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Copyright © Roberta Samir, 2022.

Todos os direitos reservados.

Betagem: kelly zonta


Diagramação: Roberta Samir
Capa: maya_designer_capas

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entretenimento. Nomes,


personagens e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Esta obra segue as Normas da Nova Ortografia da Língua


Portuguesa.

Todos os direitos reservados à autora.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer


parte desta obra, através de quaisquer meios - tangível ou intangível
– sem o consentimento escrito da autora. Lei nº 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
EPÍLOGO
CONHEÇA OUTRAS HISTÓRIAS
CAPÍTULO 1

Os primeiros raios de sol entram pela janela no mesmo horário


em que meu despertador toca, porém, eu já estou acordada há
alguns minutos, meu corpo já se adaptou a rotina de acordar bem
cedo, mas mais que isso essa noite também não foi das melhores e
não dormi bem. Respiro fundo antes de levantar da cama e ir em
direção ao banheiro, abro o chuveiro quente e tomo um banho
gostoso na tentativa de me animar para o dia de trabalho intenso,
quando termino e já estou com os cabelos arrumados e os dentes
escovados, saio do cômodo e paro em frente ao pequeno guarda-
roupas escolhendo o que vestir, não que eu tenha muitas opções
para o trabalho, mas gosto de me vestir bem e sempre dedico um
tempo a fazer as combinações certas.
Com a porta ainda fechada, escuto minha irmã batendo os pés
pelo apartamento que dividimos e resmungando sobre algo.
Apresso-me para terminar de me arrumar, e logo estou indo em
direção a cozinha com meus sapatos de salto em uma mão a bolsa
e o celular na outra, encontro Ártemis, sentada na pequena mesa
de dois lugares da cozinha com uma xícara de café nas mãos, o
cabelo cacheado todo desgrenhado, óculos de grau no rosto e
ainda com seu robe cor de rosa que já viu dias melhores.
Enquanto abasteço a minha própria caneca com o café quente
que ela fez, observo a minha irmã mais nova. Nós duas somos
muito diferentes tanto na personalidade quanto na forma física,
enquanto a Artêmis herdou do pai dela a pele negra e os longos
cabelos cacheados, eu sou tão branca que minhas veias são
aparentes em minha pele, meu cabelo preto é super liso e sem
nenhum movimento, temos em comum o tamanho, nós duas somos
baixinhas, herdamos da mãe, porém, minha irmã é super magra e
eu sou a gordinha da família.
— Não sei como você consegue comer alguma coisa assim
tão cedo — ela reclama, quando eu pego um pão e passo
manteiga. Sorrio do seu jeito rabugento de todas as manhãs.
— No escritório eu não tenho tempo nem mesmo para
respirar, não posso ficar sem comer nada até a hora do almoço —
explico mordendo meu pãozinho.
— Também não sei como você consegue acordar e ficar linda
em um horário desse, deveria ser proibido as pessoas serem
produtivas assim tão cedo.
– Já falei para você, se não gosta de acordar cedo não precisa
me acompanhar para o café da manhã.
– Mas eu quero, não almoçamos ou jantamos juntas, se não
nos encontrarmos no café da manhã, acho que a gente nunca mais
se vê, já que quando eu chego da faculdade a noite você já está
dormindo.
Eu e minha maninha somos muito grudadas, desde o primeiro
dia que botei os olhos em sua carinha rechonchuda de bebê.
Sempre fui cuidadosa e protetora com a minha irmã, e nós nunca
ficamos longe uma da outra. Quando viemos morar juntas e
sozinhas, fugindo da vida miserável que levávamos, nossa união
ficou ainda mais forte. Mas daí vieram as obrigações da vida adulta
mais conhecidas como trabalho duro e faculdade, com isso nós
duas passamos a quase não nos ver, mesmo morando na mesma
casa. Então, há alguns meses ela resolveu que iria acordar mais
cedo para me acompanhar no café da manhã, e podermos
conversar e passar um tempo juntas antes do dia se tornar uma
loucura.
— E como vai na faculdade? – Pergunto, antes de tomar uma
golada de café que está do jeito que eu amo, bem docinho,
algumas pessoas não gostam, mas eu odeio o café amargo.
— Finalmente chegamos à parte pela qual eu estava mais
empolgada: as aulas práticas, ontem nós praticamos tirar sangue e
usamos um ao outro como cobaia, foi incrível.
Minha irmã está cursando a faculdade de enfermagem,
sempre foi o sonho dela. Quando comecei a trabalhar na imobiliária
Andrade e meu salário melhorou, eu decidi pagar as mensalidades
para que ela pudesse realizar o seu sonho. Ártemis também
trabalha, mas o salário de telemarketing de meio período, serve
apenas para que ela ajude em algumas contas e suprir as próprias
necessidades, a maior parte das despesas ficam por minha conta e
dou graças aos céus pelo trabalho incrível que tenho, esse é mais
um motivo pelo qual eu não posso fazer uma besteira e correr o
risco de ficar sem o meu emprego.
— Mas e você irmã, como anda a sua relação com o Ceo
gostosão? — Ela pergunta meio que adivinhando o rumo pelos
quais meus pensamentos estavam indo.
— Não há relação nenhuma além da de trabalho — respondo
seca, tentando pôr um fim ao assunto, mas Ártemis apenas ri como
se duvidasse do que estou falando. Maldito o dia em que bêbada
confessei a ela meus sentimentos, eu tinha que ter imaginado que a
Árte jamais ia deixar o assunto morrer. — Para de sonhar com isso,
a vida não é igual aos romances que você lê irmã, então pode tirar
esse assunto da sua cabecinha bebê.
— Não me chama de bebê — fala emburrada, pois odeia que
usem apelidos para se tratar dela e então é a minha vez de sorrir.
Termino meu café e ela garante que vai lavar a louça, então
saio tranquila de casa. Como hoje vou de ônibus, não coloco meus
sapatos de salto, pois sei que não iria aguentar ou pior eles podem
se estragar, e eu amo esse sapato já que foi um presente do meu
chefe no meu aniversário do ano passado, por isso os levo dentro
da bolsa enquanto meus pés se contentam com uma sandália baixa
e confortável.
— Amiga espera — escuto a voz conhecida de Melina atrás
de mim e desacelero o passo. — E aí gostosa como você está?
— Tô bem amiga e você, a relação com o Dalton melhorou?
— pergunto, pois ontem quando a gente conversou, ela estava
super nervosa depois de uma discussão acalorada com o marido.
— Estamos dando um gelo um no outro. — Ela suspira. —
Acho que não dá mais sabe Oli, a relação está muito desgastada,
ele não conversa comigo, não faz nada por mim e eu estou
cansada de lutar sozinha.
— Aí amiga, que bad, eu sinceramente achei que vocês dois
seriam para sempre.
— Eu também, não casei para me separar, mas no fim acho
que essa vai ser a única solução, pois eu também não nasci para
ser infeliz.
A Melina foi a primeira e uma das únicas amigas que fiz
quando cheguei nesse bairro. Nos conhecemos no corredor de
produtos de limpeza onde ela trabalha, começamos a conversar
sobre desinfetantes e ela me convidou para tomar uma cerveja,
desde então, não nos desgrudamos mais.
— Tem certeza que não há outra saída? — pergunto, mas
pela maneira derrotada que seus ombros pendem para a frente
acho que a resposta será negativa.
— Eu ainda o amo como no início, mas ele está cada dia mais
distante de mim e sinto que cansei de correr atrás dele. Se ele quer
se afastar vou simplesmente deixar a porta aberta. — Olho para ela
com pesar, mas entendo o que ela quer dizer com isso.
Chego ao ponto de ônibus que fica exatamente em frente ao
mercado que ela trabalha, nos despedimos no exato momento em
que o ônibus chega e para minha sorte está quase vazio, então
consigo um lugar para me sentar no fundo. Saco meu celular e os
fones de ouvido e coloco um sertanejo universitário, mas nem
presto atenção na música, porque meus pensamentos voam para o
homem que insiste em invadir meus pensamentos.
CAPÍTULO 2

Chego à empresa no horário costumeiro, ainda não tem


ninguém aqui além dos seguranças, nem mesmo as recepcionistas
chegaram, afinal de contas são seis e meia da manhã e a
imobiliária só abre às oito. Entro no elevador e aperto o botão da
cobertura onde fica o escritório da presidência, conforme o elevador
vai subindo e a minha preguiça vai aumentando, eu não deveria ter
ficado até tarde ontem assistindo séries e comendo besteira com a
minha irmã.
A primeira coisa que faço depois de chegar ao meu andar é
ligar a máquina de café que fica na copa e encho a minha xícara, só
tomando mais café para dar conta do dia, depois de abastecida
com o líquido preto sagrado vou para minha mesa, ligo meu
computador e pego a agenda do dia.
Trabalho na imobiliária Andrade, uma das maiores do país,
além de ter uma filial em Orlando, na Flórida, onde facilitamos a
vida de brasileiros que querem alugar imóveis por temporada. Aqui
no Brasil alugamos e vendemos imóveis dos mais variados tipos,
desde apartamentos populares a mansões de alto padrão, a
empresa tem corretores em várias frentes. O negócio movimenta
milhões por anos e meu chefe acabou se tornando um homem
muito, muito rico, conseguindo o seu primeiro milhão antes dos
trinta anos. Isso o torna um dos poucos empresários no país a
conseguir essa marca, o que surpreende ainda mais, é que ele
começou como um simples corretor e foi crescendo na carreira,
pouquíssimas pessoas podem dizer que saíram da pobreza para
uma vida de alto padrão apenas com seu trabalho e bons
investimentos, por isso tenho muito orgulho de quem ele é, e de
poder trabalhar ao seu lado.
Falando no chefinho, são exatamente sete da manhã quando
o elevador apita e de dentro dele sai Miguel Andrade. Lindo, como
sempre, vestindo seu terno impecável de cor preta e gravata azul
marinho, com o cabelo ainda meio molhado do banho, eu sempre o
achei lindo assim, e me permito admirar a sua beleza por alguns
segundos, antes que ele perceba.
Miguel passa por mim sem nem dar bom dia, é sempre assim,
credo, não sei como um homem tão lindo, rico e bem sucedido
consegue ser tão mal-humorado. Mesmo assim, ainda caio de
amores por ele, meu chefe nem pode desconfiar desse sentimento,
porque sei que nunca terei uma oportunidade, não me orgulho
disso, mas infelizmente não mando no meu pobre coração que
palpita sempre o vê.
Como a excelente secretária que sou, quando ele chega no
escritório, já estou com tudo pronto para facilitar o seu dia, por isso,
há alguns instantes deixei sobre a mesa dele uma xícara de café do
jeito que ele gosta: preto, forte e sem açúcar, totalmente o contrário
do meu. Sei que ele demora quinze minutos entre beber seu café e
ler as manchetes dos principais jornais, além de dar uma olhada
nas projeções da bolsa de valores para o dia de hoje. Quando sei
que ele já terminou, me levanto, ajeito minha saia lápis e minha
camisa branca para que esteja tudo impecável com minha
vestimenta e bato duas vezes na porta dele antes de entrar.
— Bom dia chefe! — O chamo de chefe, mesmo sabendo que
ele não gosta, mas não sei porque tenho uma necessidade quase
latente de provocá-lo às vezes, mas de maneira sutil, afinal de
contas não quero perder o meu emprego. — Posso ler sua agenda
do dia?
— Fique à vontade senhorita Martins – ele responde com sua
voz rouca e como sempre acontece quando ele me chama de
“senhorita Martins” minha pele inteira arrepia. Por alguns segundos
eu recito para ele a agenda enquanto Miguel me olha com sua boca
parcialmente tapada pelo dedo indicador em uma mania que ele
tem quando está concentrado em alguma coisa. — Você acertou
tudo para a viagem aos Estados Unidos semana que vem?
— Sim senhor, as passagens estão marcadas para a sexta
feira da próxima semana no final do expediente como o senhor
instruiu, já mandei uma equipe limpar a sua casa e conversei com a
secretária de Orlando para separar toda a documentação que você
quer analisar e deixar as demais coisas em ordem. Além disso,
organizei um cronograma pelas casas que você quer visitar já que
esse é o objetivo principal da sua viagem.
— Eu estou acompanhando as notícias sobre esse novo vírus,
todos os governos estão em alvoroço e não sei como isso vai afetar
os negócios imobiliários.
— Vi que estão falando em quarentena – comento – a
situação na Ásia não anda nada boa, pode ser que haja
dificuldades na viagem.
— Vamos torcer para que não cheguemos a esse ponto, mas
por via das dúvidas quero antecipar o meu voo para essa sexta
feira.
— Mas isso é depois de amanhã – praticamente grito em
pânico, ele apenas ergue uma sobrancelha, questionando minha
atitude.
— Algum problema, senhorita Martins?
— Não senhor — respondo e engulo em seco — vou agora
mesmo providenciar as mudanças — falo já me virando para sair da
sala. Não acredito que ele quer que eu remaneje toda a viagem em
apenas dois dias, cara eu levei quase uma semana para organizar
tudo, principalmente a agenda dele. Eu já deveria estar acostumada
já que esse homem vive arrumando motivos para me enlouquecer,
quero esgana-lo cada vez que faz isso.
— Tem mais uma coisa... — Ele diz e eu apenas aguardo
olhando para ele esperando as instruções — eu quero que você vá
comigo.
— Sim senhor — respondo apenas, já que não é incomum
que eu viaje com ele, contudo dessa vez nem consigo ficar animada
em estar indo para a Flórida, já que os próximos dois dias serão um
inferno...
Saio da sala do senhor Miguel e me concentro no trabalho, às
dez horas em ponto escuto barulho de salto batendo contra o chão
e reviro os olhos, meu humor que já não estava dos melhores
acaba de ficar pior, mas quando levanto meu olhar para a pessoa
que parou a minha frente nada mais que profissionalismo
transparece no meu rosto.
— Bom dia Viviana, vou avisar o senhor Miguel sobre a sua
presença — a mulher loira nem se dá ao trabalho de me responder,
arrebitando o nariz para cima em sinal claro de desdém.
Insuportável! Penso, enquanto disco o ramal da sala atrás de
mim. Viviana é uma, do que chamamos por aqui, de corretora luxo,
ela pega as contas mais altas e trabalha com os clientes mais ricos,
não posso negar que ela é uma das profissionais mais competentes
que temos e seu trabalho é impecável, mas em compensação,
Viviana é um ser humano terrível a arrogância dela é lendária
dentro da empresa. Mas eu tenho uma antipatia especial por ela já
que em toda oportunidade que tem, ela dá em cima do Miguel o que
me deixa fervilhando.
— Sim Olímpia — meu chefe diz ao telefone.
— Viviana está aqui para a reunião das dez.
— Pode mandá-la entrar e providencie um café pra nós dois.
— Sim senhor — respondo ao meu chefe antes de encerrar a
ligação. — Você pode entrar agora Viviana. — A mulher passa por
mim ainda sem dizer nada, apenas me olhando com arrogância,
achando ser melhor que eu, tenho vontade de derrubá-la dos saltos
vermelhos que usa, mas contenho os meus impulsos pelo bem da
minha saúde mental e do meu emprego.
Assim que a porta é fechada atrás dela eu me levanto e vou
até a copa, pego uma bandeja e abasteço duas xícaras de café e
coloco sobre ela, assim como uma bonita vasilha de cristal cheia de
biscoitinhos amanteigados. Com cuidado levo tudo para a sala do
meu chefe, como tenho que equilibrar a bandeja não tem como
bater na porta e apenas a empurro com o pé. A cena a minha frente
me faz parar um pouco, Viviana está de pé em frente à mesa do
Miguel com a palma da mão sobre o tampo e o corpo inclinado em
direção ao nosso chefe com o decote quase sendo esfregado na
cara dele, os dois me olham e eu limpo a garganta antes de falar
alguma coisa.
— Com licença, o café que o senhor pediu — falo e adentro a
sala, Viviana se senta na cadeira vazia à frente da mesa e cruza as
pernas de maneira teatral, eu coloco a bandeja sobre a mesa e me
apresso a sair.
— Senhorita Olímpia — Miguel me chama um pouco antes de
eu passar pela porta — por favor bata da próxima vez.
— Sim, senhor — falo envergonhada e saio do escritório para
sentar na minha mesa e passar o resto do expediente remoendo o
fato que ele me repreendeu na frente da vaca da Viviana.
CAPÍTULO 3

Já são quase onze da noite e eu ainda estou com meu


notebook ligado resolvendo pendências da empresa, já que vou me
ausentar pelos próximos dias e tenho que deixar instruções para a
secretaria que vai ficar no meu lugar. A televisão está ligada no
volume baixo passando algum episódio de Friends, só para que eu
tenha a sensação que não estou tão sozinha já Ártemis, ainda não
chegou da faculdade, apesar de me sentir solitária às vezes, por ela
estudar tanto, também me sinto muito orgulhosa de ver o quanto ela
é dedicada a faculdade, depois de tudo que nós duas passamos é
gratificante ver que ela está alcançando seu sonho.
Eu também tinha vários sonhos quando era menina e às
vezes sinto que não realizei nenhum deles, não que eu esteja
reclamando da vida que levo agora, pois apesar dos pesares eu
sou feliz e agradecida pelo que tenho. Há alguns anos atrás, eu não
sabia nem mesmo quando seria minha próxima refeição ou se eu
estaria em segurança até o dia seguinte e hoje eu tenho um ótimo
emprego, meu próprio apartamento e estou juntando dinheiro para
o meu primeiro carro. Fui contra todas as péssimas expectativas
que a minha própria genitora colocava sobre mim.
Mas eu tinha sonhos, mesmo que eu nunca tenha falado disso
com alguém, eu gostaria de ser escritora durante a infância, as
fantasias que construía na minha cabeça eram o meu porto seguro,
para onde eu fugia quando a realidade era dolorosa demais. Eu
gostaria muito de colocar tudo isso para fora de alguma maneira,
mas isso nunca foi possível e eu não sei nem por onde começar;
durante muito tempo fui oprimida, desencorajada e até chamada de
burra, então enterrei essa vontade e me concentrei na vida real. Por
isso é tão importante para mim ver que a minha pequena está
alcançando o que sempre quis, afinal de contas uma de nós duas
tem que ser feliz plenamente.
É nisso que estava pensando antes de ficar tudo escuro
quando pego no sono ainda com o notebook no colo.

Abro os olhos devagar quando a luz do sol bate sobre o meu


rosto e resmungo um pouco pelo incomodo e volto a cochilar... No
entanto, meu cérebro insiste em acusar que algo está errado, então
lentamente eu abro os olhos notando que ainda estou na sala
porém tem um cobertor sobre mim, procuro pelo meu celular e o
encontro na mesinha de centro sem bateria, ainda sonolenta aperto
uma das teclas do computador que agora está apoiado na mesinha
de centro e quando a tela finalmente se acende, eu literalmente
caio do sofá, batendo o quadril no chão e praguejando:
– Inferno, mas que droga! – Grito, quando percebo que já são
quase seis da manhã.
Eu dormi demais, acordei super atrasada do meu horário
habitual. Tomo um banho voando e pego o primeiro vestido social
que achei no armário, nem tomo café, só deixo um beijo na minha
irmã que também acordou tarde me olhando assustada. Sabendo
que eu iria me atrasar, não daria tempo de pegar o ônibus por isso
tive que chamar um carro de aplicativo; graças aos céus o trânsito
em São Paulo hoje está aceitável e o carro segue sem parar em
congestionamento. A cada sinal vermelho eu aproveito para realizar
uma etapa da minha maquiagem para não ficar com a minha cara
totalmente pálida e cheia de olheiras. Finalmente chego na
empresa e me apresso correndo pela recepção sem nem me
importar com as pessoas que estão chegando e olham a minha
afobação.
— Anda mais rápido inferno! — Brigo enquanto aperto várias
vezes o botão do elevador, mesmo sabendo que isso não vai fazê-
lo descer mais rápido, mas não consigo ficar com as mãos paradas.
Quando finalmente chego ao andar da presidência me
apresso em fazer o café do meu chefe, pois daí no tempo que ele
leva para toma-lo eu posso me organizar, mas até a cafeteira
parece mais lenta hoje. Quando finalmente o café fica pronto, encho
uma xícara para o meu chefe do jeito que ele gosta e depois um
para mim colocando várias colherinhas de açúcar, um bom café vai
melhorar o meu dia, tenho que ter fé nisso.
Levo o café para a sala dele, mas como sempre digo a
desgraça sempre vem acompanhada, depois que deixei a xícara, o
jornal e o tablet posicionados perfeitamente em cima da mesa eu
simplesmente bato o braço no organizador que fica em no canto
derrubando no chão todas as canetas e clipes de papel.
— Ah, mas que droga! — Praticamente grito antes de começar
a pegar todos os objetos espalhados pelo chão, e tem muita coisa,
para que o Miguel tem tantas coisas de papelaria assim? — Tem
como ficar pior?
— O que você está fazendo aí senhorita Martins? — Escuto
atrás de mim e meu corpo inteiro congela, é perguntei cedo demais,
meu dia acabou de ficar pior.

Chego da minha corrida matinal e olho o marcador no meu


relógio esportivo me sentindo satisfeito pelo resultado, corri cinco
quilômetros hoje e bati a minha meta do dia, mas toda a satisfação
vai embora quando abro a porta do meu apartamento e me deparo
como Thiago, jogado no sofá ainda com a mesma roupa que saiu
ontem, com certeza chegou enquanto eu estava praticando meus
exercícios, pois quando eu saí de casa o sofá ainda estava
desocupado. Olho para a situação lastimável dele e balanço a
cabeça em negação, sinceramente não sei onde o Thiago vai parar
levando uma vida tão desregrada.
Sigo para o meu quarto tomo um banho e depois vou para o
meu closet escolher o que vestir, mas antes de colocar a roupa,
pego meu celular e dou uma olhada nas mensagens e nada chama
minha atenção, há alguns convites para festa e jantares, mas como
vou viajar amanhã recuso a todos. Sinceramente, ando cansado
dessas festas sempre com as mesmas pessoas, tantas
banalidades, sempre a mesma coisa monótona, nada mais prende
a minha atenção.
Chego ao escritório no horário de sempre, acho divertido
como as pessoas saem do meu caminho à medida que eu passo,
não sei quando me tornei um chefe temido aqui dentro, claro que
sempre fui muito exigente com tudo, mas nunca comandei com mão
de ferro ou injustiça para despertar medo. Meu irmão diz que é
porque eu tenho zero simpatia no meu corpo e minha cara fechada
espanta as pessoas, segundo ele, é por isso também que mulher
nenhuma me aguenta por mais de uma noite, idiota, é incrível como
irmãos mais novos têm o talento natural de ser insuportável.
Quando a porta do elevador se abre eu já me surpreendo, pois
diferente da nossa rotina diária, a senhorita Olímpia não está na
mesa dela como sempre esperando para me dar bom dia com sua
voz doce, e a porta da minha sala está aberta, de lá escuto algumas
palavras rudes ditas bem baixinho. Eu trabalho com a Olímpia há
cinco anos, ela esteve comigo desde que mudamos a sede da
empresa do cubículo onde começamos para esse prédio comercial,
muita gente que me vê agora, acha que sou herdeiro e que o todo
esse patrimônio foi me entregue de mão beijada, mas isso está
totalmente equivocado, eu lutei e luto muito para chegar onde estou
hoje.
Entro na minha sala e no instante que passo pela porta
descubro onde está a senhorita Olímpia. A mulher em questão está
no chão do meu escritório, embaixo da minha mesa, de quatro, com
o traseiro virado para a porta falando vários impropérios
Essa mulher veio ao mundo para me enlouquecer.
Eu me sinto atraído por ela desde a primeira vez que a vi,
diariamente uso de todo meu autocontrole para não fazer algo
impróprio quanto a ela, mas dessa vez eu não consigo desviar os
meus olhos é como se estivesse hipnotizado pelo balanço que seu
quadril faz de um lado para outro, apertado dentro do vestido de cor
vermelha, tinha que ser a cor do pecado? Ela se inclina totalmente
tentando alcançar algo e sua bunda se inclina ainda mais, tenho
certeza que devo estar babando que nem um adolescente quando
vê a garota mais bonita do colégio.
— O que você está fazendo aí senhorita Martins? — Pergunto,
para tentar reaver o mínimo de controle sobre mim mesmo, mas eu
acho que não foi a melhor estratégia, pois ela se assusta e tenta se
levantar rápido demais e com isso acaba acertando a cabeça no
tampo de madeira da mesa. — Merda! — Praguejo.
— Ai meu deus! — ela grita ao cair sentada e colocando as
mãos sobre a cabeça — Acho que estou vendo estrelas.
Eu me apresso em sua direção jogando minha pasta de
qualquer jeito no chão e me ajoelho ao seu lado, retiro suas mãos
de seus cabelos e substituo pelas minhas tateando para tentar
descobrir se tem algo de errado e é aí que meus dedos passam
sobre algo viscoso, retiro os cabelos dela do caminho da melhor
maneira possível, o pânico tomando meu peito pela perspectiva
dela estar ferida e então vejo um pequeno corte em seu couro
cabeludo.
— Você está sangrando — murmuro ainda me sentindo mal
por ela.
— Você me assustou cara, que ideia foi essa de chegar assim
de fininho chefe? — Ela responde e sei que não está muito bem,
pois me chamou de cara, coisa que nunca aconteceu antes no
nosso convívio.
— Eu não cheguei de fininho, — me defendo — cheguei
normalmente como faço todos os dias, você que estava distraída
senhorita Olímpia.
Me levanto do chão do escritório, pego com delicadeza em
seu braço a ajudando a ficar de pé, tenho medo que ela fique tonta
e volte a cair. Pancadas na cabeça podem não ser nada tanto
quando podem ser perigosas, além disso ela está sangrando, por
isso a apoio passando o braço ao redor da cintura dela e a conduzo
até que ela esteja sentada em uma das cadeiras que está próxima.
— Mas afinal de contas, o que você estava fazendo embaixo
da minha mesa?
— Eu deixei as canetas caírem no chão quando vim deixar o
café do senhor — ela fala enquanto eu vou até o armário no canto
da minha sala e tiro de lá um kit de primeiros socorros, voltando
para junto dela logo em seguida. – Não precisa fazer isso senhor,
eu mesma faço lá no banheiro em frente ao espelho.
— Você bateu a parte de trás da cabeça não conseguiria ver
sozinha, então pode deixar que eu faço, me deixa cuidar de você —
peço e ela me encara com os olhos castanhos esbugalhados em
minha direção e apenas acena lentamente com a cabeça.
Abro o frasco de antisséptico depois de verificar se está na
validade, pego um pedaço de algodão que está em uma
embalagem transparente, com o máximo de delicadeza que eu
tenho volto a tirar os fios de cabelo do local onde ela se machucou
e começo a limpar, retirando os pequenos filetes de sangue, me
sentindo bem menos nervoso quando percebo que há apenas um
pequeno corte, nada que vá requerer cuidados médicos ou levar
pontos.
— O corte não é grande, você teve sorte, poderia ter se
machucado seriamente — falo e ela apenas murmura algo como
“certo.”
Ficar assim tão perto da Olímpia é torturante, seus cabelos
são tão macios que me fazem imaginar como seria embrenhar
minhas mãos sobre eles enquanto beijo a boca dela. Seu cheiro me
lembra a flores, preciso conter a vontade de colar meu nariz ao seu
pescoço e inspirar profundamente seu perfume. — Droga eu
deveria controlar melhor meus pensamentos quanto a essa mulher
ou vou acabar fazendo alguma besteira. — Me concentro em
lembrar que ela é a minha funcionária e me ver apenas como o
chefe carrasco que vive para dar ordens.
Termino meu trabalho limpando o ferimento em sua cabeça,
mas não consigo me afastar o clima na sala parece ter mudado e
ela me encara, sua boca vermelha como um morango me convida a
provar teu sabor, inclino-me levemente em sua direção, percebo a
respiração dela mudar assim como a minha, bom, parece que ela
também sente a atração. Seria tão fácil ceder à tentação e provar
se seus lábios tem o sabor que imagino...
O telefone em minha mesa toca quebrando o clima do
momento e nos assustando, endireito meu corpo e passo as mãos
sobre os cabelos de modo a tentar reaver meu autocontrole.
— Está tudo certo com a sua cabeça, pode voltar ao trabalho
agora. — Droga, eu não queria aparecer tão autoritário, mas na
tentativa de me controlar as palavras acabaram saindo ásperas
demais.
Ela se levanta meio atordoada a princípio e sai da minha sala
andando rapidamente, sem dizer uma só palavra e bate à porta
atrás de si. Tenho vontade de chamá-la de volta, mas sei que isso
não seria o certo a se fazer, melhor mesmo ela acreditar que sou
um babaca, afinal de contas eu sou o chefe dela e um romance
entre nós nunca daria certo.
CAPÍTULO 4

