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Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-87237-10-7.
Vários autores.
CDD : 469.507
1
Organizadoras
2
Sumário
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................5
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 7
Atividade 1 ............................................................................................................................................................... 10
O uso da crase - Ana Luísa Gonçalves, Daniel Vasconcelos Resende, João Renato Carneiro Ferreira,
Melina Gonçalves e Poliane Alves de Souza ..................................................................................................10
Atividade 2 .............................................................................................................................................................. 13
Formação de palavras - Aline Cristina Marques, Ana Luiza de Oliveira Melo, Gabriela Caroline Alves
Claudino, Sarah Teixeira da Silva ....................................................................................................................13
Atividade 3 .............................................................................................................................................................. 16
Concordância verbal e nominal - Amanda Noronha Oliveira, Élder Henrique Attala e Paiva, Gabriela
Berndt de Souza, Letícia Campos Silva ............................................................................................................16
Atividade 4 .............................................................................................................................................................. 19
Compreendendo a estrutura da oração e o uso da vírgula - Ana Luísa Gonçalves, Daniel
Vasconcelos Resende, João Renato Carneiro Ferreira, Melina e Poliane Alves de Souza ....................19
Atividade 5 ............................................................................................................................................................. 22
A estrutura da oração e o uso da vírgula - André Pinto, Bruna Tobias, Helena Alevato, Maria
Carolina, Paulina Praxedes .............................................................................................................................. 22
CAPÍTULO 2 - MOBILIZANDO CONSTITUINTES......................................................................................................... 25
Atividade 1 .............................................................................................................................................................. 26
Aplicando a identificação de constituintes na análise morfossintática e na leitura e produção de
textos - Amanda Noronha Oliveira, Élder Henrique Attala e Paiva, Gabriela Berndt de Souza, Letícia
Campos Silva ....................................................................................................................................................... 26
Atividade 2 .............................................................................................................................................................. 31
Os elementos mínimos da sentença - Alexandra Aparecida de Freitas Trindade Barbosa, Jhennifer
Vieira Rodrigues Pinto, Nayara de Almeida Faria, Rubens Rodrigues Viegas Junior. ..............................31
Atividade 3 ............................................................................................................................................................. 35
Investigando estruturas ambíguas - Amanda Noronha Oliveira, Élder Henrique Attala e Paiva ........ 35
3
CAPÍTULO 3 - CONVERSANDO SOBRE VERBOS ...................................................................................................... 40
Atividade 1 ...............................................................................................................................................................41
O que é um verbo? - Gabriela Berndt de Souza e Letícia Campos ................................................................41
Atividade 2 ............................................................................................................................................................. 45
Formando orações: predicadores verbais e subordinação - Ana Luísa Gonçalves, Daniel Vasconcelos
Resende, João Renato Carneiro Ferreira, Melina Gonçalves e Poliane Alves de Souza..... ...................45
Atividade 3 .............................................................................................................................................................48
Formando orações: período composto por coordenação - Ana Luísa Gonçalves, Daniel Vasconcelos
Resende, João Renato Carneiro Ferreira, Melina Gonçalves e Poliane Alves de Souza ...................... 48
Atividade 4 .............................................................................................................................................................. 51
Formando orações: predicadores nominais - Ana Luiza de Oliveira Melo e Sarah Teixeira da Silva ...51
CAPÍTULO 4 - MANIPULANDO SENTIDOS ................................................................................................................ 55
Atividade 1 .............................................................................................................................................................. 56
Escolhas lexicais e efeitos de sentido em letras de música - Ana Luísa Gonçalves, Daniel
Vasconcelos Resende, João Renato Carneiro Ferreira, Melina Gonçalves e Poliane Alves de Souza
.................................................................................................................................................................................56
Atividade 2 ............................................................................................................................................................. 59
Escolhas lexicais e efeitos de sentido no texto jornalístico - André Pinto, Bruna Tobias, Helena
Alevato, Maria Carolina, Paulina Praxedes ..................................................................................................59
Atividade 3 ............................................................................................................................................................. 62
A escolha lexical e sua relação com o público-alvo - Aline Cristina Marques, Ana Luiza de Oliveira
Melo, Gabriela Caroline Alves Claudino, Sarah Teixeira da Silva ........................................................... 62
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................................................................67
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Apresentação
Este livro reúne parte das reflexões construídas no âmbito da disciplina GramáticaS na
escola, ministrada por mim no segundo semestre de 2019 no curso de Letras da Universidade
Federal de Minas Gerais. A proposta da referida disciplina nasce a partir de reflexões e
inquietações relativas à distância que existe entre os conhecimentos científicos desenvolvidos
no mundo acadêmico e a sala de aula de educação básica. Desse modo, me propus a ofertar
uma disciplina optativa cuja ementa girasse em torno de uma questão central: o ensino de
gramática.
Inspirada pela obra de Pilati (2017), vislumbrei um curso que fugisse dos moldes
tradicionais de uma sala de aula de graduação, onde existe apenas um protagonista que
assume o papel de detentor de todo o conhecimento. Desse modo, o curso foi pensado no
seguinte formato: uma parte inicial, que corresponde à carga horária de 30 horas, de aulas
teóricas que trabalharia conceitos básicos de linguística, teorias e algumas propostas para o
ensino de gramática. A segunda parte do curso, com uma carga horária também de 30 horas,
contaria com o protagonismo dos alunos e, assim como apresentado em Pilati (2017), seriam
elaboradas oficinas com temas previamente selecionados e com um objetivo principal:
relacionar de maneira concreta noções teóricas e procedimentos práticos em uma proposta
de aula direcionada à educação básica. Todo o conteúdo aqui apresentado é, portanto, fruto
de um trabalho conjunto entre os estudantes inscritos na disciplina e as reflexões teóricas
propostas por mim ao longo do semestre.
O ensino de língua portuguesa nas escolas brasileiras já tem sido pauta de trabalhos
anteriores, cito aqui apenas alguns, como o material organizado por Martins, Vieira e Tavares
(2014), os diversos trabalhos da professora Bortoni-Ricardo (2004, 2006 entre outros), Perini
(2006), Oliveira e Quarezemin (2016) e diversas outras contribuições importantes para a área.
Por mais que o tema já tenha sido amplamente trabalhado, as reflexões não se esgotam e se
fazem cada dia mais relevantes, especialmente mediante ao atual cenário de graves ataques à
educação em geral e à educação básica. Acredito que, por conta dessa relevância, a proposta
da disciplina despertou grande interesse por parte dos alunos da UFMG e a adesão ao pesado
cronograma de apresentações de trabalhos em forma de oficinas foi unânime, fazendo com
que fosse possível a organização do presente material.
Ao adentrar as salas de aula da grande maioria das escolas brasileiras, os estudantes
irão se deparar com um conjunto de normas e regras que supostamente compõem a língua
portuguesa, mas são muito distantes da realidade linguística que os cerca. Aliado a isso, os
professores também enfrentam uma série de dificuldades que vão desde problemas
estruturais das escolas até questões relativas à sua formação em cursos de licenciatura. O
quadro cria um cenário complexo para o ensino de língua materna no Brasil. Embora estivesse
consciente desses percalços, optei por não abordar diretamente essas questões neste livro.
Busco aqui, simplesmente, apresentar um caminho que foi construído coletivamente, dentre
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os muitos possíveis, e espero poder contribuir e expandir a reflexão sobre o ensino de
gramática.
Na esteira de autores como Pilati (2017), Oliveira e Quarezemin (2016) e Lobato (2015),
acredito que a combinação de conhecimentos teóricos com a prática didática seja o caminho
para começarmos a transformar a realidade do ensino. Foi isso que o curso se propôs a fazer:
mostrar para os graduandos que é possível levar as noções aprendidas no curso de graduação
para dentro da sala de aula, sem precisar que estudantes de nível básico dominem conceitos
da Teoria Gerativa ou da Sociolinguística, por exemplo.
Por fim, meu trabalho aqui foi o de simplesmente fazer uma pequena curadoria das
oficinas apresentadas no curso e colocá-las no formato de capítulos para o presente livro.
