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Copyright © 2022 Ana Verônica, todos os direitos reservados,

1° Edição — 2022
Capa: L. A Designer Editorial
Revisão: Mariana Rocha
Diagramação: B. S. Oliver
Arte: Ilustradora Ursula Gomes

1. Literatura Brasileira 2. Romance 3.Romance Adulto 4. Literatura


Feminina

Esta é uma obra de ficção, portanto qualquer semelhança com


pessoas, situações, nomes ou fatos da vida real será apenas mera
coincidência.
Sumário
Sinopse 5
Capítulo 1. 6
Capítulo 2. 9
Capítulo 3 12
Capítulo 4. 14
Capítulo 5 16
Capítulo 6 19
Capítulo 7 21
Capítulo 8 24
Capítulo 9 26
Capítulo 10. 29
Capítulo 11 33
Capítulo 12 35
Capítulo 13. 38
Capítulo 14. 41
Capítulo 15 43
Capítulo 16 46
Capítulo 17 53
Capítulo 18. 57
Capítulo 19. 60
Capítulo 20. 63
Capítulo 21. 67
Capítulo 22. 71
Capítulo 23. 75
Capítulo24. 81
Capítulo 25. 87
Capítulo 26 91
Sinopse

Comprada em um leilão por um misterioso CEO, uma garota terá que


enfrentar a intensidade e o domínio de um homem imponente, que despertará
a insaciável luxúria em cada célula do seu corpo.
Aron Maldonado.
Profundamente obscura, é assim que vejo minha alma. Tenho
pensamentos sujos, perversos e completamente insanos.
A desejei desde o primeiro momento que a vi. Olhar afiado, sorriso
quente, provocando uma larva fervente em todo o meu corpo. A comprei e
não me importo que ela me odeie. Meu desejo é urgente de possuí-la de todas
as maneiras. Serei aquele que domou o seu coração selvagem. Que conseguiu
romper todas as suas barreiras.
Ela será minha!
Ele queria domá-la. Ela só desejava ser livre. Ambos terão que lidar
com seus medos e traumas e com um novo sentimento que surgirá.

“Sinto sua excitação a quilômetros de distância, pequena fiore, e não


vejo a hora de corrompê-la".
Respira e expira, Zaina. Digo a mim mesma mentalmente. Continuo
escovando os meus longos fios negros, olhando fixamente a imagem da
mulher que está prestes a ser vendida como um pedaço de carne exposto em
uma vitrine. Lembro-me das palavras que minha mãe costumava dizer:
“cuidado, filha, há muito lobo mau disfarçado de cordeirinho lá fora.
Sempre siga o seu instinto”. Ela estava certa. Meu próprio pai era um. Por
sua culpa e seu vício em jogos, caí em mãos erradas.
Sua compulsividade o levou à ruína e à destruição, mas nada supera o
fato de ele vender a própria filha para pagar uma dívida de jogo. Seu
semblante vazio, sua falta de amor pela própria filha, essas foram as últimas
lembranças que eu carrego em minha mente, o dia em que ele tinha uma arma
apontada para a sua cabeça. Os cobradores não tiveram piedade e o matariam
ali, na nossa sala. Meu pai apenas me olhou e, naquele olhar, eu já sabia que
meu destino estava selado. Seria sua moeda de troca, sua tábua de salvação
devido a ele estar completamente falido, perdido toda a sua fortuna.
— Zaina, vamos, está na hora.
Madame Laura chama, me tirando dos meus devaneios. Madame se
aproxima e prende um número na alça do meu body preto. Ela me olha de
cima a baixo e solta um sorriso parecendo satisfeita. Sinto um embrulho no
estômago só de imaginar que ela não hesitará em me jogar para os leões.
Olho mais uma vez para o meu reflexo e me sinto como uma
prostituta, uma qualquer, com traje vulgar e um par de saltos.
Ela acena com a cabeça para segui-la e rapidamente obedeço, só
quero que tudo acabe.
Alcançamos o palco e encontramos algumas garotas, que, assim
como eu, são reféns de Madame Laura e seu marido, o senhor Brassard,
quem nunca vimos, mas tememos sua presença. Os rumores que ele é
implacável e cruel com quem o desafia se espalhou como pólvora.
Respiro profundamente, tentando controlar a sensação nauseante que
sinto.
O leilão se inicia e as luzes são acesas sobre nós. Deparo-me com
vários pares de olhos vorazes nos observando com lascívia. Homens na casa
dos vinte a sessenta anos, elegantes em ternos caros, expectantes, com seus
charutos e bebidas em punhos.
Madame Laura será a leiloeira e, com muito entusiasmo, dá início ao
leilão.
— Temos aqui uma bela siciliana de um metro e sessenta, bastante
culta, uma verdadeira flor pronta para ser colhida.
Suspiro, entendendo o que sua última fala significa. Virgem!
Madame faz um sinal discreto e bela jovem sorri forçadamente e
desfila no centro do palco.
O primeiro lance é dado.
Uma disputa é iniciada entre três senhores, e o mais velho a
arrematou por uma pequena fortuna.
Olho para a garota, uma morena de olhos castanhos, e observo sua
tristeza. Não quero imaginar o que será de nossas vidas daqui para frente e
nem tenho qualquer esperança de que seja de um dia acordar desse pesadelo.
Começo a divagar enquanto Madame continua com o leilão. A cada
nome falado, um pequeno desfile era feito por elas. Tudo para aguçar ainda
mais o apetite masculino.
Quando ouço o meu número, engulo em seco e sinto meu corpo
paralisar. Ergo meu olhar lentamente e meus olhos se fixam em um par de
olhos azuis gélidos e sombrios.
Sinto sua altivez e intensidade em cada centímetro da minha pele.
Observo o quanto ele é bonito, por mais que esboce a figura de um poderoso
chefão da máfia. Em um terno preto e uma gravata da mesma cor, seus fios
loiros alinhados perfeitamente para trás. Ele continua a me olhar, seu jeito
intenso e dominante me causa um certo pavor.
— Fala várias línguas, entre elas, alemão, francês e italiano. É culta,
pura e sabe como encantar um homem.
Várias raquetes são suspensas no ar e muitos dígitos são lançados.
Madame arregala os olhos e se recompõe rapidamente. Cada mão levantada
ampliava ainda mais o seu sorriso.
Um senhor de barba grisalha e cabelo da mesma cor levanta sua
raquete e oferece cento e trinta mil. Ele olha na minha direção sorrindo,
exibindo uma fileira de dentes tortos e amarelos.
Desvio o olhar com verdadeiro asco e novamente meus olhos se
cruzam com aqueles olhos azuis que me causam um misto que não consigo
explicar. Seus lábios cheios se curvam discretamente e ele ergue sua raquete,
sua voz grave troveja, causando um verdadeiro espanto em todos os
presentes.
— Seis milhões.
Minha boca abre e fecha sem conseguir acreditar que esse estranho
acabou de falar. Isso é… loucura.
Nos olhamos fixamente enquanto Madame encerra a venda.
— Alguém dá mais? Dou-lhe uma... Senhores, essa é a última
oportunidade… Dou-lhe duas... — O silêncio se estende até ela dar por
findado. — Número 16, vendida para o cavalheiro elegante ali da esquerda
por seis milhões de dólares — afirma e bate o martelo.
Meu coração dispara no peito, observo um senhor com uma maleta e
cara de poucos amigos cochichando no ouvido do cavalheiro misterioso. O
homem franze o cenho e seu maxilar se aperta, ele se levanta e fala algo para
o homem que o faz estremecer, olha para mim uma última vez, antes de dar
as costas e ir embora.
Algo no seu olhar me fez arrepiar e temer o meu futuro. Não sou
ingênua a tal ponto de não saber que um homem que compra uma mulher por
uma verdadeira fortuna não tem algo bom em mente. Ele será o meu inferno
particular, eu sinto isso em cada célula do meu corpo.
Vejo o mesmo senhor se aproximar e falar algo para Madame, que
imediatamente olha para mim com um sorriso radiante. Conversam por mais
alguns instantes e então ele vai embora. Abaixo a cabeça, olhando para as
minhas mãos que começam a tremer.
— O senhor Aron Maldonado, o bilionário que lhe comprou, exigiu
que a levasse ainda hoje ao seu encontro. Ele tem urgência. — Sorri. — Você
é uma garota de sorte, Zaina. Aquele homem é um bilionário solitário e há
anos é disputado a tapas por muitas mulheres. — Ela ergue meu queixo,
apertando-o levemente. — Mas há uma razão para ele ser solitário. — Me
encara com um olhar afiado. — Para o seu próprio bem, não o desafiei. Aron
tem uma reputação, digamos, um pouco sombria.
Me afasto do seu toque, a encarando de volta.
— Como o senhor Brassard?
Ela solta uma risada amarga e balança a cabeça lentamente.
— Quem é o senhor Brassard comparado ao grande senhor
Maldonado?
Segura meu braço, apertando-o com força. Sinto suas unhas longas
afundarem em minha pele. Gemo pela dor provocada.
— Não seja atrevida, garota. Isso conservará sua vida miserável.
Trate de ser uma boa submissa. Aron não costuma ser misericordioso, ainda
mais com uma ninguém como você.
— E, a propósito, está livre da dívida do seu querido pai. Não direi o
mesmo do seu dono. Adeus, Zaina.
Fecho minhas mãos em punho e sinto lágrimas encherem os meus
olhos, mas não vou dar o gostinho para essa cobra e chorar na sua frente.
Ela me empurra e ordena que eu me arrume decentemente. Não
precisarei levar nada, irei só com a roupa do corpo. Segundo ela, meu senhor
cuidará de tudo.
Lágrimas pesadas começam a rolar na minha face. Posso imaginar o
que acontecerá na primeira noite. Se ele é tão cruel como Madame deu a
entender.
Não lutarei contra o meu destino, mas contra esse homem, sim. Não o
deixarei fazer o que bem entender comigo, nem que para isso tenha que matá-
lo com minhas próprias mãos.
Às oito horas em ponto, uma BMW esperava do lado de fora do grande salão,
uma das propriedades de Madame. O chofer, um senhor com semblante
reservado, se aproxima e abre a porta do carro.
— Senhorita…
Aceno levemente com a cabeça e entro no carro, colocando o cinto de
segurança em silêncio.
Durante o trajeto me pego relembrando os momentos felizes que vivi
com minha mãe, antes de ela falecer. Da sua voz doce quando sussurrava no
meu ouvido um boa-noite, o cheiro suave do seu hidratante de frutas
vermelhas. Até mesmo quando ficava brava. Sinto uma lágrima solitária rolar
pelo meu rosto e fecho os olhos, segurando o pequeno medalhão que ela me
deu quando completei quinze anos.
"Quand la solitude presse, ma fille, regarde-le et je serai près de ton
cœur".[1]
— Chegamos, senhorita — o chofer anuncia, e rapidamente abro os
olhos.
Respiro fundo, olhando a enorme fachada de um hotel de luxo à
minha frente. Há seguranças em toda parte. O que só reforça o meu
sentimento de ser mais uma prisioneira nesse lugar. Ele desce e abre a porta.
Olho de um lado para o outro, sem saber o que fazer.
— Senhorita, Zaina? — Viro-me lentamente e vejo uma loira muito
bem-vestida com uma saia-lápis branca e um blazer da mesma cor. Seus
olhos azuis se estreitam, olhando-me de cima a baixo, lentamente seus lábios
cheios pintados de um vermelho vivo se curvam em um sorriso superficial.
— Eu sou Cristine, assistente pessoal do senhor Maldonado. Ele me
pediu para cuidar de você. Venha, ele já a aguarda para o jantar.
Encolho-me com o pensamento de ter de me sentar na mesa com esse
homem.
Cristine cessa seus passos e olha para trás quando percebe que não
estou em seu encalço.
— Senhorita, por favor, me acompanhe. Aron não gosta de esperar.
Franzo o cenho com a mudança repentina do senhor Maldonado para
Aron. Pelo visto ela é bem mais que uma assistente. Balanço a cabeça
negando. Não me importo. Preciso pensar em apenas me livrar dele.
Obrigo meus pés a segui-la. Passamos pelo hall e pegamos o
elevador, ela aperta alguns números no painel e, em momento algum, faz
contato visual. Cristine mantém uma postura hostil, parece que o tempo todo
age a contragosto. Minutos depois, o elevador para e as portas se abrem,
dando o vislumbre de uma grande e luxuosa cobertura.
— Aron a espera do outro lado, na sacada que fica à direita. Mas
primeiro, tomará um banho e usará o vestido que separei. Ele está em cima da
cama. — Sinto o sangue drenar da minha face e aperto o maxilar com força.
Cristine estala a língua quando passa por mim, esbarrando de propósito. —
Há um conjunto de lingerie, não se preocupe — se aproxima e sussurra com
um sorriso malicioso. — Se quer agradar o seu dono, aconselho a não usar a
parte de baixo.
— Quê? — indago, incrédula, sentindo um frio percorrer a minha
espinha.
— Pensei que esse fosse o seu trabalho — diz em tom irônico e sai.
— Vaca! — rosno baixinho.
Olho para a cama e vejo um roupão branco estendido sobre ela. Ao
lado, está um vestido preto muito justo e um conjunto rendado vermelho,
minúsculo. Fico em choque, olhando a peça delicada entre meus dedos.
— E-u não vou colocar isso. — Jogo o conjunto de lingerie
novamente sobre a cama.
Começo a andar pela suíte olhando cada canto do quarto e vejo uma
porta dupla com detalhes dourados que o divide. Provavelmente Aron está do
outro lado, à minha espera. Pois, ele que fique esperando.
Procuro o banheiro e encontro-o com uma banheira preparada,
exalando um cheiro delicioso de sais de banho. Retiro o roupão e mergulho
dentro dela, soltando um leve suspiro de apreciação. Fecho os olhos e fico à
mercê dos meus pensamentos. Perco a noção do tempo até ouvir um barulho
de passos pesados do lado de fora, e isso é o suficiente para me fazer abrir os
olhos. Ergo-me, ficando de pé, alcançando o roupão e me vestindo em
seguida.
Fico imóvel, atenta a qualquer barulho que seja, quando não ouço
nenhum ruído, saio do banheiro, me certificando que o quarto se encontra
vazio. Ando em passos cautelosos até a cama, sentando-me na beirada,
olhando para as peças de roupas que parecem zombar de mim. Um pequeno
lembrete que será essa a minha função satisfazer os desejos mais sórdidos do
meu dono.
— Imagino que não esteja se sentindo bem, minha fiore. — Congelo
com sua voz grave surgindo atrás de mim.
Ergo meus olhos lentamente e o vejo se aproximando com um olhar
inelegível. Aron está sem o terno, apenas com uma calça moletom preta e
uma fina camiseta branca. Seu cabelo está bagunçado e, se não fosse sua voz,
não o reconheceria em trajes tão casuais. Ele para a centímetros de mim e
toca o meu queixo com o polegar, roçando-o levemente, transformando toda
a atmosfera ao nosso redor.
— Zaina… — sussurra meu nome com apreciação, seu tom de voz
perigosamente calmo enviando uma onda de calor por toda a minha pele.
Desvio o meu olhar do seu.
Não sei explicar, mas esse homem… sua presença me confunde ao
mesmo tempo em que não o suporto.
Aron retira seu toque e se inclina de maneira que sua respiração
quente sopra em pequenas lufadas de ar em minha face. Seus braços se
fecham em torno do meu corpo e logo estou sendo suspensa e carregada por
ele.
— O que está fazendo? — pergunto, horrorizada.
Aron olha para mim, e não diz nenhuma palavra. Seus olhos azuis
impenetráveis e insondáveis. Como duas fortalezas de gelo. Aron Maldonado
exala obscuridade, é sombrio, controlado e perigoso. Em minha mente, um
alerta se acende, enquanto meu corpo o corresponde de maneira insana.
Em profundo silêncio, ele anda comigo em seus braços até a varanda
onde uma mesa posta surge em meu campo de visão e me senta em uma
cadeira. Olho para as minhas mãos trêmulas e sinto sua aproximação, o calor
irrevogável do seu corpo. Ele serve uma taça de vinho e retira a tampa de
uma bandeja, o cheiro delicioso da comida atinge minhas narinas, me fazendo
lembrar que não havia comido nada durante o dia.
— Se alimente, minha fiore. — Aron se senta à minha frente, e posso
sentir o peso do seu olhar intenso sobre mim o tempo todo.
Um nó se forma na minha garganta e, por mais que me esforce, não
conseguiria comer nada, não sem saber por que estou aqui. Ele me comprou.
Aron Maldonado é meu dono, e o que isso significa? Pela primeira vez desde
que cheguei, ergo meu queixo e o encaro. Seus olhos azuis incandescentes
olhando fixamente para os meus.
— Por que estou aqui? — Minha pergunta saiu como um sussurro.
Aron não parece surpreso com minha pergunta. Ele calmamente se
inclina, servindo-se com outra dose de vinho. — Você poderia ter qualquer
outra que quisesse… Por que eu?
Levando a taça aos lábios, ele degusta o vinho e, em seguida, devolve
a taça, colocando-a sobre a mesa. Levantando a mão direita, ele acaricia a
minha bochecha com o dorso da mão. Seu toque é sutil, assim como o seu
gesto.
— Minha fiore… — Suspira suavemente. — Porque és uma joia
preciosa que se destacou entre todas as outras. Não pode resistir. Agora
coma. Teremos um longo dia. Preciso que descanse. Viajaremos depois do
café da manhã.
Fico em alerta.
— O quê? Viajar?
— Sim. A levarei para a minha casa.
Levanto-me em um rompante, negando veemente.
— Por que não acabamos com isso de uma vez? — Cerro os dentes,
cravando o meu olhar no seu.
Aron se levanta com passos firmes em minha direção. Seus olhos
azuis brilhando perversamente. Ele para a centímetros do meu corpo e,
mesmo sem me tocar, sinto o calor crepitando entre nós.
— Não é sexo que você deseja? Minha virgindade? — Me afasto, e
seu olhar inquietante acompanha cada movimento. — Sexo sujo! Não é por
isso que bilionários como você compram mulheres como eu?
E num piscar de olhos sou prensada contra a parede atrás de mim.
Suas mãos, uma de cada lado da minha cabeça. Sua respiração pesada
roçando levemente a minha orelha.
— É isso que pensa? — sussurra, deslizando uma mão em minha
coxa direita. Prendo a respiração, tentando reprimir todas as sensações
estranhas que viajam pelo meu corpo. — Pequena Fiore…, perguntei se é
isso que pensa? — replica novamente, tornando minha respiração impossível
quando sua mão alcança a minha intimidade nua.
Seus dedos começam uma carícia lenta, tortuosa e cruel,
aproximando-se do seu objetivo, que é enlouquecer-me. Evito olhá-lo nos
olhos, mas posso senti-lo olhar para mim intensamente.
Não vou quebrar diante dos seus olhos, ele não me verá afogar no
mar de luxúria que são suas tentativas. Aron continua implacável em seu
ataque, me fazendo arfar como um animal selvagem. Quando sinto que estou
prestes a transbordar em um vórtice violento de prazer, o empurro para longe.
Ofegante, atiro-lhe um olhar mortal.
— Já tenho minha resposta.
Sorri, e assisto totalmente cética a Aron levar os dedos aos lábios e
sugá-los lentamente com um olhar que devia ser proibido. Então, dá as costas
e me deixa lá, atordoada e vulnerável, tudo o que eu mais temia. Aron assistiu
à minha queda, viu me contorcer como uma serpente em seus braços sólidos
e agora se aproveitará disso.
Respiro profundamente o cheiro inebriante da sua excitação. Ainda posso
sentir o gosto do seu mel na minha boca, doce e completamente viciante.
Assisti-la a banhar-se em luxúria foi a cena mais erótica que os meus olhos já
viram. Definitivamente inesquecível.
Eu soube desde o primeiro momento que a vi, linda e frágil em cima
daquele palco, que ela seria a minha ruína. Seus olhos negros e expressivos,
pele alva como de uma porcelana. Zaina é perfeita. Mas seu exterior é apenas
uma fachada. Dentro daquela mulher, há força e determinação como nunca
havia conhecido antes. Ela está determinada a manter-me distante, e estou
determinado a tê-la em meus braços custe o que custar. Serei paciente, lhe
darei pequenas doses do prazer que poderá ter. Farei com que minha pequena
fiore implore para me ter dentro dela.
Não sou homem de jogos, mas serei perseverante. Se tem algo que
aprendi todos esses anos é que: quanto mais árduo for o objetivo, saborosa
será a recompensa.
Após tomarmos o nosso café da manhã juntos, ela evitou olhar em
minha direção. Zaina tentou esconder, mascarar-se de uma indiferença que eu
sei que é inexistente, pois seu corpo diz o contrário. Sua pele arrepia-se com
minha proximidade, seus olhos me procuram quando julgam que não estou
observando. Chega ser inquietante nossa tensão sexual.
Com a mão espalmada na base da sua coluna, a guio para meu jatinho
particular. A morena me desafia com sua altivez, sentada ao meu lado como
se fosse a porra de uma rainha em seu trono, seduzindo-me com o seu cheiro
arrebatador.
Encontrá-la não estava em meus planos, viajei para Las Vegas
disposto a pagar qualquer quantia que pudesse para ter o passado podre do
meu querido padrasto revelado, motivado por uma sede de vingança pura e
brutal. Tinha um contato confiável para isso e que de maneira inexplicável
não apareceu no local combinado. Para ser sincero, aquele leilão foi algo
incomum para mim. Sabia que aquele salão luxuoso era fachada para
atividades ilícitas, só não imaginava que se tratava de um leilão de mulheres.
Como precisava estar um passo à frente daquele verme, não recuei. Sei que
ele está tramando algo e não pouparei esforços para descobrir qual será sua
próxima jogada. Frank joga sujo, mas sou um oponente impiedoso quando
me convém, desse modo, ele já deveria saber que, com Aron Maldonado, não
se brinca.
Desvio meus pensamentos para outra pessoa, uma aprazível dessa
vez. Permito meu olhar vagar lentamente em direção a minha bela fiore. Vejo
que o vestido que comprei caiu perfeitamente bem em suas curvas
pecaminosas, é como se o vestido se transformasse em uma segunda pele.
Ela olha para mim e arqueia uma sobrancelha em desafio. Pego uma
taça de champanhe e levanto-a no ar, lhe dedicando um brinde. Sorrindo
forçadamente, ela desvia o olhar para longe de mim. Minha presença a afeta,
só espero que seja da maneira correta.
Horas mais tarde o jatinho aterrissa em Londres. Zaina parece
assustada, olhando de um lado para o outro e vejo reconhecimento passar
pelos seus belos olhos escuros. O que desperta certa curiosidade que logo
tratarei de esclarecer.
Preciso me certificar que ela não tenha esqueletos guardados no
fundo do armário e que, de alguma forma, possa atrapalhar meus planos.
Pensei muito, e Zaina será perfeita para o que tenho em mente. Como
ordenado, Axel, meu motorista, já nos aguardava.
— Fez boa viagem, senhor? — pergunta enquanto se encarrega da
minha pequena bagagem.
— Sim, amigo, obrigado!
Ele sorri e seu olhar recai sobre Zaina. Seguro a sua mão e a puxo
para mim, seu corpo delicado colidindo contra o meu, e inclino-me e beijo
sua têmpora.
— Não poderia ter sido melhor — sussurro, e Zaina se afasta
gentilmente dos meus braços. Ela cumprimenta o meu fiel motorista com um
sorriso educado.
— É um prazer conhecê-la, senhorita. Estou a seu inteiro dispor!
Ela agradece enquanto entra no veículo. Após colocar o cinto,
percebo sua expressão alheia, como se estivesse em outro mundo. De repente,
desejaria conhecer cada pensamento dela mais que outra coisa no mundo.
Enquanto Axel colocava a limusine em movimento, solto uma longa
respiração consciente dos olhos intensos de Aron sobre mim. Sinto sua
respiração quente e o calor do seu corpo. Chega ser irreal como, mesmo sem
dizer uma palavra, ele consegue preencher o espaço com sua imponente e
bruta presença.
Tento focar na paisagem lá fora. Engraçado que, depois de algum
tempo longe, sinto-me completamente deslocada. Lembro-me de viver toda a
minha infância aqui em Londres com os meus pais, anos felizes que, em um
dia como outro qualquer, fora arrancado de mim.
Sinto um toque quente em minha bochecha e viro-me assustada. Aron
enxuga gentilmente uma lágrima solitária que furtivamente corria pelo meu
rosto. Em silêncio, ele contorna meus lábios. Deveria me afastar, mas não o
faço. Seus olhos azuis, um quase prateado, estudam-me por longos segundos
e vejo algo refletirem neles. Desejo. Luxúria. Fome.
Fico imóvel, fascinada e odiando como meu corpo corresponde a ele.
Piscando lentamente, Aron se inclina, ouço um clique e rapidamente
a divisória do carro sobe. Estamos parcialmente sozinhos e então seus lábios
descem sobre os meus. Solto uma respiração apressada em surpresa, e Aron
aproveita e aprofunda o beijo. No início, resisto bravamente, mas, quando
suas mãos percorrem meu corpo, cedo e me entrego ao beijo para o meu
horror. Mais uma vez ele está provando o seu ponto. Que tem poder sobre
mim.
Reprimo-me de soltar qualquer som, mas seus lábios são impiedosos,
assim como sua língua, que suga e domina a minha com voracidade. Em
algum momento o meu vestido foi empurrado para cima, agrupando-se na
altura dos quadris, expondo minha intimidade vestida apenas com uma renda
branca e, antes de me ter contorcendo em seus braços como naquela noite, o
empurro para longe, baixando o meu vestido novamente.
Aron ofega, soltando um praguejo. Posso observar a enorme
protuberância em seu jeans. Ergo o meu olhar e o pego me observando. Seus
lábios se curvam em um sorriso cruel.
— Por mais que aprecie um bom desafio, pequena fiore, não serei
paciente para sempre. — Meus olhos se enchem de lágrimas, mas não as
deixo seguirem seu curso. Ele segura uma mecha do meu cabelo entre os
dedos, torcendo-o, puxando-me levemente em sua direção. — É interessante
como tenta resistir a mim — se inclina para mais perto —, por mais que o seu
corpo diga o contrário — sussurra rente ao meu ouvido.
Estremeço ouvindo sua voz lindamente rouca.
Eu o odeio!
— Posso sentir sua excitação a quilômetros de distância, pequena
fiore, e não vejo a hora de corrompê-la — Aron continua a torturar-me
sussurrando como um gênio ruim em minha orelha. — Está molhada… eu te
deixo molhada, Zaina. Ele toca a parte interna do meu pulso com o indicador
e o arrasta, olhando-me fixamente. — Achará incrível quando eu estiver
dentro de você. Eu farei de um modo que se lembrará pelo o resto da sua
vida. Estará arruinada para qualquer outro homem — diz em um tom
sombrio, provocando arrepios em meu corpo.
Arranco meu pulso do seu toque e me afasto, mantendo uma distância
razoavelmente segura. De canto de olho, o vejo sorrir, o que me causa uma
onda de irritação.
Maldito seja Aron Maldonado!
O resto da viagem, ele me tem ignorado sua presença. Axel avisa que
