CULTURA E IDENTIDADE SURDA. ___ CULTURA E IDENTIDADE SURDA
As pessoas surdas têm em comum muitas características, que vão além da
especificidade biológica e abarcam experiências sociais. Porém, entre elas, há diferenças quanto à visão da surdez e delas mesmas nesse contexto. Dito de outro modo, sujeitos inseridos na realidade da surdez apresentam identidades heterogêneas. Saber mais sobre essas diferenças pode ajudar a compreender a diversidade de posturas entre pessoas surdas ante as situações cotidianas e os apoios ofertados.
A identidade surda
Em linhas gerais, ao se fazer referência à identidades surdas, faz-se
referência aos modos de pessoas surdas compreenderem a surdez e a si próprias nesse contexto, concepções que impactam sua postura e comportamento. A identidade surda é heterogênea, havendo desde os surdos que se posicionam politicamente em favor dos direitos dos surdos e que vivem e valorizam a cultura surda até os que se comportam de modo a tentar se apropriar da cultura ouvinte e vivenciá-la no seu modo de participar do meio. A grafia pode sugerir essa diferença. Usualmente, a literatura emprega “surdo” para se referir à toda a coletividade composta por pessoas com a especificidade biológica que caracteriza a surdez e “Surdo” para denotar os sujeitos que, para além da especificidade, se reconhecem como pertencentes à comunidade surda, se apropriam da cultura surda e militam pelos direitos da coletividade surda.
A construção da identidade da pessoa surda é influenciada por fatores
diferentes, como contexto familiar, contato com comunidades surdas, etc. A literatura consultada faz referência a, pelo menos, cinco tipos de identidade manifestos por diferentes pessoas surdas, os quais se busca explicar adiante: Identidade surda: diz respeito aos sujeitos surdos que se inserem plenamente na comunidade surda e se reconhecem como pertencentes à mesma, usam apenas língua de sinais, apresentam características culturais e forma de estar no mundo baseadas na visualidade, defendem e militam pelo direito de ser diferente e de vivenciar a cultura surda. Essas pessoas partilham sua concepção e suas experiências com outros surdos e participam de espaços de encontro entre pessoas surdas, como grupos e associações. Trata-se de um posicionamento político ante a surdez, muito além do encontro de pessoas com as mesmas características biológicas. Não há uma concepção inferiorizante de surdez ou de uma superioridade da perspectiva ouvinte, mas a aceitação e valorização das diferenças e do que é pertinente à cultura surda. Normalmente, sujeitos que apresentam identidade surda são surdos congênitos ou adquiriram a surdez muito cedo.
Identidade híbrida: característica de pessoas com surdez adquirida, que
aprenderam inicialmente a estar e participar do meio e construir o pensamento como ouvintes, utilizando também uma língua oral para se comunicar, e que passaram a estar imersas no contexto da surdez, como pessoas surdas. Sendo anteriormente ouvintes, essas pessoas dependem concomitantemente da linguagem oral e da sinalizada. Reconhecem-se como surdos, convivem com as identidades surdas, participam das associações e comunidades surdas, demandam direitos atinentes aos surdos, como intérpretes, legenda, etc. e utilizam recursos desenvolvidos para o contexto da surdez, como campainhas luminosas, telefones adaptados e outros.
Identidade de transição: a maior parte dos surdos, sendo oriundos de
famílias ouvintes, passa por um processo de transição entre a tentativa de estar no mundo a partir da perspectiva ouvinte e de uma linguagem oral e visual truncada, característica dos primeiros anos de sua vida, para um contato tardio com a comunidade surda, comunicação visual sinalizada e a experiência visual de mundo.
Identidade flutuante: característica de pessoas que não foram inseridas
em alguma comunidade surda. Essas pessoas costumam ter dificuldades de se reconhecer/aceitar como surdas e buscam sua referência na cultura ouvinte. Valorizam e seguem a representação ouvinte, considerando-a superior à surda. Independentemente do nível de seu comprometimento, usam aparelhos auriculares e se orgulham de se apropriar de algum elemento da cultura ouvinte, como a utilização da língua oral. Rejeitam a cultura surda, não participam da comunidade surda nem das suas lutas, e não conhecem ou não recebem/utilizam tecnologias nem apoios direcionados a pessoas surdas, como intérprete de língua de sinais. Vivem alguns conflitos emocionais, buscam competir com ouvintes, podem se ressentir com outros surdos, podem apresentar depressão e outros problemas.
Identidade embaraçada: característica de pessoas que não têm referência
nem na cultura surda, nem na ouvinte. Apresentam dificuldades de comunicação, sendo as expressões que usam, por vezes, incompreensíveis. Não sabem usar a língua de sinais. Têm a vida, o comportamento e aprendizados determinados pela perspectiva ouvinte.
Observa-se que o coletivo de pessoas surdas, como é característico das
coletividades humanas, é heterogêneo, sendo necessário compreender e respeitar essa diversidade. Sem desrespeitar o direito de a pessoa assumir o posicionamento que considere melhor, observa-se também a importância de oportunizar a ela o contato com outras pessoas surdas, o que permitirá que ela possa se apropriar de formas de vida e tecnologias que facilitem a sua vida e a comunicação com os demais. Conclusão
A cultura surda vem ganhando seguidores defensores da comunidade, pessoas
dispostas a lutarem pelos direitos dos surdos, essa visibilidade que a comunidade surda sempre quis está chegando ao seu melhor momento, tendo em vista a redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) no ano de 2017, foi voltado exclusivamente para a comunidade surda com a seguinte temática; “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”, isso já é fruto de uma cultura que busca igualdade, e recrimina o preconceito. O texto nos mostra a importância da identidade e cultura surda, o que os surdos querem é seus direitos respeitados, a diminuição de preconceitos, é ter sua voz ouvida na sua língua (LIBRAS), a comunidade surda quer a quebra de estereótipos que os taxam todos os dias, eles querem mostrar a sociedade a capacidade que eles tem, de estudar, trabalhar, se divertir como qualquer outra pessoa. E de fato a cultura surda veio ganhando esse espaço e fortalecendo sua comunidade. Percebemos que a identidade surda corrobora a personalidade da pessoa surda, ao entrar na comunidade surda e definir sua identidade entende-se que o surdo já sabe onde quer chegar.
A história da comunidade surda em busca dos seus direitos é uma constante,
apesar da Libras- Língua Brasileira de Sinais ter sido reconhecida por lei, as suas implicações de língua na comunidade surda, ainda não foram percebidas ou aceitas pela sociedade, ocasionando aos surdos a busca pelo seu objetivo imediato, reconhecimento cultural que através da Libras lhe constitui uma identidade surda e a inclusão social.
A identidade de uma pessoa é formada, principalmente pela língua materna, ou
seja, a língua que os pais transmitem aos seus filhos, no caso do surdo, depende da sua língua materna: a Libras ou a língua portuguesa, como a Libras é nata da comunidade surda, isto é, aprende de forma espontânea, porém se tiver o contato com os surdos adultos o mais cedo possível. “As identidades surdas são construídas dentro das representações possíveis da cultura surda, elas moldam-se de acordo com a maior ou menor receptividade cultural assumida pelo sujeito.”(PERLIN,2005).O surdo pode escolher, a Libras ou a língua portuguesa, de acordo com sua escolha linguística, esta definirá sua identidade e sua cultura, a dos ouvintes ou a da comunidade surda. Nessa perspectiva, o objetivo desta pesquisa é compreender a cultura e a identidade surda através da Libras como instrumento de inclusão.