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2023
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por escrito da autora.
“Nunca mais amarei e deixarei outra pessoa me conhecer para levar uma
parte minha, me deixando vazia e sem rumo”.
“Não estou disposta a machucar meu coração uma segunda vez, porque
depois colar os cacos acaba comigo.”
Ao contar sobre sua gravidez. Lira tem seu coração partido mais uma vez,
pois Daniel tem certeza de ser estéril. Agora, 2 anos após a rejeição, ela, sua filha
Lizzie, e a família, se reúnem para uma comemoração e só bastou um olhar para
que Daniel recordasse que Lira falou para ele que estava grávida e seu coração se
encher de arrependimentos ao perceber a filha que ele rejeitou.
Gratidão pela honra de escrever sobre os irmãos, por ter conhecido pessoas
maravilhosas, por saber que existe pessoas que leem o que escrevo e realmente
gostam. Obrigada a cada leitora que me mandou um direct, respondeu a uma
publicação, vocês não imaginam a força que me deram em dias sombrios.
No casamento do meu irmão Levi, ele me seguiu queria mais uma noite
após ter rejeitado minhas ligações em que tentei revelar a ele sobre a gravidez.
Daniel não quis ouvir, me beijou, cheirou e enlouqueceu meu corpo. Como uma
boba, eu caí no encanto dele, a áurea de homem mais velho me hipnotizando,
como se ele fosse capaz de pela maturidade dar respostas a todas as minhas
dúvidas.
No dia seguinte acordei solitária na cama, Daniel tinha partido mais uma
vez. Levi e Olivia decidiram se casar de última hora e com isso no final da noite,
estavam todos animados e comemorando a união do casal que passou pelo
inferno para conseguirem ficar juntos.
Meu coração foi partido há dois anos, me escondi daquele que me magoou
para tentar colocar a cabeça no lugar e cuidar da minha garotinha. Não posso
continuar dessa forma para sempre, por isso eu decidi usar esse espaço para
expurgar todas as lembranças que assombram o meu coração. Em poucas
semanas terei de encontrar o homem que me despedaçou, o pai ao qual minha
filha pergunta com os olhos brilhantes e eu nunca sei o que responder.
Meu querido diário, me ajude a achar a cura para meu coração, quando
ainda sinto a ferida me rasgando todos os dias.
— Você é casado!?
— Não faça escândalos Lira, tem semanas que estou comendo sua boceta e
você não reclama. Até parece que não sabia que a Candice é a minha esposa.
Depois disso Santiago usou a aliança todos os dias exibindo na minha cara
que era casado e eu fui feita de amante. Candice que era recatada e não mostrava
o relacionamento, anunciou que era casada para todos do set. O clima ficou uma
merda, pois ela era legal, me dava bom dia e perguntava como eu estava sempre
que podia, tinha paciência para refazer a cena até eu me dar por satisfeita e
sempre me encontrava com um cappuccino de manhã e tarde.
Eu não sabia se era alguma armadilha para me fazer sentir mal por ter
namorado o marido dela, ou ela realmente não sabia que eu tive um caso com
Santiago. Tive fortes crises de ansiedade enquanto trabalhava no seriado, e eu só
queria me esconder ou acabar em um dia as filmagens.
Ele tinha uma mulher incrível ao seu lado e a tratava feito lixo. Levi foi um
anjo me ouvindo e me ajudando a superar essa barra. Eu queria que ele também
se abrisse para o amor com Olivia, consigo ver as faíscas saindo de seus corpos
sempre que ficam perto um do outro, a tensão sexual chega a níveis alarmantes.
Engulo em seco parando perto deles. Ambos muito altos, me fazem parecer
pequena, mesmo no salto alto. O cheiro dele me invade como um, furação. O
homem cheira a sexo, bruto, suado e gostoso. Não ficaria surpresa em saber que
ele esteve com alguém antes de se vestir.
— Lira sempre foi a mais bela de nós três — Louis fala orgulhoso.
Meu irmão leva o homem mais gostoso que já vi para longe e eu me abano,
sentindo o sangue volta a correr pelo corpo. Nunca me senti tão balançada na
presença de um homem como agora. Chega a ser imoral eu me deixar afetar
dessa forma com uma simples conversa e troca de palavras.
O homem sabe que sou irmã do Louis e ainda me paquera, ele só pode ser
maluco. Não quero irritar meu irmão ou o fazer perder um negócio sem ter
certeza de que o Daniel quer ficar comigo, por isso caminho até a Olivia para
pedir a ajuda dela.
— Com o que?
— Sonda ele para saber quais são as intensões dele flertando comigo desse
jeito.
— Tá, me dá um segundo.
Comemoro por ter convencido Olivia, ela é maravilhosa e será uma esposa
perfeita para o meu irmão. Só basta ele conseguir se abrir para o amor dela e
esquecer o passado. Se eu vivesse presa às minhas péssimas experiências, teria
desistido de ter um amor há anos, mas continuo na luta, buscando pelo amor de
um homem, ter uma família só minha.
Olivia bufa e vem irritada, ela não deve ter gostado da resposta do Daniel,
mas foda-se eu ainda quero esse homem.
Pode dar certo ou errado, são 50% de chance para ambas as coisas.
— Não caia na dele, Lira — pede, sabendo que não vou dar ouvidos.
— Você sabe que sou irmã do Louis e não tem medo de se envolver
comigo?
Choro quando finalmente vejo meu irmão mais velho casado com o amor
da sua vida, a Bianca nem parece que deu à luz nos últimos meses, a pequena
Cecília dormiu aconchegada nos meus braços, e o Lorran no de Olivia. Levi pega
o filho no colo e eu entrego Cecília ao meu pai com a desculpa de que preciso ir
ao banheiro.
Eles vão levar as crianças para dormirem enquanto os adultos seguem para
a festa na estrutura montada no jardim.
Mas ela não está aqui, deslizo contra a porta, abafando os soluços e a
vontade de conseguir me lembrar dela com nitidez. Seu rosto nas minhas
memorias começa a desaparecer como fumaças, eu era tão pequena quando ela
morreu em um acidente de carro, tivemos pouquíssimos momentos juntas e tive
de passar por tanta coisa sem ela, dependendo das governantas para me ajudarem,
e hoje eu percebi que no dia em que me casar e tiver meus filhos, ela não vai
estar lá sorrindo para mim.
Não lembro a última vez em que a vi, mas a dor de descobrir a sua perda
ainda incendeia meu coração.
— Sim?
— Já foi em muitos?
— Tia Antonella estava a cinco passos de te jogar de uma ponte por não ter
se casado novamente.
— E você, quando vai parar de ser uma versão cafajeste de saia do Louis e
aceitar o amor?
— E você?
— Vai lá — ele beija minha cabeça e some indo ao encontro do seu amor.
Giro dando-lhe uma visão das minhas costas nuas pelo vestido, eu sinto a
pressão do ar mudando pelo caminhar dele na minha direção. Uma mão grossa
pousa na base do vestido, e seu cheiro amadeirado invade meu nariz com força,
me fazendo inspirar forte.
— Tenho algo mais gostoso para você chupar — a outra mão desce a
minha cintura trazendo meu quadril de encontro a sua pélvis.
— E eu para você — sussurro. Levo meu dedo a seus lábios, Daniel beija a
pontinha discreto, dando uma mordida na pele macia.
— Seus irmãos não precisam ficar sabendo — ele sopra na minha orelha
— Louis já subiu com Bianca e Levi se escondeu com a Olivia em algum canto.
— Estava preparando o terreno para caçar a minha presa — ele morde meu
queixo, fecho os olhos, sua língua serpenteia nos meus lábios. — Vem comigo.
Não é um pedido.
Se eu falar “banana” meu celular toca com uma falsa ligação, invento que
tem alguém passando mal e vou embora, sem peso na consciência. Nada dói mais
do que um cara cheio de marra de bom fodedor, e ele ser uma tristeza que se
importa somente com o seu prazer. Sexo é uma atividade feita por duas pessoas
— o convencional — se ambos não estão gostando, o outro não deve suportar só
pelo parceiro. Ou é bom para ambos, ou não tem.
Daniel ri rouco, o hálito quente de uísque toca minha face com sua
aproximação. Os pés batem contra o meu, e sua perna se enfia entre as minhas.
Perco o equilíbrio com o choque, seu braço forte rodeia minha cintura me
puxando para perto. A ponta dos dedos quase não tocando o chão, os seios
esmagados contra o peitoral forte dele.
Daniel sorri, desce o nariz encostando no meu, seus lábios tocam o meu e
se afastam, me provocando com pequenas carícias. Agarro seu cabelo enfiando
os dedos nos fios macios. Pego impulso pulando para cima, rodeando sua cintura
com as coxas, seguro seu queixo, enfiando as unhas na carne áspera da barba e o
beijo.
Enfio minha língua na sua boca, aproveitando cada pedacinho macio e
molhado que encontro. Esfrego o quadril em seu tórax sarado, exploro o peito
duro removendo seu paletó, enquanto chupo sua língua com lasciva. Solto seu
rosto adorando o vermelho inchado dos lábios, seguro a camisa de botões
puxando em direção oposta, fazendo os botões voarem pelo quarto.
Daniel tem o fogo de um vulcão nos olhos. A boca sedenta desce contra
meu pescoço mordicando a pele. Fagulhas de prazer se espalham, consumindo
minha sanidade e mandando o cuidado para o inferno. Ele anda, bate o joelho na
cama e me joga contra o colchão. Mal tenho tempo de reagir e sua boca volta
devorando minha pele, as mãos apertando meus seios como se fossem ursos de
pelúcia.
— Você gosta de sexo pesado — ele puxa meu cabelo, batendo minha
lombar no seu tórax — vou comer sua boceta até que não consiga andar. Se
gritar, eu te bato — estapeia minha bunda, arfo — entendeu?
— Porra Lira — Daniel puxa meus cabelos, os olhos lacrimejam pela dor e
eu arfo, ensandecida para que ele me foda.
— Uma noite e nunca mais, porra Lira — estapeia minha vagina, grito,
quase gozando — não tem como ser mais perfeita!
Daniel não é o príncipe que eu procuro, ele quer uma foda alucinante, tanto
quanto eu. Nunca fui de implorar por homem e não vou fazer isso por esse
cafajeste gostoso. Se nossos destinos se cruzarem novamente, que seja por outro
motivo.
Daniel puxa meu cabelo me fazendo o soltar com um “ploc”, alisa meus
lábios e me joga novamente no colchão. Abro as pernas, pronta para recebê-lo.
Daniel cai contra meu corpo, alisando o pau na minha vagina como um vibrador.
Morde meu pescoço e mete no meu interior com força. Grito, amando a sensação
de ser preenchida.
A cama balança, meu corpo sobe e desce, enquanto ele soca com força e
velocidade no meu interior. Os braços doem pela posição e eu faço da dor um
prazer inestimável. As mordidas vão para meu peito, mordiscando a carne entre
os dentes, enlouquecida eu chamo seu nome várias vezes. Daniel surge acima da
minha cabeça, beija meus lábios e me olha lascivo.
— Toma sua safada — ele enfia até o meu útero e vejo estrelas.
A temperatura do quarto sobe como um foguete. O ventre contraindo feito
louco, os dedos apertados com o prazer me cruzando de uma ponta a outra.
Prendo a respiração quando minha crise atinge o seu ápice, e desabo na cama
satisfeita. Daniel geme rouco, gozando, ele bombeia mais uma vez antes de sair
de dentro de mim e se deitar de lado.
A noite só iniciou, gozo mais duas vezes com o Daniel antes do sol nascer.
Na porta do quarto, o beijo uma última vez.
Apesar das palavras ditas enquanto transávamos, sabemos que nosso caso
é de uma única noite.
Lira
Não faz nem três dias que voltei para casa, após o casamento do Louis, e
por mais que use o trabalho para conseguir me distrair, a imagem do Daniel
retorna aos meus pensamentos. Os olhos frios como gelo e a boca quente como o
inferno, beijando meu corpo, me tomando para si e enlouquecendo cada pedaço
do meu ser. Nunca tive tanta vontade de repetir uma transa quanto com esse
homem.
A vizinha conservadora do outro lado vai sair para o lado de fora batendo
na porta dele com panelas, que só recebera como resposta mais gemidos altos.
— Se eu não viajasse tanto a trabalho ficava com você — falo para ela que
mia esticando o pescoço pedindo carinho no queixo.
****
Meus dias passam voando, quando me dou conta, um mês se passou desde
que cheguei a Vancouver, o tempo frio acaba comigo, uma gripe me faz ficar de
cama por vários dias. Minha assistente, Louise, cuida de mim como uma
verdadeira irmã. Após essa maldita gripe passar vou garantir um aumento para
ela, ninguém merece ficar segurando meu cabelo enquanto vomito colocando as
tripas para fora.
— Lira, eu acho que você não está gripada — ela fala após uma longa
sessão de vômito matinal.
Faço o que ela pede, aos poucos consigo me acalmar e respirar melhor.
Relembro a minha noite com Daniel, buscando vestígios de que eu tenha
esquecido de usar camisinha. Eu lembro de absolutamente cada segundo, menos
do momento em que ele vestiu a camisinha antes de me foder. Ele pode ter feito
sem que eu olhasse, certo? Merda de álcool misturado ao tesão, não me deixaram
prestar atenção ao que acontecia no momento.
Ela deixa a sala e eu me deito, refletindo sobre o que vou fazer da minha
vida se eu realmente estiver gravida. Minha jornada no set de gravação é intensa,
iniciamos as 8 da manhã e só vamos embora depois das 22h, para cumprir o
prazo e as cenas poderem ficar perfeitas. Eu não tenho como cuidar de um bebê
enquanto vivo nessa loucura de vida atarefada e o Daniel...
MEU DEUS!
Ele é um homem adulto, divorciado, que eu não sei quase nada sobre a
vida, além de que trabalha para o meu irmão, e se ele tiver filhos e não quiser
outro? Prometemos que seria somente aquela noite, se eu aparecer contando que
fiquei grávida ele pode pensar que sou uma interesseira ou uma maluca que
engravidou para o prender.
Esse não era o acordo com o Daniel, e o medo de como ele vai reagir gela
a minha espinha. Eu deveria ter lembrado que não estava usando o
anticoncepcional e mandado ele colocar uma camisinha! Bato na testa sem saber
o que farei da vida. No segundo em que Louis descobrir sobre o bebê, vai querer
saber quem é o pai e o motivo de não estarmos juntos, ele vai matar o Daniel!
— Meu Deus.
Eu vou ser mãe, não faço a mínima ideia de como fazer isso, só tive uma
até os 6 anos e fui cuidada por três homens extremamente ciumentos e protetores.
Mas safados ao ponto de me ensinarem que devemos ser desapagados de amores
que só vão nos machucar. Louis engravidou a Bianca e encontrou o amor dela,
Levi engravidou a Olivia e estão construindo um novo amor. E agora, eu
engravidei do Daniel, quais as chances da história se repetir?
Três minutos depois, ela me envia o número, sem fazer perguntas, com a
frase:
“Estou aqui para o que você precisar e não direi nada ao seu irmão”
“obrigada”
Fecho a conversa e ligo para o Daniel. O número chama até cair na caixa
de mensagens, tento novamente mais três vezes, até ouvir a voz grave do outro
lado.
Meu ventre se contrai em ansiedade pelo que precisarei fazer. Talvez seja
melhor marcar um encontro pessoalmente do que dar a notícia por telefone.
A linha fica muda por uns minutos, levando meu coração a quase sair pela
boca.
— Sim, senhorita Vittileno — odeio a formalidade na sua voz, indica que
ele não quer ter essa conversa.
— Acho que uma coisa não ficou clara naquela noite — Daniel faz um
som, como se estivesse fechando uma porta — nosso caso foi de somente uma
noite, não iremos nos ver a não ser, que seja pelo Louis.
— A senhorita que não entendeu, não temos nada para conversar, adeus
Lira.
A recusa dele só acende o meu fogo em fazer com que o Daniel saiba sobre
o bebê. Esse desgraçado não vai escapar facilmente, não depois do modo como
me tratou.
Uma menina!
Por enquanto não contei a ninguém sobre a bebê e espero continuar assim,
não estou emocionalmente estável e minha equipe tem sofrido com a alteração de
humor e o quanto tenho passado mal no período das gravações. Sei que a minha
médica vai brigar comigo novamente, quando terminar de falar sobre o
desenvolvimento da bebê de 15 semanas no meu ventre.
— Meu ventre quase não aparece — suspiro, sentindo a dor no peito por
estar ofendendo a minha bebê — eu juro que estou tentando me alimentar melhor
e descansar — lágrimas invadem meus olhos — mas é muito difícil fazer
qualquer alimento parar no meu estômago. Vomito assim que mordo a primeira
fatia, até de uma maçã. — Soluço — eu não sei o que fazer, preciso continuar
trabalhando para encerrar a série, e o que posso fazer deitada para descansar, eu
realizo, mas é difícil.
— Vamos trocar o seu remédio de enjoo, por enquanto quero que você vá
tomar umas vitaminas na veia. E preciso de mais exames da bebê para saber se
ela está nutrida. Volte daqui a um mês, e caso o enjoo não cesse e você continue
perdendo peso, teremos de usar métodos mais ofensivos para te fazer se
alimentar.
É tão difícil não ter ninguém me ajudando e ter de lidar com a pressão da
diretoria por eu estar a uma cena de atrasar a finalização da série. Quando esse
trabalho acabar, vou tirar férias por tempo indeterminado, não aguento mais a
pressão da indústria e saber que estou causando mal a minha bebê acaba comigo.
Não posso contar com os meus irmãos, eles estão seguindo com suas vidas
e superando suas próprias dificuldades, o pai da bebê simplesmente decidiu que
eu não existo e se recusa a falar comigo, estou perdida como nunca estive. Vou
direto para a sala da enfermaria tomar as vitaminas, a enfermeira sorri triste por
me ver ali novamente, praticamente depois de toda consulta, tenho vindo até aqui
tomar algo.
Me sento na poltrona e tento controlar as lágrimas que jorram. Enquanto o
líquido pinga lentamente na minha veia, escrevo no meu diário sobre os
acontecimentos de hoje e a frustração por estar sozinha.
Sempre me criei rodeada por homens e nunca foi o suficiente para suprir a
dor no meu peito, não queria que a minha bebê crescesse sem um pai na sua vida
e sentisse o que senti pela ausência da minha mãe, mas se o Daniel se recusa a me
atender, só posso esperar pelo dia que vamos nos reencontrar. Mas pela minha
pequena, eu vou fazê-lo me ouvir.
Eu queria que o Daniel fosse capaz de entender que eu não estou pedindo
um relacionamento, somente que ele reconheça a paternidade da filha, ou, no
caso, fique ciente sobre a existência da bebê. Já tem cinco meses e meu ventre
não se desenvolveu muito, aumentou pouca coisa. Sem uma evidência explicita
da bebê em meu ventre, dificilmente ele notará, se eu não o falar sobre a bebê.
Passo horas andando de um lado para o outro com o encerramento das
filmagens. O filme precisa ficar pronto em 15 dias e não temos um só segundo a
perder, minha bebê se desenvolve saudável no meu ventre, pequenina, mas muito
bem, é o que importa. O remédio de enjoo ajudou um pouco, tenho um
despertador no celular me lembrando de comer e descansar, faço o máximo que
posso para a correria não prejudicar minha filha.
Eu cresci com a dor de perder a minha mãe, a minha pequena não vai
crescer rejeitada pelo pai. Se ele não assumir a responsabilidade, direi a todos que
o pai da bebê morreu em uma explosão nuclear e assim ninguém me fará
perguntas invasivas. Tenho certeza de que meus irmãos não vão acreditar nessa
desculpa, mas o problema é deles e não meu, a minha parte estou fazendo,
cuidando da minha pequena princesa.