chegamos ao nosso destino, que não faço ideia. Quando Aron sai e estende a
palma da sua mão virada para mim, não a pego. Desço, o deixando para trás.
Estou em choque, admirada com a beleza da sua casa, ou melhor, mansão.
Não me deslumbro fácil com o dinheiro e luxo, já que, em meu passado
distante, vivi cercada deles, mas é tudo tão bonito. Aron tem bom gosto. Isso
não posso negar.
— Bem-vinda a nossa casa, pequena fiore — murmura com a voz
agridoce, arrepiando os pelos da minha nuca.
Continuo sendo devorada por cada detalhe. O imenso jardim me
chama a atenção, assim como a enorme fonte no centro dele, ando em direção
a ela fascinada. Pesadas camadas de água caem como cascatas, indo de
encontro com uma piscina. Há luzes de led e um corredor estreito. Imagino
que o corredor seja uma espécie de extensão da cascata. Adoraria explorá-las,
mas Aron segura a minha mão e me puxa para longe.
— Venha, irei te apresentar o resto da casa e alguns funcionários, os
que confio cegamente. — O acompanho, olhando para as nossas mãos unidas
em uma só. Ao chegarmos à sala, uma pequena reunião nos aguardava. Pelo
jeito que olham para nós e o uniforme preto carvão, são os funcionários que
Aron falou. — Bem, vejo que estão todos aqui, serei breve. Essa é Zaina
Renault, minha noiva — Aron anuncia casualmente, me fazendo arregalar os
olhos e, pelo visto, não sou a única.
Todos os presentes estão com uma expressão chocada estampada em
seus rostos. Uma senhora de estatura mediana sorri como se tivesse ganhado
um presente de Natal. Seus olhos azuis são brilhantes como duas esferas. Ela
olha para mim e sorri calorosamente. A observo com atenção, de maneira
desconfiada. Ela me parece tão familiar…
— Senhor, isso é incrível! — solta com uma voz animada. — Aron
sorri e caminha até ela, deixando um beijo no topo da sua cabeça loira. —
Parabéns, filho! Ela é belíssima. — Olha para mim novamente e forço um
sorriso.
Aron também está olhando para mim, apesar da raiva fervendo em
meu peito, não posso explodir na frente de todos, ainda mais com essa
senhora que parece ser tão amável. Ela me lembra a minha mãe. Doce e
gentil.
— Obrigada!
— Não agradeça. Beatrice tem razão.
Não posso evitar o rubor que se espalha pela a minha face. Isso é
ridículo!
Beatrice é uma italiana de leve sotaque, em poucos minutos, me
mostrou que realmente é como eu imaginava. Ela é doce e gentil. Como uma
boa governanta, pacientemente me apresentou todos os empregados da casa.
Desde o jardineiro até o copeiro, enquanto Aron se mantinha recluso no seu
escritório. Ao terminarmos o breve tour, pergunto para Beatrice em que
direção fica o escritório. Se ele pensa que fugirá assim sem me dar uma
explicação, está muito enganado. Noiva? Não. Eu não posso acreditar.
No final do corredor, no segundo andar, encontro uma grande porta
de mogno com a maçaneta cromada em ouro maciço. Seguro-a com força.
Penso em bater, mas a fúria dentro de mim não permite e entro como um
furacão em sua sala sagrada.
O vejo sentado atrás da grande e imponente mesa. Sua camisa branca
com os três primeiros botões ligeiramente abertos e com as mangas enroladas
até o cotovelo. Ele está de cabeça baixa, olhando algo no seu notebook
aberto. Seus lábios se repuxam sensualmente e então, com um magnetismo
surreal, ele ergue seus olhos encontrando os meus.
— Então, o que posso fazer por você? — pergunta de maneira cínica.
Cerro os dentes, mantendo os meus punhos fechados de cada lado do
meu corpo.
— Comece me dizendo por que falou que estamos noivos?
Aron se levanta, espalmando as mãos com um baque sobre a mesa.
— Porque eu posso! E, caso não se lembre, EU COMPREI VOCÊ!
Desculpe, querida, mas não lhe devo explicações.
Começo a hiperventilar esfregando a minha face. Aron não está brincando
quando diz que pode fazer o que quiser comigo. Lambo os lábios ressecados,
fechando os olhos, desabando na parede atrás de mim.
— Senhorita Renault, está tudo bene? — Beatrice chama e viro-me
em sua direção.
Recomponho-me e aceno freneticamente com a cabeça.
— Sim, está.
Ela sorri e olha em direção à porta do escritório a poucos centímetros
de nós, então retorna o seu olhar para mim.
— Venha, bella, a levarei para seu quarto. Lá, poderá tomar um
banho e descansar. Avisarei quando o almoço for servido.
Beatrice gentilmente guia-me para o meu quarto, uma enorme suíte.
Não há muitos móveis, o que, de certa forma, me agrada. Ela pega um
pequeno controle em cima de uma penteadeira estilo vitoriana e aperta alguns
botões. As cortinas se abrem, revelando amplas janelas de vidro enquanto a
luz do sol se infiltra iluminando cada centímetro do quarto. Desse modo,
posso visualizar os mínimos detalhes. Observo as paredes pintadas em um
tom terroso e pesadas cortinas da mesma cor, revestidas em delicados
arabescos dourados. Uma enorme cama de quatro colunas no centro
entrelaçadas com um grosso dossel.
Beatrice continua a falar enquanto corro meus dedos sobre o bordado
delicado da colcha azul-marinho da cama. No teto, um lustre. Uma
reprodução exata de um candelabro. Beatrice aperta outro botão e uma das
paredes começa a deslizar suavemente revelando outro quarto.
— À direita, temos o closet da senhorita. Está abastecido com tudo
que precisa, é claro que, se a senhorita precisar de algo mais, é só falar. O
senhor Maldonado já nos deixou sob aviso de atender todos os seus pedidos.
— Agradeço disfarçando minha surpresa.
Beatrice também informa que o quarto do Aron fica ao lado e não
questiona o motivo de não dividirmos o mesmo. Ela deve saber melhor que
ninguém como a mente do seu patrão funciona. Com um sorriso gentil,
coloca o pequeno controle na palma da minha mão. Segundo ela, agora tenho
o controle de tudo à minha volta.
Gostaria de ter esse mesmo poder em minha vida, teria poupado
muito sofrimento.
Assim que Beatrice sai, ando em direção à porta para trancá-la, mas,
para a minha surpresa, não há nenhuma chave ou tranca sequer. Aron, como
sempre, pensou em tudo, inclusive como me ter vulnerável como um rato em
um labirinto.
Debaixo de um denso jato d'água, deixo minhas lágrimas correrem
livres. Deslizo pelo box fosco do banheiro, abraçando meus joelhos. Soluços
estrangulados se rompem da minha garganta e não são bonitos de se ouvirem.
Lembro da morte da minha mãe e de como não chorei em nenhum momento.
Não podia. Chorar era confirmar que aquele pesadelo era real e, de certa
forma, me agarrei por anos, segurando um mar de amargura em meu peito, e
só agora a barreira foi rompida.
Aron desencadeou os meus piores medos, reabriu velhas feridas.
Despertou em mim sentimentos confusos, intensos e vorazmente corrosivos.
Ele é um homem odioso, que impôs a sua presença. Do mesmo modo que me
fere como uma besta, enfeitiça-me com seus toques eletrizantes.
Uma hora depois, Beatrice bate à porta, anunciando que o almoço foi
servido. Não respondo. Sinto uma inquietante ansiedade. Anseio por algo que
não sei explicar. Não sinto fome, então fecho os olhos e caio em um sono
profundo, acordando horas depois com um cheiro delicioso aguçando todos
os meus sentidos. Foco-me em uma pequena mesa posta com apenas um
prato, talheres e uma taça. Meu estômago reclama e não é hora de ter
orgulho, assim, após lavar o rosto, me sirvo totalmente faminta. Agradeço aos
céus por estar sozinha, comendo com tanto ímpeto, assustaria qualquer um.
No dia seguinte, sou acordada com Beatrice abrindo as janelas do quarto, o
sol a pino denunciando que dormi demais. Olho para ela atordoada. Em outro
momento, seria acordada pelo perfume enjoativo e a voz irritante de
Madame.
— Buongiorno, senhorita! Desculpe, mas o senhor Maldonado pediu
para acordá-la. A senhorita tem um longo dia pela frente. — Bocejo,
amarrando o meu longo cabelo negro em um coque frouxo. Beatrice pega o
controle sobre a penteadeira e aperta o botão que revela o closet. — A
senhorita tem alguns minutos para se arrumar e almoçar. Logo Cristine irá se
juntar à senhorita. De repente, sinto-me desperta e franzo o cenho. — Ela a
acompanhará em uma butique, no salão de beleza e spa — explica
pacientemente.
Nego com uma risada nervosa.
— Espere! Eu não irei a lugar algum. Muito menos com aquela
mulher! — exalto-me, e Beatrice concorda silenciosamente. — Perdoe-me o
meu destempero. Eu só… não gosto dela e não me pergunte por que, tudo
bem?
Beatrice, então, se aproxima com um sorriso compreensivo.
— Não se preocupe. E, se serve de consolo, nem eu — confessa em
um sussurro.
— Aquela donna é intragável.
Então sua expressão se torna séria.
— Senhorita, só tome cuidado com ela.
— Por que está me falando isso, Beatrice? — pergunto, desconfiada.
— Por nada. Eu só não confio nela, é isso.
Assinto, afinal, o sentimento é mútuo.
Beatrice sai e, então, uma sensação ruim começa a rodear-me, eu
sinto isso em cada fibra do meu corpo. Balanço a cabeça e resolvo tomar uma
ducha. Certamente um banho fará milagres. Entro debaixo da cascata densa e
fecho os olhos enquanto a água escorre pelo meu corpo, o vapor quente
começa a preencher o espaço e respiro profundamente. É tão bom.
Após findar o banho e secar o cabelo, entro no closet e fico
boquiaberta. Quando Beatrice falou que ele estava abastecido, ela não estava
brincando. A organização é impecável. Tudo devidamente ordenado por
cores, tamanho. Vestidos, casacos, bolsas, sapatos. Uma ala só para
acessórios. Abro todas as gavetas e encontro roupas íntimas, meias, cinta-
liga. Mordo o lado interno da minha bochecha e decido usar um vestido
preto, corte reto e decote em canoa. Pego um par de sapatos da mesma cor.
Ele possui salto alto fino, espirais no tornozelo cravejado de cristais
Swarovski e bico fino.
Faço uma leve maquiagem e um coque lateral nos meus fios negros.
Borrifo algumas gotas de um perfume com um cheiro divino em meus pulsos
e atrás da orelha, e me viro para o espelho, aprovando o que eu vejo. Não é
que eu queira agradar alguém, mas é uma sensação indescritível se vestir para
si mesma. Na mansão de Madame, éramos obrigadas a nos vestir para
agradar aos olhos cobiçosos e desagradáveis de muitos homens.
Sua missão é agradar o seu dono, Aron Maldonado — minha
consciência grita.
Desço o longo e curvado lance de escadas à procura de Beatrice. Não
faço a menor ideia de que horas são e se o grande senhor Maldonado espera
por mim. Ainda no topo das escadas, escuto uma voz estranhamente alterada.
À medida que desço os degraus, a voz se torna ainda mais audível.
— Saia da minha frente, ou não respondo por mim! — rosna uma voz
feminina completamente irritada.
— Senhora, per favore, para o seu próprio bem, é melhor a senhora
voltar outra hora. — Ouço a voz suave e apaziguadora de Beatrice.
— Sua serviçal imprestável! Quem você pensa que é para falar assim
comigo? Aron é meu filho, você me ouviu? Essa é a minha casa. Uma
italiana imunda como você não me diz o que fazer, sequer tem a permissão
de olhar para mim — continua a insultá-la.
Meu sangue começa a borbulhar em minhas veias e aperto o corrimão
com força. Chega! Alguém tem que parar essa mulher. Caminho em passos
largos em direção à voz cruel.
— Você não é ninguém, sua maldita. Você devia ter queimado no
fogo do inferno com ele. Sua chegada nessa casa só trouxe desgraça para
minha vida.
Me aproximo das duas paradas no centro da sala. Observo
atentamente uma senhora de cabelos castanhos em um corte chanel, bem-
vestida, esguia e muito elegante. Seus olhos frios como gelo olhando
fixamente para Beatrice.
— Eu não tive culpa. Será que não entende? — Beatrice sussurra,
mas não o suficiente para deixar de ouvir, demonstrando fragilidade, e isso
pareceu despertar ainda mais a fúria da mulher, que, em um impulso, levanta
a palma da mão para acertar o rosto da governanta.
Com agilidade, consigo evitar o seu golpe, segurando seu pulso no ar,
antes que a alcance. Seus olhos verdes se ampliam em choque, mas logo se
transformam em uma irritação incontrolável. Ela tenta se retirar do meu
agarre, mas não facilito, continuo segurando-a firmemente.
— Solte-me! — exige com uma voz cortante. — Agora! Seus olhos
duros e cruéis como do filho. Agora entendo por que Aron age daquela
forma, como se todos fossem obrigados a lhe servir. — Como ousa? E quem
é você? — pergunta, se afastando para longe quando afrouxo o meu aperto.
— Não importa! — Se vira com um sorriso de escárnio em seus lábios
pintados de vermelho. — Deve ser alguma prostituta barata que meu filho
mantém para passar o tempo.
Cerro os dentes, fechando minhas mãos em punho.
— Se ousar falar com ela dessa forma novamente, não respondo por
mim. Está na minha casa e exijo respeito. — A voz poderosa e raivosa de
Aron preenche o espaço. De pé, parado na entrada da sala, está ele, com um
terno preto, cabelo penteando para trás e sua face máscula recém-barbeada.
Ele anda em nossa direção parando ao lado de Beatrice.
— Filho, depois de tudo que eu fiz por você, é assim que me trata? —
indaga com a voz chorosa.
Aron a fita com uma expressão vazia e isso me intriga.
— Não é bom quando se prova do seu próprio veneno? — pergunta
secamente e, pelo clima hostil, ficou claro que ambos não têm uma relação
amigável como deveria ser.
— Aron, eu sou sua mãe! — Funga, retirando um lenço da sua bolsa.
— Não comece com chantagens, Loreta. Por que não poupamos o
nosso tempo? — Ele pega algo no bolso interno do seu terno, o que presumo
ser um talão de cheques. Em seguida, uma caneta. — Quanto? — Por um
momento, sinto uma leve diversão em sua voz.
Ela franze os lábios e parece ofendida, mas sua máscara não dura
muito.
— Filho, eu te amo, mas você cortou todas as minhas retiradas da
empresa. Como espera que Frank e eu sobrevivamos?
Frank deu o sangue naquela empresa, e você prefere dar créditos a
acusações infundadas ao escutar a palavra do seu padrasto, aquele que
sempre esteve ao lado do seu pai. Do seu lado!
Aron a olha com uma expressão estranha, mas nada diz. Seu silêncio
é algo inquietante. Ele preenche um cheque e estende para a mãe, mas, antes
de soltar, ouço ele murmurar:
— Não fale o que você não sabe! E nunca mais desrespeite minha
noiva novamente, ou sofrerá as consequências.
Loreta endurece sua postura e desvia seus olhos afiados para os meus,
em seguida, pelo meu corpo, como se buscasse algo. Então, percebo seu olhar
vaguear nas minhas mãos. Ela pega o cheque e levanta o queixo, com uma
última olhada para mim, diz:
— Dê lembranças minhas a Cristine. — E vai embora.
Aron cerra o maxilar e respira fundo, em seguida, caminha até mim e
acaricia minha bochecha. Lentamente ele desce seus lábios nos meus,
pegando-me desprevenida. O beijo é casto e breve. E tão rápido começou,
teve fim. Ele se afasta e dá as costas.
— Jimmy virá, assim que ele chegar, o encaminhe para o meu
escritório — ordena por cima do ombro para Beatrice, subindo as escadas.
— Aron, você sabia que Loreta iria procurá-lo assim que soubesse que suas
retiradas foram bloqueadas. Frank me procurou querendo uma explicação.
Esfrego o rosto, apertando o celular com força.
— E o que você disse a ele?
— A verdade. Que descobrimos um desfalque na empresa e é questão
de tempo para provarmos que foi ele o larápio. E adivinha o que ele
respondeu? Que vamos pagar caro por acusá-lo.
— Já esperava por isso. — Solto um sorriso amargo.
— E qual o problema? — Ricardo pergunta do outro lado da linha.
Fico em silêncio, e ele suspira. — Deixe-me adivinhar: Loreta encontrou com
a garota. Aron, você está mesmo disposto a ir até o fim com isso? Mantenha
a senhorita Renault longe. Compre uma casa, banque-a, mas não deixe que a
beleza dela corrompa seus olhos. Você mal a conhece.
— Obrigado pelo conselho, Ricardo, mas não se preocupe comigo.
Sei muito bem o que estou fazendo.
— Certo — sua resposta é curta.
— Só quero lembrá-lo que, além de ser o seu advogado, sou o teu
amigo. E, como amigo, lhe direi: cuidado! A paixão costuma nos deixar
cego, surdo e mudo.
Seu tom é melancólico, e chego a acreditar que Ricardo sabe muito
mais da vida do que diz.
Beatrice bate à porta avisando da chegada de Jimmy, um talentoso
designer de joias. Falo para mandar-lhe entrar e trazer Zaina. Quero que ela
escolha o anel que mais lhe agrade. Penso no que Ricardo disse a minutos
atrás e um nó se forma na minha garganta. Eu não a amo, só apenas a desejo
como nunca havia desejado uma mulher antes. E por que não unir o útil ao
agradável. Anunciando um suposto noivado, ficarei fora da mídia por um
tempo e poderei me concentrar em desmascarar o infeliz do meu padrasto.
Algo me diz que não é só no desfalque da minha empresa que ele está
envolvido. Zaina só será uma bela distração. Aquela morena despertou um
sentimento diferente em mim. Uma mistura de necessidade crua e anseio. E
me incomoda saber que ela me despreza, que evita a todo custo a minha
presença. Em outro momento não tão distante, não me importaria, mas a
indomável senhorita Renault se tornou meu doce desafio.
— Senhor Maldonado, devo dizer que é um prazer revê-lo. — Jimmy
adentra minha sala com um sorriso brilhante. Me levanto e ando em sua
direção, erguendo minha mão para um cumprimento.
— O prazer é meu. E obrigado por vir — agradeço, e Zaina aparece
no limiar da porta.
Ela olha para mim e, em seguida, desvia o olhar para Jimmy, que
parece fascinado por ela. Limpo a garganta, e ela, com passos firmes e
confiantes, entra e o cumprimenta.
— Senhorita… — Ele segura o dorso da mão dela e o beija
demoradamente.
Confesso que me sinto incomodado por ele ser tão galante. Apresso
as apresentações, e Jimmy continua com os seus galanteios.
— Senhor Maldonado, se me permite, trouxe uma joia exclusiva de
minha próxima coleção e devo acrescentar que se encaixa perfeitamente nas
mãos da sua noiva. O design é moderno, porém, foi inspirado nos grandes
tesouros da realeza.
Zaina não parece satisfeita. Se tem algo que aprendi no nosso curto
período juntos, é que ela não gosta de exageros. Ela é prática, inteligente e
autêntica. Jimmy abre sua maleta preta e pega uma pequena caixa azul Royal
de veludo. Ele olha para Zaina e abre lentamente a caixa, colocando-a aberta
sobre minha mesa. Começa a explicar cada detalhe da peça, desde o solitário,
um enorme diamante de corte asscher central e pequenos diamantes
contornando o aro.
Zaina permanece em silêncio, observando a peça. Eu pego a caixa e
ando em sua direção, ajoelhando-me na sua frente, fitando seus olhos
castanhos, me afogando lentamente na sua tonalidade. Deslizo o anel em seu
dedo e sorrio, levando sua mão para o meus lábios, onde beijo suavemente.
Zaina parece não se importar com o meu gesto. Seus olhos são
penetrantes, afiados como duas adagas, mas agradece e pede licença para
retirar-se.
Jimmy parece ligeiramente surpreso, tanto quanto eu. Com um
generoso cheque e um pedido de desculpas, me despeço de Jeremy.
Saio à procura de Zaina. Talvez Ricardo tenha razão. Essa mulher me
desafia a cada oportunidade. Está na hora de lembrá-la qual é o nosso arranjo.
Eu a comprei. Ela me pertence.
Alcanço a porta do seu quarto e entro vasculhando cada centímetro
dele e nada dela. Um sorriso sagaz se espalha em meus lábios.
Ora, ora. Pelo visto minha fiore não é tão ingênua como aparenta.
Olho para a parede à minha frente e já sei onde minha pequena fujona
está. Procuro pelo pequeno controle remoto, e não encontro. Não importa, o
closet pode ser aberto manualmente, minha noiva só não sabe disso. Ando
vagarosamente até a parede principal, mas sou interrompido pelo toque
irritante do meu celular.
Pego-o no bolso da minha calça e vejo que se trata de uma ligação
importante. Esperava por esse telefonema há dias. Pelo visto, tenho
novidades. Olho para a parede do closet, lambendo os lábios. Minha
brincadeira de gato e rato terá que esperar. Zaina não sabe o que a aguarda.
Observo o jardim de inverno pela janela completamente perdida em
pensamentos., envolvida por um encorpado roupão branco, olho para o
diamante reluzindo entre meus dedos. Seria um sonho para toda mulher ter
um homem bonito como Aron ajoelhado aos seus pés, mas não é o meu caso,
sei que, para ele, não passo de um negócio, e deseja tirar o máximo proveito
que puder. Talvez a aliança seja um truque para silenciar-me. Continuo
divagando quando ouço a porta se abrir, congelo, soltando uma lenta
respiração. Não preciso virar-me para saber que é ele. Seu perfume marcante
exala no ar, assim como sua intensidade. Seus passos são silenciosos, mas
sinto-o chegando cada vez mais perto.
— Vejo que gostou do perfume que mandei fazer exclusivamente
para você — sussurra, seu hálito quente cheirando a uísque.
Fico imóvel, em silêncio. Sentindo seus dedos traçarem levemente os
meus ombros. Com uma respiração profunda, Aron começa a puxar o roupão
para baixo, revelando uma polegada da minha clavícula. Seus lábios são
suaves e macios em minha pele, como se estivesse explorando um caminho
desconhecido.
— É flor de Íris… com um leve toque do Oud. — Suga levemente a
extensão do meu pescoço e prendo a respiração. Meu corpo reagindo a cada
toque seu. — É sofisticado — sopra suavemente —, quente e muito sensual.
Combina perfeitamente com sua pele de seda — Aron, continua a sussurrar
sua voz rouca, enlaçando a minha cintura. Em questão de segundos sou
prensada de costas contra a janela, arfando em surpresa. — Cansei de esperar,
minha fiore — diz em tom baixo, desamarrando o nó do meu roupão.
Entro em pânico e espalmo minhas mãos em seu peito, sentindo cada
trepidação dos seus músculos. Tentando desesperadamente manter uma
distância entre nós.
Aron não se move. É resistente como uma muralha. Ele segura meus
pulsos, erguendo-os acima da minha cabeça e, em seguida, abre o roupão,
revelando meu corpo nu.
Seus olhos brilham e um arrepio percorre todo o meu corpo. Começo
a tremer e ele apenas me olha, fascinado, piscando seus poderosos olhos
azuis lentamente. Balançando a cabeça, percebo um selvagem sorriso ganhar
forma em seus lábios.
Ele se inclina e captura um seio na boca, sugando o mamilo com
voracidade. Arquejo contra sua boca quente, adorando cada sensação que ele
me faz sentir. Estremeço com grito agudo quando ele mordisca o bico rígido
do meu seio, provocando o outro com torções e beliscões. Sentindo que irei
explodir em pedaços, gemo o seu nome, sussurrando. Ele se afasta
minimamente e, com os olhos envelopados de prazer, leva dois dedos na
minha boca.
— Abra a boca — ordena. Meus olhos se arregalam levemente.
Demoro alguns segundos para acatar o seu pedido. — Eu disse, abra a boca!
— replica, e suavemente entreabro meus lábios. Aron mergulha seus dedos
em minha boca. — Os envolva e sugue-os. Leve-os tão profundamente
quanto conseguir. Imagine que seja o meu pau nessa sua boca apetitosa
pequena e deliciosa, fiore.
Horrorizada estou com o seu comando e principalmente como me
deixou completamente molhada. Tudo parece ser tão sujo, sórdido. Sua voz é
áspera, sem gentileza alguma, no entanto, me vejo fazendo o que ordenou.
Sugo-os com uma necessidade quase dolorosa, sentindo seus olhos
em mim o tempo todo. Sinto o calor do seu corpo, sua respiração quente
resvalando em lufadas de ar em minha face. Com um rosnado do fundo da
garganta, ele retira os dedos dos meus lábios e segura minha perna esquerda,
enlaçando-a em volta do seu quadril. Não tenho tempo para pensar em nada,
de repente estou cedendo contra seus braços.
Aron desliza um dedo em minha boceta molhada, apertando o
maxilar com força. Desvio os meus olhos dos seus, reprimindo um gemido.
— Porra! Você… é tão apertada. Mal posso esperar para enterrar-me
em você. — Um súbito avanço do seu dedo me faz soltar um grunhido. —
Deus! Você é uma tentação, minha menina. No entanto, é sua primeira vez,
não irei machucá-la — murmura, controlando a respiração, assim como eu.
Segurando a outra coxa, ele ergueu-me no ar, andando em direção à
cama, repousando-me no centro dela. Em seguida, com beijos no meu
abdômen roçando sua barba por fazer, ele se arrasta para baixo, nivelando seu
rosto contra minha intimidade exposta. Meu corpo tremia com a intensidade
dos seus toques. Deveria desprezá-lo e não me deliciar e ansiar por mais.
Com uma lambida vulgar, Aron cobriu minha fenda, sugando-a com
ardor. Gritei e me contorci. O prazer era demais para suportar e vinham como
ondas por todo o meu corpo. Não sou tão ingênua, já havia me tocado antes,
mas sentir toda essa extensão eleva-me aos céus.
Seus golpes são duros, brutais e selvagens. Arqueio contra sua boca,
reprimindo que qualquer som deixe meus lábios. Aron percebe e espalma a
mão em meu abdômen, mantendo-me imóvel, à mercê do seu domínio letal.
— Se continuar a privar-me dos seus gemidos, não lhe darei o que
tanto quer.
— Alerta com severidade.
— Zaina…
Desvio o olhar. Não importa que meu corpo esteja entorpecido pelos seus
toques, ou ansiando tê-lo dentro de mim, preenchendo-me completamente,
Aron Maldonado, poderá dominar o meu corpo, mas nunca a minha alma.
Com uma longa e dolorosa sugada, ele se afasta, não olhando para mim.
Posso notar a sua enorme ereção pulsante por entre o fino tecido do seu jeans.
— Estou em meu escritório, caso deseje mais — diz por cima dos
ombros, respirando pesadamente. Sai batendo a porta com força, provocando
um baque que faz meu corpo estremecer involuntariamente.

