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Copyright © 2022 Mário Lucas

MINHA ESPOSA POR DESTINO


CONTRATO OU DESTINO – PARTE 2
1ª Edição

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser


reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânico sem consentimento e autorização por escrito do autor/editor.

Capa: @designerttenorio
Revisão: Thays Afonso
Diagramação: April Kroes
Edição: Regiane Lemos

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com
fatos reais é mera coincidência. Nenhuma parte desse livro pode ser
utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes – tangíveis ou
intangíveis – sem prévia autorização do autor. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do
código penal.

TEXTO REVISADO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DA


LÍNGUA PORTUGUESA.
Sumário

Sinopse

Playlist

Atenção

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9
Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Epílogo

Outras obras
O amor seria capaz de nascer do ódio?

Abandonada pelo anjo e deixada à mercê do diabo, Aurora viu o seu


castelo encantado ruir tão rápido quanto foi construído, ficou grávida de
forma inesperada e agora precisava decidir qual seria o seu novo destino.

Porém, o passado não poderia ser esquecido tão fácil assim. Não com

uma criança a caminho e um futuro incerto. Ela precisará tomar decisões

que mudarão todo o rumo da sua vida.

Venha ler o grande e emocionante final da duologia “Contrato ou

Destino” e confira se é possível haver um final feliz após tudo ao redor

apontar para o mais triste fim.

Contém gatilhos emocionais, cenas de violência descritas.

Recomendado para maiores de 18 anos.

OBS: O livro 01 se chama “Meu Marido Por Contrato” e também

está disponível aqui na Amazon.


SPOTIFY
É obrigatório ler a parte um da duologia, “MEU MARIDO POR
CONTRATO”, que também está disponível na Amazon, antes de ler a

parte dois, “MINHA ESPOSA POR DESTINO”. Para mais informações,


siga-me nas redes sociais (@autormariolucas).

Esse livro contém gatilhos emocionais e cenas de violência descritas.

Não leia se for sensível!!

Não esqueça de deixar a sua avaliação ao final. Obrigado.


ALEC VOGEL

Anos antes.

Acordo no meio da noite com a boca seca, morrendo de sede. Ligo o

abajur, afastando um pouco a escuridão, levanto-me da cama. O quarto é

enorme, confortável, com janelas grandes que agora estão cobertas por
cortinas.

— Sebastian? — o chamo, observando a sua cama. Aproximo-me. —

Sebastian? — mais uma vez vazia, ele não está aqui. Aonde vai todas as

noites? Sabe que papai e mamãe nos proíbem de sair da mansão.

Abandono o quarto ainda sonolento, desço as escadas devagar e sigo

para a cozinha, abro a geladeira, procurando água. Pego uma garrafa, encho
um copo e bebo devagar, suspirando de alívio em seguida. Nada melhor do

que matar o que estava me matando.

Ouço gemidos femininos que me deixam em alerta. A penumbra do


ambiente me esconde, porém noto que há um único feixe de luz vindo do

quartinho da empregada, Juliana.

Os gemidos se tornam mais altos, chamando a minha atenção, é como


uma música sensual me atraindo, hipnotizando. Caminho até a porta aberta,

o som de deleite dominando os meus ouvidos. Reconheço a voz de

Sebastian carregada de libido:

— Você quer mais? Quer mais? — Ele rosna gutural, tomando Juliana

de forma feroz, em um sexo quente e ardente. A linda mulher negra está

deitada nua, de bruços na cama de solteiro, com a bunda arrebitada, o

recebendo, os pulsos presos pelas mãos dele, as pernas de ambos

entrelaçadas.

— Oooh... eu quero! Me fode! Fode! — Juliana geme, lasciva. Fico

pasmo! Jamais poderia imaginá-los juntos de forma tão íntima.

O quadril do garoto sobe e desce em movimentos enfurecidos,

esmagando as nádegas dela a cada enterrada, a penetrando firme, duro,

criando um barulho pornográfico.


Fico chocado com a cena, mas ao mesmo tempo, de maneira

surpreendente, excitado. Sinto a ereção inesperada crescendo entre as

minhas pernas e esbugalho os olhos quando Juliana nota a minha presença e

sorri, saliente, sensual, claramente gostando de me ter como expectador.

Paralisado, não sei o que fazer, meu corpo todo reage com a imagem

deles transando, os corpos despidos cintilando de suor. O meu irmão enfim

nota a minha presença e se assusta, saltando da cama com rapidez, deixando

a mulher que morde os lábios, contemplando-me com desejo.

— Alec, o que está fazendo aqui? — pergunta, atordoado, impaciente,

me arrancando do transe. — Saia e não conte para os nossos pais!! — me

empurra, fechando a porta na minha cara. Foi tão rápido que nem tive

tempo de respondê-lo.

Sebastian tem um caso com Juliana, raciocino. Que loucura, temos

apenas dezesseis anos e ele já tem uma vida sexual ativa, muito diferente de

mim.

Ao amanhecer, ele vem falar comigo no escritório, estou lendo um

livro na poltrona de papai quando o vejo entrar pela porta e trancá-la.

— Oi, queria falar contigo — anuncia, sério, se aproximando.

— Se for sobre ontem, Sebastian... — começo a dizer, constrangido

por ter sido tão bisbilhoteiro — desculpe, foi sem querer.


— Foi sem querer... querendo, não é? — Ergue a sobrancelha,

sorrindo desconfiado. Deixo o livro de lado e fico de pé, de frente para

aquele que é idêntico a mim, a minha cópia perfeita.

— Juro que não foi intencional, fui beber água e ouvi... — perco a

voz, engulo em seco, sentindo o meu rosto corar — ouvi vocês.

— Não conseguiu controlar a curiosidade e foi comprovar com os

próprios olhos, não é mesmo? — como sempre, é muito astucioso, já


entendeu tudo. Está sempre um passo à frente de mim.

— Sim — confesso, abaixando a cabeça, envergonhado.

— Ah, não tem problema, fique tranquilo, maninho, acontece! — dá

tapinhas no meu ombro, aliviando-me e por fim se joga na poltrona

defronte, deixando uma perna sobre o braço do móvel de forma bem

despojada, ao contrário de mim que sento como um lorde, as costas eretas.


— Foi assim que comecei com a Juliana, eu a espiava trocar de roupa, até

que um dia ela percebeu — conta, cheio de empolgação, recordando e

falando baixo como para evitar que alguém nos ouça.

— Sério? — Pergunto, inclinando-me e apoiando os cotovelos nos

joelhos, muito interessado. — E há quanto tempo estão juntos? — gaguejo

um pouco, nunca fomos de conversar assuntos tão íntimos. Sexo nesta casa
é tabu, nossos pais não abrem espaço para nada, a nossa relação com eles é

muito fria.

— Já transamos há uns cinco meses — revela, encantado. — Foi com


ela que perdi a minha virgindade.

— É? E... como foi? — balbucio.

— Fantástico, incrível! Um dia você vai ter a chance de experimentar,

irmão. É delicioso. Nunca mais quero deixá-la! — repousa a cabeça no

encosto, mirando o teto, sonhador.

— Como assim? Estão namorando? — tento entendê-lo, cruzo os

dedos das mãos.

— Estamos, ela não confirmou, mas eu sim. Ela é minha, só minha.

Vou pedir a sua mão em casamento — sorri para mim, me deixando

assustado.

— Sebastian, mas... acha que papai e mamãe vão permitir?

— Não preciso da permissão deles! Papai e mamãe são dois idiotas!

— volta a sentar de forma normal, focando em mim. — Ouvi eles

comentando que irão escolher com quem iremos nos casar, querem

sentenciar o nosso futuro através de acordos, não podemos permitir!

— Mas... o que iremos fazer? Eles são os nossos pais, dependemos

exclusivamente deles e... — Não consigo ver lógica nisso.


— Se precisar, eu fujo com a Juliana. Já você, se quiser ser

controlado, fica — faz um movimento com a mão na última palavra.

— E vocês têm para onde ir?

Sebastian bufa e se levanta, fazendo barulho enquanto caminha.

— Ah, não sei! Não sei, Alec! Você pergunta demais! Pensa demais!

Eu não sou assim, não fico pensando, só faço! Deveria ser um pouco mais

como eu, se não eles irão te massacrar!

O sigo até a porta.

— É que gosta de bater de frente, já eu prefiro pensar com a cabeça

— argumento, o segurando pelo braço, o impedindo de sair.

Sebastian sorri sarcástico, colocando as mãos em meus ombros.

— Maninho, a diferença é que está pensando com a cabeça de cima e


eu com a cabeça de baixo! — ele abre a porta e continua antes de partir: —

Não diga nada do que viu aos nossos pais. Prometa. — Exige.

— É claro que não vou dizer. Prometo — garanto, só então meu

irmão vai embora.

Nos dias seguintes, passo a notar algo diferente em Juliana. Depois

daquela noite em que a flagrei na cama com o meu irmão, ela me olha como
se eu fosse algum fruto proibido, como se quisesse me devorar e todas as

vezes em que isso acontece, não consigo controlar e me excito.


Sei que ela ainda se encontra com o Sebastian todas as noites no seu

quarto, então por que não deixa de me vigiar e ficar perto? Ela é muito

bonita, na verdade, é maravilhosa e conseguiu se infiltrar em meus sonhos.

Já acordei molhado imaginando nós dois transando e isso não pode mais

acontecer.

Sebastian a ama, ela é somente dele.

Certo dia, após me masturbar mais uma vez no banheiro ao pensar em


Juliana — a mulher que se tornou o meu desejo proibido —, saio do banho

enrolado em uma toalha, seguindo para o quarto. Para a minha surpresa,


flagro a empregada de quatro sobre a minha cama, em seu uniforme curto,

organizando os cobertores.

A cena é tão impactante que meu queixo vai ao chão, fico paralisado,

observando a bunda dela quase nua, a saia apertada a ponto de subir. Meu
coração bate descompassado e um calor absurdo aquece a minha pele que

ainda está úmida da água.

— Bom dia, chefinho, estou arrumando a sua cama, deixando do


jeitinho que você gosta — ela diz, sensual, olhando-me como olha há dias,

repleta de luxúria.

— Eu... preciso me trocar — balbucio, impactado, dando um passo

para trás.
— Quer que eu saia? Desculpe ter entrado assim, achei que o quarto
estava vazio, vi Sebastian lá fora com os seus pais, pensei que estivesse

com eles — afirma, mas o seu tom de voz sugere que é uma doce mentira.

Juliana permanece na mesma posição enquanto conversa, atraente. É


uma mulher que deve ter quase trinta anos, experiente e conhecedora do

poder sexual que tem. Engulo em seco, sem saber o que dizer, obrigo-me a
parar de encará-la, olhando para o chão.

— Gosta de me ver assim? — indaga, movendo o quadril bem


devagar, rebolando, se exibindo.

— Por favor, Juliana, pare... com isso — peço, constrangido, mas de

pau extremamente duro. Não consigo me compreender — Você e


Sebastian...

— Poderia ser os três, já pensou nisso? — finalmente sai do colchão,


ficando de pé. É como se devolvesse um pedaço da minha sanidade. Passo a

mão na testa, não sei se ela está molhada de suor ou do chuveiro.

— O quê? — mal a ouvi direito, ainda estou desnorteado com essa


situação, com o membro latejando entre as coxas, a sua presença aqui mexe

comigo, sacode o meu psicológico, a libido.

— Sei que também me quer, Alec. Sei que me deseja — ela se

aproxima, tão ardilosa quanto uma cobra, sibilando, as suas palavras


penetrando a minha mente, o olhar castanho me atravessando. — Também
te desejo — murmura e acaricia o meu queixo, a minha boca está tremendo.

— Não..., o Sebastian te ama — nego, arfando, porém não consigo


me mover. Fecho os olhos porque não consigo encará-la, sinto o seu

perfume de mulher, um odor doce e cálido.

— Eu o amo, mas também posso amar você — dispara, ergo as


pálpebras, incrédulo com a sua revelação.

Juliana aproxima o rosto devagar e quando menos espero, me beija. A


sensação dos seus lábios encostando nos meus é surreal, o sabor candente,

queimando a carne. É o meu primeiro beijo.

Por mais que um lado meu queira parar e empurrá-la para longe por
saber que pertence ao meu irmão, que é proibida para mim, o outro lado

quer devorá-la e deixar acontecer. Quero descobrir esse mundo do sexo do


qual ainda não sei quase nada. Sou um jovem à flor da pele, no auge da

testosterona e não consigo resistir.

Juliana chupa a minha língua de forma gostosa, saboreando-me,

miando, absorvendo o meu sabor, entregando o seu, muito melhor do que


um dia imaginei, parece até impossível ser real de tão bom. Por fim, lambe

o meu queixo, arrepiando-me.

Boquiaberto, suspiro, cada célula do meu corpo espasmando.


— Delicioso, do jeitinho que pensei — sussurra, então puxa a minha

mão e põe sobre a sua bunda, segurando o meu rosto com as duas mãos e
me puxando para um novo beijo colossal, dessa vez mais agressivo,

selvagem.

O som da porta abrindo chama a nossa atenção, desfazemos o toque


de forma imediata, como se fôssemos contagiosos um para o outro.

Avistamos Sebastian na porta no mesmo instante, o seu olhar abominável


sobre nós. De lábios entreabertos, a expressão de quem perdeu tudo,

consigo ver o coração dele sangrar e automaticamente sou invadido pela


culpa.

— Querido, espere... — Juliana tenta argumentar, mas é inútil, pois o


garoto avança sobre mim tão possesso que até parece estar dominado por
uma força maligna.

O primeiro soco é tão potente que vou ao chão, caindo de bruços,


cuspindo sangue. Fico zonzo, a visão embaçada, ouço gritos da empregada

que reverberam em eco por meus ouvidos. Ergo o rosto, avistando as


cortinas das janelas meneando em câmera lenta, deixando a luz passar.

Uma mão forte me puxa pelo ombro, virando-me e obrigando a me


deitar de costas. Sebastian monta sobre o meu corpo.
— Tantas mulheres, irmão. Por que logo a minha? — pergunta, as

pupilas que antes eram azuis mudando de cor ao serem dominadas de ódio
por um tom escuro, intenso.

Sebastian começa a me espancar de um lado e outro do rosto, os seus


punhos cerrados me atingem, rasgam a minha pele, ferem com força, o

sangue se alastrando. Juliana, desesperada, consegue empurrá-lo para longe


de mim e me levantar, protegendo-me, servindo de escudo, caminhamos

para a grande janela, as cortinas meneando ao nosso redor, a brisa leve do


vento soprando, chamando alguém para a morte.

— Pare, Sebastian! Pare! — a mulher estica o braço em direção a ele,

tentando impedi-lo.

— Ainda o defende? Como pode? — Sebastian chora, cada lágrima

dilacerando a sua face, o coração quebrado em milhares de pedaços, a dor


açoitando sem dó nem piedade.

— Fui eu que... — ela tenta falar, mas o meu irmão avança

enlouquecido contra nós. Ele perdeu o controle, a fúria o domina de uma


maneira que nunca vi. Juliana briga, tenta segurá-lo enquanto Sebastian

quer tirá-la do caminho para chegar a mim.

Um empurrão me faz desabar às costas dela, a mulher tropeça no meu

corpo desfalecido e cai com força para trás, atravessando a janela, a


gravidade a arrasta para o fim de maneira fatal, sem misericórdia. É tão
rápido que só percebo o que aconteceu após alguns segundos, quando sinto

falta dela e da loucura de Sebastian.

Ele está paralisado, não consegue fazer mais movimento algum,


tentando entender como o pior aconteceu. O vento sobre os seus cabelos, as

lágrimas descem como sangue por suas maçãs, um amor jogado fora sem
querer, sem desejar.

— NÃÃÃÃOOO!! — berra ao entender o que fez, o que fizemos.


Joga-se de joelhos no chão, diante de mim.

Temendo pela catástrofe, uso as mãos trêmulas para me erguer e olhar

pelo parapeito da janela. Juliana está lá embaixo, esmagada contra o chão.


Meu Deus.

— O que está acontecendo aqui? — papai irrompe no quarto ao lado


de mamãe.

Tarde demais, a tragédia está feita.

Atualmente

Acordo do pesadelo, novamente sonhei com Juliana e Sebastian.

Sento-me sobre a cama sentindo uma dor de cabeça excruciante, a boca


muito seca, sei que é a ressaca me maltratando devido à quantidade de
uísque que tomei ontem no bar do hotel.

Levo algum tempo para notar que estou na minha suíte, mas não
lembro como vim parar aqui. Quem me trouxe?

— Já acordou dorminhoco? — ouço a voz sonolenta ao meu lado.

Fico pasmo quando reconheço Eduarda se movendo, os seus seios nus


aparecendo, os cabelos emaranhados. O golpe é forte demais, olho sobre as

cobertas e comprovo que estou despido também.

O que fiz?

— Eduarda? — indago, apavorado. — Como? Como...?

— Você estava muito bêbado, me ofereci para te deixar no quarto e


você não me deixou mais sair — sorri, maliciosa, acariciando o meu braço.

— Não... — cubro o rosto com a mão.

Não posso acreditar que fiz uma merda dessas.


AURORA BELMONTE

Ficar grávida traz uma grande responsabilidade para a mãe, é o que


descubro agora, enquanto pesquiso sobre tudo o que ainda devo fazer.

Deitada no sofá da sala, usando apenas baby-doll, a preocupação aumenta a

cada palavra lida, ao saber da quantidade de exames que tenho pela frente,
pré-natal e muito mais.

Após o acidente com a bicicleta, resolvi ficar em casa e arejar os

pensamentos, já se passou mais uma semana.

São necessárias roupas, utensílios, móveis, alimentação e

programação, pois o tempo está passando, na verdade, tenho a sensação de


que está correndo e daqui há alguns meses o meu filho vai nascer.

Como é que vou comprar tudo o que preciso e me preparar para o

parto sem precisar me humilhar para os meus pais ou depender de


Sebastian? De repente, Sebastian se tornou a única e melhor opção, já que

Alec está descartado, todo o amor que eu tinha por ele se transformou em

raiva e rancor.

Mesmo que eu consiga um emprego, terei que ocultar a gravidez, pois

do contrário, ninguém vai querer me contratar. Se for em um haras, então,

não poderei correr risco com os animais, já vi muitos veterinários se

machucando com os cavalos.

Sou o tipo de pessoa que detesta depender dos outros e é isso que me

trava quanto ao Sebastian, que me afasta ainda mais dos meus pais e que me

causa raiva do Alec. Sei que tenho direitos e posso ir atrás de um advogado,

mas o que me barra é o meu orgulho, é necessitar recorrer à minha família,


ter que passar por isso mesmo que através da justiça.

O meu desejo é ter como me manter sozinha, sem me expor ou expor

a minha gravidez a mais ninguém. Seguir em frente e esquecer o mundo, o

passado, mas nada é tão simples assim.

Sinto que esse filho é do Alec, pois foi o meu primeiro homem e não

nos protegemos, porém, só terei certeza com um exame que é caríssimo, já

que também fiquei com o Sebastian.

Em caso de gêmeos univitelinos, descobrir o pai do meu bebê não é

tão simples assim. Segundo as minhas pesquisas, o exame tem que ser
bastante minucioso, com muito mais cautela e cuidado, deve-se analisar o

DNA completo do bebê e dos candidatos a papai, porque o código genético

de gêmeos idênticos é igual, e os testes de paternidade convencionais

analisam apenas algumas sequências dos genomas.

O que vale mais neste momento? Qual o melhor caminho a seguir?

Devo deixar o orgulho de lado e correr atrás dos meus direitos em nome do

meu filho, que é maior que tudo isso, ou simplesmente evitar esse desgaste

emocional e me entregar a essa nova realidade ao lado de Sebastian? Ele,

pelo visto, também não quer que eu tenha contato com os nossos parentes,

principalmente com o irmão.

No fundo, também não quero. Não mais.

Desperto dos devaneios ao ouvir a campainha tocar. Deixo o celular

de lado e me aproximo da porta, verifico o olho mágico, Sebastian veio me

visitar sem avisar. Corro para o quarto e visto o meu robe, cobrindo o corpo,

não quero ficar tão “nua” em sua presença.

Também me olho no espelho, até que o meu rosto não está tão mal

quanto a minha mente. A campainha toca outra vez, sigo de volta para a

sala, tentando organizar os cabelos, não gosto que me vejam em meu estado

íntimo, feia, por isso mesmo não sou fã de surpresas.

— Sebastian? — abro a porta.


— Olá, Aurora. Boa noite — ele está belíssimo, como sempre, os

cabelos penteados para trás ainda úmidos, provavelmente com algum gel.

Usa um suéter cinza-escuro e calça jeans. O seu perfume é como uma


lufada de boas sensações, desperta todos os meus sentidos. Que homem

gostoso, Senhor!

— Entre — o deixo passar e fecho a porta. Ele caminha para a

pequena sala, vistoriando o apartamento enquanto eu não consigo deixar de

analisar o seu porte físico, é lindo de frente e de costas, tem presença.

É a primeira vez que Sebastian entra aqui, se tem uma coisa que

posso dizer a seu respeito é que não é um homem grudento. Não me enviou

nenhuma mensagem desde a última vez que nos vimos e só me procurou

agora. É muito maduro apesar da pouca idade, também não é para menos, já

passou por muita coisa. Mas o que quero dizer, é que ele sabe que preciso

de espaço e de tempo nesse momento em que estou bastante vulnerável.

Sebastian me deixa respirar.

— Não me avisou que vinha — comento.

— Tive medo que negasse a minha visita — é sincero, fico sem graça.

— Era uma hipótese — brinco.

— Já passou uma semana desde que estive aqui, vim ver como você

está — coloca as mãos na cintura, olhando-me.


— Estou bem, na medida do possível. Sente-se — o ultrapasso e

aponto para o pequeno sofá. Sebastian assente e se senta, tomando

praticamente todo o espaço, fico na poltrona, à sua frente.

Respiro fundo e o encaro, sei o que ele quer.

— Veio atrás de respostas, não foi? — indago, abraçando o corpo,

lembrando uma menina insegura. — Sinto muito, ainda não as tenho.

Parece fácil, mas não é. Foram muitos fatos em sequência, a minha cabeça

está fervilhando.

— Eu disse que iria esperar, não disse? — ele cruza as pernas e

depois as mãos sobre ela.

— Você tem esse tempo?

— Bem, na verdade, em breve terei que retornar para os Estados

Unidos. Como sabe, eu vim a negócios, estou resolvendo várias coisas

sobre os contratos da minha empresa, a Ciano. Teremos mais lojas, mais

uma fábrica, porém já está quase tudo pronto — conta, e por algum motivo,

sinto um frio na barriga. — Mas de qualquer forma, ainda vou continuar te


ajudando mesmo de longe. Não se preocupe.

Isso me alivia, não consigo disfarçar. Não tenho outra fonte de renda

agora, é só ele. Mas, além disso, penso em como será sem a sua presença

física.
— Nossa — penso alto, desviando o olhar para o chão e depois para

ele outra vez. — Sabe mais ou menos a data de partida?

— Acho que ainda fico por mais algumas semanas, o meu tio Harry já

está precisando de mim em Nova York, mas só posso ir depois que terminar

tudo o que vim fazer em São Paulo — ficamos calados por um instante,

ambos ponderando as palavras ou sem saber ao certo o que dizer.

— Eu entendo — é só o que consigo expressar, estou triste com a

notícia e a verdade é que não entendo nada que acontece dentro de mim.

— Enquanto estiver aqui, se você permitir, queria te acompanhar no

médico. Estive pesquisando e sei que já devia ter iniciado o pré-natal —

revela, derretendo o meu coração.

— Você pesquisou? — Indago, sensível, segurando as lágrimas que


imediatamente enchem os meus olhos.

— Pesquisei — estica os lábios de forma bem discreta em um sorriso,

mirando o nada. — É só que... quero apenas ajudar a diminuir um pouco do

mal que te causei — confessa, de cabeça baixa, pensativo. Será que se

arrependeu?

Ergo o rosto, fitando o teto, controlando-me para não chorar e


suspiro.
— Se essa é a sua intenção, está conseguindo — a voz sai frágil,

quebrada, mas logo tomo força de novo. — Aceito a sua companhia no

médico, foi muito difícil ficar em um hospital sozinha, como aconteceu na

semana passada. Além disso, estou com muito medo, com várias

inseguranças, os exames que preciso fazer irão esclarecer como está a

gravidez e a minha saúde. Acho que assim me sentirei melhor.

— Sim, com certeza, concordo. É realmente necessário. Vejo que os

seus arranhões já melhoraram — observa os meus joelhos e cotovelos.

— Sim, a queda foi bem menor do que pareceu, acho que era mais o
meu psicológico mesmo.

Voltamos ao silêncio, não temos assunto para continuar. Sebastian


suspira e diz:

— Então, passo aqui amanhã de manhã para te buscar? — indaga,

esperançoso.

— Sim — sorrio, confirmando. Sebastian sorri para mim também, é a

primeira vez que vejo esse sorriso, algo de forma tão espontânea e sincera,
apesar de ainda ser discreto. — Você parece mais leve — apoio o queixo

sobre a mão.

— Fico assim quando estou contigo — declara, atingindo-me outra


vez, fecho os olhos por um instante.
— É bom, gosto desse seu lado, me lembra de que é humano e não
apenas uma pedra de gelo — murmuro, as palavras escapando entre os

meus lábios, como se fossem sopradas.

— Que bom ouvir isso — confessa, a voz rouca. Ele descruza as


pernas. — É bom saber que de algum modo, gosta de mim, Aurora.

Eu nem havia percebido que tinha dito isso. Limpo a garganta,


piscando, entrando em alerta, o clima está ficando íntimo demais e o pior é

que estou gostando. Sebastian percebe o meu comportamento e levanta.

— Então, já vou indo. Amanhã passo aqui — afirma, caminhando até


a porta.

— Tudo bem — sorrio, meio confusa com os sentimentos, o


seguindo. — Tchau — aceno, o vendo sair. Ele apenas assente em silêncio e

se vai, mas deixa o rastro de perfume intenso para trás, para me lembrar da
sua presença por longos minutos depois.

Como combinado, Sebastian vem me pegar pela manhã e me leva

para uma clínica particular de sua escolha. Passo por uma bateria de exames
e ele não sai de perto, sempre atento ao que o médico diz. No fim, ficamos

sentados lado a lado diante do homem de óculos e jaleco branco, que


explica coisas básicas que devo saber:
— Pode ficar tranquila, Aurora, você está bem de saúde e a sua
gravidez não apresenta indícios de risco. Pela data da sua última

menstruação, provavelmente deve estar entre seis e sete semanas de


gestação, no comecinho. Ainda há um longo caminho a ser seguido, mas

tenho certeza que dará tudo certo, ainda mais se sempre vier acompanhada
do seu marido — aponta para Sebastian, que se surpreende com o título que

recebeu, erguendo as sobrancelhas. Rapidamente nos entreolhamos, era


para ser constrangedor, mas nem chegou a tanto. — Existem poucos papais

como você, a maioria das grávidas sempre vêm sozinhas ou acompanhadas


de algum parente. Parabéns.

Agora sim ficamos constrangidos, sinto as minhas bochechas

ruborizarem. Entretanto, disfarçamos bem e deixamos passar. O médico


passa alguns suplementos alimentares que devo começar a tomar e nos

libera.

No elevador, enquanto descemos para encontrar com o motorista,

Sebastian pergunta:

— Gostou da consulta?

— Gostei bastante, estava com algumas preocupações e muitas

dúvidas, mas agora já passou, posso respirar mais aliviada — respondo,


realmente me sentindo em paz, com o psicológico limpo quanto à minha

saúde e a do meu bebê.

— Estou com fome, quer almoçar comigo? — convida. É mais uma


tentativa de aproximação, contudo, ele falou de forma tão discreta que não

pareceu.

— É uma ótima ideia, também estou faminta, agora como por dois —

gargalho, chamando a atenção total do homem, que fica hipnotizado no meu


sorriso. — O que foi?

— Gosto de te ver sorrir — confessa, me fazendo suspirar.

— Vai ficar me paquerando o tempo todo? — ergo uma sobrancelha,


deixando o ego ser afagado um pouquinho após tanto caos.

— É apenas uma verdade, nada mais. Foi inocente — brinca.

— Você, inocente? — debocho, estamos nos divertindo.

Saímos do prédio de vários andares, Sebastian diz ao motorista onde

quer almoçar, mas antes me pergunta se pode escolher, deixo que ele o faça
e não me arrependo, o homem tem muito bom gosto. Ficamos em um

restaurante refinado na Avenida Paulista, escolhemos o cardápio e


começamos a comer.

— Sente falta de alguma coisa? — ele pergunta, enquanto corta o seu

bife ao molho madeira. — Da vida que tinha antes.


— Antes da gravidez? — fico curiosa, bebo um pouco de suco de

maracujá em seguida.

— Antes de tudo, antes do caos — explica, levando a carne à boca,

mastigando, esperando a minha resposta.

Penso um pouco, devolvendo o copo à mesa.

— Sinto falta apenas do que valia a pena, e hoje, olhando para trás,

pensando assim, só me vem à cabeça o meu cavalo, Zeus. Não sei o que foi
feito dele e ainda não tive tempo de pensar nisso, não com uma gravidez e

todas as mudanças radicais na minha vida.

— Era um corcel branco? Acho que a vi montada nele.

— Com certeza viu, eu não saía de cima daquele cavalo. Gosta de

cavalos? — quero saber mais dele.

— Não. Na verdade, não tenho nada contra, mas sempre preferi os

esportivos.

— Homens e seus vícios em carros — comento, em seguida


experimento da salada, que afinal, está deliciosa.

— Sei que gosta de carros também — estica um sorriso charmoso.

— Sabe como? — formo um vinco na testa.

— Também a vi dirigindo, você é uma mulher muito independente.


— Eu era, né — brinco com a minha própria tristeza.

— Voltará a ser. Toda grávida se torna um pouco dependente, seja do


companheiro ou da família, não que eu esteja afirmando que... — tenta

reformular.

— Tudo bem, entendi o que quis dizer — sorrio. — Alguma vez

pensou em ser pai?

— Antes desse imprevisto, não. Nunca esteve nos meus planos, mas
agora... me pego pensando nisso todos os dias. É estranho — é sincero.

Sempre sincero. — E também é triste ter acontecido da forma que


aconteceu. Por isso sou considerado como um homem frio, aprendi a me

adaptar às novas situações muito rápido e neste caso, sei que fui o causador
do problema. Não costumo lamentar, apenas tentar resolver da melhor

maneira possível.

— Então sou um problema para você? — o alfineto.

— Não, você é a solução — é direto, encarando-me sem medo, com

as mãos nas laterais da mesa segurando os talheres correspondentes. — E


talvez a resposta para tudo o que fiz e vivi até aqui.

— Acha que esse filho será a sua redenção? — não consigo mais
comer, apenas focar nele e tentar entendê-lo.
— Não acredito que haja redenção para alguém como eu, que fez o
que fez, mas tenho certeza que o bebê trará uma nova fase para a minha

vida, talvez a melhor de todas. Estou curioso sobre o futuro — esfrega os


polegares nos talheres, demonstrando um pouco de ânsia, o olhar reflexivo,

as respostas na ponta da língua.

— Deseja ser feliz? — ergo uma sobrancelha, percebendo o quanto

Sebastian Vogel é ferrado da mente, como se pune e se castiga, mas não


desiste dos seus objetivos.

— Felicidade não existe, Aurora. É um sentimento momentâneo. Só

quero assegurar que você e o bebê fiquem bem sempre.

— Poderia ter nos abandonado, já tinha a sua vingança.

— Sou um louco, mas não um covarde — o seu olhar me atravessa, a

verdade escancarada. É tão difícil lidar com tanta sinceridade e franqueza

vinda de uma só pessoa, ainda mais uma que não tem um pingo de medo
em falar de si mesmo, em se auto definir e assumir os próprios erros, os
motivos que o levaram a errar.

Sebastian volta a comer, o assisto por mais alguns segundos, sem

palavras, sem saber direito o que pensar. Por fim, volto a me alimentar
também.
AURORA BELMONTE

Por incrível que pareça, eu e Sebastian construímos uma amizade.


Com o passar dos dias, a frequência de troca de mensagens entre a gente

aumentou, nos comunicamos diariamente, ele sempre lembra de mandar


saudações e perguntar como estou. Tínhamos tudo para ter diálogos rasos,

mas começamos a encontrar muita coisa em comum.

Além disso, ambos somos comunicativos, ele se tornou mais, é um

homem de conteúdo e opiniões fortes, difícil de convencer, um desafio e

ainda um mistério. Apesar de já ter me dito muita coisa sobre si, ainda

possui uma aura gélida, meio sombria, que já é da sua personalidade, como
se sempre tivesse algo a mais a ser revelado.

Não o vejo mais como antes, com medo ou temores, agora fico
relaxada em sua presença e curiosa sobre Sebastian, sempre com vontade de

saber mais, de entendê-lo. Acho que me acostumei ao seu jeitão fechado,


quieto, que está forçando uma brecha para mim, para me deixar passar e se

aproximar. Gosto de saber que se esforça para me ver bem, que se importa.

A sua atenção se tornou essencial nessa nova fase da minha vida.

Olho-me no espelho, acariciando a barriga, buscando notar alguma

saliência, mas não há absolutamente nada, é como se eu nem estivesse

grávida. Fico pensando se será menino ou menina, os nomes, se o parto vai

me causar muitas dores.

Hoje, estou me achando especialmente linda, cabelo preso em um

rabo de cavalo, maquiagem leve no rosto, shortinho e blusinha regata, bem

à vontade em casa e ao mesmo tempo bela. Sigo para a sala descalça ao

ouvir a campainha tocar, já estou esperando por ele. Abro a porta com um
sorriso de orelha a orelha, me surpreendendo com o que Sebastian tem nas

mãos.

— Trouxe pizza!! — mostra as duas caixas. Ele sempre me traz

comida, é o que mais gosto no mundo.

— Uau, agora sim me surpreendeu!! — fico boquiaberta, permitindo-

o entrar.

— Por quê? — pergunta, sem entender, enrugando a testa.

— Porque pizza e o poderoso CEO não parece uma combinação boa

— tranco a porta.
— Me acha poderoso? — não deixa passar uma em branco.

— Ah, vá a merda! — brinco, tomando as caixas dele. — Me dá isso

aqui! Estou morrendo de fome!! — dou um gritinho, correndo para a sala

que faz divisão com a cozinha, deixo tudo sobre a mesa, trago os pratos e

talheres.

— Quer ajuda? — se oferece, pondo a mão sobre o balcão.

— Já que é humilde, no final você lava a louça — o provoco e

gargalho alto ao vê-lo revirando os olhos.

— Voltou a ter a língua afiada de sempre, que bom.

— Aos poucos, a velha Aurora está ressurgindo das cinzas. Tenho que

ser positiva, tudo vai dar certo — coloco os copos e o refrigerante que

peguei da geladeira sobre a mesa. Sebastian senta de um lado e eu fico do

outro, capturando a faca para cortar a pizza.

— Toda essa animação deve ter um motivo, alguma novidade? — ele

abre a garrafa e despeja o refrigerante em seu copo.

— Amanhã vou para uma entrevista de emprego! — disparo,

contente, colocando o primeiro pedaço no prato dele. — Um dos haras que

enviei currículo se interessou por mim! Estão precisando de uma

veterinária.
— Nossa, que legal — ele não parece animado, mas não lhe dou

atenção. — Mas você comentou que era perigoso cuidar de cavalos grávida,

não comentou?

— Sim, mas, quero ir ver como funciona lá, talvez eu possa ficar em

uma função menos perigosa, sei me cuidar — entrego os talheres dele, que

dá atenção a mim.

— É, verdade. Deve haver opções. Vou torcer para que dê certo —


desvia o olhar ao proferir as palavras, sei que no fundo não é isso o que

quer, mas não preciso deixar o ambiente constrangedor por conta das nossas

opiniões divergentes.

Agora que estamos mais íntimos, evitamos tocar nas feridas para

poder manter uma relação saudável. Não foi nada combinado, entendemos

de forma natural que devíamos fazer assim ou nunca iríamos nos entender

até mesmo para conseguirmos ser amigos.

— Pois é. Quer mais um pedaço? — pergunto.

— Sim — assente. — Vai precisar de carona? O haras deve ficar

longe, amanhã ficarei o dia inteiro na empresa, você pode usar o meu

motorista.

— Seria ótimo, eu iria gastar uma grana para chegar até lá e também

para voltar.
— Então, ótimo, ele vai te pegar aqui no horário que quiser.

— Obrigada — sento-me após me servir. — Agora vamos comer!

Para a minha surpresa, Sebastian dispensa os talheres e usa a mão

para levar o pedaço de pizza à boca.

— Eu também prefiro comer com a mão! — revelo, me sentindo mais

confortável ao dispensar o garfo e a faca.

— Muito mais prático! Foi o ser humano que problematizou a maioria

das coisas, até a forma de comer.

— Boa observação — concordo, experimentando a massa. — Ah, que

gostoso — a voz sai um pouco abafada enquanto degusto, sentindo tudo

derreter no paladar. — Adoro queijo cheddar, Senhor! Por que criaram uma

coisa tão boa?

— Pizza para mim só vale a pena se for assim, com essa borda imensa

e cheia de queijo. Muito bom realmente — Sebastian avalia o produto,

lembrando até um máster chefe. Me excita quando lambe o lábio inferior, a

língua rosada molhando a carne, capturando o sabor.

Limpo a garganta, o vislumbre dessa cena me esquentou, me deixou

um pouco nervosa. Bebo um pouco da Coca-Cola.

— Engasgou?
— Não... — sorrio amarelo, disfarçando. — Como foi o trabalho

hoje? — mudo de assunto.

— Muito bom, tive alguns empecilhos, mas está correndo tudo bem.

Amanhã de manhã farei uma reunião online com o meu tio.

— Vocês parecem se dar muito bem, não é?

— Ele é o único que posso chamar de família, entende?

— Sim, entendo.

Após terminamos de comer, como prometido, Sebastian começa a

lavar os pratos e os copos, enquanto eu organizo a mesa.

— Não fica entediada aqui? O que faz para se distrair durante o dia?

— pergunta, esfregando a esponja na louça.

— Uma mulher sempre tem muito a fazer, quando não tem, arruma.
Para não me sentir solitária, ouço música — respondo, terminando de

passar a flanela na mesa.

— Gosta de ouvir o quê? — fica curioso.

— Ah, sou muito eclética, tudo o que imaginar devo ter na minha

playlist — ultrapasso o balcão e paro ao lado dele no instante em que

termina o seu trabalho, enxugo a pia com a flanela.


— Tem Michael Bublé? — cruza os braços, se encostando na bancada

com um ar desafiador.

— O cantor de Feeling Good? É claro que tenho! — mostro a ele que

realmente tenho tudo.

— Adoro Feeling Good! Adoro a voz e o estilo musical do Michael.

— É bem a sua cara mesmo — o provoco.

— Está traçando o meu perfil? — semicerra os olhos, desconfiado.

— Efeitos da convivência! — me aproximo dele e cutuco o seu peito


com o indicador. Continuo andando até a sala e pego o meu celular,

encontrando a música citada na minha lista. Coloco no volume máximo e


deixo tocar.

— Pode me dar o prazer dessa dança? — Sebastian chega perto e


estende a mão para mim, sedutor, o olhar fatal, os lábios rosados com

promessas de beijos incendiários. Tudo nele exala charme, tesão e poder.

Entro na sua fantasia e aceito o convite, unindo a minha palma à dele.


Estremeço por dentro quando os seus dedos tocam a minha cintura e me

puxam para si, os nossos corpos se unindo, criando uma energia que faísca
na atmosfera e me deixa aquecida. É sempre perigoso ficar tão próxima

desse homem.
Com habilidade, ele começa a dançar, me guiando. Aos poucos vou
me soltando, deixando fluir, curtindo o momento ao som da canção com

uma batida gostosa, sensual e impactante. Conforme o ritmo vai


aumentando, nós fazemos passos cada vez mais ousados.

Sebastian me faz rodar e por fim me puxa de volta, nossos corpos se

chocam, os rostos tão próximos que podemos sentir o hálito um do outro.


Ele aperta a minha lombar e mergulha nos meus olhos, como se enxergasse

muito além, lendo o meu interior. Desejo. Cobiça. Calor.

Fico de costas para ele, que me prende pela cintura, remexo-me

lentamente contra o seu corpo, a sensação de cada músculo seu esfregando


em mim, de estar perdida em sua imensidão masculina, em toda a sua

proteção. Entreabro os lábios em libido quando a sua ereção surge no


instante em que rebolo contra o seu centro.

É como se estivéssemos em um baile, em meio a um salão de festas

sem plateia, a coisa foge do nosso controle, as notas musicais entoando por
nossos ouvidos, o clima explosivo, a química presente, dois corpos falando

a mesma língua sem sequer precisar sussurrar.

Sebastian pressiona os meus braços com as duas mãos, enlouquecido,

arfando contra o meu ouvido, como se sua pretensão fosse me segurar para
não soltar jamais, para não me perder. Não sei o que aconteceu e nem como
chegamos até aqui, porém, uma coisa é certa, estou brincando com fogo.

Ele me rodopia uma última vez, voltamos a nos encarar frente a


frente, submersos na magia um do outro, na chama que incendeia dentro de

nós, um fogo que agora entendo que sempre esteve aqui, mas que era
proibido.

Fito a sua boca com um desejo imenso, é um verdadeiro fruto

saboroso que já sei o gosto que tem, que faz emanar essa fome de mim, uma
vontade louca de repetir a dose, de beijá-lo até perder os sentidos, de sentir

o seu toque rude e dominador. A minha intimidade contrai de desejo.

Sebastian está igualmente absorto, contemplando a minha boca a cada

passo que damos ali e aqui, dentro do ritmo extasiante, propulsor. Nos
tornamos exímios dançarinos, as pernas se entrelaçando, firmes, seguras de

si, os pés ligeiros e lentos nos momentos corretos.

Chegando perto do fim, sou jogada para trás, sua mão enorme
segurando-me pelas costas, meu corpo fazendo um arco, a canção cessando,

o saxofone rebaixando, o mundo rodando bem lentamente, não há pressa de


nada, uma finalização perfeita, digna de cinema.

Atraído, Sebastian chega a inclinar o rosto em direção ao meu quando


a música termina e nos desperta da loucura que estávamos prestes a
cometer. Sou puxada, fico ereta de novo. Piscamos, acordando, percebemos

o caminho que iríamos seguir.

Desvencilho-me dos seus braços com sutileza, com um sorriso


nervoso, meio confuso e constrangido. O homem limpa a garganta,

meneando a cabeça como para afastar o nosso feitiço.

— É melhor eu ir embora — afirma, a voz grossa, denunciando um

desejo falso, sei que não quer ir, mas também ainda não me sinto corajosa o
suficiente para pedir que fique.

Ao amanhecer, encontro com o motorista que vem me buscar na porta


do prédio. Seguimos viagem que dura quase uma hora até um haras, só a

distância já me desanima, se eu vier a ser aprovada, com certeza terei que


procurar um lugar perto para morar e mudar toda a minha rotina,

principalmente quanto ao médico.

Converso com a dona do haras, nos damos muito bem, é a melhor

entrevista que tive até agora, desde que passei a procurar emprego, mas
quando ela diz que me quer cuidando diretamente dos cavalos, não vejo

outra saída a não ser falar da gravidez, ser franca por não querer enganá-la.
Tento argumentar, mostrar que posso ser útil mesmo não fazendo o

“serviço mais pesado”, no entanto, não adianta, ela já tem pessoal que
manipula a medicação e alimentos. Volto para casa decepcionada, mas nem

tanto, pois se fosse chamada, teria que mudar muita coisa e correr riscos.
Mesmo assim, continuo sem emprego.

Uma solução seria pedir a intervenção do próprio Sebastian para


conseguir um emprego, mas o meu orgulho me impediu de fazer isso até

aqui. Ele até o momento também não se ofereceu, acredito que, conhecendo
o pouco de mim que já conhece, está tomando todo o cuidado para não
causar más impressões.

Certo dia, ele envia mensagem afirmando que quer me levar a um


lugar, mas não diz qual. Aceito o convite e o encontro na portaria do prédio

durante a tarde, o motorista abre a porta do carro, deixando-me entrar. Sento


ao seu lado.

— Que mistério todo é esse? Aonde vai me levar? — estou


explodindo de curiosidade.

— Você vai ver — sorri de forma sutil, decidindo em torturar.

— Olha, Sebastian, não sei se já te falei, mas odeio surpresas. Odeio


justamente por não saber o que vou esperar e por essa agonia que já estou
sentindo em meu peito! Me fala! Fala logo! — dou um tapinha em seu
ombro.

— Já disse que vai ver, espere — gargalha, o som rouco e poderoso

fluindo da sua garganta me arrepia de forma boa.

O tempo passa e em certo ponto ele me apresenta uma venda que me

deixa nervosa.

— Confie em mim, juro que não vou te sequestrar — é irônico, adora


me provocar.

— Não vai me sequestrar porque antes disso eu já estarei morta de


curiosidade!! Vai, venda logo! — exijo, ele gargalha outra vez, se

divertindo, cobrindo os meus olhos.

Após mais alguns minutos, estacionamos em um local silencioso,


sinto o cheiro de mato, o ar fresco, e quando piso no chão de terra, sei que

devo estar em uma fazenda ou em algum haras. Será que ele me conseguiu
um emprego? Essa é a surpresa? É a primeira coisa que penso.

— Vamos caminhar só mais um pouquinho — Sebastian segura a


minha mão, guiando-me. De forma inexplicável, me sinto segura com ele,

agarro o seu braço para poder andar com jeito.

— Ai, meu Deus — comento, ansiosa ao extremo.


Quando ouço o relinchar conhecido, rapidamente mato a charada, sei
do que se trata.

— É o Zeus? — Indago, em alerta. Sebastian puxa a venda, volto a


enxergar, avistando um cara trazendo o meu cavalo até mim. Realmente

estamos em uma fazenda, muito bonita por sinal e que não conheço. —
ZEUS!! — grito, sem acreditar.

O animal fica enlouquecido ao me reconhecer, ergue as patas

dianteiras, relinchando alto, obrigando o seu condutor a largar as suas


rédeas e deixá-lo livre para correr até mim. Corro ao seu encontro também,

emocionada, o abraçando como se fosse o meu último instante de vida.

As lágrimas vêm arrebatadoras, em grande quantidade, um

sentimento inexplicável se apoderando de todo o meu corpo, ele sempre foi


como um filho para mim.

— Ai, não acredito que está aqui, não acredito!! — acaricio o pescoço
dele, beijo o seu focinho, ele bate os cascos no chão, demonstrando o
quanto estava com saudade. — Você voltou para a mamãe! Sim, voltou!

Sebastian se aproxima com um sorriso satisfatório no rosto, as mãos

nos bolsos da calça. É nítido o quanto está feliz com a minha felicidade.

— Obrigada — agradeço, não há outra palavra, não sei como


agradecer.
— Só tome cuidado para não se machucar, está grávida — observa,
preocupado.

— Zeus jamais me machucaria — conto, emocionada. Desde que

entrei no inferno, essa foi a primeira vez que me senti realmente feliz, que
sorri não apenas com a boca, mas também com a alma. Sentimentos bons
explodem por toda parte do meu corpo e se revelam através do pranto de
alegria.

Foi a coisa mais linda que Sebastian fez por mim até agora. Esse
homem é incrível. Uma lágrima escorre pela minha bochecha enquanto
abraço Zeus e olho para ele.
AURORA BELMONTE

É incrível como conseguimos nos conectar de forma tão forte com as


criaturas criadas por Deus. Zeus, ao longo da minha vida, se tornou um dos

meus escapes, uma forma de extravasar em momentos de dor, uma parte de

mim.