Assim como as atividades que foram pensadas de maneira coletiva, a organização desse
material não foi feita de maneira solitária. Contei com a extrema dedicação e trabalho duro da
Ana Luiza, aluna de iniciação científica voluntária que embarcou comigo nessa ideia sem nem
saber qual seria nosso destino final. O resultado que apresento a vocês é, portanto, uma
mostra do que é possível ser construído na sala de aula.
1
Agradecemos a contribuição atenta e cuidadosa das pareceristas Prof° Doutora Patrícia Ferreira
Botelho e Prof° Doutora Juliana Barros Nespoli.
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Introdução
Optamos por trazer para esta discussão dois pilares teóricos para nortear as reflexões:
as assunções da Teoria Gerativa a respeito da natureza do conhecimento linguístico do ser
humano (CHOMSKY, 1986 e outras publicações posteriores) e a proposta de Chevallard (1991)
que trata especificamente da construção da ponte entre teoria e conteúdo a ser levado para
sala de aula.
As atividades aqui propostas partem de uma premissa básica sobre o conhecimento
gramatical: todo indivíduo é detentor de um conhecimento gramatical de natureza biológica
adquirido de maneira inata e espontânea ao longo da infância. Isso significa dizer que os
alunos entram na escola com um repertório linguístico muito vasto e complexo e o ensino de
língua materna deveria levar em conta esse conhecimento. Não vamos desenvolver conceitos
teóricos aqui, mas uma lista com referências sobre o tema pode ser encontrada ao final do
livro.
No âmbito do projeto de pesquisa: “Reflexões sobre o ensino de gramática:
transposição didática e a aproximação da teoria com a escola” coordenado pela professora
Mayara Nicolau de Paula, são utilizadas três noções importantes adaptadas de Chevallard que
giram em torno do que o autor denomina “objetos de saber” e elas foram aplicadas de maneira
analítica a cada uma das atividades propostas nos capítulos deste livro.
A primeira noção é o que chamamos de conhecimento linguístico. Ela engloba
objetos concretamente reconhecíveis no contexto escolar de uma aula de gramática, tais
como: classes de palavras, funções sintáticas, organização do período. A segunda noção é
chamada de conhecimento paralinguístico e não trata de objetos necessariamente
concretos presentes no contexto do ensino básico. Noções paralinguísticas são saberes
auxiliares que se dividem em duas grandes áreas: (i) saberes que competem ao aluno e (ii)
saberes que competem ao professor. No caso dos saberes ligados ao aluno, podemos pensar
no conhecimento gramatical inato que os alunos detêm, por exemplo: consciência de que a
língua se divide em categorias e o sistema se organiza em torno das oposições. Esse é um tipo
de saber que deve ser ativado nas aulas de gramática, mas não será tema de nenhuma aula
da educação básica. Relativamente aos saberes auxiliares por parte dos professores,
acreditamos que conhecimentos teóricos trabalhados no ensino superior podem ser
necessários na sala de aula. Então, se o professor domina um tema da área da sintaxe em
níveis mais profundos, por exemplo, a aula pode se desenvolver de modo mais produtivo. Por
fim, o conhecimento protolinguístico gira em torno de noções mais implícitas que definimos
como ligadas à capacidade do aprendiz de manipular o conhecimento a que ele é exposto. O
desenvolvimento de habilidades de produção de texto, compreensão e interpretação de
enunciados, enfim, todo o saber que advém inicialmente do conhecimento de mundo dos
alunos e é desenvolvido no processo escolar. A gradual elaboração de conhecimentos de
natureza protolinguística é, portanto, um dos objetivos últimos do processo escolar. É essa
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habilidade de ativar um complexo repertório linguístico e social que será cobrada em
avaliações como o Exame Nacional do Ensino Médio.
A teoria da transposição didática vai nos orientar sobre como olhamos para o processo
de ensino-aprendizagem e qual o papel que cada participante desse processo deve assumir
na construção de um objeto de saber. Além disso, é imprescindível que as elaborações estejam
alinhadas ao que propõe a Base Nacional Comum Curricular, documento que baliza os
parâmetros para o ensino atualmente.
Os capítulos do nosso livro são divididos em propostas de atividades e cada uma delas
está organizada nas seguintes seções: (i) Experiência linguística - onde apresentamos a
proposta e uma pequena sensibilização que coloca o aluno em contato concreto com dados
da língua; (ii) Reflexões gramaticais - momento da análise crítica dos dados, formulação de
hipóteses e confronto com a gramática normativa; (iii) Consolidando as reflexões - aqui entram
as atividades que permitem avaliar como as discussões foram incorporadas pelos alunos e,
por fim, (iv) Análise - nessa seção fazemos uma breve discriminação dos níveis de
conhecimento linguístico ativados com base na transposição didática.
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Capítulo 1 - Desconstruindo a gramática tradicional
Neste capítulo, apresentamos atividades que buscam aplicar uma visão reflexiva a
conteúdos tipicamente tradicionais, demonstrando como é possível instigar a adoção de uma
postura científica por parte dos alunos que permita a tomada de consciência acerca do seu
objeto de estudo, mesmo ao lidar com convenções da norma padrão.
As atividades aqui propostas buscam identificar os padrões e regularidades que regem
o funcionamento da língua portuguesa enquanto um sistema, por meio da construção de
gramáticas e da comparação entre as diferentes variedades da língua. Mas por que os alunos
adotariam uma postura diferente diante de tópicos como o uso da crase, a derivação por meio
de afixos e a concordância nominal e verbal? Acreditamos que, ao inserirmos o português
falado pelos alunos à equação, a perspectiva científica pela qual pretendemos analisar a língua
ficará mais evidente, despertando sua postura crítica diante de um objeto que dominam e que
está presente em seu cotidiano. Buscamos, portanto, estimular o confronto entre aquilo que
é efetivamente praticado pelos falantes e aquilo que é prescrito pela norma padrão, levando
à construção de uma gramática contrastiva entre as diferentes variedades da língua.
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Atividade 1
O uso da crase - Ana Luísa Gonçalves, Daniel Vasconcelos Resende, João Renato
Carneiro Ferreira, Melina Gonçalves e Poliane Alves de Souza
A ocorrência de crase costuma gerar muitas dúvidas nos alunos. Isso pode ser
explicado pela ausência de correspondência entre a língua escrita e a língua falada. No caso
da crase, é importante conhecer as regências de acordo com a norma padrão, que podem ser
distintas em uma variedade informal. Por exemplo, o verbo “ir”, que pode ser usado com a
preposição ‘a’ ou com a preposição ‘em’. Uma das inovações aqui proposta, portanto, é partir
do conhecimento prévio dos estudantes, mostrando como eles possuem uma intuição quanto
ao uso de preposições após determinados verbos e substantivos, ainda que por vezes a
preposição intuída seja distinta daquela proposta pela norma padrão.
Esperamos que os alunos entendam o fenômeno representado pelo acento da crase e
se familiarizem com nomes e verbos que exigem a preposição ‘a’ na norma padrão. Além disso,
almejamos incentivar os estudantes a se colocarem na posição de conhecedores e
investigadores da própria língua, na medida em que são capazes de identificar as regras que
compõem o sistema linguístico.
Experiência linguística
10
Nesse momento, os alunos atuarão como linguistas, analisando os dados apresentados
em busca de padrões dentro da língua. Os alunos podem concluir, com base no corpus, que
existem complementos com preposição, como em (1), (2) e (3), e sem preposição como em (4)
e (10), podem concluir que alguns verbos aceitam os dois tipos de complemento, como em
(5) ou em (10) e (11) e ainda que alguns verbos podem apresentar regências diferentes, a
depender do tipo de registro considerado como a variedade coloquial em (3) ou a norma
padrão em (1) e (2). É importante que os alunos tenham espaço para tirarem suas próprias
conclusões acerca daquilo que observam e que compartilhem suas conclusões com a turma,
permitindo que o professor entre no momento da reflexão coletiva, atuando apenas como
mediador. O professor deve usar esse momento inicial como uma forma de avaliação dos
conhecimentos prévios da turma no que diz respeito ao tema e mapear as dificuldades que
ficarem mais evidentes nos momentos de debate.
