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LIBRAS
Nível Básico
Umuarama
2023
UNIÃO OESTE PARANAENSE DE ESTUDOS E COMBATE AO CÂNCER –
UOPECCAN
Umurama
2023
2
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO
Caro participante,
Esperamos que ao longo das aulas, você conheça mais sobre a comunida-
de surda, suas especificidades e saiam aptos a proporcionar um atendimento
ainda mais acessível, com dignidade e respeito ao indivíduo surdo.
Bons estudos.
Uopeccan.
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Sumário
APRESENTAÇÃO.....................................................................9
4 - SAÚDE EM LIBRAS............................................................94
4.1 - PROFISSIONAIS DE SAÚDE........................................................................................95
4.2 - ESPECIALIDADES MÉDICAS.......................................................................................95
4.3 - CORPO HUMANO E RESPECTIVAS DOENÇAS.....................................................95
4.4 - SEXUALIDADE.............................................................................................................100
4.5 - HIGIENE PESSOAL.....................................................................................................101
4.6 - OBJETOS, EQUIPAMENTOS E EXAMES ..............................................................102
4.7 - LOCAIS E DEPENDÊNCIAS DE UM HOSPITAL OU CLÍNICA.............................102
4.8 - TRADUTOR INTÉRPRETE DE LIBRAS NO CONTEXTO CLÍNICO.......................104
REFERÊNCIAS......................................................................107
5
Lista de Figuras
Figura 1 - Classificação do grau de perda auditiva................................................ 21
Figura 2 - Parâmetros da Libras...................................................................................... 29
Figura 3 - Tabela de configurações de mãos.............................................................30
Figura 4 - Sinais configurados com letras do alfabeto.............................................31
Figura 5 - Sinais com pontos de articulação diferentes...........................................31
Figura 6 - Sinais com movimentos diferentes................................................................32
Figura 7 - Movimento retilíneo.........................................................................................32
Figura 8 - Movimento sinuoso...........................................................................................33
Figura 10 - Movimento circular........................................................................................33
Figura 9 - Movimento angular..........................................................................................33
Figura 11 - Movimento semicircular.................................................................................34
Figura 12 - Movimento helicoidal....................................................................................34
Figura 13 - Sinais com orientação/direcionalidade inversa....................................35
Figura 14 - Sinais com expressões faciais diversas....................................................35
Figura 15 - Espaço de sinalização das frases na Libras..........................................38
Figura 16 - Verbo com movimento direcionado ao referente..................................40
Figura 17 - Variações regionais do sinal da cor VERDE...........................................44
Figura 19 - Variação histórica do sinal da cor AZUL...............................................45
Figura 18 - Variação social do sinal de AVIÃO..........................................................45
Figura 20 - Sinais escritos em SW....................................................................................46
Figura 21 - Sistema de notação de dança..................................................................46
Figura 22 e 23 - Configurações de mão - Configurações do tronco...................47
Figura 24 - Posição da palma da mão.........................................................................47
Figura 25 - Símbolos de contato....................................................................................48
Figura 26 - Movimento de cabeça................................................................................48
Figura 27 - Configuração dos dedos............................................................................48
Figura 28 - Símbolos dos dedos......................................................................................49
Figura 29 - Expressão das sobrancelhas......................................................................49
Figura 30 - Expressões da boca.....................................................................................49
Figura 31 - Expressões dos dentes..................................................................................50
Figura 32 - Expressões da língua....................................................................................50
Figura 33 - Expressões do nariz.......................................................................................50
Figura 34 - Expressões dos olhos.....................................................................................51
Figura 35 - Expressões da bochecha.............................................................................51
Figura 36 - Posição da cabeça......................................................................................51
6
Figura 37 - Símbolos diversos relacionados à cabeça.............................................52
Figura 38 - Posição dos ombros......................................................................................52
Figura 39 - Alfabeto SignWriting......................................................................................52
Figura 40 - Sinal GUARDA-CHUVA...................................................................................57
Figura 41 - CAVALO^LISTRAS (Libras).............................................................................57
Figura 42 - Zebra (português).........................................................................................57
Figura 43 - CASA^ESTUDAR (Libras)................................................................................58
Figura 44 - Escola (português)........................................................................................58
Figura 45 - Alfabeto Manual............................................................................................68
Figura 46 - Apresentação em Libras..............................................................................69
Figura 47 - Saudação em Libras.....................................................................................70
Figura 48 - Números cardinais..........................................................................................74
Figura 49 - Números ordinais.............................................................................................74
Figura 50 - Números quantitativos...................................................................................75
Figura 51 - Calendário em Libras....................................................................................76
Figura 52 - Alfabeto manual tátil....................................................................................90
7
Lista de Quadros
Quadro 1 - Elementos que identificam uma palavra e um sinal..............................37
Quadro 2 - Independência sintática da Libras..........................................................39
Quadro 3 - Ordem básica da frase em Libras............................................................40
Quadro 4 - Sentenças com verbos simples...................................................................40
Quadro 5 - Sentenças com verbos com concordância.............................................41
Quadro 6 - Sentenças com marca de tópico..............................................................42
Quadro 7 - Construções em foco contrastivo..............................................................42
Quadro 8 - Sentenças em foco duplicado...................................................................42
Quadro 9 - Negação com incorporação de movimento e orientação, na Libras
.................................................................................................................................................44
Quadro 10 - Verbo de negação acompanhado por aceno de cabeça, na Li-
bras.........................................................................................................................................44
Quadro 11 - Transcrição da língua portuguesa para Libras em glosas..............55
Quadro 12 - Ausência de preposição na transcrição para a Libras...................55
Quadro 13 - Letra minúscula para indicar pontuação e intensificação..............55
Quadro 14 - Uso do símbolo arroba.............................................................................56
Quadro 15 - Uso do símbolo arroba após o “r”.........................................................56
Quadro 16 - Pronomes possessivos em Libras..............................................................56
Quadro 17 - Exceção do uso do símbolo arroba......................................................57
Quadro 18 - Flexão nominal de número........................................................................57
Quadro 19 - Marcação dos advérbios de tempo na Libras...................................66
Quadro 20 - Cumprimentos básicos................................................................................72
Quadro 21 - Diálogo formal..............................................................................................72
Quadro 22 - Diálogo informal...........................................................................................73
Quadro 23 - Pessoas do contexto familiar....................................................................74
Quadro 23 - Dias, meses, anos e advérbios.................................................................77
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APRESENTAÇÃO
Com o intuito de diminuir as barreiras comunicativas existentes entre as pesso-
as surdas, usuárias da Língua Brasileira de Sinais (Libras), e os profissionais de saúde, e
também de amparar e respaldar o direito linguístico desse público, a Uopeccan com o
apoio do Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Atenção à Pessoa com
deficiência (PRONAS), propõe um curso de Libras básico aos profissionais de saúde. Para
tanto, desenvolvemos este material a fim de direcionar os estudos e propiciar conheci-
mento acerca da Libras, dos surdos e da surdez.
Todavia, antes de aprenderem a Libras, os participantes conhecerão um pouco da
história das pessoas surdas tanto no mundo quanto no Brasil, as principais leis que bus-
cam garantir a inclusão social desses sujeitos e o direito de acesso à saúde por meio de
sua primeira língua, a Libras.
Além disso, os aprendizes compreenderão as diferentes concepções de surdez
construídas socialmente, as principais abordagens educacionais que permeiam os prin-
cípios educativos dos sujeitos surdos, os aspectos linguísticos da Libras e sua relação
com o processo de leitura e escrita da língua portuguesa como segunda língua para esse
público.
Aprenderão, também, o conceito de Cultura Surda, sob a perspectiva dos Estudos
Surdos, a fim de compreenderem a influência de seus artefatos culturais na compreen-
são de mundo das pessoas surdas e as diferenças culturais entre surdos e ouvintes.
Na sequência, adentrarão ao mundo dos surdos e da cultura visual, por meio de
uma diversidade de vocábulos em Libras, divididos em campos semânticos de modo a
facilitar o aprendizado.
Depois de adquirirem a base de conhecimento supracitada, será dado ênfase aos
sinais da área da saúde e à realização de diálogos formais e informais, além de outras
práticas de conversação ligadas às situações do cotidiano área da saúde em consonân-
cia com a realidade das pessoas surdas ao procurar atendimento.
A autora.
9
1 - ASPECTOS EDUCACIONAIS E SOCIOAN-
TROPOLÓGICOS DA SURDEZ
1.1 - CONCEITOS E TERMINOLOGIAS
No campo dos estudos das línguas de sinais, existem algumas terminologias uti-
lizadas, com o intuito de auxiliar os leitores na compreensão dos conteúdos abordados,
de acordo com Quadros (2019). Confira no glossário quais são as principais:
Surdo: é como se identifica a pessoa que é surda, identificação considerada a mais
apropriada entre os surdos que usam a língua de sinais.
Surdo-mudo: É uma forma antiga de se referir aos surdos. Atualmente, os surdos
consideram essa forma politicamente incorreta, pois a expressão ‘mudo’ indica impossi-
bilidade de fala, o que não expressa, de fato, a identidade surda. Os surdos podem falar e
usam uma língua de sinais para se expressarem.
Deficiente auditivo: É um termo usado para se referir aos surdos a partir da pers-
pectiva médica. Os surdos que fazem parte das comunidades surdas e usam uma língua
de sinais, normalmente, não utilizam o termo ‘deficiente auditivo’, pois preferem se referir
a si mesmos como ‘surdos’. O termo deficiente auditivo é adotado também por surdos
que não aprendem a língua de sinais. São aqueles que, em sua maioria, são parcialmente
surdos e que adotam a língua portuguesa oral como forma de comunicação, além disso,
fazem uso de recursos, como aparelhos de amplificação sonora individual, implantes co-
cleares, entre outros.
Comunidade Surda: Trata-se de um grupo de pessoas que participam e comparti-
lham dos mesmos interesses em prol das pessoas surdas, em uma determinada locali-
zação (STROBEL, 2008). A comunidade surda não é composta apenas por surdos, mas
também por pessoas ouvintes (familiares de surdos, intérpretes, professores, amigos e
outros).
Povo surdo: Grupo de pessoas surdas que possui, história, língua, costumes em
comum e mantém as mesmas particularidades, construindo sua visão de mundo por
meio de experiências visuais.
Identidade surda: Essa expressão se relaciona a identificação da pessoa dentro
da comunidade surda, com o sentimento de pertencimento ao grupo sociocultural de
surdos de determinado local, região ou país, e até mesmo internacionalmente. Segundo
Ladd (2003), “identidade surda” tem a ver com as pessoas surdas que usam as línguas de
sinais e se reconhecem enquanto surdos a partir de determinada perspectiva sociocul-
tural.
Pedagogia bilíngue: É uma categoria de formação que visa formar educadores
bilíngues, habilitados em Libras e em Língua Portuguesa, para atuarem na educação de
surdos e ouvintes. Esses profissionais são capazes de atender aos alunos em sua primei-
ra língua utilizando metodologias de ensino apropriadas.