Fecho os olhos com força, levando um tempo para controlar minha


respiração. Maldito seja Aron, que atiçou-me como uma fogueira e depois se
afastou como se nada tivesse feito.
Meu corpo está em chamas, implorando para se libertar de um jeito
ou de outro. Desloco uma mão para baixo e massageio meu clitóris
lentamente. Em minha mente, cenas das suas mãos e sua boca
enlouquecendo-me explodem como fogos de artifícios.
Minha mão trabalha rápido em uma fúria incontrolável, mas não é
como ele. Levanto-me, recolhendo o roupão do chão e me visto. Saio do
quarto em passos cautelosos, irei me arrepender por isso, mas não há como
controlar o desejo que me queima por dentro.
Vejo-me indo de encontro ao seu escritório. Sedenta, como uma
viciada. Morrendo pelo gosto de ter sua boca outra vez.
— O que faz aqui? — Cesso meus passos a centímetros da porta
entreaberta do seu escritório, escutando o seu tom de voz ressoar alto como
um trovão.
— Você sabe o que eu vim fazer aqui, senhor.
Meu estômago se contorce quando percebo que é a voz da sua
assistente, Cristine. Ando vagarosamente, espreitando pelo pequeno espaço
do limiar da porta e a vejo parada com um sobretudo preto e saltos agulha.
Seus fios loiros soltos como cascatas pelos ombros.
Entrando no meu campo de visão está ele, o grande senhor
Maldonado. Ele parece devorá-la com os olhos enquanto bebe uma dose de
uísque.
— Não, não sei. Se me lembro bem, a proibi de vir a minha casa
quando não fosse chamada, ainda mais nesse horário.
Ela sorri e morde o lábio inferior, começando uma espécie de strip-
tease.
E droga! Ela está totalmente nua.
Fecho as mãos em punho com uma sensação estranha no peito.
Balanço a cabeça negando. Aron não me interessa, e muito menos suas
aventuras. Ele pragueja algo e dá as costas, se servindo de outra dose de
uísque.
— Cristine… É uma oferta tentadora, mas já conversamos sobre isso.
Acabou!
Cristine não desiste e anda em sua direção com um sorriso sensual e
bem convidativo. Ela para a uma polegada do seu rosto e ergue as mãos,
deslizando-as por todo o seu corpo, inclina sua boca e o beija duramente. Aro
não a afasta, o que me causa um embrulho no estômago.
Ela mergulha sua mão dentro do jeans, provocando um gemido
gutural dele. Pela expressão de prazer em seu rosto, Cristine está a masturbá-
lo. Ela cessa os seus movimentos, abre o botão e desliza o zíper, puxando
para baixo a calça e a boxer de Aron. Meus olhos se ampliam e de repente
minha boca fica seca. Seu pau salta pesado e pulsando com virilidade.
— Estou com saudades de sentir o seu gosto. Preciso senti-lo mais
uma vez.
Se ajoelha perante a ele e, com um olhar ilícito, Aron segura sua nuca
firmemente. Não espero por mais. Saio correndo em direção ao meu quarto.
Aquele desgraçado estava a poucos minutos no meu quarto, agora está com
outra, dando para ela tudo que eu neguei receber.
Na manhã seguinte, sou acordada mais uma vez com a voz suave de Beatrice
e um incrível café da manhã. Ela me informa que Aron foi convidado para
uma festa na mansão de um multimilionário e tenho que estar à altura. Reviro
os olhos mentalmente. Se ele quer alguém a sua altura, por que não leva a
Cristine. Só o simples pensamento me causa náuseas.
— Srta. Renault, às onze a boutique Belíssima trará alguns vestidos
para experimentá-los. O senhor Maldonado havia pedido para Cristine
acompanhá-la até lá, mas eu, bem, avisei que a signorina estava indisposta.
Um sorriso de agradecimento se espalha pelos meus lábios.
— Obrigada! Não iria suportar sair com aquela mulher.
Beatrice assente com um sorriso compreensivo e anda em direção às
janelas. Por mais que eu tente controlar, a cena do escritório permanece
fresca em minha mente. Aron é um grande babaca egocêntrico. Que diabos
ele está pensando? Em manter-me aqui como o seu brinquedo que ele usa
quando quer? E, quanto a Cristine, ela não parece se importar com qualquer
arranjo sórdido que ele a ofereça. Então, por que não fica com ela de uma
vez?
O dia se arrasta em um ritmo frenético. Meu quarto foi literalmente
invadido por inúmeras peças de vestidos e sapatos. Olho para Beatrice com
um explícito pedido de socorro, e ela apenas dá de ombros. Suspiro, deixando
uma senhora de cabelos grisalhos e sotaque francês vestir-me como uma
boneca.
A cada troca, um leve aceno de cabeça, o que me causa uma onda de
irritação. E, quando eu considerei desistir, a última troca rendeu-me uma
infinidade de elogios e finalmente um sorriso satisfeito de Louise.
— Perfeição, senhorita Renault. O vestido lhe caiu como uma luva.
— Ela anda na minha direção e segura meus ombros, guiando-me para o
grande espelho do closet. — Veja o quão linda está.
Estou boquiaberta e juro não reconhecer a mulher refletida no
espelho. O vestido é um longo vermelho e possui alças finas em pedrarias
brilhantes como diamantes. O decote é discreto, mas revelador nas costas,
deixando-as totalmente expostas. O tecido é macio e lembra-me os lábios de
Aron em minha pele.
Droga! Não vá por esse caminho, Zaina.
Após horas torturantes de trocas de roupas, uma pausa para o almoço,
mas não perdura por muito tempo. Para o meu desespero, Beatrice anuncia a
vinda de uma equipe de maquiadores e cabeleireiros chegando em poucos
minutos. Ainda não vi Aron, e confesso temer esse encontro. Ao entardecer,
quando Beatrice bate na porta do quarto avisando que Aron já está à minha
espera, um nó se forma na minha garganta.
Certo. Não há o que temer. É apenas uma festa — resmungo
mentalmente.
Descendo as escadas, meus joelhos cedem e seguro o denso corrimão com
força. Não estava preparado para a visão a seguir. Aron, parado no início da
escada, um verdadeiro pecado em forma de homem, estendendo a mão para
mim., vestido impecavelmente com um terno preto e uma gravata chumbo.
Aproximo-me lentamente dele e, hesitante, pego em sua mão.
O ar pareceu crepitar entre nós, e a maneira crua e primitiva que ele olha para
mim fez meus pelos eriçarem. Seus lábios cheios se curvam em um ligeiro e
encantador sorriso que quase me convenceu, se não fosse o fato de eu ter
visto ele olhar do mesmo modo para sua assistente na noite anterior.
Desvio o olhar, e ele segura meu queixo, inclinando-se
vagarosamente. Solto o ar lentamente, seus olhos azuis e tão brilhantes
parecem ainda mais translúcidos sob a iluminação do lustre de cristal.
— Você definitivamente é a mulher mais linda que os meus olhos já
viram — murmura, acariciando a minha bochecha em movimentos lentos e
suaves.
Meu corpo se aquece imediatamente com o seu toque. Engulo em
seco e disfarço com um leve aceno de cabeça.
— Obrigada! Agora, se não se importa, quero ir logo. — Me afasto
do seu toque andando para a saída.
Aron logo está ao meu lado e, em silêncio, caminhamos em direção a
um Roadster preto. De canto de olho o vejo sorrir.
— Certo. Presumo que Axel não irá conosco.
— Não — murmura, contornando o veículo, abrindo a porta para eu
entrar.
Entro e coloco o cinto, Aron entra em seguida e faz o mesmo. Ele
coloca o carro em movimento e, durante o trajeto, uma vez ou outra sinto
seus olhos sobre mim.
Respiro profundamente seu perfume marcante, deixando-me
atordoada e irracional. Flashes da noite anterior retornam e assombram a
minha mente e, quando olho para suas mãos grandes sobre o volante, aperto
uma coxa na outra. Chega a ser visceral o desejo que Aron despertou em
mim. E, por mais que tente freá-lo, tendo-o tão perto, está se tornando difícil.
Minutos depois, adentramos em uma mansão a perder de vista. Há
fotógrafos por toda a parte e flashes são disparados em nossa direção. Sinto-
me com um experimento sendo apresentado pela primeira vez.
— Senhorita! Senhorita! É a noiva do senhor Maldonado? — um
repórter pergunta, atravessando o meu caminho. Nego, tentando esconder a
minha face de um ataque furioso de flashes.
— Senhor Maldonado, quando será o casamento? Londres está
ansiosa para saber, afinal, não é todo dia que o grande bilionário das
indústrias Maldonado é visto com uma mulher tão linda e usando um anel
valiosíssimo de noivado. — Uma repórter aproxima-se com um microfone em
punho.
Aron não responde, o que causa um verdadeiro frisson. Somos
resgatados e escoltados por uma equipe de segurança e um Aron com olhar
assassino. Sua mão possessiva está espalmada nas minhas costas, o tempo
todo guiando-me como um verdadeiro marido. Ele se vira para mim e sua
expressão se suaviza.
— Vamos esquecer esse pequeno contratempo. — Assinto.
Ele acaricia minha bochecha e, em seguida, segura a minha mão,
entrelaçando os nossos dedos. Andamos pelo enorme salão de mãos dadas,
como um casal apaixonado. Aron apresentou-me a todos como sua noiva, e
fui obrigada a sorrir e agradecer a uma chuva de elogios.
— Querida, diga-me qual o feitiço que jogou para finalmente laçar o
solteirão mais cobiçado em toda a Londres? Aron não é um homem fácil —
uma morena de olhos verdes, em um elegante vestido salmão, pergunta
demonstrando certa incredulidade.
Simplesmente dou de ombros. Nem eu mesma tenho essa resposta.
Aron poderia ser a mulher que quisesse em um estalar de dedos, no entanto,
parece ter certa obsessão por mim. Posso estar errada, mas é o que ele
demonstra em cada gesto seu.
De repente estou envolta de um círculo de fofocas. Todas as mulheres
presentes na festa interessadas em saber cada detalhe, desde os mais sórdidos.
Fico horrorizada com a falta de noção dessas pessoas. Todo caviar e
champanhe parecem não fazer sentido.
Afasto-me delas, procurando Aron com o olhar. Maldito!
Simplesmente deixou-me com essas malucas e desapareceu. O encontro
conversando com um grupo de homens engravatados, bastante concentrado
no assunto. Resolvo não incomodá-lo.
Sirvo-me com uma taça de champanhe quando um garçom passa por
mim e permito-me correr o olhar pelo salão, observando toda a decoração de
extremo bom gosto, até meus olhos se fixarem em uma figura conhecida.
Trajando um longo vestido verde com um decote revelador, mais um pouco,
sou capaz de ver o seu umbigo, seus fios loiros presos em um rabo de cavalo.
Aperto a haste da taça com força quando a descarada levanta sua taça e sorri
para mim.
Imediatamente sinto o meu humor mudar drasticamente. E, no
momento, está além de negro. Se Aron pensa que me deixará plantada nessa
festa para ter alguma escapadinha com essa vaca, está muito enganado. Giro
em meus calcanhares andando em sua direção, pegando outra taça no
caminho, mas minha caminhada é interrompida por um senhor de olhos e
cabelos castanhos em um terno azul- marinho e uma gravata vinho.
— Desculpe incomodá-la, querida. Eu só queria apresentar-me
adequadamente. Eu sou Frank Hortiz, padrasto de Aron. Seu braço direito na
empresa — murmura com um sorriso. Ele estende a mão e a pego, não
querendo parecer mal-educada. — É um prazer conhecê-la, senhorita…
Olho impacientemente para onde Aron estava a minutos atrás, e não o
vejo, faço uma varredura, e não há nenhum sinal dele, muito menos da
oferecida da sua assistente.
— Desgraçado! — rosno, exasperada.
— Como? — Frank pergunta com o cenho franzido, me chamando a
atenção. Só então percebo que nossas mãos ainda estão unidas.
— Desculpe, estava apenas pensando em voz alta. Me chamo Zaina
Renault. É um prazer conhecê-lo, Frank.
Frank começa a engatar uma conversa na qual obviamente não estou
interessada. Meus olhos o tempo todo procuram por eles. Minha mente
doentia encenando diversos cenários. Uma melodia suave de um piano
começa tocar, e Frank me chama para dançar.
— Não. Por favor, sou uma péssima dançarina. Irei assassinar os seus
pés.
Frank sorri, acenando levemente com a cabeça.
— Eu irei arriscar — diz, guiando-me para o salão. Com a ausência
de Aron, era isso ou continuar como uma parva, esperando pelo seu retorno.
— Olhe só você, não é tão ruim — Frank diz, girando-me uma e outra vez,
provocando um leve sorriso em meus lábios. Quando fico de frente para ele
novamente, vejo preocupação em seu olhar. — Você é uma jovem
encantadora, senhorita Renault. Não deixe que Aron destrua quem você é.
Abro a boca para perguntar por que diz isso, mas sou abruptamente
arrancada dos braços de Frank. Aron se põe a minha frente como um
verdadeiro cão raivoso. Suas narinas dilatadas, seu maxilar apertado. Olho
para suas mãos em punho fechado e ele está pronto para começar um embate.
— Aron, pare com isso, está todo mundo olhando — sua mãe o
repreende entre dentes. Não fui capaz de perceber sua presença, até agora.
— Eu te dei um aviso. E, pelo visto, não fui claro o suficiente. Não se
aproxime da minha mulher novamente, ou eu juro, não será um aviso que
receberá da próxima vez — Aron rosna baixinho, tentando controlar a sua
fúria.
Olho para ele confusa. Ele me deixa plantada, sozinha, à sua espera, e
provavelmente estava trepando com sua assistente e surta porque eu estava
dançando com o seu padrasto?
— Você está louco? — pergunto e recebo um olhar furioso dele.
— Conversaremos em casa. Agora vamos, essa festa acabou para
mim — sentencia e segura meu cotovelo, me arrastando discretamente.
Tento me soltar do seu agarre, mas é impossível.
— Filho, não faça isso. Está causando uma cena — sua mãe intervém
mais uma vez.
De soslaio, pude ver um burburinho se formando ao nosso redor.
— Não se meta! — advertiu.
Não deveria sentir pena dela depois daquele episódio com Beatrice,
mas não consigo deixar de sentir. Afinal, ela é mãe e está sendo maltratada
pelo filho. Aron intensifica seu aperto e sai andando comigo para a direção
oposta que viemos.
— Está me machucando — choramingo, sentindo seu aperto de aço
cavar a minha pele.
Ele para e respira profundamente, e novamente sua atitude me
confunde. Aron me envolve em seus braços e beija o topo da minha cabeça.
— Eu sinto muito! — sussurra, desarmando-me completamente.
Sinto seus lábios na minha têmpora, deslizando pelo maxilar e
cobrindo o meu pescoço. Ofego baixo, deixando-me levar pelo momento.
Segurando nas lapelas do seu terno, me aproximo dos seus lábios, mas sinto
uma fragrância diferente da sua, adocicada e demasiada enjoativa, o afasto
com um empurrão.
— Você é um desgraçado da pior espécie! — o acuso, correndo para
longe.
Aron não me deixa ir, segura novamente meu braço.
— Agora presumo que você é que está enlouquecendo.
— Não toque em mim — explodi.
— O que há como você? A segundos atrás parecia gostar de estar em
meus braços, no entanto, agora está agindo como uma cadela.
Ergo a palma da minha mão e Aron segura-a no ar, nos olhamos
fixamente. A raiva fervendo por nossos poros.
— Nunca mais faça isso — assevera com seus olhos frios como uma
geleira.
Aron solta-me do seu agarre e dá as costas, deixando-me para trás, o sigo em
silêncio até o seu Roadster, que estranhamente estava à nossa espera. Ele abre
a porta para mim e posso sentir a tensão emanando do seu corpo.
Durante o trajeto para casa, o vejo apertando o volante com força,
respirando pesadamente. Ao estacionar o carro, retiro o cinto e não espero
que ele abra a porta para mim. Retiro os saltos e corro apressadamente em
direção à casa. Quando alcanço a sala, sinto suas mãos em minha cintura.
— Não ouse fugir de mim, senhorita Renault. Não antes de
esclarecermos alguns pontos.
Ela se debate em meu braços e, com facilidade, consigo imobilizá-la. A noite
foi um total fracasso e suspeito que o convite era uma emboscada orquestrada
por Frank. Todos aqueles repórteres à minha espera, seu interesse repentino
por Zaina. Ele sabe que estou muito perto de desmascará-lo e mandá-lo para a
cadeia, e está desesperado, buscando uma brecha para revidar. Aquele verme
desprezível.
Fui claro ao alertá-lo para se manter longe de Zaina assim que teve a
audácia de questionar-me sobre a sua existência. E meu aviso parece não ter
surtido efeito.
— Aron! Me larga! — rosna, contorcendo-se em meus braços.
Seu cheiro aguçando os meus sentidos e despertando o desejo que
venho cultivando desde o primeiro dia que a vi.
Desfaço o coque elegante do seu cabelo e assisto aos seus fios negros
derramarem como cascatas por seus ombros. Seguro um punhado, arrastando-
o para o lado, tendo livre acesso ao seu pescoço macio. Lambo a extensão
dele e mordisco suavemente, provocando um suspiro dos seus lábios.
— N-ão me toque! — choraminga.
— É isso que você quer? — provoco-a, roçando minha língua no
lóbulo da sua orelha.
Aperto seu corpo contra o meu, esfregando minha bruta ereção na sua
bunda deliciosa. Zaina estremece em meus braços.
— S-im. Por que não procura a Cristine? — Se vira, fitando meus
olhos. Suas pupilas dilatadas selvagemente. Ela me deseja tanto quanto eu a
desejo.
Sorrio, segurando sua nuca.
— Cristine não me interessa, Zaina. Na verdade, nenhuma outra
mulher. Só você.
Sugo o seu lábio inferior. Ela se esquiva, levando o olhar para longe,
respirando descompassadamente.
— Eu o vi naquela noite com ela em seu escritório. — Bate no meu
peito, tentando me afastar.
— E pelo visto vocês dois acharam algum lugar naquela droga de
festa para uma rapidinha — acusa, cerrando os dentes.
Seguro seu queixo e a obrigo a olhar para mim.
— Não tive nada com Cristine. Naquela noite estava frustrado e com
um tesão incontrolável. Você me deixou assim, Zaina. Lembra? Então
Cristine chegou se oferecendo e, por um momento, era você na minha frente,
e não ela. Me deixei levar, mas não segui em frente. — Ela me olha e parece
cética. — Não falei com Cristine na festa. Nem sequer a vi. O perfume que
você sentiu era da minha mãe, ela me encurralou assim que viu o seu anel de
noivado. Ela a acusa de ser uma golpista. — Sorrio amargamente — Ela
devia atentar-se ao homem com quem divide a cama. Aquele, sim, é um
verdadeiro golpista. — Zaina permanece em silêncio, como se estivesse
processando o que acabei de falar. — Não preciso mentir, não para você. Eu
quero você, Zaina.
Seguro o seu vestido e, em um solavanco, o transformo em dois. Seus
lábios se abrem silenciosamente e seus olhos se ampliam em surpresa.
Ajoelho-me aos seus pés, distribuindo beijos pelo seu corpo delicioso. Traço
cada curva voluptuosa com a língua. Ela mergulha seus dedos se emaranhado
em meu cabelo.
Ergo o olhar e a vejo suspirando de olhos fechados. Escorrego minha
mão por sua fenda e percebo o quanto está molhada para mim. Rosno,
abocanhando seu sexo por cima da fina renda vermelha.
Sua aparência angelical desperta a fera que habita em mim. Sedenta,
voraz. Irei saboreá-la sem pressa, a deixarei relaxada para receber-me, por
mais que deseje corrompê-la, fodê-la intensamente, não quero machucá-la.
Com os dentes, rasgo a pequena peça do seu corpo, apoio uma perna
em meu ombro e chupo sua pequena boceta com força. Zaina grita,
sussurrando o meu nome. Seus sussurros e murmúrios aumentam, para o meu
deleite.
Mergulho minha língua dentro dela, arremetendo o quão profundo
consigo ir.
Suas unhas são impiedosas, causando dor no meu couro cabeludo e,
quando levo o polegar e massageio seu clitóris lentamente, Zaina começa a
convulsionar em meus braços. Minha intenção era deixá-la relaxada e pronta
para mim, mas, ao erguer o olhar e ver como está tão entregue ao prazer,
permito ir além, levando-a ao primeiro orgasmo da noite.
Sua deliciosa boceta se contrai na minha boca, desencadeando uma
onda avassaladora e quente.
— Aron… — Seu corpo tremer violentamente.
Zaina goza em minha boca, e delicio-me com o seu mel. Não vejo a
hora de prová-la ainda mais, enterrar-me dentro e saciar toda a fome que
cresce a cada minuto.
Com a respiração entrecortada, seu corpo desmorona sobre mim.
Levanto-me com ela em meus braços e sigo rumo ao seu quarto. Ela apenas
olha para mim em silêncio.
pupilas dilatadas, rosto corado. Uma bela pintura renascentista, eu
diria.
Zaina não tem noção do quanto é bonita, não importa em quais
circunstâncias. A levo para o seu quarto e repouso seu corpo nu sobre a cama.
Ela continua a fitar-me intensamente. Saboreio cada traço suave da sua pele
macia sem pressa. Tracejo com o polegar um seio com bico rosado,
completamente intumescido perante meu toque. Seus lábios se abrem
soltando um gemido sôfrego. Meu sangue começa a ferver à medida que a
toco. Seguro uma de suas mãos e inclino-me para capturar seus lábios. A
beijo urgentemente, deslizando sua mão para baixo, quero vê-la se dar prazer.
Me afasto, arrastando minha língua pelo seu maxilar e a encaro.
— Vou ensiná-la como se dar prazer, pequena fiore. Toque-se —
ordeno.
Ela me olha assustada e não se move e instintivamente dou o
primeiro passo. Uso seus dedos entrelaçados com os meus para massagear
sua doce bocetinha. Zaina arqueia o corpo fechando os olhos, reprimindo um
gemido que eu sei que viria. Intensifico os movimentos, provocando-a para a
beira do abismo.
— Grite o meu nome, querida — murmuro hipnotizado com cada
reação do seu corpo. — Grite o quão alto puder.
— Só assim me terá ido tão fundo, fodendo-a como você merece.
Mordo o lábio inferior, fechando os olhos, esfregando-me em nossos dedos
unidos sem pudor algum. Sinto a umidade se acumulando e o suor brotando
em minha testa. Quando minha visão fica turva e seu toque se intensifica,
Aron vence. Explodo com um grito estrangulado do fundo da garganta. Meu
corpo todo estremece violentamente e seu toque se afasta repentinamente.
Abro os olhos e ergo-me o suficiente para vê-lo se despindo com um
verdadeiro deus do sexo, com poderosos músculos, uma boca pecaminosa e
seu membro pulsando orgulhosamente.
Ofego com uma onda de excitação cobrindo todo o meu corpo. Ele se
abaixa e beija a ponta do meu dedo, deslizando para cima, deixando um beijo
de lábios abertos na minha panturrilha, e sobe, excitando-me ainda mais.
Seus lábios vão direto para a minha boceta que ainda pulsa ardentemente e a
lambe de cima a baixo. Fecho minhas pernas em torno da sua cabeça,
levantando levemente o quadril. Aron continua lambendo, espalhando os
lábios com os dedos, mordiscando o meu clitóris. Em seguida, ele se
aproxima com um sorriso predatório, se esgueirando pelo meu corpo. Encara
meus olhos por breves segundos e segura meu queixo, deixando um beijo
molhado e quase indecente. Sua língua explorava meus lábios, fazendo-me
sentir o meu próprio gosto.
Ele se ajeita entre minhas pernas e coloca um joelho, esfregando-o
com impetuosidade na minha boceta, causando uma sensação dolorosamente
boa com o nosso atrito.
Não consigo conter os sussurros e gemidos que escapam do fundo da
minha garganta.
— Aron… — Seu nome é como um doce martírio.
Ele respira pesadamente na minha orelha, em seguida, o sinto roçar a
cabeça do seu pau na minha entrada. Ele vai e vem tortuosamente. Meus
quadris parecem ganhar vida própria, pois acompanham seus movimentos.
— Foda-se! — rosna, enfurecido e, no seguinte segundo, com uma
brusca invasão, Aron desliza para dentro de mim.
Solto um grito agudo, sentindo-o preencher-me centímetro por
centímetro. Uma sensação agridoce. Aron para de se mexer e cola nossas
testas. Sua respiração vem em lufadas de ar densas.
— Shhi!! Desculpe, querida. Prometo que não a machucarei
novamente. A segunda vez será melhor, eu prometo — sussurra, começando
a se mexer.
Lágrimas escorrem dos meus olhos, e ele as lambe pacientemente. A
dor que antes me dilacerava por dentro, aos poucos, vai se dissipando como
poeira ao vento. E, no lugar de choramingos e dores inoportunas, gemidos e
sussurros roucos preenchem o quarto. Arranho suas costas, cravando as
minhas unhas afiadas em sua pele. Isso parece estimulá-lo, pois Aron entra
mais fundo, gritando o meu nome, rugindo de prazer.
Mais alguns segundos eu chego no meu orgasmo, sendo rapidamente
acompanhada por ele. Aron continua a estocar, provocando outra onda de
excitação, deixando-me esgotada e entorpecida de prazer. Aos poucos, o
quarto começa a perder o foco e a escuridão envolve-me com um manto.
No dia seguinte, acordo me sentindo cansada e dolorida. O lado
esquerdo da cama está totalmente vazio e é quando me levanto e percebo uma
grande mancha de sangue sobre as cobertas.
Droga!
Arranco-as da cama e corro em direção ao banheiro para tentar lavar.
Abro a torneira sobre o tecido grosso e começo a esfregá-lo. Solto um
ruidoso suspiro e fecho os olhos lembrando da noite anterior, meu corpo
queima só de pensar em tudo que fizemos e há um gosto de quero mais na
minha boca. Mas tudo isso cai por terra quando me lembro que ele me
comprou e que sequer esperou até a hora de eu acordar para ir embora como
um verdadeiro cafajeste.
Saio das minhas lembranças com Beatrice batendo na porta do
banheiro. Desligo a torneira, enxugo minhas mãos e ando em direção à porta
para abri-la.
Encontro-a com o sorriso brilhante e amável de sempre; olhando para
seu rosto nesse momento, tenho novamente a leve sensação de que ela me
lembra alguém. Ela olha para mim com os lábios apertados em uma linha fina
e desvia o olhar para longe. Percebo certo choque neles, que logo é
substituído por uma compreensão. Ela começa a falar casualmente e entra no
banheiro, quando lembro-me o que poderá encontrar lá, congelo. Ando até
ela, mas é tarde demais, pois a vejo simplesmente parada em frente à pia,
olhando para baixo. Beatrice parece pensar em algo.
— Ok! Isso é muito constrangedor — murmuro com uma risada
nervosa.
Ela olha para mim e simplesmente sorri. O que, de certa forma,
minimiza o meu constrangimento.
— Não se preocupe com isso, bella, mandarei para a lavadeira. —
Suspiro. Ela anda até mim e acaricia a minha face. — Aos poucos, tudo vai
fazer sentido. — Franzo o cenho e ela retira o seu toque. — Aron é um bom
homem, eu o criei. Se permitir, ele mostrará uma face que nenhuma outra
mulher conheceu.
Fico em silêncio, uma parte de mim adorando ouvir, porém, a outra
parte odiando que mesmo sem querer admitir que eu quero que ele me mostre
essa outra face, assim como todas as outras. O que esse homem fez comigo?
Mas tarde, naquele mesmo dia, ele não apareceu para o almoço, nem
para o jantar, mas mandou o motorista entregar-me um pequeno embrulho
com uma pílula do dia seguinte. Não usamos proteção, o que me leva a
pensar o quão insana eu fui, por mais que Madame nos obrigue a tomar pílula
e sempre fazer exames constatando nossa perfeita saúde. Beatrice informa
que Aron teve problemas na empresa, por isso, o desaparecimento.
Passei o dia inquieta, expectante, com pensamentos promíscuos. E
Aron fazia parte de todos eles. Fiquei muito tempo acordada, esperando
qualquer sinal seu, e esse ritual se seguiu por dois dias, me fazendo chegar à
conclusão de que ele está, por algum motivo, evitando-me.
No meio da madrugada, sou acordada por um pequeno barulho. Abro
os olhos lentamente e deparo-me com Aron sentando na beirada da cama ao
meu lado, acariciando a minha face. Seus olhos completamente frios e, ao
mesmo tempo, intensos. Seu toque despertando cada célula do meu corpo.
Sinto minha pulsação acelerar à medida que sua mão desliza para baixo. Ele
se inclina o suficiente para beijar a minha boca, de forma intensa, urgente e
dolorosa. Sua barba por fazer arranhando minha pele, meus lábios
formigando com sua invasão bruta. Seus dedos vão tracejando minha pele,
encontrando nenhum tecido ou qualquer impedimento que seja. Sinto um
pequeno sorriso em seus lábios e a doce invasão dos seus dedos. Agarro-me
em sua nuca, respirando e gemendo em sua boca. Molhada e completamente
entregue a ele, Aron desiste de torturar-me, ergue-se retirando a única peça
que havia no seu corpo, um roupão branco, e deita-se sobre mim, colocando
um travesseiro embaixo do meu quadril, levando uma perna para enlaçá-lo.
Em seguida, segura meus pulsos, levando-os para cima das nossas cabeças e,
com um poderoso rosnado, entra em mim.
Ofego, sentindo cada terminação nervosa do meu corpo se agitar e foi
como Aron disse. A segunda vez não houve dor, somente prazer. Foi uma
verdadeira queima de fogos. Um prazer avassalador e completamente
viciante.
Passeio pelo imenso jardim, completamente seduzida pelo cheiro das flores,
curtindo a brisa suave acariciar a minha pele. Começo a pensar que viver em
uma mansão como essa não é de todo mal. Continuo andando distraidamente
em volta da piscina, mais à frente, passando por uma academia e, por último,
encontro um espaço bem aconchegante. Uma área de descanso, constituída
por uma pequena cobertura e quatro colunas. Possui algumas chaises
arredondadas sobre o piso e outras suspensas no ar. Deito-me em uma delas e
fecho os olhos, refletindo sobre a confusão que está a minha vida. Como
Aron conseguiu facilmente derrubar todas as barreiras que eu construí para
me proteger.
Conforme os dias vão passando, percebo-o cada vez mais distante.
Aron permanece o dia todo na empresa e só retorna à noite. No meio da
madrugada, age como um caçador faminto e anda até o meu quarto, me
fazendo sentir coisas que eu jamais pensei que sentiria na vida.
Um barulho vindo do portão é o suficiente para tirar-me dos meus
devaneios. Avisto um dos carros de Aron, a BMW, se aproximando com uma
quantidade inacreditável de perfurações à bala na lataria e nos vidros
estilhaçados.
Entro em pânico e levanto-me em um rompante. Axel abre a porta de
trás e Aron marcha para fora com cara de poucos amigos. Percebo que seu
ombro está ferido, mas isso não é o suficiente para aplacar a fúria que emana
do seu corpo. Ele está praticamente cuspindo fogo.
A equipe de segurança está toda em pé, parada em fila diante dele e,
pela sua expressão furiosa, colhendo um sermão daqueles. Observo-o
perguntar algo a um deles e logo seus olhos vagueiam pelo jardim, como se
tivesse procurando algo, ou alguém.
Um par de olhos azuis cruéis encontram os meus e imediatamente ele
caminha até mim em passos firmes. Solto uma rápida respiração quando ele
para na minha frente e seus olhos afiados me estudam atentamente.
— Você está ferido. — Tento tocá-lo, mas ele se afasta apertando o
maxilar.
— Não é nada — diz de maneira rude, o que me deixa irritada. Fecho
as mãos em punho e olho para longe. Aron pega o meu queixo, obrigando-me
a olhar em seus olhos. — Vou perguntar só uma vez e quero que me responda
— murmura friamente, e me esquivo do seu toque de aço. — Saiu essa
manhã? — Nego, retirando sua mão do meu queixo.
— Para onde eu iria? — cuspo as palavras, andando para longe dele.
Aron não permite e segura meu braço, impedindo-me de sair.
— Você não é nenhuma prisioneira. Se desejar sair, estou de acordo.
Desde que seja acompanhada por mim, Beatrice ou um dos seguranças. Fui
claro? Aperto o maxilar com força, fulminando com o olhar.
— Como água! — rebato, empurrando para longe e escapando mais
uma vez do seu agarre.
Não entendo por que tanta paranoia da sua parte. Sinto que há algo
acontecendo, só isso explica sua atitude. Aron vive aborrecido, em alerta.
Continuo andando para longe, o ouvindo murmurar algo, mas não espero por
mais. Aron, com certeza, é bipolar, há momentos que me trata bem, outros de
maneira extremamente rude e grosseira. Não tenho paciência para os seus
joguinhos e, se ele pensa que serei alguma submissa que o bajula o tempo
todo, está muito enganado.
Encontro Beatrice no corredor com uma sacola de compras.
— Espere que não se importe, mas outro dia comentou comigo que
adora pintar, então eu mesma comprei algumas tintas, pincéis e telas brancas,
elas estão na cozinha.
Sorrio e a abraço, pegando-a desprevenida.
— Obrigada! Não aguentava mais ficar o dia todo sem fazer nada —
falo enquanto a sigo até a cozinha.
— Você poderia ir às compras, no salão ou até mesmo em um spa.
Essas coisas que vocês estão acostumadas.
Balanço a cabeça negando.
— Esse não é meu mundo, Beatrice, e eu não quero fazer parte dele.
Agacho-me, para pegar uma tela e levá-la para o meu quarto com o
restantes das sacolas. Ela assente como se entendesse o que eu digo. Peço
para levar as outras telas para o meu quarto e ansiosamente levo a primeira
para ser pintada.
Há anos não faço uma pintura e receio que tenha perdido a prática.
Passo o dia trancada no quarto pintando uma tela ou tentando pelo menos.
Beatrice ajudou-me a forrar boa parte do piso com jornais velhos para não
sujar, segundo ela, Aron teria um ataque.
Como desaparece durante o dia e só o vejo na penumbra da noite
quando entra no meu quarto apenas para foder e ir embora, não haverá
nenhum problema.
— Não sabia que pintava? — Assusto-me com sua voz atrás de mim
e sua respiração quente no meu pescoço.
Começo a guardar os materiais e pego uma toalha úmida e limpo
minhas mãos, em seguida, viro-me para ele.
— Posso ajudá-lo, senhor? — falo, observando seus olhos azuis
brilharem irritação.
Ele se aproxima de mim vagarosamente e desliza para baixo uma fina
alça da minha camisola amarela. Meu seio direito fica exposto e ele se inclina
para capturá-lo na boca. Começa a sugá-lo e a brincar com o mamilo
enrijecido. Respiro profundamente, reprimindo o meu corpo de ter uma
reação sequer. Cansei dos seus jogos. Some o dia inteiro, só me procura no
meio da madrugada, como se fosse um pedaço de carne e, quando consegue o
que quer, desaparece novamente.
— O que há? — pergunta irritado, se afastando.
Olho para ele, levantando a alça da minha camisola e colocando-a no
lugar.
— Nada!
Ele segura o meu queixo e beija meus lábios rudemente. Não
correspondo ao seu beijo, o que o deixa enfurecido.
— Por que não corresponde, porra? Você é minha! Eu te comprei! —
Segura firme na minha nuca e me desvencilho do seu aperto.
— Não toque em mim! — rosno com o dedo trêmulo em riste na sua
direção.
Aron arregala os olhos e respira fundo, dando um passo para frente.
— Não! — rosno para ele que cessa os seus passos.
— Fiore… — começa a falar, mas eu o interrompo.
— Não me chame assim! Você me comprou. Comprou o meu corpo,
mas nunca será o meu dono, entendeu? — digo entredentes. — Saia! — grito
para ele, que fecha os olhos e mantém o maxilar cerrado.
Aron abre os olhos e fita os meus de maneira ardente, em seguida, dá
as costas e vai embora.
Estou aborrecida demais e perco totalmente a vontade de continuar
pintando, então resolvo tomar um banho e comer algo na cozinha. Beatrice
deve ter deixado algo para comer mais tarde, como de costume.
À noite, a mansão de Aron parece um mausoléu. Luxuosa, silenciosa,
com um toque de melancolia. Caminho em passos silenciosos indo em
direção à cozinha e me farto de uma fatia de bolo de laranja e um copo morno
de leite. Quando estou retornando para o meu quarto, ouço um pequeno ruído
do lado de fora, precisamente na área da piscina.
Ando vagarosamente em direção à grande porta de vidro que dá
acesso à piscina, e vejo que, embaixo da densa cascata iluminada suavemente
está, Aron, de olhos fechados, com fios de água escorrendo por todo o seu
corpo. Solto um suspiro involuntário, sentindo meu corpo estremecer.
Necessidade e urgência. Foi o que essa visão despertou em mim.
Ele abre os olhos e passa as mãos pelos seus fios loiros
completamente molhados e vejo quando seus lábios se entreabrem
silenciosamente.
Aron é um homem magnífico, tem uma beleza que chega a ser cruel.
Não imaginei que chegaria tão longe entregando-me para ele, mas era algo
inevitável. Seria adiar o inadiável. E não serei hipócrita de não admitir que
gostei de cada segundo que passei em seus braços.
De repente sinto minha boca seca e lambo os lábios, e novamente
meus olhos voam para ele embaixo daquela cascata. Seus músculos se
contraem a cada movimento, fazendo-me lembrar o quão bem me senti
debaixo dele.
Um rubor quente se espalha pelo meu rosto quando sou pega o
admirando. Seus olhos, mesmo sob a baixa iluminação, são como duas
safiras, brilhantes, seduzentes. Um rasteiro e perigoso sorriso se espalha por
seus lábios e é o suficiente para voltar a realidade. Aron tem consciência do
efeito que tem sobre mim e não se importa de usá-lo a seu favor sempre que
for conveniente.
Desvio o meu olhar para longe e retorno para o meu quarto. Não ouso
dar uma última espiada, sei que poderia facilmente deixar-me levar pelo
charme do implacável Aron Maldonado.
— Está passando muito tempo na empresa, saindo tarde. O que foi? Já se
cansou da noivinha? — Cristine murmura, colocando uma pilha de papéis em
cima da minha mesa.
Fecho o meu laptop e ergo o meu olhar e, com certeza, não é dos
melhores.
— Não é da sua conta. Se isso é tudo… — Aponto para porta com
um gesto de cabeça.
— Talvez… — sussurra e contorna a mesa, deslizando o indicador
pela madeira nobre, em seguida, com um pé, empurra minha cadeira,
afastando-a suavemente.
Cristine se inclina, passando as mãos pelos meus ombros,
praticamente roçando seus seios na minha face. Seguro suas mãos e as coloco
