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PALEONTOLOGIA
Disciplina na Modalidade a Distância
São Luís
2012
Univerdade Federal do Maranhão
Reitor
Natalino Salgado Filho
Vice-Reitor
Antonio José Silva Oliveira
Pró-Reitor de Ensino
Sônia Maria Corrêa Pereira Mugschl
Diretor do Núcleo de Educação a Distância - NEaD
Othon de Carvalho Bastos Filho
Diretor do Núcleo de Tecnologia da Informação - NTI
Nélio Alves Guilhon
Coordenador do Curso de Ciências Biológicas
Wilma dos Santos Eugênio
Secretaria do Curso
Grazielle Austríaco Teixeira Mendes
Coordenador de Gestão Pedagógica
Reinaldo Portal Domingo
Coordenadora Pedagógica de Hipermídia para Aprendizagem
Rosane de Fátima Antunes Obregon
Coordenador Tecnológico
Leonardo de Castro Mesquita
Coordenador da Universidade Aberta do Brasil na UFMA
Othon de Carvalho Bastos Filho
Coordenador Adjunto da Universidade Aberta do Brasil na UFMA
Reinaldo Portal Domingo
Projeto Gráfico, Capa
Luciana Santos Sousa
Diagramação
Erika Veras de Castro
Revisora Técnica
Silvia Helena Arcanjo
f.:79.
Inclui bibliografia.
CDU 56
APRESENTAÇÃO
Esta apostila é destinada aos alunos do Curso de Graduação em Ciências
Biológicas da UFMA oferecido pelo NEAD e Depto de Biologia, Campus do Ba-
canga, São Luís.
A apostila possui conteúdo suplementar que complementa, mas não substitui
o livro didático indicado: CARVALHO, I.S. 2010. Paleontologia, 3ª ed.. Rio de Ja-
neiro: Interciência. Os alunos da disciplina Paleontologia devem fazer a leitura dos
capítulos do livro, quando indicados nos capítulos da apostila como Leitura Obriga-
tória ou buscar fontes alternativas, quando sugerido.
O conteúdo aqui apresentado inclui os principais temas abordados em Pale-
ontologia, desenvolvidos em texto e ilustrações, em nível adequado para alunos de
graduação.
APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 7
SUMÁRIO
2.2. Bacias sedimentares .................................................................................... 18
2.3. Formações geológicas .................................................................................. 22
2.4. Bacias sedimentares brasileiras .................................................................... 23
CAPÍTULO 10 | PALEOECOLOGIA.................................................... 71
10.1. Assembléia fóssil e Paleocomunidade ........................................................ 71
10.2. Paleoautoecologia e Paleosinecologia......................................................... 72
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 81
1
CAPÍTULO
PALEONTOLOGIA
1.1 Introdução e histórico
uma natureza biológica estática que teria surgido em um evento de criação e não
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poderia ser modificada. Mas antes que esta mudança marcante acontecesse, muitos
estudiosos de fósseis tentaram conciliar sua existência com o dogma criacionista.
No século XX, a Paleontologia experimentou um notável avanço nas suas
abordagens e metodologias, melhorando substancialmente a capacidade dos pale-
ontólogos de resgatar e interpretar o registro fóssil e de contextualizar estas informa-
ções em sofisticadas teorias evolutivas e biogeográficas que tinham como objetivo
contar a história geológica e biológica do planeta Terra. Grande parte deste aperfei-
çoamento foi motivada pela possibilidade de alguns fósseis, principalmente micros-
cópicos, ajudarem decisivamente na localização de jazidas de combustíveis fósseis
como petróleo, carvão mineral e gás, de alto valor econômico e estratégico, o
Figura 1. Publicação de Georges Cuvier (Tradução: Investigação sobre os ossos fósseis de quadrúpe-
des) de 1812, considerada a que iniciou formalmente a Paleontologia como ciência.
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PALEONTOLOGIA
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dos estudiosos sobre a natureza dos fósseis eram tão imaginativas quanto absur-
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das. Achava-se, por exemplo, que alguns fósseis tinham caído do céu ou da Lua,
penetrando na rocha sólida. Outra crença que perdurou por séculos foi a de que
eles eram naturalmente esculpidos nas rochas por uma força criativa da natureza.
Robert Hooke, em seus estudos de estruturas microscópicas publicados em 1668,
contradisse essa visão arcaica ao concluir que os tecidos de árvores petrificadas re-
presentavam tecidos de árvores comuns que teriam sido modificadas (mineralizadas)
depois de enterradas e que os fósseis representavam informações importantes para
a compreensão de antigas formas de vida.
