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Prólogo
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Quatorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Vinte e seis
Vinte e sete
Vinte e oito
Vinte e nove
Trinta
Trinta e um
Trinta e dois
Trinta e três
Epílogo
Bônus
Sobre a autora
Outras obras
Contato
Roma, Itália.
— Mel!
Olho para trás e sorrio ao ver Samara Schneider entrar no
bar onde estou, sozinha, sentada ao balcão, tomando uma cerveja
antes de ir para casa e encerrar o dia.
Saí da Boldani ainda me sentindo desanimada com o projeto,
e detesto me sentir assim com qualquer coisa. Sou naturalmente
animada, empolgada, a primeira pessoa a dizer que vai ficar tudo
bem em uma situação de merda, então ir para casa com esse
sentimento não era uma opção.
Sempre frequento este barzinho onde estou, na Vila
Madalena, no qual me sinto segura e confortável. O pessoal daqui é
ótimo, além de as comidinhas serem divinas. Geralmente venho
com Tânia, a arquiteta que trabalha comigo, mas, quando venho
sozinha, a menina que trabalha no bar conversa comigo sempre que
pode, e ela é um amor!
Não tinha ideia de que Samara vinha aqui também, apesar de
ultimamente o Hill estar se tornando um barzinho da moda e estar
cada vez mais cheio de jovens.
— Oi, Samara! — cumprimento-a e a convido a se sentar ao
meu lado. — Que coincidência maravilhosa! Está sozinha?
— Pois é, adorei te encontrar também! Estou esperando uma
amiga, a Kyra Karamanlis, conhece?
Assinto.
— Moramos no mesmo prédio. — Rio ao pensar em como o
mundo é pequeno.
Lara, a bartender que sempre me faz companhia, oferece a
carta de drinques a Samara, e, enquanto as duas decidem, confiro
meu celular para saber se alguém entrou em contato e vejo uma
mensagem de Isabella.
Nervoso!
É assim que me sinto dentro do carro, enquanto Douglas nos
leva até o endereço de Melissa Boldani, que descobri horas antes
de encontrá-la no escritório de arquitetura. E qual não foi minha
surpresa ao perceber que estamos no mesmo bairro, só que cada
um de um lado do Parque do Ibirapuera.
Fiquei mais tempo do que o de costume me arrumando para
o jantar desta noite, indeciso sobre o que vestir. O restaurante foi
altamente recomendado por Nuno, e, quando fiz a reserva –
pagando uma taxa extra pela urgência –, pude conferir nas redes
sociais deles qual era o estilo que eu deveria seguir.
Sou um homem vaidoso, admito, embora simples. Mantenho
um horário reservado na minha agenda, toda semana, para cuidar
dos cabelos, da barba e das unhas. Nada que tome muito do meu
tempo já escasso, mas gosto da sensação de estar alinhado. Aqui,
em São Paulo, ainda não tive oportunidade de pesquisar sobre
barbearias e acabei indo a uma que o gerente da TGS daqui me
indicou.
Gostei do serviço, mas acho que sou um pouco tradicional
demais e não apreciei a atmosfera jovial, com mesas de sinuca e
outros jogos, além de muitos videogames. Adorei poder tomar uma
cerveja e ter opção de comer algo rápido por lá mesmo, porém, o
barulho não me deixou relaxar.
O importante é que consegui aparar cabelo e barba para me
sentir mais apresentável em um encontro – agora marcado – com
Melissa Boldani.
— Chegamos, doutor — Douglas anuncia enquanto estaciona
perto da calçada do prédio.
Ele sai do carro, e permaneço sentado no banco de trás,
ainda tentando controlar meu corpo, que insiste em ficar excitado
com a mera ideia de dividir o pequeno espaço do veículo com
Melissa.
Rio ao pensar que nunca senti nada parecido. Se alguma vez
algo chegou perto, foi quando eu era um garoto prestes a ter minha
primeira interação com uma menina. Respiro fundo e fecho os
olhos, lembrando-me bem da doce e animada Hellen.
Estávamos na escola ainda, eu devia ter de 12 para 13 anos,
e ela era um pouco mais velha. Era bolsista e, assim como eu, filha
reconhecida de algum endinheirado que bancava seus estudos,
porém, nada além disso. Por esse motivo, Hellen era tão deslocada
quanto eu. Era boa aluna, comportada, gentil, mas não usava grifes
nem passava férias no Caribe – algo que estava na modinha na
época –, e assim vivia sendo deixada de lado pelas outras garotas.
Para piorar a situação, Hellen usava aparelhos – um fixo e
um externo para arrumar o queixo – e óculos. Acho que fiquei
encantado por ela durante uma aula de biologia que cursamos
juntos e tivemos de dissecar uma rã. Enquanto todas as garotas
pareciam que iam vomitar ou ficavam dando gritinhos a cada corte,
ela foi precisa e levou a sério o que fazia.
Só a admirei, de boca aberta por aquela garota de olhos
espertos e sorriso fácil ser tão durona. A partir daí, nós nos
tornamos amigos e, mais tarde, tivemos nossas experiências juntos.
Não chegamos a fazer sexo, éramos muito novos, mas imagine todo
tipo de amassos que um adolescente pode dar!
Infelizmente, o mundo não era um lugar fácil para ela. Eu
lidava com minha frustração com os punhos muitas vezes, agredia
quem me machucava com palavras, impondo-me; ela apenas se
encolhia e absorvia. Não houve para Hellen o desabrochar de
menina em mulher, nem se aceitando como era nem mudando seu
visual. Simplesmente, todos os anos de porrada psicológica a
deixaram no chão, e, em uma de nossas férias de verão, ela se
dopou com pílulas para dormir e nunca mais acordou.
Foi um choque cursar o último ano sem ela, não ouvir sua
risada, não secar suas lágrimas. Passei um bom tempo com a
sensação de que poderia ter feito mais, e isso me afetou tanto que
meu pai me encaminhou para a terapia.
Olho pela janela do carro a fim de desviar os pensamentos
sombrios sobre essa fase da minha vida e vejo Melissa sair do
prédio, linda em um vestido elegante e comportado que só me faz
pensar em deslizar as mãos por baixo da saia e...
— Boa noite! — ela cumprimenta Douglas com um sorriso.
Ele abra a porta traseira para ela, e a recebo com um enorme
sorriso enquanto desfruto do delicioso perfume que sempre usa.
— You are wonderful...
— Estamos no meu país, fale em minha língua. — Melissa
me interrompe, e meu corpo estremece com sua voz mais
autoritária.
Porra, que tesão!
— Uau! — Rio, desfrutando demais da sensação que estar
perto dela me causa. — Adoro sua língua, pode acreditar! — Ela
ergue a sobrancelha, mas vejo seus lábios tremerem como se
quisesse rir, então gargalho. — Quando em inglês eu iria conseguir
um...? — Não consigo me lembrar da palavra e não quero falar em
inglês de novo.
— Trocadilho? Duplo sentido?
— Isso! — Ah, o português e suas palavras melodiosas! —
Trocadilho! Como conseguiria algo tão perfeito e verdadeiro?!
Noto como a pele dela se eriça pouco antes de Douglas dar a
partida no carro. Melissa está sentada longe de mim, tem as costas
retas e, para meu infortúnio, parece tensa.
— Você está linda, Melissa. Ainda mais bela do que eu me
lembrava. — Suavizo minha voz para que ela se sinta mais à
vontade e me viro para pegar algo que coloquei no cooler. Ela
arregala os olhos quando vê o champanhe. Tiro a tampa a vácuo,
pois estourei a rolha antes de trazer a garrafa, e lhe sirvo uma taça.
— E ainda acho que vocês combinam perfeitamente! — Pisco e
aponto para o rótulo, mostrando que é o mesmo que ela tomou
naquela noite.
Melissa sorri e toma um gole da bebida, fazendo aquele
mesmo gemido que me desmontou naquela boate.
— Aonde estamos indo? — pergunta, séria, ainda esfregando
os lábios molhados pela bebida.
Demoro para responder, porque simplesmente não consigo
coordenar meus pensamentos. Tudo em que penso é provar sua
boca novamente, virar essa taça e verter o líquido sobre seu corpo,
onde eu possa capturar com minha língua gota por gota.
— Tenho reserva em um restaurante chamado Millenium,
mas, se você quiser...
— O Millenium é ótimo para mim! — Melissa me interrompe,
ciente de que eu faria uma proposta que nós dois estamos querendo
muito aceitar.
Assinto e me arrumo no assento, ficando mais de frente para
ela. Nossos olhares se encontram, e ficamos por muito tempo
apenas nos encarando, sem trocar sequer uma palavra.
Nem é preciso, na verdade, pois nossos corpos parecem se
comunicar muito melhor. A respiração dela está acelerada, vejo seu
peito subir e descer sob o vestido, que, por ter um tecido fino, talvez
seda, não disfarça o delicioso intumescimento de seus mamilos.
— Eu dizia para mim mesmo que não podia ser real... —
penso em voz alta, e ela pisca, parecendo sair do encanto em que
estava.
— Ao notar que eu era a mulher daquela noite?
— Não! — Rio do pensamento absurdo, porque ela é mais do
que minha expectativa criou. — Quando reconheci sua assinatura
nas plantas... — Melissa parece surpresa. — E o melhor de tudo foi
saber que você me deixou clues[12], ainda que inconscientes.
Peguei o bilhete, e a primeira coisa que pensei foi... perfect traits of
a designer[13].
Ela sorri diante do elogio e balança a cabeça negando.
— Quase rasguei a nota quando vi que a tinha rubricado —
confessa, um tanto encabulada. — Eu queria saber mais de você.
Entretanto, fui eu quem fez as regras e por isso devia segui-las, mas
acabei deixando, pensando que um simples M não iria me
denunciar.
— Your rules were made to be broken![14] — sussurro em
inglês mesmo, pois não sei como dizer isso em português, e me
aproximo. — Foi uma noite inesquecível, Melissa. Por muito tempo,
eu não tinha nada parecido. — Pela sua expressão, ela duvida do
que digo. — É verdad! — Rio. — Eu olhei aquela nota e a achei
tão... pouco. Eu queria mais! Queria saber de você, queria te
encontrar de novo, sem máscaras, e saber se tudo aquilo tinha sido
real.
— Eu não...
Ponho o dedo sobre seus lábios, como ela mesma fez
comigo uma vez.
— Eu te procurei por meses, e, se não fosse a loja de São
Paulo, talvez nós nunca nos encontraríamos.
Melissa suspira, e sinto-a estremecer ao meu lado. Acaricio
seu braço desnudo, gostando da sensação de vê-la arrepiar-se, e
quase não me contenho quando fecha os olhos. A energia entre nós
é muito forte, esta ligação, a atração, o desejo. Praticamente me
esqueço de que estamos em um carro com motorista e de que,
embora esteja com o rádio ligado, Douglas pode nos ouvir.
— Como me achou? — ela pergunta baixinho, ainda de olhos
fechados.
— Subornei o pessoal da boate. — Melissa abre os olhos e
me fita assustada. — Pesquisei cada nome daquela lista junto a um
amigo que faz esse tipo de trabalho para a TGS. — Dou de ombros,
rindo, e a vejo tomar um longo gole de champanhe. — Chegamos a
Pietra Boldani...
— O cartão de sócio era dela — Melissa explica, e eu
assinto. — É minha prima.
— Eu sei. Eu me senti um maldito stalker[15], mas não
conseguia imaginar não te ver de novo. Então, quando soube que
Julio Boldani estava projetando para a TGS...
— Decidiu vir ao Brasil para ver se eu era real.
Respiro fundo bem perto de seu pescoço e me afasto.
