sua boceta molhada e quente.
Olho para Ana, que me observa atentamente, suspirando com
cada um de meus toques.
Mergulho a língua em seu corpo, sentindo seu gosto e,
CARALHO, ela é melhor do que eu poderia imaginar no mais belo
sonho.
Ela geme e tenta fechar as pernas, mas ergo minhas mãos,
segurando seus seios, usando meus braços para mantê-la exatamente
como eu quero que fique.
Poderia passar o resto dos meus dias entre suas pernas, ela tem
um sabor viciante, e os sons me fazem querer ainda mais dela.
— Está tão molhada... tão pronta... ­— Escorrego um dedo para
dentro de sua boceta e sou recompensado com um som que eleva meu
tesão a um nível quase doloroso.
Movimento para dentro e para fora e com a língua castigo seu
clitóris. ­
— Por favor... — Sussurra entre os gemidos.
— Você quer mais? — Pergunto com um sorriso no rosto.
— Sim... por favor... — Implora.
Introduzo mais um dedo e ela começa a empurrar o corpo contra
minha mão, buscando por mais.
Seu interior se contrai e sei que está prestes a gozar, tiro os
dedos e volto com a língua, quero sorver cada gota dela, e não demora
para que ela alcance o orgasmo, se contorcendo de prazer e eu não
paro até que ela volte da nuvem de seu êxtase.
Espero até que sua respiração comece a se acalmar e ela abre
um sorriso incrivelmente lindo.
— Não pense que acabou querida, estamos apenas começando,
a noite é uma criança.
Capítulo 14
Não acredito que em meio a tudo o que vem acontecendo eu
ainda consigo me entregar assim para um cara bonito que me tratou
bem. Talvez seja essa a parte que eu sinto falta, ser bem tratada,
não apenas usada para a sua satisfação pessoal.
Cada toque dele em minha pele fez meu corpo arder e buscar
mais contato, Pierre não busca apenas da satisfação pessoal, ele
quer agradar a mim, me colocar em primeiro lugar, me dar prazer
antes de receber e isso sim é uma novidade.
Nossa noite foi intensa e prazerosa, Pierre me mostrou que,
em toda a minha vida, eu ainda não havia tido um homem de
verdade na cama, afinal Christopher foi o primeiro e único até
Pierre.
— Bom dia! — Entrou no quarto com um sorriso imenso e
uma bandeja de café da manhã. — Como está se sentindo?
Me sentei e estiquei o corpo, cada movimento me fazendo
lembrar de cada pedacinho de pele em que sua boca passou.
— Muito bem, obrigada. — Seu sorriso ficou ainda maior e
seus olhos brilharam, aquele tom de azul que em alguns momentos
pareciam tão frios, agora enchiam meu corpo de calor. — Não
precisava de tudo isso... — Fiquei sem graça quando colocou a
bandeja no meu colo. Olhei para a rosa.
— Tem roseiras lindas aqui no jardim. — Disse ao ver para
onde meu olhar ia. — Por que não precisa? Depois de ontem você
deve estar faminta. — Ele abriu um sorriso safado que fez meu
ventre pulsar.
E estou faminta, cada pedacinho de mim sente o que ele fez
com cada movimento.
— Não vou reclamar, estou morrendo de fome mesmo. —
Sorri.
Pierre tem alguma coisa que me faz sentir à vontade com ele,
ou talvez seja apenas porque eu estou livre agora e a sensação de
liberdade seja isso, me sentir à vontade em qualquer lugar, com
qualquer pessoa porque não estou mais sendo vigiada vinte e
quatro horas por dia.
Ou pelo menos foi isso que pensei, até ele me chamar para
ver as rosas no jardim e eu me deparar com a quantidade de
seguranças do lado de fora da casa, me senti presa novamente.
— Por que tem tanta gente aqui?
— Pedi que viessem mais para o caso de seu marido resolver
aparecer. — Respondeu sem hesitar. — Ele não parece exatamente
uma pessoa com quem posso agir de maneira imprudente. —
Suspirou. — E por falar em imprudência, eu não sei nada sobre
você ou ele e mesmo assim resolvi ajudar, sem nem saber onde
estou me metendo. Se puder jogar uma luz nisso, eu agradeceria.
Pensei por alguns instantes, devo isso ao homem que me
ajudou, mas quem é esse homem? Eu também não sei nada sobre
ele, a não ser seu nome e que ele é muito bom de cama.
— Meu marido é um homem importante no seu meio, mas
nunca me disse como é que consegue tanto dinheiro, tudo o que sei
é sobre a empresa da família, mas desde que me casei nunca fui lá,
ele não permite, apenas nos jantares. Na verdade, acho que tudo o
que sei a respeito dele é o que vejo nos jornais, dentro de casa
éramos dois estranhos.
Ele assentiu enquanto eu penso na minha vida e falo me
dando conta do quanto tudo soa horrível.
Olhei para todo aquele lugar, lembrei de onde conheci esse
homem, estou apenas repetindo os mesmos erros, me deixei levar e
no fim das contas estou fazendo tudo exatamente igual.
Olhei para Pierre, pensando em quem é ele. As pessoas no
cassino parecem respeitar muito o que ele diz, então talvez eu
devesse ter medo de ter trocado o lobo pelo leão. Não posso ficar,
Pierre tem essa cara de bonzinho, me ajudou, mas Chris também
fez a mesma coisa, estava comigo, me conquistou e de príncipe
virou o carrasco! Cortou minhas asas e me impediu de sonhar. Tudo
o que tenho que fazer agora é esperar o momento certo de partir e
não me deixar ser aprisionada novamente.
— No que está pensando assim tão concentrada? — Seus
olhos estreitando. — Você não é muito boa em esconder suas
expressões faciais.
Estamos andando pelo jardim, os homens aqui estão todos
de costas para nós, e quando nos aproximamos se estiverem de
frente logo se viram.
Onde foi que me meti?
— Nada, ainda estou um pouco perdida com tudo o que fiz, e
com medo do que pode acontecer. — Isso é uma meia verdade.
Também estou preocupada com isso, se Chris pode acabar me
encontrando.
— O homem tem que ser muito idiota para maltratar uma
mulher como você, e isso estou dizendo sem nem te conhecer
direito, se conseguir ter o prazer de te conhecer melhor, talvez fique
ainda mais indignado.
Não acredito que eu mal conheço esse homem e já fui para a
cama com ele, meus pais teriam vergonha de mim. Sorri.
— Ou talvez entenda os motivos dele, eu nunca entendi,
quem sabe consegue me apontar aonde foi que eu errei tanto...

Perto do horário do almoço, fui para a cozinha, queria


cozinhar alguma coisa em agradecimento. Pelo menos nos dias em
que estamos aqui, não vou a lugar algum enquanto não for seguro.
Olhei no banco, em uma conta fora do país que abri sem que meu
marido soubesse, não tenho muito, mas tenho o bastante para
conseguir o que preciso. Peguei um fone de ouvido no quarto e
fiquei na cozinha escutando música, enquanto cuidava do
necessário para o almoço. Não notei que Pierre estava parado atrás
de mim.
— A quanto tempo está aí? — Perguntei quando me virei e
assustei com sua presença.
— Tempo o bastante para ficar de olho na sua bunda, devo
dizer que você rebolando é quase obsceno... — Engoli seco. —
Sabe, eu não costumo querer me envolver em discussões alheias,
normalmente eu não teria dado a mínima para o que me disse e
para o quanto precisava de ajuda.
— Você não parece uma pessoa tão fria.
— Mas eu sou. Ser sentimental não é algo com o qual esteja
habituado, mas tem algo de diferente em você, e eu não me sinto
tão incomodado. — Disse como se aquela informação fosse o santo
graal. Ficou me observando por alguns instantes, como se estivesse
se dando conta de alguma novidade.
— Não consigo te imaginar como uma pessoa assim, me
pareceu diferente quando nos encontramos no cassino. — Ele se
encostou na parede cruzando os braços.
— Você deveria saber melhor do que ninguém que as
aparências enganam. — Olhei para seus braços e seu abdômen
definidos, é a própria luxúria em pessoa.
— Está querendo me assustar?
— Não... você deve se assustar com pessoas que não dizem
quem realmente são, estou dizendo algo sobre mim que é a
realidade, é quem eu sou, isso não deve te dar medo. — Ele se
afastou da parede e caminhou em minha direção. — Lobo em pele
de cordeiro não faz meu estilo.
Ele está perto o bastante para me fazer sentir o calor de seu
corpo, seu dedo toca meu lábio levemente.
— Então você prefere o lobo em pele de lobo... interessante,
isso atrai muitas mulheres? — Sorrio, mas me incomoda imaginar
Pierre com alguma outra mulher. Deve ser pelos múltiplos orgasmos
que me deu.
— Não tenho tempo para mulheres, prefiro estar sozinho,
mas me diga, isso atraiu você? — Um sorriso de molhar a calcinha
brotou em seus lábios. — No momento é tudo o que me importa. —
Sua boca se aproxima mais e seus lábios roçam os meus. — Na
verdade, não sei por que, mas sinto que tenho pouco tempo para
saber sobre o que você gosta. Por que sinto isso?
Os olhos dele se estreitaram e eu inspirei profundamente,
tentando retomar o controle do meu corpo. Não consigo acreditar
nele, não consigo confiar que está me dizendo a verdade, mas o
quero quase desesperadamente.
Capítulo 15
Sinto que ela está incomodada com algo e quero que se sinta à
vontade comigo. Se há algo que entendo sobre mim mesmo, é que não
tenho o hábito de agir de maneira impulsiva. Não preciso ser um gênio
para perceber que essa mulher mexeu comigo, e, ainda mais evidente,
que é um risco, já que o marido dela não parece ser uma pessoa
confiável.
No meu mundo, onde o trabalho muitas vezes envolve situações
arriscadas, deixo a parte da impulsividade para Damon, há momentos
em que alguém deve ser a voz da razão, e, normalmente, sou eu quem
desempenha esse papel. Porém, Ana era a exceção à regra, uma
mulher que me intrigou desde o primeiro momento em que a conheci, e
eu não estava disposto a simplesmente ignorar isso.
Sinto que o nosso tempo é curto, e o olhar dela me confirma isso.
— Eu acabei de sair de um relacionamento que não era saudável,
não estava pronta para me envolver com alguém... — ela confessa,
seus olhos demonstrando a dor que aquela experiência lhe causou.
Eu a observo atentamente e pergunto:
— E por que decidiu se envolver comigo? Talvez a resposta
também revele o motivo do meu interesse por você. Poderia ter me
rejeitado. — Não posso evitar minha curiosidade sobre o que a atraiu
para os meus braços, apesar de todas as incertezas que nos cercam.
Ana sorri, um sorriso encantador que ilumina sua expressão.
— Não consegui, acho que ainda não consigo.
— Gosto que seja sincera comigo. Então me diga, você diria não
se eu pedisse permissão para beijá-la agora?
— Na verdade, agora eu vou dizer não, porque preciso terminar
de preparar o jantar. Estou te devendo ainda, mas tenho certeza de que
em outro momento, não conseguirei negar!
A observo com um olhar divertido e provocador.
— Bem, então vou te ajudar a terminar logo, pois sei que preciso
de você... — Aproximo-me, inclinando-me para beijá-la, deslizando
meus lábios até o pescoço dela. — Há algo em você que me deixa
completamente viciado.
Ana fecha os olhos e inclina a cabeça para trás enquanto
saboreia o toque dos meus lábios em sua pele. Parece gostar da
sensação e relaxa contra mim. No entanto, ela logo abre os olhos e
comenta:
— Você costuma falar assim? Como se fosse completamente
normal? Nós mal nos conhecemos, você nem sabe o meu nome.
Continuo explorando o espaço entre seus seios e o pescoço,
respondendo a ela com sinceridade.
— No que diz respeito a mulheres, como mencionei antes, não
costumo perder meu tempo. Mas quando se trata de expressar o que
estou pensando e sentindo, sim, sempre digo o que está em minha
mente. Afinal, a vida é imprevisível, as pessoas podem partir, está fora
do meu controle e prefiro ser honesto a carregar arrependimentos por
não ter falado o que sentia.
Nesse momento, Ana abre os olhos e fixa seu olhar no meu. Ela
parece curiosa, seus olhos se estreitam.
— Você já amou alguém e a perdeu... Gostaria de conversar
enquanto preparamos o jantar? — Ela sugere, tocando em um tópico
que eu geralmente evito.
Dou um sorriso tranquilo e me afasto um pouco, considerando a
ideia.
— Não acredito que falar sobre isso vá adiantar muito, mas vou
ajudar a preparar o jantar porque estou ansioso para te levar de volta ao
quarto e repetir tudo o que fizemos lá...
Ela sorri e me empurra levemente, brincando comigo de um jeito
descontraído que muito me agrada.
— Você é mesmo um sem-vergonha. Agora me ajude a cortar
esses legumes, e, se quiser, podemos conversar. Embora eu saiba que
falar do passado não vai mudá-lo, a sensação de compartilhar ajuda a
aliviar o peso. Sinto-me à vontade quando converso com você.
Enquanto continuamos preparando o jantar juntos, uma sensação
de conforto nos envolve. Parece que estamos fazendo isso há anos, não
como se fosse nossa primeira vez. Então, após um momento de
silêncio, decido abrir um pouco mais sobre o meu passado, revelando
uma parte da minha vida que raramente compartilho.
— Não perdi uma mulher, pelo menos não da maneira que está
imaginando. — Olho pela janela, tentando reunir coragem para falar
sobre um assunto que me é difícil. — Foi a minha mãe. Nem consigo me
lembrar do rosto dela, sequer tenho uma foto para isso.
— Era criança quando ela faleceu?
— Ela se foi quando eu era adolescente. Eu era um jovem difícil
naquela época, rebelde e teimoso. Na minha família, as mulheres não
têm muita voz ativa, e meu pai me criou para ser um verdadeiro
monstro.
Os olhos de Ana estão fixos em mim enquanto ela ouve
atentamente a minha confissão. Uma expressão de compreensão
aparece em seu rosto, e eu posso perceber que ela entende a tristeza
que carrego em relação a esse assunto.
— Perder alguém que amamos é sempre doloroso, de uma forma
ou de outra. — Ana comenta, colocando a mão sobre a minha.
Eu a encaro, e nossos olhares revelam uma compreensão mútua
que é ao mesmo tempo confortante e surpreendente, uma conexão que
nenhum de nós esperava.
Me lembro de muitas coisas daquela época, mas principalmente
do quanto minha mãe sofreu nas mãos do meu pai. Nossas conversas
raramente eram felizes, e sua expressão frequentemente carregava o
peso das marcas que ele deixava, tanto físicas quanto emocionais.
— Que bom que você não é o monstro que seu pai tentou te
transformar.
— De certa maneira sou sim. — Respondo com sinceridade. —
Como te disse, eu sou o lobo, não confunda. Não faria o que fiz por você
para mais ninguém. — Os olhos dela se arregalam levemente. — Eu
não sou bom, não sou um príncipe, mas também não me escondo atrás
de uma máscara de virtude para depois mostrar minha verdadeira face.
— Acho que é melhor do que enganar, não é? — Ana comenta
dando de ombros.
— Na minha opinião, sim, é bem melhor do que enganar e mentir.
Meu pai me criou como um soldado, uma arma, mas me ensinou a não
mentir, isso é algo bom que ele me transmitiu. — Faço uma breve pausa
e suspiro. — Alguma coisa boa ele teria que fazer, suponho.
Curiosa e interessada em minha história, Ana pergunta:
— E sua mãe, como ela se foi? Por que você se arrepende de
não ter falado com ela?
Falar sobre minha mãe é um assunto que me causa dor, mas
sinto que posso compartilhar com Ana. O que é estranho.
— Eu fiquei calado enquanto meu pai a machucava, não me meti
porque fui criado para ser assim, para ser um monstro insensível. Nunca
disse que a amava, porque não sabia que a amava, até o dia em que o
homem que eu chamava de pai a matou!
Ana leva as mãos à boca, chocada com a revelação.
— Céus! Eu sinto muito! Ele está preso?
— Não... eu o matei! — Mais uma vez, sinto a necessidade de ser
honesto, mesmo que a verdade seja brutal. — Como disse, não sou o
homem bom dos seus contos de fadas, mas aprendi a proteger aqueles
que amo, e nesse momento, trata-se da minha única família, meu primo
Damon. Eu por ele e ele por mim. Não havia mais ninguém que eu
sentisse a necessidade de proteger, até que olhei nos seus olhos
naquele cassino.
Não sei por que estou revelando tantos detalhes sobre o meu
passado sombrio para Ana, mas é importante que ela saiba em que
terreno perigoso está pisando. Não posso deixá-la entrar em minha vida
e meu mundo sem compreender as consequências e os desafios que
isso implica.
Ana parece abalada e confusa com tudo o que acabei de revelar.
— É muito para processar...
— Eu sei... — Respondo, mantendo meu olhar fixo nos olhos
dela. — Mas não vou esperar anos para dizer a você quem sou. Além
disso, você me atrai de um jeito que não consigo explicar em palavras,
me traz uma paz que não sentia há muitos anos.
Sinto-me vulnerável ao me abrir dessa maneira, mas quero que
Ana compreenda que, apesar de tudo o que eu sou e do que já fiz, ela
está segura ao meu lado. Talvez essa honestidade a afaste, mas é um
risco que estou disposto a correr.
— Se quiser sair correndo, tudo bem, vou entender.
— Me conte mais sobre sua mãe, o que você lembra dela? —
Ana pergunta, tentando direcionar a conversa para algo menos pesado.
— Minha mãe era uma mulher linda, me lembro que pensava isso
sempre que a via, mas nasceu na família errada. Ela merecia ser amada
incondicionalmente, mas não foi. — Falo com carinho, forçando minha
mente a buscar sua imagem. — Ela sempre dizia que me amava, que eu
era um anjo... ela deve estar muito decepcionada.
— Se não for demais te perguntar, pode me dizer por que seu pai
a matou? — Ana indaga com compaixão, colocando a mão sobre o meu
ombro.
Este é um assunto difícil de discutir, mas Ana faz parecer fácil, e
o peso que carrego em relação à morte de minha mãe me transformou
em quem sou hoje, talvez seja bom contar a alguém.
— Meu irmão morreu no parto, e outros bebês ela perdeu durante
a gestação. Mas a culpa era dele, meu pai! Ele a machucava, e ela não
conseguia segurar o bebê. Isso o irritava, mas como ela poderia ser
culpada? — Minha voz treme ao abordar o assunto. — Como poderia
ser culpa dela?
Ana aperta meu ombro, oferecendo apoio. Lágrimas ardem em
meus olhos, mas as impeço de cair.
— Quando ele me viu chorar pela morte dela, quase me matou
em uma surra, foi por pouco, disse que eu era fraco, que amar era para
os fracos. — Me perdi em minhas lembranças e me forçava a continuar.
— Então, quando saí da UTI a primeira coisa que fiz foi matá-lo.
Ana permaneceu em silêncio, absorvendo a gravidade da minha
história. Finalmente, quebrou o silêncio.
— Quem é você? — Perguntou com um misto de curiosidade e
apreensão. — Não sei se quero ouvir a resposta, porque estou
pensando que posso ter saído de uma fria e entrado em uma ainda
maior.
— Não... porque pelo que vi, você estava fugindo por ser
maltratada, e uma coisa que jamais faria é maltratar a mulher que está
ao meu lado. Pelo contrário, eu destruiria o mundo inteiro pela mulher
que conquistar meu coração.
Ela piscou, talvez surpresa com minha resposta. Eu prossegui.
— E quanto ao seu primo? — Ela questionou.
— Ainda pior do que eu. — Confessei. — Queria que ele voltasse
a ser feliz como era antes. Damon sim perdeu a mulher que amava, foi
arrancada dele de uma maneira horrível, ela e o filho. Levaram junto o
coração que ele tinha.
A conversa estava se tornando mais intensa, e eu me aproximei
de Ana, ficando a milímetros de distância de seu corpo. Ela inspirou
profundamente e fechou os olhos por um momento.
— Está com medo? — Perguntei suavemente.
Ela abriu os olhos e olhou nos meus, como se estivesse
avaliando sua resposta.
— Eu sei que deveria, mas tem algo nos seus olhos que me
impedem de pensar que você poderia me fazer qualquer mal.
Sorri com a resposta e coloquei uma mão gentil em seu rosto.
— Porque eu jamais faria.
Havia uma conexão profunda entre nós, algo que eu não
conseguia explicar completamente. Eu estava determinado a fazê-la
ficar ao meu lado, mas precisava de mais tempo para tentar fazê-la ficar.
Nossos olhos continuaram colados, e eu sabia que estava
disposto a enfrentar qualquer desafio que surgisse, contanto que Ana
ficasse ao meu lado. Meu desejo de protegê-la se tornou ainda mais
intenso. Ela não estava mais sozinha, e eu faria de tudo para mantê-la
segura.
Capítulo 16
Pierre é um tipo de homem que eu não sei dizer se está
falando a verdade ou se está mentindo, a sinceridade dele é
assustadora, então muitas vezes quando ele fala eu penso que
pode estar até mentindo, porque não acho possível que uma pessoa
fale tão naturalmente sobre o que ele me diz.
Já estávamos há mais de uma semana na casa. Pierre exigia
tanto do meu corpo, que durante a maior parte do tempo em que
não estava me dando prazer, eu precisava dormir. Ele virou para
mim de repente.
— Vamos fazer alguma coisa fora? Você parece um pouco
chateada, quero te animar.
— Eu não estou chateada, na verdade, estou mesmo é
exausta... — Ele sorriu triunfante. — E se ele me encontrar?
— Eu o mato, não vai ser uma coisa fácil? Talvez não, mas
também não parece que será algo pior do que as coisas que já fiz.
— Ele fica pensativo por alguns momentos. — Ainda há muito sobre
mim que você não sabe.
— Essa sua calma e tranquilidade aparente engana muito
bem, você não parece alguém que sairia por aí matando qualquer
um que aparece em seu caminho.
Ele fica pensativo por alguns instantes, como se estivesse
pensando no que acabei de falar e no que me responder.
— Se lembra que eu te disse que tenho um primo? — Faço
que sim com a cabeça. — O nome dele é Damon, somos unha e
carne desde muito jovens, eu faria qualquer coisa por ele. Ele não
foi criado como nenhum de nós, e eu tive pena quando precisou ser
arrastado para uma vida que não conhecia, Damon vivia um conto
de fadas enquanto a maioria de nós já nasce no inferno.
Eu ajudei de todas as maneiras que pude, desde menino,
mas antes de Damon se tornar o demônio que todos temem, esse
papel era meu... depois se tornou nosso, e quando ele perdeu a
coisa mais importante em sua vida, ele virou uma besta feroz e
alguém tinha que ser a parte consciente do monstro.
— Então vocês são perigosos, não são?
— Sim, mas ofereço ainda mais perigo quando tentam mexer
em algo que estou afeiçoado.
— Está me dizendo que sente afeição por mim?
— Estou dizendo que eu não vou deixar que nada de mal te
aconteça enquanto me quiser ao seu lado. — É assustador o quanto
seus olhos me passam verdade. — Não gosto de deixar que nada
aconteça as pessoas ao meu redor, e eu te protegerei de tudo e
todos a qualquer custo, seja ele qual for.
Senti um arrepio na espinha.
— Eu gostaria de sair um pouco, estar presa me deixa
agitada, já passei muitos anos da minha vida assim.
— Vamos passear então, não precisa se preocupar com seu
ex, tenho homens que estão de olho nele, qualquer movimento e
nós vamos saber, agora me diga, onde gostaria de ir?
Pensei um pouco, o que sei sobre esse lugar?
— Não conheço nada aqui, mas se for possível, gostaria de ir
a algum lugar onde possa me sentar, fazer um piquenique, olhar o
mundo sem pressa, sem medo, sem estar sendo vigiada.
Eu não tenho liberdade para absolutamente nada, nem
consigo me lembrar da última vez que consegui fazer isso.