de cada lado do seu corpo.
— Se não parar de bancar a vadia, serei obrigado a demiti-la — digo
secamente, e ela se afasta com os olhos arregalados.
— O que aquela mulher fez com você, Aron? Sempre teve suas
aventuras e nunca me importei, achava até excitante, porque era comigo que
você acabava no final da noite.
Balanço a cabeça e gentilmente a empurro para a outra extremidade
da mesa. Esfrego o rosto, sentindo o seu olhar raivoso em cima de mim.
— Cristine, não me obrigue a ser grosseiro novamente. E exijo que
respeite a minha noiva. Zaina, em alguns meses, será a minha esposa,
aconselho que se acostume com isso logo de uma vez.
Cristine aperta o maxilar com força e derruba algumas coisas que
havia em cima da mesa num acesso de fúria.
— Espero que não se arrependa, Aron — diz amargamente e marcha
para fora.
— Não irei! — respondo, fechando os olhos e massageando minhas
têmporas.
O tempo todo minha mente é assombrada por ela. Zaina se tornou o
meu pior pesadelo. Julguei que a minha obsessão cessaria após tê-la em meus
braços, cometi um terrível engano. Tornei-me ainda mais obcecado por ela,
como um verdadeiro viciado. A verdade é que não consigo disfarçar que a
minha necessidade ultrapassou todos os limites aceitáveis, e não posso
continuar dessa forma, sem ter o controle da situação.
Preciso disso. Controle.
Contudo, não sei se posso mesmo confiar nela, afinal, é uma
desconhecida e pode muito bem estar se fingindo de inocente para seduzir-me
e dar o golpe a mando de alguém, para quem eu posso imaginar. Inclino o
suficiente para abrir a gaveta e pegar o bilhete anônimo que recebi.
“Cuidado com a beleza que enche os teus olhos, ela pode te destruir.
Sua noiva não é o que diz ser”.
Amasso o bilhete com força e o jogo dentro da lixeira. Recuso-me a
acreditar que aquela mulher que se entregou para mim esteja fingindo esse
tempo todo. Ela não pode ser tão ardilosa a esse ponto.
Solto um suspiro profundo sem saber o que pensar. Se eu fechar os
olhos, posso sentir seu cheiro, o gosto delicioso da sua pele de seda, até
mesmo ouvir os teus gemidos e sussurros doces. Soco a mesa com força, só
uma dor profunda me fará parar de pensar como um tolo apaixonado. Pego o
telefone com a intenção de ligar para Ricardo. Passei por um atentado, agora
esse bilhete anônimo. Não posso ficar com essa dúvida corroendo-me por
dentro, preciso saber tudo sobre ela. Sua origem, quem são seus pais, o que a
levou àquele leilão. Já deveria ter feito isso desde o princípio e assusto-me
em perceber que esse tempo todo entorpecido por sua beleza não havia
pensado nisso. Talvez Ricardo tenha razão, manter Zaina perto não seja uma
atitude inteligente. Pode ser perigoso principalmente para a minha sanidade.
Não posso ser cético e não ligar os pontos que, desde que a comprei,
as coisas se tornaram difíceis. E se ela estiver trabalhando para Frank,
envolvida numa tramoia para roubar o meu dinheiro e o comando das
Indústrias Maldonado?
Levanto-me e caminho para o minibar que mantenho na minha sala.
Sirvo-me de uma boa dose de uísque e depois outra, então decido não esperar
mais. Com o celular em punho, disco para a única pessoa que eu confio.
No primeiro toque, ele me atende com a saudação cordial de sempre.
— Quero que investigue Zaina para mim. Descubra o máximo de
informações que puder. Preciso saber com quem estou lidando.
Apresentando estar ligeiramente surpreso, Ricardo imediatamente
afirma que começará com a investigação e diz que, se Zaina realmente estiver
ajudando Frank, ele irá descobrir, após recomendar algumas dicas de como
prosseguir daqui para frente, ele se despede e desliga. Alcanço o meu terno
sobre minha cadeira e decido retornar para casa. Por mais que a desconfiança
cresça como um buraco negro dentro de mim, sinto uma necessidade
assustadora de estar perto dela. Já não sei em quem confiar.
Zaina se tornou um fruto proibido, sei que uma mordida pode ser
letal, mas não há maneira que eu consiga resistir a ela.
Dizem que, quando nos encontramos em nossa própria solidão, a inspiração
se eleva e se torna ainda mais aguçada. Ultimamente a pintura tem sido o
meu único refúgio.
Aron é um constante enigma distorcido e completamente confuso.
Aquele homem tem o poder de bloquear qualquer ação que eu tente para
aproximar-me, mas, ao mesmo tempo, queima-me com sua intensidade voraz,
fazendo ansiá-lo desesperadamente.
Concentro-me no contorno do desenho que estou cuidadosamente
pintado há dias. Lembro-me com exatidão o dia em que minha mãe levou-me
ao teatro pela primeira vez.
— Está a cada dia melhor — Aron surpreende-me sussurrando no
meu ouvido, como sempre, tão silencioso que não o vi chegar. Tento esboçar
o máximo de indiferença, mas, ao julgar pelo sorriso perverso em sua face,
falhei miseravelmente.
Como permaneço em silêncio, ele se afasta olhando atentamente o
desenho, em seguida, anda para longe, em direção à mansão. Fecho os olhos
e solto uma pequena respiração trêmula. Abro os olhos e fito a imagem
recém-pintada na tela. Seus olhos negros são como eu me lembrava e o seu
sorriso doce me enche de saudade.
Retorno para dar o acabamento a pintura e percebo que preciso de
mais tinta e dessa vez eu mesmo quero comprá-las. Olho para a mansão
imaginando ter que pedir autorização ao senhor Maldonado para sair e
comprar tintas. Retiro o meu avental, limpo-me, andando em direção à
mansão, disposta a engolir o meu orgulho e pedir a sua autorização.
Encontro Beatrice no caminho e pergunto sobre o paradeiro de Aron.
— Está no escritório, bella. Há algo em que possa ajudá-la?
Nego com um sorriso.
— Obrigada, Beatrice, mas preciso mesmo falar com Aron.
Subo as escadas sentindo um leve tremor nas minhas mãos. Não
tenho certeza se quero realmente ficar sozinha com ele no seu escritório.
Estou beirando o limiar do que é certo ou errado. E pouco a pouco toda
aquela resistência que havia lutado tanto para manter a minha sanidade
intacta já não existe mais. Entre quatro paredes, não conversamos, deixamos
que nossos corpos famintos falem por nós, mas o desejo se aliou a outro
sentimento, e esse está levando a melhor. Por mais que eu resista, a paixão
está se tornando incontrolável.
Bato na porta do escritório e recebo o silêncio em resposta, tento
outra vez e o mesmo silêncio se estende. Não quero recuar e perder a
coragem, alcanço a maçaneta da porta e lentamente a abro. Hesitante, entro, e
não o encontro, sua mesa está vazia. Aproveito para olhar em volta,
observando sua extensa estante de livros. O toque sombrio dos papéis de
paredes pretos, a estante talhada em um mogno escuro, pesadas cortinas da
mesma tonalidade, bordadas em fios de ouro.
Sua cadeira preta de couro exala poder como seu próprio o dono.
Tem a sua energia, emana altivez. Sento-me nela e cruzo as pernas, tendo
uma sensação única, talvez seja assim que Aron se sente quando está sentado
nela. Poder, controle. Ele está no comando.
Corro um dedo por sua mesa brilhante e organizada. Noto que a
madeira nobre brilha e posso ver o meu rosto refletido nela. Minha mãe
sempre me dizia que eu tinha muita curiosidade e, movida a esse sentimento,
abro uma por uma de suas gavetas. Na primeira, encontro um relógio de
bolso de ouro antigo com um M gravado. Na segunda, alguns papéis e pastas;
a terceira e última possui uma fechadura, mas não está trancada, o que me
deixa satisfeita em abri-la. Solto a fechadura rapidamente quando vejo o que
há nela.
Uma pistola. A última vez que vi uma foi a muito tempo atrás, no
escritório do meu pai. Parece que ele e Aron têm um ponto em comum, além
do fato de tratar-me como um negócio.
— Está procurando alguma coisa, pequena curiosa? — Levanto-me
em um rompante. Discretamente fecho a gaveta e ando de volta para a porta.
Aron entra no meu caminho e observo que saiu do banho
recentemente. Seus fios loiros ainda estão úmidos e sua imagem revela o
frescor após o banho. Silenciosamente ele desliza o indicador pelo meu
pescoço com uma respiração profunda.
— Está procurando alguma coisa específica no meu escritório,
senhorita Renault? — replica novamente, sua voz é cortante, assim como sua
pergunta. — Aron deixa o seu indicador descansando em cima da minha veia
pulsante e se aproxima, roçando seus lábios na minha orelha. — Me diga,
Zaina, por que eu te deixo nervosa? — Empurra-me gentilmente sobre sua
mesa.
Prendendo-me com seus braços fortes, uma mão de cada lado,
apoiadas sobre a mesa, seu corpo a um centímetro de distância do meu. Seus
lábios passeando levemente no meu maxilar, sua barba roçando em círculos a
minha pele, aumentando meu desejo por ele. Solto um pequeno gemido, e
Aron cola seu corpo no meu, esfregando sua ereção, me fazendo sentir o quão
duro ele está. Espalmo minhas mãos no seu peito e deslizo por todos os seus
músculos rígidos com o olhar cravado no seu. Seus olhos azuis queimam
como uma fogueira. Em um movimento rápido, ele segura meus pulsos e gira
meu corpo, mantendo minhas costas coladas no seu peito.
— Você é um perigo, minha fiore — sussurra com a voz rouca,
andando comigo presa no seu agarre, contornando a sua mesa. — Eu não
posso cair nos seus encantos e muito menos deixar-me levar por esse rostinho
angelical. — Ele inclina o meu corpo contra a mesa e segura um punhado do
meu cabelo, puxando-o firmemente. — Esse cheiro… — rosna, mordiscando
o meu pescoço, lambendo a minha pele, fazendo-me gemer, e contorcer,
esperando por mais.
Soltando o meu cabelo, sua mão viaja pelo meu corpo apertando cada
pedaço dele. Nossas respirações seguem pesadas, compondo um som
completamente erótico dentro da sua sala sombria. Aron eleva meu vestido
para cima e coloca minha calcinha para o lado, massageando meu ponto
pulsante.
— Está pingando por mim, pequena deliciosa. Essa bocetinha
apertada está louca para me ter dentro dela.
Insere um dedo cuidadosamente, arqueio jogando a cabeça para trás.
Ele começa a foder-me com o dedo e logo introduz outro. Reviro os olhos,
sucumbindo aos seus toques, surfando no meu clímax que não demora para
vir com uma poderosa onda.
Gemo desesperadamente, gritando o seu nome. Aron continua a
pressionar o meu corpo contra a mesa, mas cessa o seu toque. Ouço o barulho
do seu zíper se abrindo, e não demora muito, estou sendo preenchida pelo seu
pau maravilhoso.
— Essa doce boceta me pertence, Zaina Renault, assim como você.
Estoca forte, me fazendo levantar os pés do chão. Aron levanta meu
joelho esquerdo e continua deslizando fundo em mim, provocando tremores
incansáveis no meu corpo. Ele é implacável e seus golpes são duros,
tortuosos e, quando sinto que estou à beira do abismo, ele sai de dentro de
mim e se senta na cadeira, em seguida, me puxa para o seu colo, para montá-
lo com uma perna de cada lado, fazendo-me descer lentamente pelo seu pau
inchado até estar totalmente empalada por ele.
Solto um longo gemido, e Aron rosna, rasgando em dois o meu
vestido. Seus lábios pecaminosos estão nos meus seios, sugando-os como se
sua vida dependesse disso e com a mão no meu quadril dita cada movimento
meu. Começo a cavalgá-lo, quase derretendo em seus braços. Sinto-me
maravilhosamente bem, pela primeira vez comandando as minhas ações e,
mesmo não tendo experiência, fico satisfeita com as sensações que estou a
provocar nele. Aron fecha os olhos e cerra o maxilar, cavando seus dedos na
minha pele, arfando com um poderoso leão faminto, o rei da selva. Rebolo
lentamente e esse simples movimento parece tê-lo enviado ao limite, pois
seus olhos azuis estão dilatados e fixos nos meus e, com um som gutural, ele
me envolve em seus braços, encontrando os meus movimentos, aumentamos
a velocidade, ambos em busca de algo maior, o nosso prêmio, nossa
libertação.
— Aron... — Não consigo parar de gemer assim que meu orgasmo
me atinge violentamente.
Solto pequenas respirações lentas, sentindo o prazer ondular pelo
meu corpo, e Aron não é indiferente, grunhindo ferozmente, ele se derrama
em mim, segurando meus ombros, puxando-me para baixo, me fazendo sentir
cada gota do seu jato morno explodir dentro de mim. Ficamos entrelaçados,
dessa vez, sem pressa alguma. Afasto-me minimamente, olhando para sua
face. Aron faz o mesmo e toca suavemente minha bochecha.
— Você colocou uma venda nos meus olhos — confessa, olhando-me
de um jeito estranho — e agora não consigo enxergar mais nada além de
você.
Arregalo os olhos, surpreendida por sua confissão. Aron nunca
mostrou nenhuma vulnerabilidade, sempre esteve no comando, e não aceitou
nada menos que isso, no entanto, olhando para mim, vejo um homem comum
tentando abrir o seu coração.
Ainda surpreendida pela sua confissão, aproximo-me e beijo seus
lábios suavemente e, aos poucos, o nosso beijo elevou-se a patamares
incalculáveis, beirando ao limite da paixão pura e avassaladora.
Olho fixamente o meu reflexo no espelho relembrando todos os momentos da
noite anterior. Aron estava diferente, não sei explicar, a maneira que nos
conectamos foi enlouquecedor. Fizemos muito mais que sexo. Ele mostrou
uma face sua com a qual não estava habituada. Doce, gentil, mas com a
mesma intensidade voraz e insaciável de sempre. Sua marca registrada.
— Estou sentindo a senhorita um pouco distante — Beatrice, sussurra
deslizando a escova pelos meus fios negros.
Olho para ela com um suspiro.
— Beatrice, você trabalha aqui há muito tempo?
Ela olha para mim e observo que ficou desconfortável com minha
pergunta.
— Sim. Desde quando o pai do Aron era vivo.
Assinto, pego a escova das suas mãos e viro-me para ela.
— Então você ajudou a criá-lo eu presumo.
Ela assente lentamente, desviando o olhar para longe.
— Há algum motivo para Aron não ter uma boa relação com a mãe?
Conhecendo-a naquele dia, posso imaginar o quão difícil foi crescer com uma
mulher como aquela, mas, mesmo assim, é a mãe dele, não é?
Beatrice nega e se vira, dando as costas.
— Loreta não é uma má pessoa, signorina. Ela só tem uma
personalidade forte. Aron ama a mãe.
Reviro os olhos, levantando-me.
— Não foi o que pareceu.
— Mas é a verdade. Eles só vivem em pé de guerra porque, após a
morte do pai, Loreta assumiu um relacionamento com o senhor Frank, o pai
de Aron o considerava como melhor amigo, além de ser um sócio nas
indústrias Maldonado. Aron não encarou bem isso e, para ele, sua mãe e
Frank traíram o seu pai. — Beatrice parece desolada e balança a cabeça
negando. — Mal sabe ele que Loreta sempre foi a vítima da história —
murmura baixinho, e ando até ela tocando seu ombro.
— O que disse, Beatrice?
Ela se afasta do meu toque, franzindo o cenho.
— Eu… não é nada, signorina. Por favor, esqueça isso. Eu sou só a
governanta, não fica bem ficar falando da vida dos meus patrões. — Assinto
e imediatamente peço desculpas. Beatrice está certa, não fica bem interrogá-
la por assuntos que não nos dizem respeito. — Se isso é tudo… Eu peço
licença.
Ela sai apressadamente como se sua roupa estivesse em chamas.
Estranho!
Ando vagarosamente até a janela e vejo quando o carro de Aron
chega. Imediatamente sinto meu coração pulsar forte no peito e um arrepio
quente percorrer todo o meu corpo. O que diabos há comigo? Estou
parecendo uma adolescente apaixonada que fica a suspirar pelos cantos.
Meus lábios se curvam lentamente quando ouço a porta se abrir.
Embora tenha passos silenciosos como de um puma, posso senti-lo chegar a
qualquer momento. Seu cheiro é inconfundível.
— Fiore… — sussurra tomando-me em seus braços.
Aron raspa sua barba rala na minha pele afundando o nariz na curva
do meu pescoço.
Inclino-me, dando-lhe passagem. Meus lábios se entreabrem
suavemente adorando cada sensação. Não imaginava que estar nos braços de
um homem tão dominante como ele seria algo tão bom.
— A levarei para jantar hoje à noite. Fale com Beatrice e peça para
ela ligar para a equipe de cabeleireiro e maquiadores do outro dia. Não se
preocupe com nada.
Viro para ele e enlaço o seu pescoço, admirando o azul profundo dos
seus olhos.
— Não precisa. Eu posso me arrumar sozinha — digo com um
sorriso. — Eu até prefiro.
Aron assente e se aproxima, posso sentir sua dureza roçando minha
barriga. Não consigo disfarçar o meu desejo, ele crepita entre nós, assim com
suas intenções. Ele quer levar-me à borda, provocando em pequenas doses.
Quer me ver implorando por ele.
Com um sorriso arrogante, ele anda para longe, deixando-me
frustrada e querendo mais dos seus toques.
— Às sete! — lembra-me por cima do ombro.
Caminho até a cama e desabo contra ela. Meu corpo em chamas,
desejando estar entrelaçado com o seu.
Faltando alguns minutos para as sete, termino de me arrumar,
aprovando totalmente o resultado que eu vejo diante do espelho. Fios soltos
pelos ombros caídos como cascatas com uma pequena presilha segurando
numa grossa mecha lateral. Uma leve maquiagem, lábios marcantes em um
tom vibrante de vermelho, vestido longo branco, com um pequeno decote nos
seios, um par de saltos pretos, uma pequena clutch azul-celeste, combinando
perfeitamente com a cor dos olhos de certo cavalheiro.
Olho para as mais variadas coleções de brincos e colares e decido
colocar um pequeno par de brincos de diamantes. É super discreto e delicado,
é perfeito. Borrifo algumas gotas do meu perfume e já sinto-me pronta para o
que seja essa noite.
Ouço uma leve batida na porta e puxo uma longa respiração, de
repente sinto-me nervosa como nunca. Sussurro que entre, e Aron aparece no
limiar da porta lindíssimo em um terno e gravata de cor carvão. Ele anda em
passos firmes em minha direção, seu olhar devorando cada centímetro do
meu corpo. Fecho os olhos quase instantaneamente quando seu cheiro
delicioso me atinge.
— Podemos desistir de sair e ficar trancados aqui, juro, não iria me
importar — diz com um sorriso malicioso, correndo um dedo pela minha
jugular.
Aron sorri de forma relaxada, nunca o vi tão sorridente. E me vejo
espelhando o seu sorriso. É sempre tão sério, frio, até mesmo distante. Uma
inquietação se faz presente no meu peito e gostaria de eternizar esse
momento. Não quero me agarrar a falsas esperanças, mas, se o poderoso
bilionário Aron Maldonado se cansar de mim, pelo menos terei essa doce
lembrança. A noite em que vi um sorriso sincero dele e que eu fui o motivo.
— Adoraria. Mas devo confessar que despertou a minha curiosidade.
Onde vamos?
Ele olha para mim com um olhar inelegível.
— Ao meu iate.
Mordo o lado interno da bochecha, adorando a ideia. Ao menos no
iate não vou ter que socializar com ninguém e muito menos aguentar a
imprensa e suas perguntas indiscretas pelo simples fato de estar em sua
companhia e usar um valiosíssimo anel de noivado.
— Não gostou da ideia? — Contorna meus lábios.
Pisco lentamente, hipnotizada pelo seu toque.
— Sim. Será interessante — pontuo, afastando-me do seu toque.
— Teremos a noite inteira e dessa vez quero lhe ensinar algumas
lições, senhorita Renault — murmura com um sorriso insolente, espalmando
suas mãos quentes de forma possessiva na base da minha coluna.
— Serei uma aluna exemplar — digo em um sussurro baixo,
carregado de desejo.
— Estou contando com isso — Aron responde, pressionando os
lábios contra a curvatura do meu pescoço, me fazendo desejá-lo ainda mais.
Ao som de um jazz suave, seguimos no Roadster, com Aron no
volante. Sua aparência máscula e dominante, é como um afrodisíaco para
mim. Mordo o lábio inferior, desviando o olhar das suas mãos grandes,
relembrando quais sensações elas provocam em contato com minha pele.
Ouço sua risada baixa poderosamente rouca e coro, balançando a
cabeça. É tão estranho estar assim como ele, como se esse fosse nosso
primeiro encontro, no qual estivéssemos nos conhecendo pela primeira vez.
Ele estaciona em frente ao píer, onde um luxuoso iate como o seu
sobrenome estava ancorado. Aron sai e contorna o carro, abrindo a porta e
ajudando-me a descer. Ele sorri sensualmente, conduzindo-me para a
embarcação. Fico impressionada com cada detalhe, tudo tão lindo e de ótimo
gosto.
Já havia uma mesa posta para duas pessoas nos esperando, com um
arranjo de rosas no centro, velas e um balde com champanhe no gelo. Viro-
me para Aron com um olhar assustado.
— Você fez tudo isso? Por quê? — perguntei suavemente.
Ele apenas deu de ombros, segurando minhas mãos e levando-as em
direção aos lábios, deixando um beijo casto. Alcança uma rosa do arranjo e
estende para mim com os olhos brilhando, transbordando luxúria.
— Você faz muitas perguntas, minha fiore — sussurra me trazendo
para seus braços.
Aron beija meus lábios, e eu cedo contra ele, esquecendo qualquer
dúvida ou pergunta que seja nesse momento. Há coisas melhores para me
preocupar.
Ele se afasta e puxa a cadeira para me sentar, em seguida, faz o
mesmo. Com toda elegância, abre o champanhe e nos serve. Olho para a
minha taça e, em um segundo, me perco no mar atordoante que são as minhas
memórias passadas. Relembro como meu pai e minha mãe adoravam se
reunir e comemorar qualquer coisa que fosse com champanhe. Tudo era
motivo para uma pequena comemoração. Um saudoso sorriso surge nos meus
lábios quando lembro-me de ver meus pais dançando valsa, completamente
sorridentes, rodopiando pela sala.
— Memória feliz?
Levo a taça aos lábios, saboreando o champanhe.
— Nostálgica é a palavra. — Aron se inclina sobre a mesa e parece
genuinamente interessado. — Me lembrei de uma época feliz da minha vida.
Uma em que meu pai e minha mãe eram um só. — Suspiro.
— O que aconteceu com os seus pais, Zaina? Quer dizer, você é uma
mulher linda, culta, elegante. Como foi parar naquele lugar? Eu… não
entendo. — O sorriso que ostentava nos meus lábios desaparece e sinto um
frio na espinha só de relembrar tudo que eu passei assim que completei vinte
anos. Desvio o olhar e sinto o seu polegar capturar o meu queixo lentamente.
— Alguém te forçou? Estava trabalhando para algum poderoso?
Nego, encarando o seu olhar enigmático.
— Eu não quero tocar nesse assunto agora. Não me sinto preparada.
— Ofego com um suspiro triste.
Ele apenas assente com um silêncio ensurdecedor, e amaldiçoou-me
mentalmente por estragar o clima agradável que estávamos a minutos antes.
Com um sútil estalar de dedos, um garçom com uma expressão séria
vem e nos serve. Ele abre ambas as bandejas, permitindo que o aroma
delicioso se estenda pelo ar. Respiro profundamente com água na boca. Tudo
parece uma delícia.
— Aligot com lagosta — anunciou com os olhos em mim.
Lambo os lábios e seu olhar acompanha o movimento, ele sequer
disfarça sua fome violenta, deixa transparecer nos mínimos detalhes.
— A sobremesa ficará por sua conta. — Engulo em seco. Sua
sugestão descarada batendo fortemente no meu sexo, que já se encontra
molhado. Aron cobriu minhas mãos com um olhar intenso. — Você é a
mulher mais bonita que eu conheci, Zaina. Quero que saiba disso.
Segurei o seu olhar, mais uma vez surpreendida. Se ele está tentando
seduzir-me, está fazendo um ótimo trabalho. Já não existe resistência da
minha parte, cada centímetro de mim que abraçá-lo e não mais sair dos seus
braços. Continuamos o jantar trocando muito mais que carícias, Aron
definitivamente estava diferente, e eu estava disposta a aproveitar isso.
— Sua mãe… vocês…
Ele respirou fundo e balançou a cabeça.
— Não acho que é um assunto que valha a pena falarmos.
Abro e fecho a boca, por fim, decido ficar calada. É justo, já que não
quis falar nada do meu passado. Apertando minhas mãos suavemente, Aron
pareceu pensar em algo, então desviou o seu olhar para longe.
— A relação entre minha mãe e eu não foi sempre assim. Eu a amo,
mais do que tudo, mas ela tem um péssimo poder de escolhas, com as quais
eu não concordo.
Com uma respiração profunda, seus olhos azuis estão em mim
novamente. São tão luxuriosos, atraentes, hipnóticos.
— Não pode ter o controle de tudo senhor, Maldonado. — Sorrio
levando minha taça aos lábios.
— Não é disso que se trata, apesar de ser algo que não costumo abrir
mão — rebate, fazendo círculos suaves no meu pulso.
— Não? — pergunto, entorpecida com sua intensidade.
— Não — diz com uma breve pausa.
— E do que se trata então?
— De proteção e cuidado.
— Então, você só está protegendo e cuidando da sua mãe? É isso?
Aron se ergue ficando de pé, estendendo uma mão para mim. Franzo
o cenho com um sorriso confuso, segurando a palma da sua mão virada.
— Estou sempre cuidando e protegendo quem eu gosto. Sempre,
lembre-se disso, minha fiore.
Toma a minha boca. Seus lábios macios devorando-me em um beijo
urgente. Naquele momento, senti que estava irrevogavelmente apaixonada
por ele, e não há nada que eu possa fazer para mudar isso.
Sensações explosivas, tremores e uma secura nos lábios. Fecho os
olhos, suspirando pesadamente. Aron levou-me até a suíte master do iate, e
mal prestei atenção no quão bela e luxuosa a cabine é. Suas mãos são
exigentes, despindo-me como se não pudesse esperar para me ver nua.
— Preciso ver seu corpo, minha fiore. Preciso assistir de perto como
reage a mim. — Chupa levemente a pele do meu pescoço, em seguida, crava
os dentes, me fazendo gritar com a sensação de dor e prazer. — Está muito
excitada, pequena deliciosa — sussurra baixo, deslizando o polegar em
minhas dobras por cima do fino tecido da renda branca. Solto um pequeno
som em apreciação. — Quando alcançamos o estado de excitação, nosso
coração bate mais rápido. A respiração… pesada. — Se inclina, introduzindo
um dedo que escorrega para dentro com facilidade. Estou tão molhada.
Arquejo, afundando meus dentes no lábio inferior. — A pele ruboriza com
facilidade. — Estoca ainda mais fundo, me fazendo revirar os olhos.
— Aron… — Seguro-o pela gravata, puxando-o para mim, ansiando
me perder em seus lábios. Ele acaricia meu clitóris, trazendo-me à beira do
abismo. Se afasta com o olhar encoberto de desejo puro e primitivo.
— O sangue circula ferozmente e os músculos de todo o corpo ficam
tensos — continua sussurrando com a respiração entrecortada. — Mas eu
discordo da última teoria. — Recua e, no lugar dos seus dedos, estão seus
lábios famintos. — Você está mais que relaxada. E sei que a hora em que eu
me enterrar dentro dessa bocetinha deliciosa, ela vai me receber de bom
grado. E eu vou fodê-la uma e outra vez até fazê-la gozar no meu pau, mas
agora… — Olhando-me de forma possessiva, ele esfrega a minha fenda e
abocanha meu clitóris, e um grito silencioso se perde na minha garganta —
aprenderá que existem mil maneiras de chegar ao orgasmo, e a primeira delas
será na minha boca, bela fiore.
Meu corpo vibrou com sua invasão. Longas e incansáveis sugadas.
Aron lambia de cima a baixo e, roçando o seu polegar, pude sentir o meu
clímax se formando. Era poderoso, violento.
Sua barba raspava sobre minha intimidade, assim como seus dentes.
Eu pude sentir cada terminação nervosa apertar-se em choque. Gemidos e
sussurros eram lançados por mim à medida que ele intensificava e, chamando
o seu nome, arranhando sua nuca, puxando agressivamente seus fios loiros,
me derramo em sua boca. A sensação é boa demais, indescritível, e sinto meu
corpo todo arder, queimar clamando por mais uma dose disso.
Eu posso lidar! Repetia incansavelmente na minha mente cansada.
Passo as mãos pela minha face suada e levanto-me ficando sobre os
joelhos. Aron sorri e segura meus seios, amassando-os, mordendo o lábio
inferior.
— Não tem noção de quanto me deixa louco, fiore.
Nego, engolindo o meu próprio desejo, disposta a satisfazer o seu. Só
espero que eu não seja um completo fracasso. Respiro profundamente e, com
cautela, solto o cinto da sua calça social, em seguida, deslizo seu terno para
fora.
Ele não se move, espreita cada movimento com um olhar
perturbador. Suas pupilas estão dilatadas, e posso ver faíscas crepitar nos seus
olhos. Retiro sua blusa branca de botões, fazendo alguns saltarem pelo piso.
Como uma garota travessa que acaba de ganhar sua recompensa, sorrio, me
livrando da sua calça e boxer. Meus olhos saltam e engulo em seco,
observando seu mastro rígido de perto.
Embora já tivéssemos transado antes, estar diante dele pulsando
pesadamente em minhas mãos deixou-me com água na boca. Como os olhos
encobertos de crua e pura luxúria, Aron assistiu-me a masturbá-lo
tortuosamente e lentamente a levá-lo na boca.
— Porra! — rosna com os olhos cerrados. — Você não precisa fazer
isso, fior…
Silencio-o quando passo a língua suavemente na sua cabeça inchada e
vou levando-o para dentro, pouco a pouco, vagueando minhas mãos desde
sua base. Ergo o olhar a tempo de ver Aron fechar os olhos e jogar a cabeça
para trás. Seus lábios, um exímio pecado, entreabertos. Sua expressão
luxuriosa jogando-me em um vórtice incontrolável. Suas mãos agarram
firmemente minha nuca e, assim como o seu quadril, começa a ditar o nosso
ritmo, tomando certo cuidado de recuar, assim que mergulhava fundo na
minha garganta.
Cravei minhas unhas em seu quadril, o chupando mais forte,
incentivando a foder minha boca como desejar. Aron parecia um deus
perturbador, insaciável, agarrando ainda mais meus fios, provocando uma
doce e prazerosa agonia.
Lambia toda a sua espessura, raspava os dentes, sugava sua cabeça
com força até senti-lo dobrar de tamanho. Ele estava prestes a explodir e,
mesmo estendendo o seu olhar para me afastar, não o faço. Sinto seu jato
morno derramar na minha boba. Não penso muito, engulo tudo.
Aron respira pesadamente, abaixando a cabeça com um olhar intenso
de admiração. Ergo-me, limpando os cantos dos meus lábios, piscando
lentamente em sua direção.
— Espero não ter te decepcionado — sussurro, arranhando seu peito,
retirando uma mecha úmida da sua testa.
— Não mesmo. — Empurra-me em direção à cama. Caio
bruscamente no centro dela, como os joelhos erguidos. Escutar seus
praguejos e rugidos de satisfação me deixou ainda mais molhada. — Olha
para você… suada, ofegante e pingando por mim — afirma, segurando
ambos os meus tornozelos e puxando até me ter sobre a beirada da cama. —
Mmmm… — sussurra, passando o indicador sobre minha fenda molhada e
levando à boca, sugando como se saboreasse seu doce favorito.
Ofeguei e arqueei o quadril quando me penetrou duramente. Aron
esperou um momento para me acostumar com seu comprimento e, em
seguida, começou a se mover. Meus seios pulavam com a intensidade das
suas investidas, sua barba deslizava por meus seios rígidos, assim como sua
boca que sugava e mordiscava. Aron batia fundo em mim, e eu podia sentir
suas bolas na curvatura da minha bunda. O prazer era demais, irracional.
Meus quadris giraram e se contraíram deliciosamente. Ele foi tão viril, cruel
em cada investida que não pude resistir ao orgasmo que rasgou através de
mim como uma tempestade torrencial. E ele não durou muito a acompanhar-
me. Seu urro de prazer ecoou por todo o espaço. Desabando parcialmente
sobre o meu corpo, ele fixa o seu olhar no meu, segurando o meu queixo.
— Não terminamos, ainda!
— Não pode entrar! Senhor Hortiz! — Ouço a voz agitada de Cristine e
respiro fundo, retirando meus óculos de leitura, esfregando meus olhos,
preparando-me para a ameaça iminente que está prestes a entrar na minha
sala.
A porta se abre em um baque e, na minha mesa, uma pilha de folhas é
jogada, espalhando-se por toda a extensão. Fecho meu laptop e ergo o olhar
com o maxilar apertado.
— O que significa isso? — Aponta para a desorganizada pilha à
minha frente.
Arqueio uma sobrancelha, não me dando o trabalho de olhá-las. Sei
muito bem do que se trata. Ricardo não é considerado o melhor advogado à
toa. Ele reuniu provas o suficiente para deixar Frank amargar um bom tempo
na prisão. Levanto-me e espalmo as mãos sobre a mesa, sustentando o seu
olhar. Confesso que custa estar diante desse traidor e não socá-lo até a morte.
— Não achou que ao agir pelas minhas costas, usurpar o meu
patrimônio, e eu o deixaria simplesmente ir, não é?
Seu rosto se transforma em um vermelho vivo, seus olhos faíscam
irritação. Diria que a qualquer momento cairá duro diante dos meus olhos.
— Não ouse me chamar de desonesto, rapaz! Eu fundei essa empresa.
Expandi a rede de hotéis e restaurantes. As indústrias Maldonado só existem
por minha causa. Se dependesse do fraco do seu pai, não teria a fortuna que
tem agora. Ele sempre foi leigo, sem ambição. A única ambição que o movia
era um bom rabo de saia — cospe as palavras, batendo no peito. — Você
acha que eu preciso roubar dinheiro de um patrimônio que também é meu?
Solto uma risada amarga, jogando a cabeça para trás
— Você está doente! — murmuro, pegando a pilha de folhas e
jogando-as contra sua face.
— Você é apenas um sócio minoritário. E não dono! Está tudo aqui,
cada falcatrua. Do menor ao maior delito. Agradeça por não o mandar direto
para a cadeia. Porque é lá o verdadeiro lugar de gente como você. Só não
faço por conta da minha mãe e para poupá-la desse desgosto, mas não sairá
de graça a minha generosa ação — aviso, contornando a minha mesa,
andando até o minibar e degustando um uísque duplo. — Sumirá das nossas
vidas, principalmente da minha mãe — exijo — E, quando digo para sempre,
eu realmente falo sério.
Agora é a vez de Frank sorrir.
— E se eu não fizer? — desafia, com o olhar apertado.
Entorno de uma só vez o meu uísque e o fito com uma expressão
notória de alerta.
— Nesse caso, farei questão de levar pessoalmente essa
documentação para as autoridades e, claro, torná-la pública. Seria um choque
para a sociedade londrina. Imagina, o grande Frank Hortiz estampado nas
páginas policiais.
Frank recua um passo.
— Se acha que vou desistir do que é meu, está muito enganado. Sua
mãe, com certeza, ficará do meu lado. Ela tem cinquenta por cento das ações
e sei que, quando souber o que está pretendendo, irá passá-las para mim sem
pestanejar.
Balanço a cabeça com um sorriso de escárnio.
— Frank… não subestime a inteligência da minha mãe, você irá se
surpreender — digo andando em direção à porta, segurando-a aberta. —
Agora saia da minha sala. E não apareça aqui nunca mais!
Ele anda em direção à porta com um olhar sombrio e, antes de
atravessá-la, para a centímetros de mim. Seus lábios se curvando em um
sorriso desprezível.
— A propósito, como está Zaina? Aquela moça é realmente
encantadora — Avanço em sua direção e o agarro pelas lapelas do seu terno,
não permitindo que ele continue.
— Se ousar pronunciar o nome da minha noiva novamente, parto-lhe
ao meio.
Frank segura as minhas mãos, tentando se livrar do meu agarre.
— Você acha mesmo que uma bela mulher como ela ficará ao lado
de um homem tão frio e arrogante como você? — Sorri e me empurra,
ajeitando o seu terno. — Olha para você… É fraco como seu pai. Herdou o
DNA fracassado dele. Seu sobrenome não passa de uma fachada, Aron
Maldonado.
Fecho as mãos em punho e acerto em cheio o seu rosto maldito, o
golpeando várias vezes até ver seu sangue podre jorrar pelo seu nariz. Estou a
um triz de matá-lo com minhas próprias mãos, mas, para a sua sorte, sou
puxado de cima do seu corpo por três seguranças.
— Eu vou matá-lo, Aron! É uma promessa! — geme, erguendo a
cabeça para o lado e cuspindo sangue no carpete encorpado.
— Então eu sugiro que seja melhor da próxima vez. Aquela chuva de
balas no meu carro não fez cócegas — zombo e vejo sua cabeça pendendo
para o lado.
— Aron, o que você fez? Está maluco? — Ricardo murmura,
adentrando a sala apressadamente. — Eu disse que me encarregaria desse
assunto, por que não escuta os meus conselhos?
Soco a porta, respirando fundo.
— E eu escutei, acredite! Mas ele pediu por isso quando insinuou que
faria algo para Zaina.
— Aron! — repreende, negando veemente.
Viro-me e olho para Frank quase desfalecido no meu tapete. Sua face
ensanguentada despertando ainda mais minha fúria. Queria matá-lo com
minhas próprias mãos.
Sirvo-me novamente de uma generosa dose de uísque e fecho os
olhos. Não devia ter explodido dessa maneira. Controle. Preciso estar sempre
no controle. Um verme como ele não tem o poder de me desestabilizar.
— Tirem-no daqui e o deixe na emergência mais próxima. — Escuto
Ricardo dar ordens para os meus seguranças. E, após a minha sala estar livre
da presença indesejada daquele infeliz, Ricardo se senta na minha frente e
abre sua maleta preta, retirando um envelope marrom. — Aqui está o que me
pediu. — Estende na minha direção, e seguro, engolindo em seco.
Abro o envelope e vejo o nome da Zaina no topo, puxo todas as
folhas e começo a ler cada linha atentamente, em uma espécie de viagem para
seu passado doloroso.
— Ela é inocente, Aron. Zaina teve uma vida muito difícil — afirma
com um suspiro de pesar.
Meu coração disparou com que acabo de ler. Cada trecho era como
um punhal sendo cravado no meu peito.