Figura 2. Ilustração do Hydrarchos (rei dos mares) exposto em turnê em várias cidades, incluindo
Boston e Nova York (EUA), em 1845, por Albert Koch, e apresentado como uma serpente marinha
mítica citada em escrituras antigas. A criatura tratava-se, na verdade, de restos de uma baleia primiti-
va, incluindo partes de mais de um esqueleto, e erroneamente montado para parecer uma serpente.
Koch era um entusiasta sensacionalista, comerciante de fósseis, e conseguiu vender o Hydrarchos
para um Museu de Berlim. À direita, detalhe do cartaz de propaganda da exposição distribuído na
época.
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O dinamarquês Nicolau Steno, em 1669, interpretou acertadamente que os
fósseis não tinham sido encerrados em rocha sólida, explicando que, na verdade,
estruturas orgânicas, como dentes, ossos e conchas, teriam sido envolvidas por sedi-
mentos em movimento, como areia e lama, que somente depois teriam endurecido
progressivamente, guardando o registro de animais de épocas passadas. Estas in-
terpretações são bastante óbvias hoje, mas na época eram ousadas e encontravam
resistência entre os que preferiam cultuar as antigas interpretações fantásticas.
Nicolau Steno estabeleceu alguns dos fundamentos da geologia sedimentar,
como a Lei da Superposição das Camadas, afirmando que quando um estrato se-
dimentar se formou não existia outro sobre ele e o material que o compunha não
era ainda consolidado, o que significava que as camadas eram progressivamente
mais recentes de baixo para cima em uma sequência, isto é, as camadas mais basais
são as mais antigas. Definiu o Princípio da Horizontalidade Original, argumentando
que os estratos se depositaram originalmente em um plano paralelo ao horizonte e
somente depois de muito tempo algumas sequências teriam sido deformadas. Intro-
duziu também o Princípio da Continuidade Lateral, observando que os sedimentos
formando o estrato tendiam a ser contínuos em uma vasta área da superfície.
As novas interpretações sobre a natureza das rochas sedimentares e dos fós-
seis avançaram para uma revolucionária teoria publicada pelo naturalista escocês
James Hutton, em 1778, que rejeitava completamente a influência de acontecimen-
tos sobrenaturais na formação das rochas e dos fósseis. Hutton assumiu que as leis
naturais vigentes na atualidade eram uniformes e, portanto, as mesmas que opera-
ram no passado. Assim, para compreender o registro das rochas e dos fósseis, era
necessária uma detalhada compreensão destas leis. Ele introduziu a ideia de que “o
presente é a chave para compreender o passado”, que ficou historicamente conheci-
da como Atualismo ou Uniformitarismo.
Figura 3. Naturalistas pioneiros em abordagens científicas no estudo dos fósseis, que colaboraram
com a criação da Paleontologia, com sua consolidação e/ou aplicação, ou ainda com o estabeleci-
mento das ideias sobre evolução biológica. Ver detalhes no texto.
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PALEONTOLOGIA
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rismo de Hutton. Hoje sabe-se que as ideias cataclísmicas de Cuvier são, em sua
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CAPÍTULO
Figura 4. Seção transversal da Terra, exibindo suas várias camadas e a crosta, na superfície. O es-
quema à direita corresponde à área subtriangular delimitada no globo. O núcleo interno é sólido,
enquanto o núcleo externo e o manto são formados por rocha fluida.
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regiões que já foram contíguas a centenas de milhões de anos atrás, como o litoral
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Pela sua grande extensão territorial, o Brasil inclui várias bacias sedimenta-
res, de diferentes tamanhos. Algumas muito antigas, tendo se diferenciado na Era
Paleozoica, enquanto outras, menores, se individualizaram nas Eras Mesozoica ou
Cenozoica (Fig. 5). As pequenas bacias que ocorrem ao longo da costa diferencia-
ram-se justamente como consequência dos processos de fraturamento e subsidência
relacionados à separação dos continentes sul-americano e africano. Na figura 6 estão
os arcabouços simplificados de duas grandes bacias brasileiras, mostrando as defor-
mações que sofreram ao longo do tempo e os desalinhamentos das suas camadas
sedimentares em diferentes regiões.
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Figura 6. Esquemas ilustrativos mostrando seções transversais de duas das grandes bacias brasileiras.
Note que a profundidade e espessura das sequências de rocha (cada uma das camadas de tonalidade
distinta) variam em diferentes regiões de cada bacia. Estas sequências, que representam intervalos de
tempo específicos, estão deformadas e/ou desalinhadas devido a sucessivos movimentos da crosta,
incluindo subsidência e soerguimento.