Reflexões gramaticais
Com base na sistematização proposta pelos alunos, o professor deve então perguntar
como os alunos observam o fenômeno da crase. Em qual categoria de complemento a crase
se enquadra? Esse é o momento de aproximar a crase de exemplos como (3) e (7). O professor
guiará as reflexões buscando alcançar dois pontos principais: (a) alguns verbos requerem a
presença de uma preposição devido à sua regência - e que essa regência faz parte da intuição
dos falantes de português brasileiro, (b) essas preposições podem se combinar com outras
classes gramaticais, como os artigos, conforme observado nos exemplos analisados. A crase
é, portanto, um sinal que indica a combinação de duas letras iguais em grafia, porém distintas
em função gramatical, a preposição “a” requerida pela regência de um verbo e o artigo “a”
que acompanha o complemento que se segue a essa preposição. Sua origem fica evidente
pelo confronto dos exemplos (1) e (2).
Após essas reflexões, os alunos devem então, junto com o professor, construir uma
gramática (uma lista de padrões de regularidades) que explique o corpus analisado,
contemplando as diferentes regências verbais bem como o uso da crase nesse contexto. Em
seguida, o professor pode apresentar a crase sob a ótica da gramática normativa, analisando
com os alunos as situações contempladas pela norma padrão e como a nova gramática
construída se aproxima ou difere do que prevê o livro texto.
Consolidando as reflexões
11
Análise
Espera-se com essa atividade que os alunos sejam capazes de entender o fenômeno
que origina o acento crase, eliminando a necessidade de memorização de regras e permitindo
que o aluno analise criticamente não só a gramática normativa, mas como os fenômenos
discutidos em sala de aula se fazem presentes na língua cotidiana. Conforme previsto pela
teoria da transposição didática de Chevallard (1991), essa atividade apresenta a crase
enquanto objeto palpável para o aluno, considerada enquanto noção linguística. No entanto,
a reflexão gramatical permite acionar conhecimentos paralinguísticos, como a seleção de
argumentos por um predicador verbal, que permite que o aluno entenda a crase não apenas
como um acento, mas como um fenômeno relacionado à preposição requerida por um dado
predicador verbal. O nível protolinguístico é acionado como consequência da ativação destes
conhecimentos tácitos, que permitem ao aluno reconhecer conscientemente as ocasiões de
aplicação do conhecimento que é acionado de modo inconsciente pelo uso da língua.
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Atividade 2
Formação de palavras - Aline Cristina Marques, Ana Luiza de Oliveira Melo, Gabriela
Caroline Alves Claudino, Sarah Teixeira da Silva
Essa atividade tem como objetivo conscientizar os alunos acerca dos elementos que
se articulam dentro das palavras e que colaboram para a construção do seu sentido. Os alunos
poderão usar seus conhecimentos tácitos acerca da formação de novas palavras para
manipular as unidades mínimas de modo a analisar as diversas combinações possíveis por
meio da sua movimentação.
Propomos inovar a metodologia tradicional ao levar para sala de aula os processos
atuais de formação de palavras como: twittar, googlar, blogueira, x-tudo, etc. Ao expandir os
exemplos para além dos clássicos da gramática tradicional, pretendemos mostrar que,
constantemente, os alunos formam novas palavras sem perceber que existe uma lógica nessa
formação. Esperamos que os alunos percebam que os neologismos surgem de uma base de
itens do léxico e que existem regras que o aluno manipula intuitivamente ao se confrontar
com palavras recém-criadas ou desconhecidas.
Experiência linguística
Os alunos devem ser divididos em grupos de quatro. Cada grupo recebe uma caixa
com afixos, um dado e um tabuleiro contendo palavras. O objetivo é que os alunos construam
novas palavras a partir da combinação dos seus afixos com as palavras do tabuleiro. Eles
podem separar essas palavras entre: palavras inexistentes, palavras que eles acreditam serem
possíveis de se construir no português e palavras que eles sabem que existem.
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O professor deve pedir que cada grupo compartilhe as palavras que formou e as
categorias nas quais elas foram encaixadas. Essas palavras serão organizadas no quadro. O
professor pergunta então (i) qual critério foi usado para construir essas palavras? (ii) as novas
palavras formadas apresentam sentido diferente das palavras presentes no tabuleiro do jogo?
Durante esse momento de discussão oral, o professor deve mapear o grau de intimidade que
os alunos têm com a nomenclatura relacionada à área e avaliar os conhecimentos que a turma
consegue elaborar e aqueles em que apresentam mais dificuldades ou um nível de
desconhecimento.
Reflexões gramaticais
Os alunos devem então atribuir significados para esses afixos com base nas palavras
que formaram. Que outras palavras não listadas eles conhecem com esses afixos? Nessas
outras palavras os afixos também possuem os sentidos propostos pelos alunos?
Professor e alunos definem, em conjunto, os sentidos que cada afixo possui de acordo
com a amostra analisada. O professor pode explorar a lista de palavras propostas pelos alunos
mas que não são usadas no português brasileiro devido às convenções da língua, seria possível
propor um sentido para as palavras que não existem apenas com base nos elementos que as
constituem? Neste momento o professor pode consultar o dicionário ou a gramática
normativa com os alunos para apresentar como os manuais de descrição da norma padrão
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abordam tais definições. Os alunos concordam com o que está nos livros? Quais usos deixaram
de ser contemplados pelo padrão?
O fenômeno analisado é a derivação que pode ocorrer pela inserção de prefixos ou de
sufixos a palavras já existentes na língua. Que outras palavras vocês conhecem que surgiram
por meio da derivação? Os alunos podem explorar palavras do seu próprio léxico ou ainda
usar o dicionário e a gramática para experimentar com as listas de prefixos e sufixos neles
sistematizados. Neste momento o professor consegue verificar a compreensão dos alunos
sobre os limites entre radicais e afixos e como estes podem se combinar juntos ou
separadamente para criar novas palavras.
A atividade pode ainda se estender, permitindo que os alunos analisem criticamente
as categorias derivacionais propostas pela gramática tradicional, agrupando palavras
compostas e neologismos que encontrarem ao longo do ano e buscando encaixá-los nessas
categorias. Quando a palavra não se encaixar nos processos padrões de derivação, o aluno
deve propor uma nova categoria e explicar os elementos e sentidos que se articulam neste
neologismo. A possibilidade de o aluno propor categorias é um exercício importante de
autonomia linguística e recuperação de uma intuição de falante nativo muitas vezes abalada
pela pressão normativa.
Consolidando as reflexões
Análise
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Atividade 3
Concordância verbal e nominal - Amanda Noronha Oliveira, Élder Henrique Attala e Paiva,
Gabriela Berndt de Sou za, Letícia Campos Silva
Por meio dessa atividade, esperamos demonstrar que existem diferentes padrões de
concordância verbal e nominal dentro da língua portuguesa. Por meio do contato com
estruturas do português brasileiro coloquial e da forma padrão da língua, os alunos serão
capazes de traçar as regras que regem cada padrão de concordância, refletindo sobre quando
cada um será mais adequado.
Essa atividade é importante para a reformulação dos conceitos de certo e errado
dentro da língua, demonstrando que todas as formas legitimadas por seus falantes seguem
princípios pré-determinados. Esperamos que, após essa atividade, os alunos sejam capazes de
reconhecer as leis que determinam os diferentes padrões de concordância e que tenham uma
ideia mais ampla sobre o que é gramática. Essa atividade abre uma boa oportunidade para
que discussões relativas à variação e preconceito linguístico sejam desenvolvidas.
Experiência linguística
Atividade 1
(1) [As pessoas bonitas]SN gostam de comer pão de queijo.
(2) [As pessoas bonita]SN gostam de comer pão de queijo.
(3) [As pessoa bonita]SN gostam de comer pão de queijo.
(4) *[A pessoas bonitas]SN gostam de comer pão de queijo.
(5) *[A pessoa bonitas]SN gostam de comer pão de queijo.
(6) *[As pessoa bonitas]SN gostam de comer pão de queijo.
(7) [A cadeira macia]SN quebrou.
(8) *[O cadeira macio]SN quebrou.