Londres, ano de 2014

“Helena Renault Delyon, esposa do grande ceo Hélio Delyon, foi


morta a tiros na saída do teatro em uma tentativa de assalto na frente da sua
única filha”.
Londres, ano de 2015
“Fontes seguras revelam que Hélio, há muito tempo, não aparece na
sua própria empresa e que sua filha Zaina Delyon também desapareceu e
não foi mais vista em nenhum evento, nem mesmo frequentando aulas”.

Londres, ano de 2016

“Extra! Tudo indica que o grande CEO das empresas Delyon


empreendimentos está falido. Procuramos Hélio para termos respostas, e ele
simplesmente não nos respondeu”.

Londres, 2019

“A pergunta que não quer calar é: o que aconteceu com a fortuna


incalculável da família Delyon? E onde está sua primogênita, Zaina
Delyon?”

Continuo folheando até me deparar com algo assustador. Fecho os


olhos, respirando fundo.
— É horrível, eu sei! Imagina quando ela souber — Ricardo
murmura, e nego veemente.
— Ela não vai saber, Ricardo — afirmo e guardo todas as folhas e
fotos dentro do envelope.
— É o seu plano? Deixá-la no escuro? É o pai dela. A senhorita
Renault merece saber a verdade.
— Não quando esse pai foi alguém que deixou de protegê-la —
rosno, cerrando o maxilar. — Ele a vendeu! — explodo, batendo com as
mãos em punho sobre a mesa. — A vendeu como se ela fosse um objeto.
Ricardo se inclina com uma expressão solidária.
— Eu entendo sua revolta, Aron. Mas ele é o pai, não importa o que
fez, nada mudará isso. O homem era apenas um farrapo do grande ceo que foi
um dia. Perdeu a esposa e isso o deixou arrasado. Ele encontrou no jogo e na
bebida consolo para aplacar o vazio que ele sentia.
Lanço-lhe um olhar duro.
— E você o que é? Se tornou advogado dele, terapeuta? Desde
quando sabe como ele se sentia? — rosno para ele. — Era sua obrigação
cuidar e proteger sua filha, e não a entregar na mão de qualquer um. Deus!
Ela podia… — Minha voz desaparece em uma total agonia.
Levanto-me em um rompante, sentindo meu coração sendo esmagado
no peito só de imaginar o que poderia ter acontecido com ela, com minha
pequena fiore.
— Aron, só estou dizendo que ela merece saber. Vai por mim, a
verdade sempre é o melhor caminho.
Viro-me e pego meu terno estendido sobre minha cadeira. Irei para
casa, preciso vê-la, abraçá-la, e a protegerei com minha vida, se preciso for.
Nunca mais ninguém a fará mal, não enquanto eu viver. Isso é uma promessa.
— Onde vai? — questiona enquanto ando em direção a porta.
— Para a casa. Quero que cuide para que esse infeliz seja enterrado
dignamente. Devo isso a minha mulher — assevero por cima do ombro, antes
de cruzar a porta.
Concentro-me no meu reflexo no azul translúcido da piscina. A ondulação da
água me faz sorrir e lembranças da noite anterior permeiam minha mente. A
noite no iate foi inesquecível, não sabia que me entregar para alguém tão
intensamente seria maravilhoso. Aron é um homem extraordinário, embaixo
daquela densa casca de homem frio e arrogante, existe outra face dele que é
apaixonante. Sinto que todos os medos e traumas que me cercam estão
começando a desaparecer e tenho uma pequena esperança de que eu possa
recomeçar e ser feliz.
— Ah, esse cheiro… Surpreendo-me com sua voz a centímetros da
minha face.
Sorrio e recebo um longo e apaixonado beijo, algo que não estava
esperando. Aron, a cada dia, me surpreende. Aprofundamos o beijo e sinto
sua língua exigente enredar a minha, sugando com ímpeto. Suas mãos
inquietantes agarrando minha nuca em um aperto possessivo.
Ele me beija duramente, como se quisesse reivindicar sua posse sobre
mim. Gemo em seus lábios, me afastando em busca de ar. Seus olhos azuis
tão quentes olhando-me como se me enxergasse pela primeira vez e há algo
diferente neles, e eu não consigo decifrar.
Ele me puxa para o seu colo de modo que eu enlace a sua cintura.
Nossos olhares estavam trancados um no outro e apenas nossas respirações
pesadas ecoavam entre nós. Fecho os olhos, sentindo seu polegar contornar
todo o meu rosto e, em seguida, pousar nos meus lábios, onde passeiam
suavemente.
— Você é tão linda! Perfeita. Eu vou cuidar de você, meu anjo.
Jamais ninguém lhe fará mal.
Aquiesço, sentindo meu coração vibrar dentro do meu peito. Suas
palavras me deixaram emocionada.
— A última vez que escutei isso, tinha apenas quinze anos —
confesso, descansando minha cabeça em seu peito, escutando seu profundo
suspiro. — E ela não está mais aqui.
Aron beija o topo da minha cabeça e me envolve em um forte e
caloroso abraço. Sinto-me em casa, Aron se tornou o meu refúgio e meu lar.
Naquela tarde, eu o senti meu pela primeira vez. Em seus braços, no seu
corpo, perdida em seus beijos, veio a confirmação real. Eu o amo.
— Já pensou em fazer um curso, se especializar em artes? —
questiona, observando o meu quadro recém-terminado. — Ele afasta o meu
cabelo para o lado e se apoia no meu ombro, abraçando a minha cintura.
Em um dia como outro, fui acordada com uma Beatrice eufórica.
Aron havia mandado desocupar um espaçoso quarto da mansão em que
guardava relíquias e obras de artes e preparou um pequeno estúdio para mim.
Desde então, tenho passado o dia e a noite pintado quadros. Gosto de
privacidade, mas confesso que estou adorando ter ele por perto,
demonstrando interesse no que eu faço.
— Algumas vezes — sussurro, virando-me para ele, passando o
pincel ainda sujo com tinta azul no seu nariz.
Aron simplesmente dá de ombros e, com facilidade, retira o pincel
das minhas mãos, passando-o levemente na minha bochecha e testa.
— Está adorável, senhorita Renault!
Pego outro pincel, mergulho na tinta amarela e passo sobre sua testa e
bochechas, imitando o seu gesto. Com uma gargalhada rouca e deliciosa,
empurra-me, me fazendo cair de costas para cima, no piso marrom. Retira
meu avental cuidadosamente e começa a desabotoar o meu vestido rosa com
estampas de flores, percebendo que estou apenas usando uma calcinha de
renda. Seus olhos brilham perversidades. E, como se eu fosse uma tela em
branco, ele começa a desenhar na minha pele. Assistir ao seu olhar de desejo
e ao seu sorriso malicioso está me deixando completamente molhada.
— Você é uma bagunça sexy, minha fiore. Só minha! — sussurra,
roçando sua barba, arranhando meu maxilar.
Suspiro, sentindo suas mãos serpentear pelo meu corpo, excitando-
me, levando-me a borda., pairando seu corpo sobre o meu, deslizando
lentamente em mim, Aron atingiu-me com uma onda feroz e ardente de
prazer. Suas investidas ritmadas, fazendo que meus dedos dos pés se
curvassem e que eu arranhasse suas costas, soltando pequenos sons.
— Você é minha! — repetia enquanto investia ainda mais fundo em
mim, provocando incansáveis gemidos vindos do fundo da minha garganta.
— Minha, Zaina Renault! — rugia, aumentando a velocidade dos seus
golpes, me fazendo chegar ao meu orgasmo e logo em seguida alcançando o
seu.
— Aron, alguém pode nos ver — digo, numa tentativa inútil de sair
dos seus braços.
Embaixo da densa cascata e rodeada por seu corpo sólido, deixo a
água escorrer livremente. Recebendo suas carícias eloquentes e seus beijos
ardentes.
— Não me importo! — rosna, mordiscando o lóbulo da minha orelha.
— Você me deixa louco, Fiore! Completamente insano.
Segura meu queixo e beija meus lábios sugando minha língua com
ferocidade. Espalmo as mãos pelo seu peito, deslizando-as por toda a sua
extensão rígida e cheia de músculos que ondulam sob as palmas das minhas
mãos.
— Aron… — sussurro, afastando-me quando escuto barulho de carro
se aproximando.
Ele pragueja algo e se põe a minha frente, alcançando sua camisa
social e cobrindo o meu corpo. Com um sorriso intenso, ele a fecha, botão
por botão.
— Continuaremos mais tarde! — avisa, e assinto, inclinando-me nas
pontas dos pés, roçando meus lábios no seu queixo esculpido.
De longe, pude avistar Cristine descendo de um táxi. Franzo o cenho
e olho para Aron, que parece surpreso.
— Deve ser importante o que ela tenha para fazer aqui, não é? —
murmuro, olhando-a seguir para dentro da mansão. — Pegar um táxi a essa
hora…
Passo por ele e ouço sua risada rouca enquanto seus braços enlaçam a
minha cintura.
— Ciúmes? — inquire, e reviro os olhos.
— Não — digo baixo, no fundo, corroendo-me por dentro, mas sou
orgulhosa demais para admitir. — Só… não gosto dela — confesso, e Aron
gira meu corpo, emoldurando minha face.
— Tudo bem! Se quiser, peço para ir embora. — Nego, me afastando
do seu toque.
Ouço o seu suspiro atrás de mim e saio da fonte. — Zaina! Espere —
chama, e eu cesso os meus passos. Com cautela, ele segura minha mão,
entrelaçando nossos dedos.
Ergo o olhar e o pego olhando para as nossas mãos unidas. Um misto
de admiração e gratidão irrompiam do meu peito. Cruzamos a sala da mansão
aos beijos como dois adolescentes e só paramos quando ouvimos alguém
pigarrear.
Afasto-me de Aron, observando Cristine plantada no meio da sala
como um jarro. Seus olhos são afiados na minha direção, olhando-me de
cima a baixo, como se estivesse atirando-me punhais.
Ela desvia o olhar para Aron e vejo como o devora descaradamente.
Se deliciando com seu torso nu, ainda úmido. Seu jeans ainda molhado,
colado em suas coxas firmes, o volume substancial evidente. A maneira como
não disfarça me irrita.
Com um sorriso faceiro, ela avança um passo, empinando seus seios
fartos sob o delicado tecido do seu vestido vermelho. Em seu pulso, uma
linda pulseira de brilhantes. Uma joia bastante valiosa. Cristine, mesmo
ganhando bem, não teria dinheiro para comprar uma joia como essa.
— Bonita pulseira, Cristine — falo, e a observo engolir em seco.
Seus olhos se arregalam levemente e ela o mascara com um sorriso
brilhante.
— Obrigada, senhorita Renault! — diz, toda solícita.
— Bom, vou deixá-los sozinhos, com licença.
Deslizo minha mão fora de Aron, e ele a puxa, trazendo meu corpo
de encontro com o seu. Abaixa-se lentamente e captura meus lábios. O beijo
não dura muito, mas é o suficiente para deixar-me de pernas bambas. E quão
rápido começou, terminou, deixando uma Cristine nitidamente furiosa.
— Para de me olhar assim — repreendo-o com o rosto praticamente em
chamas.
Coro percebendo Aron olhando-me fixamente enquanto como um
delicioso ratatouille. O sabor é divino e lembra muito a minha mãe, quando
ela se metia na cozinha e preparava deliciosas receitas, essa definitivamente é
a minha preferida.
— Não seja tímida, minha fiore. Não sabe como me excita assistir a
todo esse seu apetite voraz — sussurra, arrancando-me uma risada nervosa.
— Pode não parecer, mas não sou nenhuma morta de fome — brinco,
e é a vez de ele jogar a cabeça para trás e sorrir. Sua risada rouca reverbera
por todo o meu corpo, provocando um verdadeiro frenesi.
— Não se preocupe, isso nunca passou pela minha cabeça. Para ser
sincero, é a última coisa que iria pensar sobre você, bela. — Segura minhas
mãos por cima da mesa e as leva em direção aos lábios, deixando um beijo
casto em cada nó dos meus dedos. Um gesto terno e, a cada toque seu, meu
corpo corresponde com felicidade.
— Não vai comer? — pergunto, acariciando sua barba por fazer.
Quando ele abre a boca para responder, é interrompido pela entrada
assustadora de Loreta aos prantos, sendo auxiliada por Beatrice, que a conduz
segurando-a pelo quadril, ajudando-a a se sentar em uma cadeira ao meu
lado.
Aron já está de pé e se ajoelha diante da mãe. Percebo que as mãos de
Loreta tremem e soluços estrangulados saltavam do fundo da sua garganta.
Ele emoldura o rosto da mãe com as mãos, e ergue o queixo dela, percebendo
um lado da face avermelhado, se levantando furioso.
— Desgraçado! — explode, atirando toda a louça que havia sobre a
mesa no chão, provocando um estrondo, assustando a todas. — Eu vou matá-
lo, mãe! Por Deus! Eu juro!
Anda em direção à porta, mas Loreta o impede.
— Por favor, filho! Não! — Ela o abraça, chorando copiosamente em
seus braços.
Aron fica paralisado. Seus olhos azuis brilham e sei que é lágrimas,
ele está claramente lutando contra elas. Seu olhar angustiado recai sobre os
meus, e assinto levemente. Quero que ele saiba que estarei aqui para ele. Sei
que faria o mesmo por mim.
Ele a envolve em um abraço apertado e consola a mãe. Ficamos em
silêncio, escutando apenas o seu choro copioso e os seus soluços que, aos
poucos, vão se acalmando.
Beatrice sai e retorna minutos depois com um copo de água e estende
para Loreta, que, mesmo abalada, hesita para pegar.
— Obrigada! — sussurra de cabeça baixa.
— Por nada, signora — responde Beatrice com o tom de voz manso.
Aron a leva para a sala e a ajuda a sentá-la em uma poltrona,
agachando-se ao seu lado. Com uma expressão assassina, segura os braços da
mãe, olhando atentamente para os hematomas visíveis em sua pele clara.
Aron fecha os olhos e nega veemente.
— Quero que me conte exatamente o que aconteceu. E só depois
decidirei o que farei com esse desgraçado.
Loreta respira profundamente e limpa algumas lágrimas que desciam
livremente pelo seu rosto.
— F-rank… chegou em casa transtornado. Estava com a face
completamente ferida e repetia que ia matá-lo, Aron. Eu não entendia o que
estava acontecendo, então, pedi para ele explicar o que aconteceu, e ele
relatou que você o expulsou da empresa na qual ele fundou e estava
acusando-o de roubo.
Aron se levanta, indignado. Ele anda de um lado para outro como um
animal acuado, pronto para atacar. Com um rosnado de protesto, se vira para
a mãe.
— Ele é um ladrão da pior espécie, mãe. Essa é a verdade. Durante
anos, roubou-nos e cometeu vários outros crimes. A ficha daquele salafrário é
extensa. E, se eu não tivesse descoberto isso a tempo, perderia tudo que o
meu pai lutou para construir, principalmente a credibilidade no mercado. As
empresas Maldonado são número um em qualidade e excelência. Se ele
continuasse tendo o poder que tinha, nos levaria à ruína em pouco tempo. Se
não acredita em mim, pergunte para o Ricardo, que está trabalhando conosco
desde o tempo do papai. Ele tem todas as provas contra ele. Eu dei uma
opção para aquele verme. Eu o deixaria livre, desde que desaparecesse das
nossas vidas. Mas, depois do que ele fez com você, quero que ele apodreça na
cadeia — solta, irritado.
Loreta fuga, olhando para longe.
— Eu desejo o mesmo, filho! Como pude… ser tão cega? Deus! —
Ergue o olhar e vejo tanta dor através deles. — Frank era tão gentil,
carinhoso. Repetia o tempo todo que me amava, que era louco por mim. Era
tão diferente do seu pai que… eu o amei! — Balança a cabeça, negando, com
um pequeno soluço. — Ele me fez juras de amor, e eu, tola, me deixei levar.
Frank foi o próprio demônio. E só agora, após oito anos juntos, revelou sua
verdadeira face quando não aceitei passar as minhas ações para ele. — Ela
olha para os braços, precisamente para os seus hematomas e uma pequena
faísca brilham em seus olhos. — Ele foi cruel não só fisicamente, como
psicologicamente. Admitiu que nunca me amou e que eu não passava de uma
corna inútil. Chegou a confessar que fez o mesmo que o seu pai fez comigo
durante anos — sussurrou, se encolhendo no assento. — Agora tudo faz
sentido. Há alguns dias, uma joalheria entrou em contato comigo para avisar
que já tinha feito os reparos necessários na minha suposta pulseira de
brilhantes e que o senhor Hortiz poderia buscá-la a qualquer momento —
solta uma risada amarga —, por um instante eu achei que Frank estaria
preparando uma surpresa e que a pulseira de brilhantes era parte dela. Que
idiota eu fui! Aquele desgraçado estava presenteando alguma vagabunda. E
essa joia com certeza não era a primeira. Pelo que pude apurar, Frank era um
cliente assíduo, e só comprava o que havia de melhor. — Loreta não
consegue esconder a dor e humilhação e mais lágrimas rolavam da face. Seus
soluços ficaram intensos, nos assustando com toda a sua ferocidade.
Compadeço-me do seu sofrimento e, sem pensar, me ajoelho, a
tomando em um abraço terno. Loreta não rejeita o meu gesto, pelo contrário.
E, por mais que tenhamos nos conhecido de uma maneira desagradável, há
um sentimento que me une a ela nesse momento. Sororidade. Nenhuma
mulher devia passar por isso, nem mesmo a mãe do Aron. Mas existe um
detalhe que não passou despercebido por mim. Loreta falou em uma pulseira
de diamantes e inexplicavelmente Cristine apareceu com uma. Ela não teria
todo esse cacife, mas Hortiz, sim.
Debato comigo mesma se devo ou não comentar sobre isso, afinal,
pode ser uma mera coincidência. Ou não! Loreta se afasta, limpando as
lágrimas com o dorso da mão, notavelmente constrangida por deixar-nos ver
o seu lado vulnerável. Logo ela que é tão confiante e cheia de si.
— Bem… eu não sei se devia falar, mas, quando falou sobre a tal
pulseira, me lembrei que vi Cristine usando uma e, se não me engano, com a
mesma descrição. E valiosa, por sinal. Olha, não sei, talvez seja alguma
réplica.
— Vadia! — Loreta irrompe em um rosnado. — É claro! Como não
pensei nisso. — Se levanta e começa a divagar. — Outro dia, quando fui me
encontrar com uma amiga, os vi saindo de um restaurante; ao confrontar
aquele infeliz, ele garantiu que era um almoço de negócios e Cristine estava o
auxiliando. Engoli essa desculpa. E agora ficou claro como água que tipo de
auxílio aquela golpista estava lidando. — Ela respira fundo e se vira para
Aron com sangue nos olhos. — Eu quero a cabeça dessa vagabunda numa
bandeja de prata, meu filho — murmura entredentes. — Loreta passa as mãos
pelos cabelos e alcança sua bolsa no chão da entrada da sala.
— Onde pensa que vai, mãe? — Aron segura seu cotovelo,
impedindo-a de sair pela porta.
— Tirar essa história a limpo! — Se solta do agarre do filho e sai
porta afora. Aron parte no seu encalço, e ouço Beatrice lamentar. Sei que o
seu instinto protetor deve ter falado mais alto.
Na manhã seguinte, os ânimos na mansão já estavam amenos. Loreta
realmente foi atrás da Cristiane e a encontrou para o seu total azar e, se não
fosse pela presença do filho, Loreta a faria parar no hospital. Ao que tudo
indica, Loreta foi à forra com Cristine e deixou belas marcas. Enquanto
Frank, ele desapareceu do mapa, mas, se depender de Aron, não por muito
tempo. Ele está determinado a encontrá-lo, ainda mais por ter agredido e
humilhado sua mãe. Além dos homens que Aron contratou, a polícia também
está à sua procura. Com todas as acusações e provas em poder das
autoridades, Hortiz passará muitos anos atrás das grandes.
— Aí está você! — Loreta sussurrou, entrando no meu pequeno e
aconchegante estúdio, sentando-se ao meu lado. — Uau! Estou
impressionada. Não sabia que pintava, você é uma artista — diz com um
sorriso, deixando-me sem graça. Agradeço-a gentilmente. — Quem é essa
bela mulher do quadro? — Seus olhos verdes se fixam em mim, analisando-
me com atenção. — Você se parece com ela…
Suspiro, soltando um sorriso triste.
— É a minha mãe — respondo, e Loreta assente.
— E onde está ela?
Nego.
— Morta.
Ela pega minhas mãos, me fazendo olhar para o seu gesto.
— Eu sinto muito, querida. Sei que não deve ser fácil para você. E
seu pai? — Olho para longe.
— Não sei! — respondo sinceramente, dando de ombros.
O silêncio que paira agora é de grande ajuda. Loreta faria mais
perguntas e acabaria, por consequência, descobrindo muitas coisas sobre o
meu passado, sobre as quais quero esquecer.
— Eu queria me desculpar pela forma que a tratei outro dia. Não
devia ter falado daquela forma com você. Está nítido que meu filho está
apaixonado e feliz. Isso já é o bastante para mim. Aron é um homem difícil,
reservado. Devo confessar que percebi o quanto ele está diferente, o vejo
sempre sorrindo, o que era uma raridade. Obrigada!
Baixo o olhar surpresa com suas palavras. Aron está apaixonado por
mim? O grande senhor Maldonado. Não consigo conter o sorriso que explode
em meus lábios. Loreta se levanta e olha para mim, seus olhos verdes
brilhando gratidão.
— Fico aliviada em confirmar que você também o ama. Está
estampado na sua face. Seus olhos brilham apenas escutando o nome dele. —
Abro a boca para respondê-la, porém, vejo-me sem as palavras certas. Eu o
amo, mais do que tudo. Ela não parece se importar com o meu embaraço,
pois continua sorrindo. — Eu vou deixá-la em paz para continuar. Só aviso
que adoraria ter um quadro seu. — Pisca para mim, girando em seus
calcanhares.
Talvez Beatrice tenha razão. Loreta não é uma má pessoa. Suas
atitudes podem muito bem ser consequência de muito sofrimento e, pelo que
pude ouvir, é bem isso. Balanço a cabeça, reposicionando o cavalete.
Olho para a pintura da minha mãe, tracejando cada traço com os
dedos. Como sinto sua falta. Foi tão doloroso crescer seu o seu carinho,
palavras de consolo, seu abraço confortante. Minha mãe era uma mulher
excepcional. Sinto uma lágrima solitária rolando na minha face, e não me
importo em limpá-la. Chorar faz bem, era o que ela sempre dizia.
Mais tarde tivemos o jantar e foi bem agradável. Ver a interação de
Aron e a mãe me deixou muito feliz. É assim que tem que ser. Não importa o
quão difícil esteja sendo para os dois reconstruírem os laços que os une, Mãe
e filho não devem estar em lados opostos, nunca.
— Filho, estive pensando… está na hora de voltar para casa. Você e
sua noiva precisam de privacidade, e minha presença só irá atrapalhar.
Negamos ao mesmo tempo. Aron olha para mim e abraça-me pelos
ombros, deixando um beijo no topo da minha cabeça.
— Não se preocupe com isso, mãe. Zaina e eu estamos felizes com
sua presença. Não está atrapalhando. Além disso, me deixará tranquilo se
ficar aqui em segurança, pelo menos até a polícia conseguir pegar aquele
salafrário.
Ela protesta, mas a interrompo.
— Aron tem razão. É melhor ficar aqui, conosco em segurança —
sorrio —, a senhora não está incomodando.
Ela parece comovida e tenta disfarçar, olhando para as suas mãos.
Aron se afasta e se levanta, andando até a cadeira da mãe. Agacha-se e
acaricia a face dela.
— Comigo, estará segura, mãe.
Ela o abraça, sussurrando algo:
— Eu fui tão dura com você, meu filho. Mas nunca deixei de te amar,
você sabe disso, não sabe?
Ele se afasta e concorda, deixando um beijo casto na testa dela. De
canto de olho, observo Beatrice enxugar algumas lágrimas discretamente e
sair, retornando para a cozinha. Um gesto que me intriga, irei falar com ela.
Desde a chegada de Loreta, percebo Beatrice triste, alheia, e totalmente
reservada.
Deixando os dois sozinhos, saio à procura de Beatrice, mas não a
encontro em lugar algum. Passo direto para o meu quarto e, enquanto coloco
uma camisola para dormir, escuto a porta se abrir. O cheiro inconfundível
invade o espaço e é inevitável não sorrir e sentir o corpo todo aquecer em
desejo e luxúria.
Com um aperto firme em minha cintura, Aron gira o meu corpo e
ataca minha boca com urgência. Sua língua, urgente, dominando e
explorando a minha, suas mãos apertando cada centímetro, me fazendo sentir
o quão duro está. Afasto-me da sua boca por falta de ar, olhando
profundamente para seus olhos azuis, que brilham promessas mais deliciosas
possíveis. Deslizo minha mão pelo seu corpo nu, sentindo seus músculos
poderosos contraírem. Aron veste somente uma calça moletom cinza. Mordo
o lábio inferior, mergulhando a mão, viajando por todo o seu comprimento.
Ele geme, segurando os meus pulsos e retirando do seu corpo. Olho para ele
com uma sobrancelha erguida.
— Você não quer? — Minha voz não disfarça o meu desespero em
tê-lo.
Seus lábios se curvam em um sorriso arrogante e, em instantes, sou
erguida e embalada em seus braços. Aron anda para fora do quarto, deixando-
me confusa.
— Aron?
Ele permanece em silêncio até chegarmos no seu quarto. Uma suíte
ampla, luxuosa e um pouco sombria. Ele repousa o meu corpo no centro da
cama e se inclina para mim, se apoiando em um cotovelo. Com o indicador,
desliza suavemente pelos meus lábios, queixo, maxilar, vão dos meus seios, e
até o menor dos seus toques tem o poder de me excitar.
— De agora em diante, esse será o seu quarto, o nosso quarto —
sussurra, circulando um mamilo entre os dedos. Assinto com um suspiro,
arqueando o corpo em sua direção. — Não quero passar mais uma noite
sequer sem sentir o calor do seu corpo no meu, nem o seu cheiro delicioso.
Seu lugar é aqui, minha fiore, em meus braços — diz por fim e beija os meus
lábios, arredando minha calcinha para o lado, deslizando um dedo em mim,
em seguida outro, me fazendo arfar e me contorcer em seus braços.
Retirando minha camisola com cuidado e se livrando da sua própria
roupa, Aron me penetrou lento e profundamente. Minha respiração ficou
presa na garganta, o prazer era demais para suportar. A cada estocada sua, eu
me sentia marcada. Pertencia a ele de corpo e alma. E sei que ele também me
pertence. Seus olhos dizem isso. Como sempre, me fez ter múltiplos
orgasmos e, exausta, mas totalmente satisfeita, desci para beber um pouco de
leite. Não tenho sono, e não quero acordar Aron. Já no corredor, observo pela