— Não riam suas vacas — ralho com minha irmã e Melina,


quando elas caem na gargalhada com meu relato do que aconteceu
mais cedo na sala do meu chefe, o momento de maior vergonha do
meu ano.
— Você ficou com a bunda para cima na cara do homem —
Melina não se aguenta em meio à risada.
— Fiquei morrendo de vergonha gente, nunca agi de maneira
tão antiprofissional.
— Mas você achou mesmo que ele ia te beijar? — Ártemis me
pergunta antes de dar um gole em sua cerveja.
Se eu fechar os olhos ainda consigo sentir o cheiro dele tão
perto de mim, a mão do Miguel alisando os meus cabelos, a voz
dele falando baixinho e cheia de preocupação. Eu não sei se foi eu
que me empertiguei ou ele que se inclinou em minha direção, mas
por um segundo pareceu mesmo que nós dois estávamos na
mesma sintonia e iriamos nos beijar.
— Achei, e o pior, é que eu queria, fiquei lá parada que nem
uma mocinha tonta de romance esperando ele tomar a atitude e me
beijar — respondo e dessa vez, sou eu que tomo um longo gole de
cerveja, numa tentativa de aplacar os sentimentos que borbulham
em meu coração. — Ele foi tão grosso como sempre me mandando
voltar ao trabalho, apenas murmurei um muito obrigado por ter
cuidado da minha cabeça e saí correndo.
— É uma situação fodida gostar de quem não está nem aí
para a gente — Melina fala melancólica e sei que não está dizendo
isso apenas pela minha situação de coração apaixonado e não
correspondido.
— Mas você se casou com o homem que ama — minha irmã
pontua e Melina sorri sem ânimo.
— E de que isso me adiantou? A gente vive brigando. Eu faço
o que posso para manter o mínimo do diálogo com ele e sempre
sou ignorada ou deixada de lado, ele trabalha o máximo de tempo
que pode para evitar a minha presença, mesmo quando ele está na
cama comigo, deitado ao meu lado eu me sinto solitária, só nos
entendemos na hora do sexo — ela nos conta, uma lágrima solitária
cai sobre a sua bochecha. — Eu não entendo o que estou fazendo
de errado.
Me levanto do chão onde estava largada e me sento no sofá
ao lado dela, a abracei passando o braço sobre seus ombros e
deixei que ela chorasse todas as mágoas. Eu não entendo mesmo
como o casamento dela está em uma crise tão ruim, sendo que eles
têm apenas três anos de casados e até pouco tempo atrás
pareciam tão apaixonados que dava inveja a quem olhasse de fora,
o Dalton olhava para ela com tanta devoção.
— Você acha que tem outra pessoa? — minha irmã faz a
pergunta, que sinceramente também estava martelando na minha
cabeça há algum tempo. O questionamento faz com que Melina
chore ainda mais, balançando a cabeça afirmativamente e meu
coração se aperta por ela.
— Só isso explica o que vem acontecendo — fala depois de
se recompor um pouco — ele mudou muito em um espaço de
tempo bem pequeno depois de tudo que nós vencemos para poder
ficarmos juntos. Mas quer saber? — Ela nos olha. — Se ele acha
que nosso casamento não vale a pena e se ele quer jogar nossa
história fora que seja! Eu estou cansada, vou pedir o divórcio.
— O que? — Eu e Ártemis perguntamos juntas e chego a
babar um pouco a cerveja que estava tomando.
— É isso mesmo — fala, mas não sinto convicção em sua voz
— vou dar entrada nos papéis e pedir que ele saia de casa, estou
cansada demais e sinto que estamos nos machucando muito
tentando manter algo que morreu.
— Eu sinto muito Mel, quando a gente casa, imagina que
nosso conto de fadas será para sempre, não estamos preparadas
para admitir que deu errado — falo e ela apenas acena a cabeça.
— Então por hoje nós vamos beber para esquecer que somos
mal amadas — Ártemis exclama, levantando o copo que já foi de
requeijão, mas que agora está cheio de cerveja.
— Ei! — Reclamo e olho feio para minha irmã que apenas cai
na gargalhada e abastece nossos copos com mais do líquido
amarelo sagrado.
— Fala sério, ela está se divorciando, você está há anos
apaixonada pelo Ceo gostosão e não tem coragem de falar nada, e
eu sou tão tímida e azarada que tenho vinte e um anos e ainda sou
virgem, ou seja, podemos fundar o club das mal amadas.
Melina cai na risada com o que a minha irmã fala, mas é uma
risada histérica quase beirando ao desespero, já eu me afogo no
meu copo de cerveja, pois mesmo não querendo admitir minha irmã
tem razão e somos um trio com muito azar no amor.
— Deveríamos jogar na loteria — falo de repente e elas me
olham como se eu fosse louca e acho que estou ficando mesmo —
o ditado não é azar no amor e sorte no jogo? Bom acho que não
tem mulheres mais azaradas que a gente no sentido romance então
quem sabe a gente não fica milionária.
— Daí você pediria demissão e finalmente poderia sentar
gostoso no chefinho — Melina fala e me engasgo com o que estava
tomando, fazendo as outras duas mulheres caírem na risada mais
uma vez.
Enquanto tento me limpar da bagunça que fiz expelindo
cerveja a imagens nada inocentes de mim e o senhor Miguel se
formam em minha cabeça, tenho que admitir que várias vezes
cenas como essa vem no meu imaginário sem que eu possa fazer
nada para impedir. É um saco gostar de alguém sabendo que não
há chance alguma de ser correspondida.
Quando comecei a trabalhar na Andrade, imaginei ser só uma
paixonite boba, que eu estava deslumbrada com o quando ele era
bonito. Mas ao longo do tempo, à medida que ia conhecendo suas
camadas fui ficando mais cativa, mais presa a rede de paixão que
eu mesma criei na minha cabeça. Miguel é um homem difícil, mas
sei que tem um coração de ouro, ele cuida do irmão sozinho há
anos assim como eu fiz com a Ártemis, temos isso em comum. Sei
que todos os meses ele doa quantias altas a orfanatos e que tem o
sonho de adotar quando estiver preparado. Ele também é justo e
generoso com todos os funcionários, desde o mais importante
corretor até os estagiários, Miguel nos trata como iguais e não
permite abusos hierárquicos dentro da empresa.
Agora me diz como não se apaixonar por um homem assim?
— Olha a cara de boba dela, aposto que está sonhando com o
chefe — a voz de minha irmã me tira dos pensamentos e pisco
encarando as duas que me olham divertidas.
— Amiga fala com ele, diz o que sente, não é bom você ficar
guardando um sentimento tão lindo – Mel incentiva.
— Eu não posso, o senhor Miguel desencoraja totalmente as
mulheres da empresa que dão em cima dele, até a Viviana que
tenta na cara dura ter algo dele nunca conseguiu e olha que aquela
mulher apesar de ser uma vaca é linda, o sonho de todo homem.
— Mas com você pode ser diferente — minha irmã fala com ar
sonhador, mas eu tenho que manter meus dois pés no chão.
— Não sou tão especial assim irmãzinha. Tirando o incidente
de hoje o Miguel nunca deu nenhum indício que sente por mim
alguma coisa, eu que me iludo. E você mais que ninguém deveria
me desencorajar já que se eu ficar sem emprego não vai ter
ninguém para pagar sua graduação.
— Odeio o fato de você ter que cuidar de mim, odeio o fato
que você tenha que pensar sempre em mim primeiro do que em si
mesma, odeio o fato de não poder ajudar mais — fala chateada.
— Não fala isso Ártemis, eu te amo e faria tudo por você.
— Só que eu também te amo e estou cansada exatamente de
você fazer tudo por mim e eu não retribuir em nada, mas quando eu
me formar você vai ver — Ártemis diz com confiança — tudo vai ser
diferente eu prometo.
— Arte, presta atenção a sua irmã não faz nada esperando
algo em troca — Melina fala, pois eu fiquei sem palavras, não sabia
que ela se sentia assim e me dói pensar que a minha irmã se sente
inferior. — Família é isso, amor é isso.
— Você não precisa me retribuir irmã, como a Mi disse eu faço
porque te amo. Nós já tivemos um começo de vida fodido demais
para cultivarmos culpa de algum tipo. Sua saúde foi frágil por tanto
tempo que eu ainda acho que tenho que te proteger do mundo, mas
saiba que faço com todo amor, você foi minha luz quando a
escuridão da minha vida era densa demais, sem você eu teria feito
uma besteira ainda na adolescência, você me fez persistir e eu já
sou grata demais por isso — falo e a puxo para um abraço. –
Somos uma família e família quer dizer nunca esquecer
– Ou abandonar – ela completa, lembrando nosso filme
favorito.
CAPÍTULO 5

Eu odeio viajar, algumas pessoas pensariam que eu sou


maluca já que para alguns viajar é uma das melhores coisas da
vida, mas não para mim que sou o tipo de pessoa que é apegada a
rotina e além disso odeio aviões, a ideia de ficar a vários metros de
distância do chão firme me deixa em pânico.
— Você está bem? — escuto a voz do meu chefe e suspiro. —
Sei que não gosta de voar.
Ainda não superei o que aconteceu essa semana, por um
momento pareceu mesmo que ele iria me beijar e pior eu me peguei
ansiando por isso. Caramba! Eu me inclinei para ele, acho que
nunca fiquei tão próxima do senhor Miguel. A nossa relação sempre
foi estritamente profissional, e na minha cabeça eu escondo muito
bem a atração que sinto por ele. Por um tempo me senti culpada
por nutrir tais pensamentos a respeito do meu chefe, pois são
totalmente inadequados. Nos primeiros dias, há cinco anos, eu não
podia olhar nos olhos do homem sem ficar corada como uma
adolescente boba que conhece o garoto dos sonhos, mas com o
tempo fui aprendendo a controlar e camuflar meus sentimentos em
relação a ele, nunca passei a linha profissional que nos divide.
Mas quando ele tocou o meu rosto e cuidou do machucado
que sofri, por um momento eu vacilei e isso me deixou apavorada,
ao ponto de que quando saí da sala dele corri para o banheiro,
ficando vários minutos lá dentro tentando controlar a minha
respiração e o meu coração que batia descompassado. Depois
quando já me sentia mais calma tentei fazer com que os
pensamentos racionais prevalecessem em minha cabeça: o Miguel
é um homem bonito, charmoso e que tem um magnetismo
impressionante sobre as mulheres ao seu redor, não tem por que
eu me torturar por me sentir atraída por ele. O momento de
interação que tivemos só aconteceu porque bati a cabeça muito
forte e fiquei desorientada por algum tempo, isso não vai afetar
nosso relacionamento profissional; só depois de ter isso claro nos
meus pensamentos que fui capaz de sair do banheiro e enfim me
concentrar no meu trabalho.
Voar de executiva tem suas vantagens: a cabine que nos isola
do resto dos passageiros é um conforto, mas ficar presa com o
Miguel em um espaço tão reduzido é sempre desafiador, o cheiro
do seu perfume toma totalmente o ambiente me envolvendo, me
provocando, me cativando...
— Você não me parece bem, até ignorou a minha pergunta —
Miguel fala, me tirando dos meus pensamentos e sorrio sem graça
antes de responder.
— Não é a primeira vez que viajamos juntos e o senhor sabe
que voar não é minha atividade favorita. — Me orgulho de mim
mesma por conseguir falar sem gaguejar.
— Eu sei, por isso evito carregar a senhorita — ele fala me
surpreendendo, eu não sabia que ele tinha esse cuidado para
comigo. — Mas dessa vez vou precisar de você, quero resolver
todas as pendências que a empresa tem em Orlando, em tempo
recorde. Andei lendo as notícias internacionais e esse novo vírus
parece que é uma realidade cada vez mais próxima e não quero
correr risco de estar fora do Brasil.
— Acho que não vai ser nada ou as autoridades já teriam
começado a fazer alguma coisa — falo tentando ser confiante.
— Mas é melhor não arriscar, por isso pedi a sua presença,
assim você me ajuda a resolver tudo com maior rapidez e voltamos
no próximo fim de semana.
— Certo, eu já adiantei muita coisa mesmo do Brasil. A Molly
é uma secretária bem competente e arrumamos tudo para tornar
nossos dias produtivos, marquei a nossa passagem para a quinta à
noite, então não vou ter tempo nem de dar um pulinho no parque,
droga — falo sem pensar e ele me olha querendo rir. — O que foi?
Minha criança interior ama a Disney, você não pode me julgar
chefe, o sofrimento de viajar é totalmente pago quando vou no
mundo mágico. – Assim que termino de falar o avião dá uma
balançada e sem querer eu grito e fecho meus olhos, apertando
meus dedos em punho ao ponto de as unhas machucarem a palma
de minhas mãos.
De repente sinto uma presença ao meu lado e sinto as minhas
mãos sendo acariciadas para que eu as relaxe e então meus dedos
são entrelaçados em uma mão forte e macia, sei que ele está ao
meu lado na poltrona, mas não consigo abrir os olhos.
— Senhor, por favor se sente na sua cadeira, vamos passar
por uma turbulência. — Escuto alguém falar, com certeza deve ser
a aeromoça.
A simples menção da palavra turbulência tem a capacidade de
fazer a ansiedade crescer em meu peito, me oprimindo de modo
que respirar deixa de ser um ato mecânico do meu corpo e eu
preciso me esforçar ao máximo para conseguir que o ar chegue aos
meus pulmões.
“Eu vou morrer, o avião vai cair e eu vou morrer” é o que se
passa na minha cabeça enquanto o avião todo treme assim como
meu corpo.
— Eu vou ficar aqui ao lado dela — escuto o meu chefe
falando, ainda na segurança do escuro que meus olhos fechados
proporcionam, sinto o rodeando a minha cintura e então estou
presa no acento pelo cinto de segurança. — Ei fica calma, eu estou
aqui com você tenta respirar fundo e pensar em coisas boas.
Turbulências são normais e nada de ruim vai nos acontecer
Olímpia, olha tô pensando até em te dar um dia de folga e você vai
poder ir para a Disney comprar bugigangas e ver a Cinderela.
— Ver a Bela... a minha… princesa favorita é a Bela – falo
com a voz embargada pelo medo, mas a estratégia de me distrair
pode funcionar, a mão quente dele cobrindo a minha e sua
respiração assim tão perto do meu rosto também são distrações
bastante eficazes.
— Combina com você, a Bela no caso, corajosa, bonita, gosta
de ler... — Bonita? Ele me acha bonita? Por um segundo eu até
esqueço o que está acontecendo ao meu redor, mas quando o
avião dá um tranco mais forte eu me encolho ainda mais. — Se
concentra na minha voz apenas, sei que falar é mais fácil que fazer,
mas te garanto que logo a tudo vai passar e vamos ficar bem.
A turbulência dura por volta de quinze minutos e Miguel não
soltou minha mão ou parou de conversar comigo um segundo
sequer, eu não convivo com esse lado protetor e aberto do meu
chefe, que é sempre bastante distante e reservado, ele me conta
que o filme preferido dele e Rei Leão e então entramos em um
assunto super maduro: filmes de animação. Eu com meus olhos
fechados pelo medo, só fico escutando sua voz e sentindo seu
toque. Sei que não devia, mas aproveito o momento e a segurança
que o chefinho me passa.
— Pronto Olímpia você pode abrir os olhos agora, já passou e
estamos todos bem. — Faço o que ele pede e abro os olhos
devagar, com pesar, solto sua mão e ele então volta para sua
poltrona à frente da minha.
— Obrigada chefe, não sei o que faria sem você.
— É sempre um prazer te servir Olímpia.
CAPÍTULO 6

Pisar em solo americano dessa vez foi diferente: respondemos


a mais perguntas na imigração, tivemos a nossa temperatura
medida assim que saímos da aeronave e percebemos que alguns
passageiros ficaram retido depois de fazer a medição; álcool em gel
também foi colocado sobre as nossas mãos várias vezes enquanto
estamos no aeroporto, ao andar pelo saguão notamos várias
pessoas usando máscaras cirúrgicas e isso me deixou tensa, no
Brasil nada disso está acontecendo será que as notícia sobre o
novo vírus estavam erradas e a situação é mais grave do que
imaginávamos?
Está fazendo bastante frio e agradeço mentalmente por ter
colocado na mala casacos pesados e botas adequadas para o
inverno americano. Eu amo o frio e por isso amei que viemos nessa
época do ano, além disso é baixa temporada e os parques da
Disney vão estar mais vazios e só rezo para que eu tenha tempo de
aproveitar um pouco, bom pelo menos o Miguel disse que vai me
dar um dia de folga, agora é torcer para que ele cumpra com a
palavra.
— Nosso carro chegou — Miguel fala chamando minha
atenção para ele. — Entre, eu coloco a sua mala no porta malas.
Agradeço com um sorriso e assim que nos acomodamos,
saímos a caminho de Orlando e eu nem consigo ficar animada, a
viagem e o medo que passei durante a turbulência me deixou
exausta já que eu não consigo dormir em aviões e ao contrário do
meu chefe que cochilou boa parte da viagem, eu fiquei o tempo
inteiro acordada, por isso assim que o carro se põe em movimento
eu já não consigo manter minhas pálpebras levantada e os sentidos
alerta.
— Linda, chegamos... — escuto alguém falar ao longe, mas
está tão bom assim relaxada e o cheiro é tão agradável, resmungo
que quero ficar na cama mais alguns minutos é tão injusto que
queiram me acordar quando estou tão cansada — Olímpia, acorde
nós chegamos.
Com dificuldade e preguiça eu abro meus olhos e então
percebo que não estou no meu quarto, nem na minha cama na
verdade estou praticamente deitada no colo do meu chefe: minha
cabeça está em seu peito e o meu braço rodeando a sua cintura,
quando ele olha para baixo ficamos próximos demais, presos no
olhar um do outro. Meu coração acelera e meus sentidos antes
letárgicos, estão totalmente alertas.
Seria tão fácil me render.
Assim que o pensamento passa pela minha cabeça, me afasto
do senhor Miguel como se tivesse levado um choque. Eu não posso
deixar os meus sentimentos mais secretos tomarem o controle, me
esforço tanto, escondi por tanto tempo não vou deixar tudo ir pelos
ares agora. Foram três anos mantendo meu total controle e
profissionalismo, mantendo meus sentimentos abaixo da superfície,
mas nos últimos dias as coisas estão saindo de controle, com
situações que colocam nós dois em momentos íntimos o bastante
para deixar tudo que afogo dentro de mim vir até a superfície de
maneira que quase transborda.
— Me perdoe senhor Miguel, eu não queria dormir. — Tomara
que eu não tenha babado no homem ou pior roncado, seria o meu
fim.
— Você estava cansada e foram quarenta minutos de carro, é
normal — falou de forma seca e eu abaixei os olhos envergonhada.
Saímos do carro e pegamos as nossas malas, eu espero que
o senhor Miguel tome a dianteira para entrar na casa, que é muito
mais bonita pessoalmente do que nas fotos que vi pelo meu
computador. Eu já tinha vindo para Orlando antes com meu chefe,
mas as casas sempre estavam alugadas para turistas que estavam
na cidade, sempre ficamos em hotel, essa é a primeira vez que
vamos nos hospedar aqui. Por fora a casa é linda, bem ao estilo
americano sem muros com um jardim na frente, garagem lateral e
um caminho de pedras que nos leva até a entrada principal, o que a
separa das casas vizinha são arbustos que estão perfeitamente
podados e alinhados, a manutenção da casa é sempre feita quando
algum locatário deixa o imóvel, isso garante sempre que tudo esteja
no mais alto padrão.
— A casa é muito linda — comento enquanto arrastamos
nossas malas até a porta.
— Sim, por isso essa é a casa mais requerida pelos clientes,
sem contar que os parques estão há apenas dez minutos de carro
daqui.
A casa por dentro é ainda mais maravilhosa, a primeira coisa
que noto quando a porta é aberta é a grande escadaria de madeira
que leva ao andar superior, a casa é toda em tons de branco e o
piso em madeira o que deixa tudo muito elegante. A cozinha é
separada da sala por uma grande ilha de mármore com local para
refeições.
— Você pode subir e se instalar em algum dos quartos, tome
um banho e descanse que vou providenciar alimentação para nós
dois. — O chefinho fala e eu acato, afinal de contas estou exausta e
vou precisar renovar as energias antes de me jogar no trabalho.

A semana foi caótica para dizer o mínimo, o escritório aqui


estava uma verdadeira loucura, descobrimos que um dos corretores
de imóveis, estava cobrando taxas abusivas e com isso extorquindo
os clientes, quando foi descoberto houve uma grande confusão e
até a polícia teve que ser acionada. Depois disso ficou para nos
arrumar a bagunça deixada por ele. Eu, Miguel e Molly nos
esforçamos ao máximo para não deixar que, o que aconteceu fosse
parar na mídia, seria um escândalo terrível e a corretora poderia
sofrer com grandes danos tanto financeiros como em sua
reputação. Além disso, havia vários documentos e contratos para
serem lidos e analisados e o Miguel queria que fizéssemos isso
pessoalmente antes de serem mandados para o jurídico.
— Tudo que eu queria era dormir dois dias seguidos — falo
assim que passamos pela porta de entrada, deixo meus sapatos e
casaco no hall, meu chefe faz o mesmo antes de me responder.
— Amanhã é o seu dia de folga finalmente, você pode
descansar.
— Claro que não vou fazer isso, posso sempre descansar
quando chegar ao Brasil, vou arrumar minha mala hoje para
adiantar já que vamos embora a noite, pois amanhã eu vou passar
o dia batendo pernas e comprando, como você gosta de chamar,
bugigangas do Mickey.
— Não consigo ficar empolgado com os seus planos.
— Isso é porque você tem a alma do senhor Fredricksen – falo
me lembrando do velhinho rabugento do filme UP.
— Quem? — ele pergunta e vai andando até a cozinha.
Nesses dias que estamos aqui quase não comemos em casa,
aliás quase não fizemos nada, trabalhávamos o dia todo e quando
voltávamos apenas caiamos na cama esgotados. Mas hoje o
senhor Miguel disse que iria cozinhar, então eu apenas me sento
em uma das banquetas que fica na extremidade da ilha e fico
observando enquanto ele se movimenta pela cozinha para preparar
Mac and cheese, o famoso macarrão com queijo americano.
— É um velhinho rabugento de um filme infantil — respondo à
pergunta anterior dele.
— Não sei se fico mais ofendido pela senhorita me chamar de
rabugento ou de velhinho — ele fala, mas está sorrindo.
— Não te chamei de nada disso, só disse que você tem a
alma de um velhinho rabugento.
— Eu deveria demitir você — ele fala antes de colocar uma
taça de vinho branco à minha frente.
— O senhor não faria isso, sem mim você estaria jogado na
sarjeta embaixo da ponte — exagero e ele ri.
— Quer dizer que todo meu sucesso não se deve ao meu
esforço, inteligência e dedicação? E sim ao fato de você ser a
minha secretária? — questiona com humor na voz e eu me derreto
um pouco, é difícil ter momentos de descontração ao lado do
Miguel, mas quando acontecem são os melhores.
— Estou dizendo exatamente isso, chefe — continuo na
brincadeira — inclusive depois dessa viagem o senhor deveria
aumentar o meu salário, nunca resolvi tantos problemas de uma
vez.
— Eu não imaginava que o escritório aqui estaria tão
mergulhado no caos.
— Você precisa urgentemente de um representante de
confiança aqui.
— Esse papel deveria ser do meu irmão Thiago, mas aquele
lá só quer viver de balada e pegar mulher, nem para a faculdade ele
liga.
— Nós demos um jeito por agora e o senhor vai ter um tempo
para se organizar. Vou subir e tomar um banho antes de comer,
você se importa? — Pergunto e por um momento percebo o olhar
dele viajar pelo meu corpo, mas o gesto é tão sutil e rápido que
prefiro acreditar que foi coisa da minha cabeça.
— O jantar fica pronto em vinte minutos — responde apenas
antes de se virar me dando as costas. Saio da cozinha deixando
minha taça vazia em cima do balcão, subindo rapidamente as
escadas para manter uma distância dele e do que sua presença
causa em minha cabeça.
Ainda bem que amanhã é nosso último dia de viagem, pois eu
não sei onde iremos parar com o clima cada vez mais sensual
cercando nos dois.
CAPÍTULO 7