— Você é, Melissa, muito melhor do que qualquer sonho!
Não a olho mais, pois deixo que ela absorva tudo o que lhe
contei e julgue conforme achar certo. Nunca fui atrás de uma mulher
da maneira como fui dela, como também não senti toda essa
sinergia com mais ninguém.
— Adam, eu...
O carro para, e ela interrompe o que ia dizer quando Douglas
salta do carro para abrir a porta. Pego sua taça vazia e a coloco de
volta no compartimento, e, em seguida, o motorista abre sua porta.
Ele a ajuda a descer e, em seguida, me junto a ela, estendendo
minha mão.
— Melissa...
Ela me olha com certo receio, mas, quando aceita meu toque,
sinto como se uma descarga elétrica nos atingisse e a vejo respirar
fundo para se controlar. Seguimos para a entrada do restaurante,
onde somos atendidos prontamente e encaminhados até a mesa
reservada.
O ambiente é luxuoso e tão familiar que parece que estou em
qualquer lugar do mundo.
— Champanhe? — pergunto sorrindo, e ela nega.
— Vinho branco, por favor.
— O de sempre, senhorita Boldani? — o sommelier
questiona, e ela assente.
— Costuma vir muito aqui? — inquiro curioso, pois minha
intenção era impressioná-la.
— Sim, é meu restaurante favorito. Não sabia?
Tenho vontade de rir, mas me controlo, afinal, ela acaba de
me pegar em um ato falho que conclui que não fiz bem minha
pesquisa.
— Não, mas fico feliz em saber que acertei.
— Sim, acertou. — Ela sorri, e me sinto derreter,
completamente hipnotizado. — Adam, também tentei te encontrar.
Quase perco o fôlego ao ouvi-la confessar isso, mas o
garçom me impede de falar qualquer coisa, servindo nossas bebidas
e pronto a anotar os pedidos. Somente quando ele se afasta, tento
falar, mas Melissa continua:
— Eu falei com o pessoal do clube, mas, diferentemente do
que aconteceu contigo, se recusaram a dar informações. — Ela dá
de ombros como se não se importasse, mas noto seu rosto corado.
— Tentei achar você pela aparência. — Ri de si mesma. — Passei
horas olhando fotos na internet.
— Porra, Melissa! — É a primeira vez que xingo em
português, e confesso que alivia bem a pressão que sinto. Ela
também queria saber quem eu era! — Não sou sócio, tinha um
convite especial. Ia lá com meus irmãos, mas nunca frequentei o
hotel, apenas sabia como funcionava. Estava tão perdido como
você.
— Mesmo? — Ela tem a testa franzida e se concentra na
minha mão e no modo como mexo meu drinque. — Eu te achei
tão... experiente naquela noite.
Gargalho.
— Eu não queria perder você! Tentava me lembrar de tudo
que meu irmão me falou sobre aquele lugar e deu certo. — Pisco. —
Quando descobri que a mulher que eu procurava há meses estava
prestando serviço para a empresa aqui no Brasil, me senti ao
mesmo tempo privilegiado e sacaneado pelo destino.
— Por quê? — Ela ri.
— Porque, se meu irmão tivesse feito o trabalho que lhe
deram direito, eu provavelmente não teria a chance de encontrá-la
como a encontrei. Eu já sabia que você era Melissa Boldani,
arquiteta brasileira, mas ainda não tinha pensado em uma forma de
me aproximar e não queria te assustar.
Melissa gargalha.
— E quem te assustou fui eu, não é? — Ela tampa o rosto
com a mão. — Quando penso no papelão que fiz ao entrar na sua
sala daquela forma...
— Nunca senti tanto tesão na minha vida! — Melissa arregala
os olhos. — Foi como se tivesse sido transportado no tempo e te
visse novamente naquele clube, olhando curiosa, um tanto
assustada com tudo o que via. Naquela época, te desejei tanto que
acho que essa vontade te levou até mim ao invés de te levar para
fora correndo. — Ela concorda sorrindo. — E, naquele dia, quando
você jogou os prêmios na minha mesa e falou sobre sua
competência, sobre sua experiência, tudo o que eu queria era
mandar tudo para o chão, te deitar sobre o tampo e te fazer gemer
tanto quanto você gemeu em Nova Iorque.
Ela respira tão fundo que chega a tremer inteira quando solta
o ar. Melissa balança a cabeça, molha os lábios como se sua boca
estivesse seca e fecha os olhos.
— Adam, eu não sei como...
— Não precisa, só deixa acontecer — aconselho-a, e ela
relaxa. — Vamos comer, falar e depois vemos.
Nosso jantar é servido, e a conversa gira em torno dos
projetos que ela apresentou. Conto um pouco sobre meu irmão e
que ele não tinha experiência nenhuma ao lidar com a parte
burocrática da abertura de uma loja.
— Por que o mandaram, então? — ela questiona.
— Não sei. — Sou sincero.
Falo um pouco mais sobre minha família, de maneira
genérica, confesso, coisas que ela pode facilmente encontrar no
Google.
— Eu tenho uma irmã e sobrinhos também, gêmeos, um
casal. — Ela parece amar demais sua família. — Meu pai e minha
mãe são divorciados, mas estão bem e são amigos.
— Isso é bom! — Não entro em detalhes, mas me sinto
obrigado a falar um pouco do meu pai. — Eu nasci no México,
embora seja americano por ter pai americano. — Ela assente. —
Minha mãe já é falecida, e meu pai segue firme como uma rocha.
Ela ri e comenta algo sobre Julio Boldani também, dizendo
que crê que ele irá enterrar a todos de tão saudável que é.
Terminamos a refeição falando de negócios, e, somente quando o
café é servido, volto ao nosso assunto.
— Eu notei, Melissa, que, apesar do que aconteceu entre nós
em Nova Iorque, você é uma mulher mais...
— Entediante? — Sorrio com a brincadeira, mas nego. —
Séria? Reservada?
— Isso! — Rio. — Adoro que você sempre venha em meu
auxílio quando não me lembro de uma palavra. Geralmente fico
vários minutos pensando e tenho que pedir ajuda para alguém se
pronunciar.
— Talvez eles achem que você não queira ajuda ou fiquem
constrangidos, sem saber se você aprovará ou não essa ajuda.
— Pode ser. — Pego sua mão sobre a mesa. — Sou um
homem objetivo, gosto de ser assim, e ficar sem palavras é
frustrante! Meu professor de português se esforçou muito para me
ensinar a falar e escrever, e tenho um amigo que treina comigo
sempre, então me sinto decepcionado quando não consigo
completar a frase. Por isso, obrigado! — Sorrio, gostando do contato
entre nós e da sinceridade de suas palavras. — E, por ser um
homem objetivo, preciso dizer uma coisa.
— Diga.
— Eu adoraria repetir aquela noite. — Minha pele inteira se
arrepia só de pensar nisso, e a intensidade do que ela me faz sentir
me abala, fazendo com que eu recue: — Mas não sei se é uma boa
ideia.
Ela parece tão surpresa quanto eu, e tento manter a calma,
achar as palavras e ser sincero. Melissa é uma mulher incrível, e,
durante o pouco tempo em que estamos conversando, percebi que
não leva a vida sem medir as consequências do que faz. Ela é
independente, segura, linda, mesmo assim me faz sentir uma
vulnerabilidade que me encanta e apavora ao mesmo tempo.
— Por que não é?
Certo, ela perguntou, então tenho que me virar para explicar.
— Não sei quanto tempo vou ficar em São Paulo, mas não
será muito. — Ela balança a cabeça. — Já rodei o mundo todo,
morei em vários países. Ano passado, se somar todos os períodos
que passei em casa, não dá nem três meses.
Ela ri.
— O que está me dizendo é que, se nos envolvermos, será
algo passageiro e sem grandes dramas? — Franzo a testa e
concordo. — Perfeito!
O surpreendido agora fui eu! Perfeito?!
— Eu realmente quero mais daquela noite — reforço.
Ela fica séria, encara-me e diz:
— Eu também!
Abro a boca para perguntar se podemos começar esta noite a
termos mais um do outro, porém, seu telefone toca.
— Me desculpe, é minha irmã. — Melissa tenciona se
levantar, mas a impeço.
— Atende aqui, já vou pedir a conta.
Aceno para um garçom enquanto ela faz a chamada e escuto
fragmentos da conversa. Melissa parece escutar o que sua irmã lhe
diz e, de repente, como se estivesse distraída, balança a cabeça e
dispara:
— Sim, tudo certo! Amanhã, às 23h, na Spice. Pode
confirmar minha presença. Já falaram com ela?
Seu semblante muda por uma fração de segundos, mas
consigo perceber. Ela parecia empolgada, mas algo que a pessoa
disse do outro lado da linha parece tê-la afetado.
— Ok. Combinado. — Ela desliga o telefone. — Já pagou? —
Faço que sim com a cabeça, e ela me olha séria. — Podíamos ter
dividido.
Rio.
— Eu convidei. Quando me convidar, você paga!
Melissa concorda, e saímos juntos do restaurante, mas ainda
a sinto estranha, então resolvo perguntar se está tudo bem.
— Tudo. Minha amiga fará aniversário amanhã, e nós
programamos uma festa surpresa — explica-me. — Vai ter muita
gente lá, mas não sei se ela está bem para isso. — Suspira. —
Coisas da vida!
Não comento mais nada, entendendo que ela não quer dar
detalhes e respeitando sua decisão. Entramos no carro, e sinto um
clima mais pesado entre nós, estranho, diferente da fluidez que
rolou quando nos vimos na boate.
Ainda não sei como agir com Melissa Boldani. Vim decidido a
propor mais um encontro casual. Contudo, depois de uma breve
pesquisa sobre sua vida e a conversa que tivemos no restaurante,
não sei se devo envolver-me com ela.
Sinto vontade de rir de mim mesmo tamanha minha
hipocrisia. Meu medo não é só por ela!, concluo. Estou com receio
de me envolver com ela! A noite que passamos juntos foi incrível e
fez com que eu a procurasse por cerca de um ano. Melissa habitou
todas as minhas fantasias, e, sinceramente, reencontrá-la superou
todas as expectativas que eu tinha.
Não sei quanto tempo ficarei aqui no Brasil, mas o certo é
que, em algum momento, terei que partir. Esta é minha vida, há
anos não paro em local algum por muito tempo, e isso impede que
qualquer coisa além de um caso temporário se desenvolva.
Fito-a e, no segundo em que nossos olhares se encontram,
sinto toda a energia sexual vibrando entre nós. Ela sorri, e eu me
perco, lançando todas as minhas preocupações para o inferno
quando a puxo para um beijo. Nossos lábios se encontram
saudosos, reconhecendo-se, molhando uns aos outros. Minha
língua passeia pela sua boca antes de invadir seu interior
procurando a dela.
Seguro seus cabelos fortemente com uma das mãos e, com a
outra, a guio até meu colo, encaixando-a contra meu corpo,
fazendo-a sentir minha ereção contida pela calça do terno.
Melissa rebola sobre meu membro, roçando-se em minha
carne latejante, de pernas abertas e completamente enlouquecida
de tesão. Afasto-me um pouco e gemo gostoso em sua boca, o que
a faz sorrir do jeito safado que me enlouquece e quase me faz
esquecer onde estamos. Seguro-a pelos quadris, impedindo que
continue se espremendo contra mim.
— Melissa... — gemo, lamentoso em interromper este
momento. — Nós não estamos sozinhos... infelizmente.
Ela congela e arregala os olhos. Gargalho diante do espanto
e por ela ter ficado completamente sem jeito, a ponto de esconder
seu rosto na curva do meu pescoço. Se não estivesse escuro dentro
do carro, tenho certeza de que a veria corada.
