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Carla Menezes1
Abstract: The main objective of this article is to discuss the learning contexts of
teacher training with deaf students, highlighting both the importance of specific
training for bilingual teachers (Portuguese/LIBRAS) and the relevance of learning
the Brazilian Sign Language, as well as some of the daily challenges in the school
environment experienced by teachers who work with deaf students. To meet the
proposed objective, we opted for the methodology of bibliographic research,
understanding that the theoretical debate established between the concepts of
teacher training (Gatti, 2010; Saviani, 2009; Freitas, 2002), education for the deaf
(Skliar, 1998; Fernandes, 2003) and bilingualism (Pesavento, 2005; Guarinelli,
2007) is essential to understand the new teaching modality: the bilingual
education
1 Carla da Silva Menezes, graduada em Pedagogia pelas Faculdades São José, com
formação de professora pelo Instituto Sarah Kubitschek. Possui Especialização em
Psicopedagogia Clínica e Institucional e em Educação Especial pela Universidade Veiga de
Almeida. É professora atuante na Educação Especial na SME/RJ e Terapeuta Clínica.
INTRODUÇÃO
Dessa forma foi criada a primeira escola normal no Rio de Janeiro e para
o ingresso nela, bastava ter, no mínimo, 18 anos, boa educação, saber ler e
escrever e ser cidadão brasileiro.
De 1840 a 1869 a formação de professores no Brasil foi marcada pela
incerteza e instabilidade, a ponto, inclusive, de ter tido como um dos modelos de
insucesso, um sistema baseado nos moldes da Áustria e Holanda, onde
aprendizes trabalhavam como auxiliares dos professores em exercício como
única forma de preparo para exercer a profissão de docente. Certamente foi mais
uma manobra ineficaz, dada a falta de embasamento teórico.
Somente a partir de 1870, de acordo com Moacyr (1940), essa formação
começou a ter algum êxito, concomitante à chegada das ideias liberais e
democráticas que instituíram a instrução primária como obrigatória dentro do
contexto de liberdade de ensino.
Na década de 1920 foi criado o Decreto nº 3.356, durante o governo de
Washington Luís, regulamentando a Faculdade de Educação, cujo objetivo
consistia no “aperfeiçoamento pedagógico e cultural geral” (Evangelista, 2003,
p. 22).
A partir da evolução dos sistemas nacionais de ensino, estabeleceu-se
que haveria duas frentes distintas: a Escola Normal Superior, cujo objetivo era
formar professores de nível secundário, e a Escola Normal Primária, cujo objetivo
era o de preparar professores para o ensino primário (SAVIANI, 2009). Pode-se
dizer que a história da formação de professores no Brasil se divide em alguns
períodos, conforme a seguir:
Nos anos de 1500, num contexto mundial, a história dos surdos começou
a traçar um novo rumo quando Pedro Ponce de Leon, monge beneditino
espanhol e mestre responsável pela criação de uma escola de formação de
docentes para alunos surdos, desenvolveu um método de educação para surdos
contendo alfabeto manual, escrita e oralização, e criou uma escola de
professores para surdos. Ele foi, inclusive, responsável por ensinar quatro filhos
de nobres, todos surdos, a falar grego, latim e italiano, astronomia e física, de
acordo com Goldfeld (1997).
A partir da criação desse manual por Leon, foram criados outros manuais
ao redor do mundo, tendo cada um seu próprio alfabeto. Dessa forma, até hoje
a língua dos sinais não é universal. A língua brasileira de sinais, de acordo com
Mori e Sander (2015), tem sua origem na língua de sinais francesa e foi trazida
ao Brasil no ano de 1857, pelo professor Ernest Huet, que era surdo.
Nesse ínterim, entre os anos de 1500 e os de 1800, educadores como
Charles Michel de L’Epée, na França; Samuel Heinick, na Alemanha
apresentaram suas metodologias para a educação de surdos. Samule Heinick,
porém, propôs o oralismo, ou seja, que surdos pudessem se tornar ouvintes e
interagir através da leitura labial e da fala (NOGUEIRA, 2010).
No Brasil do império, sob a administração de Dom Pedro II, foi fundadaa
primeira escola para surdos no Rio de Janeiro, com o auxílio de Eduardo Huet,
professor surdo com experiência de mestrado e cursos em Paris. A escola, hoje
conhecida como “Instituto Nacional de Educação de Surdos”– INES, foi a
percursora da língua de sinais brasileira – LIBRAS, que era uma espécie de
mistura entre a língua de sinais francesa e o método utilizado pelos surdos ao
redor do Brasil (STROBEL, 2009).
