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Olá, querido leitor (es),

Antes que inicie essa aventura, me sinto na obrigação de avisá-los


sobre o conteúdo que irá encontrar a partir daqui. Este é um
romance dark, portanto, sugiro que mantenha a mente aberta.
Essa história contém temas perturbadores e linguajar inapropriado
para menores de 18 anos, além de retratar situações de violência
letal e extrema que podem ser consideradas gatilhos. Fazendo uso
de formas de matar, como: esquartejamentos, decapitações e
chacinas, que podem deixar alguns leitores, desconfortáveis.
Nenhum tipo de violência deve ser aceita. Não levem personagens
fictícios para a vida real.
A autora não concorda e nem apoia nenhum tipo de violência. Esta
é uma obra de ficção.
Anny Shwan
Baran Celikkol é frio como gelo.
Um homem que conseguiu construir um verdadeiro império no submundo, tornando-se um
mercenário considerado o anjo da morte, que tem em sua trajetória o peso por ter ceifado
tantas vidas, somente para conseguir o que tanto desejava. Porém, ele jamais esqueceu
aquela que considerava o grande amor da sua vida e após a sua morte, ele se tornou ainda
mais perverso, semeando através do mundo ilícito somente a maldade e a destruição, tudo
pela ambição e poder em ser o rei do império mafioso.
Lisa Evans, um anjo de luz.
Uma jovem meiga, simples e inteligente que após a morte dos pais, dedica sua vida a
cuidar do seu bem mais precioso, a pequena Melanie.
A vida de ambos vão se cruzar.
O que um homem tão cruel não esperava, era que uma simples mulher, a qual, ele estava
prestes a eliminar, se tornaria sua maior obsessão, porém, o anjo das trevas não está
disposto a deixar que a luz habite em seu coração.
Ele só terá dois caminhos a seguir: Se entregar ao amor ou destruir de vez aquela que
trouxe novamente luz ao seu coração empedrado.
Copyright © Anny Shwan, 2021
Revisão: Rosana Bezerra (Vivart - Criação e Design)
Diagramação: Rosana Bezerra (Vivart - Criação e Design)
Capa: T.v. Designer
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

BARAN – O REI DA MÁFIA


Duologia Império Mafioso – LIVRO 01
ANNY SHWAN
1ª Edição – 2021

Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento, e/ou reprodução de qualquer


parte dessa obra – física ou eletrônica – através de quaisquer meios (tangível ou
intangível) sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo
184 do Código Penal 2018.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Todos os direitos
reservados.

Sumário
Dedicatória
Introdução
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo Final
Agradecimentos
Em Breve...
Dedicatória

Dedico com imenso carinho as minhas leitoras do grupo do


aplicativo de mensagens instantâneas e as minhas leitoras do
Wattpad, por me encorajarem a continuar nessa jornada.

E claro, a vocês, leitoras da Amazon que gostam da minha escrita e


das minhas histórias.

O caminho é difícil, porém, estarei firme e forte.

Criticas sempre existirão, e elas serão o combustível para me


impulsionar a ir mais longe, pois na ficção podemos transformar
aquilo que é impossível em algo possível.

Essa não é somente uma história de amor, afinal, a vida não são apenas
flores. Onde tem vida, sempre haverá morte.
Anny Shwan
Introdução
Baran Celikkol tornou-se o rei da máfia por unificar as cinco grandes
famílias que tinha o controle do crime organizado nova-iorquino: os
Gambino, os Lucchese, os Genovese, os Bonanno e os Colombo.
Com a saída do seu antecessor, ele passou a controlar todo o crime
organizado nos Estados Unidos, a partir de então, com malícia e
astucia, estabeleceu vínculos com pessoas do alto escalão, como
juízes, policiais e procuradores de Justiça. Suas ações sempre
discreta e articulada, não desperta a atenção para suas ações
criminosas, tornando-o um homem admirado e respeitado pela
sociedade.
Também é o candidato favorito a ganhar as eleições presidenciais
do país, já que exceto os membros da máfia, ninguém sabe que ele
é "A Fera", aquele que vem espalhando o terror durante anos em
todo o território americano e os demais que a Cosa Nostra dominou.
O poder alcançado pela máfia sob seu comando é algo almejado e
invejado por muitos. Tornando-o ainda mais implacável para
proteger seu legado.
“Pessoas más fazem coisas ruins e, isso eu aprendi quando
criança.”
“Eu me vinguei.”
“Destruí vidas que não me pertenciam, mas o preço por ser um anjo
da morte; paguei quando a vida me roubou quem eu mais amava.”
“Escolhi mergulhar na psicologia do mal e não me arrependo.”
Eu sou BARAN CELIKKOL e essa será a minha história.
Prólogo
"Monstros são reais e cada um deles tem sua própria visão do mundo."
East Harlem / Iorque, New York, 1997.
Baran Celikkol

— Tire esse corpo magro da cama, seu fedelho.

Meus olhos se abriram ao som da voz do homem que se


tornou o meu pior pesadelo. Levei uma das mãos em direção ao
meu rosto, em seguida arrastando-a até os meus olhos, tentando
limpá-los e aos poucos fui me acostumando com a claridade.
— Não me obrigue a ir te buscar — disse com voz rouca,
certamente era pela sua embriaguez.
Enquanto eu me levanto, as dores em meu corpo protestavam
contra todos os meus movimentos e minha cabeça não parava de
girar devido à fraqueza que me envolvia. Sabendo qual seria a
consequência se ele viesse ao meu encontro, meus pés arrastam-se
pelo chão, levando-me para o banheiro. Retiro minhas roupas e as
manchas rochas ainda estavam visíveis em minha pele. Fecho os
meus olhos assim que eles começam a arder e algumas lágrimas
brotam deslizando pelo meu rosto. Eu sentia tanta falta do meu pai e
desde que ele se foi, a minha vida mudou para sempre, pois a
mulher que deveria me proteger resolveu dedicar a sua vida ao meu
agressor, resolveu colocar os seus vícios acima do seu próprio filho
e a cada dia se torna uma marionete, a qual aquele monstro
controla como deseja.
Eu tenho vontade de fugir, mas, eu jurei para o meu pai que
sempre iria protegê-la e mesmo não tendo forças para lutar contra
aquele tirano, eu ainda preciso manter a minha palavra.
Caminho em direção ao chuveiro e assim que o mesmo é
ligado por mim, um ruído em protesto sai da minha boca. A água fria
em contato com o meu corpo quebrado, provoca um forte
desconforto, porém, mordo forte os meus lábios para não deixar que
nem um som saia. Tomo um banho rapidamente e depois de
escovar os meus dentes, vou até o varal e pego a roupa que eu
havia lavado, embora o meu uniforme esteja velho, eu preciso
mantê-lo limpo, já que aqueles idiotas sempre vivem me criticando.
Instantes depois, eu já estava arrumado, sigo para a cozinha e
quando chego, vou até a geladeira e tudo que encontro é uma
garrafa de leite, pego um copo e depois de colocar o líquido dentro,
tomo tudo em um gole só, tentando dissipar um pouco a dor em
minha barriga, causada pela fome. Pego minha mochila surrada e
ao chegar perto da sala, o cheiro forte de álcool estava impregnando
o lugar, depois de mais alguns passos, meu olhar saltam ao redor
da sala, olhando para o corpo da mulher que estava jogado em cima
do sofá e ao seu lado duas garrafas de vodca esvaziadas.
— Você ainda não saiu infeliz!
Tive um solavanco quando meus pensamentos foram
interrompidos e meu olhar recai sobre o rosto do homem que tinha
os olhos bem vermelhos e as pupilas dilatas; o que certamente era
por causa da cocaína que ele sempre cheirava. Dou uma última
olhada em direção a minha mãe e caminho até a saída. Se não
fosse dona Salert, que é assistente social, eu já teria deixado a
escola e embora sabendo que ela poderia ser a minha salvação
para escapar desse inferno, se contar que esse homem vive me
espancando, eles vão me afastar da minha mãe.
Algum tempo mais tarde...
Todos estavam em silêncio enquanto a senhorita Clara, estava
entregando as provas.
— Amanda, meus parabéns.
— Michel, Antony e Gustavo. Se vocês continuarem desse
jeito, vão repetir o ano.
Os três se levantaram para pegar suas provas e pelas
palavras ditas pela professora e as feições deles, de certo mais uma
vez haviam se saído de mal a pior. Deixo minhas teorias de lado
quando a mulher que está sentada em sua poltrona se levanta e
começa a falar.
— O dever do professor é repassar aos seus alunos tudo que
ele sabe, para assim, o preparar para uma nova jornada que se
inicia. Ter você, Baran Celikkol, como aluno, sem dúvidas é um
presente, sempre soube do seu potencial, mas fico admirada como
você tendo somente nove anos, consegue absorver com tanta
facilidade cada conteúdo. Parabéns por ter tirado a nota máxima e a
mais alta de toda a turma.
Naquele momento, só um pensamento se fazia presente em
minha cabeça; o quanto o meu pai estaria orgulhoso. Depois que
peguei a folha das mãos da professora, os olhares dos três que
sentavam do lado esquerdo, ficaram cravados em minha direção e
havia um brilho que demostrava uma fúria contida dentro deles.
As horas passaram-se voando, minha barriga estava doendo
de tanta fome. O sinal tocou e a sala que antes estava cheia,
começou a ficar vazia, peguei minha bolsa e com passos
apressados ando em direção ao portão principal, passo pelo
corredor e logo em seguida chego até o pátio onde as diversas
vozes se misturavam. Passos apressados leva-me para fora do
lugar e no instante que chego ao final do muro, ao dobrar a rua, meu
corpo é lançado com brusquidão em direção ao chão. Um gemido
alto escapa da minha boca e quando levanto a cabeça, os três, que
eram cada um, um ano mais velhos e muito mais fortes que eu,
estavam parados ao meu redor.
— Então o maltrapilho da escola acha que é melhor que a
gente? — os olhos de Michel estavam cheios de raiva.
— Você vai aprender que aqui não é e nunca será o seu lugar
— fala Antony num tom grosseiro.
Antes que eu viesse a me levantar, senti uma dor insuportável
nas minhas costelas e quando achei que não poderia ficar pior, o
golpe que veio em seguida foi cruel e pesado, fazendo todo o meu
corpo ser envolvido por uma dor cruciante. Eles continuaram a me
chutar e na minha mente só ecoava as palavras daquele que eu
tenho como padrasto.
“— Não deixe seus inimigos verem o seu medo, isso só faz de
você um maldito maricas.”

Minutos depois...
Dor! Dor e dor!
É tudo que eu sinto. As lágrimas grossas, que parecem não ter
fim molham o meu rosto. Meu coração bate forte e minha respiração
está ofegante, algo dentro de mim, como nunca havia sentido antes,
me queima por dentro, gritando como se quisesse sair fora. Cada
fibra do meu corpo se nega a corresponder aos meus comandos e
eu tenho a sensação de que fui sacudido por um animal selvagem e
este estivesse arrastado o meu corpo para longe, respiro
profundamente e vários ruídos escapam do fundo da minha
garganta. E, mesmo com as pernas pesadas, eu consigo me manter
em pé, olho para os lados e a rua está deserta. Lutando contra as
dores que assolam o meu corpo e a profunda tristeza que sinto em
minha alma, começo a me mover, mesmo com dificuldade.
Segundos ou minutos se passam, não sei ao certo precisar o tempo
transcorrido, este por sua vez, para mim parecia uma eternidade,
contudo, em dado momento, eu fiquei em total alerta quando vários
estrondos ecoaram a minha volta, me escondi perto das duas latas
de lixos enormes que tinha ali e os disparos ecoavam por todos os
lados, pela pequena brecha pude ver os policiais do lado esquerdo e
homens vestidos de preto do lado direito.
O ricochetear das balas eram assustadores, porém, aquele
som fazia algo vibrar intensamente dentro de mim, perdi a noção do
tempo enquanto assistia aquele embate e aquilo parecia não ter fim,
entretanto, meus olhos se arregalam e não consegui desviar o olhar
da imagem a minha frente. Um homem que usava um capuz negro
carregava uma arma enorme em suas mãos e a cada tiro, ele
eliminava com precisão o alvo a sua frente. Eu não sei o que estava
acontecendo comigo, mas embora sabendo que o certo era ficar do
lado dos policiais na luta contra o mal, eu estava torcendo para
aquele homem acabar com todos.
Quando o barulho cessou e meus olhos ficaram cravados na
direção do desconhecido, eu tive a certeza de que eu queria ser
muito mais temido do que ele. Que ninguém mais iria me tratar
como um nada. E algum dia, eu seria aquele que iria mandar em
todos.
Capítulo 01
"A fera do seu interior é como um tigre, forte e faminto."
East Harlem / Iorque, New York, 2012.
Al Capone

Meu olhar ficou direcionado para o rosto dos dois homens


à minha frente. Aqueles que cruzaram o meu caminho, conheceram
um lugar cheio de negócios obscuros, onde a escuridão cercava
todos que faziam parte do crime organizado. Um mundo recheado
de drogas, tráfico humano, prostituição, dor e sofrimento. Baran e
Massimo foram moldados para se tornarem verdadeiras máquinas
humanas de matar. Os dois homens eram como animais, e o único
código pelo qual viviam e respiravam; era a vida da máfia, levando
sempre o lema:
Matar ou ser morto;
Temer ou ser temido;
Continuar sendo um anjo ou se transformar no demônio.
Eles escolheram mergulhar na psicologia do mal e eu acabei
ajudando a florescer a natureza sangrenta que habitava em seus
interiores. Por anos, os dois têm sido os melhores matadores da
máfia, ter em suas mãos, além de uma arma, um pedaço de papel
com o nome de todos os alvos a serem eliminados, fazia parte de
suas rotinas. Mas hoje, perante a minha velhice, desta vez não será
somente uma simples lista. Será muito mais do que isso, é uma
missão que ao ser executada com perfeição, um deles não somente
provará quem é o melhor, como se tornará o meu sucessor. O
grande chefe que representará a vita di máfia, o ferino que fará o
crime organizado ser enraizado por vários territórios e derramará o
sangue de quem for necessário para se tornar “o rei da máfia”.
Deixo os pensamentos de lado quando um dos conselheiros
repassa para cada um deles, a lista. Antes que viessem a se
manifestar, o som a minha voz repercutiu no ambiente.
— A lista contém, além dos nomes dos traidores, dos malditos
ladrões e corruptos que devem ser eliminados. Tem cinco entre
esses desgraçados, que simplesmente desapareceram do mapa,
nem mesmo eu ou qualquer membro do conselho, não fomos
capazes de descobrir em que inferno eles se meteram. Como se
tivessem evaporado da face da terra — fiz uma pequena pausa e os
dois mantinham sua atenção, exatamente nos nomes dos cinco
alvos a serem exterminados. — Cada lista tem o nome de quinze
pessoas. Dez em cada lista são pessoas diferentes, sendo os outros
cincos os que eu citei ainda pouco. Se, além dos dez, qualquer de
um dos dois conseguir encontrar e eliminar um dos cincos alvos em
questão; provará não somente que é o melhor, como que é aquele
que merece ser o escolhido.
Dito isso, eu pude ver suas feições mudarem. Seus olhos
ganharam um brilho em especial, ambos pareciam dois tigres
famintos ao se depararem com uma presa especial.

Alguns dias depois...


A agitação dentro do salão é grande, todos os membros do
conselho estão reunidos e comemorando o retorno de Massimo, que
além de ter concluído com êxito sua missão, trouxe a cabeça de um
dos miseráveis que há anos vinha sendo caçado.
Baran, este não retornou e tão pouco deu sinal de vida, ao
contrário do homem sanguinário a minha frente, Celikkol foi
quebrado quando criança de várias formas possíveis e quando o
encontrei, vi em seus olhos sem brilho, uma dor profunda, que
poderia se transformar num sentimento mais sombrio que existe;
"Ódio".
Diante aos últimos acontecimentos e tendo Massimo voltado
no prazo estipulado, eu não tenho alternativa, a não ser nomeá-lo o
próximo chefe. Confesso que este não era meu desejo, apesar de
estimá-lo. Porém, antes mesmo que eu viesse a abrir a minha boca,
o barulho vindo do lado de fora ganhou minha total atenção e dos
demais que estavam presentes. Aos poucos, os soldados que
estavam próximos à porta dupla, se moveram em direção ao pátio,
em seguida, assim como os conselheiros, fiz o mesmo ao lado de
Massimo e ao chegar ao ambiente, sinto um tremor violento atingir
cada fibra do meu corpo, meus demônios ficaram em êxtase,
tamanha foi a felicidade que me invadiu e lá estava, no centro do
pátio, a próxima "FERA DA COSTRA NOSTRA" e no chão haviam
uma fileira com as cabeças não só dos dez alvos da sua lista, como
dos quatro maiores procurados da nossa organização.
O homem de coração gélido não demostrava nenhuma
emoção, o que fez as lembranças do passado surgir feito uma
retrospectiva em minha frente.
Quinze anos atrás, um grande carregamento de drogas havia
chegado a solo americano, todo um esquema havia sido traçado e
ao cair da noite, os meus homens já estavam prontos para retirar a
mercadoria que estava dentro de um navio vindo da Itália. Enquanto
isso, eu estava em mais uma caçada e desta vez, o alvo era um dos
meus soldados que havia recebido um alto valor dos malditos
russos para fornecer informações confidenciais da nossa
organização. Depois de matar o desgraçado, sair do beco conduzido
a minha Dodge Tomahawk, por pouco não passei com a moto por
cima do garoto magricelo que mal se mantinha em pé. Em outra
ocasião eu o teria ignorado, mas meu corpo todo se agitou e senti
como se algo me impedisse de seguir adiante, desci do veículo e fui
ao seu encontro, quando meus olhos encontraram os seus, era
como se tivesse uma conexão poderosa entre nós e eu não pensei
duas vezes em trazê-lo para os meus domínios.
No meio do percurso o garoto desfaleceu e ao chegar a casa,
até mesmo para um mafioso, ver o estado daquela criança, que
apresentava desnutrição, cicatrizes de queimaduras e vários
hematomas pelo corpo, mostrou-se algo assustador. Foram dias
para que ele viesse a se recuperar e para minha surpresa, não
havia sido a primeira vez que nossos caminhos haviam se cruzados,
ele me contou que já tinha me visto em um confronto e que naquele
momento decidiu que seria igual a mim, nos momentos seguintes,
me contou tudo sobre o padrasto, que era o algoz que vinha lhe
infringido tanta dor. Antes de aceitá-lo em minha vida, eu precisava
ter a constatação que o anjo pudesse se transformar em um
demônio.
Quatro dias depois, deixamos a minha mansão e o destino era
o lugar onde ele havia derramado tantas lágrimas. Mas, foi também
onde Baran, pela primeira vez, derramou o sangue de alguém. O
sangue do homem, que se não fosse destruído, acabaria com a sua
vida. Eu achei que ele não conseguiria ceifar a vida de alguém. Mas,
a viciada que ele tinha como mãe, já não tinha mais salvação, o
estupro coletivo que havia sofrido e pelo seu estado, o qual indicava
que não foi só uma vez e com tudo que havia passado, continuava
fazendo uso de cocaína, acabou por ter uma overdose e foi vê-la
morta com o rosto machucado em cima daquele sofá, que quebrou
aquela criança por completo, fazendo-me acreditar que estava
diante de um monstro, ao ver suas feições se transformando em
algo assustador. Depois de ficar totalmente sozinho no mundo, para
um homem como eu, cheio de poder e dinheiro, foi fácil limpar toda
sujeira e conseguir que um laranja, indicado por mim, tivesse a
guarda da criança que agora pertencia a Cosa Nostra Americana.
— Chefe!
Volto ao presente e vejo todos vibrando, gritando com a
imagem do verdadeiro exterminador da máfia e naquele momento,
eu tive a mais plena certeza de que Baran Celikkol era o único que
poderia se tornar o rei da máfia.
Fiz um gesto com a mão e no mesmo instante todos os
burburinhos cessaram. Diante do olhar de expectativa de cada um,
sentenciei...
— A imagem fala por si só. Baran Celikkol, o meu legado
viverá através de você.
Com as palavras que foram proferidas por mim. Em forma de
coro, o barulho das vozes preencheu todo espaço.
— Baran! Baran! Baran!
— Vida longa ao novo chefe. Viva a Baran Celikkol.
Fiquei observando atentamente a imagem, onde o homem a
minha frente estava com o corpo sujo de sangue, parecendo
exatamente aquilo que ele representa "um anjo da morte".
Eu, Al Capone, sou um homem mau, nunca reivindiquei ser
qualquer outra coisa. O meu fim está próximo, mas não do meu
legado. Este foi apenas o começo, pois o destino nos uniu para que
eu fosse capaz de ajudar o anjo a se transformar no próprio diabo.
Capítulo 02
“La vita è adesso!”
Nove anos depois...
Baran Celikkol

Assim como foi no legado daquele a quem eu tinha como


meu pai, o único que cuidou de mim, o grande hall da nossa sede
está lotado, eu encontro-me sentado à cabeceira, em uma poltrona
vermelha, que fica atrás da távola retangular. Ao meu lado
esquerdo, estão os membros mais antigos da nossa organização.
Os conselheiros que estiveram ao lado de Al Capone, entre eles,
políticos, empresários e médicos.
Ao contrário da távola redonda, onde os homens premiados
com a mais alta ordem da Cavalaria, na corte do Rei Artur, que se
reuniam ao redor dela, tendo igualdade entre si. Na távola
retangular, existe o que chamamos de cabeceira, representando que
nem todos os seus membros são iguais; um tipo de hierarquia com
graus sucessivos de poderes, de situações e de responsabilidades.
A única cadeira que se encontra vazia é a de Massimo, este
se tornou o subchefe da nossa organização, e foi cuidar
pessoalmente do miserável do Guilherme Colombo, o qual, ele e
seus filhos são os últimos da linhagem da família Colombo, que
antes controlava o estado da Califórnia, entre outros.
O desgraçado tinha acesso a informações importantíssimas, já
que fazia parte do conselho. Ele foi o responsável pelo desvio de
duas cargas de alto valor e pelo meu descuido em desviar minha
atenção para lidar com Fernanda, acabou colhendo informações
que ao serem vendidas aos inimigos, vai poder romper toda minha
formação tática onde diz exatamente como está organizado toda
minha equipe nos diversos territórios. Eu poderia mudar tudo, mas
isso teria um alto custo, não só financeiramente, como algo mais
precioso, "o tempo". Este, no mundo em que vivemos é algo crucial,
um segundo pode custar uma vida.
Graças ao sistema implantado por Albert, eu descobri que uma
cópia foi feita e a consequência do ato dele sentenciou toda a sua
descendência a morte. E, se não fosse por essa maldita reunião, eu
mesmo daria aos meus demônios o prazer em arrancar as vísceras
do maldito traidor. Deixo as reflexões de lado e direciono minha
atenção para multidão que não para de gritar, que mais parecem
animais famintos querendo saciar sua sede, já que hoje é dia de
assembleia.
Todos os olhares se voltam rumo à entrada principal quando
três traidores são conduzidos para dentro do ambiente, entre eles:
Um ladrão, um maldito, língua solta, e até um infeliz de um soldado
que se apaixonou e estava fugindo, deixando a máfia com a filha de
um inimigo. Ambos são conduzidos em direção ao centro do grande
salão e em seguida um silêncio pesado e bem-vindo se torna
presente a minha volta, toda atenção antes direcionada para os
culpados, voltam-se para mim que mantenho o olhar cravado no
rosto dos desgraçados à minha frente. Um frêmito de prazer no
peito impele-me a levantar.
— Vocês serão julgados de acordo com a lei da Cosa Nostra,
a mesma que juraram que jamais descumpririam e já deviam saber
que toda ação tem uma reação, pois a vida na máfia não é terra
sem lei...
Prossegui com meu discurso, e no instante seguinte foi citado
por mim, algumas regras do nosso código de honra da VITA DI
MÁFIA, criado por Al Capone. A violação do código desmoraliza e
marginaliza quem a comete.
— Uma vez dentro da máfia, sua liberdade só será possível
com a morte. Não pegue aquilo que não te pertence; Não fale além
do necessário.
Coloco as luvas em minhas mãos, estas foram projetadas com
garras de aço e devido à força do golpe contra sua vítima, deixará
sua pele em carne viva. Estalo o meu pescoço, me preparando para
o próximo passo. Meus pés me levam para longe da mesa, indo
rumo aos infratores, enquanto os soldados se movimentam,
colocando-os em posição. Embora ao matar alguém sempre acalme
os meus demônios, eu aprendi com o meu mentor, antes de ele
morrer, que nem sempre a morte será a pior punição e por vezes
não tem nada melhor que esmagar o inimigo aos poucos.
Meu olhar encontrou o pequeno móvel giratório que continha
dois utensílios, minha mão direita se moveu até a faca de cabo
branco e logo me voltei para o meu primeiro alvo, já podia sentir o
cheiro do seu medo aumentando, mas não tinha intenção de matá-
lo, não ainda. A calmaria que se fazia presente foi quebrada quando
fiquei centímetros de distância do infeliz, que começou a se debater
tentando escapar, o que seria em vão, mas, ele continuou a relutar
quando sua boca foi escancarada pelo homem que esteve por
várias vezes ao seu lado durante os muitos confrontos, mas sempre
soube que nada do que acontecia deveria ser mencionado; ao
contrário do infeliz, que não conseguiu conter a língua dentro da
maldita boca.
Os gritos que preenchiam o lugar não eram apenas os de
desespero que saiam dos lábios do desgraçado, mas também da
multidão que clamava por mais. O clamor ressoou ainda mais alto
no ar quando a lâmina cortante foi de encontro à língua afiada e
venenosa da cobra peçonhenta à minha frente. O sangue começou
a jorrar de sua boca e antes de prosseguir adiante, vocifero.
— A cada erro seu, eu vou cortar algo do seu corpo até acabar
com a sua miserável vida.
Dito isso, deixo a faca de lado e pego uma foice, e o objeto
afiado brilha intensamente, posso ver meu reflexo nele, me
aproximo do segundo alvo e o pânico é visível em sua expressão,
antes que eu faça o que tenho em mente, a sentença é decretada.
— Você jamais pegará novamente aquilo que não lhe
pertence. Não importa que seja uma moeda ou uma maleta de
dinheiro, sua morte é inevitável, porém, não chegará ao inferno com
suas mãos.
Levanto o braço suspendendo a foice e um ruído
ensurdecedor se fez presente quando o braço direito dele foi
atingindo pelo metal, mas nada comparado com o grito horripilante
que enviou tremores pelo meu corpo, deixando os monstros que
habitam em mim, agitados, como se estivessem em festa quando o
golpe atingiu o braço esquerdo. Mas, o seu tormento chegaria ao
fim, pois, ele jamais sairia do mundo das trevas, num golpe certeiro,
deixei a foice enfiada no meio de sua cabeça e o sangue começou a
escorrer, envolvendo o seu corpo sem vida.
Gritos e mais gritos que não eram de dor e sim de euforia
tomaram conta do salão. Mas, ao sentir o cheiro de sangue fresco
que atingiu o meu rosto, o animal em meu interior despertou por
completo, eu podia sentir meus órgãos internos funcionando a todo
vapor, minha pele estava queimando e num piscar de olhos avanço
até o homem que me deixou mais enfurecido, o derrubando no chão
e rasgando sua camisa.
— Você queria a todo custo sair do mundo do crime, mesmo
sabendo que isso teria um preço. Então, eu vou dar a você a
liberdade que tanto deseja.
Cogitando o que eu estava prestes a fazer, o som da sua voz
trêmula atingiu os meus tímpanos.
— Misericórdia, senhor — sua suplica só me deixou ainda
mais possuído.
— Um fraco como você que não mantém a dignidade na hora
da sua própria morte, não pode ser considerado um homem e muito
menos deve viver.
Antes que meus lábios voltassem a se unir, o primeiro golpe foi
de encontro ao seu peito. E este começou a tremer e a gritar em
agonia, mas naquele momento, eu já não tinha mais controle e o
segundo que atingiu sua caixa torácica, rasgando sua pele, deu
lugar ao terceiro e ao quarto e só parei quando havia um buraco no
seu peito. O meu único alvo, enquanto o povo uivava, era o órgão
que não serve para nada e certamente foi o motivo do miserável ter
acreditado que viveria um conto de fadas, este, com um golpe cruel,
duro e pesado, foi estraçalhado por mim.

Momentos mais tarde...


Tomo um tempo esfregando cada parte do meu rosto para tirar
as manchas de sangue daqueles pecadores. Fecho os meus olhos
ao lembrar-me daquele último infeliz que pensou que existisse um
“felizes para sempre”, se isso fosse possível, o meu pai e aquela
que trouxe um pouco de luz ao coração de um monstro, não teriam
sido tirados de mim. Eu amei mesmo me tornando um demônio,
mesmo sabendo que as trevas sempre fariam parte da minha vida,
eu encontrei naquela garota que vivia uma vida tão sofrida junto
com sua mãe, um sentimento devastador, mas sua partida só fez
meu coração se tornar uma rocha impenetrável. Em meu mundo
não existe espaço para piedade e compaixão, em breve, terei todos
rendidos a mim e jamais deixarei que novamente esse sentimento
chamado amor, faça parte da minha vida.
Capítulo 03
"Um dia da caça, outro do caçador."
(provérbio popular)
Baran Celikkol

Fecho a mão e dou um soco na mesa. O golpe é tão forte,


que acabo derrubando todos os papéis que havia sobre ela no chão.
— Maldição! — grito furioso, pois a minha raiva é tanta que
sinto um nó gigantesco se formando em minha garganta, sufocando-
me ao ponto do meu rosto, enrijecido, ganhar um tom avermelhado
e meus olhos ficarem flamejantes. Naquele momento, a minha
vontade era avançar em cima do homem a minha frente e acabar
com sua vida.
Assim como eu, Massimo foi treinado para ser um mercenário
da máfia e sabe que um alvo jamais poderá escapar, no entanto,
embora tenha aniquilado Guilherme Colombo e feito uma verdadeira
chacina ao matar não somente ele, como sua esposa e todos os
seus empregados. A herdeira do maldito escapou levando com ela a
informação que ao chegar às mãos dos meus inimigos, pode ser um
grande trunfo a ser usado, tanto sobre os interesses da nossa
organização, como os meus planos em torna-me a autoridade
máxima desde país, pode ser arruinado.
Se não fosse pela agenda de compromissos, eu mesmo iria
atrás da maldita fujona. Contudo, nem mesmo o demônio pode estar
em dois lugares ao mesmo tempo, eu passei anos respirando e
vivendo pela nossa organização, porém, ao ter o controle das
famílias que haviam se enraizado no solo americano e comandavam
também o mundo obscuro. Eu, Baran Celikkol, decidi que não seria
só temido por ser o dono do império mafioso, eu quero o poder em
controlar a vida das pessoas, de ser admirado, idolatrado e
respeitado por elas, e, sem perceberem, vão acabar se tornando
somente fantoches manipulados por mim.
Acabo respirando fundo, meu olhar encontra o dele e antes
que viesse com mais uma desculpa, eu me antecipo.
— Nem que seja preciso revirar o mundo pelo avesso. A
desgraçada será encontrada, esteja onde estiver, e chegou a hora
de Dimitri entrar em ação.
Meses depois...
Lisa Evans
Comecei a me remexer inquieta, de repente, senti um calafrio
me envolvendo por inteira e um peso esmagador me deixando sem
fôlego. Um cheiro forte de álcool invadiu minhas narinas, fazendo-
me despertar, e nesse momento, totalmente alerta, o pânico tomou
conta de mim e o ruído que escapou da minha boca, foi abafado
pela mão grande e suada. Com os olhos muito abertos em meio à
penumbra, senti minha garganta praticamente se fechando, pois, o
nó que havia se formado, estava impedindo até a minha saliva de
descer. Eu podia ouvir meu coração batendo forte e meu sangue
pulsando freneticamente, comecei a me debater e estremeci de
forma violenta ao ouvir a voz do homem que parecia carregada de
desejo.
— Fique caladinha, eu sempre desejei você, pequena Vênus.
Será tão gostoso que se tornará a minha putinha — grunhiu e
arfando como um animal, ele escancarou as minhas pernas com
força, deslizando uma de suas mãos pela minha coxa direita.
Sabendo qual seria o destino de sua mão diabólica, eu comecei a
espernear, tentando desesperadamente tirá-lo de cima de mim,
porém, o brutamonte era muito forte.
De repente meu coração errou uma batida quando uma voz
fraca ressoou no ambiente.
— Mãezinha...
Silêncio!
Medo... Era tudo o que eu sentia naquele momento ao pensar
que algo pudesse acontecer com o meu anjinho, mas, por ela, eu
precisava reagir e aproveitando o momento de distração do infeliz
que se virou rumo à cama onde minha princesa estava, era como se
algo tivesse assumido o controle do meu corpo, me dando forças
para empurrar o homem que caiu em um baque surdo no chão.
Talvez pela sua embriaguez, eu tive uma chance de defesa, pois
num pulo, me levantei e o abajur foi a única coisa que vi em minha
frente. Contudo, o homem que até então estava esparramado sobre
o chão frio, começou a se mexer e...
— Mamãe! Acorda! — a voz suave do anjo demostrava aflição
e o meu corpo começou a ser sacudindo, arrancando-me das
profundezas do meu desespero.
Tudo foi um terrível e abominável pesadelo.
Meus olhos se abriram diante daquela ordem. Meu rosto
estava banhado pelo suor, meu corpo todo estava trêmulo e os
batimentos ainda não tinham voltado ao normal. Meu coração se
apertou ao ver os olhos azuis arregalados e lágrimas transbordando
deles.
— Ela estava com medo porque você não parava de se
debater — disse Raquel, que estava ao lado da Mel.
— Deita aqui comigo, minha princesa — chamei com o
coração apertado por ela ter presenciado minha aflição no pesadelo.
Todo o medo e as sensações ruins que me envolviam ao
lembrar-me daquela maldita noite, foram afastados quando ela subiu
em cima da minha cama e o meu raio de sol, que nasceu para
iluminar a minha vida, se juntou a mim. O calor do seu corpinho e o
toque suave de sua pequena mão, alisando meu rosto, trouxe alívio
ao meu coração.
— Está tudo bem, anjinho, você não precisa ficar preocupada
— falei com a voz baixa para acalmá-la.
Depois de Mel ter se acalmado, tomei um banho e juntas,
seguimos para a cozinha. Raquel como sempre, já havia feito o café
da manhã.
— Você sem dúvidas foi um presente que cruzou o meu
caminho — disse ao ficar poucos centímetros à sua frente.
— Eu que preciso agradecer por ter encontrado você — ela
me envolve em um forte abraço e nós duas começamos a sorrir
quando um ser pequenininho não quis ficar de fora.
— Vocês precisam me dar um abraço também.

Algum tempo depois...


Melanie havia ido para escola, então seguimos nossa rotina
que consistia em limpar a casa, lavar roupa e preparar a comida.
Depois do almoço, aproveitei para dormir, pois passaria longas
horas em pé, já que meu turno no trabalho começava das 18h00min
e ia até às 00h00min, quando as atividades enceravam no posto de
gasolina. Sendo hoje sexta feira, eu estava me preparando
mentalmente para aguentar o grande fluxo de veículos que seriam
abastecidos, contudo, eu só tinha que agradecer por ter encontrado
o emprego que acabou sendo a minha salvação para ter o meu raio
se sol ao meu lado.

Baran Celikkol
Mulheres, idosos e crianças, todos estavam eufóricos com a
minha chegada. Mas estes eram uma constante desde que me
envolvi com a política, anos atrás, e eu já estava acostumado.
Cumprir os três principais requisitos para estar na posição que
me encontro hoje, de acordo com a constituição do meu país, foi
fácil, afinal, sou americano por nascimento, possuo residência fixa
desde que me lembro, e estou na idade ideal. Meu maior desafio é
outro.
Cada estado tem uma quantidade de delegados e para o
candidato a Presidente ganhar, tem que conseguir o maior número
de delegados e por isso, como tem alguns Estados que têm mais
delegados, estou na luta para ser eleitos nesses locais. Uma
infinidade de eventos e jantares lotam minha agenda nessa época e
eu estou mais do que disposto a cumprir cada um deles, já que faz
parte do caminho que me levará a Casa Branca.
O poder absoluto é o meu desejo e farei o que for necessário
para obtê-lo.
Minha atenção é voltada para os disparos de vários flashes
que são dados em minha direção e assumindo a minha postura de
um bom samaritano e cidadão modelo, como venho fazendo, a cada
passo dado, ostentando um largo sorriso no rosto, fui acenando
para a multidão até chegar à entrada principal. Quando entrei no
salão, todos os olhares caíram sobre mim ao ouvirem a voz do
homem que anunciou a minha presença.
— Eu peço a todos uma salva de palmas para o futuro
presidente do nosso país. O Sr. Baran Celikkol, aquele que dará a
todos nós, dias melhores. Sem violência, deixando a paz reinar
novamente em nossa sociedade.
Sorrio por dentro ao ouvir suas palavras, não sabendo o infeliz
que o verdadeiro caos em breve fará parte de suas vidas. Todos
bateram palmas, enquanto fui andando até o palco e ao encurtar a
distância, assim que o microfone me foi repassado, comecei
agradecendo a todos.
— Muito obrigado...
Nos momentos seguintes, comecei a falar sobre os meus
projetos e todos me olhavam com admiração. Mas foi, minhas
últimas palavras, que fez os tolos ficarem emocionados.
— Eu não quero somente governar uma grande nação — fiz
uma expressão ensaiada. — Eu quero aprender com o povo para
ser um bom presidente e um homem melhor. Que nós, o povo,
através do instrumento da nossa democracia, podemos formar uma
união mais perfeita — faço uma pausa olhando para eles, olho no
olho. — Estou pedindo para cada um de vocês acreditarem, não na
minha capacidade de provocar a mudança, mas na sua. Pois cada
um carrega uma força impar dentro de si e juntos nós podemos
mais.
— Sim, nós podemos — grita um admirador, corroborando
com minha fala.
— Sim, unidos faremos mais... — aponto para ele e continuo.
— Obrigado a todos. E que Deus continue a abençoar os Estados
Unidos da América.
Os aplausos e gritos de satisfação tomaram conta do recinto, e
meu coração começou a bater num ritmo alucinante. Diante do
cenário a minha frente, onde todos, principalmente as mulheres,
exibiam um sorriso de orelha a orelha, naquele instante eu tive a
constatação do porque existem tantos políticos corruptos no mundo.
Algumas palavras bonitas, com falsas promessas e uma dúzia de
boas ações, acabam por iludir aqueles que estão em busca de um
salvador.

Uma hora depois...


Depois de minutos que pareciam não ter fim, agradeço
mentalmente quando ao lado de Massimo, sigo rumo ao veículo que
nos aguardava. Quase um minuto depois, já me encontrava dentro
do carro, antes do automóvel entrar em movimento, o meu celular
começou a vibrar.
Vendo de quem se tratava, levei ao ouvido e antes que eu
dissesse qualquer coisa, sua voz se fez presente.
— Chefe, eu tenho as informações sobre o paradeiro da
fujona.
As palavras que ouvi ao atender a ligação, fez com que o meu
interior ficasse agitado em antecipação pela expectativa de
finalmente enviar a desgraçada direto para as profundezas do
inferno.
Capítulo 04
“Cuidado com o que você deseja, porque pode se realizar.”
Baran Celikkol

Depois de ter dado a ligação por encerrada, o carro


percorria a estrada velozmente, o silêncio que pairava dentro do
ambiente foi interrompido pela voz do homem que estava ao meu
lado.
— Passe-me às coordenadas que hoje mesmo eu darei um
jeito na infeliz.
— Não! Desta vez serei eu quem vai à caça e ninguém ouse a
tocar nela, até o momento que eu decida.
— Sua agenda está abarrotada de compromissos locais
durante esses dias, uma viagem pode atrapalhar os seus planos —
insiste.
Seus olhos buscaram os meus e certamente ele pode ver a
fúria contida neles.
— De nada vai me adiantar seguir todo esse cronograma, se
aquela maldita conseguir fazer o que o seu pai pretendia — digo
sentindo meu maxilar travar. — Fico surpreso que ainda não tenha
feito, visto que, se as informações tivessem chegado até os russos,
já teríamos tido uma amostra, então, desta vez ela não terá
escapatória, pois os filhos de um traidor não merecem perdão,
assim como o pai, ela cedo ou tarde agirá como uma víbora pronta
para dar o bote.

Lisa Evans
Com o coração batendo descompassado no peito, não consigo
desviar os meus olhos do telão à minha frente. Ele era,
definitivamente, o homem mais avassaladoramente lindo que eu já
tinha visto na vida. Seus cabelos eram mais negros que as asas da
graúna; lembro imediatamente de quando estava estudando com a
Mel, aves originárias da América do Sul e vi a foto do pássaro
exótico. Voltando a prestar a atenção na imagem à minha frente,
observei que seus olhos eram lindos, com sua íris em um tom de
verde avelã, que era uma mistura de pigmentação em castanho e
verde, mas que em frente às câmeras, o castanho predominava e
ficava numa cor tão intensa, que parecia a lua quando estava
alaranjada. Sua barba um tanto longa e preta como ébano, faz um
belo contraste com seu rosto perfeito. Sinto um formigamento nas
pontas dos dedos, desejosa por saber se aqueles pelos negros de
sua barba seriam grossos, como aparentava, ou se seriam macios
ao toque.
Suspiro fundo tentando controlar meu coração que parecia
querer saltar para fora e tento afastar esses pensamentos
indesejados. Embora tenha se passado algum tempo, não consigo
superar os traumas do passado, pois as lembranças e os pesadelos
sempre me atormentam, então, eu jurei que jamais confiaria em um
homem. Entretanto, Baran Celikkol, o homem que nunca vi
pessoalmente, apenas através da TV e revistas, e mesmo assim, é
capaz de me transmitir sensações tão boas. Talvez se todos os
homens fossem como ele, íntegros, solidários e não se
preocupassem somente consigo mesmo, o mundo seria um lugar
melhor de se viver. Eu espero do fundo do meu coração, que ele se
torne o governante do nosso país.
Não sei quanto tempo fiquei divagando, ainda mantinha meu
olhar fixo em uma única direção, até que senti minhas bochechas
esquentarem como se estivessem pegando fogo quando ouço a voz
de Olivia.
— Terra para Lisa, você não está no país das maravilhas... —
ela exibe um sorriso largo em seu rosto e não se segura ao ver
como a minha face ficou. — Você parece um tomate de tão
vermelha — uma gargalhada gostosa toma conta do ambiente.
Depois que parou continuou a me zoar. — Amiga você toda vez que
o vê na TV, fica no mundo da lua. Aliás, quem não ficaria, esse
homem é um deus grego, se cruzasse o meu caminho, eu dava sem
arrependimento.
Se eu já estava com o rosto ruborizado, ficou ainda pior com
as palavras ditas por ela. Para mudar o foco, troquei de assunto e
ficamos conversando por um tempo, porém, o movimento que antes
estava fraco, começou a aumentar cada vez mais. Foram longas e
árduas horas nesse ritmo, minha cabeça já estava a mil em razão
do grande fluxo de veículos no estabelecimento. Contudo, assim
que o movimento foi se dissipando, restando somente um cliente e
os funcionários, um sorriso surgiu entre meus lábios por ter chegado
ao fim de mais um dia de trabalho.
— Obrigada, Senhor — agradeci ao final do atendimento,
dando por encerrado meu expediente.
Algum tempo depois...
A van da empresa me deixou a alguns minutos de casa, já que
ainda precisava deixar Olivia e o restante do pessoal. Enquanto
caminho, sinto o vento frio tocando o meu rosto e embora cansada e
com as pernas doloridas, nunca fiz questão que o carro me deixasse
em frente à minha casa, até porque depois que eu e Melanie nos
mudamos para cá, fiz algumas amizades e esse trajeto sempre foi
feito por mim. Deixo os pensamentos de lado ao avistar duas
mulheres se aproximando e quando elas param em minha frente,
sua atenção ficou na sacola que estava em minhas mãos.
— Anjo!
Uma delas diz, pois era assim que me chamava desde que
nossos caminhos se cruzaram. Amélia e Abigail são irmãs, e tem
como profissão, ser garota de programa. Penalizada com a situação
delas, sempre que voltava do trabalho, trazia algo para elas
comerem, as duas viviam nessa vida desde adolescência, pois o
padrasto tentou abusar delas e não tiveram alternativas, a não ser
fugir, já que a mãe ainda insinuou que era culpa das duas e que
viviam se oferecendo. Elas não desejaram viver à custa de seus
corpos, mas as circunstâncias e as dificuldades enfrentadas as
fizeram trilhar o caminho da luxúria.
As duas são bastante conhecidas no bairro e desde então,
quando passo a noite por esse percurso, me sinto segura, pois em
consideração a elas, ninguém jamais mexeu comigo. Entrego a
marmita e prossigo adiante, ou é bem capaz de começar a sentir
cãibras na rua. Uns cinco minutos depois, já estava em frente à
minha casa, esta que acabei comprando com a venda da casa
deixada pelos meus pais, um lugar que me trazia boas recordações,
contudo, depois daquela noite que o pânico dominou todo o meu
ser, eu não consegui mais ficar ali e tão pouco deixaria a Mel
crescer naquele lugar, onde a qualquer momento, o dono dos meus
pesadelos poderia aparecer.
Afasto as lembranças dolorosas, já que os meus olhos
estavam ardendo e as lágrimas estavam prestes a se fazer
presente. Assim que abro a porta, me deparo com Raquel sentada
no sofá, com os olhos vidrados na tela da TV.
— Boa noite amiga.
— Boa noite, a Mel demorou a dormir, embirrou que ia esperar
por você.
Minha bonequinha como sempre aprontando, vive lutando
contra o sono, tentando esperar a minha chegada. Quando se
empolga é como se tivesse no piloto automático. A menina desde o
seu primeiro aninho de idade, começou a falar, mas depois da
tragédia que se abateu sobre nossas vidas, acabou ficando um bom
tempo em silêncio. Embora tão pequena, tudo que presenciou, a
afetou bastante e o brilho dos seus olhos, que sempre foram tão
intensos, desapareceu. Mas aos poucos ela foi voltando e agora
está a todo vapor e fala até o que não deve. Sempre tenho muito
cuidado nas coisas que falo em sua frente, pois aquele ser tão
pequeno parece um gravador que vive reproduzindo tudo que ouve.
— Eu vou tomar um banho, estou morta de cansada — digo
quando Raquel direciona sua atenção para o meu rosto, certamente
estava se perguntando o que tanto eu estava pensando.
Com passos largos, caminho até o meu quarto e ao entrar no
ambiente, fico assustada quando vejo sua cama vazia e ao girar o
pescoço para o lado, a bonita está esparramada sobre a minha
cama. Sorrio internamente e aproveito, corro para o banheiro para
tomar o meu banho. Uns vinte minutos depois, já estava de pijama e
até queria ficar conversando com Raquel, mas a dor em minhas
pernas me deixa desmotivada. Após passar tantas horas em pé
atendendo os clientes, tudo que desejo e dormir.
Acabo ajeitando a minha princesa e me deito ao seu lado.
Tento dormir, mas os meus pensamentos se voltam para o homem
que foi o único capaz de fazer o meu coração bater intensamente, a
minha respiração ficar ofegante e me fez ter sensações
inexplicáveis somente por saber da sua existência. Fiquei horas
perdidas em meus pensamentos e antes de ser vencida pelo sono,
eu só pensava e desejava uma única coisa.
"Algum dia eu terei o privilégio em conhecer pessoalmente
Baran Celikkol e será um dia inesquecível em minha vida".
Capítulo 05
“A jornada pode ser longa e demorada. Mas uma hora eu vou encontrar você.
E aí será o fim...”
Lisa Evans

— Mel, você deve fazer uma bolinha em volta da letra que


vem depois do M — falei calmamente, porém, a resposta veio logo
em seguida.
— Mamãe, eu sei fazer sozinha — disse a pessoa que se acha
adulta, fazendo beicinho com uma pequena carranca.
— Se é assim, não vou dizer a você que deve circular a letra P
— disse segurando o riso quando ela começou a sacudir a cabeça
em negativa.
— Vou perguntar para tia Clara, se eu posso levar você
comigo para escola.
— Por que você vai fazer isso, Melanie? — faço uma cara de
quem não sabe o verdadeiro motivo.
— A senhora é grande, mas precisa aprender o alfabeto
direito. Depois do M vem à letra N — coloca uma das mãozinhas no
rosto, como se tivesse pensativa e depois prossegue. — Senta aqui
que vou dizer desde o começo para você e a tia Quelzinha. A tia
clara sempre diz que sou esperta, eu falei porque sou perita em
falar.
Pronto, tanto eu, como Raquel não nos aguentamos e
começamos a sorrir. Disso eu não tinha dúvida alguma, ela tinha
uma facilidade incrível de aprender tudo que lhe era ensinado em
pouco tempo.
— Eu sei mocinha, que depois do M vem o N e logo em
seguida a letra O. Só queria ver se você sabia.
— Eu sou muito inteligente e quando crescer vou ser igual ao
mocinho bonito da TV — fala com os olhos fixos na tela, que exibia
uma reportagem com Baran Celikkol. Desde que o viu pela primeira
vez, ela começou a chamá-lo assim.
— Não vejo nada de bonito nele — exclama Raquel,
ostentando uma expressão fechada. Algo que de fato me
incomodou, sei que todos nós temos o direito de gostar ou não
gostar de alguém, mas não entendia porque ela mudava de humor
quando elogiávamos justamente ele. Porém, eu até fiquei calada,
mas ela tinha acabado de comprar uma briga com uma leoazinha.
— Tia Quelzinha, a Mel não gosta quando você fala assim. Ele
é lindo e eu quero que ele seja o namorado da minha mamãe, assim
vou ter um papai — engoli em seco, enquanto ela ficou olhando
fixamente para a imagem exibida na tela a sua frente, ignorando a
presença de Raquel.
Melanie sempre foi um doce, mas toda vez que Raquel dizia
algo do tipo, ela se tornava irreconhecível e uma pequena
defensora, porém, não esperava que ela gostasse tanto dele, ao
ponto de desejar que um desconhecido que nunca viu
pessoalmente, fizesse parte da sua vida, se bem que não era só ela
que tinha tanto apreço por Baran.

Horas mais tarde...


Desde que saí de casa, um estranho pressentimento vinha me
perseguido. A sensação era mais ou menos como se estivesse fogo
líquido em minhas veias, me queimando por dentro, meus
batimentos estavam agitados e minha respiração pesada.
— Lisa!
Embora agitada, luto contra aquele desconforto ao me deparar com
Olivia.
— Vamos amiga, o movimento hoje está grande — falou me
incitando a caminhar com ela em direção ao vestiário para que
trocássemos de roupa.
Já estava com o uniforme da empresa, fui direto atender um
cliente que havia chegado, quando parei perto a porta do veículo, o
vidro foi abaixado e um homem que tinha idade para ser o meu pai,
lançou um olhar malicioso em minha direção. Aquilo já me deixou
agitada e ao ouvir as palavras asquerosas ditas por ele, meu
estômago embrulhou.
— Vamos dar uma voltinha, chuchu — soltei minha respiração
em silêncio, sem dar qualquer sinal de exasperação. Mas, ele não
satisfeito, continuou. — Eu posso te pagar muito mais do que a
merreca que você ganha nesse lugar.
A raiva explodiu dentro de mim e as palavras saíram como
lâminas afiadas de minha boca.
— Acredito que o senhor sabe ler. Está vendo aquele letreiro
enorme ali? — digo apontado na direção da placa. — Posto de
gasolina Imperial. Aqui vendemos combustível e não é um lugar de
prostituição — sua expressão se torna uma máscara dura.
— E... — ele abre a boca para dizer algo, mas antes que ele
viesse a falar qualquer coisa, me manifesto novamente.
— Assédio é crime e nem o seu dinheiro vai fazê-lo escapar
de um processo, além de passar um bom tempo atrás das grades —
o rosto do homem estava vermelho de tanta raiva e o ódio estava
estampado naquele rosto enrugado. Mas, eu estava com muita raiva
e era hora de dar o golpe letal. Com o dedo indicador aponto para
mim mesma e então digo. — Está vendo tudo isso aqui? — era uma
pergunta retórica. — É muita bagagem para o seu caminhãozinho. E
aquilo ali — digo mostrando as câmeras de monitoramento de alta
resolução. — É um aviso que se o senhor continuar, não ficará
impune.
Rapidamente o homem puxou o dinheiro e falou que era para
encher o tanque. Quando saiu feito um louco, fritando os pneus,
soltei uma lufada de ar, tentando recuperar o meu equilíbrio
emocional.
— Muito bem, garota — disse Olivia batendo palmas.
Quando comecei nesse emprego, por pouco não desisti. E foi
ela quem me ensinou a cortar o mal pela raiz. Mesmo temerosa, eu
precisava assumir uma postura ou esses sem vergonhas iam tomar
ainda mais liberdades.

Raquel Colombo
Estou parada próxima à cama da fedelha que passou o dia
todo emburrada comigo. A princípio, eu até gostava dela, mas de
uns tempos pra cá, está cada vez mais insuportável, vibrei
intensamente quando ela começou a reclamar que sua cabeça
estava doendo e acabei percebendo que estava com febre, pois
alguma coisa nesse mundo tinha que parar esse projeto de gente.
Acabei dando um remédio e a chatinha capotou, dou uma última
olhada no ursinho que está ao seu lado e caminho para fora do
ambiente, ao chegar à sala, aproveitando que estou sozinha, ando
até a mesa, agacho-me e passo a mão no objeto que está
escondido, não hesitarei em usar caso for preciso. Afasto-me, indo
até o pequeno sofá e ao acomodar-me, fecho os meus olhos e meus
pensamentos me levam para seis meses atrás.
Contra a minha vontade, eu fui obrigada a deixar todos
àqueles que eu amava, mas essa era a única chance de a família
Colombo não ser extinta por completo por aquele demônio. Com o
coração dilacerado as minhas últimas palavras ditas ao meu pai, foi
que daria um fim ao reinado de Celikkol, que aquela fera sangrenta
seria massacrada em breve.
Tudo que trouxe comigo, além do dinheiro que daria para eu
sair do país, mesmo correndo o risco de ser pega, foi a minha arma,
um pouco de roupa e dentro da mochila, o objeto que poderia ser
um grande trunfo a ser usado.
Sabendo que aquele desgraçado e seus homens são como
animais, que sentem o cheiro de sua presa a distância, eu precisava
me esconder até o momento de agir. O meu pai deu um jeito para
que eu chegasse até Wyoming, sendo um estado americano com
grande taxa de pobreza, seria mais difícil de ser reconhecida. Tudo
havia dado certo, mas precisava encontrar um lugar que eu não
precisasse pagar aluguel e assim ser descoberta pelos homens de
Baran.
Atordoada, perambulei pelas ruas naquela noite e de longe
avistei a garota que conversava com duas mulheres, ali eu vi uma
luz no final do túnel, só precisava agir rapidamente. Eu mesma me
agredi e todo um teatro foi feito por mim.
Mesmo sabendo que era errado, eu acabei envolvendo Lisa e
Melanie em algo que pode custar suas vidas, mas na luta pela
sobrevivência, vidas são sacrificadas e não me importa que sejam
as delas.
Cada vez que ouço as duas elogiando aquele maldito, meu
corpo todo fica em chamas e minha vontade de gritar e dizer que
elas não sabem que o infeliz é um monstro, um lobo em pele de
cordeiro e a própria personificação da maldade, é enorme, porém,
me contenho.
Passo bastante tempo distraída, pensando em como darei um
jeito de me aliar aos russos e conseguir a vingança que tanto desejo
contra Celikkol e a Cosa Nostra.
Abandono os pensamentos quando ouço o barulho da porta
sendo destravada. Assusto-me por ter passado tanto tempo
divagando, ao ponto de Lisa já ter chegado, meu olhar se volta rumo
à porta quando a maçaneta é girada.
— Amiga! Chegou ced... — as palavras falham. — Você! —
digo em um fio de voz, arquejando em desespero, dou um salto,
ficando de pé.
"Não pode ser, ele me encontrou" — penso em desespero.
Seus olhos sombrios refletem frieza, contudo, a raiva contida
neles é quase palpável. E para minha total descrença, ele exibe um
sorriso de lado gélido, predador.
— Sim! E vim buscar aquilo que me pertence — ao som de
sua voz, todos os meu pelos ficam eriçados em pavor.
Em pânico, ranjo os dentes, sentindo meu coração bater mais
forte, tremores tomam conta do meu corpo e um nó se forma em
minha garganta, num encolher de ombros, penso...
"É o fim! Não tenho escapatória."
Capítulo 06
“O esperado nos mantém fortes, firmes e em pé. O inesperado nos torna
frágeis e propõe recomeços.” (Machado de Assis)
Algumas horas atrás...
Baran Celikkol

Dimitri havia me passado as informações exatas de onde a


maldita estava. Eu tinha que reconhecer que foi um golpe de mestre
se esconder em Wyoming, já que o pessoal liderado por Massimo,
acreditando que ela não havia ido tão longe, descartou a
possibilidade de procurá-la nos estados que ficam a oeste dos EUA.
Quando já estava prestes a deixar o meu escritório, Massimo
surgiu em minha frente.
— Eu irei com você.
— Não! Você vai ficar, assim como não quero nenhum soldado
comigo — falei taxativo. — A fera que habita dentro de mim, há
muito tempo não participa de uma boa caçada, encurralando sua
presa e hoje à noite, o predador vai saciar a sua fome.
— Mas e... — insistiu e eu o cortei.
— Assunto encerrado. Você deixou aquela infeliz escapar e
não vou hesitar em acabar com a sua vida ou de qualquer outro, se
cometerem o mesmo erro duas vezes — sua expressão mostrava
que não gostou do que ouviu. — Portanto, para o seu próprio bem, é
melhor que eu elimine logo o alvo.
Dito isso, caminhei para fora do ambiente e segui para pista de
pouso particular que fica do lado esquerdo da minha mansão, já que
a piscina ficava do lado direito. Uns dez minutos depois, já dentro
do avião, enquanto fazia os procedimentos de segurança do jatinho,
que já estava com os motores ligados, logo este começou a taxiar
pela pista. Transcorrido tempo suficiente para ganhar velocidade,
saiu do chão e começou a subir sem parar.
Escolhi viajar durante a noite, pois com tantos paparazzis à
solta nesse país, era bem capaz de alguma informação sobre minha
chegada em Wyoming, vazar; e aquela desgraçada escapar
novamente.
Um carro já estava a minha espera assim que cheguei a
Wheatland, uma pequena cidade do estado norte-americano, no
condado de Platte, que tinha quase quatro mil habitantes.
Não demorou uma hora para chegar ao seu esconderijo. Antes
de descer do veículo, olho ao redor, observando com atenção e
calculando meu próximo passo. A casa simples, com pouca
luminosidade não aparentava ter nenhuma segurança, seria muito
fácil, sorrio cínico.
Salto do carro e um vento frio sopra suavemente, com a baixa
temperatura, ajeito meu sobretudo e sigo em direção à porta.
Minha memória traz a tona, as caçadas que participei, fazendo
meu sangue correr veloz pelo meu sistema, trazendo um calor bem-
vindo nesse momento. Todavia, as lembranças desaparecem num
estalar de dedos, quando a mulher que estava incrédula e até então
tinha os olhos arregalados, com o medo brilhando dentro do par de
olhos azulados, tentou escapar e, antes que ela chegasse até o
corredor que dava acesso a outro cômodo, alcancei-a e minha mão
direita se enroscou em seus longos cabelos que pareciam chamas
de fogo, não dando tempo de ela imaginar o que estava por vir,
girei-a de frente para mim e toda minha fúria ficou concentrada em
seu pescoço, assim como minha mão esquerda.
— Podemos resolver essa situação do modo fácil e acabar
logo com isso ou farei dos seus últimos minutos um verdadeiro
inferno.
— Vai à merda, seu maldito! — diz num tom raivoso, o que só
aumentou meu desejo em arrancar o seu coração, porém, quando
seus lábios se movem, fecho uma de minhas mãos em punho e um
soco duro e pesado é desferido contra seu rosto e imediatamente o
sangue começa a escorrer pelos cantos da sua boca, em seguida,
arremesso o seu corpo contra o chão, fazendo um gemido de dor e
agonia preencher o ambiente ao meu redor, o que soa como música
para os meus ouvidos. Enquanto ela se contorce aos pés, meus
olhos vão direto para um porta retrato, onde havia a imagem de um
casal e uma garota de beleza estonteante que deve ter por volta de
uns quinze anos.
— Pelo visto, você tem um aliado, e será muito bom ter mais
pessoas para participar da festa.
Um esboço de um sorriso aparece em seu rosto machucado.
— Você jamais terá o que tanto almeja.
Uma risada diabólica ecoa no ar, então me agacho para ficar
perto de seu rosto e olhando em seus olhos, digo.
— Eu sempre tenho o que desejo, nem que eu tenha que
conseguir da pior maneira.
— Achou mesmo, seu Devil, que eu seria tão idiota — passa
as costas da mão no queixo para limpar o sangue que escorre.
Afoita, continua. — A uma altura dessas, minha amiga Lisa já
entregou às pessoas certas, as informações que o meu pai, hesitou
em fazê-lo, e acabou tendo sua vida interrompida pelos seus
homens.
O ódio inflama em minhas veias, minha mandíbula começa a
se contrair, levanto-me e dou-lhes as costas, volto a ficar de frente
ao ser desprezível em minha frente e um chute é dado em suas
costelas, fazendo-a ir parar próximo da mesa. Quando eu estava
prestes a avançar em sua direção, todos os meus sentidos ficam em
alerta, lanço meu olhar em direção à porta quando ouço uma voz
suave e uma criança surgir em minha frente.
— Quelzinha! — a menina vestida com um pijama de urso e
limpando os olhos, ao focar em mim, diz. — Moço bonito? — faz
uma pausa limpando os olhos novamente com as pequenas mãos.
Poucas coisas me deixam sem reação e essa é uma delas, estou
paralisado, olhando para aquele ser com voz de anjo. — Você veio
conhecer a Mel?
Quando ela retirou as pequenas mãos do rosto, me dando a
visão perfeita dos olhos num tom azul que nunca tinha visto antes e
que pareciam duas safiras gigantes, todo o meu corpo se retesou.
Eu tentei me mexer, mas era como se os meus membros inferiores
tivessem grudados ao chão abaixo deles, a menina embora tão
pequena, emana uma luz que faz com que algo grite dentro mim. O
brilho dos seus olhos graúdos é intenso e toda aquela luz estava
causando um desconforto que sentia como se uma lâmina afiada
tivesse rasgando-me por dentro.
Meu corpo estremeceu, suspirei pesadamente e assumi o
controle dele quando o impacto contra a minha pele fez meus
demônios se descontrolarem ainda mais. A criança começou a gritar
ao ver o sangue escorrendo da minha barriga e uma fúria
incontrolável pairou sobre mim, enquanto a miserável mantinha um
sorriso de satisfação, segurando uma pistola que tinha um
silenciador. A maldita havia acabado de acordar não só os monstros
que habitam no meu interior, mas também havia despertado algo
tenebroso, de natureza sangrenta que clama por sangue e antes
que ela puxasse novamente o gatilho, um próximo disparo é feito,
mas desta vez por mim, acertando sua mão. E, feito um tigre
faminto, avanço de encontro ao seu corpo, jogando-a de encontro
ao piso novamente.
— Eu posso tornar isso menos doloroso.
— Você acha que sou idiota? — ela retruca de imediato. —
Desde que entrou aqui, eu soube que se não conseguisse escapar,
o meu destino seria a morte, não importa se eu entregue ou não o
que você está procurando, eu não sairei viva. Então vai para inferno,
seu maldito — grita aos berros, assustando a menina, que estava
em choque, porém, começa a chorar.
— Garotinha! — digo, por entre o choro, ela mantém sua
atenção em mim. — Vá até o corredor, fique olhando para a parede
e conte vários carneirinhos ou o lobo mau vai te pegar.
— Você vai depois salvar a Mel? — para minha total surpresa,
ela pergunta limpando os olhos.
Fiz um gesto com a cabeça e a menina de imediato me
obedeceu e saiu correndo. Novamente meu olhar buscou o rosto da
fujona.
— Você é um desgraçado — murmura em meio à dor.
— Você se acha muito esperta, assim com o maldito traidor
que tinha por pai. Se ainda estava nesse lugar, é porque não
conseguiu seu verdadeiro propósito ou caso contrário você já havia
dado um jeito de desaparecer. Agora, maldita, você já não me é
mais útil, pois sei exatamente como conseguir o que me pertence.
— Ah, é... — sua voz falha. — E como vai fazer isso?
— Isso você nunca vai saber — minha voz sai gélida, como
navalhas afiadas.
Puxo a adaga e levanto mão.
— Te encontro nas profundezas do inferno, sua infeliz.
— Nãooooooooo...
O aroma ferroso preencheu o ar, invadindo minhas narinas e
um calor alucinante me satisfazia por dentro.
De uma forma ou de outra, eu sempre cobro minhas dívidas.
Capítulo 07

“Carneirinho, carneirinho... Quantos seriam necessários?”


