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VARIÁVEIS LINGUÍSTICAS

Apostila – Cap. 9: p47-70 “A variação interna” (Görski et al.)

Silva
Görski et al.
Envelope de variação: descrição detalhada das
variantes
Ex.:
Variável dependente: a realização variável da fricativa
/v/:
a) Manutenção [v] b) Glotalização [h]

Variáveis independentes: /v/ início e /v/ intervocálico


Linguísticas:
a) Contexto fonológico precedente. Ex: [a] – na /v/ida,
chega/v/a; Consoante – às /v/eiz∅, sir/v/iço.
b) Contexto fonológico subsequente. Ex.: [ɔ] – /v/olta,
de/v/óve.
c) Tipo de sílaba. Ex: Travada – la/v/ei; Não-travada –
/v/ida.
d) Tonicidade. Ex.: Tônica – /v/amo; Pretônica – e/v/itá; Postônica
– leva/v/a.
e) Status morfológico do segmento. Ex: Morfema lexical – la/v/á;
Morfema gramatical – gosta/v/a.
f) Dimensão do vocábulo. Ex: Monossílabo – /v/ai; Dissílabo –
ti/v/é; Trissílabo ou maior – /v/iolência.
g) Classes de palavras. Ex.: Nomes – cutu/v/elo; Verbos – /v/ô;
Outros – /v/ixe, A/v/e Maria.
h) Grupo fônico. Ex.: Palavras com /ava/ (verbos e não-verbos) –
pega/v/a, ca/v/alo; Palavras sem /ava/ (verbos e não-verbos) –
ti/v/esse, cutu/v/elo.
i) Frequência de uso do segmento. Ex.: Termo extremamente
usual – /v/ai, ta/v/a; Termo muito usual – /v/ê, no/v/o; Termo
usual – /v/iu, chega/v/a; Termo pouco usual – /v/iolência,
no/v/ela; Termo pouquíssimo usual – /v/inho; chu/v/a.
Extralinguísticas:
a) Gênero/Sexo: Masculino e Feminino.
b) Faixa etária: 15-25, 26-49, 50 anos ou mais.
c) Escolaridade: 0-4 e 9-11 anos.
d) Monitoramento estilístico: DID e D2.
(Silva, p. 68)
• Quais as novidades trazidas pela abordagem
variacionista?
 A maior novidade: quantificar essas noções,
aferindo com precisão o peso de cada tipo de
condicionamento.
Novas tendências...
• Em vez de tomar por base para a análise um fenômeno
de contornos gramaticais bem definidos,
• Tem-se ampliado o campo de investigação para domínios
mais abrangentes. Ex.:
 Procura-se investigar como um mesmo processo se
manifesta através de expressões distintas, muitas vezes
pertinentes a diferentes níveis linguísticos. Ex.:
 O estudo da indeterminação perpassa por diferentes
níveis linguísticos para se manifestar: flexão do verbo; uso
do pronome se; uso das formas você ou a gente; uso de
expressões lexicais, como as pessoas, o sujeito, o cara.
 Dessa forma, não estabelecemos apenas uma escolha
entre duas alternativas, mas uma escala de possibilidades
para um domínio funcional.
• Portanto, o significado referencial seria preservado, mas a
questão do contexto exigiria um cuidado especial, ao levar
em conta a situação discursiva.
Variação lexical (Görski et al., p. 51):
• Estudos geolinguísticos de diferentes regiões;
• Associada à variação diatópica e à estilística.
• Os aspectos lexicais são menos sistematizáveis:
 Estão intimamente ligados a fatores
extralinguísticos, de caráter cultural, sobretudo
etnográficos e históricos;
 Permitem a delimitação de áreas lexicais:
→ De zonas de um território que se caracterizam
por nelas existirem vocábulos que não ocorrem
noutras zonas.
• Coleta de dados:
 QSL – objetivo:
→ Captar a diversidade lexical de cada
microrregião dos Estados do Brasil;
→Levando em consideração fatores históricos de
colonização e particularidades relativas aos
diversos campos da atividade humana
(economia, política, trabalho, cultura).
Variação fonológica
• Diversos fenômenos do PB já foram
investigados. Ex: p. 55 (Görski et al.)
• Vídeo – Série Sotaques do Brasil (2014):
http://redeglobo.globo.com/rpctv/noticia/2014/08/
jornal-hoje-veja-todas-reportagens-de-sotaques-
do-brasil.html
Variação morfofonológica (Görski et al., p. 58)
 Ex.: andá (por “andar”) – morfofonológica
revolve (por “revólver”) – fonológica
 Ex.: eles anda (por eles “andam”) – morfofonológica
homi (por “homem”) – fonológica
viagi (por “viagem”) – fonológica
 Ex.: tu anda (por tu “andas”) – morfofonológica
andamo (por “andamos”) – fonológica
Variação morfossintática
 Ex.: você anda (por “tu anda(s)”)
a gente anda (por “nós anda(mos)”)
→ É o pronome que carrega o significado de
pessoa do verbo – morfossintática.
 Tu X Você / Nós X A gente:
→ Morfológica

