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A principal característica das línguas é sua capacidade de variar.

O Em um plano sincrônico, as
variações observadas nas línguas
podem ser relacionadas a fatores
diversos: dentro de uma mesma
comunidade de fala, pessoas de
origem geográfica, de idade de sexo
diferente;

O Os falantes adquirem as variedades


linguísticas próprias a sua região, a
sua classe social, etc.
Descrição das variedades linguísticas

Parâmetros
básicos

Variação
Variação social
geográfica (ou
(ou diastrática)
diatópica)
O O estudo das relações que
existem entre esses
fatores usados para
classificar um falante e o
modo como ele fala
pertence ao campo da
Sociolinguística.
A sociolinguística é uma área que estuda a língua m
seu uso real, levando em consideração as relações
entre a estrutura linguística e os aspectos sociais e
culturais da produção linguística. Para essa
corrente, a língua é uma instituição social e,
portanto, não pode ser estudada como uma
estrutura autônoma, independente do contexto
situacional, da cultura e da história das pessoas
que a utilizam como meio de comunicação.
(CEZARIO; VOTRE, 2013, 141)
A par da ideia de que a
variação e a mudança são
inerentes às línguas, a
Sociolinguística lança seu
olhar sobre todas as
manifestações verbais nas
diferentes variedades de Seu estudo busca
uma língua; observar o grau
de estabilidade de
um fenômeno
(trajetória)
1 Surgimento da Sociolinguística

O A Sociolinguística surgiu na década de


1960, graças, sobretudo, ao trabalho
de William Labov;

O Para este pesquisador, a natureza


variável da língua é um pressuposto
fundamental, que orienta e sustenta a
observação, a descrição e a
interpretação do comportamento
linguístico.
As diferenças, observáveis nas comunidades em geral,
são vistas, portanto, como um dado inerente ao
fenômeno linguístico.

A não aceitação da ‘diferença,’ da ‘diversidade’ é responsável por


numerosos preconceitos sociais., a exemplo do PRECONCEITO
LINGUÍSTICO.
1.1 A metodologia da Sociolinguística
A Sociolinguística é metódica e procura dar ao pesquisador os
instrumentos práticos para a coleta de variáveis, bem como
para a sua codificação e análise;

A abordagem variacionista fundamenta-se em pressupostos


que permitem ver regularidade e sistematicidade nos
fenômenos observados;

Busca demonstrar como uma variante se implementa na


língua e, analogamente, como outa desaparece.
O Variante: forma concorrente (de uso) de
outra, com mesmo significado básico.
MAIS FORMAL MAIS COLOQUIAL

NÓS FALAMOS A GENTE FALA


Em que contexto
social um mesmo
falante se utiliza de
cada uma das duas
variantes? Há diferenças ao
se compararem
pessoas cultas
com
Ou será que há um analfabetas?
contexto específico
para cada uma
das formas?

Há diferenças nos
usos dessas formas
ao se compararem
crianças, jovens e
adultos?
O E quanto a pessoas de nível
socioeconômico distinto?

O É possível saber se a forma mais coloquial


“a gente fala” está substituindo a forma
canônica “nós falamos”?

O Há verbos (provavelmente os mais formais)


que motivam o uso de “nós”? Quais seriam
esses verbos? E quais outros
(provavelmente os menos formais)
motivariam o uso de “a gente”?

(CEZARIO, VOTRE, 2013, p.142)


Mais variações
Nós fala A gente falamos

Qual o grau de escolaridade das pessoas que usam essas formas?

Há incidência da forma “ a gente” mais verbo na primeira pessoa do


plural na fala das pessoas cultas? Em que contexto tais incidências
tendem a ocorrer? (CEZARIO; VOTRE, 2013, 142)
O A Sociolinguística constata que
muitas formas ditas ‘não padrão’
também são usadas por pessoas
escolarizadas;

O Seu método de análise permite medir


o uso de variantes e mesmo fazer
previsões de certas ocorrências em
determinados contextos;

O Cada contexto de uso é determinante


para avaliação do fenômeno a ser
estudado.
O Compete ao sociolinguista pesquisar os
contextos que favorecem a variação:

a) na fala de um mesmo grupo de falantes;

b) entre grupos distintos de falantes divididos


segundos variáveis convencionais, a exemplo
de sexo, idade, escolaridade, procedência,
etnia, nível socioeconômico.
O Ao conjunto de variantes dá-se o
nome de “grupo de fatores” ou
“variável linguística”;

O Ao linguista convém definir quais


são as variáveis linguísticas
relevantes para a descrição de
um dado fenômeno;

O Uma variável pode ser binária


(número singular e plural) ou
eneária, com três ou mais
variantes .
Que tal o “r” final em palavras como “cantar”,
for”, der”, qualquer”, “melhor”, “mulher”,
como ilustram Cezario e Votre (2013, 143)?