Agora, sobre as suas costas, sou agraciada com a incrível e conhecida

sensação do vento batendo no meu rosto enquanto o cavalo galopa suave,

bem devagar, já que não posso correr riscos com o início da gravidez.

É tanta felicidade que não cabe no meu peito, me sinto livre, os

pensamentos voltam a ser positivos, enquanto trotamos sinto que tudo é


possível, que essa fase ruim vai passar.

Damos a volta pela fazenda de forma leve, até retornarmos para o

ponto onde deixamos Sebastian. Ele ficou parado, me observando de longe,


assistindo o meu contentamento.

— Matou a saudade? — o homem se aproxima, satisfeito, sabendo

que ganhou muitos pontos comigo.

— Ainda não — desmonto, acariciando a crina de Zeus. — Vai

demorar, nunca passei tanto tempo longe do meu bebê — beijo-o de novo.

— Como conseguiu tirá-lo de Lancelot?

— Na verdade, ele não estava mais lá, tinham vendido, descobri

quando pedi ao meu advogado para comprá-lo.

— Você comprou o Zeus de volta pra mim? — fico em choque.

— Sim — assente.

— Por quê? — estou pasma.

— Porque sei que não está passando por um momento fácil, quero

que a gravidez ocorra da melhor forma possível e para isso você precisa

estar bem, feliz.

Respiro fundo, o admirando em uma grandiosidade inimaginável.

— Posso ser sincera? — indago, pronta para expressar os meus


sentimentos. — Nunca imaginei que Sebastian Vogel pudesse ser assim, que

dentro de você havia esse lado tão... perfeito — declaro.


— Não, Aurora, não sou perfeito, já sabemos muito bem disso.

Perfeita é você, aprendi a te admirar como mulher — declara.

Sem pensar duas vezes, permitindo-me guiar apenas pelos

sentimentos de agora, sigo até Sebastian e o abraço. Ele é pego de surpresa,

demora a me corresponder, pois não esperava por isso. Aos poucos, os seus

braços se erguem e me acolhem, uma mão acariciando a minha espinha e a

outra, a minha nuca, os dedos massageando os cabelos.

Proteção. É isso que sinto dele, um calor gostoso, uma energia boa

que tentou esconder de mim a todo custo, mas que agora não consegue

controlar.

— Obrigado — agradece, estico um sorriso ao ouvi-lo agradecendo

pelo meu toque. Fecho os olhos, apertando o seu torso enquanto ele me

abraça mais forte também, nossos corações batendo juntos, na mesma

frequência e sintonia. — Agora sim posso voltar para os Estados Unidos

feliz.

Afasto-me, o encarando, analisando tudo até aqui. O sol já está se

pondo, o amarelado colorindo o céu, uma visão paradisíaca ao nosso redor.

— Isso é uma despedida? — fico decepcionada.

— Sim, mas ainda temos algumas coisas pra conversar. Vamos voltar

para o seu apartamento? — convida, sério, não há mais risos, realmente


chegou ao fim.

— E o Zeus? — olho para o cavalo.

— Ele vai ficar aqui, será muito bem cuidado, irei te passar o contato

do pessoal da fazenda.

Assinto, desanimada, abraçando o meu cavalo outra vez.

No caminho de volta para casa, não conversamos, sentamos nas

extremidades do banco traseiro, afastados, cada qual em uma janela. Tento

me compreender, ler os meus sentimentos, essa efusão que transborda

dentro de mim. Era para ter raiva e rancor de Sebastian, mas ele conseguiu

mudar isso, me inseriu na sua escuridão e em certos pontos também fiquei

cega.

Ao chegarmos no prédio, Sebastian me espera tomar um banho para

podermos conversar. Visto um baby-doll preto, enrolo uma toalha no cabelo

e o encontro no sofá da sala, de pernas cruzadas, falando no celular,

conversando sobre negócios. Já não tenho mais receios de ficar vestida de

forma íntima na frente dele, me acostumei com a sua presença.

— Sim, tio, está tudo certo. A minha viagem está marcada para

amanhã — ele ergue a mão, me pedindo para esperar. — Conversaremos

sobre isso pessoalmente. Foi assinado, eu assinei, não há dúvidas. O

trabalho foi excelente, ao chegar, mostrarei os relatórios. Okay, tchau —


desliga, guardando o aparelho no bolso. — Sente aqui — dá tapinhas no

assento ao seu lado, atendo ao seu pedido.

— Olha, não precisa se preocupar, Sebastian... — começo a dizer,


mas sou interrompida.

— Já planejei tudo: vou te dar uma ajuda de custo todos os meses

para se manter. Deixarei o meu motorista à sua disposição para quando

precisar sair, ele alugará uma casa aqui perto. Outra coisa que venho

pensando há bastante tempo, mas que não disse antes porque ainda não

tínhamos essa intimidade, que tal esquecer essa história de haras até o bebê

nascer e trabalhar na Ciano? — propõe, acariciando a minha mão. É um

homem carinhoso.

— A sua empresa? — indago, ele assente. — Também já pensei

nisso.

— Já que quer ganhar o seu próprio dinheiro, consigo um cargo no

administrativo para você, algo leve para que não exerça esforço. Será aqui

mesmo em São Paulo, não vai precisar mudar de prédio, nem nada.

— Eu aceito, vai ser melhor assim. Você me ensinou a reduzir um

pouco o meu orgulho.

— Não se trata disso, se trata...


— Do bebê, preciso pensar nele antes de mim — completo,

correspondendo o seu toque, apertando os seus dedos nos meus.

— Exatamente — Sebastian sorri e acaricia o meu queixo, delicado,

amoroso. Mergulho no intenso azul dos seus olhos, as pupilas que tanto

capturam a minha atenção, que me fazem suspirar de encantamento. É uma

beleza natural, única. — Vai dar tudo certo, mesmo de longe, estarei perto.

— Não sabe quando voltará aqui? — Já estou criando esperanças.

— Ainda não, agora vou passar um tempo em Nova York e depois,

provavelmente, irei à Austrália. Sou eu que viajo o mundo e certifico de que

os negócios estão fluindo bem. Mas quero estar aqui quando chegar o

momento do parto, não achou que eu perderia isso, achou?

— Que bom que não — me sinto melhor assim.

Ele levanta, faço o mesmo, sentindo o meu coração acelerado,

percebendo que vai mesmo acabar aqui.

— Amanhã a minha secretária irá te ligar e marcar uma entrevista

para o primeiro encontro na empresa. Qualquer coisa que precisar, é só me

ligar ou enviar uma mensagem. Posso demorar a responder um pouco

devido a correria, mas sabe que sempre respondo.

— Sim, sei que sim — concordo.


O acompanho até a porta, ficamos frente a frente, procurando o que

dizer.

— Você... — A minha voz fraqueja, estou sensível, mas busco forças

para continuar a dizer — foi como um furacão, veio, me arrebatou, me tirou

tudo, mas no fim, deixou esperança de dias melhores — declaro, o

surpreendendo.

— Até qualquer dia, Aurora — são as suas últimas palavras, não


consigo corresponder.

Sebastian me dá as costas, seguindo para o elevador. Fecho a porta,


encostando-me nela, aflita, uma agonia açoitando o meu peito, fazendo

tremer as mãos. Olho para o alto, milhares de pensamentos explodindo na


mente. Não pode terminar assim, não pode findar aqui! Preciso tomar uma

atitude!!

Abro a porta em desespero, com um medo estrondoso de ter perdido a


oportunidade, mas ele ainda está lá, esperando o elevador abrir.

— Sebastian!! — grito, chamando a sua atenção, o seu semblante se


enchendo de esperanças. — Não se vá! — peço, nervosa, a ansiedade a mil,

criando incontáveis expectativas que temem ser quebradas, porque talvez


demorei demais para fazer este momento acontecer.
Talvez agora, ele me enxergue apenas como uma amiga de fato e
tenha desistido de nós dois. Sebastian não insistiu, não me pressionou e

muito menos se aproveitou da minha fragilidade e vulnerabilidade para


tentar me fazer sua. Foi franco, paciente e verdadeiro. Esperou a atitude vir

de quem deveria, eu! Essa decisão é minha, pois ele já havia declarado
todos os seus sentimentos quando me reencontrou.

Diante do desespero de não saber o que vai acontecer, o homem

caminha em minha direção, paciente, sem pressa, cada passo uma tortura.
Então, para na minha frente, querendo me decifrar de cima abaixo.

— Não se vá — sussurro, repetindo o pedido, intimidada com a sua


proximidade, fragilizada diante de tantas emoções, um misto delas me

dominando, incompreensíveis.

— Por quê? — pergunta, quer saber da minha boca, é importante para


ele ouvir isso de mim e o entendo.

— Porque estou apaixonada por você! — disparo, certa do que estou


falando. — Apaixonada e não quero que fique longe de mim.

— Eu estava louco para ouvir isso! — confessa, agarrando-me com

uma facilidade incrível, puxando-me para si, botando para fora um desejo
absurdo que estava preso há muito tempo, é como uma fera finalmente

libertada da sua jaula.


As nossas bocas se unem vorazes, com sofreguidão, os lábios se
misturando, a carne dele roçando na minha, violenta, o toque esfomeado e

intenso. Sebastian não me presenteia com um beijo, pelo contrário, impõe.


Está extravasando de tal maneira que é como se forçasse o toque, a sua

língua reivindicando a minha sem pudor, castigando por ter esperado tanto.

É paixão, desejo e loucura! Aceito esse seu “castigo”, a sua carne me

esmagando e consumindo, as mãos que se arrastam por meu corpo com


atitude até pressionarem as minhas nádegas simultaneamente e me

erguerem para o seu colo, um movimento rápido e certeiro, que me pega de


jeito, me faz gemer.

— Oooh!! — laço o seu quadril com as coxas, o correspondendo,

sentindo a sua pressão corporal me tomando, devorando. Ele lambe o meu


pescoço, arrepiando-me, entrando no apartamento e fechando a porta com o

pé. Fecho os olhos por um instante, buscando a sua boca, fundimos os


lábios em um novo beijo colossal, arrasto as unhas por seus ombros e

costas.

Seguimos para o meu quarto, batendo em alguns móveis pelo


caminho, desesperados para alcançar a cama, não enxergando

absolutamente nada ao nosso redor. Ele me põe com delicadeza no colchão,


provavelmente lembrando da minha gestação. Estou arfante, pois o meu ar

foi tomado, o perfume sugado, esse homem me tirou tudo!


Passo a mão nos cabelos ainda úmidos, notando que a minha toalha

caiu em algum lugar. Assisto Sebastian tirar a roupa com pressa, cada
músculo surgindo, um mais delicioso que o outro. Ele é atraente, sexy e

perfeito. Retiro a blusa um pouco antes dele avançar em mim,


completamente nu, o pau avantajado e majestoso meneando entre as coxas

grossas, me chamando, me querendo.

Sebastian me vira de bruços e puxa o meu short sem nenhuma


delicadeza, o jogando longe, rasga a minha calcinha sem dificuldade,

tarado, possessivo, arrastando a língua por minha bunda em seguida,


subindo pela lombar até morder o meu ombro.

— Aaaii... — mio, dengosa, seduzida. Recebo um tapa potente em


uma nádega que a faz ondular com o impacto, arrancando-me um grito.

Sebastian usa a mão livre para prender o meu pescoço e me forçar a

erguer o rosto, devorando novamente a minha boca, mordendo os meus


lábios, abafando os gemidos que dou quando bate na minha bunda outra

vez, a mão grande apalpando a minha pele, comprimindo a carne entre os


dedos, brincando comigo.

— Sempre fui louco por esse rabo gostoso que você tem e agora ele
será todo meu. Você será toda minha, Aurora! — decreta em meu ouvido,
fico alucinada, desnorteada com a luxúria desabando sobre mim.
O homem se deita às minhas costas e abre as minhas nádegas ao

meio, expondo a minha intimidade, que lateja, molhada, ansiosa por seu
toque. Ouço o seu nariz sugando o odor, um gemido de satisfação é emitido

em sequência e por fim me arrebata com uma boa lambida.

A língua saliente e habilidosa escorrega desde a minha fenda,

rastejando entre os grandes lábios até o meu ânus, girando na entrada sem
freio algum, disposta a tudo, me tirando o chão!

— Deus... — gemo em sufoco, puxando o lençol, acochando-o entre

os dedos, perfurando com as unhas.

Sebastian afunda em minha intimidade, indo e vindo na boceta,

subindo e descendo, cada movimento mais ferino que o outro, lambuzando


o centro, mordendo as laterais, a parte inferior das coxas, beijando entre

rosnados de volúpia, descobrindo pontos erógenos que nem eu mesma


conhecia.

Me sinto queimar, uma energia afrodisíaca desgovernada

reverberando por minha pele, parece até um sonho incendiário, mas ele
prova a cada segundo que é a mais pura realidade. Tentadora. Extasiante.

Impressionante! Se satisfazendo em deleite porque gosta de me chupar!

Não consigo controlar e arrebito o quadril, sentindo o seu queixo

enterrado na minha bunda, a língua penetrando o meu orifício anal,


chicoteando e dominando, mostrando a que veio, não deixando dúvidas de
que sou dele, que vai fazer comigo o que bem entender.

Então o orgasmo vem, poderoso, arrebatador. Estremeço de dentro

para fora, os músculos espasmando. Sou virada, deixada de frente, o


homem voraz se posiciona entre as minhas pernas e continua me chupando,

absorvendo o clitóris, massageando-o entre os lábios ao mesmo tempo em


que pressiona os meus seios com as mãos.

Aperto o seu rosto entre as coxas e puxo os seus cabelos, gritando,


erguendo as costas, jogando a cabeça para trás, de olhos fechados, sabendo

que ele vai me destruir. Arrasto os calcanhares por suas costas quando me
faz gozar outra vez, na sua boca, o suco molhando a sua língua.

Divino.

Fico toda molinha, sem forças, derretendo na cama. Sebastian


deposita beijinhos carinhosos sobre o meu monte de Vênus depilado,

passando pelo umbigo, acariciando-me até os mamilos, onde mama com


vontade, prendendo os meus pulsos sobre a cabeça e forçando o pênis

enrijecido contra o meu clitóris, esfregando, criando uma fricção. Gosta de


me provocar ao máximo.

Ele puxa a minha coxa esquerda até o limite, abrindo-me ao limite e

com um movimento hábil do quadril, me penetra, afundando a sua longa


extensão dentro de mim. Até o fim.

— Hmmm... caralho... que boceta gostosa é essa? — ruge, rouco,

animal. — Como desejei este momento — confessa, beijando-me,


chupando o lóbulo da minha orelha.

Assim, inicia os movimentos, arremetendo em meu corpo. Forte.

Bruto. Gostoso. Meus seios são esmagados contra o seu peitoral, minhas
pernas cercam a sua cintura, grito em lascívia ao sentir o seu pau

escorregando para fora da minha boceta e depois voltando com tudo, um


golpe forte que se repete sem parar.

Para aumentar a nossa perdição, Sebastian rebola, experiente, roçando


os nossos sexos, criando faíscas que logo se tornam chamas, que nos

queimam e deterioram. É incrível como a nossa química é explosiva, como


nos conectamos de um jeito surreal. Libero grunhidos, ele captura todos, os

olhos cravados nos meus, contemplando o meu prazer.

— Diga o meu nome! — exige, enfurecido, estocando mais forte, sem


dó nem piedade.

— Sebastian! — gemo, arranhando as suas costas, marcando a sua

pele, completamente fora de mim, tragada pelo tesão! — Sebastian!!! — a


voz enfraquecida, envolvida nessa dança sensual que fazemos.
Sou beijada com profundidade, as línguas se envolvendo, sorvendo o
gosto uma da outra, brigando para dominar e não ser dominado. Então

Sebastian muda de posição, me jogando para cima, fico sentada sobre o seu
corpo esculpido, nos encaixamos perfeitamente bem.

— Mostre-me o que sabe fazer! — ordena, estapeando a minha


bunda, tornando a pele vermelha, o som estalando no ar.

Sem pensar duas vezes, espalmo as mãos no seu peitoral e começo a

rebolar, girando a cintura, ondulando o busto, de lábios entreabertos,


esfregando a bunda na sua pelve, preenchida, sentindo-o fundo e grosso em
meu interior, abrindo espaço, fazendo parte de mim.

A sensação é indescritível, uma vontade de querer sempre mais e


querer que não tenha fim. Ele me segura pelas coxas e me instiga a subir e

descer, quicando, fazendo barulho, o som pornográfico aguçando os nossos


sentidos.

Cavalgo-o com intensidade, sentando com força, engolindo e


apertando o seu pau, as suas bolas batendo no fundo. Olho Sebastian nos
olhos enquanto gememos enlouquecidos. Vê-lo sentir prazer é uma cena

épica, fora de série! O homem morde o lábio inferior, embevecido,


vibrando, rosnando como um selvagem.
Percebo que está quase lá e acelero os movimentos, ignorando as
dores, dando lugar apenas ao prazer, uma vontade imensa de satisfazê-lo. A

nossa união é molhada e escorregadia. Entramos na mesma frequência,


explodo de novo e ele vem junto comigo.

Sebastian ergue o rosto, quase quebrando o meu quadril ao meio com


as mãos, esticando as pernas, dobrando os pés, disparando os jatos violentos
dentro de mim. Recebo tudo em combustão, pegando fogo, olhando para o

alto também, bagunçando os cabelos, apertando os seios.

Imbatível.

Por um instante esqueço de tudo, sem saber até quem sou, mas
retorno para a realidade ao deitar sobre ele, grudando os nossos rostos, as

bocas que trocam respirações descompassadas, provando o quanto estamos


vulneráveis, suscetíveis um ao outro. Precisávamos disso, demoramos
demais.
SEBASTIAN VOGEL

O que pode interferir em uma vingança? O amor, a rejeição dele, o


medo e a loucura de perdê-lo. Foi assim que Aurora Belmonte se apropriou

do meu maldito coração, lembrando-me de que ele existia, de que ainda


batia no meu velho peito.

Anos atrás, quando fui acolhido pelo meu tio, após sair daquele

inferno de internato, ele olhou-me e disse: “Tão jovem e já surrado pela

vida”. Sim, a vida me espancou, mostrou a dor em cada sentido da palavra e

implantou dentro de mim o mais poderoso desejo de vingança.

Mas Harry decretou que um dia me deixaria voltar para o Brasil para

me vingar, porém, antes faria de mim um homem, e fez. Foram anos


estudando, recuperando o tempo perdido, me formando e especializando em

Administração, em Direito Empresarial, conhecendo a Ciano, sabendo

como funcionava cada setor.


O meu tio me preparou para um dia substituí-lo, me tornou o seu

pupilo, fez de mim o seu instrumento como forma de revidar uma traição

sofrida no passado por meu pai, o seu irmão. A vingança não seria apenas

minha, mas também dele.

O ódio que adquiri durante trezentos e sessenta e cinco dias naquele

internato, foi lapidado para me tornar um homem frio, moldado para ser

capaz de suportar a dor, focado, decisivo e determinado em tudo o que eu

queria.

Conheci o poder de nunca receber um “não”, de como conquistar

sempre um “sim” e me tornei esse monstro que hoje sou.

Quando o momento finalmente chegou, retornei para Campinas com

um objetivo concreto: acabar com todos os planos da minha família,

destruí-los, me vingar. Sabia de tudo o que iria acontecer naquele haras, que

o foco era o casamento, mas jamais esperava me encantar por Aurora.

Ela nunca esteve nos meus planos malignos, pensava em agir de outra

forma, de interferir principalmente nos negócios dos Vogel com os

Belmonte que por tantos anos investiguei, mas a atração pela noiva do meu

irmão foi bem mais forte.

No início quis fazer com que a história se repetisse, fazer Alec sentir

a mesma dor da traição que ele me causou no passado, mas Aurora não era
outra Juliana. Na verdade, ela não era qualquer outra que já tivesse passado

por minha vida. Era única, incrível, afrontosa, língua afiada, determinada e

inteligente.

Me atingiu como um meteoro que me atravessou de forma inesperada,

foi capaz de resistir às minhas investidas mesmo estando atraída, respeitou

o compromisso com o meu irmão e o sentimento que tinha por ele, mesmo

gostando de estar comigo. Ganhou o meu ódio misturado com respeito.

E quando a vi partir, sabia que estava levando um pedaço do meu

coração sangrento consigo. Eu sabia que precisava tomar uma atitude rápida

e irreversível, tanto sobre ela quanto sobre a minha vingança. Não imaginei

que seria tão forte assim, mas quando entrei naquele quarto, esqueci de tudo

e apenas me entreguei.

Expurguei todo o desejo, a raiva e o tesão que sentia por ela. A

corrompi, a lancei na minha escuridão, escolhi por mim, por nós. Usufrui

do seu corpo entendendo a cada segundo que Aurora fora feita para mim,

que a queria para todo o sempre assim e que não suportaria perdê-la.

Juro que esqueci de Alec, esqueci do mundo, só queria senti-la o mais

profundo possível e senti. Mas o seu sofrimento em seguida me esmurrou,

ao mesmo tempo que ver o meu irmão sofrer, me regozijou.


Me chamem do que quiser, um maldito desgraçado, psicopata, louco,

fodido da mente, impulsivo, animal, mas agora, observando a negra

escultural deitada nua sobre mim, se refastelando em meus braços, posso


reafirmar com toda a certeza, que não me arrependo.

Como posso me arrepender de tê-la aqui comigo? Foi tão difícil,

acreditei que não conseguiria, que ela me deixaria ir, que o meu castigo era

a sua ausência, mas de alguma forma insana, diante de toda a merda feita,

consegui tocar os seus sentimentos.

Não pensem que eu acho que sou o melhor homem para ela, mas

tenho certeza absoluta que ela é a melhor e única mulher para mim.

Fecho os olhos e absorvo o seu perfume, acariciando os seus cabelos

macios, ondulados, negros com algumas mechas castanhas, a coisa mais

linda do mundo.

— No que está pensado? — Aurora pergunta, sussurrando, a voz

dengosa que tanto me excita.

— Estou aprendendo — respondo, a voz grave quase primitiva.

— Aprendendo?

— A amar uma mulher — deslizo os dedos por sua face, levando uma

mecha para trás da sua orelha.


Aurora ergue o rosto para mim e sorri, apaixonada, um sorriso que

tanto lutei para conquistar.

— Não amou Juliana? — não esperava por essa pergunta.

— Hoje sei que não foi amor, mas uma ilusão adolescente —

confesso, mergulhando em seus lindos olhos cor de mel. Ela tem um rosto

perfeito, lábios carnudos e bem desenhados, nariz pequeno, queixo

delicado, sobrancelhas fortes e marcantes, cílios enormes, exuberantes. Um

deslumbre de mulher, uma mistura de inocência com pecado, uma rosa com

espinhos. A força da natureza.

— E o que sente por mim? — ergue o queixo, impetuosa, sempre com


perguntas capciosas, um leve tom de desafio. Gosto de ser desafiado.

— Amor... — mordisco o seu lábio, puxando-o para mim enquanto a

encaro. — Obsessão — resvalo a mão por suas costas e aperto a sua bunda,

acumulando a sua carne morena entre os dedos.

Aurora tem um rabo de impressionar, saltado por natureza, os seios

fartos pressionados contra o meu peitoral também me excitam. Ela é uma


mulher voluptuosa, cintura fina e quadril largo, as coxas torneadas, uma

devassidão. Tê-la sobre mim, cobrindo o meu corpo, sabendo que eu sou eu

de fato, sem dúvida alguma e por querer, é uma dádiva.


— Você me ama? — lambe a minha bochecha, feito uma gata

maliciosa, montada sobre mim, acordando o meu pau abaixo do seu ventre.

— Amo — confesso, fechando os olhos com deleite, recebendo o seu

carinho erótico, pressionando a sua nádega mais forte.

— É obcecado por mim? — lambe o outro lado da minha face,

provocativa, envolvida nessa energia sexual tanto quanto eu.

— Desde o primeiro instante em que a vi — declaro em seu ouvido,

fascinado, lambendo o seu pescoço em seguida. Aurora geme, esfregando a

boceta no meu mastro, deliciosa, escorregadia.

— Prometa que nunca mais irá me magoar — pede, enlouquecendo-

me, a luxúria me invadindo desgovernada. Abraço-a, prendendo-a entre os

meus braços fortes, pressionando-a contra mim.

— Eu prometo — respondo, sabendo que posso muito bem não

conseguir, mordendo o seu busto, com um desejo imensurável de possuí-la.

— Olhe nos meus olhos — ela puxa o meu rosto, quer a verdade.

— Eu prometo nunca mais te magoar, prometo te fazer feliz — nunca

falei tão sério em minha vida, porém, conhecendo-me como conheço,

confrontando esse meu eu apaixonado com o antigo Sebastian, temo não

conseguir.
Aurora sorri, contente e então me beija, se entregando, libertando-se,

dando-se a mim com todas as forças. Nossos lábios se envolvem e se

conjugam com lascívia, fazem sexo, as línguas se enroscando, chupando,

uma imoralidade incrível, viciante e que me deixa doido. Não tem outra

igual.

— Isso quer dizer que ficará comigo? — preciso ter certeza. — Que

irá comigo para os Estados Unidos?

— Sim — assente, moendo meu pau com a vagina ensopada,

esfregando com força, me fazendo gemer e gemendo também.

— Não vai se arrepender, farei tudo o que quiser, é só me pedir —

declaro, entre beijos molhados, com as expectativas nas alturas.

— Bata na minha bunda — pede, me surpreendendo, trocamos um


olhar fatal.

— Você gosta? — mordo o seu queixo.

— Bata — implora, manhosa, submissa e dominadora ao mesmo

tempo. Uma deusa! Faço o que ela quer e acerto o seu rabo com um tapa
forte, o som estala no ar. — Aaai... Sebastian! — vai me deixar louco com o

seu gemido gostoso. Bato outra vez, aumentando a potência, ela grunhe de
forma prolongada, arqueando o corpo, erguendo o rosto.
Puxo-a pelo cabelo e a faço me beijar, dominador, conduzindo-a.
Afasto os lábios dos seus por um instante, chupo o meu dedo do meio e

volto a beijá-la enquanto o enfio no seu cuzinho apertado, a fazendo vibrar


e rosnar, sentindo.

— Em breve o seu cu será meu, Aurora. Irei foder tão gostoso que

você vai gozar e pedir para repetir — digo, entre beijos.

— Só se eu quiser — ela me desafia, fazendo-me sorrir, não havia

resposta melhor. Penetro o dedo mais fundo, abrindo espaço em suas


entranhas apertadas, que se contraem numa tentativa inútil de me repelir.

— Em breve, mas ainda não. Agora sente na minha cara — ordeno.

— O quê? — está tão absorta na volúpia que não compreende.

— Eu disse para sentar com a boceta na minha cara — repito,

recebendo o seu olhar nervoso, porém curioso, cheio de vontade.

Não a espero, prendo a sua cintura e a ergo, puxando-a para cima.


Aurora se apoia nos pés, flexionando as coxas, agachando o rabo cheiroso

sobre o meu rosto. Apoio-a com as mãos, abrindo as suas nádegas e


voltando a enfiar o dedo no seu orifício, arrancando-lhe um miado extenso.

Ponho a língua para fora e a arrasto sobre a boceta que é a mais


perfeita que já vi, protuberante, bem-dotada de carne depilada e docinha,

um doce misturado com salgado, ardente, que me queima e me faz querer


sempre mais. Enfio-me entre os lábios vaginais voluptuosos, escorregando
na fenda, atiçando o clitóris.

Beijo de forma hábil, como se estivesse beijando a sua boca,


possessivo, hipnotizado, ao mesmo tempo em que estoco o dedo em seu cu,

causando-lhe diversas sensações.

Aurora perde o controle, segurando na cabeceira da cama para não


perder o equilíbrio, rebolando o quadril devagar no instante em que afundo

em sua entrada, criando movimentos frenéticos lá dentro. Ela geme cada


vez mais alto, arrastando a boceta na minha cara literalmente, me obrigando

a sugar o clitóris.

Sugo-o com afinco, obcecado, sem frescura, louco por cada parte do

corpo dessa mulher. Uso a mão livre para acertar um tapa na sua bunda e
isso é o suficiente para ela vibrar, gritar e gozar. Abro a boca ao limite,

grudando o máximo possível na sua intimidade, chupando, absorvendo,


bebendo o suco que derrama.

Inigualável. Quero fazer isso todos os dias.

Aurora pende para trás, revirando os olhos, arrebatada pela magia do


orgasmo avassalador que lhe proporcionei. Finalizo com lambidas salientes,

com os olhos cravados no seu rosto se derretendo em prazer, a vagina


espasmando na minha frente, toda babada. Uma perdição.
Retiro-a de cima de mim com cuidado, pois está quase desfalecida,

buscando ar, e a deito ao meu lado, ficamos de conchinha, nossos corpos se


encaixando perfeitamente. Seguro o pau e o guio até a sua boceta

lambuzada, a penetrando forte, até o fim.

— Hmmm... — rosno, fechando as pálpebras ao sentir o nosso


contato maravilhoso.

Prendo Aurora entre os meus braços e acelero as estocadas, fazendo o


quadril trabalhar a todo vapor, indo e vindo, socando fundo dentro dela,

pele com pele, carne com carne. Intenso. Fogoso. Incansável.

Mordo o seu ombro, chupo a sua orelha, esmago os seus seios com a
mão, espremendo os bicos entre os dedos, judiando dela, consumindo-a por

inteira, insaciável. Aurora me causa um desejo absurdo, fora do normal.

— Estou viciado em você... — gemo. — Viciado na sua boceta!

— Aaai... gostoso — balbucia, dominada, derretida.

Resvalo os dedos para o seu clitóris, ela separa as coxas, me dando


passagem. Esfrego os lábios molhados, faço movimentos circulares na

vulva, dou tapinhas, belisco, brinco.

Fodo-a com mais potência, criando um barulho capaz de ser ouvido


até fora do apartamento, os nossos sexos se chocando com violência

simultaneamente à masturbação que faço nela. Nos entorpecemos, gritamos


juntos, Aurora aperta o meu pau nas suas entranhas, puxando, querendo

ainda mais fundo.

Quando não conseguimos mais suportar tanta luxúria, explodimos em

um novo orgasmo, dessa vez juntos, ao mesmo tempo. Soco o pau na sua
bocetinha pela última vez, o mais profundo possível, duro, longo,

ejaculando poderosamente, deixando essa energia fluir selvagem e


arrasadora.

Quase sem ar, crio forças para virar a mulher mais linda do mundo,

montá-la, apoiando-me nos joelhos, sem despejar o meu peso em seu corpo.
Masturbo-me em sua frente até gozar de novo, derramando a minha

semente no vão dos seus seios e também na sua boca sensual.

Fecho os olhos com força, gemendo de forma prolongada, é uma

visão do paraíso ver o meu esperma escorrendo pela face dela.

Após Aurora decidir que vai comigo, adio a nossa viagem por mais

um dia para que ela possa se preparar. Convido-a para ir ao shopping para
fazer algumas compras, principalmente roupas e utensílios que vai precisar.

De mãos dadas, passeamos pelos corredores repletos de lojas feito


dois namorados. Encanto-me ao observá-la feliz, escolhendo o que quer
comprar. Sinto que ainda tem certas barreiras em relação a mim, mas com
paciência e diálogo, acredito que irei vencer todas elas.

Aurora me fez enxergar o mal que fiz, o quanto foi insano passar por

cima do sentimento que eu tinha por ela para conseguir o que queria,
mesmo assim, repito, não me arrependo. Se eu não tivesse feito tudo o que

fiz, nós não estaríamos aqui agora. Juntos.

Uma coisa é certa: vê-la sorrir é bem melhor do que assisti-la chorar.

Enquanto a espero sair de uma boutique, noto uma loja infantil, cheia

de produtos para bebês. Sem saber o porquê, me aproximo da vidraça,


observando as roupinhas coloridas, os berços, os brinquedinhos. Como a

vida é imprevisível, quem diria que uma pedra de gelo como eu estaria se
encantando com a ideia de ser pai?

Pode ser loucura, mas realmente acredito que Aurora é o meu destino
e talvez essa gravidez também. Acho que jamais vou mudar e deixar de ser

sombrio, aprendi a ser assim à duras penas, mas um pouco da luz que ela
irradia perto de mim me faz bem. Me traz novas expectativas de vida.

— O que está olhando? — ela se aproxima, enlaçando o meu braço.

— Quer comprar alguma coisa para o bebê?

— Acho que ainda não é o momento. Faremos isso em Nova York,

estava apenas olhando e imaginando coisas.


— Boas ou ruins?

— Boas — confesso, tocando o seu queixo e a beijando.

Saímos do shopping abarrotados de sacolas, dormimos no meu

apartamento e na manhã seguinte seguimos ao encontro do jatinho


particular à nossa espera no aeroporto. Subo os primeiros degraus, mas não

entro na aeronave, espero por Aurora, que olha para o nada, reflexiva,
perdida em milhares de devaneios.

Desço até ela, abraçando-a pelas costas, cheirando o seu pescoço.

— Está tudo bem por aqui? — indago.

— Sim, está, eu só...

— Está com dúvidas? — esse pensamento gela o meu estômago.

— São tantas coisas deixadas para trás, só estava, de alguma forma,


me despedindo — confessa, cabisbaixa. Sei que não é fácil para ela, mas é
tudo para mim. Viro-a, fazendo-a me encarar frente a frente, até tristonha, é

perfeita.

— Tem certeza que quer ir? — faço a pergunta do milhão.

Só quero que ela entre no avião se tiver total certeza disso.


AURORA BELMONTE

Um novo ciclo. Encarar uma nova realidade totalmente inesperada

daquela que por muito tempo passei planejando, é, no mínimo, assustador.


Imersa nos olhos azuis intensos de Sebastian, que me contemplam

profundamente, sei que ele está esperando uma resposta e tem medo que
seja uma que não quer escutar.

— Estou com medo, mas tenho certeza, sim — acaricio o seu rosto,

ele suspira aliviado, fazendo-me sorrir. — Não há mais nada que me


interesse aqui. Tudo aquilo que um dia amei, se perdeu.

— Está se referindo a ele? — fala do Alec.

— Também. Sei que é chato lembrar dele, mas fez parte da minha

vida, de outros planos e outros sonhos que se perderam — abaixo o olhar


por um instante, o meu peito dói ao recordar.

Sebastian acaricia o meu rosto, beijando a minha testa, tão protetor.

— Não vou reclamar se lembrar, muito menos exigir isso. Antes de

esquecer é preciso saber do que está se esquecendo, porque esquecer é uma

escolha. Tudo aconteceu muito rápido e você ainda está em um processo —

declara, beijando a minha bochecha, fecho os olhos, sentindo o toque do


qual tanto gosto. — Juro que te farei esquecer tudo o que houve de ruim,

caso prefira não se lembrar mais.

— Shhh — coloco o indicador nos seus lábios, pedindo silêncio. —


Não fale mais disso, por favor. A partir do momento que entrarmos nesse

avião, será um recomeço. Eu te perdoei, sim, mas perdoar não significa

esquecer — pontuo, Sebastian entende.

— Tudo bem, então. Vamos começar do zero — garante e me beija,

devorando os meus lábios, um toque prolongado e gostoso. — Venha

comigo — oferece a mão, que aceito, o nosso toque se fazendo com

segurança, os dedos se entrelaçando, demonstrando uma união sólida,

inquebrável e decisiva.

É um convite para uma nova vida, um novo futuro que jamais

imaginei e que ainda nem tivemos tempo o suficiente para planejar, já que

tomei a decisão de vir com ele no último instante.


Sebastian me guia até o jatinho, subimos as escadas e entramos. Tudo

por dentro é luxuoso, em tom creme. Sentamos lado a lado nas poltronas,

fico ao lado da janela, ainda de palmas dadas com ele. O seu segurança está

logo atrás, em uma poltrona um pouco mais afastada. A aeronave começa a

se mover, tomar velocidade até alçar voo.

O céu está lindo, nuvens irradiando o branco em meio ao azul.

— E o Zeus? — pergunto, com a imagem do meu corcel na cabeça.

— Chegará na semana que vem, o meu tio tem uma fazenda, é lá que

iremos deixá-lo — informa, em seguida chama a aeromoça com a mão. —

Água com gás, por favor. Você quer? — olha para mim, assinto.

— Sim, mas sem gás — digo.

— Okay — a moça uniformizada confirma e se afasta, voltando

depois com os nossos pedidos, colocando sobre a mesinha à nossa frente,


assim como duas taças.

— Nós não tivemos tempo para conversar sobre o seu tio — comento.

— Pelo que entendi, ele é como um pai para você.

— Um pai rígido, mas ainda assim, melhor do que aquele que me deu

a vida — Sebastian abre a garrafa e despeja a água na taça.

— Ele sabe o que você sofreu enquanto estava no internato? — fico

curiosa, bebendo um pouco da minha água no gargalo da garrafa mesmo.


— Sabe de tudo, me ajudou inclusive a dar um fim naquele lugar —

seu olhar se perde no nada, recordando.

— Um fim como? — isso me chama a atenção, tenho um

pressentimento ruim.

— Disso você não precisa saber — pousa a sua outra mão sobre a

minha, quase esqueci que Sebastian ainda é um homem de segredos.

Respiro fundo, nós começamos o relacionamento agora, ele não vai se abrir
cem por cento para mim, não na velocidade que preciso, tudo o que já me

contou da sua vida até aqui foi revelado aos poucos.

— Ele sabia da sua vingança? — insisto, indo por outra ponta,

comendo pelas beiradas.

— Sim, me apoiou desde o princípio, me preparou para isso —

revela, sem conseguir me fitar. Fico chocada.

— Por quê? — formo um vinco na testa, apertando a sua mão com

força, esse assunto é tão sombrio.

— Vamos deixar esses assuntos para lá — massageia os meus dedos.

— Nós acabamos de prometer recomeçar, não foi?

Suspiro, insatisfeita, mas fui eu quem exigiu isso dele.

— Prometemos — concordo. Ele puxa o meu rosto, fazendo-me

deitar sobre o seu ombro.


— Uma família que é podre desde as raízes da sua árvore genealógica

não tem como dar bons frutos. Todos somos errados, todos erraram em

algum momento da vida e marcaram uns aos outros, feridas incuráveis —

roça o seu rosto na minha cabeça, me dando afago enquanto filosofa sobre o

seu passado.

— Não existe uma ferida que não possa ser curada, Sebastian —

argumento, deslizando a mão por seu peito, sentindo o seu perfume, o bater

do seu coração. — Não quero que entre nós haja feridas, muito menos

cicatrizes.

— Pela primeira vez encontrei alguém que cuida das minhas: você,

mesmo sem perceber — se declara, me emocionando. — Isso é a prova de

que tem razão. Talvez, em algum momento, eu precise da sua ajuda para

curar todas, por isso peço que seja forte.

— Está me assustando — sussurro.

— Não é para se assustar. Só quero que fique sempre comigo, mesmo

que em meio a tormentas — ele está muito misterioso, jogando pistas que

não consigo decifrar.

— Nós ainda passaremos por mais tormentas? — indago, temendo a

resposta.
— Todo casal está sujeito a isso, mas espero que não — afirma, sinto

um frio na barriga. Nos abraçamos mais forte, acabo dormindo em seus

braços.

O voo de São Paulo a Nova York é longo, quase dez horas de viagem,

chegamos ao pôr do sol. Dois carros negros nos aguardam no aeroporto, um

com dois seguranças e o outro com um novo motorista, todos

uniformizados com terno básico.

Somos conduzidos ao condado de Staten Island, seguindo o trajeto

pelo Brooklyn para ter acesso à ponte Verrazano-Narrows. Durante o

percurso, mato um pouco da saudade que estava dessa cidade, com um

sorriso bobo desenhado no meu rosto ao assistir os arranha-céus passando

pela janela.

Quando entramos na gigantesca ponte suspensa, suspiro encantada, é

sempre bom viajar, arejar os pensamentos, conhecer novos lugares.

— Sabe falar inglês fluente, não é? — Sebastian me provoca,

erguendo a sobrancelha. — Senão terá dificuldades para se comunicar com

o velho Harry.

— Claro que sei, seu bobo — toco o queixo dele, me apaixonando

pela barba rala, traz mais um ar de virilidade, mas também gosto sem ela.

— Então, mora com o seu tio? — puxo assunto.


— Sim — ele me puxa para mais perto de si, está com o braço

enlaçado na minha cintura. Gosta de contato.

— Pensei que homens tão ricos e poderosos como vocês morariam

em Manhattan, que é o centro de tudo, mas jamais em Staten Island. Eu já

vim à Nova York algumas vezes, mas nunca a Staten, será uma novidade

para mim.

— Temos apartamentos em Manhattan, morávamos lá, porém, há


cinco anos, o meu tio se cansou do movimento infinito da Big Apple — diz

o apelido de N.Y. — Então decidiu continuar por aqui, porém, em uma


região mais calma, foi então que compramos uma casa na “ilha esquecida”

— faz aspas com os dedos.

— É assim que Staten é chamada? — sorrio, achando engraçado.

— Sim, porque todos que vêm de fora, ou até mesmo a mídia, nunca

lembram desse distrito, foi sempre o esquecido entre os cinco porque é o


menos badalado, o menos comentado, o mais isolado e residencial.

— Não sentiu falta de morar no coração de Nova York quando se


mudou para tão longe? Porque me pergunto: qual a graça de morar aqui se

fica tão distante de tudo que mais interessa?

— Claro que senti, principalmente por conta do trabalho, que fica em


Manhattan, aqui é o único distrito que não se conecta diretamente com ele.
Mas não quis deixar titio sozinho, nem podia. Nós criamos um vínculo.
Com o tempo, fomos nos acostumando, Staten também tem o seu charme,

grandes áreas verdes, praias — cita.

— Hmmm, então já gostei — fico animada.

— Além disso, temos um helicóptero para usar quando precisamos

sair rápido para casos mais urgentes.

— Nossa! — me impressiono.

— Titio investiu bastante, conseguiu uma propriedade grande e

confortável. Acho que você vai gostar.

— Também acho que sim. Acha que ele vai gostar de mim?

Sebastian respira fundo e me fita com uma certa apreensão. Cobre a

minha mão com a sua e diz:

— É impossível não gostar de você, da sua autenticidade, mas se por

um acaso ocorrer o contrário, ele terá que gostar, pois foi a minha escolhida
— as suas palavras me deixam insegura.

Emudeço, analisando toda a situação e o temor do homem à minha

frente, recordando do que disse quando entramos no avião.

— Harry sabe quem sou eu? — é uma pergunta chave.


Sebastian vira o rosto, mirando a janela, ainda seguimos pela ponte.
Em um movimento quase inóspito, ele assente, sem falar nada. Rijo.

— Então ele sabe como começou a nossa história? — fico


preocupada. O homem fecha os olhos por um instante e assente de novo,

desagradado. Suspiro, prevendo que é bem provável que teremos


problemas. — Então talvez não será tão fácil assim esquecer. — Concluo,

desanimada.

— Nós mantínhamos contato enquanto eu estava no haras, mas


quando passei a gostar de você, deixei de contar tudo. Mas não se preocupe,

não te trouxe até aqui para desistir. Foi o meu tio quem me ensinou a ferro e
fogo a lutar por tudo aquilo que eu desejava, a não desistir nunca e insistir

bastante. Foi pela minha persistência que estamos juntos e assim


continuaremos — garante, tocando o meu queixo, olhando-me com

determinação.

— Bem, se era por isso que estava me pedindo para ser forte, também

não se preocupe. Depois de tudo o que vivemos nos últimos meses, sei que
me tornei mais forte do que um dia já fui. A única coisa que vou cobrar de
você é que não solte a minha mão, porque estou determinada a não soltar a

sua. Se tem uma coisa que aprendi dessa experiência que tivemos é que se
não estivermos juntos nas dificuldades, não conseguiremos resistir a nada!
“Pode não parecer, Sebastian, mas deixei muita coisa para trás para

vir com você, o meu orgulho, as minhas convicções, certos princípios e


diversos sonhos. Eu poderia ter ficado em São Paulo e corrido atrás dos

meus pais para exigir os meus direitos de filha. Nada estava dando certo
naquele momento, mas não significa que não iria dar em outro. Jamais

pense que por estar comigo agora, pode fazer o que quiser. Caso solte a
minha mão, eu vou embora sem pensar duas vezes. — Decreto”

Deixo tudo bem claro, o homem fica impressionado, observando-me

por longos segundos até assentir e responder:

— Tudo bem — aperta a minha mão com força. — Não vou te soltar

— promete, acredito nas suas palavras.

Finalmente saímos da ponte e chegamos ao distrito de Staten Island, a


primeira impressão que tenho é de ser uma típica cidade do interior,

tranquila, histórica, longe do trânsito infernal das grandes metrópoles, com


transporte público de qualidade e aquelas residências de subúrbio com uma

cesta de basquete e a bandeira americana na entrada, como nos filmes


clichês da Sessão da Tarde, exceto a casa de Sebastian.

A propriedade é toda murada, com seguranças no portão e muitos


metros de gramado até chegar à mansão de três andares em tons escuros.
Comparada com as demais residências do condado é a mais luxuosa,
escondida e com certeza a mais protegida, já que todas as outras que vi

sequer possuem muros ou cercas. Presumo que aqui seja assim por conta do
anfitrião, que é alguém muito poderoso.

É exatamente isso, a mansão exala poder e escuridão, apesar da bela


decoração e do jardim bem tratado, é um local que passa a impressão de não

haver felicidade. Muito diferente de Lancelot, por exemplo, que era o


contrário, parecia um local feliz, mas por trás da fachada, um ninho de

cobras.

O motorista estaciona o carro, desce e abre a porta para Sebastian,


que continua de palmas dadas comigo, está disposto a não me soltar.

Respiro fundo, contemplando a casa de três andares e me pergunto para que


tanto espaço, já que, até onde sei, aqui vivem somente duas pessoas.

— É lindo e... sombrio — comento, chamando a atenção de


Sebastian.

— É, é exatamente isso — concorda, tão frio como quando o conheci,

como se recuperasse a austeridade de antes, que lhe é de costume.

Subimos os degraus até as portas de entrada, que são abertas por uma

empregada uniformizada. Sebastian a cumprimenta, eu também, momento


em que ela esbugalha os olhos ao me ver, não conseguindo disfarçar a

surpresa da minha mão presa na do homem.


— Que bom... que voltou, patrão — faz uma reverência, como se
Sebastian fosse um rei. Bem, pelo menos porte ele tem.

— Obrigado, Abigail — diz, enquanto retira o seu sobretudo.

Também retiro o meu, Abigail pede licença para colocá-los no mancebo que
está em um canto.

A decoração interna é toda em tons escuros, austera, melancólica, a


maior parte das janelas fechadas. Lembra um pouco o quarto do

apartamento de Sebastian em São Paulo, onde acordei após ser resgatada


por ele da rua, já que o mármore também é negro. Pelo visto, ele e o tio

adoram essa coisa sombria. Eu odiei.

— Onde está o meu tio? — Sebastian pergunta à mulher.

— Está...

— Estou aqui! — uma voz rouca e áspera chama a nossa atenção, um

senhor na casa dos oitenta anos, de cabelos grisalhos e traje social preto, se
aproxima devagar com uma bengala que lhe dá apoio na perna manca.

Ele me vê antes de chegar perto, noto as velhas rugas do seu rosto


cansado e mal-encarado se amontoarem ao cerrar os olhos para me

visualizar melhor, porém, logo devolve a sua atenção para Sebastian, que se
aproxima dele e beija a sua mão, fazendo uma reverência discreta em sinal

de respeito.
— Finalmente voltou — diz em inglês. — Que bom, já estava
passando da hora.