— Vem para o hotel comigo esta noite — peço, ou melhor,
imploro. Melissa tenta sair do meu colo, mas a impeço, e novamente
vem o pedido, só que em tom de ordem: — Vem comigo!
— Você disse que não era aconselhável a gente...
Bufo, querendo me socar.
— Advice when most needed is least heeded[16]. — Ela
assente, e eu sorrio. — Não sei se é um bom ditado para a
situação... — Beijo-a. — Você vem? Eu quero você sem máscaras...
— Sem regras?
Rio e nego.
— Não. — Melissa ergue a sobrancelha, esperando que eu
explique. — Apenas uma! — Respiro fundo e encosto meus lábios
em seu ouvido para dizer: — Serei seu sempre que quiser... pelo
tempo que estiver em São Paulo.
Ela parece refletir sobre minha proposta, mas sua pele
arrepiada demonstra o que seu corpo já me respondeu.
Quando o carro entra na garagem do hotel onde Adam está
hospedado, sinto um frio na barriga de antecipação pelo que virá.
Novamente ele abre minha porta e estende sua mão, entrelaçando-
a na minha, ajudando-me a sair do veículo.
Esperamos o elevador sem trocar uma só palavra, apenas de
mãos dadas, e, quando ele chega, entramos, mas infelizmente não
estamos sozinhos.
Adam cumprimenta dois hóspedes que sobem conosco e em
seguida põe sua mão em minha cintura, abraçando-me. Olho-o, e
ele me dá uma piscadinha, descendo a mão pelas minhas costas e
acariciando minha bunda por sobre o tecido do vestido.
Deus do Céu!, penso, sentindo o corpo estremecer da cabeça
aos pés. Tudo aconteceu muito rápido, mas, ao mesmo tempo, sinto
que estou esperando-o há uma eternidade.
Passei o resto do dia ansiosa, olhando para o relógio a todo
momento, esperando dar o horário para ir para casa e me aprontar
para o jantar desta noite. Trabalhei o resto do dia tensa, sem saber
o que ele gostaria de conversar comigo. Será que pediria para eu
esquecer? Será que queria relembrar? Eu simplesmente não sabia!
O que conheço sobre Adam Stone?! Pesquisei seu nome na
internet, mas fiquei concentrada nas fotos dele e não li nada sobre
sua vida pessoal.
Tenho fantasiado com esse homem há um ano! Se eu
soubesse seu nome, teria batizado meu vibrador com ele, de tanto
que o utilizei com sua imagem em minha mente, com seus beijos,
seu toque. Então, se houver a mínima oportunidade de ficarmos
juntos novamente, mesmo que apenas por mais uma noite, com
certeza irei aceitar. Seria louca se não o fizesse!
Na hora do almoço, eu me reuni com duas clientes, donas de
uma loja que está virando franquia e cujos projetos a serem
seguidos pelos franqueados eu planejei. Depois, meu pai me
chamou para conversar e me mostrou alguns desenhos que havia
feito para a reforma da casa que comprou no litoral da Bahia. Ando
desconfiada de que ele queira se aposentar e viver em eterna lua de
mel com dona Hilda, mas ainda é difícil para mim imaginá-lo
sentado à toa na beira de uma praia, pois sempre foi muito ativo.
Consegui, enfim, parar de pensar um pouco no jantar dessa
noite e me concentrar no trabalho e, por isso mesmo, nem vi a hora
passar. Só então me dei conta de que estávamos no final do dia,
quando Tânia me lembrou de ligar para Isabella.
— Oi, Mel! — ela me atendeu animada. — Tentei falar contigo
mais cedo, depois acabei entrando em uma audiência complicada.
Tudo bem?
Minha irmã, Isabella Villazza, é advogada – uma das bem
famosas, por sinal – e, mesmo tendo se casado com Frank, um rico
empresário do ramo hoteleiro, continuou com seu escritório e seus
clientes independentemente disso. Um traço da nossa família,
talvez!
— Tudo bem, Isa. Eu também estive ocupada aqui, por isso
não retornei antes. O que houve?
— Ah, Mel... — Ela pareceu triste. — É aniversário da
Giovanna nesse sábado, e ela anda tão desanimada por causa do
seu término com o Nick que pensei em fazer alguma coisa para
animá-la.
— Ela não tem um compromisso com aquele festival da
CCCN[17]?
— É no outro sábado! — esclareceu. — Eu acho que, se ela
não estivesse tão envolvida com esse evento, estaria bem pior.
Tive que concordar com Isabella. Giovanna é uma mulher
forte, mas penso que teria desmoronado se não fossem essas aulas
que tem dado na Casa de Cultura. Ela ama música, e estar
envolvida em um projeto social com crianças a tem ajudado a
superar o que aconteceu entre ela e Nick.
— O que você planejou?
Isabella riu.
— Todos estamos pensando em ir para São Paulo ficar com
ela. Tony e Marina sugeriram arrastarmos a Gio para uma boate, e
Frank concordou, mas acho que poderia ser uma coisa mais
tranquila, pois não sei se ela está no clima...
— Acho ótima a ideia da boate! Ela precisa mesmo
extravasar um pouco, deixar essa melancolia de lado — concordei
num impulso, pensando que eu ficaria mais à vontade em um
ambiente festivo do que em um mais intimista, caso estivesse triste.
— Sim, mas como vamos fazer isso?
Ri, pensando em qual desculpa teria de inventar para tirar
Giovanna daquele loft e levá-la para uma noitada. Pensei que talvez
Lori e Tom, sócios da moça numa agência de publicidade,
pudessem ajudar, afinal, eles estão realmente muito preocupados
com a amiga.
— Vou conversar com os amigos dela da Ello e ver se eles
me dão uma mãozinha com isso.
— Ai, Mel, obrigada! — Isabella pareceu animada. — É tão
ruim ficar aqui em Curitiba, longe dela. Ainda bem que ela tem você
aí, em São Paulo. Acho que por isso Frank está tão ansioso com a
mudança para aí, sabe? Ele anda muito preocupado com a Gio.
Sim, merda, vocês vão se mudar para cá!, pensei, sentindo
desânimo e culpa. É horrível querer que eles continuem longe, mas,
como diz aquele ditado: o que os olhos não veem, o coração não
sente! Tenho conseguido abafar, esconder o que ainda sinto pelo
Frank, mas não sei como será depois que ele se mudar para cá e
nosso convívio aumentar.
— Torço para que eles se acertem, Isa — declarei com
sinceridade, embora evitando me pronunciar sobre a mudança deles
para cá. — Eu sei que o Nick também está sofrendo muito.
— Ele não me deixou nem pronunciar o nome dela no dia em
que o procurei para conversar. Queria muito ajudá-los, afinal, Nick
me deu muito apoio quando Frank e eu terminamos.
Fechei os olhos e tentei não emitir som nenhum, mas
sentindo meu peito doer. O término ao qual ela se referiu foi
provocado inconscientemente por mim, mas, depois que tudo se
esclareceu, participei, junto a Nick, da reconciliação dos dois.
— Sim... Isa, preciso desligar agora, pois tenho um jantar de
negócios...
— Tudo bem! Sinto saudades de você, Mel!
Ai, merda! Também tenho saudades dela e dos meus
sobrinhos!
— Eu ando ocupada por aqui, mas vamos nos ver no sábado!
— Ela concordou. — Mande um beijo para os meus sobrinhos.
Despedimo-nos, e desliguei, sacudindo a cabeça. Tudo o que
queria, do fundo do coração, era, um dia, conseguir ser parte da
vida deles como deve ser, sem sentir nada pelo meu cunhado, sem
precisar me manter distante para não sofrer.
Tânia bateu à minha porta perto das 18h, avisando que todos
os funcionários já estavam indo embora e estranhou muito quando
desliguei o computador e anunciei que também estava de partida.
— Tenho compromisso — justifiquei, e ela sorriu, maliciosa.
— Uau! Isso aí, Mel! Aproveite sua vida! — Saímos juntas em
direção ao jardim, porém, antes de chegarmos ao meu carro, ela me
confidenciou: — O comentário do escritório hoje foi sobre o
americano da TGS. — Ela se abana. — Uau, que homem!
Fiquei sem graça, mas tentei não demonstrar, pois, se Tânia
soubesse que meu encontro era com Adam Stone, certamente não
tocaria no assunto assim, teria simplesmente perguntado.
— É bonitão mesmo! — Dei de ombros como se não fosse
grandes coisas.
— Um verdadeiro homão da porra, Mel! — Não aguentei e ri
da expressão que usou para se referir ao Adam, concordando em
gênero, número e grau!
— Nossa, ele impressionou mesmo! — disse rindo.
— Tanto que até tentamos investigar sua vida! — Piscou. —
As meninas da recepção e eu achamos algumas reportagens sobre
ele, a maioria em sites americanos. — Ergui a sobrancelha ao
perceber que elas eram muito mais espertas nessas pesquisas do
que eu. — O homem, apesar de quente daquele jeito, é muito sério.
Não tem muita coisa sobre ele, não, nenhum escândalo apimentado,
infelizmente! Mas também, com aquele mulherão com quem se
casou! — Tânia não percebeu minha expressão de assombro e
continuou: — Ela é linda, de família chique e ainda parece ser bem-
sucedida...
— Eu não sabia que ele era casado...
Tânia rola os olhos.
— Bem, segundo um outro site... — ela se aproximou para
cochichar — os dois estão separados e tratando do divórcio.
Puta que pariu! Essa informação me surpreendeu, e fiquei
imaginando se ele já estava separado dela na época em que nos
conhecemos em Nova Iorque ou se aquele dia e outros mais foram
o motivo por trás do divórcio. Se Adam costumava frequentar locais
como aquele, não me espantava seu casamento não ter durado!
A ansiedade pela noite se transformou em pura decepção e
frustração. Fiquei debatendo comigo mesma, durante todo o trajeto
até meu apartamento, sobre comparecer ou não ao encontro. Decidi
ir para poder conversar com ele, não só sobre a noite que tivemos
um ano atrás, como sobre o que ele pretendia agora.
Estava em dúvida sobre ter mais uma noite com ele por conta
da nossa ligação profissional. Contudo, sentia-me extremamente
tentada. Saber que podia existir uma mulher, um compromisso,
deixou-me mais propensa a rejeitar qualquer aproximação física
entre nós.
Uma pena!
Tomei meu banho, coloquei um vestido preto justo, mas
comportado no comprimento, um pouco acima dos joelhos, escolhi
sandálias elegantes, uma maquiagem leve, cabelos soltos e um
perfume suave.
— Você não está indo para seduzir ninguém, Melissa, apenas
para conversar! — Tentei convencer a mim mesma na frente do
espelho.
Então, ele chegou, tivemos aquela conversa no restaurante,
e, embora eu ainda não tivesse tido coragem de entrar num assunto
tão pessoal quanto seu casamento e o motivo do divórcio, não
consegui fingir nem resistir ao que se passava entre nós dois.
Eu quero Adam Stone tanto quanto sinto que ele me quer!
— Melissa? — Adam me chama, e balanço a cabeça,
voltando para o presente, então percebo que as portas do elevador
estão abertas.
Rio e tenciono sair, mas logo ele me puxa para seus braços e
me esmaga contra a fria parede de aço, exatamente como fez em
Nova Iorque. A lucidez de que estamos atracados dentro de um
elevador de um hotel cinco estrelas cheio de câmeras passa pelo
meu cérebro como um relâmpago, mas não me importo com isso.
Não, tudo o que quero é senti-lo, é ser tocada por ele e me entregar
sem nenhuma barreira.