Fontes: PETROBRAS e CPRM.
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CAPÍTULO
ESTRATIGRAFIA
Leitura obrigatória: ROHN, R. 2010. Uso estratigráfico dos fósseis. In: CARVALHO, I.S. (ed.) 2010.
Paleontologia, 3ª ed.. Rio de Janeiro: Interciência. Páginas 79 a 91.
Quanto mais antiga é uma bacia sedimentar, mais ela acumulou deformações
e desalinhamentos em suas sequências sedimentares. Bacias tectonicamente muito
ativas podem ter suas sequências muito alteradas em um tempo mais curto. Cama-
das de uma determinada época podem estar expostas na superfície em um ponto
da bacia e a grandes profundidades em outro ponto da mesma bacia. No desenho
esquemático das bacias do Amazonas e Parnaíba (Fig. 6) isso fica evidente quando
observamos as camadas do Siluriano que, dependendo da região da bacia, podem
estar a profundidades muito diferentes. Esta desorganização das camadas resulta do
próprio processo progressivo de subsidência e também dos episódios de soergui-
mento. Uma análise confiável do registro tanto geológico quanto paleontológico de
uma bacia como um todo depende do conhecimento de como os estratos estavam
originalmente dispostos e do grau de desorganização que a bacia sofreu. Para tanto
é necessário um laborioso esforço para correlacionar as sequências de camadas e
organizá-las no tempo. Uma forma de fazer isso é analisar a faciologia detalhada de
cada sequência e usar as características de cada conjunto (formação geológica) para
mapear sua ocorrência em diferentes regiões da bacia. O posicionamento relativo
entre as diferentes formações (qual está acima e qual está abaixo) são também cru-
ciais para a compreensão da organização temporal das sequências. Esta abordagem
é chamada Estratigrafia (estrato = camada) e é fundamental para um mapeamento
detalhado de todas as sequências de uma bacia.
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3.2. Biozonas
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Figura 7. Biozonas definidas por microfósseis hipotéticos. A espécie O é um fóssil-guia e sua presença
define que as camadas onde ocorre foram depositadas entre 40,4 e 37,2 milhões de anos (Eoceno);
quaisquer outros fósseis presentes nas mesmas camadas deverão ter a mesma idade. As espécies F e
R têm uma ampla distribuição temporal e, por isso, individualmente não são fósseis-guias. Entretanto,
quando ocorrem juntas em uma camada, definem uma biozona situada no Oligoceno, com idade
máxima de 33,9 milhões de anos (época em que a espécie R surgiu no registro fóssil) e idade mínima
de 28,4 milhões de anos (época em que a espécie F foi extinta).
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3.3. Correlação
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PALEONTOLOGIA
4
CAPÍTULO
DATAÇÃO
Leitura obrigatória: ALMEIDA, J.A.C. de & BARRETO, A.M.F. 2010. O tempo geológico e evolução
da vida. In: CARVALHO, I.S. (ed.) 2010. Paleontologia, 3ª ed.. Rio de Janeiro: Interciência. Ler pá-
ginas 93 a 104.
coluna vertical de rochas sedimentares, quais teriam sido mais antigos e quais seriam
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mais recentes. Assim, mesmo que não se conseguisse definir qual o volume te tem-
po envolvido nos eventos registrados, seria possível definir se cada um era mais ou
menos antigo em relação a outro; essa metodologia ficaria posteriormente conhecida
como datação relativa.
Um conjunto de camadas que encerravam um registro de fósseis onde ha-
via um predomínio evidente de mamíferos poderia ser subdividido em diferentes
intervalos, distinguíveis pelas diferentes formas de mamíferos que apareciam suces-
sivamente ao longo das sequências, de baixo para cima. Este grande intervalo ficou
conhecido no século XIX como Período Terciário, porque imediatamente abaixo dele
havia o registro de uma época anterior dominada por répteis (Período Secundário)
e, ainda abaixo, outra época mais antiga, em que predominaram invertebrados, an-
fíbios e répteis menores (Período Primário).