Pedagogia visual (ou pedagogia surda): É uma metodologia de educação de surdos
que visa atender de forma satisfatória as especificidades desses sujeitos considerando
seus aspectos culturais. Por meio dela é destacada a importância das experiências visu-
ais alinhadas às tecnologias para potencializar a aprendizagem dos estudantes surdos.
10
1.2 - HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS NO MUNDO
11
rança, e um deles se tornou padre. Ponce de León usava como metodologia o alfabeto
manual, a escrita e a oralização (STROBEL, 2009).
Ainda na Espanha, em 1620, Juan Pablo Bonet, publicou o primeiro livro sobre a
educação de surdos em que expunha o seu método oral, além de aprimorar o sistema de
sinais utilizado por Pedro Ponce de León. Pablo Bonet ficou conhecido como o inventor
do alfabeto manual.
Outro fato importante foi a publicação do livro Philocopus, pelo médico inglês,
John Bulwer, em 1648, no qual preconizava a utilização do alfabeto manual, da língua de
sinais e da leitura labial, além de afirmar que a língua de sinais era capaz de expressar os
mesmos conceitos que a língua oral. Ele foi o primeiro inglês a desenvolver um método
de comunicação formal entre surdos e ouvintes. Ele acreditava que a língua de sinais era
universal e constituída por elementos icônicos (STROBEL, 2009).
1.3 - ORALISMO
12
época, quase todos os professores já utilizavam a língua de sinais e vários deles eram
surdos (VELOSO; MAIA, 2011).
Em 1855, o professor surdo Edouard Huet, com experiência de mestrado e outros
cursos em Paris, mudou-se para o Brasil sob beneplácito do imperador D. Pedro II, com a
intenção de juntos, abrirem uma escola para surdos (STROBEL, 2009). Dessa forma, em
1857, foi fundada a primeira escola de surdos do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, o
Imperial Instituto dos Surdos-Mudos (IISM), conforme será visto adiante.
Em 1864, foi fundada a primeira Universidade Nacional para Surdos nos Estados
Unidos, a Universidade Gallaudet (Gallaudet University), em Washington, um sonho de
Thomas Hopkins Gallaudet realizado por seu filho, Edward Miner Gallaudet. Trata-se de
uma universidade referência para todo o mundo, pois é a única instituição educacional
cujos programas são todos desenvolvidos especificamente para pessoas surdas (VELO-
SO; MAIA ,2011).
Em 1880, foi realizado o Congresso Internacional de Surdo-Mudez, em Milão, na
Itália, no qual foi determinado que o método oral deveria ser adotado pelas escolas de
surdos em todo o mundo, sendo considerado, por alguns, como o mais adequado para
ensiná-los. Desde então, a língua de sinais passou a ser oficialmente proibida (VELOSO;
MAIA, 2011).
O evento impactou de forma negativa a educação dos surdos causando transfor-
mações em direção oposta ao que vinha sendo descoberto sobre a língua de sinais e
as potencialidades dessas pessoas. A partir desse congresso, mais precisamente, no
século XX, todas as escolas de surdos do mundo foram forçadas a proibir o uso da língua
de sinais e seu objetivo principal passou a ser a oralização e o domínio da fala, ficando os
conteúdos das disciplinas escolares procrastinados, prejudicando o nível de escolariza-
ção desses alunos (GOLDFELD, 1997).
1.5 - BILINGUISMO
13
fato que resultou em política linguística (DIAS; ANACHE; MACIEL, 2020) que perdurou até
os dias atuais.
Para elucidar o que é a educação numa perspectiva bilíngue, Quadros (1997), expli-
ca que, no caso dos surdos, o bilinguismo é uma proposta educacional que considera a
língua de sinais a sua primeira língua (L1) e, a partir dela, é ensinada a Língua Portuguesa
como segunda língua (L2), na modalidade escrita.
O bilinguismo começou a ganhar força a partir da década de 1980 e tem sido a pro-
posta utilizada na contemporaneidade, por ser considerada a mais eficaz e que melhor se
aproxima dos ideais surdos (OLIVEIRA et al, 2022).
Essa proposta é adotada por instituições que visam tornar acessível duas línguas
no contexto escolar (a de sinais e a língua oral escrita) aos alunos surdos, visto que nem
todas essas pessoas conseguem desenvolver a habilidade da fala (OLIVEIRA et al, 2022).
A esse respeito, Stumpf (2009, p. 247), doutora e pesquisadora surda, elucida que a
educação bilíngue “[...] é vista não apenas como uma necessidade para os alunos surdos,
mas sim como um direito, tendo sempre como base o pressuposto de que as LS são pa-
trimônios da humanidade e que expressam as culturas das comunidades surdas”. Além
de preservar a identidade e a cultura da comunidade surda (GUARINELLO et al, 2013).
A história da educação de surdos permanece em contínua evolução, apesar de ter
havido impactos marcantes, vivemos momentos históricos caracterizados por mudan-
ças e conflitos, mas também pelo surgimento de novas oportunidades.
Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que
o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um
sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas
do Brasil (BRASIL, 2002).
Esta Lei impõe que seja garantido pelo poder público, formas institucionalizadas
de apoiar o uso e difusão da Libras, além de prover que os sistemas educacionais in-
cluam o ensino de Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), nos cursos de formação de Educação Especial, Fonoaudiologia e de magistério,
nos níveis médio e superior, além de advertir que a Libras não poderá substituir a moda-
lidade escrita da língua portuguesa (BRASIL, 2002).
Doravante, a Libras passa a ser propagada como a língua a ser utilizada livremente
pela comunidade surda no país, sendo capaz de representar por meio dos sinais quais-
quer termos, por mais complexos e abstratos que sejam, assim como acontece nas lín-
guas orais (GESSER, 2009).
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Vale destacar que os surdos do Brasil mantiveram maior interação com seus pares
dos Estados Unidos e da França e isso ocasionou a semelhança entre os sinais utiliza-
dos nesses três países. Esse contato que os países mantinham entre si promoveu uma
herança linguística entre as línguas de sinais, todavia com maior influência da LSF sobre
todas as demais (DINIZ, 2010).
No decorrer da história, o povo surdo militou incansavelmente em busca da con-
quista de seus direitos enquanto cidadãos participantes de uma sociedade. Diante disso,
destacamos que dois importantes eventos mundiais influenciaram no surgimento de do-
cumentos oficiais que instituiram a inclusão escolar no Brasil, beneficiando também os
estudantes surdos.
Os principais documentos foram a Conferência Mundial de Educação para Todos,
realizada em Jomtein, na Tailândia, em 1990, que estabeleceu um plano de ação para sa-
tisfazer as necessidades básicas de aprendizagem e a Conferência Mundial sobre Edu-
cação Especial, em Salamanca, na Espanha, em 1994, que teve como objetivo fornecer
diretrizes básicas para a formulação de políticas e sistemas educacionais de acordo com
o movimento de inclusão social, dando origem à Declaração de Salamanca. Este impor-
tante documento não se omitia em relação ao povo surdo, antes previa a educação de
surdos e surdocegos de modo que fossem respeitadas as suas particularidades, desta-
cando a importância de sua educação acontecer por meio de sua língua natural, a língua
de sinais, defendendo que o ideal seria que esses indivíduos estudassem em escolas ou
classes especiais (que atendessem suas particularidades linguísticas).
Sob a influência dessa importante declaração, no Brasil, é a partir da Constituição
Federal de 1988 que a inclusão escolar começa a tomar forma (SOUZA, 2018). Em seu ar-
tigo 206, apresenta os princípios que embasam o ensino, sendo que o primeiro se refere
ao direito à igualdade de condições para o acesso e permanência de todas as pessoas na
escola. E, no artigo 208, afirma que é dever do Estado garantir atendimento educacional
especializado (AEE) às pessoas com deficiência, preferencialmente, na rede regular de
ensino (BRASIL, 1988).
As legislações se referem as pessoas surdas como pessoas com deficiência. Vale
ressaltar que esse termo não é considerado apropriado pela comunidade surda, confor-
me esclarece Felipe (2007, p. 45):
As pessoas Surdas, que estão politicamente atuando para terem seus direitos de cidadania e lin-
güísticos respeitados, fazem uma distinção entre “ser Surdo” e ser “deficiente auditivo”. A palavra
“deficiente”, que não foi escolhida por elas para se denominarem, estigmatiza a pessoa porque
a mostra sempre pelo que ela não tem, em relação às outras e, não mostra o que ela pode ter de
diferente e, por isso, acrescentar às outras pessoas.
A citação mostra que ser surdo é ser diferente e não deficiente, visto que os surdos
são pessoas que falam com as mãos enquanto os ouvintes falam com a boca. Percebem
o mundo, principalmente, pela visão enquanto outras percebem o mundo, principalmen-
te, pelos sons.
Em junho de 1996, em Barcelona, na Espanha, foi formulada a Declaração Universal
dos Direitos Linguísticos, da qual o Brasil se tornou signatário. Esse documento, em seu
artigo 10 especifica que:
Todas as comunidades linguísticas são iguais em direito. 2. Esta Declaração considera inadmissí-
veis as discriminações contra as comunidades linguísticas baseadas em critérios como o seu grau
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de soberania política, a sua situação social, econômica ou qualquer outra, ou o nível de codifica-
ção, atualização ou modernização alcançado pelas suas línguas (UNESCO, 1996, p. 7).
Doravante, esta declaração impulsionou a preocupação dos órgãos governamen-
tais em atender as especificidades linguísticas dos indivíduos, entre elas, as pessoas
surdas.
No mesmo ano, em 20 de dezembro de 1996, a educação inclusiva é constituída
de forma ainda mais operante, devido a homologação da terceira Lei de Diretrizes e Ba-
ses da Educação Nacional (LDBN), Lei nº 9.394, que apresenta, no artigo 58, a educação
especial como modalidade de educação escolar, oferecida a educandos com deficiên-
cia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação e que,
estes alunos, deveriam ser matriculadas, preferencialmente, na rede regular de ensino
(BRASIL, 1996), entre eles, os surdos.
A LDBN provê a oferta de serviços de apoio especializado, na escola regular, para
atender as peculiaridades dos estudantes, público da educação especial, sempre que
fosse necessário. Essa Lei definiu que a educação desses estudantes deveria acontecer
na educação infantil e se estender ao logo de toda vida, além disso, que o AEE seja reali-
zado em classes, escolas ou em forma de serviços especializados, quando as condições
específicas dos alunos não permitir sua inclusão em classes comuns do ensino regular
(BRASIL, 1996).
Além do exposto, a LDBN, em seu artigo 59, especifica que os sistemas de ensino
devem assegurar:
17
titárias.
Quatro anos depois, foi sancionada a Lei nº 10.098/2000 que estebeleceu normas
gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiên-
cia ou mobilidade reduzida, que mencionava explicitamente as pessoas surdas.
Em seu capítulo sete, demonstrou preocupação com os aspectos linguísticos de
comunicação, especificando o uso da língua de sinais para os surdos e organização de
espaços apropriados para a necessidade de cada indivíduo (BRASIL, 2000).