Qual variante de “r” é mais eliminada em cada


situação?
1.2 Variação e sistematização

O Apenas a primeira oração de uma sequência


apresenta explicita o sujeito:

...tinha uma...árvore um tronco...aí eu...me abaixei pra poder


não bater bati com isso aqui...aí fiquei...desmaiado uma hora
e meia duas horas...aí acordei no hospital com isso
aqui...aberto e as costas toda arranhada... (RJ)
O Nas línguas em que o sujeito pode ser
expresso ou oculto, há uma tendência de
ele aparecer no início do enunciado e na
mudança do referente;

O O sujeito oculto costuma ocorrer na cadeia


do tópico, quando há várias orações com
foco no mesmo referente;

O A sistematização existe no uso de variantes


de uma língua.
2 Tipos de variação linguística

a) variação regional: relacionada a


distâncias espaciais entre cidades,
estados, regiões ou países diferentes.

Ex.: a variação geográfica permite oposição


entre Brasil e Portugal, da mesma forma
em reconhecemos oposição entre as
regiões brasileiras.
b) variação social: relacionada aos diferentes
grupos socioeconômicos: faixa etária, grau de
escolaridade, procedência, etc.

c) variação de registro: tem como variantes o grau de


formalidade do contexto interativo validado na
comunicação.
O Uma forma linguística pode começar a ser
usada numa determinada região e, de
repente, passar a ser reconhecida em
outra;

O Há variações em todos os níveis da língua:


lexical, gramatical, fonético-fonológico;

O O contexto situacional é responsável pela


validação de certos usos linguísticos.
3 O advento da
Sociolinguística Variacionista

Os estudos formalistas não incluíam a


variação em seus estudos;

Outros caminhos passaram a ser


procurados pelos estudiosos. A
Sociolinguística Variacionista decorre
da necessidade de se estudar a
variação e a mudança linguística.
O O termo ‘Sociolinguística’ surge na década de
1950, mas se desenvolveu como corrente
nos Estados Unidos na década de 1960,
especialmente com Labov, Gumperz Dell
Hymes;

O Para Dell Hymes, a Sociolinguística


representa um campo que inclui outras
tantas disciplinas, tais como a Sociologia, a
Linguística, a Antropologia, a Educação, a
Poética, o Folclore e a Psicologia;

O Destaca o autor que a Sociolinguística é


disciplina autônoma, apesar de manter
relação com as demais citadas.
O Para Labov, a Sociolinguística volta sua
atenção para variáveis de natureza
extralinguística;

O Em essência, Labov realçou que a


mudança linguística só pode ser
compreendida dentro da comunidade em
que ela se produz.
4 Precursores da Sociolinguística
Cezário e Votre mencionam que houve
movimentos favoráveis ao estudo de análise de
variáveis sociais em Linguística nos Estados
Unidos e na França;

Reportam, ainda, ao Linguistic Atlas of the


United States and Canada, da década de 1930,
o qual incorporou informações sociais e
geográficas para fins de levantamento dos
dialetos, dividindo os informantes de acordo
com os níveis de escolaridade.
Os autores também
aludem ao trabalho de Nos dias atuais,
Meillet, na França, o enfatiza-se muito a
qual asseverou que ideia de que pessoas
qualquer mudança na provenientes de
estrutura social implica diferentes classes
nas condições em que sociais falam dialetos
a linguagem se bastante diferentes.
desenvolve;
5 Sociedade e linguagem
A relação entre língua e sociedade é bastante
evidente e disso pode decorrer o número de traços
que aproximam ou distanciam as pessoas entre si;

Labov, em 1966, desenvolveu um trabalho sobre a


consoante pós-vocálica /r/ em três lojas de
departamento de Nova York.
A pesquisa induziu os empregados a
pronunciarem as palavras fourth e floor
como resposta à pergunta sobre o andar
onde se encontrariam os produtos
procurados;

Labov constatou que a pronúncia do /r/ pós-


vocálico era considerada como de prestígio,
na medida em que a preservação da vibrante
acontecia com mais frequência na fala dos
empregados da loja da classe alta e média.
O Outro exemplo para ilustrar a relação entre
língua e sociedade é a diferença decorrente
do binômio masculino/feminino.

Ex.: Em zulu, a mulher é proibida de dizer o


nome do sogro, dos irmãos deste e o nome do
genro.