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Atividade 2
(1) Eu bebi o refrigerante daquela geladeira.
(2) Você bebeu o refrigerante daquela geladeira.
(3) Ele bebeu o refrigerante daquela geladeira.
(4) A gente bebeu o refrigerante daquela geladeira.
(5) Nós bebemos o refrigerante daquela na geladeira.
(6) Nós bebeu o refrigerante daquela geladeira.
(7) Vocês beberam o refrigerante daquela geladeira.
(8) Vocês bebeu o refrigerante daquela geladeira.
(9) Eles beberam o refrigerante daquela geladeira.
(10) Eles bebeu o refrigerante daquela geladeira.
(11) *Eu bebeu o refrigerante daquela geladeira.
(12) *A gente bebi o refrigerante daquela geladeira.
(13) *Nós beberam o refrigerante daquela geladeira.
(14) *A gente beberam o refrigerante daquela geladeira.
Reflexões gramaticais
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comum, estão postos na cabeça dos estudantes e poderá desenvolver um trabalho mais bem
direcionado.
Consolidando as reflexões
Análise
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Atividade 4
Compreendendo a estrutura da oração e o uso da vírgula - Ana Luísa Gonçalves, Daniel
Vasconcelos Resende, João Renato Carneiro Ferreira, Melina e Poliane Alves de Souza
A vírgula é um dos temas mais difíceis de serem abordados em sala de aula devido à
imprecisão da gramática normativa em relação ao seu uso, sendo fonte de muita confusão
entre os alunos. No texto da norma, a vírgula é abordada como a representação de uma
parada da fala ou como a representação do silêncio, ignorando-se que, na verdade, a vírgula
possui uma função sintática. Essa atividade pretende desvincular a relação entre vírgula e som,
demonstrando seu uso na explicitação das relações sintagmáticas dentro de uma oração,
evidenciando sua função estrutural.
Experiência linguística
O professor deve apresentar algumas orações aos alunos e pedir que identifiquem seus
constituintes. Como podemos reconhecer as unidades mínimas que se movimentam na
sentença? O professor pode retomar alguns testes de constituintes simples como a
topicalização, os elementos que se deslocam em conjunto formam um constituinte, e os
fragmentos de sentença, “quem?”, “o que?”, “onde?”, as respostas a essas perguntas
representam constituintes. É importante que o professor retome brevemente como realizar a
análise sintática de uma sentença, para que os alunos possam dividir os constituintes por meio
de cores diferentes de acordo com sua função sintática: sujeito com uma cor, o verbo com
outra etc. Dando destaque às funções de sujeito, verbo, objeto e adjunto, deve-se perguntar
aos alunos: Qual a ordem mais frequente dos elementos na sentença? Essa ordem pode ser
alterada? Exemplo:
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Reflexões linguísticas
O professor deve propor que os alunos pensem em novas formas de expandir essas
sentenças e também de reorganizá-las por meio do embaralhamento de constituintes. Como
podemos dar ênfase a determinados elementos da oração? Onde deveríamos usar a vírgula
nas novas orações propostas? Como exemplo:
(vír.gu.la)
sf.
1. Gram. Sinal (,) us. na escrita para indicar uma pequena pausa entre os termos da oração.
Fonte: <http://www.aulete.com.br/v%C3%ADrgula.>
Acesso em outubro/2019
20
Consolidando as reflexões
Os alunos devem então ver um pequeno vídeo e transcrever seu conteúdo marcando
as pausas advindas da oralidade. Após a transcrição, as orações estruturadas segundo a língua
falada devem ser transformadas para se adequarem ao texto escrito. Existe alguma relação
entre a pausa oral e as vírgulas sintáticas utilizadas na escrita? Espera-se que, por meio dessa
atividade, os alunos possam reconhecer a diferença entre a pausa sonora e a vírgula escrita.
Análise
Esta atividade pretende desfazer o equívoco causado pela definição formal e pelo
senso comum de que a vírgula é uma pequena pausa, ou que a vírgula representa a pausa
para a respiração. A noção linguística do uso da vírgula é abordada sob a luz da relação
sintagmática entre os elementos da oração no nível paralinguístico, permitindo a atribuição
de uma “motivação sintática” para a vírgula. A compreensão da relação entre as funções
sintáticas e sua ordem na sentença, bem como entre a vírgula e a quebra dessa ordem
permitem, no nível protolinguístico, a manipulação da estrutura hierárquica que rege a
produção de sentenças dentro de uma língua.
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Atividade 5
A estrutura da oração e o uso da vírgula - André Pinto, Bruna Tobias, Helena Alevato,
Maria Carolina, Paulina Praxedes
Experiência linguística
O professor deve dar sentenças aos alunos e pedir que eles coloquem a vírgula onde
acreditam ser necessário. Como exemplo:
22
Fonte: <http://www.naoentreaki.com.br/1746110-ta-quentinho.htm.>
Acesso em outubro/2019
O que motivou a opção dos alunos por colocar ou não a vírgula nas orações? As
vírgulas postas têm relação com a pausa para respirar?
Reflexões gramaticais
Consolidando as reflexões
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Análise
Esta atividade tem por objetivo romper com o senso comum de que a vírgula
representa a pausa para a respiração. A atividade busca discutir a noção linguística da vírgula
por meio das motivações sintáticas para seu uso, articulando no nível paralinguístico a ordem
direta, sujeito, verbo e objeto, mais objetiva e natural das orações de uma língua. No nível
protolinguístico, articula-se a noção da estrutura hierárquica que guia as sentenças do PB e
sua representação, levando à subversão da representação linear do texto escrito.
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Capítulo 2 - Mobilizando constituintes
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Atividade 1
Aplicando a identificação de constituintes na análise morfossintática e na leitura e
p r o d u ç ã o d e t e x t o s - Am a n d a N o r o n h a O l i v e i r a , É l d e r H e n r i q u e A t t a l a e P a i v a , G a b r i e l a
Berndt de Souza, Letícia Cam pos Silva
A presente atividade tem como objetivos: (i) revisar os conhecimentos sobre análise
das funções sintáticas a partir da identificação de constituintes e (ii) promover o
desenvolvimento de habilidades de interpretação e produção textual críticas por meio de
discussões sobre as nuances de sentido associadas a diferentes organizações dos constituintes
de uma oração. Para o bom desenvolvimento desta proposta, espera-se que os alunos já
tenham conhecimentos prévios dos anos anteriores sobre funções sintáticas e análise
morfossintática. Apesar de os conhecimentos prévios serem tomados como certos,
recomendamos que o professor faça uma pequena revisão selecionando conceitos centrais e
esclarecendo dúvidas e noções equivocadas.
A inovação central aqui é construir junto com os alunos a noção de função sintática a
partir do conceito de constituinte e não da nomenclatura tradicional. Esperamos que, ao final,
a concretização do conhecimento estrutural das sentenças, que todos nós já dominamos,
esteja acessível e o aluno seja capaz de reconhecer as relações sintáticas que se apresentam
na língua e o que está por trás delas.
Experiência Linguística
26
sentenças possíveis no português. Realizadas as mudanças apropriadas, o professor
demonstrará aos alunos que as unidades substituídas constituem os sintagmas (ou
constituintes) formadores da oração e então pedirá que indiquem as funções sintáticas
desempenhadas por essas unidades:
c. O professor deve, então, mostrar aos alunos que as unidades substituídas pelos
pronomes constituem sintagmas (ou constituintes). Reflexão: dados os exemplos
apresentados acima, como definir o que são os pronomes substantivos? O que é um
constituinte?
27
C1. SN[As primas SP[dSN[o Pedro]] não gostam SP[dSN[o José]].
C2. SN[Os amigos SP[dSN[o José]] viram SN[o Pedro] ontem.
Reflexões gramaticais
2.1 Para esses fins, na primeira etapa da atividade, as seguintes sentenças serão
apresentadas no quadro:
2.2 O professor deve, então, dividir a turma em cinco grupos e atribuir uma sentença
para cada grupo.
28
2.3 Estabelecidos os grupos e as sentenças, os alunos devem:
(i) Testar as diferentes ordenações possíveis em cada sentença, contrastando com
aquelas que não são possíveis. Discutir o porquê de, em alguns casos, a mobilidade gerar
sentenças agramaticais.