A minha obstetra espera que com a folga que terei até a promoção da série,
eu consiga me alimentar melhor e não fazer nenhum esforço que me force a
perder peso.
Pouso na Itália e vejo meu pai me esperando com os braços abertos, meu
ventre contrai ao imaginar como ele irá reagir quando souber da gravidez. Não
consigo imaginar quem dos três homens da minha vida será o mais exagerado
quando souber a verdade.
— Minha princesinha — ele me aperta forte — como você está linda —
analisa minhas bochechas, seus olhos descem pelo meu corpo e param no meu
ventre.
Estou usando um suéter verde colado, que deixa meu ventre pequeno
protuberante. Seus olhos encontram os meus com lágrimas contidas, ele não fala
nada antes de me abraçar forte e fungar nos meus cabelos. Aperto seu corpo com
carinho, senti tantas saudades dele.
— Promete que não vai dizer uma palavra ao Louis ou ao Levi? Quero
resolver a situação sem a intromissão dos dois.
— Bom, então temos uma situação a ser resolvida — passa as mãos nos
fios negros com alguns brancos na cabeça.
Fungo dispersando os pensamentos sobre o meu pai e conto a ele tudo que
aconteceu com o Daniel. Sou sincera ao admitir que é um amigo do Louis e por
esse motivo vou contar ao meu irmão sem dizer que a pessoa é próxima a ele.
— Então a verdade é que você ainda não conseguiu contar, porque ele não
quis falar com você. Concordaram que seria somente uma noite e agora ele pensa
que você quer um relacionamento?
— Se ele rejeitar a minha neta me diga, vou garantir que o Louis não o
mate.
Louis me abraça forte entre seus braços enormes, quase esmagando meus
pulmões com a sua força. Grito gargalhando, faz anos que ele não me esmaga
desse jeito, quando era criança vivia pedindo pelos abraços de urso do meu
irmão, hoje fico com medo pela minha bebê.
— Ela tem garras afiadas — a voz reverbera grossa atrás de mim e arrepios
sobem por minha coluna ao reconhecer a quem aquele timbre pertence.
Aperto os punhos ignorando sua presença, não me deixando afetar por seu
cheiro. Sorrio para meu irmão o puxando pela mão, quero acabar com a tortura
quanto antes.
Louis pode não ser tão perceptivo quanto nosso pai para notar a
protuberância em meu ventre, mas nada me garante que Daniel seja dessa forma,
e não quero causar uma cena no aniversário da minha sobrinha.
Por hora vou manter meu plano de falar a verdade aos meus irmãos sobre a
gravidez e aproveitar o Daniel aqui para o encurralar e fazer com que me escute.
Viro novamente caminhando para meu quarto com meu irmão ao meu
encalço. Entramos, e me preparando para os gritos que virão, eu ligo o som do
quarto, não quero ninguém de fora ouvindo o que vai acontecer aqui dentro.
— É para que as outras pessoas não escutem, vou contar a cada um no seu
devido tempo — aperto os dedos e me sento na cama como uma criança que fez
ruindade — vem pra cá.
Louis percebe meu tom sério e se senta ao meu lado, sua mão áspera,
segura a minha fazendo carinho nos meus dedos, e eu só queria poder me
esconder nos braços do meu irmão, como fazia quando era pequena e deixar ele
resolver a situação por mim. Ser adulto é uma merda, temos de arcar com as
consequências das nossas escolhas.
Louis fica em silêncio por mais tempo do que imaginei, a música é a única
coisa audível na sala. Sua mão aperta a minha com mais força — sem machucar
— e ele levanta num rompante me puxando junto. Seus braços me rodeiam com
força, a mão levando minha cabeça contra seu peito. Agarro meu irmão chorando
contra ele.
— Eu não posso te dizer, ainda — falo com a voz embargada — ainda não
consegui contar para ele.
— Igual como você dormiu com a Bianca — jogo a verdade na sua cara —
e depois foi mega babaca com ela.
— Aí por que fui um stronzo dá o direito de outro homem ser assim com
você? — abre os braços — eu aprendi com os meus erros e me arrependo
amargamente de ter magoado a Bianca, mas fui homem para assumir as minhas
responsabilidades e reparar os erros, e graças a Deus que ela me perdoou, ou hoje
não teríamos a nossa família!
— Minha irmãzinha — beija minha testa — vai ser mãe, não acredito que
você cresceu assim.
A louca aqui decidiu que vou fazê-lo sofrer um pouco. Antes de irmos
embora, eu conto a verdade, mas enquanto isso, ele vai sentir como é ser
ignorado por quem quer conversar com você, e baixar a bola dele por achar que
eu queria algo além do que combinamos.
Aliso meu ventre com carinho, sempre que estou estressada com o Daniel
eu toco a casinha da minha bebê na esperança de acalmar a fúria no meu coração
e não a deixar sentir os sentimentos ruins que se espalham como um vulcão.
— Você sabe que é provável que ele descubra hoje, né? — Olivia me
abraça e pergunta baixinho.
— Estou pronta para isso — beijo seu ombro, tocada pelo carinho da
minha cunhada.
— E com outras coisas, pelo seu sorriso — Olivia acusa gerando risadas.
Louis nos chama para o almoço. Todos os casais sentam junto e meu pai na
ponta da mesa e o da Olivia e Bianca na outra. Sobrando para eu ficar ao lado do
Daniel. Continuo ignorando-o, fingindo que não sou afetada pelo cheiro sexy
emanando de seu corpo chocando contra o meu como a colisão entre dois carros.
Seu pé alisa o meu, em resposta piso no dele com força. Daniel chia ao
meu lado antes de apertar o garfo com força e me olhar com ódio. Sorrio de lado
para ele o deixando ciente de que não estou a fim de conversa, a raiva borbulha
como um vulcão. Se o stronzo me rejeitou achando que eu estava sendo grudenta,
agora vai perceber que não era nada disso. Que morra se contorcendo para saber
o que eu queria.
— Espero que não faça isso quando descobrir quem é, minha filha precisa
de um pai.
— Bom, se o stronzo a rejeitar, tenha a certeza de que eu assumo esse
papel com orgulho. Não vou deixar nada faltar para a minha sobrinha.
Levi se senta me fazendo deitar, ele encara meu ventre e toca minha
barriga com cuidado.
— Sì, é aqui onde minha família está e quero dar uma pausa, me alimentar
melhor e cuidar da minha menina sem estresse.
— Como quiser — beija meu ventre — o zio Levi vai te amar e te proteger
de tudo e todos, minha princesinha. Você vai ter três priminhos para brincar e te
amar.
Sim, minha menina terá uma família que a ama e protege de tudo e todos,
nunca vamos deixar nada faltar e mesmo que o Daniel não queira assumir sua
responsabilidade eu estarei pronta.
— Obrigada Levi.
Ele beija minha bochecha antes de me puxar para seu colo novamente. Em
algum momento eu adormeço.
Lira
Por isso decido acabar de uma vez com a tormenta e deixo que ele me siga
para o quarto.
— Deveria — ergo o queixo — você não quis falar comigo quando tentei
contato, o que mudou?
— Combinamos que seria somente uma noite. Lira — seu polegar desliza
pela minha bochecha — ligações no dia seguinte não fazia parte do acordo.
— Você — ele me olha com tanta fome que me deixa ansiosa, querendo o
provar mais uma vez — mais linda do que nunca.
Levo a mão ao ventre pronta para contar a ele. Foi o Daniel que veio atrás
de mim, é ele quem me tenta, querendo a minha atenção e mais uma noite de
sexo. É ele quem terá de lidar com as consequências dessa vez.
Sou virada de costas, sua mão agarra minha bunda quando ele me faz ficar
de joelhos na cama. Levanta o vestido expondo meu quadril e eu entro em
chamas ao sentir sua barba raspando na minha pele, mordendo minhas coxas e
sugando minha intimidade pulsante por cima da calcinha. Apoio as mãos no
colchão, esquecendo completamente que um dia eu queria dizer algo a ele e
mergulhando no prazer enlouquecido que sua boca me causa.
Daniel me solta e ouço o som da camisinha sendo rasgada, dessa vez ele
lembrou. Pena que não vai adiantar de nada. Empino mais a bunda abrindo as
pernas para facilitar a sua entrada, deixo que me penetre forte e bruto. Gemo
gostoso aproveitando cada segundo das estocadas contra a minha pele, das mãos
apertando com força minhas coxas puxando contra ele, da respiração pesada que
desce contra meu pescoço.
Percebo que ele se aproxima de seu ápice e baixo o quadril fazendo seu
membro escapar de dentro de mim. Como um animal cedendo, ele segura meu
quadril me virando de frente, pronto para meter novamente, eu sorrio ao fechar as
pernas impedindo sua investida. Me sento na cama, enquanto Daniel me olha sem
entender o que aconteceu.
De joelhos vou até ele, seguro seu queixo trazendo sua boca para mim em
um beijo erótico, quente. Suas mãos apertam minha bunda, tentando me fazer
abrir novamente as pernas. Mordo seus lábios preguiçosa, o encaro com lascívia
no olhar e sorrindo o solto.
Me deito na cama rezando para não me arrepender, ainda temos mais dias
juntos na mansão e agora que consegui a minha vingança, poderei contar a
verdade e deixar que o Daniel decida o que ele quer fazer.
Para mim sempre foi clara qual a decisão certa, ter a minha bebê e a amar,
independente do que o pai dela queira fazer. Minha piccola será amparada por
uma família que a ama.
Por mais que eu queira irritar o Daniel, decido o fazer em outro momento.
Termino de comer e subo para o meu quarto, ansiosa demais pela minha proeza,
acabo demorando a dormir.
Levi e Olivia vão se casar! O que era para ser uma festa de aniversário da
pequena Cecilia, se transformou em um casamento de última hora. Por sorte, a
estrutura que ele usaria para fazer o pedido de casamento acabou sendo perfeita
para usar durante a cerimônia. Que foi linda e perfeita, após a festa todos se
reúnem para beber e por volta das 2 horas da madrugada, eu canso de tanto rir
das histórias do pai da Olivia com o meu pai, ambos planejam uma viagem de
coroas pelo próximo ano.
— Boa noite para vocês — digo a todos e a ninguém em especial. Subo
para meu quarto morta de cansaço e quando finalmente entro e fecho a porta um
sapato preto impede.
— O que você quer? Achei que tinha ficado claro que seria somente uma
noite — cruzo os braços, como ele não percebeu meu ventre inchado nesse
vestido colado?
— Era para ser, mas você não sai da minha cabeça — toca a testa — porra
Lira, eu sou um homem adulto que desistiu do amor depois das merdas que a
minha ex fez, ter sentimentos por você nunca fez parte dos planos.
Desarmo, ele realmente gosta de mim? Meu coração acelera uma batida
quando ouço suas palavras.
— Nunca.
— Eu não posso ter filhos — ele fala com pesar. — O pai do seu bebê deve
ser outra pessoa.
— Não estou enganada, Daniel, é você! — Aperto os punhos com raiva
pela sua recusa.
Atônita e sem reação, é como eu fico quando Daniel passa por mim me
deixando sozinha no quarto. É impossível o que ele acabou de falar, eu tenho
plena consciência que não me deitei com nenhum homem ao menos três meses
antes de o conhecer e depois dele, não existiu mais ninguém. A minha bebê é do
Daniel, mas como o fazer acreditar que falo a verdade?
Subo decidida a esperar. A espera leva horas e quando percebo o sol nasce
e o aniversário da Cecilia começa. Daniel passa o dia trancado de ressaca, e o
Louis feliz da vida tirando fotos com a filha. Tenho vontade de falar com a
Beatrice sobre o que aconteceu, mas desisto ao ver a minha amiga conversando
com o Cowboy gostoso. Quando desisto de esperar o Daniel sair do quarto, vou
até lá. Entro o encontrando deitado, encarando o teto.
— Seu babaca.
Estou certa sobre a minha decisão. Não vou permitir que Daniel rejeite
novamente a minha filha, eu fiz a minha parte, contei a verdade. Não preciso dele
para ser uma boa mãe.
Daniel
Puta ressaca do caralho, eu não deveria ter bebido tanto ontem com o
Louis. Às vezes esqueço que o maldito italiano tem um fígado de aço que
aguenta álcool como se fosse água. Não lembro bem o que aconteceu ontem, o
dia inteiro foi apagado da minha memória e agora estou trancado no quarto,
sofrendo com dor de estômago, cabeça, e enjoado para cacete.
Lembro que o motivo da minha raiva foi a Lira, como ela ousou me
dispensar depois de todo o tempo que passou tentando entrar em contato?
Quando não era as ligações dela que eu rejeitava, eram as da minha ex-esposa,
que está determinada a tirar até o último centavo que eu tenho com o pagamento
da maldita pensão.
Mas ela tinha a porra de um amante desde os 35 anos, poderia ter usado ele
para dar os filhos que ela queria, já que eu não era uma opção.
Sempre que me lembro daquele dia eu tenho vontade de beber cada vez
mais, fiz o exame e pouco depois o médico me deu a notícia, Verônica chorou a
noite toda e depois que fui trabalhar e retornei, ela tinha desaparecido. Por uma
semana inteira não tive notícias dela e quase enlouqueci, a polícia achava que eu
a tinha matado.
Por isso fui para o banheiro e bati punheta como um maldito adolescente,
louco para gozar e poder tirar satisfação com a safada, a foder de novo até o talo
e esporrar no meu interior quentinho.
Mas ao invés disso, bebi como um condenado por causa da raiva que a
Verônica me causa e ainda tenho de aguentar a Lira entrando feito um vendaval
no meu quarto espumando pela boca, querendo explicação sobre o que falamos
ontem. Eu nem lembro de a ter visto depois do casamento, quanto mais de
conversado. Mas sei que não transamos ou minhas bolas ainda não estariam
doendo de desejo.
Ela vai embora bufando de raiva e eu continuo rezando aos céus para me
recuperar da maldita ressaca. No andar de baixo as crianças gritam,
principalmente o Lorran, ocasionalmente o ouço dando ordens nas brincadeiras.
O menino será pior que o tio e o pai juntos quando crescer, ou talvez ainda pior
que a Lira, que parece uma mistura feminina dos irmãos.
Por mais que eu queira esquecer a diaba, ela não sai da minha mente.
Durmo após tomar outro comprimido, acordo de madrugada com uma cede
infernal, o jarro de água que eu tinha trazido secou e tenho de descer. Na cozinha
a luz da geladeira acesa me mostrando uma bunda empinada na minha direção, eu
conheço aqueles cabelos loiros como o sol e a bunda mais redonda e gostosa que
eu já vi. Me aproximo devagar dela que come o resto do bolo.
Lira se assusta e afasta para trás, batendo contra meu quadril, a seguro com
as mãos. Ela gira nos meus braços me olhando desconfiada, com a boca cheia de
glace. Ao contrário do que outras mulheres fariam, ela me ignora e volta a ficar
inclinada com a bunda roçando em mim enquanto come seu bolo. Me estico
sobre ela pegando a garrafa de água, roçando meu pau traidor e duro como aço na
bunda que ele quer comer.
— Até você me deixar meter no seu rabo — digo antes de beber a água.
Lira, como a capeta que é, segura o vestido para cima, levantando o tecido
e me mostrando a calcinha de renda preta. Agarro sua bunda redonda, alisando a
pele como um tarado, esfregando em sua bunda gostosa. Deixo a jarra em cima
do balcão e fico de joelhos, beijo sua bochecha arranhando a barba contra a sua
pele. Sem paciência para joguinhos, eu desço sua calcinha, provado a delícia do
seu mel na minha língua.
— Tem certeza de que não vou te deixar na mão de novo? — ela pergunta
e eu ligo o foda-se, agora que provei o gosto da sua bocetinha, eu só quero mais.
— Eu poderia te deixar me fazer gozar e sair daqui rebolando — fecha a
geladeira, sentando-se para trás, esfregando a boceta na minha boca. Mordo seu
grelinho arrancando um gemido safado dela.
— Você não vai embora — digo soltando sua carne e ficando em pé.
Acho que ela deve falar da última vez que transamos, mas estou realmente
confuso como a camisinha pode ter vindo parar no assunto. Eu tenho certeza de
que não tenho nenhuma DST, faço meus exames regularmente e antes de transar
com ela e depois eu estava limpo. Sou um homem estéril que não pode ter filhos,
não consigo entender a raiva dela, quando obviamente ela esqueceu também.
Ela sai bufando da cozinha e eu fico sem entender que porra acabou de
acontecer. Camisinha, teste, o que diabos essa mulher quis dizer com isso? Coço
a cabeça decidido a ir tirar essa história a limpo, quando subo o primeiro degrau
da escada meu celular toca, nem lembrava que estava com ele no bolso. O nome
de Verônica brilha na tela e eu tenho vontade de cometer um assassinato.
— Te avisar que entrei com uma ação para aumento de pensão, já que
você se recusa a fazer isso com uma conversa amigável, eu vou para a justiça.
— Peça pensão ao maldito do Fred, é com ele que você namora e me traiu,
ou já se esqueceu que o desgraçado me deu um golpe e ficou com a minha
empresa?
— No dia que você passou a ficar mais na empresa do que comigo, agora
aumente a minha pensão, não precisamos de um juiz, você sabe que tudo o que
fez comigo e como isso me magoou.
— O estéril aqui é você, amor, não eu, fiz todos os exames necessários na
época, não me faça repetir. Eu era completamente fértil. Agora aumente a minha
pensão.
Nunca vou ser capaz de superar a dor que a Verônica me causou e por isso
me surpreende tanto a minha vontade de ter a Lira, dela não sair dos meus
pensamentos, isso não acontece desde o meu divórcio.
E quanto mais essa diaba me rejeita, mais eu quero ir atrás dela e fazê-la
engolir o seu orgulho enquanto como sua bocetinha. Levo os dedos aos lábios
aproveitando o resquício do gosto dela. Preciso tê-la novamente, mas não hoje,
estou irritado demais com a Verônica e sou capaz de discutir feio com a Lira
projetando nela a minha raiva.
Volto para o meu quarto, ainda temos mais uma semana na casa de verão
da família Vittileno, vou usar esse tempo para entender o que a Lira quis dizer
sobre teste e camisinha. Na minha cabeça não consigo encaixar as peças desse
quebra-cabeça, e a italiana arisca vai ter de fazer isso, por bem ou sob tortura a
amarrando na cama e impedindo que goze, enquanto não me falar a verdade.
Não que eu seja um tarado, mas a primeira coisa que faço ao acordar é ir
atrás da Lira, encontro seu quarto vazio, desço as escadas vendo a família reunida
na mesa, noto a ausência da Lira e da loura amiga dela, acho que era Beatrice o
nome da mulher. Me sento ao lado do Louis e como quem não quer nada
pergunto:
— Sim, eles voltaram para cuidar da fazenda e a Lira foi junto — Olivia
me responde, atenta a conversa.
— Entendi.
Me limito a dizer, pelo visto terei de esperar outra reunião de família a qual
serei convidado para conseguir falar com a Lira. Apaguei o número que ela me
ligava e não posso pedir a seus irmãos sem levantar suspeitas de que algo
aconteceu entre mim e ela.
O alívio que sinto é tão grande que tenho vontade de ligar para o Daniel e
dizer que a nossa menina está saudável e bem, que acabam os dias de medo e
comilança desesperadas — tudo com base no que a minha nutricionista
recomendou — que ela finalmente ganhou peso e minha barriga de gestante pode
ser vista a quilômetros de distância.
O Dia dos Namorados se aproxima e tenho planos para o casal, pena que
eles não sabem disso ainda.
Sinto saudades da Louise, mas sou grata todos os dias por ter a Beatrice ao
meu lado.
