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Prof. Dr.

Eduardo José Paz Ferreira Barreto


Ser Poliglota na Própria Língua
— O professor dizia:
— “Isso está errado, isso não se diz”.
— Como ‘não se diz’? A criança repete o que ouve. Seus pais só
dizem isso, e são advogados, professoras primárias...
— O outro erro era:
— “Isso não é português”.
— Ora, se não é português, tem que ser outra língua, francês,
inglês, alemão...
— São dois erros de pedagogia. O professor de hoje reconhece
que o aluno vem com sua modalidade lingüística. Uma
língua que só tem uma modalidade é uma língua morta.
— O ideal é que o aluno seja poliglota na própria língua,
que ele aprenda o maior número de realidades da sua
língua e até a língua padrão, porque senão vai cometer
vários erros de tradução na própria língua. Como a
história do sujeito que foi para o Rio Grande do Sul.
Quando chegou ao Paraná, leu em uma placa:
“Atenção, tartarugas na estrada”. Ele disse para a
mulher:
— “Eu vou diminuir a marcha. A primeira tartaruga que
aparecer, você apanha e a gente leva de souvenir.”
— Atravessou o Paraná, Santa Catarina, e nada de
tartaruga. Só depois descobriu que tartaruga é quebra-
mola.
Claro que todas essas normas de correção, próprias
de cada variedade, têm o seu limite: a propriedade do
texto. Se você constrói um texto que é uma carta
íntima a um amigo, tem a possibilidade de utilizar
construções que não estão apoiadas nem
documentadas pelas normas da língua padrão. Mas a
natureza do termo é que leva a isso. Essa relatividade
existe em todas as obrigações sociais. Quando a gente
recebe um convite para uma festa, está lá no convite:
traje passeio, ou esporte, ou a rigor. O que é isso? É que
existe uma etiqueta social. A língua padrão é a
etiqueta cultural. Um tipo de modalidade que não é
para usar todos os dias.
— Há pessoas até que exageram, e o resultado é que
normalmente não são entendidas. Tenho um amigo,
professor de português,que só fala a língua exemplar,
padrão. Uma vez, saindo do Pedro II, foi assaltado. Gritou,
e não apareceu ninguém. Ele ficou aborrecidíssimo. Voltou
ao Pedro II e reclamou.
— “Mas você não gritou? Não pediu socorro?”, perguntaram.
— “Eu gritei, mas não apareceu ninguém!”
— “Mas o que você disse?”
— “Eu gritei ‘Peguem-no! Peguem-no!’”
— O limite é a adequação.

Evanildo Bechara
Diversidade Linguística – Video 01
Níveis de Linguagem – Vídeo 02
Língua Portuguesa no IST
OBJETIVOS

O aluno deverá ser capaz de expor suas idéias de forma clara e objetiva;
entender a diferença entre a comunicação informativa e expressiva; elaborar
relatórios utilizando adequadamente a técnica e empregar com precisão o
vocabulário da Língua Portuguesa.

EMENTA

Fundamentos lingüísticos básicos: ortografia; sintaxe; redação;


expressão oral; estrutura e organização do pensamento; elaboração de textos
a partir de temas específicos; meios de expressão; argumentação; língua;
linguagem e leitura; qualidade da linguagem técnica; funções da linguagem;
vícios da linguagem; resumos, comunicações, apresentações e relatórios.
Atividade 01
— Afinal, o que é a língua?
— A língua é uma das realidades mais fantásticas da nossa vida. Ela
está presente em todas as nossas atividades; nós vivemos
entrelaçados (às vezes soterrados!) pelas palavras; elas
estabelecem todas as nossas relações e nossos limites, dizem ou
tentam dizer quem somos, quem são os outros, onde estamos, o
que vamos fazer, o que fizemos. Nossos sonhos são povoados de
palavras; os outros se definem por palavras; todas as nossas
emoções e sentimentos se revestem de palavras. O mundo inteiro é
um magnífico e gigantesco bate-papo, dos chefes de Estado
negociando a paz e a guerra às primeiras sílabas de uma criança
em alguma favela brasileira ou numa vila africana. E pela linguagem,
afinal, que somos indivíduos únicos: somos o que somos depois de
um processo de conquista da nossa palavra, afirmada no meio de
milhares de outras palavras e com elas compostas.
Apesar dessa presença absoluta na nossa vida (ou talvez justamente por
isso), ainda sabemos pouco sobre a linguagem e, em geral, temos uma
relação problemática com ela, principalmente em sua forma escrita. Isto é,
embora não sejamos nada sem a língua, parece que ela permanece alguma
coisa estranha em nossa vida, como se ela não nos pertencesse. Neste
primeiro momento, vamos refletir um pouco sobre alguns dos traços que
definem a língua e por que ela parece muitas vezes alguma coisa
"estrangeira”.

Exercício 1
A primeira coisa que devemos fazer ao pensar sobre a realidade da língua,
é separá-la em duas categorias básicas: língua falada e língua escrita. Na
verdade, a realidade primeira da língua é a fala, tanto na história da
immanidade como na nossa história pessoal Isto é, a escrita surgiu depois,
e fundamentada na realidade da fala. Por enquanto, consideremos apenas
a fala. Observe os exemplos seguintes (você pode lê-los em voz alta,
porque agora o que nos interessa é apenas o som; não se impressione com
os erros de grafia...)
1. Eu conheço ele dês que a gente era colega de colégio.
2. Eu o conheço desde o tempo em que éramos colegas no colégio.
3.O sinhô vai armoçá gorinha memo? Não faiz mar, nóis vorta despois.
4. O senhor vai aumoçá nesse momento? Não faz mau, nós voutamos
depois.
5. Vós poderíeis dizer, excelência, que estou equivocado,
6. Você podia dizê, cara, que eu errei.
7. Comprei um pacótchi di lêitchi.
8. Comprei um pacote de leite.
9. Mas tu quiria u quê?
10. Porém, tu querias o quê?

Eis aí dez enunciados bastante diferentes entre si, diferentes não


apenas pelas informações veiculadas, mas também quanto às formas
empregadas. Há diferenças de sons, vocabulário, formas verbais,
formas de tratamento etc. Veja (sempre lembrando da fala, não da
escrita):
sinhô - senhor - você - tu - vós armoçá - aumoçá despois - depois eu o
conheço - eu conheço ele

São somente alguns poucos exemplos. Se saíssemos à rua com um gravador na


mão, recolhendo amostras do que as pessoas realmente falam no dia-a-dia,
passaríamos o resto da vida coletando material sem jamais esgotar a variedade.
Esta é uma palavra-chave para qualquer compreensão da língua, o ponto de
partida de nosso estudo: a variedade.
Vamos pensar um pouco sobre essa variedade. Para uma discussão inicial, siga o
roteiro:

a) Todos os exemplos acima pertencem à língua portuguesa? Por quê?


b) Que fatores determinam as diferenças? Pense no seu próprio caso: você fala
sempre a mesma linguagem?
c) Em geral, de que modo reagimos diante de um falante "diferente"? Pense em
alguns exemplos.
d) Os programas de humor (do tipo "A praça é nossa", ou as "Escolinhas")
costumam explorar a diferença lingüística. O que provoca graça?
e) Faça sua pergunta!
Atividade 02
Um conjunto de variedades
— Nesse primeiro momento, já temos um ponto de partida para definir a língua: toda língua é um
conjunto de variedades. Em geral, pela própria Orientação tradicional da escola e do ensino da
escrita, temos uma tendência a imaginar a realidade da língua como alguma coisa homogênea,
fixa, profundamente uniforme. Também decorre da tradição escolar a idéia que costuma
separar as ocorrências lingüísticas em dois grupos: o certo, identificado sempre com as formas
gramaticais escolares, e o errado, que, em geral, é aquilo que a gente fala e ouve o dia inteiro.
Essa é uma divisão tão forte que praticamente todos os falantes da língua portuguesa
conservam, em algum grau, uma certa insegurança no uso da linguagem.
— Frases como Sou bom em matemática, mas péssimo em português, ou Será que falei certo?,
ou Não sei nada de gramática, ou Mas que língua mais difícil esse tal de português são muito
freqüentes em ambientes escolarizados. Daí porque, embora a palavra ocupe um espaço
extraordinário na vida das pessoas, ela mantenha sempre o seu toque "estrangeiro", como algo
que nunca pode ser completamente dominado.
— É claro que há muitos fatores envolvidos nessa questão, em geral relativos a uma certa
confusão de conceitos. A primeira confusão nós vimos acima: a diferença, bastante substancial,
entre língua falada e língua escrita. Em geral, as pessoas tendem a julgar a língua apenas
como uma realidade escrita. Outra confusão freqüente decorre do sentido da palavra
gramática. As pessoas normalmente entendem "gramática" apenas como o livro que contém as
regras "certas" da língua.
Diversidade lingüística

Por enquanto, vamos esquecer momentaneamente os conceitos de certo e errado, a noção


de gramática e os fatos da língua escrita e nos concentrar na imensa diversidade linguística
da oralidade, isto é, vamos prestar atenção, sem preconceitos ou julgamentos prévios, na
língua real que vivemos todos os dias.
Nós já percebemos que a língua é um imenso conjunto de variedades.
Tecnicamente, podemos dividir essas variedades em quatro tipos básicos:

diferenças sintáticas, aquelas que decorrem da ordem das palavras na fala (ele me disse
x ele disse-me) ou de diferentes modos de realizar a concordância verbal (tu querias x tu
queria ou nós estávamos x nós estava);

diferenças morfológicas, aquelas que decorrem da forma da palavra, tomada


individualmente (vamos x vamo);

diferenças lexicais, isto é, diferentes nomes para o mesmo objeto (pandorga x pipa x raia
x papagaio);

d) diferenças fonéticas, isto é, pronúncias diferentes da mesma unidade sonora sem


distinção de significado (poRta, com erre aspirado x porta, com erre "caipira").
E que fatores determinam essa variedade? Isto é, por que as pessoas falam mais ou
menos diferente umas das outras? Considerando apenas os exemplos acima, podemos
enumerar algumas razões. Veja:
a) A região do falante. Esse aspecto talvez seja o mais imediatamente com-preensível de
todos. Isto é, cada região do país tem um conjunto mais ou menos homogêneo de
características fonéticas, um sotaque próprio que dá traços distintivos ao falante nativo, um
sotaque que, em geral, passa a ser a sua marca mesmo quando ele não vive mais na sua
região de origem. A região determina mais diretamente a pronúncia (leitchi x leite), mas
também pode diferenciar pelo vocabulário (mandioca x macaxeira) e pela sintaxe (Diga-me,
em Portugal x Me diga, no Brasil).

b) O nível social do falante, sua escolaridade e sua relação com a escrita.