No artigo 12, tratou da disposição de lugar específico para as pessoas surdas em
espetáculos, conferências, aulas e outros, a fim de respeitar sua forma de comunicação
e circulação. Isto posto, significou mais um avanço para a comunidade surda, por tratar
da acessibilidade nos sistemas de comunicação e sinalização, atribuindo a responsabi-
lidade de cumprimento ao poder público, conforme especificado no artigo 17 (promove
a eliminação de barreiras na comunicação e informação, devendo ser acessível em Li-
bras), artigo 18 (necessidade de formação de intérpretes de Libras e guia-intérpretes) e
no artigo 19 (Os serviços de radiodifusão deverão adotar medidas técnicas para garantir
acesso à informação às pessoas surdas ou com deficiência auditiva (BRASIL, 2000).
Estas iniciativas demonstraram que as coisas começavam a aclarar na vida do
povo surdo em relação ao acesso à comunicação e informação, principalmente ao que
tange, aos programas televisivos algo que até então para eles não existia, e esses indiví-
duos ficavam as margens de tudo o que acontecia na sociedade, pois nenhum programa
de notícias era acessível a eles, em Libras. Embora tenha avançado, ainda hoje, as condi-
ções de acesso à informação continuam precárias, na maioria casos.
Conforme mencionado, em 2002 aconteceu o reconhecimento da Libras pela Lei
nº 10.436. Após mais essa conquista, o povo surdo se aplicou para conseguir a regu-
lamentação dessa lei. Em 22 de dezembro de 2005 são comtemplados com mais esta
vitória, a promulgação do Decreto nº 5.626 que além de regulamentar a Lei da Libras e o
artigo 18 da Lei 10.098 (de acessibilidade) incluiu a Libras como disciplina curricular obri-
gatória nos cursos de formação de professores, de nível médio e superior, e nos cursos
de Fonoaudiologia, de instituições públicas e privadas, além de torná-la disciplina optati-
va nos demais cursos de educação superior e educação profissional (BRASIL, 2005).
Esse Decreto também trata da formação de três importantes profissionais da área
da educação de surdos, que são: o professor de Libras, o instrutor de Libras e o Tradutor
Intérprete de Libras/Língua Portuguesa (TILSP). Esse último, “[...] tem a função de inter-
pretar e traduzir situações de produções do português para a língua de sinais e vice-ver-
sa” (LACERDA; SANTOS, 2014, p. 220).
Além disso, aborda aspectos fundamentais para o uso e difusão da Libras e da
língua portuguesa no que tange ao acesso das pessoas surdas à Educação e a compe-
tência do poder público, além da garantia do direito à educação e à saúde das pessoas
surdas ou com deficiência auditiva (BRASIL, 2005).
Considerando a abrangência das deliberações desse decreto, a comunidade surda
esperou que ocorressem mudanças políticas e educacionais mais significativas e que
fossem afirmados os direitos humanos e linguísticos dos surdos, emergindo também as
conquistas anteriores.
No entanto o que se pôde perceber é que devido a política de inclusão escolar
que se expandiu no país, aconteceu o fechamento de várias escolas e classes especiais,
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visto que os surdos começaram a serem matriculados em escolas regulares sem as mí-
nimas condições de equidade para uma aprendizagem profícua, visto que a Libras ainda
não ocupava a sua posição de língua de instrução.
A política de inclusão escolar tem se fortalecido no Brasil, a partir de 2008, com a
criação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(PNEEPEI). Este documento tem como objetivo:
(...) assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
mento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso
ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do
ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a edu-
cação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para
o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; par-
ticipação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliá-
rios, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas
públicas (PNEEPEI, 2008, p. 14).
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bilíngue, principalmente em escolas específicas (próprias para surdos com professores
bilíngues e uma pedagogia surda).
Essas discussões resultaram na homologação de uma nova Lei, com o intuito de
reivindicar alterações na LDBN, com vistas a desvincular a educação de surdos da edu-
cação especial. Algo que há anos a comunidade surda vinha discutindo entre seus pares
e demais interessados, traçando o objetivo de conquistar o direito de uma educação de
fato bilíngue, em escola bilíngue em todos os níveis de ensino. Na qual a Libras possa as-
sumir seu tão esperado espaço, o de língua de instrução dos surdos.
Essa conquista se concretiza no dia 03 de agosto de 2021, com a publicação da Lei
nº14.191, que altera a LBDN de 1996 para dispor sobre a modalidade de educação bilín-
gue de surdos (BRASIL, 2021).
Esta Lei tende a causar uma transformação na educação como um todo, visto que
coloca os dois modelos de educação bilíngue atuais em destaque, sendo: 1) aquele “re-
alizado” na escola regular, vinculado a educação especial na perspectiva da educação
inclusiva; e, 2) a educação bilíngue realizada em primeira língua (Libras) em escolas espe-
ciais e/ou na escola regular. Por esse motivo, destacaremos aqui as mudanças ocorridas
na LDBN sob o efeito dessa Lei e como, possivelmente, irão interferir na educação dos
surdos brasileiros.
A Lei 14.191/2021, em seu primeiro artigo propõe a mudança do Art. 3º da LDBN,
acrescentando o inciso XIV que trata do “respeito à diversidade humana, linguística, cul-
tural e identitária das pessoas surdas, surdo-cegas e com deficiência auditiva’’ (BRASIL,
2021).
Na sequência, o Art. 2º da nova lei adiciona um capítulo específico para tratar da
Educação Bilíngue de Surdos, visto que antes abordava apenas a educação especial de
forma geral. Sendo assim, o Capítulo V-A explica que:
Art. 60-A. Entende-se por educação bilíngue de surdos, para os efeitos desta Lei, a modalidade
de educação escolar oferecida em Língua Brasileira de Sinais (Libras), como primeira língua, e em
português escrito, como segunda língua, em escolas bilíngues de surdos, classes bilíngues de sur-
dos, escolas comuns ou em polos de educação bilíngue de surdos, para educandos surdos, sur-
do-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou superdotação ou
com outras deficiências associadas, optantes pela modalidade de educação bilíngue de surdos. §
1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio educacional especializado, como o atendimento
educacional especializado bilíngue, para atender às especificidades linguísticas dos estudantes
surdos.
§ 2º A oferta de educação bilíngue de surdos terá início ao zero ano, na educação infantil, e se es-
tenderá ao longo da vida.
§ 3º O disposto no caput deste artigo será efetivado sem prejuízo das prerrogativas de matrícula
em escolas e classes regulares, de acordo com o que decidir o estudante ou, no que couber, seus
pais ou responsáveis, e das garantias previstas na Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da
Pessoa com Deficiência), que incluem, para os surdos oralizados, o acesso a tecnologias assisti-
vas.
Art. 60-B. Além do disposto no art. 59 desta Lei, os sistemas de ensino assegurarão aos educan-
dos surdos, surdo-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou
superdotação ou com outras deficiências associadas materiais didáticos e professores bilíngues
com formação e especialização adequadas, em nível superior.
Parágrafo único. Nos processos de contratação e de avaliação periódica dos professores a que se
refere o caput deste artigo serão ouvidas as entidades representativas das pessoas surdas (BRA-
SIL, 2021).
Além desses, a Lei nº 14. 901/2021 acrescentou à LDB os Arts. 78-A e 79-C. O Art.
78-A especifica que:
20
I - proporcionar aos surdos a recuperação de suas memórias históricas, a reafirmação de suas
identidades e especificidades e a valorização de sua língua e cultura;
II - garantir aos surdos o acesso às informações e conhecimentos técnicos e científicos da
sociedade nacional e demais sociedades surdas e não surdas.
A perda auditiva pode ser originada de diferentes formas, podendo ser: pré-natal,
neonatal ou pós-natal. Quando se trata de surdez pré-natal, a causa principal está rela-
cionada à hereditariedade ou à surdez genética, causada por infecções maternas como
rubéola, toxoplasmose, citomegalovirose e herpes. Entre as causas neonatais, o saram-
po e parotidite são as mais comuns. Já, as causas pós-natais, em sua maioria, ocorrem
devido a meningite, a utilização de substâncias tóxicas e otite (MAZZU-NASCIMENTO et
al, 2020).
Por muitos anos, a ciência tentou “curar” a surdez, na tentativa de tornar o surdo uma
pessoa que se comunicasse por meio da fala e se constituísse sob o molde da cultura ou-
vinte (GOUVEIA, 2019). O conceito de surdez variou conforme a época e o ponto de vista de
quem a conceituava e, ultimamente, tem sido definida por duas visões distintas: a clínico-
-terapêutica (ou orgânico-biológica) e a socioantropológica (ou sociocultural) (REIS, 2013).
21
1.8 CONCEPÇÃO CLÍNICO-TERAPÊUTICA
Nessa concepção, a surdez é vista como uma deficiência, e isso coloca as pesso-
as surdas em condição de desvantagem se comparadas às pessoas ouvintes (SKLIAR,
1998). Nessa perspectiva, a área da saúde classifica a surdez pelo grau de perda auditiva,
em decibéis, conforme a figura.
Figura 1 - Classificação do grau de perda auditiva de acordo com Lloyd e Kaplan (1978).
Fonte: http://portalotorrinolaringologia.com.br/SURDEZ-graus.php
Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de torná-lo aces-
sível e habitável, ajustando-o com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição
das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua,
as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo (STROBEL, 2008, p. 22).
23
membros dessa comunidade. Geralmente, é criado por uma pessoa surda que observará
alguma característica peculiar do indivíduo observando um dos seguintes aspectos: I) ca-
racterística física (do rosto, dos cabelos, da altura, do corpo); II) comportamento marcante,
manias; III) apelido (OLIVEIRA, 2019).
Assim, a pessoa que recebe seu nome visual sempre que se apresentar em Libras
deverá primeiro mostrar seu sinal e em seguida soletrar seu nome usando o alfabeto ma-
nual.
Artes visuais: as pessoas surdas fazem produções artísticas com o objetivo de sin-
tetizar suas emoções, suas histórias, suas subjetividades, suas crenças, e para mostrar
ao mundo as novas formas de explorar, de ver e de interpretar sua cultura visual. Nesse
sentido, consideram a língua de sinais uma importante ferramenta para expandir sua criati-
vidade e satisfação artística. Entre as manifestações artísticas do povo surdo destaca-se:
desenho, pintura, escultura, teatro.
Família: os surdos podem nascer em famílias de pessoas surdas ou em famílias de
pessoas ouvintes. No entanto, para a maioria das famílias surdas o nascimento de uma
criança, também, surda é uma ocorrência benquista, e recebida com alegria, não é vista
como um “problema”.
Quando os pais surdos se deparam com profissionais de saúde que sugerem não
usar apenas a língua de sinais e recomendam o uso de próteses auditivas ou implante co-
clear, sob o argumento de que ouvir sons e aprender a falar é melhor, alegando que a sur-
dez pode provocar atraso na aquisição da linguagem, isso é entendido pelos pais surdos
como conselhos estranhos que os levam a enxergar a surdez como um problema passível
de reabilitação.
Normalmente, os pais surdos, seguros de sua identidade cultural, e detentores de
conhecimento e experiência em criação de crianças surdas devido ao convívio com a co-
munidade surda, ignoram as informações desses profissionais e seguem suas vidas cer-
cados de recursos visuais que lhes dão suporte, encorajam e fornecem meios de subsistir
e contribuir com a sociedade como qualquer outra pessoa.
