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30 DIAS | MOA SIPRIANO | WWW.MOASTERIO.

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24 julho - 14:32 - Check in | Curitiba | Férias

Meu segundo nome é Jägger. Sou nascido e criado em Curitiba, PR. Tenho 32 anos. Ganho a
vida planejando viagens criativas no ramo de turismo ecológico para pequenos grupos de pessoas
com alto poder aquisitivo. Estou em férias. Um tempo só para mim. Trinta dias de merecido
descanso. Vou passar boa parte do tempo livre hospedado na casa de parentes no interior de São
Paulo. Chego amanhã ao meu destino.
Há exatamente duas semanas tomei uma decisão radical. Uma decisão que preciso
compartilhar com você. Aproveitando a privacidade e o anonimato na terra distante (a última visita
aos meus tios foi em 1996), resolvi viver intensamente todas as minhas fantasias eróticas. Quero
praticar tudo aquilo que talvez você não tenha coragem de realizar. Sexo pelo sexo, nas mais
variadas formas e com o maior número possível de homens durante trinta dias.
Vou me entregar aos meus instintos mais íntimos. Instintos baixos, elevados, selvagens,
puritanos ou mundanos, não importa. É o que preciso viver nos próximos dias: sentir no corpo e na
alma todas as variantes possíveis do sexo sem compromisso, desprovido de sentimentos.
Sou uma pessoa livre. Estou sozinho e isolado emocionalmente por vontade própria, no que se
refere aos assuntos do coração. No sexo, sempre fiz aquilo que o parceiro do momento desejava. Eu
era submisso ao extremo. Hoje sou eu quem define todas as regras de um jogo de interesses.
Você deve estar questionando qual será o motivo que me levou a essa hedionda entrega aos
prazeres selvagens do sexo inseguro. Não há uma explicação lógica e sensata. Simplesmente quero
fazer tudo o que me vier à cabeça e relatar a você – dia após dia – o que acontecerá comigo na
intimidade, com riqueza e sinceridade nos detalhes, em trinta dias de atividades sexuais intensas.
Sem tabus, neuroses, temores ou escrúpulos de minha parte, você poderá compartilhar das
minhas realizações passageiras pouco tempo depois de finado o ato. Adianto-lhe que agirei somente
por instinto primitivo, sem um falso moralismo hipócrita.
Não tenho nada a esconder. Somente a revelar. Não sei onde isso vai dar. Não sei o que
acontecerá nos próximos dias. Só sei que tenho que fazer o que deve ser feito. Talvez para abrir as
portas de uma consciência coletiva. Você é meu convidado. Compartilhe comigo da minha possível
insanidade.
Quem sabe não estarei na sua cama, no seu corpo, na sua mente, no seu mais íntimo e secreto
desejo quando menos você esperar?

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25 julho - 08:19 - Acordei agora | Jundiaí | Chegada

Desembarquei em Jundiaí as quatro horas de uma madrugada chuvosa. Durante o percurso,


excitado, fiquei idealizando o que poderia fazer com algum desavisado assim que chegasse ao meu
reduto de férias. Eu havia ligado para o meu tio, mentindo sobre a hora da chegada, dizendo-lhe que
o ônibus atrasaria por causa das chuvas e que seria bom que ele me aguardasse por volta das cinco
horas na rodoviária medonha da Terra da Uva.
Havia três gatos pingados na plataforma de desembarque. Desci do ônibus amarelo um tanto
sonolento. Acompanhei a retirada de minha bolsa gigante do porta-malas. Fiquei reparando no
traseiro enorme do funcionário da companhia, enquanto tentava achar meu celular dentro da
mochila que eu carregava comigo.
4:22. Sozinho, caminhei até o ponto de encontro onde meu tio deveria me esperar – vou
chamá-lo de Tio Barriga – e por alguns instantes fiquei apreciando a antiga praça onde eu
costumava brincar na infância junto com meus primos, durante as férias escolares.
Cansado, esfreguei os olhos inchados com as pontas úmidas dos dedos frios e ao abri-los um
morador de rua se materializou na minha frente. Pediu um cigarro. Não respondi de imediato.
Fiquei tentando encontrar um corpo debaixo daquele cobertor surrado e fétido. Se eu der o cigarro,
o que ganho em troca?, perguntei. Ele reparou na cara de filho-da-puta que fiz. Começou a coçar
alguma coisa por baixo da lã sintética. Olhei ao redor, nenhuma alma num raio de dezenas de
metros. Nenhum carro. A chuva havia diminuído sua intensidade. Deixei meus pertences ao lado de
uma banca de jornal. Empurrei o homem – que descobri ser nordestino – de encontro a uma parede
úmida de um dos banheiros da velha rodoviária. O cheiro dos seus trapos me causou náuseas, mas a
curiosidade em descobrir o corpo que se escondia por trás do tecido imundo era mais forte do que a
total falta de higiene.
Procurei o sexo embaixo do cobertor. Atrás de um agasalho esportivo, encontrei algo grosso,
úmido e empinado que agora pulsava em minha mão. Em movimentos ritmados, sempre olhando
direto para aquele olhar cansado, enlouquecia meu homem com minha destreza. Meu hálito quente
e adocicado em seu rosto marcado pelo tempo excitava os seus instintos.
Ele procurou meu sexo com sua mão miúda e calejada. Um carro passou em alta velocidade
na rua próxima. Perdemos alguns segundos de concentração. Ao cruzarmos novamente nosso olhar,
baixei meu corpo e enfiei minha cabeça debaixo dos panos. Minha boca encontrou uma viga muito
rígida, feita sob medida para o toque macio dos meus lábios.

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Engoli o membro úmido. O gosto da carne de segunda em minha boca de primeira sufocava o
medo de ser descoberto. Em poucos minutos minha cabeça era pressionada de encontro ao sexo
vigoroso e quente. Cheguei a perder a respiração várias vezes, mas o homem não ia me soltar
enquanto não terminasse o seu prazer.
De repente, minha cabeça foi empurrada para fora. Um jorro quente e doce inundou meu
rosto, terminando em meus lábios. O homem segurava com força meus cabelos, fazendo com que
meu rosto sentisse a textura de um membro que perdia sua virilidade, ganhando o merecido repouso
após o êxtase.
Enxuguei meu rosto corado no velho cobertor. Sem palavras, me recompus, respirando com
dificuldade – o corpo tremendo em rápidos calafrios – devido a excitação, ao medo e a angústia
daquele instante insano.
Voltei para onde estavam minhas coisas. Da abertura lateral da minha mochila, peguei minha
carteira. Tirei uma nota de vinte. Dei para o meu objeto de prazer. Ganhei em troca um sorriso
sincero de meia dúzia de dentes gastos e amarelos.

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26 julho - 13:08 - Jogado na cama | Jundiaí | Chat do UOL

Ontem passei o dia todo fazendo a “linha família”. Tio Barriga apareceu na rodoviária quase
seis da manhã. Perdeu hora, segundo ele. Trocamos um frio abraço, joguei minhas bolsas no banco
de trás do Fiesta vermelho, conversamos trivialidades e após quinze minutos de mudismo mútuo
chegamos ao seu refúgio aos pés da Serra do Japi.
Tia Corada estava na cozinha preparando um banquete (é tradição familiar forrar a mesa com
uma grande variedade de guloseimas na hora das refeições). Ganhei um milhão de beijos, abraços e
sorrisos sinceros de felicidade. Tomei um banho rápido para tirar o cheiro da viagem da madrugada
– o gosto do nordestino gostoso ainda estava presente em minha boca –, sentei-me à mesa e fartei-
me com pedaços imensos de bolo de cenoura, strüdel de maçã, litros de chocolate quente, fatias
generosas de Cuca e de outras delícias da culinária sulista.
Minha tia tagarelava, tentando por nas notícias matinais, em poucos minutos, centenas de
informações e fofocas sobre nossa família. Comi demais naquela manhã. Passei o resto do dia
papeando com meus tios. Não fiz nada de especial a noite. Descansei.
Ganhei um quarto provisório e a companhia de Smoode, o gato vira-lata de Tia Corada. Não
houve afinidade de imediato entre nós, mas aprendemos rapidamente a respeitar nossos espaços e
limites. Abri meu fiel iBook para conferir meus e-mails e, claro, atualizar meu diário virtussexual.
Navegando sem direção, acabei entrando no chat do UOL, nick: QUERO_CASADO (HXH). Em trinta
segundos chovia na tela uma proposta mais absurda do que a outra. Escolhi KSADO_40_QUER_HOMEM.
Teclamos um pouco, trocamos as tradicionais informações básicas: tipo físico, dote, preferências,
fantasias, etc. Mentimos sobre nosso currículo social, é claro. E marcamos um encontro fortuito
para as duas da tarde.
Foi tudo muito rápido. Ao avistar o velho Fusca parado no local combinado em frente ao
Parque da Uva, o primeiro choque foi perceber que o meu “kasado 40” não era casado e muito
menos tinha quarenta anos! O rosto de menino fez com que eu permanecesse alguns segundos sem
palavras. Quero casado?, ele perguntou. Fiz um sinal positivo com a cabeça. Entra aí, ele disse,
abrindo a porta do fusca antigo, que rangeu ruidosamente como aqueles sons de filmes antigos.
Chupa, ele ordenou, apontando para o pau que já estava pulsando alegre fora da calça jeans.
Sem cerimônia, pouco me importando com a passagem dos carros pela rua movimentada à nossa
frente, abaixei o corpo e fiz o serviço. Tô olhando pelo retrovisor... não para, carinha!, ele gritou,
entre gemidos nada naturais.

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Agora levanta, ele disse, fechando o zíper depois de alguns minutos de prazer. Tenho um
local... lá na Chácara Urbana, ele afirmou, indicando um dos bairros mais sofisticados de Jundiaí.
Seguimos pelo Centro até atingirmos a avenida Nove de Julho, subindo a rua do Shopping
Paineiras, até chegarmos ao bairro chique. Paramos o carro numa rua tranqüila, próximo a uma
imensa casa que estava em reforma. Ele tirou meu pau para fora. Preste atenção no movimento da
rua, carinha, ordenou. Eu vou te chupar também.
Desceu o rosto corado de encontro ao meu sexo; sua boca indo diretamente para o saco, onde
uma língua quente e úmida saboreava minha parte baixa. Ele não chupou nada mais além do saco,
mas tinha uma prática tremenda em masturbação, pois não demorou muito para eu gozar no seu
pescoço, detalhe que pareceu não incomodá-lo. Fiquei tão cego de tesão que não percebi de
imediato o ruído distante de uma moto em baixa velocidade vindo em nossa direção. O menino se
limpou com um pedaço de papel higiênico, cujo o rolo estava estrategicamente colocado sob meu
banco. Ele limpou a boca e o pescoço, ligou o carro e saímos calmamente dali.
Eu ainda não gozei, ele disse, enquanto estávamos a trinta por hora na avenida Antônio Segre.
Bate pra mim, ele ordenou, pegando minha mão e forçando-me a retirar novamente o pau agora
flácido do jeans surrado. Com certo malabarismo, consegui por aquele membro para fora,
acariciando-o com carinho. Pude sentir o volume enchendo aos poucos minha mão esquerda.
Paramos numa rua perto do cemitério N. S. do Desterro. Sem desligar o carro, afastando um pouco
o seu banco para poder abrir as longas pernas, o menino relaxou o corpo magro enquanto olhava
fixamente para o retrovisor central. Eu intensifiquei os movimentos, quando de repente ele puxou
com violência minha cabeça, fazendo com que eu engolisse num sufoco o membro rígido, que
expeliu litros de sêmen em minha boca.
Bebe tudo, carinha, ele disse quase gritando. Forçou ainda mais minha cabeça para baixo.
Engoli tudo sem conseguir desperdiçar uma gota sequer. Pressionei as coxas finas, tentando me
libertar daquela posição, pois eu precisava desesperadamente de ar. Ele me soltou. Mal pude me
recompor, quando o menino abriu bruscamente a porta do meu lado, dizendo: sai cara, senão é
sujeira!
Obedeci, mas aproveitei um segundo de distração da minha vítima e fiz uma única foto com o
meu celular. Fechei a porta com delicadeza. Não olhei para trás. Somente caminhei alguns metros
até a próxima esquina. Ele permaneceu no mesmo lugar, sorrindo sem parar.

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27 julho - 16:17 - De volta ao meu quarto | Jundiaí | Sexo no centro

A tarde de hoje estava me convidando para o prazer. Saí por volta do meio-dia da casa dos
meus tios em direção ao centro da cidade. Precisava passar no Itaú, sacar dinheiro e comprar
algumas coisas para Tia Corada. Caminhei pelo Calçadão em volta da igreja matriz. Meus olhos
tentavam capturar movimentos indiscretos, outros olhares lascivos ou algum corpo masculino
clamando por sexo sem compromisso. Desisti depois de uma hora de caça, quando uma garoa fina
passou a me incomodar.
Quando cheguei ao Russi, minha primeira providência foi conhecer o banheiro interno.
Limpo, aconchegante e discreto, a sala do prazer era situada na garagem do piso inferior do
supermercado 24 horas. Entrei e não havia ninguém. Tirei o possante para fora e tratei de estimular
o menino para deixá-lo de prontidão, idealizando um possível candidato que estivesse disposto a
uma breve luta de espadas.
Nem um minuto se passou, quando um homem negro, idoso, forte e carrancudo entrou no
recinto. Posicionou-se atrás de mim, em um dos reservados que ficava próximo do meu mijador.
Com a porta semi aberta, reparei que o idoso não estava urinando e sim apreciando os movimentos
que eu provocava em meu sexo. Ele abriu um pouco mais a porta e pude notar sua ereção. Um
cacete curto e muito grosso estava sendo manipulado por uma mão forte, experiente.
Rapidamente estiquei meu braço e toquei em sua tora grossa. No silêncio da ausência de
palavras, percebi que não havia ninguém caminhando no corredor que dava acesso ao banheiro.
Abaixei e engoli totalmente aquela carne escura, ao mesmo tempo em que eu proporcionava
carícias estimulantes nas bolas de um saco enorme.
Alguns segundos depois alguém abriu a porta. Recobramos nossas posturas. O negro idoso se
trancou no reservado com delicadeza, enquanto eu voltava a contemplar os azulejos frios do meu
canto de descarrego.
Um senhor elegante havia entrado no banheiro. Não fez nenhuma necessidade. Simplesmente
permaneceu alguns minutos mexendo nos fartos cabelos prateados, olhando seu semblante refletido
no espelho. Ele reparou que além de mim havia mais alguém no recinto. Permaneceu acariciando a
cabeleira, olhando discretamente através do espelho o volume da minha mala.
Fechei o zíper bem na sua frente. Posicionei-me ao seu lado, lavando as mãos
demoradamente, enquanto nossos olhares se cruzavam através do espelho. Desejei aquele homem e
sabia que o havia conquistado. Ele seria meu, do jeito que eu quisesse.

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Passei por trás dele para alcançar as toalhas de papel. Sem tirar os olhos do seu corpo e do seu
rosto nobre, enxuguei as mãos rapidamente, jogando o papel umedecido no cesto ao seu lado. Por
instinto, segurei a cintura do Cabeleira e por ser mais alto que aquele corpo macio, posicionei minha
boca em seu pescoço branco com facilidade, lambendo-o com certa força, deixando em seguida a
marca dos meus dentes e a vermelhidão provocada pela minha barba de dois dias naquela pele alva.
A porta do reservado foi aberta. O negro consumia os dois homens à sua frente socando
rapidamente uma rápida punheta. Eu e Cabeleira ficamos um de frente para o outro e trocamos um
beijo rápido, porém intenso, onde pude sentir o gosto de um cigarro vencido. Ouvimos passos.
Voltamos a nos comportar como usuários comuns. Saí primeiro, cruzando no corredor com um
garoto com cara de idiota.
Desencanei dos dois homens, enquanto fazia as compras da lista preparada pela minha tia. Ao
sair do supermercado, caminhei em direção a uma praça. A chuva estava um pouco mais pesada, o
que tornou-se um belo pretexto para eu entrar no banheiro público do local. Diferente do outro
ambiente, esse banheiro exalava um odor muito estranho. A mistura da urina secular com produtos
de limpeza de péssima qualidade incomodava meus sentidos, mas não impedia que meu desejo por
sexo diminuísse um por cento sequer, pelo contrário!
Os reservados estavam todos ocupados. Olhei de maneira discreta por debaixo das portas,
arqueando levemente meu corpo, como que a coçar o calcanhar e reparei nas calças arriadas.
Descobri que eram dois homens de meia idade, bem simples e rústicos, pois aprendi a desvendar um
estilo de vida pelo tipo de calçado que o homem está usando.
No mijador havia um rapaz que aparentava ter no máximo vinte anos. Bermuda azul bem
folgada, blusão cinza surrado, um boné falsificado da Nike e um dos cacetes mais estranhos que eu
já havia presenciado. Aquilo parecia uma salsicha da Sadia; não era nem torto demais, nem reto,
tampouco empinado ou curvilíneo. Era estranho, essa é a única definição que posso dar a você.
Aquilo estava meio-mole-meio-duro. Era impossível não ficar olhando. Dá uma pegadinha,
ele disse. Eu fiquei em dúvida em que atitude tomar. Nesse instante as portas dos reservados se
abriram, quase que simultaneamente. O barulho da descarga me fez voltar a realidade. Guardei meu
pau desfalecido dentro da calça.
Para minha surpresa, um dos homens a deixar o reservado era o negro idoso. Ele me encarou
com um sorriso ridículo no rosto. Apertou o pau por cima da calça, sem cerimônia, diante do Sadia.
O outro homem passou batido, retirando-se do banheiro sem ao menos lavar as mãos!

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Fiquei entre o Sadia e o Didi (treino é treino, jogo é jogo). Atrevido, senti algo roçando atrás
de mim e notei uma mão grossa e áspera a perscrutar minha intimidade. Percebi que eu não ia sair
dali sem fazer algo com os dois. Entreguei a sorte. Deserdei a razão.
Foram cinco minutos de loucura total. Enquanto dobrei o corpo para tentar algo com a boca
no pau do Sadia, Didi abriu meu jeans sem dó, deixando-me com a calça arriada quase que no meio
das pernas. Ele cuspiu na mão áspera e lambuzou minha entrada. Chupando a cabeça da coisa torta
à minha frente, fui penetrado de uma só vez pelo negro, sem dó nem paciência. Senti algo se romper
dentro de mim e um ardor tomou conta da minha intimidade.
Sadia estava se divertindo com a cena, brincando com seu sexo alienígena em minha boca.
Nem sei se eu estava com medo que alguém aparecesse. Neguei os sentidos. Afastei a dor. Senti
somente o prazer.
Didi retirou seu pau grosso do meu corpo, empurrando-me de encontro ao corpo magro do
Sadia, que me agarrou. Em passos curtos e rápidos, segurou minha cabeça e bateu com força o pau
duro e molhado em meus lábios, forçando-me a beijá-lo e a sentir o meu próprio gosto. Sadia se
posicionou na entrada do banheiro, como um guardião. O negro encharcou minha boca com seu
líqüido viscoso.
Não tive tempo nem de me limpar, pois atrás de mim surgiu um rapaz modorrento que fedia a
cachaça barata. Eu tentava levantar minha calça e ele não permitia, forçando o tecido para baixo.
Entrei em pânico, querendo sair dali o mais rápido possível. Sadia fechou o portão de ferro que
dava acesso ao banheiro, posicionando-se do lado de fora. Notei que ele falava algo para alguém
que queria entrar, impedindo-lhe a passagem. Cachaça forçou mais uma vez minha calça para
baixo. Cedi.
O negro lavava o pinto abatido na pia do banheiro. Cachaça – que era muito mais forte e
decidido do que eu – tentava enfiar dois dedos imundos da mão esquerda no meu íntimo. Respirei
fundo e entreguei meu corpo aos céus, enquanto olhava fixamente o portão de ferro ainda fechado.
Apoiei as mãos no frio azulejo branco. Abri as pernas o máximo que pude. Não acreditei quando
senti uma língua quente me comendo por trás.
A língua dava lugar a dois dedos intrusos que dilatavam com certa selvageria o meu rabo
deflorado. Um misto de choro e prazer duelava dentro de mim. Depois foi o dedo médio que fez o
serviço. Cachaça levantou seu corpanzil, segurando-me com força, enquanto posicionava seu pau na
porta de entrada do meu prazer. Mais uma vez tudo foi feito com extrema violência. A penetração

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foi realizada de uma estocada só, cegando-me a razão, explodindo ao mesmo tempo o desejo de
“quero mais”. Engoli um grito surdo.
Didi assistia a tudo. Cachaça tampava minha boca impedindo-me de gritar, coisa que eu nem
ousava fazer. Percebi que ele havia gozado quando mordeu fortemente minha nuca, deixando a
marca dos dentes podres na minha pele. Cachaça tirou o pau já flácido do meu corpo, levantou a
calça e se aprumou, deixando-me aos meus próprios cuidados. Eu estava afivelando o cinto quando
o portão de ferro foi aberto. Dois rapazes entraram na companhia do Sadia. Um foi lavar o rosto na
pia. O outro foi para um dos reservados. Tudo voltou ao normal. Parecia que nada havia acontecido
instantes atrás.
Ao pegar minha sacola de compras que jazia num canto qualquer, Didi, o negro idoso,
finalmente emitiu um som grave, dizendo-me que estava todos os dias, naquele horário, naquele
local, para quando eu quisesse “brincar” mais um pouco.
Ao sair, Sadia veio em minha direção, perguntando se eu havia gostado da festa. Não
respondi. Simplesmente abri a carteira e tirei três notas de dez, entregando-as ao rapaz.
Ele contou várias vezes as notas, quase que não acreditando que eram verdadeiras. Puxou meu
corpo e me deu um abraço. Valeu, mano!, foram as palavras de despedida. Caminhei até o ponto de
táxi próximo ao Hospital São Vicente. Entrei num Santana vinho. E fui direto para a casa dos meus
tios. Exausto, confuso, delirante, mas feliz!

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28 julho - 21:50 - Exausto | Jundiaí | Sexo sagrado

Tio Barriga vinha para o Centro fazer uma revisão em seu carro. Aproveitei a carona para dar
um passeio e ir novamente à caça! Meu corpo ainda não havia se recuperado do dia anterior. Havia
dor e desconforto lá embaixo, no que restava do meu rabo branco e liso. Meu tio me deixou na rua
do Rosário, próximo da igreja matriz. Caminhei até o teatro Polytheama para conferir a
programação cultural. Pra variar, não havia ninguém para me dar informações. Nada mudou na
cultura dessa cidade, pensei. Resolvi descer até a Vila Arens para tentar a realização de uma antiga
fantasia.
Passando próximo ao colégio Gandra, notei um ônibus de excursão parado embaixo de uma
sombra refrescante proporcionada por uma árvore centenária. Encostado na lateral do veículo estava
o motorista, palitando os dentes. Era um senhor moreno, de baixa estatura, e com uma cara super
amarrada, parecendo um Pug! Ao chegar bem ao seu lado, “esbarrei” minha mão em sua coxa e
continuei descendo a rua em direção ao meu destino. Alguns passos adiante, olhei de relance para
trás e notei que Motorista me encarava com um olhar severo. Alisei meu pau lentamente. Ele fez o
mesmo. O sinal universal da fodaria havia sido trocado. Dei meia volta e fui conversar com ele.
Estiquei a mão para um cumprimento. Minha cordialidade foi aceita. Notei a aliança gasta, de
um casamento antigo. Com a mão esquerda continuei a acariciar meu sexo, que já estava pronto
para ser consumido. A porta aberta do ônibus nos proporcionava a privacidade ideal dos possíveis
olhares da rua. Motorista olhou o mostrador do falsificado relógio de pulso japonês, entrou no
ônibus, cerrou as cortinas de uma das janelas e assoviou, sinal que interpretei como um aviso para a
minha entrada triunfal.
O homem com cara de Pug passou por mim no corredor. Sem palavras, indicou-me o local da
nossa sacanagem básica. Ele foi até o painel central e pressionou um botão logo abaixo do volante,
que fez a porta se fechar suavemente.
Eu sentei na “janelinha”, sentindo o sol aquecer as cortinas verdes, desbotadas. Ele veio e
jogou o corpo pesado sobre a poltrona ao meu lado. Abriu o zíper da calça cinza chumbo. Com a
força da mão direita, empurrou minha cabeça para o seu prazer. Mania de hétero machista forçar
nossa mente para fazer o serviço oral.
Mau degustei aquela carne morena e em micro-segundos minha boca foi inundada pelo êxtase
daquele homem. Foi tudo muito rápido. Perdi o sentidos, pois minha respiração foi bloqueada,

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devido ao líqüido que não se definia se era absorvido pelo meu corpo ou se voltava ao mundo
exterior. Com esforço, entre náuseas, desceu tudo goela abaixo.
Motorista tirou um lenço branco do bolso da camisa azul e limpou seu pau pequenino. Eu
pedi licença para me retirar o mais rápido possível daquela caixa de aço ambulante. O homem
encolheu as pernas, liberando minha passagem. Caminhei meio cambaleando pelo corredor estreito.
Graças a minha excelente memória fotográfica, descobri rapidamente qual era o botão que abria a
porta de aço. Pressionei-o e ganhei novamente a liberdade.
Sem olhar para trás, desci a longa rua que contorna o colégio. Dez minutos depois eu estava
na praça da igreja N. S. da Conceição. Fui direto para o banheiro tirar o gosto amargo da boca.
Depois, dentro do interior multi colorido da igreja, sentei em um dos bancos de madeira escura,
tentando relaxar meu espírito cansado. Fiquei um longo tempo contemplando as pinturas nas
paredes, tentando me lembrar dos nomes de algumas personalidades que estavam representadas
naquela pseudo ars sacra.
Um jovem passou do meu lado direito, indo em direção a uma das capelas. Seguindo o ritual,
fez o sinal da cruz e ajoelhou-se diante de um altar, posicionando as mãos unidas na frente dos
lábios e pronunciando em tom muito baixo o que deveria ser alguma prece padronizada. Na mesma
hora tirei meu corpo cansado do banco onde eu estava e o levei para ser estacionado bem ao lado da
minha próxima vítima.
Para aumentar minha ironia diante da situação, reproduzi os sinais sagrados exatamente como
meu futuro objeto de prazer. Ajoelhei-me diante do altar, mas minha cabeça e minha atenção se
voltavam para o corpo jovem e franzino que estava ao meu lado. Novamente fiquei acariciando meu
sexo. O jovem notou meus movimentos nada sagrados. Foram quinze minutos de carícias egoístas.
Meu braço já estava ficando cansado de tanto bimbolar o cacete por cima da calça. Saí da minha
posição de falsa reza e me sentei, esticando um pouco as pernas e abrindo parte da camisa para
aliviar o calor do meio-dia.
Cansado de esperar, levantei e simulei minha retirada do local. Parei na entrada de uma sala
pequena, onde acima de um altar simples repousava a imagem de uma santa. Fiquei encostado na
parede observando os ricos detalhes daquela vestimenta sagrada. Fiz uma foto com meu celular.
Ouvi passos ecoando pelo corredor. O jovem com cara de rato entrou na pequena sala abafada.
Sem encarar a santa e sem olhar diretamente para o meu rosto, Rato encostou seu corpo
magro e perfeito no meu corpo atlético e definido. O encaixe foi exato. De rosto baixo – o corpo
tremendo de excitação e medo – segurei aquele queixo quadrado e busquei um beijo. Sua boca

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salgada encontrou minha boca que exalava o cheiro de uma bala de hortelã. Sua língua macia fez
maravilhas na luta direta com minha língua pequena. Acariciei sua bunda sem bunda e fui
presenteado com uma mão tremendamente sedosa a tocar meu sexo que nessa altura do campeonato
já estava enlouquecido tentando ganhar a luz do dia. Ouvimos passos. Empurrei o corpo do rapaz e
dei uma espiadela no lado de fora da sala. Vi uma senhora sentando lentamente na primeira fileira
de bancos, próxima do altar principal.
Vamos sair daqui, disse Rato com uma voz rouca, afeminada. É muito perigoso, continuou.
Não dei atenção e exigi novo contato dos corpos suados, já abrindo o zíper do meu jeans e forçando
sua mão a acariciar minha viga exposta. Após um beijo rápido e intenso, foi minha vez de forçar
uma boca a me consumir. Em segundos pude sentir uma língua experiente a brincar com meu sexo
triunfante. O rapaz tinha pressa em me fazer gozar. Era palpável o nervosismo presente naquele
cubículo. Segurei suas orelhas grandes, vermelhas, forçando-o a engolir todo meu membro. Os
sentidos foram perdendo sentido. Olhei para santa que tinha um olhar perdido, envergonhado. O
suor caía do meu rosto corado, depositando seu sal no couro cabeludo do jovem Mickey orelhudo.
Quase perdendo a respiração, minhas mãos rasgando a pele vermelha daquele rapaz, gozei
como nunca havia gozado antes, deixando parte da minha essência grudada no rosto branco e
sardento e a outra parte formava uma pequena poça que se destacava no chão limpíssimo. Fiz o
sinal da cruz em homenagem ao Santíssimo. A mãe de Deus fechou os olhos diante da luxúria.