Esse é outro aspecto fundamental na distinção das variedades, e em geral independe dos
sotaques regionais. Aqui as distinções tocam diretamente algumas formas da língua
reproduzidas pela escola e sustentadas na escrita, como alguns pontos de concordância
verbal (nós vamos x nóis vai), emprego de alguns termos estigmatizados (menas x menos),
vocabulário mais ou menos literário etc.

c) A situação da fala, isto é, todo o conjunto das circunstâncias que cercam o momento do
enunciado. O mesmo falante empregará variedades diferentes da linguagem dependendo
de onde ele está (na sala de aula, no campo de futebol, em casa), da pessoa ou pessoas
com quem ele está falando (o chefe, a mãe, um assaltante, o vizinho, um desconhecido no
ponto de ônibus), a sua intenção ao falar (dar uma ordem, convencer alguém, fazer um
pedido, recusar um pedido, pedir alguém em casamento, mentir), a situação específica (um
incêndio, um entardecer à beira do mar, com pressa atravessando a rua) - e as possibili-
dades aqui são virtualmente infinitas.
Apesar dessa imensa variedade, parece que, de uma forma ou de outra, todos
(ou quase todos!) costumamos nos entender razoavelmente, pelo menos em
situações básicas de comunicação. Há, ainda, um outro fato bem interessante:
em geral, as variedades lingüísticas são capazes de intercomunicação, isto é,
grande parte das variedades conversam entre si. Em alguns casos, umas
comentam as outras, como ocorre quando brincamos com o sotaque de um
amigo ou nas festas juninas em que o falante urbano tenta imitar a fala caipira.

Nessa conversa entre as variedades, umas podem, inclusive, exercer certa


influência sobre outras, mudando-lhes progressivamente características mais
tradicionais. As pesquisas lingüísticas têm mostrado que formas típicas de
variedades menos prestigiadas socialmente estão entrando na língua padrão (a
fala padrão, por exemplo, já admite amplamente a ocorrência de construções
como Esse foi o filme que eu mais gostei em contraste com a construção padrão
clássica Esse foi o filme de que mais gostei).

Por outro lado, é perceptível que o intenso contato nas nossas cidades entre
variedades rurais e urbanas do português brasileiro, decorrente da maciça
migração da população do campo para a cidade, está redundando na
substituição progressiva da pronúncia rural típica de palavras como véia, paia,
teia pela urbana típica (velha, palha, telha).
Variedade e valor

Mais ainda que isso, as variedades mantêm uma relação de valor umas com as
outras. Em bom português, a verdade é que todas as sociedades humanas
estabelecem uma hierarquia entre suas variedades, atribuindo valores a este ou
àquele traço da fala. Por motivos sociais e históricos, algumas variedades são
consideradas boas (a essas damos o nome técnico de variedades padrões ou
língua padrão) e outras más.

Quando alguém nos diz algo, nós não apenas interpretamos as informações que
nos são passadas pelas palavras em si, mas também o próprio falante, e
costumamos avaliar também rapidamente toda a situação em que a fala ocorre.
Em suma: as palavras nunca estão sozinhas. E qualquer discussão sobre a
linguagem, seu sentido e sua natureza deverá, obrigatoriamente, discutir também
as condições reais em que ela existe.
E, é claro, a relação entre as variedades sociais nem sempre é tranqüila. Há, de
certo modo, um conflito permanente entre algumas delas. Pense na sua
experiência pessoal: anos e anos sofrendo na escola para aprender uma
variedade que nos dizem ser a certa, mas sempre vivenciando uma certa
insegurança, certas incertezas no uso de algumas formas da língua. Como
resolver essa questão?

Enquanto pensamos na resposta, vamos aprofundar ainda mais a definição de


língua a partir de suas variedades, enfrentando agora outra fonte de confusão: o
conceito de gramática.
Para aprofundar um pouco os diferentes sentidos da palavra "gramática", vamos observar as
ocorrências abaixo. Como até aqui estamos considerando apenas a linguagem oral, é
interessante você ler as frases em voz alta.

- Nós vamos agora e voltamos depois.


- Nós vamo agora e voltamo depois.
- Nóis vamo agora e voltamo depois.
- Nóis vai agora e vortamo dispois.
- Vamos voltamos depois agora nós e.

Exercício 2

Considerando a sua experiência como falante de português, responda a essas questões


preliminares:

1) Das frases acima, quais delas de fato ocorrem no dia-a-dia, e quais delas não ocorrem
nunca?
2) Considerando as frases que de fato ocorrem na vida real, qual delas seria a de uso mais
freqüente no meio em que você vive? Você tem certeza?
3) Como falante da língua, você se identifica com qual ocorrência? Só essa ou mais alguma?
4) Faça um rápido perfil do falante das frases que você assinalou como ocorrentes (isto é,
classe social, escolaridade, região...).
5) Assinale quais ocorrências você acha “corretas” e quais você acha “erradas”. Justifique.
Agora que você já investigou as frases acima, vamos desenvolver um pouco mais
a noção lingüística de gramática. É muito importante que tenhamos uma noção clara
do que significa essa palavra que o uso comum define apenas como “linguagem
certa”. O sentido mais usual da palavra você já conhece: gramática é o conjunto de
regras da língua, definidas num livro escolar, que decidem o que é certo e o que é
errado”. Mas de qual “língua”? Bem, da lista acima, a gramática escolar vai
reconhecer como “certa” apenas a ocorrência “a”, como você já deve ter notado.
E o que fazemos com as outras ocorrências? Bem, descartada a ocorrência “e”,
que, como tal não existe em português, as outras acabam por ser muito mais usadas
na vida real que a ocorrência “a”. Precisamos, então, entender melhor essa questão,
estudando a noção de língua padrão ou norma culta.
Por enquanto, vamos insistir um pouco mais na noção de gramática, agora não do
ponto de vista normativo ou escolar, mas do ponto de vista científico, isto é, do ponto
de vista da linguística, a ciência que estuda as línguas humanas. Para o cientista da
língua, não interessa, a princípio, se uma frase é julgada “certa” ou “errada”, mas se
ela ocorre ou não de fato na vida real. Do ponto de vista linguístico, é a ocorrência
que determina a gramaticidade. Assim, a expressão frase gramatical, para o
linguista, tem um sentido bastante diferente do sentido que terá para o professor de
português e para as gramáticas normativas, interessadas fundamentalmente na
língua padrão escrita.
O Princípio da Regularidade

E que traço vai definir a gramaticidade das ocorrências consideradas “erradas”


pela escola, mas que existem em profusão na vida real?
O princípio fundamental de todas as gramáticas, tanto a da língua padrão
como as variedades não padrões, é a regularidade. Isto é, todas as variantes da
língua se organizam, em todos os seus aspectos estruturais (sintáticos,
morfológicos, fonéticos) de uma forma regular e reiterável (isto é, as formas são
recorrentes). Em outras palavras, por trás de todas as frases efetivamente
proferidas pelos falantes da língua existe uma organização; existe uma
gramática.
Ninguém inventa regras por conta própria; mesmo o mais miserável dos
falantes, que jamais entrou numa escola e jamais conviveu com falantes de
outras variedades sociais, domina uma gramática complena, domina todo o
conunto de regras que comanda a sua variedade nativa, tem um conjunto que
começa a se consolidar a partir dos dois anos de idade.
Diante da imensa variedade a que nos referimos acima, já deve ficar claro
para você que existem muitas gramática spar aa mesma língua e, se queremos
desenvolver um bom domínio da escrita, precisamos saber como nos orientar em
meio a essa diversidade.
Exercício 3

Suponha agora que você é um cientista da língua, um lingüista, e está diante


das cinco ocorrências apresentadas acima. A sua tarefa é tentar levantar as regras
que comandam esses enunciados, isto é, o princípio de regularidade que se revela
neles.