Os dias em Orlando passaram que eu nem percebi, o trabalho


me consumiu por inteiro. Eram tantos erros e para completar uma
fraude financeira, a Olímpia foi essencial para chegarmos ao fim
dessa viagem com a maioria dos problemas resolvidos. Na próxima
semana quando estivermos no Brasil e eu descansar alguns dias
vou ter uma conversa séria com o meu irmão, já passou da hora de
Thiago sair da vida desregrada e assumir a parte dele nos
negócios, eu me sinto totalmente sobrecarregado como se todos os
problemas do mundo estivessem sobre minhas costas e
sinceramente eu já não estou dando conta de carregar sozinho. Se
alguém de confiança estivesse administrando a imobiliária daqui
todos esses problemas não teriam acontecido e a empresa não
teria sofrido com uma perda de dinheiro tão significativa, além do
risco de perdermos nossa credibilidade junto aos clientes.
Meus pais morreram eu era um moleque imaturo recém saído
da adolescência, tinha apenas dezoito anos quando meu pai
dirigindo bêbado tirou a vida dos dois, com isso eu me vi
desempregado e sendo responsável por uma criança de dez anos.
Tínhamos um teto sobre as nossas cabeças, mas apenas isso, eu
não tinha um tostão furado para alimentar a mim e ao Thiago, por
sorte, eu era bonito e não estou dizendo para ser soberbo ou que
usei meu corpo para ganhar dinheiro, nada disso, mas eu tinha uma
professora que o marido era corretor de imóveis, quando ficou
sabendo da situação em que eu e meu irmão estávamos ela veio
falar comigo que no ramo em que o marido trabalhava pessoas com
boa aparência tinha chance de se dar bem e perguntou se eu
gostaria de tentar, sem pensar duas vezes eu disse sim, então o
senhor Marley me ofereceu um estágio e assim eu fui inserido no
ramo imobiliário. Mas eu não ia me apegar a apenas isso, então
tomei vergonha na cara, mudei de vida, me dediquei muito, estudei
mais ainda e com vinte e três anos eu já era um corretor com uma
boa cartela de clientes. Porém, nessa minha trajetória acabei
mimando muito o meu irmão, fazia tudo que ele queria, pois achava
muito injusto a vida ter tirado a mamãe da gente, mas agora vejo
como errei com o Thiago.
Deixo os pensamentos sobre ele de lado e me concentro em
tomar o meu café, a minha competente secretária saiu bem cedo
para curtir o que segundo ela, é o seu lugar favorito no mundo, já
eu estou cansado demais para ir explorar Orlando nesse último dia,
no máximo vou sair pela tarde para fazer algumas compras.
Quando estou terminando o meu café uma esbaforida Olímpia entra
pela porta me assustando.
— Olímpia, o que você faz aqui? Aconteceu alguma coisa?
Não achei que te veria antes de anoitecer.
— Aconteceu sim, pega o teu celular — ela fala rapidamente
procurando por alguma coisa e logo acha o controle da televisão
que fica em um canto da cozinha e liga o aparelho. — Ficamos
distraídos demais com o trabalho e não acompanhamos as notícias.
— Mas do que você está falando? — antes dela responder
começo a prestar atenção no que a âncora do jornal fala.
Fronteiras fechadas

Vírus mortal

Caos na Ásia

Alto índice de contaminação

Subindo o número de morte e casos graves

Altamente contagioso

Mortal

Quarentena

Isolamento
— Quando cheguei no parque tudo estava fechado, conversei
com algumas pessoas e pelo que parece os aeroportos estão
cancelando os voos. — Depois de alguns minutos de nós dois no
mais absoluto silêncio apenas ouvindo a notícia no telejornal,
Olímpia fala que precisamos fazer alguma coisa e eu corro para
pegar o meu celular e ligar para o aeroporto.
Horas, ficamos por horas no telefone falando com as mais
diversas pessoas. Todos os voos para o Brasil foram cancelados,
tentamos alugar um jatinho particular, mas nenhum lugar estava
fazendo o serviço por recomendação do governo e das agências de
saúde, além disso corríamos o risco de sermos impedidos de
pousar no Brasil.
— O que vamos fazer agora? – Olímpia me pergunta, mas eu
não tenho nenhuma resposta boa o bastante para dar a ela. — É
um péssimo momento para contar, mas eu sou um pouco
hipocondríaca e acho que estou tendo uma crise de pânico.
Ela começa a respirar com dificuldade, suas mãos vão parar
nos joelhos quando ela dobra o corpo para frente e parece que está
prestes a desmaiar, corro para ela e a ajudo sentar em uma das
cadeiras da cozinha.
— Calma respira fundo — falo passando as mãos em suas
costas em movimentos circulares. — Vamos ficar bem Olímpia.
Tento me lembrar o que eu sei sobre crises de pânico, mas
pouca coisa me vem à mente, então faço o que eu fiz no avião
quando ela estava com medo da turbulência e seguro a mão dela
com força trago seu corpo para junto do meu e a abraço falando
palavras de incentivo. É bom sentir o calor dela, o cheiro gostoso
dos seus cabelos e o aperto macio de suas mãos, ficar tão próximo
a Olímpia tem efeitos devastadores sobre meus sentimentos.
Demora alguns minutos, mas aos poucos ela volta a respirar
com calma, eu ofereço um copo de água com açúcar e enquanto
ela vai bebendo eu pego meu celular e entro na internet, as notícias
não são nada animadoras e há também muita especulação e
pânico das pessoas nas redes sociais.
— É uma quarentena — falo baixo e Olímpia vem para o meu
lado – estão recomendando que as pessoas fiquem no que chama
de isolamento social por no mínimo quarenta dias.
— Nós não podemos passar por isso presos em outro país,
vamos para a embaixada eles vão nos levar para casa, eu tenho
que ir para casa — ela fala com evidente pavor na voz.
— Não daria certo, para começar a embaixada fica em
Washington, a distância aproximada daqui para lá é de umas 855
milhas — falo olhando as informações no meu celular — ia demorar
aproximadamente umas 14 horas de carro até lá.
— Mas seria melhor do que ficarmos aqui sem fazer nada,
olha eu tenho uma irmã em casa e ela precisa de mim, temos que
sair daqui.
— Ei respira Olímpia, você é uma das pessoas mais centradas
que eu conheço, se você pirar eu vou pirar. Aqui tem o telefone da
embaixada, se eles puderem fazer algo por nós, daí sim nós
pegamos o carro e vamos.
— Certo me parece muito com um plano, vamos lá.
Começo a ligar para a embaixada, mas o telefone dá ocupado
todas as vezes, porém eu não desisto e ela também tenta
arduamente, ficamos nisso por quase uma hora e só então
conseguimos falar com alguém, mas o banho de água fria vem logo
depois. Alina, a mulher que nos atende, informa que por enquanto
não há nada que possam fazer, a recomendação é que todos
fiquem onde estão e já que nós estamos em uma propriedade
nossa e melhor que continuemos aqui, pois as primeiras pessoas
que serão evacuadas são as que estão em hotéis ou em situação
de risco e vulnerabilidade, mas isso só vai acontecer quando os
governos de ambos os países liberarem mais informações.
Colocamos nosso nome em uma lista com nosso endereço e
telefones, pois é tudo que podemos fazer no momento.
— O que vamos fazer agora Miguel? — ela pergunta mais
uma vez e vejo que está prestes a chorar, então eu procuro uma
maneira de acalmá-la.
— Eu não sei, mas pelo visto estamos presos aqui. Mas olha
por esse lado, estamos em segurança, temos uma casa, não
estamos em hotel. Nós podemos ficar aqui por quarenta dias e
quando isso passar, voltamos com segurança para o Brasil. Não
adianta nada nos arriscamos agora, vai ser como férias forçadas.
— Você está certo, quarenta dias não é tanto tempo e aí
podemos voltar em segurança para o Brasil e vai ficar tudo bem,
não é verdade? Um vírus não pode durar muito mais que isso.
— Exatamente — respondo mesmo que algo dentro de mim
diga que não vai ser tão fácil.
CAPÍTULO 8

— Árte como você está? — Pergunto preocupada quando


finalmente consigo falar com a minha irmã pelo telefone em
chamada de vídeo, eu precisava olhar para ela e ter a certeza que
estava bem.
— Estou bem, mas achando tudo isso uma loucura. Acredita
que fecharam a empresa, dizem que nesses primeiros dias e
quarentena total e meus chefes não sabem o que fazer. Mas e você
irmã? — Ela pergunta com a mesma preocupação que eu.
— Tentamos de tudo para ir embora, ligamos para Deus e o
mundo, mas ninguém quer voar, meu chefe ofereceu até suborno e
nada — falo com a voz chorosa.
— Mas qual a necessidade de voltarem assim no olho do
furacão? — Ela pergunta e pela câmera vejo que ela se jogou no
sofá da nossa sala.
— Meu chefe está preocupado com a empresa, com nós dois
aqui as coisas aí podem ficar caóticas e eu estou preocupada com
você — falo chateada.
— Você deveria se preocupar com si mesma Oli e não
comigo, tô pensando em ir ficar com a mamãe... — ela fala meio
incerta e eu me surpreendo.
— Não Ártemis, você não pode fazer isso — falo em um misto
de irritação e preocupação.
Ártemis e eu não tivemos uma boa criação, nossa mãe era
completamente narcisista e abusiva, por anos ela praticamente nos
torturou psicologicamente e isso não era tudo, ela sempre mentiu
sobre a minha paternidade, além disso ela desfilou com vários
homens pela nossa casa colocando a segurança de duas crianças
em risco. Quando um desses homens tentou abusar da Ártemis foi
a gota d'água então nós duas fugimos de casa. Eu tinha dezessete
anos e ela doze foi uma época difícil, que poderia ter sido muito pior
se eu não tivesse conseguido um emprego de babá que oferecia
um quartinho onde minha irmã e eu podemos viver até que eu
ficasse maior de idade. Depois de alguns anos, Ilda voltou a entrar
em contato com a gente dizendo que mudou e que queria uma nova
chance, mas sinceramente eu não acredito nisso.
— Não vejo muitas opções Olímpia, é um vírus respiratório
que pelo que entendi se pega até pelo ar, as pessoas estão
morrendo, mesmo que aqui no Brasil a coisa ainda não esteja tão
feia acredito que essa tranquilidade não vai durar muito. Você está
em outro país, eu odeio realmente ser um peso para você e te
deixar preocupada, mas como eu vou fazer?
— Eu entendo, sei que você tem a saúde frágil, mas eu não
confio na Ilda perto de você.
— Ela disse que mudou... — minha irmã fala esperançosa e
isso parte meu coração, sei que parte dela ainda deseja ter a mãe
perfeita que ama, protege e cuida dos filhos.
— Olha Árte, não se precipite, não queria nem que você
tivesse contato com a Ilda. Eu vou pensar em alguma coisa tá bom,
por enquanto fica em casa e fica segura. Eu preciso que você
esteja bem e longe da mãe.
— Ok — responde apenas se dando por vencida e eu suspiro
aliviada. — Por enquanto eu tenho comida em casa e acho que não
vou precisar sair para nada e com fé isso vai durar poucos dias. Eu
te amo fica bem.
O telefone é desligado, mas eu não consigo sair do lugar onde
estou parada, a preocupação com a minha irmã é sufocante,
sempre fomos nós duas contra o mundo eu estava lá para ela a
qualquer momento e agora no meio de uma crise mundial, eu estou
presa a quilômetros de distância e sem possibilidade de voltar.
— Olímpia? Algum problema? Por que está chorando? — As
perguntas me alcançam e só então me dou conta das lágrimas que
caem dos meus olhos. Observo Miguel que parece que acabou de
sair do banho a julgar por seus cabelos morenos estarem meio
úmidos e o fato de ele estar com uma roupa diferente.
— É a minha irmã, estou muito preocupada com ela, ela tem
asma por isso uma doença respiratória contagiosa como esse tal de
coronavírus não é uma boa coisa na situação dela.
— Eu sinto muito — fala e coloca uma mão sobre meu ombro
direito na tentativa de me dar apoio — se tiver algo que eu possa
fazer...
— O problema é que somos só nós duas e eu estou presa
aqui e ela lá sozinha. Como vai ser se ela precisar sair, para ir em
um supermercado ou algo do tipo? Eu li na internet que até mesmo
nas embalagens, o tal vírus pode se prender e infectar as pessoas.
Ela não pode correr riscos.
E assim volto a chorar, o desespero pesando em meu peito,
as crises de asmas da Ártemis são bem graves, já tentamos vários
tratamentos e ela obteve uma melhoria, mas não a cura. Sinto
braços me rodeando e de repente estou envolta em um abraço
apertado do Miguel, meu rosto contra seu peito sentindo o cheirinho
gostoso do seu sabonete. Ele me ampara até que eu esteja mais
controlada da crise de choro.
— Eu tenho uma ideia meio maluca... — ele fala e me afasto
dele prestando atenção em suas palavras — sabe eu também
tenho um irmão.
— É claro o senhor Thiago.
— Não o chame de senhor, o Tiago é praticamente um
moleque, mas ele tem saúde de ferro e também está sozinho em
São Paulo já que moramos juntos. Quem sabe o meu irmão e a sua
irmã possam se fazer companhia até que possamos voltar ao
Brasil? Posso até pagar a sua irmã para ela ser babá do Thiago —
ele fala como se o irmão fosse uma criança e não um homem.
— Eu não sei senhor Miguel, não vejo minha irmã morando
com um homem... ela é bem tímida também eu não sei se posso
confiar...
— Olha meu irmão é um irresponsável, eu não posso negar,
mas ele é íntegro e nunca faria mal a uma mulher, pelo menos
nisso eu acertei na criação dele. Sem contar que eu também estou
preocupado com ele sozinho no Brasil já que apesar das nossas
diferenças nós nunca ficamos longe um do outro.
— Eu realmente não sei... — Comento ainda em dúvida —
mas qualquer coisa seria melhor que a Ártemis ficar mais uma vez
sobre o domínio da minha mãe. Tem certeza que eu posso confiar
no seu irmão? Se ele fizer mal a minha menina eu juro que mato
ele.
— Tenha certeza que se ele fizer algo errado eu mesmo mato,
como eu disse o Thiago e meio de balada e farra, mas é um homem
honrado e respeita as mulheres e tem outra coisa, se ela não quiser
passar esses dias com ele posso pedir ao Thiago que vez ou outra
veja se a sua irmã está bem ou se necessita de alguma coisa.
— É o Thiago vai querer fazer isso? Por que olha, pelo que eu
conheço do seu irmão ele é bastante, como eu posso dizer... pouco
cooperativo.
— Nem o Thiago seria tão imbecil, é uma situação atípica e
vamos precisar de cooperação. Hoje mesmo eu já o intimei a ir até
a empresa e organizar tudo, já que eu não estou lá e o escritório
terá que ser fechado.
— Vou ligar para Ártemis e conversar com ela sobre tudo isso
e ver o que ela acha, se ela aceitar por mim tudo bem.
— Vou fazer o mesmo com o meu irmão e depois vou preparar
o jantar para nós dois.
E com isso, ele vai para a cozinha e eu me sento no sofá
branco da sala pegando meu celular no bolso e discando o número
da minha caçulinha.
CAPÍTULO 9

Os dias vão passando vagarosos, já fazem mais de quinze


dias que a quarentena foi decretada e as coisas andam ainda
caóticas, já que nós mal sabemos como vai ser daqui para frente o
futuro da humanidade. Eu ando bastante ansiosa e preocupada, às
vezes passo horas assistindo ao noticiário, principalmente o canal
que traz notícias do Brasil. A cada atualização do número de mortos
meu coração se parte um pouquinho, como não se solidarizar com
tantas famílias perdendo seus entes queridos? O Miguel deu férias
coletivas para todos os funcionários, esperamos que em um mês
tudo esteja mais normalizado ou pelo menos tenhamos algumas
perspectivas do que vai acontecer.
Para completar hoje eu não acordei legal, ontem a noite minha
menstruação veio e com isso os sintomas horríveis como cólica, dor
nas costas e nos seios além de um humor nada agradável, por isso
nem sai do quarto ainda, está quase no horário do almoço, mas eu
não tenho animo algum nem para levantar da cama e ir buscar uma
bolsa de água quente para aliviar a dor. Os desconfortos são
tamanhos que não sinto nem mesmo fome, só quero ficar aqui
quietinha debaixo das cobertas macias.
Escuto batidas na porta e autorizo a entrada do Miguel, ele
apenas abre a porta, mas não entra de imediato, mas quando ele
passa os olhos por mim rapidamente vem para o meu lado e se
senta na cama colocando a mão sobre a minha testa.
— Olímpia, o que você tem? Está com febre? Dor de
garganta? A gente não saiu de casa acha que foi contaminada? —
Ele faz várias perguntas seguidas não me dando tempo de
resposta. — Fala logo o que você está sentindo, desculpe, mas a
sua aparência está horrível.
— Chefe você leva tanto jeito com as mulheres — falo
aborrecida, tá que eu não devo estar muito bem, mas não precisava
ele falar assim né.
— Sem tempo para vaidade Olímpia, me diz logo, você está
doente?
— Não, estou só com cólicas muito fortes — explico, mas ele
não parece aliviado o bastante. Penso em falar alguma coisa, mas
uma onda forte de cólica passa pelo meu corpo me fazendo
estremecer e trincar os dentes.
— Nunca te vi nesse estado, nós nos conhecemos há cinco
anos e você nunca demostrou que sentia tanta dor no seu período
— com delicadeza ele passa os dedos pelo meu rosto tirando os
fios de cabelos que estão sobre ele e dessa vez quando eu
estremeço nada tem a ver com a dor.
— Eu tomo remédios, remédios bem fortes, mas não tenho
nenhum aqui, não trouxe do Brasil já que nós ficaríamos só por uma
semana apenas e não por quase um mês inteiro.
— Eu não tenho muita experiência com mulheres com
cólicas, aliás eu não tenho experiência nenhuma, mas se tiver algo
que eu possa fazer por você...
— Na verdade, se você puder me trazer a bolsa de água
quente, eu vi que tem uma na caixa de primeiros socorros, eu seria
muito grata. — Peço, já que não estou mesmo a fim de me levantar.
— Certo, em um minuto. — Ele se levanta da cama, seus
dedos que estavam fazendo carinho pelos meus cabelos me
abandonando cedo demais e me arrependo de ter feito o pedido.
Miguel sai do quarto me deixando sozinha, mas instantes
depois ele volta e para ao lado da cama onde estou deitada me
olhando de maneira esquisita.
— O que foi, por que você tá me olhando assim?
— Você disse que não trouxe os seus remédios porque não
esperava demorar tanto... — ele começa e me parece meio tímido o
que me deixa mais curiosa com essa conversa esquisita. — como
você está fazendo com… é que as mulheres precisam de... Você
sabe pra colocar lá embaixo no...
— Você está falando de absorventes, Miguel? — pergunto
querendo rir e ele me olha com vergonha. — Ai meu deus não
esperava que você fosse o tipo de homem que se intimida para
falar de “intimidades femininas” — falo a última parte com
entonação sugestiva na voz e ele me olha cerrando os olhos.
— Eu já falei, não tive contato com mulheres nessa...— Ele
faz uma pausa pensando no que dizer. — Fase. Mas você não
respondeu a minha pergunta.
— Você não me fez nenhuma pergunta — provoco e ele
parece prestes a pular no meu pescoço, o que me diverte.
— Você precisa de absorventes Olímpia?
— Não chefe — já estou rindo enquanto falo — eu uso coletor
menstrual e por sorte sempre tenho um reserva na minha
nécessaire de viagem. — Explico e ele parece prestes a ter um
colapso, chega a ser meio fofo.
— Apesar de não saber o que é um coletor menstrual eu vou
me dar por satisfeito com a tua resposta. — E com isso ele dá as
costas e sai do quarto, me deixando ainda rindo da reação dele.
Aproveito que fiquei sozinha novamente e resolvo reagir, me
levanto resmungando e vou para o banheiro tomar um banho e
lavar os cabelos, para tentar me sentir mais decente, não acredito
até agora que o Miguel disse que eu estava horrível. Me penteio e
também escovo os dentes, depois me visto com o pijama mais
confortável que eu trouxe, não é o mais bonito, mas é o que eu
preciso no momento para me sentir minimamente bem. Quando
estou saindo do banheiro Miguel entra carregando uma bandeja
que é colocada sobre a cama.
— Como você não comeu nada trouxe algumas coisas leves:
chá quente com sanduíche — ele fala, mas noto que há duas
xícaras sobre a bandeja e me sinto feliz por saber que ele vai me
fazer companhia. — E aqui está a bolsa de água quente e aqui está
um comprimido para dor, não deve ser o que você usa, mas pode
ajudar, pelo menos mal não vai fazer.
Ele me entrega a bolsa vermelha e eu coloco sobre a minha
barriga e chego a gemer quando o calorzinho gostoso se faz
presente, pego o comprimido redondo da mão dele e o tomo com a
água que Miguel também trouxe, ele pensou em tudo e me sinto
imensamente agradecida por ele ter tido essa delicadeza. Outro
homem poderia ter só ter me deixado sozinha para que eu me
virasse.
— Obrigada Miguel — falo sincera e ele sorri. Me recosto no
travesseiro com a xícara de chá nas mãos — acho que nós dois
estamos nos saindo bem na medida do possível.
— A gente ainda não se matou — ele fala fazendo graça.
— Mas só se passaram dezoito dias, tudo pode acontecer.
— Teria coragem Olímpia? De matar o seu chefe?
— Não me teste, eu assisto muitos filmes. — Ele me olha
fingindo estar horrorizado. — Mas eu trabalho para você a cinco
anos, se não envenenei seu café na crise que tivemos a dois anos
acho que vamos ficar bem.
O clima entre nós é leve, conviver com o Miguel realmente
está sendo mais fácil do que eu esperava, claro que tem coisas que
me incomodam como o fato dele sempre deixar a porta aberta o
que faz com que o frio lá de fora deixe tudo gelado, ou como ele
suja muita louça quando está cozinhando e eu sempre tenho que
lavar tudo e tenho certeza que tem coisas que eu faço que o
incomodam também. Até uns dias atrás nosso contato era somente
ali nas oito horas que convivíamos no escritório totalmente focados
no trabalho, mas agora passamos todas as horas dos nossos dias
juntos e isso vem nos levando a conhecermos outras nuances um
do outro.
É posso dizer que estou gostando desse nosso momento de
convivência, o problema é que quanto mais eu o conheço mais
apaixonada por ele eu fico.
CAPÍTULO 10

O que era para ser poucos dias já se tornou dois meses


inteiros e as coisas estão cada vez piores, o novo vírus vem
infectando todo o planeta e as vidas a cada dia estão sendo
ceifadas e todos nós estamos em risco. Primeiro veio um período
de muita desinformação, no começo só as pessoas infectadas
usavam máscaras de proteção, mas agora a organização mundial
de saúde diz que todos devem usar para tentar se proteger, além
disso tudo e qualquer coisa está sendo limpa com álcool na
tentativa de matar o vírus e as práticas de higiene nunca foram tão
difundidas.
Quando as pessoas perceberam que a coisa era realmente
grave houve princípio de pânico, as pessoas correram para os
supermercados para estocar alimentos, água e até mesmo papel
higiênico. Eu e a Olímpia procuramos manter a cabeça fria e
compramos só o necessário para a nossa sobrevivência e conforto
nesse período.
Mas nem tudo é tragédia, incrivelmente o mercado imobiliário
não parou, várias pessoas buscam por aluguel de apartamentos e
casa, tomando todos os cuidados meus corretores estão
trabalhando em um bom ritmo, por isso não tive que demitir nenhum
funcionário nesses dois meses em que tudo está de portas
fechadas e vários negócios estão preocupados com uma futura
crise financeira.
Eu e a Olímpia estamos trabalhando muito para dar conta de
gerir o negócio de maneira remota, a cada dia eu me encanto mais
com o quanto a Olímpia é inteligente, sagaz e dedicada, juro que
sem ela eu sozinho não daria conta de tudo.
Falando nela eu reviro os olhos em sua direção enquanto ela
tenta me convencer a assistir uma animação qualquer da Disney,
essa mulher não cansa de filmes infantis? É isso que pergunto a ela
e como resposta recebo um punhado de pipoca jogado em minha
direção.
— Eu sei que o público alvo em sua maior parte são as
crianças, mas os filmes trazem mensagens importantes para todas
as idades, além disso nossa vida já é tão difícil que um pouco de
magia não faz mal algum.
Olho bem para ela toda preocupada em defender seu ponto
de vista, hoje ela está linda o aquecimento interno da casa permite
que ela esteja trajando um short de moletom com uma blusa curta
que deixa uma faixa de pele de seu abdômen a mostra, o cabelo
está amarrado no alto da cabeça e vários fios soltos estão
espalhados de maneira desordenado o que a deixa um aspecto
despojado e sexy, para completar seus óculos de armação redonda
com hastes cor de rosa. Linda.
— O que foi por que olha para mim assim? — Ela pergunta
encabulada e a vejo corar um pouco, adorável.
— Só estou apreciando você defender seu ponto de vista —
explico.
— Então vai assistir Frozen comigo?
— Não, mas você pode assistir aos Vingadores comigo? —
falo para provocar, mas vejo ela abrir um sorriso lindo.
— Aí chefinho, você tá tão ferrado, o negócio é que eu amo os
Vingadores, sou obcecada pela Marvel e se vamos fazer será
direitinho. Temos muito tempo já que estamos presos nessa casa
sem poder colocar o nariz para fora, vamos começar pelo início,
procure aí o Homem de ferro que nós dois vamos maratonar todos
os Vingadores. Vou fazer mais pipoca! — Grita animada se
levantando do sofá e indo em direção a cozinha e eu apenas sorrio
por ver a animação dela.

