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1ª.

Edição

2020
Copyright © Mari Sales

Todos os direitos reservados.

Criado no Brasil.

Edição Digital: Criativa TI

Revisão: Ana Roen

Capa: Jéssica Macedo

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a


reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios —
tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime


estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
Dedicatória

Para a querida leitora e amiga Rosimeire Gouveia. Sinto-me


abraçada todas as vezes que converso com você. Gratidão por ter me
acolhido com tanto amor. A matriarca dessa família me inspirei em você.

Para Vi, Vitória Carolina, um pedacinho dessa história também é


seu.
Sinopse

Fui desafiado a provar o quanto era bom no poker e ganhei uma


mulher onze anos mais jovem do que eu. Mesmo que fosse apenas uma
provocação, fui inconsequente e segui até o fim naquele jogo. Deveria
imaginar que não era apenas um local estranho para se fazer apostas.

O juiz Marcelo Sartori tinha a posse de uma mulher!

O ódio pelos bandidos só aumentava. Ao invés de abandonar


Mercedes Smith a própria sorte, eu iria protegê-la.

Enquanto estivesse me esforçando para colocar atrás das grades uma


quadrilha de jogos ilegais, ofereceria meu sobrenome para Mercedes. Um
contrato de casamento, a proteção ideal para que ninguém ousasse tocá-la.

Seria simples, se não fosse a atração que comecei a sentir, mesclada


a culpa de estar obrigando-a a ser minha. Não me importava com o papel
dado pela casa de jogos ilegal, eu deveria seguir a lei e não me deixar
corromper.

Pouco tempo foi necessário para que o desejo tomasse conta. Não
consegui mais focar apenas no grande plano, meu coração estava envolvido
demais para desapegar.

Ela não seria minha por obrigação, mas por sua própria vontade.
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Nota da Autora

Para o melhor desenvolvimento da história, sem que envolva


ideologias ou gere discussões que não competem a uma obra como essa, não
se seguiu à risca as diretrizes políticas dos Estados Unidos, nem foram
aprofundados os trâmites judiciários. Essa é uma obra de romance, não cabe a
ela a discussão política, ideológica ou levantamento de bandeira partidária.
Prólogo

Se tinha algo que me fazia esquecer a razão e dar voz para meu lado
impulsivo era o desafio. Quando alguém duvidava da minha capacidade e
debochava perante pessoas conhecidas, eu não conseguia evitar ser um
imbecil.

Em uma festa beneficente, com grandes empresários, celebridades e


os mais ricos de Miami, conversando com alguns conhecidos, segurando um
copo de uísque e sentindo minha raiva emergir, não dei ouvidos para meu
irmão mais velho, Mason, e só falei:

— Eu sou melhor do que você. — Meu olhar era mortal para o tal
Nicholas O’Donnell. Não sabia o que ele era, nem se tinha tanto dinheiro
como estava cacarejando entre os homens.

— Um juiz como você não se envolve com jogos de azar. Deve


pagar muitos dólares para sair vitorioso de uma mesa em Vegas — debochou
e os homens riram, porque ele já vinha falando outras merdas há algumas
horas.

— Não pegue a isca — Mason murmurou no meu ouvido. O vice-


presidente do Grupo RM Sartori, que administrava um dos aeroportos da
cidade, tentou ser a voz da razão. Mas o diabinho, a voz invisível que estava
me controlando, abafou meu bom senso.

— Eu não preciso comprar minha vitória, porque eu ganho de


qualquer um nessa sala. — Tomei com um gole o uísque em meu copo.

— Você aproveitou muito bem a faculdade — um dos homens falou


divertido e sorri para ele, porque era verdade. Parte da minha paixão pelas
cartas veio dos meus anos de graduação. Eu conseguia ser bom aluno e
farrear na mesma proporção.

— Então, vamos jogar. Quero ver se você é tudo isso que está
falando.

— E tem lugar para isso? — questionei, desconfiado.

— Não é oficial, mas existe.

— Sou um homem da lei.

— Que não consegue jogar sem usar o seu posto.

— Tome cuidado com o que fala comigo. — Minha ameaça o fez rir.

— Como disse, não sabe jogar. — O homem demonstrava


embriaguez e seu convite não deveria me encher de vontade de massacrar seu
ego, mas eu estava fora de mim e queria fazer com que engolisse suas
palavras. — Ou vai mostrar que estou errado? Hein? Só não pode dar
carteirada.

— Vou apenas como Marcelo Sartori, não preciso do meu título para
me dar bem no jogo.

— Pare, Chad. Não faça isso. — Mason segurou no meu ombro e


apertou. Quando nosso pai não estava por perto, ele fazia o papel de centrado
e de pôr juízo em nossas mentes. — Se alguém descobre que você está se
envolvendo com essas pessoas, ficará feio para você.

— Que pessoas? Se ele me queimar, levo todos juntos comigo. —


Empinei o nariz. Sabia que meu ego estava tomando espaço entre nós, mas
era um caminho sem volta. Quando eu decidia mostrar que eu conseguia, ia
até o fim, e só pensava nas consequências depois. — Avise nossos pais que
precisei ir, depois te aviso o que aconteceu.

A conversa ao nosso redor tinha se dispersado e saí acompanhado de


Nicholas. O evento estava acontecendo no salão de festas de um hotel. Fomos
então para o estacionamento e peguei meu carro.

— Me siga. — Apontou para seu automóvel.

Mais de uma lei seria quebrada, porque além de concordar em


participar de um jogo ilegal, naquele momento, estava dirigindo depois de
ingerir álcool. Eu iria chamar um motorista de aplicativo para me levar em
casa e, depois, convocaria Thomas, o motorista do meu pai, para buscar meu
carro.

Acelerei e acompanhei Nicholas, mesmo sentindo que eu estava me


comportando como um trem desgovernado, inconsequente e sem freios. Meu
coração disparou e meu peito se apertou, pois tinha certeza de que as
consequências daquela noite seriam as piores possíveis.

Rico, solteiro e com um cargo que me confiava poder, eu era um juiz


de prestígio na minha cidade. Apesar da pouca idade para esse tipo de
responsabilidade, meus trinta e dois anos me permitiam explorar o melhor do
que o poder poderia proporcionar.

Amigo pessoal de Maxwell Mazzi, o governador do Estado, apoiava


a sua candidatura para a presidência e, consequentemente, me tornaria um
juiz federal com sua indicação.

Poderiam dizer que eu me aproveitava da situação, mas eu só


pensava na seriedade do trabalho que poderia fazer ao lado de um bom
político. Apesar de abusarmos do status de solteiro, tratávamos o lado
profissional com dedicação e sentimento de mudar o mundo.

Além de não me relacionar com uma mulher o suficiente para querer


me casar, eu tinha outro defeito perante a sociedade: era orgulhoso.

Estava prestes a pagar pelo meu ego ferido.

Paramos em um bairro escuro e afastado do centro da cidade. Abri o


porta-luvas e me arrependi de não ter trazido minha arma. O carro que eu
usava para ir trabalhar estava equipado com todos os itens de proteção e
alguns ofensivos, como minha Glock G43.

Saí do carro e acompanhei o homem pela calçada, até chegarmos em


uma entrada de um galpão que parecia abandonado. Ele bateu na porta duas
vezes, entramos e meu inferno começou ao sentir o cheiro de entorpecente no
ar. Várias mesas estavam dispostas, com homens jogando e mulheres
seminuas andando ao redor.

— Merda — murmurei irritado, prestes a sair dali ao ver uma das


pessoas fazendo uso de injetáveis.
— Na última mesa o prêmio será especial, juiz.

— Cale a boca — rosnei e ele riu alto, chamando atenção para nós
enquanto atravessávamos o salão improvisado.

— Quer desistir? Eu sabia que você não daria conta.

— Vou acabar com sua raça. É nisso que está envolvido enquanto
passeia pela alta sociedade? — questionei irritado, e ele deu de ombros.

— Hipócritas! Muitos de vocês passam mais tempo aqui do que no


trabalho. Olhe só você.

Antes que pudesse rebater, Nicholas parou em frente a última mesa


do galpão, tirou um homem de uma cadeira e indicou que eu me sentasse.
Olhei para os rostos cansados e sérios que me analisavam.

— Esse é o peixe grande? — um dos homens perguntou, e as mãos


tremendo me indicavam que estava em abstinência ou tinha alguma doença
degenerativa.

— Podemos começar. Quatrocentos mil dólares, juiz. — Nicholas


bateu nas minhas costas e riu, os outros o acompanharam. Estávamos em
cinco e eu era louco o suficiente para colocar parte das minhas economias em
risco só para provar que eu era bom.

Peguei minha carteira, fiz um cheque e o entreguei para o crupiê – o


responsável pela mesa e o baralho, não fazia parte dos jogadores. Uma
mulher com os seios de fora apareceu e anotou os pedidos de bebida, mas eu
não tomaria nada até ir embora.
O jogo demorou. As rodadas pareciam eternas e, a cada jogador que
perdia, eu sentia que estava contribuindo para tornar a vida deles ainda pior.
Não sabia quem comandava esses jogos e temia que imagens fossem feitas da
minha insanidade, o que poderia me forçar a dar uma outra sentença que não
fosse a justa.

Ao chegar no final, era eu contra um senhor que suava tanto, que


parecia prestes a ter um ataque do coração. Minha mão ganhou e Nicholas
vibrou com a vitória. O homem que perdeu, chorando, foi carregado por
seguranças para longe da mesa.

O dinheiro que iria arrecadar entregaria nas mãos da minha mãe,


para a caridade, inclusive meus quatrocentos mil dólares. Uma grande mala
com o dinheiro seria entregue para mim no dia seguinte, na minha cobertura.
Tentei fazer as tratativas o mais rápido que consegui, para fugir daquele antro
de ilegalidade, mas eu tinha um prêmio extra. O pagamento do homem que
foi carregado para longe da mesa não era convencional.

O que estava especificado no papel não poderia ser entregue para a


minha mãe. A vida de uma mulher foi posta nas minhas mãos e eu não
acreditava que um ser humano poderia ser negociado em uma daquelas
mesas.

Para combater o mal que eu fiz parte por algumas horas, eu


precisava entrar no jogo e tentar salvar, pelo menos, uma alma.

Meu ego me levou para o fundo do poço, mas acendeu a chama da


justiça, eu encontraria uma forma de fazer a diferença.
Capítulo 1

Poderia ter marcado uma reunião com o governador na sua casa ou


escritório, mas o encontro seria nos corredores do National Club Mall.
Disfarçados, tanto Maxwell como eu estávamos com boné, roupa informal e
tênis para que não chamássemos atenção.

— Está cada vez mais foda. — Maxwell abaixou a aba do boné


quando um casal passou por nós nos encarando. — Meus aliados partidários
dizem que preciso me casar para que seja cotado como candidato à
presidência. Um absurdo!

— Escuto esse discurso há muito tempo, mas tenho a vantagem de


não ser o irmão mais velho. Quando Mason se casar eu faço o mesmo. —
Forcei o sorriso, o momento não era para brincadeiras. — É possível ter
valores tradicionais e não ser feito para o matrimônio.

— Diga isso para os meus associados. — Encarou-me com


seriedade. — Você me ligou preocupado. O que está acontecendo?

— Fiz merda.

— Ah, isso é um grande problema, vindo do homem da lei — soou


sarcástico.

— Vou precisar da sua ajuda, de alguns contatos e influência,


quando for o momento. Há uma rede de jogos ilegais rolando solto. Estão
apostando pessoas, e nem quero imaginar o que mais devem fazer.

— Oh, isso é grande. Como soube?

— Eu participei de um. — Tirei o boné para alisar o cabelo e o


reposicionei na cabeça. — Fui desafiado e eu não consegui dizer não.

— Cara, que merda. — Max apontou para uma das mesas na praça
de alimentação e seguimos até lá para nos sentar. Como ainda era cedo,
poucas pessoas estavam próximas para nos escutar. — Pensei que essa rixa
tinha acabado na época da faculdade.

— Deveria, mas o idiota estava me esnobando na frente dos colegas


do meu irmão. Eu busco ser um bom homem, mas isso não quer dizer que sou
perfeito. — Sentamo-nos à mesa, estiquei minhas pernas e olhei para o teto.

— Ganhou?

— Sim. Todo o dinheiro vou entregar para o projeto de caridade da


minha mãe. Foram milhões.

— Dona Rosi e dona Ana vão ter muito trabalho pela frente. Isso é
bom, está reciclando o dinheiro sujo. — Tentou ver o lado positivo, mas ele
não sabia do todo. — Pense que foi um mal necessário, usando o sistema
ilegal contra eles mesmos.

— Tem mais. Eu ganhei também uma mulher. — Encarei o


governador chocado quando eu tirei o papel do bolso de trás da minha calça.
Empurrei em cima da mesa para a sua direção e suspirei. — É a filha de um
dos caras que jogou comigo. Tem um relatório completo sobre ela, além de
exames atuais. Ela é virgem e trabalha na BBW, uma loja de produtos de
beleza femininos.

— Caralho. — Começou a ler o papel e negava com a cabeça. Pensei


que ficaria atônito, mas ele começou a rir e eu me indignei. — Calma, estou
reagindo assim de nervoso. Porra, que pai é esse que aposta a própria filha?

— Alguém que devia muito para o tubarão dessa porra toda. Ele foi
levado assim que perdeu, não sei o que aconteceu e nem perguntei. Saí de lá
transtornado, ainda não sei o que fazer sobre isso.

— Você sabe que esses mafiosos não perdoam ninguém. —


Empurrou o papel na minha direção. — Mercedes Cruz Smith está na mira
deles até que seja desmantelada essa quadrilha. O que precisa de mim?

— Apoio. Quem manda nessa merda deve ter influência e vai lutar
contra mim quando eu jogar essa investigação nas mãos do xerife ou algum
amigo.

— Sempre, pode contar comigo.

— Obrigado. — Soltei o ar. — Eu irei até ela e... não sei o que fazer
ainda. Vou levá-la para meu apartamento e depois decido. Ela acabou de
fazer vinte e um anos.

— Faça como eu, vá em busca de uma noiva. Case com papel


passado, um contrato que não envolva amor, apenas aparência. — Colocou as
mãos na nuca e olhou ao redor. — Além de pararem de pegar no nosso pé
sobre relacionamento, teremos mais liberdade para fazermos o que
quisermos. Só teremos que ser discretos.
— Mas quem? Isso vai envolver dinheiro.

— É óbvio! Tudo tem um preço. Você não gastou para jogar?


Poderia usar melhor o dinheiro — zombou, para minha irritação. — Procure
alguém que esteja precisando de apoio, de boa aparência e que nossas mães
vão adorar.

— Eu tenho uma garota vítima de tráfico de pessoas para lidar, não


me venha com mais um enrosco.

— Quer protegê-la? Se case com ela. — Inclinou para frente e a


ideia era tão absurda quanto verdadeira. — Ninguém mexe com a família
Mazzi, muito menos com a esposa do juiz Marcelo Sartori.

— Vai bagunçar o que já está complicado.

— Não quando se envolve um contrato. Pegue parte do dinheiro que


ganhou e dê para ela. Fiquem juntos por apenas alguns meses, ou anos,
depois vocês se separam. Pelo sobrenome, os pais não devem ser americanos.
Compre uma passagem para ela para seu país de origem e fim de história.

— Você está sendo muito racional.

— Eu não posso me preocupar com minha família, quando uma


nação está precisando de mim. Quero fazer a diferença no país, mas se eu
tiver uma mulher para lidar todos os dias e noites, vai dar merda. — Olhou
para o lado e se levantou. — Achei. Vá resolver seu problema, porque eu
encontrei a solução do meu. — Apontou o dedo para mim enquanto ia em
direção a uma mulher que fazia a limpeza das mesas. — Me ligue qualquer
coisa.
Não esperei para ver o que o governador do Estado disfarçado de um
jovem playboy iria fazer. Levantei-me da cadeira e fui atrás da loja que a tal
Mercedes trabalhava. Não sabia como dizer a ela que estava correndo perigo,
e que eu não era o vilão, por mais que tenha estado ao lado deles na outra
noite.

Peguei o celular enquanto caminhava pelo Mall e acionei o chefe de


segurança do meu pai. Eu precisava de um homem que passasse despercebido
e que pudesse lidar com uma pessoa com origens latinas. Espanhol, mexicano
ou brasileiro, ela deveria ter algum parente com essa origem. No papel que eu
carregava só tinha o nome do pai, Ronald Smith.

Será que a mulher sabia no que o seu progenitor estava se metendo?

Consegui, com agilidade, a contratação de um segurança para


começar a trabalhar no dia seguinte. Zander era brasileiro e estava
trabalhando na agência há alguns anos, em parceria com uma empresa da sua
nacionalidade, e demonstrava ser confiável e ágil.

Aceitei a proposta e continuei rodando pelos corredores para achar a


tal BBW. Além de evitar esse tipo de lugar, não lembrava a última vez que
tinha comprado algum artigo feminino. Todos os presentes eram escolhidos
pela minha secretária Lauren, eu só os entregava e recebia o agradecimento.

Sentei-me no banco quase em frente à loja e fiquei observando as


três mulheres que trabalhavam no lugar. Como não tinha foto, não sabia qual
delas era ela, então tentei analisar o perfil de cada uma, um exercício de
avaliação de perfil que aprendi com minha profissão. Bem maquiadas e com
o mesmo estilo de roupa, teria que me ater aos detalhes.
A de cabelo preso, pele morena e sorriso fácil era o tipo de pessoa
que escondia os problemas pessoais com sua personalidade irreverente.
Organizou uma prateleira e jogou o pano que usou para limpar os produtos
para o outro lado da loja.

A segunda mulher, a que pegou o pano, tinha cabelo raspado, era


alta e magra, mais parecia uma modelo de passarela. Ela disse algo que fez a
primeira se aquietar. Com uma postura de liderança, deduzi que seria a
responsável pela loja.

A loira encolhida em um canto, agachada, mexendo com os produtos


que estavam no chão, carregava uma tristeza no seu semblante. Pela tensão
nos ombros e os longos suspiros que deu, deveria ser a minha garota. Espere,
ela não era nada minha, apenas a vítima.

Ela se levantou e reparei no seu corpo, a altura e o quanto abaixou a


cabeça quando a gerente a abordou. A mulher apontou para o chão e a loira
correu para terminar o que fazia. Esfregou os olhos, deveria estar espantando
as lágrimas. Sensível demais. Eu não sabia lidar com mulheres assim.

Minha mãe era a referência feminina que sempre busquei e nunca


encontrei nas minhas companheiras. A irmã mais nova de Maxwell era uma
mulher interessante, determinada e teimosa como a matriarca da família.
Nunca cogitei me aproximar, para não colocar em risco minha amizade com
seu irmão ou perder minhas bolas. As mulheres com quem me relacionava,
no fim da história, só se interessavam pelo meu dinheiro ou me queriam
apenas para uma foda casual.

Eu preferia a segunda opção e foi lidando muito bem com ela que
alcancei meu sucesso profissional. Ter uma família para agir como o tal
Ronald Smith fez com sua filha era o exemplo que eu não queria seguir.

Perdido em pensamentos, assustei-me quando a mulher com pose de


modelo saiu da loja, deixando as outras duas para cuidar da BBW. Levantei-
me do banco e a vendedora sorridente me abordou.

— Em que posso ajudá-lo, senhor?

— Vim falar com Mercedes Cruz Smith. — Minha atenção foi para
a loira e vi a cor do seu rosto sumir, confirmando minha análise, além de
acrescentar algo importante: ela esperava a visita de um desconhecido e ficou
apavorada.
Capítulo 2

Nunca achei que esse dia fosse chegar. Com meu pai não voltando
para casa há duas noites, um estranho vir me procurar, dizendo meu nome
completo, só poderia ser alguém cobrando sua dívida ou informando que ele
tinha morrido.

Se arrependimento matasse, eu já estaria debaixo de sete palmos há


mais tempo que eu poderia imaginar.

— Mercedes? — Vitória me chamou. Percebi que ficou preocupada


ao ver minha reação, então forcei um sorriso. Ela se aproximou e tocou
minha mão para me dar apoio. — Se for alguém perigoso, eu espanto o diabo.

— Eu não o conheço, mas pode deixar que assumo daqui — falei


baixo e me afastei do balcão. — Olá, senhor. Eu sou Mercedes Smith.

— Muito prazer, sou Marcelo. — Estendeu a mão e o cumprimentei,


percebi que não me forneceu muita informação. Sua mão estava quente e a
minha suava pelo nervosismo repentino.

— Sabe meu sobrenome, mas não sei o seu. — Desfiz o contato e


olhei ao redor. — Em que posso ser útil?

— Podemos conversar em um lugar mais reservado? — Olhou de


Vitória para mim com a testa franzida. — É algo sobre você.

— Quem é você? — Cruzei os braços numa tentativa de proteção.


— Alguém que quer te ajudar.

— Donna vai encrencar — Vitória se intrometeu. Peguei no pulso do


homem e o puxei para um canto mais escondido na loja.

— Eu não pedi nada. Então, seja rápido, estou no trabalho — falei o


enfrentando.

Ele olhou ao redor curioso. Tardiamente, percebi que o tinha levado


para a parte sensual, com produtos para serem usados no banho e nas relações
sexuais. Senti meu rosto esquentar, mesmo estando acostumada com aquela
prateleira.

Estando em um lugar mais reservado, com o desconhecido que


queria me ajudar, não aliviou para a minha imaginação.

— É... então... — Ele pareceu sem graça ao mesmo tempo que


curioso. Pegou um frasco de óleo e analisou o rótulo. — Uau, existe isso?
Lubrificante específico para o sexo anal?

— Sim. Temos produtos exclusivos para o cuidado masculino e


feminino. — Encarei-o em conflito, porque eu sabia apresentar os produtos,
mas tinha certeza de que o homem não tinha vindo até a loja para aquilo. —
Precisa falar logo a que veio ou eu posso, simplesmente, começar a ofertar os
produtos do seu interesse.

— Ah, sim, claro. — Voltou o frasco para a prateleira, tirou um


papel do bolso de trás da calça e me entregou. — Não há forma simples de te
dizer isso, então, serei direto. Você está em perigo.
Desdobrei o papel, encarei as palavras impressas nele e não
identifiquei nada que implicasse na minha segurança, até que a ficha
começou a cair. Era um atestado de posse, dizendo que minha vida e
virgindade pertenciam ao portador daquele documento.

Comecei a tremer e a mão dele no meu ombro veio como conforto,


mas estava assustada demais com o rumo daquela conversa. A assinatura do
meu pai no fim daqueles dizeres me deu vontade de vomitar. Ele tinha
chegado no limite da sanidade. Fui entregue como pagamento de uma dívida.

— Eu não vou te aceitar como pagamento, mas quero te proteger. —


Olhei para o homem e quase não o enxerguei, porque as lágrimas
transbordavam dos meus olhos. — Na verdade, estou aceitando, sim. É uma
merda constatar que preciso sujar as mãos para conseguir fazer algo certo, no
meio dessa bagunça.

— Cadê meu pai? — perguntei nervosa e devolvi o papel a ele. —


Eu... como...

— Não sei. Depois que o jogo terminou, seu pai foi levado. Vou
descobrir o que está acontecendo, mas preciso que você saia da sua casa antes
que eles descubram que eu não farei de você uma escrava. — Suspirou alto.
Ele também estava nervoso e parecia genuíno.

— Tenho que ir à polícia.

— Ainda não. — Tirou o boné e o rosto dele parecia conhecido. —


Sou alguém importante e, para pegar o tubarão, não posso gastar energia com
os peixes pequenos. Preciso que você me acompanhe. Vou te falar mais sobre
as alternativas de te manter segura na minha residência.

— Eu acho que já te vi na televisão.

— Então, só vamos embora, certo? — Colocou o boné de volta e


tentou me conduzir colocando a mão nas minhas costas, mas neguei com a
cabeça e firmei meus pés no chão.

— Tenho um trabalho, algumas dívidas no banco para pagar e minha


casa. Meu pai está desaparecido e, com sua informação, posso ir à polícia
reportar seu desaparecimento. Ele é viciado em jogos e há um tempo vem
lidando com umas pessoas barra pesada.

— Eu sei disso, Mercedes, mas já parou para pensar que, se eu não


reclamar o meu prêmio, um desses responsáveis irá até a sua casa para te
pegar de volta? — Inclinou para que nosso olhar ficasse na mesma altura,
mas seu tom irritado não me intimidou.

— Se estava no meio daqueles bandidos, é igual a eles. Vou chamar


a segurança do Mall. — Dei um passo para longe e ele bufou irônico.

— E vai dizer o quê? Que tem provas contra um juiz de direito? —


Tirou o boné se expondo e alisou o cabelo enquanto eu o reconhecia. —
Como te disse, não sou o inimigo. Também não sou santo, mas essa bagunça
foi a oportunidade que eu precisava para agir contra os jogos ilegais. Vamos
entrar em um acordo, tudo bem?

— Eu não vou para a sua casa.

— Sim, imaginei. — Tirou o celular do bolso, abriu sua agenda de


contatos e me entregou. — Adicione seu número, faça uma chamada ou
mande uma mensagem para o seu celular. Salve o meu contato e ligue se
precisar de algo. Amanhã você terá um segurança na sua cola. Entendo que
não quer minha ajuda, mas eu farei a minha parte, você querendo ou não.
Além de ser minha perante os olhos dos bandidos, será testemunha no
processo contra eles.

Com a boca aberta em choque, não sabia o que fazer a não ser
obedecer. Anotei meu nome e adicionei BBW no final, para que lembrasse
quem era a pessoa. Enviei uma mensagem para o meu celular e devolvi o
aparelho para ele.

Eu era dele. Não da forma romântica, muito menos como imaginei


ser quando fosse me casar com o homem dos meus sonhos, mas porque meu
pai me colocou como prêmio.

Eu era maior de idade, não deveria ser possível tal controle sobre a
minha vida. Mas, pensar que mulheres menores de idade poderiam ser
negociadas, a ânsia de vômito voltava com força.

— Me ligue. Qualquer horário, se precisar de algo, não hesite em me


chamar. Não vou te obrigar a ser sensata, mas hoje será um dia que ficarei
preocupado, até que o segurança venha te escoltar.

— Está fazendo isso só para se redimir? — inquiri magoada, comigo


mesma e com o mundo em que vivia.

— Ser um bom homem não implica em estar isento de defeitos. Não


saia de perto do celular, estamos lidando com homens perigosos.
Ele saiu da loja e eu fiquei um tempo naquele canto refletindo sobre
minha situação. Meu olhar foi para o frasco que ele achou interessante.
Pensei no quanto Marcelo era charmoso e que deveria ter esse lado da vida
bem ativo, isso se não estivesse no meio de um emaranhado perigoso.

Voltei para a área principal da loja e o olhar de repreensão de Donna


me acuou. Abaixei a cabeça e fui ajeitar uns itens em cima do balcão do
caixa.

— O cliente foi naquela parte e não levou nada? — ela perguntou


indignada.

— Saiu de mão vazia, porque está com dúvida. Vai perguntar para a
namorada a preferência dela, depois volta — menti e troquei um olhar com
Vitória; ela estava preocupada.

Passei o resto do dia focada em trabalhar e esquecer aquele encontro


surpresa. Marcelo, o tal juiz, deveria ser um homem poderoso e tinha
influência para me triar daquela loja a força, mas me deu a opção de fazer o
que eu quisesse.

No meu intervalo, corri encontrar minha amiga na praça de


alimentação. Ela era da equipe que fazia a faxina no Mall. Eu costumava lhe
dar amostras grátis de presente enquanto ela descolava algumas batatas fritas
que sobravam dos fastfoods no fim do expediente, quando eu ficava até mais
tarde na loja. Uma amizade sem cobranças, uma dava suporte a outra de
forma limitada.

— Penny! — chamei quando a vi distraída recolhendo uma bandeja


de cima de uma mesa. Piscou os olhos várias vezes antes de me encarar e
forçar o sorriso. — Está tudo bem?

— Sim... Não... Quero dizer... tudo bem. — Respirou fundo. — Vai


sair mais cedo hoje?

— Não, farei o horário normal. Eu... — Abri a boca para falar sobre
a visita do tal Marcelo e travei. — Meu pai não voltou para casa.

— Ele não atende o celular? — perguntou franzindo a testa.

— Ainda não tentei hoje, mas... — Puxei-a para um abraço e ela


retribuiu em igual intensidade. — Só para desabafar. Obrigada por me escutar
sempre, pode contar comigo também.

— Eu sei.

Afastei-me forçando um sorriso.

— Vou comprar algo e voltar para a loja, depois nos falamos.

— Tchau, Mercy.

Optei por um lanche natural e um suco, engoli a comida antes de


seguir para concluir o resto do meu expediente. Senti algo diferente em
Penny, mas sabia que ela falaria no tempo dela, assim como eu mesma faria.

Éramos duas mulheres com histórias familiares complicadas e um


sonho em comum, poder ser feliz sem se preocupar com o amanhã.
Capítulo 3

Peguei o ônibus, coloquei os fones de ouvido e deixei a música


agitada tomar minha mente. Esse era o meu momento de revolta e desabafo,
quando voltava para casa e podia escutar o que quisesse.

“E meus batimentos cardíacos são como mil tambores

Sentindo o amor como a cidade de onde eu venho

Eu tenho um buraco em meu coração que eu não posso explicar para


você”

Thousand Foot Krutch – Set Me on Fire

Meu pai não gostava das minhas músicas, nem das minhas roupas ou
da escolha de trabalho. Ele dizia que me rebaixava em servir os ricos da
sociedade, que não se preocupavam com os mais necessitados. Nem a
maquiagem que eu usava me fazia mudar perante seus olhos.

Esse discurso sempre existiu e foi se aprimorando cada vez mais, me


fazendo enxergar o quanto estava enganada sobre ele. Ronald Smith tinha
criado um mundo na sua mente, onde os jogos e suas crenças o levariam para
a sucesso.
Minha mãe voltou para o país de origem do seu pai, Paraguai, com
minha irmã Camile, há seis anos. Eu quis ficar, pois me sentia adulta com
apenas quinze anos e era apegada ao idealismo que me foi pregado.

Até que um dia, enfrentei a realidade de ter que largar os estudos


para trabalhar e pagar as contas. Deixei de concluir o ensino médio para
bancar a casa e algumas contas que o banco insistia em enviar os boletos.

Meus amigos estavam em faculdades e se tornando pessoas bem-


sucedidas profissionalmente enquanto eu descobria o limbo de ser a filha de
um viciado. Nada parecia tão perigoso, até o seu recente desaparecimento.
Mesclada a visita do tal Marcelo na BBW, eu estava preocupada em voltar
para a casa, mas não tinha opção de seguir para outro lugar.

Solitária, eu não confiava em ninguém além de Penny e Vitória, por


isso, acabava focando nas questões que envolviam o trabalho. Às vezes,
contava sobre minhas desilusões com o meu pai, mas nada tão profundo nos
meus assuntos pessoais, como nunca ter namorado, ainda ser virgem e ter
medo do escuro.

Balancei a cabeça ao ritmo da próxima música ao observar a cidade


pela janela. Orei para que meu pai estivesse bem. Então, lembrei o que ele
tinha feito e tive que controlar meus pensamentos para não o amaldiçoar. Iria
embora daquela casa e o deixaria com suas próprias dívidas. Faria um
boletim de ocorrência e daria um jeito de encontrar a minha mãe fora do meu
país.

Saí do ônibus e fui em direção ao complexo de prédios em que eu


morava. Uma longa caminhada me esperava até chegar nos blocos mais
distante e subir alguns andares.

Meu estômago roncou. Iria comer algo antes de escolher um filme


para assistir e dormir. Se meu pai estivesse em casa, torceria para que não me
obrigasse a ir para o fogão para fazer algo, porque eu não conseguiria deixá-
lo com fome.

Bem, mas antes, eu o confrontaria sobre me usar como pagamento.


Ele tinha que me deixar de fora dos seus negócios, precisava da minha vida
intacta para nos bancar.

Entrei no hall, subi pelo elevador até meu andar e caminhei um


pouco mais, para a última porta do corredor. Coloquei a chave na maçaneta,
mas a porta se abriu quando a toquei, ela tinha sido arrombada.

Dei um passo para trás abraçando minha bolsa e olhei ao redor.


Nenhum vizinho era conhecido, todos estavam presos em seus mundos, assim
como eu mesma.

Fui dando passos para trás e prestei atenção nos barulhos e luzes,
estava muito silencioso. Para acionar o porteiro, teria que ir à cozinha de casa
e o chamar pelo interfone, já que estava sem coragem de bater na porta de um
estranho.

Dei passos cautelosos para frente, abri a porta de entrada e meu


coração caiu no chão despedaçado igual estava a mobília de casa. Revirada,
com louça, roupas e plantas espalhadas pelo chão.

Criei coragem de entrar, porque eu me sentia dormente. Olhei para a


cozinha revirada, com os alimentos e a geladeira expostos, não dava para
salvar nada. Pisei em cima de vidro e de coisas que não conseguia identificar
para chegar no meu quarto.

Meu olhar foi direto para o colchão, que estava revirado, e notei que
o meu local secreto, onde guardava dinheiro, estava vazio. Comecei a chorar
ao ver minhas roupas rasgadas, meu notebook quebrado e meus produtos de
beleza espalhados pelo lugar.

Agachei no chão e, mesmo não tendo onde me acomodar, sentei-me


do jeito que dava, abraçando minhas pernas dobradas. Chorei desolada. A
sensação de estar sozinha no mundo, decepcionada por aquele que deveria
me proteger ter me jogado na fogueira, era latente.

Será que eu era tão ruim e desprezível para não ter um mínimo de
consideração? Eu pagava o aluguel, tinha comprado grande parte dos móveis,
cuidava da limpeza do pequeno apartamento, para vê-lo destruído por conta
de uma dívida de jogo.

Lembrei da conversa com o Marcelo na BBW. Ele me disse que eu


estaria em perigo e que poderia ligar a qualquer hora caso precisasse de
alguma coisa. Deveria pedir ajuda para Penny, mas ela tinha tantos problemas
quanto eu e não dava para ser mais um peso.

Peguei meu celular enquanto soluçava, digitei uma mensagem para


Vitória e esperei sua resposta com ansiedade. Um barulho alto soou, levantei-
me assustada e corri para fora do apartamento, deixando naquela bagunça
uma história que foi violada.

Olhei para o celular enquanto corria pelo corredor do andar, apertei


o botão do elevador e chorei por não ter nenhuma resposta de Vitória. Ela
ainda tinha ficado para fechar a loja, deveria estar tão cansada quanto eu
mesma.

A fome tinha ido embora.

Como minha última opção, quando entrei no elevador, chamei o


número de Marcelo. Era um desconhecido, que estava envolvido com as
mesmas pessoas que o meu pai. Mas... ele era meu dono e foi decente ao me
deixar escolher o que fazer.

Ainda não estava segura de que ele era um homem bom de verdade,
mas eu não tinha onde dormir.

— Mercedes? — ele atendeu com voz preocupada.

— Eu vim para casa — tomei fôlego e percebi que ainda estava


chorando. — Está tudo revirado...

— Merda. Onde você está? Eles te pegaram? Está ferida? — Ele


parecia estar em movimento.

— Aconteceu no meu apartamento — respondi chorosa, saí do


elevador e segui em direção a portaria. — Não sei o que fazer, está tudo
destruído.

— Mande a localização, sim? Eu e o segurança estamos indo. Tem


algum lugar seguro para ficar? A casa de um vizinho?

— Vou para a frente do condomínio, não conheço ninguém por aqui.


— Limpei as lágrimas.
— Tudo bem, fique na portaria e não fale com ninguém sobre o que
aconteceu. Eu vou resolver tudo. Estou chegando.

— Tá — murmurei descrente. — E o meu pai?

— Não sei nada sobre ele e não é minha prioridade no momento.


Fique com o celular na mão, estou chegando.

— Estou enviando a localização.

Encerrei a ligação e entrei no aplicativo para fazer o que tinha


pedido. Não deveria depositar tanta esperança em um estranho, mas era a
única que tinha no momento.

Caminhando até a portaria, sorri ao ver a mensagem da minha amiga


e colega de trabalho:

Vi>> Morta com farofa cheia de azeitona. Acabei de entrar no


ônibus, indo para casa. Está tudo bem?

Mercy>> Não. Meu apartamento estava de pernas para o ar.


Minha vida está revirada.

Vi>> Foi a mando daquele homem que veio te ver? Você ficou
silenciosa no trabalho, não me contou nada. Tem tanta coisa acontecendo
na minha vida também. Se eu não estivesse morando em um sofá, te
chamaria para ficar comigo.

Mercy>> Desde quando isso aconteceu? Por Deus, Vi! Por que
não me contou?

Vi>> Não estou mudando de assunto. Quero saber o que você


precisa. Posso pegar outro ônibus, te encontro e vamos juntas para a
delegacia.

Mercy>> Não, por favor. Marcelo, o homem que apareceu na


BBW, vai me ajudar. Não sei se ele é bom ou ruim, só queria que
acompanhasse minha localização, caso eu não apareça na loja amanhã.
Meu pai ainda está desaparecido. Estou com medo, não tenho mais nada.

Vi>> Vamos dar um jeito. Não sei como, porque estou fodida
como você, mas juntamos forças e venceremos. Vai mandando notícias.

Mercy>> Fique bem você também.

Cheguei na portaria, sentei-me no chão apoiando as costas na


construção em que o guarda ficava e voltei a escutar música enquanto
aguardava a chegada do tal bom moço que tinha defeitos.

Meu dono. Era absurdo, irônico, mas minha única salvação naquele
momento.

“Anjo do perdão

Como você me moveu?

Por que estou de pé novamente?


E eu te vejo”

OneRepublic - Mercy
Capítulo 4

A pessoa que faria a segurança de Mercedes tinha se apresentado


poucos minutos antes de eu receber sua ligação chorosa. Estava contrariado,
com uma puta dor de cabeça e com vontade de dormir sem me preocupar que
no próximo fim de semana teria almoço com a família.

Precisava estar descansado, pois os dias no trabalho seriam cheios de


audiências e reuniões, desviar minha atenção para uma desconhecida
envolvida com bandidos não estava nos meus planos.

Zander era um homem sério, tinha um inglês com sotaque forte e


não reclamou de ter que voltar para o meu apartamento para irmos juntos até
o outro lado da cidade. Mercedes morava em um bairro humilde e
considerado por alguns como barra pesada.

Estava portando a minha arma e o segurança também. Entramos no


carro, ficamos em silêncio e deixamos a música aplacar a tensão.

“Eu sinto isso nas minhas veias

Sinto no meu sangue

Você sabe que não posso parar

Até que eu tenha terminado e esteja satisfeito”


The Phantoms – Made For This

— O que ela é sua? — Zander perguntou no momento que o GPS do


meu celular indicou que ele virasse na próxima quadra.

— Minha. Complexo assim. — Soltei o ar, sentido o papel queimar


no bolso da minha calça. Não tinha trocado de roupa, nem tomado banho. O
xerife que eu achava que poderia me ajudar tinha sido afastado do seu cargo
por conta de suspeita com corrupção.

Estava procrastinando à espera do segurança e, naquele momento,


por um sinal.

— Sua. Namorada? Amiga?

— Vai influenciar no seu trabalho ter um título além de minha?

— Senhor, fica complicado considerar a mulher como um objeto.

— Mercedes é seu nome. Ela será minha hóspede. Fique de olho


nela e não deixe que se machuque. Eu ainda não sei o que farei.

— Da forma como fala, é como se tivesse ganhado ela em um jogo.

— É vidente, Zander? — soei irônico e irritado. O homem sorriu,


mas se conteve em emitir um som. — Esse assunto deve ser mantido em
sigilo. Quando eu conseguir uma pessoa de confiança para assumir o abacaxi
que tenho em mãos, eu te inteiro da situação.

— Eu tenho a pessoa certa. Isso me cheira a bandidagem da pesada


e, estando do lado dos bons moços, eu conheço os maus também.

— Conversamos depois, vamos resgatar a garota primeiro.

Ela estava longe de ser apenas uma menina. Eu lutava para não a ver
além do que uma pessoa que precisava ser salva.

Chegamos na frente daquele grande complexo de prédios, saí do


carro assim que ele parou e fui para a portaria. Percebi que o segurança veio
logo atrás, mas eu tomei a frente, assim como tudo o que eu fazia na vida.

Eu decidia.

— Hei, senhor! — Chamei a atenção do porteiro e vi, ao fundo,


Mercedes aparecer. Quando foi iluminada pela luz do local, detectei o rosto
inchado, além das fungadas. Ignorei o homem que me perguntava o que eu
desejava para dar atenção a mulher em frangalhos.

Choro ou qualquer outra forma de exigir empatia não me tocavam,


mas ela não estava querendo uma pena mais branda para sua sentença. Ou
seja, eu tinha sido atingido.

— O-obrigada, Marcelo — murmurou abraçada a bolsa.

O portão entre nós se abriu, ela atravessou e me encarou. Vi sua


alma despedaçada, seus olhos cheios de lágrimas e toquei seu rosto por
impulso piedoso.

— Vai ficar tudo bem — prometi. Eu estava tão fora de mim! Bufei
e dei alguns passos para trás. — Tem alguma mala?
— Eu não peguei... quero dizer...

— Tudo bem, conversamos em casa. — Fui até o carro, abri a porta


do passageiro e dei a volta para me sentar ao lado de Zander.

— Muito prazer, Mercedes. Tem algum apelido? — O segurança


estava encarando a mulher, virado no banco.

— Mercy. E você? Zan?

— Acho que Zander já bonito o suficiente. — O homem estava


sorrindo, mas fechou a cara quando me encarou.

— Podemos seguir? — exigi e ele deu partida no automóvel. —


Mercedes, esse será o segurança que te acompanhará para o trabalho. É
alguém de confiança, você pode se sentir segura com ele.

— Obrigada — murmurou, se encolhendo no banco.

Voltei minha atenção para a frente e esfreguei minha testa. Não


acreditava que estava dando refúgio para alguém envolvida com bandidos. Se
minha reputação não fosse arruinada por conta da participação no jogo ilegal,
seria por terem provas contra mim de tráfico de pessoas.

A merda estava fedendo cada vez mais.

Liguei o som do carro e deixei a música nos acalmar, ou apenas a


mim mesmo, porque eu estava nervoso pra caralho. Peguei o celular para
conferir as mensagens, vi que tinha algumas da minha família e outras do
serviço. Pelo visto, eu precisaria de um calmante para conseguir dormir
naquele dia.
“Foda-se o pensamento positivo

Foda-se o pensamento positivo

Porque só o ouro é quente o suficiente, quente o suficiente”

Panic! At The Disco - (Fuck A) Silver Lining

Percebi que Mercedes cantarolava baixinho aquele trecho. Baixei o


quebra sol do meu lugar e a observei pelo espelho. Parecia uma menina
resgatada de um cativeiro. Ela não precisava de pensamentos positivos, como
a música dizia, mas de realidade segura.

Chegamos no estacionamento do meu apartamento e Zander ficou


para trás quando entramos no elevador. Mantivemos distância um do outro,
pois ainda éramos estranhos, apesar da intimidade que estávamos prestes a
compartilhar.

Desacostumado a ter visita, ou mesmo alguém morando junto


comigo, eu não tinha um quarto para acomodá-la. Uma sala de televisão e um
cômodo vazio, esses eram os locais extras no meu apartamento além da suíte
principal, onde eu passava a maior parte do tempo.

Chegamos no meu andar, abri a porta e a empurrei suavemente com


a mão nas suas costas; ela estava intimidada. Eu era rico, bem-sucedido,
vinha de um berço de ouro e Mercedes estava longe da minha realidade.
Tentei me recordar de como minha mãe lidava com as visitas e
lembrei da comida. Na casa de Rosi e Marco sempre eram servidos muitos
lanches e refeições.

— Está com fome? — perguntei indicando a grande mesa de jantar.


A porta próxima ficava a cozinha, mas era Mary quem comandava aquele
lugar, eu acabava, apenas, sendo servido.

— Acho que prefiro não comer nada. — Negou com a cabeça e


parou de andar para me encarar. — Marcelo, eu não tenho nenhum dinheiro
para te dar, para ajudar com as despesas. Me sinto deslocada, é tudo tão...
grandioso.

— Certo. Vou ver se Zander consegue salvar algo do seu


apartamento. Pode ser? — Peguei o celular e a encarei, seu olhar estava
perdido na parede atrás de mim. — Mercedes?

— Por que não vamos à polícia? Meu pai está desaparecido, é tudo
tão surreal.

— Se alarmarmos o pessoal com quem seu pai se envolveu, perderei


uma grande chance de fisgar quem encabeça essa quadrilha. Deixe que
pensem que a peguei como minha propriedade, que está sob a minha
supervisão. Enquanto isso, eles acham que estou nas mãos deles. — Cocei a
cabeça ao perceber que ela não mudou de reação. — É mais complexo que as
palavras. Então, me diga, o que você precisa e eu te ajudo a providenciar.

— Como assim?

— Roupas? Calçados, produtos de beleza ou mesmo um


computador? Faça uma lista, Mary vai te ajudar nisso e eu arco com a fatura.

— Não. — Deu um passo para trás negando com a cabeça. — Nunca


poderei te reembolsar. Tenho minhas dívidas no banco, o aluguel do
apartamento, eu não posso me dar o luxo de comprar o que não posso pagar.

— Pare de ser orgulhosa, eu estou te salvando de se tornar uma


escrava. Sabe o que fazem com mulheres da sua idade, com um atestado de
virgindade anexado no seu currículo? — Apontei para a porta irritado e
percebi que fui longe demais, porque ela começou a chorar.

Já bastava ser taxado de insensível nos tribunais, eu não precisava


trazer o juiz para a discussão.

Por impulso, puxei-a para os meus braços e a consolei enquanto a


realidade caía sobre os nossos ombros. Sem pai, família ou um lar, ela
precisava recomeçar ao lado de um estranho.
Capítulo 5

Acariciei seu cabelo e costas, sentindo que a posição estava


confortável demais. No início, era um corpo estranho, um cheiro diferente,
mas que foi impregnando nos meus sentidos e tornando tudo mais fácil de
aceitar.

Percebi que ela estava parando de chorar e, mesmo não sabendo


explicar, não queria que terminasse aquele abraço. Independente e morando
longe da família, troca de carinho sem intenção sexual se resumia aos beijos
no rosto que minha mãe me dava quando ia para o almoço de família na casa
onde nasci e fui criado.

— Tudo bem. Preciso pensar no amanhã. Posso colocar minha roupa


para lavar? — Afastou-se de mim.

— A lavanderia fica depois daquela porta. Fique à vontade, pode


usar o que quiser na área de serviço e até mesmo na cozinha, pode abrir a
geladeira e pegar algo para comer.

— Obrigada. Vou ver o que consigo arranjar amanhã, no Mall. Nos


achados e perdidos, sempre tem alguma coisa útil que ninguém foi buscar.

— Não vou insistir, muito menos te cobrar, faça como quiser, mas
você não precisa usar roupas de estranhos e que não são do seu tamanho. —
Tirei a carteira do bolso e peguei um dos meus cartões de crédito para
entregar a ela. — Compre roupas novas, o que você precisar. Não tem que me
justificar com o quê ou onde gastou, só use. Considere esse dinheiro como
parte do que ganhei no jogo.

— Mas...

— Esse dinheiro é tão seu quanto meu — insisti estendendo meu


braço para que pegasse o cartão da minha mão. — Tudo o que consegui
naquele dia iria para a instituição de caridade da minha mãe. Farei diferente,
vou tirar uma parte para te entregar e ser uma poupança para reconstruir a sua
vida.

— Dinheiro sujo.

— Que está sendo reciclado para algo bom. — Forcei o sorriso


quando ela pegou o cartão. Eu precisava ser um bom político como o dono
daquelas palavras. — Até esterco pode ser reutilizado, por que não um
dinheiro vindo da ilegalidade? Você foi vítima, precisa ser recompensada.

— Eu não acredito que meu pai fez isso comigo. — Ela olhou para o
retângulo de plástico com chateação.

— Para que você saiba, não faço caridade. Essa parte eu deixo para a
minha mãe, porque eu mesmo não sei lidar. — Indiquei com a mão para ir na
frente e ela me acompanhou pelo apartamento. — Para que eu consiga fazer
um bom trabalho, não posso ter empatia. Tenho que ser imparcial e focar nos
fatos. A história de vida, as dores ou conquistas não fazem parte do processo,
desde que sejam retratados como evidências.

— Você disse que era juiz.


— Esse sofá vira cama. — Abri a porta da sala e indiquei o lugar
que ela iria dormir. Não estava disposto a falar muito sobre mim, nem de
saber mais a respeito da vida dela que não fosse o essencial. — Se tiver fome,
vá até a cozinha. Você precisa de mais alguma coisa?