(ii) Discutir os efeitos de sentido produzidos por cada ordenação.
(iii) Identificar os constituintes a partir tanto do deslocamento como da
pronominalização.
(iv) Indicar qual a função sintática desempenhada pelos constituintes identificados,
quando possível.
2.4 O professor distribuirá folhas de ofício A4 coloridas para os grupos, para que então
os alunos possam reescrever os constituintes, identificando cada função sintática por meio de
diferentes cores. Os grupos devem então recortar esses constituintes de maneira a formar
“blocos” ou “unidades” para representação das diferentes ordenações das sentenças em um
mural coletivo na sala de aula.
Consolidando as reflexões
A etapa final da aula deve ser um momento de conversa entre o professor e os alunos.
Após o momento anterior, o professor deve ajudar os alunos a desenvolverem ideias acerca
dos fenômenos encontrados, atentando-se para não “dar as respostas”, mas sim instigá-los às
conclusões pretendidas. O conteúdo da reflexão estará voltado principalmente para os
seguintes conceitos: teste de constituintes; conceito de constituinte; funções sintáticas e
ordenação dos constituintes dentro da sentença. A teoria não precisa ser evidenciada, o foco
deve ser nas noções de categoria linguística trazidas pelos testes trabalhados.
Aqui o objetivo é que os alunos, após o momento de reflexão guiada com o professor,
consigam, em grupo, montar suas próprias definições, generalizações e predições. Focados
nos contextos centrais tanto da Atividade 1 como da Atividade 2, os estudantes devem chegar
a conclusões sobre como identificar constituintes, o que são constituintes e quais suas relações
com as funções sintáticas da sentença, usando como base o trabalho desenvolvido nas
atividades. É importante também que os alunos demonstrem terem aprendido como usar os
testes de identificação de constituintes, que foram essencialmente o tema das atividades.
Os grupos deverão preparar uma breve apresentação das conclusões a que chegaram
a partir da Atividade 2, destacando: (i) os constituintes identificados; (ii) a função sintática de
cada constituinte e (iii) as nuances de sentido de cada ordenação possível para a sentença
analisada.
O professor distribuirá folhas de ofício A4 coloridas para os grupos, para que então os
alunos possam, após estabelecerem um “código de cores” para cada função sintática (ex. azul
para sujeito, vermelho para predicado, rosa para objeto direto, etc.), reescrever os constituintes
29
identificados nas folhas correspondentes de cada função sintática (quando possível). Os
grupos devem então recortar esses constituintes de maneira a formar “blocos” ou “unidades”
para representação das diferentes ordenações das sentenças. Em seguida, a turma ficará
responsável por elaborar um mural para afixação das diferentes combinações possíveis a partir
das unidades recortadas em papel colorido.
Análise
O ponto central desta atividade foi construir noções bem fundamentadas sobre
funções sintáticas, utilizando o conhecimento teórico sobre constituintes e os testes utilizados
pelos linguistas para identificá-los. Seguindo esse percurso, acreditamos que o aluno vai ser
capaz de gerenciar futuras análises sintáticas sem maiores dificuldades, já que a identificação
dos termos a serem classificados pode ser feita usando a técnica aqui trabalhada. As noções
linguísticas de função sintática foram desenvolvidas a partir da ativação de noções
paralinguísticas, testes de constituintes, capacitando o aluno para uma análise mais
consciente.
Além das etapas apresentadas acima, o professor pode expandir a atividade e
apresentar aos alunos sentenças e fragmentos de textos de diferentes gêneros textuais
(narrativa, poesia, reportagem, músicas, etc), nos quais se observem alterações da ordem
básica SVO. Os fragmentos devem ser analisados tal como dispostos no original. O professor
promoverá discussões acerca das possíveis interpretações suscitadas pelos textos, atentando
principalmente para a mobilidade dos constituintes e, se houver, as nuances de interpretação
suscitadas pela alteração da ordem. Além disso, o aluno poderá aplicar esses conhecimentos
não só na interpretação de textos, mas também na produção textual, evitando ambiguidades
e a formulação de sentenças que, a depender da ordenação dos constituintes, podem oferecer
dificuldades à interpretação.
30
Atividade 2
Os elementos mínimos da sentença - Alexandra Aparecida de Freitas Trindade Barbosa,
Jhennifer Vieira Rodrigues P into, Nayara de Almeida Faria, Rubens Rodrigues Viegas
Junior.
A atividade tem como proposta demonstrar ao aluno que há uma estrutura profunda
por trás das sentenças. Tal estrutura faz com que certas orações sejam produzidas pelos
falantes da língua e outras não e essa habilidade de julgar estruturas possíveis ou não na sua
língua é um conhecimento inato que todo falante traz consigo.
Com a atividade, pretendemos ativar a capacidade nos alunos de reconhecer os
constituintes de uma oração. Para tanto, será apresentado o teste de topicalização como uma
estratégia possível para o reconhecimento das estruturas mínimas da sentença. O teste
configura um nível de conhecimento paralinguístico que pode ser de grande valia para os
alunos ativarem um novo olhar para a estrutura sintática. O modelo da atividade busca ainda
explorar a participação ativa dos alunos, primando pela habilidade de pensar criticamente a
língua, o trabalho em equipe e a capacidade de produzir.
Experiência linguística
A turma será dividida em grupos de 05 alunos e será solicitado aos grupos que criem
uma frase. Posteriormente será solicitado que os alunos transfiram cada palavra da sua frase
para folhas de ofício, recortem e depositem em um envelope. Em seguida, os envelopes serão
recolhidos e distribuídos aleatoriamente para que cada grupo tenha uma frase que não seja a
sua.
Exemplo:
Depois será realizada a seguinte atividade: um membro de cada grupo irá pegar
palavra por palavra dentro do envelope e formará uma nova oração obedecendo a ordem em
que as palavras foram sorteadas. Cada grupo escreve a sua oração no quadro.
31
Exemplo: e o Maria Paulo o na bolo casa a João do comeram.
Ao final dessa etapa inicial, o professor será capaz de avaliar os conhecimentos prévios
dos alunos acerca da organização da sentença.
Reflexões gramaticais
É importante que os alunos pensem ainda sobre como a ordem dos elementos da
sentença poderia ser alterada sem que fosse perdido seu sentido/gramaticalidade. Ao
identificar os elementos mínimos que podem ser deslocados na sentença, os alunos estarão
identificando os constituintes dessa sentença. Quantos constituintes podemos identificar em
cada uma das sentenças analisadas?
O professor deve mediar a discussão evidenciando o fato de que não existe uma
maneira única de dispor os itens em uma sentença, no entanto algumas ordenações são
bloqueadas pelo sistema da língua. As combinações bloqueadas são naturalmente rejeitadas
por todos, ou seja, todos temos dentro da nossa mente uma intuição sobre o que podemos
ou não fazer com os elementos da nossa língua e é na aula de língua materna que essa intuição
deve ser explorada.
32
Consolidando as reflexões
O professor deve demonstrar que constituintes podem ser movidos para o início da
sentença, chamado de posição de tópico, e que esse é um dos testes que fazemos quando
precisamos identificar constituintes. Além disso, os efeitos de sentido gerados pela alteração
na ordem dos elementos também devem ser explorados.
33
Análise
34
Atividade 3
Investigando estruturas ambíguas - Amanda Noronha Oliveira, Élder Henrique Attala e
Paiva
A atividade tem como objetivos (i) fazer com que os alunos percebam as diferentes
maneiras pelas quais a ambiguidade pode surgir na língua, formulando suas próprias
generalizações e (ii) promover a reflexão acerca dos efeitos de sentido que uma ambiguidade
pode causar, tanto na leitura e interpretação como na produção de textos.
Espera-se que os alunos já tenham conhecimentos prévios dos anos (e de aulas)
anteriores sobre identificação e ordenação dos constituintes, efeitos de sentido e polissemia.
Observamos que a inovação desta proposta consiste em trabalhar a ambiguidade como um
recurso linguístico possível e não como algo sempre negativo e prejudicial ao texto.
