Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E EXPRESSÃO
Letícia Sangaletti
Comunicação oral
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
A necessidade de comunicação é natural dos seres humanos e, para que
esta ocorra, línguas são usadas para promover as trocas. Interagir, influen-
ciar o próximo, explicitar sentimentos, trocar ideias são apenas algumas
das formas usadas para estabelecer relações interpessoais. Enquanto a
linguagem é a capacidade que o ser humano tem de se comunicar
e também todo e qualquer sistema de códigos que pode ser usado
como meio de comunicação entre sujeitos, a língua é, entre eles, o
código mais utilizado para estabelecer a comunicação. Já o código
é o conjunto de possibilidades que proporciona a comunicação
e, junto com a linguagem, permite que se construa uma língua,
caracterizando um povo, uma sociedade.
Neste texto, você vai acompanhar todo o processo que compreende a
comunicação oral e poder avaliar que não se trata de uma simples troca,
mas que existem diferentes elementos de variação linguística, modalidades
de fala e grau de formalidade, além de diferentes gêneros de cunhos oral,
textual e híbridos que fazem parte da comunicação oral. A língua pode
ser padrão (também chamada de linguagem formal e norma culta) ou
informal (linguagem coloquial), ou seja, a que usamos no dia a dia. Assim, o
uso que cada indivíduo faz da língua é a fala, que pode ser também formal
ou informal. Como vivemos em um país multicultural, e é natural que as
pessoas não falem da mesma forma, essa fala pode ser diferente de um
lugar para outro, de uma época para outra, assinalando a diversidade que
temos na língua e caracterizando o que chamamos de variação linguística.
44 Comunicação oral
Classe social também pode apontar variações de linguagem. Isso tem a ver
com o tipo de cultura com que você tem contato. Além disso, o grupo social
em que os indivíduos estão inseridos, como nerds, skatistas, surfistas, indica
variação. Se você não faz parte de determinado grupo, pode não entender
parte da linguagem utilizada por ele.
A variação de estilo ou diafásica é a que tem relação com a situação de
uso da língua, do que é e do que não é adequado. O estilo pode ser formal e
informal, padrão e não padrão, coloquial e culto. O modo de usar a língua
vai se adequar ao momento. Por exemplo: diante de um juiz, o sujeito vai
formalizar a língua, mas quando está com a família, amigos ou em intimidade,
a tendência é falar informalmente.
Comunicação oral 47
Você pode encontrar os mesmos tipos de variação com outros termos, escritos por
outros teóricos, como Marcos Bagno. O pesquisador explica que há diferenças entre
os termos utilizados nas definições de variações linguísticas. Observe (BAGNO, 2007):
Dialeto: uso da língua em determinada região.
Socioleto: variedade linguística de determinado grupo com características (sociais,
profissionais, econômicas) comuns.
Cronoleto: variedade de certa faixa etária.
Idioleto: modo de falar característico de um indivíduo.
A transcrição da língua falada é um recurso cada vez mais explorado pela literatura,
tendo em vista a vivacidade que dá ao texto. Observe, no trecho a seguir, algumas
das características da língua falada. Você pode perceber, por exemplo, o uso de gírias
e de expressões populares e regionais, além de incorreções gramaticais e repetições.
“– Menino, eu nada disto sei dizer. A outro eu não falava, mas a ti eu digo. Eu não sei
que gosto tem esse bicho de mulher. Eu vi Aparício se pegando nas danças, andar por
aí atrás das outras, contar histórias de namoro. E eu nada. Pensei que fosse doença, e
quem sabe não é? Cantador assim como eu, Bentinho, é mesmo que novilho capado.
Tenho desgosto. A voz de Domício era de quem falava para se confessar:
– Desgosto eu tenho, pra que negar?…” (REGO, 1979).
usar vocabulário vulgar. Há pelo menos dois níveis de língua falada: a culta ou
padrão e a coloquial ou popular. Além dessas, a linguagem coloquial também
é registrada quando há o uso de gírias, na linguagem familiar, na linguagem
vulgar e nos regionalismos e dialetos.
De acordo com Marcuschi (2000), tanto a variedade escrita quanto a falada apresentam:
língua padrão/variedades não padrão; língua culta/língua coloquial; norma padrão/
normas não padrão. Afinal, a língua em si não é um sistema único e abstrato, mas
heterogêneo e repleto de variação.
Você pode observar que existe uma zona intermediária entre as variedades
prestigiadas e as estigmatizadas. As influências de umas sobre as outras são
intensas e constantes. Para Bagno (2001, p. 80), “Isso é mais do que natural numa
sociedade complexa como a brasileira contemporânea, sobretudo por causa dos
meios de comunicação de massa (principalmente a televisão e o rádio)”.
A norma padrão fica no alto, na estratosfera da abstração, do virtual. Para
o teórico, ela exerce uma influência muito forte sobre o imaginário de todos
os brasileiros. Porém, essa influência diminui na medida em que se afasta das
camadas sociais privilegiadas. Essa norma-padrão está ligada à escola, ao en-
sino formal. Só se aproximam dela os brasileiros que conseguiram passar pelo
funil da educação formal, percorrendo até o fim o trajeto de formação escolar.
Por outro lado, há autores que apontam três níveis de linguagem que co-
laboram para compreender como o indivíduo falante pode se manifestar em
diferentes situações. De acordo com Preti (1994), é possível dividir os níveis
de fala em espécies. Observe:
Existem gêneros das culturas orais que nunca farão parte de culturas
caracteristicamente escritas, e vice-versa. Também é importante você lembrar
que a fala nem sempre reproduzirá a escrita, ou a escrita reproduzirá a fala.
Elas podem caminhar juntas sem anular as peculiaridades de uma ou outra.
Por outro lado, Marcuschi (2008) indica que os gêneros textuais não podem ser
considerados estanques. Eles são como entidades dinâmicas da materialização
de ações comunicativas. Podem ser híbridos, de modo a atingir determinados
objetivos comunicativos.
https://goo.gl/0UxH5z
https://goo.gl/Z5CrpF
56 Comunicação oral
Leituras recomendadas
NOVO MILÊNIO. História da imprensa de Santos (1). [S.l.: s.n.], 2012. Disponível em: <http://
www.novomilenio.inf.br/santos/h0318z01.htm>. Acesso em: 17 set. 2017.
PRETI, D. O discurso oral culto. 2. ed. São Paulo: Humanitas, 1999.