Me lembro de quando as coisas estavam começando a ir só


ladeira abaixo entre mim e Christopher, ele me buscou na faculdade,
estava exalando fúria.
— Como foi a aula hoje, Diana?
Abri um sorriso leve, ainda tinha esperança de que aquela
fosse uma fase passageira.
— Foram todas boas, aprendi tanta coisa, você não tem
ideia. — Christopher apenas grunhiu como resposta, e a tensão só
aumentou. Ele estava claramente furioso, mas não quis confrontá-lo
ali.
— É, eu não tenho mesmo... vamos embora. — Estava ainda
mais frio, e um pânico começou a se instaurar enquanto ele dirigia
em silêncio para a nossa casa.
— Vou tomar banho. — Informei assim que entrei em casa.
— Estou morrendo de sono.
— Venha comigo. — Aquilo não era um bom sinal. — Tem
algo que quero perguntar a você.
Entramos na sala de TV e ele baixou o aparelho que estava
recolhido, uma imagem de pessoas na sala surgiu, era a minha sala.
— O que é isso? — Estreitei os olhos. — Como é que vo...
Ele soltou uma gargalhada.
— Sabe que fez merda e quer saber como é que eu consegui
as filmagens em vez de se preocupar com o que eu vi? É isso, não
é?
Olhei sem entender do que é que ele estava falando.
— Merda? Mas de que merda você está falando. — Ele
acelerou o vídeo, até o momento em que um colega se aproximou
de mim enquanto eu guardava minhas coisas, ele me olhou por
alguns segundos em seguida tocou meu ombro para chamar minha
atenção.
— Ele te engoliu com os olhos e depois tocou em você...
acha que eu vou te deixar me colocar chifres? — Sua respiração
estava acelerada e ele me olhava com raiva. — Antes disso eu mato
você, entendeu?
Eu estava tão chocada com o absurdo pelo qual ele estava
irritado que olhei sem reação.
— Você deve estar ficando louco... não é possível, ele
estava apenas pedindo para enviar minhas anotações da aula
passada.
Ele jogou o controle na parede, que se espatifou com a força,
e caminhou em minha direção, fazendo-me recuar até a parede
mais próxima.
— Eu sei muito bem o que ele queria, você! E como uma
mulher casada, você é quem deveria ter mantido distância, não o ter
deixado te tocar.
— Eu estava virada de costas!
— Estava fingindo que não o viu!
Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto eu tentava
argumentar com o homem completamente insano em minha frente.
— Eu não o vi... estava guardando minhas coisas, você
mesmo viu! — Sua mão veio para o meu pescoço, apertando o
bastante para me machucar.
— Mentirosa!
Ele apertou até ver que eu estava ficando mole e me soltou,
mas me manteve em pé quando meus joelhos falharam.
— Está louco? — Perguntei, tentando desesperadamente
puxar o ar para os pulmões.
— Não gosto que toquem no que é meu, e eu vou te ensinar
isso direitinho, você vai se lembrar, e na próxima vez, não vai deixar
que aconteça. — Me pegou pelo cabelo e arrastou pela casa; era a
primeira vez que ele agia daquela forma. — Você vai ter tantas
marcas minhas em seu corpo que eu duvido que algum homem vá
te olhar novamente. Vou socar tão forte na sua boceta que você vai
se lembrar cada vez que se mexer!
Ele me levou para o nosso quarto.
— Ei? — A voz de Pierre me traz de volta ao presente. — No
que estava pensando? Sua respiração está acelerada e seus olhos
estão marejados.
— Nada que eu queira compartilhar, só preciso mesmo ir a
algum lugar, ficar aqui dentro não é legal.
Sinto que minha mente está em um estado frágil, incapaz de
fazer qualquer coisa sem pensar no quanto Christopher faria eu me
arrepender se me pegasse.
Pierre, com seu sorriso cativante, tenta me tranquilizar.
— Vou mandar que preparem tudo, faremos um piquenique.
Seu sorriso derrete meu coração, mas, por mais que ele
tente, nem mesmo sua gentileza consegue afastar totalmente as
memórias ruins que assombram minha mente.
Sorrio para ele, agradecida por, pelo menos naquele
momento, essas lembranças ruins serem apenas lembranças e
estarem no passado. Pierre me ajuda a esquecer, mesmo sem
saber disso. Ele é alguém que me faz sentir segura, um sentimento
pelo qual esperei por muito tempo.
Depois de minha história conturbada com Christopher, achei
que nunca mais confiaria em um homem. Ele era possessivo,
ciumento e violento, e minha vida era um pesadelo constante. Ainda
assim, aqui estou eu, convivendo com um homem que nem conheço
e que parece mais perigoso que meu marido.
Não precisar mais temer cada movimento que faço é
maravilhoso.

O piquenique é em um parque tranquilo, um refúgio da


agitação. Pierre estende uma toalha xadrez no chão e começa a
desembrulhar a comida que trouxemos. Enquanto o vejo se esforçar
para tornar esse dia especial, minha mente se enche de gratidão por
tê-lo encontrado, por ter sido ele naquela suíte.
Sabe quando você se recorda de momentos bons na vida?
Quando um déjà vu te acerta em cheio? Foi exatamente como me
senti quando Pierre e eu estávamos no parque, mas a memória era
tão boa que me senti revivendo aquele momento, só que, naquele
tempo, era com meus pais.
O dia estava gostoso como hoje, perfeito para um passeio.
Nos sentamos debaixo de uma árvore, e eu me deitei olhando para
o céu, exatamente como estou fazendo agora. Pierre se deita ao
meu lado, agindo da mesma maneira que eu. Entretanto, ao ver
suas mãos se cruzando atrás da cabeça, percebo a arma que está
na sua cintura. Ele me parece o homem perfeito, tem tudo para ser,
mas sei que está muito longe disso.
Tudo nele é convidativo, faz parecer que é perfeito, como se
não pudesse existir algo ou alguém melhor no mundo, mas sei que
é tudo uma mentira, que meus olhos me enganam mais uma vez.
— Consigo escutar seu cérebro fritando daqui, sabia? —
Pierre diz com os olhos fechados. — O que é que tanto te
incomoda?
Não sei o que dizer a ele. Não tenho ideia de como ele vai
reagir quando eu disser que está na hora de ir embora.
— Sabe mais ou menos quando vou ter que entregar meu
cartão a um dos seus homens para atraírem Christopher para outra
cidade?
— Qual é mesmo seu nome? — Ele me pergunta, lembrando
que eu não havia revelado meu nome a ele, e que assim que eu
entregar o cartão, ele vai descobrir.
Me levanto e fico sentada.
— Não quero que saiba meu nome. — Digo com sinceridade.
— Não sei o que pensar sobre você, Pierre, mas eu quero partir,
não quero que me procure quando isso acontecer.
Mesmo que eu mude meu nome, ele poderá descobrir meu
passado, se souber o nome real.
— Ana... — Ele diz o nome, sabendo que não é o verdadeiro.
— Diga qual a dúvida que tem sobre mim, o que quer saber? Não
vou te esconder absolutamente nada, como tenho feito até agora.
Como posso acreditar? Já fui enganada antes, e não tenho
um histórico muito positivo em julgar o caráter das pessoas.
Observo as pessoas ao nosso redor, distraídas, sem saber
que há alguém tão perigoso quanto Pierre ali, tão próximo delas,
com uma arma na cintura e um olhar distante de quem não se
importaria de ver qualquer um ali morrendo.
Não posso continuar me envolvendo com ele dessa maneira.
— Você vai me deixar ir quando eu quiser? — Seu olhar fica
sério, e parece também estar um pouco triste.
— Se for o que você deseja, sim, tem toda a liberdade para ir
aonde quiser. — Pierre suspira. — Mas gostaria muito que, onde
quer que você queira ir, me permita estar ao seu lado.
Meu coração erra uma batida ao olhar dentro de seus lindos
olhos azuis.
Tenho que me afastar desse homem, ele não faz bem para os
meus planos. Se eu continuar indo por esse caminho, pode ser
ainda pior do que o anterior.
— Pierre, eu...
— Senhor? Sinto muito por interromper assim, mas precisam
de sua atenção para negócios com urgência.
Não havia passado muito tempo desde que estávamos no
parque, mas conseguimos aproveitar o dia. Portanto, não me
importei quando ele me disse que teríamos que partir.
— Me desculpe por isso, mas preciso voltar.
Ele me deixou de volta em casa e partiu, me deixando
completamente confusa, sem saber o que fazer. Não imaginei que,
quando finalmente conseguisse estar livre, me sentiria tão tentada a
me prender em alguém novamente.
Capítulo 17
Parece que o marido da nossa querida convidada finalmente
resolveu prestar um pouco mais de atenção às gravações e encontrou a
maneira pela qual sua esposa fugiu, cortando os cabelos longos para
passar despercebida.
Quando o idiota finalmente se deu conta de que não estava mais
procurando a bela mulher de cabelos longos, mas sim uma mulher de
cabelos curtos, a expressão em seu rosto deve ter sido impagável.
O cassino me ligou dizendo que tinham urgência em falar comigo,
que havia algo a ser esclarecido com Christopher.
— Sr. Lucchese, que bom revê-lo, temos alguns assuntos a tratar.
Sabia que ficaria na cidade por algum tempo, então pedi que entrassem
em contato.
O gerente me encaminhou para a sala onde aconteceria a
reunião, e Christopher já estava lá me esperando, se levantou assim
que me viu.
— Onde é que ela está? — Perguntou furioso. — Já sabemos
que ela foi até o seu quarto naquela noite. Onde é que minha esposa
está?
Eu queria dar risada, mas apenas o encarei com frieza enquanto
ele ficava cada vez mais vermelho.
— Não me lembro de ninguém no meu quarto.
— Você não permitiu que entrassem no quarto e, em seguida, foi
embora. Ela estava lá, sei que estava. Só não sabemos como você
conseguiu sair sem que ela fosse vista!
— Senhor, creio que seja melhor que se contenha, o Sr.
Lucchese estava cansado, com assuntos para resolver e ficou com raiva
porque o interrompi. — O gerente interveio. — Se ele diz que não viu
ninguém em seu quarto, sei que não mentiria, ele não tem esse tipo de
índole. Trabalhamos juntos por muito tempo, nunca houve nenhum
problema.
Respiro fundo e controlo meu temperamento. Afinal de contas,
ele tem razão. Eu estou com a mulher dele, mas não vou deixar que ele
saiba disso.
— Acho melhor que você o escute. Se eu perder a porra da
minha paciência, vão ter que tirar os seus restos daqui com uma pá!
— Eu não tenho medo de você, eu faria qualquer coisa pela
minha esposa...
— Isso é um tanto contraditório, já que foi sua esposa quem fugiu
de você, não acha? Se faz tanto por ela, creio que ela deveria te amar e
não querer fugir. — Olho para o gerente, que já está todo suado diante
daquela situação. — Vim até aqui porque me disseram que era algo
urgente. A sua urgência é isso? Que eu cuide de uma mulher que nem
minha é? O que pensa que eu sou?
Puxo minha arma com agilidade, acerto a testa do gerente e, em
seguida, aponto para Christopher sem dar a ele tempo suficiente para
sequer tocar a sua arma.
— O que vai dizer ao dono do cassino depois disso?
— Que ele tinha um incompetente no cargo mais alto do lugar e
que isso não é bom para os negócios. — Sorrio. — Mande seus homens
baixarem as armas agora mesmo, seus miolos vão estar espalhados
pela sala antes que eles consigam colocar o dedo no gatilho. Agora,
vamos falar de você. — Tombei a cabeça de lado. — Eu não sou alguém
que gosta de ser importunado, Rockefeller. Detesto essa interação com
o mundo exterior. Aceitei os negócios com você porque foi muito bem
indicado, inclusive pelo próprio dono do lugar.
— E eu sou muito bom no que faço...
— Talvez, mas há um detalhe, você deixa que suas emoções te
manipulem, e isso é mais do que ruim para os negócios. Então, diga-me,
Christopher, como é que vamos resolver esse impasse?
Me aproximo um pouco mais.
— Diga-me você.
Abro um sorriso amplo.
— Penso em desfazer qualquer negócio depois de todo esse seu
showzinho. Não posso trabalhar com quem não confia em mim, e muito
menos com alguém em quem eu não confio. Posso dar um jeito de te
fazer desaparecer completamente. Nada nessa cidade é feito sem que
eu aprove, e acredite, posso fazer com que todo o seu esquema vá por
água abaixo. Quer procurar a sua mulher? Fique à vontade. Mesmo que
eu ache que você é um idiota, não me envolva nas suas merdas, ou eu
vou enfiar uma bala na sua testa. Estamos entendidos?
Minha vontade era acabar com aquele merda ali, mas não sei
muito sobre a organização dele e nem quantos virão atrás de mim. Não
posso agir impensadamente. Ele também está em vantagem numérica
aqui, morreríamos os dois.
Recolho a arma e, com um olhar frio, sinalizo para os homens de
Christopher que baixem suas armas. Eles hesitam, mas obedecem.
— Muito bem, parece que estamos entendidos, Christopher.
Espero que você siga o meu conselho e não cruze o meu caminho. Não
é bom para você.
Com isso, saio da sala, ignorando a expressão raivosa de
Christopher. Sei que deixei uma ameaça pairando no ar, mas é assim
que funciona o mundo em que vivemos.