Por sorte não estamos em temporada que o nível da água sobe e podemos
andar sem precisar nos locomovermos em embarcações, tenho pena dos turistas
que veem aqui nessa época do ano, achando que encontrarão a cidade feita entre
as águas, isso só acontece em uma determinada época do ano, e é magnifico, mas
o resto do tempo é só uma cidade comum com muitos canais de água.
— Com certeza, ainda não tenho roupas o suficiente — adoro usar blusas
que deixam a barriga a mostra, exibindo com orgulho a minha gestação.
— Minha mãe disse que pode te ajudar no seu resguardo — ele fala
trazendo as sacolas.
— Eu agradeço e com certeza vou querer a ajuda dela. Todos vocês têm
sido incríveis nesse tempo, obrigada — seguro a mão dele, quando passa por
mim e o puxo para um abraço.
Essa fazenda é mais do que a sua fonte de renda, é o seu refúgio do mundo
e das dores do passado.
— E o pai da piccola? Ainda não quis saber dela?
— Ele tem meu número e eu já contei a verdade, se não me ligou, ele que
vá catar bosta de vaca.
Evito usar palavrões para a minha piccola não aprender, é difícil ser
criativa quando quero mandar alguém se foder, mas tudo pelo bom
desenvolvimento da minha menina.
— Ele tenta o tempo todo me fazer falar — dou de ombros — mas não
quero minha piccola sentindo que só foi aceita pelo pai devido ao tio babaca que
não respeita a decisão da mãe. Para mim o infeliz morreu.
— Certo — Dante fala — vou ter de assumir esse papel — ele brinca e eu
gargalho.
****
O tempo passa rápido e finalmente estou na semana final da minha
gravidez. Para facilitar o parto, me mudei para uma casa em Veneza, onde o
Louis tem feito morada com a Bianca lindamente grávida do segundo filho, e
Beatrice que reclama todos os dias de saudades do Dante, por mais que eu a
mande para casa ficar com ele, ela se recusa a me deixar só, e a sua afilhada.
Pego a frigideira na minha mão e taco no braço dele com ódio da sua
insistência em saber quem é o pai da bebê. Estou quase dando à luz e não suporto
mais ouvir a voz dele.
— Não mate meu papai — Cecília pede rindo, ela chora quando brigo com
ele.
— Está vendo piccola — Louis pega a pequena no colo — é isso que uma
gravidez faz com as mulheres, elas viram assassinas, nunca engravide.
Cecilia ri do pai e beija a bochecha dele. A pequena tem cabelos tão loiros
quanto os nossos. Será que a minha menina será loira, ou terá os cabelos pretos
como o do pai? Pensar nisso aperta meu coração, aquele desgraçado não me ligou
nenhuma vez querendo saber da nossa filha.
Louis me coloca dentro do carro e dirigi tão rápido para o hospital que
esqueceu a Bianca e a Beatrice no apartamento. Quando a dor alivia eu dou
risada da cara dele.
Daniel não faz ideia do que está perdendo, mas eu sei o que estou
ganhando quando uma garotinha pesando 3 quilos e 200 gramas é colocada no
meu colo. Os cabelos tão louros que parecem brancos, cobertos de restos de
sangue, o choro preenchendo meus ouvidos e aliviando meu coração ao segurar o
meu pedacinho de mundo nos braços.
O nome dela não poderia ser outro, meu serzinho de amor e paz, minha
piccola, Lizzie.
Daniel
— A filha da Lira.
A puta da Verônica conhece bem meu jeito de falar, andar e vestir. Ela
simulou com precisão cada uma das mensagens e dos encontros. Cometeu uma
tentativa de suicídio deixando uma carta em que me culpava e as provas no
celular. Óbvio que ela não morreu e foi socorrida a tempo, ela ingeriu
medicamentos para ter uma overdose e acabou com um problema grave no
estômago.
Perdi inúmeras coisas durante esses dois anos devido à maldita e pelo visto
a chance de rever a Lira e pedir desculpas por ser um completo idiota com ela, a
última conversa que tivemos não sai da minha mente nem por um segundo dos
últimos anos e a vontade de tê-la para mim.
— Eu amo a Lizzie — ele tem pesar no olhar — mas odeio o pai dela,
evito falar sobre para não acabar cometendo uma loucura.
Fico atento a informação, para o Louis não gostar de alguém, a pessoa
deve ser um completo babaca asqueroso. Bebo o líquido esperando que ele
continue falando sobre o cunhado, quando não o faz me deixo vencer pela
curiosidade e pergunto:
— Que fofinha — sorrio imaginando a cena, se ela é filha da Lira deve ser
perfeita como a mãe — mas o cara sabe que é o pai da Lizzie?
— Diz a Lira que contou ao desgraçado, mas ele disse que era mentira
dela, falando que era estéril e não podia ter filhos.
****
— Eu estou grávida.
— Quem é o pai?
****
****
— Não é
— Eu não posso ter filhos. O pai do seu bebê deve ser outra pessoa.
— Não, Lira, eu sou estéril, é uma merda que você pense que te
engravidei, mas não tem como.
****
Era sobre isso que ela falava sobre a camisinha e o exame. A Lira me
contou que o pai da sua filha sou eu, mas esqueci completamente que isso
aconteceu, e no dia seguinte fui um completo babaca com ela.
Linda, segurando uma menina loura de olhos azuis. Seu olhar encontra o
meu antes de tudo ficar escuro. Apago ouvindo chamarem meu nome.
Ignoro o Louis que fala ao meu lado e fico em pé caminhando até elas
como em transe. Estendo a mão tocando a da Lizzie, sorrio ao ver que ela
responde meu carinho estendendo os braços pedindo meu colo.
Lira puxa a filha para trás, mas sou mais rápido ao pegar a menina no colo,
ela quase não pesa. As bochechas gordinhas, os olhos dois diamantes, ela aperta
os dedinhos antes de segurar minha barba e puxar os fios. Chio pela dor
recebendo sua gargalhada como recompensa, cheiro seu pescoço, o aroma de
flores invade meus sentidos e lágrimas que me tomam. Não consigo entender o
motivo de me emocionar tanto segurando-a.
— Você teve dois anos para descobrir — ela segura a cintura da filha a
puxando para si — eu te disse antes e repito. Não vou fazer nenhum teste, minha
palavra deveria ter sido o suficiente.
E por causa daquela maldita, mais uma vez, meu mundo foi arrancado de
mim. Eu acabei de conhecer a filha inesperada que rejeitei. E o ódio da Lira não
me deixará me aproximar delas com facilidade. Aperto os punhos, perdido.
Daniel
— Sim, maluca de pedra — revira os olhos — achei que você não quisesse
mais falar dessa mulher.
— E não quero, mas quando eu tinha 35 anos fiz um exame para saber se
eu era estéril. A Verônica também fez e os dela deram negativos, mas os meus. —
Pego meu celular no bolso, abro a nuvem contendo a cópia de todo exame que eu
já fiz e procuro o arquivo que quero — veja isso — entrego a ele o resultado do
exame.
— Porra — ele fala após analisar — agora eu entendo você nunca ter tido
filhos — me entrega — mas o que isso tem a ver com o que acabou de acontecer?
— Quando você me disse que o pai da Lizzie era alguém que fingiu ser
estéril, eu tive uma lembrança — Louis se inclina para frente, posso ver como a
irritação vai tomando conta dele — no casamento do Levi com a Olivia, recorda
que a Verônica começou o inferno devido à pensão?
— Sim, você achou que poderia beber três garrafas de uísque sem morrer.
— Lembrei disso faz pouco tempo, e minha cabeça quase explode — paro
de frente para ele apoiando as mãos na cadeira vazia — a Lira disse que eu era o
pai do bebê que ela espera e eu respondi que isso era impossível por que sou
estéril. E você acabou de ver o exame, não tem como ser falso.
Louis levanta com brusquidão arrastando a cadeira para trás. E vem a mim,
encho o peito de ar pronto para o enfrentar, sou um homem de 43 anos que já
tomou muita porrada da vida, não vou abaixar a cabeça para o Louis que é mais
novo, apesar de ser o meu chefe e irmão da mulher com a mínima chance de ser a
mãe de uma filha que eu nem sabia até poucos minutos.
— Eu quero muito socar a sua cara por fazer a Lira sofrer esses anos e
deixar minha sobrinha sem um pai. Se ela acredita que você é o pai da Lizzie eu
não vou duvidar e foda-se esse exame.
— Por isso eu disse que tenho de fazer um novo. Fiz com um médico
indicado pela Verônica e depois de tudo que essa vadia fez nos últimos anos, é
capaz dela ter pagado para adulterarem o exame.
— Não tinha parado para pensar nisso — me sento — não pensei em nada
— arrasto os dedos pelo cabelo com raiva borbulhando no meu peito — o que
mais aquela desgraçada vai tirar de mim — bato na mesa.
— Agora eu te desejo boa sorte, a Lira quer arrancar seus olhos — ele
mexe no celular — vamos manter isso entre nós por enquanto, não quero dar
falsas esperanças à minha sobrinha.
Vou conquistar a minha filha e a mulher que não saiu dos meus
pensamentos nos últimos anos. Não importa quanto tempo leve, enquanto ela não
se apaixonar por outro, eu tenho chances.
— Eu sei, mas quando o fazem é de coração, caso não, você e seu irmão
ainda estariam sofrendo pelas mulheres que amam.
— Você tem um ponto.
— Certo.
Não sei por que me sinto mais novo que o Louis ao ser confrontado por ele
nesse momento. Tenho de voltar ao meu normal, se quiser lidar com a situação da
Lira e não deixar que a Verônica abale nossa relação também. Por causa daquela
vadia eu perdi tudo uma vez, nunca mais deixarei isso se repetir, mais do que
nunca, eu tenho pelo que lutar agora.
A vontade de ajudar somente ela aperta meu ser, mas não posso deixar as
outras se machucarem. Por isso levo Lizzie comigo, pego o pote de bombons em
cima do armário, e entrego a ela três bombons, ela sorri agradecendo antes de sair
correndo com os coqueirinhos balançando na cabeça loura.
— O que pensa que está fazendo? — a voz que povoou meus pensamentos
nos últimos anos soa irritada atrás de mim, sua mão pequena segura meu
antebraço impedindo o meu avanço na direção das crianças.
— Não tem como isso ser verdade, eu tenho certeza sobre a paternidade da
Lizzie — fala chocada.
— Isso é loucura — ela diz se afastando — Não importa o que você vai
fazer daqui em diante, eu não te quero perto de mim ou da minha filha.
— Você não tem o direito de jogar sobre mim essa responsabilidade — ela
fala visivelmente abalada.
Assim como eu, não esperava chegar aqui e encontrar uma filha e perceber
o erro que cometi. Lira não imaginou que a minha reação pudesse ser algo além
da recusa, ao invés da aceitação que estou demonstrando. Vou provar a essa
mulher que nada é o que ela imagina.
Lira
Ele não tinha esse direito, não depois de dois anos e nove meses de
gravidez em que o Daniel não quis saber se a filha estava viva, bem, ou passando
por alguma dificuldade. Não deu a mínima para os medos que tive quando estava
grávida e a Lizzie não ganhava peso, não soube a felicidade quando descobri o
sexo dela ou quando ela engordou ganhando o tamanho esperado de um bebê.
Como foi sentir o hálito dela pela primeira vez mostrando que respirava,
ou o medo que tive no parto de não conseguir fazer força suficiente. Foi meu
irmão quem segurou a minha mão enquanto a médica me mandava empurrar e eu
gritava, e o Daniel fazia sei lá que merda durante o nascimento da filha.
Ele não viu quando a Lizzie estava aprendendo a andar e caiu batendo a
cabeça no chão, abrindo um corte que me levou ao desespero, e fez o Dante
dirigir como louco para o hospital enquanto eu me desesperava com a minha
pequena inconsciente no meu colo e o machucado aberto.
Quando ela tinha um ano e um mês sofreu uma concussão e ganhou uma
cicatriz no couro cabeludo de 2 centímetros.
Somente eu, Dante e Beatrice, sabemos o desespero que foi aquela noite e
muitas outras. Acompanhamos de perto os primeiros passos, as risadas, as falas
emboladas na língua que só os bebês sabem se comunicar. O primeiro aninho e
como ela estava linda vestida de joaninha, com a tiara com orelhas que ela vivia
pegando e colocando na boca.
Ele não tem o direito de aparecer depois de dois anos, e agora querer me
convencer com esse maldito teste que fala que ele não pode ter filhos. Eu tenho
certeza e foda-se que ele estava bêbado, se no dia seguinte tivesse aceitado
conversar quando tentei, ao invés de somente querer me comer, nada disso teria
acontecido sem ele por perto. Eu não teria me refugiado com a Beatrice para ter
paz e sossego, ele poderia ter cuidado da gente.
E agora vem com a desculpa de que foi preso? Nada disso faz sentido e só
mostra o perigo que ele realmente representa para a minha família. Não posso
deixar a Lizzie chegar perto de um homem com uma ex maluca, que forjou um
exame de fertilidade, vou manter a minha filha segura a qualquer custo,
independente do que seja à vontade dele.
O desgraçado ainda se atreve a pedir para que eu não destrua a vida dele?
A ira me invade como um vendável e tenho vontade de o mandar tomar no cu, se
não fosse os malditos olhos tristes e brilhantes do homem que tem atormentado
cada um dos meus pensamentos nos últimos anos, seja de ódio ou de saudades.
— Eu sei e sinto muito por ter te desapontado — ele fala, o idiota tem
tanta sinceridade na voz que eu quero socar a cara dele — é tudo muito novo
ainda...
— Eu tinha certeza que era infértil e não lembrava da nossa conversa, por
favor, entenda o meu lado — pede apertando os punhos.
Passo por ele indo até a Lizzie que se empanturra comendo chocolate.
Louis observa sem fazer nada, enquanto as crianças se lambuzam com os doces.
Esse desgraçado nunca soube colocar um limite nelas e tira o juízo das mães
quando repara nas crianças. Lorran dava para ser um traficante de doces que
nunca é preso, devido à fofura em excesso, mas dessa vez eles vão ver.
— Leve agora suas filhas para o banho e limpe esse chocolate delas.
Se um dia achei que Bianca tinha rendido meu irmão, isso caiu por terra ao
ver como ele é com as filhas, um completo babão, que faz tudo o que elas pedem
sem recusar. A Bianca sofre tentando colocar limites, e eu que passo dor de
cabeça quando ele envolve a Lizzie no meio do seu reinado sem regras.
— Cruzes — Louis pula com o susto, e mordo o lábio para não rir.
— Manda sim amor — ele beija os lábios dela, sendo recebido pela
gargalhada das filhas — e vou agora dar banho nessas confeiteiras para que você
não precise se preocupar com isso.
Não sei o que fazer, não me preparei o suficiente para o que aconteceria
agora. O choque de realidade não ser o que eu imaginava acaba comigo. E ver o
carinho dele com ela, tudo que eu sempre quis quando a minha menina
perguntava pelo “papa” sempre que via as primas e primo chamando os pais
deles, a dor de não saber o que responder, na minha frente, tenho a resposta para
todas as minhas orações.
Mas a dor não me permite aceitar com facilidade, a qualquer momento ele
pode desistir novamente e nos abandonar, magoar a minha menina, e isso eu não
posso deixar que aconteça. A maternidade pode ter me deixado mais mole, mas
em compensação, estou o triplo cautelosa e preocupada com quem se aproxima
da Lizzie.
— Tudo bom? — Ela pergunta rindo, é uma das poucas frases que sabe
falar direito.
— Não fique brava com ela, mamãe — Daniel fala me olhando enquanto
segura a mão da Lizzie — a culpa foi toda minha, brigue comigo.
— Com certeza eu vou — o encaro de rabo de olho — mas agora vou dar
um banho nessa porquinha.
Lizzie gargalha alto se jogando contra ele, a cabeça dela para no peito do
Daniel e minha filha sorri tranquila, como se soubesse que está na presença do
pai. Eu tenho de tomar cuidado ao proteger nós duas, minha pequena não pode se
apegar a um homem com chances de desaparecer das nossas vidas se decidir que
não quer ser o pai dela, ou que é demais para ele.
É somente por ela que eu decido colocar o meu orgulho de lado, vou
confrontar o Daniel e dizer tudo que deixei entalado por dois anos na garganta
como facas me cortando, sempre que eu me deitava para dormir e a nossa
conversa retornava a minha mente. Ele não sairá impune e muito menos
encontrará um mar de rosas por decidir assumir seu papel paterno.
— Mais tarde conversamos — digo a ele, sabendo que não posso viver no
limbo.
Se tem algo que aprendi com a história dos meus irmãos é que todos
merecem uma segunda chance, mas nem por isso eu tenho de passar por cima das
minhas dores, posso fazer tudo no meu tempo, quando achar que o momento
propício.
Daniel
Por ser final de semana, vou ter de esperar a segunda para fazer o exame
na clínica que a secretária do Louis marcou. Cancelei toda a minha agenda da
semana e vou ficar na Itália para conseguir resolver as coisas com a Lira, torço
para que ela não decida voltar para a fazenda da Beatrice e fique na casa do
irmão, para podermos conversar, eu quero saber tudo sobre a Lizzie, cada detalhe.
Estou em uma posição delicada onde uma das duas mulheres com quem
me envolvi contam versões diferentes para fatos que alteram a minha vida. A
primeira que eu nunca poderia ter filhos, e a segunda que tive uma filha e a
rejeitei em meio a uma bebedeira desenfreada, e a certeza inabalável de confiar
na avaliação de um médico.
Uma destrói a minha vida, a outra me oferece uma chance de ter tudo o
que eu sempre quis e me foi negado.
Eu só tenho de descobrir como fazer Lira perceber que não sou o vilão da
nossa história, mas, outra vítima de uma mulher louca. Manter a cautela vai ser o
principal no momento. Lira me odeia — e ela tem motivos — mas preciso
mostrar que mudei e o que fiz não foi usando a razão, mas em uma noite, bêbado
e irritado pela mulher que me destruiu.
— Diga o que você quer. — Ela entra na defensiva, deve estar achando que
planejo levar a Lizzie para mim.
— Você tem até o amanhecer, se eu não gostar do que você vai falar, irei
embora com a minha filha amanhã e nem tão cedo você a verá novamente.
— Porra — aliso os cabelos — isso foi pouco tempo depois que transamos.
Na época achava que você queria um encontro por estar apaixonada.
— Para ser sincero com você — digo, decidindo manter a conversa no tom
adequado — naquela época comecei a ter problemas novamente com a minha ex-
esposa. Estava irritado, e quando pensava que você poderia ser grudenta como
ela, eu queria distância.
Levanto indo para o seu lado, pego o corpo pequeno contra o meu, a
envolvendo em um abraço forte, expurgando as suas dores como deveria ter feito
enquanto ela estava grávida, não a deixando passar por isso sozinha. Lira mancha
minha camisa com as lágrimas de frustração e tristeza, beijo sua cabeça alisando
suas costas para a fazer se sentir melhor.
— Não, Lira, você não sabe de nada e precisa me ouvir para conseguir
entender.
— Fale.
— Para você entender do começo, tudo que culminou naquela noite e nos
dias seguintes.
— Prossiga.
— Verônica cursava Arte e Designer, ela queria ser estilista e fazia bicos
como modelo. Também vinha de família humilde, mas queria o mundo a seus
pés. Foi fácil se apaixonar, começamos a namorar, e quando nós nos formamos,
eu consegui emprego na empresa do meu amigo Fábio, que também era amigo da
Verônica, éramos um trio.
— Seu ogro — bate no meu peito, mas não faz menção de se levantar.
— Isso é perigoso.