 Em português, é muito comum ouvirmos


um homem dizer: “Esta é minha mulher”, já
o contrário (“Este é meu homem”) não é
algo recomendado para a mulher.
6 Aspectos metodológicos da
Sociolinguística
A análise dos fenômenos de
mudança linguística busca avaliar
cinco dimensões estabelecidas por
Weinreich, Labov e Herzog (1968):

1) os fatores universais
delimitadores da mudança (e
variação), os quais podem ser
sociais ou linguísticos;
O 2) o encaixamento das mudanças no sistema
linguístico e social da comunidade;

O 3) a avaliação das mudanças em termos dos


possíveis efeitos sobre a estrutura linguística e
sobre a eficiência comunicativa;

O 4) a transição, momento em que há mudanças


intermediárias;

O 5) a implementação da mudança: estudo dos


fatores responsáveis pela implementação de
uma mudança X; explicação para a ocorrência
da mudança em X e não Y.
6.1 Critérios

O O sociolinguista busca recolher


um grande número de produção
linguística gravada;

O Como não há preocupação com


monitoramento, busca-se pedir
aos informantes a produção de
narrativas pessoais, a fim de
que sejam coletadas falas
espontâneas.
O Os informantes escolhidos são os que são
nascidos e criados na comunidade a ser
estudada;

O As variantes são entendidas como formas em


competição.

O As avaliações de análises de variantes podem


delinear dois tipos de situações:

a) estabilidade de variantes (variação);

b) competição entre variantes (mudança em curso);


O Para ocorrer a variação, basta o
favorecimento do ambiente linguístico;

O Para ocorrer a mudança linguística, urge a


interferência de fatores sociais (prestígio de
classes de classes, por exemplo);

O Seja como for, para que haja a mudança


linguística, é necessário um período de
variação entre as formas.
O Um exemplo de variação estável em
português é alternância entre os grupos
consonantais [l] – c[l]aro – c[ra]ro;

O A forma não padrão [r] é usada pelos


falantes das classes menos favorecidas e
com baixo grau de escolaridade;

O À medida que as crianças entram na escola,


a tendência que é que seu nível de
escolaridade suba.
A mudança ocorre quando a forma de maior prestígio
se espalha e substitui a forma que antes era mais
usada. Eis o caso da pronúncia do /l/ pós-vocálico, que
passou a ser pronunciado como semivogal (sa[w]);

Como salientam Cezário e Votre, em um estágio de língua, é


difícil dizer se um fenômeno representa caso de variação
estável ou de mudança em curso.
Os sociolinguistas validam um método para dizer se uma forma está ou
não substituindo uma outra mais antiga.

Fala-se em tempo real e tempo aparente.

O tempo real é avaliado por meio de pesquisas de duas ou mais épocas


(mínimo de 12, máximo de 50 anos).
O linguista pode gravar informantes e revisitá-los anos depois, para
observar o comportamento de algumas variáveis (concordância, por
exemplo).

É possível, também, que ele compare gravações de entrevistas atuais


com outras dadas em épocas diferentes.

Em síntese, o linguista terá meios de averiguar se duas formas estão em


variação ou se são um caso de mudança.
Em termos de técnica do tempo aparente, o linguista grava amostras de
informantes de diferentes faixas etárias para fins de comparação.

Um uso muito frequente na fala de jovens pode indicar mudança em


curso.

A escolaridade pode contribuir para dar mais certeza às conclusões do


pesquisador.

(um falante culto passa a usar uma fala estigmatizada)


Um ponto importante a ser destacado é que a Sociolinguística não
trabalha com a ideia de separar a sincronia da diacronia.

Essa disciplina tanto descreve o que ocorre numa comunidade de fala X,


como apresenta explicações relativas à mudança linguística.

Trata-se de uma área de que lida com dados, os quais servem para
comprovar, refutar ou reconstruir hipóteses sobre determinado fenômeno
linguístico.
7 Impactos da Sociolinguística

Contribuição para o Centros brasileiros de


ensino de línguas pesquisas na área
PEUL – Programa de Estudos sobre o Uso da Língua /UFRJ

NURC – Norma Urbana Culta (SP/RJ)

VARSUL – Variação Linguística da Região Sul (universidades da


região sul);

VALPB – Variação Linguística do Estado da Paraíba/ UFPB

Falares Sergipanos – Gelins /UFS


Referências
CEZÁRIO, Maria Maura; VOTRE, Sebastião. Sociolinguística. In:
MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.). Manual de linguística. 2 ed.,
3ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2015.

COELHO, Izete Lehmkuhl et al. Para conhecer sociolinguística.


São Paulo: Contexto: 2015. (Coleção para conhecer linguística).

SILVA, Leilane Ramos da. O ensino da norma culta na escola:


mitos e preconceitos linguísticos. In: Linguística Aplicada ao
Ensino de Língua Materna. CESAD: São Cristóvão, 2009.

SILVA, Leilane Ramos da. O tratamento da variação linguística na


escola: o que é preciso saber, o que é preciso
mudar?In: Linguística Aplicada ao Ensino de Língua
Materna. CESAD: São Cristóvão, 2009.

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