— Uma toalha? — Ela entrou na sala e encontrou a porta do


banheiro anexo. — Será que Mary tem alguma roupa que eu posso usar para
dormir? Eu vou pôr todas essas que estou vestindo para lavar durante a
madrugada.

— Prefiro não mexer nas coisas dela, mas vou te emprestar algo
meu. É para servir de pijama, certo?

— Pode ser, está ótimo para mim.

Fui até o armário do corredor onde ficavam as toalhas, depois para


meu closet e peguei o que ela tinha pedido. Tentei me lembrar se existia algo
que não deveria ser mexido na sala. Eu tinha muitos filmes em Blu-ray,
contas vinculadas de streaming e um pequeno HD, que me dava acesso a
fotos e vídeos caseiros da família e dos meus encontros.

Não tinha perigo de encontrar algo impróprio, pois era complexo


demais para mexer, até mesmo para mim.

Eu era um homem com excentricidades, um dos motivos de não


deixar ninguém se aproximar demais. Gostava de jogos de cartas, videogame,
tirar fotos e fazer vídeos íntimos, todos consentidos. Por causa dos meus
defeitos, optei por estar no posto mais alto do tribunal para julgar, porque
odiava estar no banco dos réus e ser avaliado pelos olhos alheios.
Entreguei o que precisava a ela e ficamos nos encarando sem saber o
que fazer. Se ela estava perdida sem família, eu era um navio à deriva com
muito apoio, mas nenhum que eu pudesse recorrer para nos ajudar.

— Eu preciso ir dormir. Amanhã, passarei o dia fora. Na verdade,


isso se repetirá por toda a semana, pois tenho muitas audiências marcadas.
Deixarei avisado a Mary para te atender no que precisar e use meu cartão,
mesmo que seja só para almoçar. Darei andamento a investigação sobre o seu
pai e os bandidos conforme eu tiver tempo livre. Deixe Zander fazer o papel
dele de te proteger e... de noite, podemos conversar um pouco mais. Tudo
bem?

— Não quero te atrapalhar, Marcelo. Tentarei passar despercebida e


serei o menos invasiva possível.

— Durma bem, você está segura aqui.

Fechei a porta e soltei o ar com força, o pior tinha passado.

Fui para meu quarto, tomei um banho escaldante e me joguei na


cama, rolando de um lado para o outro, sem conseguir pegar no sono de
imediato. Quando mergulhei no sono profundo, meu celular despertou. Eu me
sentia atropelado por um caminhão.

Café, eu precisava colocar o líquido preto, sem açúcar, na minha


veia.

Vesti meu terno, coloquei as abotoaduras que ganhei da minha mãe e


lembrei que precisaria retornar suas mensagens, senão ela estaria me ligando
ou aparecendo na porta do meu apartamento a qualquer momento.
Saí do quarto com o sol iluminando o ambiente. Parei em frente a
porta da sala e não resisti testar a maçaneta, estava aberta. Silencioso, espiei
se ela estava dormindo bem, mas minha atenção tomou outra proporção.

Eu não tinha oferecido lençol, muito menos um cobertor para que se


cobrisse e pudesse ligar o ar-condicionado. Por estarmos no alto, era fresco o
suficiente para dormir com a janela aberta, mas não era aconselhável.

Encolhida no meio do sofá-cama, vestida com minha camiseta


esportiva e um short samba canção, minha mente quase seguiu para caminhos
impróprios, mas me impedi. Ela era a visita, não minha foda da noite.

Com o instinto protetor aflorado, fui para meu quarto, peguei meu
próprio cobertor e a cobri para poder deixar o ambiente em uma temperatura
agradável para descansar. Reparei que a luz estava acesa, fechei a cortina e
deixei um escurinho agradável, ela não precisava acordar tão cedo quanto eu,
já que o Mall abria próximo do horário do almoço.

Fui para a cozinha, Mary já estava a postos fazendo meu copo


térmico de café para viagem.

— Bom dia, senhor Sartori.

— Oi, Mary. Estou com uma hóspede, Mercedes.

— Oh, então a roupa é dela na máquina.

— Sim. Ela é... — Tentei encontrar uma definição, lembrei do


minha e a repreensão que levei do segurança. Não dava para chamá-la de
amiga, era apenas, Mercedes. — Enfim. Faça o que for necessário, não acho
que ela causará problemas.

— Tudo bem, senhor. Ela está na sala?

— Isso.

— Vai ficar quanto tempo? Posso providenciar para que mobíliem o


outro cômodo vazio. Aquele sofá não deve ser agradável para se dormir mais
de dois dias.

— Ainda não, é para ser apenas uma semana ou... depois vemos,
tudo bem? Deixe o jantar pronto na geladeira para dois. Hoje o dia será cheio.

— Bom trabalho.

— Obrigado.

Minha ajudante do lar apenas sorriu, então peguei o copo térmico e


saí do meu apartamento, dando de cara com Zander no hall de entrada do
lado de fora. Diferente de mim, ele aparentava ter dormido muito bem.

— Bom dia — cumprimento sério.

— Olá, Zander.

— Ela já acordou, senhor?

— Não. Deixe que faça sua própria rotina, só a acompanhe. Eu não


poderei atender nenhuma chamada, mas se tiver algo para dizer, envie uma
mensagem que, no intervalo das audiências, eu retorno.

— Tudo bem. Precisa de mais alguma coisa além disso?


— O contato seguro que você tem. Precisamos marcar um encontro
com ele, se possível, no fim de semana, para que eu repasse sobre o jogo
ilegal e o atestado de posse de Mercedes.

— Considere feito. — Ele me observou chamar o elevador.

— Pode entrar, Zander. Mary está fazendo o café da manhã, sirva-se


também.

Segui para o elevador no mesmo momento que ele abriu a porta do


apartamento. Tomei um gole do café e senti a energia me preencher. Era
tempo de focar nas minhas audiências e nos processos que aguardavam
julgamento.
Capítulo 6

Acordei assustada, por conta de tudo estar muito escuro e um


cobertor ter sido colocado em cima de mim. Sentei-me respirando acelerado e
fui me acalmando ao perceber que estava bem, apenas em um lugar diferente.

Trouxe o tecido para o meu rosto e inspirei profundamente.


Caramba, o homem cheirava bem demais para a minha própria sanidade.
Depois daquele abraço e seu carinho no meu cabelo e costas, estava vendo
meu salvador com outros olhos.

Ele estava mantendo a distância emocional, mas a minha fragilidade


parecia se agarrar naquela alma que não queria ter nada a ver com a minha.
Diziam que os opostos se atraem e eu estava indo de encontro com essa linha
de raciocínio.

Usei o banheiro e conferi as horas no relógio com desespero.


Nenhum ônibus que eu pegasse me levaria até o Mall a tempo, estava
atrasada. Saí da sala com cautela e escutei vozes vindo de outro cômodo.
Tinha que buscar minha roupa na área de serviço e pelo visto teria que
enfrentar o dono da casa e a tal Mary.

Para minha decepção – e em parte, alívio –, Zander e uma mulher


simpática estavam na cozinha. O segurança se levantou do banco em que
estava posicionado e tentei não me encolher por estar sem nenhuma roupa
íntima por debaixo daquela emprestada.
— Oi, Mercedes, tudo bem? Eu sou Mary. — A mulher sorriu e se
ergueu. — Sua roupa está pronta, deve estar atrás dela, certo?

— Sim. — Virei para Zander. — Bom dia.

— Olá, Mercy. Eu vou te acompanhar até o trabalho hoje.

— Tomara que sua presença alivie um pouco da bronca da minha


chefe. — Fiz uma careta e peguei a roupa das mãos de Mary. — Obrigada.

— Disponha. Quer algo em específico para o café da manhã? Ovos,


bacon, waffles, panquecas...

— Estou atrasada, tenho que chegar no trabalho em menos de trinta


minutos.

— Por isso eu vou te levar. Preciso de quinze, no máximo, dezoito


minutos. É no National Club Mall que você trabalha, certo?

— Isso quer dizer que posso preparar algo enquanto você se veste.
— Mary sorriu animada e me contagiou. — O que será, Mercy? Posso te
chamar assim também?

— Claro. Aceito ovos e torrada, além desse café cheiroso.

— Com creme, açúcar ou puro?

— Leite. — Senti meu coração aquecer quando a vi ir preparar meu


café da manhã. Zander ficou ali nos observando.

Apressada, fui colocar minha roupa cheirando a amaciante caro e


escovar meus dentes. Tinha encontrado uns produtos de higiene no armário
debaixo da pia do banheiro. Não sabia se podia mexer, mas Marcelo me
deixou tão à vontade, que eu só fui invadindo.

Lembrei que estava com seu cobertor e não consegui pensar em nada
além dele me vendo dormir. Para me deixar mais confortável, ele tinha ligado
o ar-condicionado e protegido.

Acorda, sonhadora! Ele só estava ao meu alcance, porque um papel


me tornava sua propriedade. Por obrigação, ele tinha que me aturar e deixou
claro que usaria parte do dinheiro que ganhou no jogo para que eu
reconstruísse a minha vida.

Precisava parar de me iludir, não fazia nem vinte e quatro horas que
conhecia o cara. Por mais que tenha dormido sob o mesmo teto e ele tenha
me dado um cartão de crédito para ser usado como eu quisesse,
continuávamos sendo apenas estranhos.

Por que meu coração teimava em bater forte só de pensar no abraço


que trocamos?

Voltei para a cozinha me sentindo bem melhor e mais acolhida tendo


os dois por perto. Zander era grande e parecia intimidador. Se não fosse o
tom suave que usou comigo quando estávamos no carro na noite anterior,
teria medo dele.

— Você parece tão novinha, Mercy. Quantos anos tem? —


perguntou Mary enquanto me servia. Sentei-me em um dos bancos e toquei o
que estava ao meu lado, sinalizando para Zander se acomodar.

— Vinte e um. Fiz no início do mês. Estava me achando o máximo


por ter chegado à maioridade por completo. — Mastiguei apressada, mas
gostaria mesmo era de poder degustar aquela refeição sem pressa. Conferi o
horário no celular e decidi enviar uma mensagem para Marcelo, em
agradecimento.

Mercy>> Grata.

— Sim, muito nova. Tem idade da minha filha mais velha.

— Nossa, você não parece ter mais que trinta — falei, admirada. A
mulher riu e ficou encabulada.

— Tive minha filha muito nova, estou chegando nos quarenta anos.
Meus filhos estão quase todos criados. O mais novo irá se formar no ensino
médio no ano que vem. Muito orgulho deles.

— Que bom, parabéns. — Senti um aperto no peito, ao lembrar que


nem minha mãe, muito menos meu pai, tinha isso por mim.

— Eu e meu marido sempre trabalhamos fora, para tentar dar um


futuro melhor para eles do que o que tivemos. Minha mais velha quer que eu
deixe de ser doméstica, mas trabalhar com o senhor Sartori é uma satisfação,
além da tranquilidade. Ele quase não está por perto.

— Então, estamos atrapalhando sua paz — Zander brincou e aceitou


o copo térmico com café que Mary havia preparado para ele.
— Imagine. Não sabe o quanto eu, Juliet e a senhora Sartori
esperamos por esse momento.

— O quê?

Coloquei toda a comida na boca ao perceber que Marcelo não tinha


respondido, nem lido minha mensagem de texto. Já estava sendo rejeitada
pela minha família e não aguentaria outra exclusão, mesmo que fosse algo tão
bobo quanto um texto.

— Acho que ela deve estar falando em código, porque nem eu


entendi. — Zander piscou um olho para Mary e tomou um gole do seu café.
— Vamos?

— E você, quantos anos tem? — perguntei para o segurança e ele


sorriu amplo. — Também senti um leve sotaque no seu inglês, você não é
daqui.

— Perceptiva, Mercy. Tenho quinze anos de experiência em


segurança particular, além de ter morado em vários países, incluindo o Brasil,
onde fui influenciado pela pronúncia.

— Enigmático, não respondeu minha pergunta.

— Falei o necessário. Podemos ir. — Zander tirou a chave do bolso


e a ergueu para me incentivar a acompanhá-lo.

— Quer café para viagem, Mercy? — Mary perguntou e acenei


afirmativo, sentido que, se recusasse, estaria perdendo mais uma das
maravilhas de estar sob a guarda do tal Marcelo Sartori. — Tragam os copos
de volta, o patrão já gastou mais que o suficiente se esquecendo deles por
onde vai.

— Pode deixar, obrigada. — Fui até ela, beijei seu rosto e ganhei um
copo térmico. Era tão fácil se acostumar em ser mimada.

Saímos para o hall e usamos o elevador para ir até o estacionamento.


Zander se manteve em silêncio e tomou vários goles do seu café,
despreocupado. Será que ele sabia de algo sobre a minha situação?

— Está preocupada, mas não precisa ficar. Viva a sua vida, o resto,
deixe para os profissionais resolverem. — Ele tocou minhas costas e me
conduziu para o carro.

— Fácil falar, quando não é seu pai que te colocou como prêmio em
um jogo. — Ele abriu a porta para que eu entrasse no carro e me senti uma
idiota, ao estar preocupada com minha família. — Você acha que ele está
morto?

— Vamos descobrir, quando começar a investigação.

— Não começou? Mas Marcelo disse...

— Que vai resolver. Não se joga uma bomba no colo de alguém,


ainda mais quando se sujou as mãos tendo o posto que ele tem. — Ligou o
carro e o conduziu para fora do estacionamento.

— Ele disse que era um bom homem.

— Até os heróis precisam se rebaixar, de vez em quando, para um


bem maior. — Ele começou a rir e eu fiquei sem entender, já que sua frase foi
profunda. — Merda, se Leo ouvisse isso, ia me zoar pelo resto da vida.

— Quem?

— Um bom amigo. Não se preocupe. — Deu batidas suaves na


minha coxa. — Eu vou te proteger. O senhor Sartori está te dando um teto
sobre a sua cabeça e Mary vai nos abastecer com o melhor café. Nada poderá
dar errado.

— Ouvi essa frase em um filme de terror, do personagem que iria


morrer dois minutos depois. — Cruzei meus braços e senti o medo me
dominar. — Eu só queria voltar no tempo e não ter meu nome em um papel.

— Não sou supersticioso.

Seguimos viagem em silêncio, porque, diferente de Zander, eu tinha


medo do escuro e dos sete anos de azar que ganhávamos depois de quebrar
um espelho.
Capítulo 7

A boca aberta de Vitória ao ver o homem atrás de mim era todo o


sinal que precisava para comprovar a minha teoria, a de que algo poderia ser
pior. Olhei por cima do meu ombro e vi Zander se sentar no banco próximo à
entrada da BBW, então puxei minha amiga para sair do seu campo de visão.

Ainda bem que Donna não estava por perto, porque eu tinha chegado
alguns minutos atrasada e não estava com emocional para levar bronca.

— Pare de cobiçar o segurança e me diga por que está morando em


um sofá — exigi baixo. Ela me ignorou e esticou o pescoço para olhar
Zander.

— Amiga, eu amo um homem com cara de mal, você sabe disso. —


Olhou para mim e fez bico. — Minha vida está péssima, me deixe brincar
com seu amigo, quando você terminar, vai? Você tem dois.

— Antes não existisse nenhum e tivesse meu apartamento para


morar. — Guardei minha bolsa e coloquei o crachá com o meu nome, no
pescoço. — Meu pai fez merda, Vi.

— Depois continuamos, um cliente chegou.

Ela saiu de perto de mim e me coloquei atrás do balcão, para ficar no


caixa. Enquanto minha amiga atendia, nossa chefe apareceu e assumiu o meu
lugar. Não consegui contar minha história para Vi, tendo Donna nos
vigiando.

Percebi os olhares trocados entre Zander e Vitória. Preferia que


minha amiga não se envolvesse com alguém que mais vivia trabalhando do
que em casa. Bem, nem deveria me intrometer na vida dela, já que eu era
péssima em lidar com a minha.

Aproveitei o meu intervalo para comprar algumas mudas de roupa,


lingerie e produtos de higiene. A cada passada de cartão, olhava para meu
celular a espera de uma ligação de Marcelo, falando que eu estava
exagerando ou indo longe demais.

Ele ainda não tinha nem visualizado o meu agradecimento enviado


mais cedo.

— O chefe falou que estaria ocupado o dia inteiro. Não é pessoal, ele
é um homem importante — Zander falou e foi pegando as sacolas das minhas
mãos. — Vou deixar no carro.

— Eu já vi o rosto dele em algum lugar. Ele é juiz do quê?

— Já pesquisou na internet? — Ergueu uma sobrancelha e revirei os


olhos, preferia economizar o dedo, mas o segurança não me dava alternativa.

Acompanhei-o até o carro com o celular na minha mão. Marcelo era


o segundo filho de Marco Sartori, dono do Grupo RM Sartori, que
administrava o aeroporto da cidade. Se eu achava que o homem era rico,
vendo as fotos de família e as notícias sobre seus irmãos, eles estavam em um
nível que eu nem conseguia imaginar.
Juiz Marcelo Sartori era jovem, bonito e atuava em muitas causas
sociais junto com sua mãe, além de estar à frente do julgamento de diversos
processos famosos. Não conseguia mesclar a visão do homem perfeito e sem
defeitos apresentada pela mídia com o homem que participava de jogos
ilegais e tinha me ganhado como prêmio.

Ele não se parecia em nada com o que estava sendo pintado. Ou era
eu o julgando demais, como ele fazia com seus processos? Não estava isenta
de pecado, mas aquele homem parecia surreal.

— O que achou aí que está fazendo tanta careta, Mercy? — Zander


segurou no meu braço e me conduziu para dentro do Mall enquanto eu lia a
reportagem.

— Ele deveria ser casado e ter filhos, digno de uma família perfeita,
já que o homem é incrível. — Mostrei a foto e a manchete, o segurança riu ao
invés de ver o meu ponto de vista. — Conservador e bom moço.

— Pois é, diziam isso de mim também e cá estou eu, cuidando da


vida dos outros ao invés da minha. — Entramos na parte climatizada do Mall
e meu corpo se arrepiou. — Mas me fale um pouco sobre a sua colega de
trabalho. Além de sorrir e me comer com os olhos, o que ela faz?

— Ela também se interessou, mas te adianto, Vitória precisa de um


homem para se casar, não, brincar. — Cruzei os braços caminhando ao lado
dele. — Não sei a história dela, mas me falou que está morando em um sofá.
Duas fodidas, com a diferença que meu sofá deve custar mais que meu
salário.
— Hum — murmurou pensativo.

Passamos pela praça de alimentação e não encontrei Penny, estava


ficando preocupada. A vida das pessoas ao meu redor parecia tão bagunçada
quanto a minha.

Não muito tempo depois, enquanto arrumava uma vitrine de


perfumes, vi minha amiga do lado de fora da loja, sem o uniforme,
acompanhada de uma desconhecida. Ela acenou sem graça, o que me fez criar
mil e uma teorias na minha mente.

Fui até ela. Apesar de tudo, ainda era alguém que me importava
muito.

— Penny, onde você estava? Não a vi na praça de alimentação mais


cedo.

— Eu... É que... — Engoliu em seco. — Não vou mais


trabalhar aqui.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei preocupada.

— É uma longa história. — Fungou.

— Aquela necessaire é linda! O que acha, senhorita Penélope? — A


estranha cutucou o ombro dela e apontou para o produto.

— É bonita, sim. — Minha amiga abriu um sorriso amarelo.

— Pode pegar para nós, vendedora? — a outra pediu e eu fiquei


atônita.
— O que está acontecendo, Penny? Você não tem dinheiro para
comprar o que vendemos aqui.

— Tem alguém cuidando de mim. — Ela me abraçou sem que eu


pudesse prever. — Desculpa, mas é tudo o que posso dizer agora.

Ela se afastou e olhei por cima do meu ombro. Vi Donna curiosa e


nem um pouco amigável, precisava disfarçar.

— Você se meteu com pessoas erradas, Penélope? Posso ligar para a


polícia — tentei oferecer ajuda, já que, no meu caso, eu estava com o suporte
de um juiz.

— Não se preocupa, Mercy. Vou ficar bem. Não há com que se


preocupar.

— Você está estranha.

— Por que não traz para mim aquele kit de cuidados pessoais que
você sempre dizia que era ótimo, mas que custava mais do que o meu salário?
Vou querer um.

— Penny? — Estava chocada demais para não reagir daquele jeito.


Será que tinha ganhado um cartão tão poderoso quanto o meu?

— Não se preocupa, pega o kit.

— A necessaire também?

Fez que sim.

Mesmo atendendo a seu pedido, continuei olhando-a de esgueira,


desconfiada. A mulher ao seu lado, que descobri se chamar Megan, fazia com
que minha amiga experimentasse tudo. Bem, pelo menos, ela estava sendo
bem tratada, isso era o mínimo que nós duas, mais Vi, merecíamos.

Despedimo-nos com um abraço rápido, depois de encher três sacolas


grandes com uma variedade de produtos e a observei indo embora, com a
esperança de que a vida dela pudesse ficar melhor.

O resto das horas de trabalho seguiu com menos emoção e conversei


amenidades com Vitória ao invés de falarmos sobre as nossas vidas. Parecia
que o universo estava conspirando para que resolvêssemos nossas questões
sozinhas ao invés de compartilhar com as amigas.

Tirei quinze minutos para comer algo e Zander me acompanhou no


hambúrguer com batatas fritas. De uma certa forma, fiquei aliviada por ele ter
pagado ao invés de ter que usar o cartão de Marcelo, não queria aumentar
ainda mais a minha dívida.

— Se eu fosse uma péssima amiga, te deixaria sozinha para fechar a


loja enquanto ia para uma rapidinha com o gostosão perseguidor. — Vitória
comentou encarando Zander. Ela estava atrás do balcão e eu na frente. — O
que ele é seu?

— Então, Vitória, o que eu queria te dizer...

— Cliente — Vi falou e me empurrou. Forcei o sorriso e atendi as


pessoas que estavam em busca de um presente para a mãe.

Tentei mais duas vezes falar sobre mim ou perguntar o que acontecia
com Vitória, mas fechamos a loja sem conseguir nos comunicar. Zander nos
acompanhou e trocou olhares com a minha amiga. Não sabia dizer se era
prudente dar uma carona para Vi, por isso nem a convidei.

— O que foi? — O segurança perguntou enquanto se acomodava no


banco do motorista, notando que eu o encarava, cheia de perguntas.

— Minha vida será assim a partir de agora? Você me acompanhando


e eu voltando para um apartamento que não é meu. Minha amiga babando por
você e eu sem saber o que fazer...

— Sua cabeça vai fundir, Mercy. — Colocou a mão no meu cabelo e


o bagunçou antes de dar partida. Rosnei e ele riu. O homem tentava ser sério,
mas existia um lado sarcástico que se sobressaia em todas as suas ações. —
Vai ficar tudo bem, um dia de cada vez.

— Você pode garantir?

— Não, mas fui contratado para isso. Nunca falhei em uma missão.
Essa é a certeza que eu preciso para manter a minha palavra.

— Uau, você fala como se trabalhasse como agente secreto, lutando


contra inimigos e terroristas. — Apoiei minha cabeça na janela e suspirei. —
A culpa é minha, sempre foi.

— Por que diz isso? Você é a vítima.

— Não. Com quinze anos, meus pais se separaram e, ao invés de


acompanhar minha mãe até um lugar seguro, eu quis ficar. Era adolescente e
achava que já podia tomar as melhores decisões. Eu acreditava no meu pai.
— Soltei um riso irônico. — Que fiasco.
— Ainda assim, você não é responsável pelas escolhas erradas dele.
Se está envolvido com jogos e apostas ilegais, a culpa é do seu pai, não sua.

— Por que não me sinto melhor ao te escutar falando isso? — Fiz


uma careta. — Eu sei lá, só quero que esse pesadelo acabe.

— Quer passar em algum lugar antes de voltar para casa?

Ah, se realmente tivesse esse significado para mim, talvez eu não me


sentisse tão só. Neguei com a cabeça para responder sua pergunta, liguei o
som do carro e passamos os últimos minutos ao som do rádio.

“Porque nós podemos ser imortais, imortais

Só não por muito tempo, por muito tempo

Viva comigo para sempre, agora”

Fall Out Boys – Immortals

Zander subiu comigo para me ajudar a carregar as sacolas de


compras, colocou tudo na sala e se despediu. A noite me deixava assustada e,
pela falta de barulho no apartamento, parecia que eu estava sozinha.

Fui para a lavanderia, coloquei algumas roupas para lavar e ajeitei o


despertador para que, quando o ciclo terminasse, eu pudesse colocar uma
segunda leva. Voltei para a sala com o restante das sacolas e resolvi tomar
um banho demorado, com os produtos de higiene que eu tinha comprado, que
eram os mesmos que eu costumava usar. De uma certa forma, essa
normalidade acalmou meu coração.

Após o banho, fui conferir nas sacolas e percebi que não tinha me
lembrado de comprar pijamas. A roupa de Marcelo ainda estava em um
canto, mas o cobertor tinha sumido e dado lugar para lençóis e um edredom.

Pronta para cochilar até que o despertador me avisasse da máquina


de lavar, antes, tentei ligar para o meu pai, mas só caía na caixa postal.
Conferi as mensagens e havia uma de Marcelo, respondendo o meu
agradecimento.

Marcelo>> De nada.

Mercy>> Quer que te espere chegar do trabalho? Coloquei


algumas roupas para lavar.

Marcelo>> Já estou em casa.

Saí do sofá, abri a porta e espiei no seu quarto, que tinha a luz
apagada e estava vazio. Voltei minha atenção para o celular e tinha outra
mensagem.

Marcelo>> Tem uma escada entre a sala e a varanda, estou na


parte de cima. Venha conhecer.
E eu fui, esquecendo que estava vestindo apenas as roupas dele.
Capítulo 8

Sentei-me na espreguiçadeira e observei Mercedes surgir na


cobertura vestindo as minhas roupas. Ela olhou ao redor admirada, segurando
firme na parede e se mantendo longe do vidro que nos protegia, já que
estávamos tão alto.

— Como consegue ficar aqui? — perguntou assustada, estacada no


lugar. — Eu acho que vou descer.

— Venha, não há perigo. — Levantei-me e fui até ela, que se


agarrou na minha camiseta regata enquanto a levava até a piscina. — Eu só
estava relaxando um pouco antes de ir dormir. Vai te fazer bem também.

— Eu não sei — murmurou não querendo me soltar, então empurrei


uma espreguiçadeira para ficar junta com outra e ajudei-a a se sentar ao meu
lado. — Desculpe, eu sou medrosa.

— De altura?

— Não, do escuro. — Estendi minhas pernas, coloquei as mãos atrás


da cabeça e relaxei. Ela percebeu minha posição e continuou sentada, mas
com uma mão grudada na minha camiseta. — Eu... usei o cartão.

— Eu vi. Está tudo bem.

— Também te pesquisei na internet. — Ela olhou para o céu,


fugindo do meu olhar. — Você é um homem importante, já te vi na televisão.
— Sim — suspirei, sentindo o peso das decisões que tinha tomado
naquele dia. — Eu quero fazer a diferença na minha profissão, por mais que
me idealizem mais do que o necessário.

— Entendi. — Seu corpo estava tremendo, ela tentou se deitar e


ficar ao meu lado, mas não conseguiu.

Esse era o meu ritual. Depois de um dia agitado com audiências,


réus e casos complicados, eu me dava um tempo para recuperar as energias
com a escuridão em meio as estrelas. Como era possível que tivesse medo de
algo tão bonito e grandioso?

— Foi tudo bem no seu trabalho? — perguntou, segurando na barra


da camiseta que usava – que era minha.

— Sim.

— No meu também, apesar de achar que minha amiga está passando


por uma situação como a minha.

— Ela também foi usada como pagamento? — Sentei-me em alerta,


mas ela negou com a cabeça e me fez deitar colocando as mãos no meu peito.

— Desculpe, me expressei mal. Ela está morando em um sofá


também, mas ainda não sei o motivo.

— Se tiver alguma informação que me ajude nessa investigação, não


deixe para depois, eu preciso saber.

— Não sei nada sobre isso, Marcelo. Eu não me envolvia com os


negócios do meu pai, só pegava os boletos e pagava. Ele era muito
ideológico, culpava os ricos pela nossa condição social. Quando eu era
menor, acreditava nisso, até que larguei o colégio para trabalhar. Não foi
culpa dos ricos que eu deixei de me formar, mas toda minha.

— Você não se formou? — questionei assombrado e ela confirmou


com a cabeça. — É independente, por que não faz um curso de verão?

— Poderia ser simples, mas comigo, nunca é fácil. — Deu de


ombros e cruzou as pernas na sua frente. Às vezes, ela parecia uma menina
tão ingênua, que eu tinha vontade de fazer mais para ajudá-la. Por isso não
me envolvia pessoalmente com nenhum caso, era mais fácil de desapegar
quando chegasse em casa.

— Você tem mãe? Quero dizer, ela está viva?

— Sim, está. Há seis anos, mamãe decidiu ir embora com minha


irmã, Camile e nunca mais ouvi falar delas. Não a encontro nas redes sociais,
mas dona Eva nunca foi adepta a tecnologia, nada além das ligações.

— Sua mãe te abandonou?

— Não, eu que preferi ficar com meu pai. — Começou a rir cheia de
ironia e percebi que logo mudou para choro.

De forma involuntária, puxei-a para deitar sua cabeça no meu peito e


ela terminou de chorar abraçada a mim. Não me recordava qual tinha sido a
última vez que estive tão próximo de alguém sem me envolver sexualmente.
Eu não tinha amigas, eram apenas contatos de encontros casuais e algumas
festas mais perversas.
Eu era um homem poderoso, o predador que poderia devorar o cervo
assustado que Mercedes era. Acariciei suas costas e me senti em paz
enquanto olhava para as estrelas e mentalizava os próximos trabalhos que me
aguardavam pela semana.

Tinha que ligar para a minha mãe, falar com Mason e torcer para que
o encontro no fim de semana com o contato de Zander funcionasse.

Devo ter demorado mais tempo mergulhado em meus pensamentos


do que o necessário, porque escutei um suspiro vindo da minha hóspede.
Olhei-a e percebi que tinha adormecido nos meus braços, seria impossível
levá-la para o andar de baixo no colo.

Resolvi cochilar e aproveitar o corpo quente ao meu lado, por mais


platônico que parecesse. Acordei assustado com um toque de celular. Abri os
olhos e senti uma fisgada nas costas, não estava nas melhores das posições.

— Oh, meu Deus. Desculpa, Marcelo. — Ela se sentou, tentou sair


de cima da espreguiçadeira, mas olhou ao redor e voltou a colar o corpo ao
meu lado. — Pode me acompanhar para descer?

— Sim, claro. Eu acabei cochilando também. — Levantei-me, a


ajudei a sair da espreguiçadeira e a abracei de lado para levá-la até a escada.
Estava confortável demais com ela tão próxima de mim. Era errado ao
mesmo tempo que o proibido me excitava. — É seu celular?

— Sim.

— Ainda é noite, por que o despertador?


— Coloquei roupa para lavar, ainda tenho outras.

— Mary faz isso, não precisava atrapalhar seu sono. — Descemos a


escada e ela se afastou de mim ao chegar na sala de estar iluminada. Fiz uma
careta, porque eu queria que o calor ao meu lado continuasse. — Deixe que a
parte de limpeza fique por conta da rotina da casa.

— Sinto muito, eu só... não quero dar trabalho.

Foi para o corredor e fiquei ali na mesma posição, coçando a testa e


pensando no que poderia fazer além de ir dormir. Mercedes voltou com
roupas na mão e foi em direção à lavanderia. Acompanhei-a até a área de
serviço e não resisti em conferir o que ela tirava da máquina de lavar.

Percebi que embolou a roupa e ficou acanhada. Colocou outras peças


dentro da máquina e adicionou o sabão líquido, mais o amaciante. Abraçou as
roupas que estavam lavadas parando na minha frente.

— Eu já vou dormir, o resto deixo para a Mary.

— Tudo bem. — Analisei seu rosto, observando as pequenas sardas


e o formato dos lábios. Por que estava reparando demais nos seus traços?

— Eu posso passar? — perguntou me encarando e percebi que


estava fazendo papel de louco, impedindo que ela seguisse para a sala
enquanto procurava ver alguma coisa em suas mãos.

Era só o que me faltava, estar curioso com o tipo de lingerie que ela
usava. Além de participar de um jogo ilegal, estava seguindo para um
caminho perigoso que era o de desvirtuar uma inocente, testemunha de um
crime cometido pelo pai.

— Boa noite, Mercedes. — Virei e segui para meu quarto.

— Você também, Marcelo — ela falou atrás de mim.

Por mais que tenha tido esse contratempo a noite, dormi


maravilhosamente bem. Acordei mais disposto, vesti minha roupa social e
encontrei Mary dobrando a roupa que estava máquina em cima da tábua de
passar roupa, que ficava entre a cozinha e a área de serviço.

Bem, se tinha curiosidade, a matei. Vi renda branca e bege no topo


da pilha, mas isso não deveria me dar ideias.

— Bom dia, senhor. Deixei seu café pronto. — Largou o que estava
fazendo para me entregar o copo térmico. — Precisa de algo na lavanderia?

— Não. Estou com a cabeça longe, tenho um dia cheio e preciso


encontrar tempo para ligar para a minha mãe.

— Mande lembranças a senhora Sartori.

— Sei bem que não preciso fazer isso, porque você tem contato
direto com Juliet. — Ergui a sobrancelha em desafio para a minha ajudante
do lar, mas ela deu de ombros sem se ofender.

Saí para o hall do meu andar e murmurei um cumprimento para


Zander, deixando a porta aberta para que ele entrasse e fizesse seu papel com
Mercedes.

Deveria focar no meu trabalho, mas a sensação de ter Mercedes nos


meus braços dominou grande parte dos meus pensamentos até que a primeira
audiência começasse.
Capítulo 9

Fui para o banheiro me aliviar e aproveitei para usar a antessala do


tribunal para checar meu telefone. As várias chamadas perdidas da minha
mãe me assustaram. Por mais que eu soubesse que deveria ser por conta de
não ter respondido suas inúmeras mensagens, mesmo assim, pensei no pior.

— Mãe — cumprimentei ajeitando minha roupa enquanto andava de


um lado para o outro. — Está tudo bem?

— Finalmente, Marcelo. Por que não me responde? O que custa


digitar algumas palavras para acalmar o meu coração? Sumiu da festa, não
manda notícias, Mason falou que algo tinha acontecido.

— Meu irmão precisa fechar aquela boca grande dele. Eu estou bem,
só muito ocupado. É semana de audiência, parei alguns minutos para poder
saber por que tanto me ligava.

— Preocupada. Apenas isso.

— E o pai, está tudo bem com ele?

— Sim. Estamos todos bem em casa, apenas você que não manda
notícias. Tem feito todas as refeições?

— Ryder deve sofrer com o tanto de ligação que você deve fazer
para ele. O caçula dos Sartori há muito não aparece nas confraternizações.
— Não liguei para falar do seu irmão. Estou aqui para te ajudar,
Marcelo. O que aconteceu? Por que está tão hostil?

— Tenho um dinheiro extra para o seu projeto junto com a senhora


Mazzi. Vou depositar na conta como doação anônima, era só isso que eu
precisava contar.

— Não entendi por que Mason falou que algo diferente tinha
acontecido. Você sempre faz doações, por que essa seria diferente com essa?

Fechei os olhos e vi o sorriso arrogante de Mason me desafiando.


Por não estarmos envolvidos nos negócios da família, eu e Ethan sempre
sofremos com os palpites manipuladores do mais velho. E ainda tinha Ryder,
que trabalhava no aeroporto e deixou de mandar notícias, por conta de algo
que só minha mãe parecia saber, já que não se preocupava com isso.

Precisava encontrar uma saída, mas contar sobre minha investigação


por debaixo dos panos não era uma opção.

— Sábado vou levar alguém comigo para o almoço, adicione mais


um prato à mesa.

— Oh. Alguém, mulher?

— Sim e não, deixe as teorias de lado. É uma... amiga que estou


ajudando.

— Desde quando Marcelo Sartori tem amizades femininas? Meu


filho, já era tempo de...

— Pois é, mãe, as pessoas mudam. Recado dado, agora eu preciso


voltar para a audiência.

— Tudo bem, bom trabalho.

— Até breve. — Encerrei a ligação e olhei para as mensagens. Lá


estava uma de Mercedes, outro agradecimento.

Marcelo>> De nada. Conseguiu dormir?

Ela estava com o celular na mão, porque logo respondeu.

Mercedes>> Sim. Mary é muito querida, até passou minha


roupa. Será que eu posso comprar um presente para ela aqui da loja? Eu
tenho desconto de vendedora, sairá bem abaixo do preço.

Marcelo>> Claro. Acho que não dei nenhum presente no Natal


passado. Aproveite e compre para as filhas, ela gostará.

Mercedes>> Maravilha. Estou sorrindo feito boba e nem é algo


para mim. Você, realmente, é um bom homem, Marcelo.

Marcelo>> Bom trabalho, nos vemos de noite.

Encerrei o assunto, porque eu sabia das minhas virtudes, mas


também o quanto os meus defeitos eram graves. Tentava compensar minha
vida com boas ações para ofuscar um pouco da perversão que me
acompanhava.

Segui com os julgamentos, tive um almoço rápido e, no fim da tarde,


entrei no meu carro, aliviado por mais um dia ter sido concluído sem grandes
imprevistos. Tirando a ligação da minha mãe, que me fez colocar Mercedes
no meio da minha família, tudo estava correndo conforme a rotina.

No meio do caminho para minha casa, percebi que um carro estava


me seguindo. Com a uma mão no volante, inclinei para o lado e abri o porta-
luvas para tirar minha Glock do coldre.

Por mais que meu carro fosse blindado, eu só confiava na minha


proteção estando dentro do meu apartamento.

Parei no semáforo atrás de uma SUV preta e outras duas me


ladearam. Observei o vidro do carro ao meu lado descer e vi que era o tal
Nicholas O’Donnell, o cara que me levou para o jogo. Ele fez sinal para que
eu baixasse meu vidro, mas não o fiz e um dos meus pneus sofreu as
consequências com um tiro.

Caralho!

O sinal abriu, buzinas soaram, mas ninguém se moveu, nem eu.


Liguei para Zander e deixei no viva-voz ao mesmo tempo que mandava a
minha localização. Atiraram em outro pneu, eles tinham me encurralado.

— Chefe — cumprimentou sério.

— Estou encurralado, são os caras do poker.


— Quer que vá aí? Mercy não terminou o expediente, ou...

— Não a deixe sozinha, traga-a junto com você, eu preciso que me


busque.

Atiraram nos outros pneus, eu não tinha como escapar sem estragar
meu carro. O idiota saiu do carro com as mãos para cima em rendição, mas
não confiava naquele bandido.

— Só quero conversar — gritou do lado de fora.

— Vou manter a ligação, Zander. Fique quieto.

Tirei o cinto, deixei o celular no painel central do carro e mostrei


minha arma enquanto abaixava o vidro do meu carro. Meu coração estava
pulando pela boca. Aquilo era o mais próximo de ter minha vida ameaçada
que cheguei.

— Não precisa ficar nervoso, é apenas uma informação.

— Qual o seu problema? — rosnei irritado, o homem sorriu cheio de


malícia. — O que quer?

— Temos a gravação das câmeras de segurança, vimos você falando


com a filha de Ronald Smith. Não gostamos de ver a mercadoria circulando,
mesmo acompanhada de um segurança. Ela precisa desaparecer, ou faremos
isso por você. São as regras do jogo, juiz.

— Cale a boca — rosnei irritado ainda apontando a arma para ele.

— Não mexa no que é nosso e não faremos isso com o que é seu.
Simples.

Ele voltou para o carro e partiu. Os outros que me encurralaram o


seguiram e eu fiquei ali parado, no meio da avenida. Levantei o vidro, larguei
a arma no meu colo e dirigi meu carro até a calçada mais próxima para
encostar. Tinha quatro pneus furados, um orgulho ferido e a mente
explodindo de questionamentos.

Como poderia ajudar Mercedes? Mantê-la em casa, por mais que


fosse possível, era trocar uma prisão por outra. Lembrei do que Maxwell
falou, que ninguém mexeria com ela se fosse minha esposa e gemi, irritado,
ao perceber que era a solução ideal, mas não menos incoerente.

O carro de Zander chegou. Ele saiu empunhando uma arma e se


aproximou de mim. Não havia mais perigo, no máximo alguém poderia ter
ficado para me observar.

Peguei minhas coisas, saí do carro e acionei o alarme. Teria que


acionar o seguro para rebocar meu automóvel, mas isso ficaria para outro
momento.

— Você está bem? — Ele me empurrou para entrar no banco de trás


do seu carro e Mercedes virou para me encarar, com os olhos arregalados.

— Não precisam de tudo isso, eu estou bem, foi só um susto de


merda. — Chutei o banco da frente antes de Zander se acomodar nele. —
Porra!

— Já falei com meu contato. Se quiser, conversaremos com ele


ainda hoje. — Ligou o carro e saiu apressado pelas ruas.
— Chega de trabalho. Preciso de uma dose de uísque e um boquete.
— Esfreguei as mãos no rosto ao lembrar que tinha uma mulher no carro
conosco. — Esqueça o que eu disse, só estou irritado.

— Anotou a placa? Tinha mais alguém?

— Apenas a marca dos carros. Eu vou destruir esses imbecis no


tribunal. — Fechei os olhos e deixei que o balanço do carro me relaxasse. —
Nicholas O’Donnell. Eu já tenho um dossiê sobre a empresa dele e de alguns
de seus associados, mas não acho que seja ele quem manda.

— Beleza, eu dou andamento em tudo, se você me autorizar.

— Faça seu melhor.

Abri os olhos e vi Mercedes me encarando, preocupada. Ah, se ela


soubesse o que a aguardava, economizaria a inquietação e deixaria a raiva
transbordar, tanto quanto eu queria liberar a minha.

Nossas vidas estavam prestes a mudar.


Capítulo 10

O segurança não tinha me dado opção quando recebeu uma ligação,


simplesmente invadiu a loja que eu trabalhava e me arrastou para fora do
Mall. Ainda bem que Vitória nos alcançou e entregou minha bolsa,
murmurando um “eu resolvo com a Donna”, já que não dei satisfação.

Ele só me disse que era urgente, que o chefe precisava dele. Pensei
no pior, que ele tinha sofrido um acidente ou algo até mais grave. Mesmo
sem um arranhão, o homem que estava sendo bom para mim demonstrava
desequilíbrio depois de ter sido ameaçado.

Pelo o que tinha entendido, ele foi encurralado pelos mesmos


homens que me deram como prêmio a ele. Meu pai não estava causando
transtornos só para mim, mas para outras pessoas também.

O meu dono ​– ironicamente falando – parecia um vulcão prestes a


entrar em erupção. Tenso e irritadiço, Zander dirigiu para o apartamento de
Marcelo em um silêncio que estava me deixando com tanto medo quanto eu
tinha do escuro.

Assim que o carro parou no estacionamento do subsolo, os dois


saíram do veículo apressados, falando alto e discutindo sobre alguma coisa.
Fechei os olhos e respirei fundo algumas vezes, apenas o suficiente para que
a escuridão que provoquei não me causasse mais tensão do que já estava
sentindo.
A porta do meu lado foi aberta e dei um gritinho assustada, mas
suspirei aliviada quando vi a cara de Zander. Ele me pediu desculpas com o
olhar e me ajudou a sair, guiando-me até Marcelo, que estava apertando o
botão do elevador como se o pobre fosse o culpado de todos os problemas do
dia.

Meu pai não era um homem agressivo, mas falava demais e


externava suas frustrações. Marcelo parecia aquele que engolia tudo para
jogar fora através de um soco. Essa era eu pré-julgando o pouco que conhecia
daquele juiz, um dos seus muitos defeitos, que ainda eram menores dos que
os meus.

Subimos até o seu andar, ele entrou em casa e se jogou no sofá da


sala de estar. Tirou os sapatos, desatou o nó da gravata e xingou baixo, para o
vento.

— Quer que eu fique até que o zangado se acalme? — Zander


perguntou baixo no meu ouvido.

— Eu queria te pedir um favor. — Encarei-o com minha melhor cara


de gato perdido. — Veja se Vitória vai conseguir fechar a loja com
segurança. Também me preocupo com Donna, o que fará comigo amanhã.
Acho que vou perder o meu emprego.

— Esqueça isso, Mercedes. Vamos conversar — ordenou Marcelo.


Meu coração se apertou e lembrei dele falando sobre o copo de uísque e o
boquete. O primeiro eu poderia providenciar, o segundo, ficaria para a sua
imaginação.
— Tem certeza, Mercy? Sua amiga sabe se cuidar.

— Não quer dizer que ela precise menos. Converse com Vitória, eu
vou tentar apaziguar a situação depois. — Virei o corpo do segurança para
que fosse em direção a porta. — Vá.

— Me ligue. — Apontou para mim e acenei com a cabeça, forçando


um sorriso.

Não achava que estava em perigo, desde o início Marcelo só quis me


ajudar. Ele estava descontrolado, mas as pessoas reagiam diferente a
frustração.

Fui até o armário próximo a mesa de jantar e encontrei a garrafa de


uísque que tinha visto outro dia. Coloquei uma dose generosa no copo e levei
até o juiz, que tinha os olhos fechados e o corpo esparramado no sofá.

— Marcelo, aqui. — Estendi o braço para que o copo chegasse até


ele. Ajeitou-se melhor e me encarou com culpa enquanto aceitava minha
oferta de paz.

— Obrigado. Eu sou um idiota.

Dei passos para trás até ficar colada na parede. Escorreguei até o
chão e o vi tomar tudo em poucos goles, ele tinha muita frustração para
afogar. Colocou o copo em cima da mesa lateral que tinha entre o sofá e uma
poltrona, voltou a posição confortável que estava e me encarou.

— Eu sou um homem da lei que gosta de andar na linha tênue entre


meu ego e a racionalidade. Por causa de um desafio, tenho, na minha casa,
um enorme problema. — Ergueu o dedo quando arregalei meus olhos,
ofendida com suas palavras. A descrição certa era magoada, ele sabia como
humilhar alguém em poucos segundos. — Mas, quando penso que outra
pessoa poderia ter ganhado esse jogo, que o próprio Nicholas O’Donnell
estaria em posse da sua pessoa – como deve ter acontecido com outras
garotas da sua idade, eu não acredito que essa tenha sido a primeira vez –,
vejo que trouxe uma solução para a vida de alguém, arriscando minha própria
carreira.

— Eu não pedi por nada disso, Marcelo. Sinto muito que os


bandidos estejam indo atrás de você por minha causa, mas o responsável
disso tudo é meu pai. Tentei falar com ele, mas está desaparecido e não
atende o celular. Já que não posso ir à delegacia, só estou tentando fazer a
minha parte.

— Eu sei, Mercedes. E a nossa situação só piora.

— Poderia ser corajosa e dizer que vou embora e me viro, mas as


lembranças da minha casa destruída me deixam impotente. Eu não tenho para
onde ir.

— Não estou te expulsando do meu apartamento, por mais que


pareça isso. A irritação que sinto é pelos criminosos que não estão no banco
dos réus do meu tribunal. Farei com que todos paguem na justiça, irão
apodrecer na prisão.

— Então, o que aconteceu? O que preciso fazer? — Cruzei os braços


e soltei minhas pernas para ficar em posição mais confortável. Como uma
criança indefesa, eu ansiava por um colo, ao mesmo tempo que queria me
esconder.

— Não poderei te dar alternativas nessa negociação. Para te


proteger, você deve sair das vistas daqueles que me vigiam. Eu dou conta de
mim mesmo, tenho contatos e influência, além de ser valioso demais para ser
executado enquanto eu não mexer com o ninho de vespas. Não se engane,
será meu segundo passo. Te manter presa no meu apartamento não é uma
opção, nem te mandar para outro país, longe da minha jurisdição.

— Você pode me levar para o Paraguai? — A esperança surgiu no


meu peito, mesmo que sua cabeça estivesse negando a direção dos meus
pensamentos. — Minha mãe fugiu com minha irmã para esse país. Eu me
viro, Marcelo. Use o dinheiro que você falou que iria me dar para me levar
até elas.

— Te matar seria a melhor das opções, que para mim, não está em
discussão. Você se manterá viva enquanto essa investigação estiver
acontecendo. Tem que ficar perto de mim, mas não poderá trabalhar, nem
usar redes sociais. Não quero ser um algoz, intitulado como mau, por vestir
um terno. Não serei esse filho da puta, meus pais não me criaram assim.

— Não estou entendendo. Como assim? O que faremos?