Volto para casa, onde Ana me aguarda. Seu olhar atento percebe
que algo não está certo.
— Tudo bem? — pergunta ela.
Assinto, mas não estou nada bem. Toda essa situação com
Christopher só complicou me deixou mais irritado, ele a quer de volta,
mas ela é minha. Preciso encontrar uma maneira de me livrar dele.
— Você está agindo de forma estranha, Pierre. O que aconteceu
no seu compromisso urgente?
Respiro fundo e decido ser o mais sincero possível com ela.
Afinal, preciso fazer com que ela confie em mim, é o primeiro passo para
qualquer relacionamento dar certo.
— Christopher fez com que me chamassem, ele sabe que você
foi ao meu quarto naquela noite.
Ana franze a testa, e sua respiração acelera.
—Ele não pode descobrir que estamos juntos. Isso te colocaria
em problemas, eu não queria trazer nenhum problema para você. É por
isso que preciso ir embora. Não posso arriscar a sua segurança nem a
minha.
Minha mente começa a trabalhar rapidamente, tentando
encontrar uma saída para essa situação. Não quero que ela vá.
— Se for o melhor para você, Ana, então eu entendo. Mas se é
por preocupação com sua segurança ou a minha, você não tem com o
que se preocupar, sou mais do que capacitado para cuidar de nós. Não
quero te perder.
Ana olha para mim, com preocupação manchando seu lindo
rosto. Ela parece estar avaliando suas opções, assim como eu.
— Pierre, eu sei que você é capaz, mas o que está em jogo é
mais do que apenas nossa segurança física. Christopher é perigoso, e
ele não vai desistir facilmente. Ele pode usar qualquer coisa que tenha,
e eu não quero que você corra esse risco.
Eu a entendo, mas minha vontade de mantê-la ao meu lado é
mais forte. Afinal, eu já me envolvi demais nisso tudo.
— Ana, eu não vou deixar que ele nos ameace ou nos afaste. Se
você quer partir, está tudo bem, mas que seja porque não me quer por
perto e não por medo.
Ela suspira e me encara, seus olhos cheios de emoção.
— Pierre, eu... é tudo tão recente, estou confusa, assustada.
Christopher costuma ser implacável, e não sei do que ele é capaz.
Talvez eu possa ficar escondida por um tempo, mas e se ele me
encontrar?
— Vou encontrar um jeito de protegê-la e mantê-la em segurança.
Deixe-me te ajudar. — Sei que ela não me conhece bem, mas sua falta
de fé em mim chega a ferir meu orgulho.
Fico em silencio olhando para nada em especial, apenas perdido
em meus pensamentos.
Capítulo 18
Desde que Pierre voltou da reunião com Christopher, algo parece
estar perturbando sua mente. Ele está calado, perdido em pensamentos,
e mesmo que o conheça há apenas alguns dias, sinto a necessidade de
saber o que aconteceu. Mas depois de algumas palavras ele volta a se
calar. Enquanto jantamos, ele finalmente quebra o silêncio.
— Você se incomodaria se eu matasse seu ex-marido?
Quase me engasgo com a comida e, em choque, deixo os
talheres na mesa. A pergunta é tão inesperada que fico sem palavras.
— Está mesmo falando sério? — pergunto, ainda atônita.
Ele se levanta da cadeira e se aproxima de mim, preocupado.
— Muito... Não quero te deixar chateada comigo, ainda menos
por um cafetão que não vale de nada.
Minha mente trava, tentando processar o que ele acabou de
dizer. Ele está disposto a matar meu marido, alguém que nem mesmo
conhece, para me proteger. Uma mistura de emoções toma conta de
mim, mas principalmente, o choque com a revelação sobre o meu ex-
marido.
— O que foi que você disse? Que ele é o que? — pergunto,
minha voz trêmula.
Pierre me ajuda, batendo suavemente nas minhas costas
enquanto tento recuperar o fôlego.
— Os negócios do seu ex estão relacionados à prostituição de
mulheres, ele diz que todas fazem isso por vontade própria, que não as
força. — Pierre revela, sua voz carregada de raiva e repúdio. — Mas eu
tenho minhas dúvidas.
Meu mundo desaba mais uma vez. Eu estava casada com um
cafetão, um aliciador de mulheres. Lágrimas escorrem pelo meu rosto
enquanto tento assimilar a gravidade do que Pierre acabou de dizer.
— Você também faz essas coisas? Quer dizer, também se
envolve... Deus eu não sei nem como descrever isso. — Deixo as
lágrimas rolarem soltas por meu rosto. — Isso é horrível demais, passei
anos da minha vida ao lado de um monstro ainda mais asqueroso do
que pensei.
Pierre se abaixa ao meu lado, e posso ver a culpa e a raiva em
seu rosto.
— Não quero mentir para você, Ana. Eu administro um local que
oferece esses serviços. Mas são mulheres que desejam melhorar de
vida com homens ricos, ou que escolhem livremente esse estilo de vida.
Nunca impedimos ou mantivemos nenhuma contra a vontade dela. O
que sinto, não é o caso do seu ex-marido.
Meu cérebro está em tumulto, incapaz de processar todas essas
informações.
— Isso parece menos horrível para você? — pergunto, olhando
nos olhos de Pierre, esperando encontrar alguma indicação de que ele
não está falando sério. No entanto, seus olhos me revelam a sinceridade
das palavras que acaba de proferir.
— Eu disse que seria honesto e que diria a verdade, mesmo que
não seja agradável de ouvir. Não vou pintar uma imagem que não
corresponde à realidade. — Ele respira fundo. — Ana, desde o momento
em que te vi, me encantei por você, mas não vou te enganar ou
esconder quem sou.
A sinceridade de Pierre é admirável, mas também assustadora.
Sinto o medo crescer dentro de mim.
— Isso me assusta, Pierre, muito. Você é tão sincero, e isso é
bom, mas tem ideia do quanto isso me apavora?
Ele parece entender a minha preocupação, mas sua
determinação não vacila.
— Como eu disse, sinto que não temos muito tempo.
Consigo sentir sua urgência, e agora estou ainda mais decidida a
sair desse lugar, a deixá-lo para trás e nunca mais vê-lo. Tudo isso é
demais para processar, e a minha vida se tornou um turbilhão de
emoções, segredos e revelações perturbadoras.
Meu cérebro parece estar fervendo, incapaz de compreender a
torrente de informações e sensações que Pierre despejou sobre mim.
Sua naturalidade ao abordar assuntos delicados me deixa atordoada.
Deveria estar surtando e fugindo neste exato momento, mas estou aqui,
ainda estou aqui, paralisada.
— Por favor, por favor... não me olhe desse jeito, você sabe que
eu não minto, sabe que eu não mentiria para você. Não quero o seu
mal, e não quero ser como o homem do qual você está tentando fugir
desesperadamente.
Tentei fugir desesperadamente e acabei caindo nos braços de
alguém que, de alguma maneira, parece ser igual. Talvez não igual, já
que Pierre não mente para mim, mas a honestidade não parece estar
aliviando o peso das revelações.
Pierre passa suavemente a mão pelo meu pescoço enquanto eu
suspiro profundamente, com os olhos fechados. Mesmo que um
segundo atrás eu desejasse fugir, seu toque tem o poder de me fazer
querer mais.
— Pierre... — Minha voz é apenas um sussurro.
— Eu jamais te magoaria, jamais...
Ele substitui o toque dos dedos pela pressão dos lábios, e um
arrepio percorre minha espinha. Um desejo que eu nem sabia que
existia desperta dentro de mim. Já pensei que havia sentido prazer, mas
isso foi antes de conhecê-lo, antes de ele me levar às alturas inúmeras
vezes.
Pierre me leva perigosamente à beira de um colapso, e meu
corpo clama por seus toques. Mas esse não é o momento ideal para
isso.
— Você me quer? — ele sussurra em meu ouvido. Sua mão vai
até minha barriga e sobe até meu seio. Um toque sutil que me provoca
uma reação intensa, fazendo-me gemer. — Apenas diga sim...
Minha voz desaparece, mas aceno com a cabeça, expressando
meu desejo incontrolável.
— Isso é um sim? — ele pergunta novamente, e eu repito o
gesto.
Sei que não deveria ceder, mas meu desejo fala mais alto que
minha autopreservação. Não tenho tempo para pensar direito, a atração
que sinto por ele nubla meus pensamentos e quando seus lábios se
chocam com os meus todo o resto desaparece.
A maneira que ele me beija é avassaladora, a boca me
controlando e a língua explorando e exigindo minha entrega.
Meu ventre se contorce e eu me sinto vazia, quero que ele me
possua, que me tome para si, mesmo sabendo o quanto isso é errado.
Pierre aperta meu seio e outro gemido me escapa. Ouço o som
rouco da sua risada contra meus lábios e minha mente implora para que
eu o pare, mas ele já sabe o que faz comigo, sabe que não penso direito
quando está assim tão perto.
Seu beijo é lascivo, rude, e deixa meu corpo em chamas.
Ele me ergue em seus braços e me leva até o quarto. Seus olhos
estão fixos em mim, e sinto-me completamente vulnerável, mas também
incrivelmente sensual. Pierre emana desejo toda vez que me olha,
mesmo quando não estamos em um momento íntimo.
— Tire a roupa. — Manda com a voz rouca.
Obedeço prontamente, e ele sorri, apreciando a visão. Ainda
estou de pé quando ele se aproxima, me vira de costas e me apoia na
cama. Seus dedos traçam caminhos lentos pelo meu corpo, distribuindo
beijos suaves pelo trajeto, até chegar à minha carne, úmida e pulsante
de desejo por ele.
Seus dedos se agarram aos fios do meu cabelo, sua pegada é
dura, o prazer e a dor se misturam e me deixam ainda mais excitada.
— Seu cheiro é maravilhoso... — Sua língua desliza sobre mim, e
eu me contorço de prazer.
Sua mão percorre o espaço entre as minhas pernas até chegar à
minha boceta. Pierre separa meus lábios com os dedos e dedilha meu
clitóris.
Jogo minha cabeça para trás gemendo seu nome, e ele continua
a me esfregar, deixando-me a beira da loucura.
— Mas nada se compara ao seu gosto.
Sua língua me invade e me deixa na beira do precipício com suas
carícias, mantendo minhas pernas abertas com as suas. Meus gemidos
ecoam pelo quarto, enquanto ele se concentra em me torturar
deliciosamente.
Meu corpo estremece e eu rebolo despudoradamente em seu
rosto, empurrando o quadril contra ele para ter mais contato, para me
derramar em seus lábios enquanto ele me leva ao limite do prazer.
Seus dedos se unem a língua e qualquer fio de coerência em
minha mente se dissolve. Tudo que sai da minha boca é o nome dele, e
a cada vez que eu o chamo, com a voz quase chorosa de prazer, ele
geme de satisfação.
— Fique comigo — sussurra de repente. — Não vá embora.
Eu estaria disposta a concordar com qualquer coisa, a atender a
qualquer um dos seus pedidos. Queria dizer sim, mas mordo a língua,
incapaz de fazer uma promessa que pode mudar a qualquer momento.
Ele me vira e me coloca na cama, se posicionando entre as
minhas pernas e me olhando com adoração.
— Seja minha.
— Isso eu já sou — e nisso não estou mentindo. Pierre me tem
de um jeito que nenhum outro jamais teve.
Seu pau se esfrega lentamente em minha entrada, impedindo-me
de ter qualquer pensamento coerente, ele me invade de uma só vez, e
eu me perco completamente em meio ao prazer, entregando-me a essa
conexão que nos envolve.
Os movimentos de Pierre são intensos, cheios de paixão e
desejo, uma dança envolvente que nos leva a um lugar onde o mundo
exterior desaparece. Cada toque, cada beijo, se torna um elo mais forte
na corrente que nos une.
Meus sentimentos estão divididos, pois sei que não posso
permitir que esse momento de êxtase se torne um compromisso que
não posso cumprir. A promessa de permanecer é tentadora, mas as
sombras do passado e as incertezas do futuro continuam pairando sobre
nós.
Pierre continua a explorar meu corpo com toques ásperos e
impacientes, como se quisesse gravar cada detalhe na memória. Cada
carícia faz com que me sinta apreciada e desejada como nunca antes. O
prazer que ele me proporciona é avassalador, e todos os meus medos e
preocupações desaparecem no calor do momento.
Capítulo 19
Sob a luz suave do quarto, Ana e eu nos entregamos ao desejo e
a luxúria. Perder o controle não é algo que eu costume fazer com
frequência, mas Ana consegue me tirar completamente fora do eixo. O
sabor dela me viciou e não vou parar até senti-la gozar em minha língua.
Minhas mãos ávidas exploram seu corpo, deslizando por sua pele
macia enquanto ela se contorce de prazer. Sua respiração acelerada
ecoa no quarto, preenchendo o espaço.
Agarro sua bunda com as mãos, abrindo-a para mim. Sua boceta
brilha de excitação, implorando para ser fodida. Meu desejo por ela é
incontrolável, e a visão de sua intimidade exposta para mim me deixa
ainda mais faminto.
Esfrego seu clitóris com o dedo médio, provocando arrepios por
todo o seu corpo. Seus quadris se movem em sincronia com meus
toques, ansiosos pelo alívio que ela tanto deseja. Minha língua desce,
explorando seu calor e sinto que está ansiosa por mais.
Ana rebola e esfrega a boceta em mim, buscando seu êxtase.
Sua entrega me excita ainda mais, e não posso evitar o grunhido de
prazer que escapa dos meus lábios. Quero mantê-la para sempre assim,
à minha disposição, para que eu possa fazê-la gozar sempre que eu
quiser.
Ela geme meu nome, empurrando o quadril contra mim,
implorando que eu a possua. Sinto o gosto da sua excitação em meus
lábios, um sabor que se tornou viciante, a droga que me enlouquece.
— Fique comigo — sussurro, minha voz rouca de desejo. — Não
vá embora.
Eu a quero como nunca quis ninguém antes. A quero para
proteger, para cuidar, para foder, para qualquer coisa que precisar.
Quero as marcas dos meus dedos na sua bunda. Quero marcá-la como
minha, quero que se entregue inteiramente a mim, porque sei que serei
tudo o que ela quiser.
Ana explode em um orgasmo potente, seu corpo tremendo sob o
poder do prazer. Não paro de chupar e lamber até seus tremores
passarem, querendo prolongar cada segundo de sua entrega.
Viro-a de frente para mim. Seu rosto está ruborizado, os lábios
entreabertos, as maçãs do rosto vermelhas, as pupilas dilatadas, o
semblante satisfeito. Ana é a minha perdição, soube disso desde o
primeiro momento em que a vi.
Olho nos seus olhos, perdido na conexão intensa que
compartilhamos. A paixão queimando entre nós é inegável, uma chama
que não posso e não quero apagar. Neste momento, nada mais importa,
apenas ela.
— Seja minha — estou disposto a implorar se for o que ela
deseja.
— Isso eu já sou — mas sei que ela não decidiu ficar.
Um desejo voraz se apodera de cada fibra do meu ser, e eu meto
fundo em sua boceta, uma estocada rápida e dura que a faz gritar. Saio
todo e volto a meter profundamente, meu corpo inteiro está rígido de
tesão.
Ana se contrai a minha volta e o prazer de tê-la me apertando é
quase torturante.
Beijo seus lábios assumindo um ritmo constante e intenso. Eu a
fodo cada vez mais rápido e ela me recebe, a boceta apertando cada
vez que saio. Estoco seu interior sem pausa, enquanto Ana geme meu
nome e rebola sob mim.
As unhas cravam minhas costas, arranhando cada pedaço de
pele que alcança e isso rompe qualquer resquício de controle que eu
possa ter. Agarro sua bunda e meto nela sem dó, nossos corpos se
chocando em um ritmo quase cruel.
Ana geme e murmura palavras desconexas implorando por sua
libertação. Dedilho seu clitóris sem diminuir meu ritmo e ela se aperta ao
meu redor. Cada movimento gera uma explosão de prazer
compartilhado. Nossos corpos se movimentam em um frenesi de desejo,
enquanto seus gemidos ecoam pelo quarto.
Sinto a tensão dentro de mim se construir à medida que continuo
a estocar profundamente em Ana. Seus olhos, cheios de luxúria,
encontram os meus, e sei que ambos estamos chegando ao limite do
nosso desejo.
Com uma última estocada poderosa, Ana explode em êxtase, seu
corpo se contorcendo de prazer enquanto ela atinge o clímax.
Eu não estou nem perto de terminar, a giro de bruços na cama,
separo suas pernas com as minhas e a prendo com meus pés, abrindo-
a ao máximo e volto a meter em sua boceta.
Agarro eu cabelo por trás enquanto meto rápido e duro. Mexo os
quadris, saindo e entrando, estocando em um ritmo quase brutal. Ana
geme e empurra o corpo para cima, correspondendo minhas investidas.
Cada investida, cada gemido, é uma expressão da nossa necessidade
de um ao outro.
Passo a mão por baixo de seu corpo, separo seus lábios e
massageio seu clitóris, sentindo minhas bolas batendo em sua bunda
cada vez que entro nela. Seus gritos são o bastante para me levar ao
limite, explodo em um orgasmo violento beijando, mordendo e chupando
seu pescoço. Ana me acompanha, nossos corpos suados se chocam
um contra o outro enquanto encontramos a liberação tão desejada
Finalmente, meu ritmo diminui, me deito ao seu lado e a puxo
para mim, ficamos abraçados, ofegantes, nossos corações batendo em
harmonia. O quarto está impregnado com o nosso cheiro. Eu a olho nos
olhos, nossas respirações lentamente se acalmando.
Ficamos deitados, seu corpo está parcialmente em cima do meu,
nossos corpos suados e exaustos após a intensa paixão que
compartilhamos. A satisfação permeia o ar, e sinto que nada mais
importa, apenas nós dois naquele momento.
Olho nos olhos de Ana, e vejo uma expressão de profundo
contentamento em seu rosto. Nossos corações ainda batem em
sincronia, como se estivéssemos conectados de maneira inegável.
Ela sorri para mim, um sorriso doce e cheio de significado. O
toque suave de seus dedos acaricia meu rosto, e sinto como se
estivéssemos compartilhando algo especial, algo que vai além do desejo
carnal.
— Pierre... — ela sussurra, sua voz carregada de uma emoção
que ainda sou incapaz de descrever. — Nunca senti nada assim antes.
Obrigada por me fazer sentir assim, por me mostrar como deveria ser
tratada sempre.
Sua gratidão toca meu coração, e sinto um calor reconfortante se
espalhar por dentro de mim. A ideia de que posso fazer Ana se sentir
especial, amada e desejada é incrivelmente poderosa.
Sua mão encontra a minha, e nossos dedos se entrelaçam em
um gesto íntimo. Eu também nunca experimentei nada tão poderoso
quanto o que compartilhamos. É como se tivéssemos nos encontrado
em meio ao caos de nossas vidas, e agora tudo para mim fizesse
sentido.
— Por que parece que está se despedindo? — Minha voz é
suave, mas a preocupação é evidente. Minha expressão reflete o pânico
que sinto percorrer minhas veias. — O que temos é extraordinário, Ana,
e eu não quero que sinta a necessidade de partir.
Ela não responde às minhas palavras, mas me cala com um beijo
apaixonado, como se quisesse fugir da minha pergunta. O gosto de
seus lábios é uma promessa silenciosa de que, no momento, estamos
juntos, e é isso que importa.
Meus dedos acariciam seu rosto suavemente, enquanto nossos
olhos se encontram em um olhar cheio de significado. Há algo que não
estamos dizendo em palavras, mas que entendemos um ao outro.
Não sei o que o futuro nos reserva, mas uma coisa é certa: estou
disposto a lutar por esse sentimento que encontramos um no outro. Não
quero e não posso perdê-la, mas preciso que ela escolha ficar.
Capítulo 20
Pierre é um homem com muitos talentos, isso não posso
jamais negar, mas ele é tão perigoso, se não for pior, do que Chris,
e pelo bem do meu bebê, eu preciso me manter afastada de perigos
assim. Há coisas sobre o homem que viveu ao meu lado tantos
anos que eu não sabia, imagine o que pode vir de alguém que
acabo de conhecer. Não posso continuar com essa brincadeira.
Preciso sair de perto dele. Pierre inebria meus pensamentos, e já
passei por isso antes. Não posso permitir que minha vida se repita.
Estamos em um momento de tranquilidade, com a luz suave
do amanhecer banhando o quarto. Pierre está deitado ao meu lado,
e meus pensamentos estão em turbilhão. Ele acaricia meus cabelos
carinhosamente, e sua voz quebra o silêncio.
— Está quieta essa manhã. Posso saber o que está
passando nessa cabecinha?
Respiro fundo, olhando para o teto antes de me virar para
encará-lo.
— Você soube de algo a respeito de Christopher?
Ele franze a testa, claramente desconfortável com o assunto.
— Ele continua te procurando.
A resposta é vaga, mas o fato de Christopher estar me
procurando significa que ele tem estado de olho em seus
movimentos. O perigo se aproxima, e eu não posso permitir que ele
me encontre.
— Vai me deixar ir embora se eu te disser que quero ir? —
pergunto com cautela, medindo suas reações.
Pierre parece considerar a pergunta por um momento e,
depois, suspira.
— Não é minha prisioneira, sabe disso. Se quiser... Não vou
te impedir. — O tom de sua voz revela uma tristeza profunda, e ele
parece perdido em pensamentos. — Sim, você pode ir, mas eu
gostaria muito que você escolhesse ficar. É por isso que estou
sendo honesto com você em todos os momentos desde que te
conheci.
Ele esboça um sorriso sem emoção, e passa a mão pelos
cabelos, como se tentasse lidar com a confusão de suas próprias
emoções.
— Eu jamais te prenderia contra a sua vontade, jamais. Não
sou um monstro, pelo menos não nesse sentido.
Fecho os olhos por um momento, tentando processar suas
palavras. Preciso agir normalmente para que ele não desconfie,
porque temo que, se ele tentar me convencer a ficar, eu talvez não
consiga dizer não.
— Por que isso tudo? — pergunta, buscando entender o que
se passa em minha mente.
Ele se vira na cama para me encarar, seu olhar penetrante
me fazendo sentir vulnerável.
— Não quero me sentir presa. Se eu escolher ficar, quero
saber que poderei ir... Não tenho garantia nenhuma disso. Mesmo
com você dizendo, pode dizer uma coisa e fazer outra. Não seria a
primeira vez para mim.
Ele parece levar minhas palavras a sério, sua expressão
suavizando-se.
— Nunca vou deixar que se sinta presa. Você tem a minha
palavra.
Um beijo na testa encerra a conversa, mas os pensamentos
continuam martelando em minha mente. A dúvida persiste, mas
estou determinada a descobrir o que é melhor para mim e para o
meu bebê.

