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1ª Edição

2023

Copyright © 2023 Scarlett Castello

Revisão: Paula Domingues

Diagramação Digital: Paula Domingues

Leitura Crítica: Jessica Lindoso e Jacqueline Siqueira

Capa: Paola Santiago

Esta é uma obra ficcional.

Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da vida real é mera


coincidência.

Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser
utilizada ou reproduzida em quaisquer meios existentes sem a autorização
por escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Lira Vittileno, é conhecida por ter o pior da personalidade dos seus dois
irmãos. Dona de uma personalidade forte e um coração que anseia ser
verdadeiramente amado. Lira já teve seu coração partido inúmeras vezes, mas
nada a preparou para aquele que não só partiria seu coração, mas também lhe
rejeitaria grávida.

“Nunca mais amarei e deixarei outra pessoa me conhecer para levar uma
parte minha, me deixando vazia e sem rumo”.

Daniel Albuquerque, nunca imaginou que se encantaria pela irmã do seu


amigo. Após uma noite intensa, tudo o que ele queria era poder repetir a dose
com aquela mulher que parecia ter sido feita sob medida para ele.

Agora, meses após a noite, em que passaram juntos, as fagulhas da paixão


queimam entre os dois em mais uma noite envolvente.

“Não estou disposta a machucar meu coração uma segunda vez, porque
depois colar os cacos acaba comigo.”

Ao contar sobre sua gravidez. Lira tem seu coração partido mais uma vez,
pois Daniel tem certeza de ser estéril. Agora, 2 anos após a rejeição, ela, sua filha
Lizzie, e a família, se reúnem para uma comemoração e só bastou um olhar para
que Daniel recordasse que Lira falou para ele que estava grávida e seu coração se
encher de arrependimentos ao perceber a filha que ele rejeitou.

“O que importa é o agora. Um agora em que a minha menina pode


finalmente ter um pai”.

Mas seria Daniel capaz de apagar a mágoa no coração de Lira e conquistar


um lugar na vida das garotas Vittileno?
Para você que assim como eu, derramou incontáveis lágrimas ao longo de
cada livro dos irmãos VITTILENO. Sinta-se abraçada e acolhida.
Mais uma série finalizada e o sentimento que fica é a gratidão.

Gratidão pela honra de escrever sobre os irmãos, por ter conhecido pessoas
maravilhosas, por saber que existe pessoas que leem o que escrevo e realmente
gostam. Obrigada a cada leitora que me mandou um direct, respondeu a uma
publicação, vocês não imaginam a força que me deram em dias sombrios.

Obrigada a minha equipe maravilhosa que surta com meus cronogramas.


VOCÊS SÃO PERFEITAS!
SINOPSE
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
EPÍLOGO
OBRAS RELACIONADAS
REDES SOCIAIS
Lira

Amar um homem e sermos felizes para sempre? Não consigo mais


acreditar nessas palavras ou sentimento.

No casamento do Louis eu encontrei um homem que pensei que pudesse


ser mais do que uma aventura. Ele me respeitava, me tocava com força, os olhos
famintos e no meio da névoa de desejo, eu via o carinho em suas irises
castanhas.

Daniel Albuquerque é o último homem que partiu meu coração. O


primeiro foi uma paixonite quando eu ainda era criança e mal recordo o motivo
de termos terminado, acho que peguei o morango dele e ele não gostou. Mas com
Daniel foi diferente, era para ter sido somente uma noite, eu sabia disso, mas
aquela noite gerou uma consequência perfeita, um pequeno pacotinho se
desenvolveu no meu útero.

No casamento do meu irmão Levi, ele me seguiu queria mais uma noite
após ter rejeitado minhas ligações em que tentei revelar a ele sobre a gravidez.
Daniel não quis ouvir, me beijou, cheirou e enlouqueceu meu corpo. Como uma
boba, eu caí no encanto dele, a áurea de homem mais velho me hipnotizando,
como se ele fosse capaz de pela maturidade dar respostas a todas as minhas
dúvidas.

Daniel não percebeu meu ventre proeminente ou se notou, preferiu ficar


calado. Ele nunca se perguntou o que eu queria com ele e, como pude engordar
somente no ventre? Que homem não acharia isso suspeito? Por um segundo,
enquanto transávamos e ele sussurrava no meu ouvido que sentiu a minha falta,
eu me iludi de que no dia seguinte poderíamos conversar sobre o que aconteceu
entre nós.

No dia seguinte acordei solitária na cama, Daniel tinha partido mais uma
vez. Levi e Olivia decidiram se casar de última hora e com isso no final da noite,
estavam todos animados e comemorando a união do casal que passou pelo
inferno para conseguirem ficar juntos.

Naquela mesma noite eu procurei Daniel em seu quarto, o cheiro de


uísque purgante fez o meu estômago revirar. Brigamos porque ele me achou
grudenta e eu confessei a verdade, disse que estava gravida. Com nojo no olhar,
Daniel me mandou ir embora, ele tinha certeza de que o filho não era dele.

Meu coração foi partido há dois anos, me escondi daquele que me magoou
para tentar colocar a cabeça no lugar e cuidar da minha garotinha. Não posso
continuar dessa forma para sempre, por isso eu decidi usar esse espaço para
expurgar todas as lembranças que assombram o meu coração. Em poucas
semanas terei de encontrar o homem que me despedaçou, o pai ao qual minha
filha pergunta com os olhos brilhantes e eu nunca sei o que responder.

Meu querido diário, me ajude a achar a cura para meu coração, quando
ainda sinto a ferida me rasgando todos os dias.

Eu sou Lira Vittileno e essa é a história de como eu me tornei mãe e tive o


coração partido pela última vez. Nunca mais amarei e deixarei outra pessoa me
conhecer para levar uma parte minha, me deixando vazia e sem rumo.
Lira

Louis finalmente vai se casar!

Chego com alegria a mansão de primavera da minha família, tenho ótimas


lembranças dos dias em que passei aqui com os meus irmãos e algumas poucas
da minha mãe. Inspiro o ar limpo, finalmente o cabeça dura e cafajeste deu um
jeito na vida dele, eu entendo como é gostoso ficar com pessoas aleatórias e
casinhos de uma noite. Mas diferente do Louis, eu busco nos casinhos de uma
noite um amor que consuma.

Foi terrível me recuperar do choque foi saber que o Santiago, um colega de


produção transava comigo me enchendo de amores, tínhamos uma química forte,
ele era mais velho, sarado e muito bonito. Falava como um verdadeiro galã,
viajamos juntos duas vezes no final de semana e era harmônico trabalhar com ele
no set de filmagens da série drama que eu estava dirigindo.

Estava tudo perfeito, até o Santiago vir ao meu apartamento em Los


Angeles, o hálito fedendo a álcool, a mão na porta e a boca descendo para me
beijar. Foi quando a luz bateu no dedo dele e eu vi o aro dourado brilhando. O
empurrei e perguntei o que era aquilo, ele sorriu removendo a aliança do dedo e
guardando no bolso, me agarrou pela cintura me beijando novamente. Ainda
lembro a raiva que senti ao segurar o peito dele e gritar.

— Você é casado!?

— Isso importa? — dá de ombros, avançando novamente.

— Claro! Eu não me relaciono com homens casados!

— Não faça escândalos Lira, tem semanas que estou comendo sua boceta e
você não reclama. Até parece que não sabia que a Candice é a minha esposa.

O gelo penetrou forte na minha espinha, apertei a maçaneta com força o


suficiente para quebrar.

Candice Averon é a protagonista da série, nunca a vi de aliança no set ou


interagindo com o Santiago, até mesmo os sobrenomes deles são diferentes.
Como isso é possível?

— Ela nunca falou de você.

— Candice é discreta, não quer atrapalhar a carreira dela, agora vem cá —


avança para cima de mim. Espalmo as mãos em seu peito o empurrando para
longe.

— Nunca mais toque em mim. — Bato a porta na sua cara.

Depois disso Santiago usou a aliança todos os dias exibindo na minha cara
que era casado e eu fui feita de amante. Candice que era recatada e não mostrava
o relacionamento, anunciou que era casada para todos do set. O clima ficou uma
merda, pois ela era legal, me dava bom dia e perguntava como eu estava sempre
que podia, tinha paciência para refazer a cena até eu me dar por satisfeita e
sempre me encontrava com um cappuccino de manhã e tarde.
Eu não sabia se era alguma armadilha para me fazer sentir mal por ter
namorado o marido dela, ou ela realmente não sabia que eu tive um caso com
Santiago. Tive fortes crises de ansiedade enquanto trabalhava no seriado, e eu só
queria me esconder ou acabar em um dia as filmagens.

Para piorar, o babaca pegou a diretora de imagens, transando com ela no


set quando achou que todos tinham ido embora.

Ele tinha uma mulher incrível ao seu lado e a tratava feito lixo. Levi foi um
anjo me ouvindo e me ajudando a superar essa barra. Eu queria que ele também
se abrisse para o amor com Olivia, consigo ver as faíscas saindo de seus corpos
sempre que ficam perto um do outro, a tensão sexual chega a níveis alarmantes.

Termino de me arrumar e desço as escadas. Estanco na metade dos degraus


ao ver um homem charmoso perto do meu irmão. Eles conversam formalmente
no arco que divide a sala e a cozinha. Despretensiosamente vou me aproximando
do desconhecido. Ele é o homem mais sexy e charmoso que já vi.

A pele bronzeada esmaga o terno de linho bem acoplado a seu corpo. O


cabelo castanho claro disfarça os fios cinza embranquecidos que despontam na
lateral das orelhas e na barba bem aparada. O rosto de feições fortes e marcantes,
as maçãs proeminentes e o nariz afilado, arrepios me cortam ao imaginar como
seria sentir os pelos ralos entre as minhas pernas. O olhar castanho intenso, como
se ele pudesse ler a minha alma.

Engulo em seco parando perto deles. Ambos muito altos, me fazem parecer
pequena, mesmo no salto alto. O cheiro dele me invade como um, furação. O
homem cheira a sexo, bruto, suado e gostoso. Não ficaria surpresa em saber que
ele esteve com alguém antes de se vestir.

— Lira — Louis me chama com um sorriso — esse é Daniel, o novo CEO


da empresa no Brasil, essa é a minha irmã mais nova.
— Consigo ver a semelhança — a voz grave causa suaves arrepios em
minha pele — embora ela seja mais linda — ri grave. Estendo a mão para que ele
a pegue, os lábios quentes beijando a superfície.

— Lira sempre foi a mais bela de nós três — Louis fala orgulhoso.

— Prazer em te conhecer — recupero a minha voz.

— O prazer é meu — fala com malícia.

— Bom — Louis interrompe — precisamos falar de mais algumas coisas,


com licença Lira.

— Depois falamos mais, Lira — diz com a voz grave

Meu irmão leva o homem mais gostoso que já vi para longe e eu me abano,
sentindo o sangue volta a correr pelo corpo. Nunca me senti tão balançada na
presença de um homem como agora. Chega a ser imoral eu me deixar afetar
dessa forma com uma simples conversa e troca de palavras.

Abano o rosto caminhando para o jardim e me distraio até recuperar o


folego. Vejo a Olivia perto das cadeiras, Levi a observa de uma árvore, com o
Lorran distraído com uma borboleta. Acho que vou dar uma ajudinha ao casal.
Dou um passo na direção dela e travo ao fisgar o Daniel caminhando entre os
convidados, ele pisca para mim antes de se sentar.

O homem sabe que sou irmã do Louis e ainda me paquera, ele só pode ser
maluco. Não quero irritar meu irmão ou o fazer perder um negócio sem ter
certeza de que o Daniel quer ficar comigo, por isso caminho até a Olivia para
pedir a ajuda dela.

— Me ajuda — seguro seu braço a impedindo de sair do canto.

— O que houve? — franze a testa.


— Sabe o Daniel — aponto o homem que exala sexo do corpo — ele é
muito gato e eu quero ficar com ele — balanço ansiosa demais — acho que ele
quer também, desde que chegou fica me arrodeando e puxando assunto.

— Ele é muito bonito mesmo — Olivia fala depois de o observar


atentamente

— E educado, gentil e tem um cheiro... — reviro os olhos, abanando o


rosto, pegando fogo — enfim, eu tenho um dedo podre para homens e não quero
fazer besteira, me ajuda?

Dedo podre chega a ser um elogio, nunca consegui escolher direito os


homens com quem me relaciono. Todos, sem nenhuma exceção partiram meu
coração e me mostraram que era melhor ficar solteira do que perdendo tempo
com homem que não sabe valorizar a mulher incrível que eu sou.

— Com o que?

— Sonda ele para saber quais são as intensões dele flertando comigo desse
jeito.

— Lira, vocês nem se conhecem e já quer saber se o homem quer namorar


ou transar com você? — Me encara desacreditada.

— Exatamente! faz isso por mim?

— Tá, me dá um segundo.

Comemoro por ter convencido Olivia, ela é maravilhosa e será uma esposa
perfeita para o meu irmão. Só basta ele conseguir se abrir para o amor dela e
esquecer o passado. Se eu vivesse presa às minhas péssimas experiências, teria
desistido de ter um amor há anos, mas continuo na luta, buscando pelo amor de
um homem, ter uma família só minha.
Olivia bufa e vem irritada, ela não deve ter gostado da resposta do Daniel,
mas foda-se eu ainda quero esse homem.

— Ele é um cafajeste igual ao seu irmão, deu para perceber isso só


conversando, não se envolva.

Fico na dúvida se ela se refere ao Louis ao Levi, mas vou chutar na


primeira opção, e se ele realmente for como o Louis, então tem uma mínima
chance dele se apaixonar por mim como o Louis se apaixonou pela Bianca e hoje
estamos no casamento deles.

Pode dar certo ou errado, são 50% de chance para ambas as coisas.

— Aí merda — balanço as mãos me deixando convencer por minhas


loucuras — tenho um fraco enorme por cafajestes.

E pela ideia de converter um em um homem de família. Mas não digo a


última parte a Olivia.

— Não caia na dele, Lira — pede, sabendo que não vou dar ouvidos.

— Claro, pode deixar. — Respondo sem a encarar.

Vou sentar ao lado do Daniel e descobrir por mim mesma se o cafajeste


também pode amar como o Louis.

— Achei que não viria — ele fala, grave.

— Você sabe que sou irmã do Louis e não tem medo de se envolver
comigo?

— Não deixo relações de trabalho intervirem na minha vida privada — sua


mão desliza entre a fenda do meu vestido, alisando a pele do joelho — você
deixa?
— Se eu trabalhar com a pessoa todos os dias, ou se for meu chefe, então
sim. Não me envolvo com colegas de trabalho — obrigada Santiago, por reforçar
mais uma vez o motivo de ser uma péssima ideia, relação sexual no trabalho.

— Eu não trabalho com você — vira o rosto aproximando a boca da minha


— posso te foder sem culpa.

— Depois do casamento — digo a ele, vejo a cerimonialista me chamando


e me levanto.

Choro quando finalmente vejo meu irmão mais velho casado com o amor
da sua vida, a Bianca nem parece que deu à luz nos últimos meses, a pequena
Cecília dormiu aconchegada nos meus braços, e o Lorran no de Olivia. Levi pega
o filho no colo e eu entrego Cecília ao meu pai com a desculpa de que preciso ir
ao banheiro.

Eles vão levar as crianças para dormirem enquanto os adultos seguem para
a festa na estrutura montada no jardim.

Entro no meu quarto na mansão e fecho a porta respirando fundo, tento


controlar a emoção, mas as lágrimas se derramam em enxurrada pelo meu rosto.
A saudade que sinto da minha mãe sufoca meu peito como um punho. Ela
deveria ter entrado no altar com o Louis hoje, conhecer a neta que é a cara de seu
filho amado, me dar conselhos de que é uma péssima decisão me envolver com
homens que partiram meu coração.

Mas ela não está aqui, deslizo contra a porta, abafando os soluços e a
vontade de conseguir me lembrar dela com nitidez. Seu rosto nas minhas
memorias começa a desaparecer como fumaças, eu era tão pequena quando ela
morreu em um acidente de carro, tivemos pouquíssimos momentos juntas e tive
de passar por tanta coisa sem ela, dependendo das governantas para me ajudarem,
e hoje eu percebi que no dia em que me casar e tiver meus filhos, ela não vai
estar lá sorrindo para mim.
Não lembro a última vez em que a vi, mas a dor de descobrir a sua perda
ainda incendeia meu coração.

Batidas soam na porta, levanto limpando o rosto.

— Lira? — a voz grave do Daniel.

Abro a porta, escondendo metade do rosto.

— Sim?

— Tudo bem com você? Te vi chorando enquanto subia as escadas.

— Só fiquei muito emocionada com a cerimônia — fungo, abrindo a porta


para que ele entre.

— Casamentos são entediantes — ele fala sentando-se na cama — prefiro


quando acaba — a dupla sugestão na sua voz desperta meus sentidos, me fazendo
esquecer por um segundo a dor que me atormentava.

— Já foi em muitos?

— Sim, inclusive no papel de noivo.

A informação não me surpreende, Daniel é charmoso e deve ter por volta


de uns quarenta anos. Seria estranho um homem como ele não ter se casado.

— É divorciado? — preciso ter certeza de perguntar dessa vez.

— Sim, há muitos anos — se levanta como um predador — vamos


aproveitar a festa do seu irmão antes de podermos desaparecer sem chamar
atenção — cheira meu pescoço, arrepios percorrem minha pele como brasa.

— Boa ideia. — Respondo.


Não espero pela resposta dele, giro nos calcanhares deixando o quarto. Sou
grata por ele ter aparecido e me distraído da dor sufocante no peito. Vou usar o
Daniel para outra distração mais tarde, por enquanto quero ficar mais um pouco
com a minha família e compartilhar da felicidade deles.
Lira

— Dance comigo — puxo o Levi pela mão o arrastando para a pista de


dança. Nossa tia, Antonella, começou a puxar conversa e quase não o deixava
respirar com o sermão de que o Levi tem de superar a morte da Blanca.

— Grazie — ele suspira segurando minha cintura enquanto giramos


animados ao som das músicas típicas italianas.

— Tia Antonella estava a cinco passos de te jogar de uma ponte por não ter
se casado novamente.

— Eu a vi me jogando da ponte — arregala os olhos, as pupilas azuis


brilhando na luz.

Finalmente a cor voltou ao rosto do meu irmão.

— Promete não desperdiçar a sua chance com a Olivia? — Peço, com um


bolo na garganta por tê-lo visto tendo dias maravilhosos e depois caindo no
inferno novamente. Meu irmão merece ser feliz, e a Olivia é o sol que surgiu para
clarear os dias dele.
— Sì, não vou mais cometer erros — respira aliviado — eu aceitei que
Blanca foi uma grande parte da minha vida e a mulher que amei por muitos anos.
Mas ela se foi e eu continuo aqui, vivendo, eu posso amar a Olivia e amar a
Blanca, mas nunca mais machucarei a Olivia pelo amor que tive com a Blanca.

— Eu fico muito feliz em ouvir suas palavras — paramos, puxo seus


ombros abraçando-o.

— E você, quando vai parar de ser uma versão cafajeste de saia do Louis e
aceitar o amor?

Gargalho, meu pai vive me chamando de “Louis versão feminina”, por


anos fui desapegada como Louis. Se o cara não me fazia sentir borboletas no
estômago, somente excitação, eu ficava com ele até outro despertar mais meu
desejo. Pulando de sapo em sapo, em busca do príncipe encantado que nunca
veio. Depois de Santiago, eu não quero outro príncipe, quero um homem de
verdade que me cause um vendaval no estômago e excitação no útero.

Eu quero um amor completo, alguém que me faça flutuar com os pés no


chão. Um homem capaz de entender meu coração, aceitar minha profissão e que
nunca abdiquemos de nada que amamos pelo outro. Alguém para dividir sorrisos
e enxugar lágrimas, um homem como o Louis, capaz de ficar longe da mulher
que ama para a proteger e lutar com a alma para a reconquistar. Ou como o Levi,
que seja capaz de superar as dores que rasgam a alma pelo amor da companheira.

Eu posso ser libertina, mas ainda tenho um coração que anseia


desesperadamente pelo amor. Às vezes, eu relembro de como as mães das minhas
amigas adolescentes as controlavam, para não namorarem e não fazerem sexo,
que isso só fazia os homens quererem se divertir com elas, achando que eram
fáceis, e mulheres para uma única noite. Minha mãe morreu quando eu tinha 6
anos e meu pai sempre ficava constrangido ao precisar falar de sexo comigo.
Lembro como se fosse hoje quando menstruei a primeira vez e fiquei
desesperada, sem saber o que era o sangue na calcinha. Gritei tão alto, que o
Louis entrou no banheiro feito um foguete — meu banheiro era acoplado ao
closet e não tinha porta — meu irmão ficou vermelho como um tomate enquanto
eu achava que estava morrendo e pedia que ele me levasse ao hospital. Foi o
Louis quem me ensinou o que era menstruação, e comprou meu primeiro
absorvente.

De tarde, a governanta veio conversar comigo e me explicar o ciclo de uma


menstruação, e perguntou se eu queria ir a ginecologista. Eu sentia tanta dor que
aceitei na hora. Uma médica me ensinou o que era para a minha mãe ter feito,
quando cheguei em casa, eu chorei de saudade. Implorei ao universo para me
deixar falar ao menos uma vez com ela, para que ela pudesse ter somente mais
um minuto na terra comigo.

A Lira de 12 anos clamou pela mãe no silêncio da noite, como a Lira de 28


anos faz, quando sente uma saudade e um vazio estarrecedor. Se ao menos meu
pai tivesse casado novamente, eu teria tido uma figura feminina comigo.

A única lembrança que tenho da minha mãe, é de quando eu acordava e a


chamava para ela despertar, pois queria comer. Mamãe sorriu, alisou meu cabelo
e levantou me levando para a cozinha.

Desde então eu busco pelo que chamam de amor, tentando encontrar


qualquer coisa que preencha o buraco no meu peito pela saudade que a minha
mãe deixou. Eu sou uma versão masculina do Louis e do Levi, que amou
intensamente, e de mim mesma, a Lira que não aceita nada menos do que
mereço, uma mulher que sabe o seu valor e não está disposta a deixar qualquer
um entrar para descobrir as minhas feridas e ir embora, levando uma parte
importante de mim.
— Quando eu encontrar essa pessoa, você será o primeiro a saber —
aperto o nariz dele, vejo a Olivia o olhando com expectativa — agora vá ficar
com a sua amada.

— E você?

— Vou continuar aproveitando o casamento, acabei de ver um garçom com


zeppole preciso de um.

— Vai lá — ele beija minha cabeça e some indo ao encontro do seu amor.

Não minto, vou direto atrás do zeppole, uma rosquinha tradicional da


Itália, partida ao meio com recheio de creme confeiteiro no meio e em cima, com
amora no topo e açúcar de confeiteiro polvilhado. Como duas deliciosas, quando
sinto um arrepio na espinha. Giro o pescoço encontrando olhos afiados me
encarando, Daniel me desafia com o olhar para chegar perto dele.

Giro dando-lhe uma visão das minhas costas nuas pelo vestido, eu sinto a
pressão do ar mudando pelo caminhar dele na minha direção. Uma mão grossa
pousa na base do vestido, e seu cheiro amadeirado invade meu nariz com força,
me fazendo inspirar forte.

— Boa noite — murmura rouco.

— Boa noite — giro a cabeça na sua direção encarando-o de rabo de olho e


levo o dedo com creme a boca, chupando devagarinho. Daniel morde o lábio
inferior aproximando a boca do meu ouvido.

— Tenho algo mais gostoso para você chupar — a outra mão desce a
minha cintura trazendo meu quadril de encontro a sua pélvis.

Daniel é obsceno, seduz facilmente com uma palavra, é um pecado para a


minha libido. Tenho vontade de deixar que ele me foda aqui mesmo, nunca fui
adepta a jogos de sedução, de negar o que você quer. Se eu quero um homem e
ele me quer, ficamos juntos, sem complicações — a menos que ele seja um
safado traidor.

— E eu para você — sussurro. Levo meu dedo a seus lábios, Daniel beija a
pontinha discreto, dando uma mordida na pele macia.

— Consigo sentir o cheiro da sua excitação— rosna baixinho no meu


ouvido — te foderia agora, na frente de todas essas pessoas.

— E seria demitido antes de levantar meu vestido — o provoco. Tem algo


de quente em saber que estou pegando um amigo do meu irmão. Nunca me
envolvi com os amigos de Louis ou Levi, sempre foram proibidos, mas Daniel é
como a serpente que tentou Eva, não consigo me manter longe.

— Seus irmãos não precisam ficar sabendo — ele sopra na minha orelha
— Louis já subiu com Bianca e Levi se escondeu com a Olivia em algum canto.

— Ficou prestando atenção neles só para me provocar? — arqueio o


queixo encontrando o dele.

— Estava preparando o terreno para caçar a minha presa — ele morde meu
queixo, fecho os olhos, sua língua serpenteia nos meus lábios. — Vem comigo.

Não é um pedido.

Fico ereta, de queixo erguido, eu saio na frente, quando percebo seus


passos parados, giro o tronco e o chamo com o indicador. Como um cachorrinho
obedecendo à dona, Daniel vem a mim, o sorriso lascivo nos lábios, sabendo o
que o aguarda. Um homem como ele não tem chances de ser ruim de cama ou ter
um pau pequeno, mas caso seja, sempre tenho uma armadilha pronta para correr
de homens ruins de cama.

Se eu falar “banana” meu celular toca com uma falsa ligação, invento que
tem alguém passando mal e vou embora, sem peso na consciência. Nada dói mais
do que um cara cheio de marra de bom fodedor, e ele ser uma tristeza que se
importa somente com o seu prazer. Sexo é uma atividade feita por duas pessoas
— o convencional — se ambos não estão gostando, o outro não deve suportar só
pelo parceiro. Ou é bom para ambos, ou não tem.

Subo as escadas sentindo Daniel a uns passos de distância, entro no quarto


e paro no centro, girando de frente. Ele passa pelo portal como um rei, os dentes
a mostra em um sorriso arrasador de calcinhas, os olhos em chamas e a calça
marcada pelo pau. Esse homem é enorme! Um arrepio me corta da espinha a
vagina, queimando por onde passa.

— Lira — a voz grave pronúncia meu nome como se ele estivesse me


fodendo — tira o vestido.

— Venha você — o chamo com o dedo — fazer isso.

Daniel ri rouco, o hálito quente de uísque toca minha face com sua
aproximação. Os pés batem contra o meu, e sua perna se enfia entre as minhas.
Perco o equilíbrio com o choque, seu braço forte rodeia minha cintura me
puxando para perto. A ponta dos dedos quase não tocando o chão, os seios
esmagados contra o peitoral forte dele.

— Gosto de mulher mandona — agarra forte minha bunda — com essa


carinha de anjo, você esconde o demônio que se esconde nas suas veias.

— Eu sou uma Vittileno, nunca espere que sejamos passivos — digo


estralando a língua na boca.

Daniel sorri, desce o nariz encostando no meu, seus lábios tocam o meu e
se afastam, me provocando com pequenas carícias. Agarro seu cabelo enfiando
os dedos nos fios macios. Pego impulso pulando para cima, rodeando sua cintura
com as coxas, seguro seu queixo, enfiando as unhas na carne áspera da barba e o
beijo.
Enfio minha língua na sua boca, aproveitando cada pedacinho macio e
molhado que encontro. Esfrego o quadril em seu tórax sarado, exploro o peito
duro removendo seu paletó, enquanto chupo sua língua com lasciva. Solto seu
rosto adorando o vermelho inchado dos lábios, seguro a camisa de botões
puxando em direção oposta, fazendo os botões voarem pelo quarto.

Daniel tem o fogo de um vulcão nos olhos. A boca sedenta desce contra
meu pescoço mordicando a pele. Fagulhas de prazer se espalham, consumindo
minha sanidade e mandando o cuidado para o inferno. Ele anda, bate o joelho na
cama e me joga contra o colchão. Mal tenho tempo de reagir e sua boca volta
devorando minha pele, as mãos apertando meus seios como se fossem ursos de
pelúcia.

Encontro o volume em sua calça e me esfrego contra ele. Daniel rosna


contra a minha pele, segura as alças do vestido abaixando, prende meus braços
com o tecido, impossibilitando que eu me mexa. Um tremor de excitação corre
perigoso quando percebo a intenção dele. Com os braços presos, Daniel me vira
de rosto contra o colchão, puxa meus pulsos e os prende com a gravata.

— Você gosta de sexo pesado — ele puxa meu cabelo, batendo minha
lombar no seu tórax — vou comer sua boceta até que não consiga andar. Se
gritar, eu te bato — estapeia minha bunda, arfo — entendeu?

— Ah, bebê — rio rouco, provocativa — eu vou gritar implorando pelos


seus tapas.

— Porra Lira — Daniel puxa meus cabelos, os olhos lacrimejam pela dor e
eu arfo, ensandecida para que ele me foda.

Daniel solta meu tronco, bato no colchão com a bunda empinada. O


vestido sobe enrolando na cintura, a calcinha desce pelas coxas e seus dedos
alisam a região macia com delicadeza. A mão dele me deixa, o ardor se espalha,
o tapa estrala alto, e eu gemo me deliciando. Daniel me bate mais cinco vezes,
abro as pernas, sedenta para ter seu pau em mim, pingando de desejo para ser
fodida.

— Abre mais, vou estapear sua bocetinha — ordena, e eu me arreganho


para ele, quase babando no colchão. — Você ficou encharcada e nem coloquei
meu pau para fora da cueca — os dedos me provocam, gemo empurrando contra
sua mão — nunca encontrei uma mulher como você, que se entrega ao prazer,
sem vergonha — seu rosto desce contra minha bunda, esfregando a barba — eu
vou te comer a noite toda, até eu não ter mais porra.

— Aproveite — digo a ele — pois será a única vez.

— Uma noite e nunca mais, porra Lira — estapeia minha vagina, grito,
quase gozando — não tem como ser mais perfeita!

Daniel não é o príncipe que eu procuro, ele quer uma foda alucinante, tanto
quanto eu. Nunca fui de implorar por homem e não vou fazer isso por esse
cafajeste gostoso. Se nossos destinos se cruzarem novamente, que seja por outro
motivo.

Daniel me leva ao paraíso, beliscando meu clitóris, o rosto barbudo


provocando a polpa da minha bunda. Ele me abre, metendo a língua no meu
interior, deliro gemendo, rebolando na sua cara, na iminência de um orgasmo. A
mordida na minha entrada é o meu fim, o corpo superaquecido de prazer
despenca com a onda forte tomando meus nervos, gemo contra o colchão, vendo
fogos de artifício.

— Deliciosa — ele me vira de frente, os lábios e a barba molhados. Daniel


puxa o tecido do vestido me fazendo ficar de joelhos. Pressiona a calça no meu
rosto, cheiro o sexo por cima do tecido, mordendo a proeminência. — Abre a
boca e chupa. — Manda.
Abro os lábios pronta para o receber. Daniel retira o pau da calça e eu
salivo ao ver a grossura e o tamanho. Minha vagina contrai ansiosa para o ter.
Beijo a cabeça rosada enfiando o que consigo, o chupo com maestria, arrancando
gemidos roucos de sua garganta, deixando claro o quanto ele gosta que eu o tenha
na boca.

Daniel puxa meu cabelo me fazendo o soltar com um “ploc”, alisa meus
lábios e me joga novamente no colchão. Abro as pernas, pronta para recebê-lo.
Daniel cai contra meu corpo, alisando o pau na minha vagina como um vibrador.
Morde meu pescoço e mete no meu interior com força. Grito, amando a sensação
de ser preenchida.

A cama balança, meu corpo sobe e desce, enquanto ele soca com força e
velocidade no meu interior. Os braços doem pela posição e eu faço da dor um
prazer inestimável. As mordidas vão para meu peito, mordiscando a carne entre
os dentes, enlouquecida eu chamo seu nome várias vezes. Daniel surge acima da
minha cabeça, beija meus lábios e me olha lascivo.

— Eu poderia comer sua boceta para sempre — confessa — molhada,


quentinha, e apertada como o inferno.

— Seu pau enorme vai me partir em duas — respondo, quase babando —


eu te deixaria me comer todos os dias.

— Só uma noite é pouco — admite, gemendo na minha boca — vou te


pegar sempre que eu quiser.

— Terá de ir a New York para isso — sorrio com o prazer do orgasmo se


aproximando. Inclino a cabeça para trás, rindo em meio a minha crise — isso
Daniel, mais forte.

— Toma sua safada — ele enfia até o meu útero e vejo estrelas.
A temperatura do quarto sobe como um foguete. O ventre contraindo feito
louco, os dedos apertados com o prazer me cruzando de uma ponta a outra.
Prendo a respiração quando minha crise atinge o seu ápice, e desabo na cama
satisfeita. Daniel geme rouco, gozando, ele bombeia mais uma vez antes de sair
de dentro de mim e se deitar de lado.

A noite só iniciou, gozo mais duas vezes com o Daniel antes do sol nascer.
Na porta do quarto, o beijo uma última vez.

— Foi um prazer — digo.

— Até mais. Lira — meu nome se desmancha em sua boca.

Apesar das palavras ditas enquanto transávamos, sabemos que nosso caso
é de uma única noite.
Lira

Deixo o diário em cima da mesa, de volta a meu apartamento em Los


Angeles, eu me preparo para as filmagens da nova adaptação em filme, do livro
“Ultrapassando o tempo por você” a primeira foi um desastre.

O diretor trocou a história dos personagens criando algo totalmente novo, o


que revoltou os fãs, que fizeram um abaixo assinado com mais de três milhões de
assinaturas para a produtora, pedindo outra adaptação. Os livros disparando em
vendas para realçar a popularidade da obra, e aqui estou eu, terminando de fazer
os últimos ajustes que a roteirista me mandou, pronta para dar vida a uma versão
fiel ao livro.

Parto para Vancouver amanhã, onde passarei os próximos seis meses


dirigindo as gravações, e os três seguintes, editando e dando vida a um filme com
orçamento de 80 milhões de dólares. Esperamos um sucesso que seja capaz de
arrecadar mais de 200 milhões na semana de estreia, tendo como base a primeira
versão que foi cruelmente criticada, e ainda rendeu 120 milhões na estreia.

Não faz nem três dias que voltei para casa, após o casamento do Louis, e
por mais que use o trabalho para conseguir me distrair, a imagem do Daniel
retorna aos meus pensamentos. Os olhos frios como gelo e a boca quente como o
inferno, beijando meu corpo, me tomando para si e enlouquecendo cada pedaço
do meu ser. Nunca tive tanta vontade de repetir uma transa quanto com esse
homem.

Um miado chama a minha atenção, através da varanda vejo Puppy, um


gato com nome de “cachorrinho” o casal que a cria tem uns parafusos soltos e se
a Puppy veio na varanda pedir atenção, imagino que seus donos estejam
transando loucamente e em breve vou ouvir gemidos.

A vizinha conservadora do outro lado vai sair para o lado de fora batendo
na porta dele com panelas, que só recebera como resposta mais gemidos altos.

Me estico pegando a Puppy no colo. O pelo ralinho e amarelo, esfrego o


nariz na sua barriga quando o primeiro grito chega ao meu apartamento.

— Se eu não viajasse tanto a trabalho ficava com você — falo para ela que
mia esticando o pescoço pedindo carinho no queixo.

Aliso a pele macia, outro grito da vizinha Molly e um rugido do Terry, o


cheiro de maconha invade como uma tempestade meu apartamento, acho que eles
esqueceram de fechar a porta. Se a Megan pudesse, já teria os, denunciado para a
polícia, mas Molly é filha do comissário de polícia de Los Angeles, e Terry, o pai
é desembargador. Dando a liberdade ao casal de usarem quanta maconha
quiserem.

Os polícias do distrito já se acostumaram com a Megan ligando para


reclamar do casal, e só aparecem para colocar a mulher para dentro de casa.
Qualquer dia eu vou escrever um filme de comédia sobre um casal gente boa, que
gosta de transar fazendo zoada, e precisam lidar com a vizinha conservadora que
não sabe o quanto um orgasmo te faz perder o sentido de tudo e transforma
pequenos gritos em barulhos estrondosos.

— Eu tive sorte de ninguém ter me ouvido — reflito.


Puppy parece que ri de mim ao abrir a boca mostrando todos os dentes.
Gargalho feliz pela experiência que vivi, depois dele, não sei quando terei outro
homem novamente, decidi que vou dar um tempo na pegação. Focar no filme e
estar pronta para retornar ao Brasil ou Itália, quando a Olivia ganhar bebê, por
enquanto os dois pareciam bem quando os deixei com a promessa de se darem
uma nova chance, sem fantasmas os separando.

****

Meus dias passam voando, quando me dou conta, um mês se passou desde
que cheguei a Vancouver, o tempo frio acaba comigo, uma gripe me faz ficar de
cama por vários dias. Minha assistente, Louise, cuida de mim como uma
verdadeira irmã. Após essa maldita gripe passar vou garantir um aumento para
ela, ninguém merece ficar segurando meu cabelo enquanto vomito colocando as
tripas para fora.

— Lira, eu acho que você não está gripada — ela fala após uma longa
sessão de vômito matinal.

— E o que eu teria? — pergunto após lavar a boca. Estamos no estúdio de


filmagens, conseguimos filmar até a cena 27, é um avanço enorme no
cronograma de 150 cenas para serem feitas em 6 meses.

Deixo o banheiro particular da minha sala e me sento no sofá, colocando


uma bolsa de gelo na cabeça. Mais cedo fiquei tonta e acabei batendo a testa em
uma câmera, estou com um galo enorme e sem forças para continuar. Só preciso
dormir por umas longas semanas.

— Pensa comigo — ela se senta ao meu lado, segurando a minha mão —


você foi para a Itália após ter tido uma infecção e precisado usar antibióticos,
certo?
— Nem me lembra daquela infecção — reclamo gemendo, eu fiquei
horrível por semanas.

— O antibiótico cortava o efeito do anticoncepcional e você não tinha


retornado ainda o uso de uma nova tabela quando transou com o Daniel, e agora
um mês depois está com enjoos e ficando tonta. Sem contar o cansaço, você
dormiu enquanto o Pedro fazia a cena dele!

— Era uma cena muito chata — a dor na cabeça não me permite


acompanhar a linha de pensamento dela.

— Eu acho que você deveria fazer um teste de gravidez.

— O quê? — pulo, me arrependendo no mesmo segundo.

A tontura me joga de volta no sofá e o mundo gira ao meu redor, se


desmanchando em água. Louise segura meus ombros, os olhos dela perdem o
foco e a sua voz é abafada na minha mente.

— Respira devagar, vamos.

Faço o que ela pede, aos poucos consigo me acalmar e respirar melhor.
Relembro a minha noite com Daniel, buscando vestígios de que eu tenha
esquecido de usar camisinha. Eu lembro de absolutamente cada segundo, menos
do momento em que ele vestiu a camisinha antes de me foder. Ele pode ter feito
sem que eu olhasse, certo? Merda de álcool misturado ao tesão, não me deixaram
prestar atenção ao que acontecia no momento.

— Preciso fazer um teste — digo a Louise.

— Vou comprar um.

Ela deixa a sala e eu me deito, refletindo sobre o que vou fazer da minha
vida se eu realmente estiver gravida. Minha jornada no set de gravação é intensa,
iniciamos as 8 da manhã e só vamos embora depois das 22h, para cumprir o
prazo e as cenas poderem ficar perfeitas. Eu não tenho como cuidar de um bebê
enquanto vivo nessa loucura de vida atarefada e o Daniel...

MEU DEUS!

Ele é um homem adulto, divorciado, que eu não sei quase nada sobre a
vida, além de que trabalha para o meu irmão, e se ele tiver filhos e não quiser
outro? Prometemos que seria somente aquela noite, se eu aparecer contando que
fiquei grávida ele pode pensar que sou uma interesseira ou uma maluca que
engravidou para o prender.

Eu não quero aquele homem e muito menos me prender a alguém. Não


importa o quanto o sexo foi maravilhoso, não vou me casar somente pelo bebê.
Eu quero amor, paixão, alguém para cuidar de mim, que me ajude a relaxar e
possa entrar na minha vida, e me deixe fazer parte da sua.

Esse não era o acordo com o Daniel, e o medo de como ele vai reagir gela
a minha espinha. Eu deveria ter lembrado que não estava usando o
anticoncepcional e mandado ele colocar uma camisinha! Bato na testa sem saber
o que farei da vida. No segundo em que Louis descobrir sobre o bebê, vai querer
saber quem é o pai e o motivo de não estarmos juntos, ele vai matar o Daniel!

Pego o celular em cima da mesa procurando nos contatos o número do


homem que vai virar meu mundo de ponta cabeça. Não o encontro, claro que não,
a gente não trocou números. Ando de um lado ao outro sem saber o que fazer, se
eu pedir ao Louis, ele me manda, mas existe a grande chance de ele querer saber
o motivo e não quero causar problemas para o Daniel sem ter uma certeza de
nada.

Respiro fundo me acalmando, como eu poderia conseguir o número? Se


estou realmente grávida, ele tem o direito de saber sobre o bebê e decidir se quer
fazer parte da vida da criança. Não vou esconder do meu bebê que ele tem um
pai, seu nome e onde mora, é o mais certo a se fazer pela criança. Não é porque
eu não tenho nada com o Daniel, que ela não pode ter.

Sento-me cansada de andar. Louise entra segurando uma sacola com o


teste, pego da sua mão e corro para o banheiro. Faço xixi no palitinho e saio do
banheiro, o coloco em cima da mesa e aperto a mão da Louise. Os minutos
seguintes selam o meu destino com a notícia que eu nunca imaginei ouvir, ao
menos não nos próximos anos.

— Positivo — Louise fala — você está gravida.

— Meu Deus.

É tudo o que digo antes de apagar, caindo para trás.

Acordo com um cheiro forte no nariz.

— Funcionou — Louise diz.

Abro os olhos vendo-a e o diretor de imagem, Devon, ele tem um pano


debaixo do meu nariz e me encara de testa franzida. Me levanto devagar, com a
cabeça doendo. Aos poucos as lembranças retornam, levo a mão a testa fechando
os olhos com a dor de cabeça que estará por vir.

Eu vou ser mãe, não faço a mínima ideia de como fazer isso, só tive uma
até os 6 anos e fui cuidada por três homens extremamente ciumentos e protetores.
Mas safados ao ponto de me ensinarem que devemos ser desapagados de amores
que só vão nos machucar. Louis engravidou a Bianca e encontrou o amor dela,
Levi engravidou a Olivia e estão construindo um novo amor. E agora, eu
engravidei do Daniel, quais as chances da história se repetir?

A enorme diferença entre mim e as duas, é que eu não sou um poço de


gentileza como a Bianca, ou ilumino as pessoas como a Olivia. Eu sou só a Lira,
aquela que se apaixonou tantas vezes e teve o coração partido, que desistiu de
procurar por um príncipe encantado. Eles não existem e eu tenho certeza de que o
Daniel, com a brutalidade dele, não é esse tipo de homem.

Levo a mão ao coração respirando devagar, enquanto decido o que vou


fazer nas próximas horas. Peço que me deixem sozinha e mando o diretor
assistente prosseguir com a agenda de gravação do dia. Vou para o apartamento
em Vancouver e deito olhando as estrelas, em busca de uma solução. Quando o
fuso horário coincide com o, Itália, marcando 9 horas da manhã lá, eu mando
uma mensagem para a Bianca.

“Preciso da sua ajuda, eu quero o número do Daniel. Não pergunta o


motivo e nem fala ao Louis, pode me ajudar?”

Três minutos depois, ela me envia o número, sem fazer perguntas, com a
frase:

“Estou aqui para o que você precisar e não direi nada ao seu irmão”

“obrigada”

Fecho a conversa e ligo para o Daniel. O número chama até cair na caixa
de mensagens, tento novamente mais três vezes, até ouvir a voz grave do outro
lado.

— Daniel Albuquerque — ele fala.

Meu ventre se contrai em ansiedade pelo que precisarei fazer. Talvez seja
melhor marcar um encontro pessoalmente do que dar a notícia por telefone.

— Oi, é a Lira, a irmã do Louis, lembra de mim?

A linha fica muda por uns minutos, levando meu coração a quase sair pela
boca.
— Sim, senhorita Vittileno — odeio a formalidade na sua voz, indica que
ele não quer ter essa conversa.

— Precisamos nos ver, quando você estará livre?

— Acho que uma coisa não ficou clara naquela noite — Daniel faz um
som, como se estivesse fechando uma porta — nosso caso foi de somente uma
noite, não iremos nos ver a não ser, que seja pelo Louis.

— Você não entende — tento argumentar, ele faz um som de “xiu” no


outro lado e me calo.

— A senhorita que não entendeu, não temos nada para conversar, adeus
Lira.

A linha fica muda e eu quero socar a cara do Daniel. Imagino como a


situação deva parecer para ele, a irmã do seu chefe, com quem ele transou,
ligando um mês depois e pedindo para se encontrar, como se morássemos na
mesma cidade.

A recusa dele só acende o meu fogo em fazer com que o Daniel saiba sobre
o bebê. Esse desgraçado não vai escapar facilmente, não depois do modo como
me tratou.

Eu sou Lira Vittileno, e o Daniel Albuquerque vai aprender que não se


engravida uma Vittileno e foge impune.
Lira

Uma menina!

A frase não para de repetir na minha mente, enquanto a médica continua


apontando para o ultrassom, mostrando as formas da minha menina e as batidas
forte do seu coraçãozinho, preenchendo a sala. Infelizmente não tenho ninguém
me acompanhando, vim a todas as consultas, sozinha, e isso me deixou abalada.

É difícil ignorar a sensação de solidão, quando o pai da minha bebê se


recusa a falar comigo e ouvir sobre a filha dele. Não aguento mais ouvir a voz
intragável da secretária do Daniel. Se não fossem pelas gravações da série, eu
teria ido pessoalmente ao Brasil, fazer aquele arrogante ouvir que será pai e que
ele vai assumir a criança.

Por enquanto não contei a ninguém sobre a bebê e espero continuar assim,
não estou emocionalmente estável e minha equipe tem sofrido com a alteração de
humor e o quanto tenho passado mal no período das gravações. Sei que a minha
médica vai brigar comigo novamente, quando terminar de falar sobre o
desenvolvimento da bebê de 15 semanas no meu ventre.

— Lira, eu continuo preocupada — ela fala limpando meu ventre do gel —


a bebê deveria ter cerca de 16,5 centímetros nesse período. Mas ela está
pequenininha, ainda com 13 centímetros, apesar de estar se desenvolvendo
normal e não ter nenhuma anomalia detectada, ela precisa ganhar mais 3
centímetros e continuar se desenvolvendo conforme o esperado para a gestação.

— Meu ventre quase não aparece — suspiro, sentindo a dor no peito por
estar ofendendo a minha bebê — eu juro que estou tentando me alimentar melhor
e descansar — lágrimas invadem meus olhos — mas é muito difícil fazer
qualquer alimento parar no meu estômago. Vomito assim que mordo a primeira
fatia, até de uma maçã. — Soluço — eu não sei o que fazer, preciso continuar
trabalhando para encerrar a série, e o que posso fazer deitada para descansar, eu
realizo, mas é difícil.

— Vamos trocar o seu remédio de enjoo, por enquanto quero que você vá
tomar umas vitaminas na veia. E preciso de mais exames da bebê para saber se
ela está nutrida. Volte daqui a um mês, e caso o enjoo não cesse e você continue
perdendo peso, teremos de usar métodos mais ofensivos para te fazer se
alimentar.

— Certo — respondo limpando os olhos.

É tão difícil não ter ninguém me ajudando e ter de lidar com a pressão da
diretoria por eu estar a uma cena de atrasar a finalização da série. Quando esse
trabalho acabar, vou tirar férias por tempo indeterminado, não aguento mais a
pressão da indústria e saber que estou causando mal a minha bebê acaba comigo.

Não posso contar com os meus irmãos, eles estão seguindo com suas vidas
e superando suas próprias dificuldades, o pai da bebê simplesmente decidiu que
eu não existo e se recusa a falar comigo, estou perdida como nunca estive. Vou
direto para a sala da enfermaria tomar as vitaminas, a enfermeira sorri triste por
me ver ali novamente, praticamente depois de toda consulta, tenho vindo até aqui
tomar algo.
Me sento na poltrona e tento controlar as lágrimas que jorram. Enquanto o
líquido pinga lentamente na minha veia, escrevo no meu diário sobre os
acontecimentos de hoje e a frustração por estar sozinha.

Sempre me criei rodeada por homens e nunca foi o suficiente para suprir a
dor no meu peito, não queria que a minha bebê crescesse sem um pai na sua vida
e sentisse o que senti pela ausência da minha mãe, mas se o Daniel se recusa a me
atender, só posso esperar pelo dia que vamos nos reencontrar. Mas pela minha
pequena, eu vou fazê-lo me ouvir.