Minutos depois...
Baran Celikkol

Quando os meus olhos fizeram uma varredura pelo chão e


se detiveram em uma única direção, uma onda de prazer e
satisfação pairou sobre mim. Meus demônios, enfim, resolveram
descansar e assim aguardar pela chegada de suas próximas
vítimas. Em passos largos, fui em direção ao corredor onde aquela
fedelha estava, será ela quem vai dar as informações que preciso.
Depois de algumas passadas, parei.
— Te achei carneirinho 81. Agora vou procurar o 82...
Fiquei observando o pequeno ser que mantinha o bracinho,
curvando na testa servindo de suporte, enquanto ele estava junto à
parede. Quando ela chegou ao número 100, se virou em minha
direção, mas antes que dissesse algo, me antecipei.
— Até quanto você sabe contar?
— Eu sei até 300 — disse exibindo uma expressão de quem
se achava muito inteligente. De certo era, já que falava
perfeitamente bem para sua idade e não passou despercebido por
mim, que era dona de um QI super avançado, só não conseguia
entender por que ela, em vez de estar preocupada com aquela
maldita, se mostrava tão familiarizada com a minha pessoa, como
se já me conhecesse há bastante tempo. Afasto as dúvidas quando
ela voltou a falar.
— Minha mamãe me ensinou.
— Muito bom, quando você chegar nesse número, vou te
ensinar uma brincadeira nova.
— Oba! — apesar da inteligência aguçada, é perceptível sua
ingenuidade.
Ela ficou na mesma posição de minutos atrás e continuou.
— Carneirinho 101 eu já estou indo.
Com um giro nos calcanhares, meus pés me arrastam
novamente até a cozinha e ao chegar ao ambiente, livro-me do meu
sobretudo e toda minha atenção se volta para o motivo pelo qual
minha camisa branca estava sendo envolvida pelo líquido
avermelhado. Retiro a peça de roupa do meu corpo, ligo o fogo e
pego uma faca, enquanto o objeto esquenta, as lembranças de
minutos atrás tomam conta da minha mente.
No exato momento que a bala rasgou a minha carne. Uma
sensação intensa e avassaladora de raiva me dominou. A
adrenalina percorreu meu corpo, queimando minhas veias e
fervendo meu sangue. Meus monstros internos estavam duelando
entre si e tentavam assumir o controle do meu corpo, mas o ódio
que se acumulou em cada fibra pulsante do meu ser era
descomunal, eu não precisaria deles para acabar com aquela
miserável, sentir o líquido denso e quente encharcando a peça de
roupa, devido a sua ousadia, era motivo mais do que suficiente para
que eu sozinho, a enviasse para fazer companhia ao seu pai traidor.
Volto à realidade e olho o objeto que ganhou um tom
alaranjado na ponta, olho em volta à procura de um pano de prato,
quando encontro, Limpo o excesso de sangue do local, segurando a
faca, conduzo-a até o buraco latejante em minha barriga, este,
continua sangrando com certa abundância, é necessário estancar o
quanto antes, mas antes... Sem hesitar, enfio-a em minha carne,
movimentando-a sem parar, travo os dentes em desdém, sinto gotas
de suor formar-se em minha testa pelo esforço em procurar a bala, e
depois de alguns minutos, consigo extrair o projétil que estava
alojado em meu abdômen. Embora pequeno, é capaz de fazer um
belo estrago e algumas vezes podem ser letais. Com o
procedimento feito, pressiono o pano, depois o deixo de lado, largo
a faca e com a minha camisa em mãos, inicio uma compressão no
local e logo depois vou à procura de alguma coisa que sirva de
primeiros socorros, encontro uma maleta que estava em um
compartimento do armário. Em posse do kit, entre alguns remédios
que a maioria eram infantis, encontrei um antisséptico, que despejei
todo no ferimento, gases, com as quais cobri o ferimento e uma
atadura, fui enrolando-a em volta do meu corpo, cobrindo-o para
conter a hemorragia que já não era tão forte.
Minutos depois
Já estava usando o meu casaco e fiz algumas ligações, então
em breve a cavalaria iria chegar. Voltei novamente para o corredor
e a garotinha estava no último número.
— Acabei moço bonito — fala ostentando um largo sorriso e
todo aquele magnetismo vindo de seu gesto causa-me um terrível
desconforto.
— Então agora me mostre o seu quarto.
Suas perninhas começaram a se mover pelo corredor e só
parou quando chegou ao cômodo. Havia uma cama infantil toda
rosa e outra de casal.
— Quem dorme ali? — apontei.
— A mamãe e quando quero ficar juntinho dela, eu durmo
também.
Nos momentos seguintes, a garota que falava pelos cotovelos,
me revelou que além dela e da mãe, só morava a tia Quelzinha, não
sabendo ela que esta desgraçada já estava ardendo no fogo do
inferno. Por alguns minutos, me vi confuso sobre o casal e a garota
da foto que vi no porta retrato que tinha na sala, ela disse que era
sua mãe e seus avós, que estavam agora no céu. Olhei para a
fedelha, que continuava falando, dizendo que já havia me visto
várias vezes na TV e queria ser tão inteligente quanto eu. Sendo a
tal Lisa sua mãe, esta logo estaria junto aos pais e o destino da
faladeira a minha frente, vai depender de quão rápido sua mãe me
entregar o que é meu e se realmente tiver entregado aos malditos
russos qualquer informação, nenhuma delas duas sairá com vida.

Lisa Evans
Passei boa parte do percurso para casa, sentindo novamente
aquele intenso desconforto, como uma sensação de mau presságio.
Depois de entregar a sacola com a comida para as meninas, já
que não gostava de jantar no serviço, continuo o meu caminho
sentindo o chão duro sob meus pés. Quando me encontro a uns
passos de distância da entrada da minha casa, de repente, eu me
arrepio dos pés à cabeça, sinto um calafrio percorrer-me o corpo
inteiro, deixando-o ligeiramente tremulo.
— O que está acontecendo comigo hoje?
Ignoro aquela inquietação e depois de algumas passadas, já
estou em frente à porta. Assim que levo a chave de encontro à
fechadura, acho estranho a porta estar somente encostada e ao
adentrar o ambiente, meu corpo todo entra em alerta total. Meu
primeiro pensamento é a Mel, minha garganta parece que tem um
caroço enorme, sufocando-me e ao me deparar com uma poça de
sangue no chão, meu coração sofre um baque e eu me preparo
para o pior.
À medida que vou andando, vejo que uma trilha se formar pelo
corredor.
— Amiga? — chamo na intenção de acender alguma
esperança em mim.
O silêncio é predominante, prossigo com passos vacilantes, e
paro horrorizada, sentindo imediatamente meu estômago embrulhar.
Eu engasgo uma e outra vez, sentindo que ia vomitar. Nada
saiu, enquanto eu sufocava com minha própria respiração,
desesperada.
— Raquel! — entro em pânico ao ver um braço sujo de sangue
sobre o chão frio e mais adiante uma perna. Um choque
violentíssimo me ataca o coração, fazendo meus batimentos
acelerarem ainda mais, como se fosse saltar do meu peito.
Paro por alguns segundos, e num esforço quase sobre-
humano, continuei a caminhar, porém, mais adiante havia outro
braço. Senti uma ânsia de vômito me invadir, subindo aquele
amargo garganta a cima; fechei a boca apertando os dentes um
contra o outro, tentando segurar-me para não vomitar, logo depois
dei mais alguns passos adiante e quando chego à cozinha, no
instante que vejo o que sobrou do corpo da minha amiga, caído em
uma poça de sangue, sinto uma pressão pesada em meu peito, o
que tornou ainda mais difícil a minha respiração, sinto minhas
pernas pesadas e desabo sobre os seus restos com lágrimas
transbordando pelo meu rosto.
— Melanie! — grito.
Meus membros inferiores, que estavam fracos, ganharam
forças e saí correndo em busca daquela que é tudo em minha vida.
Contudo, quando cheguei à sala, pensei em pedir socorro, mas
engoli em seco a minha vontade, minha garganta ficou tão seca que
queimava. Minhas pernas vacilaram, meu coração palpitou
descompassado e quase saí do meu corpo, quando vi a imagem
que se formou em minha frente. Meu coração parou de bater por
alguns segundos, apertei os olhos, incrédula, e logo em seguida
meus batimentos cardíacos dispararam.
— Mamãe!
Meu coração jamais havia batido tanto como estava batendo
agora e um alívio que não sei dimensionar me invadiu ao vê-la.
Todavia, estremeci em pavor, nunca senti um medo assim antes,
causado somente pelo som da voz fria e raivosa que penetrou em
meus ouvidos e passou por toda a minha carne como se a estivesse
dilacerando.
— Então, você é o meu próximo alvo.
Capítulo 08

“Nem tudo o que queremos na nossa vida, vem da maneira que esperamos.”
Lisa Evans

Meu interior agitou-se, fazendo um arrepio desconhecido


correr pela minha espinha. Os pelos dos meus braços se arrepiaram
e o medo irradiou por todo o meu corpo. O homem que até então
era objeto de minha admiração e que poderia trazer conforto diante
de tudo o que presenciei em minha casa, ao contrário, trouxe um
terror nunca sentido. Abri e fechei a boca, sem que saísse palavra
alguma, meu pânico era palpável, pois estava incrédula e me
negava a acreditar que o homem íntegro, um protetor, capaz de
fazer tudo para salvar vidas, na verdade era um monstro.
Eu fiquei gélida, sentia como se o sangue do meu rosto tivesse
se esvaído ao ver que seus olhos ficaram flamejantes e
aterrorizantes.
Um exímio predador observando sua presa.
No olhar que me avaliava da cabeça aos pés, fazendo-me
sentir calafrios como se ele pudesse entrar em meu corpo e
arrancar minha alma, eu podia ver um verdadeiro lobo em pele de
cordeiro.
Encaramo-nos por alguns instantes. O pequeno brilho que
tinha em seus olhos, some, escurecendo-os, no lugar há apenas
uma sombra. Vejo sua alma e quão sombria ela é. O silêncio entre
nós cresce ainda mais e diante da calmaria que tomava conta do
lugar, ao vê-lo segurando a mão direita da minha pequena, que
estranhamente mantinha-se calada, enquanto mantinha na sua mão
esquerda o ursinho de pelúcia, acabei reunindo toda a minha
coragem e o enfrentei.
— Solte-a, seu monstro — senti-me aliviada quando o ele
afastou a mãozinha de Mel da sua.
— Venha aqui minha peque... — parei de falar quando
observei que assim que ela ia se mover, ele a impediu e então o
homem que eu sempre vi como um bem feitor aproximou-se de mim
em passos rápidos e embora recuando, ele me alcançou e parou,
ficando a uma distância perigosa.
— Vai para porta, Mel — digo com a voz trêmula. Depois do
que me aconteceu no passado, as aulas de defesa pessoal foi algo
que procurei fazer, mesmo sabendo que contra esse brutamontes,
eu não teria chance, mas me daria tempo para escapar e no
instante que ele deu mais alguns passos e seu corpo tocou o meu,
dobrei os joelhos e o atingi entre a virilha.
Nenhum som saiu de sua boca, porém, ele se afastou um
pouco, talvez por não esperar pela minha reação. Eu não podia
perder a oportunidade e precisava correr com toda velocidade.
Quando alcancei Melanie e abri a porta, nos deparamos com três
homens vestidos de pretos, lançando o olhar para fora, vi que
próximo a calçada haviam dois carros escuros, que não estavam
quando eu cheguei.
Engoli em seco quando ele me enjaulou com seus braços
fortes e musculosos, puxando o meu corpo, fazendo-me largar de
forma abrupta, a mãozinha de Mel. Fiquei desorientada ao ouvir o
choro da minha princesa.
— Socorro mamãe — ela estava aos berros quando um dos
homens a segurou firme.
O pânico me dominou quando ouvi a voz poderosa ecoando
no ambiente.
— Levem-na para o lugar combinado. Vocês já sabem o que
devem fazer com ela.
— Não! Não! Nãoooo... — comecei a espernear, em vão.
— Mamãe! Ajude-me! — feria-me de morte ouvir seus pedidos
de socorro, sem que eu pudesse fazer alguma coisa.
Continuei a espernear, mas de nada adiantou, pois o demônio
segurava o meu corpo com tanta força, como se fosse me partir ao
meio. Eles a colocaram dentro de um dos veículos e este logo
entrou em movimento, meu rosto estava banhando pelas lágrimas
que escorrem pelas minhas bochechas e meus gritos foram
contidos. Assim que uma troca de posição foi feita, uma de suas
mãos alcançou o meu queixo e segurou ali com força, como se
quisesse esmagar os ossos da minha mandíbula, um ruído de dor
escapou por entre os meus lábios e em seguida sua mão desceu
até o meu pescoço, se fechou e prendeu-me em um aperto mortal.
Meu peito chiou e minha garganta trancou-se, não conseguia
respirar, eu tinha a sensação que havia uma corda em meu
pescoço, me apertando e sentia como se o oxigênio do local fosse
acabar.
— Você tem algo que me pertence e se deseja salvar pelo
menos a vida da sua filha, é melhor que me devolva agora —
grunhiu mantendo seu olhar cravado em meu rosto.
Fiquei desorientada e perdida ao ouvir suas palavras. Tossi
buscando por ar quando ele afrouxou um pouco o aperto, limpei a
garganta para falar.
— E... Eu não sei do que você está falando — disse com
dificuldade. Minhas palavras só fizeram com que a imagem do
próprio demônio surgisse diante de mim.
O pânico me dominou quando ele intensificou o aperto em
meu pescoço e o seu rosto começou a se contorcer até se
transformar numa máscara rígida e seus olhos tornaram-se escuros,
onde o brilho deles deu lugar a faíscas de ódio, pensei que naquele
momento seria o meu fim. Porém, seu estrangulamento afrouxou e
eu pude sentir na pele o tamanho da sua crueldade e fúria, quando
impiedosamente, ele jogou o meu corpo na parede de concreto, me
fazendo ver estrelas instantaneamente. Tirando o ar dos meus
pulmões com o impacto do seu golpe, minha cabeça girou, minha
respiração desacelerou, ainda me lembro que seu olhar mortal
estava direcionado para o meu rosto. Comecei ver borrões em
minha frente e ainda consegui dizer algumas palavras...
— Deus, me ajude.
Mas logo fui envolvida por uma escuridão sem fim.

Baran Celikkol
Tudo que senti quando olhei aquela garotinha que me causou
tanto alvoroço, não se compara às sensações que atravessaram o
meu corpo e após tantos anos, pude sentir pela primeira vez, o meu
coração desenfreado. A imagem a minha frente era da própria
Vênus, a deusa da beleza e desejo sexual, além de um corpo
magnífico, o seu rosto era a pura perfeição. Seus lábios eram
rosados, bem moldados e estavam ligeiramente entreabertos, seu
rosto é de uma boneca de porcelana, exibindo olhos azuis brilhantes
e a maneira com que o cabelo seguia o formato do seu rosto, era o
encaixe perfeito. Eu me vi observando-a em sua totalidade, e ao
contrário do que julguei ao ver aquela foto, não tinha em minha
frente uma adolescente de quinze anos, e sim uma mulher de
beleza exuberante. Seu magnetismo atraia o meu olhar, era como
se a maldita tivesse jogado um feitiço em minha direção, ao ponto
que fiquei fora de mim por vários minutos. Mas, logo fui tirado do
estado catatônico que me encontrava, quando ouvi a voz sua
temerosa.
Sua aparência era de um anjo, mas se mostrou ser um
pequeno demônio. A insolente me acertou com um golpe não tão
leve para um corpo aparentemente tão fraco, porém, ao contrário da
infeliz que eu tinha dado fim, ela era impelida por uma "força interior
intensa", quando ela não disse as únicas palavras que eu esperava
ouvir naquele momento saindo de sua boca, os meus demônios
internos gritavam para acabar com a vida da maldita, entretanto,
antes que isso viesse a acontecer, eu farei com que conheça o
próprio inferno em vida.
Movido pelo ódio que inflamava em minhas veias, lancei o seu
corpo indefeso contra a parede rígida e ao vê-la esparramada no
chão, desfalecida, meu corpo todo vibrou em êxtase. Dei alguns
passos e antes de pegá-la, uma risada sardônica envolveu o
ambiente diante do pensamento que se passou rapidamente pela
minha cabeça.
“Darei a essa infeliz, o prazer em passar seus últimos suspiros
no meu inferno particular. O lugar onde ela vai estar diante do maior
tormento de sua vida.”
Capítulo 09

“Por mais sombria que venha a se tornar a sua estrada, não pare de caminhar. Só assim
chegará a luz.”
Na manhã seguinte...
Lisa Evans

Os meus pulsos e tornozelos estão doloridos, sinto uma


onda de frio por todo o meu corpo, um zumbido assola meus
ouvidos e minha cabeça está doendo como se fosse estourar a
qualquer momento.
“Que tipo de pesadelo é esse que faz com que sintamos como
se fosse real?” — penso tentando me mover, sem sucesso.
Forço-me a abrir os olhos e lentamente eles vão se habituando
a pouca claridade do lugar. A minha cabeça está pesada, minha
mente completamente enevoada, de tal forma que nem eu mesma
consigo me encontrar. Aos poucos as lembranças vão se tornando
cada vez mais claras. E, com elas o medo que se apodera de todo o
meu corpo. Não foi um pesadelo, estremeço dos pés à cabeça.
— Mel! — seu nome sai como um sussurro rouco rasgando
minha garganta.
Desesperada, me levanto, sinto uma leve tontura, mas forço-
me a andar, porém, não consigo chegar muito longe, algo me
impede de ir adiante, só aí percebo as algemas em meus pulsos e
tornozelos e elas estavam interligadas com correntes grossas
fixadas na parede, e isto me impossibilitava de chegar até à porta. A
única coisa que me resta a fazer é gritar. Contudo, não o faço.
Por mais estranho que parecesse, meus olhos foram atraídos
para as paredes que tinham uma tonalidade avermelhada, com
manchas fantasmagóricas, acredito eu, que um dia foram pintadas
de branco. A cor intensa que já se sobressaía ao branco, não era de
uma tinta que se comprava em uma loja de construção, as marcas
das mãos estampadas nelas foram feitas com sangue. O local
cheirava a morte. Em uma das paredes, além de vários
instrumentos como foice, facas e chicotes, também havia um
crucifixo perto da porta de aço, um tenebroso matadouro que me
deu a constatação que eu estava dentro do próprio inferno.
Fico paralisada da cabeça aos pés e um pânico imensurável
invade o meu peito ao sentir por todo ambiente à minha volta, uma
energia diabólica e assustadora. Sinto meu estômago ficar em nós,
o sangue em minhas veias, gelam. Meus olhos pareciam que iam
saltar para fora do meu rosto e começo a tremer incontrolavelmente
tamanho o desespero que me envolve.
Meu coração bate descontrolado, como se quisesse escapar
do meu corpo e a voz que eu julgava nula, se faz presente e eu
grito.
— Socorro! Alguém me ajude! Socorroooo... — começo a
espernear na tentativa de me livrar da minha prisão, mas o meu ato
só fez com que vários gemidos escapassem da minha boca, pois a
cada movimento, as algemas machucam ainda mais a minha pele,
esfolando-a, eu me calo.
Quando eu achei que já estava no limite da minha agonia, com
um rangido de porta, o lugar que até então estava na penumbra,
logo foi preenchido por uma forte claridade. Pensei que meus
pulmões juntariam ar o suficiente para gritar novamente, porém, eles
paralisaram. A falta de ar e o medo que se enraizou por todo o meu
corpo no instante que a porta foi aberta, anulou os comandos do
meu cérebro.
Lá estava, parado próximo à porta, o homem por quem eu só
conseguia sentir agora tanto desprezo. Este vibrava com uma
energia poderosa e negativa, o anjo havia se transformado no
próprio demônio e mesmo alguns metros de distância, eu podia
sentir a vibração magnética que vinha dele, fazendo todo o meu
corpo estremecer e meus órgãos internos se agitarem de forma
incontrolável. Comecei a tremer e os meus batimentos aumentaram
ainda mais, engoli em seco quando o algoz avançou em minha
direção como um animal selvagem, pronto para abater sua presa.
O medo era inevitável, queria recuar, mas havia uma muralha
atrás de mim. Quando ele parou em minha frente, levantou o rosto
com sua face completamente transfigurada, dando-me a impressão
de querer me devorar somente com esse olhar mortal.
— Espero que a pancada em sua cabeça tenha refrescado a
sua memória — fala com ironia.
Respiro uma, duas, três e quatro vezes tentando manter o
ritmo da minha respiração, embora sendo dilacerada por tanta dor
ainda tão nova, eu me mantive forte por mim e pela Mel. Por ela, eu
preciso ser ainda mais forte agora e o nó que estava preso em
minha garganta se desfez, e não pude controlar as palavras que
saíram de supetão.
— Eu não tenho nada para revelar a você, mas vou dizer tudo
que está entalado aqui dentro — meus olhos ardiam com lágrimas
não derramadas. — Cada vez que você aparecia na TV dando
alguma palestra ou fazendo algum discurso, eu sempre o via como
um homem que iria semear a paz e conduzir nossa sociedade a um
novo patamar. Todavia, assim como Lúcifer, que aparentava ser um
anjo; a sua verdadeira face é do próprio Demônio. Um ser
asqueroso e repugnante.
Sua expressão que já era tenebrosa, ainda ficou mais
pavorosa.
Engoli em seco, mas já era tarde demais, pois minhas
palavras foram como jogar uma tocha no barril de pólvora,
causando uma explosão e esta atingiu a fera de olhos flamejantes e
raivoso, que destilou toda a sua irá.
— Eu te dei a chance de tornar tudo isso mais fácil, mas você
quis vir direto para o inferno. Ninguém que entrou nesse lugar
jamais saiu com vida e você não será uma exceção — sua voz é
fria, cortante. — Assim que eu tiver o que desejo, você mesma vai
implorar para que eu a mate o mais rápido possível. Porém, o preço
em cruzar o meu caminho e estar aliada a uma traidora tem como
sentença não somente a morte, como eu vou quebrar cada fibra do
seu corpo, vou dilacerar a sua alma e quando você estiver prestes a
sucumbir, eu não te darei o gostinho de se entregar a escuridão,
pois a morte de forma tão rápida seria um presente e não uma
punição.
— Eu... — tento falar, mas ele não deixa e sua garra aperta
meu pescoço.
— Já que sofre de amnésia, vamos refrescar novamente a sua
memória, dessa forma você se lembrará de que aquela desgraçada
fujona, por quem você tanto chora te entregou algo que custará a
sua vida.
Esse homem só podia ser louco, a única coisa que Raquel
havia me dado foi o cordão que estava em meu pescoço. Nem tive
tempo de assimilar cautelosamente suas palavras, pois o barulho
ensurdecedor que pareciam de algum mecanismo sendo girado
tomou conta do ambiente, e contra a minha vontade, o meu corpo
começou a se movimentar, sendo puxado para trás até que senti
minhas costas batendo contra a parede áspera.
Aquilo foi só o começo do pesadelo que se tornaria a minha
vida, pois logo em seguida ouvi algo rangendo, o barulho vinha da
parede e um tipo de cinto foi passado em minha cintura, enquanto o
meu corpo permanecia grudado na parede, novamente o que
parecia ser o barulho de alavancas ressoou no ar, movendo as
correntes que prendiam os meus braços e este iam se afastando do
meu corpo, se abrindo como se a intenção fosse formar um crucifixo
humano, me causando uma dor infernal. Um grito estrangulado saiu
rasgando a minha garganta, meus membros pareciam que seriam
partidos ao meio. Nunca em toda a minha vida, senti uma dor tão
grande. Gritos e mais gritos saíram dos meus lábios e quando
pensei que não fosse suportar, eles pararam de se mover,
destravando e voltando a posição de antes. Senti um grande alívio,
meus olhos se chocaram com os deles e o maldito tinha um sorriso
estampado em sua face, como se meu sofrimento fosse divertido
para ele.
— Seus exercícios só estão começando — diz como se aquilo
fosse algum tipo de brincadeira.
Caí no poço do sofrimento novamente, pois dessa vez foram
minhas pernas que se afastaram. A dor que pairou sobre mim foi
ainda pior e lutei o quanto pude, mas a sessão de horror parecia
não ter fim. Lágrimas escaparam dos meus olhos, não havia como
escondê-las diante de tanta dor e para dar fim aquele tormento, eu
não tive outra opção a não ser implorar.
— Por favor... — seu olhar se conectou novamente com os
meus. — Mate-me, então. — não hesitei em clamar.
Mas de nada adiantou e não tinha outra saída há não ser me
entregar à escuridão.
Capítulo 10

“Nada é em vão. Nenhuma folha cai no chão sem motivo, da mesma forma
que ninguém sofre à toa.”
Baran Celikkol

Estou nitidamente mal-humorado. Quando entrei no COVIL


DA MORTE, já tinha visto pelas câmeras de monitoramento que
aquela atrevida estava acordada. Passei alguns minutos me
deliciando do seu desespero, do medo que a envolvia enquanto sua
visão se ajustava à claridade ela foi percebendo alguns detalhes do
lugar, porém, toda euforia que eu estava sentindo ao ver suas
feições no momento que seus membros começaram a ser
esticados, aos poucos foi dando lugar à raiva e esta me dominou.
Uma boneca de porcelana, que erroneamente julguei que na
primeira tentativa de obter a informação, ela se renderia, contudo,
embora sentindo dor, ela mantinha-se inabalável, pois sua força
interior era grande e poderosa.
Foram minutos de pura agonia e em certo momento, ao olhar
no fundo dos seus olhos e ouvir suas palavras, eu tive a
constatação que a infeliz desejava era morte, isto eu lhe daria, mas
não antes de me revelar onde ela havia escondido o pen drive.
Ignorei sua suplica, pois ainda não estava em meus planos
acabar tão rápido com sua vida, no entanto, eu sabia exatamente o
movimento exato para proporcionar uma dor suportável antes do
golpe final. Sendo assim, ela continuará fisicamente intacta, mas
mentalmente dilacerada, embora desfalecendo, Lisa se mostrou
muito mais forte que vários homens que eu já havia torturado e há
muito tempo eu não tinha um novo desafio, capaz de causar tanto
desconforto aos meus demônios.
Fiquei observando-a e quando estava prestes a me mover, de
repente o meu corpo se aqueceu e minha barriga estava em
chamas, o que me fez lembrar o tiro que aquela desgraçada havia
me dado, deixei o ambiente. Ao chegar ao quarto, retiro minha
camisa, me deparando com o ferimento que eu havia costurado
quando cheguei aqui, e alguns dos pontos haviam se rompido,
deixando parte da ferida aberta. Esse não seria o primeiro ferimento
que marcava a minha pele e tão pouco, algo do tipo me impediria de
acabar com alguém.
Segui até o banheiro, peguei os utensílios necessários e
novamente comecei a costurar a minha carne. O silêncio envolveu o
ambiente como um pesado manto e dor física, esta de uma forma
cruel, há muito tempo, deixou de ser sentida por mim. Assim que
termino, ao ver o meu reflexo no espelho, lembranças torturantes
invadem a minha mente, levando-me para mais de vinte quatro anos
atrás.
Os sons das vozes alteradas ficavam cada vez mais altos,
arrancando-me da escuridão em que me encontrava. Acabei
acordando sobressaltado, com o coração agitado, batendo muito
forte. Eu estava fraco, pois a única coisa que havia comido naquele
dia foi uma banana ao chegar da escola, já era noite e para fugir do
desconforto irritante e doloroso que sentia em meu estômago, o
meu único refúgio foi entregar-me ao sono profundo.
Os pensamentos naquele momento se foram ao ouvir os gritos
de minha mãe. Levantei-me cambaleando, já que estava ainda
desorientado, fui em direção à sala e a raiva cresceu dentro de mim
quando a encontrei gemendo no chão, o homem alto, forte e
malvado, tinha entre os dedos o seu charuto, tragando-o, soltando
uma borrifada de fumaça no ar. Quando meu olhar caiu sobre o seu
rosto machucado, eu não pensei duas vezes antes de avançar para
cima dele, mas antes que viesse a atingir o meu alvo, o ser que
gostava de espalhar sua crueldade, não precisou de muito esforço
para jogar-me no chão. Gemidos escaparam de minha boca e os da
minha mãe cessaram, pois ela desfaleceu. Ele não satisfeito, se
agachou e seus olhos estavam em chamas, não só de ódio, pois
ficava assim quando estava drogado. Seu tom de voz raivoso atingiu
os meus tímpanos, espalhando um medo cru por cada centímetro
do meu pobre corpo.
“— Já que o fedelho quer ser tão valente, vamos ver se
realmente você é um homem ou um ratinho indefeso.”
Dito isso, ele me imobilizou, prendeu seu charuto na boca com
os lábios e, suas mãos, aquelas que tanto já tinham me causado
dor, começaram a trabalhar, rasgando a minha camisa, deixando o
meu peitoral desnudo. Nunca em toda a minha vida eu havia sentido
tanta dor, pois o meu algoz levou uma de suas mãos até o objeto
que tinha a ponta em brasas e o conduziu em direção a minha
carne, uma dor dilacerante se espalhou pelo meu ser, ele voltou a
acender novamente o charuto e o apagou de novo e de novo, o
entranhando em minha pele, a certa altura eu já estava todo urinado
e o meu corpo já não reagia mais. Eu senti como se algo tivesse se
quebrado no meu interior.
Volto à realidade e meu olhar se detém no rosto que tem uma
aparência fria e destemida, onde já não consigo mais identificar
aquele pobre garoto sofredor e sim uma aura sombria e maligna.
Arrependimento por hoje ser um demônio?
Jamais! Afinal:
“Por que devo me desculpar por ser um monstro? Alguém já
se desculpou por me transformar em um?” — penso amargo.

Massimo Torricelli
Continuo bebendo lentamente o meu uísque. Meu nome é
Massimo Torricelli, depois da morte da minha mãe, eu acabei indo
morar com a minha tia e sua filha Camile, que até então era
somente uma garotinha, a pobreza nos rondava e para não vê-las
passando fome, acabei de início cometendo pequenos furtos nos
supermercados, depois já estava roubando as bolsas das pessoas
no metrô e foi desta forma que acabei sendo pego pela polícia, e
embora fosse ainda um adolescente de doze anos, eu não sairia
ileso. Durante o trajeto, quando me levavam para responder pelos
meus atos ilícitos, o som vindo do rádio dentro do automóvel
chamou atenção de todos, estava tendo um grande confronto entre
policiais e criminosos que vinham espalhando o terror pelo território
americano.
Eles tinham a opção de me levar ou deixar-me no meu destino
antes, mas os infelizes, que acharam que tudo seria fácil, acabaram
por ir para linha de frente. Barulhos de tiros ecoavam no ar, o carro
parou e eles se juntaram aos outros policiais que atiravam contra os
bandidos. Aquilo se tornou uma verdadeira cena de terror, eu olhava
através do vidro do carro sem conseguir desviar os meus olhos do
cenário sangrento à minha frente. Minutos, que quase deram
espaço para alcançar uma hora, aquele homem que usava um
capuz negro, e tinha em seu sobretudo o desenho de um leão, era
ele, aquele que era odiado por muitos, temido por uma grande
multidão e admirado por alguns. O homem não errava um alvo e
matava sem piedade quem cruzasse o seu caminho, quando o
barulho cessou e os seus homens estavam se retirando, eu comecei
a gritar feito louco e minha salvação foi que um dos policiais havia
deixado à janela do lado esquerdo aberta.
Al Capone, este é o nome do homem que naquele momento
salvou a minha vida. Aquele era o nome do homem que mudou o
rumo do meu destino e foi ele quem quebrou a criança que havia
dentro de mim e a restaurou novamente, para que este pudesse se
tornar um homem que jamais temeria nada.
Absolutamente nada.
Capítulo 11
Lisa Evans

O pânico que envolveu o meu corpo, está me impedindo


de abrir os meus olhos. Eu senti que os meus braços e pernas
estavam livres, porém, estão doloridos e pesados.
Quando eu tinha seis anos, acabei caindo e fraturando o braço
direito, eu chorei tanto que os meus pais começaram a chorar junto
comigo e naquele momento, eu na minha inocência, acreditei que
fosse a pior dor do mundo. Eu jamais havia pensado que um
simples movimento, que mesmo continuando aparentemente
intacto, eu pudesse sentir tanta dor e ao mesmo tempo, alívio,
quando os movimentos calculados paravam.
Prazer é a palavra que descreve as feições que vi no rosto do
homem que emanava uma aura tão escura quanto seu coração.
Teve momentos que eu achei que meus ossos seriam quebrados
em vários pedaços, houve segundos que eu desejei a morte, só
para encontrar o alívio eterno que almejava, mas, eu sabia que o
diabo não iria me matar, não tão rápido.
Baran, o nome que tem como significado "nobre guerreiro" e
talvez faça jus ao dono, pois este, se não for o príncipe do inferno, é
o próprio rei do caos. O homem de mente diabólica sabia
exatamente o instante de parar para que os meus membros
superiores não fossem estraçalhados, tirando-me do inferno e
jogando-me no paraíso, para logo em seguida me levar novamente
ao mar de sofrimentos.
O meu pai sempre dizia que chorar não era sinônimo de
fraqueza. Isso não faria de mim uma pessoa covarde, que devemos
deixar a dor ser dor e um dia ela não vai doer mais, pois as lágrimas
lavam a alma e servem de combustível para a felicidade. Eu posso
aparentemente ser fraca aos seus olhos, mas Baran Celikkol, não
tem noção do tamanho do amor que sinto pela minha pequena, esse
sentimento que me faz renascer das cinzas e não vou permanecer
na escuridão.
Decidida e lutando contra a dor, meus olhos se abrem e vou
me arrastando em direção à porta que se encontra aberta, mas
antes que eu chegue ao meu destino, não preciso levantar a cabeça
para saber de quem eram os pés que estavam bloqueando a
passagem.
— Eu espero que você, agora, tenha refletido bastante.
— Quando você vai entender que eu não faço ideia do que
você esta falando? A única coisa que a minha amiga, aquela que
você matou sem piedade me deu, foi o cordão que está em meu
pescoço — digo já com a voz alterada, mas ao levantar a cabeça, o
desespero volta assim que o demônio começa a arrastar os pés em
minha direção. Um misto de sensações ruins faz o meu corpo
inteiro paralisar. Ele, ao me alcançar, se agacha, deixando seu
corpo quase no mesmo nível que o meu e segura firme em minha
mandíbula. Sinto sua respiração quente contra o meu rosto, a única
coisa que consigo identificar em sua expressão é raiva.
Gemidos escapam da minha boca, não sei como alguém podia
ter tanta força, ao ponto que se ele intensificasse um pouco mais o
contato, quebraria os ossos do meu queixo com facilidade. Sua voz
grave reverbera em minha cabeça, enquanto um zumbido
penetrante em meus ouvidos me devorava.
— Você é durona, apesar da aparência frágil, porém, até agora
eu te mostrei somente o meu lado bom, até cogitei em acabar
rapidamente com o seu sofrimento e poupar a vida daquela fedelha,
mas, você acabou de despertar, todos os meus demônios que estão
famintos e só vão se aquietar quando o sangue de alguém for
derramado — diz, apertando meu maxilar e depois afrouxa, se
levantando.
Enquanto, ele caminha para longe de mim. Eu ainda estava
incrédula se isso era seu lado bom, o que mais esse infeliz poderia
fazer para me quebrar ainda mais? Eu estremeço toda com o
pensamento assustador que passou pela minha mente.
“Ele não seria capaz disso? Isso não! Ela é só uma criança, eu sei
que ele só a afastou para me intimidar ou teria feito algo quando
ficou sozinho com ela.”
Eu tentava me convencer...
“Ela está segura, ela ficará bem. Não me importa que ele acabe com
a minha vida, se for para que ela continue vivendo.”
Começo a repetir feito um mantra, as mesmas palavras. Eu
precisava deixar de agir por impulso e começar a usar a cabeça.
Fiquei perdida nos meus pensamentos e quando os afastei, meu
olhar caiu sobre a pequena porta que havia no canto. Consegui me
levantar e depois de algumas passadas, já estava com uma das
mãos fixas na maçaneta, mas caí no arrependimento assim que
abri. Meu coração disparou e eu congelei, ficando completamente
paralisada.
Meus olhos se arregalam, sinto um nó na boca do estômago.
Um cheiro ferroso pairava no ar, o ambiente tinha as paredes todas,
cobertas por sangue, eu estava dentro do covil da morte e se não
desse um jeito de escapar, aqui seria um purgatório onde pagaria
por todos os meus pecados, mesmo que estes fossem acreditar que
o diabo era um anjo. Um anjo que escondia debaixo do seu
sobretudo negro, a foice que derramaria o meu sangue.
O cheiro da morte estava me rondando, eu queria me afastar,
mas já havia prendido meu xixi por muito tempo. Eu estava apertada
e minha bexiga a ponto de estourar; não tive alternativa; a não ser
entrar no ambiente e fazer minhas necessidades. Quando termino,
aproveito para lavar as mãos e jogar um pouco de água no meu
rosto. O tempo que passei dentro do inferninho não foi muito,
porém, o suficiente para quando eu voltasse, e com isso, encontrar
no chão uma marmita e uma garrafa de água.
Se meu estômago pudesse falar, desde quando eu acordei,
ele já estaria aos berros, eu não pensei duas vezes antes de
devorar tudo que tinha dentro do recipiente. Se desejo escapar, eu
preciso ter forças para isso, quando terminei e já tinha bebido algo,
comecei a ver pontos escuros que dançavam em meus olhos, de
repente fiquei tonta e sonolenta, como se tivesse algo na comida, do
jeito que estava, sem forças para me acomodar melhor, deixei meu
corpo ir arriando aos poucos e acabei sendo vencida pelo sono.

Um dia depois...
Minha cabeça parecia pesar quatrocentos quilos. Tudo parece
distante, não preciso abrir meus olhos para saber que novamente as
malditas algemas estão grudadas em meus pulsos, porém, eu sinto
o meu corpo mais leve, como se eu tivesse dormido um dia inteiro.
Quando penso em voltar a dormir um pouco mais, como uma
tentativa de manter-me livre do meu carcereiro, o ambiente é
preenchido pela voz que eu conheço perfeitamente e isso fez todo o
meu corpo reagir imediatamente.
— Mãezinha!
— Mel!!!
Meus olhos se abrem e passeiam em volta do lugar e só
quando ouço sua voz de desespero novamente, que encontro a
caixa de som fixada na parede.
— Eu quero a minha mamãe — sua voz é chorosa, fazendo
meu coração sangrar.
— Se você gosta tanto de chorar, agora terá um bom motivo.
Meu coração falha uma batida e então acelera, os meus
pulmões estão funcionando aos espasmos e começo a lutar contra
as correntes, tentando escapar.
— Mamãe! Mamãe! Socorro...
— Cortem a mãozinha dela. — um grito ensurdecedor
preenche o espaço.
— Nãooooooo...
Um ruído alto saiu rasgando a minha garganta, como se fosse
uma navalha afiada, me dilacerando por dentro. Senti tontura e
náusea, meu corpo gelou e minhas mãos suaram frio, meu coração
parecia que iria sair pela boca.
Lágrimas molham meu rosto e meu mundo desaba quando a
porta se abre e diante do clarão, surge a minha frente, o ser cruel e
demoníaco que tem sido meu algoz e causador do meu desespero.
Meus olhos ficam paralisados no objeto que ele está segurando.
— Você pode se negar a colaborar, o quanto quiser, porém,
esteja ciente de que será ela quem irá sofrer às consequências.
Capítulo 12
Baran Celikkol

Meu olhar foi do pequeno objeto envolvido pelo sangue em


minhas mãos, para o rosto da desgraçada. Seu corpo estava
trêmulo, como se sua alma estivesse abandonando-a. Sua face
ficou pálida como se o sangue estivesse sido drenado do seu rosto.
Fui tomado por uma sensação prazerosa ao ver o sofrimento da
infeliz, que até o momento não havia se demostrado tão frágil ao
ponto de não conter suas emoções.
Baran Celikkol, o garoto que vivia cheio de esperanças, mas
que conheceu de forma dura e severa, o lado cruel da vida,
transformou-se em um monstro. Dizem que ao matar alguém pela
primeira vez, pode causar danos e te deixar assombrado, mas
comigo foi diferente, pois derramar o sangue daquele tirano foi algo
que me fez sentir um prazer colossal e inexplicável. Naquele
momento, o pobre menino que nem sabia que tinha uma besta
dentro de si, já não era somente um sobrevivente, um dia ele foi um
anjo, mas sua escolha foi se transformar em um demônio capaz de
tudo para jamais voltar a sentir medo. Marcando o início de uma
vida sangrenta, a qual eu não tenho arrependimentos.
Eu já destruí vidas por muito menos. Matando milhares de
homens, acabando com suas vidas sem qualquer incerteza.
Sem aviso. Sem remorso.
Gosto de vê-los implorar por suas vidas, mas eles sabem que
implorar não irá salvá-los de mim. Eu vou passar por cima de
qualquer obstáculo ou qualquer um que fique em meu caminho. No
entanto, eu já havia desperdiçado tempo demais com essa maldita.
Se ela era durona, eu não hesitaria em usar tudo que tivesse ao
meu alcance para quebrá-la de vez, certas situações requerem
medidas drásticas e aqui está o preço de suas ações. Quando ainda
estava em sua casa, eu fiz questão de ligar para Dimitri, este
mandou alguns dos seus homens ao meu encontro, já havia
passado pela minha mente diabólica, que caso encontrasse algum
obstáculo, a garotinha me seria um belo trunfo a ser usado.
Pelo estado que ela se encontra, eu darei o alívio que ela tanto
necessita.
Sem delongas, caminho em sua direção. A primeira pancada
já foi dada, agora era o momento de aplicar o golpe final,
nocauteando-a e só assim irei me livrar de vez dela e de todo o meu
aborrecimento.

Lisa Evans
Minha vida foi de um pesadelo para outro muito pior. Meu
peito apertou e todo o sangue foi drenado de minhas veias. Embora
sabendo que agora ela precisava ainda mais de mim, eu era
incapaz de segurar minhas emoções, sufocando em minha própria
respiração.
Cada osso do meu corpo estava imóvel e palavras não
poderiam descrever o que eu sentia naquele momento. O tempo
parou ao meu redor, eu ainda respirava, contudo, com muita
dificuldade. Havia uma sensação de queimação que parecia estar
correndo nas minhas veias e em todas as minhas partes, sentia
como se estivesse em chamas.
Incapaz de conter a minha dor, comecei a chorar aos soluços.
Sentia o meu peito latejar e uma dor muito profunda. A sensação
era como se uma faca estivesse sendo enfiada em meu peito.
"Por que Deus? Meu anjinho não. Por que ela? Eu estou
quebrada, daria tudo para que tivessem feito isso comigo."
— Quanto mais você se negar a colaborar, será ela quem vai
sofrer as consequências — suas palavras frias e ameaçadoras
fizeram o meu coração martelar contra a minha caixa torácica
loucamente. E, quando achei que não poderia mais suportar o
desconforto em meu peito, o meu corpo reagiu.
Levanto minha cabeça em sua direção. A minha visão está
embaçada, mas posso distinguir o homem que acabou de tirar o
fôlego dos meus pulmões, os sentimentos que surgiram em minha
corrente sanguínea eram assustadores e algo que sequer havia
sentido antes com tanta intensidade apoderou-se de todo o meu ser,
e, um misto de sensações ruins pairou sobre mim.
A fúria iluminou os meus olhos e veio na ponta da minha
língua milhares de palavrões, que não contive.
— EU TE ODEIO SEU MONSTRO MALDITO,
DESGRAÇADO, SEU CAPETA DOS INFERNOS — disse aos
berros e o barulho repercutiu pelas paredes.
O monstro tinha um sorriso sarcástico em sua face e ao se
aproximar, exibiu o saco transparente que tinha a mãozinha da
minha pequena e em um dos dedos, o anel que eu havia ganhado
ainda criança dos meus pais, o qual reconheceria em qualquer
situação.
— Não me importo com seu ódio. Você não seria a primeira
que teria esse sentimento por mim, agora chega de gracinha e diga-
me onde colocou o objeto com as informações que sua amiguinha
lhe entregou — novamente o capeta falando algo que era
desconhecido por mim. Já estava achando que tudo isso era um
castigo da vida por ter passado tanto tempo admirando o coisa ruim.
— VAI À MERDA! VOCÊ É SURDO? EU JÁ DISSE NÃO SEI
DO QUE VOCÊ ESTA FALANDO. EU NÃO SEI QUAL O SEU
ENVOLVIMENTO COM A RAQUEL, MAS SAIBA QUE ELA JAMAIS
COMENTOU ALGO ALÉM DA MORTE DA FAMÍLIA — esbravejo
descontrolada.
O diabo me encarou com um olhar gelado e ficou ainda mais
severo.
— Maldita mentirosa. Pelo visto a vida de sua filha não é nada
para você. Nada mais justo que eu te envie para o mesmo lugar da
infeliz e desta forma, tudo que você souber será enterrado com você
— rosna olhando para mim.
Antes que eu viesse a proferir alguma palavra, o homem que
estava possuído começou a rasgar as minhas roupas, arrancando-
as ferozmente. Comecei a gritar feito uma louca; esperneando
desesperada, tentando me soltar. Ignorando a dor em minha pele,
pois a cada movimento, os meus pulsos estavam sendo
machucados, mas de nada adiantou. Baran só parou quando me
deixou apenas de calcinha e sutiã em sua frente.
Por entre os lábios, ele diz.
— Antes que chegue ao inferno, o seu corpo me será útil.
Seu tom de voz era duro e sombrio, suas feições começaram
a mudar, ficando cada vez mais endurecidas. Meu sangue congelou
quando vi a cor dos seus olhos, que pareciam duas chamas
incandescentes. Se antes ele já era assustador, agora, chega a ser
apavorante, porém, ao lembrar o que ele fez com a minha pequena
e cansada de lutar, eu fui dominada por uma pancada de fúria e a
raiva explodiu dentro de mim.
Eu estava tremendo, mas desta vez não era de medo, as
palavras saíram do fundo da minha garganta e ecoaram no
ambiente.
— Sendo um monstro, um assassino. Você deve sentir prazer
em estuprar uma mulher, seu animal — falo furiosa, deixando
lágrimas de raiva cair pelo meu rosto.
Eu já estava cansada e sem forças para continuar sendo saco
de pancadas, para continuar sendo a sensação de um filme de
terror puro, onde um psicopata resolveu brincar de Jigsaw, o serial
killer mais famoso da TV, tentando controlar cada minuto da minha
vida, até o instante de interrompê-la.
Correntes, crianças sendo machucadas, daqui a pouco eu iria
acordar dentro de um barril de água ou um poço cheio de seringas,
lutando para me manter viva. Sempre gostei de filmes sombrios,
mas nunca desejei fazer parte de um.
Volto à realidade e quando achei que meu corpo seria violado,
as mãos diabólicas ficaram paralisadas e pela primeira vez, o
homem que estava diante de mim, que parece uma rocha
indestrutível, mostrou alguma fragilidade e tive a impressão que ele
estava perdido em meio a um atoleiro de sentimentos.
Capítulo 13
Baran Celikkol

Suas palavras entram cortando meus ouvidos de forma


brutal e se espalham por todo o meu corpo, causando uma explosão
em minhas veias. Foi inevitável ser torturado por lembranças que
não posso controlar.

Alguns anos atrás...


Dois meses após ter meu corpo marcado por aquele animal,
que começou a agredir com mais frequência a minha mãe, pela
primeira vez em muitos dias, ela estava lúcida e se encontrava
comigo no quarto, não que eu precisasse de ajuda para fazer o meu
dever da escola. Mas eram momentos tão raros, que me fazia de
desentendido, só para tê-la próxima a mim. Apesar de tanto
sofrimento, ver o sorriso em seu rosto me fez lembrar como éramos
felizes quando o meu pai estava vivo, seis anos de muito amor,
onde ainda acreditava que estava no paraíso, no entanto, bastou
somente dois anos para que eu viesse a conhecer o próprio inferno.
Naquele momento, eu me encontrava feliz e foram os últimos
momentos que passei ao seu lado. Aquele foi o último sorriso que
ganhei, já que nosso momento de tranquilidade foi interrompido
quando o barulho vindo da sala ecoou pelas paredes, chegando até
o cômodo onde estávamos. Ela se levantou num sobressalto.
“— Você fique aqui, Baran”.
Algo dentro de mim era mais forte e me incitou a segui-la e
quando chegamos à sala, além do infeliz do meu padrasto, tinha
mais quatro homens. Todos de expressão fechada, eu jamais havia
visto Diego tão amedrontado. Um deles lançou um olhar malicioso
na direção da minha mãe, como se quisesse devorá-la e eu não
estava enganado, porque as palavras que foram ditas fizeram o
pânico a envolver por completo.
“— TE DEMOS UMA OPÇÃO; É PEGAR OU NOS PAGAR
AGORA, O QUE NOS DEVE.”
Ele simplesmente assentiu, balançando a cabeça e dois dos
homens avançaram na direção dela, que começou a se debater aos
prantos.
“— O que esta acontecendo, Diego?”
“— Serão só algumas horas e isso não é nada comparado
com a minha vida.”
O homem mal se calou e os quatro homens saíram puxando-a
para um dos quartos. Eu corri na direção deles, mas nem tive tempo
de defender a minha mãe, pois braços fortes me puxaram
novamente para sala e ao chegar ao ambiente, ele me lançou com
força no chão. Um gemido abafado saiu pelos meus lábios, já que
maior que a força do seu golpe, era o sentimento sombrio que
envolveu meu coração.
“— Eu te odeio seu maldito” — falei aos berros. Quando ouvi
os gritos dela, tentei me levantar, mas caí bruscamente no chão,
quando um chute pesado me atingiu.
Eu reuni todas as minhas forças ao lembrar-me da promessa
que fiz ao meu pai no seu leito de morte e já estava prestes a me
colocar em pé, quando o homem que estava possuído novamente
me atingiu e não parou, lágrimas rolavam pelo meu rosto e não era
de dor, pois, eu já havia apanhado tanto nos últimos dois anos, já
vinha sendo marcado como um animal, que meu corpo estava
acostumado.
O líquido que saia dos meus olhos, inundando o meu rosto,
era do ódio que estava me corroendo por dentro. Raiva por eu ser
tão fraco e não protegê-la. Os gritos vindos do quarto continuavam e
a certa altura, eu comecei ver pontinhos escuros em minha frente e
meus olhos ficaram tão pesados que caí na escuridão sem fim.
Eu não sei por quanto tempo fiquei desacordado, quando
acordei, estava na minha cama e minha mãe ao meu lado, ela
estava de lado e tentava esconder o outro lado do seu rosto, eu
sabia que tinha algo de errado e meu mundo desabou ali, nunca
havia sentido vontade de matar alguém, mas naquele momento era
tudo que eu queria fazer. Uma parte de seu rosto estava bastante
inchaço e tendo seu olho esquerdo roxo, já quase fechado.
“— Eu quero que você vá embora desse inferno.” — fiquei
desorientado em ouvir o que ela disse, vendo meu estado de
confusão, continuou. “— Eu sei que errei muito com você quando
deveria te proteger. Mas diante de tanto erro, eu só posso te dar a
sua liberdade.”
“— Não vou a lugar nenhum sem você” — disse firme.
“— Você é um garoto inteligente e sabe que nós dois juntos
não teríamos chance de ir muito longe. Não se prenda a promessa
que fez ao seu pai, pois fui eu quem não soube ajudar a mim
mesma. Eu me entreguei ao mundo das drogas e do álcool e por
mais que lute, já não tenho salvação. Sei que é errado o que estou
fazendo, mas sei que vai encontrar longe desse buraco negro,
alguém que mudará o seu destino.”
Ela fez uma pequena pausa e logo depois me estendeu um
lenço que estava dobrado. Desenrolei e havia alguns dólares.
“— O que é isso?” — questionei.
“— Eu escondi isso durante todo esse tempo, vai te ajudar por
um tempo.”
“— Não quero ir” — falei chorando e seus olhos estavam
cheios de lágrimas também.
“— Ele vai acabar matando você se continuar aqui, eu estou
liberando você da promessa que fez” — Vocifera furiosa.
Nem tive tempo de dizer nada, pois o demônio surgiu no
ambiente segurando uma garrafa de bebida.
“— O garoto molenga já acordou, pelo visto não te bati direito”
— suas palavras estavam cheias de ironia.
“— Algum dia eu vou te matar seu desgraçado.” — falei cheio
de ódio.
Seus olhos estavam soltando faíscas de ódio e quando ele
avançou em minha direção, minha mãe, Elisa, se meteu no meio,
tentando segurá-lo.
“— Vai agora, Baran” — vendo a fúria do homem e diante
daquela ordem, eu ficando ali jamais conseguiria salvá-la, era o
momento de procurar ajuda e fazer esse maldito pagar por tudo de
ruim que já tinha feito.
Com dificuldade, minhas pernas me levaram até a porta, eu
podia ouvir os gritos dos dois discutindo a certa distância. Destruído,
atordoado e sem destino, comecei a perambular pelas ruas e por
pouco não fui atropelado quando vi aquele homem. Meu corpo todo
se aqueceu, era ele, aquele que eu havia visto meses atrás no
confronto e não sei se era obra do destino, mas minha mãe sem
mesmo saber, me empurrou para estar sob a proteção daquele que
se tornou o meu mentor e o meu salvador, "Al Capone".
Assim como havia dito, eu me vinguei de tudo que aquele
maldito me fez, mas a vida da mulher que me deu a luz, esta, ele já
havia destruído. Apesar de ter me tornado uma fera indomável, um
monstro que sente prazer em matar as pessoas, eu jurei que jamais
teria uma mulher da forma monstruosa como fizeram com a minha
mãe.
Assumo o controle do meu corpo e das emoções que julguei
não sentir, e volto à realidade fixando meus olhos na maldita a
minha frente, que foi capaz de fazer os demônios internos ficarem
descontrolados de forma que acabei perdendo o meu autocontrole.
Seus olhos azuis estão fixos nos meus, a encaro, fazendo-a engolir
em seco quando ouve o que eu digo.
— Não preciso tomar uma mulher à força, elas vêm de bom
grado para minha cama. Se fosse em outro momento e seus dias
não estivessem contados, a teria nua e pronta para submetê-la e
subjugá-la aos meus desejos mais obscenos. Contudo, eu antes de
retornar para casa, farei uma exceção e darei a você mais dois dias
que serão inesquecíveis.
Capítulo 14
“Quando você chega ao limite de toda luz que conhece e está a ponto de ir de encontro à
escuridão; Fé é saber que uma dessas coisas vai acontecer: vai haver chão para continuar
ou aprenderá a voar.”
Lisa Evans

Eu estava atônita diante das palavras do ser cruel por


quem vinha a tanto tempo nutrindo muito mais que admiração, era
um sentimento que fazia o meu coração disparar. Contudo, tudo que
sinto agora é nojo e uma raiva que me queima por dentro, como se
tivesse fogo no meu sangue, correndo em minhas veias, me
incendiando por dentro.
Ele deixou o ambiente e tudo que vinha em minha mente era o
rosto da minha pequena, do seu primeiro sorriso, do quanto a sua
chegada trouxe luz e vida a nossa família. Os meus pais a amaram
muito e mesmo ela sendo tão pequena, aquele acidente que tirou as
duas pessoas que tanto eu amava, mudou o rumo das nossas vidas.
Eu falhei na promessa que fiz de que sempre iria protegê-la,
que faria tudo para mantê-la a salvo, daria até minha própria vida
para vê-la sempre sorrindo e jamais deixaria alguém fazer nada de
ruim contra ela.
A dor em meu corpo não era nada, comparada com a grande
aflição que assola a minha alma. Não conseguia parar de imaginar a
dor que ela deve ter sentido. Abaixo a cabeça e as lágrimas rolam
pela minha pele quando meu olhar buscou o saco que estava
jogado no chão. Os dedinhos gordinhos de sua pequena mão, que
muitas vezes acariciaram meus cabelos, eu sei que preciso lutar
com todas minhas forças para escapar das garras desse monstro.
Não sei por que ele insiste em dizer que Raquel me deu algo e
porque a matou de uma forma tão violenta. O que ela poderia ter de
tão importante para ele insistir tanto? Às vezes sinto vontade de
acabar com tudo e implorar pela minha morte, mas pela Mel, eu não
posso sucumbir e me entregar à escuridão. Enquanto ele estiver
direcionando toda sua fúria para mim, mesmo que me quebre em
mil pedaços, eu vou juntar e colar todos os cacos para assim
suportar tudo que ainda está por vir e, enquanto respirar, manterei a
esperança e vou segurá-la com as duas mãos, pois, eu preciso sair
desse inferno e ir ao encontro da minha princesa.
Os pensamentos pipocavam em minha mente, mas foram
afastados quando para aumentar a minha dor e a minha agonia, o
ambiente foi preenchido pelo som da voz dela, os gritos de
desesperos. O maldito havia programado o gravador para que
através das caixas de som, aquilo se repetisse por incontáveis
vezes e como se não fosse suficiente, ele colocou o objeto na maior
potência, pois aquele barulho estava enlouquecendo-me. Minutos
que foram substituídos por horas, se arrastaram. Sentia a cabeça
pesada como pedra, meus braços estavam doloridos, minhas
pernas, dormentes, eu não tive alternativa, a não ser me entregar à
escuridão.

Baran Celikkol
— Porra! Porra! Caralho! — resmungo enraivecido.
Durante o percurso, liguei o aparelho que já estava
programado. Veremos se aquela infeliz vai aguentar ouvir o dia todo,
a melodia que será como lâminas rasgando os seus ouvidos.
Instante depois, eu entrei feito um furacão dentro do quarto.
Sempre fui temido pelos meus inimigos, pela minha capacidade de
não demostrar nada, nenhuma emoção enquanto torturo a minha
presa, mas aquele ser que eu esmagaria com as minhas próprias
mãos, tinha acabado de azedar o meu humor. Entretanto, as
dúvidas assolam a minha mente. Há algo por trás daquela mulher
instigante, de certo guarda um mistério que vai muito além da
informação que a desgraçada citou antes de eu acabar com sua
vida. Franzo o cenho, recordando de que a maldita parecia
totalmente desolada com o acontecido a sua filha, eu vi o seu
desespero e o medo refletido em sua íris azulada quando levaram a
garotinha. Desde que a vi, eu sabia que ela era muito mais forte do
que aparentava, mas a criança seria o seu calcanhar de Aquiles,
entretanto, sua reação é como se ela não soubesse, de fato, nada
sobre a situação. Minha mente começa a trabalhar nos últimos
acontecimentos.
Se realmente for o que estou pensando, ela ainda pode ter a
chance de respirar por longos dias. Todavia, tudo pode ser uma
jogada e só tem um jeito de descobrir quem de fato é essa tal Lisa.
Pego o celular em um dos meus bolsos e após desbloquear o
aparelho, busquei pelo nome de Dimitri, que no primeiro toque,
atende a minha ligação.
— A sua disposição, chefe.
— Quero o mais rápido possível, um dossiê com todas as
informações sobre a vida da família onde Raquel estava escondida
— disse já que antes a ordem era somente para ele descobrir o
paradeiro da filha do traidor.
— Assim que tiver todas as informações, enviarei o relatório.
— Ok.
Assim que dei por encerrada a ligação, uma pergunta
apoderou-se da minha mente. Qual o verdadeiro mistério por trás de
Lisa? Seja qual for a resposta, eu irei descobrir, mas antes disso eu
irei atormentar ainda mais a sua vida e veremos se ela é uma
grande atriz ou se acabou sendo envolvida na teia tecida por aquele
projeto de naja.

Um dia depois...
Lisa Evans
Embora estivesse feito um jarro que foi lançado ao chão e se
partido em vários pedaços, eu achei que fosse enlouquecer ao ouvir
os gritos da minha menina o dia todo. Eu me forcei a comer a
comida que ele deixou, assim como tomei banho e mesmo o meu
vestido estando aos trapos, consegui improvisar para cobrir o meu
corpo e me aquecer um pouco. Entreguei-me novamente ao sono,
quando acordei, já estava presa novamente e mesmo não tendo
noção do tempo, já faz quase seis horas que se passaram desde
que acordei, pois pela pequena claridade vinda do teto, estava
prestes a anoitecer.
Sede! Minha boca está tão seca. Meus braços estavam
pesados e doloridos. Tudo está tão escuro, no entanto, o silêncio
predomina ao meu redor.
No momento que abri os meus olhos, o silêncio que antes
pairava a minha volta, foi quebrando pelo estrondo que ecoou no
ambiente, me causando uma dor infernal, assim que meus braços
foram liberados das correntes, senti o meu corpo indo de encontro
ao chão. O impacto com o concreto fez um gemido alto sair por
entre os meus lábios.
A porta da sala foi aberta e eu estremeci da cabeça aos pés
com os espasmos que atingiram meu corpo.
Atordoada! Perdida! Era assim que me encontrava. O capeta
surgiu no meu campo de visão, ele tinha um sorriso maquiavélico e
segurava uma mangueira grossa e gigantesca em suas mãos. O
pânico me dominou e com as pernas fracas ainda tentei me
levantar, mas antes que fizesse algo, fui jogada bruscamente no
chão assim que um jato potente de água gelada atingiu o meu corpo
quebrado. E devido ao impacto com o concreto, um grito alto saiu
rasgando a minha garganta.
Frio! Dor!
Meu corpo tremia como se enfrentasse uma nevasca. Jatos
de água fria continuavam vindos em minha direção, atingindo a
minha pele. Eu queria me levantar, mas estava fraca, com fome e
totalmente exausta diante daquele tormento. Se eu lutasse, ele não
iria parar, pois o homem estava determinado a me matar. Então, eu
fico encolhida, recebendo toda aquela água de cabeça baixa,
tentando respirar. Involuntariamente as lágrimas surgiram em meus
olhos e escorreram pelo rosto misturando-se com a água fria,
começo a tremer, meu queixo bate e eu me encolho ainda mais,
tentando em vão buscar calor.
Estava frio, muito frio. Mesmo puxando os meus joelhos para o
meu peito, enrolando os braços ao redor do meu corpo, ainda
conseguia sentir frio como se estivesse dentro de um refrigerador,
que congelava os meus ossos. Minha visão estava embaçada, não
sei se era pelas lágrimas ou pela água gelada que atingia com força
o meu rosto, não sei quanto tempo aquele sofrimento durou, mas
quando a água parou, senti tudo ao meu redor girar e estava com
dificuldade de respirar, o silêncio novamente se fez presente, porém,
foi quebrado pelo ruído de dor que escapou da minha boca quando
senti uma pontada forte em minha cabeça e antes de me entregar
ao mundo das sombras, entre sussurros, disse o único nome que
ocupava a minha mente.
— Mel! — em seguida tudo se dissolveu em escuridão total.
Capítulo 15
“Antes de ferir alguém, pense na lei da ação e reação, pois um pedido
de desculpas não fechará a ferida.”
Baran Celikkol

Foram minutos de tortura. Embora, meu interesse não


fosse matá-la naquele momento e sim mostrar o que acontece com
quem cruza o meu caminho e abalar ainda mais o seu estado
psicológico, fazendo com que ela acabe dando-me a informação
que desejo. Porém, ao contrário de muitos que passaram pela
tortura gelada e suplicavam pela sua miserável vida. Lisa, alguém
fisicamente tão frágil, todavia, se mostrou uma verdadeira guerreira
e os únicos sons que saíram da sua boca foram os gemidos de dor.
Mas, nem mesmo isso, ou as lágrimas que sabia que estava
derramando, iria me parar. Assim que aumentei a potência do jato
de água, minha concentração se voltou para o alvo a minha frente,
meu corpo todo estava vibrando e uma onda de prazer e satisfação
pairou sobre mim. Contudo, depois que a água cessou e ao ouvir
sua última palavra antes de ser envolvida pelas sombras, algo
dentro de mim ficou inquieto e o sangue em minhas veias, pareciam
fogo, que me incendiava por dentro, tudo que vi em minha frente foi
a imagem do rosto da pirralha, que mesmo não tendo culpa da mãe
que tem, acabou ficando sob os domínios da máfia.
Seu corpo gelado ficou sobre o chão frio, enquanto eu
precisava de um banho para baixar a alta temperatura em volta da
minha pele ardente. Após me livrar das minhas vestes ao entrar no
box, ajustei o chuveiro e coloquei em água fria para ver se poderia
ajudar a dissipar um pouco aquele aquecimento interno que estava
tomando conta também do meu exterior. Minutos foram consumidos
debaixo da água que corria pela minha pele, escorrendo pelo chão e
se evaporando pelo ralo.

Instantes depois
A sensação ruim que se apoderou de mim minutos atrás,
enfim, desapareceu. Meus monstros internos adormeceram e, em
passos largos, fui em direção ao meu quarto. De banho já tomado,
envolvi o meu corpo com um roupão preto e me acomodei em minha
cama. Em seguida, girei o mecanismo de rotação em volta do meu
relógio e a divisória situada na parede foi aberta, revelando o
enorme telão a minha frente, onde eu tinha além da visão do covil
da morte, podia ver todo o território numa área de cinco mil metros
quadrados em volta da cabana. Tudo isso graças aos drones que
eram controlados pelo sistema desenvolvido por Albert, um dos
funcionários da NASA. Além de nós dois; ninguém sabia que o
homem na verdade trabalhava para mim e foi com minha ordem que
se infiltrou dentro do Quartel-general, tendo acesso a várias
pesquisas e tecnologia avançada.
Deixo os pensamentos de lado e fico olhando através das
câmeras de monitoramento, vejo que a infeliz ainda continuava na
mesma posição, mas não demorou muito para que eu viesse a
desligar o aparelho e minha atenção ser desviada para a notificação
de um e-mail que surgiu na tela do meu celular.
Rapidamente se passou uma hora, período este que além de
responder o e-mail, tratei de fazer uma chamada de vídeo para
Fernanda e pela aparência da mulher a minha frente, que estava já
alguns dias, sóbria, eu tive a confirmação que matei dois coelhos
com uma cajadada só. Com tudo já resolvido, assim que me
levanto, sigo até a porta e saio.
"Vamos ver se agora os segredos em torno dela não são
revelados".
Ao entrar no corredor, fui em direção à sala. Depois que passei
pelo cômodo, dali em diante, a cada passo dado, uma inquietação
se fazia presente, fazendo-me sentir novamente um desconforto
intenso e meus órgãos internos funcionando a todo vapor. Meus
demônios que minutos atrás tinham se acalmando, desta vez
voltaram com tudo.
— Maldição! O que diabos está acontecendo comigo? —
exclamo furioso. Aumentei o ritmo das minhas passadas.
Atravessando o pequeno espaço e no momento que entrei no
ambiente, ouvi alguns sussurros que me deixaram em total alerta.
— Não, por favor, não... — sua voz estava fraca, dei alguns
passos reduzindo a distância entre nós dois e quando meu olhar foi
de encontro ao seu rosto suado, senti novamente a mesma coisa de
quando a olhei pela primeira vez.
Meu corpo ficou mais quente ainda, como se uma fornalha
incandescente estivesse dentro de mim e meus órgãos internos
estivessem pegando fogo.
Institivamente me abaixo e levo minha mão de encontro ao
seu rosto que estava febril e seu corpo banhado pelo suor. Sem
demora, a pego em meus braços e caminho para fora do ambiente,
instantes depois já estava dentro do meu quarto, pois era o único
cômodo que tinha um aquecedor.
— Fri... Frio. Não posso morre... Mel...
Lágrimas grossas deixavam seu rosto ainda mais úmido.
Comecei a retirar os trapos que estavam em volta do seu corpo,
envolvendo-a em um cobertor, em seguida liguei o aparelho, já que
ela não parava de bater os dentes. Eu sabia o preço em deixá-la
tanto tempo exposta a umidade, só não esperava que ela ficasse
com uma temperatura tão alta e totalmente debilitada.

Em algum lugar distante dali...