— Voltei, tio, e trouxe alguém comigo — Sebastian o responde na


mesma língua, me chamando com a mão.

Engulo em seco e me aproximo, deixando-o me tocar e, sem saber,

me dar coragem. O velho me fita de cima a baixo, com cara de poucos


amigos, chega a intimidar.

— Quem é? — indaga, seco.

— Esta é Aurora Belmonte, a minha noiva — dispara Sebastian, meu


queixo vai ao chão, pois não fui preparada para isso.

Ele disse noiva?


SEBASTIAN VOGEL

Trazer Aurora comigo para Nova York foi uma escolha minha, uma
das poucas que fiz sem a autorização do meu tio. Ele odeia surpresas, odeia

a imprevisibilidade tanto quanto eu e Aurora com certeza está fora da curva,

um imprevisto diante dos nossos planos de vingança, que calculamos


friamente durante anos.

Sei o perigo que estou correndo confrontando Harry logo de cara

assim, mas é preciso. Não posso apresentar Aurora como uma qualquer,
preciso passar confiança a ela, que agora só tem a mim, prometi isso e irei

enfrentar tudo e de todos para cumprir, custe o que custar. Não irei soltar a

sua mão.

Titio para de enojá-la com o olhar e volta a focar em mim. Ele é uma

raposa velha, inteligentíssimo, sabe muito bem quem é ela e não está
gostando disso. Sem falar mais nada, dá as costas e segue para o seu

escritório, onde irá me aguardar para discutir comigo, mostrando a sua total

reprovação. Sempre é assim quando nos desentendemos.

Olho para Aurora, que está tensa, apertando a minha mão.

— Nossa, ele nem falou comigo — comenta, abalada, percebendo que

não será nada fácil.

— Ele precisa de tempo, é um velho ranzinza. Além disso, sabe quem

é você e nos julga por isso — argumento, sentindo o coração acelerado, sei

o quanto é ruim se sentir desprezado, ela já sofreu isso no Brasil, não vou
permitir que sofra aqui.

— E essa história de noiva...?

— Eu vou conversar com ele agora, preciso que vá para o nosso

quarto e me espere lá. Vai dar tudo certo. Confie em mim — seguro o seu
rosto entre as mãos, sentindo a dúvida latejar em seus lindos olhos cor de

mel. A beijo rapidamente, tentando lhe dar segurança e chamo Abigail com

a mão, que estava em um canto de mãos cruzadas, aguardando ordens. —

Por favor, acompanhe a minha noiva até o meu quarto, a acomode e dê tudo

que ela precisa.

— Sim, senhor — a mulher assente, sorrindo para Aurora. — Venha

comigo, por favor, senhorita.


Aurora não se move, não está se sentindo bem.

— Vai com ela — peço, carinhoso. Após alguns segundos, com

dificuldade, ela me obedece e se afasta, seguindo a empregada, mas ainda

olhando para mim, não querendo se distanciar. A cena é de partir o coração.

Droga.

Caminho até o escritório, abro a porta de correr que é de carvalho,

esculpida com desenhos abstratos. Meu tio está em sua poltrona, majestoso,

fumando o seu velho charuto, coisa que nem pode mais fazer.

— Esqueceu que o médico lhe proibiu de fumar, titio — relembro,

recebendo o seu olhar fatal enquanto fecho a porta e me aproximo da sua

escrivaninha imponente, sentando de frente para ele.

— Se fosse para eu morrer, já teria morrido. E quando esse momento

chegar, quero ter a única certeza de que não criei um tolo — afirma, com a

voz rouca, jogando a indireta que recebo com uma careta.

— Eu não sou um tolo — afirmo, devagar, o encarando, assistindo-o

soprar a fumaça para o alto com classe, que se esvai no ar.

— Não era até sair daqui para o Brasil, mas agora que voltou, sei que

se tornou um, assim como o seu irmão.

— Não me compare a ele — rosno.

— Como não comparar se está com a mulher dele? — alfineta.


— Ela agora será a minha mulher. Nós iremos nos casar — decreto,

apertando forte os braços da poltrona, arranhando o estofado com as unhas,

querendo controlar o nervosismo que ele consegue arrancar de mim.

— Eu devia ter desconfiado quando parou de me contar detalhes dos

acontecimentos em Lancelot. Você foi muito vago ao relatar sobre ter

conseguido acabar com o casamento do seu irmão — retorna o charuto à

boca, me analisando com desdém. — Então, foi assim que fez, levando

aquela moça para a cama?

Respiro fundo, desviando o olhar dele.

— Foi — afirmo.

— Se ela traiu Alec, o que o faz pensar que não fará o mesmo com

você? — pergunta, após dar mais algumas baforadas.

— Ela não o traiu, eu a fiz o trair — olho-o, vendo o seu semblante

desentendido, as rugas expressivas relatando a idade, a sobrancelha se

erguendo em contradição. — Tomei o lugar do meu irmão na lua de mel,

me passei por ele e a possuí. Ela não percebeu até Alec chegar.

Titio fica paralisado por alguns instantes, calado, imóvel, em choque.

Vira o rosto para a janela atrás de si e suspira, voltando a fumar.

— Precisava chegar a tanto? — quer entender.


— Sim, porque me apaixonei por ela — capturo a sua atenção,

fazendo-o voltar a olhar para mim, o ódio tomando a sua face. O velho soca

a mesa, fazendo todos os objetos sobre ela tremerem, alguns até caem no

chão.

— Maldição!! — pragueja, alterando a voz. — Maldição, Sebastian!!

— abaixo o rosto, golpeado por suas palavras. — Fez o que o seu pai fez

comigo! Fez o que o Alec fez contigo! Se igualou a eles! Não foi assim que

planejamos a nossa vingança!! — rosna, furioso.

— Mas vinguei a mim e ao senhor! Willian e Victória estão falidos,

Alec os abandonou, só o que restou a eles foi o haras que terão que passar a

vida disputando com os Belmonte, que também estão com o nome na lama!

O pai de Aurora terá o seu mandato cassado em breve, joguei todos os

podres deles na mídia antes de voltar! O plano foi um sucesso!

— Sucesso mesmo seria se você tivesse retornado do jeito que saiu

daqui: sozinho. Quer mesmo que eu acredite que está apaixonado por essa

moça? O que mais está me escondendo? — os seus olhos azuis me

vasculham, procurando desesperadamente um porquê.

— Estou apaixonado por ela, tio. Mais do que pode imaginar — o

encaro, determinado, mostrando os dentes na última palavra, feito um

animal feroz que defende a sua fêmea.


Harry sorri em deboche, a gargalhada sinistra imperando na

atmosfera.

— Você nem sabe o que é isso — desfere, cuspindo as palavras. —

Nunca amou ninguém de verdade e não sabe amar, aquele internato lhe

tirou qualquer chance de aprender sobre sentimentos. Você é frio, mais do

que eu e mais do que o seu maldito pai. É um cafajeste, gosta apenas de

comer essas meninas como se fossem objetos, porque com essa seria

diferente?

— Eu não sei! — altero a voz, revidando, o surpreendendo. — Mas

Aurora é diferente, nunca encontrei outra como ela e fiz de tudo para que

fosse minha, agora ela é minha e continuará assim, quer o senhor queira ou

não! — sentencio, o confrontando. É um duelo de gigantes. — Não

permitirei que a trate mal, não permitirei que toque nela, entendeu?

Titio pousa a cabeça no encosto da poltrona, soprando a fumaça para

o alto, decepcionado, notando que não estou brincando. No fim, suspira,

mirando o teto, meio desolado.

— É a maldição se repetindo — a sua voz rouca ecoa no ar. — Se

realmente gosta dela como diz...

— Gosto. Aurora está grávida e o filho pode ser meu — disparo, o

chocando mais uma vez.


Harry fecha os olhos com uma dor tão absurda que deixa transparecer

em seu rosto, exalando no ambiente, corroendo o seu coração petrificado

como o meu. Ficamos em silêncio, emudecidos de tal forma que chega a

amargar.

— Sabe o que vai acontecer, não sabe, Sebastian? — me fita,

entristecido, sem esperanças, largando o charuto sobre o recipiente na mesa.

— Do que está falando, tio? — murmuro, querendo compreendê-lo.


Sinto medo pelo tom da sua voz.

— Tragédia — responde. — Alec não vai deixar isso barato. Assim


como tirou tudo dele, ele irá voltar para tirar tudo de você.

Estico um sorriso debochado.

— Ele não tem força o suficiente para me enfrentar. Eu sou um leão,


ele é um cordeirinho — digo, confiante.

— Até um cordeiro pode conter um lobo abaixo de sua pele. Sabe


tanto quanto eu o quanto um homem se transforma quando lhe tiram o que

ele mais amava na vida.

— Acontece que Alec apenas achava que amava Aurora, mas na


verdade amava mais a si mesmo, tanto que a abandonou quando ela mais

precisava. Ele nunca a amou como eu a amo e jamais poderia protegê-la


como eu a protegerei.
— Isso é o que diz e não sabe de tudo. Pode usar esses argumentos
para tentar se convencer, mas não me convence. Sente culpa por ter usado

essa menina? Seria mais compreensível.

— Sinto, mas...

— Ah, o nosso sangue é desgraçado. Sempre nos levando à fossa por

causa de uma boceta.

— Aurora não se resume apenas a uma boceta, tio! Ela é muito mais
que isso! Mas não vou mais ficar aqui perdendo o meu tempo tentando lhe

convencer. Sei que não acredita em nada do que estou dizendo, por isso
deixarei que veja por si só — levanto-me, de saco cheio, foi uma conversa

difícil, mas necessária.

Sigo até a porta, dando as costas a ele, porém paro quando diz:

— Quero só ver deixar o que sempre foi por causa dela — é um


desafio. Realmente não acredita na minha mudança — Quero só ver —
repete bem devagar, debochando.

Bufo insatisfeito e me retiro do escritório emputecido. Que ódio!


Odeio que duvidem de mim, mas não podia esperar menos. Marcho de volta

para a sala de estar, que é enorme, encontrando Abigail, que desce as


escadas.
— A senhorita Aurora já está bem acomodada no quarto, senhor
Vogel — informa.

— Obrigado — agradeço.

— O jantar já está pronto, fiz o que o senhor mais gosta a pedido do


seu tio, mas mesmo que ele não pedisse, eu faria — sorri, é uma mulher na

casa dos quarenta anos, muito simpática, magra, cabelos pretos com um
coque no alto da cabeça, está conosco há anos.

— Ótimo, desceremos dentro de alguns minutos para comer, primeiro


preciso tomar um banho — a ultrapasso, subindo os degraus.

— Que bom que voltou, senhor. Sentimos a sua falta — declara,


surpreendendo-me.

— Sentiram? — olho para trás, a encarando, vendo o seu sorriso.

— Sim, principalmente o seu tio. A casa ficou muito mais silenciosa


do que já era sem a sua presença — cruza as mãos atrás do corpo, ela tem

postura. É também a nossa governanta.

— É bom saber disso, também senti falta de vocês. Quando foi que
ele voltou a fumar? — ergo a sobrancelha, preocupado.

— Ele voltou? Eu não sabia, não vi — se surpreende.

Suspiro, insatisfeito.
— Então recomeçou hoje. Velho teimoso! — continuo subindo,

chegando ao corredor superior e entrando no meu quarto.

Aurora está à frente do grande espelho, vestida com outra roupa,


penteando o cabelo molhado. Trocamos um olhar de expectativa através do

reflexo. Me aproximo já sentindo o seu perfume gostoso antes mesmo de


abraçá-la por trás e beijar o seu pescoço. Ela fecha os olhos, sentindo o meu

aconchego.

— Tomou banho? — pergunto, rouco.

— Sim, precisava relaxar — conta, acariciando as minhas mãos que

se cruzam sobre o seu ventre.

— Também vou tomar uma ducha e depois nós iremos descer para

jantar. Está com fome? — indago, olhando em seus olhos através do


espelho, observando o quanto é linda de forma natural, não precisa de

maquiagem para expressar a sua beleza.

— Perdi o apetite com a recepção do seu tio. Está claro que ele me
odeia — pontua.

— Como pode odiá-la sem lhe conhecer? Você me prometeu que seria
forte, lembra? Mostre a ele que não vai se acovardar com aquela carranca e

que não é qualquer uma, mas sim a minha futura esposa — sorrio, mas
Aurora não parece convencida, porém gosta das minhas palavras.
— Sabe que ainda sou casada com o Alec, como chega aqui me

chamando de noiva?

— Não podia ser algo abaixo disso, eu precisava mostrar para ele e

para você que estou levando esse desafio a sério — descanso o meu queixo
sobre o topo da sua cabeça.

— Sou um desafio, então? — ergue uma sobrancelha.

— Sempre foi, por que acha que conseguiu me conquistar tão rápido?
Não quero te decepcionar — sou sincero.

— Parece que tem medo de não conseguir — Aurora é muito

observadora.

— E tenho, nada disso estava nos planos, nunca imaginei estar nesse

papel, é uma grande responsabilidade, mas sei que sou capaz de encarar.

— Você é tão confiante que às vezes se torna até arrogante, mas gosto

disso, só não exagera — sorri, bonita demais.

— Menos mal — brinco, ela gargalha. A sua leveza me arrebata e


encanta. — E sobre o nosso noivado, nunca esqueci do seu casamento,

ainda conversaremos sobre isso. Se for para fazer direito, teremos que nos
casar, se quiser, é claro. E para isso... precisaremos anular o seu

compromisso com o Alec, pedir o divórcio.


— Concordo com o casamento, seria legal estarmos oficialmente
unidos para provar ao seu tio que, apesar de tudo, o nosso relacionamento é

sério. Mas como faremos isso agora que estamos tão distantes do Brasil e
nem sabemos onde Alec foi parar? — ela se preocupa, enrugando a testa.

— Os meus advogados podem encontrá-lo, isso não será difícil,

porém, pode demorar um pouco. Agora, quanto ao nosso casamento, saiba


que não me interessa a opinião do meu tio ou de qualquer outra pessoa,

quero casar contigo porque você e o nosso filho agora são a minha
responsabilidade. Sei que a nossa união também é uma segurança para

você, mas quero através disso, conquistar o seu amor — declaro, a


emocionando e constrangendo ao mesmo tempo.

— Ah... Sebastian — fica sem palavras.

— Sei que ainda não me ama, Aurora. Gosta de mim, está


apaixonada, mas ainda não é amor e está tudo bem. Tudo ao seu tempo, não

vou te pressionar.

Ela suspira, mais calma. Ergue o rosto, fecha os olhos e me beija,

sussurrando contra os meus lábios em seguida:

— Obrigada — agradece. — A sua paciência é super importante para


mim agora — me beija outra vez.
— Eu sei — nos entreolhamos pelo reflexo de novo, acaricio o seu
ventre com as mãos. — Estou ansioso para ver a sua barriga crescendo —

revelo.

— Pelo visto vai demorar, andei pesquisando e algumas grávidas só

têm barriga dos cinco meses em diante.

— Nossa! — surpreendo-me, dou mais um beijo no pescoço dela e


me afasto, tirando a camisa. — Deixe-me tomar banho, estou precisando, a

viagem foi longa.

Caminho pelo cômodo enorme e confortável, obscuro, com vidraça

que dá visão para o quintal, o mármore negro, móveis modernos de


requinte, banheiro espaçoso com hidromassagem. Tomo um bom banho e

depois de estar renovado, desço de mãos dadas com Aurora para o jantar.
SEBASTIAN VOGEL

Quando chegamos na sala de jantar, a mesa posta chama a nossa

atenção, o cheiro delicioso da comida exalando no ar, agradando o meu


olfato. Abigail está em um canto, com as mãos atrás das costas, sorrindo,

esperando para nos servir. Puxo uma cadeira para a Aurora e depois que ela
se senta, sento-me ao seu lado.

— Onde está o meu tio? — observo a sua cadeira vazia, a da

cabeceira.

Abigail dá um passo à frente, constrangida, fitando a mim e a Aurora

ao mesmo tempo, procurando as palavras que quase sussurra:

— Ele preferiu jantar no quarto, disse que não está se sentindo muito

bem — sorri sem humor.


— Deve ser o charuto que voltou a fumar — comento, querendo fugir

do assunto.

— Ou a minha companhia que não o agrada. Está me evitando —


Aurora vai direto ao ponto, trocamos um olhar desagradável.

— Se me permite, senhorita — Abigail pede licença. — O senhor

Harry é assim mesmo, difícil. Logo, logo ele amolece.

— Está tudo bem, Abigail, acredite, estou acostumada a lidar com

gente difícil. Obrigada por sua simpatia ao me receber aqui — Aurora sorri,

fito a governanta e assinto com o rosto em aprovação, agradecendo pelo seu


comentário, ajudou a aliviar a tensão formada pela ausência do velho. —

Então, Harry está lá em cima? — está curiosa.

— Não, o quarto dele é aqui embaixo, cansou de fazer esforço


subindo as escadas — capturo os talheres dispostos nas laterais do prato. —

Está cansado.

Assim, jantamos, saboreando a deliciosa comida de Abigail. Depois,

subimos para o quarto bocejando de sono, estamos exaustos da viagem.

Deitamos de conchinha, agarrados, Aurora gosta disso e está me ensinando

a gostar também.
Ouvi passos se aproximando pelo corredor que me despertaram

aterrorizado. Eu estava suando frio, trêmulo, me encolhi no canto da cama,

espremendo-me contra a parede gelada, queria fugir daquilo que sabia que

aconteceria. Todas as noites eram assim e não tinha como fugir, não

conseguia impedir.

O som estava ficando cada vez mais audível, próximo, arrepiava

todos os pelos do meu corpo. Levantei o cobertor até metade do rosto,

deixei apenas os meus olhos apavorados para fora, desejei no fundo do

meu ser que ele fosse um escudo e me protegesse do mal que estava prestes

a sofrer.

Os homens pararam na minha porta, consegui ver a sombra dos seus

sapatos passando por baixo, vinha do lado de fora. A chave girou na

tranca, a maçaneta se moveu e o meu coração quase parou de bater no


momento em que avistei três silhuetas surgindo, três caras uniformizados,

eram os meus algozes, os motivos pelos quais eu desejava a morte todos os

dias desde que a minha família me jogou naquele maldito internato.

— Não, por favor... vão embora — implorei, a minha voz estava

fraquejada. De quem sabia que não seria ouvido. O meu corpo ainda doía

desde a última vez que fui estuprado por eles. Não aguentava mais, estava

ficando maluco.
— Olá, Sebastian, está pronto para nós? — perguntou um deles,

pervertido, enquanto os demais me fitavam com um desejo imundo,

molhando os lábios com aquelas línguas nojentas.

— Não... aqui não... vocês não vão me tocar na minha cama, seus

desgraçados!! Na minha cama, não!! — argumentei, encolhi-me ainda

mais. Tinha dezessete anos, mas parecia apenas um garotinho de doze,

amedrontado.

— Shhh, já sabe o que acontece se gritar. Não resista e tire a roupa!

— ordenou o outro, se aproximou, imoral e tocou o meu pé.

— NÃO!! — gritei, chutando o seu rosto, os demais avançaram, me

arrastaram da cama e me jogaram no chão numa briga feroz.

Tentei resistir, soquei cada um, me contorcia como se estivesse

possuído, contudo, os três eram mais fortes, me surravam com os


cassetetes, senti todas as minhas forças se esvaírem do meu corpo, cuspi

sangue contra o piso áspero.

O meu pranto se quebrou em soluços hediondos emanados da minha

garganta sufocada contra o chão. A minha calça foi puxada, desnudando a

minha bunda dolorida e vermelha, o ânus estava em carne viva de tanto ser

usurpado dia após dia, sem dó nem piedade, com violência infame.
— Nãoo... — soltei um grunhido sinistro, chorava com ódio e dor,

incapaz de reagir, os meus braços estavam presos, os três me dominavam,

me tiravam o ar, mal conseguia respirar.

— Sabia que de todos os garotos, o seu cu é o mais gostoso? — disse

o cara montado em mim, abriu o cinto e a calça, colocou o seu membro

asqueroso para fora. — Quanto mais resistir, mais iremos te querer! — me

penetrou com força, senti rasgar a minha carne, as minhas pernas se

debatiam aflitas, o sangue descia.

Esbugalhei os olhos, abominado, corrompido. Os outros dois

gargalhavam malignos, eles adoravam esse jogo macabro, era como

adrenalina, tinha se tornado um vício. Adoravam me subjugar, assim como

faziam com os outros internos, nos queriam impotentes e submissos, me

fariam sangrar em grande quantidade até que desmaiasse.

— Não adianta tentar, ninguém vai te salvar, a sua família não está

nem aí. Você é todinho nosso — o homem que pressionava o meu pescoço

com o joelho tirou o seu pau para fora e se preparou para enfiá-lo na

minha boca.

Desperto do pesadelo horrível. Sento-me na cama em sobressalto,

todo suado mesmo com o ar-condicionado ligado, tremendo de pavor

porque foi muito real.


Só consigo me acalmar após longos segundos, depois de notar que

estou no meu quarto com Aurora, que dorme ao lado, linda. Arfando,

levanto-me, seguindo para o banheiro apenas de cueca boxer preta,

apoiando as mãos na pia e encarando o meu reflexo no espelho.

Foi só mais um pesadelo, Sebastian. Um maldito pesadelo, aquilo

nunca mais vai acontecer, repito esse mantra na minha mente para afastar

os demônios. Pego o relógio de pulso sobre o mármore negro, observando

que está prestes a amanhecer, que logo terei que sair para a empresa.

Ainda tenho tempo para dormir, mas não irei me atrever, não darei

oportunidade para ser consumido pela escuridão novamente. Aproveito para

tomar um banho quente debaixo do chuveiro, enrolo-me na toalha e começo

a passar espuma na barba para então me barbear, as lembranças repugnantes

ainda frescas na mente.

— Sebastian? — ouço a voz de Aurora no instante em que estou

resvalando a navalha na pele. Como ainda continuo nervoso, me assusto e

acabo me cortando, o sangue mancha o branco da espuma imediatamente,

demarcando território, mostrando que está aqui, que jamais deixará de me

perseguir. — O que aconteceu? — ela vem até mim, surgindo no reflexo,


saindo da escuridão, às minhas costas.
Sua voz assustada, os olhos ainda sonolentos tentando me analisar.

Está vestida em uma das minhas camisas, as pernas nuas, o cabelo curto

meio revolto, sexy.

— Nada — minto, frio, deixando a lâmina afiada sobre a pia,

encarando-a através do espelho. — Volte a dormir — ordeno, porém, sou

ignorado com sucesso.

— Por que acordou tão cedo? Decidiu ir para o trabalho antes da


hora? Surgiu alguma urgência? — o fato dela se importar comigo me atinge

em cheio, antes não havia alguém que fizesse isso.

Quero ficar sozinho, me esconder nesse momento de fraqueza, detesto

que me vejam vulnerável, mas sei que não posso expulsá-la porque agora
dividimos o mesmo espaço, porque estamos levando uma vida de marido e

mulher, o que faz toda a diferença. Em outra situação, eu seria rude, mas
devo lembrar também que Aurora está grávida.

— Volte para a cama, não se preocupe comigo — abaixo o olhar, não

conseguindo sustentá-lo no dela. Fecho as pálpebras quando sinto a sua


mão delicada tocar o meu ombro.

— Está sangrando — comenta, dando a volta e se interpondo na


minha frente, entre mim e a pia. Aspiro o seu cheiro gostoso, que se infiltra
em meu corpo e me faz bem. É automático a força com que essa mulher
mexe comigo.

Finalmente tomo coragem para voltar a observá-la, perdendo-me em

sua beleza estonteante, charmosa, que me ataca sempre que está perto de
mim.

— Deixe-me ajudá-lo — pega a navalha com sutileza, estudando as


minhas reações, investigando o meu comportamento.

— Sabe manipular isso? — ergo a sobrancelha, duvidoso, não

querendo aceitar.

— Está com medo? Não confia em mim? — sorri maliciosa, me

provocando. A cabeça do meu pau lateja no mesmo instante, acordando, o


tesão espontâneo afastando sutilmente as sombras do meu passado.

Suspiro, a pego pela cintura e a deixo sentada sobre o mármore, de


coxas abertas na minha frente, entre o meu corpo. A camisa que está
vestindo levanta com a posição, desnudando ainda mais a sua pele,

capturando a minha atenção, fico excitado. Aurora olha fundo nos meus
olhos e ergue a mão, arrastando a lâmina da minha bochecha até o queixo

com habilidade.

— Quando eu era menina, meu pai me deixava fazer a barba dele e

assim fui aprendendo — retira a espuma acumulada no objeto dentro do


recipiente com água ao lado, voltando a trabalhar, cuidadosa, suave, com
experiência, cortando fora cada pelo meu. — Sabe, ainda consigo ter

algumas lembranças boas dele e de mamãe. Nem tudo foi só coisa ruim.

— Que bom, já eu não posso dizer o mesmo. Se houve algum

momento feliz na minha vida com a minha família, foi consumido pelos
pesadelos — declaro, gelado, sentindo o meu coração petrificar, esses

assuntos e recordações acabam comigo.

Aurora passa a navalha pelo meu pescoço, subindo até a ponta do


queixo, retira a espuma na água e retorna, limpando a minha pele, devagar e

sempre, fazendo um bom serviço.

— Então foi isso que te acordou? Um pesadelo? — é muito perspicaz,

consegue captar as coisas no ar. — Estava sonhando com o internato? Com


os guardas que te fizeram mal enquanto esteve lá?

Fico calado, atravessando-a com olhar, carregado de sentimentos

negativos, emoções tempestuosas. Não quero confessar, é difícil me expor e


a ela já me expus até demais. Tamborilo os dedos em suas coxas, nervoso, o

coração acelera, mas tento não mexer o rosto para que ela faça a barba de
modo perfeito.

— Ainda dói? — as suas palavras saem doces, persuasivas, me


fazendo desistir de recuar.
— Dói... muito — confesso, a voz fraquejada, murmurada, remoída.

A dor paralisando o peito e ardendo as pupilas. Não vou chorar.

Aurora continua me barbeando, ela engole em seco, baqueada com o


que digo, sentindo o meu terror e as minhas angústias. A lâmina em minha

epiderme agora é como uma carícia, uma forma que ela encontrou para me
afagar, para mostrar que posso contar consigo, desabafar sem pressão.

— O que aconteceu com o internato e com os homens que te


machucaram? — há medo na sua voz, eu havia desviado desse assunto no

avião, mas a sua curiosidade ainda está aqui e não vai embora. Aurora quer
entrar dentro de mim e me conhecer. Isso é inevitável, em algum momento

aconteceria.

— O internato foi incendiado, encontrei cada filho da puta com o meu


tio e os deixei queimar dentro dele — confesso, uma lágrima infeliz

descendo, manchando a minha face. Aurora afasta a navalha, abalada,


encarando-me com terror. Ela chora também, em silêncio.

A sua mão trêmula volta a se erguer para terminar de me barbear,


buscando uma concentração absurda para não me fazer um novo corte. Não

paro de observá-la, querendo cada reação, saber como irá me ver daqui para
frente, sabendo que não sou o certinho. Na verdade, ela já sabia disso, no
entanto, recebeu mais uma dose venenosa para relembrar.
— Você... se vingou deles — afirma, limpando o objeto cortante pela

última vez, o deixando largado na pia.

— Me vinguei — confirmo, sem medo.

— Se vingou da sua família — pega a toalha pequena ao lado e

enxuga o meu rosto, sem fugir do meu olhar.

— Também — respondo.

— Acha que tudo isso valeu a pena? — usa a toalha para enxugar as
próprias lágrimas, tão perfeita.

— Não — sou sincero, franco sem medo de ser. — Até o momento a

única coisa que está valendo a pena é ter você — declaro, a arrebatando. —
Quis te esconder isso, mas você insistiu em saber. Eu não sou um príncipe

encantado, Aurora, e já fiz muita merda nessa vida. Se quiser saber de todas
elas, irei te contar, mas esteja preparada para ouvir, até porquê, não adianta,

não consigo esconder a minha sinceridade e se um dia tiver que me amar,


terá que saber de toda a minha escuridão.

Ela arfa, mais uma lágrima sua escapando contra a sua vontade. Então

me fita, sensível, buscando as palavras.

— O que mais quero é tirá-lo do escuro, porque já me deu pistas que

dentro do seu peito também existe luz — choraminga, corajosa.


— Não será fácil, talvez seja uma guerra vencida e nem valha apena
tentar — argumento, acariciando a sua coxa, a consolando, me odiando

agora por ter insistido para que ficasse comigo, por tê-la trazido até aqui,
para conviver com essa minha podridão.

— Mas eu vou tentar! — decreta, deslizando a ponta dos dedos pelo

meu peito inflado, esquentando a minha pele. — Por nós três — pousa a
outra mão em seu ventre, lembrando do nosso filho. Sinto que essa criança

é minha.

Ficamos em silêncio, uma energia indecifrável nos conectando sem

fim. Então Aurora me beija, puxando-me pelos cabelos com euforia, a sua
boca engolindo a minha. Não reajo, apesar de estar excitado, a dor do
passado ainda é mais forte, está impregnada em mim e demora muito a ir

embora quando os pesadelos acontecem.

Mas Aurora é insistente, ela desfaz o toque ao notar que não estou me

movendo e, ao invés de desistir, continua lutando, me puxando, me


absorvendo, abraçando, colocando os meus braços em volta do seu corpo,

guerreando para expulsar os meus demônios e entrar. Não quero deixá-la


entrar, não agora, talvez em outro momento, mas me vejo cedendo ao seu

calor pouco a pouco.


Mais uma vez ela me vence, correspondo o seu beijo e libero rugidos
dentro da sua boca. Apalpo as suas coxas, espalmando a sua carne

voluptuosa, sentindo-a o máximo que posso, puxando-a para mais perto de


mim, encaixando os nossos corpos com fogo e desejo, me libertando,

expulsando as lembranças ruins.

É uma luxúria corrosiva que nos arrasta, nos consome e nos espanca

enfurecida, ribombando por cada célula, derrubando qualquer barreira pela


frente como se nada fosse, destroçando as minhas correntes sombrias,
derretendo-as na lava dessa paixão incontrolável que sentimos um pelo

outro.

Aurora talvez ainda não tenha percebido, entretanto, mais uma vez

está se permitindo mergulhar na minha escuridão, ser queimada pelo fogo


que trago do inferno, devorada pelos demônios que se escondem dentro de

mim, sugada pelo meu eu vampiro, que tem sede infinita do seu sangue e
fome absoluta da sua carne.

Uma lágrima desce por meu rosto, corroendo a pele. Estou jogando
fora toda a merda que me atingiu através dela, que agora está se

transformando na minha válvula de escape. Cada beijo é um xingamento,


um soco, uma recordação maldita sendo expulsa, destruída e esquecida!
Chupo o lóbulo da sua orelha, ouvindo o seu gemido ensandecido. Ela
enlaça o meu quadril com as pernas e nos movimentos assanhados derruba

a minha toalha, meu pau surge eriçado, imponente.

Ajudo-a a retirar a blusa numa pressa desesperada e abocanho os seus


mamilos, chupando com raiva, expurgando os pesadelos através da lascívia,
da devassidão, do tesão desenfreado, maculado!

Voltamos a nos beijar, batendo os dentes, conjugando os lábios,

digladiando as línguas. Pego-a apenas de calcinha no meu colo, virando-a e


a encostando contra a parede, chupando o seu pescoço ao mesmo tempo em
que arranha as minhas costas, puxa o meu cabelo, me machuca.

Aurora está alucinada, ofegante, queimando. Ela me empurra,


escorregando por meu corpo sem tirar os olhos dos meus, alisando o meu

peitoral, o abdômen, até se ajoelhar no piso, a calcinha minúscula sumindo


dentro do seu rabo perfeito, o seu rosto diante do meu pau gigante, da
cabeça grossa. Um delírio arrasador me faz vibrar por dentro.

Será que está pretendendo fazer o que estou imaginando? Isso seria
fantástico!
SEBASTIAN VOGEL

Aurora está nervosa, arfante, ouço a sua respiração e tenho a


impressão de escutar até mesmo o seu coração nervoso ressoando no peito.

Ela tem vontade, contemplando o meu pênis como se fosse um fruto

proibido, desejado, com água na boca, tomando coragem.

Espero-a ter a atitude, não quero pressioná-la, rapidamente noto a sua

inexperiência e é exatamente isso que me excita, que me deixa louco,

latejante, o membro contraindo na sua frente, apontando para o alto,


ultrapassando o umbigo, doendo de tão enrijecido.

Aurora o segura na base e, para a minha surpresa, o abocanha


devagar, de olhos fechados, engolindo a glande por completo, que escorrega

entre os seus lábios vermelhos, ardendo na carne, criando chamas em meio

ao molhado. Gostoso. Escorregadio. Macio.


Sinto o meu líquido pré-ejaculatório pingando na sua língua, que se

contorce para me receber, esfrega-me na ponta, roçando nos dentes,

entupindo a sua boca pequena, porém de lábios carnudos que cobrem as

minhas veias protuberantes, rústicas, a saliva dela descendo pela parte

inferior do pau. Incrível.

— Hmmm... — libero um grunhido, consumido pelo tesão incomum,

diferenciado. É uma experiência nova ter uma jovem inocente querendo me

dar prazer, mamando no meu pênis.

Aurora afasta o rosto e respira, me olhando em expectativa, querendo

decifrar as minhas reações e descobrir se está fazendo certo, se estou

gostando. Com delicadeza, levo as suas madeixas para trás da cabeça,


amontoando-as até segurar um punhado com uma mão só.

Abro um pouco as pernas para alcançar melhor a boca dela e uso a

palma livre para me guiar até os seus lábios outra vez, penetrando-os,

resvalando por sua carne, roçando no palato com cuidado para não a

engasgar, apesar de gostar disso. Quando acho a profundidade suficiente,

movo o quadril, indo e vindo, fodendo.

Aurora geme, cada som emitido por ela sendo abafado por meu pau.

Paro de fazer investidas e movo a sua cabeça, dominador, alfa, fazendo-a

me engolir repetidas vezes, babando. Delícia. Nossos olhares se encontram,


ela tosse e me afasto, esfregando-me em seu rosto, batendo a glande nas

suas maçãs, erótico.

O seu prazer me contamina, me faz esquecer da atmosfera sombria

que me cercava até ela chegar. Aurora está se pervertendo na minha

perversão e transformando a minha tortura em mais puro deleite, em

singelos sentimentos.

Mostro os dentes, delirando, perdendo o controle, movendo a sua

cabeça mais forte, com movimentos firmes. Aurora coloca as mãos nas

minhas coxas, me freando, momento em que recupero o equilíbrio, arfante,

suado.

Ela afasta o rosto de novo e respira fundo, submissa. Minha.

— Quero que chupe bem forte, sugando como se fosse um canudo —

ordeno, a mulher geme, lambuzada.

Aurora segura o meu pênis outra vez, recuperando o domínio e o leva

à boca, movendo a língua, guiada pelo instinto. Por fim, fecha os dedos com

violência, me apertando e sugando como mandei, sorvendo, uma força

pornográfica que me puxa para mais fundo na sua garganta.

— Aaah!! — sou dilacerado pelo prazer, as pernas quase

desfalecendo. Fecho os olhos e ergo o rosto, estou prestes a gozar quando

ela para, tentando respirar direito.


Não penso duas vezes e a puxo para mim, fazendo-a se levantar e me

beijar, boca com boca, corpo com corpo. A ergo no colo de novo,

arreganhando as suas pernas, encostando-a na parede e penetrando a sua


bocetinha apertada em uma estocada lenta, deslizando centímetro por

centímetro até o fim, até as minhas bolas baterem na sua bunda.

— Aaaii... Sebastian!! — ela se aninha em meus braços,

comprimindo o meu mastro, fechando entre os lábios grossos e umedecidos.

Fico paralisado, profundo, Aurora grita gostoso ao contrair a vagina.

Saio do seu corpo devagar até deixar apenas a glande brincando na

entrada, então retorno, penetrando tudo outra vez.

Aos poucos, acelero os movimentos, socando mais potente,

esmagando a usa bunda contra a parede, esfregando o púbis no seu clitóris.

Escondo o rosto no seu pescoço, mordendo o seu ombro e estoco repetidas

vezes, até cansar e precisar parar um instante para tomar ar.

Aurora aproveita e me beija com fascínio, rebolando os quadris,

encaixando os nossos centros. Afundo os dedos nas suas nádegas e forço

para cima, fazendo-a subir e descer, os seus seios rastejando no meu

peitoral. Estamos grudados, pele roçando na pele, uma química explosiva

aflorando todos os nossos sentidos.


É como se tivéssemos sido feitos um para o outro, nunca senti o que

sinto agora com outra pessoa! Ela está mesmo conseguindo me tirar do

escuro, com o seu fogo me traz a luz, com a sua paixão me faz lembrar que

estou vivo, que sobrevivi a todo mal que me fizeram e que ainda dá tempo

de seguir em frente sendo diferente.

Fodo-a com intensidade, sentindo as pernas vibrarem, mamando o seu

seio, que está entre os meus dentes, o mamilo sendo surrado por minha

língua enquanto fazemos barulho à medida que os nossos sexos se

encontram, se fundem e se tornam uma coisa só.

Não há males ou temores que resistam à nossa emoção, à combustão

que criamos quando nos entregamos um ao outro sem pensar no amanhã.

Com Aurora me sinto seguro, acolhido e protegido. É engraçado confessar,

já que sou eu quem quero dar a ela tudo o que está me dando agora.

Ela afunda o meu rosto no seu busto, rebolando, me sentindo

rasgando-a ao meio quando gozamos enfurecidos, embevecidos, tomados

pela lubricidade que arrasa até as nossas almas, nos tirando todas as

energias.

Vou ao chão, ajoelhando devagar, com a boca colada à dela, os olhos

fechados, ainda dentro do sonho, da magia doce que me arrepia inteiro, das

unhas dela que coçam a minha cabeça, me dando carinho. Ergo as


pálpebras, vendo Aurora sorrir e me beijar, um beijo doce, puro, sua pureza

me estraçalhando. Um presente depois da loucura.

— Você sabe como tirar o melhor de mim — confesso, fraco,

arquejante, com os olhos brilhando, denunciando o abalo que ainda sinto

por todo esse conjunto de sensações que vieram uma atrás da outra, feito

uma bola de neve me esmagando. — Me faz bem — murmuro, soprando as

palavras contra os seus lábios.

— Não soltaremos as mãos, lembra? — ela sorri, sabendo que me

ajudou de verdade, sorrio também, o sorriso mais verdadeiro que já dei em

toda a minha vida. — Você tem covinhas quando sorri, sabia? Por isso, ria

mais, porque é lindo — escorrega as mãos por minha face e por fim me

abraça carinhosamente.

A correspondo, abarcando-a em meu corpo, ainda dentro do seu, feliz

por entender que mesmo após revelar mais uma merda do passado, Aurora

decidiu estar aqui comigo, ser a minha mulher e agora, uma amiga. Talvez a

primeira que tenho depois que deixei o internato.

Somos muito diferentes, tivemos vidas incomuns, mas aqui, nesse

abraço caloroso nos tornamos iguais, um compreendendo a situação do

outro, se doando para essa relação improvável, que tem mais chances de

não seguir em frente porque começou totalmente errado.


Sou como o diabo em meio ao inferno, se permitindo receber alívio

de quem um dia machucou. Ainda fico impressionado com isso, o fato de

Aurora ter o poder de tirar de mim uma outra faceta além daquela diabólica

que adquiri para me vingar.

Ela está conseguindo afagar os meus monstros internos e forçar

espaço para a luz. Me dando cada vez mais certeza de que a amo, de que

não será um sentimento passageiro, porque quando me entrego a alguém, é

intenso demais.

Tomamos banho para tirar o cheiro viciante do sexo e nos divertimos


ao transar outra vez debaixo do chuveiro, feito dois apaixonados. Ela ajuda

a me vestir no closet, fazendo o nó da minha gravata e descemos felizes


para o térreo, encontrando Abigail na sala de refeições, sem a presença de

titio novamente.

— Já sei, ele quis o café da manhã no quarto — afirmo,

desconfortável, sentando-me à mesa com Aurora.

— Sim, senhor — Abigail expressa um sorriso amarelo. Coitada, ela


fica constrangida por nós, assim como fico por Aurora, a única que parece

não estar se importando com a ausência de Harry.

— Bem, uma hora ele vai ter que aparecer — ela desdobra o

guardanapo, se preparando para comer, contente, surpreendendo-me, mas a


acompanho, seguindo os seus movimentos. — A casa é grande, mas não vai
conseguir fugir de mim por muito tempo — brinca, arrancando uma

gargalhada da governanta, que leva a mão à boca para abafar o som.

— A senhorita é ousada, isso vai ser divertido — continua rindo,


fitando a mim e a ela, adorando a presença de Aurora como minha mulher

nesta casa. Sei disso, conheço Abigail, ela desejava que eu me casasse. —
Se me permite dizer, sempre falei que esse lugar necessitava de uma dama!

— ela parece que leu o meu pensamento.

— É mesmo? — Aurora ergue as sobrancelhas, capturando os

talheres enquanto a mulher nos serve com bacon e ovos mexidos. — Bem,
pelo pouco que já vi, acho que concordo com você, Abigail.

As duas gargalham, acho que nunca houve tanta risada nesta casa

antes.

Quando concluímos o café da manhã, sigo de braços dados com

Aurora até o exterior da mansão, onde o motorista e um segurança me


aguardam dentro do carro. O primeiro desce do automóvel e abre a porta

para mim. Dou um beijo de despedida na minha futura esposa.

— Tem certeza que vai sobreviver um dia sem mim? — brinco, mas
no fundo, esse pensamento me causa um calafrio.
— Pode apostar que sim, convivi com os meus e os seus pais a vida
inteira, o senhor Harry Vogel não será um problema, já conheço esse sangue

— ela realmente não está nada preocupada, seus cabelos sedosos meneiam
na brisa do vento enquanto enlaça o meu pescoço com os antebraços.

— Pode não parecer, mas ele é uma boa pessoa — argumento,


querendo afastar qualquer dúvida que ainda possa existir dentro dela. Estou

com uma mão na sua cintura e a outra segurando a minha maleta de


trabalho.

— Sei que é — confirma, dando de ombros.

— Como? — fico curioso, franzindo o cenho.

— Se ele te salvou daquele internato, então é uma boa pessoa — faz


todo o sentido.

Escorrego a palma até a sua nuca e a puxo para outro beijo, um de


cinema, apaixonado, sugando todo o seu ar.

— Mal estou indo, já penso em voltar — declaro, rouco, primitivo,


me excitando, de olhos fechados e rosto grudado no dela.

— Se voltar mais cedo, terá uma surpresa — Aurora me provoca,

maliciosa, feiticeira. Imediatamente ergo as pálpebras para tentar descobrir


o que ela está pretendendo. Esse seu jeitinho safado me deixa louco.
— Que sur... — tento conversar, mas ela coloca o indicador nos meus

lábios, me impedindo.

— Se eu falar, não será surpresa. Agora vai! — me empurra, se


afastando. Trocamos sorrisos salientes, entro no carro, o motorista bate a

porta e depois toma o seu lugar. Aurora acena, se despedindo, assinto,


subindo o vidro da janela.

Sigo para o distrito de Manhattan, onde está localizada a Ciano, um


arranha-céu todo em vidro espelhado, cinza-escuro. Quando chego na

recepção, as recepcionistas se empolgam com a minha presença, não


medem esforços para falar comigo, já que sou o chefe. É engraçado vê-las

suspirando, encantadas, mas finjo que não percebo.

Pego o elevador e subo até o último andar, a cobertura, para a sala


presidencial. Ao sair no living, sou recebido com uma salva de palmas de

todos os meus funcionários e acionistas, que me aguardam.

Fico bastante surpreso, não esperava por isso, não achei que sentiriam

a minha falta, nunca fui aquele chefe extrovertido, muito pelo contrário,
poderia ser definido como frio e controlador, porém, bastante empenhado

no trabalho e sempre buscando melhorar o meu desempenho e o de meus


colaboradores.
— Obrigado. Obrigado — sinto as minhas bochechas ruborizarem,

jamais gostei de ser o centro das atenções. À medida que caminho até a
minha sala, cumprimento cada pessoa, alguns até dão tapinhas nos meus

ombros, comemorando não apenas o meu retorno como também o sucesso


dos negócios que executei no Brasil.

Lá eu era rejeitado, aqui sou aceito e venerado, respeitado. Um


exemplo de homem de negócios, apesar da pouca idade.

— Obrigado por essa linda recepção pessoal, é bom estar em casa.

Agora, vamos trabalhar — peço, arrancando risadas, fazendo o pessoal se


dispersar e retornar aos seus devidos lugares.

Na mesa ao lado da porta da minha sala, encontro Ashley Marshall, a


minha secretária gostosa, que solta um longo suspiro ao me ver mais perto,

provavelmente relembrando de um passado que não irá mais retornar. Ela


está mais produzida do que nunca, banhada em perfume que chega a

incomodar.

— Seja bem-vindo de volta, senhor Vogel. Todos nós sentimos muito


a sua falta — sorri, repleta de expectativas, o olhar de segundas intenções, o

decote quase obrigando os seus seios a saltarem para fora. Entretanto, nada
mais nela me encanta.
— Obrigado, senhorita Marshall. Vamos, quero ver a agenda, você
precisa me atualizar de tudo — a chamo, entrando na minha sala, que é

ampla e confortável, e possui uma decoração imperial. A vidraça dando


visão para Nova York, da qual tanto senti falta.

Aqui o clima, o cheiro, o movimento, as pessoas... tudo é diferente!

Impressionante, luxuoso.

Pego uma xícara de café na bancada que fica na lateral de uma das

paredes e sento-me na minha poltrona, de frente para Ashley, que está de


pernas cruzadas sobre o sofá cinza, com a sua agenda e caneta nas mãos.

— O que temos para hoje? — indago antes de bebericar o café

quente.

— Centenas de reuniões, para a semana inteira. Os acionistas estão

empolgados com o sucesso da expansão dos negócios em São Paulo! —


Conta, sorridente, jogando o cabelo preto para o lado.

— Que ótimo, você deve me passar a pauta de cada uma, mas antes,

quero que anote algumas tarefas — ela assente, se preparando para escrever.
— Peça aos advogados para descobrirem o paradeiro do meu irmão, Alec

Vogel e encaixe uma conversa com eles nos meus horários da semana.

— Sim, senhor — ela rabisca o caderno, tão rápida quanto a

velocidade luz, eficiente.


— Quero que eles também se mantenham informados sobre a
situação financeira da minha família no Brasil e me atualizem de qualquer

novidade — deixo a xícara sobre a mesinha de centro.

— Sim, senhor.

Suspiro, cruzando as mãos, pensando em Aurora.

— Por último, compre um buquê de rosas brancas e envie para a


minha casa com o seguinte texto no cartão: “eu disse que não era bom com

flores, mas é só para que se lembre de mim”.

Ashley franze a testa, estranhando, mas continua escrevendo e


mantém a discrição.

— Certo — concorda, respirando fundo.

— Agora vamos às pautas — levanto-me, seguindo para a minha

mesa, analisando alguns documentos, atento.

A mulher começa a falar bastante, me informando de tudo que preciso

saber, temos um longo diálogo profissional. No fim, ela levanta e diz:

— Terminamos — conclui.

— Tudo bem. Obrigado. Pode ir — continuo folheando os papéis,


sem olhar para ela.
— Mais alguma coisa, senhor Vogel? — a sua voz sensual exala em
meus ouvidos, mas finjo não notar.

— Não — sou seco.

— O senhor tem certeza? — fito-a finalmente, assistindo-a erguer a


saia apertada e revelar que está sem calcinha por baixo, toda molhada, se
oferecendo.

Pisco, frio, fechando a cara e volto aos documentos.