— Casamento. — Ele escorregou do sofá para o chão e ficou na


mesma altura que eu, ambos sentados no chão. — Se você carregar o meu
sobrenome, além de ter proteção por fazer parte da minha família, estará
blindada dos inimigos do seu pai. Sendo minha esposa, você continuará tendo
liberdade, mas de acordo com a classe social em que você se enquadrará.
Sem trabalhos que não sejam nos cargos mais altos.
— Eu... mas... — Estava difícil engolir saliva, um tijolo parecia mais
fácil de descer pela minha garganta do que o líquido.

Algo tão sagrado e precioso como o matrimônio estava sendo


jogado, no meu colo, como a única forma de me manter viva. Ele me queria
livre, mas estar com alguém que eu não amava era ser tão escrava sexual
como ele insinuava que o outro lado faria.

— Apenas de fachada, Mercy. Posso te chamar assim? — Ele se


arrastou para mais próximo de mim e não respondi. — Meus amigos mais
próximos e a família me chamam de Chad.

— Como assim? Por que está fazendo isso por mim?

— Se te consola, eu estou te ajudando, mas também irá me ajudar,


porque estou determinado a destruir esse grande mal que assola a cidade que
são os jogos ilegais. Um tiro, dois alvos. — Veio para mais próximo. Eu não
tinha para onde ir, então fiquei aguardando que avançasse o suficiente para
me tocar. — Faremos um contrato pré-nupcial, você terá dinheiro e o que
mais precisar. É para o Paraguai que quer ir quando eu colocar todos eles na
cadeia? Você irá, só precisa... fingir.

— Ser sua noiva.

— Não, minha esposa. Vamos nos casar, fazer uma cerimônia para a
família e participar de alguns eventos sociais que tenho agendado. — Forçou
o sorriso. — No sábado, teremos um almoço na casa dos meus pais. Conto
que éramos amigos, que o nosso relacionamento se manteve debaixo do pano,
até que decidimos nos unir oficialmente.
— Mentir para a sua família?

— Sim, apenas o tempo necessário para as coisas andarem. Eu não


sou tão frequentador da casa dos meus pais. Um almoço por mês ou menos.
Só precisamos encenar para que as pessoas ao redor te vejam como minha.

— Sua por obrigação.

— Em união, para um objetivo em comum, mantê-la viva.

— Nos casar na frente de estranhos, te beijar... — Estiquei as pernas


e esfreguei as mãos no meu rosto em frustração. — Meu Deus, Marcelo. Eu
não sei o que dizer.

— Você não fará nada que não queira, é um casamento apenas por
conveniência. No máximo, aparecer de mãos dadas, não precisamos ir além
do platônico na frente dos outros.

— Posso pensar? Talvez haja outra forma. Vai mudar nossas vidas
essa decisão. — Encarei-o com desespero e percebi que tinha se aproximado
ainda mais de mim. Se esticasse o braço, me alcançaria.

— É a nossa única alternativa de solução imediata. Não sei quanto


tempo leva para se organizar uma festa íntima, mas tem que ser o suficiente
para que a sociedade saiba. Minha mãe vai te ajudar e você continuará com
Zander na sua cola. Tudo vai dar certo.

Marcelo não poderia garantir o nosso futuro, mas estava empenhado


em seguir com esse plano maluco. Olhei para suas mãos e pensei nelas nas
minhas, e talvez a ideia não fosse de todo ruim.
A questão era que nunca envolvia só um contrato. Sentimentos não
se regulavam com cláusulas e a razão.
Capítulo 11

Rolei na cama sem conseguir dormir direito. Encontrei o controle da


televisão e vaguei entre os filmes que passavam e os cochilos que me
ganhavam.

Ouvi barulho do lado de fora da sala que agora era meu quarto e saí
com a roupa que estava para encontrar Marcelo vestido impecavelmente com
terno e gravata. As olheiras indicavam o quanto ele mal tinha pregado os
olhos, assim como eu.

— Bom dia, Mercy — cumprimentou baixo seguindo para a


cozinha.

— Oi, Chad.

Nossa conversa de ontem tinha ficado definida ao mesmo tempo que


em aberto. Como não tinha alternativa, só bastava que eu aceitasse em voz
alta. A dor de cabeça que me acompanhava por conta da falta de sono não me
permitia pensar racionalmente, então só o acompanhei para a cozinha.

— Acordou cedo. — Virou para Mary, que estava fechando um copo


térmico com café. — Bom dia.

— Olá para vocês. Acordaram juntos. O que vai querer, Mercy?

— Ovos e torradas está ótimo. — Sentei-me no banco alto perto do


balcão e segurei no braço de Marcelo, porque ele já estava indo embora. —
Obrigada.

— Você diz isso muitas vezes.

— É porque estou agradecida, de verdade.

— Só estou equilibrando a balança, mas não sou o bom moço nessa


história. — Ergueu o copo para a ajudante do lar e me encarou. — Acho
melhor você não ir trabalhar hoje. Ainda precisamos conversar sobre aquele
assunto, mas poderemos fazer isso quando eu voltar. Não tenho audiência o
dia inteiro, vou sair mais cedo e nos alinhamos melhor. É sigiloso, entendeu?

— Tudo bem, eu te espero. — Usei o polegar para indicar atrás de


mim. — Posso usar o videogame que encontrei na sala?

— Sim, fique à vontade.

Percebi que ia se inclinar para deixar um beijo na minha testa, mas


disfarçou e saiu da cozinha. Quando escutei o barulho da porta se fechando,
soltei o ar dos meus pulmões com força e vi Zander aparecer, bem disposto.

— Por que você sempre parece que dormiu muito bem? — comentei
enquanto ele se sentava ao meu lado.

— Porque é verdade. Quatro horas de sono bem dormidas valem


mais que doze rolando na cama. — Olhou-me da cabeça aos pés e estalou a
língua. — Gostou mesmo da roupa do chefe.

— Não comprei pijama, essa roupa é a mais confortável do meu


guarda-roupa.
— Quer me ajudar com alguma coisa na cozinha, Mercy? Já que
ficará comigo o dia inteiro, poderíamos fazer um bolo ou uma torta.

— Vou aceitar. Conhece sopa paraguaia? — Ela me entregou um


prato com meu café da manhã, estava curiosa sobre o que falei. — É quase
uma torta, a base de farinha de milho, ovos, cebola e óleo.

— Eu vou ficar por aqui. — O segurança se levantou e soltou um


riso baixo. — Brincadeira. Vou levar o chefe no trabalho, só pedi alguns
minutos para te cumprimentar. Já volto.

— Guardo um pedaço para você. — Acenei e voltei minha atenção


para Mary, que estava radiante. — Minha mãe é brasileira, mas o pai dela era
do Paraguai. Ela sempre fazia algumas comidas típicas, a que mais gostava
era essa.

— Vou adorar aprender e fazer para meus filhos.

— Ah, eu tenho algo para te dar.

Coloquei uma garfada de ovos mexidos na boca, corri para o meu


quarto e tirei de dentro da minha bolsa os presentes que tinha comprado.
Voltei para a cozinha e entreguei a pequena sacola para a mulher. Como
avisado a Marcelo, seria apenas uma lembrança, para agradecer o carinho que
Mary estava tendo comigo.

— Da loja que trabalho. É uma lembrança para você e suas filhas.


Tem também para o menino, que é o mais novo.

— Oh, Mercy, estou surpresa. — Ela me puxou para um abraço e


retribui com carinho. — Muito obrigada.

— Obrigada também. — Saí do seu abraço ao perceber que iria me


emocionar e voltei a comer. — Achei que minha estadia por aqui seria menor
e queria te agradecer, mas acho que nos veremos mais vezes.

— Entendi. Faço muito gosto do senhor Sartori ter encontrado


alguém. A mãe ficará mais feliz ainda por um dos seus meninos, finalmente,
seguir os passos do pai. — Ela deduziu certo, só não sabia que era uma
informação apenas para manter as aparências. — Estão namorando?

— Mais ou menos. É segredo ainda. — Abaixei a cabeça e foquei na


minha comida. Percebi que não seria fácil incorporar a mentira como era
aceitar os termos em um contrato. — Então, podemos começar com a receita?
Não quero te atrapalhar — mudei de assunto para algo que estava na minha
zona de conforto.

— Imagina, eu organizo o apartamento depois da nossa arte. Ela


serve para almoçarmos ou precisa que eu faça algum acompanhamento?

— É suficiente, você verá. — Comi a torrada rapidamente e Mary


riu da minha pressa. — Vou trocar de roupa.

— No seu tempo. Temos o dia inteiro.

Troquei de roupa no meu quarto, peguei o celular e vi uma


mensagem de Vitória. Meu coração acelerou e deixei para olhá-la depois que
acionasse Penny. Desde o nosso último encontro que eu não tinha notícias
dela.
Digitei uma mensagem qualquer e nem apareceu o sinal de recebido,
algo deveria ter acontecido. Que fosse apenas um celular velho que não
carregou a bateria, porque senã,o faria Zander ir atrás dela, como fiz com a
minha colega de trabalho.

Vi>> Obrigada pelo prêmio de consolação, querida amiga.


Zander tem os lábios mais perversos que já conheci. Isso é um elogio.

Mercy>> Então, vocês ficaram? Como assim? Pedi que ele te


desse uma carona, não que te carregasse para um quarto.

Vi>> Para uma mulher inexperiente como fala que é, até que
você pensa muitas besteiras. Foi apenas um beijo e, talvez, eu tenha
tocado na virilha dele.

Mercy>> Ah, eu vivo muita coisa pelas suas histórias. Com


certeza, ele é melhor que seu antigo namorado. Aquele que não mandava
mensagem, nem ligava, mas servia para gastar algumas horas na cama.

Vi>> Não desenterre o defunto. Eu estou com um caçador na


minha mira, pronto para o apocalipse zumbi. E, obrigada pela
preocupação. Nem vou repassar a bronca de Donna como presente.

Mercy>> Ela está muito brava? Nem sei como dizer isso a ela,
mas não vou trabalhar hoje.

Vi>> Zander comentou que isso poderia acontecer e inventei


para nossa chefa que você estava passando mal, por isso saiu correndo
daquele jeito. Eu dou conta do recado na BBW, só me diga se está tudo
bem.

Mercy>> Sim, acho que ficará.

Vi>> Então, não está.

Mercy>> A verdade é que estou confusa e não posso falar com


ninguém, por enquanto. Não conte nada do que viu ou sobre o Zander,
por favor.

Vi>> Claro, amiga. Você pode contar comigo. Donna acha que o
homem é seu namorado, não meu objeto de desejo tempestuoso.

Mercy>> Estou preocupada pensando em Penny. Não consegui


falar com ela depois que passou na loja aquele dia. Ela é do time que
precisa de um ombro amigo para desabafar.

Vi>> Ou seja, do time das fodidas, como nós. Mas, meus planos é
para estar bem comida até o fim de semana.

Mercy>> Me conte tudo ou vou arrancar dele.

Vi>> Tire os olhos do meu homem. Vá atrás daquele do boné


que você paquerou em frente a prateleira de produtos íntimos.

Céus, ela me fez lembrar do item a mais que comprei, um presente


para o próprio Marcelo. Claro, entregaria na nossa despedida, quando eu
desejaria toda a felicidade do mundo e que ele pudesse usar aquele óleo com
alguém especial.

Então, eu estava pronta para assinar um acordo pré-nupcial para me


casar com ele. A questão era saber até que ponto ele levaria aquela farsa, se
precisaria manter a fidelidade ou...

Joguei-me no sofá-cama, gemendo de frustração, ao pensar naquele


homem como alguém que eu poderia beijar. Por mais que não tivesse me
relacionado com ninguém, eu via muitas séries e sonhava com meu médico
do Memorial Grey Sloan, da série Grey’s Anatomy. Algumas vezes,
fantasiava com um dos investigadores do CSI. Melhor quando era com o
musculoso do Baywatch, Zac Efron, ou com o The Rock, para qualquer um
deles, eu me renderia de bom grado.

Mas nenhum daqueles era Marcelo Sartori, o justiceiro de terno e


gravata. Pensar que conheceria sua família e assumiria um relacionamento
perante eles me fazia tremer, como se estivesse um frio congelante. E se
pedissem para nos beijar? Ou se perguntassem algo sobre ele que eu não
saiba, como a primeira palavra que ele aprendeu a falar?

Eu era uma exagerada e estava fugindo da racionalidade.


Capítulo 12

Abri a porta de casa no fim da tarde disposto a colocar uma sunga e


mergulhar na piscina. Inspirei profundamente e lembrei que precisava
resolver um assunto importante que eu tinha deixado de lado, de tão focado
que estive no trabalho.

Ainda bem que não teria mais audiências no resto da semana, a


sexta-feira seria tranquila e, no sábado, seria o começo da grande encenação
em prol de proteger Mercedes. Tinha a investigação, que Zander mostrou
eficiência em iniciar o processo. Estava nas mãos da polícia federal e seu
contato de confiança. Quando entrasse para julgamento, eu estaria ao lado do
juiz responsável para repassar a minha versão dos fatos.

Não haveria vírgulas ou brechas em leis que impediriam os maus de


pagarem pelos seus atos.

Fui até a cozinha e vi uma grande travessa com uma torta amarela
sobre o balcão. Naquele horário, Mary já tinha ido embora. Ela só ficava
depois do almoço quando eu pedia algo excepcional – ou seja, quase nunca.
Senti o cheiro de milho, achei estranho, mas não mexi, aquilo era novidade.

Busquei por Mercedes e a encontrei na sala de TV, com o sofá


recolhido e ela sentada no chão com o controle na mão. Escolheu um dos
meus jogos de luta, fazendo movimentos com o corpo, como se pudesse agir
além de apertar os botões. Era algo que não usava há um tempo, minha vida
vinha sendo apenas trabalho e festar na rua.

— Ele roubou! — Mercy gritou com a televisão e comecei a rir. Ela


virou e se levantou envergonhada por ter sido pega em flagrante. — Oi. Você
chegou.

— Sim. — Coloquei o dedo no meu colarinho e comecei a tirar a


gravata. — Esqueci de mexer no nosso contrato. Podemos fazer isso agora?

— Tudo bem. Eu fiz sopa paraguaia e deixei um pedaço para você


experimentar.

— Ah, é aquilo na cozinha com cheiro de milho?

— Isso.

Fiquei observando o quanto ela era jovial, doce e seu olhar ingênuo
me fez sentir pior do que o mais cruel criminoso que já tenha sentado no meu
tribunal para ser julgado. Eu não lembrava quantos anos ela tinha, muito
menos se fizera aquela pergunta, mas, com certeza, era muito menos que
meus trinta e dois anos.

— Minha mãe vai me matar — murmurei, imaginando o sermão que


levaria de dona Rosi quando chegasse na casa dela e anunciasse o casamento
de última hora.

Saí da porta da sala e fui para o meu quarto, trocar de roupa e pegar
o notebook para servir de ferramenta para firmar o nosso acordo. Quando fui
para a sala de jantar, ela já estava sentada à mesa e tinha dois pratos servidos
daquela torta.
— Quantos anos você tem, Mercy?

— Vinte e um. — Pressionou os lábios e me observou sentar, como


se soubesse a direção dos meus pensamentos. — Muito nova? Eu não sei,
Chad. Para conversar com Mary, eu já me engasguei toda. Será que não
podemos, pelo menos, deixar sua família sabendo para que eu não estrague
tudo?

— Uma conversa solta e nossa união perde força. Você pode ser
raptada e levada para algum lugar que nem o meu amigo governador, com os
contatos dele, conseguiria te tirar de lá. — Toquei sua mão e a apertei, ela
estava suando pelo nervosismo. — Você precisa se esforçar.

— Entendi, tudo bem. Até parece que não estou preocupada com a
minha vida. É só que... — Encolheu-se na cadeira e soltei sua mão, ela
pareceu não ter gostado disso ao fazer uma careta de decepção. — Estou sem
ninguém, não consigo compartilhar o que sinto.

— Terá que se contentar comigo. — Abri o notebook e esperei os


programas iniciarem. — A propósito, eu tenho trinta e dois, sou o segundo
filho de Rosimeire e Marco Sartori. O Grupo RM Sartori, que administra o
Aeroporto Internacional George Maztori, é da minha família. Mason, o mais
velho, tem trinta e cinco anos e ajuda o nosso pai, junto com Ryan. Esse é o
caçula, mas você não o verá por enquanto, porque tirou férias de todo mundo.

— Oh! O que aconteceu?

— Quando você conseguir arrancar a verdade de dona Rosi, me


conte. — Entrei no aplicativo de edição de texto e comecei a digitar. —
Também tem o patinho feio da família, Ethan, o terceiro da fila. Ele é dono
da marca de roupas ERW.

— Eu estou vestindo uma blusa dele! — Esticou a blusa branca e


imaginei que ela estava com outras peças desenvolvidas pelo meu irmão,
principalmente, as lingeries. Branco. Renda. Neguei com a cabeça para
afugentar a imagem. — E você, que virou juiz, não é cisne também?

— A ideia era trabalhar no jurídico do Grupo, mas, influenciado por


um amigo que tem as mesmas ideologias que eu, saí um pouco do caminho.
— Fazia tempo que não conversava sobre a minha história e família. — E,
você?

— Tenho uma irmã mais nova, Camile. Ela está com a minha mãe e
a vi, pela última vez, ainda bebê. Morava com o meu pai, bancava grande
parte da nossa vida e o resto você já sabe. — Deu de ombros e espiou a tela
do notebook. Ela tentou menosprezar a sua história, mas eu precisava saber a
dela tanto quanto ela tinha que conhecer a minha.

— Não concluiu os estudos. Quer terminar? Tirar o diploma?

Ela olhou para mim, assustada. Precisei rir do quanto os


pensamentos dela não iam tão longe quanto os meus. Como a esposa de um
juiz, mesmo que estivéssemos só encenando, ela poderia aproveitar o status
para alcançar algumas metas.

— Como assim, Chad? Eu não serei ameaçada se for para a escola?


Ou, sei lá...

— Tempos modernos, podemos encontrar um ensino a distância e


você só precisará fazer uma prova para conseguir o diploma. Pode começar a
faculdade também, isso se ainda tiver sonhos com a graduação e não
precisará trabalhar. Eu posso bancar tudo.

— Não, tem o dinheiro do jogo que você me prometeu. Não vai usar
o seu. — Apontou para o contrato e fechou a cara, mas eu percebi suas mãos
tremendo de ansiedade. — Eu aceito, mas não vou abusar. Meu Deus, isso
não é um passeio, estou prejudicando sua vida enquanto você quer
transformar a minha.

— Talvez, nós dois estejamos nos ajudando, só não temos todas as


cartas na mesa ainda — murmurei desviando o olhar, porque aquela mulher
estava mexendo comigo. — Certo. Quatrocentos mil dólares na sua conta, ter
seu próprio quarto para dormir, roupas e locomoção. — Ergui a sobrancelha e
a encarei, esperando que exigisse algo mais. — Vou providenciar mobília
para o quarto de hóspedes vazio. Se quiser, pode ajudar a escolher ou Mary
fará por você. Ela tem bom gosto.

— A cláusula de que não precisaremos confraternizar, eu entendi,


Chad. Da minha parte, não precisa se preocupar, porque eu não tenho muitos
amigos nem sou festeira. Tenho duas amigas e muita preocupação. — Franzi
a testa, porque não estava entendendo o ponto que ela queria chegar. As
bochechas de Mercy ficaram vermelhas e aproveitei que ela estava
elaborando o que a constrangeia para experimentar a tal sopa paraguaia. —
Então, o que quero saber, que eu acho que nem tenho o direito de exigir, é se
você vai namorar outras pessoas enquanto estivermos juntos. Por mais que...

— Não estamos falando de um ou dois meses de casamento de


fachada, Mercy. Talvez, seja algo em torno de um ou dois anos, até o
processo correr na justiça, isso se eu conseguir chegar até o cabeça do
esquema. Por mais que seja uma questão Hidra, da que derruba um, surgem
dois, essa é uma decisão pessoal.

— Você é muito orgulhoso.

— Sim, e não me incomodo de ser assim. Foi por causa das minhas
convicções que estou onde estou. — Percebi que estava entrando na
defensiva e coloquei todo o pedaço que tinha na mão na boca. — Muito bom
— falei de boca cheia para mudar de assunto, mas percebi que ela estava
ficando cada vez mais vermelha.

— Então, eu serei corna.

— Mercy, você entende que isso é apenas um acordo, certo?


Seremos casados, mas não há amor. Não teremos nenhuma intimidade. Você
é onze anos mais nova do que eu, é...

— Errado? Um crime contra a minha virtude? — Tampou o rosto


com as mãos e forçou o riso. Ela estava confundindo as coisas e eu não
poderia deixar que ela me visse como homem. Estava doutrinando minha
mente a vê-la tão distante e inalcançável como deveria ser. — Desculpe, você
está certo, eu estou confundindo as coisas. É só que... — Voltou a olhar para
mim e seus olhos estavam cheios de lágrimas. — Pensei que, no meu
casamento, minha mãe voltaria para me ver, minha irmãzinha carregaria as
alianças e meu pai me conduziria, sem se preocupar se os ricos estavam
perseguindo nossa família ou não. Confesso que idealizei demais, pois nunca
imaginei que se transformaria num recurso para que pudesse me salvar. Eu
também estou estragando o seu sonho e, agradeço, mais uma vez, o que está
fazendo por mim.

Ela se levantou, abraçou meu pescoço e me deixou atordoado com o


discurso. Fiquei inerte por alguns segundos, o suficiente para não dar tempo
de retribuir o carinho.

— Pode colocar os termos que você achar melhor. Aquilo lá que


falou antes, está bom para mim. Não vou te pedir fidelidade, é o mínimo que
posso suportar pelo tanto que está se sacrificando. Eu aceito, Chad. — Deu
um passo para trás e apontou por cima do ombro. — Só vou... Me chame
quando terminar, tá?

Engoli em seco e ela foi para a sala de televisão, fechou a porta e


deixou que seu choro fraco apertasse o meu coração. O que esperava? Eu era
o jogador de poker, além do juiz de direito, aquele que escondia seus
sentimentos e tomava decisões que mudavam a vida de muitas pessoas.

Daquela vez, eu julgava a minha vida e a entrelaçava com a de


Mercedes através de um papel. Da mesma forma que ela se tornou minha por
um termo de posse, ela estava, em definitivo, sendo minha por obrigação de
um contrato.
Capítulo 13

Deixei-a refugiada em seu canto enquanto devorava a torta e


concluía os termos do contrato pré-nupcial. Busquei nos meus contatos de
celular e chamei meu amigo governador, mas o político deveria estar muito
envolvido com a corrida à presidência, preocupado com as eleições prévias.

Não dava para falar com nenhum dos meus irmãos. A mentira teria
que seguir daquela forma até a última instância.

Peguei o arquivo, enviei para o meu e-mail e encaminhei por


mensagem para Mercy. Se ela aprovasse, amanhã faria a impressão, porque o
aparelho ficava localizado na sala de TV e não estava disposto a atrapalhar o
seu momento.

Fui para o meu quarto e encerrei a noite sem a ida a piscina. Sentia
um luto dentro de mim. As palavras de Mercedes me tocaram, pois, de certa
forma, eu também estava sacrificando um momento. Tudo bem, não era um
sonho como parecia ser para ela, mas se tornaria bom para a minha mãe. Ah,
eu já imaginava os mil e um arranjos que faria para executar a cerimônia.

Fiz uma lista mental do que eu precisava e um deles era comprar


alianças. Como era um desastre em saber a necessidade de um hóspede em
casa, busquei na internet o que uma noiva precisava antes do casamento.

Vi uma enorme lista e resmunguei. Merda, não tinha como fazer


tudo aquilo em uma semana. Precisaria dos documentos pessoais dela para
dar entrada no pedido oficial, o que era a parte mais fácil. Spa, vestido,
madrinhas, comida, flores, música...

Senti uma pontada na cabeça e esfreguei a testa. Realmente, para


realizar tal evento, tinha que se tratar de um sonho. Ninguém, em sã
consciência, despenderia tanta energia para agradar alguém.

No meu caso, era questão de salvar uma vida enquanto eu


encontrava os criminosos. Simples, mas tão complexo quanto se fosse real.

Nem percebi que dormi, sonhei com vestidos, casamentos e um


assassinato no meio da festa. Se eu estava preocupado, acordei mais
incomodado do que nas primeiras análises. Ainda bem que não teria
audiência naquele dia. Faria meu horário normal e buscaria alguma diversão
para me desestressar.

Só de pensar em alguma festa, bar ou boate, comigo dançando entre


mulheres ou tomando meu uísque no camarote, me fazia sentir culpa. Mesmo
que não tivesse um compromisso com ela, eu sentia que era obrigado a ter
respeito pela nossa situação.

Caralho, mais de um mês sem poder transar, eu não aguentaria.

Arrumei-me para ir trabalhar e saí do quarto ao mesmo tempo que


Mercy. Enquanto eu estava em meu traje completo, ela usava minhas roupas
e não imaginava o quão sexy parecia.

Precisava mudar o foco.

— Bom dia, Chad. Está tudo certo com o contrato. Onde assino? —
Forçou o sorriso, mas os olhos inchados não escondiam o quanto estava se
sentindo mal por isso.

— Teremos que fazer o pedido da licença de casamento. Tem seus


documentos com você?

— Estão comigo, todos na minha bolsa. — Tentou disfarçar o


suspiro ao me encarar da cabeça aos pés. Ela não poderia me ver como seu
marido de verdade. — Acho que você vai precisar daquela impressora do
lado do videogame, certo?

— Sim. Será rápido.

— Vou tomar café da manhã.

Ela me deu espaço para que eu pudesse entrar na sala e foi para a
cozinha. Pelo meu celular, fiz a impressão de duas vias do contrato, peguei
uma caneta dentro de uma das gavetas do rack da televisão e assinei.

Fui até ela e cumprimentei Mary antes de colher a assinatura da


minha futura esposa. Por obrigação ou não, teria que me acostumar com esse
título. O homem da farra e que gostava do desapego estava encerrando as
atividades.

O coração acelerado era parte do desespero que tentava me tirar do


equilíbrio. Por mais que fosse de fachada, uma farsa, não estava me
amarrando até que a morte nos separe.

— Gostou da sopa paraguaia, senhor? — Mary perguntou, me


tirando dos devaneios perigosos pelos quais eu estava seguindo. Mercy
entregou os papéis para mim e encarei minha ajudante do lar um pouco
perdido. — A torta que foi feita ontem.

— Deliciosa. Diferente, mas muito boa.

— Que bom. Aprendi a fazer junto com Mercy. — Estendeu o braço


e me entregou o copo térmico de café. — É o último, senhor. Tem esquecido
de trazer todos os outros de volta.

— Desculpa, eu esqueci o meu também. — Olhei para ela retraída,


inclinei para deixar um beijo na sua cabeça e me afastei, sem perceber que
aquele ato poderia ter grandes consequências, até mesmo para mim. —
Mande uma foto dos seus documentos depois, Mercy. Estou indo, tchau.

Saí de casa e dei de cara com Zander, isso estava se tornando algo
que me incomodava. Ele seria o único com quem compartilharia o assunto do
casamento arranjado, afinal de contas, fazia parte do processo.

— Vamos, tenho assuntos extras para lidar hoje.

— Posso, pelo menos, pegar um café? — pediu sério e fui chamar o


elevador, o ignorando.

— Acabaram os copos térmicos. Nem vocês os trouxeram de volta.

— Posso ir comprar um monte enquanto você trabalha. — Entrou


comigo no elevador e apertou o botão do subsolo. — Como está Mercy?

— Bem. Faremos o arranjo, ela será minha esposa e você continuará


como nosso segurança até que meu carro blindado volte da oficina. —
Saímos na garagem e dei passos largos. — Só segunda-feira que os pneus
blindados chegarão, não vou andar desprotegido. A economia de alguns
dólares quando resolvi andar com aquele carro me custou a paz de uma noite.

— Sem problema, chefe. Estou à disposição.

Entramos no carro, peguei o celular e tentei chamar meu amigo


governador mais uma vez. Para a minha felicidade, ele me atendeu.

— Como vai, Juiz Sartori?

— Fodido. Acabei seguindo o seu conselho e cá estou eu, preste a


fazer a solicitação da licença de casamento. — Era para ser um assunto sério,
mas meu amigo riu alto.

Troquei um olhar com Zander, que ergueu a sobrancelha e se


manteve antenado na conversa.

— Que bom que me deu ouvidos. Resolve todos os problemas e não


perde a melhor parte de estar solteiro.

— Exatamente sobre isso que queria falar com você. Não dá para
ficar celibatário até essa farsa terminar. Ela está morando no meu
apartamento, preciso manter a discrição.

— Primeiro, começou errado ao colocá-la dentro do seu lugar.


Casa é sagrado.

— O matrimônio também — ironizei e ele riu um pouco mais.

— Valores tradicionais que não condizem com o momento em que


vivemos. Desde quando uma aliança no dedo mudará a forma que
trabalhamos? A mulher receberá dinheiro para assinar o papel, precisa de
proteção, então deverá continuar fiel, mas não você.

— Fácil falar, quando você só pensa com o seu pau.

— Não há outra forma de ser guiado que não seja pela cabeça –
independe de qual seja. Coração só serve para fazer merda.

— Sigilo sobre o assunto, apenas meu segurança está sabendo.

— Se algo der errado, só não diga a dona Rosi que fui eu que te dei
a ideia. Se juntar ela mais a minha mãe, será como naquelas férias, em que
elas fizeram o cálculo de dois homens para três mulheres.

— Nossa, você precisava desenterrar esse fato? — Agradeci que


Zander não estava escutando a conversa dos dois lados. — Enfim, só para
constar, você será meu padrinho.

— Bom saber, porque você será o meu.

— Você achou alguém para se casar?

— Digamos que ela estará pronta quando for o momento. Enviarei


mais informações depois. Preciso entrar em uma reunião.

— Até mais.

Encerrei a ligação e fiquei chocado que, mesmo depois de adultos e


barbudos, estávamos nos metendo nas mesmas situações.

— Não acho que Mercy vai entender que você precisa foder com
outra por conta de uma questão não-emocional. Ela é tão inocente quanto
aquela amiga nerd que você teve na escola.

— Eu nunca tive uma amiga assim.

— Pois é, mas eu tive e as coisas ficaram feias no final. É só um


aviso, porque eu cumpro ordens. — Parou o carro e percebi que chegamos no
meu trabalho.

O que meu segurança não parecia entender era que, para minha
sanidade mental, eu precisava focar meus desejos sexuais em outra mulher,
senão Mercy seria minha além da obrigação.
Capítulo 14

Parte de mim se sentia dona daquele apartamento inexplorado.


Depois do café da manhã, fiquei na sala de tv, ajeitei as coisas e depois,
decidi espiar os outros cômodos.

O quarto vazio, com um banheiro em anexo, se tornaria o meu futuro


cantinho. Como uma plebeia se tornando princesa, olhei ao redor sonhando
com o que poderia se transformar. Visualizei uma cômoda perto da porta, a
cama alta com edredom fofo e um espelho de corpo inteiro, o meu sonho.
Será que poderia colocar uma televisão? Colocaria uma prateleira na parte de
cima com meus filmes preferidos, apenas para ter fácil acesso de rever
quantas vezes fossem necessárias para matar a saudade.

Fui para o quarto principal, a grande suíte de Marcelo Sartori e sorri


ao ver a cama bagunçada. Ele não deveria se preocupar com nada, sempre
teria dinheiro para que alguém realizasse essas pequenas tarefas.

Toquei no cobertor, o mesmo que tinha sido posto em mim e cheirei,


já estava me acostumando com aquele aroma.

— É uma delícia esse — Mary falou e eu dei um gritinho assustada,


largando o que tinha em mão e me sentindo culpada por espiar. — Comprei
numa promoção para todos lá de casa, não dormimos sem ele. Você quer um
também? Posso providenciar além do edredom.

— É... Hum... Só estou curiosa. Desculpa invadir o quarto do Chad.


— Ele é o tipo de homem que guarda segredos na cabeça, não deixa
provas concretas. Se está aqui, é porque tem autorização para explorar. Não
se esqueça do terraço. — Ergueu uma cesta de utensílios de limpeza. — Vou
ajeitar o lugar, fique à vontade.

Arregalei os olhos, lembrando do nosso momento na espreguiçadeira


em meio ao escuro da noite. Saí do quarto em direção a sala de estar,
encontrei a escada bem disfarçada com o ambiente e subi, sem medo do que
estava por vir.

A piscina brilhou e meus olhos se arregalaram de alegria em poder


gastar meu tempo com uma coisa que fiz poucas vezes na vida, nadar.

Desci os degraus apressada, fui para o quarto de Chad e encontrei


Mary no banheiro. Caramba, era enorme e tinha uma banheira digna de ser
usada todas as noites. Estava vivendo um sonho, com um falso príncipe
encantado.

— Eu posso usar a piscina? — pedi eufórica e Mary me encarou


sorrindo.

— Claro, Mercy. — Ela bateu as mãos nas suas coxas. — Vou pegar
uma toalha de banho e protetor solar.

— Não tenho biquíni. — Fiz uma careta e ela soltou uma gargalhada
passando por mim.

— Querida, aproveite que está sozinha, no último andar de um


prédio e nade de calcinha e sutiã. Ou sem nada. — Acompanhei-a até o
corredor, ela abriu o armário. — Não vou te incomodar, aproveite.
— Será?

— Claro. Faça isso por mim, se precisa de um incentivo. — Colocou


a toalha e o protetor solar nos meus braços. — Sempre quis fazer isso, mas é
antiético da minha parte. Vá.

Passei na sala de televisão para pegar meu celular, fui para o andar
de cima e me senti livre. Poderia ficar pensando na saudade que sentia da
minha mãe ou mesmo na falta de notícia sobre o meu pai, mas escolhi pensar
em mim.

Era a comemoração de um evento importante na minha vida. O


casamento, algo que estava fazendo por mim e me daria uma nova
perspectiva de vida. Depois eu pensaria na família. Quando estivesse mais
estável emocionalmente, eu me daria ao luxo de ser solidária, porque naquele
dia, queria ser egoísta.

Ainda estava de pijama, aquela roupa emprestada por Marcelo.


Tirei-a, envergonhada, olhando para todos os lados e só vendo o céu azul,
além da cidade há muitas milhas de distância.

Havia uma cozinha na área coberta, uma grande mesa de madeira


com bancos e várias espreguiçadeiras. O lugar perfeito para reunir a família
ou fazer uma festa particular.

Não gostei de pensar que Marcelo poderia ter convidado muitas


mulheres para estarem no seu apartamento. Sabia que não teria o coração
daquele homem – e nem queria –, mas estava me permitindo a sonhar.

Para me habituar no papel e não me engasgar com a mentira,


precisava acreditar que aquele juiz seria o meu homem. Marido. Estava
entrando para a família Sartori, uma realidade que deveria ser distante, mas
que calhou de se tornar real.

Passei o protetor rapidamente, enrolei a toalha no meu corpo e fui


até a piscina com o celular na mão. Coloquei o pé sentindo a temperatura
perfeita da água, coloquei a playlist para tocar e me livrei do pudor.

“Eu chamo isso de amor insano

Eu chamo isso de minha realidade

Ela é minha

Minha, toda minha”

Velvet Revolver – She Mine

Mergulhei e nadei. Estava em outra realidade, fazendo algo que


nunca pensei fazer na vida, nadar nua. Foi um culto de adoração a mim, aos
meus anseios e minhas perspectivas para esse arranjo.

Longe de mim me aproveitar com soberba, gastar dinheiro e encher


meus olhos por conta das posses que a família tinha. Eu visualizava um
futuro digno, mesmo sendo baseado em mentiras.

Quando me recolhi depois de agradecer Marcelo, foi um choque ao


perceber que eu estava mudando de vida. Tive sorte, apesar de tudo. Meu pai
me colocou como prêmio e o universo conspirou para que fosse alguém do
bem, que prezava pela ordem.

Havia um preço a se pagar, que era um amor tão verdadeiro quanto


um vaso de flor artificial. Para quem via de longe, estava florida e vibrante,
mas de perto, era só uma cópia do que deveria ser real.

Só porque deveríamos manter a distância emocional, eu o olhava de


outra forma. Mais velho, protetor e carinhoso, Marcelo Sartori estava
invadindo meus pensamentos e se tornando uma pessoa de quem eu queria
ser algo além.

— Mercy? — escutei a voz dele vindo da escada e comecei a nadar


de um lado para o outro, sem saber como faria para que ele não me visse nua.
— Escutei barulho de água...

— Não se aproxime. Oh, meu Deus! — Encostei meu corpo o mais


longe da entrada do terraço. Percebi que estava mais vulnerável, então nadei
para frente.

— O que foi? — Ele chegou ofegante no mesmo momento em que


colei a minha frente na parede interna da piscina. Lindo, de terno e com olhar
preocupado, se não fosse o medo de me ver nua, estaria suspirando pela sua
postura. — Está tudo bem?

— Só não se aproxime. Eu não estou vestindo... nada apropriado. —


Coloquei os braços na borda e escondi meu rosto. Era difícil dizer que estava
nua, muito mais prestar atenção nas reações do meu corpo por me colocar
naquela situação.
— Ah! — Ele olhou ao redor perdido, colocou a mão em cima dos
olhos para tampar o sol e me encarou. Vi seu pomo de adão subir e descer,
ele me encarava de uma forma diferente e eu não conseguia me desconectar.
— Vim almoçar e iremos juntos assinar os papéis para a licença de
casamento. Amanhã teremos um almoço com a minha família, onde farei o
anúncio. Quer... fazer algo? Eu não sei, comprar uma roupa ou ir ao salão de
beleza? Não tenho irmãs ou amigas, eu só estou tentando lembrar o que
minha mãe fazia quando tinha algum evento importante.

— Preciso ir chique? As roupas que comprei são para trabalhar


apenas.

— Talvez, um vestido? — Sorriu desviando o olhar e dando passos


em direção a escada. — Estarei à mesa te esperando, vou te dar privacidade.

Esperei alguns segundos antes de sair da piscina e me enrolar na


toalha, completamente envergonhada, ao mesmo tempo que excitada. Eu não
era daquele jeito, muito menos me atraia pelos homens apenas por alguns
dias de convivência. Bem, fazia muito tempo que não convivia com outro
homem que não fosse o meu pai.

Abracei minhas coisas, desci a escada e corri para a sala de televisão


tomar banho. Fiz tudo em tempo recorde, cheguei na sala com o cabelo
molhado e com o rosto quente de vergonha.

Marcelo fingiu que não prestou atenção na minha chegada, mas


retesou o corpo. O certo, como futura esposa, seria beijar sua bochecha e
perguntar como tinha sido seu dia de trabalho. Imaginar a cena aqueceu meu
peito, era como se estivesse vivendo um seriado de comédia romântica, cuja
protagonista era a minha pessoa.

E que o sonho continuasse firme para segurar a barra que eu previa


que meu emocional passaria.
Capítulo 15

— Como foi o banho? — Mary perguntou animada enquanto eu me


sentava à mesa de jantar posta para o almoço. Era a primeira vez que ele
vinha para casa nesse horário.

— Tudo bem — soei estrangulada, ela riu baixo e percebi que estava
fazendo de propósito. Olhei para Marcelo, que estava olhando para frente
vidrado. — Chad, acho que vou aceitar a sua sugestão.

— Oi? O que disse? — Ele olhou para mim, percebeu que tudo
estava posto na mesa e começou a se servir. Carne assada, batatas fritas,
legumes e salada verde. Mary nos deixou sozinhos e me senti menos
intimidada por não ter testemunhas ao pedir algo para o dono da casa.

— Comprar um vestido e ir ao salão. Meu cabelo não vê uma


tesoura profissional há anos. Pode descontar do meu dinheiro.

— Está com meu cartão, certo? — Cortou as folhas no seu prato,


tranquilo.

— Sim, mas eu não acho certo...

— Você é minha esposa, Mercedes. — Olhou-me sério, o peso


daquelas palavras pesou nos meus ombros e coração. — Ou melhor, será.
Desde que não ultrapasse o bom senso, não vejo motivos para que mexa na
sua poupança pré-nupcial. Deixe-a rendendo e só a use quando tudo isso
terminar.

— E quando saberei que não estou exagerando? Quais os limites?


Porque, o que gastei com o seu dinheiro, até o momento, já foi metade do
meu salário do mês.

— Não sei, Mercy. Nunca tive que me preocupar com isso. —


Largou os talheres um tanto chateado. — Está na minha casa, tem acesso as
minhas coisas, só... aja naturalmente. Serei seu primeiro marido tanto quanto
você será minha primeira esposa. Vamos descobrir juntos.

— Tudo bem, não está mais aqui quem perguntou. Bom senso, agir
como esposa...ou melhor, noiva. — Sorri com deboche para sua expressão de
incômodo. — Já comprou as alianças, querido?

— Não me chame assim, estou ouvindo o eco do seu sarcasmo. —


Franziu a testa. — Já pedi para que providenciassem, vou buscar na joalheria
no fim da tarde.

— Oh! — O meu lado bobo e romântico se encheu de esperança, até


que minha ficha caiu que, além de nada ser real, ele não escolheu, mas
solicitou que alguém o fizesse por ele. Por que se daria ao trabalho, já que era
apenas uma grande farsa para me proteger?

Estava difícil seguir nessa montanha russa de emoções.

— Não é nada demais.

— Sim, é exatamente nisso que estava pensando. — Comecei a me


servir sem estar com fome.
— Mercedes — murmurou com pesar. Sabia que, com Mary por
perto, não poderíamos falar abertamente sobre o nosso acordo nupcial. Isso
não me impedia de estar chateada.

— Zander vai comigo ou vou chamar um motorista de aplicativo?

— Ele vai nos levar, depois te acompanhará. Vou te manter segura.

— Obrigada, querido — zombei usando a minha voz mais doce e


falsa.

Ainda bem que ele voltou a comer e ficou em silêncio, não me


rebateu, porque eu mesma não estava compreendendo o rumo das minhas
reações. Quando percebia, já estava magoada por algo que eu tinha
concordado.

O resto dos acontecimentos do dia seguiram rápido e indolor.


Mantive minha boca fechada e o sorriso engessado para não falar mais
ironias do que poderia suportar. Sabia que as consequências viriam, mas não
estava pronta para uma guerra.

Zander respeitou o momento. Deixou Marcelo no seu trabalho e


seguimos para o Mall. Tinha pedido que me levasse para o mesmo que eu
trabalhava, porque era um sonho de consumo poder comprar uma roupa na
loja mais elegante do lugar.

Aproveitaria para conversar com Donna, minha chefe e visitar


Vitória.

Nem tinha percebido que o rádio estava ligado. Ao reconhecer a


música, aumentei o som e me mexi no banco conforme o ritmo do refrão.

“Minha hora é agora

O meu tempo é agora

Eu faço isso por amor e por dinheiro

Dê uma olhada ao seu redor e veja o que eu comecei”

Buckcherry – Right Now

— Gosta do dinheiro, Mercy? — Zander perguntou estacionando o


carro e desligando o motor. Comecei a rir. O segurança estava vendo coisas
ou fazendo deduções por conta de uma animação motivada por algo que eu
tinha constatado.

— Sabe o momento da sua vida em que você, finalmente, começa a


pensar apenas em si mesma? — Saí do carro e o encontrei logo a frente para
caminharmos juntos até a entrada do Mall. — Então, descobre que isso era
algo que eu tinha que ter feito há muito tempo?

— Perceba que tudo o que está sendo executado é para a sua


segurança. Não tem nada a ver com um casamento real. — Ele olhou para os
lados e entramos na parte com ar-condicionado.

— Eu poderia estar fazendo planos para ir ver minha mãe. Talvez,


deveria te usar para andar pela cidade em busca do meu pai.
— Não faremos isso — ele falou sério e neguei com a cabeça.

— Gostaria apenas de saber se ele está bem. Mas... foi quem me


colocou como prêmio de uma aposta. Me sinto rebelde quanto a isso. —
Cruzei os braços mordendo o lábio inferior. — Chega. Eu vou me casar,
conhecerei a família Sartori amanhã e tentarei dar o meu melhor nessa
encenação. É uma ilusão, mas não me impede de tirar proveito enquanto
dure.

— Você está gostando dele — deduziu, com pesar. A BBW estava a


alguns passos de distância. Parei na frente dele e coloquei as mãos na cintura,
encarando-o com o nariz empinado. — Não é um crime. Só saiba o que está
fazendo, Mercy.

— E se eu disser que não sei? Quando descobrir, te conto. Mas, o


que quero te falar agora é sobre a minha amiga. Ela está passando por um
momento difícil, assim como eu e não merece ilusões. Espero que vocês
tenham um futuro, ou que pelo menos tentem.

— Quer que eu te espere do lado de fora? — Indicou a loja com a


mão. — Vá e resolva suas coisas, montarei guarda enquanto isso.

— Zander...

— Durante uma missão, meu foco é nela. Distrações acontecem, mas


não estão acima do meu trabalho. Vá.

Sério demais e colocando uma parede entre nós, o segurança


conseguiu me deixar um pouco mais desolada do que já estava com meu
casamento de fachada.
Fui até a loja, vi que Donna e Vitória estavam atendendo, então
aguardei, olhando os frascos na prateleira.

— Olá, Mercedes. Não recebeu a comunicação da empresa sobre a


sua conduta inadequada no trabalho? — Donna falou com ironia.
Aproximou-se de mim com sua postura imponente e desviei o olhar. Não
tinha visto o celular desde que saí da piscina no apartamento de Marcelo.

— Sinto muito, Donna. Vim avisar que não poderei mais trabalhar.
Estou passando por um momento delicado e...

— Bem, então estamos de acordo. — Cruzou os braços e se afastou.


— O restante do seu salário já está na conta e o distrato foi feito por falta
injustificada.

— Tudo bem — murmurei fazendo uma careta quando ela me deu as


costas sem nenhuma consideração.

— Está tudo bem? — Vi murmurou me dando um abraço. — Você


veio sozinha?

— Não. Zander está do lado de fora.

— Vou fazer meu intervalo — Vitória falou alto e não esperou


Donna responder. Pegou no meu pulso e me puxou para fora da loja.

Ao invés de ir enfrentar o segurança, ela fez o caminho contrário e


percebi que ele nos seguia dando uma certa distância. Olhei de um para o
outro e não entendi o que estava acontecendo, até que chegamos em um
corredor, que dava acesso apenas para os funcionários da manutenção do
Mall.

— O que está fazendo? — Zander perguntou quando Vitória abriu a


porta de um escritório.

— Amiga, eu preciso disso. — Vitória puxou-o para dentro e me


deixou do lado de fora com a boca aberta.

Escutei um barulho de algo se chocando contra a porta, gemidos


baixos e senti meu rosto esquentar. Por Deus, eu ficaria como guarda
enquanto eles matavam as saudades? Tudo bem, faria isso por ela.

Sentei-me no chão, encontrei meu fone de ouvido e me coloquei


entre a porta e a parede. Enquanto eles se entregavam a paixão, deixaria que o
rock pesado me fizesse companhia. Nunca teria o que eles estavam vivendo.
Aquela paixão avassaladora, toques possessivos e beijos intensos ficariam
apenas para a minha imaginação.
Capítulo 16

Zander resistiria ao meu toque e investida estando sozinhos, mas se


eu não o atacasse naquele momento, ele não nos daria outra chance.
Empurrei-o contra a porta, fiquei na ponta dos pés e o beijei com intensidade,
calando seus protestos com meus gemidos.

— Não dá, Vi. Vou deixar Mercy vulnerável — rosnou deixando


que suas mãos deslizassem pelo meu corpo.

— Tenho quinze minutos. Eu quero você.

— Porra de mulher insistente — resmungou apertando minha bunda


e esfregando seu quadril em mim. — Preciso de vinte.

— Sou sua.

Pegou-me pelas coxas, então abracei seu pescoço e deixei que me


carregasse até a mesa. Era um dos escritórios administrativos, que estava
vazio há dois dias, por conta do responsável daquele lugar estar doente.
Ninguém viria aqui, era o nosso momento.

Suas mãos deixaram minha bunda para apertar meus seios. Zander
sabia como enlouquecer uma mulher e eu tinha muita experiência com
homens selvagens como ele.

Eu gostava de algo intenso e, por mais que devesse estar fugindo de


perfis iguais aquele, queria provar.
Da última e única vez que estivemos sozinhos, eu o beijei. Quase
perdi a carona, mas Zander era um bom homem e aceitou meu pedido de
desculpas. Ele não se envolvia emocionalmente enquanto estava em uma
missão, nem fora delas. Teria que aceitar que era a distração... bem, eu
também queria uma para me fazer esquecer os problemas.

Fugia de um namorado abusivo. Morava no sofá de uma senhora


simpática que conheci na BBW. Cliente assídua, ela percebeu que eu estava
diferente, esperou meu expediente terminar e me ofereceu refúgio.