Quando os pais são ouvintes e recebem o diagnóstico da surdez de seu filho, na
maioria das vezes, ficam perplexos, deprimidos e sentem-se culpados e frustrados por ge-
rar uma criança “não normal” e passam a ver o filho como um sonho desfeito. Diante dessa
realidade, com o receio de que seu filho não seja aceito pela sociedade, esses pais passam
a alimentar a esperança de “curar” a tal “deficiência auditiva” e, em sua maioria, não procu-
ram a comunidade surda, mas partem para a busca incessante pela “normalidade”.
Dependendo do encaminhamento dado pelas famílias, a criança surda poderá enfren-
tar problemas de identidade, atraso na aquisição de linguagem, de saúde emocional e, até
mesmo, mental (depressão, etc).
Literatura surda: se encarrega de resgatar lembranças das vivências surdas através
do tempo. A literatura surda se estende pelos mais diversos gêneros textuais, como: po-
esia, história, piadas, literatura infantil, clássicos, fábulas, contos, romances, lendas entre
outras manifestações culturais. As histórias contêm a língua de sinais, questões de identi-
dades surdas e da Cultura Surda. Algumas delas são produzidas em língua de sinais, como
declamação de poesias e outros.
Escritores, poetas e pesquisadores surdos têm publicado suas produções literárias
e científicas em língua portuguesa, como modelos compartilhados de suas identidades
24
culturais e, assim, a cultura surda vem conquistando seu espaço literário com lançamentos
de livros e artigos de diversos temas.
Vida social e esportiva: há algumas reações emocionais das pessoas surdas que pro-
duzem padrões de comportamentos próprios e que resultam em contatos muito próximos
entre os membros da comunidade surda, tais como amizades leais, casamento entre eles
e a opção por residirem próximos uns aos outros. A maioria das pessoas surdas gostam
de manter proximidade com seus pares por compartilhar da mesma língua, cultura, lutas e
reivindicações. Essa característica social faz com que convivam em comunidades surdas,
participando de associações de surdos, realizando atividades conjuntas, procurando estu-
dar em uma mesma escola, formando times e participando de eventos esportivos.
Política: consiste nos movimentos e lutas das pessoas surdas pelos seus direitos
judiciais e de cidadania. Comumente essas manifestações são organizadas pelos próprios
surdos em reuniões e assembleias dentro das associações de surdos, as quais comparti-
lham de interesses comuns.
Materiais: condicionados ao comportamento cultural do povo surdo que possibili-
ta a acessibilidade na vida cotidiana dessas pessoas. Alguns materiais auxiliam a todos e
outros são mais voltados aos surdos que possuem famílias surdas. Os ambientes em que
convive uma pessoa surda devem ser planejados de maneira que responda aos sinais am-
bientais visualmente tal como, campainhas luminosas ao invés de sonoras, despertadores
vibratórios, vídeos com legendas e/ou com janela de intérprete, babás eletrônicas, sinaliza-
dores, etc.
Além desses, existem outras tecnologias que são de domínio da sociedade em geral
e que pertencem ao meio digital de comunicação em tempo real a distância, mas que são
necessárias para as pessoas surdas como: torpedos de celular, chats, vídeo chamadas, si-
tes produzidos pelas comunidades surdas e aplicativos de tradução tanto da fala da língua
portuguesa para texto escrito quanto da língua portuguesa (escrita ou falada) para a Libras.
25
ao paciente (MEZZU-NASCIMENTO et al, 2020). Para tanto, algumas estratégias devem ser
adotadas por esses profissionais para que possam se comunicar com pacientes surdos in-
cluindo mímica, leitura labial, gestos, escrita e apontamentos. Vejamos algumas sugestões
úteis, de acordo com a Secretaria Nacional de Justiça (2009):
• Evite falar de costas, de lado ou com a cabeça baixa.
• Olhe para o surdo enquanto você fala.
• Fale com movimentos labiais bem definidos, para que ele possa compreender.
• Fale naturalmente, sem alterar o tom de voz ou exceder nas articulações.
• Use gestos que simbolizem as palavras e que possam ajudar na comunicação. Exemplos:
não, pequeno, dinheiro, muito.
• Seja expressivo, pois a expressão facial auxilia a comunicação.
• Caso queira chamar a atenção, sinalize as mãos, movimentando-as no campo visual dele ou
toque gentilmente em seu braço.
• Se você apresentar dificuldades em compreender o que a pessoa surda está falando, seja
sincero e diga que você não compreendeu.
• Peça para a pessoa repetir o que falou. Se você ainda não entender, peça-lhe para escrever.
Use palavras simples para esta comunicação.
• Se tiver interesse, peça ao surdo para lhe ensinar alguns sinais em Libras.
26
foi marcado pelos estudos do linguista americano Willian Stokoe, em 1960, ao descrever
os níveis fonológicos e morfológicos da língua de sinais americana.
• A língua de sinais é mímica.
Falso. A língua de sinais é constituída por um conjunto de elementos linguísticos vi-
suais que se relacionam entre os sinais convencionados para a construção de imagens
mentais. Possui gramática própria e apresenta todos os níveis linguísticos das demais lín-
guas. Além dessas, possui outras características, tais como a produtividade/criatividade,
flexibilidade, descontinuidade e arbitrariedade. A mímica é pantomínia e utiliza-se de ges-
tos não convencionados para tornar algo visível.
27
• O surdo precisa ser oralizado para ser integrado à sociedade ouvinte.
Falso. Oralizar denota negação da língua de sinais, a língua dos surdos. O surdo pode
optar por utilizar ou não a língua oral para promover um intercâmbio cultural. É necessário que
seja respeitado o direito de o surdo optar por ser educado em língua de sinais e/ou pela orali-
dade. O que não deve haver é imposição e opressão.
• O surdo tem dificuldade de escrever porque não sabe falar a língua oral.
De certa forma, é verdade que a relação dos surdos com a escrita da Língua Portu-
guesa não é das melhores, pois historicamente trata-se de uma língua que lhes foi imposta a
todo custo, sendo negada a eles a língua de sinais na alfabetização. O fato de a escrita ter uma
relação fônica com a língua oral estabelece alguns desafios para os surdos, pois demanda
reconhecer uma realidade fônica que não lhes é familiar acusticamente. A escrita é para eles
composta por símbolos abstratos. Por isso, a experiência com a escrita da Língua Portuguesa
tem ligação direta com o sentimento de impotência, baixa autoestima e, até mesmo, alguns
sentem aversão ao idioma. Há depoimentos de surdos que afirmam que quando é preciso
escrever ficam nervosos, sentem medo de errar, não têm prazer em fazê-lo, e sempre ficam
preocupados com a reação de quem vai ler o que eles escrevem. Portanto, para que os surdos
possam aprender a escrita da Língua Portuguesa de maneira menos traumática, é preciso
que a alfabetização aconteça por meio de sua primeira língua, a Libras, e a partir dela possam
aprender a escrita da segunda língua, o português. Não se trata de dificuldade intelectual e
sim de falta de oportunidade.
28
situações comunicativas emergenciais com os surdos. Para quem interage frequentemente
com surdos é indispensável aprender a língua de sinais.
• A surdez é hereditária.
Sim, a propensão genética é uma das causas da surdez. Porém também pode ocorrer
em função de traumas, doenças contagiosas, doenças contraídas durante a gestação, efeitos
colaterais de drogas ou medicamentos ototóxicos (que podem causar danos a audição), más
formações congênitas, exposição a ruídos de alta intensidade, acidentes, idade, entre outros
fatores.
29
2 - ASPECTOS LINGUÍSTICOS DA LIBRAS
Historicamente a Libras foi vista, por muitos, como simples “gestos” ou como a “lin-
guagem dos sinais”, “a linguagem dos surdos”, entre outras nomenclaturas equivocadas.
Descontruir essas concepções e comprovar que a Libras é uma língua e que perpassa
por todos os níveis linguísticos como qualquer outra língua, tem sido uma tarefa árdua a
estudiosos, pesquisadores, professores e comunidade surda (STREIECHEN; KENDRICK,
2022).
Conforme descrito anteriormente, as pesquisas sobre as línguas de sinais, inicia-
ram pelo linguista americano Willian Stokoe, em 1960.
Na época, ele comprovou que as línguas de sinais atendiam a todos os critérios lin-
guísticos de uma língua, tanto no que se refere ao léxico e a sintaxe quanto a capacidade
de criar uma infinidade de sentenças (QUADROS; KARNOPP, 2004).
Stokoe propôs um modelo fonológico de análise das línguas de sinais a partir da
ASL. Ele conseguiu identificar três parâmetros das línguas de sinais: Configuração de
Mão (CM), Locação (L) ou Ponto de Articulação (PA) e Movimento (M).
30
tros secundários (constatados por outros linguistas), são: Orientação/direção e Expres-
são Facial e/ou Corporal (EFC), vejamos cada um deles.
1) Parâmetros primários:
Fonte:https://cursos.escolaeducacao.com.br/artigo/configura-es-de-m-o
31
Figura 4: Sinais configurados com letras do alfabeto.
Vale destacar que alguns sinais têm a mesma configuração de mão, porém são di-
ferenciados em seu significado pelo ponto de articulação, como, por exemplo, os sinais
de APRENDER (na testa), LARANJA (na boca) e AMAR (no peito) (PEREIRA FILHO, 2011),
todos são realizados com a configuração da mão em S.
c) Movimento
É o deslocamento da mão no espaço durante a execução de um sinal. Alguns sinais
32
possuem movimento e outros são sinais estáticos (HONORA, 2010). O sinal de CASA, por
exemplo, não tem movimento, enquanto o sinal de MORAR tem movimento. Trata-se de
um parâmetro importante, pois o significado de alguns sinais se modifica de acordo com
o movimento, como, por exemplo: VERDE, GELAD@ e MÉDIC@, SEXO.
33
Figura 8: Movimento sinuoso.
34
Figura 11: Movimento semicircular.
SAP@ CORAGEM
Fonte: Pereira Filho (2011, p. 14).
2) Parâmetros secundários:
36
2.3 - FONÉTICA
Nas línguas orais, a fonologia é o estudo das unidades menores (mínimas) que for-
mam uma palavra. Os fonemas nas línguas orais não possuem significados. Na língua
portuguesa para formar a palavra “meninas” precisamos dos fonemas m\\n\\s\\a\\e\\i, que
combinados formam a palavra (BRITO, 1997). Na Libras acontece da mesma forma.
A fonética e a fonologia das línguas de sinais são as áreas da linguística que estu-
dam as unidades mínimas que formam os sinais e que, assim como nas línguas orais, não
apresentam significado isoladamente (QUADROS; KARNOPP 2004).
Para apresentarmos a diferença entre os fonemas da Língua Portuguesa e os “fo-
nemas” da Libras, é preciso primeiro compreender quais são as unidades mínimas (fone-
mas) da Libras, que são os cinco parâmetros, pois é por meio de suas combinações que
os sinais (palavras) em Libras se constituem. Essas conciliações das mãos, chamadas
de parâmetros, equivalem aos fonemas (quiremas) e, muitas vezes, aos morfemas das
línguas orais (FIGUEIRA, 2011), que formam as palavras.