O filme está quase no final e a Olímpia caiu no sono com a


cabeça escorada sobre meu ombro, com delicadeza retiro seus
óculos e apoio na mesa que fica na lateral do sofá, e então com as
pontas do dedo retiro os fios de cabelo que caem sobre seu rosto,
assim dormindo nem parece que é a bomba de energia pela qual eu
sou apaixonado.
Passar todos esses dias na companhia dela tem sido a mais
deliciosa tortura, conhece-la melhor mais profundamente é incrível.
No escritório ela é sempre séria, contida e profissional, mas agora
que estamos vinte e quatro horas juntos estou conhecendo a
verdadeira personalidade dela. Olímpia é enérgica, positiva e
acorda animada pela manhã, odeia fazer exercícios físicos, mas
todo fim de tarde o faz mesmo assim, reclamando a cada minuto do
processo. Ela gosta de música e tem uma óbvia obsessão pela
Beyoncé, eu já estou até mesmo decorando as letras de todas as
músicas da mulher.
A cada dia, a cada descoberta, a cada passo da nossa
convivência eu me apaixono mais um pouco, o problema é que não
posso tocá-la como quero, não posso beijá-la como sonho; é como
ter o fruto proibido a um palmo de distância.
— Olímpia acorde, vamos para cima, você vai dormir melhor
no seu quarto — chamo, mas ela apenas resmunga alguma coisa
indecifrável e não acorda.
Ajeito a cabeça dela no encosto do sofá e me levanto, desligo
a televisão que agora passa os créditos finais e levo nossa bagunça
de copos e baldes de pipoca para a cozinha, quando volto ela inda
está na mesma posição e eu sorrio para o quanto tem o sono
pesado. Tento chamá-la mais uma vez, mas o resultado é o mesmo,
ela continua apagada.
Respiro fundo a pego no colo e com calma, para que não
aconteça um acidente, subo as escadas com ela, apesar de ela
viver reclamando que está gorda acho o peso dela razoável,
quando estou no meio do caminho ela se mexe um pouco, mas não
acorda ao invés disso se ajeita melhor em meu colo, seu nariz toca
o meu pescoço e a reação do meu corpo e instantânea, me
arrepiando da cabeça aos pés.
Mais uma vez respiro fundo tentando controlar minhas
emoções eu nunca faltaria com respeito a Olímpia, então me
apresso a terminar de subir com ela as escadas e a coloco sobre
sua cama a cobrindo em seguida, quando estou saindo do quarto a
escuto murmurar alguma coisa que me faz parar.
— Só um beijo Miguel...
— Falou comigo Olímpia? — Pergunto baixo me aproximando
da cama, mas ela ainda dorme placidamente e por um momento
chego a cogitar que eu estou louco e imaginando coisas. Mas lá no
fundo do meu peito um fio de esperança começa a nascer.
Será que a Olímpia está me notando como algo mais além de
chefe?
Balanço a cabeça tirando isso do pensamento, saio do quarto
dela fechando a porta atrás de mim vou para o meu próprio quarto e
me jogo na cama com o celular nas mãos, como a vida gosta de me
torturar a primeira coisa que vejo quando abro as redes sociais é
uma foto dela.
Linda!
É tudo que consigo pensar enquanto observo na imagem seu
sorriso aberto, com uma xícara de café nas mãos e a legenda
simples de “bom dia”, eu não gosto muito desse negócio de rede
social, mas as uso mesmo a contragosto, pois isso traz mais
visibilidade a corretora, minha assessora de imprensa diz que sou
carismático e com isso os clientes ficam mais interessados. Mas o
lado bom é que eu sempre posso entrar e apreciar as fotos lindas
que a Olímpia posta de si mesma. Decido parar de me torturar, por
hoje fecho o aparelho e tento pegar no sono.
CAPÍTULO 11

O que era para ser quarenta dias já se tornaram sessenta e o


tédio bateu à nossa porta, eu já não aguento mais as paredes
dessa casa, e olha que eu não sou uma pessoa muito festeira ou
que tem muitos amigos para viver saindo de casa, sempre gostei do
conforto do meu lar, mas além desse não ser necessariamente meu
lar, ficar totalmente isolada sem nem mesmo sair para ir ao trabalho
é horrível, as horas parecem se arrastar cada dia mais lentas.
Pego um cobertor quente e saio para o fundo da casa e me
sento em uma poltrona que tem ali, me cubro com o cobertor já que
ainda está muito frio por aqui, pego meu celular para olhar as
notícias do dia, isso já se tornou um ritual para mim, mas hoje eu
nem consigo olhar os números assustadores sobre as mortes, os
hospitais estão lotados e sinto que a coisa ao invés de melhorar
está cada vez mais fora de controle, o Brasil então está mergulhado
no caos e o governo não ajuda muito. Bloqueio o aparelho e o
coloco na mesa à minha frente e por alguns minutos fico
observando as estrelas.
Depois de um tempo um movimento próximo chama a minha
atenção, mas eu não desvio o olhar para onde sei que ele está,
outra coisa que vem me atormentando e estar dividindo o espaço
de casa com ele, Miguel está praticamente impregnado em mim,
para todos os lugares que eu olho ele está lá.
Conviver com meu chefinho me deu conhecimentos sobre ele
que como apenas sua secretária eu nem poderia imaginar, como
por exemplo que ele costuma morder o lábio quando está muito
concentrado em um filme. Ele não suporta ficar andando pela casa
sem meias, quando todas elas estão sujas ele passa o dia irritado.
Ele ama comida com pimenta e quando está dormindo tem um leve
ronco. Eu não devia estar descobrindo tantas coisas sobre o
Miguel, isso só está deixando o meu coração mais rendido a ele e
isso não é nada bom.
— O que você está pensando aí tão calada — ele finalmente
fala chamando a minha atenção.
— Roupas — improviso — estou pensando em roupas, só
trouxe trocas para uma semana que ficaríamos aqui e a maior parte
são roupas de trabalho, as minhas roupas confortáveis e os pijamas
estão ficando desgastados.
— Posso sair para comprar algumas para você amanhã, o
lado bom dos estados unidos e que nos supermercados se acha
tudo, e como é serviço essencial todo supermercado está aberto.
— Não sei se é uma boa ideia você se expor assim. —
Nesses dois meses de isolamento nós não saímos de casa
nenhuma vez, as compras estão sendo feitas pela internet e
entregues na nossa porta, eu limpo absolutamente tudo com sabão
ou álcool. Se normalmente já sou um pouco germofóbica com toda
essa situação está ainda pior o meu medo de germes. — Sem
contar que eu sou gorda e não sei se você vai acertar o meu
tamanho.
— Tenho certeza que acertar o seu tamanho não vai ser um
problema para mim — fala misterioso e eu me sento corretamente
me virando para ele.
— O que você quer dizer com isso?
— Sou um cara observador Olímpia, aposto que consigo
comprar algumas coisas básicas para você e para falar a verdade
para mim também só trouxe esses moletons e eles já estão
praticamente andando sozinhos de tanto que eu ando usando.
O observo vestido com o moletom em questão ele é cinza com
alguns detalhes em azul e um pouco folgado, mas dá par ver
quanto o corpo dele e sarado e a cor do moletom contrasta
perfeitamente com sua pele, o Miguel não é negro, mas também
não é muito branco sua pele é amarronzada como se ele tivesse
sempre bronzeado.
— Você fica bem com ele – comento e ele sorri de lado, o que
me deixa derretendo por dentro, por isso volto a desviar meus olhos
e me concentrar nas estrelas antes que eu faça alguma coisa
estúpida como suspirar bem aqui na frente dele.
— A gente arma um plano eu me protejo vou direto ao
supermercado, compro só o básico e volto rápido, depois a gente
pode procurar na internet alguma loja online que esteja fazendo
entrega de roupas. — Ele diz e me olha empolgado como se tivesse
tido a melhor ideia do mundo, mas acho que assim como eu, ele só
quer sair de dentro de casa um pouco.
— Me parece um bom plano — falo apenas e tento abrir um
sorriso encorajador em direção a ele, mas pelo que parece não fiz
um bom trabalho, já que Miguel se levanta e vem para perto de
mim.
– Sei que você não está nada bem com isso, estou te vendo
triste a alguns dias e agora estou vendo a preocupação formando
uma ruga bem aqui na sua testa, que tal nos concentrar em coisas
que podemos resolver? Não podemos ficar sem roupas ou usando
terninhos dentro de casa, nem sabemos quando poderemos voltar
ao Brasil, então sair e comprar é a única opção. — Ele me oferece
a mão para que eu me levante e eu pego seus dedos que estão
gelados. — Vamos entrar, está muito frio e eu vou fazer um
chocolate quente para você se animar.
Entramos e eu vou até a sala largar o cobertor sobre o sofá e
quando eu volto ele está colocando uma chaleira sobre o fogão,
resolvo fazer um sanduíche típico dos Estados Unidos para nós
dois: geleia e pasta de amendoim. Ficamos em um silêncio
confortável enquanto nos movimentamos pela cozinha e por um
momento eu fico fantasiando que somos um casal fazendo um
lanche antes de dormir e que depois eu vou me deitar em seu peito
na nossa casa.
— Algum problema Olímpia? — me pergunta de repente.
— Não, por que teria?
— Você está parada aí suspirando — me fala e eu coro
violentamente, minhas bochechas ficando quentes.
Cada dia está mais difícil esconder meus sentimentos, às
vezes eu fico assim que nem boba encarando até as mínimas
coisas que ele faz, o que me deixa em situações bastante
constrangedoras. Miguel me olha esperando por uma resposta que
demora a vir, pois ele passa o dedo pelo pote de geleia que está
aberta no balcão que divide a cozinha e fico hipnotizada quando ele
leva o dedo a boca e o lambe, tenho certeza que estou babando
agora, então me viro de costas para ele e me concentro no
sanduiche na esperança de parar de fazer papel de idiota.
— Eu estava pensando na minha irmã — improviso mais uma
vez, bom pelo visto estou ficando boa nisso.
— Bom, levando em consideração que ela e o Thiago não se
mataram acho que está tudo melhor do que imaginávamos — diz e
mais uma vez mergulha o dedo na geleia de frutas vermelhas.
— Não faz isso, você pode azedar a geleia — ralho com ele
que apenas sorri como se fosse um menino travesso — quem diria
que o grande empresário Miguel Andrade faz esse tipo de coisa, a
convivência realmente mostra outro lado da pessoa.
— Olha só, pelo que parece minha querida secretária não
conhece tão bem assim minhas manias — debocha voltando para
perto do fogão e eu apenas reviro os olhos — mas voltando a falar
daqueles dois, eu liguei para o Thiago hoje e pelo que parece não
estão mais brigando muito, meu irmão está subindo pelas paredes
por esta privado de ir para a balada.
— Também falei com a Ártemis e até transferi um pouco de
dinheiro para ela.
— Não precisa Olímpia, o Thiago tem um cartão sem limites
para que eles possam se sustentar, ele me contou que a sua irmã
foi demitida. Só me surpreendo por você não ter me falado nada.
— Não queria te preocupar com os meus problemas, não é
sua obrigação, já me ajudou muito praticamente obrigando o seu
irmão a ir cuidar da Ártemis.
— Achei que estivéssemos nos tornando amigos — ele fala e
parece realmente chateado — todo esse tempo juntos, pensei que
estivemos estreitando laços.
— É estamos, por isso conheço você o bastante e sei que se
eu contasse que a empresa a demitiu no corte de funcionários você
iria tentar ajudar e nós duas não queremos abusar.
Termino os sanduíches, os coloco em um prato bonito com
desenhos de flores e vejo que ele está enchendo duas canecas
com o chocolate quente, pegamos as coisas e vamos até a sala de
televisão e jogos, que virou nosso cantinho favorito na casa,
passamos a maior parte do tempo aqui. Quando estamos
acomodados com o prato de sanduíches entre nós dois, ele me
entrega a xícara e só de sentir o cheiro gostoso do chocolate
suspiro feliz
— Amigos são para ajudar — ele não deixa o assunto morrer.
— Além disso você é a minha funcionária e eu prometi a todos que
iria dar total assistência no que se refere ao escritório e fora dele
também, você está inclusa nessa promessa.
— Você é um ótimo chefe e um amigo melhor ainda — elogio.
— Promete que não me esconde mais nada?
Ele estende a mão em minha direção e eu me sinto gelar pois
escondo dele o maior segredo de todos que eu estou perdidamente
apaixonada por ele, esse é um segredo só meu e não vou estragar
o clima bom que está entre nós dois contando a ele meus tolos
sonhos de nós dois juntos. Mas ao mesmo tempo não posso deixá-
lo com a mão estendida em minha direção. Então envolvo meus
dedos nos dele que agora estão quentes e convidativos, mas não
tenho a coragem de verbalizar a promessa, eu nunca seria capaz
de mentir assim para ele.
CAPÍTULO 12

Acordo cedo, pois hoje é o dia que Miguel vai ao


supermercado e ele quer sair bem cedo, pois acreditamos que será
um horário de pouco movimento, me visto com a mesma roupa que
estava ontem pois daqui a pouco vou colocar as roupas para lavar.
O Miguel gosta muito de cozinhar por isso nossas refeições estão
ficando todas por conta dele, em contrapartida ele odeia lavar louça
e roupas e então essas tarefas ficaram sob minha responsabilidade,
já os outros afazeres da casa nos dividimos, tem dado certo e não
ficamos sobrecarregados.
Quando estou pronta saio do meu quarto e bato a porta do
Miguel que me manda entrar, mas assim que passo pela porta
paraliso, ele está sentado na cama vestido apenas com uma calça
jeans escura seu dorso está desnudo, eu nunca tinha visto o
Miguel sem camisa a visão é tentadora demais para que eu desvie
os meus olhos que viajam pelo corpo dele, ele termina de calçar os
tênis então se levanta e pega a camiseta branca em cima da cama,
levanta os braços a vestindo e eu não perco um segundo do
espetáculo que é o tecido descendo pouco a pouco sobre seu
abdômen malhado.
Eu sou muito otária, fico babando por um homem que não
está nem aí para mim nesse sentido. É esse pensamento que me
faz desviar os olhos para baixo e limpar a garganta antes de falar
com ele.
— Vai querer tomar café da manhã antes de sair? — Pergunto
finalmente.
— Não, eu vou rápido para voltar mais rápido ainda, vai ficar
bem aí sozinha?
— Claro que vou, nossa total preocupação hoje é você saindo
para rua.
— Quem diria que um dia íamos ter medo de ir ao
supermercado.
— E olha que nem está acontecendo um apocalipse zumbi —
brinco e ele sorri.
— Você fez a lista de tudo que vamos precisar? — me
pergunta.
— Sim, eu deixei no balcão da cozinha — explico enquanto
vamos saindo do quarto. Acompanho Miguel até a garagem e então
ele se vai na missão impossível de me trazer roupas.

Já são quase dez da manhã e até agora ele não voltou, já fiz
tudo que eu tinha para fazer nessa casa, já fiz chamada de vídeo
para a minha irmã no Brasil e até conversei um pouco com o
Thiago. Agora estou aqui que nem uma barata tonta andando de
um lado para outro esperando-o chegar e com mil cenários
horríveis se formando na minha cabeça, nem a televisão ou a
internet foram capazes de me distrair. Quando o barulho do carro
indica que ele chegou me sinto aliviada finalmente, mas ansiosa
também, corro para a porta da frente com uma máscara em meu
rosto e um saco de lixo nas mãos além de estar munida de álcool
em gel e luvas descartáveis.
— Parado aí Miguel — grito com ele que ri um pouco do modo
como estou me portando.
— O que é tudo isso? — pergunta me encarando.
— Eu vi isso na internet, se chama estação de limpeza,
coloque as compras no chão que vou cuidar delas depois, agora tira
a roupa — ordeno e ele sorri malicioso estreitando os olhos em
minha direção.
— Opa! Como assim não vai nem me pagar uma bebida
antes? — Brinca levando as coisas para outro nível e eu reviro os
olhos.
— Engraçadinho chefe, vi na internet que esse vírus pode ficar
dias na roupa então as suas vão direto para a lavanderia
— Mas estamos no hall de entrada Olímpia — aponta o óbvio.
— Isso mesmo, assim você não leva nada perigoso para
dentro de casa
Ele bufa meio contrariado, mas acaba fazendo o que pedi,
joga as várias sacolas de compras no chão e se inclina para tirar os
tênis depois as meias eu estendo o saco de lixo na direção dele que
joga tudo dentro, depois é a vez da jaqueta e logo em seguida a
camiseta e quando chega a vez da calça jeans eu uso toda a minha
concentração para manter meus olhos voltados para baixo
encarando meus pés dentro da pantufa peluda que é uma cópia do
Sully de Monstros S.A.
— Está satisfeita agora? — me pergunta e balanço a cabeça
negando – Está um gelo aqui, o que mais falta quer que eu tire a
cueca também?
— O que? — grito surpresa e acabo levantando a cabeça para
encara-lo que sorri de maneira sacana e então percebo que ele
está brincando com a minha cara, por um segundo meu olhar vacila
encarando o deus grego despido a minha frente e quando eu olho
de volta para o seu rosto posso ver que o sorriso dele se ampliou e
a vergonha toma conta de mim. – Vo..você tem que... é passar o
álcool em gel nas mãos. — Gaguejo, sentindo minhas bochechas
esquentarem.
— Não sabia que você era gaga — ele debocha.
— Quem é você e o que fez com o meu chefe? Não me
lembro do senhor Miguel ser assim tão cheio de gracinhas — falo
meio brava usando isso para manter o meu controle, mas ele só faz
sorrir mais ainda.
— O que eu posso dizer se você ainda não conhece todos os
meus lados — diz se aproximando e eu entro em pânico por um
momento, ele para ao meu lado e sem tocar nenhuma parte de seu
corpo em mim, Miguel se inclina e sussurra ao pé do meu ouvido —
mas se você estiver disposta posso te mostrar cada um deles,
Olímpia.
Droga, meu nome não deveria sair tão tentador dos lábios
dele, e meu querido Ceo passa por mim e sai me deixando plantada
no hall de entrada. Descarada que sou, dou uma olhadinha para
trás conferindo as costas malhadas que ele tem, além da bunda
durinha. Droga, eu não deveria ser uma mulher tão fraca, mas o
que eu posso fazer se a tentação mora ao lado, ou no nosso caso a
tentação mora bem aqui comigo a um toque de distância. Fico
alguns segundos parada tentando fazer com que o meu corpo volte
ao normal assim como meus pensamentos.
Foi impressão minha ou o senhor Miguel realmente estava
jogando charme para cima de mim? Ai se esse homem soubesse o
poder que tem sobre mim, não faria essas coisas com uma pobre
secretária que está a meses sem transar.
Respiro fundo e me abaixo pegando as sacolas de compras e
levanto até a área de serviço, a primeira coisa que eu faço e jogar
as roupas dele na máquina de lavar depois vou abrindo as várias
sacolas para descobrir que ele me trouxe várias roupas que
olhando assim tem o meu tamanho, a que me chama mais atenção
é uma camisola divertida listrada em vermelho e branco com as
orelhas da Minie no centro. À medida que vou olhando as roupas às
jogo na máquina para que sejam lavadas antes do uso, Miguel
comprou várias coisas para ele também e sinto meu rosto corar
quando acho uma sacola cheia de cuecas, pois me pego
imaginando ele vestindo cada uma delas, agora que o vi sem
roupas vai ser difícil retirar a imagem da minha cabeça.
Quando acho que as roupas terminaram uma sacola pequena
cai aos meus pés quando abro meus olhos se arregalam quando
vejo várias calcinhas dentro dela, tenho vontade de morrer ao
imaginar Miguel Andrade escolhendo lingeries para mim. Pego as
peças uma por uma para inspecionar, são no total seis calcinhas do
mesmo modelo em renda, mas em cores diferentes também tem
três conjuntos com o sutiã que eu levanto na altura dos meus seios
e pelo visto vão servir perfeitamente. O que me leva a pensar:
Como diabos o meu chefe sabe o tamanho do meu sutiã?
CAPÍTULO 13

Já anoiteceu e eu resolvi colocar minha nova camisola com o


tema da Disney e minhas pantufas que praticamente já fazem parte
do meu corpo, já que eu fico com elas o dia inteiro. Desço as
escadas o cheiro gostoso de carne me alcança e então vou direto
para a cozinha, encontro Miguel de costas para entrada e como o
aquecedor da casa está ligado ele está de bermuda e camiseta,
com um pano de prato displicentemente jogado sobre os ombros.
— Se você continuar cozinhando assim eu vou engordar mais
ainda — falo chamando sua atenção para a minha presença. — O
cheiro da carne está divino.
— Você está... — Ele ia falar alguma coisa, mas se vira para
mim e congela passando os olhos pelo meu corpo e me sinto ficar
quente de uma maneira que não tem nada a ver com o aquecedor
— não achei que uma camisola da Minnie podia ficar sexy em
alguém.
— Miguel você não pode falar esse tipo de coisa para mim —
falo e ele desvia o olhar, mas antes acho que vi um pouco de
vulnerabilidade e pesar no olhar dele, porém não me apego a isso é
preciso mudar de assunto, pois com a dimensão dos sentimentos
que tenho por ele qualquer coisa pode me iludir a achar que nós
dois poderíamos ter uma chance. — O que você está fazendo aí tão
concentrado chefe?
— Pão — responde apenas e então o silêncio se faz presente
entre nós, e não é um silêncio confortável como o que estamos
acostumados a ter, as coisas parecem tensas entre nós e eu
sinceramente não entendo o que aconteceu para as coisas
chegarem a isso. Observo Miguel mexer com o que quer que seja
na bancada da pia e seus ombros parecem tensos assim como toda
sua postura.
Será que o Miguel está desconfiado sobre o que eu sinto e
isso o está deixando desconfortável? Droga, estar com ele vinte e
quatro horas não me ajuda em nada a manter as coisas debaixo do
tapete, quando se está em um escritório por apenas seis horas por
dia e atolados em trabalho é bem mais fácil manter minhas
emoções sobre controle e meus sentimentos fora do radar, mas um
ser humano normal não consegue manter uma máscara o tempo
todo. Mas eu não pretendo deixar um clima de animosidade entre
nós dois, pois estamos presos um ao outro dentro das paredes
dessa casa e seria um inferno viver em meio a tensão.
Vou até onde há um pequeno rádio em formato e Mickey,
muitas coisas na casa são personalizadas no tema Disney, pois tem
o objetivo de agradar os hóspedes que vêm conhecer o parque, eu
adoro tudo isso já o Miguel acha cafona, ele tem todo um estilo
clássico e elegante quase polido, acho que é o pesadelo dele está
preso em uma casa lotada com essa temática. Ligo o rádio até
sintonizar em uma rádio brasileira, está passando uma música da
cantora Anitta e eu tenho vontade de dançar, se eu estivesse
sozinha isso não seria um problema, pois sempre que vou realizar
alguma tarefa, uso a música para me animar e adoro dançar, mas
com o Miguel no ambiente eu fico constrangida.
Vou para perto dele e observo o que está fazendo, ele me olha
de relance, mas rapidamente volta a se concentrar em misturar os
ingredientes que ainda estão muito líquidos o que me deixa com
nojinho por isso franzo o nariz para a gororoba.
— Você tem um lado meio fresco — ele me fala de repente e
só então percebo que estava prestando atenção em mim. — Vem
vou te ensinar a fazer o pão, minha mãe dizia que todo mundo
deveria saber fazer um bom pão.
— Eu não vou enfiar as mãos nisso aí não Miguel — falo
enrugando o nariz com nojo e ele não me responde apenas dando
um passo para o lado abrindo espaço em frente a tigela com os
ingredientes, meu querido chefe fica me encarando até que me
sinto derrotada e enfio as mãos na tigela sentido a massa molenga
rodear os meus dedos e diferente do que eu imaginava a sensação
é até gostosinha.
— Vou acrescentando a farinha e você vai misturando a
massa com as mãos, o ponto certo será quando estiver
desgrudando dos dedos — ele fala bem perto de mim, tanto que
sinto a respiração dele no meu rosto. — Isso, tá ficando bom, você
leva jeito.
— Eu só tô misturando, não é como se tivesse fazendo algo
demais até a farinha quem está medindo é você.
— Eu sei só não queria deixar você desanimada — fala e ri da
minha cara e então em um gesto de coragem levanto os dedos
sujos e passo em seu rosto e fico rindo da cara que ele faz. — Vejo
que agora é você que está cheia de graça. Acho que esse seu
cabelo negro iria ficar lindo todo coberto de farrinha.
— Você não teria coragem — minha voz soa como um desafio
e ele arqueia a sobrancelha como se dissesse "está duvidando?” eu
logo apresso a me corrigir — e que você sabe que eu já tomei
banho e lavei o cabelo, não seria tão malvado.
— Se livrou por pouco secretaria. — diz sarcástico e eu
respondo no mesmo tom:
— Obrigada chefe.
Nos concentramos em terminar o pão e quando ele está no
ponto Miguel, derruba a massa sobre o balcão e me pede para
sovar enquanto ele vai verificar a carne que está assando no fogo.
Uma música animada começa a tocar e dessa vez não me controlo
muito e movimento o corpo de um lado pro outro no ritmo, não é
que essa história de fazer pão é mesmo relaxante?
— Você não está colocando força o suficiente — ele fala
parando atrás de mim e então o sinto ficando mais perto quando
seus braços me rodeiam até suas mãos estarem junto com as
minhas — se a massa não for sovada o suficiente o pão pode ficar
pesado e não fofinho.
Eu já não estou concentrada no que ele fala ou em como o
pão vai ficar, tudo que meu corpo assimila e o seu perfume a me
rodear, seu calor perto o bastante para me aquecer e sua
respiração fazendo o meu corpo se arrepiar de maneiras
impróprias, tenho que morder o meu lábio com força para não
suspirar e uso toda minha concentração para não me inclinar para
trás e depositar minha cabeça em seu ombro me reconfortando em
seu corpo.
Olho para nossas mãos movimentando a massa com precisão
e tenho certeza que se eu não sair daqui agora vou cometer uma
besteira, mas ao mesmo tempo não quero me privar desse contato
que está rolando entre nós e nem quero quebrar um dos raros
momentos em que ele fica assim tão perto fisicamente. Uma música
que eu gosto começa a tocar e a letra retrata perfeitamente meus
sentimentos em relação a ele.
Toda vez que eu olho pra você
Sinto o meu corpo estremecer
Teu olhar perdido em meu olhar
E você tenta me convencer
Pra que eu viva sem você
Só que mal...

