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Libras 3º módulo

Camila Frois e Karine Frois.

CULTURA
E IDENTIDADE SURDA.
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CULTURA E IDENTIDADE SURDA

As pessoas surdas têm em comum muitas características, que vão além da


especificidade biológica e abarcam experiências sociais. Porém, entre elas, há
diferenças quanto à visão da surdez e delas mesmas nesse contexto. Dito de
outro modo, sujeitos inseridos na realidade da surdez apresentam identidades
heterogêneas. Saber mais sobre essas diferenças pode ajudar a compreender a
diversidade de posturas entre pessoas surdas ante as situações cotidianas e os
apoios ofertados.

A identidade surda

Em linhas gerais, ao se fazer referência à identidades surdas, faz-se


referência aos modos de pessoas surdas compreenderem a surdez e a si
próprias nesse contexto, concepções que impactam sua postura e
comportamento. A identidade surda é heterogênea, havendo desde os
surdos que se posicionam politicamente em favor dos direitos dos surdos e
que vivem e valorizam a cultura surda até os que se comportam de modo a
tentar se apropriar da cultura ouvinte e vivenciá-la no seu modo de
participar do meio. A grafia pode sugerir essa diferença. Usualmente, a
literatura emprega “surdo” para se referir à toda a coletividade composta
por pessoas com a especificidade biológica que caracteriza a surdez e
“Surdo” para denotar os sujeitos que, para além da especificidade, se
reconhecem como pertencentes à comunidade surda, se apropriam da
cultura surda e militam pelos direitos da coletividade surda.

A construção da identidade da pessoa surda é influenciada por fatores


diferentes, como contexto familiar, contato com comunidades surdas, etc.
A literatura consultada faz referência a, pelo menos, cinco tipos de
identidade manifestos por diferentes pessoas surdas, os quais se busca
explicar adiante:
Identidade surda: diz respeito aos sujeitos surdos que se inserem
plenamente na comunidade surda e se reconhecem como pertencentes à
mesma, usam apenas língua de sinais, apresentam características culturais
e forma de estar no mundo baseadas na visualidade, defendem e militam
pelo direito de ser diferente e de vivenciar a cultura surda. Essas pessoas
partilham sua concepção e suas experiências com outros surdos e
participam de espaços de encontro entre pessoas surdas, como grupos e
associações. Trata-se de um posicionamento político ante a surdez, muito
além do encontro de pessoas com as mesmas características biológicas.
Não há uma concepção inferiorizante de surdez ou de uma superioridade
da perspectiva ouvinte, mas a aceitação e valorização das diferenças e do
que é pertinente à cultura surda. Normalmente, sujeitos que apresentam
identidade surda são surdos congênitos ou adquiriram a surdez muito
cedo.

Identidade híbrida: característica de pessoas com surdez adquirida, que


aprenderam inicialmente a estar e participar do meio e construir o
pensamento como ouvintes, utilizando também uma língua oral para se
comunicar, e que passaram a estar imersas no contexto da surdez, como
pessoas surdas. Sendo anteriormente ouvintes, essas pessoas dependem
concomitantemente da linguagem oral e da sinalizada. Reconhecem-se
como surdos, convivem com as identidades surdas, participam das
associações e comunidades surdas, demandam direitos atinentes aos
surdos, como intérpretes, legenda, etc. e utilizam recursos desenvolvidos
para o contexto da surdez, como campainhas luminosas, telefones
adaptados e outros.

Identidade de transição: a maior parte dos surdos, sendo oriundos de


famílias ouvintes, passa por um processo de transição entre a tentativa de
estar no mundo a partir da perspectiva ouvinte e de uma linguagem oral e
visual truncada, característica dos primeiros anos de sua vida, para um
contato tardio com a comunidade surda, comunicação visual sinalizada e a
experiência visual de mundo.