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29 julho - 16:18 - Satisfeito | Jundiaí | Lá vem o trem

Um homem vale duzentos reais. Pude comprovar isso hoje. Passei a manhã desta sexta-feira
na companhia de Ângela, uma grande amiga jundiaiense. Ela era namorada do meu irmão mais
velho, há milênios atrás, quando morou por um tempo em Curitiba. O namoro neurótico dos dois
acabou em poucos meses, mas a amizade saudável que construímos permaneceu intacta. Ela mora
atualmente na Ponte São João, um dos bairros mais tradicionais e agradáveis de Jundiaí.
Estávamos fazendo compras no Barateiro. Havíamos passado horas conversando na casa dela
naquela manhã agradável, pois esse era o único horário disponível para uma visita, já que Ângela
trabalhava no período da tarde em uma clínica veterinária e à noite cursava uma faculdade em
Itatiba, cidade medonha localizada a vinte minutos de Jundiaí.
Na saída do supermercado, reparei em um rapaz montado numa corroída bicicleta azul. Ao
ver os contornos do seu corpo debaixo do agasalho cinza – amo corpos masculinos escondidos
dentro de agasalhos esportivos – fiquei enlouquecido. Despachei minha amiga o mais rápido que
pude, ativando discretamente uma melodia no meu celular, simulando assim uma ligação. Em
seguida, eu disse a ela que minha tia precisava da minha presença urgente em casa.
Deixei Ângela próxima a linha férrea que separa o Centro da Ponte. Três beijinhos e um
tchau, voltei à procura do meu Agasalho. Foi fácil localizá-lo. Ele estava sentado na mureta que
cerca o supermercado, mexendo na roda traseira da sua velha bicicleta.
Sem cerimônia, cheguei e me sentei próximo do rapaz. Perguntei se ele precisava de ajuda.
Inocente, ingênuo até, disse que estava cansado de arrumar o câmbio daquela joça. Mostrou marcas
de cortes nas mãos, obra de uma bicicleta malvada e velha. O cheiro de óleo e graxa, mais a visão
daquele par de coxas grossas foi me tirando do prumo. Eu mal conseguia esconder minha excitação.
Respirei fundo e perguntei para Agasalho quanto custava uma bicicleta nova. Ele respondeu
rapidamente que o modelo que ele queria custava cento e noventa e nove reais na “Tico”.
E você tem esse dinheiro?, perguntei. A resposta foi negativa, pois ele estava desempregado
havia três anos, tinha dois filhos para sustentar, tinha um montão de gente que devia pra ele e não
pagava e mais um milhão de ladainhas que precisei ouvir com muita paciência.
E se eu te desse esse dinheiro agora, nota sobre nota, você realmente compraria uma bicicleta
nova?, perguntei, sem rodeios. Nesse momento um par de olhos castanhos cintilaram curiosos e
ávidos por maiores informações. Desconfiado, Agasalho ficou analisando meu rosto. Você não é
daqui, né memo? Você fala cantado. Você é do Sul? Você é casado, cara?

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Sim, não sou daqui. Sim, moro no Sul, mais precisamente em Curitiba. Sim, eu falo cantado.
Não, eu não sou casado, respondi, mostrando-lhe meu melhor sorriso falso.
E o que eu tenho que fazer pra ganhar o dinheiro?, perguntou Agasalho, a curiosidade
gritando dentro dos seus pensamentos ingênuos. Me comer agora, eu disse. Ali na frente, apontei
uma reentrância entre um muro grafitado e a linha férrea.
Mas ali passa gente toda hora. Sou casado, cara, nunca comi um ômi! Você me dá mesmo o
dinheiro se eu te comer? Ignorei a primeira questão e respondi a segunda mostrando para ele o meu
cartão cinco estrelas.
Eu quero que você me coma ali, naquele lugar, agora. Foda-se quem passar por ali. É pegar ou
largar. Agasalho baixou a cabeça, coçando as têmporas por alguns instantes. Eu topo, ele disse, mas
com uma condição: eu como você, mas não beijo na boca, certo?
Engoli um riso, pois eu estava interessado no desafio e não em perder tempo com beijos
românticos. Quero um sinal, pra garantir que você não vai me dar calote, ele disse. Tirei novamente
a carteira do bolso e saquei quatro notas de dez. Tá bom pra você essa quantia como sinal? O
homem nem piscou. Pegou o dinheiro e colocou dentro da meia que um dia fora branca. Vá na
frente e eu te sigo, ele disse. Acatei as ordem sem mais objeções.
Havia uma casa logo após o local onde centro e bairro se fundem. Ao lado da casa grafitada
havia uma reentrância que me conduziu por um caminho que acabava entre moitas de capim alto.
Algumas folhas cobriam as laterais da linha férrea abandonada. Encostei meu corpo numa caixa
metálica, onde um adesivo gasto com o desenho de uma caveira sorridente indicava que ali eu
estava correndo risco de morte. Tentei me esconder atrás do mato esparso. Agasalho veio em minha
direção. Jogou a velha bicicleta junto à parede da casa colorida. Caminhou até mim abaixando parte
do agasalho cinza. Um pau flácido pendia para fora da cueca de dois dias. Chupa ele, deixa ele duro
pra entrar em você, cara, ele disse, ofegante.
Fiquei de cócoras esperando aquela minhoca mole ganhar vida com meus beijos. Fino e
comprido, o pau foi tomando forma, esbofeteando minhas faces coradas, comandado pelo jogo de
cintura do feliz Agasalho numa coreografia mambembe. Eu notava as pessoas atravessando a linha
férrea a poucos metros de onde estávamos. Ninguém parecia perceber que havia dois homens
fazendo sexo sujo e sem nexo bem próximo a elas.
Deixa eu por em você, cara. Sem proteção, sem a mínima noção de segurança e higiene,
Agasalho me pôs de quatro, cuspiu em meu rabo e penetrou-me de uma vez. Havia pressa em
ganhar o seu dinheiro. Agasalho segurava com força a minha cintura. Eu quase beijava algumas

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pedras ao lado da enorme caixa de força, onde a caveira estilizada continuava sorrindo e gritava,
dizendo-me que eu corria o real risco de morte se permanecesse ali, tateando seu interior – ironia do
destino, já que era o meu interior que estava sendo arrombado. Ganhei alguns tapas sem sincronia
no traseiro e uma forte mordida nas costas, enquanto Agasalho copulava comigo.
Vou gozar, vou gozar, caralho!, ele disse, mordendo fortemente meu ombro direito. Senti o
jato quente consumindo minhas entranhas. Agasalho tirou rapidamente o pau ainda duro do meu
corpo. Limpa ele com tua boca, viado, ele disse, encostando o corpo na parede da casa, ao lado da
velha bicicleta. Com um ar submisso, cabeça baixa, fingindo acatar a ordem máxima daquele
homem, limpei o cacete ainda muito duro com uma bela chupeta. Era estranho o gosto do meu
íntimo deflorado.
Eu vou sair na frente. Vou te esperar na esquina do Posto, ele disse. Agasalho saiu segurando
sua velha amiga. Eu fechei meu jeans, cuspi minha saliva podre nas linhas de ferro empoeiradas e
segui meu Agasalho até o ponto do nosso encontro e despedida. Atravessamos a ponte até
chegarmos no Itaú. Saquei o dinheiro prometido. Entreguei tudo conforme o combinado.
Valeu cara, quando quiser que eu te coma, é só vir aqui na Ferroviários de domingo, sempre
as dez, que eu tô dando um rolê por aqui. Dissemos um “até logo” com um aperto de mãos.
Agasalho deu um leve tapa no meu traseiro. Montou em sua antiga bicicleta azul e ganhou a
avenida São João até eu o perder de vista.

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30 julho - 15:24 - Maluco | Jundiaí | Em ruínas

Neste sábado eu parecia um zumbi caminhando pelas ruas centrais da cidade. Meus tios foram
passar o fim de semana em Taubaté, visitando um casal de amigos. Apesar da insistência de minha
tia em me arrastar para esse passeio, eu não estava disposto a viajar e fazer a linha geriatria com os
velhos. Depois de todas as recomendações de Tia Corada em relação aos cuidados com a casa,
esperei os dois partirem, fechei o lar-doce-lar, peguei o ônibus no Terminal Eloy Chaves e fui até o
Centro comprar algumas revistas e cervejas para me divertir em casa, sozinho, quando a noite
chegasse.
Claro que eu poderia ter feito minhas compras no ótimo comércio do bairro. Mas resolvi
tentar uma brincadeira rápida no Centro, mais uma vez. Caminhei por mais de uma hora. As
pessoas, fechadas em seus universos medíocres, também zanzavam como mortos-vivos em todas as
direções. Enjoei de ficar em calçadões. Desci a rua Torres Neves. Quando cheguei bem no meio do
viaduto que une Centro-Bairro, vi um rapaz fumando, encostado numa árvore, bem embaixo de
mim. Fiz um click com meu celular. Desci a escada que me levaria para debaixo da famosa Ponte
São João. Senti o perfume. Era maconha. Me aproximei lentamente.
E aí mano, posso dar uns pega?, eu nunca havia usado gíria em meu vocabulário. Nem sabia
se era assim que os mano se comunicavam. O carinha observou-me com um olhar perdido. Sem
palavras, esticou o braço e me ofereceu uma ponta. Eu não fumo. Nem sabia como proceder
naquela situação. Lembrei da cena de um filme antigo. Concentrei-me no personagem que fumava
um baseado no tal filme. Copiei a performance, que em nada impressionou meu novo amigo. Odiei
o gosto insosso na boca.
Encostei no muro. Fumeta deu mais uns pegas. O olhar distante para lugar nenhum. Algumas
pessoas transitavam sob o viaduto. Eu ignorava possíveis olhares. E aí, gosta foder?, perguntei – na
lata – para Fumeta.
Ele demorou pra pegar no tranco. Avaliava a proposta com um olhar cansado. A expressão do
seu rosto denotava que ele já havia ouvido aquela cantada barata de milhares de viados perdidos
nesse mundo.
Tem dez conto? Se tu tivé dez conto eu deixo você caí de boca, ele disse. Se tu tivé trintinha
aí, a gente faiz a festa!, ele afirmou, dando mais uma tragada no toco alucinógeno que carregava
entre os dedos encardidos.

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Onde a gente vai trepar?, perguntei, cretinamente. Consegue pulá o muro aí?, Fumeta
perguntou, apontando com o queixo o muro baixo bem na minha frente. A gente fode na antiga
estação, pode cê?
Vambora, eu disse. Olhamos em volta, esperamos um carro passar, atravessamos a rua e
pulamos o muro. Caminhamos a passos rápidos até a estação de trem desativada. Eu seguia Fumeta,
que entrou na lateral da estação, entre ruínas e tijolos caindo aos pedaços.
E aí mano, mostra o cascaio, ele disse, apontando a minha carteira, que estava no bolso
esquerdo do jeans. Meu bom senso travou meus movimentos, pois eu me lembrei que tinha somente
notas altas na carteira. O medo de ser assaltado ou ferido passou rasante pela minha consciência.
Virei de costas para Fumeta, tirei a carteira do bolso, abri-a e retirei uma nota de vinte, a mais baixa
que havia no montante. Mostrei a nota. Eu falei trintinha, ô meu, senão tu vai só pagá um boquete,
certo?
Expulsei o bom senso. Tranquei a razão. Tirei três notas de cinqüenta e joguei-as no chão
empoeirado. Fumeta olhou atentamente para as notas. Caminhou lentamente até elas, pegando-as
com extrema delicadeza.
Vem cá, seu puto, sô um cara de palavra. Vô dá o que tu qué. Fumeta tirou a camisa. Um
corpo moreno e desprovido de excessos se materializou na minha frente. Uma belíssima tatuagem
em formato de sol asteca revestia o seu umbigo. Aproximei meus lábios e comecei ali mesmo o meu
serviço, tentando beijar o sol radiante daquele corpo suado.
Peraí, mano, deixa eu tirá os pano. Fumeta me empurrou, fazendo com que eu perdesse o
equilíbrio, caindo sentado no chão, levantando uma nuvem de poeira repleta de fragmentos
metálicos. Mas a queda providencial me proporcionou uma fantástica visão. Fumeta arrancou o par
de Rainha, baixou a calça larga juntamente com a cueca preta, jogando toda roupa num canto
qualquer. Fumeta trajava agora somente meias brancas, que contrastavam agradavelmente com seu
corpo cor de mel, liso, desprovido totalmente de pêlos, inclusive na região do sexo, que por sinal já
se encontrava pronto para me atacar.
Vai Branquelo, tira logo os pano, ordenou Fumeta. Cheguei bem perto dele, a luz do sol
atingindo em cheio meu rosto quadrado. Você vai tirar a minha roupa, eu disse, olhando fixamente
para aquele olhar negro. Fumeta segurou minha camisa pólo por baixo, rancando-a de uma só vez
do meu corpo. Desceu a cabeça em direção aos meus mamilos, mordendo com violência um deles,
enquanto beliscava fortemente o outro. Travei o maxilar para não gritar. O misto de encantamento,
surpresa, dor e prazer dominou todos os meus sentidos. Empurrei com força aquele corpo atlético.

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Fumeta veio com tudo pra cima de mim, forçando a abertura do meu cinto e a retirada do meu
jeans. Ele baixou minha calça até a altura dos joelhos. Apoiou um dos meus pés sobre sua coxa
esquerda, tirando meu dockside, um depois o outro. Eu também fiquei de meias, que eram em tom
creme, que praticamente sumiam em contraste com minha pele branca que há anos clamava por
alguns raios de sol.
Quase nus, jogamos nossos corpos no chão coberto de poeira e ferrugem. Fumeta voltou a
atacar meus mamilos, sendo mais brando nas mordidas dessa vez. Procurei um beijo que não foi
aceito de imediato. Chupa meu caralho, Branquelo, ele disse. E caí de boca no membro ereto.
Fumeta buscou meu pau, engolindo-o de uma só vez. Ficamos no meia-nove um bom tempo,
chupando um ao outro, enquanto Fumeta lascava tapas violentos em minhas nádegas brancas, que
logo ganharam manchas arroxeadas em toda região.
Tirando meu pau da sua boca, Fumeta me pediu para ficar em pé e encostar as mãos na parede
de tijolos. Com dois tapas certeiros e doloridos, abriu minhas pernas. Os raios de sol que
castigavam aquela tarde estavam me cegando. Desviando minha cabeça da luz, senti uma língua
quente abrindo caminho no meu interior. Fumeta desbravava meu cu com maestria. Enlouqueci. Saí
completamente de mim. A língua penetrava cada vez mais fundo, numa velocidade estonteante.
Quando menos eu esperava, um corpo completamente molhado de suor tentava invadir o meu
corpo. Ouvi o som de um cuspe. A saliva quente fora despejada em meu buraco piscante e logo em
seguida um cacete de bom calibre, empinado para a esquerda, começou a me foder. A penetração
foi lenta e dolorida, mas finalmente após longos minutos de suplício todo aquele sexo pre-potente
se encontrava dentro de mim. O suor misturado com o pó daquele lugar abandonado criava imagens
difusas no movimento dos nossos corpos. Fumeta continuava alternando os tapas em minha bunda
com fortes estocadas em meu íntimo. Ele segurava com força os meus cabelos, dando tapas de leve
em meu rosto de tempos em tempos.
Minhas pernas estavam ficando sem os ossos quando senti outro par de mãos tocarem meu
peito, enquanto Fumeta continuava me fodendo e batendo em minhas coxas e bunda e costas com
suas mãos fortes. Tomei um susto enorme quando vi um outro ser bem ao meu lado, acariciando
meu peito, enquanto tirava o membro para fora.
Ele aparentava ter entre quinze e dezesseis anos. Era gordinho, sem ser obeso. Usava uma
camisa do Santos e uma bermuda surrada que um dia fora azul marinho. Estava descalço e seus pés
estavam enegrecidos por causa de caminhadas seculares sem usar um calçado adequado.

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Tirou completamente o sexo de porte médio de dentro da bermuda. O som do velcro sendo
aberto fez com que eu retornasse à realidade. Havia realmente dois caras junto comigo. Fechei os
olhos e entreguei minha sorte para o meu anjo da guarda, que devia estar batendo uma às minhas
custas, o safado.
Minha boca foi forçada a sentir um gosto forte de urina vencida de um cacete que certamente
não via a cara de uma ducha a semanas. Chupei e cuspi diversas vezes até que aquele sexo tivesse a
mínima higiene para ser degustado.
Deixa eu fodê ele, mano, disse Gordinho. Fumeta deu mais duas ou três estocadas e retirou o
pau de dentro de mim. Gordinho tirou o membro da minha boca e foi tranqüilamente se posicionar
atrás do meu rabo dolorido, penetrando-me com facilidade, em seguida. Fumeta acendeu um cigarro
e transformou minhas roupas num amontoado compacto, sentando em cima delas, descansando o
corpo, avaliando a performance do Gordinho.
O garoto parecia não ter muita experiência como “ativo”, pois nossos movimentos não
sincronizavam de jeito nenhum, fazendo com que seu pinto sem-pinto escapasse diversas vezes,
irritando-me profundamente.
Fumeta limpou o pau na minha camisa. Masturbou-se um pouco até o membro voltar à plena
rigidez. Vem cá, seu puto, ele ordenou. Rapidamente endireitei meu corpo, cancelando o prazer do
Gordinho sem graça. Qual não foi minha surpresa quando o próprio Gordinho adiantou-se à minha
frente, ajoelhando diante de Fumeta e engolindo de uma só vez o membro do parceiro de fodeção!
Senta aqui do meu lado, ô Branquelo. Sentei e fui abraçado com severidade. Chupa o pau
dele, mano, disse Fumeta. Gordinho imediatamente trocou de vara, lambendo meu sexo de cima a
baixo, concentrando as mamadas em minhas bolas. Beija a boca do branquelo, era a nova ordem
dada com rispidez. Gordinho subiu a língua do meu cacete até minha boca, passando pela minha
barriga, meus mamilos inchados e meu pescoço. Um beijo quente e amargo foi trocado. Fumeta se
levantou, deu um leve tapa na bunda de Gordinho, que empinou descaradamente os glúteos, sem
tirar a língua quente da minha boca.
Chupa o caralho dele, mano, que eu vou foder os dois, disse Fumeta. Gordinho voltou a fazer
o serviço enquanto eu apreciava a performance de Fumeta arregaçando o rabo alheio.
Quero as duas putinha de quatro, agora!, ordenou Fumeta depois de algum tempo. Eu e
Gordinho obedecemos, submissos. Ficamos lado a lado, de quatro, enquanto Fumeta mordia ora a
bunda de um, ora a do outro, sendo que somente a minha era premiada com tapas e socos
fortíssimos.

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Novamente uma língua ferina invadia meu íntimo destroçado. A língua alucinógena se
revesava com um par de dedos a me invadir, pois Gordinho também estava sendo premiado com o
ataque daquela língua divina no seu rabo.
O sol continuava castigando nossos corpos enquanto éramos fodidos pelo Fumeta. Uma
mistura única de suor, saliva, pó e secreções criava um odor etéreo nas ruínas da velha estação.
Gordinho acabou gozando enquanto estava sendo penetrado. Após o êxtase, levantou-se
rapidamente, colocando a roupa em seguida. Parecia desconfortável após a transa, como que se
sentisse culpa por algo errado feito entre nós.
Dá o meu cascaio, mano e vô zarpá fora!, disse Gordinho para Fumeta. Ele parou de me
penetrar e disse: Dá dez conto pra ele, mano. Saí da posição em que estava, notando os joelhos
esfolados, sangrando levemente quando eu havia tirado o pó que se depositara em ambos. De costas
para Gordinho, cacei a carteira no emaranhado de roupas. Encontrei somente uma nota de vinte e a
dei para o garoto agitado. Nervoso e trêmulo, ele saiu literalmente correndo de onde estávamos,
perdendo-se na imensidão das linhas férreas da estrada Santos-Jundiaí.
Tá cansado, seu puto?, disse Fumeta, buscando minha atenção. Vem cá, chupa meu cu agora.
Eu não esperava aquela atitude e na mesma hora minhas energias se renovaram. Enlouqueço
quando chupo um cu de homem. Eu pus na cabeça que não ia somente chupar aquele rabo, mas ia
fazer a mesmíssima coisa que ele havia feito comigo. Mordi com força aquela bunda miúda, rígida,
suculenta, deixando marcas profundas em toda região. Lambi e mordisquei um buraco rosado,
apertado, delicioso, adocicado.
Mantendo Fumeta de quatro, foi a minha vez de brincar de macho. Cuspi no meu pau e
posicionei a cabeça do possante bem no centro daquele homem. Não tive piedade. Empurrei tudo de
uma vez. Fumeta engoliu um grito e passei a fazer o meu serviço. Enlouquecido, os tapas de baixa
potência desferidos naquele corpo se transformaram em socos. Virei violentamente Fumeta de
frente para mim. Por ser mais leve, foi fácil elevar aquele corpo, encostá-lo na parede; penetrando-o
de frente entre as pernas fechadas e segurando com firmeza suas costas, marcando-as com meus
dedos fortes.
Em outro ato insano, soltei aquele corpo no chão. Empurrei novamente Fumeta de encontro a
parede de tijolos. Abri suas pernas com dois socos, e enfiei meu rosto em seu íntimo, minha língua
ensandecida lambendo o rabo certamente dolorido. Fumeta virou o corpo sem eu esperar, socando
meu rosto com seu membro, enfiando-o em minha boca.

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Outros tapas seguiram-se mesmo com o sexo em minha boca. Senti uma mão suada surrando
meu rosto sem dó. Fiquei com medo das marcas, mas há muito tempo a razão havia me
abandonado. Não permitindo mais tamanha submissão, abandonei o boquete e busquei
freneticamente um beijo. Fumeta cuspiu em minha boca, a essência escorrendo pelos meus lábios
fechados. Passei a masturbá-lo. Ele fez o mesmo comigo. Busquei novamente o beijo. Ele veio
carregado de tensão. Uma língua tremendamente quente lambia meus lábios, abrindo passagem por
entre meus dentes perfeitos. A luta de espadas acima e embaixo se prolongou por vários e tensos
minutos.
Deita no chão, filho da puta, deita agora!, Fumeta gritou, empurrando meu corpo para baixo.
Ele veio por cima de mim, procurando com a boca o meu pau, ao mesmo tempo que golpeava seu
cacete em meu rosto. Chupa meu caralho, mano, e não para, vou gozá na tua boca e você na minha,
falô?
Quando estamos numa situação de adrenalina extrema, somada a tensão, mais o medo, mais o
tesão... nossos sentidos normais são automaticamente bloqueados. Permanecemos em outra
dimensão, completamente alheios à realidade. Lembro de ter sentido a porra de Fumeta golpeando
minha garganta. Lembro dos meus jatos de sêmen borrando o rosto daquele rapaz. Acordei nu,
jogado no chão, exausto. Minhas roupas estavam colocadas em um canto com minha carteira em
cima do monte, intacta, mas sem parte do dinheiro. E na parede de tijolos havia uma mensagem
escrita em traços brancos por cima da terracota:
VALEU, MANO!

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31 julho - 17:05 - Convalescendo | Jundiaí | O beijo

Quando vi meu rosto no espelho, agradeci a todos os santos por não haver marcas profundas
da tarde anterior. Sorte que meus tios estavam ausentes e distantes, pois cheguei em casa feito um
trapo humano: a roupa suja, a pele repleta de hematomas. Meu rabo estava inchado e muito
dolorido. Não imagino dar o cu nos próximos dias, pois tudo no hemisfério sul continua em chamas.
Passei o dia todo de molho. Assisti as besteiras da TV aberta, vi pela milésima vez a Missão
Impossível, tomei litros e litros de cerveja quente e me esparramei no tapete felpudo da sala.
Quando os raios solares perdiam a força ao cair da tarde, resolvi caminhar um pouco, sem uma rota
definida. O bairro estava mergulhado em silêncio naquele fim de um domingo triste, sem vida.
Parei num posto e comprei uma Skol em lata. Ao sair da loja de conveniência, o azul de uma
camisa amarrotada chamou minha atenção. Em pleno domingo, ver um homem todo social é uma
visão deslumbrante, quando o mesmo não se trata de um neo-protestante-evangélico-fanático-
hipócrita-neurótico.
Trocamos olhares. Umedeci os lábios com o néctar dos deuses. Esperei pacientemente Camisa
Azul entrar, usar e depois sair de um Caixa Eletrônico – Itaú, é claro. Cruzamos o mesmo caminho,
dei um “olá”!
Camiza Azul me cumprimentou com um sorriso. Notei que seu olhar caiu sobre minhas coxas
brancas cobertas de pêlos dourados. Caminhamos lado a lado por alguns quarteirões. Ele me disse o
seu nome. Eu também disse o meu. Trocamos um forte aperto de mão. Trabalhava a quatro
quarteirões de onde estávamos. Dera “plantão” para um grupo de clientes que só podia ser recebido
aos domingos. Ele era advogado.
Convidou-me para entrar e conhecer sua sala. Aceitei o convite com um sorriso malicioso
estampado no rosto. A sala era pequena, apertada, mas bem organizada, com poucos móveis, um
computador antigo, fax, impressora e os indefectíveis livros de direito devidamente aprumados
numa estante de metal.
Não trocamos mais palavras. Somente um demorado abraço selou nossa união. Camisa Azul
buscou meus lábios e a partir desse momento curti um dos melhores beijos masculinos que já
experimentei na vida. Voamos para outras dimensões. Ora sentados, ora deitados no chão
acarpetado, nos olhos, nas faces, no pescoço, nas orelhas, no queixo e nas mãos, nossas bocas
buscavam freneticamente toda forma de um prazer tranqüilo.

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Beijos lentos, demorados, intercalados com leves mordidas em queixos e nucas. Línguas
quentes desbravando pescoços sensuais. Olhos fechados, olhos abertos, mãos que liberavam
carinhos românticos em rostos suados numa tarde de domingo que deixou de ser monótona.

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01 agosto - 23:58 - Entorpecido | Jundiaí | Dark room

Passei mais um dia-família nessa segunda feira. Meus tios chegaram por volta de uma da
tarde. Passamos o resto do dia colocando as fofocas da viagem em pratos limpos. Depois do jantar
me enfurnei em meu quarto provisório. Pluguei o Mac na linha telefônica. Entrei no chat do UOL
com o nick: SEXO_A_TRES e aguardei um contato. Depois de dispensar uma chuva de curiosos
imbecis, DARK_ROOM me chamou para um papo. Finalmente alguém com cérebro na Internet. Uma
conversa rápida e objetiva foi trocada entre nós. Ele me indicou um local no Centro. Pediu para que
eu chegasse pontualmente às nove da noite. Deu-me uma senha. Disse o valor a ser pago. Nos
despedimos, saí da sala virtual. Desliguei o notebook. Tomei um banho. Com a ajuda de um
pequeno espelho, após um certo contorcionismo consegui dar uma espiada no traseiro – as marcas
eram tênues, quase que imperceptíveis. Coloquei uma roupa fácil de ser removida. Apanhei uma
cópia da chave da casa, dinheiro para a condução e algumas bebidas, mais os trinta reais solicitados.
Não levei documentos. Fui para o meu novo ponto de encontro.
Ao chegar na rua Rangel Pestana, deparei-me diante de uma casa muito antiga, porém
divinamente restaurada. Dei dois toques na campainha, sendo um longo e um curto, conforme as
instruções. Aguardei dois minutos. A porta foi semi-aberta e uma voz afeminada perguntou-me a
senha. Ishlibdish, respondi. Agora a porta fora totalmente aberta e o cheiro de alfazema invadiu
meus sentidos. Um rapaz jovem, trajando somente uma toalha branca e um par de havaianas azuis
me conduziu por um longo corredor. Numa mesa redonda e pequena, havia uma caixa de madeira
repleta de preservativos e lubrificantes das mais variadas marcas. Vai usar?, ele me perguntou. Não
vou, respondi. O rapaz não manifestou nenhuma reação visível. Paguei o valor da entrada. Aqui está
sua chave. Vire o corredor à esquerda e guarde sua roupa. Tome um banho ali, logo depois dos
armários vermelhos e atravesse nu a porta vermelha. Alguma pergunta?
Fiz “não” com um discreto movimento de cabeça. Segui o mapa traçado pelo meu anfitrião.
Guardei minha roupa no armário de número doze. Calcei um par de chinelos pequenos demais para
os meus pés. No local quase sem luz, pude ver um casal de jovens bêbados em carícias picantes,
preparando-se para o prazer. Eles não se importaram quando fiz minha nada discreta foto, antes de
guardar o celular. Combinamos que eu não divulgaria identidades. Mostrei o resultado no visor
brilhante. Guardei meu companheiro no armário. Entrei no banheiro pouco iluminado. Uma ducha
de água fria preparou meu corpo para uma noite de orgias. Enxuguei o corpo pálido numa toalha
felpuda, deixando-a pendurada numa espécie de varal improvisado ao lado do box de acrílico.