Era nítida a sequência temporal destes intervalos de tempo; então foram feitas
as primeiras tabelas que organizavam a história da vida na Terra, mas não se sabia
como definir o tempo de duração de cada uma destas divisões. Posteriormente, estes
intervalos ficariam conhecidos como Era Paleozoica (Período Primário), Era Meso-
zoica (Período Secundário) e Era Cenozoica (Período Terciário) (Fig. 9). O aprofun-
damento desta abordagem levou à subdivisão dos grandes intervalos de tempo em
subintervalos menores. Por exemplo, o tempo Jurássico, encerrava uma fauna de
grandes répteis que era distinguível de outra fauna de grandes répteis mais antiga
(Triássico) e de outra fauna de répteis gigantes posterior (Cretáceo). É importante
destacar que outros organismos, como invertebrados e vegetais, diferenciavam estas
subdivisões. Os nomes utilizados para definir estes intervalos fazem alusões a regi-
ões ou circunstâncias relacionadas ao intervalo. O nome Jurássico refere-se às mon-
tanhas de Jura, no sul da França, onde foram primeiramente mapeadas camadas de
rocha deste intervalo. Triássico se refere à organização das camadas deste intervalo
em três sequências, na Alemanha, onde foram primeiramente descritas. Cretáceo
faz alusão a sequências sedimentares da Europa ocidental, dominadas por rochas
calcárias (Creta em Grego), onde foram descritas as associações faunísticas que dife-
renciariam este intervalo temporal. Outros exemplos são: Siluriano, que homenageia
o povo Silures, tribo celta que viveu na Grã-Bretanha, na região do País de Gales,
onde foram primeiramente mapeadas as camadas deste intervalo do Paleozoico;
Carbonífero, que se refere à grande concentração de carbono nos depósitos de car-
vão típicos desta subdivisão da Era Paleozoica; Paleoceno, que significa “época mais
antiga da nova era”, referindo-se à sua posição no início da Era Cenozoica.
Figura 9. Intervalos de tempo já conhecidos no final do século XIX e delimitados pelo conjunto de
fósseis próprio de cada um deles. As mudanças sucessivas, principalmente na fauna e flora, permi-
tiram que os naturalistas definissem estes intervalos, organizando-os no tempo, uns em relação aos
outros (datação relativa). Porém, na época ainda não se sabia a idade real de nenhum deles.
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Figura 10. Tabela de tempo geológico. As idades absolutas, definidas por radiometria no século
XX, são mensuradas em milhões de anos. Compare com a figura 9 e veja que as principais subdivi-
sões são as mesmas que já estavam definidas por datação relativa desde o século XIX.
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Figura 11. Definição da idade absoluta de fósseis. As várias camadas de cinzas vulcânicas (nume-
radas) foram depositadas por diferentes vulcões, a maioria extinta (camadas 1, 2 e 3). Elementos
radioativos presentes nas cinzas permitem a datação de cada uma das camadas por radiometria. Os
fósseis que ocorrem entre duas camadas têm então uma idade máxima e uma idade mínima estabe-
lecida pela datação das cinzas. A camada 1 tem idade absoluta de 26,2 milhões de anos (m.a.) e a
camada 2 foi datada em 22, 3 m.a.. Note que o fóssil A (espécie de braquiópode) ocorre em camadas
acima e abaixo destes marcadores de tempo e, por isso, não serve como fóssil-guia porque existiu
por um intervalo de tempo muito longo. O fóssil B (determinado pólen de angiosperma) só ocorre
entre as camadas 1 e 2 e, portanto, é um fóssil-guia porque sua presença em outras camadas sempre
determinará uma idade máxima de 26,2 m.a e uma idade mínima de 22,3 m.a. (Oligoceno/Mioceno)
para a camada e eventuais outros fósseis que ocorram nela. A camada 3 foi datada em 17,6 m.a.. Isso
significa que as três espécies da assembleia fóssil C (mamífero, anfíbio e vegetal) entre as camadas 2
e 3 têm idade entre 17,6 m.a. e 22,3 m.a. (Mioceno). A camada 4 tem idade atual.
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ATIVIDADES
1. Por que o estudo dos fósseis compeliu os naturalistas do século XIX à busca
de uma explicação para a biodiversidade que envolvesse evolução biológica?
PALEONTOLOGIA
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CAPÍTULO
TAFONOMIA
Leitura obrigatória 1: SIMÕES, M.G.; RODRIGUES, S.C.; BERTONI-MACHADO, C. & HOLZ, M.
Tafonomia: Processos e ambientes de fossilização. 2010. In: CARVALHO, I.S. (ed.) 2010. Paleonto-
logia, 3ª ed.. Rio de Janeiro: Interciência. Páginas 19 a 51.
Leitura obrigatória 2: MEDEIROS, M.A. Fossildiagênese. 2010. In: CARVALHO, I.S. (ed.) 2010.