1. No item b, qual a regra que comanda o uso da primeira pessoa do plural?


2. Essa é difícil: no item d, que princípio poderíamos propor para dar conta da
ocorrência, primeiro, da forma “nós vai” e, em seguida, “vortamo” (e não “nóis
vorta” – embora ela também pudesse ocorrer)?
3. Como dirá arroz, paz e mas o falante que em geral diz “nóis”?
4. Em b e c, por que o falante corta o s de vamos e voltamos, mas não de nós e de
depois? Qual a “lógica”?
Para encerrar essa breve introdução às noções de língua, variedade e
gramática, vamos ler um texto do lingüista brasileiro Sírio Possenti, que
demonstra didaticamente o fato de que não existem línguas uniformes,
apresentando exemplos extraídos da nossa linguagem diária, e diz por
que a variedade é positiva.
Texto 1
NÃO EXISTEM LÍNGUAS UNIFORMES
Sírio Possenti
Alguém que estivesse desanimado pelo fato de que parece que as coisas não dão certo
no Brasil e que isso se deve ao "povinho" que habita esse país (conhecem a piada?),
poderia talvez achar que tem um argumento definitivo, quando observa que "até mesmo
para falar somos um povo desleixado". Esse modo de encarar os fatos da linguagem é
bastante comum, infelizmente. Faz parte da visão de mundo que as pessoas têm a respeito
dos campos nos quais não são especialistas. Em outras palavras, é uma avaliação falsa. Mas
como existe, e como também é um fato social associado à linguagem, deve ser levado em
conta. Por isso, para quem pretende ter uma visão mais adequada do fenômeno da
linguagem, especialmente para os profissionais, dois fatos são importantes: a) todas as
línguas variam, isto é, não existe nenhuma sociedade ou comunidade na qual todos falem
da mesma forma; b) a variedade lingüística é o reflexo da variedade social e, como em
todas as sociedades existe alguma diferença de status ou de papel entre indivíduos ou
grupos, essas diferenças se refletem na língua. Ou seja: a primeira verdade que devemos
encarar de frente é relativa ao fato de que em todos os países (ou em todas as
"comunidades de falantes") existe variedade de língua. E não apenas no Brasil, porque
seríamos um povo descuidado, relapso, que não respeita nem mesmo sua rica língua. A
segunda verdade é que as diferenças que existem numa língua não são casuais. Ao
contrário, os fatores que permitem ou influenciam na variação podem ser detectados
através de uma análise mais cuidadosa e menos anedótica.
Um dos tipos de fatores que produzem diferenças na fala de pessoas são
externos à língua. Os principais são os fatores geográficos, de classe, de idade, de
sexo, de etnia, de profissão etc. Ou seja: pessoas que moram em lugares
diferentes acabam caracterizando-se por falar de algum modo de maneira diferente
em relação a outro grupo. Pessoas que pertencem a classes sociais diferentes, do
mesmo modo (e, de certa forma, pela mesma razão, a distância - só que esta é
social) acabam caracterizando sua fala por traços diversos em relação aos de outra
classe. O mesmo vale para diferentes sexos, idades, etnias, profissões. De uma
forma um pouco simplificada: assim como certos grupos se caracterizam através de
alguma marca (digamos, por utilizarem certos trajes, por terem determinados
hábitos etc), também podem caracterizar-se por traços lingüísticos. Para
exemplificar: podemos dizer que fulano é velho porque tem tal hábito (fuma cigarro
sem filtro, por exemplo), ou porque fala “Brasil” com um “l” no final (ao invés de falar
“Brasiu”, com uma semivogal como em geral ocorre com os mais jovens). Ou seja,
as línguas fornecem meios também para a identificação social. Por isso, é
freqüentemente estranho, quando não ridículo, um velho falar como uma criança,
uma autoridade falar como uma pessoa simples etc. Por exemplo, muitos meninos
não podem ou não querem usar a chamada linguagem correta na escola, sob pena
de serem objeto de gozação por parte dos colegas, porque em nossa sociedade a
correção é considerada uma marca feminina.
Também há fatores internos à língua que condicionam a variação. Ou
seja, a variação é de alguma forma regrada por uma gramática interior da
língua. Por isso, não é preciso estudar uma língua para não “errar” em
certos casos. Em outras palavras, há “erros” que ninguém comete, porque
a língua não permite. Por exemplo, ouvem-se pronúncias alternativas de
palavras como caixa, peixe, outro: a pronúncia padrão incluiria a
semivogal, a pronúncia não-padrão a eliminaria (caxa, pexe, otro). Mas
nunca se ouve alguém dizer peto ou jeto ao invés de peito e jeito. Por que
será que os mesmos falantes ora eliminam e ora mantêm a semivogal?
Alguém pode explicar por que o u cai antes de t (otro) e o i não cai no
mesmo contexto (peito, jeito)? Certamente, então, o tipo de semivogal (i ou
u) e a consoante seguinte são parte dos fatores internos relevantes para
explicar esse fato que, de alguma forma, todo falante conhece.
Outro exemplo: podem-se ouvir várias pronúncias, em vários lugares do
país, do som que se escreve com a letra l em palavras como alguma:
alguma, auguma, arguma. A variação também existirá em palavras como
planta: planta ou pranta (mas nunca ouviremos puanta). Mas, o l será
sempre um l em palavras como lata. Ou seja: no fim da sílaba, ele varia; no
meio, também (embora não com o mesmo número de variantes). Mas, no
início, nunca. E isso vale para falantes cultos e incultos.
Mais exemplos: poderemos ouvir "os boi", "dois cara", "Comédia dos
Erro", mas nunca "o bois", "um caras" ou "Comédia do Erros". Ouviremos
muitas vezes "nós vai", mas nunca "eu vamo(s)". Assim, as variações
lingüísticas são condicionadas por fatores internos à língua ou por fatores
sociais, ou por ambos ao mesmo tempo.
Alguns sonham com uma língua uniforme. Só pode ser por mania
repressiva ou medo da variedade, que é uma das melhores coisas que a
humanidade inventou. E a variedade lingüística está entre as variedades
mais funcionais que existem. Podemos pensar na variação como fonte de
recursos alternativos: quanto mais numerosos forem, mais expressiva
pode ser a linguagem humana. Numa língua uniforme talvez fosse
possível pensar, dar ordens e instruções. Mas, e a poesia? E o humor? E
como os falantes fariam para demonstrar atitudes diferentes? Teriam que
avisar (dizer, por exemplo, "estou irritado", "estou à vontade", "vou tratá-lo
formalmente")?
Idéia Geral e Seus Tópicos
— Compreendendo e Praticando

Idéia geral é a idéia contida no parágrafo inicial de


um texto, idéia essa que abrange todo o assunto que
vai ser desenvolvido.

Vejamos um exemplo:

Ao abrir um jornal, lemos o seguinte título de notícia: O


temporal de ontem causou grandes estragos
materiais à cidade e sérios transtornos ao trânsito.
Como se pode observar, o título da notícia dá uma idéia geral do assunto que
virá a seguir. Para nosso trabalho, idéia geral e título de notícia são a mesma
coisa.
Uma parte da idéia geral indica que serão abordados os danos causados pela
chuva a bens diversos. Há, portanto, no título da notícia, ou seja, na idéia geral, o
que se poderia chamar de um tópico: estragos materiais à cidade.
Igualmente, como no título da notícia há referência a transtornos ao trânsito,
percebemos também que há nele, ou seja, na idéia geral, o tópico: transtornos
ao trânsito.
Para que você domine a noção de tópico, vamos estabelecer, para efeito de
nosso trabalho, que tópico é um pequeno tema que está contido numa idéia
geral. A idéia geral, portanto, pode conter um, dois ou mais tópicos.
O que foi explicado acima pode ser visualizado com o seguinte esquema:

Idéia Geral

O temporal de ontem causou grandes estragos materiais à cidade e sérios


transtornos ao trânsito.

Tópico 1: estragos materiais à cidade. Tópico 2: transtornos ao trânsito.


Idéia Geral

O hipertireoidismo é uma disfunção da glândula tireóide que pode causar


emagrecimento e taquicardia.

Tópico 1:__________ Tópico 2:__________

Idéia Geral

A prática de esportes pode trazer benefícios físicos e psicológicos às pessoas.

Tópico 1:__________ Tópico 2:__________


Retomando a idéia geral do título da notícia, vamos ver como ela fica com
os tópicos e ampliada com detalhes, que são necessários para o
esclarecimento do assunto.
Idéia Geral
Muitas vezes uma viagem de férias proporciona às pessoas não só o
merecido descanso, mas também a possibilidade de conhecerem novos
lugares.
No capítulo anterior você assimilou as noções de idéia geral e de tópico.
Você praticou com exercícios, relacionando detalhes com seus respectivos
tópicos. Agora vamos começar um trabalho que o conduzirá a criar
detalhes.

Os detalhes pormenorizam os tópicos, e um modo fácil de desenvolvê-


los é perguntar-se:

Cabe um exemplo? Cabe uma justificativa? Cabe um esclarecimento?


Cabe um comentário?

Mas veja bem! É fundamental que cada pergunta seja feita em


referência ao tópico visado. Sempre em relação a ele.
Então, as perguntas que você respondeu afirmativamente vão gerar os detalhes
que você pode usar para desenvolver seu texto. Veja que, se os seus detalhes
são oriundos destas perguntas, você, certamente, vai desenvolver um texto
objetivo. Seus detalhes estarão diretamente ligados ao tópico correspondente e à
idéia geral.
Para facilitar a memorização dos quatro tipos de detalhes que mencionamos, você
pode lançar mão da sigla EJEC, a qual como você, provavelmente, já observou, é
formada pelas iniciais de exemplo, justificativa, esclarecimento e comentário. A sigla
serve apenas para você se lembrar dos quatro tipos mencionados.
É oportuno estabelecer que os quatro tipos de detalhes, que servirão de referência
para o desenvolvimento de nosso trabalho, são na verdade seis. Este é um caso raro
em que quatro são seis.
Aos quatro tipos de detalhes que formam o EJEC é necessário acrescentar-se
descrição e narração. Referimo-nos a quatro tipos apenas, inicialmente, porque eles
são os mais comuns, os mais freqüentes. A partir de agora memorize a sigla como
sendo EJEC-DN.
Quando mencionamos descrição e narração, estamos nos referindo a pequenas
descrições ou pequenas narrações, pois se a abordagem é em nível de detalhe só
pode ser algo breve.
Lembre-se de que a seqüência dos tipos de detalhes depende exclusivamente da
seqüência lógica do texto. Além disso, tenha em mente que você pode usar apenas um
ou outro dos tipos mencionados ou, ainda, alguns deles combinados.
Após ler a idéia geral e
identificar os tópicos,
acrescente um detalhe a
cada um deles.
Agora, após identificar os
tópicos, estabeleça mais dois
detalhes para cada um deles.
Você agora assistirá dois pequenos vídeos.