fresta da porta que a luz do escritório de Aron está acesa. O que é estranho,
ele é muito cuidadoso ao apagar a luz e manter a porta fechada. Me aproximo
vagarosamente e é o suficiente para ouvir vozes baixas, mas audíveis. É
Loreta e Beatrice. Elas parecem estar discutindo algo.
— Eu não posso apagar o passado, signora. Se eu pudesse, eu juro
que teria feito diferente — sussurra com a voz embargada.
Uma pausa se segue e Loreta a quebra com um suspiro profundo.
— Eu te odiei muito, Beatrice. Na verdade, ainda odeio, mas não
serei hipócrita em culpá-la por tudo que aconteceu. Augusto é o grande
culpado. Ele se envolveu com você e ainda a trouxe para cá. — Levo as mãos
nos lábios em choque. — Desde sua primeira viagem para Toscana, eu sabia
que algo estava errado.
— Eu… me apaixonei por ele. Não sabia que era um homem
comprometido. Augusto me disse que era um homem livre — diz, e sinto um
tremor em sua voz. — Eu sei! Droga! — berra, atirando algo contra a parede,
provocando um pequeno ruído. — Augusto foi desonesto. Ele se aproveitou
do meu amor por ele. Da minha cegueira, de não ver o que estava
acontecendo diante dos meus olhos. Ele não me amava, Beatrice, nunca me
amou. Você foi o grande amor da vida dele, sempre foi você. — Pisco,
atordoada com sua confissão. Beatrice e o pai do Aron? — Por isso eu te
odiei todos esses anos. Sempre fui louca pelo Augusto e, quando começamos
a namorar ainda adolescentes, eu sonhava com o momento em que seria sua
esposa, a senhora Maldonado. E sua chegada estragou tudo. Destruiu os meus
sonhos. Como poderia aceitar que o meu noivo, em uma maldita viagem de
negócios, se apaixonou perdidamente por outra mulher?
Ouço soluços estrangulados ressoar na semiescuridão e não sei
reconhecer de quem são. Não devia estar escutando uma conversa tão íntima,
me sinto horrível por fazer isso. Recuo alguns passos para trás e congelo com
o que eu escuto.
— Aron pode ser fruto de uma traição, mas eu o amo mais que tudo
no mundo. Eu o amo, Beatrice, como se ele tivesse sido gerado por mim.
Fuga e Beatrice murmura baixinho. Meu Deus! Aron é filho da
Beatrice!
— Eu a agradeço por isso, signora. Meu bambino… — divaga,
irrompendo em lágrimas. — Não sabe como foi difícil acompanhar seu
crescimento e não poder embalá-lo, nem contar a verdade… que eu sou sua
mamma biológica. Eu amei Augusto, mas, no final, acabei odiando-o por tirar
esse direito de mim, de criá-lo como meu filho. — Chora copiosamente.
Me inclino, olho pela pequena brecha e vejo o exato momento em
que Loreta abraça Beatrice. Foi um gesto nobre da sua parte, consolar a
mulher que supostamente era amante do seu marido.
— Nunca é tarde para corrigir um erro, Beatrice.
Ela se afasta, enxugando o rosto.
— O que quer dizer com isso?
— Que devemos contar ao Aron a verdade. Que você é a verdadeira
mãe dele.
Ela nega veemente.
— Não. Per favore, não faça isso. Ele vai me odiar, eu não vou
suportar. Aron é um homem feito, lindo e inteligente.
— Graças a você — Loreta rebate.
— Não entende? Você sempre foi a mamma que ele teve, cuidou dele
com todo amor e carinho. Por que acha que ele gosta tanto de você? Ele
cresceu comigo sendo a governanta da casa. Uma empregada como outra
qualquer. Eu não vou confundi-lo logo agora que ele está feliz com a mulher
que ama. Meu filho já sofreu demais, está na hora de ser feliz. — Loreta
concorda, mas não desiste.
— Eu sinto muito, Beatrice, mas meu filho não será feliz sem saber a
verdade. Darei um tempo para pensar, mas estou decidida a contar a verdade
para ele. Aron é meu filho, e nada mudará isso. Eu o amei desde o momento
que Augusto o colocou nos meus braços, quando apenas tinha dias de vida.
Eu errei em ter aceitado esse arranjo. Uma mãe não pode ser privada de criar
o próprio filho.
Beatrice nega, deixando as lágrimas correr livremente pela face.
— Augusto arrancou ele dos meus braços, mesmo eu suplicando para
não fazer. Eu não aceitei ser sua amante, e ele se vingou da pior maneira,
tirou meu filho de mim. — Ela fecha os olhos e, em seguida, os abre,
correndo em direção à porta. Não tenho tempo de sair, e Beatrice acaba
esbarrando em mim.
Seus olhos azuis se ampliam em choque, ela abre a boca e fecha, mas
não diz nada, se afasta, andando apressadamente para longe, em direção ao
jardim. Decido não ir atrás dela. Beatrice precisa de um tempo sozinha.
Desisto de ir para a cozinha e volto para o quarto, observando Aron dormir
tranquilamente. Acaricio seus fios loiros, escutando um suspiro profundo
escapar dos seus lábios.
Aninho-me em seu peito e quase que instantaneamente seus braços
me envolvem puxando-me ainda mais para o seu corpo quente. Fecho os
olhos, tentando dormir, e a conversa de Beatrice e Loreta não sai da minha
mente. Aron merece saber a verdade. Minha mãe costumava dizer que a
verdade sempre é o melhor caminho. E, escutando o seu ressonar baixinho,
adormeço profundamente.
Havia inúmeras razões para acreditar que Frank estava escondido e esperando
o momento certo para agir. Por outro lado, tem a polícia em seu encalço e
alguns homens que contratei para capturá-lo. Se minha mãe não tivesse me
implorado, eu o mataria com minhas próprias mãos. Por ela, sujaria minhas
mãos de sangue com muito prazer. Basta olhar para todos os hematomas
visíveis dela e como ficou arrasada, por mais que tente não demonstrar.
Zaina tem sido um ponto de luz, um sopro de vivacidade no meio do
turbilhão sombrio que é a minha vida.
Acaricio suas costas escutando seu ressonar baixinho. Dormir e
acordar com ela nos meus braços é definitivamente a melhor sensação do
mundo, que não abro mão.
Inclino-me o suficiente para deixar um beijo casto nos seus lábios e,
com um suspiro, suas pálpebras tremem e lentamente seus olhos vão se
abrindo.
Seus lábios rosados se curvam em um sorriso preguiçoso.
— Desculpe, bela. Não queria acordá-la.
Zaina se ergue, espalmando as mãos no meu peito.
— Tudo bem. Está sem sono? — questiona, correndo o polegar sobre
o meu maxilar. Seguro sua mão e a levo aos lábios.
— Não se preocupe. Estava apenas admirando você dormir tão
serenamente.
Zaina esfrega os olhos e descansa a cabeça no meu peito.
— Bem, então não irei te atrapalhar — brinca, e a envolvo ainda mais
nos meus braços.
O calor do seu corpo já é o suficiente para aquecer o meu. Fecho os
olhos e, sentindo o cheiro delicioso dos seus fios negros, adormeço.
Na manhã seguinte, acordo com o barulho do chuveiro ligado.
Levanto-me ainda entorpecido pelo sono e ando até o banheiro. Balanço a
cabeça com um sorriso malicioso. Zaina está do outro lado do box, coberta
por uma névoa excitante de vapor quente. Posso ver cada detalhe do seu
corpo e já é o bastante para me ter duro como aço. Deslizo o box e o fecho
suavemente, assistindo aos seus olhos brilharem. Aproximo-me do seu corpo
úmido com gotículas de água escorrendo deliberadamente. Agarro sua nuca e
a beijo, prensando-a contra o vidro fosco.
Zaina ofega e enlaça o meu pescoço, correspondendo o beijo com
ardor. Mordo seu lábio inferior e grunho, girando seu corpo. Lambendo a
extensão do seu pescoço, sugando sua pele, mordiscando seu ombro, e
penetrando-a em um movimento rápido.
Ela se engasga, produzindo pequenos e doces sons eróticos. Confesso
adorar cada som que escapa dos seus lábios, eles me excitam. Colando ainda
mais nossos corpos, sussurro:
— É deliciosa, bela… Não me canso de estar dentro de você! —
confesso, estocando fundo sua boceta apertada.
O prazer atinge nossos corpos como uma imponente avalanche.
E me sinto totalmente diferente com ela. Zaina não é como as outras,
e houve muitas. Mas com ela a conexão foi instantânea, e poderosa. E
observando o belo e expressivo diamante reluzindo em sua mão esquerda,
desperta em mim um sentimento de posse. Eu a possuo. Zaina é minha. E irei
oficializar isso.
Pego sua mão e a levo para os meus lábios, deixando um beijo casto.
Suspirando, entreabre os lábios e, com um gemido rouco, sinto sua bocetinha
apertar e se derramar no meu pau. Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás,
aumentando o ritmo, cravando meus dedos em seus quadris, chegando em
uma poderosa libertação.
Ainda ofegante e após os tremores dos nossos corpos cessarem,
deslizo para fora dela, a puxando comigo para receber de bom grado o jato
morno de água. Começo a esfregá-la cuidadosamente, encarando seus belos
olhos castanhos.
— Quero que se case comigo, Zaina. Que seja minha esposa. O que
me diz?
Ela parece chocada e seu silêncio me preocupa.
— Eu pensei… — Se cala, olhando para o anel em sua mão.
Deslizo o polegar no seu queixo, obrigando-a a olhar-me nos olhos.
— Não precisa responder agora, querida. Sendo verdadeiro, não
pretendia me casar. Não até você aparecer.
Seus olhos brilham e um pequeno sorriso aparece em seus lábios
rosados.
Fui sincero em cada palavra e ela sabe disso. Não pretendia realmente
me casar, mas, desde o momento em que a vi, eu senti que ela seria minha
para sempre.
Só gostaria de fazê-la enxergar isso. Não há maneira de eu deixá-la ir.
Emolduro seu rosto, embalando-o com cuidado, colando nossas
testas.
— Deixarei você livre para decidir. Mas saiba que, se escolher ficar
comigo, me esforçarei para fazê-la feliz todos os dias das nossas vidas.
— Aron… — Seus olhos ondulam, e percebo medo através deles.
— Não pode me dizer isso. Você mal me conhece. Se um dia a ficha
cair e você se cansar de mim? Afinal, você é o grande bilionário Aron
Maldonado, pode ter a mulher que quiser em um estalar de dedos.
Respiro fundo, segurando um lado da sua face com uma mão.
— Eu não quero ninguém, bela. Só você!
Beijo seus lábios, afogando-me na intensidade do nosso beijo. Sinto-
me um adolescente, meu peito retumbando forte, como se eu estivesse
correndo uma maratona e estar em seus braços fosse minha doce recompensa.
Após nosso banho acalorado, descemos para tomar café em um clima
agradável.
Encontramos minha mãe esperando por nós com um sorriso
contagiante. É bom vê-la sorrir depois de tudo o que passou.
— Bom dia! — Inclino-me, deixando um beijo casto no topo da sua
cabeça, e ando até Beatrice e beijo sua bochecha.
Ele me encara e tenho a leve impressão de que está à beira de
lágrimas. Talvez esteja na hora de dar-lhe férias. Beatrice trabalha aqui há
muitos anos, tornou-se indispensável para mim, mas não posso ser egoísta e
não pensar no seu bem-estar.
— Está tudo bem, Beatrice? — questiono, e ela concorda, desviando
o olhar.
Não quero pressioná-la, mas sinto que há algo de errado acontecendo.
— Está sim, filho. Não se preocupe!
Seus olhos azuis deslizam para Zaina e, em seguida, para a minha
mãe.
Definitivamente há algo acontecendo aqui e irei descobrir.
Sento-me ao lado de Zaina, que segura minha mão por cima da mesa
e entrelaça nossos dedos. Ergo o meu olhar para ela, que sorri ternamente.
Não estou acostumado com essa demonstração de carinho, principalmente na
frente de outras pessoas, mesmo que essas pessoas sejam minha mãe e a
governanta, mas mantenho seu toque. Estamos pouco a pouco construindo
uma relação sólida. O que me traz certo alívio. É tarde demais para voltar
quando se está irremediavelmente apaixonado.
— Notícias do Frank, filho? Ele continua à solta? — minha mãe
pergunta bebericando o seu café.
— Sim. Mas não será por muito tempo, eu garanto. Meus homens
estão no seu rastro e até ontem conseguimos encontrar uma possível pista.
Parece que um homem com suas características se hospedou em um hotel
cinco estrelas. — digo, e ela grunhe, batendo com a xícara sobre a mesa.
— Só pode ser ele, filho. Aquele infeliz adora luxo e não duvide, ele
é bem esperto quando quer ser.
Solto um sorriso zombeteiro.
— Mamãe… Se ele fosse tão esperto, não seria pego em todas as suas
falcatruas. Frank é apenas um verme ambicioso e, sendo tão prepotente e
egocêntrico, acabará cometendo alguma besteira, e aí pegamos ele. E acredite
quando digo que ele fará mais cedo ou mais tarde.
— Filho… — Encaro seus olhos verdes brilhantes, esboçando
preocupação. — Prometa que tomará cuidado, sim? — Assinto, tomando suas
mãos pálidas com as minhas. — Frank provou que é um homem perigoso,
filho, uma verdadeira serpente. E ele está com ódio. Tenho medo do que ele
pode tramar contra você.
Eu afasto minhas mãos das delas.
— Já disse, mãe. Não precisa se preocupar, se ele vier até mim,
estarei mais que preparado.
Ela balança a cabeça com um suspiro.
— Eu espero que não venha, que seja preso e tenha a chave da cela
jogada fora.
Dou de ombros. Realmente o que irá acontecer com esse homem não
me interessa, desde que pague por tudo o que fez.
Observo Beatrice ajudar Margot a servir o café da manhã em silêncio,
alheia, o que não é do seu feitio e isso me incomoda. Suas mãos estão
trêmulas e ela deixa a xícara de café cair e estilhaçar sobre o piso.
— Dio! Perdão! — pede, nervosa. — Eu juro que… eu limparei tudo.
Se agacha e rapidamente me ponho de pé e ando em sua direção,
segurando seu cotovelo, erguendo-a novamente.
— Não precisa. Margot faz isso.
Olho para Margot, que assente.
— Beatrice, sei que há algo de errado acontecendo com você, não
minta. Você praticamente me criou e sei quando não está bem.
Ela arregala os olhos e pisca lentamente.
— Não é nada, filho. Eu só estou um pouco… cansada é isso.
Balanço a cabeça em descrença.
— Nesse caso quero que vá descansar. E saiba que não me
convenceu. Beatrice, eu a conheço desde menino. Não é apenas uma
governanta para mim, é muito além.
Seus olhos azuis cintilavam e vejo lágrimas se acumularem neles.
— Eu sei, Aron, e agradeço muito por isso.
Ela olha para minha mãe e funga, negando veemente. Em seguida, se
afasta, recuando, como se estivesse em um transe, e anda de volta para a
cozinha.
Minha mãe e Zaina permanecem quietas, enquanto me sento e tomo o
meu café.
— Sei quando há algo de errado acontecendo debaixo do meu teto.
Olho para minha mãe, estreitando o olhar.
— Terá que perguntar a ela. — Respira bruscamente e se levanta da
mesa.
Mantenho meus olhos em minha mãe, assistindo a ela praticamente
correr porta afora.
Esfrego minha fronte e abaixo o olhar.
— Não pense demais. Beatrice já falou que só está cansada. Se algo a
mais estiver acontecendo, ela virá até você.
Encontro seus olhos e concordo.
Zaina tem razão. A pressão dos últimos dias está tirando a minha paz.
Resolvo deixar tudo para trás e concentrar-me no agora. Se quero que
Zaina seja minha esposa, terei um longo caminho a prosseguir e começarei
imediatamente a levando para um jantar romântico.
Observo o sorriso ardente de Aron. Uma fileira de dentes brancos me fazendo
lembrar a ferocidade do seu dono quando fazemos amor. Balanço a cabeça
com o simples pensamento. Para ele, pode ser apenas sexo intenso entre um
homem e uma mulher, mas, para mim, é uma conexão pura e brutal. Aron
marca-me todas as noites, reivindica o meu corpo e meu coração. Eu sou
dele. Droga! Nem consigo pensar direito quando estou em seus braços.
Seu terno azul-cobalto, combinando perfeitamente com o azul
profundo dos seus olhos. A gravata preta sombreando, dando um toque
intoxicante na sua personalidade máscula. Fios dourados como o trigo,
penteados para trás disciplinadamente.
Ele balança a cabeça levando a taça de champanhe aos lábios em um
sinal absoluto de elegância. Fico hipnotizada vendo-o saborear a bebida. Meu
corpo esboçando sinais sinuosos, meu apetite por ele sempre insaciável. Aron
despertou em mim o demônio da perversão e luxúria. Eu o quero a todo
momento, a todo instante.
Senti-lo preencher-me e causar sensações alucinógenas tornou-se
meu vício ilícito na terra.
Suas mãos pousam nas minhas, onde aperta-as suavemente.
Pisco lentamente, olhando o champanhe, deixando-me um pouco
zonza.
Aron me trouxe a um restaurante francês divino, que serve uma
comida deliciosa. Convidou Loreta e Beatrice, que recusaram o convite
gentilmente. As duas alegaram que seria melhor jantarmos a sós, afinal,
segundo elas, um casal apaixonado merece ter o seu espaço.
Corei diante dessa afirmação. Eu não consigo esconder o que sinto,
porém, tenho medo de não ser recíproco. Por mais que Aron tenha mudado
comigo, não impede que tudo seja passageiro da sua parte.
Seus olhos azuis me estudam e sei que quer perguntar-me algo.
— O que aconteceu com sua família, bela? Um nó se forma no meu
estômago e remexo-me desconfortavelmente no assento.
Ele continua olhando-me, esperando que eu responda a sua pergunta.
Desvio o olhar e respiro fundo.
— Minha mãe morreu quando eu tinha quinze anos. E meu pai…
bem, não tenho notícias dele há bastante tempo. E, para falar a verdade, não
me importo. — Dou de ombros.
Aron bebe mais pouco do seu champanhe e assente com um leve
aceno de cabeça.
— E o seu pai? Tem muito tempo que ele morreu?
Tento relaxar, desviando sua atenção do meu passado. Não quero
reabrir feridas que ainda continuam a doer.
— Ele faleceu quando tinha a sua idade, vinte anos. Meu pai teve um
infarto enquanto dirigia a sua Ferrari. Ele gostava muito de dirigir, era um
dos seus hobbys. — Solta um suspiro saudoso. — Ele era obcecado por
controle, e acho que herdei isso dele. A sensação de estar no comando, ter o
controle de tudo. — Sorri e meneio a cabeça. Ele não precisava falar, percebi
sua fome por controle desde o primeiro momento. — Nossa relação não era
muito intensa. Meu pai exigia, e eu sempre atendia às suas expectativas. Fui o
filho que ele sempre quis. Moldado por suas cobranças e movido por uma
ambição que não era a minha.
Aro começa a se abrir e a revelar coisas sobre ele e seu pai. Sorrio,
satisfeita que ele esteja compartilhando comigo uma parte da sua vida
privada. Isso significa que confia em mim.
— Bela, me concede essa dança?— Surpreendo-me com sua oferta.
Ele estende a mão com a palma virada para mim e engulo em seco, olhando
de um lado para o outro. Todos os clientes estão de olho em nós. Alguns com
celulares em punho. Aposto que são jornalistas disfarçados, mas Aron parece
não se importar. Então, não devo me preocupar com isso também.
Respiro profundamente e pego sua mão.
Aron me puxa suavemente e, com a mão espalmada na minha coluna,
guia-me até o centro, onde havia outros casais dançando.
A melodia é de um piano. Doce e romântica. Ele enlaça a minha
cintura, e envolvo o seu pescoço, descansando a cabeça no seu peito forte,
escutando as batidas ritmadas do seu coração. Ficamos em silêncio,
apreciando o momento de intimidade, no qual nossas almas se conectam e se
completam.
Sua respiração é tranquila, e não consigo parar de sorrir. Aron está
despertando os melhores sentimentos em mim.
Observo seus olhos azuis incandescentes quando ele se afasta e gira o
meu corpo, colando minhas costas em seu peito. Sua respiração quente
resvalando a minha orelha, deixando o meu corpo em um estado de excitação
completa. Novamente com um giro, fico de frente e recebo um duro e
profundo beijo apaixonado.
É como se não existisse nada ao nosso redor. Quando nos afastamos
ainda ofegantes, uma salva de palmas explode, deixando-me envergonhada,
meu rosto em chamas.
Aron sorri e beija a minha testa.
— Devemos ir?
Suas sobrancelhas se erguem levemente e aceno.
Por mais que a noite tenha sido mágica, não quero ficar diante de
especulações e fotos. Aron é um homem distinto, de grande influência. Um
CEO bilionário que desperta curiosidade por onde passa e estar acompanhado
com uma mulher é motivo de comoção. Sei como funciona esse mundo. Irão
cavar o meu passado até descobrir tudo sobre mim, e isso seria um desastre,
poderia manchar sua reputação. Ter um pai falido e metido com pessoas não
tão boas não é motivo de orgulho para ninguém.
Axel já nos aguardava do lado de fora.
— Para casa, Axel — diz, e o olho por cima dos ombros, sentindo o
corpo vibrar com o seu olhar intenso, encoberto de promessas. As mais
prazerosas possíveis.
Assim que entramos e nos acomodamos no banco de trás do Bentley,
a divisória começa a subir, assim como as mãos de Aron sobre minha coxa. O
vestido dourado possui uma fenda na perna direita e parece ser perfeito para
suas intenções.
Seus lábios se aproximam, roçando o meu pescoço em uma carícia
lenta, como seda morna escorrendo sobre minha pele.
— Mmmm… — Suspiro, jogando a cabeça para trás, lhe dando total
acesso para continuar suas carícias.
— Eu adoro o seu cheiro, fiore. Você cheira a pecado. Um doce e
totalmente proibido. Isso me excita, deixa-me totalmente duro. Pronto para
você.
Olho de soslaio e vejo como está duro e minha boca se enche d’água,
imaginando ajoelhar-me e prová-lo. Levá-lo ao limite como ele sempre faz
comigo. Seus olhos brilham e sei que já sabe a minha intenção, não sou boa
em esconder, principalmente quando estou com ele.
— Zaina… — Meu nome saiu como uma súplica dos seus lábios.
Aron desliza o polegar sobre meus lábios, esfregando-o suavemente.
Minha pulsação acelera e engulo em seco, sentindo um desejo voraz tomar
conta do meu corpo. O meio das minhas pernas lateja querendo seu toque, ele
preenchendo-me avidamente.
De repente escutamos um estrondo e, em seguida, o Bentley dá um
solavanco, como se estivesse saindo da pista. Arregalo os olhos e Aron fica
em estado de alerta e, quando outro baque nos atinge, ele me segura
fortemente em seus braços. Começo a tremer em um claro sinal de desespero,
sem saber o que está acontecendo.
— Shii!! Não é nada. Vamos ficar bem. Eu prometo — sussurra na
minha orelha, e assinto, agarrando as lapelas do seu terno.
— Axel! O que está acontecendo? — Aron pergunta através do
pequeno botão comunicador.
Há uma longa pausa e outra batida. Começo a me preocupar com o
silêncio de Axel até um gemido estrangulado ressoar do comunicador.
— Eu não sei, senhor. Estamos sendo seguidos e quem quer que seja
não está para brincadeiras.
Olho para Aron e, apesar da sua carranca, percebo o medo brilhando
nos seus olhos azuis.
— Vai ficar tudo bem.
Me aconchega ainda mais em seus braços.
Com uma manobra arriscada, Axel acelera e uma chuva de balas
começam a ser disparada contra o nosso carro. Grito e Aron me empurra para
baixo, contra o banco, e paira seu corpo sobre o meu, como se fosse uma
espécie de escudo. Ele pega o seu celular do bolso do terno e liga para
alguém. Estou em estado de choque que mal ouço a sua voz. Lágrimas
descem da minha face e, por mais que eu tente reprimi-las, elas descem de
maneira violenta.
— Onde vocês estão? O Bentley que eu e minha noiva estamos está
sendo alvejado. — Ele ofega a cada barulho de bala contra o vidro e lataria.
— Droga! Como é que eu vou saber? Façam alguma coisa. Para que eu
contratei vocês? Ok! Peguem o desgraçado que está por trás disso ou estão
demitidos — Aron rosna, e vejo veias salientes saltando da sua garganta.
Fecho os olhos, me encolhendo ainda mais, meu corpo totalmente paralisado.
— Zaina, abra os olhos — pede, enxugando minhas lágrimas com os
polegares, beijando suavemente minha testa. — Nada vai acontecer com
você. É uma promessa. Te protegerei com minha vida se preciso for —
sussurra com a voz firme, e eu o abraço, suspirando no vão do seu pescoço.
Quando enfim somos agraciados com o silêncio, Axel estaciona e
Aron levanta a barra da calça, alcançando uma pistola. Arregalo os olhos,
vendo-o empunhar a arma. Aron se inclina e segura a maçaneta, eu pisco,
segurando o seu braço.
— Por favor, não me deixe sozinha — peço em fio de voz. Minhas
lágrimas ainda permanecem deslizando do meu rosto.
Aron olha para mim e sua expressão é perturbadora e vai além da
preocupação.
— Fiore… Preciso saber o que houve.
Nego, suplicando com o olhar. Puxando-me para os seus braços, ele
suspira no vão do meu pescoço, e começo a relaxar em seus braços.
Ele fala com Axel e seguimos para casa. Em seguida, liga para
alguém com quem ele havia falado mais cedo, o chefe de segurança. Passa
algumas instruções e desliga, voltando a se concentrar em mim.
Ao chegarmos na mansão, não consigo me mover. Minhas pernas
simplesmente não obedecem e parece que estou enraizada no banco.
— Vamos, querida. — sussurra, segurando minhas mãos.
Olho para ele em pânico e nego com um suspiro triste.
— Eu não consigo me mover, Aron. Minhas pernas não me
obedecem.
Ele contorna minha bochecha e se afasta, pegando-me em seus
braços.
— Você só está assustada. Ficará bem após uma noite de sono
tranquila. Eu cuidarei de você, querida.
Axel abre a porta e percebo que está assustado como eu. Aron o
agradece e pede para ele ir descansar. Segue comigo nos braços e dou graças
a Deus por não encontrar Loreta e Beatrice pelo caminho. Aron não
demonstra nenhum temor e sua força e determinação me impressiona.
— Eu fiquei com tanto medo… — divago em seus braços enquanto
alcançamos o nosso quarto.
Ele para em frente à porta e cola as nossas testas com um suspiro.
— Eu também — confessa. — Perder você nunca esteve nos meus
planos. Você é minha.
Ergo o meu olhar, encarando os seus.
— Eu sei.