— Eu acabei de enviar para você todas as coordenadas do
lugar onde ela está.
— Os meus homens já estão dentro do território americano e
só estavam esperando pela informação para que o alvo fosse
eliminado.
— Mudança de planos. Raquel foi morta e se ele levou aquela
garota para o lugar onde sempre foi o seu refúgio e ainda não
voltou, isso indica que a mulher é durona e nem o capeta conseguiu
arrancar as informações dela. Visto que antes de matá-la, seria
conveniente ter aquele maldito pen drive, dessa forma não será só
as informações sobre a Cosa Nostra que teremos, como ninguém
jamais saberá que o desgraçado do Colombo descobriu quem
realmente somos e se Celikkol vier a descobrir, só teremos dois
destinos: "Matar o demônio ou ele nos matará".
— Já perdemos tempo demais e durante todos esses anos
foram várias tentativas fadadas ao fracasso. A ordem será matar a
desgraçada e se Baran Celikkol, for um empecilho, os dois serão
enviados juntos ao inferno.
Capítulo 16
“Toda vez que penso está chegando mais perto da verdade, sempre
aparece outra camada de sujeira.”
Baran Celikkol

Meu olhar ficou grudado no rosto pelo qual mudava de


feições a cada instante e o medo estava estampado em sua face.
— Não! Nãooooo... — lágrimas escorriam pelos seus olhos
fechados e seu desespero era tão grande, que ela começou a suar
abundantemente. Entretanto, algo dentro de mim ficou inquieto.
Raiva! Ódio! Fizeram-me dar imediatamente alguns passos e
encurtar a distância que nos separava, contudo, o seu sofrimento
era tanto, que sua respiração ficou suspensa. O que me fez cogitar
que seus pulmões se contraíam ao ponto de ela não conseguir
respirar. E, quando um grito estrangulado saiu do fundo da sua
garganta, ecoando pelas paredes do meu quarto, ela começou a se
debater como se estivesse tentando se livrar da posse de alguém.
— Não chore Mel... Sai de cima de mim seu infeliz — sua voz
estava carregada de medo, desespero e tudo que se passava com
aquela que até então demostrava ter uma enorme força interior, mas
que naquele momento parecia um animal indefeso, que estava
prestes a ser devorado.
Senti uma lufada escaldante de encontro ao meu rosto e o
meu corpo todo ficou em chamas. Um nó imenso se formou em
minha garganta e os meus batimentos estavam descontrolados,
pela primeira vez, eu senti os meus demônios se manifestarem em
benefício de alguém. E quando ela tentou se levantar como se
estivesse vivenciando algo do seu passado, me agachei e
instintivamente minhas mãos envolveram aquele corpo frágil, que
após se debater esmurrando-me, acabou ficando paralisada e sua
expressão se tornou suave, como se tivesse encontrado a luz em
meio à escuridão que a envolvia.
Fiquei olhando para mulher a minha frente, agora ela dormia
profundamente e como num piscar de olhos, a minha pele, que até
segundos atrás estava quente, voltou ao normal. Entretanto,
novamente um atoleiro de sensações e dúvidas apoderam-se de
mim.
"O que essa infeliz tem que mexe tanto com o tigre faminto
que habita dentro de mim, ao ponto dos meus demônios, que
sempre ficaram em êxtase e me incentivavam a proporcionar dor a
qualquer um, ficaram tão agitados de uma maneira contrária do que
sempre senti ao presenciar tanto sofrimento?"
A cada instante me intriga mais os mistérios a sua volta,
porém, não importa contra quem ou o que terei de lutar. Nem eles
poderiam impedir que eu decidisse o seu destino.

Algum tempo depois...


A mulher que antes estava parecendo a bela adormecida,
novamente voltou a ter alucinações quando sua temperatura ficou
acima dos 39 graus e aproveitando seu momento de inlucidez,
comecei a fazer várias perguntas. Sei que o cérebro distorce
lembranças e cria fatos que jamais ocorreram, mas existe diferença
entre uma informação verdadeira e outra falsa, já que esta não
passa pelo lado lógico da mente. Sendo assim, estando no estado
catatônico, não terá como o seu cérebro acionar criando assim a
imagem que gera o sentimento, que leva à ação.
— Raquel, onde a conheceu? — como eu esperava, a
resposta veio de imediato, porém, me deixou ainda mais intrigado.
— Eu vou ajudá-la... Você está ferida — começou a jogar a
cabeça para o lado, depois para o outro como se estivesse
assustada, mas antes que eu viesse a dizer algo, ela prosseguiu. —
Você pode ficar aqui, eu e a Mel estamos felizes. Sei como é perder
aqueles que amamos... — no momento seguinte, ela começou a
falar coisas desconexas e por mais que viesse a perguntar sobre o
maldito dispositivo, tudo que ela mencionava era no maldito cordão.
Minutos se passaram, eu consegui que ela tomasse parte da
sopa, porém, não esperava que sua temperatura corporal
continuasse tão alta e mesmo dando um antitérmico, seu rosto
pálido ainda está banhando pelo suor e sussurros saiam pelos seus
lábios, dava para entender perfeitamente que chamava pela
pequena miniatura que parecia ter um gravador embutido na
garganta.
Não que me importe que ela venha a morrer, mas somente no
momento que eu decidir que isso aconteça. Meus pensamentos
foram atrapalhados quando o som da sua voz fraca ressoou a minha
volta.
— Ele é tão lindo... — sua expressão, ao contrário de horas
atrás, é serena como se estivesse falando de alguém que lhe
trouxesse sensações boas. — Eu não estou apaixonada, só tenho
admiração... — suas bochechas ganharam um tom avermelhado.
Dou uma olhada longa e severa e ela começa estremecer,
tendo convulsões febris. Vejo seus olhos se abrirem e ficarem fixos
em minha direção. Vejo sua expressão se transformar numa espécie
de mascara dura, fria e em seguida seus lábios se movem.
— Não! Não! Você é um monstro... — o medo toma conta de
seus olhos, que ficaram sem brilho, ela fica petrificada e sua pele
branca como algodão, como se todo o sangue da sua face tivesse
se esvaído. Quando dou algumas passadas, ela cerra os olhos e
suas pálpebras de forma voluntária são apertadas com firmeza, logo
depois desfalece novamente.
Três dias depois...
Lisa Evans
Dor. Frio. Sensações que acometem meu corpo que está fraco
e dolorido; minha cabeça dói, movimento-me e logo sinto um forte
desconforto nos meus braços, minha boca está seca, minha
garganta doendo. Preciso abrir meus olhos, mas novamente apago,
caindo em uma escuridão sem fim.
Tudo é calmo ao meu redor. Eu Não sinto dor e nem frio,
somente uma sensação de paz tão grande. Tudo foi somente um
pesadelo que enfim havia despertado e não quero sair deste lugar.
— Mamãe, vamos tomar café.
Meu braço esquerdo começou a ser puxado e instintivamente
meus olhos se abriram, deparando-me com as duas safiras gigantes
que estavam fixas em meu rosto.
— Tia Quelzinha está na cozinha esperando.
Levanto-me e de mãos dadas caminhamos em direção ao
corredor. O som de uma melodia suave vindo da cozinha me indica
que minha amiga já havia preparado o café e estava escutando o
programa matinal que tanto gostava. Depois de alguns passos,
consigo sentir o cheiro do café fresquinho que invade as minhas
narinas. Aquele pesadelo parecia tão real, era como se realmente
eu estivesse nas garras do demônio e não sei por que, ele estava
disfarçado daquele que sempre fazia meu coração bater
violentamente como se estivesse tambores dentro do meu peito.
Deixo os meus pensamentos de lado assim que chego frente à
porta da cozinha. Um grito de desespero é dado por Melanie,
atordoada, abaixo e no momento em que meus olhos vão de
encontro ao chão, o medo me domina, meu coração gela ao ver a
cabeça da minha amiga envolvida por uma poça de sangue no
chão.
— Mamãe! Mamãe, acorde!
O som da voz suave da minha pequena ecoa em minha
mente, diante aquele chamado, sou arrancada do meu desespero e
da minha agonia. Acordo num sobressalto, com o corpo banhando
pelo suor. Abro os olhos, mas fecho-os na mesma hora, pois a
claridade do ambiente fere minhas retinas. Passados alguns
segundos tentando me acostumar à claridade do lugar, abro
lentamente os olhos que varrem o ambiente à minha volta. Estou em
um local um tanto luxuoso, que não tem semelhança alguma com o
inferno sombrio que conheci. Meu ofuscado cérebro começa a
procurar entre suas lembranças recentes o que aconteceu, pouco a
pouco as imagens fragmentadas começam a me torturar.
— Melanieeee...
Um grito ensurdecedor escapa da minha boca, tento me
levantar, mas antes que consiga. Um medo cru e agudo paira sobre
mim diante da imagem que surge em minha frente. No entanto, ao
ouvir as palavras do homem que é bonito como um anjo, mas cruel
como um monstro. Sinto o minha angústia dar lugar a raiva que
novamente toma posse de cada fibra do meu ser.
— Vejo que já está novinha em folha e pronta para ser
estraçalhada novamente.
Capítulo 17
Lisa Evans

— Você pode me quebrar em vários pedaços como se eu


fosse feita de vidro, mas, eu irei unificar cada fragmento e me
levantar de novo — vocifero, furiosa.
Seu olhar é mortal, mas não mais que o meu. Ele pode ser um
monstro, mas para proteger a minha pequena, eu deixarei o medo
de lado e se tivesse a chance, seria capaz de matá-lo. Ele dá alguns
passos, porém, me mantenho no mesmo lugar. Nunca havia sentido
tanto ódio em toda minha vida. Mas, Baran Celikkol, veio para
confirmar que assim como aquele desgraçado que deveria me
proteger e se mostrou ser um monstro, todos os homens são ruins e
diabólicos.
— Você acha mesmo que pode medir forças comigo? —
esbravejar, mantendo seu olhar grudado no meu. Mas, eu já estava
fora de mim e as palavras saiam como lâminas afiadas da minha
boca.
— Depois da atrocidade que você fez com a Mel, a minha vida
de nada importa se for este o preço para deixá-la em paz.
Seus olhos insondáveis me analisam e ele exibe um sorriso
demoníaco nos lábios. A raiva cresce dentro de mim, contudo,
perante o que ouço em seguida, fez toda minha autoconfiança
desaparecer dando lugar ao mais absoluto pânico, fazendo o ar sair
dos meus pulmões e não voltar.
— Ela ainda tem a outra mão e se você não me obedecer, a
língua da faladeira será a próxima parte a ser cortada.
Estava aterrorizada, todavia, respiro profundamente tentando
levar o ar de volta para os meus órgãos internos que já funcionavam
aos espasmos. Mesmo tomada de horror, eu precisava deixar as
lamentações de lado, não podia demonstrar fraqueza, por mais
abalada que eu tivesse. Porém, o desafio silencioso que
predominava a nossa volta e estava prestes a ser interrompido por
mim, foi quebrado quando um som irritante tomou conta do
ambiente e sua atenção foi desviada do meu rosto para o relógio em
seu pulso e após mover a catraca giratória do aparelho, fiquei
desorientada quando a parte do centro de uma das paredes se
moveu, surgindo um compartimento onde foi exibindo um grande
monitor.
Sua expressão mudou para algo selvagem e sombrio, seus
olhos mais pareciam de uma águia, aguçados. Ele pegou o celular e
o som vindo do telão ressoou no quarto.
— Drones ativados.
Toda minha atenção ficou concentrada no telão que mostrava
tudo que estava acontecendo nas proximidades do local onde
estávamos. Minha respiração não teve tempo de voltar ao normal,
agora eu respirava ofegante. Meus batimentos aceleram como se
meu coração fosse saltar do peito e o que veio em seguida, me
deixou atônita e não conseguia desviar o meu olhar da grande tela a
minha frente. Haviam vários homens vestidos de preto e fortemente
armados, eles avançavam em uma única direção, entretanto, foi o
rugido semelhante de uma fera despertando que saiu da sua boca e
as palavras proferidas pelo ser tenebroso a minha frente que me
fizeram questionar se ele realmente era humano ou havia sido
possuído por algo sobrenatural.
— Isso está se tornando cada vez mais interessante. Eles vão
desejar não ter despertado o demônio que clama por sangue.
Estava perdida em meio aos últimos acontecimentos, mas logo
voltei ao meu estado de lucidez quando num abrir e fechar de olhos,
ele ficou centímetros de distância e nem me deu tempo de reagir.
Suspendeu-me, jogou-me em seus ombros como se fosse um saco
de batatas e começou a caminhar rumo à porta.
— Solte-me — gritei e até comecei a esmurrar suas costas,
mas o homem parecia uma muralha e minhas mãos já estavam
doloridas. Ele continuou andando e só parou no que parecia ser
uma sala.
— Solte-me, seu demônio...
Minhas palavras foram substituídas por um gemido alto de dor
quando ele jogou o meu corpo com um movimento brusco no chão.
Logo em seguida puxou parte de um tapete que estava sobre o piso
de madeira e havia uma passagem com vários degraus dando
acesso a um túnel sombrio. Meus pensamentos foram interrompidos
pelo som da sua voz grossa.
— Levante-se e entre — eu já ia relutar, mas não adiantava
bater de frente com alguém que tinha prazer em infringir dor e
sofrimento. Com dificuldade, me levantei, ele me entregou uma
lanterna e quando estava no terceiro degrau, antes que a porta da
passagem subterrânea fosse fechada, ele disse:
— Você deve ficar exatamente no lugar onde tem uma sala, lá
terá água e mantimentos. Nem tente seguir adiante para escapar,
pois, eu irei te encontrar até no inferno se for preciso.
Um fio de esperança surgiu dentro de mim. Eu vou lutar até
onde der, com todas às minhas forças. Eu vou morrer lutando, mas
não posso desistir.

Baran Celikkol
Voltei para o quarto e meu olhar; por alguns segundos; voltou-
se para o monitor e ao ver que um pequeno grupo já estava a
alguns metros de distância, levo uma das mãos até o meu relógio e
a calmaria foi interrompida pelo barulho horripilante de uma grande
explosão. As labaredas de fogo subiram altas, enquanto eu sinto
todo sangue do meu corpo esquentando e me queimando como
brasas. O que fez meus órgãos internos funcionarem a todo vapor.
Meus demônios certamente estão insatisfeitos, já que estavam
agitados. Sei que só irão se acalmar quando eu enviar todos os
infelizes, direto para as profundezas do tártaro, o lugar onde suas
almas podres ficarão para sempre presas na personificação das
trevas.
Aproximo-me do painel que contém diversas granadas e
armas. Meus olhos brilham ao avistar minha AK 47, sendo a mais
efetiva arma de fogo, ela é capaz de disparar 600 tiros por minuto,
causando ferimentos mais graves e letais.
— Chegou a hora de sair para caçada. Vamos ver se alguém
vai sobreviver ao estar sob os meus domínios.
Esboço um sorriso e passo a língua pelos meus lábios, já
sentindo o gostinho de sangue em minha boca. Estou mais do que
pronto para mais uma guerra e irei destruir um por um que entrar no
meu caminho, esses infelizes serão um petisco para os meus
demônios.
Com passos largos, caminho para fora do lugar, instantes
depois, ao sair da cabana por uma das saídas que foram planejadas
por mim para me dar acesso ao lugar que pudesse ter o inimigo
encurralado; corro pela trilha e ao olhar para cima, o céu estava
coberto pela fumaça oriunda do incêndio causado pela explosão de
minutos atrás. Camuflado entre as árvores e com minha visão
semelhante à de uma coruja, capaz de ver de grande distância e
com a pouca luz, meus olhos grandes e redondos ficaram fixos na
imagem a minha frente, do lado direito havia um grupo com seis
homens, mais adiante um segundo grupo avançava com cerca de
dez homens, todos fortemente armados.
Com uma máscara em meu rosto, levo minha mão direita até o
cinto preso em minha cintura que continha uns dez projéteis de
fogo, pego duas das granadas e antes de arremessá-las puxo a
cavilha de segurança. O estrondo preenche o espaço e mesmo não
sendo letal, as granadas explosivas eram feitas com gás de
pimenta, deixando os infelizes desorientados, dando-me tempo
suficiente para que eu pudesse entrar em ação. Era como se eu
estivesse no modo piloto automático, tudo que estava fixo na minha
cabeça era exterminar um por um dos malditos invasores e fazer
seus miolos serem divididos em dezenas de pedaços. O primeiro de
centenas de tiros foi dando e toda uma movimentação aconteceu a
minha volta.
— A ordem é matar esse desgraçado e a vadia.
Ouvir uma voz raivosa tentando se sobressair aos disparos,
trouxe uma onda de tremores violentos, vindo da raiva que
inflamava em minhas veias, e tomou conta de todo o meu ser. Cada
um que aparecia em minha frente, o alvo era a cabeça, acertando
vários tiros no meio da testa.
— Maldito miserável. 10 milhões rublo para quem matar o
desgraçado — ouvi a oferta e um sorriso despontou em meus
lábios.
Tentem, se quiserem. Ouvir a oferta só aumentou a minha
fúria. Esse idiota mal sabe que essa merreca nem dá para comprar
a arma pela qual ele será morto. Volto à realidade quando um
disparo atingiu a árvore que estava ao meu lado e feito um leão
indomável, faminto e sedento de ódio, avanço para o meio deles.
Uma descarga de adrenalina se apoderou de cada fibra do meu
corpo, não sei quanto tempo durou, mas só tirei o dedo do gatilho
quando não ouvi mais nenhum barulho ressoando ao meu redor e a
calmaria prevaleceu no ar por alguns segundos, até ouvir gemidos
reverberando no espaço. Em passos precisos, caminho em direção
ao homem que agonizava em meio à dor, agacho-me, em seguida
pego o objeto cortante que estava preso ao meu cinto e sem
delongas, cravo o punhal na direção do peito do infeliz que começa
a se contorcer como se estivesse tendo um ataque epilético.
Deslizo ainda mais a lamina, enterrando-a em sua carne
enquanto ele gritava de dor. O cheiro de sangue fresco impregnou
minhas narinas no mesmo instante que um duelo interno me
causava um desconforto terrível, como se a fera insaciável quisesse
se libertar e saciar sua fome. No momento seguinte, quando tive a
visão do seu coração palpitando e seus pulmões pulsando. Minha
mandíbula logo se contraiu, senti como se algo estivesse segurando
a minha mão e num piscar de olhos já me encontrava arrancando o
coração do miserável e como se estivesse em posse de uma fruta
pobre, minha mão se fechou, apertando com força o órgão que
ainda pulsava, o esmagando por inteiro.
Respirei fundo, inalando o odor da morte impregnado a minha
volta e no momento que me levanto, ao lembrar-me das palavras do
maldito que mencionou algo sobre a infeliz da Lisa, somente um
pensamento se passava em minha mente.
"Eu sabia que ainda havia outro traidor e estava mais próximo
do que eu esperava. Contudo, só quero ver até onde esse maldito
chegará, darei corda para que a verdadeira identidade do rato de
esgoto seja revelada e ele me leve direto ao verme do Serguei
Petrov."
Capítulo 18
Lisa Evans

Uma escuridão imensa tomava o lugar frio e com um


cheiro cítrico. Aperto o botão do objeto que estava em minhas mãos
e logo a luz incandescente da pequena lanterna ilumina o ambiente.
Depois que me livrei do último degrau, comecei a caminhar rumo ao
desconhecido. Instantes depois de me mover pelo corredor estreito
e sombrio do túnel, deparo-me com um ambiente bem amplo,
quando dou alguns passos, as luzes se acederam e meus olhos
passeiam em volta do lugar. Uma sala grande, com um estofado e
frigobar, eu estava faminta e com sede, a minha primeira reação foi
ir ao encontro de algo para comer. Saciada, peguei um vidro com
água e dois pacotes de biscoito que estavam dentro de uma caixa
em cima do sofá.
O capeta disse que eu deveria esperar o seu retorno, porém,
essa é a chance para que eu possa escapar e dar um jeito de
encontrar a minha pequena. Se eu continuar a sua mercê, ele de
qualquer forma vai me matar, por mais que me mantenha forte, o
meu corpo quebrado e dolorido a qualquer hora chegará ao seu
limite. Eu já falhei em não proteger o meu raio de sol e nem que seja
a última coisa que eu faça, eu preciso libertá-la das garras desse
tirano.
Ciente do que eu devia fazer ao ouvir um barulho estridente
que preencheu o espaço, saí da sala e comecei correr pelo corredor
que parecia não ter fim. Minha respiração já estava pesada, sinto
uma pontada aguda no peito e meus pulmões doem, ardem por
ausência de ar, me incentivando a parar. Todavia, eu preciso
suportar qualquer dor e não dar tempo para que ele me alcance.
Corri e corri, quando avistei uma porta a abri de imediato. O aroma
amadeirado da mata impregnava em minhas narinas, eu prossegui
adiante, porém, ouço outro estrondo e movida pelo meu desespero,
olhei para trás e quando virei-me, acabei me desequilibrando ao me
deparar com um penhasco, ainda tentei me manter firme. Mas, já
era tarde demais.
Tudo aconteceu como num abrir e fechar de olhos e o meu
corpo foi arremessado, caindo rapidamente. Mas, toda a minha
agonia duplicou quando senti o forte impacto com a água e naquele
momento, a sensação era que uma das minhas costelas saiu pelas
minhas costas, pois meu pulmão ardeu profundamente. Meu corpo
afundava cada vez mais e diante do meu tormento por não saber
nadar e ciente que seria o meu fim, algumas palavras escaparam
pelos meus lábios.
— Senhor, proteja a minha pequena, eu a entrego em suas
mãos. Perdoe-me Mel, por nã...
Tudo começou a escurecer e acabei me entregando ao mundo
da escuridão.

Algum tempo depois...


O silêncio estava à minha volta. Depois de sentir o meu peito
queimando e o ar sendo arrancado dos meus pulmões, que estavam
em chamas. Minhas narinas ficaram bloqueadas, assim como um nó
gigantesco fechou minha garganta. Agoniada e sufocada, foi assim
que permaneci até que fui rodeada pelas sombras e logo em
seguida fui sugada pela escuridão. Contudo, depois de tanto
sofrimento, uma percepção de paz indescritível apoderou-se de
mim, mas logo senti novamente a dor em meu peito e sussurros que
me enviaram calafrios da cabeça aos pés. Era a voz sombria que
me causava um pânico total, eu precisava me esconder e assim
estaria livre do homem que me mostrou em poucos dias, o pior lado
da vida, que me causou tanta dor, testando os meus limites e
despertou sentimentos tão ruins em meu coração. A calmaria voltou,
porém, desta vez foi a voz suave do meu pequeno anjo que me
atingiu como um soco brutal no meu estômago
— Preciso de você mamãe.
Não queria mais sentir dor, mas as palavras dela ecoavam
como um mantra em minha cabeça. Eu precisava voltar e quando
tentei me levantar, era como se meu corpo tivesse sido envolvido
por uma força poderosa e se negava a obedecer aos meus
comandos. O pânico me envolveu e quando estava perdendo as
esperanças, senti um toque macio em meus lábios, meus
batimentos ganharam um ritmo frenético, algo dentro de mim vibrou
como nunca havia sentido antes. De repente, senti meus pulmões
funcionando a todo vapor e foi no exato momento que meus olhos
se abriram, me deixando petrificada, enquanto o meu algoz, o dono
do meu desespero, tinha seus lábios sedosos junto aos meus.
Um turbilhão de sensações pairou sobre mim. Eu estava tão
perdida e confusa, que somente saí do estado catatônico que me
encontrava quando o homem a minha frente se afastou e no
instante que meu olhar encontrou aquelas órbitas sombrias, o
choque da realidade me atingiu. Tudo que senti foram raiva e nojo
de mim mesma, como o toque daquele homem pode ter causado
algo tão forte e desconhecido que envolveu todo o meu ser.
Minha respiração ainda estava fraca, um incômodo forte em
meu peito. Tentei me levantar, mas uma dor insuportável vinda das
minhas costas me atingiu, e como se não fosse o suficiente toda
minha dor, fiquei estarrecida com o que ouvi.
— Isso foi uma lição para você aprender a não desobedecer
as minhas ordens. Caso tenha uma próxima vez, eu vou garantir
que não tenha chance de sobreviver.
Baran Celikkol
Com os olhos cravados na direção da mulher a minha frente,
fico observando-a, seu rosto ainda está pálido. Desvio meu olhar e
os acontecimentos de minutos atrás surgem em minha mente.
Dei uma última olhada a minha volta, vendo o estrago que
havia feito. A temperatura escaldante em minha pele aos poucos foi
se dissipando e os órgãos internos dentro da minha caixa torácica,
enfim, voltaram a funcionar no ritmo normal. Olhei para o relógio em
meu pulso e sabendo que aquela atrevida iria desobedecer minhas
ordens, minhas pernas ganharam vida própria e quando dei por
mim, já estava as margens do rio.
Minha atenção foi direcionada rumo ao penhasco e sabia que
a qualquer momento, ela cairia dentro da água. Quase um minuto
depois, fiquei observando o impacto do seu corpo contra água,
porém, só não esperava que ela não soubesse nadar. Quando a tirei
de dentro do rio, seu corpo estava mole e sem vida em cima do
chão, além dos seus batimentos estarem quase imperceptíveis, o
seu pulso estava muito fraco. Coloquei uma mão sobre a outra no
meio do peito dela, na altura dos mamilos. E, com meus braços bem
esticados, comecei a fazer uma pressão vigorosa, de modo que a
caixa torácica descia até cinco centímetros. Repeti esses
movimentos sem parar duas vezes a cada segundo, embora
colocando uma boa quantidade de líquido para fora, ela continuava
inconsciente. Meus braços já não queriam mais me obedecer, mas
não iria desistir.
— Você não pode morrer, até que eu mesmo tire a sua
miserável vida — disse repetindo os movimentos.
Algo dentro de mim começou a ficar agitado. Um sentimento
se apoderou do meu ser, assemelhando a algo que deixei de sentir
desde o dia que a morte me tirou quem eu tanto amava. Continuei
fazendo o processo. E, quando achei que tudo estava perdido, um
pensamento passou pela minha cabeça, embora relutante, algo me
puxava naquela direção e quando percebi, já estava com os lábios
tocando os seus. Comecei o processo de respiração boca a boca na
tentativa de oferecer oxigênio a ela, enquanto mantinha as
massagens cardíacas, mas a cada toque em sua pele, o meu corpo
começou a ficar em chamas. Uma verdadeira fornalha humana. Algo
que estava adormecido dentro de mim havia sido despertado.
Senti uma forte batida em seu peito, suas órbitas azuis se
abriram, e assumindo o controle do meu corpo, me afastei.
A mulher com rosto de anjo, mas que pode ser uma serpente
disfarçada respirava profundamente, porém, eu preciso decidir o
quanto antes o seu destino, pois sempre senti um prazer enorme ao
tirar a vidas das pessoas e somente ela foi capaz de me fazer lutar
para manter alguém vivo.
Capítulo 19
Lisa Evans

Ainda estava tentando digerir que o infeliz já sabia o que


me ia acontecer. Olhei para o homem que através daquela máscara
austera e impenetrável, se ocultava um ser astuto e ardiloso.
— Vamos!
Sua voz imperiosa se fez presente, eu ainda tentei me
levantar. Mas, a dor que sinto me fez soltar um gemido incontido e
acabei permanecendo no chão, ele então, em um só movimento que
não precisou de muito esforço, me pegou em seus braços fortes e
musculosos. Eu estava tão exausta que não ia adiantar relutar ou
era bem capaz de ele sair me arrastando até chegar ao lugar onde
me mantinha como sua prisioneira, o objeto que ele queria quebrar
e depois colar para quebrar novamente.
Minutos depois...
Meu sangue esfriou quando ao longo do percurso, me deparei
com uma verdadeira chacina onde vários corpos estavam
esparramados pelo chão. O que me deixou horrorizada foi o fato de
que todos tinham um enorme buraco no meio da testa, ele
prosseguiu e chegamos à cabana que externamente era majestosa.
Uma magnífica construção em pedra rústica, adentramos o
ambiente e o interior da casa combina com a fachada, pois o piso de
madeira laminada e clara, que ajustava com as cores da parede e
poderia proporcionar um ambiente aconchegante, exceto pelo lugar
sombrio, frio e asqueroso que ele fez questão de colocar-me
novamente.
Pelos menos ele trouxe um cobertor e uma camisa que mais
parecia um vestido, já que minhas roupas estavam molhadas. Agora
estou encolhida e enrolada com o edredom na tentativa de aquecer
o meu corpo, enquanto os pensamentos diversos rodeiam a minha
mente. Tentei fazer toda uma retrospectiva desde o momento que
cheguei em casa e a minha vida se transformou num pesadelo. Eu
estava tão confusa e perdida em meio aos acontecimentos
aterrorizantes que pairou sobre mim e a surpresa em saber que
Baran, o homem lindo como anjo, mas que tinha o coração de um
demônio, era um verdadeiro monstro e eu não parei para pensar
direito, mas agora diante de tudo que passei e sabendo que a
qualquer momento o homem sanguinário pode passar por aquela
porta e acabar com a minha vida. Várias perguntas se apossaram
da minha cabeça. Nada justifica ceifar a vida de alguém, mas o que
Raquel pegou de tão precioso para que o preço do seu ato fosse à
morte? Porque ele insiste em dizer que tenho algo que ela me deu e
que está relacionado com o que ele procura? Será que do mesmo
jeito que me enganei ao pensar que ele era uma pessoa boa, ela
por trás de toda aquela bondade, tinha também um lado obscuro?
As dúvidas me atormentavam e aos poucos minhas pálpebras
começaram a pesar sobre os meus olhos e antes de ser tomada por
um sono profundo, ainda me via com um único pensamento fixo em
minha mente.
"Embora eu esteja dentro de um túnel onde a escuridão tenta
a todo o momento me envolver. Eu não posso desistir e não farei
nunca".
Na manhã seguinte...
Baran Celikkol
Desperto sobressaltado quando ouço um barulho irritante
vindo do celular. Olho para a tela e vejo que é uma mensagem de
Dimitri, avisando que o dossiê havia sido enviado para o meu e-mail.
Acesso o aplicativo, sento na cama e começo a analisar
minuciosamente cada palavra contida nele. Assim que termino,
alguns trechos me chamam atenção.
Nome: Elisabete Miller Evans
Idade: 21 anos
Estado civil: Solteira
Mãe: Soraya Miller Evans
Pai: Robert Miller Evans
Fiz uma pequena pausa quando um pensamento passou
rapidamente pela minha cabeça.
"Se essa infeliz não está em posse do pen drive, talvez o pai do
papagaio mirim este..."
Antes que conclua meus pensamentos. Meus olhos ficaram
cravados na tela do aparelho, sinto minha mandíbula se contrair e
meus demônios se agitarem ao ler a informação que veio em
seguida.
Irmã: Melanie Miller Evans
Idade: 6 anos
Observação: Os pais faleceram num acidente de carro três
anos atrás, tento como única sobrevivente à criança que na época
tinha três anos. O único parente vivo era um tio paterno que ficou
com a guarda das duas, já que Elisabete ainda tinha somente 17
anos, mas misteriosamente Ricardo Evans desapareceu e como ela
já tinha completado 18 anos e arrumou um emprego, ganhou a
guarda provisória da irmã. Elisabete desde então dedica sua vida a
irmã, trabalha no turno noturno em um posto de gasolina e sua
rotina se limita a casa-trabalho-casa. Ela tem poucos amigos, sem
conta em redes sociais.
Depois de analisar minuciosamente as informações do dossiê,
e saber a verdade sobre a garotinha que a chama de mãe, deixo o
celular de lado. Algo me intriga ainda mais em meio a tudo que
descobri sobre ela, pelas informações, Lisa Evans não tem
namorado e jamais a viram com um. Primeiramente, quem era a
pessoa que ela tinha tanto medo enquanto estava delirando, se não
tem namorado, qual a importância do segundo homem em sua vida,
que parecia fazê-la estar envolvida por uma intensa sensação de
paz. E, por último, por que o seu próprio tio desapareceu e jamais
retornou?
Levanto-me e caminho em direção ao banheiro, nos
momentos seguintes, banhado e arrumado, era chegado o momento
de dar a última chance a Elisabete. Viver ou morrer, vai depender
somente dela e se caso for confirmado que aquela desgraçada
envolveu-a nessa porra toda, ela só terá dois caminhos a seguir:
Entregar-me a sua alma, o seu corpo e satisfazer todos meus
desejos impuros e sórdidos ou tanto ela, como a fedelha sumirão do
mapa para sempre.
Lisa Evans
Adrenalina toma conta do meu corpo. Meus olhos estão fixos
em direção à porta. Pela pequena claridade vinda do teto, sei que já
amanheceu. Ontem a minha cabeça estava a mil e não sei por
quanto tempo fiquei desacordada. Mas, depois de horas dormindo,
sinto minhas energias renovadas, dando-me forças para reagir. Se
tivesse a garantia que a minha morte deixaria o meu pequeno anjo
livre desse demônio, eu acabaria com a minha própria vida. No
entanto, depois de tudo que já passei e sendo prova viva do quanto
ele é perverso, acordei determinada a confrontar Baran Celikkol, por
mais cruel que ele seja, não posso deixar a minha irmã a mercê
desse monstro sem alma, que se esconde por trás de um belo rosto,
ostentando ser um bom samaritano. Meus pensamentos foram
interrompidos assim que ouvi o barulho da porta sendo aberta. E lá
estava ele, vestido todo de preto, seus cabelos estavam úmidos e
suas órbitas permaneciam sombrias, mas mesmo assim, brilhavam
com grande intensidade. Ele deu apenas alguns passos, respirei
fundo e antes que eu tivesse qualquer outra reação, ele se
antecipou.
— Levante-se. Agora!
Eu ainda fiquei parada, mas diante do seu tom rude me pus de
pé.
Quando acabei com a pouca distância que nos separava e
parei em sua frente. Seus olhos encontraram os meus com uma
intensidade forte, ele me olhava como nunca havia feito antes. De
repente sua sobrancelha se moveu milimetricamente, mas o
restante de sua expressão ficou inalterada, como se estivesse
olhando para o nada e logo em seguida disse:
— Venha comigo.
Começou a caminhar para longe da sala tenebrosa, suspirei
fundo, inalando o ar fora daquele lugar. A cada passo que dava,
uma sensação de inquietação apoderava-se de mim, e engoli em
seco quando um pensamento sombrio passou pela minha cabeça,
fazendo-me lembrar de que ele havia dito que logo decidiria o meu
destino. O medo me dominou, ainda tentei recuar, mas já estávamos
na sala.
— Sente-se — fiz o que ele mandou, mas ao ouvir as palavras
proferidas, me arrependi. — Vai depender de você se vai ainda
levantar desse lugar com vida. E se a sua irmãzinha terá o mesmo
destino.
Estremeci violentamente e fiquei confusa. Como ele sabe que
Melanie é minha irmã, se até ontem acreditava que era minha filha,
nem tive tempo em pensar na resposta, pois como se tivesse
entrado em minha mente e soubesse que as dúvidas sobre Raquel
estavam me corroendo por dentro, ele foi o primeiro a tocar no
assunto.
— Como você conheceu aquela traidora? Pois antes de eu
matá-la, ela afirmou que estava com você o objeto que tinha as
informações que o maldito que tinha por pai, me roubou.
Suas palavras me atingiram como se tivessem cravado um
punhal em meu peito. Embora a conhecendo a pouco tempo, a tinha
como uma grande amiga e mais uma vez eu tive a constatação que
não era somente os homens que são ruins, a maldade já está
enraizada em vários corações.
Acalmei as batidas do meu coração e respirando fundo várias
vezes, nos momentos seguintes contei tudo o que tinha acontecido,
desde o instante que a encontrei machucada e achei que tivesse
sido assaltada, até quando ela me contou que meses antes havia
perdido toda sua família num acidente. Havia mudado de cidade, já
que sua família que antes vivia de aluguel, o proprietário pediu o
imóvel e só teve a alternativa em buscar por algo mais barato, mas
tinham levado todo dinheiro que ela possuía e ainda a agrediram
quando ela reagiu e só conseguiu ficar com a mochila que estava
em suas costas.
Seu olhar permanecia fixo no meu como se estivesse
sondando minhas expressões para ver se eu estava dizendo a
verdade.
Minha vida nunca foi fácil, assumi responsabilidades desde
cedo, mas sempre mantive um sorriso no rosto, porém, eu estava
profundamente magoada, pois aquela que acreditei ser uma amiga,
não só me envolveu em tudo isso, como colocou a vida de um ser
inocente em risco.
— Você deve saber se ela mantinha contato com alguém.
— Como falou que não tinha ninguém e a vizinha que cuidava
da Mel se mudou, eu acabei deixando que ela ficasse morando
conosco. Jamais saiu de casa e tão pouco a presenciei mantendo
contato com alguém, só se o fazia quando eu estava no trabalho.
Ele ficou em silêncio por um longo tempo que parecia uma
eternidade. Eu estava apreensiva, sabe-se lá o que se passa na
cabeça de alguém como ele, que sente prazer em ver sangue sendo
derramado como se o sofrimento e a morte das pessoas lhe
excitasse, acalmando o monstro que habita dentro dele.
Com meus olhos arregalados, acompanhei os movimentos dos
seus lábios, sinto minha respiração acelerar e o sangue em minhas
veias gelou com o que veio a seguir.
— Mesmo que sua amiga tenha mentido, você se tornou um
alvo a ser eliminado. Agora que já viu o meu rosto e sabe do que
sou capaz, não tem como deixá-la livre. Você escolhe... — ele faz
uma pequena pausa e logo depois continua. — Deseja que eu
acabe com sua vida ou tanto você, como a criança vão estar de
agora em diante sob os domínios da Cosa Nostra, o lugar onde eu
sou a lei.
Meu coração parou de bater por alguns segundos e qualquer
que fosse a minha escolha, a minha pequena ainda estaria nas
garras de um mafioso.
Capítulo 20
Baran Celikkol

Sua cara de espanto me faz vibrar intensamente por


dentro. Seus olhos estão arregalados, como aos de um tarsius.
Meus monstros internos gritam em êxtase ao ver o medo estampado
em seus olhos azuis, ela não terá alternativa, a não ser sucumbir a
mim. Meu sangue ferve em minhas veias e sinto um latejar intenso
no meu cacete. Desde o primeiro momento que a vi, o meu pau
queria está dentro da sua boceta, mas o ódio que percorria em cada
célula do meu corpo, me incendiando por dentro, me fez manter o
controle, mas agora, ele terá o que tanto deseja. E, não irei precisar
agir como um animal selvagem, rasgando suas roupas e a
possuindo enquanto ela grita em desespero. Os únicos sons que
vão sair pela boquinha, que logo me proporcionará muito prazer,
serão os gemidos implorando para que eu a foda forte e com força.
Deixo os pensamentos de lado quando seus lábios trêmulos se
movem.
— Eu não estou disposta a desistir da minha vida e muito
menos deixar a minha irmã sozinha a mercê de um monstro. Eu irei
com você, mas saiba que te odeio com todas as minhas forças —
rosna furiosa.
Sorrio interiormente. A mulher à minha frente tem um ponto
fraco, mas também é algo que a faz renascer das cinzas como uma
fênix, "a família" e será através da pequena faladeira que farei dela
meu novo bichinho de estimação e, assim que não tiver mais
serventia, darei a ela a sua liberdade de volta, porém, jamais voltará
a ver a luz do dia ficando para sempre rodeada pela escuridão.

Lisa Evans
Eu estava tremendo de ódio por dentro e o homem a minha
frente, era capaz de despertar um lado sombrio que eu não
conhecia. Pensamentos assustadores passaram pela minha mente
e me vi planejando várias formas de matá-lo, só assim, não somente
eu e Mel teríamos paz, como libertária a todos desse demônio que
está prestes a comandar uma nação com mais de 330 milhões de
pessoas.
Baran Celikkol é um lobo em pele de cordeiro, o próprio
anticristo. Aquele que deseja controlar a humanidade para depois
encher a terra de crime e impiedade, massacrando a todos e
sujando o solo de sangue para saciar sua sede pelo poder.
Não tive alternativa, a não ser escolher entrar pela porta de um
mundo cheio de crueldade, intrigas, traição e ambição. Desistir de
viver não seria uma garantia de que minha irmãzinha estaria a
salvo, para alguém que tem uma pedra indestrutível dentro do peito,
a vida de uma criança tão pouco importa. Pela Mel, por tudo de bom
que meus pais me ensinaram e por mim mesma, eu me manterei
forte e não posso sucumbir a esse mundo de trevas, sofrimento e
dor.
Minha capacidade de raciocinar havia sido afetada ao estar
longe da minha pequena, a preocupação era tão grande por estar
longe dela, que talvez pudesse ter evitado muito dos momentos de
terror que vivi aqui. Tendo ela próximo a mim, enquanto esse diabo
estiver pensando que me tem em suas mãos, eu estarei planejando
um jeito de fugir com ela de dentro desse império monstruoso.

Horas depois...
Depois de vestir o conjunto de moletom que ele havia me
entregado, o homem deixou o quarto, enquanto lentamente me movi
em direção à janela, escondida, pude ver que haviam três carros
semelhantes aos que estavam parados na minha porta e levaram a
Mel. Uns vinte minutos depois que já havia tomado banho, arrumada
e escovado os meus dentes, já que nem sei como estava
aguentando o odor forte vindo da minha boca, deixei o ambiente e
ao chegar à sala, a porta foi aberta e quando caminhei até ela, do
lado de fora em volta do ambiente, estavam uns oito homens
reunidos, todos vestidos de preto, que certamente é a cor favorita
deles, já que reflete o quanto suas almas são sombrias.
— Entra logo no carro — murmurou apontando para o carro
que estava com as portas abertas. Senti um nó preso em minha
garganta e a minha vontade era ficar parada no mesmo lugar, mas
logo me veio à imagem da minha princesa. Respirei fundo, entrando
no veículo, enquanto ele estava conversando com os
desconhecidos que certamente iam limpar toda sujeira que ele fez e
dar sumiço naqueles corpos.
Fiquei olhando para os meus pulsos doloridos e marcados
pelas algemas, tudo que aconteceu nesse lugar pode ter me
quebrado, mas me tornou ainda mais resistente.
Meus pensamentos foram interrompidos assim que a porta do
veículo foi aberta bruscamente. Pelo canto do olho, dava para ver
que suas feições estavam duras. Então, fiquei do jeito que estava,
tendo em vista que não nasci para ser saco de pancadas e era
melhor ficar no meu canto, minutos depois, o carro entrou em
movimento, o silêncio se fez presente no ambiente, acabei
adormecendo e quando despertei, já estava escurecendo.
Meus olhos ficaram direcionados para a janela do automóvel,
estremeço toda ao ver a placa que indicava que estávamos em
Manhattan, continuo sem conseguir desviar os olhos das janelas.
Embora já seja noite, o tráfego de veículos era intenso, haviam
carros por todos os lado, como se ninguém dormisse nessa cidade.
Depois do engarrafamento que durou quase uns dez minutos, não
fizemos mais nenhuma parada até chegarmos à frente de um
grande portão e não demorou muito para que o mesmo fosse
aberto. Assim que o veículo parou, um barulho sutil ecoou no
ambiente, indicando que a porta estava aberta.
— Vamos — senti um calafrio atravessar a minha espinha.
Assim que saí do veículo, meus olhos ficaram fixos na mansão
luxuosa. Para ser mais clara; um palacete belíssimo, e com várias
janelas majestosas. Vários homens, fortemente armados, estavam
em pontos estratégicos, porém, saio do estado catatônico que
permanecia ao ouvir sua voz.
— Bem-vinda ao meu mundo — disse de forma sarcástica. O
diabo caminhou em direção à entrada principal e no momento que ia
me mover, senti um calafrio percorrer a minha espinha e um forte
incômodo pairou sobre mim. Fiquei totalmente imóvel, era como se
algo de ruim fosse acontecer, meu coração estava agitado e minha
respiração tornou-se pesada. Eu não sei o que estava acontecendo
comigo, porque por dentro, a sensação que eu tinha, era que todo o
meu corpo estava tremendo.
Toda minha atenção se voltou para uma única pessoa e
reunindo todas as minhas forças, eu assumi o controle do meu
corpo e com passadas largas, tentei alcançá-lo e assim que as
portas foram abertas, fiquei atordoada com o tamanho do imóvel.
A mansão era imensa, com móveis luxuosos, lustre de cristal,
mármore por toda extensão do piso, coberto por tapetes belíssimos.
— Mamãe! Você chegou!
Meu coração deu pulos de alegria, mas toda alegria em ouvir
sua voz desapareceu dando lugar ao pânico! Medo! Desespero!
Tudo caiu como um soco em meu estômago e, eu podia ouvir meu
coração batendo devagar e meu sangue pulsando freneticamente
quando meu olhar foi de encontro ao bracinho enrolado numa faixa
branca, sendo sustentado por uma tipoia em seu pescoço.

Enquanto isso...
Ódio!
Muito ódio é tudo que consigo sentir. Esse desgraçado pode
ter pacto com o demônio ou até ser a enganação dele, mas eu não
irei descansar até acabar com sua vida.
Baran Celikkol vai aprender que ninguém entra no meu
caminho.
Eu, assim como ele, vou estraçalhar qualquer um para ter aquilo
que tanto desejo. Até o coração mais sombrio tem um ponto fraco e
eu irei fazer uma rachadura nele e quando isso acontecer, farei
questão de esmagá-lo sem piedade.
Capítulo 21
Lisa Evans

As lágrimas grossas começaram a descer dos meus olhos,


inundando a minha face. Acabou comigo vê-la naquela situação e
para aumentar a minha agonia, o som da voz do demônio se fez
presente.
— Lisa, não vai dizer nada a sua filha — sua ironia não passou
despercebida. Desvio meu olhar, desprezando o demônio que
estava me encarando com um ar de deboche.
— Eu estava com saudades...
Quando eu percebi que ela já havia se livrado do último
degrau e veio correndo em minha direção, eu engoli em seco, minha
garganta tão seca que queimava.
— VOCÊ JÁ ESTÁ MELHOR MAEZINHA? O TIO DISSE QUE
VOCÊ ESTAVA DOENTE E ELE CUIDOU BEM DE VOCÊ — fez
uma pequena pausa e prosseguiu. — Obrigada tio.
Ela já estava muita íntima dele, ao ponto de chamá-lo de tio. O
demônio disfarçado de anjo assumiu aquela postura de bom
samaritano, dando um sorriso acolhedor em sua direção e a pobre
criança em sua inocência, ficou totalmente rendida com aquele ato.
Meu estômago está sendo envolvido por um nó gigantesco, assim
como eu estava prestes a sufocar ou explodir com a raiva que
estava me queimando por dentro. Eu balancei a cabeça, incapaz de
formar palavras ainda, em seguida soltei um suspiro fundo e
estremecido e precisava controlar minhas emoções. Nem todo
sofrimento pelo qual ela passou, apagou o brilho dos seus olhos e
eu não poderia me mostrar fraca, quando na verdade tudo que me
manteve viva foi a esperança de estar junto a ela novamente. Meus
lábios se afastaram e quando as palavras estavam prestes a
escapar pela minha boca, ficaram presas em minha garganta ao
ouvir a voz da mulher que ressoou no ar.
— Mel, você não tirou a tipoia.
A pequena se virou para a mulher de beleza estonteante, mas
que parecia um tanto abatida. Porém, eu senti uma sensação muito
boa ao escutar o som da sua voz. Volto minha atenção para
Melanie, quando eu ia impedir que ela viesse a tocar em seu
bracinho, a menina foi muito mais rápida e diante do que ela disse e
a imagem que se formou em minha frente. Meus batimentos
aumentavam e todo meu corpo começou a vibrar.
— Eu estava brincando com a vovó Nanda de médica.
Olhei para sua mãozinha e foi imediata a sensação de alívio
que senti. Mas, quando meus olhos se moveram para a esquerda,
se conectando com aquelas órbitas sombrias do ser diabólico, um
misto de sensações ruins, pairaram sobre mim.
"Baran Celikkol é um ser perverso e cruel, que tem um buraco
negro dentro do peito. Esse enviado das trevas é adepto do
sadismo, que se alimenta ao sentir prazer com sofrimento alheio."

Algum tempo depois...


Baran Celikkol
A cena melosa a minha frente fez todo o meu estômago se
contorcer, fazendo-me sentir uma ânsia de vômito com as duas que
continuavam abraçadas.
Depois de falar com Dimitri e este já havia mandado o seu
pessoal fazer uma varredura na casa da infeliz e principalmente no
quarto que Raquel ocupava, já que o corpo dessa já havia sido
retirado há dias e serviu de alimento para os leões famintos do
zoológico que acabei comprando para sustentar para todos, como o
futuro governante da nação americana, que visava proteger os
animais que foram feridos por caçadores, juntamente com outros
que estavam sendo mantidos em cativeiro e precisavam de todo um
cuidado para sua recuperação.
Com tudo já resolvido, observo toda demonstração de carinho
e amor entre elas, amor este capaz de fazer o rosto de Lisa Evans
ser tomado por uma expressão radiante e o brilho surgir naqueles
olhos azulados, que pareciam antes sem vida. Todavia, Melanie teve
muita sorte por ser somente uma criança e embora tenha me
tornado, como dizem, a própria encarnação do mal, por tudo que
passei nas mãos daquele infeliz quando criança, eu decidi manter
acima do código de honra usado pela nossa organização, o meu
próprio lema de que jamais derramaria o sangue de uma criança,
que em hipótese alguma, meus punhos seriam levantados contra
um alvo tão indefeso. Mas isso, Lisa jamais saberá o verdadeiro
motivo pelo qual a criança que estava envolvida por seus braços,
como se ela quisesse mantê-la para sempre protegida ali, continua
intacta.
Melanie. Seu grande calcanhar de Aquiles é aquela que será
usada por mim para transformar alguém que me mostrou não ter
uma natureza para ser uma submissa, ser subjugada por mim, para
proteger aquela que tanto ama. Afasto os pensamentos de lado e
me dirijo à Fernanda, esta que eu sabia que ao notar a semelhança
da pequena com aquela que eu tanto amei, teria um bom motivo
para ser arrancada das profundezas da escuridão que vinha vivendo
durante esses seis anos.
— Eu preciso conversar com Lisa.
— Venha Mel, vamos arrumar os brinquedos e assim você vai
mostrar tudo a sua mãe, daqui a pouco — pronto, ela havia acabado
de ativar o botão que ligava a menina no piloto automático.
— Oba! Mamãe, eu tenho um monte de bonecas novas e a
vovó me ensinou a fazer roupinhas, vai logo conversar com o moço
bonito e vamos brincar depois — não sei como a criatura não se
engasgava.
Seu rosto exibia um largo sorriso e ela estava eufórica.
Segurando a mão de Fernanda, as duas subiram os degraus da
escada e ao sumir da minha vista, minha atenção foi direcionada
para mulher que ainda ostentava um sorriso no rosto. Era chegado o
momento de dar o golpe final e fazer dela, a minha propriedade.

Lisa Evans
Cada centímetro do meu ser foi envolvido por uma sensação
imensa de alívio. Eu queria deixá-la presa em meus braços e
distante de toda essa sujeira, mas o homem a minha frente tem o
dom de me trazer de volta a uma realidade dura e cruel, fazendo
toda felicidade se esvair, dando lugar ao pânico.
— Isso não foi um gesto de piedade. Tudo que você passou foi
só um aviso de que posso te reduzir a pó sem tocá-la. Ela ficou
intacta somente para te lembrar de que a cada gesto seu em me
desafiar, será em sua frente que a farei sofrer as consequências.
Senti um tremor violento por todo o meu corpo, mas saber qual
era a verdadeira intensão pelo qual eu vim parar direto na toca de
um leão faminto, fez todo o meu corpo ser envolvido por ondas de
choque, tremendo sem parar.
Diante do meu silêncio, ele continua com suas ameaças.
— E antes que você venha a perguntar sobre a mão que viu
naquele lugar. Hoje a tecnologia é capaz de tudo, até mesmo criar e
recriar partes do corpo humano, assim como foi feita toda uma
montagem em cima da voz dela. No entanto, eu poderia ter acabado
com a sua miserável vida, não pense que não fiz isso por saber que
Raquel foi quem a envolveu em tudo isso, visto que já tinha motivos
suficientes para acabar com sua existência, só por abrigar aquela
miserável. Ninguém jamais havia saído com vida daquele lugar e
não foi fácil deixar isso acontecer, mas seria um desperdício não
aproveitar aquilo que agora me pertence.
Comecei a sufocar com minha própria respiração,
desesperada. Meu estômago revirou de tanto nojo, raiva e perante
as últimas palavras proferidas, eu paralisei por inteira.
— Você disse que sou o diabo, então, eu terei a sua alma e
principalmente o seu belo corpo. O qual vai me saciar do jeito que
eu quiser e da forma como eu desejar.
"Como poderia deixar que um monstro tivesse posse do meu corpo,
após todo sofrimento que ele me infligiu, mesmo que fosse para
salvar aquela que tanto amo?"
Capítulo 22
Lisa Evans

Sempre tive repulsa ao ver os olhares de desejos dos homens


sobre mim, como se quisessem devora-me somente com os olhos.
Os anos se passaram e os pesadelos vinham com tudo, não me
deixando esquecer-me daquela noite, dos toques daquelas mãos
asquerosas sobre a minha pele e as palavras sujas proferidas por
aquele infeliz.
Eu decidi que na minha vida só teria espaço para o meu bem
mais precioso, que dedicaria todo o meu amor para ela, mas jamais
pensei que ao ver, pela primeira vez, Baran, dando uma entrevista,
algo dentro de mim fosse ficar desenfreado.
Naquele instante, minhas pernas tremeram de nervosismo.
Meu corpo reagiu de uma forma inusitada, com sensações nunca
sentidas antes por mim. O homem a minha frente, o qual, antes eu
via como um anjo, foi capaz de fazer o meu coração bater mais
rápido ao ponto que começou a florescer um sentimento
desconhecido por mim, se era amor, eu não sei, mas como num
piscar de olhos, eu vi meu mundo desmoronando diante de mim e
foi ele também que me fez sentir um ódio imensurável, algo que
vem causando um duelo interno e querendo tomar posse do meu
coração, corrompendo-me e corroendo-me na mesma proporção.
Minha raiva era tanta, que senti os meus olhos aderem, mas
tratei de reprimi-las, não iria demonstrar mais fraqueza diante dele,
isso só daria mais munição para Baran, que antes queria me
quebrar em milhões de pedaços e hoje anseia por usar o meu corpo
para satisfazer seus desejos sórdidos.
O diabo quer me levar direto para o seu mundo de escuridão,
me tornando sua propriedade, achando-se dono do meu corpo e
reivindicando a minha alma.
Engolindo o nó que estava preso em minha garganta, decido
me concentrar na triste realidade em que me encontro. Depois do
que passei e ao descobrir que aquela que acreditava ser uma amiga
só me usou para ter um refúgio e jogou sobre mim uma bomba que
por pouco não me levou a morte.
Eu já deveria ter cogitado que esse homem estava planejando
algo maquiavélico, que o demônio não ia simplesmente me trazer
para cá sem querer algo em trocar.
“Tenho que dar um jeito de fugir das garras desse monstro
doente. Preciso planejar cautelosamente para que a minha
irmãzinha não sofra as consequências. Não importa quanto tempo
leve, dias, semanas ou meses. A única certeza que tenho é que não
irei desistir de lutar.”
Meus pensamentos foram interrompidos ao ouvir sua voz me
chamando. Senti um calafrio percorrer o meu corpo quando ele
disse o meu nome.
— Elisabete! — assim que nossos olhares se conectaram, ele
prosseguiu. — Você sabe que não terá escolha e mesmo que
tivesse opção, a minha vontade sempre prevalece.
Embora sabendo que eu precisava colocar o bem estar da Mel
como primeira opção, algo dentro de mim gritava alto como se fosse
um animal indomável, que não aceitava a ideia de ser controlado. A
fúria se intensificou e meus lábios se entre abriram.
— SE O PREÇO PELAS NOSSAS VIDAS É DAR A VOCÊ O
MEU CORPO, TUDO BEM, FAÇA BOM PROVEITO, PORÉM, A
MINHA ALMA, SEU DIABO, VOCÊ JAMAIS TERÁ — vocifero
furiosa. Eu já tinha sido torturada por algo que não tive culpa e não
ia me calar mesmo que viesse a sentir o peso da sua mão. — Você
s... — nem sei em que momento o homem reduziu a distância entre
nós.
— Calada! — ele lançou-me um olhar tão frio que fez o meu
sangue gelar e suas mãos grandes encontraram o meu queixo num
aperto feroz, fazendo as palavras ficarem pressas em minha
garganta, engasgando-me com a minha própria saliva. — Tente me
desafiar e te garanto que conhecerá de verdade o tamanho da
minha ira.
— Graaaahhh...
Um gemido alto escapou da minha boca quando ouvi um
estalo em minha mandíbula, como se um dos ossos estivessem a
ponto de quebrar. Ele afrouxou um pouco o contato e aproximou o
seu rosto do meu, levando sua boca próximo ao meu ouvido. Senti a
sua respiração contra a minha pele e seu hálito quente em contato
com o meu ouvido.
— Deixe seus gemidos para quando o meu pau estivesse
dentro da sua boceta, rasgando-a por dentro, alargando-a para que
receba todo o meu comprimento avantajado, alçando terminações
nervosas que mesmo contra sua vontade, o seu corpo, o seu interior
escaldante, vai desejar que eu a foda com força e a leve direto para
o meu mundo —
Ele se afastou e eu fiquei paralisada, atordoada e enojada
com tudo que tinha escutado. Nunca que sentirei prazer com o meu
próprio agressor, o homem que me fez conhecer somente a dor.
Deixei meus pensamentos de lado assim que ele voltou a se
manifestar.
— Agora você vai me esclarecer por que a garotinha considera
os próprios pais como seus avós.
Engoli em seco com sua pergunta, não que estivesse
escondendo algo que não pudesse ser revelado, porém, não me
agrada em nada compartilhar justamente com o homem que nos
mantém presas em uma gaiola luxuosa, objeto este que pode nos
manter com vida ou nos levar a morte, algo que só interessa a mim
e a Mel. Tive um estremecimento com o que ouvi em seguida.
— Já que você não deseja falar, será melhor eu perguntar a
sua doce irmãzinha.
Ele dá alguns passos rumo à escada e eu me antecipo.
— Ela criou um tipo de bloqueio para apagar da sua memória
aquele dia que marcou as nossas vidas — fiz uma pequena pausa,
ele deu um giro nos calcanhares e retornou para o lugar que estava
antes.
— Prossiga.
Respiro profundamente, não era fácil ter que revirar nas
lembranças dolorosas do passado.
— Naquele dia os três haviam acabado de deixar-me na
escola e estavam voltando para casa quando um caminhão
desgovernado os atingiu. Os meus pais morreram a caminho do
hospital, já ela, milagrosamente, só ficou inconsciente pela pancada
que recebeu na cabeça e teve ferimentos leves. A perícia constatou
que Melanie era a única que estava usando cinto de segurança e se
encontrava no banco traseiro.
Parei de falar quando não consegui segurar as lágrimas que
insistiam em cair, mas mesmo assim, eu me forcei a seguir adiante.
— Quando ela despertou, o brilho dos seus olhos haviam se
apagado. Embora tendo somente três anos, ela sempre foi muito
esperta. Mas tudo que eu via era um corpo que parecia ter sido
abandonado por sua alma, ela só olhava fixamente para a parede e
ficou assim por dias, em total silêncio. Dias depois, quando
retornamos para casa, e num descuido meu, ela acabou indo parar
no quarto deles, a encontrei jogada no chão, chorando
abraçada com o porta retrato que tinha os três juntos, quando ela
percebeu a minha presença, fiquei assustada e desde então, Mel
começou a me chamar de mamãe e aos nossos pais de avós. Por
mais que tentasse esclarecer as coisas, ela continuava a acreditar
naquela ilusão que havia criado. Falei com uma psicóloga que foi
encaminhada pelo estado para fazer o acompanhamento de nós
duas, mas, ela me aconselhou que esperasse a Mel chegar a uma
idade que realmente pudesse compreender. Eu acredito que essa
foi a forma que ela criou em sua mente para não aceitar que estava
órfã e que as pessoas que tanto amávamos haviam partido.
Parei de falar e meu rosto estava inundado pelas lágrimas,
enquanto o homem a minha frente estava com a expressão
semelhante ao momento em que por pouco não violou o meu corpo,
o que me fez questionar se o diabo tinha um ponto fraco, ao ponto
de ficar perdido em seus próprios pensamentos.
Fernanda Scott
Fico observando a garotinha a minha frente, que está elétrica.
Seus olhos brilham intensamente em admiração, olhando para as
roupas que estão sobre a cama.
Depois que o meu ex-marido deixou-me por causa de outra
mulher. Fiquei perdida e desesperada ao estar sozinha no mundo
com uma criança que só tinha 10 anos. Fiz de tudo para que Nataly
continuasse frequentando a escola, mas a cada dia, as portas se
fechavam para mim e para não morrermos de fome, ela resolveu
que abandonaria o colégio e começamos, as duas, a vender os
bolos de potes que fazíamos em casa. Para uma adolescente que
tinha seus 17 anos, eu sabia que não era fácil receber os olhares
das outras garotas sobre ela, ao ter uma aparência desleixada e um
tanto maltrapilha, mas a garota de olhos azuis gigantes, pouco se
importava e sempre colocava um belo sorriso no rosto.
A minha menina se tornou uma sobrevivente, perante a rotina
árdua debaixo do sol escaldante da cidade de East Harlem e foi
dessa forma que o nosso destino se cruzou com o de Celikkol.
Um monstro que havia destruído várias vidas, um homem que
tinha suas mãos manchadas pelo sangue de almas que foram
enviadas ao inferno, mas, o diabo, o que muitos consideravam um
ser repugnante e cheio de escuridão foi a luz em nossas vidas.
Ele foi o grande e único amor da minha filha, que viveu cada
segundo ao seu lado de extrema felicidade, mesmo sabendo que as
trevas jamais deixariam o coração de Baran.
Mas, por coincidência do destino, há exatamente sete anos,
quase a mesma idade do pequeno anjo a minha frente, que me
disse em certa ocasião que dentro de alguns meses fará
aniversario, o meu bem mais precioso se foi e o meu mundo
desabou, fazendo-me sucumbir a um abismo onde somente o álcool
era o meu refúgio.
Celikkol manteve sua palavra, a qual foi dada dias antes do
último suspiro da minha filha e, talvez por isso, o diabo tenta a todo
custo me manter viva, mesmo sabendo que tudo que eu desejava
era a morte. Algo que eu já havia tentado por diversas vezes, mas a
cada tentativa de suicídio, o homem sombrio não deixava que minha
alma abandonasse o meu corpo de vez.
Alguns dias atrás quando soube que ele havia viajado, era o
momento certo de fazer aquilo que por anos vinha tentando e
sempre era fadado ao fracasso. Depois da sessão com Camile, esta
que se tornou uma amiga, e a quem tenho um imenso apreço, eu
estava decidida que acabaria com todo aquele sofrimento, mas o
choro vindo do andar de baixo despertou a minha atenção e, meus
pés pareciam ter vida própria, arrastando o meu corpo para fora do
ambiente e ao chegar ao topo da escada, meu coração se agitou no
peito. Com minha respiração acelerada, me livrei do último degrau e
quando meus olhos se chocaram com o rosto da garotinha a minha
frente, era como se eu estivesse diante da minha própria filha
quando tinha aquela idade.
Cada traço do seu rosto, os cabelos e principalmente os olhos
de um azul profundo como o mar, lembrava-me a própria Nataly
quando criança. Naquele momento, um sentimento devastador
tomou conta de mim, uma luz no final do túnel se acendeu e tudo
que eu queria era ficar ao lado daquele anjo que emanava nada
mais e nada menos que a luz do amor.
Capítulo 23
Lisa Evans

Quando suas feições mudaram e uma máscara fria tomou


conta do seu rosto, num tom ríspido, ele disse:
— Vamos! Aproveite para ficar com a garotinha, pois quando
estiver comigo, me servirá até que eu fique satisfeito.
Suas palavras foram como um choque elétrico atravessando
meu sistema nervoso. Eu estava nervosa e abalada após reviver
lembranças tão dolorosas, contudo, a raiva começou a borbulhar
dentro de mim, mas nem tive tempo para dizer nada, já que ele
começou a caminhar em direção às escadas e não tive alternativa a
não ser ir atrás dele.
Subimos os degraus e quando nos encontrávamos no andar
superior, seguimos para o lado direito e assim como o andar de
baixo, tudo, além de ter um aspecto colossal, era luxuoso demais.
Passamos pelo corredor e as paredes eram enfeitadas; para onde
eu olhasse tinha pinturas que representavam a vida e a morte, onde
sempre as trevas tomavam conta da luz. Depois de alguns passos,
paramos em frente a uma porta branca e assim que a abriu, sua voz
ecoou novamente.
— Esse será o seu quarto.
Meus olhos se arregalam e não era em surpresa pelo
ambiente ser espaçoso e luxuoso e sim em ver o quanto a minha
princesa estava envolvida com tudo aquilo. Um mundo que não era
o nosso.
— Até o anjo mais puro já esta sendo corrompido e com você
não será diferente.
Olhei para o diabo e ele sorriu, era algo maquiavélico e
diabólico.
— Eu sempre consigo o que quero — disse ele.
— Mamãe!
Minha pequena ostentava um sorriso largo e sua alegria era
contagiante. Meus pensamentos foram atrapalhados quando ela se
juntou a mim e saiu me puxando para dentro do ambiente.
— Quero te mostrar os meus brinquedos e as roupas que a
vovó Nanda me deu.
Nos momentos seguintes, o homem nos deixou sozinhas e
pude conhecer melhor a dona Fernanda, que era mãe da sua
falecida esposa e a garotinha a minha frente não parou um só
minuto, pois começou a vestir todas as roupas desfilando para que
pudéssemos ver como ela estava bonita. Longos minutos se
passaram e quando a menina que parecia estar ligada em uma
tomada se cansou, dei um banho nela e enquanto ficou deitada na
cama assistindo TV, caminhei em direção ao banheiro. Quando já
estava dentro do ambiente que era muito maior que a cozinha da
minha casa, ostentando em seu interior uma grande banheira
branca, um espelho grande e redondo sobre a bancada da pia que
era enorme e tinha um armário cheio de gavetas, fiquei olhando
fixamente para o meu reflexo.
A minha cabeça estava a mil. Diversos pensamentos me
torturavam, mas entre eles, um era ainda mais persistente.
"Como irei fazer para Mel não ser envolvida pelo diabo, já que
ela acredita que ele é um anjo?"