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Amarrei a chave no pulso. Respirei fundo, enquanto abria a mística porta vermelha. Entrei num
mundo completamente escuro, estranho, assustador.
Esbarrei num corpo magro, onde mãos finas seguraram meus braços, me conduzindo
lentamente para o meio da luxúria. Fui empurrado contra uma parede fria e logo a mesma mão
apalpava meu sexo flácido. Em segundos uma boca dava forma ao meu membro, sugando-o com
força, deixando-o pronto para o que prometiam ser horas de intenso prazer insano.
Estiquei minhas mãos à procura de outros corpos. Elas foram agraciadas tocando em corpos
macios, ora peludos, ora lisos, ora em cacetes bizarros de tão grandes, ora em varas tortas, mas
ativas, ora em bundas flácidas, outras vezes em rabos cinematográficos.
Meu rosto foi puxado com delicadeza e logo senti uma língua a me consumir avidamente a
boca. Outra boca mordiscava minhas costas e mais outra lambia meu rabo. A mesma boca que me
beijava agora buscava meu pescoço, ponto fraco do meu corpo sensual. Fui conduzido para engolir
um cacete mediano. Fiz muito bem a minha parte. Foram minutos intensos de sexo oral em todos os
poros. Cansado da rotina, saí da minha posição submissa, deixando meus parceiros ocultos
continuarem o enlace dos corpos. Caminhei a passos lentos, tateando na escuridão total. Mais
corpos foram tocados. Mãos e paus e bundas e hálitos etéreis cruzavam o meu caminho sem destino.
Senti por afinidade um peito cabeludo. Na mesma hora puxei aquele corpo ao meu encontro.
Ganhei um beijo em troca. Mãos fortes buscaram minha bunda macia. E nossas espadas debatiam-
se na união da nossa libido.
Percebi que meu homem era casado, ao sentir a textura fria de uma aliança delicada. Sua
barba de três dias, áspera e excitante, causava calafrios ao tocar meu pescoço. Beijos e mordidas
revesavam-se nos momentos de sacanagem. Vire, ele sussurrou em meu ouvido. Obedeci
prontamente. Ouvi o som de uma embalagem plástica sendo rasgada. Ele colocou o preservativo já
umedecido em seu sexo experiente. Lambuzou meu ânus com uma substância gelada, mas
agradável ao toque. Abaixou delicadamente meu corpo, deixando-me de quatro. Mordeu levemente
minha bunda, levando sua língua a caminhar pelas minhas costas, até atingir minha nuca. Com
habilidade veterana, empurrou seu sexo com destreza, o qual entrou com extrema facilidade em
meu corpo trêmulo. Senti aquele macho todo dentro de mim, enquanto mãos desconhecidas
tocavam meu rosto, dedos eram enfiados em minha boca e vigas debatiam-se em meus ombros,
sendo fortemente masturbadas por seus donos. Alguém esporrou no meu braço esquerdo. Adorei
sentir o jato quente e viscoso. Casado continuava seu trabalho atrás de mim. E eu sentia outros
sexos buscando minha boca.

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Casado urrou, cravando suas unhas em minha bunda, tirando rapidamente o membro rígido do
meu interior. Nem tive tempo de relaxar, pois outros braços já tentavam dominar meu corpo. E uma
boca tremendamente gulosa já mordiscava minha bunda, a caminho do meu orifício dolorido.
Enquanto meu traseiro era sugado, uma mão fria manipulava meu sexo para cima e para
baixo. Fui penetrado novamente, agora por um novo corpo. O cheiro de alfazema parecia ter se
intensificado, meus sentidos variavam entre a razão e o embotamento total.
O corpo que me penetrava – sem proteção – gozou intensamente em minhas costas, sendo que
o jato de porra atingiu até meu pescoço. A mão do novo corpo quente que minutos atrás estava
dentro de mim começou a espalhar aquela essência por todo meu corpo. Sensação estranha, porém
aquilo fez me sentir purificado naquele momento. Um ritual de passagem. O batismo de uma nova
era.
Com o passar do tempo, aquele espaço parecia engolir mais e mais corpos sem identidade. De
cócoras em um canto qualquer, eu tentava descansar um pouco, recuperar o fôlego. De vez em
quando coxas e varas esbarravam em meu rosto. Algumas vezes eu segurava um corpo qualquer,
buscando o sexo de qualquer homem, encaixando-o entre meus lábios.
Eu perdi a noção do tempo e do espaço. Recuperada a energia, levantei meu corpo suado
pondo-me ereto, e voltei a tatear paredes e machos rústicos e almas afeminadas em busca de mais
prazer. Queria penetrar um macho, desejo que não precisou de muito tempo para ser saciado.
Descobri um novo rabo masculino à disposição. Um rabo totalmente desprovido de pêlos, mas que
contrastava violentamente com o verdadeiro cobertor que cobria um par de coxas fortes, grossas e
deliciosamente agradáveis ao tato.
Não resisti e lasquei minha língua naquele cu recém usado, com gosto de látex. Cuspi em meu
pau e violentei o rabo liso, pouco me importando com o prazer daquele corpo. Eu estava com muito
tesão e não demorei para gozar dentro daquele homem compacto. Nem mesmo havia tirado por
completo meu membro do buraco largo e uma boca engoliu-o fazendo o resto do serviço, lambendo
e sugando e deixando meu cacete pronto para uma nova investida. Insanidade total!
Mais corpos unidos. Mais beijos intensos ou delicados. Mentalmente, cheguei a discernir
cinco homens fodendo o que restava de mim ao mesmo tempo. Viajei entre beijos, chupadas,
penetrações, cheiros, secreções e posições inimagináveis! Fui amado, fui usado, fui delicado e ao
mesmo tempo fui violento. Fui humilhado, humilhei. Todos os meus prazeres foram satisfeitos. Na
companhia de seres estranhos e identidades veladas, pude expor o mais baixo do meu ser e me
sentir em alguns momentos o mais grandioso dos homens, mesmo nas atitudes mais insanas e

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irresponsáveis tomadas conscientemente. Entrei neste jogo disposto a tudo. Ainda não sei o
resultado de nada. Mas quero continuar. Tenho que continuar. Pago para ver, sentir e explorar. Vou
chegar ao fim desta jornada. Eu vou trepar com quem cruzar o meu caminho.

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02 agosto - 12:12 - Satisfeito | Jundiaí | Terminal rodoviário

Acordei com uma puta vontade de comer bolo de chocolate. Torrei a paciência da minha tia
durante umas duas horas. Vá comprar o Nescau!, ela disse aos berros, depois de agüentar o sobrinho
piduxo por tanto tempo. Com dinheiro e carteirinha na mão, lá fui eu ao Copercica comprar os
ingredientes necessários para fazer a sobremesa que mais amo nesse mundo.
Antes de chegar ao meu destino, passei em frente ao Terminal Rodoviário do bairro. Não
resisti a tentação e resolvi arriscar algo rápido e safado. Comprei minha passagem para lugar
nenhum, caminhei entre ônibus, passageiros e funcionários durante alguns minutos. Descobri o
banheiro público – lar de todas as putarias – e lá fiz o meu ponto, como de costume.
Após meia hora sem rolar uma sacanagem sequer, eu estava quase desistindo quando
finalmente entrou uma possível vítima. O velho – que era cobrador de ônibus, de acordo com o que
estava escrito no crachá pendurado no bolso da camisa amarela – colocou o micro-pau para fora.
Olhou de relance meu mastro erguido e tentou puxar conversa comigo, dizendo uma piada sem
graça: meu pinto é igual a milionário... nunca tá duro!
Dei uma risada falsa e amarela. E disse ao pé do ouvido daquele ser que eu poderia deixar
aquele pauzão bem duro com a minha boca. Imediatamente comecei a acariciar o pedaço de nada.
Longos minutos depois o dito cujo resolveu ter uma reação. Endureceu um pouco. Soltei a
minhoquinha anoréxica e entrei num reservado, convidando Cobrador para se juntar a mim. Ele
pestanejou um pouco, olhou em direção a entrada do recinto. Não havia ninguém.
Eu estava de cócoras sobre a bacia da privada. Cobrador entrou e trancou a porta. Inclinei a
cabeça e comecei o serviço. A reação da coisa minúscula até que foi divertida, amolecendo e
endurecendo conforme a pressão do meu “sugamento”.
Cobrador não gozou. Estava muito nervoso. Pediu para deixar o reservado. Permiti. Quando
eu me preparava para sair, ele me pediu educadamente para permanecer ali por mais alguns
minutos. Acatei a decisão. Aguardei com a porta semi aberta.
Fiquei disfarçando como que urinando para não chamar a atenção. Minutos depois um polaco
entrou sorrateiramente no meu espaço físico. Tapou minha boca e perguntou muito baixo em meu
ouvido direito se era eu que tinha feito o amigo dele. Respondi que sim com um aceno de cabeça.
Cara, você caiu do céu!, ele disse num sussurro. Dá um trato na minha pistola, eu preciso muito
disso agora!

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Voltei para minha posição de batalha. Polaco jogou uma bolsa azul enorme na extremidade da
porta para evitar que algum curioso pudesse olhar pelo vão inferior. Isso me deixou mais tranqüilo.
E daí pude dar o máximo de mim num boquete inesquecível.
O pau do Polaco era muito grosso e desproporcional. Parecia ter vindo com defeito de fábrica
e não entrava completamente em minha boca. Ele parecia não se preocupar com meu bem estar,
pois a cada investida tentava forçar mais e mais o sexo para dentro de um espaço inexistente.
Sufoquei por diversas vezes, chegando a perder temporariamente os sentidos, mas estava adorando
a experiência.
Era divertido estar sendo fodido oralmente e ouvir as vozes dos homens além da porta
contando suas agruras, falando sobre seus trabalhos, sobre mulheres, futebol e sexo, enquanto
urinavam. E eu ali tendo minha boca arregaçada por um báculo albino. Quando o silêncio
novamente se fez presente, Polaco parou de foder minha garganta profunda. Desceu o hálito
nicotinoso em meu ouvido e me perguntou se eu o deixaria gozar na minha boca. Eu disse que sim e
repentinamente ganhei um sorriso e um beijo suga-cérebro intenso. Minha patroa não deixa eu fazer
isso com ela. Puta merda, esse sempre foi meu sonho!, ele disse, o tom de voz quase traindo a nossa
presença naquele espaço apertado.
Sorri sinceramente para meu Polaco e coloquei o pau transparente novamente na boca.
Suguei, chupei, lambi e me esforcei para engolir aquele membro com muito gosto. Eu queria dar o
verdadeiro prazer para aquele homem. Raxa idiota a tal da patroa. Se ela soubesse que é por
frescuras assim que muitas mulheres perdem seus maridos para outras mulheres – ou homens – que
sabem proporcionar algo tão simples e prazeroso para satisfazê-los por completo.
O suor frio escorria pelo meu rosto. Outros homens entravam e saiam para desaguar suas
necessidades físicas e emocionais. Polaco mordia os lábios para não gritar. Um jorro quente e
intenso desceu direto pela minha garganta. Mesmo assim eu não diminui o ritmo. Continuei por
mais alguns instantes, até a última gota quente descer preguiçosamente para o meu íntimo.
Polaco descansou alguns segundos. Enxugou o rosto com as costas das mãos. Fechou o zíper
da calça preta. Alinhou a camisa amarela. Tirou a bolsa do caminho, abrindo apenas uma fresta da
porta. Ninguém a vista. Ele saiu discretamente. Fechei a porta e dei um tempo para minha
respiração voltar ao normal.
Ao sair do banheiro, notei uma bichinha, dessas bem qua-quás, sacudindo o pinto fino e duro
num dos mictórios. Quis rir, mas engoli minha ironia e fiz a cara mais máscula que minha
personalidade permitia. A bichinha ficou encantada com meu dote, que continuava duro por baixo

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do agasalho de moletom. E seus olhos sem vida encontraram meu olhar azul radiante na busca de
mais um momento sexológico. Toquei meu pau por baixo do tecido. O sinal padrão da sacanagem
masculina. A bichinha empinou o rabo que estava escondido atrás de uma calça social cinza, super
agarrada, que contrastava violentamente com o amarelo sol do uniforme da sua empresa de
transporte.
Sem cerimônia, enchi a mão no traseiro do rapaz. Bunda macia. Muita carne para ser
degustada. Aproximei minha boca com gosto de porra próximo do seu ouvido direito. Você chupa
meu cacete, carinha, eu disse, mordiscando a ponta de uma orelha delicada. Bichinha Amarela ficou
doida. Voltei para o meu reservado, dessa vez encostando meu corpo ao máximo na parede, tirando
imediatamente meu pau para fora. Fascinada, entorpecida, Bichinha Amarela entrou, travou a porta
e engoliu minha vara com voracidade. Não demorei muito tempo para gozar naquela boca muito,
muito experiente. Terminei o serviço. Empurrei Bichinha Amarela para um canto, pedindo licença.
Destravei a porta imediatamente. Ao sair, dei de cara com um motorista. Ele viu que dentro do
reservado havia dois homens. Ao notar a presença de Bichinha Amarela, o homem não agüentou,
soltando a seguinte questão hilária: “Porra meu, além de nóis e os cobradô, agora cê tá atacando
tamém os passageiro?”

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03 - agosto - 23:18 - Tremendo | Jundiaí | Bandeirantes

Estou aqui no Frango Assado da Bandeirantes, você pode vir pra cá agora?, perguntou
FODACAR (HXH) no chat. Em menos de cinco minutos de conversa resolvemos marcar um encontro no
lugar combinado. Eu menti dizendo que estava próximo, mas eu nem sabia onde era esse tal de
Frango Assado.
Doze minutos depois de me arrumar, passei voando pela sala, onde meus tios assistiam a
novela das oito que começava as nove. Tchau tio, tchau tia. Volto logo. Um táxi me esperava na
porta. Ao chegar no imenso e belíssimo lugar de encontro, despachei rapidamente o carro que havia
me trazido. Caminhei um pouco pelo local, tentando localizar o Toyota preto descrito pelo meu
macho. Um homem negro, trajando um impecável conjunto cinza chumbo, estava sentado no banco
de couro de um carro que considero magnífico. A porta estava aberta e mesmo à distância pude
notar a perfeição estética daquele corpo e o volume de um mastro que gritava desesperadamente
para sair de dentro da calça de tecido fino, de caimento perfeito.
Fodacar me olhou de cima a baixo enquanto trocávamos um forte aperto de mãos. Você é
mais gostoso do que na foto, ele disse. Vamos até o banheiro, quero conferir algo antes. Tenho
pouco tempo. Devo estar em Campinas antes das onze, ele disse com um tom de voz muito sensual
e viril. O homem fechou o notebook HP e desconectou a placa que permitia a comunicação sem fio.
Trancou o carro, acionou o alarme e fomos juntos até o banheiro.
Ele riu quando notou que eu estava fotografando a entrada do banheiro com o meu Siemens.
Rapaz, você vai me colocar na Internet? Eu disse que não, mas que talvez relatasse nosso encontro
para algumas pessoas perdidas nesse mundão afora. Fodacar olhou com seriedade para mim,
aliviando rapidamente a expressão facial pseudo-severa com um largo e perfeito sorriso. Não
mostrando meu rosto, faça com as imagens o que quiser. Acho que posso confiar em você.
Entramos no banheiro. Ele me conduziu até um reservado, pedindo para que eu abaixasse
minha calça até mostrar completamente minha bunda branca. Realizei o pedido e senti uma mão
decidida a me apalpar com gosto. Perfeita, ele disse. Recoloquei a calça e saímos do recinto. Ao
entrar no carro, quando o mesmo foi posto em movimento durante a manobra para deixar o
estacionamento, Fodacar pegou minha mão e me pediu para tirar seu mastro para fora. Ao abrir o
zíper delicado da calça cara, tirei debaixo da cueca samba-canção não um pau comum, mas sim um
mastro monstruoso – o negro gostoso justificava a fama da raça maravilhosa. Eu jamais havia visto,
mesmo em fotos não manipuladas da grande rede, um sexo tão grande, tão volumoso, tão excitante.

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Será que você vai agüentar esse trabôco inteiro nesse teu rabo gostoso? Até hoje foram
poucos que suportaram a força do Big Bom! Eu apenas sorri timidamente diante dos fatos. O sexo
dele realmente era muito grande, porém perfeito e muito bonito. Parecia algo esculpido em ébano.
Ao cairmos na estrada, tentei com toda minha experiência abocanhar o grande mastro. Minha boca
não passava da cabeça. Era impossível chupar aquilo tudo com o carro em movimento.
Ao passarmos o pedágio da Bandeirantes, Fodacar encostou o carro no acostamento, num
local pouco iluminado e deserto, apesar do intenso movimento da pista bem ao nosso lado. Vamos
trepar aqui, agora!, ele afirmou, com muita autoridade no tom de voz. Vai, sulista, enfia a boca
nesse caralho, bem gostoso. De joelhos no macio banco de couro, finalmente consegui abocanhar
aquela viga. Suei muito para conseguir engolir metade de tudo. O homem não emitia som, nem
reação física alguma. Mas eu podia notar o seu olhar entorpecido pelo prazer que eu estava lhe
proporcionando.
Os carros passavam a toda velocidade praticamente ao nosso lado. Minha adrenalina estava a
dois mil por hora. O medo de que algum policial aparecesse ou, pior, algum vagabundo desse de
cara conosco naquele momento fazia meu coração disparar aloprado.
Saia do carro, disse Fodacar. Ele destravou as portas e saiu junto comigo. Aqui, venha. Abra
as pernas e encoste a mão no capô. Fiz o que ele mandou. Era inacreditável. Fodacar havia baixado
minha calça e mordia fortemente minha bunda, enquanto eu ficava observando atentamente as
centenas de carros que passavam por minuto a poucos metros de onde estávamos. Eu transpirava em
bicas, mas Fodacar parecia não se importar com esse detalhe.
Ao ver uma luz distante diferente da usual, meu coração quase saiu pela boca, com medo de
que fosse um carro patrulha. Depois de muito morder e lamber meu rabo, Fodacar tirou uma
bisnaga do bolso da calça. Despejou praticamente todo o conteúdo do KY no seu membro,
deixando-o totalmente melado. Fique quieto, você vai gostar, ele disse. Fodacar abriu ainda mais
minhas pernas. Posicionou o enorme chifre na porta do inferno. E colocou mais de vinte e poucos
centímetros dentro de mim de uma só vez, lentamente. Não deu pra agüentar. Dei um grito forte e
estridente para acordar todos os espíritos da estrada. Senti que estava sangrando, mas Fodacar não
estava disposto a tirar aquilo de mim tão cedo. Segurando com muita força na minha cintura,
Fodacar entrava e saía do meu rabo como um cavalo no cio. Meu olhar perdeu-se na imensidão da
estrada. Luzes vermelhas, amarelas e brancas turvavam minha mente. O prazer dera lugar à dor. Eu
não sei por quanto tempo suportei aquele vai e vem excruciante. Quando estava para terminar,
Fodacar segurou meu pescoço fortemente com uma das mãos, apoiando a outra no frio capô do

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carro japonês. O ar fugiu dos meus pulmões. Ele estava me sufocando com a força de sua mão
pesada. Fodacar emitiu um urro assustador e forçou completamente seu mastro imenso para o mais
fundo do meu ser. Senti o gozo inundando todo o meu corpo internamente. Mas a pesada mão não
aliviava a pressão no meu pescoço. Perdi os sentidos, até que mãos fortes viraram meu corpo e uma
boca de lábios protuberantes buscaram meus lábios. Fodacar agora me sufocava com um beijo
intenso e egoísta, onde eu mal conseguia espaço para recuperar a respiração e a vontade de viver.
Ouvíamos buzinas e flashes de faróis altos iluminando nossa luxúria selvagem. Eu estava
perdido em outro mundo. Fodacar buscou meu pau. Ajoelhou-se no asfalto e começou a me chupar
vigorosamente. Eu gozo, você goza, sulista, ele dizia entre uma lambida e outra. Sua mão forte
passou a me masturbar. Eu entreguei meu gozo para a noite fria. Como uma alucinação, milhares de
luzes, sons difusos, frio e calor se misturavam durante meu jorro provocado por um êxtase
dilacerado.
Fodacar me deixou ao lado da fábrica da Pepsi. Não houve despedidas. Caminhei
cambaleando pelas ruas do bairro até chegar à casa dos meus tios. Evitei passar pela sala, pois Tio
Barriga assistia a uma partida de futebol em um canal qualquer. Dei a volta pelo corredor externo e
entrei na casa pela cozinha. Tia Corada já havia se deitado. Fui ao banheiro. Deixei a água quente
escorrer pelo meu corpo gelado. Um filete de sangue saía do meu íntimo, tingindo de vermelho o
piso verde e vitrificado do banheiro apertado.

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04 agosto - 14:02 - Surpreso | Jundiaí | Serra do Japi

Esgotado, apático, neutro, abatido. Foi assim que me vi diante do espelho ao acordar hoje.
Após o café da manhã, peguei a bicicleta um tanto capenga (mas com um banco muito macio) do
Tio Barriga e fui dar uma volta pela vizinhança. Como o dia estava bonito, resolvi esticar até a
Serra do Japi. Depois de muito pedalar entre estradas e trilhas, avistei um guarda municipal que
havia estacionado o carro no meio da estrada e estava observando alguma anormalidade nas
imediações. Do nada, parei para conversar. Muito sorridente e prestativo, trocamos idéias sobre o
clima, sobre o time do Paulista, sobre as maravilhas da minha cidade onde tudo funciona, e outras
banalidades sociais. O papo corria solto e nada indicava que daquela troca de trivialidades e papo
furado pudesse pintar algo mais íntimo.
Guardabelo era muito simpático e atencioso. Adorador ferrenho da sua Terra da Uva, me deu
uma verdadeira aula sobre a serra grandiosa. Era muito agradável estar em sua companhia. Quer
conhecer um lugar especial?, ele disse. Respondi que sim. Então me siga, é melhor você ir na sua
bicicleta.
A dois por hora, acompanhei Guardabelo até um local de rara beleza. Árvores frondosas
proporcionavam sombras abundantes e o som suave das águas despencando de uma das inúmeras
cachoeiras da região relaxavam meus sentidos amorfos. Guardabelo parou o carro oficial numa
íngreme estradinha. Deixei minha bicicleta ao lado da viatura. Num banco rústico de madeira
despejamos nossos corpos cansados, enquanto eu apreciava a magnitude da beleza natural e divina.
Sou casado, disse Guardabelo. Mas gosto de curtir homens de vez em quando. E você?, ele
completou, tocando de leve uma de minhas coxas. Fiquei tão surpreso com a objetividade dele, que
não saiu nada da minha boca. Imediatamente Guardabelo retirou a mão do meu corpo. Por favor,
me desculpe, eu não queria ser indiscreto, muito menos constranger você. Não vou forçá-lo a nada,
não se preocupe. Por favor, não tenha medo de mim.
Calma, tenha calma. Você não me assustou, nem me constrangeu. Longe disso, você é muito
simpático e... apetitoso. Acho que não acordei ainda e realmente a ficha demorou a cair, eu disse,
tocando as mãos macias do homem da lei.
Você quer brincar comigo?, ele pediu, o rosto corado e tímido despertou o meu tesão.
Aproximei meu corpo do seu e busquei um beijo. Nossas bocas foram feitas uma para outra, pois o
beijo trocado foi perfeito, tranqüilo, repleto de ternura. Entre carícias orais em bocas, orelhas e

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pescoços, Guardabelo buscou a rigidez do meu sexo. Com homem eu sou somente passivo, tudo
bem pra você?, ele disse, entre leves mordidas no meu ombro.
Fiquei com uma vontade enorme de rir, pois se ele quisesse me foder o rabo certamente eu
não poderia atender o seu pedido, já que minha parte baixa estava literalmente estraçalhada e muito,
muito dolorida. Sim, meu amor, eu sou somente ativo numa relação, fique sossegado, respondi com
a cara mais falsa, lavada e idiota possível.
Guardabelo abriu um largo sorriso. Aqui não aparece ninguém, pode ficar despreocupado. Eu
conheço muito bem essa região, ele disse, ficando em pé, afrouxando o cinto largo de couro. Da
vestimenta azul surgiu uma bunda branca, lisa e perfumada. Com a calça arriada e as mãos apoiadas
no banco de madeira, Guardabelo ficou de quatro, na expectativa de obter muito prazer naquela
manhã agradável. Mesmo cansado, eu não poderia desperdiçar a chance de possuir um homem de
verdade. Comecei o serviço lambendo o cu rosado. Porra, isso é muito bom, caralho!, gritava o
guarda. Não para, não para... porra, enfia mais a língua, me fode com essa língua, porra, caralho!!!
Levei bons dez minutos na foda oral. Guardabelo me pediu para tirar o preservativo que havia
no bolso esquerdo da sua calça. Peguei o invólucro lacrado. Pedi para o guarda dar um trato no meu
cacete, mas ele se recusou, dizendo que não tinha prazer em chupar, só em dar, nada mais. Respeitei
sua decisão, envelopei meu pau e penetrei com muita facilidade aquele cu estupidamente gostoso.
Não mudamos de posição, permanecendo na “de quatro” até o final do ato. Gozei gostoso,
relaxando meu corpo em cima do guarda por alguns instantes. Depois, retirei meu pau com
delicadeza, evitando que a camisinha se soltasse do membro. Tirando-a e dando um nó na base,
joguei o látex cheio de porra dentro de um enorme latão de lixo próximo ao banco de madeira.
Coloquei e ajustei minha bermuda, sentando-me em seguida. Preciso gozar, você me ajuda a
gozar gostoso?, disse Guardabelo. Claro, respondi, o que você quer que eu faça?
Me beija, cara, ele gritou. Me beija muito, com intensidade, enquanto soco uma punheta, pode
ser?, ele implorou, com emoção no olhar. Quer que eu te chupe um pouco?, perguntei. Não, isso
deixo para minha mulher, me desculpe, ele disse, nervoso. Dei um leve sorriso e busquei novamente
aquela boca suave, de lábios macios. Trocamos um longo beijo de línguas unidas, enquanto ele se
masturbava. Minutos depois o guarda depositou uma quantidade enorme de porra grossa sobre a
grama verde. Limpou-se com um pedaço de papel higiênico retirado do bolso da calça multiuso.
Muito obrigado, Curitiba, foi muito boa a nossa brincadeira. Até quando você fica aqui em
Jundiaí?, ele perguntou.

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Respondi que ficaria até o final do mês de agosto. Espero que a gente possa se ver mais vezes,
adorei foder com você, ele disse, fazendo algazarra com as mãos sobre meus cabelos lisos. De posse
da minha bicicleta, me despedi de Guardabelo. Você sabe o caminho de volta?, ele perguntou.
Respondi que sim, que ele podia ficar despreocupado. Sugeri sair antes, para evitar que fôssemos
vistos juntos. Guardabelo se aproximou de mim, balançando as chaves do carro nas mãos.
Quero um beijo de despedida, rapaz. Fechei os olhos e ganhei mais um beijo doce e suave.
Somente homens sabem beijar de verdade e não existe nada melhor do que beijar outro homem, ele
disse, entre beijos curtos de lábios fechados. Não será uma despedida, meu caro. A gente ainda vai
se cruzar por aí... com certeza, ele me disse. Com certeza, respondi.