Paleontologia, 3ª ed.. Rio de Janeiro: Interciência. Páginas 65 a 77.
tendo seu esqueleto desarticulado podiam ter seus restos espalhados seletivamente
em um sistema fluvial. A força de tração da corrente não consegue levar muito longe
partes como as cinturas pélvica e escapular e ossos grandes como fêmures e tíbias
que acabam encalhando depois de sofrer um breve transporte. Outros ossos, mesmo
não sendo grandes e pesados, como vértebras cervicais e partes do crânio, também
são logo soterradas pela corrente porque não têm um formato que facilite seu trans-
porte; sua morfologia achatada, alongada ou com protuberâncias atua como uma
âncora no fundo do rio, dificultando o transporte e facilitando o soterramento pelo
sedimento em deposição. Por outro lado, ossos e outros elementos esqueletais me-
nores e/ou mais arredondados, como vértebras caudais, elementos tarsais e carpais,
falanges e dentes, tendem a ser transportados e concentrados rio abaixo, distantes
dos outros ossos do esqueleto. Esse processo, chamado seleção tafonômica (Fig.
12), cria um viés amostral nas assembleias fossilíferas, dificultando a reconstituição
da morfologia completa do animal por não reunir todos os elementos esqueletais em
um mesmo depósito. Este efeito é claramente observado nos sistemas fluviais atuais,
o que ajudou a entender a dinâmica deposicional das partes de carcaças de espécies
extintas.
A fossildiagênese combina tanto investigações in loco como reproduções em
laboratório para esclarecer determinadas transformações químicas observadas nos
fósseis e distinguir todos os passos ocorridos ao longo do tempo que teriam levado
restos orgânicos a se modificar mineralogicamente, como é o caso da maioria dos
fósseis. Mudanças climáticas na superfície interferem nas condições de sub-superfície
e podem provocar mudanças significativas na geoquímica de materiais já previa-
mente fossilizados, tornando a história fossildiagenética deles mais complexa.
PALEONTOLOGIA
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Figura 12. Seleção tafonômica. Acima, o esqueleto de um dinossauro saurópode mostrando os di-
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ferentes tipos de ossos, variando em forma, tamanho e peso. Ao serem transportados pela corrente
de um rio (abaixo), estes ossos, desarticulados, vão se concentrar em locais diferentes, dependendo
da força de tração da corrente, que flui da esquerda para a direita. A assembleia A reúne ossos mais
pesados ou com mais protuberâncias que facilitam sua ancoragem, dificultando transporte prolon-
gado. A assembleia B reúne ossos menores, mais leves ou de facetas arredondadas, que são trans-
portáveis por maiores distâncias. O fóssil C (esqueleto completo de dinossauro terópode) estava
assentado mais longe do canal e foi soterrado por um fluxo de lama depositado sob fraca corrente,
durante uma lenta cheia do rio. Por isso não sofreu desarticulação nem transporte.
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6
CAPÍTULO
PALEONTOLOGIA E EVOLUÇÃO
BIOLÓGICA
Leitura obrigatória: IANNUZZI, R. & SOARES, M.B. Teorias evolutivas. 2010. In: CARVALHO, I.S.
(ed.) 2010. Paleontologia, 3ª ed.. Rio de Janeiro: Interciência. Ler páginas 139 a 156.
Os fósseis vêm registrando a história da vida na Terra desde que esta surgiu,
há cerca de três bilhões e quinhentos milhões de anos. Apesar de rochas tão antigas
serem raras, porque o ciclo natural de renovação da litosfera vem apagando lenta-
mente os registros mais antigos, foi possível encontrar sequências remanescentes em
vários continentes. Estas rochas documentam formas de vida muito primitivas, como
cianobactérias, que viveram em um planeta Terra muito diferente do que habitamos
hoje. À medida que rochas progressivamente mais recentes eram estudadas, um
panorama dinâmico se revelava. Isso já era compreendido mesmo antes de ser pos-
sível datar as rochas de forma absoluta. Cada sequência mostra fauna e flora com
mudanças em relação às sequências imediatamente anteriores e imediatamente pos-
teriores. Com o advento da datação absoluta foi possível avaliar a velocidade com
que as mudanças se processaram. O ritmo de mudanças biológicas é geralmente
muito lento e pode variar enormemente entre diferentes grupos.
tade do século XIX foi um dos principais fatores que levaram os naturalistas da época
a começar a pensar em um processo natural de transformação biológica, ao invés
de tentar explicar a diversidade biológica pelo dogma criacionista que imperava na
época. As tentativas de explicar o processo evolutivo culminaram com a teoria da
seleção natural de Charles Darwin, publicada em 1859, que concebia o processo de
transformação biológica como um constante ajuste das espécies a novos desafios de
sobrevivência. Darwin compreendeu a essência do processo de evolução, mas na
sua época não era possível esclarecer como o mecanismo se processava dentro das
células dos organismos. Deste modo, ele nunca soube como se dava o surgimento
de diferenças hereditárias que seriam a matéria prima para as mudanças graduais se
processarem nas espécies.