O tempo continua passando e minha bebê não ganha o peso esperado, ou


cresce o suficiente, dependendo da roupa que uso não parece que estou com 20
semanas de gestação, a única coisa que me conforta é saber que apesar de ser
pequenina, ela se desenvolve corretamente no meu ventre e não apresentou
nenhuma deficiência ou falta de nutrição. Continuo tomando o soro com
vitaminas todos os meses.

Em breve será o aniversário da pequena Cecília, minha sobrinha vai fazer 1


ano e vamos reunir a família na Itália. A Olivia está enorme com a gravidez
avançando, e me pergunto quando o Levi vai pedi-la em casamento de uma vez.
Tenho mantido contato constante com meus irmãos, e é bom ver como eles estão
felizes com suas amadas.

Diferente de mim, a Olivia tem um barrigão enorme, nem mesmo parece


que a diferença de tempo de gestação entre mim e ela é só de algumas semanas.

Eu queria que o Daniel fosse capaz de entender que eu não estou pedindo
um relacionamento, somente que ele reconheça a paternidade da filha, ou, no
caso, fique ciente sobre a existência da bebê. Já tem cinco meses e meu ventre
não se desenvolveu muito, aumentou pouca coisa. Sem uma evidência explicita
da bebê em meu ventre, dificilmente ele notará, se eu não o falar sobre a bebê.
Passo horas andando de um lado para o outro com o encerramento das
filmagens. O filme precisa ficar pronto em 15 dias e não temos um só segundo a
perder, minha bebê se desenvolve saudável no meu ventre, pequenina, mas muito
bem, é o que importa. O remédio de enjoo ajudou um pouco, tenho um
despertador no celular me lembrando de comer e descansar, faço o máximo que
posso para a correria não prejudicar minha filha.

É fácil disfarçar a gravidez usando blusas de moletom e não exibindo a


barriga pela cidade. Ainda não contei aos meus irmãos e planejo fazer isso
somente no aniversário da Cecília, tirar o band-aid de uma vez, e deixar o Louis e
o Levi enlouquecerem, antes de quererem saber quem é o pai. Não direi que é o
Daniel antes de ter a certeza de que ele vai assumir a pequena no meu ventre,
ainda não me decidi qual nome darei a ela.

Eu cresci com a dor de perder a minha mãe, a minha pequena não vai
crescer rejeitada pelo pai. Se ele não assumir a responsabilidade, direi a todos que
o pai da bebê morreu em uma explosão nuclear e assim ninguém me fará
perguntas invasivas. Tenho certeza de que meus irmãos não vão acreditar nessa
desculpa, mas o problema é deles e não meu, a minha parte estou fazendo,
cuidando da minha pequena princesa.

— Pode ir tranquila — Louise praticamente me empurra para a fila no


aeroporto — só faltam as cenas finais serem finalizadas na edição, e o filme
estará pronto para ir ao ar. O Piloto já foi exibido para o estúdio e a nota foi
máxima — ela sorri animada.

— Odeio estreia de filmes, podemos perder tudo em um único dia — aliso


a testa — qualquer coisa me chame, não podemos deixar esse projeto fracassar.

— É uma produção de Lira Vittileno, nunca falhará — sorrio ouvindo o


orgulho em sua voz, Louise tem razão, nem mesmo no início da minha carreira
eu fracassei.
— Até mais Louise — mando um beijo para ela.

— Tchau Lira. — Acena.

Embarco no avião em direção a Itália, estou com 29 semanas de gravidez e


finalmente meu ventre começou a crescer. Minha pequena deveria ter cerca de
37,5 centímetros e pesar mais de um quilo, mas como ela já mostrou que será
pequenina, só tem 30 centímetros e pesa 900 gramas. Os braços, pernas, tronco e
cabeça, estão formados com perfeição, seus órgãos se desenvolvem bem, e apesar
de pequena e levinha, ela continua perfeita, sem apresentar anomalias ou
deficiências.

A minha obstetra espera que com a folga que terei até a promoção da série,
eu consiga me alimentar melhor e não fazer nenhum esforço que me force a
perder peso.

Minha meta é engordar e fazer minha bebê crescer para o tamanho


esperado. Com a finalização da edição dos últimos episódios, eu tirei férias do
estúdio e apliquei a minha licença a maternidade. Não aceitarei nenhum projeto
pelos próximos anos, quero aproveitar esse tempo com a minha menina e não
trabalhando em um estúdio, enquanto uma babá cuida da minha pequena.

Só participarei da promoção da série, que deve ocorrer pouco antes do meu


resguardo. Dependendo se a médica me liberar eu irei, caso não, a impressa terá
de se contentar com uma carta contando como foi a minha experiência. Aproveito
o longo voo para escrever no meu diário sobre os últimos dias.

Pouso na Itália e vejo meu pai me esperando com os braços abertos, meu
ventre contrai ao imaginar como ele irá reagir quando souber da gravidez. Não
consigo imaginar quem dos três homens da minha vida será o mais exagerado
quando souber a verdade.
— Minha princesinha — ele me aperta forte — como você está linda —
analisa minhas bochechas, seus olhos descem pelo meu corpo e param no meu
ventre.

Estou usando um suéter verde colado, que deixa meu ventre pequeno
protuberante. Seus olhos encontram os meus com lágrimas contidas, ele não fala
nada antes de me abraçar forte e fungar nos meus cabelos. Aperto seu corpo com
carinho, senti tantas saudades dele.

— Vai me contar que essa gordurinha na sua barriga é outra coisa?

— Sì, vamos conversar no carro — digo.

Ele acena em positivo e entramos no veículo. O motorista dirige pelas ruas


da Itália com cuidado, temos mais de quatro horas de viagem pela frente.

— Promete que não vai dizer uma palavra ao Louis ou ao Levi? Quero
resolver a situação sem a intromissão dos dois.

— Bom, então temos uma situação a ser resolvida — passa as mãos nos
fios negros com alguns brancos na cabeça.

— Não é bem “a ser resolvida” — faço aspas com os dedos — vou


começar do começo, mas não vou dizer o nome dele, quero manter isso comigo,
enquanto não falo a ele sobre a bebê.

— O uomo[1] não sabe da gravidez?

— Eu não consegui contar.

A tristeza se alastra em meu peito, deito a cabeça no ombro do meu pai


abraçando sua barriga musculosa. Apesar da idade, meu velho se mantém na
academia, cuidando do corpo. Sempre me perguntei o motivo dele não ter
encontrado uma esposa depois de todos os anos que a mamãe morreu. Ele
continua lindo, é charmoso, e tem muito dinheiro, é o sonho de quase toda
mulher casar-se com alguém como ele.

Principalmente as novinhas que querem um sugar daddy. Já cansei de


terminar amizades, que quando conheciam meu pai, queriam ser apresentadas a
ele com interesse amoroso. Não sou contra a ideia de ele conseguir encontrar
outra pessoa para amar, se a solidão da morte da minha mãe dói em mim e nos
meus irmãos, só consigo imaginar como foi devastador para ele. Nunca o julgaria
por encontrar outro amor, independentemente da idade, o importante seria a
mulher o amar sem interesse.

Fungo dispersando os pensamentos sobre o meu pai e conto a ele tudo que
aconteceu com o Daniel. Sou sincera ao admitir que é um amigo do Louis e por
esse motivo vou contar ao meu irmão sem dizer que a pessoa é próxima a ele.

— Louis causaria uma verdadeira guerra e poderia atrapalhar na relação do


pai da bebê com ela — confesso — não almejo me relacionar amorosamente com
esse homem, mas não quero causar confusão entre ele e a bebê.

— Então a verdade é que você ainda não conseguiu contar, porque ele não
quis falar com você. Concordaram que seria somente uma noite e agora ele pensa
que você quer um relacionamento?

— Exatamente, talvez ele esteja presente no aniversário da Cecília, então


contarei a verdade.

— Se ele rejeitar a minha neta me diga, vou garantir que o Louis não o
mate.

— Acha que consegue? — encaro meu pai com o semblante irritado.

— Com certeza, eu mesmo mato o sujeito.


— Pai — ralho encostando novamente o rosto contra seu peito — não seja
agressivo. O Louis é o único babaca da família.

— Você é muito parecida com ele — beija meus cabelos — minha


principessa. Conte comigo para tudo, você nunca estará sozinha, e se o stronzo[2]
se recusar a assumir a paternidade, eu serei o pai e avô dela.

— Obrigada papà — encolho o rosto contra a lapela do seu terno,


chorando a dor que tem me incomodado durante os meses.

É horrível imaginar que o Daniel pode rejeitar a nossa menina, não


aguentaria uma pancada dessas.
Lira

Louis me abraça forte entre seus braços enormes, quase esmagando meus
pulmões com a sua força. Grito gargalhando, faz anos que ele não me esmaga
desse jeito, quando era criança vivia pedindo pelos abraços de urso do meu
irmão, hoje fico com medo pela minha bebê.

— PER PAZZO[3] — ele me põe no chão sorrindo abertamente.

— Estava com saudades de te apertar.

— Eu esmago suas bolas se fizer isso novamente.

— Não se atreva — leva a mão ao meio das pernas franzindo a


sobrancelha.

— Ela tem garras afiadas — a voz reverbera grossa atrás de mim e arrepios
sobem por minha coluna ao reconhecer a quem aquele timbre pertence.

— Nunca mecha com um Vittileno — Louis diz — sabemos como


machucar.

Eles riem em cumplicidade. Passei meses tentando falar com Daniel e


agora ele aparece como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse rejeitado
todas as minhas tentativas de contato fracassadas, como se não tivéssemos
assuntos inacabados para resolver.

Aperto os punhos ignorando sua presença, não me deixando afetar por seu
cheiro. Sorrio para meu irmão o puxando pela mão, quero acabar com a tortura
quanto antes.

Louis pode não ser tão perceptivo quanto nosso pai para notar a
protuberância em meu ventre, mas nada me garante que Daniel seja dessa forma,
e não quero causar uma cena no aniversário da minha sobrinha.

Por hora vou manter meu plano de falar a verdade aos meus irmãos sobre a
gravidez e aproveitar o Daniel aqui para o encurralar e fazer com que me escute.

— Oi Lira — ele fala, quando o ignoro subindo as escadas com o Louis.


Viro o rosto de lado encarando o homem que parece ter ficado dez vezes mais
lindo, os fios brancos na barba causam comichão entre as minhas pernas.

— Olá — respondo seca.

Viro novamente caminhando para meu quarto com meu irmão ao meu
encalço. Entramos, e me preparando para os gritos que virão, eu ligo o som do
quarto, não quero ninguém de fora ouvindo o que vai acontecer aqui dentro.

— Não entendi a música — Louis fala franzindo o nariz.

— É para que as outras pessoas não escutem, vou contar a cada um no seu
devido tempo — aperto os dedos e me sento na cama como uma criança que fez
ruindade — vem pra cá.

Louis percebe meu tom sério e se senta ao meu lado, sua mão áspera,
segura a minha fazendo carinho nos meus dedos, e eu só queria poder me
esconder nos braços do meu irmão, como fazia quando era pequena e deixar ele
resolver a situação por mim. Ser adulto é uma merda, temos de arcar com as
consequências das nossas escolhas.

— Eu estou grávida, Lou — a voz treme ao contar a ele.

Louis fica em silêncio por mais tempo do que imaginei, a música é a única
coisa audível na sala. Sua mão aperta a minha com mais força — sem machucar
— e ele levanta num rompante me puxando junto. Seus braços me rodeiam com
força, a mão levando minha cabeça contra seu peito. Agarro meu irmão chorando
contra ele.

— Quem é o pai? — a pergunta que eu temia acontece — você não estaria


preocupada e com medo, se o stronzo fosse uma boa pessoa.

— Eu não posso te dizer, ainda — falo com a voz embargada — ainda não
consegui contar para ele.

— Como assim? — Louis segura meus ombros me afastando a tempestade


em seus olhos, analisando minhas feições com cuidado.

— Lou — começo prevendo que os gritos estão por iniciar — eu e ele


combinamos que seria somente uma noite, estávamos bêbados e esquecemos a
camisinha. Eu tentei entrar em contato, mas ele pensa que estou sendo grudenta,
não consegui falar a verdade.

— Eu vou matar o filho da puta — me larga andando pelo quarto puxando


os cabelos como uma besta enjaulada — eu quero um nome. Lira, agora —
aponta.

Me sento na cama prevendo o que seguira, encolho os ombros e nego com


a cabeça. Não posso fazer isso, o Daniel está no andar de baixo, se o Louis
souber que é ele, vai partir para cima do amigo e CEO da empresa VITTILENO
no Brasil.
Não é somente o futuro da minha bebê que está em risco com a verdade
revelada de forma errada, mas a relação deles dois e a direção da empresa, muitas
pessoas serão afetadas pela minha escolha.

— Você não manda em mim Louis — digo, apertando a colcha da cama.

— Mas eu posso te proteger — soca o ar — como o imbecil dorme com


você sem camisinha e depois rejeita suas ligações?

— Igual como você dormiu com a Bianca — jogo a verdade na sua cara —
e depois foi mega babaca com ela.

— Aí por que fui um stronzo dá o direito de outro homem ser assim com
você? — abre os braços — eu aprendi com os meus erros e me arrependo
amargamente de ter magoado a Bianca, mas fui homem para assumir as minhas
responsabilidades e reparar os erros, e graças a Deus que ela me perdoou, ou hoje
não teríamos a nossa família!

— Essa é a minha história! — Me lvanto gritando com ele — MINHA


ESCOLHA e você não vai tirar ela de mim.

— Se acalme que você não está em condições de se estressar — aponta


para meu ventre — meu Deus de quantas semanas você está?

Louis acalma após ver minha barriga protuberante.

— 29 semanas — me sento novamente — minha bebê não cresceu muito,


por isso o ventre pequeno — aliso a pele inchada — estou de férias emendado
com a licença a maternidade, vou usar o tempo para me alimentar melhor e
garantir que ela cresça.

— Deixa eu te ajudar — ele pede com os olhos tristes — me permita


cuidar de vocês — fica ao meu lado, me puxando contra si — não consigo
acreditar que você será mãe.
— Demorou um pouco para me acostumar com a ideia — fungo — eu vou
ser mãe Lou, por favor, respeita a minha decisão. Não quero que minha filha,
sinta que foi rejeitada pelo pai, ou aceita por que você causou uma cena, eu
preciso contar, e fazer isso sozinha.

— Você nunca estará só — segura minhas bochechas me forçando a o


encarar — vou percorrer o inferno para matar o desgraçado que ousar rejeitar a
minha sobrinha, mas se a sua vontade é resolver as coisas sem me falar a verdade
completa, vou respeitar — respira fundo — só... nunca mais repita que está
sozinha — beija minha testa — vou estar aqui com você para tudo.

— Obrigada Lou — abraço meu irmão.

— Minha irmãzinha — beija minha testa — vai ser mãe, não acredito que
você cresceu assim.

— Nem eu — rio — agora preciso contar ao Levi e as meninas, mas antes,


quero que você me prometa não contar a ninguém, nem mesmo a seus amigos
como o Daniel — tento falar de modo a não levantar suspeitas — quero fazer no
meu tempo.

— Prometo — beija minha mão — se você prometer me procurar para um


espirro que sentir que deu errado.

— Eu juro — beijo a sua mão, sorrindo para ele.

— Vem, preciso te alimentar para que a minha sobrinha consiga crescer


bem.

— Pode descer, vou tomar um banho antes.

Louis sai do quarto e abro a mala deixando as roupas no closet. Entro na


banheira onde fico pela próxima meia hora recuperando as energias do voo e
absorvendo o impacto de encontrar o Daniel depois de tanto tempo.
Ele continua lindo como o inferno e eu me odeio por reagir a sua
intensidade. Ele deve pensar que eu sou louca por insistir em falar com ele nos
últimos meses, e quando tive a chance, o dispensado sem pensar duas vezes.

A louca aqui decidiu que vou fazê-lo sofrer um pouco. Antes de irmos
embora, eu conto a verdade, mas enquanto isso, ele vai sentir como é ser
ignorado por quem quer conversar com você, e baixar a bola dele por achar que
eu queria algo além do que combinamos.

Aliso meu ventre com carinho, sempre que estou estressada com o Daniel
eu toco a casinha da minha bebê na esperança de acalmar a fúria no meu coração
e não a deixar sentir os sentimentos ruins que se espalham como um vulcão.

— Prometo que estou fazendo o melhor para você, meu anjinho.

Termino o banho e desço, para a minha sorte, Daniel está na churrasqueira,


ajudando os homens a fazerem o almoço, enquanto as mulheres conversam na
beira da piscina. Me junto a elas abraçando cada uma, Bianca, Olivia e Beatrice,
a irmã da falecida esposa do Levi. Sempre fomos muito amigas e isso não mudou
com a distância. Sendo ao lado da Bea a apertando.

— Agora vocês, me contem o que tem acontecido — Olivia pede animada,


o barrigão dela enorme diferente do meu.

— Bom, eu estou grávida — digo dando de ombros, com as meninas não


preciso de tanto tato quanto com meus irmãos e pai — já contei ao Louis e vou
falar com o Levi ainda, não vou dizer quem é o pai — aperto os punhos,
lembrando a rejeição dele as minhas ligações — eu tentei contar três vezes a ele
sobre o bebê e o babaca sempre desliga na minha cara, achando que estou sendo
grudenta, então ele que vá se ferrar.

Pela primeira vez no dia eu explodo o que realmente sinto. Elas me


encaram com empatia e Bea me aperta contra ela, entendendo o quanto deve ser
difícil para mim lidar com o que tem acontecido.

— De quantas semanas? — Olivia pergunta meio atordoada.

— 29 semanas — Olivia arregala os olhos e tento conter a vermelhidão em


minhas bochechas, ao perceber que ela faz as contas mentalmente de que 29
semanas atrás foi o casamento da Bianca e do Louis, onde conheci o Daniel e que
a Olivia serviu de ponte. Peço com os olhos que ela guarde segredo.

— Tem certeza de que não quer contar ao pai do bebê? — pergunta em


dúvida.

— Sim — ergo o queixo — quando ele perceber minha barriga


protuberante e fizer as contas na cabeça dele vou decidir o que fazer, enquanto
isso não vou implorar pela atenção do desgraçado.

— Estamos aqui — Bianca segura a minha mão — para o que precisar,


como o Louis disse ontem.

— Obrigada — Beijo a cabeça da Bianca e aperto a mão da Olivia.

— Você sabe que é provável que ele descubra hoje, né? — Olivia me
abraça e pergunta baixinho.

— Estou pronta para isso — beijo seu ombro, tocada pelo carinho da
minha cunhada.

— E você, dona Beatrice? — Bianca muda de assunto.

— Ah, eu estou bem — Beatrice responde e percebo seu olhar vagando


pela propriedade, deve estar buscando pelo Dante, o amor secreto de anos dela.

— Manteve contato com o Cowboy? — instigo.


— Talvez, ele me ajuda com os animais. — Amarra os cabelos com as
bochechas em chamas.

— E com outras coisas, pelo seu sorriso — Olivia acusa gerando risadas.

Louis nos chama para o almoço. Todos os casais sentam junto e meu pai na
ponta da mesa e o da Olivia e Bianca na outra. Sobrando para eu ficar ao lado do
Daniel. Continuo ignorando-o, fingindo que não sou afetada pelo cheiro sexy
emanando de seu corpo chocando contra o meu como a colisão entre dois carros.

— O que tem feito Lira? — Daniel pergunta.

Corto o pedaço de carne o levando a boca, ainda o ignorando.

Seu pé alisa o meu, em resposta piso no dele com força. Daniel chia ao
meu lado antes de apertar o garfo com força e me olhar com ódio. Sorrio de lado
para ele o deixando ciente de que não estou a fim de conversa, a raiva borbulha
como um vulcão. Se o stronzo me rejeitou achando que eu estava sendo grudenta,
agora vai perceber que não era nada disso. Que morra se contorcendo para saber
o que eu queria.

Terminamos de almoçar e vou para a sala, sinto o cheiro de Daniel me


seguindo e querendo o torturar um pouco mais, puxo o Levi comigo para o
quarto, chegou a hora de contar ao meu segundo irmão a verdade sobre a minha
bebê. Entramos e me sento na cama, repito o mesmo ritual que fiz com o Louis e
o Levi não me decepciona com sua reação.

— Eu poderia arrancar a cabeça do bastardo — ele diz me puxando forte


contra seu peito. Deitados, ele alisa minhas costas — fazer picadinho dele e
garantir que nunca mais tocasse em outra mulher.

— Espero que não faça isso quando descobrir quem é, minha filha precisa
de um pai.
— Bom, se o stronzo a rejeitar, tenha a certeza de que eu assumo esse
papel com orgulho. Não vou deixar nada faltar para a minha sobrinha.

Levi se senta me fazendo deitar, ele encara meu ventre e toca minha
barriga com cuidado.

— Me preocupa como seu ventre é pequeno — levanto o suéter o deixando


ver — tem certeza de que está tudo bem com ela?

— Sì, a médica me garantiu.

— Vai ficar o resto da gestação na Itália?

— Sì, é aqui onde minha família está e quero dar uma pausa, me alimentar
melhor e cuidar da minha menina sem estresse.

— O pai da bebê é italiano? — arqueio a sobrancelha. — Ao menos isso


você poderia me dizer.

— Não, ele não é italiano — respondo com um suspiro — e chega de


tentar conseguir mais respostas.

— Como quiser — beija meu ventre — o zio Levi vai te amar e te proteger
de tudo e todos, minha princesinha. Você vai ter três priminhos para brincar e te
amar.

A garganta embarga com o choro de emoção preso.

Sim, minha menina terá uma família que a ama e protege de tudo e todos,
nunca vamos deixar nada faltar e mesmo que o Daniel não queira assumir sua
responsabilidade eu estarei pronta.

— Obrigada Levi.
Ele beija minha bochecha antes de me puxar para seu colo novamente. Em
algum momento eu adormeço.
Lira

A noite chega e todos se reúnem em um jantar alegre. Como, com o


estômago revirando por ficar novamente perto do Daniel. Não aguentando mais a
ansiedade pôr ignorá-lo, e sabendo que terei de contar a verdade em algum
momento. Eu esperava que ele continuasse frio e distante como nos últimos
tempos, ao invés de ficar me cercando e seguindo por onde vou.

Por isso decido acabar de uma vez com a tormenta e deixo que ele me siga
para o quarto.

Passo deixando a porta aberta, os pelos do corpo se arrepiam ao notar sua


presença atrás de mim. Mais cedo troquei de roupa, por um vestido soltinho de
mangas compridas e caimento até metade da coxa. Os olhos azuis percorrem
minha pele como um animal faminto analisando a presa e o tesão reprimido de
meses me ataca como uma avalanche.

— Achei que fosse me ignorar para sempre — ele diz se aproximando.

— Deveria — ergo o queixo — você não quis falar comigo quando tentei
contato, o que mudou?
— Combinamos que seria somente uma noite. Lira — seu polegar desliza
pela minha bochecha — ligações no dia seguinte não fazia parte do acordo.

— Novamente — seguro seu punho o tirando do meu rosto — o que


mudou?

— Você — ele me olha com tanta fome que me deixa ansiosa, querendo o
provar mais uma vez — mais linda do que nunca.

Daniel desliza a mão pelo meu braço subindo a manga do vestido,


arrastando arrepios pela minha pele em chamas. Fecho os olhos me odiando por
ser fraca na sua presença. Seu hálito quente bate contra o meu rosto, o quanto
seria ruim o usar somente essa noite e depois o mandar embora? Vou perder
novamente a chance que eu tenho para contar sobre a bebê no meu ventre.

— Não adianta Daniel — digo em um sussurro — não vou ceder — minto,


eu sei que estou cedendo e me odeio por cair facilmente em sua armadilha —
temos algo para conversar — abro os olhos o encarando firme.

— O que seria mais importante que a minha boca em sua boceta?

Sua filha. — Respondo mentalmente.

Levo a mão ao ventre pronta para contar a ele. Foi o Daniel que veio atrás
de mim, é ele quem me tenta, querendo a minha atenção e mais uma noite de
sexo. É ele quem terá de lidar com as consequências dessa vez.

— Algo muito mais importante — digo.

— Depois você me conta.

Daniel não me dá chance de responder e ataca meus lábios com os seus,


calando minhas palavras. Se ele não quer ouvir, vai ter de descobrir quando ver
meu ventre, por mais que esteja pequeno, será impossível ele não notar o
tamanho proeminente. Deixo que suas mãos deslizem pelo meu quadril
esperando pelo momento em que ele descobrirá a verdade.

Sou virada de costas, sua mão agarra minha bunda quando ele me faz ficar
de joelhos na cama. Levanta o vestido expondo meu quadril e eu entro em
chamas ao sentir sua barba raspando na minha pele, mordendo minhas coxas e
sugando minha intimidade pulsante por cima da calcinha. Apoio as mãos no
colchão, esquecendo completamente que um dia eu queria dizer algo a ele e
mergulhando no prazer enlouquecido que sua boca me causa.

Daniel puxa a calcinha me livrando da peça sem retirar a boca da minha


vagina. A língua dura e macia penetra minha intimidade com força, arrancando
longos suspiros. Cedo ao tesão desabando o rosto contra o colchão e empinando a
bunda na cara dele, rebolando e delirando no atrito da sua barba com a minha
carne sensível.

— Porra gostosa — sussurra — faz ideia do quanto senti falta dela?

— Por que não me atendeu? — digo em um rosnado, tentando manter a


mente consciente e não focada nas suas sugadas.

— Temos de honrar nossos acordos — ele morde minhas nádegas e fecho


os olhos imersos na provocação.

— E qual o dessa vez? — uma ideia perversa invade a minha mente.

— Uma noite nada mais — rosna.

— Lembre bem de suas palavras — digo sorrindo perversa adorando o


plano que tracei.

Daniel me solta e ouço o som da camisinha sendo rasgada, dessa vez ele
lembrou. Pena que não vai adiantar de nada. Empino mais a bunda abrindo as
pernas para facilitar a sua entrada, deixo que me penetre forte e bruto. Gemo
gostoso aproveitando cada segundo das estocadas contra a minha pele, das mãos
apertando com força minhas coxas puxando contra ele, da respiração pesada que
desce contra meu pescoço.

As mordidas, lambidas, tudo por cima da roupa e de quatro. O vendaval de


tesão começa a remexer com meu interior, forçando a avalanche de prazer a se
espalhar por cada célula e poro, queimando, levando e delirando meu interior
com a força de suas investidas. Daniel geme rouco, mordendo meu pescoço e eu
deságuo em um orgasmo explosivo.

Percebo que ele se aproxima de seu ápice e baixo o quadril fazendo seu
membro escapar de dentro de mim. Como um animal cedendo, ele segura meu
quadril me virando de frente, pronto para meter novamente, eu sorrio ao fechar as
pernas impedindo sua investida. Me sento na cama, enquanto Daniel me olha sem
entender o que aconteceu.

De joelhos vou até ele, seguro seu queixo trazendo sua boca para mim em
um beijo erótico, quente. Suas mãos apertam minha bunda, tentando me fazer
abrir novamente as pernas. Mordo seus lábios preguiçosa, o encaro com lascívia
no olhar e sorrindo o solto.

— Você me ignorou quando eu queria falar, agora sou eu quem vai te


ignorar — desço da cama caminhando até a porta do quarto enquanto ele fica
com o pau enorme e duro para fora das calças, me olhando incrédulo. Toco a
maçaneta — se não quiser que te vejam assim, sugiro que se vista.

— Você só pode estar de brincadeira — fala muito irritado.

— Nunca falei tão sério — digo melodiosa, estralando os lábios —


obrigada pelo orgasmo.

— Isso não faz sentido — arranca a camisinha a jogando no chão — foi


você que insistia em falar comigo, e agora que estou aqui me dispensa? — adoro
ver como ele se sente ofendido, igual como eu fiquei quando fui rejeitada por ele.

Daniel fecha as calças avançando na minha direção. Abro a porta contendo


seu avanço pelo medo de ser pego no meu quarto. Se o Louis ou Levi o vissem
aqui, juntariam fácil os pontos da paternidade da minha bebê. Eu deveria ter
falado a verdade quando tive a chance, mas o ódio por ser ignorada queimou
forte no meu peito, e tudo o que eu precisava era poder me vingar do Daniel,
remover das minhas veias a ira que me queimou por meses.

— Eu não te liguei querendo repetir outra noite ou uma relação, se tivesse


me atendido e me deixado falar, saberia a verdade. Mas agora estou com tanta
raiva que poderia arrancar seus olhos, saia já do meu quarto.

— Você é a porra de uma maluca — rosna antes de sair. Fecho a porta me


escorando contra ela sem acreditar no que fui capaz de fazer.

Me deito na cama rezando para não me arrepender, ainda temos mais dias
juntos na mansão e agora que consegui a minha vingança, poderei contar a
verdade e deixar que o Daniel decida o que ele quer fazer.

Para mim sempre foi clara qual a decisão certa, ter a minha bebê e a amar,
independente do que o pai dela queira fazer. Minha piccola será amparada por
uma família que a ama.

Como se me ouvisse, sinto fome, visto uma calcinha e desço as escadas


cantarolando feliz. Na cozinha encontro o Louis e o Daniel bebendo, ele tem fogo
nos olhos quando me vê, e me sentindo tentada pelo diabo, eu faço dois
sanduíches e sento ao lado do meu irmão, de frente para o Daniel.

— Boa noite — cumprimento os dois com um sorriso — Louis, Daniel.

— Boa noite — Louis fala — sem sono?


— Estava me exercitando — provoco Daniel com um sorrisinho — vou
fazer um lanche antes de dormir.

— A essa hora? Que tipo de exercício — Louis pergunta desconfiado.

— Agachamento — digo e mordo meu sanduíche — e você Daniel, gosta


de se exercitar a noite?

Ele me fulmina com os olhos como se pudesse me fazer desaparecer com a


sua fúria.

— Sim, mas só quando tenho uma companheira a altura — bebe o líquido


âmbar em um gole — não gosto de meninas mimadas.

— As mimadas são as piores — provoco — elas desafiam a paciência de


um, mostrando que são incontroláveis.

— Vocês parecem falar em código — Louis observa. Percebo que deixei


escapar demais minhas intenções e me retraio comendo o resto do sanduíche
antes que eu irmão fale o que não deve.

Por mais que eu queira irritar o Daniel, decido o fazer em outro momento.
Termino de comer e subo para o meu quarto, ansiosa demais pela minha proeza,
acabo demorando a dormir.

Levi e Olivia vão se casar! O que era para ser uma festa de aniversário da
pequena Cecilia, se transformou em um casamento de última hora. Por sorte, a
estrutura que ele usaria para fazer o pedido de casamento acabou sendo perfeita
para usar durante a cerimônia. Que foi linda e perfeita, após a festa todos se
reúnem para beber e por volta das 2 horas da madrugada, eu canso de tanto rir
das histórias do pai da Olivia com o meu pai, ambos planejam uma viagem de
coroas pelo próximo ano.
— Boa noite para vocês — digo a todos e a ninguém em especial. Subo
para meu quarto morta de cansaço e quando finalmente entro e fecho a porta um
sapato preto impede.

— Temos de falar — a voz dele se arrasta e o cheiro de álcool é forte.


Daniel me olha focado, não sei dizer qual nível de bêbado ele está, mas o vi
bebendo muito com o Louis.

— Amanhã — tento o colocar para fora e ele entra como um trator.

— Hoje, ou amanhã você foge de novo.

— Eu nunca fugi — digo indignada.

— Como não? Estávamos transando ontem e você simplesmente acabou


tudo — abre os braços.

Apesar de ele falar coerentemente, eu não consigo dizer se o Daniel está


realmente ciente de suas ações. Nunca o vi tão falador e expressando o que sente.
Decido ficar atenta e dar uma chance ao que ele tem a dizer.

— O que você quer? Achei que tinha ficado claro que seria somente uma
noite — cruzo os braços, como ele não percebeu meu ventre inchado nesse
vestido colado?

— Era para ser, mas você não sai da minha cabeça — toca a testa — porra
Lira, eu sou um homem adulto que desistiu do amor depois das merdas que a
minha ex fez, ter sentimentos por você nunca fez parte dos planos.

Desarmo, ele realmente gosta de mim? Meu coração acelera uma batida
quando ouço suas palavras.

— Não minta para mim, Daniel — me aproximo — você realmente gosta


de mim?
— Sim — segura meu rosto — mas tenho medo de me apaixonar e sofrer
novamente — bate a testa na minha — só mais uma noite e eu prometo te deixar
em paz.

— E se eu não quiser que você me deixe? — arisco, a vontade de ser


sincera massacrando meu coração. O forte cheiro da bebida me incomoda, não sei
como o Daniel fica quando bebe, e o medo dele fazer algo que eu não goste
também me incomoda.

— Talvez eu fique — beija meus lábios carinhoso — não posso prometer


nada, o álcool sempre me deixa mais maleável.

— Geralmente você é um cafajeste babaca.

— Muito, terrivelmente babaca — alisa meu pescoço — só mais uma


noite?

— Tenho de te contar algo antes — tomo coragem — promete não


esquecer disso amanhã?

— Nunca.

— Eu estou grávida — deixo as palavras escaparem com medo. Daniel me


solta se afastando.

— Quem é o pai? — tem tormenta em seus olhos.

— Você, estou com 29 semanas, transamos sem camisinha.

— Isso é impossível, Lira.

— Não é — insisto indo até ele, e Daniel se afasta mais um passo.

— Eu não posso ter filhos — ele fala com pesar. — O pai do seu bebê deve
ser outra pessoa.
— Não estou enganada, Daniel, é você! — Aperto os punhos com raiva
pela sua recusa.

— Não, Lira — suspira pesado — eu sou estéril — cambaleia mexendo


nos cabelos — é uma merda que você pense que te engravidei, mas não tem
como.

Atônita e sem reação, é como eu fico quando Daniel passa por mim me
deixando sozinha no quarto. É impossível o que ele acabou de falar, eu tenho
plena consciência que não me deitei com nenhum homem ao menos três meses
antes de o conhecer e depois dele, não existiu mais ninguém. A minha bebê é do
Daniel, mas como o fazer acreditar que falo a verdade?

Saio do quarto disposta a conversa e o fazer ver a verdade em minhas


palavras, encontro-o bebendo na companhia do Louis que não para de encher a
porra da cara. Tenho vontade de matar meu irmão e mais ainda o Daniel. Com
eles juntos não poderei questionar o pai da minha filha sobre o que me contou
agora.

Subo decidida a esperar. A espera leva horas e quando percebo o sol nasce
e o aniversário da Cecilia começa. Daniel passa o dia trancado de ressaca, e o
Louis feliz da vida tirando fotos com a filha. Tenho vontade de falar com a
Beatrice sobre o que aconteceu, mas desisto ao ver a minha amiga conversando
com o Cowboy gostoso. Quando desisto de esperar o Daniel sair do quarto, vou
até lá. Entro o encontrando deitado, encarando o teto.

— Daniel — chamo baixinho.

— Oi — responde fazendo careta.

— Sobre o que conversamos ontem — início.

— Lira — ele me corta arisco — chega, você precisa entender o conceito


de uma noite só. Transamos, e depois você se vinga de mim por não querer
conversar, mas foi só isso, para de me perseguir!

— Seu babaca.

Engulo em seco o choro entalado na garganta, deixando-o sozinho. Se é


assim que o Daniel vai tratar a verdade sobre a nossa bebê, eu espero que ele vá
se foder. Na escada encontro Beatrice sorrindo feito boba e seguro suas mãos,
tomando uma decisão.

— Eu preciso de paz, sossego e me alimentar bem, posso ficar com você


na sua fazenda durante minha gestação?

— E de companhia — ela me diz me puxando para um abraço duradouro


— podemos ir quando você quiser.

— Obrigada — beijo seus cabelos.

Estou certa sobre a minha decisão. Não vou permitir que Daniel rejeite
novamente a minha filha, eu fiz a minha parte, contei a verdade. Não preciso dele
para ser uma boa mãe.
Daniel

Puta ressaca do caralho, eu não deveria ter bebido tanto ontem com o
Louis. Às vezes esqueço que o maldito italiano tem um fígado de aço que
aguenta álcool como se fosse água. Não lembro bem o que aconteceu ontem, o
dia inteiro foi apagado da minha memória e agora estou trancado no quarto,
sofrendo com dor de estômago, cabeça, e enjoado para cacete.

Nunca mais eu tento acompanhar o italiano em uma bebedeira.

Lembro que o motivo da minha raiva foi a Lira, como ela ousou me
dispensar depois de todo o tempo que passou tentando entrar em contato?
Quando não era as ligações dela que eu rejeitava, eram as da minha ex-esposa,
que está determinada a tirar até o último centavo que eu tenho com o pagamento
da maldita pensão.

A desgraçada conseguiu provar para o juiz que ela era impossibilitada de


trabalhar e sustentar pela depressão que supostamente eu causei nela e o
alcoolismo. Agora, além de marido infiel, fui taxado de abusivo, que transformou
a noiva em uma depressiva alcoólica. Aquela vadia desgraçada me traiu com o
meu melhor amigo por anos e ainda me fez perder a empresa que fundei com
aquele desgraçado, me deixando sem nada.
Eu vivi 20 anos ao lado daquela mulher e nunca imaginei que pudesse ser
traído daquela forma. Estive ao lado dela quando o diagnóstico de infertilidade
veio, revelando que eu era infértil e não podia dar o que ela sempre quis, filhos.
Eu fiquei arrasado, os anos passaram, e agora com 40 anos, ela não pode mais ter
bebês e me culpa por ficar depressiva por causa disso.

Mas ela tinha a porra de um amante desde os 35 anos, poderia ter usado ele
para dar os filhos que ela queria, já que eu não era uma opção.

Sempre que me lembro daquele dia eu tenho vontade de beber cada vez
mais, fiz o exame e pouco depois o médico me deu a notícia, Verônica chorou a
noite toda e depois que fui trabalhar e retornei, ela tinha desaparecido. Por uma
semana inteira não tive notícias dela e quase enlouqueci, a polícia achava que eu
a tinha matado.

Então ela reapareceu depressiva e alcoólica, nunca me contou onde esteve


naquela semana, os anos seguintes, foi um verdadeiro inferno, até que descobri a
traição e terminei o casamento. Antes eu tivesse de pagar uma pensão para meus
filhos ao invés daquela diaba de mulher ardilosa que consegue sempre enganar os
médicos psiquiatras.

Ontem a última lembrança que tenho é a dela me ligando para reclamar do


valor da pensão que não pagaria sua viagem para as Maldivas para poder se
recuperar emocionalmente.

A mandei tomar no cu e desliguei. Ainda estava irritado com a proeza da


Lira em transar comigo só para me deixar de bolas azuis. Eu tinha prometido a
mim mesmo não me envolver novamente com mulheres grudentas que
lembrassem a Verônica, e a Lira parecia exatamente assim, me ligando e pedindo
por um encontro, e quando finalmente nos vemos de novo a safada me deixa sem
gozar!
Eu tive vontade de arrancar o pescoço lindo dela quando fui colocado para
fora e meu pau se recusou a brochar, ele queria voltar para a bocetinha quente que
tinha dispensado a nós dois nem que fosse na marra.

Por isso fui para o banheiro e bati punheta como um maldito adolescente,
louco para gozar e poder tirar satisfação com a safada, a foder de novo até o talo
e esporrar no meu interior quentinho.

Mas ao invés disso, bebi como um condenado por causa da raiva que a
Verônica me causa e ainda tenho de aguentar a Lira entrando feito um vendaval
no meu quarto espumando pela boca, querendo explicação sobre o que falamos
ontem. Eu nem lembro de a ter visto depois do casamento, quanto mais de
conversado. Mas sei que não transamos ou minhas bolas ainda não estariam
doendo de desejo.

Ela vai embora bufando de raiva e eu continuo rezando aos céus para me
recuperar da maldita ressaca. No andar de baixo as crianças gritam,
principalmente o Lorran, ocasionalmente o ouço dando ordens nas brincadeiras.
O menino será pior que o tio e o pai juntos quando crescer, ou talvez ainda pior
que a Lira, que parece uma mistura feminina dos irmãos.

Por mais que eu queira esquecer a diaba, ela não sai da minha mente.

Durmo após tomar outro comprimido, acordo de madrugada com uma cede
infernal, o jarro de água que eu tinha trazido secou e tenho de descer. Na cozinha
a luz da geladeira acesa me mostrando uma bunda empinada na minha direção, eu
conheço aqueles cabelos loiros como o sol e a bunda mais redonda e gostosa que
eu já vi. Me aproximo devagar dela que come o resto do bolo.

— Oi — digo com a voz rouca ao pé do seu ouvido.

Lira se assusta e afasta para trás, batendo contra meu quadril, a seguro com
as mãos. Ela gira nos meus braços me olhando desconfiada, com a boca cheia de
glace. Ao contrário do que outras mulheres fariam, ela me ignora e volta a ficar
inclinada com a bunda roçando em mim enquanto come seu bolo. Me estico
sobre ela pegando a garrafa de água, roçando meu pau traidor e duro como aço na
bunda que ele quer comer.

— Vai se esfregar em mim até quando? — ela pergunta de boca cheia.

— Até você me deixar meter no seu rabo — digo antes de beber a água.

Lira, como a capeta que é, segura o vestido para cima, levantando o tecido
e me mostrando a calcinha de renda preta. Agarro sua bunda redonda, alisando a
pele como um tarado, esfregando em sua bunda gostosa. Deixo a jarra em cima
do balcão e fico de joelhos, beijo sua bochecha arranhando a barba contra a sua
pele. Sem paciência para joguinhos, eu desço sua calcinha, provado a delícia do
seu mel na minha língua.

— Tem certeza de que não vou te deixar na mão de novo? — ela pergunta
e eu ligo o foda-se, agora que provei o gosto da sua bocetinha, eu só quero mais.
— Eu poderia te deixar me fazer gozar e sair daqui rebolando — fecha a
geladeira, sentando-se para trás, esfregando a boceta na minha boca. Mordo seu
grelinho arrancando um gemido safado dela.

— Você não vai embora — digo soltando sua carne e ficando em pé.

— Quem te garante? — ela encosta a cabeça no meu ombro.

— Eu não vou te deixar gozar com tamanha facilidade — digo em seu


ouvido, segurando suas mãos e a colocando contra a bancada.

— Não! — Lira fala alto e me assusto, achando que a machuquei. Solto


seus braços e ela se afasta da bancada como se tivesse levado um susto — qual é
a sua, Daniel? Primeiro me rejeita e depois finge que não se importa com o que
eu te disse ontem, e agora vem cheio de fogo — abaixa a roupa como se tivesse
lembrado que estava determinada a me afastar.
— Lira, eu estava bêbado para cacete naquele momento — começo, mas o
franzir de sobrancelha dela me irrita.

— Óbvio que vai usar a desculpa da bebida — revira os olhos — eu


também bebi e lembro que você não usou a camisinha e ainda assim quer me
fazer de louca — ela empurra meu peito — eu sei com quem eu transo e quando
o faço. Não sou uma – cafajeste como você!

— O que diabos camisinha tem a ver com isso? — pergunto confuso — e


daí que eu esqueci? Já faz tempo e não muda nada.

Acho que ela deve falar da última vez que transamos, mas estou realmente
confuso como a camisinha pode ter vindo parar no assunto. Eu tenho certeza de
que não tenho nenhuma DST, faço meus exames regularmente e antes de transar
com ela e depois eu estava limpo. Sou um homem estéril que não pode ter filhos,
não consigo entender a raiva dela, quando obviamente ela esqueceu também.

— Você é um desgraçado — rosna me empurrando novamente — quando


se der conta do que perdeu não venha atrás pedindo para fazer teste que eu juro
que te mato.

Ela sai bufando da cozinha e eu fico sem entender que porra acabou de
acontecer. Camisinha, teste, o que diabos essa mulher quis dizer com isso? Coço
a cabeça decidido a ir tirar essa história a limpo, quando subo o primeiro degrau
da escada meu celular toca, nem lembrava que estava com ele no bolso. O nome
de Verônica brilha na tela e eu tenho vontade de cometer um assassinato.

— O que você quer, porra?! — rosno.

— Te avisar que entrei com uma ação para aumento de pensão, já que
você se recusa a fazer isso com uma conversa amigável, eu vou para a justiça.

— Peça pensão ao maldito do Fred, é com ele que você namora e me traiu,
ou já se esqueceu que o desgraçado me deu um golpe e ficou com a minha
empresa?

— Supera isso, amor, o Fred já é passado, terminei com ele e preciso de


férias para recuperar as minhas energias.

— Quando você se tornou esse monstro fútil?

— No dia que você passou a ficar mais na empresa do que comigo, agora
aumente a minha pensão, não precisamos de um juiz, você sabe que tudo o que
fez comigo e como isso me magoou.

— Se você ao menos tivesse me dado um filho — digo amargurado, eu


também sempre quis uma criança.

— O estéril aqui é você, amor, não eu, fiz todos os exames necessários na
época, não me faça repetir. Eu era completamente fértil. Agora aumente a minha
pensão.

— Vai se foder, sua vadia oportunista.

Desligo o telefone querendo cometer um assassinato. Quando a minha


doce Verônica se transformou nesse monstro? Passamos vinte anos juntos, duas
décadas amando a mesma mulher e sendo fiel, nunca a dando motivos para ser
uma vadia completa comigo e agora só decepção e mágoa.

Nunca vou ser capaz de superar a dor que a Verônica me causou e por isso
me surpreende tanto a minha vontade de ter a Lira, dela não sair dos meus
pensamentos, isso não acontece desde o meu divórcio.

E quanto mais essa diaba me rejeita, mais eu quero ir atrás dela e fazê-la
engolir o seu orgulho enquanto como sua bocetinha. Levo os dedos aos lábios
aproveitando o resquício do gosto dela. Preciso tê-la novamente, mas não hoje,
estou irritado demais com a Verônica e sou capaz de discutir feio com a Lira
projetando nela a minha raiva.
Volto para o meu quarto, ainda temos mais uma semana na casa de verão
da família Vittileno, vou usar esse tempo para entender o que a Lira quis dizer
sobre teste e camisinha. Na minha cabeça não consigo encaixar as peças desse
quebra-cabeça, e a italiana arisca vai ter de fazer isso, por bem ou sob tortura a
amarrando na cama e impedindo que goze, enquanto não me falar a verdade.

Não que eu seja um tarado, mas a primeira coisa que faço ao acordar é ir
atrás da Lira, encontro seu quarto vazio, desço as escadas vendo a família reunida
na mesa, noto a ausência da Lira e da loura amiga dela, acho que era Beatrice o
nome da mulher. Me sento ao lado do Louis e como quem não quer nada
pergunto:

— Onde está a Lira e a Beatrice?

— Saíram faz meia hora com o Dante.

— O cowboy? — não tem como esquecer um homem usando chapéu de


Cowboy, ele é um cara legal, mas pelo pouco que falamos, percebi que não tem
interesse na Beatrice, já ela, qualquer um percebia que está apaixonada.

— Sim, eles voltaram para cuidar da fazenda e a Lira foi junto — Olivia
me responde, atenta a conversa.

— Entendi.

Me limito a dizer, pelo visto terei de esperar outra reunião de família a qual
serei convidado para conseguir falar com a Lira. Apaguei o número que ela me
ligava e não posso pedir a seus irmãos sem levantar suspeitas de que algo
aconteceu entre mim e ela.

Por enquanto meu emprego na Vittileno é vital para a minha sobrevivência.


Após ter declarado falência, foi a confiança do Louis nas minhas habilidades
como CEO que me salvaram, estava por um triz de ser preso por atrasar a pensão
da maldita.
Pode demorar quanto tempo for, mas eu ainda vou encontrar a Lira
Vittileno e tirar a limpo a situação que nos envolvemos, tem alguma coisa desse
quebra-cabeça que não faz sentido e eu vou desvendar.
Lira

Finalmente estou com um barrigão enorme de fazer inveja.

Comemoro quando minha nova obstetra, a senhora Ramirez, me fala as


medidas da minha bebê. 45 centímetros, pesando cerca de 2 quilos. Ela é do
tamanho de um melão amarelo e meus olhos se enchem de lagrimas ao visualizar
o formato do rostinho dela, os olhos fechados enquanto ela flutua no meu ventre.

— Ela é enorme — Beatrice fala segurando a emoção.

— Sim, minha bebê finalmente ganhou peso — choro o medo que me


acompanhou durante a gestação inteira, finalmente indo embora.

O alívio que sinto é tão grande que tenho vontade de ligar para o Daniel e
dizer que a nossa menina está saudável e bem, que acabam os dias de medo e
comilança desesperadas — tudo com base no que a minha nutricionista
recomendou — que ela finalmente ganhou peso e minha barriga de gestante pode
ser vista a quilômetros de distância.