Eu não tinha família. Desde que comecei a trabalhar, vivo na casa


dos homens com quem me relaciono. Poderiam ser milhares, mas foram dois
que passaram na minha vida desde então. O último foi o pior. Nunca
compactuaria com a ilegalidade, mesmo que me oferecessem muito dinheiro.

O bom de não exigir um relacionamento oficializado, era que eu


tinha uma casa para morar e liberdade para transitar. Cuidava da minha vida e
tinha um bom sexo selvagem de noite.

Essa rotina tinha sido mudada há algumas semanas, quando saí da


casa de Juarez sem lhe dar satisfação. Peguei minhas coisas, coloquei em
uma mochila e estava morando no sofá da minha velhinha simpática.

Por mais que eu tivesse consciência da tragédia que estava se


tornando a minha vida, tinha medo de ficar sozinha. Ver Zander, grande,
invocado e protetor com minha amiga me fez lembrar do quanto eu gostava
de homens com o perfil dele, de fazer sexo e estava sem há tempo demais.

Enquanto ele devorava a minha boca, relembrava do beijo que


roubei. Coloquei a mão na sua virilha e senti seu pau endurecer, ele me
deixaria chupá-lo se não fosse tão cavalheiro.

Naqueles momentos de tesão, preferia o bárbaro e despudorado,


como estava sendo naquele momento.

Gemi enquanto sugava seu lábio inferior, mas suas mãos foram para
meu rosto e o seguraram para que ele pudesse interromper o beijo.

— Você é uma diaba que está me obrigando a quebrar regras.

— E na minha frente está o anjo sem asas. — Estufei o peito e me


esfreguei nele, aproveitando que minhas pernas estavam enroscadas no seu
quadril.

— Eu não sou santo. — Foi para o meu pescoço e sugou com força.

— Mas, com certeza, eu sou cria do pecado da luxúria. Para de falar


e me fode de uma vez.

Ele deu espaço para que eu descesse da mesa. Abriu minha calça, me
fez virar e inclinar para frente. Sorri mesmo que ele não pudesse me ver,
remexi o quadril e o incitei a me despir.

Abaixou minha calça e calcinha até o joelho. Observei-o se ajeitar,


colocar uma camisinha e se esfregar em mim. Coloquei meu braço para trás,
porque queria tocar e sentir o seu membro, mas ele prendeu minha mão nas
costas.

— Hoje não, Vi. — Ele me deu esperança de que aquilo pudesse se


repetir. Era o suficiente para mim.
Puxei meu braço para segurar na mesa e ele me penetrou com uma
estocada. Curvei-me com a intromissão sem aviso, mas não menos prazerosa.
Apertou minha cintura e começou a investir, impiedoso o suficiente para me
tocar nos lugares certos.

Senti um tapa ardido na minha bunda, a mesa começou a ranger e ele


nem se importou com o barulho, muito menos eu. Mercy que me perdoasse,
mas eu tinha segurado as pontas com Donna e Zander estava sendo a minha
recompensa.

O barulho de nossos corpos se chocando ecoou pelo recinto. Com a


mão no meu cabelo, o homem conseguiu me erguer e trazer minha boca para
colar com a sua.

Empinei a bunda e forcei o movimento contrário, eu só conseguia


sentir a adrenalina misturada com o tesão comandar meus movimentos.
Zander me abraçou, não descansou um segundo de me penetrar e agradecia
que não desperdiçou nosso pouco tempo juntos.

Sua mão desceu até a junção entre minhas pernas, os dedos


encontraram meu clitóris e o movimento circular me levou ao limite. Soltou
minha boca para que eu pudesse gemer sem restrições, meu corpo se arrepiou
e as pernas perderam forças.

Ele continuou o vai e vem, me deixou cair para frente e terminou o


ato metendo cada vez mais forte e fundo. Porra, caralho, eu estava perdendo
o controle da sanidade e queria mais.

Queria que ficasse, mas saiu de mim e subiu minha calça sem
cuidado. Busquei forças para me manter de pé e terminar de me vestir.

— Você é louca.

— Sim, eu sou. — Sorri com malícia, tocando seu peito. Segurou no


meu pulso com força, achei que iria me rejeitar, mas trouxe o dorso da minha
mão para beijar.

— Nós vamos nos ver novamente, só não sei quando.

— É uma promessa e isso é o suficiente para mim, segurança.

— Minha vida inteira foi uma merda e foram poucas as vezes que
me senti tão bem quanto agora. E não digo pelo sexo.

— Assim você me magoa, achei que poderia te segurar por conta da


minha boceta apertada. — Senti uma pontada de decepção, tentei me afastar,
mas ele me puxou para um abraço. — Preciso ir, tenho que trabalhar.

— Você tem algo que me faz sentir bem, em casa. E olha que eu
nunca tive uma.

— Não precisa me cantar, Zander. Nós já transamos e farei isso


todos os dias se vier me visitar. — Pisquei o olho, mas ele se manteve sério.
— Pare, por favor. Eu não posso me apaixonar.

— Se eu estou caindo, qual o problema de você vir comigo? —


Roubou-me um beijo e me soltou. — Me mande mensagem.

— Não. Você que venha me ver. — Provoquei empinando o nariz.

Ele seguiu para a porta e, quando a abriu, Mercy quase caiu para
dentro. Sentada no chão, ela ficou de pé rapidamente e tirou os fones de
ouvido com um sorriso sem graça.

— Eh... está tudo bem? — ela perguntou olhando de mim para


Zander, que a puxou para o seguir, me deixando sozinha suspirando pela
loucura que eu esperava, em breve, repetir.
Capítulo 17

— Sim, Mason, estou levando alguém comigo — falei com irritação


abrindo a porta do meu apartamento.

— Espero que não tenha nada a ver com o jogo da outra semana.

— Você precisa se preocupar mais com sua vida do que com a


minha. Talvez, com Ryder, que não dá notícias há meses.

— Estou falando de você. A mãe está preocupada.

— Não me parece, porque ela me ligou apenas uma vez essa


semana. — Comecei a subir a escada para ir para o terraço. Precisava relaxar
um pouco antes de enfrentar minha futura noiva. Nossa conversa no almoço
não tinha sido amistosa e eu ainda não sabia como lidar sem pensar na lua de
mel. Uma vez tendo a mente poluída, sempre safado.

— Estou com o pai todos os dias e te falo, até ele se preocupou


contigo indo para aquele jogo ilegal, apenas para provar que você é o cara.

Ri alto, tirei a gravata e os sapatos enquanto encarava a piscina. Só


de lembrar que Mercy estava nadando nua, eu queria fazer o mesmo. Com
ela. Não, porra, com uma mulher que não fosse complicar a minha vida.

— Tudo bem, irmão mais velho. Você vai conhecer minha futura
esposa amanhã. Esse é o grande mistério.
— O quê? — ele gritou, afastei o celular da orelha e tirei o paletó. —
Chad, você vai se casar com Melissa? Mas...

— Quem é essa? Ah! — Minha mente se iluminou e meu pau


relembrou daquela semana intensa acompanhado da mulher. — Não é ela,
mas você me deu uma ideia. Depois nos falamos, Mason. — Encerrei a
ligação, terminei de me despir e pulei na água.

Naquele dia não dava para convocar uma companhia, mas na outra
semana, com certeza, eu daria um jeito de Zander sair para passear com
Mercy enquanto eu tinha uma festa na piscina.

O conselho que meu amigo Max me deu impediu que eu me sentisse


culpado. Era melhor que eu despejasse a tensão sexual reprimida em alguém
que estava comigo por vontade própria do que forçada. Mesmo que, talvez,
com a convivência, tornasse mais fácil a intimidade, eu não achava certo. Ela
era vítima e eu não poderia abusar da sua ingenuidade.

— Chad. Posso subir? — escutei a voz de Mercedes depois de um


longo mergulho. — Chad? Marcelo? — Cogitei não responder, eu estava nu,
mas lembrei de como ela tinha feito e resolvi seguir pelo mesmo caminho.

Era momento de inverter os papéis.

— Venha, Mercy. — Fiquei de pé apoiado na beirada mais próxima


dela. Ainda estava claro, então ela não sentiria medo como da outra vez. —
Como...

Perdi a fala quando a vi, com um vestido azul marinho até os


joelhos, cabelo em ondas e um sorriso travesso que me acendeu. A
maquiagem forte que ela usava para trabalhar foi substituída por uma mais
natural, salientando seus traços. Eu já estava alegre, mas depois de vê-la
produzida daquele jeito, estava cogitando encontrar outras formas de fazer
nosso casamento dar certo.

— Gostou? — Deu a volta no seu eixo, ergueu a saia de lado e


mostrou os sapatos, que mais pareciam de uma boneca. — Acabei comprando
o vestido do concorrente. Seu irmão não vai se importar, certo?

— Diga que está usando as lingeries, que estará tudo certo. —


Foquei nas suas pernas, para não demonstrar a ela o quanto eu a desejava.
Aquele casamento de fachada estava se tornando uma perdição.

— Ah, sim. — Olhou para baixo envergonhada. — Sim, a parte de


baixo é ERW. Tudo bem, só queria saber se você aprova.

— Muito. — Tossi e me corrigi: — Está ótimo. Se você gostou, tudo


bem.

— Espero que tenha comido algo fora ou terá que pedir. — Fez uma
careta pedindo desculpas. — Eu jantei o que sobrou do almoço. Acho melhor
ficar no meu quarto, quero dizer, na sua sala de televisão. Enfim, vou te dar
privacidade. Até amanhã.

Queria corrigi-la, dizer que aquele não era seu quarto, mas sim, o
outro que estava vazio. Acabei me esquecendo de pedir a Mary que o
mobiliasse. Estava com a investigação em andamento e dei entrada nos
papéis para o casamento, mas não tinha providenciado um cômodo decente
para que ela ficasse.
Desci a mão até o meu pau e o senti latejar. Aproveitei que ela tinha
se recolhido para me expor e saciar o desejo que me tirava o juízo. Saí da
piscina, fui até a ducha e extravasei. Com uma mão no azulejo da parede e a
cabeça curvada para baixo, segurei minha ereção e alcancei o clímax. A
imagem que estava me estimulando era ela, Mercedes, tão inocente virando o
corpo e mostrando o seu vestido novo.

Ele ficaria melhor longe do corpo dela, com certeza.

Deixei que a água me lavasse junto com meus pensamentos insanos.


Dei outro mergulho, nadei um pouco mais, fui para a espreguiçadeira e
esperei que a água secasse do meu corpo vendo o sol dando lugar para o céu
estrelado.

Enquanto fosse um meio para um fim, eu conseguiria lidar. Seria


discreto, saciaria meu desejo e voltaria a ser o homem da lei que sempre
almejei. Criminosos na cadeia, inocentes protegidos, essa era a equação que
me motivava a trabalhar.

Recolhi minhas coisas, senti o peso da caixa de veludo no bolso da


calça e a conferi enquanto ia para o meu quarto. Eu estava com fome, mas
deixaria para comer algo depois que acordasse na manhã seguinte.

Foi uma boa escolha, a aliança de noivado era digna da família


Sartori. Minha mãe teria algo para pensar além das obras de caridade e, quem
sabe, Mercy se interessasse e ficasse junto com ela naquele lado da família.

Quanto mais eu não tivesse tentação, melhor.

Tomei um banho e conferi o celular, checando as mensagens e


notícias. Fui surpreendido com o anúncio de noivado do governador Maxwell
Mazzi. Olhei para a foto, li a matéria e não consegui segurar o riso. Meu
amigo tinha feito, realmente, aquilo que tinha dito que iria fazer. Não que
estivesse em posição melhor para julgar. Minha situação era um desastre
iminente, praticamente uma granada sem pino.

Que explodissem apenas os planos dos criminosos. Meu amigo


político tinha boas intenções. Assim como eu, Max só estava desvirtuando do
caminho correto para um bem maior.

Chad>> Parabéns, noivo.

Max>> Você viu as notícias? Já está repercutindo favorável à


minha imagem. Também posso ser um homem de valores familiares
tradicionais.

Chad>> Quem é ela?

Max>> Alguém que precisava de uma mãozinha. Está tudo sob


controle. E a sua futura esposa?

Chad>> Está pronta para conhecer a família Sartori. Comprou


um vestido e está com o cabelo arrumado. Apresentável.

Max>> O caralho. Você já está de olho nela!

Chad>> Pelo contrário, seguirei o seu conselho de ser discreto.


Semana que vem, eu mudo o meu foco.
Max>> Temos a despedida de solteiro, aguardarei o convite.

Chad>> Merda. Eu nem pensei nisso.

Max>> Padrinho, você organiza a minha, eu faço a sua.

Chad>> Está sabendo demais sobre os trâmites de uma festa


matrimonial. Eu pesquisei e não dei conta de memorizar tudo o que será
necessário.

Max>> Eu só guardei a parte importante. Seja um bom


estrategista e alcance o objetivo. Festa e prazer, na medida.

Claro, as ideias mais perversas vinham do meu amigo e eu adorava


todas elas. O único problema era que, ao invés de curtir sem restrições,
ultimamente só me vinha um peso nas costas e a culpa. Ter uma mulher,
mesmo que não precisasse dar satisfação, me fazia pisar no freio da
malandragem.

Para recordar o que eu era e gostava, peguei o controle da televisão e


busquei os vídeos e fotos das noitadas. Algumas pessoas me reconheciam,
mas tinham aquelas que me viam apenas como um homem que queria curtir e
aproveitavam o melhor de mim.

Fotos com mulheres, desconhecidos e beijando outras bocas


encheram a tela. Fui passando imagens, parando em algumas e me excitando
ao lembrar dos momentos que vivi.

Desprendi-me do casamento, da realidade e da ideologia que me


tornava juiz. Era apenas um jovem solteiro que aproveitava a vida.

Abaixei o volume quando um vídeo começou a tocar, era riso


mesclado a gemido. Quem estava filmando era a minha acompanhante da
noite, que depois me encaminhou para que nunca me esquecesse dela e da
trepada no canto mais escuro da boate.

Sem foco ou controle, a imagem se mantinha onde nos


conectávamos, meu pau entrando e saindo da boceta da mulher, depois para
quem estava ao redor. Ela gozou rápido e eu me mantive firme até que
alguém nos denunciou. Desapareci daquele lugar e nunca mais falei com a
mulher, mas tinha sido divertido.

Passei para o próximo. Era um vídeo na banheira de hidromassagem,


em que eu beijava a mulher enquanto ela quicava no meu colo. Não dava para
reconhecer nenhum dos dois, era apenas o seu corpo colado ao meu enquanto
eu sentia o mais alto grau de êxtase.

Fui me ajeitar na cama para me dar prazer, mas meu olhar caiu sobre
a caixa de veludo e a realidade voltou com força na minha mente. Eu não era
mais um homem livre no quesito sexo. Tinha planos de continuar com
encontros casuais, mas as provas não poderiam ser guardadas como eu
costumava fazer.

Não havia mais nenhuma graça em tem um arsenal de putaria


protagonizado por mim. Casamento. Respeito.

Em um acesso de raiva, apertei botões e fui até as configurações do


meu hd externo. A pasta exclusiva para essas imagens foi deletada
definitivamente. Peguei o celular, encontrei o mesmo repositório que tinha no
dispositivo e apaguei.

Não transaria com Mercedes, mas eu seria um homem decente ao


seu lado. Bem, o suficiente para que tivesse forças para prender os bandidos
envolvidos com seu pai. Então, ela poderia viver sem estar amarrada a mim e
eu... se sobrevivesse, voltaria a minha vida de sempre.

Dormi e tive pesadelos, novamente, com casamento, vestido de


noiva com sangue e atentados contra minha família. Acordei muito cedo e
mal-humorado, então fui para a academia do prédio para descarregar um
pouco da minha energia acumulada.

Minha mãe já tinha enviado uma mensagem, perguntando se sabia


de alguma restrição alimentar ou qual a preferência da minha acompanhante.
Nem respondi, tinha certeza de que Mercy era a pessoa mais sem frescura que
eu já tinha conhecido.

Encaminhei um texto para Melissa, para nos encontrarmos na


próxima semana, na terça-feira e ela me respondeu no mesmo instante,
dizendo que estava animada para repetirmos a dose.

Sem compromisso, com prazer. Apenas isso.

Voltei para meu apartamento e passei direto pela cozinha, mesmo


sabendo que Mercedes estava por lá. Eu ainda não tinha melhorado minha
irritação. Ter rompido com costumes de um homem solteiro me tiraram o
equilíbrio.

Tudo estava passando tão rápido, ao mesmo tempo que devagar. Só


queria pular para depois daquela reunião familiar e voltar a trabalhar, com
muitas audiências e processos para focar.

Eu só tinha me esquecido que, depois de assumir um compromisso


oficialmente, a nossa vida mudava e nos engolia como uma grande baleia
esfomeada.
Capítulo 18

Queria entender o que estava acontecendo com Marcelo, mas ele


parecia ter se fechado como uma concha. Para abrir, teria que usar a força ou
quebrá-la, resumindo, eu continuaria inerte.

Dentro de um carro diferente daquele que Chad usava para trabalhar,


seguimos para a casa da família Sartori, tento Zander nos acompanhando,
vindo atrás em seu próprio veículo.

Minhas mãos suavam e nem conseguia encarar o rabugento juiz em


sua roupa casual chique. Eu me sentia linda, usando um vestido e sapatos que
eu nunca achei que poderia comprar. Deixei a bolsa de lado e só estava com o
celular e um documento, em um bolso escondido da minha roupa.

Mas tudo tinha sido em vão, porque o homem do meu lado parecia
estar indo em direção a forca.

— Obrigada — murmurei acanhada, numa tentativa de começar um


diálogo. Ao invés de me responder, ele ligou o som e deixou a música me
impedir de conversar.

Soltei o ar com força e cruzei os braços. Que ótimo! Como eu


conseguiria fingir que tínhamos algo se Marcelo estava dificultando a nossa
vida?
“Porque eu não quero sua piedade

Eu não quero sua piedade, não, não

Não hesite, dê para mim agora

Eu não quero sua piedade”

Zayde Wolf – No Mercy

— Ah, é preciso piedade — murmurou sério.

Então, ele começou a rir sem nenhuma explicação. Parecia que tinha
saído um peso dos seus ombros. O homem estava tão desequilibrado quanto o
meu próprio coração. Entendi que tudo tinha a ver com o meu apelido,
Mercy, piedade.

— Você é louco — resmunguei não achando graça e ele riu um


pouco mais. — Parece que vai para o abatedouro. Pensei que sua família
fosse normal.

— Bem, depende do ponto de vista. — Virou o volante e quando um


enorme sobrado surgiu no nosso campo de visão, sua mão tocou meu joelho.
— Só precisava de um tempo, já estou melhor.

— Fiz algo de errado? — questionei tensa, sua mão no meu corpo


fazia pulsar mais de uma parte em mim.

— Nada, eu que sou um babaca mesmo. — Soltou o ar, alisou minha


pele e segurou o volante ao parar na frente do portão. — É por você esse
casamento, mas, também, para que eu consiga fazer justiça. Obrigado.

Eu não deveria querer que ele só pensasse em me proteger, mas era


isso que eu sentia. Por mais que eu estivesse feliz em poder ajudar a capturar
os bandidos, ter um homem como aquele se sacrificando por mim me fazia
sentir... valorizada. Querida. Amada.

Oh, céus, estava me apaixonando e nem o tinha beijado ainda.

Um homem uniformizado de preto se aproximou e Chad se


apresentou bem como autorizou a entrada de Zander na casa. Não achava que
aquele lugar precisaria de mais olhos cuidadosos além dos que já tinha, mas
não cabia a mim julgar, esse mundo era novo para mim.

Ele parou o carro atrás de outros que eu nem sabia qual era a marca.
Saí do veículo com as pernas bambas e a mão suada, minha confiança tinha
evaporado de mim.

Para piorar – ou melhorar –, Chad veio para o meu lado, abraçou a


minha cintura e nos conduziu para a porta de entrada, como um casal de
verdade faria. Era o momento de entrar no personagem.

— Relaxa, Mercy. Vai dar tudo certo, nós estamos juntos nessa. —
Beijou minha testa e eu quase falei para que parasse com tanto carinho, pois
não estava acostumada.

Uma senhora sorridente, com olhar curioso e presença marcante,


apareceu na nossa frente. Meu coração começou a acelerar, sabia que estava
sorrindo forçado, ainda mais quando o olhar dela encontrou o meu.
— Oi, mãe — Chad a cumprimentou e me soltou. Minhas mãos
buscaram contato para que não saísse do meu lado, mas ele se distanciou e eu
disfarcei ficando com as mãos na minha frente. — Essa é Mercedes.

— Oi, senhora Sartori — cumprimentei feliz de não ter gaguejado


enquanto os dois se abraçavam. Quem sabe, eu passasse despercebida.

— Que nome mais lindo. É mexicana? — Ela veio na minha direção


e me puxou para um abraço, notei que Chad estava se divertindo com meu
desconforto. O lado brincalhão era uma novidade.

— Não, sou americana. Meu nome é em homenagem a uma música


que minha mãe ouvia muito quando criança, a favorita do meu avô. — Tentei
me afastar, mas a senhora segurou nos meus braços e me encarou, como se
quisesse conferir se a história era genuína ou não.

— Brasileira?

— É paraguaia, Mercedita. — Olhei para Marcelo em busca de


ajuda. Eu não saberia o que falar quando ela quisesse saber dos meus pais.

— Mãe, você está assustando minha noiva.

— Sua o quê? — Consegui ir para o lado de Chad para me refugiar


enquanto a senhora recebia a notícia. — Marcelo Sartori, como assim você
vai se casar?

— Era o que eu estava tentando falar para a senhora, mas não


acreditou em mim. — Um homem mais velho, com traços semelhantes aos de
Chad, apareceu sorridente e estendeu a mão na minha direção. — Mason,
muito prazer.

— Ah, olá — cumprimentei, me apertando ainda mais ao lado do


meu noivo. Estava apavorada, com tanto medo de pisar na bola, que até tinha
me esquecido que a intimidade com Chad era uma farsa.

— Não entre na conversa agora, Mason. Casamento? E você me


diria isso quando? — Dona Rosi colocou as mãos na cintura e enfrentou o
filho, que parecia despreocupado me segurando próximo.

— Ah! Existe uma luz no fim do túnel. — Um senhor com cabelos


grisalhos e rugas dos lados dos olhos se aproximou beijando o rosto da
senhora Sartori. — Sou Marco. Muito prazer, senhorita...

— Smith. Mas pode me chamar de Mercy ou Mercedes. — Estendi a


mão quando ele o fez. Deduzi que seria o senhor Sartori.

— MS de um lado, MS do outro. O que é isso, uma combinação que


não estou sabendo? — Outro homem apareceu, com os cabelos espetados e
sorriso fácil. Tirou minha mão do aperto do pai, me puxou e girou meu corpo.
— Ela poderia ser modelo fotográfico da minha nova coleção da ERW.

— Você é o Ethan! — reconheci animada. Não sabia explicar, mas


era mais fácil falar com ele do que com todos os outros.

— Sou inesquecível, irmão. — Ele piscou um olho e Chad me puxou


para a sua frente e me abraçou por trás. — Quem diria que o solteiro convicto
Marcelo Sartori seria o primeiro a se casar.

— Falou o mais santo de todos — Marcelo resmungou me virando


para os pais.

— Confesso que acreditei que Ryder apareceria por aqui com uma
mulher grávida e, então, um casamento aconteceria. — Ethan era irreverente
e alto astral.

— Por isso você não é vidente, apesar de estar no emprego errado —


Mason falou seco e percebi que havia um assunto mal resolvido entre eles.

— Vocês não vão brigar hoje, na frente da minha nora. — Dona


Rosi me tirou da jaula protetora dos braços de Marcelo e afugentou os outros
homens. — Vão para o fundo. Vou mostrar a casa e apresentar Juliet para
Mercy.

— Please have mercy on me, Take it easy on my heart…

Ethan começou a cantar Mercy do cantor Shawn Mendes e meu rosto


esquentou. Marcelo começou a reclamar, Mason acompanhou o irmão e não
consegui descobrir o que aconteceu entre eles, porque a minha sogra estava
me arrastando para o andar de cima da casa.

— Mercedes Smith. Como vocês se conheceram? Por que nunca


apareceu em casa apenas como namorada? Só quando vocês já... — Pegou na
minha mão e apertou meu anelar. — Onde está a aliança desse dedo?

— Eu... é...

— Não me diga que estão morando juntos? — Arregalei meus olhos


e ela abriu a porta do primeiro cômodo do andar de cima. — Vou ter uma
conversinha com Marcelo. Parece que não ouviu nada do que eu ensinei
sobre formar uma família.

— Está tudo bem, senhora Sartori.

— Rosi, querida. — Estendeu a mão e indicou o cômodo. — Esse é


o quarto do meu filho caçula, Ryder. Está em um momento sabático, ele
gosta de viajar.

— Bonito — murmurei sentindo que estava sendo conduzida por


uma locomotiva acelerada.

Ela me mostrou outros cômodos, como os quartos do Ethan, Marcelo


e Mason, além do quarto de visita. Apesar deles não morarem mais naquela
casa, dona Rosi fazia questão de manter tudo ajeitado e do jeito que eles
deixaram, para quando aparecessem. O mais velho era o que mais
frequentava a residência.

— Você tem um apartamento com meu filho, mas terá um canto aqui
comigo também — foi sua fala final antes de me puxar para o andar de baixo,
tagarelando sobre a época em que a casa foi construída e os filhos eram
apenas crianças.

A cada memória compartilhada, uma estaca era cravada no meu


coração, por conta da farsa que estava participando. Perversa, esse era o
adjetivo que me descrevia e me deu vontade de me entregar para os bandidos
só para não iludir essa mulher maravilhosa.
Capítulo 19

— Está tudo bem? — Chad perguntou baixo no meu ouvido, pela


quinta vez. Ele estava sentado ao meu lado no grande banco de madeira,
aproveitou que todos pareciam envolvidos demais com o almoço e não
prestavam atenção em nós para me questionar.

— Depois falo sobre isso — resmunguei em derrota, depois de dizer


várias vezes que não havia nada.

Ele me puxou um pouco mais para o seu lado e quase me sentei no


seu colo, para me esconder do olhar de todos. Mason, o sério, demonstrava
com clareza a sua desconfiança comigo. Ethan, por outro lado, admirava com
satisfação a minha interação.

Não sei como, mas Marcelo conseguiu desviar o assunto sobre o


nosso relacionamento para o trabalho e não precisei mentir ainda mais sobre
como nos conhecemos. Nada que fosse dito teria sustentação, então era
melhor que não soubessem e ponto.

— Filho, você já comprou as alianças? — Senhor Sartori mudou a


direção da conversa. Quando achava que tudo estava melhorando, a onda de
choque voltava com força.

— Sim, pai. Tinha deixado para trocarmos aqui. — Chad tirou uma
caixa de dentro do bolso da calça e a abriu. Arregalei meus olhos pela beleza.
Dona Rosi soou admirada e Ethan bateu palmas quando foi exposto o anel.
— Ele não decepciona. Só falta aprender a jogar direito — o irmão
mais novo zombou.

— Cale a boca, eu sou o melhor. — Chad pegou o anel com um belo


solitário em cima, colocou no meu dedo e nem olhou nos meus olhos.

— Ah, não, meu filho. Eu preciso tirar uma foto decente desse
momento. — Dona Rosi se levantou, pegou o celular e fez um movimento
com a mão. — Faça de novo. Mercy, fica de pé e você ajoelhado, Marcelo.

— Mãe! — meu futuro marido reclamou e os dois irmãos se


levantaram em prol de fazer com que o irmão fizesse a vontade da mãe.

Senhor Sartori ficou ao lado da esposa, sorrindo para toda aquela


encenação – literalmente! Levantei-me rendida aos apelos. Chad tinha um
joelho no chão e a outra perna dobrada.

Minhas mãos tremiam e meu corpo estava sem força, mas encarei o
homem que estava se submetendo a passar por isso para me proteger. Forçou
o sorriso demonstrando o quanto estava incomodado, ia pegar na minha mão,
mas Ethan o interrompeu:

— Ninguém ouviu o pedido oficial. Se foi na cama, bêbados ou na


sala do seu apartamento, não interessa, vai ter que repetir, mas com o filtro de
classificação livre. — Ele tirou o celular do bolso e fechei a cara para aquela
exigência. Ele estava exagerando. — O que foi, cunhadinha? Se ele quer se
casar com você, não se incomodará com isso. Vai rir dos vídeos quando
revermos dez anos depois.

— Mercy — Chad me chamou atenção e olhei para baixo. —


Mercedes. — Respirou fundo e o acompanhei. As lágrimas que escorreram
dos meus olhos não foram de amor, mas de tristeza por vê-lo submisso aquele
teatro. — Quer se casar comigo?

— Porra! Nem uma sentença antes de bater o martelo? — Mason


resmungou e os pais o repreenderam.

Eu só tinha olhos para aquele homem. Afirmei com a cabeça


enquanto ele colocava a aliança. Para mim, era a realização de um sonho, do
jeito que eu tanto esperei, mas pelas motivações erradas.

— Sim — murmurei como um agradecimento quando ele se


levantou e me abraçou. Todos aplaudiram, Marcelo me levantou e eu ri, para
que a tristeza saísse das minhas feições antes de me dominar. — Ah, Chad...

Ele me soltou, peguei a aliança que estava na caixinha e coloquei no


dedo dele, estávamos a um passo de sermos uma família, oficialmente.

— Deveria ter tido uma festa. Poderia aproveitar para fazer um


desfile com a minha nova coleção. — Ethan apareceu no meu campo de visão
com o celular na mão. — Agora, o beijo.

— Colocarei esse retrato no nosso mural, meu filho — Dona Rosi


comentou.

— Você adora fotos — Mason zombou.

— Vamos voltar a almoçar — Chad cortou com seriedade e eu sabia,


que se eu não tomasse a iniciativa, ele não o faria em respeito a mim. Todos
esperavam essa interação, não tinha como ficar sem nos beijar.
Dei um passo para frente, segurei no seu rosto e o trouxe para mim.
Uni nossos lábios, apenas para acalmar o pedido da sua família. Era uma
farsa e eu estava dentro do papel.

O que deveria ser apenas um breve momento se tornou mais do que


isso. Chad abriu os lábios e me trouxe para mais próximo, colocou sua língua
dentro da minha boca e me fez sucumbir ao seu sabor.

Ele era maravilhoso.

Meus braços envolveram seu pescoço e o acompanhei na sedução,


até que aplausos, risos e palmas estouraram a nossa bolha e Chad
interrompeu o nosso beijo sem tirar os olhos de mim.

Segurei seus ombros para me equilibrar. Eu respirava com


dificuldade. Olhei em seus olhos, mas sua expressão era indecifrável e seu
silêncio fez meu coração apertar. Não tinha como fingir um casamento sem
trocar alguns beijos na frente das pessoas. Eu não estava iludida que nunca
nos tocaríamos de forma mais íntima, na verdade, eu andava sonhando e
querendo mais.

— Meu irmão, até parece que esse foi o primeiro beijo de vocês —
Ethan falou ao nosso lado. Meu rosto esquentou e busquei meus sogros, mas
estavam os dois olhando para a tela do celular. Não sabia dizer se era melhor
ou pior não ter o escrutínio deles.

— Bem, é isso. Pedido feito, agora eu vou bem ali e já volto. —


Chad se afastou de nós e Mason foi atrás. O sentimento de abandono foi
inevitável.
— Qual é o número do seu celular? — Olhei para o meu cunhado,
que sorria, ardiloso. — Vamos manter contato. Quero enviar um kit especial
de núpcias para o casal. Você vai adorar e meu irmão irá aproveitar, claro. As
lingeries da ERW estão entre as três mais preferidas das mulheres no país.

— Não se incomode com isso, por favor. — Voltei a me sentar.


Queria poder fugir e ficar pensando sobre o quanto tinha sido bom o beijo em
Chad, mas aquela reunião familiar estava tirando o meu foco.

— Mandei todas as fotos que tirei para o Marcelo. Vocês formam


um lindo casal. — Dona Rosi se sentou junto do marido e suspirou. — Achei
que ainda iria demorar mais tempo para que esse dia chegasse. De tanto que
pedi, chegou um casamento relâmpago. Como vocês se conheceram e por que
decidiram fazer isso sem um planejamento? Qual a pressa?

— Mãe, tem certeza de que a senhora quer a versão detalhada sobre


como conquistamos as mulheres? — Ainda bem que Ethan intercedeu e não
me deixou falar. — Vamos, cunhada. Seu número, todos eles. — O homem
espertalhão entregou o celular enquanto se sentava a minha frente.

— Não sei lidar com essas modernidades sem compromisso. Para


que um relacionamento dê certo, alguns valores tradicionais têm que se
manter, como por exemplo, respeito. Isso nunca sai de moda.

— Chad é um homem maravilhoso e protetor. Eu tenho sorte de


estar com ele, senhor e senhora Sartori. Muito obrigada por me aceitarem na
família. — Pressionei os lábios para não chorar, encarei com carinho os
sogros que eu queria ter, de verdade e peguei o celular de Ethan.
Digitei meu número e enviei uma mensagem. Peguei meu aparelho e
respondi para confirmar. O jeito era relaxar e aceitar os presentes, por mais
que não houvesse necessidade para tanto.

— Quando pretendem se casar? — senhor Sartori perguntou.

— Breve. Apenas para a família, se não se importarem. — Tentei


relembrar o combinado com Marcelo. — Eu... perdi o contato com os meus
pais. Da minha parte, tenho apenas duas amigas para convidar.

— Não se preocupe, nós compensaremos com nossos amigos e


associados. — Mason apareceu e se sentou ao meu lado com intimidação.
Seu olhar era furioso na minha direção. — E como estaremos bancando o
casamento, será do nosso jeito.

— Pare com isso, Mason — dona Rosi o repreendeu. — É o sonho


de toda mulher decidir como será a sua festa. Não importa quem está
pagando, os noivos vão escolher até a cor da toalha na mesa.

— Poderíamos fazer no Hotel Reynalds, aquele salão de festa


comportou um desfile com quase cinco mil pessoas — Ethan comentou
olhando para todos com tranquilidade. Eu queria ter um pedaço da paz que
aquele homem tinha.

— Ou, apenas em um restaurante, já que quer a presença apenas da


família. Ryan viria, mãe? — Mason perguntou com arrogância. Ele estava
gerando um clima ruim na reunião de família e eu queria fugir.

— Vou ao banheiro. Onde fica? — Levantei-me procurando alguma


porta do lado de fora, mas dona Rosi me acompanhou e me tirou de perto dos
homens.

— Vá procurar seu noivo, Mercy. — Ela entrou na casa comigo e


indicou a escada central. — Sei que tem algo acontecendo, mas também vejo
que não é assunto nosso. Fiquem bem e se resolvam. — Beijou minha
bochecha. — O que precisar, pode contar comigo. Qualquer coisa.

— Obrigada.

Observei-a se afastar e fui em busca de Chad, que era o meu


verdadeiro objetivo. Subi os degraus com cautela e fui direto no seu quarto.
Lá estava o juiz, segundo filho de Marco e Rosi Sartori, olhando pela janela,
com as mãos no bolso e com uma postura reflexiva.

Ao invés de criar uma barreira emocional para não me envolver além


do que já estava, me despi de todas as restrições e fui até ele. O beijo... eu
queria mais do que ele poderia me dar.
Capítulo 20

Senti braços rodeando a minha cintura e me assustei. Era Mercedes


se aconchegando nas minhas costas e o primeiro pensamento que tive foi tirá-
la de perto. O repúdio era pela vontade que eu tinha de começar algo que não
estava disposto a assumir as consequências. Ela estava confundindo as coisas
e eu estava caminhando para deixá-la cada vez mais bagunçada.

Olhando para o jardim da minha mãe e relembrando grande parte da


minha infância e juventude que passei naquele quarto, com aquela vista, não
reagi, só me mantive parado.

Aquele beijo me fez mudar todas as prioridades estipuladas no


contrato. Não que eu acreditasse na paixão, que poderia ter uma vida com
Mercedes, mas algo em mim queria testar. Será que aproveitar o momento era
tão errado quanto forjar uma situação?

Senti um beijo sendo dado nas minhas costas e suspirei lembrando


que Mason queria respostas verdadeiras e eu lhe dei uma: não posso falar. Ele
teria que aceitar a minha ação e conviver com as minhas escolhas, sem se
intrometer. Irmão mais velho de quatro, ele sempre se achou o segundo no
comando da família. A questão era que eu também era adulto e não precisava
de ninguém bancando o responsável sobre mim.

— Quer ir embora? — ela perguntou baixo e saí do meu torpor para


virar e ficar de frente para ela.
— Aconteceu algo?

— Eu quem pergunto. — Franziu a testa chateada. — Sobre o


beijo...

— Sinto muito, mas não tinha outra forma de ser. Eu me excedi, vou
tentar não me empolgar. Você sabe que...

— Eu gostei, Chad. — Segurou meu rosto novamente e meu coração


acelerou, empolgado por poder repetir a encenação na frente da minha
família. — Só queria que não tivéssemos sido interrompidos.

O ato impensado já tinha sido concretizado, nada mais me impedia


de continuar. Acabei com a distância entre as nossas bocas e a beijei, sem
reservas e com todo o desejo que eu tinha. Abracei sua cintura e a ergui,
aprofundando o beijo e sentindo o sabor da sua língua.

Caminhei sem que minhas mãos parassem de explorá-la, cheguei até


a cama e a coloquei deitada para facilitar o quanto nossos corpos pareciam
implorar por mais. Meus dedos tocaram a lateral do seu corpo, encontrou a
barra do seu vestido e um banho de água fria me freou.

Lembrei dela me mostrando a roupa nova, do contrato assinado, os


termos estipulados e sua inocência transbordando das suas ações. Por mais
que ela fosse adulta e responsável pelos seus atos, eu era aquele que tinha o
poder de controlar. Por uma questão de bom senso, eu concluí o beijo, deixei
um último selinho nos seus lábios e me afastei.

Relaxada e tranquila, sua boca brilhava de desejo. Aquele sorriso


ainda iria me fazer ajoelhar de forma voluntária.
— Acho que não me importo de ser beijada assim, sempre. — Ela se
sentou na cama e eu a degustei em meus próprios lábios. — Chad, eu...

— Também gostei, mas acho que poderemos perder o objetivo


principal desse casamento. — Coloquei as mãos na cintura para me controlar
e não continuar de onde paramos. — Você é virgem, Mercy?

— Não é o primeiro homem que eu beijo. — Ajeitou o vestido e


desviou o olhar, me respondendo o que eu realmente queria saber. —
Teremos que conviver, você é um homem e eu sou uma mulher.

— Só funcionaria, se você soubesse o que é sexo casual. — Busquei


seu olhar e vi que ela estava morrendo de vergonha. — Mercy, o casamento é
para te proteger, não te transformar na minha escrava particular. Assim, eles
vencerão.

— Diz isso como se estivesse me forçando a uma situação que eu


não concordei. Preferia estar no país da minha mãe do que aqui, mas, acima
de tudo, ficar viva. Eu aceitei, assinei os papéis e estou fazendo a minha
parte. Foram apenas beijos, Chad. — Ela empinou o nariz, orgulhosa. — Foi
tão ruim assim para não querer repetir?

— Nós quase transamos em cima da minha cama.

Ela engoliu em seco, mas não mudou a postura. Tentei intimidá-la,


mas eu acreditava que, qualquer coisa que eu dissesse a favor de nos envolver
intimamente, ela iria aceitar.

Prudência e sensatez, eu não era guiado pela emoção. Provas e fatos,


nada além do que está apresentado no processo.
— Quer ir embora? — perguntei exausto.

— Apenas se você quiser. — Abaixou os ombros e soltou o ar,


derrotada. — Eu vim aqui para saber o que faço, se devo voltar e continuar a
confraternizar com sua família ou se vamos voltar para o seu apartamento.
Sua mãe quer saber mais sobre o casamento e estou com medo de falar algo
errado.

— Será como você quiser.

— Tudo bem. — Alisou o vestido, olhou ao redor e foi para o


banheiro. — Já volto.

— Eu te espero.

Caminhei de um lado para o outro, angustiado com o andar da


situação. Se eu continuasse me encontrando com ela, tendo-a de fácil acesso
no meu apartamento, nós transaríamos. Então, ela estaria vivendo comigo
como uma esposa de verdade, eu conseguiria destruir os inimigos e fim. Com
um contrato, eu garantia os termos do relacionamento. Sem ele, não
conseguiria prever o futuro como eu gostaria.

Ela saiu do banheiro, descemos a escada de mãos dadas e minha mãe


me interceptou antes de sairmos para a área de lazer no fundo da casa. Como
Mercy parecia chateada e exibia um sorriso forçado, ela nem se preocupou
em ficar comigo, me deixou com minha mãe e foi até meu pai e irmãos sem
protestar.

— Filho, tem algo errado nisso tudo — falou baixo me empurrando


para a sala de estar, para ficarmos mais afastados dos outros.
— Sim, mãe. Estou longe da minha futura esposa.

— Onde conheceu essa menina? Desde quando você gosta de


mulheres tão mais jovens do que você?

— Falando assim, me sinto como se tivesse cinquenta e ela


dezenove. — Cruzei os braços e encarei dona Rosi. — Preciso da sua ajuda,
mãe. Você é boa em organizar festas e com projetos de caridade. Ajude
Mercy para que o casamento seja realizado daqui um mês ou menos.

— Ah, pelo amor de Deus, você quer um milagre, não um


cerimonial. — Ela bateu as mãos na lateral do corpo com indignação e
mantive minha postura fechada. — Sou sua mãe, pode me falar.

— Éramos amigos.

— E, então, se apaixonaram. De um dia para o outro, como nos


filmes.

— Viu, a senhora sabe tudo.

— Vai se casar com quem acabou de conhecer? E quem são os pais


dela, que não tem nem contato? Essa história está muito estranha, filho.

— O pai é americano e a mãe mora em outro país, estão brigados. A


gente se casa com a pessoa, não com a família dela.

— Está enganado, Marcelo. Nós nos apaixonamos pelo indivíduo,


mas a união, é de família para com família. Não precisamos ser iguais, mas
temos que nos respeitar.
— Acredite, mãe. Estou despendendo uma grande quantidade de
energia para que isso aconteça. Não vou ceder à tentação, mas honrar.

— Entendi! — Ela deu um passo para trás e colocou as mãos na


boca, chocada. — Ela é virgem.

— Sim. — Franzi a testa.

— Você vai se casar com ela pura, por isso é tão difícil dar um beijo.
— Não tive reação, porque a dedução da minha mãe foi genial. Eu precisava
de um motivo para ficar longe dela e dona Rosi me deu um. — Não sei como
você conseguirá, meu filho, mas faço muito gosto de que você respeite as
vontades da sua noiva. Seu pai foi respeitoso assim comigo, também.

— Que bom, tenho a quem puxar — ironizei e me afastei da minha


mãe, que suspirava, emocionada.

Voltamos para a parte de fora. Mercy estava mais entrosada com


Ethan e tendo Mason sério ao seu lado. Coloquei-me entre os dois no banco,
mas minha mulher nem me encarou quando cheguei e continuou conversando
com o patinho feio da família sobre roupas e acessórios.

Iniciei um assunto sobre trabalho, que entreteria meu pai e irmão


mais velho e deixei os dois de lado. Nunca pensei que poderia sentir ciúmes,
muito menos que envolveria minha família no meio daquilo.

Antes do horário que normalmente voltava para casa, chamei Mercy


para irmos embora e ela não protestou. Foi se despedir da minha família e
deu um forte abraço nos meus pais e em Ethan.
— Vou te mandar mensagens, hein? — Meu irmão soltou-a e piscou
um olho para mim, ele estava me manipulando.

— Quero spoilers da próxima coleção — Mercy falou animada.


Virou-se e foi obrigada a se aproximar de Mason para uma despedida, ela
surpreendeu-nos com um abraço. O sério e chato da família ficou tão
desconsertado que nem nos acompanhou até o lado de fora.

— Então, semana que vem começaremos a organizar tudo. Já pedi


para minhas amigas fazerem as indicações de organizadoras de casamento.
Será um evento pequeno, mas cheio de glamour. — Minha mãe e Mercy se
abraçaram mais uma vez e puxei-a para ir até o carro. Zander já nos
aguardava no carro de trás.

— Está tudo bem? — perguntei para ela, que riu baixo enquanto
colocava o cinto de segurança.

— Tudo ótimo, querido. A partir de semana que vem, você estará


livre de mim. — Ela estava brava e iria aproveitar para que nos
distanciássemos emocionalmente – por mais que eu quisesse continuar com
os beijos e toques.

Preservar a vítima, precisava manter a minha palavra.


Capítulo 21

Enquanto eu mantive minha rotina de fim de semana, fazendo minha


atividade física e almoçando fora com alguns colegas de trabalho, Mercy se
trancou na sala de televisão e não saiu, nem mesmo quando estive por perto.

Meu carro ficaria pronto na segunda-feira, com isso Zander estaria à


disposição de Mercedes, para que pudesse resolver as questões do casamento
com a minha mãe. Tendo-a fora de casa, eu conseguiria ter o meu encontro
casual e romper os laços que estavam se formando entre nós.

Só poderíamos brincar de casal apaixonado se ela entendesse o jogo.


Eu era experiente e nunca a levaria para esse lado, pois iria me arrepender
amargamente.

O beijo foi bom, sua receptividade me excitou, mas não tínhamos


como evitar que ela se apaixonasse e eu não. Nem se fosse o contrário, se eu
finalmente encontrasse uma mulher que fosse especial, para que, na
conclusão do processo, ela seguisse com os planos de ir até a mãe no
Paraguai.

Para o bem geral do nosso coração, que mantivéssemos a encenação


até o final.

No fim do meu expediente na segunda-feira, confirmei com Zander a


sua localização e o tempo que levaria para chegar em casa. Ele estava com
meus pais e Mercy ficaria para o jantar, ou seja, tempo suficiente.
Busquei as últimas conversas no meu celular e digitei o que poderia
mudar o rumo dos meus sentimentos.

Chad>> Oie, Melissa. Tudo pronto para me encontrar?

Melissa>> Claro, baby. Estou quente te esperando confirmar.

Chad>> Vou deixar sua entrada autorizada. Dezoito horas,


venha para a piscina do meu apartamento, a escada fica ao fundo da sala
de estar.

Melissa>> Contando as horas.

Estranhei o uso da palavra, mas não me importei, já que faltavam


quarenta minutos para o horário combinado. Liguei para a portaria e deixei
autorizada a entrada dela no meu apartamento, era tempo de organizar o
terraço. Champanhe, frutas e camisinhas, era o suficiente para ter um bom
momento.

Minha mãe costumava fazer a janta às dezenove horas e permanecia


na mesa até as vinte e uma, com sobremesas e conversa. Teria de uma a duas
horas para o momento, nada daria errado.

Deixei-me na espreguiçadeira e fechei os olhos, apreciando a brisa


no meu corpo acariciar a culpa que estava me corroendo. Se fosse o contrário,
por mais que não tivesse nada com ela, eu ficaria chateado. Era para um bem
maior. Não estava seguindo os meus desejos, que tinha muito a ver com
Mercy debaixo de mim, gemendo e implorando por mais, mas a realidade.

Casamento de fachada não envolvia amor, mas um acordo racional


entre as partes. O coração era o terceiro elemento, ele não tinha voz sobre a
caneta. Ou, pelo menos, esse era eu tentando me convencer.

Acabei cochilando. Vestia apenas short sem cueca, para facilitar a


preliminar. Despertei e me sentei depressa quando ouvi meu apelido na voz
errada – ou seria na certa?

— Chad? — Mercy estava no topo da escada, agarrada a parede. Ela


tinha medo do escuro e, sem as luzes artificiais ligadas, tínhamos apenas a
lua. Frágil, ela despertava o meu lado protetor em níveis estratosféricos. —
Eh... eu... está tudo bem? Podemos conversar? Eu queria me desculpar.

— Por quê? — inquiri indignado, com o coração acelerado e sem


saber como reagir. Olhei em direção a mesa, com a bebida e as outras coisas
que separei. Onde estava Melissa? Não importava, porque a mulher que não
saiu dos meus pensamentos estava querendo se redimir de algo que eu fiz.

— Pode me ajudar, por favor? — a mulher implorou e rapidamente


me levantei e a puxei para os meus braços. Estava sem camisa e sua
respiração contra a minha pele começou a me deixar excitado.

Fomos até a espreguiçadeira com ela agarrada em mim, sentei-me


com as pernas abertas e a trouxe para ficar em cima da minha coxa. Ela
estava com um vestido novo, bonito e que combinava com ela.

Não protestou quando toquei seu joelho exposto e subi até um pouco
acima da metade da coxa. Ela suspirou e se agarrou no meu pescoço. As
batidas do seu coração poderiam ser ouvidas de tão rápido que estava.