Após assisti-los, leia a idéia geral abaixo:

“O computador é considerado por muitos um instrumento


indispensável, tanto no contexto profissional quanto no doméstico.”

- Crie pelo menos dois tópicos.


- Estabeleça pelo menos três detalhes para cada tópico.
- Escreva um texto dissertativo contendo entre 150 e duzentas palavras
utilizando os tópicos e detalhes anotados.

Sugestões: Para esses tópicos, você pode:

Criar exemplos; criar justificativas para o fato de ser ele um


instrumento indispensável; criar esclarecimentos de como ele é
necessário; acrescentar pequenas descrições, se achar conveniente.
Nunca se esqueça de que cada pequena descrição tem que estar junto
do assunto a ela relacionado.
Coerência Textual (Professor Gílson Demétrio Ávalos )

— Um texto é coerente quando é possível interpretá-lo. Estudar a coerência de um


texto é, pois, estudar as condições de sua interpretabilidade. Existem condições de
interpretabilidade ligadas diretamente ao texto, como o conhecimento e o uso
adequado dos recursos léxicos e gramaticais da língua. Se alguém ouvisse ou lesse
coisas como:

— Quem tem uma foto importada de 1000 cc, que custa US$ 20.000, não vai
expô-la ao trânsito de uma cidade como São Paulo.

— Holyfield venceu a luta, apesar de ser o mais forte dos lutadores.

não hesitaria em classificá-las como incoerentes. No primeiro caso, houve o uso


inadequado de uma palavra do léxico. Basta trocar a palavra foto pela palavra
moto que o texto fica coerente. No segundo caso, houve uma falha gramatical. A
conjunção apesar de não está adequada para unir as duas idéias expostas no
texto. Se a substituirmos pela conjunção pois tudo volta a ficar bem, em uma outra
versão como:

— Holyfield venceu a luta, pois era o mais forte dos lutadores.


Mas a coerência de um texto depende também de outros fatores, como
os elementos contextualizadores que são data, local, assinatura, elementos
gráficos etc. “ancoram” um texto em uma situação comunicativa
determinada. Imagine o seguinte texto contextualizado de duas maneiras
diferentes:

Hoje, eu, o rei, convido todos a comparecer em massa, para


assistir ao massacre de Israel.
assinado: Imperador Tito, Jerusalém, ano 70
assinado: Pelé, Rio de Janeiro, 1995.

No caso [a], teríamos o relato de fato relacionado à história do povo


judeu. No [b], um prognóstico sobre um jogo de futebol, envolvendo duas
seleções.

Mas a coerência de um texto depende também do nosso


conhecimento de mundo.Alguém que não conheça a história de Roma,
da ocupação da Judéia pelos romanos e a sua destruição pelo imperador
Tito, terá mais dificuldades para entender a primeira contextualização.
Se alguém nos disser que, quando assistia a um casamento, a luz se apagou
justamente no momento em que a noiva ia saindo da igreja, todos nós saberemos,
sem que esteja dito no texto, que a noiva caminhava pelo corredor central da
igreja, vindo do altar, em direção à porta principal, e que estava acompanhada do
noivo que, nesse momento, já era seu marido. Tudo isso porque, como ocidentais e
brasileiros, temos, em nosso repertório, o esquema sobre como se processa um
casamento em uma igreja católica. Se disséssemos a mesma coisa a um indiano,
por exemplo, ele teria dificuldade em perceber a coerência do texto, por falta de
repertório.
A propósito, você consegue imaginar o tipo de cultura ou conhecimento de
mundo que tornaria coerente o texto a seguir, citado por Richard Gordon, em seu
livro A assustadora história da medicina?

Verrugas – procure um homem que nunca viu o próprio pai e peça para tocar no
seu casaco. Como profilaxia, nunca deixe seus filhos tocarem na água onde foram
cozidos ovos.
(GORDON, A assustadora história da medicina, p. 157.)
As meta-regras de coerência

Pesquisando sobre a coerência dos textos, um estudioso francês chamado


Michel Charolles conseguiu descobrir quatro princípios fundamentais
responsáveis pela coerência textual. Chamou-os de meta-regras da coerência.
São as seguintes:

Meta-regra da repetição – um texto coerente deve ter elementos repetidos;

Meta-regra de progressão – um texto coerente deve apresentar renovação do


suporte semântico;

Meta-regra da não-contradição – em um texto coerente, o que se diz depois não


pode contradizer o que se disse antes ou que ficou pressuposto;

Meta-regra de relação – em um texto coerente, seu conteúdo deve estar


adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis.
Vejamos cada uma delas. A primeira, a meta-regra da repetição, nada mais é
do que aquilo que chamamos de coesão textual. O fato de, em uma frase,
recuperarmos termos de frases anteriores, por meio de pronomes, elipses,
elementos lexicais ou substitutivos constitui um processo de repetição ou
recorrência. A coesão textual é, portanto, a primeira condição (necessária, mas
não suficiente) para que um texto seja coerente.
A meta-regra de progressão nos diz que um texto deve sempre apresentar
informações novas à medida que vai sendo escrito. Vejamos o texto a seguir:

Essa criança não come nada. Fica apenas brincando com os talheres, ou
seja: pega a colher, o garfo e não olha para o prato de comida. Ela não se
alimenta. Brinca apenas. Diverte-se com uma colher e um cargo e o prato fica
na mesa. O ato de brincar substitui o ato de alimentar-se.

Esse texto, embora apresente elementos recorrentes (coesão), não


apresenta progressão. É um texto circular, sem informatividade alguma.
Portanto, incoerente.
A meta-regra da não-contradição nos diz que cada pedaço de texto deve
“fazer sentido” com o que se disse antes. Vejamos o texto a seguir:

Para as tropas aliadas, o dia 4 de junho foi um dia terrível. Os homens da 4ª


Divisão de Infantaria ficaram o dia inteiro no mar. Os navios-transporte e as
embarcações de desembarque faziam círculos ao largo da ilha de Wight. As
ondas arrebentavam sobre os lados, caía uma chuva forte. Os homens estavam
prontos para o combate, mas sem destino nenhum. Depois dessa exaustiva
caminhada, todos estavam cansados. Nesse dia 3 de junho, ninguém queria
jogar dados ou pôquer, ou ler um livro ou ouvir outra instrução. O desânimo
tomava conta de todos.
(AMBROSE, O dia D – 6 de julho de 1944: A batalha
culminante da Segunda Grande Guerra, p. 221. – adaptado - )

A informação de que os soldados estavam exaustos depois de uma


caminhada contradiz o que está pressuposto na parte inicial do texto. Afinal, eles
estavam embarcados em navios-transporte e embarcações de desembarque e
pressupõe-se que, nessas condições, soldados não façam caminhadas. A
informação de que no dia 3 de junho ninguém queria jogar dados ou pôquer etc.
contradiz o que está explicitado no início: o dia era 4 de junho. O texto em
questão tem coesão, progressão, mas é contraditório e, por isso, incoerente.
Finalmente, a meta-regra de relação estabelece que o conteúdo do texto deve estar
adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis. Vejamos o
seguinte texto:

O município de São José do Rio Preto abrange uma região imensa que é composta
por vários Estados limítrofes que ocupam uma área respeitável [...] Conta ainda com
uma superpopulação, com uma maioria de pessoas cultas e uma juventude com
grandes recursos educacionais, cursando as várias escolas e faculdades.
Isto posto, nossa cidade sente falta urgente de uma Capela Crematória. Para os leigos é
preciso esclarecer que, para um corpo ser exumado através de forno crematório, há
necessidade que ele registre esta vontade em duas testemunhas. Somente o
interessado poderá usar esta forma de suprir seu desejo, caso contrário, a exumação
seria da forma natural, ou seja: o sepultamento.
(Diário da Região,S.J. do Rio Preto,15 abr. 1998 (trecho de uma carta
escrita por um leitor)

Esse texto contraria de várias maneiras a meta-regra de relação, pois seu conteúdo
não está de acordo com o mundo real. Afinal, São José do Rio Preto não se limita com
vários Estados, não tem superpopulação, um corpo (uma pessoa morta) não pode mais
registrar vontade alguma, e, se pudesse, não seria em duas testemunhas, mas diante
de duas testemunhas. Há também o emprego inadequado do léxico. Afinal, exumar
não é o mesmo que cremar ou sepultar.
Exercícios

Identifique, em cada um dos textos a seguir, a meta-regra de coerência que foi


infringida. (Estes textos foram retirados de PETRAS, O melhor do besteirol.)

“É realmente apropriado que nos reunamos aqui hoje, para homenagear Abraham
Lincoln, o homem que nasceu numa cabana de troncos que ele construiu com suas
próprias mãos”. (Político, em um discurso, homenageando Lincoln)

“Eles vivem da mão para a boca, como as aves do céu”. (Sir Boyle, descrevendo a
pobreza dos agricultores irlandeses)

“Damos cem por cento na primeira parte do jogo e, se isso não for suficiente, na
segunda parte damos o resto”. (Yogi Berra, jogador norte-americano de beisebol,
famoso por suas declarações esdrúxulas)

“Mantle rebate com as duas mãos porque é anfíbio”. (idem)

“Nós não temos censura. O que temos é uma limitação do que os jornais podem
publicar”. (Louis Net, ex-vice-ministro da Informação da África do Sul).
“a) considerando etc. etc., este Conselho resolve: que uma nova cadeia seja
construída; b) que a nova cadeia seja construída com os materiais da velha cadeia;
c) que a velha cadeia seja usada até que a nova esteja pronta”. (Resolução da
Junta dos Conselheiros, Canto, Mississipi,1800).

