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Descrição
A distinção entre linguagem verbal e linguagem não verbal, as principais concepções de linguagem e as
implicações dessas concepções no uso da língua.
Propósito
Compreender a diferença entre as linguagens verbal e não verbal, as concepções de linguagem que
geralmente adotamos e as consequências de tais concepções no uso cotidiano da língua é fundamental
para a compreensão da linguagem e de suas interferências no uso da língua portuguesa.
Objetivos
Módulo 1
Módulo 2
Concepções de linguagem
Módulo 3
Linguagem e interação
Vamos relembrar as principais características das linguagens verbal e não verbal, conhecer algumas
concepções de linguagem e identificar algumas implicações do que estamos estudando no uso
cotidiano da língua.
O título do poema é Aula de Português e foi escrito por Carlos Drummond de Andrade.
Aula de Português
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
O poema apresenta dois tipos de linguagem: a linguagem informal do cotidiano, que não precisa ser
aprendida na escola, e a linguagem formal do professor ou dos livros, aprendida na sala de aula. No último
verso, isso é resumido na frase “O português são dois”.
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Linguagem informal
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Linguagem formal
Assim como Drummond entende que existem duas linguagens (formal e informal), precisamos entender
que há diversos tipos de linguagem. Vamos conhecê-los para compreender por que o português é uma das
que dispomos para a comunicação.
Assim como os signos podem ser de diversas naturezas ou tipos, há diferentes tipos de linguagem. A
linguagem humana, por exemplo, pode ser verbal e não verbal.
Gestos, imagens e sons são exemplos de linguagem não verbal. O semáforo é outro exemplo de linguagem
não verbal.
Vejamos mais detalhes sobre a relação das linguagens verbais e não verbais na galeria a seguir:
Língua e linguagem verbal são termos correspondentes
A partir da caracterização da linguagem verbal como uma linguagem humana que utiliza a palavra,
perceba que a língua é um tipo de linguagem, mas ela não é a única linguagem de que dispomos.
A música, a pintura, a dança, o teatro e o cinema usam signos que pertencem a outro tipo de linguagem
humana, já denominada aqui como linguagem não verbal. Por isso, são comumente usadas expressões
como linguagem musical, linguagem corporal, linguagem pictórica etc.
Associação inerente
“Que outro ser tem gestos significativos, pinta, fotografa, faz cinema? Compreende-se, assim, que o
homem e a linguagem se relacionam de forma a não se conceberem um sem o outro e que a linguagem
está indissoluvelmente associada com a atividade mental humana, a qual, absolutamente, não se
manifesta só pelo verbal.”
(PALOMO, 2001, p. 11).
Integração entre as linguagens verbal e não verbal
Quando você conversa com outra pessoa, por exemplo, faz uso da linguagem verbal (a fala) e da
linguagem não verbal (gestual, postura corporal, tom da voz etc.).
A história em quadrinhos é outro exemplo de integração das linguagens verbal e não verbal.
inguagem pictórica
Linguagem pictórica é toda e qualquer manifestação de linguagem imagética – fotografia, pinturas, desenhos,
iluminuras – que possuem características singulares em relação ao duplo processo de produção e reprodução
da própria produção. O texto representado pelas figuras que marcam e estruturam para nós significados são, no
limite, a linguagem imagética.
A distinção entre as linguagens verbal e não verbal não deve levar você a concluir que a comunicação
acontece sempre e apenas por meio de um único tipo de linguagem.
Linguagem hipermidiática
Com as tecnologias digitais e a internet, essa integração entre as linguagens verbal e não verbal fica muito
evidente e interessante, pois usamos palavras, imagens, sons e outros recursos para interagir nas redes
sociais. É cada vez mais comum trocarmos mensagens em que a escrita se mistura com emojis ou
emoticons.
Atenção!
Este material didático é um exemplo de integração entre diferentes tipos de linguagem, articulando texto
escrito com vídeo, podcast, imagens e símbolos.
Tudo isso é possível por causa de outra integração: convergência entre diferentes mídias formando o que
tem sido chamado de hipermídia. É como se o livro impresso, o rádio, a televisão e o computador
estivessem todos reunidos com suas diferentes linguagens. Assim, hoje em dia, fala-se de uma linguagem
hipermidiática, um bom exemplo dessa integração de linguagens verbal e não verbal.