— Eu disse que você pode ir, senhorita Marshall — a minha voz

rascante quebra o ar. — Nunca mais repita isso se quiser continuar


trabalhando aqui — assevero, deslizando o indicador pelo texto, que me
chama a atenção.

A mulher demora a processar as minhas palavras. De soslaio, vejo-a


abaixar a saia, virar e sair desconcertada, sem chão.
AURORA BELMONTE

Coloco as flores que recebi de Sebastian dentro de um jarro de vidro


com água que a Abigail conseguiu para mim. Estamos ambas sorrindo,

contemplando as rosas brancas, percebo que ela está tão empolgada que

faço questão de ler a mensagem em voz alta:

— Eu disse que não era bom com flores, mas é só para que se lembre

de mim — recito, fazendo a senhora suspirar de emoção, com as mãos

cruzadas em frente ao corpo. Estamos na sala de estar.

— Oh, meu Deus, isso é mesmo impressionante! — Abigail sorri de

orelha a orelha. — Nunca imaginei que o senhor Sebastian pudesse ser


assim, mas sempre ouvi falar que a paixão é capaz de mudar um homem.

— Ele era muito diferente antes de mim? — estou curiosa sobre o

meu futuro marido. Vir para cá, para o território dele, entrar de cabeça na
sua vida e nas suas feridas aguçou ainda mais a minha vontade de conhecê-

lo por completo. Deposito o bilhete sobre a mesinha de canto onde coloquei

o jarro.

— Ah, com certeza, sim. Muito introspectivo e quieto, quase não

falava, a não ser com o tio e nem era muito.

— Eles não têm amigos?

— Não, são muito desconfiados de tudo e de todos, ninguém vem

visitá-los. São só os dois isolados, por isso mesmo sempre falei que

precisávamos de uma dama e de crianças! Com certeza uma criança


melhoraria esse ambiente tristonho.

— Quem sabe em breve, hein — jogo a dica, levando as mãos para o

abdômen e erguendo as sobrancelhas. Abigail logo entende.

— Não me diga que a senhorita está grávida? — fica boquiaberta,


sem acreditar. Confirmo, assentindo com o rosto. — Oh, Cristo!! Que

maravilha!! É uma bênção de Deus, com certeza!! Ele ouviu as minhas

orações!!

Gargalho, achando-a engraçada e animada para um lugar tão sombrio.


Caminho pela sala, notando os móveis bem conservados, a decoração

impecável, porém obscura demais para mim.


— Por que aqui é tão escuro? — Viro-me para a governanta,

estranhando todas as janelas com as cortinas fechadas. — Se eu não tivesse

saído lá fora para me despedir de Sebastian, provavelmente nem me daria

conta de que já amanheceu.

Abigail se aproxima, fechando o sorriso.

— O senhor Harry prefere assim, ele passa a maior parte do dia

dentro de casa e como aqui não há visitas, é como se a casa servisse apenas

para ele — conta, também não parecendo satisfeita com isso.

— Que horror! O que ele fica fazendo aqui trancafiado o dia inteiro?

— assusto-me.

— Lendo, assistindo TV, navegando na internet, no notebook. Às

vezes sai para visitar a empresa, a fazenda, algum evento, o médico. É uma

rotina bem chata e até simples.

— Põe chata nisso! — coloco as mãos na cintura, me sentindo

entediada e procurando o que fazer, não consigo ficar parada. — Abigail,

me ajude a abrir todas essas cortinas, sim? Vamos iluminar esse lugar! —

determino.

— Com prazer, senhorita, mas saiba que isso vai chamar a atenção do

senhor Vogel — ela segue para uma janela e eu para a outra, que, aliás, são

enormes, lindas, de cortinas pesadas. Vamos abrindo cada uma enquanto


conversamos, a luz invadindo o ambiente já dá outra cara à sala, como se

criasse vida.

— Essa é a intenção. Vamos fazê-lo sair da toca, eu não quero ficar

aqui tendo que fingir que ele não existe e nem quero que faça o mesmo

comigo. Contudo, se ele não der o braço a torcer, vou ter que sair, pois a

casa é dele — argumento, assustando a governanta.

— Entendo a senhorita, mas espero que isso não aconteça. Espero que
o senhor Harry dê uma oportunidade para conhecê-la. Até o momento, me

parece uma menina muito especial, o complemento que aqui faltava —

declara, abrindo a última janela, a brisa do vento vem como uma lufada

para varrer o odor de casa fechada.

Apoio os cotovelos no parapeito e contemplo a imensidão da

propriedade, a grama verde cintilando à luz do sol, o vento soprando nos

meus cabelos, uma sensação maravilhosa.

— Sebastian disse que eles vieram para cá porque o tio queria se

livrar do grande movimento da cidade. Bem, esse lugar é bonito, mas a

impressão que passa é que Harry queria mesmo era se isolar do mundo. Por

quê? — penso alto, avistando os seguranças lá no portão.

— Também tive essa impressão quando passei a trabalhar aqui, mas a

desculpa dele era buscar a calmaria — a mulher se aproxima, sempre com


postura.

Saio da janela e dou mais uma olhada em volta, sentindo falta de

alguma coisa.

— Aqui não tem fotografias de família — observo, caminhando para

outra saleta que contém uma porta e um corredor, sendo seguida por

Abigail.

— Não, apenas quadros. Os senhores gostam de arte. E quanto à

família, o que sei é que eles não têm contato, achei que o senhor Sebastian

iria aproveitar a passagem pelo Brasil para reencontrá-los — ela é tão

ingênua neste aspecto.

— Pode apostar que ele aproveitou bastante — sou irônica, virando-

me em direção à porta. — O que tem ali?

— A biblioteca, mas recomendo não entrar... — mal a escuto e já vou

entrando, encontrando mais escuridão. Abro as três janelas, iluminando as

estantes embutidas nas paredes repletas de livros.

— Uaau — fico impressionada, pois as estantes quase tocam o teto,

há uma escada para poder alcançar os livros nas prateleiras mais altas. —

Acho que vou me fartar aqui.

— Esse é um dos locais da casa que o senhor Harry tem mais ciúme

— conta Abigail, momento em que avisto um cinzeiro de charuto sobre um


suporte ao lado de uma poltrona de leitura.

— Por quê?

— Ele tem devoção pelos livros.

— Também sou apaixonada, mas faz um bom tempo que não leio —

toco em alguns livros à medida que vou andando. — Pelo visto, ele gosta

muito de fumar, não é?

— Um vício que voltou desde que vocês chegaram, talvez mais uma

maneira de chamar a atenção do sobrinho, mas que será prejudicial à sua

saúde. Ele foi proibido de chegar perto dos charutos pelo médico, pois teve

algumas complicações cardíacas. Enquanto ele esteve no hospital, o senhor

Sebastian não teve sossego, foi muito triste acompanhar o seu sofrimento.

Os dois nunca demonstraram muito sentimentos um pelo outro, são frios,


mas no momento de dor deu para perceber o quanto se gostam.

— Se ele está fazendo isso para chamar a atenção, está pior que uma

criança — paro de caminhar e puxo um livro da estante, estou atrás da

escrivaninha do todo poderoso. — Por que ele manca?

— Um acidente do passado, mas ninguém sabe como foi — Abigail

lamenta, meneando o rosto ao contar sobre a fatalidade. Dá para notar que


ela se importa muito com os seus patrões.
— Essa casa é enorme, você cuida de tudo sozinha? Até da limpeza?

— folheio as páginas.

— Não, tem mais duas meninas que me ajudam, elas estão na

cozinha. Inclusive, devo ir conferir sobre o almoço agora, a senhora quer

me acompanhar para conhecê-las?

— Agora não, ficarei um pouco aqui — estou interessada na leitura.

— Preferência para o almoço? — sorri.

— Me surpreenda — sorrio de volta, Abigail assente e vai embora.

O silêncio toma conta da atmosfera, continuo lendo, realmente

gostando do texto, é um romance clássico que ainda não conhecia. Encosto-


me na mesa, sentando-me sobre ela para ficar mais confortável, instante em

que escuto a voz rouca que me causa um sobressalto tamanho que derrubo o
livro:

— Estou impressionado com a sua petulância.

Viro-me para procurar o dono da voz, por milésimos de segundos


chego a pensar que estou louca, olhando até para o alto, até ver o senhor

surgir de um canto escuro, das sombras, um ponto cego onde,


provavelmente, estava escondido todo esse tempo. A bengala que usa para

apoiar o peso da perna manca faz barulho a cada passo.


— Nossa, que susto!! — ponho a mão no peito, sentindo o meu
coração acelerado, quase entrei em pânico. — O senhor quer me matar? —

reclamo, fitando a sua cara com atenção, ele tem semelhança com o irmão e
também com o Sebastian.

— Matar seria demais, ir embora daqui é o suficiente. Precisa de

quanto para sumir? — ergue o queixo, fazendo bico com os lábios, mal
encarado, olhando-me como se eu fosse um verme ou uma puta.

— Eu já tenho um noivo rico, para que vou querer o seu dinheiro? —


O provoco, é como uma injeção de ódio a se infiltrar na sua pele.

— Ora, é mais petulante do que imaginei!! — se indigna.

— O senhor é pior. Está achando que sou o quê? — ergo o queixo


também.

— Uma aproveitadora, oportunista, golpista! — o interessante é que


ele não grita, não precisa gritar para expressar a sua raiva.

— Oh, meu Deus! Como foi que descobriu? — finjo que estou

chocada, abrindo a boca e esbugalhando os olhos. — Depois que eu me


casar com o Sebastian, vou acabar com a vida dele e jogar o senhor em um

sanatório!

Harry fica chocado, perturbado com a minha audácia. Estou me

divertindo muito por dentro, mas mantenho a pose de deboche para


enfrentá-lo.

— Está brincando comigo, senhorita? Quem acha que sou? —

finalmente eleva a voz, achando que vai me assustar.

— Não, é o senhor que acha que pode brincar comigo! — rebato,


falando sério agora, o surpreendendo. — Nem me conhece, como pode me

julgar?!

— Ah, conheço muito bem o seu tipinho, essa criança na sua barriga

diz tudo! Quer dar o golpe no meu sobrinho e se aproveitar do seu


dinheiro!! — me acusa. Respiro fundo, tentando não me enfurecer por saber

dos seus problemas de saúde.

— Para a sua informação, eu já era rica quando Sebastian me


conheceu. Se ele não te contou como cheguei aqui, depois vou pedir a ele

para contar e assim o senhor para de sair falando merda por aí!

É como um tapa na cara dele, faz menção em continuar, mas não

permito, continuo replicando:

— Não estou interessada no seu dinheiro, se é o que o preocupa! O


senhor não me assusta, então abaixe o tom de voz porque não vou me

permitir ser humilhada! Já enfrentei as cobras da sua família, posso muito


bem enfrentar o senhor, mas, sinceramente, não vim aqui para brigar! Estou

cansada disso, por esse motivo, peço para que não me provoque!!
Ele fica calado, demonstrando a repulsa que tem sobre mim, está

desarmado, o deixei completamente sem argumentos. A sua boca balbucia,


mas não emite nenhum som, porque fica desconcertado, falei exatamente o

que precisava ouvir.

Diante do silêncio devastador, resolvo abaixar para pegar o livro e


devolvê-lo à estante, momento em que leio o nome na capa, é um dos livros

de Sherlock Holmes, se chama “O Cão dos Baskerville”, de Sir Arthur


Conan Doyle.

— Joga os meus livros preferidos no chão... abre as janelas da minha


casa! — resmunga Harry, me provocando.

— Derrubei o livro porque o senhor me assustou e abri as janelas

porque essa casa está precisando de luz, não acha? Ler nas sombras faz mal,
sabia? — ergo a sobrancelha, ele semicerra os olhos, fazendo bico, odiando

a minha ousadia. Se contorce todo, mudando a bengala de lugar, mas não dá


um passo. — Bem, agora vou deixá-lo em paz — caminho até a porta, mas

antes de ultrapassá-la, olho para o velho uma última vez e digo: — Que
bom que apareceu, achei que ficaria tentando me evitar para sempre. É uma

escolha sua ficar se escondendo com medo de mim ou assumir que estou
aqui!
— Medo de você? Ora, sua... — resmunga, mas antes que me lance

mais algum insulto, saio e fecho a porta, o deixando sozinho. Suspiro,


pensando no que acabou de acontecer! Meu Deus, isso foi difícil!

Para distrair a mente e esquecer as palavras infelizes de Harry, vou


conhecer o resto da casa, descobrindo uma linda e enorme piscina nos

fundos, que me dá vontade de mergulhar. Quase no fim da propriedade há


um discreto heliporto, mas o helicóptero não está aqui. Também há uma

garagem com alguns carros luxuosos. Que chique!

Ao cair da noite, já estou morrendo de saudades de Sebastian e até me


surpreendo com a falta que ele me faz. Abigail tenta me fazer companhia,

mas os deveres domésticos tiram o seu tempo. Fico entediada em alguns


momentos, porque diferente do meu apartamento, aqui não faço nada

porque há sempre alguém para fazer por mim.

Harry some de vista de novo, ele parece um fantasma, mas não me dá

medo, sei que é feito de carne e osso, só está incomodado com a minha
presença. Isso está me incomodando também, mas eu acabei de chegar,
Sebastian está cheio de trabalho na empresa e tem um vínculo forte com o

tio frágil e solitário.

Não seria inteligente tentar lutar contra essa situação agora, porque se

ele tiver que mudar de casa comigo, consequentemente terá que se separar
do tio e mais uma ferida será criada nesta família pavorosa.

Por outro lado, não nasci para ficar escutando insultos, mas se a coisa
sair do controle, não haverá outra opção. Vou suportar até onde der, porém,

não irei conversar sobre isso com o Sebastian agora, talvez em outro
momento.

Termino de me arrumar e enquanto desço as escadas para chegar ao


hall, avisto a porta de entrada se abrindo e o meu futuro marido surgindo

tão lindo quanto um semideus! Meu coração se enche de alegria e um


sorriso surge em meu rosto tão forte que nada poderia ser capaz de me

impedir de sorrir agora.

Acelero os passos para encontrá-lo, ele também, largando até a maleta


no chão tamanha a ansiedade. A distância entre a gente parece não terminar

nunca e quando finalmente nos encontramos, salto em seu colo, grudando a


boca na sua em um beijo apaixonado.

Sebastian me roda em seus braços musculosos cobertos pelo terno de


grife, me fazendo gargalhar de alegria.

— Tudo isso é saudade? — pergunta, encantado, cheirando o meu

pescoço, adora o meu perfume.

— Aham — assinto. — Demorou demais para voltar, senti a sua falta!


— Foram muitas coisas para resolver, mas agora estou aqui — ele me
abraça mais forte e volta a me beijar, até que noto a presença de Harry, que

se aproxima com a sua bengala, com a carranca pior ainda do que antes.

Saio do beijo de Sebastian, ele se vira, olhando para o tio, limpa a

garganta e mexe no terno para se recompor, me soltando e segurando a


minha mão.

— Boa noite, titio — o cumprimenta.

— Boa noite, Sebastian — responde o velho, me surpreendendo, pelo


visto ele decidiu parar de se esconder. Ótimo.

— Está tudo bem? — Sebastian passeia os olhos entre mim e ele. —

Como foi o dia de vocês hoje?

Troco um olhar desagradável com Harry, nós dois sabemos que o

nosso encontro não foi nada legal. Chegou a hora da verdade.


SEBASTIAN VOGEL

Espero titio dizer alguma coisa, pois me surpreende vê-lo aqui, me


recebendo com a Aurora, estou curioso para saber como foi esse encontro

deles, o que conversaram e como a minha mulher foi recebida.

— O dia foi maravilhoso! — É Aurora quem responde, sorridente,


chamando a minha atenção e de Harry, que parece surpreso. — O seu tio é

uma pessoa maravilhosa, me tratou super bem — comenta, abraçada a mim,

deitando o rosto no meu ombro, me chocando.

— Foi mesmo, tio? — Arqueio as sobrancelhas, desconfiado, o

observando ao mesmo tempo em que aperto a cintura da mulher, trazendo-a


para mais perto do meu corpo. Não consigo acreditar que isso é possível.

Harry para de fitar Aurora com cara de poucos amigos e foca em

mim, respondendo:
— Nós conversamos — afirma, mas lá no fundo sinto uma ironia na

sua voz. Eles não me convencem.

— Que incrível, e conversaram sobre o que exatamente? — investigo,


preciso saber, pois sinto que há alguma coisa no ar que não querem me

contar.

— Sobre livros.... adorei conhecer a biblioteca do senhor Vogel, ele


me emprestou o Cão dos Baskerville para ler — Aurora continua falando

feliz, titio a encara indignado, um lampejo de ódio atravessando a sua íris,

porém se mantém calado.

— Da coletânea do Sherlock Holmes? — é realmente inacreditável,

Aurora assente. — Mas são os livros preferidos dele — fito titio, o

analisando de cima a baixo. Será que Aurora de alguma forma o ameaçou?

Ele jamais emprestaria os seus livros a qualquer pessoa que fosse.

— Pois é. Digamos que sou uma pessoa bem persuasiva — parece

uma provocação carregada de um humor sarcástico, Aurora deposita um

beijo em minha bochecha.

— Ah, não imagina o quanto ela é persuasiva, Sebastian — comenta

titio, irônico também, chocando-me ainda mais. Odeio ficar no escuro, não

saber das coisas. Ele dá as costas, caminhando rumo à sala de refeições. —

O jantar já está na mesa, não demore! — reclama, se afastando.


Quando some de vista, fito Aurora incrédulo, notando o seu sorriso

vitorioso, cheio de segredos, mas que me enche de emoção.

— Como fez acontecer esse milagre? — quero detalhes.

— Não houve milagre algum, nós apenas conversamos — continua

mentindo, acariciando o meu rosto, brincando comigo.

— Aurora... — tento repreendê-la, mas sou beijado, um toque que


desanuvia todos os meus pensamentos e me faz perder as palavras.

— Vamos para o quarto, vou esperá-lo tomar banho e depois

descemos para o jantar. Vamos logo, que o Harry parece com fome!

Ela me puxa, subimos as escadas até o nosso quarto. Tomo um banho

relaxante, troco de roupa e encontramos titio na mesa, nos aguardando.

— Que bom que jantará conosco hoje, tio. Isso me deixa bastante

satisfeito — comento, sentando-me ao seu lado direito com a Aurora, o

senhor está à cabeceira da mesa, é o anfitrião.

— Não sei o porquê da surpresa, estou na minha casa, isso é natural e

também não tenho medo de ninguém — encara Aurora, foi uma indireta.

Ela se comporta normalmente, não dando pistas de nenhuma desavença

entre eles. Confesso que o jeito de agir dela me conforta, torço para que os

dois sejam amigos, pois do contrário, terei problemas.


Além disso, Aurora já enfrentou tempestades demais, eu a trouxe para

cá em busca de calmaria, para nós dois. A vingança me corroeu muito,

também me fez sofrer e me tirou muitas energias até finalmente executá-la


por completo. Rebater o mal com o mal não é para qualquer um, é preciso

uma dose de coragem, loucura e frieza.

— Concordo plenamente, senhor Vogel — ela o apoia, sorrindo para

ele. O velho parece não acreditar nela, chega a ser até engraçado as caras e

bocas da sua carranca, mas não diz uma palavra.

Abigail serve o nosso jantar, que ocorre tranquilo. O tempo vai

passando e começo a conversar de negócios com o titio. Para a nossa

surpresa, Aurora opina de vez em quando, sabendo do que está falando,

entendendo a nossa língua, demonstrando que é muito inteligente.

Harry até tenta cortá-la do assunto, mas não consegue porque ela fala

bastante, com propriedade e acaba o instigando a argumentar, ele gosta

desse tipo de assunto e não quer ser contrariado, mas a minha futura esposa

está pouco se importando com isso, ela faz com que eu me apaixone ainda

mais por sua personalidade forte.

Quando o jantar encerra, Aurora vai para o quarto e eu sigo para o

escritório em reunião com Harry, conversamos sobre assuntos da empresa,

ele quer saber de alguns relatórios financeiros. Após ficar cerca de uma
hora com ele, finalmente vou atrás dela, exausto e bocejando, com vontade

de deitar e dormir ao seu lado.

Ao entrar no cômodo, me deparo com parte das luzes apagadas e


apenas um projetor ligado iluminando uma das paredes onde está encostado

o sofá, como se fosse um cinema, cujo a estrela do filme é a Aurora, que

está de pé, parada, vestida em um robe branco luxuoso, com partes rendadas

que dão certa transparência para a sua pele.

— O que é isso? — não sei o que esperar, fui pego de surpresa, fico

paralisado tentando entender o que está acontecendo.

Aurora ri primeiro, mas tenta recuperar a pose que quer transparecer e


fala em tom dominadora:

— Eu disse que faria uma surpresa, não disse? Tira a roupa e senta —

aponta para a poltrona à minha frente.

Faço menção em falar, mas ela é mais rápida:

— Tira a roupa e senta, Sebastian. É uma ordem. E fique caladinho —

ordena, me fazendo esquecer do que iria dizer. É como uma injeção de tesão

em meu sangue, que logo esquenta.

Sou um homem dominador quando o assunto é sexo, sempre fui,

gosto de dar mais prazer do que receber, mas essa postura dela, toda

autoritária e poderosa, me deixa com calor e isso é surpreendente.


Em silêncio, retiro cada peça de roupa, expondo o sexo ainda

dormente, mas longo e largo o suficiente para intimidar, com as veias

saltadas, a cabeça rosa, redonda e pontiaguda. Sento-me, abrindo as pernas

devagar, de frente para ela, que olha para o meu centro com obsessão,

hipnotizada, quase se rendendo antes da hora.

Observo a deusa diante de mim com cara de mau, perigoso e cheio de

expectativas que sei que serão correspondidas. Ela está de saltos como

quando a encontrei em Noronha, uma tentação!

— E agora? — estou curioso, já entrei no seu jogo.

— Agora assista — ela pega um controle sobre o sofá e liga o som,

que é emitido por todo o quarto em um volume apropriado para nos

introduzir na magia sexual. Conheço a canção, se chama “The Last Day”,

do Moby ft. Skylar Grey.

Assim que as notas musicais passam a ressoar no ambiente e a voz da

cantora toma forma no ar, Aurora fecha os olhos, encarnando o

personagem. Sua mão direita se ergue o máximo possível e em seguida

desce bem devagar, as pontas dos dedos resvalando por seu rosto, tocando

os lábios, enquanto o pé desliza pelo assoalho. Seu corpo se abre inteiro,

recebendo a canção.
Então ela ergue as pálpebras de repente, assim que a música muda de

tom e olha para mim, atravessando-me. É como um impacto! Seguindo o

ritmo, seu corpo toma vida sozinho, os quadris rebolam, as mãos invadem

os cabelos, as pernas rodopiam e por um momento acho que vão flutuar, me

arrepiando inteiro.

A cereja do bolo é a luz que o projetor emite sobre ela, projetando

versos ilegíveis, palavras escritas à mão, rebuscadas, que desenham a

parede, o sofá e ela. Tenho um deslumbre da cena que lembra o cinema, o


mais erótico e ardente de todos, o mais intenso e arrebatador.

Aurora fica de costas, de joelhos sobre o sofá, rebolando a bunda, a

cintura, jogando o cabelo, meneando o corpo para um lado e outro. Está


sonhando e me levando para dentro do seu sonho, o mais sublime e lascivo

do qual jamais quero despertar.

O laço do robe é desfeito, o tecido cai um pouco, descobrindo os

ombros dela, tão perfeitos, o desenho que Deus teve o cuidado máximo de
desenhar. O sutiã surge e segundos, vagarosos segundos depois, a calcinha

minúscula entre as nádegas firmes e arredondadas, que brilham com a luz


emitida pelo projetor, os versos as tocando, me causando inveja.

A música é incrível, uma malícia misturada com ingenuidade, duas

palavras que definem Aurora por completo, que me deixam fascinado no


seu corpo dançando. Ela realmente é um anjo, um pássaro de fogo enviado
para mudar a minha vida. E neste momento, me pergunto por que não a

busquei antes, por que não permiti que enxugasse as lágrimas que derramei
quando esbarramos naquela casa.

Já estou completamente enrijecido quando o robe vai ao chão de vez.

A mulher me olha por sobre o ombro e sorri como uma diabinha que sabe
que me venceu, sexual, fazendo o meu pau latejar mais uma vez, as veias

quase rasgando a pele devido a tensão que ela consegue me causar mesmo
sem me tocar.

O sutiã é retirado e jogado para mim, o pego no ar e sinto o perfume,


inalando o cheiro, fechando os olhos no ato, possuído pela fantasia. Aurora

senta de frente e retira a calcinha sem pressa, delicada, sempre olhando fixa
para mim, não quer perder nenhum segundo das minhas reações e muito

menos eu dela.

A peça íntima também é arremessada para mim, fazendo-me sorrir,


encantado. Quando ela abre as coxas e expõe o sexo depilado, arqueando as

costas, erguendo o rosto e massageando os seios, tudo ao mesmo tempo,


fecho a mão no pau com a calcinha, o polegar pressionando a glande, que

pega fogo. Aperto com força, até doer, expondo os dentes, enlouquecido por
essa mulher.
Aurora deixa uma das mãos escorregar por seu corpo formoso e tocar
o clitóris, masturbando-se para mim. É divino. Indescritível. Inigualável. O

bastante para me erguer e andar até ela, como se correntes invisíveis me


arrastassem em sua direção e prendessem o meu corpo ao seu no instante

em que a deito no sofá e pairo sobre ela, entre as suas pernas, afundando em
sua vagina ensopada.

Prendo as suas mãos sobre a sua cabeça e fodo-a com amor, paixão,
intensidade. Um misto de emoções que nos fazem explodir em um orgasmo

de perder o fôlego minutos depois. Ficamos tão absortos um no outro e tão


abalados, que chegamos a tremer, romper todas as estruturas, se entregar até
a alma, entorpecer os espíritos.

— Hoje tive a sensação... — ofego contra os seus lábios, o coração


retumbante, nossos corpos suados — que te conheço de outras vidas e olha

que... nem acredito nisso — nem mesmo consigo explicar, o sorriso


incrédulo estampado em meu rosto. — Foi como um dèjà-vu, como se fosse

para estarmos aqui, juntos. E quando te vi dançar e abrir os braços, a


imagem que me veio à cabeça foi um pássaro de fogo.

Aurora acaricia a minha face entre as mãos, carregada de sentimentos

infinitos, sentimentos múltiplos.


— Também senti algo muito especial, algo que jamais senti na vida

— sorri, olhando-me no fundo da íris. — Se eu sou o seu pássaro de fogo,


você é o meu pássaro noturno. E eu te amo, Sebastian — uma lágrima

escorre por sua face, atingindo o meu coração que para de bater. — Eu te
amo — repete, confessando.

A música nunca parou de tocar, está em versão estendida e nos

acompanhou até aqui, servindo como trilha sonora do nosso amor, o ritmo
do nosso momento.

— Posso perder tudo, Aurora... menos você — declaro, apaixonado.


— Sou o seu eterno amante — decreto, a impressionando. Nossas bocas se

unem outra vez, nos beijamos até perder o fôlego e fazemos amor a noite
inteira.

A semana passa tranquila, nós vamos nos acostumando a levar essa


vida a dois. Sempre que chego em casa, ainda encontro as caras e bocas

nada agradáveis de titio, porém, ele e Aurora continuam fingindo que são
amigos, mas não me enganam.

Certo dia, ao chegar no trabalho e começar a me empenhar em vários


documentos que foram deixados sobre a mesa para a minha assinatura,
encontro uma calcinha fio-dental dentro de uma das pastas.

— Mas o que é isso? — pergunto-me, assustado. Ergo a calcinha,


analisando com cuidado. — Não pode ser de Aurora, ela ainda não conhece

a empresa — raciocino, pensando, até que uma ideia infeliz me ocorre.

Largo a peça íntima sobre a mesa, levanto-me e sigo até a bancada na


lateral da parede, onde há uma tevê na qual consulto as últimas filmagens

das câmeras que tenho escondidas aqui e gravam tudo. Acelero o vídeo,
voltando bem rápido até hoje mais cedo, antes da minha chegada.

Ashley surge, entrando na sala com a pilha de documentos nas mãos,


que deixa sobre a mesa. Assisto-a olhar para a porta desconfiada, talvez

com receio da minha presença repentina. Então, contorna a escrivaninha,


que acaricia como se tivesse tocando em alguém.

Ela se senta na minha cadeira e, ao que parece, tem um momento de

fetiche, como se imaginasse nós dois ali, como uma vez aconteceu. Assim,
retira a própria calcinha e, sem noção nenhuma, deixa dentro da pasta,

sabendo que eu iria encontrar mais tarde, no caso, agora.

Puta que pariu!

Passo a mão nos cabelos, enfurecido e nervoso, pensando em apenas

uma pessoa: Aurora. Se ela descobrir, vai me largar e não posso correr esse
risco. Não agora que está tudo indo bem. Como eu já tinha previsto, isso
não vai dar certo, achei que Ashley saberia se comportar, mas agora não há
mais dúvidas, se ela continuar aqui, a merda será enorme.

Retorno para a minha mesa e ligo para ela.

— Na minha sala. Agora — exijo, emputecido, desligando em


seguida. Alguns segundos e ela entra, fechando a porta, caminhando

depressa. Pego a calcinha, indo em sua direção, mostrando a ela quando


paro à sua frente. — O que significa isso?

Ao perceber a minha carranca, Ashley compreende que fez merda,

abaixando o rosto, com as mãos cruzadas em frente ao corpo. Onde está


toda a ousadia que demonstrou no vídeo?

— Não sei do que o senhor está falando... — mente descaradamente.

— Ainda tenta negar? Você foi filmada — revelo, a chocando. Ela


não sabia das câmeras. Devolvo-lhe a calcinha, obrigando-a a segurar. —

Pegue, arrume as suas coisas e vá embora. Está demitida — faço menção


em lhe dar as costas, mas a mulher me segura pelo braço.

— Por favor, senhor Sebastian, não faça isso, eu imploro! Foi um ato
impensado, perdão, só queria... senti-lo outra vez!! — começa a chorar, me

assustando. — Não entendo por que não quer mais, foi tão bom! Queria
apenas chamar a sua atenção, tenho esperanças que...
— Pois não tenha, porque não podemos ter mais nada, agora sou um
homem comprometido e irei me casar — disparo, é como se o mundo

desabasse para ela. — Me solte — ordeno, fitando com antipatia a sua mão
que ainda insiste em segurar o meu braço. Olho de maneira profunda em

seus olhos marejados, querendo entendê-la. — Foi só uma vez, Ashley, não
acredito que se apaixonou. Avisei que era só sexo, que não era para se

apaixonar. E avisei também para não se comportar mais assim dentro da


empresa.

— O senhor disse que não se apaixonava, que não trocava

sentimentos e agora anuncia que vai se casar? — a sua voz sai enojada, com
uma certa revolta, a expressão em seu semblante de incredulidade.

— Isso não é da sua conta, nem devia ter te falado...

— Acha mesmo que o meu sentimento por você nasceu da nossa

transa? Eu o amo há anos, Sebastian!! Desde que passou a trabalhar aqui e o


senhor sabe muito bem disso!! — dispara, acusando-me, apontando o dedo.
Meu Deus.

— Você só pode estar maluca, eu jamais percebi isso! Agora vá

embora! — aponto para a porta com o rosto, querendo dar um fim nesta
situação.
Lágrimas rasgam a face dela, está me tratando como uma grande
decepção amorosa sendo que para mim foi apenas sexo e nada mais.

— Eu fui só mais uma transa, não é? — choraminga, fico tão

indignado que ainda esboço um sorriso sem humor. — Ah, por favor, me
deixe ficar, eu preciso desse emprego. Nós podemos fingir que nada
aconteceu...

A deixo falando sozinha, sigo até a porta, abro-a e repito:

— Vai embora agora — falo pausadamente. — Está demitida — sou

severo, dando o último golpe.

Ashley soluça, quebrando o pranto, mas me obedece, arrasada,


procurando forças para mover os pés e caminhar. Ao me ultrapassar, olha-
me uma última vez e avisa:

— Isso não vai ficar assim.

Fecho a porta na sua cara, passando a mão no cabelo mais uma vez.
Que loucura!
AURORA BELMONTE

Desço pela escada a passos leves, pisando nos degraus como se


pisasse em ovos, olhando para os lados, desconfiada, com medo do senhor

Harry me ver. Escuto barulho vindo da cozinha, onde provavelmente está

Abigail e as outras ajudantes.

Sigo depressa em direção à biblioteca, passando pelas salas

iluminadas e nesse momento sinto falta da escuridão de antes, assim

poderia me esconder. Já faz uma semana que estou neste martírio, mas fazer
o quê se sou viciada em histórias e logo o maldito livro mais preferido do

velho foi o que me viciou.

Ao chegar na saleta que dá acesso à biblioteca, miro o corredor que

leva ao quarto dele e, para a minha infelicidade, Harry está saindo de lá.

Ouço o som da sua bengala se aproximando, o desespero me faz saltar para


dentro da cortina mais próxima. Isso não deu certo com Sebastian, mas

espero que dê certo com esse velho ranzinza.

Suspiro aliviada quando ele passa direto e se afasta, deixando o


caminho até a biblioteca livre para mim. Sei que não costuma ler pela parte

da tarde, apenas pela manhã, por isso tenho que aproveitar. Caminho furtiva

até a porta onde encontrarei a minha leitura, mas afundo em um buraco

mental quando giro a maçaneta e constato que está trancada.

— Mas que droga!! — sussurro, tentando abrir outra vez e falhando

miseravelmente.

Ouço o som da bengala de repente, tão próximo que não dará tempo

de me esconder, ainda assim tento, de forma inútil, sendo flagrada puxando

a cortina, que se rasga com a minha força e desaba no chão, causando um

estrago. Levo as mãos à cabeça com a pequena catástrofe, olho para trás

atônita, encontrando os olhos de águia de Harry sobre mim.

— Que falta de vergonha — diz, amargo, fuzilando-me.

— Eu sou sem vergonha, o senhor não sabia? — disparo, cutucando-

o. Ele estremece incomodado.

— Estava procurando alguma coisa? — é irônico.

— Estava, mas não encontrei! — reclamo, estressada por ter dado

tudo errado, capturando a cortina do chão, pensando em como consertar.


— Talvez isso? — ele retira a chave da biblioteca do bolso,

balançando-a até fazer barulho, me provocando com a sua sobrancelha

erguida e o sorrisinho vitorioso estampado no rosto.

Bufo, indignada.

— Era o senhor quem devia ter vergonha, sabia? — jogo o cabelo

para trás, retirando as mexas que estavam no meu rosto.

— Ah, por acaso sou eu que fica todo dia invadindo a privacidade

alheia? — alfineta, revelando que sabe das minhas invasões à sua

biblioteca.

— Eu só estava lendo! — argumento, enrolando a cortina nas mãos.

— Como queria que eu fizesse isso com a sua ciência se o senhor faz

questão de ser chato o tempo inteiro? Não cansa, não? — o afronto,

erguendo o queixo.

— Que comprasse um livro para você, mas não mexesse nos meus!

— replica, me irritando, guardando a chave de volta no bolso, dando um

tapinha para demonstrar que dali não sai mais.

— Pois saiba que vou comprar! E comprarei uma cortina nova

também!! — alteio a voz, emputecida, o velho se diverte.

— Pois compre, porque ela foi cara — finaliza, acabando comigo.


Abigail surge aflita, deve ter ouvido a discussão. Ela olha para mim e

para Harry tentando adivinhar o que aconteceu.

— Tudo bem por aqui? — sorri, constrangida.

— Abigail, por favor, retire essa cortina, vou agora mesmo comprar

uma nova! — afirmo, enfrentando Harry, que não abaixa a crista. Ele está

adorando me humilhar.

— Mas, senhorita...

— Por favor, Abigail, faça o que estou pedindo! — exijo, a mulher se

aproxima pálida e recebe o tecido das minhas mãos.

Ultrapasso ela e, ao ultrapassar Harry, trocamos um olhar inimigo. Se

eu sou ousada, ele não fica atrás e está disposto a me atormentar.

Retorno para o quarto, onde tomo banho, coloco um vestido, alguns

acessórios, óculos escuros e desço à procura do motorista, encontrando-o na

porta de casa, abrindo o carro para entrar, Abigail deve tê-lo chamado.

— Ah, obrigada, era você mesmo que eu queria encontrar — ele me

olha como quem não está entendendo. Entro na parte de trás, sento-me e

quase morro de susto quando encontro Harry ao lado com a sua carranca

pavorosa me espezinhando. — O que o senhor está fazendo aqui?!! Ainda

vai me fazer perder o bebê com a quantidade de susto que me dá, sabia?

O carro é ligado e entra em movimento.


— Estou indo para o médico, e você, quando me deixará em paz? —

resmunga, insatisfeito com a minha presença.

— Pare o carro, moço! Vou pegar outro na garagem, tenho certeza


que Sebastian irá deixar, não preciso de motorista — dou tapas na porta

para chamar a atenção.

— Siga viagem, Manfred, não vou permitir que essa louca saia por aí

em nossos carros — ordena, ignorando-me. O homem o obedece,

acelerando e saindo da propriedade, passando pelos portões.

— Meu Deus, como é insuportável! Pois agora Manfred terá que me

levar ao shopping e aonde eu quiser ir! — decreto, o fuzilando.

— Ele a levará, mas somente depois de me deixar no médico e tem

hora marcada para me buscar, por isso, seja rápida — o seu tom soberbo, de

quem se acha um deus, me tira do sério.

— Azar o seu, eu quis descer, agora terá que esperar pelo meu tempo

também! E já aviso que quando vou ao shopping, não tenho hora para

voltar!

O velho bufa, esmagando a mão no apoio da bengala, buscando

controlar a raiva. Passamos o resto da viagem em silêncio, cada um em seu

canto, ignorando um ao outro, até chegarmos no seu ponto de descida.


Manfred estaciona o carro na frente do prédio, desce, abre a porta

para Harry, ainda oferece a mão para ajudá-lo, mas o velho é muito egoísta,

acha que pode tudo sozinho, é o que aparenta. Ele faz um gesto negando a

ajuda e sai do automóvel. Manfred retorna para o seu lugar, fico observando

Harry se afastar a passos controlados, até que se desequilibra e desaba feio

no chão.

Esbugalho os olhos ao assistir a sua queda, apresso-me para ir até ele

e ajudá-lo com o apoio do motorista, que também está assustado com o que

aconteceu. O tombo foi feio e deu pena.

— O senhor está bem? Está sentindo alguma coisa? — pergunto,

aturdida, puxando-o pelo braço, recebendo o seu olhar surpreso, de quem

não esperava essa minha atitude.

Ele não me responde, ainda mais com as gargalhadas de uma turma

de adolescentes que assistiram a cena e agora tiram sarro da cara dele

enquanto eu e Manfred o colocamos outra vez de pé.

— Vocês não têm vergonha de ficar rindo de um idoso, não?! —

grito, calando todos, que agora focam em mim. — Acham isso engraçado?!

E se fosse o pai de vocês?! Cadê o respeito?! Estão estudando para quê?!!

Bando de mal-educados!! — esbravejo, os afastando e chamando a atenção

das pessoas que passam ao nosso redor. — Isso, vão embora!!


Pego a bengala no chão e devolvo ao senhor que está com os olhos

brilhando, segurando as lágrimas, porém tentando se manter frio e

impassível. Trocamos um olhar profundo, há muita dor em seu ser, não

apenas da queda, mas também da alma. Não apenas de agora, mas de muito

tempo.

A sua deficiência é uma grande ferida, dá para notar. A sua reação me

toca fundo, mas como não temos intimidade e não sei o que esperar dele,

fico calada.

— Eu vou acompanhar o senhor até a sala do médico — afirma


Manfred, e dessa vez Harry aceita, assentindo, ainda em silêncio. —

Espere-me no carro, senhorita, por favor — pede, eu concordo.

Minutos mais tarde, Manfred reaparece, tomando o seu posto. Ele é

um homem na casa dos quarenta anos, careca, nariz pequeno e pontudo.

— Ele está bem? — estou curiosa, meu coração ainda está acelerado
com aquela queda.

— Sim, senhorita, está — confirma, entrando na pista.

— Agora vamos para o shopping? — a pergunta é involuntária, só

para ouvir a confirmação.

— Acho que não será mais necessário, a não ser que a senhorita tenha
algo a mais para fazer. O senhor Vogel mandou lhe entregar isso — ele me
mostra a chave da biblioteca, que pego sem acreditar, olhando-o pelo
retrovisor.

— Nossa — observo o objeto em minha mão, chocada, boquiaberta,

demorando a processar que o velho fez isso mesmo. — Ele disse mais
alguma coisa?

— Que não é necessário comprar mais uma cortina — Manfred ri, me


fazendo sorrir também, incrédula.

Ao voltar para casa, conto tudo a Abigail, que explode de alegria,

batendo palminhas como se fosse uma criança que ganhou um belo


presente.

— Agora, pelo visto, tenho acesso livre à biblioteca! — mostro a


chave a ela com um sorriso de orelha a orelha.

— Ah, eu sabia que isso em algum momento iria acontecer, foi até
mais rápido do que pensei. Que bom! — diz a mulher, feliz.

— Vou encarar como um começo, mas confesso que o meu coração

está um pouquinho mais em paz. É muito chato viver com alguém que não
gosta de você.

— Com certeza, e a senhorita está grávida, não pode ficar com


pensamentos ruins ou energia negativa. É preciso conviver em um clima

saudável.
— De agora em diante, creio que o clima irá sim ser mais saudável —
sorrio, confiante.

Os dias se seguem mais calmos, como imaginei, Harry parou de me


trata mal, porém também ainda não se tornou meu amigo, apesar de eu ter
tentado me aproximar algumas vezes. Ele continua na dele, aprendi a ficar

um pouco mais na minha e assim vamos levando.

No fim de semana, Sebastian me convida para sair.

— Uma festa de aniversário? — indago, animada, de mãos dadas com

ele, estamos no nosso quarto.

— Aham — assente, contente por me ver ansiosa.

— De quem? — fico curiosa.

— De um dos nossos sócios, eu não estava muito afim de ir, mas


pensei que você poderia gostar, aproveitar para sair um pouco dessa casa,

assim podemos ter um momento de distração — ele pensa em tudo, sempre


prezando pelo meu bem-estar.

— Ah, eu acho ótimo!! Mas não tenho roupa, não tenho nada! Como

você me diz isso hoje? Assim? — afasto-me dele, preocupada, não vou sair
de qualquer jeito.
— Ele me convidou ontem, resolveu comemorar de última hora, mas

esqueci de te falar — puxa-me pela cintura, querendo me manter perto, mas


o empurro.

— As minhas roupas estão todas velhas, não faço compras desde que

deixamos São Paulo!! — sou um pouco exagerada, na verdade, quero


aproveitar o momento para comprar algo novo, até porque o que tenho já

está começando a me apertar, a barriga começou a aparecer de forma sutil.


— Também preciso de sapatos, e...

— Calma, calma — ele segura o meu rosto entre as mãos e toma a


minha boca por um breve instante. — Que tal... passarmos o dia de hoje em

Manhattan, em um hotel? Assim aproveitamos para comprar tudo o que


precisa e de lá vamos para o aniversário.

Fico maravilhada com a ideia, porém lembro do que não gosto.

— Só se me prometer que não terá nada de trabalho, só eu e você —


determino, roçando as unhas no seu queixo, do jeito que gosta.

— Tudo bem. Só eu e você, meu bem — deposita beijinhos na minha

bochecha.

— Me chamou de meu bem? — não deixo passar em branco, o

apelido carinhoso tocou o meu coração, pois demorou muito a sair da boca
dele.
— Chamei — confessa, sem medo. — Não posso? — ergue uma

sobrancelha.

— Chama de novo — peço, lambendo o seu queixo.

— Meu bem — aperta a minha bunda com as duas mãos, excitando-

me.

— Safado! — dou um tapinha no seu ombro, beijando-o outra vez. —

Se vamos para Manhattan, então vamos nos apressar, porque tenho muito a
fazer.

— Okay.

Assim, organizo a minha frasqueira com tudo o que irei precisar,


porém acho pouco e acabo levando a minha menor mala com opções de

roupas e sapatos, mesmo sabendo que irei comprar novos.

Sebastian está conversando com o tio no hall e revira os olhos quando

me vê descendo as escadas com tanta coisa, mas ele sabe que tenho uma
alma de perua. Dou de ombros, não me importando com a sua opinião, não
sei ser mínima, gosto de muito! Ele e o tio me observam achando um

exagero para quem vai apenas dormir fora.

— Estou pronta! — exclamo, sorridente.

— Nunca vi tanto exagero — Harry resmunga. — Vai aproveitar para


fugir? — me provoca.
— Titio — Sebastian o repreende.

— Achei que o senhor estivesse gostando da minha companhia,


senhor Vogel? — sou irônica, derrubando a bandeira branca que acreditava

que nós tínhamos erguido.

— Achou? — ele me fita esnobe, então se afasta.

— Tchau para o senhor também! — faço questão de dizer enquanto

ele se afasta. Sebastian meneia a cabeça em negativa e suspira, ele conhece


o tio que tem.

— Vamos — captura a minha mala sem pedir licença e me oferece o


braço, onde enlaço o meu.

Juntos, seguimos para a garagem e somente quando entramos em um


dos seus superesportivos é que me dou conta de que o motorista foi
dispensado.

— Você que vai dirigir hoje, senhor Vogel? — surpreendo-me,


enquanto colocamos os cintos.

— Sim, eu prometi que seria somente eu e você, não prometi? —


estica um sorriso charmoso que só ele tem, que é único, que nenhum outro
homem na Terra é capaz de ter. Sebastian Vogel é belíssimo, cheiroso, não

precisa se esforçar porque a sua beleza é natural e apaixonante.


— Por que você é tão incrível? — pouso a minha mão sobre a dele, o
acariciando, com o coração derretido.

— Eu não sou, mas me esforço por você — escorrega a mão para a


minha nuca, os dedos se entranhando nos meus cabelos e massageando a

minha pele. — Não quero que se arrependa nem por um minuto de ter
escolhido ficar comigo.

— Sabe que tenho a sensação de que nunca me arrependerei? —

sorrio, o beijando. O carro em que estamos mais parece uma espaçonave de


tão espaçoso, tudo em couro, teto de vidro, enfim. — Quer ter a

oportunidade de ser mais incrível ainda? — uma ideia me ocorre, como sou
esperta, vou aproveitar o momento.

— O quê? — Sebastian já fica desconfiado.

— Bem que poderia me deixar dirigir — faço um biquinho de neném.

Ele fecha o sorriso, voltando a ser sério e responde de forma seca:

— Não — dá a ré e sai rumo aos portões.

— Tenho ciúmes dos meus carros — declara, ergo as sobrancelhas em


surpresa.

— Nossa, igualzinho o tio. Que ridículo — Sebastian finge que não

me escuta.

Bufo, cruzando os braços. Não se pode ganhar sempre. Ainda.


SEBASTIAN VOGEL

Como combinado, levo Aurora para um hotel de luxo em Manhattan,


um que gosto bastante e que já me hospedei algumas vezes. Ela adora a

suíte, a vista, mas não demoramos muito, apenas tomamos banho e saímos

para o shopping para fazermos as compras das quais ela diz estar
precisando, mas que no fundo sei que nem tanto.

Contudo, gosto de ser o homem que compra as coisas para ela, que dá

o que ela deseja, que a diverte, que a faz realizar sonhos. Com Aurora, pela

primeira vez, estou abrindo exceção para agir com uma mulher além do

sexo ou da falta de sentimentos, pois nunca antes houve essa troca, eu me


fechei para relacionamentos após sair do internato, após tudo o que vivi.