Reconhecer as diferentes ambiguidades e saber localizá-las nos textos é mais uma forma de
expandir o repertório linguístico do aluno.
Experiência Linguística
A atividade terá início com a projeção de duas imagens ambíguas para a turma,
explorando a ambiguidade visual. Na sequência, o professor introduzirá o tema da oficina,
ambiguidades, a partir de perguntas como: (i) O que as duas imagens têm em comum? (ii) O
que é possível ver em cada uma das imagens? (ii) O efeito visual duplo parece ter sido
intencionalmente produzido em ambos os exemplos? (iv) Quais as consequências que essa
duplicidade traz para cada um deles? Por fim, o professor deve perguntar para a turma o que
eles entendem por ambiguidade e também de que forma esse fenômeno pode ser observado
na língua, avaliando assim qual nível de conhecimento formal/consciente os alunos já
possuem sobre o assunto.
Imagem 1
35
Imagem 2
Reflexões gramaticais
Observação: ao guiar as discussões, especial atenção pode ser dada à análise das
ambiguidades estruturais. Desse modo, o professor poderá determinar qual é o grau de
conhecimento que a turma consegue ativar e definir a melhor abordagem para prosseguir
com a atividade.
36
Apresentamos, como sugestão, os seguintes exemplos[1] a serem acrescentados às
sentenças indicadas pelos alunos em aula, caso necessário. O objetivo principal é fazer com
que eles percebam as semelhanças entre as ambiguidades encontradas, os “mecanismos”
linguísticos que podem fazer surgir a ambiguidade, sem obrigatoriamente nomeá-las. Por
exemplo, as sentenças (3), (5), (6) e (12) surgem da possibilidade de mais de uma interpretação
para uma mesma palavra.
Em relação aos exemplos (1), (2), (4), (8) e (9), nos quais a ambiguidade se deve a fatores
estruturais, seria interessante retomar, durante as discussões em sala, os conceitos trabalhados
na atividade de identificação das estruturas de constituintes. Desse modo, o professor poderia
demonstrar aos alunos que as duas interpretações possíveis se devem a duas organizações
estruturais distintas, que poderiam ser identificadas, e também, reorganizadas, a partir do teste
de deslocamento. Por exemplo:
37
mecanismos, internos à língua, que podem fazer surgir a ambiguidade e de que maneira isso
pode interferir ou servir aos propósitos comunicativos.
Consolidando as reflexões
Análise
38
Além das atividades apresentadas acima, foram pensadas outras formas de expandir o
trabalho. Como, por exemplo, com imagens retiradas da internet:
Explorar a ambiguidade que surge tanto da ordenação dos constituintes e das orações
quanto da polissemia da preposição com e que produz, na comunicação (publicidade), um
efeito oposto do pretendido.
Compre armações e faça as lentes com a gente com o concorrente ali na frente. ou
Compre armações com a gente e faça as lentes enquanto o concorrente está ali na
frente.
[1]
Neste ponto da oficina, é útil que o professor tenha alguns exemplos pré-
estabelecidos, para o caso de a participação dos alunos não ocorrer como o esperado, ou
ainda caso seja necessária a interferência do professor para o redirecionamento da atividade
em busca dos objetivos pretendidos.
[2]
Esses tipos, no entanto, não precisam ser nomeados. A intenção é que os estudantes
apenas percebam o que as sentenças ambíguas em questão têm em comum, e que diferentes
fatores podem produzir ambiguidade nas sentenças.
39
Capítulo 3 - Conversando sobre verbos
Parte da competência linguística do falante de uma língua passa por saber como os
itens lexicais se estruturam na sentença. Desde muito cedo somos capazes de organizar os
itens lexicais mentalmente de acordo com as propriedades que eles compartilham entre si,
apesar de ainda não termos noção de como tais categorias se definem formalmente. Logo no
início do processo de aquisição da língua materna, a criança sabe que o item lexical “livro” é
diferente do item lexical “comer” e que essas categorias funcionam diferentemente na
sentença, sem, no entanto, saber que são nomeadas substantivos e verbos. Entendemos
também que cada um desses itens possui exigências diferentes e que determinam os
elementos que podem ser agregados a eles na construção da sentença.
As atividades propostas neste capítulo visam explorar a classe gramatical dos verbos e
demonstrar como nosso conhecimento linguístico pode nos orientar na análise da estrutura
das sentenças do português brasileiro. Trataremos das características da classe gramatical dos
verbos e como somos capazes de identificar suas propriedades, em seguida abordaremos a
função do verbo enquanto predicador e os argumentos que os diferentes tipos de verbos
selecionam, culminando na estrutura mais complexa do período composto. Acreditamos que,
por meio da abordagem reflexiva, os alunos serão capazes de reconhecer mesmo as estruturas
mais complexas na sua língua cotidiana, compreendendo como as sentenças se articulam de
forma não linear em torno da estrutura do predicador.
40
Atividade 1
O que é um verbo? - Gabriela Berndt de Souza e Letícia Campos
Experiência linguística
Para começar as discussões, o professor deve apresentar aos alunos um texto centrado
em verbos, como o exemplo:
41
É possível entender o texto mesmo sendo composto apenas por verbos? Que
características esses verbos compartilham entre si? Com base nesse questionamento, o
professor deve demonstrar aos alunos a centralidade do verbo nas sentenças do PB e
organizar as características que vierem a ser levantadas pelos alunos, aproveitando esse
momento para mapear os conhecimentos prévios que a turma apresenta.
Em seguida, exemplos de orações simples serão apresentados e também de orações
compostas. Em ambas os verbos serão retirados e os alunos deverão refletir sobre: quais
outros verbos poderiam substituir as lacunas? Como ficariam as flexões desses verbos?
Por exemplo:
Eu disse a verdade.
Eu [ ] a verdade.
Eu sei a verdade.
Eu prefiro a verdade.
*Eu gosto a verdade.
O objetivo dessa atividade é mostrar para os alunos que, apesar de o sujeito indicar a
flexão de número do verbo, o verbo determina quais elementos podem ocorrer na sentença,
sendo o verbo por si só capaz de garantir o sentido da oração. O professor deve guiar o aluno
e levá-lo a compreender o porquê da importância do verbo e do sujeito na oração. No que
diz respeito à concordância, o sujeito influencia o verbo, porém o verbo é indispensável. Essa
é uma etapa central da atividade, pois é a partir dessa noção que novos conhecimentos serão
construídos.
Reflexões gramaticais
42
Ana titiscou ontem lá na praça.
O titiscar que você faz é algo que me incomoda
Titisquei para o Paulinho ontem
Eu sofatoei a blusa
Carla sofatuou a manta do sofá
Minha mãe me deu uma tunda ontem
Amo o jeito que ele pocha o biscoito no café
Você não quer um pão pra pochar na sopa?
Ela atoxou a mala de japona.
Aqui nessa cidade tem muito cusco abandonado na rua
Ela arrumou um entrevero na escola
Nada melhor do que lagartear no Sol do inverno
Ela tá lagarteando lá no quintal
Tu quer matear comigo antes de ir pra aula?
Minha mãe tá mateando com o pai lá na varanda
Vou voltear com a Ritinha aqui no bairro
Ela é tansa demais
O José é um tanso de não namorar aquela guria
Levanta da cama, seu mandrião!
Tu deixou o cusco fugir, seu tanso?
O menino rebelde provocou o outro e levou uma tunda.
O rapaz mal-educado xingou meu amigo e eu dei uma tunda nele.
Com base nas discussões os alunos podem então organizar suas conclusões: o que é
um verbo? Como os verbos se comportam?
Consolidando as reflexões
43
Análise
Por meio dessa atividade esperamos que os alunos sejam capazes de sistematizar
propriedades que eles já manipulam inconscientemente ao eleger verbos para uso e construir
orações com base nos verbos selecionados. A noção linguística de classe de palavras, mais
especificamente da classe dos verbos, que normalmente é apresentada como algo bem
definido que deve ser memorizado pelo aluno, aqui é trabalhada sob a perspectiva do trabalho
científico, permitindo que os alunos observem empiricamente seu comportamento gramatical.
