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A SOCIOLINGUÍSTICA

Sociolinguística
Sociolinguística
“A sociolinguística é uma área que estuda a
língua em seu uso real, levando em
consideração as relações entre a estrutura
lingüística e os aspectos sociais e culturais
da produção lingüística. Para essa corrente, a
língua é uma instituição social e, portanto,
não pode ser estudada como uma estrutura
autônoma, independente do contexto
situacional, da cultura e da história das
pessoas que a utilizam como meio de
comunicação” (p. 141)
Sociolinguística variacionista

A sociolinguística variacionista surgiu de um


descontentamento de alguns pesquisadores com relação
ao estruturalismo e ao gerativismo que não davam
atenção ao uso da língua em situações reais;
 
Valoriza os fatores sociais, culturais e psíquicos
que interagem na linguagem; “Esses fatores são
considerados essenciais para o estudo linguístico porque
o homem adquire a linguagem e dela se utiliza dentro de
uma comunidade de fala, tendo como objetivos a
comunicação com os indivíduos e a atuação sobre os
interlocutores. Portanto muito se perde ao abstrair a
língua de seu uso real” (p. 147)
Sociolinguística variacionista

Concepção de linguagem: linguagem como


processo de interação

Ao usar a língua, o indivíduo realiza ações, atua sobre


o interlocutor. A linguagem é o lugar da interação
humana, de interação comunicativa pela produção de
efeitos de sentido entre interlocutores em uma dada
situação de comunicação e em um contexto sócio-
histórico e ideológico.

Língua é um produto da interação social


e, como tal, é heterogênea.
Sociolinguística variacionista

Firmou-se em 1960 com William Labov


Leva-se em consideração a estrutura linguística e
sua relação com os aspectos sociais e culturais da
produção linguística;
Língua é uma instituição social, não pode ser
vista como autônoma;
A variação e a mudança linguística são inerentes às
línguas e devem sempre ser levadas em conta na
análise linguística.
William Labov
Sociolinguística variacionista

Objetivo

Entender quais são os fatores que motivam a


variação linguística.

O linguista, ao estudar a variação deve:


 
- Demonstrar como ela se configura numa
comunidade de fala;
-Determinar quais contextos linguísticos e
extralinguísticos que favorecem ou inibem a variação.
Sociolinguística variacionista

Uma variante linguística

Variante – uma forma usada na língua ao lado de


outra sem que haja mudança no significado básico

A sociolinguística procura demonstrar como uma


variante se implementa na língua ou desaparece

Um exemplo: variação nos pronomes pessoais na


primeira pessoa do plural:
 
Nós falamos
A gente fala
Sociolinguística variacionista

Perguntas que o sociolinguista poderá se fazer,


diante dessas duas formas
 
- Em que contexto social um mesmo falante se
utiliza de cada uma das duas variantes?
- Ou será que há um contexto específico para uma
das formas?
- Há diferenças nos usos dessas formas ao se
compararem crianças, jovens e adultos?
- E quanto a pessoas de nível socioeconômico
distinto?
Sociolinguística variacionista

- É possível saber se a forma mais coloquial, “a


gente fala”, está substituindo a forma
canônica “nós falamos”?

- Há verbos (provavelmente os mais formais)


que motivam o uso de “nós”? Quais seriam
esses verbos? E quais outros (provavelmente
os menos formais) motivariam o uso de “a
gente”?

“nós fala” e “a gente falamos”


Sociolinguística variacionista

Mais perguntas...

- Qual é o grau de escolaridade das pessoas


que usam essas formas?
- Há incidência da forma “a gente” com o verbo
na primeira pessoa do plural na fala de
pessoas cultas? Em que contexto tais
incidências tendem a ocorrer?
Sociolinguística variacionista

Contribuições da pesquisa sociolinguística

- Constatação de que muitas formas não-padrão


ocorrem na fala de pessoas de nível superior,
principalmente nos momentos mais informais;

- Graças à metodologia sociolinguística é possível


medir o número de ocorrência de usos de uma
variante e fazer previsão sobre as principais
tendências de uso dessas variantes.
Sociolinguística variacionista

Mais um exemplo de variante

a) As meninas brincam no quintal


b) As menina brinca no quintal

- A variação pode ocorrer tanto na fala de pessoas


analfabetas quanto na fala de estudantes
universitários, no entanto, a frequência de uso é
diferente;

- Pessoas menos instruídas tendem a usar (b), enquanto


pessoas mais instruídas tendem a usar (a);

-Isso não quer dizer que pessoas instruídas nunca usem


(b) e pessoas não-instruídas nunca usem (a).
Sociolinguística variacionista

Cabe ao sociolinguista descobrir os


contextos que favorecem a variação:

Na fala de um mesmo grupo de falantes;

Entre grupos distintos de falantes divididos


segundo variáveis convencionais – sexo, idade,
escolaridade, procedência, etnia, nível
socioeconômico.
Sociolinguística variacionista

Aquilo que varia é a variável e as


possibilidades de variação são as
variantes
(1) Variável <s> (final de substantivo – plural)

Variantes:
- /s/ (as meninas)
- zero (as menina)

(2) Variável – pronome de primeira pessoa

Variantes:
 - presença do pronome (“eu comprei uma casa”)
- ausência do pronome (“comprei uma casa”)
Sociolinguística variacionista

Três tipos básicos de variação linguística


 
1.Variação regional – associada a distâncias espaciais
entre cidades;
 
2. Variação social – associada a diferenças entre
grupos socioeconômicos – faixa etária, escolaridade,
procedência, sexo;
 
