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Textos literários e não literários

Alguns elementos são comumente encontrados nos textos literários, entre eles a complexidade, a
multissignificação, a conotação, a liberdade na criação e a variabilidade. Já nos textos literários deve
predominar uma linguagem objetiva, clara e concisa a fim de que a informação seja repassada de
maneira eficiente.

LITERATURA

Você usa a linguagem para quê? Essa é uma pergunta relativamente fácil de responder, pois a
maioria de nós utiliza a língua, em nosso caso a língua portuguesa, para estabelecer a comunicação
entre um ou mais interlocutores ou leitores. Você já deve ter percebido também que, de acordo com
o contexto no qual estamos inseridos, a linguagem pode sofrer variações, mostrando assim que todo
discurso deve adequar-se a fatores extralinguísticos.

Existem tipos diferentes de texto, textos que apresentam linguagens diferentes, cada qual atendendo
a demandas específicas do contexto comunicacional. Hoje falaremos sobre os textos literários e
sobre os textos não literários, elementos que apresentam diferenças significativas e que, por esse
motivo, não devem ser desprezadas, sobretudo quando o assunto é a modalidade escrita. Entender
os tipos de texto é essencial para compreendermos como podemos usá-los a fim de tornar nossa
comunicação mais clara, bem como para aproveitarmos a variedade de textos que temos a nosso
dispor. Vamos lá? Boa leitura e bons estudos!

Diferenças entre textos literários e não literários

Texto literário:

A linguagem literária apresenta vários pontos em comum com a linguagem não literária. Contudo,
existem alguns elementos que nos permitem diferenciar os textos literários dos não literários. São
eles:

● Complexidade;
● Multissignificação;
● Conotação;
● Liberdade na criação;
● Variabilidade.

Graças a esses elementos a linguagem literária deixa de ser um objeto meramente linguístico e
passa a ser também um objeto estético. Diferentemente do discurso que adotamos no dia a dia, no
trabalho, na escola e com nossos amigos, os textos literários são passíveis de múltiplas
interpretações, que dependerão de nossas vivências e de nosso repertório cultural. Não há a
obrigatoriedade com a transparência ou informatividade, quem opta pelo texto literário está livre para
subverter a gramática, o valor semântico das palavras e atribuir a elas um valor metafórico e
simbólico. Pode ser encontrada na prosa, em narrativas de ficção, na crônica, no conto, na novela,
no romance e também em verso, no caso dos poemas. Veja um exemplo de texto literário:

Aula de português

A linguagem

na ponta da língua,

tão fácil de falar

e de entender.
A linguagem

na superfície estrelada de letras,

sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,

e vai desmatando

o amazonas de minha ignorância.

Figuras de gramática, esquipáticas,

atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,

em que pedia para ir lá fora,

em que levava e dava pontapé,

a língua, breve língua entrecortada

do namoro com a prima.

O português são dois; o outro, mistério.

Carlos Drummond de Andrade

Texto não literário:

Ao contrário do que acontece com os textos literários, nos quais há uma preocupação com o objeto
linguístico e também com o estilo, os textos não literários apresentam características bem
delimitadas para que possam cumprir sua principal missão, que é, na maioria das vezes, a de
informar. Quando pensamos em informação, alguns elementos devem ser elencados, como a
objetividade, a transparência e o compromisso com uma linguagem não literária, afastando assim
possíveis equívocos na interpretação de um texto. No texto não literário, a principal preocupação é o
objeto. As notícias, os artigos jornalísticos, os textos didáticos, os verbetes de dicionários e
enciclopédias, as propagandas publicitárias, os textos científicos, receitas culinárias e manuais são
exemplos de linguagem não literária. Para ilustrar melhor as diferenças entre linguagem literária e
não literária, leia os textos 1 e 2:

(Texto 1) Descuidar do lixo é sujeira

Diariamente, duas horas antes da chegada do caminhão da prefeitura, a gerência de uma das filiais
do McDonald’s deposita na calçada dezenas de sacos plásticos recheados de papelão, isopor, restos
de sanduíches. Isso acaba propiciando um lamentável banquete de mendigos. Dezenas deles vão ali
revirar o material e acabam deixando os restos espalhados pelo calçadão. (Veja São Paulo,
23-29/12/92).

(Texto 2) O bicho

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

(Manuel Bandeira. Em Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: J. Olympio/MEC, 1971, p.145)

Você percebeu que tanto o texto 1 quanto o texto 2 apresentam uma temática semelhante? Ambos
tratam de um mesmo assunto: pessoas que reviram o lixo em busca de comida. Apesar da
semelhança temática, os textos são significamente diferentes no que diz respeito ao tipo de
linguagem adotada. No texto 1 predomina a função referencial da linguagem, uma vez que o principal
objetivo da notícia, veiculada em uma revista de grande veiculação, é informar o leitor sobre o
transtorno causado pelos mendigos quando esses deixam lixo esparramado pelo chão.

No segundo texto, um belíssimo poema de Manuel Bandeira, predomina a função poética da


linguagem, já que o autor utilizou recursos próprios da linguagem literária para produzir no leitor o
efeito desejado. O poema retrata a condição degradante a que um homem pode chegar quando
atinge o ápice da miséria. É possível perceber a indignação do poeta diante desse fato, que para ele
é absurdo, pois um homem jamais deveria assemelhar-se a um bicho. A principal diferença entre os
textos está na maneira como o tema foi abordado: enquanto o jornalista preocupou-se com o lixo
espalhado pelo chão, transtorno provocado pelos mendigos, o poeta preocupou-se com o mendigo e
sua condição humilhante, demonstrando assim o compromisso social do gênero que muitas vezes é
tido como alienado.

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