“Por que deveriam os irlandeses ficar de braços cruzados e mãos nos bolsos
enquanto a Inglaterra pede ajuda?” (Sir Thomas Myles, falando em um comício em
Dublin, em 1902, sobre a guerra dos Boeres).

“Por que os judeus e árabes não podem se reunir e discutir a questão como bons
cristãos?” (Arthur Balfour, estadista britânico, primeiro-ministro e ministro do
Exterior).

“Quando um grande número de pessoas não consegue encontrar trabalho, o


resultado é o desemprego”. (Calvin Coolidge, presidente americano em 1931).

“Encontrando um milhão de dólares na rua, eu procuraria o cara que o perdeu e, se


ele fosse pobre, devolveria”. (Yogi Berra).
“Este é um grande dia para a França!” (Presidente Nixon, ao comparecer ao
enterro de Charles De Gaulle).

“Acho que os senhores pensam que, em nossa diretoria, metade dos diretores
trabalha e a outra metade nada faz. Na verdade, cavalheiros, acontece justamente
o contrário”. (Diretor de empresa, defendendo membros do seu staff).

“Um homem não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, a menos que ele
seja uma ave”. (Sir Boy Roche, deputado representante de Tralee no Parlamento
Britânico).

Precisamos de leis que protejam a todos. Homens e mulheres, normais e bichas,


qualquer que seja sua perversão sexua...ahn, preferência. (Bella Abzug, político de
Nova Iorque, em um comício em defesa da Emenda dos Direitos Iguais).

“Eu não estava mentindo. Disse, sim, coisas que mais tarde se viu que eram
inverídicas” (Presidente Nixon, em depoimento durante as investigações do caso
Watergate).

“Cuidado! Tocar nesses fios provoca morte instantânea. Quem for flagrado fazendo
isso será processado”. (Tabuleta numa estação ferroviária).
“Referimo-nos àquele ano sangrento, 1793. Naqueles tempos conturbados, coube
aos empregados domésticos franceses dar um exemplo sem igual de dedicação.
Houve mesmo muitos que, em vez de trair seu amo, deixaram-se guilhotinar em
lugar deles e que, quando voltaram dias mais felizes, silenciosa e respeitosamente,
reassumiram seus empregos”. (Le Figaro, Paris, fevereiro de 1890, em um artigo
sobre a vida doméstica durante a Revolução Francesa).

“Aproximadamente 80% da poluição do ar são causados por hidrocarbonetos


liberados pela vegetação, de modo que não vamos exagerar e criar, e exigir o
cumprimento de padrões rigorosos de emissão por fontes artificiais” (Presidente
Ronald Reagan).

“A Pepsi traz seu ancestrais de volta da cova”. (Tradução para chinês, do slogan “A
Pepsi faz a gente viver”).

“Quando dois trens se aproximarem em um cruzamento, ambos devem parar por


completo e nenhum dos dois iniciar viagem até que o outro tenha passado” (De
uma lei do Kansas).
Coesão Textual (Platão & Fiorin – Para Entender o Texto: Leitura e Redação)

— Quando lemos com atenção um texto bem


construído, não nos perdemos por entre os enunciados
que o constituem, nem perdemos a noção de conjunto.
Com efeito, é possível perceber a conexão existente
entre os vários segmentos de um texto e compreender
que todos estão interligados entre si.

— A título de exemplificação do que foi dito, observe-


se o texto que vem a seguir:
“É sabido que o sistema do Império Romano dependia da escravidão, sobretudo para a
produção agrícola. É sabido ainda que a população escrava era recrutada principalmente
entre prisioneiros de guerra.
Em vista disso, a pacificação das fronteiras fez diminuir consideravelmente a população
escrava.
Como o sistema não podia prescindir da mão-de-obra escrava, foi necessário encontrar
outra forma de manter inalterada essa população.”

Como se pode observar, os enunciados desse texto não estão amontoados


caoticamente, mas estritamente interligados entre si: ao se ler, percebe-se que há
conexão entre cada uma das partes.
A essa conexão interna entre os vários enunciados presentes no texto dá-se o
nome de coesão. Diz-se, pois, que um texto tem coesão quando seus vários
enunciados estão organicamente articulados entre si, quando há concatenação
entre eles.
A coesão de um texto, isto é, a conexão entre os vários enunciados obviamente
não é fruto do acaso, mas das relações de sentido que existem entre eles. Essas
relações de sentido são manifestadas sobretudo por certa categoria de palavras, as
quais são chamadas conectivos ou elementos de coesão. Sua função no texto é
exatamente a de pôr em evidência as várias relações de sentido que existem entre
os enunciados.
No caso do texto citado acima, pode-se observar a função de alguns desses
elementos de coesão. A palavra ainda no primeiro parágrafo ("É sabido ainda
que"...) serve para dar continuidade ao que foi dito anteriormente e acrescentar um
outro dado: que o recrutamento de escravos era feito junto dos prisioneiros de
guerra.
O segundo parágrafo inicia-se com a expressão em vista disso, que estabelece
uma relação de implicação causal entre o dado anterior c o que vem a seguir: a
pacificação das fronteiras diminui o fornecimento de escravos porque estes eram
recrutados principalmente entre os prisioneiros de guerra.
O terceiro parágrafo inicia-se pelo conectivo como, que manifesta uma outra
relação causal, isto é: foi necessário encontrar outra forma de fornecimento de
escravos porque o sistema não podia prescindir deles.
São várias as palavras que, num texto, assumem a função de conectivo ou de
elemento de coesão

— as preposições: a, de, para, com, por, etc;


— as conjunções: que, para que, quando, embora, mas, e, ou, etc;
— os pronomes: ele, ela, seu, sua, este, esse, aquele, que, o qual, etc;
— os advérbios: aqui, aí, lá, assim, etc.
O uso adequado desses elementos de coesão confere unidade ao texto e
contribui consideravelmente para a expressão clara das idéias. O uso inadequado
sempre tem efeitos perturbadores, tornando certas passagens incompreensíveis.
Para dar idéia da importância desses elementos na construção das frases e do
texto, vamos comentar sua funcionalidade em algumas situações concretas da língua
e mostrar como o seu mau emprego pode perturbar a compreensão.

A coesão no período composto

O período composto, como o nome indica, é constituído de várias orações, que,


se não estiverem estruturadas com coesão, de acordo com as regras do sistema
lingüístico, produzem um sentido obscuro, quando não, incompreensível.
O período que segue é plenamente compreensível porque os elementos de
coesão estão bem empregados:
Se estas indústrias são poluentes, devem abandonar a cidade, para que as boas
condições de vida sejam preservadas.
Esse período consta de três orações, e a oração principal é: devem abandonar a
cidade; antes da principal vem uma oração que estabelece a condição que vai
determinar a obrigação de as indústrias abandonarem a cidade (o conectivo, no
caso, é a conjunção se); depois da oração principal segue uma terceira oração, que
indica a finalidade que se quer atingir com a expulsão das indústrias poluentes (o
conectivo é a conjunção para que).
Muitas vezes, nas suas redações, os alunos constroem períodos
incompreensíveis, por descuidarem dos princípios de coesão. Não é raro, por
exemplo, ocorrerem períodos desprovidos da oração principal, como nos exemplos
que seguem:

O homem que tenta mostrar a todos que a corrida armamentista que se trava
entre as grandes potências é uma loucura.

Ao dizer que todo o desejo de que os amigos, viessem à sua festa


desaparecera, uma vez que seu pai se opusera à realização.

No primeiro período temos:

1) o homem;
2) que tenta mostrar a todos: oração subordinada adjetiva;
3) que a corrida armamentista é uma loucura: oração subordinada substantiva
objetiva direta;
4) que se trava entre as grandes potências: oração subordinada adjetiva.
A segunda oração está subordinada àquela que seria a primeira, referindo-
se ao termo homem; a terceira é subordinada à segunda; a quarta à terceira. A
primeira oração está incompleta. Falta-lhe o predicado. O aluno colocou o
termo a que se refere a segunda oração, começou uma sucessão de inserções
e "esqueceu-se" de desenvolver a idéia principal.
No segundo período, só ocorrem orações subordinadas. Ora, todos
sabemos que uma oração subordinada pressupõe a presença de uma
principal.
A escrita não exige que os períodos sejam longos e complexos, mas que
sejam completos e que as partes estejam absolutamente conectadas entre si.
Para evitar deslizes como o apontado, graves porque o período fica
incompreensível, não é preciso analisar sintaticamente cada período que se
constrói. Basta usar a intuição lingüística que todos os falantes possuem e
reler o que se escreveu, preocupado com verificar se tem sentido aquilo que
acabou de ser redigido.
Ao escrever, devemos ter claro o que pretendemos dizer e, uma vez escrito
o enunciado, devemos avaliar se o que foi escrito corresponde àquilo que
queríamos dizer. A escolha do conectivo adequado é importante, já que é ele
que determina a direção que se pretende dar ao texto, é ele que manifesta as
diferentes relações entre os enunciados.
TEXTO COMENTADO
Um argumento cínico