Até porque também não havia tempo para pensar em algo além do
sexo, já que a vingança e o sucesso nos negócios com o meu tio eram as

únicas coisas que me dominavam por inteiro.


Quando finalmente consegui realizar os meus objetivos, como já disse

aqui antes, me vi apaixonado por essa linda jovem, era um sentimento além

da carne, algo difícil de pôr em palavras.

A culpa e a vontade de protegê-la me fizeram querer ficar ainda mais

perto, a ideia de termos um filho me tomou de forma absurda, uma vida que

seria gerada, que poderia ter o meu sangue e que eu não queria que ficasse

jogada ao vento, sem proteção ou abandonada como um dia eu fui.

Só de ver o que Aurora estava passando por minha culpa e por tudo o

que ainda poderia passar, foi o suficiente para lutar com unhas e dentes para

tê-la aqui comigo, enfim consegui. Tenho medo de perdê-la, pois sei que

sou todo errado e fodido da mente, mas a cada instante que continuamos
juntos, sei que não fiz escolhas erradas e que tudo que precisei fazer para

estarmos aqui foi necessário.

Nada paga o fato de eu estar agora observando-a experimentar vários

looks na loja de roupas em que nos encontramos, receber os seus sorrisos,

os seus olhinhos brilhando de felicidade, a empolgação por saber que vai

sair na noite de Nova York comigo pela primeira vez desde que chegamos.
Os seus beijos e abraços, a sua admiração que só cresce a meu respeito,

tudo isso foi duro e difícil de conquistar, mas está valendo a pena!
Como prometi ficar exclusivamente disponível para ela, aproveito os

seus momentos de distração para responder mensagens do trabalho,

principalmente sobre a minha nova secretária, que ainda está se ajustando à

dinâmica da empresa, porém está se saindo bem.

No salão de beleza, Aurora se esbalda, faz tudo, mãos, pés, cabelo e

maquiagem, um dia de rainha. Quando retornamos para o hotel, percebo

que vale a pena investir na minha mulher, pagar para que fique linda tanto

para ela quanto para mim, afinal, o maior beneficiado serei eu, que estarei

mantendo a minha joia sempre preciosa.

Peço o jantar no quarto, o mordomo deixa a mesa pronta para nós e

vai embora, pois o dispenso, prezando pela nossa privacidade. Tomo um

novo banho, visto uma calça jeans com um blazer discreto sobre a camisa

cinza e calço sapatos sociais.

Ao sair do closet, encontro a minha futura esposa mais linda do que

nunca, agora trajada em um vestido prateado deslumbrante que vai até os

joelhos, deixando as pernas formosas à vista, que me excitam.

— E então, como estou? — sorri, o batom vermelho desenhando os

seus lábios, magnífica.

— Incrível — elogio, me aproximando, tomando a sua cintura entre

as mãos. — Desse jeito vamos nos atrasar, porque vou querer ficar mais um
pouco para te comer.

— Já estamos atrasados, bobinho — acaricia os meus ombros,

sensual, atraente. — Mas quero que você me coma com esse vestido

quando chegarmos — sussurra em meu ouvido, arrepiando-me.

— Quer? — indago apenas para fazê-la repetir, para viver essa

emoção novamente.

— Sim. Quero que levante ele e me pegue por trás — sai quase como

um gemido, Aurora aprendeu a acabar com a minha sanidade.

— Quer que eu te foda por trás? Que te faça gozar? Que penetre bem

fundo? — faço o feitiço virar contra a feiticeira, Aurora suspira de tesão,

nós dois somos como fogo e gasolina.

— Sim, quero tudo isso. Prometeu, vai ter que cumprir! Agora vamos

antes que eu borre a maquiagem devido ao calor que você está me

causando! — se afasta, como o diabo fugindo da cruz, arrancando-me uma

gargalhada. Adoro deixá-la louca.

Minutos mais tarde, pegamos a estrada e estacionamos na garagem do

subsolo do prédio do meu sócio. Subimos no elevador e somos recebidos

por ele assim que as portas se abrem na cobertura.

— Não acredito que você veio mesmo, Sebastian! Oh, meu Deus,

milagres acontecem! — dispara, para o meu incômodo, me


cumprimentando e então paralisa quando coloca os olhos na belíssima

mulher ao meu lado. — Uau... e está acompanhado, realmente é um

milagre! — gargalha, arrancando um sorriso sincero de Aurora, que adora

saber das informações.

— Me esqueci do quanto você é discreto, Andrew — comento,

irônico, olhando para o homem que é do tamanho de Aurora, de cabelos

grisalhos e olhos verdes, a pele tão branca que pode ser confundido com um

albino.

— Andrew Garfield, prazer — brinca com Aurora, querendo usurpar

o nome e sobrenome de um dos atores que interpretou o personagem do

Homem-Aranha nos cinemas.

— Ainda é humorista! — ela gargalha, se divertindo. — Aurora

Belmonte, prazer — eles trocam cumprimentos. A esposa de Andrew se

aproxima e também é apresentada.

— Você tem um sotaque bem diferente, é daqui mesmo de Nova

York? — Karen pergunta.

— Ah, não, sou brasileira. São Paulo, Brasil.

O casal fica bastante surpreso e pelos olhares tentam entender como

foi que eu a conheci. Chega a ser engraçado pois eles não estavam

esperando por mim, convidaram apenas por educação e porque sempre


desejaram a minha presença. Por outro lado, se não estavam achando que eu

viria, imagine vir e ainda por cima, acompanhado.

— Somente uma mulher estrangeira para fazer esse homem sair de

casa! Agora está explicado! — Andrew fica super animado. Olha para o

grupo de conhecidos espalhados pelo apartamento e grita: — Olha só quem

veio, pessoal! E acompanhado!! — a noção dele passou longe e me enche

de ódio, já que detesto chamar a atenção, mas me controlo porque percebo

que Aurora está amando tudo isso.

Decido que não vou estragar a nossa noite esfolando o pescoço do

meu sócio. O casal de anfitriões nos leva para a sala onde todos estão

reunidos, com bar, música e a belíssima visão da sacada com piscina.

Cumprimento os colegas de trabalho pelo caminho, a maioria vem

falar comigo, dá para notar a grande curiosidade sobre a minha presença

aqui e principalmente sobre Aurora, que se tornou o foco. Ela chama a

atenção tanto de homens quanto de mulheres, a sua beleza exala e

hipnotiza, faz amizade rapidamente com Karen que, entre um diálogo e

outro, aproveita para falar:

— Olha, me desculpa, acabamos de nos conhecer, mas já posso dizer

que você e ele formam um lindo casal — sorri, observando nós dois com
encantamento, notando a minha mão sempre na cintura de Aurora,

demonstrando posse.

— Ah, obrigada, Karen, você e seu marido também e o seu

apartamento é belíssimo — Aurora sorri.

— Ah, quer ver tudo? Eu te mostro! Vem! — Karen, pelo visto, está

doida para fazer uma nova amizade. Aurora me fita, eu a incentivo e ela

acompanha a mulher de cabelos castanhos, as duas saem batendo papo.

Observo a bunda de Aurora marcada no vestido que molda o seu belo

corpo, ela rebola naturalmente e chama não apenas a minha atenção como a
de outros convidados que, descaradamente, comem-na com os olhos. Isso

me incomoda.

— O que foi? Que cara é essa? — Andrew nota o meu desconforto


enquanto pega duas taças de champanhe do garçom que vem nos servir,

entregando-me uma delas.

— Nada — minto, experimentando da bebida, atento a um cara que

não conheço. — Quem é aquele?

— Ah, é um amigo pessoal, trabalha na Bolsa. Por quê? — Andrew é

curioso.

— Só curiosidade mesmo — disfarço, observando que o tal amigo foi


o que mais devorou a minha mulher sem um pingo de respeito. Cara idiota.
Andrew me leva ao grupo dos nossos colegas de trabalho mais
íntimos, momento em que começamos a conversar sobre muitas coisas, mas

principalmente sobre trabalho, as demandas da empresa. Logo Aurora


retorna com Karen, ambas rindo, ela enlaça o meu braço, me deixando mais

confortável com a sua presença.

— E aí, gostou de conhecer a cobertura? — puxo assunto, vendo


Karen seguir para conversar com o marido.

— Adorei, é muito grande, nem deu tempo de ver tudo. Karen é


muito divertida — comenta, pegando uma taça de água do garçom.

— Sim, ela parece que é mesmo — noto o amigo de Andrew fitando

Aurora de novo, mas ao perceber que o estou encarando, ele desvia o olhar,
disfarçando. Aproveito o momento para beijá-la suavemente, é instintivo,

tanto que não estava esperando e estranha o meu comportamento, mas não
diz nada.

— Conheci a sua secretária, a Ashley, ela falou comigo e com a


Karen — dispara, fazendo o meu coração parar de bater.

— O quê? — indago, surpreso, enrijecendo o rosto.

— Ela nos abordou na outra sala, parece ser uma ótima pessoa e
notou que estou grávida, tem olhos de águia.
— A Ashley está aqui? — fico preocupado, processando as
informações. Como ela teve coragem de falar com a Aurora? É uma

provocação.

— Acabei de falar isso, meu amor, o que foi? — Aurora nota a minha

tensão, fico olhando em volta, procurando algum sinal de Ashley, mas não
vejo nada.

— Não quero que se aproxime dela, entendeu? — decreto, olhando no

fundo dos seus olhos.

— Por quê? Ela não é a sua secretária? — fica desconfiada.

— Não mais, eu a demiti.

— Por quê? — está mais desconfiada ainda, me analisando com


cuidado.

— Quando retornarmos para o hotel, eu te conto. Agora não —


encerro o assunto no exato instante em que Andrew e Karen se aproximam

de nós outra vez, agora Aurora está bem desconfortável, mas disfarça.

— Está na hora do bolo, vamos lá! — Andrew nos chama, seguimos o


grupo até uma mesa enorme de vidro montada para o aniversariante.

Os convidados se reúnem para cantar os parabéns. Aurora força um


abraço comigo para sibilar na minha orelha:
— Mais tarde você vai me contar essa história direitinho, Sebastian.

Já era para ter me contado — afasta o rosto sorrindo, quem nos vê de longe
nem imagina o ódio contido na sua voz, a vontade notória de me arrastar

para fora da festa e saber logo do que se trata.

Todos começam a aplaudir Andrew enquanto entoam a música de


aniversário, porém, sou o único a me manter quieto, varrendo o local,

procurando a Ashley, louco para encontrá-la e dizer umas verdades, colocá-


la em seu devido lugar, pois não vou deixar essa provocação passar em

branco.

Não acredito que ela foi convidada aqui, se mentiu para Aurora que

continua sendo a minha secretária pode ter mentido para mais alguém. A
maioria dos convidados são colegas de trabalho, talvez ela tivesse uma
amizade com Andrew que eu desconhecia, ou veio acompanhada de

alguém.

Não vejo rastro da sua sombra, será que já foi embora? Espero que

sim.

O tempo passa, o clima volta a amenizar, a harmonia do pessoal

consegue nos distrair, me pego conversando mais do que de costume.


Aurora não sai mais do meu lado e dialoga bastante também. Não vejo
nenhuma outra pessoa notando a sua barriga que praticamente ainda não
existe, mas como Karen ouviu essa informação, faz perguntas a respeito,

sempre puxando assunto, e a respondemos com tranquilidade, não é


segredo.

Todos ficam muito surpresos, mas me parabenizam pela paternidade.


É muito estranho ver as pessoas me desejando sorte, tudo é um processo

que estou assimilando, cada novo fato ainda impressiona, mas consigo
filtrar bem, assim como a minha futura esposa.

Em um momento, enquanto estamos em grupo conversando na

sacada, perto da piscina, aviso Aurora que vou ao banheiro, ela assente,
então me afasto, seguindo para o mais próximo nessa área externa mesmo.

Entro no boxe, abro a calça e começo a mijar no sanitário, o local está


vazio, alguns caras acabaram de sair. Ouço a porta sendo aberta novamente,

momento em que termino o meu serviço. Ouço o som de saltos se


aproximando e me surpreendo com a minha porta sendo aberta por nada

mais nada menos que Ashley, que está com um drink na mão, a maquiagem
borrada de quem estava chorando.

Apresso-me para guardar o pênis de volta na cueca, fechando a calça

com rapidez, sobressaltado, mas a louca avança em mim, levando a mão


para o meu centro, tentando me apalpar sem nenhum pudor.
— Eu quero você de novo, Sebastian! Deixe-me tocá-lo e senti-lo
outra vez, por favor!! — fala, implorando de forma sensual e ao mesmo

tempo doentia, derramando a bebida no meu blazer, a taça se espatifa no


chão.

— Largue-me, Ashley! Você está louca?! — rosno, aturdido, a

empurrando, lutando contra o seu assanhamento, erguendo o rosto em uma


tentativa de fugir da sua boca que marca o meu pescoço com o batom.

Ela captura o meu quadril ao erguer a coxa, jogo as suas mãos para
longe com força, enojado.

— Para! Para com essa merda, sua maluca!! — tento me

desvencilhar, mas a minha blusa é puxada, o blazer, a desgraçada tem força,


é rápida e também arranha o meu pescoço.

— Gostoso, me pega assim! — geme, sem limite nenhum.

— Eu disse pra você parar! — a jogo contra a parede com força, a


assustando, os seus olhos esbugalhando diante de mim.

Estou agoniado, nervoso, temendo ser visto com ela, a atmosfera


nebulosa nos cercando. Ashley não tem um pingo de respeito, o bafo de

álcool denuncia o quanto está bêbada e que perdeu a sanidade.

Saio do boxe ofegante, tenso, olhando-me no espelho, estou todo


bagunçado, marcado, não posso voltar para a festa assim. Passo a mão no
cabelo, pensando no que fazer.

— Eu sei que ela está grávida — a voz da piranha às minhas costas

me faz virar contra ela na velocidade da luz, a intimidando com o olhar


perigoso.

— Não chegue perto da minha mulher e do meu filho ou eu acabo

com você! Está me ouvindo?! — aponto o dedo em seu rosto, deixando-a


em alerta e com medo. — Eu destruo a sua vida aqui em Nova York até não

sobrar mais nada se ao menos pensar em continuar com esse joguinho


ridículo!! Agora saia de perto de mim! Vai embora! — a minha voz é

carregada de raiva, porém controlada para não gritar e chamar a atenção.

Ashley começa a chorar, arrasada.

— Não vou sair daqui sem você! Vamos nos encontrar em outro

lugar, por favor! Não vou chegar perto dela, mas fique comigo — avança

em mim outra vez, tentando segurar o meu rosto, mas a impeço, prendendo
os seus punhos.

— Porra, vê se me esquece!

Ouço a porta abrir, Aurora surge feito um cão farejador que acaba de
encontrar o que estava procurando. Seu olhar sobre nós é mortal, não está

acreditando no que está vendo, o ódio açoitando. Ela nota o batom e os


arranhões em minha pele, a gola desfeita, a camisa amarrotada, a calça
repuxada, o cinto de mal jeito. Dicas terríveis para quem está de sangue
quente.

— O que significa isso, Sebastian? O que está fazendo aqui com essa

mulher? — cospe as palavras, fuzilando Ashley, que sorri de orelha a


orelha, a provocando.

— O que você acha, querida? — a vagabunda diz, adorando ver o


circo pegar fogo.

— Cala a sua boca, imunda! — a afasto de mim, a ferindo com as

palavras.

Aurora respira fundo e dá as costas, saindo, vou atrás dela sem pensar
duas vezes. A chamo pelo caminho, mas ela finge não me escutar,
marchando para longe o mais depressa possível, chego a correr um pouco

para puxá-la pelo braço quando estamos beirando a piscina.

— Escuta, vamos conversar...

— Me solta, seu cretino! — ela me empurra, escorrego e caio dentro


da água, chamando a atenção de todos os convidados.
AURORA BELMONTE

Meu queixo vai ao chão ao assistir Sebastian tombando para dentro da

piscina, ele ainda sacode os braços numa tentativa inútil de evitar a queda,

mas já é tarde demais. Segundos depois, emerge da água lançando um olhar


mortífero sobre mim, humilhado, sendo o novo “entretenimento” do evento.

Eu não queria causar isso, mas agora que aconteceu, também não há

mais como voltar atrás e é muito bem feito, para que ele aprenda a não me
ocultar nada! Para não ficar escondido no banheiro com aquela piranha que

antes veio me abordar se fingindo de amiga e secretária do mês dele.

QUE ÓDIO!

Só não avancei e estapeei a cara dela porque, felizmente ou não,

lembrei que estou grávida e que seria arriscado partir para a violência,
pensei na minha integridade e na integridade do meu bebê, por isso mesmo

também evitei uma discussão, não queria de forma alguma chamar a

atenção, porém Sebastian não colaborou. Agora estamos aqui.

Finjo não me importar com a sua situação e dou as costas, marchando

para longe, rumo ao elevador. Ouço Karen me chamar quando alcanço as

portas metálicas,

— Aurora! Aurora! O que aconteceu? Para onde vai? Espere! — ela

está preocupada, essa sim me parece muito verdadeira e autêntica, assim

como o seu marido.

— Oh, Karen, mal nos conhecemos e já fiz questão de atrapalhar a

festa de vocês! Mil desculpas! Eu não queria de verdade, mas é que...

preciso ir! — estou furiosa e nervosa, mas tento ser calma com ela.

— Mas e o Sebastian? — olha para trás quando se refere a ele.

— É melhor eu ir antes de causar mais estragos, ele sabe onde me

encontrar! Depois, talvez, eu possa ter a oportunidade de te explicar melhor

o que aconteceu, mas agora só me resta pedir desculpas — afirmo, entrando

no elevador, deixando-a parada e inconformada com o ocorrido, preocupada

comigo e com Sebastian.

Minutos depois, saio do prédio e pego o primeiro táxi que vejo,

retornando para o hotel, pensando em milhares de besteiras durante o


percurso. Ainda estou chocada com a ousadia da tal Ashley, ela é falsa e

dissimulada e agora ficou claro que falou comigo na festa para tomar

informações, averiguar o terreno.

É óbvio que já deu para o Sebastian e espero mesmo que seja verdade

a história de que ele a demitiu! Mas por que estavam juntos naquele

banheiro? Desconfiei da sua demora em retornar e por isso fui atrás dele,

porque as informações que me deu sobre a secretária só serviram para me

deixar com pulgas atrás da orelha.

Se antes tivesse me falado sobre ela, eu já estaria alertada e não teria

servido de trouxa para aquela vagabunda! Sebastian estava com marcas do

batom dela, a roupa amassada, com cara de quem estava aos amassos, se

enroscando com ela e pensar isso estraçalha o meu coração!

Agora me arrependo de não ter feito um caos ou arrancado os cabelos

daquela vadia, mas não ia causar um escândalo, não sou dessas, não daria

esse gostinho a ela, só se fosse extremamente necessário pois, além da

gravidez, ainda tinha o fato de que o mais errado ali era o meu namorado
por estar com uma mulher que não era eu.

INFERNO!

Chego ao hotel fulminando de ódio, tiro os sapatos ainda na sala para

me sentir mais confortável e entro no quarto, jogando a bolsa e o celular


sobre a mesinha ao lado da cama, onde me sento, desanimada, triste e com

raiva ao mesmo tempo.

Agora é só esperar ele chegar. Sebastian terá que me explicar toda

essa história, o flagrante, tudo! O meu sangue corre quente pelas veias, uma

vontade imensa de socar o rosto dele. Não consigo ficar quieta e caminho

pelo quarto, de um lado para o outro, relembrando diversas vezes do que vi.

O tempo passa e começo a me preocupar com a demora desse homem


em aparecer. Onde ele está? Por que não me seguiu? Já era para ter

chegado, para estar aqui se desculpando ou pelo menos tentando!

Bufo de estresse e resolvo tomar um banho para acalmar, visto uma

camisola e retorno para a cama, olhando o celular onde não tem sequer uma

mensagem ou ligação. Nada!

Para onde ele foi? Será que continuou no aniversário? E se aquela


vaca também tiver continuado lá? Não é possível, não acredito que

Sebastian seria capaz de fazer isso comigo. Não posso cogitar que ele

mentiu durante todo esse tempo e me traiu na primeira oportunidade, que

assim como o seu irmão jogou todos os nossos planos fora!

As horas passam, continuo o aguardando. Fico tão agoniada que

chego a sair do apartamento e averiguar o corredor, mas não há nenhum


sinal dele. Esperava que viesse me procurar, se justificar, tentar resolver,

não que sumisse e me desse esse gelo.

Retorno para o quarto, resisto ao forte desejo de ligar ou enviar


mensagens a ele, pois não sou eu que devo procurar e sim ser procurada.

Sento-me na cama inconformada, desapontada, sei que ficarei

profundamente decepcionada se Sebastian me deixar passar a noite aqui

sozinha.

Deito-me com dor de cabeça, pego no sono por não sei quanto tempo

e desperto ao ouvir alguém entrando no apartamento. Levanto-me com

rapidez e corro até a porta do quarto para constatar se é ele. Reconheço a

sua silhueta se aproximando pela sala e me jogo outra vez na cama,

cobrindo-me com o lençol e desligando o abajur ao lado, a primeira coisa

que penso é em fingir que estou dormindo.

Fico de costas para a porta, ouço-o entrando, os passos um atrás do

outro, a respiração pesada, chegando na madrugada. Deduzo que está

tirando a roupa e se afasta, indo para o banheiro sem nem mesmo tentar

falar comigo. Como assim?

Espero alguns minutos, querendo manter o papel da bela adormecida

que o macho escroto tem a obrigação de vir acordar, só que a minha

impaciência e vontade de bater boca não permitem, já fazem cinco horas


desde que nos separamos no aniversário. Preciso confrontá-lo, preciso me

mexer!

Sigo para o banheiro, abrindo a porta devagar, encontrando Sebastian

dentro da hidromassagem com a maior serenidade do mundo, uma

verdadeira parede de músculos sem qualquer peça de roupa, molhado, de

braços abertos repousados nas laterais da banheira e, para a minha surpresa,

com um charuto preso na boca. Cara de mal, perverso.

Desde quando ele fuma?

A água cheirosa e cristalina cobre até abaixo do seu peitoral inflado e

másculo, os pelos viris umedecidos sobre a pele. A imagem é tão excitante

que, por alguns milésimos de segundos esqueço da minha chateação, uma

contração involuntária atingindo a minha intimidade.

Entretanto, pisco, recupero os sentidos, limpo a garganta e pergunto

em tom normal:

— Onde estava durante todo esse tempo? — o fuzilo com o olhar,

com a vontade de matá-lo renascendo em meu interior.

Sebastian retira o charuto da boca, sem pressa, sexy, soltando

baforadas no ar em seguida, só então focando em mim.

— Esperando você se acalmar, ou acha que eu correria o risco de

tentar conversar e acontecer uma merda outra vez? — indaga, pelo seu tom
de voz acredito que está me odiando por tê-lo jogado na piscina.

— Uma merda causada por você, que me ocultou aquela Ashley e


depois se encontrou com ela no banheiro! — acuso-o, cruzando os braços.

— O que tem a dizer sobre isso? — ergo o queixo, furiosa.

— Não me encontrei com ela, Aurora, ela que invadiu o banheiro e

me assediou! Eu estava tentando expulsá-la quando você chegou! Aquela

louca estava bêbada, fora de si! — defende-se, a sua voz sai amarga, como
quem está com raiva por estar sendo julgado, mas comigo é assim.

— Por que não me contou sobre ela antes? — dou um passo em sua
direção, aproximando-me da banheira, o inquirindo, querendo pressioná-lo

até extrair todas as informações que preciso saber. — Vai negar que ela deu
pra você?

Ele dá uma nova tragada, soprando a fumaça entre os lábios atraentes

em seguida, a sua calmaria me irrita.

— Nós transamos uma vez, se é o que quer saber — dispara, é como

uma facada no meu peito. — Foi antes da minha viagem para o Brasil.
Trabalhamos juntos há anos e isso nunca tinha acontecido, foi em uma noite

após uma confraternização da empresa, mas a avisei que seria só sexo. No


entanto, quando retornei, ela continuou se insinuando para mim até que a

demiti semanas atrás depois de falar que iria me casar.


“Sei que errei em ter te ocultado esse assunto, mas achei que já tinha
resolvido, estávamos e ainda estamos tentando nos ajustar, não queria que

nada nos abalasse. Nada. Nunca cogitei que Ashley também seria
convidada para o aniversário do Andrew, muito menos que fosse capaz de

fazer o que fez, só agora estou percebendo que ela é desestabilizada.”

— Isso foi bem feito para você aprender a não me esconder assuntos
do tipo, aliás, não deveria me esconder assunto algum, já que estamos

tentando ser a porra de um casal! Não vou mais admitir isso! — grito as
últimas palavras, perdendo o controle, apontando o dedo para ele.

Sebastian respira fundo, buscando paz interior, porém, inconformado.


Então diz, severo:

— Abaixa o tom porque sou o seu companheiro e não o seu moleque

— aponta os dedos que prendem o charuto para mim. — Por acaso estou
gritando com você? Entendo a sua raiva e estou tentando manter uma

conversa calma porque não quero brigar e sim resolver, já confessei o meu
erro e por isso peço desculpas. Mas escute o que vou falar agora porque só

vai ser essa vez: eu que não irei mais admitir que grite comigo, muito
menos que faça aquilo que fez na festa. Entendeu? — decreta, fatal, mas

não me intimida.
— Se está falando da piscina, não o empurrei por querer, mas achei
bem feito, nem se compara com o que você já me fez! — replico, jogando o

cabelo para trás, mas dessa vez evito gritar para não perder a razão. — E
sabe por que não dei na cara daquela vadia? Porque pensei na minha

gravidez, preferi me preservar, não quis criar um escândalo e estaria em


alerta se tivesse me falado sobre a tal Ashley antes!

Sebastian fecha os olhos, recebendo cada flechada que lhe lancei com
a minha língua ferina.

— Saiba que se for aproveitar dos nossos problemas para ficar

jogando os meus erros na minha cara, não iremos dar certo como casal. Em
uma relação é preciso haver confiança, eu já havia avisado para não se

aproximar da Ashley, deixei claro que não gostava dela, era para você ter
me ouvido e não me humilhado diante do meu pessoal. Se a minha mulher

não me respeita, quem irá me respeitar?

— Você que perdeu o respeito comigo primeiro, Sebastian! Você que

não foi fiel me ocultando essa história! Não tente inverter o jogo porque não
vou sair como a errada!

— Já confessei o meu erro, o mínimo que deveria fazer era confessar

o seu! — exige.
— Ah, quer que eu peça desculpas pela piscina? Não vai acontecer,

até porque foi um acidente, mas bem merecido! Agora, se acha que não
daremos certo como casal, está querendo dizer o quê? Quer terminar? —

essa pergunta acaba comigo, só que continuo me fazendo de forte, mesmo


temendo a sua resposta.

— Quero que confie em mim — é incisivo, apontando para si mesmo.

— Quero que me ouça antes de ficar louca, que me dê um voto de


confiança antes de sair e me deixar para trás! É o que quero!

— Você faria bem pior no meu lugar, iria espancar o cara, aposto que
sim! — acuso-o, o deixando ainda mais bravo por tirar os seus argumentos,

porém se contém.

Sebastian bufa, levando o charuto novamente à boca, buscando se


acalmar através disso. Caminho de um lado para o outro, atormentada, com

tanta raiva dele e do problema que se causou, da pista que jogou sobre não
conseguirmos nos tornar um casal. Quero brigar, irritá-lo, lhe causar um

inferno, mas o homem é centrado demais. Que ódio!

— Quer saber? Fique aí com as suas convicções que eu fico com as

minhas! — aponto para ele, prendendo a sua atenção, trocamos um olhar de


guerra, um tentando derrubar o outro, dois oponentes brigando. — Na
verdade, quis me castigar na sua demora em chegar, com a sua ausência, me

fazer de otária, pois saiba que posso fazer o mesmo também!

— O que quer dizer com isso? — fica em alerta, querendo adivinhar,

me perscrutando.

— Vou embora agora! — sentencio, saindo do banheiro.

— Não vai porra nenhuma! — vejo apenas o seu vulto saindo da

banheira, marchando em minha direção, coisa que faz eu me apressar.

Corro para pegar a minha bolsa e o meu celular na mesinha ao lado da


cama, mas Sebastian vem atrás de mim, o corpo nu todo exposto, o sexo

avantajado chamando a atenção, a pele molhada o tornando ainda mais


irresistível! Uma tentação diabólica para me parar!

Tento fugir, mas ele avança feito um animal a dar o bote certeiro,
pegando-me firme pelo braço.

— Me solta! Me larga! — tento me desvencilhar, mas o homem é


mais forte e mais rápido, arranca a bolsa e o celular das minhas mãos,
arremessando sobre a cama.

— Não vai a lugar nenhum a essa hora da madrugada, está grávida,


enlouqueceu outra vez?! O que foi que acabei de te pedir?! — me prende

pelos braços, o seu corpo encostando no meu, a minha raiva misturada a um


tesão absurdo que cresce em descontrole.
— Ah, agora lembra que estou grávida? Me largue! Vou deixá-lo
sozinho para ver se acha útil, seu babaca! — começo a bater nele,

esbofeteio o seu rosto, bato nos seus ombros, chuto, tento acertá-lo no saco
com o joelho, mas Sebastian não permite, sentindo o perigo.

Ele me agarra pela cintura e me beija, forçando os lábios contra os

meus, me tirando do chão ao mesmo tempo que uso toda a minha força para
me desprender dos seus braços musculosos e empurrá-lo para bem longe!

— Não... não! — rosno, sentindo o seu gosto delicioso, a loucura


misturada à paixão!

Sou deitada na cama, o desgraçado fica entre as minhas pernas,

esfregando o membro no meu centro e toma com mais lascívia a minha


boca, chupando a minha língua, escorregando a mão saliente para dentro da

minha calcinha, alcançando o meu clitóris!

— Aaah!! — gemo forte, puxando os seus cabelos, envolvida,

seduzida, cedendo e me odiando por isso! — Maldito!

— Gostosa! — rosna em meu pescoço, apertando os meus seios com


força até rasgar a minha camisola de seda. Feroz. Selvagem.

Eu fico louca!
SEBASTIAN VOGEL

Antes eu era o inferno dela, agora ela se tornou o meu.

E seu fogo me queima, incinera e causa um rebu de emoções nunca

antes vividas, que renascem apenas quando possuo o seu corpo, quando a
torno minha, quando unimos as nossas carnes e juntos criamos labaredas

incontroláveis, sensações únicas, lembranças inesquecíveis.

Puxo os pedaços da sua camisola rasgada e jogo para longe, a

deixando apenas de calcinha. Esmago os seus belos seios entre os dedos

enquanto beijo a sua boca, lambo o seu queixo, pescoço e desço


depositando beijinhos safados na epiderme, atravessando o vão do busto,

arrastando os lábios molhados pela barriga, puxando a sua calcinha e

abocanhando o clitóris.
— Aaai... Sebastian! — Aurora estremece, o meu toque é como uma

dose de tesão descontrolado que explode por cada célula dela, abrasando

tudo ao nosso redor, derretendo o que houver de derreter, uma energia forte

e avassaladora que sentimos quando começamos essa putaria.

Chupo-a com deleite, fechando os olhos, sonhando, saboreando o seu

gosto, brincando com a língua, girando, deixando-a lambuzada, sugo o

clitóris e massageio entre os lábios, me satisfazendo. Tenho uma ideia

melhor e levanto, lembrando do que quero.

Aurora me observa em meio ao seu incêndio, não entendendo porquê

me afastei, o seu olhar exigente requerendo o meu retorno. Caminho até o

closet de pau duro, depressa, pegando a caixinha preta que deixei sobre uma
das prateleiras, retiro o objeto da embalagem, o seu brilho demonstra a sua

preciosidade.

É um plug anal de aço inoxidável em formato de cone, com uma

pedra de diamante adornado na base. Uma verdadeira joia de luxo,

caríssima e perfeita para apimentar a relação.

Volto para o quarto, Aurora está me esperando necessitada, observa o

que tenho nas mãos e se enche de curiosidade, mas se decepciona quando

passo direto para o banheiro. Lavo o plug debaixo da torneira, pego o gel
lubrificante que guardei dentro da gaveta da pia e vou ao seu encontro,

colocando tudo sobre a cama.

— O que está pretendendo? — pergunta, observando o brinquedo,

com um risco de preocupação na mente.

— Você vai ver — sorrio saliente, deitando-me no centro do colchão

e puxando-a para cima de mim, o seu traseiro na minha cara e o seu rosto

no meu pau, ficamos na posição 69.

Abro a sua bunda, expondo a sua intimidade molhada e arrasto a

língua de baixo para cima, absorvendo o sabor ardente da sua boceta, que se

mistura ao gosto quente do seu cuzinho virgem. Aurora geme forte,

meneando o quadril no instante em que lambe a cabeça do meu mastro,

aquecendo-o, segurando-o na base.

Começamos a chupar um ao outro, beijo os seus lábios vaginais,

fazendo sexo. Chupo o meu polegar e o penetro no seu cu, forçando para

dentro, pressionando a sua carne até entrar e ser preso por dentro,

recebendo todos os espasmos, os músculos agitados, comprimidos.

— Hmmff... — o grunhido dela sai abafado, pois está com o meu pau

preenchendo a sua boca e isso é o verdadeiro tesão. Sugo a sua carne íntima

ao mesmo tempo em que deixo o seu ânus se acostumar com a minha

invasão, mas ainda há um longo caminho a percorrer.


Uma coisa que me fascina é o quanto é cheirosa nesta região. Não sei

o que faz para ficar assim, mas me entorpece os sentidos.

Ela mama no meu pau com vontade, masturbando-me a cada vez que

afunda os lábios ao me engolir. Dou um tapa forte na sua nádega e seguro a

sua cintura, a empurrando para baixo, resvalando por meu corpo até que ela

entende o que quero fazer e me ajuda, arrebitando a bunda enquanto a

penetro devagar.

Vê-la por cima, de costas, o rabo diante de mim com a boceta

afundada no meu cacete, é uma cena divina, épica. Nesta posição, sinto

ainda mais prazer, porque força o corpo do meu pênis para o lado oposto,

causando sensações novas tanto para mim quanto para ela.

Aurora rebola, gostando da novidade, recebendo os centímetros de

mim que ainda faltavam, me sentindo fundo em suas entranhas, poderoso e

viril. Estapeio a sua nádega outra vez e é como um choque de prazer, ela

acelera, apoiando as mãos nas minhas pernas, sentando com força,

molhando a nossa união com os seus fluídos, que provam o quanto está

excitada.

— Caralho... estou viciado na sua boceta! — rujo, boquiaberto,

embevecido, assistindo o seu traseiro subir e descer, me dominando,

tomando tudo de mim, apertando gostoso.


Lembro do meu objetivo e pego o lubrificante anal, despejando-o

entre as nádegas dela. Aurora para de cavalgar ao sentir o gel besuntando a

sua carne. Lambuzo o meu polegar e a penetro de novo, lubrificando o seu

interior, espalhando o máximo possível.

— Abra para mim — ordeno, ela suspira excitada e usa as mãos para

arreganhar a bunda, pingando pela vagina que ainda está atolada com o meu

pau. Melo o plug com o gel e passo a enfiá-lo bem lentamente em seu ânus.

— Abra mais — exijo, cheio de luxúria.

— Oooh... — Aurora mia com dor, esticando ainda mais as nádegas,

sentindo o metal escorregando por seu orifício até que apenas a base de

diamante fica para fora, brilhando. A perfeição. — Está doendo — geme,

isso me enlouquece de desejo.

— Você merece, foi uma menina má — acerto-a com mais um tapa,

ela estremece o corpo inteiro. — Agora fode até gozar — ordeno, Aurora

volta a rebolar, me cavalgando, quicando, escorregando para cima e para

baixo e, por fim, explode em um orgasmo arrasador, assim como eu.

Após alguns minutos, a pego nos braços e sigo com ela para a

hidromassagem, sento-a ao meu lado, retiro o plug do seu cu com cuidado,

massageando a sua bunda com a mão enquanto nos beijamos de forma

deliciosa.
Coloco o preservativo, lambuzo-me com o lubrificante e trago a

minha mulher para o meu colo, permitindo que ela controle a velocidade da

penetração, que é difícil, apertada, pois nesta região ainda é pura, intocada.

Invado as suas entranhas, forçando as suas paredes anais, esmagando

para dentro, esticando-a mais do que já está, porém, Aurora consegue

suportar apenas alguns poucos centímetros e geme forte de dor contra a

minha boca, agarrando o meu rosto entre as mãos, vibrando a bunda.

Ainda assim é muito gostoso, cada grunhido que consigo tirar dela é

uma nova injeção de tesão, lascívia. Não paramos de nos beijar, fazemos

sexo devagarinho, dou todo o tempo que ela precisa para se acostumar,

deixando-a calma e relaxada.

O lubrificante ajuda a amortecer o seu interior e assim empurro mais,

fodendo-a sem pressa, capturando cada reação que ela me proporciona,

cada imagem fascinante sua gemendo. É delirante, sinto que a água em

algum momento irá ferver com o nosso calor. Mais um pouco e meto tudo,

enterrando o pau inteiro no seu ânus.

— Dá o cuzinho assim pra mim, dá — sussurro em seu ouvido,

Aurora geme bem mais forte, rouca. Nós continuamos no prazer absoluto,

consigo distraí-la da dor e gozamos juntos mais uma vez.


Agora, só o que ouvimos é a nossa respiração quebrada batendo uma

contra a outra, resfolegamos com a magia da lubricidade ainda dominando a

nossa pele, o cheiro de sexo pairando no ar, a paixão fluindo entre nós dois.

Aurora me oferece a língua que chupo como se fosse um doce saboroso,

curtindo cada momento, brincando.

Ela levanta o quadril, permitindo que eu escorregue para fora do seu

orifício, soltando um gemido com a nossa desconexão, fechando os olhos,

sensual, maravilhosa. Livro-me do preservativo cheio de esperma e fico


com a minha namorada no meu colo, namorando, trocando beijos longos e

molhados, que não queremos que tenham fim.

Os nossos corações, aos poucos, passam a bater mais devagar, voltam


ao ritmo normal e por fim seguramos um olhar profundo, íntimo e

apaixonante, que traduz o quanto pertencemos um ao outro, o quanto somos


predestinados.

— Desculpe pela minha atitude lá na festa — Aurora murmura,


acariciando o meu queixo, doce e meiga, quem a vê assim jamais imagina

que pode se tornar uma fera. — Eu devia ter te escutado, a forma como agi
pareceu com... — A sua voz falha, o seu olhar entristece, as lembranças
ruins vêm — a forma que Alec agiu comigo lá em Noronha. Eu fiz igual e...
— Shhh — encosto o indicador nos seus lábios, suave. — Foi uma
situação completamente diferente. Me desculpe por não ter falado sobre a

Ashley, de agora em diante isso não irá mais acontecer — prometo,


beijando-a novamente.

— Também não vou mais agir assim, feito uma criança, agirei como

uma mulher.

— Não acho que agiu feito criança, agiu como uma mulher

enciumada e que pensou na gravidez — sorrio convencido ao falar sobre o


ciúme.

Aurora dá um tapinha na minha face, sem força, fingindo raiva pelo

meu ego.

— E se ela interferir novamente? — fica preocupada, acaricia os

meus cabelos, roçando lentamente as unhas na minha cabeça.

— Vou cuidar para que não o faça. Darei um jeito de mantê-la


distante. Para mim também foi uma surpresa tudo o que ela fez, não

imaginava que fosse tão perturbada assim — acaricio as suas coxas, sempre
gosto de tocá-la por toda parte, senti-la.

Aurora reflete mais um pouco, mirando o nada, parecendo imaginar


várias coisas.
— Sebastian, acha que ela pode ser perturbada a ponto de nos causar
algum problema grave? — cogita, como se fosse uma intuição.

Puxo o seu rosto para mim, salvando-a dos pensamentos negativos.

— Você não está comigo à toa, meu bem. Eu vou te proteger de tudo
e de todos que possam fazer mal a você e ao nosso bebê — olho no fundo

dos seus olhos.

— De tudo e de todos? — sorri como uma fada. Assinto, recebendo o

seu beijo. — Promessa é dívida, hein?

— Promessa é dívida mesmo — repito, feliz por estarmos bem

novamente. — Falando nisso, lembra que prometi trazer Zeus?

— Ele já chegou? — fica empolgada, os olhinhos brilhando, ela


realmente ama esse animal. — Você nunca mais tocou no assunto! Não

acredito que ele chegou! Diz que sim!

— Sim, vamos vê-lo amanhã. Aceita?

— Claro que aceito! Aceito tudo! — enche-me de beijos, terminamos

a noite fazendo amor outra vez.

AURORA BELMONTE
Quando amanhece, retornamos para Staten Island e nos organizamos

para partir para a fazenda do senhor Harry. Enquanto espero Sebastian


descer do quarto, fico batendo papo com Abigail na sala, até que o velho

rabugento aparece, fazendo barulho com a sua bengala a cada passo,


semicerrando os olhos azuis sobre mim.

— O que foi dessa vez, senhor Vogel? — coloco a mão na cintura, o

fitando com impetuosidade. Já não o levo mais a sério, sinto que ambos
estamos brincando de irritar um ao outro. Mas a verdade é que Harry ainda

não quer se dar por vencido.

— Vê se não queima a minha fazenda — resmunga, ousado.

— E se eu queimasse, qual seria a diferença? Já fiquei sabendo que

faz anos que o senhor não anda por lá? Por que não aproveita para ir
conosco? — o convido.

— Porque não estou com vontade — responde, seco. — Só não


coloque fogo em tudo, está me ouvindo? — ergue a sobrancelha, falando

como se eu realmente fosse capaz de fazer isso.

— Vou até trazer as cinzas do que sobrar dela para juntos jogarmos no
mar — o provoco, o velho bufa, me achando uma atrevida.

Abigail leva as mãos à boca, controlando-se ao extremo para não


soltar uma gargalhada.
— Se fizer qualquer barulho, está demitida, Abigail! — aponta o

indicador para ela, a ameaçando. A mulher imediatamente engole o risco e


recupera a compostura, morrendo de medo dele. Que tolice!

Faço menção em continuar falando, mas Sebastian surge descendo as


escadas.

— Vamos? — me chama, animado, oferecendo a mão para mim.

Ele parece outro homem desde que passamos a nos relacionar, quase
já não se vê aquela escuridão que o cercava. Sei que essa sua nova fase tem

um dedo meu e fico bastante iluminada com isso. Corro até ele,
ultrapassando Harry.

— Que os anjos os protejam! Que Jesus esteja com vocês! Voltem

logo — Abigail exclama, se despedindo.

— Tchau, Abigail. Tchau, titio — Sebastian se despede de ambos,

Abigail acena e Harry apenas assente.

— Tchau, Abigail. Tchau, senhor Vogel — mostro a língua para ele,


sem que Sebastian perceba, o deixando indignado enquanto a coitada da

governanta tenta controlar mais uma gargalhada.

Sebastian me leva para o interior da casa, ao caminho que leva aos

fundos da propriedade, fico sem entender.


— Ué, para onde estamos indo? O carro não está nos esperando lá
fora? — saímos da casa, bem em frente à piscina, seguindo caminho.

— Não vamos de carro. Vamos de helicóptero — aponta para a

aeronave no heliporto, que é ativada, as hélices começando a rodar.

— Oh, meu Deus! — fico impressionada.

Sebastian coloca os seus óculos escuros, se tornando mais charmoso

ainda. Coloco os meus e juntos entramos no helicóptero, onde o piloto nos


aguarda. Recebemos os fones de ouvido para facilitar a comunicação,

apertamos as mãos e alçamos voo, saindo do chão pouco a pouco até


invadirmos o céu.

— Isso é incrível! Eu nunca tinha voado de helicóptero! — digo, com


os cabelos esvoaçando do vento que vem das janelas.

— É mais adrenalina, não é? — Sebastian cresce o sorriso, é o

homem mais lindo do mundo. Por dentro e por fora. E pelo visto, adora esse
tipo de aventura.

— Muito mais! — confirmo, adorando a experiência.

Logo estamos voando sobre toda a Nova York, sobre os outros


distritos, acima dos grandes prédios. Em alguns instantes até passamos

entre eles, com uma visão panorâmica da belíssima Big Apple. É uma
emoção única, diferenciada, uma distração que eu e Sebastian estávamos
precisando como casal, ainda mais depois do que aconteceu ontem.

Coloco a mão livre no ventre, pensando no nosso filho, na criança que


está sendo gerada dentro de mim. Sebastian deposita a sua mão sobre a

minha, me dando apoio como sempre fez desde que passamos a namorar.
Trocamos um olhar de amor, uma conexão profunda que traz paz.

Saímos da cidade e, pouco tempo depois, sobrevoamos a

deslumbrante Hudson Valley, que consiste na região que inclui o vale


formado pelo rio Hudson e as cidades que se situam em seu entorno. A

sensação é a de ter saído da selva de pedras e adentrado numa floresta


encantada de folhagem que explode em cores vívidas e múltiplas.

A orla do rio com os seus vilarejos e fazendas é tão perfeita que


parece ter saído de uma pintura. Pousamos em uma das propriedades

cercada de centenas de árvores, com um vasto gramado verde que me faz


suspirar encantada.

— Nossa, Sebastian... é lindo demais! — estou apaixonada.

Nós saímos do helicóptero e avistamos Zeus se aproximando a todo

vapor com um cavaleiro às suas costas o conduzindo. Ele relincha alto


enquanto se aproxima, como se estivesse me chamando. A sua pelugem
reluzente é como uma gota de tinta branca em meio à paisagem colorida, de
tirar o fôlego.
SEBASTIAN VOGEL

Os dias se tornam semanas, as semanas se tornam meses e assim


chegamos ao quinto mês de gestação. É estranho acreditar que já estamos

tão perto de ter mais um integrante nesta casa, que nos transformamos em

uma família.

Sempre sustentei a ideia de que estava preparado para ser pai, tomei

essa responsabilidade porque me vi como único a tirar Aurora da enrascada

na qual a coloquei, porque a queria e estava apaixonado por ela.

Mas, a verdade é que não sei absolutamente nada sobre isso, pois

nunca tive um pai presente, então o que me resta agora é a insegurança, que
escondo dentro de mim a todo custo, pois diante da minha mulher sempre

prefiro demonstrar fortaleza, apesar dela sempre me passar força também.


Estou muito curioso para saber o sexo do bebê, contudo, Aurora fez

questão de aumentar a minha ansiedade com a ideia do Chá de Revelação,

que acontecerá hoje. Saio do quarto vestido em um casaco devido ao frio

que faz lá fora, estamos no inverno, a neve está espalhada por todo lado.

Sigo para o cômodo ao lado, o abrindo e entrando, é o quarto do bebê,

de tons neutros e suaves, já que ainda não sabemos se é homem ou mulher.

Aurora fez questão de se adiantar e deixar tudo montado, realmente ficou

muito bonito.

Acaricio a madeira do berço, processando o fato de que em breve a

criança estará nele. Torço para que seja meu filho, sinto que é, mas se não

for, também será bem-vindo, não irei rejeitá-lo, pois conheço a dor da
rejeição.

Aproximo-me da cômoda onde há um recipiente fofo com algumas

bolinhas de apertar e morder, feitas de silicone. Pego uma delas e, ao

pressioná-la entre os dedos, sou levado para uma lembrança antiga, onde eu

e Alec, ainda dois garotinhos, brincávamos com uma bola igual, sentados

no chão do nosso quarto, jogando um para o outro, sorrindo, felizes.

Naquela época éramos muito unidos, vivíamos juntos para todos os

lados, gostávamos de ser idênticos. Mal sabíamos que mais na frente um


temporal atravessaria a nossa vida e faria com que nos afastássemos e nos

odiássemos, como se não tivéssemos o mesmo sangue.