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05 agosto - 14:34 - No limite | Jundiaí | Vianelo

Meu pai torrou minha paciência por quase meia hora ao telefone. Disse que Bloobol, meu
labrador chocolate, não estava comendo mais, que ele já havia feito de tudo para alegrar o cão, que
o coitado estava morrendo de saudades do dono, blá, blá, blá. Prometi que dentro de quinze dias, no
máximo, eu estaria de volta. Tá aproveitando bastante a viagem?, ele perguntou, todo-todo.
Pegando muita garota? – o entusiasmo hipócrita sempre cegou meu pai, que nunca quis enxergar a
verdade. Sim, pai, tô pegando muita coisa boa aqui em Jundiaí, respondi sem o menor entusiasmo.
Se ele soubesse... ou aceitasse a verdade.
Faz um favor pro teu velho? Tira uma foto bem bonita da Ponte Torta!, ele disse, quase que
implorando infantilmente por uma coisa tão trivial. Prometi ao meu pai que faria a tal foto. Nos
despedimos. Fui tomar um banho. Meu rabo ainda estava dolorido, mas pronto para ser abatido no
dia de hoje. Meus tios estavam fazendo as compras do mês no Carrefour. Deixei um recado sobre a
mesa da cozinha, dizendo que ia dar uma volta pelo Centro.
Eu nem me lembrava mais da tal ponte torta. Ao chegar no local, foi uma decepção muito
grande ver que um monumento histórico tão importante dessa cidade estava totalmente abandonado.
Fiz as fotos para o meu pai. Quando terminei a sessão fotográfica e o envio das imagens, notei um
rapaz sentado à sombra próximo do monumento abandonado. Parecia perdido e desorientado.
Minha porção madreteresa se manifestou. Resolvi ir até ele e puxar conversa.
Devo ter estampado na cara que sou de fora e também deve estar escrito em algum lugar na
minha testa a frase: quero trepar com você, porque em cinco minutos de papo, Desorientado já
coçava sensualmente o pau que pulava intrépido sob a bermuda esfarrapada. Ele notou meu olhar de
desejo. Então o forasteiro aí gosta de uma vara?, ele disse, apalpando com mais força o membro que
ganhava volume.
Sim, gosto de homem, em todos os sentidos, respondi, desafiando minha vítima com um olhar
intenso. Tenho um local bom pra brincar, topas? Topei na hora. Sem mais comentários,
Desorientado se levantou, batendo com a mão no traseiro para tirar um pó inexistente da bermuda
velha. Notei que sua bunda era dura e perfeitamente redonda. Ele percebeu minha observação.
Sabe, forasteiro, eu curto homem e mulher, numa boa. Mas pra trepar com um cara ele tem
que ser macho, sem trejeitos femininos e demais viadagens. Por isso gostei de você. Vai ser muito
bom, pode apostar. Caminhamos uns três quarteirões até chegarmos a uma praça bonita, onde bem

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no meio dela encontrava-se um banheiro público. Eu vou entrar primeiro e ver se tá limpeza,
forasteiro. Te dou um toque. Depois você entra.
Desorientado tinha um tique nervoso irritante. Ele piscava muito os olhos e mexia a cabeça
pra direita e pra esquerda a todo momento, como se estivesse procurando alguma coisa perdida no
tempo e espaço.
Sentei num banco de concreto. Fiz uma foto do banheiro. Aguardei. O tempo passou e
comecei a ficar irritado. Resolvi entrar por conta própria e ver o que estava acontecendo. A visão
não poderia ser mais excitante e agradável. Desorientado estava sendo chupado por um garoto
magricelo que tinha a cara do Salsicha, eterno amigo do famoso cachorro do desenho animado. O
garoto pareceu não se importar com a minha presença, sugando e lambendo as bolas de
Desorientado com muito gosto. Saquei meu pau pra fora e junto com Desorientado fizemos a
alegria do Salsicha, que agora tinha dois belos mastros para se divertir. A festa estava boa, até
notarmos a vinda de alguém de fora pelo reflexo das sombras nos azulejos brancos e limpíssimos do
banheiro popular. Recolhemos nossos membros e ficamos disfarçando no mictório, fingindo urinar,
enquanto Salsicha simulava amarrar seu tênis. Um senhor baixinho e roliço entrou e se posicionou
entre eu e Desorientado, que parecia estar cada vez mais doido, virando a cabeça de um lado para o
outro e piscando aceleradamente sem parar.
Baixinho – o velho – tirou uma vara comum para fora, masturbando-se sem qualquer
constrangimento. Pegou o pau de Desorientando e iniciou uma dupla punheta. Eu aproveitei e
busquei meu beijo, como de costume. Baixinho me deu um beijo de boca fechada. Salsicha foi para
o reservado, mas dava para ver que ele também se masturbava no seu canto. Baixinho estava mais
interessado em Desorientado do que em mim. Então, deixei os dois se divertirem e fui brincar com
Salsicha. Fechei a porta do reservado, encostando todo o peso do meu corpo contra ela. Salsicha
abocanhou meu pau rapidamente, sugando-o com muita vontade. Uma insegurança enorme bateu
enquanto eu era chupado. Lembrei-me do Gordinho que eu havia feito na estação de trem
abandonada. Fazer a linha pedô não estava nos meus planos. Parei tudo e puxei com força o garoto
para os meus braços, e encarando-o de frente, perguntei sua idade. Ele riu, tirando o RG do bolso da
calça larga. Ele tinha dezenove, mas cara de quinze. Aliviado, foi minha vez de brincar com o
salsichinha. O cheiro de leite aguçou meus sentidos. Eu nunca havia me relacionado sexualmente
com homens mais novos do que eu, já que eles não me atraem. Porém, não dá pra negar o quanto é
prazeroso degustar carne nova. Salsicha estremeceu todo e encheu minha boca com seu líquido ralo.

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O garoto levantou a calça e saiu discretamente do reservado, deixando-me sentado na bacia da


privada.
Cuspi a porra com gosto de Cândida. Limpei a boca e ganhei o exterior. Baixinho estava
sendo enrabado por Desorientado. A loucura de dar o rabo praticamente a céu aberto, bem na frente
da entrada do banheiro era de deixar qualquer cristão doido para cometer o pecado original. A visão
do sexo selvagem era enlouquecedora. Baixinho mordia os lábios para sufocar o som do seu prazer.
Desorientado penetrava lentamente o velho homem. Salsicha se pôs em guarda bem na entrada do
banheiro, observando tudo o que ocorria do lado de fora. Aproveitei a segurança e ofereci meu pau
em brasa para Baixinho brincar. Fui sugado novamente, agora por uma boca sem experiência.
Vendo a performance de Desorientado, crescia dentro de mim a vontade de também ser
enrabado por aquele homem das ruas. Torci para que ele não gozasse no velho. Ele leu meus
pensamentos. Tirou o cacete ainda em brasa do cu do velho. Chupa ele, faz ele gozar, ele me pediu.
O velho arrumou a calça, deixando para fora sua vara empinada. Quase ajoelhado, fiz o serviço no
Baixinho. Fomos interrompidos pela passagem da tiazinha da limpeza varrendo lá fora. Salsicha
voltou a entrar num reservado.
Enquanto eu chupava Baixinho, Desorientado entrou no reservado com Salsicha, mas
mantiveram a porta aberta. Percebi então que Desorientado queria se exibir para mim. Baixou com
certa violência a calça do garoto e iniciou uma sessão de lambidas na bunda do moleque que me
cegaram de tesão. Salsicha curvou o corpo e vi quando Desorientado penetrou o rabo dele com uma
língua gulosa. Eu não conseguia mais encontrar coordenação para chupar o Baixinho. Levantei e
soquei uma boa punheta para o velho. Queria que ele gozasse logo, pois meu objeto de prazer
daquela manhã já estava definido. Eu queria Desorientado.
O velho gozou rapidamente, lambuzando minha mão. Guardou o pau dentro da calça, sem se
limpar. Saiu rapidamente do banheiro, sem ao menos lavar as mãos. Desorientado parou as carícias
orais em Salsicha. Comentou algo em seu ouvido. Eu me dirigi até a pia para lavar as mãos e o rosto
e tirar o insistente gosto de porra juvenil da boca. Mal abri a torneira e fui agarrado por trás. Chupa
meu pau, Desorientado me pediu. Virei meu corpo e literalmente caí de joelhos diante da vela
acesa. Salsicha voltou a guardar a entrada. Fiz meu serviço, dessa vez sendo observado pelo garoto
com cara de cartoon.
Desorientado tirou repentinamente o pau da minha boca. Levantou-me puxando meus cabelos
lisos. Fomos para o reservado. Ele se sentou na bacia. Mandou eu fechar a porta. Deixei minha
calça cair, expondo minha bunda branca e lisa. Desorientado lambeu os pêlos loiros das minhas

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coxas grossas, buscando rapidamente o centro do meu prazer. Que língua! Viajei completamente
para outras dimensões. Meu corpo foi puxado e sentei sobre um cacete disposto a me ferrar o rabo
de vez. Cavalguei alucinadamente, com as mãos de Desorientado massageando minha cintura e
costas e peito.
Ouvimos um pigarro. Era o sinal de que alguém estava entrando no banheiro. Eu e
Desorientado não nos importamos. Continuei a minha cavalgada. Fui premiado com uma forte e
dolorida mordida nas costas. Mais uma para a coleção. Desorientado cagava enquanto me comia! O
fedor pairava no ar e tudo aquilo que eu não acreditava ser possível na vida real estava acontecendo
naquele purgatório de almas perdidas. Desorientado peidou sonoramente e gozou feito louco dentro
de mim.
Repousei meu corpo em cima dele por alguns minutos, até que a pessoa que usava o banheiro
deixasse o recinto. Desorientado começou a me tocar, tentando me masturbar. Eu sentia nojo dele.
Levantei e fiquei de frente para ele, e com os olhos fechados fui enfiando sem pedir licença meu
sexo em sua boca. Ele chupou, lambeu e engoliu meu caralho com maestria. Não demorou muito
para eu inundar todo o seu rosto. O líqüido perolado criava formas abstratas na pele morena do
rapaz. Não satisfeito, beijei e lambi toda a minha essência depositada naquele rosto, terminando
meu prazer num beijo ácido, quente, profundo. De olhos bem fechados.

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06 agosto - 00:17 - Chapado | Jundiaí | Caxambu

Muitas vezes cometemos atrocidades ignorando completamente o que é chamado de “bom


senso”. Eu não acreditava nas coisas que eu estava fazendo. Mas, ao mesmo tempo, a cada
experiência vivida, algo dentro de mim me impelia a continuar, a não desistir. Onde estava meu
anjo que deveria ser “de guarda”? Será que Deus poderia parar um breve momento de jogar buraco
com Gabriel e dar uma espiadinha aqui para baixo?
Numa sala de bate papo conheci FRANKEY_BOY. Depois de horas papeando, trocando fotos e
escrevendo muita sacanagem, meu novo amigo virtual convidou-me para uma festa que seria
realizada no bairro do Caxambu. Combinamos um encontro por volta das oito, em frente ao
terminal rodoviário do Eloy Chaves. Na hora marcada – apenas cinco minutos atrasado –, um Corsa
prata encostou próximo de onde eu estava. Dentro dele havia três rapazes ao estilo clubber, prontos
para a farra que viria a seguir.
Entrei no carro e em menos de trinta segundos já havia me enturmado. Comentamos sobre a
cena de Jundiaí e de Curitiba, ouvimos muita música eletrônica em volume razoavelmente
perturbador e viramos garrafas e garrafas de Smirnoff Ice goela abaixo. Ao chegarmos no tal bairro,
que eu não conhecia, enveredamos por estradinhas sinuosas de terra. Curvas e mais curvas nos
levaram para um lugar estranho, desconhecido. Chegamos a uma chácara isolada dentro de um
universo paralelo. Deixamos o carro no meio de outros carros espalhados no gramado impecável. O
som rolava solto na grande sala de uma antiga casa de fazenda.
O choque foi imediato ao cruzamos a porta de entrada. Dezenas de jovens dançavam e
pulavam e se tocavam numa pista de dança improvisada. Os rapazes estavam trajando cuecas
samba-canção. E a maioria das meninas usava jeans e camiseta branca. Havia rapazes dançando
com rapazes, meninas com meninas e poucos casais macho-fêmea se curtindo. Frankey me levou
até um quarto pequeno, onde sobre uma cama de casal havia centenas de calças, carteiras, cintos,
sapatos e outros adereços muito bem organizados, onde cada monte era sinalizado com uma ficha
vermelha contendo um número, simbolizando o proprietário daquele monte. Deixei minha calça, a
camisa, a carteira e o celular num canto da cama, sob a ficha de número 47. Eu trajava somente
meias brancas e uma cueca tipo boxer, preta. Frankey tirou uma foto minha quando eu deixava o
quarto, para “guardar de recordação”. Trocamos um beijo-selinho logo em seguida e nos jogamos
na balbúrdia da sala de estar transformada em zona de guerra, caça e luxúria.

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Me senti muito a vontade ao penetrar naquele mundo juvenil. Ninguém dava bola pra
ninguém, apesar dos olhares de volúpia e desejo trocados entre os presentes. Eu não sei dançar,
então fui para o balcão de bebidas improvisado numa cozinha em estilo americano. Uma simpática
negra me forneceu uma Skol geladíssima. Quatro latas depois, comecei a me soltar e a buscar algo
interessante para fazer. Frankey brincava com um casal de jovens num canto da sala. Ele notou
minha aproximação e me agarrou assim que cheguei mais perto. Me deu um grande beijo de língua.
Segurando minha mão, direcionou-a até o pau duro do macho ao seu lado. A garota tocava em meu
sexo e mãos e bocas misturavam-se num quarteto fantástico. Baixei o corpo e comecei a chupar o
rapaz que eu estava tocando. Percebi que nos cantos da grande sala mais jovens – sem nenhum
pudor – se tocavam, se chupavam, se lambiam numa orgia desenfreada. Frankey ajoelhou-se
buscando meu sexo. Chupando em cima e sendo chupado embaixo era algo fantástico vivenciado
naquele mágico instante.
A garota acariciava meus cabelos e roçava as unhas compridas nas minhas costas. Após um
certo tempo, levei minha língua da vara do rapaz até uma boca de lábios finos, subindo lentamente
uma barriga sem barriga e um peito liso e definido. Frankey mamava um dos peitos da garota. Eu
agarrava o outro peito, macio e compacto, enquanto continuava a sentir o gosto de uma língua
masculina em minha boca.
A bebida e o som alto ludibriavam meus sentidos. Viajei, literalmente, para outros mundos.
De repente, larguei o rapaz no meio de um beijo e agarrei a garota ao meu lado. Eu e Frankey
sugávamos freneticamente dois peitos pontudos. Eu mordia o bico daquele seio sem dó, fazendo
com que a garota uivasse de dor e prazer. Ela tentava empurrar minha boca para baixo, mas eu
jamais chuparia a intimidade de uma mulher, limitando-me, naquele instante, a degustar a
curiosidade de um peito feminino, nada mais.
Frankey notou meu desconforto pela pressão da garota. Puxou-a para si, me libertando do
martírio. Foi minha vez de ajoelhar e sentir o gosto do sexo do meu novo amigo. Novamente as
chupadas no peito da menina e a minha destreza sugando um pau de bom calibre levaram-nos para
os píncaros do prazer coletivo.
Frankey não resistiu e acabou gozando em minha boca. Senti o gosto de uma porra levemente
ácida. Limpei a boca na cueca do meu amigo. Fui buscar uma nova rodada de cerveja. Três latas
depois, segurando a quarta na mão, encontrei na varanda quatro rapazes completamente nus
trocando carícias e beijos intensos. Entrei no meio do grupo, sentando-me entre um polaquinho e
um moreno-jambo dono de um belíssimo corpo. Sem perder tempo fui passando meus lábios pelas

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coxas morenas e lisas. De quatro e já sugando o belo membro do moreno, Polaquinho mordia
minhas costas largas, enquanto seus dedos abriam espaço em minha intimidade. Mais cerveja e cada
vez mais alucinado, entreguei meu corpo aos quatro rapazes. Num rodízio sem fim, paus foram
passando pela minha boca gulosa e os mesmos paus entravam e saíam da minha carcaça humana a
todo momento, sem pudor ou qualquer tipo de proteção. Jovens vidas desafiando a Dama da Morte.
Frankey documentava tudo em seu celular-câmera e uma multidão de jovens apreciava fascinada o
espetáculo gratuito, sendo que muitos rapazes se masturbavam à distância e algumas meninas
acompanhadas de meninas se tocavam discretamente, visivelmente alucinadas com nossa
performance. 808 State tocava sem parar a uma altura inenarrável.
Agüentei os quatro machos por mais de uma hora. Exausto e cheirando a porra, depois de
muitas gozadas encostei meu corpo num pufe estirado na varanda. Com mais uma lata de cerveja
nas mãos – acho que era a milésima lata – meus olhos claros se perdiam na imensidão de uma noite
escura e fria. Não vi mais Frankey. Não vi mais ninguém. Adormeci.

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07 - agosto - 06:17 - Violento | Jundiaí | Caxambu

Acordei no meio de corpos nus, desfalecidos. O cheiro forte de álcool e tabaco nauseava
minha mente, ao mesmo tempo que estimulava meu desejo por mais algumas rodadas. Levantei
com dificuldade e fui buscar algo forte para beber. O som ainda rolava, mas agora bem baixo, quase
inaudível. Era qualquer coisa do Oasis. Muitos dormiam jogados no chão da sala. O odor de cigarro
beirava o insuportável. Abri um grande isopor que havia ao lado do balcão da cozinha. Encontrei
boiando no que antes era gelo algumas latas de cerveja e garrafas de vodca ice. De uma só vez virei
duas latas, uma atrás da outra. Na pia da cozinha lavei meu rosto, tentando despertar para mais
algumas horas de prazer.
Perambulei pela casa, tentando relembrar onde era o quarto que eu havia apagado. Não sei
como lá cheguei durante a madrugada e nem o que aconteceu depois da suruba na varanda na noite
anterior. Encontrei um quarto que eu julgava ser o correto. Ao abrir a porta, vi deslumbrado vários
jovens marombados se chupando; uma cena etérea e surrealista. Era como se tudo passasse em
câmera lenta à minha frente. Frankey era um dos contemplados com uma bela chupeta. Cheguei
perto do seu rosto e, ajoelhado, busquei seu beijo, que foi prontamente correspondido. Me bate na
cara, já!, Frankey me pediu, de repente, alucinado. Sem pensar, desfiz o meu beijo e desci a mão
pesada em seu rosto. Assustado, os olhos do rapaz me fitavam num misto de excitação e medo. De
novo, filho da puta, me esbofeteia a cara, agora! E novamente minha mão direita deixou marcas
profundas na pele branca da sua face que se tornava arroxeada.
Um outro cara, forte e tremendamente chapado, me empurrou de encontro ao chão, subindo
sobre mim, dando socos em meu peito. Eu avancei com os dentes em seu tronco, mordendo-lhe
fortemente os mamilos aleatoriamente. Isso, filho da puta, morde mesmo!, ele dizia, grunhindo
dolorosamente. Das mordidas passamos para beijos intensos, onde Marombado ora me mordia o
lábio inferior, ora mordia fortemente meu queixo. Urrei de dor. Gritei de prazer. Enrolados ao chão,
nossos corpos foram soterrados com outros corpos se jogando por cima de nossa luxúria. Minhas
pernas foram afastadas, fui virado de barriga para baixo, tapas voavam em minha bunda e alguém
mordia e chupava os arredores do meu cu, colocando-me ensandecido de vontade de ser penetrado.
Dois rapazes seguraram com força os meus braços. Outros dois seguravam minhas pernas.
Meu corpo tornou-se uma estrela perfeita. Marombado se masturbava, preparando o pau curto e
grosso para me penetrar. Cuspiu em meu rabo, jogando em seguida violentamente seu corpo e vara

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pra cima de mim. Sem poder movimentar braços e pernas, me restava ser totalmente estuprado por
Marombado. Vou encher teu cu de porra, filho da puta!, ele gritava, até chegar ao seu êxtase final.
Logo em seguida fui posto de quatro, e uma sucessão de cacetes entravam e saíam novamente
da minha boca e do meu rabo num rodízio sem parâmetros. Ao me dar por mim, percebi que oito
rapazes, incluindo eu e Frankey, estavam unidos num só corpo, em uma só alma. Como num
campeonato de luta-livre ou vale-tudo, subíamos uns sobre os outros e trocávamos tapas e beijos e
metidas e chupadas com o mesmo vigor, tudo sem proteção, tudo sem o mínimo de bom senso,
tudo-vale-tudo.
Marombado agora esfregava o cu na minha cara, obrigando-me a sugá-lo por completo.
Mordi sua bunda até deixar marcas profundas dos meus dentes. Isso o deixou cego de prazer,
socando o chão com fúria a cada investida da minha língua quente e das minhas mordidas ácidas.
Passamos horas nesse jogo de poder, sexo, prazer e atos físicos violentos. Exausto, perdido
em um canto qualquer, busquei o carinho de Frankey no final daquele combate insano. Minutos
eternos de beijos e carícias. Terminei minha madrugada sendo muito bem mamado e derramando o
pouco que restava da minha porra no peito do meu novo amigo jundiaiense.

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08 agosto - 19:46 - Satisfeito | Jundiaí | Uma estrada qualquer

Ainda me recuperando das loucuras do fim de semana, saí para caminhar um pouco, sem
destino, já que meus tios resolveram passar a tarde num bingo, tentando buscar a emoção barata no
jogo das cartelas e bolinhas saltitantes. Peguei o ônibus no terminal Eloy Chaves. Fui parar na Vila
Arens. Subi uma rua e acabei passando em frente a metalúrgica Sifco. No caminho, cruzei uma fila
de caminhões. Meu olhar guloso perscrutou silenciosamente o interior das cabines, louco para que
algum caminhoneiro prestasse atenção na minha presença nada discreta.
Caminhei de lá pra cá feito um idiota, por pelo menos quarenta minutos, aguardando a
chegada de alguém, pois todos os caminhões aparentemente estavam sem seus motoristas naquele
horário. Finalmente, quando eu já pensava em desistir, apareceu um senhor de baixa estatura,
camisa xadrez aberta, expondo um peito magnífico – apesar do vento frio – onde pude apreciar
tufos de pêlos grisalhos despontando daquele peito forte e viril. Interceptando sua passagem antes
de chegar ao seu veículo, abordei o sujeito sem meias palavras, dizendo que eu o havia achado
muito gostoso.
Vá se foder, viado filho da puta!, foi a resposta cantada. Firme, sem pestanejar, eu disse a ele
que era exatamente aquilo que eu queria. Quanto atrevimento!, ele retrucou. Barbaridade... tu quer
dá pra mim? Encostei na porta do seu caminhão e respondi que não queria dar, somente passar a
mão naquele peitoral fantástico e, se ele quisesse, eu poderia chupá-lo sem problema algum.
A curiosidade afastou a agressividade. Porra, um cara tão boa pinta assim como tu, quereno
chupar meu pau? Porra, quanta vagabunda não deve dar mole pra ti? Ignorei os comentários e
cheguei mais perto do meu prazer. Passei rapidamente os dedos em seu peito cabeludo. Puta merda,
meu, tu é bem atrevidinho, né!
Não respondi. Somente encarei o seu olhar incrédulo. Silêncio. Conquista. Finalmente abri a
boca. Eu sempre consigo tudo o que quero, eu disse, passando novamente minha mão sobre a
fartura de pêlos.
Bah, tu é um tremendo filho da puta. Olha o que tu tá fazeno cumigo. Notei o volume
crescendo no meio de suas pernas. Tá certo, eu dexo tu me chupar, mas quero algo em troca. Eu já
me preparava pra tirar a carteira do bolso. Não, não quero teu dinheiro. Quero cigarro e cerveja.
Quero fumar enquanto tu me lambe e quero que tu me chupe com cerveja gelada na boca... se for
assim, vai rolar, senão, sarta fora daqui!

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Tá certo, respondi. Me dê alguns minutos, enquanto vou buscar o que você me pede. Saí da
lateral do caminhão, liberando a porta. Dei meia volta e fui até o supermercado Russi, que ficava
próximo de onde estávamos. Comprei várias garrafas de Skol Beats estupidamente geladas e mais
dois pacotes de cigarro da primeira embalagem bonita que vi. Com duas sacolas cheias nas mãos,
Gaúcho não acreditou que eu voltaria com toda a mercadoria solicitada. O seu olhar vitrificado me
encarava através de um pequeno vão que se formou no meio da cortina que esconderia nossa
intimidade. Está tudo aqui, eu disse, enquanto ele abria a porta e verificava o tecido que cobria
inteiramente o pára-brisa do velho caminhão. Agora você bebe, fuma e eu te chupo, combinado?
Bah, tu é foda, guri!, ele disse, piscando várias vezes, incrédulo. Tá certo, combinado é
combinado. Sobe e vem dar um trato no meu cacete. Subi, joguei as sacolas num espaço medíocre
que poderia ser chamado de “quarto”. Gaúcho verificou novamente as cortinas, garantindo nossa
privacidade total. Abriu rapidamente um dos pacotes, tirando um maço de cigarros. Porra, sabe
quanto custa essa merda? Tu é doido? Gastou os tufos!
Seu pau merece meu investimento, eu disse, já abrindo o zíper de um jeans apertado. Gaúcho
ficou sem palavras e rapidamente acendeu seu vício. Abri duas garrafas de cerveja, dei uma para
Gaúcho e tomei goles estratosféricos da outra, mantendo no final uma boa porção do líqüido gelado
na boca. Algumas sacudidas no gauchinho sem ação trouxeram vida a um pau muito bonito e
tremendamente potente. Fiz o serviço, mesclando o calor da minha boca com o frio da cerveja.
Gaúcho pressionava minha cabeça de encontro ao seu íntimo. Eu estava adorando a experiência.
Porra, tu chupa melhor que puta!, ignorei o comentário ridículo e continuei meu serviço,
ampliando meu ritmo, pois queria sentir o gozo do caminhoneiro peludo o mais rápido possível.
Menos de dois minutos depois mais uma vez eu sentia um jato forte e quente descendo pela minha
garganta. Quase perdi os cabelos por causa do êxtase de Gaúcho, pois suas mãos grudaram em meu
couro cabeludo enquanto gozava, arrancando metade do que restava da minha razão perdida em
algum canto do meu cérebro inebriado.
Em silêncio, apreciamos mais uma rodada de cerveja, olhando para lugar nenhum, os
pensamentos perdidos esbarravam e desciam inertes pelo tecido grosso à nossa frente. Saquei o
celular do bolso, acendi uma luz no topo da cabine e tirei uma foto do peito aberto. Fraco e
entorpecido pela bebida, Gaúcho não demonstrou reação. Não houve despedidas. Simplesmente abri
a porta, desci e não olhei pra trás. Mas conservei na memória o gosto de um atrevimento calculado e
o prazer de mais uma aventura realizada.