Baran Celikkol
Nem mesmo os piores traidores ou os alvos que tinha que
exterminar, foram capazes de deixar meus demônios tão
descontrolados. Elisabete Evans estava se tornando cada vez mais
perita em despertar em mim uma fúria incontrolável e ficava cada
vez mais difícil lutar contra a vontade em quebrar o seu pescoço.
Quando ouvi as palavras ditas com raiva, pelos seus conflitos
internos e pela sua ousadia, segurei firme o seu queixo e minha
vontade era descer um pouco mais a minha mão e apertar com
força a sua garganta até que seu último suspiro fosse dado.
Contudo, não cedi ao impulso, ao contrário, levei-a até o quarto
onde ocuparia junto com a irmã e saí. Assim que cheguei ao meu
quarto, ao lembrar-me da imagem dela tão vulnerável, meu corpo
reagiu e o meu pau ganhou uma ereção rápida e dolorida. Meu
cacete começou a pulsar freneticamente, me causando uma dor
latejante, era como se o danado, assim como eu, já estivesse
salivando em antecipação.
Levo minha mão até ele e o massageio ao pensar que em
breve aquela atrevida estará gemendo enquanto tomo posse do que
agora me pertence. Deixo os devaneios de lado e era a hora de
trocar algumas palavras com a minha pequena aliada. Com
passadas largas, segui até a porta e instantes depois, já estava no
corredor que dava acesso ao quarto onde elas estavam, olhei para o
relógio em meu pulso, este tinha uma câmera e nele um sistema de
monitoramento, onde eu tinha acesso à cabana e as câmeras dentro
da mansão. Mas, uma invenção de Albert, que segundo ele, seria
mais fácil do que usar o meu celular para ter o controle de tudo. Ao
girar a catraca do objeto, as imagens surgiram e pude ver que a
pequena se encontrava sozinha no quarto, o que indicava que Lisa
estava no banho. Entrei no ambiente e os olhos graúdos
encontraram o meu rosto e pelo barulho de água caindo, vindo do
banheiro, minhas suspeitas estavam certas.
— Moço bonito, a mamãe foi tomar banho. Você veio desejar
boa noite?
Tinha que admitir que o ser pequeno a minha frente é linda e
suas feições a tornavam ainda mais encantadora. Dei alguns
passos e me detive ao sentar na cama e um sorriso largo tomou
conta do seu pequeno rosto.
— O tio precisa fazer uma pergunta para você.
— Faz tio, eu vou responder direitinho — disse como se aquilo
fosse um desafio.
— Quando sua mamãe me olhava na TV, o que ela dizia?
Levando o dedinho até a sua bochecha, ela ficou alguns
segundos, pensativa, e então começou a falar.
— Um dia, eu ouvi a mamãe conversando com a tia Olivia,
que trabalha com ela no posto de gasolina. A tia disse que a mamãe
ficava negando, mas estava apaixonada pelo moço bonito e que
sempre ficava no mundo da lua e com as bochechas vermelhas
quando falava de você. Por isso eu gosto de você, porque se for
namorado da mamãe, eu vou ter um papai...
Ela continuou falando desenfreada. Eu sorri interiormente ao
ouvir suas palavras. Alguns dizem que o amor e o ódio andam lado
a lado, Lisa pode resistir o quanto puder e seu coração agora pode
estar tomado pelo ódio em relação a mim, mas veremos se o seu
corpo tem a mesma força para resistir ao mundo de luxúria que fará
parte da sua vida.

Na manhã seguinte...
Lisa Evans
Espreguiçando, estiquei-me na cama e rolei para o lado,
suspirei, aqui está tão bom. Assustada, meus olhos se abrem e vejo
que estou sozinha.
— Mel!
Olho para os lados e não a vejo. Meu olhar se deteve no
pequeno despertador em cima do criado mudo e me espanto ao ver
que já são quase nove horas da manhã. Nunca havia dormido tanto,
mas só em estar junto dela novamente, meu coração ficou
sossegado e meu corpo, enfim, se permitiu descansar. Pelo horário
e sabendo que ela que acorda cedo e já dizendo que estava
faminta, de certo havia descido para comer alguma coisa.
Levanto-me e caminho em direção ao banheiro, acabei por
passar um bom tempo debaixo do chuveiro, curtindo a água morna
em minha pele, pois só em lembrar-me daqueles jatos de água fria
que congelaram até os meus ossos, eu me permiti aproveitar um
pouco. De um homem como Celikkol, podia se esperar de tudo,
além de cruel, era bipolar, uma hora queria me matar, outra já quer
me devorar. Suas últimas palavras causaram-me um nó na garganta
e um embrulho no estômago.
Assim que saí do box, vesti um roupão. Ontem depois que
voltei do banho, me dei conta que não tinha roupa para vestir, mas
quando entrei no quarto, a Mel disse que havia roupas no closet e
estava com uma expressão de quem estava aprontando, mas a
pequena sapeca nada disse. Só que a vovó Nanda havia mostrado
quando elas estavam sozinhas no quarto.
Dentre as roupas, tinha além de uma gaveta cheia de
calcinhas e sutiã, roupas de dormir e várias outras peças que
pareciam ter sido feito sob medida. Deixei as lembranças de lado e
quando saí do ambiente, voltando ao quarto, assim que abri a porta
e dei alguns passos, tive um sobressalto quando levantei a cabeça
e meus olhos foi de encontro à imagem a minha frente.
O homem alto, de cabelos úmidos que caiam sobre a testa
estava vestido somente com um roupão negro. Seus olhos de
leopardo refletem desejo que parecia ferver e estava a ponto de
derramar. Todos os meus músculos ficaram cerrados, por alguns
segundos não conseguia respirar, meu coração disparou e um
tremor violento atingiu a minha espinha, se espalhando pelo meu
corpo inteiro ao ouvir as palavras que fez o pânico me dominar.
— Espero que tenha tido uma boa noite e recuperado as suas
forças, pois vai precisar de bastante energia. É bom que eu não me
arrependa em tê-la deixado viver.
Capítulo 24
Lisa Evans

Baran avançou em minha direção como um animal selvagem


pronto para devorar sua presa. O pânico me dominou e o medo era
inevitável. Meus batimentos aumentaram ainda mais, se é que era
possível, tentei recuar, mas senti braços musculosos envolver minha
cintura de forma firme, puxando-me com agressividade, fazendo
nossos corpos se chocarem.
Nossos olhos estavam presos um no outro e a sensação que
eu tinha era de que o tempo havia parado naquele momento. O
único som audível no ambiente era das nossas respirações, mas foi
só ver o olhar de desejo dele, semelhante ao daquele monstro que
tentou violar o meu corpo naquela maldita noite, que me trouxe ao
estado de lucidez e a única coisa que veio em minha cabeça foi
apelar, já que a minha pequena a qualquer momento entraria no
quarto.
— A Melani... — fui interrompida por ele e fiquei desorientada
com o que ele disse.
— Ela começou hoje na escola nova, então o seu tempo é
todo meu.
Antes que eu viesse a pensar em algo, o homem me
suspendeu e caminhou rumo à cama, ele me colocou sobre a colcha
macia de seda. Tentei lutar, mas foi em vão, pois com um ágil e
único movimento, suas mãos enormes abriram o roupão, logo, foi
revelado a minha nudez. Meu coração batia tão forte que parecia
que logo sairia pela minha boca. Seus olhos brilharam assim que
fizeram uma trilha pelo meu corpo, indo dos meus seios à minha
intimidade que estava ali exposta a sua mercê. Meu estômago se
contorcia de tanto medo, pois, eu sabia o que aconteceria e as
consequências seria algo que levaria por toda vida.
— Por favor, não faça isso — implorei quando ele veio para
cima de mim.
Em resposta a minha súplica, ele se levantou. Senti um alívio
profundo, porém, constatei que o meu tormento só estava
começando quando ele levou suas mãos até a única peça que
vestia e como num estalar de dedos, se despiu me fazendo engolir
em seco. Fiquei horrorizada com o que via a minha frente, além do
seu belo corpo ter várias marcas de queimaduras em seu peitoral, o
seu membro brutalmente animalesco estava rígido, com a cabeça
rosada e dilatada, tinha veias saltadas por toda sua extensão, indo
até a base bem grossa, o que me fez questionar se aquilo era
normal, pois parecia surreal que alguém fosse tão grande em todos
os sentidos. Constrangida, tentei desviar os olhos e me levantar,
mas antes que conseguisse, ele foi muito mais rápido e se deitou
sobre mim, senti sua pele quente contra a minha e o seu pênis duro
e grande, latejando sob seu peso. Parecia que eu havia levado um
choque em alta potência, pois não parava de tremer e para
aumentar o meu desespero, ele levou a sua boca até o meu
pescoço, enquanto uma de suas mãos deslizou pelo meu corpo até
alcançar a minha intimidade. Naquele momento, eu surtei e comecei
a me remexer tentando me livrar de sua posse.
— Não adianta resistir, hoje eu te farei minha e nada vai me
impedir — dito isso, ele deslizou o seu corpo, escorregando para a
parte inferior do meu, marcando uma trilha de calor e só parou
quando sua boca quente e macia ficou na direção do meu sexo, eu
ainda tentei fechar minhas pernas, mas uma onda escaldante se
apoderou do meu corpo, queimando a minha pele assim que ele
tocou meu clitóris, circulando-o com sua língua aveludada.
Manipulando o feixe de nervos, lentamente e logo depois mais
rápido, com mais urgência.
Os arrepios tomaram conta do meu corpo, correndo através de
mim como uma onda e gemidos incontidos saíram pelos meus
lábios, enquanto o homem que mantinha sua boca insaciável no
centro da minha intimidade, deu um beijo de boca aberta como se
quisesse a engolir por inteiro, deslizando sua língua pelas dobras da
minha carne rosada e a conduzindo novamente até o botão
latejante, fazendo-me estremecer com o atrito.
— Molhadinha e cheirosa — eu não estava conseguindo me
concentrar, era tudo muito novo e assustador.
Meu estômago tremia dentro de mim quando o prazer
começou a surgir e à medida que ele me lambia e chupava, eu
tinha a sensação que meu sexo seria sugado e espremido por
inteiro, até ficar semelhante a uma laranja onde após deliciar-se
com o néctar, resta só o bagaço.
Baran continuava com seus movimentos implacáveis,
devorando-me enquanto os meus quadris começaram a se mover
em perfeita sincronia com sua boca. Eu já não tinha o controle do
meu corpo, só sabia que estava em chamas e movida pelo desejo,
pelo fogo que estava queimando a minha pele, minhas mãos se
moveram e descansaram em sua cabeça, empurrando-a contra
minha intimidade para aprofundar ainda mais o contato. Não estava
me reconhecendo.
De repente ele parou, me deixando perdida, mesmo sabendo
que aquilo era insano, eu já não tinha controle sobre o que sentia.
— Eu quero sentir você gozar em minha boca. Sua respiração
falhar enquanto sua bocetinha pulsar forte e violentamente.
Dito isso, ele chupou meu ponto de nervos mais forte,
movendo a cabeça de um lado a outro, fazendo minhas pernas se
abrir-se ainda mais. Eu gemi tão alto que podia se ouvir através da
porta e a cada toque da sua língua que recuava e avançava, cada
chupada, cada movimento dos seus lábios carnudos contra meu
sexo, tremores violentos se apossavam de mim por inteira. Meus
olhos se arregalam, meu coração começou a bater fortemente e
minha respiração começou a falhar quando minha boceta começou
a pulsar forte, sua língua não parava de passear entre meus
grandes lábios vaginais, circulando e esfregando meus clitóris com
grande entusiasmo.
Eu sentia sua barba roçar em minha pele enquanto ele repetia
o ritmo da dança intima. Mas foi quando ele se afastou um pouco e
deu uma sopradinha que todo o meu corpo explodiu de vez.
— Ahh! Barannnn...
Um grito alto escapou da minha boca. O prazer me atingiu
como uma explosão, meus músculos se apertaram e meu corpo
tremeu em êxtase. Fechei os meus olhos e fiquei imóvel, me
deleitando com a sensação de seus lábios carnudos contra a minha
intimidade, sugando com voracidade. Eu tinha a sensação que
estava flutuando sobre uma neblina orgástica, mas logo caí num
abismo profundo de agonia, respirei acelerado quando ele
posicionou seu membro na minha entrada intocável. Nem tinha
percebido que ele tinha subido.
— Isso não, eu não quero.
— O seu corpo me diz o contrário — sua voz estava rouca,
como se fizesse um grande esforço.
Num movimento lento, ele começou a forçar o seu pênis
contra a minha fenda, fazendo movimentos cautelosos, senti uma
dor insuportável e quando comecei a gritar, sua boca tomou a
minha, me pegando de surpresa. Meu corpo reagiu quando sua
língua invadiu a minha boca, era o meu primeiro beijo, onde o
homem movia os lábios sobre os meus com um desejo possessivo,
acariciando e enrolando sua língua habilidosa na minha, eu não
sabia o que fazer, mas senti a necessidade de retribuir. Porém,
fiquei rígida quando senti uma forte ardência e a cabeça roliça do
seu pênis avançou mais um pouco, querendo se alojar dentro do
meu interior pequeno e intocado.
Ele ficou por alguns segundos, imóvel e, explorava ainda mais
a minha boca. Seus quadris voltaram a se mexer novamente. Uma
dor ainda mais forte pairou sobre mim assim que seu membro
mergulhou ainda mais fundo nas minhas profundezas, rompendo a
minha resistência, roubando a minha inocência, fazendo-me enfiar
minhas unhas em sua carne.
— Ghraaaa... Por favor — implorei, pois tudo que sentia era
dor e mais nada.
— Hoje eu te mostrarei que o diabo não só pode te levar ao
inferno, como ao paraíso. Que a dor pode dar lugar ao prazer...
Sua boca tomou os meus seios, os chupando e sugando com
ardor, enquanto isso a dor foi se dissipando e toda aquela
exploração de como ele passava a língua em volta dos meus
mamilos enrijecidos para depois os envolver com sua boca quente,
começou a acender novamente uma chama que se espalhou pelo
meu corpo todo. Dor, prazer, vergonha... Uma miríade de sensações
me envolvia.
— Essa bocetinha gulosa, vai engolir e querer ainda mais o
meu pau — eu me sentia envergonhada com suas palavras e ao
mesmo tempo era como se elas tivessem algum poder sobre o meu
corpo, pois me sentia mais molhada.
Aos poucos ele foi se movimentando e suas estocadas
ganharam um ritmo acelerado, a cada entrada, seu pênis tocava um
ponto sensível que estava me levando ao limite. Os ruídos de dor
foram substituídos por gemidos de prazer que eu não conseguia
controlar, a sensação que se apossou se cada fibra do meu corpo
era devastadora ao ser preenchida por inteira, enquanto as
investidas implacáveis do seu pênis massageava cada um dos
meus pontos sensíveis que eu desconhecia e não sabia que poderia
sentir tanto prazer. Minha pele estava quente como se meu sangue
estivesse em chamas, ondas e mais ondas de prazer enviavam
tremores violentos que se espalhavam, me causando uma sensação
deliciosa.
— Hummmm...
Gemidos altos eram dados por mim, ele continuou me
penetrando cada vez mais fundo e era como se a minha pequena
fenda tivesse sido feita na medida certa para acomodar toda aquela
monstruosidade que parecia uma arma de destruição, mas naquele
instante só estava me causando um prazer indescritível.
Depois de tanto sofrimento, eu queria permanecer naquela
sensação de plenitude, queria ficar rodeada pelo prazer.
— Deliciosa — disse sussurrando como se estivesse
embriagado pelo desejo. O homem começou a rugir como um
animal, eu já me sentia toda mole. Ele continuou me penetrando,
senti uma ardência profunda quando seu líquido quente e cremoso
começou a invadir o meu interior latejante. Quando ele diminuiu o
ritmo dos seus movimentos e levantou a cabeça, seus olhos
estavam mais vermelhos. Mas, ao contrário do que sentia antes, o
prazer foi substituído pelo medo e o choque da realidade me
atingiu como um soco pesado em meu rosto e ouvir as palavras
proferidas fez meu coração disparar.
— O seu corpo já reconhece o seu dono e por mais que
lute, em breve também serei o dono da sua alma — ele esboçou
um sorriso de satisfação.
Fechei os olhos em agonia, me recriminando internamente.
“Como pude ser tão fraca? Como fui capaz de sentir prazer
com esse homem?”
Outro pensamento se fez presente em minha mente.
"Como eu irei fazer para lutar contra o meu próprio corpo?"
Capítulo25
Baran Celikkol

Depois da informação que Mel havia me dado. Lisa seria


traída pelo seu belo corpo e, mesmo lutando contra, ela logo não
seria capaz de resistir e dessa forma a terei como um brinquedo que
vou usar até o momento que resolver me livrar dele. Quando entrei
naquele quarto, o medo em seus olhos era palpável. Como um
coelho encurralado, ela tentou escapar, tentando evitar o que já
estava predestinado a acontecer. No momento que a coloquei sobre
aquela cama, ela ainda tentou se livrar da minha posse, ver o pânico
que se apoderou dela assim que fiquei nu em sua frente e ao sentir
o cheiro da sua boceta carnuda e inchada, o animal dentro do meu
interior começou a vibrar descontroladamente ao estar diante de
algo intocável, que logo seria violado por mim.
Comecei deslizando minha língua entre suas dobras,
circulando em seguida seu clitóris, esfregando de um lado ao outro
e de frente para trás. Os ruídos que saiam dos seus lábios só me
incitaram a continuar explorando cada centímetro da sua boceta,
deixando-a cada vez mais úmida e pronta para o quanto antes me
receber, eu queria levá-la ao limite, quanto mais excitada, era
provável que sentisse menos dor com minha penetração. A mulher
se abriu ainda mais para mim e o seu ato foi tudo que eu estava
esperando para atacar sua carne perfumada, não dando tempo de
defesa. Outro gemido saiu da sua garganta, mais alto dessa vez,
enquanto minha língua se movia mais rápido e constante. Senti o
toque suave de suas pequenas mãos empurrando minha cabeça,
que batia em sua carne rosada, quente e pulsante, deixando a
cavidade da vagina cremosa, enquanto minha língua rodeava
seus lábios vaginais e subia até o seu clitóris.
Seu corpo todo estremeceu enquanto era devorada pela
minha boca, quando ela enfim se entregou ao prazer, eu saboreei o
seu sabor único e seu néctar que se assemelhava ao mais delicioso
dos manjares dos deuses, jorravam em minha boca, suguei cada
gota e a mulher estava mole como se o seu corpo estivesse numa
montanha russa de sensações. Assim que meu corpo tocou o dela,
uma corrente de eletricidade me fez estremecer e todo prazer
estampado em suas feições desapareceu por alguns instantes,
quando a cabeça do meu pau, que já estava salivando, tocou sua
fenda quente, ela enfim havia voltado à realidade, mas fui
deslizando o meu cacete em sua entrada e empurrando-o pouco a
pouco, fazendo a mulher soltar um grito de medo e dor.
Estranhando a mim mesmo, eu queria tirar aquela dor e deixar
apenas o prazer, mas não podia.
Meus batimentos estavam acelerados, minha garganta ficou
seca de tal forma, que nem a minha própria saliva descia por ela.
Um desejo incontrolável me dominou e num ato insano, a minha
boca se moveu, ainda tentei lutar contra a vontade incontrolável de
beijar aqueles lábios carnudos e rosados a minha frente. Porém, o
desejo que sentia era maior do que a ideia de me afastar dela.
Quando nossos lábios se uniram, minha pele ficou quente, muito
quente, e o calor correndo pelo meu corpo enquanto meu sangue
borbulhava, era como se iniciasse uma batalha contra as trevas que
sempre esteve a minha volta. Em posse da sua boca, meus quadris
se moveram e quando senti algo sendo rasgado dentro dela, Lisa
cravou suas garras em minha pele, o que me deixou ainda mais
enlouquecido.
Meu pênis latejante que permanecia inquieto. Enfim, havia
encontrado o seu alívio ao romper as barreiras da entrada
minúscula da sua boceta. Ter a vagina dela o sugando por completo,
só despertou ainda mais a minha vontade de intensificar meus
movimentos. Porém, os momentos seguintes, foi algo indescritível.
Uma sensação que nunca havia sentido tomou conta de mim da
cabeça aos pés. Nem ao estar com aquela que tanto amei, ou saber
que tinha o controle em decidir a vida das pessoas, me deixou tão
alucinado. Nada me preparou para as sensações que invadiram o
meu corpo, fazendo uma onda de prazer se alojar em cada
terminação nervosa. Os meus demônios começaram a duelar dentro
de mim, era como se pela primeira vez, o meu corpo não fosse o
suficiente para acomodá-los. A sensação era de que estavam me
rasgando por dentro, como se logo fossem abrir um buraco no meio
do meu peito, enquanto sua boceta apertava meu pau com uma
força do caralho, tornando difícil entrar e sair, o que deixou todo o
meu corpo em chamas. Nunca havia sentido um prazer tão
inexplicável, sem que fosse preciso derramar o sangue de alguém.
Quando enfim um grito feroz, quase como um rosnado
animalesco saiu rasgando a minha garganta, senti um prazer que
parecia surreal. Fiquei alguns segundos desorientado, incrédulo
tentando assimilar o que havia acontecido.
A maldita feiticeira e toda aquela luz emanada dela não iriam
ter domínios sobre mim, fazendo um esforço sobre-humano, assumi
a postura rígida e antes de me levantar, trouxe a infeliz de volta ao
inferno.
Antes de deixar o cômodo, peguei o meu roupão do chão e
tirei o objeto que estava dentro e joguei em cima da cama. Seus
olhos que já estavam arregalados, ficaram ainda maiores ao ouvir o
que eu disse.
— É melhor você tomar o quanto antes, não vai querer que o
filho do demônio floresça em seu ventre.
Um sorriso de satisfação surgiu entre meus lábios ao ver a
bela imagem temerosa sobre a cama.

Lisa Evans
Mesmo tentando controlar, as lágrimas surgiram em meus
olhos e escorreram pelo rosto trazendo consigo o meu desespero.
Um misto de sensações apoderou-se de todo o meu ser, sinto uma
raiva sem medida por ter me entregado daquela forma a esse
demônio, mesmo depois de tudo que me fez.
Suja, era assim que eu estava me sentindo.
“Como fui capaz de esquecer tudo que ele me fez?”
Como o meu corpo reagiu daquela forma aos toques dele, eu
deixei o desejo carnal gritar mais alto que a razão e não posso
negar a mim mesma que vibrei com tudo aquilo, que a dor deu lugar
ao prazer e estava ansiando por mais e mais.
Suas palavras só vieram confirmar o quanto aquele homem é
como uma serpente maligna, capaz de se disfarçar e fazer de tudo
para corromper alguém. Ele te estende a mão e depois está pronto
para te dar o bote, quando ele proferiu suas últimas palavras,
caminhou até a porta e logo sumiu do meu campo de visão, meu
olhar caiu sobre o comprimido em cima da cama e não pensei duas
vezes antes de pegá-lo, contudo, toda adrenalina havia deixado o
meu corpo e ao tentar me levantar, senti uma dor aguda ao pé da
barriga.
Mesmo com dificuldade, levantei o meu corpo. Minha
intimidade latejava e havia sangue entre minhas pernas, fiquei
pensando no tamanho do seu membro, não acreditando ainda que
meu pequeno corpo aguentou tudo aquilo. Deixei as lamentações de
lado e fui até o banheiro, acabei tomando banho novamente, com a
água morna trazendo alívio a minha intimidade dolorida, quando
terminei, voltei para o quarto e depois de me vestir, ouvi uma batida
na porta. Era uma senhora que tinha por volta de uns cinquenta
anos.
— Bom dia — disse exibindo um largo sorriso.
— Bom dia! — exclamei por educação. Minha vontade era não
ver ninguém.
— Você certamente está com fome. Vamos descer para que
coma algo.
Eu realmente estava faminta, colocando a minha vontade de
ficar a sós de lado, segui com ela para o andar de baixo, durante o
percurso, o incômodo entre as minhas pernas ainda era grande,
mas tratei de ignorar para não deixar transparecer o que estava
sentindo e muito menos o que tinha acontecido.

Minutos depois...
Quando eu estava comendo na cozinha, Fernanda apareceu
e ficamos conversando sobre a minha pequena Mel, dava para ver
como seus olhos brilhavam ao falar sobre ela, eu fiquei tão
atordoada e envolvida no mundo da luxúria, que não absorvi direito
quando Baran disse que ela tinha ido para a escola nova. Eu fiquei
aliviada por saber que pelo menos a vida dela estava caminhando
como a de uma criança normal e quanto mais tempo ficasse longe
desse lugar, seria melhor. Quando deixamos o ambiente, ao chegar
à sala, um furacão em miniatura passou pela porta e dava para ver
em suas feições o quanto ela estava radiante.
— Mamãe! — disse já jogando a mochila no chão e veio
correndo em minha direção, tratei de estender os braços para pegar
a sapeca entre eles. Que logo envolveu suas pernas em torno da
minha cintura e começou a beijar o meu rosto. Quase soltei um
gemido devido ao desconforto que estava sentindo, mas me
controlei.
— Mocinha você está pesada demais.
— Eu já cresci bastante, vou pedir ao papai do céu para ficar
pequena.
— Por que Mel? — perguntou, a senhora Fernanda.
— Vovó Nanda, se eu crescer, ninguém mais vai me carregar
e gosto de ser pequena, assim a mamãe sempre me tem como sua
princesinha.
Essa menina era fogo, não sei de onde aprendia tanta coisa.
Nos momentos seguintes, que antecederam ao almoço, ela contou
tudo que havia feito, detalhou como era a escola nova, que segundo
ela, era muito grande e bonita, mas por alguns instantes vi uma
tristeza ao falar da tia Clara, sua antiga professora. Mas, sendo a
Mel, rapidamente tratou de colocar um sorriso no rosto e só ficou
maior quando aquele ser sombrio surgiu no ambiente.
Seus olhos estavam fixos em mim, mas logo se desviaram
quando Mel falou.
— Tio... Eu tenho um presente para você — disse e correu até
a mochila que havia jogado no chão, começou a procurar algo e
logo depois puxou uma folha de dentro da bolsa e com ela em
mãos, se aproximou dele e estendeu o objeto em sua direção. O
que aconteceu em seguida me deixou inquieta, enquanto o homem
esboçou um sorriso triunfante.
— A tia Ana mandou desenhar alguém que a gente amava
muito. Eu fiz você.
Era um sentimento diferente o que me fez questionar a mim
mesma se estava com ciúmes.
Capítulo 26
Horas mais tarde...
Lisa Evans

Durante o almoço, eu não me senti nada bem ao ter que


sentar e comer ao lado dele. Não era porque agora não estava
dentro daquele quarto do horror, tendo meus braços prestes a
serem quebrados, que iria esquecer tudo que passei. É muito fácil
atingir alguém e esquecer. Mas quem sentiu na pele, a dor, o
sofrimento e por pouco não foi envolvido pela escuridão sem fim,
não tem como apagar o que está vivo na memória, como se fosse
um maldito câncer corroendo por dentro.
Eu senti prazer sim, não posso negar. Mas a minha luta não
será somente contra Baran Celikkol, eu vou lutar com todas as
minhas forças para não ser dominada e vou reprimir qualquer
desejo que venha a se espalhar pela minha pele, me queimando por
dentro. Eu irei mostrar que ele pode usar o meu corpo, porque isso
é algo inevitável, já que não posso correr o risco de que ele use a
Mel para me atingir, contudo, veremos se vai se sentir saciado ao
transar com um corpo sem alma.
Ao findar a refeição, antes de sair, ele avisou-me que uma
médica viria, e esta, além de colher amostras do meu sangue,
também iria aplicar um anticoncepcional injetável. Aquilo só indicou
que o meu corpo ainda seria usado por ele por incontáveis vezes e
me vi no dilema do que esse monstro pretende fazer quando já se
der por satisfeito. Não temo a morte e sim deixar a minha pequena
sozinha no meio dos monstros famintos do submundo.
— Mamãe, eu já terminei...
Meus pensamentos foram interrompidos com o aviso dado por
ela, que já havia concluído o dever da escola, porém, minha atenção
foi direcionada para senhora Vivian, que passou rapidamente pela
sala indo rumo à porta e quando a mesma foi aberta, meu olhar caiu
sobre a bela mulher a minha frente. Seu rosto era angelical, seus
cabelos lisos e sedosos eram castanhos escuros e seu corpo
parecia de uma Barbie. Ela está vestida impecavelmente.
O silêncio envolveu o ambiente, ela tinha um ar de soberba,
mantinha seus olhos grudados nos meus e começou a observar-me
dos pés a cabeça, não satisfeita, fez o mesmo com a Melanie.
Aquilo me incomodou, pois dava para ver que a metida não havia
gostado nada da nossa presença, porém, de repente, suas feições
mudaram e um sorriso largo surgiu no seu rosto. Fiquei por alguns
segundos perdida, mas quando virei a cabeça para o lado, constatei
o motivo da sua súbita mudança ao me deparar com a mulher que
descia os degraus da escada.
Fiquei observando-a e ela também se moveu quando
Fernanda se livrou do último degrau.
— Camile! — disse assim que a distância entre elas já não
existia mais, e as duas se abraçaram. Dava para ver pela expressão
de Fernanda o quanto ela ficou feliz com a presença da tal Camile.
— Vejo que você está muito melhor. Fico feliz em vê-la tão
bem.
— Devo isso aos seus cuidados e principalmente ao pequeno
anjo, chamado Melanie — falou e lançou um sorriso acolhedor para
Mel e esta não ficou quieta.
— Quem é ela vovó Nanda?
— Camile, além de ser minha amiga, também é psicóloga.
— A tia Luana também era isso e fazia muitas perguntas.
— Camile, essa é Lisa, mãe da Mel.
— Não sabia que Baran ou você tinham parentes vivos. E
jamais pensei que ele gostasse de crianças — não passou
despercebida a ironia em suas palavras, até porque ela devia
conhecer muito bem a verdadeira face do demônio.
— O tio gosta sim da Mel — a pequena retrucou exibindo uma
bela de uma cara fechada.
— Como não gostar de você minha garotinha? — disse
Fernanda e Mel deu um sorriso largo ao ouvir as palavras que foram
ditas. A nojentinha se virou em minha direção e então disse:
— Você é bem nova para ter uma filha nessa idade — disse de
forma maliciosa, mas aturar o diabo já era um desafio e pela
segurança da minha princesa, eu tinha que aguentar tudo que ele
estava me infringindo, mas não era por isso que abaixaria a cabeça
para mais ninguém e tão pouco deixar alguém dizer algo e não
ganhar resposta à altura.
— Da mesma forma que você é bem jovem para dar
conselhos para alguém, no entanto, escolheu uma profissão em
que suas palavras têm um peso grande para seus pacientes. Onde
pode ajudá-las a sair da escuridão que se encontram ou deixá-las
de vez num mundo cheio de conflitos.
Por alguns segundos a calmaria predominou a nossa volta, o
silêncio era denso, somente cortado pela nossa respiração, até que
foi quebrado pela voz de Fernanda.
— Vamos, Camile.
As duas começaram a subir os degraus, mas houve um
instante que Camile virou o rosto para trás e seu olhar estava cheio
de fúria. Assim que elas somem, baixo a cabeça me deparando com
uma cena onde não sabia se eu sorria ou ficava preocupada por ela
estar sendo envolvida por sensações ruins. Melanie tinha a mão
esquerda fixa na cintura, já a direita, exceto pelo dedo indicador,
todos os outros estavam abaixados e apontado na direção da
escada e balançando a cabeça em negativa, começou a falar.
— Eu não gostei nadinha dela, não mesmo.

Baran Celikkol
Minha expressão era fria e impassível, não demonstrando
nada do que se passava em meu interior. Contrariando os
sentimentos furiosos que se escondiam por debaixo de minha pele,
enquanto observo os homens a minha frente tentando decidir o
destino de Elisabete, já que o pessoal de Dimitri não encontrou nada
na residência Evans, como se algum deles fossem o primeiro no
comando ou que alguém nessa vida conseguiria me manipular, o
que era algo tão irreal, já que era eu quem manipulava e controlava
as pessoas ao meu redor.
O barulho, provocado pelos sons de diversas vozes, tomaram
conta do ambiente e ao contrário de dias atrás, hoje somente os
membros do conselho estão reunidos e todas as cadeiras estão
ocupadas. Sabia que ao saberem do meu retorno, isso viria a
acontecer e principalmente que a notícia sobre a única que saiu com
vida do covil da morte, iria se espalhar como um rastilho de pólvora
e, a cada palavra dita, a raiva inflamava em minhas veias, me
enlouquecendo por dentro.
— Com a morte da família Colombo e a traição de Guilherme,
só nos prova que nunca estamos livres dos malditos traidores e
estes devem ser eliminados — diz Augusto.
— Embora a mulher seja inocente, não podemos confiar em
alguém que não jurou lealdade a nossa organização — murmura
Michael, como se as piores cobras traiçoeiras prestes a dar o bote
não estivessem dentro da própria organização.
— Você tem toda razão e depois de tudo que ela passou
naquele lugar, pode muito bem querer se vingar — desta vez foi
Andrew a se pronunciar e Massimo, por sua vez, resolveu colocar
mais lenha na fogueira.
— Será que realmente Raquel não disse nada àquela mulher?
Será que a infeliz realmente é inocente? — encara os membros e
continua. — Será um risco tê-la dentro da sua própria casa — faz
uma pausa e vira seu rosto em minha direção, incitando-os demais
a fazerem o mesmo, tendo assim vários pares de olhos cravados
em meu rosto.
— Se ela já não é mais útil, então deve ser eliminada. Já o vi
sendo muito pior e intolerante por muito menos.
Poderia até ser algo inaceitável, contudo, eu jamais elimino o
que me era ainda útil. Os meus demônios encontraram algo capaz
de saciá-los como nunca tinha acontecido antes e enquanto ela
tiver utilidade, não será descartada. Meus pensamentos foram
atrapalhados quando ouvi mais alguém se manifestando.
— Concordo plenamente, Massimo — fala Estêvão, a raposa
velha era um dos membros mais antigos da Cosa Nostra
americana e sempre teve Massimo como seu favorito.
Os monstros criados por Al Capone estavam loucos para
derramar sangue, todavia, os idiotas, se soubessem que eu
mandarei qualquer um ao inferno se tocar em algo que está sob a
minha proteção, nem teriam coragem de iniciar essa reunião. Sei
que tudo isso é pelo fato de tê-la levado para minha casa, pois
Massimo acredita, assim como os demais, que sua prima Camile
seria a mulher perfeita para se tornar a esposa da máfia, mas na
minha vida mando eu, e, mesmo sendo membros do conselho,
ninguém vai dizer o que devo fazer.
Meus pulmões estão em chamas, meu sangue esquentando
como se tivesse fogo líquido em minhas veias. No limite da
paciência e movido pela raiva que se apoderou de todo o meu ser,
fechei minha mão em um punho e o golpe foi desferido contra a
mesa, um barulho reverberou no ambiente, fazendo todos ficarem
em silêncio.
— Eu, Baran Celikkol sou a lei suprema aqui e o destino dela
já foi decidido por mim. Agora se vocês estão insatisfeitos, não é
com ela que devem acertar as contas e sim comigo.
Nenhum som era ouvido ao nosso redor, nem mesmo das
nossas respirações. Alguns que nem haviam se manifestado antes,
sacudiram a cabeça em aprovação ao que eu havia falado, outros
que ficaram petrificados, embora tendo uma expressão indecifrável,
eu pude ver no fundo dos seus olhos, uma fúria contida. Vibrei por
dentro, pois a natureza selvagem de um lobo não pode se esconder
para sempre dentro de um cordeiro. Enquanto se preocupam com
Lisa, o traidor está junto deles e o maldito me levará direto ao
Serguei. Quando isso acontecer, os dois vão pagar muito caro pela
audácia em tentar acabar com a minha vida, por invadir meu
território e principalmente por cobiçar aquilo que é meu.
"Nesse mundo só existe espaço para um demônio; EU!"
Capítulo 27
Camile Torricelli

Assim que passei pelas portas duplas e ao chegar à sala,


meus olhos passearam em volta do lugar. Haviam algumas garrafas
quebradas no chão, a mesa de centro tinha sido arremessada
contra a parede e o meu olhar ficou grudado no homem que tinha
um copo de uísque em uma das mãos. Pela sua feição diabólica,
eu sabia que a fúria tinha haver com as duas que agora se
encontravam na mansão de Celikkol. Dei alguns passos e parei ao
ficar centímetros de distância dele, tendo assim suas órbitas
sombrias cravadas em meu rosto.
— Acabei de conhecer as duas hóspedes de Baran e aquela
garota, embora seja uns três anos mais nova do que eu, além de
ter uma beleza exuberante, não tem nada de burra.
— Eu te avisei que se ficasse nesse joguinho, jamais iria
atingir o coração do demônio. Já conheço Celikkol há tempo demais
para saber que não deixaria um alvo vivo e a vida daquela infeliz foi
poupada justamente porque despertou o interesse dele.
Dei só mais um passo, colando o meu corpo ao seu,
aproximando a minha boca da sua.
— Eu já aguentei todas as loucuras de Fernanda para
conseguir ter passe livre naquela casa e não será uma fedelha ou
aquela morta de fome, que vai ficar no meu caminho. Eu serei a
rainha da máfia e mãe do futuro herdeiro da Cosa Nostra e sei
exatamente como usar aquela alcoólatra a meu favor.
Sua expressão mudou, seus lábios se moveram e um sorriso
surgiu iluminando o seu rosto.
— Minha diabinha — disse e sem delongas sua boca se
chocou com a minha num beijo ardente e selvagem, abalando toda
a minha estrutura.
"Eu darei a minha vida se for preciso para que os nossos
desejos se tornem realidade, nem que para isso deixe as trevas
tomar posse de vez do meu coração".
Um dia depois...
Lisa Evans
Assim como ele havia dito, a médica, que por sinal era uma pessoa
bem simpática, veio e a Mel, como sempre, curiosa, fazendo várias
perguntas quando viu que a mulher iria aplicar a injeção, acabei
fazendo uso da desculpa que Baran havia dado de que eu passei
dias, doente; para fazê-la entender porque estava tomando o
remédio. Agradeci mentalmente por não ter visto o enviado da
escuridão o restante do dia de ontem e muito menos hoje. Soube
que tinha viajado logo nas primeiras horas da manhã para São
Francisco, já que hoje os candidatos às eleições presidências iriam
participar de um grande debate, antes me alegrava a ideia que ele
viesse a comandar a nossa nação, no entanto, agora sinto um
tremor violento ao pensar que um psicopata, a própria encanação
do mal, possa ter em suas mãos tanto poder.
Aproveitando que Fernanda estava em mais uma sessão com
Camile e a Mel havia ido para escola, deixei o quarto em passos
largos e não demorou muito para me livrar dos degraus da escada
e, quando dei por mim, já estava passando pela porta dourada.
Quando chegamos aqui já era noite e não deu para saber direito o
tamanho desse lugar. Meus olhos fizeram uma varredura à minha
volta, e olhando cautelosamente, tive a dimensão do tamanho da
propriedade. Havia uma enorme pista de pouso a alguns metros de
distância da casa, o que me fez lembrar a mansão luxuosa do ator
John Travolta, que havia visto em uma revista. Continuei andando e
me vi olhando para uma enorme torre de controle e próximo a ela,
tinha um avião, e um pouco mais afastado, um helicóptero. Ainda
explorando o local com os olhos, percebi que haviam muitos
homens armados com armas enormes, fiquei olhando para eles
paralisada, mas logo desviei para os muros que eram bem altos, o
que fez meu sangue congelar em minhas veias ao constatar que
estava dentro de uma fortaleza e que dificilmente conseguiria
escapar.
Horas mais tarde...
Meus olhos estreitaram-se enquanto observava a minha
pequena que está dormindo como um anjo, desvio o olhar e as
lembranças do que aconteceu ao longo do dia invadem a minha
mente. Depois que Camile foi embora, eu percebi que Fernanda me
olhava de um jeito diferente, até o seu tom de voz era áspero, a
mulher se manteve com a expressão fechada e só vi suas feições
mudarem quando a Melanie chegou. Já no final da tarde foi bem
agitado, já que Mel inventou de tomar banho na piscina e as duas
passaram um longo tempo dentro da água, enquanto eu me pus a
observar a certa distância, teve momentos que me perdi nas
lembranças de quando desabei daquele penhasco, de todo
desespero e da sensação terrível de estar me afogando.
Depois do jantar, dei um banho nela e enquanto fui tomar meu
banho, a deixei assistindo o seu desenho favorito, já que era
apaixonada pela Pepa pig e as duas de certo tinham algo em
comum, pois eram muito faladeiras. Volto à realidade, olho para o
relógio na parede, eram quase onze da noite. Meu estômago estava
rocando, já que somente a Mel, havia jantado na companhia de
Fernanda, vontade não me faltou de confronta-la e saber por que
estava me olhando com tanta raiva, mas visto que isso aconteceu
depois que Camile esteve aqui, e vendo a forte ligação entre as
duas, bastou juntar os fatos para saber que sua mudança era devido
à influência daquela que não disfarçou em nada que a nossa
presença era indesejada.
Caminhei em direção à porta e uma vez fora do ambiente, com
passos firmes segui pelo corredor até chegar à escada. Tudo
estava em silêncio e o andar de baixo envolto pela penumbra,
lentamente fui descendo os degraus, já que os funcionários nesse
horário já deviam estar dormindo e tinha ouvido a minha pequena
dizer que o capeta só voltaria amanhã, de certo ouviu Fernanda
falando. Depois de alguns minutos, já estava na cozinha.
Havia somente uma pequena luz acesa no corredor que dava
acesso à dispensa, mas dava claramente para ter uma boa visão de
tudo dentro da cozinha.
Meus enormes olhos azuis circulam por todo ambiente,
constatando que estava deserto. Dei alguns passos até o armário
luxuoso, peguei o pote que tinha leite em uma das prateleiras, um
copo e fui ate o purificador, apertei o botão de água morna, enchi o
copo e logo depois coloquei algumas colheres de leite e comecei a
mexer. Minutos depois, já havia tomado todo líquido e estava
lavando a louça quando senti uma lufada de ar de encontro ao meu
pescoço, enviando calafrios por todo o meu corpo. Por alguns
instantes, eu tive a sensação de não estar sozinha, quando terminei,
dei um giro nos calcanhares e novamente comecei a fazer o mesmo
percurso de volta.
Assim que cheguei próximo à porta, ouvi o som de algumas
passadas e antes que conseguisse deixar o ambiente, fui
bloqueada por uma montanha de músculos firmes que estava
impedindo a minha passagem. No momento que levantei a minha
cabeça, o pânico tomou conta de mim, um nó se formou em minha
garganta. Meu coração disparou e não conseguia respirar direito,
parecendo que minhas narinas estavam bloqueadas. Meu peito
queimava em meio à dor causada pelo meu desespero. Minhas
pernas ficaram pesadas, mal conseguiam me manter em pé.
"Droga! Porque fui sair daquele quarto?" — penso me
recriminando pelo meu ato.
Ficamos em um silêncio constrangedor, e, antes que tivesse
qualquer chance de escapar, o homem que tinha os olhos famintos,
se moveu rapidamente e senti seus braços musculosos enlaçando
minha cintura, unindo o seu corpo ao meu, me puxando para mais
perto de si. Antes que tivesse qualquer outro pensamento, sua boca
tomou a minha em um beijo que roubou o meu fôlego. Parecia um
animal esfomeado, visto que estava devorando a minha boca,
beijando-me com volúpia, enquanto eu, mais parecia uma estátua.
Suas mãos exploravam o meu corpo, sem desgrudar sua boca
insaciável da minha, que estava roubando todo o meu ar, ele
começou a me empurrar até a mesa, soltei um gemido abafado
quando me suspendeu e me fez deitar em cima dela, segurou
minhas pernas, puxou-as e se posicionou entre elas. Tentei me
levantar quando ele levou as mãos até as minhas coxas,
deslizando-as até encontrar a lateral da minha calcinha e
assim que começou a puxá-la, eu levei uma das mãos até o lugar,
segurando também a peça.
— Você não está achando que esse pedaço de pano ficará no
meu caminho — falou irritado.
Em um puxão, ele rasgou a peça, minha respiração ficou
suspensa quando escutei o barulho do zíper de sua calça
descendo e só ficou pior ao sentir seu membro quente e ereto em
contato com a minha carne.
— Por favor! — supliquei mesmo sabendo que seria em vão, o
diabo por sua vez, conduziu uma de suas mãos até o meu sexo
exposto e começou a explorar com avidez. Comecei a sentir coisas
que não queria assim que seus dedos começaram a fazer um
verdadeiro milagre.
— Pare! Por favor!
— Não estou fazendo nada que seu corpo não deseje. Você
precisa entender que agora me pertence e não adianta resistir.
— Eu não gosto de você.
— O seu corpo diz totalmente o contrário.
Seus dedos se moveram, novamente, passeando pelos
grandes lábios da minha intimidade, subindo até o meu clitóris,
exercendo uma forte pressão no pontinho sensível por várias
vezes, provocando uma onda de calor que começou a se espalhar
por cada canto da minha pele, correndo em minhas veias como fogo
líquido. Mordi o lábio inferior tentando conter os gemidos
involuntários que insistiam em se fazer presente e aquilo só ficou
pior quando ele arremessou-se para dentro de mim, fazendo um
ruído alto escapar da minha boca. Ele começou a massagear ainda
mais o botão inchado de nervos e o meu corpo traidor correspondia
aos seus toques como se o reconhecesse, mesmo sabendo que foi
aquele monstro que lhe infringiu tanta dor.
— Se entregue ao seu homem.
Aquelas palavras só fizeram com que eu sentisse uma raiva
crescendo dentro de mim. Mas, Baran estava disposto, não somente
a se satisfazer, como mostrar-me que ele era muito mais forte e sua
vontade sempre prevalecia. Então, começou a movimentar os seus
quadris, empurrando o seu membro com força e velocidade para
dentro de mim e como se não fosse suficiente, seus dedos
diabólicos, encontraram novamente o meu clitóris, segurou firme, o
roçando e o apertando. Fechei os meus olhos e, ele aumentou ainda
mais a intensidade dos seus movimentos, seu pênis potente
chegava fundo e meu corpo parecia estar adaptando-se aquela
maneira dele em me possuir.
Seus dedos começaram a massagear com precisão o meu
clitóris e minha boceta reagiu, apertando e agarrando o seu
membro. A cabeça do seu pênis não parava de acariciar
terminações nervosas, que só fazia o prazer se multiplicar no meu
interior e se espalhar por cada fibra do meu ser. Era como se minha
intimidade e seu pênis avantajado, enfim, tivessem se encaixado
perfeitamente.
— Abre os olhos e olhe para mim, quero que veja quem está
dentro de você, quem está te possuindo, quem é o seu dono —
disse de forma possessiva e só então o choque da realidade pairou
sobre mim.
Abri os meus olhos, eu precisava ser mais forte, eu não
poderia sucumbir dessa forma. Virei minha cabeça para o lado e
embora o meu corpo estivesse em chamas, tudo que deixei vir a
minha mente foram os momentos que passei naquele cativeiro, toda
angústia, toda dor.
O movimento de vaivém se intensificava a cada investida.
Ouço seus gemidos e sua respiração parecia pesada.
— Goze! — vibrei por dentro ao ouvir suas palavras, porque
aquilo também indicava que ele estava prestes a alcançar o seu
limite.
Deixei que as lembranças dolorosas gritassem mais alto que o
prazer, porém, minha respiração engatou quando seu polegar
friccionou no nó de nervos inchados e doloridos. Provocando uma
convulsão que arrepiou a minha pele.
“Respira Lisa e seja forte...”
Baran começou a socar a minha vagina com golpes violentos
do seu membro, indo cada vez mais rápido, tendo seus movimentos
em sincronia com seus dedos em minha intimidade que não
paravam um só segundo. Mesmo contra a vontade do homem das
trevas, foi inevitável. Visto que um rugido feroz ecoou no ambiente,
ele gozou, jorrando jatos potentes em filetes longos e cremosos do
seu esperma dentro do meu ventre. Eu estava vibrando por dentro e
satisfeita por ter conseguido.
Instantes depois, quando ele levantou a cabeça, fiquei com o
olhar fixo em direção ao seu rosto, a minha alegria foi substituída
pelo medo. Uma fúria iluminou os seus olhos, os deixando mais
sombrios do que nunca e antes que o diabo viesse a fazer algo
contra mim, o barulho que vinha de certa distância, mas chegou até
a cozinha, fez suas feições mudarem como um abrir e fechar de
olhos e meu coração bater como se fosse sair do peito.
— Mamãe! Cadê você?
Capítulo 28
Baran Celikkol

Como ela conseguiu?


Lisa Evans é muito mais forte do que eu pensei.
Raiva! Ódio! Meu sangue esquentou me causando um
desconforto terrível, minhas veias latejaram de tão inchadas.
Levantei a cabeça e tudo que vi em minha frente foi uma escuridão
envolvendo tudo a minha volta, porém, antes que os monstros
famintos do meu interior viessem a fazer da mulher a minha frente
um alvo para dissipar toda minha fúria, o som da voz que tomou
conta do ambiente foi capaz de fazer-me assumir o controle do meu
corpo, enquanto a mulher que estava deitada sobre a mesa, se
encontrava desorientada e certamente temerosa que fosse
encontrada do jeito que estava.
O silêncio se fez presente por alguns segundos, tempo
suficiente para que eu pudesse subir as minhas calças. Já vestido,
uma onda de eletricidade atravessou o meu corpo e os meus olhos
se desviaram, ficando fixos em direção à porta, antes que eu me
movesse um só centímetro, a calmaria foi quebrada pelo ruído
suprimido pelo silenciador, mas não passou despercebido por mim,
já que o barulho de um disparo sempre soou como música para os
meus ouvidos. Em seguida, um grito de desespero ressoou no ar e
fez todo o meu corpo estremecer como se tivesse levado uma
descarga elétrica de 220W.
— Socorro! Mamãe...
Lisa foi dominada pelo pânico e num pulo a mulher se
levantou, mas antes de se mover, foi impedida por mim que tratei de
tapar a sua boca quando percebi que ela ia gritar.
— Fique quieta.
Ao ver que ela havia entendido e iria obedecer a minha ordem,
a soltei e em seguida andei até a parede e minha atenção ficou
direcionada para o objeto atrás da porta, minhas mãos trabalharam
rápido, puxando as chaves, exceto do corredor que iluminava a
cozinha, desligando assim toda energia de dentro da mansão.
— A Mel... — exclamou angustiada.
— Não saia desse lugar. No momento que eu sair por aquela
porta, assim que ouvir qualquer barulho, levante as chaves. Seja
quem for, acabou de ganhar uma passagem, direto ao inferno.
Avancei em direção ao armário e peguei algumas facas e na
velocidade de uma bala, deixei o recinto. Assim como um felino, os
meus olhos de predador já estavam adaptados ao escuro e meus
outros sentidos em alerta para cada movimento ao meu redor. Os
meus pés seguiam cautelosos pelo chão, semelhante a uma
serpente de forma veloz e silenciosamente quando cheguei perto da
sala, meu olhar ficou cravado na minha vítima.
O homem usava um capuz não me dando a visão do seu
rosto, ele estava perto da escada e em uma de suas mãos tinha
uma arma e na outra, o celular que estava com a lanterna ligada,
dando assim um pouco de claridade ao ambiente. O silêncio era
assombroso e o maldito de certo estava procurando o pequeno alvo
que queria eliminar.
— Dessa vez eu não posso errar ou serei eu a ser morto —
disse subindo um dos degraus e quando ouço as palavras que
foram proferidas em seguida. — Te achei pirralha.
Senti minha mandíbula contrair, meus olhos ardiam como se
estivessem em chamas. Uma gama de sensações totalmente
desconhecidas pairou sobre mim, um sentimento semelhante ao
que sentir ao conhecer Nataly pela primeira vez se fez presente. Eu
precisava protegê-la a todo custo.
— Não era para ser dessa forma, mas já que você cruzou o
meu cami...
Suas palavras foram substituídas por ruídos de dor quando
sua carne começou a ser perfurada pelas facas que foram lançadas
por mim, em suas costas e pernas. Quando ele se virou em minha
direção, as luzes foram acessas e só então pude ver o seu rosto.
Vicente parecia que tinha visto uma assombração e seu corpo todo
começou a tremer como se estivesse tendo uma convulsão.
— Você está morto — disse sacudindo a cabeça em negativa,
totalmente incrédulo com a imagem a sua frente e num abrir e
fechar de olhos, um pensamento passou pela minha cabeça,
deixando-me ainda mais possuído.
O desgraçado nem teve tempo de recuperar a sua lucidez,
pois feito um raio, fui ao seu encontro. Fechei minha mão direita em
punho e um soco que vinha de baixo para cima, foi desferido, o
impacto do primeiro golpe teve como consequência sua mandíbula
deslocando e jorros contínuos de sangue começaram a escorrer
pelos cantos de sua boca.
Gritos de agonia ecoaram pelo ambiente, ele ainda tentou
desferir um soco em meu rosto, mas quando meu olhar caiu sobre o
ser indefeso que estava com os olhos cheios de lágrimas e suas
pálpebras tremiam de tanto medo, a raiva explodiu dentro do meu
peito e o ódio me dominou. Naquele momento já não tinha mais
domínio sobre minhas mãos que se moviam freneticamente, como
se os meus punhos estivessem sido envolvidos por uma força
sobrenatural, fui desferindo uma sequência de golpes no rosto do
desgraçado, que ainda se mantinha em pé, até o momento que o
golpe final, foi de encontro ao seu tórax, fazendo seu peito queimar
pelo golpe, o levando a perder o equilíbrio e ir de encontro ao chão.
O peguei pelos braços e saí puxando para fora do ambiente e
ao chegar do lado de fora, um grito ensurdecedor foi dado por mim,
fazendo toda uma movimentação acontecer ao meu redor, contudo,
meus olhos que estavam direcionados nos homens que surgiram
em minha frente e estavam desnorteados ao se deparar comigo, já
que ninguém sabia que eu havia chegado, pois entrei pela
passagem subterrânea, a qual todos eles desconhecem, foi
desviada quando um grito horripilante preencheu o espaço.
— Aiiiiiiii... Socorroooo!
O homem começou a se debater de um lado para o outro,
levando as mãos de encontro a sua garganta como se estivesse
algo o sufocando, não demorou muito para seu rosto ficar todo
vermelho.
— Você não vai morrer agora, seu maldito.
Ele abriu a boca tentando dizer algo, mas nenhum som saiu.
Lágrimas desciam pelo seu rosto, eu ainda tentei ajudar o
desgraçado, que começou a ficar frio como uma barra de gelo. Seus
batimentos cardíacos estavam cada vez mais fracos e sua boca
começou a encher de espuma, o cheiro da morte veio junto com o
vento gelado que passou por mim e depois de alguns segundos, os
olhos arregalados perderam o brilho. Suas mãos ficaram
paralisadas, assim como ele deu seu último suspiro, mergulhando
de vez na escuridão.
Minha mente começou a funcionar a todo vapor e o
pensamento que havia se passado pela minha cabeça ao ver o
estado em como ele ficou ao ver-me na sala, acabou se
confirmando quando ouvi a voz de Alex.
— Chefe, o senhor precisa ver isso.
Em seguida, ele estendeu em minha direção o aparelho que
tinha em suas mãos. Meu olhar ficou vidrado na tela do celular.

The New York Times


“Explosão destrói o restaurante e parte do primeiro andar do
hotel Hilton San Francisco, levando 20 pessoas a óbito e entre eles
o empresário e candidato a presidência Baran Celikkol.”

A explosão de uma caldeira a gás, na noite de hoje, destruiu o


restaurante do hotel Hilton, danificou vinte carros e atingiu janelas
de um prédio vizinho. Segundo o Corpo de Bombeiros, pode ter
ocorrido acúmulo de gás dentro da caldeira. A explosão pode ter
acontecido no momento da ignição do equipamento. A caldeira que
explodiu é utilizada na lavanderia do prédio para aquecer água. A
força da explosão arremessou a máquina para a lateral esquerda,
onde estava localizado o restaurante, derrubando uma parede,
atingindo várias pessoas e a laje que fazia a divisão com 1° andar.
Uma grande multidão está em volta de todo quarteirão, pessoas
desoladas pela grande perda daquele que todos já tinham como
futuro presidente dos Estados Unidos.
Desvio meu olhar para o corpo sem vida a minha frente e
novamente a minha mente não para. Não consigo frear os
pensamentos que pipocam na minha cabeça.
Com a morte de Ricardo, que era um sósia, onde em vários
momentos era solicitado por mim para aguentar toda aquela
bajulação e diante dos últimos acontecimentos, um sorriso diabólico
tomou conta do meu rosto.
"As peças do tabuleiro novamente foram movidas, os inimigos
estão tentando destruir o rei, mas no momento certo, serei eu a
capturar todos os jogadores e dar o xeque-mate".
Capítulo 29
Lisa Evans

Suas carícias atrevidas e sem nenhum pudor estavam


incendiando a minha pele, como se fosse um isqueiro e o meu
corpo um barril de pólvora. Mas antes que viesse a acontecer uma
explosão, os meus pensamentos indomáveis me ajudaram a manter
viva cada lembrança de todo sofrimento que passei naquele inferno.
Não ter sucumbido aos prazeres da carne me fez recuperar a
confiança em mim mesma, porém, eu fui envolvida pelo medo
supremo, ao ponto de o meu coração doer dentro do peito. Mas,
pela primeira vez depois que conheci pessoalmente, Baran, eu
senti uma sensação boa ao ouvir as palavras ditas pelo homem que
nos últimos dias só vinha me causando pânico.
Embora estivesse temerosa pela Mel, eu deixei o medo de
lado e me movi até a caixa de distribuição trifásico e fiquei com o
olhar fixo nas chaves que deveriam ser suspendidas. Segundos de
agonia e minutos de desespero me assolavam ao pensar que algo
pudesse acontecer com a minha pequena, porém, no momento que
ouvi um grito alto preenchendo o ambiente, minhas mãos ganharam
vida própria e rapidamente comecei a ligar as chaves, feito isso,
corri para fora da cozinha e ao chegar à sala, paralisei e meu olhar
caiu sobre o predador que estava acabando com sua pressa. Os
punhos dele pareciam feitos de aço e a cada golpe, o barulho do
impacto era alto e não demorou para o homem ser nocauteado e
desabafar no chão, assim que ele saiu arrastando o sujeito para
fora do lugar, corri até a escada e quando cheguei próxima da
minha irmãzinha, um rugido feito de um leão furioso envolveu o
lugar e ela começou a tremer feito vara verde.
Agachei-me e envolvi o seu corpinho com os meus braços
para que ela viesse a se sentir segura. Minutos se passaram e
quando ouvi um pequeno sussurro, afrouxei um pouco o contato.
— Eu tive muito medo, mamãe — lágrimas desciam pelo seu
rosto. — Eu acordei e você não estava no quarto — fez uma
pequena interrupção tentando acalmar as batidas fortes do seu
coração e tentando controlar sua respiração desenfreada. Então,
prosseguiu. — Por que aquele homem mal queria me pegar? Eu
não fiz travessura não... — disse sacudindo a cabeça.
Na sua inocência jamais imaginaria que nós duas estávamos a
mercê de monstros que viviam numa guerra de poder e ambição e
certamente éramos miniaturas dentro de um mundo de gigantes.
— Fique calma princesa, já passou.
Alguns minutos depois...
Melanie já havia se acalmado, acabei trazendo-a para o
quarto.
— Mamãe, eu quero assistir desenho.
— Mocinha, você sabe que não é o horário — ela juntou as
duas mãozinhas e começou a suplicar com aqueles olhos gigantes
iguais aos do gato de botas que ninguém resiste.
— Por favor, só um pouquinho.
Ciente que ela não ia conseguir dormir tão cedo, resolvo
ceder, pois, era mais fácil ser vencida pelo cansaço. Sem contar que
precisava ir ao banheiro e me limpar, já que quando ele ejaculou
dentro de mim, seu sêmen escorreu e sujou a parte interna das
minhas coxas. Entreguei o controle a Mel, que puxou um
dos cobertores mais para cima, aninhando-se sob o aconchego das
cobertas, virei-me caminhando rumo à porta do banheiro e instantes
depois, já me encontrava dentro do local, quando estava prestes a
me livrar das minhas roupas, um tremor violento tomou conta do
meu corpo. O desespero me dominou ao ouvir novamente um grito
de agonia dado por ela.
— Tio! Nãooooo...
Não sei como me movi tão depressa e quando cheguei dentro
do quarto, ela estava sentada em cima da cama, petrificada. Seus
olhos estavam lacrimejando, dava para ver pequenos tremores em
volta do seu corpo e seu olhar fixo em uma única direção, o que
me incitou a olhar para a televisão, deixando-me estarrecida com a
cena a minha frente e só então, pude, entender o motivo por ela
estar tão abalada e, ficou ainda pior quando uma repórter começou
a falar.
“— Todos ainda estão atônitos com a morte de Baran Celikkol.
A cidade de São Francisco, que se tornou conhecida por nunca
dormir, parou diante dos últimos acontecimentos, fato este que
somente havia acontecido há cerca de vinte anos, quando ocorreu
atentados terroristas no 11 de setembro de 2001, em New York.
Pessoas de várias idades estão desoladas e familiares das 19
vítimas estão fazendo reconhecimento dos corpos, já que Celikkol
foi o primeiro a ser identificado, após ser encontrado debaixo dos
destroços de concreto da parede que foi destruída pela caldeira.
Uma tragédia que abalou todo o estado, não só da Califórnia, como
o país inteiro.”
— Tioooo... — havia muita dor em sua voz e quando virei-me
na direção que ela estava, já era tarde demais, pois ela assumiu o
controle do seu pequeno corpo e saiu correndo, abriu a porta, dava
para ouvir os seus gritos pelo corredor. — TIO, NÃO DEIXE A
MEL...
Eu fui atrás dela e quando cheguei ao topo da escada, ela já
estava no último degrau e parou ao ver o homem que surgiu em
frente à porta. Seus olhos sombrios e suas feições frias e duras,
permaneciam, porém, eu ainda consegui ver por fração de
segundos, um brilho intenso ao direcionar o seu olhar para a
garotinha que tratou de correr, diminuindo a distância e não hesitou
em envolver suas pernas com seus braços.
— Você não morreu, moço bonito — o silêncio se fez presente
por longos segundos e foi interrompido pelas palavras que me
deixaram intrigada, pois sua voz estava totalmente diferente. — Eu
sempre vou estar com você.

Serguei Petrov
Depois de meses de muito calor, dois dias atrás, nuvens
chuvosas se formaram sobre Moscou e desde a manhã de hoje,
uma forte e impiedosa chuva caiu sobre nós, todos podiam sentir o
frio que tomou conta do ar, enquanto as trovoadas assustavam os
fracos e os relâmpagos rasgavam o céu.
Acendo a ponta do charuto e desvio meu olhar para as
chamas da lareira dançando enquanto a lenha queima, estala e
solta dezenas de faíscas. Dou uma longa tragada e olhando para
aquele fogo, sinto meu corpo todo vibrar ao imaginar que assim
como a madeira queima, o corpo daquele desgraçado a essa altura
está sendo consumido pelas labaredas do inferno.
Um jogo de mentiras, medo, ambição e intrigas me afastaram
daquele que não somente tinha o mesmo sangue que eu, como
dividimos, ao mesmo tempo, o ventre da nossa mãe. Meu irmão
gêmeo, que embora tenha uma aparência diferente da minha, tem
sua mente sombria, diabólica e sua natureza sangrenta é devido ao
sangue do nosso pai que corre como fogo se espalhando por cada
fibra do seu corpo.
Segredos sujos começaram a ser revelados em meio ao caos
que pairou sobre a Bratva. Eu perdi aqueles a quem amava tanto,
mas os culpados me transformaram num verdadeiro monstro, que
sacia por vingança. O legado de Nikolai Petrov teria continuidade
através de mim. Eu matei todos os desgraçados que juraram
lealdade e por ambição, destruíram a minha família, eu levantei um
novo império, tendo como alicerce o sangue daquelas almas podres
e corrompidas, porém, foi uma delas que me revelou os segredos
que meu pai jamais soube.
Eu tinha um irmão e com sua ajuda, o nome Petrov se tornaria
temido em todos os cantos, todavia, ao longo dos anos, foram várias
as tentativas que acabaram fadadas ao fracasso, pois o maldito do
Celikkol parecia um felino com sete vidas, como se o maldito tivesse
vendido a sua alma ao diabo ou quem sabe não teria sido possuído
pelo próprio demônio. Depois do fracasso de dias atrás naquela
cabana, um novo plano foi minuciosamente arquitetado e era a hora
de realmente descobrir se aquela garota havia dito a verdade e em
seguida enviá-la junto com sua filha, ao sono eterno e exterminar
de vez Baran da face da terra.
Sabíamos exatamente que ele ficaria naquele hotel, manipular
tudo para que a caldeira viesse a explodir não foi tão difícil, mas o
meu irmão sim, precisava encontrar entre os próprios homens que
viviam dentro da mansão Celikkol, o infeliz que seria usado por nós,
porém, o idiota só não sabia que já havia sido envenenado. Só tinha
tempo suficiente para fazer o que havíamos solicitado e acreditando
que estaria salvando a vida daqueles que amava, não hesitaria em
acabar com as duas. Contudo, não somente sua esposa e os dois
fedelhos que tinha por filhos, foram mortos, como Baran Celikkol e
boa parte daqueles que estavam naquele restaurante.
— Amor!
Meus pensamentos foram afastado ao ouvir a voz daquela que
tem sido uma luz em minha vida. Ela reduziu a distância e colocou o
seu corpo junto ao meu.
— Pela sua expressão, enfim conseguiu o que tanto desejava.
Levo uma de minhas mãos até a sua enorme barriga.
Enquanto Kira está terminando seus estudos num colégio interno,
depois de várias tentativas, fui agraciado com um filho homem. O
herdeiro da máfia russa cresce em seu ventre e amanhã será o
início de um novo reinado na Cosa Nostra americana, um reinado
onde finalmente os Petrov darão início a uma guerra contra todos
que estiverem em nosso caminho.
“Celikkol, espero que todos aqueles que foram mortos pelas
suas mãos, lhe dê uma bela recepção e sua alma seja atormentada
por toda eternidade.”
Capítulo 30
Lev Petrov

Estava tão ansioso que não consegui dormir direito na noite


anterior. Desde que meus olhos se abriram, as lembranças de tudo
que passei, para enfim conseguir o que tanto desejava, começou a
passar como flashes em minha frente.
Lev "leão", aquele que nasceu para reinar e jamais aceitaria
viver nas sombras de alguém. Descobri a verdade sobre a minha
verdadeira origem só fez a escuridão tomar posse de vez do meu
coração e, o ódio se enraizar em meu sangue, se espalhando por
cada fibra do meu ser. Eliminar o porco maldito do Al Capone, me
custou bastante tempo, eu tive que calcular minuciosamente e
contar com a ajuda da mulher que foi colocando a substância em
suas refeições, todos acharam que seu estado de saúde vinha se
agravando pela sua idade, não sabendo que se não fosse por mim,
o desgraçado talvez ainda estaria vivo. Contudo, ele era somente
uma pequena pedra perto da grande rocha que se tornou o nosso
maior obstáculo.
Desde o começo, eu sabia que não seria fácil eliminar aquele
desgraçado, tive que controlar a fúria do meu irmão, que queria se
deixar levar pelo impulso e esperar o momento certo de entrar em
ação. A emboscada que o maldito sofreu no lugar que se tornou seu
inferno particular, em nada adiantou, ainda cogitei a possibilidade
em arrancar as informações da infeliz que estava sob a sua
proteção, mas tudo que estava naquele pendrive, já era algo dado
como perdido, então assim como Celikkol, tanto ela, como aquela
criança que foi capaz de conseguir a proeza de tocar o coração do
demônio, deveriam ser eliminadas.
A sensação que se apoderou do meu corpo inteiro foi
indescritível ao confirmar que realmente ele estava morto, fiquei
controlando cada minuto que se passava desde que o idiota do
Vicente avisou-me que estava entrando na mansão. Foi difícil
encontrar entre aqueles que eram tão leais ao maldito, algum que
pudesse ser manipulado por mim, o homem que sempre foi um dos
melhores soldados e designado para trabalhar dentro da fortaleza
de Baran, embora fosse leal, tinha um ponto fraco, a sua "família".
Ele só tinha duas opções; seguir as minhas ordens ou, eu mataria
não somente sua esposa, como os dois fedelhos que tinha por
filhos, sem ter alternativa, ele fez exatamente como lhe foi
ordenado, entretanto, no momento que ele estava dentro da casa,
mal sabia que foi o sinal para que os três tivessem suas vidas
interrompidas por mim.
Como jamais devemos entrar em uma guerra sem ter um
segundo plano, quando capturei o miserável do Vicente e este ficou
desacordado, antes que viesse a recuperar a sua consciência, um
veneno foi injetado em sua pele, dando-o assim somente dois dias
de vida. Ciente de que ele logo faria companhia a sua família, pois o
veneno que corria em suas veias já estava fazendo efeito, só
precisei apreciar o meu uísque e esperar o início de uma nova era.
O começo do grande legado dos Petrov que vai se espalhar
como uma erva daninha por todos os cantos, se apossando de cada
território, até termos o poder absoluto do submundo.
Meus pensamentos foram interrompidos assim que o barulho
do aparelho que está sobre a colcha da minha cama, ecoa no
ambiente. Peguei-o de imediato e ao ver o nome do meu irmão,
esboço um sorriso e trato de atender a ligação.
— Lev!
— Espero que tenha dormido — uma risada reverbera do
outro lado da linha.
— Caro irmão, eu estou acompanhando os noticiários. Quero
ver como será a reação dos infelizes que fazem parte da Cosa
Nostra.
Ao ouvir suas palavras, peguei o controle da Tv, ligando em
seguida.
— Aqueles malditos de certo já se deslocaram para a mansão
do infeliz. Políticos e empresários que vão estar dilacerados pela
perda do seu líder.
Mantenho meu olhar fixo na tela da televisão e ouvindo cada
palavra que saia dos lábios da mulher a minha frente.