Esqueci o convite feito, o encontro casual e o sexo que não me


satisfaria. Porra, era ela que eu queria beijar, sua pele que implorava para ser
tocada.

Não deveria ser com ela, mas meu corpo dizia que tinha que ser com
Mercy. Estava comprando uma passagem só de ida para o inferno, mas eu
estava feliz em ir, de forma consciente.

— Sei que estamos tendo apenas um casamento por contrato, mas eu


não consigo parar de pensar no nosso beijo — murmurou escondendo o rosto
de mim.

— Não deveria.

— Quero te beijar mais — sussurrou.

— Assim, eu não vou conseguir te proteger.

— Não é de você que eu tenho medo. — Afastou a cabeça e olhou


na direção da mesa. — Champanhe? Frutas? — Ela identificou minha má
intenção.

— Sim.

— Para mim? Então, você...

— Essa decisão é sua. Não tenho mais forças para nos impedir de
avançar os limites dos termos assinados.

— Quero você, Marcelo Sartori.


Mesmo na penumbra, conseguia ver o brilho de determinação nos
seus olhos. No meu colo, com aquela roupa, estava fácil de saciar a nossa
fome. Mas antes, eu tinha que me redimir:

— Preciso da sua piedade — fiz o trocadilho usando o seu apelido


de propósito. Deslizei minha mão para seu joelho e segui a direção contrária,
chegando mais próximo da sua virilha.

Ela tomou as rédeas do momento, montou em meu colo e beijou


minha boca com mais prazer do que na casa dos meus pais. Seu corpo se
esfregava em mim e a cabeça virava para que o encaixe das nossas bocas
fosse perfeito.

Não conseguiria parar agora que ela estava tão perfeita sobre mim.
Levantei a saia do seu vestido para sentir sua bunda, que estava exposta por
conta de uma calcinha fio dental. Gemi em apreço deslizando o dedo pela
costura e a contornando entre suas nádegas.

— Oh! — Mercy acuou, estremecendo por causa do meu toque mais


intimista.

— Diga para eu parar — ordenei e ela negou com a cabeça,


relaxando seu corpo.

— Você agindo com cautela me deixa mais confiante. Seja o homem


bom que você sempre disse que era.

— Para isso, eu preciso estar longe de você.

— Não, você vai me fazer esquecer o medo do escuro me dando


uma nova memória.

Voltou a me beijar, rebolou no meu colo com timidez e não dava


mais para esconder minha ereção, nem eu queria. Que se fodam todas as
implicações, eu iria aproveitar o momento.

A perfeição não combinava comigo, eu era aquele que analisava os


outros, estava no topo de um tribunal e não me permitia ser julgado.

Subi com as mãos pelas suas costas, cheguei na nuca e enredei meus
dedos no seu cabelo. Interrompi a nossa conexão para ter o mínimo de
dominância, puxei sua cabeça para trás e deixei beijos pelo seu pescoço, até
que encontrei um ponto sensível e suguei.

Ela gemeu e remexeu no meu colo mais uma vez. Era para essa
transa acontecer em uma cama, não a céu aberto, em uma espreguiçadeira,
sem o romantismo adequado. Mercy merecia declaração de amor e palavras
perversas sussurradas em seu ouvido, talvez pétalas de rosas e música.

Ah, mas eu poderia improvisar.

Virei para que pudesse colocá-la deitada na espreguiçadeira, fiquei


entre suas pernas e fui subindo seu vestido aos poucos, para passá-lo pela
cabeça e braços. O conjunto de lingerie tinha a marca registrada ERW, com
renda e fitas nos lugares certos para atiçar a imaginação masculina.

Pensaria na amizade que os dois tinham em outro momento, porque,


naquele instante, meu pau tinha outros planos.

— Quer um gole de champanhe? — perguntei escorregando meu


dedo entre seus seios e seguindo para o umbigo, até a costura da sua calcinha.

— Estou nervosa, mas acho que quero ficar sóbria.

— A intenção não era te embebedar, Mercy. — Beijei sua barriga e


ela se arrepiou. — Talvez, uma fruta. — Levantei-me para pegar a travessa
com morango, uvas e cerejas. Também peguei o celular e iria por uma
playlist mais calma para nos embalar.

Peguei no talo de uma cereja, deslizei pelo seu corpo e levei para
meus lábios, ela respirava com dificuldade por causa da antecipação. Peguei
um morango, mergulhei no chocolate derretido – que já estava quase duro – e
coloquei na sua boca.

Ela mordeu e seus lábios se movimentando enquanto mastigava me


excitavam cada vez mais. Mordi o resto da fruta e inclinei para frente com a
intenção de roubar um beijo cheio de sabor.

Como se soubesse a minha intenção, ela não resistiu ou me segurou,


deixou que eu conduzisse a sedução até que ela não conseguisse mais se
comportar como uma boa garota.

Estava prestes a despertar uma mulher malvada que me teria


comendo em suas mãos.
Capítulo 22

Ele observava cada reação. Se meus olhos se arregalavam, quando a


respiração mudava de ritmo ou se me remexia; Chad estava atento e
provocava um pouco mais a cada fruta degustada.

Acabei voltando mais cedo para o apartamento, dispensando o jantar


de dona Rosi, porque meu peito estava apertado demais. Iria confessar para
Marcelo os meus sentimentos. Não importava se seria duradouro ou
provisório, eu queria ter a experiência real de estar em um casamento.

Como em toda união, se não déssemos certo, assim que os bandidos


fossem presos, assinaríamos o divórcio e eu ficaria com a minha poupança.
Mas, iludida como era, tinha esperanças de que nossa história de amor estava
prestes a começar.

Surpreendi-me quando ele se levantou e levou a vasilha de frutas


para longe. Tirou o short e ficou nu, com o pênis ereto e uma postura
imponente que me fez vibrar entre as pernas – se isso fosse realmente
possível.

Pegou o celular, colocou uma música para tocar e tocou meus pés.
As mãos alisaram minhas canelas e deslizaram até meu quadril. Segurou nas
laterais da calcinha branca e a tirou vagarosamente.
“Todos eles dizem que perdi a cabeça

Mas estou apenas tentando achar um caminho melhor

Porque em algum lugar neste mar de tolos

A verdade é que eles estão com medo por causa da sua coragem”

Halestorm – Bad Girl’s World

Passei o dia inteiro falando com pessoas e decidindo coisas de


casamento, mas eu só conseguia pensar que eu teria Marcelo Sartori como
marido e estávamos estranhos um com o outro.

Ethan cumpriu a promessa e entregou na casa da mãe uma sacola


gigantesca de itens da coleção noiva da sua marca. Escolhi a mais bonita e
ousada para colocar, além do vestido de lua de mel. Era um sonho e eu só
queria aproveitar sem culpa, mas, para isso, Chad tinha que estar na mesma
sintonia que a minha.

Abriu minhas pernas e ficou de bruços, para colocar a boca no meu


sexo. Segurei a respiração e revirei os olhos quando sua língua tocou o ponto
mais sensível, me fazendo gemer alto. Ele não me deixou recuperar o fôlego,
continuou com o estímulo, me levando a lugares que nunca tinha visitado. O
êxtase além da luxúria, a imaginação ampliada pelo toque dos seus lábios na
minha intimidade. Marcelo só parou de me chupar quando meu corpo
estremeceu descontrolado.

Tinha encontrado o ápice. Minhas mãos seguraram na lateral da


espreguiçadeira e fechei minhas pernas para tentar aliviar a dor mais
prazerosa que eu já tinha sentido na vida.

Nem mesmo nos meus sonhos mais quentes, imaginaria que algo
fosse tão bom quanto a língua de Marcelo.

Subiu em meu corpo deixando beijos molhados. Quando chegou nos


meus seios, curvei meu tronco para cima e ele tirou meu sutiã para sugar um,
depois o outro. Sua pressa era tão lenta quanto a minha recuperação do
orgasmo.

Continuava excitada depois do meu clímax, era possível fazer como


nos filmes que eu via. Achava que o sexo terminava com os dois no ápice,
mas, pelo visto, eu não sabia nada sobre o assunto. Claro, eu ainda era
virgem.

Apreciei cada toque dos seus dedos e da língua abusada, as


sensações iam além dos limites que eu imaginava. Ele me beijava e seu corpo
em cima do meu era como um cobertor de segurança. Eu nem mais lembrava
do medo do escuro, porque tinha ele ao meu lado.

Não era ele quem tinha me curado, mas eu que, finalmente, olhei
para a escuridão e vi o lado bom. As estrelas não eram monstros que
poderiam me atacar a qualquer momento, mas luzes que refletiam o brilho do
nosso amor.

Sua boca encontrou a minha e seu membro se esfregou entre as


minhas pernas. Enlacei-o com braços e pernas, queria que se fundisse a mim
e nunca mais me deixasse. Ele era meu, por aquele momento único, minha
primeira vez. Marcelo estava comigo de forma voluntária e não pela
obrigação de um contrato.

— Vai doer, Mercy — ele murmurou no meu ouvido e beijou meu


pescoço. — Ainda quer continuar?

— Por que parar? — perguntei assustada, ele se ergueu com o apoio


das mãos, mas deixou o quadril continuar a tortura sexual.

— Estou te dando essa opção. Quando quiser interromper, será


difícil, mas eu obedecerei.

— Então, decido por continuarmos até o fim.

Ficamos alguns segundos nos encarando, então ele se apoiou nas


pernas dobradas e pegou uma embalagem de camisinha. Era a primeira vez
que via isso acontecer ao vivo, por isso nem pisquei enquanto ele a ajeitava
no seu pênis.

Dobrou minhas pernas e se posicionou na minha vagina. Retesei por


reflexo, porque era uma invasão bem-vinda, mas desconhecida. Ele saiu e
entrou aos poucos, segurando meus joelhos e sendo cuidadoso.

Fiz uma careta quando senti uma ardência e cogitei interromper, mas
ele me soltou para cobrir meu corpo com o seu. Parou se se movimentar,
beijou minha boca e relaxei um pouco mais antes dele voltar a entrar e sair.

— Dá para aguentar? — perguntou acelerando as investidas. Eu


estava sem fôlego para responder e só abri a boca em busca de mais ar para
os meus pulmões. — Como está, Mercy?
— Vai, continua — incentivei, sem forças. Fechei os olhos e me
mantive concentrada no seu ofego, seus gemidos e na música que tocava no
momento.

“Agora, você sabe que sinto falta do seu corpo

Então eu não vou beijar ninguém até você voltar para casa

E eu juro, na próxima vez que eu te abraçar

Eu não vou deixar você ir a lugar nenhum

Você nunca estará sozinha, eu nunca vou deixar você ir”

Nick Jonas – Right Now (feat. Robin Schulz)

Eu não iria querer nenhum outro homem que não fosse o meu futuro
marido para estar naquela posição. Era por proteção, mas, também, havia
cuidado e dedicação ao compartilharmos a nossa intimidade. Casei-me por
obrigação, mas meu amor por Chad estava fluindo sem nenhuma resistência.

Aos poucos, a dor se mesclou com o prazer e os estímulos positivos


se sobrepuseram aos negativos. Ele gemia e metia mais fundo, eu
acompanhava seus movimentos e o deixava livre para nos conduzir ao céu.

Seu corpo estremeceu quando meus dedos apertaram os músculos


das suas costas. Ele não precisava dizer nada, pois senti seu membro pulsar
dentro de mim. Gozou tão forte quanto eu tinha feito na sua boca.
Relaxou em cima de mim e eu acariciei sua nuca e cabelo. Chad era
um bom amante e eu já imaginava quando poderíamos fazer novamente.

Beijou meus lábios e sorriu. Eu deveria estar mais radiante do que


nunca.

— Está bem? — Beijou meu queixo e os lábios. — Quer aproveitar


mais na piscina?

— Acho que não consigo transar novamente, está ardendo um pouco


— falei, constrangida e ele saiu de cima de mim. Olhei para meu sexo e achei
que teria uma grande quantidade de sangue, mas vi apenas um traço. — Não
me deixe sozinha.

— Vou só tirar a camisinha. E é apenas um mergulho. —


Demonstrou tranquilidade. Aquela postura engessada dele tinha dado lugar
para uma tão livre quanto a do irmão.

— Pelados? Devo ter alguma peça de biquíni no meio das coisas que
trouxe comigo, presentes do Ethan. — Franzi o cenho, mas ele me pegou no
colo e dei um gritinho animado quando nos jogou dentro da água. — Seu
louco! — falei rindo. Ele também estava se divertindo.

— Viu meu irmão? O que ele está aprontando? — Tirou o meu


cabelo do rosto e tentou disfarçar o ciúme.

— Nada. Ethan é um querido e foi o único que não quis saber do


meu passado tenebroso. Simplesmente me aceitou como a cunhadinha, como
está me chamando.
— Ele tem fama de ter muitas amigas.

— Não confia nele ou em mim? — Ele me pegou no colo e começou


a andar pela piscina, sem me encarar. — Quero dizer, nós...

— Estou exagerando, sinto muito. Vamos mudar de foco. — Trocou


um olhar comigo e continuou o passeio pela água. — Como foi seu dia?

— Bom. Decidimos o cerimonial e ganhei um enxoval de núpcias.


Confesso que me incomoda escolher tudo e não te pedir opinião. — Abracei
seu pescoço com carinho. — Sua mãe é a melhor sogra do mundo.

— Ela é. — Suspirou olhando para o céu. — Faça do seu jeito, tenho


certeza de que vou gostar. Mas, se quiser me mandar mensagens ou combinar
outros horários, dou um jeito de participar.

— Obrigada. Eu prefiro assim, Chad.

Ele nos mergulhou, segurei a respiração e soltei com uma


exclamação quando emergiu. Marcelo riu e fez de novo, acabamos brincando
por um tempo na piscina antes de encerrarmos o nosso momento.

Comigo ainda nos seus braços, depois de uma tentativa frustrada de


nos enxugar com a única toalha visível, ele desceu a escada e nos acomodou
do jeito que estávamos na sua cama.

Ainda bem que não tinha mobiliado o outro cômodo, eu já me sentia


em casa no seu quarto, deitada na – por que não, nossa – cama.
Capítulo 23

— Eu já vou trabalhar. — Senti um beijo sendo dado na minha testa,


murmurei e virei naquela cama maravilhosa para dormir mais um pouco.

— Posso continuar dormindo?

— Claro, o apartamento é seu também.

— Acho que vou ficar mal acostumada.

— Descanse, porque eu voltarei sedento para te sentir mais uma vez.

A noite mais especial da minha vida tinha sido maravilhosa e não


encontrava defeito para me desencantar. Chad contribuiu para que eu o visse
como meu príncipe encantado e me mantive apaixonada, porque era assim
que eu queria estar pelo resto dos meus dias.

Estava sendo exagerada, mas nada poderia ser diferente desde aquele
dia em que um homem com roupas informais e um boné me abordou na
BBW.

Acordei com o celular tocando, estiquei o braço e o alcancei na


mesinha de cabeceira sem olhar para o visor.

— Alô? — atendi sonolenta.

— Te acordei, querida? Achei que iríamos escolher o spa hoje. —


Era dona Rosi me lembrando que eu tinha muita coisa para fazer, mesmo
sendo desempregada.

— Sim e não. Acho que perdi a hora. — Sentei-me com as pernas


dobradas e me espreguicei. — Estou indo.

— Não precisa ter pressa, eu só estava preocupada. Dormiu tarde?


Conseguiu conversar com Marcelo?

— Sim, passamos a noite conversando, acho que estamos alinhados.


— Saí da cama indo em direção ao banheiro dele, eu iria usar a sua banheira.
— A senhora é muito perceptiva.

— Conheço meus filhos e, aos poucos, vou saber um pouco mais de


você também. Não quero ser invasiva, eu só tenho esse jeito atento, porque
gosto de ajudar.

— Eu tenho sorte de ser tão bem acolhida.

— Ainda não fiz nada de diferente, minha nora. Ethan que parece
exagerado além da conta e mandou outra entrega para cá.

— Ele é uma figura.

— Demais, nem queira saber todas as artes que ele fez quando
adolescente. Bem, não vou te atrapalhar. Estou te esperando e vamos
almoçar juntas.

— Combinado. Beijos.

Aproveitei para deixar o celular tocando uma música, fechei a porta


do banheiro e comecei a encher a banheira. Sentindo-me mais íntima de
Marcelo, não acreditava que ele iria se incomodar comigo mexendo nas suas
coisas.

Tinha produtos de banho, sais e lembrei do óleo que ainda estava na


minha bolsa. Deixaria de presente em cima da cama, para indicar que eu
estava pronta para ele, mais uma vez. Como será que funcionava para avisar
que eu queria transar?

Um leve incômodo na minha vagina me mantinha cautelosa, mas, só


de pensar em Chad, queria um pouco mais do seu membro dentro de mim.
Conhecia outras posições, queria tentar contra a parede e de costas, com ele
puxando meu cabelo e rosnando o quando me adorava. Ainda não era amor,
mas estávamos no caminho para que nossa estrada florisse.

Rindo dos meus devaneios, entrei na banheira e aproveitei o meu


reinado, sem saber que ele estava com as horas contadas.

“Abra os meus olhos

Eu preciso da sua luz novamente

Me queimando por dentro

Eu preciso do seu amor novamente”

Red – Yours Again

Tomei café da manhã e tagarelei com Mary sobre os preparativos do


casamento. Eu já tinha mostrado minha aliança, mas o entusiasmo, ela tinha
visto apenas naquele momento.

Zander estranhou minha alegria, mas não questionou demais, porque


rebati querendo saber de Vitória. Peguei o celular e mandei mensagem para
ela, mas fui ignorada, bem como por Penny. Ambas deveriam estar muito
ocupadas.

Queria tanto compartilhar minhas conquistas, mas não tinha


ninguém além da minha sogra, o segurança e a ajudante do lar – nenhum que
eu pudesse externar meus sentimentos.

Quando cheguei na casa dos Sartori, nem saí do carro, ela já nos
esperava. Dona Rosi aproveitou o meu segurança como motorista e nos
indicou aonde ir.

Com minha sogra ao meu lado, sendo tão organizada e influente,


conseguiria fechar um casamento em poucas semanas. Claro, o dinheiro fazia
a diferença e não usei, em nenhum momento, o cartão do Marcelo.

Fomos no escritório da organizadora de casamentos e definimos os


arranjos, as flores e as cores. As decorações nos catálogos enchiam os meus
olhos, tons ocres e terrosos foram os escolhidos

Tirei fotos e mandei para Marcelo. Ele não visualizou de imediato,


mas quando o fez, concordou com tudo o que eu tinha escolhido.

Eu suspirava apaixonada a cada visualizada no celular e dona Rosi


se divertia comigo. Fizemos uma selfie, enviamos para meu noivo e Ethan,
que respondeu com uma ligação:
— O que as senhoras estão aprontando? Já extrapolaram todos os
limites do cartão de crédito do Chad? — perguntou divertido e eu coloquei
no viva voz. Estávamos dentro do carro, indo em direção a casa da minha
sogra para o encerramento da nossa jornada.

— Ninguém está gastando muito. Apenas o suficiente — falei


fazendo bico. — É o Ethan.

— Trabalhei muito nessa vida para chegar no casamento dos meus


filhos e não ficar contando dinheiro. Como vai, meu filho?

— Estou bem, mãe. Conferindo catálogo, fotos e as estratégias de


marketing. Mais um dia normal para o CEO da ERW.

— Você poderia combinar de sair com seu irmão, um encontro de


casais. O que acha? — dona Rosi perguntou e escutamos a risada alta de
Ethan, como se fosse a piada mais engraçada.

— Mãe, o único que vai se casar é Marcelo. Eu continuarei solteiro,


porque as mulheres precisam de mim livre e desimpedido para ser o seu
consolo. Quero conhecer as madrinhas de casamento, cunhadinha.

— Vitória está com Zander e Penny tem alguém que cuida dela.
Preciso falar com as duas, inclusive.

— Solteiras, cunhadinha. Você não está colaborando.

— Pode deixar, senhor CEO — respondi e encerrei a ligação. Dona


Rosi estava sorrindo e eu me divertindo.

— Chegamos, senhora Sartori — o segurança falou sério e saí do


carro para dar um abraço apertado na mulher.

— Obrigada pelo dia, eu adorei.

— Por nada, Mercy. Amanhã, venha mais cedo, você precisa


experimentar as outras roupas que Ethan mandou.

— Combinado.

Era uma família maravilhosa, eu tinha tido muita sorte. Suspirando


de alegria e com os pensamentos nas nuvens, não acreditava que algo de ruim
poderia acontecer.

Quase chegando no apartamento de Marcelo, Zander resmungou que


alguém estava nos seguindo e lembrei que minha vida não era um mar de
rosas. A onda da realidade me atingiu com força, salgada e fria.

— Como assim, nos seguindo?

— Vai me fazer abrir um dicionário e explicar o que é uma


perseguição? — rebateu irritado, nós estávamos tensos e não me ofendi com
sua observação.

— E agora? — perguntei, assustada. Ele acelerou o carro e fez


manobras.

— Estou fazendo o meu melhor. — Fez uma curva acentuada e


pareceu sorrir. — Isso é bom, são inexperientes, vou conseguir despistá-los.
Segure-se.

Fizemos uma grande volta para chegar no apartamento. Zander


estava no comando da situação e, como em um estalar de dedos, eu me
desliguei do perigo e pensei na minha rotina de casada.

Era próximo das dezessete horas, logo Chad estaria em casa e eu não
estaria para o recepcionar. Pensei em pedir uma pizza para o jantar, assistir
um pouco de filme na sala de televisão – meu antigo quarto – e romance.

Eu deveria estar ficando louca, ao invés de ficar com medo, estava


fazendo planos para curtir o fim da noite com o homem que me fazia sentir
protegida.

Chegamos no estacionamento do subsolo e encarei o segurança.

— Pode ir. Está tudo sob controle. O prédio tem seguranças, eu vou
fazer ronda caso alguém ameace vocês.

— Então, está tudo bem? Foi tão... normal.

— Eu sou bom. Não fique remoendo, apenas siga sua rotina.

— Recado recebido.

Subi para o andar sozinha, tomei um banho, coloquei o óleo em cima


da cama de Marcelo e o esperei na sala de estar, com o celular na mão. Fiquei
olhando redes sociais e lendo notícias para passar o tempo e meus olhos se
arregalaram ao encontrar a explicação do sumiço de Penny: ela iria se casar
com o governador Maxwell Mazzi.

Como se o universo estivesse conspirando ao meu favor, recebi uma


mensagem da minha. Apressei-me em responder:
Mercy>> Oi, Penny. Finalmente me respondeu. Como você está?

Penny>> Estou bem, não precisa se preocupar. E você, como


está? Encontrou seu pai?

Mercy>> Não tenho notícias do meu pai e... não me julgue, mas
estou, finalmente, pensando apenas em mim. Estou feliz e te vi na
internet. O governador?

Penny>> Você viu?! Espalhou mais rápido do que eu imaginava.


Bom, disse que tinha alguém cuidando de mim. É ele.

Mercy>> Eu não sabia que você o conhecia. Como aconteceu?


Você está feliz?

Penny>> Faz pouco tempo. Estou feliz. Você disse que está bem,
me conta!

Mercy>> Então, eu vou me casar. Quero você comigo. Será que


você aceita ser minha madrinha? Está tudo atropelado, insano, mas feliz.
Isso que importa, não é?

Penny>> Sim! É isso que importa. Você merece ser feliz. Vai ser
um prazer ser sua madrinha. Também quero que seja a minha.

Mercy>> Oh, meu Deus! Finalmente nossa vida está mudando.


Vou confirmar tudo e te repasso. Obrigada.
— Cheguei — Chad falou abrindo a porta.

— A minha amiga da faxina, aquela lá do Mall, vai se casar com o


governador. — Arregalei os olhos e mostrei a tela, mas Marcelo não parecia
surpreso. — Por isso que ela tinha dinheiro para comprar as coisas na BBW.

— Sim, eu serei padrinho. — Inclinou para frente, beijou meus


lábios e se jogou ao meu lado no sofá. — Max é meu amigo.

— Eles já se conheciam? Os dois estão felizes?

— Não sei, Mercy. — Ele me puxou para o seu colo. — Deixe os


dois para lá, a única coisa que estou interessado é no seu beijo.

— Hum.

Atendi o seu pedido, montei em seu colo e abracei seu pescoço para
aprofundar o beijo. Meu corpo estava revigorado, nenhum incômodo me
impedia de ir além.

Adepta de usar vestidos, eu ousei ao usar outra lingerie sensual para


o deixar tão excitado como na nossa primeira vez.

— Bem-vindo ao lar, meu futuro marido. Tem um presente especial


em cima da cama — murmurei contra os seus lábios.

Sorrimos um para o outro e meu coração acelerou. Nós poderíamos


ser felizes, um casal vivendo a paixão de estar recém-casado.

Antes que eu pudesse continuar, a porta do apartamento foi aberta


sem que a pessoa batesse. Virei a cabeça naquela direção e senti Marcelo
ficar tenso sob mim ao perceber que era uma mulher bem arrumada, com uma
roupa minúscula e maquiagem carregada.

— Marcelo? Você não comentou que seria um ménage — ela falou


confusa, mas, para mim, tudo fez sentido de uma forma ruim.

O castelo ilusório que construí depois que perdi a minha virgindade


foi desmoronado com apenas aquela fala.

Tentei sair do colo dele, mas segurou minha cintura com desespero.
Não tive coragem de olhar para seu rosto, porque a vergonha era apenas
minha. Ele nunca tinha me prometido nada, mas tudo estava indo tão bem,
que me forcei a tornar natural o que começou por obrigação.

— Me deixe explicar — falou baixo para que apenas eu pudesse


escutar.

— Marcelo, o que está acontecendo? Você falou em repetir como na


última vez. Foi na piscina, certo? Só eu e você.

Consegui me livrar do seu agarre quando choraminguei. Fugi para o


meu canto, mas não antes de escutá-lo falar:

— Pelo amor de Deus, Melissa. Nosso encontro era ontem, você não
veio e as coisas mudaram!

Eu tinha sido enganada. Tudo o que estava no terraço não era para
mim. Marcelo estava com tesão, mas esperava outra e não eu.

Tranquei a porta, me fechei no banheiro e me arrependi de não ter


trazido comigo o celular para escutar uma música alta de consolo. Respirei
fundo e aceitei, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto, que eu nunca
poderia ser protegida de mim mesma e dos sentimentos que cresciam por
Chad.

Eu caí na minha própria armadilha.


Capítulo 24

— Só vai embora, Melissa — implorei empurrando a mulher.

— Mas... Como assim ontem? Hoje é terça. Foi você quem


combinou data e hora. — Livrou-se das minhas mãos e me encarou
enfurecida. — Quer saber? Foda-se. Esqueça o meu número de telefone,
porque não me presto para ser amante. Não confunda sexo casual com
comparsa de traição!

Ela saiu batendo a porta de casa e olhei para a aliança no meu dedo.
Porra, eu nunca deveria ter combinado esse encontro. Tudo bem, eu não tinha
a aliança no dedo, nem havia transado com Mercy e descoberto que
poderíamos tentar algo.

Estraguei tudo. Merecia o prêmio de grande fiasco.

Fui atrás de Mercedes, bati na sua porta e ela não me atendeu.


Coloquei minha testa na madeira e gemi arrependido. Como a mulher veio no
dia errado?

Em busca de respostas, fui para o meu quarto, tirei o celular do bolso


e conferi o histórico de mensagem com Melissa. O idiota tinha sido eu, ela
não confundiu as datas, mas eu sim.

Ao invés de ter só apagado as fotos e vídeos, tinha que ter


adicionado na faxina os contados das mulheres que peguei. Virei para me
sentar na cama, vi um frasco em cima dela e lembrei do dia em que estive na
loja BBW, onde Mercy trabalhava.

Óleo para massagem comestível. Pode ser usado nas partes íntimas.
Hipoalergênico.

— Caralho, eu sou um grande babaca — repreendi-me jogando meu


corpo na cama e fechando os olhos.

Era para ter sido uma noite maravilhosa, com minha futura esposa.
Passei o dia imaginando que poderíamos dar certo, justamente porque não
estávamos com expectativa para o romance. Tudo o que viesse seria bem
aproveitado.

Comecei a rir de nervoso, não estava encontrando uma forma de


consertar sem piorar a situação. A sinceridade sempre tinha sido minha
aliada. Eu não pensava em ter um encontro casual, até que a tive em meus
braços. Poucas horas foram o suficiente para eu ansiar por um
relacionamento.

Porra, já estaríamos casados por obrigação, por que não tornar em


algo melhor? Não haveria vítima nem agressor, apenas um casal em busca do
final feliz.

Havia um grande precipício nessa jornada e Mercedes estava do


outro lado, distante demais.

O jeito era esfriar a mente e tentar conversar. Por isso, fui tomar
banho e quando fui jantar, chamei Mercedes. Nada. Assisti um pouco de
televisão no meu quarto, chamei Mercedes de novo e nada.
— Eu vou arrombar a porta se não ouvir sua voz. Estou preocupado
— falei, irritado comigo ainda e obtive resposta:

— Vai embora, eu não quero conversar.

Justo.

Tentei dormir. Rolei na cama e nos segundos que consegui cochilar,


os pesadelos com vestido de noiva e sangue voltaram. Ainda bem que ela
tinha escolhido tons marrons e ocre e não vermelho, porque senão, eu exigiria
que ela mudasse.

Eu precisava protegê-la. O que era para ser apenas parte do meu


dever se tornou maior e complexo. Envolvia sentimento, o que eu achava que
era o certo e a felicidade dela. Estávamos tão bem! Chegar em casa e a ter tão
próxima de mim me mostrou o quanto eu estava perdendo do matrimônio.

Então, eu estraguei tudo.

Acordei péssimo de manhã, tomei banho gelado para me acordar e


vesti o terno sem ânimo nenhum. Saí do quarto e a primeira coisa que fiz foi
bater à porta da sala de televisão. Aberta, achei que tinha esperança para
conversar, mas não havia nada de Mercy naquele cômodo.

— Mercedes? — perguntei apavorado, meu coração parecia esperar


a resposta dela para poder voltar a bater.

— Estamos na cozinha, senhor! — Mary respondeu e as encontrei


tomando café da manhã. Ainda não tinha providenciado novos copos
térmicos, então minha ajudante do lar estendeu uma caneca de porcelana na
minha direção.

Mas minha atenção era naquela mulher cabisbaixa com uma bolsa
cheia no colo.

— Nos dê um momento — pedi para Mary, mas Mercy segurou no


braço dela para que não saísse.

— Pode ficar, quem vai embora sou eu.

— Não! — Sabendo que ela não queria que a tocasse, fui me colocar
na frente dela, do outro lado do balcão. Os olhos inchados e a tristeza
atingiram minha alma, eu estava gostando demais dela. — Por favor, não faça
isso.

— Fique com o anel e só me deixe com as roupas. Eu vou dar um


jeito para te pagar — murmurou comendo os ovos mexidos em seu prato.
Percebi que segurava o choro e relaxei quando Mary saiu do cômodo sem que
ela percebesse. — Eu não vou conseguir te ver com outras pessoas. Já gosto
de você, mesmo me obrigando a não seguir por esse caminho. Minha
primeira vez foi tão especial...

— Você precisa me escutar e entender que não houve traição. Se


atenha aos fatos. — Estendi a mão para tocá-la, mas ela recuou e limpou uma
lágrima que escorreu sem a sua autorização.

— Disse que nunca me manteria presa, que eu poderia escolher.


Então, hoje estou mudando de ideia, Marcelo. Eu vou embora.

— E minha família?
— Sua mãe é tão especial. Nem eles deveriam ser enganados. —
Tampou o rosto para se esconder de mim. Estava jogando baixo, eu nunca
disse que era perfeito. — Nós...

— Que tal um novo arranjo? — Dei a volta no balcão e me sentei ao


seu lado. Ela recuou, mas como não fiz nenhum movimento para me
aproximar além daquela posição, apenas beber o café e refletir, ela me
esperou responder à pergunta retórica. — Fique com minha mãe, no meu
quarto, na casa dos meus pais. Lá, você estará segura e continuará tendo
Zander como segurança. O casamento não precisa ser cancelado.

— Como isso me fará sentir melhor? Você estará aqui trepando com
todas enquanto eu estou preparando um falso casamento. — Começou a rir
sarcástica. — Achei que dava conta, mas não é para mim tanta manipulação.

— Quero ser seu marido, Mercy. — Fiquei encarando seu perfil, ela
ainda não tinha se virado para mim. — Serei fiel e honrarei minha palavra de
que quero tentar. Era para ser apenas um arranjo, mas se tornou sério para
mim também. — Virou o rosto devagar com os olhos arregalados. —
Também estou gostando de você.

— Mas, ontem...

— Foi um mal-entendido. Quando eu marquei o encontro, não via


nem metade do que poderia ser o nosso relacionamento. Você está chateada,
entendo. Mas eu não te traí.

— O que sugere? — murmurou perdida.

— Que tal, um pouco de espaço? Arejar a cabeça e se acalmar. Eu


meio que falei para a minha mãe que você queria se manter virgem para o
casamento. Você pode ficar por lá, para não cairmos em tentação. — Vi uma
brecha e toquei a mão dela. Seu calor e a suavidade da sua pele eram
bálsamos para minha angústia. — Usarei meu tempo sem você para apressar
as investigações, você continua com os preparativos para o casamento. Eu e
Zander poderemos agir por conta própria, para encontrar mais indícios sobre
os jogos ilegais.

— Você ainda quer me proteger — falou robótica.

— Estou além disso, no momento, Mercy. Quero te conhecer um


pouco mais. Conversar, assistir um filme, sentir seu corpo junto ao meu,
namorar...

— Não sei se posso confiar. Na verdade, estou confusa.

— Temos um casamento para organizar. — Levantei-me para lhe


dar um abraço, que foi bem recebido. Ela suspirou e parecia aliviada, mas
ainda tinha uma resistência quanto ao ocorrido no dia anterior. — Teremos
um tempo para nos preparar e acreditar que tudo poderá ser real. O acordo
pré-nupcial será apenas um papel na nossa história.

— Você mesmo disse que não conseguiria ficar tanto tempo sem
sexo. — Ela se afastou saindo do banco. — Como vai fazer se eu não estiver
por perto? O que quer dizer sobre termos tempo?

— Não, Mercy. — Passei as mãos no cabelo em frustração. — Está


entendendo tudo errado. Eu quero você!

— Então, por que chamou a tal Melissa para um ménage?


— Era para você estar na casa da minha mãe, seria... — Quando vi
seu olhar raivoso, parei de falar, porque estava usando o argumento solto, na
hora errada.

— Chega de casamento!

— Sem o meu sobrenome, será um alvo fácil. Pense na sua vida.

— Amargurada e sofrida, eu já vivia uma assim, mas essa está


doendo mais. — Fechou os olhos com força, eu precisava dissuadi-la sobre
cancelar os planos do matrimônio.

— Não faça isso.

— Tudo bem, você venceu. Entendi tudo e acho que esse tempo
longe me ajudará a ter o mesmo gelo em volta do coração que você tem, Juiz
Sartori. — Ergueu a bolsa. — Peguei todas as minhas coisas, estarei com sua
mãe organizando o nosso casamento feliz.

Ela saiu da cozinha. Peguei a caneca com café e tomei tudo, mesmo
que estivesse tão quente que precisasse amornar antes de ser ingerido. Mary
apareceu na cozinha, preocupada. Ela não poderia externar para ninguém
aquela conversa, não importando o quanto tinha escutado.

— Sigilo, Mary. Nem Juliet ou minha mãe podem saber o que houve
aqui.

— Por favor, senhor, resolva isso. A pobrezinha está desolada. Ela já


não tem pai e mãe por perto.

— Ela tem a mim e a família Sartori. Enquanto ela precisar de


proteção, isso ninguém irá tirar dela, nem ela mesma.

Fui para o hall do lado de fora do apartamento, chamei o elevador,


mas ele ainda demoraria um pouco para chegar no meu andar. Fechei os
olhos e fiz uma breve oração para que esse mal-entendido pudesse ser
resolvido logo.
Capítulo 25

As minhas prioridades mudaram. Coloquei como objetivo focar na


investigação para poder desvincular Mercedes de uma obrigação que só
estava nos causando confusão.

Os dias não passaram rápido, como costumavam acontecer antes,


ainda mais tendo minha mãe me atualizando de Mercy. Enviava mensagens,
me mandava fotos, informava o que decidiram sobre uma determinada coisa
do casamento e dava broncas suaves, por termos brigado.

Bem, se fosse analisar direito, quem tinha rompido alguma coisa foi
ela. Não me deixou explicar, acabei me atrapalhando e não recebi nem um
beijo de despedida. Um abraço era muito pouco, eu queria estar dentro dela
mais uma vez.

Depois do meu horário de trabalho, em alguns dias na semana, eu


seguia com Zander até o prédio da polícia federal. Catena, o contato do meu
segurança, estava adiantado com a investigação e o principal suspeito era
Nicholas O’Donnell. Por mais que estivesse fazendo papel de peão, o
empresário dava sinais de ter uma vida dupla para passar despercebido.

Além dele estar sendo investigado em outro caso que corria em


segredo, O’Donnell deixou rastros relacionados ao desaparecimento de
Ronald Smith, pai de Mercedes. Por eu ter dado meu depoimento e garantido
que a mulher não atrapalharia a missão, além de não saber de nada do
envolvimento do pai com O’Donnell, a polícia estava prestes a conseguir um
mandado para invadir dois galpões em uma data estratégica.

Sentado em uma mesa de reunião, com dossiês espalhados pela


superfície, encarei meu segurança, que estava sentado ao meu lado, depois o
chefe da investigação.

— Catena, aqui não diz a situação atual do pai, apenas que é um dos
prisioneiros dessa quadrilha.

— Você quer saber se ele está vivo? — O homem não esboçou


empatia. Porra, o cara seria meu sogro, então, sim, eu queria saber dele. —
Temos os nomes dos envolvidos e os daqueles que não estão em casa. Talvez,
ele nem esteja como prisioneiro, mas morto. Vamos descobrir quando
fizermos nossa primeira incursão. Ele está na nossa lista para ser preso, está
tudo sob controle.

— Eu sei, mas isso não quer dizer que minha mulher sofrerá menos.
Só estou analisando para preparar o terreno.

— Sua? — ele inquiriu surpreso. Sabia do casamento arranjado, não


que estava envolvendo amor.

— Bem, terminamos por aqui. Obrigado. — Levantei-me encerrando


a reunião, eu não devia satisfação da minha vida pessoal.

Apertei a mão do chefe da investigação em cumprimento, de outros


policiais e saí com Zander ao meu lado. Estava irritado e precisava relaxar.
Ao invés de ir para um bar ou boate, iria para casa, sem ter Mercy nos meus
braços.
— Quer ir para algum lugar? — meu segurança perguntou quando
saímos do prédio, já era noite.

— Não, vou para casa e pedirei uma pizza. Está dispensado por hoje,
fique livre para atender Mercedes.

— Até mais, chefe.

Entrei no meu carro blindado, liguei o som e fui para casa escutando
a mesma música que tocou quando eu estava aprendendo a olhar para Mercy
de uma outra maneira. Se eu era um bom moço, ela estava se descobrindo
uma garota má, com desejos e liberdades. Nadar nu na piscina com ela foi
bom, algo que queria repetir, mas estava difícil de acontecer.

Nosso momento estava por vir.

Mais dias se passaram e a distância entre mim e Mercedes parecia


alimentar o sentimento que surgiu quando ela estava ao meu lado. Respeitei
seu momento e acompanhava sua rotina a distância, tendo minha mãe como
narradora. Elas iriam escolher o vestido, faltava pouco para o nosso
casamento.

Minha vida estava acelerada e a do governador Maxwell Mazzi mais


ainda. Com um noivado tão instantâneo quanto o meu relacionamento por
obrigação, eu não poderia ir a cerimônia por conta da minha situação.

Em uma noite, deitado na minha cama pensando que a qualquer


momento poderia receber uma ligação com notícias da operação contra os
bandidos que ajudei a serem investigados, vi uma mensagem do meu amigo.

Max>> Eu só vou te perdoar porque é meu amigo.

Chad>> Egocêntrico do caralho, meu mundo não gira em torno


do seu umbigo.

Max>> Era o meu noivado.

Chad>> Tive que resolver meus próprios problemas.

Max>> Desistiu de se casar com ela?

Chad>> Não, mas ainda tenho que me acostumar com essa ideia.
É complicado ter uma mulher na minha casa.

Max>> Ao menos ela não está no seu quarto. Nos falamos


depois.

Acreditava, piamente, que ele também estava balançado com o que


estava acontecendo tanto quanto eu. Apenas sexo era fácil, porque você não
via a pessoa todos os dias, mas a rotina era apaixonante. Até o mais gelado
dos corações se derreteria por conta da convivência.
As conversas que tivemos nos dias seguintes me mostravam que
meu amigo continuava com as aparências enquanto eu sucumbia com um
romance sustentado por um acordo pré-nupcial.

Talvez, meu amigo Max demoraria um pouco mais para ver a


grandiosidade do relacionamento. Não o julgava, eu faria o mesmo se não
estivesse com o sabor de Mercedes gravado na minha memória.

Melhor ou não, eu era padrinho de casamento do meu amigo e se a


sua vida de solteiro continuava por debaixo dos panos, eu compensaria a
minha falta com uma boa despedida de solteiro.

Busquei nos meus contatos, acionei pessoas e reservei um quarto de


hotel, além de uma companhia para a noite. Ele poderia recusar a qualquer
momento, talvez o colocasse contra a parede para assumir o seu
relacionamento. Estava perdido, essa era a realidade. Lutando contra antigos
costumes e a nova versão do homem de família que estava me tornando.

Olhei para as fotos que minha mãe enviou da minha noiva, além
daquelas que foram tiradas no nosso primeiro beijo. Compartilhei com a
televisão do meu quarto, meu coração acelerou e, por conta das imagens que
minha mente resgatou, eu estava com uma ereção.

Todos os meus orgasmos eram por ela. Apaixonado ou, apenas,


viciado nas ilusões, eu queria tudo de Mercedes Smith. Pela lei dos homens
ou o que movia os nossos corações, eu a alcançaria, não importava a distância
imposta.
Capítulo 26

Vários dias depois...

Ao acordar, fiquei encarando o teto do quarto que cada dia mais se


tornava familiar para mim. Foi aqui que Chad cresceu e amadureceu. Eu
estava evoluindo, assim como ele e me conectando cada vez mais com sua
família.

Dona Rosi era uma mãezona. Mesmo não escondendo a


desconfiança sobre o meu casamento com o filho, ela não me deixou
desamparada e nem fez grandes perguntas sobre eu preferir ficar longe de
Marcelo até o casamento ser realizado. Duvidava que meu estado virginal era
desculpa suficiente, já que poucas mulheres da minha idade se mantinham
intocada. Eu entendia o motivo e sentia falta do contato sexual, mesmo que
meu coração estivesse pisoteado.

Faltava tão pouco.

Recordei o dia que experimentei vários vestidos de noiva até


encontrar o ideal. Com alças grossas e um decote singelo, eu me sentia uma
princesa sem um príncipe. Penny apareceu naquele momento e aproveitou
para fazer a prova do vestido de madrinha. Ela parecia feliz, mas pouco disse
sobre o que estava passando, afinal, a vida dela tinha se tornado pública,
tanto quanto a do futuro marido, o governador Maxwell.
Pretendia fazer uma última prova antes do dia da cerimônia, por
conta dos ajustes que seriam feitos nas rendas e no véu da minha cabeça.
Marcelo também precisava escolher o smoking. Nós trocávamos mensagens
apenas sobre decisões com relação a festa e isso estava me consumindo.

Sentia que Chad escondia algo de mim, mas não encontrava as


palavras certas para abordar o assunto com meu futuro marido. Ao invés da
distância nos separar, parecia que eu me unia ainda mais a ele.

Estava apaixonada pelas suas recordações naquele quarto. Álbum de


fotos, livros da faculdade e um celular antigo, que consegui recarregar e me
aventurar no seu universo. Marcelo era boêmio, bom de cantada e tinha
muitas mulheres para dar assistência.

Uma pitada de ciúmes me tomou, apenas o suficiente para que eu


quisesse essa versão dele comigo. Tudo bem, anos se passaram desde aquela
época retratada no celular e eu era a atual. No meu coração, eu me obrigava a
acreditar que ele estava sendo fiel a mim, por mais que isso não estivesse
estipulado em nosso acordo pré-nupcial.

Saí da cama com preguiça, tomei um banho e recuperei um pouco


das forças para encarar o dia. Sem trabalhar e só pensando na festa de
casamento de última hora, minha mente estava exausta e meu corpo seguia
para o mesmo caminho.

Desci os degraus até a cozinha, local que sempre tinha alguém


presente, e sorri para dona Juliet.

— Bom dia. — Deixei um beijo no rosto da senhora, que sorriu


animada. Como Mary, eu tinha feito amizade e me considerava sua amiga.

— Olá, Mercy. Já decidiu o que quer para a sua despedida de


solteira?

Abri a geladeira e escondi meu rosto para não mostrar minha


decepção. Claro que Marcelo teria a dele, mas eu estava sem amigas para
comemorar a minha, que seria algo inocente. Vitória sumiu do mapa. Não
estava na loja e não atendia o celular. Zander se mantinha em silêncio quando
eu entrava nesse assunto, me deixando em dúvida se ele estava investigando
ou se não tinha interesse.

Que ela estivesse bem, porque Penny estava em um bom caminho e


eu estava prestes a começar uma família de mentira. Nem para Marcelo
morar em uma casa, pelo menos, adotaria um cachorro e não me sentiria tão
sozinha.

— Querida? — Juliet fechou a geladeira e me encarou, eu estava


divagando ao invés de encontrar algo para comer. — O que te preocupa
tanto? Estamos em família, você é bem-vinda.

— Sou muito certinha para isso. Deixe essa parte sacana para o
homem da relação. — Fiz uma careta quando a vi colocando as mãos na
cintura, com indignação. — É a verdade. Nem beber eu consigo, prefiro suco.

— Mary quer participar e tenho certeza de que a senhora Sartori


também irá se animar. Vamos festejar!

— Não me vejo idolatrando um stripper. Não é comigo.


— Quem disse que teremos homens nessa despedida de solteira?

— Acho melhor passar em branco. Ainda preciso experimentar o


vestido e fazer o teste de maquiagem.

— Que lhe tomará uma manhã, não o dia inteiro. — Ela abriu a
geladeira, pegou ovos e apontou para o balcão. — Vamos, vou preparar seu
café da manhã e você pensará sobre o assunto.

— Estou sendo muito mimada. — Por estar longe da minha mãe


desde muito cedo, eu não sabia o que era isso. Sentei-me e suspirei olhando
para o mármore. — Vou sentir falta quando tudo acabar.

— O que vai terminar, minha nora? — Dona Rosi entrou na cozinha,


observei-a se aproximar e forcei um sorriso sem graça. Droga, tinha
externado parte do meu segredo. — Já está pensando no fim do casamento?

— Não. Tem a ver com morar aqui, eu gosto de estar com vocês. —
Tentei remediar, mas pela expressão da minha sogra, não a convenci.

— Quem casa, quer casa. Tudo bem você ficar aqui, mas sem
nenhuma visita do meu filho? Vocês namoram como, pelo celular? —
Arregalei meus olhos e fiquei com vergonha. — Muito moderno para mim.

— Também não entendo — Juliet complementou.

— Como está sua agenda, dona Rosi? Pensei em fazer a última


prova do vestido mais a da maquiagem.

— Acho perfeito. — A dona da casa se sentou ao meu lado e me deu


um beijo na testa. — Bom dia, Mercy.
— Sim, bom dia. Estou com a cabeça na lua e perdi a educação. —
Abaixei a cabeça constrangida.

— Nossa noiva está precisando de um incentivo para que


organizássemos a festa de despedida de solteira. — Juliet entregou meu prato
com ovos mexidos e torrada. Abri a boca, em choque. Ela tinha se tornado
tão amiga e família quanto o senhor e a senhora Sartori, ou seja, mais
liberdade.

— Eu não disse...

— Perfeito! Não se preocupe com nada, nós faremos tudo. — Dona


Rosi bateu palmas animada e eu não sabia o que fazer. — Já falei com Mary,
ela virá também. Me passe o telefone das suas amigas, vou entrar em contato
com elas.

— Mas... não se incomode, por favor.

— É uma necessidade — falou incisiva. — Não se faz um


casamento sem a despedida. O ritual de transição mais importante é a festa
antes da cerimônia oficial e, claro, a lua de mel.

— Oh, céus! — Coloquei os cotovelos na mesa e tampei o rosto com


as mãos. — Só fico imaginando que Marcelo fará o mesmo.