2.4 - MORFOLOGIA
A morfologia é um elemento da gramática que discorre sobre a formação, a estru-
tura interna, e a classificação das palavras de uma língua (ADRIANO, 2018). Na Libras, a
morfologia é o estudo da estrutura interna dos sinais, assim como das regras que deter-
minam a formação dos sinais (QUADROS, 2004).
No entanto, existem diversos tipos de informações necessárias para a identifica-
ção e compreensão de uma palavra (ou um sinal), como a informação fonética/fonológica
(unidades menores, letras), morfológica (estrutura das palavras), sintática (estrutura das
frases), semântica (significado das palavras) e pragmática (uso das palavras de acordo
com o contexto).
No quadro comparativo a seguir apresentamos os elementos que identificam a pa-
lavra e os elementos que identificam um sinal em Libras.
37
Logo, entendemos que a morfologia estuda as relações que ocorrem entre a forma
e o sentido dos morfemas e das palavras tanto na língua portuguesa quanto na Libras.
Os cinco parâmetros da Libras são como “partículas” de um sinal, visto que no nível
morfológico, podem ser significados, tornando-se morfemas. Vejamos como cada parâ-
metro pode equivaler a um morfema (FIGUEIRA, 2011):
Assim, podemos afirmar que os morfemas lexicais ou gramaticais podem ser ca-
racterizados da seguinte forma: raiz (M), afixo (alterações em M e CM) e desinência, como
marca de concordância, número pessoal (O/D) ou de gênero (CM) (ADRIANO, 2018).
Os sinais em Libras também recebem classificação, assim como as palavras das
línguas orais incluindo substantivos, adjetivos, verbos, pronomes, advérbios e outros
(BAGGIO; CASA NOVA, 2017). Em relação aos substantivos, eles apresentam algumas di-
ferenças na Libras e na Língua Portuguesa. Na Libras os substantivos não apresentam
flexão de gênero (masculino e feminino), não havendo desinência para marcar o gênero
dos sinais (isso também ocorre com os adjetivos, pronomes e numerais).
2.5 - SINTAXE
38
Figura 15: Espaço de sinalização das frases na Libras.
Por isso, a estrutura sintática da Libras não pode ser pensada com base na estru-
tura da língua portuguesa, pois a ordem dos sinais na construção de uma frase utiliza
regras específicas que retratam o modo que as pessoas surdas organizam seus pensa-
mentos, que é pela percepção visual (STROBEL; FERNANDES, 1998) e (QUADROS; KAR-
NOPP, 2004).
Na Libras, tudo a que o emissor/sinalizador for se referir numa frase (pessoas, ob-
jetos, animais e ações) deve ter seu lugar estabelecido no espaço, para que possa ser
visualizado e imaginado pelo receptor da mensagem (QUADROS; KARNOPP, 2004). O
exemplo a seguir (Quadro 2) apresenta a independência sintática da Libras em relação à
Língua Portuguesa.
Libras Português
Além disso, a Libras possui mecanismos que envolvem dois aspectos importantes,
a incorporação (usada para indicar localização, número e pessoa) e as expressões faciais
e corporais, permitindo o uso de movimentos do corpo e da face (QUADROS, 1997).
Se um discurso em Libras for sinalizado seguindo a ordem das palavras e a estrutu-
ra da Língua Portuguesa, acaba-se por produzir aquilo que chamamos de “português si-
nalizado” (como se fosse o “portunhol”) (FERNANDES, 2012), dificultando o entendimento
da informação pelo surdo.
39
Por isso, ao traduzir ou interpretar línguas de sinais é preciso respeitar a estrutura
das frases das línguas envolvidas e ter consciência que não se deve sinalizar e oralizar si-
multaneamente, pois o fato de usar duas modalidades de línguas distintas, irá prejudicar
a qualidade de uma delas (BAGGIO; CASA NOVA, 2013) e, consequentemente, a qualidade
da informação.
Tanto na Libras quanto na língua portuguesa a ordem básica da estrutura frasal é
SVO (sujeito + verbo + objeto) e, a partir dela, são derivadas outras construções (QUA-
DROS, 2019) e (BAGGIO; CASA NOVA, 2017).
As ordens OSV (objeto + sujeito + verbo), SOV (sujeito + objeto + verbo) e VOS (ver-
bo + objeto + sujeito) são ordenações derivadas de SVO. Assim, as mudanças de ordens
resultam de operações sintáticas específicas associadas a algum tipo de marca, por
exemplo, a concordância e as marcas não manuais (QUADROS; KARNOPP, 2004).
Em Libras, podemos encontrar construções sintáticas com dois tipos de verbos:
simples ou com concordância. Verbos simples são aqueles que não apresentam marcas
de concordância para número e pessoa, porém, podem ocorrer marcações aspectuais e
locativas (QUADROS, 2019). Vejamos os exemplos:
Os verbos com concordância (ou direcionais) são aqueles que apresentam marcas
de concordância com movimentos direcionados ao verbo, podendo se referir a local, nú-
mero e pessoa (QUADROS, 2019).
As letras (a) e (b) antes e depois do verbo, indicam que ele é acompanhado de
movimento direcional no espaço para marcar o referente do qual faz parte a ação “a”
para onde se destina “b” (QUADROS, 2019), conforme o exemplo:
40
Figura 16: Verbo com movimento direcionado ao referente.
Em consequência disso, as ordens OSV e SOV somente irão ocorrer quando hou-
ver alguma coisa a mais na sentença que a torne mais carregada, forçando mudanças
na ordem básica ocasionando assim estruturas diferentes (QUADROS; KARNOPP, 2004).
Vejamos os exemplos a seguir:
41
Exemplo: CRIANÇA GOSTAR MAMÃE (A criança gosta da mamãe).
Outro elemento que altera a ordem SVO nas frases em Libras é a topicalização, as
construções podem ser alteradas por meio do tópico, como a ordem OSV (QUADROS et
al, 2008). O tópico nada mais é do que o tema principal do discurso, enfatizado no início
da frase, seguido de comentários sobre o tema principal (QUADROS; KARNOPP, 2004).
Vejamos os exemplos:
Quadro 6: Sentenças com marca de tópico.
42
2.6 - TIPOS DE FRASES
Em relação aos tipos de frases, para produzirmos uma frase em Libras nas formas
afirmativa, exclamativa, interrogativa, negativa ou imperativa é necessário utilizarmos as
expressões faciais e corporais, que deverão acontecer ao mesmo tempo que a sinaliza-
ção (FELIPE, 2007). Vejamos:
44
Colocando em prática!
45
Figura 18: Variação social do sinal de AVIÃO.
Vejamos que entre os sinais de AVIÃO apresentados é possível perceber que o pri-
meiro é realizado com a CM nº 4, enquanto o segundo é feito com a CM nº 40 (de acordo
com a tabela de configuração de mãos apresentada). Logo, identificamos a presença
do dedo indicador no segundo exemplo indicando a diferença em relação ao primeiro,
sendo que o sinal de AVIÃO com a CM nº 4 é mais utilizado entre os surdos jovens dos
centros urbanos.
É comum ocorrerem mudanças na forma como determinados grupos sociais de
surdos realizam os sinais em Libras. Outro exemplo seria um grupo de idosos surdos,
pois os sinais deles podem refletir sua forma de pensar, sinalizando de modo diferente de
um grupo de surdos adolescentes (OLIVEIRA; MARQUES, 2014).
Além desses, podem ocorrer, também, diferenças na sinalização de pessoas sur-
das que vivem nos centros urbanos e as que vivem na zona rural, visto que cada um des-
ses grupos possui conhecimentos, experiências e costumes distintos, fator que também
pode influenciar na forma de executar os sinais.
Mudanças Históricas: são aquelas que ocorrem com alguns sinais no decorrer do
tempo, pelos quais um sinal pode sofrer mudanças sob influência dos costumes da ge-
ração que o utiliza. Strobel e Fernandes (1998) apresentam como exemplo o sinal da cor
AZUL e as alterações ocorridas com o passar dos anos.
2.8 - SIGNWRITING
Fonte: https://wp.ufpel.edu.br/nai/2017/08/24/curso-de-singwriting-escrita-de-sinais/
Fonte: https://escritadesinais.com/2010/08/17/historia-do-signwriting/
47
Esses estudiosos enviaram a Sutton alguns sinais em vídeo e solicitaram que ela
os escrevesse utilizando seu sistema de dança. Logo, foi através da adaptação feita por
Sutton que, em 1.974, é criado um sistema capaz de escrever as línguas de sinais (BAR-
RETO; BARRETO, 2015).
No Brasil, o sistema foi traduzido e adaptado no par linguístico Inglês-Língua de
Sinais Americana/Português-Libras, pela professora surda Dra. Marianne Rossi Stumpf
da Universidade Federal de Santa Catarina (SILVA et al, 2018).
O SW possibilita ler, escrever e transcrever as línguas de sinais de forma visual di-
reta, sem a necessidade de passar por uma outra língua (BARRETO; BARRETO, 2015).
Sua estrutura é composta por informações acerca das configurações e movimen-
tos de ombro, tronco e cabeça, representando as partes do corpo. Possui três configu-
rações básicas de mão: mão circular (punho aberto), aberta (mão plana) e fechada (punho
fechado (SILVA et al, 2018).
48
Figura 25: Símbolos de contato.
49
Figura 28: Símbolos dos dedos.
50
Figura 31: Expressões dos dentes.
51
Figura 34: Expressões dos olhos.
52
Figura 37: Símbolos diversos relacionados à cabeça.
Fonte: https://www.ufsm.br/midias/arco/post395
Colocando em prática!
1) Transcreva seu nome na escrita de sinais:
53
2) Traduza para a escrita da Língua Portuguesa:
54
Quadro 11: Transcrição da língua português para Libras em glosas.
Nesse sistema, a letra minúscula é utilizada somente para indicar o tipo de pontu-
ação a ser utilizada na sentença e os advérbios de intensidade, modo e frequência (OLI-
VEIRA et al, 2021).
A datilologia (alfabeto manual) que é usada para expressar nome de pessoas, de
localidades e outras palavras que não possuem um sinal, será representada pela palavra
separada, letra por letra, por hífen.
Vale destacar que na estruturação da Libras existem regras específicas de sua mo-
dalidade, portanto, não são usados artigos, preposições e conjunções, visto que esses
conectivos estão incorporados ao sinal (STROBEL; FERNADES, 1998). Veja o exemplo no
quadro a seguir:
55
2.10 - GÊNERO NA LIBRAS
É importante observar que, nos casos acima, o símbolo “@” aparece logo após o
radical das palavras “gat” e “pequen”. Já as palavras que terminam em “r” devem ser es-
critas sempre no masculino seguido do símbolo arroba “@” (OLIVEIRA et al, 2021).
56
Durante a sinalização, na 1ª, 2ª e 3ª pessoa do singular, os pronomes são feitos
com o dedo indicador.