Identidade flutuante: característica de pessoas que não foram inseridas


em alguma comunidade surda. Essas pessoas costumam ter dificuldades de
se reconhecer/aceitar como surdas e buscam sua referência na cultura
ouvinte. Valorizam e seguem a representação ouvinte, considerando-a
superior à surda. Independentemente do nível de seu comprometimento,
usam aparelhos auriculares e se orgulham de se apropriar de algum
elemento da cultura ouvinte, como a utilização da língua oral. Rejeitam a
cultura surda, não participam da comunidade surda nem das suas lutas, e
não conhecem ou não recebem/utilizam tecnologias nem apoios
direcionados a pessoas surdas, como intérprete de língua de sinais. Vivem
alguns conflitos emocionais, buscam competir com ouvintes, podem se
ressentir com outros surdos, podem apresentar depressão e outros
problemas.

Identidade embaraçada: característica de pessoas que não têm referência


nem na cultura surda, nem na ouvinte. Apresentam dificuldades de
comunicação, sendo as expressões que usam, por vezes, incompreensíveis.
Não sabem usar a língua de sinais. Têm a vida, o comportamento e
aprendizados determinados pela perspectiva ouvinte.

Observa-se que o coletivo de pessoas surdas, como é característico das


coletividades humanas, é heterogêneo, sendo necessário compreender e respeitar
essa diversidade. Sem desrespeitar o direito de a pessoa assumir o
posicionamento que considere melhor, observa-se também a importância de
oportunizar a ela o contato com outras pessoas surdas, o que permitirá que ela
possa se apropriar de formas de vida e tecnologias que facilitem a sua vida e a
comunicação com os demais.
Conclusão

A cultura surda vem ganhando seguidores defensores da comunidade, pessoas


dispostas a lutarem pelos direitos dos surdos, essa visibilidade que a comunidade
surda sempre quis está chegando ao seu melhor momento, tendo em vista a
redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) no ano de 2017, foi voltado
exclusivamente para a comunidade surda com a seguinte temática; “Desafios
para a formação educacional de surdos no Brasil”, isso já é fruto de uma cultura
que busca igualdade, e recrimina o preconceito. O texto nos mostra a
importância da identidade e cultura surda, o que os surdos querem é seus direitos
respeitados, a diminuição de preconceitos, é ter sua voz ouvida na sua língua
(LIBRAS), a comunidade surda quer a quebra de estereótipos que os taxam todos
os dias, eles querem mostrar a sociedade a capacidade que eles tem, de estudar,
trabalhar, se divertir como qualquer outra pessoa. E de fato a cultura surda veio
ganhando esse espaço e fortalecendo sua comunidade. Percebemos que a
identidade surda corrobora a personalidade da pessoa surda, ao entrar na
comunidade surda e definir sua identidade entende-se que o surdo já sabe onde
quer chegar.

A história da comunidade surda em busca dos seus direitos é uma constante,


apesar da Libras- Língua Brasileira de Sinais ter sido reconhecida por lei, as suas
implicações de língua na comunidade surda, ainda não foram percebidas ou
aceitas pela sociedade, ocasionando aos surdos a busca pelo seu objetivo
imediato, reconhecimento cultural que através da Libras lhe constitui uma
identidade surda e a inclusão social.

A identidade de uma pessoa é formada, principalmente pela língua materna, ou


seja, a língua que os pais transmitem aos seus filhos, no caso do surdo, depende
da sua língua materna: a Libras ou a língua portuguesa, como a Libras é nata da
comunidade surda, isto é, aprende de forma espontânea, porém se tiver o contato
com os surdos adultos o mais cedo possível. “As identidades surdas são
construídas dentro das representações possíveis da cultura surda, elas
moldam-se de acordo com a maior ou menor receptividade cultural assumida
pelo sujeito.”(PERLIN,2005).O surdo pode escolher, a Libras ou a língua
portuguesa, de acordo com sua escolha linguística, esta definirá sua identidade e
sua cultura, a dos ouvintes ou a da comunidade surda. Nessa perspectiva, o
objetivo desta pesquisa é compreender a cultura e a identidade surda através da
Libras como instrumento de inclusão.

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