Não consegui pregar os olhos a noite. Zaina teve pesadelos e, por conta do
atentado, ela entrou em estado de choque. O que me deixa enfurecido. Não é
difícil adivinhar quem seja o mandante. Aquele desgraçado vai lamentar
quando eu puser as mãos nele. O mesmo padrão. Frank é bem previsível, não
só fracassou no primeiro atentando, como quis repetir a dose com o segundo.
Observo Zaina encolhida em meus braços. Nossos corpos totalmente
entrelaçados como se fôssemos um só. Acaricio o seu cabelo e respiro seu
cheiro limpo e viciante, totalmente delicioso. Ela desperta lentamente e, com
os olhos preocupados, me encara. Inclino-me e beijo seus lábios suavemente
e sorrio.
— Está tudo bem. Você está segura. — Ela me abraça ainda mais
com um suspiro. Passamos alguns minutos na cama antes de tomarmos uma
ducha juntos e descermos para tomar nosso café da manhã.
A mesa já estava toda posta, e minha mãe como sempre já nos
aguardava. Pela sua expressão, com certeza já sabe do atentado. Quando nota
a nossa presença, ela corre em nossa direção.
— Aron, filho… Ricardo ligou e acabei descobrindo o que houve —
diz, aflita, deslizando as mãos pela minha face, puxando-me para um abraço
caloroso.
Percebo seus olhos verdes cheios de lágrimas.
— Mãe, está tudo bem. Já passou. Esqueceu que todos os meus
carros são blindados?
Ela se afasta, limpando o rosto.
— Eu fiquei com tanto medo, filho.
Respirando profundamente, seus olhos recaem sobre Zaina.
— Querida… e você? Imagino que deve ter sido difícil passar por
tudo aquilo.
Zaina solta um sorriso forçado, e eu a puxo para os meus braços.
— Foi horrível! — comenta — Achei realmente que íamos morrer.
— Ela nega como se estivesse vivenciando tudo outra vez.
Pressiono um beijo no topo da sua cabeça perfumada.
— Está tudo bem, querida. Logo nem se lembrará desse pesadelo.
Olho para minha mãe, e ela concorda.
— Foi o Frank — afirmo.
— Não sossegarei até encontrá-lo e jogá-lo na cadeia.
— Bem, quanto a isso, não precisa se preocupar. Ele foi pego essa
madrugada no aeroporto, tentando deixar Londres. — Fecho as minhas mãos
em punho. — E adivinhe quem estava ajudando-o esse tempo todo? — minha
mãe questiona, e vejo como sua mandíbula está apertada. — A infeliz da sua
assistente — cospe com desdém.
Corro uma mão pelo cabelo. Eu deveria ter imaginado isso. Após
descobrirmos o seu caso, minha mãe exigiu que eu a demitisse. Não
precisaria pedir. Cristine fez sua escolha assim que se aliou com aquele
verme.
— Estou indo vê-lo — digo e recebo um olhar de alerta da minha
mãe. Zaina se põe a minha frente e acaricia minha face como um olhar
intenso de súplica.
— Eu sei que está furioso, e não tenho o direito de te pedir nada… só
não vá. Aron, fique comigo — pede, e vejo uma vulnerabilidade que nunca vi
antes nela, desde que a conheci.
Seguro seu queixo, olhando diretamente dentro dos seus olhos doces
e assustados. É como se eu estivesse caindo em uma densa e cremosa cascata
de chocolate.
— Você pode me pedir o que quiser, fiore. Eu não medirei esforços
para acatar todos os seus pedidos.
Zaina sorri, mostrando duas covinhas em suas bochechas.
Estou totalmente hipnotizado olhando para ela, mas não passa
despercebido os olhos surpresos de Beatrice e Loreta sobre nós.
— Ouça a sua noiva, filho. Não perca seu tempo com aquele
desgraçado. Frank já está tendo o que merece. Agora, o que nos resta é seguir
em frente. Com a extensa lista de acusações e provas pesando contra ele,
Frank terá um longo tempo.
Concordo. Talvez em outro momento eu vá vê-lo. Sei que, em breve,
teremos esse encontro, é algo inevitável, dado a dois atentados contra a
minha vida e agora da minha noiva e todos os seus golpes. Terei muito o que
contar para a polícia.
— Sabe que logo todos nós seremos chamados e a senhora tem que
estar preparada e contar toda a verdade — digo e assisto a um olhar triste
vindo dela.
— Eu sei, filho. Contarei tudo, não se preocupe. Eu só preciso de um
tempinho antes.
Zaina segura minha mão e entrelaça nossos dedos suavemente.
— Certo, mãe. É justo.
— Então, vamos tomar café e por ora esquecermos esse assunto.
Puxo a cadeira para minha mãe sentar, em seguida, para Zaina, e faço
o mesmo, me sentando do seu lado. Em silêncio, tomamos o nosso café.
Percebo que, diferente do outro dia, Beatrice parece mais calma, mas, ainda
sim, percebo preocupação em seus olhos.
O dia se arrasta em um borrão e, preocupado com Zaina, decidi
trabalhar em casa, no meu escritório. Assim poderia manter meus olhos sobre
ela. Com alguns trabalhos acumulados, não percebi que lá fora já havia
escurecido.
Retiro meus óculos de leitura, esfregando minhas têmporas. Sinto-me
esgotado e necessito de ver a minha noiva. Zaina ainda permanece abalada,
por mais que diga que está tudo bem.
Ando em direção ao quarto e abro a porta lentamente. Encontro-a
dormindo serenamente. Seu corpo banhando pela pouca iluminação da lua
cheia que atravessa a janela aberta. Vou em direção a ela e a fecho, virando-
me para olhar a bela mulher deitada sobre finos lençóis de seda. Minha
mulher!
O tecido transparente da sua camisola branca contrastando com
perfeição sua pele cremosa. Sorrio, aproximando-me e acariciando seus fios
negros espalhados pelo travesseiro.
Serei o homem mais feliz da face da terra acordando todos os dias
com essa visão maravilhosa. Resisto à vontade irresistível de acordá-la e
fazer amor, e ando para fora do quarto, em direção à cozinha.
Cesso os meus passos quando escuto uma discussão calorosa entre
minha mãe e Beatrice, que parece chorar copiosamente.
— Pare de se acovardar! Até quando, hãn, viverá se escondendo? —
berra e suspira duramente. — O pai do seu filho foi um verdadeiro carrasco
quando arrancou-o dos seus braços com apenas semanas de nascido, mas
agora você tem a chance de reverter isso contando-lhe a verdade.
— Você não entende, signora… ele vai me odiar… — Funga, e sinto
uma dor no peito diante do seu desespero. Sempre desconfiei que, atrás
daqueles olhos gentis e doces, havia muito sofrimento.
— Não, não vai! Ele te ama e nada vai mudar isso. Beatrice…
Ela nega veemente com densas lágrimas escorrendo feito cascatas do
seu rosto.
— Já disse, não quero que ele saiba de nada. Eu sou só uma
governanta. Não teria nada para oferecê-lo. Aron é minha vida, não posso
dar esse desgosto para ele.
Ofego em choque. Olho para as duas ainda no calor da discussão e
não percebo que meus pés se movem sem conseguir pará-los. Pisco
atordoado com os olhares das duas mulheres sobre mim.
Beatrice abre e fecha a boca, seu belo rosto completamente pálido
sob a luz do ambiente. Loreta engolia em seco, parecia nervosa.
— Eu… não entendo — digo, finalmente olhando de uma para a
outra. Minha mente está em um intenso estado de confusão. — Digam-me.
Eu preciso saber a verdade. — Ergo o queixo e olho para Loreta. — M…
mãe…?
Ela olha para Beatrice, que nega, como se estivesse em transe.
— Eu sinto muito, filho! Mas não sou eu que deve te contar isso, e,
sim, sua verdadeira mãe. — Aponta para Beatrice que me olha assustada.
Fecho as mãos em punho, cerrando o maxilar.
— Que brincadeira é essa? — rosno, e Beatrice se encolhe.
Estou a ponto de surtar literalmente. Isso é demais, até para mim.
Beatrice, a governanta da casa… é minha mãe?
— Aron? — Ouço o leve sussurro de Zaina atrás de mim.
Não me viro. Estou muito irritado e não quero derramar minha ira
sobre ela.
— E então? Como vai ser? Vão me contar a verdade ou terei que
investigar por conta própria? — inquiro com o olhar fixado em uma Beatrice
chorando copiosamente a minha frente.
— Eu vou voltar para o quarto — Zaina diz, e finalmente viro-me
com um pedido silencioso e seguro seu pulso.
— Não. Se não se incomodar, prefiro que fique comigo. — Ela
assente e se aproxima ficando ao meu lado. — Sente-se, Beatrice. Não sairá
daqui antes de me contar a verdade.
Olho para Loreta e faço um gesto para ela que se senta também.
Cruzo os braços e, com uma rápida respiração, Beatrice desata a falar.
— Eu tinha apenas dezesseis anos quando conheci Augusto na
Toscana. — Ela olha para mim e, em seguida, desvia o olhar. — Ele havia
acabado de se hospedar na pequena e aconchegante pousada do meu pai. Eu
ajudava minha mãe sempre que chegava da escola e, em uma noite qualquer,
eu o conheci. — Faz uma pausa, limpando a face com um lenço de papel. —
Augusto sempre foi um homem muito bonito, charmoso. Você me lembra
muito ele, filho.
Sinto-me estranho em ouvi-la me chamar de filho, mesmo que
sempre o tenha feito. Agora é diferente. Entendo o real significado por trás de
tudo isso.
— Foi amor à primeira vista. Eu não sabia que ele era noivo. —
Nega, olhando para Loreta, que apenas dá de ombros como se isso não
importasse mais. — Durante sua viagem de negócios, vivemos um tórrido
romance e, quando eu descobri que estava grávida, ele já tinha retornado para
Londres. Então, com medo dos julgamentos da minha família, eu fugi para cá
apenas com minhas economias e algumas peças de roupas. Eu me lembrei do
seu sobrenome e não foi difícil encontrar o grande bilionário Augusto
Maldonado. O rosto do seu pai estava estampado em toda parte. Em jornais,
revistas e televisão. Eu o encontrei na sua empresa. O homem por quem eu
me apaixonei perdidamente, o pai do meu filho. — Beatrice fecha os olhos
como se sentisse muita dor. — Ele… estava noivo de outra! Augusto me
enganou. Arrasada e de coração partido, eu voltei para a minha Toscana. Para
o seio da minha família. Dois meses depois, Augusto apareceu e descobriu
que eu estava grávida. Ele persuadiu não só a minha família, como a mim,
jurando que ia nos assumir, que iria se casar comigo. — Nega com um
sorriso triste. — Essas nunca foram sua intenção. Ele até podia me amar, mas
sua ambição falou mais alto. Ele comprou uma casa e me manteve sob os
seus cuidados. Era vigiada por homens da sua confiança e, quando eu me
neguei a ser a outra, ele fez o que eu nunca imaginei que teria coragem de
fazer. — Ela olha para mim, com os olhos encobertos por lágrimas e dor. —
Ele… arrancou você de mim. Dos meus braços, assim que você nasceu. Em
menos de 48 horas, eu tive meu coração arrancado do peito — murmura com
a voz embargada. — Eu supliquei, filho, implorei para ele não fazer isso, mas
seu pai estava cego pelo orgulho e não me deu ouvidos.
Seus soluços se rompem da sua garganta de forma descontrolada.
Não percebi que derramava lágrimas silenciosas até sentir o toque
suave de Zaina na minha face. Encaro seus olhos doces e me perco na
imensidão de sentimentos que inundam todo o meu ser.
— V-ocê sabia de tudo— Engulo em seco, voltando minha atenção
para Loreta, que derramava algumas lágrimas discretamente.
— Sim. — É firme. — Sempre soube. Seu pai se casou comigo para
unir nossas fortunas. Queria status, apenas isso. Amar, ele nunca me amou.
Ela olha para Beatrice, que continua a chorar.
— E por que aceitou criar o filho bastardo da amante do seu marido?
— rebato com um tom de desgosto.
— Porque eu amei e amo você como um filho, Aron. No início, eu
queria conquistar o amor do seu pai e, como não podia ter filhos, achei que
criando você, eu teria isso — confessa. — Mas a verdade é que, assim que
pus os meus olhos em você, pequenino, com um parzinho de olhos azuis e
ralos fios dourados, eu me apaixonei. Você é meu filho, Aron. Eu te amo
como um. — Funga, e viro-me, correndo as mãos pelo cabelo, puxando uma
rápida respiração.
— Por que não me levou para longe dele? Eu não consigo entender
— questiono Beatrice. Em um movimento rápido, viro-me espalmando as
mãos sobre a mesa. — Veio trabalhar aqui como governanta.
Tristeza é o que vejo diante dos meus olhos, e há muito mais. Vejo
também uma mulher totalmente quebrada e subjugada aos caprichos de um
bilionário insensível.
— Augusto não estava para brincadeiras, filho. Chegou a me ameaçar
várias vezes. Eu não poderia viver sem ter você. Por isso, me humilhei para
ele e pedi que me deixasse cuidar de você. Nem que precisasse trabalhar
como empregada na sua casa. E foi isso. Seu pai concordou. Desde que eu
não dissesse nada a você e nem tentasse levá-lo para longe.
Fecho os olhos, me sentindo enojado com tudo que acabo de escutar.
Nego com a cabeça lentamente, sentindo meus joelhos fraquejarem. Meu pai
não era só um homem rígido e ambicioso. Ele era cruel, insensível.
Preciso pensar. É muita informação para digerir. Estranhando o meu
silêncio, Zaina toca meu ombro.
— Está tudo bem? — Concordo, acariciando seu rosto preocupado.
— Eu sinto muito, Aron. Eu escutei as duas outro dia discutindo, mas isso é
algo muito íntimo e que a própria Beatrice deveria contar a você. Aron… —
sussurra diante do meu silêncio. Aproximo-me e beijo seus lábios, me
afastando para longe.
Nossos dedos estão entrelaçados e, à medida que eu me afasto, eles
vão escorregando. Ela não me deixa ir.
— Eu sei que o melhor seria ficar sozinho, mas eu quero ficar com
você — sussurra. — Eu estou com você, Aron, e não o deixarei só.
Solto um pequeno sorriso de agradecimento e me afasto com ela ao
meu lado. Zaina não tem noção, mas, depois de a ter escutado falando isso,
preencheu o meu coração, e não o sinto doer como a minutos atrás.
Em silêncio, andamos até o pequeno bangalô que há no jardim.
Deito-me em uma chaise vermelha suspensa e a puxo para o meu peito.
— Está com raiva da sua mã… Beatrice?
Suspiro, acariciando seus cabelos.
— Não. — Sou sincero. — Na verdade, não sei bem o que estou
sentindo.
— Aron, Beatrice sofreu muito. Seu pai a enganou, foi cruel. Não
imagino passar por tudo que ela passou. Ter meu filho arrancado de mim. —
sussurra, e sei que ela tem razão.
Para ser honesto, Beatrice foi a maior vítima de tudo.
— Meu pai foi um homem muito duro. Exigia perfeição de tudo e
todos. Principalmente do seu filho. Eu cresci debaixo das suas leis, regras, e
não tive uma infância como outro jovem qualquer. Lembro-me de, quando
era menino, Beatrice sempre dava um jeito de tornar as coisas melhores para
mim, mesmo que desagradasse o meu pai. Loreta, apesar de tudo, foi uma
boa mãe, mas a presença de Beatrice foi constante na minha vida. Eu não
preciso pensar muito, em todos os momentos em que tenho lembrança, ela
esteve lá para mim.
Zaina acaricia meu rosto e beija meu queixo.
— Imagine que agora você tem duas mães incríveis e que elas são
loucas por você — diz com um sorriso, e eu concordo.
Mais uma vez minha bela menina tem razão. Não posso ficar
remoendo o que passou. Preciso ver o lado bom dessa equação. Meses atrás,
eu só tinha a minha inquietante solidão, e agora minha vida se encheu de luz.
Tenho duas mães e muito em breve terei uma linda esposa e, com um pouco
de sorte, meus filhos.
Respiro o cheiro inebriante dos seus cabelos negros com o coração
aliviado.
Foram tantos tormentos com o passar dos anos e agora vejo uma
chance de enfim construir a minha própria felicidade.
Na manhã seguinte, acordo mais cedo e encontro Beatrice conferindo
todos os itens do café da manhã e dando instruções para os empregados. Puxo
uma cadeira e me sento, sentindo seus olhos em mim.
— Posso ajudá-lo, Signore? — pergunta com um tom de voz
levemente nervoso e viro-me para encarar seus olhos azuis.
— Ajudará se parar de me chamar de senhor — falo e a convido com
um gesto para se sentar ao meu lado. — Eu peço perdão pela a minha reação
ontem à noite. Eu… fiquei surpreso com tudo isso e precisava pensar um
pouco.
Ela balança a cabeça lentamente.
— Não precisa se preocupar, fi… Aron, eu entendo perfeitamente.
Era muita informação para você digerir — diz suavemente, e seguro suas
mãos trêmulas por cima da mesa. Ela arregala os olhos e engole em seco.
— Não precisa me tratar com formalidades e, a partir de hoje, você
não trabalha mais nessa casa.
— Mas…
— Espero que me escute, mãe. — Seus olhos azuis brilham com
lágrimas que, aos poucos, rolam por suas bochechas rosadas.
— Mio bambino… — sussurra, e acaricio seu rosto, enxugando suas
lágrimas.
— Eu não posso apagar o passado, e gostaria de fazê-lo. Juro! O que
meu pai fez foi hediondo. Mas posso construir o nosso presente. Nós
podemos! A senhora é minha mãe, e tudo que é meu será seu também. Quero
que se mude para a mansão. Começaremos novamente e dessa vez com mãe e
filho.
— Filho, a minha casa nos fundos da mansão é confortável, não
precisa se preocupar.
Nego. Isso não está em discussão.
— Beatri… mãe. — Atrapalho-me com as palavras. — Desculpe.
Ainda é estranho chamá-la de mãe.
— Entendo. E ressalto que só me chame de mãe se sentir vontade, e
não para me agradar.
Concordo.
Ela se levanta, e eu faço o mesmo. Olha para mim e vejo que quer
pedir algo.
— Posso lhe dar um abraço?— pede suavemente, e assinto, puxando-
a para os meus braços. Ela começa a soluçar e a murmurar que nunca desistiu
de mim, que sempre me acompanhou de perto em todos os momentos. — Eu
te amo, filho.
Se afasta e novamente limpo suas lágrimas.
— Eu também te amo, Beatrice.
Quando ela tenta se afastar para longe, eu a impeço.
— Onde a senhora pensa que vai? — interrogo-a, e ela solta uma
risada suave.
— Cuidar dos meus afazeres.
Balanço o indicador.
— Nada disso. Não trabalha mais, e é a patroa, como Loreta e Zaina.
Só de pensar nesse trio mandando e desmandando nessa mansão, meu
corpo estremece.
— Aron … — suplica. — Não sei fazer outra coisa. Trabalhar
sempre fez parte da minha vida.
— Sente-se, vamos tomar nosso café. Com certeza pensaremos em
algo.
Sorrio e pisco para ela, que, com um sorriso brilhante de orelha a
orelha, acata o pedido.
Olho para nossas mãos unidas e sorrio. É um contraste tão suave e ao mesmo
tempo intenso. Minha mão é pequena e delicada e se perde na imensidão que
é a sua, grande e cheia de calor.
Aron tinha uma face oculta, escondida, e não confiava em ninguém
para revelá-la.
Conquistamos a confiança um do outro sem medos ou receios. Como
poderia imaginar que, após cair em mãos erradas, estaria como um homem
como ele? Quando estava naquele leilão, acreditei que minha vida tinha sido
arruinada para sempre. Olhei no fundo daqueles olhos azuis e sombrios,
imaginei que aquele homem cuja presença me causava calafrios me queria
subjugada, submissa para todos os seus caprichos mais sórdidos, e aqui estou
eu, tendo a chance de recomeçar e tendo todo o seu carinho e atenção.
— O que está pensando? — pergunta suavemente, deslizando uma
mão nas minhas costas.
— Como minha vida mudou.
— Para melhor?
Seus olhos brilham em expectativa.
— Sim.
Aceno com um sorriso.
— Estou cheio de boas intenções, minha bela.
Seus lábios se curvam e um sorriso malicioso desponta deles.
— Mesmo? — Ergo-me em um cotovelo e, com a mão livre, arranho
o seu peitoral. — Sabe, eu sempre notei algumas semelhanças entre você e a
Beatrice. Além dos lindos olhos azuis e fios dourados como trigo. Você tem
sangue quente como um verdadeiro italiano.
Mordo o lábio inferior, e Aron empurra gentilmente meu corpo, em
seguida, paira sobre ele, colocando um joelho entre minhas pernas,
esfregando levemente a minha intimidade. Ofego baixinho, enlaçando o seu
pescoço, tomando sua boca com urgência.
— Não é só o meu sangue que é quente, fiore. — Se afasta,
deslizando as mãos pelas minhas coxas, puxando a barra do meu vestido
branco para cima, agrupando-o na altura do quadril.
Posso sentir o quanto está duro, e isso me excita. Estamos do lado de
fora da mansão, precisamente deitados em uma chaise no pequeno bangalô
do jardim. Respiro pesadamente em seus lábios e o afasto quando o seu
celular começa a tocar.
— Droga! — brada, afastando-se irritado.
Ele alcança o celular no bolso do seu jeans e respira fundo antes de
atender.
Ele escuta algo e olha para mim, pedindo licença para atender, e anda
em direção à piscina. Controlando minha respiração, observo Aron andando
para longe em trajes tão casuais que me fazem lembrar de quando o vi no
quarto de hotel. Agora, em um par de jeans e uma blusa cinza de mangas
curtas, tão charmoso e despojado que desejaria ficar a vida toda só
admirando-o. O tecido da camisa agarrando-se a cada polegada do seu corpo
delicioso.
Depois de minutos de conversa, ele vem até mim e deixa um longo e
apaixonado beijo.
— Tenho que resolver algumas coisas da empresa, mas estarei no
escritório caso precise. Tudo bem?
Concordo e ele acaricia minha bochecha.
— Certo!
Beija novamente meus lábios e se afasta.
Penso em ver Beatrice e Loreta, mas lembro-me que as duas ainda
estão se adaptando à nova situação e de vez em quando ainda trocam farpas,
o que é muito engraçado.
Então decido ir para meu lindo estúdio e terminar a pintura de uma
tela que comecei. Tive um sonho com essa paisagem. Confesso que adoro
pintar rostos, mas essa, definitivamente, será meu quadro favorito, pois Aron
está nele e seus belos olhos azuis contrastando perfeitamente com o azul
quase translúcido do mar do caribe.
Enquanto eu pegava minha paleta de cores, minha mente reproduzia
cada detalhe da sua face. Rosto angulado, másculo. Olhos ferinos de um azul
que reluzia em determinados momentos e, quando fazíamos amor, seus lábios
se curvavam em um sorriso quente e luxurioso.
Acabo perdendo a noção do tempo e resolvo procurá-lo. Com certeza
está em seu escritório. Assim que encontrá-lo, o convidarei para subirmos
para o nosso quarto e terminar o que começamos mais cedo. Sorrio com esse
pensamento.
Ando despreocupadamente rumo ao seu escritório e, para a minha
total infelicidade, o encontro vazio. Dou de ombros e caminho em direção a
sua imponente cadeira. Não sei explicar, mas ela me atrai como ímã.
Imaginar Aron sentado nela como um verdadeiro rei é quase intoxicante.
Sento-me e me afundo sobre ela, sentindo o delicioso cheiro do seu perfume.
Passo as pontas dos dedos sobre alguns papéis e pastas
milimetricamente organizados no móvel e vejo um envelope marrom com o
meu nome no topo. Franzo o cenho, alcançando-o, e o mantendo no meu
campo de visão. Abro e retiro todas as folhas de papel que havia dentro,
inclusive antigos artigos de jornais.
— Deus! — Ofego, percebendo que são muitas informações sobre
mim. Aron andou investigando minha vida, sobre o meu passado. Mas por
qual motivo?
Há notícias sobre o meu pai, seus negócios e empresas. A morte da
mamãe. Meu sumiço repentino da escola e mídia.
Sinto um tremor percorrer o meu corpo quando olho para dentro do
envelope e percebo que tem algumas fotos. Levanto o envelope e sacudo-o de
forma que todas as fotografias caíam sobre a mesa. Pego uma delas e solto
com um grito estrangulado.
— Não, não, não… — nego veemente.
Não consigo controlar minhas mãos, que tremem de forma
descontrolada, assim como as lágrimas que descem violentamente pelo meu
rosto. Fecho os olhos, respirando fundo. Abro-os e pego outra fotografia. E,
por mais que eu o odeie, não desejaria vê-lo assim… morto!
Desato em um choro copioso. Não consigo respirar e a dor cava
fundo no meu peito. É como se todas as paredes em volta se fechassem ao
meu redor e minhas pernas cedem. Seguro firme à beirada da mesa e uma
onda de náuseas me acerta. Estou completamente atordoada olhando foto por
foto, em choque total. E, por fim, a cruel constatação: meu pai está morto!
Em uma delas, eu posso ver nitidamente seus olhos negros, opacos e
sem vida, ainda abertos. O rosto pálido, abatido. Nem parece com o mesmo
homem que eu me lembrava. Cuja beleza e carisma impressionava. Seu
cabelo negro com alguns fios grisalhos submersos em uma grotesca poça de
sangue.
— Deus! — exclamo, levando minhas mãos até a boca, reprimindo
um soluço.
A dor é tamanha que parece dilacerar o meu peito.
Quem poderia fazer isso com ele? A troco de quê? Meu pai não tinha
mais nada para oferecer. Era apenas um fiapo do homem de posses que já foi
um dia.
— Zaina? — Ouço a voz rouca de Aron vindo do limiar da porta.
Franzo o cenho e de repente uma luz se acende na minha mente.
Claro! Como não pensei nisso antes? Aron! Só pode ter sido ele que
deu ordens para matarem o meu pai. Afinal, ele tem um pequeno dossiê com
todos os acontecimentos importantes da minha vida. Ele queria me manter
presa ao seu lado. Balanço a cabeça e enxugo minhas lágrimas com o dorso
da mão, erguendo o olhar para ele. Aron dá alguns passos em minha direção
assim que percebe o meu estado.
— Fiore… por que está chorando?
Desvio o olhar do seu, apertando o maxilar. Abro a terceira gaveta,
alcanço a pistola e levanto-me com as mãos trêmulas com a pistola em
punho, apontando para a sua direção.
Aron arregala os olhos e recua um passo para trás. Surpreso, levanta
as mãos à frente do corpo em sinal de rendição.
— Zaina… abaixe a arma. Por favor! Vamos conversar. Fiore… —
diz e anda mais um passo.
— Você… — tento falar, mas sinto um grande nó se formando na
minha garganta.
— Por que matou ele, Aron?
Suas sobrancelhas se arqueiam em choque e rapidamente seu olhar
recai sobre as fotos em cima da mesa.
— Zaina, calma! Olha para mim, meu anjo. — pede em um tom de
voz manso.
— Não fiz isso. Tem que acreditar em mim. — Choro
descontroladamente. Meu coração partindo-se em milhões de pedaços. —
Depois de tudo que passei. A morte da minha mãe, o vício descontrolado do
meu pai por jogos e bebidas. A falência iminente. Meu próprio pai
sacrificando-me para pagar suas dívidas e não ser morto. D-epois de tudo…
ele morreu! — berro, batendo com a arma no meu peito.
— Zaina! — Aron grita desesperado, tentando chegar mais perto.
— Para! — Aponto a arma para ele novamente, que se afasta,
olhando-me com um olhar de súplica. — Eu tive esperanças, Aron, que um
dia meu pai se arrependeria e me resgataria daquele lugar. Mas ele n-unca
veio. — Solto um soluço estrangulado que me faz sentir o gosto amargo da
bile. — Ele sempre foi um homem doce, gentil, amável. Um pai maravilhoso.
E… Após a morte da minha mãe, tudo mudou, e para pior. Eu só queria
minha vida de volta. E você … tirou isso de mim. — Ofego sentindo a
garganta doer.
— Eu não fiz isso, tem que acreditar em mim! — sussurra, e eu nego.
— Estou sozinha — repito várias vezes, soltando um sorriso triste. —
Absolutamente ninguém!
Choro ainda mais e Aron me encara.
— Querida… não chore. Você tem a mim, Zaina. E sempre terá!
Olho para ele com os olhos encobertos por lágrimas.
— Até quando? Hãn? Até você se encantar por outra? — questiono
em um fio de voz. — Já ouvi o suficiente! — Fecho os olhos, atordoada com
a imagem grotesca do meu pai afogado no seu próprio sangue. — Pai… —
murmuro com uma dor latejante corroendo minhas entranhas.
— Zaina… abra os olhos e olhe para mim. Eu não matei o seu pai.
Abro os olhos e o encaro por cima da névoa de lágrimas.
— Por que eu deveria confiar em você? — grito, andando em sua
direção, apontando a pistola diretamente no seu coração. — Você investigou
toda a minha vida e tinha motivos de sobra para fazer isso. — Pressiono o
cano frio contra seu peito.
Aron segura o cano com ambas as mãos, o mantendo no lugar. Seus
olhos azuis brilham tão intensamente que me fazem sentir um pequeno
tremor.
— Eu te amo! — solta no calor da emoção — Para ser sincero, a
amei desde o primeiro momento. Então, se isso não for o suficiente para
você, seguirei todos os dias da minha vida provando isso.
Meu lábio inferior treme e as palavras ficam presas no fundo da
minha garganta.
Aron… me ama?
Minha mente dando voltas e mais voltas relembrando cada minuto
que passei ao seu lado.
— Fiore… acredite em mim quando eu digo que morreria por você.
Eu amo você, Zaina. E, se olhar no fundo dos meus olhos, verá isso. Você é
meu começo, meio e fim.
Ofego, afastando-me da sua imponência. Meus olhos se enchendo de
lágrimas à medida que ando para longe dele.
— Zaina… Tenta tocar-me e desvencilho do seu agarre.
Então tudo acontece muito rápido. Um estalo e, em segundos, tenho
Aron caindo sobre os seus joelhos com a mão espalmada sobre o ombro
direito. Seu belo rosto contorcido de dor.
Não, não, não! O-o que foi que eu fiz?
Balanço a cabeça horrorizada pelo que acabo de fazer.
— Aron! — grito, e imediatamente a porta do escritório é aberta em
um baque e três seguranças entram e, quando percebem o que aconteceu, dois
andam em minha direção e ambos seguram os meus braços, enquanto o
terceiro ajuda Aron a se levantar.
— Senhor, está ferido. Iremos levá-lo até o hospital — diz e olha
para mim com o olhar desconfiado. — Chamaremos a polícia. Há muito para
ser esclarecido aqui.
— Não! — Aron rosna e olha para mim. — Ninguém chamará a
polícia. Isso que aconteceu foi um acidente, e morre aqui, estamos
entendidos? — Geme, sentando-se em sua cadeira.
Os três seguranças assentem sem pestanejar.
— Precisa ir ao hospital senhor. Está perdendo sangue. — o terceiro
segurança insiste, e só então desperto do meu estado de torpor.
Choro e tento ir ao seu encontro, mas sou impedida.
— E-u… me perdoa, Aron. Eu não q-ueira!
— Solte-a! — exige. Sua voz rouca vacila e o vejo ofegar. Pela sua
expressão, está sentindo muita dor o que me deixa ainda pior.
— Senhorita… — Um dos seguranças pega um lenço branco do
bolso e envolve a arma, retirando-a das minhas mãos.
Corro até ele, envolvendo sua face. Minhas lágrimas descem de
forma copiosa, caindo em seus joelhos, molhando o seu jeans.
— M-e perdoa! — digo baixo, seu polegar contornando meus lábios.
— Eu não matei o seu pai.
Respiro, roçando o meu nariz no seu pescoço.
— Eu sei! E, no fundo, sempre soube disso. Não tinha a menor
hipótese de ser o homem que me marca todas as noites como sua,
proporcionando-me prazer e paixão e ser o autor ou mandante de um crime
como esse. Aron, pode ter me mostrado um lado frio seu assim que nos
conhecemos, mas não durou muito e sua face carinhosa e intensa levou a
melhor.
— Eu só investiguei você, porque queria ter certeza que não era
cúmplice do Frank.
Encaro-o surpresa.
— Não. Eu juro que não tenho nada a ver com ele. Só o conheci
naquela festa.
Afasto-me e com dificuldade Aron segura minhas mãos.
— Eu sei disso, fiore. Mas não importa. Vamos esquecer tudo e de
agora em diante não teremos mais segredos um para o outro. Começaremos
uma nova vida juntos. Nós casaremos e teremos nossos filhos.
Sorrio em meio às lágrimas, não acreditando no que ele acabou de
dizer.
— Eu… v-ocê havia dito que me amava…?
Não consigo disfarçar a minha apreensão. Aron leva minhas mãos
aos lábios e arqueia suas grossas sobrancelhas loiras.
— Bella fiore… Eu amo você!
Fico em silêncio, abrindo e fechando a boca sem conseguir
pronunciar uma única palavra. Sinto como se milhões de borboletas
levantassem voo dentro do meu estômago.
— Não precisa dizer nada, bela. Confesso que, quando a vi naquele
leilão, eu senti uma incontrolável atração por você. E o ponto alto foi quando
nossos olhares se encontraram. Ali, eu percebi que você tinha que me
pertencer. Você foi feita para mim, Zaina. Moldada e exclusivamente para ser
minha. Ouça o que eu tenho para dizer: enquanto eu viver, vou amá-la e
protegê-la. Ninguém nunca mais lhe fará mal.
Envolvo o seu pescoço e o abraço apertado. Aron grunhe, e me
assusto. Posso tê-lo machucado com o meu rompante.
— Desculpe! — peço, acariciando o seu rosto. — Eu amo você,
Aron! E fico feliz em finalmente poder contar isso. Tinha medo de não ser
recíproco.
— Bela…
Olhamos um para o outro, e o beijo. Sua boca é deliciosa e quente.
Perco-me em nosso beijo doce e totalmente apaixonado.
— Aron!
Nós nos afastamos quando ouvimos as vozes desesperadas de Loreta
e Beatrice, que vinham logo atrás no seu encalço. As duas arregalam os olhos
quando veem o filho ferido.
— Dio! — Beatrice exclama. — Filho, o que aconteceu aqui?
Loreta se aproxima e passa as mãos sobre a face dele, analisando-o
atentamente.
— Zaina?
Ela olha para mim.
— Eu…
— Foi um acidente. Estava limpando a minha arma e ela disparou —
ele me interrompe.
Loreta balança a cabeça. Sinto os olhos de Beatrice em mim e me
incomoda vê-lo mentir por minha causa.
— Não — respondo rápido.
— Zaina… — ele alerta.
— Eu atirei nele.
Ambas parecem chocadas.
— Por que fez isso, bella? — Beatrice pergunta sem acreditar.
— Foi um acidente. — Fungo, limpando novas lágrimas que
começavam a cair. — Eu fiquei atordoada, não queria machucar o Aron.
Jamais faria isso. Eu o amo.
Loreta respira fundo e não olha para mim. Ela deve estar me odiando
por isso. Nunca gostou de mim.
— Não chore, querida — Aron diz, puxando-me para os seus braços.
— Temos que levar você para o hospital, filho. Está sangrando muito.
— Não irei para o hospital — diz, e ergo o olhar para ele.
— Enlouqueceu? Está sangrando — Loreta explode, e se afasta
massageando as têmporas.
— O tiro foi de raspão, mãe. Ligue para o doutor Gutierrez e peça
para ele vir. Sem mais detalhes, por favor.
— Aron, você precisa ir para o hospital. Por mais que tenha sido um
tiro de raspão, você precisa de cuidados — digo, e então a ficha cai.
Ele não quis chamar a polícia e agora se nega a ir para o hospital.
Aron só está me protegendo.
— Você não quer ir para me proteger, não é? Seus lábios se curvam e
ele se inclina e beija minha testa.
— Sempre.
Olho para Beatrice, que, mesmo preocupada, esboçava um pequeno
sorriso, e Loreta olhava-me ainda desconfiada, mas não diz nada.
Ela sai e diz que vai ligar para o médico, e Beatrice informa que irá
preparar uma comida leve e chá. De mãos dadas, o ajudo a ir para o nosso
quarto, onde o deito cuidadosamente e o faço companhia.
— Ouviu o doutor Gutierrez, tem que ir até a clínica. Lá, será melhor cuidado
— Loreta o adverte pela décima vez.
— Sim, filho. É melhor ir. Grazie a Dio a bala pegou de raspão e
foram só alguns pontos, mas pode infeccionar.
Encolho-me, escutando Beatrice falar, sentindo a culpa acertar-me
em cheio. Eu poderia ter o matado, que estúpida eu fui!
Deus!
Fecho os olhos e sinto o seu toque quente na minha bochecha.
— Não fique assim, querida. Foi um acidente. Olhe para mim, estou
bem. — Ele olha para mim e seus olhos azuis são um deleite para as minhas
vistas cansadas de chorar.
— Bem, em todo caso, me livrarei daquela arma pessoalmente. Não
entendo porque continuou com aquele trambolho que era do seu pai. Vamos
esquecer esse pequeno incidente e seguir com nossas vidas. O passado deve
permanecer no Passado. Assim como Frank que logo será julgado e
condenado.
Loreta havia conversado mais cedo com o filho e, pelo visto, Aron a
fez entender que realmente não tive culpa. Ela está até mais amável do que
antes e serena, mesmo diante de tantos acontecimentos.
Se virando para mim, ela pergunta:
— Querida, já escolheu o vestido de noiva? — Franzo o cenho,
desviando o olhar para Aron, que segura minha mão. — Nos casaremos em
três meses, fiore. Para que esperar, não é mesmo?
Meus olhos se encheram de lágrimas e, se eu pensei que não havia
mais para ser derramadas, estava enganada, pois choro como uma garotinha.
— Espero que esse choro seja de felicidade — sussurra quando
aninho-me em seu peito.
Seus lábios estão em meus cabelos e sinto sua respiração quente
ressoprar contra eles. Sorrio, com um aceno frenético.
— Teremos netos lindos — Beatrice solta, e Loreta concorda. Seus
olhos verdes brilhando.
— Sim, serão os mais lindos do mundo.
Aron e eu soltamos uma gargalhada.
E, agora com o incentivo das minhas duas sogras, começo a imaginar
um serzinho gerado por mim com os olhos azuis e brilhantes como o do pai e
o sorriso mais lindo que existe, capaz de dominar o mundo.
Sinto um calor percorrer o meu corpo e o toque de Aron em minhas
costas, incendiando minha pele. Aron deve ter tido o mesmo pensamento que
o meu e algo me diz que logo descobrirei isso.