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09 agosto - 20:21 - Ansioso | Ilha Comprida | Conhecendo o local

Minha terça-feira começou com os berros histéricos de Tia Corada pelo corredor, correndo de
um lado para o outro à procura das suas malas de viagem. Acordei contra vontade. Caminhei –
cambaleando – a passos curtos até a cozinha, onde encontrei Tio Barriga saboreando um café forte
num copo de cristal Cica. Perguntei a ele qual era o motivo de tanta histeria. Vamos descer para o
litoral e você vai com a gente, ele disse, seco, olhando-me com a indefectível cara de buldogue
faminto.
A viagem foi tranqüila, pelo menos até chegarmos num trecho sinuoso antes de Miracatu,
onde uma ponte estava sendo reformada. Duas horas de vai-e-para transformaram o resto do meu
humor em quilômetros de tromba. Meus tios iam para Iguape, em mais uma visita relâmpago à casa
de amigos. Como eu não estava no pique de compartilhar uma sessão geriatria, tentei de todas as
maneiras imagináveis encontrar uma saída do que prometia ser uma semana medonha e tediosa. Um
providencial folheto me foi dado pelas mãos da santa tia. Ilha Comprida, uma paraíso ecológico.
Fiquei fascinado. Ali seria fixada a nova rota do meu destino. Eu já havia tomado minha decisão.
Gritei, pulei, esperneei. Fiz até cara de choro, como uma criança mimada. Consegui
convencer meus tios a me deixarem na tal ilha. Cruzamos Iguape e passamos por uma ponte que
ligava as duas cidades. Despachado na avenida Beira Mar, depois de ter perdido praticamente meia
hora certificando minha tia de que eu ia ficar bem, que eu tinha dinheiro suficiente para passar uns
dias na região, que eu ia ligar caso precisasse de algo, etc, etc; me despedi dos velhos, ajustei minha
mochila nas costas e fui à caça de um local para me hospedar.
No Boqueirão – centro comercial da tal ilha – encontrei uma casinha simples, perdida numa
rua vazia de casas decadentes, próxima a uma escola pública. É incrível como se consegue tudo
rapidamente quando se tem dinheiro vivo e fácil nas mãos. Sardento, o dono do local, apareceu
cinco minutos depois que eu liguei para o número pendurado numa placa em frente da tal casinha.
Duzentinho por uma semana. Não questionei o valor. Eu só queria privacidade e sossego... por
enquanto.
Chave na mão. Sardento dispensado. Tomei um banho rápido. Coloquei uma bermuda sem
nada por baixo. Completei o visual com uma camiseta branca e um par de chinelos Rider. Tranquei
a casa e fui caminhar pela orla, já me preparando para dominar uma nova vítima. Apesar da
aparência fantasmagórica e deserta daquela imensidão de praia, não demorou muito para encontrar
uma alma perdida sedenta de vontade de praticar o pecado original. Mais uma vez devia estar

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escrito na minha testa qual era meu real objetivo. Passei ao lado de um senhor de corpo compacto,
porém naturalmente musculoso e muito viril. Olhos cansados apreciaram meu corpo. Olhei para
trás. Eu o havia fisgado. Sentei numa pequena duna, como que descansando e apreciando o marulho
das ondas. Fiz uma foto do final do dia. Musculoso passou por mim, dirigindo-se até um banheiro
público em frente a um supermercado pintado de um azul-berrante. Sem perder tempo, fui atrás
daquele corpo rústico. Na penumbra de um espaço mal cuidado, fui sumariamente agarrado,
enquanto uma boca feroz procurava minha vara já armada.
Foi a gozada mais rápida que já dei na vida, tamanha era a fome do Musculoso. Engolindo
completamente meu cacete, e dono de uma boca maravilhosamente macia e experiente, inundei os
lábios enrugados do velho homem com minha porra adocicada. Enquanto Musculoso cuspia
rapidamente o resultado do meu prazer, lavando a boca na pia imunda, onde uma torneira quebrada
jorrava água em abundância, desperdiçando um bem tão precioso, saí rapidamente daquele
banheiro, indo em direção às ondas de um mar calmo, onde a água gelada purificava os meus pés e
o marulho das ondas limpava o que restava de nefasto em meus sentidos.

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10 agosto - 15:15 - Afogado | Ilha Comprida | Balneário Atlântico

Acordei cedo, despertado por uma brisa suave que vinha do mar. Tomei uma ducha gelada. O
choque térmico espantou a noite mal dormida numa casa estranha cheirando a mofo. Na padaria
Cajara mandei goela abaixo uma dose de café forte, fumegante, delicioso. De posse de um panfleto
com o mapa da ilha, encontrado dentro da geladeira vazia da casa alugada, saí para caminhar pela
praia – sem um destino definido – curtindo o sol forte a bronzear meu corpo vampírico. Dois
quilômetros adiante do Boqueirão, já no Balneário chamado Atlântico, o volume de um short azul-
calcinha chamou minha atenção. Após a indiscreta foto tradicional, passei um tempo enorme
apreciando o macho torrando ao sol, enquanto uma gorda de cara amarrada lotava as estrias com
quilos de um protetor solar de marca duvidosa.
Éramos os únicos naquela imensidão. A gorda resolveu dar um mergulho. Orca assassina
encalhada na praia. O homem despertou de uma sonolência gostosa, notando minha presença de
imediato a degustar o seu corpo com meu olhar insistente. Para confirmar a possibilidade de um
contato, pus-me a acariciar o meu volume lentamente. Olhares lascivos partiram do meu objeto de
desejo. Ficamos longos dez minutos trocando sinais telepáticos, enquanto nossos membros cresciam
e tomavam forma dentro de nossos shorts de verão.
Quando a Orca voltou do mar, meu homem comentou algo ao pé do ouvido à sua
acompanhante. Trocaram um beijo rápido nas faces salgadas. Mal disfarçando sua excitação, o
homem saiu para caminhar. Passando por mim, indicou-me com um olhar guloso que eu deveria
segui-lo até um ponto afastado da grande baleia azul. Queríamos nos afastar de qualquer traço de
civilização. Segui minha vítima durante uma longa caminhada, até que nos encontrássemos
distantes de qualquer ser vivente. Ele se sentou na areia quente, aguardando minha chegada. Depois
de um rápido “oi” e um leve aperto de mãos, descobri alguns detalhes a seu respeito, enquanto ele
desfilava seu currículo pessoal. Era arquiteto. Nascido em São Paulo, morava há 31 anos em
Sorocaba e costumava vir duas vezes por ano para a ilha, afim de relaxar. A gorda que o
acompanhava era sua irmã. Uma grande companheira. Ele era solteiro, mas tinha um filho perdido
em cada estado do país.
Enquanto Sorocaba falava sobre sua vida, minha mão passeava despudoradamente entre suas
coxas lisas e grossas. Conversamos obscenidades. Mas eu não via a hora de usar minha boca de
outras maneiras. Um pinto pimpão – boing, boing! – surgiu debaixo do short azul. Deitado com a
cabeça no colo úmido, minha língua brincava no saco rosado de bolas pesadas – boing, boing!

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Sorocaba gemia baixinho. Era um privilégio fazer sexo naquela imensidão à luz do dia. Depois de
sugar o cacete joão-bobo do forasteiro, resolvi entrar na água e terminar o serviço entre as ondas
fracas. Sorocaba captou a mensagem, entrando junto comigo no mar gelado. Tiramos nossos shorts,
enrolando-os nos braços. Numa brincadeira divertida de chupar picas embaixo da água,
disputávamos para ver quem conseguia permanecer mais tempo submerso com uma vara na boca.
As ondas estavam calmas, permitindo-nos ficar em pé, protegendo nossa intimidade do
mundo exterior sob as águas. Sorocaba me abraçou por trás, forçando o sexo para dentro de mim.
Meu ânus estava um pouco irritado e a penetração foi difícil. Após algumas tentativas, o macho
conseguiu entrar em meu corpo. Tendo meu rabo fodido de uma maneira tão inusitada, eu
contemplava toda a imensidão da ilha, onde apenas alguns urubus presenciavam nossa sacanagem.
Perdemos o equilíbrio quando meu macho conseguiu gozar. Ele caiu sobre meu corpo e por
segundos eternos a água salgada invadiu minha boca e narinas, atrofiando-me os sentidos, que
foram neutralizados pelo pânico. Eu estava me afogando!
Despertei jogado na areia, ao lado da camiseta, do chinelo e do celular. O molho de chaves
beliscava minha pele, dentro do bolso do short mal colocado em minha parte baixa. Sorocaba havia
evaporado, como num sonho-pesadelo. Sentado, permaneci curtindo, aturdido, o som do oceano,
tentando colocar desesperadamente os sentidos em ordem. Verti algumas lágrimas. Tudo estava
indo longe demais. Voltei pra casa. Caí na cama. Chorei copiosamente. Dormi o resto da manhã.
Sozinho. Abandonado.

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11 agosto - 20:19 - Sozinho | Ilha Comprida | Boqueirão

Hoje passei praticamente o dia todo dentro da casa mofada. Pela manhã fiz algumas compras
no supermercado Beira Mar – aquele do azul-berrante-pelo-amor-de-deus-comprem-aqui. Comprei
basicamente cervejas, tônicas, água com gás, suco de maçã, pacotes de bolacha e salgadinhos
gordurosos. O gosto de sal marinho do dia anterior ainda me causava náuseas de tempos em tempos.
O que restava do meu corpo estava jogado numa cama de casal medonha. Eu disputava espaço entre
latas vazias de cerveja, meu iBook, sacos de mal colesterol e solidão. Passei horas avaliando tudo o
que fiz nos últimos dias. Experimentei dezenas de corpos, de paus, de cus, de línguas, de prazer e de
dores físicas, além da tortura emocional. Valia a pena tudo isso?, eu me perguntava. Não encontrei a
resposta. Fiquei imaginando quantos Jäggers devem existir perdidos nesse mundo. Quantos caras
como eu nesse exato momento entregavam seus corpos e suas almas a pessoas totalmente estranhas.
Quantos poderiam ser tão irresponsáveis, conscientemente, como eu estava sendo, jogando com a
sorte a saúde e a integridade física. Em nenhuma das relações carnais que pratiquei houve amor,
atenção e carinho reais, verdadeiros. Somente a vaca da Carência que insiste em nos atormentar dia
após dia. Somente corpos buscando corpos num eterno labirinto de escape.
Quantos homens ignorantes ainda pouco se importavam com doenças venéreas, AIDS ou
sentimentos alheios. Uma nota de dez reais era capaz de comprar um corpo masculino por horas e
horas de prazer irresponsável. Banheiros públicos eram centrais de um bacanal descontrolado, onde
sempre rolava um verdadeiro vale-tudo. Prazer de cinco minutos.
Não nego que a tentação de caçar homens tem algo extremamente excitante em seu núcleo.
Não nego que a própria hipocrisia e insanidade consciente que me propus a consumir durante esses
trinta dias certamente vão marcar minha vida para sempre. Não nego que penso na morte a cada
encontro; que penso no pior cada vez que fecho meus olhos quanto urro de prazer ou dor. Mas no
fundo alimento a eterna esperança de encontrar um parceiro fixo, talvez um amor, talvez uma alma
companheira, que me complemente no sexo, no prazer, na amizade e no amor. Será que ainda
existem príncipes encantados enclausurados numa redoma de cristal ou somente restou no mundo
atual um turbilhão de sapos decadentes? Quanto corpos ainda terei que caçar, quantos paus ainda
vão penetrar o meu corpo, quantos cus ainda precisarei comer até encontrar a pessoa certa? Existe
felicidade nesses atos insanos? Onde está o amor eterno? Ainda terei chances de viver algo
verdadeiro?

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Não sei de nada. Ainda não sinto as respostas que carrego dentro de mim. Eu sei que elas
ainda estão escondidas profundas no meu íntimo. Agora a noite cai. Descarrego todas as lágrimas
acumuladas em séculos de solidão e revolta pessoal. Hoje não quero um homem. Hoje quero curtir
o meu corpo e me acabar em dezenas de punhetas até esfolar meu possante divino.
Estou cansado, mas não vou desistir da minha disputa egoísta até me acabar na insanidade do
sexo inseguro e infeliz. Prazeres da carne, nada mais. Quem sabe a sorte me faz uma visita nos
próximos dias? Quem sabe o idiota do Destino me presenteie com um roteiro romântico onde ao
virar a próxima esquina eu vá esbarrar no companheiro ideal?
Agora preciso dormir. Engolir as lágrimas da tristeza que cavei para mim. Soco uma punheta
de uma seqüência de várias que ainda virão. Dor, dor, dor. Não mais prazer. Uma punição ao meu
corpo dilacerado. Todos os paus e cus e beijos passam agora em minha mente conturbada. Quero
dormir. E ao mesmo tempo quero ver meu pau sangrar.
Não quero mais escrever. Não tenho mais nada para te falar. Amanhã será um novo dia.
Amanhã estarei nos braços de mais um homem ou de um conjunto de corpos vazios em algum
ponto dessa ilha linda. Até daqui a pouco! Vou voltar para a punheta...

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12 agosto - 23:59 - Alucinado | Ilha Comprida | Mulher Macho

Depois de séculos trancafiado na casa mofada, consumindo litros de cerveja quente e fazendo
meu pau sofrer após uma overdose de punhetas, tomei mais um banho frio, vesti uma velha calça de
moletom sem nada por baixo, calcei meus Riders velhos de guerra, vesti uma camiseta Hering e saí
para caminhar um pouco pela praia, na esperança de que o vento-sul levasse para bem longe um
pouco da podridão que infestava meus pensamentos. Eu estava me sentindo péssimo, cansado,
acabado, mas bastou abrir a porta para que a Dama da Noite despertasse em mim novamente o
desejo de praticar sacanagens com desconhecidos.
Caminhei lentamente por mais de hora e meia pelas areias da ilha comprida. Quando cheguei
próximo ao prédio da Prefeitura, meu corpo implorou alguns minutos de descanso, obrigando-me a
sentar numa pequena duna. Parte do que restara de um barco atolado na areia era acariciado pelas
ondas calmas, como que tentando diminuir a ferida aberta em seu casco causada pela inutilidade
forçada. Com a imagem da embarcação gravada na retina, fechei os olhos e deixei os sons da maré
penetrarem na minha mente e no meu espírito perdido, desolado, submisso.
Uma luz forte atingiu minhas costas um tempo depois. O som de um carro invadindo o
silêncio quebrou o encanto da minha meditação. Vi uma pick-up Ranger de cor escura estacionar a
poucos metros de onde eu estava. No volante havia um homem encorpado, de cabelo ralo, que ria
sem parar, tentando abafar o som estonteante que vinha do rádio da caminhonete último tipo. Ele
aparentemente xingava e ria e blasfemava contra o locutor, dono de uma linda, sensual e potente
voz de baixo, que anunciava a nova programação noturna de uma rádio qualquer.
Ao seu lado havia uma mulher estranha, que desceu do carro em passos falsos, perdendo
repetidas vezes o equilíbrio, cambaleando e quase caindo na areia fofa. A mulher trajava uma
espécie de camisola com estampa de pele de onça. Os cabelos cacheados – nitidamente artificiais –,
cobriam-lhe a visão, tornando a tarefa de caminhar ainda mais penosa. Na mão direita ela trazia
uma garrafa do que eu julguei ser vodca e na outra mão carregava uma pequena bolsa delicada e um
par de sandálias de salto alto.
A Ranger, com seu ocupante histérico, deu ré, de repente. Assim que o carro virou em direção
ao asfalto, o motorista começou a gritar obscenidades, mandando a mulher tomar no cu de todas as
formas possíveis. Fiquei chocado com o ritmo desenfreado das frases de baixo nível, numa
saraivada de expressões sem sentido, proferidas por um homem totalmente paranóico.

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A mulher fez o sinal de “foda-se” para o carro que se perdia na estrada sem fim. Caminhou
em minha direção quase que ajoelhada, de tão bêbada que estava naquela altura do campeonato. Ao
capturar uma foto para minha vasta coleção e ver o resultado no visor do celular, quase tive um
treco ao perceber que a “mulher” na verdade era um homem travestido. Comecei a rir, enquanto
“ela” se aproximava de mim.
Quer um pouco?, disse a donzela com voz de macho, quase que me embriagando com o bafo
de uma bebida barata que certamente não era vodca. Gostou do meu visual? Não tô um tesão com
esse vestidinho?, perguntou minha nova amiga ao sentar-se do meu lado. Fiquei com um riso
entalado na garganta. Que porra era aquilo, pensei.
Você viu só? Meu homem saiu histérico porque eu não quis comer ele hoje. Porra, deu um
trabalhão do caralho me vestir assim, me produzir toda, só pra satisfazer a porra da fantasia daquele
maldito. Porra, ele só bebia e só falava da porra do amante, aquele voz de bosta, filho da puta.
Cacete, eu amo ele pra caralho, ele me dizia a todo momento dentro do carro que me queria... porra,
tô até de Madonna só pra satisfazer ele, caralho...
Madonna chorava copiosamente, entre um gole de cachaça e meia hora de ladainhas
sentimentais. Estava desesperado, pois não sabia como ia fazer para voltar até Iguape, sua cidade.
Tentou várias vezes ligar para alguém através do meu celular. Não conseguiu. Irritado, tirei a
garrafa da mão dele e tomei um gole fenomenal do litro de álcool barato. A bebida desceu
queimando todas as minhas entranhas.
Olha como eu tô rapaz!, ele disse, apontando para a cueca transparente que cobria um pau
fino e muito comprido. Eu preciso meter, caralho, urgente, senão vou ficar louco! Completamente
sem vontade, mas ao mesmo tempo excitado e embasbacado com toda aquela situação tragicômica,
arranquei o tecido que cobria o sexo e comecei a pagar um boquete profiça para minha mulher
macho.
Porra, viadinho, porra como você chupa bem pra caralho... porra!, dizia Madonna, apertando
minha cabeça para baixo, travando minha garganta com o litro frio da bebida podre. Deixa eu meter
em você, porra. Deixa uma mulher te comer?, ele gritava, alucinado. Virei o corpo e baixei o
agasalho. Madonna jogou um pouco de cachaça nas minhas costas e na minha bunda. Um língua
áspera em conjunto com uma barba ressequida faziam maravilhas no hemisfério sul. Madonna
chupou meu cu, ao mesmo tempo que abria espaço no meu rabo com a boca da garrafa quase vazia.
Ele me penetrou com a garrafa, sangrando o meu rabo após segundos de várias estocadas violentas.

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Madonna não se importou com meu sangue, lambendo a mistura vermelha com o restante do
álcool sem se dar conta do que acontecia no mundo real. Fica de quatro que eu vou te enrabar,
viadinho, ele disse. Obedeci, atordoado pela dor lancinante no rabo, desejando ser sufocado na areia
ou afogado nas ondas do mar revolto, já que nada mais importava naquele momento.
Madonna era péssimo na arte da fodeção. Precisei conduzir o ato e o pinto no lugar certo, até
que finalmente a vara fina cumpriu seu papel. Pela primeira vez nesta empreitada dei sem vontade
de dar, somente executando um ritual sem sentido. Me sentia uma puta no auge do dever. Pena que
eu não ia ganhar um tostão cedendo meu corpo fragilizado.
Levou um milênio para Madonna terminar em mim. Aspirei toneladas de areia com a pressão
da mulher macho em cima do meu corpo. Ao acabar o seu prazer-revolta, Madonna tirou o cacete
de dentro de mim, enfiando-o na boca da garrafa e ejaculando toda a sua porra no interior
translúcido. Uma mistura de sangue, suor, porra e pinga se depositou no interior da garrafa
transparente. Madonna observava a alquimia dos elementos agora reunidos. Chacoalhou o litro para
cima e para baixo. Tome, seu viado, beba tudo. Madonna virou meu corpo e enfiou a ponta da
garrafa em minha boca, forçando-me a engolir todo o conteúdo podre e lúdico que havia dentro do
pedaço de vidro.
Nem sei como tudo desceu. Na seqüência fui brindado com um violento tapa na cara, seguido
de um beijo que só um homem é capaz de proporcionar a outro homem. Madonna passeava sua
língua quente no interior da minha boca, seguindo depois para minhas orelhas e meu pescoço,
alucinando-me o resto dos sentidos carnais. Enfia o dedo no meu cu, viadinho, enquanto eu bato
uma pra você.
Implorei mentalmente para não ser masturbado, mas de nada adiantou, pois a mão insistente
de Madonna já havia deixado meu pau no ponto certo e acabei ganhando uma perfeita punheta na
noite fria.
Gozei algumas gotas de uma porra sem porra. Engoli o choro de uma raiva enraizada.
Descontei meus infortúnios fodendo o rabo de Madonna com dois dedos potentes da mão esquerda.
Morde meus peitos, viadinho, morde meus peitos!
Quase sem forças para mais nada, arranquei o que deveria ser um sutiã e mordi os mamilos da
mulher macho, que se masturbava enquanto era fodida nos peitos e no rabo. Madonna jogou o corpo
em cima do meu, gozando novamente agora no meio do meu peito dolorido. Alucinado, Madonna
lambia a sua própria porra espalhada no meu corpo branco. Num abraço explicitamente carinhoso,
unimos nossos corpos e bocas num beijo de um amor inexistente. Desejei um carinho que não se

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prolongou. Friamente, Madonna pediu novamente meu celular emprestado, ligando pelo que
entendi ser um outro amigo que viria buscá-lo naquele lugar. Cochilamos por algum tempo
abraçados ao lado do barco naufragado. Acordei ao ouvir o som de uma moto que penetrava os
nossos domínios. Levantei com cuidado para não acordar minha mulher macho. Caminhei em
direção ao mar. Não olhei para trás. Joguei o meu corpo no meio das ondas frias. Purifiquei a pele
arranhada pela areia na água salgada, gelada, espumante. Saí das águas exausto. Peguei a chave, o
celular e os pedaços da minha alma suja de areia. Voltei para a casa mofada abatido, vitorioso e
surpreso. Paranóia total. Risos pelo caminho. Mais uma aventura. Mais uma história pra contar.
Mais um motivo para...

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13 agosto - 22:17 - Selvageria | Ilha Comprida | Animais Famintos

O sol desaparecia atrás das montanhas de Iguape, a cidade vizinha à Ilha Comprida. Depois de
passar praticamente o dia todo dormindo ao som de uma Avril Lavigne que esgotou meu MuVo de
tanto repetir a mesma seqüência de músicas zilhares de vezes, tomei um banho demorado, tentando
curar nos vapores d’água quente meu rabo ensangüentado, ferido, dilacerado. Meu ânus ainda ardia
e estava tremendamente inchado e dolorido depois da neurótica experiência da noite anterior.
Resolvi sair e caminhar um pouco. Mais morto do que vivo – pelo menos naquilo que eu
ainda acreditava ser eu mesmo – caminhei, caminhei, caminhei chorando e rindo das agruras da
minha existência, numa solidão compartilhada com o desespero de uma vida que eu já julgava ser
totalmente inútil.
Encontrei Dourado correndo atrás de pequeninos caranguejos brancos que se escondiam na
areia. O enorme cão passou a me seguir quando cruzei o seu caminho. Não resisti ao desejo de
tocar-lhe os fartos pêlos macios. Sentei na areia fria e brinquei minutos eternos com o bichano com
cara de bobo. De tão entretido com o cão, nem percebi a presença do seu dono, um rapaz moreno
muito bonito, dono de um olhar tremendamente sedutor, que apreciava duas criaturas envoltas num
prazer infantil.
Ele gostou de você, disse o moreno. É raro ele brincar logo de cara com um estranho,
completou. Ainda entretido com meu novo amigão, quase não dei a mínima ao rapaz de voz
tranqüila. Ele esticou o braço e ajudou a me levantar, dizendo o seu nome e sua profissão: pescador.
Caminhamos juntos até um ponto da praia onde uma cadeira de plástico revestida de um tecido azul
royal em nada combinava com uma bolsa enorme de couro de onde pendiam o que acreditei ser um
amontoado de redes de pesca e bóias de isopor.
Pescador me ofereceu uma lata de cerveja estupidamente gelada, tirada de uma embalagem
pequena de plástico vagabundo. A serenidade de sua personalidade e a voz tranqüila e sedutora
emanada daquele homem sensual alimentaram dentro de mim a esperança de um começo de uma
noite agradável e feliz. Mas eu estava enganado.
Falamos e filosofamos sobre a vida, o mar, o céu e as estrelas. Um papo zen só perturbado
pelas estripulias de Dourado, que tentava de todas as maneiras chamar nossa atenção. Quando
somente a luz tênue de uma lua crescente iluminava nossos corpos, Pescador começou a tocar sem
receios os meus braços sem cor, seguindo suas mãos fortes até encontrar meu pescoço, puxando-me
de encontro ao seu corpo nativo. Um beijo doce selou nosso contato e uma língua pequena e macia

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fez maravilhas em meus lábios e queixo e numa alma cansada de sofrer. Viajei para um nirvana
passageiro nos braços do meu pescador de ilusões. Dourado aquietou seu corpanzil entre minhas
pernas, dormindo um sono justo, enquanto os amantes se saciavam nos enlaces da sedução.
Pescador tirou minha camiseta, buscando meus mamilos rosados. Eu não acreditava que havia
encontrado um parceiro tão carinhoso. Nos beijos apaixonados até me esqueci das dores da noite
anterior. A mão grossa e áspera do Pescador descobria todos os meus pontos fracos e simplesmente
minha cabeça percorreu o conhecido caminho até um pau pequeno, compacto, que coube por inteiro
dentro da minha boca gulosa. Degustei com gosto o sexo que cheirava a sabonete barato. Entre
gemidos e sussurros, Pescador me pediu para ficar de costas, pois desejava me penetrar com
carinho, segundo suas palavras.
Virei, deitei e relaxei, apoiando parte do meu corpo na areia. Aquela boca macia mordiscava
minhas costas enquanto o pau procurava o seu destino final. O pequeno sexo me fez chegar às
lágrimas, pois a irritação no meu ânus voltou com força total. Cerrei os dentes para não gritar de
dor. Pescador penetrava-me em câmera lenta. Dourado acordou ao som de um assovio de seu dono.
O cão se posicionou ao lado de Pescador e num segundo sinal emitido por seu amo, Dourado
começou a lamber ferozmente o meu rabo e a lateral de uma de minhas coxas. A língua quente e
úmida do cão despertou calafrios em meu corpo. Pescador saiu de cima de mim e em segundos o
cão enorme passou a lamber meu cu aberto e ferido, onde as mãos fortes do homem moreno abriam
– com força – ainda mais aquele meu caminho que antes era considerado somente para o prazer.
Fica de quatro, assim, disse Pescador, afastando Dourado e arrumando meu corpo na posição
desejada. Mais um assovio e o cão treinado literalmente trepou sobre mim, e um membro fino,
comprido e pegajoso buscava abrigo no meu buraco dolorido. Eu simplesmente não acreditava no
que estava ocorrendo naquele momento. Dor, revolta, curiosidade, prazer e repulsa se gladiavam
ferozmente dentro da minha razão inerte. Eu queria sair correndo em direção das ondas e ao mesmo
tempo queria ser fodido cada vez mais pelo animal treinado para comer outro animal.
A espuma quente que descia da bocarra de Dourado se depositava em minhas costas, ombros
e pescoço. Pescador se masturbava assistindo a cena bestial, latindo e uivando baixinho no ritmo
das estocadas do seu fiel companheiro. O volume do sexo do animal cresceu assustadoramente
dentro de mim. A dor lancinante cegava a pouca razão que ainda permanecia presa dentro do meu
ser. Meu rosto vertia lágrimas de prazer e revolta. Eu apertava o ânus como uma cadela no cio,
impedindo que o membro selvagem escapasse para o mundo exterior.

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Pescador se aproximou de mim, ajoelhado, colocando o seu pau flácido em minha boca. Em
movimentos rápidos e ensandecidos ele tirava o pau dos meus lábios e o oferecia ao cão, que o
lambia com vontade ensinada. Minutos eternos de um pau sendo lambido por um animal e chupado
por outro. Minha boca já não reconhecia mais o paladar de nada, só aceitando passivamente o
pedaço de carne morta que insistia em golpear minha garganta.
Pescador deu um novo tipo de assovio. Dourado saiu em disparada em direção ao mar,
retirando o seu sexo com tanta violência de dentro de mim, que foi impossível segurar a dor da
separação, que dilacerou totalmente o que ainda havia de pregas e dignidade num cu decadente.
Enfiei o rosto na areia, expirando a dor durante a saída do ar repulsivo dos meus pulmões.
Pescador enfiou dois, três, quatro dedos dentro do meu corpo. A mão repleta de sangue foi
passada em meu rosto e boca cobertos de areia. O moreno trepou sobre mim, como o cão havia feito
antes, e o sexo pequeno que a essa altura pra mim era descomunal penetrou no vazio do meu ser,
despejando imediatamente uma porra rala e fria. Um novo assovio trouxe Dourado de volta.
Pescador sentou na cadeira de plástico, sacou um cigarro e um isqueiro de algum lugar do espaço
noturno. Tragava lentamente seu vício, olhando para as estrelas além mar, como se nada tivesse
acontecido conosco segundos atrás. Sem palavras e sem forças, vesti o short e a camiseta. Apanhei
minha chave e meu pequeno celular. Mais uma vez não olhei para trás, simplesmente segui o meu
caminho. Busquei desesperadamente o alívio das ondas, molhando os pés, purificando a podridão
da minha alma perdida.
Voltei para a casa mofada. Joguei as chaves e o celular sobre a cama desarrumada. Entrei no
banheiro. Abri o chuveiro. Sentei no chão frio com tremenda dificuldade. Deixei a água quente
escorrer. Notei a mancha de sangue na parte de trás do short. Vi o fluxo vermelho deixar meu corpo
e escorrer pelos buracos minúsculos do ralo todo ralado. Gritei. Soquei a cabeça na parede diversas
vezes. Chorei. Sorri alucinado. Adormeci debaixo das águas quentes. Eu queria a morte de um
recomeço.