Percebo que nossas mãos estão completamente paradas a


dele sobre a minha. A respiração do Miguel se transforma, como
estivesse mais pesada e longa e sei que a minha está da mesma
forma, não falamos nada, mas eu sinto que algo mudou. A música
continua a tocar, mas agora é como se todos os meus disfarces
estivessem caindo por terra.
Disfarça
Você mal disfarça
Aquele jeito de me olhar
Quando quer ficar
Disfarça
Você mal disfarça
Não sei pra que viver assim
Sofrendo, é tão ruim.
— Já está bom — ele fala de maneira dura tirando as mãos de
cima da minha levando a massa do pão junto que é colocada em
uma bacia e coberta com um pano branco.
Eu não tenho coragem de olhar para Miguel, apenas balbucio
que preciso lavar as mãos e saio correndo da cozinha ainda
escutando o final da música que parece zombar de mim trazendo
aquilo que sempre esteve preso em meu coração.
Disfarça
Você mal disfarça
Aquele jeito de me olhar
Quando quer ficar[1]
CAPÍTULO 14

Observo-a fugir subindo rápido os degraus de madeira da


escada que dão acesso ao andar superior e respiro fundo, quero ir
atrás dela, mas se ela fugiu é porque precisa de um tempo. Eu
também acho que passei dos limites é preciso pedir desculpas tanto
por invadir seu espaço, quanto por falar com ela de forma rude.
Droga! O negócio é que quase não consegui me controlar e quanto
mais perto dela eu ficava, mais queria estar e quando dei por mim
do que estava acontecendo agi com estupidez.
Aproveito o tempo que a massa tem que descansar e arrumo
a cozinha, quando os minutos indicados passam eu termino de
preparar o pão e o coloco na forma para terminar de crescer, lavo
as mãos e vou em busca da Olimpia, acho que esse tempo pode ter
sido o bastante para ela pensar. A encontro deitada em sua cama
encarando e teto parecendo perdida e aí tenho total noção que
passei dos limites com ela, então me sento ao seu lado ela não
desvia o olhar do que quer que esteja encarando.
— Olímpia me desculpe pelo modo como agi lá na cozinha —
começo e finalmente ela me olha como e não estivesse entendendo
do que estou falando e então eu percebo que ela estava chorando,
os vestígios das lágrimas presentes em seus olhos e isso me deixa
em estado de pânico. — Eu passei dos limites ainda a pouco te
encurralando daquele jeito, me perdoa Olímpia.
— O que? Você não fez isso Miguel — ela responde, mas o
jeito que ela enxuga as lágrimas me diz o contrário e meu coração
se aperta por saber que posso ser o causador do seu choro.
— Sim eu fiz — falo me levantando e começo a andar de um
lado para o outro à frente da cama —, pra começo de conversa eu
não devia ter te tratado de forma rude e feito você chorar, além
disso invadi seu espaço ficando perto demais de você, eu devia ter
mantido a distância de você, eu deveria ter me controlado e
mantido a distância, mas você estava lá tão linda, cheirosa e
conviver tanto tempo perto da mulher que se é apaixonado não é
fácil e... — Passo a falar descontrolavelmente, eu não sou assim,
esse homem perdido e que não consegue organizar os
pensamentos para formar frases coerentes, mas a Olímpia me
deixa em um estado de total confusão emocional.
— Você disse o que? — Ela para a minha frente, me fazendo
interromper minha caminhada a lugar nenhum e segura meus
ombros. — Repete para mim o que você disse.
— Me desculpe? — Meio que pergunto, já que eu mal me dei
conta das palavras exatas que saíram da minha boca.
— Você disse que está apaixonado... por mim — fala e eu
arregalo os olhos, não posso ter vacilado dessa maneira.
— Eu não disse isso... eu não posso ter dito isso — me
desespero, esse é o meu segredo e eu não poderia o ter revelado,
principalmente não com a nossa situação atual presos nessa casa
sem a menor chance dela poder correr para o outro lado, para
longe do chefe maluco que fala besteira na hora errada, droga eu
fodi com tudo.
— Você disse sim.
— Olímpia, não... — Falo em agonia e ela continua me
encarando com os lindos olhos castanhos e então vejo sua boca
avermelhada formar um biquinho como se estivesse decepcionada.
— Então não é verdade? Você não está apaixonado por mim?
A expectativa em seus olhos praticamente me tem de joelhos
aos seus pés, eu não posso olhar para ela e mentir assim, sei que
posso estragar tudo, mas sou um homem adulto que tem que parar
de ter medo e encarar de frente a situação e lidar com as
consequências sejam boas ou ruins. Nunca fujo de nada na minha
vida, aprendi muito cedo que grandes responsabilidades me
perseguem e eu tenho que resolver com a cara e a coragem.
Quando me vi sozinho tendo que criar um pré-adolescente, não
pensei duas vezes antes de me jogar no mundo em busca do nosso
sustento, aproveitando cada oportunidade que me era oferecida
sempre de modo arrojado e corajoso. Eu lutei entre os grandes
tubarões da indústria imobiliária e com unhas e dentes consegui
abrir minha própria empresa e me destacar como um dos melhores,
mas quando se trata dos meus sentimentos eu sou um completo
tapado, meio imaturo e sempre me atrapalho, por isso quase não
saio para paquerar e só tive um relacionamento sério durante minha
vida.
— Não é mentira, eu... eu... — gaguejo um pouco e respiro
fundo — eu tenho sentimentos por você Olímpia, há muito tempo
que eu estou apaixonado por você, na verdade desde que pisou na
empresa para ser mais específico.
O quarto fica em completo silêncio, tanto que acho que
Olímpia seria capaz de conseguir ouvir os meus batimentos
cardíacos que estão descontrolados nesse momento. Ela me
encara sem mover um músculo sequer já eu a encaro em total
expectativa. De repente o corpo dela se choca contra o meu, ela
fica na ponta dos pés para que nossos rostos estejam da mesma
altura já que ela é apenas poucos centímetros menor que eu, seus
braços rodeiam o meu pescoço e estamos tão perto que nossos
narizes se encostaram e então estamos nos beijando e assim eu
encontro meu paraíso particular.
Meu corpo inteiro reage se arrepiado por estar trocando o
primeiro beijo com a mulher pela qual sou louco, o beijo dela é
gostoso, sua língua explora minha boca de maneira tímida e eu
poderia passar dias aqui nesse quarto com ela apenas sentindo o
sabor de seus lábios. Meu braço direito vai para a sua cintura
enquanto a mão esquerda segura seu rosto a mantendo ainda mais
perto de mim, como se no fundo do meu peito eu tivesse medo que
ela se afastasse ou que isso fosse um sonho e na real ela não
estivesse aqui nos meus braços.
É com hesitação que me afasto dela quando ambos
precisamos de ar para manter nossos pulmões abastecidos, mas ao
contrário do que imaginei ela não se afasta e sim mantém os braços
no mesmo lugar segurando as laterais da minha camisa, quando
abro meus olhos Olímpia me encara com um sorriso aberto e brilho
nos olhos.
— Eu achei que estava surtando, imaginando coisas, que
meu coração bobo estava me pregando uma peça, por isso eu
estava chorando, não por algo que você fez, mas por que eu queria
que você tivesse feito — ela fala ainda sorrindo e me vejo
espelhando o mesmo — eu também gosto de você chefe. Faz muito
tempo.
— Então porque não disse nada? — Questiono ainda sem me
afastar dela.
— Por que você não disse nada? — Ela rebate com seu
jeitinho mandão.
— Assédio sexual em local de trabalho — falo seriamente.
— O que? Você só pode estar brincando — fala se afastando
dando um passo para trás e me encarando incrédula e eu não
aguento e sorrio.
— Lógico que estou brincando Olímpia, mas tem um fundo de
verdade, eu não queria te deixar desconfortável, a investida do
chefe na secretaria não é algo ético e eu respeito você demais para
sequer pensar em deixá-la desconfortável.
— Já eu não disse nada, pois achava que você nunca iria
olhar para mim com esses olhos.
— Por que achava isso? — falo a puxando para mim
novamente, percebendo que crescia em mim uma real necessidade
de tocá-la.
— Fala sério, você é lindo, o homem mais rico que eu
conheço e sei que as mulheres se jogam aos seus pés; já eu sou só
a secretaria gorducha, além disso você é sempre tão sério, nunca
sequer deu qualquer indício que poderia estar minimamente
interessado em mim como mulher.
— Primeiro é o mais importante, você é maravilhosa Olímpia,
tanto por dentro quanto por fora, eu sempre me imaginei me
perdendo nessas suas curvas perfeitas e segundo eu não tenho
mulheres jogadas aos meus pés.
— Tem sim, você que não dá bola pra elas, na empresa tem
pelo menos quatro corretoras que fariam de tudo só por um
segundo a mais da sua atenção, a mais assanhada é a Viviana,
aquela ali só falta tirar a roupa antes de entrar na sua sala — fala
emburrada e eu fico meio constrangido —, mas como você sempre
parecia uma pedra de gelo e não dava bola para nenhuma
daquelas mulheres lindas, magras e elegantes eu sabia que não
tinha nenhuma chance.
— Só mostra que você é meio cega — reclamo e ela me olha
feio — era exatamente o contrário, eu não dava atenção para
nenhuma delas, pois só tinha olhos para você, há muito tempo meu
coração é teu.
Ela parece se emocionar com o que eu disse e então é minha
vez de tomar a iniciativa eu agarro e trago para mais perto de mim
até que estejamos nos beijando intensamente, sinto que a partir de
agora meu lugar favorito no mundo vai ser onde ela estiver.
CAPÍTULO 15

Para falar a verdade eu nem sei como vim parar na cama,


quando Miguel me beijou o mundo parou e a única coisa que fazia
sentido eram os lábios dele me consumindo, ainda estou em volta
de uma aura de surpresa por ouvi-lo confessar que gosta de mim,
principalmente saber que esse sentimento não é atual, ele gosta de
mim a quase tanto tempo quanto eu gosto dele.
Eu não sei onde isso vai dar, eu sinceramente não sei como
vai ser nossa relação daqui para frente, eu nunca imaginei que os
sentimentos poderiam ser recíprocos e que um dia estaria nos
braços dele, por isso sinto certa ansiedade sobre como vai ser
nosso futuro. Sinto um beijo e depois uma pequena mordida no
meu pescoço e todos os pensamentos racionais fogem da minha
cabeça à medida que meu corpo se arrepia.
Estou deitada com as costas sobre o colchão e Miguel sobre
mim, me beijando, me consumindo, roubando meus suspiros.
Minhas mãos vão até suas costas e adentram sua camiseta preta,
sinto o calor e a textura macia da sua pele sob meu toque e quando
é ele que suspira sinto impelida a explorar ainda mais seu corpo e
Miguel faz a mesma coisa, percebo que minha camisola está
embolada na minha cintura e minha bunda é apalpada por suas
mãos fortes ao mesmo tempo que sua boca continua explorando
meu pescoço, eu levanto os quadris em direção a ele querendo
bem mais do que estamos tendo.
Porém cedo demais Miguel encerras carícias e se senta na
cama me levando junto com ele, tenho que ficar alguns segundos
em silêncio e com os olhos fechados tentando fazer meu corpo se
acalmar e voltar ao seu normal, sinto partes de mim pulsando e a
minha respiração entrega o estado de excitação em que eu me
encontro.
— Olha para mim — ele pede e eu forço minhas pálpebras a
se levantarem encarando seus lindos olhos verdes. — Tenho medo
de estar indo rápido demais e te deixar desconfortável.
Sorrio abertamente por perceber que ele parece tímido
quando me confessa isso. O que está acontecendo que Miguel
Andrade, o homem capaz de comandar com uma mão só um
império, está tímido ao falar comigo? Mas meu coração se aquece
por perceber a preocupação dele com meus sentimentos, isso faz
com que eu me sinta querida por ele, o que me deixa com o
coração a ponto de flutuar.
— Você não está indo rápido demais, você está sendo perfeito
e eu quero você Miguel, já passei tempo demais apenas sonhando
com você, agora quero muito mais, quero ser sua, apenas sua
Miguel. — Na última parte minha voz sai baixa e carregada de
desejo.
Me sento sobre o colo dele e seguro seu rosto o puxando para
um beijo, as mãos de Miguel vão para minha bunda e sinto quando
ele me aperta com força me fazendo suspirar principalmente
quando sinto sua ereção abaixo de mim, rebolo um pouco sobre
seu colo e o aperto dele fica mais forte. Desço minhas mãos por
seu corpo até alcançar a barra de sua camiseta e a levantar ele
entende o que eu quero e o tecido está fora de seu corpo jogado
em algum canto no chão e momentos depois é a vez da minha
camisola e então fico apenas de lingerie na sua frente.
Os olhos verdes passeiam pelo meu corpo e vejo puro desejo
estampados neles. O fato das luzes no quarto estarem acesas torna
impossível alguma coisa ficar escondida, eu nunca gostei de transar
com a luz acesa, mas aqui, agora e com ele eu não tenho vergonha
ou pudor, por isso levo minha mãos para trás e desabotoou meu
sutiã deixando meus seios livres, Miguel não perde tempo e de
repente sua boca está em meu seio direito, inclino a minha cabeça
para o lado esquerdo aproveitando a sensação, meus seios sempre
foram uma grande zona erógena do meu corpo, qualquer estímulo
sobre eles me têm enlouquecida e Miguel sabe bem o que está
fazendo, principalmente quando sua boca deixa o meu peito direito
e então o bico que estava molhado por sua saliva e preso entre
seus dedos enquanto meu bico esquerdo é abocanhado, me
deixando enlouquecida o que me leva a rebolar com maior
intensidade sobre seu colo.
Meu corpo é jogado sobre a cama o que me pega
desprevenida e faz com que eu dê um pequeno gritinho e depois
sorria. Miguel olha para mim como se fosse um predador em busca
da presa, e eu não consigo sequer desviar o olhar repleto de
promessas estampadas neles.
Desde muito antes da quarentena que eu não transo com
ninguém, na verdade há algum tempo o sexo ficou sem graça para
mim, os caras que eu conhecia não tinham o poder de me tirar ao
folego e me fazer esquecer tudo a minha volta. A insegurança por
estar acima do peso também não ajudava muito, isso me levou a
evitar sair para paquerar ou ter encontros, porém Miguel só com um
olhar é capaz de fazer o desejo despertar em cada canto do meu
corpo. O período em abstinência me deixou mais sedenta, por isso
quando ele se abaixa entre as minhas pernas meu corpo inteiro
vibra em expectativa.
Primeiro meu querido chefinho passa o nariz sobre minha
calcinha como se quisesse marcar o meu cheiro, é uma visão tão
erótica que se eu já não estivesse molhada com certeza teria ficado
nesse momento, ele levanta um pouco a cabeça e dá uma
mordidinha na minha barriga um pouco abaixo do meu umbigo o
que me deixa em alerta, eu sempre detestei essa parte do meu
corpo, a barriga proeminente sempre me incomodou e por mais
exercícios e dieta que eu faça isso nunca muda, sou gordinha
desde a infância e já tentei muitas alternativas para o
emagrecimento e hoje estou com um corpo que acho bonito, bonito
não, eu me acho uma gostosa, porém a barriga sempre me
incomodou e pensei até mesmo em recorrer a cirurgia plástica, só
não o fiz por pressão da minha irmã que sempre me disse que era
loucura. Mas Miguel parece não se importar com isso, pois quando
meus olhos alcançam os seus só vejo luxúria estampado neles.
Minha calcinha foi tirada com uma facilidade surpreendente,
Miguel ficou entre minhas pernas me mantendo aberta para ele e
isso me dá um segundo de vergonha por estar tão exposta, mas
como disse durou apenas um segundo, pois quando sua língua
alcançou o local onde estava necessitada todo e qualquer
pensamento racional fugiu da minha mente e tudo que me
interessava era o prazer que sua língua e dedos estavam me
proporcionando. O homem sabe o que está fazendo sua boca
explora de maneira habilidosa cada canto da minha boceta, ele
lambe e chupa me fazendo gemer, dois de seus dedos são
posicionados dentro de mim e alcançam o lugar certo que faz uma
onda de prazer mais intensa passar pelo meu corpo, quando a
língua dele faz pressão em meu clitóris não tem mais escapatória
para mim, acabo gozando, mordendo fortemente meu lábio inferior
para não gritar.
— Juro que para nossa primeira vez eu queria ir com calma e
explorar cada parte de você, mas tudo que eu quero agora é entrar
em você com força— diz baixo como se estivesse confessando um
pecado. Ai meu Deus, nada me preparou para escutá-lo falando
essas coisas com a voz rouca carregada de desejo.
— Sim — é tudo que eu falo antes dele se levantar e retirar a
calça levando junto a cueca e então está totalmente livre à minha
frente e eu poderia até babar em vê-lo assim.
Miguel vem para mim e se posiciona no meio de minhas
pernas, quando ele me invade chego a perder o fôlego pelo seu
tamanho, ele fica parado uns segundos para que eu me acostume e
quando começo a mexer meu corpo embaixo dele é o sinal que
precisava para começar a se movimentar em um entra e sai que me
deixa pegando fogo, puro desejo toma conta de mim e meus
gemidos vão ficando mais altos à medida que ele estoca mais forte,
agarro o lençol abaixo de mim quando as mãos de Miguel seguram
nos meus quadris movendo meu corpo no ritmo perfeito, sinto mais
um orgasmo chegando e Miguel não dá trégua, uma das suas mãos
vai até o meu centro e com os dedos estimula meu clitóris de
maneira perfeita como se ele sempre soubesse onde tocar para me
ter louca, juro que tento me controlar, mas o orgasmo vem com
força varrendo meu último resquício de sanidade e quando sinto o
prazer dele se derramando em mim eu não consigo controlar e grito
seu nome.
CAPÍTULO 16

Estamos largados na cama depois da rodada de sexo, Miguel


se deitou ao meu lado e me abraçou e assim estamos a um tempo
tentando fazer nossas respirações voltarem ao normal. Minha
mente está uma bagunça como se um furacão tivesse abatido
sobre mim, foi tudo muito rápido e só agora estou conseguindo
processar tudo, hoje de manhã quando acordei nem passava pela
minha cabeça terminar o dia na cama com ele. Viro a cabeça um
pouco fazendo algo que sempre quis fazer, sentir seu cheiro
diretamente de seu peito másculo. Mas então um cheiro estranho
toma minhas narinas, me fazendo espirrar, sempre tive o nariz
sensível para cheiros fortes, Miguel se solta do meu corpo e o vejo
colocando a calça de moletom cinza sem nem mesmo vestir a
cueca, quando ele abre a porta do quarto correndo para fora
finalmente percebo que o cheiro é de fumaça, algo queimando, me
desespero e visto somente o vestido e o chinelo antes de sair
correndo para fora do quarto.
Quando chego a cozinha o ambiente está totalmente cinza e
cheio de fumaça, tanto que começo a tossir no mesmo instante.
— Sai daqui Olímpia, isso não vai te fazer bem... Mas que
caralho — Miguel xinga e eu arregalo os olhos, pois ele nunca fala
palavrão.
Me apresso para chegar nele no mesmo instante que o vejo
jogando uma forma com algo totalmente preto dentro da pia e então
liga a água da torneira enfiando a mão embaixo. Fico na ponta dos
pés para alcançar a janela que fica em frente a pia e a abro
totalmente para que a fumaça saia um pouco do ambiente e então
me concentro no Miguel.
— Você se queimou — constato o óbvio, pois seus dedos
estão super vermelhos e em seu rosto tem uma careta de dor,
rapidamente abro a torneira e puxo seu braço, até seus dedos
estarem embaixo da água fria.
— Fui burro o bastante para pegar a assadeira apenas com
um pano de prato fino — resmunga fazendo bico que em outras
circunstâncias eu acharia adorável, mas agora estou preocupada
demais com a queimadura em seus dedos que já estão fora da
água. — Ficamos sem jantar, nossa carne virou carvão. Quando
subi para falar com você eu iria voltar rápido para tirar do fogo, mas
fui distraído.
— Eu gostei bastante dos motivos da sua distração — falo
mordendo o lábio inferior e ele sorri tocando minha cintura, mas
logo a careta de dor volta para seu lindo rosto. — Vem, vamos dar
um jeito nessa mão, no banheiro tem uma caixa de primeiros
socorros.
— Mas e o nosso jantar?
— O pão também está queimado? — pergunto olhando por
cima do ombro já que fui em direção a porta para abri-la e assim
arejar o ambiente e acabar com os últimos resquícios de fumaça
— Não, o pão está ótimo, coloquei para descansar e parece
com a cara boa.
— Então fazemos um sanduíche, mas antes vamos tratar essa
mão aí e quem sabe tomarmos um banho.
— Tomar banho com você está no top três de desejos da
minha vida — fala safado e eu me sinto corar pela ousadia dele.
— Estamos em sintonia então, pois tomar banho com você
também está no meu top três.
Subo as escadas correndo e antes mesmo que chegasse ao
banheiro ele me alcança e me prensa contra a parede, me beijando
com volúpia e eu retribuo de igual forma, parecemos dois
adolescentes bobos se pegando em qualquer canto da casa. Me
separo dele e finalmente entro no banheiro pego a caixa branca de
primeiros socorros no armário embaixo da pia, olho o conteúdo,
mas os frascos de remédios estão todos em inglês e eu ainda não
domei a língua escrita tão bem assim.
— Sabe o que quer dizer nesses rótulos? — pergunto a ele
quando levanto o olhar para o espelho e encontro o dele. Miguel
mexe na caixinha por um momento prestando atenção nos rótulos e
então me entrega o tubo de pomada correto e eu reconheço
algumas palavras. – Ótimo, mas primeiro o banho você está
cheirando a fumaça.
Ainda com olhos grudados no espelho a nossa frente eu me
dispo da camisola ficando completamente nua, pelo reflexo vejo
seu olhar passar por todo meu corpo se estendendo no meu
bumbum e sorrio de forma sapeca, antes que ele me toque me
desvio e entro box ligando a água quente do chuveiro em cima de
mim, meu corpo relaxa e mais uma vez penso que quando chegar
ao Brasil vou substituir o chuveiro do meu apartamento por um
desse que é muito mais potente, os jatos d'água são como
massagens sobre meus ombros. Quando abro os olhos e olho para
o lado vejo Miguel apenas lá me encarando.
— O que foi? — pergunto.
— Não canso de admirar como você é bonita, linda na
verdade e para mim ainda é uma novidade te ver nua... além disso
é adorável quando fica corada.
— Não estou corada — minto, pois sinto que minhas
bochechas estão ardendo e a água quente não tem nada a ver com
isso. — Vem, vamos tomar banho logo, pois precisamos tratar sua
queimadura.
— Se eu entrar nesse chuveiro com você Olímpia, não sei se
logo será uma opção.
— Estou contando com isso.
Pego o frasco de sabonete e derramo uma quantidade
generosa sobre minhas mãos e as esfrego fazendo espuma, depois
suavemente passo a espalhar as pequenas bolhas sobre meu
corpo, começo pelos braços , depois o pescoço e assim desço para
os seios, os circulando com lentidão dando atenção especial aos
bicos que estão entumecidos, sinto o olhar pesado de desejo do
Miguel em cima de mim, reabasteço minha mão com o sabonete
líquido e então as esfrego na minha barriga antes de virar de costas
para ele e descer as mãos em direção ao meu bumbum, mas antes
de efetivamente chegar a isso, minhas mãos são tiradas do
caminho elevadas até a parede branca do box, meu corpo é
empurrado para frente e sinto a ereção do Miguel pressionada
contra minha bunda.
— Você parece uma diaba me tentando — fala — deixe as
mãos paradinhas aí.
Suas mãos abandonam as minhas e faço o que ele pede às
mantendo espalmadas na parede, enquanto isso as mãos do
Miguel vão descendo pela frente do meu corpo, acariciando
lentamente me fazendo ficar ainda mais arrepiada, quando ele
alcança o meio de minhas pernas eu suspiro pela sensação da leve
carícia que ele faz.
— Sei que que você estar molhada assim não tem nada a ver
com a água do chuveiro — ele murmura e não sou nem capaz de
responder, pois sinto seus dedos me invadirem, dois de uma vez, o
movimento dele faz com que eu jogue a bunda para trás me
esfregando sem vergonha no corpo dele. — Tão receptiva, tão
afoita...
Eu devo estar parecendo uma boba, pois não consigo
responder, não consigo falar nada, tudo em que estou concentrada
e em seus dedos trabalhando arduamente no local onde estou
necessitada e tudo só piora quando seu polegar encontra meu
clitóris, com uma coordenação motora impressionante ele consegue
fazer movimentos ritmados nos meus pontos de prazer tanto dentro
quanto fora de mim, não demora muito e estou gozando, gemendo
alto, chamando seu nome.
Eu nem tenho tempo de me recuperar quando os dedos dele
me abandonaram, porque logo suas mãos estão segurando em
minha cintura. Me movimento até minha bunda estar empinada em
sua direção e em um movimento ágil Miguel está dentro de mim,
grito alto pela invasão, ainda não me acostumei com o tamanho
grande de seu pau que me preenche totalmente, ele começa a se
movimentar lentamente saindo de mim quase que completamente e
depois entrando com uma lentidão torturante que me faz mover o
quadril tentando fazê-lo ir mais rápido o que faz Miguel rir da minha
afobação, mas dois podem jogar esse jogo então quando ele está
totalmente dentro de mim eu rebolo sem pudor e o aperto em minha
cintura se intensifica indicando que ele também está afetado.
Meu corpo é impulsionado para frente quando ele perde o
controle e começa estocar em mim sem pena, o barulho dos nossos
corpos molhados batendo um contra o outro toma conta do
banheiro assim como nossos gemidos cada vez mais
descontrolados, cada vez mais altos. Sinto mais um orgasmo se
aproximando e tento fazer com que o momento seja adiado para
aproveitar muito mais o momento entre nós dois, porém quando o
primeiro tapa do Miguel acerta a bochecha da minha bunda eu não
consigo me controlar e gozo de maneira intensa sentido que com
Miguel aconteceu a mesma coisa.
CAPÍTULO 17