Depois que Pierre sai do quarto para uma reunião, aguardo


pacientemente por cerca de quarenta minutos, até que me sinto
confiante o suficiente para sair. No entanto, sou barrada por um dos
seguranças ao tentar.
— O que está fazendo? — minha voz expressa toda a minha
irritação. — Eu quero sair, por que está me impedindo?
O segurança mantém a postura, respondendo com
seriedade.
— Não temos a informação de que a senhora iria sair. Temos
que comunicar ao Sr. Lucchese.
Sinto-me presa, algo que era completamente contrário ao que
Pierre havia me assegurado.
— Pois então ligue para ele! — retruco, irritada com a
situação.
Não demora muito para que Pierre atenda ao telefonema, e o
segurança me entregue o aparelho.
— Você disse que eu não sou uma prisioneira... — minha voz
sai firme. — O que isso significa? Eu não posso sair livremente.
A resposta de Pierre me deixa preocupada, e a tensão
aumenta.
— Não é isso, mas você não está segura andando por aí.
Aonde quer ir? Meu soldado pode levá-la em segurança.
Suspiro, tentando conter minha frustração e ansiedade.
— Eu não quero uma pessoa colada a mim assim. Preciso ir
à farmácia, há coisas que necessito, sabia? Queria respirar um
pouco também. O que está me dizendo agora é exatamente o
contrário do que me disse pela manhã.
— Leve-o com você, só para a sua própria segurança. —
Pierre tenta se explicar. — Vá para o lugar que quiser, mas não sei
onde é que seu ex está. Você pode acabar esbarrando com ele.
Fico em silêncio, com os sentimentos se misturando. A
liberdade que procurava parece distante, e a sombra de Christopher
continua a pairar sobre mim. Estou presa entre dois mundos, e o
que quer que eu escolha, terá consequências que afetarão a mim e
ao meu bebê.
— Faz mais de três semanas, ele deve achar que não estou
mais na cidade — suspiro, tentando pensar em uma estratégia. —
Posso ir ao shopping, lá tem muitas pessoas, assim consigo me
esconder melhor, e o segurança, soldado, não sei, pode ir comigo...
mas apenas um deles.
Pierre parece ponderar minhas palavras antes de concordar.
— Tudo bem. — Ele diz por fim. — Mas tome cuidado, passe
o celular para que eu possa dizer a ele que te leve. Sinto muito, ele
está apenas tomando precauções necessárias.
Assinto e entrego o celular ao segurança que ouve
atentamente enquanto Pierre repassa as instruções. No fundo, sei
que é para o meu próprio bem, mas a sensação de ser monitorada o
tempo todo é angustiante.

Já no shopping, dou voltas entre as lojas, tentando despistar


o segurança. Mas ele está sempre por perto, mantendo uma
distância segura, mas seus olhos atentos em mim.
Finalmente, entro em uma loja de lingerie, e ele fica na porta,
virando-se de costas para mim e examinando o movimento ao redor.
É a oportunidade que eu esperava.
— Você pode pegar um café para mim ali? — pergunto,
apontando para o quiosque um pouco mais adiante. — Estou com
dor de cabeça e não quero que você fique olhando para as coisas
que estou comprando aqui.
Tento parecer amigável, mas ele mantém a expressão
fechada, claramente relutante.
— O que? Quer que eu ligue para Pierre para saber se você
pode me buscar um café que está a poucos passos de distância da
loja onde estou te esperando?
Ele finalmente se afasta e começa a se dirigir ao quiosque.
No instante em que ele se afasta, aproveito a oportunidade e corro
na direção oposta, escondendo-me entre as pessoas e me
afastando o mais rápido possível, sem sequer olhar para trás.
Consigo me enfiar em um táxi que estava estacionado em
frente ao shopping e, em um impulso, dou o endereço de um hotel
na cidade vizinha. Preciso arrumar um jeito de sair daqui sem
chamar atenção.
De dentro do táxi, pego o celular e começo a pesquisar
opções de transporte. Trem, metrô, ônibus... qualquer coisa que me
leve cada vez mais longe, sem a necessidade de revelar minha
identidade. Enquanto faço as buscas, o meu celular começa a tocar.
O nome de Pierre brilha uma vez após a outra na tela e eu sei que é
hora de trocar o chip.
Chegando ao hotel, fico apenas o tempo necessário para
descansar. Em seguida, pego um ônibus que me leva para outra
cidade. Repito o mesmo processo nos três dias seguintes, indo de
cidade em cidade e fazendo pausas apenas à noite em pousadas
baratas e discretas.
A sensação de estar constantemente em fuga é exaustiva,
mas é o preço que estou disposta a pagar para garantir a minha
segurança e a do meu bebê. Christopher não pode descobrir onde
estou.
Finalmente, começo a traçar um plano para sair do país. Sei
que será um passo arriscado, já que precisarei apresentar meus
documentos. No entanto, decido que vale a pena o risco. Se eu
comprar uma passagem para um voo que está prestes a partir, ao
chegar em outro país, terei tempo suficiente para desaparecer
novamente, pulando de cidade em cidade até encontrar um lugar
seguro para me estabelecer.
Nunca imaginei que um mundo tão grande pudesse parecer
tão pequeno. Sinto-me como se não tivesse um lugar para onde ir.
Decido não me dirigir a cidades grandes, mas sim ficar perto delas,
o que me permitirá comprar tudo o que preciso e me afastar mais
uma vez.
Meus pais me deixaram um dinheiro em uma conta no
exterior, e como a única filha, não foi difícil provar minha identidade.
Ao longo dos anos, fiz transferências discretas de dinheiro para
essa conta, o que me proporciona um valor suficiente para levar
uma vida simples.
Passei a usar meus documentos de solteira, que sempre
mantive perto para a oportunidade.
Agora, meu objetivo é desaparecer completamente, longe de
Christopher. É uma jornada cheia de incertezas, mas estou disposta
a enfrentá-la. Minha prioridade é proteger a mim e ao meu filho, que
para ser honesta, ainda nem sei se existe ou não, mas
considerando que sim, eu não vou permitir que nada nem ninguém
nos machuque novamente.
Capítulo 21
As palavras que ouvi ao telefone foram como um soco no
estômago, um choque inesperado que me deixou atônito. “Ela sumiu,
senhor.” Repeti mentalmente, buscando entender. Eu, no meio de uma
reunião importante, tive que conter a onda de frustração que ameaçou
me consumir. Respirei fundo, tentando manter a calma.
— Repete... — minha voz soou mais firme, mas meu coração
martelava no peito, quase ensurdecedor, uma batida descompassada
que ecoava minha apreensão.
— Senhor, eu sinto muito. — Meu soldado parecia perturbado,
sua voz trêmula, sabendo que deveria temer minha reação. E ele tinha
razão. Aquilo era inaceitável.
— Você tinha apenas um trabalho, um único trabalho: levá-la e
trazê-la de volta, como é que me liga para dizer que ela sumiu? —
Minhas palavras saíram com um tom de frustração que eu não
conseguia esconder. A raiva me queimava por dentro.
Ele tentou explicar, mas a justificativa só intensificou a confusão
que eu sentia. Ela havia o enganado, pedindo algo tão simples como um
café, e ele não imaginou que ela fosse fugir.
— Não pensei que ela fugiria de quem a está protegendo, isso
não faz sentido. — ele continuou, e é claro que isso não fazia sentido.
A sensação de impotência e fúria crescia dentro de mim. Ela tinha
ido embora por escolha própria, e eu não podia simplesmente obrigá-la
a ficar. Mesmo que tivesse o poder para isso, não queria ser como o
homem que ela tanto temia, o homem que a havia aprisionado por tanto
tempo.
Eu estava com raiva, não podia negar. Eu desejava que ela
tivesse ficado, que ela tivesse aceitado minha proteção que tivesse me
escolhido. Mas, no fundo, eu sabia que era a liberdade que ela buscava,
algo que eu não podia lhe dar totalmente.
Eu tentei por dias localizá-la, rastrear cada pista que poderia me
levar até ela, investigar cada lugar por onde passou, mas nada surgiu.
Decidi parar quando recebi uma única mensagem dela.
O texto era uma mescla de arrependimento e gratidão, uma carta
de adeus que me cortou fundo.
“Pierre
Eu me despeço com o coração apertado, mas com a certeza de
que é a melhor decisão para nós dois. Sei que deve estar se
perguntando por que parti tão abruptamente e tenho esperança de que
compreenda e, quem sabe, me perdoe por isso.
Sinto muito por tê-lo deixado, e a dor dessa separação pesa
sobre mim a cada minuto. No entanto, essa foi a única maneira que
encontrei de recuperar uma parte da vida que um dia sonhei.
Minhas semanas ao seu lado foram como um vislumbre da
felicidade que eu havia esquecido como era. Você me mostrou como eu
deveria e mereço ser tratada e por isso serei eternamente grata.
Entretanto, a sombra do meu passado ainda me atormenta,
Pierre. Você, com todo seu cuidado e proteção, fez tudo ao seu alcance
para me manter a salvo, mas, ao mesmo tempo, minha liberdade estava
sufocada sob esse manto de segurança. Entendo que a intenção não
era essa e isso torna ainda mais difícil dizer adeus.
A sensação de ser prisioneira me lembra dos anos em que vivi
completamente sem controle da minha vida. A liberdade é a chave para
reconstruir minha vida, descobrir quem sou, e seguir adiante sem o peso
do medo e dos traumas que me perseguem.
Espero que encontre em seu coração um meio de me perdoar por
minha partida tão repentina. Não é porque não queria ficar ao seu lado,
mas pela necessidade de encontrar meu próprio caminho. Quero buscar
a paz, viver sem medo, sem receios, e, acima de tudo, ser
verdadeiramente livre.
As semanas que compartilhamos são lembranças que levarei
comigo, pedaços de felicidade que iluminarão o meu caminho. Foram as
melhores que tive em minha vida, e você foi o motivo de cada momento
especial. Obrigada, Pierre, por me mostrar carinho, paixão e cuidado.
Jamais pensei que me entregaria de corpo, alma e coração, como
me entreguei a você.
Eternamente sua,
Ana”
Eu senti uma tristeza profunda, não apenas por sua partida, mas
por ela ter partido sem acreditar que eu poderia ser diferente, que
poderia dar a ela a liberdade que ansiava. Ana acreditou que sua única
opção era fugir, e isso me feriu.
Antes de voltar para a Itália, encontrei seu ex-marido mais uma
vez. Ele ainda estava obstinadamente procurando por ela. Esperava que
ele não a encontrasse, pois sabia que Ana desejava escapar de suas
garras.

De volta à Itália, encontrei a confusão que Damon havia causado.