Ele geme em minha boca e me arrasta para fora, andando a
passos largos até sua suíte, onde põe o cartão de acesso na porta e
me puxa para dentro com ele quando ela se abre.
— Eu estou impaciente, Melissa — revela, pressionando-me
contra a parede sem nem mesmo acender as luzes. — Quero você
há muito tempo.
Sorrio, sentindo-me realmente muito desejada, e não me faço
de rogada. Começo a desfazer o nó de sua gravata enquanto
trocamos beijos molhados e caminhamos juntos em direção à cama.
Quando me livro do acessório, passo a desabotoar sua camisa,
mas, no escuro e agarrados como estamos, não tenho muito êxito,
então, depois que o primeiro botão voa longe, arrancado do tecido,
decido que ele pode ficar com uma camisa a menos em seu guarda-
roupa.
Adam gargalha ao perceber o que estou fazendo, sem se
importar em nada com a peça de roupa, mas, assim que sente
minha boca deslizando pelo seu pescoço e descendo em direção ao
seu tórax, para de rir e geme.
Animada com a resposta, continuo arrastando minha língua
pelo seu corpo moreno, forte e de pelos negros aparados. O rastro
molhado que fica em seu corpo só me faz ficar mais excitada, e,
quando chego ao seu umbigo, uso minhas mãos para desafivelar
seu cinto.
— Melissa... Melissa... — geme. — Estou loco para foder sua
boca.
Encaro-o rindo e, em seguida, realizo seu desejo, ajoelhando-
me, libertando seu pau da cueca e o tomando todo, saboreando-o,
sentindo seu gosto salgado, sua textura macia e seu calor me
aquecendo.
Minhas fantasias não fizeram jus à realidade, e, confesso,
meu vibrador fica aquém do pau dele. Ainda que o brinquedo erótico
tenha boa proporções, ele não tem o sabor da excitação de Adam;
ainda que seja feito em um material que tenta imitar a pele humana,
não tem a maciez quente que desliza como seda na rigidez de seu
membro. Sem contar as veias saltadas que me fazem sentir o
sangue correndo por dentro delas, inchando-o ainda mais, e a
cabeça protuberante e avermelhada.
Ouço-o gemer mais forte quando esfrego minha língua por
todo seu pau, olhando para cima, gostando de ver as expressões de
seu rosto. Adam está com a cabeça jogada para trás e, enquanto
continuo no meu caminho de chupá-lo e lambê-lo, emite uns sons
deliciosos.
De repente, suas mãos agarram meus cabelos, ditando um
ritmo frenético da minha boca em seu membro. Não satisfeito, ele
ainda começa a se mover, fazendo com que eu praticamente o
engula inteiro, sentindo-o no fundo da minha garganta, fodendo-me
com força, a ponto de eu sentir os olhos lacrimejarem e o estômago
se revoltar com suas investidas profundas em minha garganta.
Eu me afasto, querendo tomar o controle da situação
novamente, e ele começa a se tocar, olhando em meus olhos.
— Eu me perco com você... perco limites... You drive me
crazy![18]
A cena é deliciosa de se ver, embora ainda estejamos na
penumbra. Seu corpo é grande e bem-proporcionado, a camisa
aberta revela seu peitoral e os músculos de seu abdômen. Eu me
levanto e retiro seu paletó e a camisa já aberta, impedindo-o de
continuar se masturbando.
As mãos dele parecem não conseguir ficar longe de mim e,
enquanto o dispo inteiro, vão me acariciando, tocando meus seios
ainda sobre o vestido e buscando, incessantemente, o fecho para
abri-lo nas costas.
— Deite-se — sussurro em seu ouvido quando ele já está
completamente nu.
Adam me atende sem questionar e se recosta contra os
travesseiros da cama king size. Caminho até uma das luminárias do
quarto e a acendo. Ainda de costas para ele, abro o fecho do meu
vestido, mas não o tiro. Só o faço ao pé da cama, sob seu olhar
ardente. Vejo-o se tocar a cada pedaço do meu corpo descoberto e
isso guia meus movimentos como uma música sexy e lenta.
— Come here[19], Melissa!
Nego, querendo vê-lo mais, e retiro meu sutiã, jogando-o
para o lado. Nunca tive essa sensação de poder com mais ninguém
além dele, a sensação de que sou uma mulher muito desejável, uma
mulher quente, que consegue tudo o que deseja. O olhar dele me
diz exatamente essas coisas, e a maneira como seu corpo reage a
mim ressalta que não somente me quer, mas me necessita
desesperadamente.
Coloco meu pé sobre a cama a fim de retirar a sandália, mas
ele me impede, segurando-me pelo tornozelo. Nem vi quando ele se
moveu, mas foi tão rápido que me surpreendi com seu toque
— Não. — Retira minha mão do fecho do calçado. — Preciso
de você nelas. — Ergo uma sobrancelha, imaginando se isso é um
fetiche, mas ele logo me explica: — Vai ajudar quando eu te foder
em pé, para deixar igual... — Mal termina de dizer isso e se levanta,
colocando-se atrás de mim e me posicionando exatamente como eu
estava antes, com um dos pés sobre a cama. — Eu vou lembrar um
pouco a sensação de sua... pussy...
Gargalho ao ouvi-lo falar em inglês, porque provavelmente
não conhece a palavra em português, mas meu sorriso morre ao
sentir seus dedos brincando exatamente nesse local. Ah, que
sensação maravilhosa! Os dedos vão suavemente me explorando,
separando meus lábios, encontrando minha entrada úmida e
quente, usando minha própria lubrificação para deslizar sobre meu
clitóris.
— Gosta? — ele indaga e em seguida mordisca minha
orelha. Apenas gemo, perdida no prazer que ele me proporciona. —
Eu vou fazer assim, de pé. — Ouço um barulhinho de algo se
rasgando. — Apenas para lembrar de como você é gostosa.
Adam me penetra lentamente, e sua mão volta pela frente do
meu corpo, estimulando-me. Seus movimentos são contidos,
afundando-se dentro de mim para em seguida sair quase
completamente.
Deliro de prazer e jogo minha cabeça para trás, encostando-a
em seu peito, sentindo-o entrando e saindo devagar, saboreando
meu sexo com o seu. Seus lábios passeiam pelo meu pescoço e
voltam para minha boca. Sua língua brinca com a minha e depois
segue uma rota até meus ombros.
Os movimentos vão aumentando, e as estocadas se tornam
mais fortes, mais poderosas. Não consigo mais conter meus
gemidos, balançando com Adam, seguindo seu ritmo. Minhas
pernas começam a tremer, e abaixo a perna. Ele me tomba de
bruços sobre a cama, enlouquecendo completamente, segurando-
me pelos quadris e fodendo com força. Ouço-o bufar e gemer. De
tempos em tempos, ele diminui o ritmo, rebolando, fazendo seu pau
tocar em todos os pontos dentro de mim.
— Eu quero muito entrar aqui, Melissa.
Só gemo, sentindo-o acariciando minhas nádegas, brincando
com seus dedos entre elas, descendo entre o vale e concentrando
seus carinhos sobre meu ânus. Estremeço ao imaginá-lo aí, seu pau
largo, de cabeça redonda, abrindo caminho dentro de mim,
encaixando-se apertado. Gemo alto, e ele sai de repente,
levantando-me e me girando de frente para si.
Nós nos beijamos sôfregos, ansiosos, com um tesão
crescente, em desespero. Adam me ergue em seu colo, e eu abraço
sua cintura com minhas pernas. Ele me deposita na cama,
colocando-me sobre os travesseiros.
— Se toca para mim — pede-me, e imediatamente abro um
sorriso e deslizo minha mão até meu clitóris já duro e aparente.
Ele se ajoelha no chão, apreciando meus movimentos,
enquanto suas mãos acariciam minhas pernas lentamente. Deliro
com o tesão, muito próxima de chegar ao orgasmo, então uivo de
prazer quando Adam junta sua língua aos meus dedos.
— Isso! — Deliro ao senti-lo introduzi-la em mim e depois
descer lambendo tudo até meu ânus, retornando e voltando,
deixando-me louca de tesão.
Por fim – estou à beira do primeiro orgasmo da noite –, ele
posiciona sua boca sobre meus dedos, fazendo-me tirá-los de ação.
Suga-me de maneira tão intensa, tão constante, tão gostosa que é
impossível conter o êxtase que toma conta de mim.
Enquanto ainda estou gozando, Adam sobe na cama e me
penetra com uma só estocada firme e ergue minhas pernas retas,
apoiando-as em seu tórax. A cada movimento, ele lambe e beija
meus pés, louco de tesão.
Já estou suada, apesar do clima gelado pelo ar-condicionado
do quarto, e vejo que Adam também não está diferente, com seus
cabelos negros e lisos colando em sua testa.
— Essa sua pussy é como um sonho! — Ele continua
metendo como um louco. Às vezes se afasta apenas para ver seu
próprio pau entrando em mim, sorrindo como um descarado,
gostando da cena.
Meu corpo inteiro está tremendo, meu coração parece
cavalgar, e eu nem bem acabei de sair de um orgasmo maravilhoso
obtido através de um sexo oral espetacular e logo me sinto sendo
puxada para outro.
— Goza comigo, Melissa. Aperta meu pau até não restar
mais nenhuma gota...
Ele mal acaba de pronunciar essas palavras, e eu sou
tomada novamente. Meus músculos todos se contraem, a
respiração fica mais rápida, e tudo o mais some da minha mente, só
sinto um prazer enorme, e, a julgar pelos gemidos dele, nós dois
sentimos o mesmo juntos.
Tento voltar ao normal, respirar lentamente, trazer de volta
toda a energia ao meu corpo. Estou deitado em cima de Melissa,
corpo suado, coração palpitando e temperatura nas alturas. Ouço
sua respiração ofegante em meus ouvidos e tenho vontade de
abraçá-la, porém, não sei até que ponto devo ir agora, que já nos
satisfizemos na cama.
Foda-se! Giro para o lado e a arrasto para um abraço
apertado e cheio de carinho. Nós nos olhamos por um instante e
depois sorrimos.
— Amazing[20], como eu me lembrava. — Beijo-a. — É
incrível que eu tenha você nos meus braços de novo... Incrível! —
Melissa se aperta mais contra mim. — Sua pussy é como um sonho!
Ela ri, rubra, e me corrige:
— Boceta. É a palavra que você busca.
— Mesmo? — Rio, pois não fazia ideia. — Eu achava que
isso era como uma bolsa pequena.
Melissa ri tão alto que sou contagiado por sua gargalhada.
Ainda me embolo bastante com o português, sem contar que lido
com o sotaque do Brasil e o de Portugal por causa do Nuno.
— Preciso reciclar meu português — confesso sem jeito.
— Acho bem difícil te ensinarem isso em algum curso. —
Melissa sussurra no meu ouvido: — Veja pornô brasileiro, tem um
vasto repertório.
Rio de novo e a abraço apertado.
— Que tal um banho para relaxar?
Ela se senta na cama, parecendo perplexa.
— Relaxar? — Desliza os dedos pelo meu abdômen. —
Quem aqui precisa disso?
Imediatamente me coloco de pé e a pego no colo. Melissa ri,
dizendo que é pesada, o que é simplesmente um absurdo, porque
ela é perfeita em todos os aspectos.
— Eu preciso de um tempinho, baby.
Ela gargalha alto e esconde a cabeça na curva do meu
pescoço, algo que já percebi que faz toda vez que se sente
constrangida. Sorrio, deliciado pela mulher insaciável, mas que
ainda fica encabulada por me querer tanto. Talvez ela não tenha a
noção do quanto a quero também!
Coloco-a sobre o tapete do banheiro assim que entramos e
sigo para a moderna banheira de imersão, abrindo os registros de
água quente e fria para podermos relaxar como se deve.