(1) Certamente nunca terá faltado aos sonegadores de todos os tempos e lugares o
confortável pretexto de que o seu dinheiro não deve ir parar nas mãos de administradores
incompetentes e desonestos. (2) Como pretexto, a invocação é insuperável e tem mesmo a cor
e os traços do mais acendrado civismo. (3) Como argumento, no entanto, é cínica e
improcedente. (4) Cínica porque a sonegação, que nesse caso se pratica, não é compensada
por qualquer sacrifício ou contribuição que atenda à necessidade de recursos imanente a
todos os erários, sejam eles bem ou mal administrados. (5) Ora, sem recursos obtidos da
comunidade não há policiamento, não há transportes, não há escolas ou hospitais. (6) E sem
serviços públicos essenciais, não há Estado e não pode haver sociedade política. (7)
Improcedente porque a sonegação, longe de fazer melhores os maus governos, estimula-os à
prepotência e ao arbítrio, além de agravar a carga tributária dos que não querem e dos que,
mesmo querendo, não têm como dela fugir — os que vivem de salário, por exemplo. (8)
Antes, é preciso pagar, até mesmo para que não faltem legitimidade e força moral às
denúncias de malversação. (9) É muito cômodo, mas não deixa de ser, no fundo, uma
hipocrisia, reclamar contra o mau uso dos dinheiros públicos para cuja formação não
tenhamos colaborado. (10) Ou não tenhamos colaborado na proporção da nossa renda.
Villela, João Baptista. Veja, 25 set. 1985.
O produtor desse texto procura desmontar o argumento dos sonegadores de
impostos que não os pagam sob a alegação de que os administradores do dinheiro
público são incompetentes e desonestos.
Por uma razão prática, vamos fazer o comentário dos vários argumentos
tomando por base cada um dos períodos que compõem o texto:

1º período:
Expõe o argumento que os sonegadores invocam para não pagar impostos: eles
alegam que não os pagam porque o seu dinheiro não deve ir parar nas mãos de
administradores desonestos e incompetentes. Observe-se que o produtor do texto
começa a desautorizar esse argumento ao considerá-lo um "confortável pretexto",
isto é, uma falsa justificativa usada em proveito próprio.

2º período:
O enunciador admite que, como pretexto (falsa razão), essa justificativa é
insuperável e tem aparência de elevado espírito cívico.

3º período:
O conectivo "no entanto" (de caráter adversativo) introduz uma argumentação
contrária ao que se admite no período anterior: a justificativa para sonegar
impostos, como argumento, é cínica e improcedente.
5º período:
O conectivo "ora" dá início a uma argumentação que se manifesta contrária à
idéia de que o Estado possa sobreviver sem arrecadar impostos e sem se prover de
recursos.

6º período:
O conectivo "e" introduz um segmento que adiciona um argumento ao que se
afirmou no período anterior.

7º período:
Depois de demonstrar que o argumento dos sonegadores é cínico, o enunciador
passa a demonstrar que é também improcedente, o que já foi afirmado no terceiro
período. O motivo da improcedência vem expresso por uma oração causal iniciada
pelo conectivo "porque": a justificativa para sonegar é improcedente porque a
sonegação, ao invés de contribuir para melhorar os maus governos, estimula-os à
prepotência e ao arbítrio. No mesmo período, o conectivo "além de" introduz um
argumento a mais a favor da improcedência da sonegação: ela agrava a carga
tributária dos que, como os assalariados, não têm como fugir dela.
8º período:
O conectivo "antes", que inicia o período, significa "ao contrário" e introduz um
argumento a favor da necessidade de pagar impostos. O conectivo "até mesmo" dá
início a um argumento que reforça essa necessidade.

9º período:
O conectivo "mas" (adversativo), que liga a oração "É muito cômodo" à oração
"não deixa de ser uma hipocrisia", estabelece uma relação de contradição entre as
duas passagens: de um lado, é cômodo reclamar contra o mau uso do dinheiro
público, de outro, isso não passa de hipocrisia quando não se colaborou com a
arrecadação desse dinheiro.

10º período:
O conectivo "ou" inicia uma passagem que contém uma alternativa que
caracteriza ainda a atitude hipócrita: é hipocrisia reclamar do mau uso de um
dinheiro para o qual nossa colaboração foi abaixo daquilo que devia ser.

Como se vê, os períodos compostos bem estruturados e os conectores usados


de maneira adequada dão coesão ao texto e consistência à argumentação.
EXERCÍCIOS
Questões de 1 a 4

Nas questões de 1 a 4, apresentamos alguns segmentos de discurso separados por


ponto final. Retire o ponto final e estabeleça entre eles o tipo de relação que lhe parecer
compatível, usando para isso os elementos de coesão adequados.

Questão 1
O solo do Nordeste é muito seco e aparentemente árido. Quando caem as chuvas,
imediatamente brota a vegetação.

Questão 2
Uma seca desoladora assolou a região sul, principal celeiro do país. Vai faltar alimento
e os preços vão disparar.

Questão 3
Inverta a posição dos segmentos contidos na questão 2 e use o conectivo apropriado:
Vai faltar alimento e os preços vão disparar. Uma seca desoladora assolou a região
sul, principal celeiro do país.

Questão 4
O trânsito em São Paulo ficou completamente paralisado dia 15, das 14 às 18 horas.
Fortíssimas chuvas inundaram a cidade.
Questões de 5 a 8

As questões de 5 a 8 apresentam problemas de coesão por causa do mau uso


do conectivo, isto é, da palavra que estabelece a conexão. A palavra ou expressão
conectiva inadequada vem em destaque. Procure descobrir a razão dessa
impropriedade de uso e substituir a forma errada pela correta.

Questão 5
Em São Paulo já não chove há mais de dois meses, apesar de que já se pense
em racionamento de água e energia elétrica.

Questão 6
As pessoas caminham pelas ruas, despreocupadas, como se não existisse
perigo algum, mas o policial continua folgadamente tomando o seu café no bar.

Questão 7
Talvez seja adiado o jogo entre Botafogo e Flamengo, pois o estado do gramado
do Maracanã não é dos piores.

Questão 8
Uma boa parte das crianças mora muito longe, vai à escola com fome, onde
ocorre o grande número de desistências.
Questão 9
Leia o período que segue:
Chegaram instruções repletas de recomendações para que os participantes do
congresso, que, por sinal, acabou não se realizando por causa de fortes chuvas, que
inundaram a cidade e paralisaram todos os meios de comunicação.

a) É compreensível o seu conteúdo?


b) Qual o seu grande defeito?

PROPOSTA DE REDAÇÃO

Nas dissertações, o uso apropriado dos conectivos assume importância particular


para estabelecer as relações semânticas e lógicas entre os vários segmentos do texto.
Elabore um texto dissertativo bem coeso, manifestando seu ponto de vista a respeito
das idéias contidas neste fragmento:

O Duque de She dirigiu-se a Confúcio, dizendo: — Temos em nossa terra um homem


direito. Seu pai furtou uma ovelha, e o filho depôs contra ele. — Na nossa, retrucou
Confúcio, ser direito é proceder de maneira diferente. O pai oculta a culpa do filho, e o filho
a do pai. Gente direita é assim que se comporta.

Máximas de Confúcio. Apud Russell, Bertrand. Ensaios céticos. 2. ed. São Paulo, Nacional, 1957. p. 82.
Nesta lição, dando continuidade à anterior, vamos ainda tratar da coesão do texto
e do uso dos elementos lingüísticos adequados para estabelecer conexões entre
os vários enunciados do texto.

1) O papel dos elementos de coesão

Consideramos como elementos de coesão todas as palavras ou expressões


que servem para estabelecer elos, para criar relações entre segmentos do
discurso tais como: então, portanto, já que, com efeito, porque, ora, mas, assim,
daí, aí, dessa forma, isto é, embora e tantas outras.
O que se coloca como mais importante no uso desses elementos de coesão é
que cada um deles tem um valor típico. Além de ligarem partes do discurso,
estabelecem entre elas um certo tipo de relação semântica: causa, finalidade,
conclusão, contradição, condição, etc. Dessa forma, cada elemento de coesão
manifesta um tipo de relação distinta. Ao escrever, deve-se ter o cuidado de usar o
elemento apropriado para exprimir o tipo de relação que se quer estabelecer.
O porém, por exemplo, presta-se para manifestar uma relação de contradição:
usado entre dois enunciados ou entre dois segmentos do texto, manifesta que um
contraria o outro. Observe-se o exemplo que segue:

Israel possui um solo árido e pouco apropriado à agricultura, porém chega a


exportar certos produtos agrícolas.

No caso, faz sentido o uso do porém, já que entre os dois segmentos ligados
existe uma contradição. Seria descabido permutar o porém pelo porque, que serve
para indicar causa. De fato, a exportação de produtos agrícolas não pode ser vista
como a causa de Israel ter um solo árido.

Muitas pessoas, ao redigir, não atentam para as diferentes relações que os


elementos de coesão manifestam e acabam empregando-os mal, criando, com
isso, paradoxos semânticos.

Esses elementos não são formas vazias que podem ser substituídas entre si,
sem nenhuma conseqüência. Pelo contrário, são formas lingüísticas portadoras de
significado e exatamente por isso não se prestam para ser usadas sem critério. A
coesão do texto é afetada quando se usa o elemento de coesão inadequado.
Vejamos, a título de exemplo, as relações que alguns elementos de coesão
estabelecem:

a) assim, desse modo: têm um valor exemplificativo e complementar. A seqüência


introduzida por eles serve normalmente para explicitar, confirmar ou ilustrar o que se
disse antes.