Agora vou ter que lutar para abrir os olhos de Damon em relação ao
problema que ele estava trazendo para a vida daquela mulher, eu
comecei a me arrepender por não ter tentado encontrar minha Ana com
mais persistência.
Antônio, o antigo Consigliere do meu tio, Marco, veio assim que
soube que eu havia voltado. Reclamar de Damon, é claro, e seu novo
relacionamento. Ele jamais perderia a oportunidade, foi ele quem me
colocou a par do que Damon estava causando.
Eu podia ter insistido, ter buscado mais, ter feito mais. O
sentimento de que eu poderia tê-la segurado de alguma forma me
atormentava.
Fui até o quartinho e bati.
— Entre — sua voz já estava exausta. — Espero que tenha boas
notícias para mim, estou realmente precisando.
— Quem foi o coitado que disseram que você veio tomar conta
sozinho? Vi ele passando, nem sei se consegue chegar em casa
naquele estado. — Sorri.
— Mande alguém levá-lo até sua casa. Quero que ele vá até lá;
faz parte do jogo. — Informei as ordens pelo rádio.
— Você precisa relaxar um pouco, Don. Eu mal coloquei os pés
aqui e já tem gente buzinando no meu ouvido sobre você.
— Mande quem quer que seja para o inferno, não quero saber de
nada hoje. Como foram as coisas lá? Me diz que tudo deu certo. Ao
menos será uma coisa boa para tirar o velho do meu pé.
— Tudo correu bem. Você sabe que enviou a pessoa certa para
resolver. — Minhas palavras saíram automaticamente, mas minha
mente continuava a vagar para a mulher que havia escapado. Arrasto
uma cadeira e me sento.
— Detesto essa parte da burocracia, de ter que olhar para eles,
só quando não tem outro jeito.
Reviro os olhos.
— E aí eu sou obrigado a ir... céus, você é um primo horrível. —
Minha mente começou a vagar novamente.
A lembrança da viagem que me atormentava me atingiu como um
raio, trazendo-a de volta à mente. Damon percebeu que algo estava
errado, algo que eu preferiria manter guardado, mas meu primo tinha um
talento inato para extrair as informações que eu preferiria manter
ocultas.
— O que tem de errado? — Neguei com a cabeça, mas o
conhecia bem o bastante para saber que ele não desistiria. — Vamos,
diga.
Suspirei profundamente.
— Essa viagem foi bem mais louca do que eu esperava. — Meu
peito doeu só de mencionar. — Eu encontrei uma mulher, ela estava
escondida no maleiro do meu guarda-roupas no hotel — sorri ao me
lembrar. — Pensei que fosse alguma maluca, ou alguém que havia sido
mandada para me matar.
O olhar de Damon indicava que ele estava atento à história, mas
a expressão de saudade e melancolia em meu rosto denunciava que era
muito mais do que estou tentando demonstrar.
— E onde ela está? Pelo seu olhar, vejo que mexeu com você.
Sorri amargamente.
— Aí é que está, a mulher desapareceu. Ela me pediu ajuda, eu
neguei a princípio, mas depois acabei ajudando, e em uma bela manhã,
a mulher desapareceu... Bem, deixemos esse assunto de lado, não é
importante. Vamos para o escritório, vou te passar o relatório de tudo o
que aconteceu por lá.
— Vamos, eu também tenho algo para te contar — saímos cada
um perdido em seus próprios pensamentos.
Damon e eu acabamos tendo uma pequena discussão acalorada
sobre Giulia, mas quando a vi, entendi completamente os motivos de
meu primo, ela era idêntica a sua antiga esposa, Anastácia.
Minha Ana está me enlouquecendo com sua ausência. Damon
sabe bem como é sentir falta de alguém, as semanas que passei com
ela foram as que me fizeram sentir vivo novamente, algo que não me
lembrava mais como era.
Por mais que lutasse contra minha vontade de tentar saber sobre
ela, em determinado momento, desisti. Pedi ao investigador de
confiança da família que tentasse encontrar qualquer informação.
Mesmo que eu não tivesse a chance de vê-la novamente, eu queria ao
menos protegê-la, impedir que seu ex-marido se aproximasse.
Eu sabia que alguém que havia acabado de sair de um
relacionamento tão abusivo quanto o que ela havia vivido, jamais iria
querer se envolver novamente, ainda mais com alguém com a vida que
eu levo.
Ligava com frequência para o investigador, ansioso por qualquer
pista que pudesse me aproximar dela. Finalmente, em um determinado
dia, ele decidiu vir pessoalmente para me entregar informações.
— O nome dela é... — Ele começou a dizer, mas minha reação o
fez parar.
— Não. eu não quero saber o nome dela... — Minha voz soou
firme, apesar de tudo que eu enfrentava. — Se o nome dela estiver
nestes documentos, edite todos e remova-o.
Meu pedido pareceu estranho para ele, mas eu respeitaria mais
uma das vontades dela. Ela não queria que eu soubesse seu nome, e
eu manteria isso até que a visse novamente e ela mesma decidisse me
dizer.
O investigador tentou me convencer a não buscar informações
sobre o Rockefeller, um homem com o qual ele alertou que não
deveríamos mexer.
— Não seja um medroso, quando foi que me viu recuar diante de
qualquer pessoa? — Minha teimosia prevaleceu, desafiando as
advertências que ecoavam em meus ouvidos.
— Sei que não é um homem que preza por sua própria
segurança, Pierre. Mas como, talvez um amigo, acha que vale a pena...
— Chega, faça apenas o que estou mandando, não estou
pagando por terapia!
Ele assentiu e, com a promessa de se ater às minhas ordens,
começou a me relatar detalhes sobre o Rockefeller. O homem, apesar
de sua influência, aparentemente era descuidado e deixava rastros por
onde passava.
— Ele não é alguém que guarda muito bem seus segredos, é
desleixado, faz uma bagunça em tudo no seu caminho. — O
investigador explicou sua estratégia. — Não consigo entender como ele
ainda não foi preso; seus gastos com a folha de pagamento devem ser
muito grandes.
Eu estava determinado a destruí-lo, não apenas pelo que ele
representava na vida de Ana, mas para proteger qualquer garota que
pudesse estar sob sua influência contra sua vontade.
— Preciso que entre em contato com alguma das garotas, tenho
certeza de que elas são traficadas e não estão com ele por vontade
própria... concentre-se nesses dois pontos, encontrar ela e descobrir os
podres dele. — Minhas ordens foram claras. — Não quero esse tipo de
verme ligado à nossa família.
Eu tinha a sensação de que em breve teria que voltar a Las
Vegas, mas dessa vez seria para eliminar uma série de pessoas sujas
que estavam fingindo seguir nossas regras. Esperava que ela fosse boa
em se esconder, porque se eu a encontrasse rapidamente, ele também
conseguiria.

Os dias passavam se tornando semanas e minha agonia


aumentava. Eu a queria ao meu lado, ou pelo menos queria saber se ela
estava bem, se não havia caído novamente nas mãos daquele imbecil.
Por que ela havia fugido assim? Ela não me deu sequer a chance de
tentar.
Além de todas as incertezas que atormentavam meus
pensamentos, outra sombra pairava sobre a família Lucchese, com
Damon armando uma guerra que parecia prestes a explodir a qualquer
momento.
Era um péssimo momento para não estar totalmente concentrado
nos negócios da família.
Ana havia se tornado minha obsessão. Ela invadiu meus
pensamentos, minha mente, meu coração. Seu sorriso, sua voz, seu
toque... tudo isso atormentava meus sonhos e me fazia sentir
incompleto. Eu queria encontrá-la, protegê-la, tê-la ao meu lado. A
ausência dela era uma ferida que continuava a sangrar.
O investigador continuou fazendo o que podia, vasculhando os
rastros deixados por Rockefeller e seus associados. Ele me atualizava
regularmente, relatando descobertas sobre as atividades ilegais do
homem.
— Parece que ele tem um extenso histórico de tráfico de
mulheres e tráfico de drogas, senhor. — O investigador explicou. — Há
muitas evidências que poderiam ser usadas contra ele.
Meu telefone estava sempre à mão, esperando por uma ligação,
uma mensagem, qualquer sinal dela. Eu queria saber que estava
segura, que ela estava bem. Mas o silêncio continuava a me sufocar.
E no meio de tudo isso, o que me preocupava: onde ela estava?
Ela estava segura? Seu ex-marido não a havia encontrado?
Ana era a minha única preocupação.
Capítulo 22
Deixar Las Vegas e chegar a Vancouver, no Canadá, foi uma
jornada complicada. Por um tempo, minha vida se resumiu a estar
sempre em movimento, indo de um lugar para outro, na tentativa de
me manter escondida e longe do alcance de Christopher. O medo
constante de que ele me encontrasse era uma presença constante e
enlouquecedora na minha mente, mas eu simplesmente não podia
parar.
Toquei minha barriga, acariciando-a com suavidade. Esperei
duas longas semanas antes de repetir o teste de gravidez, mesmo
que, lá no fundo, soubesse que a resposta seria a mesma. Os
enjoos constantes eram a prova física de algo que estava crescendo
dentro de mim, algo que carregava uma parte dele, mas também
uma parte de mim. Ser mãe, especialmente nas circunstâncias que
eu me encontrava, era aterrorizante, mas ao mesmo tempo, era
uma faísca de esperança que aquecia meu coração.
Consegui emprego em uma casa de família em uma
cidadezinha nas redondezas, sabendo que seria difícil encontrar
trabalho, mas pelo menos eu estaria mais escondida e segura.
Trabalhava como cuidadora, e a família decidiu que eu moraria com
eles. Era uma situação diferente para mim, mas eu não podia pedir
muito mais do que isso, especialmente estando tão distante do meu
passado.
Além de cuidar da idosa, eu ajudava a Sra. Myers com as
crianças da família. Ela costumava se preocupar comigo fazer mais
do que o necessário.
— Já disse que não precisa, você não é paga para isso, Ana.
— A Sra. Myers fazia uma careta enquanto expressava sua
preocupação.
Preferia que me chamassem de Ana, uma pequena forma de
manter distância da pessoa que deixei para trás em Las Vegas,
onde Diana era uma prisioneira.
— Não se preocupe com isso, não tenho nada para fazer por
aí, e vocês me receberam tão bem aqui. — Eu tinha até meu próprio
quartinho nos fundos da casa, o que me proporcionava
independência. — E a senhora sabe que eu adoro essas crianças.
Frequentemente, eu me pegava imaginando como seria o
meu bebê. Teria os meus olhos? Talvez os traços dos meus pais?
Ou quem sabe, carregaria semelhanças com seu pai, o qual eu
preferia não pensar. A simples ideia de Christopher se aproximando
de mim ou do meu filho desencadeava uma onda de náusea que eu
precisava suprimir.
Estar longe daquele relacionamento me proporcionava uma
sensação de liberdade que eu ansiava há tanto tempo. Era
maravilhoso poder ser eu mesma, sorrir sem medo, falar besteiras,
cortar o cabelo, tudo sem a constante vigilância de alguém que
buscava controlar cada aspecto da minha vida.
— Não me chame de senhora, nem temos tanta diferença de
idade assim. — Um sorriso acolhedor se formou no rosto da Sra.
Myers. — De onde você é, Ana? Nunca fala muito sobre sua vida.
Eu hesitei por um momento, relutante em abrir aquela porta
do passado que eu queria manter bem trancada.
— Não é muito feliz, por isso prefiro não comentar. — Minha
resposta foi evasiva, uma tentativa de manter a cortina de mistério
que envolvia meu passado.
— E o pai do bebê? Sabe de alguma coisa?
Apenas pensar em Christopher próximo de mim ou do meu
filho fazia com que meu estômago se revirasse e as memórias
dolorosas viessem à tona. Eu só queria seguir em frente, criar meu
filho em um ambiente seguro e livre de medo.
— Não, infelizmente não posso contar com ele para nada.
A liberdade que experimentava era um bálsamo para as
feridas que ele deixou em minha alma. A oportunidade de ser eu
mesma, sem restrições, era um presente que valorizava a cada dia.
A pressão psicológica que ele impusera sobre mim, um peso que
carreguei por tanto tempo, começava a se dissipar.
No presente, a voz da Sra. Myers me trouxe de volta à
realidade.
— Ana?
— Me desculpe, acabei viajando um pouco. — Sorri. — Fiz a
listinha do mercado, quer que repasse? Posso ir buscar tudo
quando eles dormirem.
— Isso seria maravilhoso, eu acho que não terei tempo...
A interação com a família Myers tornava-se uma constante
fonte de apoio emocional. As crianças, com sua inocência
contagiante, me arrancavam sorrisos mesmo nos dias mais difíceis.
Enquanto eu preparava o jantar, a casa se enchia de risadas e
brincadeiras.
— Ana, venha desenhar com a gente! — Um dos pequenos
estendeu os braços, implorando pela minha companhia.
Não resisti ao convite, e logo eu me vi sentada no chão,
cercada por lápis de cor e folhas em branco. Os traços infantis
misturavam-se aos meus, criando uma tapeçaria de cores e formas
que expressavam a simplicidade daquele momento.
— Olha, Ana, é uma família feliz! — Uma das crianças
ergueu seu desenho, um retrato simples, mas carregado de
significado. — Aqui está o papai, a mamãe, a vovó, meus irmãos e
você.
Naquele instante, senti meu coração aquecido pela sensação
de pertencimento. Talvez, mesmo que de um jeito inesperado,
estivesse construindo, aos poucos, a família que sempre desejei.

Não vejo a hora de descobrir o sexo do meu bebê. Agendei


minha primeira ultrassonografia para daqui a alguns dias. Minha
barriguinha ainda é pequena, mas só o fato de saber que não estou
mais sozinha me enche de felicidade. Agora, temos um ao outro.
No cochilo da tarde, aproveito a chance de ir às compras. Os
Myers confiam em mim o suficiente para me emprestarem o carro, e
sou grata por ter encontrado refúgio em sua casa. A vizinhança é
repleta de pessoas amigáveis, e as casas, bem separadas umas
das outras, exibem belos jardins que embelezam o ambiente.
Muitas vezes, me pego pensando em Pierre, em como ele
está e com quem. Sinto muita falta do tempo que passamos juntos,
e não era isso que eu queria quando busquei minha liberdade.
Desejava ser livre, mas meu coração teve outros planos, ligando-se
a um homem que mal conheço.
Eu nunca aprendo mesmo.
No dia da ultrassonografia, sinto falta de ter alguém para
segurar minha mão, para se emocionar comigo, olhar aquele
serzinho pequeno e amá-lo tanto quanto eu. Infelizmente, não terei
nada disso; será apenas nós dois, e espero sinceramente que isso
seja suficiente.
— Está tudo indo muito bem com o bebê, não precisa se
preocupar — o médico me tranquiliza. — Apenas continue tomando
as vitaminas. Você está com algumas deficiências leves de
vitaminas, provavelmente devido aos enjoos. Coma bem, e tudo
voltará ao normal.
— Deve ser mesmo por causa dos enjoos. Mal consigo
manter a comida no estômago. É só terminar de comer e correr para
o banheiro.
— Logo os enjoos diminuirão; não se preocupe.
As batidas aceleradas do coração do bebê fazem meus olhos
marejarem. A emoção é avassaladora. Agora, finalmente tenho
alguém para amar incondicionalmente e que me amará da mesma
forma. Meu coração se enche de alegria.
Quando desejo que alguém estivesse aqui, é o rosto de
Pierre que me vem à mente.

Criei uma rotina com as crianças, e meus dias são


movimentados, mal tenho tempo para pensar. Estou me adaptando
a esta nova vida, um passo de cada vez, um dia após o outro. Mas,
à noite, quando coloco a cabeça no travesseiro, dois lindos olhos
azuis invadem minha mente, e as palavras de Pierre ecoam em
meus pensamentos.
Pergunto-me se as coisas que ele me dizia eram verdade.
Ele parecia tão certo de tudo, tão convicto, tão sincero. Passo a mão
em minha barriga.
— Você com certeza o amaria, mesmo sendo um pouco
maluco e excessivamente sincero em alguns momentos. Às vezes,
até assustador.
As noites são os momentos mais difíceis, pois é quando
posso pensar, sentir falta e me sentir sozinha. Sempre sonhei em ter
uma família linda: filhos sentados à mesa do jantar, contando como
foi o dia na escola, meu marido e eu ensinando de maneira positiva
que notas vermelhas não são boas, deitar-me ao lado de alguém
que amo. Nunca imaginei que, após a partida de meus pais, minha
família seria apenas eu e a criança que estou gerando. Mas no
fundo sei que é o melhor caminho a seguir. Não há nada de bom
que possa vir de Christopher.