"BBC World News América"


“— Bom dia, cidadãos americanos. Eu sou Courtney Miller,
trazendo informações, direto da mansão Celikkol. Desde as
primeiras horas da manhã uma multidão de repórteres e cidadãos
americanos se concentraram em frente à residência daquele que já
considerávamos o nosso novo líder. Baran Celikkol ganhou
popularidade entre todos os estados do país e principalmente
conquistou a Califórnia, o Estado que tem 55 delegados, e
certamente seria quem daria a ele a vitória, o levando direto para a
Casa Branca. Mas, por ironia do destino, foi nesse estado que
aconteceu a grande tragédia resultando em sua morte.”

Do nada a mulher parou de falar, seus olhos ficaram


arregalados. Seu rosto tão branco, como se estivesse vendo uma
assombração. Tudo ficou escuro e logo em seguida a tela cheia da
Tv deu lugar a uma janela lado a lado, uma com a imagem da
mulher que saiu do estado estático que se encontrava, mas foi ao
ver a imagem que apareceu na outra, que senti a raiva tomar conta
de mim, minha respiração ficou pesada, meus pulmões funcionando
a todo vapor e minha garganta se fechou de imediato.
Gritos ecoavam no ar, mas sua voz tentou se sobressair
aquele barulho. Ela, juntamente com sua equipe, avançou em
direção ao portão, indo de encontro ao desgraçado.
— Maldiçãoooo!!! — gritou Serguei, furioso.
— Como esse miserável sobreviveu? — a resposta veio logo
em seguida quando Courtney Miller, a repórter, começou a fazer
perguntas ao diabo.
— Assim como eu, todos devem estar incrédulos e curiosos
querendo saber como Baran Celikkol, voltou dentre os mortos?
— Enquanto eu dormia em minha casa, jamais, pensei que
para todos eu estava no sono eterno. Porém, hoje, ao acordar,
soube que havia sido dado como morto ao ser vítima de uma
grande tragédia. No entanto, só aí tudo começou a fazer sentido...
— ela rapidamente o interrompeu.
— Mas, todos estavam cientes de que o senhor estava em
São Francisco. Que depois do grande debate, foi para aquele hotel
ao lado de alguns assessores.
— De fato suas primeiras palavras são verídicas e
incontestáveis, minutos antes de começar o debate, já havia
informado ao Stiven, que logo em seguida precisaria voltar a New
York, já que havia acontecido algo inesperado que precisava da
minha presença, todavia, eu jamais pensei que ele iria fazer uso de
um sósia para ocupar o meu lugar.
— O senhor sabe que ao entrar na vida politica, o país é
colocado em primeiro lugar, que a população deve ser a sua
prioridade. Foi lamentável aquele acidente, mas me venho a
questionar: Será bom para nosso país ter um governante que não
cumpre com sua agenda? Que permite que um usurpador venha a
ocupar o seu lugar, enquanto está gozando do conforto do seu lar?
Qual a sua verdadeira prioridade? Não deveria estar ajudando ao
povo?
Quando os lábios dele se moveram, o grito que se fez
presente ganhou a atenção de todos.
— Tio!
No momento que aquela pirralha chegou até onde ele estava e
o desgraçado a pegou nos braços, eu senti um ódio mortal me
dominar, ao ponto que comecei a quebrar tudo em minha
frente. Aquele incompetente não foi capaz de acabar com aquela
vadia miserável e com a fedelha. Tudo que precisava era matar as
duas infelizes e parte dos nossos problemas estariam resolvidos.
A menina exibia um sorriso largo e contagiante, fazendo todos
ficarem rendidos ao seu encanto e dava para ver pelas feições da
mulher, que antes tinha uma expressão fechada e um ar
interrogativo, que já tinha sido enlaçadas pela luz emanada daquele
pequeno ser.
— Quem é você?
— Sou a Mel — disse aumentando ainda mais aquele sorriso.
— O tio está cuidando de mim e da mamãe. Ele me salvou ontem.
Pronto, foi tudo o que faltava para que o demônio fosse visto
como um anjo e nos minutos seguintes, começou a relatar a falsa
história que foi para ajudar a família da garotinha que deixou São
Francisco. Dali em diante, Courtney Miller e todos que ali estavam,
assim como milhões de pessoas, novamente foram manipuladas
pelo próprio anticristo que tem o poder em seduzir as pessoas como
se fosse uma serpente maligna. Só esperando o momento para dar
o bote.
Respiro fundo, tentando controlar a minha respiração que está
ofegante. Todavia, Celikkol, você pode ter vencido mais uma
batalha, mas é agora que a verdadeira guerra vai começar. Irei
eliminar todos os ratos que se atreverem a cruzar o meu caminho,
sem piedade.
Capítulo 31
Lisa Evans

Eu mal consegui dormir. A minha mente ainda rodopiava


com milhares de pensamentos e, principalmente sobre as palavras
ditas por Melanie, esta por sua vez, se já tinha afeição por Baran
Celikkol, ontem não parava de compará-lo com o Superman, o
grande herói que a salvou do homem mal. Depois de quase duas
horas assistindo seu desenho favorito, ela acabou sendo vencida
pelo cansaço.
Hoje, acordei bem cedo para ajudar o pessoal na cozinha, pois
não quero dever nada a esse homem e muito menos esqueci que no
momento que tiver a primeira oportunidade, não hesitarei em fugir.
Preparei o café da manhã dela e o lanche que levaria para a
escola, logo em seguida, eu fui acordar a dorminhoca que após
tomar o seu banho e já arrumada, desceu para comer sua primeira
refeição do dia, enquanto isso, aproveitei para tomar um banho.
Deixo os pensamentos de lado e assim que desligo o chuveiro, pego
a toalha e envolvo o meu corpo. Dois minutos depois, já me
encontrava dentro do quarto, olhei para a roupa que já havia
deixado em cima da cama e desvio o olhar para o controle da
televisão. Depois de ligar o aparelho, comecei a me vestir, já estava
quase acabando, no entanto, senti um calafrio do nada e foi no
exato momento que meu olhar foi de encontro a Tv e diante da cena
que vejo em minha frente, senti a raiva envolve-me. Pego o controle
e aumento o volume, já que havia diminuído ontem à noite quando
percebi que seus olhos queriam fechar, mas a Mel ainda lutava
contra o sono.
Eu estava estarrecida e a cada palavra que era dita por ele,
ficava atônita com toda aquela encenação digna do Oscar,
principalmente por ver a minha pequena garotinha envolvida no
meio de tudo aquilo. Como se o homem tivesse feito uma lavagem
cerebral na minha irmãzinha, que ficava sacudindo a cabeça dando
a entender que tudo que ele dizia era verdade. Minha respiração
ficou descontrolada e meus batimentos aceleram, a mulher que
estava o entrevistando, olhava com admiração para os dois,
principalmente quando Mel deu um beijo no rosto dele e a
consequência do seu pequeno gesto logo surgiu.
— Viva o presidente do povo — gritou uma senhora.
— Baran! Baran! Baran! — agora já era o som de várias vozes
entoando o nome do grande salvador, do capeta que nos levará a
dias sombrios.
Entre gritos de viva Baran e viva o presidente do povo, com
aplausos, eis que ele ganhou ainda mais popularidade. Termino de
me vestir e depois de desligar o aparelho, caminho em direção à
porta. Ele pode usar de meios hediondos para que eu faça as suas
vontades, mas não poderia deixar que ele destruísse a verdadeira
essência do meu pequeno anjo. Que se aproveite da sua inocência
para se apossar da sua alma. Quando já estava descendo os
degraus, eis que os dois apareceram no meu campo de visão.
— Mamãe! Mamãe, eu vou aparecer na televisão — disse
ostentando um largo sorriso e pulando de tanta euforia.
Fiquei olhando para o homem a minha frente e tudo que vinha
em minha mente era que: "atrás de um belo rosto se escondia a
verdadeira face do diabo".
Meus pensamentos são afastados quando ouço novamente a
voz da Mel.
— A senhora está zangada, mamãe?
Devia estar perguntando isso ao ver minhas feições, mas tratei
de colocar um sorriso no rosto e não deixar transparecer para ela o
quando a raiva estava me queimando por dentro.
— Vem aqui me dá um abraço, já está na hora de você ir para
a escola.
Ela encurta a distância, me agacho ao seu nível. Abraçadas
meu coração se alegrou ao ouvir suas palavras.
— Eu amo muito você.
— Também te amo, princesa.
Quando nos separamos, antes de ela pegar a mochila, se
aproximou de Baran.
— Tio, eu também te amo de montão — o maldito que até
então tinha uma expressão indecifrável, esboçou um sorriso cínico.

Minutos depois...
Um silêncio constrangedor tomou conta do lugar, tempo
suficiente para ter certeza que a Melanie tinha saído, mas antes que
eu viesse a dizer algo, ele deu alguns passos e o barulho de sua
voz reverberou no ar.
— Venha comigo, agora que já fez o seu papel de mãe, é
hora de satisfazer o seu homem — aquilo só fez o calor no meu
interior se intensificar e a raiva explodiu numa proporção gigantesca.

— EU NÃO VOU A LUGAR NENHUM COM VOCÊ, PORRA! —


grito alterada. Estava disposta a confrontá-lo, pois não ia aceitar
que ele usasse-a como se fosse um fantoche. Então prossegui. —
Usar o meu corpo como se eu fosse um objeto, mesmo contra
minha vontade é algo que se tornou inevitável, mas você não vai
fazer dela um brinquedo, uma boneca, a qual, as cordas, para se
mover, estão sendo controladas por você. Eu n...
As palavras falharam. As lágrimas surgiram e o meu rosto
girou para o lado com o impacto da sua mão, enquanto minha pele
estava em chamas. Nem me dando tempo de defesa, o homem
segurou no meu braço direito e saiu me puxando até a porta, eu
tropeçava nas minhas próprias pernas e sentia que a qualquer
momento iria me desequilibrar, ele continuou caminhando, passando
pelo jardim até chegar à escada que dava acesso a torre de
controle, subimos os degraus e ao chegar frente à porta, ele parou,
nosso olhar se encontrou.
— Está na hora de você aprender que as duas estão em
minhas mãos. Não foi porque salvei aquela fedelha, que você deve
achar que o diabo virou anjo e muito menos que vou hesitar em
punir aquela criança para fazer você entender que a minha vontade
é tudo que importa — tinha algo me sufocando e eu precisava fazer
aquela sensação ruim passar e as palavras saíram me rasgando por
dentro.
— Nem renascendo você será um anjo, mas um dia sua
máscara vai cair e todos vão saber quem és de verdade.
Engulo em seco. O homem de rosto macabro e órbitas
sombrias, que demonstravam faíscas de ódio, bruscamente abriu a
porta e saiu puxando-me, novamente passamos por um pequeno
corredor e paramos em frente a um elevador, quando a porta do
objeto foi aberta, num supetão, ele jogou-me para dentro, me
fazendo cair no chão. O elevador começou a subir e minutos
depois de passar por nove andares, a porta se abriu.
— Levante-se, porque desta vez, eu não serei bondoso.
Minha vontade era ficar ali imóvel, mas, eu sabia que era tudo
que ele queria; ver-me no fundo do poço.
Mesmo com dificuldade, eu acabo ficando de pé. Ele se move
e em passos vacilantes, eu o alcanço, mas fico completamente
imóvel assim que a porta é aberta e os meus olhos examinavam
minuciosamente toda a extensão do lugar que é bem espaçoso. Do
meu lado esquerdo, tem uma pequena porta, acredito eu, ser um
banheiro, já à minha frente, havia algumas poltronas, próximo a uma
grande bancada e sobre ela, tinham vários objetos, entre eles, uns
cinco computadores, um rádio e microfones fixados no móvel,
porém, meu nervosismo aumentou quando me dei conta que até a
altura da bancada, as paredes eram de concreto e o restante se
resumia em uma enorme janela inclinada semelhante a uma cortina,
porém, feita de vidro.
— Entra!
Encontrava-me petrificada, com os olhos fixos no ambiente a
minha frente, antes de fazer algo, senti aquela mão enorme me
puxando para dentro do lugar. Meu corpo que estava imóvel, logo
voltou ao normal.
— Você vai ficar longe de quem tanto ama para aprender que
jamais deve me confrontar — fez uma pequena pausa e assim que
continuou. O medo tomou conta de mim e a minha espinha gelou
com as palavras que foram proferidas. — Essa torre tem
exatamente 30 metros. Então, sua atrevida, reze para que os meus
demônios não queiram testar se você é capaz de sobreviver a uma
queda dessa altura, já que saiu ilesa ao cair daquele penhasco.
Quem sabe um anjo como você, tenha asas.
Capítulo 32
Baran Celikkol

Eu sabia que ao amanhecer os abutres viriam atrás de mais


informações. Quando passei pelo jardim e alcancei o portão, meus
demônios se manifestaram assim que meu olhar caiu sobre a
maldita que veio em minha direção. Courtney Miller, sendo a melhor
repórter desse país, desde que surgiram os rumores da minha
candidatura, a mulher sempre vem tentando achar uma agulha no
palheiro e desta forma, descobrir algo sujo que possa alavancar
ainda mais a sua carreira. Vontade de furar os seus olhos, de cortar
a sua língua e por fim estraçalhar os seus órgãos internos não me
faltou, contudo, ela, mesmo sem saber, também tem sido uma
aliada. Tenho que reconhecer que a mulher faz jus a toda fama que
conquistou, vários políticos foram desmascarados graças às suas
investigações, assim como alguns dos meus concorrentes tiveram
seus podres sendo revelados. Tremores tomaram conta do meu
corpo, enquanto meus demônios gritavam como se estivesse
travando uma luta dentro de mim, pois a cada palavra que saía de
sua boca, só despertou a maior fera do meu interior, que rugiu
como um tigre faminto querendo saciar a sua fome, mas a
desgraçada teve sorte, pois, eu estava a um fio de perder a minha
paciência e embora as consequências fossem desastrosas, uma
coisa era certa, todos que estavam ali não sairiam com vida,
entretanto, tudo saiu melhor do que eu havia imaginado com o
surgimento da pequena faladeira.
Dificilmente os tolos não se renderiam aqueles pares de olhos
azuis e a força magnética que ela emanava. Uma luz penetrante
capaz de me deixar totalmente desconfortável, pois era como se
sua claridade tentasse se sobressair até a grande escuridão que
habita dentro de mim. Um ser tão pequeno, capaz de fazer um
grande milagre, sua presença foi tudo que eu precisava para estar a
poucos passos de conquistar o que tanto almejo.
Depois de me livrar de todos, assim que passei pela porta,
meu olhar foi direcionado para a mulher que tinha uma fúria contida
no olhar, mas que eu sabia que a qualquer momento ela iria liberar.
Algo que aconteceu assim que ficamos sozinhos e, a atrevida
começou a colocar suas garras de fora. Ela havia acabado de
despertar novamente o meu lado mais sombrio. Num movimento
rápido e preciso, minha mão direita foi de encontro ao seu belo
rosto, estremeci todo ao ver sua pele branca como porcelana,
ganhar um tom avermelhado e algumas lágrimas surgindo e
molhando o seu rosto.
Eu já havia tratando-a bem demais e era hora de ela entender
de vez que nada iria me desviar do meu grande foco. Que eu
passaria por cima de tudo e de todos para conseguir o que quero e
nada a deixa mais fraca do que estar longe daquela que é sua
fortaleza.
Já dentro da torre, quando proferi algumas palavras, pude ver
pequenos tremores em volta do seu corpo e então continuei.
— Nem adianta querer bancar a esperta e tentar usar nenhum
dos equipamentos, pois todos são monitorados por mim. Sair desse
lugar vai depender só de você, já que tem somente duas opções:
Seguir as minhas ordens ou pode tentar a sorte, pulando — dei um
sorriso cínico com esta última palavra.

Lisa Evans
Ele fechou a porta deixando-me sozinha. Com alguns passos,
eu me aproximo da janela. Em seguida, abro um pouco a cortina de
vidro, fico olhando para baixo fixamente e suas últimas palavras
martelam em minha cabeça.
“— Seguir as minhas ordens ou pode tentar a sorte, pulando.”
De repente, eu ouvi pequenos sussurros.
— Pule! Você estará livre.
Tentei afastar aquilo para longe, mas aquelas palavras se
apossaram da minha mente e continuou ressoando cada vez forte e
alto.
— Pule! Pule! Pule!
Minhas mãos, como se tivessem vida própria, se moveram
escancarando ainda mais as janelas e as vozes não me deixaram
em paz. Olhei para baixo novamente, vi uma grande escuridão que
estava me puxando, eu senti uma lufada de ar vir de encontro ao
meu pescoço, tive a sensação que minhas pernas queriam se
mover, mas fechei os olhos e tudo que veio em minha lembrança foi
o último momento que a minha família esteve reunida, da Mel ao
meu lado no banco traseiro e dos meus pais conversando. Abri os
olhos e as sombras foram afastadas pela imensa claridade.
— Por mais difícil que seja, eu não vou deixar que as trevas
tomem posse do meu coração. Eu não posso desistir de viver e não
farei isso nunca.

Horas depois...
Já não estava aguentando de tanto calor, pela altura e sendo
as janelas de vidro, o ambiente se tornava ainda mais quente.
Apertei por diversas vezes o botão do controle para ligar o ar
condicionado, mas de nada adiantou, fui ao banheiro e depois de
fazer minhas necessidades, me vi obrigada a tomar um banho,
pelos utensílios que estavam dentro do ambiente, a pessoa que
vinha nesse lugar passava bastante tempo, já que tinham vários
objetos dentro do pequeno armário que ficava na bancada. Voltei
para dentro da sala e meu estômago começou a dar sinal de vida,
havia comido um pouco quando preparava o café da manhã da Mel,
mas pelo horário que marcava no relógio que estava fixado na
parede, já eram quase duas da tarde. Não aguentando mais,
comecei a procurar alguma coisa nas gavetas que tinha na
bancada, na tentativa de encontrar algo para saciar a minha fome,
pois dentro do frigobar só havia alguns vidros de água e suco — eu
posso sobreviver somente com isso — pensei, antes de tomar o
meu banho, porém, aqui estou e não aguentando mais o
desconforto vindo da minha barriga que tanto reclama de fome. Nos
momentos seguintes, já havia revirado praticamente quase todas as
gavetas, até que em uma delas encontrei uma caixa que continua
algumas barras de cereais. Embora estivesse com muita fome, só
peguei uma, já que não sabia por quanto tempo ficaria nesse lugar,
tomei água e de nada adiantou ter tomado um banho, pois a alta
temperatura já estava me causando um grande desconforto.
Cambaleei ao sentir uma tontura forte e acabei sentando em uma
das poltronas, pois minhas pernas estavam bambas. Coloquei o
braço esquerdo curvado sobre a bancada e logo depois a minha
cabeça em cima dele, a minha vista estava ficando turva, os meus
olhos pesados, enquanto o suor inundava o meu rosto. Não sei em
que momento eu me entreguei de vez à escuridão.
Tudo é calmo e silencioso e não quero abrir os meus olhos.
Novamente me deixo vencer pelo calor que estava sugando as
minhas forças.

Algum tempo mais tarde...


Não sei quanto tempo se passou, mas fui arrancada do meu
sossego, pois o calor forte que sentia desapareceu e um frio
intenso me envolveu, congelando até o suor da minha pele. Meus
olhos se abrem e fico assustada ao ver que a escuridão só não
tomava conta por inteiro do céu, devido às estrelas e a grande lua
cheia, meu olhar deu um passeio em volta do lugar, quando vi uma
marmita em cima da bancada, olhei para ver se tinha mais alguém,
porém, não havia ninguém além de mim, contudo, eu tinha a leve
sensação de não estar sozinha. Minha barriga começou a roncar e
quando minhas mãos se moveram indo de encontro à comida, ouvi
passos ecoando atrás de mim, puxei as mãos e virei e o que vi, me
deixou num estado estático, pois o meu algoz estava
esplendidamente nu em minha frente. Seu pênis despontava como
uma estaca, de tão duro e grande também.
— Vamos, tire suas roupas.
Meu estômago embrulhou e os batimentos aumentaram. Olhei
para os lados e notei que não tinha como escapar.
Capítulo 33
Lisa Evans

Antes que a minha saliva pudesse descer pela garganta, ouço


sua voz novamente.
— Pensei que queria estar logo com a sua garotinha, não é
nada bom deixá-la sozinha comigo.
O desgraçado pegou no meu ponto fraco e não tive alternativa
a não ser começar a me livrar das minhas roupas. Quando fiquei
somente de calcinha, ele deu dois passos e num tom firme, disse.
— Eu quero que você tire tudo.
Respiro fundo, eu preciso me manter forte.
Faço o que ele mandou e minha barriga se contorce ao ver
seus olhos em chamas, brilhantes de desejo, faiscando, e
direcionado para minha intimidade. O maldito passa a língua pelo
lábio inferior como se sua boca estivesse salivando para devorar
sua presa. Eu só tive tempo de piscar uma vez, pois foi tempo
suficiente para ele parar à centímetros de distância de mim.
— Fique de joelhos e dê ao garotão aqui, o alívio que ele
tanto precisa.
Olho para aquela monstruosidade que estava maior que
nunca, repleto de veias grossas, dando a impressão de que
estavam prestes estourar e a revolta me domina.
— EU NÃO VOU FAZER ISSO — digo aos berros.
Para minha surpresa, sua expressão continua a mesma. Seus
olhos brilham ainda mais.
— Pois bem — diz e dá um passo como se fosse caminhar
rumo ao banheiro, porém, o pânico envolveu cada centímetro da
minha pele somente ao ouvir as palavras ditas por ele. — Só me
pergunto uma coisa. Quanto eu posso lucrar ao vender uma criança
tão linda como a sua irmã? Mas isso eu irei descobrir agora mesmo.
Ele deu mais alguns passos e o desespero me envolveu.
— Pare! Por favor — ele se detém.
— Eu farei o que você mandar, mas não faça nada com ela.
Com um giro nos calcanhares, ele novamente diminui o
espaço entre nós, e o que veio a seguir me encheu de repugnância.
Fiquei de joelhos como ele havia ordenado e ao levantar a
cabeça, ele aproximou o seu membro do meu rosto e a cabeça
saliente tocou os meus lábios. Meus olhos arderam, mas tratei de
segurar as lágrimas. Com as mãos trêmulas, como se tivesse
levado um choque, segurei o seu pênis quente que começou a
pulsar em minhas mãos.
Enquanto eu respirar, farei de tudo para cumprir a promessa
que fiz perante os caixões dos meus pais, de sempre protegê-la.
Precisava me concentrar, pois, ele já mostrou do que é capaz.
O coloquei na boca e comecei a chupá-lo de forma
desajeitada, eu não fazia a menor ideia de como continuar com
aquilo, estava sufocando e então ele afastou minha cabeça,
retirando o seu pênis.
— Chupe! — disse ao colocar o dedo indicador próximo a
minha boca, hesitante, fiz o que ele disse. — Engula-o todo —
assim eu fiz, enquanto ele iniciou movimento de vaivém. — Agora
passe a língua — lentamente passei a língua por toda extensão do
seu dedo, de cima a baixo, de baixo para cima. Feito isso, ele o
puxou da minha frente e substituiu pelo seu membro. — Quanto
mais você deixar meus demônios satisfeitos, estará mais próxima de
ficar junto dela de novo.
Abri a boca e deixei que seu pênis explorasse cada canto dela
e fui fazendo os mesmo movimentos que tinha feito no seu dedo.
— Hummm... — um gemido alto escapou de seus lábios. —
Em contra partida, ele começou a mexer seus quadris, forçando o
seu tamanho avantajado entrar até o final. Sentia seu pênis
alargando a minha boca e latejando dentro do seu interior. — Isso,
continue, eu quero essa boquinha engolindo o meu cacete todo.
Baran rangeu os dentes, acelerou o ritmo de sua invasão e a
cada movimento, parecia que o tamanho estava ainda maior. Aquilo
parecia não ter fim e só ficou pior quando ele se sentou em uma das
poltronas, me forçando a mudar de posição, ficando assim de quatro
e com o traseiro exposto. Ele começou a empurrar a minha cabeça
com uma de suas mãos e seus quadris agora parecia estar
descontrolado, eu já estava trêmula e sem fôlego, pois meus
pulmões estavam em chamas. Tentei afastar minha cabeça, mas ele
não deixou, então senti sua outra mão deslizando pela minha pele,
dando um tapa em uma das minhas nádegas que me fez soltar um
gemido abafado e para aumentar a minha agonia, o infeliz começou
a deslizar os dedos pela minha vagina, acariciando lentamente toda
região. Meus batimentos cardíacos aumentaram quando ele
intensificou seus movimentos, massageando minha carne ardente
com seus dedos, me tornando ainda mais úmida. Senti um dos seus
dedos próximo à entrada da minha boceta e depois de fazer alguns
movimentos em volta dela, deslizou-os para dentro da fenda
minúscula da minha intimidade. Gemidos abafados saiam da minha
boca, fiquei fazendo movimentos circulares com as mãos no seu
membro, enquanto passava a língua na cabeça robusta e rosada,
tentando desesperadamente fazer com que ele alcançasse o limite
do seu prazer.
O meu corpo inteiro ficou em chamas e então me invadiu com
mais um dedo e começou a movimentá-los num ritmo frenético.
— Pare! Por favor! Pare!
Quanto mais implorava, mais seus dedos eram movimentados
com grande habilidade dentro do meu sexo latejante. Apenas com
os dedos, ele estava transando ferozmente comigo. O meu corpo
estava quente como uma fornalha, mas eu precisava assumir o
controle. Nós dois começamos a travar um verdadeiro duelo, mas,
ele estava determinado a ser o vitorioso.
Eu não iria perder essa batalha, e, quando senti que a cada
toque meu, o seu pênis esquentava em minha boca, assim como a
parte que não estava nela aquecia as minhas mãos, afastei um
pouco a cabeça e minha língua úmida e ágil começou a percorrer
toda a extensão do seu enorme membro, de cima a baixo e de baixo
a cima. Deixando o rastro da minha saliva na pele tensa dele e
aumentei o ritmo dos meus movimentos, ele por sua vez, iniciou um
movimento de vaivém que estava me enlouquecendo. Minhas mãos
começaram a trabalhar rápido, massageando os seus testículos, eu
podia ser inexperiente, mas Olivia por sua vez, sempre me contava
às loucuras que já tinha feito, o que agora agradeci mentalmente
pelas confissões.
Ruídos altos ecoavam no espaço. Seu pênis inchou na minha
cavidade bucal, eu precisava nocauteá-lo o mais rápido possível,
não poupei esforço e, quando ele trincou os dentes, ouvi um
pequeno gemido ecoando no cômodo e a minha boca foi invadida
pelo seu líquido que saía em jatos potentes e naquele momento não
me importei de engolir tudo, quando senti sua mão se afastar do
meu cabelo, nesse momento senti algo dentro de mim, vibrar. Mas,
toda minha alegria se esvaiu quando ele colocou mais um dedo
dentro de mim e começou a socar o meu sexo dolorido, puxando-
os para depois enfiar novamente e com a outra mão começou a
massagear com precisão o meu clitóris inchado. A tensão cresceu e
se acumulou dentro de mim, minha boceta reagiu, apertando e
agarrando os seus dedos que estavam no calor do meu interior. Eu
ainda tentei me afastar, mas já era tarde demais, visto que, um
misto de sensações apoderou-se de todo o meu ser. O meu corpo
não parava de tremer. Minha intimidade se contraiu e enrijeceu
quando uma onda de prazer pairou sobre mim. Comecei a gemer e
a me contorcer quando senti minha intimidade pulsar e gotejar.
Levantei a cabeça e um esboço de sorriso estava estampado
em sua face. Mesmo tentando controlar, as lágrimas surgiram em
meus olhos e escorreram pelo meu rosto, trazendo consigo o meu
desespero e vergonha.
"Como eu posso ser tão fraca?"
Capítulo 34
Manhã seguinte...
Lisa Evans

Eu havia acordado nas primeiras horas da manhã, já que a


claridade invadiu os vidros. Tomei um banho e fiz minha higiene
pessoal, quando voltei para sala, às lembranças da noite anterior
vieram em minha mente.
Nojo, essa foi à palavra que veio à minha mente quando ele
mandou que o chupasse, contudo, quando o desafio entre nos dois
começou. Toda indignação que estava sentido, se dissipou e eu só
queria mostrar a ele que por mais que tentasse, seria eu a controlar
o meu próprio corpo, não foi fácil ter que suportar todo seu
comprimento dentro da minha boca, já que minhas bochechas
estavam doloridas, porém, a adrenalina me envolveu e a cada
gesto, eu sabia que estava mais perto de vencer o diabo. Eu tive
vontade de gritar de tanta felicidade ao ver, “o todo poderoso” sendo
derrotado, mas alegria de pobre dura pouco e, novamente, aqueles
dedos diabólicos entraram em ação e o meu corpo traidor se rendeu
aos seus toques e uma sensação avassaladora pairou sobre mim.
Depois que ele deixou o ambiente, fiquei sentada no chão por
alguns minutos, até os soluços pararem. Levantei e fui até o
banheiro e em cima da bancada encontrei alguns objetos como
escova, creme dental e um roupão. De banho tomado, frustrada e
faminta, eu comecei a comer a refeição que ele trouxe. Assim que
término, sem nada para fazer, uni três poltronas e me acomodei
em cima delas, acabei me perdendo em meus pensamentos e
depois fui vencida pelo cansaço.
Deixo as lembranças de lado e peguei uma das barras de
cereal e uma garrafa de suco. Assim que terminei, fiquei olhando
para tudo ao meu redor, eu já estava entediada com todo aquele
silêncio, meu olhar caiu sobre os notebooks em cima do móvel,
senti vontade de ir até a janela e gritar, contudo, de nada ia adiantar,
mas, eu precisava ter certeza de que ele só disse aquilo para me
intimidar, como fez quando acreditei que havia cortado a mão de
Melanie.
Não pensei duas vezes e liguei o aparelho, a tela preta
começou a ficar azul e aos poucos a página de iniciação do sistema
surgiu, estava ansiosa e quando enfim foi concluído, meu coração
acelerou e minha respiração ficou suspensa diante da imagem que
apareceu com a seguinte frase em letras garrafais.
“— SE VOCÊ SEGUIR ADIANTE, DESTA VEZ NÃO TERÁ
BLEFE E EM VEZ DE CORTAR A MÃO, LEVAREI ATÉ VOCÊ, O
BRAÇO POR INTEIRO.”
Estremeci violentamente e desliguei o aparelho de imediato.
Fiquei olhando para o nada e os minutos foram se passando, o sol
esquentando e novamente começou a fazer um calor insuportável.
— Desse jeito vou ficar doente.
Começo a mexer nas gavetas e acabo encontrando um livro
sobre controle aéreo, pelo menos iria servir para passar o tempo.
Nos momentos seguintes, eu acabei me envolvendo com tudo
aquilo e já não conseguia parar de ler. Quando dei por mim e olhei
para o relógio, já era meio dia. Com fome e sem opção, o jeito foi
comer de novo outra barra de cereal e meu estômago já estava
embrulhando, aquilo foi só um alivio para enganar a barriga, porque
ainda estava morrendo de fome. De repente, ouço um barulho e o
pânico me domina quando começa a chover, embora fosse algo que
acabaria com todo aquele calor, o medo me envolveu quando os
barulhos ensurdecedores dos trovões preencheram o ambiente e os
raios clarearam o céu. Acabei ficando encolhida num canto, meu
pavor só aumentava com aquele barulho e principalmente quando
os vidros começaram a tremer e parecia que iam quebrar a qualquer
momento, meu medo era tanto, que acabei desligando a mente e
adormecendo.
Horas mais tarde...
Meus olhos se abrem e tudo agora é um silêncio profundo.
Não sei se dormi tanto, pelo pânico que me dominou, ou se era para
escapar da fome. Levantei-me e fui até o banheiro, tomei um banho
e olhei para minha calcinha que havia lavado e a mesma ainda
estava molhada, vesti o roupão e deixei o ambiente, quando abri a
porta, o meu coração deu um solavanco, meu sangue gelou, ele
estava à minha frente, porém, meu olhar passou por ele, indo de
encontro à marmita em cima da bancada, saí do estado de estupor
ao ouvir suas palavras.
— Vejo que você está com fome. Mas, antes terá que saciar a
minha. — o homem começa a se despir, me deixando incrédula,
quando termina diz: — Você vai tirar esse roupão ou quer que eu
faça? Não quero que se cubra para mim, quero contemplar aquilo
que me pertence — fala com arrogância.
— Você é um porco imoral, um maldito libertino.
— Libertino esse capaz de fazer você perder todo autocontrole e
ficar tão excitada, que ontem inundou os meus dedos com seu
néctar — esboça um sorriso sarcástico.
A raiva me atingiu, a minha vontade era avançar em cima
dele, dar-lhe uma bofetada e tirar aquele sorriso cínico do seu
rosto, embora sabendo que depois ele faria muito pior comigo.
Respiro fundo e do jeito que esse brutamontes é, não duvido que
rasgue a peça, com receio, acabo tirando o roupão e caminho até
onde ele está, ficando em sua frente. Ele se move até uma das
janelas, afasta o vidro e diz.
— Venha até aqui — fico hesitante, pois Baran não era alguém
confiável, mas, quando suas feições começaram a mudar, e seus
olhos escureceram, eu sabia que o pior estava por vir. Então fiz o
que ele mandou e quando parei, ele me virou de costas para ele.
Senti o seu hálito escaldante de encontro a minha pele, ele afastou
os meus cabelos e começou a beijar a minha nuca e sua mão
direita alcançou um dos meus seios, massageando-o.
Meus seios ficaram rígidos e minha pele arrepiada. Baran
colocou uma de suas pernas no meio das minhas e as afastou
enquanto apertava um dos meus mamilos, fazendo pequenos
movimentos, o deixando ainda mais sensível, enquanto isso, sua
outra mão desceu até o meu sexo, um dos seus dedos exerceu uma
manipulação hábil em meu clitóris. Estava cada vez mais difícil
manter-me fria e lutar contra o meu corpo, que estava semelhante a
um vulcão prestes a entrar em erupção. Um choramingar
desesperado saiu rasgando a minha garganta, ele começou a fazer
uma trilha de beijos em meu pescoço, sua mão direita massageando
os meus seios, alternando entre um e outro, minha respiração ficou
pesada e o homem para aumentar o meu tormento e abalar todas
as minhas estruturas, continuou a explorar o meu clitóris com uma
habilidade avassaladora.
Baran era quente, potente e, seu cheiro másculo, me deixava
inebriada. Ele era um homem que sabia exatamente o que fazer
para acender a chama que estava me incendiando por dentro. Sinto
minha vagina começar a lubrificar, meus pequenos gemidos ficavam
cada vez mais altos. Comecei a tremer e senti os dedos dele
acariciando a entrada da minha intimidade, no mesmo instante que
sua mão deixou os meus seios e a levou até o meu rosto, fazendo
assim com que eu virasse a cabeça e sua boca tomou a minha, sua
língua sedosa chupou a minha e em seguida se enroscaram,
iniciando um verdadeiro duelo, contudo, minhas pernas fraquejaram
quando seus dedos mergulharam para dentro de mim.
— Ahhh...
— Essa bocetinha gulosa está tão quente — disse e deslizou
ainda mais os seus dedos, os girando dentro da minha boceta.
Concomitantemente, seu beijou tornou-se feroz, engolindo a minha
língua e sugando com entusiasmo, levando-me a beira do abismo.
Meu corpo todo estava trêmulo e minha respiração ofegante.
Eu gemi mais alto dessa vez.
— AHHH...
— Ainda não, eu quero você gozando no meu pau — então,
ele puxou os dedos e a cabeça grossa e macia do seu pênis, roçou
a entrada da minha vagina. — Segura no corrimão, Lisa — eu já não
tinha forças para resistir, agarrei o parapeito com as duas mãos.
Ele moveu os quadris e foi empurrando toda extensão do seu
membro para dentro de mim, logo depois, iniciou um movimento de
vaivém torturante. Enquanto ele continuou me estocando
intensamente, me penetrando cada vez mais rápido, levou a mão
até a minha intimidade e começou a massacrar com os dedos, o
pequeno botão de nervos que suplicava por atenção.
— Por favor! — sussurro com uma ânsia comovente, mas ele
continuou com seus golpes cautelosos. Minha boceta começou a
pulsar fortemente e não sei o que estava acontecendo comigo, pois
comecei a suplicar para que ele me fizesse sua por completo. —
Depressa, por favor.
Minhas palavras o incitaram e seus quadris começaram a se
mover com mais agilidade. Suas estocadas furiosas faziam com que
a minha boceta apertasse a cabeça do seu membro faminto e eu já
não conseguia segurar os ruídos que escapavam da minha boca e
aos poucos se tonaram gritos ensurdecedores de prazer e agonia.
— Eu disse para sua garotinha que você precisou viajar, mas,
desse jeito, não somente ela, como todos da mansão vão saber que
você está gritando ao receber o meu pau dentro dessa boceta
faminta.
Estremecida e mortificada com suas palavras, mordi o lábio
inferior para conter meus gritos, embora pequenos gemidos ainda
escapassem sem que eu pudesse controlar. Os tremores de deleite
tomaram conta do meu corpo, seu pau entrava e saia de mim
intensamente, me fodendo como eu jamais pensei, que pudesse
ficar tão satisfeita e desejando que ele não parasse. Seus
movimentos me faziam perder o fôlego, o calor escaldante do meu
interior tomou posse do seu membro. Sussurros começaram a sair
da sua boca.
— Gostosa do caralho — fez uma pequena pausa e depois
continuou. — Maldita feiticeira — ele rangeu os dentes e numa
estocada mais profunda, gritamos juntos, em seguida alcançamos o
êxtase.
Sentia-me exausta. Ele saiu de dentro de mim. Minhas pernas
estavam tão pesadas, que me agachei e fiquei sentada no chão,
meu corpo ainda estava trêmulo.
— Agora coma, a quero bem alimentada, não te darei folga
hoje — enquanto suas palavras ecoavam em minha cabeça, ele
caminhou rumo ao banheiro.
Capítulo 35
Uma semana depois...
Baran Celikkol

Acordei agitado, meu corpo suado e tremendo. Estou


tentando entender o poder que ela tem sobre os meus demônios,
que há muito tempo não ficavam extasiados ao ponto de entrarem
em confronto comigo.
Entre a escuridão que paira sobre seus olhos azuis, tornando-
os escuros e raivosos ao serem direcionados para mim e os meus
próprios, sempre mergulhados em um rio de águas escuras e
turbulentas, todas as vezes que suas defesas foram destruídas,
olhei seus olhos me vi em águas límpidas, calmas e por mais
demônios que eu tenha, me senti em paz. E como se toda essa
porra já não estivesse causando-me um confronto interno, a cada
dia ao lado daquela criança, eu tenho a confirmação que de alguma
forma, ela voltou para mim, e as palavras ditas dias atrás foram às
mesmas sussurradas por Nataly durante seus últimos segundos de
vida.
"Eu sempre vou estar com você."
Não sei que peça o destino está me pregando, mas aquela
criança de alguma forma está ligada a mim. Os seus olhos são os
únicos que conseguem enxergar a minha alma e por mais sombria
que ela seja, ela ainda consegue ver algo de bom em mim.
Lisa Evans
— Mamãe! Vem ficar comigo! — ouço seus soluços e o choro
que partiu o meu coração.
Mel? Minhas pálpebras estão pesadas, mas diante daquela
ordem dada, meus olhos se abriram de imediato. Desorientada,
olhei em volta do lugar e o choque da realidade me atingiu como um
soco no estômago ao ver que ainda me encontrava nessa prisão.
Tentei me levantar e um gemido saiu da minha boca em protesto.
Engoli em seco quando não somente as imagens da noite anterior,
como dos nove dias que estou trancafiada aqui, vieram em minhas
lembranças.
Momentos que consegui lutar contra as sensações que seus
toques causavam em meu corpo e embora vendo a fúria em seus
olhos, eu me mantive inabalável. Contudo, de nada valeu todo o
meu esforço, pois teve momentos que falhei miseravelmente e
apenas um beijo foi capaz de despertar uma explosão de sensações
dentro de mim. Meu corpo ficou quente, quentíssimo, exalando calor
como uma fornalha.
Assim como no dia que ele me possuiu perto da janela, ontem
eu não consegui resistir e de forma despudorada, comecei a
implorar para que ele fosse mais fundo e rápido. Permitindo que ele
me penetrasse por inteira e como consequência, eu tive vários
orgasmos, violentos e arrebatadores.
Depois de tanto sofrimento e de tanta dor, eu deveria ter me
tornado tão fria quanto um iceberg, ele não conseguiria derreter,
porém, todas as vezes que ele me levou a beira do abismo, eu senti
uma sensação imensurável. Como se todo o meu sofrimento
estivesse sendo liberado em forma de prazer.
Saio do meu estado catatônico quando a porta é aberta e o
dono dos meus pensamentos surge no meu campo de visão,
entretanto, jamais pensei que o demônio viria como portador de
boas notícias.
— Levante-se e tome um banho, chegou a hora de você sair
desse lugar — joga uma sacola que tinha na mão em minha direção
e fala em seguida. — Só espero que da próxima vez não seja
preciso levar você até aquela cabana.
Senti calafrios só em pensar naquele matadouro, mas, eu
estava dando pulos de alegria por dentro só pela expectativa de
poder estar novamente com o meu bem mais precioso. O anjo que
sempre será a minha grande razão de viver.
Melanie Evans
Sinto o cheiro do perfume da vovó Nanda. Embora esteja de
olhos fechados, eu sei que ela está aqui, mas me sinto muito
cansada e com meu corpinho dolorido.
Meu coração está apertado com saudade da minha irmã e
dos meus pais. Eu sei que a Lisa não é a minha mamãe, mas, eu
não quero e nunca vou aceitar que eles não estão mais aqui, que
nunca mais vou sentir o toque suave da minha mamãe tocando os
meus cabelos. As imagens sempre surgem quando a minha cabeça
está doendo, os gritos, o barulho alto e tudo ficando escuro.
Lisa tem cuidado de mim e me dado tanto amor, que toda
tristeza que estava no meu coraçãozinho começou a diminuir. O tio
sempre será amado por mim, seus olhos estão carregados de
sofrimento, mas preciso que ele volte a conhecer a luz e acredite
novamente no amor.
Fico parada ouvindo a voz suave que apareceu em minha
cabeça.
— Mel! — não quero abrir os meus olhos, assim posso
continuar ouvindo a voz da minha doce, Lisa. — Princesa, eu estou
aqui — sinto meu coração bater rápido e meus olhos se abrirem e
as três pessoas que tanto amo estavam em minha frente. Lisa
precisa ainda de mim, assim como a vovó Nanda e o tio, que tem o
coração cheio de dor e escuridão.

Lisa Evans
Depois do que ele disse, eu ignorei qualquer dor que estivesse
sentindo, afinal, ontem eu dormi no chão mesmo, já que estava toda
dolorida devido à posição que vinha dormindo em cima das
poltronas. Corri para o banheiro com a sacola em mãos, tomei um
banho rápido, escovei os dentes e dentro da sacola tinha uma calça,
blusa e peças íntimas. Já pronta, deixei o ambiente. Dentro do
elevador, meu estômago deu sinal de vida e tudo que não queria
ver em minha frente tão cedo, era uma barra de cereal.
O trajeto até a mansão pareceu uma eternidade e quando
passei pela porta, fui direto para sala de refeições, pensei que
encontraria a Mel tomando o seu café, mas Baran perguntou a dona
Vivian e esta informou que ela ainda não havia descido.
Com passos largos, caminhei até a escada, subi rápido cada
um dos degraus, cheguei ao corredor, sabia que ele estava vindo
atrás de mim, no entanto, eu queria vê-la o quanto antes. Assim que
entrei no quarto e meu olhar caiu sobre o pequeno pacote encolhido
e enrolado com as cobertas, senti uma dor profunda em meu peito,
uma sensação de impotência pela minha falta de atitude em não
estar fazendo o meu melhor e o impossível por ela. Segurei as
lágrimas e comecei a chamá-la, mas a princípio de nada adiantou,
porém, quando seus olhos graúdos foram abertos e o seu rosto
ganhou um sorriso contagiante, eu a envolvi num forte abraço,
queria poder tê-la sempre dentro dessa bolha e assim impedir que
alguém a afastasse de mim. Eu deixei as lágrimas caírem, mas
eram lágrimas de pura felicidade por sentir novamente o cheiro dos
seus cabelos e o pequeno aperto de seus braços em meu corpo.
Afastamo-nos e sendo a minha garotinha, o silêncio foi quebrado no
ambiente.
— Você está chorando porque está triste mamãe?
— São lágrimas de felicidade, porque estava morrendo de
saudade.
— Eu também estava. Não me deixe sozinha de novo, eu
quero ficar sempre pertinho de você — disse chorando e novamente
ela me abraçou.
Baran finalmente conseguiu o que tanto queria, pela Mel, eu
serei o fantoche que ele tanto deseja, pois a minha existência só
tem sentido por causa dela. Foi por ela que tive forças para seguir
adiante quando a vida me roubou as pessoas que tanto amava, ela
é a luz que ilumina a minha vida e a razão por acordar todas as
manhãs. O amor que sinto por ela é imensurável e tudo que já
passei e estou vivendo nos últimos dias, me fez entender que sofrer
na vida é inevitável, ficar imune a isso é impossível, mas sempre
vou acreditar que dias melhores virão.
Capítulo 36
Lisa Evans

Depois de preparar algo para Mel comer, dei um banho nela,


nós duas passamos o resto da manhã no quarto e acabamos
dormindo juntinhas e só despertamos na hora do almoço. Achei-a
tão molinha e por diversas vezes percebi que respirava com
dificuldade, porém, devido o sol escaldante, o calor estava de
rachar e somente alguns minutos atrás, a alta temperatura se
dissipou e uma brisa leve se fez presente, deixando assim o ar
agradável. Ao contrário de horas atrás, ela estava bem disposta e
acabou vindo para o jardim, onde a sapeca agora está elétrica,
correndo de um lado para o outro. Deixe os meus pensamentos de
lado quando a senhora Vivian apareceu em minha frente, segurando
uma bandeja que tinha uma jarra de suco e dois copos.
— Trouxe para vocês duas, com essa mudança repentina de
temperatura, é bom se manter hidratada.
— Obrigada.
Quando fui colocar um pouco do suco no copo, minha atenção
ficou direcionada para as palavras ditas por ela.
— Eu sinto muito — fiquei confusa e antes que viesse a
questionar ela continua. — Dói o coração ver uma criança tão linda
e pequena, ter que viver nesse lugar, pois um homem como o chefe,
nunca faz uma boa ação sem ter segundas intenções — ela fez uma
pequena pausa e disse. — Acho que falei demais, preciso ver como
está o andamento do jantar.
A mulher se foi me deixando confusa e com a cabeça
martelando com as palavras proferidas por ela. Dúvidas e mais
dúvidas assolam a minha mente e entre elas, algumas eram
assustadoras ao pensar na resposta.
“O que vai acontecer quando eu já não conseguir mais
satisfazê-lo?”
“Se o pior vier acontecer comigo. Qual será o destino da minha
pequena?”
Nesse mundo de leões, somos presas tão pequenas, que não
somos suficientes para saciar a fome desses animais que são
capazes de tudo. Baran me deu duas opções, mas, quem me
garante que ao ficar aqui, o meu destino também não será a morte?
— Vovó Nanda!
Saio do estado catatônico que me encontrava e meu olhar foi
ao encontro das duas mulheres que se mantinham a certa distância,
enquanto olhavam em minha direção, continuavam conversando,
mas sempre mantendo um olhar para o lugar onde eu estava.
Minutos depois, Camile foi embora e quando Fernanda estava
prestes a entrar na mansão, o barulho que se fez presente, deixou-a
paralisada por alguns segundos, assim como eu entrei em
desespero ao escutar o grito Mel.
— Aiiii!
Corri em sua direção, enquanto ela estava caindo no chão,
olhando para os joelhos que havia ralado. Quando a peguei em
meus braços, segui até o lugar onde eu estava antes, coloquei-a
sentada em uma das poltronas e só percebi a aproximação de
Fernanda, quando ela começou a falar e a raiva me dominou.
— Você deveria cuidar melhor dela — seu tom de voz era
áspero.
— Você não sabe nada das nossas vidas e tudo que já
passamos. Então não venha se achar no direito de me dizer algo.
Nós duas ficamos travando um duelo com o olhar e o clima
tomou-se pesado. Aquela calmaria foi rompida pelo grito que nos fez
virar em direção a Mel, que tinha o rosto banhado pelas lágrimas.
— Parem!
O silêncio pairou no ar, mas por poucos segundos.
— Mel... — tentei falar, mas ela foi logo dizendo.
— Mamãe, não brigue com a vovó Nanda — Fernanda
esboçou um sorriso de lado, mas logo suas feições mudaram. — E
você vovó, não diga isso a minha mãe. Ela sempre cuidou e fez tudo
por mim, assim como você fazia pela sua filha.
As palavras dela havia atingindo profundamente a mulher a minha
frente e, lágrimas surgiram em seus olhos. Fernanda me encarrou e
disse:
— Desculpe Lisa, eu preciso entrar.
Com passos vacilantes e o corpo um tanto trêmulo, ela se
afastou. Fiquei olhando-a e pela sua mudança, somente um
pensamento tomava conta da minha cabeça.
"Camile deve estar a manipulando, se aproveitando de suas
fraquezas".
— Mamãe! — meus pensamentos foram interrompidos e fico
surpresa com que ouço em seguida. — Por favor! Ajude a vovó
Nanda.

Massimo Torricelli
Depois da falsa notícia da morte de Baran, que se espalhou
num piscar de olhos. Os aliados de diversos territórios estavam
desorientados com as informações que haviam recebido, assim
como eu, os outros conselheiros tiveram um dia agitado e
principalmente preparando toda cerimônia que acontecerá daqui a
dois dias em homenagem a Al Capone, se estivesse vivo, estaria
completando seus 70 anos e assim como todos os anos, Celikkol
insiste que todos estejam reunidos. Contudo, não passou
despercebido por mim, o olhar de predador lançado em nossa
direção no momento que estávamos todos sentados em volta da
távola retangular.
Depois de atravessar o corredor, enfim, chego frente a porta
do quarto de Camile, quando entrei no cômodo, não a encontrei,
logo a minha atenção se voltou para o barulho vindo do banheiro.
Dei algumas passadas e já dentro do ambiente, comecei a me livrar
das minhas roupas, caminho até o box e meu pau logo deu sinal de
vida, latejando fortemente ao ver a bela imagem a minha frente. Seu
corpo era perfeito, cheio de belas curvas e minha atenção se voltou
para sua boceta graúda, que logo seria devorada por mim. Reduzi a
distância entre nós dois, minha boca se chocou com a sua e uma de
minhas mãos alcançou o seu sexo e meus dedos vorazes
começaram a explorar a sua carne suculenta. Ela que mantinha os
olhos fechados, os abriu e um sorriso travesso tomou conta de sua
face. Afasto um pouco a minha boca da sua.
— Minha diabinha, pela sua expressão, deve ter aprontado
algo.
Ela deu uma gargalhada que preencheu todo o ambiente.
— Eu sou totalmente inocente. Só disse algumas coisas,
deixando aquela trouxa intrigada.
— Camile!
Ela aproximou sua boca da minha e deu uma mordida de leve
no meu lábio inferior.
— Se bem conheço aquela alcoólatra, ela deve ter feito
exatamente o que eu queria, com a ajuda de Fernanda, vou tornar a
vida daquela morta de fome um verdadeiro inferno.
Suas palavras soaram como uma linda melodia capaz de fazer
um calor intenso envolver o meu corpo. Minha boca novamente
tomou a sua num beijo urgente e selvagem, logo depois, deslizei
dois dedos para dentro do seu interior escaldante e gemidos
escoram no ar.
— Hummm...
— Sempre pronta para me receber.
— Faça-me sua, agora!
Diante de seu pedido, num movimento rápido e preciso, a virei
de costas, enquanto ela apoiava suas duas mãos na parede e num
convite despudorado afastou suas pernas, o meu pau tocou a sua
fenda e nos momentos seguintes, eu me perdi em sua boceta
deliciosa, tendo assim várias horas agradabilíssimas, saciando a
minha vontade, deixando os meus demônios adormecidos.

Baran Celikkol
Possuído, eu precisava acabar o quanto antes com esses
desgraçados. Eu tinha alguns assuntos pendentes para resolver na
sede da Cosa nostra, entre eles, o grande carregamento de drogas
e armas que seriam enviados para a Itália e depois distribuídos para
outros territórios, incluindo o Brasil, que acabou se tornando uma
grande mina de ouro, já que controlamos todo tráfico dentro da
Rocinha, uma região localizada no terceiro estado mais populoso do
território brasileiro, porém, meu próximo alvo será dominar o estado
de São Paulo, onde a Ndrangheta tem o domínio. Depois de
resolver tudo, assim como havia ordenado, os preparativos se
iniciaram para a grande celebração, eu devo a minha vida ao único
homem que depois do meu pai, me protegeu, fez daquele menino
frágil, o homem que sou hoje e jamais irei esquecer que Al Capone,
foi quem deu um primeiro pontapé para que eu descobrisse que
meu interior estava habitado por monstros, que até então, viviam
adormecidos. Deixo as lembranças de lado e assim que passo pela
porta dupla, meu olhar ficou cravado nas duas que estavam
descendo a escada.
— Tio, você chegou — disse ostentando aquele sorriso capaz
de fazer tremores violentos envolver o meu corpo.
Não demorou muito para que a garotinha viesse ao meu
encontro, estendendo os braços para que eu a pegasse. Feito isso,
minha atenção ficou nos seus joelhos que estavam feridos.
— Você caiu?
— Sim, mas já estou melhor.
Enquanto ela tinha um largo sorriso no rosto, as feições da
mulher que se livrou do último degrau, eram duras. Antes que viesse
a mover os meus lábios, Vivian, aquela que trabalha nesse lugar
desde o tempo de Al Capone, apareceu informando que o jantar já
iria ser servido.

— Onde está Fernanda? — pergunto.


— Ela está com dor de cabeça e por isso ficará nos seus
aposentos.
Seguimos os três para o corredor que dava acesso ao outro
cômodo. Começamos a comer e assim como ontem, Melanie só
brincava com a comida e no instante seguinte, me vi observando a
cena que se formou em minha frente.
— Você quer que eu dê a comida na sua boca?
— Mamãe, eu já sou mocinha.
— Você sabia que quando já se é mocinha, não se brinca com
a comida e, sim, come-se tudo que se tem no prato. Mas, é como eu
pensei, você ainda é minha bebê, não consegue fazer como uma
mocinha.
Pronto, aquilo soou como uma competição e ela começou a
comer, desde a carne, o arroz e os legumes que haviam no prato e
quando terminou disse.
— Mamãe. Eu quero dormir hoje com a vovó. Assim ela fica
melhor.
— Mel, eu não acho uma boa ideia.
Os olhos azuis brilharam intensamente e diante de sua
expressão, até um monstro como eu acabaria cedendo.
— Por favor! — disse juntando as mãozinhas, o que acabou
dando certo, já que Lisa não resistiu.
Horas depois...
Depois de passar algumas horas em meu escritório, desligo o
notebook e passadas apressadas foram dadas em direção à
escada, e, quando cheguei ao corredor, fui em direção ao meu
quarto. Momentos depois de banho já tomado, andei em direção a
minha cama. Por hoje ia deixá-la descansar, mas, os minutos se
passaram e por mais que estivesse com sono, continuava inquieto,
num pulo, me levantei e deixei o ambiente. No momento que me
aproximo do quarto dela, sussurros ecoaram no espaço, deixando-
me agitado e quando abri a porta, meu olhar caiu sobre a mulher
que não parava de se debater em cima da cama e um ódio
descomunal tomou posse de todo o meu ser ao ouvir suas palavras.
— Seu porco imundo, sai de cima de mim. Você é o meu tio.
Capítulo 37
Baran Celikkol

Tudo ficou em silêncio, dei alguns passos e novamente o


barulho substituiu a calmaria no ambiente, fazendo meu coração
bombear freneticamente dentro do peito e minha garganta se
apertar.
— Não, por favor! — Lisa começou a soluçar. — Afaste-se de
mim seu maldito — disse enquanto se debatia selvagemente, como
se lutasse para escapar.
Suas lágrimas descem generosamente, molhando o seu rosto.
Seu desespero era grande demais e não podia continuar, contudo,
agora tudo começou a fazer sentido e algumas dúvidas foram
sanadas, mas, eu ainda precisava de mais informações. Acabo com
a distância e ao me aproximar da cama, sento e começo a sacudir
levemente o seu corpo na tentativa de arrancá-la daquele
sofrimento.
— Lisa! Lisa!
De nada adiantou, pois suas feições se tornavam ainda mais
dolorosas e diante das palavras que se formaram e eu não
conseguir controlar o medo cru e agudo a envolveu por completo.
— Acorde! Pequena Vênus.
— Solte-me! Maldito!
Ela começou a se jogar de um lado para o outro, tentei segurar
o seu corpo, mas instintivamente suas unhas cravaram em minha
pele e foram deslizando, rasgando a minha carne. Seu rosto estava
contorcido e suando, ela trincou os dentes como se estivesse cheia
de raiva e foi justamente no momento que o contato de suas garras
se intensificou, fazendo o sangue surgir em meus braços.
— Meu Deus, o que eu fiz? Eu o matei! Nãooooo!
Um grito agudo e ensurdecedor escapou da garganta dela,
seus olhos se abriram e encontraram os meus. Desorientada, ela
correu os olhos para o lado e eu sabia que estava procurando pela
garotinha, suas feições temerosas foram dissipadas quando ouviu o
que eu disse.
— Ela está dormindo com Fernanda.

Lisa Evans
Acordei atordoada e com o coração acelerado. Minha garganta
estava seca e meu corpo todo quente, ensopado pelo suor.
Novamente as malditas lembranças vieram me atormentar, olhei
para o lado e minha agonia aumentou, mas as palavras do homem a
minha frente trouxeram alívio ao meu coração.
— Preciso que você fique calma — disse com um tom de voz
calmo e se não o conhecesse, até diria que estava preocupado,
porém, fiquei agitada quando escutei as palavras que foram ditas
por ele. — Agora, você vai me contar o que o seu tio fez para deixá-
la nesse desespero, ao ponto das lembranças terem se tornado um
grande tormento.
Meus batimentos aceleram ainda mais, minha respiração ficou
pesada. Por mais que os anos tenham passado, jamais esquecerei
aquela maldita noite em que o homem que deveria me proteger, só
tinha um único propósito, satisfazer seus desejos pecaminosos,
usando o meu corpo e como se tudo isso não fosse repugnante, ele
já desejava fazer o mesmo com a minha garotinha.
Ele me olhava intensamente, e no fundo dos seus olhos
tinham somente um brilho intenso, onde a escuridão não existia, sei
que não deveria confiar em alguém que também me causou tanta
dor, mas até mesmo um mafioso, um monstro que usou sim de
meios repugnantes para tomar posse do meu corpo, não agiu como
um animal como aquele infeliz tentou fazer.
Respiro algumas vezes tentando levar o ar que meus pulmões
precisavam. No momento seguinte comecei a contar tudo que tinha
acontecido.
— Eu já não tinha mais parentes vivos por parte da minha
mãe. Ricardo Evans era o único familiar vivo que tinha e sempre
esteve presente. Ainda criança, eu achei que era fruto da minha
imaginação, mas o homem que me chamava de pequena Vênus,
por dizer que eu tinha uma aparência semelhante à de uma deusa,
sempre vivia me abraçando, querendo que eu sentasse em seu
colo, a princípio eu não tinha malícia alguma diante dos seus
gestos, mas algo começou a me deixar inquieta e sempre que ele
chegava a nossa casa, eu inventava uma desculpa que queria ficar
no quarto vendo televisão. Com a morte dos meus pais, mesmo
estando perto de fazer dezoito anos, o estado decretou que deveria
ficar sob a tutela dele, continuamos vivendo na casa dos meus pais,
que agora era minha e da Mel, meses se passaram e certa noite, eu
acordei com um peso esmagador em cima de mim, o cheiro de
álcool era muito forte e o pânico envolveu cada fibra do meu ser
quando meus olhos se abriram e o homem que deveria me proteger,
estava sobre mim, deslizando suas mãos asquerosas pelo meu
corpo. Seus olhos famintos, num tom avermelhando por causa do
seu estado de embriaguez, estavam faiscando de desejo, seu corpo
era muito pesado e quando ouvi suas palavras, dando-me a
constatação que ele queria saciar sua fome usando o meu corpo, o
medo me envolveu — fiz uma pequena pausa, pois as lágrimas
começaram a cair sem que eu pudesse controlar. Respiro de novo e
prossigo. — Quando suas mãos estavam prestes a alcançar o lugar
que era o grande alvo que ele desejava, o grito da Melanie que
havia acordado, acabou sendo a minha salvação, pois aproveitando
a sua distração e com uma força que não imaginava ter, eu
consegui escapar dele, empurrando o seu corpo que caiu no chão.
Peguei a primeira coisa que vi em minha frente, lágrimas molhavam
o rosto da minha garotinha e novamente eu fui tomada por
sensações ruins quando ele se levantou e disse.
“— Eu não só vou me satisfazer com você, como também vou
explorar o corpo dessa fedelha, que mesmo tão pequena, já vem
ocupando os meus pensamentos.”
Fecho os olhos por um momento para ver se a dor dessa
recordação passa, porém, é em vão. E como Baran me olha em
expectativa, esperando que eu conclua, continuo meu relato.
— Aquilo fez meu estômago se contorcer e uma fúria
descomunal me dominou, ele avançou em minha direção e reunindo
todas as minhas forças, acabei batendo o objeto em sua cabeça. Eu
tive sorte que o álcool em seu corpo ainda estava agindo, o homem
cambaleou para trás e o sangue começou a escorrer do ferimento
que havia provocado com o golpe, melando o seu rosto, ele caiu e
entrei em desespero, acreditando que ele estava morto, mas o
desgraçado parecia estar possuído por alguns demônios e ao abrir
seus olhos, eles estavam flamejantes de ódio. Ele se mexeu e como
o abajur se destruiu quando passei em sua cabeça, eu acabei
correndo até a gaveta e peguei uma tesoura, quando ele se
levantou disse.
“— Pode ter certeza que algum dia eu vou voltar, e para o bem
dessa pirralha, é melhor que não diga nada. Você sabe que mesmo
que eu seja preso, eu tenho aliados que vão se vingar por mim.”
Praticamente se arrastando, ele sumiu do meu campo de
visão. Eu corri para fechar a porta e para acalmar a Melanie. Aquela
foi a última vez que vi aquele desgraçado, e como só faltavam
apenas dois dias para completar dezoito anos, com ajuda de
algumas pessoas que conheciam os meus pais, eu consegui a
guarda provisória da Mel. Com o dinheiro da venda do imóvel,
temerosa de que a qualquer momento, ele pudesse voltar, mudamos
de estado e acabei comprando aquela casa. Arrumei um emprego e
finalmente consegui a guarda definitiva da Mel, até porque devido
aos traumas que ela tinha pelo acidente, a assistente social achou
melhor que ficássemos juntas, já que a criança agora me tinha como
sua mãe.
Quando termino de relatar tudo que tinha acontecido, o
homem a minha frente agora tinha suas órbitas sombrias e rangia os
dentes como tivesse controlando sua fúria. Suas feições eram
assustadoras e alguma coisa me dizia que pensamentos
maquiavélicos rondavam sua mente.
Meus batimentos cardíacos estavam extremamente
acelerados diante do silêncio constrangedor que se fez presente, o
anjo das trevas que usava um roupão preto, parecia perdido em
meios aos seus pensamentos, podia ver através da escuridão de
seus olhos, que os monstros do seu interior estavam planejando
algo diabólico.
— Agora trate de dormir — disse por fim e se levantou, em
seguida andou até a porta e sumiu do meu campo de visão.
Olhei para o relógio em cima do criado mudo e ainda eram
duas horas da manhã. Fiquei com os pensamentos voltados para o
que tinha acabado de acontecer, até que fui vencida pelo sono.