É verdade que a linguagem verbal, falada ou escrita, predomina nos atos de comunicação. Mas você deve
reconhecer que a linguagem não verbal está associada intimamente a nossas atividades e possui também
sua relevância. Nossos gestos ao falar ou uma imagem ilustrativa num texto escrito também dizem muito e,
às vezes, até contradizem o que falamos ou escrevemos.
Imagine alguém dizendo que está calmo e tranquilo, mas, ao mesmo tempo, pisca os olhos num ritmo
acelerado, tem as mãos trêmulas ou balança pernas e pés num movimento frenético. Dificilmente essa
pessoa vai convencer o outro de que está calma.
Assim, ao fazermos a distinção entre linguagens verbal e não verbal, não queremos sugerir que apenas uma
delas seja importante e precise ser cuidada.
Até aqui, você aprendeu que a linguagem é constituída de sinais ou signos, que permitem a comunicação
entre os seres humanos. Quando o signo é centrado na palavra escrita ou oral, ele é identificado como
linguagem verbal. Os demais tipos de signos formam outro conjunto de linguagens denominado linguagem
não verbal, como é o caso da pintura e dos gestos.
A integração entre diferentes tipos de linguagem é algo muito antigo, mas que se intensificou com as
tecnologias digitais ou a chamada linguagem hipermidiática.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Questão 1
Assinale a opção que descreve a situação em que aparece apenas o uso da linguagem verbal.
Questão 2
A língua é linguagem verbal, ou seja, baseada na palavra. A palavra, elemento central da linguagem
verbal, pode ser tanto oral quanto escrita, por isso, as alternativas C e E estão incorretas. A opção D
está incorreta porque a língua pode ser utilizada de forma integrada a outras linguagens, como
acontece nas histórias em quadrinhos.
2 - Concepções de linguagem
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as três principais concepções de
linguagem.
Concepções de linguagem
Depois de fazer a distinção entre linguagens verbal e não verbal, é hora de prosseguir e apresentar as três
principais concepções de linguagem.
onológico
O uso do termo monológico (mono = um, único; logos = discurso racional) não se apresenta como a
fundamentação de um tipo de teoria da comunicação, que defende o discurso como ato centrado apenas no
emissor da fala. Apenas quer mostrar que, nesta concepção da linguagem, tal ato ainda está centrado na
necessidade individual de se comunicar.
O uso da língua é visto como algo que se limita a quem fala ou escreve.
Não há preocupação sobre como o outro vai ler ou ouvir nossa mensagem. Assim, a exteriorização do
“pensamento por meio de uma linguagem articulada e organizada” depende da capacidade de organizar, de
maneira lógica, esse mesmo pensamento (TRAVAGLIA, 2003, p. 21).
Nessa concepção de linguagem, a correção no uso da língua (falar e escrever bem conforme a gramática
normativa) depende das regras às quais o pensamento lógico deve estar sujeito. Dessa forma, se as
pessoas não se expressam bem ou não usam a língua corretamente, isso acontece porque elas não estão
pensando corretamente. A solução, então, para expressar adequadamente o que se está pensando é a
internalização das regras gramaticais e de seu adequado uso.
Atenção!
Mas há um problema: essa concepção acaba sendo uma forma parcial de entender como a linguagem
funciona, pois há outros aspectos envolvidos além da intenção de exteriorizar o que pensamos. Não é o
caso de afirmar que a concepção está errada. Precisamos avançar e verificar outras formas
complementares de compreender a linguagem.
ódigo
O código é entendido como “um conjunto de regras que permite a construção e a compreensão de mensagens.
É, portanto, um sistema de signos. A linguagem é, por conseguinte, um dentre outros códigos (código marítimo,
código rodoviário)”. Dentre todos os outros códigos, a linguagem verbal, seja escrita ou oral, é o único código
que “pode falar dos próprios signos que os constituem ou de outros signos” (VANOYE, 1981, p. 30).
A língua é tomada predominantemente como um código, que deve ser utilizado com eficiência, ou seja, deve
tornar inteligível a mensagem que se quer comunicar, levando o receptor a responder adequadamente ao
objetivo da comunicação.