A única situação que não se usa o símbolo arroba “@” para designar diferença de
gênero são em palavras que variam o radical (STROBEL; FERNANDES, 1998).
Observamos que essas palavras permanecem com a mesma grafia da língua por-
tuguesa, no entanto devem ser representadas em letras maiúsculas.
Quanto a flexão nominal de número (plural) em Libras, pode ocorrer de várias for-
mas, no entanto, no Quadro 18, veremos as três mais usadas.
1) Pela indicação da quantidade antes de sinalizar a quantidade (1, 2, 3 etc.) antes de sinalizar o subs-
sinalizar o substantivo; tantivo.
2) Pela repetição do sinal que se pretende repetir o sinal (com movimento indicando sequência).
pluralizar;
3) Pelo uso da expressão “vários”, em Libras primeiro sinalizamos a palavra a ser pluralizada seguida do
sinal de “vários”.
Fonte: Adaptado de Schlindwein (2021).
Vale lembrar que há quem use o sinal de “muito” com o objetivo de marcar o plural,
no entanto, essa prática deve ser evitada, visto que o sinal de “muito” pode ser facilmente
substituído pelo sinal de “vários”. O uso do sinal de “muito” é mais apropriado para indicar
intensidade.
Em Libras, as palavras que são escritas com hífen são denominadas palavras com-
postas, assim como na língua portuguesa.
No entanto, na Libras há uma incidência maior do uso dessas palavras e elas sem-
pre serão grafadas em letra maiúscula. Não obstante, na língua portuguesa as palavras
separadas por hífen, todas, devem ser pronunciadas, enquanto na Libras as palavras
compostas serão representadas por meio de um único sinal, representando o seu signi-
ficado (FELIPE, 2007), conforme os exemplos:
57
Figura 40: Sinal GUARDA-CHUVA.
Felipe (2007) especifica que uma palavra formada por dois ou mais sinais deve ser
transcrita separada pelo acento circunflexo (^) indicando que a junção dos dois termos
forma um único sinal, caracterizando-as como compostas na escrita e simples na sinali-
zação. Vejamos o termo ZEBRA em Libras e em língua portuguesa:
58
Figura 43: CASA^ESTUDAR (Libras) Figura 44: Escola (português)
NÓS-3 NÓS-4
59
NÓS-TOD@S VOCÊ
VOCÊS-2
VOCÊS-3
VOCÊS-4
VOCÊS-TOD@S
60
VOCÊS-GRUPO
EL@
EL@-2
EL@-3
61
EL@-4
EL@-TOD@S
EL@-GRUPO
62
Assim como na língua portuguesa, na Libras, quando uma pessoa surda está con-
versando (em Libras), ela pode omitir a primeira “pessoa” porque, pelo contexto, as pes-
soas que estão interagindo sabem a qual das duas o contexto está relacionado, por isso,
esta pessoa pode ser apontada quando for necessário enfatizá-la na frase (FELIPE, 2007).
Quando se quer falar sobre uma terceira pessoa que está presente, mas deseja-se
uma certa reserva, por educação, não se aponta para esta pessoa diretamente. Nessa
situação, o enunciador faz um sinal com os olhos e um leve movimento de cabeça para a
direção da pessoa que está sendo mencionada, ou aponta para a palma da mão encos-
tando o dedo indicador da mão esquerda na mão direita um pouco à frente do peito do
emissor, estando o dorso desta mão direita voltada para a direção aonde se encontra a
pessoa referida (FELIPE, 2007).
Diferentemente do português, os pronomes pessoais na terceira pessoa não pos-
suem marca para gênero (masculino e feminino).
Na Libras, há uma tendência para a utilização, no final da frase, dos pronomes in-
terrogativos QUAL, como e PARA-QUÊ, todavia também podem ser usados no início. Do
mesmo modo há uma tendência para a utilização no início da frase, do pronome interro-
gativo POR-QUE, mas os primeiros podem ser usados também no início e POR-QUE pode
ser utilizado também no final.
O pronome interrogativo “como” pode ser utilizado em forma do sinal de COMO ou,
quando precisar ser enfatizado, pode ser feita a datilologia: C-O-M-O.
Em Libras, não há diferença entre o uso do “por quê” interrogativo e do “porque”
explicativo, pois o contexto é representado pelas expressões faciais quando ele está
sendo usado em frase interrogativa ou em frase explicativa. Vejamos os exemplos:
Na Libras, não há marcação de tempo nas formas verbais. O tempo é marcado por
meio de advérbios de tempo que demonstram se a ação está ocorrendo no presente
(HOJE, AGORA); ocorreu no passado (ONTEM, ANTEONTEM); ou ocorrerá no futuro (AMA-
NHÃ, FUTURO). Por isso os advérbios geralmente vêm no começo da frase, mas podem
ser usados também no final. Quando não há, na frase, um advérbio de tempo específico,
geralmente a frase, no presente, não é marcada, ou seja, não há nenhuma especificação
temporal (FELIPE, 2007).
HOJE AGORA
AMANHÃ FUTURO
PASSADO JÁ
Na Libras também existem e são utilizados sinais específicos para cada termo que
indica advérbios de tempo, assim como na língua portuguesa (ontem, hoje, amanhã, nes-
ta semana, em breve, semana que vem, agora, frequentemente, antes, cedo, constante-
mente, depois, imediatamente, jamais, nunca, sempre, tarde, já, entre outros).
Os adjetivos são sinais que formam uma classe específica na Libras e sempre es-
tarão na forma neutra, não havendo nem marca para gênero (masculino e feminino), nem
para número (singular e plural) (FELIPE, 2007).
Alguns adjetivos possuem características descritivas e apresentam de forma icô-
nica uma qualidade do objeto, sendo possível desenhá-la no ar, mostrá-la a partir do ob-
jeto ou a partir do corpo do próprio emissor.
Na Libras, quando uma pessoa se refere a um objeto como sendo arredondado,
quadrado, listrado, entre outros, esse formato ou textura são representados no espaço
ou no corpo do emissor, em uma tridimensionalidade permitida pela modalidade da lín-
gua. Diferente da língua portuguesa que, provavelmente, estaria sendo descrito oralmente.
Na frase, os adjetivos geralmente aparecem, escritos ou sinalizados, após o subs-
tantivo que o qualifica (FELIPE, 2007), como, por exemplo:
Língua portuguesa: Ana é magérrima.
Libras: A-N-A MAGR@ muito.
Vejamos alguns sinais de adjetivos na Libras:
GORD@ MAGR@
66
GRANDE PEQUEN@
67
ALT@ ALT@ BAIX@
68
COM-BOLINH@ QUADRAD@ LISTRAD@ (vertical)
70
Figura 47: Saudação em Libras.
71
Além desses, existem também algumas palavras de cortesia bastante utilizadas,
como: OBRIGAD@; DE-NADA; COM-LIÇENÇA; POR-FAVOR; DESCULPA; BEM-VIND@;
DEUS ABENÇOAR; AMÉM.
Vejamos algumas das saudações mais utilizadas pela comunidade surda em um
primeiro contato:
Quadro 20: Cumprimentos básicos.
Colocando em prática!
72
b) Diálogo informal
3.3 - FAMÍLIA
73
Quadro 23: Pessoas do contexto familiar.
Colocando em prática!
1. DIÁLOGO:
A – BO@ NOITE! TUDO BEM?
B – BO@ NOITE, TUDO BEM.
A – VOCÊ MORAR AQUI U-M-U-A-R-A-M-A?
B – NÃO (SIM). EU MORAR CIDADE X-A-M-B-R-Ê.
A – VOCÊ CASAD@ OU SOLTEIR@?
B – EU CASAD@ (OU SOLTEIR@).
A – QUANT@ PESSOAS MORAR SE@ CASA?
B – ME@ CASA MORAR, EU, MÃE, ESPOS@, UM@ FILH@ (adequar de acordo à sua
realidade).
A – AH, ENTENDI.
B – SE@ CASA QUANT@ PESSOAS MORAR?
A – EU MORAR SOZINH@. (adequar de acordo a sua realidade)
B – LEGAL!!! DESCULPA, PRECISAR IR EMBORA. TCHAU!
A – EU TAMBÉM. TCHAU.
3.4 - NUMERAIS
a) Números Cardinais
Os números cardinais são expressos em uma sequência absoluta sem indicar
quantidade, tais como; capítulos de livros, número de páginas, números de residências,
placas de veículos, etc. Vejamos o exemplo:
74
Figura 48: Números cardinais.
Colocando em prática!
1. Em dupla, sinalize para o colega o número do seu telefone com DDD (fictício) e o nú-
mero da sua residência (fictício), conforme o exemplo a seguir. Em seguida, pergunte
os de seu colega.
NÚMERO ME@ TELEFONE (44) 997176327. NÚMERO ME@ CASA 2531. SE@?
b)Números Ordinais
Do PRIMEIR@ até o NONO têm a mesma forma dos cardinais, porém os ordinais
possuem movimentos, enquanto os cardinais não.
Colocando em prática!
75
Sinalize as seguintes frases em Libras:
c)Números Quantitativos
Até o número quatro são apresentados em pé.
Usa-se os sinais dos numerais correspondentes seguido do sinal soletrado ‘’R” e “C” para
centavos.
Exemplos: R$ 1,00 - R$ 450,00 - R$ 214,35 - R$ 896,73
• Para valores de um mil até nove mil, usa-se os sinais dos numerais correspondentes
seguidos de PONTO.
• Para valores acima de um milhão usa-se a letra “M” com o mesmo movimento, porém
com ênfase na expressão facial e no movimento do ponto, que fica maior e mais acen-
tuado.
• Para bilhão, usa-se o mesmo sinal, mas com a letra “B”.
Exemplos: R$ 2.500,25 - R$ 5.350.200,40 - R$ 9.600.700.400,10
76
Colocando em prática!
1. Meses do ano
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/717339046908662452/
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Colocando em prática!
2. Dias da semana
Colocando em prática!
3. Preencha a ficha cadastral e apresente em Libras para um (a) colega. Em seguida, ele
(a) deve fazer o mesmo.
Colocando em prática!
FICHA CADASTRAL
NOME COMPLETO:___________________________________________________
ENDEREÇO:_____________________________ Nº______ BAIRRO:____________
CIDADE:____________ESTADO:___CEP:_________TEL. RESIDENCIAL:_________
TEL.CEL:_________________RG:_________________CPF:___________________
DATA DE NASC.:__________________EMAIL:______________________________
ESCOLARIDADE:_____________________________ESTADO CIVIL: ____________
3.7 - HORA (CRONOLÓGICA E DE DURAÇÃO)
Fonte: http://oficinadelibras.blogspot.com/2014/05/horas-em-libras.html
HORA – MINUTO – SEGUNDO
Fonte: http://oficinadelibras.blogspot.com/2014/05/horas-em-libras.html
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a) Hora cronológica
NOITE MADRUGADA
A partir das 5 horas, deve-se apontar primeiro para o pulso e em seguida fazer o
sinal do número, ao lado.
Exemplo: HORA 5, HORA 6, HORA 7, HORA 8, HORA 9, HORA 10, HORA 11, HORA 12;
MEIO-DIA; MEIA-NOITE.