Manhã seguinte
Acordei com um sobressalto ao sentir um peso sobre a minha
barriga. Meus olhos se abriram de imediato e me deparei com o
motivo da minha agonia, ao ver aquele braço forte que estava
envolvendo a minha cintura. Meu olhar se concentrou no rosto do
homem ao meu lado, que até então, eu acreditava que estava
dormindo profundamente. Fiquei confusa, sem entender porque ele
havia dormido comigo, no entanto, quando eu ia tentar me livrar do
seu aperto, seus olhos se abriram e ficaram cravados nos meus,
mas antes que qualquer ruído saísse dos nossos lábios. Meu
coração disparou, um nó imenso se formou em minha garganta
quando a porta foi aberta e Mel entrou no cômodo.
O silêncio dominou o ambiente a ponto de tornar o clima
pesado. E, foi ela, quem quebrou a quietude que pairava no
recinto.
— O tio dormiu junto com você mamãe? — perguntou e sua
expressão era séria, intensa e ela me encarou com um olhar
questionador. Tentei dizer algumas palavras, mas elas não saíram.
Ela voltou seu olhar para Baran e disse. — Tio, você dormiu com a
minha mamãe? — colocou as duas mãos na cintura, esperando a
resposta.
— Sim — no instante que o som da voz firme ecoou no
espaço, suas feições mudaram e um sorriso largo tomou conta do
seu pequeno rosto.
— Estão namorando... Estão namorando... — disse e
começou a pular como se tivesse ganhado o maior presente do
mundo, porém, o que ela diz em seguida, me deixou inquieta. —
Oba! Agora eu vou ter um papai.
Assim que terminou de falar, subiu em cima da cama, nos
encarou e um sorriso ainda maior, daqueles que pegava de orelha
a orelha surgiu em sua face.
— Eu estou muito feliz — juntou as mãozinhas e olhou para o
teto, então prosseguiu. — Obrigada papai do céu.
Capítulo 38
Baran Celikkol

Perturbado! Nunca tinha me sentido dessa forma. Um


desconforto enorme pairou sobre mim e meus órgãos internos
funcionavam a todo vapor. Algo estava me queimando por dentro e
fazendo todos os meus demônios despertarem. Com o ódio
inflamando em minhas veias, saí do seu quarto, a cada palavra dita
por ela, meus pensamentos maquiavélicos estavam todos
direcionando para as mil maneiras de como acabaria com a vida do
maldito, ainda mais sabendo que aquele animal já sentia desejos
obscenos por um ser tão pequeno e indefeso. O desgraçado pode
está no buraco mais profundo que existe ou até mesmo no
inferno, mas em breve será encontrado por mim e teremos contas
para acertar.
Desci os degraus indo até o corredor que dava acesso ao bar,
peguei uma garrafa de uísque e enchi um copo. Logo, as
lembranças de horas atrás tomaram conta da minha cabeça e aquilo
só deixou meus monstros internos mais alucinados, tantos que
pareciam estar em confronto, instante depois, resolvo voltar para o
quarto, já no corredor, algo me puxou em direção ao quarto dela.
— Porra! — exclamo furioso ao chegar à porta do seu quarto.
Por mais que tente tirá-la dos meus pensamentos, tudo que
vem a minha mente é a imagem daqueles olhos azuis, que possuem
um brilho tão intenso, que mesmo após tudo que vem passando,
não deixam de resplandecer.
Entrei no ambiente, e a encontrei em um sono profundo, meus
pés me arrastaram até a cama, quando dei por mim, já estava
deitado ao seu lado. Inalando o seu perfume e toda a inquietação
que estava sentindo desapareceu, minhas pálpebras começaram a
ficar pesadas e fui envolvido pela escuridão sem fim.
Afasto as recordações e minha atenção se volta para a
garotinha que está sobre a cama. Mesmo tentando lutar contra os
efeitos que o pequeno ser tem sobre mim, sinto uma intensa
vontade em protegê-la e a cada dia só aumenta. Fiquei olhando-a,
ela é o oposto de tudo o que represento.
Sou um ser onde habita a escuridão, a destruição e
principalmente um coração empedrado que não acredita no amor.
Ela, ao contrário, é luz, ela representa o amor mais puro e
verdadeiro em sua forma completa.
Dois dias depois...
O carro entrou em movimento com destino à sede da nossa
organização, durante esses dois dias que se passaram, além de
chegar o dia que todos da Cosa Nostra estariam reunidos, para
assim prestar um tributo a Al Capone. Ontem, logo quando cheguei
ao andar de baixo, achei estranho todo o silêncio que pairava no ar;
fui ao quarto de Lisa e descobri que a pequena faladeira tinha
acordado ardendo em febre, era estranho vê-la tão quieta, pois, já
estava até acostumado com ela falando o tempo todo, o brilho
intenso daqueles enormes olhos azuis já não estavam tão
reluzentes, acabei por mandar chamar um médico ao ver o
desespero daquela que a tem como uma filha e, como se não
bastasse às lamentações de Elisabete, Fernanda também estava
com os olhos inchados de tanto chorar, somente a existência da
Mel, para mantê-la tanto tempo sóbria, já que após a morte de
Nataly, eu tive que por diversas vezes impedir que ela acabasse
com sua própria vida e tudo ficou ainda mais difícil quando ela
passou a mutilar suas pernas.
Com ela medicada, antes de deixar a mansão, encontrei Lisa
na escada com uma bandeja em mãos, esta me informou que a
febre havia passado e Melanie até acordou dizendo que estava com
fome.
Fiquei distraído pensando em como faria para acabar logo
com Serguei e seu aliado e só assim estaria livre desses porcos
imundos, que desejam ter os domínios daquilo que me pertencem,
como se eu fosse deixar que viessem a roubar àquilo que venho
conquistando durante todos esses anos e estando agora perto de
comandar a nação americana, não posso deixar que nada ficasse
entre mim e o meu maior objetivo. Volto à realidade quando ouço a
voz do homem que está no banco da frente do carro.
— Chefe, chegamos.
Acabei por perder a noção do tempo transcorrido e não me dei
conta quando o veículo parou. Desci do carro e segui em direção
ao portão que dava acesso ao pátio, de repente, todos os órgãos
dentro da minha caixa torácica começaram a funcionar num ritmo
alucinante. Minha mandíbula tremeu e por alguns segundos, meus
olhos arderam como se estivesse em brasas e, quando o
desconforto se dissipou, ao entrar no salão, meus olhos fizeram um
passeio em volta do pátio e por alguns segundos, ficaram grudados
em uma única direção; "xeque-mate".
Logo em seguida dei algumas passadas indo até o centro do
palco, onde já se encontravam todos dos conselheiros e assim que
me juntei a eles, a calmaria reinou por alguns segundos e foi a velha
raposa, o primeiro a se manifestar.
— Hoje está fazendo nove anos da morte daquele que
comandou essa família, mantendo sempre a união e o respeito. Al
Capone fez a Cosa Nostra americana se enraizar nesse país, onde
vários outros já tentavam se estabilizar. Ele sempre estará vivo em
nossas lembranças — as palavras de Estêvão fizeram a grande
multidão se agitar e logo em seguida, um por um dos
conselheiros deixaram uma pequena mensagem relatando os feitos
do nosso líder e como era de se esperar, Massimo foi o que havia
feito o discurso mais longo, falando do seu primeiro encontro, de
quando tudo parecia perdido e Al Capone foi a sua salvação. Assim
que ele me passou o microfone, novamente senti o meu coração
disparar e respirando fundo, pois dessa vez a fera do meu interior
teria que se controlar. No momento seguinte, foi a minha vez de
falar o quanto o homem que todos estavam homenageando hoje,
mudou a minha vida.
— Há exatamente vinte e cinco anos, o homem considerado
por muitos como uma besta sanguinária. Um mafioso, tido como um
monstro, demostrou ter um coração mais generoso do que muitos
que viviam dizendo pregar a paz e a concórdia no mundo. Al
Capone, ele foi um protetor e muito mais que um grande mentor, ele
foi como um segundo pai e um grande amigo. A confiança
depositada por todos vocês em mim e principalmente a dele, por
acreditar que eu era digno de ser o seu sucessor, dando
continuidade ao seu legado, jamais será esquecido por mim
enquanto eu estiver vivo, enquanto o sangue pulsar em minhas
veias e eu ainda respirar, farei de tudo para que a Cosa Nostra
continue dominando o submundo, irei exterminar e massacrar
qualquer um que seja um obstáculo em nosso caminho. Al Capone
o seu legado estará sempre vivo através de mim.
— Viva Al Capone!
— Viva o nosso eterno chefe.
Gritos seguidos de aplausos envolveram o espaço, porém,
tudo aconteceu muito rápido. Só ouvir um grito de Massimo com o
meu nome.
— BARAN...
Uma luz vermelha estava direcionada ao meu peito esquerdo
e antes que eu tivesse qualquer reação, fui arremessado para o
lado, caindo no concreto; ainda desorientado devido ao impacto em
minha cabeça, meu coração começou a bater intensamente, logo
meu corpo foi tomado por uma onda escaldante. Algo dentro de mim
se agitava com grande intensidade. O sangue em minhas veias
parecia fogo líquido e ficou ainda mais intenso assim que meu olhar
foi de encontro ao homem desacordado sobre o chão com a roupa
sendo envolvida pelo sangue.
Capítulo 39
Baran Celikkol

Assim que me levantei, toda uma movimentação aconteceu


ao meu redor, enquanto Estêvão se moveu para ver Massimo que
estava caído sobre o chão, os outros conselheiros, assim como os
demais monstros da Cosa Nostra, como em um abrir e fechar de
olhos estavam com suas pistolas em mãos. Seus olhos famintos,
assim como os meus, ficaram cravados em uma única direção, fixos
no alvo que deveria ser eliminado, porém, o homem já havia se
livrado da arma que tinha e mantinha suas mãos repousadas a
frente do sobretudo para abri-lo, mas antes que qualquer um dos
membros da nossa organização desse um passo a frente
ou viessem a mover o dedo que estava no gatilho, um grito
estrondoso foi dado por mim.
— CÓDIGO NEGROOO: "AMEAÇA DE BOMBA".
Eles se afastaram, mas cerca de vinte dos meus soldados que
estavam perto do desgraçado, não tiveram tempo de se distanciar o
bastante e um estrondo terrível se fez presente. E, no mesmo
instante, vários corpos foram arremessados de encontro ao chão,
fazendo o piso tremer como se tivesse um terremoto.
Olhei para o lado e Massimo já estava de olhos abertos, pela
quantidade de sangue, eu sabia que havia passado de raspão, as
chamas envolviam a parte oeste do pátio, alguns estavam feridos e
assim como os restos do corpo do desgraçado estavam espalhados
por todo cômodo, pelos meus cálculos, cerca de dez dos soldados
haviam sido estraçalhados, o que fez um calor escaldante apoderar-
se de cada fibra pulsante do meu ser. Meus pensamentos foram
interrompidos assim que a voz de Estevão se fez presente.
— Como esse miserável conseguiu se infiltrar dentro do
coração da nossa organização? Esse maldito do Serguei deve ser
eliminado...
Enquanto ele ainda falava, eu só tinha um único pensamento
em minha mente.
"O fim do rato de esgoto está mais próximo do que todos
imaginam, mas, ele não chegará ao inferno sozinho, pois hoje, eu
perdi dez dos meus soldados, mas quando chegar o momento certo,
milhares serão massacrados por mim, começando pelos traidores
que estão dentro da Cosa Nostra."

Lisa Evans
Fico olhando para Melanie, que está sentada no tapete da
sala brincando com Fernanda. A mulher tinha um sorriso bobo na
face, enquanto ouvia as palavras da pequena tagarela, que Graças
a Deus, hoje havia acordado a todo vapor, mas uma hora ou outra
reclamava que estava um pouco cansada, sei que crianças devido
à imunidade ser mais baixa, vivem adoecendo, mas de repente ela
fica com febre e desta vez, segundo o médico, estava com uma
inflamação dos gânglios linfáticos, sem contar que a achei bem
pálida, mas depois de ser medicada, acordou dizendo que estava
com fome e quis tomar banho sozinha, assim como se vestiu, já que
segundo ela já é uma mocinha, somente deixou que penteasse os
seus cabelos. Minhas lembranças foram deixadas de lado quando
escutei a sua voz.
— Vem mamãe, brincar com a gente. Vovó Nanda, a senhora
vai ver como a minha mamãe é esperta — disse quando as duas
tentavam montar um quebra cabeça que tinha por volta de 500
peças. Dali em diante, nós três passamos longos minutos tentando
juntar as peças que formavam a Casa dos sonhos da Barbie. Mas,
só em ver um sorriso no rosto da minha menina, eu não me
incomodava em passar o restando do dia brincando.
No dia seguinte...
— Mamãe! Eu já estou pronta — a menina acordou cedo hoje,
passou à manhã toda agitada e a toda hora olhava para o relógio,
fazendo cara feia, porque segundo ela, as horas não passavam.
Estava assim desde ontem à noite quando Baran chegou e disse
que hoje a levaria para conhecer um lugar onde teria vários
amiguinhos para ela brincar, ele agia como se tudo fosse normal e
que estávamos aqui por livre espontânea vontade, se bem que isso
de estar presa só servia para mim, já que a Mel se sentia como se
estivesse na sua própria casa, como se tudo isso aqui sempre
tivesse feito parte de sua vida.
— Estou só terminando o meu banho — disse de dentro do
box, já que ela tomou de novo banho sozinha e escolheu a roupa
que ia vestir e agora estava penteando os cabelos.
— Mamãe, você nem parece que já é bem grande. Eu sempre
termino primeiro — seguro o riso, mas não deixaria te cutucar a
pequena ferinha com a vara curta.
— Deve ser porque você já está velha demais. Daqui a pouco
ninguém vai mais te pegar nos braços e tão pouco vai dormir
juntinho comigo — o silêncio se fez presente, limpei o vidro
embaçado só para ver sua expressão, ela parecia inquieta, puxou
as mangas da blusa e ficou olhando fixamente para sua pele e não
demorou muito para se manifestar.
— Amanhã é bom a senhora não me deixar tomar banho,
sozinha, porque não estou bem limpinha não.
Não me aguentei e comecei a sorrir, a Mel era única. A garota
sempre dava um jeitinho para continuar sendo mimada por todos.
Se bem que era difícil não se render aos encantos de um ser tão
iluminado e amoroso como ela.

Algum tempo depois...


— Tio, nós já estamos chegando? — perguntou pela quarta
vez.
— Sim.
Acredito-me que somente ela era capaz de fazer com que o
diabo não perdesse a paciência e calmamente responder que já
estávamos chegando. O carro continuava a correr pela estrada, nos
bancos da frente, estavam o motorista e Alex, este, eu soube que
era o chefe de segurança da mansão, um homem bonito, com olhos
grandes, pretos e insondáveis, mas assim como Baran, tinha
sempre uma expressão indecifrável. Já no banco traseiro, eu estava
sentada do lado esquerdo, a Mel no meio e Baran, que agora
mantinha sua atenção em seu celular, do outro lado. O automóvel
parou em frente a um grande portão, olhei para o letreiro que tinha
a frase.
Home Nataly Scott.
Eu já havia lido uma reportagem, a qual dizia que ele tinha
ficado viúvo há alguns anos e que este era o nome de sua falecida
esposa. Pelo visto, o homem ao meu lado era uma caixa grande de
segredos. O portão foi aberto e o carro prosseguiu adentrando o
orfanato.
— Que lindo — disse a minha pequena, que agora mantinha o
olhar na direção da janela.
Quando o carro parou de vez, todos nós deixamos o veículo e
para minha total surpresa, surgiram um monte de crianças e todas
se concentraram em volta do Baran.
— Tio você voltou? — disse uma garotinha que tinha por faixa
de uns três anos, ele a pegou nos braços, a menina deu um beijo
no rosto do homem que esboçou um sorriso.
Desvio o olhar para Melanie que estava radiante.
— Mamãe, eu vou brincar com meus amiguinhos — fiz um
gesto com a cabeça e essa saiu correndo juntamente com as outras
crianças como se já as conhecesse há tempos.
Seguimos para o salão e quando chegamos tinha algumas
freiras, homens e mulheres que faziam parte do partido político de
Celikkol e dezenas de repórteres, logo vários flashes foram
disparados em nossa direção. Havia uma mesa farta com uma
grande variedade de pães, bolos, tortas, geleias, frutas e sucos.
Mel apareceu junto com algumas meninas e elas não paravam de
comer e assim que se deram por satisfeitas, sentaram no imenso
tapete em frente ao palco, enquanto os paparazzis, as freiras e o
restante do pessoal estavam nas cadeiras atrás do tapete.
Acredito-me que a mulher que tinha uns 60 anos e estava ao lado
de Baran, era a gestora do lugar e esta começou a fazer um
pequeno discurso.
— A igreja sempre se manteve distante dos assuntos políticos.
Quando este orfanato teve suas portas fechadas, já que não
tínhamos recursos para alimentar as nossas crianças, as irmãs que
viviam aqui foram designadas para lugares diferentes, mas foi
graças a Baran Celikkol, que as portas do lugar que sempre tivemos
como lar, foram abertas novamente. O homem aqui ao meu lado,
muito antes de se lançar como candidato à Presidente do nosso
país, fez da pequena casa que antes abrigava meia dúzia de
crianças e que não conseguiu seguir adiante, este casarão. E hoje
somos uma grande família, onde temos mais de duzentas crianças,
que tem uma educação de qualidade, sempre uma mesa farta e
tudo que precisam para não se sentirem em uma prisão e sim em
um lar, onde são amadas e protegidas. Baran, eu não tenho
palavras para dizer o quanto somos gratos pela sua existência.
Todos o aplaudiram assim que terminou de proferir algumas
palavras, a Mel se levantou e foi até onde ele estava e todos os
olhares, assim como os flashes e as câmeras, ficaram direcionados
a nós dois.
— Tio, obrigada por cuidar dos meus amiguinhos. Eu amo
muito você.

Minutos mais tarde...


O sol já estava se pondo, os repórteres haviam ido embora,
assim como os aliados de Baran, este ainda estava conversando
com algumas das freiras.
— Mamãe! — ela tinha uma expressão de dor em sua face.
— O que foi princesa?
— Carrega Melzinha, minhas pernas estão doendo muito.
— Mel, você estava correndo ainda pou... — as palavras se
perderam quando vi lágrimas descendo dos seus olhos e ela
cambaleando. Avancei em sua direção e a peguei em meus braços.
— Eu quero dormir — disse com a voz fraca.
Com ela nos braços, segui até onde o carro estava. Talvez por
ter pulado tanto de um lado para outro, tenha ficado exausta. Já
estamos dentro do veículo quando Baran se juntou a nós e o
motorista assumiu o controle do volante.
— O que ela tem?
— Deve ser o cansa... — parei de falar assim que meu olhar
foi de encontro ao seu bracinho, que tinha algumas
manchinhas vermelhas. Porém, o veículo parou e fiquei indignada
quando olhei através da janela, um homem que tinha uma
expressão fechada e usava um uniforme de jardineiro, puxando as
orelhas de um garoto e este estava aos berros, contudo, quando
ouvi a voz de Baran ecoando dentro do carro, movi minha cabeça
para o outro lado e meu coração disparou.
— Alex, você já sabe o que deve fazer — fiquei paralisada e
suas feições eram assustadoras, suas órbitas esverdeadas, agora
continham uma cor avermelhada, como se estivessem pegando
fogo. A sua respiração estava alterada e seu rosto totalmente
irreconhecível. E algumas dúvidas gritavam dentro da minha
cabeça.
"Como um mafioso, um ser cruel que parece não ter coração,
quando se trata de crianças, se transforma em um protetor? O que
fizeram para ele ter se transformado em um monstro?"
Capítulo 40
Baran Celikkol

De alguma forma, estar naquele lugar e ver a felicidade


estampada no rosto daquelas crianças, me deixavam satisfeito.
Contudo, a cena vista por mim, fez com que uma pancada de fúria
me atingisse, esquentando o sangue do meu corpo, queimando-me
como brasas. As malditas lembranças de anos atrás surgiram em
minha mente, trazendo assim, momentos de dor, angústia e
sofrimento. Meus órgãos internos estavam descontrolados, os
pulmões em chamas, ao ponto de desestabilizar a minha respiração,
meus demônios gritavam para que eu saísse do carro, mas assim
como fiz ontem, precisava controlar a besta sanguinária que tanto
clama por saciar sua fome.
Assim que minhas palavras ressoaram dentro do ambiente e
sendo Alex o único que conquistou a minha confiança, sabia que
aquele maldito chegaria ainda hoje nas profundezas do caos. A
temperatura do meu corpo começou diminuir um pouco, mas, o
desconforto ainda era intenso, enquanto a mulher que está próxima
a mim, mantinha os olhos arregalados e não se moveu um
centímetro do lugar que estava. O automóvel novamente entrou em
movimento e só então ela acabou saindo do transe que estava, já
Mel, esta dormia profundamente. Minutos que logo deram lugar há
uma hora e instantes depois chegamos à mansão, quando o carro
parou em frente a casa, a pequena garotinha ainda estava
adormecida, a peguei em meus braços e com passos largos,
adentramos o ambiente. Lisa se apressou e abriu a porta e após
colocá-la sobre a cama, eu ainda estava inquieto e sabia que a
única coisa que naquele momento poderia me causar uma onda de
prazer e satisfação, fazendo a sensação ruim que se apoderou de
mim horas antes desaparecer por completo, fazendo meus
demônios enfim adormeceram, estava em minha frente.
Dei algumas passadas para trás e ela estava puxando as
cobertas para cima do pequeno corpo, que estava imóvel sobre a
colcha, pude ver o exato momento que seu corpo todo estremeceu
somente com as palavras que foram ditas por mim.
— Assim que terminar o seu banho, vá até o meu escritório.
Em passos largos, passei pela porta e fui em direção a minha
suíte, deixando para trás uma Lisa com uma expressão onde o
medo era visível.

Lisa Evans
A fúria que estava contida era bem visível em seu rosto e era
tanta que me deixou fora da realidade por alguns segundos, mas,
me senti aliviada quando ele acabou se controlando. Fiquei com
medo de a Melanie acordar e ter que presenciar que o homem que
ela acredita ser um anjo, era na verdade um monstro. Quando
chegamos à mansão e ele a pegou, tudo que queria era tomar um
banho e ficar deitada ao lado da minha garotinha, contudo, ao ouvir
suas palavras antes de deixar o quarto, eu me negava a acreditar
que depois dos últimos acontecimentos, ele ainda estivesse
querendo se satisfazer usando o meu corpo. Afasto-me da cama e
vou até o banheiro, pensei em me rebelar e não fazer o que ele
mandou, porém, não poderia ir em frente, já que a sua última
ameaça foi que na próxima vez me levaria novamente para aquele
inferno que fica dentro daquela cabana.
Do jeito que a Melanie tem adoecido com frequência, não
posso correr o risco de ficar longe dela. Suspirei. A quem estava
tentando enganar? Eu acabaria indo de qualquer jeito, pois, ele já
deixou claro que sua vontade sempre deve prevalecer.
Minutos depois, após o banho, passei um pouco de creme em
minha pele e deixei o banheiro, fui até o closet e coloquei somente
um robe vermelho, já que não adiantaria usar uma calcinha. Meu
estômago embrulhou, só em pensar que ele me vê como uma
boneca para usar e abusar quando lhe convém, só em pensar em
seu membro enorme me invadindo, faz minhas pernas ficarem
bambas. Não podendo mais adiar o que ia acontecer de qualquer
jeito, em passos vacilantes comecei a me mover rumo à porta.
Passei pelo corredor, desci os degraus da escada e prossegui até o
ambiente que ele estava. A cada passo que dava, sentia que meus
batimentos estavam ficando cada vez mais intensos e depois do que
pareciam horas, cheguei em frente ao lugar. Detive-me frente à
porta dourada e luxuosa do seu escritório. Respiro fundo e bato na
porta.
— Entre Lisa.
Empurro a porta, que logo se abre revelando o próprio diabo
sentado em uma poltrona e sua aparência era do mais belo anjo
criado pelo homem. Seus cabelos negros estavam úmidos e
brilhava com uma intensidade que não tinha visto antes, ele usava
um robe branco de cetim. Deixo os devaneios de lado quando ouço
suas palavras.
— Venha até aqui!
Minhas pernas estavam bambas, mas, eu me mantive firme.
Dei algumas passadas adentrando o cômodo. Enquanto fazia o que
ele havia dito, meus olhos passearam em volta do ambiente que era
enorme, como todo o resto da mansão. Comecei a avaliar o interior
do seu escritório, que tinha uma decoração extremamente luxuosa,
na parede, atrás dele, havia um quadro grande com a imagem de
um homem, emoldurado em ouro. Na parede da direita, um enorme
telão que ocupava quase todo o espaço, este estava ligado, onde
era possível ver várias telas mostrando imagens em volta de toda
sua fortaleza. As telas mudavam constantemente de imagem, o
homem a minha frente estava ligado em tudo que acontecia a sua
volta.
Assim que a distância entre nós não existia mais, seus lábios
se moveram.
— Eu espero que você não esteja usando calcinha — seu tom
de voz era sarcástico. O libertino abriu o seu robe, revelando a
potência do seu membro que já estava duro e latejante. Engoli em
seco e estremeci dos pés a cabeça. — Sente aqui — fez um gesto
indicando para que eu sentasse em cima daquela criatura que ficou
ainda maior, então continuou. — Eu quero sentir essa bocetinha
gulosa engolindo cada centímetro do meu pau.
Era fazer ou sofrer as consequências pela minha recusa,
então decidi não desafiá-lo e fiz exatamente o que ele disse. De
frente para ele, passei as pernas em volta das suas coxas
musculosas, fazendo com que ele segurasse minha cintura e seu
membro tocou a minha fenda. Em posse dos meus quadris, ele
começou a me empurrar lentamente para frente e para trás
aprofundando o atrito, esfregando seu pau na minha entrada,
permitindo que sentisse o calor do seu membro ereto, provocando-
me, ele continuou naquele movimento torturante, fazendo-me sentir
coisas que não queria, mas o meu corpo já estava ficando quente.
Um ruído de dor escapou da minha boca quando Baran deslizou seu
pênis grosso para dentro do meu sexo. Puxando meu corpo para
baixo, aprofundando o contato, senti meu músculo alargar para
ajustar-se ao tamanho dele e isso me causou muita dor.
Petrificada. Sentia meu coração bater próximo à minha
garganta, parecia que queria saltar do meu peito e minha respiração
estava descompassada. Suas mãos deixaram a minha cintura, ele já
havia me possuído por diversas vezes, mas naquela posição o seu
pênis havia chegado tão fundo que o desconforto era grande. Meu
robe se abriu ao toque de seus dedos habilidosos. Baran agarrava
meus seios, explorando-os com apertões suaves e ritmados. Levou
a boca até o meu seio esquerdo e sua língua girou em meu mamilo,
me causando um arrepio, enquanto sentia seu pênis pulsar dentro
de mim, ele mordiscou com os dentes e o sugou com vontade. Aos
poucos a dor foi se dissipando, ele abandonou os meus seios e sua
boca invadiu a minha com voracidade, no mesmo instante que seus
quadris começaram a se mover, me penetrando intensamente. Sua
língua explorando a minha e um calor intenso se acumulou no meu
interior. Mas, eu precisava me controlar e fazer de tudo para que ele
terminasse logo com aquilo. Comecei a remexer os quadris, subindo
e descendo, seu pênis ia cada vez mais fundo, me preenchendo
completamente, os ruídos que escapavam da minha garganta eram
contidos pela sua boca que ainda estava grudada na minha. Ouço
seus gemidos, sua respiração acelerada, ele enfim separou a sua
boca da minha.
— Goze para seu dono, baby.
Suas palavras possessivas e de quem se achava o rei de tudo,
soaram como um banho de água fria, fazendo a alta temperatura do
meu corpo voltar ao normal. Fechei os meus olhos, respirei
profundamente e comecei a remexer freneticamente o meu corpo.
Tudo que vinha em minha mente era nada, parecendo que meu
corpo estava ali, porém, a minha alma o tinha abandonado.
Gemidos ainda mais altos saiam dentre seus lábios,
parecendo que ele estava no seu limite. Ele colocou suas mãos
novamente em minha cintura, em seguida foi enterrando seu pênis
até o meu ponto mais profundo, seu cacete pulsou no ritmo mais
intenso. Consequentemente, um urro gutural saiu rasgando sua
garganta assim que seu esperma começou a jorrar. Quando abri os
meus olhos, por uma fração de segundos, parecia que tinha visto
raiva em seu olhar. Porém, um sorriso cínico tomou conta de seu
rosto, ele me fez levantar e num pulo fez o mesmo, eu estava
desorientada, mas logo me encontrei assim que ele jogou tudo que
estava sobre sua mesa no chão, em um movimento abrupto,
Celikkol me suspendeu e meu corpo foi colocado sobre o objeto.
Seus olhos assumiram uma expressão séria ao passear por mim.
— Você já deveria ter entendido que seu corpo me reconhece,
mesmo que sua cabeça insista em não aceitar. Mas, hoje eu vou
fazer com que desfaleça de tanto prazer e ficará afiada a cada toque
meu, suplicando para ter meu pau todo enfiado dentro dessa boceta
suculenta.
Ainda estava tentando processar suas palavras quando ele
abaixou sua cabeça a movendo em direção as minhas pernas.
Começou a beijar minha coxa direita, fazendo uma trilha de beijos
até chegar à minha intimidade. Fez uma pequena pausa e seu hálito
quente contra o meu sexo me deu calafrios. Baran se afastou um
pouco, suas mãos escancararam minhas pernas e o homem
começou a me tocar de uma forma totalmente diferente, tentando
fazer com que eu perca todo o meu autocontrole. Com sua boca
tomando posse da minha intimidade, sua língua aveludada, foi
afastando os grandes lábios da minha boceta quente e foi sugando-
a lentamente, até se concentrar no meu clitóris. Acariciando
ritmicamente toda a protuberância endurecida de nervos, fazendo-
me querer fechar minhas pernas, mas não permitiu e continuou
chupando meu sexo desesperadamente, me proporcionando uma
sensação que era uma mistura de dor e prazer.
Quente e, muito quente, minha vagina estava latejando. Para
aumentar o meu tormento, o demônio afastou sua cabeça para
longe da minha intimidade, depois seus dedos ágeis começaram a
massagear a entrada da minha boceta como se a estivesse
preparado para invasão. Baran deslizou dois dedos grossos para
dentro da minha carne pulsante, tirando-os e levando-os até sua
boca, sugou e lambeu-os antes de voltar a entrar novamente para
dentro de mim.
Meus olhos se fecharam diante da vulnerabilidade de estar de
pernas abertas, sendo masturbada por um homem que estava
determinado a mostrar que meu corpo já o pertencia, seus dedos
entraram e saiam suavemente de mim, aumentando o misto de
sensações, produzindo ondas de prazer, deixando-me à beira do
orgasmo. Ele introduziu de novo seus dedos para dentro da minha
carne ardente e começou a movê-los em um movimento de vaivém
delicioso. Eu estava prestes a explodir e a tensão só aumentou
quando ele levou sua mão livre até meu sexo e ficou massageando
o meu clitóris e movimentava seus dedos no meu interior num ritmo
alucinante. O clímax me atingiu em cheio, eu gritei, um grito
estrangulado, eu me afogava em meu próprio prazer e me sentia
feito uma manteiga derretida e meus olhos ficaram pesados, porém,
assim como ele havia dito, eu iria sucumbir de tanto prazer e
quando ele puxou o meu corpo me fazendo ficar sentada. Minha
saliva desceu rasgando quando meu olhar foi de encontro ao seu
membro, eu não conseguia acreditar que já estava novamente duro
feito uma rocha, e fazendo-me entrelaçar as pernas em volta dos
seus quadris, ele empurrou seu pênis para minha abertura, em
contra partida, segurei em seu ombro e ele começou a impulsionar
seu pau enorme e grosso dentro de mim. Seus movimentos
intensificaram a medida que ele lançava mais e mais fundo, eu
gemia a cada impulso, meu corpo ardia em meio ao desejo. Naquele
momento, o medo e a raiva foram deixados de lado, eu deixei de
lutar, já que acabaria sendo derrotada. Só queria senti-lo dentro de
mim, aproveitar em sua totalidade todo prazer que ele queria me
proporcionar. Meus instintos de mulher gritavam altos e me deixei
levar, comecei o acompanhando naquela dança louca.
Com cada golpe, ele tocava uma parte sensível do meu corpo,
eu estava como um vulcão prestes a entrar em erupção, os sons
dos nossos gemidos ecoavam no cômodo, nossos corpos se
fundiam em um só, enquanto ele me fodia, o prazer estava se
formando, já não tinha mais controle.
— Eu sou o único homem que você terá nesta vida e te farei
minha em todos os sentidos.
Suas palavras me deixaram ainda mais sexualmente elétrica,
eu estava entrando em curto circuito, estava pronta para explodir de
prazer. Seus lábios tocaram os meus e sua língua invadiu minha
boca numa dolorosa exploração. As estocadas ficaram cada vez
mais intensas, eu já estava ficando sem fôlego, pois, ele não parava
de explorar a minha boca como se tivesse ansiando por mais e
muito mais. Ele interrompeu o beijo e começou sussurrar algumas
palavras.
— Minha... Sua gostosa, você é só minha — dito isso, Baran
aumentou ainda mais os seus movimentos, beijando-me novamente
com fervor, gozando e liberando seu líquido em jatos potentes. Pude
sentir o sêmen me invadindo, enquanto as ondas de prazer
envolviam o meu corpo, o meu interior e minha vagina latejava sem
parar.
Quando o calor intenso foi diminuindo, seus olhos buscaram
os meus, porém, ainda estavam reluzentes de desejo.
— Essa noite apenas começou.
Aquilo foi só o começo, pois, ele me fez sua de todas as
formas possíveis e em todas, eu senti o meu corpo flutuando e só
paramos quando nossos corpos estavam saciados.

Na manhã seguinte...
Meu corpo estava deliciosamente dolorido, nunca pensei que
poderia sentir tantos orgasmos em minha vida. Espreguicei-me e
meus olhos se abriram, olhei para o lado, e ela não estava ali,
quando me levantei e meu olhar foi de encontro à porta do banheiro,
o pânico me envolveu e um grito estrondoso se fez presente ao ver
o pequeno corpo esparramado sobre o chão frio.
— Mel! Nãooooo...!
Capítulo 41
Baran Celikkol

Extasiado e satisfeito. É dessa forma que me encontro e


pela segunda vez, as lembranças da noite anterior tomam conta dos
meus pensamentos. Dentro do meu escritório e já acomodado em
minha poltrona, enquanto aguardava por sua chegada, o meu pau
ficou tão quente que parecia estar em chamas. Assim que ela
adentrou o espaço e reduziu a distância, no momento que a cabeça
fervente do safado tocou sua fenda úmida, um tremor violento
pairou sobre mim e ao deslizar para dentro do seu interior que era o
único lugar capaz de dissipar todo aquele desconforto. Meu pênis
pulsou no mesmo instante que uma onda de calor tomou conta do
meu corpo. Inigualável, era a sensação do meu cacete sendo
engolido pela boceta gulosa dela, enquanto tomava posse da sua
boca, chupando seus lábios macios, sentindo seu hálito inebriante
despertando uma sensação ainda mais intensa. As estocadas
ficaram cada vez mais intensas, fazendo meu pênis ir fundo,
preenchendo-a completamente, enquanto acariciava sua língua e
seus gemidos eram contidos pela minha boca, minutos se
passaram, meus gemidos se tornaram incontroláveis, minha
respiração acelerada e, um ruído potente escapou da minha
garganta. Enquanto sentia as vibrações em meio ao prazer, deixei
que ela acreditasse que havia vencido a batalha, não sabendo Lisa,
que toda sua relutância só despertava os meus instintos mais
primitivos, deixando-me ainda mais, faminto, e, já era o momento de
ela entender que era minha.
Ouvir cada gemido dado por ela deixou-me ainda mais
alucinado e meus dedos incansáveis, se moviam freneticamente ao
sentir seus músculos se contraindo ao redor deles. Dali por diante,
ao atingir o prazer, eu nem dei tempo para que ela viesse a
recuperar o seu folego, eu estava sedento e ansiando por estar
novamente dentro dela, o anjo se deixou levar e finalmente me
mostrou a mulher fogosa que estava presa em seu interior,
remexendo seus quadris, acompanhando assim os meus
movimentos, enquanto a penetrava vigorosamente. Em cada
estocada, meu corpo ficava mais quente. Prossegui aumentando a
força e a velocidade da penetração, enterrando o meu cacete até o
ponto mais profundo, empurrando-a junto comigo para a beira do
precipício e culminando em orgasmo arrebatador. Aquilo foi apenas
o começo, pois quando a peguei em meus braços, caminhei até o
sofá, bastou apertar um único botão para que o estofado se
transformasse em uma cama. Perdi as contas de quantas vezes eu
a possuí, visto que, em questão de minutos, o meu cacete já estava
rígido, pronto para entrar em ação, já na última vez, o desejo rugia
pelo meu corpo com uma força quase assustadora, todo o meu
corpo se tencionou com o prazer proporcionado pela sua boceta
suculenta e diante do calor escaldante do seu interior atravessando
o meu pau. Ensandecido pelo desejo, aumentei o ritmo dos meus
movimentos, tendo a visão privilegiada da sua boceta engolindo
meu membro por inteiro. Comecei a socar a sua vagina com golpes
violentos do meu membro, o ritmo e a velocidade das estocadas
eram mais intensas e mais fortes. Enquanto ela se movia embaixo
de mim, me incitando a aumentar ainda mais a intensidade das
penetrações, nem a temperatura gelada no ambiente foi capaz de
impedir que o suor se fizesse presente e este escorria pelos nossos
corpos, deixando-os molhados e grudando um no outro como se
fossemos um só.
Algo dentro de mim se agitava com tamanha intensidade e
instantes depois, um gemido agonizante ecoou no ambiente, ela
estava trêmula e não demorou muito para que um grito rouco de
arrebatamento dado por mim ecoasse entre as quatro paredes. Saí
de dentro dela e desabei em cima da cama, minha cabeça estava a
mil. Olhei para mulher ao meu lado, que estava suada, descabelada
com o rosto todo vermelho e totalmente exausta. Suas pálpebras
pesaram e aos poucos seus olhos se fecharam, também me permiti
ficar de olhos fechados por alguns minutos, mas eles se abriram e
no mesmo instante senti um forte incômodo ao ouvir seus sussurros.
— Não! Não posso gostar dele.
Nos momentos seguintes de banho tomado e já no meu
quarto, ainda estava inquieto, meus pensamentos voaram para bem
longe.
Quando o meu mentor, levou-me de volta para o lugar que
deveria ser o meu lar, mas era um verdadeiro inferno, embora
possuído de raiva por todo sofrimento que aquele desgraçado tinha
me infligido, eu estava temeroso em ter que matar alguém. Mas,
diante da cena que eu vi ao chegar lá, não resisti ao impulso
sombrio e sem piedade matei o infeliz e ao ter minhas mãos sujas
de sangue pela primeira, eu decidi não me esconder mais por trás
de uma máscara, contudo, para alcançar os meus objetivos, venho
me esforçando ao máximo para ocultar meu verdadeiro eu na frente
de milhões de pessoas. Todavia, eu poderia ter abdicado ao desejo
de possuir aquela a quem deveria ter eliminado, mas os meus
demônios ficaram mais satisfeitos em proporcionar prazer a ela do
que dor. Nataly, aquela que jamais será esquecida por mim, era
como um anjo, porém, sua luz jamais tentou se sobressair a sombra
que envolvia o meu coração, ao contrário de Elisabete, e, pela
primeira vez, os monstros do meu interior deixaram de lutar contra a
claridade emanada de seu corpo e pareciam enfeitiçados por toda
aquela luminosidade que os deixou arrebatados diante de uma
explosão devastadora que houve dentro de mim. Mudando os meus
desejos mais internos, fazendo-me sentir sensações muito mais
fortes que tudo que conhecia, que vão além de atração carnal ou
luxúria.
— Mel! Nãooo...
Meus pensamentos foram interrompidos assim que o barulho
invadiu o meu quarto. Movendo-me como se fosse uma flecha em
direção ao seu alvo, saí do ambiente. Contudo, assim que cheguei
ao corredor, encontrei Fernanda desorientada e esta seguiu comigo
rumo ao lugar de onde o grito tinha sido dado. Assim que abri a
porta, o meu corpo inteiro se incendiou parecendo uma fornalha
humana ao ver a imagem a minha frente.
— Acorda Mel, por favor.
Apressadamente, acabei com a pouca distância, enquanto
Lisa segurava o pequeno corpo, tendo seu rosto banhado pelas
lágrimas.
— O que ela tem? — perguntou Fernanda aflita. Lisa, então,
levantou a cabeça e diante da sua suplica, meu coração disparou de
tal forma, que mesmo tentando controlar o ritmo da minha
respiração, ainda conseguia ouvir as fortes batidas que vinham dele.
— Por favor, ajude-a. Eu não sou nada sem minha Mel.
— Troque de roupa enquanto a levo para o andar de baixo —
em seguida agachei-me e a pegando em meus braços, com um giro
rápido e preciso, caminhei para fora do ambiente, Fernanda veio
atrás de mim.
Livrei-me rápido dos degraus indo em direção à porta, ao
passar por ela, um grito potente saiu pelos meus lábios.
— Alex!
Este logo apareceu e como se lesse a minha mente, correu
rumo ao veículo que nos levaria ao heliporto, assim que ele
retornou, Lisa surgiu correndo em nossa direção. Não demorou
muito para alcançamos o helicóptero e toda uma movimentação
aconteceu, Alex rapidamente fez os primeiros procedimentos para
decolagem, conduzindo a aeronave para o heliponto, enquanto isso,
Lisa e Fernanda se acomodaram para que a criança, que tinha os
batimentos fracos e o rosto pálido, como se seu sangue tivesse sido
sugado, ficasse deitada em cima do colo delas. Feito isso, me
acomodo no banco da frente ao lado de Alex. O helicóptero logo
decolou. Com o trânsito terrível dessa cidade, não poderia correr o
risco de ficar preso em um engarrafamento e por ela, eu era bem
capaz de fazer uma verdadeira chacina pelas ruas de New York.
Fiz algumas ligações e uns vinte minutos depois, estávamos
sobrevoando o hospital New York Presbyterian.
Lisa Evans
Eu sentia um aperto tão profundo, que meu peito não parava
de doer. Quando a aeronave pousou no heliporto do hospital, uma
equipe médica já estava nos aguardando. Melanie foi colocada
rapidamente sobre a maca e fizeram os primeiros procedimentos de
reanimação, logo após, conduziram-na para dentro do hospital. Nós
três seguimos por um longo corredor até uma sala onde estamos
esperando até agora por informações. Minha respiração estar
alterada, não consigo respirar direito. Baran começou a andar de um
lado para o outro e ninguém dava notícia de como ela estava. Sua
fúria contida não me passou despercebida, as lágrimas desciam em
abundância, molhando todo o meu rosto. Assustei-me ao sentir um
toque suave em minha cabeça e mesmo com a visão embaçada,
meu olhar encontrou o de Fernanda.
— Fique calma — seu olhar terno trouxe um pouco de
calmaria diante do meu desespero.
— Eu não vou aguentar se algo de ruim acontecer a ela.
— Tudo ficará bem, a nossa pequena é forte — disse e
continuou a passar a mão pelos meus cabelos.
Minutos e depois horas, se passaram e, nada de notícias.
Cada minuto ficava ainda mais temerosa, pois as feições de Baran
estavam cada vez mais duras, seus olhos ficaram escuros, sabia
que ele estava travando uma luta interna para não mostrar sua
verdadeira face. Embora eu não quisesse ver o que estava diante
dos meus olhos, era nítido o quanto seus olhos brilhavam ao serem
direcionados para minha garotinha. Um pacotinho de amor que foi
capaz de tocar até o coração mais sombrio. Volto à realidade
quando um homem alto, vestido de branco entra no ambiente, eu
imediatamente saio da posição que estava sem esperar que ele fale
alguma coisa resolvo questionar.
— Como ela está? — disse com a voz entrecortada.
— Fizemos um hemograma completo para determinar as taxas
de células sanguíneas. Foi diagnóstico um aumento de glóbulos
brancos e poucas plaquetas — antes de prosseguir, ele foi
interrompido por Fernanda.
— O que isso que dizer? — perguntou angustiada, mas foram
as palavras ditas por Baran Celikkol, que fizeram as minhas
esperanças ruírem e, o meu mundo desabar.
— Ela está com leucemia — embora não fosse uma pergunta
e sim uma afirmação, as palavras ditas pelo médico só vieram a dar
a plena certeza.
— Sim, e está num estado avançado.
— O que podemos fazer doutor? — indagou Fernanda, já que
abri a boca e as palavras não saiam.
— Teremos que recorrer a um transplante de medula óssea,
mas para isso precisamos encontrar um doador.
O silêncio se fez presente por alguns segundos, já que as
últimas notícias caíram como um soco pesado e cruel. Naquele
instante, somente um pensamento me rondava e diante dele, eu
comecei a acreditar que nessa ou em outra vida, eu deveria ter feito
algo de ruim e estava sendo punida.
"Eu não posso perdê-la, não depois de tudo que passamos.
Deus, o que fiz para passar por tudo isso."
Capítulo 42
Lisa Evans

A calmaria que predominou a sala foi quebrada por Baran?


— Por que vocês descartaram a quimioterapia?
— Poderíamos recorrer a esse procedimento, sim, mas como
eu disse, o estado do câncer está num nível que não podemos
correr o risco de ir por um caminho que pode ter rejeição. Os
primeiros sintomas como dores de cabeça, febre repentina, cansaço
e perda de apetite surgem com frequência quando ainda podemos
recorrer à quimioterapia, porém, pelas manchas avermelhadas em
sua pele, nos indica que seu organismo já não tem combatido a
doença que chegou num estágio bem avançado, se espalhando
pelo corpo e afetando os ossos, causando assim dores nas
articulações.
Meu coração palpitou diante das palavras ditas pelo médico,
só então me veio à certeza que a Mel já estava doente há bastante
tempo. Ele continuou explicando qual seria o próximo passo, onde
testes específicos de compatibilidade seriam feitos, depois de ouvir
todas as informações, seguimos os três para o laboratório onde
passaríamos por um processo de coleta de sangue, buscando assim
a melhor combinação possível para evitar processos de rejeição da
medula pelo receptor. Sendo um dos melhores hospitais do país,
onde eu nem vendendo todos os meus órgãos conseguiria pagar
uma internação, o lugar contava com laboratórios de alta tecnologia,
tendo assim, muita agilidade nos resultados dos exames.
Alex também foi intimado por Baran a passar pelo exame,
enquanto eu sentei na poltrona para que a enfermeira coletasse o
meu sangue, já não conseguia focalizar meus pensamentos e nem
definir minhas emoções. Aquilo chegou como um tsunami, me
devastando de uma forma que nada do que já havia passado me
causou uma dor tão dilacerante, pois, eu estava sendo dominada
pela dor da alma e esta só passaria quando esse pesadelo
chegasse ao fim e, eu pudesse em fim, ver a minha pequena que
sempre foi uma criança feliz, contagiante que mesmo depois de tudo
o que passou, conseguia transmitir somente amor por onde
passava, estivesse livre dessa doença.
Minutos mais tarde...
Enquanto os resultados dos exames não saiam, nós três
caminhamos pelos corredores do hospital, indo até o quarto onde
ela estava. Quando chegamos ao ambiente, engoli em seco,
disposta a não permitir que as lágrimas deixassem meus olhos,
pois, eu precisava ser forte e foi Fernanda a se aproximar primeiro
da sua cama. Enquanto isso, eu me mantive parada, observando-a
de longe, seus olhos estavam fechados, sua expressão relaxada.
No seu braço esquerdo tinha uma infusão intravenosa, pois os
medicamentos estavam sendo administrados direto na veia.
Respiro fundo e antes de prosseguir, olho para Baran, seu
olhar era insondável e este mantinha seus olhos fixos na cama, sua
mandíbula tensa, denunciava que por mais que tivesse aquela
máscara dura e pesada, tudo que estava acontecendo também o
afetava.
Desviei o olhar quando os olhos sonolentos dela se abriram e
eu rapidamente me aproximei, em seguida segurei na sua mãozinha
que estava gelada. Ficamos nos encarando por alguns segundos e
Melanie abriu a boca para dizer algo, mas a fechou de novo, como
se sua garganta estivesse seca, a impedindo de prosseguir.
Insistente, ela abriu novamente e mesmo com a voz fraca, o som da
sua voz se fez presente, ganhando assim a atenção dos três,
contudo, senti um tremor violento por todo corpo.
— Mamãe, vocês estão tristes por que eu vou morrer? —
minha expressão ficou alarmada, meus olhos arregalados.
— Não diga isso, princesa, nós não iremos deixar — ela olhou
para a mulher que estava em sua frente.
— Vovó Nanda!
— Diga meu anjo.
— Nunca mais deixe a tristeza fazer a senhora deixar de sorrir.
Eu gosto tanto do seu sorriso, muito mesmo — a mulher que se
mantinha firme não conteve as lágrimas que começaram a escorrer
pela sua face. Logo Melanie manteve seu olhar fixo em Baran.
— Ti... Tio vem aqu... Aqui... — sua voz saiu arrastada e
entrecortada pelo movimento do seu peito que subia e descia num
ritmo bem lento, sei que estava se esforçando muito. Ele caminhou
e encurtou a distância e assim que se deteve, ela disse. — Promete
que vai cuidar e ser bonzinho com a minha mamãe?
Por aquilo eu não esperava. Baran se manteve em silêncio.
Pude ver uma sombra envolver seus olhos esverdeados, seu rosto
se contorceu.
— Mel... — tentei falar, mas novamente com a voz baixa,
falou.
— Por favorzinho! — suplicou e seus olhos azuis adquiriram
um brilho intenso.
— Eu prometo — ele disse firme, mas sendo o diabo que era,
sei que falou aquilo só para ela não se decepcionar e continuar
vendo-o como um anjo, o seu grande herói.
Um sorriso iluminou o seu pequeno rosto, mas em seguida
senti sua mão tremer embaixo da minha e, suas palavras saíram
num sussurro.
— Mamãe, fique comigo.
— MEL!
Gritei quando seu corpo todo começou a tremer como se
tivesse tendo uma convulsão. Seus olhos se fecharam e o pânico
dominou o ambiente.

Dias depois...
Sinto minhas pálpebras tão pesadas, mas não posso me
deixar vencer pelo cansaço. Meus olhos estão levemente
avermelhados, com grandes olheiras roxas embaixo, eu estava
confiante que seria compatível, mas ao pegar o envelope que tinha
o resultado dos meus exames, o meu desespero aumentou.
Contudo, eu senti um grande alívio ao saber que os de Fernanda
deram positivos, ela estava apreensiva que os outros exames
viessem a constatar que não podia ser doadora, já que por muito
tempo fez uso de bebidas alcoólicas, porém, Celikkol sempre se
manteve firme, não deixando que ela viesse sucumbir ao vício. Com
a chegada de Melanie à mansão, além de recuperar sua sanidade,
ela estava muito melhor e durante as consultas com o
Hematologista, foi confirmado que não tinha impedimento algum
para que se fizesse o transplante.
Depois daquele susto ao ver minha pequena tendo a primeira
de muitas convulsões que vem acontecendo. Ela foi submetida a um
tratamento que ataca as células doentes e destrói a própria medula,
deixando assim, seu organismo sem defesa. Por isso ela está
isolada e para ficar ao seu lado, eu estou me mantendo 24 horas
dentro do quarto, onde somente duas enfermeiras e o médico
responsável tem acesso. Deixo os pensamentos de lado quando
ouço sua voz e agradeço por hoje ela não estar com febre.
— Mamãe!
— Oi meu anjo, você quer alguma coisa?
— Estou co... — fez uma pausa, fazendo uma cara feia de dor,
pois segundo ela, o cateter que colocaram a incomodava muito, mas
era necessário para o processo antes do transplante — ela
continuou a falar. — Estou com saudade da vovó e do tio —
lágrimas se formam e começaram a descer pelo seu rosto.
— Fique calma princesa, daqui a alguns dias tudo isso vai
passar e logo você estará com eles.
— Amo você, mamãe.
— Também a amo demais, minha gotinha de amor.
Semanas depois...
Camile Torricelli
Suspiro ao adentrar as dependências do hospital. O ambiente,
embora luxuoso, cheirava a desinfetante e a medicamentos, uma
ânsia vaga me invade, porém, ignorei e tratei de chegar logo ao
quarto que Fernanda estava. Sei que o transplante ficou marcado
para a parte da tarde, mas antes disso acontecer, eu darei um jeito
de acabar com a esperança daquela morta de fome em salvar a
pirralha.
Instantes depois, eu cheguei próximo a porta branca e levei
uma das mãos até a maçaneta. Abri a porta cautelosamente e ela
estava dormindo, tratei de caminhar até o criado mudo, coloquei a
garrafa de água que tirei da bolsa em cima dele e dei alguns
passos, ficando centímetros de distância da cama.
— Nanda! — ela não acordou. — Nanda! — chamo
novamente sem sucesso. — Fernanda! — seus olhos se abriram e
se chocaram com os meus.
— Camile — sua voz soou fraca, devia ser por causa de algum
medicamento.
— Quis vir para ver como você estava.
— Obrigada por sempre se preocupar comigo, minha querida
— coitada, mal sabe o que está por vir.
— Você estava dormindo, deve estar com sede — tomara que
a maldita diga que sim.
— Estou sim — até que fim a infeliz deu uma bola dentro.
Afasto-me e pego o copo que estava em cima do móvel,
colocando logo em seguida o líquido que estava dentro da garrafa.
Feito isso, dei alguns passos me aproximando da cama, enquanto
ela se posicionou para que pudesse tomar o líquido. Com posse do
corpo, meu nervosismo aumentou, ela conduziu até a sua boca,
aproximando o objeto dos seus lábios e parou.
Droga! Meu corpo todo estremeceu, mas logo fui tomada por
uma sensação de êxtase quando o primeiro gole foi dado e sendo
uma viciada, mesmo lutando, não iria resistir. Ao tomar toda a
substância, sua mão ficou trêmula, eu peguei o copo de sua mão.
Ela abriu a boca, mas nada foi dito e não demorou muito para
ser envolvida pela escuridão total. Deixei o ambiente e a sensação
que sentia era indescritível, vamos ver se daqui a alguns minutos
toda uma movimentação não irá acontecer dentro daquele quarto e
o maior sofrimento da tal Lisa, será ver sua irmã morrendo diante
dos seus olhos.
Capítulo 43
Lisa Evans

Meu nervosismo era muito grande daqui a algumas horas,


Melanie, enfim, sairá desse pesadelo. Ela já havia sido levada pelas
enfermeiras, pois havia todo um procedimento a ser feito. Os
médicos ficaram satisfeitos, pois a pequena era muito forte e
guerreira. Depois de condicionar sua medula, hoje receberá uma
nova e sadia. Segundo a explicação médica, as células-mãe
transfundidas são levadas pela corrente sanguínea e se
encaminham até a medula óssea, cujo local aonde irão se instalar e
começar o processo de recuperação.
A situação enfrentada ao longo desse mês que se passou,
aproximou-me bastante de Fernanda. Não tinha como não gostar da
mulher, que além de amar a minha pequena como uma filha, hoje,
daria um novo dia de aniversário para Mel, um dia que não era a
minha mãe dando vida a ela, e sim, Fernanda, trazendo novamente
brilho aqueles olhos azuis que tanto nos transmite alegria.
Baran, por sua vez, pelos noticiários que vim acompanhando
pela televisão, começou uma grande corrida contra o tempo. Daqui
a dois meses será o dia 03 de novembro, uma terça-feira, data essa
onde será realizada a eleição presidencial. Seu foco maior está na
Califórnia, já que os Estados possuem pesos diferentes na disputa.
Sendo o Estado que possui 36 milhões de habitantes e 55
delegados, é o maior número entre os estados norte-americanos. Ao
todo, são 538 votos dos representantes eleitos nos distritos no
Colégio Eleitoral. Para vencer a eleição, o candidato deve receber
270 deles e pelo que disse, vai ganhar muito mais.
Meus pensamentos são deixados de lado assim que chego ao
corredor do quarto que Fernanda está. Senti um forte desconforto
no meu peito e fiquei desorientada com a grande movimentação no
ambiente. Contudo, depois de uns passos, fiquei imóvel por alguns
segundos quando a porta do quarto dela foi aberta e meus olhos
foram de encontro à mulher que estava entubada em cima da maca.
Meu coração começou a bater num ritmo frenético, mas, forcei-me a
me mover até onde o médico que já conhecia bem, estava.
— O que aconteceu? — a resposta que veio em seguida me
deixou completamente sem rumo e sem forças.
— Ela teve uma parada cardíaca, conseguimos trazê-la de
volta.
— Mas, como isso é possível? Ela estava bem.
— Ainda não saiu o resultado dos exames, por coincidência,
resolvi passar no seu quarto, já que estava atendendo um paciente
nesse corredor. Quando entrei no ambiente, ela abriu os olhos e
começou a tremer, seus batimentos estavam ficando fracos e com a
ajuda da minha equipe, conseguimos evitar o pior.
O silêncio predominou por alguns segundos, porém, o sangue
em minhas veias congelou, assim que meus pensamentos foram
direcionados para uma única pessoa e, movida pelo meu
desespero, a calmaria foi interrompida.
— E a Melanie?
— Tudo agora se agravou diante dos últimos acontecimentos.
Depois de passar por um infarto, não é recomendado que ela seja a
doadora, mesmo se recuperando. Entretanto, as defesas da criança
foram destruídas, visando que tínhamos plena confiança que hoje
faríamos o transplante, Melanie se encontra totalmente indefesa e
não sabemos quanto tempo levará para encontrar um novo doador.
— Não! Não! Nãooo...
O ruído que escapou da minha boca veio seguido de um
tremor violento. Minha cabeça começou a latejar, senti uma forte
tontura que fez o meu corpo convulsionar para depois a minha vista
escurecer e tudo que lembro antes das minhas pernas perderem as
forças, foi ouvir alguns sussurros saindo da boca do homem a minha
frente.
— Eu sinto muito.

Horas depois...
Baran Celikkol
Eu sabia que o caminho para chegar a Casa Branca não seria
fácil, o que já era algo normal para mim. Pois, nada foi fácil em
minha vida, hoje o destino seria Seattle/Cidade no estado de
Washington. Uma viagem que duraria quase quatro horas se fosse
de avião, então optei por ir de helicóptero, que chegaria mais rápido.
Entro na aeronave e junto comigo estão Alex e mais dois dos meus
soldados, com o motor ligado, este aciona a hélice principal e da
cauda, fazendo o barulho ecoar dentro do ambiente, assim que o
objeto deixou o chão, meu olhar foi de encontro ao relógio no meu
pulso direito.
Logo me lembro de que daqui á alguns minutos a pequena
faladeira, estará a um passo de sair daquele tormento. Nunca
pensei que um ser tão pequeno pudesse mudar alguma coisa em
mim, mas vê-la naquele estado me causou uma sensação forte de
impotência. Sim, prometi que cuidaria de sua irmã, o que não era
mentira, já que Lisa Evans será minha para sempre, assim como
farei de tudo pela sobrevivência da garotinha. Talvez tenha adquirido
a síndrome de lima e pela primeira vez, acabei criando certa
simpatia pela minha própria vítima ou, simplesmente ainda reluto em
aceitar o que até os meus demônios já se deram conta, que aquela
atrevida se tornou a minha grande obsessão, mas ela não precisa
saber disso, não por enquanto. Com os pensamentos voltados para
a pequena tagarela, nos dias que se seguiram a sua ausência, toda
a calmaria em volta da mansão só me fez perceber o quanto aquela
criança fazia falta àquele lugar.
Minutos se passaram e quando já estávamos deixando New
York, de repente minha pele começou a emanar um calor
insuportável, o ar começou a se esvair dos meus pulmões, respirei
uma, duas, três vezes, tentando levar o ar que se tornou escasso,
dentro da minha caixa torácica. Meu corpo inteiro parecia uma
fornalha de tão quente, me causando um desconforto enorme. Por
uma fração de segundos, tudo que surgiu em minha frente foi a
imagem da mulher e ao seu lado, a pequena com os olhos cheios
de lágrimas. Algo estava me queimando por dentro, fazendo com
que os meus demônios se manifestassem e esses queriam assumir
o controle do meu corpo de qualquer forma. Logo a calmaria foi
interrompida pelo som potente da minha voz.
— Alex! Dê meia volta e nos leve direto para o hospital onde
elas estão.
O homem ao meu lado obedeceu as minhas ordens, fazendo o
contorno e seguindo direto para o local ordenado. Instantes depois,
quando o helicóptero pousou, aquela sensação aumentou ainda
mais e ao deixar a aeronave com passadas rápidas, segui para
dentro das dependências do prédio, fiz o trajeto até o andar onde
Lisa ficaria aguardando até que terminassem o procedimento que
estava marcado.
No meio do percurso, acabo por encontrar o Dr. Varella, pela
expressão dele, já sabia que não era portador de boas notícias. Em
seguida, me detive ao ficar em sua frente e disse.
— Fale tudo sem rodeios.
— Ligamos para sua residência e nos foi informado que o
senhor havia viajado — achei estranho, já que deixei aviso que
qualquer informação sobre as três, era para Vivian entrar em
contato comigo imediatamente. Todavia, as palavras ditas por ele
em seguida, fizeram-me entender o porquê de eu ter sentido tanta
inquietação. — Infelizmente, diante dos últimos acontecimentos, não
será possível fazer o transplante. Fernanda, neste momento se
encontra medicada, após sofrer um ataque cardíaco — ele fez uma
pausa em seguida continua. — Lisa, após saber do ocorrido, acabou
entrando em choque e poucas horas atrás, Melanie teve uma forte
crise e estamos tentando encontrar outro doador — eu respiro
fundo, aliviado, então com a voz firme, digo.
— Faremos o transplante agora mesmo.
Seus olhos se arregalaram, ele parecia desorientado com
minhas palavras. Mas, logo se recompôs.
— Sem um doador, isso não será possível.
— O senhor está de frente para ele, agora vamos.
Enquanto caminhávamos. Disse a ele que não foram somente
os exames de Fernanda que mostraram compatibilidade. Visto que
tinha uma agenda cheia de compromissos e sendo ela aprovada,
acabei ocultando a informação dos meus resultados. Ao contrário da
mulher, não precisava passar por uma bateria de exames, já que
vinha fazendo regularmente, desde que entrei na disputa para me
tornar o líder supremo da nação americana e devido ao estado da
criança ter se agravado, não tínhamos tempo a perder.
"Sempre destruí vidas, tenho marcas não visíveis de sangue
por todo o meu corpo e já perdi a conta de quantas pessoas matei.
Mas, agora a minha alma diabólica deixará a escuridão de lado,
meus demônios não serão saciados por ceifar uma vida e sim salvar
a de um anjo. Um anjo de luz que de alguma forma, é aceito pelas
trevas do meu interior."

Minutos depois...
Lisa Evans
Entre lágrimas, dor, medo e ódio, eu deixei sempre que a
esperança falasse mais alto, no entanto, tudo que vi, tudo que ouvi,
estava acabando comigo, pois senti uma dor na alma e um aperto
descomunal no peito. As lágrimas continuam escorrendo pelo meu
rosto, sei que preciso ser forte, mas desde o instante que recuperei
a consciência, me sinto tão fraca que não consegui me levantar
desta cama. A minha irmãzinha é só uma criança, sempre foi a
minha fortaleza, no entanto, está sofrendo tanto. As palavras do Dr.
Varella ainda ecoam na minha cabeça, a imagem de Fernanda,
naquela maca, passam como flashes em minha frente, tudo estava
conspirando contra nós, o que fez meu rosto se contorcer e a raiva
me atingiu num grau que eu achei que iria explodir.
— POR QUE DEUS, VOCÊ NOS ABANDONOU? POR QUE A
VIDA TEM QUE SER TÃO CRUEL? LEVE-ME NO LUGAR DELA —
digo aos berros, completamente desesperada e foi justamente no
momento que uma das enfermeiras que vinha acompanhando-a,
entrou no ambiente. Esta caminhou com agilidade e parou em
minha frente e assim que seus lábios se moveram, o que ouço, fez
sim, eu sentir algo estourar como fogos de artifícios dentro de mim,
mas era de tanta felicidade.
— Você não tem porque perder a sua fé. Deus ouviu não só as
suas preces, como as de todas nós. Sua irmã está nesse momento
recebendo uma nova medula.
Pulei, gritei feito uma louca, as lágrimas que antes eram de
dor, jorravam ao sentir a mais pura alegria explodindo em meu
coração. Passando a euforia, olhei fixamente para mulher a minha
frente.
— Como vocês encontraram um doador tão rápido? — ela
abriu um sorriso enorme, fazendo o meu se alargar também,
entretanto, jamais esperava ouvir aquele nome.
— Foi o nosso salvador, o senhor Baran Celikkol...
Enquanto ela falava, me vi questionando se esse foi o
verdadeiro propósito pelo qual passei por tanto sofrimento ao estar
nas garras do próprio diabo. A única resposta era que foi – desde o
início – as mãos do destino que colocou Raquel em meu caminho,
que apesar da sua traição e de toda dor que senti devido às suas
mentiras, se não fosse assim, jamais teria estado frente a frente
com Celikkol e, talvez a Melanie, não teria a chance de ter um novo
recomeço.
"Seja como for, eu não quero mais me lembrar do passado,
acima de tanto sofrimento que senti causado por Baran, está o
sentimento de gratidão. Pois, hoje, ele é o responsável pela maior
alegria da minha vida".
Capítulo 44
Duas semanas depois...
Baran Celikkol

Dias se passaram e mesmo sabendo que eu correria o


risco de despencar nas pesquisas ao deixar vários compromissos
de lado, e, embora não tenha sido premeditado ser o doador, com
intenção de salvar a vida da Mel, para tirar proveito disso. A notícia
acabou se espalhando por todos os estados americanos, soube
pelos noticiários do grande número de repórteres em volta do
hospital, buscando por informações e o meu feito acabou fazendo a
minha candidatura alavancar de forma que hoje estou sendo
comparado com Franklin D. Roosevelt, que esteve à frente dos
Estados Unidos durante doze anos e é considerado por muitos, o
melhor presidente, aquele que representava a esperança para os
americanos, cujos bolsos estavam vazios e o patriotismo parecia
enfraquecido depois de uma década difícil.
Ao sair do hospital, uma grande multidão aplaudia e gritavam a
frase: "Viva o salvador, o protetor dos indefesos". Diante disso,
tenho iniciado uma verdadeira corrida contra o tempo, pois, falta
pouco para que uma nova era se inicie, onde através de mim, a
Cosa Nostra não somente dominará o submundo, como uma das
maiores potências mundiais.
Toda uma reforma foi feita no quarto que será ocupado pela
garotinha, que daqui a uma semana estará em casa. Já Fernanda,
esta já retornou à mansão e embora nos exames feito não tenha
sido encontrado nada de suspeito, ela acabou me relatando tudo
que havia acontecido naquele dia e principalmente sobre a visita de
Camile. Os médicos confirmaram que devido ao seu estado de
nervosismo por estar temerosa de que algo viesse a acontecer, todo
estresse foi o motivo de ter afetado seu sistema cardiovascular, o
que resultou em uma parada cardíaca. Deixo as lembranças de lado
e meu olhar vai de encontro à mulher que surge em minha frente.
— Senhor, eu já peguei tudo — ela disse segurando a bolsa
que continha algumas roupas e objetos pessoais que levaria para
Elisabete no hospital.
— Bartolomeu levará você e enquanto eu estiver fora,
mantenha atenção total em Fernanda.
— Sim, senhor.
Com passadas rápidas, caminho para fora do ambiente. Antes
de seguir para pista de pouso, minha atenção foi direcionada para
Alex.
— Chefe!
— Chegou a hora de você me mostrar que é digno da minha
total confiança. E provar que todos os ensinamentos dados por mim
não foram em vão.
— Pelo meu líder e pelos interesses da nossa organização, eu
darei a minha vida.
— Não esperava ouvir outra coisa, contudo, elas ficarão sob a
sua proteção.
Nos instantes seguintes, depois de trocar mais algumas
palavras com ele, segui rumo à aeronave que tinha como destino
desta vez Chicago.