Na manhã seguinte, ao dobrar a esquina para buscar algo


para o café da manhã, deparo-me com ele, Pierre, um vislumbre
que faz meu coração acelerar. Seus olhos, intensos e repletos de
gentileza, encontram os meus, e um sorriso, tão familiar, ilumina seu
rosto.
— Ana, finalmente te encontrei — sua voz, como uma
melodia suave, envolve o ambiente. — Eu estava tão preocupado,
tão cheio de saudades.
A proximidade repentina, o abraço que se seguiu, trouxe uma
sensação de conforto que eu não soube como reagir. Pierre me
envolveu com seus braços fortes, como se pudesse proteger-me de
todas as tormentas da vida. Naquele momento, éramos dois seres
perdidos que se encaixavam como peças de um quebra-cabeças.
— Pierre, eu... eu senti tanto a sua falta — confessei,
lágrimas de emoção enchendo meus olhos. — Você não faz ideia do
quanto.
Ele afastou-se o suficiente para fitar-me nos olhos. Seu olhar
azul, profundo e sincero, parecia decifrar cada pensamento e
sentimento que habitava minha alma.
— Ana, eu te amo. Você trouxe tantas cores e luz ao meu
mundo, eu faria qualquer coisa para tornar a sua vida um conto de
fadas.
As palavras dele foram como notas suaves de uma canção
que ecoavam em meu ser. A ternura do seu abraço, a promessa de
amor eterno, eram tão tangíveis que eu podia sentir cada batida do
meu coração em resposta.
— Eu também te amo, Pierre. Não sabia o quanto até te
perder.
Seu sorriso era a luz que dissipava as sombras da saudade.
Naquele instante, não importava o que tínhamos enfrentado, pois
estávamos juntos novamente, compartilhando um momento único.
— Estamos juntos agora, Ana. Nada vai nos separar. Eu
prometo.
O toque suave dos lábios dele em minha testa selou essa
promessa. Mas, infelizmente, o sonho começou a desaparecer.
Suas palavras e a calorosa sensação daquele momento
permaneceram gravadas em meu coração.
Ao acordar, lágrimas silenciosas escorriam pelo meu rosto,
uma mistura de felicidade e saudade. A consciência de que era
apenas um sonho não diminuía a intensidade das emoções que ele
despertara. Pierre parecia ter vindo me buscar naquela noite,
lembrando-me da intensidade do sentimento que compartilhávamos
e deixando um rastro de esperança no vazio que ocupava meu
coração.
Capítulo 23
O tempo, sempre escasso quando se tem um primo como
Damon, passou velozmente. Parecia que mal havia começado a
procurar por Ana quando já estávamos em uma corrida contra o relógio.
O desconhecido ao redor dela continuava a me atormentar, uma fonte
incessante de angústia. Ao mesmo tempo, paradoxalmente, essa
incerteza oferecia um alívio. Se nós, com todos os recursos disponíveis,
não conseguíamos localizá-la, era improvável que seu ex-marido tivesse
conseguido.
Desde minha chegada, imerso na bagunça que Damon criou
desde que se envolveu com Giulia, mal tive tempo para dedicar-me ao
meu objetivo pessoal. A urgência me fez deixar tudo sobre Ana nas
mãos do investigador, porque minha responsabilidade com a famiglia e a
organização limitava minha capacidade de conseguir ir atrás dela
pessoalmente.
A necessidade de equilibrar minhas responsabilidades na
Ndrangheta[5] com a procura por Ana era como caminhar numa corda
bamba. Eu precisava confiar no investigador para realizar a busca
detalhada, enquanto eu, sempre que possível, mantinha um olho
vigilante sobre o ex-marido dela, não queria deixar escapar nenhum
detalhe crucial.
Minhas esperanças começaram a desvanecer quando o
investigador finalmente entrou em contato. Sua voz transmitia a tensão,
mas havia uma pitada de otimismo.
— O que tem para mim? — grunhi, ansioso por boas notícias. —
Preciso de uma boa notícia.
— Acredito que encontrei o rastro dela. Preciso de mais duas
semanas para a confirmação, mas as evidências apontam fortemente
para ela. O ex-marido tem demonstrado comportamento suspeito, pode
estar próximo de encontrá-la também.
A frustração tomou conta de mim. Duas semanas pareciam uma
eternidade diante da urgência do caso.
— Se apresse! Duas semanas são demais! — rosnei. — Ele pode
chegar antes!
— Não é tão simples assim... consegui seguir o rastro dela
através de câmeras de vigilância, sistemas internos dos locais por onde
imaginei que ela poderia ter passado, começando por Las Vegas. Tenho
analisado todas as gravações, calculando dia e horário que ela pode ter
transitado por determinado ponto. Tem sido um trabalho árduo.
— E está sendo bem remunerado por isso.
— Eu sei, por isso estou dando o meu melhor.
A notícia de que ele a encontrou duas vezes no mesmo lugar
indicava uma proximidade geográfica. Ela poderia ter retornado ou estar
vivendo nas proximidades. A ansiedade por confirmar sua localização
cresceu ainda mais.
— Entendi. Faça o seu melhor, mas seja rápido. Se algo
acontecer com ela, você já sabe o que acontecerá.
Encerrada a chamada, liguei para Damon. Ele precisava estar
ciente de que muito em breve eu poderia precisar viajar.
— Bom dia, flor do dia. Não o vi por aqui. O que aconteceu? —
Usei meu tom de sempre porque ainda tínhamos que discutir sobre
trabalho.
— Não voltarei a dormir no restaurante. — É claro que não
voltaria, com Giulia ao seu lado duvido muito que voltará a pôr os pés
aqui sem que seja necessário. — Algo que precise de minha atenção?
Suspirei.
— O de sempre. Você sabe que não temos dias de paz há anos.
Mas nada que seja excepcionalmente preocupante. Os irlandeses
queriam falar com você, mencionaram algo sobre os russos. Está em
contato com eles?
— Não nos últimos meses, mas os russos sempre foram nossos
aliados. Todos sabem disso.
— Sim, aliados que sempre querem nos apunhalar pelas costas.
Isso é deprimente. — Nossos aliados são apenas inimigos que
mantemos mais perto.
— Por falar em apunhalar pelas costas, Antônio não está aqui e
nem estava me incomodando à sua procura. Provavelmente está com
meu tio, então...
— Já entendi. Ele deve estar lá sim. Meu pai insistiu que eu fosse
jantar com ele. Aquele sanguessuga não perde uma oportunidade de ver
meu pai e eu brigando. — Podia sentir de longe o quão tenso Damon
estava. — Não ligou apenas para isso, não é?
— Não. Lembra da mulher que mencionei na minha viagem a Las
Vegas?
— Sim.
— Pela primeira vez, o detetive conseguiu encontrar o rastro dela.
Estou apenas esperando que ele me confirme seu paradeiro. Ele pediu
mais duas semanas, e, assim que tivermos a confirmação, vou precisar
viajar.
— Essa mulher realmente te pegou de jeito. Sem problemas. —
Ele estava sorrindo.
— Você já teve seus sete dias no céu. Essa mulher me fez
esperar no inferno por todo esse tempo. Não vou perder a chance de
encontrá-la.
As semanas que se seguiram foram as mais desafiadoras da
minha vida. A ansiedade e a incerteza me consumiam, impedindo-me de
comer ou dormir. Meus pensamentos estavam incessantemente focados
nela, imaginando os possíveis desfechos se eu não chegasse a tempo.
A viagem do ex-marido dela de repente só intensificou o senso de
urgência e a realidade de que o tempo estava se esgotando
rapidamente.