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14 agosto - 19:01 - Paz | Ilha Comprida | Carinho nas areias

Sempre me considerei um homem forte, decidido e objetivo em todos os meus atos. Posso
afirmar que sou um cara privilegiado. Venho de uma família unida e carinhosa, onde sempre
imperou o diálogo e o companheirismo entre todos os membros. Tirando meu pai que não quer
aceitar minha homossexualidade – apesar de saber da minha opção – acredito que a senhora
Harmonia sempre tomou conta de todos nós com muito carinho até hoje.
Fisicamente eu estava completamente esgotado. Comecei a questionar se eu conseguiria ir até
o fim no meu objetivo esdrúxulo de realizar todas as variantes do sexo com o maior número
possível de homens no prazo de trinta dias. Deitado na cama de colchão duro, olhando para um teto
branco repleto de manchas esverdeadas e ouvindo o som do mar ao longe, derramei algumas
lágrimas, não sei se de tristeza, ou se de esgotamento físico e espiritual, ou de saudades da minha
vida normal em Curitiba. Saudades do Hélio, da Vanessa, do Cris, do Duran, da Rô e da Rê (as
gêmeas), do Mauro (meu ex-namorado), de todos os meus ex-amantes. Senti saudades de Deus.
Sem um pingo de vontade, somente para cumprir o ritual do dia, saí para caminhar no
Boqueirão. Numa lan house simples e aconchegante escondida num cantinho paralelo à rua
Copacabana, passei uma hora navegando por sites sem graça. O domingo estava vazio e triste.
Plugando meu pendrive no computador alheio, aproveitei para atualizar este meu espaço virtual,
para que você não perdesse nenhum detalhe desta minha (triste) aventura.
Entrei no chat do UOL, na sala Cidades - Registro, que era a cidade mais próxima da ilha
disponível para se encontrar alguém. Avaliei os nicks existentes, todos sem nexo e sem um pingo de
criatividade. O meu nick também não se diferenciava dos demais: QUERO_COLO (HXH). Sem ninguém
interessante para conversar, eu estava para sair quando CASADO_CARENTE_QUER_HOMEM deu o ar da
graça. Conversamos um pouco, trocamos o velho e batido currículo pessoal, e nossas sintonias se
afinaram de imediato. Eu queria colo. Ele queria dar e receber carinho de um homem, nada mais. E
esse homem só poderia ser eu, com toda certeza.
Registro não fica muito longe da ilha. Marcamos nosso encontro em frente ao caixa eletrônico
do Banespa, na praia do Boqueirão. Casado chegou exatamente na hora marcada. Desceu de um
EcoSport prata, e qual não foi o meu choque ao ver um verdadeiro executivo vir em minha direção.
Olá, ele disse, esticando a mão para um cumprimento. Desculpe o traje de trabalho, mas é que
precisei mentir à minha esposa, dizendo que eu tinha uma reunião urgente com um cliente em
Iguape. Quer dar uma volta?

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Entrei no carro e pegamos a avenida Beira Mar. Ao passarmos em frente à prefeitura, Casado
entrou num desvio que dava para a praia, exatamente no ponto onde dias atrás eu havia transado
com Madonna, a mulher macho. Engoli em seco uma dor aguda. Casado percebeu meu desconforto.
Tudo bem com você, meu amor!, ele disse, tocando com extremo carinho a minha coxa esquerda.
Vinte minutos de céu e mar adiante, deslizando confortavelmente nas areias de uma praia sem
fim, Casado parou o carro num ponto tranqüilo, posicionando o veículo bem de frente para um mar
de ondas calmas, apesar do vento constante e frio que vinha do sul.
Não quero palavras. Só quero os teus beijos, ele disse, protegendo meu corpo num abraço
repleto de carinho. Como um bálsamo a cicatrizar minhas feridas, Casado parecia ler todos os meus
pensamentos, cobrindo cada parte superior do meu corpo com beijos delicados e carícias
revigorantes. Esquecemos que havia um mundo lá fora e nos entregamos ao simples prazer de um
afago.
Foram horas de beijos profundos e delicados. Horas de toques macios em rostos carentes.
Horas de cabeças encostadas em peitos fortes, onde mãos acariciavam com serenidade cabelos
sedosos que imploravam por carinho.
A noite caiu e junto com a escuridão e o anonimato despimos nossas roupas à procura de
nossos corpos sem máscaras. Pela primeira vez desde que cheguei para “curtir” minhas férias, um
homem carinhoso tomara a iniciativa de me cobrir de mimos e atenção. Casado curtiu com a boca e
as mãos cada parte do meu corpo. Beijou meu sexo e lambeu-o com calma e prazer, apreciando
cada centímetro de um membro perfeito.
Prevenido, Casado tirou do porta-objetos um preservativo, colocando em seguida no meu
sexo que quase explodia de tanta rigidez. Após quinze minutos de um boquete inesquecível, inundei
o interior da camisinha com meu sêmen liqüefeito. Casado tirou o látex cheio, deu um nó na
extremidade e jogou o resultado do meu êxtase numa sacolinha de plástico que jazia junto à caixa
de câmbio.
Depois de uma nova seqüência de beijos profundos, foi a minha vez de curtir o sabor de um
sexo pequeno, porém tremendamente grosso, achatado. Pus o preservativo no casadão e fiz aquilo
que sei fazer de melhor. Casado demorou muito para gozar, mas quando o fez, o volume de sêmen
que se depositou no interior do preservativo era sinal de que mais uma vez eu havia superado
minhas expectativas na arte de proporcionar prazer oral a um homem.
Ficamos abraçados, trocando beijos e carinhos e afagos, ouvindo o “Perfil” de Adriana
Calcanhotto. Quando o CD acabou, Casado e eu recolocamos nossas armaduras sociais. Ele me

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deixou no ponto onde havia me encontrado horas atrás. Nos despedimos com um sorriso de
satisfação e um sinal de “positivo” com as cabeças. Não houve promessas que jamais seriam
cumpridas. Não houve cobranças de algo que sabíamos que seria passageiro. Esperei o veículo se
perder na avenida Beira Mar. Voltei para casa pisando em nuvens fofas, imaginárias, perfeitas.
Ainda havia homens carinhosos neste mundo. Ainda havia alguma chance real de ser feliz.

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15 agosto - 18:08 - Bêbado | Ilha Comprida | Festa na casa mofada

Minha cerveja havia acabado antes do meio-dia. Seguindo a dica de um nativo, fui até o
supermercado Monte Carlo me reabastecer. Sacolinhas repletas de álcool gelado nas mãos, eu
caminhava de volta para a casa mofada quando notei três forasteiros nitidamente embriagados
discutindo com um senhor próximo a uma sorveteria. Comi com os olhos o rapaz de camiseta
branca, pois o volume de sua mala colocou todos os meus baixos instintos prontamente em alerta.
Outro rapaz percebeu meu olhar nada discreto. Saiu do meio daquela confusão e dando um pequeno
assovio agudo – que gelou todo meu sangue, pois era no mesmo tom usado pelo Pescador para com
Dourado, o cão tarado –, paralisou meu corpo, que o aguardou, estático, para um rápido contato.
O homem de traços latinos trocou um cumprimento firme, e sem delongas me perguntou se eu
sabia de um lugar onde ele e seus amigos poderiam passar algumas horas, até que um quarto
elemento viesse buscá-los no final do dia, para então a trupe seguir caminho até São Paulo.
Percebi que a história era totalmente furada, pois Chileno falou o tempo todo comigo coçando
sem parar o pau flácido sufocado numa calça de brim muito apertada. Direto, como sempre, eu
disse a ele que tinha alugado uma casa para curtir uns dias na ilha e fiz um convite para que ele e
seus amigos passassem as tais horas em minha companhia. Irresponsabilidade total!
Tem mas bebida na tua casa ou é só o que tiene nas sacolas?, Chileno me perguntou, num
péssimo portunhol. Respondi que poderia providenciar mais cervejas se ele me prometesse uma boa
farra nas próximas horas. Chileno captou minha intenção. Espere um poquito, eu já volto, ele disse.
Conversou entre ouvidos com o Mala, que direcionou um olhar tremendamente sacana para mim,
avaliando o material que ele certamente haveria de provar dentro de alguns instantes. Os dois
arrastaram o terceiro companheiro para fora da discussão com o idoso. Juntamo-nos como uma
gangue de forasteiros e fomos felizes e excitados para a minha casa mofada.
Mal abri a porta e Chileno já encochava seu corpo atrás do meu, roçando o pau que ganhava
forma em minha bunda macia. Mala arrastou o amigo compacto para cama, deitando-o de qualquer
jeito, esparramado na cama de casal. Compacto estava completamente bêbado. Abrimos nossas
cervejas e inauguramos nossa festa. Tirei as duas peças de roupa que cobriam meu corpo. Chileno
fez o mesmo, seguido de Mala, que ficou trajando somente uma cueca branca, sem costura.
Bebíamos e derramávamos cerveja em nossos corpos. Abocanhei rapidamente o primeiro
mastro que surgiu na minha frente. Chileno deitou ao lado de Compacto, que dormia a sono solto.
Eu sugava um cacete tenro e macio enquanto Mala justificava o apelido recém adquirido

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manipulando seu pau descomunal, medonho e muito esquisito entre minha bunda e minhas coxas de
pêlos dourados. Ficamos no roça-roça-chupa-chupa até acabarmos com todo estoque de cerveja em
lata. Chileno perguntou se eu tinha uns troco para comprar mais bebida. Meu dinheiro do dia estava
quase no fim e restava somente algumas notas de dez na carteira. Vá buscar, eu disse a ele, que
prontamente vestiu sua roupa, pegou o dinheiro e sumiu porta afora.
Agora é com nós dois, disse Mala para mim. Deita na cama e fica de quatro, ele ordenou. Abri
minhas pernas e me preparei psicologicamente para ser penetrado. Meu rosto quase encostava no
rosto de Compacto, enquanto Mala preparava meu cu durante uma longa sessão de cusparadas e
carícias com o dedo indicador. Meu rabo parecia adivinhar o tamanho da responsabilidade de
receber aquela tremenda tora deformada. Mala entrou com facilidade em mim. Fiquei surpreso em
conseguir agüentar tudo sem dor ou desconforto. Somente o prazer imperava num tremendo vai-e-
vem frenético, descompassado.
Mudei de posição, onde agora minha boca estava a poucos centímetros do pau sem vida de
Compacto. Numa nova empreitada de Mala em meu rabo, lentamente eu desatei os cordões de
tecido que prendiam a calça do dorminhoco. Baixei o que foi possível e descobri um pau que
prometia ganhar força através de um delicioso boquete. Chupei ativamente o pequeno sexo.
Compacto entrou num estado de semi-vida enquanto seu pau era ressuscitado para o meu prazer.
Continuei meus esforços até o membro ganhar postura. Não me arrependi. Com um misto de
surpresa, desprezo e curiosidade estampado no rosto miúdo, Compacto entrou na nossa festa,
forçando minha cabeça para baixo, afim de ampliar o seu prazer.
Não quero gozar ainda, seu puto, disse Mala, tirando a tora de dentro de mim. Em
compensação, quando menos eu esperava Compacto inundou meu rosto com sua porra espessa.
Enxuguei meu rosto no lençol que um dia fora branco. Vem chupar meu caralho, Curitiba, pediu
Mala, deitando no tapete puído que cobria parte do espaço que deveria ser uma sala. De costas para
a porta de entrada, ajoelhado como a rezar um pai-nosso, abocanhei uma encantadora vela de
setenta dias.
Chileno chegou completamente bêbado. Jogou as sacolas com as latas de cerveja gelada no
chão. Tirando rapidamente as roupas, pulou em seguida sobre meu corpo. Mordia minhas costas em
vários lugares – eu gostaria de saber o que há em minhas costas que tanto fascina os héteros – e
direcionava seu pau para dentro do meu paraíso. Fodido atrás e na frente, variamos nossa
sacanagem o resto da tarde. Dei para Chileno e para Mala uma infinidade de vezes. Fiz Compacto
no banheiro, quando o mesmo acordou para a vida e resolveu tomar um banho frio. Ele me comeu

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entre bolhas de sabão, devido a enorme quantidade de espuma que ele meteu em meu rabo antes de
me penetrar.
O celular de Chileno tocou pouco depois das cinco. Sonolento, ele atendeu a ligação.
Conversando em código e gíria com a outra pessoa, ele bolinava meu saco enquanto ouvia
atentamente o que julguei ser ordens expressas do outro lado da linha. Minha boca degustava a mala
do Mala, um saco enorme e duro, coberto de pentelhos, que se fixaram entre meus dentes.
Banho tomado e mochilas prontas, a trupe deixou a casa mofada rumo à praia do Boqueirão.
Alegres, brincalhões, os três patetas macaqueavam nas areias finas, tocando um ao outro em
brincadeiras machistas e idiotas. Uma Blazer preta e toda insufilmada surgiu ao cair da tarde. Os
três entraram em silêncio, as cabeças baixas, como meninos levados sendo reprimidos pelo grande
pai. Pra variar, não houve despedidas, não houve um “adeus”. Voltei para o meu refúgio. Bebi
sozinho as últimas latas quentes de Skol.

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16 agosto - 10:03 - Desorientado | Ilha Comprida | Rápido e rasteiro

Tia Corada acordou antes do galo. O telefone me tirou de um sonho infantil quinze para as
cinco da manhã. Meus tios estavam voltando para Jundiaí e iriam passar na ilha por volta das sete e
meia para me buscar. Gastei muito tempo e lábia para convencer minha tia de que eu desejava
passar mais alguns dias “descansando” no paraíso.
Dilema resolvido, não consegui voltar a dormir. A cabeça doía em toda sua extensão. Não
tomo remédios artificiais. Rolei e enrolei por mais de três horas até não agüentar mais. Eu precisava
sair. Vesti as roupas amarrotadas da tarde anterior. Fechei a casa, ganhei a luz de um dia perfeito.
Fui caminhar pela praia.
Quando pisei na areia quente ao lado do quiosque Surf, caminhei por meia hora até encontrar
um traço de civilização. Um grupo de pessoas se divertia nas areias e nas pequenas ondas de um
mar calmo. Um rapaz se destacava no grupo. Primeiro por seu porte físico – ele era um homem
muito bonito... de frente. Segundo, era dono de um rabo delicioso, apesar da medonha tanguinha
roxa enfiada no rego.
O filho da puta rebolava mais do que uma vadia fazendo ponto. Era impossível não
reconhecer os trejeitos femininos num homenzarrão daquele. Que desperdício!
Fiz a cara de macho mais fodida que eu conseguia simular. Não deu outra, Tanguinha caiu
como peixe em minha rede (que trocadilho infame!). Como um bambi saltitante, a biba maravilha
veio puxar conversa. Assim que abriu a boca, uma chuva de purpurina empesteou o ar da manhã.
Um arco-íris de cores cintilantes tomou conta do nosso espaço em comum. Quase vomitei.
E aí, gatinho, perdido nessa imensidão toda?, disse Tanguinha. Engrossei a voz e fui logo
alisando o pau, na maior performance de macho que já fiz na vida. Só faltou eu coçar o saco e
cuspir na areia para me tornar o próprio Clint Eastwood diante da minha próxima vítima.
Menti dizendo que estava de partida e louco pra chupar um cu antes de voltar para São Paulo.
Eu fico lôca quando um bofe me chupa o grelhinho, disse a deslumbrada. Mordi a língua para não
rir da cena patética.
Tem local, gatinho, Tanguinha me perguntou, alisando meu peito avermelhado. Não, não
tenho, cara... mas tem que ser agora, pois tô doido pra lamber o teu rabo. Tanguinha pediu para que
eu o seguisse. Apanhou uma bolsa e um molho de chaves que estavam debaixo de um guarda-sol
que de “guarda” não tinha nada. Mandou beijinhos afetados para o grupo de amigos. Seguimos até
um Brava verde metálico que estava estacionado num ponto da praia. Ele destravou as portas

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pressionando um botão no molho de chaves. Entramos. Ao fechar minha porta fui agarrado por uma
lontra pegajosa, que insistia em me dar um beijo de língua. Minha repulsa foi imediata, pois nada
naquele alienígena afetado me dava prazer. Quase cuspi em sua boca suja, de hálito pesado.
Retornei um beijo de boca fechada.
Partimos e fomos até um lugar maravilhoso conhecido como Ponta da Praia. O local estava
completamente deserto. Tanguinha baixou o pedaço de pano roxo que cobria um pau torto,
minúsculo e morto entre as pernas. Sou exclusivamente passiva na relação, tudo bem gatinho!
Eu também sou, boneca, pensei e quase soltei a frase para minha amiga afetada. Mais uma vez
mordi a língua para não rir daquele ser insignificante. Vira a bunda, que eu quero chupar teu cu,
filho da puta. Ai, ai, eu adoro machos violentos... ui!, relinchava a bixalôca.
Recebi o espírito de um Exu-fode-rabo-de-viado, pois meus atos imediatos foram de pura
insanidade. Deitei o banco da lôca e literalmente arregacei sua bunda com enormes mordidas que
resultaram em marcas profundas da minha arcada dentária. Minha língua se transformou em uma
barra de ferro, pois fodi como nunca um cu largo e profundo. Não contente com a fodeção
lingüística, enfiei dois, três, quatro dedos de uma só vez no rabo que não parava de se alargar.
Tanguinha gritava ora de dor, ora de prazer com os atos do seu macho. Quando dei por mim, quase
que minha mão inteira estava dentro do corpo da amiga. Sangue e detritos surgiram entre meus
dedos. O cheiro da podridão causado pelas minhas atitudes empesteou o ar no interior daquele
carro. Tanguinha quase perdeu os sentidos certamente pelo excesso de adrenalina que corria solta
entre nós.
Tirei minha mão daquele interior nojento. Minha revolta crescia interiormente, pois na
verdade era eu que queria estar no lugar daquele viado. Eu queria ser o submisso naquela situação.
Eu queria ser a lôca. Enlouqueci. Despachei uma sucessão intensa de tapas naquela bunda lisa. Com
a outra mão passei a me masturbar ensandecidamente. Tanguinha urrava agora de prazer,
implorando para que eu não parasse com a violência desmedida. Entre socos, tapas e mordidas,
gozei feito louco nas costas do macho afetado. Ainda com uma raiva intensa que me dominava por
completo, puxei com severidade o rosto de Tanguinha até aproximá-lo do meu rosto, lascando um
beijo profundo com uma língua que sufocou meu oponente. Terminei o beijo com uma forte
mordida na língua do rapaz, que gritou desesperado de dor. O barulho do grito me fez perder a
razão, cegando-me, e um soco muito forte desfaleceu meu objeto de prazer. Saí do carro
cambaleando. Vomitei a minha alma natimorta. Olhei em todas as direções procurando olhares
acusadores escondidos entre as dunas de areia. Olhares atônitos que poderiam ter documentado a

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cena dantesca. Eu sabia que lá de cima alguém estava criticando meus atos. Deus perdera mais uma
vez a partida de buraco contra Gabriel. Como eu poderia partir para a violência contra um
semelhante em todos os sentidos? Chorei de ódio pela minha covardia. Voltei para o interior do
carro, tentando reanimar o homem que eu havia nocauteado, beijando-lhe a fronte suada e fria.
Tanguinha aos poucos recuperou os sentidos. Ainda atordoado, voltou a si, olhando-me
assustado durante longos minutos de silêncio. Beijei mais uma vez sua testa, acariciando seu rosto
inchado como que implorando perdão pelo meu ato insano. Tanguinha derrubou uma única lágrima
de arrependimento por ter me conhecido. Adormeceu no banco sujo de areia. Apanhei minha chave
e meu telefone. Fechei a porta delicadamente. Andei apressado, cambaleando na areia fofa,
tentando correr, por mais de duas horas. Exausto, suado e tremendo, alcancei o camping Riviera,
entrando finalmente na avenida Beira Mar. Implorei carona de uma moça de motoneta que passava
pelo local, dizendo-lhe que eu havia perdido minha carteira. A alma caridosa me deixou na avenida
Copacabana. Agradeci. Cheguei em casa tonto de decepção. Entrei direto no banheiro. Vomitei o
resto da minha podridão. Deixei a água fria cair sobre meu corpo por horas e horas a fio. Chorei.
Esfreguei o que restava de mim com um pedaço de sabão Ypê. Tremendo sem controle, caí na cama
com o corpo ainda molhado, frio, epilético. Eu queria morrer de uma morte doída. Adormeci.

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17 agosto - 16:12 - Realizado | Ilha Comprida | Altos e baixos

Tenho um corpo perfeito e uma saúde de ferro. Olhando meu reflexo difuso no pedaço de
espelho embaçado depois de um banho morno, percebi que aparentemente tudo estava em ordem no
lado físico, mas era visível o cansaço e a tristeza profunda em meu olhar vazio. Não preguei o olho
a noite toda, refletindo sobre as barbaridades que havia cometido contra Tanguinha. Uma força
física que eu não imaginava possuir aflorou naquela minha insanidade. Jamais bati em sã
consciência em ninguém, a não ser nos tempos do colégio, em intrigas adolescentes, quando eu
defendia a minha honra de ser o que sou na sexualidade escolhida. Comparei meu recente ato
covarde ao que eu havia curtido com Fumeta na estação de trem abandonada em Jundiaí. Aquele foi
um delírio erótico-masoquista, nada mais. O que eu fiz a outro ser humano que só queria curtir
instantes de prazer no dia anterior não tinha perdão. Uma forte dor no peito pressionava meu
coração. Chorei por ter agredido meu irmão.
Depois do tradicional cafezinho na padaria Cajara, resolvi correr um pouco pela praia,
desejando que o suor liberado pelo meu corpo limpasse os delírios da minha mente perturbada.
Após duas horas de corrida, joguei o corpo na areia, onde restos de ondas frias beliscavam as solas
dos meus pés descalços, doloridos. Permaneci assim por um longo tempo, deixando o espírito sentir
a maresia. Um sol tímido tentava carimbar minha pele com seus raios benéficos.
Quando a maré ameaçava invadir meu território de sossego, sentei e fiquei apreciando a
beleza de um mar sereno. Algumas pessoas caminhavam pela praia. Um calção vermelho chamou
minha atenção.
A velha tática da troca de olhares tímidos funcionou a contento. Levantei-me. Um sorriso
trocado permitiu uma aproximação. Sentei ao lado do homem cuja pele estava rosada por causa do
mormaço. A tez rosada disputava sua tonalidade com a bermuda vermelho-hemorragia do velho
com cara de capitão. Você é um rapaz muito bonito, disparou Capitão. Você é casado?
Eu disse que não era casado. Tivemos uma longa e agradabilíssima conversa inteligente.
Falamos sobre os rumos do país, sobre os eternos problemas políticos, sobre a decadência do PT.
Trocamos calorosas idéias sobre esportes, principalmente Tênis e Fórmula Um. Estou hospedado na
casa de veraneio do meu filho e volto ainda hoje para São Paulo. Você gostaria de tomar uma
cerveja comigo?, disse Capitão, acariciando com discrição os meus cabelos lisos.
Ao chegarmos na bela casa que estava localizada no Balneário Atlântico, joguei meu corpo
num pufe branco, enorme. A sala era toda decorada com peças de cerâmica indígena, o que me

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chamou a atenção para a beleza dos detalhes. Capitão surgiu segurando uma garrafa de Skol e dois
copos finos e altos. Serviu-me de uma maneira muito sensual, pois seu olhar verde enamorava meu
olhar azul e nos consumíamos por telepatia.
Curtimos nossas bebidas geladas. O primeiro passo foi dado pelo Capitão, que voltou a tocar
meus cabelos, descendo lentamente a mão grossa pelo meu rosto, seguindo para o meu peito. Sua
respiração estava ofegante. Era nítido o seu nervosismo. Toquei mamilos duros, excitados. Agarrei
um braço forte e acariciei uma mão marcada pelo tempo. O segundo passo foi tomado por mim,
quando coloquei o copo quase vazio no piso de cerâmica vitrificada e busquei um beijo do velho
lobo do mar. O hálito quente e a língua fria tocando meus lábios elevaram todos os meus sentidos e
desejos. Tirei a camisa e induzi Capitão a lamber delicadamente meus mamilos. Ele desceu sua
língua agora quente pelo meu umbigo. Tirou meu short e abocanhou meu sexo em brasa. Eu tentava
tocar o seu sexo, mas o homem desviava as minhas tentativas, frustrando-me as investidas.
Quando finalmente consegui tocá-lo no ponto principal, Capitão afastou meu corpo,
constrangido. Eu queria te penetrar, mas sou... impotente. Por favor, não insista, eu não...
Encerrei o comentário com um beijo. Deite-se, eu pedi, com delicadeza. E relaxe. Comecei
beijando o queixo saliente e fui descendo minha boca até o sexo natimorto. Estados psicológicos
podem ser revertidos. Beijando a carne flácida, olhei com intensidade para meu homem. Você não
vai me comer, mas vai gozar como nunca... confie em mim.
Esquecemos o tempo. Esquecemos as limitações. Relaxamos nossos pensamentos, induzidos
por minhas mãos que acariciavam o velho corpo cansado. Minha boca paciente acariciou o membro
do Capitão por horas a fio. Aos poucos uma leve ereção tomou forma. Ampliei meus movimentos
labiais. O homem passou a segurar forte em meus cabelos, gritando e gemendo e implorando para
que eu não parasse de maneira nenhuma. Um urro de satisfação ecoou na grande sala. Algumas
gotas de uma porra ancestral saíram do pequeno capitão. Fiz questão de tomar o velho elixir.
Chorando, emocionado, num abraço apertado, Capitão agradecia pelos momentos de carinho, pela
paciência e pelo prazer.
Ficamos abraçados em silêncio, ouvindo o som que vinha do mar. Ganhei como recompensa
horas de carinho e beijos ternos. Dormi abraçado com o velho homem novo. Agradeci em uma
quase oração a oportunidade de ter feito alguém feliz.