Acordo e o quarto está totalmente no escuro, meio letárgico


pelo sono tateio o móvel ao lado da cama e acho com facilidade o
controle das cortinas, aperto o botão maior e logo as cortinas se
abrem, eu esperava ver o sol alto lá fora, mas pelo que parece
ainda está nas primeiras horas da manhã. Me sento levantando os
braços no alto da cabeça me espreguiçando e então me viro
percebendo que estou sozinho na cama, pego meu celular e ao
desbloquear a tela vejo que ainda são seis horas.
Me levanto da cama e ainda estou nu, a noite passada cai
exausto na cama junto com Olímpia, depois de mais uma rodada
sexo. Eu nunca imaginei que seria assim, que um dia estaria
compartilhando a minha cama com a Olímpia, mas aconteceu e só
posso dizer que a realidade é melhor que qualquer sonho que
poderia ter. Só de pensar em tudo que fizemos ontem a noite minha
ereção matinal fica ainda mais dura ao ponto de incomodar, desvio
meus pensamentos para outras coisas, como por exemplo os
pagamentos dos funcionários que terei de liberar hoje, ou na
ligação que terei com a embaixada mais tarde para ter notícias
sobre a nossa volta para casa, qualquer coisa para distrair da
lembrança da Olímpia nua sobre meus lençóis.
Depois de escovar os dentes e lavar o rosto, visto uma roupa
e saio em busca da dona dos meus pensamentos, a casa está
estranhamente quieta, sem a música na cozinha com a qual estou
habituado todas as vezes que a Olímpia acorda cedo e tem que
preparar o café, a casa também está fria como se o aquecedor não
fosse o bastante para manter a temperatura agradável, quando
chego a cozinha descubro a razão por trás disso a porta está
totalmente aberta permitindo que o vento gelado entre, saio para
fora tomando o cuidado de fechar a porta atrás de mim e encontro a
Olímpia longe, perto das cercas de madeira branca que fazem a
divisas da propriedade.
Vou me aproximando dela e à medida que chego mais perto
vejo seus ombros sacudindo e então sei que ela está chorando,
apresso meus passos para chegar até ela que quando nota minha
presença se apressa a enxugar as lágrimas com a manga de seu
moletom cor de rosa, que eu mesmo escolhi para ela.
— Ei Olímpia, fala comigo o que está acontecendo? —
pergunto confuso e ela não diz nada, apenas me abraça chorando
mais um pouco, fico em silêncio apesar de bastante preocupado,
não falo nada dando a ela o espaço necessário. Quando percebo
que seu choro diminuiu a intensidade me arrisco a voltar a falar. —
Por que você está assim? Se arrependeu de ontem? Do que
fizemos?
Só de pensar nessa possibilidade meu corpo gela, pensar que
eu possa ter feito algo que a magoou faz com que puro gelo corra
pelas minhas veias, a Olímpia é preciosa demais para mim e se ela
se sentiu incomodada ou machucada por algo que eu fiz eu nunca
vou me perdoar, meu maior medo em tentar uma relação com ela
era exatamente que ela se sentisse pressionada a fazer o que não
queria e depois nossa relação de trabalho, e agora de amizade,
saísse prejudicada.
— Está pensando demais e me apertando mais ainda — ela
fala chamando a minha atenção, eu afrouxo o aperto a olhando
preocupado, ela por sua vez sorri de forma abatida e levanta a mão
e acaricia meu rosto — Eu não estou assim por nossa causa, estar
com você foi a melhor coisa que me aconteceu em anos, eu quis
cada momento daquilo e ainda quero muito mais.
— Estão diz para mim o que te aflige? — Pergunto, mas ela
não responde e seu olhar novamente se torna vago, olhando para o
horizonte à nossa frente como se lá estivesse a resposta para as
questões mais difíceis, eu ainda faço uma última tentativa de
adivinhar o que está se passando com ela — Saudade de casa? Da
sua irmã?
— Sabia que não gosto de jogos de adivinhação? Me irrita
muito — fala, mas percebo que finalmente ela está sorrindo, é uma
brincadeira. – Hoje é o meu aniversário.
Minha testa fica enrugada de preocupação e confusão quando
escuto as palavras, tem alguma coisa muito errada com a Olímpia
hoje, ela está claramente perdida.
— Querida — falo com tranquilidade para não alarmá-la — o
seu aniversário é apenas em novembro, tem longos meses daqui
até lá. Lembra ano passado eu te mandei flores e te dei um
presente? Você está confusa por algum motivo?
— Eu menti para todos sobre a data, quando eu saí de casa e
comecei uma nova vida com a Ártemis escolhi um dia aleatório no
calendário e decidi que era meu aniversário, todo mundo que me
conheceu na minha vida adulta acha que 20 de novembro e o meu
aniversário, mas na verdade ele é hoje só que eu odeio esse dia,
odeio o que ele me faz lembrar e odeio quem me colocou no
mundo.
Fico sem palavras diante do relato dela, mas de repente algo
me vem à cabeça todos os anos nessa época a Olímpia ficando
mais, fechada e distraída do trabalho, a vez que a peguei de olhos
vermelhos e ela alegou ser alergia e pediu para ir para casa, como
todos os anos nessa data ela arruma uma desculpa para faltar ao
trabalho.
— Quer conversar? Desabafar e me contar o que houve?
Posso ser seu ouvinte, seu amigo.
Ela se vira me dando as costas, respira fundo várias vezes
numa tentativa de se acalmar, faço movimentos circulares nas
costas dela numa tentativa de passar apoio e tranquilidade.
Ficamos vários minutos em silêncio e eu não a apresso, apenas fico
aqui parado por ela demonstrando meu carinho e apoio de alguma
forma, para que quando estiver pronta coloque ou não para fora o
que a está machucando.
— Eu não tive uma infância comum, meu pai abandonou a
minha mãe quando ela ficou grávida de mim — começa a falar
baixinho e tenho que me inclinar e prestar bastante atenção para
conseguir ouvi-la — Desde que eu me lembre a minha mãe me
culpa pelo abandono que sofreu, ela nunca me deu amor ou
carinho, nunca me deu conforto ou segurança sempre fui eu por
mim mesma. Quando eu tinha uns cinco anos percebi que nossa
casa era frequentada demais por homens nem sempre tão legais.
Quando eu tinha uns oito anos minha mãe ficou uns dias fora e
quando voltou ela tinha um bebe, o padrasto da vez era legal, o pai
da Ártemis se chamava João Batista e ele era um bom homem, por
isso a mamãe gostava dela e cuidava muito bem da minha irmã, era
uma época calma nas nossas vidas, mesmo que eu não recebesse
amor e carinho da Ilda eu tinha muito amor para dar a minha
pequena bonequinha.
Eu realmente não sei o que dizer diante das palavras, minha
vida não foi nada fácil, nossa família era humilde, mas era cercada
de amor, principalmente pela minha mãe que era quem ficava
comigo e com o Thiago, já que meu pai estava sempre trabalhando
para conseguir nos sustentar, apesar do senhor Domingos ter
problemas com álcool, mamãe Celeide nunca deixou que isso
afetasse a mim ou ao Thiago. Por isso quando eles morreram foi
um choque, eu vivia em segurança e de repente todo o meu mundo
foi tirado de debaixo dos meus pés, isso me destruiu, mas eu tenho
muitas lembranças de momentos incríveis e amorosos para me dar
conforto nos momentos sombrios. Escutar que a Olímpia, nunca
sequer conheceu amor materno, nem mesmo quando era um bebê
inocente doeu no fundo da minha alma.
— Quando tinha dez anos a polícia invadiu a minha casa, foi
assustador. — Ela continua seu relato, minhas mãos a muito
pararam os carinhos nas costas dela, ao invés disso a abracei pelos
ombros e a trouxe para perto de mim — eles colocaram uma
algema no meu padrasto e depois reviraram a casa inteira, minha
mãe gritava enlouquecida enquanto eu segurava a minha irmã
escondida em um cantinho entre o sofá e a parede.
Com as pontas dos meus dedos enxugo as lágrimas que
caem de seus olhos, Olímpia está com o nariz vermelho pelas
tantas vezes que passou punho sobre eles tentando secá-lo. A voz
dela também está mais baixa e mais rouca com tamanha tristeza
que eu nunca vi antes nela.
— Tráfico de drogas, era a acusação. Depois de alguns meses
percebemos que ele não ia mais voltar e então o entra e sai de
homens voltou. Era o meu décimo terceiro aniversário, nós não
comemorávamos o meu aniversário, a Ilda nunca se importou dizia
que era o dia que tinha arruinado a vida dela. Ainda era dia, eu
estava deitada na minha cama fazendo o dever de casa quando a
porta do meu quarto foi aberta, por um daqueles homens.
Eu meio que sabia o que viria a seguir, a dor passou pelo meu
peito e aqui ficou, apertei Olímpia mais forte contra mim, beijei seus
cabelos com carinho mesmo que por dentro eu estivesse fervendo
pela raiva do que aconteceu quando ela era apenas uma criança
indefesa que merecia, que precisava, ser protegida, mas estava
sozinha à mercê da pior face da humanidade.
— Eu ainda usava o meu uniforme escolar, que foi rasgado do
meu corpo. Ele cheirava mal e meu estômago ficava embrulhado.
Eu gritei por ajuda enquanto aquelas mãos horríveis apertavam
meu corpo. Eu sempre fui gorda então meus seios já eram mais
evidentes que das outras meninas da minha idade, eu lembro dele
os colocando na boca imunda e então eu gritei ainda mais, odiei
meus seios depois daquilo — ela fala em meio ao choro sofrido —
usava uma faixa para amarrá-los, só voltei a ter uma relação legal
com meu corpo depois de adulta.
Sem saber ainda o que fazer eu apenas fico calado e parado a
dando apoio, minhas mãos fechadas em punho ao ponto que sinto
dor nos dedos, eu só percebo que estou chorando quando o gosto
salgado encontrar meus lábios, a última vez que chorei foi quando
meus pais morreram e a última vez que me senti tão impotente
diante da dor de outro ser humano foi quando tive que contar para o
meu irmão que a mamãe não iria voltar para casa.
— A gente morava em uma comunidade as casas eram
próximas algumas não tinham nem muro de divisa e os vizinhos
eram bastante enxeridos por isso gritei com ainda mais afinco e a
vizinha da janela da frente me ouviu e começou a gritar também,
logo o homem se assustou e saiu correndo, os vizinhos o pegaram
na porta e como a comunidade era chefiada por um traficante que
não permita estupros em seu território ele o matou naquela mesma
noite. Eu sei que ele não chegou a me... a me... a tirar minha
virgindade, mas o abuso ainda sim foi real e me machuca até hoje,
por isso odeio o meu aniversário.
— Eu sinto tanto — e tudo que eu consigo dizer, pois o bolo
na minha garganta está tão grande que minha voz mal saiu.
Me separo dela por um segundo e então a pego em meus
braços tirando seus pés do chão ela grita pela surpresa e começo a
caminhar com ela em direção a casa. Olímpia ainda funga com o
rosto escondido em meu peito, entro com ela na cozinha e sento na
banqueta que fica à frente da bancada, antes de me afastar eu
seguro seu rosto entre as minhas mãos como se ela fosse a
criatura mais preciosa do universo, e para mim ela é, beijo seus
lábios tentando passar no gesto todo amor, força e confiança que
sinto por ela.
Quando nos afastamos eu vou até onde os aventais culinários
estão pendurados e escolho a mais brega de todos que é
estampado imitando a roupa do Mickey. E o amarro em meu corpo.
— Por que disso? Você odeia as coisas temáticas.
— Mas você ama — falo simplesmente e vejo os olhos dela se
acendendo um pouco por trás de toda tristeza que ainda estão
neles — e a partir de hoje nós vamos ressignificar o seu
aniversário.
— O que quer dizer com isso? — pergunta desconfiada, os
olhos ainda inchados assim como seu lábio inferior de tanto que ela
mordeu; eu paro a sua frente com a bancada entre nós dois.
— Mais que ninguém eu sei que o passado não pode ser
mudado e que certas dores nunca vão embora, mas até para mim
aniversários são datas especiais, então vamos criar memórias mais
felizes para o seu dia. Começando por agora, vou fazer panquecas
em formato de Mickey para você com calda de chocolate que é a
sua favorita.
— Já tô gostando, eu vou... — antes que ela termine de falar,
seu celular toca e ela corre até a sala logo depois voltando com o
aparelho. — Oi Ártemis.
Obviamente não consigo escutar o que a irmã fala e me viro
para trás dando a ela privacidade, pego nos armários todos os
ingredientes necessários para o café da manhã, várias vezes
escuto ela afirmando para a irmã que está bem, outras vezes ela
pede para que a outra pare de chorar ou ela vai voltar a chorar
também. É bonito ver a união e cuidado entre elas duas isso me faz
pensar no meu próprio irmão, Thiago e eu passamos por muitas
coisas juntos, eu ainda não era maduro o suficiente para criar um
pré-adolescente, mas eu fiz tudo que estava ao meu alcance para
fazer com que ele ficasse bem e acho que no panorama geral deu
tudo certo, assim como a Oli fez com a irmã, pegamos o pior
cenário e conseguimos vencer e fazer um bom trabalho.
Eu amo o Thiago, mesmo que às vezes ele não acredite nisso,
pois eu pego muito no pé dele, mas eu só quero que meu irmão
tenha uma boa vida, trabalhe e seja responsável, pois aprendi que
em um segundo a vida pode mudar, a gente pode perder tudo, tanto
material quando as pessoas que amamos e desejo que o Thiago
tenha maturidade necessária para lidar com as dificuldades da vida.
Talvez esse tempo que ele está preso em casa sem poder viver
caindo de balada em balada com más companhias sirva para ele
criar algum juízo.
CAPÍTULO 18

— O que você está pensando aí tão concentrado? Nem


percebeu que eu já terminei a ligação — falo com o Miguel,
colocando meu celular na bancada e passando os dedos pelos
olhos para espantar os últimos vestígios de choro.
A minha irmã me ligou em prantos, o dia do meu aniversário é
um assunto horrível e delicado, ela sempre cuidou de mim nessa
data que costuma me deixar bem deprimida. Parte disso por culpa
da minha mãe, que me dizia que o dia em que nasci para ela foi um
dia amaldiçoado, também pela tentativa de estupro que sofri ainda
tão jovem. Ártemis tem uma técnica para me animar, ela sempre faz
brigadeiros e comemos juntas assistindo a Bela e a Fera, que é o
meu filme favorito. Segundo ela, a data e o fato de estarmos
distantes por tanto tempo, foram os responsáveis por sua crise de
choro e eu a entendo, também adoraria estar com a minha irmã
hoje, a saudade em meu peito é opressiva.
Por outro lado, hoje eu tenho o Miguel comigo, não sei de
onde tirei forças para contar a ele sobre o dia mais aterrorizante da
minha vida, eu normalmente oprimo essas lembranças no fundo da
minha mente, tento me concentrar no fato que já não sou uma
criança assustada e que consegui sair daquele lugar horrível que
um dia chamei de casa, mas nessa data as lembranças sempre
vêm como avalanches e sem escolha eu mergulho na dor.
— Estava pensando na relação bonita entre você e sua irmã e
como eu queria que o Thiago fosse mais como ela no quesito,
responsabilidade — ele me responde e volto minha atenção para o
momento presente.
— A Ártemis estava chorando e eu tenho quase certeza que
ouvi ele a consolando e a tratando com gentileza. – Sorrio. — Há
uns dias atrás, ela me contou que ele parece bem empenhado em
resolver as pendências da corretora e acabou me confidenciado
que estão brigando bem menos, acho que ele está achando seu
caminho.
— É o que mais quero, mas agora vamos mudar de assunto
— ele fala colocando o prato de panquecas a minha frente, nossa
ele realmente fez um bom trabalho! As panquecas estão com uma
aparência ótima e quando ele joga a calda de caramelo por cima
ficam ainda mais apetitosas, pego o meu celular e tiro uma foto
estratégica da massa em formato de Mickey.
— Produzindo novas lembranças — falo mostrando o aparelho
e ele sorri antes de me dar um selinho nos lábios.
Abro os olhos lentamente tentando me situar. Depois de
bocejar e espreguiçar o corpo me sento na cama olhando pela
janela, lá fora ainda tem claridade o que me faz pensar que é final
de tarde, como acordei muito cedo hoje, depois do almoço resolvi
me deitar por um tempo, só não imaginei que fosse dormir tantas
horas seguidas.
Depois de escovar os dentes e arrumar o cabelo sai do quarto
do Miguel, ele foi categórico dizendo que agora que ficamos juntos
esse será o nosso quarto, eu que não sou boba nem nada, não me
opus a ideia. Desço as escadas e escuto a televisão ligada e sigo
nesta direção, quando Miguel me vê entrando no cômodo se
levanta com um sorriso enorme em minha direção o que me faz
derreter, ele fica lindo quando sorri até as pequenas rugas em volta
de seus olhos são super charmosas; sem que eu esperasse ele me
abraça passa os braços abaixo da minha bunda me erguendo do
chão e começa a rodopiar comigo pela sala. Solto pequenos
gritinhos pelo medo de cair e Miguel ri livre e feliz.
— Boa tarde dorminhoca, eu tenho boas notícias, queria
invadir o quarto e te acordar, mas aguentei bravamente até você
descer — fala quando me coloca no chão.
— Percebi que você está de ótimo humor, o que aconteceu?
Fala logo tô curiosa agora.
— Enquanto você dormia eu liguei para a embaixada — fala
segurando o meu rosto mantendo toda a minha atenção nele —
eles disseram que começaram a mandar brasileiros para casa em
segurança.
— Ai meu deus isso é fantástico! — Falo eufórica, a alegria
tomando meu peito.
— Não é só isso querida, nós dois vamos embarcar na
segunda-feira! — ele praticamente grita, já eu fico totalmente imóvel
no lugar, as palavras sendo processadas em meu cérebro —
Olímpia?
— Eu... eu... eu... — gaguejo vergonhosamente, mas as
palavras simplesmente fugiram e a minha cabeça ficou em branco.
Casa, nós vamos voltar para casa. Não pode ser real. Eu torci
e pedi tanto a Deus por isso que agora que está acontecendo não
parece verdade.
— Nós vamos para casa?! — grito de repente, um sorriso
começa a se abrir em minha boca — Nós. Vamos. Para. Casa!
— Sim — é tudo que ele fala antes de segurar minha mão e
começar a rodopiar comigo pela sala praticamente me obrigando a
dançar com ele.
Não sei quando as lágrimas começam e em segundos me vejo
rindo e chorando ao mesmo tempo numa confusão de sentimentos
enormes e vejo que com Miguel não é diferente. A euforia toma
conta do meu peito e tenho vontade de gritar para o mundo a minha
felicidade.
— Vamos ligar para casa — peço quando ele para de nos
rodopiar.
Miguel pega seu celular e entra no aplicativo de conversa e
inicia uma chamada de vídeo para o telefone de seu irmão, não
demora muito até vermos o rosto do Thiago pela tela.
— Irmão me ligando duas vezes no mesmo dia? Isso tudo é
carência? — Thiago atende com seu sarcasmo característico.
— Para de graça — Miguel responde ainda sorrindo e o
entendo, nada vai conseguir tirar o nosso bom humor — você pode
chamar a Ártemis por favor temos uma notícia para dar.
— Ártemis vem aqui, eles querem falar com a gente — Thiago
fala e instantes depois a minha irmã aparece na tela com os
cabelos molhados o que me surpreende pois pelo que parece o
Thiago está no quarto dele sem camisa, troco um olhar com o
Miguel que percebeu a mesma coisa que eu.
— Oi irmã? Algum problema? — Árte pergunta e decido deixar
minhas suspeitas para depois já que agora tudo que importa é a
notícia maravilhosa que temos para dar.
— Não é um problema, na verdade é a solução — Miguel fala
sorrindo.
— Nós vamos para casa! — grito empolgada, minha irmã e
Thiago começam a falar várias coisas ao mesmo tempo o que deixa
a mim e ao Miguel sem entender muita coisa, mas dá para ver com
os gritos que eles estão muito felizes por nós só quando eles se
acalmam eu volto a falar — Nós vamos embarcar na segunda feira
o que significa que em poucos dias vamos estar pisando em solo
brasileiro.
— Mas não é perigoso? Não há risco de contaminação?
— Sempre vai haver um risco, mas as medidas de proteção
são bem severas exatamente para reduzir a possibilidade de
contaminação. Eu e a Olímpia vamos fazer tudo certo para
chegarmos ao Brasil com saúde.
— Não vejo a hora de te ter de volta irmão — Thiago fala e
vejo Miguel ficando emocionado, os dois irmãos tem seus atritos e
sei que para Miguel é importante saber que o irmão sente a falta
dele.
Conversamos por mais alguns minutos e quando a ligação é
encerrada minhas bochechas doem de tanto que eu sorri.
— Você conseguiu — falo, me sentando no colo do Miguel e
rodeando o pescoço dele com os braços.
— O que você quer dizer?
— Acabou de ressignificar o dia do meu aniversário, acho que
nunca senti tanta felicidade nessa data, meu coração parece que
vai sair para fora.
— Mas ainda não acabou — ele fala antes de colar nossos
lábios. Nos beijamos com paixão, minhas mãos sobem até estar
emaranhadas nos cabelos dele e Miguel por sua vez aperta os
braços ao redor da minha cintura me deixando sem fôlego.
— Tenho uma surpresa para você — ele diz quando
afastamos nossos lábios — enquanto você dormia eu dei uma
saída rápida e aqui está.
Eu nem consigo ficar brava com ele por ter se arriscado
saindo de casa, pois eu amo ganhar presentes e sempre fico
empolgada igual a uma criança quando os recebo. Meu amor se
inclina um pouco e pega uma sacola enorme que eu não vi que
estava escondida atrás do sofá.
— O que é tudo isso?
— Lembra que um dia no meio de uma conversa você me
disse eu seu sonho era escrever, mas você se sentia…
— Muito velha para isso, eu me lembro sim. Não deveria ter
confessado isso a você, que vergonha. Minha desculpa é que a
gente tinha bebido duas garrafas de vinho, eu sempre falo demais
quando bebo.
— Ei não tem por que ter vergonha e eu queria muito que
você tivesse me contado isso sóbria, eu quero conhecer cada parte
de você Olímpia — tenho que fechar os olhos por um instante, sinto
que a intensidade do olhar dele seria capaz de desvendar todos os
segredos da minha alma, não que eu tenha muitos. — Então
comprei isso como um incentivo.
Saio do colo dele e a sacola é colocada entre nós, eu
rapidamente desfaço o embrulho e percebo que há vários pacotes e
um deles é enorme, mas resolvo pegar o menor primeiro e quando
o abro vejo um pacote de canetas coloridas personalizadas com a
Minnie e o Mickey, sorrio, pois, sempre amei itens de papelaria,
minha mesa no escritório é cheia de coisas fofas. O embrulho
médio, se revela sendo um caderno lindo, com aspecto vintage a
capa tem desenho de flores e de rendas, eu me emociono e
começo a folhear percebendo que as folhas são amareladas dando
ao item um aspecto envelhecido, é lindo. Por último retiro da sacola
uma caixa pesada envolta em papel vermelho, como cuidado abro o
embrulho pois dizem que se você conseguiu abrir sem rasgar isso
atrai novos presentes.
Quando percebo do que se trata meu queixo literalmente cai,
nas minhas mãos está um notebook novinho de uma marca super
famosa.
— Miguel o que é isso? — falo já chorando
— Ei não chora — ele pede, mas como não se emocionar
diante disso? — comprei isso tudo para te deixar feliz, eu quero que
você comece a realizar o seu sonho, você pode só rabiscar ideias
no caderno de anotações ou você pode querer começar com tudo,
por isso o computador, vi que o seu estava bem ruim.
— É muito caro Miguel, deve ter custado uma fortuna.
— Ei dona Olímpia, não se pode questionar o valor dos
presentes, só aceita e diga muito obrigada.
Mas não é isso que eu faço, coloco os meus presentes
valiosos na mesinha que está a nossa frente e me jogo sobre ele,
começo com um beijo e rapidamente estávamos sem roupas
perdidos nos braços um do outro.
CAPÍTULO 19