Lisa Evans
A água cai sobre o meu corpo cansado e escorre pelo ralo. Já
estamos a quase dois meses vivendo no hospital, minha gotinha de
amor está se recuperando muito rápido, deixando assim, até os
médicos impressionados. Totalmente confinada dentro desse quarto,
os primeiros dias não foram fácies, calafrios e febres marcaram
essa longa trajetória e cada dia foi uma batalha a ser vencida. Tudo
ficou pior quando três dias após o transplante, ela acordou ardendo
em febre, o corpo suando muito, eu fiquei assustada quando ela
começou a delirar, sussurrando os nomes dos nossos pais. Fiquei
pensativa se as lembranças estavam voltando, porém, ao voltar a
sua consciência, ela não se lembrava de nada.
Saio dos meus devaneios quando me lembro de que a
senhora Vivian ficou de trazer algumas roupas. Desligo o chuveiro e
caminho para fora do ambiente, depois de secar o meu corpo e já
vestida, ao abrir a porta, meus batimentos dispararam ao ter meus
olhos direcionados para a minha pequena que jogava a cabeça de
um lado para o outro. Embora com o ar condicionado ligado, ela
estava com o rosto molhado de suor e sussurros começaram a
escapar de sua boca.
— Balu! Balu! Cadê você... — continuou murmurando as
palavras por diversas vezes e depois se calou.
Aperto o portão amarelo, este servia para indicar a uma das
enfermeiras que ela estava febril. Cerca de uns cinco minutos
depois, Gisely passou pela porta e esta me avisou que tinha uma
pessoa na parte externa do ambiente me aguardando. Ciente que
era Vivian, eu coloquei a máscara, enquanto a enfermeira começou
a medicar a Melanie, bastou algumas passadas para estar do lado
de fora e deparar-me com a mulher que segurava uma bolsa
marrom.
— Boa tarde Lisa — disse exibindo um largo sorriso.
— Boa tarde e como está Fernanda?
— Muito bem, ela pediu para saber como a Mel estava.
Ao ouvir o nome da minha pequena, as palavras ditas por ela,
minutos atrás dentro do quarto, ecoaram em minha cabeça e com
elas o choque da realidade me atingiu em cheio.
— Droga! — digo irritada comigo mesma.
— Lisa! — ignoro o seu chamado.
— Como fui tão burra. Foi a Raquel quem deu o Balu para Mel
— digo sacudindo a cabeça e meu olhar se voltou para a mulher
que estava tentando entender o motivo da minha inquietação. — Eu
preciso que você traga o mais rápido possível para mim, um ursinho
rosa que deve estar entre os brinquedos da Mel.
Ela ainda parecia desorientada, mas logo saiu do estado de
estupor que se encontrava.
— Farei isso agora mesmo — disse e me entregou a bolsa.
Em seguida, suas pernas se moveram rápidas, me deixando
paralisada em frente à porta e uma única pergunta tomou conta de
todo o meu ser.
"Será possível que o tempo todo aquilo que Baran tanto
estava procurando está dentro daquele bendito urso?"
Vivian
— IDIOTA!
Digo ao andar com passos largos pelo corredor, seguindo em
direção ao carro. Assim que chego próximo ao veículo, entro e o
homem com as mãos no volante colocou o automóvel em
movimento. Precisava chegar o quanto antes em casa e só assim
pegar o aparelho que tenho escondido e é desconhecido por
Celikkol, dessa forma não tem como ele monitorar. Meus
pensamentos foram interrompidos no momento em que o automóvel
parou. Logo em seguida, o som da minha voz repercutiu dentro do
ambiente.
— O que está acontecendo? — questiono já irritada.
— Ocorreu um acidente com uma caminhonete. Por esse
motivo o fluxo de veículos está bastante intenso — respondeu
Bartolomeu. Não tendo outro jeito, ficamos presos, aguardando que
aquela maldita fila acabasse. Enquanto esperava, meus
pensamentos foram para alguns anos atrás.
Depois da morte da minha mãe, quando eu tinha somente dez
anos, meu pai achou melhor que eu fosse morar com a minha avó
materna. Alguns anos se passaram e ele acabou mudando de
cidade e vindo para East Harlem, foi nesse lugar que acabou se
envolvendo com a máfia e tendo sua vida ceifada por Al Capone. Eu
já tinha perdido a minha mãe, mas a morte do homem que tanto
amava não ficaria em vão, consegui uma nova identidade e tendo
na época 25 anos e um corpo cheio de belas curvas, foi fácil cruzar
o caminho do homem que por incontáveis vezes possuiu o meu
corpo, me tornando sua amante exclusiva. Tive sorte que jamais
uma criança foi gerada em meu ventre, já que o maldito não podia
ter filhos, o tempo passou e eu queria fazer com que o miserável
morresse, mas seria lentamente e foi dessa forma que Lev Petrov
se tornou um grande aliado, assim como hoje, além de mim, a
Camile trabalha para máfia russa. Algumas semanas atrás, ela, por
pouco não acabou com a vida da maldita Fernanda, colocando
naquela garrafa com água, a mesma substância que usei para
acabar com o verme do Al Capone. Minha avó era uma velha muito
sábia, conhecedora dos piores venenos que na dosagem certa,
seria fatal. Assim como coloquei por várias vezes na comida
daquele ser desprezível, dentro do líquido da garrafa tinha uma
substância feita pela Chironex Fleckeri, uma vespa-do-mar, parecida
com uma água-viva comum, mas muito letal. O veneno que foi feito
não pode ser identificado e é capaz de afetar o sistema
cardiovascular provocando um infarto, que pode ser fulminante de
acordo com a quantidade ingerida. Ouvir o nome de Raquel me
deixou num estado catatônico por frações de segundos, mas o meu
corpo logo começou a vibrar intensamente quando a ficha caiu e o
que tanto procurávamos para acabar com Celikkol, logo estará em
nossas mãos.
"Esse desgraçado tinha grande afeição e respeito por aquele
que odiei com todas as minhas forças e chegou o momento de ele
se juntar ao seu mentor".
Capítulo 45
Lev Petrov

Saber que o desgraçado havia se sujeitado a ser doador


de medula óssea para salvar a vida da fedelha, só veio a confirmar
que assim como aquela imprestável que ele tinha por esposa,
novamente o demônio tinha um calcanhar de Aquiles. Embora se
mostrando uma rocha impenetrável, sua atitude nos deu dois alvos
que seriam o primeiro passo para acabar com o infeliz.
Anos se passaram e de nada adiantou toda cautela. Se
Celikkol chegar a se tornar o presidente, será mais difícil enfrentá-lo
e pior ainda se aquela infeliz acabar gerando um filho do capeta,
dando a Cosa Nostra um sucessor, um herdeiro ao império mafioso.
Durante esses últimos dias, depois do homem bomba que enviamos
e que infelizmente acabou sendo em vão, já que poucos foram
aqueles que ele levou para o inferno junto com ele, tanto eu, como
Serguei, começamos a traçar cautelosamente um novo plano, sendo
assim, hoje ainda de madrugada, dezenas de seus homens
entraram no território americano, dessa forma daremos início a uma
série de ataques, desestruturando os monstros da Cosa Nostra,
dando tempo para que ele, daqui alguns dias chegue com força
total. Meus pensamentos foram deixados de lado quando ouvi meu
celular vibrando e ao ver o nome que surge na tela, atendo de
imediato, pois, Vivian jamais me ligaria se não tivesse uma boa
notícia.
— Chefe!
— Pelo seu tom de voz deve ter descoberto algo de muito
importante — disse, mas jamais esperava ouvir o que veio em
seguida.
— Sim, acabei de chegar do hospital e Lisa pediu que viesse
pegar um urso de pelúcia que a pirralha tanto pedia. Ela estava
atordoada enquanto falava comigo e acabou deixando escapar que
o tal Balu, nome dado ao brinquedo pela criança, na verdade foi
presente de Raquel.
— Isso que dizer que tem grande possibilidade do pen drive
estar dentro dele.
— Isso foi o que pensei, aproveitando que o desgraçado viajou
e Fernanda é uma inútil, já estou indo descobrir se realmente este
tempo todo, o que Baran tanto queria esteve dentro da sua própria
casa.
— Leve o celular e me mantenha informado. Diante dessa
informação, darei aos homens famintos enviados pelo meu irmão, o
seu primeiro treinamento e será fazer um verdadeiro massacre
dentro daquele hospital.

Baran Celikkol
Cheguei a Chicago mais de uma hora atrás. Já que em menos
de uns cinquenta minutos, o helicóptero estava pousando no
heliponto do prédio onde aconteceria o primeiro compromisso que
estava na minha agenda. Este durou cerca de uma hora e depois de
me livrar dos paparazzis, estou indo rumo à aeronave que me levará
até o hotel onde ficarei por três dias. Sendo o único evento que tinha
para hoje, terei tempo para direcionar toda a minha atenção para
alguns assuntos que tenho pendentes sobre a máfia, principalmente
sobre a informação que Dimitri havia me repassado, tanto ele, Albert
e Alex, nesse mundo cheio de intrigas e ambições, tem se mostrado
fieis a mim e ao juramento que fizeram quando nossos caminhos se
cruzaram.
Ao chegar ao último andar, dou alguns passos e já dentro do
helicóptero, vinte minutos depois estava adentrando a suíte que
ficava na cobertura do The Península Chicago. Uma de minhas
mãos se moveram até o bolso do meu sobretudo e ao pegar meu
celular, busquei pelo nome de Lisa e no terceiro toque, ela atendeu.
— Oi, ainda bem que você ligou — sua voz demonstrava
aflição.
— Aconteceu alguma com a pequena?
— Ela teve febre, mas agora já esta melhor, porém, aconteceu
algo e acredito que já sei onde está aquilo que foi o motivo de você
me fazer conhecer o próprio inferno em vida — disse amarga,
porém, meu coração se agitou, volto minha atenção para as
próximas palavras ditas por ela. — Mel estava delirando e não
parava de chamar pelo Balu, a princípio a ficha não caiu, mas assim
que a senhora Vivian chegou com as coisas que veio trazer, ao
perguntar por ela, lembrei-me do Balu, este é o nome que foi dado
ao ursinho e justamente este urso, foi Raquel quem havia dado
como presente a Mel — ela fez uma pequena pausa e logo me veio
às lembranças do urso rosa que a menina segurava quando
deixamos o seu quarto e não soltou ao ser levada pelos soldados
que a trouxeram para mansão, volto à realidade quando novamente
escuto sua voz, deixando todo o meu corpo em total alerta. — Eu
pedi para Vivian trazê-lo, mas até agora ela não voltou.
Algo no meu interior desta vez vibrou com mais força,
causando-me uma forte inquietação. Todavia, feito um relâmpago,
um pensamento passou rápido pela minha cabeça.
— Você comentou algo sobre quem deu o urso a Melanie na
frente dela?
— Sim, as lembranças vieram de supetão e deixei escapar.
Desligo de imediato o telefone, levo alguns dedos rumo ao
mecanismo giratório do relógio em meu pulso e as imagens do
quarto ocupado por elas apareceram no visor do meu celular. A
mulher estava com um celular próximo ao ouvido e esta certamente
usava, já que ninguém além de mim tem conhecimento da câmera
que instalei no ambiente que antes era ocupado por Fernanda,
desta forma, eu tinha como controlar seus passos, já que vivia
tentando suicídio. Volto à realidade e mantendo meu olhar atento a
cada passo dela que começou a jogar todos os brinquedos no chão,
passei os olhos e não avisto o objeto, ela parou um pouco e as
palavras que ouvi fizeram o calor escaldante tomar posse de toda a
minha pele.
— Ainda não encontrei o urso, mas ainda não acredito que
seus homens vão mesmo fazer uma chacina dentro daquele
hospital. Se bem que aqueles malditos já estão um passo da morte,
só será um empurrão para chegar logo ao inferno.
— DESGRAÇADA! — vocifero furioso, ela continuou
revistando tudo, desarrumando as roupas que estavam no closet e
ao abrir a porta que era uma sapateira, começou a jogar tudo no
chão. Um sorriso largo apareceu naquele rosto enrugado que em
breve seria retalhado por mim.
— Achei chefe! — quando ela deu alguns passos e se sentou
na cama tirando a roupa do tal Balu, em seguida abrindo o zíper, foi
nesse exato momento que na tela do aparelho em minhas mãos
surgiu o nome de Alex, ao atender, o que ouvi foi tudo que faltava
para acordar a fera faminta do meu interior.
— Chefe! Os homens que coloquei infiltrados dentro das
dependências do hospital notaram uma movimentação estranha ao
redor do prédio, mas nem que tenha que dar a minha vida, ninguém
tocará nelas.
Capítulo 46
Alex Lombardi

Meu nome é Alex Lombardi, nasci na Itália, mas como num


piscar de olhos, a minha vida e do meu irmão mudou para sempre.
Nossos pais acabaram sendo vítimas de um massacre sangrento
que ocorreu em Milão, fato este ocorrido somente porque a
Ndrangheta queria dominar aquele território a qualquer custo,
pessoas inocentes foram alvos de monstros com aparência física de
homens comuns, mas no interior, suas almas eram sombrias e
perversas ao ponto de crianças, idosos e mulheres serem
sacrificados somente pela sede de poder. Eu tinha apenas quatorze
anos, já Dimitri, tinha dezessete, nós dois estávamos vindo das
videiras onde trabalhávamos na colheita de uvas para assim ajudar
nas despesas de casa. De longe, quando vi o céu sendo coberto por
uma imensidão de fumaça, fiquei temeroso, mas ao chegar perto de
casa, o nosso vilarejo estava sendo envolvido pelas chamas, nosso
esforço foi em vão ao tentar entrar em nossa casa, a essa altura
sendo consumida pelo fogo, na tentativa de retirar os corpos dos
nossos pais.
Desolados e sem rumo, saímos perambulando pelas ruas e
assim como aconteceu anos atrás na cidade de New York, que um
menino que vivia sendo alvo de tanta dor e sofrimento, cruzou o
caminho do grande Al Capone e sua vida mudou da água para o
vinho. Nós dois encontramos Baran Celikkol e o monstro, a própria
personificação da crueldade, esse ser considerado como uma besta
faminta, conhecido por gostar de causar dor às suas vítimas, trouxe
luz em meio à escuridão que nos encontrávamos, tanto eu, como
Dimitri, juramos lealdade eterna ao homem que nos deu abrigo, nos
deu um novo lar e manteve viva a chama da vingança dentro dos
nossos corações.
Passei dias e Noites acordado.
Meu corpo ganhou marcas que não tinham. Baran me quebrou
de várias formas possíveis, mas assim como uma fênix, eu fui
restaurado, me tornando ainda mais forte. Minha pele foi marcada
pelo ferro escaldante, ganhando assim o símbolo da Cosa Nostra e
foi naquele momento que eu senti que estava na hora de fazer
justiça. Dimitri se tornou um verdadeiro camaleão, capaz de se
infiltrar em qualquer território e foi assim que ele descobriu os
nomes de cada um daqueles que estavam envolvidos naquela
chacina.
Eu me vinguei.
Eu matei todos aqueles vermes que destruíram aqueles que
eu tanto amava. E depois disso recebi olhares de rejeição por ter na
época somente vinte e dois anos e ser nomeado a um cargo que
muitos almejavam. Deixo os devaneios de lado devido ao barulho
que ecoou no ambiente.
— Chefe! — ouço a voz através do rádio.
Estamos eu e alguns dos meus homens, espalhados em
pontos estratégicos na garagem do prédio. Volto minha atenção
para o aparelho próximo ao meu ouvido quando sua voz se faz
presente novamente.
— Seis carros pretos pararam em trechos diferentes em volta
do quarteirão. Cerca de vinte homens estão fortemente armados e
pelo horário, será fácil passarem despercebidos já que alguns estão
disfarçados de cidadãos comuns com intuito de chegar mais
próximo do prédio. Espere as minhas ordens e no momento certo
iremos eliminar os malditos ratos.
Assim que desligo o aparelho, deixo o veículo, indo em direção
ao elevador, estava vestindo um jaleco branco e assim como já
havia feito quando o chefe passou três dias nesse local. Acabei
usurpando o lugar de um dos enfermeiros, pois com a tecnologia
que temos a nosso favor, é muito fácil recriar uma máscara de látex
semelhante ao rosto humano.
Com agilidade, caminho pelos corredores.
Hoje com vinte e cinco anos, eu posso dizer que não temo a
morte, não irei hesitar em fazer o que deve ser feito. Pois, além da
lealdade e respeito, eu tenho uma enorme gratidão por Baran
Celikkol e, enquanto respirar, eu defenderei aquelas que ele me
encarregou de proteger.

Lisa Evans
Eu estava agitada desde o momento que a ligação foi
encerrada. Comecei a andar de um lado para outro, olhando para o
aparelho em minhas mãos esperando que ele retornasse; o que não
aconteceu. Dou mais uma olhada no aparelho, são quase dezenove
horas e a Mel ainda não havia acordado. Minutos se passaram, eu
comecei a sentir uma forte inquietação, algo estava me sufocando,
de repente ouço o som de passos pelo corredor e vozes alteradas.
Senti meu coração bater em um ritmo frenético, e assim que dei
algumas passadas em direção à porta, fiquei imóvel diante da
ordem que recebo.
— Lisa! Não saia do quarto — seu tom de voz era firme e
estava diferente, saindo do transe que estava, me viro em sua
direção e seus olhos grandes e azuis estavam abertos, fixos em
minha direção.
— Por que você disse isso Mel?
— Eu sonhei que tinha muitos homens malvados lá fora, mas
o tio apareceu e tinha uma arma grande e nos salvou — disse aquilo
e sua voz novamente tinha um tom semelhante ao dia que falou a
Baran que nunca ia deixá-lo e fiquei ainda mais confusa, pois desde
a morte dos nossos pais, ela não me chamava de Lisa. Meus
pensamentos foram interrompidos por ela. — Mamãe, eu quero
assistir desenho.
— Eu vou colocar, mas você sabe que não deve falar muito.
Ligo a televisão e aproveitando enquanto ela mantinha sua
atenção na Pepa e os amiguinhos que pulavam na poça de lama, eu
segui para o banheiro. Quando me aproximo da bancada, o meu
celular vibrou e havia uma mensagem de Baran.
"Fique dentro do quarto."
— O que está acontecendo? — pergunto-me aflita.
Diante daquela dúvida e ao lembrar-me das palavras ditas
minutos atrás dentro do quarto. Meus dedos trabalham com
agilidade e procuro no aparelho, o aplicativo acessando assim o
canal do BBC World News América, pois se algo estava
acontecendo fora desse lugar, conhecendo a fama de Courtney
Miller, esta parecia ter uma bola de cristal e sempre estava um
passo à frente dos outros repórteres, ela de certo já estava ciente
dos acontecimentos. O que de fato eu não me enganei, no entanto,
gelei. Meus batimentos aumentaram e minha respiração ficou
acelerada ao ver as imagens que surgiram na tela do aparelho em
minhas mãos quando ela começou a falar.
“— Eu sou Courtney Miller, trazendo informações da grande
ameaça terrorista que teve como alvo o hospital New York
Presbyterian. O pânico se espalhou em volta do lugar, um vídeo
viralizou rápido quando alguém de dentro do local gravou o
assassinato de três pessoas, sendo dois pacientes e um enfermeiro.
Antes acreditávamos que era a polícia que estava infiltrada dentro
do ambiente tentando combater o inimigo, mas fui informada que
ainda estavam traçando um plano estratégico para invadir o prédio
sem que houvesse mais mortes de pessoas inocentes, contudo,
New York parou diante das imagens de homens mascarados em
confrontos com os invasores, trocas de tiros foram feitas, todos
estavam em posse de armamentos de alta tecnologia, cujo, apenas
membros das forças armadas americana têm acesso, já pelos
equipamentos utilizados pelo outro grupo, segundo chefe das forças
armadas, é de fabricação russa. O que gerou grande repercussão
devido aos conflitos entre os dois países que começou desde 1947,
durante a chamada Guerra Fria.”
Ela parou de falar e em seguida. Um calafrio atravessou a
minha espinha com as novas imagens foram exibidas. Não sei quem
era, mas alguém de dentro do próprio prédio estava fornecendo as
imagens das câmeras de monitoramento, eu reconheci de imediato
à roupa usada por alguns deles e sabia que eram homens de
Celikkol, estes estavam arrastando vários corpos e lançando-os
para o lado de fora, outra janela foi exibida na tela, pois através do
helicóptero que sobrevoava o lugar, eram gravadas imagens onde
mostrava uma pilha de corpos. Os corredores estavam desertos,
mas dava para se ouvir os gritos vindos de dentro dos quartos,
minutos se passaram e o chão de um dos andares que antes era de
um branco total, começou a ganhar outra cor, devido ao sangue que
era espalhado pelo piso. Respiro um pouco aliviada por estar no
oitavo andar e até onde foi repassado pelas imagens, eles só
chegaram até o primeiro andar. Mas, lágrimas se formaram em
meus olhos ao pensar que pessoas que já vinham passando por
tanta dor, sofrimento e dificuldades, ainda assim estavam passando
por todo esse tormento.
Meus olhos se arregalam quando granadas de fumaça foram
lançadas na direção da parte externa próximo aos corpos e tudo que
foi exibido pela aeronave, era uma forte neblina causada pela
fumaça. Perdi a noção de quanto tempo se passou enquanto olhava
estarrecida para tudo aquilo, logo depois que a imagem voltou,
Courtney Miller parecia desorientada, algumas janelas surgiram na
tela mostrando a parte interna do hospital e todos ficaram – acredito
– surpresos, pois os homens mascarados haviam sumido e aos
poucos os funcionários foram saindo dos seus esconderijos e as
imagens do lado de fora, agora com uma visão melhor, só mostrou
os corpos que eram de aproximadamente de uns vinte homens e
próximo a eles havia escrito no chão: Bratva.
— Mamãe! Mamãe!
O som da voz da Mel ecoou no ambiente e movida pelo meu
desespero, corri na direção do quarto. E, assim que entrei no
cômodo, meu olhar caiu sobre o homem que encontrei ali. Fiquei
petrificada por alguns segundos, minhas pernas estavam pesadas.
— Tio! — sua voz estava fraca devido ao esforço que vinha
fazendo. O homem a minha frente estava usando uma roupa
hospitalar e máscara, já que precisamos ter todo um cuidado. Ela
estava com um sorriso largo só em saber que ele estava ali, mesmo
mantendo certa distância.
— O que aconteceu? Por que aqueles homens estavam
travando uma guerra dentro de um hospital?
Ele ficou em silêncio, só fez um sinal com a cabeça, entendi
que era para me aproximar, já que a curiosa, mesmo olhando para
Tv, nunca deixava passar nada. Assim que parei em sua frente, ele
disse.
— Não era somente eu quem estava atrás das informações
que Raquel tinha posse, uma vez que você mencionou perto de
Vivian que o urso foi dado por aquela infeliz, além do inimigo querer
colocar as mãos no objeto, ele mandou que vocês duas fossem
eliminadas...
Cada palavra dita por ele deixou-me incrédula. Vivian, quem
diria. Eu estava perdendo a fé nas pessoas, primeiro Raquel que se
mostrou ser um anjo e agora aquela senhora tão atenciosa, na
verdade era uma cobra disfarçada. Meus pensamentos estavam a
mil, meus batimentos aumentaram de tal forma, que meu peito
arfava e o ar se tornou espesso, dificultando minha respiração. Abri
minha boca para dizer algo, mas a sensação que eu tinha, era que
havia um pedaço de bolo preso em minha garganta e nada passava
por ela. Quando enfim achei que conseguiria falar, fui interceptada e
como se tivesse lendo minha mente, ele disse:
— Sim, Vivian, aquela infeliz trabalha para máfia russa, porém,
não tinha nada dentro do tal Balu — no instante que suas palavras
ressoaram no ambiente, o que aconteceu seguida ganhou nossa
total atenção.
— Vocês estão procurando o tesouro da Quelzinha? Eu
guardei bem guardadinho.
Capítulo 47
“Não adianta se esconder atrás de uma máscara, um dia ela cairá e
todos saberão quem realmente és.”
Baran Celikkol

Meu corpo foi envolvido por um calor intenso enquanto os


olhos graúdos estavam fixos em nossa direção e pela primeira vez,
me vi tendo pensamentos diabólicos direcionados ao ser que até
então, somente me transmitia uma sensação de calmaria. Porém,
quando sua voz novamente ecoou dentro do ambiente, foi como se
tivesse me jogado um balde de água fria, fazendo a minha
temperatura voltar ao normal e afastando as sombras em volta da
minha mente.
— Tio, você está com raiva da Mel? — sua expressão
denotava tristeza.
Respiro fundo, meus lábios se moveram e quando minhas
palavras atingiram seus tímpanos, um sorriso largo tomou do seu
rosto angelical.
— Não. Você é a princesinha do tio — fiz uma pausa e
prossegui. — Agora me diga como achou o que estava dentro do
urso e por que você guardou?
Ela deu um suspiro longo, sei que não deveria, mas precisava
descobrir se realmente era o que estava procurando.
— Mel!
— Eu estou bem mamãe.
Volto minha atenção para o seu rosto quando a pequena
faladeira voltou à ativa e nem parecia que estava doente.
— Um dia quando eu esperava a minha mamãe, meus olhos
estavam querendo se fechar, mas, eu queria muito esperar ela
chegar. A Quelzinha disse que era hora deu ir dormir, então para ela
não brigar, fechei os meus olhos. Ela me chamou e chamou, mas
fiquei de olhos bem fechados, pois eu queria esperar a minha mãe
para contar que você, tio, estava de novo na TV. Como Quelzinha
pensou que eu tinha dormido, ela me carregou até a cama e colocou
a coberta em cima de mim. Eu ouvi quando ela disse: “enfim
dormiu”, e se afastou, abri rapidinho os meus olhos e ela estava
com o Balu e disse assim: “o meu tesouro ficará guardadinho dentro
de você” — ela parou e respirava com dificuldade, sua respiração
estava pesada, mas a criaturinha já não conseguia segurar a língua
dentro da boca. — Eu vou continuar tio — dei um sorriso discreto
em resposta. — Eu dormi, mas quando acordei bem cedinho, olhei
para o meu ursinho e não queria que o tesouro da tia Quelzinha,
que ela tanto gostava, fosse perdido, por isso eu abri o Balu e achei
aquela coisa que parecia um pedacinho de ouro.
Novamente ela para de falar, porém, já não me restava
dúvidas que era o bendito pen drive, já que após Albert conseguir
recuperar as imagens da sala onde ficava o computador central na
sede da Cosa Nostra, vi claramente o objeto dourado, o qual
Guilherme tinha posse, desta forma, quando levei Lisa para o covil
da morte, fiz uma busca em suas roupas, pois segundo a
desgraçada, o dispositivo estava em posse dela. Quando em seu
momento de desespero falou sobre o cordão e ao ver aquele
pequeno pingente, apenas ignorei já que havia um IRM, capaz de
impedir que uma cópia feita pudesse ser compartilhada, ou seja,
não teria como ele ter colocado as informações em outro tipo de
dispositivo. Meus pensamentos foram afastados quando desta vez
foi Lisa que se manifestou.
— Mel, onde você guardou o tesouro? — de certo queria que a
pequena contasse longo para assim ficar quieta.
— Está dentro do meu cofre, lá tem muitas coisas valiosas —
disse e ficou perdida em seus próprios pensamentos, como se
tivesse bem distante dali. Contudo, o pessoal de Dimitri havia feito
uma busca e nada foi encontrado, muito menos um cofre. Vendo
meu estado de confusão, a mulher ao meu lado voltou a proferir
algumas palavras.
— Você deve ter mandado seus homens fazer uma busca na
nossa casa, suponho que não devam ter revirado na caixa de
brinquedos quebrados que ela guarda com mais cuidado que os
novos. Para Mel, a caixinha de música que ganhei dos meus pais
quando criança e está bem velha com algumas avarias, é o que ela
diz ser o seu cofre...
Nos momentos seguintes, ela me contou com detalhes como
eu encontraria o objeto. Tinha que reconhecer que a Mel havia
escondido bem o pen drive e não somente o pessoal de Dimitri, mas
os infelizes enviados por aquele traidor acabaram por não encontrar
nada na residência Evans.
— Você já sabe, assim que Vivian trouxer o urso, aja
naturalmente, preciso ir até a sua casa e voltar para Chicago antes
que saibam que estive aqui durante o confronto.
Ela fez um gesto com a cabeça confirmando que havia
entendido. Olhei para a garotinha que estava com olhar fixo no
desenho de uma porquinha rosa que tinha a voz irritante e parecia
que havia engolindo não somente um gravador, como dezenas dele,
o que me fez entender quem era a influência que transformou um
ser tão pequeno em um papagaio humano.
Dei alguns passos indo rumo à porta, mas antes de alcançá-la,
fiquei imóvel por alguns segundos e em seguida viro-me em sua
direção quando escuto sua voz.
— Tio, você é namorado da minha mamãe. Por que ia embora
sem beijar ela?
Diante dos últimos acontecimentos, segurei-me para não sorrir
ao desviar o olhar dela, para a mulher que tinha o rosto mais
parecido com um tomate de tão vermelho e seus olhos azuis
estavam arregalados parecendo duas bolas de gude gigantes.
— Mamãe! Você ficou vermelhinha, está com vergonha da
Mel, eu já vou fechar meus olhos, assim você pode beijar o tio.
Um esboço de sorriso tomou conta do meu rosto quando a
espertinha colocou as duas mãos tapando os olhos, mas dava para
ver que estava espionando. Resolvi não contrariar uma criança que
estava doente e unir o útil ao agradável. Retirei minha máscara e
sem dar tempo de reação, meus braços se moveram em torno da
cintura de Lisa, minha boca logo buscou a sua num beijo urgente e
faminto, fazendo palmas ecoar dentro do ambiente.

Horas mais tarde...


Já era mais de meia noite, fiquei observando pela janela do
carro e as ruas estavam completamente desertas, envoltas na
penumbra. Desta vez pedi que Dimitri, arrumasse um carro bem
velho para que eu pudesse usar e não levantar suspeitas. Minutos
depois, ele que conduzia o veículo, chegou frente a pequena casa
que já era bem familiar para mim, desço rápido e caminho em
direção a porta. Sob o meu comando, o homem que está dentro do
veículo, assim como seu irmão, Alex, vem desempenhando com
precisão tudo aquilo que é solicitado, ele cuidou de controlar os
boatos que surgiram após alguns vizinhos verem Mel no noticiário
durante a notícia da minha falsa morte, a história contada por ele
acabou sendo bem convincente.
Parado frente à porta e após destrancá-la, lembranças da
primeira vez que estive aqui surgem em minha mente e a sensação
que senti ao ver Lisa pela primeira vez me invade. Deixo os
devaneios de lado, meus olhos fazem um passeio em volta do lugar
que estava numa bagunça total, móveis revirados e pequenos
objetos jogados no chão logo, os meus pés se arrastam pelo piso,
me levando até o quarto que as duas ocupavam. Alguns segundos
depois, eu entro no pequeno cômodo que assim como restante da
casa, está desorganizado, dou algumas passadas e me concentro
no guarda roupas embutido na parede, me agacho assim que vejo
vários brinquedos jogados, próximo a porta que está aberta. As
palavras de Lisa vieram a minha mente e com isso, levo às mãos
para dentro do compartimento, retirando assim a divisória que
escondia um segundo espaço, onde meus olhos foram de encontro
a caixa organizadora, que por sinal, além de ser cor de rosa, tinha
as gravuras daquela porquinha chata espalhada por toda extensão
do objeto, pego-a e me levanto.
Sigo até a cama e jogo tudo que tem dentro em cima dela,
haviam bonecas sem cabeça, outras sem as pernas e algumas com
os braços quebrados. Um pensamento passou rápido pela minha
cabeça.
"Será que não fazem mais brinquedos de qualidade ou o anjo
foi capaz de provocar tanto estrago?"
A resposta, eu não tinha, porém, foi a velha caixinha de
música que ganhou toda minha atenção. Abri o objeto e como Lisa
havia tido, aperto o botão localizado na parte debaixo da caixa e ela
aos poucos foi mudando, revelando assim alguns compartimentos
onde meu olhar foi da foto que havia da pequena e seus pais, para
um pequeno anel, depois um prendedor de cabelos e por fim meus
olhos brilharam diante do objeto reluzente.
— Até que enfim, encontrei você — esboço um sorriso em
satisfação.

Minutos mais tarde...


Eu já estou dentro do helicóptero, novamente com destino a
Chicago, pego meu notebook e encaixo o dispositivo na entrada
USB. Feito isso, minuciosamente mantive minha atenção na
primeira pasta que surgiu na tela, onde havia as informações que
aquele desgraçado roubou, depois de checar tudo, quando quis
desligar o aparelho, senti um latejar intenso em meu braço que foi
se espalhando até a minha mão direita. Minutos e segundos se
passaram e quando aquela sensação de queimação foi diminuindo,
uma pasta que tinha as iniciais LP, de alguma forma despertou o
meu interesse, abri e no momento que corri os olhos e li
atentamente as palavras que haviam no documento, o sangue
começou a borbulhar em minhas veias, o calor agora era
descomunal e as palavras escaparam sem querer eu pudesse
controlar.
— Eu sabia desgraçado, que você era o traidor, mas não cogitei que
na verdade seu verdadeiro nome fosse Lev Petrov, um dos
herdeiros da Bratva.
Capítulo 48
Massimo Torricelli

Maldição!
— Malditos! Desgraçados! — digo jogando a garrafa de bebida
contra a parede.
Eu estou tão furioso que sinto tremores por todo o meu corpo,
fiquei acompanhando de perto os noticiários para ter a confirmação
de que todos dentro daquele lugar haviam sido exterminados.
Porém, além de receber a notícia que dentro daquele urso não tinha
nada além de espumas, quando Miller surgiu na tela da televisão
trazendo informações de dentro daquele hospital, um ódio
descomunal apoderou-se de todo o meu ser. Uma onda de calor
tomou conta do meu corpo, a única coisa que se passava em minha
mente, era matar com as minhas próprias mãos, todos os infelizes
dentro daquele prédio.
Como sempre, aquele desgraçado e seus subordinados vêm
sendo uma pedra no meu caminho. Ao saber da viagem do maldito
e a notícia dada por Vivian, acabei agindo sem pensar e jamais
cogitei que aquela pirralha e a vadia por quem ele estava
enfeitiçado, estavam sendo protegidas por homens que são como
cães de guarda capazes de sacrificar suas próprias vidas por
aquelas duas infelizes, que não terão novamente a mesma sorte.
Pois um raio não cai duas vezes no mesmo lugar e sendo assim, o
próximo passo não será matar Lisa Evans, e sim dar um jeito para
tirá-la de dentro da toca do lobo e quando isso acontecer, ela me
será útil para atrair o infeliz até o lugar que vamos massacrá-lo, e ao
tê-lo sob nossa posse, antes de fazer tudo que sempre quis, eu vou
torturar a desgraçada em sua frente de todas as formas possíveis,
vou fazer com ela exatamente o que o imbecil fez com a fujona da
Raquel, eu irei mutilar todo o seu corpo e matá-la lentamente em
sua frente.
Meus pensamentos foram interrompidos ao ouvir a palavra
que me fez virar rapidamente na direção da porta.
— LEV!
Meu olhar mortal foi direcionado para a mulher que entrou no
meu escritório e assim que ela se aproximou e parou em minha
frente, uma de minhas mãos se movem e seguro firme a sua
mandíbula. Intensificando o contado, apertando com força seu rosto,
lágrimas se formam em seus olhos e olhando fixamente digo.
— CAMILE, EU JÁ TE AVISEI PARA NÃO PRONUNCIAR
ESSE NOME QUANDO TIVERMOS FORA DO QUARTO — vocifero
enraivecido.
— Aiiii...
Um ruído alto escapou da sua boca e assim que desapertei o
seu queixo, ela começou a tossir e logo depois o som da sua voz
reverberou dentro do ambiente.
— Não tem ninguém por perto e não tenho culpa se o plano
não deu certo — lágrimas começaram a descer pelo seu rosto.
Assim que afasto de vez a minha mão, ela deixa o ambiente,
chateada.
Por causa daqueles vermes eu acabei perdendo a cabeça com
a pessoa que mais amo na vida. Entretanto, as paredes têm ouvidos
e por mais cuidado que tenhamos, sempre pode surgir um traidor e
ainda não é o momento certo para que todos venham saber que
Massimo Torricelli, na verdade é Lev Petrov, aquele que por culpa
dos malditos e ambiciosos monstros da Bratva, foi separado do meu
irmão, fazendo o meu pai assim acreditar, que eu e minha mãe,
estávamos mortos. A mulher que me deu a vida guardou esse
segredo e jamais me revelou a verdade, quando completei vinte e
três anos, minha tia ficou doente e nos seus últimos minutos de
vida, além de pedir que eu cuidasse de Camile, revelou-me toda
verdade e foi dessa forma que ajudei Serguei a eliminar aqueles
usurpadores que haviam tomado o controle da nossa organização.
Quando Al Capone, aquele verme que nem imaginava que
salvou a vida do filho do homem que foi seu grande inimigo, deu
àquela missão, era a minha grande chance de me tornar o rei da
máfia. Tendo o domínio da Cosa Nostra, iriamos unificar as duas
organizações e assim ter o controle de vários territórios. Todavia,
assim como durante todos os anos do meu treinamento, Celikkol,
sempre acabava por conquistar a admiração de todos a sua volta e
embora tentando disfarçar, eu sabia que aquele porco imundo o
tinha como favorito, no momento que ele foi nomeado seu sucessor,
o ódio me dominou, minha respiração tornou-se escassa, porém,
tive que me controlar e ainda manter um belo sorriso no rosto.
Dali em diante, ao encontrar Vivian, esta se tornou uma
grande aliada e com sua ajuda, o primeiro rato foi enviado direto
para as profundezas do báratro, logo depois Nataly, nem precisou
que eu viesse a interferir, já que a esposa do miserável veio a
falecer, desta forma, Camile se aproximou daquela alcoólatra, mas
nem todo o seu charme foi suficiente para enlaçar o coração do
infeliz. Embora tenha feito várias tentativas, todas foram fadadas ao
fracasso. Com a intenção de desacreditá-lo, cargas foram desviadas
com a minha ajuda, dando assim a máfia russa, armamentos de alta
tecnologia, porém, comecei a receber chantagens anônimas e o
desgraçado do chantagista, sabia que na verdade eu era um dos
herdeiros do império mafioso russo.
Foi então que descobri que o maldito era Guilherme Colombo.
Matar o maldito levantaria suspeitas, mas o imbecil foi mais além e
acabou roubando informações preciosas que também eram do meu
interesse. Receber a ordem para acabar com toda sua família me
daria à oportunidade de matar dois coelhos de uma vez. Entretanto,
eu subestimei o homem que também nasceu dentro da máfia e
sabendo que havia sido descoberto, acabou por salvar a vida de
Raquel, sua filha.
Percebi alguns dias atrás, como Celikkol observa
minuciosamente cada membro do conselho e para afastar qualquer
suspeita sobre mim, o infeliz que se infiltrou dentro da sede da máfia
com minha ajuda, e como já estava condenado a morte, tendo
somente algumas semanas de vida, já que o câncer vinha o
corroendo por dentro, o tiro era para manter a farsa e assim todos
iriam acreditar que realmente eu fui atingido para salvar a vida
daquele que só desejo a morte.
Mas agora é tudo ou nada. Dentro de uma semana Serguei
estará pronto para que nosso plano seja executado e desta vez,
somente um de nós dois sairá vivo, e não estou disposto a perder a
guerra.
Uma semana depois...
Lisa Evans
Voltamos desde ontem para a mansão. Fernanda havia
comprado um monte de brinquedos para Melanie, que estava
eufórica e mesmo ficando só deitada, passou um bom tempo
brincando junto com ela. Mas, confesso que a princípio não foi fácil
quando no dia seguinte após o ocorrido no hospital, Vivian foi levar
o urso e segundo ela, havia pegado um terrível engarrafamento e
como já havia passado o horário permitido para que ela fosse
liberada para entrar, acabou deixando para ir outro dia. A minha
vontade era dizer poucas e boas para a mulher, que além de falsa,
foi responsável por passar informações que por pouco não resultou
em um massacre, onde vidas inocentes foram vítimas desse jogo de
ambição e poder. No entanto, eu acabei seguindo as ordens de
Baran, mesmo sabendo que assim como os outros, ele também é
um monstro. Eu tinha que reconhecer que não foi ele que me
colocou dentro do covil desses animais famintos, e sim, o preço em
fazer o bem foi ser pago com o mal. Eu estendi as duas mãos para
ajudar Raquel, mas em resposta ao meu ato, ela me empurrou
direto para o caos onde tive que suportar a dor, mas serviu para que
eu me tornasse ainda mais forte.
Soube por Baran que foram os homens liderados por Alex que
confrontaram os invasores, salvando assim não somente a minha
vida e da minha princesa, como de dezenas de pessoas. Deixo as
lembranças de lado e enquanto Mel está aos cuidados de Fernanda,
eu respiro fundo, embora esteja com as mãos trêmulas e as pernas
pesadas, giro a maçaneta e ao abrir a porta do escritório, assumo o
controle dos meus membros inferiores e caminho em direção ao
homem que está próximo a mesa.
— Sente-se, temos uma longa conversa pela frente...
Nos minutos seguintes, ele me contou detalhadamente tudo
que tinha em mente. O ser diabólico era astuto, mas ao relatar a
última parte do seu plano, meu coração gelou, um calafrio
atravessou a minha espinha. O medo por alguns segundos tomou
conta de mim e, me fez prender minha respiração.
— Natasha, é quem vai se passar por você e será a isca.
Disse me mostrando a imagem da mulher que tinha a mesma
estatura e cabelos bem semelhantes aos meus, mas o rosto não,
porém, na imagem seguinte, era como se eu estivesse olhando o
meu reflexo. Ao conseguir controlar o ritmo da minha respiração,
levando ar para os meus pulmões, era o momento de deixar o medo
de lado e não permitir que a desconhecida viesse a ter que enfrentar
algo que era eu quem devia resolver, eu estava dentro do coração
da máfia e já era o momento de lutar pela minha liberdade. Então,
olhei para o homem a minha frente e disse.
— Não será preciso que ela se passe por mim.
— VOCÊ NÃO ESTÁ ACHANDO QUE VOU PERMITIR QUE
PARTICIPE DE TODA ESSA PORRA! — gritou raivoso, mas não
me intimidei.
— Quando você me levou para aquele inferno e me torturou
sem piedade, não se lembrou de que eu era frágil ou que não
suportaria toda sua crueldade. Você disse que ninguém jamais havia
saído com vida daquele purgatório, mas, eu ainda estou aqui. Então
se sobrevivi a sua fúria, desde que você garanta a segurança da
Mel, ninguém, por mais que tente, conseguirá me quebrar. E assim
que tudo isso terminar, terá que nos dar a nossa liberdade de volta.

Minutos depois...
Depois da conversa que tive com Baran, deixei o ambiente
indo em direção da cozinha. Era o momento de seguir os
ensinamentos de Olivia.
"Não importa a situação que esteja, se você assumir o
controle, libertará a sua força interior".
Passos firmes me levaram até o ambiente, já se podia sentir o
cheiro delicioso impregnando no corredor, ao chegar à porta, além
das duas mulheres, onde uma mantinha sua atenção no fogão e a
outra na pia, estava Vivian, sentada em uma cadeira, polindo os
talheres.
— Lisa! — disse exibindo um sorriso largo, revelando seus
dentes amarelados.
"velha falsa, deveria ganhar um Oscar, mas vou mostrar que
também posso ser uma boa atriz." — digo em silêncio.
— Vim ver se precisam de ajuda, já que Fernanda está com a
Mel — sento em uma das cadeiras.
— Pensei ter visto você indo em direção ao escritório — a
curiosidade matou o gato, mas dessa vez seria a cobra. Contudo,
assim como Baran havia dito, eu precisava agir o mais natural
possível para que ela caísse direto na ratoeira.
— Como Baran vai viajar hoje à noite, fui informar que preciso
ir ao hospital amanhã.
— Aconteceu algo com Mel? — deu uma de preocupada.
— Ela esta muito bem, mas o hematologista acabou não
chegando a tempo de viagem e como ela havia ganhando alta, ficou
marcado para que eu fosse amanhã, já que as instruções que ele
precisa repassar serão fundamentais para o tratamento em casa.
— Mas, o chefe permitiu que você saísse? — resolvi entrar na
sua onda e sabia exatamente como dar o golpe final.
— Não sei se é um milagre, mas acredito que ele, de alguma
forma, sente um pequeno afeto pela Mel. Então se tratando do bem
estar dela, irei com o motorista e alguns soldados que fará a nossa
escolta.
Vi um brilho diferente em seus olhos. Por dentro eu estava
tremendo, mas só em pensar que estaria a um passo de tudo isso
chegar ao fim. Minhas forças foram renovadas e agora era só
esperar, pois sua língua devia estar coçando dentro da boca.
Enquanto ela continuou seu serviço, eu só pedia uma única coisa.
"Deus me ajude, para que todo esse pesadelo chegue logo ao
fim".
Capítulo 49
Um dia depois...
Baran Celikkol

Meus olhos estão atentos ao monitor fixado na parede do


meu quarto, localizado na cabana. Para todos, estou em Miami,
porém, desta vez contei com ajuda de um sósia para que o meu
plano viesse a dar certo, no entanto, depois de tudo que fiz Lisa
passar dentro do Covil da Morte, eu pude ver o tamanho da sua
força, esta, embora não seja física, mas é muito mais intensa, pois
vem do seu interior.
Ouvir suas palavras ontem quando eu avisei da participação
de Natasha, fez o sangue inflamar em minhas veias. Mas, sabia que
ela estava determinada e para não colocar tudo a perder, deixei que
ela viesse a pensar que realmente eu iria permitir que ela caísse nas
garras daqueles vermes famintos, contudo, no instante que ela disse
o verdadeiro intuito em querer participar do plano, os meus
demônios despertaram. Lisa ainda mantinha a esperança em ter
uma vida longe dos meus domínios, não sabendo ela que no
momento que entrei em sua casa, tanto a sua vida, a minha e da
pequena faladeira, jamais seriam as mesmas. Afasto as lembranças
e mantenho a atenção nos dois veículos que começam a se mover
em direção ao portão principal, no primeiro estava Elisabete, o
motorista e um soldado, no segundo havia além do motorista, mais
quatro dos meus homens.
Sei que cerca de 200 homens enviados por Petrov entraram
no território americano dois dias atrás, vindos em voos piratas, que
foram rastreados por Albert, e ontem à noite, Serguei chegou a
Manhattan, lugar este onde temos um grande depósito, mas havia
sido desativado há cerca de alguns meses quando os malditos
russos, com ajuda de Massimo, interceptaram uma das cargas a
alguns quilômetros de distância do lugar, tendo em sua parte interna
milhares de armas e faixa de 10 mil quilos de heroína e cocaína. Em
consenso o conselho, achamos melhor que a nova sede ficasse em
Queens, e o desgraçado foi o primeiro a concordar com a decisão.
Cada vez que olhava para o rosto do maldito, os meus demônios
ficavam agitados, mas até então, era somente dúvidas que
rondavam a minha mente, embora que ao enviá-lo para a mansão
Colombo, eu tinha alguém infiltrado, já que se minhas suspeitas
fossem confirmadas, ele daria um jeito de se apossar do pen drive.
Encontrava-me inquieto e aquela emboscada quando estava
com Lisa, foi um dos motivos para ter a certeza que ele era o grande
traidor e para não restar dúvida alguma, antes de morrer, Vicente
ainda tentou falar, mas nenhum som saiu de sua boca, porém, ao
contrário dos ensinamentos que Massimo recebeu do nosso mentor,
este acabou me ensinando coisas que não repassou a ele e uma
delas era conseguir interpretar a leitura labial, onde seria
fundamental para me tornar o seu sucessor. O infeliz ainda acredita
que aquela farsa durante o tributo a Al Capone em se jogar para
salvar a minha vida, faria com que ele fosse descartado das minhas
suspeitas. Tolo, no momento que cheguei próximo ao pátio e fiz uma
varredura com os olhos pela multidão, meus órgãos internos
dispararam ao avistar um intruso. Todavia, tive que controlar não só
a besta insaciável do meu interior, como a fúria descomunal que
dominou cada fibra do meu corpo e iluminou os meus olhos, feito
isso, antes de terminar de concluir o discurso que estava fazendo,
desviei o olhar para o relógio em meu pulso, tendo assim as
imagens transmitidas por Albert, onde deu para ver claramente a luz
vermelha em direção do meu peito. Só deixei que o maldito
seguisse com o seu plano e não foi fácil ter que lutar todo esse
tempo contra os meus demônios que queriam a todo custo
estraçalhar o miserável. Mas, ao descobrir quem ele era de verdade,
só aumentou a vontade em ser o responsável pela sua destruição,
entretanto, para isso acontecer, com a ajuda de Alex, Dimitri e
Albert, traçamos minuciosamente cada detalhe de como iriamos
para o confronto final e o meu intuito foi reunir todos em um único
lugar, para sim eliminá-los. Acabando com a praga que se enraizou
a minha volta e os fazendo se arrepender amargamente por querer
roubar aquilo que me pertence.
Eu sou o rei e não estou disposto a perder para eles a minha
coroa, o dia que isso vier acontecer, será para aquele que terá em
suas veias o meu sangue.

Serguei Petrov
Lev estava monitorando os carros que se deslocaram para as
proximidades do hospital. Com a informação repassada por Vivian,
traçamos um novo plano, mas antes precisávamos ter certeza que
não era uma emboscada feita por aquele desgraçado. Minutos atrás
os noticiários mostraram que realmente ele está em Miami, assim
como Vivian nos informou e confirmou que a vadia que se tornou
sua protegida, realmente havia deixado à mansão, que logo será
nossa.
Diante disso, decidimos que na sua volta seria o momento
ideal para contra atacar, além de o horário nos favorecer, a mansão
Celikkol está localizada em uma área que fica a quilômetros de
distância dos prédios e casas de East Harlem, já que para ter uma
pista de pouso e guardar suas próprias aeronaves em casa, ele
comprou uma área bem isolada, tornado assim a sua casa uma
verdadeira fortaleza.
Por anos venho dedicando cada minuto em planos e
estratégias para acabar com a vida daquele traste e de todos os
seus aliados. Hoje será o início da destruição daquele maldito. É o
grande passo para o nome Petrov ser temido e respeitado no
mundo da máfia e não deixarei que ninguém atrapalhe os meus
planos. Antes, eu, Serguei Petrov, enviarei todos ao inferno.

Horas depois...
Lisa Evans
O trajeto feito até ao hospital foi em silêncio, somente um
veículo estava fazendo a nossa escolta, quando cheguei fui direto
para a sala do Dr. Hacen. Os minutos se passaram e depois de ele
ter explicado, desde os cuidados que deveria ter com a Mel durante
esses primeiros meses e principalmente que deveria vir ao hospital
a cada trinta dias, fez algumas recomendações e passou alguns
medicamentos que ela deveria fazer uso, caso ocorresse alguns dos
problemas que ele havia citado. Levanto-me e antes de deixar o
ambiente, eu o agradeço.
— Obrigada por todo cuidado que o senhor e sua equipe
tiveram com ela durante essa fase tão difícil.
— A senhora não precisa agradecer. Além de ser a nossa
obrigação, estávamos todos torcendo para que tudo desse certo.
Melanie encantou a todos e ver o sofrimento de um paciente já é
difícil, ainda mais de uma garotinha que através de um único sorriso
foi capaz de transmitir sensações tão boas.
Dei um sorriso para ele e caminhei em direção à porta, passei
pelo corredor chegando à recepção e um dos seguranças já estava
me aguardando. Dei alguns passos até onde ele estava e juntos
entramos no elevador que daria acesso ao térreo onde estava
localizada a garagem. Feito isso, o objeto entrou em movimento e
segundos depois, parou e a porta se abriu. Quando movi uma das
pernas, senti um aperto profundo no peito e uma sensação ruim
pairou sobre mim, talvez fosse por saber que daqui a alguns
minutos, eu estaria indo direto para o lugar que se tornaria um
campo de batalha.
Meu destino era incerto, eu poderia sair viva ou talvez não,
mas não ia retroceder, já que a Mel estava segura. Meus
pensamentos foram interrompidos assim que ouvi a voz grossa do
homem que estava ao meu lado.
— Senhora!
Olhei para ele por alguns segundos e logo depois, deixamos o
ambiente. Seguimos em direção ao veículo.
Quando chegamos ao local, a porta foi aberta para que eu
entrasse, já estava sentada no banco traseiro perto da janela do
lado esquerdo, e me assusto quando a porta do lado direita é
aberta. Fiquei atordoada ao ver a imagem a minha frente.
— Você!
Antes que algum som saísse da sua boca ou eu fizesse algo, a
porta ao meu lado também foi aberta. O homem que estava ali para
me proteger levantou uma das mãos e em seguida, senti algo úmido
de encontro ao meu nariz. Comecei a me debater, mas logo fui
envolvida por uma escuridão sem fim.
Capítulo 50
Lev Petrov

Todos os nossos homens estão divididos em grupos e


espalhados em pontos estratégicos, já que sei exatamente todo o
funcionamento da Cosa Nostra dentro do território americano. Seria
um desperdício tentar um ataque contra o hotel que o maldito está
hospedado, pois correríamos o risco de ele escapar, entretanto, sei
que quando a guerra começar, seus soldados irão avisá-lo, porém,
será tarde demais. Pois antes que chegue a East Harlem, todo seu
pessoal já terá sido massacrado, começando pelos abutres dos
conselheiros, uma vez que isso venha a acontecer, já que cada um
deles lidera uma grande quantidade de soldados, mesmo sendo o
enviado das trevas, sozinho ele não terá chance, já que ao pedir
reforços aos membros da organização localizada na Itália, Brasil,
Austrália, México, Uruguai e Inglaterra, o restante dos homens da
Bratva já os estará aguardando para interceptar a entrada deles nos
Estados Unidos. dessa forma, Celikkol ao saber que estou em
posse da puta que se tornou seu calcanhar de Aquiles, virá direto
para nossas mãos. Meus pensamentos foram afastados assim que
meu irmão ficou ao meu lado e foi justamente no momento que o
som da voz de um dos soldados ecoou dentro do espaço.
— Chefe! Eles já estão se aproximando.
— A ÚNICA QUE DEVE SOBREVIVER É A MULHER QUE
ESTÁ COM ELES — vocifera Serguei.
— Assim será feito — respondeu o homem em contra partida.
Com ajuda dos drones podíamos acompanhar as imagens dos
dois carros que pegaram o desvio que daria acesso à estrada que
os levaria direto não para casa, e sim para o inferno. Depois que
fizeram o desvio, os carros que estavam escondidos a alguns
metros de distância entraram em movimento seguindo o mesmo
trajeto que os malditos tinham feito, já haviam dois carros cercando
a estrada, mas os outros três os deixariam encurralados. Minutos
depois, assim que avistaram a barreira, o barulho infernal de tiros se
fez presente, os desgraçados estavam tentando romper a barreira e
o som de uma grande explosão ecoou no espaço assim que um
deles colocou para fora uma bazuca e atinge um dos veículos, mas
antes que isso viesse a acontecer com o segundo, o botão dentro
de um dos carros que vinha atrás dos deles foi acionado, fazendo
com que no teto do veículo surgisse o armamento que seria o
passaporte para entrada deles no caos. Com um cano extenso e
uma potência capaz de derrubar até um avião, o primeiro disparo foi
feito, atingindo o carro que estava fazendo a escolta da infeliz.
O automóvel começou a ser consumindo pelas chamas, no
desespero, as portas foram abertas e o infelizes se jogaram antes
que o carro viesse descer pela ribanceira. Rapidamente o lugar
transformou-se em um campo de batalha, tiros e mais tiros ecoavam
de todos os lados, mesmo feridos, os trastes que se jogaram ainda
tentaram resistir enquanto o veículo que estava a vagabunda foi
abatido e os dois homens que estavam juntos com ela ainda lutaram
bravamente para proteger a infeliz, não tendo êxito. Instantes
depois, a paz reinou e uma gargalhada horripilante dado pelo meu
irmão preencheu o espaço assim que um dos soldados da Bratva
saiu puxando a infeliz pelos cabelos, arrastando o seu corpo pelo
asfalto e gritos ecoavam no ar.
Um sorriso diabólico tomou conta da minha face, fazendo todo
o meu corpo estremecer.
"Maldito, agora vou pegar aquilo que é meu por direito, mostrando a
todos quem é o verdadeiro rei da máfia".

Baran Celikkol
Com Lisa fora de circulação, Natasha entrou em ação
assumindo o seu lugar. Os desgraçados estavam monitorando o
espaço através de drones, porém, eu tinha acesso às imagens via
satélite, que graças a interferência do gênio do Albert, podia ver
tudo que estava acontecendo no local, desde a emboscada, o
tiroteio e no momento que colocaram as garras na mulher que
supostamente era Elisabete Evans, foi o alerta para que todos
assumissem os seus postos. Todos os conselheiros, incluindo a
raposa velha do Estêvão, que levou um choque ao saber que seu
favorito era um traidor, viessem a partir para o confronto. Assim
como os soldados vindos da Itália e México, já estavam em solo
americano muito antes dos homens enviados por Serguei
chegarem, se eles cogitaram que impediriam a entrada do restante
do meu pessoal no nosso território, o meu plano era totalmente o
oposto. Os desgraçados estavam presos dentro do covil da Cosa
Nostra, lugar este que jamais deixariam com vida.
Ninguém entrava ou saia dos Estados Unidos, pois, os
italianos e mexicanos só tinham uma única tarefa: matar quem
tentasse escapar. Sei que enquanto estavam levando Natasha, os
grupos deles avançaram, alguns com destino a minha fortaleza,
lugar este que teriam uma boa recepção e onde já havia pego a
vadia da Vivian, assim como uma equipe já estava invadindo a
mansão do traidor em busca daquela que além de sua amante, era
o trunfo que seria usado por mim, para mostrar a ele quem era que
estava um passo à frente.
Dimitri e seu pessoal tinham a missão de proteger Lisa,
Fernanda e principalmente o pequeno anjo. Em hipótese alguma, eu
permitiria que algo acontecesse a nenhuma delas.
Por terra, os russos não tinham chance contra os meus
homens e se por desespero viessem a cogitar um ataque aéreo
tanto a mansão, quanto a sede da máfia, era o dever de Albert
impedir, já que este estava no controle de equipamentos capazes de
rastrear qualquer aeronave ou míssil que fosse direcionado para
ambos os lugares e destruí-los antes que chegasse ao seu destino.
Alex estaria à frente da equipe que iria conosco para linha de
frente, já que eu mostraria, não somente a Serguei, mas a Lev, o
verdadeiro motivo pelo qual fui escolhido, não por preferência e sim
por mérito para me tornar a fera sangrenta da Cosa Nostra
americana.
Deixamos à cabana e boa parte do pessoal que seria liderado
por Alex, estavam infiltrados e camuflados próximo ao local que eles
estavam.
Já dentro do carro, meus olhos se mantinham fixos na tela do
meu notebook, observando assim, a chegada deles no depósito e
quando retiram a mulher de dentro do veículo e a levaram para
dentro, logo depois meu sangue começou a borbulhar, quando os
olhos de Natasha ficaram cravados na direção dos dois sujeitos que
ostentavam um ar triunfante.
— Bem-vinda ao inferno, Lisa Evans — falou o desgraçado do
Massimo, não sabendo ele, que a mulher a sua frente era os meus
olhos e ouvidos dentro daquele lugar.
Havia uma câmera instalada em uma das lentes azuis que
foram colocadas em seus olhos. Deixei os pensamentos de lado
assim que ele se aproximou e um soco pesado foi desferido no
estômago da mulher, que deixou um ruído ensurdecedor envolver o
ambiente.
— Eu bem queria acabar agora mesmo com a sua vida
miserável, mas ainda não é o momento, porém, isso não impede
que eu faça você pagar por ter estragado os meus planos, ao entrar
junto com aquela fedelha, no caminho daquele maldito, que assim
como você, será morto pelas minhas mãos.
Esboço um sorriso, pois veremos se manterá toda essa
valentia e audácia quando estivermos frente a frente. Logo depois,
os soldados que estavam segurando Natasha, a colocaram dentro
de uma jaula, e, esta começou a sacudir assim como o corpo dela,
quando o infeliz do Serguei apertou um botão e uma descarga de
choque envolveu não somente o objeto, como a mulher que estava
lá. Gargalhadas ecoavam no ar, não sabendo eles que os ruídos
emitidos por ela, era somente fingimento, já que ela era totalmente
imune à dor. Natasha Santoro era italiana e filha de uma grande
aliada de Al Capone, assim como a mãe, que prestou grande
serviço a nossa organização, ela também nasceu com Analgesia
congênita, contudo, a criança já demostrava um lado obscuro. Ela
vivia se mutilando na tentativa de proporcionar dor a si mesma, o
que jamais teve o prazer em sentir.
Soube da sua existência dias após a morte de sua mãe, meu
mentor, que se encontrava debilitado e já havia me tornando o seu
sucessor, me passou o dever em proteger e cuidar da menina que
hoje tem a mesma idade que Lisa, mas na época tinha apenas doze
anos. A criança parecia um bicho selvagem, andava descabelada,
com as unhas sujas e as roupas rasgada. Dizer que foi fácil domar a
pequena fera, não foi, eu tive que ganhar a sua confiança e talvez,
por nós dois, sermos bastante parecidos, acabamos por nos
entender. Foram exatamente nove anos, tempo este que ela passou
por treinamentos para controlar a sua fúria, que acabou se
mostrando uma verdadeira máquina de matar e por trás daqueles
olhos negros, se escondia uma alma quebrada, que foi restaurada e
ela, assim como eu, havia se encontrado. Além de ser dona de uma
inteligência excepcional. Sua doença que acabou fazendo com que
muitos a rejeitasse, hoje se tornou a melhor aliada para sua
sobrevivência, portanto, eles podem tentar quebrá-la de várias
formas ao querer proporcionar somente a dor, mas esta, embora
que seu corpo sofra as consequências, sua mente ainda se manterá
inabalável, dando-lhe forças para aguentar tempo suficiente para
que eles provem da dose do próprio veneno.
Embora esteja faminto para acabar com aquele verme traidor,
pela primeira vez deixarei os meus demônios compartilharem uma
presa e assim, ela também poderá saciar a sua fome e fazer o
maldito pagar por todo sofrimento que deseja lhe proporcionar.
Chegou a hora de acabar de vez com essa guerra, destruindo
todos que ousaram desafiar a Cosa Nostra dentro do seu próprio
território.
Capítulo 51
Lev Petrov
Do andar superior, olhei para a gaiola onde estava a vadia que
se contorcia em meio à dor, gritos ecoavam a cada descarga que
ela recebia. Tinha que reconhecer que o rosto da infeliz era
semelhante ao de um anjo e não era atoa que ela havia sobrevivido
as atrocidades que passou dentro daquela cabana, se bem que
tinha dúvidas se realmente ela havia sido torturada ou simplesmente
acabou enfeitiçando o maldito ao abrir suas pernas. Meus
pensamentos foram interrompidos assim que ouço a voz de Serguei.
— Recebi informações que nosso pessoal já dominou a
mansão, assim como os conselheiros foram eliminados. É hora de
enviar o vídeo ao maldito — exclama com um sorriso largo no seu
rosto.
Deslizo o dedo pela tela do aparelho, em fração de segundos
a mensagem é enviada. Eu daria qualquer coisa para ver a reação
do desgraçado ao descobrir que não somente dominamos o seu
espaço, como a sua protegida está mais para uma rata engaiolada.
O silêncio que antes predominava no ambiente foi rompido e nesse
momento, um estrondo terrível ecoou no espaço, fazendo o chão
tremer. Havia uma dúzia de homens, além de nós dois no andar de
cima, os outros estavam no andar de baixo e dezenas em volta do
prédio. Os homens que estavam perto da gaiola ficaram
desorientados e a atenção de todos se voltou para a porta quando
um dos meus soldados surgiu na entrada principal. Seus olhos
estavam cheios de pavor e aos berros, ele disse.
— Senhor! Senhor, estam... — o som da sua voz foi
substituído por um ruído de dor e seu corpo caiu no chão com um
baque forte e alto, o par de olhos, escuros e sem alma, ainda
estavam abertos e direcionados em minha direção. Todos os olhos
se voltaram para a direção de onde ele veio.
Por alguns segundos, não houve nenhum movimento,
ninguém produziu nenhum som, inclusive eu. As expressões
petrificadas do meu irmão e dos soldados, refletiram de volta para
mim, penetrando freneticamente em meu olhar, procurando
entender o que estava acontecendo. Porém, antes que isso viesse a
acontecer, o som de balas abrindo fogo foi a primeira coisa que ouvi,
em seguida era como se tivessem aberto uma porteira e em vez de
dezenas de touros furiosos passando por ela, um punhado de
soldados que mais pareciam animais selvagens, cada um
segurando uma Glock, entrou no cômodo.
Os segundos seguintes foram como um filme de terror, se
tornando minha nova realidade. Olhei pela janela, tiros estavam
sendo disparados para todos os lados e em questão de minutos,
tudo a nossa volta se transformou num campo de guerra. Os nossos
homens estavam sendo massacrados. Corpos estavam sendo
arremessados ao ar devido as fortes explosões, o chão logo ganhou
tons avermelhados.
Era uma verdadeira carnificina acontecendo bem diante dos
meus olhos.
Meu corpo se moveu no piloto automático, como se estivesse
sendo puxado por um fio invisível.
Atirando na direção em que eles estavam vindo, disparei
vários tiros. Tentando desesperadamente derrubar os filhos da puta.
Um fluxo interminável de munição continuava vindo de todos os
ângulos em nossa direção, tornando difícil acompanhar seu ataque
inesperado. Minha garganta ficou seca. Um calor escaldante
começou a percorrer pelo meu corpo. Meus olhos fizeram uma
varredura rápida ao redor do salão.
— Caímos direto na armadilha dele — disse Serguei e ficou
balançando a cabeça em negativa, olhando fixamente para os
corpos sem vidas, que estavam jogados no chão, tanto dos nossos
homens, como os malditos da Cosa Nostra.
Meus instintos dispararam, a adrenalina percorreu meu corpo,
queimando minhas veias e se fundido ao meu sangue, quando um
grito ensurdecedor reverberou no espaço e o diabo apareceu.
— Ele é meu — seu olhar sombrio foi lançado em minha
direção.
A expressão em seu rosto, cheia de fúria, enquanto uma
sensação intensa e avassaladora de raiva despontou em minha
postura, esmagando osso por osso em meu corpo.
— Eu vou te matar seu desgraçado — grito furioso.
Do lado de fora, estrondos se faziam presentes. Serguei dava
tiro após tiro que soavam no ar, enquanto as cápsulas das balas
caiam no chão. No momento que ele apontou na direção da gaiola,
antes que viesse a acertar o alvo, um disparo foi feito, acertando a
arma que estava em sua mão e ele acabou perdendo o equilíbrio e
rolou escada abaixo.
— Eu estou te esperando, Lev Petrov — gritou o desgraçado,
esboçando um sorriso e jogou sua arma no chão. Assim que meu
irmão se levantou e estava prestes a ir de encontro ao maldito, grito
enraivecido.
— Não! Essa luta é entre nós dois. Vou mostrar para esse
infeliz quem sempre foi digno de ser o chefe supremo da máfia.
A veia do meu pescoço latejava, minha mandíbula se contraia
e meus batimentos cardíacos estavam desenfreados, me livrei dos
degraus com uma velocidade semelhante à de uma bala e antes
que chegasse ao meu destino, a porta da cela suspensa foi aberta e
a mulher que estava dentro dela, correu na direção do meu irmão,
fico atordoado por um instante sem saber como ela poderia ter
aberto e se evadido, porém, sorrio por dentro, a sessão de choques
deve ter afetado seus neurônios ao ponto de ela cogitar que tinha
alguma chance em enfrentá-lo.
Não havendo mais distância entre nós. Fechei minha mão em
um punho e o primeiro soco foi desferido de encontro ao rosto do
maldito, que acertou outro no meu.
— Vamos ver se você é tão valente sem estar com uma arma
em mãos — digo e o segundo golpe atingiu o seu estômago.
— Você não é de nada, seu covarde.
Comecei a desferir socos para todo lado e num golpe intenso,
seu rosto girou e o sangue começou a escorrer pelo canto da sua
boca. Minhas mãos estavam descontroladas, como se tivessem
ganhado vida própria, mas quando o infeliz levantou a cabeça, fiquei
congelado por alguns segundos. Suas feições eram algo que
parecia sobrenatural, os olhos estavam avermelhados, como se as
chamas do inferno estivessem dentro deles, parecia o próprio
belzebu com os cabelos caídos sobre a testa e o rosto
transfigurado. Saí do estado catatônico que me encontrava quando
escutei sua voz.
— Espero que tenha aproveitado o seu momento de glória,
pois, ao derramar o meu sangue, acabou de assinar seu atestado
de óbito.
— Maldito! — vociferei enraivecido e parto para cima do infeliz.
Assim que fui desferir o próximo golpe, este foi bloqueado por
ele e impiedosamente seu punho acertou a boca do meu estômago,
um golpe tão forte que cambaleei para trás com o impacto, urrando
de dor. Outro golpe foi dado, me lançando ao chão e ar foi
arrancado dos meus pulmões, pura agonia rasgou minha mente.
Olhei para o lado avaliando qual seria meu próximo passo, nesse
exato momento, Serguei havia acertado o rosto da mulher, que caiu
no chão, porém, os olhos dele ficaram arregalados como se fossem
saltar do rosto quando a infeliz se levantou e levou uma das mãos
até o seu rosto, puxando o que parecia ser sua pele, mas que na
verdade era uma máscara, que acabou jogando no chão. A porta do
inferno havia sido aberta e não foi só o diabo que passou por ela,
como a sua irmã, já que ela emanava uma energia forte, semelhante
ao do capeta que estava sorrindo diante da cena que se formou.
A maldita começou a dar socos e mais socos, acertando várias
vezes o peito do meu irmão. Lançando seu corpo para trás com o
impacto, ele caiu no chão, aquela criatura não parecia humana e
não parava de bater, eu estava prestes a me mover até onde eles
estavam, quando fui puxado com violência e um soco cruel atingiu
minhas costelas e dali em diante, nós dois começamos a travar uma
verdadeira batalha, o desgraçado tinha punhos de aço, eu sentia
como se realmente os ossos do meu corpo estivessem se
quebrando aos poucos.
Atracamo-nos e batemos com tanta força, que quebramos a
parede de madeira. Caímos no chão, cada um tentando levar
vantagem sobre o outro. A claridade me deixou desorientado, já que
agora estávamos do lado de fora e minha raiva se intensificou
quando o barulho dos gritos dos seus homens ecoou no ar.
— Mate o traidor, chefe. Mate! Mate!
Novamente golpes foram desferidos, me fazendo cair no chão.
— Levante-se, porra! Não queria o meu lugar, então que seja
homem para isso — sua voz potente ecoou no espaço.
Minha mandíbula se contraiu. Ouvir as palavras daquele
maldito fez o incômodo se intensificar por todo o meu corpo. Estava
tão quente, que a sensação era de que meu corpo estava em
chamas. Meus órgãos internos funcionando num ritmo intenso. A
raiva tomou conta de mim, num pulo, me levantei e ainda consegui
acertar um soco pesado em sua barriga, mas aquilo parece que só
fez cócegas, pois, Celikkol começou a socar o meu rosto sem parar,
o gosto metálico tomou conta da minha boca. Mas, eu senti algo
quebrando dentro do meu abdômen, quando um rugido escapou da
sua boca e seus punhos atingiram o centro da minha caixa torácica.
Droga! Droga! Droga!
Uma dor terrível atravessou todo o meu corpo, que foi jogado
de encontro à parede e novamente caí no chão. A força do impacto
fez a minha cabeça latejar e o ar se tornou escasso, ainda tentei me
levantar, mas meu corpo desabou. Tudo começou a ficar escuro e
antes de ser envolvido pelas trevas, bufando feito um animal
raivoso, novamente ele voltou se manifestar.
— Você ainda não irá morrer seu miserável. Darei a você um final
digno de um traidor.