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18 agosto - 23:49 - Acabado | Ilha Comprida | A morte pede carona

Passei a manhã desta quinta-feira programando minha volta para Curitiba. A tranqüilidade da
ilha estava me cansando, apesar dos prazeres e angústias que ela havia me proporcionado até aquele
momento. Liguei para Tia Corada, avisando-a que voltaria no domingo próximo ou mais tardar na
segunda, dia 22. Dediquei o período da tarde para assistir filmes em meu iBook. Comprei por
apenas cinco reais cada os DVDS Beleza Americana e Chicago – ambos piratas, claro – de um rapaz
que cruzei na saída da padaria onde eu tomava meu café da manhã todos os dias.
Relaxado, aproveitei o final de tarde para molhar os pés nas ondas revigorantes. Caminhei
lentamente pouco mais de duas horas pela praia. Em seguida, sentando na areia, meditando sob o
efeito do marulho das ondas que quebravam junto aos meus pés, meu corpo finalmente foi
relaxando aos poucos.
O som de uma moto atrapalhou meu encanto. Um loiro alto, sem capacete, estacionou a bela
Honda a poucos metros de onde eu estava. O homem magro tirou os sapatos sem meias, arregaçou
as barras do jeans de caimento perfeito e caminhou pela areia até que as ondas beijassem seus pés.
Ele abriu os braços como que a saudar e ao mesmo tempo se despedir do astro-rei. Os cabelos
compridos, lisos e brilhantes balançavam soltos ao sabor do vento moderado. Fiquei encantado com
a beleza física daquele homem hermético. Ele notou meu fascínio e veio ao meu encontro. Os
passos eram firmes e ao mesmo tempo delicados, como que a flutuar sobre a areia fina.
A natureza é maravilhosa, não é mesmo?, ele disse. Fiquei hipnotizado pela sua fantástica voz
grave, sensual, viril. Apertamos a mão um do outro, ele se sentou ao meu lado. Você não é da ilha,
certo? Respondi que não, que estava só de passagem. Um sorriso de dentes brancos, alinhados e
perfeitos iluminou o começo de uma noite que prometia ser divina. O homem falava, falava e me
encantava em cada sílaba pronunciada.
Você é locutor de rádio ou apresentador de algum programa de TV local?, perguntei, por
extrema curiosidade. Eu tinha certeza de que já havia ouvido aquele tom único de voz numa rádio
qualquer. O homem de voz perfeita baixou a cabeça, ficando em silêncio por incômodos minutos.
Finalmente abriu a boca, dizendo-me que trabalhava na área de produção de eventos artísticos na
região. Não quis me aprofundar sobre o assunto, pois isso aparentemente o incomodava.
Posso fazer uma foto sua? Você é muito bonito!, afirmei com convicção. Voz sorriu
timidamente, o que encarei como um “sim”. Os pinheiros do camping Riviera formavam um

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enquadramento perfeito. Fiz várias fotos em seqüência. Mas novamente percebi que algo o
incomodava.
Sentados na areia com os corpos quase a se tocar, Voz acariciou meu rosto com delicadeza.
Quero transar com você, ele disse, num sussurro. O som vindo através dos lábios macios e o toque
do bigode dourado na minha orelha esquerda me levaram à loucura. Aquele macho de ouro com
aquela voz límpida poderia fazer o que quisesse comigo ali mesmo, sem que eu pensasse em
oferecer qualquer tipo de resistência. Eu realmente estava encantado!
Preciso pegar uma coisa em minha moto, você pode aguardar um pouco? Eu poderia esperar
por toda a eternidade, pensei, embasbacado. Voz foi até sua moto. Notei que retirara um pequeno
envelope da maleta traseira. Do interior do envelope surgiu um papelote de textura metálica. Voz
fechou a maleta e voltou para onde estávamos. Você curte?, ele disse, me mostrando o conteúdo do
papelote. Não, respondi, mas não me importo, pode curtir a vontade!
Voz inalou o pó branco em uma única aspirada. Em seguida elevou a cabeça, como a
contemplar um céu repleto de cometas imaginários. Amassou o papel metálico e o colocou no bolso
da jaqueta de couro. Permanecemos por vários minutos em silêncio, onde somente o som vindo do
oceano embalava o nosso micro mundo, quando Voz expirou o ar lentamente, renovando os
pulmões de energia.
Ele pegou minha mão fria. Vamos nos amar totalmente agora. Você quer? Respondi com um
beijo e recebi em troca momentos intensos de carinho e atenção. Voz buscou minha boca com muita
vontade. Seus beijos eram repletos de ternura e suas mãos proporcionavam massagens revigorantes
em meu corpo e em minha alma despedaçada. A noite surgiu como por encanto e a escuridão total
nos protegia do mundo exterior. Horas de beijos, abraços e afagos profundos. Nossas roupas foram
tiradas numa coreografia de perfeito sincronismo. Nossos corpos se uniram na perfeição de almas
companheiras a se fundirem em uma só carne. Beijamos nossos sexos num tremendo meia-nove.
Tocamos nossos íntimos com as pontas de nossas línguas em carícias profundas e repletas de
erotismo.
Quero te comer, posso?, Voz perguntou, enquanto nos agarrávamos num abraço apertado e
bocas selvagens selavam o mais profundo dos beijos. Não respondi com palavras, mas sim
entregando meu corpo numa posição perfeita para ser possuído. Voz entrou em mim com facilidade.
Meus pés estavam seguros por mãos fortes e apontavam felizes para o céu repleto de estrelas. O
verdadeiro “V” da vitória. Eu via o contorno do homem de cabelos soltos ao vento consumindo meu
corpo leve, solto, etéreo. Foi a melhor penetração prazerosa que curti em anos e anos de sexo

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variado. O encaixe dos nossos corpos era perfeito. A coreografia dos movimentos era mágica,
etérea, inigualável.
O gozo foi sereno e pude sentir toda a essência de Voz invadindo o interior do meu ser. Beijos
carinhosos ao redor do meu plexo solar relaxavam ainda mais meus instintos. Voz permaneceu
dentro de mim por um longo tempo, até que seu sexo perdeu a rigidez, saindo naturalmente do
esconderijo do prazer.
Relaxando seu corpo sobre o meu, aquele homem que eu julgava perfeito buscou meu ouvido
direito e sussurrou em um tom de voz assustador: Você vai morrer!
Minha razão pareceu não captar a mensagem. Voz travou meus movimentos com o peso do
seu corpo e repetiu, agora em voz alta: Você vai morrer, cara, assim como eu. Você vai morrer da
Maldita, assim como aquele filho da puta me matou há três anos atrás. Você vai morrer, você vai
morrer!
Tirei forças da Providência Divina e joguei quem eu julgava ser meu príncipe para longe.
Corri desesperadamente em direção ao mar, jogando meu corpo nas águas geladas, limpando meu
íntimo com o sal da vida, tentando retirar a qualquer custo toda a essência podre daquele homem de
voz perfeita. Sentindo-me derrotado, após a tarefa inútil de reverter o mal que estava feito, voltei
sem forças para onde estavam minhas roupas. Voz estava sentado, nu, em cima da sua jaqueta de
couro. Sem parâmetros para continuar a lutar, joguei o que restava do meu corpo podre ao lado do
homem que afirmava me matar. Voz tirou um papel amarrotado de algum lugar. Entregou a folha
para mim, acendendo um isqueiro para que eu pudesse ler o que estava escrito.
Era um exame de laboratório. Antigo. Depois de confirmar os dados pessoais daquele homem,
o que eu mais temia se concretizou em uma única linha: HIV Positivo. Devolvi a folha amarrotada
para ele. Não sei por quanto tempo permanecemos em silêncio. Voz quebrou o vazio pedindo-me
desculpas por ter me infectado. Começou a rir feito um louco, repetindo diversas vezes que “ele”
havia acabado com sua vida. Ele me matou, ele me matou! E eu matei você, você está entendendo?
Eu matei você. Minha podridão está agora dentro de você, rapaz!
Por favor, eu não quero saber quem é “ele”, respondi com firmeza e muita calma. Você fez o
que devia ser feito. Acho que no fundo eu sabia que isso podia acontecer. E já aceitei o meu destino
há muito tempo.
Do que você está falando, porra. Do que você está falando. Eu acabo de te condenar à morte.
Você não perc..., tapei os sons graves emitidos pela voz que havia me seduzido horas atrás. Contive

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uma seqüência de lágrimas que insistia em sair dos meus olhos inchados. Eu só tenho um único
pedido a lhe fazer. Eu quero que você me faça gozar, agora!
Levantei e coloquei minha bermuda e minha camisa. Abri o bolso lateral da bermuda e
conferi se minhas chaves e meu celular estavam em ordem. Deixei meu pau para fora. Com raiva
quase selvagem, golpeei intensamente a boca e a garganta de Voz, fazendo-o sugar meu sexo até o
grande êxtase final. Levei minutos eternos para concluir o meu último prazer. O suor escorria em
bicas do rosto branco oculto na escuridão daquela noite fria. Jorrei meu gozo em sua boca,
fechando-a em seguida, garantindo que Voz deixasse minha porra quente também entrar e
permanecer em seu íntimo. Ele não desperdiçou uma gota. Busquei o último beijo para sentir o meu
último gosto.
Adeus, ele disse. Adeus, eu respondi. Você já fez o que devia ser feito, continuei. Mas, por
favor, não espalhe mais a tua semente podre em outras pessoas. Você já se vingou “dele”. O jogo
acabou. Voz soluçava baixinho. Levantei e o beijei no alto da cabeça. Você fez o que devia ser
feito. Eu realmente sabia que isso um dia iria acontecer. Aceito, submisso, o que tenho que aceitar.

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19 agosto - 22:22 - Desnorteado | Ilha Comprida | Sexo, drogas e Mick Jagger

Hoje pensei em Deus. Implorei que ele parasse a jogatina lá em cima por alguns segundos e
desse um pouco de atenção para o seu filho desgarrado aqui embaixo. Não recebi nenhuma palavra
de consolo, somente uma baforada do Seu charuto cubano, como que a dizer-me: “FODA-SE”.
Nunca fui muito ligado em assuntos esotéricos ou místicos. Minha família é católica por
tradição e eu particularmente não freqüentei mais as missas ou outras manifestações religiosas
depois da minha adolescência. Acredito numa força superior e ainda quero acreditar que Ele deve
ser um cara muito tolerante e legal, apesar de se divertir e se envergonhar com as cagadas que
fazemos aqui em baixo todos os dias. Viu só, ô Deus, como eu tô sendo legal em te elogiar perante
meu eleitorado virtual?
Sempre achei a vida muito fácil e simples de ser vivida e até hoje me incomoda ver o quanto
as pessoas complicam as suas existências medíocres, sempre se fazendo de vítimas do destino, sem
nunca mover uma palha para evoluírem como seres humanos.
Quando decidi que queria viver as maiores loucuras nos atos sexuais plenos que realizei ao
longo desses quase trinta dias, eu tinha plena consciência de todos os riscos que iria enfrentar.
Intimamente, achei um absurdo presenciar o pouco caso da grande maioria dos homens em transar
sem qualquer tipo de proteção, tanto pessoal, quanto no quesito saúde. Todas as vezes em que fui
penetrado ou que penetrei um homem sem preservativo, eu sabia de todos os riscos que estava
correndo. Foi uma opção única e exclusivamente minha entregar-me ao prazer sem escrúpulos. Não
sei se tudo não passou de uma forma de auto-punição ou de revelação explícita. Só sei que eu tinha
que fazer isso de uma maneira ou de outra. Repetiria tudo outra vez, sem nenhum tipo de neura ou
pudor. Esse foi o jeito – insano ou não – de mostrar a você tudo o que não deve ser feito numa
aventura sexual. Acredito que mesmo nas mais loucas sacanagens íntimas, é possível alcançar o
máximo de prazer total tomando consciência da segurança pessoal, da saúde e do bem estar físico e
emocional dos envolvidos.
Acredito que tive coragem de fazer tudo o que fiz e de arriscar a minha vida em prol da
veracidade das minhas histórias. Experiências que estão sendo expostas nuas e cruas somente para
você. Fiz isso por você e não me arrependo de nada. Cabe a você decidir se tudo o que tem
acompanhado nesses últimos dias é real ou imaginário, é certo ou errado, é ousado ou insano,
enfim, cabe a você escolher qual o melhor caminho a seguir depois de ler e refletir sobre estes meus
relatos. Minha intenção primordial foi explorar o máximo do erotismo e da realização das fantasias

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que todos nós cultivamos e por puro preconceito deixamos de realizar em nossas vidas. E, claro, eu
também quis alertá-lo sobre os absurdos que todos nós cometemos quando deixamos de lado o bom
senso e a realidade.
Não estou dizendo que você deva sair por aí dando ou comendo qualquer coisa que se mova
na sua frente. Mas faça tudo o que fiz com o seu parceiro fixo ou com alguém de confiança. Ou
junte um grupo de amigos legais e saudáveis e curta uma noite louca de uma suruba excitante entre
pessoas que se gostam. Eu acredito que tudo vale a pena, desde que você não use as pessoas, nem se
prejudique pessoal, espiritual e materialmente. Safe sex, day by day!
Encontrei Ivan perdido tanto quanto eu num passeio realizado pelo Boqueirão.
Caminhávamos quase que lado a lado quando começamos conversar. Eu estava liquidando uma
garrafa de Red Label. Meu acompanhante também estava além do horizonte, segurando o resto
amassado da vigésima lata de Skol. Ivan contou-me que tinha desfeito um namoro-noivado de cinco
anos. Pegara a vadia trepando com outro. Cena clássica. Falamos e falamos por horas e horas e
horas a fio, destilando nosso sofrimento em uma paranóica ajuda mútua. A noite caiu rapidamente e
ventos fortes vindos novamente do sul obrigaram nossos corpos bêbados a se aquecerem num
abraço carente.
Do abraço fraternal nossos sexos explodiram dentro das bermudas de tecido leve. Não perdi
tempo e dominei completamente meu companheiro, descendo seu pano e sugando com voracidade
sua arma de bom calibre. Ivan se entregou rapidamente ao prazer. Ivan queria se vingar do mundo.
Faça o que quiser comigo, mas só não beijo na boca, ele disse. Novamente, eu não estava
interessado em beijos românticos. Eu somente queria que ele gozasse logo na minha boca para que
eu pudesse engolir a sua essência, que eu imaginava infantilmente ser de ótima procedência,
achando que aquela porra sagrada daquele rapaz de coração partido pudesse anular os efeitos do
veneno injetado em mim na noite anterior.
Ivan teve um gozo pleno, intenso e prazeroso. Seu sêmen desceu quente e direto pela minha
garganta. O gosto e a sensação de chupar um homem de verdade é indescritível. Deitamos na areia
fria. O vento aumentava a sua intensidade. Quero fazer você gozar. Posso te bater uma? Não tive
tempo de responder, pois Ivan já segurava meu pau desajeitadamente e me batia uma punheta fora
de compasso. Gozei por obrigação.
Voltamos por caminhos diferentes. Eu estava sozinho naquela imensidão de areia, andando
por mais de quarenta minutos sem ver outra alma penada. Por alguns instantes me senti
desorientado e perdido. Fui e voltei sem encontrar um ponto de referência. Uma luz intensa

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hipnotizou minha atenção. O homem-luz expelia labaredas de fogo como o antigo dragão chinês
multicolorido que povoava meus antigos sonhos infantis. Luz, fogo, calor e uma canção dos Rolling
Stones evocavam a simpatia pelo demônio. Desejei ser queimado pelo fogo sagrado que saía do
homem-bruxo. A luz intensa indicou-me qual direção a seguir. Passei por trás do homem e sem
resistir, toquei suas costas lisas, largas e quentes. Beijei a ponta dos meus dedos que continham o
sal daquele corpo. Ganhei uns pega de um excelente trabuco de maconha. Aprendi a gostar daquilo
que um dia condenei. Viajei entre bolas de fogo. O vento trazia para os meus ouvidos a voz de Mick
Jagger como que um mantra de afinidades vibratórias. Jägger, o caçador, estava chegando ao final
da sua jornada. Jagger, o gênio destilava sua música clássica cada vez mais alto em meus tímpanos
decadentes.
O álcool cobrava seus tributos. Entorpecido, caindo de sono, eu queria voltar o mais rápido
possível à minha casa mofada e embrenhar-me nos lençóis de cheiro ácido e amargo que cobriam
meu corpo durante todos esses dias nesta ilha comprida. Senti saudades de Frankey. Senti saudades
do meu pai que insistia em não me aceitar. Senti saudades do primeiro beijo de língua que troquei
com Augusto no banheiro do colégio. Senti saudades do Mauro, o grande amor da minha vida.
Joguei longe o litro vazio da bebida que aqueceu meu corpo durante toda a tarde. Gritei para os
espíritos dos sete mares milhares de palavras sem sentido. Chorei. Estapeei meu rosto com tapas
sem dor. Tirei uma foto da minha insanidade. Achei o caminho da casa mofada. Encontrei a velha
cama de casal com seus lençóis imundos e emaranhados. Me atirei no colchão duro e entreguei meu
corpo nos braços do Senhor da Noite.

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20 agosto - 23:59 - Mortificado | Ilha Comprida | Uma festa de despedida

Restavam exatos trezentos e oitenta e três reais na minha carteira. Gastei os tufos nessa minha
“viagem de férias” maluca. Não dou o devido valor ao dinheiro. Consumo aquilo que posso gastar.
Tudo o que ganho é para uso pessoal, já que não preciso ajudar nas despesas da casa dos meus pais
e não tenho dívidas significativas. Era pouco mais de dez da manhã quando comprei minha
passagem de volta para São Paulo no mini shopping localizado na avenida Copacabana. Na
segunda, 22, eu deixaria a ilha por volta das 15 horas. Passaria mais alguns dias com meus tios e
depois eu voltaria para casa, afim de recomeçar uma vida que agora eu julgava totalmente sem
perspectivas.
Não fiz mais nada durante o dia nublado e triste, a não ser deixar minha mochila mais ou
menos organizada, recolher e guardar meus DVDS e o pendrive com o backup dos meus arquivos.
Depois foi um tal de dormir e beber e cochilar, num círculo vicioso que me deixou exausto durante
toda a tarde quente e abafada.
A noite chegou e com ela a eterna vontade de foder meu corpo reacendeu o desejo de ir à caça
de corpos masculinos. Decidi que gastaria meus últimos reais disponíveis numa bebedeira de
(baixa) classe. Fiz a barba. Tomei um banho caprichado, deixando a carcaça limpa e com cheiro de
alfazema. Coloquei uma bermuda que deixava bastante em evidência o volume do meu pau e a
grandiosidade da minha bunda redonda e perfeita. Tenho orgulho do meu corpo.
Iniciei minha caça de bar em bar, sem obter sucesso em nenhuma investida discreta. Mas
minha sorte mudou quando cheguei numa pracinha que ficava entre a avenida Beira Mar e a
avenida principal da cidade. Um grupo de rapazes bem alegres conversavam, riam e bebiam uma
espécie de coquetel em copos coloridos. Bastou dez segundos de contato para que eu me enturmasse
e fizesse novos amigos. Conversamos sobre os eternos assuntos de machos ignorantes: sexo,
mulher, futebol e mais sexo. O que me chamou a atenção de imediato é que os papos sobre
mulheres eram sempre depreciativos ou quase nulos. Neste momento arquitetei uma ótima noite de
orgias múltiplas. Dei um tiro certeiro ao sugerir para o grupo uma bela rodada do coquetel que
descobri chamar-se “bebida do capeta”, e se alguém descolasse um baseado, estava valendo tudo
numa reunião íntima de amigos.
Em poucos minutos, depois que entreguei parte do meu dinheiro para um dos rapazes,
estávamos abastecidos com muita bebida e muita droga. A gangue dos rapazes perdidos seguiu seu
novo líder até a casa mofada.

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Na sala que não era sala, empurramos os sofás para um canto da parede, e numa pequena
mesinha de centro depositamos nosso arsenal alucinógeno. Os irmãos gêmeos tiraram
imediatamente as camisetas, onde corpos malhados e perfeitos desfilavam sua beleza diante do resto
do grupo. Gêmeo Um amarrou a camiseta no alto da cabeça, formando um turbante medonho,
porém engraçado. Isso facilitava a identificação, já que ambos eram idênticos até mesmo no corte
de cabelo e nas tatuagens espalhadas estrategicamente pelos corpos esculturais.
Gêmeo Dois preparou nossos cigarros do capeta, para combinar com a bebida fortíssima.
Verde e Rosa se enfurnaram num canto da sala e começaram a trocar beijos profundos, o que me
deixou prontamente excitado e louco para começar o lado bom da festa. Azul notou meu estado e
junto com o amigo Branco deu início a toques precisos e insinuantes em meus ombros, pescoço e
peito. Agarrado pelos dois jovens, iniciamos uma dança erótica sem música, onde nossos corpos
procuravam um encaixe perfeito e nossas bocas disputavam a língua e a saliva doce da outra boca
mais próxima.
Tiramos nossas roupas e iniciamos nossos atos insanos. Eu comandava as ações e tudo seria
feito como eu desejasse. Todos deitaram no chão frio, tentando acomodar os corpos no que deveria
ser um tapete. Passei a degustar o pau duro de cada um, até escolher qual deles seria o primeiro a
me penetrar sem proteção. Verde foi o sorteado. Sentei e cavalguei em seu pau com muita vontade.
Branco e Azul sugavam os mamilos do amigo. Eu assistia a tudo de camarote.
Saí do começo do prazer, ficando de quatro em seguida num dos sofás velhos da grande sala.
Fui penetrado por cada um dos rapazes. Não senti absolutamente nada. Na minha cabeça só havia o
desejo sórdido de passar minha semente podre para quem estivesse comigo a partir sei lá de que
momento. Paus grandes e pequenos, tortos e retos, grossos e finos entraram e saíram de mim, por
horas e horas e horas. Fui revirado até não agüentar mais. Minha boca e meu cu foram arrombados
sem dó pelos rapazes da ilha dos prazeres insanos.
Enquanto eu era penetrado por alguém e vez por outra chupava outro alguém, o restante do
grupo consumia mais e mais dos produtos do capeta, e um espetáculo de beijos, de chupadas e de
outras penetrações rolavam como num filme sórdido diante de mim. Verde e Rosa, depois que
ambos me foderam por muito tempo, resolveram brincar sozinhos, bem na minha frente, variando a
penetração um no outro num rodízio inacreditável.
Um barril de porra foi deixado em meu interior por cinco rapazes alucinados. Depois da
primeira rodada de sexo, fui ao banheiro e tomei uma ducha fria. Enfiei três dedos no meu cu agora
largo. Friccionei com violência meu buraco até que o mesmo apresentasse pequenos ferimentos. Vi

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o sangue manchar meus dedos. Mordi minha língua até ferir a mesma. Sangue nas duas frentes de
batalha. Voltei molhado para a sala. Beijei quem passou na minha frente. Ninguém sentiu a
diferença de nada, devido ao estado mental deplorável que todos se encontravam. Pedi para Azul
me chupar o cu e fui prontamente atendido. Mais um a provar do meu sangue podre. Minha porção
macho foi ativada em seguida, já que eu ainda não havia gozado. Penetrei Branco sem dó, ao
mesmo tempo que penetrava Rosa com a força do meu dedo indicador. Chupei uma seqüência de
três cus que se revezaram diante da minha língua machucada. Saí de um rabo branco para foder um
rabo moreno. Meu pau esfolado manteve-se vitorioso ao foder quatro dos integrantes do meu
prazer. Gozei no cu de Verde, sem proteção, é claro. E desabei cansado, confuso e acabado no chão
frio da sala triste e sem vida.
Bêbado, ainda deitado no chão, suguei sozinho mais um trabuco de maconha. A erva me fez
ver a dona Morte de perto. Ela acompanhava as orgias dos moleques travessos. Vi meu irmão diante
de mim, de cabeça baixa, chorando pelos meus pecados. Meu pai ria e chorava de ódio, deserdando
o filho que ele julgava ser um homem exemplar. Mauro, meu doce e eterno Mauro, dava de ombros,
decepcionado com meus atos, impossibilitando de vez a volta do nosso amor.
Quero porra em meu corpo, quero porra em minha boca, quero porraaaa... gritei aos quatro
ventos. Os gêmeos enfiaram seus cacetes em minha boca, enchendo-a de porra quente. Até o gosto
do líqüido íntimo era idêntico. Outros caralhos foram socados e socados em cima de mim e longos
minutos depois vários homens não-identificados esporravam sobre meu peito, coxas, pés, boca e
cabelos.
Quase meia-noite. A hora da abóbora se aproximava. Aonde estava o príncipe encantado?
Minha boca e meu cu ardiam na mesma proporção. Minha garganta clamava pelo-amor-de-deus
para não ser mais agredida. Pedi a Azul que retirasse todos da casa mofada, pois eu precisava ficar
sozinho. Num passe de mágica meu mundo ficou vazio. Vi copos vermelhos espalhados pelo chão.
O cheiro de erva queimada ainda pairava no ar. Manchas de sangue, suor e porra brilhavam no sofá,
no piso frio e no caminho que ia dar no banheiro. Minha cabeça rodava e rodavam também os
poucos sentidos que ainda lutavam para se manter em pé. Bati mais uma punheta, resgatando o que
restava de energia do meu físico esgotado. Inesperadamente gozei muito acima do normal. Espalhei
minha porra por todo meu ventre e boa parte dela foi lambida entre meus dedos finos e frios. Queria
sentir meu gosto único mais uma vez.

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21 agosto - 21:32 - Esperançoso | Ilha Comprida | Rafael, o fã que veio do sul

Acordei tremendamente disposto hoje. Uma energia renovadora tomou conta de mim durante
toda manhã. Levantei por volta das oito. Tomei uma ducha fria. Na padaria Cajara me banqueteei
com um copo enorme de café com leite e dois lanches caprichados de pão francês com queijo-prato
e mortadela. De volta para casa mofada, resolvi dar uma de “Dita” e pus em ordem o lar que
começara a ganhar minha simpatia. Lavei o piso da sala e da cozinha, lavei e desinfetei o banheiro.
Encontrei até um resto de sabão em pó numa caixa mofada na lavanderia e lavei tudo o que eu havia
usado durante a semana: lençóis, fronhas, pano de prato, pano de chão, etc.
A alegria da manhã se transformou em depressão à tarde. E de repente lágrimas e soluços
romperam em conjunto, deixando-me fraco, indisposto e sem ação.
Parei de digitar. Joguei o iBook sobre a cama de casal nua, onde as estampas desbotadas do
colchão antigo agrediam qualquer visão mais apurada. Saí para uma nova caminhada. Não havia
ninguém na praia, exceto um pescador idoso que preparava sua rede para tentar a sorte no mar
sonolento. Pedi a ele que tirasse uma foto minha junto ao mar belíssimo de ondas que bailavam em
calmaria. Fiquei de costas para não expor minhas lágrimas e o meu rosto inchado marcado pela
vergonha e pela tristeza que tomava conta do que restava da minha dignidade.
O sol não estava forte e um vento fraco me brindava com uma agradável e delicada brisa
salgada. Sentei e fiquei imóvel apreciando o cair da tarde. Deixei o choro rolar e as dores da minha
angústia fluírem desesperadamente para fora de mim. Perdi a noção do tempo e do espaço. Entrei
num transe depressivo, enquanto acompanhava visualmente um barquinho estacionado no meio de
num mar esverdeado, sem fim, dançando ao sabor das ondas fracas.
Mais uma noite surgiu e com ela o desespero da solidão imposta por mim mesmo. Algumas
pessoas se divertiam num quiosque próximo. O som de um axé horrível tocava no interior de algum
carro tunado. Eu estava sentado num banco de madeira ao lado de um parquinho infantil. Ele veio
devagarinho e se materializou na minha frente como por encanto. Levantei os olhos seguindo a
trilha de um corpo magro e muito branco. Meu olhar parou diante de dois olhos claros e brilhantes.
Era um anjo. Eu não tinha forças para falar.
Rafael se apresentou e pediu educadamente para se sentar ao meu lado. Sua voz de garoto me
seduziu e o seu semblante tranqüilo confortou-me de imediato. Eu sentia que podia confiar naquele
rapaz. Sua mão quente tocou meu joelho direito.

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Por favor, pare de chorar, ele disse. O efeito foi contrário, pois descambei a chorar mais ainda,
feito uma criança contrariada. Eu não conseguia me controlar, mesmo com Rafael me acolhendo o
corpo fragilizado num abraço caloroso.
Eu conheço a tua história, ele disse quase que num sussurro. Eu estou do teu lado agora. Eu
sei de tudo! Dei um pulo para trás, desvencilhando meu corpo daqueles braços finos, porém fortes,
onde pêlos loiros brilhavam sob a luz incandescente da iluminação pública. Rafael olhou para os
lados, para se certificar que não estávamos sendo vistos por ninguém. Voltou a me abraçar e dessa
vez permaneci aconchegado no seu carinho. De onde você me conhece?, perguntei. Eu estava
acompanhando seus relatos. Descobri teu diário virtual há poucos dias atrás, quando cheguei na
ilha. Segui os teus passos. Guardei as imagens, montei o teu corpo, memorizei o teu olhar. E te
achei!
Eu estava fraco demais para questionar a veracidade de tudo. Cheguei a pensar que meu pai
havia descoberto o meu diário virtual e que tinha mandado alguém me seguir, me matar, acabar
comigo para que eu não pudesse desonrá-lo e nem manchar ainda mais a reputação da sua família.
Céus, quanta alucinação, quanto delírio! Respirei fundo. Sem forças para mais nenhuma reação,
afundei-me cada vez mais no peito forte do meu jovem protetor.
As horas passaram. Perdi a noção de tudo. Vamos dar uma volta, disse meu anjo loiro.
Andamos a passos curtos pela noite fechada. De mãos dadas. De um lado o vazio da avenida Beira
Mar, do outro o som forte das ondas que relaxavam os meus sentidos. Caminhamos de mãos
grudadas, em silêncio, que só foi quebrado quando Rafael falou um pouco sobre sua vida. Ele era de
Blumenau (SC) e tinha vindo fechar um negócio na compra de um terreno no balneário Adriana e
providenciar a construção de uma casa para seus pais, que se encantaram com a ilha no verão
passado. Ele havia recebido um e-mail de um amigo que descobriu o meu site e lhe passara o link
do meu diário. Percebendo que eu ainda estava na ilha quando chegou, tratou de pesquisar meus
relatos, seguir meus passos e deduzir onde eu poderia estar. Acertou em cheio. Boqueirão na
cabeça! – como se fosse preciso ser um Sherlock para me achar nesse pedaço de paraíso, não é
mesmo?
Quando chegamos próximos ao prédio da Prefeitura, mais uma vez meu coração gelou e meu
rabo se contraiu contra a minha vontade, devido a todas as recordações ainda recentes vividas
naquele lugar. Mas Rafael parecia não se importar, pois ficamos exatamente onde antes eu havia
transado com a mulher macho. Sentamos na areia fina, e mais um abraço forte do meu protetor
tomou conta do meu corpo ferido. Eu só quero o teu beijo, Jägger. Só quero o teu...