 Ex.: As menina bonita (por “As meninas bonitas”)


os anel (por “os anéis”)
→ morfossintática
Variação sintática
• Para explicar as hipóteses internas: teoria
gerativa ou então teoria funcionalista.
 Ex.: p. 62.
Variação e discurso
• Contexto de introdução de discurso direto: p. 66:
 E a minha mãe disse
 Aí eu disse [...] Aí ele disse
 Daí ela disse [...] Daí ela disse
 Então eu disse
• Portanto, são variantes que constituem uma
mesma variável linguística.
VARIÁVEIS SOCIAIS
Apostila – Cap. 8: p71-87 “Tipos de variação [de dimensão
externa]” (Görski et al.)

Silva
Labov
Mollica
Araújo
(Mollica, p. 27)
• Qual a justificativa para a primazia dos fatores
sociais?
 Assinalava uma postura teórica oposta à
idealização gerativista e
 Mostrava o comportamento de um
falante/ouvinte real, numa comunidade
linguística heterogênea.

• Escolaridade,
• Gênero/sexo,
• Faixa etária,
• Nível socioeconômico.
4 grupos para formular questões sobre o cap. 8 (p. 71):
“Tipos de variação [de dimensão externa]”
• Cada grupo ficará com um tipo e elaborará
questões sobre ele;
• Outro grupo deverá responder a essas
questões.
VARIAÇÃO SOCIAL OU DIASTRÁTICA