O Governador resolveu não comprometer-se com nenhuma das facções em disputa


pela liderança do partido. Assim, ele ficará à vontade para negociar com qualquer uma que
venha a vencer.

b) e: anuncia o desenvolvimento do discurso e não a repetição do que foi dito


antes; indica uma progressão semântica que adiciona, acrescenta algum dado novo.
Se não acrescentar nada, constitui pura repetição e deve ser evitada. Ao dizer:

Este trator serve para arar a terra e para fazer colheitas

o e introduz um segmento que acrescenta uma informação nova. Por isso seu uso é
apropriado. Mas, ao dizer:

Tudo permanece imóvel e fica sem se alterar

o segmento introduzido pelo e não adiciona nenhuma informação nova. Trata-se,


portanto, de um uso inadequado.
c) ainda: serve, entre outras coisas, para introduzir mais um argumento a favor
de determinada conclusão, ou para incluir um elemento a mais dentro de um
conjunto qualquer.

O nível de vida dos brasileiros é baixo porque os salários são pequenos.


Convém lembrar ainda que os serviços públicos são extremamente deficientes.

d) aliás, além do mais, além de tudo, além disso: introduzem um argumento


decisivo, apresentado como acréscimo, como se fosse desnecessário,
justamente para dar o golpe final no argumento contrário.

Os salários estão cada vez mais baixos porque o processo inflacionário diminui
consideravelmente seu poder de compra. Além de tudo são considerados como
renda e taxados com impostos.

e) isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras: introduzem esclarecimentos,


retificações ou desenvolvimentos do que foi dito anteriormente.

Muitos jornais fazem alarde de sua neutralidade em relação aos fatos, isto é, de
seu não comprometimento com nenhuma das forças em ação no interior da
sociedade.
f) mas, porém, contudo e outros conectivos adversativos: marcam oposição
entre dois enunciados ou dois segmentos do texto. Não se podem ligar, com
esses relatores, segmentos que não se opõem. Às vezes, a oposição se faz
entre significados implícitos no texto.

Choveu na semana passada, mas não o suficiente para se começar o plantio.

g) embora, ainda que, mesmo que: são relatores que estabelecem ao mesmo
tempo uma relação de contradição e de concessão. Servem para admitir um
dado contrário para depois negar seu valor de argumento. Trata-se de um
expediente de argumentação muito vigoroso: sem negar as possíveis
objeções, afirma-se um ponto de vista contrário.

Observe-se o exemplo:

Ainda que a ciência e a técnica tenham presenteado o homem com abrigos


confortáveis, pés velozes como o raio, olhos de longo alcance e asas para voar, não
resolveram o problema das injustiças.

Como se nota, mesmo concedendo ou admitindo as grandes vantagens da


técnica e da ciência, afirma-se uma desvantagem maior.
O uso do embora e conectivos do mesmo sentido pressupõe uma relação de
contradição, que, se não houver, deixa o enunciado descabido. Exemplo:

Embora o Brasil possua um solo fértil e imensas áreas de terras plantáveis,


vamos resolver o problema da fome.

h) Certos elementos de coesão servem para estabelecer gradação entre os


componentes de uma certa escala. Alguns, como mesmo, até, até mesmo,
situam alguma coisa no topo da escala; outros, como ao menos, pelo menos,
no mínimo, situam-na no plano mais baixo.

O homem é ambicioso. Quer ser dono de bens materiais, da ciência, do próprio


semelhante, até mesmo do futuro e da morte.

Ou

É preciso garantir ao homem seu bem-estar: o lazer, a cultura, a liberdade, ou,


no mínimo, a moradia, o alimento e a saúde.
Para encerrar essas considerações sobre o uso dos elementos de
coesão, convém dizer que, às vezes, cria-se o paradoxo semântico
provocando determinados efeitos de sentido. Pode-se conseguir, por
exemplo, um efeito de humor ou de ironia ou revelar preconceitos
estabelecendo-se uma relação de contradição entre dois segmentos que,
usualmente, não são vistos como contraditórios. Sirva de exemplo uma
passagem como esta:

Ela é mulher, mas é capaz.

Como se nota, o mas passa a estabelecer uma relação de contradição


entre ser mulher e ser capaz. Essa relação revela humor ou preconceito do
enunciador. Nos dois casos, no entanto, pressupõe-se que as mulheres não
sejam capazes.
É claro que o uso desses paradoxos deve ser feito com cuidado e
dentro de um contexto que não dê margem a ambigüidades.
2) A retomada ou a antecipação de termos

Observe o trecho que segue:

José e Renato, apesar de serem gêmeos, são muito diferentes. Por exemplo, este é
calmo, aquele é explosivo.

O termo este retoma o nome próprio "Renato", enquanto aquele faz a mesma coisa com a
palavra "José". "Este" e "aquele" são chamados anafóricos.
Anafórico, genericamente, pode ser definido como uma palavra ou expressão que serve
para retomar um termo já expresso no texto, ou também para antecipar termos que virão
depois. São anafóricos, por exemplo, os pronomes demonstrativos (este, esse, aquele), os
pronomes relativos (que, o qual, onde, cujo), advérbios e expressões adverbiais (então, dessa
feita, acima, atrás), etc.
Quando um elemento anafórico está empregado num contexto tal que pode referir-se a
dois termos antecedentes distintos, isso provoca ambigüidade e constitui uma ruptura de
coesão. Na escrita, é preciso tomar cuidado para que o leitor perceba claramente a que termo
se refere o elemento anafórico.
Eis alguns exemplos de ambigüidade por causa do uso dos anafóricos:

O PT entrou em desacordo com o PMDB por causa de sua proposta de aumento de


salário.

No caso, sua pode estar se referindo à proposta do PT ou à do PMDB.


Para desfazer a ambigüidade, apela-se para outras formas de construção da
frase, como, por exemplo:

A proposta de aumento de salário formulada pelo PT provocou desacordo com


o PMDB.

O uso do pronome relativo pode também provocar ambigüidade, como na frase


que segue:

Via ao longe o sol e a floresta, que tingia a paisagem com suas variadas cores.

No caso, o pronome que pode estar se referindo a solou a floresta.


Há frases das redações escolares em que simplesmente não há coesão
nenhuma. É o que ocorre nesta frase, citada pela Professora Maria Tereza Fraga no
seu livro sobre redação no vestibular:

Encontrei apenas belas palavras o qual não duvido da sinceridade de quem as


escreveu.

Como se vê, o enunciado fica desconexo porque o pronome o qual não


recupera antecedente algum.
TEXTO COMENTADO

Um arriscado esporte nacional

Os leigos sempre se medicaram por conta própria, já que de médico e louco


todos temos um pouco, mas esse problema jamais adquiriu contornos tão
preocupantes no Brasil como atualmente. Qualquer farmácia conta hoje com um
arsenal de armas de guerra para combater doenças de fazer inveja à própria
indústria de material bélico nacional. Cerca de 40% das vendas realizadas pelas
farmácias nas metrópoles brasileiras destinam-se a pessoas que se automedicam. A
indústria farmacêutica de menor porte e importância retira 80% de seu faturamento
da venda "livre"de seus produtos — isto é, das vendas realizadas sem receita
médica.
Diante desse quadro, o médico tem o dever de alertar a população para os
perigos ocultos em cada remédio, sem que, neces+sariamente, faça junto com
essas advertências uma sugestão para que os entusiastas da automedicação
passem a gastar mais em consultas médicas. Acredito que a maioria das pessoas
se automedica por sugestão de amigos, leitura, fascinação pelo mundo maravilhoso
das drogas "novas" ou simplesmente para tentar manter a juventude. Qualquer que
seja a causa, os resultados podem ser danosos.
É comum, por exemplo, que um simples resfriado ou uma gripe banal leve um
brasileiro a ingerir doses insuficientes ou inadequadas de antibióticos fortíssimos,
reservados para infecções graves e com indicação precisa. Quem age assim está
ensinando bactérias a se tornarem resistentes a antibióticos. Um dia, quando
realmente precisar do remédio, este não funcionará. E quem não conhece aquele
tipo de gripado que chega a uma farmácia e pede ao rapaz do balcão que lhe aplique
uma "bomba" na veia, para cortar a gripe pela raiz? Com isso, poderá receber na
corrente sangüínea soluções de glicose, cálcio, vitamina C, produtos aromáticos —
tudo isso sem saber dos riscos que corre pela entrada súbita destes produtos na sua
circulação.

Medeiros, Geraldo. - .Veja, 18 dez. 1985.