Onde será que ele está? Já faz um tempo que ordenei que os meus

advogados o procurassem para tentarmos anular o seu compromisso com

Aurora de forma amigável, sem envolver a justiça, porém, nunca mais fui

informado sobre o assunto. Aconteceram tantas coisas que acabei

esquecendo.

Pensando nisso, retiro o celular do bolso e ligo para um dos

advogados. Apesar de já estar anoitecendo e hoje ser domingo, sei que ele

irá me atender. Após indagá-lo sobre o rastreamento de Alec, ele responde:

— Ora, senhor Sebastian, a investigação foi encerrada há tempos —

relata, me assustando.

— Como assim encerrada? Quem ordenou esse encerramento? — não

estou gostando nada dessa história e o meu tom de voz denuncia isso.

— O senhor — o cara treme a voz, notando que tem algo errado.

— Eu não mandei encerrar nada, está me chamando de maluco? —


franzo a testa, perturbado.

— Nós recebemos um e-mail da sua secretária ordenando que

parássemos de procurar pelo senhor Alec — isso me deixa em alerta, não


posso acreditar.
— Qual secretária? A atual ou antiga? — só quero a confirmação,

porque sei muito bem qual das duas enviou o e-mail.

— Espere só um momento, vou averiguar — afirma, a ligação fica em

silêncio. Ouço alguns sons que me fazem deduzir que o homem está

mexendo no notebook. Quando já estou perdendo a paciência, ele volta a

falar: — O e-mail foi de Ashley Marshall, poucas semanas depois da ordem

dada para começar a investigação.

— Deve ter sido depois que a demiti — bato a mão na cômoda com

força, descontando a raiva — Desgraçada! — rosno, enraivecido.

— Mas não se preocupe, senhor Vogel, se quiser, podemos reiniciar

as buscas e...

— Reinicie. Reinicie imediatamente! — ordeno.

— Meu amor? — ouço a voz de Aurora às minhas costas, o que me

faz desligar e guardar o celular imediatamente.

Viro-me, encontrando-a na porta, linda, em um vestido branco com

estampa de flores que formam uma aquarela em rosa e roxo. A barriga

enorme, que aparenta ter bem mais do que cinco meses, que demorou a

aparecer, mas quando apareceu, ficou bem destacada, deixando a minha

mulher ainda mais linda.


— Oi — forço um sorriso, ela vem em minha direção, maquiada, o

cabelo que agora está maior, preso em um coque delicado, sofisticado.

— O que houve? Por que está tenso? — acaricia o meu queixo. A


convivência está fazendo com que ela me conheça mais e,

consequentemente, eu me mostre mais também.

Respiro fundo, não quero falar agora, não hoje no dia da festa que ela

organizou com tanto carinho.

— Depois da festa eu falo, não quero estragar o nosso momento. Hoje

é um dia especial — afirmo, acariciando os braços dela, sentindo o seu

perfume delicioso, mas as minhas palavras não a convencem.

— Nós já combinamos que ocultar coisas um do outro não é legal —

recorda, séria. — A única coisa que decidimos esconder de nós mesmos foi

o sexo do bebê, isso somente a Abigail sabe e não vamos descer para

descobrir isso juntos sem antes você me contar o que está acontecendo,

senhor Vogel — determina, colocando-me contra a parede.

Suspiro outra vez, escorregando as mãos para a sua lombar, ainda


fazendo carinho, gosto de afagar cada pedacinho do seu corpo.

— Acabei de descobrir que a minha ordem para procurar por Alec foi

retirada meses atrás, por isso o atraso nas investigações dos meus

advogados — conto, deixando-a em alerta.


— Quem retirou a sua ordem?

— Ashley, logo depois que a demiti — ela tem que saber, prometi que

não esconderia mais nada.

— Por que essa mulher faria isso? — Aurora está odiando a

informação.

— Com certeza deve ter feito os cálculos e descoberto do seu

casamento com ele, que era o motivo para encontrá-lo. Ela quis nos atrasar,

pois sabia que assim que você ficasse solteira de novo, se casaria comigo. É

a única coisa em que consigo pensar.

— Nossa, que mulher ridícula, não entendo essa obsessão que ela tem

por você.

— Só pode ser doente, sempre deve ter sido e eu é que nunca percebi.

Mas não se preocupe, já mandei reiniciar a procura por Alec, dessa vez vai

dar certo — a abraço, no toque de braços entrelaçados e corpos unidos

encontramos apoio um no outro.

— Pelo menos ela nunca mais deu as caras, nunca mais nos causou

problemas — comenta, voltando a olhar em meus olhos.

— E nem voltará, ela foi embora de Nova York — informo,

surpreendendo Aurora.

— Embora por quê?


— Digamos que dei um jeito de dificultar a sua vida aqui até ela

procurar outro lar — confesso.

— E precisava chegar a esse ponto? Não gosto quando vai além dos

limites, Sebastian. Também não precisava atrapalhar a vida profissional

dela — sempre defendendo os fracos e oprimidos, mas eu não penso assim.

— Meu amor, foi realmente necessário. Naquele dia do aniversário de

Andrew, enxerguei em Ashley um perigo que até então desconhecia e isso


se confirma agora com essa decisão que ela tomou sem o meu

consentimento. Você confia demais nos outros, eu sou o oposto, por isso me
previno, porque mais vale prevenir do que remediar.

Aurora não parece convencida. Acontece o que eu temia acontecer,


ela fica triste e se afasta, me dando as costas, de braços cruzados. Vou até

ela e a abraço por trás, pousando as mãos em sua barriga, beijando o seu
ombro, delicado.

— Não vou te pedir desculpas por isso... — murmuro, mas ela me

corta.

— Não se arrepende — completa. — Eu sei, o conheço. Já pensou

como vai ser quando encontrarmos o seu irmão? E se ele, por algum
motivo, não concordar com o divórcio? — a sua voz denuncia o quanto

teme o futuro.
— A oposição dele não impedirá que a separação de vocês aconteça.
Primeiro, é bom tentar o divórcio amigável. Porém, se ele não aceitar,

partiremos para o litigioso, não haverá outra saída.

— Eu realmente prefiro o divórcio consensual e espero que ele


escolha esse caminho também. Já há tantas feridas entre a gente, ir à justiça

só demandaria mais tempo e desgaste — Aurora aperta as minhas mãos


sobre o seu ventre, tensa só de imaginar.

— Conhecendo Alec como conheço, tenho quase certeza de que não


erguerá barreiras quanto a isso. Talvez ele até já esteja procurando por nós

para desfazer esse compromisso também.

— O meu maior medo é dele ter mudado, as pessoas mudam após


acontecimentos ruins — a sua preocupação me incomoda. Viro-a de frente

para mim, olhando no fundo dos seus olhos.

— Não quero que pense nisso hoje. Daqui a pouco os convidados

chegam, temos que descer. Hoje é um dia feliz, não vamos focar em
problemas.

— Tudo bem — me beija, fechando os olhos. A correspondo.

Damos as mãos e seguimos para o térreo, que está todo decorado,


desde a entrada da casa até a sala de estar onde acontecerá a festa. Toda a

ornamentação se encontra em tons de verde e roxo, representando o


masculino e o feminino, trazendo aquele ar de dúvida para descobrir qual é
o sexo da criança.

As janelas estão de cortinas abertas, dando visão para a neve caindo


no jardim. Há uma enorme árvore de natal decorada em um canto, linda,

brilhando com pisca-piscas que estão espalhados por toda a casa, inclusive
na parte de fora, tudo obra da Aurora, que fez questão de entrarmos no

espírito natalino.

Há uma mesa gigantesca no centro da sala com diversas guloseimas,


biscoitos, doces, brigadeiros e muito mais. Também tem lembrancinhas nos

tons de verde e roxo, além de colunas de balões em pontos específicos,


formando uma imagem incrível para fotografias.

O pessoal que contratamos para cuidar da festa caminha de um lado


para o outro, terminando os últimos detalhes sob a supervisão de Abigail.

Ao nos aproximarmos do sofá, encontramos o tio Harry sentado nele, com a


sua carranca de sempre, o olhar de superioridade, observando o pessoal

trabalhando.

— Olha só quem já está aqui!! — Aurora comemora, chamando a


atenção dele. — Que bom que veio, senhor Vogel, achei que passaria o Chá

de Revelação inteiro dentro do seu quarto — alfineta, fazendo-me apertar a


sua mão com discrição, em um pedido implícito para que cale a boca,

entretanto, sou ignorado com sucesso.

— Sebastian me obrigou a vir — dispara o velho, fazendo pior que


ela. Esses dois não têm jeito.

— Foi mesmo? — ela me fita, como quem não quer acreditar, em


seguida volta a focar nele. — Achei que estivesse aqui por vontade própria,

já que está usando a roupa que comprei para o senhor.

Fecho os olhos quando ela revela isso, sabendo que estou fodido.

— Sebastian disse que foi ele quem comprou, se eu soubesse que

tinha sido você não estava usando, não gosto dessas roupas em tons
femininos — titio não tem papas na língua, não para de resmungar. É

ranzinza por natureza!

Aurora faz um bico em minha direção, pegando-me em flagrante,


odiando que menti, pois o presente era um meio dela se aproximar mais do

meu tio e convencê-lo a vir para a festa. Como eu sabia que ia dar merda,
decidi fazer do meu jeito.

Fico sem saber onde enfiar a cara diante do olhar repreendedor dela e
agora é a minha mão que passa a ser apertada pela sua. Chego a sentir a sua

vontade incontrolável de me torturar.


— Eu lhe fiz um favor, não podia deixar que recebesse a notícia do

sexo do bebê com aquelas roupas escuras que o senhor sempre usa. Veja,
até o seu sobrinho está mais elegante com esse casaco creme. Também foi

presente meu — Aurora argumenta, apontando para mim.

Titio me vistoria com deboche.

— É o nosso fim — reclama, Aurora revira os olhos.

— Tio! O que foi que conversamos? — o repreendo, ele vira o rosto,


apertando a sua bengala. — Facilita, por favor!!

Abigail se aproxima, hoje ela não está uniformizada, usa um vestido

preto, maquiagem e também está de cabelo feito, tudo coisa da Aurora, que
destacou a mulher dos demais funcionários.

— Tudo pronto para começarmos, senhorita — diz a Aurora,


sorrindo. — Os convidados já estão chegando.

— Ah! Que maravilha! Vamos recebê-los, Sebastian! — ela me puxa


pela mão, contente. Seguimos sozinho para a porta principal.

— Sabia que essa é a primeira festa que está acontecendo nessa casa?

— indago, observando a sua felicidade.

— Abigail me contou, será a primeira de muitas se depender de mim!

— ela pisca para mim, meu coração até bate mais forte com esse simples
gesto.
Assim, começamos a receber cada convidado, em sua maioria, casais.
Aurora, durante esse tempo em que estamos juntos, se tornou amiga de

diversas pessoas, principalmente após ficar mais íntima de Karen, que a


apresentou a outras mulheres. Recebemos amigos do trabalho e também do
grupo que passamos a frequentar de futuros papais e mamães.

O tempo passa e a festa está sendo um verdadeiro sucesso, tiramos


várias fotos e nem titio consegue escapar das câmeras, Aurora o irrita

quando consegue um flash com ele, mas Harry sabe se comportar e finge
que está tudo bem diante dos convidados.

Quando chega o momento de finalmente descobrirmos o sexo da


criança, eu e Aurora tomamos os nossos lugares atrás da mesa com o bolo
de três andares. O pessoal faz uma contagem regressiva de dez a zero, nós

cortamos o primeiro pedaço juntos, encontrando o recheio esverdeado no


interior do bolo, afirmando que é menino!

Neste momento, os balões nas laterais da mesa explodem confetes


verdes, como se fossem foguetes, animando o pessoal, principalmente os

homens, que rugem por ser um garotinho.

— É meninoooo!! — exclama Aurora e eu simplesmente sorrio, não


consigo não sorrir. Meu coração acelera, um contentamento me invade, é

difícil explicar. — Amor, vamos ter um rapazinho — Ela me beija.


— Sim, um rapaz! — ainda estou aéreo, um misto de sentimentos me
invadindo ao mesmo tempo, nunca pensei que poderia viver esse momento

e emoções como as que estou vivendo.

Karen corre para abraçar Aurora, comemorando. Andrew vem me dar

um abraço também e em seguida todos os outros convidados.

Em meio à bagunça, sem explicação alguma, o meu olhar é chamado


como um imã para a figura de uma das garçonetes que está passando

sinuosa entre os convidados, com o olhar fixo em Aurora, as pupilas tão


perigosas como as de uma cobra prestes a dar o bote.

Conheço o seu caminhar, apesar de o seu cabelo estar de outra cor. É


a Ashley! Indignado, fico pasmo por vê-la aqui, chego a acreditar que é

uma miragem até que ela olha para mim, percebendo que foi descoberta.
Tudo acontece em câmera lenta.

A mulher se apressa em sair de cena ao notar que foi identificada.


Com rapidez, me afasto dos amigos, caminhando na direção em que ela
partiu, procurando-a feito um caçador atrás de sua presa. Vejo um vulto
ultrapassando a porta da cozinha e é para lá que sigo.

Para a minha infelicidade, o lugar está cheio de outras funcionárias


com o uniforme da empresa do evento. Mesmo assim não desisto, saio para
o jardim, chamando os seguranças para me acompanharem, avistando
Ashley se afastando em direção ao portão dos fundos.

— É aquela! Peguem-na!! — aponto para ela, os meus homens a

perseguem, Ashley tenta fugir, mas no fim é capturada, segurada por dois
seguranças.

Ao me aproximar, encaro o seu sorriso debochado, o olhar sem medo


de quem venceu. Seguro-a pelo queixo, apertando as suas bochechas,

fazendo-lhe uma boca de peixe.

— O que diabos você está fazendo aqui? — rosno. Estou com ódio,
muito ódio.

— Só vim distribuir os brigadeiros — afirma, irônica, louca.

Fico sem entender, mas ao ouvir gritos vindo da mansão, um medo


perverso se apodera do meu coração. Sei que uma grande merda aconteceu.

— Aurora — murmuro, sem esperanças.

Afasto-me de Ashley e corro de volta para casa feito um desesperado,


como se fosse a última coisa que preciso fazer na vida, alguns dos meus
homens me seguem.

— AURORA!! — grito abominado, pensando o pior. É como se as

minhas pernas não corressem o suficiente, me sinto inerte, impotente, não


conseguindo voltar para a festa na velocidade que preciso.
No caminho, esbarro em algumas pessoas, quase caio de cara no
chão, mas finalmente entro na sala, avistando com horror um círculo

formado pelos convidados em volta de alguém que está no chão.

Ultrapasso cada um com violência, perdendo a respiração a cada


passo, o meu corpo inteiro está se tremendo, o nervosismo assolando o meu
peito, mas consigo encontrar Aurora de pé, bem, e ao que parece, saudável.
Ela olha com tristeza para o chão, sigo o seu olhar, encontrando titio

desfalecido.
AURORA BELMONTE

A agonia toma conta da atmosfera. Fico em pânico quando ouço uma


convidada gritar assim que o senhor Harry vai ao chão. Corro até ele

depressa, ultrapassando as pessoas, nervosa, vendo um círculo se formar à

sua volta. Ajoelho-me ao seu lado, capturo a sua mão e tento entender o que
está acontecendo.

— Senhor Harry, o que houve? O que aconteceu? — fico atônita, os

olhos nervosos dele me assustam, está pedindo socorro, mas não consegue
falar. Noto um brigadeiro mordido na sua outra mão e então seu rosto cai

para o lado, as pálpebras se fecham, denunciando o pior.

— Aurora, o que houve? — Karen pergunta, colocando a mão em

meu ombro.

Levanto-me, largando Harry, olhando ao redor em desespero.


— Onde está Sebastian? — o procuro, mas não o vejo. A comoção é

geral, todos nervosos e assustados com o que aconteceu.

— Senhorita Aurora, o que aconteceu com o patrão? — Abigail se


aproxima, me sinto um pouco mais segura com a sua presença.

— Abigail, chame uma ambulância, rápido! — ordeno, ela sai em

disparada, entendendo que a situação não é das melhores.

— Pessoal, vamos dar um pouco mais de espaço para ele respirar, por

favor! — Karen pede, me ajudando afastar o tumulto, todos a obedecem, o

círculo se torna maior.

— AURORA!! — ouço a voz de Sebastian ainda distante, o procuro

entre os convidados, ele chega logo em seguida, aterrorizado, me fitando

ansioso para constatar se estou bem.

Levo-o a ver o seu tio e é neste exato momento que o seu desespero
se torna uma avalanche.

— Você está bem? — toca o meu ombro, preocupado.

— Sim, estou, mas não sei o que houve com o seu tio — vejo

Sebastian se ajoelhar ao lado do homem, tocando a sua mão com o coração

partido, capturando o brigadeiro com um cuidado, o que chama a minha

atenção.
— Aurora, acho que diante disso, seria melhor desfazer a festa, não

acha? Se quiser, posso ajudá-la nisso, você está grávida, não pode passar

por estresse — Karen está visivelmente preocupada comigo. Andrew está

ao seu lado.

— Nós conhecemos quase todos que estão aqui, se preferir, podemos

falar com eles — ele completa, lançando-me um olhar de apoio. Ambos são

amigos verdadeiros.

— Eu ficaria imensamente grata — suspiro, segurando as mãos dela.

Karen assente e se afasta com o marido, passando a dispersar os

convidados que, pouco a pouco, compreendem a situação e vão embora.

— Eu não posso ficar aqui de mãos atadas, tenho que levar o meu tio

agora mesmo para o hospital mais próximo! — nunca vi Sebastian tão

tenso, é como se estivesse prestes a perder um pedaço do próprio corpo.

— Acalme-se, meu amor, o socorro já está a caminho — acaricio o

seu combro, aflita.

— Sim, já estão a caminho — diz Abigail, se reaproximando, aflita.

— Você comeu algum brigadeiro? — Sebastian me segura pelos

braços, amedrontado. Meneio a cabeça em negativa. — Ninguém pode

comer dos brigadeiros! Algum convidado comeu brigadeiro? — indaga,


nervoso, inquirindo Abigail.
— Não, apenas o senhor Harry comeu antes da hora, ele adora

brigadeiros, mas os convidados, não — afirma a mulher.

— É verdade, tudo só iria ser servido após a descoberta do sexo da

criança — completo, querendo compreender o que há de mal nos

brigadeiros.

— Abigail, chame a polícia também e guarde todos os brigadeiros,

não deixe ninguém os tocar! Você me ouviu bem? — Sebastian exige, nos
assustando.

— Sim, ouvi, patrão. Tudo bem — a mulher se afasta para obedecê-

lo. Sinto o medo corroendo a minha espinha.

— O que tem nos brigadeiros, Sebastian? — pergunto, assustada.

— Foi a Ashley, ela está aqui disfarçada de garçonete, com o

uniforme da empresa que contratamos para cuidar do evento. Ela colocou

alguma coisa nesses brigadeiros para te atingir, tenho certeza, mas o

atingido foi titio.

Fico chocada, boquiaberta, levando longos segundos para processar a

informação, de olhos esbugalhados, observando os brigadeiros sendo

retirados pelo pessoal e levados para a cozinha.

— Os paramédicos chegaram! — Andrew vem nos avisar, os homens

vêm em nossa direção com todos os equipamentos necessários para levar


Harry até a ambulância. Se agrupam ao lado dele no chão e o colocam sobre

uma maca.

— Eu vou para o quarto pegar algumas coisas para acompanhar o


meu tio — Sebastian acaricia a lateral do meu rosto. — Você fica aqui, meu

amor, e diga à polícia que Ashley foi pega em flagrante, que ela confessou

que estava distribuindo os brigadeiros. Não queria que fizesse isso, não

grávida, mas tenho que ir com o Harry.

Respiro fundo, recebendo as informações, absorvendo cada uma

delas. Preciso ser forte agora, estou abalada, mas ele também, é o único

parente com quem tem um laço, não podemos perdê-lo.

— Vá, eu resolverei tudo, estou bem, não se preocupe, meu amor. —

Asseguro, segurando a sua mão, tentando lhe passar confiança. — Abigail,

Karen e Andrew estão aqui comigo, vou resolver. Agora só preciso saber

onde está aquela infeliz? — o meu ódio por essa mulher está além do

imaginável.

— No jardim, mas não quero que se aproxime dela, está me ouvindo?

— Sebastian me repreende no olhar, com medo do que eu possa fazer. Os

paramédicos saem de casa com Harry.

— Jamais, nem quero ver a cara dela. Agora corra, você tem pouco

tempo. Vai!
Ele me beija rápido e se afasta às pressas.

— Vagabunda... — rosno, as minhas mãos estão tremendo de raiva e

também pelo susto.

— De quem está falando, Aurora? — Karen chega a tempo de escutar

o meu xingamento.

— Foi a Ashley, Karen, aquela da festa do Andrew, a ex-secretária de

Sebastian, ela foi a culpada pelo que aconteceu ao senhor Vogel! — digo,

enfurecendo-me.

— O quê? A Ashley? Mas como? — Karen não consegue entender.

Dou-lhe as costas, sabendo muito bem para onde ir. Karen me segue,

preocupada, chamando-me, mas não dou ouvidos. Caminho depressa, cada

passo um terremoto. Saio no jardim, avistando dois seguranças segurando a

criminosa que agoniza para ser libertada.

Ao vê-la, Karen e eu entendemos como ela fez todo esse mal, já que

está uniformizada como os funcionários do evento, se camuflou entre eles e

não percebemos. Ashley cala a boca quando me aproximo e acerto-a com

uma bofetada de arder a mão.

— Sua criminosa! Doente! — exclamo, emputecida. Não satisfeita,

acerto mais um tapa em seu rosto, a minha mão fica dolorida. — Vai pagar

pelo que fez!


— Aurora, pelo amor de Deus, você está grávida! — Karen toca o

meu braço, com medo de me ver fazendo mais.

Ashley sorri em meio às lágrimas, psicopata, com as marcas dos meus

dedos em sua face. Ouvimos o som da sirene policial, o carro vem em nossa

direção. Isso é o suficiente para fazer a louca perder o riso e apenas chorar

como uma criança. Ela realmente não é normal.

Karen me acompanha até os policiais, eu relato tudo a eles e Ashley é


levada, assim como uma perícia é chamada para verificar toda a comida do

evento. Os donos da empresa contratada e os demais funcionários são


levados à delegacia para depor, todos são suspeitos.

Após horas de movimentação e loucura, me sinto um pouco fraca,


então Karen e Abigail me levam para o meu quarto. Tomo um banho e fico

na cama, já me sentindo melhor, mais relaxada.

— Quer que eu durma aqui contigo? Eu durmo, não tem problema —


Karen está sentada ao meu lado, acaricia a minha mão, solícita.

— Não, querida, não precisa. — Sorrio, massageando os seus dedos


entre os meus. Abigail nos observa em pé. — Pode ir com o seu marido, já

estou bem melhor, consegui descontar um pouco da minha raiva nos tapas
que dei naquela infeliz e na satisfação ao assisti-la sendo carregada pela

polícia.
— Olha, se alguém me contasse o que aconteceu aqui hoje, eu não
acreditaria. É incrível como o ser humano pode ser mal, não é? Estou

chocada, embasbacada, enfim — dá para notar que ela ainda está tensa.

— Imagine eu, mas já passei por outras serpentes como ela, sei do
que o ser humano é capaz e acredite, é assustador.

Nós respiramos fundo ao mesmo tempo.

— Tem certeza que não quer que eu fique? Agora você me deixou
preocupada — insiste, mas nego com o rosto. Gosto da Karen, sinto

somente energia positiva vindo dela, mas após as experiências que tive com
a Duda em termos de amizade, prefiro não aprofundar tanto esse tipo de

relação como fazia antes.

Após sofrermos com certas ocasiões da vida, consequentemente, nos

fechamos para outras, afim de evitar repetir a experiência que nos fez tão
mal. É assim que funciono hoje. Não quero generalizar, mas já sou uma

pessoa mais desconfiada, ainda mais agora com essa tal Ashley. Nunca
sabemos o que podemos esperar dos outros. Nunca.

Karen compreende, troca beijinhos no rosto comigo e se vai.

— A senhorita quer alguma coisa? — Abigail está preocupada, se


aproxima, analisando-me.
— Estou desejando um suco de maracujá com pouco açúcar, meio
azedinho, sabe? Desejando bastante — afirmo, acariciando a barriga.

— Vou providenciar — a mulher sai e retorna alguns minutos depois


com o copo na bandeja, oferecendo-me.

Pego-o, mas não consigo tomá-lo. Travo ao lembrar que hoje passei

perto de ser envenenada ou sei lá o quê. Fico observando o suco amarelo e


imaginando milhares de coisas ruins, mesmo vindo de alguém que gosto

muito. Penso no meu filho, em Sebastian e também em Harry, o medo


congelando cada célula do meu corpo.

— Perdi a vontade — minto para a mulher, sem graça, constrangida,


devolvendo o copo para a bandeja em suas mãos. — Leve, talvez em outro

momento.

Abigail franze a testa, sem entender. Ela passeia o olhar entre mim e o
copo e então, para a minha surpresa, bebe um gole bem servido, fazendo

uma careta engraçada em seguida.

— Eu prefiro bem mais doce, mas se a senhora quer assim — volta a

me oferecer. — Tome, beba, ou o rapazinho nascerá com cara de maracujá,


já pensou? — me tranquiliza.

— Ah, Abigail, muito obrigada — fico bastante aliviada com essa sua

atitude, por me entender e me acolher em um momento tão sensível da


minha vida.

Seguro a sua mão, pegando o copo com a outra e bebendo o que tanto

estava desejando, satisfazendo-me, sentindo o gosto da fruta do jeitinho que


imaginei.

— Não se preocupe, aqui a senhorita está segura. Se precisar, comerei


e beberei tudo o que for para as suas mãos, para lhe dar segurança — ela é

incrível.

— Não precisa tanto, mas obrigado por me entender. Hoje foi tão
difícil — a minha voz embarga, engulo o choro. — Será que o velho

ranzinza está bem? Já tentei falar com Sebastian, mas ainda não consegui
— uma lágrima escorre por minha face.

— Tenho certeza que ele se livrará dessa, não fique assim. Vaso ruim
não quebra, já ouviu falar?

Sorrio, enxugando o meu rosto após devolver o copo seco a ela.

— Apesar de tudo, eu gosto dele, sabe? E sei que ele gosta de mim,
só é chato demais para admitir — choramingo, fungando, buscando cessar o

pranto.

— É impossível não gostar da senhora, também já notei que ele gosta.


Tudo vai se resolver. Tenho fé que logo, logo o senhor Vogel estará de

volta.
O meu celular vibra na mesinha ao lado da cama.

— É o Sebastian, ele não pode ouvir a minha voz de choro — fico um


pouco ansiosa, capturo o aparelho, preparando-me para atender. Abigail sai

do quarto para me dar privacidade. — Oi, amor, e aí? Como ele está? Ele
vai ficar bem?

— Oi, querida. Titio está na urgência — fala com a voz abalada, o

meu coração fica apertado. — Eles fizeram uma lavagem intestinal,


limpando tudo por dentro dele e descobriram que a substância nos

brigadeiros era um tipo de remédio usado para... — a sua voz falha, sinto a
sua dor, porém Sebastian tenta ao máximo escondê-la de mim.

— Para quê? Diga? — fico nervosa, o peito batendo acelerado.

— Para causar abortos. Ela queria que você perdesse o nosso filho —
conta. Automaticamente as minhas pernas ficam geladas.

— Meu Deus — levo a mão à testa, não me sentindo bem.

— Droga, eu não devia ter te falado assim. Amor? Aurora? Diga


alguma coisa.

— Estou bem, Sebastian. Eu estou bem — minto, porém, não quero


preocupá-lo.

— Qualquer coisa que sentir, não me esconda, está me ouvindo? Não


me esconda nada, nós prometemos, lembra? — ele está bastante
preocupado, a sua voz denuncia isso.

— Sim, prometemos, farei a minha parte. Agora estou deitada aqui no


quarto, está tudo ótimo, Abigail está à minha disposição. E a bandida, ainda

está presa? — pensar nela em liberdade me atormenta.

— Sim, os meus advogados vão cuidar para que ela fique na cadeia

até o julgamento. Eles descobriram que ela tem histórico de


comportamentos sociopatas, não é a primeira vez que faz algo do tipo.

Quanto à empresa que contratamos, já estou cuidando para processá-los,


quero que paguem por tamanha irresponsabilidade, aquela mulher jamais

deveria ter entrado na nossa casa. A comida do Chá de Revelação foi toda
removida, não está mais em casa.

Começo a chorar, lembrando da festa que organizei com tanto

carinho.

— Aurora, por favor, não faça isso — Sebastian implora. — Não

chore, não quebre o meu coração.

— Ela acabou com o nosso momento especial — digo, com a voz


quebrada, tentando respirar direito.

— Nós teremos outros, muitos outros, eu prometo. Agora preste


atenção e me diga, qual o nome daremos ao nosso filhote, hein? Já pensou
em algum? Conte para mim — usa essa arma para me acalmar, desanuviar
os meus pensamentos.

— Pensei em Henry — choramingo, querendo acabar com o pranto,


me faz bem pensar no meu bebê. — Ou talvez... David.

— Lindos, eu amei os dois. São nomes lindos assim como você —

sinto a emoção na sua voz e sorrio, me sentindo melhor. — Vai dar tudo
certo, titio sairá deste hospital e logo estaremos todos juntos novamente.

Eu, você, ele e o Henry, ou... David.

— E a Abigail — completo, fungando pela última vez.

— E a Abigail — repete, me deixando mais leve. — Eu te amo —

confessa, sussurrando. — Te amo como jamais amei alguém — as suas


palavras penetram fundo, até a minha alma, e me fortalecem, acalentam.

— Eu também amo você. Muito, muito, muito — estou repleta de

sentimentos bons agora.


SEBASTIAN VOGEL

Após quinze dias que tio Harry foi internado, ele finalmente está
prestes a ter alta, essa notícia amenizou a minha dor de cabeça, mas não por

completo. Ashley ainda é um assunto inacabado, ela conseguiu reavivar um

tipo de ódio que alimentei por muito tempo e que Aurora até então estava
me fazendo esquecer.

Não consegui deixar de pensar em Ashley nem por um segundo e

agora já estou armado com o que é preciso para mostrar a ela com quem
mexeu.

Fito a pasta com os documentos ao meu lado, estou dentro do carro,


indo à prisão onde a psicopata se encontra. O meu semblante não é dos

melhores, longe disso, a cada passo que dou quando entro no presídio é
como se Ashley estivesse mais próxima, como se eu conseguisse farejar o

seu cheiro podre, que hoje me dá nojo.

Após me identificar, o próprio diretor do presídio em pessoa vem me


receber. Nos cumprimentamos na parte externa do complexo.

— Seja bem-vindo, senhor Vogel. É um prazer conhecê-lo — o

homem sorri, contente, não poderia ser diferente, o nosso acordo rendeu
uma boa quantia a ele.

— Obrigado — agradeço, sem lhe devolver o riso, desfazendo o

nosso aperto de mão.

— Acompanhe-me — ele caminha na frente, o sigo até a sua sala.

O homem magro e bigodudo abre a porta, indicando para que eu entre

e assim faço, sentando-me na poltrona em frente à sua escrivaninha

envelhecida. O seu escritório é podre, malcuidado, bem a cara do dono


mesmo.

— Ela já está a caminho, aceita um café? — faz menção em pegar a

garrafa sobre a mesa, mas ergo a mão, o impedindo.

— Estou bem, obrigado. Não quero demorar, então cuide do

combinado — ordeno, o deixando agitado. Não vim para cordialidades e

nem para ter o meu saco puxado, só quero atingir o meu propósito.
— Ah, sim, eu vou verificar — ele movimenta os ombros, se

apressando em sair da sala. Segundos depois a abre, permitindo que Ashley

entre, sendo conduzida por um guarda, algemada.

Ela surge na sala sem entender o que está acontecendo, mas ao me

ver, um lampejo de esperança atravessa a sua íris cansada, o sorriso nasce

no rosto abatido e machucado de quem apanhou na cadeia. O policial a faz

sentar na poltrona à minha frente.

— Ótimo — afirma o diretor, sorrindo. — Vamos! — chama o

guarda.

— Retire as algemas dela — ordeno, o sorriso de Ashley cresce ainda

mais. O homem fica sem entender e fita o seu patrão, esperando a ordem

que é dada em seguida. A mulher é libertada e acaricia os próprios pulsos

que estão marcados.

Quando ficamos sozinhos, uma lágrima escorre por sua bochecha

enquanto murmura:

— Você veio me ver — parece uma comemoração. Realmente é

maluca, mas vou mostrar que sou mais.

Abro a pasta sobre as minhas pernas, capturando a primeira foto, onde

ela está totalmente diferente, com outra cor de cabelo, um pouco mais

jovem, abraçada a um cara.


— Seu nome verdadeiro é Tiffany Madson, você morava em Ohio e

se mudou para cá há alguns anos após uma série de crimes cometidos com

homens diferentes. Mudou de nome, de fisionomia, falsificou documentos,


tudo isso depois de fugir de uma clínica onde foi internada — enquanto

falo, coloco as provas sobre a mesa, imagens, notícias antigas, percebendo-

a esmorecer. — Troy, Ben, Jacob e Philip foram algumas das vítimas que

você lesionou com os seus ataques psicóticos — mostro as fotos de cada

homem que citei. Ashley fica sem chão.

Deixo a pasta de lado, cruzando as pernas e encarando a mulher com

ar de superioridade e ódio. Ela está arrasada, provavelmente pensando em

como agir.

— Achou mesmo que conseguiria esconder tudo isso de mim e da

justiça? Esse dossiê já foi entregue como prova ao juiz. Descobri até como

você conseguiu esconder o seu passado e entrar na minha empresa, já

demiti o funcionário que trabalhava nos recursos humanos por ter te

ajudado, aquele com quem fez o teste do sofá, ele vai ser testemunha contra

você na próxima audiência — cruzo as mãos, me satisfazendo por perceber

que estou conseguindo magoá-la, assisto ao seu desespero. — Onde achou

que iria chegar comigo? O que estava pretendendo?

Ela chora lágrimas de crocodilo, não sinto um pingo de pena.


— Eu só queria ser amada, só queria estar ao seu lado e...

— Para com essa ladainha porque não me convence! Pode ter sido

louca com esses daí — aponto com o rosto para os homens das fotos —
entretanto, eu não sou otário como eles, não vou cair nesse papinho. Achou

que eu me apaixonaria por causa de uma noite? Você é gostosinha, mas não

fez nenhuma diferença para mim, foi só mais uma, um sexo casual. Eu

sequer lembrava da sua existência no dia seguinte.

Ashley enxuga o rosto com raiva, a cólera tomando conta do seu

sangue pouco a pouco, a máscara caindo. Apoio os cotovelos nos joelhos e

aproximo o rosto do seu.

— Sabe por que mandei tirar as suas algemas? — sibilo perverso, a

intimidando. — Porque não tenho medo de você, porém, você deveria ter

tido de mim antes de resolver invadir a minha casa e atentar contra a minha

família. Não sei que porra passou pela sua cabeça, mas sendo psicopata ou

não, sei muito bem qual é o remédio que precisa para aprender a me

respeitar e nunca mais entrar de novo em meu caminho: a morte — rosno a

última palavra, com desejo de que se realize.

— Não... por favor — implora, amedrontada, se desesperando,

deixando mais lágrimas desabarem.


— Na justiça você vai pegar apenas alguns anos de prisão, pode até

ser bastante tempo, contudo, quero me certificar de que não irá mais existir

neste mundo — o seu sofrimento me deleita, me sinto revigorado com a

vingança.

— Por favor, não... juro que não vou mais interferir. Eu juro! —

exclama, tentando me tocar, mas me afasto, voltando a sentar direito, de

costas eretas.

— Por que fez aquilo? Alguém ordenou? — quero saber, quero tirar

qualquer informação que ela possa me dar.

— Não! Não! Eu queria me vingar por você não ter me escolhido, por

ter destruído tudo o que conquistei aqui! Não consegui mais encontrar

emprego, fiquei com raiva por ter sido rejeitada! Você não podia me

rejeitar, Sebastian! Eu que deveria estar grávida, eu deveria ser a sua

esposa! — exclama, enlouquecida, agoniada, desentalando o que estava

preso em sua garganta, mas não me convence.

Respiro fundo, não me afetando com as suas palavras. Volto a cruzar

as pernas, analisando a vagabunda.

— Sabe a sua companheira de sela? Essa que te deu uma surra? Ela

fez isso porque eu mandei — revelo, recebendo os seus olhos esbugalhados

sobre mim. — Ah, Ashley ou Tiffany, você realmente não sabe com quem
se meteu — finjo lamentar, balançando o pé. — A sua colega tem uma

navalha escondida no quarto e vai cortar a sua garganta assim que você for

levada de volta para a sela — ameaço. — Pena não me dizer a verdade, vai

morrer antes disso.

— Não! Não! — grita, enquanto levanto e bato na porta. O guarda

entra imediatamente acompanhado do Diretor. Ashley se debate, lutando

contra o homem, mas volta a ser algemada.

Ela faz de tudo para não ser levada, gritando, agonizando, sendo

arrastada. Antes de ultrapassar a porta, consegue se desvencilhar do policial


e se jogar de joelhos aos meus pés.

— ERA O SEU DINHEIRO! — berra, confessando. — Era o seu


dinheiro que eu queria, seu desgraçado!! Mas perdi o controle... me

desequilibrei — afirma, em prantos, emitindo soluços de desespero pela


garganta, que se quebram no ar. Ergo a mão para o guarda, o impedindo de

tocá-la, ele e o outro observam tudo de camarote. — Eu quis todos vocês!


— observa as fotos na mesa, humilhada. — Porém, nenhum correspondeu

ao meu sentimento, nenhum me valorizou como deveria! Por isso deixei de


ser trouxa e quis o seu dinheiro, entretanto, deu tudo errado... confundi os
sentimentos e no final quis me vingar — ergue o rosto infeliz para mim,

agora sim vejo a verdade escancarada. — Pena que não consegui atingir
quem eu queria! — parece o demônio falando.
— Ora, ora, então a louca não é tão louca assim — debocho, com
vontade de cortá-la em pedaços tamanha fúria.

Passo a mão em seus cabelos desgrenhados e puxo um punhado,

erguendo o seu rosto com força. Ashley fica atônita, se tremendo de pavor,
com os olhos assustados grudados em mim, respirando acelerado, é como se

eu conseguisse ouvir o seu coração batendo frenético.

— Eu já fiquei preso também — conto, malvado, a voz cortando o ar

como veneno a se entranhar na pele dela. — Sei muito bem o que é estar
impotente, indefeso, não conseguir revidar. Sabe o que vou mandar fazer

com você antes de te matarem, caso ainda chegue a pensar na minha


família?

Agacho-me às suas costas, aproximando a boca da sua orelha. Os dois

homens estão desconfortáveis nos assistindo, eles se entreolham temendo o


pior, intimidados. Cochicho cada palavra para Ashley, para somente ela

ouvir, a deixando em pânico quando termino de falar.

— Não, Sebastian! Não! — implora, negando com a cabeça

sucessivas vezes. —Não! Nããããooo! — grita, ordeno para que o guarda a


leve, a mulher é retirada da sala totalmente perturbada.

Consegui o que queria, me certificar de que ela não será mais um

problema.
AURORA BELMONTE

Bato na porta do quarto do hospital onde o senhor Vogel está


internado. Entro, sorrindo para Abigail, que levanta da poltrona onde estava

sentada, olhando-me de cara feia.

— Senhorita, o que está fazendo aqui? O senhor Sebastian a proibiu

de vir ao hospital e...

— Shhh Abigail, senão vai acordá-lo — aponto para Harry, que está
dormindo na cama, sereno. — Sebastian não precisa saber que estive aqui,

ele exagerou nos cuidados depois do que aconteceu, mas eu precisava ver o
senhor ranzinza, tinha que vir — digo, fechando a porta.

Abigail não está conformada, sabe que pode sobrar para ela, mas no
fim assente, suspirando, não há o que fazer.

— Vou deixá-los a sós — afirma, saindo do quarto.

Aproximo-me da poltrona onde ela estava sentada e deixo a minha


bolsa. O som de alguém limpando a garganta chama a minha atenção, viro-

me, encontrando os lindos olhos de águia sobre mim.

— Por que veio ver esse velho ranzinza? — a sua voz fraca e rouca
circula no ar. Sorrio, indo em sua direção, parando ao seu lado.
— Porque eu estava com saudades da sua chatice — confesso,

brincando. — Tudo bem? Está ansioso para voltar para casa?

— Estou... não suporto mais este lugar — dá um longo suspiro,


fitando a minha barriga. Parece que finalmente está baixando a guarda para

mim. — A sua barriga está ainda maior desde a última vez que a vi, esse
garoto sairá um gigante — brinca, de bom humor.

— Sim, espero que sim — acaricio o meu ventre sob o vestido.

Harry me olha nos olhos de forma profunda, refletindo bastante,


como se viajasse por dentro da própria mente, por recordações há muito

esquecidas.

— O que foi? — murmuro, com um risco de preocupação.

— Um dia eu tive uma noiva... e ela também estava grávida como


você — conta, desviando o olhar para o nada, virando o rosto para o lado,
desolado. — Só que os meninos que ela estava esperando não eram meus.

Victória me traía com o meu irmão dentro da nossa própria casa, descobri
no dia em que deixou uma carta, avisando que estava fugindo com ele para

o Brasil — em cada palavra emitida consigo sentir a dor que vem da sua
alma e me arrepia.

Fico sem chão, estática, sem saber o que fazer ou dizer. Sinto tanta
pena dele que chega a me corroer por dentro, agora entendo muitas coisas,
lacunas da história dessa família que ainda eram um mistério para mim.

Harry respira fundo, os olhos brilham, mas não permitem que desabe
uma lágrima, então continua:

— Eu fiquei louco... porque era apaixonado por ela, porque a amava.

Me embriaguei e decidi ir atrás deles para matá-los, mas me acidentei no


caminho e o castigo foi essa perna manca pelo resto da vida.

— Eu sinto muito — toco a sua mão, com receio, mas Harry segura
os meus dedos com carinho, correspondendo-me. A minha voz está

embargada, sinto o imenso rancor que corre por suas veias. Uma energia tão
ruim e nefasta como aquela de quando conheci Sebastian.

— Quando você chegou com o meu sobrinho, achei que era mais uma

Victória em nossa vida. — Confessa, acariciando a minha mão, buscando


conforto. — Mesmo ele me contando como as coisas aconteceram entre

vocês, não consegui não te julgar, ainda mais pelo fato de não termos
certeza sobre a paternidade dessa criança.

— Agora o entendo, e...

— Por favor, preciso continuar — pede, então me calo. — Eu amo o


Sebastian como se fosse o meu filho e contribuí para ele se tornar o homem

que se tornou, vingativo... frio, para mim não foi fácil vê-lo ceder aos
caprichos de um amor, assisti-lo ter sentimentos de um homem apaixonado.
Ele sofreu muito na vida e é determinado, quando quer algo se entrega de
corpo e alma, tanto para o bem quanto para o mal, mas você... ele vai te

proteger e te dar tudo o que precisa e agora eu finalmente o entendo.

“Você não é como a Victória, você é uma menina boa, Aurora. É


chata, mas é uma menina boa — ele me faz sorrir, acaricio os seus dedos,

nos conectamos cada vez mais. — Por favor, continue recuperando o lado
bom de Sebastian, não deixe o ódio cegá-lo e tenha cuidado com o Alec. A

história já se repetiu, temo que o fim seja trágico e que alguém saia
machucado.”

— O Alec jamais seria capaz de fazer algo comigo — falo como se


estivesse falando para mim mesma.

— Mas seria capaz de fazer contra o irmão ou vice-versa. Os pais

deles os estragaram, criaram essas feridas que agora são impossíveis de


serem cicatrizadas. Tirem tudo de um homem, menos a mulher amada. Não

permita que essa maldição continue, se algo chegar a acontecer, somente


você poderá impedir — aperta a minha mão com força, como se previsse o

futuro, clamando por socorro, gelando o meu peito.

— Pelo amor de Deus, não vamos pensar nisso, senhor Vogel! —


afasto-me dele, seguindo até a minha bolsa, de onde retiro um livro,

mostrando a ele. — Veja, eu trouxe para ler para o senhor, o que acha?
Ele sorri, encantado, esquecendo do passado, consigo quebrar o clima
sombrio. Sento-me na sua cama, ao eu lado.

— Acho que será incrível — comenta, momento em que sinto a


minha barriga mexer.

— Ai! — gemo, sentindo o chute do garoto que ondula a minha

barriga. — O bebê está mexendo — sorrio, Harry fica assustado. — Quer


senti-lo? — antes que possa responder, capturo a sua mão e coloco sobre o

meu ventre. Harry está nervoso, talvez nunca tenha passado por uma
situação assim.

— Minha nossa — comenta, emocionado, seus dedos começam a


tremer.

— Ele se movimenta muito, parece até que está lá dentro jogando

futebol — brinco, Harry sorri de uma forma que jamais o vi fazendo. É um

momento mágico e especial.

— Ele tem força, não é mesmo? Será um garoto bem vigoroso, pelo
visto — comenta, empolgado, imaginando o futuro.

— Espero que seja mesmo.

O bebê chuta outras vezes, se comunicando com o senhor que fica

derretido de amor por ele.


ALEC VOGEL

Corri pelo jardim atrás da minha bola, tropecei em algo e acabei


caindo, desajeitado.

— Alec! — Sebastian se aproximou de mim, preocupado, estávamos

brincando juntos enquanto papai e mamãe não estavam em casa. Era um


dos únicos momentos que podíamos fazer o que queríamos, já que na

presença deles precisávamos ser perfeitos. — Me dê a mão, eu te ajudo!

Ergui a mão para ele, nossas palmas se uniram, os dedos se

cruzaram e então fui puxado, erguido do chão. O abracei sorrindo, eu o

amava. Ele era a minha única e mais confortável companhia aos seis anos
de idade.

Acordo no meio da noite, despertando do sonho... ou seria pesadelo?

Por que ainda lembro de Sebastian? Por que não consigo esquecer ele e
Aurora? É uma ferida que me corrói por dentro, como ácido a desintegrar

todos os meus órgãos até não sobrar mais nada.

Após tudo o que aconteceu em Noronha, eu fugi, como sempre fiz,


como a vida toda aprendi a fazer. Ainda pensava em Aurora, ainda a queria,

mas aquele vídeo dela com Sebastian me afetou, assim como as

informações que Eduarda me deu em seguida, de que ela e o meu irmão

gêmeo já se relacionavam desde o dia em que Sebastian pôs os pés naquele

haras.

Toda essa história me destruiu ainda mais do que já estava destruído,

o álcool foi o meu refúgio e não sei como, mas acordei com Eduarda na

cama. Diante disso, da grande merda que fiz, viajei para a Bélgica, para o
lugar onde morei tantos anos e que me daria a paz que eu não encontraria

em São Paulo.

O lugar onde poderia limpar a mente, reorganizar os pensamentos e

lembrar o motivo de ter me casado com a Aurora. Nós precisávamos

dialogar e colocar vários pontos em pauta, eu precisava buscar essa chance

que deixei escapar enquanto estava por perto.

Talvez eu tenha perdido tempo demais na Bélgica, um mês foi muito

tempo e quando enfim decidi retornar para São Paulo afim de procurar

Aurora e tentar ver se podíamos conversar, reencontrei Eduarda grávida, a


nossa noite de bebedeira havia tido como resultado uma criança que estava

sendo gerada em seu ventre.