Escolaridade
• Geralmente, os falantes com menor nível de
escolaridade são os que mais usam as formas
não-padrão,
• É normalmente na escola onde o indivíduo é
mais exposto ao conhecimento sistematizado da
língua e às suas formas padrão.
• Para Silva e Scherre (1996), no PB, há três
tendências quanto ao efeito dessa variável
sobre as formas padrão: p. (28) (MOLLICA)
Gênero/Sexo
• Labov (1994), ao reconhecer as diferenças linguísticas
entre homens e mulheres, elaborou alguns princípios
básicos:
 Normalmente, são os homens que usam mais as
formas não-padrão. Por outro lado, as mulheres
favorecem mais as formas de prestígio do que os
homens;
 No entanto, na mudança, são elas que se mostram
mais inovadoras, utilizando as formas novas (desde
que estas sejam de prestígio) bem mais do que os
homens. Esses princípios levam em consideração as
atitudes sociais de cada sexo:
 Paradoxo do gênero: as mulheres se conformam mais
atentamente que os homens a normas sociolinguísticas
que são claramente prescritas, mas se conformam
[adaptam] menos que os homens quando não são.
(LABOV, 2001, p. 293).
• A respeito dos comportamentos sociais
historicamente atribuídos às mulheres, Bourdieu
afirma:
As mulheres parecem mais predispostas a
aceitar, desde a escola, as novas exigências
do mercado de bens simbólicos. Tal atitude
ocorre, de um lado, porque elas são
condenadas a uma postura de docilidade em
relação aos usos dominantes e, por outro,
por conta dos efeitos derivados da divisão do
trabalho entre os sexos, tendente a
especializá-las no domínio do consumo.
Enfim, são também movidas pela lógica do
casamento que constitui para elas a via
principal, e talvez a única, de ascensão
social, permitindo-lhes circular de baixo para
cima (BOURDIEU, 1996, p. 37).
• Qual o papel das mulheres na mudança linguística?
 As mulheres, por, normalmente, conversarem mais
com as crianças do que os homens, durante os
anos de formação das regras linguísticas, com
maior rapidez e eficiência, provavelmente teriam
forte influência sobre o ritmo do progresso e a
direção da mudança linguística.
 Portanto, a generalização correta não é a de que as
mulheres lideram a mudança linguística, mas sim
que a diferenciação sexual da fala frequentemente
desempenha um papel importante no mecanismo
da “evolução” linguística;
 A diferenciação sexual com que estamos lidando
depende claramente de padrões de interação
social na vida diária e de uma postura expressiva
que é socialmente mais “apropriada” para um sexo
do que para outro.
Faixa etária
• Estudos feitos por Labov, em Martha’s Vineyard
(1963) e em Nova Iorque (1966), comprovaram que
existe uma tendência dos mais jovens a usarem as
formas mais inovadoras, enquanto que os mais
idosos privilegiam as formas mais conservadoras
(padrão).
• A sociolinguística variacionista postula que as
mudanças podem ser apreendidas durante a sua
implementação através do que se denominou
análise em tempo aparente:
O comportamento linguístico de cada geração
reflete um estágio da língua, com os grupos etários
mais jovens introduzindo novas alternantes que
substituem gradativamente aquelas que
caracterizam a fala de indivíduos de faixas etárias
mais velhas (ARAÚJO, 2007, p. 395).
• Análise em tempo real: encaixamento histórico
da variável no tempo real;
• Considera dados de momentos relativamente
distantes de uma comunidade de fala para dar
conta dessa dificuldade. Pode ser realizado de
duas formas:
 Comparação dos estudos atuais com estudos
mais antigos;
 Retornar à comunidade anos depois e repetir
um estudo já realizado (o estudo de painel ou o
estudo de tendência).
Nível socioeconômico
• Estudos de Labov sobre o inglês de Nova Iorque
apontaram que o grupo social menos privilegiado
favorece o uso de variantes não padrão da língua,
enquanto os mais privilegiados optam pela variante
padrão.
• No entanto, essa constatação, em geral, é
correlacionada com ocupação e estratificação
estilística.
• Segundo Mollica (2008), constituem alguns dos
indicadores sociais: origem social, renda, acesso a
bens materiais e culturais, ocupação, grau de inserção
em redes sociais.
• No Brasil, há poucos estudos que levam em
consideração esses indicadores.
Questionamentos...
• É possível ainda questionarmos essas variáveis
sociais do ponto de vista de uma certa
padronização que uma literatura mais
tradicional costuma impor para a interpretação
dos resultados, como podemos verificar em
questões, como:
a) o grau alto de escolarização concorre para
um comportamento linguístico ajustado ao
padrão culto? b) o gênero feminino é mais
conservador do ponto de vista da norma? c)
há uma relação entre estigmatização
sociolinguística, status e mobilidade social? d)
qual o impacto da mídia sobre a variação
linguística? (MOLLICA, 2004, p. 27).
• Por isso, é importante que os pesquisadores
estejam sempre atualizados em relação a
outras teorias tanto linguísticas quanto sociais,
principalmente no que diz respeito às mudanças
que ocorrem na comunidade que estão
pesquisando.

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