— Claro que vai, Mason já tem tudo organizado há dias. — Virei o


rosto para minha sogra, ela parecia tranquila. — Serão apenas ele e Ethan,
bebidas e filmes. Foi o máximo que consegui negociar com meus meninos.

— Você tem esse poder?


— Ah, minha querida. Quando se é mãe, consegue-se tudo ao
mesmo tempo que nada. O segredo está em apertar os botões certos, afinal
esses meninos saíram da minha barriga.

— Lembra deles quatro pequenos, um emburrado com o outro por


conta dos brinquedos? — Juliet comentou e segui com meus pensamentos na
direção da lembrança que as duas compartilhavam.

— Eles viviam brigando. Achei que parariam na adolescência, mas


piorou. A minha felicidade foi que, no meio dessas guerras, eles encontraram
um denominador comum. — Dona Rosi alisou minhas costas com carinho.
— Ou seja, querida, mandei que nenhum deles contribuísse para a
infelicidade dos dois e isso incluí, sem traição. Eles terão a farra deles e nós
teremos a nossa.

— Mas...

— Quer ir agora de manhã experimentar o vestido? — Pegou o


celular do bolso da sua bermuda de linho e sorriu. — Depois, poderemos ir
almoçar naquele restaurante italiano que Marco gosta. Vou chamá-lo para nos
encontrar lá.

— Claro, dona Rosi. — Voltei a comer me sentindo encurralada. —


Eu vou terminar aqui e me aprontar.

— Eu chamo Zander, fica tranquila. — Ela não olhou para mim,


entretida demais com o aparelho. Encarei Juliet, que sorria para o vento e
senti o cheiro de surpresas no ar.

Era assim com minha mãe. O mistério organizando o Natal ou


mesmo um aniversário surpresa. Sentia falta dela. Uma parte de mim queria
relembrar que meu pai ainda existia, mas voltei a focar apenas em mim.

A intimidade com a família de Chad estava sendo boa, só não


imaginava que se tornaria tão especial quanto com a minha própria.
Capítulo 27

De pé em um provador cheio de espelhos e bem iluminado, coloquei


as mãos na cintura e fiz um movimento para que a saia do vestido fosse de
um lado para o outro.

— Ah, ficou perfeito em você, Mercy — Dona Rosi comentou e a


observei por cima do meu ombro, sentada em uma poltrona mais ao fundo. —
Delicado e romântico.

— Sim, um sonho. — Alisei a parte da frente, minha barriga e


encarei-me no espelho. Além do teste de maquiagem, eu estava com as joias.
Uma princesa, era assim que me sentia.

— A barra está perfeita — a moça da loja comentou conferindo o


vestido. — Tem um pedaço de renda que se soltou, consigo ajeitar em alguns
minutos. Já volto.

— Vou com você. — Virei para ver minha sogra se levantar com o
celular na mão. — Vi uma tiara que posso usar no andar de baixo.

Fiquei sozinha e me permiti sonhar com o casamento real. O vestido


branco e as rendas não faziam parte de um acordo, nem o homem que estaria
ao meu lado me queria apenas para me proteger.

Era um sentimento conflituoso. Ao mesmo tempo que queria estar


segura, cogitava abrir mão desse conforto para experimentar o amor. Chad foi
um cavalheiro ao tirar minha virgindade, mais romântico ainda me fazendo
dormir em seus braços e me deixando descansar enquanto ia trabalhar. Tinha
tudo para ser um bom relacionamento, se não fosse a presença de Melissa
sugerindo um ménage.

Marcelo deveria ter tido muitas aventuras sexuais. Se não fosse a


paixão que brotava no meu peito e a necessidade de fazer parte da família
Sartori, sem mentiras, eu me deixaria levar.

Escutei passos se aproximando da porta e virei para recepcionar as


duas mulheres que estavam comigo. Mas, ao invés delas, quem apareceu foi
Marcelo. Enquanto abria a porta despreocupado, ergueu o olhar e ficou
chocado com o que viu.

Se eu já estava tendo azar antes do casamento, imagine com o noivo


vendo a mulher em seu vestido sem ser no dia da cerimônia?

— O que está fazendo aqui? — Tentei me cobrir, mas não tinha


como me esconder. — Chad, vai embora!

— Você não vai me expulsar justo agora que consegui te ver. — Ele
fechou a porta e caminhou na minha direção com determinação. Com o terno
bem alinhado, a barba aparada e um olhar predador, meu corpo inteiro se
arrepiou pela antecipação do seu toque.

Subiu em cima do suporte no qual eu estava e segurou meu rosto


com carinho. O brilho nos seus olhos poderia ser apenas um reflexo das luzes
que me destacava, mas havia algo mais e eu queria provar.

— Não aguentava mais ficar longe de você, Mercy. — Encarou


meus lábios rosados com o batom. — Ficou linda.

— Se estava com saudades, por que não veio antes? — O tom saiu
de acusação. Ainda estava ressentida pela tentativa de traição. Por mais que
não coubesse a mim exigir fidelidade, eu queria que aquele compromisso
fosse real.

— Pode estar convivendo com dona Rosi há muitos dias, mas não a
conhece como eu. Na minha primeira tentativa de aproximação, ela me freou.
Era para esperar o seu tempo, como o homem respeitador que ela criou. —
Engoliu em seco e respirou fundo. — Pensei em você todos os dias.

— Eu não vou conseguir separar o amor do dever. — Olhei ao redor,


mas voltei a focar nele, com desespero. — Estou surtando por conta da
crença de que o noivo não pode ver o vestido antes do casamento.

— Está linda, perfeita. Mas se faz questão, escolha outro. Não me


importo com o gasto extra, desde que você fique bem. — Aproximou nossos
lábios. — Mercy, por favor, só me diga sim.

— Eu já assinei o contrato. — Engoli em seco.

— Sabe que não é disso que estou falando. Esqueça o que aconteceu,
não penso em mais ninguém, não toco outra mulher desde a nossa primeira
vez. — Ele estava há centímetros da minha boca e sussurrou: — Por favor.

— É fácil entender a minha paixão por um homem como você.


Mas...

— Você será a minha mulher. Deixe a dúvida fora do nosso


matrimônio. — Segurou na minha cintura e uniu nossos corpos. — Mudarei
de tática. Me impeça de seguir, diga não ou eu vou continuar com o que
tenho planejado.

Fiquei na ponta dos pés, abracei seu pescoço e diminuí a distância


entre nossos lábios. Toquei-os com timidez, porque estava maquiada e a
última coisa que queria era tê-lo todo borrado de batom.

Mas ele tinha fome. Sua língua invadiu minha boca e eu só


conseguia pensar em seguir seus movimentos. Inclinei a cabeça e aprofundei
o beijo enquanto suas mãos foram para as minhas costas desabotoar a carreira
de botões.

Deveria pensar que estava em um local público, ou mesmo que Chad


era muito homem para a pouca experiência que eu tinha, mas eu estava pronta
para testar a realidade. Mergulharia de cabeça no papel de esposa e não
deixaria que a insegurança atrapalhasse os bons momentos. Depois, no
silêncio de um banho ou mesmo quando estivesse sozinha assim que ele
saísse para trabalhar, eu me martirizaria o quanto fosse necessário.

Ele estava no comando ao me despir. Enquanto não soubesse as suas


intenções, continuaria seguindo na mesma direção que ele.

Seu sabor era o mesmo de quando lhe beijei da última vez. O toque
era mais inflamado e seus dedos na minha pele acionavam lembranças do
quanto ele era bom com seu corpo junto ao meu.

Resmunguei em frustração quando deu um passo para trás e saiu do


degrau que eu estava. Ele abaixou uma alça do meu vestido, depois a outra e
sorriu quando tudo caiu como um grande emaranhado de tecido aos meus
pés.

— Fácil de tirar, eu gostei desse, Mercy — a rouquidão da sua voz


me fez arrepiar.

— Mas você o viu, então eu terei que ter o trabalho de escolher


outro. — Agachei para pegá-lo, já que estava apenas de calcinha. Antes que
pudesse subi-lo, Chad me interrompeu e me ajudou a ficar de pé.

— Saia dele, eu te quero nua.

— Mas...

— Não quer? — Ele parecia ter segurado a respiração e seu olhar era
desesperado. — Vim aqui para continuarmos de onde paramos.

— Se me lembro bem, foi na parte em que Melissa aparecia exigindo


uma extravagância. — Fiz bico e ele abaixou o olhar, envergonhado.

— Pisei na bola. Falhei com você, Mercedes. Mas eu passei todos


esses dias afastado para tentar me redimir. Me dê uma chance para mostrar
que eu também quero fazer isso dar certo. — Ergueu o olhar para o meu. —
Começamos com um contrato, mas podemos seguir em frente sem ele.

Era o máximo de declaração romântica que eu tinha conseguido em


toda a minha vida. Pressionando os lábios, fiz um movimento para sair do
vestido e entreguei a peça para ele. Cruzei os braços tampando meus seios
enquanto ele pendurava de forma correta a peça no cabide. Depois, voltou
para mim.
Sorrindo com malícia, ele abriu o paletó e me convidou para me
refugiar nos seus braços, já que o ar-condicionado estava fazendo meu corpo
reagir, deixando os bicos dos meus seios rígidos e os pelos do meu corpo
enriçados.

Levantei a cabeça e percebi que seus lábios tinham um pouco de


rosa, mas não muito. Sorri antes de unir as nossas bocas e voltar para o beijo
voraz, para matar a saudade e despertar novas conexões.

Abraçado a minha cintura, ele me ergueu e foi dando passos para


trás. Sentou-se na poltrona e me ajeitou no seu colo com destreza. Enquanto
eu estava quase nua, ele se mantinha vestido. Sua ereção pressionou entre
minhas pernas e a posição era propícia para que eu o cavalgasse, sem
dificuldade.

— Chad — chamei-o entre os beijos. Suas mãos começaram a


deslizar pelo meu corpo e a estimular minha libido. — Não estamos em casa.

— E daí? — Apertou minha bunda e deu um tapa de leve, dei um


pulinho no seu colo, esfregando a minha intimidade na protuberância em sua
calça. — Sente a adrenalina, Mercy.

— E se alguém abrir a porta?

— Ela não está trancada? — Olhou-a e depois voltou para mim com
desejo. — Precisamos ser rápidos, então.

— Mas...

— Confia em mim? — A mão subiu até meu rosto e o acariciou. —


Não precisamos tirar a roupa para matar a saudade. Eu só quero te ver feliz e
saciada.

Eu precisaria de mais além disso? O homem me queria bem, que mal


faria eu retribuir, mostrando o sentimento que já florescia no meu peito
mesmo antes de tê-lo dentro de mim?

Que seguíssemos para o êxtase juntos.


Capítulo 28

Ele poderia ter domínio das suas palavras, mas eu estava ao ponto do
desespero. Puxei seu terno para cobrir meu corpo. Fui abraçada com mais
força para me unir a ele e me entreguei ao beijo.

Mesmo quando ele era um estranho, confiei minha vida e minha


segurança a Marcelo Sartori. Acreditei que eu poderia ser diferente do meu
pai, mas a imprudência deveria estar impregnada no DNA.

Comecei a rebolar enquanto o beijava, larguei os sapatos dos meus


pés e os deixei cair enquanto fazia os movimentos para encontrar o meu
prazer. Lembrei da sua boca maravilhosa entre minhas pernas, mas não o
obrigaria a fazer isso para me dar um orgasmo. Teria que encontrá-lo de outra
forma.

Minhas mãos foram para a sua virilha em desespero. Mordi seu lábio
inferior ao mesmo tempo que abria sua calça. Ele gemeu e meu peito estufou
quando percebi que estava no comando.

Senti o peso e a espessura do seu pênis na minha mão. Dei um leve


apertão, ele fechou os olhos e gemeu, ecoando seu prazer pelo ambiente.

— Meu Deus, todo mundo vai saber o que estamos fazendo aqui —
murmurei com minha mão subindo e descendo no seu membro.

— Estou sem camisinha e não tenho nada para limpar a bagunça que
farei se não parar. — Seu olhar encontrou o meu com desespero. — Você
nem gozou, Mercy. Me deixe fazer direito.

— Eu te quero dentro de mim — pedi baixo e envergonhada, mas


ele nem contestou. Me ajeitou para ficar em cima dele, colocou minha
calcinha de lado e me penetrou. — Oh!

— Posso gozar dentro? — Arregalei meus olhos. O sobe e desce não


estava me permitindo pensar racionalmente. — Sei que foi ao médico,
estamos limpos e você iniciou um método contraceptivo.

— O primeiro mês não é seguro. Eu... — Como poderia falar, na


situação que estávamos, que optei por não usar nada para evitar bebês,
porque na minha mente, eu não voltaria a transar com Chad?

Ele me firmou para me sentar no seu colo e seu pau me preencheu


por completo. Deitei minha cabeça no seu ombro e fui me esfregando,
gemendo e implorando com meus atos que eu queria tudo dele.

Suas mãos foram para a minha bunda, tirou a calcinha do caminho e


acumulou o tecido entre minhas nádegas. O puxão que deu me fez rebolar,
mas escutei um barulho e olhei para a porta, desesperada.

— Precisamos ser rápidos. Goza, Mercy, vem pra mim — implorou


estrangulado. Se não fosse por mim, ele, com certeza, já teria encontrado o
clímax.

Mesmo correndo o risco de ser pega no ato, fui em busca da melhor


posição, a fricção perfeita para estimular o meu clitóris e encontrar meu
clímax. Mordi seu ombro e gemi abafado enquanto rebolava, a sensação de
saudade estava dando lugar para a satisfação e eu queria mais.

O orgasmo chegou, de uma forma diferente e eu queria testar todas


as posições possíveis para ter esse momento.

Relaxei no seu colo, ele me tirou de cima para me acomodar aos


seus pés e segurou a sua ereção, fechando os olhos e controlando a
respiração. Interpretando que ele estava se contendo para não gozar, fiquei
entre suas pernas e agi sem pensar nas consequências.

Coloquei a boca no seu membro, sentindo o gosto salgado misturado


com meu próprio sabor, e suguei. Ele estava disposto a se sacrificar, mas eu
tomaria tudo, assim como ele tinha feito comigo.

Alisou meu cabelo e, segundos depois, encheu minha boca. Mesmo


sabendo o que aconteceria, fui surpreendida. Engoli tudo de uma vez e o
soltei, caindo sentada no chão.

Estávamos ofegantes. Meu peito subia e descia, chamando atenção


do olhar de Chad, o sorriso despontava em seus lábios aos poucos. Ajeitou
sua calça e foi se ajoelhar na minha frente, satisfeito.

Deu-me um selinho na tentativa de acalmar a tensão que eu sentia,


acabei relaxando demais e me deitei no chão. Tampei os olhos com meu
braço e comecei a rir. Marcelo me acompanhou, se acomodando em cima de
mim.

— Eu nunca pensei em fazer uma loucura dessas — confessei


envergonhada, mas não arrependida. — Senti sua falta.
— Também, Mercy. — Envolveu minha cintura com seu braço e nos
levantou sem dificuldade. — Eu fui um idiota antes, porque não sabia que
você mexeria tanto comigo. Nem eu mesmo me reconheço.

Estávamos de pé, um de frente ao outro processando esse novo


momento. Engoli a saliva, sentindo o nosso sabor impregnado nos meus
lábios.

— Está tudo bem aí? — A voz de dona Rosi estourou a nossa bolha.

Corri para pegar o vestido, posicionei-me entre os espelhos e reparei


que a maquiagem estava borrada. Chad voltou para a poltrona e estava me
encarando sem preocupação, mesmo com parte do meu batom estando em
seu rosto. Fiz um gesto com a mão na frente da minha boca com desespero.

— O quê? Você está linda, Mercy — murmurou descontraído. —


Posso chamar minha mãe?

— Não. Você tem batom aí — apontei para seu rosto, ele passou a
mão nos lábios e nada saiu. — Meu Deus! — Virei para os espelhos,
coloquei a mão para trás e tentei colocar nas casas os vários botões que tinha.

— Mercedes? Está tudo bem? — dona Rosi falou da porta. Antes


que eu pudesse pedir alguns minutos, Chad respondeu:

— Pode entrar, mãe.

Com o coração prestes a sair pela boca, vi pelo espelho minha sogra
entrar e reparar no filho. O que ela pensaria de mim, se desconfiasse o que
fizemos na sua ausência?
— Conversaram, filho? — Ela se inclinou e estalou o dedo. — Sim,
vocês já se entenderam. Vá lavar o rosto. Vou pedir para que a maquiadora
troque a marca do batom de Mercy.

— Por mim, está tudo perfeito. O smoking já está ajustado e o


vestido da minha noiva...

— Precisa ser trocado — reclamei indignada e virei para os dois.

— Mas, por quê? Ele é perfeito! A superstição de não ver a roupa da


noiva antes do casamento não existe na nossa família, querida. Começou com
a avó Sartori e virou tradição.

— Ah, por isso me mandou vir aqui. — Marcelo se levantou rindo e


deu um beijo no rosto da mãe. — Prometo guardar segredo quando for a vez
dos meus irmãos.

— Vai ficar de castigo se contar antes do momento certo. — Dona


Rosi estava animada e eu não conseguia processar a grandiosidade da
situação.

— Mas, se Mercy quiser trocar de vestido, aceite. Ela é a noiva —


Chad decretou e senti meu coração aquecer pelo poder que me dava.

— Ah, não. Ela não pode trocar. — Dona Rosi se aproximou de mim
e tive medo dela sentir o cheiro de sexo. — Querida, é para dar sorte. O noivo
precisa te ver da mesma forma que encontrará no dia do casamento. Tradição
da família Sartori. Minha sogra quase me fez desistir do casamento, mas hoje
eu entendo tudo.
— Eu... — Comecei a suar frio.

— Vem almoçar conosco? Mason e seu pai virão também e nos


encontraremos naquele restaurante italiano. — Dona Rosi me ignorou.

— Sim. — Ele se aproximou de nós e tocou minhas costas. — Quer


ajuda para terminar de se despir? — perguntou suave.

— Não, querido. Vocês podem ir na frente, eu ainda preciso fazer


alguns últimos ajustes. Zander me leva até vocês — soei irônica pelo
desespero, não por estar brava com algo.

Os dois estranharam minha fala, mas não contestaram. Cada um


deixou um beijo no meu rosto e pude respirar aliviada por me encarar no
espelho sem que tivesse julgamento.

Era isso mesmo que eu queria? Por não ter opção para a minha
sobrevivência, eu estava entregando meu coração. Certo ou errado, as
circunstâncias estavam me obrigando a aceitar meu destino. Não era ruim,
muito menos desolado, só não conseguia explicar a angústia que ainda existia
no meu coração.

Dei um gritinho quando a porta se abriu e a costureira da loja


apareceu para retocar a renda, conforme prometido. Eu queria outro vestido,
mas também, necessitava abrir mão da minha crença para fazer parte dos
Sartori.

Minha identidade estava se mesclando com as particularidades da


família que estava ingressando. Não tinha como ser uma farsa, tudo estava
seguindo de verdade.
Capítulo 29

No restaurante italiano, alisei a perna de Mercy enquanto ela bebia


uma taça de água. Estava nervosa, algo a incomodava e eu não sabia como
abordar sem chamar atenção para nós.

Depois do que fizemos na loja de vestidos de noiva, eu estava


disposto a reverter a situação que eu mesmo tinha criado. Ela me queria e
estava com tanta saudade quanto eu.

A operação em busca do seu pai e daqueles que poderiam prejudicar


a sua vida estava em andamento. Ousei e fui além, estava em contato com
uma empresa especializada para encontrar a mãe de Mercedes. Se estava no
Paraguai ou noutro país, não importava, iria achá-la e esse seria meu presente
de casamento para ela.

Se não fosse a obrigação de estar ao seu lado, talvez eu nunca


percebesse o quanto eu queria ter uma família. Era uma merda pensar assim,
mas agradecia a irresponsabilidade do pai por me entregar sua filha para
cuidar.

Os CEOs do Grupo RM Sartori estavam entretidos conversando


sobre o aeroporto que eles comandavam. Minha mãe comentava e dava
sugestões e tentava incluir Mercy no assunto, mas ela só acenava ou
concordava.

— Quer conversar? — murmurei perto do seu ouvido. — Podemos


sair.

— Está tudo bem. — Forçou o sorriso e deixou a taça a sua frente.


Sua mão foi para a minha, que estava na sua perna debaixo da mesa e a
apertou.

— Claro que tem. O que foi?

Ela virou para me dizer algo, mas meu celular tocou em cima da
mesa tirando a minha atenção. O nome Melissa brilhou na tela do aparelho.
Minha mulher, quando viu aquele nome, se levantou, irritada e meu inferno
pessoal parecia ter retornado sem que eu tivesse provocado.

Porra, achava que tinha bloqueado o número da mulher! Não tinha


mais conversado com ela, muito menos fui atrás de outro encontro casual,
porque estava focado em trabalhar, manter Mercedes segura e lhe dar o
melhor presente de casamento.

Fui me levantar para ir atrás de Mercy, mas Mason segurou no meu


pulso me impedindo e minha mãe, então, foi atrás dela. Fechei a cara para
meu irmão mais velho, ninguém me impediria de ir atrás dela.

— O que está acontecendo? — perguntou olhando para o celular. —


Achei que você iria se casar. Por que tem outra mulher te ligando? Uma, com
quem você tem um passado.

— Eu sou comprometido e você está tirando conclusões


precipitadas, assim como minha noiva. Me solta!

— Calma, Marcelo. Sua mãe tem tudo sob controle. — Meu pai
estava tranquilo, o homem era um poço de paciência. — E nos conte a sua
versão da história enquanto isso.

— Não há o que falar, pai. — Livrei-me de Mason, peguei o celular


e bloqueei o número. Então, lembrei que estava organizando a despedida de
solteiro do meu amigo Max. Tinha contatado uma agência especializada
nesse tipo de festa e, se não me falhava a memória, Melissa trabalhava com
esse tipo de evento.

Fechei os olhos e apertei o topo do nariz, era uma mancada atrás da


outra. Poderia falar que, se fosse solteiro, não teria essas complicações. Mas
eu estava determinado em fazer as coisas direito, a culpa era apenas minha.

Seria mais fácil lidar com um casamento por obrigação como o


governador Maxwell fazia, mas eu estava rendido pela mulher que topava
todas as minhas loucuras. Confiança e respeito.

— Claro que tem algo a ser falado. Nem preciso trabalhar na mesma
área que você para saber que tem cara de culpado — Mason soou arrogante.

— No dia em que você aparecer com uma mulher ao seu lado e não
fizer as coisas direito, acredite, eu serei pior do que está sendo para mim. —
Olhei para o meu pai, que tinha as sobrancelhas erguidas. — Eu vou lá.

— Não precisa, elas estão de volta.

Olhei para trás, vi as duas se aproximando sorrindo, como se nada


tivesse acontecido. Mercy se sentou ao meu lado e bateu na minha mão
quando a aproximei da sua perna.
Os outros na mesa voltaram a conversar e aproveitei para remediar a
situação que eu tinha criado.

— Me deixe explicar — pedi baixo.

— Fale, querido — usou o tom irônico que me deixava louco.

— Estou organizando uma despedida de solteiro. A agência...

— Ah, eu não vejo a hora dessa festa acontecer — rebateu alto e


chamou atenção dos outros três. Virou para minha mãe e segurou na mão
dela. — A senhora me prometeu uma despedida de solteira também, não é?

— Sim, Mercy. Está tudo planejado com...

— Perfeito. Sempre sonhei com uma. Faz parte da transição, não é


mesmo? — Ela não estava feliz, mas forçava a alegria. — Você vai na festa
do Marcelo?

— Posso te garantir, cunhada, nada de mais vai acontecer em uma


festa entre irmãos — Mason soou irritado e o intimidei com o olhar. Ele não
poderia falar daquele jeito com a minha mulher.

— Eu preciso terminar de falar, Mercy. Uma frase fora do contexto


está me colocando no banco dos réus. — A discussão já tinha englobado
todos, não precisava ser discreto. — Tem que entender e não tirar conclusões
precipitadas — implorei compreensão.

— Desculpe se está prestes a se casar com alguém que ainda não


concluiu os estudos. Algumas coisas eu não aprendo rápido, só externo o que
estou sentindo e, no momento, estou muito confusa.
Nós a estávamos intimidando. Misturando-se a isso o pensamento de
estar sendo traída, acabou acionando sua baixa autoestima, que eu nem sabia
que ela tinha.

Mercy se levantou e fiz o mesmo, não a deixaria ir embora sem


resolver a situação, como da outra vez. Minha mãe me encarou preocupada,
mas foquei a atenção na mulher que queria ao meu lado, para tentarmos uma
vida a dois.

— Mercedes, vem comigo — pedi com carinho.

— Podemos conversar amanhã? Eu preciso... tenho... — Olhou para


a mesa e a vi engolir o choro. — Sinto muito, vou voltar para casa. Posso?

— Claro, Mercedes. Ela também é sua. Vá descansar. — Minha mãe


deu o aval, para alívio dela.

— Melhoras — meu pai desejou e Mason ficou em silêncio nos


observando.

— Vou te acompanhar até o carro.

Abracei seu corpo de lado e atravessamos o restaurante sem


conversarmos. Chegamos no estacionamento e avistei o carro de Zander. Ela
apressou o passo e a acompanhei, para não se livrar tão rápido de mim.

— Não te traí — decretei a minha sentença.

— Tudo bem — soltou um muxoxo.

— Mercy, não te traí antes e nem faria isso agora. Eu gosto de você.
— Paramos ao lado da porta do passageiro e segurei seu rosto. — Estive
impedido de explicar da primeira vez, você não me deu chance, mas quero
falar tudo hoje. Chega de desencontros. Senti sua falta, como poderia fazer o
que fiz na loja, se eu estava me satisfazendo com outra?

— Às vezes, penso que vocês são demais para mim — murmurou


com os olhos cheios de lágrimas. — Deve ser a chegada do meu período
menstrual, estou sensível, Chad. Me deixa acalmar, amanhã nos falamos.

— Sim, nós vamos resolver isso. Iremos nos casar e ficar bem. —
Beijei seus lábios, ela suspirou em alívio. Soltei-a, porque iria respeitar seu
desejo, não porque queria a distância entre nós. — Eu nunca agi assim. Você
é a única na minha vida.

— Você foi meu primeiro, nunca deixará de ser especial. — Abriu a


porta e a observei se acomodar. Fechei a porta e deixei que Zander a levasse
para longe de mim.

Era assim que os apaixonados se sentiam? Por mais que fosse


dolorido, buscaria uma forma de resolver todas as problemáticas que
envolviam nosso relacionamento. Ser solteiro tinha menos complicações, mas
não proporcionava nem metade da satisfação que era tê-la em meus braços.

Voltei para mesa dentro do restaurante e assim que me acomodei,


Mason me entregou o celular. Meu aparelho tocou instantes depois e vi o
número do responsável pela missão de encontrar o chefe dos jogos ilegais da
cidade.

— Sartori falando — atendi apressado sob o olhar atento da minha


família.

— Preciso que venha até o departamento, tenho novas informações


para te passar.

— Estou a caminho. — Encerrei a chamada. — Eu preciso ir.

— O que está acontecendo, filho? Se não gosta de Mercedes, é


melhor que vivam como solteiros. — Dona Rosi também interpretou tudo de
forma errada. Claro, por não ter contado sobre o perigo, ela veria só a parte
ruim.

— Mãe, algo maior está acontecendo e envolve Mercy. Gosto


daquela mulher, acho que foi a primeira que conseguiu mexer tanto comigo.
— Levantei-me e beijei sua testa. — Depois eu conto os detalhes, mas
preciso, antes de tudo, cumprir com minha obrigação.

Fui para meu carro e segui até o departamento de polícia ao som da


banda alemã Rammstein, tocando Sonne.

“Um

Lá vem o Sol

Dois

Lá vem o Sol

Três
Ele é a estrela mais brilhante de todas

Quatro

Lá vem o Sol”
Capítulo 30

Analisei evidências, relatórios e cadernos usando luvas. Estava numa


das salas de análise de provas da polícia contribuindo com o meu
conhecimento para conseguir incriminar Nicholas O’Donnell. Ele tinha sido
o nome mais citado em meio a todos aqueles documentos coletados depois da
operação silenciosa da madrugada. Estava enganado, ele era o tubarão.

Passei o resto daquele dia em que vi Mercy vestida de noiva e parte


da manhã do outro dia envolvido com essa questão. Precisava conversar com
ela, mas não estava em condições para ser coerente por conta da privação de
sono.

Depois de orientar o pessoal sobre alguns pontos que precisavam de


mais comprovações, encerrei minha participação. Não consegui nenhuma
informação sobre o paradeiro de Ronald Smith, a situação atual do meu sogro
ainda era uma incógnita.

Segui com meu carro em direção a casa dos meus pais entre bocejos.
Era cedo, mas não o suficiente para pegar meu pai em casa. Queria estar
sozinho com Mercy e, quem sabe, aproveitaríamos a piscina.

O segurança me permitiu entrar com o carro na garagem. Nem a


música agitada que tocava no som do carro me ajudava e ficar desperto. Saí
do carro bocejando, o terno estava amassado e, quando inspirei
profundamente, percebi que não cheirava bem.
Passei pelo hall de entrada, atravessei a sala de estar e fui para a
cozinha. Como não tinha ninguém, explorei as salas e escritórios do andar
debaixo, mas sem sucesso de encontrar os moradores.

— Mãe? Mercy? — chamei, me sentindo um bêbado perdido. De


certa forma, era a mesma sensação, com a diferença de estar ciente de tudo o
que acontecia ao meu redor.

Subi a escada e fui para o meu antigo quarto. Iria cochilar por uns
minutos e, depois, quando estivesse mais desperto, tentaria encontrar minha
noiva. Não achei que precisaria bater à porta até acender a luz e notar que o
cômodo estava ocupado. Vi minha mulher deitada na cama, vestindo a minha
roupa – a mesma que emprestei na primeira noite que ficou em casa – e
aliviei o peso das minhas costas.

Ela ainda deveria estar brava pelo incidente no restaurante, que não
tinha conseguido me explicar direito. Mas Mercy continuava gostando de
mim e isso era o mais importante.

Apaguei a luz, tirei minha roupa, amontoando tudo em um canto. O


cheiro que estava no ar não era mais o mesmo e estava gostando do que via.
Na adolescência, esse era o meu canto e nem mesmo as minhas
acompanhantes vinham para cá.

Apenas de cueca, subi na cama de casal e me acomodei nas costas


dela, trazendo seu corpo para próximo do meu. Ela resmungou e, mesmo se
não me quisesse, ainda tínhamos o edredom entre nós.

— Chad? — ela sussurrou e eu bocejei, fechando os olhos.


— Sim. Mercy. Perdão. — Inspirei seu cheiro e ela suspirou. —
Preciso de algumas horas de sono, não dormi nada na noite passada.

— Onde estava? — Virou nos meus braços, para minha infelicidade.


— Está cheirando estranho.

— Eu sei, mas vou tomar banho depois. Pode ser?

Para minha surpresa, ela puxou o edredom e me cobriu junto com


ela. Enrosquei minhas pernas nas suas e beijei sua testa. Sem resistência,
estávamos avançando um passo.

— Ainda não respondeu minha pergunta, Marcelo.

— Eu prefiro que meu apelido saia dos seus lábios, senão vou achar
que ainda está chateada comigo.

— Mas continuo brava. Uma parte, você não tem culpa. A outra,
você produziu provas contra você mesmo. Por favor, não faça a despedida de
solteiro.

— É para um amigo, seremos padrinhos de casamento dele. — Abri


apenas um olho e vi na penumbra seu assombro. — Não te contei, não é
mesmo?

— Penny me chamou para ser madrinha do casamento dela com o


governador. É dele que está falando? Como vai acontecer depois da nossa
cerimônia, deixei para falar mais próximo do dia. — Ela voltou a se
aconchegar no meu peito, estávamos um de frente para o outro.

— Vamos manter sigilo sobre a vida dele, tudo bem? É meu amigo e
eu também pensava como ele.

— Como?

— Vida pessoal não tem nada a ver com a profissional. Éramos


desapegados de relacionamentos, mas isso não nos impedia de fazer um bom
trabalho, em cumprir com nosso dever.

— Continua pensando assim?

— De uma certa forma, ainda acredito nisso, mas... — impedi que


ela saísse dos meus braços, ainda não tinha terminado — ...mas isso não quer
dizer que não posso me amarrar a alguém e continuar sendo um bom juiz.

— Por obrigação.

— Não importa como tudo começou, Mercy. Confesso que, se não


fosse dessa maneira, eu nunca deixaria uma mulher ficar tanto tempo na
minha vida que não fosse Mary ou Juliet.

— Elas são ajudantes do lar — resmungou incrédula.

— Pois, é. Estava acostumado com festas, rostos desconhecidos e


bocas de vários sabores. Eu até fazia vídeos e revia tudo. — Mordi o interior
da minha bochecha, não acreditava que estava confessando algo tão íntimo.
— Costumo ser bom com as palavras, afinal, sou um juiz, mas você consegue
despertar a minha sinceridade sem filtro.

— A culpa é só sua, Chad.

— Sim, eu sei que sou responsável pelas merdas que faço. Eu


agendei um programa no meu apartamento acreditando que conseguiria
resistir a você por mais uma semana. Melissa veio no dia combinado, mas eu
já estava rendido em seus braços.

— Você iria fazer um ménage? — murmurou se encolhendo e meu


sono parecia ter ido embora.

— Depende. Gosta disso?

— Você quer? — rebateu saindo do meu abraço. — Acho melhor


você dormir e eu me levantar. Assinei um contrato sem a cláusula de
fidelidade, mas saiba que, da minha parte, além de ser apenas sua, eu não
compartilho.

Entrou no banheiro e fechou a porta com força. Mais uma batalha


perdida para o homem que não trazia o lado juiz para o pessoal.

Virei de bruços e soltei o ar. Eu era um homem frustrado que não


sabia usar as palavras para falar de sentimentos. Se tivesse provas e
documentos, encontraria a solução em poucos minutos, mas algo que não era
palpável, estava sendo cada vez mais um desastre.

Peguei no sono e nem sabia dizer se tinha sonhado ou não. Acordei


assustado. Uma música alta soou no quarto e me fez sentar na cama,
deixando que meus pés encontrassem o chão.

“Eu estou vivendo como uma mina terrestre prestes a explodir

Eu estou batendo como uma bomba-relógio pronta para ir”


Three Days Grace – Landmine

Coloquei a mão na cabeça e senti uma pontada de dor, que não iria
aliviar por conta da agitação da melodia.

— Meu Deus, você gosta de música assim? — perguntei ao perceber


que ainda precisava conhecer mais da mulher que viveria ao meu lado.

— Sim. Eu escuto rock, leio livros de romance de vez em quando e


assisto séries de televisão quase todos os dias. — Colocou a mão na cintura e
me enfrentou. Ela estava com um short curto e uma regata. — Bem, estando
aqui, acabei mudando um pouco de hábito. Você não tem televisão no quarto.

— Eu levei a minha quando me mudei. Era só pedir que eu mandava


colocar uma. — Resmunguei tentando me levantar.

— Te acordei?

— Sim+ — Bufei ficando de pé e parando na frente dela. Seu olhar


foi para o meu quadril e a ereção que eu ostentava.

— Desculpe, querido — Mercy falou com aquele sarcasmo que me


tirava do sério. Ah, daquela fez não ficaria barato.

Menos atordoado pela falta de sono, inclinei para frente e a coloquei


no meu ombro. Ela gritou, assustada. Eu a segurei firme e saí do quarto
determinado a nos dar um banho gelado.

— O que está fazendo? — perguntou batendo de leve nas minhas


costas.

— Pare de brigar comigo, mulher. Eu estou com você!

— Mas não é o que seu coração quer — rebateu indignada quando


comecei a descer a escada.

Fui devagar e não respondi, porque não era uma questão do que
escolhi por vontade própria. Foi-me dada uma obrigação e, a partir desse
momento, eu consegui deixar que os sentimentos falassem.

Seria a mesma situação de alguns casamentos arranjados de séculos


passados. Não existia amor no início, mas ele seria construído com a
convivência. Considerar que era mais ou menos como namorar, noivar e
casar, por opção, estava fora de cogitação.

Saí para a área de lazer no fundo da casa e Mercy começou a


espernear. Como não pediu para que a soltasse, continuei com meu caminhar
até a piscina.

Afundei na água e a trouxe para cima em poucos segundos.


Chacoalhei a cabeça e sorri, ela estava brava e jogava água na minha direção.

— Meu cabelo estava arrumado. Eu não acredito, Chad!

— Você não pediu para te soltar. — Peguei na barra da sua blusa e a


tirei por cima da cabeça.

— Pelo amor de Deus, você não sabe escolher local nem momento
para fazer amor?
— Nem sei como fazer isso, Mercy. — Ela ficou envergonhada.
Tirei seu short, olhei ao redor e confirmei que não havia ninguém para nos
espiar. Seria a primeira vez que usava a casa dos meus pais para uma
escapadinha. — Agora, nós vamos trepar.

— Não tinha uma palavra mais bonita para definir sexo?

— Tudo bem, você será bem comida. Só me deixe nos acalmar,


querida.

Ela abriu a boca para contestar, mas eu abaixei na água deixando


apenas minha cabeça de fora e a trouxe para ficar no meu colo. Esfreguei seu
quadril no meu e minha ereção explodiria a qualquer momento, fosse pela
nossa curta discussão ou apenas por ser ela.

— Alguém pode vir — murmurou abraçando meu pescoço e vi que


ela já estava ficando excitada.

— Melhor que sejamos rápidos. — Coloquei sua calcinha de lado e


introduzi dois dedos nela. — Vai me deixar te foder, Mercy?

Ela me beijou com fome. Tirei meu pau de dentro da cueca e nos
encaixamos pouco a pouco. Fui até a parede da piscina, pressionei-a para me
ajudar a entrar, já que a água não facilitava no início.

Foi rápido, mas não menos prazeroso. Ao sentir que iria gozar,
esfreguei seu clitóris com os dedos enquanto minha boca tomava dos seus
gemidos. Ela topava minhas loucuras, se entregava para momento e atendia
os meus desejos. A esposa perfeita.
O tempo foi perfeito, porque logo em seguida, uma das faxineiras
apareceu na área carregando lençóis para levar para a lavanderia que ficava
nos fundos. Ela manteve a discrição e não nos encarou, mas Mercy se
escondeu ao máximo atrás de mim.

— Seu louco — reclamou, mas havia satisfação no seu tom.

— Acostume-se, porque você vai se casar comigo.


Capítulo 31

Por mais que não tivéssemos conversado sobre todos os detalhes do


que tinha acontecido, resolvi aceitar que Marcelo não tinha me traído. Mas
que o universo estava conspirando para que ele o fizesse, ah, isso estava.

Almoçamos juntos e sozinhos, pois os homens do Grupo RM Sartori


tinham ido trabalhar e dona Rosi estava na instituição que ela ajudava com
doações. Eu geralmente a acompanhava, mas, por estar tão deprimida, resolvi
ficar dormindo.

Acreditava que meu corpo estava mais em sintonia com Chad do que
minha mente ou coração. Bastava ele me tocar, ou mesmo me abraçar e eu já
queria seguir até o fim.

Depois que meu noivo foi embora trabalhar que lembrei que não
conversamos sobre termos transado sem usar preservativo. Os exames
estavam de acordo e não teríamos problemas com doenças, mas havia um
outro porém: gravidez.

Eu não me assustava com essa possibilidade, só não sabia dizer se


minha postura seria má interpretada. Quando Camile morava comigo, eu
amava ajudar minha mãe a cuidar dela. Sabia que sentiria falta das duas, mas
escolhi viver com o meu pai, porque sempre fui independente.

Às vezes, pensava que tudo fazia parte de um grande plano, como


esse casamento arranjado. Faltava descobrir quando e onde tudo terminaria.
Passei a tarde na sala menor, assistindo à programação local, porque
naquela televisão não tinha opção de assistir streamings. Eu ainda portava o
cartão de crédito do Chad, mas usava, apenas, em último caso.

Distraída, não vi a noite chegar até que minha sogra apareceu na


porta do cômodo com um pano preto na mão.

— Olá, dona Rosi — cumprimentei amistosa, observando-a parar na


minha frente.

— Chega de ficar amuada. Hora da diversão.

— O que disse?

— Preparada, minha nora? Vamos, fique de pé!

Obedeci de forma robótica, mas queria perguntar o que estava


acontecendo. Ela vendou meus olhos e me guiou pela casa. Pela brisa que
senti, estava do lado de fora.

Senti meu rosto esquentar ao lembrar do que fiz com Chad na


piscina. Eu fiquei tão brava por ele ter dormido e me deixado cheia de
dúvidas! Velei seu sono, tentei ler, mas acabei rendida pela provocação.

Meu estômago se remexia de um jeito bom quando eu o chamava de


querido com sarcasmo. O olhar desafiador, além da pose imponente,
mostrava o quanto aquele homem tinha todos os pré-requisitos que eu tanto
sonhara em um marido.

Só faltava ele dizer que me amava. Mas, achava que era pedir
demais, afinal, nem mesma eu conseguia pronunciar essas palavras.
Dona Rosi me colocou sentada em uma cadeira e escutei palmas.
Notei que mais pessoas estavam ali, não era um evento pontual.

— Tem que tomar tudo. — Reconheci a voz de Juliet. Colocaram


um copo pequeno na minha boca e me fizeram virar de uma vez. tinha um
gosto forte ao mesmo tempo que doce. — Eh!

— O que é isso? Quem está aqui?

— Saquê e você está sendo bem cuidada. — Dona Rosi tirou a


minha venda e me surpreendi com os enfeites com balões, serpentinas e
confetes espalhados ao redor. Um grande coração com o meu nome e de
Marcelo estava adornando o ambiente, Mary e Juliet estavam presentes.

Colocaram uma tiara na minha cabeça com a palavra “noiva” e um


pequeno véu. Estávamos sentadas em cadeiras em um círculo e uma mesa ao
meu lado servia de apoio para umas caixas e bebidas.

— Essa é sua despedida de solteira. Um pouco de álcool, família e


presentes para a lua de mel. Parte da tradição. — Minha sogra pegou uma
caixa enorme e reconheci a marca EWR, da empresa do Ethan. —
Começaremos com a caixa enviada pelo meu filho rebelde. Vamos fingir que
eu sou apenas uma amiga e que você não vai se casar com o meu menino, que
limpei a bunda e vi crescer.

— Eu... Nossa... Uau!

Mary veio me dar um abraço, empolgada e senti a emoção tomar


conta de mim. Apesar de não querer uma festa daquelas, não tinha noção do
que me aguardava. Naquele formato, com somente pessoas queridas, que
nunca deixaram de me estender a mão, eu queria chorar de alegria.

— Vamos, abra! — Juliet insistiu e eu prestei atenção em como


poderia abrir aquele pacote sem estragar o embrulho.

— Igualzinha a Marcelo, toda metódica. — Dona Rosi comentou e


as duas concordaram, parecendo a máfia da família.

Encontrei um nó na fita, desfiz e o laço se soltou da caixa. Tirei a


tampa e vi transparências, além de muita renda, eram peças íntimas brancas.
Um coro de exclamações soou e eu fiquei envergonhada de compartilhar com
elas que usaria isso com meu marido.

— Veio meias? — Mary perguntou.

Mostrei o sutiã tomara que caia, a calcinha minúscula e a cinta-liga.


Também tinha um espartilho, fitas e a meia com a renda no topo. Era digno
de uma lua de mel de verdade, do meu sonho se tornando realidade.

Peguei o cartão e sorri ao ver as palavras:

Façam bom uso e não tenham cuidado. Essa linha foi criada
exclusivamente para ser destruída no final da consumação do amor.

Bem-vinda a família, Mercy.

Do seu cunhado preferido,

Ethan.
— Não vale chorar, senão te faremos desfilar com as lingeries —
Juliet falou e as duas concordaram. Limpei a lágrima antes dela escorrer e
deixei a caixa no chão ao meu lado, pois minha sogra estava me entregando
outra.

Abri o embrulho e encontrei uma camisola sensual vermelha e preta.


Esse presente veio de dona Ana Mazzi, a amiga de trabalhos voluntários de
dona Rosi. Lembrei do sobrenome e imaginei que seria a mãe do governador.
Ainda não sabia dizer se o tal homem era uma boa ou uma má influência para
Marcelo.

Precisava parar de julgar. Às vezes, eu criava ideias mirabolantes


sobre o que os homens faziam longe de casa. Tendo meu pai como exemplo,
ficava difícil pensar diferente. Esse pensamento me fez lembrar que não
entraria no casamento acompanhada dele, muito menos teria a minha mãe ao
meu lado, com Camile de dama de honra.

— Ah, não. No que está pensando? — Mary falou e as três se


aproximaram de mim, nem percebi que tinha mudado de expressão. — É um
momento feliz, a primeira herdeira Sartori dessa geração!

— Não tem noção do quanto sonhei em ter uma mulher para


conversar e me ajudar a lidar com esses homens. Apesar de me sentir uma
rainha, eu queria uma filha. — Dona Rosi me abraçou ainda sentada em seu
lugar e recebi o seu conforto. — Está com saudades dos seus pais, não é
mesmo?
— Sim — confessei, envergonhada.

— Ela me ensinou a fazer uma torta chamada sopa paraguaia. Está


programado para ser servida no almoço antes do casamento. — Mary olhou
para Juliet, que se animou pela receita.

— Tentamos contato com sua amiga, Vitória, que trabalhava com


você no Mall. Zander não a encontrou, foi até na casa dela, inclusive. —
Dona Rosi colocou meu cabelo atrás da orelha. — Não queria te chatear com
isso, mas nós tentamos trazer mais pessoas para que te fizesse sentir em casa.

— Estou preocupada. É a segunda pessoa que desaparece da minha


vida. — Mordi a língua, por ter revelado demais. Ninguém sabia que meu pai
estava envolvido com pessoas perigosas.

— Oh, querida. As mães agem sempre pensando no melhor para a


vida dos filhos. Ela se foi, mas podemos encontrar meios de acioná-la. —
Soltei o ar aliviada por ela ter ido para esse lado da história.

— Eu entendo. Só fiquei, nostálgica. — Recebi outro abraço da


minha sogra. — Obrigada por ser tão maravilhosa, dona Rosi. Mesmo
parecendo uma loucura de casamento, a senhora me ajudou sem contestar.

— Ah, não se engane, eu tenho meus motivos. — Ela riu e me


assustou. — Desde que meu filho esteja feliz, eu estarei sempre aqui para
ajudar.

— Você também tem ao seu lado uma dupla que é apaixonada pelos
Sartori — Juliet falou e apontou para ela e para Mary, que acenou
confirmando. — Pode contar conosco.
Levantei-me para abraçar as duas. Recebi carinho, conselhos e me
conectei ainda mais com essas mulheres queridas. Eu compreendia minha
sogra, ela continuaria do meu lado enquanto seu filho estivesse bem. Talvez,
eu fosse mais ciumenta, por isso acolhi com muito carinho a sua empolgação
sobre o casamento.

Faltavam poucos dias. Ainda havia muita preocupação, mas meu


coração só tinha uma direção: o altar.
Capítulo 32

O grande momento havia chegado.

Depois da minha despedida de solteira, esquivei-me de Marcelo e ele


pouco foi atrás de mim. Sabia que estava lidando com o trabalho, além da
investigação para encontrar os criminosos por trás dos jogos ilegais. Eu fazia
parte de uma estatística que quase não existia naquele meio, o final feliz de
um tráfico de pessoas.

Acompanhava pela televisão a vida da minha amiga e seu noivo, o


governador Maxwell. Torcia para que Penny tivesse mais sorte do que eu, por
não estar atrelada a um casamento por contrato. A questão era que, sem ser
uma união por amor, tudo causava dúvida, se agiam por conta da obrigação
ou era um estímulo natural.

Não consegui comer nada. Apenas tomei sucos e muitas xícaras de


café. Passei o dia no spa, fazendo massagens, tomando banhos relaxantes e
me preparando para colocar o vestido de noiva.

A coragem para trocá-lo, mesmo depois que Chad o tinha visto, se


perdeu no caminho. Se era tradição da família Sartori o noivo ser levado para
ver a mulher em seu traje oficial, que assim fosse. Respeitaria o desejo de
dona Rosi e dos ancestrais.

Duas horas antes do evento, meu cabelo começou a ser preparado


enquanto minhas unhas das mãos e pés estavam sendo pintadas. A
maquiagem ficou por último. Entrei no quarto reservado para mim e vi o
vestido pendurado em uma arara.

Havia um fotógrafo nos acompanhando desde o início. Por mais que


dona Rosi estivesse sempre comigo, ela me deu espaço para curtir todos os
momentos, mesmo estando no comando.

Minhas mãos suaram e alisei o roupão para tentar secá-las.

— Vai dar tudo certo, hoje é o seu dia — a funcionária do salão


falou e me conduziu para ficar atrás de um biombo estilizado.