— Hum... banho de espuma! — Olho para trás e a vejo
mexendo nos frascos em cima da bancada. — Quer sais?
Nós nos encaramos, e sinto novamente aquela energia
incrível que ela faz correr pelo corpo, despertando cada célula, cada
terminação nervosa e me fazendo ansiar por mais e mais dela.
— Quero você! — respondo, fazendo com que ela olhe para
baixo e arregale os olhos.
— Mas você disse que...
— Parece que me enganei. — Dou de ombros e caminho até
ela. — Nada segue a normalidade quando estamos juntos.
Melissa suspira.
— Eu sei... acontece comigo também. — Abraça-me pelo
pescoço, esticando-se um pouco. — Essa atração que temos é...
Concordo quando Melissa não encontra palavras, porque
nunca sei definir bem o que ela me faz sentir e corro risco de soar
repetitivo ao usar sempre a palavra “incrível”.
Mas, porra, é incrível!
Bocejo pela terceira vez sobre uns relatórios que estou lendo
no laptop, enquanto espero que a máquina de café termine seu
trabalho para abastecer-me do líquido precioso.
Melissa ainda estava dormindo plácida e satisfeita quando
deixei a cama e vim trabalhar. Tenho muitos relatórios acumulados e
uma reunião um tanto desconfortável com o diretor de vendas a fim
de ajustar a situação de alguns gerentes que estão se dedicando
aquém do que é pedido a pessoas de sua posição.
Perdi praticamente dois dias com a visita ao haras. Não
reclamo, pois foi um tempo ótimo ao lado de Melissa e que nos
serviu para clarearmos as ideias e traçar um objetivo em comum.
Suspiro e penso na viagem de volta, depois que a ouvi
conversar com dona Célia sobre o dono do lugar e o quanto ele
estava distante e desanimado com o empreendimento.
— Mas ele está descontente com o resultado do seu projeto?
— questionei enquanto Melissa dirigia de volta a São Paulo.
— Não. — Ela respirou fundo e balançou a cabeça. — Mas
penso em como meu trabalho perdeu um pouco o sentido. — Franzi
o cenho, não entendendo. — Ele vai acabar desistindo de tudo.
— Por quê?
— Acho que a atual companheira dele não é a mulher com
quem ele queria dividir aquilo tudo. — Melissa deu de ombros. — Os
dois, o haras e ela, não combinam, e Nick sabe disso.
Não demonstrei o quanto o que ela disse me tocou, porque
era a pura verdade. Já é difícil manter um relacionamento quando
as duas pessoas têm afinidades, mas, quando querem coisas
diferentes, é impossível! Sei disso porque desde o começo foi o meu
caso com Hillary.
Eu estava deslumbrado quando nos casamos. Ela era a
mulher certa para que eu me sentisse integrado à classe social a
que pertencia por causa da minha família, mas que sempre torceu o
nariz para mim. Meu pai era um homem respeitado pela maioria das
pessoas. Contudo, nunca fez questão de manter-se próximo, tendo
seus amigos escolhidos a dedo e todos de longa data.
Hillary era querida, popular. Uma mulher moderna que tinha
uma carreira promissora, mas que mantinha as tradições que essas
famílias antigas sempre fizeram questão de perpetuar. Isso, no
começo, uniu-nos, mas depois percebi o quanto o meio era vazio e
que eu não precisava da aceitação de nenhuma daquelas pessoas.
Começamos então a viver cada vez mais nossos próprios
interesses separadamente. Ela não queria me conhecer de verdade,
apenas me moldar conforme achava que eu deveria ser: menos
latino, menos carrancudo, mais despojado e ambicioso.
Para ela, era inconcebível eu ser o segundo no comando da
empresa, quando poderia ser o CEO. O engraçado é que ela nunca
me perguntou se eu queria ser o diretor executivo da TGS, apenas
achava que deveria querer.
Nós dois nunca nos amamos e, para piorar, tínhamos ideias e
ideais muito diferentes.
— Complicado! — respondi sem entrar em detalhes.
Melissa respirou fundo novamente, olhou-me algumas vezes
com o canto dos olhos, mas continuava concentrada na estrada.
Percebi que queria dizer algo, talvez até me perguntar sobre o meu
casamento, e não sabia como iniciar a conversa.
— Relacionamentos são complicados — tornei a falar,
desejando saber o que a estava agitando.
— O que foi aquilo quando chegamos? — Melissa disparou a
pergunta de repente, e, confesso, no primeiro instante, não entendi.
— Adam?
— É como me sinto, Melissa — confessei com sinceridade,
percebendo que ela se referia ao modo como me apresentei à Célia.
— Eu sei que não foi o que combinamos, mas me sinto assim,
alguém fixo em sua vida.
— Por quê?
Ri e dei de ombros.
— É difícil mandar no coração! O que me trouxe aqui foi a
atração, mas o que me faz querer ficar é algo mais forte que isso.
— O que é, então? — perguntou baixinho.
Fechei os olhos, soltei o ar que estava preso dentro de mim e
respondi o mais sinceramente possível:
— Eu também quero descobrir.
As unhas de Tiger arranham a minha perna, e, deixando de
lado os pensamentos, rio para ele e lhe jogo um pedaço de pão,
gostando da forma com que nosso convívio tem melhorado.
— Aha! — pulo com o susto que levo quando Melissa grita.
— Agora eu sei por que ele gosta tanto de você! — Sorrio cheio de
charme e pisco. — Você o tem comprado com comida! — Ela olha
para o cachorro com uma expressão que até eu sinto medo. — Você
sabe que não pode comer isso, mocinho!
Decido intervir e salvar a pele do doguinho – como ela o
chama às vezes – e assim marcar mais pontos com meu
companheiro masculino.
— Bom dia, Melissa! — saúdo-a indo até ela, abraçando-a e
depositando um beijo longo e cheio de promessas em sua boca. —
Você é muito dura com o Tiger!
— Olha só o tamanho dele, Adam! — Tiger escapa para seu
cercadinho, fugindo da reprimenda. — O meu doguinho parece um
miniporco!
Não consigo resistir e gargalho do seu exagero.
— Prometo que vou fazer exercícios com ele. — Tento
apaziguar. — Vem comer. — Pisco um olho. — Tem pão,
panquecas, ovos mexidos, suco de laranja e o café da máquina que
você gosta.
Ela geme de prazer, e meu corpo responde na hora.
— Você é meu herói! — Beija-me. — É difícil não se
apaixonar por um homem que prepara um desjejum desses.
Meu coração parece parar de bater, e fico imóvel ao lado da
mesa.
— E você está?
Melissa franze a testa, então parece entender minha
pergunta. Ela me encara com seus olhos verdes brilhantes.
— Apaixonada por você? — replica a minha pergunta
implícita. — Estou. — Pega uma panqueca como se não tivesse dito
nada de mais e, quando percebe que não me movi ainda, respira
fundo. — É difícil mandar no coração, lembra? Você disse isso
ontem. — Dá de ombros. — Não se preocupe com o modo como me
sinto, não vou cobrar e...
— Para! — peço antes que diga alguma bobagem.
Melissa fica um tanto assustada, principalmente quando me
abaixo ao seu lado.
— Minha... — concentro-me para expressar tudo o que tenho
que dizer de maneira correta — preocupação era você não sentir o
mesmo por mim. — Ela abre a boca surpresa, e eu rio. — Passei
praticamente um ano procurando por você, vim ao Brasil para te
reencontrar, retornei porque não conseguia mais ficar longe, e você
acha que não estou apaixonado? Estou muito, muito apaixonado por
você, Melissa Boldani!
Então, depois de eu ter me declarado a uma mulher pela
primeira vez, ela faz algo que eu nunca podia esperar que
acontecesse: chora.
Caralho, o que eu disse de errado?
— Melissa? O que houve? — A voz preocupada de Adam
não me causa reação, pois ainda estou em choque.
Acordei me sentindo muito bem, estiquei-me na cama, como
sempre faço, mas, ao virar-me, senti o cheiro do xampu de Adam no
travesseiro ao meu lado. Sorri. Pensem em um sorriso bobo,
daqueles de doer a bochecha, que fica pregado na sua cara e
parece que nunca mais vai sair. É desse sorriso que estou falando!
Bem, os dias de folga haviam acabado e, embora não
tivessem sido programados, foram muito melhores do que eu
poderia imaginar. Ter passado a noite no haras, na companhia de
pessoas tão gentis, comida boa, um lugar maravilhoso e as
“aventuras noturnas” propostas por Adam foi incrível.
Ah! Esse homem ainda vai me matar de prazer!
Levantei-me, resolvi tomar um longo banho e lavar os
cabelos, mas não conseguia parar de olhar para os itens dele todos
na minha bancada, fazendo par com os meus. Adam é um homem
vaidoso, e sua toilette não me deixava ter dúvidas disso.
Saí do banho e, depois de hidratar meu corpo com um creme
cheiroso, coloquei o roupão, enrolei uma toalha nos cabelos e segui
para a sala. Pelo cheiro que chegava até o quarto, ele estava
fazendo o desjejum.
Ia falar algo com ele, mas logo me calei quando o vi alimentar
Tiger – que está muito acima do peso – com um naco de pão.
— Aha! — Sentime como uma criança gritando isso e tive
que segurar o riso quando Adam saltou de susto. — Agora eu sei
por que ele gosta tanto de você! — Fingi-me de zangada, mas, no
fundo, adorava como os dois já não se estranhavam, embora tenha
ficado surpresa pela forma rápida com que Ti o aceitou. Estava ali a
explicação! — Você o tem comprado com comida!
Ralhei com o pequeno bulldog francês e, mesmo diante de
seus olhos sofredores, não deixei de olhá-lo com cara feia. Adam
tentou ainda me comprar com um cumprimento, um beijo e teve a
audácia de defender o meu doguinho, que malandramente escapou
para sua casinha no cercado.
— Olha só o tamanho dele, Adam! O meu doguinho parece
um miniporco!
Ele gargalhou, e fiquei imóvel, sem fôlego, completamente
encantada pelo homem que estava hospedado comigo.
Hospedado... Eu não fazia ideia se tinha sido uma boa ideia
convidá-lo para ficar comigo, pois temia me acostumar à sua
presença, imaginá-lo como parte da minha rotina, da minha vida, e
não parecia ser aquilo que ele queria.
Mesmo porque... horas de avião separavam minha vida da
dele.
— Prometo que vou fazer exercícios com ele. — Tentou
apaziguar. — Vem comer. Tem pão, panquecas, ovos mexidos, suco
de laranja e o café da máquina que você gosta.
Ai, Deus, ele cozinha!
— Você é meu herói! — Beijei-o, empolgada com meu
primeiro café da manhã preparado pelo homem que amo. — É difícil
não se apaixonar por um homem que prepara um desjejum desses.
A declaração saiu tão naturalmente que não tive tempo de
pensar sobre ela. Mas, quer saber? Eu não tinha mais paciência
para jogos, não tinha por que ficar fingindo que não estava
envolvida por sentimentos mais fortes do que nossa atração
incendiária.
— E você está? — Adam pareceu temer fazer a pergunta ou
obter a resposta, e eu não sabia se isso era bom ou ruim.
De qualquer forma, eu disse, e se ele queria que eu usasse
todas as palavras para que não ficasse nenhuma dúvida, não havia
problema algum.
— Apaixonada por você? — Encarei-o séria. — Estou. —
Pronto, feito, dito! Escolhi alguma coisa da mesa a esmo e tencionei
comer e finalizar o assunto. Entretanto, Adam pareceu tão atônito
que não me restou outra solução a não ser voltar à conversa. — É
difícil mandar no coração, lembra? Você disse isso ontem.