Ao externar as propriedades morfológicas, distribucionais e semânticas que permeiam
as categorias nas quais se dividem os itens lexicais, estamos manipulando o conhecimento no
nível paralinguístico. Considerando o nível protolinguístico, mais profundo do conhecimento,
estamos manipulando o sistema linguístico evidenciando as leis tácitas que regem os
elementos que nele se articulam.
44
Atividade 2
Formando orações: predicadores verbais e subordi nação - Ana Luísa Gonçalves, Daniel
Vasconcelos Resende, João Renato Carneiro Ferreira, Melina Gonçalves e Poliane Alves
de Souza
Experiência Linguística
45
Assim, a experiência pode começar a se direcionar para a construção de períodos
compostos. A atividade deve seguir o mesmo caminho da primeira parte com a seguinte lista
de verbos no quadro. O professor deve pedir que os alunos formem períodos simples e depois
períodos compostos com os verbos abaixo:
DIZER
FALAR
INFORMAR
PERGUNTAR
Reflexões gramaticais
Consolidando as reflexões
46
Análise
47
Atividade 3
Formando orações: período composto por coordenação - Ana Luísa Gonçalves, Daniel
Vasconcelos Resende, João Renato Carneiro Ferreira, Melina Gonçalves e Poliane Alves
de Souza
Pensamos essa atividade como sequência da atividade sobre o período composto por
subordinação, dando prosseguimento às reflexões acerca da implicação da estrutura dos
predicadores verbais nas relações entre as sentenças. Aqui esperamos que os alunos sejam
capazes de ativar seus conhecimentos acerca do uso das conjunções e dos diferentes sentidos
que elas podem veicular no texto. A atividade será desenvolvida com foco nas conjunções
coordenativas, estimulando reflexões acerca das relações de sentido construídas no período
composto por coordenação, extrapolando aquelas previstas pela gramática normativa.
Experiência linguística
Para iniciar a discussão, o professor deve apresentar um texto que instigue reflexões
acerca do uso das conjunções. Qual o sentido veiculado pela conjunção “e” no poema? Quais
outras conjunções os alunos são capazes de identificar?
48
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. In: Ou isto ou aquilo. 2ª Edição. Rio de Janeiro:
Editora Civilização Brasileira, 1977.
Reflexões gramaticais
Opções: mas era triste; ou outra coisa; portanto desistiu; portanto quis; porque quis;
porque desistiu; e era mentira; entretanto não queria; ou não queria?.
A partir disso, o professor deve pedir que os alunos discutam entre si sobre os valores
das conjunções, assim como certas exigências dos verbos (por exemplo, o verbo “querer”
pressupõe um sujeito humano). Além disso, os alunos devem comparar as estruturas das
orações conectadas, para isso, ao reescrever as orações no quadro, podem ser usados pincéis
coloridos que indiquem as diferentes relações semânticas encontradas em cada oração.
Que tipo de relação está estabelecida entre as orações formadas? Como a estrutura do
período composto por coordenação difere do período composto por subordinação? Espera-
se que os alunos consigam comparar as estruturas e perceber que cada oração do período
composto por coordenação possui todos os argumentos requisitados pelo verbo, enquanto
no período composto por subordinação, um dos argumentos do verbo da oração principal
será uma oração inteira. A partir daqui, as noções de dependência e independência sintática
podem ser introduzidas.
49
Consolidando as reflexões
Análise
50
Atividade 4
Formando orações: predicadores nominais - Ana Luiza de Oliveira Melo e Sarah Teixeira
da Silva
Experiência linguística
51
É importante que o professor relembre o papel fundamental dos verbos na oração,
para tanto, ele pode remover os verbos e analisar as possíveis substituições, em seguida
remover o sujeito ou o objeto e fazer o mesmo exercício, demonstrando que a ausência do
verbo é limitante na estrutura da oração. Como exemplo:
O menino é inteligente.
A criança está triste.
52
Reflexões gramaticais
Que tipos de verbos são esses? O professor pode perguntar aos alunos o que eles
entendem por verbo de ligação, o que já sabem sobre o assunto. Em seguida, os alunos, ainda
em trios, receberão sacos com fichas de possíveis predicativos do sujeito e deverão construir
sentenças com base nos predicativos sorteados. No quadro, estarão escritos os verbos: ser,
estar, ficar, parecer, permanecer e continuar. Os alunos devem analisar as sentenças formadas
comparativamente com as sentenças de verbo transitivos que já estudaram. Existem objetos
nessas sentenças? Qual a diferença entre a estrutura das sentenças?
Espera-se que os alunos percebam que essas estruturas não apresentam objeto, como
as orações com verbos transitivos, e que a aplicação da concordância, que normalmente se
restringe ao verbo, agora também se estende ao predicado, reforçando sua ligação com o
sujeito. Nesse tipo de sentença, temos, portanto, um predicador nominal, que é o predicativo
do sujeito, e o verbo de ligação simplesmente estabelece a união entre os dois termos. O
professor pode apresentar o conceito de predicativo do sujeito e discutir com os alunos como
ele se difere das demais estruturas que já foram estudadas.
Consolidando as reflexões
Os alunos devem fazer uma análise das estruturas presentes no poema Identidade de
Carlos Queiroz Telles, buscando estruturas de predicação nominal e evidenciando a relação
entre o determinante e o determinado.
Cabelos molhados,
sol encharcado,
pele salgada,
vento nos olhos,
areia nos pés.
53
Mergulho na água
azul deste céu.
Sou peixe de ar.
Sou ave de mar.
TELLES, Carlos Queiroz. Identidade. Em: Sonhos, grilos e paixões, São Paulo,
Moderna: 1990.
Análise
54
Capítulo 4 - Manipulando sentidos
55
Atividade 1
Escolhas lexicais e efeitos de sentido em letras de música - Ana Luísa Gonçalves, Daniel
Vasconcelos Resende, João Renato Carneiro Ferreira, Melina Gonçalves e Poliane Alves
de Souza
Experiência linguística
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“Ele chegou na voadora
E o coração, tadin, num golpe foi pra lona
Rancou de mim minhas bebida e a farra
Só consigo pensar em serenata”
Com base na análise dessas três músicas, os alunos devem, em grupos, identificar
campos semânticos a partir das letras de músicas. Quais palavras são associadas à mulher? E
ao homem? Como o amor é retratado?
Por exemplo: Em Milu, do cantor Gusttavo Lima, o eu lírico representa o homem, e ao
homem podem ser associados termos como submissão, vulnerabilidade, vítima, enquanto à
mulher podem ser associados termos como controle, manipulação, poder. Na letra de Marília
Mendonça, o eu lírico assume a posição da mulher, a quem podem ser associadas palavras
como vulnerabilidade, desamparo, arrebatamento, enquanto ao homem, são associados
termos como, força, determinação, atitude.
Reflexões gramaticais
O professor deve então pedir que os alunos reflitam sobre os ganhos de sentido
permitidos pela estrutura dos textos. Qual a importância da perspectiva do eu lírico? Quais
elementos textuais permitiram as associações semânticas do exercício anterior? Como seria
possível construir novos significados alterando elementos específicos das letras de música?
Por meio dessas reflexões, espera-se que os alunos possam compreender as escolhas
linguísticas realizadas na construção dos textos e as diferentes possibilidades de sentido
veiculado pelas alterações vocabulares realizadas.
Consolidando as reflexões
Cada aluno deve escolher uma música e descrever como o amor romântico está
retratado nessa música. Quais são os indivíduos envolvidos e como eles são retratados na
letra? Qual a perspectiva do eu lírico? O professor pode fazer fichas para que os alunos
sorteiem um aspecto a ser alterado na letra da música: a perspectiva do eu lírico, a forma com
que o amor é retratado, o posicionamento da outra parte.
57
Análise
Esperamos que essa atividade permita que os alunos manipulem seus textos com mais
autonomia e sejam capazes de realizar uma leitura crítica dos enunciados que vierem a
encontrar na vida, sabendo que cada escolha lexical é intencional e serve a um propósito
dentro do texto. No nível linguístico, a atividade articula o uso de recursos linguísticos dentro
do texto, que permite desvelar no nível paralinguístico noções de análise do discurso como a
perspectiva comunicativa e como ela se expressa na superfície do texto. No nível
protolinguístico esperamos alcançar um maior domínio de enunciados em geral, dado que o
aluno será capaz de reconhecer as estruturas e intenções que se articulam por trás do texto.