Vejamos os exemplos no formato de 12h:
Português: Amanhã teremos reunião às 17 horas.
Libras: AMANHÃ NÓS TER REUNIÃO HORA 5 TARDE.
b)Hora de duração
80
respectivo número.
PORTUGUÊS: Ontem a reunião durou 3 horas.
Libras: ONTEM REUNIÃO DEMORAR 3-HORA.
Colocando em prática!
Peça para um (a) colega ler as frases abaixo e tente interpretá-las em Libras simultanea-
mente. Veja o modelo:
Observe as figuras e elabore frases indicando a hora do dia que você realiza essas ativi-
dades, em seguida apresente a um colega e assista a apresentação dele (a).
Após ter aprendido os sinais dos meios de comunicação responda as seguintes ques-
tões, em Libras:
a) Quais os meios de transporte que você e sua família possuem e os que mais utilizam?
82
3.9 - MEIOS DE TRANSPORTE
Colocando em prática!
Escolha uma das figuras apresentadas pelo (a) professor (a) e produza uma pequena his-
tória com base no conteúdo da imagem. Em seguida, conte sua história para a turma, em
Libras.
3.10 - ALIMENTOS
83
Colocando em prática!
Diálogo:
3.11 - ANIMAIS
Colocando em prática!
84
a) Quais animais produzem leite?
b) Quais são os animais mais selvagens que você já viu?
c) Você sente medo de algum animal? Qual?
d) Você já foi atacado por algum animal?
e) Já foi a um zoológico? Quais animais você viu lá?
Fonte:https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/continentes.htm
Países
AMÉRICA
ÁFRICA
ÁSIA
EUROPA
85
OCEANIA
AUSTRÁLIA
ILHAS SALOMÃO
NOVA ZEL NDIA
ANTÁRTIDA
Colocando em prática!
Estados e capitais
Fonte: http://www.ordensedesordens.com/2015/04/por-que-o-brasil-nao-e-malasia.html
86
ESTADO CAPITAL ESTADO CAPITAL
ACRE RIO BRANCO PARAÍBA JOÃO PESSOA
ALAGOAS MACEIÓ PARANÁ CURITIBA
AMAPÁ MACAPÁ PERNAMBUCO RECIFE
AMAZONAS MANAUS PIAUÍ TERESINA
BAHIA SALVADOR RIO-DE-JANEIRO RIO-DE-JANEIRO
CEARÁ FORTALEZA RIO GRANDE DO NATAL
NORTE
DISTRITO FEDERAL BRASÍLIA RIO GRANDE DO SUL PORTO-ALEGRE
ESPÍRITO-SANTO VITÓRIA RONDÔNIA PORTO VELHO
GOIÁS GOI NIA RORAIMA BOA VISTA
MARANHÃO SÃO LUÍS SANTA CATARINA FLORIANÓPOLIS
MATO-GROSSO CUIABÁ SÃO PAULO SÃO PAULO
MATO-GROSSO DO SUL CAMPO GRANDE SERGIPE ARACAJÚ
MINAS-GERAIS BELO HORIZONTE TOCANTINS PALMAS
PARÁ BELÉM
Fonte: A autora (2023).
Colocando em prática!
A turma deve se dividir em dois grupos para participar de um quiz disponibilizado e con-
duzido pelo (a) professor (a).
Cidades e regiões
Fonte: https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/12a-Regional-de-Saude-Umuarama
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Municípios de abrangência
Colocando em prática!
Frase 1
Frase 2
Frase 3
Frase 4
3) Em duplas, vocês deverão interpretar uma das frases sorteadas pela (a) professor (a) e,
em seguida, apresentarem para a turma.
3.13 - SURDOCEGUEIRA
Libras tátil
Corresponde a Libras adaptada ao tato. A pessoa com surdocegueira mantém uma
de suas mãos ou ambas sob as mãos do guia-intérprete, de maneira que a informação
possa ser compreendida pelo tato.
Braille tátil
O guia-intérprete por meio de toques em determinadas falanges dos dedos da
pessoa com surdocegueira, transmite a mensagem como se estivesse escrevendo em
Braille.
Fala ampliada
O guia-intérprete se posiciona perto do melhor ouvido da pessoa com surdoce-
gueira ou usa o Loop (aparelho de amplificação sonora com fones e microfone) para re-
petir a fala do interlocutor.
90
Escrita na palma da mão
O guia-intérprete escreve a mensagem, com seu dedo indicador, no centro da pal-
ma da mão da pessoa com surdocegueira, geralmente usando letra maiúscula de im-
prensa.
Fonte: http://guarulibras.blogspot.com/p/comunicando-se-com-um-surdocego.html
Tadoma
O guia-intérprete repete a fala do interlocutor, enquanto que a pessoa com surdo-
cegueira posiciona uma ou ambas as mãos levemente sobre os lábios, bochecha, mandí-
bula ou boca do guia-intérprete para fazer leitura labial pelo tato.
91
Escrita ampliada
O guia-intérprete escreve a mensagem usando letras, geralmente em tipos am-
pliados e de cores contrastantes com o fundo, conforme a necessidade da pessoa com
surdocegueira.
Comunicação háptica
É tarefa também de o guia-intérprete descrever o que ocorre em torno da situação
de comunicação, a qual inclui tanto o espaço físico em que se apresenta como as carac-
terísticas e atividades das pessoas nela envolvidas.
Objetos de referência
Objetos de Referência são objetos que têm significados especiais designados a
eles. Eles fazem o papel de alguma coisa, quase que da mesma forma que as palavras,
quer faladas, sinalizadas ou escritas.
92
• Na alimentação, acomodá-la primeiro;
• Permitir o acesso aos objetos, ambientes, pessoas, trabalho, lazer e tomada de deci-
sões de forma autônoma exercendo sua cidadania.
Colocando em prática!
Colocando em prática!
93
Exemplo: HOJE EU USAR CAMISETA VERMELHA, CALÇA AZUL, SAPATO PRETO, PUL-
SEIRA PRATA, ANEL DOURADO.
Exemplo:
ME@ COR FAVORIT@ VERDE.
4 - SAÚDE EM LIBRAS
As pessoas surdas e/ou com deficiência auditiva, muitas vezes, têm deixado de
procurar os serviços de saúde por consequência da barreira de comunicação que há
entre elas e os profissionais de saúde, além de perceberem a carga de preconceito por
parte de algumas equipes de saúde (MAZZU-NASCIMENTO et al, 2020). Esse distancia-
mento tem afetado diretamente o estado de saúde dessas pessoas, repercutindo nega-
tivamente na prevenção de agravamentos de determinadas doenças e da promoção da
saúde (SOUZA; POROZZI, 2009).
É sabido que o diálogo com o paciente é a base do atendimento integral em saúde,
no contexto do atendimento aos surdos usuários de Libras, o princípio da integralidade
do Sistema Único de Saúde fica comprometido. Visto que a realização de uma escuta ati-
va, articulada, a prática de comunicação/informação plena, possibilita a autonomia des-
ses sujeitos. É por meio da escuta que o profissional da área da saúde consegue compre-
ender as reais necessidades de saúde das pessoas (MAZZU-NASCIMENTO et al, 2020).
No caso dos pacientes surdos, se o profissional de saúde desconhece sua língua e
não consegue se comunicar, esses pacientes, quando procuram o serviço de saúde, se
obrigam a levar um acompanhante para atuar como “intérprete” durante o atendimento, o
que na maioria dos casos o corre por meio de gestos caseiros e não pela língua de sinais
formal.
Isso pode ser bastante perigoso, pois pessoas despreparadas acabam responden-
do e decidindo pelo paciente sobre certas condutas de sua saúde, podendo atrapalhar,
ao invés de ajudar. Além do que, há assuntos extremamente sigilosos que os pacientes
surdos podem se sentir constrangidos em precisar compartilhá-los com terceiros, en-
quanto poderiam ser tratados por meio de sua primeira língua, a Libras, se médicos e
enfermeiros se interessassem em aprender essa língua e a comunicação fosse efetiva
(MAZZU-NASCIMENTO et al, 2020).
De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei nº 15.146/2015, os ser-
viços de saúde pública destinados à pessoa com deficiência devem assegurar a autono-
mia e informação adequada e acessível à pessoa com deficiência, sobre sua condição de
saúde, entre outros direitos (BRASIL, 2015).
No entanto, a realidade com a qual nos deparamos ainda se distancia do que de-
termina a legislação, enquanto a promoção da acessibilidade, no contexto das práticas
da área da saúde, deveriam ser práticas habituais e multiplicadoras dessa consciência,
visto que contribuiria para a construção de sociedades mais inclusivas e de atendimen-
tos mais dignos aos pacientes surdos.
94
4.1 - PROFISSIONAIS DE SAÚDE E ESPECIALIDADES MÉDICAS
MÉDIC@ – ENFERMEIR@ – AUXILIAR DE ENFERMAGEM - TÉCNIC@ EM ENFERMAGEM
TÉCNIC@ EM RADIOLOGIA - TÉCNIC@ EM LABORATÓRIO – ENFERMEIR@ DOMICILIAR
TÉCNIC@ TERAPEUTA OCUPACIONAL – ASSISTENTE SOCIAL - FARMACÊUTIC@
FISIOTERAPEUT@ – FONOAUDIÓLOG@ - DENTISTA – PSICÓLOG@ – NUTRICIONISTA
ACOMPANHANTE - CUIDADOR@ – MASSAGISTA.
95
Colocando em prática!
Órgão externo
PELE
Fonte: Elaborado pela autora baseado em Capovilla e Raphael (2018).
Glândulas e hormônios
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Sistemas do corpo
Colocando em prática!
Músculos e nervos
Ossos
Sangue e circulação
97
Algumas funções do organismo
Os sentidos
Sensações
Excreções orgânicas
Colocando em prática!
Com base nas figuras apresentadas pelo (a) professor (a) em sala, explique em Libras o
que acontece nas imagens.
DOENÇA – ADOECER.
Etiologia
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Doenças neurodegenerativas
Distúrbios da visão
Doenças do sangue
Doenças do ouvido
Doenças gastrointestinais
Doenças cardiovasculares
Distúrbios da boca
Doenças malignas
CÂNCER – LEUCEMIA.
99
Dependência química
Transtornos
Colocando em prática!
Em grupos de cinco pessoas, simular uma consulta médica, na qual cada um deverá re-
presentar um personagem (paciente surdo, recepcionista, enfermeiro, médico, farma-
cêutico). Pratiquem e apresentem para a turma. Lembre-se que o paciente surdo está
com vários problemas de saúde e precisa ser compreendido pelo médico. O médico não
sabe Libras.
4.4 - SEXUALIDADE
Desejo sexual
ATRAÇÃO – DESEJO SEXUAL – EREÇÃO.
Iniciação sexual
VIRGEM – PERDER A VIRGINDADE.
Métodos contraceptivos
USAR CAMISINHA – PÍLULA ANTICONCEPCIONAL – DISPOSITIVO INTRAUTERINO (DIU)
LAQUEADURA DE TROMPAS – VASECTOMIA.