Tirei o roupão e encarei a lingerie sensual. Meu corpo não era


perfeito, mas naquela renda e transparência, sentia-me atraente, além de
sensual. Naquele lugar não tinha espelho, mas era possível sentir o quanto eu
estava bonita.

Respirei fundo e coloquei o vestido, deixando que ela terminasse de


ajeitar o véu na minha tiara de cabelo. Os brincos grandes já estavam no lugar
e meu coração só faltava sair pela boca.

Os botões nas minhas costas foram alinhados e todo o ajuste do


vestido conferido. Olhei para baixo. A saia não era muito armada, apenas o
suficiente para ser reconhecida como noiva.

Eu iria me casar e ninguém da minha família estaria presente.

Saí de trás do biombo e parei em frente ao espelho. Respirei fundo e


segurei o choro por me ver tão maravilhosa. O teste não tinha chegado nem
perto de como estava naquele dia.
— Estou com sua bolsa. Quer tirar uma foto com seu celular? — A
funcionária do salão – que também era do spa – ergueu meus pertences e
sorri para o fotógrafo. Ele não parou de clicar e, como estava me sentindo
irresistível, posei para ele.

— Sim, eu queria algumas fotos só para mim — pedi e a mulher me


entregou a bolsa, para que mostrasse onde o celular estava. — Nossa, estou
me sentindo tão perfeita!

— Diva e maravilhosa, é assim que você deveria se sentir todos os


dias. — Pegou o aparelho das minhas mãos e começou a me fotografar. —
Você é muito fotogênica.

— Sim. Deveria usar o álbum de casamento como portifólio para


uma agência de modelo — o fotógrafo falou.

— Meu cunhado comentou sobre isso quando me viu pela primeira


vez, mas achei que era apenas um elogio. — Senti-me confiante e comecei a
fazer poses. Os dois se divertiram comigo.

— Acho que ele tem um bom olho. Está maravilhosa.

Depois de uma longa sessão de fotos, tantas que meu celular ficou
sem espaço para salvar imagens, fui deixada sozinha para acionar o carro que
me levaria até o salão de festas do Hotel Reynalds, onde aconteceria a
celebração do casamento do juiz Marcelo Sartori e sua noiva, Mercedes
Smith.

Como se estivesse esperando o momento de sair correndo, fiquei de


pé olhando para a porta. Ela se abriu momentos depois e sorri ao ver Zander,
todo arrumado e com o cabelo alinhado com gel. Ele sorriu e me estendeu o
braço, que recebi de bom grado. Foi me conduzindo pelo salão ao som de
aplausos de todos da equipe.

Já estava difícil de não chorar. Se continuasse daquele jeito, eu iria


me desmanchar.

Minha sogra estava pronta, deslumbrante, me esperando próxima a


porta do salão. Ela tirou foto com seu celular, depois fez sinal para alguém
atrás de mim.

Era o meu buquê, com um terço em madeira rodeando sua base.


Minhas bochechas doeram pelo enorme sorriso que dei, porque tinha
mencionado sobre algo semelhante que se perdeu, um presente dado pela
minha mãe antes dela ter ido embora.

— Seja feliz, minha filha — recebi a benção de Rosimeire Sartori.

A limosine já estava do lado de fora nos esperando. Havia outro


motorista, então Zander foi no banco da frente ao seu lado e eu, junto com
dona Rosi, nos acomodamos no banco traseiro. Estávamos prontas para
seguir para a festa.

Apertei o buquê e o terço nas minhas mãos, buscando força para


acreditar que aquilo era real. Quando fizemos o contrato pré-nupcial, tinha
sido apenas um acordo, mas naquele momento, não havia como ser falso.

Começou como obrigação, mas ficou real quando nos conhecemos


além da superfície.
Seguimos o trajeto em silêncio. Acreditava que até minha sogra
precisava de um momento para processar que o seu filho não seria apenas
dela, mas o compartilharia comigo. Claro, cada uma com seu lugar especial
no coração dele, afinal de contas, nada nem ninguém substituía o lugar de pai
e mãe.

O trânsito perto do local estava lento. Ao chegarmos na entrada,


minha sogra saiu primeiro e fiquei dentro da limosine encarando o nada. A
luz de cima estava ligada, por isso meu medo do escuro parecia abrandado,
mas não tinha ido embora por completo.

Eu queria acabar de vez com a distância física que nos foi imposta.
Morar com dona Rosi era bom, mas eu queria voltar para o apartamento e
ficar ao lado, todas as noites, do meu marido.

Tudo bem que eu tinha decidido me mudar para a casa de seus pais
para não sofrer. No entanto, naquele momento, não mais me importava de
tolerar suas meias palavras, com significados ambíguos.

A porta do meu lado foi aberta. Saí do carro e fui conduzida até a
entrada do hotel por Zander. Estranhei que continuou comigo até a
organizadora de casamento nos direcionar para o salão, que tinha as portas
fechadas.

— O que vai fazer? — perguntei baixo para o meu segurança.

— Vou te acompanhar até o altar. — Ficou sério, já que meus olhos


começaram a marejar. — Seu futuro esposo está preocupado e imagina o que
você deve estar sentindo. Eu o entendo, farei o meu melhor para te entregar
para Marcelo. Minha cara ameaçadora será a melhor.

— Você é mais que um segurança pra mim, é um amigo. — Inclinei


a cabeça no seu ombro e suspirei. — Obrigada por ser tão maravilhoso
comigo.

— Obrigado também — murmurou de volta.

Voltei a minha postura ereta, as portas se abriram e a música da


minha entrada tocou. Mesmo sem poder provar, eu sabia que aquela união
seria para sempre.
Capítulo 33

Meu mundo parou apenas para exaltar aquela mulher que estava
entrando no salão, acompanhada de Zander. O homem tinha se tornado um
grande amigo. Eu devia mais que um bom salário para ele por estar fazendo o
papel daquele que traria minha noiva até mim no altar.

Não conhecia a música que estava tocando, mas sabia que se


chamava Face The Truth, da banda UnSun. Não teve letra, era apenas a parte
instrumental do piano e do violino.

As cadeiras foram posicionadas nas laterais, deixando um grande


caminho no meio, para que ela pudesse passar com toda a sua elegância e
carisma.

Ela não mudou o vestido. Seguiu a tradição da família e isso me


surpreendeu duplamente. Se possível, ela estava mais bonita do que naquele
dia da prova. Ethan, meu irmão irreverente, fez questão de me mandar uma
foto do que minha esposa deveria estar usando debaixo daquele vestido e
minha mente vagava por várias coisas ao mesmo tempo.

Eu queria tudo dela.

Passei os últimos dias antes do meu casamento finalizando a


documentação para iniciar o processo contra os jogos ilegais na cidade. Com
o apoio de outros magistrados e da polícia, além do meu amigo, o governador
Maxwell, o empresário Nicholas O’Donnell seria indiciado e preso.
Desviei meu olhar rapidamente para o lado, apenas para conferir o
quão meu padrinho era bom de atuação. Ele não acreditava que eu estava
gostando de verdade daquela mulher e que, por uma questão de necessidade,
estávamos nos casando, mas que isso não nos impediria de sermos
namorados.

Penélope, do seu lado esquerdo, estava deslumbrante e irradiava


inocência. Ela sorria para a amiga que estava cada vez mais próxima. A
música tomou uma entonação mais forte e lembrei que minha esposa era
adepta do rock, fã de séries e lia livros de romance esporadicamente.
Aprenderia cada vez mais dela, podendo andar pela cidade sem ter medo que
bandidos a quisessem de volta.

Eles pararam na minha frente no mesmo momento que a música


findou. Estendi a mão para pegar a de Mercy, mas Zander interveio:

— Cuide bem dela e sejam felizes, ou eu volto sem meu crachá de


segurança, mas como um amigo muito vingativo — murmurou antes de
entregar a mão dela.

Mercedes sorriu para ele e voltou seus olhos para mim. O brilho que
encontrei encheu meu coração. Estava amarrado por toda a vida e pensava
que me sentiria um lixo quando esse momento chegasse, mas não, estava
feliz.

Olhei para os meus pais, que estavam orgulhosos e depois para


minha mulher, que eu já queria dar um beijo, mas me controlei.

— Oi — murmurou acanhada.
— Linda. Pronta?

— Sim. — Respirou fundo e nos conduzi para ficarmos na frente do


juiz de paz.

Enquanto ele dizia as palavras de praxe do rito, eu senti a mão de


Mercy no meu braço. Toquei-a para emanar o meu calor em sua direção,
trocamos um olhar e esqueci que tudo começou por conta de uma obrigação.

Confesso que nem lembrava mais do que tinha dito nos meus votos,
nem o que Mercedes falou nos dela. Foi breve, rápido e emocionante. Mas o
“sim”, esse eu não vou esquecer, nem do tom emocionado com que foi
proferido.

Ela era minha para sempre. Ou até que pedisse o divórcio. Naquele
momento, estava odiando ser da área jurídica e de trazer esse lado para o meu
universo tão bem desorganizado.

Quando percebi, já estava envolvendo a cintura de Mercy,


inclinando-a e a beijando com todo o meu desejo latente. Escutei gritos e
aplausos, era tempo de curtir a festa e aproveitar a parte boa de ser um
homem casado.

Puxei-a para sair do altar em meio a celebração e chuva de pétalas de


rosas. Sabia que uma das suítes do hotel tinha sido reservada para nós, então
saí do salão e a peguei no colo.

— Chad, aonde você vai? — Ela riu e abraçou meu pescoço.

— Nossa lua de mel começa agora. — Tentei dar mais um passo,


mas uma mulher com roupa das organizadoras da festa me freou.

— Ela está linda, senhor Sartori, mas precisamos cumprir com o


protocolo da recepção.

— O quê? — rebati irritado. O casamento era meu, desde quando


tinha que seguir algum script?

— Apenas algumas fotos, o bolo, a valsa, o brinde... seus pais e


familiares estão aí para celebrar juntos com o senhor. Terá o resto da vida
para curtir com sua esposa.

— Certo — concordei, ainda descontente.

— Pronto, marido. Pode me colocar no chão. — Beijou meu rosto e


a obedeci. — Quero falar com Penny, estou animada por tê-la por aqui, faz
tempo que não conversamos. Ainda estou preocupada com o
desaparecimento de Vitória, ela se tornou minha única amiga.

— Claro, vamos.

De mãos dadas, voltamos para o salão e lembrei do quanto Zander


estava preocupado com essa amiga de Mercedes. Ele tinha fortes indícios de
que ela também estaria envolvida com os mesmos bandidos dos jogos ilegais.

Posamos para fotos e Mercy parecia muito natural quando nos


colocava em poses. Confortável, beijava minha boca e me pedia para abraçá-
la, como se soubesse o que se passava na minha mente.

Antes que pudesse me cansar, fomos até a mesa dos meus pais e
encontrei meus irmãos – menos Ryder. Olhei para minha mãe com a pergunta
no olhar. Ela se levantou para me abraçar enquanto Ethan roubava a minha
noiva.

— Ele sente muito por não poder vir, mas fica feliz se você também
estiver — dona Rosi sabia de tudo, inclusive lia mentes.

— Ry vai perder os melhores momentos até quando? — inquiri,


chateado e ela sorriu.

— Não é momento para isso, mas para celebrar a união dos dois.

— Parabéns, meu filho. — Recebi o carinho do meu pai e, depois,


troquei um abraço com Mason. Ethan já tinha ido para a pista de dança e se
divertia com minha esposa.

— Você sabe, ele gosta de chamar atenção — meu irmão mais velho
comentou, revirei os olhos e fui até Mercy.

— Vai me fazer chorar de rir, Ethan — minha esposa falou e a tirei


dos braços dele. — Seu irmão não existe.

— Sou o cunhado favorito. — Ethan bateu no meu ombro e sorriu,


sincero. — Parabéns e sucesso nessa empreitada. Eu só a quero para tirar
fotos com as minhas roupas.

— Não — respondi tão no automático, como fazíamos quando


crianças, que não pensei que era algo que tinha que ser definido por outra
pessoa.

— Pois então, querido. Quem decide isso sou eu. — Mercy se


colocou ao meu lado com seu sarcasmo. — Vamos tirar fotos com o bolo.
— Você sabe muito bem o que faço quando age assim — ameacei e
eles riram. Merda, Ethan ainda estava ali.

— Deixe de ameaças e cumpra o protocolo, juiz Sartori — Mercy


me puxou e a segui, ameaçando com o olhar o meu irmão engraçadinho.

Cumprimentei alguns conhecidos, vi Max e Penny com seguranças


para impedir que pessoas não autorizadas chegassem perto e fui agradar a
minha esposa, que demonstrou estar irritada com minha resposta provocativa
para Ethan, não tinha nada a ver com ela. Nunca a impediria de fazer algo
que quisesse, eu só falei por impulso, para contrariar Ethan.

Reparei que ela estava confortável na frente da câmera. Em fotos


apenas dela, peguei meu celular e fiz algumas imagens para mim. Quando
percebeu o que estava fazendo, ela veio para o meu lado e bati várias selfies
nossas, até que me beijou e eu só queria retribuir o seu amor.

Caramba, será que estávamos nesse ponto?

A organizadora do casamento nos levou para a pista de dança,


mandou distribuir taças de champanhe e fizemos o nosso brinde. A valsa
soou e começamos a dançar, olho no olho. Eram apenas nós dois, em meio ao
barulho dos familiares e das pessoas mais próximas.

— Eu tento ficar brava com você, mas não consigo — ela confessou
e tive que fazer leitura labial, já que a música não nos permitia ouvir com
facilidade. — Estou me apaixonando por você, Marcelo Sartori.

— Não mais do que eu já estou, Mercedes Sartori. — Ampliamos o


nosso sorriso, ela era uma de nós. — Minha esposa.
— Sua por obrigação. — Subiu os braços para o meu pescoço e
aproximou nossas bocas. — Sua de coração.

Protagonizamos um beijo intenso. Paramos de dançar e escutamos os


aplausos, que mais pareciam uma chuva de aceitação sobre o que viemos
executar naquela noite.

Ela era minha para que pudesse cumprir o dever com a lei, mas nada
tinha me preparado para resistir àquela atração que estávamos sentindo.

Abracei-a forte quando lembrei dos meus sonhos, do atentado que


ela sofria e do sangue no vestido branco de noiva.

Mas nada aconteceu. Estávamos bem e eu, finalmente, aproveitaria a


lua de mel como um homem casado.
Capítulo 34

Consegui interceptar Penny indo ao banheiro, precisava falar com


ela. Tão envolvida nos meus preparativos, que pouco tinha trocado
mensagens ou ligado. Era o momento de desabafar.

Quando me viu indo em sua direção, sorriu e recebeu o meu abraço.

— Vamos no meu banheiro exclusivo — falei animada. Peguei na


sua mão e a fiz mudar de trajetória.

Saímos do salão de festa e seguimos por um corredor. Uma mulher


guardava a porta do quarto que poderia ser usado por mim e meu marido,
com o intuito de relaxarmos durante a festa.

Entramos e apontei para o banheiro. Penny foi para lá e eu,


finalmente, me sentei. Ergui os pés e suspirei, ganharia uma bolha, mas, com
certeza, continuaria feliz.

Minha amiga voltou e se apressou em se sentar ao meu lado.

— Me conte tudo, como você está?

— Bem. — Empurrei meu ombro no dela e rimos como bobas


apaixonadas. — Quero dizer, eu acho que sim.

— Por que diz isso?

— Preciso te contar uma coisa, mas tem que manter sigilo. Não pode
falar nem para o governador. — Virei na cama e segurei suas mãos, ela me
olhou atenta. — Promete?

— Sim. Não há o que falar para meu noivo sobre você.

— Obrigada. Então, lembra do meu pai que desapareceu?

— Vi que ele não entrou com você. Aconteceu algo?

— Não sei. Meu pai está envolvido com jogos ilegais. Ele tinha me
apostado como prêmio. — Segurei a respiração ao observar sua reação. —
Ainda bem que Chad estava no caminho. Meu destino poderia ter sido pior
do que um casamento por obrigação.

— Você também? — Ela colocou uma mão na boca, chocada.

— Eu?

— Quero dizer, está se casando, ele te ajuda. — Penny


desconversou. — E seu pai, Mercy?

— Há uma investigação acontecendo, eu não sei direito e prefiro não


me envolver. Quando penso no meu pai, fico chateada com o que fez comigo,
mas, ao mesmo tempo, agradecida, porque consegui uma família
maravilhosa. Eu acho... que o amo.

— Mas se casou com dúvida?

— Sim... não... — rimos, porque essa resposta explicava muito. —


Era para ser apenas um contrato, até que a investigação acabasse. Fiz planos.
Vou terminar meus estudos, buscar uma carreira que, realmente, me realize...
— Eu fico muito feliz. Marcelo parece que gosta muito de você. Te
pegou no colo e já queria terminar a festa.

Tampei o rosto com as mãos e o quentinho no meu coração indicava


o quanto eu amava aquele jeito explosivo dele. Ele queria, executava e não se
importava com a opinião alheia.

— Ele diz que gosta de mim, mas ligou para uma mulher ir ao
apartamento dele. A Melissa sugeriu fazer um ménage.

— Que horror! — Penny se assustou e comecei a rir de nervoso. —


Ele está te traindo? No tal contrato...

— Não definimos nada sobre relacionamentos. Ele acreditava que


estar envolvido comigo tinha a ver com obrigação. Mas, nem tudo que vem
forçado, se mantem de forma involuntária. Como te disse, eu me apaixonei
pela família dele e, depois da nossa primeira vez...

— Mercy? — Chad abriu a porta do quarto e nos interrompeu.


Sorriu para mim com malícia e virou para minha convidada, com educação.
— Olá, Penny, tudo bem?

— Sim.

— Está na hora de roubar a anfitriã para executar alguns planos


sórdidos.

Levantei-me acompanhada da minha amiga, virei para abraçá-la e


recebi todo o carinho de quem eu conhecia há um tempo, mas não conseguia
uma oportunidade de ser mais íntima.
— Obrigada por ter vindo. Quero te ver feliz também — murmurei
no seu ouvido.

— Sim, vai dar tudo certo, para nós duas.

Saímos do quarto. Chad voltou a me carregar no colo e Penny ficou


para trás. Ele chegou em frente ao elevador e o chamou, para irmos até a
nossa suíte. Envolvi meus braços no seu pescoço e ganhei um selinho, o
clima estava melhor depois daquele não.

Ficamos nos encarando até chegarmos no nosso andar. A intensidade


dos seus olhos e o carinho que empregava em cada ação derretia um pouco
mais da chateação que eu estava por ele. Nem lembrava, para falar a verdade.

— Pedi que fizessem a melhor decoração de núpcias no nosso


quarto. — Ele me equilibrou e abriu a porta. — Quero um futuro com você,
Mercy.

Olhei para dentro, meus olhos se encheram de lágrimas por conta


das pétalas de rosas, flores vermelhas e velas espalhadas pelo cômodo. O
cheiro estava maravilhoso e o clima, pronto para a luxúria.

Chad me colocou no chão e abraçou minha cintura, ficando atrás de


mim para admirar aquela recepção. Respirei fundo, assim como ele fez,
relaxei contra seu corpo e aceitei minha sentença.

— Por impulso, posso dizer algumas besteiras, principalmente


quando envolve meus irmãos. Nós estamos em constante disputa, é coisa de
família. — Acariciou a minha barriga e eu apoiei minhas mãos nos seus
antebraços. — Eu nunca te impediria de fazer algo que queira. Me deixe
falar, concluir meu discurso, antes de interpretar minhas palavras fora do
contexto.

— Eu me sinto inferior a vocês. Sou insegura e apaixonada. — Virei


para encará-lo. — Apesar de tudo, eu te amo, Marcelo. Não fui sua opção,
mas o universo nos uniu. Eu escolhi você.

— Que se foda como tudo aconteceu, estamos casados. — Ele


segurou meu rosto e senti a azia me dominar, porque ele não retribuiu os
meus sentimentos, nem quando falamos os nossos votos. — Mercedes
Sartori, me dá a honra de ser aquele que te fará gemer a noite inteira?

— Sim — murmurei emocionada, por mais de um motivo.

Sua boca encontrou a minha e deixei as dúvidas para serem


alimentadas depois. Estava em um desnível intelectual com a família que
ingressava, além do social, mas, naquele quarto, tento um homem devotado
para o meu prazer, eu nos sentia iguais.

Suas mãos desceram pelos meus ombros, braços e chegaram nas


minhas. O leve aperto nos meus dedos me fez sorrir. Ele interrompeu nosso
beijo e me virou de costas, Chad já sabia muito bem como tirar aquele
vestido. Empurrou meu cabelo para frente por cima do ombro e desabotoou
cada um dos botões, sem pressa. Parou para pegar seu celular e o entregou
para mim.

— Coloque aquela música que você entrou. Eu amei, combina com


você, conosco.

Respirei fundo e fiz como pediu. O piano encheu o ambiente e me


deu forças para continuar. Ele poderia não me amar ainda, mas iria. Tentar
era o começo. Nem sempre estávamos na mesma página, mas, em algum
momento, iríamos equalizar... ou nos distanciar.

Despiu-me de cada peça de roupa e lingerie, sem pressa. Seu olhar


de desejo me excitou. O toque dos seus dedos na minha pele aqueceu meu
núcleo e relembrou o quanto ele era um bom amante.

Ajoelhado na minha frente, tirou as meias e desceu a calcinha.


Lembrei do recado de Ethan ao me presentear com essa lingerie e percebi
que, mesmo com a orientação selvagem, meu homem era rebelde. Ele estava
disposto a seguir seus próprios instintos, nãos o que lhe foi imposto.

“Eu mudei.

Crescendo a cada dia.

Enfrente a verdade sobre si mesmo.

Você e eu somos todos iguais.”

Unsun – Face The Truth

Nua, foi minha vez de despi-lo. Desfiz a gravata, tirei a jaqueta do


smoking e destoei dele quando cheguei na camisa social. Segurei em cada
lado e forcei para os lados, arrancando os botões das casas.

Encarei-o respirando com força e ele sorria satisfeito.


— Quase gozei, querida — era uma provocação e eu estava amando
a direção dos seus pensamentos. — Vai me arranhar?

— Farei pior. — Segui para sua calça quando a música chegou na


parte agitada, que descrevia a minha vontade de desabafo. — Vá se deitar, eu
ficarei por cima.

Ele terminou de se despir em segundos. Foi até a cama, puxou a


colcha, tirando as pétalas do caminho e se jogou de costas na cama. Inspirada
nos meus seriados mais adultos, subi em cima dele, alinhei nossos quadris e
me esfreguei em seu corpo.

Suas mãos foram para os meus seios, massageando e me


impulsionando para fazer mais. Lembrei do preservativo. Olhei ao redor e
encontrei alguns em cima da mesinha de cabeceira. Chad franziu a testa
quando me viu pegar um, mas não fez comentário.

Tentei colocar no seu membro, mas precisei de sua ajuda. Seria a


primeira vez que faríamos em uma cama e eu estava empolgada.

Segurei na base, encaixei-me nele e fui subindo e descendo aos


poucos. A posição parecia incômoda, mas melhorou quando ele me
preencheu por completo e eu consegui me esfregar. Rebolei e fui em busca da
melhor fricção para me dar prazer.

Suas mãos saíram dos meus seios e foram para a bunda, me dando
embalo para o vai e vem. Com uma pegada forte, ele conseguiu me estimular.

— Gostou assim? — perguntou com rouquidão.


— Eu me sinto poderosa — comentei sincera e ele sorriu, com
desejo.

— Você é, conseguiu domar meu coração.

Comecei a subir e descer, minhas pernas ganharam força e


velocidade, ajudando-me a encontrar o clímax. Fechei os olhos e me apoiei
no seu peito, parando de me mexer apenas quando meu clitóris parecia
sensível demais.

— Minha vez — anunciou, nos mudando de posição, me deixando


de lado enquanto me abraçava e arremetia em mim com intensidade. Buscou
meus lábios, beijou com fome e encontrou seu clímax um tempo depois.

Eram duas novas posições, um universo original criado por nós, para
a nossa união.

Ele se jogou ao meu lado, me puxou para seu peito e bocejou.

— Estou podre. Parece que fui atropelado. — Beijou minha testa


com carinho. — Pode descansar, eu não vou sair do seu lado.

— Te amo — murmurei abraçando seu corpo e me sentindo


protegida nos seus braços.

Amor. Encontrei-o em meio a uma tempestade de obrigações.


Capítulo 35

Com minhas mãos e os joelhos apoiados na cama, Chad segurava


meu quadril enquanto estocava sem perder o ritmo. Estávamos entre dormir e
transar desde a madrugada, quando a festa acabou para nós. Ainda na suíte de
hotel, estávamos nos conhecendo através da intimidade de um casal.

Sua mão foi para meu clitóris, sua frente grudou nas minhas costas e
perdi as forças enquanto gemia alto por ter encontrado o meu clímax. Caímos
na cama e Marcelo concluiu o ato, cobrindo meu corpo e se saciando das
nossas emoções.

— Acho que vou precisar de uma pomada para assadura — comentei


e rimos juntos. Ele beijou minhas costas e saiu de cima de mim.

— Merda. Está ruim assim? Vamos parar um pouco.

— Não quero. — Virei o rosto na sua direção e suspirei apaixonada.


— O orgasmo faz tudo valer a pena, até a ardência entre as pernas.

— Quem disse que não se transa mais depois que se casa? —


Ajeitou o meu cabelo atrás da orelha. — Oi, senhora Sartori.

— Bom dia. — Bocejei e fechei os olhos. — Acho que vou cochilar


um pouco mais.

— Vou tomar um banho e pedir o café da manhã. Quer algo


especial?
— Você? — Pedi, divertida e complementei: — Eu te aceito como
degustação, querido.

— Ah, se você soubesse o quanto me irrita e excita me chamando


assim. — Levei um tapa de leve na bunda e me virei com o olhar arregalado,
mas ele tinha saído da cama. — Vamos, querida. Vou te dar um banho,
depois você volta a dormir.

— A recíproca é verdadeira, juiz Sartori.

Olhei-o com desafio, saí da cama e o acompanhei no banho,


iniciando mais uma rodada de sexo. O que eu poderia fazer além de
aproveitar, já que o homem era bom?

Voltamos para cama, tomamos o café da manhã e, depois,


conferimos o horário do nosso voo. Iríamos para um resort luxuoso nas Ilhas
Maldivas chamado Paradise. Pelas fotos do local e dos turistas, já me
imaginava dormindo e acordando rodeada por água.

Para começarmos a lua de mel, coloquei uma lingerie sexy, vestido e


o sapato branco da festa. Encarei-me no espelho de corpo inteiro em um
canto do quarto, coloquei as mãos na cintura e fiz várias poses.

Parei quando Chad se aproximou, tirou meu cabelo do ombro e


beijou meu pescoço.

— Você tem dom — comentou baixo.

— O quê? — Virei para ele.

— Posar. Tirar fotos. — Deslizou a mão pela minha lateral. — Você


é linda e se identifica com a câmera. Não tem vergonha.

— Sou sonhadora. — Voltei a me encarar no espelho.

— Quer trabalhar com isso? Ethan pode abrir muitas portas para
você. A empresa dele tem um setor exclusivo para modelos fotográficas.

— Não sei. — Fiz biquinho e sorri, percebendo a tristeza no meu


olhar. — Quero concluir meus estudos primeiro. E... queria saber algo do
meu pai.

— Sinto muito não poder te dar esse presente. As informações são


inconclusivas, por enquanto. — Beijou minha cabeça e me abraçou. — Eu
vou achá-lo e dar uma bronca no meu sogro, além de tentar o ajudar a mudar
de pensamento. Os jogos não são um bom caminho a se seguir.

— Ele é doente e odeia os ricos.

— Ah, ele vai aprender a amar, porque a filha dele é a mais nova
integrante da família Sartori.

Abracei-o com força, envolvendo meus braços no seu pescoço.


Respirei fundo, sentindo não só o aroma do quarto, mas o perfume dele, o
que me dava conforto e proteção.

— Vai ficar tudo bem, Mercy. Vamos para a nossa lua de mel.

— Sim, eu estou pronta.

Fechamos nossas malas, as deixando do lado da porta e fomos para a


recepção do hotel, fazer o nosso checkout. Zander nos aguardava e estava
sério demais, nem mesmo o meu cumprimento de longe, sorrindo, o fez
mudar de expressão.

Fiquei aguardando do lado de Chad sem conseguir disfarçar meu


semblante preocupado. Após concluir o pagamento da diária, nos
aproximamos do segurança. Ele foi cordial e muito profissional, nem parecia
o homem carinhoso que me levou ao altar e ameaçou o próprio chefe.

Entramos no carro, nos acomodando no banco traseiro enquanto a


bagagem era colocada no porta-malas. Não relaxei até o automóvel começar a
andar. Estendi o braço e toquei o ombro dele, que estava como motorista
também.

— O que foi, Zander? — perguntei, com o coração acelerado.

— Tem a ver com a investigação, Mercy. Na volta da lua de mel


conversamos. Tudo bem? — Marcelo intercedeu. Encontrei o olhar do
segurança pelo retrovisor interno e me acomodei ao lado do meu marido. —
Não se preocupe, tudo vai se resolver.

— Não gosto de ficar no escuro. — Ergui a cabeça para confrontar


Chad. — Melhor contar a história completa, senão vou continuar chateada,
igual àquela situação com a tal Melissa.

— Aquilo foi um mal-entendido. — Fez uma careta e parecia


angustiado. — Eu não queria tocar em você, então combinei com outra.
Achei que era em um dia e ela não veio, então, nós ficamos e eu joguei a
razão no lixo. Melissa veio no dia seguinte, porque eu confundi os dias.

— E a história só piora. — Afastei-me um pouco dele e cruzei os


braços. — Realmente, Melissa continua com meu ódio tanto quanto meu
excelentíssimo marido.

— Você disse que me amava lá no quarto — Chad estava indignado


e revirei os olhos. — Vamos enterrar esse assunto?

— Ainda tem a parte que ela te liga alguns dias antes do nosso
casamento. — Fiz uma careta e observei Zander relaxando no banco da frente
enquanto estávamos na nossa briga sem fundamento.

— Nunca irá esquecer disso, não é?

— Só vou guardar para ocasiões especiais, querido — zombei, o


fazendo me atacar com um beijo de boca aberta e cheio de pressão.

Uma parte era insegurança e a outra, apenas um motivo para que ele
demonstrasse o que sentia por mim, já que parecia difícil expor em palavras.
Qual era a dificuldade de dizer que me amava? Assumir que errou e pedir
desculpas? Era mais fácil criar mil e uma justificativas, que nos induziam a
uma explosão de luxúria.

O carro fez uma curva acentuada e bati a cabeça na janela. Chad se


afastou na hora e rosnou para Zander, que virou novamente com brusquidão.

— Porra, cara, por que a pressa? Ainda temos muito tempo para
estar no aeroporto — meu marido falou.

— Estamos sendo seguidos. Coloquem os cintos. — Acelerou e ia


obedecer, quando percebi que já estava com o equipamento de segurança.

Chad segurou na minha mão e olhou para trás. Acompanhei seu


movimento e vi uma SUV preta se alinhando com o nosso carro, pela lateral.
Dei um grito quando vi o vidro do outro carro descer e um homem
desconhecido apontar uma arma para nós. O tiro veio acompanhado do meu
medo de ser atingida e me encolhi por reflexo.

— Está tudo bem, é blindado. — Chad me aninhou no seu peito e


bateu no banco da frente ao lado de Zander. — Vamos, cara, acelera.

— Não estou conseguindo completar a ligação. — Um celular foi


jogado da parte da frente para o nosso colo. — Chame a polícia, Marcelo.
Está na última discada.

— Merda — meu marido reclamou e senti o medo me paralisar. Ele


apertou a tecla, colocou o aparelho no ouvido e me abraçou de lado. — Vai
ficar tudo bem, nada vai te atingir.

O carro que estava ao nosso lado avançou e tentou nos jogar para
fora da estrada. Fechei os olhos e escutei os xingamentos dos homens
enquanto sacudia de um lado para o outro no carro.

— Catena? Porra, cara, atende esse telefone. — Marcelo estava


irritado. — Tem dois carros atrás de nós na avenida, querendo provocar um
acidente.

— Ele atendeu? — Zander perguntou.

— Não, deixei recado. Vou avisar Mason. Ele tem alguns contatos
com a polícia internacional, por conta do aeroporto.

— Não sabemos se são confiáveis.


— Tem outra ideia, gênio? — soltou alto, com ironia.

O carro freou brusco, meu corpo foi jogado para frente e o de Chad
também. Abri os olhos e vi, em câmera lenda, meu marido flutuar enquanto o
automóvel fazia uma curva ao mesmo tempo que girava no ar.

Estávamos capotando. Eu tinha posto o cinto, mas Marcelo não.


Senti uma vertigem me tomar com a agitação. Não sei quantas vezes viramos.
O vidro do meu lado estava quebrado, mas não foi despedaçado.

O carro parou e fiquei de ponta cabeça. Respirei fundo e tentei não


deixar a náusea me dominar. Fechei os olhos e contei até dez, mas o pânico
que me obrigava a dormir com a luz acesa era o mesmo que queria me
abraçar naquele momento.

Não poderia ceder, era uma questão de emergência para salvar as


nossas vidas.
Capítulo 36

Despertei quando escutei um grito, era Mercedes. Abri os olhos e


não consegui me mexer sem sentir dor em todo meu corpo. Vi Zander ao meu
lado, ele tinha um machucado na testa que sangrava e estava acordando com
tanta dificuldade quanto eu.

Meu carro blindado capotou. Fiquei sem cinto para estar próximo de
Mercy e acabei sendo arremessado para frente. A posição que fiquei era a
pior, ainda mais com o automóvel de ponta cabeça.

— Acorde, Zander! Você está bem? — falei alto, ainda buscando


pela minha esposa. Tirei o sangue que escorria próximo dos meus olhos e vi a
porta de trás aberta. — Mercedes! — gritei desesperado.

— Chad! Socorro! — ela respondeu longe e soltou outro grito.

Não sei de onde tirei forças para ir até o banco de trás e sair do carro,
era a minha mulher que estava sendo levada. Fiquei de pé, mas logo cedi pela
dor insuportável na minha perna.

Meu coração foi rasgado quando vi Mercy sendo posta em uma das
SUVs que nos seguia. Um dos homens apontou para a minha direção e
escutei o disparo. Se acertou em mim, não sabia dizer, porque eu estava
dormente.

— Soltem ela! — reclamei sem força e o carro deu partida, sendo


acompanhado do segundo. — Mercedes! — gritei caindo no chão e tentando
respirar. Ou faltava ar para meus pulmões ou eu tinha desaprendido a inspirar
profundamente.

— Estamos na Florida’s Turnpike, na altura da Grassy Waters


Preserve. — Zander parecia perto e longe de mim ao mesmo tempo. Com os
olhos fechados e uma angústia pulsante, eu estava perdendo as forças. — Não
estou conseguindo falar com meu contato na polícia e Marcelo está ferido,
perdendo sangue. Chame uma ambulância, vou mandar a localização. —
Senti suas mãos em mim. — Porra!

— Mercedes — murmurei, tentando abrir os olhos, mas o sol não


ajudava.

— Eles a pegaram. Era isso que iria falar com você, quando tivesse
um minuto longe da sua mulher. Interceptei uma mensagem de resgate da
amiga dela, Vitória. Com vocês fora do país, eu executaria a missão por
minha conta.

— Me ajude a levantar — pedi buscando apoio nele e sentindo


pressão na perna.

— Você está vazando, chefe. Tem uma ferida enorme na sua perna.
O socorro está vindo, acabei de falar com seu irmão.

— E Catena? — perguntei ao sentir que estava perdendo a noção de


tempo e espaço.

— Espero que esteja morto ou machucado, porque, senão, ele vai


sofrer nas minhas mãos. Ele não pode ter nos traído.
— Você fala como se fosse superior a todos.

Ele soltou um riso e consegui respirar fundo, contribuindo para que a


escuridão me dominasse.

— Sinto muito, chefe. Estou com você, não pelo bom salário, mas
por causa de outra missão.

Eu tinha sido um peão no meio de um processo que eu acreditava ser


o juiz? Não consegui processar as informações direito, porque minha pressão
baixou e eu não consegui ver mais nada, muito menos ouvir.

Sem sonhos ou imagens desconexas, um grande apagão me


dominou. Ao recobrar o mínimo de consciência, lembrei do medo de
Mercedes e me agitei. Ela não poderia ficar longe de mim. Prometi que a
protegeria e pisei na bola, mais uma vez.

— Calma, Chad. Vai estragar o curativo na sua perna ou estourar os


pontos. — Tentei abrir os olhos e encontrar Mason, mas a minha visão estava
comprometida e mãos me impediam de me levantar. — Pare!

— Que se foda, eu preciso salvar minha mulher!

— Nós vamos, já estamos agindo. — Pisquei várias vezes e foquei


na voz de Zander. Com uma roupa tática, ele não sorria e nem parecia o meu
segurança.

— Que horas são? Quanto tempo estive aqui? — Consegui me livrar


das mãos de Mason e me sentar. Pela decoração do quarto, eu estava em um
hospital. — O que aconteceu?
— Vai relaxar e deixar os profissionais cuidarem disso — meu
irmão me repreendeu. — Você precisa se recuperar, o corte na perna foi
profundo.

— Está se esquecendo que eu preciso salvar a minha mulher —


rosnei para ele, conferi minha perna e a mobilidade. A roupa de hospital não
me ajudava em nada, mas tinha que acompanhar Zander para resgatar
Mercedes. — Preciso ir com você.

Fiquei de pé e a tontura quase me fez cair no chão. Escutei o


resmungo de Mason e não rebati. Precisava obter mais informações do meu
segurança, não de alguém que não sabia o que se passava no meu peito.

— Chefe, você vai se matar assim. — Zander se aproximou e me fez


deitar. Pelo menos, minha visão e meu raciocínio lógico estavam fluindo
melhor. — Consegui falar com Catena, ele estava no meio de uma incursão.
Conseguiram pegar alguns peões de Nicholas, além de encontrar os corpos
dos prisioneiros. Temos a confirmação.

— O pai de Mercy? — Ele confirmou com a cabeça. Não soava


como uma boa notícia, mas ainda era melhor do que ouvir que Mercedes
estava entre eles. — Qual a próxima etapa?

— Pedi ajuda a um amigo e estaremos em uma operação não oficial


em algumas horas. As autoridades daqui nem vão saber que entramos e
saímos daquele lugar, depois que o explodirmos.

— O’Donnell e seus associados precisam ser levados para o tribunal.


Justiça com as próprias mãos não é o caminho. — A situação estava saindo
do meu controle.

— Acho louvável confiar no poder das leis dos homens, você é


realmente um bom juiz. Alguém acreditava o contrário, mas atestei sua honra.
Você só é um desastre com relacionamentos.

— Vai se foder. Estava me investigando?

— Sim. O babaca tentou nos distrair, mas acabou nos levando até o
ninho.

— Quem era?

— O que importa é que os jogos ilegais em Miami terão um tempo


problemático depois da minha passagem por aqui.

— Não é assim que funciona. — Suspirei e observei meu irmão, que


estava atento a nossa conversa. — Se você o matar, outro assumirá. É preciso
fazer direito.

— Deixei de acreditar há algum tempo nessa ideologia. Mas


continue assim, juiz Sartori. Apenas pessoas como você poderão fazer a
diferença no mundo.

— Quem é você, Zander? — Mason questionou quando ele seguiu


para a porta do quarto.

— Aquele que ajuda com os finais felizes das histórias. Eu te mando


a localização de onde estarão as meninas. Carregue esse celular. — Apontou
para a mesa de cabeceira ao meu lado.
— Há quanto tempo estou aqui? — questionei angustiado.

— Algumas horas, vaso ruim não quebra fácil. — Mason apertou


meu ombro com cuidado. — Apenas o pai e Ethan sabem do acidente. Estava
esperando você melhorar para avisar a mãe.

— Preciso ir atrás da minha mulher.

— Você não se casou com ela por causa de um amor à primeira


vista. Agora estou entendendo tudo.

— Não importa, Mason. Eu gosto dela. — Ele negou com a cabeça,


meu irmão parecia não acreditar em mim. — Amo, sim. Quando a vi
entrando naquele casamento, declarando o que sente por mim...

— Você não disse que a amava. Seus votos mais pareciam uma
decisão de processo. Foi tudo arquitetado.

— Mas ela se declarou, eu só não retribuí porque estava empolgado


demais. Eu a quero também. Não importa como tudo começou, a motivação
para mantê-la ao meu lado é outra. — Voltei a me sentar na cama, para
irritação do meu irmão. — Vou atrás dela, com uma perna ou sem.

— As mulheres são complexas, Chad.

— Perderia o interesse se fossem simples demais. — Segurei no


ombro dele e consegui me manter de pé. — Onde estão minhas roupas?

— No lixo.

Voltei a me sentar e gemi, estava cada vez mais foda conseguir dar
um passo para ajudar Mercedes. Se alguém tocasse num fio de cabelo dela,
faria como Zander e esqueceria a justiça dos homens.

— Vou ligar para a mãe e pedir para passar no seu apartamento e


trazer uma muda de roupa. Fique despreocupado, seu segurança parece ter
tudo sob controle.

— Assim espero.
Capítulo 37

Fui tirada do carro que estava com Marcelo por mãos indelicadas.
Uma mordaça foi posta na minha boca, além de um capuz preto em minha
cabeça, depois fui jogada no banco de um carro. Dirigiram por um tempo e
eu não lutei, porque tinha esperanças de que, se fossem os mesmos homens
que estavam com o meu pai, eu poderia revê-lo.

Não conversaram, não me tocaram, mas me levaram para um lugar


fedido e insalubre. Nem precisei que tirassem a venda para saber o que meu
olfato constatava.

— Não converse, não pergunte, não chore ou terá que lidar com as
consequências — o homem intransigente falou quando fechou a portinhola da
frente. Eu estava sendo tratada como um animal.

Passou um tempo, senti vontade de ir ao banheiro, mas não


comentei. Vi movimentação nas outras gaiolas, um resmungo e o arrogante
chegar para usar algo contra a pessoa que falou.

O sol estava se pondo e meu pavor foi ganhando força. Abri a boca
para gritar, mas nada saiu. Será que Marcelo conseguiria me salvar? Zander
estaria vivo para o ajudar?

Vozes agitadas me assustaram. Encolhi-me na gaiola em que estava


presa e fui para o fundo. Tampei os ouvidos e deixei a respiração acelerada
me embalar, o medo estava sendo meu companheiro há um tempo.
Jogada naquele pequeno lugar, onde cachorros de grande porte eram
armazenados depois de uma consulta veterinária, eu tentava não surtar por
conta da escuridão.

Havia várias gaiolas e era possível identificar que tinham pessoas,


mas não se estavam vivas ou dormindo. Recusava pensar que poderiam estar
mortas, o ser humano não poderia ser tão cruel.

A sede deixou meus lábios secos e estava quase no meu limite para
poder me aliviar. Pelo cheiro e a podridão que me cercava, aquelas pessoas já
tinham feito suas necessidades sem se importar com a higiene.

Eu não queria que fosse meu fim.

Uma explosão me despertou e vários tiros foram disparados.


Continuei no canto que estava, pois o medo se ampliava frente ao
desconhecido. Algumas pessoas nas gaiolas se agitaram, mas eu me mantive
inerte, aguardando.

Se tudo acabasse para mim naquele momento, pelo menos um sonho


tinha sido realizado. Casei-me com um homem que me tratou como uma
princesa e me permitiu fazer parte da sua família. Dona Rosi foi como uma
mãe, a melhor pessoa que eu poderia ter ao meu lado enquanto decidia amar
Chad de verdade ou só me manter seguindo o contrato.

Meu único arrependimento era ter me separado da minha mãe. Céus,


eu queria tanto pedir perdão por não ter ido embora com ela e minha irmã
Camile!

A porta da minha gaiola foi aberta e gritei assustada. Ao espernear


para afastar quem quer que fosse que queria me tocar, relaxei minha bexiga e
o xixi vazou. Humilhação maior não existia.

— Calma, Mercy. Sou eu, Zander. — Ao ouvir sua voz, parei meu
escândalo e fui até ele, me jogando em seus braços.

— Precisamos ir, sua garota precisa de cuidados — um homem falou


e observei que tinha alguém carregando uma mulher conhecida.

— Vitória! — Tentei sair de perto do segurança, mas ele me freou


com a mão no meu braço. Olhei ao redor e percebi que as gaiolas estavam
abertas, mas só nós duas fomos resgatadas. — Por quê?

— Vamos embora. A polícia já foi acionada e virá fazer o resto da


faxina. Vocês não precisam estar aqui para testemunhar nada. O mal já foi
exterminado.

— O inferno estará em festa depois da nossa pequena contribuição


— senti a ironia nas suas palavras, bem como o sotaque parecido com o de
Zander. — Vamos embora, Alexia nos espera no furgão.

— Vou te ajudar. — Zander me pegou no colo e o segurei com


força.

Os dois saíram correndo. Fechei os olhos e escondi minha cabeça no


pescoço dele quando vi o primeiro corpo cheio de sangue estirado no chão.
Se com mandar para o inferno ele quis dizer matar os bandidos, só havia
entendido a referência naquele momento.

Fomos para um ambiente aberto. Escutei a porta de um carro sendo


puxada e fui posta no assoalho do automóvel. Vitória estava deitada e parecia
sem vida. Não me importei com o nosso estado deplorável e me apressei a
colocar sua cabeça no meu colo.

— Por que ela estava ali? — Olhei para Zander e ele parecia
preocupado. Segurou em um canto quando o carro começou a andar. — Foi
por minha culpa?

— Não assuma a responsabilidade que é única e exclusiva dos


bandidos. Você é uma vítima, ela também. — Suspirou e olhou para a frente,
eu fiz o mesmo. Uma mulher dirigia o furgão e o outro homem estava ao seu
lado, no banco do carona. — Vamos parar em um lugar para vocês trocarem
de roupa e aplicar soro nela.

— Faça as honras. — O outro homem estendeu uma bolsa. — O


quanto antes ela se hidratar, melhor.

— Obrigado, Leo.

— Quem são eles? — perguntei baixo acariciando o cabelo de


Vitória enquanto Zander se aproximava de nós.

— Amigos. Eu não sou apenas um segurança pessoal. Fui contratado


para espionar o juiz Sartori e encontrar provas de ilegalidade.

— Você nos traiu! — acusei chateada e ele negou com a cabeça. —


Sabia do casamento por contrato.

— Isso não é nenhum crime, Mercy. Marcelo é um bom homem, só


despertou a ira de algum executivo com muito dinheiro para nos contratar.
— De Paula está puto por ter sido feito de fantoche — o tal Leo
comentou.

— Quando ele não está estressado? Faz parte, conseguimos resgatar


as duas — a voz suave da mulher me acalmou. Ela me encarou pelo
retrovisor interno e sorriu. — Muito prazer, Alexia.

— Mercedes ou Mercy — respondi no automático.

Vitória gemeu nos meus braços. Zander tinha conseguido furar o seu
braço e colocado o soro. Ajeitou-o no alto, acariciou o rosto da minha amiga
e se afastou. Percebi que ele se sentia culpado, mas, como foi dito, apenas os
criminosos deveriam ter o peso da culpa.

Comecei a rir quando o homem sentado na frente começou a cantar a


música Mercy, do Shawn Mendes. Lembrei de Ethan, da família Sartori e do
meu marido. Nosso carro capotou e, por mais que o segurança parecesse
inteiro, eu não sabia se eu estava viúva ou não.

— Ele está bem — Zander informou. Deveria ter percebido, pelo


meu olhar de desespero, o que eu estava pensando. — Queria vir conosco,
mas a perna está lesionada. O juiz vai precisar de uns dias de cama e aquietar.

— Que bom. — Fiquei mais calma, mas durou pouco. — Esses eram
os mesmos homens que estavam envolvidos com meu pai?

— Sim. Pelo o que apuramos, seu pai não cumpriu o pagamento de


uma dívida e você era seu cheque caução. O que eles se esqueceram é que
tinham me contratado para ficar junto do juiz, além de que estamos do lado
dos mocinhos.
— O chefão que Chad queria pegar foi quem te contratou contra ele?

— Exato.

— E meu pai?

Pela hesitação, eu tive a resposta, mas não queria acreditar. Com


tudo o que tinha acontecido, com minha amiga fraca nos meus braços, eu não
sabia o que falar, apenas sentir.

— Sinto muito, Mercy. Ele fez muitas escolhas erradas, começando


por te colocar no meio dessa bagunça.

— Mas é meu pai — comentei emocionada.