Desolação.

Eu não sentia nada por ela, mal recordava da noite que ela dizia que

tivemos, mas as consequências eram reais e não podiam ser negadas. Ela

aproveitou o momento para revelar que sempre foi apaixonada por mim e

que me valorizaria como homem, que seria a mulher que nunca tive, mas

que merecia, que estava disposta a construir comigo uma família.

Foram muitas promessas, palavras persuasivas que se entranharam na

minha mente que não concordava com aquela gravidez e com a

possibilidade de viver com uma mulher que nunca me atraiu, que jamais

pensei em ter ao meu lado. Porém, agora havia uma responsabilidade maior:

a paternidade.

Talvez esse filho pudesse me tirar do caos que cercou toda a minha

vida, talvez fosse a solução para os meus problemas e me fizesse esquecer

do passado. Não era o que eu queria, mas era o que eu tinha, uma chama

pequena de esperança, quase se apagando, surgiu com essa ideia.

Assim, decidi aplicar os velhos planos, aqueles que um dia combinei

com Aurora. Ela havia sumido do mapa, nunca mais a encontrei e não tinha
o seu contato. Acreditei que poderia esquecê-la com a nova companheira,

por isso viajei para a Itália, para a região de Piemonte, próximo aos Alpes.

Comprei uma fazenda singela, o suficiente para sediar uma família,

começar um sonho. Vivíamos em um vilarejo humilde e que parecia cenário

de filme de época europeu. Deixei o hipismo um pouco de lado e me

dediquei à terra, à plantação de uvas, ao vinho e aos cavalos que treinava e

vendia, fazendo uma boa renda mensal.

Me dedicar a uma vida sem os holofotes estava sendo prazeroso, o

trabalho me distraía, tirava o foco dos meus pensamentos. Estava sendo

uma terapia, eu respirava novos ares e acreditei que tudo poderia melhorar,

que finalmente alcançaria a paz que sempre almejei, mas dentro de casa as

coisas estavam sendo bem diferentes.

À medida que a barriga de Eduarda crescia, a sua antipatia crescia na

mesma intensidade. As promessas de ser a minha esposa dos sonhos, de se

dedicar a mim como nenhuma outra jamais fez era descumprida

diariamente e todo aquele encanto que ela dizia ter por mim se revelava

uma mentira constante.

As nossas ideias não batiam, aos poucos percebi que ter ficado

grávida estava sendo uma tortura, ela queria uma vida agitada como tinha

antes da gestação, bem diferente dessa que tínhamos no campo. Eduarda


não me ajudava em nada, pelo contrário, fazia questão de atrapalhar, de

reclamar e esperar tudo de mim.

A nossa convivência começou a se tornar um pesadelo, ficar em sua


presença todo santo dia se tornou o meu fardo. Me acostumei a passar mais

tempo fora de casa, trabalhando, do que perto dela, me estressando. A única

coisa que me preocupava era a gravidez, pois ela não se cuidava, agia como

se não estivesse esperando um filho.

A coisa piorou quando ela se aproximou de um vizinho que tinha a

fama de vagabundo do vilarejo. Como se eu não existisse, Eduarda

começou a sair de casa, a ir para a cidade mais próxima, se embriagar e

participar de festas com ele, afirmando que entre os dois era só amizade.

As discussões pioraram, me vi desrespeitado dentro da minha própria

casa, traído, machucado, percebi que ela não estava se importando, que as

minhas palavras não a tocavam e que era uma irresponsável.

Agora, após acordar do sonho, percebo que novamente Eduarda não

está na cama. Levanto e visto o meu casaco, está fazendo bastante frio,

como sempre. Saio do quarto, caminhando pela casa semiescura, toda em

madeira. Procuro pela mulher já sabendo que não irei encontrá-la, pois está

tudo muito silencioso.


Sigo para fora, avistando o céu estrelado, uma visão do paraíso.

Avisto as montanhas envoltas das nuvens escuras e nebulosas, o vento

soprando, obrigando-me a esfregar as mãos nos braços em busca de calor.

Olho ao redor, nenhum sinal dela, deve ter fugido enquanto eu dormia outra

vez. Que desgraça.

Ouço um relinchar, momento em que avisto um dos meus cavalos,

distante, perto dos cubos de feno, meio perdido, fora da cocheira. Vou até

ele, segurando-o pela rédea presa em seu pescoço.

— O que está fazendo aqui fora, garoto? — pergunto, acariciando a

sua crina. — O ferrolho da cocheira amoleceu de novo? — ele relincha

novamente, como se me respondesse. — Eu acordei de mais um daqueles

sonhos — desabafo, faço isso com os animais, pois são os únicos amigos

verdadeiros que tive na vida. — E para piorar, a Eduarda mais uma vez não

está na cama, ela saiu de casa de novo. Não sei mais o que fazer —

lamento, preocupando-me.

O som de carro se aproximando me deixa em alerta. O feno acaba

servindo de esconderijo para avistar a caminhonete estacionando. Eduarda

gargalha com um cara no banco da frente, eles conversam coisas que não
consigo entender direito e por fim se beijam, confirmando o que eu já

desconfiava.
Era para eu sentir ódio, aversão, me sentir feito um homem traído,

mas não sinto nada. Nada mesmo. Isso só prova que não gosto dela. Que a

suportei apenas por esperar um filho meu e mais nada. E agora penso no

que farei depois dessa cena.

Ela desce do automóvel de pernas bambas, bêbada, com a barriga

enorme de oito meses, segurando uma garrafa de cachaça barata. Foram

oito meses de desilusão, um inferno que ela mesma construiu, já que mentiu

para mim, se jogou nessa nova vida que eu queria ter e que ela afirmou que
estava disposta a seguir ao meu lado.

— Tchauzinho, gostoso! — se despede do vizinho após bater a porta

do carro. Ambos gargalham, alcoolizados e então ele se vai.

Ela ergue a garrafa, bebendo mais um pouco, momento em que

decido me aproximar, trazendo o cavalo comigo, chamando a atenção dela.

— Ah, você está aí, é? — indaga, desgostosa, não gostando de me


ver. — Já passou da hora de estar dormindo, viu — gargalha, debochada,

horrível.

— Saiu de novo com o vizinho — comento, decepcionado, enojado.

— Saí!! E daí?! Está pensando que ficarei nessa merda de casa


apodrecendo que nem você?! Eu não nasci pra isso! — exclama, revoltada,
colocando o que verdadeiramente pensa para fora.
— Nós conversamos, eu te proibi de ficar se colocando em risco...

— Quem é você para me proibir de alguma coisa, Alec?! — me


interrompe, se aproximando com um sorrisinho cínico. Os seus olhos estão

marejados do álcool. — Você não é nada! Estou cansada! Não era essa a
vida que queria pra mim! — abre os braços, inconformada.

— Foi a vida que eu disse que teríamos, você sabia muito bem antes
de aceitar vir comigo, então por que veio?! — disparo, irritado, odiando-a

mais que tudo agora.

Eduarda gargalha, sarcástica.

— Porque achei que estava casando com um homem com alma de

rico!! Você tem dinheiro o suficiente para vivermos em um palácio, mas


prefere se enfiar nessa merda de lugar, onde não tem nada! Nada! —

reclama, olhando em volta, cambaleando embriagada, a sua voz denuncia o


quanto está bêbada. — Estamos na Itália, caralho! Na Itália e você... ao

invés me levar para morar em Roma, em Milão, me traz para o interior!


Para cuidar de cavalos e plantações de uva! Mas que diabos passa pela sua

cabeça, hein? — grita, se exaltando, furiosa comigo como se eu fosse o


culpado do fracasso da sua vida.

— Eu me faço essa pergunta todos os dias sobre você. Desde o início

você mentiu, Eduarda. Olha o que está fazendo, pondo a vida do nosso filho
em risco e se agarrando com o vizinho descaradamente, na minha cara e
para todo o vilarejo ver, pensa que não sei?

— É porque ele é um homem de verdade! Ele me deseja e me quer,


não é igual a você, um merdinha! — cospe as palavras. — Pensa que não

notei que faz sexo comigo sem vontade? Aliás, quando foi mesmo que
fizemos alguma porra naquela cama? Acha que não sei que ainda é

apaixonado pela Aurora? Encontrei a foto dela na sua carteira, seu imbecil!

— Por favor, para de falar asneira e entra para dentro de casa! —


tento pegá-la pelo braço, mas ela se afasta, o cavalo relincha, tenso.

Eduarda caminha em volta dele.

— Foi por isso que ela escolheu o Sebastian, porque você é um

panaca! Um frouxo! Fraco!

— Cala essa merda dessa boca! — rosno, a espezinhando. Ela está


tocando na minha maior ferida.

— Aurora deve estar sorrindo da minha cara agora, porque ela ficou
com o luxo e eu fiquei com o lixo! Você é um idiota mesmo!!

— Só o que me interessa agora é o meu filho que está na sua barriga,

depois de tê-lo, pode ir embora e fazer a droga que quiser! Não me importo
com você! — jogo para fora, querendo feri-la, mas não consigo!
— Como é ingênuo, meu Deus! — ela gargalha como se eu tivesse

dito alguma piada. Então olha para mim, parando de rir. — Esse filho nunca
foi seu. Eu menti... para poder te conquistar. Foi tão fácil quanto arrancar

pirulito da boca de uma criança. Você caiu feito um patinho! — gargalha


maldosa, me humilhando, zombando da minha cara.

— Está mentindo... — murmuro, perdendo o chão, sentindo o mundo

desabar ao meu redor.

— É por isso que a Aurora te fez corno e agora você está sendo de

novo. Cooornoo, homem tapado merece chifre mesmo... é o que merece por
ser tão imbecil! Eu achando que estava me dano bem, me dei foi mal! Se

arrependimento matasse... era mais fácil ficar em São Paulo com o


verdadeiro pai do meu filho, pelo menos ele tinha atitude, não era um merda
como você!

— Desgraçada... — a minha voz sai frágil, machucada, contendo


todos os sentimentos perversos que se acumulam no meu peito.

— Ah, vai chorar? — debocha, indo para trás do cavalo. — Eu devia


ter investido em Sebastian, ele sim é o homem dos sonhos! Inteligente,

perspicaz! Foi ele quem me deu a ideia de filmar o quarto, sabia?

Fico tentando entender sobre o que ela está falando. O álcool está tão
forte que Eduarda joga tudo o que pensa e sabe para fora.
— Aquele vídeo dele e da Aurora conversando no quarto, eu fiz a

mando dele e depois espalhei porque queria humilhar a Aurora — gargalha,


feliz, maléfica. — Você acreditou em tudo o que eu disse sem pestanejar,

estava tão abalado e carente.

Fico em choque total, percebendo o quanto fui manipulado por ela e

por Sebastian. O quanto o passado ainda bate à minha porta e interfere no


meu presente. Tudo isso é culpa dele... mais uma vez.

Uma lágrima escorre por minha face, queimando a minha pele,

expressando o estado caótico em que me encontro. Fito Eduarda de olhos


esbugalhados, ela me deixa em cólera com o seu sorriso, a sua diversão em

me ver sofrendo, em me ver descobrindo que todos esses meses ao seu lado
foram uma mentira, que nem mesmo sou o pai do seu filho.

Os sentimentos ruins que transbordam do meu peito são tão pesados e


intensos que a única coisa que desejo é a sua morte, a mais terrível e

dolorosa possível. Ela gargalha cada vez mais alto, adorando o meu
desespero, batendo na bunda do cavalo como se batesse em uma mesa de
bar. A garrafa cai da sua mão, se espatifando no chão e assustando o animal,

que dá um coice potente bem na sua barriga, a arremessando para longe.

O golpe é fatal, poderoso e assustador.


Fico paralisado, sem reação, prendo até a respiração sem perceber,
observando Eduarda rolar pelo chão de terra, golpeada. Solto a rédea do

cavalo sem querer, perdendo a força da mão com o impacto da cena,


permitindo assim que o animal trote, se afastando.

Aproximo-me de Eduarda depressa, aflito, observando o sangue

descer em abundância entre as suas pernas. Ouço a sua respiração


acelerada, como se estivesse se afogando, o vestido rasgado no lugar onde

foi atingida pelo casco do animal, a marca terrível que ficou em sua pele se
tornando ainda mais roxa.

Ela me fita em pedido de socorro, aterrorizada, gemendo,


choramingando, deitada de lado, descomposta, sofrendo.

— Alec... me ajude, por favor — implora em um fio de voz, sinto o

seu medo devastador de morrer.

Faço menção em me abaixar para pegá-la nos braços e tentar fazer

alguma coisa, mas algo me paralisa, não sei explicar. O ódio está
entranhado em mim, petrificando todas as minhas células, cegando-me.

Segundos atrás Eduarda se desfazia de mim como homem, me humilhava e


agora precisa do meu apoio. O mundo e suas voltas.

Fico entre a razão e a raiva. Dois sentimentos controversos, inimigos,

que guerreiam dentro do meu ser, procurando o poder. Devagar, volto a


erguer o corpo, me erigindo, olhando para Eduarda em dúvida do que fazer.
Ela não merece a minha ajuda. Não merece.

— Alec... não quero morrer — afirma, entrando em colapso, o sangue


cada vez mais denso e vasto.

Respiro fundo, com o nervosismo a mil, as mãos trêmulas.

— Alec... — Eduarda soluça, ficando pálida, agonizando, fazendo


barulhos que antecipam a sua morte.

Observo ao redor com receio de estar sendo visto por alguém, mas

não há nada, nenhuma alma viva à essa hora da madrugada.


SEBASTIAN VOGEL

Leio a notícia no celular afirmando sobre a internação por tempo


indeterminado de Tiffany Madson em uma clínica, tendo em vista que três

laudos de psiquiatras diferentes comprovaram que ela é louca e incapaz de

reger a própria vida, de conviver em sociedade.

A mulher além de criminosa, criava histórias de romance na cabeça

com os homens que conhecia e o fim era o mesmo com todos eles: algum

crime tentado ou mesmo executado. Foram meses de julgamento até a


decisão final, houve vários depoimentos, todos os homens que se

envolveram com ela serviram de testemunhas, inclusive eu.

Estou na empresa, na minha sala, sentado em minha cadeira, lendo

cada palavra sem nenhum ressentimento ou pena. Ela mereceu, era uma

doente mental e precisava ser parada. Quase matou titio, que reagiu de
forma violenta à substância que injetou nos brigadeiros. A empresa que

contratamos para o Chá de Revelação também foi condenada e nos pagou

uma boa indenização.

De repente, a imagem da minha mulher aparece na tela, ela está

solicitando uma videochamada. Aceito a ligação, sorrindo ao ver o seu

sorriso aparecer.

— Oi, meu amor, pode falar agora? — indaga, bem calma, está

andando pela casa.

— Sim, meu bem, estou desocupado no momento. O que houve? —


pergunto.

— Você viu a notícia sobre a condenação da maluca? — faz uma

careta.

— Sim, ela vai ser internada em uma clínica por tempo


indeterminado. Acho que foi a melhor decisão, já que tem uma mente

doentia. Está se sentindo melhor com essa informação agora?

— Ah, sim, bem mais aliviada — confessa, colocando a mão no

peito. Pelo vídeo, percebo que está saindo de casa.

— E como anda a pintura da mansão? — mal pergunto e ela aciona a

câmera traseira do celular, mostrando os homens pintando a fachada do


imóvel que agora será branca, deixando aquela escuridão de antes no

passado.

— Rápida, ainda hoje eles terminam, graças a Deus, porque o seu tio

vive reclamando da bagunça, mas a verdade é que ele está adorando ter essa

distração, dá ideias e ordens ali e aqui.

— Se ele está reclamando da desorganização que a sua reforma está

causando, imagine quando o nosso David nascer — sorrio, pensando nisso.

Aurora volta a mostrar o rosto no vídeo, acionando a câmera frontal,

gargalhando também.

— Ah, não vejo a hora disso acontecer, não aguento mais carregar

esse menino, a minha barriga parece que vai estourar, assim como os meus

pés, que estão bastante inchados. Me sinto cada dia mais cansada e devagar

— reclama, até o rostinho dela está mais cheinho, a tornando ainda mais

linda. É uma flor.

— Estamos no último mês, meu amor, o médico disse que pode ser a

qualquer momento. Ele também falou que você ainda tem sorte por não

sentir enjoos, só cansaço, que a sua gestação está sendo bem tranquila.

Então, só nos resta esperar.

— É uma espera sem fim, quero logo ver o rostinho dele, vesti-lo,

banhá-lo. Ah, é tanta coisa — mostra a barriga, acariciando-a.


Respiro fundo, lembrando de um assunto sério. Aurora nota a minha

expressão, ela já me conhece bem.

— O que foi? O que quer me dizer? — é pior que investigadora do

FBI.

— Quando eu chegar em casa irei te contar — afirmo, observando um

e-mail importante chegar na tela do meu notebook.

— Ah, não, Sebastian! Quero saber agora! — exige, é curiosa ao

extremo e sei que enquanto eu não voltar para casa, vai me deixar louco.

— Meu amor. — Olho fixamente em seus olhos e repito bem devagar,

com toda a paciência do mundo, respeitando a sua gravidez: — Quando eu

chegar em casa irei te contar, tudo bem?

— Não está nada bem porque eu quero saber agora — insiste, no

mesmo tom e ritmo de voz que eu. — Se não queria que eu soubesse agora

deveria não ter dito nada.

— Mas eu não disse nada, Aurora, você que perguntou — suspiro

cansado, ela sempre faz isso.

— E você respondeu, “quando eu chegar em casa te conto” — ela

engrossa a voz, numa tentativa hilária de me imitar. — Você deveria ter

respondido: “não é nada, meu bem” e aí sim quando chegasse em casa,

falava o que queria falar...


— Aurora, vou desligar agora, tenho que trabalhar, ‘tá bom? Beijos

— decreto, sério.

— Sebastian Vogel, não se atreva a encerrar essa ligação, lembre-se


que estou grá...

Antes que ela possa concluir, desligo, deixando o celular de lado e

dando atenção ao notebook, abrindo o e-mail com certa ansiedade, lendo

depressa as informações, em seguida abro o documento digitalizado. Sorrio

satisfeito com o que vejo, aliviado, finalmente consegui!

Passo o resto do dia trabalhando e no fim da tarde retorno para casa.

Ainda há um resquício de luz solar cortando o céu amarelo e que ilumina a


nova fachada da mansão. Aurora mais uma vez retirou a escuridão e trouxe

a luz. Durante todo esse tempo, aos pouquinhos, ela foi penetrando em

nossos corações, conquistando cada um a seu modo, mudando as nossas

vidas.

Ao entrar na casa, sigo para a sala de estar, encontrando titio sentado

no sofá, lendo um de seus livros, de pernas cruzadas, óculos e a bengala do

lado, como sempre gosta de fazer.

— Boa noite, tio, tudo bem? — pergunto, colocando a maleta que

trago comigo sobre a mesa mais próxima.


— Péssima noite, Sebastian — reclama, espichando os olhos em

minha direção.

— O que foi dessa vez? — cruzo os braços, preparando os ouvidos.

— Era para a Aurora estar aqui lendo para mim, gosto de ouvir a voz

dela falando cada palavra, já me acostumei, porém, a conversa que vocês

tiveram mais cedo a deixou tão agitada que ela preferiu ficar no quarto se
empanturrando de besteira. Acho que Abigail está esquecendo que ela está

grávida e a está confundido com uma leitoa, porque fica a enchendo de

comida, coisas que não devia estar comendo. Aquilo pode fazer mal a ela. É

bom lembrá-la de que está esperando um rapazinho que precisa nascer

saudável! — resmunga, bufando por fim.

— Tio, a Abigail não dá nada a ela que não seja permitido pela

nutricionista — relaxo os braços, achando engraçado a sua irritação.

— Você que pensa! Passa o dia fora e as duas te fazem de bobo! Mas

eu estou aqui! Eu vejo tudo! Elas não me enganam! — aponta o dedo para

mim, repreendendo.

— Tudo isso só porque a Aurora não leu para o senhor hoje? Está

mal-acostumado, hein — afirmo, me afastando. — Ah, e não precisa jogar a

culpa toda em cima da coitada da Abigail.


— Coitada... ah, coitada — debocha, voltando a abrir o livro e

continuar lendo.

Encontro Abigail nos degraus da escada, ela vem descendo cuidadosa

com uma bandeja nas mãos repleta de sobras do que Aurora devorou,

principalmente chocolate.

— Boa noite, senhor Sebastian — me cumprimenta.

— Boa noite, Abigail. Titio está ali reclamando que você está dando
coisas demais para Aurora comer e também coisas que ela não deveria estar

comendo — sorrio, notando o rosto da mulher se tornar vermelho feito


tomate.

— Ah, sabe de uma coisa, senhor? Às vezes tenho vontade de mandar


o seu tio procurar o que fazer! — reclama, ultrapassando-me. — Não faz
bem a uma grávida deixar de comer o que deseja! Eu hein! Ele está tão

enjoado que tenho medo de o bebê nascer com a sua cara feia!

Não consigo controlar e gargalho, observando a mulher se afastar e

sumir de vista. Sigo para o meu destino, encontrando a minha mulher


sentada na cama, mexendo no celular, linda demais. Ela grávida só duplicou

na beleza. Sorrio, a contemplando, mas recebo uma careta em resposta.

— Sabe que a melhor coisa do meu dia é chegar em casa e encontrar


você me esperando? — digo, apaixonado.
— Nem vem com essa! Você me deixou em uma crise de ansiedade o
dia inteiro, comi feito uma vaca e ainda não perdi o estresse! — afirma,

deixando o celular de lado.

— Nossa, quanto exagero — sento-me ao seu lado, beijando com


carinho a sua barriga enorme, desnuda, redonda e pontuda ao mesmo

tempo. Ela está usando somente uma blusinha curta e um short leve, que a
deixa sensual.

— Você desligou na minha cara, afaste-se! — tenta me empurrar


pelos ombros, fingindo estar irritada, manhosa, anda mais sensível do

nunca.

Cheiro o seu pescoço, me embriagando com o seu perfume,


ignorando o que ela diz. Por fim, beijo a sua boca com sabor de chocolate,

nossos lábios se misturam em um toque gostoso, molhado e carregado de


sentimentos, que renova as minhas energias. Tudo o que preciso está aqui.

Não me falta mais nada.

Aos poucos Aurora vai cedendo e esquecendo da sua chateação. Ela

acaricia o meu rosto e o meu cabelo que tanto gosta de pegar,


correspondendo o meu beijo, beijando-me ainda mais, entorpecendo os

meus sentidos, me deixando duro, com vontade de comê-la agora mesmo.


Quando penso que vai rolar, ela afasta o rosto, encarando-me com
seriedade.

— Me conte o que tem para me contar — é como se completasse em


seguida: “ou não vai ter sexo”. Sua sobrancelha erguida e o bico que faz

deixa a sua exigência ainda mais clara.

Respiro fundo, sentando-me direito, me recompondo. Seguro a sua


mão, massageando, quero deixá-la o mais calma possível.

— Os meus advogados finalmente conseguiram encontrar o Alec —


falo devagar, Aurora fica estarrecida em questão de segundos. Espero-a

processar a informação para poder continuar.

— Meu Deus... quando? — murmura, fitando-me com atenção.

— Na semana passada.

— Você está me ocultando isso desde a semana passada, Sebastian?


— altera a voz, incrédula, desfazendo o nosso toque como forma de

demonstrar que não gostou de saber disso.

Capturo a sua mão outra vez e prossigo:

— Acalme-se, fiz isso porque não queria te deixar tensa, estávamos

em negociação com ele durante esses dias. E só estou contando agora


porque somente hoje recebi a informação de que ele assinou os papéis do
divórcio. Você agora está oficialmente divorciada, Aurora, e livre para se

casar comigo — contar isso é como uma lufada de alívio em meu peito.

Espero alguma reação da parte dela, mas não há nenhuma. Aurora


fica estática, raciocinando, sem palavra alguma, com um semblante

entristecido.

— O que foi? Não gostou? — essa hipótese me atormenta por dentro,

me deixa desconfortável, paro de fazer massagem em sua mão.

— Não é isso, é claro que gostei... é só que... ainda estou


processando. Querendo ou não Alec fez parte da minha vida. Onde o

encontraram? — está curiosa.

— Na Itália, em um vilarejo na região de Piemonte, vivendo em uma

fazenda...

— Próxima dos Alpes — completa, chocada, surpreendendo-me.

— Isso mesmo. Como você sabe? — fico ainda mais incomodado,

franzindo a testa, com ciúmes. Desfaço o nosso toque sem perceber. Não
consigo controlar a carranca que se forma gradativamente em meu rosto.

— Era o lugar onde iríamos morar após o casamento, foi uma


promessa que ele me fez — a sua voz machucada mostra o quanto isso
ainda a afeta, não chora, mas tem muita decepção. — Eduarda estava com

ele? — olha fixamente nos meus olhos.


— Ela estava, mas faleceu há alguns dias. Ao que parece, foi atingida

com um coice de um dos cavalos e não resistiu. Também estava grávida —


conto, buscando entender o lado dela, que tudo é um processo de superação

e que o fato dela me amar não exclui todos os sentimentos que um dia teve
ou ainda tem pelo meu irmão.

— Minha nossa, não acredito!! — o seu queixo vai ao chão. — Meu


Deus do céu. Eu não gostava mais dela, porém... jamais desejaria esse fim.

Nossa, não consigo acreditar — está arrasada, me arrependo imediatamente


de ter lhe contado.

— Tente ficar calma, por favor. Não deveria ter te contado — volto a

pegar a sua mão e com a outra acaricio o seu rosto.

— Claro que deveria ter falado, Sebastian. Eu e a Duda crescemos

juntas, ela me traiu, mas... nós crescemos juntas, vivemos tantas coisas
antes de acontecer o que aconteceu! — está abalada. Aurora é o tipo de

pessoa que sente muito pelos outros, até por aqueles que um dia lhe fizeram
mal, bem diferente de mim.

— Eu entendo — falo em um tom consolador, beijando os seus dedos.

— Até hoje não compreendo tudo o que ela fez comigo, foram tantos
anos de amizade jogados fora.
— Nunca foram reais, meu amor. Aquela menina tinha inveja de
você, isso ficou bem claro para mim desde que coloquei os pés em

Lancelot.

Ela suspira cabisbaixa, com o olhar distante, milhares de imagens e


lembranças devem estar permeando a sua mente agora. Fico mais um pouco

ao seu lado, a consolando. Depois tomo um banho, desço para jantar e


retorno para me deitar de conchinha com ela, com a mão sobre a sua

barriga, depositando beijinhos carinhosos em seu ombro e nuca, para afastar


qualquer negatividade que o passado possa ter reavivado.

No meio da noite, sou acordado com Aurora me chamando:

— Sebastian... — geme com dor, abro os olhos assustado.

— O que foi? O que houve? — pergunto, em alerta, sentando-me na

cama.

— Acho que o David quer nascer, a bolsa estourou e estou sentindo


muitas dores — a sua voz sai em sufoco, ela geme novamente, sentindo as

contrações. Observo os lençóis molhados do líquido que ela derramou entre


as pernas.

Meu coração até erra as batidas com a notícia, por um instante fico
sem saber o que fazer, até lembrar do treino que tivemos no grupo do qual

participamos para pais e mães iniciantes.


— Certo, vamos fazer como combinamos — desço da cama,
procurando o que vestir, pois estou apenas de cueca. — As suas coisas e as

do bebê já estão todas prontas, só precisamos levá-la ao hospital. Vou avisar


ao médico.

— Chame a Abigail também — ela pede e assim faço.

Dentro de alguns minutos, preparamos tudo, sigo com ela para o


hospital, sempre de mãos dadas, lhe dando o apoio que precisa, depositando

beijos em seu rosto, a acariciando, massageando a barriga, o objetivo é


deixá-la relaxada o máximo possível.

— Já estamos chegando, aguente só mais um pouco — digo,


massageando a sua mão.

— Ai... as dores estão cada vez maiores e mais fortes... estou com

medo, amor — Aurora começa a se apavorar.

— Não tenha medo, eu estou aqui, não vou deixá-la sozinha. Nunca
— beijo-a, unindo os nossos lábios, dando o conforto que precisa.

Ao chegarmos no hospital, somos recebidos por uma enfermeira que


nos aguarda com uma cadeira de rodas, onde Aurora é conduzida até o seu
quarto. O médico vem conversar conosco de forma calma, passando

tranquilidade. Como combinado, o parto será cesariano, para que a minha


flor não sofra com mais dores.
Esperamos mais algum tempo até cumprirmos todos os
procedimentos e, por fim, seguimos para a sala de cirurgia. O médico gosta

de ouvir música durante o nascimento da criança, explica que serve para


acalmar a mamãe também, nós concordamos, então ele coloca uma canção
maravilhosa tocada delicadamente no violino.

O momento em que David é retirado da barriga de Aurora é lindo,


esbugalho os olhos ao assistir a cena, a música ao fundo ajuda a compor o

ambiente e tornar tudo ainda mais belo.

Nunca vi um parto de perto, seguro a mão da mãe, me sentindo um


verdadeiro papai ao cortar o cordão umbilical do filho que foi tão esperado.
É um momento mágico, sublime, que não sei explicar. Sentimentos bons me
tomam por inteiro, fico nas nuvens e a única forma que consigo reagir é

com sorrisos inacabáveis.

Amor.

Eu já amo esse garoto, já o amava e agora, o observando no colo de


Aurora, o amo muito mais. Ele segura o meu indicador que é enorme diante
dos seus dedinhos pequenos. A minha mulher sorri entre as lágrimas,

encantada com a sensação de ter o seu neném nos braços.

Nunca esquecerei desse dia e desse momento. A minha missão é


protegê-los para sempre.
AURORA BELMONTE

Após alguns dias me recuperando no hospital, eu, Sebastian e o nosso


David, somos recebidos com festa ao voltarmos para casa. Dessa vez temos

apenas os mais íntimos: Harry, Abigail, Karen e Andrew. Sebastian carrega

o bebê no colo, enquanto o motorista leva as minhas malas para o quarto.

A sala de estar está toda decorada com balões azuis e uma mesa com

bolo, petiscos e presentes. Eles comemoram ao nos verem entrar. Sebastian,

pelo visto, já sabia de tudo, mas eu fui pega totalmente de surpresa.

— Que maravilha!! Que bom ter vocês aqui!! — digo, agraciada,

contente, abraçando cada um. — Eu já estava chateada porque ninguém foi


nos visitar no hospital.

— Eu odeio hospital, Aurora, e você sabe muito bem disso, então a

minha ausência não foi uma surpresa — resmunga Harry, como sempre. —
Mas estava pensando em você e no garoto todos os dias — fita David no

colo do pai.

— Ah, assim o senhor derrete o meu coração, seu velho resmungão!


Me dá aqui outro abraço — agarro-o outra vez, ele é um senhor alto como o

sobrinho e parece mais radiante do que nunca com a nossa chegada.

— Deixe-me ver o pequeno — pede Harry, Sebastian mostra o


dorminhoco que chupa o polegar, lindo demais.

— Oooh meu Deus, que menino mais lindo! Ele é tão lindo, amor! —

Karen vibra de emoção, abraçando o marido.

— É, meu bem, acho que já podemos parar de esperar e produzir o

nosso, também estou apaixonado pelo David! — diz Andrew, nos fazendo

sorrir.

— Ele é a cara do pai! — afirma Abigail, emocionada, de olhos


brilhando. O seu comentário chama a atenção de Sebastian, arrancando um

sorriso discreto dele, que adora ser chamado de pai.

— Sebastian não quis largar o menino desde que nasceu, se duvidar,

David fica mais com ele do que comigo — brinco.

— Quero segurá-lo — Harry se senta no sofá, preparando-se para

receber o garoto no colo.


— É melhor não, tio, o senhor pode derrubá-lo — Sebastian nega sem

o menor ressentimento.

— Como é que é? — Harry ergue a sobrancelha, fuzilando o

sobrinho. — Por acaso está me negando o menino? Duvida da minha

capacidade de segurá-lo? Com quem acha que está falando, Sebastian? —

alteia a voz, irritando-se.

— Mas é verdade, tio, o senhor já é um homem de idade e David é

muito frágil...

— Ora mais...

— Vamos parar com isso os dois! — Intervenho. Fito o meu

namorado com repreensão — Sebastian, deixe o seu tio segurar o David,

ficou louco?

Ele faz uma carranca terrível, bufando por estar sendo obrigado a
fazer o que não quer, mas por fim cede e, cuidadosamente, entrega o

menino nos braços do tio, que o encara com ódio mortal.

— Eu devia te dar uma surra por esse seu comportamento, moleque


ingrato! — ameaça, mas Sebastian não se comove. São dois brigões.

— Ora, ora, ora, se não temos aqui um papai coruja — Andrew

provoca o amigo, gargalhando em seguida.


Harry dá atenção a David, o acomodando melhor em seu colo. O

menino solta alguns gemidinhos e, bem devagar, abre os lindos olhos azuis,

o fitando. Isso é o suficiente para todos suspirarem em volta com tanta


fofura.

— Seja bem-vindo, David Vogel — a voz rouca e paternal de Harry

soa no ar. — Que você seja forte nos momentos de dor, corajoso nas

dificuldades e digno na bonança — é como se ele estivesse dando a sua

bênção. Fico muito emocionada, enlaçando o braço no de Sebastian, que

também adora a cena.

Depois, David passa pelos braços de cada pessoa, enfim parando nos

meus, que o abraço e mimo de beijinhos, amando o meu filho. É um

sentimento inexplicável, que antes eu apenas imaginava, mas que agora

superou todas as expectativas.

Após a noite cair, depois dos comes e bebes, Karen e Andrew vão

embora, Harry e Abigail se recolhem, enquanto eu e Sebastian seguimos

para o nosso quarto. Fico sentada na cama dando de mamar ao nosso filho,

Sebastian aproveita para tomar banho.

Percebo que David está satisfeito e em sono profundo, levanto-me

bem devagar da cama com ele e caminho para a porta de saída, momento
em que Sebastian surge apenas de toalha, olhando-me sem entender o que

estou fazendo.

— Para onde está levando-o? — indaga assim que abro a porta.

— Para o quarto dele, vou colocá-lo no berço — respondo, mas o

homem não gosta nada disso, fechando o rosto.

— Vai deixá-lo dormir no outro quarto sozinho? — ergue a

sobrancelha, indignado.

— Foi para isso que organizamos um quarto só para ele, meu amor. O

que está querendo? Que ele durma conosco na cama? — acho graça da sua

superproteção, está sendo uma surpresa.

— Acho que isso seria o ideal, pelo menos nos primeiros dias ou

semanas. Até David se acostumar — se aproxima, perfeito, o tanquinho

ainda úmido à amostra.

— Mas dessa forma iremos acostumá-lo a dormir conosco e não no

seu quarto. Se for preciso eu o trago para a nossa cama, meu bem. Relaxa

— pisco para ele, saindo do cômodo e entrando no outro ao lado, que está

todo enfeitado, a coisa mais linda.

Acomodo David no seu berço com o máximo de delicadeza possível,

ele dorme sereno, vestido em seu macacãozinho colorido. Suspiro


apaixonada, acariciando o seu rosto. Ele é bonito demais, parece aqueles

bebês de comercial de TV.

Ativo a babá eletrônica sobre a cômoda e após me certificar de que

está tudo bem, desligo as luzes, indo embora. Vou para o meu banheiro,

onde procuro tomar um banho relaxante e descansar na banheira. Fico entre

as espumas por um longo tempo, matando a saudade que eu estava de casa.

Ao retornar para o quarto, não encontro Sebastian. Visto uma

camisola, ainda sentindo dores na barriga, que são comuns após o parto

cesariana. Deito-me na cama devagar, tomando sempre cuidado para não

fazer movimentos bruscos. Sebastian retorna, deitando-se ao meu lado.

— Onde estava? — indago, puxando o edredom.

— Fui averiguar se David estava precisando de algo — afirma,


fazendo-me revirar os olhos.

— E ele está? — sorrio.

— Não, está tudo bem — se acomoda às minhas costas, deitamos de

conchinha.

— Não se preocupe, meu bem, quando ele começar a chorar de

madrugada, você vai poder averiguá-lo muitas vezes — brinco, prevendo o

que em breve vai acontecer.


— Vou tentar não fazer disso um problema — beija o meu ombro,

carinhoso.

— Hoje ainda é o primeiro dia, quero ver o que vai dizer daqui há

alguns meses. Você sabe muito bem tudo o que ouvimos no treinamento —

fecho os olhos, cansada.

— Sim, eu sei — me acomoda em seus braços fortes.

— Eu te amo — bocejo.

— Te amo também.

Caminho por um lugar tão escuro que não consigo enxergar. Arrasto
as mãos nas paredes, deduzo que estou em um corredor. Ouço David chorar

distante e fico apavorada, apresso os passos sem saber para onde estou indo,
repleta de medo e caos.

O som do pranto do bebê se torna cada vez mais audível até que um
feixe de luz se acende à alguns metros de mim, revelando um homem de

costas empunhando uma faca enorme e sangrenta, o sangue goteja no chão.

Tento gritar, mas a minha voz não sai, quero continuar caminhando,
mas as minhas pernas perdem a força, fico plantada no mesmo lugar,

avistando o cara de costas, cujo rosto não se mostra.


O choro de David aumenta à medida que o meu desespero cresce
também. O meu coração está quase saindo pela boca, estou presa dentro do

meu próprio corpo, sofrendo com os gritos horripilantes do meu filho, que
se tornam insuportáveis de ouvir, maltratando os meus ouvidos, me

torturando por dentro e por fora.

Acordo do pesadelo suando frio, ofegante, levando alguns segundos


para perceber que estou no meu quarto e que está tudo bem. Ligo o abajur,

afastando um pouco da escuridão, sentando-me, colocando os pés no chão.


Que sonho terrível, meu Deus.

Olho para trás e não encontro o meu namorado, a cama está vazia.
Observo o relógio na mesinha ao lado, marca três horas da madrugada, por

que ele não está aqui comigo? Será que foi espiar David de novo? É bem
provável. Levanto-me, procurando-o no banheiro e no closet primeiro, só

então saio do nosso quarto, abrindo a porta ao lado.

Sebastian está com David no colo, contemplando-o fraternal.

— Amor, o que está fazendo? — a minha voz ainda está sonolenta e a

minha visão meio turva.

— Ele chorou, vim ver como estava — afirma, sorrindo para mim,
momento em que sinto um calafrio na espinha.
— Por que trocou de roupa? — percebo que está de calça jeans,
suéter e sapatos, como se fosse sair, mas quando dormimos estava de

pijama. — Vai a algum lugar? — fico desconfiada, nem é o estilo de roupa


que Sebastian gosta de usar.

— Na verdade já fui, querida, enquanto você dormia. Tive que


comprar uma coisa para o tio Harry — ele está estranho, me olhando de

forma enigmática, diferente.

— O que aconteceu com o seu tio? — dou um passo em sua direção,


observando David em seu braço esquerdo, algo grita dentro de mim

afirmando que tem algo de errado.

— Amanhã eu te conto, volte a dormir, vou já deitar ao seu lado —

não me sinto bem. Esse olhar dele, o sorriso. Não é possível. Não consigo
parar de olhá-lo com um pavor absurdo. — O que foi, Aurora? — sua voz

está controlada, suave, porém perigosa.

Respiro fundo, tendo a certeza de quem está na minha frente.

— Você não é o Sebastian — afirmo, sentindo o coração acelerar de

uma maneira assustadora. Paraliso, não quero acreditar no que estou vendo.

O homem sorri como se tivesse acabado de ouvir uma piada, fica


desconcertado.
— O quê? Está maluca? — tenta disfarçar, mas o seu comportamento

denuncia tudo, o olhar de culpa e ódio.

— Alec... — sussurro, incrédula, não entendendo como ele entrou


aqui, e o que está fazendo com David nos braços. É impossível.

— Amor... assim você me ofende — não há verdade em suas


palavras, é um péssimo ato, a sua farsa não me convence.

— Me dá o meu filho — faço menção em me aproximar mais, porém,

ele saca um revólver, que tira das costas com a mão livre, apontando para
mim, fazendo-me paralisar outra vez, virar pedra.

Esbugalho os olhos, aterrorizada.

— Fique parada — ordena, deixando a máscara cair de vez. — Fique

paradinha aí sem fazer barulho — está quase gaguejando.

— Alec, meu Deus... — o desespero toma conta de cada célula do


meu corpo, arrastando-me para o inferno.

— Sabe o que eu não entendo? Como você não reconheceu que era o
Sebastian em meu lugar lá em Noronha, mas agora conseguiu nos

diferenciar aqui? — demonstra o quanto essa ferida ainda é gigantesca em


seu peito. Ainda não curou, continua sangrando.

Balbucio, mas não consigo dizer nada, estou muito nervosa.


— Responde — rosna, meneando a arma ao fazer a exigência, as suas

pupilas perdem o brilho azul, se tornam obscuras, tenebrosas.

Respiro fundo, buscando controle, fechando os olhos por um instante,

preciso saber jogar com ele, não é o mesmo Alec que conheci, não posso
ser tola e deixar que machuque a mim ou ao meu filho, já que

aparentemente está disposto a tudo.

— São muitos meses de convivência...

— Ah, meses de convivência — repete, erguendo o queixo, ferido. —

Por que não me disse que estava grávida? — murmura, com dor.

— Como poderia dizer? Você sumiu depois de Noronha, eu te


procurei...

— Mentira! Tudo sempre foi uma mentira! Você mentiu desde o


início, Aurora. Tinha um caso com o Sebastian e mesmo assim se casou

comigo. Por quê? — está furioso, amargo, mas controla o tom de voz. Sua
face emana desequilíbrio.

Não faz sentido ele ter vindo até aqui para relembrar o passado,

porém, estou mais preocupada com o meu filho.

— Isso não é verdade. Eu me entreguei totalmente, te escolhi, mas

você me abandonou — dói dizer a verdade, seguro-me para não chorar.


Percebo que consegui atingi-lo, por um instante Alec fica sem
palavras. Dá para notar que não está no seu estado perfeito, é só perturbação

agora.

— Você que me abandonou desde o momento em que se entregou


àquele maldito! Antes era apenas minha. Era perfeita... intocável, mas se

sujou naquele quarto com o Sebastian! — cada palavra que ele diz é como
uma facada em seu peito.

— Você me via como uma boneca de porcelana, mas sabe muito bem
que eu nunca fui isso. Eu sou um ser humano! — argumento, pensando

onde está Sebastian agora. Ele precisa aparecer!

Alec gargalha entristecido, lágrimas silenciosas mancham a sua pele,


a voz grossa e machucada dominando a atmosfera, arrepiando-me.

— Engraçado te ouvir dizendo isso, já que preferiu ficar com o


desgraçado que você afirma ter te usado como objeto! — acusa-me. Olho

para o revólver que continua apontado para mim, temo que ele faça algum
disparo acidental por movê-lo enquanto conversa. A minha alma está

prestes a sair do corpo.

— Sebastian me deu abrigo — falo devagar, fechando os olhos por


um instante.

— Abrigo? — debocha, magoado.


A minha intuição grita forte, fazendo-me olhar para o lado, onde há
um rastro de sangue até o banheiro, como se alguém tivesse sido arrastado

para dentro do boxe. Paro de respirar, abominada, os olhos ardem


automaticamente.

— O que fez com o Sebastian? — uma lágrima desce por minha


bochecha.

— Ele teve o que mereceu — afirma nervoso, inseguro.

— Não... — sofro, lágrimas desabam, as minhas pernas querem


perder a força, mas continuo de pé. — O que está pretendendo, Alec? —

pergunto, com ódio.

— Shhh — pede silêncio. — Quem faz as perguntas aqui sou eu,


Aurora. Que tal darmos um passeio?

— Não — nego, prevendo o pior. Olho para o banheiro de novo. —

Sebastian! — chamo-o, sentindo o meu peito sangrar.

— Cala a boca! — Alec dá um passo em minha direção, tentando ser


o vilão que ele claramente não é. Não sabe o que está fazendo — Agora
vire-se devagar e caminhe.

— Alec, por favor — imploro, mas ele está impassível. Perdido.

— Faça o que eu mandei, sem mais! Vamos! — rosna, tremendo a


mão que maneja a arma, inseguro.
Engulo em seco, guardando a dor, sufocada pelos pensamentos mais
horríveis. Faço o que ele manda e saio do cômodo, sendo seguida.
SEBASTIAN VOGEL

Acordo com uma dor de cabeça horrível, as contrações na nuca me


pegam em cheio, bem onde fui atingido assim que entrei no quarto de

David. Antes de desmaiar, vi o meu algoz: Alec. Foi tudo muito rápido.

Levo a mão à nuca, sentindo o sangue. Levanto enfraquecido, vendo


o meu reflexo no espelho meio pálido. O sangue no chão mostra o quanto

não estou bem e que ficarei pior se continuar a sangrar. Tento ouvir algum

barulho do lado de fora, mas não ouço nada. Tento sair, mas a porta está

trancada.

Chuto-a uma, duas, na terceira vez consigo arrombá-la. Saio ofegante,

feito um animal feroz em desespero, procurando pelo meu filho, mas não o

encontro. Alec também não está.

Tragédia.
Titio me avisou. Sinto que vai acontecer, que já está acontecendo. Sei

o porquê do meu irmão estar aqui, sei do que será capaz e preciso fazer de

tudo para detê-lo. Saio do cômodo atordoado e atento, encontrando Abigail,

que vem chegando assustada, com o traje que usa para dormir.

— Senhor Sebastian!! — exclama, apavorada. Faço sinal de silêncio

para ela, observando ao redor, ouvindo David chorar distante, denunciando

onde Alec está.

— Ele foi para o terraço — aponto para o alto, pensando em um

milhão de coisas.

— Meu Deus... o senhor Harry me mandou chamar a polícia, ele disse

que temos um invasor... o seu irmão gêmeo! Foi assim que ele conseguiu

confundir os seguranças na portaria e entrar — sussurra, as suas mãos estão

trêmulas, o seu coração parece que vai sair pela boca.

Abro a porta do meu quarto lentamente, está tudo silencioso, logo

percebo que Aurora não está na cama e isso me massacra. Droga. Corro até

o closet e retorno de lá com a minha arma, Abigail quase cai para trás ao me

ver armado.

— O que fará com isso? O seu tio mandou dizer que era para o senhor

evitar uma tragédia... para não repetir o passado!


— Volte para ele e diga que é tarde demais — olho no fundo dos

olhos dela, a assustando ainda mais. Vejo os meus seguranças surgindo,

quatro deles.

— Por favor, agora sou eu que imploro... não faça uma besteira, o

senhor está sangrando! — ela chora, em desespero.

— Leve titio para um lugar seguro. Vá agora, Abigail! — ordeno, ela

me obedece sem querer.

Ouvimos David chorar novamente, momento em que sinto uma dor

aguda no peito. Chamo os seguranças com o rosto. Eles já são treinados e

me cercam, para me proteger.

Seguimos para o fim do corredor, abrindo uma porta que dá acesso à

escada que leva ao terraço, que quase nunca é utilizado por nós,

praticamente abandonado e que Aurora já pretendia reformar também.

Ao chegarmos lá em cima, avistamos Alec com David chorando no

seu colo, de arma apontada para Aurora. Ele está bem na beira da estrutura,

onde não há guarda-corpo para evitar uma queda fatal, já que a mansão tem

três andares. Aurora está de costa para nós, ambos conversam.

Enfio a arma atrás das costas, para fingir que não sou um perigo,

porém permito que os meus seguranças continuem de armas empunhadas.

Se bem conheço o meu irmão, ele não é frio como eu, na teoria não seria
capaz de fazer o que está fazendo. Não sei o que houve com ele, mas sou

capaz de matá-lo se destruir a minha família.