Apesar de o trabalho de Gregor Mendel, apresentado em 1865, ser o pionei-
ro na compreensão da natureza da hereditariedade, ele foi praticamente ignorado
pela comunidade científica e ficou esquecido até a virada para o século XX. Com a
formalização da Genética, em 1905, finalmente houve um amplo envolvimento dos
cientistas com a investigação da natureza da hereditariedade, inclusive com o desen-
volvimento de engenhosos experimentos, executados ao longo da primeira metade
do século XX, que visavam compreender o processo nos níveis celular e molecular.
Algumas das grandes descobertas realizadas pela genética ao longo do sé-
culo XX foram: a constatação do envolvimento dos cromossomos na transmissão
de caracteres hereditários, as mutações, o reconhecimento do processo evolutivo
como operando no nível populacional (de onde surgiu a genética de populações), a
constatação de que o DNA era a molécula responsável pelos caracteres hereditários,
e a descoberta da estrutura do DNA e da linguagem química dos genes (o código
genético). Estas inovações viriam a explicar muitos dos mais intrincados processos
de evolução biológica e os mecanismos envolvidos com o surgimento de novas es-
pécies. A genética de populações fundamentaria e aperfeiçoaria as ideias de Darwin,
agora conhecidas como gradualismo filético, desenvolvendo uma nova teoria cha-
mada Teoria Sintética de Evolução ou Neodarwinismo.
Uma das mais importantes pistas que Charles Darwin teve na sua busca pela
compreensão do processo de transformação gradual das espécies selvagens foi o
conjunto de peculiaridades observadas nos criatórios de animais domésticos. Da-
rwin ficou intrigado com a capacidade que os criadores tinham de produzir, em
cativeiro, variedades exóticas não existentes na natureza. Ele mesmo criou pombos
com essa intenção.
Depois de consolidada a Teoria de Evolução ao longo do século XX e da
compreensão dos mecanismos genéticos envolvidos com o processo, pudemos ana-
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6.3. Especiação
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PALEONTOLOGIA
7
CAPÍTULO
PALEOBIOGEOGRAFIA
Leitura obrigatória 1: IANNUZZI, R. & SOARES, M.B. Teorias evolutivas. 2010. In: CARVALHO, I.S.
(ed.) 2010. Paleontologia, 3ª ed.. Rio de Janeiro: Interciência. Ler páginas 156 a 162.
Leitura obrigatória 2: GALLO, V. & FIGUEIREDO, F. 2010. Paleobiogeografia. In: CARVALHO, I.S.
(ed.) 2010. Paleontologia, 3ª ed.. Rio de Janeiro: Interciência. Ler páginas 351 a 357.
7.1. Dispersão
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7.2. Vicariância
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CAPÍTULO
tas representadas são comumente registradas depois do intervalo glacial, no final do Paleozoico e/ou
início do Mesozoico, e ocorrem em diferentes continentes. Estas informações são difíceis de justificar
quando observamos a distribuição atual dos continentes (detalhe na porção superior direita). Quando
admite-se a existência de um supercontinente reunindo todas estas porções emersas, tanto os dados
paleoclimáticos quanto os paleobiogeográficos fazem sentido.
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Figura 15. Esquema mostrando a dinâmica da crosta terrestre envolvida com a movi-
mentação dos continentes, segundo a Teoria da Tectônica Global. Quando duas correntes
de convecção do manto convergem (1), a força somada (seta vertical) rompe a crosta do
fundo oceânico (2) produzindo derrames de rocha ígnea que, ao solidificarem, expandem
progressivamente a crosta nas duas direções, causando lenta movimentação das placas tec-
tônicas (setas horizontais). A movimentação lateral força a placa oceânica contra uma placa
continental, fazendo com que ela se dobre (seta recurvada) e mergulhe (subducção) sob as
camadas continentais menos densas, sofrendo lento derretimento (3) pelo contato com o
manto. Este processo provoca enrugamento na borda da crosta continental (4) ao mesmo
tempo em que provoca atividade vulcânica por compelir lava para a superfície (5). Estes
dois processos combinados produzem cadeias de montanhas (6) na placa continental.
ATIVIDADES
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9
CAPÍTULO
TAXONOMIA E SISTEMÁTICA
Leitura obrigatória: RIOS-NETTO, A. de M. 2010. Taxonomia e Sistemática. In: CARVALHO, I.S.