Para que haja a comunicação, o código que utilizamos, seja ele a língua ou outro, precisa ser conhecido ou
dominado pelo nosso interlocutor para que a comunicação se realize. O uso do código, no caso, a própria
língua, “é um ato social, envolvendo consequentemente pelo menos duas pessoas”. Por isso, “é necessário
que o código seja utilizado de maneira semelhante, preestabelecida, convencionada para que a
comunicação se efetive” (TRAVAGLIA, 2003, p. 22).
Atenção!
A concepção da linguagem como instrumento de comunicação tem, porém, uma limitação. É uma
concepção centrada no código, ou seja, voltada principalmente para o funcionamento interno da língua ou
de outra linguagem utilizada, deixando de lado aspectos como a relação entre a linguagem e o contexto
social e histórico. Por isso, você precisa conhecer outra concepção de linguagem que permita avançar na
compreensão da linguagem e seus usos.
Quem utiliza a língua não expressa apenas o pensamento, não comunica somente alguma coisa, na verdade,
ao usar a língua, o indivíduo ou os interlocutores “interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares sociais e
‘falam’ e ‘ouvem’ desses lugares de acordo com as formações imaginárias (imagens) que a sociedade
estabeleceu para tais lugares sociais” (TRAVAGLIA, 2003, p. 23).
Todos já observaram uma situação em que a identificação apenas da linguagem oral entre
dois sujeitos corresponderia a um ato comunicativo direto. No entanto, notamos que a
interação social faz com que aquilo que é dito seja muito maior.
Isso ocorre, por exemplo, quando estamos em um espaço e observamos mãe e filha
interagindo, em que a primeira faz referência ao comportamento da segunda, com uma ordem
direta.
A reação da filha cria em nós, observadores, uma série de julgamentos, leituras, valores e
interações que nos remetem à própria relação familiar.
Tudo que falamos e ouvimos tem o poder de provocar reações, produzir mudanças, despertar sentimentos e
paixões, desencadear processos e ações.
Se um agente da lei, dirigindo-se a uma pessoa, dá voz de prisão e diz “esteja preso!”, ele não
está simplesmente exteriorizando seu pensamento ou comunicando uma novidade, não é
mesmo?
Quando consideramos as palavras de um juiz ao proferir essa célebre frase clássica, temos
um exemplo de que o uso da língua pode ser mais do que expressão do pensamento ou
comunicação de uma informação.
Nesse caso, a fala da autoridade faz surgir ou realiza um ato social e jurídico.
O diálogo também caracteriza a concepção de linguagem como interação social, constituindo-se numa
dimensão privilegiada do uso da língua.
iálogo
Considerando sua origem latina (dia = separação, confronto; logos = discurso racional), apresenta-se como a
exigência de, pelo menos, dois interlocutores no ato da fala, que é diferente da concepção monológica vista
anteriormente. Trata-se, sem dúvida, de apresentar uma intencionalidade por parte daquele que fala.
Atenção!
Para estar inserido na vida em sociedade, é preciso que a língua seja utilizada para favorecer a abertura ao
diálogo, a interação entre as pessoas. Além disso, a própria língua é dialógica, ou seja, o que falamos e
escrevemos se relaciona com aquilo que lemos e ouvimos ao longo da vida.
Como você viu até aqui, é preciso avançar na compreensão da linguagem para além da sua finalidade de
comunicação e da divisão entre linguagens verbal e não verbal. A linguagem pode ser concebida como
expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e, mais adequadamente, como lugar de
interação humana.
Comunicação expand_more
Questão 1
conceito que se caracteriza pela preocupação com o modo pelo qual o outro vai ler ou
B
ouvir a mensagem.
abordagem centrada na pessoa, que se expressa por meio da linguagem, sem dar tanta
D
importância ao outro e às circunstâncias sociais nas quais a enunciação acontece.
Questão 2
Linguagem
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Sobre as concepções de linguagem
Para começarmos a explorar o assunto deste módulo, o professor Luís Cláudio Dallier propõe uma reflexão.
No módulo anterior, tratamos dos diversos tipos de linguagem. Para perceber como elas possuem um
aspecto prático no uso cotidiano do idioma, compreendemos como a concepção da linguagem como
interação pode nos auxiliar nessa construção.