Sei que foi péssimo ficar usando suas palavras contra ele,
mas era isso. Se eu tivesse pensado racionalmente, não teria
acontecido, mas o coração não é racional, ele apenas sente. O meu
estava havia muito tempo sem sentir, fixado em algo que poderia ter
acontecido e não aconteceu. Adam chegou em um momento em
que eu não esperava mais nada, muito menos amar alguém, por
isso mesmo esse sentimento era tão caro para guardá-lo só para
mim, ainda que ele não sentisse o mesmo.
Adam continuou quieto, e completei:
— Não se preocupe com o modo como me sinto, não vou
cobrar e...
— Para! — Sua voz enérgica fez com que eu engolisse o
restante das palavras e o olhasse um tanto assustada. Para piorar a
situação, ele se agachou ao meu lado e tocou minha mão.
Não, o discurso de compensação, não!, implorei
mentalmente, já imaginando aquela célebre frase: você é
maravilhosa, Mel, qualquer homem seria um sortudo a seu lado,
mas eu...
— Minha... — ele começou a falar, e percebi que estava com
dificuldade, respirou fundo e continuou — preocupação era você
não sentir o mesmo por mim. — O quê?! Quase balancei a cabeça,
achando que tinha ouvido errado. — Passei praticamente um ano
procurando por você, vim ao Brasil para te reencontrar, retornei
porque não conseguia mais ficar longe, e você acha que não estou
apaixonado? Estou muito, muito apaixonado por você, Melissa
Boldani!
Foi assim que desabei, completamente em choque,
impactada por, pela primeira vez na minha vida, amar alguém e ser
correspondida. Eu juro que achei que isso nunca iria acontecer
comigo!
— Melissa? — Adam volta a me chamar, trazendo minha
mente de volta, e tudo o que consigo fazer é abraçá-lo com força. —
Eu entendi que... Oh, God! Disse algo de errado?
— Não. — Soluço com a cabeça apoiada em seu ombro.
— Por que está chorando? — Sua voz demonstra alívio e até
um pouco de diversão.
— Choro quando estou feliz. — Olho-o, e ele enxuga meu
rosto, sorrindo daquele jeito que me chamou a atenção desde nosso
primeiro encontro. — E eu estou muito, muito feliz!
Adam encosta a testa na minha.
— Eu também! Esperei por isso, por você, sem nem mesmo
saber que queria tanto a encontrar!
Soluço ainda mais depois de ouvi-lo dizer isso.
— Eu queria, mas já não esperava, achei que não ia
acontecer, que não era para mim. — Ele balança a cabeça
negativamente. — Até você chegar, eu achava que minha sina era
ser só.
Sinto quando ele entrelaça seus dedos nos meus e olho
nossas mãos juntas. Há tanto a dizer, mas as palavras parecem
desnecessárias.
— O escritório vai sobreviver mais um dia sem você? —
pergunta-me de repente, e eu sorrio. — Não tenho como deixar
você ir.
— Nem se viessem me buscar em casa, eu iria!
Mal termino de falar, e ele me levanta no colo e me leva de
volta para o quarto.
Os fones de ouvido estão altos, e eu, concentrada em
terminar a última parte do projeto que estou desenhando para o
concurso. Meu pai não se cansa de colocar prêmios no currículo do
escritório e, sempre que vê alguma possibilidade de ter mais, fica
todo assanhado para concorrermos.
A maioria é dele mesmo, de seus projetos únicos, suas linhas
inconfundíveis, porém, há alguns anos deixou de desenhar à mão,
e, toda vez que isso é exigido em algum edital, sou eu quem
assume a frente. E eu gosto! Desenhar é algo que me dá muito
prazer.
Prazer! Suspiro e me lembro dos dias mágicos e prazerosos
que tenho passado com Adam. Ainda custo a acreditar que estou
vivendo essa fase tão gostosa e que acompanhei tantas vezes
acontecer com amigas e parentes. A felicidade junto a quem se
ama! Confesso a vocês que tem sido melhor do que eu havia
sonhado.
Meu apartamento se encheu de risadas, gemidos, conversas
e provocações. Adoro chegar em casa e encontrá-lo à mesa de
jantar – que ele denominou de seu home-office – com uma caneca
de café quentinha me esperando e com Tiger deitado aos seus pés.
Descobri que Adam realmente cozinha, e, como eu também
gosto de testar receitas, separamos a sexta-feira para fazer nossa
culinária a dois.
— Já pensou em fazer um curso? — indaguei quando comi o
ragu de carne com polenta digno de um chef. — O Frank tem um
amigo que comanda uma das cozinhas do hotel lá de Curitiba e que
vai ter um restaurante enorme em cima do Villazza SP, que estamos
projetando. O nome dele é Vincenzo Giacontti.
— Italiano?
— Não. — Ri. — Os avós dele e o pai eram, se não me
engano, mas Vince nasceu no Brasil, assim como eu. Só que,
quando decidiu ser chef de cozinha, foi morar com uns parentes na
Toscana. Estudou e aprendeu lá, trabalhando numa trattoria de
família. — Comi mais uma garfada de sua receita. — Ele é bom,
mas seu ragu ganha do dele.
Adam gargalhou e me beijou, agradecendo ao elogio.
Além de bom cozinheiro, ele é ótimo em dar dicas de filmes e
séries. Às vezes eu perdia tempo lendo sinopses e escolhendo algo
para ver, mas agora conto com um catálogo humano que entende
tudo sobre cinema e TV.
— Quando você teve tempo para acompanhar essas coisas?
— inquiri curiosa.
— Eu viajo muito, Melissa, e não sou de sair, então passava
os dias de “folga” assistindo a filmes ou lendo. — Deu de ombros,
mas notei uma certa melancolia em sua voz.
— Parece uma vida solitária.
Ele sorriu.
— Era! — Abraçou-me. — Acredito que não será mais.
Claro que o filme daquele dia foi esquecido, e tivemos que
assistir a ele no dia seguinte.
Além de todas essas qualidades, tenho amado a dedicação
dele em aprender a lidar com o Tiger. Adam nunca teve um bicho de
estimação, mas pegou jeito bem rápido com meu doguinho. Ele
acorda bem mais cedo que eu e sai para caminhar com o Ti.
Quando vai para o escritório, leva o bichinho para a creche e, se sai
antes de mim, o busca para que esteja em casa quando eu chegar.
Ainda acho que rola um contrabando de comida, mas, por
causa das caminhadas diárias, tenho sentido Tiger mais disposto e
mais brincalhão, embora ainda adore um chamego.
— Isto tem que parar! — Tânia entra rindo na sala,
segurando mais um vaso cheio de rosas. — Esse homem vai
extinguir todas as rosas da cidade!
Levanto-me animada e vou até ela para pegar meu presente
semanal – sim, ele ainda me manda um buquê toda semana! – e o
coloco no único canto livre sobre o aparador da sala.
— Acho que vou levar este para casa — comento. — O que
levei semana retrasada já está murchando.
— O melhor de tudo é seu pai tentando investigar de onde as
rosas estão vindo. — Encaro-a surpresa, pois não esperava isso. —
Ele até tenta disfarçar, mas comenta algo sobre as flores aqui e ali,
fazendo-se de bobo para que eu caia na armadilha e lhe conte
quem é o romântico.
Gargalho.
— Ele está fazendo isso, é? — Tânia assente rindo. —
Imagina quando souber quem é!
— Nem eu sei! — Ela fica séria. — Esse homem não é
casado, né, Mel? Porque isso é roubada, amiga...
— Não! — Rio.
— Ah, sei lá, você o está escondendo de todos.
Franzo a testa.
— Não estou escondendo-o de ninguém, só não tive
oportunidade... — Paro e penso em todas as semanas –
praticamente um mês – em que estamos juntos de verdade e tão
envolvidos e apaixonados que não saímos para lugar algum. —
Bom, acho que a oportunidade vai se apresentar, mas não estou
escondendo-o.
— Eu o conheço?
Sorrio vaidosa.
— Conheceu aqui na Boldani. — Tânia arregala os olhos. —
Ele é gringo, bonito, charmoso...
— Mel! — Ela bate palmas. — O Stone? — Pisco e assinto.
Abro a boca para dizer que ele está no Brasil, mas ela me abraça,
pulando feito uma doida. — Amiga, já conheceu o irmão dele? —
Abana-se. — Se tiver oportunidade, me apresenta!
— Qual deles? Adam tem três irmãos!
— O político, que é candidato ao Senado. Que homão da
porra, Mel!
Adam comentou comigo sobre seu irmão que está
concorrendo a uma vaga no congresso e, pelo que me lembro, ele é
o mais velho de todos. Vi fotos da família dele, mas não me fixei em
ninguém, apenas admirando-o e vendo o quanto destoava do resto,
embora tivesse o tamanho e os traços de seu pai.
— Seu pai está inteiro ainda — comentei ao ver a foto do
casamento dele, que aconteceu no final do ano passado.
— Ô, se está! — Riu. — Minha madrasta é brasileira também,
embora more há muitos anos nos Estados Unidos. Achei que ele
nunca mais fosse se casar depois da mãe dos gêmeos, mas Tereza
o conquistou de uma forma que eu nunca tinha visto acontecer. —
Ele cheirou meu pescoço. — Puxei ele nisso!
Uma batida à porta da minha sala me faz parar de lembrar-
me dos amassos que demos no sofá e de que acabamos por não
falar mais de sua família por causa disso, e Tânia para de pular feito
uma cabra.
— Posso? — Papai enfia a cabeça no vão da porta.
— Claro! — Faço sinal para que entre, e Tânia se despede,
deixando-nos a sós. — Veio ver o projeto? Já estou quase...
— Não, quero vê-lo terminado, tenho certeza de que estará
tão perfeito quanto os que você fez antes. — Beija meu rosto. —
Soube que não vai mais estender a semana do Carnaval como
havia planejado. Algum problema?
Sorrio.
— Não, só os planos que mudaram mesmo. — Dou de
ombros. — Ia viajar, mas não será mais preciso.
Ele resmunga algo que não consigo entender e anda até o
aparador com as rosas.
— Bom gosto ele tem! — comenta, e eu rio.
— Pai! — Abraço-o pelas costas. — O que você quer de
verdade vindo aqui?
— Acho meio ridículo eu me preocupar com você, afinal é
uma mulher crescida e muito inteligente, mas continuo sendo seu
pai...
— Eu estou bem. — Interrompo-o. — Estou feliz, de verdade.
Julio Boldani se vira para me encarar.
— Ele é um cara bacana?
Levanto a sobrancelha e decido provocá-lo.
— Quem lhe disse que é um “cara”?
Quase morro de rir ao vê-lo arregalar os olhos e,
rapidamente, tentar disfarçar pigarreando.
— Bem, o mundo está moderno, e eu sempre achei que toda
forma de amor é válida, desde que a pessoa esteja feliz...
Começo a rir e o abraço.
— Estou brincando, doutor Julio! — Beijo sua bochecha. —
Ele é bacana, sim.
Ele fica mudo por um tempo, olhando-me.
— Então por que ainda não o conheci?
Ah, aí está o motivo da visita!
— Gostaria de conhecê-lo? — Meu pai me olha como se eu
estivesse lhe perguntando o óbvio. — Está certo, vou falar com ele,
e depois marcamos algo, pode ser?
Seu sorriso demonstra que minha resposta o acalmou.
— Pode, mas não me enrole! Agora, mudando de assunto, a
vistoria do final da obra da TGS saiu hoje, e está tudo aprovado.
Sorrio, pensando que não mudamos o assunto tanto assim.