— Agora eu percebo, ela nunca quis ter filhos para não prejudicar o corpo,
e eu estava envolvido demais na empresa. Até que do nada, quando já tínhamos
35 anos e 15 de casados, ela decidiu que queria, tentamos por cinco meses até
percebemos que tinha algo errado. Fizemos uma série de exames com o médico
que ela tinha escolhido. Quando no final, ele me disse que eu era o estéril, não
duvidei.
— Eu estava arrasado. Lira, Verônica me culpava por ela não poder ter
filhos, todos os dias brigávamos por causa disso. Eu queria tanto um bebê, cuidar
dele de pequeno, ver crescer, os primeiros passos e dar risada quando falasse
errado enquanto aprendia a dizer as palavras. Depois de dois anos, a ideia se
fincou no meu coração como uma árvore secular com raízes enormes. Eu tinha
aceitado que nunca teria um herdeiro, eu era estéril e nada poderia mudar isso.
— Sim, e mesmo depois do resultado ela não engravidava e dizia que não
tomava anticoncepcional. A minha vida adulta foi baseada em confiar na minha
esposa, nunca tive motivos para duvidar dela — encosto a testa em sua clavícula
— me perdoe por ser insensível e não ter desconfiado antes das intenções dela.
Eu já estava tão certo de que não poderia ter filhos, que quando você falou, me
pareceu outra mentira de alguém querendo me manipular.
— Sim, eu lavei a cara, vesti um terno e fui para a empresa. Louis que me
entrevistou, e no segundo em que me viu sabe o que ele perguntou?
— Meu irmão pode ser babaca, mas sabe ser um cara decente quando
precisa — ela sorri alisando minhas bochechas — realmente, sua ex era uma
vadia.
Lira sai do meu colo e caminha até a cozinha, ela retorna com um vinho e
duas taças, sentando-se novamente na minha perna, me oferecendo o líquido. É
estranho como me sinto confortável em contar para ela sobre o meu passado,
quem sabe quando ela realmente me conhecer e entender as minhas dores, possa
me deixar fazer parte da vida de Lizzie.
Lira
— Sim, e estava com raiva por você ter me usado na noite anterior, sua
diaba — morde meu queixo — continuo de bolas azuis devido à sua brincadeira.
— Não foi brincadeira — puxo seu cabelo — foi vingança.
— Lira, eu tenho 43 anos e nunca conheci uma mulher como você — sua
mão pousa na minha bunda, trazendo meu centro para perto do seu pau duro. A
voz do Daniel fica um oitavo mais grossa, me prendendo à sua sedução.
— Não vou me sentir culpada... — Daniel cala meus lábios com um dedo.
— Não pode estar falando sério — bebo o resto do vinho, e Daniel faz o
mesmo, encho nossas taças, incrédula com o que a ex dele foi capaz de fazer.
— Não percebi que você tinha esquecido. — Se eu tivesse sido mais atenta
aos detalhes, talvez pudesse...
— Tem como piorar? — bebo meu vinho. — Acho que vamos precisar de
algo mais forte.
— Venho já.
Meu coração continua muito magoado por tudo o que já passei, e os dois
anos que estive isolada do mundo, somente na companhia das pessoas queridas
para mim e vendo a minha menina crescer, trouxeram uma calmaria da qual eu
não quero abrir mão. Vou continuar criando a Lizzie como tenho feito, mas talvez
agora, a minha menina tenha alguém para chamar de “pai”.
Tudo vai depender do ritmo dessa noite, não tenho certeza de que deveria
beber enquanto temos uma conversa séria como essa, mas de tudo que eu
esperava ouvir, com certeza não era uma história triste como a do Daniel e eu
preciso de muito álcool no meu sistema. Pego o uísque do Louis e retorno para a
sala servindo uma dose para cada. Me sento no seu colo novamente, pronta para a
bomba final.
— Continue — peço.
— Completamente — ele bebe e serve mais uma dose para a gente, sem
nunca me tirar de seu colo, a mão repousando na minha bunda. — Passei alguns
dias preso esperando o pagamento da fiança. Meus bens tinham sido congelados,
então precisei esperar o Louis ir ao Brasil com os advogados me libertarem. As
provas do delegado eram quase irrefutáveis.
— Quais eram?
— O investigador era ótimo, mas o que me ajudou, foi que na sala em que
trabalho na empresa tinha câmeras que gravaram quando eu estava trabalhando, e
o celular acendia no meu bolso, mostrando que alguém o usava ou quando eu saia
de sala e o deixava em cima da mesa. Depois disso deduzimos que ela fazia o
mesmo quando eu estava dormindo. Os encontros foram todos armados.
— E como ela tentou se matar? Se desse errado, ela teria passado dessa
para o além — ele vira o copo e o acompanho, o álcool começando a fazer efeito.
— Ela ingeriu remédios para ter uma overdose e a governanta, que sabia
do plano, a encontrou e levou ao hospital. Conseguimos o depoimento da mulher
após provar que ela seria cúmplice. Diante do juiz eu provei a minha inocência e
a culpa da Verônica, mas a desgraçada conseguiu provar que era mentalmente
instável e por isso foi internada em um hospital psiquiátrico, com pena mínima de
dois anos, podendo sair caso melhore, e depois serviço comunitário.
— Sim, ela já cumpriu um ano, e temo, por quando for liberta. Se você e
Lizzie estivessem na minha vida enquanto toda essa loucura aconteceu, ambas
poderiam ter se machucado — ele encosta a testa na minha — Verônica já provou
a cobra ardilosa que ela é, se ela soubesse na época sobre você e a Lizzie, eu nem
quero imaginar o que ela teria sido capaz de fazer.
— Me perdoa por dizer isso, mas talvez tenha sido uma salvação ela não
saber da Lizzie, só de imaginar ela ferindo vocês — ele aperta os punhos — me
perdoa.
Meu coração aperta só de pensar em como poderia ter sido as nossas vidas,
e o inferno que a Lizzie teria passado ao crescer com uma louca perseguindo o
pai dela, como isso poderia respingar em nós duas. Ao invés de anos tranquilos
com a minha menina se apaixonando por animais, teríamos passado por um
pesadelo, causando traumas terríveis.
— Você perdeu 9 meses de gravidez e dois anos de vida dela, não perca
mais um único dia.
Eu ainda não acredito que tenha algum futuro para mim e ele, as mágoas
que carrego não cicatrizaram com facilidade, mas esse é um novo começo. Um
que abraço de peito aberto e leve, mas cautelosa. Disposta a não cometer os
mesmos erros do passado.
Daniel
— Não vou me mudar para o Brasil para que isso aconteça — ela fala
decidida, embora a voz melosa.
— Eu venho para a Itália ficar com ela — aperto sua coxa em minha mão,
pronto para a deitar no sofá debaixo de mim — e com você — sopro em seus
lábios. Lira fecha os olhos, o rosto implorando por um beijo.
Seguro sua cintura e sua coxa, deitando-a e ficando por cima. Meu pau
moendo sua boceta coberta pelo short. Não lembro a última vez que transei, e a
frustração por não gozar naquela noite com Lira, ainda perturba a minha mente.
Eu preciso dela, a fazer minha e expurgar a vontade latente que crepita
entre nós sempre que nos encontramos.
— Diga que não é o álcool agindo — peço beijando seu pescoço macio.
Estico a língua lambendo a pele, distribuindo lambidas até a sua orelha, onde
faço seu lóbulo com um pequeno brinco de reféns dos meus dentes.
Lira aperta as mãos ao redor dos meus ombros, a pélvis batendo contra a
minha, enquanto ela engole um suspiro pesado, o desejo evaporando de seus
poros e se chocando com o meu. Ensandecido para ter o que me foi proibido.
Aliso sua coxa, notando os poros arrepiados, arranho o interior mordendo com
mais força sua carne, impulsionando meu quadril contra seu centro. Lira geme
baixinho puxando minha camisa.
— Certo — agarro seu queixo a puxando para mim. — Mas antes vou
matar outra fome.
— Ganhei na gravidez — Lira fala, a voz nem um pouco insegura, ela sabe
que apesar das estrias continua linda.
— Te deixou ainda mais gostosa — mordo sua pele — espero que outros
caras não tenham visto isso — digo, o ciúme batendo com a possibilidade de ela
ter sido de outros.
— Só quem eu deixei — me provoca.
Levanto a mão e desço estralando contra sua bunda, a safada ri, sabendo
que conseguiu mexer comigo. Odeio a ideia de pensar em outro tocando o que é
meu, beijando a boca que me pertence, cheirando a boceta que somente eu posso
colocar o nariz nela. O sentimento de posse se espalhando pelo meu corpo como
uma maldita droga.
Fico de joelhos e removo o short da Lira com calcinha de uma vez, abro
suas pernas me contemplando com a visão da sua bocetinha inchada, os olhos da
maldita brilhando em excitação, ansiosa pelo que estou prestes a fazer. Desço a
mão entre suas dobras, apertando o clitóris inchado com meus dedos, ouvindo os
gemidos da minha mulher.
— Nunca mais outro homem vai te tocar aqui — eu digo, ela morde os
lábios e me preparo para a retórica.
— Desgraçado — rosna.
Ignorando o bom senso fico de joelhos, retiro meu pau da calça descendo
de uma vez contra a bocetinha molhada que senti falta. Meto em seu interior de
uma vez, respirando pesado contra seu rosto. Lira fecha os olhos arranhando
minha cintura com as garras que ela chama de unha. O canal escaldante e
molhado me devora com uma necessidade tão grande quanto a que tenho de
meter nela.
Era disso que eu precisava durante esses anos, tudo que busquei, encontrei
novamente nos braços da mulher de boca atrevida, com coragem de me deixar
sem gozar para provar o quanto se irritou comigo. Lira é uma caixinha de
surpresas arisca e de forte coração, com coragem e convicção o suficiente para
suportar as pancadas da vida.
— Sim — responde.
Soco mais duas vezes com força antes da fisgada em minhas bolas,
liberando o jato de porra que prendi enquanto a esperava atingir o seu ápice.
Gemo rouco chamando por seu nome no seu ouvido.
Desabo as pernas cansadas, suspendo meu corpo com os braços para não a
esmagar enquanto ela recupera o folego embaixo de mim. Minha coisinha
preciosa, os fios louros desgrenhados, a boca inchada e aberta enquanto inspira e
espira, as pálpebras pesadas, as mãos segurando minha cintura. Não resisto a
vontade de roubar um beijo apaixonado de sua boca carnuda.
— Minha — digo.
— Vou falar isso todos os dias até você ceder — beijo seu pescoço
enquanto ela se encolhe — vou te fazer minha, nem que dure dez ou vinte anos.
— Eca, você já vai estar um velho pelancudo — ela me provoca.
— Vou te mostrar quem usa Viagra — levanto com ela no colo. Com o pé
pego nossas blusas que caíram no chão.
— Com certeza iremos, você vai ver quem é o velho pelancudo — bato na
sua bunda branca arrebitada — sua atrevida.
— Sexo não significa nada, Daniel — ela puxa meu cabelo beijando minha
boca, a fala cansada e triste de quem já desistiu de encontrar um amor.
Eu era assim quando nos conhecemos, após o meu divórcio não acreditava
mais em paixão ou finais felizes, mas com Lira eu quero tudo, uma família
completa, e só vou desistir quando a fizer perceber que estou falando sério. Tenho
dois anos para recuperar e não posso perder um segundo.
— Veremos.
Ela fala mansa, ao menos é um começo do qual não pretendo deixar passar
a pequena oportunidade que ela me dá.
— Tem razão.
Aperto sua cintura com o braço caminhando rápido até o meu quarto,
quando entramos rimos da nossa pequena demonstração de nudez e atentado ao
pudor.
— Eu não faria ideia de como explicar a uma das crianças o que fazíamos
pelados — ela confessa rindo, as bochechas ganhando um tom vermelho.
— Sim.
— Ah, querido, você não faz ideia de como crianças são curiosas, uma
desculpa dessas nunca iria colar, e no outro dia a casa toda saberia — a coloco
em cima da bancada enquanto vou ligar a banheira.
Não importa o quanto a estrada se torne sinuosa, eu vou mostrar a ela que
sou a escolha certa.
Lira
Cheiro meus braços percebendo que estou com uma ótima fragrância de
macho gostoso. Quem dera pudesse passar o dia assim, mas como sou uma
excelente mãe, eu saio do quarto com cuidado para não chamar a atenção de
ninguém, não sei bem como prosseguir com o Daniel, as declarações dele na
noite passada, de que pertenço a ele, mexem comigo.
Vou precisar distrair muito Lizzie até o álcool sair do meu organismo e não
contaminar mais o leite. Desde que comecei a amamentar, só bebi uma vez,
quando a Lizzie estava na casa do Louis dormindo em uma noite do pijama com
as meninas, e no dia seguinte foi choro por ela não poder mamar. Espero que
dessa vez minha pequena se distraia o suficiente com a festa e esqueça do peito.
Meu menino cresceu tanto em dois anos, nem consigo acreditar que ele já
tem cinco e se tornou um pequeno terrorista de doces. Olivia sofre tentando
controlar para Lorran não ter diabete, e eu e a Bianca sofremos em dobro quando
ele se junta com as primas, pois sempre dá um jeito de fazer brincadeiras que as
meninas devem conseguir docinhos para o safado. Temo por quando esse menino
ficar adulto, vai ser o pior Vittileno.
Desço pelas escadas e encontro Louis com uma mão na cintura olhando a
garrafa de uísque em cima da mesa e uma de vinho jogada no chão, por sorte não
derramou o resto do líquido. O par de copos entregando que foi obra de duas
pessoas, e as almofadas bagunçadas. Por sorte lembramos de pegar todas as peças
de roupa. Meu irmão se vira ao escutar meus passos e faz uma pergunta
silenciosa com o olhar.
— A conversa foi longa e difícil — digo suspirando, ele não precisa saber
que transamos.
— Eu... não tinha ideia — pego as garrafas me sentindo mal pela perda do
Daniel.
— Pois é, faz uns cinco anos que isso aconteceu e todos os anos ele fazia
exame com o médico que a Verônica indicava. Ele pode ter algo de maligno no
corpo e não saber — franze a testa preocupado. — Devíamos ter suspeitado antes
que aquela mulher manipulava os exames dele.
— Por enquanto não, Daniel toma cuidado com isso, o tio dele também faz
exames e começou a apresentar sinais de que poderia desenvolver um câncer se
não tomasse certos cuidados. — Louis pressiona os olhos com força — eu sei que
o Daniel machucou você e Lizzie — se aproxima, com os copos na mão e o
uísque na outra, ele segura meus antebraços — mas ele é uma boa pessoa, por
favor, não o afaste sem antes dar uma chance a ele.
— Eu o conheço e ficaria feliz que você conseguisse amar e ser amada por
um homem como o Daniel — beija a minha testa — eu só quero a felicidade de
vocês. Faça as coisas no seu tempo, mas não feche o coração, ok?
— Não acredito que vivi para ver esse dia — Ouço a voz grave do Levi,
olho pela lateral do ombro do Louis encontrando meu irmão — Louis Vittileno
dando conselhos de amor para a Lira.
— Sim, por isso eu disse A — eleva a voz — Lira. Não a mim — Levi
passa um braço ao redor do meu ombro me puxando para ele — acho que agora
chegou a nossa vez de te aconselhar — beija minha cabeça — nossa pequena Lira
finalmente encontrou o amor?
— Parem já com isso, vocês dois — bufo — dessa forma parece que estão
jogando o Daniel para cima de mim.
— Ele sempre perguntava por você nas reuniões em família que você não
participava no Brasil.
— A gente sabe e não culpa nenhuma das duas — Louis diz — só que o
Daniel sempre perguntava o motivo de você não estar presente.
— Ela fala isso como se fosse uma santa — Levi provoca — vamos logo
fazer o que comer dos nossos filhos antes que os monstrinhos acordem.
— Bianca não me deixa fazer outro filho nela tão cedo — Louis suspira —
ela quer aproveitar mais as meninas, e você?
— Olivia também não quer outro por hora, Lorrany ainda mama e ela disse
que só depois que a desmamar e o Lorran crescer mais e parar de ser um
terrorista dos doces.
— Pai! — ele fala aborrecido — quero uma tranca no meu quarto! Cansei
da Cecília me selquestando! — se senta sozinho na cadeira e Levi coloca um
prato com frutas e cereal para ele comer.
— Nada de tranca nos quartos — Levi fala — seu zio Louis prometeu que
vai falar com a Cecília para ela não te machucar mais — Louis gira nos
calcanhares encarando o Levi com raiva, ele sabe que se contestar a Cecília a
filha vai ficar com raiva dele.
— Promete Zio? — Lorran pede com uma manhã na voz que até eu quero
proteger o pobre do menino.
— Prometo — Louis cede fácil — se você prometer parar com as
brincadeiras de rei dos doces.
A porta abre e Daniel passa, vestido uma camisa polo justa, demarcando as
linhas dos músculos, um calção social e tênis. O homem é um pacote de
resistência para qualquer mulher.
Depois de ontem e do jeito que ele quis me marcar como sua, seria mentira
eu falar que não fiquei mexida e queria me entregar sem medo. Mas os traumas
enraizados no meu coração não me permitem fazer isso, prefiro, ao menos dessa
vez, fazer as coisas com calma. Primeiro o deixar se aproximar da Lizzie e se a
minha menina mostrar que está disposta a tê-lo como pai, posso considerar um
envolvimento com Daniel.
Mais um motivo para me fazer ter cautela com o Daniel, não quero atingir
a Lizzie como o Levi atingiu o Lorran com a morte da Blanca, meu sobrinho
ficou, anos sem saber como era ter um pai de verdade e o calor de uma mãe.
Espero que os machucados do passado nunca interfiram em sua vida, adolescente
e adulto, e que ele encontre no amor da família, a cura para seus machucados.
— Um crânio — ironizo.
— Sì — ela ri.
Lizzie sorri para ele, encolhe as mãos no colo, sinal de quando ela fica
envergonhada, mas quer se comunicar direito com a pessoa que chama a sua
atenção. Daniel tem um brilho especial nos olhos azuis-escuros que se parecem
com o da nossa menina, um sorriso tranquilo, ele estende a mão grossa para ela
esperando pela resposta a seu comprimento. Lizzie ri novamente antes de
estender a mão e segurar a dele. Meu coração se aperta com o contato entre pai e
filha.
— Certo — ele fica em pé, notadamente triste por não poder dizer a
verdade a Lizzie — vou fazer o café, quer algo?
Daniel se afasta indo pegar os ingredientes. Noto que meus irmãos tinham
suas atenções focadas na interação que acabou de acontecer. Louis e Levi tem a
mesma impressão de quem diz “você pode ter isso todos os dias, não deixe a
chance passar”. Suspiro, sabendo que pode ser verdade ou somente mais uma
ilusão que partira meu coração. Continuo dando o comer da Lizzie enquanto
Daniel faz nosso café.
— Fiquei com medo do pulo dela — confesso, encaro a pequena que deita
a cabeça no ombro da mãe.
— Zio Dante ana bien[8] — ela fala, querendo descer — pixiiiina mamãe.
— Ele, sim, mas você ainda não — beija a bochecha dela.
— Sì, contanto que você não tente mais pular sozinha — levanto o
mindinho para fazermos um pacto.
— Não confie nas promessas dessa espertinha — Lira bate na bunda dela e
Lizzie ganha um ar travesso — ela sempre vai tentar te enrolar.
Gargalho e não resisto ao puxar a mão da Lizzie, sem fazer cerimonias ela
vem para os meus braços. Seu cheiro de bebê e a pele macia, o corpinho leve, o
sorriso banguela, a íris azul intenso. Nesse pequeno segundo, enquanto a minha
menina ri para mim, eu encontro paz e felicidade. Desço o rosto cheirando suas
bochechas a escutando gargalhar pela minha barba em sua pele.
— Colciquinhaaaaaaaaa — grita.