3. Variação de registro – grau de formalidade do
contexto (fala, e-mail, jornal, carta, conferência,
conversa de bar)
 
Sociolinguística variacionista

Há uma interação entre as variáveis: inovação


linguística começa numa determinada região
(regional), mas é própria de um grupo
socioeconômico desfavorecido (social). A variante
pode passar a ser usada pelo grupo socioeconômico
mais alto em situações informais (registro)

A variação ocorre em diversos níveis da língua:

Lexical – macaxeira, aipim, mandioca;


Gramatical – eles brincam/eles brinca
Fonético-fonológico – pronúncias regionais para
morena, porta, pasta...
Sociolinguística variacionista

Sociedade e linguagem

Formas de língua usadas são diretamente relacionadas


com a comunidade linguística e a classe social

Labov (1966) – observação da pronúncia de “r”


posvocálico em Nova Iorque
 
Fourth
Floor
 
Classes alta e média preservam o /r/ vibrante
Classe baixa não preserva o /r/ vibrante

Preservação do /r/ vibrante é de prestígio


Sociolinguística variacionista

Aspectos teórico-metodológicos da sociolinguística

Parte-se do objeto de estudo para a construção do


modelo teórico;
 Objeto de estudo – uso da língua em situações
naturais;
Falante-ouvinte real – falante que de fato existe e que
participa de situações reais de uso da língua;
Dados – o sociolinguista procura recolher o maior
número de dados de um número considerável de
falantes;
Sociolinguística variacionista
Informantes – aqueles nascidos e criados na
comunidade em que vivem ou que vivem ali desde os 5
anos de idade ou há pelo menos 20 anos;

Variantes – entendidas como modos diferentes de dizer


a mesma coisa – “são concebidas como estando em
competição na língua, sendo que o favorecimento de
uma sobre a outra ocorre devido a fatores lingüísticos e
extralingüísticos (contexto linguístico, classe social, sexo,
faixa etária” (p. 150);

- Ver exemplo Duarte (1989) - ODA


Sociolinguística variacionista

Variação estável e mudança linguística

Resultado da análise das variantes pode definir duas


situações:

1.Variação
- Estabilidade entre as variantes;
- Ocorre quando há favorecimento do ambiente linguístico.

2. Mudança em curso
- Competição entre as variantes com o aumento de uso de
uma das variantes;
- Ocorre quando há interferência de fatores sociais (lutas
pelo poder, prestígio entre classes, sexos ou gerações.
Sociolinguística variacionista

Variação estável – diferenças linguísticas que


caracterizam cada grupo social, cada cidade, cada região,
cada canal (escrito ou oral)
 
Exemplo – caso da variação entre [l] e [r] – c[l]aro e
c[r]aro; bicic[l]eta e bicic[r]eta
 
- Forma canônica – usada por pessoas mais escolarizadas
- Forma não-padrão – usada por grupos menos
escolarizados e de classes menos favorecidas
 
“À medida que as crianças entram na escola e o seu nível
de escolaridade sobe, aumenta a ocorrência da forma
padrão [l] na sua fala” (p.151)
Sociolinguística variacionista

Mudança linguística – a mudança ocorre quando, após


um período de variação entre duas ou mais formas, a
forma mais nova e de menor prestígio se espalha e passa
a ser a forma mais usada.
 
Exemplos

- “l” final pronunciado como semivogal [u] – Brasi[u] vs.


Brasi[l];

- pronome oblíquo átono de 3ª pessoa substituído pelas


formas: vazio ([ ]), pronome reto (“ele”, “ela”, “eles”,
“elas”) e sintagma nominal repetido.
Sociolinguística variacionista

Variação estável ou mudança linguística?


  
Como sabemos se “neste momento” temos uma variação
apenas ou uma mudança em curso?

Exemplo: as mesas
as mesa
 
Metodologia de análise: tempo real ou tempo aparente
Sociolinguística variacionista

Tempo real

Pesquisa de duas ou mais épocas com distância mínima de


12 anos e máxima de 50 anos. Como?
 
- gravar informantes e revisitá-los mais tarde: Projeto
NURC - http://www.letras.ufrj.br/nurc-rj/;
- Comparar entrevistas atuais com entrevistas dadas há
tempos atrás;
- Comparar dados de textos antigos.
Sociolinguística variacionista

Tempo aparente

Gravar amostras de informantes de diferentes faixas


etárias para saber se uma dada forma é mais falada entre
crianças e jovens do que entre adultos e idosos.

“Um uso muito elevado de ocorrência da forma nova na


fala de jovens pode indicar mudança em curso” (p. 151)
 
Escolaridade – quando falantes mais cultos estão usando
uma forma que anteriormente não tinha prestígio significa
que ela deixou de ser estigmatizada para ser normal
dentro da comunidade de fala das pessoas escolarizadas e
isso significa mudança (pronome oblíquo átono de terceira
pessoa)
Sociolinguística variacionista

Expansão da sociolinguística
 
Fornece subsídios para a área do ensino: “a
sociolinguística cria nos (futuros) professores
uma visão menos preconceituosa e incentiva-os
a valorizar todos os dialetos e a mostrar à
criança que o dialeto culto é considerado melhor
socialmente, mas que estrutural e
funcionalmente não é nem melhor nem pior que
o dialeto da comunidade do aluno” (p. 152)
 
A língua oral e a
língua escrita
FALA E ESCRITA

Fala e escrita “são modos de


representação cognitiva e social
que se revelam em práticas
específicas” (Marcuschi, 2007,
p. 35).
PRÁTICAS ESPECÍFICAS

Reunião de negócios em uma empresa


Conversa do pai com a esposa e o filho em casa
Conversa do rapaz com seus colegas de casa

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