Minha tarde de sábado anda bem mais trabalhosa do que eu


havia previsto. Primeiro, tive que organizar nossas coisas e malas,
deixar tudo pronto para que amanhã possamos tirar o dia para
resolver as últimas pendências com calma, já que na segunda
estaremos embarcando para casa e eu não poderia estar mais
animada com isso. Para completar, resolvi fazer algo especial para
nós dois já que é nosso último sábado juntos aqui, além disso quero
agradecer o que ele fez por mim na última quinta-feira quando foi a
data do meu aniversário verdadeiro, ele passou o dia me mimando,
me deu os presentes mais especiais possíveis, assistimos filmes
que eu amo, ouvimos música e dançamos, ele fez a minha
sobremesa favorita no jantar e no final nós amamos como nunca e
eu me senti adorada por ele. Enfim ele fez o possível para tornar o
meu dia especial mesmo nas limitações das paredes dessa casa, e
no fim o que vale é isso, o esforço que a outra pessoa faz para te
ver bem.
Resolvi preparar um jantar para nós dois já que ele sempre
cozinha. Não sou uma boa cozinheira, nem mesmo mediana, mas
sempre cuidei da minha alimentação e de Ártemis, já o Miguel é
excelente na cozinha e não quero decepcioná-lo. Por isso hoje logo
que acordei, assisti a vários tutoriais de receitas e quando desci do
quarto, fiz supermercado virtual no Walmart, como eu queria que no
Brasil tivesse essa facilidade das compras estarem na sua porta em
menos de duas horas sem precisar sair de casa.
Quando tudo chegou, enxotei meu chefe/peguete para o
escritório que fica no andar de cima e dei ordens severas que ele só
deveria descer quando eu chamasse, vi a curiosidade brilhar em
seus olhos, mas ele obedeceu, não sem antes me roubar um beijo
que me deixou sem rumo por alguns segundos.
Agora estou aqui parada em frente ao fogão, já deveria estar
tudo encaminhado para que eu fosse tomar o meu banho e não me
atrasar, mas meu macarrão ficou molenga demais e meu molho
branco ficou com algumas bolotas de farinha. Jogo tudo na pia, ligo
o triturador de alimentos e respiro fundo antes de resolver tentar
outra vez.
— Agora sim! — grito satisfeita quando minha segunda
tentativa de jantar dá certo. O macarrão perfeitamente coberto com
molho branco e queijo, coloco a massa para gratinar no forno.
Passo pela sala de jantar conferindo que tudo estava
exatamente no lugar certo, sorrio para mim mesma pelo bom
trabalho que fiz na mesa posta de maneira elegante e em tons de
vermelho, até um arranjo de flores em um vaso bonito consegui
fazer.
Subo as escadas e paro em frente ao escritório que está vazio
e então vou rumo ao quarto do Miguel e o vejo jogado na cama
apenas de bermuda assistindo interessado algum vídeo no celular,
deixo meus chinelos ao lado da porta e entro descalça no cômodo e
me jogo na cama ao seu lado.
— Oi chefinho — falo provocando. — Já fez as malas?
— Senhorita Olímpia — responde no mesmo tom o que me
faz rir — estão ali no canto e você já terminou o que estava
fazendo? — Quase sou distraída quando ele pega na minha cintura
e me puxa para perto de si. Ultimamente é assim conosco, como se
não pudéssemos manter as mãos longe, sempre estamos nos
tocando, beijando, abraçando, buscando um ao outro.
— Minha deliciosa massa está no forno e eu vim apenas
avisar para que você se arrume.
— A é? E como devo me vestir para esse jantar?
— Poderia ir até pelado, seria uma ótima visão — brinco e
como resposta recebo uma pequena mordida na bochecha —
Falando sério agora, só coloquei algo bonito e confortável afinal de
contas estamos em casa ainda.
Ele não parece estar prestando muita atenção no que eu falo,
pois sua boca pecaminosa desce em direção ao meu pescoço e só
sua respiração em minha pele já me faz arrepiar, sei onde isso vai
parar se ele começar a me beijar, por isso o empurro para o lado e
pulo para fora da cama.
— Linda volta para a cama, passei o dia longe de você — ele
pede com sua voz grossa quase me fazendo atender o seu pedido.
— Essa sua voz sexy quase me faz fraquejar — confesso —
mas sou uma mulher com um propósito, hoje nós vamos jantar e
depois eu preparei uma surpresa no banheiro envolvendo a
banheira, velas perfumadas e pétalas de rosas, então seja um bom
rapaz e não me tente com esse sorriso safado e os olhos verdes.
Nosso último sábado aqui vai ser memorável.
— Só vou deixar você ir porque agora eu também começo a
traçar planos com você…
— E posso saber quais são? — pergunto enquanto calço
meus chinelos, mas sem desviar meu olhar da figura dele deitado
sobre a cama com o braço embaixo da cabeça dando sustentação,
exibindo todos os músculos do abdômen torneado que quase me
faz babar.
— Eles envolvem você de quatro na banheira enquanto eu
aprecio a Vista do meu pau se enterrando em você.
Quase tropeço em meus próprios pés com as palavras que
saem de sua boca e o safado só faz rir da minha cara de boba, nem
respondo e saio do nosso quarto indo direto para o que era o meu.
Tiro o moletom e deixo no cesto de roupa suja e vou para o
banheiro tomar um banho que era para ser relaxante, mas é uma
tortura pela vontade que sinto de me tocar depois das palavras
picantes que Miguel me disse. Lavo meus cabelos e quando
termino os seco e faço cachos nas pontas com o aparelho de
babyLiss, espalho minhas maquiagens na bancada e começo o
processo em meu rosto, não faço nada extravagante apenas uma
base, delineado nos olhos e um batom de um vermelho escuro. Me
sinto satisfeita com o resultado que me empregou um ar sexy
mesmo que discreto. Volto para o quarto e agradeço por ter
escolhido a roupa previamente: um conjunto de lingerie preto cheio
de renda e transparência e o meu vestido é da mesma cor de
mangas compridas até o punho, mas com um decote em forma de
gota que deixa meus seios à mostra.
Me sinto linda e feminina, por isso pego o celular, escolho um
local com boa luz e tiro algumas fotos pra minha rede social, antes
eu não gostava de postar fotos minha, por ser gorda eu odiava
expor meu corpo, usava roupas largas e não tirava fotos de jeito
algum. Sempre ouvi, principalmente da minha mãe, muitas críticas
sobre minha aparência e isso me deixava extremamente insegura e
com raiva de mim mesma, pois sempre me diziam que se eu não
era magra a culpa era minha por não me esforçar o bastante. Mas
eu me esforçava fazia dietas rígidas, me exercitava até a exaustão
e ainda me submetia a jejuns de vários dias, eu até chegava a ficar
magra, mas não como a Ártemis e isso era motivo da minha mãe
jogar na minha cara o quanto a minha irmã era linda e diferente de
mim. As pessoas não fazem noção do que isso faz na cabeça de
alguém tão jovem, pois eu era uma criança quando começaram as
questões e apontamentos referentes ao meu corpo.
Com o tempo, depois de sair de casa, entendi como era tóxico
esse jogo que a minha mãe fazia com nós duas, tanto a Ártemis
quanto eu, somos lindas cada uma à sua maneira, eu sou gorda
sim, mas sou bonita do meu jeito. Criei uma relação de respeito
com o meu corpo e hoje faço exercícios porque gosto e na medida
para me manter saudável e não submeto mais o meu corpo a dietas
malucas.
Com isso a minha autoestima foi aumentando e hoje eu visto
roupas que me valorizam e amo tirar fotos não só de mim, mas dos
momentos especiais da minha vida.
Miguel abre a porta e uau ele está lindo, vestido com uma
calça na cor preta e uma camisa social na mesma cor, a sobriedade
do traje é quebrada quando noto que ele está descalço, os cabelos
levemente úmidos dão a ele um aspecto despojado e sexy, percebo
que ele fez a barba que estava maior nos últimos dias e só posso
dizer que ele fica lindo das duas formas.
— Você está lindo — elogio e ele vem para perto de mim e
sinto seu perfume gostoso.
— Posso dizer a mesma coisa, você está magnífica com esse
vestido.
Aponto a câmera do celular em nossa direção e ele entende o
que eu quero e se posiciona de maneira estratégica ao meu lado e
beija meu rosto no exato momento que aperto a tela do celular e
capturo a nossa imagem.
— Nós dois somos um casal lindo — ele constata e eu sorrio
concordando — vai postar a foto nas suas redes?
— Eu queria, ficamos lindos, mas no meu Instagram está
cheio de colegas de trabalho.
— E daí? — ele pergunta e eu me separo dele um pouco.
— Não conversamos sobre status de relacionamento, você
tem uma política de não se envolver com colegas e tudo mais.
— Nunca disse que não permitia ou era contra de
relacionamento entre colegas — ele fala franzindo o cenho.
— Mas você nunca deu bola pra ninguém, a maioria das
mulheres no escritório vivem dando em cima e você sempre
desencorajando.
— Por que eu só queria uma mulher naquele escritório — ele
faz uma pausa e eu me perco um pouco na intensidade do olhar
que ele dirige a mim — Você, eu não tinha interesse nelas porque
sempre quis você. Eu te amo Olímpia.
Eu mal posso acreditar nas palavras dele, minhas pernas
chegam a fraquejar, mas depois de tudo que passamos juntos aqui
nessa casa eu sei que ele está sendo sincero e isso só me deixa
mais feliz nessa noite. Fico na ponta dos pés para nos beijarmos o
calor de sua boca envolvendo a minha me fazendo suspirar.
— Eu também amo você Miguel, muito — falo assim que nos
separamos e ele abre um sorriso brilhante.
Volto a me concentrar no celular, abro o aplicativo da rede
social de fotos e posto o registro de nós dois com a legenda
dizendo “meu amor e eu”. Brega? Sim, mas em certos momentos a
vida necessita de um pouco de breguice. Mostro a ele a postagem e
seu sorriso fica maior antes de me dar um selinho e se afastar
pegando a minha mão.
— Agora vamos porque estou louco para ver o que a senhorita
aprontou, esse jantar promete e o que vou fazer com você depois
dele mais ainda.
CAPÍTULO 20

Quando chegamos a sala de jantar me surpreendo por tudo


estar tão lindo, a mesa de jantar foi arrumada com peças em tons
de branco e azul escuro, Oli me senta em uma das cadeiras e sem
falar nada apenas sorrindo sai da sala me deixando imaginando o
que vem por aí, momentos depois ela volta com uma garrafa de
vinho em uma mão e um prato na outra, quando o coloca na minha
frente vejo que é um petisco a base de pão e presunto de parma.
— Olha você caprichou — comento e arqueio uma
sobrancelha quando ela lambe as pontas dos dedos de maneira
provocativa.
— Esse nem deu trabalho eu já comprei as torradas prontas
— comenta se sentando e eu não resisto a uma risada, pego a
garrafa de vinho e abro servindo a nós dois.
— O que vale é a intenção.
Nosso papo vai rendendo enquanto comemos, quando ela traz
o prato principal me delicio com o quanto estava gostoso, nós
comemos em um clima romântico e descontraído vez ou outra
nossas mãos se encontrando no centro da mesa.
Olímpia e eu traçamos vários planos para os próximos dois
dias, a volta para casa monopoliza nossa conversa, os momentos
que passamos aqui foram importantes e mudaram as nossas vidas,
mas a saudade de casa está sendo insuportável e não vemos a
hora de voltar. Resolvemos comer a sobremesa na sala assistindo
um filme para manter no último dia o que se tornou uma tradição
entre nós dois, como sempre, brigamos para saber qual título seria
o escolhido da noite, eu queria uma ficção científica e ela um de
seus inúmeros filmes favoritos da Disney, para ficarmos no meio
termo, resolvemos assistir um filme de romance que nem um de
nós tinha visto ainda e a escolha foi “Como eu era antes de você”.
Nos ajeitamos no sofá com ela praticamente deitada em cima
de mim e uma manta nos cobrindo, o filme vai passando e no final a
Olímpia está aos prantos o que me faz rir a deixando indignada.
— É tão triste Miguel, ele morreu.
— Ele estava sofrendo amor — tento argumentar, mas ela me
olha com de cara feia e eu levanto as mãos rendidas — Não vamos
mais ver filmes que te façam chorar.
— Mas esses são os mais lindos
— Mas não gosto de ver minha namorada chorando. — Seco
uma lágrima no canto dos seus olhos.
— Namorada é? — ela me lança um sorriso tímido.
— Claro, agora que fiquei com você não tem a mínima
possibilidade de você não ser minha.
— Olha, não sabia desse seu lado possessivo — fala divertida
e se senta em meu colo.
— Não sou, mas quero muito que você seja a minha
namorada.
— Eu aceito, eu também quero que você seja meu.
— Sou seu antes mesmo de você me querer — falo.
— Impossível eu sempre quis você — confessa e tomo a boca
dela em um beijo.
Olímpia geme abrindo a boca me dando abertura, eu não me
faço de rogado e a tomo mergulhando minhas mãos em meio aos
fios lisos e negros de sua cabeça, o vestido dela é curto o bastante
para estar embolado em seu quadril de modo que, quando a minha
mão esquerda desce pelo seu corpo encontra a carne de sua bunda
desprotegida e como sempre, não me controlo e aperto com força à
fazendo gemer.
Olímpia desce as mãos pelo meu tronco até encontrar a barra
da minha blusa e em segundos, ela está fora, deixando o caminho
livre para que suas mãos delicadas explorem meu corpo fazendo a
minha pele se arrepiar. Afasto nossas bocas, pego impulso e nos
levanto, invertendo nossas posições, agora, ela está deitada com
as costas sobre o sofá, o cabelo espalhado ao seu redor e um
sorriso lindo nos lábios a deixando belíssima. Passo minha mão por
suas pernas até chegar no pequeno pedaço de pano, que cobre o
caminho que me leva ao paraíso, desço a calcinha por suas pernas
só para depois separá-las e deixá-la exposta para mim.
Quando abaixo o rosto e passo a língua pela sua boceta
gostosa, Olímpia geme alto e sua mão vem direto para minha
cabeça, eu sorrio por saber que ela adora sexo oral e eu adoro seu
cheiro, principalmente seu gosto salgado em minha língua, a chupo
com vontade usando o polegar para massagear seu clitóris, ela
puxa meu cabelo fazendo o meu couro cabeludo pinicar, mas não
me importo, ao contrário saber que a deixo louca só faz com que
meu tesão aumente ao ponto do meu pau, preso na cueca, ficar
dolorido pela ereção.
— Miguel, por favor... — ela implora, rebolando em minha
direção.
— O que você quer minha gostosa?
— O seu pau, preciso de você dentro de mim, agora — a
safada fala com voz rouca carregada de desejo.
Como seu pedido é uma ordem, eu me levanto tirando minha
calça e a cueca segue o mesmo caminho, pego uma camisinha da
caixinha que deixamos por aqui, pois esse virou um dos nosso
lugares favoritos da casa, quando vou vestir o preservativo as
mãos de Olímpia me alcançam e sem fazer cerimônia ela coloca
meu pau inteiro na boca, me fazendo delirar e inchar ainda mais em
meio a sus lábios carnudos pintados de vermelho, ela me leva até o
final só para depois tirar completamente e repetir o processo.
Ela coloca a língua para fora de maneira sensual e então
lambe toda minha extensão, me deixando totalmente molhado pela
sua saliva, seus lábios se fecharem ao redor da glande e é quando
ela começa movimentos de sucção, então e a minha vez de gemer
e agarrar um punhado de seus cabelos. Olímpia me chupa, lambe e
me quase me mata de tesão, quando vejo que não vou aguentar
muito tempo, me afasto dela colocando a camisinha, enquanto
observo Olímpia tirando o vestido e ficando completamente nua na
minha frente e tudo que eu consigo pensar é no quanto ela é
gostosa.
Os seios fartos e pesados são um convite ao pecado, por isso
me aproximo tomando um dos bicos rígidos em minha boca
enquanto aperto o outro bico entre meu polegar e o indicador,
quando ela geme o meu nome meu pau chega a pulsar de tanto
tesão e não posso aguentar mais. Como se estivéssemos
sincronizados em pensamentos, ela se afasta de mim apenas o
bastante para se ajoelhar no sofá e empina sua grande bunda em
minha direção, Oli se segura no encosto do sofá e olha para mim
por cima do ombro, castigando o lábio inferior com uma mordida,
não penso duas vezes antes de me aproximar, segura sua cintura e
meter dentro dela com força, fazendo nós dois gememos de prazer.
Começo a arrebatar lentamente e toda vez que meu pau se
afunda inteiro em seu interior, ela rebola sensualmente esfregando
a bunda em minha virilha, minhas investidas ficam cada vez mais
rápidas e os gritinhos sensuais dela vão ficando cada vez mais
altos. Me inclino por cima de Olímpia e passo o polegar por sua
boca e ela o abocanha entendendo o que quero, quando meu dedo
está lubrificado o bastante o tiro de sua boca e levo até o meio de
sua bunda, o insinuando em seu buraquinho apertado o que faz
Olímpia, suspirar e se empinar ainda mais em minha direção.
Pressiono um pouco e meu dedo é sugado para seu interior
quente, o que faz Olímpia gritar, meu tesão está nas alturas e a
cada vez que ela rebola, fico mais perto de chegar ao meu clímax.
Invisto com mais ímpeto contra ela, o som dos nossos corpos se
batendo é misturado com o som de nossas respirações ofegantes e
gemidos. Quando ela goza massageando ainda mais meu pau
dentro de sua boceta apertada, eu apenas me entrego ao orgasmo,
varrendo meus últimos vestígios de controle.
CAPÍTULO 21

Subimos para tomar um banho antes de nos deitarmos e


resolvemos usar a banheira de hidromassagem da suíte que eu
enfeitei com velas aromáticas e pétalas de rosas, Miguel me coloca
sentado sobre as pernas dele e a água quente abraça a nós dois
me fazendo relaxar e suspiro feliz pelo momento aconchegante e
romântico.
— Você dormiu? — Ele me pergunta depois de um tempo
fazendo um carinho no meu ombro enquanto sua outra mão está
espalmada na minha barriga
— Não, estou apenas pensando no quanto estou feliz.
— Posso dizer que compartilho o mesmo sentimento, estar
com você em meus braços é a minha felicidade — ele fala o que
me faz arrepiar inteira, nem em um milhão de anos eu poderia
imaginar que estaria vivenciando e recebendo todo romantismo do
Miguel — vamos sair, pois a água já está ficando fria e eu estou
meio cansado.
— Seu rosto está vermelho — comento quando me levanto
pegando uma toalha e me enrolando nela.
— Deve ser o calor do banheiro — diz antes de parar em
frente à pia e começa a escovar os dentes e eu faço a mesma
coisa.
Amo os momentos de rotina que temos juntos onde nós dois
compartilhamos coisas simples como agora dividindo a pia do
banheiro para escovarmos os dentes, estou louca para voltar para o
Brasil e estar em casa, mas ao mesmo tempo fico tristonha por
saber que esses momentos tão simples, mas tão significativos
podem acabar.
Vamos para a cama e Miguel estava mesmo muito cansado,
pois rapidamente ele pega no sono, mas eu estou estranhamente
ligada além de estar ansiosa para tudo que vamos passar daqui
para frente, confesso que estou com medo de fazer a viagem, além
do meu costumeiro pavor de avião que sempre me deixa ansiosa,
ainda estou com medo do agora as autoridades vêm chamando de
covid19. A embaixada nos mandou algumas instruções para
seguirmos e ficarmos o máximo possível em segurança. Nem eu e
nem Miguel estamos com sintomas gripais o que é ótimo, teremos
que usar máscara o tempo inteiro a partir do momento que
colocarmos o pé para fora de casa, isso vai dificultar uma possível
contaminação.
Mesmo sabendo que vamos nos cuidar o medo dessa doença
maldita é quase paralisante para mim, quando percebo que meus
pensamentos estão fazendo a minha ansiedade aumentar resolvo
que é hora de mudar os rumos deles, então pego meu kindle e abro
no livro que estou lendo no momento A hacker e o mafioso da
autora Pri Oliveira, por algumas horas eu perco a noção do tempo
mergulhada na história da Fernanda, do Dylan e Henry.
Estou quase cochilando com o kindle na mão quando Miguel
se movimenta chamando minha atenção, ainda sonolento ele coça
a bochecha de maneira enérgica e solta um gemido doloroso o que
me faz ficar atenta, e não para de se coçar e isso me deixa
preocupada, então me inclino sobre ele acendendo o abajur do seu
lado da cama.
— Ai meu Deus — grito assim que olho o rosto dele que se
encontra totalmente vermelho e os lábios inchados. — Miguel,
Miguel acorda.
— Olímpia? — pergunta sonolento — o que está havendo?
— Você Miguel — falo me levantando da cama e indo até o
interruptor acendendo a luz do quarto, quando a claridade invade o
ambiente ele levanta o braço para proteger os olhos e então vejo
que seu peito inteiro está vermelho e empolado. — Misericórdia o
que está acontecendo com você?
— Mas do que você está... — antes de concluir a frase Miguel
começa a tossir colocando a mão sobre a garganta, o modo como
ele faz isso me deixa desesperada — ar... tá difícil... respirar — ele
fala pausadamente e o desespero toma conta de mim.
Sem pensar duas vezes pego o telefone e disco 911, converso
com a atendente, sem desviar os olhos do Miguel conto o que está
acontecendo, falo que provavelmente se trata de uma forte crise
alérgica e ela me orienta esperar o socorro com a porta aberta e
que eles chegariam em nove minutos aproximadamente.
Apesar de estar com dificuldade para respirar o Miguel se
mantém cooperativo enquanto o ajudo a vestir o moletom e os
tênis, sirvo de apoio a ele enquanto descemos as escadas e depois
volto para cima para pegar os documentos, o passaporte e os
papéis do seguro saúde, não sei se ainda é válido, pois fazemos
quando compramos as passagens a vários meses atras, mas vou
levar por segurança. Troco a minha roupa, coloco também um
moletom confortável e assim que desço as escadas alguém bate à
porta.
Quando a abro me surpreendo, os dois enfermeiros estão
vestidos como uma roupa que me lembra apicultores toda branca e
fechada não deixando um centímetro de pele à mostra, eles
também usam máscaras e uma proteção acrílica em frente ao rosto.
Dou passagem para que eles entrem e vamos até Miguel que agora
me parece muito pior do que há alguns segundos atrás, seus lábios
estão bem inchados assim como os olhos, o rosto completamente
vermelho e o dorso de suas mãos também.
Os paramédicos o examinando rapidamente e pelo que
entendo a situação não é nada boa, observo com lágrimas nos
olhos Miguel sendo colocado sobre uma maca e carregado para
fora até a ambulância. Pego a pasta de documento e estou pronta
para segui-lo quando sou barrada pelo paramédico, me irrito com o
homem, pois não entendo a princípio qual é a dele.
— Eu tenho que ficar com o Miguel, não posso deixar que o
levem sozinho — falo com o homem em inglês.
— Senhorita infelizmente esse é o protocolo da covid19, o
paciente não pode ser acompanhado isso e para proteção de todos
nós.
— Mas… — tento falar agoniada e volto a chorar, olhando
para dentro da ambulância e vendo o outro homem aplicando uma
injeção no Miguel.
— Responda as perguntas e assim poderemos socorrer o seu
marido mais rápido — o socorrista com roupa espacial fala e depois
me começa a fazer um monte de perguntas, inclusive se o Miguel é
alérgico a algum alimento ou medicamento.
— Não, eu sempre o vi comendo de tudo e não me lembro
dele ser alérgico a qualquer medicação e além disso ele não tomou
nada hoje.
O homem anota tudo em sua prancheta de maneira rápida e
eficiente, quando se dá por satisfeito e diz que o hospital vai entra
em contato em breve e me aconselhou a não ir até lá, pois além de
ser inútil eu estaria colocando minha saúde em risco, sem mais
nem menos o homem fecha a porta da ambulância dá a volta e
entra no lado do motorista.
As luzes em tons de vermelho e azul iluminam tudo à sua
volta quando a ambulância é ligada e começa a se movimentar,
olho em volta e alguns vizinhos estão nas janelas observando do
que se trata, mas não conheço nenhum deles.
Volto para dentro da casa tão atordoada com tudo que
aconteceu em espaço tão reduzido de tempo que mal consigo
chegar até lavabo antes de colocar todo o conteúdo do jantar para
fora, com lágrimas nos olhos me sento no chão do bairro me
sentindo tão sozinha e impotente quanto jamais estive um dia.
CAPÍTULO 22

Passei a noite inteira aos prantos, o coração apertado e a


angústia quase não me deixava respirar e fiquei todo o tempo
acordada com os olhos grudados no telefone, eu sentia que se
desviasse o olhar poderia perder a ligação que não veio.
Com agonia vejo o dia amanhecendo o sol nascendo
vagaroso como se não tivesse pressa de chegar ou seria eu que
estava achando que o tempo não passava? Já não tinha mais
lágrimas para chorar e minha garganta arranhava pela sede já que
eu não tinha me levantado nem para tomar um copo de água.
Eu não posso ficar desse jeito, se eu ficar doente quem vai
cuidar do Miguel quando ele voltar? Me levanto sentindo o corpo
protestar e as pernas meio bambas. Pego o celular e lentamente
subo as escadas indo direto ao banheiro, faço minhas
necessidades, depois escovo os dentes e penteio o cabelo. Tiro a
roupa, tomo um banho rápido e me visto com uma calça, camiseta
cor de rosa e uma blusa de frio quentinha, depois volto para o andar
de baixo e faço uma refeição leve.
Decidi não ligar para o Thiago, pois além de ainda não ter
notícias ele não poderia fazer estando no Brasil, se eu ligar só vai
servir para deixá-lo preocupado assim como eu. Sem nada para
fazer volto a me sentar no sofá com o ânimo renovado e
esperançosa de que em breve alguém do hospital iria me ligar.

Acabei adormecendo vencida pelo cansaço e acordo de


maneira abrupta quase caindo do sofá, rapidamente busco pelo
celular me xingando baixinho por ter dormido, o visor indica que são
mais de uma da tarde e olho desanimados para o telefone que não
tem nenhum registro de chamada perdida o que faz toda a vontade
de chorar voltar.
Dizem que notícia ruim chega rápido. Se tivesse acontecido
alguma coisa ruim com Miguel eu já teria sido comunicada, certo? É
com esse pensamento na cabeça que eu vou para a cozinha
preparar algo para comer, as louças do nosso jantar da noite
passada ainda na pia, coloco tudo dentro da lava louça com
lágrimas nos olhos. Nossa noite perfeita tinha terminado de
maneira horrível.
E se algo que eu preparei tivesse causado tudo isso? Só o
pensamento faz meu corpo inteiro tremer, eu nunca iria me perdoar
se tivesse feito mal ao Miguel de alguma forma.
Passo a tarde inteira esperando por notícias, mas só por volta
das cinco o meu telefone toca e eu atendo antes mesmo de chamar
a segunda vez.
— Alô — digo em inglês e então a pessoa do outro lado da
linha pergunta se sou a Olímpia e confirmo — sim sou eu, sou
namorada do Miguel Andrade, como ele está?
— Ele está em observação no momento, o senhor Andrade
teve uma forte reação alérgica, mas já foi medicado, mas a erupção
da pele ainda não passou por isso ele ainda não será liberado — a
mulher me explica com calma o que não diminui o meu medo.
— Você sabe o que causou a alergia? Foi algo que ele
comeu?
— Os médicos acreditam que não foi causa alimentar, pois os
sintomas teriam surgido no mesmo instante, pelo que ele contou ao
médico o senhor Andrade fez uso de hidromassagem com sais de
banho e temos vários casos de reações alérgicas devido ao uso
desses produtos — ela explica, mas isso não acalma minha
angústia.
— Posso visitá-lo? Ele não pode ficar sozinho aí... — falo com
a voz embargada pelas lágrimas.
— Infelizmente não, estamos sob o protocolo da covid e por
isso as visitas estão proibidas, mas não se preocupe ele está sendo
bem tratado e em breve passará por exames.
— Como eu terei notícias dele?
— Os boletins médicos saem todos os dias às sete da manhã
e às cinco da tarde, vou passar o telefone do hospital e a senhorita
pode ligar nesses horários. Pode ser que as linhas estejam
ocupadas no primeiro momento, mas é só você insistir um pouco.
— Certo — respondo além de perguntar mais uma vez se o
Miguel estava bem e sendo garantida que sim, antes de encerrar a
chamada pego o número do hospital para ter mais notícias e só
depois desligo o telefone, me sentindo bem mais segura e aliviada.