— Vai lá.
Contra a minha vontade a coloco no chão que corre para a piscina. Ela para
na borda recebendo as boias que a Bianca colocou nos braços das crianças.
Apesar de saber que somente a piscina infantil seria aberta hoje, é sempre preciso
precaução em dobro.
— No dia que eu tiver certeza de que você vai ficar — Lira responde com
tristeza, ela não acredita nas minhas palavras.
— Certo.
— Me conta como ela era quando bebê? — puxo a Lira para se sentar na
poltrona na varanda, longe da agitação, mas onde podemos ver a Lizzie na
piscina, brincando com as primas.
— Não foi sua culpa — ela deita a cabeça no meu ombro — acho que de
ninguém. As coisas só tinham de acontecer dessa forma e ninguém pode fazer
nada para impedir — suspira pesado.
— Pelúcia ela não tem medo, adora brincar com a do Lorran, fato
interessante, ele briga muito com as outras meninas, mas nunca brigou com a
Lizzie e sempre faz o que ela pede sem reclamar.
— Não acredito! Lorran, o menino mais opinioso que existe, cedendo para
a Lizzie.
— Pode apostar, se ela pedisse agora para ele sair da piscina, ele o faria
sem achar ruim.
— Isso me faz até ter vontade de pedir a ele — rio e Lira me acompanha.
— Se quiser a Olivia brigando com você por usar a Lizzie para controlar o
filho dela, vá em frente.
— Não — suspira — eles são perfeitos juntos, mas o Dante é um asno que
não percebe isso.
— Verdade.
Passamos o resto do dia conversando enquanto as crianças aproveitam a
festa de aniversário da Alessa, que faz 2 anos hoje. À noite, todos se recolhem
cedo para dormir e Lira não é exceção, antes que eu pudesse a puxar para
conversarmos mais, ela já estava dormindo na cama com a Lizzie ao seu lado.
No café da manhã imito o que a Lira fez ontem e deixo o prato delas
pronto. Fui o primeiro a acordar, e quando termino de fazer o meu café. Lira entra
bocejando acompanhada dos irmãos. Ouço o som das crianças no andar de cima e
imagino que Bianca e Olivia sejam as responsáveis pelo banho da tropa.
— Bom, eu volto hoje para casa — dá de ombros — se você vai ficar aqui,
te passo o endereço da fazenda, fica a duas horas de carro.
— Não pode ficar aqui mais um pouco? — peço, segurando seu cotovelo.
Vejo seus olhos amolecerem antes de endurecer novamente.
— Certo.
Opto por não iniciar uma briga de manhã cedo. Logo Lizzie chega à
cozinha e se senta para comer. Depois do café, trabalho pela parte da manhã e de
tarde, me despeço da minha pequena com um abraço e a promessa de a ver no dia
seguinte na fazenda. Lira ficou de arrumar o quarto de hóspedes para mim.
Quando saio da clínica, vejo uma loja de ursos e lembro da Lira dizendo
que a Lizzie ama a girafa Fefinha. Vejo uma réplica dela na vitrine, e não me
contenho antes de comprá-la. É enorme, com um metro e meio de altura e espero
que a minha menina ame o presente. Não posso aparecer de mãos vazias, e com
certeza a Lizzie vai gostar.
No dia seguinte retorno a clínica com uma calma que nunca imaginei
sentir. Por mais que a possibilidade de eu ser estéril continue existindo, eu sinto
que isso não é verdade, que a Lizzie é minha e vou recuperar a minha família,
custe o que custar.
— Senhor Albuquerque — o médico me cumprimenta — pronto?
— Sim.
Encaro o carro cinza de onde Daniel desce, achava que ele viria direto para
a Lizzie, que pula eufórica no meu colo querendo mais da atenção do seu novo
“zio”. Minha menina sempre foi fácil de se apegar a adultos, mas nunca como
Daniel, de ela ficar perguntando por ele depois, e querendo sua presença ao seu
lado. Talvez ela sinta que o Daniel é diferente, que tem algo a mais nele.
Eu estou perdida!
Ao meu lado, Dante começa a rir, sabendo o inferno que vou passar com
uma pelúcia gigante. Já é difícil controlar a Lizzie com os pequenos, que ela vive
sujando levando para todos os lugares. Mas uma coisa desse tamanho, maior que
a minha filha, vai ser o meu fim.
— Eu vou matar você por comprar uma girafa enorme — falo engasgada,
em português, para que Lizzie não entenda.
— Ela amou — rouba minha filha de mim, para ele é fácil segurar as duas
nos braços, olha o tanto de músculos que esse homem tem!
É um pouco incomodo saber que foi preciso dois anos para isso acontecer,
mas o importante é focar no presente, se eu me prender ao passado vou magoar a
pessoa que mais importa, a presença de um pai na vida dela. Meu pequeno
mundo, chamado Lizzie. E é só isso que o Daniel representará nas nossas vidas, o
pai da Lizzie.
— Bom te rever — Dante dá uma tapinha no ombro do Daniel que retribui
sorrindo.
— Digo o mesmo — encara a Lizzie — e pensar que esse tempo todo você
estava com esse tesouro e não me disse nada.
— Chegou o homem que quer roubar as minhas garotas — ela fala com
um sorriso sapeca no rosto, já imagino onde essa conversa vai dar.
Um é um bruto para romance, não entenderia que uma mulher gosta dele
nem se ela falasse, ia achar que é baboseira e paixonite que logo passa. Mas o que
Dante não percebe, é que ele é um homem extremamente atraente e atencioso, faz
qualquer mulher se apaixonar fácil. Principalmente a Beatrice que convive com
ele todos os dias e nunca negou os olhos brilhantes e apaixonados.
Eu não acredito mais no amor para mim mesma, mas esses dois, merecem
uma chance de serem felizes, ficarem juntos e terem seus traumas superados com
a força do que queima em seus corações. Um dos motivos para eu não ter ido
embora, é porque não quero deixar a minha amiga sozinha, e acredito que vou
conseguir fazer esses dois perceberem que se amam demais e podem ficar juntos.
Daniel leva sua atenção a filha com um sorriso brilhante no rosto. Alisa a
bochecha dela e se inclina beijando sua testa. Lizzie levanta o rosto e beija a
bochecha dele de volta, antes de se aconchegar no Daniel e dormir. Está perto da
hora do almoço dela e daqui a pouco a acordo para comer. Por hora vou deixar a
interação entre eles.
Fico tocada por saber que ele me observava para aprender as coisas sobre a
Lizzie. Eu não tinha percebido que seus olhos azuis me seguiam por essa razão.
As bochechas esquentam ao saber que fui alvo dele todo esse tempo, mesmo
quando eu não percebia que estava sendo observada.
— Daniel — Dante chama — você faz ideia do que acabou de fazer ao dar
essa fefinha gigante para a Lizzie?
Ele tem certeza ao pronunciar cada uma das palavras e eu paraliso. Não
tem como isso ser possível, Daniel é o CEO da VITTILENO no Brasil, e nunca
poderia desistir da carreira pela Lizzie. E, porque esse desgraçado, em vez de
dizer o nome da filha, falou “vocês” como se eu quisesse a presença dele na
minha vida, eu nunca mais vou me iludir por amor.
— Essa semana vou ficar na Itália para podermos decidir como serão as
coisas — ele não está me perguntando, ao invés disso assume o que deveríamos
fazer. Aperto os punhos com raiva.
— Não vou me mudar para o Brasil com você, e a Lizzie não irá para lugar
nenhum sem mim — falo decidida.
— Tudo bem — ele estica a mão tocando meu rosto — eu nunca disse que
faria vocês duas virem comigo, mas que decidiríamos como seria — alisa minha
bochecha — eu já perdi tudo uma vez, não deixarei acontecer novamente por um
emprego. Sou capacitado e posso arrumar algo na Itália, caso o Louis não queira
que eu assuma outra função na VITTILENO. Mas eu nunca vou abrir mão de
vocês duas.
— A Lizzie é sua filha — digo baixinho — mas eu não sou sua mulher,
não confunda as coisas — ergo a barreira que me protegerá de outra decepção.
Apesar de o perdoar e entender o que aconteceu dois anos atrás, as mágoas
daquele dia continuam fincadas em minha carne.
— Aqui — dá de ombros.
— Não te vi negando que ficarei aqui — ele pega a Lizzie no colo com
cuidado. Ela deita a cabeça no ombro do pai como se fosse a coisa mais natural
— onde é o seu quarto? Vou levar minhas coisas para lá.
O sigo pelo corredor, tentando não fazer barulho quando soco suas costas.
Os músculos batem contra meus dedos e o desgraçado não sente nada do meu
ataque. Chegamos à cozinha onde Dante e Beatrice sussurram, eles se calam ao
nos ver e minha amiga tem culpa no rosto. Aposto que os safados falavam da
gente.
— Vou ficar aqui por uma semana a princípio — Daniel a informa em vez
de pedir. Esse homem vai me enlouquecer!
— Não vai não — Dante responde — você vem comigo para a minha casa,
as damas dormem sozinhas.
— Prefiro ficar aqui — o safado responde.
— Daniel — ela começa — espero que não se magoe com o que direi. Mas
eu não gosto de pessoas invadindo meu espaço pessoal, vou precisar de um
tempo para me acostumar com a ideia de você aqui, por favor, fique com o Dante
enquanto isso. A casa dele fica a 10 metros daqui e você poderá ver a Lizzie
sempre que quiser.
Lizzie agarra o peito da mãe mamando enquanto seus olhos azuis como os
meus fixam-se em mim. Amo como ela me observa e procura pelo meu colo.
Estamos há três dias juntos e eu não poderia estar mais feliz do que na presença
da minha filha e da sua mãe. Que reluta em me aceitar ao seu lado. Meus dias na
fazenda estão contados e reduzidos para somente mais dois dias e uma noite.
Lira que tem se mantido afastada, como se tivesse medo de ficar ao meu
lado. As magoas que deixei em seu coração são mais profundas do que eu
imaginava e para a fazer ceder e se entregar totalmente a mim, vou precisar de
mais do que três dias sendo amigável. Morar com o Dante não é ruim, mas
preferia estar na mesma casa que a minha família.
— Lizzie tem de aprender a não ir facilmente para estranhos — eu digo
apertando seu pezinho rosado e gordinho.
— Tento ensinar isso a ela faz dois anos, se tiver dicas aceito a todas —
Lira encosta a cabeça na poltrona, claramente cansada.
— Não dormiu?
— Você pode odiar, mas a nossa Lizzie ama — aperto a barriga da minha
pequena — você ama a Fefinha minha princesa?
É então que noto uma cicatriz pequena, branca, é quase imperceptível, mas
se a Lizzie não tivesse colocado a mão abaixo dela eu não teria notado com
facilidade. Desde a nossa transa na casa do Louis, a Lira tem se mantido distante
sexualmente, ela foge sempre que tento a abraçar e insinuar que quero passar a
noite junto.
Quando paro para pensar que nunca tivemos uma noite completa de amor,
com calma, me incomoda. Em todas às vezes que estivemos juntos eu devorei a
Lira com uma fome insaciável que nunca tem fim. Mas agora eu quero ir com
calma, saborear a sua pele, desfrutar de seus gemidos ao pé do meu ouvido, eu
quero me embebedar no sabor de sua boca, tanto quanto o da sua boceta. Para
isso, primeiro preciso quebrar sua defesa e a fazer perceber que não sou um erro.
— Muito, uma vez agarrou um tufo da cabeça do Dante que ele teve de
cortar, já que ela não largava e nenhum de nós tinha coração para bater nessas
mãos safadinhas — aperta a mão da Lizzie fazendo voz fofa. Ela cheira o dorso
com carinho e Lizzie abre um sorriso contra o peito da mãe.
— Já sei que eu teria ficado sem barba nessa época — aliso os pelos no
meu rosto — ou ela arrancaria cada um.
— Lembro que teve uma época que ele ficou de cabelo muito curto, mas
não disse o motivo — puxo na memória.
— Foi a Lizzie. Assim que ele chegou e a pegou no colo, quando fui avisar
para não beijá-la, já era tarde. Ela agarrou os dois lados da cabeça dele.
— O estrago foi grande — dou risada. — Você não vai arrancar os cabelos
do pa... — Lira leva a mão contra minha boca, me impedindo de falar.
Com minhas duas princesas nos braços, eu respiro aliviado, sendo invadido
por uma paz que nunca experimentei. Encaro a Lira, com os olhos marejados na
minha direção, os lábios tremendo e as barreiras levadas ao chão. Aproximo
nossos narizes, inspiro seu cheiro de flores e toco de leve seus lábios com os
meus.
— Vocês são o que tenho de mais precioso, leve o tempo que quiser para
aceitar que eu nunca vou embora — a encaro intensamente — vamos ficar juntos.
Lira, cuidar da nossa família lado a lado.
— Não é justo — ela murmura com a voz embargada — você não pode
aparecer e mexer comigo dessa forma.
— O que não é justo é você continuar sofrendo quando estou pronto para
fechar cada uma de suas feridas — sussurro contra seus lábios — você é minha, e
eu sou completamente seu. Te esperarei nem que leve uma eternidade.
— Ah, Daniel — ela murmura, dessa vez, trazendo seus lábios aos meus.
Aliso a cabecinha dourada e beijo sua bochecha fofinha. Puxo Lizzie para
meu colo prendendo suas pernas com um braço e o outro segurando seu pescoço.
Começo um ataque de cócegas passando a barba em seu pescoço, arrancando
altas gargalhadas dela. Suas mãos prendem na minha camisa enquanto ela grita
gargalhando.
Nunca vou desistir da nossa família, Lira e Lizzie verão que sou merecedor
delas, independente do tempo que levar para abrir o coração de ambas, a mim.
No momento sei que a Lizzie me ver somente como seu “zio”, mas vou continuar
fazendo o possível e impossível para que ela me reconheça como seu pai.
Seguro Lizzie com a mão debaixo de sua axila. Ela encolhe as pernas e a
jogo para cima. Seu riso que já era alto ganha um tom ainda mais elevado.
Continuo na brincadeira, o ferro que puxo na academia me permitiria continuar
assim por dias. Por um segundo, quando apoio minha menina antes de a jogar,
encaro a Lira, com uma felicidade indescritível ao observar a nossa interação.
Nesse segundo eu percebo o quanto deve tê-la machucado a Lizzie não ter um
pai.
— Celto — suas mãos agarram meu rosto, seguro suas coxas a mantendo
firme acima de mim — pega a fefinha zio.
— Agora você vai saber o motivo de eu não ter gostado muito do presente
— Lira diz entrando na cozinha.
Me abaixo para que Lizzie não bata no arco da porta. Sua cabeça se deita
em cima da minha e suas mãos ficam mais firmes no meu pescoço, dificultando
um pouco a minha respiração pela forma que ela aperta minha garganta.
Entramos, e Lira vai preparar o lanche, enquanto vou para a geladeira, pego pães
para um sanduíche.
— Princesa — digo — não vamos levar a fefinha, ela é grande demais para
conseguir carregar as duas e a cesta de piquenique.
— Fefinha vai tambiem. — Bate de leve as mãos nas minhas bochechas —
ela é minha amilginha quelida.
— Bem que eu queria meu amor — ela segura a mão da Lizzie e a beija
antes de se sentar — mas a zia não pode sair com o pé machucado, lembra?
— Sim, meu amor, vamos ver os patinhos, quer colocar o biquíni para
tomar banho?
— Vou colocar uma roupa de banho — aviso. Não quero perder a chance
de entrar no lago com a Lizzie e a ensinar a nadar.
— Te vejo já.
— Tenha calma com ela — Beatrice pede — Lira pode demorar mais do
que você espera para se abrir, mas ela vale a pena.
— Muito bem — sorri — agora vai se trocar que em dois minutos a Lizzie
desce apressando todo mundo.
— Ok.
Deixo a casa delas e vou para a do Dante onde tenho ficado. Pelo horário,
imagino que ele esteja no vinhedo, hoje ele iria inspecionar as uvas para a
colheita que logo acontecerá. Me troco rápido e quando retorno, eu vejo as
minhas meninas me esperando do lado de fora, vestindo vestidos com laços
amarrados no pescoço dos biquinis.
Acho graça da cara branca da Lizzie de tanto protetor que a mãe passou,
um chapéu de palha na cabeça de ambas. A bolsa com nosso almoço em cima do
banco e ao lado a girafa. O lago fica meio longe e odeio a ideia e ir andando
levando a Lizzie, a bolsa e a fefinha.
— Eu não levo essas coisas pesadas — Lira arqueia a sobrancelha, ela está
gostando de me fazer sofrer.
— Veremos — ri debochada.
— Vamos.
— Se você acha.
Sinto um prazer interno ao ver o Daniel sofrendo com a fefinha. Ele pode
aguentar o peso que for, mas nada se compara a uma pelúcia batendo na sua cara
enquanto sua filha cantarola em cima da sua cabeça. Paro no caminho, puxo o
celular do bolso e tiro uma foto deles, tenho feito muito isso ultimamente,
capturado os momentos de interação dos dois.
Lizzie pode não ter fotos com o pai quando era bebê, mas terá um monte
daqui em diante. Daniel percebe o que estou fazendo e sorri, apesar do
sofrimento, ele aparenta gostar, e dar valor a cada pequeno momento que temos
juntos. E isso faz meu coração balançar como uma gangorra, pendendo entre
continuar mantendo distância emocionalmente ou jogar para o ar todos os meus
medos e deixar que o Daniel cuide tanto de mim como da Lizzie.
É um inferno resistir à vontade que tenho dele, pois sei que no segundo
que continuar deixando-o entrar na minha vida, vou abrir espaço no meu coração.
Eu quero confiar, acreditar que é possível a felicidade que ele me promete, mas as
coisas que acontecem na fazenda quando estamos somente nós aqui, é diferente
de como seria no mundo lá fora, com o envolvimento de outras pessoas.
Daniel me oferece conforto e calmaria em um lugar envolto disso é uma
promessa do paraíso. Mas a incerteza de como seria no lado de fora me trava,
impedindo que eu decida entre baixar a guarda ou não.
Como seria se fosse em seu escritório? Ele receberia uma visita surpresa
minha e de Lizzie, pararia uma reunião para dar atenção a sua menina, ou nos
mandaria esperar, ou no pior dos casos, ir embora para não o atrapalhar. Chegaria
tarde em casa todas as noites, viria para o jantar, compareceria às apresentações
da Lizzie, são tantas incertezas sobre o nosso futuro que não consigo destravar e
permitir que a minha mente tenha paz.
— Lira — sua voz me chama, tomo um susto ao perceber que ele está uma
pedra de distância — estou bem aqui para responder a todas as suas dúvidas, não
se torture pensando em um futuro que não aconteceu ainda — beija minha testa.
Mesmo com a fefinha e a bolsa em seus braços incomodando a
proximidade de nossos corpos, eu coloco a mão em sua barriga e encosto a testa
em seu queixo, me apoiando nele. O chapéu desliza nas minhas costas indo ao
chão. Seu corpo não vacila, ele não hesita ao me segurar na cintura com uma
mão, minha pequena toca meu cabelo alisando carinhosamente como faço com
ela todas as noites.
Soluço sentindo uma lágrima descendo pela bochecha, foram dois anos
difíceis em que esperei ouvir cada uma dessas palavras e agora que as tenho, o
medo de irem embora novamente e não serem verdade se enreda no meu coração
como uma rosa com espinhos no caule.
— Não deixo, eu a substituo por emoções mais bonitas — beija meu nariz
— pelo amor que tenho cultivado por você e nossa filha. É toda a força que
preciso para acreditar em um futuro feliz e viver um presente com vocês.