(ed.). 2010. Paleontologia, 3ª ed.. Rio de Janeiro: Interciência. Páginas 181 a 194.
Foi o naturalista sueco Carolus Von Linnaeus (ou simplesmente Carl Lineu) quem
primeiramente formalizou, em 1735, uma sólida organização hierárquica capaz de ser desdo-
brada em categorias grandes e pequenas, organizáveis no que ele chamou de Systema Naturae
(Fig. 16), referindo-se ao sistema natural de organização das formas de vida. Lineu observou
acertadamente que a distância morfológica (diferenças perceptíveis) entre as espécies, como
eram reconhecidas na época, podia ser maior ou menor, mas numa escala muitas vezes pro-
gressiva que permitia criar categorias pequenas (gêneros) que, por sua vez poderiam ser rela-
cionadas entre si pelo maior ou menor grau de afinidade, definindo categorias superiores cada
vez maiores e que incluíam as inferiores. Lineu usou então uma terminologia que já era pelo
menos parcialmente utilizada para definir categorias, embora sem o caráter formal que ele
agora empregava. Deste modo, ele definiu seu sistema obedecendo à seguinte ordem de hie-
rarquização: espécie, gênero, ordem, classe e reino. A categoria família foi primeiramente usada
por Lineu para plantas e depois passou a ser empregada para animais pelos seus seguidores. A
categoria filo foi criada posteriormente por Georges Cuvier para reunir classes. Cuvier também
estendeu o emprego do sistema lineano para a classificação das espécies extintas.
Figura 16. Uma das edições, em Latim, do livro Systema Naturae, de Carl Lineu, onde são apre-
sentados os fundamentos e critérios para nomear grupos biológicos e organizá-los em um esquema
hierárquico. A primeira edição foi publicada em 1735. Na décima edição, de 1758, ele introduziu o
sistema binomial de nomenclatura de espécies.
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68
9.3. Parataxonomia
PALEONTOLOGIA
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Figura 17. Cladograma simplificado do grupo dos dinossauros. Cada gênero (representado por uma
silhueta) pode ser um clado incluindo mais de uma espécie e o ancestral comum próximo. Clados
maiores incluem mais de um gênero e o seu ancestral comum (cada um dos pontos de bifurcação das
linhas). O clado Dinosauria inclui todos os outros clados que derivam de um mesmo ancestral que é
o dinossauro mais antigo e primitivo de todo o grupo.
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CAPÍTULO
PALEOECOLOGIA
Leitura obrigatória 2: DUTRA, T.L. Paleoecologia. 2010. In: CARVALHO, I.S. (ed.). 2010. Paleonto-
logia, 3ª ed.. Rio de Janeiro: Interciência. Páginas 339 a 349.
reconhecer algumas relações ecológicas entre elas (sinecologia). Por exemplo, qual
espécie era predadora ou parasita de qual outra; que tipo de itens vegetais de uma
determinada planta eram consumidos por um determinado herbívoro; quais micror-
ganismos poderiam provocar envenenamento no ambiente pela produção de toxi-
nas e quais espécies estariam suscetíveis a isso.
As reconstituições ecológicas precisam incluir também um detalhado estudo
geológico das fácies sedimentares, da granulometria dos sedimentos, das estruturas
sedimentares, da geoquímica das camadas, e da formação geológica como um todo.
É preciso haver uma coerência entre os dados geológicos e paleontológicos para que
uma reconstituição paleoecológica seja consistente.
PALEONTOLOGIA
11
CAPÍTULO
conhecido como Período Cambriano, foi escolhido como marco para o início da Era
Paleozoica. Muitos outros acontecimentos biológicos e geológicos deixaram evidên-
cias no âmbito continental, oceânico e, às vezes, global. Estes episódios de mudanças
climáticas, do posicionamento das massas continentais, de variações significativas
no nível dos oceanos e, particularmente, de mudanças na flora e fauna dominantes
é que servem como balizas para organizar o tempo geológico. Essa maneira de orde-
nar os eventos da história da Terra começou com as primeiras iniciativas de datação
relativa, na passagem do final do século XVIII para o início do século XIX, com base
nas sucessões faunísticas, e se aperfeiçoou muito. Atualmente, em cada intervalo de
tempo da história geológica e biológica da Terra incluem-se informações muito mais
detalhadas como, por exemplo: presença de cadeias de montanhas em certas regi-
ões onde hoje o relevo é muito menos acidentado; invasão de águas oceânicas em
grandes lagos de água doce; isolamento de imensas regiões continentais pela subida
extrema do nível do mar, e até mesmo o estabelecimento de correntes oceânicas a
partir de determinada época.