Isso acaba aqui. Hoje. Para sempre.

— Olha ele aí! — Alec percebe a minha aproximação. O pranto

silencioso rasgando a sua pele, os olhos vermelhos com sangue. Aurora

olha para trás e solta o ar que estava preso em seus pulmões, aliviada com a

minha presença. As pupilas marejadas pedem socorro. — E como sempre


um covarde, agora cercado dos seus cachorros.

Ergo as mãos em sinal de rendição, olhando-o com atenção. Aurora

está tentando manter o controle. Me aproximo com os seguranças a passos

leves.

— Exatamente, irmão. Eu sou o covarde aqui, então por que está

querendo me imitar? — falo com calma, afim de persuadi-lo. Ele está no


poder, preciso ser cauteloso. Não posso entrar em desespero, por mais que

me doa vê-lo com o bebê e ameaçando a vida da mulher que amo.

— Para te fazer provar do seu próprio veneno e é melhor que não dê

mais nenhum maldito passo! — rosna, nervoso, de mão trêmula,

denunciando que não tem nenhuma intimidade com um revólver.

Alec parece ter chutado o balde e agora está afundado demais na

própria merda, sem saber como sair dela. Isso é pior porque o torna
imprevisível. Está claro o quanto está desestruturado, desestabilizado.

Paro de caminhar, os seguranças também, mas as armas continuam

apontadas para ele.

— Eu estava aqui contando para a Aurora que foi você quem mandou

a Eduarda gravar aquele vídeo de vocês no quarto! — engole o choro,

respirando forte. Aurora me fita com decepção, lágrimas molhando o seu

rosto.

A verdade sempre aparece, aconteça o que acontecer.

A minha expressão ao fitá-la só comprova que o meu irmão fala a

verdade, mas tanto ela quanto ele querem ouvir da minha boca.

— Vai negar agora? Vai negar?

— É verdade, fui eu quem deu a ideia — confesso, aproveitando para

dar mais um passo, os seguranças fazem o mesmo, discretos, suaves.

— Conta pra ela o que você fazia quase todas as noites depois da

morte da Juliana... que me batia! Conta! — exige.

— Nós éramos apenas duas crianças, eu estava cego de raiva... —


tento argumentar, sempre brando com as palavras, usando um tom de quem

não quer conflito, porque não posso correr o risco de deixá-lo ainda mais

perturbado.
— E a sua raiva se manteve durante todos esses anos, não foi? Você

voltou para fazer o mesmo comigo, tomar a mulher que eu amava — joga

na minha cara. É constrangedor. Enquanto ele fala, me aproximo mais um

pouco.

— Não foi por causa da Juliana, foi pelo internato — olho no fundo

dos olhos dele. Alec fica estático, acabou de ser descoberto. David para de

chorar. — Eu sei que foi você quem deu a ideia para os nossos pais, irmão.

Sempre soube — Aurora fica boquiaberta, olhando para o homem, sem

chão. — Sei que escolheu a instituição... mesmo sabendo que ficava fora do

país.

Lágrimas descem pesadas pela face dele, em abundância. Está

evidente que se arrepende do que fez. Que sente culpa.

— Eu não te suportava mais... — soluça, abatido, quebrado. Dou mais

um passo, parando ao lado de Aurora, que nota a arma às minhas costas e

esbugalha os olhos, aterrorizada. — Você me machucava e me culpava por

uma coisa que a Juliana fez! Ela veio atrás de mim! Ela me seduziu! Eu não

queria... — se justifica, fungando, tentando respirar direito. — A desejava,

mas no fundo não queria — reitera, como se precisasse provar que fala a
verdade e agora sinto a sua total sinceridade.

Pela primeira vez, eu sinto a sua dor.


— Fui consumido pelo ódio — é a minha verdade, até me arrepio só

de lembrar.

— E eu pela culpa — ele engole o pranto outra vez, piscando. — Só

queria te afastar, sentia raiva e medo, não pensei nas consequências.

Ficamos em silêncio, Aurora está arrasada, assistindo ao sofrimento

do meu irmão, ao inferno que construímos ao longo de todo esse tempo em

nossas vidas.

— Mas isso agora já não importa mais — Alec respira fundo,

fechando a cara. Ele olha para David com carinho — Eu sei que esse garoto
é meu filho. Ele é meu filho — repete, com ênfase. — E vai ficar comigo,

Sebastian! Quer queira... ou não! Você já tirou tudo de mim, não vai fazer
isso de novo!

É como se o bebê fosse a sua última esperança, o seu único acerto na

vida. Fecho os olhos ao ouvi-lo, detestando essa ideia, finalmente


entendendo o seu propósito aqui. O pior é que por mais que eu odeie

admitir, bem lá no fundo do meu ser, o entendo. Mas o meu orgulho e o


instinto protetor sobre a minha família gritam bem mais alto agora.

— Certo... então me entrega ele e vamos conversar com calma —


peço, após engolir em seco.
— Não... se aproxime — rosna, apontando a arma para mim,
percebendo tarde demais que já estou mais do que perto e os seguranças o

cercam.

Ele dá um passo para trás, chegando ao limite do piso, a única coisa


que consigo pensar é que vai cair a qualquer momento com o meu filho.

Cair como Juliana caiu. Instintivamente, levo a mão para trás das costas,
alcançando a arma bem devagar. Ao prever o que vai acontecer, Aurora

reage imediatamente, dando um passo à frente.

— Baixem as armas! — pede aos seguranças, que se entreolham sem

saber o que fazer. Desisto de pegar a armar, atônito. Ela vai fazer merda! —
Eu disse para baixarem as armas! — Aurora grita, David volta a chorar ao

ouvir a voz da mãe.

A noite nos cerca, o céu nebuloso, sem estrelas. O sangue de todos


está tão quente que nem mesmo o frio intenso que paira no ar nos atinge.

Aurora me olha implorando para que eu faça os homens a obedecerem.


Reluto, enquanto Alec fica em alerta, curioso para saber o que ela pretende.

— Sebastian — diz, entredentes. Nego com o rosto. — Sebastian —


ela está de punhos cerrados, lágrimas rasgando a sua face, o desespero

evidente.

Preciso confiar nela.


— Baixem as armas — foram as palavras mais difíceis que eu já disse
em toda a minha vida. Sito que estou entregando a minha família para ficar

à mercê dele.

Nunca acreditei em Deus, mas olho para o alto desejando que ele

exista agora e que interceda por David e por Aurora. Faça o que quiser
comigo, mas salve eles. Já aguentei de tudo, mas não vou suportar perdê-

los.

Uma vez sem armas apontadas para si, Alec parece mais relaxado e
Aurora também. Ela foca exclusivamente nele.

— Alec, me escuta, por favor. Presta atenção em mim — tenta falar


sem ser interrompida pelo pranto. — Eu compreendo a sua dor e, por mais

que não acredite agora, sempre compreendi. O David pode sim ser o seu
filho. Se você ainda sente alguma coisa por mim e quer o bem dele, me

entrega ele... entrega o meu bebê — choraminga, machucada, mostrando o


quanto está arrasada.

Dor. Aflição.

Alec chora junto com ela, fico apenas assistindo, voltando a levar a
mão para trás. Preparando-me para disparar se preciso for.

— Você não é mal... não é assim. Por favor, me entrega o meu filho.

Por favor. Nós todos sofremos demais, não faça isso, eu te imploro, Alec —
soluça, destruída, afundando em um poço escuro.

— Eu me tornei mal, Aurora... deixei a Eduarda morrer — confessa,

arrasado. Mais uma vez culpado. — Fiquei cego pelo ódio depois que ela
me contou tudo, depois que riu de mim... durante todo esse tempo ela

apenas riu de mim. Demorei a socorrê-la, mas então lembrei de quem eu


era... que não era um assassino. A levei para o hospital, entretanto, já era

tarde demais — soluça, chorando junto com David, a mão que empunha a
arma ainda mais trêmula do que estava antes. — Esse garoto é a minha

única esperança... — olha para David. — Com ele eu posso finalmente


fazer a coisa certa... e vocês não podem me tirar isso!

A atmosfera ao nosso redor é terrível, passado e presente em guerra,


sentimentos diversos, nenhum bom, todos ruins.

— Sei que fui um covarde... a vida inteira fugi de tudo. Nunca

enfrentei os meus problemas. Você disse a verdade, eu te abandonei e ele te


acolheu — olha para mim por um segundo. — Mas não quero ser covarde

com o meu filho. Sei que sou o pai dele, senti isso assim que o vi. Ninguém
pode me tomar esse direito!

— Nós não vamos, eu juro! Sei que é pedir muito, mas confie em
mim — Aurora se aproxima ainda mais dele, parando à sua frente. — Não é
assim que vai conseguir as coisas, então me entrega o bebê. Veja como ele
está assustado — Alec olha para David, que chora ainda mais alto,

agonizando, querendo a mãe. Seguro a arma mais forte, pronto para puxá-la
das costas.

— Eu te assustei, meu filho — ele sorri com tristeza para o garoto.


Isso me fere. Percebo o quanto ajudei a foder a sua vida. O quanto a

vingança me dominou e agora não há mais espaço para arrependimentos.


Nunca permiti que houvesse.

— Me dá ele... por favor — Aurora estende os braços, eu me

aproximo mais, os seguranças continuam com as armas abaixadas.

Alec assente para Aurora, fechando os olhos por um instante. Então,

deixa a arma cair para o lado de fora, despencando metros abaixo, aliviando
o meu peito e, devagar, devolve o filho à mãe.

Aurora respira fundo quando pega o menino de volta nos braços, é

como se devolvessem um pedaço do seu coração ou o próprio ar para voltar


a respirar. Largo a arma, deixando-a onde está. Os seguranças fazem

menção em mirar no meu irmão, mas nego com o rosto, os impedindo.

Todos ouvimos as sirenes da polícia avançando lá em baixo, pelo

jardim. Alec se distrai ao olhar para trás e escorrega, caindo no precipício.

É só uma fração de segundos.


AURORA BELMONTE

Grito ao ver Alec cair, ele segura na beira da parede antes de desabar
por completo, com o corpo suspenso ao ar livre, pronto para despencar, são

quase vinte metros de altura.

A sua vida está por um fio, sei que vai morrer, mas, para a minha
surpresa, Sebastian dá um salto em sua direção e segura o braço dele

depressa, utilizando toda a sua força para isso, tentando evitar o pior.

— Alec, me dê a mão, eu te ajudo! — afirma Sebastian, a voz saindo


sufocada devido a força exercida para segurá-lo. As suas palavras capturam

a atenção do irmão que, em meio ao medo da morte, olha profundamente

em seus olhos, como se viajasse para outro momento de suas vidas, aos

sentimentos há muito esquecidos. — Me dê a mão! — reitera, querendo


passar uma confiança que nunca houve entre ambos.
Meu coração está quase saindo pela boca, mas volto a respirar quando

Alec, em meio as lágrimas, faz o que Sebastian está pedindo, não se

entregando ao fim que poderia ter. Os seguranças ajudam Sebastian a trazê-

lo de volta em segurança, salvando-o.

E o tempo parece rodar em câmera lenta agora, a troca de olhar entre

os gêmeos é intensa, carregada de dor e tragédias, mas consigo enxergar

algo que talvez agora eles não consigam, que ainda é possível uma

reconciliação, mesmo em meio a toda essa tempestade.

Os seguranças levantam Alec e o levam em direção aos policiais, que

entram no terraço correndo. Ele passa por mim com o semblante devastado,

sabendo que chegou de vez ao fundo do poço, cometeu um grande erro com
toda essa loucura, não precisava ter chegado a esse ponto.

Eu sinto dor por ele. A sua intenção não era fazer mal a mim ou ao

menino, só queria reivindicar uma possível paternidade, mas estragou tudo.

Alec está perdido, precisa de ajuda profissional, não me lembra um

criminoso, mas sim um eterno garoto que ainda não encontrou o seu lugar

no mundo.

Continuo chorando, as lágrimas descendo. Abraço David mais forte,

acolhendo-o em meu colo. Sebastian finalmente levanta do chão e caminha

devagar até nós, abraçando-me pelas costas, nos dando o apoio e o consolo
que precisamos. Toda essa cena, as palavras trocadas, o passado

confrontando o presente, foi horrível.

A noite, a partir de então parece interminável, fico dentro do quarto

com Abigail enquanto Sebastian resolve tudo com a polícia, que demora

muito a sair da nossa casa.

Após David estar banhado e dormindo novamente, agora na minha

cama, pois não tenho mais coragem de deixá-lo em seu quarto, peço que

Abigail nos deixe sozinhos. Já chorei tanto que os meus olhos estão

inchados e não há mais lágrimas para chorar. Não consigo mais, estou

muito abalada.

Sebastian finalmente retorna, também abatido, o susto foi muito

grande, para nós dois. Estou deitada de conchinha com David, exausta. Vejo

o homem sentando do outro lado da cama, nos olhando enquanto sua mente

está perdida em milhões de pensamentos.

— Quer conversar? — sussurra, rouco, cansado.

Nego com o rosto, em silêncio. E fecho os olhos, buscando apenas

dormir.
Os dias passam e a nossa conversa demora a acontecer, Sebastian

sabe que não estou em um bom momento, assim como ele. Sei que o Alec

está preso, mas que provavelmente não ficará por muito tempo, tendo em
vista que é réu primário.

Mesmo após todo o terror que ele nos fez passar, não consigo sentir

rancor dele, só tristeza. Porém, também não tenho mais confiança, porque o

homem que conheci jamais seria capaz de chegar perto de fazer o que ele

fez, mesmo em um átimo de desespero.

Por outro lado, estou chateada com o Sebastian, ter descoberto que ele

foi o idealizador do vídeo que destruiu a minha moral perante a sociedade

paulistana foi um golpe forte. Não que eu valorizasse a opinião da minha

família ou de todas aquelas pessoas hipócritas a meu respeito, mas eu fui

muito humilhada, rechaçada, xingada.

A verdade é que ainda não conversamos porque sei que teremos que

falar sobre isso e, sinceramente, não sei o que vou lhe dizer e ele não está

me pressionando porque no fundo sente vergonha de ter feito o que fez e

pior, nunca ter me contado. Estava tudo indo tão bem e agora isso.

Mais dias silenciosos vão embora, a minha relação com Sebastian

esfriou, estamos parecendo completos estranhos, contudo, falamos o

necessário, mas nunca criamos coragem para chegar ao ponto crucial.


Talvez seja orgulho, talvez seja medo ou outro sentimento indefinível,

vários deles.

Em uma tarde ensolarada, após dar de mamar para o David, entoo


uma canção de ninar até ele dormir. Canto enquanto passeio devagar pelo

seu quarto, com ele em meus braços, dormindo sereno. Deito-o no seu

berço assim que digo as últimas frases da canção.

Contemplo o meu filho, suspirando e agradecendo a Deus por agora

estar tudo bem, por ainda tê-lo aqui comigo. Sinto a presença de Sebastian,

o seu perfume me atinge de longe. Olho por sobre o ombro, o encontrando

encostado no vão da porta, com as mãos nos bolsos da calça, os pés

cruzados, trajado em seu terno luxuoso e que o deixa másculo e poderoso.

Ele me observa sereno, esticando um sorriso discreto no canto direito

da boca, transpassando paz.

— Você é linda cantando, sabia? — me elogia, sorrio triste, olhando

para baixo, suspirando.

— Obrigada — agradeço, voltando a fitá-lo.

Ele estende a mão, convidando-me. O olho nos olhos por alguns

segundos antes de cruzar os nossos dedos e ser puxada até o meu corpo

encostar no seu. Nossos rostos ficam frente a frente, há tanto a dizer.


— Não é cedo demais para estar em casa? — murmuro, quase

tocando a sua boca, os meus olhos imersos nos seus.

— Hoje não consegui trabalhar, tinha que vir para casa, ver você e o

nosso menino — Sebastian respira fundo e fecha os olhos. — Aurora...

você sabe que gosto de te dar tempo, mas dessa vez está me torturando

demais. Não aguento mais esse nosso silêncio. Me perdoe — volta a me

encarar, sincero, acariciando o meu rosto com a ponta dos dedos.

Suspiro, olhando para o berço para verificar se está tudo bem com o

bebê. Depois, saio do quarto, puxando Sebastian pela mão e fechando a

porta. Nós ficamos no corredor, frente a frente. Cruzo os braços, o

observando com seriedade.

— Na maioria das vezes em que nós brigamos, eu surtei, gritei, bati

em você, e você me ensinou que não é assim que se resolve as coisas, que

não gosta desse tipo de comportamento agressivo porque é onde se perde o

respeito. Respeito. É a palavra que lá no início do nosso relacionamento eu

exigi e que muitas vezes também negligenciei enquanto aprendíamos a

construir a nossa relação.

Mexo no cabelo com delicadeza, é uma mania que tenho.

— Pensei que já havíamos deixado tudo de ruim do nosso passado às

claras, que não havia mais segredos ou mentiras. Eu me entreguei a você,


aceitei as suas desculpas, engoli o meu orgulho, abri os braços para o seu

amor. Te amei... te amo. Então por que não me contou sobre essa história do

vídeo? Você sabia que iria me prejudicar, Sebastian, e mesmo assim pediu

para a Eduarda fazer isso... a garota que era a minha inimiga e disso você

também soube, até primeiro que eu.”

Ele me olha envergonhado, uma vergonha extrema, abissal.

— A gente quase perdeu o David... — a minha voz falha, mas seguro


o pranto, já não tenho mais lágrimas para chorar — por causa dessa maldita

vingança. Harry tinha razão, tudo o que plantamos, colhemos mais tarde.
Será que finalmente entendeu isso? — é só isso o que me importa saber.

Sebastian abaixa a cabeça, mirando o chão, destruído, é como se


procurasse um buraco para se esconder.

— Por causa desse vídeo eu fui humilhada pela família, por Campinas

inteira...

— Não era para ela ter espalhado na internet, não era essa a minha

intenção — tenta argumentar, ainda sem olhar para mim.

— Não importa mais. Você sempre diz isso, “não era a sua intenção”

e olha onde viemos parar — fico calada por longos segundos, cada vez mais
cabisbaixa com essa conversa pesada, tensa, que tanto quis evitar, mas que
sabia que precisava enfrentar.
— Naquela época eu fiz de tudo para ter você, confesso — a sua
expressão é de quem sente dor e olhar para mim parece uma guerra difícil

de ser vencida agora, até porque o estou julgando. — Não pensei nas
consequências, só vim aprender a fazer isso depois que passamos a ficar

juntos.

— Ah, então hoje você aprendeu a pensar nas consequências? — ergo


as sobrancelhas, a minha voz está embargada.

— Você me ensinou a ser um pouco menos orgulhoso, a lembrar que


existem outras pessoas que podem ser atingidas pela minha fúria. Que o mal

nem sempre vale a pena. Quando enfim consegui você, achei que poderia
esquecer de vez o passado, nós prometemos fazer isso. Eu não queria que

nada mais nos abalasse, estávamos em um momento frágil, que era a sua
gravidez.

Balanço a cabeça em negativa.

— Mas sei que nada disso justifica — completa. — Não vou ser
hipócrita, Aurora. É isso — sorri sem humor. — Esse sou eu — faz sinal de

pouco caso com os ombros. — Essa merda de homem que está na sua
frente, a escória de um cara que a cada dia tenta melhorar um pouco mais

por você, para ficar com você. Só que... não está dando muito certo.
Fica calado, olhando para os lados, para baixo, abre e fecha a boca
algumas vezes, procurando as palavras, inconformado consigo mesmo,

agoniado.

— E eu não sei mais o que fazer porque... já te machuquei tanto que...

ao meu ver, pedir perdão e desculpas de novo não basta. Sei que não é o
suficiente, por isso estava te dando esse tempo. Eu te amo, sou louco por

você, pelo menino... e aí? Só quero seguir em frente com o que temos hoje.

Respiro fundo, passando as mãos no rosto.

— É exatamente isso que você não entende, Sebastian. Não vamos

conseguir seguir em frente se ainda houver qualquer corrente que nos


arraste para o passado — argumento.

— O que quer dizer com isso? — não consegue entender.

— Eu sei o que você pode fazer para me provar que realmente está
mudando ou que quer mudar pela sua família — trocamos um olhar intenso.

— Vai procurar o Alec, conversar com ele, curar essa ferida maldita criada
pelos pais de vocês e tampar esse buraco de uma vez por todas, pelo amor

de Deus.

Não demora mais que um segundo para o seu semblante expressar o


quanto essa ideia não vai ser possível, porém preciso que ele entenda que
isso é importante não só para mim, e sim para todos, principalmente para os

dois.

— Depois de tudo o que ele fez, depois de ter invadido a nossa casa...

— Sim, depois de tudo isso você o salvou. Por quê? — jogo-o contra

a parede, o deixando sem resposta, mudo. — Poderia tê-lo deixado morrer


depois de tudo isso, por que não permitiu? Porque sabe que o Alec também

foi uma vítima. Nenhum dos dois pode sair dessa história como santo ou
vilão. Cada um errou em um ponto, mas isso precisa acabar — agora estou

quase implorando, porque necessito que ele entenda. — Até quando vamos
viver com essa inimizade tóxica entre vocês, que corrói os dois e vai me

deixar insegura para o resto da vida? E se o David for mesmo filho dele? —
sussurro as últimas palavras, Sebastian fecha os olhos com um medo
absurdo. Fica claro que ele não gostaria disso.

Ele põe a mão na testa e dá dois passos para o lado, me dando as


costas. A ideia do irmão ser o pai biológico o tortura a ferro e fogo.

— Você disse várias vezes que seria o pai dele mesmo que...

— Eu sei o que eu disse, Aurora — me olha por sobre o ombro,


rosnando. — Não vou quebrar a minha promessa, mas é claro... — a sua

voz falha, volta a mirar o chão, desolado — que quero ser o pai dele... em
todos os sentidos. Isso é muito importante pra mim — se torna um homem

ferido, sem esperanças.

— Mais importante do que criá-lo? Do que continuar com ele? —

esse assunto me deixa atordoada.

— Claro que não! Deixa pra lá... você não entende.

— É claro que entendo, Sebastian, mas precisamos estar preparados

para tudo, porque esse momento um dia vai chegar, sempre soubemos que
chegaria. Se não for por nós, será pelo Alec ou até pelo próprio David no

futuro. Mas se quer saber a minha opinião, pai pra mim é quem estava lá ao
meu lado, segurando a minha mão enquanto eu dava à luz.

Ele vira, me encarando com os olhos brilhando, afetado. Esse assunto

mexe tanto com ele que me surpreende, fica mais do que evidente o seu
grande amor pelo garoto, um amor imensurável.

O abraço, ficando na ponta dos pés para poder alcançar o seu


pescoço, Sebastian me corresponde, apertando-me forte contra o seu corpo

quente.

— Conversa com o seu irmão, por favor. Resolve essa desavença —


peço novamente.

— Só assim vai me perdoar, não é? — murmura em meu ouvido,


rouco. Não o respondo. Ele afasta o rosto e me olha nos olhos. — Você sabe
que não vou pedir perdão — se refere ao irmão.

— Eu sei. Essas coisas não se resolvem da noite para o dia. Só quero


que abra uma porta para destruir todo esse mal. Isso vai me deixar mais

confortável. Alec ainda está preso?

— Está. Sequer procurou advogado para se defender e está evitando

conversar com o defensor público. Ele está se autoflagelando outra vez.

— Ele só precisa de ajuda, pois não tem ninguém, Sebastian.


Ninguém.

Sebastian fica calado, sabe que estou falando a mais pura verdade.
SEBASTIAN VOGEL

Novamente estou indo visitar um inimigo na prisão. Pelo visto isso


está se tornando algo rotineiro. Mas, dessa vez é diferente, pois Alec tem o

meu sangue, é idêntico a mim, está no meu passado, presente, faz parte da
minha vida.

Poucas vezes Aurora Belmonte conseguiu me deixar sem palavras

como dias atrás, quando me exigiu que conversasse com ele para tentar

resolver a nossa situação. Não consegui responder àquela pergunta porque

não sabia a resposta ao certo. Eu salvei Alec sem pensar em nada, sem

recordar dos motivos, foi apenas instintivo.

Realmente poderia tê-lo deixado cair e falecer, meus seguranças não

iriam se mover para socorrê-lo sem o meu sinal, então por que não o fiz?
Afinal, ele estava ameaçando a vida da minha família.
A verdade é que sei, sim, a resposta, mas não quero reconhecê-la.

Aurora tirou as palavras da minha boca, Alec também foi vítima dos nossos

pais, muito mais que eu porque sempre abaixou a cabeça. A manipulação de

anos, a minha vingança, a brincadeira de marido e mulher com a Eduarda,

tudo isso o fez explodir como jamais aconteceu.

Toda pessoa tem o seu limite.

Fico na sala reservada para conversar com os detentos, sob a

vigilância de um guarda, que está parado no canto, armado. Após alguns

minutos tediosos de espera, finalmente trazem o meu irmão que, para a

minha surpresa, está de cabelo raspado, corte estilo militar, cara de bandido.

Onde foi parar o anjo? Se perdeu.

Algemado, ele senta na cadeira à minha frente, após a mesinha de


ferro que nos divide. Os poucos segundos que ficamos calados, observando

um ao outro, parecem eternos. Eu não queria sentir nada por vê-lo assim,

mas não consigo. É deplorável.

— O que quer aqui? — Alec puxa assunto.

Suspiro, cruzando as pernas.

— Aurora me obrigou — disparo, sincero. A sobrancelha dele se

ergue, fica surpreso e interessado. — Ela está preocupada porque você não

está se ajudando. O que está acontecendo? Quer morar aqui?


Alec raciocina um pouco e então relaxa contra as costas da cadeira,

com as pernas abertas, esticando um sorrisinho inteligente.

— Aurora não tem o poder de obrigá-lo a nada, Sebastian, me poupe.

Estou cansado dos seus joguinhos, o que fez não foi o suficiente? Se veio

aqui perder o seu tempo, não estou afim de perder o meu — o desgraçado

faz menção de se levantar, me ignorando.

— Espera — peço, é quase uma ordem, ele obedece, olhando-me.

Tamborilo os dedos na mesa, buscando coragem. — Você não precisa ficar

aqui, pode responder em liberdade. Os meus advogados podem aliviar a sua

situação...

— Quer me ajudar? — está incrédulo. — Acha mesmo que vou

acreditar nisso? Qual é o plano dessa vez? — me provoca.

— O plano é dar um fim nessa merda entre a gente de uma vez por

todas. Esse é o plano. Está satisfeito?

Voltamos ao silêncio.

— Por quê? — continua desconfiado. — Que diferença faria?

— Você perguntou se eu não estava cansado. Pois bem, estou. A

minha família está. Todos estamos. Não quero passar o resto da vida

encarando você como um problema, porque assim seremos eternos inimigos


e nunca teremos paz. Não é saudável ser meu inimigo, maninho — sou

sarcástico nas últimas palavras, cruzando os dedos das mãos sobre a coxa.

Cravo os meus olhos nos dele, para que saiba o quanto estou sendo

sincero.

— Quer levantar bandeira branca após toda essa guerra? Sabe muito

bem o que precisa fazer — seu olhar sugestivo me fere, mas me controlo.

Respiro fundo, virando o rosto para o lado por um instante,

balançando a perna.

— O exame de DNA será feito, disso não tenha dúvidas. É uma coisa

que já foi concordada por mim e por Aurora. Mas tudo ao seu tempo,

primeiro vamos deixar toda essa poeira que você causou assentar — ao me

ouvir, ele desvia o olhar, envergonhado.

Descruzo as pernas e apoio os cotovelos sobre a mesa, aproximando-

me um pouco mais dele.

— Só quero que saiba de uma coisa, Alec. Mesmo que você seja o pai

biológico do David, isso não vai mudar em nada a minha relação paternal

com ele e é melhor que esteja bem ciente disso — soa como uma ameaça,

mas Alec pouco se importa ou se afeta com isso.

Ele me encara sem medo.


— Eu também estou cansado de brigar, Sebastian. Então para de me

provocar — rosna, lembrando até eu.

Assim encerramos a nossa conversa.

Após alguns meses, entro com Aurora na suíte do hotel de luxo onde

sempre gostamos de nos hospedar quando damos uma fugidinha de Staten

Island. Abrimos a porta às gargalhadas, quase caindo ao invadirmos o

cômodo, estamos um pouco alcoolizados, foi uma noite e tanto.

Vestimos trajes de gala de inverno, lá fora está nevando muito, mas

nem isso nos impediu de dançar bastante no baile ao qual fomos

convidados. Aurora está deslumbrante, com um vestido que molda o seu

belo corpo, usando sobre ele um casaco de pele.

Enquanto fecho a porta, trocamos vários beijos molhados, com sabor

de champanhe, matando a saudade da privacidade que já não é mais a

mesma depois da chegada do nosso garoto.

— Gostou do baile? — sussurro, mordiscando o lóbulo da sua orelha

enquanto jogo o seu casaco no chão.

— Adorei, precisávamos disso, não precisávamos? — sorri, lambendo

a minha bochecha como uma gata selvagem, excitando-me.


— Sim, precisávamos... — beijo-a outra vez, ela retira o meu

sobretudo.

— O quê? — geme, manhosa, deliciosa.

— Foder você até de manhã — trocamos um olhar profundo, Aurora

fica boquiaberta, arrepiando-se de tesão.

— Eu também quero... mas antes preciso ligar para a babá para saber

do David — afirma entre grunhidos, assanhando o meu cabelo ao mesmo

tempo em que me aproveito do seu pescoço perfumado, que me enfeitiça.

— Então vai logo, mas não demora — acerto um tapa em seu traseiro,

sorrindo safado, mordendo os lábios, assistindo-a ir desengonçada até o

telefone.

Aurora fica de costas para mim, dialogando com a babá e, quando

finalmente termina, me encontra sentado na beira da cama, agora sem

qualquer peça de roupa, de pernas abertas, me masturbando bem devagar, a

encarando com lascívia.

A minha mão sobe e desce pelo corpo do meu pau, esquentando-o

ainda mais, tornando-o mais duro do que já está. Ela fica louca com a

minha imagem e deixa o celular de lado, desfilando em minha direção sem


pressa alguma, entrando na fantasia, puxando as alças do vestido e
permitindo que ele caia assim que para na minha frente, revelando o corpo

escultural apenas de calcinha.

Contemplo-a por inteiro, ficou ainda mais gostosa depois da gravidez,

as curvas perfeitas, as coxas torneadas, os seios fartos. Sem que eu precise

pedir, Aurora se ajoelha entre as minhas pernas, segurando meu pênis na

base e presenteando-me com uma lambida intensa na glande.

— Hmmff — jogo a cabeça para trás, fechando os olhos com deleite,


separando ainda mais as coxas. É uma visão divina tê-la prostrada diante de

mim. Inclino-me sobre o seu corpo por um instante e estapeio a sua bunda
empinada, redonda, lisa.

Aurora me engole até o limite e chicoteia com a língua, envolvendo-


me com os seus lábios aveludados, sorvendo o meu gosto, com os olhos

fixos em mim, perigosa... fatal. Sexy!

Ela me masturba ao mesmo tempo que faz o oral mais gostoso da


minha vida, chupando-me com vontade e, para me tirar a sanidade de vez,

ainda dá uma mordidinha que me enlouquece.

É neste momento que levanto, seguro os seus cabelos e começo a

foder a sua boca, tomando a frente, dominando a situação, rebolando o


quadril com maestria, fazendo o que mais gosto de fazer. Quando estou
prestes a explodir, paro e a coloco de quatro na beira da cama após retirar a
sua calcinha.

A mulher rapidamente abre a coxas e empina a bunda com

sensualidade, do jeito que gosto, para me matar. Inclino o rosto sobre o seu
rabo e lambo cada nádega com lentidão, observando a sua pele empolar de

luxúria por onde passo, por onde deixo o meu rastro.

Mordo a sua carne, brincando, arrancando-lhe gemidinhos. Deposito

beijos por suas costas, subindo até os ombros e resvalo a mão esquerda para
o seu sexo, tateando a sua intimidade com experiência, incitando o clitóris

logo de início, massageando a vulva inteira.

Aurora já está ensopada, ela se excita com uma facilidade incomum e


é isso que me entorpece e me faz desejá-la com tanto fogo e devassidão.

— Ai... ai... — mia, rebolando a bunda ao sentir os meus dedos, que


esfrego nas suas carnes, lambuzando-a ainda mais, melando tudo e usando

os seus fluídos para lubrificar e provocar o seu cu.

Faço movimentos em círculos, também para os lados, acelero,


penetrando-a também, ouvindo os seus gritos, mas antes que ela possa

gozar, paro e me posiciono rapidamente às suas costas, enfiando o meu pau


com tudo em sua boceta em um golpe único, até o fim.

— Aaah! — gememos juntos, fechando os olhos.


Puxo-a pelos cabelos até que o seu corpo encoste no meu, suas costas
colem no meu peitoral e sua boca grude na minha. Capturo os seus seios

com as mãos, prendendo-a ainda mais a mim, beliscando os bicos,


apalpando a abundância de carne.

Fico parado dentro do seu corpo, curtindo as nossas línguas que se


enroscam e se transformam em uma coisa só. Começo a fodê-la devagar,

gostoso, sem fazer grande impacto, atrasando o orgasmo que está a um


milímetro para nós dois, vivendo a intensidade dessa tortura sexual que é

tão prazerosa.

Escorrego uma das mãos para o seu pescoço e movo o quadril com
mais força, acelerando, empurrando-me para o fundo das suas entranhas.

Alucinada, Aurora geme, escandalosa, esfregando o traseiro em mim,


me engolindo até os últimos centímetros, querendo sentir cada pedaço.

— Goza no meu pau, vai gostosa. Goza — ordeno, rugindo em seu

ouvido, estocando em um vaivém majestoso, fogoso.

— OOOH! — ela berra, explodindo, arfando. Engulo os seus

gemidos, mordendo os seus lábios e por fim a deixo cair de volta no


colchão, retornando a ficar de quatro.

Seguro-a pelos quadris com firmeza e fodo-a feito um animal

ensandecido que sou, na busca desenfreada por prazer, no desejo e na


loucura de descarregar toda essa testosterona presa dentro de mim.

Para me ajudar a chegar lá com mais rapidez, Aurora faz uma coisa

que me tira o juízo, deita a cabeça no colchão e abre a bunda com as mãos,
mostrando toda a sua intimidade, safada. É como se dissesse implicitamente

que quer tudo de mim e eu vou lhe dar, sempre dou!

O impacto dos nossos corpos é surreal, não há controle quando

estamos transando, não há pudor, só paixão e fogo extremo. É ardente,


quente e insuperável. Ejaculo dentro da sua boceta com abundância,

enchendo-a tanto que escorre para fora, pingando nos lençóis, melando
tudo.

Foi excelente.

Saio do seu corpo, de pernas bambas, buscando ar e vou até o


sobretudo no chão. Aurora cai entre os travesseiros, acabada, mas com um

sorriso no rosto.

— O que está fazendo? — pergunta ao me ver mexendo na minha


roupa.

— O que já deveria ter feito há muito tempo — respondo,


encontrando o estojo.

Volto para ela, sentando-me ao seu lado, notando o seu sorriso crescer

de orelha a orelha por entender do que se trata. Mostro as alianças cujas


pedras brilham tanto que são capazes de iluminar qualquer escuridão.

Assim, suados e sem roupas, após um sexo selvagem, acaricio a sua


face, apaixonado.

— Uma vez eu te falei que fui o cara escolhido pelo destino, que eu

sou o seu destino e que nós dois juntos somos...

— Inevitáveis — ela completa, se emocionando.

— Quer se casar comigo, Aurora Belmonte, e ser a minha esposa por


destino? — proponho, sorrindo.

— Já não era sem tempo mesmo, viu — brinca. — É claro que sim!

— pula sobre mim, beijando-me como uma menina que acabou de ganhar o
melhor presente da sua vida.
ALEC VOGEL

Após sair da prisão meses atrás, retornei para a minha fazenda em


Piemonte, pois sinto que aqui é o meu lugar. Recolhi todas as coisas da

Eduarda e entreguei aos pais dela, que vieram pessoalmente buscar e


tiveram uma longa conversa comigo.

Pelo visto as coisas em São Paulo para a minha família não vão bem,

Willian está com câncer e falido, para piorar, Victória o abandonou e casou
com um dos seus melhores amigos da política. Quando o pai de Duda me

perguntou se eu não retornaria para o Brasil para me despedir de meu pai,

eu simplesmente disse que não.

Já a família de Aurora perdeu tudo também, o pai dela está preso e a

mãe vivendo das migalhas que ganha vendendo os bens que ainda possuem.

Falei a eles que conhecendo Aurora como conheço, ela também não

retornaria para tentar ajudá-los. Eles não.


Hoje está um dia frio, há muita neve lá fora, mas muito trabalho a

fazer. Ao sair de casa, me deparo com o carteiro se aproximando. Trocamos

um sorriso e então ele me entrega as cartas.

— Obrigado — agradeço, o homem assente e vai embora. Olho cada

envelope até me surpreender com o que veio de Nova York.

Volto para casa, sento-me na mesa da cozinha, dou um gole na caneca


de café quente e abro a carta, reconhecendo a letra de Aurora:

Olá, Alec.

Como combinado, aqui está a sua cópia do resultado

do exame do David. Nós ainda não olhamos a nossa,

então não sei o resultado enquanto estou escrevendo

esta carta. Preferi assim para poder dizer a você que,


independente de qualquer coisa, ele terá sempre o seu

sangue, porque somos todos uma família.

Meu coração fica apertado, o que vou ver nesses papeis vai definir

muita coisa na minha daqui por diante. Decido não titubear e olhar de uma

vez: negativo.

Ele é filho do Sebastian.


Fico calado por muito tempo, pensando sobre isso. Lembrando do

filho que Eduarda carregou e que também não era meu, que demorei demais

para ajudar a salvar e por isso também o perdi. E agora tem o David.

Talvez não é para ser. Tenho que me conformar.

Respiro fundo, bebo o resto do café, levanto-me com a intenção de

encher a cabeça de trabalho para poder me distrair, mas batidas na porta da

frente chamam a minha atenção.

Ao abrir, dou de cara com uma mulher que mais parece um anjo,

olhos verdes, cabelos longos e ruivos arrumados em uma trança. Sardinhas

lindas salpicando o seu rosto.

— Oi — ela ri, com frio. A neve caindo ao seu redor a deixa ainda

mais bonita.

Não a respondo, pelo contrário, a encaro mal-humorado.

— É aqui estão precisando de uma ajudante? — não acredito que ela

veio com a intenção de trabalhar.

— Está enganada, moça. Desculpe — tento fechar a porta, mas ela me

impede.

— Não me enganei, não. Olha aqui o cartaz. Estou no endereço

correto — o sorriso dela me arrebata, mas o meu peito se enche de medo. A

minha mente voa distante, me imagino tomando a sua boca com prazer,
porém me resguardo e obrigo a voltar à realidade, onde sei que não tenho

sorte com relacionamentos.

— É que aí eu citei um ajudante. Os serviços que tenho aqui não é

coisa para mulher fazer — argumento, mas no fundo a minha vontade é de

chamá-la para entrar.

— Ah, você está brincando, não é? Em que século está vivendo? Não

há serviço que uma mulher não consiga fazer, bonitão — pisca para mim,
fico desconcertado, mas quente por dentro. Muito quente.

Não sei mais o que falar para convencê-la a ir embora.

— Vai me deixar congelando aqui? Onde está o seu cavalheirismo?

— Me provoca.

— Há muito tempo deixei de ser cavalheiro — dou espaço para ela

entrar. Ela entra.

Vejo a sua bunda rebolando em direção à sala e sinto que será o meu

fim. Ou um novo começo.

AURORA BELMONTE
Quando as portas da igreja se abrem, troco olhares com o tio Harry,

que aperta o meu braço no seu para me passar ainda mais segurança. Ele

mesmo se ofereceu para me levar até o altar e por isso estou explodindo de

felicidade.

No templo há pouquíssimos convidados, só os especiais. Começamos

a caminhar, não ao som de uma marcha nupcial clássica, mas sim ouvindo

uma canção que adoro, Je Te Laisserai Des Mots, de Patrick Watson.

Tudo parece acontecer em câmera lenta, o tempo passa de modo que

cada sentimento, cada sorriso trocado, seja especial. Sebastian me espera no

altar com um encantamento inigualável, é como se tivéssemos esperado a

vida inteira por este momento e agora finalmente está acontecendo.

Vejo o nosso filho nos braços de Abigail, que está ao lado, ele solta

gritinhos e ri, entendendo que estamos vivendo um momento especial. A

cauda do meu vestido se arrasta às minhas costas, nunca me senti tão linda e

tão realizada.

Tio Harry ergue o meu véu e beija a minha testa, me dando a sua

bênção antes de me entregar para o seu sobrinho. Ambos se abraçam e

depois Sebastian me oferece a mão, que seguro com toda a gratidão do

mundo. Gratidão por ele ter cumprido todas as promessas que fez.

Nunca me arrependi de tê-lo escolhido. Nunca.


O nosso casamento é simplesmente mágico, um momento

inesquecível. Trocamos as alianças selando de uma vez por todas o nosso

amor, que sei que vai continuar florescendo pelo resto da vida. Para todo o

sempre.

No fim, acaricio o seu rosto, eternamente apaixonada, mergulhando

em seus olhos azuis intensos.

— Meu marido — sorrio.

— Minha esposa — ele responde e então me beija. Um beijo de

cinema.

Os convidados gritam e nos aplaudem, comemorando junto conosco.

Às vezes, passamos a vida inteira planejando uma coisa, esperando,

achando que agora não é o momento certo, mas sim depois. Depois eu falo.

Depois eu faço. Depois eu realizo. E aí vem a vida e sopra tudo, mostrando

que sonhos não são nada se não forem realizados de imediato.

Aquilo que fica para amanhã perde a oportunidade de acontecer hoje,

porque o amanhã não existe, porém o hoje é real. O hoje é controlável e

capaz, mas o amanhã só talvez aconteça.

Sebastian não esperou, ele veio como uma onda e me mostrou o amor

verdadeiro, do jeito mais tortuoso possível, mas mostrou. Hoje estamos

juntos. Hoje estamos casando. Hoje temos o nosso filho. E amanhã? O


amanhã pode esperar, porque o agora é bom demais e viveremos cada

instante dele enquanto dure.


AURORA BELMONTE

Três anos depois.

Enquanto David brinca com a sua bolinha de silicone em cima da

cama, entrego a camisa que escolhi para Sebastian vestir. Ele está em frente

ao espelho, apenas de calça.

— Acha mesmo que esse ano Alec vai aparecer? — me pergunta,


sinto a sua ansiedade açoitando sempre que pensa no assunto.

— Bem, dessa vez foi o seu tio quem o convidou. Hoje é o nosso

almoço de natal e, como sempre, a comemoração do aniversário dele. Seria


muito interessante conhecermos a família do seu irmão. Harry sabe disso e

quer nos aproximar — falo, observando o meu marido se vestir e ficar

perfeito como sempre.


— Não sei porque vocês insistem tanto nessa reaproximação, as

coisas estão indo tão bem com cada um de nós em seu canto — ele

resmunga.

— Você morre de medo, mas a verdade é que seria muito legal. Mas

pode ser que Alec negue novamente e não venha como nos outros anos.

— Mamãe! Papai! — David chama, sorrindo, rolando na cama. Ele


parece uma bolinha de algodão de tão fofo e adorável.

— Oi, meu amor, está com fome? — o pego no colo, sentindo o seu

peso. — Ah não, vai para o seu pai que eu já quase não te aguento mais.

— Vem para o colo do papai, meu garotão! Vem!

Sebastian pega o menino, cheirando o seu pescoço e o fazendo

gargalhar feliz. Aproveito o momento para pegar o celular e tirar uma selfie

de nós três.

— Digam xiiis — os dois sorriem para a foto, que sai linda demais.

Assim, descemos para o térreo, encontrando Harry na sala de

refeições com Abigail. Na mesa há um verdadeiro banquete de natal,

delicioso e cheiroso. Pelas janelas avistamos a neve caindo lá fora.

— Olha eles aí! — ela diz, rindo, já o velho nos observa rabugento,

como sempre.
— Que cara é essa, tio? — Sebastian pergunta, enquanto nos

sentamos.

— Achei que vocês comeriam lá em cima! Que demora!

— Acalme-se, seu ranzinza, já chegamos — brinco, beijando o

rostinho do meu bebê.

— Ranzinzaaaa! — Ele grita para Harry. Todos gargalhamos com


isso.

— Olha o respeito, garoto! Está vendo a educação que a sua esposa

está dando para o seu filho? Dessa idade e esse menino já não me respeita!

— Quem procura acha, tio — Sebastian é sarcástico, provocando

ainda mais o homem, que bufa.

Ficamos em silêncio, trocando olhares.

— Bem, o que estamos esperando, então? — Sebastian decide

quebrar o gelo.

— Só mais alguns minutos — afirma Harry, espiando o relógio de

pulso, fazendo bico.

Sebastian troca olhares comigo.

— Ele não vai vir, tio — diz, sem esperança. — Ele nunca vem.
— Eu disse a ele para não me deixar morrer sem conhecer a sua filha.

Nós tivemos uma longa conversa por telefone — Harry resmunga, não

aceitando a ausência de Alec. — É o meu aniversário de oitenta e cinco


anos.

— Ele não confirmou que vinha, apenas o ouviu.

— Mas senti que dessa vez foi diferente. Esse ano será diferente.

Quero morrer com a certeza de que vocês dois não farão mais besteira.

— Será que dá para parar de falar em morte no dia do seu

aniversário? — me intrometo. — Por que todo velho à essa altura do

campeonato só fala sobre o seu próprio fim? — o provoco, Abigail

gargalha.

— Ora, sua...

Harry não consegue rebater, pois ouvimos a campainha tocar.

— Minha nossa! Será? — Abigail fica em alerta. — Eu vou lá

atender.

A mulher corre até o hall. Nós quatro ficamos esperando. David, no

colo do pai, não para de mexer nos talheres sobre a mesa. Ficamos

esperando, ansiosos, meu coração até bate um pouco mais acelerado,

porque realmente é algo que sempre pensei, mas que se acontecer será

surpreendente.
Enfim Abigail volta e, atrás dela, surge Alec de mãos dadas com a

belíssima esposa que segura uma linda bebê. A primeira coisa que faço é

sorrir. Todos nós nos levantamos para recebê-los e o clima fica até um

pouco constrangedor. Ninguém sabe ao certo o que dizer.

— Eu sabia que você viria — Harry se manifesta.

— Bom dia — Alec cumprimenta.

— Bom dia — a sua esposa acena para nós.

— Bom dia, sejam bem-vindos. Nós estávamos os esperando — dou

alguns passos em direção a eles.

— A neném, papai! A neném! — David grita, apontando para a

garotinha. Todos focam em Sebastian, que ainda não disse uma palavra.

O olho de maneira encorajadora. Ele se aproxima, parando ao meu

lado, fitando Alec de forma profunda.

— Sim, meu filho, é a neném. Ela é sua prima — Sebastian respira

fundo. — Seja bem-vindo, irmão — oferece a mão, Alec o cumprimenta, o

toque deles acontece, é real, selando a paz.

— Obrigado, Sebastian — Alec assente, forçando um sorriso.

— E qual é o nome dela? — Sebastian fita a menina outra vez.

— Maria — responde a mãe.


— Mariaa! — David grita, descontraindo a todos nós.

— Venham sentar, vamos comer que estou com fome! — chama

Harry.

Assim, voltamos para a mesa. Aos poucos, criamos um diálogo, as

crianças deixam tudo mais leve e assim, pela primeira vez, os Vogel

realmente se tornam uma família.

Família é a base de tudo.


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@AUTORMARIOLUCAS

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