Eu deixei de ser uma mulher que era usada e usava os homens para ser a
escolha de alguém. Uma pessoa que eu me importo e quero tanto em minha vida
que o medo de não o ter me impede de seguir em frente, não me deixando ter o
que mais anseio. Uma família para chamar de minha, o amor de um homem que
eu ame e o pai para a minha filha.
— Prometo viver muito tempo para vocês — ele sussurra — mas, por
favor, vamos andar ou vou perder um braço.
Um calor se espalha no meu peito ao constatar que é isso que somos agora.
Não é mais somente eu e ela, mas eu, ela, e o Daniel. Uma família.
Minhas bochechas queimam ao lembrar de algo que ele falou “pelo amor
que tenho cultivado por você e nossa filha” ele realmente me ama? Ainda não
tenho certeza do que sinto por ele, minha cabeça queima com os pensamentos
que meu coração não consegue processar.
Por hora decido me dar uma folga e não pensar no que posso ser com o
Daniel, mas somente aproveitar o sol gostoso contra minha pele, o lago e a minha
menina que levanta os braços pedindo ao pai para tirar sua roupa, a deixando de
biquini. Daniel abre a bolsa e pega o protetor passando mais nos braços da Lizzie
até ela virar uma vela branca. Paro ao lado dele, coloco a mão em sua cintura e
beijo seu ombro.
É gostoso poder fazer isso sem sentir nenhuma pressão por não saber se ele
quer o meu contato. Poder respirar simplesmente aliviada ao lado do homem que
eu vou dar uma chance para ficar na minha vida e da minha menina.
— Mamãe vilei o galpazinho [10]— Lizzie fala rindo e fazendo bico. — Bu.
Daniel me beija mais uma vez e depois a Lizzie beija minha bochecha,
antes deles irem juntos para o lago. Gosto como ele testa a água antes de entrar,
segura a Lizzie pela barriga a deixando mergulhar e trazendo de volta. Minha
menina não contém o sorriso, e as palavras ao aproveitar o momento com o pai.
Arrumo a mesa do nosso almoço e retiro meu vestido entrando no lago com eles.
Nunca imaginei como um banho de lago poderia ser gostoso. Daniel ensina
a Lizzie a nadar enquanto ela fica dizendo que é um peixinho. Patos aparecem do
outro lado do lago e Lizzie fica eufórica querendo vê-los de perto.
— Já sei o que fazer — Daniel me entrega ela enquanto sai do lago e volta
com fatias de pão.
— Vamos atrair eles princesa — Daniel entrega a ela uma fatia do pão —
joga que eles devem vir.
Daniel pega Lizzie a colocando em cima dos ombros e nada um pouco para
o centro do lago, onde os patos chegaram. Estica uma mão com o pão chamando
a atenção das aves e com a outra, segura a Lizzie com firmeza. Fico parada para
não assustar os patos que se aproximam aos poucos, comendo o que restou do
pão.
Eu nunca imaginei que veria a Lizzie tão quieta admirando os animais que
ela ama para não os assustar. Daniel com uma mão a segurando e a outra
ajudando a ficar no lugar sem se mexer muito. Levo a mão ao peito realizada pelo
que vejo. Não só a Lizzie merece a chance de ter um pai, como eu mereço ter um
marido. Nesse segundo eu decido, não vou mais me fechar e continuar sofrendo.
Posso me machucar no futuro, mas isso é algo que resolverei quando acontecer.
Agora vou somente aproveitar a paz e felicidade que sinto ao perceber que
eu tenho uma família incrível. Rezo para nada atrapalhar a nossa paz.
Lira
Deito-me na cama com a Lizzie entre mim e Daniel. Ela capotou depois
que voltamos do lago, mas não quis largar do pai, e insistiu que ele a colocasse
para dormir. Tive de dar a janta dela com um olho aberto e outro fechado
enquanto ela dormia no colo do Daniel, sujando a camisa dele com o arroz de
leite.
Já são 19 horas e eu sei pelo que o Daniel espera. Eu disse que ficaríamos
juntos hoje. Ele tem expectativa no olhar, mas não me apressa, deixa que eu tome
a iniciativa quando me sentir pronta. Inspiro tendo a certeza de que a Lizzie
dormiu e levanto da cama. Daniel me imita, mas ao fazer isso a Lizzie se mexe
rolando para cima dele.
— Fica aqui papai — ela fala com a voz banhada em sono e cheia de
naturalidade.
Levo a mão a boca surpresa pela fala dela. Um nó na garganta me
impelindo a chorar. Como a Lizzie sabe? Ela consegue sentir o que o Daniel é
para ela? Lizzie já conheceu diversos adultos que eram simpáticos com ela, e
interage bastante com meus irmãos, e até mesmo o Dante, mas nunca chamou a
nenhum deles de pai.
Não nego que o hoje me fez querer dizer a ela por diversas vezes que
estava brincando com seu pai. Que quando ele a chama de “princesa” não é só
mais um apelido, mas uma forma que ele encontrou de esconder a “filha” em
cada uma de suas palavras. Minha menina não é boba, ouviu as palavras dele
mais cedo. Não sei como seu cérebro ou coração a fizeram chegar à conclusão de
que ele era o pai dela, mas agora eu tenho certeza, podemos contar a verdade para
a Lizzie.
— Eu fico minha filha, minha princesa — Daniel puxa Lizzie contra seu
corpo com lágrimas escorrendo por suas bochechas. Nunca o vi tão emocionado.
— O papai não podia ficar com a gente — digo a ela, engolindo o choro.
Viro seu ombro a fazendo me encarar, o rosto vermelho e os olhos banhados em
lágrimas.
— Eu e a sua mãe fomos enganados por uma raposa malvada que não
queria deixar o papai ser feliz com vocês — ele beija a cabeça dela. Lizzie para
de soluçar e o encara com as lágrimas descendo pelas bochechas rosadas.
— Polque?
— A raposa tinha raiva do papai e fez algo muito perigoso. Se você e a
mamãe estivessem comigo, ela teria machucado vocês — ele aperta a mão dela
— eu nunca me perdoaria por vocês se machucarem. A mamãe foi esperta e
compreendeu a situação, e por isso vocês tiveram de ficar longe, para a raposa
não machucar vocês.
— Sim, meu amor — acaricio sua perna coberta pelo pijama longo — a
mamãe não podia deixar a raposa fazer mal a gente. Seu papai ficou, para garantir
que a raposa malvada fosse presa e não pudesse nos machucar — engulo outro
soluço.
Sua mão agarra a minha me puxando contra seu peito. Lizzie de um lado e
eu de outro, aliso os cabelos da minha menina, enquanto Daniel acaricia meus
cabelos e as costas da Lizzie. Tínhamos combinado de passar a noite juntos,
imaginei que seria fazendo sexo. Mas isso o que temos aqui, é a ainda melhor e
mais especial.
Nesse segundo eu tomo uma decisão, disposta a dar mais um passo rumo a
felicidade.
Vou ficar junto do último homem a quem darei uma chance para me amar,
e espero que fiquemos juntos até eu ter fios brancos como os dele, quando as
rugas ao redor dos meus olhos surgirem e nossa casa tiver mais filhos do que um
dia imaginei que teríamos.
Arregalo os olhos com medo do que ele propõe. Ainda não estou pronta
para isso, e preciso de um tempo para me acostumar com a ideia. Foram anos de
coração machucado, é impossível sarar em uma única noite.
— Estou brincando — sorri arteiro — deveria ter visto sua cara, jurava que
você ia colocar um ovo.
O jeito que fala, alivia a tensão do momento, causada por sua piada. Eu
agradeço por ele me dar o espaço que preciso e beijo seus lábios antes de
levantar.
Ela diz isso, mas nunca teve coragem de contar ao Dante como se sente.
Vive suspirando pelos cantos, encarando o Cowboy que é uma porta para
perceber os sentimentos da minha amiga. Beatrice pisa no meu pé com o seu
calcanhar bom e eu tenho vontade de xingá-la. Mas decido me conter, sei como é
difícil para ela acreditar que alguém possa realmente a amar.
Diferente de mim que fui magoada por incontáveis homens e outros que
nunca consegui me apegar o suficiente para chamar de paixão ou amor. A
Beatrice não foi amada quando criança, e na adolescência teve uma experiência
familiar horrível. Se não fosse pela Blanca e Levi, não sei o que seria da minha
amiga. A terapia que ela faz todo mês parece que chegou em um ponto de
estabilidade, não regressa, mas não avança.
— Lira — Dante chama segurando minha mão — sei que você tem medo,
mas o Daniel é um bom homem e vai cuidar da Lizzie e de você. Não existem
mais motivos para hesitar, e eu te garanto, se ele te magoar, eu o mato e escondo
o corpo dele no lago para não ser preso. Mas agora tanto a Lizzie quanto você,
estão diante da chance de serem felizes, não desperdice isso.
— Eu mesmo a levo — Dante fala, ele sabe o medo que a Beatrice tem de
se afastar de casa — temos a nossa afilhada preciosa para visitar. Acha mesmo
que conseguiremos ficar muito tempo longe? Eu vi aquela pestinha loura crescer,
engatinhar, e nos endoidar sempre que se machucava ou ficava doente.
— Obrigada você por encher a minha vida com a luz que a Lizzie carrega
consigo — beija minha bochecha — promete que vai ser feliz?
— Prometo.
Daniel sorri preguiçoso, com cuidado deixa a Lizzie na cama, faz uma
montanha de travesseiros ao redor dela e vem até a minha varanda, onde
sentamos a mesa para comer. Ele me puxa para seu colo e ficamos assim,
conversando baixinho para não acordar a Lizzie. Terminamos a refeição e deito a
cabeça em seu peito, feliz e tranquila.
— Vamos fazer amor.
Ele não pergunta, mas chama. Seguro sua mão, apaixonada o sigo para o
quarto de hóspedes onde passo a noite sendo amada pelo homem que escolhi
permitir entrar no meu coração.
— Não tem como você conhecer algo que eu não tenha visto nessa fazenda
— digo ao Daniel.
Deixamos a Lizzie aos cuidados dos padrinhos para termos uma noite só
nossa, antes de voltarmos ao Brasil. Ele segura uma manta enorme e um cobertor,
enquanto eu levo uma bolsa com nosso jantar, vinho e velas.
Passei o dia atualizando meus irmãos sobre a minha decisão de dar uma
chance ao Daniel e para a minha surpresa ambos falaram que estavam torcendo
por isso.
Daniel realmente tem uma boa fama com os Vittileno. Mas eles são
homens, é mais fácil de se entenderem entre si. Bianca e Olivia amaram saber
que estou disposta a amar e formar minha família com o Daniel, conversamos por
horas até elas iniciarem o papo sobre casamento e eu desligar o celular. É cedo
demais para pensar sobre isso.
— Igual como seu sócio fez com você — comento, Daniel não se abala ao
ter mencionado o ex-parceiro.
Um rubor sobe a minha bochecha quando ele se refere a mim como sua.
Deito a cabeça em seu ombro bebericando o vinho tinto da adega da Beatrice.
Perfeito até a última gota, adocicado na medida certa, com um cheiro esplendido
de uva fermentada.
— Vou perguntar o obvio só para ter certeza — ele fala engolindo o riso —
mas o Louis te viu pelada colocando um absorvente?
Daniel se engasga com o vinho e cai para trás rindo de ganhar lágrimas nos
olhos. Continuo sentada me divertindo com a risada dele. Nunca pensei que
poderia deixar a lembrança triste que me acompanhou por anos com um ar leve.
Em vez de chorar pela falta da minha mãe, eu rio por meu irmão ter tido a
coragem que poucos teriam.
— Não teremos outro tão cedo — tento aliviar o clima, Daniel entendeu o
que eu queria e não quero estragar nossa noite com lembranças tristes.
— Droga, fui pego — finge que sente muito, mas o brilho em seus olhos
não mente.
— Me conta sobre sua família? — peço servindo mais uma taça para a
gente.
— Continue.
— Bom, sobre a Verônica você já sabe, meu pai morreu com câncer de
próstata faz cinco anos. Dois anos antes de eu me separar da Verônica.
Atualmente minha mãe está aposentada, e amo a mimar com viagens pelo mundo
com as amigas. Agora ela e minha tia estão passando uma temporada nas praias
do Caribe, mas ela voltará correndo quando souber que tem uma neta.
— Você tem certeza de que a Verônica vai ficar presa e não será mais um
incômodo? Agora temos a Lizzie e só de pensar naquela mulher perto da minha
pequena eu me tremo de raiva.
— Mesmo que ela se solte, nunca chegará perto da gente. Vocês duas
sempre vão estar acompanhadas de seguranças, independente de quanto tempo se
passar. Minhas vidas, nunca as permitiria passarem por perigo.
— Não foi fácil Lira, foi natural, é diferente — alisa meu rosto — desde o
segundo que nos encontramos você mexeu comigo, e sei que se não fosse a
loucura da Verônica, eu teria te procurado antes. Mas não adianta ficar olhando
para o passado quando eu tenho um presente exatamente aqui, ao seu lado.
— Estou ansiosa para conhecer sua mãe — beijo seus lábios, mudando de
assunto ou vou acabar chorando. Ou pior, me declarando quando ainda não me
sinto pronta para isso. Queria ter mais da confiança do Daniel, mas por enquanto
vou mantendo a minha pequena coragem e dando os passos confiáveis para mim.
— Você verá, vai ser perfeito, minha mãe é um doce, mas muito tagarela,
então se prepare para todo tipo de pergunta.
— Eu iria amar.
Não sei como é conviver com uma mãe e o Daniel tem tanto amor em sua
voz pela mãe, que eu já sinto que gosto dessa mulher e a quero perto da minha
família. Continuamos conversamos por incontáveis horas debaixo das estrelas e
jantando. O vinho rapidamente acaba e abrimos outra garrafa, o efeito começa
aos poucos a ativar nossa libido e mandar a vergonha para os ares.
— Exatamente — respondo.
— Completamente.
O beijo, a felicidade explodindo mais uma vez ao saber que ele me ama.
Daniel não precisa de palavras ou proferir “eu te amo” demoradamente, seus
olhos e ações sempre foram bastante claros e nesse segundo eu me sinto o ser
humano mais amado do planeta.
Daniel
Desde que Lizzie soube que iriamos para o Brasil ficou chorando, primeiro
por não querer se separar dos padrinhos e depois pelo avião que ela não queria
pegar. Tivemos de atrasar a nossa volta em quatro dias até fazer a Lizzie se
acostumar com a ideia, mas o avião continua sendo um problema.
Lira me encara com medo de precisar dar remédio para a Lizzie dormir,
opção recomendada pela pediatra dela no caso de voos que devem ser feitos.
Estamos dando um importante passo para iniciar uma nova vida juntos, como
uma família.
Minha mãe espera por nós ansiosa para conhecer sua neta e nora, meus
planos com a Lira só darão certo se ficarmos juntos, e para isso vou fazer a minha
filha atravessar um oceano para podermos ter uma vida juntos.
— Sì — responde manhosa.
— Polmete?
— Tá bien papai.
— Ela não vai conseguir decolar sentada — Lira fala — a Lizzie tem medo
de aviões e só aceitou ir nos braços do pai.
— Desculpe senhorita Vittileno, mas não podemos partir sem que todos
estejam de cinto. Por mais que o senhor Albuquerque segure a menina nos
braços, não é o mesmo que o cinto de segurança.
Lizzie grita novamente, mas dessa vez surpresa pelo que estou fazendo e
enquanto tenta chorar e rir ao mesmo tempo, ela agarra meus cabelos pedindo:
— Pode voltar — Ouço Lira dizer, imagino que seja com a aeromoça.
Sinto o avião dar sinal de que está prestes a voar. O piloto faz o anúncio
pelos altos falantes, eu levo a mão aos ouvidos da Lizzie impedindo que ela
escute o que ele fala enquanto aumento a intensidade das cócegas, fazendo tantas,
que minha menina grita, chorando de rir.
O avião não demora muito para alçar voo, ignoro a dor na coluna
parecendo que será partida em duas, e os puxões no cabelo e chutes que levo pela
Lizzie se contorcendo com as cócegas. Quando a aeromoça avisa que podemos
retirar o cinto, eu solto minha menina depressa a pegando no colo.
Seu rosto contra meu peito, as pernas presas pelo meu braço e o outro em
suas costas. Os olhos sapecas brilham de felicidade.
— Então não era do avião? — ela pergunta com a testa franzida — achei
que nunca iriamos conseguir decolar.
— Sì — responde abafado.
— Polmete?
— Sim.
— Vem — Lira abre os braços. Retiro meu cinto e entrego nossa menina a
ela — também estará segura nos braços da mamãe — beija seu nariz.
Lira desce a alça da blusa colocando o peito para fora, Lizzie não perde
tempo abocanhando o bico e começando a mamar.
Meu celular apita com uma notificação. Uma mensagem da minha mãe
pedindo para avisar quando pousarmos. São 9 horas da manhã na Itália,
provavelmente pousaremos às 19 horas. Com a diferença de 4 horas de fuso
horário, chegaremos às 00 horas no horário do Brasil. Aviso sobre e ela promete
ficar acordada para falar com a netinha que ela conhece somente por chamadas
de vídeo.
Lizzie termina de mamar e volta para o meu colo, a seguro firme como
prometi, enquanto assistimos ao desenho da Fefinha. Aos poucos o medo da
minha menina vai dando lugar ao divertimento. Lira deita confortavelmente
assistindo a filmes no tablet, ela é uma grande diretora e não consegue deixar de
comentar quando vê algo que poderia ter sido melhorado se o diretor fosse bom.
As horas começam a voar, o céu anoitece e Lizzie dorme fácil nos meus
braços, confesso que fiquei com eles dormentes de tanto tempo com a minha
menina no colo, mas nunca a soltaria, nem mesmo que meus braços caíssem.
— Agora que eu tenho você — segura minha mão — nossa menina não
ficará sozinha ou sentirá solidão por eu estar no set. Sei que você trabalha muito,
mas é reconfortante ser uma dupla.
— Eu sei que a vida de um CEO às vezes pede que ele fique mais tempo
— ela começa não acreditando nas minhas palavras.
— Não esse CEO — digo, apesar de já ter virado noites no escritório e ter
mudas de roupa preparadas para quando ficava até tarde — esse homem tem
horário de entrada e saída e vai jantar em casa todas as noites. A menos que a
empresa esteja em chamas, eu não descumprirei o horário.
— Isso é bom — responde, percebo que ela quer acreditar, mas entendo
que pode ser difícil. — Como você pretende fazer? Sei que seu estúdio fica nos
EUA.
— Ah, não mais, pedi demissão quando decidi vir para o Brasil.
— O quê? — fico surpreso, ela não me disse nada.
— É, liguei e falei que não iria mais trabalhar. Paguei a multa do contrato,
a notícia se espalhou e agora tenho mais de vinte propostas de estúdios e
emissoras brasileiras querendo me contratar como diretora. Acho que posso fazer
dar certo, me familiarizar com as produções do Brasil.
— Sou uma das melhores diretoras da nossa era, claro que seria disputada
— fala arrogante, com charme, dou risada do seu jeitinho.
— Como funciona?
— Ela poderia ficar com você enquanto trabalha sem incomodar seus
colegas de trabalho. E você ainda poderia estar em casa de tarde e eu fico com ela
a noite.
— Ela dorme a noite — arqueia a sobrancelha.
— Meus acionistas vão amar isso — ironizo rindo com ela — mas é o que
eu quero e ninguém vai me impedir.
— Você tem razão — ela beija minha mão — e caso a Lizzie não se adapte
a nenhuma das nossas rotinas, ela pode ficar na creche da Olivia.
— Sim, e ela trabalha e cuida dos filhos, assim como o Levi, Louis e
Bianca. Podemos fazer também.