— Eu soube mais cedo e fiquei feliz. — Adam me ligou para
comunicar e para dizer também que o dia da inauguração estava
marcado. — Eles vão adiantar a inauguração para março.
— Como você soube disso? Ninguém me falou nada.
Ato falho!
— Tenho meus meios, doutor Julio! — Pisco, e ele balança a
cabeça, olhando para o meu pulso.
— Bela pulseira!
Cruzo os braços.
— Reconhece o design?
— Não, mas reconheço a cor dos diamantes. A aliança de
Hilda tem um desses e dos grandes. — Faz careta, fingindo estar
sentindo dor, e imagino que o preço tenha sido exorbitante. — É
bom ter contato com alguém da TGS, principalmente se quisermos
assinar os próximos projetos deles aqui no Brasil.
— Concordo. — Claro que não pelo mesmo motivo que ele.
— Pode deixar, que estou mantendo contato direitinho!
Ele ergue a sobrancelha desconfiado, mas não diz mais nada
e se despede, só que antes...
— Ah, Isabella, Frank e as crianças vêm para o nosso Baile
de Carnaval. Hilda e eu esperamos contar com sua presença
também. — Concordo. — Incluo um convite a mais no seu nome?
Ah, velha ave de rapina!, penso ao perceber que a enrolada
fui eu e que durante todo o momento ele tinha a armadilha pronta
para eu cair.
Estou suando dentro do carro, e isto não se deve ao calor
que está fazendo hoje, mas sim pelo que vai acontecer em alguns
minutos.
— Calma, Melissa...
Adam aperta minha coxa, e percebo que pensei em voz alta.
Sorrio e o olho tentando não transparecer todo o estresse pelo qual
estou passando. Não seja dramática, Melissa!, repreendo-me.
— Se quiser, voltamos para...
— Não! — Interrompo-o. — Quer dizer, você quer voltar?
Adam gargalha e aponta para si mesmo, mostrando seu traje.
— Foi um inferno vestir esta coisa!
Suspiro.
— Mas ficou lindo demais! — Relaxo um pouco e o beijo. —
Sexy como o Christian Bale.
Ele balança a cabeça, ainda um tanto inconformado por ter
ficado absolutamente gostoso na fantasia de Batman.
Adam recebeu o convite para irmos juntos ao baile de uma
forma muito boa, e me alegrou muito perceber que havia ficado
contente por, finalmente, conhecer “oficialmente” minha família e
amigos. Primeiro, contei a ele que o baile era uma iniciativa de meu
pai, não da Boldani, e que ocorreria em sua residência e expliquei o
que havia por trás da festa.
— É um evento beneficente que ele faz todo ano e arrecada
doações em alimentos para alguma comunidade carente —
expliquei. — Não podemos doar dinheiro, apenas cestas básicas.
Então tive que explicar o que eram as tais “cestas básicas”, já
que Adam não estava familiarizado com o termo. O fato é que meu
pai convida seus amigos e colegas empresários para um delicioso
baile de Carnaval, como também a contribuírem com alimentos.
Claro que eles não levam as doações para o baile, apenas um
recibo da quantidade comprada, e a empresa entrega à ONG local
que fará as distribuições.
Sempre fui ativa no baile e nas arrecadações, mas este ano
eu não iria participar por que pretendia passar a semana do feriado
de Carnaval nos Estados Unidos com Adam. Pelo menos era o
plano antes de ele vir para cá.
— Eu nunca vi o Carnaval brasileiro — Adam comentou
intrigado. — Já vi o Mardi Gras em New Orleans e soube que tem
semelhanças.
— É, na questão da fantasia e na festança, sim. O Mardi
Gras é famoso pelos festivais de jazz, e nós somos famosos pelo
samba, axé music, pagode, frevo, marchinhas... — Adam franziu a
testa, confuso. — Você vai adorar! Vamos aceitar o convite?
— Pensava em não ir?
Ai, Cristo!
— Sim, eu pensava em ir se estivesse aqui, em São Paulo,
como estou. Quero saber se você se sente à vontade para ir.
Novamente ele refletiu uma expressão confusa, como se não
conseguisse entender o que eu dizia.
— Por que não me sentiria? — De repente ele abriu a boca
em um grande “o”. — Por ser no jardim da casa de seu pai?
— É... — Ri. — Minha família, amigos e todos que me
conhecem estarão lá. O que estou querendo saber é se isso não
será precipitado...
Adam começou a rir.
— Melissa, eu me apaixonei por você na primeira noite. Tem
algo mais precipitado do que isso?
Não tive como não agarrar aquele homem e beijá-lo muito
depois de uma declaração dessa!
— Então posso confirmar nossa presença? — Ele concordou
com a cabeça. — Ótimo! Então precisamos correr para achar
fantasias e...
— Fantasias? Holly shit, me esqueci dessa parte!
Depois disso discutimos nossos trajes, e ele se negou a vestir
coisas óbvias como pirata – eu acho que ele ficaria lindo com um
tapa olho – ou mesmo Zorro, o herói mexicano mascarado. Todavia,
descobri que ele era fã de quadrinhos e tinha coleção de revistas da
Marvel e da DC.
— Que tal Superman? — Mostrei o traje na loja de fantasias.
— Eu poderia ir de Mulher-Maravilha.
Ele fez careta.
— Eles não são um casal! — Rolou os olhos, como se o que
eu havia dito fosse um absurdo.
— Okay! — Peguei então a fantasia do Homem-Morcego. —
Que tal esta? Tem Mulher-Gato aqui também!
— Hum... — Adam me abraçou no meio das araras da loja,
cheias de fantasias. — Gosto da ideia de ver você em couro...
E foi assim que eu, acostumada a me vestir de Colombina ou
personagens marcantes da história, estava vestida com uma
fantasia agarrada ao meu corpo, totalmente sexy, com maquiagem
pesada e lábios vermelhos.
Douglas, o motorista que presta serviços para o Adam,
aproxima o carro do portão da casa de meu pai e de dona Hilda, e
eu respiro fundo. Não é a primeira vez que apresento alguém para
meu pai, mas é diferente. Tudo relacionado ao Adam é diferente.
Ele pega minha mão e a aperta fortemente.
— Seu pai, eu conheço — começa a falar. — Mas tem sua
madrasta...
— Dona Hilda — relembro a ele o nome dela.
— Isso, dona Hilda. Sua irmã, Isabella, eu conheci na Spice.
— Concordo. — O marido dela...
— Frank.
Ele assente.
— Dos hotéis. Preciso saber mais?
— Há vários amigos presentes aqui hoje, mas posso
apresentá-lo de acordo com que formos nos encontrando com eles.
— Ok.
— Está nervoso?
Ele ri.
— Pela fantasia ridícula? Sim! — gargalho, sem conseguir
me conter. — Por estar aqui, não.
— Você está um charme de Batman!
Ele se aproxima mais de mim e sussurra no meu ouvido:
— Quero saber se vou foder a Catwoman no telhado. —
Arrepio-me toda ao ouvir, e ele se aproveita para esfregar os lábios
no meu pescoço.
— No telhado, não garanto...
Adam ri, mas logo recupera a compostura e pega sua
máscara de Homem-Morcego.
— Chegamos!
Douglas abre a porta para que ele desça, e, em seguida,
Adam me ajuda a descer também do veículo. O jardim da casa do
meu pai está um espetáculo, todo enfeitado ao estilo retrô, com
lanternas penduradas ao longo do caminho que leva até os fundos,
onde está ocorrendo o baile.
— Ainda bem que não choveu — comento para mim mesma
ao andar de mãos dadas com Adam, ouvindo o som da banda que
toca marchinhas.
A primeira pessoa que encontramos é a responsável pelo
evento deste ano, Kyra Karamanlis.
— Uau! — Ela pisca para mim quando passo ao seu lado. —
Boa noite, Mel!
— Boa noite, Kyra — cumprimento-a e apresento-lhe Adam.
— Sejam bem-vindos. — Entrega-me um papel. — Este é o
mapa da festa. — Aponta os desenhos. — Usamos todo o jardim,
como pode ver. A pista de dança está no meio, em cima da piscina,
mas há áreas decoradas e um pequeno labirinto no pomar. — Sorri
maliciosa e cochicha comigo: — Lugar que, temo eu, será o
preferido dos casais mais aventureiros.
Sua assistente, Helena, entrega-nos um pequeno saquinho
de veludo vermelho.
— Um mimo que o doutor Julio fez para os convidados —
explica e se despede para atender ao próximo casal que acaba de
chegar.
Abrimos a embalagem e encontramos uma pequena
miniatura de madeira.
— Ah, papai! — digo emocionada ao ver o belíssimo trabalho
que ele fez ao esculpir um arlequim. — É o passatempo preferido
dele, fazer essas esculturas.
Adam parece surpreso.
— Ele mesmo fez?
— Cada uma delas! — Olho a dele, percebendo detalhes
diferentes na roupa e na expressão do palhaço triste. — Papai é um
artista excepcional!
Seguimos para a festa, montada totalmente ao ar livre. A
decoração está magnífica! Há vitrais, espelhos, lanternas
pendurados por todo o jardim, além de muitas flores, tecidos
esvoaçantes e coloridos, poltronas e bancos.
Não há mesas para comer, apenas alguns aparadores com
quitutes, pois o coquetel está sendo servido por garçons vestidos de
uniforme, criando contraste com os convidados todos fantasiados.
Começo a rir ao ver papai e dona Hilda jogando confete para
cima a fim de promover uma pequena chuva colorida sobre a
cabeça de seus netos, Laura e Lucca.
— Mel! — O chamado de Isabella me faz olhar para trás e a
ver lindamente vestida de Mulher-Maravilha e sua clássica fantasia
de shortinho azul com estrelas e corpete sexy vermelho e dourado.
— Que bom que chegou!
Ela me abraça e, em seguida, olha para Adam.
— Batman, hein? — Ri. — É um prazer revê-lo!
— O prazer é meu! — Adam a cumprimenta no mesmo
instante em que Frank se junta a nós.
Adam e eu nos olhamos tentando não rir, pois ele está
vestido de Superman.
— Eles não são um casal! — Adam cochicha, e eu o
repreendo com uma careta.
— Frank, se lembra do Adam? — Isabella é quem faz as
apresentações.
Os dois se cumprimentam com um aperto de mão, mas,
antes que possam dizer qualquer coisa, Theo Karamanlis aparece,
vestido de Elvis Presley, e passa o braço ao redor do pescoço de
Frank.
— Quem diria que reuniríamos a Business School aqui em
São Paulo! — Frank e Adam o olham sem entender. — Vocês não
se conheceram em Harvard? Nem no Joey’s?
Meu coração dispara ao ouvir o nome do bar onde Frank me
deu o bolo mais homérico de toda minha lastimável paixão platônica
por ele.
— Você estudou em Boston também? — pergunto ao Adam.
— Eu estava entrando na Business School logo depois do
college, e o Adam estava se formando — Theo explica. — Ele era
seu veterano, e vocês não se conheceram?
Frank nega.
— Ouvi falar que havia um Stone nas turmas mais
avançadas, mas não me liguei muito nisso na época. — Ele ri com a
boca meio de lado. — Éramos de irmandades diferentes.
— Creio que sim — Adam concorda. — Theodoros e eu nos
conhecemos por causa de uma pesquisa que ele estava fazendo, e
eu acabei o ajudando, mas não encontrei nenhum Villazza no
Campus.
— Adam sempre foi muito sério, talvez só perdesse para o
Aaron. — O grego ri. — Por falar nisso, ouvi dizer que ele está
buscando vaga no Senado. Não me surpreendeu ele se candidatar,
apenas ter demorado tanto.