A gravidez me deixa sensível e eu sou mais do que agradecida por ter a


Beatrice ao meu lado, e o Dante, que me ajuda sempre que preciso fazer algum
esforço. Secretamente eu tento juntar esses dois, mas o Cowboy não colabora
enquanto a minha amiga cai de amores por eles.

O Dia dos Namorados se aproxima e tenho planos para o casal, pena que
eles não sabem disso ainda.

Às vezes tenho vontade de ligar para o Daniel e contar tudo sobre a


gestação, mas como ele falou comigo retorna a minha mente, me deixando com
medo de uma nova rejeição. Sei que sou forte e posso fazer tudo sozinha, mas
ainda assim, eu queria o que os meus irmãos têm, companheirismo e amor
enquanto cuidam dos filhos.

O Levi acabou de ter uma linda menininha chamada Lorrany, nome


escolhido pelo Lorran, ainda não fui visitar os dois por conta da gravidez
avançada, não posso pegar avião e me limito a viagens somente para a cidade de
Veneza, onde faço minhas consultas e compro o enxoval do bebê. A pedido da
Beatrice vou ficar com ela por tempo indeterminado.

Sinto saudades da Louise, mas sou grata todos os dias por ter a Beatrice ao
meu lado.

Pela primeira vez, vim a uma consulta acompanhada e é reconfortante ter


uma mão para apertar e um par de olhos para me encarar, felizes por saber as
novidades da minha bebê. Agora que me dedico exclusivamente a ela, eu
finalmente sinto que as coisas estão voltando aos eixos certo, se não fosse a
distância do Daniel, tudo estaria perfeito, tento não pensar nele e reservo a
melancolia para o meu diário.

Cansei de tentar encontrar o amor, não preciso de homem na minha vida e


serei feliz cuidando da minha pequena, que eu ainda não decidi o nome. A ideia
de homenagear a minha mãe paira constantemente na minha cabeça, mas não
quero duas, Cecília na família. Louis teve sorte de ser o primeiro a ter uma
herdeira mulher, o safado ainda me paga por pegar o nome da nossa mãe sem
saber se eu queria usá-lo também.

Tenho certeza de quando a minha bebê nascer já terá um nome, continuo


procurando um, incansavelmente, na internet. E mesmo se não me decidir antes
do nascimento, quando eu a olhar saberei qual é a melhor escolha.

Enxugo as lágrimas enquanto a senhora limpa o gel na minha barriga, não


precisarei tomar vitaminas, mas farei novos exames para acompanhar o
desenvolvimento, em breve estarei dando à luz a uma linda garotinha.

— Vai à loja de roupinhas hoje? — Beatrice pergunta, andamos com os


braços enlaçados pelas ruas de Veneza.

Por sorte não estamos em temporada que o nível da água sobe e podemos
andar sem precisar nos locomovermos em embarcações, tenho pena dos turistas
que veem aqui nessa época do ano, achando que encontrarão a cidade feita entre
as águas, isso só acontece em uma determinada época do ano, e é magnifico, mas
o resto do tempo é só uma cidade comum com muitos canais de água.

— Com certeza, ainda não tenho roupas o suficiente — adoro usar blusas
que deixam a barriga a mostra, exibindo com orgulho a minha gestação.

Não irei participar da premier do filme, e não me sinto nem um pouco


culpada por isso, a equipe de marketing que dê um jeito nas entrevistas, sem a
diretora, já enviei minhas respostas para as perguntas da imprensa, e agora é só
esperar os lucros. Investi cerca de 10% no filme, e espero ter um lucro de mais de
um milhão de retorno.

Não preciso me forçar a trabalhar, me dediquei anos a indústria e agora


tenho outra prioridade que eu amo muito mais, no meu ventre. Chutando sem
parar e chamando a atenção pela marca de seu pezinho na minha pele exposta.
Entramos na loja e compro mais vinte roupinhas, todas de tamanhos
diferentes, para a minha pequena usar quando for crescendo, sei que ela não
ficara do mesmo tamanho por mais de três meses e quero estar preparada.

Voltamos para a fazenda e Beatrice chama o Dante para ajudar pegando as


coisas dentro do carro.

— Você vai ter uma bebê ou um exército? — ele pergunta franzindo as


sobrancelhas.

— Não seja exagerado — brinco me sentando na varanda alisando a


barriga. — Ela não vai usar isso tudo de uma vez e quero aproveitar o tempo que
tenho para fazer compras, depois será somente choro e fraudas sujas.

— Minha mãe disse que pode te ajudar no seu resguardo — ele fala
trazendo as sacolas.

— Eu agradeço e com certeza vou querer a ajuda dela. Todos vocês têm
sido incríveis nesse tempo, obrigada — seguro a mão dele, quando passa por
mim e o puxo para um abraço.

Apesar de ser meio turrão, Dante é um amor de homem, ele escuta,


conversa, e não te faz sentir mendigando por atenção. Eu entendo o motivo de ter
sido fácil para a Beatrice se apaixonar por ele. Um homem lindo como ele, com
cabelo cheiroso e braços musculosos é a receita para derrubar qualquer mulher
com um hormônio querendo sexo.

A pena que faz é a timidez da minha amiga em não conseguir expressar o


que realmente sente em palavras e ações. Os pais dela tomaram cuidado para
podar a Beatrice e a fazer ter uma fobia social severa, durante toda a vida, se não
fosse pela Blanca, ela teria enlouquecido e só Deus sabe onde estaria agora.

Essa fazenda é mais do que a sua fonte de renda, é o seu refúgio do mundo
e das dores do passado.
— E o pai da piccola? Ainda não quis saber dela?

— Ele tem meu número e eu já contei a verdade, se não me ligou, ele que
vá catar bosta de vaca.

Evito usar palavrões para a minha piccola não aprender, é difícil ser
criativa quando quero mandar alguém se foder, mas tudo pelo bom
desenvolvimento da minha menina.

— Louis deve estar planejando com cuidado o assassinato dele — Dante se


senta ao meu lado e chama a Beatrice para ficar ao lado dele com a mão. Como
diabos esse homem consegue não perceber os olhos dela brilhando e a vontade
que ela tem de se sentar no colo dele e o abraçar?

É um asno da pior espécie!

— Ele tenta o tempo todo me fazer falar — dou de ombros — mas não
quero minha piccola sentindo que só foi aceita pelo pai devido ao tio babaca que
não respeita a decisão da mãe. Para mim o infeliz morreu.

— Você não sente saudades dele? — Beatrice pergunta, discretamente


batendo a coxa na do Dante.

— Não — minto, eu não me envolvi com ninguém depois do Daniel e é


difícil esquecer um homem como ele, que é a receita perfeita para me fazer
enlouquecer.

— Teve alguma notícia dele? — ela insiste. E eu bufo, só a Olivia e a


Bianca sabem que o Daniel é o pai, por ligarem os pontos do meu interesse nele e
nas poucas coisas que falei a elas, mas não contei a mais ninguém e pretendo
deixar assim. Quanto menos pessoas souberem, menores as chances de forçarem
ele a aceitar algo que ele se recusa a reconhecer.
Nunca vi uma mentira tão deslavada quanto a dele. Estéril uma ova, tenho
certeza de que não engravidei sozinha e muito menos do espírito santo. Ele mais
do que teve tempo para vir atrás de mim, se não o fez, é porque não se importa o
bastante para isso e pensar sobre a possibilidade de não significar nada para ele
quando meu coração idiota insiste em lembrar da sua existência todos os dias, me
magoa.

— Não — respondo à pergunta — e não irei atrás.

— Certo — Dante fala — vou ter de assumir esse papel — ele brinca e eu
gargalho.

— Você mataria a criança em dois segundo — Beatrice fala rindo — só


tem jeito com os bezerros.

— E nunca matei um — mostra a força do bíceps — tenho forças para


segurar qualquer criança.

— O que você tem de força tem de desastrado — Beatrice implica, Dante


sorri lindamente para ela antes de a abraçar, apertando seu corpo contra o dele,
quase os fundindo.

— Prove um pouco da minha força — ele fala rindo.

Com o clima gostoso, aproveitamos o final da tarde antes de colocar meu


plano em ação para o Dia dos Namorados.

Envio para ambos um convite para irem a um restaurante romântico, como


prêmio de um sorteio que eles nem sabiam que tinham ganhado. No dia do jantar
a Beatrice sai extremamente arrumada, e o Dante mais cheiroso do que nunca,
agora é deixar os dois se darem conta que são almas gêmeas e ficarem juntos.

****
O tempo passa rápido e finalmente estou na semana final da minha
gravidez. Para facilitar o parto, me mudei para uma casa em Veneza, onde o
Louis tem feito morada com a Bianca lindamente grávida do segundo filho, e
Beatrice que reclama todos os dias de saudades do Dante, por mais que eu a
mande para casa ficar com ele, ela se recusa a me deixar só, e a sua afilhada.

O casal que ainda não é um casal romântico serão os padrinhos da minha


pequena que ainda não tem nome, tenho fé de que serei capaz de dar um a ela.

— O que eu coloco na certidão de nascimento? — Louis pergunta pela


enésima vez.

Pego a frigideira na minha mão e taco no braço dele com ódio da sua
insistência em saber quem é o pai da bebê. Estou quase dando à luz e não suporto
mais ouvir a voz dele.

— Louis, eu juro que te mato! — grito.

— Não mate meu papai — Cecília pede rindo, ela chora quando brigo com
ele.

— Vou afogar ele no rio!

— Está vendo piccola — Louis pega a pequena no colo — é isso que uma
gravidez faz com as mulheres, elas viram assassinas, nunca engravide.

Cecilia ri do pai e beija a bochecha dele. A pequena tem cabelos tão loiros
quanto os nossos. Será que a minha menina será loira, ou terá os cabelos pretos
como o do pai? Pensar nisso aperta meu coração, aquele desgraçado não me ligou
nenhuma vez querendo saber da nossa filha.

— Louis, pare de querer fazer a Lira te matar — Bianca pede puxando o


marido para longe.
Uma dor forte se espalha no meu ventre para as pernas e seguro a bancada
da mesa, sabendo o que significa.

— Minha filha vai nascer— grito chamando a atenção e como um vulcão


em erupção.

Louis me coloca dentro do carro e dirigi tão rápido para o hospital que
esqueceu a Bianca e a Beatrice no apartamento. Quando a dor alivia eu dou
risada da cara dele.

— Do que você ri tanto? — ele pergunta quando chegamos ao hospital.

— Você esqueceu sua esposa — respondo fazendo careta ao sentir outra


pontada aguda.

— Minha sobrinha nasce hoje e eu morro, oh combinação boa — ele fala


de testa franzida me segurando no colo e levando para a cadeira de rodas.

Um quarto já está preparado me esperando e nele fico as próximas horas


sofrendo com as contrações. Ter minha família e melhor amiga comigo, conforta
meu coração solitário.

Daniel não faz ideia do que está perdendo, mas eu sei o que estou
ganhando quando uma garotinha pesando 3 quilos e 200 gramas é colocada no
meu colo. Os cabelos tão louros que parecem brancos, cobertos de restos de
sangue, o choro preenchendo meus ouvidos e aliviando meu coração ao segurar o
meu pedacinho de mundo nos braços.

— Bem-vinda ao mundo, Lizzie — sorrio beijando sua testinha molhada.

O nome dela não poderia ser outro, meu serzinho de amor e paz, minha
piccola, Lizzie.
Daniel

Dois anos depois...


— Não acredito que sua filha já vai completar 2 anos — digo ao Louis. —
O tempo passou correndo a Cecília com 3 anos e a Alessa com 2.

— Nem acredito em como o tempo passou rápido — Louis diz servindo


uma dose de uísque — Lorran já tem 5 anos, ainda lembro quando aquele menino
era um bebê, e hoje está todo esperto se achando o máximo como irmão mais
velho — gargalha lembrando as artes do sobrinho.

— A Lorrany já tem 2 anos, né?

— Sim, Lorrany, Alessa e Lizzie nasceram no mesmo ano, mas em meses


diferentes. Lorrany no início de fevereiro, Lizzie em abril e Alessa em agosto.

Espera um segundo, esse nome é novo para mim. Busco na memória


tentando entender se esqueci o nome de uma das filhas do Louis ou do Levi, mas
que eu me lembre que cada um tem dois filhos. Levi tem o Lorran e a Lorrany, o
Louis, a Cecília e a Alessa, então quem é Lizzie?
— Acho que me confundi com tantos filhos — coço a cabeça olhando ao
redor do bar na casa do Louis na Itália — quem é Lizzie? — levo a bebida aos
lábios.

— A filha da Lira.

Engasgo cuspindo o uísque na mesa. Tusso tentando recuperar o fôlego,


como diabos a Lira tem uma filha de 2 anos e eu não fiquei sabendo disso? Louis
franze a testa para o meu espanto.

— Sério que você não sabe?

— Como diabos isso acontece? Quem é o pai?

Um desespero enorme me toma, nos últimos dois anos eu não consegui


esquecer a italiana de olhos azuis e cabelos cor de ouro, com o corpo mais
perfeito que eu já vi e mais gostosa de se provar. Um apetite sexual que rivalizava
com o meu, me enlouquecendo por dias a fio em que precisei bater punheta,
lembrando do cheiro dela, o gosto e os sons que ela fazia ao gemer rebolando no
meu pau.

Entrei em uma longa disputa sobre a pensão alimentícia com Verônica, o


que me impossibilitou de participar das reuniões da família Vittileno, jantares de
aniversário e datas comemorativas, eram todos recusados com pesar. Louis é um
grande amigo que tem me ajudado com o inferno que é, Verônica no meu lado,
por causa daquela maluca, quase fui preso. Passei sete dias na cadeia esperando a
liberdade por fiança e foi um inferno que odeio lembrar.

Nunca vou me recuperar do susto que levei com os policiais batendo na


minha porta me levando sob custódia e como principal suspeito na tentativa de
suicídio de Verônica. Fui incriminado por incitar a tentativa de suicídio daquela
maluca, nunca pensei que ela armaria dessa forma para mim devido a uma pensão
alimentícia.
Foi graças a ajuda do Louis que consegui provar a minha inocência,
enquanto eu era mantido preso esperando o julgamento para a fiança, meu amigo
fez o que era impossível para provar que meu celular tinha sido hackeado e que
as mensagens que troquei com a Verônica foi armação dela para me fazer
culpado. Que os encontros que alega que tivemos nunca aconteceram, e era um
ator no meu lugar.

A puta da Verônica conhece bem meu jeito de falar, andar e vestir. Ela
simulou com precisão cada uma das mensagens e dos encontros. Cometeu uma
tentativa de suicídio deixando uma carta em que me culpava e as provas no
celular. Óbvio que ela não morreu e foi socorrida a tempo, ela ingeriu
medicamentos para ter uma overdose e acabou com um problema grave no
estômago.

No fim, a maldita foi considerada instável mentalmente e conseguiu uma


condenação de internação em um hospital psiquiátrico por três anos. Já faz um
ano que ela cumpre pena e não duvido que seja liberta em breve. Soube que tem
se comportado bem e demonstrado avanços milagrosos em sua cura. Só de pensar
naquela mulher libertada eu tenho ânsia e vontade de cometer um assassinato.

Perdi inúmeras coisas durante esses dois anos devido à maldita e pelo visto
a chance de rever a Lira e pedir desculpas por ser um completo idiota com ela, a
última conversa que tivemos não sai da minha mente nem por um segundo dos
últimos anos e a vontade de tê-la para mim.

— Daniel, os dois últimos anos realmente te foderam — Louis diz me


trazendo de volta a realidade — a Lizzie fez aniversário em abril, e vamos
comemorar amanhã o da Alessa, e só agora você está sabendo da minha sobrinha.

— Não é como se você tivesse me contado — acuso.

— Eu amo a Lizzie — ele tem pesar no olhar — mas odeio o pai dela,
evito falar sobre para não acabar cometendo uma loucura.
Fico atento a informação, para o Louis não gostar de alguém, a pessoa
deve ser um completo babaca asqueroso. Bebo o líquido esperando que ele
continue falando sobre o cunhado, quando não o faz me deixo vencer pela
curiosidade e pergunto:

— Tá, mas quem é o pai?

— Eu não sei — fecha o punho ao redor da bebida — e é isso o que mais


me enfurece. A Lira se recusa a falar o nome do bastardo e toda vez que vejo a
Lizzie perguntando por que suas primas têm um pai e ela não, eu quero trancar
minha irmã em um quarto e fazê-la falar a verdade para poder socar a cara do
desgraçado, e fazê-lo a assumir a paternidade. A Lizzie é uma doçura, mais
encantadora e travessa que o Lorran quando tinha a idade dela, odeio ver minha
girafinha sofrendo.

— Girafa? — franzo o nariz.

— Tem um desenho que ela assiste chamando “a hora do zoológico” que


ensina as crianças a falarem e procurarem coisas, usando diversos animais, bem
bobinho, mas a Lizzie simplesmente ama e vive chamando pela “Fefinha” o
nome da girafa.

— Que fofinha — sorrio imaginando a cena, se ela é filha da Lira deve ser
perfeita como a mãe — mas o cara sabe que é o pai da Lizzie?

— Diz a Lira que contou ao desgraçado, mas ele disse que era mentira
dela, falando que era estéril e não podia ter filhos.

— Que desculpa idiota... — perco a fala na última palavra, o ar some dos


meus pulmões quando uma lembrança corta minha cabeça ao meio.

****

— Tenho de te contar algo antes, promete não esquecer disso amanhã?


— Nunca.

— Eu estou grávida.

— Quem é o pai?

****

— Um perfeito babaca — Louis fala me puxando da lembrança — você


está bem? Ficou branco feito papel.

Levantando cambaleando e segurando a cabeça sem conseguir respirar.


Inspiro, e o ar não entra nos meus pulmões. Como diabos eu tenho essa
lembrança? Quando isso aconteceu? O que significa essa memória? Uma dor
aguda corta meu cérebro novamente, e caio de joelhos recordando o restante da
conversa.

****

— Você, estou com 29 semanas, transamos sem camisinha.

— Isso é impossível. Lira.

— Não é

— Eu não posso ter filhos. O pai do seu bebê deve ser outra pessoa.

— Não estou enganada, Daniel, é você!

— Não, Lira, eu sou estéril, é uma merda que você pense que te
engravidei, mas não tem como.

****

Era sobre isso que ela falava sobre a camisinha e o exame. A Lira me
contou que o pai da sua filha sou eu, mas esqueci completamente que isso
aconteceu, e no dia seguinte fui um completo babaca com ela.

A dor se alastra forte, me fazendo perder os sentidos. Louis me segura


pelos ombros me puxando para ele, cambaleando, saímos do bar entrando na sala
onde a vejo.

Linda, segurando uma menina loura de olhos azuis. Seu olhar encontra o
meu antes de tudo ficar escuro. Apago ouvindo chamarem meu nome.

Acordo sentindo um cheiro forte no nariz, abro os olhos vendo o Louis me


encarando preocupado, e a Bianca ao seu lado. Me sento com a cabeça
explodindo em dor e tentando assimilar a lembrança que tive. Mais do que nunca
preciso conversar com a Lira sobre o que aconteceu naquela noite, nada mudou,
eu continuo sendo estéril, mas preciso entender o motivo dela achar que Lizzie é
minha.

Eu nunca abandonaria um filho, principalmente quando sou incapaz de ter


um, mas agora que sei a verdade por trás daquele dia, um desespero sem igual me
consome. Pior do que quando achei que seria condenado por causa da Verônica.

— Como você se sente? — Louis pergunta.

— Só com a cabeça doendo.

— Vou pegar um remédio — Bianca corre.

Atrás dela eu a vejo, loura como eu me lembrava, o cabelo enorme, na


altura do quadril, os olhos azuis me encaram com fúria. Os braços envoltos da
menina que descansa a cabeça no colo da mãe. A Lizzie estende a mão para mim
dando um tchauzinho sorrindo, os dentes minúsculos.

Ignoro o Louis que fala ao meu lado e fico em pé caminhando até elas
como em transe. Estendo a mão tocando a da Lizzie, sorrio ao ver que ela
responde meu carinho estendendo os braços pedindo meu colo.
Lira puxa a filha para trás, mas sou mais rápido ao pegar a menina no colo,
ela quase não pesa. As bochechas gordinhas, os olhos dois diamantes, ela aperta
os dedinhos antes de segurar minha barba e puxar os fios. Chio pela dor
recebendo sua gargalhada como recompensa, cheiro seu pescoço, o aroma de
flores invade meus sentidos e lágrimas que me tomam. Não consigo entender o
motivo de me emocionar tanto segurando-a.

— Então você lembra? — Lira pergunta com dor na voz.

— Recentemente, Louis me contou sobre ela — digo com a voz rouca, a


vontade de chorar pelo que posso ter perdido rasgando meu peito — mas não tem
como ser verdade.

— Você teve dois anos para descobrir — ela segura a cintura da filha a
puxando para si — eu te disse antes e repito. Não vou fazer nenhum teste, minha
palavra deveria ter sido o suficiente.

— Eu fiz exames Lira — aperto o punho, com ódio de mim mesmo.

Porque no final a Lira me disse a verdade, mas eu enchi a cara e a ignorei,


não acreditei em sua palavra e perdi dois anos da vida dessa princesa que sorri
sem motivos para mim. Minha cabeça tem certeza do resultado do meu exame, eu
sou estéril com zero possibilidade de reproduzir. Mas meu maldito coração chora
querendo sentir mais um pouco do cheiro da Lizzie.

— Refaça — ela diz antes de sair.

— O que foi isso? — Louis pergunta desconfiado, Bianca retorna me


entregando um remédio.

Engulo o comprimido com dificuldade, o bolo na garganta esmagando


meus sentimentos.

— Acho que cometi um grande erro, Louis.


— Qual?

— Eu acreditei no médico que a Verônica me apresentou.

E por causa daquela maldita, mais uma vez, meu mundo foi arrancado de
mim. Eu acabei de conhecer a filha inesperada que rejeitei. E o ódio da Lira não
me deixará me aproximar delas com facilidade. Aperto os punhos, perdido.
Daniel

— O que você quer dizer com isso? — Louis pergunta.

— Preciso encontrar um médico.

— Está doente? — ele me olha como se eu fosse um lunático.

— Vamos conversar em particular — puxo o Louis para o escritório


sabendo a merda que vai ser quando eu contar o que me lembrei. Espero que a
relação que desenvolvemos ao longo desses anos possa valer de alguma coisa,
agora que ele vai querer me matar.

— Me conte com calma o que aconteceu — senta-se na cadeira atrás da


mesa e me acomodo em uma de frente a ele.

— Você já percebeu que a Verônica é louca.

— Sim, maluca de pedra — revira os olhos — achei que você não quisesse
mais falar dessa mulher.

— E não quero, mas quando eu tinha 35 anos fiz um exame para saber se
eu era estéril. A Verônica também fez e os dela deram negativos, mas os meus. —
Pego meu celular no bolso, abro a nuvem contendo a cópia de todo exame que eu
já fiz e procuro o arquivo que quero — veja isso — entrego a ele o resultado do
exame.

— Porra — ele fala após analisar — agora eu entendo você nunca ter tido
filhos — me entrega — mas o que isso tem a ver com o que acabou de acontecer?

— Quando você me disse que o pai da Lizzie era alguém que fingiu ser
estéril, eu tive uma lembrança — Louis se inclina para frente, posso ver como a
irritação vai tomando conta dele — no casamento do Levi com a Olivia, recorda
que a Verônica começou o inferno devido à pensão?

— Sim, você achou que poderia beber três garrafas de uísque sem morrer.

— E quase morri — ressalto — mas em algum momento daquele dia eu


falei com a Lira, mas não me lembrava disso — me levanto, andando de um lado
para o outro, tomando cuidado com a reação do Louis. Não sou otário de deixá-lo
me bater, mas sei que cometi um deslize com a irmã dele e que odeia o homem
que a abandonou grávida.

— O que vocês conversaram? — aperta os olhos, desconfiado.

— Lembrei disso faz pouco tempo, e minha cabeça quase explode — paro
de frente para ele apoiando as mãos na cadeira vazia — a Lira disse que eu era o
pai do bebê que ela espera e eu respondi que isso era impossível por que sou
estéril. E você acabou de ver o exame, não tem como ser falso.

Louis levanta com brusquidão arrastando a cadeira para trás. E vem a mim,
encho o peito de ar pronto para o enfrentar, sou um homem de 43 anos que já
tomou muita porrada da vida, não vou abaixar a cabeça para o Louis que é mais
novo, apesar de ser o meu chefe e irmão da mulher com a mínima chance de ser a
mãe de uma filha que eu nem sabia até poucos minutos.

— Eu quero muito socar a sua cara por fazer a Lira sofrer esses anos e
deixar minha sobrinha sem um pai. Se ela acredita que você é o pai da Lizzie eu
não vou duvidar e foda-se esse exame.

— Por isso eu disse que tenho de fazer um novo. Fiz com um médico
indicado pela Verônica e depois de tudo que essa vadia fez nos últimos anos, é
capaz dela ter pagado para adulterarem o exame.

— Vou procurar um médico para você ir amanhã — ele pega o celular, me


olhando mortal — juro que se não conhecesse a maluca da sua ex, eu quebraria a
sua cara, mas depois do que aconteceu ano passado, é uma benção que a Lira e a
Lizzie estivessem longe da sua vida.

— Não tinha parado para pensar nisso — me sento — não pensei em nada
— arrasto os dedos pelo cabelo com raiva borbulhando no meu peito — o que
mais aquela desgraçada vai tirar de mim — bato na mesa.

— Tudo que você deixar — Louis se senta novamente — minha secretária


marcou uma consulta para amanhã às 10 horas, vamos ver se você realmente é
estéril, mas a Lira não se enganaria quanto a isso.

— Não consigo acreditar — deito a cabeça no encosto — perdi dois anos


da vida dela se eu realmente for o pai e nem tive a chance de absorver a notícia
imerso nas mentiras e chantagens daquela vadia.

— Agora eu te desejo boa sorte, a Lira quer arrancar seus olhos — ele
mexe no celular — vamos manter isso entre nós por enquanto, não quero dar
falsas esperanças à minha sobrinha.

— Me fala sobre ela? — peço com um aperto no peito.

— A Lizzie é maravilhosa, um verdadeiro docinho, apaixonada por girafas.


Quando ela estiver maior quero levá-la para as savanas, para poder conhecer uma
sem as grades de um zoológico.
Meu peito aperta com tamanha força que o ar me falta ao imaginar o Louis
ocupando todos os cargos que deveriam pertencer a mim. Fecho os olhos
impedindo que lágrimas desçam.

Eu passei anos me convencendo de que era estéril e nunca teria um filho, e


foi somente ver aquela linda menina de cabelos louros e olhos azuis, a segurar
nos braços e sentir seu corpinho quente contra o meu, que a certeza dela ser
minha me atingiu como um caminhão.

É difícil controlar a louca vontade de ir ver a menina e conversar com ela.


Mas preciso fazer as coisas com calma e o primeiro passo é me encontrar com
um médico e confirmar se sou ou não estéril. A Lira deixou claro que nunca faria
um exame de DNA e, porra, eu não preciso disso, as batidas loucas do meu
coração confirmando que a Lizzie é minha, é tudo o que preciso.

Me levanto decidido a não ficar choramingando, posso não me apresentar


como o pai dela ou exigir algo da Lira, mas como um visitante na casa do Louis,
eu tenho o direito de andar por aí e conversar com a Lizzie se ela estiver por
perto.

Quando tiver em minhas mãos o resultado do exame, vou encarar a Lira e a


fazer compreender que minha rejeição foi em função de algo que eu tinha certeza,
e que não passava de uma armadilha da minha ex.

Vou conquistar a minha filha e a mulher que não saiu dos meus
pensamentos nos últimos anos. Não importa quanto tempo leve, enquanto ela não
se apaixonar por outro, eu tenho chances.

— Vamos, quero conhecer a Lizzie melhor — digo saindo da sala.

— Boa sorte, os Vittileno são osso para esquecer — ele avisa.

— Eu sei, mas quando o fazem é de coração, caso não, você e seu irmão
ainda estariam sofrendo pelas mulheres que amam.
— Você tem um ponto.

Antes de sairmos, Louis segura meu ombro me impedindo de prosseguir, o


encaro.

— Vá com calma, eu te conheço e sei que você é um bom homem e será


um ótimo pai, o tipo que a Lizzie precisa, mas não faça a minha irmã sofrer, ou
eu vou ter de interceder por ela.

— Vai me afastar da empresa? — pergunto, a dúvida no ar.

— Não, você é um excelente CEO e com seu comando na empresa no


Brasil posso ficar tranquilo administrando a da Itália. Eu sei separar assuntos de
família com o trabalho, espero que você também.

— Certo.

Não sei por que me sinto mais novo que o Louis ao ser confrontado por ele
nesse momento. Tenho de voltar ao meu normal, se quiser lidar com a situação da
Lira e não deixar que a Verônica abale nossa relação também. Por causa daquela
vadia eu perdi tudo uma vez, nunca mais deixarei isso se repetir, mais do que
nunca, eu tenho pelo que lutar agora.

Saímos e o som de crianças brincando chega ao corredor. Ando rápido até


o jardim, hoje vejo um total de 4 meninas gritando, enquanto o Lorran dá ordens
como um rei de cima da cadeira no jardim com uma capa de super-herói nas
costas.

— Prestem atenção, simples mortais — ele fala empolgado, dou risada do


seu jeito e o Louis me acompanha rindo — eu vou destruir a todas se não me
trouxerem agora os seus doces mais gostosos.

— Vamos logo — a pequena Lorrany puxa a Cecília e ambas correm


entrando na cozinha. Alessa vem ao pai que a pega no colo.
— Docinhos, papai — pede e Louis sai com ela no colo.

— Ehi — uma coisinha fofa de cabelos louros e bochechas vermelhas


devido à corrida — Hai dolci?[4] — pergunta em italiano e eu tenho vontade de
morder suas bochechas e fazer cócegas nela até explodir de felicidade.

— No, ma possiamo risolverlo.[5]

Ela estende a mão para mim e a seguro, contenho a vontade de a pegar no


colo. Lizzie é extremamente simpática e imagino que foi uma bebê que ia
facilmente para o colo de estranhos, sem se importar com a sua segurança. A levo
comigo para a cozinha e vejo Lorrany e Cecília subindo em uma cadeira tentando
alcançar a parte alta do armário.

— Parem já mocinhas — falo com elas em italiano que paralisam no lugar


— é perigoso subir em cadeiras desse jeito, eu ajudo vocês.

— Noooo — Lizzie me impede fazendo bico — eu enho galar! — imagino


que ela diga que ela tem de ganhar, não me acostumei ainda com a língua de
bebês e decifrar seus códigos.

A vontade de ajudar somente ela aperta meu ser, mas não posso deixar as
outras se machucarem. Por isso levo Lizzie comigo, pego o pote de bombons em
cima do armário, e entrego a ela três bombons, ela sorri agradecendo antes de sair
correndo com os coqueirinhos balançando na cabeça loura.

— Para as duas — digo entregando um bombom a cada uma.

— Não vale! — Cecília reclama enquanto Lorrany corre para entregar o


doce ao Lorran — quelo mais — estende a mão e não consigo resistir ao seu
pedido, entrego mais um bombom a ela.

— Bilgado — agradece e sai correndo na direção do Lorran.


Vou para o quintal vendo que Alessa ganhou a disputa dos doces ao
entregar quatro barras de chocolate. Lizzie ignora a briga de Alessa e Cecília por
perderem, tentando persuadir o Lorran a fazerem ela ganhar. Minha garotinha
come os chocolates enquanto todos estão distraídos. Acho muito fofo ver como
ela fica suja pelo doce e vou até ela para a limpar.

— O que pensa que está fazendo? — a voz que povoou meus pensamentos
nos últimos anos soa irritada atrás de mim, sua mão pequena segura meu
antebraço impedindo o meu avanço na direção das crianças.

— Temos de conversar — me viro para ela, não aguentando mais a tensão


entre nós, eu a fodo ou brigamos, mas não dá para continuar assim.

— Agora você quer falar? Após vê-la?

— Você não entende Lira — puxo o celular do bolso — deixa eu te


mostrar.

— Não, Daniel, o seu tempo de falar já passou — revira os olhos bufando


— não queira confundir a cabeça da minha filha.

Ignorando o que ela falou, eu abro o resultado do exame e coloco o celular


na sua frente para ver, assim como fiz com o Louis. Lira segura o celular com
cara de cansaço antes de começar a ler e atestar que eu não menti quando falei
para ela que era estéril.

— Não tem como isso ser verdade, eu tenho certeza sobre a paternidade da
Lizzie — fala chocada.

— Eu sei que tem — digo guardando o aparelho e segurando seus ombros


— mas eu também tinha, naquela noite eu estava puto de raiva devido à minha
ex, bebi duas garrafas e meia de uísque e esqueci completamente a conversa que
tivemos, e depois foi uma caralhada de coisas acontecendo.
— Não é da minha conta — tenta se fazer de indiferente.

— Se tivéssemos ficados juntos, vocês duas poderiam ter se machucado


devido à maluca da minha ex, ela quase me jogou na cadeia. Lira — aliso sua
bochecha me aproximando, o cheiro doce e cítrico invadindo meus sentidos,
cheio de saudades.

— Isso é loucura — ela diz se afastando — Não importa o que você vai
fazer daqui em diante, eu não te quero perto de mim ou da minha filha.

— Eu vou fazer um novo teste de fertilidade para poder ter a certeza de


que o teste que fiz aos 35 anos foi uma armação da Verônica, mas eu sinto Lira
— levo a mão ao peito — que a Lizzie é minha, por favor, não seja como a vadia
da minha ex, não destruía minha vida novamente.

— Você não tem o direito de jogar sobre mim essa responsabilidade — ela
fala visivelmente abalada.

Assim como eu, não esperava chegar aqui e encontrar uma filha e perceber
o erro que cometi. Lira não imaginou que a minha reação pudesse ser algo além
da recusa, ao invés da aceitação que estou demonstrando. Vou provar a essa
mulher que nada é o que ela imagina.
Lira

Ele não tinha esse direito, não depois de dois anos e nove meses de
gravidez em que o Daniel não quis saber se a filha estava viva, bem, ou passando
por alguma dificuldade. Não deu a mínima para os medos que tive quando estava
grávida e a Lizzie não ganhava peso, não soube a felicidade quando descobri o
sexo dela ou quando ela engordou ganhando o tamanho esperado de um bebê.

Como foi sentir o hálito dela pela primeira vez mostrando que respirava,
ou o medo que tive no parto de não conseguir fazer força suficiente. Foi meu
irmão quem segurou a minha mão enquanto a médica me mandava empurrar e eu
gritava, e o Daniel fazia sei lá que merda durante o nascimento da filha.

Nunca trocou uma fralda dela ou passou noites em claro, enquanto eu


andava de um lado para o outro na fazenda da Beatrice tentando fazer a Lizzie
pegar no sono. Até o Dante já dormiu com ela no colo por estar cansado de a
ninar, e ela se recusar a dormir, Beatrice correu comigo tantas vezes para os
hospitais quando a Lizzie tinha febres, que eu nem saberia contar quantas foram.

Ele não viu quando a Lizzie estava aprendendo a andar e caiu batendo a
cabeça no chão, abrindo um corte que me levou ao desespero, e fez o Dante
dirigir como louco para o hospital enquanto eu me desesperava com a minha
pequena inconsciente no meu colo e o machucado aberto.

Quando ela tinha um ano e um mês sofreu uma concussão e ganhou uma
cicatriz no couro cabeludo de 2 centímetros.

Somente eu, Dante e Beatrice, sabemos o desespero que foi aquela noite e
muitas outras. Acompanhamos de perto os primeiros passos, as risadas, as falas
emboladas na língua que só os bebês sabem se comunicar. O primeiro aninho e
como ela estava linda vestida de joaninha, com a tiara com orelhas que ela vivia
pegando e colocando na boca.

Ele não tem o direito de aparecer depois de dois anos, e agora querer me
convencer com esse maldito teste que fala que ele não pode ter filhos. Eu tenho
certeza e foda-se que ele estava bêbado, se no dia seguinte tivesse aceitado
conversar quando tentei, ao invés de somente querer me comer, nada disso teria
acontecido sem ele por perto. Eu não teria me refugiado com a Beatrice para ter
paz e sossego, ele poderia ter cuidado da gente.

E agora vem com a desculpa de que foi preso? Nada disso faz sentido e só
mostra o perigo que ele realmente representa para a minha família. Não posso
deixar a Lizzie chegar perto de um homem com uma ex maluca, que forjou um
exame de fertilidade, vou manter a minha filha segura a qualquer custo,
independente do que seja à vontade dele.

Eu sou a mãe dela a única responsável por sua felicidade e segurança,


Daniel não vai abalar a vida tranquila que estou construindo para a minha filha,
longe dos holofotes, de qualquer confusão, ou algo que prejudique negativamente
seu crescimento.

O desgraçado ainda se atreve a pedir para que eu não destrua a vida dele?
A ira me invade como um vendável e tenho vontade de o mandar tomar no cu, se
não fosse os malditos olhos tristes e brilhantes do homem que tem atormentado
cada um dos meus pensamentos nos últimos anos, seja de ódio ou de saudades.

Perceber a vulnerabilidade de um homem maduro como o Daniel, é uma


maldita estaca na minha determinação, pois quando a raiva passa, sentimentos
ternos tomam o lugar, dando possibilidade a algo que nunca poderia existir.

— Eu sou responsável somente pela minha felicidade e da Lizzie — digo a


ele com a voz embargada — você cuide da sua sozinho, seu stronzo!

— Eu sei e sinto muito por ter te desapontado — ele fala, o idiota tem
tanta sinceridade na voz que eu quero socar a cara dele — é tudo muito novo
ainda...

— Não tem nada novo — o corto, espumando em fúria — para mim as


coisas sempre foram completamente claras, você é o pai da Lizzie e a rejeitou,
assim como a mim.

— Eu tinha certeza que era infértil e não lembrava da nossa conversa, por
favor, entenda o meu lado — pede apertando os punhos.

— Não, assim como você não entendeu o meu.

Passo por ele indo até a Lizzie que se empanturra comendo chocolate.
Louis observa sem fazer nada, enquanto as crianças se lambuzam com os doces.
Esse desgraçado nunca soube colocar um limite nelas e tira o juízo das mães
quando repara nas crianças. Lorran dava para ser um traficante de doces que
nunca é preso, devido à fofura em excesso, mas dessa vez eles vão ver.

— Parem já de comer o chocolate — ordeno com as mãos na cintura.

— A Zia Lira chegou — Lorran arregala os olhos e sai correndo sabendo a


bronca que iria levar.
— Não adianta correr — grito com ele — sua mãe vai saber disso,
mocinho.

— Não conta para a mamãe — Cecília pede escondendo as mãos, e Louis


ri da filha, fulmino meu irmão com o olhar.

— Leve agora suas filhas para o banho e limpe esse chocolate delas.

— Elas só estavam brincando — ele fala com um sorriso bobo, as meninas


fazem o Louis de gato e sapato.

Se um dia achei que Bianca tinha rendido meu irmão, isso caiu por terra ao
ver como ele é com as filhas, um completo babão, que faz tudo o que elas pedem
sem recusar. A Bianca sofre tentando colocar limites, e eu que passo dor de
cabeça quando ele envolve a Lizzie no meio do seu reinado sem regras.

— Eu vou chamar a Bianca — digo a ele.

— Como você é chata, pensa que a minha mulher manda em mim? —


Pega a Cecília com o braço esquerdo e a Alessa com o direito.

— E não mando? — Bianca surge atrás dele de braços cruzados.

— Cruzes — Louis pula com o susto, e mordo o lábio para não rir.

— Zio tum meldo — Lizzie fala dando risada.

— Manda sim amor — ele beija os lábios dela, sendo recebido pela
gargalhada das filhas — e vou agora dar banho nessas confeiteiras para que você
não precise se preocupar com isso.

— Eu vi você levando a Alessa para pegar chocolate — Bianca bate na


bunda do marido — de castigo por uma semana.

Gargalho entendendo bem qual o tipo de punição será aplicado a ele.


— É assim que se faz cunhada — digo rindo. — Vem Lizzie — pego a
minha princesa no colo.

— Bola, mamãe — beija minha bochecha me enchendo de chocolate.

— Não, filha, a mamãe já tomou banho — reclamo enquanto ela me


lambuza ainda mais. Eu vou matar o Louis — quem te deu esse chocolate todo?

— O Zio — aponta. Viro de costas vendo-a apontando na direção do


Daniel. Eu odeio como ele está ainda mais lindo e com os olhos brilhando em
vontade de poder falar com a Lizzie.

Daniel tem mais fios grisalhos do que eu lembrava, o charme de homem


mais velho exala do seu corpo batendo contra o meu, a barba com o cavanhaque
branco e os outros fios negros como a costeleta que se une ao cabelo em fios
negros. O queixo quadrado, o rosto retangular, os olhos azuis-escuro penetrantes,
os ombros largos e as mãos grossas, ele enfia dentro do bolso da calça
respeitando a minha decisão, mas cheio de vontade de falar com a filha.

— Foi você quem deu chocolate a ela? — pergunto me aproximando.

— Dei bombons para ela entregar ao Lorran e ganhar a brincadeira — fala


com o peito inflado, deixando os ombros mais largos.

— Lizzie, agradeça ao zio por dar os doces.

Lizzie se estica para a frente manchando a camisa do Daniel de chocolate.


Deixo que minha filha beije a bochecha dele o sujando, e ao contrário do que
pensei que iria acontecer, Daniel envolve Lizzie com os braços e beija seu
pescoço fazendo cócegas na menina que começa a rir.

Minha piccola sempre foi carismática e simpática ao extremo, ia para o


colo de quem a chamava, e adorava sair para passear escondida. Me deu muitos
ataques cardíacos por causa disso.
— Oi, fofinha — ele fala.

Contenho a emoção ao ver os olhos do Daniel marejados, por anos


imaginei como seria quando ele visse Lizzie, se teria coragem de a rejeitar após
ver a fofura linda que a filha dele é. Mas indo contra tudo que imaginei, Daniel
quer ter contato com a filha, e comprovar mais do que nunca que é o pai dela,
provando que sua ex armou sobre o teste de fertilidade.

Não sei o que fazer, não me preparei o suficiente para o que aconteceria
agora. O choque de realidade não ser o que eu imaginava acaba comigo. E ver o
carinho dele com ela, tudo que eu sempre quis quando a minha menina
perguntava pelo “papa” sempre que via as primas e primo chamando os pais
deles, a dor de não saber o que responder, na minha frente, tenho a resposta para
todas as minhas orações.

Mas a dor não me permite aceitar com facilidade, a qualquer momento ele
pode desistir novamente e nos abandonar, magoar a minha menina, e isso eu não
posso deixar que aconteça. A maternidade pode ter me deixado mais mole, mas
em compensação, estou o triplo cautelosa e preocupada com quem se aproxima
da Lizzie.

— Tudo bom? — Ela pergunta rindo, é uma das poucas frases que sabe
falar direito.

— Sim e com você? — ele responde, não se importando com o chocolate


preso na barba.

— Tudo — ela ri — a mamãe ta balba. — Confidência me olhando


sapeca, ela sabe que vou reclamar por comer um monte de chocolate com o
Lorran, meu sobrinho é uma péssima influência para a glicose de uma criança.

— Não fique brava com ela, mamãe — Daniel fala me olhando enquanto
segura a mão da Lizzie — a culpa foi toda minha, brigue comigo.
— Com certeza eu vou — o encaro de rabo de olho — mas agora vou dar
um banho nessa porquinha.

— Oinque — ela faz o som do animal e eu rio, sempre acho divertido a


Lizzie imitando os animais.

— É mesmo uma porquinha — Daniel brinca levando os dedos para a


barriga dela e fazendo cócegas.

Lizzie gargalha alto se jogando contra ele, a cabeça dela para no peito do
Daniel e minha filha sorri tranquila, como se soubesse que está na presença do
pai. Eu tenho de tomar cuidado ao proteger nós duas, minha pequena não pode se
apegar a um homem com chances de desaparecer das nossas vidas se decidir que
não quer ser o pai dela, ou que é demais para ele.

— Oinqueeeeeee — ela fala antes de bocejar.

— Tá bom porquinha da mamãe — digo com um bolo na garganta — hora


do banho.

— Xaaaau zio — ela beija a bochecha do Daniel e não aguentando mais


ver a aproximação deles, eu caminho para casa.

O desgraçado me segue, Lizzie vira o encarando e posso ouvir que o


Daniel faz sons de animais, fazendo a Lizzie gargalhar. Eu queria correr e respirar
em paz, para conseguir tomar a melhor decisão sobre o que fazer em seguida com
a minha vida, e garantir que minha garotinha não sofra a dor que sofri pela falta
de um dos pais.

É somente por ela que eu decido colocar o meu orgulho de lado, vou
confrontar o Daniel e dizer tudo que deixei entalado por dois anos na garganta
como facas me cortando, sempre que eu me deitava para dormir e a nossa
conversa retornava a minha mente. Ele não sairá impune e muito menos
encontrará um mar de rosas por decidir assumir seu papel paterno.
— Mais tarde conversamos — digo a ele, sabendo que não posso viver no
limbo.

Se tem algo que aprendi com a história dos meus irmãos é que todos
merecem uma segunda chance, mas nem por isso eu tenho de passar por cima das
minhas dores, posso fazer tudo no meu tempo, quando achar que o momento
propício.
Daniel

Ela fugiu! — Penso irritado controlando os nervos enquanto espero a Lira


descer.

Todos já se recolheram em seus quartos e eu continuo plantado na sala,


esperando pela conversa que ela disse que teríamos.

É um inferno ficar perto e longe da Lizzie, a garotinha de olhos azuis como


os da mãe, conquistou meu coração e a necessidade de fazer parte da vida dela
me consome.

Por ser final de semana, vou ter de esperar a segunda para fazer o exame
na clínica que a secretária do Louis marcou. Cancelei toda a minha agenda da
semana e vou ficar na Itália para conseguir resolver as coisas com a Lira, torço
para que ela não decida voltar para a fazenda da Beatrice e fique na casa do
irmão, para podermos conversar, eu quero saber tudo sobre a Lizzie, cada detalhe.

Nunca vou conseguir recuperar o tempo perdido ou me perdoar por


acreditar naquele médico e não ter feito um segundo exame. Após perceber os
extremos em que a Verônica é capaz de chegar, não tenho dúvidas quanto à sua
armação para me fazer acreditar que não poderia ter filhos, só não consigo
entender o motivo dela ter feito isso. Ela também queria filhos.
Desde que nós nos conhecemos, o tema criança sempre foi delicado.
Verônica era uma modelo conhecida e estava em ascensão na carreira, ela se
recusava a “estragar o corpo” como ela dizia tendo a pele esticada por uma
criança. Mas eu compreendia seu anseio profissional, também tinha os meus, por
isso não insisti. E quando aos 35 anos, ela disse que tinha chegado a hora de
termos bebês, eu aceitei sem pensar duas vezes, mas logo o meu diagnóstico veio
e nossa vida desandou.

Estou em uma posição delicada onde uma das duas mulheres com quem
me envolvi contam versões diferentes para fatos que alteram a minha vida. A
primeira que eu nunca poderia ter filhos, e a segunda que tive uma filha e a
rejeitei em meio a uma bebedeira desenfreada, e a certeza inabalável de confiar
na avaliação de um médico.

Uma destrói a minha vida, a outra me oferece uma chance de ter tudo o
que eu sempre quis e me foi negado.

Eu só tenho de descobrir como fazer Lira perceber que não sou o vilão da
nossa história, mas, outra vítima de uma mulher louca. Manter a cautela vai ser o
principal no momento. Lira me odeia — e ela tem motivos — mas preciso
mostrar que mudei e o que fiz não foi usando a razão, mas em uma noite, bêbado
e irritado pela mulher que me destruiu.

Sento-me no sofá balançando a perna freneticamente. Ouço passos vindos


da escada, giro o pescoço encontrando a mulher que pode mudar completamente
o meu destino. Ela usa uma blusa de alças de cetim, marcando os bicos eriçados
dos peitos. O short jeans rasgado, realçando a grossura das coxas brancas, os fios
louros maiores do que eu me lembrava, tocando sua cintura como uma cascata, os
olhos azuis me encaram afiados, prontos para me devorar.

— Achei que não viria — digo.

— Estava colocando a Lizzie para dormir — ela responde com um suspiro.


— Ela dorme fácil?

— Não, geralmente só depois de duas histórias sobre os animais do


zoológico.

— Ela já foi em um zoológico? — pergunto observando seus passos, os


pés descalços quando ela se senta no sofá de frente a mim.

— Ainda não, o Dante já mostra muitos animais na fazenda, não preciso de


mais um monte de bicho de pelúcia que ela iria querer após vê-los — leva a mão
à cabeça como se lembrasse de algo assustador.