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Ele não completou a frase. Busquei seus lábios e trocamos um beijo apaixonado. Há eras que
eu não sentia o verdadeiro carinho sem interesse abusivo ou conveniência de um outro homem.
Rafael me protegia, me beijava e me desejava com uma serenidade angelical. Ele sussurrava frases
em alemão, as quais eu respondia carinhosamente na língua dos meus pais, tropeçando no sotaque,
o que garantiu sorrisos descontraídos do meu anjo sem asas.
Eu preciso te pedir uma coisa, disse Rafael, entre beijos e carícias. Peça, eu disse. Peça o que
quiser. Preciso sentir o teu gosto. Quero beijar o teu sexo até você terminar na minha boca.
Quando tentei reagir negativamente ao pedido, Rafael me deitou na areia e baixou minha
bermuda, lambendo rapidamente meu sexo sem vida. Os movimentos sincronizados da sua língua e
da sua mão direita deixaram meu mastro perfeito nas alturas. Uma boca macia engolia e mordiscava
a cabeça do meu pau em brasa. Com uma força suave e precisa, Rafael prendeu meu braços com
suas mãos finas. Como que fazendo flexões olímpicas, sua cabeça descia e subia e descia
novamente, enquanto os músculos dos seus braços se destacavam, deixando ainda mais bonito
aquele corpo magro e saudável. Os lábios macios roçavam meu pau, deixando-o úmido, lubrificado.
Eu não agüentava mais. Eu gritei com toda a energia que ainda me restava e ejaculei na boca do
meu anjo decaído. Completamente exausto, com a respiração fraca e ofegante quase a me sufocar,
buscando e tirando o ar do vento sul que nos acariciava, eu tocava com o resto das minhas forças os
cabelos dourados, finos e lisos do meu amado. Ele permaneceu beijando meu sexo até que o mesmo
perdesse a dignidade de se manter em pé.
Rafael subiu sobre o meu corpo e buscou minha boca. Estamos quites, ele disse, as palavras
expostas num sorriso lindo. Confuso, não respondi, talvez por não ter entendido o que ele queria
dizer com aquilo. Trocamos mais um longo e demorado beijo. Senti o meu gosto misturado com o
aroma de nicotina. Depois daquele beijo deitamos lado a lado na areia e ficamos contando todas as
estrelas piscantes do céu.
Eu estava cansado demais até para chorar. Ficamos em silêncio contemplando a imensidão do
firmamento. Rafael se levantou depois de muito tempo. Acendeu um cigarro e o degustou até o fim.
Estou feliz por ter te encontrado, ele disse. Agora eu também cumpri minha meta, completou.
Rafael baixou a cabeça e me deu mais um beijo de língua. Um beijo quente, profundo, único.
Preciso ir, ele disse, levantando-se em seguida. Não pense que tudo acabou entre nós, continuou, já
em pé e pronto para partir. Levantei o meu corpo cansado e permaneci sentado na areia. Vi luzes
fracas iluminando o prédio da prefeitura. Ele me puxou para junto de si, proporcionando-me
novamente um beijo perfeito. Não pense que chegamos ao fim, Jägger. Isso é só o começo.

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Mais um beijo. E depois do último abraço, Rafael seguiu para a estrada de asfalto, deixando-
me ali na semi escuridão. Eu estava perdido e confuso, somente recordando as suas atitudes e
palavras. Baixei a cabeça, pois não suporto despedidas. Estamos quites, ele disse. Então estamos
quites, pensei.

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22 agosto - 18:11 - Depressivo | Ilha Comprida | Despedida

Não dormi a noite passada. Por mais que eu tentasse descansar, a imagem do meu anjo loiro e
suas palavras enigmáticas permaneceram fixas em minha mente. Deixei o corpo jogado no tapete da
sala. Impregnava meus pulmões o cheiro de desinfetante de pinho usado na limpeza de ontem.
Algumas horas antes de embarcar de volta para São Paulo, liguei para o Sardento para devolver as
chaves da casa mofada, agora limpa. Era meio-dia quando ele apareceu. Como um cão farejador,
vasculhou cada cômodo da sua residência de aluguel. Satisfeito com a ordem, recebeu o molho de
chaves das minhas mãos e me entregou um cartão com seu novo telefone, convidando-me para
passar o final de ano na casa – por um preço bem camarada, é claro – pois segundo ele, em
dezembro a ilha pegava fogo com a vinda de turistas do país inteiro e também mulheres vadias a dar
cum pau!
Um abraço falso foi trocado entre nós. Passei no Cajara para tomar uma coca-cola. Duas horas
antes do meu embarque, dei mais uma volta pelo Boqueirão, mandei um adeus para os espíritos das
águas e voltei para o mini shopping, local da minha partida.
Quando terminava de falar com meu irmão pelo celular, pedindo para ele avisar meus pais
que eu estaria em casa ainda nesta semana, reparei que estava sendo observado por um homem
dentro de uma Ranger reluzente de nova. Ele baixou os óculos escuros para dar a entender que
realmente estava me caçando. Ao guardar meu celular no bolso do jeans, o homem desligou o carro,
abriu a porta e saiu. Jogou os cabelos para trás. Caminhou para uma das lojinha do mini shopping.
Não demorou mais do que cinco minutos lá dentro. Ao sair, passou por mim, dizendo que me
esperaria mais adiante, perto da pracinha de artesanato!
Curioso, segui para o ponto do encontro. Meu admirador estava estacionado no local
combinado. Entrei na pick up. Trocamos um breve cumprimento através de sorrisos amarelos. Notei
alguns papelotes do famoso pó branco jogados displicentes por sobre o console. O homem sorria e
as vezes ria alto, sonoro, como que querendo chamar a atenção do mundo ao seu redor. Sou
empresário, ele disse. Um dia serei novamente o dono de toda essa ilha, completou, como se eu
estivesse interessado nos seus planos futuros.
Empresário falava e sorria. Algumas vezes permanecia em silêncio e aumentava o som do
rádio, espantando todos os níveis do bom senso e da civilidade sonora. Põe pra fora, quero ver o
tamanho, ele disse, tocando em meu pau que dormia a sono solto. Baixei um pouco o banco e deixei

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que ele fizesse o que tinha de ser feito. Entramos em um ponto distante da ilha, num local
desconhecido por mim.
Como sempre, não havia alma viva em nenhuma direção, a não ser algumas aves caçando seu
almoço. Endurece essa porra... tô com pressa, disse Empresário, o suor escorrendo pelo rosto corado
denunciando os efeitos da droga recém aspirada. Endurece você, cai de boca nele, eu disse.
Empresário não gostou da minha falta de respeito e ameaçou me dar um tapa. Segurei sua mão e
com a outra mão livre toquei nos cabelos secos, levemente ondulados, forçando sua cabeça para
encontrar minha boca. Um beijo forçado foi dado. Empresário gostou da minha ousadia.
Tenho hora para voltar. Preciso pegar minha mulher em Iguape, ele disse, abrindo o zíper da
calça e tirando um pau grosso e muito cheiroso de dentro da cueca importada. Caí de boca e fiz meu
serviço. Empresário ria alto e rebolava a parte baixa enfiando com força o cacete na minha boca. De
repente uma voz forte tomou conta da locução. Empresário ficou histérico. Passou a xingar a voz
que saía do rádio. Eu te odeio, eu te odeio, mas eu te amo, seu filho da puta, ele dizia ao berros,
enquanto forçava ainda mais o pau curto para dentro da minha garganta. Eu te amo, seu puto, eu
sempre vou amar você, desgraçado... ai, ai, eu vou gozar, engole minha porra, cara... minha porra é
toda sua... ai, ai!
Empresário, histérico, gozou em abundância uma porra sem sabor. Mantive tudo na boca e
cuspi para fora do carro quando consegui me recompor. O homem limpou o suor do rosto com um
pedaço de papel-toalha. Continuou a rir gargalhadas tristes. Fiz a última foto da ilha. Empresário
estava em outro mundo e pareceu não se importar com minha invasão.
Quinze minutos antes da minha partida, chegamos novamente ao Boqueirão, onde
Empresário, agora mais calmo e aparentemente normal, me deixou próximo ao posto dos guarda-
vidas. Gostei de você, cara. Puta boca gostosa você tem. A gente se vê! E quando você voltar, eu já
serei o prefeito dessa ilha, ele disse, enquanto eu fechava a porta do carro luxuoso. Eu não voltarei
nunca mais, pensei. Me despedi com um novo sorriso amarelo e ainda ganhei de presente um
papelote com o ouro branco. É pra você curtir enquanto espera a passagem pela ponte, ele disse ao
me entregar a droga, referindo-se a eternidade que seria o caminho de volta para a Capital, já que
havia uma ponte em reformas numa cidade próxima, o que faria a viagem ganhar pelo menos três
horas a mais do que o normal.
Agora são pouco mais de seis da tarde. O dia está indo embora e eu estou aqui estacionado,
num vai-e-para extremamente irritante. Aproveitei para concluir o diário de hoje e recordar algumas
coisas escritas no passado recente. Agora preciso dormir, pois acabo de cheirar o meu presente.

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Aprendi na marra que cocaína me dá sono e não euforia. Estou perdendo os sentidos. Vejo a Morte
riverdançando na minha frente. Até daqui a pouco... espero.

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23 agosto - 19:17 - Vingativo | Jundiaí | Na cama com meu Tio Barriga

Cheguei ontem em Jundiaí depois das dez da noite. Dormi praticamente a viagem inteira,
tanto da ilha até São Paulo, quanto da capital até Jundiaí. Tia Corada e tio Barriga estavam
assistindo a Globo. Depois de deixar minhas coisas no quarto e tomar um demorado banho quente –
ato que sofreu comentários maldosos do meu tio, devido ao desperdício de água e de energia
elétrica, segundo ele –, tomei uma canja deliciosa, enquanto papeava alegremente com minha tia
curiosa. Após o saudável jantar, desabei na cama, acordando as onze e qualquer coisa de um novo
dia.
Minha tia não estava em casa. Tinha ido visitar uma “irmã de fé” no bairro do Medeiros. Meu
tio estava na sala, ligeiramente bêbado, assistindo um desenho animado. Eu segurava um copo com
café morno quando voltei da cozinha e me sentei no sofá de três lugares. Eu não gosto de você, e
você sabe disso, não é mesmo?, disse meu tio, os olhos inchados e vermelhos denunciavam seu
estado de embriaguez. Você é viado e eu não gosto de viados, ele continuou, levantando como uma
espada a garrafa de cerveja que segurava na mão trêmula, apontando-a para mim.
Fui para o meu quarto provisório e voltei com meu celular. Pedi ironicamente para que ele
desse um sorriso diante da câmera. Bêbado, atendeu ao meu pedido, claro que debaixo de uma
saraivada de insultos à minha pessoa. Eu já arquitetava uma maneira de desmoralizá-lo.
Você diz isso porque seu pau não funciona mais, seu velho idiota, retruquei sem medir as
palavras. Prefiro ser um velho impotente do que um homem que queima a rosca, ele disse aos
berros, ameaçando me bater.
Não vou brigar com o senhor, tio. Amanhã eu vou embora. Por favor, vamos nos comportar
como dois cavalheiros. Saí da sala e voltei para o meu quarto. Eu pretendia sair um pouco, dar uma
caminhada pelo bairro, mas meu corpo estava moído de cansaço e minha garganta parecia estar
pegando fogo. Fiquei deitado na cama estreita lendo as últimas notícias no portal Terra. Tio Barriga
entrou no quarto trajando somente uma camisa pólo e uma cueca medonha. A visão das pelancas
caídas e do pintinho sem vida que se escondia de vergonha debaixo daquele tecido horrendo
fizeram brotar em mim um ataque histérico de risos. Tio Barriga ficou enfurecido, jogando seu
corpo pesado por cima de mim. Fechei rapidamente meu computador, derrubando-o no chão
carpetado. Eu vou te foder, seu filho da puta. Eu vou foder o teu cu, seu desgraçado. Tio Barriga
virou meu corpo e começou a arrancar minha bermuda. Relaxei o corpo e deixei o velho babão

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soltar toda a sua virilidade. Ele enfiou o indicador gordo no meu cu, ao mesmo tempo que tentava,
em vão, endurecer o pintinho desfalecido.
Depois de várias tentativas frustradas de penetrar o vazio, impus minha força física e fiquei de
frente ao monte de banha. Forcei sua cabeça para encontrar a minha e seu bigode roçou de leve os
meus lábios. Tio Barriga cuspiu em meu rosto, me xingando com trinta palavrões por segundo.
Voltei a investir, pressionando com toda força minha boca na sua. Minha língua abriu
pacientemente aquela hipócrita resistência. Tio Barriga não resistiu e acabou cedendo ao beijo de
um macho.
Durante o beijo simulei um carinho falso no corpo flácido. Meu tio derrubava todas as
barreiras, facilitando e ampliando meu contato físico. Virei seu corpo e sentei em cima da sua
barriga enorme. Voltei a desferir novos beijos. Desci minha língua quente pelo seu queixo-bola, seu
pescoço, seus mamilos flácidos até atingir o pinto sem vida. Lambi um saco inchado e liso. Tio
Barriga quase não conseguia respirar o pouco ar fresco existente naquele quarto abafado. Chupei e
lambi a carne morta entre as pernas. E mesmo sem vida na parte de baixo, o velho pôde sentir o
prazer de um perfeito boquete.
Virei o depósito de gordura mais uma vez. Sem dar tempo para a razão se manifestar na
mente do grande homem, investi furiosamente minha língua na sua intimidade virgem. O velho
protestou, travou as pernas, voltou a me xingar, mas acabou cedendo mais uma vez ao prazer
inesperado. Tirei cada prega do preconceito ao acariciar por minutos intermináveis o cu virgem
daquele homem. Tio Barriga metia o rosto no travesseiro macio para gritar e urrar de prazer. Seu cu
ia laceando a cada investida da minha língua experiente. Eu alternava as chupadas no cu e nas bolas
de um saco vazio. O homem foi aos céus e viu a face dos anjos nefastos. Algumas gotas de uma
porra velha saíram do pintinho em coma. Ambos estávamos ensopados de suor. Dominado por uma
energia vinda do ato de vingança, não dei trégua para o velho homem. Pulei em cima do meu tio e
penetrei seu cu agora aberto de uma só vez. O velho viu o brilho das estrelas e agarrou a guarda da
cama com toda a força que ainda lhe restara. Passei a fazer movimentos lentos dentro dele, até que a
dor se dissipasse. Após um certo tempo, voltei a ampliar os movimentos do meu quadril. Notei pelo
rosto corado do homem bêbado que ele estava gostando da brincadeira. Não demorei muito para
gozar naquele rabo rosado. Depositei minha essência podre e saí logo em seguida, indo direto para o
chuveiro limpar o sangue, os dejetos e qualquer outro vestígio daquele homem ignorante.
Quando voltei, Tio Barriga não estava mais no meu quarto. Envolto na toalha de banho e
ainda com as pernas e os pés molhados, saí pela casa à procura do tio encrenca. A sala estava

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impecável como sempre. A cozinha também. Nenhum traço de bebida havia sido deixado à vista.
Tio Barriga estava na garagem, mexendo no motor do seu carro. Ao me aproximar, ele olhou para
mim com ar severo. Vá colocar uma roupa e suma daqui!
Eu preparava a meia-volta, quando ele me chamou novamente: Eu ainda não gosto de você,
rapaz. Eu ainda odeio todos os viados. E espero que o que aconteceu no quarto fique só entre nós,
certo?
Sim, tio, pode deixar. Ninguém vai saber o que aconteceu entre nós, eu disse, tentando
segurar o riso sarcástico que queria explodir no meu rosto. Mas, tenho uma pergunta, o senhor
gostou de transar com seu sobrinho querido?, a ironia gritava estampada no meu rosto infantil.
Tio Barriga coçou a cabeça com a mão cheia de óleo. Foi pecado o que fizemos, mas foi...
bom... confesso. Hipócrita, filho da puta, pensei. Devolvi um sorriso sem vida e visivelmente falso
como resposta. Dei de ombros e voltei para o meu quarto. Antes passei na lavanderia e vi jogado no
cesto a cueca suja e manchada de sangue do meu tio. O velho já não era mais virgem do cu. Fiquei
com pena da minha tia se deparar com aquele pedaço de pano manchado. Ele não saberia explicar o
motivo do sangue para ela. Ela não merecia o marido que tinha. Apanhei o pedaço de pano sujo e
impuro. Coloquei-o numa sacolinha do Russi e depositei a prova de uma sacanagem em família no
lixo, colocando por cima algumas folhas de um jornal velho.
No jantar desta noite, meu tio estava um doce comigo, se prontificando a me levar amanhã até
a Rodoviária. Tia Corada ficou feliz com o carinho do marido para com seu sobrinho querido. Eu
chutava a perna gorda dele por debaixo da mesa. E na superfície da falsidade, tudo correu muito
bem, obrigado.

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24 agosto - 23:46 - Aliviado | Curitiba | De volta à minha terra

Em mais um ataque histérico da minha tia, acordamos todos muito cedo. Tia Corada discutia
com meu tio sobre a possibilidade de me levar para São Paulo ao invés de eu partir de Jundiaí para
Curitiba. Ela queria fazer compras nas vinte e cinco de março da vida. Minhas coisas já estavam
prontas antes do almoço, quando finalmente minha tia convenceu meu tio a nos levar para a capital.
A rápida viagem foi tranqüila. Ouvi pacientemente as recomendações da minha tia para com a
irmã, minha mãe. Após quarenta minutos de ladainha familiar, meu tio abriu a boca, desejando
surpreendentemente uma boa viagem de volta para mim.
Quando chegamos ao Terminal Tietê, não permiti que meus tios me vissem partir. Nos
despedimos rapidamente e mais uma vez fiquei surpreso ao ganhar um abraço forte e caloroso do
meu tio, me pedindo para voltar com meu irmão e meus pais nas festas de final de ano. Beijos e
abraços trocados, lá se foi o casal para as compras das quinquilharias da minha tia histérica.
Comprei minha passagem e logo em seguida resolvi caminhar um pouco pelas lojas do
terminal até a hora do embarque. Comprei revistas, livros e CDROMS numa livraria sem graça e
pacotes de bala, doces e salgadinhos numa doceria muito meiga.
O começo da viagem de volta para casa foi sereno. Quando chegamos em Registro, senti uma
vontade imensa de encontrar o meu amante-executivo. De pensar que daquele ponto exato pouco
mais de hora e meia me separavam da Ilha Comprida e de todas as loucuras que lá cometi, um misto
de angústia e alegria disputavam a dor intensa em meu peito.
O ônibus estava praticamente vazio. Eu estava deitado em duas poltronas quando ele entrou e
sentou na fileira de bancos ao meu lado. Os óculos fundo-de-garrafa não ornavam com seu rosto
indiano. Permaneci na minha posição horizontal observando meu novo companheiro de viagem. Ele
trajava uma roupa social que lembrava um pastor neo-protestante. Só faltou a bíblia de capa negra
para se tornar uma figura patética. Quando partimos de Registro, eu procurei dormir novamente e
sonhar com os poucos homens que valeram a pena nesses trinta dias de sexo. A luz do outro lado
passou a me incomodar. E qual foi a minha surpresa quando me deparei com uma cobra sendo
manipulada pelo meu amigo com cara de indiano.
Ele chacoalhava o caralho para cima e para baixo, ostentando sua potência de macho para
mim. Entrei no jogo, fazendo caras e bocas de desejo falso, enquanto tocava meu pau que implorava
por deixar a calça de moletom. Indiano cuspiu no cacete enorme, lubrificando sua punheta. A vara
brilhava sob a luz amarela de leitura. Saí da minha posição horizontal e me sentei na janelinha,

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fechando a cortina logo em seguida. De quatro, abaixei meu agasalho, deixando minha bunda
branca à mostra. Fiquei de lado, numa posição fetal, aguardando alguma manifestação do homem
muito bem dotado do outro lado. Percebi uma luz sendo apagada. Senti um corpo frio encostar no
meu corpo quente e cheio de desejo. Para manter a tradição, Indiano começou a morder minhas
costas por cima da camiseta. Levantou-a e cravou os dentes um pouco abaixo do ombro esquerdo.
Cuspiu novamente no pau e em seguida na mão, afim de lubrificar meu rabo excitado. Com a boca
próxima ao meu ouvido direito, perguntou-me se eu iria agüentar sua viga imensa. Tente a sorte,
respondi. E prontamente Indiano começou a me penetrar com facilidade.
Meu cu havia experimentado toda a sorte de cacetes possíveis e imagináveis. Mas o pau de
Indiano era diferente. Não somente muito grande e fino, mas a maneira como ele me penetrava
proporcionava um prazer original, jamais sentido anteriormente. Com muita calma ele entrava e
saía de mim. A única dor física que eu sentia era quando Indiano mordia minhas costas, sempre no
mesmo lugar. A penetração durou muito, muito tempo. E a cada curva que o ônibus fazia, o cacete
de Indiano parecia querer literalmente sair pela minha boca. Ele intensificou a mordida quando se
preparava para gozar. Senti não um gozo simples, mas uma verdadeira enxurrada dentro do meu
corpo. Notei que a mordida nas minhas costas havia provocado um belo ferimento, pois quando saí
da posição em que estava e me virei de frente para Indiano, sua boca estava machada com meu
sangue.
Ao final do serviço ele se levantou e voltou para sua poltrona. Enxugou a boca e o pau com
um lenço, guardando o mastro cuidadosamente dentro da cueca samba-canção branca. Quando
desembarcamos em Curitiba, deixamos o interior do ônibus como dois desconhecidos. De malas e
cuias nas mãos, eu caminhava até o ponto de táxi quando Indiano me interceptou. Acabou tudo, não
é mesmo?, ele perguntou. Eu não havia entendido, quando ele completou a sentença: Hoje é o
último dia, certo? Eu fui o último, não é verdade?
Minha cabeça estava confusa, quando Indiano sacou algumas folhas amarrotadas de sua
agenda. Eram cópias impressas das minhas aventuras. Vi parte do meu rosto estampado no alto das
páginas e parte do meu diário agora impresso com dezenas de anotações à lápis em trechos
específicos das minhas histórias.
Por favor, Jägger, eu preciso saber se acabou e se eu fui o último, insistiu Indiano, quase em
lágrimas. Ainda confuso, respirei fundo e dei a resposta que ele queria ouvir: Sim, cara, acabou
tudo. E você foi o último homem a possuir o meu corpo nesta louca aventura. Parabéns!

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25 agosto - 21:21 - Realizado | Curitiba | Resumo da minha ópera-bufa

Todos nós somos livres para realizarmos o que quisermos em nossas vidas. Todos nós temos
o direito universal de encontrarmos a nossa felicidade individual à nossa maneira. Todos nós
podemos usar nosso corpo, mente e espírito com total livre arbítrio nas escolhas e nas ações. Mas
para tudo há um preço a ser pago. Não podemos fugir da eterna lei de causa e efeito, afinal, tudo o
que plantamos, um dia vamos colher com toda certeza. Isso é uma realidade imutável.
Em trinta dias realizei todas as minhas fantasias eróticas e sexuais. Saí com todos os homens
que tive vontade. Fiz tudo o que meu corpo desejou no calor do momento. Sem qualquer pudor ou
preconceito hipócrita, dei, chupei, comi, beijei, amei, fui amado, usei, fui usado, fodi e fui fodido
por sessenta e seis homens e um cão.
O que aprendi com tudo isso? Aprendi que o sexo sem amor resulta num vazio insuportável.
Aprendi que o puro ato sexual é algo sem graça e altamente perturbador do ponto de vista
psicológico. Se você não tem estrutura para encarar o sexo – seja ele homo ou hétero – de uma
forma desencanada, nem tente, pois a frustração posterior vai cobrar o seu alto preço. Conheça você
sexualmente primeiro para depois conhecer um parceiro.
Aprendi que transar é muito bom, mas é melhor ainda quando é feito com alguém que você
realmente gosta ou ama. Criar e praticar suas fantasias com seu parceiro colorido ou com o seu
companheiro fixo é e sempre será a melhor forma de se obter o máximo de prazer. Use sua
criatividade. Não existe bicha burra! (senão ela seria hétero – ah, ah). Ouse, faça acontecer.
Surpreenda seu namorado com aquela massagem esperta, com velas espalhadas pela casa, com
aquele perfume que o deixa louco de tesão. Na intimidade, esqueça essas delongas de rótulos e
roteiros pré definidos. Sem essa de ativo e passivo. Deixe acontecer. Faça seu namorado chupar o
seu pau se ele nunca o fez. Chupe o rabo dele com muito carinho e o deixe urrando de prazer, já que
nenhum homem – NENHUM MESMO – resiste a um bom cunete.
Respeite os limites do companheiro, usando do diálogo aberto e sem rodeios para expor tudo
aquilo que você tem vontade de fazer e sentir. Dê chances do seu amor também expor suas fantasias
e desejos mais íntimos. Saiba ouvir. E se você é adepto do sexo grupal, basta sempre tomar cuidado
com os parceiros escolhidos e usar sempre, sempre mesmo, a santa camisinha!
Eu confesso que fiz sexo sem preservativos de maneira consciente e inconseqüente. Eu queria
ver até onde ia a falta de atenção e de cuidados dos homens que cruzaram meu caminho. Eu tinha
plena consciência dos riscos que estava correndo. Se fui um irresponsável? Claro que sim, da

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mesma forma que todos foram também. Se agora posso estar contaminado com a Maldita, só o
tempo vai dizer. Paguei o preço da minha ousadia para que você não precise passar por isso na tua
vida real. Sou um mártir idiota de uma situação ridícula.
Obrigado pelas mensagens enviadas ao longo desses trinta dias. Obrigado pelas críticas e
pelos comentários curiosos a respeito dessa minha empreitada. Agora quero descansar do sexo sem
compromisso. Não sinto a mínima vontade de voltar a fazer o que fiz. Atingi minha meta. Cheguei
ao meu limite. Um dia eu voltarei para falar e escrever sobre as conseqüências dos meus atos.
Agora quero dormir um pouco. Depois tomar um banho, retocar a maquiagem e entrar no
MSN, pois Rafael quer falar comigo e diz que terei uma grata surpresa. Quem sabe se não vou
ganhar um pedido oficial de namoro?

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O Autor

Pessoalmente sou um cara simples, calmo, introspectivo, amigo, fiel, verdadeiro, sincero ao
extremo e muito objetivo. Sou um "bom ouvido". Gosto de passar horas em conversas edificantes
com pessoas interessantes que tenham conteúdo interior. Gosto de lugares tranqüilos. Gosto da
serra, do frio e do inverno.
Não sou muito fã do sol e do calor, mas adoro caminhar pela praia e molhar os pés nas
ondas calmas que acariciam as areias macias da ilha onde moro atualmente. É durante minhas
caminhadas solitárias, geralmente no fim de uma tarde agradável, que consigo buscar a inspiração
necessária para compor minhas histórias.
Adoro livros, filmes e coca-cola com limão e muito gelo. Tenho uma atração magnética-
física-espiritual por certos lugares como Alemanha, Irlanda e Rio Grande do Sul. Amo cachorros de
grande porte, Macintoshes e Fórmula 1!
Sou geminiano (com ascendente em gêmeos), tenho 38 anos. Profissionalmente, acho que
posso ser rotulado como um "artista multimídia". Autodidata, há 20 anos presto serviços como
designer gráfico na criação de mídia impressa. Também faço produção musical, sou videomaker,
webdesigner e produtor de eventos sócio-culturais.
Nasci em Jundiaí, interior de São Paulo. O que mais me dá prazer na vida é poder, de
alguma maneira, fazer alguém feliz. Comecei a escrever roteiros, poesias, letras de música e outras
bobiças aos 12 anos. Eu vivia anotando meus sonhos e minhas verdades em papéis soltos que foram
se perdendo pelo caminho. Sempre escrevi histórias que de alguma forma retratavam a
homossexualidade masculina.
Em 1988, após uma experiência pessoal que me marcou profundamente, resolvi desabafar –
numa autoterapia forçada – escrevendo em poucas horas a primeira versão de "Uma carta para
Hans". Foi o primeiro conto.
Em 2004, ao publicar a série "Poltrona 47" (cinco contos que retratam as experiências
sexuais de um rapaz dentro de um ônibus) e o conto "Filipe ou Treze homens e um destino" (que
mostra de uma maneira polêmica as atitudes de um jovem que, ao saber que pode estar contaminado
com o vírus da AIDS, num momento de revolta e irresponsabilidade total resolve se vingar e transar
com treze homens em um único dia) em meu site, fiquei totalmente surpreso com a polêmica
causada, os comentários inflamados e a repercussão positiva das histórias junto aos leitores. Este

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incentivo me levou a apostar no meu tipo de literatura. Nunca mais parei de escrever, procurando
aprender e evoluir a cada dia como um bom contador de histórias gays.
A homossexualidade, o amor verdadeiro, os conflitos internos, a amizade e a espiritualidade
são temas constantes em meu trabalho literário. Espero que minhas histórias e verdades possam lhe
proporcionar momentos de agradável leitura.

Moa Sipriano
www.moasterio.com – moa@moasterio.com

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