Gravidez e amamentação
GESTAÇÃO – MAMA - LACTAÇÃO – ABORTO
ABORTO ESPONTÂNEO – ABORTO PROVOCADO.
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Orientação sexual
BISSEXUAL – HOMOSSEXUAL – HOMOSSEXUAL FEMININA
LÉSBICA - HOMOSSEXUAL MASCULINO – GAY – TRAVESTI - TRANSEXUAL.
Crimes sexuais
ABUSO SEXUAL – ASSÉDIO SEXUAL – ESTUPRO – PORNOGRAFIA.
Fonte: Elaborado pela autora baseado em Capovilla e Raphael (2018).
Colocando em prática!
Em grupos de 5 pessoas, cada uma deverá elaborar uma frase utilizando o vocabulário
aprendido. Em seguida, cada uma apresentará sua frase para a turma.
Agora vamos praticar a voz? Ao assistirem ao diálogo apresentado pelo professor, em ví-
deo, vocês deverão realizar a interpretação de Libras para o português falado. Boa sorte!
101
Instrumentos e produtos de higiene pessoal
Colocando em prática!
Fale, em Libras, para um (a) colega quais foram as práticas de higiene pessoal que reali-
zou hoje desde o momento em que acordou até agora.
Quais produtos e instrumentos de higiene pessoal você tem em casa e quais utilizou hoje?
Colocando em prática!
102
Grupo 1: “Uma pessoa surda chega até a recepção do hospital e diz que está desem-
pregada (a) e quer trabalhar no hospital. Essa pessoa questiona a recepcionista sobre
as possíveis vagas disponíveis e insiste em deixar um currículo. A recepcionista pede
licença e faz uma ligação para o setor de recrutamento. Uma funcionária do RH vem e
explica para a pessoa surda quais as vagas disponíveis e o questiona sobre sua forma-
ção e qualificação profissional. Em seguida ... (criem o fim da história)”.
Fonte: Caso fictício elaborado pela autora (2023).
Grupo 2: “Uma gestante surda chega ao pronto socorro prestes a dar à luz. É recebida por
uma enfermeira que faz a triagem e o mais rápido possível a encaminha para o setor apro-
priado. Lá a paciente surda é atendida e examinada por um obstetra, que identifica algumas
complicações e solicita exames urgentes. Uma outra funcionária a acompanha na reali-
zação dos exames que foram: [...] (inserir os exames). Ao ficarem prontos os resultados, a
paciente surda é encaminhada com urgência para o centro cirúrgico, onde é recebida por
um anestesista, duas enfermeiras, um médico obstetra e uma médica pediatra. Em menos
de uma hora nasce um belo menino, que passou a se chamar... (escolher um nome)”.
Fonte: Caso fictício elaborado pela autora (2023).
Grupo 3: “Um paciente surdo chega na recepção do hospital sentindo uma forte cólica de
rim. Ele tenta se comunicar com o recepcionista, mas esse não sabe Libras. O paciente
surdo pede uma caneta e um papel para tentar se comunicar através da escrita, mas o fun-
cionário recusa fornecer-lhe. O paciente surdo, sente dores cada vez mais fortes e tenta
pedir ajuda para algumas pessoas que estão sentadas aguardando ali nas proximidades,
mas infelizmente ninguém sabe se comunicar em Libras e tratam a pessoa surda com iro-
nia e acabam o ignorando. Com o intuito de chamar a atenção de alguém que tenha empa-
tia, começa a chorar, gritar e por fim, deita no chão do hospital se torcendo de dor. Logo, o
recepcionista chama a segurança do hospital e pede para retirarem o rapaz surdo dali pois
está atrapalhando a ordem. Ao ser forçado a se levantar, o moço desmaia. Nesse momento
entra um familiar do rapaz que estava estacionando o carro e fica furioso com a negligên-
cia daquelas pessoas e começa a falar sobre os direitos de atendimento acessível à saúde
das pessoas surdas. (acrescentar aqui as legislações que vocês citariam num momento
como esse). Os funcionários pedem desculpa e encaminham o paciente para atendimento
de emergência. O familiar requisita uma conversa com a gerência do hospital”.
Fonte: Caso fictício elaborado pela autora (2023).
Simulem o caso em forma de uma encenação utilizando medidas a fim de que esse tipo
de situação seja evitado.
Grupo 4: “Uma paciente surda reside em uma pequena cidade na região de Umuarama e
está em tratamento quimioterápico de um câncer de intestino. A paciente necessita vir ao
Hospital Uopeccan realizar as seções de quimioterapia. No entanto ela enfrenta alguns de-
safios em relação a acessibilidade comunicativa e de informação. Todas as vezes que ela
embarca no ônibus que traz pacientes para Umuarama, o motorista transmite alguns reca-
dos e ela fica sempre às margens dessas interações e sem informação, pois ninguém sabe
Libras para transmitir-lhe. O mesmo acontece durante todo o percurso, ela percebe bocas
se mexendo, pessoas dando gargalhadas, expressões de susto, de tristeza, enfim, ela
103
segue imaginando o que poderia estar acontecendo na vida daquelas pessoas que cau-
sasse tais emoções, mas, as pessoas sequer imaginam o quanto ela gostaria de saber o
que se passa. Ao chegar ao destino, o motorista mexe a boca novamente, aponta para o
relógio e as pessoas saem acenando a cabeça positivamente demonstrando concordar
com a informação, mas qual informação?
A paciente surda adentra ao hospital, segue até a recepção, apresenta seus documentos e
requisição médica, logo a recepcionista fala algumas coisas e aponta para uma sala de es-
pera onde há outra recepção. A paciente se aproxima da nova recepção, mas logo alguém
a puxa pelo braço com expressão de negação e a recepcionista faz as mesmas expres-
sões. A paciente fica sem entender, mas desconfia que possivelmente haveria uma ordem
de fila. Sem informações, a paciente se senta numa sala próxima a sala de quimioterapia e
fica aguardando. A sala de espera está lotada. De tempos em tempos uma funcionária vai
até a sala de espera, fala alguma coisa, e alguém levanta e a segue. Esse ritual se repete
por horas, até que a paciente se vê sozinha na sala. Até que enfim, a funcionária vem até
a paciente surda e aponta para os papéis que a paciente segura nas mãos. Em seguida, a
funcionária faz expressão de negação e acena para que a paciente a acompanhe. Até que
enfim a paciente consegue ser atendida. Ao terminar a quimioterapia se dirige lentamente
ao local em que havia desembarcado de manhã, mas infelizmente não há mais ninguém lá,
nem o ônibus nem os passageiros aguardando. A paciente, além de fraqueza, é tomada por
uma sensação de pânico, mas permanece ali parada”.
Fonte: Caso fictício elaborado pela autora (2023).
O que o grupo pode fazer para mudar a realidade dessa paciente? Simulem essa situação
por meio de uma encenação apresentando uma possível solução.
Grupo 5: “Um jovem surdo começa a trabalhar em um determinado setor de uma determi-
nada secretaria de saúde. Porém, não teve acessibilidade comunicativa no momento da
entrevista, no recrutamento, no treinamento e ninguém do setor onde trabalha sabe lín-
gua de sinais e desconhecem qualquer estratégia de comunicação. Dessa forma, o jovem
é simplesmente negligenciado. Sua contratação ocorreu apenas para o cumprimento da
Lei de cotas, sem preocupação de como seria sua atuação. O jovem comete graves erros
durante o período de trabalho na instituição, assina todas as advertências e, por fim, é de-
mitido por justa causa”.
Fonte: Caso fictício elaborado pela autora (2023).
O que você acha que ocasionou a demissão do jovem surdo? O que poderia ter sido
feito para evitar o ocorrido? Simule essa situação, por meio de uma encenação, apresen-
tando uma possível solução a esses problemas, de modo que o desempenho do jovem
surdo seja satisfatório e execute sua função de forma tão produtiva quanto os demais
colaboradores.
104
pessoas surdas que têm me procurado, pedindo ajuda.
Chamo aqui a atenção para a escassez de pessoas com conhecimento mínimo de
Libras ou das especificidades dos pacientes surdos, principalmente, nas Unidades Bá-
sicas de Saúde que, segundo Lucena e Farias (2021), são estabelecimentos de Atenção
Primária, responsáveis pela assistência à saúde da população, visto que cada cidadão
deve ser atendido na UBS mais próxima de seu endereço. Cada unidade básica de saúde
conta com uma equipe composta por médico, técnicos em enfermagem, agentes comu-
nitários de saúde, dentista e técnico em higiene bucal.
No entanto, as políticas voltadas à saúde pública não viabilizam o serviço do profis-
sional Tradutor Intérprete de Libras/Língua Portuguesa (TILSP). Esse é o profissional que
ocupa um espaço de suma importância na comunidade surda brasileira, pois sua função
é intermediar a comunicação entre pessoas surdas fluentes na Libras e pessoas ouvin-
tes que não conhecem essa língua (QUADROS, 2004).
Assim, a presença do TILSP na unidade de atenção primária à saúde dos indivíduos
é primordial, pois a qualquer momento pode aparecer uma pessoa que se comunica por
meio da Libras necessitando de atendimento urgente à sua saúde. Neste caso, O TILSP
irá intermediar a comunicação entre o médico e/ou outro profissional e o paciente surdo
nesses serviços essenciais à saúde.
Para atuar como intérprete de Libras, não basta apenas conhecer os sinais de for-
ma isolada, mas é necessário que possua proficiência nas duas línguas faladas no país de
origem, no caso do Brasil, a Libras e a Língua Portuguesa (QUADROS, 2004).
Os TILSP têm sua profissão regulamenta pela Lei 12.319/2010, e atuam em confor-
midade com um rigoroso código de conduta. Em seu Art. 1º destaca que o TILSP “deve
ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confiante e de equilíbrio emo-
cional. Ele deverá guardar informações confidenciais e não poderá trair a confiança que
lhe foi confiada, em hipótese alguma (QUADROS, 2004).
Isso reforça a importância de os profissionais de saúde se dedicarem a aprender
a língua de sinais utilizada pelos surdos que atendem frequentemente nas unidades de
saúde. Nesse sentido, desde o ano de 2002, com a promulgação da Lei da Libras, nº
10.436/2002, é garantido o atendimento acessível às pessoas surdas e/ou com deficiên-
cia auditiva (lembrando que algumas legislações se referem a surdez e deficiência auditi-
va como termos sinônimos).
No Art. 3º, da Lei da Libras foi determinado que:
Diante desse artigo que trata da garantia do atendimento digno às pessoas sur-
das, é evidenciado que a presença do tradutor intérprete de Libras é fundamental nos
ambientes de saúde. No entanto, vale destacar que a inclusão que os surdos querem
é aquela em que todos os profissionais de saúde (e de outras áreas) sejam fluentes em
Libras, isto é, que as pessoas ouvintes priorizassem o aprendizado da Libras como sua
segunda língua, assim como os surdos se esforçam para aprenderem a Língua Portugue-
sa para se comunicar com os ouvintes.
105
das e deixariam de passar dor ou se automedicar com receio de procurar atendimento
de saúde e, muitas vezes, não ser visto e nem aceito por suas diferenças, antes rotulado
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