— Como assim? Ela tem um exército ou algo do tipo? — pergunto me


sentando de frente a ela, na ponta do sofá, querendo ir para seu lado, mas
respeitando a distância imposta.

— Sim, o safado do padrinho dela adora me enlouquecer comprando


vários ursos de pelúcia para Lizzie, o quarto dela já tem uns 10 elefantes. É um
inferno limpar todos eles.

— Quem é o padrinho dela? — pergunto, me sentindo mal por não saber


ou ter participado da escolha.

— O Dante, e a Beatrice a madrinha — alisa o pescoço, meus olhos


seguem seus dedos tocando a pele branca, deslizando pelo vão entre os seios e
parando entre as pernas grossas.

Pigarreio recuperando o foco da conversa.

Encaro os olhos da Lira, ela fez de propósito o momento da mão, medindo


o quanto consegue me atrair para a sua teia de sedução. Respondendo ao seu jogo
me recosto contra o sofá de braços abertos a deixando ter uma boa visão dos
meus músculos e coxas grossas.
— Eles são bons para ela? — pergunto.

— Mais do que você — alfineta e isso me dói.

— Não faz isso — apoio os cotovelos no joelho, sabendo que o momento


não é próprio para o sexo, apesar da tensão sexual cortando a sala.

— Não me diga o que fazer — rosna.

— Certo — ergo a mão — vamos conversar em paz.

— Diga o que você quer. — Ela entra na defensiva, deve estar achando que
planejo levar a Lizzie para mim.

— Só quero conhecer a Lizzie e entender toda a situação. Me explicar, se


você estiver disposta a me ouvir.

— Você tem até o amanhecer, se eu não gostar do que você vai falar, irei
embora com a minha filha amanhã e nem tão cedo você a verá novamente.

Mordo a língua querendo retrucar suas palavras, mas no momento eu não


tenho nada para usar de triunfo contra a Lira e a fazer ficar, ou não, levar a Lizzie
para longe de mim.

Respiro fundo, aliso as coxas me sentando confortável, pronto para a


batalha que será as próximas horas.

— Quando você descobriu a gravidez? — início.

— A primeira vez que eu te liguei foi para marcar um encontro e contar


sobre a gravidez.

— Porra — aliso os cabelos — isso foi pouco tempo depois que transamos.
Na época achava que você queria um encontro por estar apaixonada.

— Coisa que nunca estive — olha de lado, ferindo meu orgulho.


— Nem uma única vez? — tento brincar para aliviar o clima.

— Não — fala fria como um bloco de gelo e tenho vontade de a esquentar.

— Para ser sincero com você — digo, decidindo manter a conversa no tom
adequado — naquela época comecei a ter problemas novamente com a minha ex-
esposa. Estava irritado, e quando pensava que você poderia ser grudenta como
ela, eu queria distância.

— Veja só o que te resultou essa distância — ironiza.

— E eu me arrependo amargamente disso — sou sincero. Lira parece


baixar a guarda por um segundo, antes de erguer os ombros.

— O que mais quer saber?

— Como foi a gravidez?

— Assustadora — os olhos dela brilham — eu estava sozinha em


Vancouver contando apenas com a minha assistente, e no meio das gravações de
um filme. Não podia pausar, corria o tempo todo, os enjoos foram terríveis e a
Lizzie não conseguia se alimentar o suficiente para crescer — ela leva a mão aos
olhos tampando e soluçando — eu tive tanto medo, e me culpei por ela não
conseguir crescer, se não fosse pela médica sempre me garantindo que a Lizzie
estava saudável, eu teria enlouquecido.

Levanto indo para o seu lado, pego o corpo pequeno contra o meu, a
envolvendo em um abraço forte, expurgando as suas dores como deveria ter feito
enquanto ela estava grávida, não a deixando passar por isso sozinha. Lira mancha
minha camisa com as lágrimas de frustração e tristeza, beijo sua cabeça alisando
suas costas para a fazer se sentir melhor.

— Me perdoa por não estar presente, por favor — peço.


— Não importa mais — me solta limpando o rosto — quando te contei
sobre a gravidez, você nem deve ter notado meu ventre pelo tamanho pequeno
que ele ainda estava.

— É verdade, me perdoe por isso — aliso seu braço — deixa eu tentar te


explicar o que se passava comigo naquele dia.

— Você e sua ex maluca, já entendi tudo — revira os olhos fungando.

— Não, Lira, você não sabe de nada e precisa me ouvir para conseguir
entender.

— Fale.

— Eu conheci a Verônica quando não tinha nada além de uma bolsa de


estudos na PUC para administração, foi o único curso que consegui passar. Cresci
na periferia Lira, nunca tive muita condição financeira, mas tinha um lar amoroso
e pais que me apoiavam independente das nossas brigas.

— Não entendo o motivo de começar a falar dessa época.

— Para você entender do começo, tudo que culminou naquela noite e nos
dias seguintes.

— Prossiga.

— Verônica cursava Arte e Designer, ela queria ser estilista e fazia bicos
como modelo. Também vinha de família humilde, mas queria o mundo a seus
pés. Foi fácil se apaixonar, começamos a namorar, e quando nós nos formamos,
eu consegui emprego na empresa do meu amigo Fábio, que também era amigo da
Verônica, éramos um trio.

— Que história linda — desdenha.


— Quieta — a puxo para meu colo batendo em sua bunda — estou sendo
sincero com você, me ouça sem julgamento.

— Seu ogro — bate no meu peito, mas não faz menção de se levantar.

— Com o tempo aprendi a fazer investimentos e acumulei em cinco anos


um capital de um milhão de reais, com esse investimento, abri a minha empresa
com o Fábio como sócio. Eu trabalhava com distribuição de produtos para outras
empresas, como a VITTILENO. A Verônica seguiu carreira como modelo
enquanto eu trabalhava como CEO da empresa. Mas foi ela quem sempre cuidou
de mim, exames, consultas médicas, alimentação, tudo era ela quem ditava, e eu
fazia.

— Que cordeirinho obediente — revira os olhos e estapeio sua coxa,


percebendo que era essa a sua intenção. Lira morde os lábios, e seguro suas
pernas, a fazendo sentar aberta em meu colo.

— Perceba Lira: a Verônica tinha controle, sobretudo, ela quem decidia


minhas roupas ao café da manhã. Eu morreria envenenado se ela me desse
amendoim e nunca suspeitaria da comida.

— Isso é perigoso.

— Agora eu percebo, ela nunca quis ter filhos para não prejudicar o corpo,
e eu estava envolvido demais na empresa. Até que do nada, quando já tínhamos
35 anos e 15 de casados, ela decidiu que queria, tentamos por cinco meses até
percebemos que tinha algo errado. Fizemos uma série de exames com o médico
que ela tinha escolhido. Quando no final, ele me disse que eu era o estéril, não
duvidei.

— Deveria ter pedido outra avaliação.

— Eu estava arrasado. Lira, Verônica me culpava por ela não poder ter
filhos, todos os dias brigávamos por causa disso. Eu queria tanto um bebê, cuidar
dele de pequeno, ver crescer, os primeiros passos e dar risada quando falasse
errado enquanto aprendia a dizer as palavras. Depois de dois anos, a ideia se
fincou no meu coração como uma árvore secular com raízes enormes. Eu tinha
aceitado que nunca teria um herdeiro, eu era estéril e nada poderia mudar isso.

— Vocês transavam sem camisinha?

— Sim, e mesmo depois do resultado ela não engravidava e dizia que não
tomava anticoncepcional. A minha vida adulta foi baseada em confiar na minha
esposa, nunca tive motivos para duvidar dela — encosto a testa em sua clavícula
— me perdoe por ser insensível e não ter desconfiado antes das intenções dela.
Eu já estava tão certo de que não poderia ter filhos, que quando você falou, me
pareceu outra mentira de alguém querendo me manipular.

— O que te faz acreditar em mim?

— Agora eu sei quem é a cobra da Verônica, passei cinco anos enfrentando


problemas sérios na empresa com a falta de verba, estava sempre no vermelho.
Aos 40 anos tive de declarar falência e vender tudo para o Fábio, quando a
Verônica me viu falido, ela sorriu e me contou a verdade. O Fábio estava
desviando fundos para eles poderem assumir o controle da empresa, ela não me
amava mais, e queria o divórcio. Eu fiquei no chão, pois amava aquela
desgraçada com cada célula do meu corpo.

— Ela te traia com seu melhor amigo e sócio?

— Sim. E ainda conseguiu ganhar no nosso divórcio metade dos meus


bens e uma pensão de 20 mil por mês. Eu não consegui provar a traição, foi uma
facada atrás da outra, e me sentia um lixo sem saber o que fazer para sair da
merda. Eu confesso que pensei em tirar minha vida — Lira me aperta em seus
braços — eu não tinha nada. Foi quando bebendo em um bar, eu vi o anúncio de
que Louis Vittileno estava procurando um CEO para as empresas no Brasil e o
quanto isso poderia agravar as ações da empresa.
— Foi logo após o nascimento da Cecília, ele queria morar na Itália com a
família.

— Sim, eu lavei a cara, vesti um terno e fui para a empresa. Louis que me
entrevistou, e no segundo em que me viu sabe o que ele perguntou?

— Não, mas posso imaginar — ela sorri me encarando — algo como


“quem te derrubou?”.

— Mais precisamente... — Eu sei quem você é, Daniel Albuquerque, sua


empresa fazia entregas para a VITTILENO, foi uma das únicas que não
receberam suborno. O que o traz aqui? — Eu contei a verdade sobre meu sócio,
a falência e minha ex demoníaca. Louis me acolheu e me deu o cargo sem pensar
duas vezes.

— Meu irmão pode ser babaca, mas sabe ser um cara decente quando
precisa — ela sorri alisando minhas bochechas — realmente, sua ex era uma
vadia.

— A parte difícil vem agora — suspiro.

— Tem mais? — arqueia a sobrancelha.

— Você nem imagina.

— Vou precisar de uma bebida.

Lira sai do meu colo e caminha até a cozinha, ela retorna com um vinho e
duas taças, sentando-se novamente na minha perna, me oferecendo o líquido. É
estranho como me sinto confortável em contar para ela sobre o meu passado,
quem sabe quando ela realmente me conhecer e entender as minhas dores, possa
me deixar fazer parte da vida de Lizzie.
Lira

Daniel foi tão machucado quanto eu em relacionamentos passados. A


esposa o usou o tempo que quis, e quando decidiu jogar fora, plantou nele a ideia
de ser estéril com tanta força que ele seria incapaz de acreditar em qualquer
pessoa que falasse o contrário.

Agora eu consigo compreender sua reação e vi o quanto ele bebeu naquela


noite, sua história não me parece mais uma desculpa — como eu tinha imaginado
— mas era a verdade que ele acreditava.

— Quando a Verônica soube que eu era o novo CEO da VITTILENO


Brasil, começou a insistir novamente em falar comigo. Foi quando o casamento
do Levi aconteceu e você me contou a verdade. Naquele dia, a vadia me ligou
pedindo um aumento de pensão, já que agora eu estava ganhando muito dinheiro
novamente. Eu contei ao Louis e enchemos a cara, depois você apareceu e eu
senti uma saudade da porra, precisava de você.

— Saudades? — Ergo a sobrancelha. Lembro bem dele ter vindo atrás de


mim.

— Sim, e estava com raiva por você ter me usado na noite anterior, sua
diaba — morde meu queixo — continuo de bolas azuis devido à sua brincadeira.
— Não foi brincadeira — puxo seu cabelo — foi vingança.

— Lira, eu tenho 43 anos e nunca conheci uma mulher como você — sua
mão pousa na minha bunda, trazendo meu centro para perto do seu pau duro. A
voz do Daniel fica um oitavo mais grossa, me prendendo à sua sedução.

— Continue a história — bebo um gole de vinho.

— Eu não lembrava que você tinha me contado sobre a Lizzie, mas


naquele momento, a certeza que eu tinha era a de que a Verônica estava me
enlouquecendo, você tinha se vingado, e após meses querendo falar comigo me
disse a única coisa que eu tinha certeza que nunca poderia acontecer; eu ter um
filho.

— Se eu tivesse falado quando você estava sóbrio, teria mudado algo?

— Eu não teria esquecido e poderia ter falado melhor sobre — ele é


sincero, e uma pontada de culpa me espeta. Deveria ter esperado o momento
certo.

— Não vou me sentir culpada... — Daniel cala meus lábios com um dedo.

— Nem por um segundo, você tentou entrar em contato, falou a verdade e


eu que preferi ignorar. Quando terminamos de conversar, a Verônica me ligou
novamente dizendo que iria me processar pelo aumento de pensão, alegando que
a deixei depressiva devido ao nosso casamento, e ela já tinha provado ao juiz que
estava impossibilitada de trabalhar e se sustentar, devido à depressão que causei
nela com uma traição.

— Não pode estar falando sério — bebo o resto do vinho, e Daniel faz o
mesmo, encho nossas taças, incrédula com o que a ex dele foi capaz de fazer.

— Eu juro, nunca encostei em outra mulher enquanto era casado. Fui


taxado de marido infiel e abusivo, só de imaginar o que a desgraçada faria em um
novo julgamento, eu queria matá-la. Eu só fui beber com o Louis como um louco
querendo esquecer tudo o que aconteceu. E acabei esquecendo aquele dia inteiro,
nem lembrava de ter me procurado.

— Não percebi que você tinha esquecido. — Se eu tivesse sido mais atenta
aos detalhes, talvez pudesse...

— Não é culpa sua — alisa minha bochecha me fazendo o olhar. — Eu ia


te procurar, para falarmos sobre o que você queria dizer com aquelas palavras
enigmáticas, quando você foi embora da casa e perdi a minha chance. Depois
disso, tudo virou um inferno completo.

— Tem como piorar? — bebo meu vinho. — Acho que vamos precisar de
algo mais forte.

— Que tal uísque?

— Venho já.

Saio do colo dele, é estranho como me sinto confortável perto do Daniel. A


raiva que nutri durante anos, estourando como bolhas de sabão. Perceber que um
homem como ele também sofreu e não foi um babaca comigo por vontade
própria, abre meus olhos. Foi dessa forma que as esposas dos meus irmãos se
sentiram quando perceberam que eles não eram babacas e as tinham rejeitado?

Como pode, três mulheres diferentes metidas na mesma teia do destino.


Mas diferente delas, eu tenho orgulho demais para me deixar envolver com
facilidade pelo Daniel. Não sou um monstro sem coração, eu sinto empatia por
sua situação e queria poder ajudá-lo, voltar no tempo e fazer as coisas diferentes,
mas não posso e agora para a frente, eu tenho a chance de decidir como deverá
ser a nossa relação.

Meu coração continua muito magoado por tudo o que já passei, e os dois
anos que estive isolada do mundo, somente na companhia das pessoas queridas
para mim e vendo a minha menina crescer, trouxeram uma calmaria da qual eu
não quero abrir mão. Vou continuar criando a Lizzie como tenho feito, mas talvez
agora, a minha menina tenha alguém para chamar de “pai”.

Tudo vai depender do ritmo dessa noite, não tenho certeza de que deveria
beber enquanto temos uma conversa séria como essa, mas de tudo que eu
esperava ouvir, com certeza não era uma história triste como a do Daniel e eu
preciso de muito álcool no meu sistema. Pego o uísque do Louis e retorno para a
sala servindo uma dose para cada. Me sento no seu colo novamente, pronta para a
bomba final.

— Continue — peço.

— Quando retornei ao Brasil, a Verônica ficou mais insistente sobre a


pensão, passou a me visitar na empresa e perseguir. Por diversas vezes fui
grosseiro com ela a mandando embora e chamando os seguranças. Seis meses
depois, eu estava sendo preso sob a acusação de ter incitado o suicídio da
Verônica.

— Como assim? — pergunto bebendo o líquido que desce queimando na


garganta — essa mulher é louca!

— Completamente — ele bebe e serve mais uma dose para a gente, sem
nunca me tirar de seu colo, a mão repousando na minha bunda. — Passei alguns
dias preso esperando o pagamento da fiança. Meus bens tinham sido congelados,
então precisei esperar o Louis ir ao Brasil com os advogados me libertarem. As
provas do delegado eram quase irrefutáveis.

— Quais eram?

— Conversas minhas com a Verônica em que eu brincava com a mente


dela, primeiro pedindo para voltar e sempre marcando encontros, quando ela ia,
eu a expulsava e chamava os seguranças. Em outros, nos encontrávamos em
locais públicos, mas nesses nunca dava para ver o meu rosto, somente as costas.

— Obviamente não era você — aponto, engolindo mais uma dose e


servindo outra.

— Era um dublê, o que importa, que me incriminava mais eram as


mensagens e os vídeos em que eu a expulsava. Com uma investigação particular,
descobri que meu celular tinha sido hackeado quando a Verônica me mandou um
link para abrir, com os documentos do nosso divórcio, enquanto eu não usava o
aparelho, ela mexia nele por meio de outro celular e mandava as mensagens.

— Como descobriu isso?

— O investigador era ótimo, mas o que me ajudou, foi que na sala em que
trabalho na empresa tinha câmeras que gravaram quando eu estava trabalhando, e
o celular acendia no meu bolso, mostrando que alguém o usava ou quando eu saia
de sala e o deixava em cima da mesa. Depois disso deduzimos que ela fazia o
mesmo quando eu estava dormindo. Os encontros foram todos armados.

— E como ela tentou se matar? Se desse errado, ela teria passado dessa
para o além — ele vira o copo e o acompanho, o álcool começando a fazer efeito.

— Ela ingeriu remédios para ter uma overdose e a governanta, que sabia
do plano, a encontrou e levou ao hospital. Conseguimos o depoimento da mulher
após provar que ela seria cúmplice. Diante do juiz eu provei a minha inocência e
a culpa da Verônica, mas a desgraçada conseguiu provar que era mentalmente
instável e por isso foi internada em um hospital psiquiátrico, com pena mínima de
dois anos, podendo sair caso melhore, e depois serviço comunitário.

— É uma merda que ela tenha conseguido se safar.

— Sim, ela já cumpriu um ano, e temo, por quando for liberta. Se você e
Lizzie estivessem na minha vida enquanto toda essa loucura aconteceu, ambas
poderiam ter se machucado — ele encosta a testa na minha — Verônica já provou
a cobra ardilosa que ela é, se ela soubesse na época sobre você e a Lizzie, eu nem
quero imaginar o que ela teria sido capaz de fazer.

— Eu a mato se ela tocar na minha filha — sirvo outra dose da bebida, já


sentindo os lábios dormentes.

— Eu também — ele toca a testa na minha, o hálito quente se misturando


ao meu, a tensão no ar ganhando força enquanto negamos o que queremos um do
outro.

— Me perdoa por dizer isso, mas talvez tenha sido uma salvação ela não
saber da Lizzie, só de imaginar ela ferindo vocês — ele aperta os punhos — me
perdoa.

— Eu te entendo — seguro seu rosto o fazendo me olhar — você foi muito


machucado, antes eu só te odiava por acreditar que tinha rejeitado a mim e a
Lizzie, mas agora eu sei a verdade. Não posso dizer que te perdoo pela dor que
me causou, pois ela ainda arde no meu peito, mas eu vou te dar a chance de fazer
as coisas direito. Você tem de ter certeza de que é isso que quer — encaro seus
olhos — você não pode entrar na vida da Lizzie, bagunçar tudo, e a rejeitar
novamente, ou eu juro que te mato.

— Eu nunca a rejeitaria — ele fala com convicção.

Meu coração aperta só de pensar em como poderia ter sido as nossas vidas,
e o inferno que a Lizzie teria passado ao crescer com uma louca perseguindo o
pai dela, como isso poderia respingar em nós duas. Ao invés de anos tranquilos
com a minha menina se apaixonando por animais, teríamos passado por um
pesadelo, causando traumas terríveis.

Agora eu percebo que a obra do destino que afastou o Daniel de nós,


protegeu o restante da minha gravidez, que me apavorava com a possibilidade de
a Lizzie nascer com alguma deficiência por minha culpa, e o desenvolvimento
dos primeiros anos de vida da minha menina.

— Você perdeu 9 meses de gravidez e dois anos de vida dela, não perca
mais um único dia.

— Não vou — balança a cabeça em negativo, me mexendo junto — eu te


prometo.

— Não faça eu me arrepender.

Uma lágrima escorre pela minha bochecha, a dor de anos finalmente


encontrando o alívio para escapar e não machucar mais. Permitindo que uma
ferida que sangrava dia e noite fosse fechada. Ele pode não ter reconhecido
naquele instante que era o pai, mas o Daniel também tinha seus demônios o
atormentando, e o que importa é o agora. Um agora em que a minha menina pode
finalmente ter um pai.

Eu ainda não acredito que tenha algum futuro para mim e ele, as mágoas
que carrego não cicatrizaram com facilidade, mas esse é um novo começo. Um
que abraço de peito aberto e leve, mas cautelosa. Disposta a não cometer os
mesmos erros do passado.
Daniel

Lira tem cheiro de uísque misturado a Jasmine de Grace, os olhos


afetuosos após me ouvir, deixando ir embora grande parte da raiva que ela
carregou por anos. Saber o quanto ela sofreu com a Lizzie durante a gestação, e
seus medos, parte meu coração e me faz sentir um lixo, mas se elas fizessem
parte da minha vida enquanto o inferno protagonizado por Verônica acontecia, a
gravidez poderia ter sido ainda mais difícil.

— Vou compensar o tempo perdido com a Lizzie, você deixa? — Peço


soprando em seus lábios entreabertos, quase posso sentir o gosto dela na minha
boca.

— Não vou me mudar para o Brasil para que isso aconteça — ela fala
decidida, embora a voz melosa.

— Eu venho para a Itália ficar com ela — aperto sua coxa em minha mão,
pronto para a deitar no sofá debaixo de mim — e com você — sopro em seus
lábios. Lira fecha os olhos, o rosto implorando por um beijo.

Seguro sua cintura e sua coxa, deitando-a e ficando por cima. Meu pau
moendo sua boceta coberta pelo short. Não lembro a última vez que transei, e a
frustração por não gozar naquela noite com Lira, ainda perturba a minha mente.
Eu preciso dela, a fazer minha e expurgar a vontade latente que crepita
entre nós sempre que nos encontramos.

— Diga que não é o álcool agindo — peço beijando seu pescoço macio.
Estico a língua lambendo a pele, distribuindo lambidas até a sua orelha, onde
faço seu lóbulo com um pequeno brinco de reféns dos meus dentes.

Lira aperta as mãos ao redor dos meus ombros, a pélvis batendo contra a
minha, enquanto ela engole um suspiro pesado, o desejo evaporando de seus
poros e se chocando com o meu. Ensandecido para ter o que me foi proibido.
Aliso sua coxa, notando os poros arrepiados, arranho o interior mordendo com
mais força sua carne, impulsionando meu quadril contra seu centro. Lira geme
baixinho puxando minha camisa.

Fico de joelhos removendo a peça com ambos os braços, flexiono os


músculos dando a ela uma visão privilegiada dos contornos dos meus membros
marcados por horas na academia. Lira tem ferocidade no olhar, suas mãos alcança
a barra da fina blusa que ela puxa para cima com agilidade. Os peitos carnudos
marcados pelo sutiã, quase pulando para fora da peça.

Agarro o esquerdo apertando a macies com minha mão e desço o rosto


entre seus peitos, sugando a carne exposta, removendo o sutiã e abocanhando o
mamilo durinho. Sugo como um animal faminto e sou surpreendido ao sentir um
líquido vazando pelo mamilo. O solto e a encaro sem entender. Lira ri de leve
antes de trazer a mão a minha barba.

— Lizzie ainda mama — ela confidencia com um sorriso travesso — eu


tento tirar o peito dela, mas sempre que ela pede manhosa não consigo evitar —
dá de ombros culpada.

— Não posso roubar o alimento da minha menina — beijo seu pescoço —


mesmo querendo te chupar inteira.
— Faz no esquerdo, já dei de mama a ela antes de dormir, ainda não tem
leite nele.

— Certo — agarro seu queixo a puxando para mim. — Mas antes vou
matar outra fome.

Prendo os lábios macios que tanto me enlouqueceram, com os dentes


desfrutando de sua carne. Sugo o inferior me deleitando. Lira retribui enlaçando
nossas bocas e eu a invado com a língua em um deslizar perfeito, um beijo
encaixado e cheio de desejo, fogo, paixão reprimida. Deito-me sobre ela
saboreando sua boca na minha, inundando meus sentidos com o seu gosto doce.
As pernas arrodeiam minha cintura se esfregando contra meu pau.

Solto seus lábios mordendo seu queixo e descendo provando a pele do


pescoço, busto, e finalmente o seio esquerdo, que não expele leite quando o
coloco na boca, brincando com o carocinho intumescido enquanto minha Lira se
contorce embaixo do meu corpo. Aperto o outro com os dedos, aproveitando os
estímulos que ela faz contra meu pau com a boceta em chamas.

Largo meu pequeno pedaço de prazer e desço beijando sua barriga


chapada, nunca diria que ela teve um filho, com a pele branca perfeita, mais
abaixo do ventre pequenas estrias brancas marcam seu colo, beijo cada uma
delas, encontrando as evidências de que a minha pequena Lizzie esteve aqui.
Foda-se que vou fazer outro exame de fertilidade, eu tenho a certeza de que sou
pai daquela garotinha, e nada vai mudar isso.

— Ganhei na gravidez — Lira fala, a voz nem um pouco insegura, ela sabe
que apesar das estrias continua linda.

— Te deixou ainda mais gostosa — mordo sua pele — espero que outros
caras não tenham visto isso — digo, o ciúme batendo com a possibilidade de ela
ter sido de outros.
— Só quem eu deixei — me provoca.

Levanto a mão e desço estralando contra sua bunda, a safada ri, sabendo
que conseguiu mexer comigo. Odeio a ideia de pensar em outro tocando o que é
meu, beijando a boca que me pertence, cheirando a boceta que somente eu posso
colocar o nariz nela. O sentimento de posse se espalhando pelo meu corpo como
uma maldita droga.

Fico de joelhos e removo o short da Lira com calcinha de uma vez, abro
suas pernas me contemplando com a visão da sua bocetinha inchada, os olhos da
maldita brilhando em excitação, ansiosa pelo que estou prestes a fazer. Desço a
mão entre suas dobras, apertando o clitóris inchado com meus dedos, ouvindo os
gemidos da minha mulher.

— Nunca mais outro homem vai te tocar aqui — eu digo, ela morde os
lábios e me preparo para a retórica.

— Todos que eu quiser — a língua estrala no céu da boca em um aviso —


eu não sou sua, Daniel. Isso é só sexo.

— Você. É. Minha — dito como um animal, descendo contra seu corpo,


atacando sua boceta com lambidas ferozes em sua carne encharcada e
malditamente deliciosa. Esfrego a barba em suas dobras arrancando-lhe gemidos
de prazer, ela tenta se controlar, mas perde o controle quando a mordo.

— Desgraçado — rosna.

— A quem você pertence? — pergunto enfiando um dedo em seu canal.

— A mim mesma — suspira, rebolando o quadril na minha cara.

— Não, Lira, você é completamente minha — mordo seu clitóris puxando


a pele sensível entre os dentes, a observando convulsionar de prazer em cima do
sofá, na beira de um orgasmo.
Perdida nas sensações que provoco em seu corpo. Lira não consegue me
responder além de gemidos doces e contidos. Estamos fodendo na sala de estar
do irmão dela e meu chefe, com a casa cheia de crianças, somos dois loucos, se
formos pegos, nunca mais nos convidam para os aniversários.

Ignorando o bom senso fico de joelhos, retiro meu pau da calça descendo
de uma vez contra a bocetinha molhada que senti falta. Meto em seu interior de
uma vez, respirando pesado contra seu rosto. Lira fecha os olhos arranhando
minha cintura com as garras que ela chama de unha. O canal escaldante e
molhado me devora com uma necessidade tão grande quanto a que tenho de
meter nela.

Aperto o braço do sofá acima da cabeça da Lira enquanto soco, fazendo-a


se mover com os movimentos, os peitos dançando para cima e baixo, batendo no
meu peitoral, minhas bolas socando contra sua bunda arrebitada e gostosa que
ainda irei comer. Os líquidos da bocetinha jorrando entre nós, facilitando o
deslizar desesperado do meu pau no seu calor apertado.

Era disso que eu precisava durante esses anos, tudo que busquei, encontrei
novamente nos braços da mulher de boca atrevida, com coragem de me deixar
sem gozar para provar o quanto se irritou comigo. Lira é uma caixinha de
surpresas arisca e de forte coração, com coragem e convicção o suficiente para
suportar as pancadas da vida.

Mas nesse segundo em que gemo contra seu ouvindo, me abrigando no


calor de seu corpo, recebendo seus gemidos e rebolado do quadril, enquanto ela
implora por mais, eu percebo que quero ficar com ela, quero mais desses
momentos, quero a provar sem o medo de ser pego por alguém. A desfrutar a
noite inteira sem pressa de ir embora, passamos anos separados e ela nunca saiu
da minha cabeça, foi meu refúgio e lugar seguro quando os pensamentos
ameaçavam me enlouquecer.
Eu tenho ciência de que estou longe de ser perdoado, mas enquanto ela me
aceitar como seu parceiro sexual, vou usar de todos os truques que eu puder para
a fazer ceder, se entregar ao fogo que queima entre nossos corpos e ser minha.
Pois já sou completamente dela. No segundo em que a revi com a nossa menina
em seus braços, eu soube: não tem como escapar de Lira Vittileno.

— Daniel — ela abafa o grito mordendo meu ombro, trazendo minha


mente de volta a realidade enquanto goza apertando meu pau com sua bocetinha.

— Goza para mim Lira— ordeno me deliciando com o prazer em seu


rosto, quando ela me solta e pende para trás de boca aberta, prendendo a
respiração, aproveitando o orgasmo.

— Sim — responde.

Soco mais duas vezes com força antes da fisgada em minhas bolas,
liberando o jato de porra que prendi enquanto a esperava atingir o seu ápice.
Gemo rouco chamando por seu nome no seu ouvido.

— Lira — deixo escapar em um último suspiro.

Desabo as pernas cansadas, suspendo meu corpo com os braços para não a
esmagar enquanto ela recupera o folego embaixo de mim. Minha coisinha
preciosa, os fios louros desgrenhados, a boca inchada e aberta enquanto inspira e
espira, as pálpebras pesadas, as mãos segurando minha cintura. Não resisto a
vontade de roubar um beijo apaixonado de sua boca carnuda.

— Minha — digo.

— Nunca — ela responde atrevida.

— Vou falar isso todos os dias até você ceder — beijo seu pescoço
enquanto ela se encolhe — vou te fazer minha, nem que dure dez ou vinte anos.
— Eca, você já vai estar um velho pelancudo — ela me provoca.

Levanto a cabeça encarando seus olhos azuis brincalhões.

— Nunca vou ficar pelancudo — mordo seu queixo arrancando uma


gargalhada dela — estou completamente em forma.

— Já deve estar usando Viagra, confessa.

— Vou te mostrar quem usa Viagra — levanto com ela no colo. Com o pé
pego nossas blusas que caíram no chão.

— Não vamos transar de novo — fala com brilho nos olhos.

— Com certeza iremos, você vai ver quem é o velho pelancudo — bato na
sua bunda branca arrebitada — sua atrevida.

— Sexo não significa nada, Daniel — ela puxa meu cabelo beijando minha
boca, a fala cansada e triste de quem já desistiu de encontrar um amor.

Eu era assim quando nos conhecemos, após o meu divórcio não acreditava
mais em paixão ou finais felizes, mas com Lira eu quero tudo, uma família
completa, e só vou desistir quando a fizer perceber que estou falando sério. Tenho
dois anos para recuperar e não posso perder um segundo.

— Vamos continuar fazendo até significar — beijo sua bochecha — e


outras coisinhas como programas em família.

— Você está realmente decidido, não é? — ela pergunta com um brilho


cansado no rosto, de quem não aguenta mais ter esperanças e ser quebrada.

Paro no topo da escada, com o pau de fora da calça e o short da Lira na


minha mão, a bunda exposta para quem quiser ver. Mesmo assim, preciso dizer
isso a ela agora.
— Eu nunca tive tanta certeza na minha vida e te farei perceber isso, nem
que demore mil anos — encosto nossas testas.

— Veremos.

Ela fala mansa, ao menos é um começo do qual não pretendo deixar passar
a pequena oportunidade que ela me dá.

— Agora vamos logo para o quarto antes que nos vejam.

— Tem razão.

Aperto sua cintura com o braço caminhando rápido até o meu quarto,
quando entramos rimos da nossa pequena demonstração de nudez e atentado ao
pudor.

— Eu não faria ideia de como explicar a uma das crianças o que fazíamos
pelados — ela confessa rindo, as bochechas ganhando um tom vermelho.

— Eles tomam banho juntos? — pergunto caminhando para o banheiro.

— Sim.

— Falaríamos que estávamos tomando banho e esquecemos a toalha.

— Ah, querido, você não faz ideia de como crianças são curiosas, uma
desculpa dessas nunca iria colar, e no outro dia a casa toda saberia — a coloco
em cima da bancada enquanto vou ligar a banheira.

— Então tenho muito o que aprender — estralo um tapa em sua bunda a


pegando no colo novamente — mas antes vou te foder mais um pouquinho.

— Só um pouquinho — ela beija meus lábios.

Transamos na banheira e na minha cama antes de apagarmos exaustos.


Meu maior desafio com a Lira será fazê-la se abrir emocionalmente para mim,
conseguimos conversar e transar sem problemas, mas o coração, esse eu vou ter
de suar para a fazer me deixar entrar e provar que posso cuidar dela e da nossa
menina.

Não importa o quanto a estrada se torne sinuosa, eu vou mostrar a ela que
sou a escolha certa.
Lira

Acordei com a cabeça a mil devido ao uísque misturado com vinho,


saudades da época em que eu bebia e não sentia nada no dia seguinte. Daniel
dorme tranquilo ao meu lado como se o mundo dele não estivesse sofrendo por
uma dor de cabeça daquelas. Saio da cama, cato minhas roupas, as vestindo,
confiro no relógio de pulso e ainda são 7:50, eu tenho 10 minutos para tomar
banho e fazer o café da manhã de Lizzie.

Cheiro meus braços percebendo que estou com uma ótima fragrância de
macho gostoso. Quem dera pudesse passar o dia assim, mas como sou uma
excelente mãe, eu saio do quarto com cuidado para não chamar a atenção de
ninguém, não sei bem como prosseguir com o Daniel, as declarações dele na
noite passada, de que pertenço a ele, mexem comigo.

Não quero me iludir ou me machucar novamente. Prefiro pensar que foi


tudo efeito do álcool e que em breve ele vai acordar não lembrando de nada, de
novo. Hoje é domingo e aniversário de Alessa, vai ser um dia cheio de gritaria e
vou usar dele para conseguir ficar longe do galanteador que mexe com meu
coração.
A última vez que tentei sair com um homem, o papo dele me cansou tanto
que desisti e fingi que a Beatrice tinha me ligado, dizendo que a Lizzie estava
chorando precisando de mim. Mas com o Daniel foi tão fácil me entregar, não
existia hesitação ou motivos para ficar longe, eu só queria continuar nos braços
dele

E é nisso que mora o perigo, sempre que me apaixono, o cara se prova um


completo babaca insensível. Coisa que Daniel já provou que pode ser, por mais
que eu entenda todos os seus motivos, não estou disposta a machucar meu
coração uma segunda vez, porque depois, colar os cacos, acaba comigo de uma
forma que me deixa desnorteada. Não posso ser uma mãe chorosa por um
coração partido, já basta eu ter bebido como se não houvesse amanhã.

Vou precisar distrair muito Lizzie até o álcool sair do meu organismo e não
contaminar mais o leite. Desde que comecei a amamentar, só bebi uma vez,
quando a Lizzie estava na casa do Louis dormindo em uma noite do pijama com
as meninas, e no dia seguinte foi choro por ela não poder mamar. Espero que
dessa vez minha pequena se distraia o suficiente com a festa e esqueça do peito.

Entro no meu quarto e tomo um banho rápido, escovando os dentes


enquanto me ensaboou. Termino em tempo recorde, Lizzie dorme com as primas
no quarto delas, sempre que as crianças se reúnem elas ficam no mesmo quarto,
com exceção do Lorran, que gosta de ficar no quarto dele, jogando vídeo game
até mais tarde. Mas por vezes sei que ele pula para dormir com as meninas, do
tanto que a Lorrany insiste em ter o irmão por perto.

Meu menino cresceu tanto em dois anos, nem consigo acreditar que ele já
tem cinco e se tornou um pequeno terrorista de doces. Olivia sofre tentando
controlar para Lorran não ter diabete, e eu e a Bianca sofremos em dobro quando
ele se junta com as primas, pois sempre dá um jeito de fazer brincadeiras que as
meninas devem conseguir docinhos para o safado. Temo por quando esse menino
ficar adulto, vai ser o pior Vittileno.
Desço pelas escadas e encontro Louis com uma mão na cintura olhando a
garrafa de uísque em cima da mesa e uma de vinho jogada no chão, por sorte não
derramou o resto do líquido. O par de copos entregando que foi obra de duas
pessoas, e as almofadas bagunçadas. Por sorte lembramos de pegar todas as peças
de roupa. Meu irmão se vira ao escutar meus passos e faz uma pergunta
silenciosa com o olhar.

— A conversa foi longa e difícil — digo suspirando, ele não precisa saber
que transamos.

— Vocês se mataram no meu sofá? — aponta o estofado.

— Basicamente eu posso ter empurrado o Daniel várias vezes — mordo o


lábio, tentando ao máximo não levantar suspeitas de que estou mentindo — você
realmente sabia sobre a Verônica e o que aquela mulher fez com ele?

— Sim, aquela mulher é um cão — alisa os cabelos antes de ajeitar as


almofadas — se eu não soubesse pelo que o Daniel passou nos últimos anos, eu
teria quebrado a cara dele quando soube que era o pai de Lizzie.

— Ele ainda vai fazer um exame — digo, pulando de um pé para o outro,


apreensiva.

— Ele tem de fazer vários, na verdade — Louis coloca a última almofada


no canto, e pega os copos me entregando — não dá para saber sobre o que mais a
Verônica mentiu quanto a saúde do Daniel, sabia que ele fazia exame de próstata
regularmente por que o pai dele morreu de câncer de próstata?

— Eu... não tinha ideia — pego as garrafas me sentindo mal pela perda do
Daniel.

— Pois é, faz uns cinco anos que isso aconteceu e todos os anos ele fazia
exame com o médico que a Verônica indicava. Ele pode ter algo de maligno no
corpo e não saber — franze a testa preocupado. — Devíamos ter suspeitado antes
que aquela mulher manipulava os exames dele.

— Mas ele não tem sintomas, tem?

De repente a ideia de o Daniel ter câncer de próstata aperta meu peito,


dificultando respirar. Ele não pode morrer agora, não após voltar para as nossas
vidas, a Lizzie precisa de um pai e eu de alguém que divida essa jornada comigo.
Não é justo ele ser tirado de nós agora que finalmente chegou.

— Por enquanto não, Daniel toma cuidado com isso, o tio dele também faz
exames e começou a apresentar sinais de que poderia desenvolver um câncer se
não tomasse certos cuidados. — Louis pressiona os olhos com força — eu sei que
o Daniel machucou você e Lizzie — se aproxima, com os copos na mão e o
uísque na outra, ele segura meus antebraços — mas ele é uma boa pessoa, por
favor, não o afaste sem antes dar uma chance a ele.

— Nunca pensei que ouviria você defendendo o Daniel — falo


embasbacada.

— Eu o conheço e ficaria feliz que você conseguisse amar e ser amada por
um homem como o Daniel — beija a minha testa — eu só quero a felicidade de
vocês. Faça as coisas no seu tempo, mas não feche o coração, ok?

— Não acredito que vivi para ver esse dia — Ouço a voz grave do Levi,
olho pela lateral do ombro do Louis encontrando meu irmão — Louis Vittileno
dando conselhos de amor para a Lira.

— Não provoca que dei a você também — Louis fala.

— Sim, por isso eu disse A — eleva a voz — Lira. Não a mim — Levi
passa um braço ao redor do meu ombro me puxando para ele — acho que agora
chegou a nossa vez de te aconselhar — beija minha cabeça — nossa pequena Lira
finalmente encontrou o amor?
— Parem já com isso, vocês dois — bufo — dessa forma parece que estão
jogando o Daniel para cima de mim.

— O que tem de errado se estivermos fazendo isso? — Levi pergunta, e


nesse segundo eu tenho a grande sensação de que eles me escondem algo.

— Contem agora o que vocês estão escondendo.

— Nada — falam com olhares culpados.

— Eu vou ter de forçar? — Ameaço, lembrando a ambos que posso ser


bastante persuasiva quando quero.

— Tá — Levi cede primeiro — a gente meio que já sabia que o Daniel


tinha interesse em você, só não fazíamos ideia de que vocês tinham dormido
juntos e ele era o pai da Lizzie.

— Expliquem melhor — peço, com um estranho calor nascendo no meu


peito.

— Ele sempre perguntava por você nas reuniões em família que você não
participava no Brasil.

— Lizzie morre de medo de avião — reclamo, odeio quando eles falam


dos eventos que perdi no Brasil.

— A gente sabe e não culpa nenhuma das duas — Louis diz — só que o
Daniel sempre perguntava o motivo de você não estar presente.

— Isso quando não ficava olhando ao redor como se você pudesse


aparecer como magia — Levi brinca.

— Ele fala algo a mais?


— Não muito, mas dava para perceber que ele queria, agora entendemos o
motivo. Era capaz dele abrir a boca e perder os dentes. — Levi reflete

— Vocês são muito agressivos — reviro os olhos — agora toda a verdade


foi exposta e só falta o nosso pai chegar e ficar sabendo, que ele não seja um
troglodita como os filhos.

— A quem você acha que puxamos? — Louis arqueia a sobrancelha loura,


e faço careta para ele.

— Ela fala isso como se fosse uma santa — Levi provoca — vamos logo
fazer o que comer dos nossos filhos antes que os monstrinhos acordem.

— Onde o Lorran dormiu? — pergunto.

— Cecília não gostou dele no quarto jogando e o puxou pelos cabelos —


Louis gargalha — ele foi levado a força para o dormitório das meninas.

— O Matriarcado prevalece na família Vittileno — comemoro.

— Precisamos ter outro menino — Levi fala — pobre do Lorran, sofre


sendo o único homem.

— Bianca não me deixa fazer outro filho nela tão cedo — Louis suspira —
ela quer aproveitar mais as meninas, e você?

— Olivia também não quer outro por hora, Lorrany ainda mama e ela disse
que só depois que a desmamar e o Lorran crescer mais e parar de ser um
terrorista dos doces.

— Isso não vai acontecer nunca — digo.

— É, eu sei — ele suspira.


— Sobra para Lira — Louis me provoca — sua missão é trazer outro
homem Vittileno.

— Vá se foder — digo fazendo careta — Lizzie ainda mama e agora


minha vida está uma bagunça com o retorno do Daniel.

— Quando vocês se resolverem — Levi fala quando entramos na cozinha


— e tudo estiver calmo, outro filho vai ser uma benção.

— Vão vocês engravidar suas mulheres — deixamos as taças na pia e jogo


a garrafa de vinho no lixo.

— Mamãaaaaaaaaaaaaaaaae — Lizzie entra na cozinha com a cara de sono


fofinha — comidinha — pede fazendo bico.

— Estou fazendo meu amor — digo a ela.

A pego no colo sentando-a na sua cadeira. Aliso os cabelos louros e beijo


sua testa. Quando me viro, vejo o Lorran entrando com a pelúcia de cachorro
debaixo do braço e os cabelos completamente bagunçados, o coitado parece que
foi para a guerra durante a noite. Não o culpo por escapar das meninas.

— Pai! — ele fala aborrecido — quero uma tranca no meu quarto! Cansei
da Cecília me selquestando! — se senta sozinho na cadeira e Levi coloca um
prato com frutas e cereal para ele comer.

— Nada de tranca nos quartos — Levi fala — seu zio Louis prometeu que
vai falar com a Cecília para ela não te machucar mais — Louis gira nos
calcanhares encarando o Levi com raiva, ele sabe que se contestar a Cecília a
filha vai ficar com raiva dele.

— Promete Zio? — Lorran pede com uma manhã na voz que até eu quero
proteger o pobre do menino.
— Prometo — Louis cede fácil — se você prometer parar com as
brincadeiras de rei dos doces.

— Quê?! — exclama ofendido e dou risada.

Enquanto preparo o café da Lizzie, morango, amora, banana e mel, com


iogurte natural. Presto atenção na discussão de argumentos acaloradas entre o
Louis e o Lorran, nenhum dos dois dispostos a ceder sem conseguirem um
benefício pela troca.

Sento dando o café a Lizzie que mastiga entretida na briga do tio e do


primo, ela fica uma fofura quando presta atenção em algo, e eu tenho vontade de
encher suas bochechas com trilhões de beijos até não aguentar mais a fofura que
é a minha filha.

A porta abre e Daniel passa, vestido uma camisa polo justa, demarcando as
linhas dos músculos, um calção social e tênis. O homem é um pacote de
resistência para qualquer mulher.

— Bom dia — a voz rouca envia calafrios ao meu estômago que se


contorce em ansiedade.

Depois de ontem e do jeito que ele quis me marcar como sua, seria mentira
eu falar que não fiquei mexida e queria me entregar sem medo. Mas os traumas
enraizados no meu coração não me permitem fazer isso, prefiro, ao menos dessa
vez, fazer as coisas com calma. Primeiro o deixar se aproximar da Lizzie e se a
minha menina mostrar que está disposta a tê-lo como pai, posso considerar um
envolvimento com Daniel.

— Fala em italiano para as crianças entenderem — Louis avisa — só o


Lorran que já fala os dois idiomas.

— Eu sou esperto — Lorran se gaba sorrindo, os dentes da frente


acabaram de cair e os permanentes estão começando a crescer. Nosso garotinho
está envelhecendo e sempre fico chorosa quando lembro tudo o que ele e o pai
passaram.

Mais um motivo para me fazer ter cautela com o Daniel, não quero atingir
a Lizzie como o Levi atingiu o Lorran com a morte da Blanca, meu sobrinho
ficou, anos sem saber como era ter um pai de verdade e o calor de uma mãe.
Espero que os machucados do passado nunca interfiram em sua vida, adolescente
e adulto, e que ele encontre no amor da família, a cura para seus machucados.

— Sua mãe que te ensinou direito — Levi fala — seu sabichão.

— Nada disso, pai, eu sou o mais inteligente da minha turma — eu tenho


vontade de morder o Lorran sempre que ele fala uma frase completa sem
gaguejar.

— Um crânio — ironizo.

— Anio — Lizzie me imita e rio dela.

— Não, meu amor, é c-r-â-n-i-o — falo devagar, ela assente antes de


repetir.

— Canio — as bochechas cheias do cereal.

— Foi quase — suspiro orgulhosa.

— Sì — ela ri.

— Buongiorno — Daniel fala se aproximando dela — Come stai?

Lizzie sorri para ele, encolhe as mãos no colo, sinal de quando ela fica
envergonhada, mas quer se comunicar direito com a pessoa que chama a sua
atenção. Daniel tem um brilho especial nos olhos azuis-escuros que se parecem
com o da nossa menina, um sorriso tranquilo, ele estende a mão grossa para ela
esperando pela resposta a seu comprimento. Lizzie ri novamente antes de
estender a mão e segurar a dele. Meu coração se aperta com o contato entre pai e
filha.

— Beh, e voi[6]? — ela dá um pequeno gritinho envergonhado quando ele


se agacha ficando da altura dos olhos dela e beija a palma de sua mão.

— Meglio ora [7]— Lizzie se encolhe levantando os ombros e sorrindo


sapeca, totalmente capturada pela beleza e simpatia do pai.

— Zio! — ela fala e um pouco da alegria do Daniel escorre de suas


feições. Não era assim que ele esperava ser chamado.

— Paciência — digo a ele em português — ainda não é o momento certo


de contar a ela.

— Certo — ele fica em pé, notadamente triste por não poder dizer a
verdade a Lizzie — vou fazer o café, quer algo?

— Panquecas com mel e ameixa — peço.

— Fica pronto em instantes.

Daniel se afasta indo pegar os ingredientes. Noto que meus irmãos tinham
suas atenções focadas na interação que acabou de acontecer. Louis e Levi tem a
mesma impressão de quem diz “você pode ter isso todos os dias, não deixe a
chance passar”. Suspiro, sabendo que pode ser verdade ou somente mais uma
ilusão que partira meu coração. Continuo dando o comer da Lizzie enquanto
Daniel faz nosso café.