— Já a encontrou? — Perguntei ao investigador quando estava


saindo às pressas depois de saber que Christopher havia viajado.
— Estou na mesma cidade. Ela frequenta um mercadinho aqui.
Tenho aguardado para ver se a encontro, mas até agora, nada. Mas sei
que ela está nesta cidade e não muito longe, já que muitas vezes ela
veio a pé.
— Encontre-a. — Disse entre os dentes, minha voz carregada de
urgência.
— Há mais uma coisa, senhor. — Sua voz vacilou antes de
prosseguir. — Ela está grávida. Consegui ver nitidamente seu ventre nas
últimas filmagens. Tenho certeza de que se trata de uma gestação.
Meu sangue pareceu congelar.
— Grávida? — Meu coração bateu mais rápido que as asas de
um beija-flor. — Vire essa cidade de cabeça para baixo, se necessário,
mas encontre-a...
Lembro-me do teste, que deu negativo. Não sei o que diabos o ex
dela sabe. Não sei se ele já conhece o endereço, mas se ele encostar
um dedo sequer em um fio de cabelo dela, vou matá-lo.
Até mesmo o jatinho particular parece estar indo devagar demais,
zombando da minha agonia. Tento ligar em seu antigo número, mas
continua dando caixa postal.
Não sou religioso. Depois de matar tantas pessoas como já fiz, é
difícil ter fé ou esperança em algo ou alguém. No entanto, nesse
momento, olho pela pequena janela, para o céu azul, e imploro para que
ela e a criança estejam bem, e para que eu chegue lá antes dele.
Minha angústia aumenta a cada segundo que passa. Penso em
milhares de coisas que podem dar errado, nas piores hipóteses. De uma
coisa eu sei: aquele idiota não vai sair vivo de lá.
Desço no aeroporto mais próximo da cidade onde ela está. Não
sei quantos homens podem ter vindo com ele, mas eu estou sozinho.
Não pude trazer ninguém sabendo que Damon está enfrentando uma
guerra por Giulia.
Ele está lidando com alguém do nosso mundo. Eu vou dar cabo
de um idiota que pensa que sabe com quem está se metendo, que
acredita estar preparado. Nasci no meio disso, fui criado e forjado para
matar, sem medo, sem pena, sem arrependimento.
Nunca me senti tão impotente. A primeira pessoa que faz com
que eu me sinta vivo novamente, escorregou entre meus dedos.
Agora, ela está em perigo. Isso não teria acontecido se eu tivesse
cuidado melhor dela, se não tivesse saído do lado dela, se eu... Eu
precisava ter tido mais tempo.
Agora sei como Damon se sentiu com Anastácia, como se sente
com Giulia. Sentir... o simples ato de sentir é assustador. Temer pela
vida de alguém quando não se está acostumado a ter medo de nada...
não é bom. Não para monstros como nós, acostumados a matar o
bicho-papão todos os dias no automático.
A máquina perfeita...
Uma máquina que pela primeira vez sente que pode sangrar.
Capítulo 24
Estou deitada, já é final de tarde, mas de repente, sinto uma
vontade absurda de comer macarrão instantâneo, algo que normalmente
evito para manter uma alimentação saudável durante a gestação. No
entanto, a vontade está me esmagando.
— Você tinha que querer isso, bebezinho? — Aliso minha
barriguinha de grávida. — Tudo bem, vamos lá.
Me troco para ir ao mercadinho. Gosto de caminhar até lá, não é
tão perto nem tão longe, o suficiente para respirar um pouco. Já tinha
feito todas as minhas obrigações e estava sentindo uma sensação
estranha. Antes de ir, passei para saber se precisavam de algo do
mercado.
— Não, querida, está tudo bem. — A Sra. Myers me respondeu
com um sorriso. — Obrigada por perguntar. Ah, na verdade, pode me
trazer um remédio da farmácia que tem ao lado? Vou ligar e avisar que
você vai retirar para mim.
Agora, não sinto tanto medo. Já se passou algum tempo, e não
fui pega. Talvez ele tenha finalmente desistido de mim.
Aproveitei que estava lá e peguei mais algumas coisas que não
iriam pesar para levar de volta.
Levei cerca de uma hora para ir e voltar. A casa estava
silenciosa, já tinha escurecido o bastante para que as primeiras luzes da
casa fossem acesas, mas tudo estava apagado. Abro a porta da frente
devagar.
— Senhora? Eu trouxe o que me pediu. Está em casa?
— Oi, querida, eu senti a sua falta, sabia? — A voz me fez
congelar. — Foi difícil encontrar você, mas eu finalmente consegui...
Meu corpo inteiro está tremendo.
— Christopher... o que você... o que fez? Onde eles estão?
— Só não estão aqui... pedi que fossem para outro lugar, com
muita educação, sabe, não queria deixar uma impressão ruim. — Sorriu.
— Estava com tanta saudade de você, Diana. Agora me diga, de quem
é esse bastardo que você está carregando?
Seus olhos foram para minha barriga como se fossem facas.
— Seu... você fez os testes, você estava lá, no hotel, me disse
que tinha trocado meus remédios e se tem uma coisa que você gostava
de fazer era gozar, não se lembra? — Sinto vontade de vomitar quando
lembro quantas vezes ele tocou em outras naquele maldito cassino e
mesmo assim subia para o quarto para transar comigo, mesmo quando
eu implorava que me deixasse em paz. — Por que está chamando de
bastardo se sabe que é seu?
— Porque eu descobri que ele não é... sabe, eu andei trepando
muito com Karina, e ela me questionou por que nunca ficou grávida. Ela
não toma remédio há muito tempo para ter um bebê meu, diferente de
você, querida, que queria me negar um herdeiro. Mas aí uma dúvida real
se instaurou, como ela ainda não tinha engravidado?
Meu coração gelou.
Ele limpou a garganta.
— Procurei um médico para fazer um exame. Não posso ser pai,
sou estéril. Imagine o tamanho da minha decepção quando encontrei
minha esposa e ela está grávida? Então me diga, querida, quem é o pai
do bastardo? Posso enviar pessoalmente para o pai quando eu arrancar
essa criatura de dentro da porra do seu corpo!
Minhas mãos correram para minha barriga quando ele se
aproximou de mim e tocou meu rosto levemente, em uma tentativa inútil
de defendê-lo. O bebê não é dele, arregalo os olhos. Se não é dele, só
pode ser do Pierre, eu fugi carregando um filho dele.
— Tem certeza disso? Pode ter acontecido algum engano... —
Minha voz sai baixa, apavorada, estou com medo pela vida do meu
bebê.
Ele deu uma risada assustadora, é claro que ele tem certeza,
como não teria, ele e aquela vadia vivem se engolindo, e ao contrário de
mim, ela realmente queria estar com Chris, o que faz com que eu me
pergunte por quê? Por que essa fixação em mim?
— Não aconteceu engano nenhum, Diana. Você é uma vadia e
deu para outro, esse é o fato. Então me diga, quem é o pai desse
maldito bastardo? — Sua mão acertou meu rosto com força. — Não me
faça perguntar novamente, Diana.
Seu punho fechado acertou com força meu abdômen, e a dor foi
tão intensa que me encolhi, sentindo-me completamente vulnerável. As
lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto tentava recuperar o fôlego.
— Christopher, por favor, é um bebê indefeso...
— É um bastardo! O filho de outro! — Então ele chutou, e eu caí,
tentando inutilmente proteger minha barriga com as mãos. A dor
cortante irradiava de cada parte do meu corpo, e a sensação de
impotência me sufocava.
— De quem é, Diana? — A raiva na voz dele ecoava como
trovões. Christopher estava fora de controle, possuído por uma fúria
cega.
Levantei-me com dificuldade, as pernas tremendo, enquanto
encarava seu olhar irado. Cada palavra carregava um peso insuportável,
como se estivesse sendo golpeada repetidamente.
— Eu... eu não sei. — Minha voz saiu em soluços. — Eu não sei
quem é o pai.
Ele riu amargamente, como se minha resposta fosse apenas uma
confirmação do que ele já suspeitava.
— Você acha que vou acreditar nessa mentira? — Outro soco
atingiu meu rosto, dessa vez, me jogando contra a parede. A dor
latejava, e a visão embaçada dificultava enxergar claramente.
— Christopher, por favor, pare! — Supliquei, as palavras saindo
abafadas entre os soluços.
Ele ignorou meu apelo e continuou desferindo mais três golpes
contra a minha barriga, sem se importar com o fato de que estava
machucando não apenas a mim, mas também o filho que eu carregava.
A sala estava tomada por um silêncio perturbador, apenas quebrado
pelo som dos meus gemidos de dor.
Ele parou abruptamente, deixando-me caída no chão, uma massa
de dor física e emocional.
Ele se abaixou ao meu lado.
— Última chance, Diana, quem é o pai?
— Sou eu! — Ouço pouco antes de Cris ser jogado para trás com
o soco que Pierre acertou nele. — O que foi que você fez seu maldito?
— Pierre vem em minha direção, mas Christopher avança sobre ele
antes que possa chegar a mim.
Me arrasto para a lateral da sala e me encolho no canto entre a
parede e o aparador, observando a cena que se desenrola diante dos
meus olhos. Chris e Pierre têm praticamente o mesmo tamanho e
massa muscular, mas Pierre parece saber bem o que está fazendo e
tem vantagem, mesmo que também esteja levando alguns golpes.
Vejo gente descendo pelas escadas.
— Pierre, na escada! — Tento gritar para ele quando vejo que
estão armados.
Ele pega Christopher pelo pescoço e se esconde atrás de seu
corpo, sacando uma arma e atirando nos homens que estão na escada.
— Não consegue fazer nada sozinho? Seu filhinho de mamãe de
merda! Aprenda a agir como um homem! — Pierre gritou para ele
quando outros dois vieram da entrada dos fundos.
Por sorte, quando viram que Chris estava na frente de Pierre, não
atiraram, o que dava tempo o bastante para que Pierre agisse primeiro.
Quando viu que ninguém mais apareceu, soltou Chris.
— Maldito! Você tocou na minha mulher e acha que tem direito
algum por aqui?
Pierre sorriu de um jeito macabro, um brilho assassino nos olhos,
uma face que eu ainda não tinha visto, sequer parece o mesmo homem
que eu conheci.
— Você saiu do seu berço de ouro e quis brincar de bandido.
Você não tem estômago para o nosso mundo... — Sorriu. — Vou te
mostrar como é que cuidamos de homens que agridem suas esposas e
que obriga mulheres a se prostituir.
Os dois se lançaram um contra o outro novamente, mas dessa
vez parece que algo tomou controle do corpo de Pierre, ele está ainda
mais agressivo, mais rápido.
Christopher pega uma adaga em algum momento, mas Pierre a
tira de suas mãos pouco depois.
— Você é a primeira pessoa que me entrega a arma com a qual
vai ser morto!
Pierre começou a cortar Christopher várias e várias vezes,
arrancou alguns dedos, e nesse momento eu vomitei.
Precisei fechar os olhos diante dos gritos de agonia. As casas
aqui são distantes umas das outras, mas agora tenho certeza de que os
vizinhos devem ter ouvido. Tudo parece demorar horas para mim, e o
barulho da faca perfurando a carne, que não deveria ser tão alto, parece
ser o bastante para agredir meus ouvidos e me deixar enjoada.
Abro os olhos em alguns momentos e torno a fechar quando
percebo que ainda não acabou. Sinto uma presença diante de mim, abro
os olhos e o vejo: ele parece um demônio. Seus olhos azuis brilham na
meia luz que vem da rua, Pierre está lavado de sangue, que pinga
inclusive dos seus cabelos. Meu corpo treme convulsivamente e as
luzes são acesas.
— Pierre? Meu filho, o que você fez?
— O que foi necessário. — Responde sem desviar os olhos dos
meus. — Às vezes é necessário alimentar o monstro que habita em
mim.
— A polícia foi acionada, a cidade é pequena, eles não devem
ser muito bem treinados e estão vindo apenas pelos gritos, nenhum tiro
foi mencionado, as armas estavam com silenciadores.
Desvio os olhos pela primeira vez do demônio que me olha e vejo
a casa e o homem que um dia foi meu marido, a cena ficará gravada no
fundo da minha mente para sempre.
— Não olhe para lá... — A voz baixa e grossa me avisa.
Consigo ver que algumas das coisas que deveriam estar do lado
de dentro de um corpo estavam ao lado, arrancadas de dentro dele, e
fecho os olhos.
— Pierre, temos que ir... o reforço já chegou, chamei alguns
amigos, encontraram a família na casa dos fundos e já estão levando-os
daqui para que não vejam isso, vamos embora, pegue a mulher e
vamos!
Capítulo 25
Eu a assustei, sei que sim. Às vezes, até quem me conhece se
assusta com tamanha brutalidade. O investigador continua me
chamando para irmos, mas não sei se ela quer ser tocada por mim.
Tenho medo de causar mais mal do que bem a ela.
— Ana, a polícia chegará em breve. Sei que deve estar em
choque, mas precisamos ir. Tudo bem? — Ela assentiu de leve, ainda
com os olhos vidrados. — Posso te pegar no colo?
— O sangue... estou enjoada...
Olhei para o investigador e pedi que ele a pegasse.
— Com cuidado! — Repreendi quando ela fez careta de dor.
Amaldiçoei-me internamente por não ter chegado antes.
Seguimos em silêncio para o carro, e eu fui dirigindo para não
ficar tão perto assim dela. Ana parecia sentir dor a cada vez que o carro
se movia, o que me deixava ainda mais aflito. No caminho para o hotel,
pedi que enviassem um dos médicos conhecidos para lá e que ele
levasse tudo o necessário para examiná-la, incluindo cuidados para o
bebê.
O hotel estava a uma curta distância. Estacionei o carro o mais
próximo possível da entrada para facilitar a locomoção de Ana. O
investigador ajudou-a a descer, mantendo o máximo de cuidado
possível.
Assim que entramos no quarto, ela foi delicadamente colocada na
cama. A palidez em seu rosto indicava o sofrimento que estava
enfrentando. O investigador saiu para dar privacidade, e eu permaneci
ao lado dela, sem saber exatamente o que dizer.
— Ana, sinto muito por isso. Vou cuidar de tudo, está bem? —
Minha voz saiu suave, buscando acalmá-la.
Ela assentiu levemente, os olhos ainda fixos em algum ponto
distante. Chamei o médico que havia chegado, explicando a situação e
pedindo urgência.
O médico, ao examiná-la, tranquilizou-nos ao dizer que, apesar
do susto e da violência que ela sofreu, o bebê parecia estar bem. Ainda
assim, recomendou um acompanhamento mais próximo nos próximos
dias.
Enquanto o médico fazia seu trabalho, eu permanecia ao lado
dela, sentindo-me impotente diante da situação. Quando ele terminou,
agradeceu e saiu, deixando-nos novamente a sós.
— Ana, se precisar de algo, qualquer coisa, estarei aqui. —
Minhas palavras soaram sinceras, mas uma sensação de desamparo
ainda persistia.
Ela finalmente desviou o olhar, encontrando o meu. Seus olhos
refletiam uma mistura de dor e gratidão.
— Obrigada, Pierre. Eu... não sei como agradecer por ter
chegado a tempo.
— Você não precisa agradecer. Eu só lamento não ter chegado
antes para evitar todo esse sofrimento. — Caminhei em direção ao
banheiro, precisava me livrar de todo o sangue.
— Pierre eu...
Mas antes de fechar a porta, parei e olhei nos seus olhos aflitos.
— Nos falamos em breve. — Ela assentiu. — Volto já.
Ana fechou os olhos por um momento, como se estivesse
tentando se desconectar da realidade. E, em meio à escuridão,
esperava que pudesse encontrar um pouco de paz.
Entrei no chuveiro, perdendo-me em pensamentos sobre os
diversos rumos que essa conversa poderia tomar. Alguns não eram
nada agradáveis, outros me faziam imaginar um milagre onde ela, por
algum motivo, pudesse querer estar comigo. Esfreguei o rosto várias
vezes, demorando mais do que o necessário, adiando o inevitável.
Já no quarto, ela estava sentada na cama, perdida em seus
pensamentos, só percebendo minha aproximação quando toquei seu
ombro.
— Agora sim podemos conversar. — Olhei nos seus olhos em
busca de qualquer sinal de medo, mas não encontrei nada.
— Como me encontrou? — Foi sua primeira pergunta. — Eu
estava mais tranquila, pensei que ninguém iria me encontrar.
— Tive um pouco de trabalho. Fiquei de olho no seu ex, e quando
ele saiu de repente, imaginei que também tinha te encontrado. Fiquei
com medo de que chegasse a você primeiro, e quase foi tarde demais.
— Senti um calafrio ao pensar que poderia ter chegado ainda mais
tarde.
— Você não sente nada... quer dizer... não sei como te perguntar
isso, mas não sentiu nenhum remorso, pena, culpa, nada?
Refleti por um momento, e, sim, eu sentia algo, embora talvez
não fosse o que ela gostaria de ouvir.
— Prazer em livrar a terra de um verme como ele... — Seus olhos
se arregalaram de espanto. — Não gosto de mentir. Disse isso para
você quando nos conhecemos. Prefiro que me conheça pela verdade e
não se decepcione descobrindo uma mentira. — Respirei fundo, pois a
pergunta que viria a seguir estava deixando meus batimentos
acelerados. — Esse bebê é meu?
Ela tentou se levantar, mas fez uma careta e voltou a se sentar.
— Eu pensei que era dele, achei que o teste que eu tinha feito
com você estivesse errado, ele me disse que fez um exame, mas não
confio em nada do que Christopher diz, ou dizia.
— Esteve com mais alguém além de mim? — Me olhou com
raiva. — Não quero dizer que desconfio que não seja nem nada do tipo,
mas você era uma mulher livre e eu jamais te julgaria, só quero saber se
eu posso ficar feliz por ser pai...
— Não estive com mais ninguém, podemos fazer um teste de
DNA quando o bebê nascer.
— Não... não preciso de teste nenhum, seja como for, esse bebê
é meu! — ela assentiu — Se assim você permitir. — Olhei para ela por
um momento — Qual o seu nome?
A surpresa em seus olhos não me passou despercebida.
— Você conseguiu me encontrar mesmo quando eu não queria,
mas não sabe meu nome?
— Não quis saber, porque você não queria que eu soubesse.
Quero que você me diga seu nome, que você se interesse por me
conhecer. Queria que você escolhesse ficar... podemos fazer tudo do
seu jeito, com calma, não precisa de pressa, só não quero que fuja de
mim novamente.
— Não tenho pretensão de fugir, Pierre. Durante todo esse tempo
que estive lá, sempre pensei em você, em te ligar, mandar mensagem...
— Por que não fez?
— Medo de que me rejeitasse, medo de repetir meus erros, essa
situação toda é muito louca, eu estou assustada.
— Pensaria que está louca se não estivesse. — Sorri levemente.
— Talvez esteja, porque eu deveria querer estar o mais longe
possível de você, mas não é bem assim que eu quero. — Ela estende a
mão para mim. — Eu me chamo Diana.
Aceitei o aperto de mãos, achando graça de estar se
apresentando como se não nos conhecêssemos, mas ao mesmo tempo
parece ser algo muito significativo, já que eu respeitei sua vontade em
todos os momentos, mesmo quando ela não estava mais perto para ver.
— Eu me chamo Pierre Lucchese. — A partir desse momento
vejo nos olhos dela que tudo está bem, que nós estamos bem. — Não
acredito que eu vou ser pai! — Me ajoelho diante dela, ficando na altura
de sua barriga, e a beijo. — Posso não valer de muita coisa, mas posso
te garantir que não há nada nesse mundo que ele queira que eu não
dê... basta que você me dê uma chance.
Eu poderia usar o fator de ter tido um pai horrível para ser um pai
horrível, mas não serei, porque sei exatamente como não devo ser, a
começar pela maneira de tratar a mãe do meu filho.
— Eu só quero ir devagar, não quero acelerar as coisas. —
Murmurou enquanto me olhava.
— Está dizendo que vai me dar uma chance? É isso? — Sorri.
— Sim, mas no meu tempo. — Mergulhei fundo em seus olhos e
o que vi dentro deles foi tudo, menos que ela quer ir devagar. — Nos
meus termos também, se você começar a querer me prender, ou me
controlar, por favor não faça isso...
— Não vou! Eu juro que não vou, você terá toda a liberdade do
mundo para ir e vir, desde que eu possa cuidar de você e do nosso filho.
Seus olhos marejaram, e eu queria me levantar, beijá-la, e me
enterrar dentro dela como se não houvesse mais amanhã, mas ela está
machucada e quer ir devagar. Farei tudo para que dessa vez Diana fique
ao meu lado, mas não significa que eu não vá tentá-la até que ela não
aguente mais.
Capítulo 26
Pierre e eu permanecemos em Vancouver até que eu me
recuperasse, depois seguimos para Long Beach[6] para passar
alguns dias antes de irmos para a Itália. Ele mencionou que as
coisas por lá estavam um pouco tumultuadas e que retornaria
quando o tal primo precisasse, mas não queria que eu chegasse no
meio da confusão.
A maior parte do voo até Long Beach foi um desafio, lutando
contra a sensação de enjoo. Quase me arrependi de não ter
insistido em ir direto para o país dele, mesmo que não fosse para
sua casa. Minha mente já pensava sobre a viagem de volta.
— Sinto muito, eu não imaginei que você ficaria nesse
estado. — Ele comentou com um olhar de culpa. — O que posso
fazer para que se sinta melhor? — Um pensamento obsceno cruzou
minha mente. — Você tem olhos tão expressivos, Diana... parece
que está me querendo nu nesse exato momento, acertei?
Ele sabia, claro que sabia. Eu devia estar olhando para ele
como se visse um oásis no meio do deserto. Engoli seco, sentindo
meu rosto ferver de vergonha.
— Não estava pensando em nada, Pierre. Só estou um
pouco mal e eu... — Ele se aproximou, me fazendo ficar calada e
sentir a umidade se espalhar entre as pernas.
— A mentira tem perna curta, Diana. Será que, se eu colocar
meus dedos aqui... — Roçou os dedos entre minhas pernas, e eu
suspirei quase morta de tesão. — Você vai estar molhada?
— Pierre... — Não sabia se pedia para ele parar, continuar,
se sussurrava ou gemia. Sei que foi quase ininteligível.
— Você pediu que eu fosse no seu tempo, estou esperando.
O dia lá fora está lindo, e nós podemos ir curtir. — Seus olhos
tornaram-se de um azul intenso. — Ou podemos ficar aqui neste
quarto enquanto eu te faço gemer meu nome por horas. Seja o que
for, a escolha tem que ser sua, e você precisa me pedir. — Um
sorriso largo espalhou-se por seu rosto.
Pierre dizia cada palavra enquanto passava a mão pelo
tecido do meu short, a única coisa no caminho para que ele tocasse
minha carne desejosa. Ele sabia bem que eu estava em chamas,
que meu corpo implorava pelo dele. Ele só queria que eu admitisse
isso.
— Pierre... — Ele ia mesmo me fazer pedir?
— Você tem que falar o que quer, Diana. Sem isso, como vou
saber se não estou indo rápido demais?
— Droga! Eu preciso de você, Pierre!
— Seu desejo é uma ordem, fiore mio[7]. — Ele cobriu minha
boca com a sua. Abri mais a boca, engolindo cada respiração dele
como se fosse meu único oxigênio, e o beijo ganhou intensidade.
Agora, ele pressionava o corpo inteiro contra o meu.
Ele escorregou as mãos pelo meu rosto e começou a enfiar
os dedos no meu cabelo, puxando-o com suavidade.
— Juro que pensei que você não iria ceder. Estava quase
enlouquecendo... — Sussurrou entre os beijos. Fazia apenas três
dias que tínhamos chegado.
O gemido baixo que invadiu minha boca foi a prova de que
ele também tinha se deixado levar pela situação e perdido o
controle. O beijo, que começou praticamente calculado por ele, não
era mais nada disso. Senti o coração dele bater forte contra o meu.
Pierre me envolve completamente, seus lábios e língua
exploram os meus de uma maneira que só experimentei com ele.
Ele começa a me despir lentamente.
— Não me torture dessa maneira, estou grávida! — Eu o
desejava profundamente, queria senti-lo dentro de mim o mais
rápido possível.
— Jamais faria uma coisa dessas com você — por um
momento, eu havia me esquecido com quem estava falando — você
é o que tenho de mais precioso na vida, mas não precisa ter pressa,
temos todo o tempo do mundo.
Ele me guia até a cama, arrancando meu short antes mesmo
que eu pudesse protestar. Seus olhos brilham enquanto me
encaram com desejo.
— Você é linda pra caralho! — Me puxa até a beirada da
cama e se ajoelha entre minhas pernas. Suas mãos seguram meus
seios, e eu me contorço com seus toques.
Pierre introduz sua língua em mim, e posso jurar que, se não
me controlasse um pouco, gozaria imediatamente. Meu corpo se
contorce de desejo enquanto ele me chupa com intensidade.
— Pierre, mais por favor... — Choramingo, e ele atende ao
meu pedido, circulando meu clitóris com a língua e depois
chupando. Meu ventre se contrai, e suas mãos pressionam meus
seios. Depois de todo esse tempo, essa quantidade de estímulos é
enlouquecedora.
Me dissolvo em um orgasmo, e ele continua, sorvendo cada
gota de mim até que minha respiração entrecortada comece a se
normalizar.
Seu corpo paira sobre o meu, e ele se encaixa entre as
minhas pernas. Eu o desejo tanto, espero, mas ele não faz o que
imaginei. Seus olhos mergulham nos meus, tão lindos como
sempre, enquanto sua mão acaricia meu rosto.
— Eu te amo, Diana. Eu amo você desde o dia em que
coloquei os olhos no seu lindo rosto...
Solto o ar com dificuldade, e seus lábios tomam os meus ao
mesmo tempo que ele me invade, levando-me ao céu em questão
de segundos.
O ritmo começa lento, mas logo ambos estamos buscando
mais. Sinto que ele está se controlando, não é como das outras
vezes; ele não quer ser bruto demais.
— Eu te amo, Pierre Lucchese, desde aquele primeiro
momento. — Digo assim que ele afasta um pouco sua boca da
minha.
O toque de Pierre incendeia meu corpo, cada carícia é uma
chama que se propaga, e o desejo se torna uma força irresistível.
Seus lábios traçam caminhos ardentes pelo meu pescoço, e minhas
unhas cravam-se em suas costas. Ele me penetra com intensidade,
e a sensação é de que posso ser partida em centenas de pedaços.
Os gemidos ecoam no quarto, uma sinfonia de prazer e
entrega. Pierre se move com mais intensidade, mas há ternura em
seu olhar. Seu desejo por mim é evidente, refletido na maneira como
me toca, na fome que encontro em seus olhos.
Cada estocada é uma mistura vertiginosa de prazer e
contentamento. O calor nos envolve, tornando tudo mais intenso. A
cama range sob a pressão dos nossos corpos.
Sinto-me vulnerável e poderosa ao mesmo tempo. Pierre
explora cada centímetro de mim, fazendo com que eu me entregue
totalmente a luxúria e ao prazer que ele proporciona.
Cada investida é uma onda de eletricidade, e meu corpo
responde em êxtase. A conexão entre nós transcende o físico,
atingindo níveis mais profundos. Cada toque, beijo e suspiro é uma
expressão do nosso amor, uma entrega completa e desenfreada.
O clímax se aproxima como uma tempestade, e nos
perdemos nela. Gritos abafados, respirações entrecortadas e corpos
que se movem em perfeita sintonia. O êxtase nos consome,
deixando-nos ofegantes e extasiados.
Caímos na cama com nossos corpos entrelaçados, ainda
palpitantes com a energia do momento. Pierre me encara com olhos
cheios de amor, uma ternura que contrasta com a intensidade do
que acabamos de compartilhar.
Nos aconchegamos na cama como se buscássemos abrigo
um no outro. Meus dedos traçam círculos preguiçosos em seu peito,
enquanto Pierre acaricia suavemente meu cabelo.
— Eu não imaginei que teria a possibilidade desse bebê ser
seu, não sei como fui tão cega, pensei que fugi dele já grávida,
talvez seja dele, não quero que se decepcione... — A confissão
escapa de meus lábios, um peso que eu não sabia que carregava
até aquele momento.
Pierre acaricia meu rosto com ternura, seus olhos azuis
buscando os meus.
— Nós vamos ter um filho! Esse bebê que cresce em seu
ventre é meu! Você me deu uma família, a minha família. Sei que
você ainda não sabe o quanto isso é importante para mim, mas
prometo que vou te contar tudo, em seus mínimos detalhes.
Um nó se forma em minha garganta ao compreender a
magnitude daquelas palavras. Ele me estende a mão, e eu a seguro
como se fosse a ancora que me impede de ser levada pelas
incertezas da minha própria vida.
— Ainda temos que nos conhecer um pouco melhor... eu
adoraria ouvir cada detalhe de sua vida. — A vulnerabilidade em
sua expressão me toca, e sinto uma onda de gratidão por ter
encontrado alguém disposto a conhecer a Diana de verdade.
Pierre se move na cama, reposicionando-se para ficar de
frente para mim. Seus olhos, antes cheios de desejo, agora refletem
uma serenidade que me acalma. Há algo mais em sua expressão,
algo que que carrega uma promessa silenciosa de compreensão e
aceitação.
— Quero te pedir uma coisa... — ele murmura, e minha
curiosidade é despertada.
— Peça — incentivo.
— Case comigo, Diana. Me faça o homem mais feliz e
sortudo do mundo inteiro.
A surpresa me paralisa por um instante. "Case comigo" são
palavras que nunca imaginei ouvir novamente depois de tudo o que
passei. A voz de Pierre soa como uma melodia suave, e eu tento
processar o que ele acabou de propor.
— O que? — balbucio, meus olhos fixos nos dele, tentando
encontrar qualquer sinal de dúvida ou hesitação.
— Quer casar comigo? — sua pergunta é simples, mas há
uma intensidade por trás dela que faz meu coração acelerar.
Tudo invade minha mente como uma enxurrada. Minhas
experiências passadas, os traumas que ainda carrego, a promessa
de uma nova vida. Por fim, uma certeza emerge: Pierre não se
parece em nada com o homem que um dia causou tanto estrago em
minha vida.
— Sim! — a palavra escapa de meus lábios, e um sorriso
instantaneamente ilumina o seu rosto. Não consigo conter a euforia
que toma conta de mim, e me inclino para beijá-lo, selando não
apenas nosso compromisso, mas também a promessa de um futuro
que agora construiremos juntos.
Capítulo 27
Damon e eu entramos em uma competição, não dá para saber
quem de nós está mais feliz e mais bobo com a gravidez de nossas
mulheres. O retorno para casa foi uma bagunça inevitável, considerando
a natureza caótica de Damon. Se não fosse assim, não seria Damon
Lucchese.
Fui baleado diante da mulher que havia acabado de pedir em
casamento. O lado positivo foi que ela conheceu minha pior face, aquela
que eu escondia do mundo, e mesmo assim, ela decidiu ficar. Se o pior
de mim não a afastou, me ver sangrar certamente não seria motivo
suficiente.
Algum tempo depois, Damon e eu nos sentamos para uma
conversa. Ele estava ansioso para saber sobre o meu relacionamento,
como nos conhecemos de fato, como a encontrei, e principalmente, se o
bebê era meu.
— É seu, idiota! E mesmo que não fosse, o amaria da mesma
maneira. — Damon disse sorrindo quando disse que Diana ainda não
tinha total certeza.
— Sei disso, não tenho a mínima dúvida... — comentei e,
sabendo que o casamento dele com Giulia estava se aproximando
resolvi mudar de assunto. — Como andam os preparativos? Ela ainda
não desconfia de nada?
— Não. E por falar em casamento, por que não querem se casar
junto conosco? Sabe que para mim seria uma honra. Você é minha
família, Diana também, e aposto que Giulia adoraria a ideia.
— Esse momento é de vocês. Passaram por muita coisa para
estarem juntos. Vamos nos casar daqui a algum tempo, não vai
demorar. Diana quer uma cerimônia bem mais simples, com apenas os
mais próximos. Isso se resume a você, Giulia e o padre. — Sorri.
Após algumas semanas do casamento de Damon e Giulia,
chegou o nosso grande dia. Eu estava nervoso, deixando todos os
detalhes por conta de Diana e Giulia, que estavam grudadas uma na
outra. A relação delas me enchia de felicidade.
— Se você não parar quieto, vai acabar tendo um ataque. —
Damon sorriu. — Sei que é difícil, mas se controle, porque eu não vou
socorrer você antes que esteja casado.
— Você é o pior padrinho da história!
A casa estava enfeitada com rosas brancas, uma decoração
simples e elegante. Quando Diana apareceu no final do tapete que a
traria até mim, meu coração quase saltou pela boca. Ela estava
deslumbrante, mais linda do que nunca. O vestido de renda branca
realçava seu busto e caía suavemente sobre a barriguinha redonda.
Detalhes de pérolas adornavam seus ombros, como colares caindo
graciosamente. Seu cabelo estava preso em um coque com pérolas.
Nunca havia visto algo tão belo.
A cada passo que ela dava, meu coração batia mais forte. Eu
jurei a mim mesmo que a felicidade não era para pessoas como nós,
"monstros" ou "demônios" como éramos conhecidos. Achava que
estávamos fadados à infelicidade, destinados a perder as pessoas que
amávamos, como uma maldição. Contudo, a mulher sorrindo e
caminhando em minha direção quebrou esse ciclo de morte e caos,
como um raio de sol na escuridão. Eu faria qualquer coisa por ela e pelo
bebê que ela carregava.
No altar, meus batimentos cardíacos estavam fora de controle.
Segurei suas mãos trêmulas nas minhas, ela estava tão nervosa quanto
eu, e suas lágrimas não paravam de escorrer.
— Diana, desde o primeiro momento em que te vi, algo dentro de
mim gritou que era você. Eu soube que seria a mulher que mudaria
tudo, que alteraria a maneira como eu enxergava o mundo. — Ela sorriu.
— Você trouxe cores para a minha vida sombria, trouxe o riso para a
minha existência amarga. Me tirou do abismo que eu nem sabia que
estava. Você pensa que eu te salvei, mas a realidade é que foi você
quem me salvou, me salvou de ser aquilo que o mundo escolheu para
mim, da escuridão que me cercava. Você aceita ser minha, para cuidar,
amar, respeitar, proteger, para estar comigo em todos os momentos da
minha vida?
Diana assentiu com um sorriso e, entre lágrimas de alegria,
respondeu:
— Sim! — Parece que uma represa transbordou naquele
momento. Quando ela finalmente conseguiu parar de chorar, endireitou
o corpo e tornou a falar. — Pierre Lucchese, o momento que você entrou
em minha vida foi um dos mais obscuros e frios. Você tornou realidade
tudo aquilo que eu mais sonhei. Fui livre, livre para ser quem eu sou,
livre para amar como queria, livre para escolher. Mesmo depois de
tentar fugir, mesmo sendo livre para ir, eu escolhi você. Porque você me
ensinou a te amar, a amar cada detalhe seu. Eu te amo, Pierre, desde
os seus defeitos até as suas qualidades. Aceita ser meu, para amar,
cuidar, estar presente em cada um dos seus momentos, sejam eles
bons ou ruins, hoje e sempre?
— Sim! Mil vezes sim! — Respondi com a voz rouca de emoção.
Eu nem sequer ouvi quando o padre disse que poderia beijá-la.
Já estava completamente perdido em seus lábios, alheio ao mundo ao
nosso redor. Existia apenas nós dois e toda uma vida pela frente. E
desde que a tivesse, nada mais no mundo importaria.
O toque inicial foi suave, uma expressão delicada de nossos
sentimentos. No entanto, à medida que o beijo se desdobrava, a paixão
crescia entre nós, tornando-se cada vez mais intensa.
Minhas mãos deslizaram por seu rosto, explorando suavemente a
pele macia. Cada contato era carregado de emoção, e eu podia sentir a
reciprocidade em seus gestos. O beijo era uma dança, uma troca de
promessas. Nossas línguas dançavam em sintonia, comunicando o
amor que compartilhávamos.
A respiração entrecortada ecoava no espaço entre nós, enquanto
nos perdíamos naquele momento único. Aquele beijo não era apenas
uma expressão de desejo, mas um juramento silencioso de lealdade e
apoio mútuo.
Ao encerrar o beijo, permanecemos abraçados, nossos corações
batendo em uníssono. A profundidade daquele momento reverberava
em nós, fortalecendo os laços que compartilhávamos. O compromisso
que assumíamos era agora selado.
— Vão para um quarto! — Damon gargalhou se aproximando de
nós. — Meus parabéns, vocês merecem toda a felicidade do mundo! —
Abracei meu primo.
Ali, nós dois, parecíamos dois homens normais, com vidas
normais. Essa sensação de que não precisávamos mais ser a máquina
que fomos criados para ser, de que tínhamos escolha, era reconfortante.
Olhei para nossas esposas se abraçando.
— Não dava para ser mais perfeito do que isso, não é? —
Comentei com Damon.
— Não... não dava... nós mudamos as coisas.
— Não pensei que éramos dignos de felicidade, não depois de
tudo o que fizemos. Acho que sou o homem mais feliz do mundo!
— Empatamos nessa.
O mundo poderia estar em ruínas, desmoronando, mas enquanto
olho para o sorriso dela, nada mais importa para mim. A abracei e beijei
a linda barriga.
— Eu te amo, Diana Lucchese.
Observo o anjo deitado ao meu lado, e não consigo pensar
em como agradecer a minha sorte, a minha bênção. Diana, com sua
beleza estonteante, é tudo o que eu poderia sonhar e muito mais.
Sinto-me completo ao lado dela, como se o universo conspirasse a
nosso favor.
— Bom dia... — Ela abre os olhos preguiçosamente. — Estou
com fome.
Um sorriso se forma em meus lábios. Diana tem feito tanto o
uso dessa frase que estou pensando em tatuá-la. Ela está sempre
com desejo de alguma coisa, ou simplesmente com fome.
— Bom dia, minha comilona favorita. Como foi sua noite? —
Pergunto enquanto ela se espreguiça. — Você estava um pouco
agitada.
— Na verdade, foi muito boa, estava sonhando com você. —
Ela morde os lábios, e meu coração palpita com a expressão
encantadora.
— Hum, posso ajudar em algo? Além de ir buscar seu café
da manhã, é claro. — Diana sorri e mostra a língua de forma
brincalhona. — Sabe que é verdade, não adianta negar, você só me
olha para pedir comida.
Ela está radiante nessa fase da gravidez, e a vontade de ter
uma casa cheia de crianças, risos, alegria e felicidade se intensifica
em mim.
— Acho que pode sim... o que acha de tomarmos um banho
juntos antes do café da manhã? — Ela se move para se levantar,
mas faz uma careta.
— O que foi? — Sento-me, preocupado. — Está tudo bem?
— Não, acho que não... está tudo molhado, acho que minha
bolsa estourou, ou fiz xixi, não estou sentindo dor, só um leve
desconforto agora que me mexi.
Imediatamente, começo a preparar tudo para levá-la ao
hospital. Diana está calma, mas meu coração está acelerado. No
caminho, ligo para Damon para informar sobre a situação.
— Acho que vai nascer hoje... ela perdeu muito líquido, mas
eu não sei se ela é normal, está muito calma e meu coração parece
que vai sair pela boca. — Ouço uma risada do outro lado da linha.
— Ela está me assustando.
Damon diz que nos encontrará no hospital, e quando
chegamos, Diana é encaminhada para a sala do ultrassom.
— Está doendo? — Pergunto, preocupado.
— Sim... está desconfortável...
— O que foi? O que você tem? Eu sei que tem algo errado...
— Estou com medo de que o bebê não seja seu... sabe que
eu passei todo esse tempo me perguntando se o que ele falou
naquele dia era mesmo verdade, ou se estava apenas tentando se
livrar do bebê.
Nossos olhares se encontram, e eu colo minha testa na dela,
tentando transmitir toda a segurança e amor que sinto.
— Já disse que isso não me importa, é meu, se tem meu
sangue ou não é indiferente, esse bebê é nosso, será amado, terá
pais presentes e quantos irmãos eu puder dar a ele.
Assim que chegamos, Diana é colocada no soro, mas o
obstetra diz que é possível haver necessidade de uma cesariana, e
meu coração acelera. Minhas mãos tremem, e começo a suar frio.
— Vamos prepará-la para o procedimento, senhor, o senhor
pode ir se vestir e esperar. — Uma enfermeira simpática me avisa.
— Não vou sair do lado dela! — Respondo com firmeza, mas
Diana pega minha mão e sorri, tranquilizando-me com um simples
gesto.
— Está tudo bem, querido, nos vemos em alguns minutos. —
Sua face pálida me aperta o coração, preocupação evidente em
cada traço. Enquanto Diana é conduzida à sala de parto, acaricio
seus cabelos, murmurando palavras suaves para confortá-la.
— Não era assim que eu queria que fosse. — Sua voz soa
fraca. — Era para ser um parto normal.
— Está tudo como deve ser, meu amor. É para garantir a sua
segurança e a do nosso menino. — Respondo, tentando transmitir
confiança. Um sorriso frágil surge em seus lábios.
— Gostaria de vê-lo nascer, papai? Venha até aqui. — A
obstetra me chama, e me aproximo para testemunhar o momento
em que meu filho é trazido ao mundo, seus primeiros choros
ecoando pela sala.
No auge da felicidade, sinto as lágrimas inundando meus
olhos. Aquela cena, a chegada de uma nova vida, ultrapassa
qualquer expectativa. Levam o bebê até Diana.
— Ele é lindo... — Seu sorriso ilumina o ambiente. — Lindo...
— Observo, extasiado, as duas pessoas mais importantes da minha
existência. Uma certeza inabalável cresce em mim: eu seria capaz
de tudo pela minha família, estou disposto a ser o melhor pai do
mundo.
Com cuidado, recebo meu pequeno nos braços.
— Oi, meu amor, eu sou seu pai... — Minhas palavras mal
terminam quando o pequeno abre levemente os olhinhos, revelando
o mesmo azul característico dos Lucchese. Viro-me para Diana. —
Viu, eu disse, ele é meu!
— Nosso pequeno Stefano. — Diana respira aliviada, as
lágrimas fluindo ainda mais. A alegria inundando o quarto.
Eu não tinha dúvidas de que era meu, mas Diana sempre
ficou temerosa com as dúvidas que a assombravam. Fico feliz, não
por mim, mas por ela, por não precisar carregar o fardo de criar o
filho de um homem que a machucou tanto.
No quarto, minha atenção permanece no nosso filho.
— Ele é lindo. — Damon me abraça. — Parabéns aos dois.
Giulia, com seu barrigão, junta-se a Diana, ansiosa para ter
nosso menino nos braços.
Um retrato perfeito de uma família feliz. Damon e eu as
olhamos por algum tempo.
Neste momento, não trocaria nada na vida por essa cena
encantadora. Cada lágrima, sorriso e olhar são tesouros que
guardarei para sempre em meu coração.
Angel veio ao mundo em 9 de fevereiro de 1995, em solo
paulistano. Desde tenra idade, com apenas 8 anos, sua mente já se
perdia nas páginas dos livros, mergulhando em mundos imaginários.
Sua alegria era facilmente conquistada por aqueles que
compreendiam sua paixão: bastava presenteá-la com um exemplar,
e um sorriso genuíno iluminaria seu rosto.
Seu coração, entretanto, batia mais forte por um gênero
literário em particular: o romance. Nas páginas onde amores
floresciam, ela encontrava refúgio e inspiração. Crescendo e
amadurecendo, essa paixão apenas se fortaleceu, guiando suas
leituras e, eventualmente, sua própria escrita.
A vida de Angel, repleta de capítulos coloridos, ganhou
personagens centrais: seu amado esposo, seu coração fora do peito
que chama de filhos e uma adorável trupe de três doguinhos.
Há pouco mais de três anos, Angel embarcou na jornada de
escritora. Seu talento encontrou um lar na plataforma Dreame, onde
depositou pedacinhos de sua alma em diversas obras. Sua
preferência recaía sobre os romances clichês, mergulhando também
nas profundezas dos enredos dark e explorando as emoções do
new adult.
Em 28 de março de 2023 Angel lançou seu primeiro livro na
plataforma Amazon, intitulado “O Playboy e a Secretária”. Essa
conquista representou um passo significativo em sua jornada
literária.
Acompanhem-na no Instagram para ficar por dentro de todas
as novidades.
@angel_autora
Sinopse:
Ele é um playboy libertino;
Ela é uma secretária virgem;
Ele é arrogante;
Ela não o suporta.
Eduardo Alencar, no auge dos seus 29 anos, não quer
responsabilidades, tudo que ele quer é farra, bebidas e mulheres.
Sua mãe é quem comanda todas as empresas da família,
mas tudo muda quando ela decide que é hora de seu filho
amadurecer.
A punição de Eduardo é ir morar em outra cidade para
trabalhar como faxineiro.
Cecília Richards é uma menina esforçada, aos 21 anos está
terminando a faculdade e trabalha como secretária de um dos
gerentes da empresa Alencar, onde ela lida constantemente com
suas investidas.
Cecília conhece um faxineiro para lá de arrogante e
imediatamente uma inimizade entre ambos surge, porém, junto com
as faíscas trocadas entre os dois, uma chama da atração é acesa.
A vida da secretária nunca mais foi a mesma após cruzar
com o playboy... agora ela está GRÁVIDA!
Ele se decepcionou com o que julgou ser amor;
Ela tem medo de se entregar novamente;
Ele se fechou;
Ela é a chave para a sua felicidade.
Nenhum deles sabe o que é amor de verdade, até estarem
perdidamente apaixonados, até que o outro se torne mais vital para
si do que o próprio ar.