Pego minha princesa no colo e descemos do carro. Lira traz a Fefinha nos
braços. Digito a senha na porta e entramos, vejo a cabeça castanha da minha mãe
deitada no sofá, dormindo profundamente, enrolada na manta com o ar-
condicionado, deixando a sala um gelo.
— Não sei se ela vai se acostumar a dormir na cama sozinha — Lira fala
— ao menos hoje é melhor ela ficar com a gente, se acordar na casa estranha vai
ter medo.
A guio para o nosso quarto onde nossas coisas já foram colocadas. Deito
Lizzie no centro da cama, beijo sua cabeça e Lira tira a roupa dela, trocando pelo
pijama. Lizzie tem o sono pesado e nunca acorda com barulho ou se mexerem
com ela.
Quando ela termina, vamos para o banheiro da suíte e fazemos sexo quente
na banheira, evitando fazer qualquer ruído que traumatize nossa menina. Me
perco no calor da minha mulher, apertando sua bunda com a mão, os olhos
vidrados um no outro, atingindo o orgasmo juntos.
Sei que a Lira tem problemas para conseguir se abrir e com calma a farei
perder todo o medo que a rodeia devido a suas experiências passadas. Minha
vontade é a de colocar um anel em seu dedo e a encher de “eu te amo”, mas por
hora, vou continuar fazendo as coisas com calma, a amando todos os dias e a
deixando confortável. Quando sentir que o momento certo chegou, eu faço o
pedido de casamento.
Digo a Olivia enquanto mordo um dos biscoitos que ela fez para as
crianças comerem enquanto brincam no seu apartamento. Anotei a receita para
fazer para a Lizzie, não leva açúcar, e a massa é uma delícia. Lorran e Lizzie
comem enquanto pintam na sala. Sentada no banco do balcão na cozinha, eu bebo
outro gole do meu chá.
— Você acha ruim que ele tenha cuidado com as palavras? — Pergunta,
acho que ela não consegue me entender.
— Não, eu amo como ele se preocupa comigo e com Lizzie mais do que
qualquer coisa. Mas não consigo ignorar que pode ser tudo mentira, uma fachada
para fazer eu me apaixonar perdidamente e com isso poder me manipular. Ele é
perfeito demais para ser verdade — engulo o choro — e se o conto de fadas
acabar no segundo em que eu for sincera e falar para ele como me sinto?
— Amar é corre riscos, é acreditar na outra pessoa, aceitar que você a quer
em sua vida e principalmente respeito. Você e o Daniel passaram por muita coisa
juntos e separados, mas agora conseguiram a chance pela qual sempre buscaram.
Você tem medo de se machucar, mas já pensou em como é para o Daniel, depois
de tudo que ele passou? Foram 20 anos casado com uma mulher que o
manipulava e traia, e mesmo assim ele está fazendo tudo para ter uma vida ao seu
lado.
— Eu sei, mas o que eu quero dizer é: se o Daniel, que é alguém que tinha
tudo para ser reservado e desconfiado com o amor, consegue se abrir sem medo, é
porque ele acredita em você, nos seus sentimentos, e acima de tudo, ele te ama
Lira. Qualquer um pode perceber isso, basta olhar para vocês dois juntos, e eu sei
que você também o ama, ou não estaria sofrendo por não conseguir demonstrar
isso. Sua dor não é por medo, é devido a não conseguir dizer o que sente.
— Eu amo muito ele — confesso, com o corpo gelado por admitir em voz
alta, colocando todos os meus sentimentos nas palavras. — E quero ser corajosa
o suficiente para dizer a verdade — inspiro — quero a vida que ele me promete.
— Um estalo na minha mente me faz perceber o que tenho ignorado — eu já
tenho tudo isso, mas estou presa a uma imagem que eu mesma criei nos meus
medos, não me permitindo viver o que sempre quis.
— Sim! Se sente melhor agora que percebeu que nos últimos cinco meses
você tem vivido o que sempre quis e teve medo de admitir que era real?
— Sim, é mais fácil do que o Levi a pegar no berço e levar para o quarto.
Esses dois são idênticos no quesito — faz aspas com os dedos — “estou cansado,
não quero conversa com o mundo”. Daqui a pouco o Lorran termina o desenho e
vai acordar o pai para mostrar.
Encaro meu sobrinho que pinta em cima da mesa com a Lizzie. Lorran é
um artista de primeira linha, com cinco anos faz desenhos de tirar o folego, que
eu nunca conseguiria fazer. Além de já saber ler e falar dois idiomas, às vezes
acho que ele é um mini gênio ou um superdotado.
— Isso, meu amor — a pego no colo — a mamãe vai para casa e te busca
amanhã de manhã.
— Polde sel de talde? — leva a mão a boca fazendo bico e eu rio da sua
fofura.
— Pode, sim, você pede para sua tia Olivia me ligar, que tal?
Meus irmãos conseguiram construir seus sonhos ao lado das pessoas que
amam e suas famílias. É a minha vez de ser feliz, agora não me restam mais
dúvidas ou hesitação. Estou pronta para ser completamente realizada e amada
pelo Daniel. Quem sabe termos um segundo filho que ele tanto fala, ia amar ter
um rapazinho parecido com o pai que cuide da irmã como o Lorran da Lorrany,
ou outra menininha para ser a dupla da minha princesa como a Alessa é da
Cecília.
— Oh, sem aviso, tem algo de especial para hoje? — pergunta sentindo
minhas intenções.
— Eu também.
Elas saem da sala e eu corro para meu quarto, entro no banheiro tomando
um banho longo. Tenho duas horas até o Daniel chegar, peço comida quando
acabo de me lavar e vou fazer uma maquiagem e escovar os cabelos. Passo
perfume, coloco um vestido sexy e desço de pé descalço. Na sala, me sento no
sofá com a ansiedade me corroendo, a comida chega, arrumo a mesa, duas velas e
um buque de flores que ganhei ontem do Daniel no centro. Ouço o som da porta
abrindo e me apreço indo até ele.
Daniel tem um sorriso quando me vê, não contenho a euforia e pulo no seu
colo. Beijo seus lábios macios com fome, olho no fundo, de seus olhos azuis,
segurando seu queixo e deixo as palavras fluírem.
Finalmente, após cinco meses juntos, ela conseguiu se libertar para meu
amor. Nunca tive dúvidas de que esse momento aconteceria, de que seriamos um
só, de corpo e alma.
Agora que pude finalmente falar que a amo com todas as letras, não quero
mais deixar de repetir as palavras que queimam em meu coração como uma
erupção solar. Eu nunca amei tanto uma mulher como amo a Lira, cada pequena
coisinha dela, o jeito como penteia o cabelo para a esquerda, a fala doce de
manhã cedo, o mau-humor quando acorda com a luz do sol nos olhos.
A forma, como seus olhos reviram quando meto tão forte nela, que minhas
bolas só faltam entrar na sua bocetinha apertada e quente. Ah porra de mulher
perfeita, a minha mulher, meu amor, minha vida, a única que me pertence e a
quem eu entreguei não só meu coração, mas a minha alma, e a promessa de uma
vida regada em amor e felicidade, tudo o que tivemos nos últimos meses.
Do jeito que eu sei que ela gosta que eu a ame, da forma como eu amo
amá-la. O amor único que fazemos, dessa vez, sem nenhuma única barreira entre
nós, sem medos, temores ou hesitação. Estamos mais nus e vulneráveis do que
nunca. Completamente entregues.
Sinto um aperto do cacete nas bolas indicando que estou prestes a gozar.
Lira arqueia a coluna e pescoço, contorcendo as unhas enquanto fica muda,
perdida em seu orgasmo que sempre vem silencioso, cortando todos os sons
ensandecidos que ela faz enquanto é tomada pelo prazer. Um longe gemido me
indica que ela terminou de alcançar o ápice e eu derramo nela minha porra.
— Eu te amo — digo mais uma vez, por amor, o som saindo dos meus
lábios para ela.
Me deito ao seu lado, e ela se aconchega no meu peito.
— Você não vai comer o meu cu hoje — ela fala fazendo careta.
Minha masculinidade não será intimidada por uma simples sugestão dela
comer o meu cu. Sei a quem meu pau pertence, e se chama a boceta da Lira. E a
vontade que o desgraçado tem de lamber o cuzinho rosado que sempre me olha
quando a como de quatro, acaba com ele, precisamos de uma prova, ou sou capaz
de perder as bolas de tanta vontade.
— Provadinha é o que eu faço com a minha boca, e você ama quando meto
a língua aqui — círculo o buraquinho com o dedo, o tesão me corroendo
novamente.
— Sim, mas seu pau é enorme, não sei se cabe — franze a sobrancelha e
tampa minha boca antes que eu responda — vamos jantar, sim? Estou faminta por
comida.
— Vamos, depois eu como sua bunda — ela levanta e agarro sua cintura
trazendo seu rosto para mim — mas antes uma provinha.
— Xiu — empurro seu quadril para baixo a fazendo ficar com as mãos na
mesinha de centro e a bunda empinada na minha cara. — Só uma provinha.
Levanto seu vestido vermelho, sexy. Puxo a calcinha por suas pernas
apreciando a delícia que é sua boceta inchada na minha cara. Estico a língua para
fora da boca provando de suas dobras, meto no seu interior sugando o mel que
sou viciado até o último fio de cabelo no meu corpo. Lira começa a gemer
remexendo o traseiro na minha cara, ela pode negar, mas adora quando a bolino
no cu.
Abro as bandas da sua bunda encontrando meu centro de desejo. Não faço
cerimonia antes de enfiar a língua na dobra enrugada e deliciosa, deslizo para
cima e para baixo, em movimentos circulares. Meu pau ganha vida ficando duro
como uma rocha. Ensandecido de vontade, eu lambuzo meu indicador antes de
enfiar no buraquinho da Lira. Ela geme chorosa, não é a primeira vez que faço
isso, há meses venho acostumando-a para ser comida por trás.
Sento-me mais para trás no sofá e puxo sua bunda, a trazendo para cima de
mim, meu pau servindo de acento para sua bocetinha que pinga. O dedo metido
até o talo no seu rabo. Prendo seu pescoço com uma chave de braço, colando seu
peitoral ao meu, começo a penetrar o dedo com mais agilidade enquanto ela geme
se contorcendo.
— Eu vou foder seu cuzinho. Coloque os pés no sofá e se abre para mim.
Lira não responde, ela apoia as mãos na minha coxa quando faz o que
mandei com o pé. Beijo sua bochecha quase não acreditando que estou prestes a
fazer isso. Agarro sua boceta a puxando para cima. Lira levanta o quadril, retiro o
dedo do seu cuzinho, lambuzo meu pau na sua boceta, fazendo-a me comer duas
vezes antes de tirar para fora.
Posiciono na entrada proibida que será desbravada por mim pela primeira
vez e estremeço com o calor da sua intimidade. Aperto o braço ao redor do
pescoço dela novamente, a imobilizando. A cabeça robusta do meu pau entra
arrombando o buraquinho. Lira grita, mas não tenta sair, se retrai, e deixo que se
acostume ao meu tamanho.
Círculo seu clitóris com meu dedão, e outro dedo penetro na sua bocetinha
eufórica por atenção. Lira começa a descer fazendo pequenos sons de
desconforto, quando não aguenta mais ela para no ar. Deixo que leve o seu
tempo, enquanto acaricio sua boceta e controlo meus músculos para não meter
para cima, comendo-a do jeito que preciso avidamente. É muito mais apertado, e
sinto que vou gozar a qualquer segundo.
Solto seu pescoço e Lira se senta com as mãos apoiadas no meu quadril
antes de começar a subir e descer a bunda. Aprofundo o estímulo no seu clitóris
enquanto aproveito a sensação nova de a possuir dessa forma. Os cabelos louros
batendo no meu rosto com os movimentos, nossos gemidos se misturando em um
único som.
— Goza Daniel, por favor — ela pede, percebo que está chegando ao ápice
do seu prazer, mas não sei se conseguira gozar assim.
Libero meu gozo dentro do seu cuzinho com um gemido rouco. Ela para de
se mexer e sai com calma de cima de mim, deitando-se no sofá. Abro suas pernas
caindo de boca na sua bocetinha. Mal encosto em seu clitóris inchado e ela grita,
gozando na minha cara. Subo beijando seu corpo coberto encontrando seus
lábios.
Sim, é exatamente essa a vida que eu quero, amor e prazer com a mulher
que amo.
Sinto as forças voltando para o meu corpo e pego Lira no colo a levando
para o nosso quarto. Como ela não recusou quando a prensei na parede mais
cedo, eu já imaginava que a casa estava vazia para nós dois aproveitarmos.
Sempre que queremos privacidade deixamos a Lizzie com os tios e minha mãe
desaparece gentilmente.
Entramos debaixo do chuveiro e a produção que ela fez para a noite desce
pelo ralo, quando a lavo com carinho e paixão. Tem algo que quero muito fazer,
mas que ainda não posso, por achar que não é o momento propício. Lira acabou
de declarar seu amor sem medo, e o próximo passo que quero dar já faz meses,
me parece totalmente oportuno.
Mas ela merece mais, merece romantismo e tudo que ela nunca sonhou que
receberia. A beijo com um sorriso arteiro, a ideia brotando na minha mente como
uma música.
São 16 horas da tarde e não tem outras pessoas aqui além dos encarregados
pela manutenção. Encaro o Daniel sem entender o que está acontecendo. Ele sorri
de orelha a orelha segurando minha cintura.
— Foi difícil conseguir, mas obtive autorização para subirmos até a cabeça
do Cristo Redentor e olhar a cidade pelos olhos dele. Consegue imaginar como
será isso?
— Não pode ser verdade — viro completamente o encarando com a boca
aberta, totalmente incrédula. — Como é possível?
Beijo seus lábios macios, sentindo os pelos da barba arranhando meu rosto.
Os pelos que eu amo, o rosto que eu amo, os lábios que eu amo, o nariz que eu
amo, a cabeça que eu amo, o corpo que eu amo. O homem que eu amo, e que não
poderia ser outro além dele a dividir o resto da minha vida, vivendo banhada por
amor.
— Meu noivo — o abraço forte, o cheiro sexy mais forte do que nunca.
Ele levanta me levando consigo, me gira nos seus braços me fazendo olhar
a vista da cidade aos nossos pés. Ficamos observando o crepúsculo na cidade
maravilhosa. Eu achava que conhecia a paz, que sabia o que era respirar aliviada,
e sem medo, mas nada se compara ao sentimento no meu peito.
Que ele apoia a minha união com o Daniel e me dá a única certeza que eu
poderia querer: a que serei feliz eternamente com a minha família e o homem
escolhido pelo Senhor, para ser o meu, felizes para sempre.
Faz meu nome ficar marcado na mente das pessoas sempre que leem uma
nova matéria e assistem a um filme indicado pelo artigo. Sempre vou me orgulhar
das minhas produções e espero conseguir o máximo de divulgação para o
programa, que contará com a participação da minha princesa como a ajudante
mirim de uma das apresentadoras.
— Pega no flagra.
— E agora, podemos ter nosso segundo filho? — ele pergunta com a boca
contra minha bochecha.
— Você trabalha no programa com a Lizzie por um ano, vamos nos casar
em breve, e depois de um ano você para de tomar o anticoncepcional e deixamos
acontecer naturalmente a vinda do nosso menino.
— Se a Lizzie tiver filhos aos 30 anos, você será um avô aos 71 anos. Com
certeza ainda estará em forma e com tudo em cima.
— Não tenho dúvidas quanto a isso, minhas netas terão ciúmes do avô
bonitão, e os rapazes vão se aproveitar da minha herança para impressionar as
meninas.
Gargalho com o futuro que ele me faz ver. Daniel tem razão, nossa
diferença de idade indica que enquanto eu estiver vivendo algumas coisas no meu
tempo mais nova, ele estará mais velho, e talvez não possa aproveitar como
deseja os filhos e netos devido à idade.
Quando voltamos para o hotel, fazemos amor mais uma vez antes de
adormecer.
Nossa viagem tinha tudo para acabar de forma perfeita, se não fosse pela
mensagem que o Daniel recebeu no celular no dia seguinte que roubou a cor do
seu rosto e apertou meu coração como um punhal.
Daniel
“Verônica foi solta ontem de manhã, como sabia dos seus planos, resolvi
não informar até você voltar para casa. Contudo, uma ligação da sua mãe foi
feita para a polícia há poucos minutos, informando que a Verônica foi até a
Creche em que a Olivia trabalha, e a Lizzie estava na sala de aula com o primo.
Na portaria, Verônica se passou por parente da Lizzie tentando contatar a
criança. Olivia tomou uma atitude rápida, não permitindo a entrada e ligou para
a sua mãe, que chamou a polícia no mesmo instante, pedindo que não
permitissem o contato da mulher com a criança. Estou indo para a creche nesse
momento, por isso não te liguei. Quando ver a mensagem me ligue, se eu não
atender, espere.”
Lira não tem medo, ela está com tanto ódio que paralisou no canto. A
ponta de seus dedos treme, com a vontade de poder fazer algo contra a Verônica.
Nunca a vi dessa forma, com o olhar perdido e o corpo paralisado. Seguro seu
rosto fazendo nossos olhares se encontrarem.
— Eu faço isso, você não pode sujar suas mãos — seguro as mãos dela —
elas não merecem ser manchadas de sangue.
— Não tenho outra opção, Verônica já provou diversas vezes que não é
confiável e quer me destruir. Chegar perto da Lizzie foi a gota final, não vou
deixar essa mulher ter a mera chance de machucar a nossa filha ou a você —
aliso sua bochecha — vamos voltar para casa, vou deixar vocês duas seguras e
fazer o que é preciso.
— Eu consigo, sabendo que fiz isso para manter as duas pessoas mais
importantes para mim seguras. Não é justo que a Verônica possa fazer as
maldades dela e continue se safando, ela vai usar novamente a desculpa da
loucura, não vou arriscar vivermos nossas vidas com medo, temendo que a
qualquer momento ela apareça novamente.
— Eu mato meu irmão se ele pensar que uma maluca indo atrás da minha
filha não deve ser comunicado no mesmo instante — aperta os punhos.
— A Lizzie não se machucou, essa certeza eu tenho ou nossos celulares
teriam tocado feito, loucos.
Lembro que o irmão dela fez o mesmo, usando da ajuda da máfia italiana
para proteger a família dele. Não preciso de ajuda externa da máfia, sou capaz de
resolver isso com os meus contatos. Crescer na periferia me deu vantagens que
poucas pessoas conhecem. Nem todo o dinheiro que usei fundando a minha
empresa era limpo.
Um grito escapa dos lábios de Lira, ela leva a mão a boca. Não consigo
acreditar que a desgraçada está falando que a Lizzie é dela. Isso não faz sentido,
ela nunca quis ter filhos, me fez acreditar que eu era estéril por anos. As
autoridades podem a taxar de louca, mas eu sei a mente diabólica que existe
debaixo da fachada, do rosto bonito e das palavras desconexas.
— Vamos direto para casa, quero ver a Lizzie e depois para a delegacia.
— Sim senhor.
Chegamos em casa e minha mulher corre para segurar nossa filha no colo.
Lizzie ri ao nos ver sabendo que eu ia pedir a mãe em casamento. Beijo seus
cabelos e inspiro seu cheiro de bebê, aliviado por ela não ter se machucado ou
presenciado alguma cena marcante. Minha mãe me encara preocupada, seus
olhos não mentem: ela sabe quem vou encontrar e o que irei fazer, ele deve
manter mais contato com ela do que comigo. Levi toca meu ombro pedindo para
falar, deixo minha mulher e filha na sala e o sigo para meu escritório.
— Essa mulher não pode continuar a solta — fala firme — entrei em
contato com o Louis e ele disse que pode nos ajudar, como da outra vez — fala
sugestivo. — Ela estava na creche da minha esposa, perto dos nossos filhos, não
existe justiça que a mantenha presa por causa disso, principalmente com a
alegação dela de doença mental.