Encaro as costas dele, eu quero acreditar, mas não aguento mais me


magoar.
Daniel

Lizzie corre atrás das primas e outras crianças no jardim da mansão de


Louis. Gosto de a observar e saber que ela é uma parte de mim, o ruim é quando
ela me chama de “zio” ao invés de “pai”. Estou sendo paciente, não faz nem 48
horas que descobri sobre a Lizzie e não posso tirar o atraso de dois anos de uma
vez, ou a minha garotinha ficará assustada.

Lira se juntou a uma roda de mães, conversando animadamente, mas por


vezes eu fisgo seu olhar em mim. Ela pode não admitir, mas está balançada pela
minha presença e o sexo alucinante que fizemos. Ela nega que teremos outras
vezes, mas assim como foi anos atrás, eu sei que esse não será o caso de uma
única noite.

Lizzie e Lira significam esperança para mim. Uma nova chance de um


sonho antigo destruído pela maldade da mulher que amei com a minha alma. Se
me prender a medos passados e comparar a Lira com a Verônica, eu sei que
nunca poderei me abrir para novos sentimentos. Mas essa não é a resposta.

Eu quero Lira e Lizzie para mim, acordar de manhã e sentir o cheiro de


flores da Lira, fazer panquecas para a Lizzie e lhe ensinar a falar. Quero estar
segurando a pequena em meu colo no seu aniversário de 3 anos e em todos os
outros. Quero ouvi-la me chamando de “papai” com o sorriso banguelinha, quero
saber cada pequena coisa sobre ela.

Ouço um grito seguido por um “ploc”. Olho para a piscina descoberta e


vejo as crianças pulando dentro, uma atrás da outra, enquanto gritam e dão nomes
a seus mergulhos. Lorran sobe no trampolim de 30 centímetros, levanta os braços
antes de proclamar.

— VIVA O REINO DOS DOCINHOS — e pula como uma bola de


canhão.

Minha pequena corre vestindo um maio de flores, os cabelos lisos e louros


como ouro brilham no parco sol do domingo, enquanto ela sobe no trampolim.
Fico com medo de que se machuque e vou em sua direção pronto para
interromper o pulo da morte. Lizzie se prepara para pular, estica os braços, dou
mais um passo chegando perto, antes de conseguir a pegar. Lira é mais rápida,
subindo no trampolim e a segurando nos braços.

— Lizzie quantas vezes eu já disse que não pode pular do trampolim?

— Um montão — abre a boca exagerada fazendo bico.

— E você continua me desobedecendo — Lira revira os olhos, ao descer


do trampolim esbarra em mim. — Oh...

— Fiquei com medo do pulo dela — confesso, encaro a pequena que deita
a cabeça no ombro da mãe.

— Não posso me descuidar quando se trata de água, a Lizzie é um


peixinho — aperta a barriga da menina que começa a rir — culpa do Dante que
fica nadando com ela todos os dias no lago na fazenda.

— Zio Dante ana bien[8] — ela fala, querendo descer — pixiiiina mamãe.
— Ele, sim, mas você ainda não — beija a bochecha dela.

— Lizzie — a chamo — se quiser, quando ficar maior eu te ensino a pular


dos trampolins.

— Jula? — arregala os olhos azuis intensos na minha direção. Minha mão


coça querendo a pegar dos braços da Lira e poder beijar suas bochechas fofas.

— Sì, contanto que você não tente mais pular sozinha — levanto o
mindinho para fazermos um pacto.

— Polmeto — enlaça o mindinho no meu e minha garganta trava com


emoção.

Eu já tinha perdido todas as esperanças de um dia poder fazer uma


promessa de mindinho com um filho meu e agora estou aqui, com a Lizzie sem
ela nem saber quem sou. Vou fazer tudo o que eu puder para garantir que a nossa
promessa se torne verdade. Dante pode tê-la ensinado a nadar, mas a partir de
hoje, todos os aprendizados serão por minha conta.

— Não confie nas promessas dessa espertinha — Lira bate na bunda dela e
Lizzie ganha um ar travesso — ela sempre vai tentar te enrolar.

— Num é veldade mamãe — enlaça o pescoço da Lira rindo sapeca — eu


culpo polmessa [9]— fala empolgada e Lira gargalha alto.

— Meu Deus, trocaram a minha filha, esse anjinho cumpridor de


promessas não veio de mim.

Gargalho e não resisto ao puxar a mão da Lizzie, sem fazer cerimonias ela
vem para os meus braços. Seu cheiro de bebê e a pele macia, o corpinho leve, o
sorriso banguela, a íris azul intenso. Nesse pequeno segundo, enquanto a minha
menina ri para mim, eu encontro paz e felicidade. Desço o rosto cheirando suas
bochechas a escutando gargalhar pela minha barba em sua pele.
— Colciquinhaaaaaaaaa — grita.

— Zia Lira licença — ouço a voz do Lorran, viro de lado e o encontro


batendo o pé com o rosto impaciente. Não percebi que estávamos na frente do
trampolim impedindo a passagem deles.

— Claro, rapazinho — ela fala e saímos.

— Naaaaaaaaum pixina! — Lizzie pede, esticando os braços para a água.

— Vai lá.

Contra a minha vontade a coloco no chão que corre para a piscina. Ela para
na borda recebendo as boias que a Bianca colocou nos braços das crianças.
Apesar de saber que somente a piscina infantil seria aberta hoje, é sempre preciso
precaução em dobro.

— Quando você vai me deixar contar para ela?

— No dia que eu tiver certeza de que você vai ficar — Lira responde com
tristeza, ela não acredita nas minhas palavras.

— Vou te fazer perceber — puxo seu cotovelo — e recuperar todo o tempo


perdido.

— Certo.

— Me conta como ela era quando bebê? — puxo a Lira para se sentar na
poltrona na varanda, longe da agitação, mas onde podemos ver a Lizzie na
piscina, brincando com as primas.

— A coisinha mais fofa — seus olhos ganham um brilho nostálgico —


simpática e meiga, ia para qualquer pessoa que desse o braço a ela. Eu morria de
medo dela ser sequestrada por estranhos — rimos da sua cara assustada —
mesmo que nunca a deixasse com alguém que não fosse da família.
— E seu trabalho?

— Estou de férias prolongadas — se escora olhando para o céu — amo ser


diretora, mas quero curtir mais a infância da Lizzie. Eu teria de voltar a morar
nos Estados Unidos ou em Vancouver durante uma produção, e ficar longe dela,
não quero isso.

— Não consegue nenhuma produção pela Itália?

— Na verdade, eu tenho uma pilha de propostas de estúdios da Itália,


Espanha e França, para produções, mas ainda não me decidi. Como eu disse, a
Lizzie ainda é muito pequena e não quero perder um segundo.

— Onde vocês estão morando? — aliso seu braço, me aproximando dela.

— Com a Beatrice na fazenda e não pretendo me mudar tão cedo, é uma


delícia contar com o Dante e a Beatrice, eles não deixam eu me sentir sozinha.

— Me perdoe por fazer você se sentir só — a puxo para mim em um


abraço de lado. Por mais que fisicamente ela ceda e venha ao meu chamado, sei
que seu coração ainda não se abriu o suficiente para me deixar entrar.

— Não foi sua culpa — ela deita a cabeça no meu ombro — acho que de
ninguém. As coisas só tinham de acontecer dessa forma e ninguém pode fazer
nada para impedir — suspira pesado.

— Certo — cheiro seus cabelos — me conta mais sobre a Lizzie.

— Por onde eu começo? — ela se pergunta, antes de ganhar animação na


voz — a Lizzie é doida por animais, isso você já sabe, mas o que não imagina é
que ela tem medo de gatos.

— De gatos, como assim? — pergunto, achando interessante o fato.


— Pois é! Ela tinha um ano e sete meses quando o Dante trouxe um
gatinho que ele tinha achado na estrada. Foi mostrar o animal a Lizzie, era um de
pelo dourado com branco e olhos amarelos. A Lizzie começou a chorar e correu
para o meu colo com medo do bichano. Desde aquele dia sempre que ela vê um
chora e se esconde.

— Preciso lembrar de nunca comprar pelúcia ou um gato para ela — digo.

— Pelúcia ela não tem medo, adora brincar com a do Lorran, fato
interessante, ele briga muito com as outras meninas, mas nunca brigou com a
Lizzie e sempre faz o que ela pede sem reclamar.

— Não acredito! Lorran, o menino mais opinioso que existe, cedendo para
a Lizzie.

— Pode apostar, se ela pedisse agora para ele sair da piscina, ele o faria
sem achar ruim.

— Isso me faz até ter vontade de pedir a ele — rio e Lira me acompanha.

— Se quiser a Olivia brigando com você por usar a Lizzie para controlar o
filho dela, vá em frente.

— Prefiro evitar — encaro a Olivia que conversa animada com a irmã —


onde está Beatrice?

— Ela machucou o calcanhar na quinta e não pode vir, o Dante ficou


cuidando dela.

— Eles ainda não estão juntos?

— Não — suspira — eles são perfeitos juntos, mas o Dante é um asno que
não percebe isso.

— Verdade.
Passamos o resto do dia conversando enquanto as crianças aproveitam a
festa de aniversário da Alessa, que faz 2 anos hoje. À noite, todos se recolhem
cedo para dormir e Lira não é exceção, antes que eu pudesse a puxar para
conversarmos mais, ela já estava dormindo na cama com a Lizzie ao seu lado.

Me levanto cedo com uma ligação da minha secretária passando a agenda


do dia e confirmando a hora que retorno. Cancelo meus compromissos da
semana, e mando que me envie por e-mail tudo que poderei resolver a longa
distância. Não estou pronto para retornar ao Brasil ainda, e quando o fizer, quero
ir com a certeza de que meu lugar na vida da Lizzie foi conquistado.

No café da manhã imito o que a Lira fez ontem e deixo o prato delas
pronto. Fui o primeiro a acordar, e quando termino de fazer o meu café. Lira entra
bocejando acompanhada dos irmãos. Ouço o som das crianças no andar de cima e
imagino que Bianca e Olivia sejam as responsáveis pelo banho da tropa.

— Bom dia — nos cumprimentamos.

— Eu fiz seu café e o da Lizzie — digo a ela que me encara surpresa.

— Está vendo Lira — Levi a provoca — já dá para casar!

— Obrigada — Lira ignora o irmão e senta à mesa, os olhos brilham ao ver


a refeição que preparei. Sento-me ao seu lado — Lizzie desce daqui a pouco com
as outras crianças.

— Certo. — Viro para o Louis — vou tirar a semana, trabalhando na Itália


— o informo.

— Imaginei que faria isso.

— Vai ficar aqui por qual motivo? — Lira pergunta.


— Ainda temos muito o que conversar — a encaro com intensidade, não
dando brecha para que me contradiga.

— Bom, eu volto hoje para casa — dá de ombros — se você vai ficar aqui,
te passo o endereço da fazenda, fica a duas horas de carro.

— Não pode ficar aqui mais um pouco? — peço, segurando seu cotovelo.
Vejo seus olhos amolecerem antes de endurecer novamente.

— Não, Lizzie e eu temos uma rotina, e se você quiser, se encaixe nela.

— Certo.

Opto por não iniciar uma briga de manhã cedo. Logo Lizzie chega à
cozinha e se senta para comer. Depois do café, trabalho pela parte da manhã e de
tarde, me despeço da minha pequena com um abraço e a promessa de a ver no dia
seguinte na fazenda. Lira ficou de arrumar o quarto de hóspedes para mim.

Às 15 horas vou para a clínica realizar o novo exame de fertilidade, com


uma ajudinha do Louis o laboratório concordou em me entregar o teste amanhã.
Vou pegar antes de ir para a fazenda, só de saber que estou longe delas eu sinto
um aperto e a necessidade louca de as ter novamente ao meu lado.

Quando saio da clínica, vejo uma loja de ursos e lembro da Lira dizendo
que a Lizzie ama a girafa Fefinha. Vejo uma réplica dela na vitrine, e não me
contenho antes de comprá-la. É enorme, com um metro e meio de altura e espero
que a minha menina ame o presente. Não posso aparecer de mãos vazias, e com
certeza a Lizzie vai gostar.

No dia seguinte retorno a clínica com uma calma que nunca imaginei
sentir. Por mais que a possibilidade de eu ser estéril continue existindo, eu sinto
que isso não é verdade, que a Lizzie é minha e vou recuperar a minha família,
custe o que custar.
— Senhor Albuquerque — o médico me cumprimenta — pronto?

— Sim.

Ele abre o envelope, lê, e o coloca em cima da mesa, a expressão


indecifrável.

— O senhor nunca foi estéril.

Só fui um idiota por acreditar no médico de Verônica. Mas agora coloquei


um prego na história do passado e estou pronto para recuperar todo o tempo
perdido e escrever um novo livro com a minha família.
Lira

Eu não acredito no que estou vendo!

Encaro o carro cinza de onde Daniel desce, achava que ele viria direto para
a Lizzie, que pula eufórica no meu colo querendo mais da atenção do seu novo
“zio”. Minha menina sempre foi fácil de se apegar a adultos, mas nunca como
Daniel, de ela ficar perguntando por ele depois, e querendo sua presença ao seu
lado. Talvez ela sinta que o Daniel é diferente, que tem algo a mais nele.

E nesse segundo o “a mais” é um monte de bosta quando o vejo abrindo a


porta detrás do carro e retirando de lá uma versão da Fefinha extremamente
grande.

— Meu pai amado — sussurro incrédula, prevendo a merda que será a


minha vida para sair com essa coisa gigante.

— FEFINHAAAAAAAAAA! — Lizzie grita animada, com os braços


levantados, os olhos brilhando de felicidade.

Eu estou perdida!
Ao meu lado, Dante começa a rir, sabendo o inferno que vou passar com
uma pelúcia gigante. Já é difícil controlar a Lizzie com os pequenos, que ela vive
sujando levando para todos os lugares. Mas uma coisa desse tamanho, maior que
a minha filha, vai ser o meu fim.

— É, o cara sabe como conquistar Lizzie — Dante comenta escondendo


uma risada.

O encaro com fúria nos olhos e o safado ri mais, piso no seu pé


extravasando minha irritação. Adoro que ele se encolha, mas o odeio por
continuar rindo.

— Fefinhaaaaaaaa — Lizzie estende os braços, olho para a frente e vejo o


Daniel parado me encarando.

— Eu vou matar você por comprar uma girafa enorme — falo engasgada,
em português, para que Lizzie não entenda.

— Ela amou — rouba minha filha de mim, para ele é fácil segurar as duas
nos braços, olha o tanto de músculos que esse homem tem!

Lizzie gargalha enquanto abraça a Fefinha pelo pescoço e imagens de


como será o meu futuro inunda a minha mente como um tsunami. Respiro fundo,
deixando de lado a raiva e aproveitando o momento de pai e filha, Daniel ontem
fez o exame de fertilidade e pela sua expressão, confirmou o que eu já tinha
certeza, ele pode ter filhos e a Lizzie é dele. Nunca duvidei, e pelo visto agora,
ele também não.

É um pouco incomodo saber que foi preciso dois anos para isso acontecer,
mas o importante é focar no presente, se eu me prender ao passado vou magoar a
pessoa que mais importa, a presença de um pai na vida dela. Meu pequeno
mundo, chamado Lizzie. E é só isso que o Daniel representará nas nossas vidas, o
pai da Lizzie.
— Bom te rever — Dante dá uma tapinha no ombro do Daniel que retribui
sorrindo.

— Digo o mesmo — encara a Lizzie — e pensar que esse tempo todo você
estava com esse tesouro e não me disse nada.

— A Lira não contou para a gente — Dante coça a cabeça — ao menos


não para mim.

Escapo do seu olhar entrando, eles me seguem como dois pastores


alemães, enquanto a Lizzie embarcou em uma conversa com a Fefinha, bastante
animada e cheia de palavras incompreensíveis. Beatrice sorri ao nos ver, sentada
no sofá com o pé apoiado na mesinha. Tive pena dela ter caído na lama e torcido
o calcanhar, mas ao menos o Dante cuidou dela enquanto estive fora.

— Chegou o homem que quer roubar as minhas garotas — ela fala com
um sorriso sapeca no rosto, já imagino onde essa conversa vai dar.

— Não roubar — Daniel responde — mas fazer parte da vida delas.

— Vou aceitar esse jogo de palavras — Beatrice sorri abrindo os braços —


venha aqui.

Daniel se senta ao lado dela, colocando a Lizzie no sofá e a Fefinha em pé


no chão, Lizzie agarra a girafa pelo pescoço e deita a cabeça no colo do pai.
Institivamente Daniel leva a mão a cabeça da filha fazendo carinho em sua
bochecha, quase como se ele soubesse que ela adora quando alisamos as
bochechas rosadas e fofinhas. Se continuarem desse jeito por mais 10 minutos, a
Lizzie pega no sono.

— Como você está? — Daniel pergunta encarando o pé dela — o tombo


foi feio.
— Fui inventar de correr atrás das vacas com Dante, escorreguei na lama e
cai por cima do pé — eu ainda tenho minhas dúvidas sobre essa história, já que
as vacas são tangidas pelo Dante em cima do cavalo e não correndo a pé.

— Vaca não é tangida com o vaqueiro em um cavalo? — Daniel pergunta


o que eu me contive para saber.

Beatrice é extremamente tímida e só consegue falar normalmente com


quem ela conhece e tem proximidade. Mesmo assim, é difícil a fazer se abrir e
contar sobre seu dia. Se ela me dá uma história, eu acredito e fico esperando pelo
momento em que falará o que realmente aconteceu. Forçar, nunca ajuda nesse
caso, talvez seja por esse motivo que o Dante e ela não tem nada.

Um é um bruto para romance, não entenderia que uma mulher gosta dele
nem se ela falasse, ia achar que é baboseira e paixonite que logo passa. Mas o que
Dante não percebe, é que ele é um homem extremamente atraente e atencioso, faz
qualquer mulher se apaixonar fácil. Principalmente a Beatrice que convive com
ele todos os dias e nunca negou os olhos brilhantes e apaixonados.

Eu não acredito mais no amor para mim mesma, mas esses dois, merecem
uma chance de serem felizes, ficarem juntos e terem seus traumas superados com
a força do que queima em seus corações. Um dos motivos para eu não ter ido
embora, é porque não quero deixar a minha amiga sozinha, e acredito que vou
conseguir fazer esses dois perceberem que se amam demais e podem ficar juntos.

— Não era o rebanho — Beatrice levanta as mãos as balançando em


negativa — todos os dias quando o Dante coloca as vacas no pasto eu vou junto
observar. Mas na quinta, uma saiu do curso, ele não tinha percebido e eu fui
sozinha atrás dela, nisso escorreguei e cai.

— Entendi — Daniel facilmente cai na história que não me convenceu.


Dante nunca deixa nenhuma escapar.
— Zio — Lizzie chama bocejando, o sono a pegando rapidamente —
bilgalda pela fefinha.

Daniel leva sua atenção a filha com um sorriso brilhante no rosto. Alisa a
bochecha dela e se inclina beijando sua testa. Lizzie levanta o rosto e beija a
bochecha dele de volta, antes de se aconchegar no Daniel e dormir. Está perto da
hora do almoço dela e daqui a pouco a acordo para comer. Por hora vou deixar a
interação entre eles.

— De nada, minha princesa — ele sussurra.

— Como descobriu que ela dorme com carinho na bochecha? — Dante


pergunta trazendo uma xícara de café consigo.

— Percebi quando a Lira a pegava no colo e alisava sua bochecha, ela


dormia quase na mesma hora.

Fico tocada por saber que ele me observava para aprender as coisas sobre a
Lizzie. Eu não tinha percebido que seus olhos azuis me seguiam por essa razão.
As bochechas esquentam ao saber que fui alvo dele todo esse tempo, mesmo
quando eu não percebia que estava sendo observada.

— Desde novinha o fraco da Lizzie são as bochechas — comento.

— Daniel — Dante chama — você faz ideia do que acabou de fazer ao dar
essa fefinha gigante para a Lizzie?

— Que ela gostou do presente. — Responde inocentemente.

Levo a mão a testa batendo nela e respirando fundo. Tenho vontade de o


esganar por não ter me perguntado antes sobre o absurdo de trazer uma girafa
enorme para a Lizzie.
— Ela não vai mais soltar a pelúcia e vai andar com ela para todos os lados
— respondo entre dentes — eu vou sofrer agora, sempre que saímos para levar
essa coisa enorme! — me estico sobre a Lizzie beliscando o ombro do Daniel que
se encolhe fazendo careta — obrigada por tirar a minha paz.

— Não tem problema, eu levo a girafa — responde.

— Como se você fosse estar o tempo todo aqui — aperto os olhos.

— Eu vou estar o tempo todo com vocês.

Ele tem certeza ao pronunciar cada uma das palavras e eu paraliso. Não
tem como isso ser possível, Daniel é o CEO da VITTILENO no Brasil, e nunca
poderia desistir da carreira pela Lizzie. E, porque esse desgraçado, em vez de
dizer o nome da filha, falou “vocês” como se eu quisesse a presença dele na
minha vida, eu nunca mais vou me iludir por amor.

— Você trabalha e mora no Brasil — respondo.

Percebo por canto de olho o Dante dando a volta no sofá e pegando a


Beatrice no colo. Eles pensam que saem de fininho nos dando privacidade, mas
eu noto cada um de seus passos. Os safados estão fugindo em vez de ficarem para
me dar apoio moral e ajudar a não cair na tentação que é o Daniel, demonstrando
ser um pai atencioso com a filha.

Essas coisas mexem comigo, mesmo que não devessem o fazer.

— Essa semana vou ficar na Itália para podermos decidir como serão as
coisas — ele não está me perguntando, ao invés disso assume o que deveríamos
fazer. Aperto os punhos com raiva.

— Não vou me mudar para o Brasil com você, e a Lizzie não irá para lugar
nenhum sem mim — falo decidida.
— Tudo bem — ele estica a mão tocando meu rosto — eu nunca disse que
faria vocês duas virem comigo, mas que decidiríamos como seria — alisa minha
bochecha — eu já perdi tudo uma vez, não deixarei acontecer novamente por um
emprego. Sou capacitado e posso arrumar algo na Itália, caso o Louis não queira
que eu assuma outra função na VITTILENO. Mas eu nunca vou abrir mão de
vocês duas.

— Não diga palavras que vão me dar esperança — peço com um nó na


garganta. Ninguém nunca arriscou perder tudo por mim, talvez ele esteja falando
só da boca para fora, não seja verdade, só uma forma de me fazer ceder.

— Eu nunca te direi mentiras ou meias verdades — me puxa para si, apoio


um braço no sofá tomando cuidado para não machucar a Lizzie que dorme abaixo
de mim — somente a verdade — se estica tocando o nariz no meu — vocês duas
são minhas, e vou te provar isso todos os dias das nossas vidas.

Seus lábios tocam os meus em uma promessa velada. Encosto a testa na


dele querendo bater nele por insistir em me dar esperanças, quando eu sei que
daqui a um tempo, nada disso vai importar, que ele vai desaparecer como todos
os outros e eu ficarei sozinha curando as minhas feridas.

— A Lizzie é sua filha — digo baixinho — mas eu não sou sua mulher,
não confunda as coisas — ergo a barreira que me protegerá de outra decepção.
Apesar de o perdoar e entender o que aconteceu dois anos atrás, as mágoas
daquele dia continuam fincadas em minha carne.

— Você é, sim, mesmo que ainda não admita — sorri convencido.

— Onde você vai ficar? — Me sento sobre os calcanhares dando a


distância de uma Lizzie entre nós.

— Aqui — dá de ombros.

— E quem te convidou para ficar aqui? — arqueio a sobrancelha.


— Não preciso de convite — seu olhar tem chamas poderosas nas írises
azuis forte — onde a minha filha e mulher estiverem, eu estarei.

— Tenho vontade de te esganar por ser tão convencido.

— Só se for, na cama — sussurra a última parte.

— Agora mesmo, com uma corda — ergo os punhos — seu convencido de


araque.

— Não te vi negando que ficarei aqui — ele pega a Lizzie no colo com
cuidado. Ela deita a cabeça no ombro do pai como se fosse a coisa mais natural
— onde é o seu quarto? Vou levar minhas coisas para lá.

— Mas não vai mesmo — levanto em um pulo tentando não aumentar a


voz para acordar a Lizzie.

— No corredor ou no primeiro andar? — pergunta me ignorando enquanto


anda abrindo as portas.

O sigo pelo corredor, tentando não fazer barulho quando soco suas costas.
Os músculos batem contra meus dedos e o desgraçado não sente nada do meu
ataque. Chegamos à cozinha onde Dante e Beatrice sussurram, eles se calam ao
nos ver e minha amiga tem culpa no rosto. Aposto que os safados falavam da
gente.

— Onde é o quarto da Lira? — Daniel pergunta a ela.

— Segunda porta à esquerda no primeiro andar — Beatrice responde.

— Vou ficar aqui por uma semana a princípio — Daniel a informa em vez
de pedir. Esse homem vai me enlouquecer!

— Não vai não — Dante responde — você vem comigo para a minha casa,
as damas dormem sozinhas.
— Prefiro ficar aqui — o safado responde.

— Essa é a casa da Beatrice — Dante se levanta — você tem primeiro de


saber se ela se sente confortável, meu amigo.

Raios saem do Dante se chocando contra os do Daniel. Eles travam uma


batalha de macho no meio da cozinha e temendo que eu seja acertada vou para o
lado da Beatrice e por olhar imploro que ela mande o Daniel ficar com o Dante
ou a nossa amizade será jogada no ralo pela sua traição.

— Daniel — ela começa — espero que não se magoe com o que direi. Mas
eu não gosto de pessoas invadindo meu espaço pessoal, vou precisar de um
tempo para me acostumar com a ideia de você aqui, por favor, fique com o Dante
enquanto isso. A casa dele fica a 10 metros daqui e você poderá ver a Lizzie
sempre que quiser.

— Desculpe, não queria te incomodar — ele pede — está bem, mas já


aviso que vou passar muito tempo aqui.

— Eu espero que faça isso — Beatrice sorri — está convidado para o


almoço, vai tomar um banho após a viagem?

— Sim — ele me encara — onde é o quarto da Lizzie? Vou colocá-la na


cama.

— A Lizzie dorme comigo — digo a ele — nunca se acostumou a ficar


sozinha no quarto.

— Não tem medo de a esmagar enquanto dorme?

— Não, coloco travesseiros ao seu redor, nem ela e nem eu mexemos


dormindo — digo.
Daniel me segue de perto. Preciso invocar todos os santos para me
ajudarem a manter meu coração blindado na tarefa difícil que será resistir ao
Daniel morando a 10 metros de distância. Mas sempre que eu lembrar da dor que
sofri no passado, vou encontrar forças para me manter firme. Lizzie não pode ser
afetada por um desentendimento entre mim e o pai dela.

Não vou impedir a minha garotinha de ter chance de crescer ao lado de um


pai que a ame, cuide e proteja. Lizzie merece ter o mundo girando ao seu redor,
não o ter arrancado dela.
Daniel

Como é possível que ela seja tão linda?

Lizzie agarra o peito da mãe mamando enquanto seus olhos azuis como os
meus fixam-se em mim. Amo como ela me observa e procura pelo meu colo.
Estamos há três dias juntos e eu não poderia estar mais feliz do que na presença
da minha filha e da sua mãe. Que reluta em me aceitar ao seu lado. Meus dias na
fazenda estão contados e reduzidos para somente mais dois dias e uma noite.

Preciso voltar para o Brasil, adiei reuniões importantes com parceiros da


VITTILENO, e por mais que a minha vontade seja de ficar, preciso cumprir com
os meus deveres. Não posso abandonar o Louis ou o deixar em uma posição
difícil, ele foi a pessoa que mais me estendeu a mão quando estive no buraco, não
serei um ingrato. Vou fazer dar certo a minha convivência com a Lizzie e o
trabalho.

Lira que tem se mantido afastada, como se tivesse medo de ficar ao meu
lado. As magoas que deixei em seu coração são mais profundas do que eu
imaginava e para a fazer ceder e se entregar totalmente a mim, vou precisar de
mais do que três dias sendo amigável. Morar com o Dante não é ruim, mas
preferia estar na mesma casa que a minha família.
— Lizzie tem de aprender a não ir facilmente para estranhos — eu digo
apertando seu pezinho rosado e gordinho.

— Tento ensinar isso a ela faz dois anos, se tiver dicas aceito a todas —
Lira encosta a cabeça na poltrona, claramente cansada.

— Não dormiu?

— Nem um pouco, passei a noite em claro com a Lizzie jogando a Fefinha


na minha cara. Eu odeio esse presente — seus olhos são mortais e modo o
sorriso.

— Você pode odiar, mas a nossa Lizzie ama — aperto a barriga da minha
pequena — você ama a Fefinha minha princesa?

— Sì — larga o peito para me responder com um sorriso sapeca antes de


abocanhar novamente o peito da mãe.

É então que noto uma cicatriz pequena, branca, é quase imperceptível, mas
se a Lizzie não tivesse colocado a mão abaixo dela eu não teria notado com
facilidade. Desde a nossa transa na casa do Louis, a Lira tem se mantido distante
sexualmente, ela foge sempre que tento a abraçar e insinuar que quero passar a
noite junto.

Quando paro para pensar que nunca tivemos uma noite completa de amor,
com calma, me incomoda. Em todas às vezes que estivemos juntos eu devorei a
Lira com uma fome insaciável que nunca tem fim. Mas agora eu quero ir com
calma, saborear a sua pele, desfrutar de seus gemidos ao pé do meu ouvido, eu
quero me embebedar no sabor de sua boca, tanto quanto o da sua boceta. Para
isso, primeiro preciso quebrar sua defesa e a fazer perceber que não sou um erro.

— Isso é uma cicatriz? — pergunto apontando para seu peito.

— Sim — olha a pequena marca.


— Como conseguiu?

— Sua princesa — a felicidade me invade ao ver como ela se refere a


Lizzie como minha, com carinho em cada palavra — quando tinha cinco meses
não queria deixar cortas as unhas dela, e sempre teve a mania de puxar a minha
pele quando a amamento. Ela puxou forte, a unha grande e afiada acabou
rasgando a pele e ficou a marquinha.

— Lizzie puxava cabelo?

— Muito, uma vez agarrou um tufo da cabeça do Dante que ele teve de
cortar, já que ela não largava e nenhum de nós tinha coração para bater nessas
mãos safadinhas — aperta a mão da Lizzie fazendo voz fofa. Ela cheira o dorso
com carinho e Lizzie abre um sorriso contra o peito da mãe.

— Já sei que eu teria ficado sem barba nessa época — aliso os pelos no
meu rosto — ou ela arrancaria cada um.

— Depois do incidente, Dante passou três meses de cabelo raspado. Eu e a


Beatrice vivíamos com os nossos presos e protegidos por um gorro. Mas o Louis
não teve a sorte de ser avisado.

— Lembro que teve uma época que ele ficou de cabelo muito curto, mas
não disse o motivo — puxo na memória.

— Foi a Lizzie. Assim que ele chegou e a pegou no colo, quando fui avisar
para não beijá-la, já era tarde. Ela agarrou os dois lados da cabeça dele.

— O estrago foi grande — dou risada. — Você não vai arrancar os cabelos
do pa... — Lira leva a mão contra minha boca, me impedindo de falar.

— Ainda não — ela pede com medo nos olhos.


Lira ainda não confia que vou ficar. Não posso a culpar, o que fiz anos
atrás, mesmo que tenha uma explicação para meu comportamento, não deixa de a
machucar e causar uma lacuna que somente cinco dias não seriam capazes de
resolver. Aproveito sua proximidade e beijo sua mão, seguro seu pulso a
impedindo de se afastar, mordisco a pele áspera da palma vendo as chamas se
acenderem em sua íris.

— O que acha de passarmos a noite juntos? — pergunto sedutor levando


meus beijos para seu ombro.

— Pode ser — responde engolindo em seco — a Lizzie dorme comigo,


então depois dela dormir eu te encontro na varanda.

— Perfeito — beijo seu pescoço.

Encaro minha pequena prestando atenção nos meus movimentos, e beijo


sua cabeça cheirosa. Lizzie tem um aroma de bebê que me faz sempre estar com
o nariz contra seus cabelos. Ela ama, quando me vê, estica os braços pedindo
colo, deitando a cabeça contra a minha boca pedindo pelo carinho.

Aliso suas pernas e costas, passo um braço ao redor do ombro da Lira.


Beijo o ombro da minha pequena com tanto carinho que meus olhos enchem de
lágrima por ter as duas coisas mais preciosas do mundo em meus braços. Subo o
rosto e beijo a bochecha da Lira, ela pode não ter me aceitado ainda como seu
parceiro, mas a nossa família está formada e nada mudara isso. Nunca.

Com minhas duas princesas nos braços, eu respiro aliviado, sendo invadido
por uma paz que nunca experimentei. Encaro a Lira, com os olhos marejados na
minha direção, os lábios tremendo e as barreiras levadas ao chão. Aproximo
nossos narizes, inspiro seu cheiro de flores e toco de leve seus lábios com os
meus.
— Vocês são o que tenho de mais precioso, leve o tempo que quiser para
aceitar que eu nunca vou embora — a encaro intensamente — vamos ficar juntos.
Lira, cuidar da nossa família lado a lado.

— Não é justo — ela murmura com a voz embargada — você não pode
aparecer e mexer comigo dessa forma.

— O que não é justo é você continuar sofrendo quando estou pronto para
fechar cada uma de suas feridas — sussurro contra seus lábios — você é minha, e
eu sou completamente seu. Te esperarei nem que leve uma eternidade.

— Ah, Daniel — ela murmura, dessa vez, trazendo seus lábios aos meus.

— Quelo — uma voz fininha chama nossa atenção. Abro os olhos


desgrudando da minha mulher e encarando minha filha que fica de joelhos
esticando o rosto com um bico fofo.

Aliso a cabecinha dourada e beijo sua bochecha fofinha. Puxo Lizzie para
meu colo prendendo suas pernas com um braço e o outro segurando seu pescoço.
Começo um ataque de cócegas passando a barba em seu pescoço, arrancando
altas gargalhadas dela. Suas mãos prendem na minha camisa enquanto ela grita
gargalhando.

Meu coração é preenchido por uma felicidade interminável, queria poder


congelar esse momento na história e voltar para ele infinitas vezes. A solto
encarando seu rosto com um sorriso, ela tem um olhar sapeca antes de rir e puxar
minha barba contra sua pele, querendo mais da nossa diversão. Levanto e a
balanço no braço, o riso de uma criança, da minha filha, é a injeção mais
poderosa de força que existe.

Nunca vou desistir da nossa família, Lira e Lizzie verão que sou merecedor
delas, independente do tempo que levar para abrir o coração de ambas, a mim.
No momento sei que a Lizzie me ver somente como seu “zio”, mas vou continuar
fazendo o possível e impossível para que ela me reconheça como seu pai.

— Mais? — pergunto sorrindo.

— Sì — responde com um grito fino banhado no riso.

Seguro Lizzie com a mão debaixo de sua axila. Ela encolhe as pernas e a
jogo para cima. Seu riso que já era alto ganha um tom ainda mais elevado.
Continuo na brincadeira, o ferro que puxo na academia me permitiria continuar
assim por dias. Por um segundo, quando apoio minha menina antes de a jogar,
encaro a Lira, com uma felicidade indescritível ao observar a nossa interação.
Nesse segundo eu percebo o quanto deve tê-la machucado a Lizzie não ter um
pai.

— Eu demorei a chegar — digo a ela, ficando de joelhos na sua frente


enquanto coloco a Lizzie em cima dos meus ombros — mas agora que estou
aqui, nunca irei embora. — Seguro Lizzie com uma mão e com a livre puxo a
Lira para mim — acredita em mim?

— Sim — murmura com lagrimas banhado o branco se seus olhos.

— Então vamos levar a nossa pequena para um piquenique — sacudo a


Lizzie — o que acha princesa?

— Sì! Muito solvetinhoooooo — levanta os braços, me esforço tentando


vê-la, mas não consigo.

— Lizzie, sorvete só depois do almoço — Lira fala ficando em pé. Beijo


sua barriga que fica contra meu rosto e levanto.

— TÃAAAAAAO ALTUUUU — Lizzie fala, pela voz embolada imagino


que esteja com as mãos na bochecha — polso tocar o céu!
— Com certeza princesa — digo a ela e começamos a andar seguindo sua
mãe — só lembre de abaixar quando passamos na porta.

— Celto — suas mãos agarram meu rosto, seguro suas coxas a mantendo
firme acima de mim — pega a fefinha zio.

— Vamos fazer um piquenique no lado de fora, princesa — respondo —


não tem como levar a fefinha.

— FEFINHA! — Grita fazendo manha e sacode os pés batendo contra


mim.

— Agora você vai saber o motivo de eu não ter gostado muito do presente
— Lira diz entrando na cozinha.

Me abaixo para que Lizzie não bata no arco da porta. Sua cabeça se deita
em cima da minha e suas mãos ficam mais firmes no meu pescoço, dificultando
um pouco a minha respiração pela forma que ela aperta minha garganta.
Entramos, e Lira vai preparar o lanche, enquanto vou para a geladeira, pego pães
para um sanduíche.

— Está perto da hora do almoço, vamos fazer algo melhor do que


sanduíche — ela diz.

— Tem algo em mente?

— Sobrou tortilha de ontem. Vou esquentar e levamos junto de umas


frutas. Na volta a Lizzie toma o sorvete dela.

— A fefinha quer solvete tambiem.

— Princesa — digo — não vamos levar a fefinha, ela é grande demais para
conseguir carregar as duas e a cesta de piquenique.
— Fefinha vai tambiem. — Bate de leve as mãos nas minhas bochechas —
ela é minha amilginha quelida.

— Com certeza levaremos a fefinha, o Daniel tem força para a carregar e a


você — Lizzie fala com um olhar maligno.

— Você me paga — sussurro para ela.

— No cheque ou cartão? — faz cara de sonsa e anoto mentalmente de a


punir quando estiver desfrutando do seu corpo gostoso.

— Mais tarde você verá.

— Uh, ansiosa — rosna me provocando.

— Para o quê? — Beatrice entra na cozinha segurando nas paredes.

Ela machucou o calcanhar, mas não precisou de gesso ou bota


imobilizadora. Só uma facha e bastante descanso enquanto caminha se apoiando
nas pessoas ou nas paredes.

— Pilquininique zia bea — Lizzie responde — você vem?

— Bem que eu queria meu amor — ela segura a mão da Lizzie e a beija
antes de se sentar — mas a zia não pode sair com o pé machucado, lembra?

— Veldade — Lizzie responde fofinha.

— Almoço pronto — Lira fala quando o micro-ondas apita. Guarda a


tortilha nas vasilhas junto das frutas, água e suco no isopor, antes de colocar tudo
em uma bolsa.

— Vão comer na mesa debaixo da árvore? — Beatrice pergunta. Encaro a


Lira sem saber ao que ela se refere.

— Sim, o clima está uma delícia para irmos para lá.


— Oba, paltinhos — Lizzie bate palmas e faz som de “quack” várias
vezes. Amo como ela gosta de imitar o som dos animais.

— Sim, meu amor, vamos ver os patinhos, quer colocar o biquíni para
tomar banho?

— Sì — ela bate na minha cabeça — zio delcer — pede.

Seguro sua barriga a retirando dos meus ombros.

— Vou colocar uma roupa de banho — aviso. Não quero perder a chance
de entrar no lago com a Lizzie e a ensinar a nadar.

— Celto — Lizzie sai correndo.

— Te vejo já.

Me pegando de surpresa. Lira apoia as mãos no meu peito, estica o


pescoço e captura meus lábios em um beijo rápido, antes de correr atrás da nossa
filha.

— Tenha calma com ela — Beatrice pede — Lira pode demorar mais do
que você espera para se abrir, mas ela vale a pena.

— Eu sei — pisco para ela — vou esperar o quanto for preciso.

— Muito bem — sorri — agora vai se trocar que em dois minutos a Lizzie
desce apressando todo mundo.

— Ok.

Deixo a casa delas e vou para a do Dante onde tenho ficado. Pelo horário,
imagino que ele esteja no vinhedo, hoje ele iria inspecionar as uvas para a
colheita que logo acontecerá. Me troco rápido e quando retorno, eu vejo as
minhas meninas me esperando do lado de fora, vestindo vestidos com laços
amarrados no pescoço dos biquinis.

Acho graça da cara branca da Lizzie de tanto protetor que a mãe passou,
um chapéu de palha na cabeça de ambas. A bolsa com nosso almoço em cima do
banco e ao lado a girafa. O lago fica meio longe e odeio a ideia e ir andando
levando a Lizzie, a bolsa e a fefinha.

— Minha princesa, vamos deixar a fefinha em casa — peço.

— Naum! — abraça o pescoço da girafa.

— Não adianta tentar a persuadir ou vai acabar em choro nosso passeio —


Lira avisa com o olhar de “deveria ter me perguntado antes, sobre um presente
enorme como esse”.

— Vamos de carro — acho uma solução perfeita.

— Tem muitas pedras pequenas e o caminho não é linear, se formos de


carro será perda de tempo. Vamos andando — ela pega a Lizzie pela mão — você
leva a fefinha e a bolsa com o almoço.

— Naum, quelo zio — Lizzie estende os braços para mim.

— Eu não levo essas coisas pesadas — Lira arqueia a sobrancelha, ela está
gostando de me fazer sofrer.

— Eu pego 80kg na academia, levar a Lizzie, a bolsa e a fefinha não é


nada. — Respondo colocando minha filha nos ombros.

— Veremos — ri debochada.

No braço esquerdo pego a fefinha que incomoda a segurar devido ao


pescoço gigante e o rosto que bate contra o meu. No direito coloco a alça da
bolsa no ombro segurando o fundo com a mão. Lizzie nos meus ombros bate
palmas feliz e as pernas contra minha pele.

— Vamos.

— Vai ser moleza — digo.

— Se você acha.

Lira segue na frente e vou atrás como um burro de carga. Quando


chegamos no caminho com pedras, eu me amaldiçoo por comprar um presente
tão grande que fica escorregando e batendo meu rosto. Minha filha ama a fefinha,
mas eu odeio essa coisa.
Lira

Sinto um prazer interno ao ver o Daniel sofrendo com a fefinha. Ele pode
aguentar o peso que for, mas nada se compara a uma pelúcia batendo na sua cara
enquanto sua filha cantarola em cima da sua cabeça. Paro no caminho, puxo o
celular do bolso e tiro uma foto deles, tenho feito muito isso ultimamente,
capturado os momentos de interação dos dois.

Lizzie pode não ter fotos com o pai quando era bebê, mas terá um monte
daqui em diante. Daniel percebe o que estou fazendo e sorri, apesar do
sofrimento, ele aparenta gostar, e dar valor a cada pequeno momento que temos
juntos. E isso faz meu coração balançar como uma gangorra, pendendo entre
continuar mantendo distância emocionalmente ou jogar para o ar todos os meus
medos e deixar que o Daniel cuide tanto de mim como da Lizzie.

É um inferno resistir à vontade que tenho dele, pois sei que no segundo
que continuar deixando-o entrar na minha vida, vou abrir espaço no meu coração.
Eu quero confiar, acreditar que é possível a felicidade que ele me promete, mas as
coisas que acontecem na fazenda quando estamos somente nós aqui, é diferente
de como seria no mundo lá fora, com o envolvimento de outras pessoas.
Daniel me oferece conforto e calmaria em um lugar envolto disso é uma
promessa do paraíso. Mas a incerteza de como seria no lado de fora me trava,
impedindo que eu decida entre baixar a guarda ou não.

Eu sei que ele é um viciado em trabalho, passa horas trabalhando no


notebook e lidando com o fuso horário de Brasil e Itália, mas isso não o impede
de quando a Lizzie pula em seu colo, largar o notebook e ficar conversando com
a nossa menina.

Como seria se fosse em seu escritório? Ele receberia uma visita surpresa
minha e de Lizzie, pararia uma reunião para dar atenção a sua menina, ou nos
mandaria esperar, ou no pior dos casos, ir embora para não o atrapalhar. Chegaria
tarde em casa todas as noites, viria para o jantar, compareceria às apresentações
da Lizzie, são tantas incertezas sobre o nosso futuro que não consigo destravar e
permitir que a minha mente tenha paz.

Estamos há cinco dias juntos, desde o final de semana na casa do Louis e


os três na fazenda. Em mais dois ele terá de voltar para o Brasil, e sei que não
estou pronta para o ver partir, para ficar aqui com a Lizzie enquanto a minha
menina, apegada ao pai, vai chamar por ele e exigir a sua presença. Enquanto
meu coração machucado ganha mais uma cicatriz por saber que ele não pode vir
para cá sempre que sair do trabalho.

Existe um oceano entre nossas casas, trabalho, e futuramente, entre a nossa


família. Lizzie morre de medo de andar de avião, e a mera ideia de dopar minha
menina para um voo, aperta meu coração do tamanho de uma azeitona. O futuro
me assusta ao ponto de me paralisar no presente, sem saber como prosseguir,
eternamente em um limbo em que temo me entregar e mais ainda que ele parta.

— Lira — sua voz me chama, tomo um susto ao perceber que ele está uma
pedra de distância — estou bem aqui para responder a todas as suas dúvidas, não
se torture pensando em um futuro que não aconteceu ainda — beija minha testa.
Mesmo com a fefinha e a bolsa em seus braços incomodando a
proximidade de nossos corpos, eu coloco a mão em sua barriga e encosto a testa
em seu queixo, me apoiando nele. O chapéu desliza nas minhas costas indo ao
chão. Seu corpo não vacila, ele não hesita ao me segurar na cintura com uma
mão, minha pequena toca meu cabelo alisando carinhosamente como faço com
ela todas as noites.

— Se apoie em mim quando ficar difícil, prometo nunca te deixar cair —


beija minha orelha.

Soluço sentindo uma lágrima descendo pela bochecha, foram dois anos
difíceis em que esperei ouvir cada uma dessas palavras e agora que as tenho, o
medo de irem embora novamente e não serem verdade se enreda no meu coração
como uma rosa com espinhos no caule.

— Eu não consigo — inspiro tentando recuperar o folego — foram tantos


anos difíceis — confesso — antes mesmo de você aparecer.

— Eu sei — seu queixo desliza, ele se abaixa ficando na minha altura —


eu também passei pelo inferno amoroso, mas desde que te conheci, não me refiro
à noite que tivemos, mas a pessoa que você é. Nossas conversas, seu sorriso, o
jeito que você consegue me fazer sentir vivo, eu percebi que se continuar preso
ao passado eu nunca poderei ser feliz.

— Como você deixa a dor de lado? — pergunto, piscando para espantar as


lágrimas.

— Não deixo, eu a substituo por emoções mais bonitas — beija meu nariz
— pelo amor que tenho cultivado por você e nossa filha. É toda a força que
preciso para acreditar em um futuro feliz e viver um presente com vocês.

— Como faremos dar certo? — soluço — você mora no Brasil.


— Se vocês não puderem vir comigo, eu venho ficar com vocês. Mas não
vou perder mais um único dia ao seu lado e da nossa menina — beija meus lábios
selando uma promessa que pinta cores em meu coração.

— Eu te mato se você não cumprir — falo.

O nó espinhento que me enforcava começa a afrouxar, pela primeira vez


em anos eu tenho calma ao querer embarcar em algo novo. Não são somente as
palavras do Daniel, mas sua atitude que me balança. Ele poderia ter nos rejeitado,
voltado para o Brasil e continuado vivendo como se nada tivesse acontecido, mas
ele escolheu ficar aqui com a gente.

Eu deixei de ser uma mulher que era usada e usava os homens para ser a
escolha de alguém. Uma pessoa que eu me importo e quero tanto em minha vida
que o medo de não o ter me impede de seguir em frente, não me deixando ter o
que mais anseio. Uma família para chamar de minha, o amor de um homem que
eu ame e o pai para a minha filha.

— Prometo viver muito tempo para vocês — ele sussurra — mas, por
favor, vamos andar ou vou perder um braço.

— Certo — rio me afastando, ele ajeita melhor as coisas em seus braços e


Lizzie sorri, não sei se ela entende o que aconteceu, mas ver a felicidade no rosto
do meu mundo, quebra mais um pedaço da barreira que ergui, que agora
encontra-se aos escombros.

Giro nos calcanhares e continuo caminhando. O caminho em pedra termina


e chegamos a grama. Vejo a mesa de piquenique de madeira com os bancos fixos
no chão, debaixo de uma grande árvore. Daniel suspira audivelmente quando
visualiza o mesmo que eu, e corre, colocando a fefinha no banco e a bolsa na
mesa.
Rio, ele pode ter tido boas intenções com o presente, mas eu conheço a
filha que temos. Enquanto ela não se distrair com um brinquedo novo, a fefinha
será levada para todos os cantos, independentemente de ser festas, passeios, ou
jantares fora. A fefinha será o quarto membro da nossa família.

Um calor se espalha no meu peito ao constatar que é isso que somos agora.
Não é mais somente eu e ela, mas eu, ela, e o Daniel. Uma família.