58
Atividade 2
Escolhas lexicais e efeitos de sentido no te xto jornalístico - André Pinto, Bruna
Tobias, Helena Aleva to, Maria Carolina, Paulina Praxedes
Experiência linguística
O professor deve apresentar aos alunos algumas sentenças semelhantes, porém com
escolhas lexicais chave que alterem seu sentido e pedir que os alunos expliquem as diferenças
entre elas. Exemplo:
Reflexões gramaticais
O professor deve então apresentar manchetes e notícias de jornal para que os alunos
analisem a forma com que o vocabulário é selecionado.
59
Texto I
Quais termos a notícia usa para se referir a Shakira? O que esses termos evidenciam?
Texto 2
Fonte: <https://oglobo.globo.com/cultura/musica/>
Acesso em março/2020
Texto 3
Fonte: <https://www.jornaldooeste.com.br/noticia/>
Acesso em março/2020
60
Texto 4
Fonte: <https://paticionunes.blogspot.com/>
Acesso em março/2020
Durante essas reflexões, os alunos podem ainda refletir sobre as relações de sinonímia
e antonímia. Como termos de mesmo valor semântico podem ser explorados no texto? Se
substituirmos uma palavra por seu sinônimo o sentido do texto irá se manter? Os alunos
podem ainda refletir sobre a figura de linguagem do eufemismo e como ela atua na
manipulação dos sentidos dentro do texto.
Consolidando as reflexões
O professor deve pedir que os alunos recolham recortes de jornais e revistas para a
organização de um painel. Neste painel, devem ser destacados os termos chave para a
construção do texto e propostas de substituições que possam afetar como o texto será
recebido pelo leitor. Os alunos podem ainda buscar notícias sobre um mesmo evento em
diferentes veículos comunicativos, evidenciando as escolhas vocabulares em cada texto e
como tais escolhas alteram a percepção do leitor acerca dos fatos contados.
Análise
Esperamos que essa atividade permita que os alunos percebam como os leitores
podem ser manipulados por meio da linguagem e estruturas utilizadas em um dado texto,
permitindo-lhe uma leitura mais crítica dos enunciados que os cercam. No nível linguístico, a
atividade articula o uso de recursos linguísticos dentro do texto, que permite desvelar no nível
paralinguístico noções de análise do discurso como a perspectiva comunicativa e como ela se
expressa na superfície textual. No nível protolinguístico esperamos alcançar um maior domínio
de enunciados em geral, dado que o aluno será capaz de reconhecer as estruturas e intenções
que se articulam por trás do texto.
61
Atividade 3
A escolha lexical e sua relação com o público -alvo - Aline Cristina Marques, Ana Luiza de
Oliveira Melo, Gabriela Caroline Alves Claudino, Sarah Teixeira da Silva
Um dos principais objetivos do ensino de língua materna é permitir que o aluno transite
entre diferentes gramáticas do PB, sabendo adequar sua linguagem a diferentes contextos
selecionando estruturas tanto da gramática normativa quanto da gramática da fala. A
adequação da linguagem passa pelas escolhas lexicais, que garantem uma comunicação
efetiva com o leitor/público-alvo do enunciado produzido. Desse modo, antes de se produzir
qualquer texto, é fundamental sabermos a que público esse texto se destina, ou quem
almejamos atingir por meio dele.
Essa atividade tem como objetivo discutir como a audiência determina a escolha de
estruturas e do léxico durante a construção do texto, garantindo uma manifestação linguística
adequada ao seu contexto de produção, seja no texto escrito ou no texto oral.
Experiência linguística
O professor deve iniciar as reflexões com os alunos por meio de duas ou mais
manchetes sobre um mesmo acontecimento advindas de veículos comunicativos diferentes,
ou de plataformas diferentes. Os alunos devem identificar elementos que distingam as duas
manchetes e que as aproximam. Como exemplo:
Texto 1
Fonte: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52235230>
Acesso em março/2020
Texto 2
Fonte: <https://www.poder360.com.br/coronavirus/>
Acesso em março/2020
62
Texto 3
Informe-se:
<http://onu.org.br/coronavirus>. Acesso em março/2020
<http://paho.org/bra/covid19>. Acesso em março/2020
#ObjetivosGlobais
Fonte: <https://twitter.com/onubrasil>
Acesso em março/2020
O professor deve instigar os alunos a refletirem sobre quais fatores estariam por trás
das escolhas lexicais e das diferentes estruturas apresentadas nos textos. Após essa breve
discussão, os alunos apresentam as conclusões às quais chegaram. Neste momento deve-se
relembrar a presença de um locutor e um interlocutor nos enunciados analisados, colocando
o público-alvo em evidência para os alunos.
63
Reflexões gramaticais
Em grupos, os alunos devem discutir textos de origens diversas buscando, por meio
da análise dos elementos que nelas se estruturam, identificar seu público alvo. Por exemplo:
Fonte: <twitter.com/folha>
Acesso em março/2020
64
Fonte: <http://capes.cienciahoje.org.br/viewer/?file=/revistas/pdf/chc_284.pdf.>
Acesso em março/2020
65
Consolidando as reflexões
Após a leitura e socialização das percepções dos alunos acerca da adaptação de textos,
o professor deve pedir que cada aluno escolha um texto e o adapte para um novo público-
alvo. Quais estruturas foram alteradas na adaptação? Como o léxico foi explorado para
favorecer a compreensão do público? Os alunos devem explicar as escolhas realizadas.
Análise
Esperamos por meio dessa atividade permitir que os alunos percebam como o público-
alvo é fator determinante na produção de um texto e que a adequação da linguagem é
fundamental para garantir sua compreensão. No nível linguístico, a atividade articula o uso de
recursos linguísticos dentro do texto tendo em vista uma certa audiência, que permite desvelar
no nível paralinguístico noções da estética da recepção e o papel do leitor na produção de
sentidos no texto. No nível protolinguístico, esperamos alcançar um maior domínio de
enunciados em geral e a ampliação do poder de adequação linguística e mudança de
gramática, nos termos de Duarte e Serra (2015) dado que o aluno será capaz de reconhecer a
relação entre contexto e público-alvo e as estruturas que se articulam no texto.
Considerações finais
Muito se tem discutido sobre o ensino de língua materna no ensino básico: devemos
ensinar gramática? Devemos colocar o foco na produção textual? Buscar uma abordagem
gramatical contextualizada? Tais discussões, no entanto, ignoram o ponto mais importante, o
fato de que o aluno domina plenamente essa língua, usa essa língua todos os dias para se
comunicar, pensa nela e até sonha por meio dela.
A teoria gerativista e a abordagem metacognitiva estão há anos discutindo a
importância de se valorizar as competências do indivíduo no ensino de língua materna,
contudo, sua presença na sala de aula ainda é tímida. Esse livro surgiu da tentativa de colocar
todas as ideias que já floresceram no papel para aplicação direta em sala de aula. As atividades
são resultado do esforço conjunto, tanto de proporcionar aos alunos da licenciatura a
oportunidade de atuar como professores planejando aulas reais, adaptadas ao cotidiano da
sala de aula, quanto da tentativa de ajudar os professores que estão na linha de frente,
diariamente inspirando seus alunos. Não apresentamos mais uma teoria para ser levada em
consideração na preparação das aulas, mas almejamos criar uma ferramenta que permita aos
professores trazer a ciência para a sala de aula, apresentando as infinitas possibilidades de
aprendizado advindas do olhar científico. Por enquanto nossa contribuição também está só
no papel, apesar de ter passado por diversas cabeças para chegar até aqui, mas esperamos
inspirar os professores de língua portuguesa para que essas 15 propostas deixem o livro e se
tornem realidade.
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Referência bibliográfica
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Parábola Editorial, 2006.
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S. (Org.). Mas o que é mesmo “gramática”?. São Paulo: Parábola, 2006.
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