Já estou no final do terceiro dia sem o Miguel em casa, hoje já


estou bem mais tranquila e apenas na expectativa dele receber alta
médica. Ontem pela manhã fui até a porta do hospital entregar uma
sacola com roupas, produtos de higiene e seu celular, com isso nós
dois pudemos conversar bastante, meu coração se acalmou assim
que escutei a sua voz e vi com meus próprios olhos por meio da
chamada de vídeo que ele estava bem.
— Eu precisava ouvir sua voz para voltar a me sentir bem, eu
tive tanto medo — confessei a ele que ainda estava com o rosto
bastante vermelho e vestido com uma veste hospitalar.
— Eu também fiquei assustado, mas já estou bem meu amor,
eu não quero que você fique assim — falou notando minhas
lágrimas.
— Tô chorando de alívio por ver que está sendo bem tratado,
eu queria tá aí cuidando de você.
— Nem me fale uma coisa dessa eu não iria permitir que você
corresse algum risco.
Meu namorado me contou que o clima no hospital está
péssimo e que ele anda morrendo de medo de ser contaminado
pelo novo vírus, graças a deus ele está em um quarto sozinho, usa
máscara o tempo todo e não teve contato com nenhum outro
paciente e a equipe médica está sempre com os equipamentos de
segurança. Conversamos por horas ontem até que uma enfermeira
chegou para aplicar nele outra dose de antialérgico o que o faria
dormir por algum tempo.
Nossa volta para o brasil teve que ser adiada por tempo
indeterminado, mas estou procurando não me chatear com isso a
recuperação do Miguel é o mais importante no momento. Ontem
também liguei para o Thiago e contei o que havia acontecido e ele
como o esperado ficou bastante preocupado e disse que iria ligar
para falar com o irmão, já Ártemis ficou preocupada por eu estar
sozinha aqui, mas garanti a ela que estou bem e prometi ficar
mandando mensagem.
Como já estava me sentindo muito entediada aqui sozinha,
resolvi explorar os presentes que ganhei do Miguel no dia do meu
aniversário. Eu não sabia muito bem por onde começar então
resolvi assistir uns vídeos no Youtube sobre escrita, mas que não
foram de muita ajuda já que cada um falava uma coisa me deixando
mais confusa, parece que o processo de escrita é bem individual e
apesar de ter algumas técnicas cada pessoa tem seu próprio ritmo
e pelo visto eu teria que encontrar o meu sozinha.
Deixei o notebook de lado e pego o caderno e uma caneta e
tento fazer um rascunho, mas nada sai, por vários minutos encaro
as folhas amareladas e pautadas, contudo nada vem a minha
cabeça. Frustrada, jogo tudo no sofá ao meu lado e suspiro.
— É, parece que isso de escrever não é para mim, que
inferno.
Fico encarando a lareira que tem na sala e que incrivelmente
eu e o Miguel nunca ligamos por mais frio que estivesse lá fora
durante os meses que estamos aqui. Engraçado que quando eu era
pequena vivia sonhando em estar em um lugar com neve e ficar em
frente a uma lareira para ver a madeira queimando enquanto
tomava um bom chocolate quente. Nas noites em que minha mãe
saia para se encontrar com algum namorado e me deixava sozinha
com a Ártemis, trancadas em casa, eu costumava fazer com ela
planos para nosso futuro e também contava histórias para mantê-la
calma e entretida já que Ilda nos proibia de brincar na rua e vendeu
a única televisão que tínhamos em casa.
— Tenho saudades da minha irmãzinha — falo comigo
mesmo, acho que já tô ficando maluca assim falando sozinha.
A história favorita de Ártemis era sobre uma princesa guerreira
que teve a irmã mais nova roubada por uma bruxa e que fugiu do
castelo para tentar achar a irmã e...
Pego rapidamente o caderno de volta e começo a escrever
tudo que me lembro dessa história até mesmo ligo para Árte e
pergunto se ela lembra de alguma coisa já que éramos muito novas
e parte das lembranças acabam se perdendo. Quando dou por
mim já tenho um rascunho de três páginas inteira e minha mão dói
pelo tanto que escrevi. Com uma espécie de orgulho borbulhando
em meu peito, olho satisfeita as páginas e com um sorriso nos
lábios.
CAPÍTULO 23

Quatro dias trancado nesse quarto de hospital e eu não


poderia estar mais feliz quando a médica me entrega os papéis da
alta, tive uma severa reação alérgica provavelmente ocasionada
pelos sais de banho da banheira, pois não consumi nenhum
alimento diferente no dia e já tinha um histórico de sensibilidade na
pele e de ficar com erupções quando algum inseto me picava, mas
nada como aconteceu no outro dia o que me deixou assustado para
caralho, quando voltar ao Brasil terei que passar por um médico
especialista, mas por enquanto saio daqui só com uma receita de
antialérgico.
Passo álcool em gel nas mãos e coloco a máscara finalmente
saindo do hospital, quando chego a calçada Olímpia está escorada
na porta do carro esperando, quero correr até ela e a tomá-la em
meus braços e matar a saudade que apenas quatro dias causaram.
Mas sei que não posso me aproximar para sua própria segurança.
— Oi chefe, senti sua fala — ela fala com os olhos cheios de
lágrimas e a vontade de abraçá-la só aumenta.
— Oi senhorita Olímpia — brinco — eu também senti sua falta
amor, queria muito poder te dar um beijo.
— Idem, mas vou me contentar a te amar à distância só por
cinco dias, depois disso vou te amar de pertinho. Aqui as chaves do
carro, vou pedir um Uber.
Ela joga a chave em minha direção e se afasta do carro; a
recomendação do hospital é de que eu fique por cinco dias em
isolamento, pois é o tempo necessário para voltar a fazer o RT-PCR
que é o exame próprio para detectar o vírus da covid19, e se vou
ser sincero o exame é horrível um cotonete enorme foi inserido na
minha narina e tenho quase certeza que foi até no meu cérebro.
Entro no carro e coloco minha bolsa no banco do passageiro, abro
um pouco o vidro e pisco para Olímpia.
— Te vejo em casa — ela diz e então dou partida no carro.

“Você está impossível hoje” a mensagem da Olímpia chega


me fazendo rir, estou isolado no meu quarto desde ontem e nosso
meio de comunicação ainda são as mensagens tal qual acontecia
enquanto estava internado.
— O que posso fazer se é verdade, te achei muito gostosa na
camisola da margarida — mando a ela um áudio me lembrando do
momento em que ela veio deixar o meu jantar vestida como uma
gigantesca estampa da personagem.
“Você tem cada fetiche estranho” ela fala, mas me manda
uma foto deitada na cama, pronta para dormir.
“Sinto falta de dormir com você” escrevo a ela e vejo que a
mensagem foi visualizada no mesmo instante. “E meu pau sente
falta de dormir roçando na sua bunda” completo só para
provocá-la
— MIGUEL — escuto o grito dela vindo do quarto ao lado e
caio na risada — VOCÊ NÃO PODE FALAR ESSAS COISAS PRA
MIM.
“Mas é a verdade, sinto falta do seu corpo junto ao meu,
durmo bem melhor com você.”
“É melhor se acostumar, se você não tiver sido infectado
vamos voltar ao Brasil em poucos dias e como você sabe
moramos em casas separadas em lados opostos da cidade.”
Leio sua mensagem e um aperto inesperado se faz presente no
meu peito.
Conviver por quatro meses diariamente com a Olímpia nessa
casa me fez perceber o quanto é certo tê-la do meu lado. Nós dois
nos damos bem e nos completamos de uma maneira que chega a
ser assustadora, até quando brigamos tudo parece certo. Eu me
acostumei a cozinhar para nós dois, me acostumei a discutir com
ela sobre o filme que vamos assistir no dia, me acostumei a
trabalhar lado a lado com ela e poder vez ou outra parar tudo que
estou fazendo só pra observa-la franzir a testa e morder a tampa da
caneta quando está concentrada.
Ter a nossa rotina, ao contrário de ser algo chato e maçante,
se mostrou leve, descontraída e prazerosa e isso tudo bem antes
de ficarmos juntos. Estar com ela, romanticamente falando, só
elevou ainda mais tudo isso. Dormir sentindo seu corpo macio e
cheiro gostoso do meu cabelo virou um dos meus momentos
favoritos e pensar que ao voltarmos tudo isso será perdido me
deixa com o estômago embrulhado.
“Sabe as vezes eu tenho medo” outra mensagem dela
chega fazendo o celular virar em minhas mãos.
“De que?” Pergunto, mas ela não me responde de imediato e
sim começa a ligar em uma chamada de vídeo, quando atendo
seus olhos castanhos parecem tristes e isso faz meu coração se
apertar.
— Você vai me achar uma boba.
— Eu nunca pensaria isso de você, quer dizer eu até penso
quando você vem com aquele papo de que filmes da Disney são
grandes lição de vida — brinco só para ver ela sorrindo e isso
acontece, mas de maneira contida — mas nunca acharia bobo algo
que te preocupa, fala comigo.
— Tenho medo de que quando a gente voltar acabamos nos
afastando. — Confessa baixinho — as coisas no Brasil vão ficar
caóticas, sua vida é tão diferente da minha que tenho medo de você
descobrir que eu não sou assim tão interessante e que nós dois
juntos é uma ideia que não vai dar certo.
— O que? Como você pode pensar isso?
— Olha Miguel, não podemos negar que nossas vidas são
muito diferentes e...
— Pode parar — interrompo, odiando ver tanta vulnerabilidade
nela. — Eu estava agora mesmo pensando em como somos
parecidos e nos completamos, em como eu amo quando estamos
lado a lado.
— Isso porque só estamos nós dois presos nessa casa
Miguel, estamos em uma redoma onde a vida lá fora não está
interferindo em nada, onde o mundo está em standby e tudo tá
diferente, mas e quando voltarmos e quando a rotina de verdade se
fizer presente e quando você descobrir que eu não sou boa o
suficiente...
— Então é sobre isso? — Questiono nervoso me sentando na
cama e passando a mão pelos cabelos, já querendo mandar tudo
para os ares e ir falar com ela pessoalmente e não através de telas,
é horrível estar tão perto e tão longe ao mesmo tempo.
— Sobre isso, o que Miguel?
— Você está se sentindo insegura. Olímpia presta bem
atenção no que eu vou dizer: em todos esses anos que trabalha
para mim já viu eu fazendo algo que não quero? — ela sacode a
cabeça negando — já viu eu deixar me iludir por luxo ou poder? Eu
vim de origens tão humildes quanto as suas, eu lutei muito sim, mas
também tenho que admitir que tive sorte para caralho de conhecer
as pessoas certas. Eu tenho um passado fodido onde meu pai era
um alcoólatra e acabou tirando a vida da mamãe em um acidente.
— Eu sei de tudo isso, conheço a sua vida Miguel — fala e
vejo que está chorando.
— Então por que acha que somos diferentes o bastante para
não fazer nosso relacionamento funcionar quando voltarmos para
casa?
— Eu não sei tá legal — grita e consigo escutar sua voz
através da parede — Você é a melhor coisa que me aconteceu nos
últimos tempos e na minha vida eu aprendi que quando coisas
muito boas me acontecem é porque vão acabar rápido. Sou bem
mais feliz com você, se depois daqui você me jogar para escanteio
e arrumar algo melhor, eu não sei se vou conseguir...
— Às vezes tenho vontade de caçar aquela mulher que você
chama de mãe e acabar com a raça dela.
— O que? — ela se assusta
— Eu sei que você se sente assim porque ela te fez se sentir
assim durante toda sua infância e adolescência, mas presta
atenção Olímpia, você é uma mulher incrível qualquer homem seria
sortudo para caralho em ter você e sei disso pois é assim que eu
me sinto. Eu estou apaixonado por você a tanto tempo que é como
se esse sentimento já fizesse parte de mim, você acreditar que eu
posso te deixar me magoa, pois significa que ainda não consegui
mostrar o quanto eu te amo.
— Você falando assim fica impossível não acreditar — fala
sorrindo em meio às lágrimas. — Eu te amo.
— Bonita pra caralho — falo e aí sim vejo o sorriso que queria,
aquele que é tão brilhante que me deixa hipnotizado por alguns
segundos — Olímpia, casa comigo?
— Olha só fui pedida em namoro e em casamento na mesma
semana — fala rindo e o celular se mexe um pouco quando ela se
joga na cama, sei que ela está pensando que é uma brincadeira,
mas eu estou falando muito sério. Eu quero essa mulher para
sempre na minha vida.
CAPÍTULO 24

— Você parece que vai desmaiar a qualquer momento —


comento com Olímpia assim que a aeromoça passa pedindo para
apertar nossos cintos.
Finalmente estamos voltando para o Brasil, mal posso
acreditar que amanhã estarei em casa e vou poder ver o meu
irmão. Depois do meu tempo de isolamento fiz o exame para
detectar a covid e deu negativo assim como a Olímpia e então
estávamos habilitados para voltar para casa sem risco e foi assim
que compramos nossas passagens para a data disponível mais
próxima e aqui estamos nós.
— Agora além do medo de voar ainda tem o medo pela covid
— ela fala apertando o cinto de maneira que acho que vai sufocar.
— Sinto que posso morrer.
— Ei não fala isso, lembre-se que agora se você sentir muito
medo posso me sentar ao seu lado e te beijar até que esteja
distraída o bastante.
— Você quase me faz desejar uma turbulência, quase.
Quando o avião começa a levantar voo, ela fecha os olhos e
respira de maneira ruidosa, soltando o ar pela boca e fazendo um
biquinho, estamos em uma cabine onde as poltronas estão lado a
lado por isso estendo minha mão até a dela entrelaçando nossos
dedos, Olímpia aperta tanto meus dedos que as pontas ficam
vermelhas.
Mas nem isso tira o sorriso de meus lábios ao ver a aliança de
noivado perfeitamente encaixada em seu dedo anelar, por uns
segundos meu pensamento se volta para a semana anterior no dia
em que fiz o pedido de maneira inusitada, demorou um tempo para
que a Olímpia entendesse que eu estava falando sério quando
disse que queria me casar com ela...

— Olha só fui pedida em namoro e em casamento na mesma


semana — fala rindo.
— Amor eu estou falando sério, quero me casar com você.
— Eu também quero me casar com você um dia, eu até me
imagino entrando na igreja com um vestido inspirado no da
cinderela, porque você sabe eu sou esse tipo de pessoa — ela vai
tagarelando e vejo seu rosto ser iluminado e sei que ela ligou a
televisão mais um indicativo que não está levando essa conversa a
sério.
— Olímpia! — grito tanto para o celular quanto para que ela
me escute do outro quarto só quando ela me olha com atenção que
volto a falar — eu não quero me casar com você daqui uns anos, eu
não vou te fazer outro pedido num futuro distante, eu tô fazendo
isso agora, tô falando sério.
— Miguel, que loucura é essa que você está dizendo?
— Olímpia, você aceita se casar comigo? Quero que quando
voltamos para casa você seja a minha esposa, quero que assim
que botamos os pés no Brasil eu possa te levar para minha casa e
transformá-la em nossa.
A tela do celular fica escura e sei que ela desligou a ligação,
mas antes que eu descubra o que isso significa a porta do meu
quarto é aberta e me levanto observando Olímpia parada no
corredor me encarando com os olhos arregalados.
— Isso o que você está dizendo... não pode brincar assim
comigo assim. Eu acho casamento coisa muito séria.
— Eu também.
— Começamos a namorar faz pouquíssimo tempo, não tem
como você ter certeza do que está dizendo.
— Eu tenho plena certeza, não estou fazendo isso de forma
leviana — dou um passo em direção a ela, mas me detenho,
odiando essa merda que nos mantém separados — olhe tudo que
está acontecendo com o mundo se tem uma lição que tirei de tanta
tragédia e que as nossas vidas são frágeis e valiosas em igual
medida. Não temos mais tempo para frescuras, medos e nem para
adiar nossos sonhos. E eu não quero perder tempo. Conheço você,
suas manias, suas qualidades, seus traumas, sua loucura
inexplicável pela Disney e eu amo cada parte sua e quero você do
meu lado pelo resto de nossas vidas.
Vejo as lágrimas banharem seu rosto e ela se escora na
parede do corredor abraçando o próprio corpo e sei que ela está
finalmente entendendo que estou falando muito sério, sorrio para
Oli e meus próprios olhos estão úmidos pela emoção.
— Então eu estou certo e seguro quando eu peço e se for
preciso eu imploro, senhorita Olímpia Martins aceita ser a minha
esposa?
— Eu aceito chefe — ela grita me fazendo sorrir ainda mais.

Na manhã seguinte entrei na internet e consegui o contato de


uma atenciosa vendedora da Tiffany a marca famosa por suas
alianças de noivado, por meio de muitas fotos e filmagens consegui
escolher a aliança perfeita que agora está em posse da minha
Noiva.
— Também gosto dela — Oli fala, seu olhar encarando a
aliança assim como eu — na verdade eu a amo sou perfeita, ainda
não acredito que ganhei uma Tiffany, vou guardar a caixinha azul
para sempre.
— Sabia que você ia gostar, ainda mais por ser uma coleção
inspirada nas princesas.
— Você me conhece tão bem, assim como eu te conheço —
fala e eu me inclino dando um beijo rápido em seus lábios — a
Ártemis vai pirar quando eu contar tudo a ela, acha que eles vão
gostar da surpresa?
Decidimos não contar aos nossos irmãos que estamos
voltando e assim surpreendê-los, tudo ideia da minha noiva que me
convenceu a seguir a ideia maluca segundo ela seria divertido. Ela
vai passar o restante da semana no apartamento com a irmã e eu
com o Thiago. Olímpia me pediu para irmos com calma nessa
história de morarmos juntos, pois ela tem medo de como isso vai
afetar a vida da Irmã, já que ela sempre cuidou da caçula, eu já
deixei claro que estou de portas abertas para receber a Ártemis,
meu apartamento é enorme e tem vários quartos a mais, porém Oli
disse que primeiro precisa conversar e se resolver com a irmã.
— Eu acho que seremos nós os surpreendidos — comento de
maneira enigmática e Olímpia me olha com atenção.
Quando ela ia falar a aeromoça passa nos oferecendo algo
para beber, enquanto pego uma água a Olímpia escolhe um
refrigerante, bebemos em silêncio por alguns minutos, ela mesmo
com medo vez ou outra encarava a janela que está do meu lado,
mas eu sabia que minha linda e curiosa noiva não iria deixar o
assunto morrer.
— O que você quis dizer com: nós seremos surpreendidos?
— Acho que nossos irmãos estão envolvidos. Certo dia liguei
para o Thiago, ele disse que estava no banho e me ligaria depois,
mas antes de desligar escutei a voz da Árte no cômodo.
— Por que não disse nada? Por que ela não disse nada?
— Eu não falei porque não tinha certeza, mas estou com um
forte pressentimento.
— Aí meu Deus, será que eles estão vivendo um clichê da
santinha e do bad boy? — ela fala me quase me fazendo cuspir
toda água que estava tomando quando a vontade de gargalhar
nasce.
— Você está lendo muito romance.
— O que eu posso fazer? Estou vivendo meu próprio clichê e
quero o mesmo para minha irmã.
— E qual seria seu clichê, senhorita Olímpia?
— A secretaria é o CEO: lindo, moreno, fechado e com
passado traumático.
— Então quer dizer que a senhorita só estava me usando para
viver uma história como a dos seus romances? — brinco e belisco
com delicadeza a carne de seu abdome a fazendo rir.
— Mas é claro, sou uma garota esperta e não perderia a
oportunidade — ela se inclina e é sua vez de buscar os meus lábios
e depositar um beijo sobre eles. — Eu estou feliz Miguel, nem em
mil anos poderia imaginar tudo que nos aconteceu e que voltaria
para casa sua noiva. Eu te amo.
— Também amo você Olímpia— ela escora a cabeça no meu
ombro voltando a entrelaçar nossos dedos e cada vez mais tenho
certeza que estejamos onde estiver ela é o meu lar, minha âncora e
o amor da minha vida.
EPÍLOGO

Miguel e eu levamos o termo casamento intimista a um novo


nível, presente na pequena capela apenas nossos irmãos, Melina o
marido dela Dalton e Ricardo que é o melhor amigo do Miguel. Já
se passaram três anos desde o início da pandemia e mesmo que as
coisas no mundo estejam voltando ao normal depois de duas doses
da vacina anti covid, o vírus ainda não foi erradicado e preferimos
não nos arriscar fazendo uma grande festa de casamento, sem
contar que as pessoas que realmente nos importam estão aqui.
Minha vida está em um estágio onde tudo é perfeito até
mesmo os problemas não tem o poder de tirar minha felicidade. No
mês passado lancei de forma física o meu primeiro romance, “A
princesa perdida” está desde então na lista dos mais vendidos e
estou verdadeiramente orgulhosa de estar conseguindo entrar com
pé direito no mundo da escrita, ainda sou a secretária do Miguel,
ele continua um chefe insuportável e exigente só que nossas
pausas para o almoço passaram a ser mais interessantes. Para
completar nossa felicidade, em breve nossa princesinha vai estar
conosco para deixar nossa família completa.
Cada passo que dou em direção a ele eu me sinto vivendo um
sonho, Miguel está vestido com um smoking azul marinho que o
deixa ainda mais perfeito do que já é, ele me encara com os olhos
rasos d'água e sei que sente a mesma emoção que eu. Segurando
com firmeza meu buquê cheio de flores em tom de rosa e branco
me policio para andar devagar e não sair correndo até ele. Hoje
estou realizando meu sonho de ser uma princesa, e estilista acertou
com perfeição o que eu queria e o meu vestido foi realmente
inspirado na cinderela com um decote ombro a ombro, corpete
ajustado no corpo me deixando com a silhueta perfeita e
terminando em uma saia ampla, rodada e com uma pequena calda,
— Você está perfeita meu amor — é a primeira coisa que meu
futuro marido fala quando parou diante dele, Miguel segura em
meus ombros e dá um beijo em minha testa.
Me virou e entrego o buque para que Ártemis segure e então
entrelaço minha mão com a de Miguel e nós viramos para o padre,
o senhor baixinho e meio calvo nos encara de maneira simpática
antes de começar a cerimônia.

Perfeita não chega nem perto de descrever como ela está


hoje, para mim ela é a noiva mais linda que já vi. Por mim teríamos
casado na semana seguinte que chegamos de Orlando há três
anos, mas ela me fez colocar os pés no chão e enxergar que não
era o melhor momento para aquilo, mas ela aceitou que
morássemos juntos por todo esse tempo.
A vida ao lado dela e tudo que imaginei e muito mais, eu sou
apaixonado por cada momento que passamos juntos e mesmo as
dificuldades que enfrentamos só serviu para ficarmos cada vez
mais unidos. E depois de cassado vamos embarcar em mais uma
jornada nos tornar pais, a Oli e eu decidimos entrar na fila de
adoção e no último ano nos dedicamos a isso e agora estamos
cada vez mais perto de ter a guarda total da nossa pequena
Dardielly.
Conhecemos a pequena menina negra de olhos verdes há
alguns meses na nossa primeira visita ao orfanato, foi a Olímpia
que a viu primeiro e a pequena garota de quatro anos conquistou
seu coração com seu jeitinho meigo. Por causa da pandemia os
processos estão sendo mais lentos, a visita na nossa casa pela
assistência social só ocorreu a dois messes atras e a cada atraso
para termos a Dardy em casa vem nos deixando mais chateados,
porém levamos a menina para nossa casa todo fim de semana e os
laços de pai e filha que criamos tenho certeza são inquebráveis.
— Miguel Andrade Melo é de livre e espontânea vontade que
aceita Olímpia Martins como sua legítima esposa? — O padre
pergunta e abro um largo sorriso para Olímpia antes de responder;
— Sim — uma palavra simples, de apenas três letras, mas
que representa a grandiosidade do momento e do amor que sinto
por essa mulher.
— Olímpia Martins é de livre e espontânea vontade que aceita
Miguel Andrade de Melo como seu legítimo esposo?
— Mil vezes sim — responde feliz e meu coração entra em
júbilo.
— Sendo assim pode entrar as alianças.
Olímpia me olha franzindo o cenho e eu sorrio, até onde ela
sabe as alianças estão no meu bolso e até onde ela sabe também
não foi permitido que a nossa filha viesse a cerimônia, por isso
observo a surpresa em seu rosto quando as portas da igreja são
abertas e nossa pequena menina passa por ela.
Vestida com um vestidinho na cor azul qual minha cunhada
me ajudou a escolher e segurando uma cestinha nas mãos,
Dardielle vem em nossa direção sorrindo. Esquecendo tudo que
ensaiamos escondidos durante toda essa semana em que fui visitá-
la no orfanato, ela não anda devagar e sim corre em nossa direção
se jogando em meu colo quando me abaixo e quase deixando as
alianças caírem.
— Como você fez isso? Eu não esperava — Oli fala chorando
e meu amigo Ricardo rapidamente oferece um lenço a ela — Oi,
minha estrelinha não esperava ver você hoje.
— O papai Miguel disse que era uma supressa — a pequena
fala fazendo a Olímpia sorrir.
— E eu adorei a surpresa, ter você aqui é o meu maior
presente.
O padre dá continuidade à cerimônia e nossos votos durante a
troca de alianças deixa a todos emocionados, depois seguimos
para nossa casa onde um jantar foi servido; comemos, dançamos e
nos divertimos durante horas e a celebração do nosso amor não
poderia ser mais perfeita.
— Quando vamos ter que levar a minha estrelinha de volta?
— Olímpia vem se sentar ao meu lado com a nossa filha em seu
colo a pequena sem nenhum indício que está com sono mesmo já
se passando das nove da noite.
— Não temos — respondo, já empolgado para outra surpresa
que preparei para ela.
— Ela vai poder passar a noite? Ai que incrível...
— Ela não vai poder passar só a noite — a interrompo, me
levanto e vou até o escritório trazendo uma pasta nas mãos.
— O que é isso Miguel? — ela pergunta e nossos amigos vem
para perto, meu irmão nos encara com o sorriso aberto, pois ele já
sabe do que se trata.
— Há alguns dias a gente vem tentando que a guarda
provisória saísse mais rápido.
— Sim, é verdade, mas o juiz vai dar o parecer apenas na
semana que vem.
— Na verdade ele fez isso ontem.
— O que? — ela grita quase deixando a nossa menina cair no
chão, Olímpia toma a pasta de minhas mãos e começa a ler os
papéis. — Então quer dizer... quer dizer...
— Que ela pode ficar, a Dardielly nunca mais vai embora.
As pessoas que amamos começam a gritar ao nosso redor,
mas tudo que consigo prestar atenção é nas mulheres da minha
vida, abraço as duas com todo meu amor, as lágrimas de Olímpia
molhando minha camisa e sei que como eu ela chora pela mais
pura felicidade.
CONHEÇA OUTRAS HISTÓRIAS

PELA VITRINE

Todos os dias pela manhã César espera por um vislumbre da


mulher misteriosa que perturba seus pensamentos.
Todos os dias pela manhã Mari procura em meio as flores o homem
que povoa seus sonhos.
Sobra atração, mas falta coragem, de ambas as partes.
No dia dos namorados o destino vai dar um empurrãozinho nesses
dois corações solitários.
um conto curto, mas cheio de romance.
PASSOS PARA O FUTURO

Joana era uma talentosa bailarina com um futuro promissor, mas a


maldade de uma mulher tirou dela seus sonhos. A dor a mudou
transformou a garota alegre em uma pessoa totalmente diferente:
fechada, reclusa, desconfiada, vivendo em função do seu trauma e
das lembranças dolorosas que a atormentam.

Ela desistiu da dança e de si mesma.

Renan sempre teve tudo que o dinheiro poderia comprar, mas era
um menino fechado, tímido e introvertido, que se desviou e entrou
em um caminho que o levou a destruição e a uma perda dolorosa. A
dor o mudou fez com que o garoto tímido se abrisse para o mundo,
ele se tornou um cara brincalhão, extrovertido, esperançoso e feliz
que aprendeu a dar valor até nas mínimas coisas da vida.

Em um encontro o destino cruzou o caminho dessas duas pessoas


tão diferentes, mas com muito em comum.

A misteriosa bailarina não está aberta para o amor e Renan sabe


que vai ter que lutar como nunca para conquistar um coração que
está tão ferido como o dele já esteve um dia, mas ele sabe que por
ela vai valer a pena.
.

NOSSO RITMO

Que a vida é difícil, Teresa aprendeu desde cedo.


Abandonada pelos pais, ainda a infância foi acometida por uma
enfermidade que a deixou surda, ela sempre teve que lutar para
sobreviver.
Somente quando descobriu o amor pelo balé, Teresa voltou a ter
esperanças de um futuro mais feliz.
Sua família, sua dança e seu trabalho, são as únicas prioridades
para ela, amor não está os planos.
A vida é fácil para quem tem dinheiro, Liam sabe disso desde cedo.
Nascido em berço de ouro, sua única preocupação na vida foi se
preparar para assumir os negócios da família e casar com alguém
que seus pais aprovam, mas uma ousada bailarina cruza seu
caminho e muda todos os seus planos.

Dois mundos diferentes irão colidir!

Ela deve aprender a abrir o coração.


Ele deve aprender a lutar por algo que realmente quer.
Será que juntos Liam e Teresa vão superar as diferenças e
encontrar o ritmo do amor?

Venha descobrir no segundo livro da série Minha Querida Bailarina.


[1]
Musica Disfarça do grupo musical Sorriso Maroto

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