Minhas bochechas queimam ao lembrar de algo que ele falou “pelo amor
que tenho cultivado por você e nossa filha” ele realmente me ama? Ainda não
tenho certeza do que sinto por ele, minha cabeça queima com os pensamentos
que meu coração não consegue processar.

Por hora decido me dar uma folga e não pensar no que posso ser com o
Daniel, mas somente aproveitar o sol gostoso contra minha pele, o lago e a minha
menina que levanta os braços pedindo ao pai para tirar sua roupa, a deixando de
biquini. Daniel abre a bolsa e pega o protetor passando mais nos braços da Lizzie
até ela virar uma vela branca. Paro ao lado dele, coloco a mão em sua cintura e
beijo seu ombro.

É gostoso poder fazer isso sem sentir nenhuma pressão por não saber se ele
quer o meu contato. Poder respirar simplesmente aliviada ao lado do homem que
eu vou dar uma chance para ficar na minha vida e da minha menina.

— Mamãe vilei o galpazinho [10]— Lizzie fala rindo e fazendo bico. — Bu.

— Ai que susto — levo a mão ao peito e Daniel me imita.

— Você sabe nadar Lizzie? — ele pergunta.

— Naum, só boia como um pelxinho.

— Vou te ensinar a ser um peixinho nadador — ele aperta o nariz dela


antes de se afastar tirando a camisa e o calção.
Babo ao ver os músculos definidos em seu corpo todo, se o Daniel tiver
10% de gordura corporal será muito. Ele é todo definido, másculo, e com uma
áurea sexy que balança minhas pernas. Sou flagrada o encarando, os cantos de
sua boca sobem em um sorriso sexy quando ele se aproxima segurando minha
cintura e beijando meus lábios com delicadeza.

— Mamãe tem namolado — Lizzie fala engraçadinha.

Sorrio nos lábios do Daniel, seguro seu peitoral macio o afastando um


pouco. O sorriso despojado em seus lábios mostrando que ele adorou a afirmação
da filha.

— Ela tem — ele responde — e você me tem — pega Lizzie no colo.

— Sì — responde confiante — banho, vamos.

— Agora minha peixinha.

— Vou ajeitar as coisas aqui, vão lá.

Daniel me beija mais uma vez e depois a Lizzie beija minha bochecha,
antes deles irem juntos para o lago. Gosto como ele testa a água antes de entrar,
segura a Lizzie pela barriga a deixando mergulhar e trazendo de volta. Minha
menina não contém o sorriso, e as palavras ao aproveitar o momento com o pai.
Arrumo a mesa do nosso almoço e retiro meu vestido entrando no lago com eles.

Nunca imaginei como um banho de lago poderia ser gostoso. Daniel ensina
a Lizzie a nadar enquanto ela fica dizendo que é um peixinho. Patos aparecem do
outro lado do lago e Lizzie fica eufórica querendo vê-los de perto.

— Já sei o que fazer — Daniel me entrega ela enquanto sai do lago e volta
com fatias de pão.
— Vamos atrair eles princesa — Daniel entrega a ela uma fatia do pão —
joga que eles devem vir.

O lago tem cerca de 60 metros de comprimento e 100 de largura, não estou


certa de que eles conseguirão chamar a atenção dos patos. Mas eles jogam tanto
pão na água que o quem vem para perto da gente são peixes. Grito sempre que
um, passa perto de mim, e Lizzie ri escandalosa quando um peixinho pequeno
pula contra a mão dela arrancando o pão de seus dedos.

Daniel pega Lizzie a colocando em cima dos ombros e nada um pouco para
o centro do lago, onde os patos chegaram. Estica uma mão com o pão chamando
a atenção das aves e com a outra, segura a Lizzie com firmeza. Fico parada para
não assustar os patos que se aproximam aos poucos, comendo o que restou do
pão.

Eu nunca imaginei que veria a Lizzie tão quieta admirando os animais que
ela ama para não os assustar. Daniel com uma mão a segurando e a outra
ajudando a ficar no lugar sem se mexer muito. Levo a mão ao peito realizada pelo
que vejo. Não só a Lizzie merece a chance de ter um pai, como eu mereço ter um
marido. Nesse segundo eu decido, não vou mais me fechar e continuar sofrendo.
Posso me machucar no futuro, mas isso é algo que resolverei quando acontecer.

Agora vou somente aproveitar a paz e felicidade que sinto ao perceber que
eu tenho uma família incrível. Rezo para nada atrapalhar a nossa paz.
Lira

Deito-me na cama com a Lizzie entre mim e Daniel. Ela capotou depois
que voltamos do lago, mas não quis largar do pai, e insistiu que ele a colocasse
para dormir. Tive de dar a janta dela com um olho aberto e outro fechado
enquanto ela dormia no colo do Daniel, sujando a camisa dele com o arroz de
leite.

— Ela é um anjinho dormindo — Daniel fala baixo para não a acordar.

— No resto do tempo é um anjo cheio de energia — respondo alisando os


cabelos da Lizzie.

Já são 19 horas e eu sei pelo que o Daniel espera. Eu disse que ficaríamos
juntos hoje. Ele tem expectativa no olhar, mas não me apressa, deixa que eu tome
a iniciativa quando me sentir pronta. Inspiro tendo a certeza de que a Lizzie
dormiu e levanto da cama. Daniel me imita, mas ao fazer isso a Lizzie se mexe
rolando para cima dele.

— Fica aqui papai — ela fala com a voz banhada em sono e cheia de
naturalidade.
Levo a mão a boca surpresa pela fala dela. Um nó na garganta me
impelindo a chorar. Como a Lizzie sabe? Ela consegue sentir o que o Daniel é
para ela? Lizzie já conheceu diversos adultos que eram simpáticos com ela, e
interage bastante com meus irmãos, e até mesmo o Dante, mas nunca chamou a
nenhum deles de pai.

Não nego que o hoje me fez querer dizer a ela por diversas vezes que
estava brincando com seu pai. Que quando ele a chama de “princesa” não é só
mais um apelido, mas uma forma que ele encontrou de esconder a “filha” em
cada uma de suas palavras. Minha menina não é boba, ouviu as palavras dele
mais cedo. Não sei como seu cérebro ou coração a fizeram chegar à conclusão de
que ele era o pai dela, mas agora eu tenho certeza, podemos contar a verdade para
a Lizzie.

— Eu fico minha filha, minha princesa — Daniel puxa Lizzie contra seu
corpo com lágrimas escorrendo por suas bochechas. Nunca o vi tão emocionado.

— Num, chola – papai — ela leva a mão as bochechas dele limpando as


lágrimas — eu amo você.

— Eu também te amo Lizzie, muito — ele beija a bochecha dela, minha


pequena sorri com os olhinhos brilhando, escondendo a cabeça na curva do
pescoço dele.

— Lizzie — chamo seu nome tocando em sua cintura, ela me olha


tranquila — isso não é uma brincadeira meu amor, o Daniel é o seu pai de
verdade.

Ela arregala os olhos e fica em pé o encarando abismada. Não sei o que se


passou na mente da minha pequena, ela pode ter imaginado o chamar de pai por
saber que somos namorados, ou pela forma como ele a trata. Mas agora chegou o
momento da verdade.
— Igual ao zio Louis é o pai da Cecília e Alessa? — encara a mim e ao
Daniel.

— Isso mesmo pequena — Daniel responde segurando a mão dela, e


aproximando a testa deles — eu sou o seu pai. Me perdoa por demorar a te
contar.

— Polque delmoro? — Lizzie tem a voz embargada, finalmente se dando


conta do que está acontecendo.

— O papai não podia ficar com a gente — digo a ela, engolindo o choro.
Viro seu ombro a fazendo me encarar, o rosto vermelho e os olhos banhados em
lágrimas.

— Polque?! — grita, começando a chorar alto.

Meu coração se parte ao ver a dor da minha menina. Eu deveria ter


insistido mais, buscado outras formas, ido até o Brasil e feito o Daniel fazer um
maldito teste de DNA. Qualquer coisa que o fizesse acreditar que a Lizzie era
dele, e evitar a dor que a minha menina sente. Estico os braços para a segurar,
mas o Daniel é mais rápido, a segurando forte contra seu peito.

— Lizzie, você lembra de quando a Fefinha foi enganada pela raposa? —


ele pergunta, ontem os dois passaram o dia assistindo ao desenho.

— Sim, a Fefinha ficou sem os almiguinhos pol calsa da raposinha. —


Soluça.

— Eu e a sua mãe fomos enganados por uma raposa malvada que não
queria deixar o papai ser feliz com vocês — ele beija a cabeça dela. Lizzie para
de soluçar e o encara com as lágrimas descendo pelas bochechas rosadas.

— Polque?
— A raposa tinha raiva do papai e fez algo muito perigoso. Se você e a
mamãe estivessem comigo, ela teria machucado vocês — ele aperta a mão dela
— eu nunca me perdoaria por vocês se machucarem. A mamãe foi esperta e
compreendeu a situação, e por isso vocês tiveram de ficar longe, para a raposa
não machucar vocês.

— É veldade mamãe? — Lizzie pergunta com um soluço sofrido.

— Sim, meu amor — acaricio sua perna coberta pelo pijama longo — a
mamãe não podia deixar a raposa fazer mal a gente. Seu papai ficou, para garantir
que a raposa malvada fosse presa e não pudesse nos machucar — engulo outro
soluço.

Não é a história verdadeira, mas é a única que uma criança de 2 anos


conseguiria entender. Quando ela for grande e se um dia perguntar o motivo de
não ter fotos dela com o pai durante dois anos de sua vida, e quando ela
conseguir entender o que aconteceu, contaremos a verdade. Mas hoje a minha
bebê vai ficar com a história da raposa malvada que afastou o seu pai.

— Papai é o heloi como a Fefinha? — ela limpa as bochechas, deitando a


cabeça no peito do pai.

— Sim, igual a Fefinha — respondo.

— Você perdoa o papai por demorar tanto? — ele pergunta.

— Sì — ela se mexe ficando em pé, segura o rosto do Daniel e beija sua


bochecha — amo o papai — sorri.

Eu nunca vi a Lizzie sorrindo com tamanha felicidade. Apesar dos olhos


inchados e banhados por lágrimas, as bochechas rosadas e o nariz escorrendo, ela
sorri tão lindo que fecha um buraco no meu coração. Minha menina enche a noite
de luz que reflete no rosto do Daniel e no meu.
— A raposa num vai mais machuca a gente? — pergunta espertinha.

— Nunca mais meu amor — Daniel a envolve em um abraço, deitando-a


novamente na cama — você e sua mãe são meus bens mais preciosos e vou
cuidar de vocês com a minha vida — beija o topo da cabeça dela.

Sua mão agarra a minha me puxando contra seu peito. Lizzie de um lado e
eu de outro, aliso os cabelos da minha menina, enquanto Daniel acaricia meus
cabelos e as costas da Lizzie. Tínhamos combinado de passar a noite juntos,
imaginei que seria fazendo sexo. Mas isso o que temos aqui, é a ainda melhor e
mais especial.

É um momento em que a nossa família é envolvida em um laço vermelho,


após superarmos o que tentou nos separar. Nunca mais choraremos de saudade
um do outro. Minha menina ganhou o pai dela, e Daniel a sua família. Uma que
representará amor e cuidado.

Nesse segundo eu tomo uma decisão, disposta a dar mais um passo rumo a
felicidade.

— Vamos para o Brasil com você — sussurro, velando o sono da Lizzie no


peito do pai.

— Tem certeza? Eu posso pedir transferência para cá ou arrumar outro


emprego, abrir uma empresa, qualquer coisa do tipo.

Descanso o queixo em seu ombro encarando suas feições. Daniel é um


homem maduro com olhar decidido. Ele nunca hesita quando se trata da gente, e
eu não tenho um único motivo para continuar me prendendo e escapando da
felicidade.

Vou ficar junto do último homem a quem darei uma chance para me amar,
e espero que fiquemos juntos até eu ter fios brancos como os dele, quando as
rugas ao redor dos meus olhos surgirem e nossa casa tiver mais filhos do que um
dia imaginei que teríamos.

— Sim — beijo seus lábios com a delicadeza de uma flor — eu quero te


dar uma chance para ser o meu homem.

— Você já é completamente minha e eu seu — ele fala com doçura, os


olhos repletos de amor.

— Um passo de cada vez — peço, um calafrio passa pela minha espinha


por estar dando um passo que jurei nunca mais arriscar — sem pressa e tudo no
seu tempo.

— O quê? Eu já estava pronto para casarmos assim que pousássemos e


termos mais três filhos.

Arregalo os olhos com medo do que ele propõe. Ainda não estou pronta
para isso, e preciso de um tempo para me acostumar com a ideia. Foram anos de
coração machucado, é impossível sarar em uma única noite.

— Estou brincando — sorri arteiro — deveria ter visto sua cara, jurava que
você ia colocar um ovo.

— Ovo não, mas quem sabe o almoço — brinco.

— Eu estou morrendo de fome — ele confidencia.

O jeito que fala, alivia a tensão do momento, causada por sua piada. Eu
agradeço por ele me dar o espaço que preciso e beijo seus lábios antes de
levantar.

— Vou fazer a nossa janta, fica aí para ela não acordar.

— Certo. — Ele responde sereno.


Deixo o quarto com o coração batendo tão rápido quanto a bateria de um
baterista de heavy metal. Desço as escadas meio anestesiada, o que foi que acabei
de fazer? De uma só vez, contei a Lizzie que o Daniel era o pai dela e depois
aceitei ir morar no Brasil, sendo que nunca pensei em me mudar!

Entro na cozinha e encontro a Beatrice e o Dante na mesa. Ambos me


encaram com preocupação no olhar. Beatrice aponta a xícara de chá e me sento
ao seu lado de frente para Dante. Eles parecem que querem fazer algum tipo de
intervenção comigo e estando ainda abalada pelo que aconteceu lá em cima, eu
fico calada bebericado o chá de ervas.

— Precisamos conversar — Beatrice começa.

— Fiz algo errado? — pergunto, estranhamente me sentindo tímida.

— Sim — respondem juntos.

— Você está desperdiçando a chance de ser feliz! — Beatrice fala com um


grunhido — eu jurei que iria ficar calada e te deixar resolver as coisas sozinhas,
mas não aguento mais ver você com os olhos brilhando de paixão pelo Daniel e
não conseguindo se abrir para ele!

— Olha só quem fala — acuso.

Ela diz isso, mas nunca teve coragem de contar ao Dante como se sente.
Vive suspirando pelos cantos, encarando o Cowboy que é uma porta para
perceber os sentimentos da minha amiga. Beatrice pisa no meu pé com o seu
calcanhar bom e eu tenho vontade de xingá-la. Mas decido me conter, sei como é
difícil para ela acreditar que alguém possa realmente a amar.

Diferente de mim que fui magoada por incontáveis homens e outros que
nunca consegui me apegar o suficiente para chamar de paixão ou amor. A
Beatrice não foi amada quando criança, e na adolescência teve uma experiência
familiar horrível. Se não fosse pela Blanca e Levi, não sei o que seria da minha
amiga. A terapia que ela faz todo mês parece que chegou em um ponto de
estabilidade, não regressa, mas não avança.

Só de pensar em a deixar aqui, meu peito aperta, ficando do tamanho do


caroço de uma azeitona. Não posso fazer isso com a Beatrice, não estou pronta
para dizer adeus as duas pessoas que tem sido a minha base e suporte durante os
dois anos que mais precisei.

— Lira — Dante chama segurando minha mão — sei que você tem medo,
mas o Daniel é um bom homem e vai cuidar da Lizzie e de você. Não existem
mais motivos para hesitar, e eu te garanto, se ele te magoar, eu o mato e escondo
o corpo dele no lago para não ser preso. Mas agora tanto a Lizzie quanto você,
estão diante da chance de serem felizes, não desperdice isso.

— Não se preocupe com a gente — Beatrice fala lendo meus pensamentos


— a fazenda é o meu lugar de paz no universo e nada nunca mudará isso. Sei que
você sempre virá nos visitar em qualquer oportunidade, e eu vou ao Brasil passar
um tempinho com vocês.

— Eu mesmo a levo — Dante fala, ele sabe o medo que a Beatrice tem de
se afastar de casa — temos a nossa afilhada preciosa para visitar. Acha mesmo
que conseguiremos ficar muito tempo longe? Eu vi aquela pestinha loura crescer,
engatinhar, e nos endoidar sempre que se machucava ou ficava doente.

— Vocês foram tão importantes para mim — murmuro com lágrima


descendo pelas bochechas — me ajudaram tanto, não quero dizer adeus.

— Não será um adeus — Beatrice fala docemente — assim como o Levi


mora no Brasil e vocês se veem direto, será o mesmo conosco.

— Vamos pegar carona no jatinho do Louis — Dante fala convencido —


ele tem dinheiro suficiente para nos levar.
— Mato ele se não fizer isso — aperto a mão de ambos — obrigada, por
tudo.

— Obrigada você por confiar em nós — Dante levanta e me envolve em


um abraço de urso. — Nossa baixinha precisa do pai dela e você do seu amor.
Não se prenda como uma planta teimosa, vá ser feliz!

— Certo — beijo seu ombro o apertando com todo o carinho e gratidão


pelo Dante ser um homem tão bom.

— Minha vez — Beatrice fala me arrastando para um abraço


reconfortante.

— Obrigada, por tudo — choramingo em seu ombro.

— Obrigada você por encher a minha vida com a luz que a Lizzie carrega
consigo — beija minha bochecha — promete que vai ser feliz?

— Prometo.

— Ótimo — limpa minhas lágrimas. — O que veio fazer aqui?

Conto a eles sobre a Lizzie chamar o Daniel de pai e a história que


contamos sobre a raposa. Eles concordam que foi a melhor opção para a idade da
Lizzie. Faço uma macarrona com parmesão para jantarmos e quando o relógio
bate 20 horas eu subo com meu prato e o do Daniel. Ele dorme tranquilo
segurando a Lizzie no seu peito. Toco sua perna o acordando com um sorriso e
mostro o prato.

Daniel sorri preguiçoso, com cuidado deixa a Lizzie na cama, faz uma
montanha de travesseiros ao redor dela e vem até a minha varanda, onde
sentamos a mesa para comer. Ele me puxa para seu colo e ficamos assim,
conversando baixinho para não acordar a Lizzie. Terminamos a refeição e deito a
cabeça em seu peito, feliz e tranquila.
— Vamos fazer amor.

Ele não pergunta, mas chama. Seguro sua mão, apaixonada o sigo para o
quarto de hóspedes onde passo a noite sendo amada pelo homem que escolhi
permitir entrar no meu coração.

Uma última chance para o amor.


Lira

— Não tem como você conhecer algo que eu não tenha visto nessa fazenda
— digo ao Daniel.

Deixamos a Lizzie aos cuidados dos padrinhos para termos uma noite só
nossa, antes de voltarmos ao Brasil. Ele segura uma manta enorme e um cobertor,
enquanto eu levo uma bolsa com nosso jantar, vinho e velas.

Passei o dia atualizando meus irmãos sobre a minha decisão de dar uma
chance ao Daniel e para a minha surpresa ambos falaram que estavam torcendo
por isso.

Daniel realmente tem uma boa fama com os Vittileno. Mas eles são
homens, é mais fácil de se entenderem entre si. Bianca e Olivia amaram saber
que estou disposta a amar e formar minha família com o Daniel, conversamos por
horas até elas iniciarem o papo sobre casamento e eu desligar o celular. É cedo
demais para pensar sobre isso.

O que me mantém com os nervos calmos e a mente no lugar, é saber que


eu não preciso de pressa, posso fazer tudo no meu tempo. Daniel não me
pressiona e isso é um alívio. Posso estar apaixonada, mas sei que não é amor, é
cedo demais para me sentir assim, alguns dias não podem ser o suficiente para
dizer que o amo.

E usando de todo o tempo que eu tenho, vou como uma tartaruga,


descobrindo o que sinto e como lidar com cada uma dessas coisas ao mesmo
tempo, em que recebo os sentimentos do Daniel. Esse brilho refletido em suas
irises sempre que nossos olhares se encontram.

— Você conhece a fazenda, mas não os vinhedos — ele fala o obvio.

— Nunca vim muito para cá — dou de ombros, agora reconheço o


caminho que pegamos. É uma longa caminhada, mas a noite está amena, com um
clima sereno, nem frio e nem quente, perfeito para uma caminhada de mãos
dadas e um jantar ao luar.

— Por isso que, é surpresa — ele fala.

— Sim, senhor — brinco arrancando um sorriso dele.

Continuamos caminhando em silêncio aproveitando o som da noite e os


animais fazendo seus chiados. A Lizzie iria adorar ouvir cada um e poder imitar
os bichinhos, 20 minutos depois e um pouco de dor nas pernas, chegamos ao
lugar prometido. Daniel abre a cerca que delimita os vinhedos e entramos.

As uvas banhadas pela luz da lua parecem pequenos diamantes. Vejo


resquício de água nelas realçando o roxo de sua cor. Simplesmente perfeito, fico
sem folego ao ver tamanha beleza, Daniel me encara sorrindo confiante de sua
ideia e eu abraço sua cintura agradecendo por me mostrar esse lugar.

— A grama, ainda, está molhada, então cuidado.

— Aonde vamos nos deitar? — pergunto.


— Mais a frente tem uma estrutura de madeira para os visitantes poderem
sentar enquanto degustam o vinho, é um quadrado de dois metros, perfeito para
passarmos a noite nele.

— Não percebi que você tinha aprendido sobre o vinhedo — comento


enquanto caminhamos entre as vinhas.

— Dante me explicou bastante sobre como o negócio funciona, acabei


comprando 5% das ações. Vejo muito futuro para essa empresa, se a Beatrice
quiser, podemos transformar ela em algo enorme, de escala global, em vez de
fornecer somente para a Europa.

— A Bea não quer, já ofereci a ela transformar aqui em uma empresa


internacional. Mas a timidez da minha amiga não a permite sonhar tão alto,
teríamos de ter um CEO especializado no ramo que não arriscasse tirar a empresa
dela. Você sabe que isso é possível.

— Hoje em dia CEO’s confiáveis estão difíceis. Temos de ter mais da


metade das ações da empresa para tomar decisões, às vezes passando por cima da
vontade do Presidente. É uma posição com poder que pode destruir ou crescer,
uma moeda de dois lados.

— Igual como seu sócio fez com você — comento, Daniel não se abala ao
ter mencionado o ex-parceiro.

— Sim, e graças a confiança do Louis, consegui me reerguer e provar meu


valor. Ele é o Presidente das indústrias VITTILENO. Mas a cede brasileira eu
tenho a maior porcentagem, tendo o poder decisório.

— Você poderia roubar a VITTILENO Brasil do meu irmão? — pergunto


em tom de brincadeira, sei que ele nunca faria isso.

— Seu irmão é uma raposa ardilosa para os negócios — ele fala.


Chegamos à plataforma de madeira e Daniel estende a manta e coloca o cobertor
em cima. — Nosso contrato é extremamente restrito, com aplicação de sanções,
caso eu faça algo contra a vontade dele. Posso ter a maioria das ações, mas a
empresa ainda pertence ao Louis.

Deixo a bolsa na madeira e subo, me sentando na colcha fofinha, pego a


manta passando-a nos meus ombros, enquanto Daniel coloca nossa comida nos
pratos e enche as taças de vinho.

— Ele é esperto — digo orgulhosa.

— Igual a você — me entrega uma taça — já assisti todos os filmes que


você dirigiu, e é um melhor do que o outro. Uma diretora de puro talento — toca
sua taça na minha — minha mulher é fantástica.

Um rubor sobe a minha bochecha quando ele se refere a mim como sua.
Deito a cabeça em seu ombro bebericando o vinho tinto da adega da Beatrice.
Perfeito até a última gota, adocicado na medida certa, com um cheiro esplendido
de uva fermentada.

— Eu tinha 6 anos quando a minha mãe morreu em um acidente de carro


— a vontade de falar desperta como uma represa sendo rompida — tenho poucas
lembranças com ela, às vezes nem sei se são lembranças ou invenção da minha
mente. Você recorda de algo antes dos seus 12 anos?

— Pouca coisa, acho que mais de quando comecei a me masturbar — ele


fala e dou risada, levo a mão a seu peito tocando a camisa de algodão bege macia.

— Não lembro minha primeira masturbação — confesso com as bochechas


em chamas — mas recordo a primeira menstruação e como fiquei assustada sem
entender o que estava acontecendo com o meu corpo. Eu cresci em uma casa com
três homens e nenhum me ensinou nada sobre isso. Estava tão assustada com o
sangramento pensando que iria morrer, gritei com toda a força e o Louis entrou
como louco no banheiro.
Dou risada lembrando a cara assustada dele. Daniel ri, certamente
pensando em como o momento se desenrolou.

— Foi tão embaraçoso. Eu pensava que ia morrer e ele todo enrolando me


explicando que era normal, que mulheres sangravam todos os meses — bebo o
vinho, uma lembrança dolorosa começa a ganhar um tom cômico — dá para
imaginar o Louis falando isso?

— Certamente dá, mas não sem rir muito — responde escondendo o


sorriso na taça.

— Pois é, depois as coisas se acalmaram quando ele me deu um absorvente


que ele não fazia ideia de como usar. Mas li na embalagem e coloquei.

— Vou perguntar o obvio só para ter certeza — ele fala engolindo o riso —
mas o Louis te viu pelada colocando um absorvente?

— Ele ficou mais vermelho que o sangue na minha calcinha.

Daniel se engasga com o vinho e cai para trás rindo de ganhar lágrimas nos
olhos. Continuo sentada me divertindo com a risada dele. Nunca pensei que
poderia deixar a lembrança triste que me acompanhou por anos com um ar leve.
Em vez de chorar pela falta da minha mãe, eu rio por meu irmão ter tido a
coragem que poucos teriam.

— Aí Deus, vou morrer de tanto rir — Daniel segura a barriga.

— Depois as coisas ficaram mais fáceis quando a governanta veio me


ajudar. — Belisco sua barriga — mas o centro da história é: você tem de aprender
a como usar um absorvente e o que é um ciclo menstrual. Se algum dia — engulo
em seco — eu faltar para a Lizzie, você não pode deixá-la se sentindo perdida
como eu me senti.
— Vou garantir que você me ensinou como colocar um absorvente e sobre
ciclo menstrual — senta ficando a poucos centímetros de distância do meu rosto
— e eu te prometo, não importa o que aconteça, eu sempre vou estar ao lado da
Lizzie e de todos os filhos que tivermos.

— Não teremos outro tão cedo — tento aliviar o clima, Daniel entendeu o
que eu queria e não quero estragar nossa noite com lembranças tristes.

— Estamos transando sem camisinha, você com certeza já está esperando


outro bebê — morde meu lábio.

— Você não usa camisinha, mas eu tomo anticoncepcional há anos. Não


vou engravidar tão cedo — seguro seu rosto com uma mão — mas agora descobri
seu plano, seu safado.

— Droga, fui pego — finge que sente muito, mas o brilho em seus olhos
não mente.

— Me conta sobre sua família? — peço servindo mais uma taça para a
gente.

— Sou só eu e minha mãe, cresci na periferia, meu pai era enfermeiro e


minha mãe professora do ensino médio. Não tenho irmãos e sinto falta disso, a
Lizzie precisa de ao menos um — rio da sua tentativa.

— Continue.

— Bom, sobre a Verônica você já sabe, meu pai morreu com câncer de
próstata faz cinco anos. Dois anos antes de eu me separar da Verônica.
Atualmente minha mãe está aposentada, e amo a mimar com viagens pelo mundo
com as amigas. Agora ela e minha tia estão passando uma temporada nas praias
do Caribe, mas ela voltará correndo quando souber que tem uma neta.

— Acha que ela vai gostar de mim? — pergunto incerta.


— Ela com certeza vai te amar — ele deixa a taça de lado e segura minhas
pernas me fazendo sentar em seu colo. — E a Lizzie também.

— Você tem certeza de que a Verônica vai ficar presa e não será mais um
incômodo? Agora temos a Lizzie e só de pensar naquela mulher perto da minha
pequena eu me tremo de raiva.

— Mesmo que ela se solte, nunca chegará perto da gente. Vocês duas
sempre vão estar acompanhadas de seguranças, independente de quanto tempo se
passar. Minhas vidas, nunca as permitiria passarem por perigo.

— Por que é fácil para você se apaixonar?

— Não foi fácil Lira, foi natural, é diferente — alisa meu rosto — desde o
segundo que nos encontramos você mexeu comigo, e sei que se não fosse a
loucura da Verônica, eu teria te procurado antes. Mas não adianta ficar olhando
para o passado quando eu tenho um presente exatamente aqui, ao seu lado.

Engulo a vontade de chorar de felicidade. Nunca imaginei que receberia


tanto carinho sem pedir nada em troca. Fui uma tola por achar que conseguiria
me manter longe do Daniel, negar à vontade queimando em meu peito. Aliso seu
rosto o beijando demoradamente.

— Estou ansiosa para conhecer sua mãe — beijo seus lábios, mudando de
assunto ou vou acabar chorando. Ou pior, me declarando quando ainda não me
sinto pronta para isso. Queria ter mais da confiança do Daniel, mas por enquanto
vou mantendo a minha pequena coragem e dando os passos confiáveis para mim.

— Você verá, vai ser perfeito, minha mãe é um doce, mas muito tagarela,
então se prepare para todo tipo de pergunta.

— Ela e a Lizzie serão ótimas amigas — rio. — Nossa menina ama


conversar sobre tudo.
— É capaz da minha mãe querer morar com a gente para ficar perto da
Lizzie, você se incomoda muito com isso?

— Eu iria amar.

Não sei como é conviver com uma mãe e o Daniel tem tanto amor em sua
voz pela mãe, que eu já sinto que gosto dessa mulher e a quero perto da minha
família. Continuamos conversamos por incontáveis horas debaixo das estrelas e
jantando. O vinho rapidamente acaba e abrimos outra garrafa, o efeito começa
aos poucos a ativar nossa libido e mandar a vergonha para os ares.

— Acha que é errado transarmos aqui? — Daniel pergunta entre beijos.

— Tem câmeras em todos os lugares — eu digo o beijando, enrolo nossos


corpos com o cobertor — é só não sermos vistos pelados.

— Não estamos nas uvas — ele fala entre uma mordida.

— Exatamente — respondo.

— Eles sabiam o que faríamos quando deixaram a gente vir — Daniel


lembra — qualquer coisa eu assumo a responsabilidade — me deita na colcha
fofinha — sou o tarado que não resistiu a mulher que ama.

— Completamente.

O beijo, a felicidade explodindo mais uma vez ao saber que ele me ama.
Daniel não precisa de palavras ou proferir “eu te amo” demoradamente, seus
olhos e ações sempre foram bastante claros e nesse segundo eu me sinto o ser
humano mais amado do planeta.
Daniel

— Eu tenho meldo — Lizzie se agarra forte no pescoço da mãe ao ver o


avião que nos levará ao Brasil.

— Vem cá princesa — chamo a pegando no meu colo — se agarra bem


forte no papai que o medo passa.

— É veldade? — os olhos brilham com lágrimas contidas, ela está prestes


a chorar novamente.

Desde que Lizzie soube que iriamos para o Brasil ficou chorando, primeiro
por não querer se separar dos padrinhos e depois pelo avião que ela não queria
pegar. Tivemos de atrasar a nossa volta em quatro dias até fazer a Lizzie se
acostumar com a ideia, mas o avião continua sendo um problema.

Lira me encara com medo de precisar dar remédio para a Lizzie dormir,
opção recomendada pela pediatra dela no caso de voos que devem ser feitos.
Estamos dando um importante passo para iniciar uma nova vida juntos, como
uma família.

Minha mãe espera por nós ansiosa para conhecer sua neta e nora, meus
planos com a Lira só darão certo se ficarmos juntos, e para isso vou fazer a minha
filha atravessar um oceano para podermos ter uma vida juntos.

— Eu sou o seu pai Lizzie — falo carinhosamente alisando os fios de ouro


em sua cabeça — confia que o papai sempre irá te proteger?

— Sì — responde manhosa.

— Então segura bem forte no papai e quando o medo te fizer chorar


lembre que o papai está aqui para o enfrentar. Não vou te soltar nem um segundo.

— Polmete?

— Sim, meu amor — beijo sua bochecha.

— Tá bien papai.

Lizzie esconde o rosto no meu pescoço. Lira me encara em dúvida se


conseguiremos, não queremos dopar a Lizzie e transformar aviões em
experiências de pânico. Mas se for preciso usar o remédio o faremos em último
caso. Por hora subo as escadas embarcando no jato particular da empresa com a
Lira atrás de mim, segurando a Fefinha.

O acordo seria eu sempre levar a pelúcia enorme para todos os lugares,


mas com a Lizzie agarrada em mim como um bicho preguiça, não posso cumprir
minha parte. Eu amo que a minha filha ame o primeiro presente que dei a ela,
mas é incomodo andar o tempo todo e estar sempre limpando a Fefinha, porque a
Lizzie a suja para onde quer que vamos.

Entramos e nos sentamos um de frente para o outro. Lira coloca a Fefinha


na poltrona ao lado. Seguro Lizzie pela barriga a fazendo virar de frente para a
mãe. Minha menina continua com os olhos chorosos quando percebe que
entramos, segura firme minha roupa, coloco o cinto de segurança e a aperto nos
meus braços com muita força.
— Bom dia — a aeromoça fala — vamos decolar em 10 minutos, por
favor, todos coloquem o cinto.

— Ela não vai conseguir decolar sentada — Lira fala — a Lizzie tem medo
de aviões e só aceitou ir nos braços do pai.

— Desculpe senhorita Vittileno, mas não podemos partir sem que todos
estejam de cinto. Por mais que o senhor Albuquerque segure a menina nos
braços, não é o mesmo que o cinto de segurança.

— Papai — Lizzie começa a chorar no meu colo.

— No último minuto, antes de partimos, eu a coloco no cinto — aviso,


tomando uma difícil decisão. — Só avisar antes.

— Sim, senhor, se precisarem de algo, podem me chamar — ela sai


caminhando para a cabine na frente.

— Minha princesa — Chamo alisando seus cabelos — enquanto o avião


sobe no céu, igual aos passarinhos, você precisa ficar na cadeira — falo odiando
como a Lizzie começa a ficar desesperada.

— Não chora meu amor — Lira pede se esticando e tocando as pernas da


Lizzie — a mamãe e o papai estão aqui — puxa a Fefinha pelo pescoço — e ela
também. Vamos todos voar juntos e seguros, confia na gente filhinha.

— Naum quelo — abre a boca começando a chorar.

— Vou pegar o remédio — Lira fala com desespero nos olhos.

— Espera, ainda não. — Digo.

Seguro Lizzie a colocando na cadeirinha especial para crianças de 2 anos


voarem, presa ao assento ao meu lado. Ela chora ainda mais, me mantenho firma
ao prender o cinto na sua cintura e peitoral. Levanto sua blusa, deito a cabeça em
sua perna e começo a fazer cócegas com a barba em sua barriga, do jeito que eu
sei que ela gosta.

Lizzie grita novamente, mas dessa vez surpresa pelo que estou fazendo e
enquanto tenta chorar e rir ao mesmo tempo, ela agarra meus cabelos pedindo:

— Pala papai, faz colciciquinha!

— O quê? Ainda não consigo te ouvir — digo voltando a esfregar o rosto


na pele macia da minha bebê.

— Pode voltar — Ouço Lira dizer, imagino que seja com a aeromoça.

Sinto o avião dar sinal de que está prestes a voar. O piloto faz o anúncio
pelos altos falantes, eu levo a mão aos ouvidos da Lizzie impedindo que ela
escute o que ele fala enquanto aumento a intensidade das cócegas, fazendo tantas,
que minha menina grita, chorando de rir.

O avião não demora muito para alçar voo, ignoro a dor na coluna
parecendo que será partida em duas, e os puxões no cabelo e chutes que levo pela
Lizzie se contorcendo com as cócegas. Quando a aeromoça avisa que podemos
retirar o cinto, eu solto minha menina depressa a pegando no colo.

Seu rosto contra meu peito, as pernas presas pelo meu braço e o outro em
suas costas. Os olhos sapecas brilham de felicidade.

— Viu? Já estamos voando — digo a ela — quer ver como os passarinhos


enxergam o céu?

— Quelo — responde alegre.

Abro a janela ao lado da minha cadeira e mostro a Lizzie como são as


nuvens, ela olha encantada a visão. Coloca as mãos na janela e aproxima o rosto,
quando seus olhos batem no chão abaixo de nós ela grita encolhendo o rosto no
meu pescoço. A aperto forte.

— Lizzie tem medo de altura ou de cair — digo a Lira.

— Então não era do avião? — ela pergunta com a testa franzida — achei
que nunca iriamos conseguir decolar.

— Lizzie — chamo — você tem medo de cair?

— Sì — responde abafado.

— Se eu te segurar firme — a aperto — não vai cair, minha princesa.

— Polmete?

— Sim.

— Quer comer Lizzie? — Lira pergunta.

— Quelo leitinho — Lizzie encara os peitos da mãe.

— Vem — Lira abre os braços. Retiro meu cinto e entrego nossa menina a
ela — também estará segura nos braços da mamãe — beija seu nariz.

— Semple mamãe — responde com carinho.

Lira desce a alça da blusa colocando o peito para fora, Lizzie não perde
tempo abocanhando o bico e começando a mamar.

— Por que ela não toma fórmula?

— Ela nunca gostou de leite de fórmula, ou de vaca, cabra, tentei todos,


mas a Lizzie só toma o meu.

— Até quando você acha que vai continuar amamentando?


— Provavelmente só esse ano, estou começando a diminuir a produção, e a
Lizzie come outras coisas agora. — Alisa a testa da nossa menina — ela está
crescendo forte e saudável, não é meu amor?

— Sì — responde com a boca cheia e dou risada.

Meu celular apita com uma notificação. Uma mensagem da minha mãe
pedindo para avisar quando pousarmos. São 9 horas da manhã na Itália,
provavelmente pousaremos às 19 horas. Com a diferença de 4 horas de fuso
horário, chegaremos às 00 horas no horário do Brasil. Aviso sobre e ela promete
ficar acordada para falar com a netinha que ela conhece somente por chamadas
de vídeo.

Lizzie termina de mamar e volta para o meu colo, a seguro firme como
prometi, enquanto assistimos ao desenho da Fefinha. Aos poucos o medo da
minha menina vai dando lugar ao divertimento. Lira deita confortavelmente
assistindo a filmes no tablet, ela é uma grande diretora e não consegue deixar de
comentar quando vê algo que poderia ter sido melhorado se o diretor fosse bom.

Sorrio sempre que a escuto dar seus comentários. Retiro a Fefinha do


acento ao seu lado e vou para lá com a Lizzie. Deixamos o desenho de lado e
vamos assistir com a mãe dela.

As horas começam a voar, o céu anoitece e Lizzie dorme fácil nos meus
braços, confesso que fiquei com eles dormentes de tanto tempo com a minha
menina no colo, mas nunca a soltaria, nem mesmo que meus braços caíssem.

Pousamos às 00 horas no aeroporto de São Paulo. Lizzie continua


dormindo confortavelmente, mas quando descemos, que a Lira vem trazendo a
Fefinha, ela me encara fazendo careta e estende o urso para mim. Entrego nossa
menina a ela e pego a cruz que é, andar com uma girafa enorme. Meu motorista
nos cumprimenta com sorrisos e quando vê a pelúcia fica em dúvida de onde a
colocar no carro.
Se eu não soubesse sobre a possibilidade de a Lizzie acordar chorando
querendo a girafa, eu a mandava ir em outro carro com as nossas bagagens, mas
como conheço a filha que tenho, faço um esforço do capeta para colocar a girafa
no banco do passageiro sem atrapalhar o motorista. Me sento atrás com a minha
família, quando cumpro minha missão após 10 minutos de luta.

— Eu estava pensando — Lira fala casualmente — talvez eu possa voltar a


trabalhar.

— Isso seria fantástico — digo, apesar do medo dela de se afastar ao voltar


aos Estados Unidos.

— Agora que eu tenho você — segura minha mão — nossa menina não
ficará sozinha ou sentirá solidão por eu estar no set. Sei que você trabalha muito,
mas é reconfortante ser uma dupla.

— Eu trabalho das 8 horas às 19 horas, todos os dias estarei em casa após


as 20 horas. Levo em média uma hora fazendo o trajeto de carro da empresa para
a nossa casa. — Friso bem a última parte.

— Eu sei que a vida de um CEO às vezes pede que ele fique mais tempo
— ela começa não acreditando nas minhas palavras.

— Não esse CEO — digo, apesar de já ter virado noites no escritório e ter
mudas de roupa preparadas para quando ficava até tarde — esse homem tem
horário de entrada e saída e vai jantar em casa todas as noites. A menos que a
empresa esteja em chamas, eu não descumprirei o horário.

— Isso é bom — responde, percebo que ela quer acreditar, mas entendo
que pode ser difícil. — Como você pretende fazer? Sei que seu estúdio fica nos
EUA.

— Ah, não mais, pedi demissão quando decidi vir para o Brasil.
— O quê? — fico surpreso, ela não me disse nada.

— É, liguei e falei que não iria mais trabalhar. Paguei a multa do contrato,
a notícia se espalhou e agora tenho mais de vinte propostas de estúdios e
emissoras brasileiras querendo me contratar como diretora. Acho que posso fazer
dar certo, me familiarizar com as produções do Brasil.

— Uau, minha mulher é mega concorrida — falo em tom de brincadeira,


mas totalmente orgulhoso por saber o valor que a Lira tem.

— Sou uma das melhores diretoras da nossa era, claro que seria disputada
— fala arrogante, com charme, dou risada do seu jeitinho.

— Já decidiu onde vai trabalhar?

— Gostei da proposta de dirigir um programa infantil, eles ofereceram um


ótimo lugar para a Lizzie poder ficar e eu trabalharia só das 8 horas às 13 horas.
O programa vai ao ar das 9 horas às 12 horas. E se eu quiser, posso deixar a
Lizzie ser uma das crianças que participam do quadro.

— Como funciona?

— Todo início de mês eles abrem seleção para 20 crianças de 5 a 10 anos


participarem ao vivo, enquanto os três apresentadores ensinam coisas básicas da
vida infantil e adulta, com brincadeiras, histórias e música. Mas o atual diretor
não está mais sabendo como manter a audiência, e embora eu nunca tenha
trabalhado com programas ao vivo, foquei mais em seriados e filmes adultos,
agora que tenho a Lizzie, estou cheia de ideias para um quadro educativo e
infantil.

— Ela poderia ficar com você enquanto trabalha sem incomodar seus
colegas de trabalho. E você ainda poderia estar em casa de tarde e eu fico com ela
a noite.
— Ela dorme a noite — arqueia a sobrancelha.

— Então fico com você — me estico por cima da cadeira da Lizzie


beijando a Lira.

— Gosto dessa possibilidade — sorri nos meus lábios.

— E as outras propostas, o que são?

— Filmes, séries, mais do que eu sempre costumei fazer no meu outro


estúdio. Eu gosto da produção adulta, mas não estou pronta para ficar horas em
um set novamente, com a Lizzie sendo tão pequena, ao mesmo tempo, em que
anseio estar dirigindo novamente alguma coisa.

— Eu vou te apoiar em qualquer decisão que você tomar — seguro sua


mão beijando seus dedos — amo o quanto você pensa na nossa menina, mas
agora tem a mim. Eu já mandei fazerem um espaço infantil para a Lizzie na
minha sala, também não quero ficar longe dela.

— Meu Deus, o grande CEO Daniel Albuquerque trabalhando com a filha


ao lado — ela contém a gargalhada, sorrindo abertamente.

— Meus acionistas vão amar isso — ironizo rindo com ela — mas é o que
eu quero e ninguém vai me impedir.

— Você tem razão — ela beija minha mão — e caso a Lizzie não se adapte
a nenhuma das nossas rotinas, ela pode ficar na creche da Olivia.

— A Olivia é maravilhosa, ainda fico maravilhada com a creche que ela


abriu, e mesmo assim não é a diretora, por não conseguir ficar sem dar aula.

— Sim, e ela trabalha e cuida dos filhos, assim como o Levi, Louis e
Bianca. Podemos fazer também.

— Com certeza — ela se estica sapecando um beijo nos meus lábios.


O carro para suavemente e vejo que chegamos a minha casa. Moro em um
condomínio de luxo em São Paulo, a casa tem no total 11 cômodos, sendo 5
quartos, uma sala de estar, uma de visitas, a cozinha e a sala de jantar, um
escritório, lavanderia e a área externa. Divididos em térreo e primeiro andar, é
uma ótima propriedade. Não chega a ser a mansão dos Vittileno, mas é tudo o
que eu preciso, luxo, conforto, e a segurança do condomínio.

Pego minha princesa no colo e descemos do carro. Lira traz a Fefinha nos
braços. Digito a senha na porta e entramos, vejo a cabeça castanha da minha mãe
deitada no sofá, dormindo profundamente, enrolada na manta com o ar-
condicionado, deixando a sala um gelo.

A deixo dormindo e levo a Lizzie para seu quarto, mandei preparar um


para a minha pequena com os animais que fazem parte do desenho da Fefinha,
trouxemos parte de suas pelúcias, umas ficaram na casa da Beatrice para quando
a visitarmos.

— Não sei se ela vai se acostumar a dormir na cama sozinha — Lira fala
— ao menos hoje é melhor ela ficar com a gente, se acordar na casa estranha vai
ter medo.

— Certeza? Podemos inaugurar minha cama nova — arqueio a


sobrancelha sugestivo.

— Fazemos no banheiro — pisca — vamos.

A guio para o nosso quarto onde nossas coisas já foram colocadas. Deito
Lizzie no centro da cama, beijo sua cabeça e Lira tira a roupa dela, trocando pelo
pijama. Lizzie tem o sono pesado e nunca acorda com barulho ou se mexerem
com ela.

Quando ela termina, vamos para o banheiro da suíte e fazemos sexo quente
na banheira, evitando fazer qualquer ruído que traumatize nossa menina. Me
perco no calor da minha mulher, apertando sua bunda com a mão, os olhos
vidrados um no outro, atingindo o orgasmo juntos.

Essa é a nossa nova vida e a farei ser o melhor possível.

Sei que a Lira tem problemas para conseguir se abrir e com calma a farei
perder todo o medo que a rodeia devido a suas experiências passadas. Minha
vontade é a de colocar um anel em seu dedo e a encher de “eu te amo”, mas por
hora, vou continuar fazendo as coisas com calma, a amando todos os dias e a
deixando confortável. Quando sentir que o momento certo chegou, eu faço o
pedido de casamento.

Temos a vida toda juntos.


Lira

— Ele chega em casa todos os dias as 20 horas em ponto.

Digo a Olivia enquanto mordo um dos biscoitos que ela fez para as
crianças comerem enquanto brincam no seu apartamento. Anotei a receita para
fazer para a Lizzie, não leva açúcar, e a massa é uma delícia. Lorran e Lizzie
comem enquanto pintam na sala. Sentada no banco do balcão na cozinha, eu bebo
outro gole do meu chá.

— E isso é ruim? — ela pergunta franzindo a sobrancelha, me olhando


sobre a xícara.

— Não, é perfeito — suspiro — no início eu achava que era somente papo,


não conseguia confiar. Mas depois de cinco meses com a rotina se repetindo, eu
simplesmente não entendo o motivo de continuar hesitando. Eu vejo nos olhos do
Daniel que ele quer avançar a relação, e se contêm por minha causa, mas eu
também quero — suspiro cansada de mim mesma.

— O que te impede Lira? — ela segura minha mão me fazendo fixar o


olhar no seu.
Encaro os olhos verdes da Olivia tentando achar a resposta dentro de mim
mesma. Os últimos cinco meses tem sido perfeitos, Lizzie tem se adaptado bem
ao Brasil, convive mais com o Lorran e Lorrany, que são ótimos primos, Lorran
assumiu a missão de ensinar a Lizzie a falar português. Então todos os dias eu a
trago aqui das 16 horas às 18 horas para estudar com o primo.

Meu sobrinho é inteligente e paciente, tanto a Lorrany quanto a Lizzie


gostam de aprender com ele. Embora sua irmã canse cedo, e sempre dorme às 17
horas. Minha sobrinha ressoa baixinho no quarto do pai que deve chegar a
qualquer minuto. E antes que o Levi volte do ateliê, eu decido me abrir para
minha cunhada e amiga.

— Ele foi quem mais me incentivou a aceitar a proposta do estúdio para o


programa infantil. Daniel todos os dias me acorda com beijos carinhosos e nunca
vamos dormir sem um sorrir para o outro. Ele vive dizendo que me ama, mas
nunca o “eu te amo” que eu sei que ele quer falar — suspiro — ele respeita o meu
tempo, é um pai extremamente atencioso e às vezes leva a Lizzie com ele para a
empresa, só porque não suporta ficar muito tempo longe da nossa menina.