640 m. a.. No final do Proterozoico (por volta de 550 milhões de anos) há registro de
uma fauna de invertebrados relativamente complexa (Fauna de Ediacara), mas sem
esqueletos duros ou conchas, em mares rasos ainda pouco oxigenados.
Éon Fanerozoico (542 m.a. até a atualidade) dividido em três grandes eras:
Era Paleozoica (542 a 251 m.a.): Começa com uma rápida diversificação
dos invertebrados marinhos com conchas ou esqueletos resistentes, no início do
Cambriano. As primeiras plantas terrestres que evoluíram de algas aparecem por
volta de 420 m.a., acompanhadas por invertebrados como milípedes, gastrópodes
e aracnídeos. Os primeiros peixes aparecem na primeira metade da Era Paleozoica
e rapidamente passam a dominar o ambiente marinho, com uma sucessão de dife-
rentes grupos progressivamente mais avançados e uma notável radiação adaptativa
no Período Devoniano. Os anfíbios descendem de um grupo específico de peixes
(Sarcopterígios) e surgem no registro neste mesmo período, há cerca de 370 m.a.;
também no Devoniano surgem os insetos. Os répteis evoluíram de anfíbios por volta
de 340 m.a. (Carbonífero) e se diversificaram rapidamente. No final do Paleozoico
há um domínio de répteis Therapsida (mamaliformes), mas muitos outros subgru-
pos de répteis estão bem registrados. Nos últimos períodos desta era, as plantas
desenvolveram formas lenhosas de grande porte, culminando com o aparecimento
das coníferas que passaram a dominar as paisagens continentais, seguidas de ou-
tras formas também expressivas em quantidade, destacadamente as samambaias
arborescentes. O marco que finaliza a Era Paleozoica é um declínio considerável na
biodiversidade, tanto marinha quanto terrestre, interpretado como o maior evento
de extinção em massa já ocorrido, encerrando esta era e iniciando a seguinte (Me-
sozoica) há 251 m.a..
Era Mesozoica (251 a 65 m.a.): Os dinossauros e mamíferos surgem no Triás-
sico, por volta de 230 m.a. Os primeiros a partir de répteis tecodontes e os segundos
pela progressiva evolução de uma linhagem de répteis mamaliformes (Therapsida).
As aves aparecem no Jurássico, há cerca de 195 m.a.; desenvolveram-se de pe-
quenos dinossauros emplumados. As plantas com flores (angiospermas) fazem sua
aparição no registro por volta de 141 m.a.. Os grandes répteis dominaram a maior
parte do mesozoico, tanto nos mares e oceanos quanto nos continentes; os mamí-
feros eram representados por formas pequenas, variando desde o tamanho inferior
ao de um camundongo ao tamanho de uma ratazana, mas os subgrupos eram dife-
rentes dos conhecidos hoje. O final da Era Mesozoica é marcado por um evento de
extinção súbita que dizimou principalmente as espécies de grande porte, que incluiu
os dinossauros, répteis voadores e formas reptilianas aquáticas. A interpretação mais
aceita é que o desastre teria sido consequência da queda de um meteoro, levantando
poeira na atmosfera e escurecendo a superfície do planeta por semanas, o que teria
provocado um colapso na cadeia alimentar.
Era Cenozoica (65 m.a. até a atualidade): Com a extinção dos répteis gi-
gantes, os pequenos mamíferos passaram a ocupar a maioria dos nichos deixados
vagos e em algumas dezenas de milhões de anos experimentaram uma espetacular
radiação adaptativa que garantiu o domínio em terra e também adaptação à vida
nos rios, lagos e oceanos. As angiospermas consolidaram seu domínio nas regiões
tropicais e equatoriais e as coníferas mantiveram-se como vegetação dominante em
PALEONTOLOGIA
78
CAPÍTULO
ATIVIDADES
1. Quais as diferenças fundamentais entre os sistemas de classificação
lineano e cladista?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MENDES, J.C. 1977. Paleontologia Geral. São Paulo: LTC Editora S.A. EDUSP.
PETRI, S. & FÚLFARO, V.J. 1983. Geologia do Brasil. São Paulo: T.A Queiroz/Edi-
tora da USP.
SANTOS, M.E.C.M. & CARVALHO, M.S.S. 2009. Paleontologia das Bacias do Par-
naíba, Grajaú e São Luís. Rio de Janeiro: CPRM.
TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M.C.M. de; FAIRCHILD, T.R. & TAIOLI, F. 2000. Decifran-
do a Terra. São Paulo: USP, Oficina de Textos.
PALEONTOLOGIA