Nos anos 1800 a educação de surdos estava a todo vapor ao redor do
mundo, principalmente nos EUA, que criou uma Universidade para Surdos.
Porém, de acordo com Mori e Sander (2015), em 1880, durante o Congresso de
Milão, o uso de sinais nas escolas para surdos foi proibido em toda a Europa,
com grande influência de Alexander Graham Bell, o que gerou muitas décadas
do uso do oralismo, um retrocesso na visão de muitos educadores, como Wrigley
(1996).
A notícia da obrigatoriedade da oralidade para surdos se instalou em 1889
e a partir desta data, até a década de 1950, há um grande vazio na bibliografia
sobre o assunto. O que se sucedeu, em 1951, foi a regulamentação do ensino
do Curso Normal de Formação de Professores para Surdos-Mudos, no governo
Dutra, para alfabetização dos surdos em todo o país, ainda sob o método do
oralismo (SOUZA, 1999).
Foram quase 100 anos de retrocesso na evolução e na história dos
surdos, até que, em 1975, durante um Congresso em Washington, nos EUA, a
maioria decretou que o oralismo não havia sido benéfico para a comunidade
surda. A partir de então, entre 1980 e 1990, o uso de sinais voltou a ganhar
adeptos e com isso surgiu a filosofia educacional conhecida como Comunicação
Total. De acordo com Ciccone (1996), ela fazia uma junção de todo tipo de
comunicação na educação dos surdos, os sinais, a fala, a dança, a mímica, o
teatro. Ainda, segundo o autor,
A Comunicação Total é uma filosofia de trabalho voltada para o
atendimento e a educação de pessoas surdas. Não é, tão somente,
mais um método na área e seria realmente, um equívoco considerá-la,
inicialmente, como tal (...). A Comunicação Total, entretanto, não é uma
filosofia educacional que se preocupa com ideais paternalistas. O que
ela postula, isto sim, é uma valorização de abordagens alternativas,
que possam permitir ao surdo ser alguém, com quem se possa trocar
ideias, sentimentos, informações, desde sua mais tenra idade.
Condições estas que permitam aos seus familiares (ouvintes, na
grande maioria das vezes) e às escolas especializadas, as
possibilidades de, verdadeiramente, liberarem as ofertas de chances
reais para um seu desenvolvimento harmônico. Condições, portanto,
para que lhe sejam franqueadas mais justas oportunidades, de modo
que possa ele, por si mesmo lutar em busca de espaços sociais a que,
inquestionavelmente, tem direito (CICCONE, 1996 pp 6-8)
2 Ver VALADÃO, M.; RODRIGUES, L.; LOURENÇO, A.; REIS, B. Os desafios do ensino
e aprendizagem da LIBRAS para crianças ouvintes e suas relações com a educação inclusiva
de alunos surdos. Revista (Con) Textos Linguísticos, vol. 10, nº 15, 2016.
foram ministradas aulas de LIBRAS para alunos no ambiente escolar, totalizando
30 horas de curso, através de atividades envolvendo brincadeiras, dinâmicas,
diálogos e outras produções com foco na comunicação, como vídeos, jogos,
cartazes, histórias e banners. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que
o ensino da LIBRAS num contexto com novos recursos metodológicos e didático-
pedagógicos foi fundamental para a aquisição da língua com autonomia pelos
alunos.
São inúmeros os desafios da formação docente em contexto bilíngue de
aprendizagem com/para alunos surdos, como visto, e ainda poucas referências
de pesquisas voltadas ao contexto escolar, mas há, por outro lado, uma
tendência de aumento das produções científicas baseadas em pesquisas
experimentais e isso, por si só, é um grande passo para que a evolução da
formação do docente não fique estagnada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
GOMES, M.; GOMES, F.; ARAUJO NETO, B. MOURA, N.; MELO, S.;
ARAUJO, S.; NASCIMENTO, A.; MORAIS, L.; Reflexões sobre a formação de
professores: características, histórico e perspectivas. Revista Educação
Pública, v. 19, nº 15, 6 de agosto de 2019. Disponível em:
https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/15/reflexoes-sobre-a-
formacao-de-professores-caracteristicas-historico-e-perspectivas