Minha garganta trava, agora que comecei o turbilhão de emoções explode


como um vulcão.

— Eu sempre busquei por amor e desisti quando fiquei grávida e ele me


rejeitou. — Cutuco as unhas sem coragem de a olhar — aquilo magoou tanto que
achei que a ferida nunca fosse fechar. Mas aí eu conheci o verdadeiro Daniel, o
atencioso e que se estressa sempre que vê muita bagunça, ou quando as pessoas
tentam o enganar, ele é muito cauteloso, e cuidadoso com suas ações. Daniel
sempre pensa duas vezes antes de dizer algo que vai me irritar, ou reclamar sobre
qualquer coisa.

— Você acha ruim que ele tenha cuidado com as palavras? — Pergunta,
acho que ela não consegue me entender.
— Não, eu amo como ele se preocupa comigo e com Lizzie mais do que
qualquer coisa. Mas não consigo ignorar que pode ser tudo mentira, uma fachada
para fazer eu me apaixonar perdidamente e com isso poder me manipular. Ele é
perfeito demais para ser verdade — engulo o choro — e se o conto de fadas
acabar no segundo em que eu for sincera e falar para ele como me sinto?

Olivia me puxa para um abraço reconfortante. Alisa minhas costas com


carinho enquanto me acalmo após minha pequena explosão de sinceridade. Eu
quero poder confiar no amor do Daniel, mas o medo de me machucar novamente,
de descobrir que é tudo uma mentira continua me paralisando e eu não sei o
motivo de agir assim, mas é como eu sou.

— Homens maravilhosos, existe Lira. E você encontrou um que está


disposto a dar a vida para te ver feliz. — Ela me encara — eu também tive medo
quando perdoei o Levi após tudo que passamos, mas se não o tivesse feito, hoje
eu não teria essa vida.

Olha para o filho com amor explodindo.

— Amar é corre riscos, é acreditar na outra pessoa, aceitar que você a quer
em sua vida e principalmente respeito. Você e o Daniel passaram por muita coisa
juntos e separados, mas agora conseguiram a chance pela qual sempre buscaram.
Você tem medo de se machucar, mas já pensou em como é para o Daniel, depois
de tudo que ele passou? Foram 20 anos casado com uma mulher que o
manipulava e traia, e mesmo assim ele está fazendo tudo para ter uma vida ao seu
lado.

— Eu nunca seria capaz de o magoar, principalmente como a ex dele fez.

— Eu sei, mas o que eu quero dizer é: se o Daniel, que é alguém que tinha
tudo para ser reservado e desconfiado com o amor, consegue se abrir sem medo, é
porque ele acredita em você, nos seus sentimentos, e acima de tudo, ele te ama
Lira. Qualquer um pode perceber isso, basta olhar para vocês dois juntos, e eu sei
que você também o ama, ou não estaria sofrendo por não conseguir demonstrar
isso. Sua dor não é por medo, é devido a não conseguir dizer o que sente.

— Eu amo muito ele — confesso, com o corpo gelado por admitir em voz
alta, colocando todos os meus sentimentos nas palavras. — E quero ser corajosa
o suficiente para dizer a verdade — inspiro — quero a vida que ele me promete.
— Um estalo na minha mente me faz perceber o que tenho ignorado — eu já
tenho tudo isso, mas estou presa a uma imagem que eu mesma criei nos meus
medos, não me permitindo viver o que sempre quis.

— Sim! Se sente melhor agora que percebeu que nos últimos cinco meses
você tem vivido o que sempre quis e teve medo de admitir que era real?

— Sim — uma lágrima desce pela minha bochecha — preciso ver o


Daniel.

— Quer deixar a Lizzie aqui hoje?

— Com certeza — peço rindo em meio a lágrimas.

Meu coração finalmente conseguiu encontrar a porta para se libertar do


medo que me paralisava sempre que eu pensava em dizer “eu te amo” ao Daniel.
Não importa mais o futuro e os medos de ser abandonada, pensar nisso está me
fazendo perder o presente em que um homem incrível tem me amado a cada dia
desde que nos reencontramos no aniversário da minha sobrinha.

Em breve será o aniversário de três anos da Lizzie, em abril, próximo mês,


é o da Lorrany, e vamos reunir toda a família. Meu desejo de ser cuidada e amada
foi atendido sem que eu nem mesmo me desse conta. Me levanto eufórica do
banco quando a porta do apartamento abre e meu irmão entra com uma enorme
cara de cansaço. Ele ignora a todos e vai direto para o quarto, encaro a Olivia sem
entender.
— Quando ele chega muito cansado do ateliê, vai direto atrás da Lorrany, a
pega no colo e dorme até ela acordar e o chamar.

— Por isso você a deixa na sua cama?

— Sim, é mais fácil do que o Levi a pegar no berço e levar para o quarto.
Esses dois são idênticos no quesito — faz aspas com os dedos — “estou cansado,
não quero conversa com o mundo”. Daqui a pouco o Lorran termina o desenho e
vai acordar o pai para mostrar.

Encaro meu sobrinho que pinta em cima da mesa com a Lizzie. Lorran é
um artista de primeira linha, com cinco anos faz desenhos de tirar o folego, que
eu nunca conseguiria fazer. Além de já saber ler e falar dois idiomas, às vezes
acho que ele é um mini gênio ou um superdotado.

— Eu vou indo — digo — se a Lizzie chorar muito é só me chamar.

— Ela vai dormir tranquila com o primo — confidencia o que já sabemos,


os dois se dão muito bem. A Lizzie é a única das primas que o Lorran não
implica e divide os docinhos.

— Meu amor — chamo a Lizzie — o que acha de dormir aqui hoje?

— Oba — levanta os braços — vou mimi com o Lorran.

— Não é mimi Lizzie — Lorran a corrige — é dormir.

Eu amo como ele pronuncia as palavras com eloquência o suficiente para


parecer um rapazinho. Aliso a cabeça do Lorran que sorri para mim, a janelinha
dos dentes de leite que perdeu, começam a ser preenchida pelos dentinhos que
estão quase completamente grandes.

— Isso, meu amor — a pego no colo — a mamãe vai para casa e te busca
amanhã de manhã.
— Polde sel de talde? — leva a mão a boca fazendo bico e eu rio da sua
fofura.

— Pode, sim, você pede para sua tia Olivia me ligar, que tal?

— Celto mamãe — aperta meu pescoço em um abraço.

— Vou sentir muita saudade — a encho de beijinhos — tenha uma ótima


noite meu amorzinho.

— Você talbien mamãe — beija minha bochecha — e o papai.

— Dá o beijo do papai na mamãe, em casa eu dou a ele.

Lizzie me dá outro beijo e a encho de beijinhos antes de a deixar com o


Lorran, que saiu com o desenho de um pássaro, para mostrar ao pai. Lizzie o
acompanha rapidinha. Ter meu irmão por perto é maravilhoso, sempre deixamos
os filhos na casa um do outro quando queremos uma noite a sós com nossos
parceiros.

Com o coração pulando no peito, eu desço o elevador. Levi comprou o


prédio ano passado e tem transformado aqui em uma empresa de moda. É onde
ele produz suas artes e seus funcionários trabalham. 20 andares, sendo 1
apartamento do Louis e da Bianca, o outro do Levi e da Olivia. O Ateliê dele que
se divide em três andares, um para cada coisa diferente que ele monta. Um andar
para a equipe de marketing e relações-públicas, um estúdio, e nos outros andares
tem as costureiras que produzem as roupas dos desfiles. As peças vendidas em
larga escala pelo mundo são produzidas pela VITTILENO.

Meus irmãos conseguiram construir seus sonhos ao lado das pessoas que
amam e suas famílias. É a minha vez de ser feliz, agora não me restam mais
dúvidas ou hesitação. Estou pronta para ser completamente realizada e amada
pelo Daniel. Quem sabe termos um segundo filho que ele tanto fala, ia amar ter
um rapazinho parecido com o pai que cuide da irmã como o Lorran da Lorrany,
ou outra menininha para ser a dupla da minha princesa como a Alessa é da
Cecília.

Entro no carro informando ao motorista que devemos ir para a minha casa.


Daniel estava certo quando falou sobre nunca deixar eu ou a Lizzie sem um
segurança, ou dois. A notícia de que estamos juntos e temos uma filha, correu
pelo país como um incêndio, e no último mês muitos paparazzi estão tentando
conseguir uma foto minha e da Lizzie, desde que anunciei que vou ser a diretora
do novo programa infantil.

Em três meses acaba o contrato do antigo diretor e eu assumo, estou cheia


de ideias para o programa. Quero mudar tudo, dar mais vida e acrescentar um
quadro sobre o som dos animais com a Lizzie fazendo imitações. Minha menina
ficou feliz quando perguntei se ela queria participar, minha vida entrou em eixos
que nunca imaginei e agora estou soltando fogos de artifício ao imaginar
finalmente me confessar para o Daniel e ouvir as palavras dele.

Chegamos em casa e entro como um foguete, minha sogra assiste novela


na televisão e sorri para mim. Vejo a governanta ao seu lado, as duas sempre
sentam juntas para ver a novela das 18 horas. Gosto da relação harmônica que
elas têm, minha casa tem cheiro de vida, cores, e muito amor por todos que a
frequentam.

— Sogrinha — chamo me sentando ao seu lado — o que acha de sair com


suas amigas e dormir na casa de uma delas ou na sua casa?

— Oh, sem aviso, tem algo de especial para hoje? — pergunta sentindo
minhas intenções.

— Sim — contenho um pequeno gritinho de animação — estou pronta.

Os olhos dela brilham com a felicidade. Eu amo a minha sogra e a relação


harmônica que construímos juntas. Ela ama a minha filha e ao Daniel, passamos
tempo juntas, mas cada uma respeita o espaço pessoal da outra, e quando eu e o
seu filho queremos a casa só para a gente, ela gentilmente vai passear com as
amigas e dormir fora. A casa dela fica no condomínio, mas não acho ruim sua
proximidade, e adoro como ela é compreensível.

— Finalmente — suspira aliviada — meu filho vai precisar de muito


espaço hoje para comemorar — se levanta — o que acha de irmos beber
Margarida? — pergunta a governanta.

— Uma ótima ideia, deixe os jovens se divertirem por hoje — levanta-se.


— Vou me arrumar.

— Eu também.

Elas saem da sala e eu corro para meu quarto, entro no banheiro tomando
um banho longo. Tenho duas horas até o Daniel chegar, peço comida quando
acabo de me lavar e vou fazer uma maquiagem e escovar os cabelos. Passo
perfume, coloco um vestido sexy e desço de pé descalço. Na sala, me sento no
sofá com a ansiedade me corroendo, a comida chega, arrumo a mesa, duas velas e
um buque de flores que ganhei ontem do Daniel no centro. Ouço o som da porta
abrindo e me apreço indo até ele.

Daniel tem um sorriso quando me vê, não contenho a euforia e pulo no seu
colo. Beijo seus lábios macios com fome, olho no fundo, de seus olhos azuis,
segurando seu queixo e deixo as palavras fluírem.

— Eu te amo — a voz grave me acompanha ao pronunciarmos juntos


nossa confissão.

Ele sorri apaixonado me beijando e caminhando comigo para o sofá.


Nunca pensei que receberia uma confissão ao estar me confessando, nosso time
foi perfeito.
Meu coração que tremia de medo de ser magoado novamente pode
finalmente se abrir e ser preenchido com um amor que transcende.
Daniel

— Eu te amo para cacete — seguro a bunda de Lira batendo seu corpo


contra a parede, a vontade de a devorar consumindo meu ser.

Finalmente, após cinco meses juntos, ela conseguiu se libertar para meu
amor. Nunca tive dúvidas de que esse momento aconteceria, de que seriamos um
só, de corpo e alma.

Nossa convivência é tranquila e apaixonante, não tiramos as mãos um do


outro mesmo após meses morando juntos e vivendo como uma família, o desejo
por ela e por tudo que podemos ter juntos explode como um vulcão no meu peito.

— Eu também te amo, muito — ela responde em meio a um gemido. Meto


a mão na sua calcinha encharcada pela bocetinha em chamas. Puxo para o lado
alisando as dobras molhadas.

Suas pernas escancham na minha cintura, os pés apoiados na minha bunda,


quando Lira começa a puxar meu terno. Mordo seu peito por cima da roupa,
agora que ela parou de amamentar, posso chupar o quanto quiser sem roubar o
alimento da nossa filha. Com a mão livre, desço entre nossos corpos abrindo o
zíper da calça, abaixo a cueca com dificuldade, o suficiente para colocar meu pau
para fora.
— Isso Daniel — ela geme rouca ao sentir meu pau contra sua bocetinha
— mete em mim amor — passa os braços no meu pescoço rebolando o quadril.

Puxo a calcinha para o lado encontrando a entrada que eu tanto queria.


Passei o dia pensando na nossa foda de manhã, e em como fomos interrompidos
pela Lizzie que queria ir para a casa do primo. Finalmente podemos terminar o
que começamos. Seguro forte o quadril de Lira me enfiando na minha casa,
penetrando seu corpo com todo o meu fervor e amor.

— Eu te amo — rosno embebido pela beleza que é a ter para mim.

— Eu te amo demais — ela responde beijando meus lábios. O batom


vermelho como sangue pintando sua boca gostosa a deixando mais atrativa.

Agora que pude finalmente falar que a amo com todas as letras, não quero
mais deixar de repetir as palavras que queimam em meu coração como uma
erupção solar. Eu nunca amei tanto uma mulher como amo a Lira, cada pequena
coisinha dela, o jeito como penteia o cabelo para a esquerda, a fala doce de
manhã cedo, o mau-humor quando acorda com a luz do sol nos olhos.

A forma, como seus olhos reviram quando meto tão forte nela, que minhas
bolas só faltam entrar na sua bocetinha apertada e quente. Ah porra de mulher
perfeita, a minha mulher, meu amor, minha vida, a única que me pertence e a
quem eu entreguei não só meu coração, mas a minha alma, e a promessa de uma
vida regada em amor e felicidade, tudo o que tivemos nos últimos meses.

— Sente meu amor quando te como gostoso? — pergunto, seu quadril


rebolando contra o meu, o peso de seu corpo seguro pelos meus braços. — Como
meu pau reverencia sua boceta.

— Sim, sim, sim — responde em meio a suspiros deliciosos.

— Olha como eu te amo — a puxo da parede. Saio de dentro dela, a


colocando deitada no sofá, fico entre suas pernas e inclino sua cabeça para a
junção dos nossos corpos. — Veja isso, Lira.

Seguro a cabeça do meu pau pressionando sua entrada e enfiando


devagarinho, sendo perfeitamente recebido por ela, por seu amor. Entro com
lentidão fazendo carinho no seu interior macio. Chego ao fundo, fincando uma
conexão intensa entre nossos corpos. Colo a testa na dela focando em seu olho,
unidos em um só.

— Sente o quanto eu te amo? Porra poderia te comer o dia todo enquanto


você goza no meu pau.

— Me fode gostoso amor — pede manhosa, segurando meu quadril —


mete em mim do jeitinho que eu gosto. Me toma como sua — beija meu queixo
fazendo aquela coisa que eu amo no sexo. Lira contrai os músculos internos
deixando ainda mais apertado seu buraquinho.

— Completamente minha — aperto sua nuca entre meus dedos. Desço um


pé apoiando no chão e deito seu corpo por completo, começando a socar nela
com carinho e amor, rápido e forte.

Do jeito que eu sei que ela gosta que eu a ame, da forma como eu amo
amá-la. O amor único que fazemos, dessa vez, sem nenhuma única barreira entre
nós, sem medos, temores ou hesitação. Estamos mais nus e vulneráveis do que
nunca. Completamente entregues.

Sinto um aperto do cacete nas bolas indicando que estou prestes a gozar.
Lira arqueia a coluna e pescoço, contorcendo as unhas enquanto fica muda,
perdida em seu orgasmo que sempre vem silencioso, cortando todos os sons
ensandecidos que ela faz enquanto é tomada pelo prazer. Um longe gemido me
indica que ela terminou de alcançar o ápice e eu derramo nela minha porra.

— Eu te amo — digo mais uma vez, por amor, o som saindo dos meus
lábios para ela.
Me deito ao seu lado, e ela se aconchega no meu peito.

— Eu te amo — ela sopra delicadamente — acabamos pulando o jantar


que preparei.

— Estou muito satisfeito, mas aceito a sobremesa — levo a mão a sua


bunda, tocando seu cuzinho por cima da calcinha. Já tem um tempo que tento
convencê-la a me dar a bunda e Lira fica hesitando, quem sabe agora.

— Você não vai comer o meu cu hoje — ela fala fazendo careta.

— É claro que vou, estamos apaixonados, é isso que apaixonados fazem.

— É? — Levanta-se ficando apoiada no cotovelo — pois eu deixo você


comer o meu cu se eu comer o seu.

— Vai ser com vibrador ou o pau de borracha? — arqueio a sobrancelha,


não a deixando me afetar.

Minha masculinidade não será intimidada por uma simples sugestão dela
comer o meu cu. Sei a quem meu pau pertence, e se chama a boceta da Lira. E a
vontade que o desgraçado tem de lamber o cuzinho rosado que sempre me olha
quando a como de quatro, acaba com ele, precisamos de uma prova, ou sou capaz
de perder as bolas de tanta vontade.

— Você não tem jeito — ri antes de descer o rosto me beijando — só uma


provadinha — ela fala.

— Provadinha é o que eu faço com a minha boca, e você ama quando meto
a língua aqui — círculo o buraquinho com o dedo, o tesão me corroendo
novamente.

— Sim, mas seu pau é enorme, não sei se cabe — franze a sobrancelha e
tampa minha boca antes que eu responda — vamos jantar, sim? Estou faminta por
comida.

— Vamos, depois eu como sua bunda — ela levanta e agarro sua cintura
trazendo seu rosto para mim — mas antes uma provinha.

— Meu Deus, Daniel! — Grita.

— Xiu — empurro seu quadril para baixo a fazendo ficar com as mãos na
mesinha de centro e a bunda empinada na minha cara. — Só uma provinha.

Levanto seu vestido vermelho, sexy. Puxo a calcinha por suas pernas
apreciando a delícia que é sua boceta inchada na minha cara. Estico a língua para
fora da boca provando de suas dobras, meto no seu interior sugando o mel que
sou viciado até o último fio de cabelo no meu corpo. Lira começa a gemer
remexendo o traseiro na minha cara, ela pode negar, mas adora quando a bolino
no cu.

Abro as bandas da sua bunda encontrando meu centro de desejo. Não faço
cerimonia antes de enfiar a língua na dobra enrugada e deliciosa, deslizo para
cima e para baixo, em movimentos circulares. Meu pau ganha vida ficando duro
como uma rocha. Ensandecido de vontade, eu lambuzo meu indicador antes de
enfiar no buraquinho da Lira. Ela geme chorosa, não é a primeira vez que faço
isso, há meses venho acostumando-a para ser comida por trás.

Sento-me mais para trás no sofá e puxo sua bunda, a trazendo para cima de
mim, meu pau servindo de acento para sua bocetinha que pinga. O dedo metido
até o talo no seu rabo. Prendo seu pescoço com uma chave de braço, colando seu
peitoral ao meu, começo a penetrar o dedo com mais agilidade enquanto ela geme
se contorcendo.

— Eu vou foder seu cuzinho. Coloque os pés no sofá e se abre para mim.

Lira não responde, ela apoia as mãos na minha coxa quando faz o que
mandei com o pé. Beijo sua bochecha quase não acreditando que estou prestes a
fazer isso. Agarro sua boceta a puxando para cima. Lira levanta o quadril, retiro o
dedo do seu cuzinho, lambuzo meu pau na sua boceta, fazendo-a me comer duas
vezes antes de tirar para fora.

Posiciono na entrada proibida que será desbravada por mim pela primeira
vez e estremeço com o calor da sua intimidade. Aperto o braço ao redor do
pescoço dela novamente, a imobilizando. A cabeça robusta do meu pau entra
arrombando o buraquinho. Lira grita, mas não tenta sair, se retrai, e deixo que se
acostume ao meu tamanho.

— Desça a bunda sentado no meu pau — ordeno.

Círculo seu clitóris com meu dedão, e outro dedo penetro na sua bocetinha
eufórica por atenção. Lira começa a descer fazendo pequenos sons de
desconforto, quando não aguenta mais ela para no ar. Deixo que leve o seu
tempo, enquanto acaricio sua boceta e controlo meus músculos para não meter
para cima, comendo-a do jeito que preciso avidamente. É muito mais apertado, e
sinto que vou gozar a qualquer segundo.

Quando finalmente ela volta a se sentir confortável e a lubrificação da sua


boceta escorre molhando meu pau, facilitando o deslizado. Lira retorna a descer.
Até sua bunda branca bater nas minhas coxas.

— Porra, é como perder a virgindade de novo — ela reclama.

— Ah, se é — eu digo no seu ouvido — e eu amo ser o seu primeiro. Beijo


a ponta de sua orelha.

Solto seu pescoço e Lira se senta com as mãos apoiadas no meu quadril
antes de começar a subir e descer a bunda. Aprofundo o estímulo no seu clitóris
enquanto aproveito a sensação nova de a possuir dessa forma. Os cabelos louros
batendo no meu rosto com os movimentos, nossos gemidos se misturando em um
único som.
— Goza Daniel, por favor — ela pede, percebo que está chegando ao ápice
do seu prazer, mas não sei se conseguira gozar assim.

Libero meu gozo dentro do seu cuzinho com um gemido rouco. Ela para de
se mexer e sai com calma de cima de mim, deitando-se no sofá. Abro suas pernas
caindo de boca na sua bocetinha. Mal encosto em seu clitóris inchado e ela grita,
gozando na minha cara. Subo beijando seu corpo coberto encontrando seus
lábios.

— Obrigado — digo com um sorriso satisfeito — acho que não posso me


mexer por enquanto.

— Nem eu — confessa baixinho, um sorriso doce nos lábios — nunca


mais você come meu cu.

— Amanhã mesmo voltamos a praticar — a puxo para mim.

Sim, é exatamente essa a vida que eu quero, amor e prazer com a mulher
que amo.

Sinto as forças voltando para o meu corpo e pego Lira no colo a levando
para o nosso quarto. Como ela não recusou quando a prensei na parede mais
cedo, eu já imaginava que a casa estava vazia para nós dois aproveitarmos.
Sempre que queremos privacidade deixamos a Lizzie com os tios e minha mãe
desaparece gentilmente.

Entramos debaixo do chuveiro e a produção que ela fez para a noite desce
pelo ralo, quando a lavo com carinho e paixão. Tem algo que quero muito fazer,
mas que ainda não posso, por achar que não é o momento propício. Lira acabou
de declarar seu amor sem medo, e o próximo passo que quero dar já faz meses,
me parece totalmente oportuno.

Mas ela merece mais, merece romantismo e tudo que ela nunca sonhou que
receberia. A beijo com um sorriso arteiro, a ideia brotando na minha mente como
uma música.

Com certeza vai ser perfeito e a deixará sem folego.


Lira

Eu não conseguia acreditar onde estávamos.

Se passaram dois meses desde que declarei meu amor ao Daniel e em


algumas semanas será o aniversário da Lizzie. Achei muito estranho quando o
Daniel me chamou para uma viagem de última hora ao Rio de Janeiro, mas
aceitei sem pensar muito.

Só que o estranho começou no segundo em que a Lizzie não veio com a


gente, e quando me despedi, minha menina tinha o sorriso espertinho de quem
sabia de algo que eu não tinha conhecimento, minha sogra também. Até mesmo o
Levi, que piscou sugestivamente quando saímos. Mas nunca imaginei que nosso
destino seria ao Cristo Redentor em um momento que ele está em manutenção.

São 16 horas da tarde e não tem outras pessoas aqui além dos encarregados
pela manutenção. Encaro o Daniel sem entender o que está acontecendo. Ele sorri
de orelha a orelha segurando minha cintura.

— Foi difícil conseguir, mas obtive autorização para subirmos até a cabeça
do Cristo Redentor e olhar a cidade pelos olhos dele. Consegue imaginar como
será isso?
— Não pode ser verdade — viro completamente o encarando com a boca
aberta, totalmente incrédula. — Como é possível?

— Eu tenho um amigo que a empresa faz manutenção na estátua, ele me


disse quando aconteceria e o que eu precisaria para poder conseguir autorização.
Acredite ou não, mas o Bispo nos deu permissão para estar aqui.

— De novo, como você conseguiu isso? — pergunto completamente


incrédula.

— Louis me ajudou — dá de ombros como se isso respondesse a muita


coisa — o que importa é que atendemos a todos os requisitos e podemos subir lá.
Vem comigo? — Estende a mão.

Seguro sua palma sentindo a adrenalina corroendo meus poros, de emoção


por saber que iremos subir na cabeça do Cristo Redentor. Sou italiana e católica
de nascença. Nunca fui extremamente fervorosa a igreja e religião, mas acredito
em Deus com uma fé inabalável, e poder estar aqui fazendo isso, é algo que eu
nunca imaginei que teria a honra de realizar.

Com a ajuda de três funcionários que ficam perto a todo o momento, eu


venço o medo subindo as escadas. Na metade do caminho o cansaço me bate e
preciso descansar um pouco. Estamos dentro da estátua, a escada é muito estreita
e frágil. Temos equipamento de segurança e pessoas capacitadas nos
acompanhando. Apesar do perigo que é subir algo assim, eu não consigo sentir
medo.

Estou preenchida pela fé que carrego comigo mesma e pelo amor e


confiança no Daniel. Sei que ele nunca me colocaria em perigo ou deixaria algo
de ruim acontecer comigo. Recupero o folego, bebo água e retornamos a
caminhada. Quando chegamos ao topo, a primeira coisa que vejo são os raios de
sol fracos do crepúsculo.
Através dos olhos da estátua eu vejo a cidade do Rio de Janeiro banhada
pelo crepúsculo. Seguro na estrutura com o coração explodindo em poder
contemplar tamanha imagem. Giro no calcanhar para falar com o Daniel e o
encontro de joelhos segurando uma caixinha de veludo vermelha.

— Ai meu Deus — levo a mão a boca não conseguindo acreditar no que


está acontecendo — Daniel você vai? — perco a fala.

A emoção trava a minha garganta, um raio de luz toca o rosto do Daniel,


iluminando seus olhos azuis brilhantes, pelas lágrimas contidas. O rosto
resplandecendo felicidade e amor.

— Lira Vittileno, eu te amo, você é a pessoa que representa o meu tudo no


meu universo. Ter te encontrado e conseguido superar as adversidades que
apareceram na nossa vida, foi um verdadeiro presente dos céus. Um anjo
mandado somente para mim com cabelos loiros e olhos azuis. Quando penso em
como Deus foi bondoso por me dar você, eu não conseguia deixar de saber que
tinha de contar com a presença dele nesse momento. E eu te trouxe aqui, no lugar
em que mais sinto que somos abençoados e cuidados por ele.

Soluço, suas palavras tocando meu coração como uma pluma.

— Você aceita se casar comigo? — abre a caixinha mostrando anel de ouro


branco com um diamante em formato de coração — aceita que eu faça parte da
sua vida, seja a sua metade, e juntos vivamos sobre a benção e proteção do
Senhor que traçou nossos destinos e nos trouxe até aqui?

— Eu aceito — caio de joelhos apertando forte seu pescoço, explodindo


em uma felicidade inimaginável. Tudo estava indo bem, dando certo e esse
momento é o mais perfeito e raro de todos.

— Eu te amo tanto — ele sussurra no meu ouvido.


— É você, Daniel — seguro seu rosto, falando em meio ao choro de
felicidade — o homem que me foi dado como um presente de Deus, o único por
quem busquei a vida toda, e Deus guardou para aparecer no momento certo.
Podemos ter cometido erros no caminho, mas conseguimos chegar até aqui.
Nada, nem ninguém, será capaz de nos fazer ficar longe.

Beijo seus lábios macios, sentindo os pelos da barba arranhando meu rosto.
Os pelos que eu amo, o rosto que eu amo, os lábios que eu amo, o nariz que eu
amo, a cabeça que eu amo, o corpo que eu amo. O homem que eu amo, e que não
poderia ser outro além dele a dividir o resto da minha vida, vivendo banhada por
amor.

— Deixa eu colocar o anel — ele segura meu dedo anelar colocando a


aliança que desliza perfeitamente. Então noto um segundo anel na caixinha, uma
aliança de ouro branco grossa e masculina.

— E esse eu coloco em você — o pego na mão inserindo no seu dedo.

— Minha noiva — beija meus lábios.

— Meu noivo — o abraço forte, o cheiro sexy mais forte do que nunca.

Ele levanta me levando consigo, me gira nos seus braços me fazendo olhar
a vista da cidade aos nossos pés. Ficamos observando o crepúsculo na cidade
maravilhosa. Eu achava que conhecia a paz, que sabia o que era respirar aliviada,
e sem medo, mas nada se compara ao sentimento no meu peito.

A calmaria e o calor, a certeza e o conforto, o amor e a benção. O Cristo


Redentor tem o poder de nos fazer protegidos e guardados pelo Criador. Sempre
senti isso quando vinha aqui, mas agora é diferente. Eu sinto que a minha vida foi
eternizada nesse momento, pelos céus e pela vontade de Deus.

Que ele apoia a minha união com o Daniel e me dá a única certeza que eu
poderia querer: a que serei feliz eternamente com a minha família e o homem
escolhido pelo Senhor, para ser o meu, felizes para sempre.

Quando as luzes internas na estátua acendem, somos informados que


devemos descer. Com o mesmo cuidado que subimos, descemos, dessa vez,
quando o cansaço me bate, vem junto o sentimento caloroso de ter realizado algo
importante, de que vale a pena a dor nas pernas.

Descemos do Cristo e pegamos o elevador. Só nós dois na cabine, sentados


e colados, meu rosto na curva de seu pescoço. Sua boca contra minha testa.

No final do percurso um carro nos espera e quando o veículo entra em


movimento suave, eu adormeço, cansada pela escalada, realizada pela minha
nova realidade. Acordo com o Daniel me chamando, descemos do veículo e
vamos para o hotel. Noto fotógrafos no lado de fora, que tiram foto da gente. Já
me acostumei com os flashs desde que voltei a participar de uma produção.

Os anúncios do programa que vai ao ar em poucas semanas têm chamado a


atenção por ser uma produção minha, assim como os novos quadros que
prometem um entretenimento para crianças com aprendizado e inovação, algo
nunca visto pela televisão brasileira. Também assinei para dirigir um novo filme
baseado em um projeto de uma editora de livros famosa no Brasil, o que tem
atraído a atenção dos fãs que esperam uma adaptação digna da obra.

Só não esperava que isso fizesse fotógrafos me acharem no Rio de Janeiro,


em uma viagem não anunciada para me flagrarem em momento íntimo com meu
noivo. Aproveito a oportunidade e mostro o anel a câmera, louca para espalhar
que estou noiva do Daniel aos quatro cantos do mundo. Nunca achei ruim a
exposição a mídia, comigo, ela acontece de forma menos intensa que aos atores, e
ajuda positivamente na minha carreira.

Faz meu nome ficar marcado na mente das pessoas sempre que leem uma
nova matéria e assistem a um filme indicado pelo artigo. Sempre vou me orgulhar
das minhas produções e espero conseguir o máximo de divulgação para o
programa, que contará com a participação da minha princesa como a ajudante
mirim de uma das apresentadoras.

Serão quatro no total, duas mulheres e um homem. E três crianças


auxiliando-os, com um estúdio aberto ao público de 20 crianças, mantendo um
pouco do que era antes com a minhas ideias. Sinto um puxão na minha mão e
vejo Daniel me encarando com um olhar divertido, ele sabe que acabei me
perdendo novamente nos pensamentos e eu rio envergonhada.

— Pega no flagra.

— Ao menos hoje, sua workaholic[11] maníaca, me dê toda a sua atenção.

— Você a tem todos os dias — beijo sua mão.

— Depois era eu o workaholic — fica emburrado e acho graça da sua


manha.

— Prometo te compensar pela minha distração — entramos no elevador


que tem mais duas pessoas presente.

— Com certeza você vai — responde me abraçando por trás.

Mantemos a descrição na frente das pessoas, mas quando passamos pela


porta do quarto, Daniel agarra minha bunda me colocando no seu colo,
caminhando para a hidromassagem no banheiro da nossa suíte presidencial.
Tiramos a roupa e entramos aproveitando a vista da janela com vidro, que impede
que nos vejam do lado de fora, mas por dentro vemos tudo que acontece do outro
lado.

Fazemos amor com a vista do Rio de Janeiro, lento e demorado. Depois


descemos para jantar e curtir um pouco da noite agitada na cidade. Terminamos
nosso passeio andando de mãos dadas no calçadão de frente para o mar. A brisa
fria da noite ricocheteando nossos rostos, apesar do cansaço, eu não quero que
esse dia termine nunca.

— E agora, podemos ter nosso segundo filho? — ele pergunta com a boca
contra minha bochecha.

— Não quando estou prestes a iniciar um novo projeto. Não quero


engravidar e passar pelo medo que foi com a Lizzie.

— Aquilo nunca aconteceria, eu te prenderia em casa e arcaria com todo o


escândalo e multas.

— Não é só escândalo e multas — imito seu jeito de falar — mas também


a minha carreira e o meu nome. É meu primeiro projeto no Brasil, quero fazer
direito.

— Um ano, que tal?

— Um ano para o quê?

— Você trabalha no programa com a Lizzie por um ano, vamos nos casar
em breve, e depois de um ano você para de tomar o anticoncepcional e deixamos
acontecer naturalmente a vinda do nosso menino.

— Você tem tanta certeza de que será um garoto — constato — e eu nem


engravidei ainda.

— Mas vai — afirma — e será um menino, igual ao pai.

— Que seja menos teimoso — o olho, brincalhona — mas posso aceitar


sua ideia. Com um ano posso deixar a produção em boas mãos para outro diretor
assumir caso eu não consiga trabalhar e cuidar o suficiente do bebê, como foi
com a Lizzie, eu pauso tudo e me dedico ao meu filhote.

— Viu, até você já aceitou que será um menino.


— 50% de chances para homem, e 50% para menina.

— Podemos tentar mais vezes — ele pausa — é só que eu já vou fazer 44


anos, não quero estar velho demais para cuidar dos nossos filhos. Você ainda está
na flor da idade, mas eu sinto que estou correndo atrás de algo, e não quero
perder absolutamente nada, inclusive meus netos.

— Se a Lizzie tiver filhos aos 30 anos, você será um avô aos 71 anos. Com
certeza ainda estará em forma e com tudo em cima.

— Não tenho dúvidas quanto a isso, minhas netas terão ciúmes do avô
bonitão, e os rapazes vão se aproveitar da minha herança para impressionar as
meninas.

Gargalho com o futuro que ele me faz ver. Daniel tem razão, nossa
diferença de idade indica que enquanto eu estiver vivendo algumas coisas no meu
tempo mais nova, ele estará mais velho, e talvez não possa aproveitar como
deseja os filhos e netos devido à idade.

— Podemos ter mais de um filho com pouca diferença entre um e o outro


antes dos seus 47, o que acha?

— Eu adoro essa ideia, vamos fazer gêmeos. — Segura minha cintura


pausando nossa caminhada — podemos começar agora.

— Bobo, não podemos decidir se serão gêmeos ou não — sorrio beijando


seus lábios apaixonada — mas podemos ter ao menos mais uns três. O que acha?

— Quantos você quiser — responde em um sussurro antes de finalizar o


assunto com muitos beijos.

Quando voltamos para o hotel, fazemos amor mais uma vez antes de
adormecer.
Nossa viagem tinha tudo para acabar de forma perfeita, se não fosse pela
mensagem que o Daniel recebeu no celular no dia seguinte que roubou a cor do
seu rosto e apertou meu coração como um punhal.
Daniel

Tomamos café enquanto verifico as notícias. Lira relaxa no meu colo


mastigando uma torrada, beijo seu ombro. Uma mensagem chega do meu
advogado. Abro e me deparo com uma notícia que não esperava ler.

“Verônica foi solta ontem de manhã, como sabia dos seus planos, resolvi
não informar até você voltar para casa. Contudo, uma ligação da sua mãe foi
feita para a polícia há poucos minutos, informando que a Verônica foi até a
Creche em que a Olivia trabalha, e a Lizzie estava na sala de aula com o primo.
Na portaria, Verônica se passou por parente da Lizzie tentando contatar a
criança. Olivia tomou uma atitude rápida, não permitindo a entrada e ligou para
a sua mãe, que chamou a polícia no mesmo instante, pedindo que não
permitissem o contato da mulher com a criança. Estou indo para a creche nesse
momento, por isso não te liguei. Quando ver a mensagem me ligue, se eu não
atender, espere.”

— Precisamos ir para casa agora — digo me levantando com ela no colo


— como essa desgraçada descobriu sobre a Lizzie e onde ela estava?

A raiva borbulha como larva escaldante no meu interior. Eu tinha medo de


que a Verônica fosse solta e viesse atrás da minha família. Contratei seguranças
para ficarem a vista e à paisana. Mas a desgraçada ainda conseguiu uma forma de
se aproximar. Se a Lizzie estivesse saindo da creche ou entrando, ela poderia ter
feito algo com a minha filha. Soco a mesa estremecendo os talheres em cima
dela.

Viro o rosto encontrando a Lira com os olhos arregalados e cheios de


medo, minha leoa selvagem mudou muito desde a primeira vez em que a vi. A
gravidez e o risco que correu, abalou sua confiança e a fez ficar mais temerosa.
Aprendi a lidar com a sua nova versão, mas o que preciso agora é da leoa
selvagem que me deixou sem gozar, da atrevida que falava o que queria na minha
cara e colocava a todos aos seus pés. Não temos mais tempo para sermos
covardes ou hesitar.

— Lira — seguro seus ombros a fazendo me olhar, atônita. — Você


entende o que está acontecendo?

— Eu vou matar essa mulher — responde indiferente. Estranho sua atitude,


dou um passo para trás a observando e então percebo que eu estava errado.

Lira não tem medo, ela está com tanto ódio que paralisou no canto. A
ponta de seus dedos treme, com a vontade de poder fazer algo contra a Verônica.
Nunca a vi dessa forma, com o olhar perdido e o corpo paralisado. Seguro seu
rosto fazendo nossos olhares se encontrarem.

— Eu faço isso, você não pode sujar suas mãos — seguro as mãos dela —
elas não merecem ser manchadas de sangue.

— O que você vai fazer? — Começa a relaxar os músculos tensos.

— Não tenho outra opção, Verônica já provou diversas vezes que não é
confiável e quer me destruir. Chegar perto da Lizzie foi a gota final, não vou
deixar essa mulher ter a mera chance de machucar a nossa filha ou a você —
aliso sua bochecha — vamos voltar para casa, vou deixar vocês duas seguras e
fazer o que é preciso.

— Você consegue lidar com o peso da morte de alguém?

— Eu consigo, sabendo que fiz isso para manter as duas pessoas mais
importantes para mim seguras. Não é justo que a Verônica possa fazer as
maldades dela e continue se safando, ela vai usar novamente a desculpa da
loucura, não vou arriscar vivermos nossas vidas com medo, temendo que a
qualquer momento ela apareça novamente.

— A vadia saiu ontem do hospital e já foi atrás da Lizzie, como ela


descobriu onde ela estava?

— Não sei, mas vamos descobrir.

Puxo a mão dela pegando nossas malas, guardamos as coisas rapidamente,


faço o check-out na recepção enquanto o carro vem nos buscar. Entramos e
vamos direto para o aeroporto. Tento falar com meu advogado, ou minha mãe,
mas não consigo, a linha fica dando ocupada e quando embarcamos no jatinho
tenho de desligar o telefone.

— Conseguiu falar com a Olivia ou seu irmão?

— Não — ela desliga o celular me encarando séria — o Levi deveria ter


entrado em contato, talvez ele ainda não saiba que isso aconteceu.

— Ou nada de ruim aconteceu para eles acharem que deveriam incomodar


a nossa viagem — penso nas possibilidades — todos sabiam que eu iria te pedir
em casamento e passaríamos a semana no Rio de Janeiro comemorando nossa
união.

— Eu mato meu irmão se ele pensar que uma maluca indo atrás da minha
filha não deve ser comunicado no mesmo instante — aperta os punhos.
— A Lizzie não se machucou, essa certeza eu tenho ou nossos celulares
teriam tocado feito, loucos.

— Espero — morde os lábios — céus, desde a minha gravidez, não sinto


uma aflição tão grande quanto essa.

— Vamos resolver — beijo a dobra de seus dedos.

— Sim, faça essa vadia desaparecer — o olhar afiado e sem hesitação.

Lembro que o irmão dela fez o mesmo, usando da ajuda da máfia italiana
para proteger a família dele. Não preciso de ajuda externa da máfia, sou capaz de
resolver isso com os meus contatos. Crescer na periferia me deu vantagens que
poucas pessoas conhecem. Nem todo o dinheiro que usei fundando a minha
empresa era limpo.

Vou precisar pousar e fazer o contato pessoalmente para limpar qualquer


rastro eletrônico. Só preciso que eles façam a Verônica sumir sem deixar rastros,
eu mesmo vou matar aquela desgraçada, apertar seu pescoço como uma galinha,
só vou parar quando escutar o estralo. Essa desgraçada já fodeu comigo de várias
formas e me roubou dois anos da vida da minha filha, nunca mais vou permitir
que ela me cause a sombra de um arrepio.

Poucas horas depois estamos pousando no aeroporto de São Paulo. Ligo o


celular assim que descemos e entramos no carro dirigido por meu segurança. O
homem me olha preocupado, faço um sinal indicando que pode começar a falar.

— A Verônica foi solta ontem e hoje presa novamente na frente da creche,


ao tentar contato com a Lizzie. A polícia foi rápida e discreta na ação, Lizzie não
faz ideia de que isso aconteceu, sua mãe está com ela em casa. O senhor Levi
também ficou na sua residência fazendo a proteção da sobrinha, mesmo com os
seguranças rondando a casa e a Verônica presa.

— O que ela queria? — Lira pergunta.


— Sua instabilidade mental está sendo um problema para descobrir os
planos da mulher. Ela fica murmurando que a Lizzie é filha dela e só foi buscar a
menina. Apesar do teatro tentando se passar de louca, a polícia está atenta a uma
possível enganação, já que a mulher conseguiu a informação e foi parar na creche
um dia após sair do hospital.

Um grito escapa dos lábios de Lira, ela leva a mão a boca. Não consigo
acreditar que a desgraçada está falando que a Lizzie é dela. Isso não faz sentido,
ela nunca quis ter filhos, me fez acreditar que eu era estéril por anos. As
autoridades podem a taxar de louca, mas eu sei a mente diabólica que existe
debaixo da fachada, do rosto bonito e das palavras desconexas.

Nunca mais serei enganado por essa vadia.

— Vamos direto para casa, quero ver a Lizzie e depois para a delegacia.

— Sim senhor.

O caminho é feito com velocidade. Lira se mantem apreensiva enquanto


aliso seus cabelos tentando dissipar o medo dela e acalmar o ódio. Sou capaz de
matar a Verônica na frente da delegacia. Pego meu celular e mando uma
mensagem para o número que sei de cabeça “preciso te ver” sei onde ele vai
aparecer e quando.

Chegamos em casa e minha mulher corre para segurar nossa filha no colo.
Lizzie ri ao nos ver sabendo que eu ia pedir a mãe em casamento. Beijo seus
cabelos e inspiro seu cheiro de bebê, aliviado por ela não ter se machucado ou
presenciado alguma cena marcante. Minha mãe me encara preocupada, seus
olhos não mentem: ela sabe quem vou encontrar e o que irei fazer, ele deve
manter mais contato com ela do que comigo. Levi toca meu ombro pedindo para
falar, deixo minha mulher e filha na sala e o sigo para meu escritório.
— Essa mulher não pode continuar a solta — fala firme — entrei em
contato com o Louis e ele disse que pode nos ajudar, como da outra vez — fala
sugestivo. — Ela estava na creche da minha esposa, perto dos nossos filhos, não
existe justiça que a mantenha presa por causa disso, principalmente com a
alegação dela de doença mental.

Recebo uma mensagem do meu contato “a caminho”. Encaro o Levi, ele


não precisa saber dos meus planos. Somente a Lira, quanto menos pessoas
tiverem ciência, menores são as chances de eu ser descoberto.

— Eu vou resolver isso, fique aqui e cuide delas, preciso ir — aperto sua
mão. Apesar de não falar, ele entende o que eu peço.

Vou até as minhas meninas e beijo novamente a cabeça da Lizzie, ela


agarra meu rosto me enchendo de beijinhos.

— Tudo celto?

— Sim, a mamãe aceitou — beijo seu pescoço e a ponho no chão — olha


como a aliança é linda — aponto o dedo da Lira.

— Uau, quelo uma, papai — pede com os olhos brilhando.

— Mais tarde compramos a sua. — Beijo os lábios da Lira — preciso ir.

— Toma cuidado — pede baixinho.

— Vocês também — beijo sua testa e da minha menina saindo.

Entro no carro e instruo o segurança para onde iremos. Não vou à


delegacia, meu advogado vai cuidar da situação naquele lugar, se eu vir a
Verônica agora, sou capaz de a enforcar por se aproximar da minha família
novamente. Sigo até o local que sei que sempre poderei encontrá-lo, já se passou
anos desde a última vez que nos vimos e agora vou aceitar a oferta que ele me fez
quando a Verônica e meu ex-sócio me apunhalaram.

Uma mensagem chega no celular, do meu advogado.

“O advogado da Verônica chegou. Ela foi considerada instável


novamente, mas como não fez nada com a Lizzie ou qualquer outra criança, saiu
sem uma investigação ser aberta, somente um alerta de que ela deve procurar
tratamento e ficar longe de vocês. Estou indo para o Ministério Publico abrir um
processo, vou solicitar ao juiz uma ordem de restrição para vocês três. Por hora,
Verônica foi solta e não sei do seu paradeiro.”

Aperto o celular com ódio, sabia que isso aconteceria. A maldita cobra
nunca paga pelos crimes que comete. Ela não é instável, mas a porra de uma
psicopata que engana a qualquer um. Inclusive a mim, meus dias sendo feito de
palhaço terminaram quando vi quem ela realmente era. A desgraçada vai receber
de uma vez a conta, por mexer comigo.

Já é noite quando estaciono na frente da minha antiga casa na periferia.


Desço deixando meu segurança no carro, destravo o portão e entro. Nos fundos,
uma passagem no muro que usava quando era criança ligando minha residência
ao do vizinho, passo por ela com dificuldade, ganhar músculos e ter crescido
dificulta usar a passagem de uma criança.

Na antiga casa eu vejo a figura sombria me esperando contra a porta da


cozinha. Ele entra e o sigo. Longe de olhares que poderiam nos foder se
descobrissem o nosso envolvimento. Uma luz acende e revejo o rosto que não via
há mais de quatro anos.

— Oi — ele fala — finalmente decidiu aceitar a minha proposta?

— Sim, a traga a mim, quero matar ela com minhas próprias mãos.
— Imaginei que pediria isso — me entrega um celular descartável — vou
te mandar a localização de onde a deixarei para você. Quando acabar o serviço
avise que descarto o corpo, nunca mais saberão dela.

— Obrigado — aperto sua mão — como você tem estado?

É uma pergunta formal, eu sei tudo da vida dele, acompanho de perto todas
as suas façanhas, como sei que ele tem feito comigo.

— Bem, os negócios se expandindo como nunca — sorri de lado —


parabéns pelo noivado.

— Mande lembranças a sua esposa — solto sua mão — queria poder te


encontrar mais, sem ser dessa forma, mas não posso envolver a VITTILENO nos
seus esquemas.

— Eu sei, o italiano conseguiu um bom parceiro. Os contatos dele são


ótimos também, iria me sentir ofendido se procurasse a eles ao invés de mim.

— Sabe que eu nunca faria isso.

— Sim, até mais, irmão.

— Até irmão.

O abraço, faz anos que não nos vemos ou podemos ter contato. Com um
tapinha nas costas vou embora, passando pelo mesmo lugar e entrando no carro.
Só preciso esperar seu retorno. Ele nunca falhou ou foi pego, não tenho dúvidas
de que irá ter sucesso dessa vez.

Retorno para casa, e minha esposa dorme com a Lizzie na cama. Converso
um pouco com o Levi e depois ele vai embora. Pego o uísque e um copo, me
sento no terraço observando o céu escuro, pronto para dar um fim nessa história.
No meu terceiro copo sinto a presença da minha noiva, ela contorna a cadeira e se
senta no meu colo, com a mão no meu pescoço, seus olhos pedem respostas.

— Quem você foi encontrar e o que combinaram?

— Tem algo sobre mim que você não sabe.

— Pode me contar?

— Claro — deito sua cabeça no meu peito, inspirando seu aroma de flores
— eu tenho um irmão.