Lucas Jones trancou-se em seu mundo depois de ter seu


coração partido, focou em seu futuro como empresário, a meta é
deixar de ser filial e encerrar o contrato com a matriz para abrir uma
empresa completamente independente no mesmo local.
Conhecer alguém não está em seus planos, mas a vida
sempre dá um jeito de mostrar que não se pode estar no controle de
tudo.
O destino tem o hábito de pregar peças, e Lucas vai perceber
isso quando em uma noite ele acabar na cama com uma belíssima
ruiva e descobrir que ela é noiva de um dos sócios de sua
empresa.

Tessa Marshall filha do primeiro casamento de uma família


muito rígida, conta apenas com o carinho de seu noivo Cliff
Livingston, rapaz de boa família que diz amar Tessa desde o
colegial.
Depois de muita insistência de Cliff, unida a vontade de seu
pai que ela se case logo, Tessa cede e os dois começam a namorar
quando ela ainda estava na faculdade, o tempo passa e eles ficam
noivos.
Tudo parece estar perfeito, ela quer que seja assim, porque
sabe exatamente qual o melhor momento para se vingar de seu
noivo e sua, até então, melhor amiga.
O que Tessa não poderia prever é que será a partir daí que
saberá o significado do amor.
Ela é fria e libertina;
Ele amargurado e arrependido;
Ela vive presa em seus traumas;
Ele está envolto na dor de ter perdido a mulher que amou.
Os dois se amaram perdidamente no passado, agora se
reencontraram, mas nenhum dos dois reconhece o que amava no
outro. Resta saber se Cedric pode salvá-la ou se Blair irá arrastá-lo
de volta para a escuridão.
Cedric Roux
Não há sequer um dia nesses últimos quatro anos que não
tenha pensado nela, Blair Lennox, a irmã mais nova de seu melhor
amigo.
Desde muito jovem, Blair parou de esconder seu interesse
por Cedric, ele precisou de todo o seu autocontrole para não acabar
caindo em tentação.
A pequena diaba sabia bem como usar tudo a seu favor, e
não era de desistir facilmente.
Era impossível não dizer que Blair seria de uma beleza
absurda.
Com dezessete anos, seus olhos eram como portas para o
inferno e faziam todo corpo de Cedric queimar cada vez que o
encarava com desejo.
Mas seu tormento teve início no dia em que Blair
simplesmente desapareceu.

Blair Lennox
Sempre soube exatamente o que queria, e isso era válido
para todos os sentidos de sua vida, carreira, sonhos, objetivos,
desejos, absolutamente tudo era detalhadamente definido. E
sempre que fechava os olhos e imaginava um futuro Cedric Roux
fazia parte dele.
Cedric era o melhor amigo de seu irmão, inseparáveis como
unha e carne, oito anos mais velho, mas isso nunca a importou,
observava-o desde sempre, queria-o mesmo antes de saber ao
certo o que era o desejo.
Mas em uma noite cruel e fria, sua vida mudou
completamente.
Foi arrancada de seus objetivos, desfez os planos e foi
impedida de sonhar novamente.
Quatro anos depois de ter partido, se vê obrigada a voltar
para a sua antiga cidade e seus demônios interiores nunca
estiveram mais presentes do que agora.
Em um casamento que esconde segredos, Giulia e Vittorio
Ricci aparentam a perfeição, mesmo diante da desaprovação de
suas famílias.
Vittorio é um empresário determinado a conquistar o sucesso,
mas em sua busca por riqueza, cruza o caminho de Damon
Lucchese, um mafioso impiedoso determinado a não conhecer a
derrota.
Enquanto Giulia dedica seu tempo a um orfanato, Vittorio
oculta sua sombria conexão com Damon e seu verdadeiro eu.
Damon, fica obcecado por Giulia e, aproveitando um erro
fatal de Vittorio para oferecer um acordo: uma semana com a
mulher que tanto deseja.
Uma história de paixão, segredos revelados e sacrifício se
desenrola, onde os limites do amor e da lealdade são postos à
prova em um jogo perigoso. Será que Giulia se renderá a esse
acordo sombrio?
A todos os meus queridos leitores, agradeço do fundo do coração
por se aventurarem e embarcarem comigo em mais uma história. Cada
palavra escrita foi recheada com sentimentos, cada capítulo foi moldado
com cuidado, e é com imensa gratidão que compartilho mais um
personagem desse universo com vocês. Obrigado por mergulharem nas
emoções, rirem com as alegrias e vibrarem com as paixões descritas
nestas linhas. Vocês deram vida a estas palavras, e as tornaram ainda
mais especiais. Muito obrigado por fazerem parte da minha trajetória.
Um super beijo,
Angel

[1]
Máfia Italiana
[2]
Filho da puta
[3]
Hotel e Cassino em Las Vegas.
[4]
Aquele filho da puta.
[5]
Família
[6]
Cidade da Califórnia, EUA
[7]
Minha flor

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