— Linha 1: já que — introduz uma justificativa para o que se disse na oração
anterior.
— Linha 2: e — liga dois atributos que ocorrem simultaneamente.
— Linha 2: um pouco — orienta no sentido da afirmação da propriedade. Opõe-se a
pouco. Se se dissesse "de médico e louco todos temos pouco", a orientação seria
no sentido da restrição da propriedade.
— Linha 2: mas — coloca um argumento mais forte em favor do que foi dito: os
leigos sempre se automedicam, mas hoje se automedicam mais. Há uma oposição
de intensidade entre as duas orações.
— Linha 3: tão ... como — é um marcador de comparação: o fenômeno da
automedicação jamais foi tão preocupante como o é atualmente. Embora se trate de
um comparativo de igualdade, o advérbio jamais nega a existência dessa igualdade
e põe à mostra o fato de que o fenômeno hoje é mais preocupante do que era antes.
— Linha 8: que — é um anafórico, cujo antecedente é pessoas.
— Linha 10: isto é — introduz uma explicação a respeito do que é a venda "livre"
dos produtos farmacêuticos.
— Linha 12: sem que — indica a exclusão de um fato que poderia constituir um
argumento contrário ao que se afirmou anteriormente.
— Linha 17: ou — marca uma relação de alternância (e/ou): todos os elementos
podem ocorrer, embora não simultaneamente.
— Linha 25: E — introduz uma interrogação retórica que retoma a argumentação
desenvolvida anteriormente.
— Linha 30: tudo isso — é um anafórico e um afirmador de totalidade universal.
Retoma os elementos citados no contexto imediatamente anterior: todos os
elementos da "bomba" para cortar a gripe são perigosos.
Releia o texto e observe que uma consistente coesão textual é um poderoso
expediente de argumentação.
EXERCÍCIOS

Uma leitura eficiente do texto pressupõe, entre outros cuidados, o de depreender as


conexões estabelecidas pelos conectivos e anafóricos. O texto que segue traz bons exemplos
desses elementos.
Pulo do gato

O grande perigo do jornalista que começa é o de cair na presunção sociológica. É claro


que, tratando da sociedade, o jornalismo é também um pouco de sociologia — mas a
sociologia deve ir para o lugar próprio, os artigos elaborados com mais tempo, os editoriais e
tópicos e, bem digerida em um texto fluido, a reportagem.
Jornalismo é razão e emoção. O texto apenas racional é frio, e só comunica aos que se
encontrem diretamente interessados no assunto. 0 texto deve saber dosar emoção e razão, e
é nesse equilíbrio que está o chamado "pulo do gato". Muitos jornalistas acreditam que o
adjetivo emociona. Enganam-se. Quanto mais despida uma frase, mais cortante o seu efeito.
"E amolou o machado, preparou um toco para servir de cepo, chamou o menino,
amarrou-lhe as mãos, fez-lhe um sinal para que ficasse calado, e rachou o seu corpo em sete
pedaços. 0 me-
15 nino P., de cinco anos, não era seu filho e F. descobrira isso poucos minutos antes,
quando discutia com a mulher." Leads como esse são sempre possíveis na reportagem de
polícia: não necessitam de adjetivos. As tragédias, como os cantores famosos, dispensam
apresentações.

Santayana, Mauro —. Imprensa: Jornalismo e Comunicação, ano 1, 11 : 34, São Paulo, Feeling Editorial,
1988. Nota: Lead é palavra inglesa, usada no jornalismo para indicar um pequeno texto de
apresentação de um texto maior.
Questão 1
a) Qual é o antecedente a que se refere o pronome relativo que na linha 1?
b) Na frase "O grande perigo do jornalista que começa é o de cair na presunção
sociológica", o o em destaque é um pronome demonstrativo. A que elemento do texto
ele se refere?

Questão 2
Nas linhas 2 e 3, o autor afirma que "o jornalismo é também um pouco de
sociologia".
O uso da palavra também faz pressupor algum outro significado além do que
está explícito no texto?

Questão 3
Na linha 3 ocorre o conectivo mas, que manifesta uma relação de contradição
entre dois enunciados. Como se explica essa contradição?

Questão 4
Na linha 6, ao dizer que o texto apenas racional é frio, o que pretende dizer o
autor com o uso de apenas?
Questão 5
Na linha 10, a expressão quanto mais manifesta uma relação proporcional entre dois
termos. Quais são os dois termos dessa relação proporcional?

Questão 6
Na linha 13, a quem se refere o lhe que ocorre em "amarrou-lhe as mãos" e "fez-lhe
um sinal"?

Questão 7
Na linha 14, está dito: "e rachou o seu corpo"; na linha 15 afirma-se: "não era seu
filho".
A que termos se refere o pronome possessivo seu em cada caso?

Questão 8

Nas linhas 15 e 16, afirma-se: "F. descobriu isso poucos minutos antes..."
a) O pronome isso faz referência a que elemento do texto?
b) O advérbio antes reporta a que tempo?
Questão 9
Em "Leads como esse", linhas 16 e 17, o pronome esse a que se refere?

Questão 10
Na linha 18, o conectivo como, ao estabelecer uma relação de comparação entre tragédias e
cantores famosos, indica uma semelhança entre ambos. Em que consiste essa semelhança?

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A título de exercício, para perceber a função e a importância dos conectivos na montagem


da redação, você tentará elaborar um texto de acordo com a seguinte proposta:
— apresentamos um parágrafo que contém uma dessas concepções controvertidas, isto
é, aquele tipo de concepção que não é aceita unanimemente, havendo quem lhe contraponha
muitas ressalvas;
— propomos a seguir um conectivo para o início de cada parágrafo: você desenvolverá a
dissertação, observando o valor desses conectivos e construindo cada parágrafo com o
conteúdo adequado, de modo que os três se encaixem de maneira concatenada e coesa.
Muitas pessoas afirmam que há liberdade de expressão quando o Estado não intervém
para controlar a informação ou quando a censura oficial não proíbe a livre circulação de
opiniões e do pensamento em geral.
Mas...
Assim...
Portanto...
Texto dissertativo – Resumo

Dissertação é um texto que se caracteriza pela defesa de uma ideia, de


um ponto de vista, ou pelo questionamento acerca de urn determinado
assunto.
Em geral, para se obter maior clareza na exposição de um ponto de
vista, costuma-se distribuir a matéria em três partes

a. introdução - em que se apresenta a ideia ou o ponto de vista que será


defendido;

b. desenvolvimento ou argumentação - em que se desenvolve o ponto de


vista para tentar convencer o leitor; para isso, deve-se usar uma sólida
argumentação, citar exemplos, recorrer a opinião de especialistas, fornecer
dados, etc.

c. conclusão - em que se dá um fecho ao texto, coerente com o


desenvolvimento, com os argumentos apresentados.
Quanto à linguagem, prevalece o sentido denotativo das
palavras e a ordem direta das orações. Também são muito
importantes, no texto dissertativo, a coerência das ideias e a
utilização de elementos coesivos, em especial das conjunções
que explicitam as relações entre as ideias expostas. Portanto,
a elaboração de um texto dissertativo não está centrada na
função poética da linguagem e sim na colocação e na defesa
de ideias e na forma como essas ideias são articuladas.
Quando se lança mão de uma figura de linguagem, ela deverá
sempre ser utilizada com valor argumentativo, como um
instrumento a mais para a defesa de uma determinada ideia.

Roseli Princhatti - http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/1430968 (16/05/2009 - 16:30)


COESÃO E ARGUMENTAÇÃO lhe que tipo de idéias o levaram a determinado
posicionamento. Dito de outra maneira, ao
O fato de o ato de escrever ser um momento em escrever um texto o locutor estabelece relações a
que aquele que escreve se vê sozinho frente ao partir do tema que se propôs a discutir e tira
papel, tendo em mente apenas uma imagem de um conclusões, procurando convencer o receptor ou
possível interlocutor, faz com que haja necessidade conseguir sua adesão ao texto.
de uma maior preocupação em relação à coesão. Não se pode traçar uma distinção absoluta entre
Em geral, o aluno não sabe até que ponto deve coesão e argumentação: a coesão garante a
explicitar o que tenta dizer para que se faça existência de uma relação entre as partes do texto
compreender. Entretanto, o "fazer-se compreender" que tomadas como um todo devem constituir um
ato de argumentação. As duas noções contribuem
é um ponto central em qualquer texto escrito; a
coesão deve colaborar neste sentido, facilitando o para a constituição de um conjunto significativo
estabelecimento de uma relação entre os capaz de estabelecer uma relação entre o sujeito
interlocutores do texto. O que se busca não é um que escreve e seu virtual interlocutor.
texto fechado em si mesmo, impenetrável a É próprio da linguagem seu caráter de
interlocução. A escrita não foge a esse princípio,
qualquer leitura e sim algo que possa servir como
veículo de uma interação entre os interlocutores. ela também busca estabelecer uma relação entre
sujeitos. O texto deve ser suficiente para
Há ainda mais uma questão em que se deve caracterizar seu produtor enquanto um agente, um
pensar na consideração das especificidades da sujeito daquela produção, ao mesmo tempo em que
confere identidade ao seu interlocutor. O texto,
modalidade escrita – a argumentação. É através
dela que o locutor defende seu ponto de vista. A enquanto totalidade revestida de significados,
argumentação contribui na criação de um jogo acaba sendo um jogo entre sujeitos, entre locutor e
entre quem escreve o texto e um possível leitor, já interlocutor.
que aquele discute com este, procurando mostrar-
PERGUNTAS
8) Explique a passagem: "O texto, enquanto
1)Procure no texto expressões que uma totalidade revestida de significados...".
expliquem o significado das palavras 9) Explique o que você entende por "jogo
SUJEITO e INTERLOCUÇÃO. entre sujeitos".
2) Na produção de textos escritos, há uma 10) Releia atentamente o texto e responda:
maior preocupação em relação à coesão. a) Qual a relação de significado entre os dois
Quais são as causas disso? primeiros parágrafos do texto? Há alguma
3) Qual a importância do "fazer-se palavra particularmente importante para o
compreender" nos textos escritos? estabelecimento dessa relação?
4) Releia atentamente o primeiro b) Qual a relação de significado entre o
parágrafo e responda: qual deve ser a segundo e o terceiro parágrafo?
finalidade perseguida pelo produtor de c) Qual a relação de significado entre o
textos escritos? terceiro e o quarto parágrafo?
5) Qual a importância da argumentação na d) Qual seria o esquema básico das idéias
elaboração de textos escritos? expostas no texto e do relacionamento entre
6) Como se relacionam coesão e elas?
argumentação? 11) Quando você produz textos escritos
7) Retire do texto passagens que explicam exerce conscientemente seu papel de sujeito
a frase: "É próprio da linguagem seu num ato de interlocução? Comente sua
caráter de interlocução" (último atitude nessas situações.
parágrafo).

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