— Surpreendeu a todos nós — Adam responde, mas parece
ainda intrigado com a história sobre todos terem estudado em
Harvard na mesma época. — Por acaso você ia ao Joey’s com
Robert Malone?
Frank balança a cabeça.
— Com aquele figlio di puttana? Infelizmente, sim!
Arrumávamos muita confusão por lá. Na época, eu o achava
divertido, mas então a verdadeira natureza do homem se revelou. —
Adam de repente me olha com a testa franzida, e Frank bufa. —
Parece que minha sina era ser enganado por tipos como aquele.
Theo fala algo para o amigo, e sinto que o clima fica pesado.
— O que está havendo? — pergunto para Isabella, que,
como eu, acompanha a interação entre os três.
— Robert Malone foi preso antes de se formar, pois estuprou
uma colega. Foi o que Frank me disse. — Arregalo os olhos, e Isa
dá de ombros. — Malone, Baden, tudo corja da mesma laia.
Que merda!, penso, sem entender por que Adam trouxe esse
assunto, já que sabia que o tal “companheiro de farra” de Frank era
um canalha criminoso.
— O que é isso aqui? Confraria da Yve League[30]? — Millos
chega com sua previsível fantasia de motoqueiro fantasma e
cumprimenta Adam. — Pode este humilde egresso que preferiu a
universidade grega à famosa americana se juntar a vocês?
— Como vai, Millos? — Adam o saúda calorosamente. —
Agora só falta Alexios para a...
— Está ali. — O barbudo aponta. — O presidiário, perto do
Mario e do Luigi.
Começo a rir ao ver as fantasias de Alexios, Murilo – filho de
uma das maiores jornalistas do Brasil e amiga querida de meu pai –
e João Alberto – também filho de um amigo de meu pai e um
promissor médico.
— Presidiário? Esse rapaz brinca com coisa séria, viu? —
comento. — Bom, eu achei que teria de apresentar Adam a todos,
mas acho que ele conhece a maioria aqui presente.
— Ainda não tive o prazer de conhecê-lo, Mel. — Dona Hilda
se aproxima, linda, vestida de Cleópatra, ao lado de um Júlio Cézar
aparentemente surpreso. — Olá, sou Hilda Boldani, madrasta da
Mel e mãe da Isabella.
— É um prazer, senhora. — Adam olha de novo para
Isabella. — Vocês duas parecem irmãs.
— Ah... — Dona Hilda põe a mão sobre o peito, lisonjeada.
Isabella e eu rimos, pois, além de elas sempre ouvirem isso,
sua mãe adora, o que, certamente, já lhe causou boa impressão
sobre ele.
Homem esperto! Sinto vontade de beijá-lo por isso.
— Doutor Julio, como vai? — Os dois apertam as mãos. — É
uma bela festa!
— Obrigado. — Papai me encara. — Veio junto com Melissa
ou usou o convite que mandei para a TGS?
— Pai!
Escuto a risada de Theo, além de um xingamento de Frank
em italiano e noto, pelo canto dos olhos, todos atentos à conversa
de Julio e Adam.
— Não recebi o convite enviado para a TGS. — Adam dá de
ombros, parecendo se divertir com a situação. — Estou em home-
office, não tenho ido ao escritório.
Julio não parece gostar da resposta.
— Seu português melhorou muito desde nossa primeira
reunião — comenta, antes de dar a cartada final: — Presumo,
então, que Adam esteja usando o convite extra que lhe dei?
A pergunta é direcionada a mim, por isso Adam me olha
como que buscando orientação sobre o que responder.
— Deixa comigo! — falo baixinho para ele antes de pegar
firme sua mão e encarar meu pai. — Sim. Pai, este é Adam Stone,
meu namorado.
Pronto, foi dito! Mantenho meu queixo erguido, mesmo me
sentindo um tanto constrangida, porque, convenhamos, não tenho
mais idade para estar passando por esta situação de meu pai
pressionar a pessoa com quem saio.
Julio, então, sorri e dá um tapinha no ombro de Adam.
— Você tem bom gosto, rapaz! Divirtam-se!
— Passou pelo crivo de Julio Boldani... — Millos o provoca
assim que meu pai e dona Hilda saem de perto.
— Foi muito mais fácil do que na minha vez, não é, Bella? —
Frank debocha.
— Mais um enforcado! Daqui a pouco começam a fazer
pressão para que eu me case. — Theo faz careta.
Arregalo os olhos com o que ele diz e olho para Adam, mas
ele só sorri, balançando a cabeça.
— Antes você do que eu! — Millos comenta para o primo,
fazendo Frank gargalhar.
— Eu acho graça, porque não tem jeito. — Abraça Isabella.
— Quando a mulher certa aparecer, vou assistir de camarote a um
por um cair.
— Frank! — Isabella o repreende, mas ri.
— O quê, amore mio?
— Não os assuste antes do tempo! — Ela o arrasta para
longe do grupo. — Vamos ver as crianças. — Pisca para mim. —
Bem-vindo à família, Adam!
Fico vermelha e nem noto quando todos se dispersam.
— Tudo bem?
Encaro Adam e respiro fundo.
— Estou ótima!
Ele me abraça.
— Então me mostre por que o Carnaval é tão famoso! Vamos
nos divertir!
Assinto e o levo para a pista de dança me sentindo a mulher
mais sortuda deste mundo!
Fim
J. Marquesi sempre foi apaixonada por livros e, na
adolescência, descobriu seu amor pelos romances. Escreveu sua
primeira história aos 13 anos, à mão, e desde então não parou mais.
Só tomou coragem de mostrar seus escritos em 2017, tornando-se
uma das autoras bestsellers da Amazon e da Revista VEJA.
Série, Os Karamanlis
THEO, livro 1
-> Disponível em e-Book Compre aqui!
KOSTAS, livro 2
-> Disponível em e-Book Compre aqui!
ALEXIOS, livro 3
-> Disponível em e-Book Compre aqui!
MILLOS, livro 4
-> Disponível em e-Book Compre aqui!
QUÍMICA PERFEITA
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SINOPSE
Raffaello Ferrero conquistou fama e prestígio no mundo dos vinhos,
tornando-se um dos enólogos mais disputados pelas vinícolas europeias.
Obcecado por achar a química perfeita capaz de produzir um vinho perfeito,
Raffaello é informado da morte de seu único parente vivo e precisará retornar
ao Brasil, após 20 anos longe, para decidir o que fará com a herança que
nunca quis e que estava reservada ao seu amado irmão mais velho, falecido
há alguns anos.
Disposto a vender a vinícola e retornar à Europa, Raffa será surpreendido
pela notícia de que tem um sobrinho, um garoto de pouco mais de dois anos,
fruto de um relacionamento do irmão com uma ruiva de quem nunca ouviu
falar, e que só apareceu após sua morte, com o pequeno herdeiro a tiracolo.
Poderá ele confiar naquela mulher? Como impedir seu coração de se
apaixonar pelo guri tão esperto?
E a mais complexa questão: como impedir-se de sentir a química perfeita
que parece pulsar entre ele e a mãe do garoto?
Série Família Villazza
Atenção:
1) Classificação do livro: 18+;
2) Pode conter gatilhos;
3) Contém SPOILER do livro Segredo Obscuro - da Série Família Villazza.
UM CEO DE NATAL
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Compre aqui!
SINOPSE
Bem-vindos a Penedo, lar de verão oficial do Papai Noel!
Júlia Virtanen ama o Natal e todos os significados dele!
Descendente de finlandeses, ela trabalha com orgulho e afinco na
loja de doces de sua família, no sul do estado do Rio de Janeiro.
Sonhadora, batalhadora, apesar de ter sofrido uma grande
perda ainda criança, Júlia crê na magia do Natal... bem, talvez não a
ponto de acreditar que o "bom velhinho" atenda a um pedido fajuto,
feito por sua prima em seu nome, afinal, o que ela mais precisa é
salvar a sua loja tão especial, e não de UM CEO DE NATAL.
Atenção:
Recomendado para maiores de 18 anos;
Livro único.
UM DOCE DE NAMORADO
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SINOPSE
Digo Virtanen conquistou a vida que sempre sonhou! Solteiro,
bonito e bem-sucedido, o confeiteiro se tornou também o garoto-
propaganda da franquia da Casa Virtanen.
Com a aproximação do Dia dos Namorados, uma
megacampanha publicitária é montada, e Digo acaba parando em
uma casa de acolhimento de idosos, onde conhece uma mulher que
mexe com ele como nenhuma outra.
Dulce Maria de Macedo é uma mulher tão doce quanto seu
nome. Diretora de um lar para idosos, ela sempre dedicou sua vida
ao próximo. Discreta, elegante e religiosa, a ex-noviça se
surpreende quando descobre que um casal de velhinhos do seu lar
foi escolhido para estrelar um comercial de TV e não só isso: uma
propaganda ao lado do intitulado "doceiro gostosão" Rodrigo
Virtanen!
Atenção:
1) Conteúdo indicado para maiores de 18 anos;
2) Contém spoiler de Um CEO de Natal.
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[1] Nota da autora: “Não chore mais, Mel. Você é linda sorrindo!” – tradução do
italiano.
[2] Nota da revisora: em inglês, “Mysterious”, permanecendo o jogo de
palavras com o M inicial da palavra e o M da rubrica de Melissa.
[3] Nota da autora: CPO, sigla para Chief Process Officer, é um cargo de
direção dentro de uma empresa. Ele é o responsável por gerir os processos
do negócio no mais alto nível de uma organização e se reporta somente ao
CEO.
[4] Nota da autora: The Gilded Stone é o nome do negócio da família, que
significa “a pedra dourada” em inglês, um jogo de palavras entre o sobrenome
deles e a área onde atuam, joalherias.
[5] Nota da autora: avó em espanhol.
[6] Nota da autora: Não, sinto muito. Você pode repetir sua explicação, por
favor?
[7] Nota da autora: É um prazer conhecê-la...
[8] Nota da autora: de novo.
[9] Nota da autora: rascunho, em inglês.
[10] Nota da autora: almoçar, em inglês.
[11] Nota da autora: dever de casa.
[12] Nota da autora: pistas.
[13] Nota da autora: traços perfeitos de uma designer (desenhista).
[14] Nota da autora: suas regras foram feitas para serem quebradas.
[15] Nota da autora: perseguidor.
[16] Nota da autora: ditado equivalente ao nosso “se conselho fosse bom não
se dava, vendia”.
[17] Nota da autora: CCCN – Casa Cultural Cândida Novak.
[18] Nota da autora: Você me deixa louco!
[19] Nota da autora: venha aqui.
[20] Nota da autora: incrível.
[21] Nota da autora: o personagem fez a tradução literal da expressão “to
cum”, que é semelhante a gozar em português.
[22] Nota da autora: No way é uma expressão em inglês que equivale a “nem
pensar”.
[23] Nota da autora: pensando em você.
[24] Nota da autora: expressão em inglês semelhante a “que merda”.
[25] Nota da autora: expressão em inglês semelhante à “puta merda”.
[26] Nota da autora: me chupa, em inglês.
[27] Nota da autora: Não há nenhum lugar onde eu preferisse estar...
[28] Nota da autora: feliz.
[29] Nota da autora: expressão em inglês que pode ser traduzida como: “se
acalme”, “vá com calma”, “pegue leve”.
[30] Nota da autora: Yve League é um grupo formado pelas oito universidades
mais famosas e disputadas dos EUA. Harvard é uma delas.
[31] Nota da autora: expressão em espanhol equivalente a “te amo”.
[32] Nota da autora: expressão em inglês que significa “eu sou louco por você”.
[33] Nota da autora: Doenças Sexualmente Transmissíveis.
[34] Nota da autora: expressão grega para a paixão.