Um mês depois…

Aron não soltou minha mão em nenhum momento. O que me deixou


aliviada. Enquanto chorava copiosamente, ele enxugava minhas lágrimas.
Com amor e pacientemente aguardou em silêncio eu me despedir do homem
que um dia chamei de pai.
Passo uma mão sobre o mármore frio da lápide, contornando cada
letra do seu nome. Não há mais espaço para rancor e mágoa. Eu o perdoei e
agora fecho esse triste ciclo da minha vida.
— Descanse em paz, papai! — murmuro, secando minhas lágrimas.
Olho para Aron com um misto de sentimentos. Eu o amo tanto. Deus,
como eu amo esse homem. Ele sorri e espelho o seu sorriso. Admiração e
gratidão transbordam do meu peito. Aron providenciou tudo para meu pai ter
um enterro digno, já que havia sido enterrado em um túmulo qualquer e longe
do grande amor da sua vida, minha mãe. Graças a ele, ambos estão lado a
lado. Enfim, meu pai terá o descanso merecido. Foi por amor que ele entrou
numa fase de degradação, se esquecendo de tudo e todos a sua volta,
inclusive da própria filha. Perder o amor da sua vida foi demais para ele. E
agora que sei o que é o amor, não imagino minha vida sem Aron, nem sequer
cogito essa ideia. Eu o amo loucamente. É um sentimento tão intenso que
chega a doer no peito e espero nunca experimentar uma vida sem ele.
Aron puxa-me para os seus braços e beija o topo da minha cabeça.
Olho para o lindo buquê de lírios brancos que trouxe, o preferido da mamãe,
e suspiro. Trarei mais sempre que vier vê-los.
Começamos a nos afastar e, com uma última olhada para o túmulo
dos meus pais, sigo em frente.
— Não acha melhor descermos? — pergunto, roçando o polegar no
seu peito sensualmente. Estamos esparramados sobre nossa cama, na qual
passamos muito tempo do dia nos amando insanamente. Ouço o seu sorriso
no topo da minha cabeça e seus dedos quentes acariciarem minha nuca,
pressionando um ponto que me deixa totalmente relaxada.
— Você quer?
Nego, reprimindo um sorriso. Não pude deixar de notar o quão
profundo e rouca sua voz soou. Isso significa que ele está excitado e, ao
julgar como sinto o seu pau rígido e pulsante embaixo de mim, tenho minha
confirmação.
Me afasto e faço uma trilha de beijos por todo o seu pescoço,
deslizando minhas mãos pelo seu peitoral e montando o seu quadril. Aron
engole em seco e segura as minhas coxas apertando-as com força.
— Minha fiore… posso sentir o quão pronta sua boceta doce está para
mim — sussurra rente ao meu ouvido, levando o indicador ao nervo sensível,
fazendo leves pressões. Ofego, arranhando a sua nuca, puxando de forma
agressiva o seu cabelo. — Mmmm…. Me diga o quão molhada você está,
querida?
Sua voz tem um toque sombrio de devassidão que toca exatamente
onde seus dedos estão, enviando-me a um passo do abismo. Aron desliza um
dedo e depois outro, tocando um lugar dentro de mim que me faz estremecer.
— Ahhh… — Choramingo, esfregando-me em seus dedos.
— Diga-me! — ordena, torcendo os meus mamilos rígidos.
Olho para ele e lambo os lábios.
— G-otejando…
Deslizando as alças da minha camisola, ele inclina-se o suficiente
para capturar um seio na boca. Suas bochechas inflam e o barulho de sucção
ecoa pelo quarto. Aron é implacável, suga com voracidade e, em seguida, faz
o mesmo com a outro, não aliviando a maneira bruta que me fode com os
dedos.
Estou a ponto de explodir à medida que um vórtice violenta acerta-
me em cheio e eu gozo gritando o seu nome.
Mal tenho tempo para recuperar-me direito e suas mãos másculas
moldam o meu corpo de maneira que eu fique de quatro para ele, com o
bumbum totalmente empinado, expondo meu sexo inchando e pulsante,
gotejando para ele. Sinto sua presença atrás de mim, seu pau ereto roçando no
meu botão do prazer. Estremeço com o atrito, mordendo o lábio inferior,
desejando tê-lo mais uma vez preenchendo-me até o talo.
Deus! Quando me transformei nessa completa tarada?
Olho por cima do ombro e o vejo esplendoroso como um verdadeiro
Adônis, acariciando seu membro majestoso com movimentos lentos e suaves.
Seu comprimento pulsa vívido em suas mãos. Aron crava o seu olhar no meu,
e vejo como o prazer adorna seu belo rosto. Os movimentos ficam mais
intensos e sua respiração acelera. Contorço-me com um arrepio de
antecipação quando seus lábios se repuxam em um sorriso luxurioso, ele
curva-se em minha direção, distribuindo beijos de lábios abertos por toda a
minha coluna, retirando minha camisola com cuidado e com um puxão,
rasgando a minha calcinha de renda.
Sinto minha pele pinicar com o movimento e isso me excita ainda
mais. Seu pau vazando sêmen deslizando facilmente em mim.
No primeiro momento, Aron não se mexe e suspira no vão do meu
pescoço.
— Melhor sensação — diz, mordendo o meu ombro —, me enterrar
dentro dessa bocetinha apertada é o paraíso. — Estoca levemente me fazendo
fechar os olhos.
Me sinto empalada por ele e a sensação que tenho é que, se eu
respirar, Aron pode ir ainda mais fundo.
— Zaina…— rosna, agarrando minha nuca, puxando um punhado do
meu cabelo. Fecho os olhos momentaneamente, recebendo todas as suas
investidas cruas e devassas. — Gosta de como estou fodendo você, querida?
Gosta de como meu pau toma cada centímetro dessa sua doce boceta
apertada? — continua a rosnar, respirando pesadamente. Suas palavras sujas
têm um efeito ilícito em todo o meu corpo. — Responda-me ou não
permitirei que goze — ruge, estocando ainda mais forte.
Reviro os olhos, sentindo as primeiras ondas de prazer chegar.
— Oh, Deus! S-im… Foda-me, Aron! — Choraminguei, apertando
minhas mãos sobre a colcha da cama.
— Boceta deliciosa. Você é minha, fiore…
Com um tapa forte em uma das minhas nádegas, caio diretamente no
abismo, gemendo com uma gata no cio. Meu clímax chega mais intenso que
o outro, fazendo-me curvar os dedos dos pés. Minhas costas arqueiam com a
intensidade do prazer enquanto grito seu nome, sentindo seu jato morno
explodir dentro de mim e seu braço direito enlaçar o meu tronco, puxando-me
para cima. Ele bombeia profundamente até ter certeza que despejou a última
gota.
Ofegante, seus lábios encontram os meus e sua língua mergulha na
minha, chupando-a de forma obscena. Sinto meu corpo despertar mais uma
vez, pronto para a terceira rodada. Suas mãos descem para o meu abdômen
onde acaricia em círculos.
— Logo colheremos o fruto do nosso amor — sussurra com um lindo
sorriso preguiçoso.
Que Deus o ouça.
Aron desliza para fora de mim e me pega em seus braços, olhando-
me com seus belos e ardentes olhos azuis.
— Potrei guardarti tutto il giorno. — Sorrio para ele com uma
sobrancelha erguida. — Sou italiano, querida. Tenho sangue quente nas veias
e notei que adora quando falo em italiano com você. — Não nego, ele tem
razão. Aron fica ainda mais sexy e não posso mensurar como isso me deixa
louca, mas eu jamais irei admitir.
— Grazie amore per sapermi amare — sussurro de volta vendo seus
olhos se iluminarem.
— Sempre!


Dois anos depois…
Beijo o topo da cabecinha perfumada de Ísis enquanto caminhamos pela linda
praça de Montepulciano, na Toscana. Giuseppe olha para mim, estendendo os
bracinhos em nossa direção do carrinho que a vovó Loreta empurrava
alegremente.
Seus olhos negros são como duas jabuticabas, lindas e suplicante.
Seus cachinhos loiros balançam por conta do vento frio do outono. Quando
Zaina sorri logo à frente, perco totalmente sua atenção. Nossos filhos são
loucos pela mãe, assim como o pai, que é loucamente apaixonado.
Ao descobrirmos sua gravidez de gêmeos, foi uma felicidade que não
tinha tamanho e, no dia do nascimento de ambos, quando pude pegá-los nos
braços, foi difícil conter a emoção. Ela vinha como ondas que transbordavam
do meu peito.
Com apenas dois anos de vida, meus filhos são o melhor presente que
Zaina poderia ter me dado. Observo de longe como minha mulher está feliz, e
isso é o suficiente para mim. Quando nos casamos na Catedral de
Westminster, jurei no altar, perante algumas pessoas e Deus como nossa
principal testemunha, que viveria todos os dias para fazê-la feliz, e acredito
que estou alcançando o meu propósito.
Beatrice olha para mim e sorrio; no início, foi estranho vê-la como
mãe, mas, aos poucos e começando novamente, construímos uma linda
relação, e meus filhos não poderiam ter uma avó melhor. Bem, na verdade,
duas. Loreta tem se dedicado muito a eles, o que deixa Zaina e eu comovidos.
Minha mãe Beatrice cessa os seus passos olhando para a grande placa
de uma pousada. Não perco sua surpresa e sei que ela merece, depois de
tantos anos afastada da família.
Descobri recentemente que meu pai continuava bancando a família
dela e o contrato havia se encerrado a seis meses atrás. Pesquisei mais sobre e
descobri que seus pais, meus avós, ainda estão vivos e resolvi prolongar o
contrato. Então, preparando uma surpresa para ela, a convidei para passarmos
as férias em sua cidade natal, e ela topou de imediato e ficou emocionada, já
que havia perdido o contato com a família há anos. Lágrimas escorriam pelo
seu rosto enquanto olhava a placa da pousada.
“Locanda Bianchi”. A pousada se destacava no meio de tantas
belezas naturais e antigas construções.
Beatrice corre apressadamente para dentro da pousada, e seguimos no
seu encalço. Minha mãe Loreta olha para mim com um sorriso cúmplice, ela
fez todo o arranjo, deixando-me orgulhoso que finalmente se esqueceu de
todo o passado. Seus olhos verdes ainda possuem um tom sombrio de
tristeza. Após ser condenado por seus vários crimes, Frank suicidou-se na
cadeia. Pelo o que apuramos, ele estava envolvido com pessoas perigosas e
devia uma alta quantia. Julgo sua atitude covarde como puro desespero.
Loreta fingiu indiferença quando soube da notícia, mas, no meio da
noite, pude ouvir o seu choro, e isso partiu o meu coração. Ela amava o
homem que ele fingiu ser. Com o tempo, ela se esquecerá dele e conhecerá
alguém que realmente a ame e valha a pena, e eu estarei aqui sempre para
protegê-la.
Entramos na pousada com toques rústicos e aconchegantes e vejo
minha mãe Beatrice ajoelhada aos pés de um casal de idosos. Percebo as
semelhanças imediatamente. A senhora tem belos olhos azuis, assim como o
senhor ao seu lado. Zaina segura minha mão, entrelaçando os nossos dedos e,
de canto de olho, a observo enxugando algumas lágrimas discretamente.
São os meus avós e o reencontro deles com sua única filha é
emocionante. Acariciando o rosto da filha, a senhora olha para mim com um
sorriso terno.
— Ciao bello! — diz e sorrio. Beatrice se levanta e segura o meu
braço, sorrindo em meio às lágrimas.
— Questo è il mio Aron, mamma!
— Ma che bello! — o senhor de olhos azuis responde, e Ísis solta
uma gargalhada, enlaçando o meu pescoço.
Zaina se aproxima, chamando a atenção dos dois. Ela pega Ísis nos
braços, acariciando suas bochechas rosadas, coloca uma longa mecha do seu
cabelo loiro atrás da orelha. Os olhinhos azuis de Ísis cintilam quando ela
sorri, exibindo suas covinhas adoráveis.
— Esses são os meus pais, Tommaso e Giovanna.
— Papà e Mamma, esses são meus nipoti, Ísis e Giuseppe, minha
nuora, Zaina e… — Aponta para minha mãe Loreta, que a interrompe.
— Loreta Miller, é um piacere!
Ambos sorriem e nos dão uma recepção calorosa. Principalmente
com os bisnetos, que parecem ter conquistado os corações deles.
— Loreta realmente mudou. Seu gesto de ocultar que ela era a
verdadeira esposa do seu pai foi nobre — Zaina murmura ao meu lado, e
concordo, olhando para a minha mãe conversando animadamente com um
casal de turistas em uma mesa.
Logo observo um homem muito elegante em um terno Armani bem
alinhado ao corpo, exibindo um sorriso sedutor, andando em sua direção.
Dou um passo para frente, e Zaina me impede.
— Não seja um filho ciumento. Acostume-se que você tem duas
mães lindíssimas e que pretendentes não irão faltar. — Rosno, respirando
fundo quando o vejo oferecendo-lhe uma taça de vinho, que ela gentilmente
aceita.
O casal se despede e o Dom Juan não perde tempo e senta-se ao seu
lado e, pelo sorriso da minha mãe, derramando galanteios. Esfrego o meu
rosto, e Zaina cai na gargalhada.
— Pelo menos, com minha mãe Beatrice, não preciso me preocupar.
— Solto o ar lentamente.
— Sério? — Zaina arqueia uma sobrancelha e olha para uma direção,
eu sigo o seu olhar e arregalo os olhos.
Vejo minha mãe Beatrice toda sorridente para um turista.
— Deus! — exclamo, tomando minha taça de vinho.
Zaina suspira e se senta no meu colo, enlaçando o meu pescoço.
— Você está muito tenso, amore mio… — sussurra, mordiscando a
ponta da minha orelha. Respiro profundamente e seguro firme o seu quadril.
— E o que fará a respeito? Hãn?
Ela morde o lábio inferior e olha para os lados, em seguida, seu olhar
descansa em nossos filhos brincando com o seu bisavô Tommaso.
— Deixá-lo relaxado, amor. De todas as maneiras — ronrona e beija
o meu queixo, se afastando e fitando-me intensamente. — Eu amo você,
Aron Maldonado. — Pisca docemente, e eu a puxo ainda mais para mim.
— Eu amo você, fiore. E faria tudo novamente para ter você em meus
braços. Emolduro seu rosto e colo nossas testas. — Você transformou minha
vida. Encheu de luz e beleza. Deu-me dois filhos maravilhosos e orgasmos
mais que intensos — sussurro a última frase e a vejo sorrir e revirar os olhos,
limpando algumas lágrimas que rolavam da sua face. — Eu vou te amar,
Zaina, e daqui a cem anos, seguirei amando você.
Ela toma minha boca em um beijo intenso e suspira nos meus lábios.
— Para sempre e além! — sussurra afastando-se, segurando minhas
mãos e entrelaçando os nossos dedos. Levo-as à altura do meu peito, ao
alcance do meu coração, que pulsa fortemente.
Se existe felicidade maior que essa, eu desconheço.
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[1] *Tradução: “Quando a solidão apertar, filha, olhe para ele e estarei perto do seu
coração”.

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