— Eu vou resolver isso, fique aqui e cuide delas, preciso ir — aperto sua
mão. Apesar de não falar, ele entende o que eu peço.
— Tudo celto?
Aperto o celular com ódio, sabia que isso aconteceria. A maldita cobra
nunca paga pelos crimes que comete. Ela não é instável, mas a porra de uma
psicopata que engana a qualquer um. Inclusive a mim, meus dias sendo feito de
palhaço terminaram quando vi quem ela realmente era. A desgraçada vai receber
de uma vez a conta, por mexer comigo.
— Sim, a traga a mim, quero matar ela com minhas próprias mãos.
— Imaginei que pediria isso — me entrega um celular descartável — vou
te mandar a localização de onde a deixarei para você. Quando acabar o serviço
avise que descarto o corpo, nunca mais saberão dela.
É uma pergunta formal, eu sei tudo da vida dele, acompanho de perto todas
as suas façanhas, como sei que ele tem feito comigo.
— Até irmão.
O abraço, faz anos que não nos vemos ou podemos ter contato. Com um
tapinha nas costas vou embora, passando pelo mesmo lugar e entrando no carro.
Só preciso esperar seu retorno. Ele nunca falhou ou foi pego, não tenho dúvidas
de que irá ter sucesso dessa vez.
Retorno para casa, e minha esposa dorme com a Lizzie na cama. Converso
um pouco com o Levi e depois ele vai embora. Pego o uísque e um copo, me
sento no terraço observando o céu escuro, pronto para dar um fim nessa história.
No meu terceiro copo sinto a presença da minha noiva, ela contorna a cadeira e se
senta no meu colo, com a mão no meu pescoço, seus olhos pedem respostas.
— Pode me contar?
— Claro — deito sua cabeça no meu peito, inspirando seu aroma de flores
— eu tenho um irmão.
— Seu irmão é um criminoso, mas você fala dele com orgulho e amor, não
sente raiva pelas coisas ruins que ele deve ter feito?
— Elas não me afetam, para mim ele sempre será meu irmão mais velho
que cuidou da família, mesmo a distância e em segredo — bebo meu uísque —
não procuro saber os crimes do Leandro, me mantenho longe e sem vínculos. E
agora vou usá-lo para pôr um fim em um demônio.
Demora três dias para eu receber uma mensagem com um endereço. Parto
após me despedir, preciso ser rápido e cuidadoso. Lira e minha mãe serão meu
álibi, para todos estou em casa doente com a minha família, mas somente elas
sabem que fui encontrar os homens do Leandro em um galpão há mais de 10
quilômetros da cidade, abandonado em um ferro-velho. Entro na estrutura vendo
cinco homens dele e a Verônica amarrada na cadeira, sento-me de frente para ela.
— Você não pode ter filhos, eu garanti isso. Fui só dar um fim na menina
— estico a mão acertando seu rosto com tanta força que a cadeira cai no chão —
finalmente está mostrando seu lado verdadeiro? — pergunta cuspindo sangue no
chão. — Você era a minha marionete, mas eu nunca disse que te permitiria
brincar com outra dona.
Em casa vou direto para o banho, não posso tocar minhas meninas com as
mãos de um assassino. Tomo uma ducha demorada, enrolo a toalha na cintura e
saio do banheiro, na minha cama, vejo os cabelos louros brilhando com a luz do
sol. Minha noiva e minha filha me esperam com um sorriso tranquilo. Ela sabe o
que fiz e ainda me ama.
Caminho até elas, me deito ao seu lado. Lizzie sobe no meu peito e beija
minha bochecha antes de adormecer tranquila. Lira se aproxima beijando a ponta
do meu nariz e sorri, me dando a paz que perdi. Eu não matei alguém hoje, eu
impedi que a minha família fosse machucada. A puxo para perto, com minhas
duas vidas me dando calor, eu deixo a escuridão ir embora, sendo espantada pelo
raio de luz delas.
Lira
— Pai! Como o senhor entrou aqui? — vou para seus braços recebendo um
abraço caloroso.
— Com certeza.
Ele vai na direção da Lizzie, que ao ver o avô grita feliz se jogando nos
braços dele. Meu pai e o Marcelo, pai da Olivia e Bianca, tem passado bastante
tempo juntos e agora que conheceram minha sogra e o grupo viajante delas, os
solteirões estão com a corda toda, se divertindo em grupo. Sorrio feliz por poder
aproveitar tamanha felicidade e realização.
Já faz um mês que o caso com a Verônica aconteceu, ela foi dada como
desaparecida, Daniel foi interrogado, mas com o álibi que forneci, não existem
suspeitas sobre ele. Sei que, o que o meu noivo fez, foi algo extremamente
pesado, e que às vezes ele acorda com pesadelos lembrando de quando matou a
Verônica. Mas foi o necessário, a justiça não agiria rápido o suficiente a
trancando em uma prisão sem que ela cometesse um crime grave.
Percebi que não podia continuar arisca e uma safada querendo sexo,
atrevida, fazendo tudo o que eu queria. Eu tinha uma filha que precisava de
cuidados, minhas prioridades mudaram e afetaram meu comportamento, mas
continuo sendo a mesma leoa.
Chegamos em casa onde os gritos são ouvidos assim que desço do carro.
Beatrice vem feliz pegar a afilhada no colo, Lizzie não contém a felicidade ao
abraçar a dinda dela, por trás da Beatrice eu vejo o Dante segurando a mão da sua
sobrinha. Sabia que ele ia trazê-la, mas não lembrava como a menina era linda.
— Como foi a viagem? — pergunto os abraçando.
— Oi, tia Lira, como você está? — ela tem 9 anos e em breve fará 10.
Entramos em casa rindo, quando vejo uma coisa inacreditável. Daniel tem
o rosto pintado de girafa e o chapéu de uma. Lizzie grita ao ver o pai e corre para
ele que a coloca em cima dos ombros e começam a correr pela casa.
Louis ostenta um sorriso ao lado da Bianca e suas filhas que correm atrás
da Lizzie com presentes na mão. Abraço o Louis e a Bianca.
— O Levi — ela responde — ele agora está fazendo uma rosa no rosto da
Lorrany e depois uma girafa na Lizzie, ela disse que queria parecer com o pai.
Rio imaginando a cena, minha menina com certeza ficará linda.
Procuro pelo meu irmão que está no jardim debaixo da tenda, uma fila de
crianças esperando atrás dele enquanto os funcionários preparam a mesa da festa
e a decoração do zoológico. Lorran tem um pincel na mão ajudando o Levi nas
pinturas. Fico atrás das minhas sobrinhas que formam um exército. Quando ele
pinta a todas, me sento a sua frente.
Daniel segura a Lizzie no colo, e fico ao lado deles, atrás da mesa do bolo,
encaro minha família, amigos e familiares com o peito explodindo de alegria. Um
coro em italiano começa cantando parabéns para a Lizzie que bate palmas rindo
sapeca. Daniel tem os olhos marejados, é a primeira vez que ele pode parabenizar
a filha e comemorar com ela, seus braços a apertam forte contra si, ele a encara
com amor transbordando por sua íris azul.
Beija a bochecha da Lizzie.
— Celto — Daniel segura sua barriga para que ela possa se inclinar e
assoprar — quelo um ilmazinho.
— Viu Lira, até a Lizzie quer isso — ele me provoca — vamos atender ao
pedido dela.
— Seu bobo — bato em seu peito — sabe que ela vai encontrar um amor
igual ao nosso ou mais forte — suspiro — nossa menina pode viver várias dores
de uma vez ou se apaixonar uma única vez. Mas ela vai amar e ser feliz, pois
vamos garantir isso.
— Nunca! — fala convicto — vai ser outra princesa para eu proteger, nem
que precise defender o castelo sozinho.
Vejo um vulto louro pelo canto do olho, fico de ponta de pé olhando sobre
o ombro do Daniel e dou risada.
— Acho que você não precisa se preocupar — aponto com a testa, ele olha
por cima do ombro e ri orgulhoso.
Eles são só crianças, mas uma imagem se forma na minha mente de todos,
adultos, e do Lorrran saindo com as primas e irmã para manter os rapazes longe
delas. Não sei o que o Levi deve ensinar escondido ao menino, mas com certeza
funciona. Flagro meus irmãos encarando o Lorran com orgulho, Louis faz um
joinha com a mão, e o Levi um ok. Encaro o Daniel de canto de olho, percebendo
o sorriso satisfeito em seu rosto.
— Não sei do que está falando — ele diz me encarando com um sorriso
arteiro.
— Com certeza sabe, não esqueça que as mulheres da família são famosas
por colocarem os homens na linha.
Na cintura uma extensão do tecido formando uma calda de três metros que
arrasta quando ando, achei mais moderno essa forma de véu, do que colocar na
minha cabeça. Uma tiara com pedrinhas azuis, contornadas por diamantes, foi me
entregue pela minha sogra, é o meu “algo emprestado”, o vestido da minha mãe o
“algo velho” e a tiara azul o “algo azul”. Posso não ter a minha mãe nesse
momento, mas sinto em meu coração, ela me acompanhando a cada passo.
Toco o vestido uma última vez alisando o tecido, antes de ouvir batidas na
porta. Giro encontrando meu pai me encarando com felicidade tremenda no
olhar, antes de se aproximar. Ele tem algo em suas mãos, uma caixa preta, para
na minha frente e sorrio feliz por ser ele quem me entregará ao Daniel.
— Seus irmãos casaram e não pude levar eles ao altar, essa era uma honra
destinada à sua mãe — segura minha mão — sei que por diversas vezes posso ter
falhado na sua criação, e peço desculpas por isso. O amor que senti por Cecília
nunca mais visitou meu coração, não tenho arrependimentos e não mudaria nada
da minha história com ela — alisa meu queixo — minha linda menina, é com
uma honra imensurável que vou te levar ao altar hoje, e queria te entregar um
segredo de família.
Dou risada, isso é algo que minha mãe faria, pelas histórias que sei dela,
posso imaginar a cena acontecendo com facilidade. Meu peito inunda ao saber
que ela pensou em mim casando tantos anos atrás e que hoje não poderá me dar a
joia que comprou. Pressiono os lábios controlando a emoção, não quero chorar.
— E então eu disse “você nem sabe quando isso vai acontecer” e ela me
respondeu “será quando a Lira quiser, nossa menina vai crescer mais livre do que
qualquer outra e quando decidir pousar e fazer o seu ninho, será com suas asas
completamente abertas. Vamos homem, para de enrolar!” e me puxou para dentro
da loja.
Os olhos do meu pai estão vermelhos com gordas lágrimas escorrendo por
suas bochechas. Eu soluço sendo vencida pela dor causada no peito mesclada a
felicidade por saber que terei esse pedaço dela deixando para mim.
— Eu jurei para ela que te entregaria o colar, quando ela estava na UTI, e
hoje estou feliz em saber que você encontrou um amor que deixou seu coração
voar. Acendeu sua vida, trazendo tanta luz que cega a qualquer um — abre o
fecho do colar colocando no meu pescoço — sua mãe te amou com a vida dela, e
eu te amo com a minha — beija a minha testa — pronta para iniciar sua família?
— Sì — respondo chorosa.
— Agora limpe esses lindos olhos que você herdou da sua mãe e me deixe
te levar ao altar.
— Sì, pai.
Paro antes dos degraus. Meu pai aperta a mão do Daniel sussurrando algo
em seu ouvido. Seguro a mão do meu homem e subimos dos três degraus até
ficarmos de joelhos nas almofadas diante do padre. O senhor começa a falar, mas
eu não vejo ou escuto nada que não seja o Daniel ao meu lado. O calor emanado
do seu corpo e se chochando contra o meu. A bolha de amor se estendendo as
estrelas, tocando a todos os presentes.
— Completamente — retruco.
— Lira Vittileno, você merece o mundo a seus pés. É a mulher mais forte e
atrevida que já conheci. Quando nos vimos pela primeira vez, fiquei fascinado
pela sua personalidade, mas infelizmente, encalços e temores passados
atrapalharam a nossa relação. No nosso reencontro, eu sentia que falava com uma
gata arisca pronta para me deixar cego de um olho. — Risadas são ouvidas pelos
convidados, rio também lembrando do quanto quis arrancar sua cabeça na casa
do Louis. — No tempo que estamos juntos eu aprendi que estar apaixonado e
amar, são coisas diferentes, mas quando sentimos o mesmo, pela mesma pessoa,
se transforma em um novo sentimento. Mais forte e intenso, eu não almejo
somente ter um futuro ao seu lado, eu quero um presente e passado, lembrar do
dia do nosso casamento quando estiver velho, e contar aos meus netos o quanto a
avó deles estava linda.
Daniel pausa, seus olhos ganham um brilho banhado pela água acumulada
que ele se recusa a deixar cair. A voz grossa e sexy permanece firme:
— Você é a pessoa que me faz acreditar em destino, a que eu mais amo
nessa vida e a única que tenho certeza de que reencontrarei no pós-morte. Porque
o nosso amor é capaz de vencer a tudo e todos, superar planos e ultrapassar
existência. Um amor tão grande não se apagara com a finitude da vida. Hoje eu te
pergunto, você me aceita, Daniel Albuquerque, como seu marido, para viver não
somente essa vida comigo, mas todas as nossas futuras encarnações, por toda a
eternidade?
— Sim — responde.
— Eu te amo — digo.
Eu disse a Lizzie que seria eu a levar ela para ver os animais de perto, e
nunca volto atrás com a minha palavra.
— Na gilafinha também?
— Oooooooooinque — ri sapeca.
Lira sai com a Lizzie no segundo em que entro, essa foi rápida. Só de olhar
para o cabelo seco da Lizzie percebo que ela deve ter apressado a mãe. Rio ao
imaginar o banho de gato e cheio de conversa, tomo uma ducha rápida com a
Lizzie batendo na porta mandando me apressar e visto a roupa apropriada para os
safaris.
— Mamãe, polmete.
— Pelfeito!
Até que foi fácil dessa vez. Geralmente é mais difícil convencer a Lizzie a
deixar a girafa em casa quando saímos em família. Faz uns dois meses que fomos
a um restaurante e não teve acordo, precisamos levar a girafa, foi constrangedor
jantar com várias pessoas olhando a pelúcia enorme e comentando sobre
deixarmos ela levar.
Posso ainda ter pesadelos com a morte da Verônica, sei que fiz o que era
necessário, mas nem por isso a culpa me deixa em paz, com o passar dos dias,
tem amenizado cada vez mais, principalmente em momentos como esse, que não
precisamos de uma escolta de seguranças para um passeio em família. Em que eu
posso respirar sentindo o sol quente no rosto e o vento seco, mas nada ameaça à
segurança da minha família e continuará assim por décadas.
Leva meia hora até vermos os primeiros animais. Seguro uma Lizzie
eufórica e totalmente maravilhada ao ver os elefantes bebendo água. Ficamos o
tempo todo dentro do, jeep, por ser a opção mais segura, com ajuda de binóculos
mostra a ela hipopótamos do outro lado do rio.
— São os mais perigosos da região — nosso guia diz — por ano matam
muitos humanos que ignoram as regras da selva e mexem com os animais. A
natureza tem de ser respeitada, não caçada e ameaçada.
Antes que sua mãe responda, saio com minha filha a protegendo da leoa
Lira. A girafa não se mexe com a nossa aproximação, mantenho a Lizzie presa
contra meu peito. Minha pequena estica as mãos tocando a pele da girafa e sorri
tão linda, que o sol parece brilhar mais forte.
Sim, essa foi a vida pela qual eu lutei para proteger, o doce sorriso inocente
da minha menina, e faria isso quantas vezes mais fossem precisos.
Coço a cabeça sabendo o que terei de lidar, hoje a Lira está no estúdio
gravando até mais tarde, os meninos vão ficar comigo a noite toda, e tendo três
filhos, dois homens, e uma menina na adolescência, é de enlouquecer a cabeça de
um.
Entro em casa vendo a guerra travada na sala, roupa jogada para todos os
lados, e uma Lizzie furiosa com um batom quebrado na mão e um Lucca sorrindo
arteiro. Meus filhos, quando se juntam com o Lorran, se tornam verdadeiros
delinquentes, mas a minha Lizzie consegue colocar ordem em cada um deles
quando levanta a mão e os puxa pela orelha.
Observo enquanto ela leva a mão a orelha do Lucca puxando com tanta
força, que poderia arrancar, e o faz ficar de joelhos. Decido não intervir, por
enquanto não temos mancha de sangue. Lira sempre briga comigo por deixar uma
pequena briguinha acontecer entre eles, mas não consigo evitar, é divertido ver a
Lizzie dominando os irmãos, para depois se estressar com outra peça pregada por
eles.
— Epa — intervenho.
Lizzie pode ter perdido uns batons essenciais para a vida como atriz que
ela, tanto, ama, mas posso comprar novos a qualquer instante. Mas Lucca tem um
apego emocional muito forte aos mangás e os perder não causaria somente uma
raiva, mas uma ira incontrolável no gêmeo do mal. Me aproximo deles e Lizzie
solta a orelha do irmão.
— Quem é o rapaz?
— Lucca vai ficar de castigo, um mês sem comprar manga novo e nem ler
os capítulos online, agora quem é seu pretendente? — Cruzo os braços.
— Mas pai...
— Você é um home Lucca, haja como um, e respeite a vida privada da sua
irmã. Se ela tem um namorado, eu e sua mãe lidamos com isso, não é certo você
ficar irritado e quebrar as coisas dela.
Omito de todos que vou pedir ao Lorran para ficar de olho e espantar o
garoto. É aquele ditado “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Preciso
agir como pai ao educar meus filhos, mas nada impede que eu tenha minhas
artimanhas.
— Desculpa Lizzie.
— E você ao seu irmão por tê-lo ignorado, não é assim que tratamos a
família.
Lizzie pode ser uma leoa como a mãe, mas sabe obedecer, e continua
sendo a minha garotinha. Beijo a cabeça de ambos e mando irem chamar o Leon
para o jantar. Quando eles desaparecem, ligo para o Lorran que atende no
primeiro toque.
— Então, tio — ele fala hesitante — o rapaz é meu amigo, eu meio que
apresentei ele a Lizzie. Prometo que é uma boa pessoa.
— Eu, se seus irmãos continuarem brigando assim, por que você não
interveio?
— Você que não vai, a Lizzie tem algum namorado — faço careta.
— Pois é, ele a pediu em namoro hoje, e você está proibido de fazer algo
como mandar o Lorran espantar o menino, a Lizzie já tem 18 anos.
— Espera — digo — como você sabe que usamos o Lorran para espantar
garotos?
— Merda.
— Com certeza.
— Garota esperta.
Beijo os lábios da minha esposa com o mesmo fogo e paixão de anos atrás.
Os anos passaram, nossas vidas continuam seguindo, mas nada muda o amor que
sentimos um pelo outro. Ficaremos juntos pela eternidade e por todos os planos
depois desse.
SINOPSE
Ele acredita que foi enganado por ela.
Com a rejeição e o coração partido, ela esconde dele que engravidou e vai
embora sem olhar para trás. Quando Louis se depara com a verdade e percebe os
perigos que os rondam, não tem outra alternativa, a não ser manter a mulher que
ele ama longe para que ela fique segura. Sem fazer ideia de que ela espera sua
filha, quando descobre a verdade ele terá de reconquistá-la enquanto ela nega que
a filha é sua.
Uma gravidez inesperada seria o suficiente para acabar com as mágoas e
unir o jovem casal que nunca vivenciaram o amor?
GRÁVIDA E REJEITADA PELO VIÚVO
ITALIANO (IRMÃOS VITTILENO)
SINOPSE
"Vou proteger seu coração como você aceita o meu cheio de
cicatrizes."