Se a linguagem é interação, então, o que ouvimos pode afetar muito nossa vida e nosso humor. O que
falamos também provoca efeitos e reações no outro.
Veja o que diz a linguista Ingedore Villaça Koch, em seu livro A interação pela linguagem, sobre esse
aspecto:
Fonte: Escavador.
Se a linguagem é interação, pois produz reações e resultados, alguns elementos podem ser desejáveis no
seu uso:
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Clareza e precisão no que queremos comunicar
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Cortesia, polidez e tom cordial
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Abertura ao diálogo
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Sustentação de um posicionamento sem desmerecer a opinião do
outro
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Uso de recursos persuasivos
Se queremos manter o diálogo e construir pontes, devemos cuidar da maneira como falamos, escolhendo
as palavras e o tom mais apropriado.
Por isso, ao estudar a linguagem, é preciso compreender que não basta escrever e falar com correção
gramatical, coerência, coesão e clareza. Além dessas qualidades importantes, nosso texto escrito ou oral
deve promover o diálogo, a interação e as condições para mantermos relações civilizadas. É interessante
lembrar, por exemplo, que há concursos ou exames em que o candidato pode ser desclassificado ao
escrever de forma desrespeitosa aos direitos humanos ou usando linguagem antissocial e inadequada.
Questão 1
Compreender o conceito de linguagem como experiência de interação humana e social implica alguns
cuidados no uso da língua portuguesa. Indique a alternativa que aborda corretamente um ou mais
cuidados necessários.
Dizer sempre o que pensamos sem nos preocuparmos com a forma como o outro vai
B
nos ouvir.
Compreender a linguagem como interação é ter cuidado com efeitos e reações provocados no outro
diante do que dizemos e da forma como dizemos.
Questão 2
Se, em uma reunião de trabalho, você precisar discordar de um colega, mantendo abertura ao diálogo e
interagindo sem desmerecer a opinião do outro, o que não seria apropriado dizer?
É possível que sua opinião precise ser revista, já que sua ideia pode trazer algum
B
prejuízo ao projeto.
Tenho dificuldades de concordar com sua opinião, pois ela me parece trazer
C
dificuldades ao projeto.
Talvez você tenha se equivocado, pois não consigo identificar de que modo sua
D
proposta contribui para o projeto.
E Parece-me que sua opinião pode gerar algum ruído em relação ao projeto.
Parabéns! A alternativa A está correta.
A alternativa A apresenta uma fala inapropriada porque ela evidencia uma fala em que se sustenta um
posicionamento ou uma opinião sem abertura para algum questionamento ou mesmo diálogo. As
demais alternativas apresentam formas de expressar a discordância em que se destacam a cortesia, a
polidez e a abertura ao diálogo e/ou continuidade de debate.
Considerações finais
Para que tenhamos uma experiência enriquecedora e proveitosa com a língua portuguesa na expressão do
nosso pensamento, nas situações de comunicação e nas interações com as pessoas, precisamos conhecer
a língua e aproveitar os recursos que ela nos oferece. Aqui, você pôde observar parte desse conhecimento.
Use o que você aprendeu para vivenciar novas experiências com a língua portuguesa.
headset
Podcast
Neste podcast, acompanhe os professores Luís Cláudio Dallier, Antônio Soares Abreu e Maria Franco de
Moura em uma conversa sobre os principais tópicos deste conteúdo.
Referências
SILVA, J. C. da. Filosofia da linguagem: da Torre de Babel a Chomsky. Pedagogia & Comunicação, 2009.
PETTER, M. Linguagem, língua, Linguística. In: FIORIN, J. L. (org.). Introdução à Linguística I. São Paulo:
Contexto, 2003.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 9. ed. São Paulo: Cortez,
2003.
VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. São Paulo: Martins Fontes,
1987.
Explore +
Confira as indicações que separamos especialmente para você!
Assista ao documentário As origens da linguagem, produzido pela Crescendo Films – NHK em 2008, que
está disponível no YouTube.
Veja também o vídeo Comunicação animal, no canal da Khan Academy, no YouTube, para uma breve e
interessante abordagem da Biologia Comportamental.