— Como? — ergue o rosto — eu achava que você era filho único.

— Para todos os efeitos, meu irmão morreu quando tinha 17 anos.


Ninguém, além da minha mãe, sabe que ele está vivo ou da nossa ligação, ele é
mais velho, agora deve ter uns 50 anos.

— E por que ele se fingiu de morto?

— O Leandro se envolveu cedo com o tráfico de drogas, na época minha


mãe ficou apavorada, mas o desgraçado levava jeito para a coisa. Aos 17 anos ele
sofreu um ataque de uma facção rival e ficou entre a vida e a morte, o líder da
facção dele tinha apresso pelo Leandro e forjou a sua morte, queria criar um
fantasma. Meu irmão sumiu por anos, quando eu terminei a faculdade ele
apareceu novamente, me dando dinheiro para eu investir na minha empresa.
Leandro subiu tanto na hierarquia da facção que ele já comandava vários
territórios e era procurado pela PRF, expandiu sua influência criminosa para
outros países.

— Minha nossa — dizer que a Lira ficou surpresa é um eufemismo — a


polícia sabe que vocês são irmãos?
— Não, ele atua com outro nome na facção, ou como agora é chamada,
organização criminosa. Se encontra com a nossa mãe em segredo em ocasiões
explorativas, comigo só quando realmente preciso dele, como agora. Quando a
Verônica e meu socio me deram o golpe, ele apareceu me oferecendo matar
ambos, mas neguei, ainda estava processando tudo que aconteceu. Mas depois de
hoje, entrei em contato com ele, Leandro vai trazer a Verônica para mim, vou
encerrar de uma vez esse assunto.

— Não tem risco de te descobrirem?

— Não, Leandro é cuidadoso, como o líder da maior organização


criminosa do país, ele não se expõem ao perigo de ser preso ou deixa rastros.
Será tudo silencioso e rápido.

— Seu irmão é um criminoso, mas você fala dele com orgulho e amor, não
sente raiva pelas coisas ruins que ele deve ter feito?

— Elas não me afetam, para mim ele sempre será meu irmão mais velho
que cuidou da família, mesmo a distância e em segredo — bebo meu uísque —
não procuro saber os crimes do Leandro, me mantenho longe e sem vínculos. E
agora vou usá-lo para pôr um fim em um demônio.

— Certo — ela deita a cabeça novamente no meu peito — é muito para


assimilar, mas meu irmão tem ligação com a máfia italiana, então posso aceitar
mais fácil seu irmão. Vou conhecer ele um dia?

— Não — respondo limpo e seco.

— Certo — beija meu peito — vamos dormir.

Lira me leva pela mão e pelo resto da noite esqueço os problemas.

Demora três dias para eu receber uma mensagem com um endereço. Parto
após me despedir, preciso ser rápido e cuidadoso. Lira e minha mãe serão meu
álibi, para todos estou em casa doente com a minha família, mas somente elas
sabem que fui encontrar os homens do Leandro em um galpão há mais de 10
quilômetros da cidade, abandonado em um ferro-velho. Entro na estrutura vendo
cinco homens dele e a Verônica amarrada na cadeira, sento-me de frente para ela.

— O que você queria com a minha filha? — pergunto, a desgraçada ri.

Os cabelos ruivos emaranhados ao redor do rosto, os olhos verdes letais na


minha direção, as mãos amarradas atrás do corpo que veste um vestido vermelho.
A sombra da mulher linda que foi um dia, mas a encarnação do demônio que me
assombra.

— Você não pode ter filhos, eu garanti isso. Fui só dar um fim na menina
— estico a mão acertando seu rosto com tanta força que a cadeira cai no chão —
finalmente está mostrando seu lado verdadeiro? — pergunta cuspindo sangue no
chão. — Você era a minha marionete, mas eu nunca disse que te permitiria
brincar com outra dona.

— Já chega das suas merdas.

— Sabia que é fácil descobrir tudo da vida dos Vittileno? É só pesquisar na


internet — puxo seu cabelo a fazendo ficar sentada novamente — se não fosse o
maldito porteiro eu teria pegado aquela coisinha feia. Eu não te dei permissão
para ter outra! — grita.

— Eu deveria ter te matado antes — fico em pé — não cometerei o mesmo


erro duas vezes.

Aperto seu pescoço encarando os olhos que eu odeio e que me trouxeram


desgraça, manipulação e dor. Ela esganiça, tenta se mexer, mas não consegue
fazer nada enquanto aperto cada vez mais seu pescoço fino, o rosto fica
vermelho, os olhos quase saltando para fora da órbita. Um estralo e a vida em
seus olhos desaparece. Não sinto nada além de alívio por saber que ela nunca
mais tocara em que eu amo ou armara contra mim.

Saio do galpão com um sentimento sombrio no peito.

Em casa vou direto para o banho, não posso tocar minhas meninas com as
mãos de um assassino. Tomo uma ducha demorada, enrolo a toalha na cintura e
saio do banheiro, na minha cama, vejo os cabelos louros brilhando com a luz do
sol. Minha noiva e minha filha me esperam com um sorriso tranquilo. Ela sabe o
que fiz e ainda me ama.

Caminho até elas, me deito ao seu lado. Lizzie sobe no meu peito e beija
minha bochecha antes de adormecer tranquila. Lira se aproxima beijando a ponta
do meu nariz e sorri, me dando a paz que perdi. Eu não matei alguém hoje, eu
impedi que a minha família fosse machucada. A puxo para perto, com minhas
duas vidas me dando calor, eu deixo a escuridão ir embora, sendo espantada pelo
raio de luz delas.
Lira

— Corta! — grito para o set de filmagens.

O primeiro episódio ao vivo de “Brincando de ser criança” foi ao ar, e


conseguimos a máxima de audiência para um programa infantil. Por
coincidência, hoje é o dia do aniversário da Lizzie, que sorri alegre ao lado dos
colegas de filmagem. Minha menina se saiu perfeita, uma apresentadora nata, e
consigo visualizar o seu futuro na frente das câmeras.

Uma atriz de grande nome e sucesso. Vou garantir de participar de todas as


suas atuações, não me importo que me chamem de mãe coruja, nesse segundo,
meu coração explode de felicidade pelo meu projeto e minha menina que faz 3
anos, sorrindo e pulando chamando as outras crianças para irem à festa dela hoje.

— Parabéns — reconheço a voz grave atrás de mim, levanto da cadeira


virando e encontrando meu pai com um enorme buque nos braços.

— Pai! Como o senhor entrou aqui? — vou para seus braços recebendo um
abraço caloroso.

— Ora! Após anos fazendo comerciais nessa emissora e sendo um


patrocinador ativo de muitos programas, eu sou VIP para entrar e sair quando
quiser. — Dou risada do seu jeito de falar.

— Com certeza.

— Estou orgulhoso de você — me entrega as flores — mas agora quero


levar minha netinha para almoçar e comemorar o aniversário dela, vamos?

— Se você conseguir roubar a atenção da Lizzie — aponto com a cabeça


para a rodinha com quem ela interage — ela vai ser uma estrela.

— Com certeza, Lizzie Vittileno Albuquerque, a maior atriz italiana


vivendo no Brasil e roubando holofotes.

— Foi bom eu ter registrado a Lizzie com o sobrenome do Daniel, facilitou


a paternidade dele ser reconhecida nos documentos dela.

— É verdade — beija minha testa — agora vou pegar a minha fofura.

Ele vai na direção da Lizzie, que ao ver o avô grita feliz se jogando nos
braços dele. Meu pai e o Marcelo, pai da Olivia e Bianca, tem passado bastante
tempo juntos e agora que conheceram minha sogra e o grupo viajante delas, os
solteirões estão com a corda toda, se divertindo em grupo. Sorrio feliz por poder
aproveitar tamanha felicidade e realização.

Já faz um mês que o caso com a Verônica aconteceu, ela foi dada como
desaparecida, Daniel foi interrogado, mas com o álibi que forneci, não existem
suspeitas sobre ele. Sei que, o que o meu noivo fez, foi algo extremamente
pesado, e que às vezes ele acorda com pesadelos lembrando de quando matou a
Verônica. Mas foi o necessário, a justiça não agiria rápido o suficiente a
trancando em uma prisão sem que ela cometesse um crime grave.

Aquela mulher poderia ter machucado a mim, Lizzie ou ao Daniel. Posso


não ser vidente, mas não estava disposta a arriscar um futuro feliz por uma
desgraça acontecendo em nossas vidas. Quando ele precisa, falamos sobre o que
aconteceu e o conforto com todo o meu amor e luz. Nossos dias são tranquilos e
cheios de amor, o que ajuda a amenizar o impacto causado pela vadia.

Hoje é o primeiro aniversário do Daniel com a Lizzie e o homem está uma


pilha de felicidade, se ele pudesse, teria ficado no set com a gente. Mas devido a
uma carga roubada da VITTILENO, ele precisou ficar na empresa resolvendo os
problemas. A noite estaremos juntos no salão de festas e em uma semana
subiremos ao altar para selar a nossa união como marido e mulher. Não queremos
mais esperar nem um segundo.

Finalizo minhas atividades enquanto meu pai conversa animadamente com


a diretora de imagem. Percebo o clima quente entre os dois a quilômetros de
distância. Ele pode nunca ter amado novamente ou casado, mas o safado com
certeza se diverte por aí. Pego a Lizzie no colo que se despede com uma coroa na
cabeça com as palavras “aniversariante” e meu pai traz a Fefinha. Foi
inegociável, ou trazia a girafa de pelúcia, ou a Lizzie não gravava.

Ela é tão obstinada, me pergunto a quem puxou o temperamento mandão.


Se bem que o pai dela não fica atrás nesse quesito. Uma vez Daniel disse que a
Lizzie puxou a língua atrevida que eu tinha quando nos conhecemos, nessa
conversa, ele apontou que eu estava diferente. Mas eu não mudei me retraindo ou
escondendo minha personalidade, eu evoluí.

Percebi que não podia continuar arisca e uma safada querendo sexo,
atrevida, fazendo tudo o que eu queria. Eu tinha uma filha que precisava de
cuidados, minhas prioridades mudaram e afetaram meu comportamento, mas
continuo sendo a mesma leoa.

Chegamos em casa onde os gritos são ouvidos assim que desço do carro.
Beatrice vem feliz pegar a afilhada no colo, Lizzie não contém a felicidade ao
abraçar a dinda dela, por trás da Beatrice eu vejo o Dante segurando a mão da sua
sobrinha. Sabia que ele ia trazê-la, mas não lembrava como a menina era linda.
— Como foi a viagem? — pergunto os abraçando.

— Perfeita — Beatrice responde.

— Oi boneca — cumprimento a menina que me abraça feliz.

— Oi, tia Lira, como você está? — ela tem 9 anos e em breve fará 10.

— Muito bem, e seus pais?

— Saíram em outra lua de mel.

— Ah, eu preciso disso — brinco, arrancando risada delas.

— A Lizzie fica com a gente — Dante fala pegando minha pequena no


colo e a jogando para cima — estou com saudades da minha pimentinha.

— Sí! — Ela responde alegre.

Entramos em casa rindo, quando vejo uma coisa inacreditável. Daniel tem
o rosto pintado de girafa e o chapéu de uma. Lizzie grita ao ver o pai e corre para
ele que a coloca em cima dos ombros e começam a correr pela casa.

— Ele fez um cavalinho versão girafa? — Beatrice pergunta.

— Parece que sim — respondo rindo da cena.

— Bom dia família! — viro de costas vendo meu irmão entrando.

Louis ostenta um sorriso ao lado da Bianca e suas filhas que correm atrás
da Lizzie com presentes na mão. Abraço o Louis e a Bianca.

— Que saudade — digo.

— Se você não vai a Itália, trazemos ela a você — Louis responde me


beijando no rosto.
— Você está ainda mais linda — Bianca fala me abraçando forte — minha
irmã já chegou?

— Acabei de chegar do estúdio, ainda não tenho certeza de quantos


convidados temos.

— Estou bem aqui — reconheço a voz da Olivia. Viro de costas a vendo


com o rosto pintado com uma onça.

— Quem está pintando vocês? — pergunto.

— O Levi — ela responde — ele agora está fazendo uma rosa no rosto da
Lorrany e depois uma girafa na Lizzie, ela disse que queria parecer com o pai.
Rio imaginando a cena, minha menina com certeza ficará linda.

— Vou fazer o mesmo.

Procuro pelo meu irmão que está no jardim debaixo da tenda, uma fila de
crianças esperando atrás dele enquanto os funcionários preparam a mesa da festa
e a decoração do zoológico. Lorran tem um pincel na mão ajudando o Levi nas
pinturas. Fico atrás das minhas sobrinhas que formam um exército. Quando ele
pinta a todas, me sento a sua frente.

— O que vai querer?

— Uma girafa, igual à da Lizzie e do Daniel.

— A família girafa — Lorran fala pegando o pincel — posso fazer, pai?

— Claro, faça os traços que te ajudo.

Com paciência, o Lorran pinta meu rosto, quando termina, percebo os


adultos atrás de mim querendo se pintarem. Dou risada da minha sogra que
manda fazer uma lula agarrando o rosto dela, meu pai entra na brincadeira
pedindo um peixe mordendo seu nariz. Bianca faz uma gatinha, e Louis um
cachorro. Dante um cisne e Beatrice um pássaro, a sobrinha dele pede por três
abelhas.

Quando termina de pintar a todos, Lorran vira de frente para o pai e


começa a desenhar uma zebra no rosto do meu irmão. Deixo-os, e vou atrás da
minha pequena, que brinca com o pai perto da mesa do bolo, admirando a arte
dos animais do zoológico que decora seu bolo. Nossa lua de mel terá uma parada
de uma semana na savana africana, para o Daniel levar a Lizzie. De lá voltamos
para a Itália e a deixamos com os padrinhos, depois vamos viajar somente nós
dois.

Nos planos do Daniel vou voltar grávida do nosso próximo menino. Eu


disse a ele que só pararia com a pílula no final do ano, mas a felicidade que eu
tenho por ter uma família, tantos sorrisos e pessoas que eu amo, os gritos de
crianças preenchendo a casa tem aquecido meu coração e a vontade de aumentar
a nossa pequena creche. Parei de tomar o anticoncepcional já tem dois dias, daqui
a um tempo deve perder completamente o efeito, como minha ginecologista
disse.

A hora passa voando, e quando percebo já estamos prontos para cantar os


parabéns com a casa cheia de convidados e pessoas que amam a minha menina.

Do estúdio algumas crianças que ela chamou compareceram, chegaram um


pouco tímidas por não conhecerem bem a Lizzie, mas em poucos segundos
estavam brincando e rindo com os rostos pintados.

Daniel segura a Lizzie no colo, e fico ao lado deles, atrás da mesa do bolo,
encaro minha família, amigos e familiares com o peito explodindo de alegria. Um
coro em italiano começa cantando parabéns para a Lizzie que bate palmas rindo
sapeca. Daniel tem os olhos marejados, é a primeira vez que ele pode parabenizar
a filha e comemorar com ela, seus braços a apertam forte contra si, ele a encara
com amor transbordando por sua íris azul.
Beija a bochecha da Lizzie.

— Parabéns, minha princesa, eu te amo muito.

— Obligada papai — ela aperta o pescoço dele beijando seu nariz — te


amo de montão.

— Assopra as velinhas, meu amor — digo a ela — mas não esqueça de


fazer um pedido.

— Celto — Daniel segura sua barriga para que ela possa se inclinar e
assoprar — quelo um ilmazinho.

— Viu Lira, até a Lizzie quer isso — ele me provoca — vamos atender ao
pedido dela.

— Você não tem jeito — bato na sua bunda.

As palmas atingem o seu ápice e acabam. Tiramos muitas fotos em família


com a Lizzie, e depois a liberamos para brincar com as crianças. Daniel rodeia
minha cintura balançando nossos corpos em um ritmo lento.

— Promete que todos os aniversários serão assim? — ele pede baixinho.

— Até ela completar trinta anos e querer comemorar em um barzinho com


as amigas — o provoco.

Daniel ri, rouco, baixinho, desliza o nariz na minha bochecha me trazendo


para mais perto. Uma bolha de amor ao nosso redor. Calorosa, protetiva e repleta
de felicidade, com promessas de uma vida plena, juntos, com a família pela qual
lutamos para ter. Aliso sua nuca lentamente, embalando nossos corpos na dança
com música infantil ao fundo.

— Ela me deixando beijar sua bochecha e dizer o quanto a amo, é tudo o


que preciso — ele fala — pode ser no início do dia ou no final, quando ela chegar
com os sapatos na mão e trocando os pés ao chegar em casa bêbada.

— Não esqueça do possível namorado a carregando.

— Eu o ponho para correr em dois tempos, Lizzie não precisa de outro


homem, já tem a mim para ser feliz.

— Seu bobo — bato em seu peito — sabe que ela vai encontrar um amor
igual ao nosso ou mais forte — suspiro — nossa menina pode viver várias dores
de uma vez ou se apaixonar uma única vez. Mas ela vai amar e ser feliz, pois
vamos garantir isso.

— Sim, se ela conhecer alguém que a machuque, eu acabo com o


desgraçado, e o irmão dela me ajuda — arqueia a sobrancelha — imagina, uma
cópia minha, ciumenta, mantendo os abrutes longe da Lizzie.

— Você vai ficar muito decepcionado se tivermos uma menina.

— Nunca! — fala convicto — vai ser outra princesa para eu proteger, nem
que precise defender o castelo sozinho.

— Vamos tentar conseguir uma escolta te ajudando — entro na brincadeira


— mas prometa ser bonzinho com eles.

— Prometo ser justo — ele ri — vamos mudar de assunto antes que eu


tenha um infarto imaginando quando a Lizzie vai ter um namorado.

Vejo um vulto louro pelo canto do olho, fico de ponta de pé olhando sobre
o ombro do Daniel e dou risada.

— Acho que você não precisa se preocupar — aponto com a testa, ele olha
por cima do ombro e ri orgulhoso.

— Ele nunca me decepciona.


— Lorran pode ser seu escoteiro sem problemas — constato.

Ao longe, um pouco afastado de todos, eu vejo a Lizzie dançando com um


coleguinha do set de filmagens. O que ela não percebe, é o Lorran correndo na
direção deles. Meu sobrinho chega e interrompe à dança, fala alguma coisa que
faz a Lizzie rir, e o menino ficar com vergonha, e puxa a mão da prima a levando
de volta as irmãs dele. Agora que percebi, todas as meninas foram reunidas em
uma roda e o Lorran mantem os rapazes longe como um gavião.

Eles são só crianças, mas uma imagem se forma na minha mente de todos,
adultos, e do Lorrran saindo com as primas e irmã para manter os rapazes longe
delas. Não sei o que o Levi deve ensinar escondido ao menino, mas com certeza
funciona. Flagro meus irmãos encarando o Lorran com orgulho, Louis faz um
joinha com a mão, e o Levi um ok. Encaro o Daniel de canto de olho, percebendo
o sorriso satisfeito em seu rosto.

Rio achando graça de como os três marmanjos treinaram o único herdeiro


homem para proteger as meninas de ameaças masculinas. Tenho pena das garotas
quando outro menino vier, elas nunca vão ter paz.

— Você participou disso — afirmo.

— Não sei do que está falando — ele diz me encarando com um sorriso
arteiro.

— Com certeza sabe, não esqueça que as mulheres da família são famosas
por colocarem os homens na linha.

— Eu me lembro bem disso — segura minha bunda me puxando para um


beijo quente. — Vou me casar com a mais felina.

Sim, e eu com o amor da minha vida, protetor e cuidadoso. Tudo o que eu


sempre pedi e nunca achei que teria, está agora nos meus braços, me embalando
em uma música. Rezo para que todos os aniversários sejam assim.
Lira

Giro na frente do espelho observando meu vestido de noiva. Usei o que a


minha mãe casou e mandei fazer alterações. Levi mais do que aceitou em ser
meu estilista, foi preciso mais tempo do que imaginei para o modelo ficar pronto,
com as lágrimas do meu irmão. Nem imagino como será quando as filhas dele se
casarem, ou ele tem um infarto, ou se desmancha tanto em lágrimas que vai
alagar a cidade.

Um decote em coração, as mangas bufantes foram reduzidas para mangas


de renda com pedrinhas de diamantes do ombro ao punho. As costas abertas em
um lindo decote que termina na base da minha coluna. A calda sereia com a
renda por cima em detalhes de flores que se juntam e desabrocham com os
diamantes contornando as pétalas.

Na cintura uma extensão do tecido formando uma calda de três metros que
arrasta quando ando, achei mais moderno essa forma de véu, do que colocar na
minha cabeça. Uma tiara com pedrinhas azuis, contornadas por diamantes, foi me
entregue pela minha sogra, é o meu “algo emprestado”, o vestido da minha mãe o
“algo velho” e a tiara azul o “algo azul”. Posso não ter a minha mãe nesse
momento, mas sinto em meu coração, ela me acompanhando a cada passo.

Os cabelos loiros presos no alto da cabeça por um penteado com um terço


do cabelo preso, formando um coque volumoso caindo em camadas onduladas e
mais finas até o centro da minha coluna. Daniel ama meus fios longos, e sempre
gostei do cabelo grande, mas ver o quanto ele aprecia o cumprimento, me fez
deixar crescer mais ainda, para que hoje pudesse usar uma parte solta.

Minha franja se divide no meio, cacheada, a maquiagem rosada em tons de


pêssego realçando a cor dos meus olhos e boca.
Meus irmãos se casaram na mansão de primavera da minha família, o
lugar em que nos reunimos, crescemos, e comporta as nossas mais preciosas
lembranças. Onde conheci o Daniel, onde nos reencontramos, e nos separamos
novamente. A ideia de poder me casar no mesmo lugar que conheci meu noivo,
aquece meu coração. Preparamos com calma a estrutura no jardim, uma tenda
com pétalas de flores penduras formando caminho para o altar.

As luzes em cumbucas de madeira de decoração, iluminando o ambiente


com um ar romântico. As cadeiras de madeira posicionadas de frente para o altar,
com vista para o pôr do sol que banhara a cerimônia com o crepúsculo. O padre
chegou, faz duas horas e tem explorado o lugar com meu pai de guia.

Todos já assumiram suas posições e eu estou no meu quarto de infância,


respirando fundo e me preparando para o momento que tristemente acreditei que
nunca teria.

Toco o vestido uma última vez alisando o tecido, antes de ouvir batidas na
porta. Giro encontrando meu pai me encarando com felicidade tremenda no
olhar, antes de se aproximar. Ele tem algo em suas mãos, uma caixa preta, para
na minha frente e sorrio feliz por ser ele quem me entregará ao Daniel.

— Seus irmãos casaram e não pude levar eles ao altar, essa era uma honra
destinada à sua mãe — segura minha mão — sei que por diversas vezes posso ter
falhado na sua criação, e peço desculpas por isso. O amor que senti por Cecília
nunca mais visitou meu coração, não tenho arrependimentos e não mudaria nada
da minha história com ela — alisa meu queixo — minha linda menina, é com
uma honra imensurável que vou te levar ao altar hoje, e queria te entregar um
segredo de família.

— Segredo? — pergunto com um nó na garganta, segurando as lágrimas o


máximo.
— Sim — ele segura a caixa — somente eu e a sua mãe sabemos sobre a
existência desse colar — vejo uma corrente de ouro dourada com uma joia água-
marinha em formato de coração na ponta, com asas, — quando você tinha três
anos, eu e sua mãe estávamos passeando. Ela parou na vitrine da joalheria
quando viu esse colar e disse “olha que lindo, o coração com asas, livre para
voar. Vou levar para dar a Lira quando ela se casar!”

Dou risada, isso é algo que minha mãe faria, pelas histórias que sei dela,
posso imaginar a cena acontecendo com facilidade. Meu peito inunda ao saber
que ela pensou em mim casando tantos anos atrás e que hoje não poderá me dar a
joia que comprou. Pressiono os lábios controlando a emoção, não quero chorar.

— E então eu disse “você nem sabe quando isso vai acontecer” e ela me
respondeu “será quando a Lira quiser, nossa menina vai crescer mais livre do que
qualquer outra e quando decidir pousar e fazer o seu ninho, será com suas asas
completamente abertas. Vamos homem, para de enrolar!” e me puxou para dentro
da loja.

Os olhos do meu pai estão vermelhos com gordas lágrimas escorrendo por
suas bochechas. Eu soluço sendo vencida pela dor causada no peito mesclada a
felicidade por saber que terei esse pedaço dela deixando para mim.

— Eu jurei para ela que te entregaria o colar, quando ela estava na UTI, e
hoje estou feliz em saber que você encontrou um amor que deixou seu coração
voar. Acendeu sua vida, trazendo tanta luz que cega a qualquer um — abre o
fecho do colar colocando no meu pescoço — sua mãe te amou com a vida dela, e
eu te amo com a minha — beija a minha testa — pronta para iniciar sua família?

— Sì — respondo chorosa.

— Agora limpe esses lindos olhos que você herdou da sua mãe e me deixe
te levar ao altar.
— Sì, pai.

Ele me abraça forte e quando me solta, vou ao espelho, limpo com


delicadeza as lágrimas. Ainda bem que usei maquiagem a prova de água, demoro
dez minutos para me acalmar por completo antes de respirar fundo pela boca e
segurar no braço do meu pai.

Descemos as escadas, ao chegar de frente a grande janela de vidro coberta


por uma cortina a cerimonialista manda ligarem a música, abre as portas, sobe a
cortina e eu vejo.

No final do tapete vermelho e do caminho feito pelas petadas de flores,


está o último homem a quem dei uma chance, e fez meu coração inchar de
felicidade, ao ponto de quase não caber no meu peito. A marcha nupcial inicia e
eu dou um passo de cada vez na direção do meu amado. Observo os familiares e
amigos em pé. Louise segurando as lágrimas enquanto pula, Beatrice, Dante,
Louis, Bianca, Olivia e Levi, no altar em suas posições como padrinhos.

Lizzie andando na minha frente enquanto saltita jogando flores no


caminho até o pai. Ela chega primeiro nele, recebe um beijo na cabeça e fica ao
lado da madrinha, esperando a hora de entregar as alianças. Encaro o meu noivo,
o terno de três peças cinza com um pingente azul na gravata. Os olhos brilhando
tanto quanto a iluminação permite, o sorriso amplamente estampado no rosto me
aguardando para ser sua.

Paro antes dos degraus. Meu pai aperta a mão do Daniel sussurrando algo
em seu ouvido. Seguro a mão do meu homem e subimos dos três degraus até
ficarmos de joelhos nas almofadas diante do padre. O senhor começa a falar, mas
eu não vejo ou escuto nada que não seja o Daniel ao meu lado. O calor emanado
do seu corpo e se chochando contra o meu. A bolha de amor se estendendo as
estrelas, tocando a todos os presentes.

Eu estou no céu na terra, um paraíso criado somente para mim.


— Vem — ele fala ficando em pé, só então percebo que é hora das
alianças — perdida com a minha beleza? — sussurra com um sorriso safado.

— Completamente — retruco.

— Aqui, mamãe — Lizzie me chama.

— É primeiro o papai amor — digo a ela.

— Veldade — estende a almofada com as alianças para o Daniel.

— Obrigado princesa — ele pega a minha aliança entre os dedos.


Acertamos com o padre que falaríamos os votos criados por nós mesmo.

Daniel respira fundo, se aproxima, pega o microfone e minhas bochechas


ficam vermelhas por saber que todos escutaram suas palavras de amor para mim.

— Lira Vittileno, você merece o mundo a seus pés. É a mulher mais forte e
atrevida que já conheci. Quando nos vimos pela primeira vez, fiquei fascinado
pela sua personalidade, mas infelizmente, encalços e temores passados
atrapalharam a nossa relação. No nosso reencontro, eu sentia que falava com uma
gata arisca pronta para me deixar cego de um olho. — Risadas são ouvidas pelos
convidados, rio também lembrando do quanto quis arrancar sua cabeça na casa
do Louis. — No tempo que estamos juntos eu aprendi que estar apaixonado e
amar, são coisas diferentes, mas quando sentimos o mesmo, pela mesma pessoa,
se transforma em um novo sentimento. Mais forte e intenso, eu não almejo
somente ter um futuro ao seu lado, eu quero um presente e passado, lembrar do
dia do nosso casamento quando estiver velho, e contar aos meus netos o quanto a
avó deles estava linda.

Daniel pausa, seus olhos ganham um brilho banhado pela água acumulada
que ele se recusa a deixar cair. A voz grossa e sexy permanece firme:
— Você é a pessoa que me faz acreditar em destino, a que eu mais amo
nessa vida e a única que tenho certeza de que reencontrarei no pós-morte. Porque
o nosso amor é capaz de vencer a tudo e todos, superar planos e ultrapassar
existência. Um amor tão grande não se apagara com a finitude da vida. Hoje eu te
pergunto, você me aceita, Daniel Albuquerque, como seu marido, para viver não
somente essa vida comigo, mas todas as nossas futuras encarnações, por toda a
eternidade?

— Aceito — murmuro com um bolo enorme na garganta.

— Eu te amo — ele beija meu dedo anelar antes de deslizar a aliança.

Engulo o choro, respirando fundo. Pego a aliança na almofada e vejo


minha menina emocionada. Ela abraça as pernas do pai, e depois a mim, e corre
para o colo do avô que a beija. Seus olhos me encarando com expectativa para
saber o que eu direi.

— Daniel Albuquerque — pego o microfone, a mão meio tremula — eu


tinha dito a mim mesma que você seria o último homem a quem daria uma
chance. Escrevi essa frase centenas de vezes no meu diário, que você vive
tentando espiar — ele ri culpado — pare de fazer isso se quiser que continuemos
felizes — agora gargalha com a minha ameaça, acompanho o som gostoso
deixando seus lábios — e eu estava certa, pois depois de você, só existirá você,
independente em qual plano seja, nunca terá outro. — Inspiro, seguro sua mão
posicionando a aliança na ponta do seu dedo, pronto para colocar nele. — Amar
é aceitar cada uma das qualidades e defeitos do parceiro, todas que te fazem
querer estar com aquela pessoa e a matar ao mesmo tempo. Com você eu passei
por várias fazes, e uma delas perdura até hoje. O carinho e paciência que você
teve, esperando pelo meu tempo, eu sei que foi difícil para você, quase um ano
depois que nos reencontramos, agora que estamos nos casando, mas eu percebi
naquela noite estrelada no vinhedo que você casaria comigo no dia seguinte.
Trago sua mão aos meus lábios, beijando seu dedo anelar.

— Obrigada por esperar, me deixar confortável e cuidar de mim todos os


dias desde que nos conhecemos. Você aceita a mim, Lira Vittileno, como sua
esposa para passar a eternidade ao seu lado, te amando e retribuindo todo o
carinho e felicidade que você me dá, estando ao seu lado para realizar todos os
seus desejos, e juntos construirmos algo lindo com o nosso amor?

— Sim — responde.

Deslizo a aliança no seu dedo olhando em seus olhos emotivos.

— Eu te amo — digo.

O padre abençoa a nossa união e Daniel me toma em seus braços


colocando a boca na minha em um beijo terno e carinhoso. Não temos pressa ao
deslizar a língua uma pela outra, ao segurar o outro, querendo fundir nossos
corpos. Não existe urgência de terminar logo, não tem motivos para desculpas do
porquê não paramos de nos beijar, mesmo quando as palmas acabam, pois
estamos fazendo o que queremos no nosso tempo, regado por amor.

Um tão forte e precioso, que derrubara o tempo e espaço para


continuarmos juntos a cada dia da existência das nossas almas.
Daniel

Eu disse a Lizzie que seria eu a levar ela para ver os animais de perto, e
nunca volto atrás com a minha palavra.

Meu casamento com a Lira foi perfeito e apaixonante, ainda sinto os


efeitos do nosso amor e da noite que passamos juntos, comemorando, e no dia
seguinte quando não a deixei sair da cama e recebemos comida no quarto, só o
suficiente para minha esposa ter energias para o tanto de vezes em que meti na
boceta que pertence a mim.

Estamos no nosso terceiro dia de casados e acabamos de pousar na África


do Sul. Lizzie ainda tem medo de voar de avião, mas aceita se a fefinha estiver ao
seu lado e eu a segurando forte nos braços. Descemos e vamos direto para a nossa
suíte presidencial guardar as malas. Na janela do quarto seguro minha menina
nos braços e aponto para os animais ao longe.

— Está vendo Lizzie?

— AAAAAAH — Abre a boca em O com as mãos nas bochechas, dou


risada do seu jeitinho — como são glades papai.
— Vamos tomar um banho e trocar de roupa e te levo para vê-los de perto,
se quiser pode até tocar nos mansinhos.

— Na gilafinha também?

— Se conseguimos ver alguma e for seguro, com certeza.

— Oba! — levanta os braços — me solta papai, vou plo banho.

— Como o porquinho faz quando quer banho?

— Oooooooooinque — ri sapeca.

Os dentes dela terminaram de crescer, pequenos e as coisas mais fofas,


elevando a fofura a níveis perigosos para o meu coração. Lira pega nossa
porquinha no colo e vai com ela para o banheiro. Enquanto elas tomam banho, eu
separo a roupa da Lizzie, sapato, o perfume e creme para pentear as madeixas
loura. Pego o protetor solar deixando em cima da cama, com uma toalha no
ombro vou para o banho.

Lira sai com a Lizzie no segundo em que entro, essa foi rápida. Só de olhar
para o cabelo seco da Lizzie percebo que ela deve ter apressado a mãe. Rio ao
imaginar o banho de gato e cheio de conversa, tomo uma ducha rápida com a
Lizzie batendo na porta mandando me apressar e visto a roupa apropriada para os
safaris.

— Naum, fefinha também — Lizzie reclama quando saímos sem a pelúcia.

— Lizzie se a gente levar a Fefinha — Lira começa a falar — não teremos


como fazer o passeio. Ela vai ficar dormindo e quando você voltar conta tudo
para ela sobre os animais que viu, certo?

— Papai — faz manha com bico.

A pego no colo e entramos no elevador.


— Lizzie, a fefinha é muito grande e não permitem bichinhos do tamanho
dela perto dos animais, ou as girafas vão querer levar a fefinha pensando que é
filha dela — digo a ela com calma, mais uma vez arrependido pelo presente
enorme, se ela tivesse trinta centímetros, seria mais fácil de andar pelos lugares.
— Você quer ficar sem a fefinha?

— Não — responde firme.

— Então precisamos deixá-la aqui para ficar segura.

— Polmete que ela vai estar aqui quando voltar? — pergunta.

— Sim — digo confiante.

— Mamãe, polmete.

— Eu prometo meu amor — Lira beija a mão da filha — e depois a gente


dá sorvete a fefinha, o que acha?

— Pelfeito!

Até que foi fácil dessa vez. Geralmente é mais difícil convencer a Lizzie a
deixar a girafa em casa quando saímos em família. Faz uns dois meses que fomos
a um restaurante e não teve acordo, precisamos levar a girafa, foi constrangedor
jantar com várias pessoas olhando a pelúcia enorme e comentando sobre
deixarmos ela levar.

Acontece que eu sou um pai extremamente babão que não se controla


diante do choro da filha querendo algo. Lira diz que no futuro isso vai me custar
todos os meus cartões de crédito, mas eu ficaria pobre sorrindo, se fosse para ver
a Lizzie feliz e amando o pai coruja dela.

Saímos do elevador e o guia turístico nos recebe com um sorriso. Um


homem com dreads nos cabelos e pele negra, conversa amigável antes de
entrarmos no, jeep, acompanhado de sua equipe. Lizzie adora os dreads na
cabeça dele e fica brincando com os coloridos.

Posso ainda ter pesadelos com a morte da Verônica, sei que fiz o que era
necessário, mas nem por isso a culpa me deixa em paz, com o passar dos dias,
tem amenizado cada vez mais, principalmente em momentos como esse, que não
precisamos de uma escolta de seguranças para um passeio em família. Em que eu
posso respirar sentindo o sol quente no rosto e o vento seco, mas nada ameaça à
segurança da minha família e continuará assim por décadas.

Leva meia hora até vermos os primeiros animais. Seguro uma Lizzie
eufórica e totalmente maravilhada ao ver os elefantes bebendo água. Ficamos o
tempo todo dentro do, jeep, por ser a opção mais segura, com ajuda de binóculos
mostra a ela hipopótamos do outro lado do rio.

— Eles parecem inofensivos — Lira fala maravilhada.

— São os mais perigosos da região — nosso guia diz — por ano matam
muitos humanos que ignoram as regras da selva e mexem com os animais. A
natureza tem de ser respeitada, não caçada e ameaçada.

— E as gilafas? — Lizzie pergunta — quelo ver.

— O local delas fica mais a frente, vamos — ele dá a partida.

— Ai, meu Deus, são leões! — Lira fala.

Giro a cabeça encontrando dois leões dormindo tranquilamente, enquanto


as leoas ficam debaixo da sombra da árvore, de olho no território. Lizzie faz um
“raum” quando passamos por eles e aperto minha filha com medo de um dos
bichos querer a pegar devido à sua brincadeira.

Quando estamos longe o suficiente do bando avistamos zebras. Demora


meia hora para chegarmos ao local que as girafas ficam.
Com a permissão do guia, descemos do, jeep e nos aproximamos delas que
comem tranquilamente. Uma deitada parece mais dócil, o guia toca em seu
pescoço fazendo carinho, e os olhos da Lizzie brilham como se ela estivesse
vendo a coisa mais preciosa do mundo.

— Quer ir lá? — pergunto.

— SIM! — Responde animada, rio do seu jeitinho.

— Eu fico aqui — Lira fala com a sobrancelha franzida — perto demais


para mim.

— Mamãe meldosa — Lizzie zomba.

Antes que sua mãe responda, saio com minha filha a protegendo da leoa
Lira. A girafa não se mexe com a nossa aproximação, mantenho a Lizzie presa
contra meu peito. Minha pequena estica as mãos tocando a pele da girafa e sorri
tão linda, que o sol parece brilhar mais forte.

— Obrigada, papai — beija minha bochecha.

— De nada, minha princesa — beijo a dela.

Sim, essa foi a vida pela qual eu lutei para proteger, o doce sorriso inocente
da minha menina, e faria isso quantas vezes mais fossem precisos.

Quinze anos depois.


— EU VOU MATAR VOCÊ — A voz fina da Lizzie grita com tanta força
que a escuto no segundo em que coloco a chave na fechadura da porta.

— EU MATO VOCÊ ANTES — A voz grossa de Lucca responde à irmã.

Coço a cabeça sabendo o que terei de lidar, hoje a Lira está no estúdio
gravando até mais tarde, os meninos vão ficar comigo a noite toda, e tendo três
filhos, dois homens, e uma menina na adolescência, é de enlouquecer a cabeça de
um.

Lizzie já completou 18 anos e quer uma vida independente, que é


constantemente arruinada pelas peças que os gêmeos, Lucca e Leon, pregam na
irmã. Os meninos só têm 14 anos, mas são verdadeiros monstrinhos no corpo de
humanos.

Entro em casa vendo a guerra travada na sala, roupa jogada para todos os
lados, e uma Lizzie furiosa com um batom quebrado na mão e um Lucca sorrindo
arteiro. Meus filhos, quando se juntam com o Lorran, se tornam verdadeiros
delinquentes, mas a minha Lizzie consegue colocar ordem em cada um deles
quando levanta a mão e os puxa pela orelha.

Observo enquanto ela leva a mão a orelha do Lucca puxando com tanta
força, que poderia arrancar, e o faz ficar de joelhos. Decido não intervir, por
enquanto não temos mancha de sangue. Lira sempre briga comigo por deixar uma
pequena briguinha acontecer entre eles, mas não consigo evitar, é divertido ver a
Lizzie dominando os irmãos, para depois se estressar com outra peça pregada por
eles.

— Você destruiu os meus batons e agora eu vou destruir sua coleção de


mangás para você aprender a não tocar no que é meu.

— Epa — intervenho.

Lizzie pode ter perdido uns batons essenciais para a vida como atriz que
ela, tanto, ama, mas posso comprar novos a qualquer instante. Mas Lucca tem um
apego emocional muito forte aos mangás e os perder não causaria somente uma
raiva, mas uma ira incontrolável no gêmeo do mal. Me aproximo deles e Lizzie
solta a orelha do irmão.

— Pai, ele destruiu minha maquiagem!


— Lucca, por que você fez isso?

— A Lizzie não me dava atenção, sabia que ela tem um namorado?

— NÃO TENHO — Grita, com medo da minha reação.

Ergo a sobrancelha, não estava sabendo de nenhum garoto rondando minha


menina. Pelo jeito vou precisar da ajuda do Lorran para espantar o espertinho.
Lucca e Leon ainda não possuem idade e tamanho o suficiente para espantar os
pretendentes da Lizzie, mas o Lorran sempre dá conta. Eu não sou contra ela
namorar, mas pelo menos que seja com um cara legal, e depois dos 20. Agora que
ela é maior de idade, vai ser cada vez mais difícil impedir o contato.

— Quem é o rapaz?

— Pai, para e foca no Lucca quebrando minha maquiagem.

— Lucca vai ficar de castigo, um mês sem comprar manga novo e nem ler
os capítulos online, agora quem é seu pretendente? — Cruzo os braços.

— PAI NÃO — Lucca fala arregalando os olhos — ficar sem comprar já é


tortura, mas sem ler? Se quer me matar me joga de um penhasco ou dá um tiro na
minha cabeça.

— Se continuar reclamando, digo ao Leon para te dar spoilers, você não


pode quebrar as coisas da Lizzie, independente do que ela tenha feito.

— Mas pai...

— Você é um home Lucca, haja como um, e respeite a vida privada da sua
irmã. Se ela tem um namorado, eu e sua mãe lidamos com isso, não é certo você
ficar irritado e quebrar as coisas dela.

Omito de todos que vou pedir ao Lorran para ficar de olho e espantar o
garoto. É aquele ditado “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Preciso
agir como pai ao educar meus filhos, mas nada impede que eu tenha minhas
artimanhas.

— Peça desculpas agora a sua irmã.

— Desculpa Lizzie.

— E você ao seu irmão por tê-lo ignorado, não é assim que tratamos a
família.

— Desculpa Lucca — ela fala sem contestar.

Lizzie pode ser uma leoa como a mãe, mas sabe obedecer, e continua
sendo a minha garotinha. Beijo a cabeça de ambos e mando irem chamar o Leon
para o jantar. Quando eles desaparecem, ligo para o Lorran que atende no
primeiro toque.

— Águia rondando o passarinho — uso o código que os irmãos Vittileno


inventaram para avisar quando uma das meninas tem garoto rondando-as.

— Então, tio — ele fala hesitante — o rapaz é meu amigo, eu meio que
apresentei ele a Lizzie. Prometo que é uma boa pessoa.

— Você está morto — aviso e desligo.

— Pai — Leon aparece — quem vai morrer?

— Eu, se seus irmãos continuarem brigando assim, por que você não
interveio?

— E arriscar a Lizzie arrancar minha orelha? Nem pensar.

Os gêmeos têm cabelos pretos como os meus, e olhos azuis-claros como os


da mãe. Dou por vencido o argumento do Leon. Jantamos os quatro, e depois
vemos um filme juntos, quando compro um novo quite de maquiagem pela
internet para a Lizzie, ela sorri e me beija, subindo para o quarto.

Os gêmeos vão jogar e eu vou para o meu próprio quarto. Me deito e


investigo o Instagram da Lizzie e do Lorran tentando descobrir quem é o garoto.

— Você não vai acreditar — Lira entra com os olhos arregalados.

— Você que não vai, a Lizzie tem algum namorado — faço careta.

— Eu sei, ela acabou de me contar — senta-se na cama — é o par


romântico dela na novela, o Victor.

— O quê?! — fico sem acreditar, o moleque vive aqui em casa — eu


deveria ter desconfiado das vindas dele!

— Pois é, ele a pediu em namoro hoje, e você está proibido de fazer algo
como mandar o Lorran espantar o menino, a Lizzie já tem 18 anos.

— Eu gosto do Victor, o merdinha sabe conversar e sempre foi um


cavalheiro com a Lizzie.

— Exatamente — da risada — debaixo do meu nariz e não percebi.

— Espera — digo — como você sabe que usamos o Lorran para espantar
garotos?

— Todas sabemos, até mesmo a Beatrice — dá de ombros — vocês não


são tão discretos e as meninas vivem reclamando dele interrompendo os
encontros delas.

— Merda.

— Estou cansada, quero um orgasmo bem gostoso — se deita na cama.


— Trancou a porta? — desde que a Lizzie quase nos flagrou transando por
entrar com a porta destrancada, a mantemos bem fechada e a prova de crianças.

— Com certeza.

— Garota esperta.

Beijo os lábios da minha esposa com o mesmo fogo e paixão de anos atrás.
Os anos passaram, nossas vidas continuam seguindo, mas nada muda o amor que
sentimos um pelo outro. Ficaremos juntos pela eternidade e por todos os planos
depois desse.

Lira e Daniel, eternizados no universo.


UMA FILHA PARA O BILIONÁRIO ITALIANO
(IRMÃOS VITTILENO)

SINOPSE
Ele acredita que foi enganado por ela.

Ela decide manter sua gravidez inesperada em segredo!


Aos 37 anos, Louis Vittileno chegou no momento mais crucial de sua vida:
assumir a liderança da empresa da família. Um típico italiano arrogante que sabe
seu potencial para os negócios e para as mulheres, mulherengo e conhecido por
nunca ter relacionamentos duradouros, Louis acredita que as mulheres só se
interessam por seu dinheiro e que nunca conseguirá encontrar um grande amor.

Bianca Baptista, é a mais nova secretária do futuro presidente das


indústrias VITTILENO. Tímida desde pequena, nunca conseguiu se relacionar
com outros rapazes ou se permitir viver uma paixão, o bullying que sofreu ainda
adolescente machucou seu coração e a encheu de inseguranças.

Ao se conhecerem na festa da empresa, um não faz ideia de quem o outro


seja, a atração explosiva resulta na primeira vez de Bianca e em um coração
partido ao acordar no dia seguinte e ver um bolo de dinheiro no lugar que Louis
deveria estar.

A convivência entre os dois na empresa é insuportável, Louis não confia


em Bianca, e ela não consegue o perdoar por humilhá-la. Mas a química entre
eles falará mais alto e quando o casal parece estar aceitando os sentimentos que
nutrem um pelo outro, uma reviravolta coloca tudo a perder.

Bianca é acusada de traição.

Louis, com o seu cargo como futuro presidente na empresa ameaçado.

Com a rejeição e o coração partido, ela esconde dele que engravidou e vai
embora sem olhar para trás. Quando Louis se depara com a verdade e percebe os
perigos que os rondam, não tem outra alternativa, a não ser manter a mulher que
ele ama longe para que ela fique segura. Sem fazer ideia de que ela espera sua
filha, quando descobre a verdade ele terá de reconquistá-la enquanto ela nega que
a filha é sua.
Uma gravidez inesperada seria o suficiente para acabar com as mágoas e
unir o jovem casal que nunca vivenciaram o amor?
GRÁVIDA E REJEITADA PELO VIÚVO
ITALIANO (IRMÃOS VITTILENO)

SINOPSE
"Vou proteger seu coração como você aceita o meu cheio de
cicatrizes."

Levi Vittileno viu o seu mundo ruir ao perder sua esposa em um


acidente trágico. Agora, 2 anos depois, ele precisa voltar a viver e
conquistar o amor do seu filho Lorran, que não o, enxerga como pai. Ele só
não imaginava que um furacão em forma de mulher iria surgir para fazer
seu coração cheio de cicatrizes voltar a bater.

Olivia Baptista, sempre sonhou em ser mãe, mas após tantas


decepções ela decide que terá seu filho sozinha e não mede esforços para
que isso aconteça, já que não acredita que exista um amor para si.

Lorran Vittileno em seus 2 anos de vida nunca viu em Levi um pai,


cresceu aos cuidados do tio e agora depois de uma mudança de pais, se
encanta por Olivia, fazendo assim com que ela seja contratada para ser sua
babá.

"Você me fez voltar a querer viver novamente."

Ela o faz lembrar de como é viver.

Ele a faz desejar uma família mais do que tudo.

Quando Olivia finalmente entrega o coração a Levi e acaba sendo


rejeitada por ele não conseguir esquecer a ex-esposa morta, ela descobre
que está grávida, com o coração aos pedaços, um filho no ventre e o amor
que sente pelo Lorran, ela toma a decisão de ir embora com o menino.

Pode um coração tão machucado pelo luto, voltar a amar?

NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS!


[1]
homem
[2]
babaca
[3]
PARA MALUCO
[4]
tem dolcinho?
[5]
— Não, mas podemos arrumar.
[6]
bem e você?
[7]
melhor agora
[8]
Nada bem
[9]
cumpro promessa
[10]
virei o Gasparzinho
[11]
que ou quem é viciado em trabalho; trabalhador compulsivo.

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