— Sim. Por se tratar de um processo criminoso, o corpo ainda está


retido. — Ele olhou para Vitória, que remexeu no meu colo e suspirou. —
Não se preocupe, eu cuidarei de tudo.

— E qual a história dela? — perguntei, sentindo as lágrimas


escorrerem.

— Vitória tinha medo. Teve um relacionamento com Nicholas


O’Donnell e tentou se esconder dele. Não é tão simples deixar essas pessoas,
ainda mais quando não se consegue confiar naqueles que querem ajudar.

— Você gosta dela?

— Sim.

— E vai cuidar dela?


— Se ele não o fizer, vou chutar o saco dele — Alexia respondeu e
rimos em meio a tanta desgraça. — Estamos chegando. Avise o marido que o
resgate foi feito com sucesso.

— Obrigada. — Olhei para os três e abaixei para beijar a testa de


Vitória. — Fique bem, minha amiga.
Capítulo 38

— Mãe, acabei de chegar. Depois nos falamos — tentei encerrar a


ligação. Mason dirigia e eu, praticamente, fugi do hospital, sem dar grandes
explicações para dona Rosi, que foi buscar um café antes de passar a noite
como acompanhante.

— Quero falar com minha nora. Não espere uma ou duas horas
para me retornar, voltem para minha casa e fiquem no seu quarto ou eu vou
para o seu apartamento, Marcelo.

— Tudo bem, nós vamos direto até você.

— Oh, Ethan, você chegou. — Revirei os olhos para seu exagero.

— Convocou Ryder também? É uma reunião de família?

— Fique bem e não discuta comigo, eu sou sua mãe.

O carro parou no estacionamento de um motel fora da cidade. Abri a


porta e saí mancando e, pela dor, eu deveria ter arrebentado algum ponto.
Mason correu para ficar ao meu lado e me ajudou com apoio. Avistei Zander
saindo de um quarto no andar de cima e fui para a escada.

— Tem certeza de que é isso que você quer? — Mason murmurou.


Ele continuava incrédulo que eu tenha me apaixonado pela mulher que
escolhi proteger. — Não faça nada por obrigação. Dê a chance dela seguir o
próprio caminho.
— Ao meu lado. — Chegamos no segundo andar e meu segurança
nos encarou, preocupado. — Eu já fui por esse caminho e não funcionou. A
melhor opção é o nosso casamento ser real, porque eu também me apaixonei.

— Estão lá dentro — Zander foi para a porta e a abriu.

— Oh, Chad! — escutei a voz emocionada antes de senti-la se


chocar contra mim. Segurei na sua nuca e abracei sua cintura, forçando a
perna ilesa a dar conta de sustentar o que fosse necessário.

— Achei você! — Abracei-a com força.

— Você está bem?

— Só agora, depois que te encontrei. — Soltei o ar e afastei meu


rosto, foi ela que veio beijar minha boca em busca de conforto. — Que
roupas são essas?

— Eu que providenciei. As que elas vestiam não estavam muito


legal. — Uma mulher surgiu de um canto. Tinha um olhar angelical que
destoava das roupas táticas. Senti minha mulher se aconchegar mais em mim
e a dor foi mínima perante a sua presença ao meu lado. — Muito prazer, juiz
Sartori.

— Eles trabalham na mesma empresa que eu e me quebraram um


galho. — Zander foi até a cama na qual uma mulher estava deitada de olhos
fechados. Reconheci depois de alguns segundos, era a amiga de Mercy. —
Não poderei acompanhar vocês até sua casa, terão que acionar outra equipe
de segurança privada.
— Iremos para a casa dos meus pais, lá tem tudo o que precisam —
Mason se interpôs.

— Minha mãe exige que demos uma passada lá antes de voltarmos


para o apartamento. — Beijei a testa de Mercy, que me encarava preocupada.
— Nós vamos ficar bem.

— Onde estou? — A atenção foi para a mulher na cama, ela tinha


acordado. — Zander?

— Vai ficar tudo bem, Vitória — o segurança murmurou suave e


senti que já poderíamos ir embora.

— Obrigado. — Estendi a mão para a mulher, que retribuiu com um


aperto firme. Uma outra pessoa surgiu e me cumprimentou, fiz o
agradecimento e acenei para Zander, que não sairia do lado da sua protegida,
bem como eu não faria com a minha.

Saímos do quarto. Fui mancando até a escada, tendo ajuda de Mercy


e Mason. Mesmo sabendo que iria irritar meu irmão, quando chegamos no
automóvel, fui para o banco de trás ficar junto da minha mulher. Ela não se
incomodou com meu desespero, segurei seu rosto e a beijei como se fosse a
nossa primeira vez.

— Vou ser o motorista mesmo?

— Eu vou na frente — Mercy ofereceu, mas eu neguei. — Chad!

— Ele vai superar, serão apenas alguns quilômetros até em casa.


Preciso de você do meu lado. — Abracei-a e suspirei quando meu irmão
aceitou o posto e deu partida no carro. — Acabou, Mercy.

— Mas eu não quero o fim — murmurou se acomodando ao meu


lado. Pelo o que reparei, ela tinha saído ilesa do acidente, bem como Zander,
que só teve um arranhão na testa. Apenas o desesperado sem o cinto – eu –
ficou com sequelas. — Você disse que iria tentar, que gostava de mim.

— Acho que mais do que isso.

— Vamos nos conhecendo um pouco mais a cada dia.

— Sim. Até seu gosto musical eu conheço. — Estávamos divagando,


era momento do toque e do abraço. — Mason, coloca um pouco das músicas
que você escutava quando adolescente.

— Deixei de escutar essas coisas há um tempo, irmão.

— E o que toca no seu carro? Música clássica?

— Notícias. Tem um canal de rádio que fala sobre atualidades.

— Obrigado, mas não. — Cortei, antes que ele resolvesse nos deixar
depressivos com as notícias da cidade.

Pensei no futuro e no local paradisíaco que deveria estar com minha


noiva. Estava de noite, quase madrugada e deveríamos estar na cama,
exaustos de tanto fazer sexo.

— Zander falou que meu pai foi achado morto. — Pela dureza da
voz, estava se esforçando para não chorar. E por não ter falado mais nada,
com certeza, o segurança omitiu a parte que estávamos em busca da sua mãe.
— Você não está sozinha.

— Sua família, agora, é minha. Mas... achei que ia morrer, Chad.


Por um lado, fiquei feliz, porque eu tinha realizado o sonho de me casar.
Você foi maravilhoso. Mas... eu ainda tenho que encontrar minha mãe. Eu
abriria mão até dos meus estudos para poder descobrir seu paradeiro. — Abri
a boca para dizer algo, mas ela continuou: — Bom, não é momento de pensar
nisso agora, certo? Eu sobrevivi, vamos viver um dia de cada vez. Não é
mesmo?

— Sim. Ainda estamos em lua de mel, eu estou de férias e preciso de


cuidados. — Soltei uma risada baixa e Mercy me acompanhou. — Vai ser
minha enfermeira, querida?

— Pensei que era você que gostava de aplicar injeção — respondeu


baixinho, espirituosa.

Fomos surpreendidos com a risada alta de Mason. Minha esposa


escondeu o rosto no meu pescoço e alisei suas costas, feliz que, em meio ao
tormento, tinha um pouco de tranquilidade.

Não era o fim, apenas um recomeço.


Capítulo 39

Por conta de estar relaxado e dos remédios que tomei, cochilei no


carro e só acordei quando Mercy deixou vários beijos no meu rosto.

— Acorda, belo adormecido — murmurou, ficando com seu rosto


bem próximo do meu. Abri os olhos e encontrei os seus, radiantes. — Como
você se sente? Mason e Ethan estão do lado de fora para te ajudar a entrar.

— Eu que deveria te proteger.

— Ainda bem que você é um bom juiz e deixará essa conta


equilibrada em um outro momento.

— Fico feliz que você está bem. Não te fizeram mal. — Acariciei
seu rosto e ela suspirou, perdendo o sorriso.

— Estou triste e assustada, mas tenho uma vantagem, que é conviver


com o medo do escuro. O que me aconteceu está marcado, mas será difícil de
me abalar durante o dia ou na frente de outras pessoas.

— Eu te abraço todas as noites, não precisará ser forte sozinha.

— Vou contar com isso — murmurou emocionada, beijou meus


lábios e saiu do carro.

Empurrei-me para fora e meus irmãos fizeram uma cadeira com os


braços para me levar para dentro da casa. Mercy os acompanhou de perto,
mas precisou dar espaço, porque dona Rosi surgiu enquanto me colocaram no
sofá da sala de estar.

Abraçou todos e me conferiu da cabeça aos pés. Fiquei feliz que até
minha esposa teve a mesma verificação, ou seja, ela se sentiria incluída e
parte dos Sartori.

— A época de se machucarem e brigarem passou. Vocês deveriam


estar calmos e fazendo filhos, não feridas. — Minha mãe foi até mim e Juliet,
a ajudante do lar, estava acordada àquela hora e surgiu com uma bandeja
cheia de itens para curativo. — Tire a calça, meu filho. Juliet tem curso de
primeiros socorros, ela vai ver como está.

— Não. Mercy é responsável por isso. — Sorri para Ethan, que


soltou uma gargalhada, pensando besteira.

— Você é muito bonito, mas não posso me esquecer que troquei


suas fraldas — a mulher que me conhecia por tempo demais entrou na
brincadeira, para irritação da minha mãe.

— O assunto é sério!

— Sim, mas eles são jovens e estão vivos. — Meu pai apareceu e
abraçou minha mãe. — Estão debaixo da sua asa, na nossa casa. Vamos
dormir, meu amor.

— Ótimo. Farei o mesmo e amanhã teremos um grande almoço. —


Juliet entregou a bandeja para Mercy, que pegou e se sentou ao meu lado. —
Boa noite, rapazes.
Murmuramos despedidas e meu pai já estava arrastando minha mãe
pela escada. Sim, todos precisavam descansar e dormir.

— Vai tirar sua calça para mim, querido? — Encarei Mercy, que
tentava se manter séria, mas começou a rir enquanto Ethan se jogava na
poltrona sem se segurar. — Era para ser um momento tenso. Eu fui
sequestrada, mas estou aqui, rindo e pedindo para o meu marido tirar a calça
na frente dos irmãos.

— Acho bom que se acostume. Você ainda não conhece nem metade
do que podemos fazer, apenas para perturbar uns aos outros. — Mason se
afastou e soltou o ar, parecia estar se livrando da tensão também. — Eu sou o
pior de todos.

— Não, você é o chato. — Ethan apontou para ele, que subiu os


degraus e não rebateu. — Hei, alguém vai precisar me ajudar a levar Chad
para o andar de cima.

— Eu dou conta — murmurei abrindo o zíper e erguendo o quadril.

— Muita intimidade, irmão — resmungou divertido.

— Está sangrando, você se esforçou demais — Mercy repreendeu e


se ajoelhou ao meu lado, para conferir como estava. — O que eu tenho que
fazer?

— Pontos precisam estar secos. Limpe e passe a pomada


cicatrizante, depois feche, para não sair na roupa. — Ethan veio para próximo
e a ajudou com o curativo. — Acho que você precisa de umas aulas. Quer
brincar de médico?
— Você é meu irmão, mas eu vou te matar, Tantan! — rosnei
irritado e Mercy riu alto. Esperava que fosse algo que não envolvesse o
convite sem noção do meu irmão.

— Que apelido mais fofinho, Tantan! — minha mulher murmurou.

— Já que não sou bem vindo e está, inclusive, me ameaçando de


morte, vou dormir. Depois que se casou, está ficando um cuzão igual o
Mason. — Ele ainda estava se divertindo as minhas custas e se levantou.

— Vai se foder.

— Nunca sozinho, Chad. — Inclinou para frente e beijou a cabeça


de Mercy, eu forcei minhas pernas no chão e ele riu alto. — Sabe que eu
respeito, é apenas uma brincadeira.

— Não sei — rebati ofegante.

— Então, agora você aceita como verdade — soltou sério e saiu da


sala, me deixando sozinho com minha mulher.

— Sério que você tem ciúmes do Ethan? — Mercy perguntou e


começou a cuidar do meu curativo.

— Ele está te beijando, tocando, falando...

— Seu irmão, Chad. Você mesmo disse que se provocam, mas se


amam. E eu, também, nunca iria te trair. — Respirou fundo e percebi que
estava levando tudo para outro nível.

Fechei os olhos e fiquei um momento meditando. Estava sendo a


minha vez de me sentir inseguro quanto ao relacionamento por obrigação.
Não era, eu precisava me libertar.

— Mercy? — perguntei baixo.

— Oi, Chad.

— Casa comigo? — Abri os olhos e ela me encarou confusa.

— Mas nós já estamos casados.

— Não. Esse foi por causa do contrato pré-nupcial que assinamos.


Não tem mais bandidos, eu quero você por você.

Seu olhar foi se arregalando aos poucos, a boca se abriu e eu sorri.


Como ela não parecia reagir com palavras ao meu pedido, continuei:

— Só estou sendo um cuzão, porque ainda temos a sombra do que já


foi. Vamos encerrar esse capítulo e começar um nosso. Eu quero você. Não!

— Sim! — respondeu desesperada e comecei a rir.

— Não gosto de você, eu te amo. — Ela se ajoelhou ao meu lado e


abraçou meu pescoço. Puxei-a para se sentar no meu colo e ficar mais na
perna ilesa. — Outro casamento. Vamos ser uma família e você vai brincar
de médico apenas comigo.

Encarou-me, reflexiva, mas logo abriu um sorriso e beijou meus


lábios.

— Louco, é claro que vou fazer tudo isso. Eu também te amo.


Suspirei, contente. Com uma perna machucada e minha mulher nos
meus braços, nunca me senti tão aliviado quanto naquele momento.
Capítulo 40

Alguns dias depois...

Acordei com um celular tocando enquanto eu estava dormindo.


Como não sabia onde estava o meu desde os últimos acontecimentos, fui
atrás do aparelho de Chad. Tentei sair do seu abraço, mas ele tinha me
envolvido por trás e enlaçado suas pernas nas minhas, estava presa.

Nem sei como não sentia dor, já que o corte ainda era recente.
Inclusive, estávamos proibidos de sair de casa até que Marcelo estivesse
recuperado por completo. Dona Rosi sabia como agradar e, também, nos
obrigar a fazer suas vontades.

Era uma sogra entre um milhão. Seu zelo e amor só perdiam para a
superproteção. Pelo menos tínhamos liberdade no quarto e ninguém vinha
nos perturbar enquanto estávamos reclusos.

— Que barulho é esse? — Chad resmungou me soltando.

— Seu celular. — Saí da cama e o encontrei no chão, ao lado da


roupa descartada. Tínhamos nos amado pela primeira vez depois de tudo o
que tinha acontecido. A noite foi longa e muito prazerosa.

O nome de Zander brilhou na tela e tomei a liberdade de atender por


conta da saudade.
— Olá — cumprimentei voltando para a cama e vi Chad com o
cenho franzido.

— Como vai, senhora Sartori? Já está atendendo o telefone do


marido? — falou brincando.

— Ele não tem nada para me esconder. — Beijei seus lábios e me


ajeitei ao seu lado, ele ainda estava confuso. — É o Zander, querido.

— Liguei para me despedir. Esse número deixará de funcionar e


voltarei para o Brasil.

— E Vitória?

— Ela está comigo. Da mesma forma que aconteceu com você,


começou com um senso de proteção, mas se transformou em algo maior. Não
vou largar a minha menina.

— Ah, que lindo. — Roubei mais um selinho de Marcelo e sua


expressão era de curiosidade. — Zander e Vi estão juntos. Enfim, eu e
minhas amigas estamos bem.

— Ela quer falar com você.

— Por favor, eu preciso conversar com ela. Saia do cômodo.

O segurança deu risada e logo a voz baixa, mas animada, da minha


amiga Vitória, me motivou:

— Bom dia, princesa.

— Como você está, Vi?


— Perdi peso, então, tudo tem um lado bom. — Forçou uma risada e
suspirou. — Vai ficar tudo bem. Eu, finalmente, estou livre daquele defunto.
Nada de zumbis na minha vida, só gente viva, musculosa e que gosta de
bancar o mandão.

— Sinto muito por tudo o que aconteceu. Mas eu também sei da sua
força e que irá superar qualquer trauma.

— Bem, acho que temos algo em comum, agora. Também não durmo
com a luz apagada. O escuro me incomoda.

— Acho que superei. Na verdade, não há mais trevas no escuro.

— Como você fez?

— Aprendi a confiar em mim e naquele que me tem em seus braços.


— Chad beijou minha boca, deduzindo a nossa conversa.

— Bem, é isso. Vá curtir o seu juizão, que eu vou aproveitar tudo o


que tem de bom em um segurança.

— Espere! — Interrompi a sedução do meu marido a contragosto. —


Como tudo aconteceu? As mesmas pessoas que estavam envolvidas comigo,
também fizeram mal a você.

— Eu namorei um homem barra pesada. Lembra do defunto? Bem, o


último deles foi Nicholas. Quando percebi a grandiosidade do problema, fugi
para o sofá daquela cliente. Nunca te expus, nem sabia que seu pai jogava
com eles.

— Não estou te culpando, pelo contrário. Achava que eu tinha


levado toda a confusão para você.

— A grande preocupação deveria ser com a Donna. Perdeu duas


vendedoras em um pequeno espaço de tempo. Sua orelha não esquentou? A
minha vive quente.

— Ela dá conta, nossa vida mudou. — Estiquei braços e pernas. —


Fique bem e mande notícias.

— Zander disse que não é possível fazer com frequência, mas eu vou
tentar. Obrigada por ser uma boa amiga e de ter se envolvido com o Sartori.

— Parece até que tudo foi friamente calculado. Que venham novos
planos com menos sofrimento, não concorda?

— Com certeza. Beijo.

— Até mais, fique bem.

Encerrei a ligação com um sentimento saudoso no peito. Direcionei


meu olhar pra Chad, que aguardava o meu pronunciamento.

— Preciso de um celular novo. Não sei onde o meu está.

— Sua bolsa deve ter ido para o apartamento, para o nosso lar. —
Abraçou-me colocando a cabeça em meu pescoço e inspirando
profundamente. — Precisamos voltar, senhora Sartori. Aquela piscina no
terraço precisa ter mais histórias nossas para contar.

— Eu apreciarei muito. — Deixei minhas unhas trilharem um


caminho pelas suas costas, ele veio para cima de mim e se encaixou entre
minhas pernas. Sua ereção queria saltar da cueca e eu, apenas de calcinha,
estava fácil de ser estimulada. Para não judiar da sua perna machucada, ele a
deixou por cima da minha. — Quando sua licença termina?

— Mês que vem. Então, coma bastante, porque precisará de energia,


querida.

Devorei sua boca e sua língua dominou a minha. Eu queria um


pouco mais dele para poder acordar com todas as forças.

Os dias que ficamos com sua família e sem restrições de paixão, fez-
me sentir cada vez mais confiante. A diferença dos estudos, de classe social,
ou mesmo de conhecimento sobre o mundo, eram coisas que passavam longe
da minha cabeça, porque eu me sentia uma Sartori de verdade.

Confesso que até me imaginei no lugar de sogra, dando o mesmo


susto que dona Rosi me deu, quando armou para que Marcelo me visse com o
vestido de noiva. Cada tradição aceitada por mim era uma realização.

Economizando nos movimentos, Chad empurrou minha calcinha de


lado e tirou seu membro para me penetrar. Soltei um gemido mudo quando
me preencheu e ele afastou o rosto para me observar tomar do seu prazer.

Foi lento, um dos mais gostosos e intensos. Entrou e saiu de mim,


dando atenção para se esfregar contra o meu clitóris e me proporcionar
prazer. Meio de lado, ele conseguiu tomar um seio, estimulando o bico e
depois sugando, explodindo minha mente com tanto agrado.

— Eu te amo, Mercy — declarou-se com rouquidão. — Minha


esposa.
— Sua por obrigação. Sua de todo meu coração, querido. — Fechei
os olhos e o senti morder meu pescoço, com as palavras que se tornaram
gatilho para a nossa paixão temperando o momento.

As estocadas aumentaram. Fechei a boca para conter os meus


gemidos e gozei, rebolando contra ele. Virou-nos para que eu ficasse por
cima, forcei minhas coxas e subi e desci no seu pau, sendo preenchida por
seu gozo.

Segurou na minha cintura com força e pulsou dentro de mim.


Lembrei-me de uma informação importante e me deitei em cima dele, sem
protelar mais aquela conversa.

— Chad, estamos fazendo sem camisinha — comentei ofegante.

— Sim. Somos um casal, estamos limpos. — Alisou minhas costas.

— Optei por não tomar remédio, é isso o que quero dizer. — Fiquei
com vergonha de erguer a cabeça e o encarar. Como seu carinho hesitou
apenas um momento, acreditei que não tinha tanto problema. — Eu não
quero me aproveitar de você. É só que...

— Eu esperaria mais um pouco, temos muito tempo pela frente.


Você vai estudar, buscar a carreira profissional que almeja. Mas, por outro
lado, eu já tenho trinta e dois anos. Fico preocupado com o que você quer
fazer.

— Se está bem para você, por mim, também. — Soltei o ar com


alívio e ele me abraçou para me ajudar a relaxar. — Eu darei conta de fazer
tudo ao mesmo tempo, se acontecer.
— Então, hora do banho e café da manhã com a família. — Ele
ergueu minha cabeça, nossos olhares se encontraram e o seu sorriso me
firmou. O contrato ficou no passado, éramos um novo casal. — Bom dia,
querida — brincou com ironia.

— Está precisando de um banho gelado, querido. — Saí da cama


com pressa enquanto ele rosnava para tentar me alcançar.

Eu ainda não sabia, mas era o início da minha saga de felicidade.


Capítulo 41

Semanas depois...

Olhei para a tela do meu celular e fiz uma careta, ainda estavam
falando da grande operação contra os jogos ilegais em Miami. O assunto só
perdia para o casamento do governador Maxwell Mazzi, minha amiga Penny
estava linda e lidando com algo parecido com o que aconteceu comigo.

Coloquei um pouco de ovos mexidos na boca e encarei Mary


fazendo panquecas. Meu apetite estava cada vez maior e não tinha nada a ver
com gravidez, já que os testes de farmácia deram negativos.

Deveria ser o tanto de sexo que fazíamos. Todos os dias, de manhã e


à noite, eu e Chad não dávamos trégua. Aquela piscina no terraço tinha
muitas histórias e as estrelas, sendo nossas testemunhas, também.

— Não vai fazer o exame de laboratório?

— Todos de farmácia deram negativo. Já cansei de me iludir. —


Soltei o ar e me lembrei do casamento de Penny, quando foi o primeiro
momento que cogitei estar grávida. Busquei fotos na imprensa daquele
evento e revivi o grande dia da minha amiga. — Olha como ela estava linda.

— A primeira-dama do governador da Flórida é linda. — A mulher


espiou e voltou para o fogão. Chad já tinha ido trabalhar e eu estava focada
nas minhas aulas à distância, mas só olhava para o computador no período da
tarde. De manhã, ficava comendo e conversando com Mary. — Tem algumas
pessoas que acham que esse casamento é apenas de aparência.

— Será? — Olhei para a foto que os dois apareciam, uma do Max


encarando Penny com amor. — Se for, ele finge muito bem. Parecem um
casal apaixonado.

— Político, minha filha. Eles precisam maquiar a verdade para nos


convencer de algo. — Franzi a testa e ela deu de ombros. — Mas não temos o
que reclamar. As ações feitas por Maxwell Mazzi em Miami e para outras
cidades beneficiaram muitas pessoas. O homem é um bom político, mas a
questão é que tudo tem dois lados.

— Sim. — Fiz bico e me preocupei com minha amiga. — Espero


que tudo esteja correndo bem. Vitória ganhou um recomeço, Penélope
também merece o dela.

A campainha tocou e estranhei que não interfonaram antes. Mary se


antecipou, colocou as panquecas na minha frente e foi atender a porta. A
visita que me perdoasse, mas eu não largaria a comida naquele momento.

— Cunhadinha! — Ethan falou alto, virei e recebi o seu abraço. O


irmão mais feliz e irreverente estava na cidade, tinha sido surpreendida. —
Precisamos falar de negócios.

— Uau. E veio pessoalmente? Poderia ter me ligado.

— E perder a oportunidade de deixar meu irmão irritadinho? Nunca.


— Tomou um gole do meu suco e se sentou ao meu lado no banco alto do
balcão da cozinha. — Como se sente?

— Bem. — Coloquei o pedaço da panqueca na boca e ele riu.

— Minha mãe acha que você está grávida — comentou conspirador.

— Pois é, na última reunião de família, não se falava em outra coisa.


Mas, tudo negativo. Ainda não é o momento.

— Sem problema. — Tirou o celular do bolso e me mostrou a tela.


— O que eu preciso de você é que assine o contrato de exclusividade para
fazer as fotos de todos os produtos da linha gestante da EWR. Terei roupas,
lingerie e roupa de dormir, porque toda mulher precisa se sentir poderosa em
qualquer época da sua vida.

Eram desenhos de moda, com protótipos mostrando uma barriga


saliente e decotes. Meu estômago revirou, de ansiedade e realização. Depois
que Marcelo aceitou termos um filho, eu só pensava nisso. Mas... todos os
testes deram negativo.

Senti a comida subir na garganta, corri para o banheiro e joguei tudo


no vaso. Ethan chegou e me ajudou segurando meu cabelo, estava
constrangida, mas agradecida.

— Os exames estão errados, cunhada. É gravidez, sim.

— E agora, Ethan? — choraminguei, terminei de esvaziar o meu


estômago e limpei a boca na pia.

— Deixe essa barriga crescer. Temos seis meses de gestação para


fotografarmos. Desde o quarto mês, quero uma linha exclusiva.
Seu olhar era tão empolgado, que me aproximei e abracei sua
cintura. Esse era um cunhado que parecia não ter um momento infeliz.
Enquanto Mason era sério demais, Ethan seguia no sentido oposto.
Acreditava que existia algo doloroso demais para ser escondido com tanta
animação, mas não era minha história para ser contada.

— Vamos, eu te levo em um laboratório para colher seu sangue —


falou carinhoso.

— Preciso avisar Chad. — Saímos do banheiro.

— Pode deixar que ele nos encontra lá.

— Vou trocar de roupa e vamos.

Aprontei-me e saí do apartamento, preocupada. Queria falar com


Marcelo, mas como o seu irmão disse que ele estava a caminho, confiei nas
suas palavras. Ele, constantemente, olhava para o celular, mesmo estando
dirigindo. Com seu carro esportivo, ele era um playboy simpático destruidor
de corações.

Eu era apenas de um homem.

— Aqui não é uma clínica — falei desconfiada para Ethan quando


entrou no estacionamento de um hotel.

— Apenas uma parada importante antes de outro assunto importante.


Só não surta.

— Como? O que está acontecendo?


Ele saiu do carro e fiz o mesmo, apressada em encontrá-lo.

— Eu acho que você está grávida, então, controle os nervos. Fortes


emoções não fazem bem para o bebê. — Abraçou meu ombro e me conduziu
para a entrada do hotel.

— Por que não me fala o que está acontecendo?

— E estragar a surpresa? Respira fundo e sorria, cunhada.

— Ethan! — rosnei dando um beliscão de leve na sua barriga. Ele


riu e me colocou a sua frente quando chegamos na recepção do hotel.

Vi Marcelo sentado em um sofá sorrindo para algumas pessoas que


estavam de costas para mim. Meu coração acelerou e, quando seu olhar
encontrou o meu, eu não sabia o que falar.

— Venha, Mercy. Tem alguém com saudades de você. — Meu


marido se levantou e estendeu a mão.

Uma mulher e uma criança se levantaram e corri para abraçá-las


mesmo sem ver seus rostos. Era minha mãe e minha irmã Camile, as duas
que tanto ansiei rever, mas que parecia um sonho distante.

Chorei como uma criança, eu tinha reencontrado aquela que rejeitei.


Desde a morte do meu pai e a cerimônia de cremação, que eu tentava apagar
da minha mente, já que era dolorido demais, algo tinha morrido em mim.
Naquele momento, parecia renascer das cinzas.

Relembrei o dia que neguei segui-la para longe. Os momentos com


meu pai, o sofrimento passado e a despedida do homem que vivia para as
apostas veio para me derrubar, mas não conseguiu.

Era o momento de sentir o abraço materno, aquele que dona Rosi me


dava, mas que não tinha o mesmo calor daquele que trocava com a mulher
que compartilhava o seu DNA comigo. Eu a tinha de volta na minha vida.
Marcelo tinha conseguido me transformar na mulher mais feliz do mundo e,
naquele momento, me fez alcançar o céu.

Dona Eva, minha mãe.

— Oh, minha filha — ela falou em outro idioma e depois repetiu, em


inglês. — Que bom que me encontrou.

— Mamãe. — Estendi o braço e trouxe minha irmã para perto de


nós, ela também chorava. Tinha se tornado uma criança linda. Conheci-a
bebê, mas já estava tão grande! — Oh, mãe, me desculpe.

— Pare com isso, Mercy. Estamos juntas novamente. — Ela me


afastou e segurou meu rosto. Limpou minhas lágrimas e sorriu entre as dela.
— Você está feliz?

— Mais do que já me senti na vida. — Rimos e olhei por cima do


ombro, Marcelo e Ethan estavam lado a lado. — Ah, mãe, como me achou?

— Zander me ajudou. — Chad se aproximou e colocou a mão no


meu ombro. — Cumpri com o prometido, senhora Cruz.

— Ele parece ser um bom homem — minha mãe comentou me


encarando.

— O melhor. A família Sartori é especial. — Puxei-a para mais um


abraço e trouxe Camile comigo. — Vai ficar até quando?

— Uma semana. Sua irmã não pode faltar muita aula, senão perderá
o ano. — Ela limpou as lágrimas. — Por mais generoso que o seu marido
seja, temos uma outra vida no Paraguai. Eu me casei novamente.

— É maravilhoso, perfeito. Obrigada por ter vindo.

— Não queria interromper, mas temos outro compromisso. — Ethan


apareceu do meu lado e olhou para o irmão. — Sabe que não consigo seguir
regras como você, certo? Eu deveria só ter trazido Mercy para cá como
combinado, mas eu aproveitei e falei de negócios com ela.

— O que está acontecendo? — Chad inquiriu sério.

— Vamos fazer um exame de sangue. — Virei para o meu marido,


que estava com o semblante preocupado. — Por mais que os outros exames
de farmácia tenham dado negativo, é melhor garantir com o de sangue.

— Está grávida? — minha mãe perguntou e Camile começou a


pular, animada, pois queria um bebê para brincar.

Marcelo começou a reclamar com Ethan e fomos assim para o


estacionamento. Segui para o carro do meu marido enquanto os irmãos ainda
discutiam sobre seguir o combinado.

Entre conversas, risos e atualizações sobre a nossas vidas, chegamos


no laboratório. Fiz o exame e confirmei o que não parecia real. Sim, estava
grávida e recebi essa notícia acompanhada da minha mãe, da minha irmã e da
família Sartori. Não sabia de onde eu tirava tantas lágrimas, chorava de
felicidade, preocupação e realização.

A próxima parada era a casa de Rosi e Marco. Mesmo sendo dia de


semana, todos só pensavam em comemorar o futuro. O primeiro neto da
família Sartori estava a caminho e eu não poderia agradecer mais pelo dia que
fui obrigada a me casar.

Meu amor precisava de um empurrão e, com a conexão com a minha


mãe reestabelecida, sentia que poderia conquistar o mundo.
Epílogo

Na área de lazer da casa dos meus pais, reuni com meus irmãos para
a celebração da nova vida que estava a caminho.

— É um homem casado — meu irmão mais velho comentou,


tomando um gole do seu copo com refrigerante. Reparei que tinha parado de
tomar bebida alcoólica apenas naquele momento.

— Sempre fui o mais certinho de nós quatro.

— Se amarrou por causa de um contrato e, depois, se apaixonou.

— Como dizem, escrever certo por linhas tortas. Aceita que dói
menos, Mason.

— Você vai ser pai.

— Sim. Fui o primeiro. Estou com crédito com a mãe — rebati


sorrindo e batendo meu copo no que estava em cima da mesa, colocado ali
em homenagem a Ryder.

— Terei uma modelo gestante. Eu vou fazer fortuna com a nova


coleção. — Ethan colocou o pé na mesa e ergueu seu próprio copo. — Um
brinde.

— Não exponha minha mulher sem necessidade — resmunguei para


o irmão sorridente.
— Controle o seu ciúme. Ela é linda, fará parte de um catálogo
exclusivo e será mais rica do que você.

— Nunca. Eu ainda tenho parte do Grupo RM Sartori. Estou inativo,


mas quando me aposentar da carreira de juiz, volto para os negócios da
família.

— Quem disse que seu nome ainda está como sócio? — Fuzilei
Mason com o olhar e ele riu baixo da minha irritação. — Está feliz?

— Muito.

— Não enjoa? Ela não cobra demais? — Ethan tomou todo o


conteúdo do copo dele e pegou o de Ryder.

— Hei, ele faz parte da comemoração.

— Mas não está aqui. Sabe que o último sempre perde algo. —
Piscou um olho.

— Precisam pensar com responsabilidade. Com Mercedes, deu


certo, mas poderia tê-la tornado vítima dos seus próprios desejos. Ela era
inocente demais — Mason soou frio.

— E nem adianta falar que poderíamos nós sermos as vítimas,


porque não há um fio de cabelo inocente nos Sartori. Mesmo em mim, que
sou todo carinhoso e cheio de boas intenções. — Ethan se levantou, largou o
copo ainda com um pouco do uísque de Ryder e esticou os braços para cima.
— Vou dormir. Preciso trabalhar amanhã.

— Ainda ficarei por aqui, Mercy deve estar conversando com a mãe.
Elas precisam de um tempo só delas. — Vi meu irmão entrar na casa.

— Eu também vou. — Mason se levantou, estendeu o braço e


tocamos as mãos. — Felicidades.

— A nossa.

Observei o céu, sorri para as estrelas e para a piscina, minhas


companheiras em tantos bons momentos. Eu estava muito feliz e esperava
que meu amigo Maxwell também permitisse que esse sentimento o
encontrasse.

Vi Mercy se aproximar. Ela se sentou de frente, montada em mim e


me beijou. Recebi sua carícia e a incitação para o sexo com prazer. Com ela,
eu estava sempre pronto.

— Elas dormiram, seus pais e seus irmãos também. Eu quero você,


juiz Sartori — pediu sedutora, me encarando cheia de promessas.

— Seu desejo é uma ordem, meu amor. — Toquei sua barriga e ri


baixo. — Amores.

Peguei-a no colo, fui para a área de serviço nos fundos da casa e


estreamos aquele lugar com nossa celebração ao surgimento da nova geração
da família Sartori.
Agora Leia

Minha Por Contrato: https://amzn.to/35JuQ99

Sinopse: Casar era algo que eu nunca tinha imaginado fazer. A vida de solteiro me
proporcionava muitos benefícios e eu usufruía muito bem de todos eles.

Nasci numa família influente, dona de uma companhia aérea, e sempre tive tudo, mas a
política me deu poder. Porém, sempre fui um homem muito ambicioso. ⠀

Eu queria mais, almejava a presidência do país. ⠀


Acreditava ser a melhor escolha, não apenas pelo meu ego, mas pelos meus feitos políticos.
Entretanto, muitos membros do partido pareciam discordar da minha candidatura.

Não era o homem perfeito aos seus olhos, mesmo com todo o dinheiro e influência. Eles
preferiam outro candidato, alguém que prezasse pelos valores tradicionais, um homem
comprometido com a família. Eu precisava ser casado. ⠀

Mas o dinheiro poderia solucionar tudo, sem que eu tivesse que mudar meu estilo de vida.
Um casamento por contrato era o que eu precisava.

Penélope é doze anos mais jovem do que eu, ingênua, pobre e facilmente moldável. Ao
meu lado, ela seria a decoração perfeita. Nunca teve nada e iria se comportar para manter o
mundo que oferecia a ela.

Eu controlaria tudo, como sempre controlei. Mas não poderia prever que ela seria capaz de
se infiltrar nas barreiras do meu coração.
Agradecimentos

Mais uma história que não deveria mexer tanto assim com meu
coração, mas aconteceu. Marcelo e Mercedes ganharam uma estrela extra por
terem reforçado algo importante na minha vida: tudo acontece como tem que
ser. Isso não quer dizer que não devemos buscar os nossos sonhos.

Meus filhos, minha inspiração diária, gratidão por me darem a honra


de ser sua mãe. Ao marido, o meu maior incentivador e vendedor, te amo.
Aos meus pais e irmãos, guerreiros estando tão longe e tão perto, eu vejo a
força de vocês. Antes de encerrar a escrita desse livro, uma notícia me
abalou, mas aprendi a encontrar o poder positivo que ela tem para mim. Nós
perseveremos.

Gratidão, constelador Osvaldo Viana, por me ajudar a voltar ter as


rodas nos trilhos nesse momento especial.

Para minha fisioterapeuta Tatiana Mendonça, gratidão por sempre


cuidar de mim.

As colegas que trabalho que são mais do que parceiras, mas amigas.
Gratidão por serem meu ombro amigo virtual, motivadoras e maravilhosas.

Um agradecimento especial para as Leitoras da Mari Sales, Leitoras


da Jéssica, Vício em Livros, Encantadas e DesafioMariSales. Não tem como
ficar um dia sem vocês, obrigada por acreditarem em mim.
Meu carinho cheiro de bits e bytes para os grupos do Facebook,
Instagrans literários, leitores e autores amigos. Interagir, compartilhar e
apoiar, que nosso lema continue sendo propagado cada vez mais.

Gratidão a você, querido leitor, que deu uma chance para a parceria
com a Jéssica Macedo. Trazemos amor em forma de palavras, além de
inovação na forma de apresentar a história. Te espero no próximo
lançamento.

Aline, Jéssica, Lizi e Rosi, gratidão. Posso pôr em um potinho? Para


abraços quentinhos e momentos de fúrias de gelo, vocês tornam a escrita
prazerosa ainda mais.

Muito obrigada, parceiras poderosas! A diferença no meu universo


de autora são vocês, que fazem por amor. Gratidão por estarem comigo em
mais um lançamento.

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Amor, respeito e gratidão.

Mari Sales
Sobre a Autora
Mari Sales é conhecida pelos dedos ágeis, coração aberto e
disposição para incentivar as amigas. Envolvida com a Literatura Nacional
desde o nascimento da sua filha em 2015, escutou o chamado para escrever
suas próprias histórias e publicou seu primeiro conto autobiográfico em junho
de 2016, "Completa", firmando-se como escritora em janeiro de 2017, com o
livro "Superando com Amor". Filha, esposa e mãe de dois, além de ser
formada em Ciência da Computação, com mais de dez anos de experiência na
área de TI, dedica-se exclusivamente à escrita desde julho de 2018 e publicou
mais de 70 títulos na Amazon entre contos, novelas e romances.

Site: http://www.autoraMarinales.com.br

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Outras Obras

Cedendo à Paixão: https://amzn.to/3kpvtd8


Sinopse: Quando o grande empresário Bernardo Camargo cruzou com Alícia
em um supermercado, não esperava que a mulher fosse mais do que uma
coincidência. Ambos estavam tendo um péssimo dia, o desabafo sobre seus
tormentos foi involuntário, afinal, eles eram estranhos que nunca mais se
cruzariam.
Bernardo lutava para esquecer o passado que o marcou.
Alícia estava disposta a renunciar sua própria felicidade para ser uma boa
mãe para seus filhos.
Um momento não deveria definir um relacionamento, muito menos abrir a
brecha para que a vida amorosa de Alícia voltasse a ativa. Bernardo queria
ser visto além do homem poderoso em um terno e estava disposto a ter mais
do que apenas em um encontro casual com aquela mulher.
Restava saber se a paixão avassaladora entre os dois seria o suficiente para
superar tantos segredos.
Drew (Dinâmica Perfeita): https://amzn.to/3lkrzSz

Sinopse: Andrew Jones Almeida está no meio de conflitos que não são dele.
Seus melhores amigos entraram em crise por conta do amor proibido de Nick
pela irmã mais nova de Guto. Para piorar a situação, o pai de Drew precisa de
alguém de confiança para que o ajude em um grande problema na empresa.

Com as atividades da banda Dinâmica Perfeita suspensas, Drew resolveu


ajudar a família ao mesmo tempo que buscava reconciliar os amigos. Ele
estava sobrecarregado, afinal, ele tinha seus próprios assuntos para lidar.
O músico achou que seria fácil prestar serviço para o pai, mas ganhou uma
babá executiva durante a estadia. Tamires era viciada em trabalho e não via
com bons olhos o estilo de vida livre do filho do chefe. Disposta a fazer o seu
melhor, ela não imaginava que os papéis seriam invertidos e que Drew
poderia lhe influenciar a ter uma vida mais leve.
Restava saber se o amor era resistente para unir pessoas de mundos tão
diferentes.
A Filha Virgem do Meu Inimigo: https://amzn.to/2DwGGYZ

Sinopse: Antonio “Bulldog” era conhecido na cidade por seu temperamento


explosivo e trabalho árduo na presidência da AMontreal. Com um histórico
familiar de traumas com mulheres, ele era um homem solitário que se
apegava apenas ao seu ofício.

Nada o deixava mais irritado do que lidar com o seu rival, o candidato a
prefeito Ivan Klein. Ele estava ausente da cidade há muito tempo, mas voltou
para destruir com a AMontreal e ser o chefe maior de Jargão do Sul.
Bulldog estava pronto para defender seus protegidos do ambicioso político,
mas ele não contava com a presença da filha do seu inimigo. Deborah não só
tinha quinze anos a menos do que ele, mas era uma mulher doce, de sorriso
contagiante e que tentava influenciar as pessoas, de forma positiva, a favor do
seu pai.
Ninguém disse que o destino jogava limpo. Ele não só unia pessoas de lados
opostos a uma guerra, mas confrontava segredos e revelava a verdadeira face
das pessoas. Cabia a Bulldog e Deborah escutarem seus corações e não
caírem na armadilha da ganância alheia.
Box – Quarteto de Noivos: https://amzn.to/2JQePU2
Sinopse: Essa é a história de quatro primos solteiros que encontram o amor.
Coincidência ou não, o movimento para que eles se permitissem amar iniciou
com a matriarca da família, avó Cida, em uma reunião de família. Ela
mostrou, sem papas na língua, o quanto eles estariam perdendo se buscassem
apenas relacionamentos vazios.
O que era para ser um encontro casual se tornou em uma grande história
sobre a próxima geração da família Saad.
Nenhuma das mulheres que se envolveram com o quarteto de primos era
convencional. Quem as visse de longe, julgariam suas escolhas ou mesmo se
afastariam.
Fred, Guido, Bastien e Leo aceitaram o ponto de vista da avó de forma
inconsciente, mas se apaixonaram por completo com a razão e o coração em
sintonia.

Envolva-se com as quatro histórias e se permita olhar para a família Saad de


uma forma completamente diferente.

Obs: Esse BOX contém:


1- Enlace Improvável
2- Enlace Impossível
3 - Enlace Incerto
4 - Enlace Indecente
Epílogo Bônus
BOX – Família Valentini: https://amzn.to/2RWtizX
Sinopse: Esse e-book contém os seis livros da série família Valentini:
1 - Benjamin
2 - Carlos Eduardo
3 - Arthur
4 - Antonio
5 - Vinicius
6 – Rodrigo
1 - Benjamin – sinopse: Marcados por uma tragédia em sua infância, os
irmãos Valentini estão afastados há muito tempo uns dos outros. Benjamin, o
irmão mais velho, precisou sofrer uma desilusão para saber que a família era
o pilar de tudo e que precisava unir todos novamente.
Embora a tarefa parecesse difícil, ele encontra uma aliada para essa missão, a
jovem Rayanne, uma mulher insegura, desempregada e apaixonada por
livros, que foi contratada para organizar a biblioteca da mansão e encontrar
os diários secretos da matriarca da família.
Em meio a tantos mistérios e segredos, o amor familiar parece se renovar
tanto quanto o amor entre um homem e uma mulher de mundos tão distintos.
Bônus
Marcelo

— Eles chegaram! — Penélope se levantou do sofá e correu em


nossa direção para nos cumprimentar.

A mansão dos Mazzi estava cheia naquela tarde. Fomos convidados


para passarmos o dia de ação de graças em família, duas grandes e poderosas
de Miami. Era uma comemoração recorrente, mas naquele ano, existia muito
a ser agradecido. Ter minha própria família transformou minhas perspectivas
e me transformou em um homem melhor.

— Mercy! — Penélope a abraçou.

Observei as duas interagindo, tendo meu filho no colo da mão,


enquanto o governado Maxwell se aproximou com sua filha nos braços para
nos recepcionar. Fiquei encarando-o até que começou a rir sem motivo
algum. Franzi a testa e mantive minha postura séria.

— Qual a graça? — soltei sisudo.

— Nós dois, aqui, casados e pais.

— Vai me dizer que não está feliz?

— Muito feliz. — Olhou para Penny com amor, ele tinha sofrido até
chegar nesse estado de espírito.
— Venham para mesa — chamou dona Ana Mazzi. — Já estamos
todos reunidos, só falta vocês dois.

Max e eu nos entreolhamos e a seguimos. Conferi meu menino, que


dormia nos braços de Mercy e deixei um beijo na testa da mulher que
dominou o meu mundo. Nosso presente estava cada vez mais lindo e
saudável, nosso filho.

Em volta da grande mesa de jantar, estavam reunidas as duas


famílias, Sartori e Mazzi. Tendo as matriarcas como amigas, elas
contribuíram para que crescêssemos como se fôssemos primos, quase irmãos.

O governador pegou uma taça da mesa, a levantou e bateu o garfo na


lateral.

— O político vai fazer um discurso. — Ethan deu uma risadinha


enquanto cutucava o Josh.

— É, ele gosta de falar. — O segundo irmão Mazzi não deu qualquer


importância para a interação sarcástica de Ethan.

— Nunca dei muita importância para o feriado de ação de graças. Eu


achava bobo, mas acredito que não havia percebido os reais motivos pelos
quais devo agradecer. Até a minha mãe dizia que eu só olhava para o meu
próprio umbigo.

— Não mudou muito — zombou Marcelo o interrompendo e todos


riram.

— Acho que você tem razão, mas hoje existem duas pessoas na
minha vida que são mais importantes do que eu mesmo e percebo o quanto
preciso ser grato. — Olhou para a filha e a esposa, ela retribuiu na mesma
intensidade. — Eu precisei meter os pés pelas mãos para perceber que estava
fazendo tudo pelos motivos errados. Hoje eu entendo porque o país dá tanto
valor a família, pois ela é tudo. Ter me casado com a Penélope foi a Penélope
foi a decisão mais estupida e ao mesmo tempo a melhor que tomei.

Ele sorriu e se aproximou para deixar um beijo nos lábios dela, eu


entendia suas palavras.

— Fofo! Faz uma declaração também, Chad! — Ethan me cutucou e


não me surpreendi. — Quem sabe eu comesse a pensar que casamento é
legal.

Troquei um olhar cúmplice e aceitei o desafio, afinal de contas, eu


tinha muito para agradecer. Conferi a mesa e me enchi de força ao olhar para
as pessoas que me rodeavam. Ricos, não só de dinheiro, mas de felicidade,
saúde e amor. Quem olhasse para dona Rosi e dona Ana saberiam que tudo
na nossa vida foi temperado com esse sentimento.

Meu amigo Max fez um gesto me passando a palavra e me levantei.

— Quando a rotina está morna demais, desconfiem. A beleza está na


emoção, em perder a cabeça e ansiar por voltar do trabalho o quanto antes,
apenas para observar a sua família. — Encarei Mercy, seus olhos brilhavam
para mim. — Minha mãe sempre me ensinou sobre os valores da família e
respeito. Confesso que precisei vivenciar, por pressão, para entender o que
ela queria dizer. Nada na vida é por acaso, por isso, agradeço a todos pela
amizade e a irmandade. À minha esposa e filho — peguei minha taça e ergui
— gratidão por me tornarem um homem realizado. Completo. Estou
empenhado em fazer o meu melhor, todos os dias, para que vocês sejam
felizes.

As pessoas começaram a murmuras emocionadas, voltei a me sentar


e beijei a minha esposa.

— Gratidão, meu amor — ela murmurou.

— Eu te amo, Mercy. Pequeno John.

— Mais alguém vai fazer discurso? — Josh soltou e Ethan riu alto,
ele não tinha filtro. — Okey, vamos comer.

— Gosto quando você fala o que eu penso. — Ethan ergueu as


sobrancelhas com diversão e os dois irmãos mais próximos continuaram com
o entrosamento, um sendo muito extrovertido e outro, mais reservado.

Família, amor e gratidão, eu não precisava de mais nada, a não ser


acompanhar a história de amor dos meus irmãos.

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