Na manhã seguinte...
Covil da Morte – Primeiro dia...
Baran Celikkol
Assim que a porta dupla, de aço, foram abertas, passei por
elas, ao meu lado estavam Alex, Dimitri e Natasha. Todos os olhares
caíram sobre as quatro vítimas à nossa frente e foi justamente no
instante que eles despertaram.
— Socorooooo...
Os gritos das duas mulheres logo se fizeram presentes, bem
diferente de como Lisa ficou, elas estão com os punhos e tornozelos
presos, porém, somente as correntes fixadas nas algemas dos
membros inferiores e superiores direitos estão interligadas a parede,
já dos membros do lado esquerdo, estão fixadas ao tanque
quadrado de aço, onde os irmãos Petrov se encontram. Qualquer
movimento dentro do recipiente faz as correntes serem movidas e
consequentemente, puxando os membros de ambas.
Dei alguns passos e me detive.
— Eu sempre considerei o Covil da Morte como um purgatório,
o lugar em que infelizes como vocês, pagariam por seus pecados.
Vocês serão enviados ao inferno, isso é fato, mas não pensem que
passar pela porta negra lhes dará acesso direto aos caos, antes
disso acontecer, vocês irão passar pelas três fases da purificação da
carne, para ver se suas almas podres tem alguma salvação. Apesar
de que, a meu ver, de nada vai adiantar. Contudo, irei me divertir
muito, vendo-os passar por todo processo.
O valentão logo se manifestou.
— VOCÊ ACHA QUE ISSO AQUI VAI ME DETER? — vocifera
e a fúria está visível em suas órbitas sombrias.
Uma gargalhada estrondosa se fez presente, deixando o infeliz
ainda mais enfurecido, este, que assim como o irmão, tinham parte
do corpo cobertos pelo gelo que estava dentro do objeto, que
começou a se mover e gritos estrangulados se fizeram presentes.
— PARE! PARE! PAREEEE — gritou Camile ao ter seus
membros sendo esticados, devido ao movimento feito pelos dois
vermes que ainda não haviam se dado conta.
Resolvo atiçá-lo ainda mais.
— Você quis proporcionar tanta dor a Elisabete para me
atingir, agora chegou a minha vez de fazer o mesmo com a vadia
que é sua amante ou achou mesmo que eu não sabia do
envolvimento de vocês dois?
— Seu miserável — disse tentando sair de dentro do objeto e
novamente gritos de desespero e dor ressoaram no espaço.
Vivian tinha o rosto banhado pelas lágrimas, fiquei apreciando
o que seria o início do grande pesadelo de suas vidas.
Instantes depois, ao ouvir um grito estridente dado por Vivian
ao ter o seu braço quebrado, era o momento de agir.
— A cada movimento de vocês dois, em querer escapar, serão
elas quem irá sofrer as consequências. Os dois só têm duas
opções, permanecer quietos e aguentar a baixa temperatura que
pode fazer os seus órgãos vitais começarem a parar de funcionar ou
sair de dentro do barril, mas o preço será quebrar tanto o braço
esquerdo, quanto as pernas delas.
Saímos do cômodo deixando os dois irmãos travando um
duelo com o olhar. Serguei não tinha porque se importar com a vida
de nenhuma delas, já o traidor, veremos que preço está disposto a
pagar para defender a sua mulher.
Capítulo 52
Covil da Morte – Segundo dia...
Baran Celikkol

Minha vontade era deixar os dois, o dia todo naquele gelo,


contudo, sabia que se a temperatura do corpo ficasse abaixo de
36ºC, ocasionaria um quadro de hipotermia, onde ocorreria uma
diminuição do ritmo cardíaco, os levando a morte. Então, antes que
isso viesse a acontecer, os dois foram retirados de dentro do
tanque. Devido ao tempo que estavam em cárcere, sem
alimentação, era óbvio que estavam esfomeados, ontem à noite,
jogamos uma bacia de lavagem no chão, isto era o que porcos
imundos mereciam receber.
Ao adentrar o local ondes estão sendo mantidos, meus olhos
passeiam pelo chão, que se encontra limpo, o que me confirma que
a fome dos vermes falou mais alto que o orgulho.
— Espero que tenham apreciado o jantar. Um cardápio
especial para convidados tão ilustres — escarneci com deboche.
Os quatro me olham com ódio, o que só fazia com que meus
demônios ficassem ainda mais agitados. A carranca de Massimo
quase me fez dar uma gargalhada. Eu gosto de torturar, isso renova
as minhas energias.
Era hora de começar a diversão, tanto Massimo, como
Serguei, estão sentados e amarrados em uma cadeira com as mãos
para trás. Vivian está deitada sobre uma maca, mas a atração
principal é a mulher que se encontra enjaulada, no mesmo objeto
que Natasha foi colocada.
Alex, Dimitri e Natasha, já estão posicionados e enquanto
Dimitri, que sempre demostrou ser mais calmo tem um esboço de
sorriso no rosto, Alex e Natasha tem uma expressão demoníaca, o
que me faz vibrar por dentro.
— Por favor! — Camile começou a suplicar em desespero.
— Além de você pagar por quase ter matado Fernanda, que
por pouco seu coração não parou de vez, é justo que como mulher
do infeliz, tenha o mesmo tratamento que deram a ela — falei me
referindo a Natasha, que se encontrava com dois bastões elétricos
em mãos.
— Não toque na minha mulher, sua desgraçada — ele havia
acabado de assinar a sentença de morte de Camile.
Mas antes disso, a mulher moveu-se feito um raio e ao fechar
uma de suas mãos em punho, o golpe foi desferido contra a
garganta do maldito, fazendo-o se engasgar com a própria saliva.
Ela, não satisfeita, levou os dois objetos os colocando entre suas
pernas e ruídos horripilantes tomaram conta do espaço, e o
desgraçado começou a urinar nas calças. Natasha estava possuída
e seu próximo alvo foi o homem que tinha a boca quebrada, visto
que quando ele tentou escapar ontem de dentro do tanque, o
próprio irmão desferiu uma sequência de golpes no seu rosto, até
que ele desfaleceu. Serguei gritava feito um louco e aquilo era só o
começo da brincadeira, pois, nas horas seguintes, o meu corpo foi
envolvido por sensações inexplicáveis e assim como eu, os três
começaram a brincar de médicos. Tanto Alex, quanto Dimitri, que
estavam com um alicate nas mãos, se moveram e ficaram atrás
deles, já Natasha entrou na jaula e de lá só se ouvia os berros de
Camile diante as descargas intensas que envolviam o seu corpo,
acelerando assim o seu coração, fazendo-a se contorcer de tanta
dor.
— Porra! Maldita! Não faz isso — Massimo estava furioso e
gritava para ela parar, logo se calou quando Alex posicionou o
alicate em um dos seus dedos e apertou, no mesmo instante que
Dimitri fez o mesmo com Serguei, esmagando-os, enquanto os
sujeitos, que antes se achavam os imperadores do submundo, se
contorciam em meio à dor. A mulher deitada sobre a maca não
parava de tremer, eles fizeram o mesmo processo em cada dedo,
arrancando berros de agonia e desespero de cada um deles.
Olhei para os homens que urravam de dor, eu gosto de ouvir o
grito da dor alheia, da agonia, isso me faz bem, me deixa em êxtase
e alimenta as feras famintas do meu interior.
Meus olhos ficaram cravados na minha vítima e num
movimento rápido, peguei a chave e a marreta. Esta logo começou
a se debater, mas era em vão, já que estava imobilizada.
— Você vai aprender que não se pode trair o diabo.
— Ele me obrigou — disse aos prantos, como se eu fosse
acreditar em suas palavras.
— Quando Fernanda me contou que Camile foi à única que
esteve no quarto antes de ela passar mal, e esta havia lhe dado
água, e logo após ela começou a sentir contrações no peito.
Lembrei-me que Al Capone sempre se queixava de algo
semelhante, bastou juntar os fatos e tendo conhecimento que você
estava trabalhando para Lev Petrov, que na verdade era esse
abutre, tudo se encaixou.
Ela abriu a boca e antes que algum som saísse por ela, a
chave de fenda tocou a sua pele e o primeiro golpe foi dado,
fazendo dois dentes saltar da sua boca.
— Sua velha maldita, eu vou dar um jeito nessa tua cara
enrugada — digo e uma martelada se fez presente e desta vez, três
dentes foram arrancados, enquanto ela não parava de se debater,
fazendo o objeto escorregar e o terceiro golpe atingiu o seu nariz.
Ruídos horripilantes saíram do fundo da sua garganta, isso só me
deixou ainda mais eufórico e continuei martelando sem parar, uma
hora atingia a parte em que faziam os dentes serem arrancados,
outra atingiam os seus olhos e não satisfeito, minhas mãos
começaram a se mover freneticamente, destruindo a sua cabeça,
tendo assim a visão dos seus miolos sendo estraçalhados.
Tremores me atingiram dos pés a cabeça, me virei e os gritos
dos gêmeos ecoavam entre as paredes, já que os dois homens que
mais pareciam dois tigres selvagens, agora estavam com uma
adaga e começaram a fazer pequenos buracos em volta da coxa
dos infelizes, arrancado os pedaços de carnes. Desvio o olhar e
assim como havia feito com Raquel, decepando os seus membros,
Natasha já havia amputado os braços e pernas de Camile, mas foi
quando ela cortou a cabeça e surgiu na frente de Massimo, que o
homem entrou em desespero.
— Acabe logo com isso. Mate-me! Mate-me! Seu
desgraçado... — começou a clamar para que eu tirasse a sua vida,
mas antes disso, ele ainda teria que passar pela última fase da
purificação.
Covil da Morte – Terceiro dia...
Eles já iam morrer mesmo, não tinha porque alimentá-los.
Massimo, jugo Lev Petrov, parecia um corpo sem alma, mas, se
amasse de verdade Camile, não teria a envolvido em tudo isso ou
muito menos ter a ousadia em me desafiar. Os dois corpos foram
enviados para serem dados como alimentos aos leões do zoológico,
ninguém nunca saberá o quanto aqueles animais estão sendo bem
tratados com carne de segunda. Com tantos russos que foram
mortos, teriam bastante comida. Deixo os pensamentos de lado e
caminho pelo corredor que dava acesso ao lado de fora da cabana,
já que Dimitri e Alex estão no lugar, junto com os membros do
conselho, preparando tudo para os últimos minutos de vida dos dois
ratos de esgoto.
Já fora do ambiente, me aproximo e acompanho o olhar da
multidão, que estavam nos dois homens que se encontravam
pendurados e abaixo deles, um poço gigante cheio de ácido. Era
chegado o momento de fazer uso do poço da purificação das almas,
onde eles ganhariam um banho que seria mortal. Volto minha
atenção quando todos ovacionaram em um só coro.
— Morte ao traidor. Morte aos irmãos Petrov.
Atendendo ao clamor da multidão, as correntes que prendiam
os seus braços, começaram a se mover. Serguei entrou em
desespero.
— Não! Não! Tirem-me daqui seus vermes malditos. Eu sou o
chefe da Bratva. Sou Serguei Petrov.
De nada adiantou suas palavras, pois o povo começou a gritar.
E, assim que suas pernas foram envolvidas pelo líquido, Massimo
despertou do seu transe. Gritos e mais gritos saiam por entre os
seus lábios, o que me deixou alucinado, completamente em êxtase.
Mesmo possuído de dor e com a voz fraca, o traidor começou a
falar.
— Eu te encontro no inferno seu maldito e vou acabar com
você.
Esboço um sorriso e respondo.
— Você deveria estar preocupado em acertar contas com Al
Capone, primeiro.
Sua expressão mudou, ele ainda tentou dizer algo, mas
novamente as correntes se moveram e os dois foram submergidos
pelo líquido. A certa altura, já não se via mais a pele dos corpos,
que ficaram em carne viva; os gritos cessaram e no momento que
eles foram retirados e logo depois distanciados para longe do poço,
seus corpos foram jogados no chão e os monstros da Costa Nostra
começaram a estraçalhá-los e quando se afastaram, haviam
pedaços de carne por todos os lados, assim como as mãos dos
homens estavam envolvidas pelos sangue e eles pareciam que
enfim tinham se saciados.
Meus olhos deram um passeio ao meu redor, respiro fundo,
inalando o cheiro de sangue fresco.
"Uma batalha foi vencida, mas a minha guerra só está
começando".
Deixei o lugar com destino a minha mansão, onde irei encontrar
aquela que dará a paz que os meus demônios precisam para
adormecerem. Daqui a poucos dias estarei a um passo de me tornar
o homem mais poderoso do mundo, antes não estava em meus
planos ter novamente uma mulher ao meu lado e muito menos que
essa viesse a ocupar a minha cama. Mas, tudo mudou e Lisa Evans
estará ligada a mim por toda sua vida.
Capítulo 53
Lisa Evans

Três dias se passaram desde o ocorrido na garagem.


Depois de ser envolvida pela escuridão, quando despertei,
minha cabeça estava latejando, minhas pálpebras pesadas. Eu
estava no quarto e a Mel ainda estava dormindo. Desorientada, não
sabia quanto tempo havia se passado até ver que já era noite. Ela,
assim que acordou, começou a dizer que ouviu muito barulho vindo
do lado de fora, mas que a vovó Nanda havia colocado a TV bem
alta e juntas ficaram cantando. Aproveitei que ela estava distraída
assistindo desenho e fui dar uma averiguada no escritório de Baran,
onde pude ver pelas câmeras que vários corpos estavam sendo
retirados da frente da entrada principal, embora horrorizada com
tudo aquilo, algo dentro de mim começou a vibrar intensamente,
porque ao ver que os homens de Baran, saíram ilesos, era um sinal
de que ele havia vencido o confronto. Voltei para o quarto e acabei
passando o resto da noite acordada, pensando em como seriam as
nossas vidas depois de tudo isso. Deixo as lembranças de lado
quando ouço a voz da pequena me chamando.
— Mamãe! Eu estou com saudades do tio, quando ele vai
chegar?
Respiro fundo, era o momento de ter uma conversa seria com
ela, sentei ao seu lado na cama e peguei em sua mãozinha direita.
— Mel, precisamos conversar.
— Eu fiz algo de errado mamãe? — seus olhinhos estavam
arregalados.
— Não princesa, mas você se lembra de que essa não é a
nossa casa e que antes morávamos em outro lugar?
— Sim, mas, eu gosto daqui.
— Eu sei disso, mas em breve, nos iremos embora e desta
vez vamos morar em uma casa bem linda, só nós duas e você vai
poder ver seus amiguinhos e a tia Clara.
Senti quando ela puxou sua mão de junto da minha. Lágrimas
começaram a descer dos seus olhos e pela primeira vez a vi me
olhando de uma forma diferente. Em seu olhar tinha algo como
mágoa, raiva e como se não fosse suficiente, ela começou a gritar.
— EU NÃO QUERO IR EMBORA, NÃOOOOO...
Começo a ficar nervosa ao ver seu estado alterado, ela
começou a tossir sem parar e o pânico me envolveu.
— Por favor, Mel fique calma.
Seu rosto estava todo vermelho, as lágrimas grossas
continuavam a cair e quando a porta foi aberta, eu pensei que era
Fernanda, mas gelei quando a voz potente fez calafrios atravessar o
meu corpo.
— Mel! Por que você está chorando?
Perguntou e tratou de reduzir a distância entre eles.
— Tio... — chorando ela envolveu suas pernas num abraço
como se não quisesse mais largar. — A mamãe disse que vamos
embora, eu não quero ir, não deixa, por favor... — disse ainda
chorando.
Ele me deu um olhar severo e desvencilhando-se, abaixou-se
em sua frente e com a voz calma, disse.
— Se você ficar bem calminha e parar de chorar, eu vou te
contar algo muito importante.
Ela que até então estava aos prantos, de repente, parou,
restando ainda pequenos soluços.
— Eu já estou calma, tio.
Fiquei abismada, chocada e admirada com a cena à minha
frente, pois bastaram algumas palavras e ele conseguiu o que eu já
estava tentando há mais tempo sem obter sucesso.
— Você não precisa ficar triste, porque não vai embora, muito
pelo contrário, assim que tiver melhor, eu e sua mamãe vamos nos
casar.
Meu coração disparou terrivelmente, meus pulmões aos
espasmos, um nó se formou em minha garganta ao ponto que eu
estava sufocando só em ouvir as palavras que foram ditas por ele.
— Oba! Oba! Eu vou ter um papai.
Uma hora depois...
A raiva estava percorrendo em minhas veias como fogo
líquido, eu me sentia tão quente, como se a qualquer momento
fosse ser envolvida pelas chamas. Eu tive que me controlar e me
mantive calada com medo que ela viesse a ter uma reação pior,
caso eu me rebelasse e acabasse falando o que não devia em sua
frente. Mas o nó que estava preso em minha garganta e ainda não
havia se desfeito. Eu precisava me livrar daquele desconforto ou era
capaz de morrer sufocada. Aproveitando que Fernanda estava com
Mel, meus pés se arrastam pelo chão e quando dei por mim, já
estava em frente à porta do seu quarto, já que ele havia dito que iria
descansar.
Depois de um longo suspiro, resolvo bater na porta, espero um
pouco e nada, bato de novo com mais força e para minha surpresa,
ela se abriu, dei alguns passos, já que ele poderia estar dormindo.
Adentrando, meus olhos ficaram cravados em direção à sua cama,
que estava vazia, só desviei quando ouvi o barulho da porta do
banheiro sendo aberta, me fazendo engolir em seco assim que me
viro, deparando-me com o homem que tinha somente uma toalha
enrolada em volta da cintura. Fiquei paralisada por alguns
segundos, o demônio realmente era belo como um anjo, mesmo que
este fosse perverso. Saí do estado catatônico que me encontrava e
suas palavras fizeram a raiva explodir dentro de mim.
— Não pensei que estivesse com tanta vontade de sentir o
meu pau dentro de você novamente — esboçou um sorriso
sarcástico e um olhar malicioso.
— Os únicos dois motivos, os quais me trouxeram aqui,
primeiro é para dizer que não irei me casar com você — disse firme
e sua expressão mudou, seus olhos que antes estavam brilhantes
de desejo, ganhou um tom escuro. — E o segundo e não menos
importante, eu quero saber por que você mandou que um dos seus
homens me tirasse de circulação, e se ao colocar aquela mulher no
meu lugar, seu intuito era de não me deixar livre? — ele esboçou um
sorriso e disse.
— Por mais forte que você tenha sido quando esteve
subjugada a mim naquela cabana, ainda não tem noção do quanto é
cruel e sanguinário o meu mundo. Tudo que viveu naquele lugar foi
somente uma amostra do quanto o submundo é tenebroso. Você,
Lisa, seria estraçalhada por aqueles desgraçados e sendo quem
sou, jamais permitiria que a minha futura esposa se tornasse um
alvo para que eu viesse a conseguir o que tanto desejava — embora
suas palavras demostrassem preocupação, ele não poderia decidir
o meu futuro. — Quanto ao seu primeiro questionamento, sim! Você
vai. E não será preciso que eu te arraste até o altar. O seu corpo já
me pertence, eu já te fiz minha mulher, mas agora se tornará a
minha esposa — disse e sua mandíbula se contorceu como se
estivesse controlando sua fúria.
Não restavam dúvidas que Baran sempre conseguia o que
queria, a Mel, estava rendida e talvez eu não tivesse escolha, mas
não seria eu, não me era comum passar uma venda nos olhos e
fingir que tudo isso era normal ou que era como se passasse uma
borracha e tudo seria apagado. Eu precisava colocar tudo que
estava preso para fora e este era o momento. Seus olhos estavam
cravados nos meus e olhando fixamente para ele, os meus lábios se
moveram e as palavras que saíram da minha boca, vieram do fundo
do meu coração.
— Você sempre consegue tudo que deseja. Isso é indiscutível.
Porém, acredito que se decidiu se casar, não vai querer uma mulher
pela metade. E é exatamente isso o que vai acontecer, pois, saiba
que você pode me tornar a sua esposa, contudo, jamais me terá por
inteira — fiz uma pausa e percebi que sua mão estava fechada em
punho como se tivesse travando uma batalha interna, então, eu
prossegui. — Não vou citar aqui tudo que você fez comigo, porque
tenho certeza que você lembra-se de cada palavra dita, de cada
gemido de dor e desespero que saiu da minha boca. Lembra-se
claramente das lágrimas que foram derramadas por medo, por dor,
desespero e principalmente pela Mel. Mas também pela grande
decepção em saber que o homem que eu tanto admirava, era um
monstro. Aquele que ao ver tantas vezes através da televisão e ao
ouvir sua voz, me transmitia tanta segurança e paz — engulo em
seco, sentindo as lágrimas inundando os meus olhos, mas me forço
a continuar. — Sabe Baran, desejei do fundo do meu coração, que
pudesse um dia, te conhecer, eu sentia meus batimentos num ritmo
alucinado só por saber da sua existência — parei novamente
quando as lágrimas desceram pelo meu rosto, não consegui
segurar, já havia ido longe demais e não ia parar, ele iria ouvir tudo.
Passei o dorso da mão direita nas lágrimas que insistiam em cair e
então prossegui. — Embora minha amiga Olivia dissesse que eu
estava apaixonada por você, eu sempre negava, dizendo que não
era verdade — fecho os olhos por um instante e ao abri-los,
continuo. — Pelo ocorrido com aquele maldito, eu acabei me
fechado, mas no fundo, sempre foi você o único homem que fez
meu corpo estremecer, que me fez querer ser beijada e tocada, mas
os meus sonhos se tornaram realidade da pior forma e por pouco
aquele que eu tinha como salvador, não me destruiu, portanto, não,
você não me terá inteira, aquela Lisa não existe mais... —
aproveitando que ele não me interrompia e apenas me olhava de
forma penetrante, continuei a falar. — Eu sei que algo deve ter
acontecido para você ter se tornado quem é, pelas marcas em seu
corpo, imagino que sofreu muito e talvez por ser quebrado de forma
cruel, se tornou um monstro. Eu não tenho como agradecer tudo
que fez pela Mel, você salvou a vida da pessoa que mais amo na
vida, mas aqui dentro — falo apontando para o meu peito. — Ainda
existe uma ferida que não cicatrizou, aqui dentro, mesmo que você
me torne sua esposa, ainda será como uma parede onde havia um
prego, este foi puxado e mesmo depois de ser emassada, aquele
buraco ainda estará lá.
Abaixo a cabeça quando os meus olhos começaram a arder
muito devido às lágrimas não conseguia segurar e estas caíam em
abundância. Eu senti um alívio profundo dentro do peito em ter
externado toda aquela dor e angustia que me sufocava. Só percebi
a aproximação dele quando sua enorme mão segurou o meu
queixo, me fazendo levantar a cabeça, mesmo com a visão
embaçada, eu vi claramente o um brilho intenso em seus olhos.
— Você tem toda razão — fez uma pausa e manteve o contato
visual, por uma fração de segundos, eu achei que o homem a minha
frente estava disposto a me deixar ir embora para sempre, mas
novamente os seus lábios voltaram a se mexer. — Como você
disse, um buraco feito na parede, sempre estará lá, mesmo que esta
passe por alguns reparos, ou seja, nada poderá apagar o que
aconteceu. Não quero e nunca serei o homem perfeito que você
idealizou. Eu escolhi me tornar quem sou e não me arrependo. Senti
sim, prazer em ver todo o seu desespero, mas foi você quem fez o
monstro que habita no meu interior se manifestar em beneficio de
alguém, ao ponto de eu sentir meu coração disparado quando você
caiu daquele penhasco e não reagia às minhas tentativas em trazê-
la de volta — ainda com o olhar firme no meu, ele passa o polegar
numa lágrima que escorre pelo meu rosto. — Eu fui admirado e
amado pela garota que caiu em minhas garras da forma mais cruel,
fui odiado assim que ela conheceu o meu pior lado, porém, foi nesse
momento que a garota morreu e deu lugar a uma mulher forte que
provou ao diabo, que cada vez que ele a derrubasse, ela se
levantaria e ficaria mais forte do que já era. Vocês duas trouxeram a
luz onde só havia espaço para a escuridão. Encheu de vida uma
casa, que antes era rodeada de sofrimento e amargura. E eu sei
que talvez seja pedir muito que você supere tudo o que passou e
aguente mais essa, porque não estou disposto a abrir mão de você,
nem da pequena faladeira.
Eu ouvia suas palavras, estupefata, pois sabia que para um
homem que estava acostumado a ter tudo o que queria; que
sustentava aquela armadura que parecia indestrutível, não era fácil
estar se abrindo para alguém, resolvendo às coisas em forma de
diálogo e muito menos baixar a guarda para deixar que vissem que
a fera também tinha seu lado humano.
Minha cabeça estava a mil, pensamentos pipocavam de todas
as direções, mas logo eles se tornaram um só, quando suas mãos
foram de encontro a minha cintura, me puxando para junto dele,
pressionando seu corpo poderoso contra o meu, fazendo-me sentir
sua ereção potente. Seus lábios tocaram os meus, minha respiração
logo se intensificou, acelerada, e o seu toque despertou uma
corrente elétrica percorrendo cada centímetro da minha pele.
— Baran... — tentei falar.
— Elisabete Evans, eu quero que você sinta o quanto te
desejo, o quanto meu corpo anseia pelo seu, desejoso em nos
fundimos em um só.
Suas palavras fizeram com que uma onda escaldante se
apoderasse do meu corpo, queimando a minha pele, soltando
faíscas. Logo sua boca reivindicou a minha, beliscando os meus
lábios, chupando a minha língua, enquanto eu me deleitava com a
sensação de seus lábios carnudos contra os meus. Eu resolvi
mergulhar no desejo mais profundo de sua alma e só assim eu
poderia descobrir o que ele realmente sente por mim.
Ver o jeito como sua boca devorava a minha, me incitou a
acompanhar seu ritmo e o beijo se tornou intenso e cheio de desejo.
Meu corpo todo se arrepiou, senti algo que nunca havia
sentido antes, era uma sensação boa, como se houvessem milhares
de borboletas em meu estômago. Enquanto as nossas línguas
lutavam entre si, indo de um lado para o outro, me fazendo perder o
folego e os meus pensamentos indomáveis, serem escravizados
pelo fogo que estava me consumindo, as sensações que ele
despertava em mim engoliram o medo e as dúvidas, deixando-me
viver tudo aquilo com intensidade.
Ele me pegou no colo e ainda entre beijos, me levou para a
cama, me depositou lá com carinho. Baran começou a explorar meu
corpo com suas mãos ágeis, em seguida retirou as minhas roupas e
com um simples movimento, puxou a toalha que estava em volta da
sua cintura.
Meu corpo chamava pelo dele com tanta avidez, que assim
que ele se juntou a mim, colando os nossos corpos, era como se eu
fosse o barril de pólvora e o homem, o isqueiro, capaz de causar
uma grande explosão. Sua boca era como um cobertor de seda, que
foi deslizando sobre a minha pele, meus seios ficaram arrepiados,
ele abocanhou e chupou um mamilo; depois o outro, fazendo-me
entregar-me a magia de sua boca poderosa. Eu estava ofegante e
pequenos gemidos saiam da minha garganta, ele continuou
depositando pequenos beijos em cada pedacinho da minha barriga,
até chegar à minha intimidade, molhada e escorregadia. Então, ele
abriu minhas pernas com ajuda dos seus ombros. Meu peito subia e
descia, ansiando pelos seus toques e minha respiração acelerou
quando ele enfiou-se no meio das minhas pernas. E, sem qualquer
aviso, começou a me lamber com seus toques aveludados contra
minha pele sensível, acariciando entre minhas dobras e foi subindo
sua língua diabólica, que começou a explorar o meu clitóris. Gemi
alto, remexendo os quadris, tentando intensificar ainda mais o
contato, sentindo minha vagina latejar, no instante que a ponta da
sua língua insaciável se concentrou na terminação nervosa e
hipersensível do meu sexo, esfregando-o de um lado para outro, e
de frente para trás, abandonando-o e deixando um rastro de saliva
que lubrificava a minha boceta, até chegar à entrada da minha
vagina, enfiado aquela arma habilidosa, abrindo-me mais, enquanto
umedecia ainda mais a minha fenda, deixando-me pronta para sua
invasão.
Fechei os olhos, desfrutando da sensação deliciosa que tomou
conta de todo o meu ser, enquanto arqueava o corpo, buscando
senti-lo ainda mais. Seus movimentos se tornaram urgentes, eu já
estava chegando ao meu limite e para meu desespero, ele parou de
me lamber. Quando abri os meus olhos, ele vinha subindo pelo meu
corpo e me penetrou, seu membro entrou com facilidade, eu estava
totalmente pronta e ansiosa por recebê-lo. Ele entrava e saia
lentamente, mas, eu queria que ele me penetrasse com vigor, entre
gemidos comecei a implorar.
— Forte... Mais forte...
Baran me olhou intensamente, sabendo que ele não iria
atender a minha suplica, movi meus quadris, ajeitando a posição
para acomodar o seu pênis avantajado por inteiro e um sorriso
despontou entre seus lábios, enquanto ele começou a entrar e a sair
num ritmo preciso e enlouquecedor, começou a dizer palavras
sussurradas.
— Você é minha, baby, só minha.
Suas investigadas se intensificavam e ficavam cada vez mais
fortes, levando a um ritmo perfeito. Nossos corpos já atingiam o
auge da temperatura, e nossos corações batiam como tambores em
sincronia, como se os dois corpos tivessem sido derretidos para
logo depois se formarem em um só; duas almas duelando em busca
de curar suas feridas, de sentir a força do amor. Minha excitação
subia a cada golpe contra minha carne escaldante, levando-me
cada vez mais alto.
— Eu vo...
As palavras falharam, agarrei a colcha da cama, enquanto ele
aumentou o ritmo dos seus movimentos. Empurrava o seu membro
bem fundo, com estocadas precisas e implacáveis. Ouvi sua
respiração se transformar num rugido abafado, tremores tomaram
conta do meu corpo, eu me remexia debaixo dele sem parar, até
que fui sucumbida por um espasmo, solucei e gemi ao mesmo
tempo. Baran ainda investia freneticamente, até que também caiu
em um orgasmo sublime, soltando um rugido animalesco, inebriado
de prazer, assim como eu.
Ele tombou sobre mim, me abraçando e enterrando seus
lábios ofegantes em meus cabelos.
Depois de alguns minutos, quando nossos corpos satisfeitos,
voltaram ao ritmo normal, eu tentava me livrar daquele corpo
pesado que estava me sufocando, mas sua respiração parecia tão
suave, que cogitei que ele havia dormido, como se estivesse
exausto, talvez pelo fato de ter passado os últimos dias, pelo que
soube, dentro do seu inferninho.
Fiquei ali parada no meio de um turbilhão de sensações e
pensamentos confusos, mas, eu não podia negar que não estava
arrependida de nada que havíamos feito, nem que fosse por
minutos ou horas, essa sensação deliciosa e a paz que eu sentia ao
estar em seus braços, era devastadora.
Não sei quantos minutos se passaram, mas todo o meu corpo
ficou em alerta, quando ouvi as palavras que ele sussurrou próximo
ao meu ouvido, os meus olhos se arregalaram e meus batimentos
aumentaram.
— Eu a amo, você é perfeita! Perfeita para mim.
Capítulo 54
03 de novembro de 2020
Baran Celikkol

Acordo num sobressalto ao lembrar que o dia tão


aguardado por mim, enfim, chegou. Sempre acordei logo nas
primeiras horas da manhã, algo que não tem acontecido nos últimos
dias, já que embora tenha relutado com a desculpa de não deixar a
Mel dormir sozinha, Lisa acabou não tendo êxito em sua recusa, já
que a minha pequena aliada insistiu que gostaria que Fernanda
dormisse com ela, durante os dias que se passaram, nunca havia
dormido tão bem em toda minha vida e muito menos, acordar com
uma sensação tão boa. Volto minha atenção para o meu lado
esquerdo e meus olhos estreitaram-se, enquanto observo Lisa, que
está dormindo como um anjo. Ela está tão exausta, que nem se
move.
Aprecio seus cabelos sedosos, espalhados sobre o
travesseiro, lentamente afasto o edredom que cobre o seu corpo,
revelando sua nudez, fico contemplando a perfeição que foi
esculpida em forma de mulher e esta é somente minha.
Desvio o olhar do seu rosto, estudando cada linha do seu belo
corpo branco, que mostrava algumas marcas avermelhadas, assim
como em volta dos seus seios fartos, que tem várias manchas
roxas, o que faz um sorriso malicioso envolver a minha face, no
mesmo instante que sinto um latejar no meu cacete, que já esta
duro, querendo invadi-la e, logo as lembranças da noite anterior,
tomam posse da minha mente.
Depois de ter sugado cada gota do seu néctar, a mulher que
ainda insiste em lutar contra o seu próprio corpo, acabou sendo
envolvida por um orgasmo devastador. Seu corpo parecia que havia
levado um choque e ela não parava de tremer e só voltou ao seu
estado de lucidez, quando entrou em pânico, ao ver o objeto que
tinha em uma de minhas mãos. Seus olhos azuis ficaram tão
arregalados, que pareciam querer soltar do seu rosto e começou a
sacudir a cabeça em negativa, como se aquilo fosse funcionar.
Bastou lubrificar bem a entrada do seu orifício e começar a acariciar
novamente o seu clitóris, que entre os ruídos de dor, sugiram os
gemidos de prazer.
Aquilo era só o primeiro passo para prepará-la, pois em breve,
em vez de ter um plug anal enfiado em seu traseiro, seria o meu
pau, todo enterrado dentro dela, a fazendo gritar de tanto prazer e
suplicar para que eu a fodesse com força, pois atrás do rosto de
anjo, se esconde um furacão insaciável na cama.
Depois de retirar o plug de dentro dela, que já estava se
deleitando novamente com o prazer proporcionado através do botão
de nervos, endurecido e sensível, passei o dedo pela entrada da
sua boceta, que estava melada e pronta para me receber, e sem
delongas, o meu pau a invadiu fazendo gemidos de arrebatamento
escapar do fundo da sua garganta e nas horas seguintes, eu me
perdi dentro daquela boceta faminta e insaciável. Meu corpo todo foi
envolvido por tremores violentos, quando ela subiu em cima de mim
e começou a cavalgar, dando-me a visão privilegiada de ver sua
boceta gulosa sugando toda extensão do meu cacete.
Enlouquecido, segurei sua cintura e ela começou remexer os
quadris, com movimentos frenéticos de vaivém, ao mesmo tempo
em que o meu cacete deslizava com precisão e os músculos
internos da sua boceta começaram a pulsar violentamente. Minha
pele esquentou mais ainda e novamente uma troca de posição foi
feita, comecei a estocar com vigor, enfiando o meu pau todo dentro
da sua fenda que estava fervendo e pulsando. O meu desejo era
insaciável, seus gemidos se tornavam ainda mais altos devido a
tantas estocadas rígidas, enquanto o suor banhava os nossos
corpos. Um grito ensurdecedor ecoou no ar e a mulher se contorcia
embaixo de mim e logo em seguida, o prazer me invadiu,
derramando o meu líquido cremoso em jatos potentes dentro do seu
canal escaldante.
Minutos depois, levantei-me e fui até o banheiro, assim que a
banheira já estava cheia, voltei para o quarto, a pegando em meus
braços. Cabelos espalhados pelo rosto, sua pele avermelhada e seu
corpo trêmulo, era a visão que eu queria ter para sempre dela,
mostrando que o passado não ia impedir que ela fosse para sempre
minha; toda minha.
Deixei as lembranças de lado, levantando-me e com um giro
rápido nos meus calcanhares, fui em direção ao banheiro. E, em
seguida tomei uma chuveirada com água bem fria, já que o meu pau
estava duro, tanto que as veias se encontravam mais inchadas que
o normal. O banho seria a única forma de dissipar a temperatura
escaldante do meu corpo e minutos depois, de banho tomado e
arrumado, deixei o quarto, indo em direção ao andar de baixo.
Depois de descer os degraus, caminhei até a porta e ao
passar por ela, segui até a pista de pouso. Hoje é somente o dia que
darei o chute na bola, porém, esta vai percorrer sua trajetória,
diminuído sua velocidade ao chegar no dia 14 de dezembro,
momento em os delegados do Colégio Eleitoral se reúnem em seus
respectivos Estados, para preencher as cédulas que serão
encaminhadas para aprovação do Congresso e novamente a bola
voltará a se mover, rumo ao gol, mas somente no dia 06 de janeiro
de 2021, oficialmente será anunciado o resultado final da eleição e
nesse momento, a bola, enfim, vai parar dentro da rede.

Fernanda Scott
Vivi sete longos anos, rodeada pela escuridão que eu permiti
que envolvesse o meu coração. Uma vida de rancor, ódio e desamor
ao romper minha relação com Deus, eu culpei o mundo a minha
volta pelo meu sofrimento, chorei e cheguei ao fundo do poço e, se
não fosse por Celikkol, que ainda insistia em me resgatar, não teria
tido a chance de conhecer o anjo de luz que afastou as trevas e me
permitiu, novamente, sentir esse sentimento grandioso que envolveu
todo o meu ser.
Deus, em sua infinita misericórdia, renovou a nossa aliança,
mesmo que eu não fosse digna de receber tamanha dádiva.
Saber tudo que Camile fez, foi um golpe terrível, pois, eu tinha
um afeto enorme por ela, e por ser fraca, acabei tratando Lisa com
arrogância, somente porque me tornei uma pessoa manipulável.
Errei e não foi pouco, mas, eu estou tendo a chance de ter um novo
recomeço, de estar junto com a criança que devolveu o brilho que já
não existia mais em meus olhos. A pequena Melanie, é sinônimo de
amor e foi capaz de não somente me salvar da beira do abismo,
como ela e Lisa, romperam as barreiras em volta do coração
sombrio e empedrado de Baran, que já não sabia mais o que era
amar depois que minha Nataly partiu.
Se for coincidência, eu não sei. Mas, o jeito como ela me olha,
os gestos que faz com sua mão direita ao ficar batendo-a sobre a
coxa e principalmente todo esse afeto por Baran, me dá a certeza
de que elas duas são a mesma pessoa, que de alguma forma, nem
a morte foi capaz de impedir que Nataly voltasse para nossas vidas,
e desta vez, com a missão de nos unir para que pudéssemos ver
que ainda havia um mundo cheio de cores e não poderíamos
permanecer para sempre naquela escuridão. Meus pensamentos
vão para bem longe quando ouço a sua voz suave.
— Vovó!
Aproximo-me de sua cama, nem havia me dado conta que
lágrimas caiam pelo meu rosto até ela dizer.
— Você não precisa chorar. Eu vou ficar sempre com você.
Pego em sua mãozinha, levando-a em direção ao meu
coração, eu precisava dizer o quanto ela mudou a minha vida.
— Eu estou chorando de felicidade por ter você em minha
vida, meu anjo. Quando deixei que a dor gritasse mais alto, algo
dentro de mim se quebrou. Por sete anos perdi as contas de
quantas vezes chorei, mas não demorou seis segundos para você
me fazer sorrir e através dos seus lindos olhos, me fez enxergar o
mundo de outra forma. Minha pequena gotinha de amor, eu amo
você.
— Eu também amo muito você, vovó Nanda. Muito mesmo.
As palavras que ouço, fazem o meu coração explodir de tanta
felicidade. E tudo que passei desde a morte de Nataly até aqui, me
fez entender que não importam as dificuldades que a vida coloque à
nossa frente, e sim as atitudes que tomaremos diante delas.
"Nunca mais deixarei que a escuridão envolva meu coração".
Capítulo Final
Fim ou começo? Só o tempo dará a resposta...
Dois meses depois...
Melanie Evans

A vovó foi tomar banho, então aproveito para ir até a


janela. Fico olhando para as duas estrelas que brilham, iluminando a
todos nós, elas são as duas pessoas que amo muito e sei que
nunca se esqueceram de mim e da minha, doce, Lisa. Eu senti
muita dor dentro do meu peito, sempre ouvia muitas vozes, desde a
da minha mamãe e do meu papai, que fazia meu coração bater
muito forte, mas ainda não conseguia entender o porquê aquela
mulher triste começou a aparecer na minha frente. Porque eu já
sonhava tanto com a vovó Nanda e o tio e sempre a dor em meu
coraçãozinho aumentava.
O amor da Lisa curou aquilo que doía dentro de mim, seus
toques em meus cabelos, era como sentir que a nossa mamãe
estava ali. No dia que o moço bonito veio me conhecer, antes de ele
chegar, eu estava com febre e enquanto dormia, sonhei que a
mamãe e o papai vieram me buscar, mas aquela moça triste
também estava lá e eu queria fazer um sorriso aparecer no seu
rosto e quando ela segurou em minha mão, me levou para uma
casa grande e bonita, disse que lá era o meu lugar.
Eu acordei e ela estava parada, sorrindo, fiquei tão feliz
quando ela me chamou e eu saí andando. Quando cheguei à sala, o
tio estava lá. Mas, chorei e chorei quando me afastaram da minha
Lisa. Encontrar a vovó me deixou feliz, ela me abraçou e aquilo era
muito bom, mas ainda estava doendo ficar longe da minha mamãe,
que sempre cuidou de mim e quando o moço bonito apareceu na
televisão e disse que cuidaria dela, eu parei de chorar e a dor
passou.
A moça triste agora estava feliz e eu não queria nunca mais ir
embora. Eu amo o tio, amo a vovó e a minha Lisa. É como as duas
estrelas que estão piscando para mim, ela me faz feliz, faz meu
coração bater muito forte. Amanhã eu irei fazer sete anos e já serei
uma mocinha, eu queria que a mamãe e o papai estivessem aqui,
mas já não estou mais sozinha com a Lisa. O tio vai ser o meu
papai, ele vai cuidar para sempre de nós três, ainda vejo aquela
sombra escura perto dele, mas, eu vou sorrir e pular muito a sua
volta para não deixar que ele fique triste novamente. Eles
perguntaram o que eu queria ganhar de presente amanhã. Bonecas,
roupas e muito mais, mas todos já haviam me dado o maior
presente, fizeram a dor passar e agora não estou mais triste, porque
hoje eu tenho aquilo que sempre quis, "uma grande família."

No dia seguinte...
Lisa Evans
— Aiii...
Não consegui segurar o ruído que escapou da minha boca,
assim que me mexi na cama. Eu sei que preciso me levantar, mas a
sensação que tenho, é que um trator passou por cima de mim,
porém, sei muito bem o nome do homem que o conduzia, "Baran
Celikkol". Fecho novamente os meus olhos e as lembranças do dia
anterior surgem em minha mente.
Ontem foi o grande dia, que não só ele, como milhões de
americanos esperavam.
Celikkol, o nome que entrou para a história do país como o
primeiro presidente eleito que ultrapassou os 400 delegados no
Colégio Eleitoral. A vitória foi dele e de milhões que apostaram na
sua capacidade para mudar o país.
Eu também tive a felicidade em poder rever novamente aquela
que posso dizer com todas as letras que é minha amiga. A felicidade
não cabia dentro do meu peito ao reencontrar Olivia. Ela estava
cheia de perguntas e embora odiando a mentira, eu não iria
envolver alguém que tanto amo nesse mundo, onde é melhor ficar
calado ou fingir-se de cego para não saber além do que se deve ou
poderá se tornar um alvo a ser eliminado.
Depois que colocamos a conversa em dia, sendo quem era,
começou a perguntar se finalmente eu já havia experimentado
aquilo, que segundo ela, é a terceira coisa melhor da vida, visto que
a primeira era comer, a segunda, dormir e a terceira, o sexo, que
como ela dizia, era o complemento dos outros dois. Nem adiantou
fugir da conversa, porque Olivia era o tipo que dava para ser uma
investigadora, a menina conseguia descobrir até o que não devia.
Engoli em seco quando ela perguntou se já havia experimentado a
melhor parte, que era o sexo anal. Se vergonha matasse, naquele
exato momento, Lisa Evans, cairia dura, pois como iria dizer a ela
que o homem que ela acha um deus grego, na verdade tem três
pernas e eu estava temerosa que isso viesse acontecer, não que ele
já não tivesse enfiado alguns objetos, dedo ou me lambido ao ponto
que já estava ansiando para que ele fosse adiante, mas ao lembrar-
me do tamanho do seu membro e daquela cabeçona rosada, tremia
feito vara verde.
Deixamos o assunto que já estava fazendo meus
pensamentos irem bem longe, de lado, e com tanto champanhe a
disposição, devido à comemoração onde tinha vários políticos e
empresários de setores variados, nós duas acabamos por tomar
duas garrafas do espumante branco. Já altas horas da noite,
quando retornamos a mansão, eu já não sabia se era por culpa da
bebida ou simplesmente toda aquela conversa, só sei que eu sentia
que se acendeu uma chama, que estava me consumindo por dentro,
despertando o meu lado libertino. Quando chegamos ao quarto e ele
rasgou as minhas roupas, deixando-me nua e se livrou rapidamente
das suas e então colou nossos corpos, sua boca buscou a minha,
iniciando um beijo de língua cheio de fome e ganância, soltei um
gemido abafado quando ele me suspendeu, fazendo-me entrelaçar
as pernas em volta dos seus quadris, e caminhou até a porta,
fazendo com que eu sentisse o frio da madeira contra a minha pele,
enquanto devorava a minha boca, ele me fez escorregar um pouco,
posicionando o seu membro quente na minha entrada escorregadia
e deslizou-o para dentro de mim, iniciando um vaivém lento e aquilo
estava me torturando, antes que fizesse o que havia pensado. Ele
aumentou a velocidade das estocadas, socando fundo todo seu
membro grosso e comprido, meus seios balançavam a cada
investida, minhas costas batiam com força na madeira. Baran
abandonou minha boca e enquanto seu pau me fodia com força, ele
começou a sugar os meus seios, fazendo o fogo se espalhar por
toda minha pele, a cada puxada que ele dava em um dos meus
mamilos doloridos, aumentava as estocadas, uma mistura de dor e
prazer pairou sobre mim, entre sussurros ele começou a falar.
— Gosta do meu pau todo dentro de você, sua safada?
— Hummm...
Somente gemidos escapavam da minha boca, enquanto seus
golpes eram vigorosos, suas mãos apertavam minhas nádegas.
— Vai me dar essa bundinha hoje, gostosa?
Um tremor violento me atingiu, todos os meus órgãos internos
começaram a funcionar aos espasmos. Ele começou a chupar e
sugar com mais intensidade o meu seio direito, como se fosse uma
criança faminta querendo se saciar, movimentando os quadris em
sincronia com sua boca. Meu corpo estava tão quente, a sensação
de ter o seu membro tão profundamente dentro de mim era
indescritível.
— Ahhh... — minha respiração estava entrecortada.
— Está com medo anjo? Tem medo de aceitar que gosta tanto
quanto eu de estamos assim, grudados como um só? — ele estava
me tentando e aquilo só fazia algo no meu interior se agitar. —
Pensei que fosse mais corajosa.
Aquilo foi a gota d’água, pois era como se um outro lado que
estava preso, se libertasse. Encontrava-me com medo e ao mesmo
tempo, estava cheia de expectativas e sem que eu pudesse
controlar, as palavras escaparam, fazendo um sorriso triunfante
envolver o seu rosto.
— Faça-me sua por inteira — implorei sem pudor e diante de
minhas palavras. Num movimento rápido e preciso, Baran caminhou
até a cama, logo depois saiu de dentro de mim e me colocou sobre
ela.
Sem me dar tempo de defesa, segurou nos meus quadris, me
fazendo ficar de bruços, tendo minha bunda empinada para ele,
apenas para os seus olhos.
— Bundinha deliciosa — disse ao subir em cima da cama.
O choque da realidade me atingiu, fazendo com que eu
entrasse em pânico assim que senti a cabeça melada e grossa do
seu membro brincando com o orifício apertado do meu traseiro.
— Não! Não quero mais — falei em desespero.
Ele deu uma gargalha e disse:
— Você só irá sentir prazer, ao ponto de querer sentir
novamente o meu pau dentro de você.
Subitamente, a cabeça do seu pênis logo foi substituída por
dois dos seus dedos que estavam molhados de saliva. Ele começou
a explorar aquela região com movimentos cautelosos, fez aquilo por
várias vezes. Já estava toda melada e foi nesse exato momento que
ele novamente colocou a cabeça do seu membro na pequena fenda,
forçando a entrada. Meu corpo todo estremeceu. Soltei um ruído de
medo e dor, então, levou uma de suas mãos até a minha vagina e,
começou a acariciar meu clitóris, enquanto empurrava seu pau
ainda mais fundo para dentro mim, no mesmo instante que
massageava o meu grelo. Aquilo me deixou ardente, meu corpo
recebeu correntes de fogo líquido em minhas veias, o desejo me fez
esquecer a dor.
— Hummmmm... — soltei um gemido profundo, não conseguia
mais me conter, o pênis entrava e saía fazendo um barulho
molhado, me comendo, destruindo minha entrada, sua pélvis batia
nas minhas nádegas. A profundidade, o ritmo, tudo era tão intenso,
que me deixava em um estado de completa luxúria.
Apertei os olhos e gritei o seu nome, enquanto ele continuava
torturando o meu clitóris, as sensações agradáveis corriam rápidas
em meu corpo.
— Barannn... — eu não consegui conter gemidos de angústia
e prazer. À medida que me fodia, ele fazia círculos com os dedos
em meu ponto de prazer. — Ahhh!
— Entregue-se, anjo. Renda-se a mim.
Seus dedos escorregaram para dentro da minha boceta, o ar
correu em meus pulmões em um grito sem som, seus dedos
diabólicos se moveram suavemente, a princípio, lentos, mas logo se
intensificaram. A sensação era maravilhosa e eu estava confusa,
desejosa e viciada nele. Seus golpes eram precisos, seu quadril
movia-se rápido, aquilo entrava e saía me fazendo sentir ardência,
mas ao mesmo tempo, prazer. Respirava rápido, com dificuldade e
comecei a gritar alto, ele em contra partida, puxou os dedos e
novamente começou a massagear o nervo inchado e dolorido,
exercendo uma forte pressão, com movimentos rápidos e precisos.
— E... Eu...
Já não conseguia dizer mais nada, meus seios balançavam
para frente para trás, devido à força de sua invasão. Meu corpo
estava pronto para o orgasmo, era só uma questão de tempo, o que
veio logo, em ondas avassaladoras de prazer. Eu não podia
acreditar como era boa aquela sensação. Meu clitóris sensível
liberava ondas de prazer e êxtase. Ele continuou bombeando mais
fundo, até que se esvaziou dentro de mim. Seu orgasmo atingiu
fundo, ele também gemia alto, ainda estocando até parar de liberar
seu líquido quente. Meu corpo desabou. A sensação era de subir
numa montanha russa. Descendo e subindo de novo, nela.
Segundos depois, ele se juntou a mim e ficamos os dois em silêncio,
suados e satisfeitos.
Deixo as lembranças de lado e mesmo dolorida, levanto-me,
pois era bem capaz da Mel entrar feito um furacãozinho por aquela
porta.

Minutos mais tarde...


Com passos cautelosos, ando pelo corredor e o incomodo que
sinto é consequência da noite anterior.
Dias, semanas e até meses se passaram, e aquelas três
palavras que foram sussurradas, fazendo o meu coração bater
loucamente, não foram repetidas, foram ditas somente aquela vez.
Contudo, embora o diabo, aparentemente esteja com seus
demônios contidos, eu não conseguia mais identificar o que sinto
por ele, sei que sinto muito desejo sexual, já não conseguia mais
lutar contra os prazeres da carne, porém, se era verdade suas
palavras, só o tempo dirá e este também será o único capaz de
fazer a ferida que carrego no peito cicatrizar. Por mais desejo que
sinta e por mais que me derreta em seus braços, eu ainda não sou
capaz de perdoá-lo, pois sempre acreditei que perdoar é na verdade
liberar a mágoa e o rancor presentes em nosso coração, todavia, as
lembranças dos momentos terríveis que vivi naquela cabana, ainda
assolam a minha mente.
Meus pensamentos são afastados assim que chego ao topo
da escada, fico contemplando a imagem a minha frente.
Minha pequena está eufórica e rodeada de presentes, mas sei
que sua maior felicidade é porque hoje iremos para o lugar, que por
quatro anos, será o nosso novo lar. Não foram fáceis esses dois
últimos meses e a batalha apenas começou, o primeiro ano é
fundamental para que sua recuperação seja cem por cento.
Estamos tendo todo um cuidado, onde ela está sendo privada de
muita coisa que gostava. Desde chegar perto da piscina, até realizar
seu grande sonho de conhecer o mar, pois sua imunidade ainda
está baixa e há uma grande chance de pegar alguma bactéria,
assim como deixou a escola e está tendo aulas em casa para não
correr o risco de contrair alguma doença que poderia ser prejudicial,
ela reclama às vezes, mas tudo isso é para que estivesse
finalmente curada.
— Mamãe! Mamãe!
Começa a me chamar assim que nota a minha presença,
desço os degraus e paro em sua frente.
— Oi, minha princesa.
— Me carrega mamãe?
— Mel, peça ao seu tio — digo ao lembrar que já estava sendo
difícil andar, mas ela olhou para Baran, depois para mim e o que
ouço em seguida me fez engolir em seco, enquanto Baran esboçou
um sorriso cínico.
— Você não pode me carregar, por que está grávida, mamãe?

Uma hora depois...


Baran Celikkol
O carro corria veloz pela estrada. Mel estava no outro veículo,
junto com Fernanda, enquanto a mulher ao meu lado, acabou
adormecendo e ela, minutos atrás, parecia um tomate de tão
vermelha diante da pergunta da pequena faladeira, que ficou
esperando pela resposta. Logo após receber a informação que sua
mãe não estava grávida, Fernanda quis saber o que levou ela a
deduzir aquilo e perante a resposta, veio à confirmação que
precisávamos ficar atentos ao que ela estava assistindo no ipad que
havia ganhando. Segundo ela, foi porque tinha visto um vídeo
dizendo que a mulher não poderia fazer muito esforço e nem
carregar peso no inicio da gravidez, então quando Lisa se recusou a
carregá-la, achou que ganharia um irmãozinho.
Daqui a dois meses será a cerimônia em que Lisa se tornará
oficialmente a minha esposa e assim como ela receberá o
sobrenome Celikkol, irei colocá-lo na certidão de nascimento de Mel.
Quanto aos nossos futuros filhos, estou dando tempo para que Lisa
se dedique aos cuidados que deve ter com a pequena, já que ainda
há a possibilidade de que ela venha a enfrentar o câncer
novamente, caso o tratamento não seja feito corretamente.
Em poucos minutos estarei entrando pelo portão do lugar onde
uma nova jornada será iniciada, mas para chegar até aqui, eu trilhei
um longo caminho.
O menino escolheu percorrer o caminho do mal.
A criança se vingou daquele que era o seu agressor.
Os anos passaram-se e, o homem em que ele se transformou,
destruiu vidas que não lhes pertenciam e sempre ficou em êxtase ao
proporcionar dor, tristeza, e ver o sofrimento das pessoas deixava-o,
satisfeito.
Um rastro de sangue se formou em meio ao caminho que ele
percorria. Um jogo de invejas, intrigas e traição, o fizeram se
deparar com as irmãs Evans, aquelas que mudariam para sempre a
sua vida. Sensações totalmente desconhecidas pairavam sobre ele,
um duelo entre a luz e as trevas foi iniciado, e, mesmo lutando com
todas as suas forças, Baran Celikkol, já não conseguia mais
esconder tudo que estava sentindo por elas, porém, nem mesmo
toda luz emanada delas ou o amor, vão me desviar do meu grande
objetivo.
— Chegamos chefe.
A voz do homem me trouxe de volta a realidade e foi no exato
momento que Elisabete acordou, saímos do veículo e Melanie se
juntou a nós, de repente, tirou os seus sapatos.
— Eu quero sentir a grama, tire mamãe o seu também.
Assim como Lisa, acabei fazendo o mesmo, levantando um
pouco as pernas da minha calça, sentindo assim, a frieza do chão
em contato com a minha pele. Melanie segurou em minha mão e na
de Lisa também. Olhei para a enorme construção a minha frente e
todo o meu corpo vibrou. Será nesse lugar que eu irei dominar toda
uma nação. Será como governante desse país, que farei o
submundo se enraizar por vários territórios.
Juntos, caminhamos de mãos dadas em direção a enorme
porta branca, onde as trevas e a luz estariam sempre presentes,
vivendo lado a lado, em perfeita harmonia.
"Fim? Não! Este é apenas o começo."
Não me julguem, vocês sabem o meu nome, mas ainda
desconhecem toda a minha história. O meu legado apenas
começou.
Enquanto isso, em algum lugar de New York...
Seus olhos estão cravados no telão a sua frente, este exibe as
imagens da chegada de Baran Celikkol e sua família à Casa Branca.
A expressão do homem que ainda mantém o olhar direcionado
para o monitor, é uma máscara rígida e congelada.
Enfurecido, ele se desloca do seu assento, indo até o bar,
após se servir de uma bebida, toma todo líquido em uma golada só,
em seguida, abre a caixa de charutos e pega um, acende e fuma,
tragando a fumaça para dentro de si, enquanto dá mais uma olhada
para tela, que agora exibe o rosto do homem que foi escolhido para
governar o país, considerado a maior potencial mundial.
Ele se aproxima da tela e dá uma tragada profunda em seu
charuto. Sua boca torce em um sorriso sardônico, fazendo sua voz
ecoar no ambiente.

— Aproveite bem, desgraçado, em breve você


vai descobrir que ter tanto poder tem um preço.
Agradecimentos
Quero agradecer imensamente todo apoio que recebi das minhas
leitoras, que me abraçaram nesse mundo literário, e, principalmente
dessas três pessoas, que tem um lugar em especial em meu
coração; Graça, Rosana e Mirian, minha eterna gratidão por
estarem comigo nesse momento, que foi a realização de um sonho,
ao qual, eu conseguir ter aquele que se tornou o meu xodó, como
avatar na capa desse livro.
Vocês fazem parte desta conquista e jamais esqueçam que, "A
beleza tem um preço... O amor e a amizade não..."
Gratidão sempre!
Anny Shwan
Em Breve...

"O PRESIDENTE: O PREÇO DO PODER – DUOLOGIA IMPÉRIO MAFIOSO – LIVRO


02".
Baran Celikkol é um homem que exala poder por todos os poros e nasceu para liderar.
Diante disso, seus passos foram calculadamente guiados para que um dia conseguisse
realizar o grande sonho de se tornar o líder supremo dos Estados Unidos.
Baran encontrou em seu caminho a bela Lisa. Um alvo que deveria ser eliminado, mas
despertou em seu coração um sentimento devastador, uma intensa paixão e num duelo
entre luz e escuridão; O amor prevaleceu, porém, nem mesmo a luz e o amor, o desviaram
do seu grande objetivo.
Ele conquistou o coração de milhões.
Ele foi eleito o presidente mais votado de todos os tempos.
Tudo parecia perfeito, até que a inveja, ambição e a sede de vingança de alguns foram
despertadas e será uma grande ameaça aos seus planos.
Seu legado apenas começou e ele vai descobrir que ser o homem mais poderoso do
mundo, tem um preço.

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