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Lética e Fonologia do Português U
iro de estudos e guia de exercícios
. •, i
Os estudos fonéticos e fonológicos estão presentes nas

ades de Letras do país. Professores que ministram tais cursos

avam suas aulas sem contar com um livro teórico e prático de


roteiro de estudos e guia de exercícios
. introdutório escrito em português.

Este livro, além de expor objetivamente aspectos teóricos da

:a e fonologia, contém uma série de exercícios que permite ao

tnte praticar os conhecimentos adquiridos. Constitui-se,

.to, em um livro essencial para os estudantes dos cursos de Letras

,ém extremamente relevante para os profissionais que trabalham

alfabetização, para os fonoaudiólogos , para os estrangeiros que ( \


'prendendo português e para todas as pessoas interessadas na

io dialetal do português brasileiro.

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Conteúdo de áudio

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contexto
Promovendo a Circulação do Saber
,/ ed itoracontexto
Agradecimentos

Iniciei-me na lingüística em um curso de línguas indígenas com os professo-


res Marcia Ferreira da Silva e Marília Facó Soares. A eles agradeço o incentivo e
a amizade. Carlos Oohn guiou-me com sua sabedoria para assumir a lingüística
profissionalmente. O professor e colega Marco Antônio de Oliveira contribuiu (e
contribui) imensamente para com O meu desenvolvimento intelectual. Suas dis-
cussões claras e objetivas, seus comentários árduos e sua capacidade de compre-
ensão são sempre gratificantes. Agradeço sua paciência, braveza e confiança. Mário
Alberto Perini mostrou-me no curso de "Introdução à Fonologia" (mestrado-UFMG),
que apesar do interesse e dedicação havia uma longa estrada a ser percorrida para
que eu começasse a entender os mistérios da fala. A ele agradeço a rigidez acadê-
mica e a gentileza constante. Meu orientador de mestrado, Luiz Carlos Cagliari,
ensinou-me a trabalhar seriamente, com afinco e responsabilidade. Com ele aprendi
a ter coragem para enfrentar os desafios impostos por análises que muitas vezes
parecem impossíveis e o desejo de aprender sempre mais. Agradeço-lhe pela con-
fiança e amizade. Com Jonathan Kaye aprendi durante a conclusão de meu
doutoramento que a obsessão pelo trabalho pode levar à loucura. Com ele também
aprendi a elaborar hipóteses ousadas e a buscar evidências para corroborá-Ias.
Certamente ele é uma das pessoas mais brilhantes que já encontrei.
Outros tantos colegas compartilharam de diferentes maneiras a minha
trajetória acadêmica. Entre estes agradeço a Antônio Augusto Farias, César Reis,
Bernadete Abaurre, Leda Bisol, Luiz Antônio Marcuschi, Samuel Moreira da Sil-
va, Seung-Hwa Lee e Yonne Leite pelo apoio intelectual e a pela amizade. Agra-
deço também aos membros do Department of Portuguese and Brazilian Studies
do Kings College London que me acolheram tão bem. Um agradecimento especi-
al a David Treece que abriu as portas do Centre for the Study of Brazilian Culture
and Society onde este trabalho foi finalmente concluído.
Agradeço a Marco Antônio de Oliveira, Mário Alberto Perini , Luiz Carlos
Cagliari , Seung-Hwa Lee e Ester Scarpa por terem lido e comentado parte de
versões preliminares deste livro. Seus comentários foram muito valiosos para a
conclusão deste trabalho na presente forma. As falhas e inconsistências ainda
presentes nesta versão final são de minha responsabilidade. Agradeço ainda a
Sebastian Jenkins pela produção gráfica dos desenhos deste livro.
Aos Krenak e aos Krahô agradeço por me ensinarem tanto sobre a diversida-
de cultural, social e lingüística. Em especial agradeço a Krenak e a Krôkôk
Krahô pela amizade e paciência como sábios informantes. Meus alunos da Facul
Agradecimentos

dade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais e do Department of


Portuguese and Brazilian Studies do Kings College London contribuíram com a Sumário
leitura cuidadosa de manuscritos e fazendo os exercícios cuidadosamente. A eles
agradeço pelos comentários extremamente significativos para o formato atual dos
exerCÍcios .
Ao Fábio agradeço o apoio logístico em Belo Horizonte durante a minha
estada em Londres e por compartilhar sonhos e busca, apesar das divergências. Introdução, 11
Agradeço ao Sanzio pelos comentários valiosos da ótica de um não-lingüista. Meus I. A linguagem, 11
amigos partilharam os poucos momentos que sobraram para eles durante a elabo- 2. Áreas de trabalho, 20
ração deste livro. Agradeço em especial a Cecília, lsa, Nice, Zezé e Zina pela Fonética, 23
amizade constante, incentivo e carinho. Rosãngela cuidou com dedicação da casa
I. Introdução, 23
e do Thomas quando iniciei este projeto. A ela agradeço os lanchinhos trazidos
2. O aparelho fonador, 24
com tanto afeto. A minha mãe e irmãos agradeço a confiança e amor e pela paci-
3. A descrição dos segmentos consonantais, 26
ência em falar de lingüística em momentos muitas vezes inadequados. A Lysle em
4. Articulações secundárias, 34
especial agradeço por ser uma mãe tão original (no mínimo!). Finalmente, agrade-
5. Tabela fonética consonantal, 36
ço aos meus rapazes - John, Thomas e Francis - que tantas alegrias me dão por 6. Exercícios complementares 1, 42
partilharem suas vidas comigo. A John, em especial por ter sido tão companheiro, 7. O sistema consonantal do português brasi leiro, 48
alegre, bem-humorado e carinhoso nos momentos em que eu não tirava os olhos (Tabela fonética consonantal destacável A)
da tela do computador. A conclusão deste trabalho deve-se certamente a pessoas 8. A descrição dos segmentos vocálicos, 66
que porventura esqueci de agradecer aqui. A elas o meu apreço. 9. Articulações secundárias dos segmentos vocálicos, 70
Agradeço a André Cavazotti Silva, César Reis, Daniela Mara, João Antônio 10. Ditongos, 73
de Moraes, Lucas Lourenção, Luiz Carlos Cagliari, Marco Antônio de Oliveira e 11. A sílaba, 76
Maria do Pilar Barbosa por contribuirem com o material que foi editado em áudio. 12. A tonicidade, 77
13. O sistema vocálico do português brasileiro, 78
14. Vogais tônicas orais, 79
(Tabela fonética vocálica destacável B)
15. Vogais prctônicas orais, 81
16. Vogais postônicas orais, 85
17. Vogais nasais, 91
18. Ditongos, 94
19. Ditongos crescentes, 95
(Tabela de ditongos destacável C)
20. Ditongos decrescentes, 98
21. Consoantes complexas, 100
22. Exercícios complementares 2, 101
23. Transcrições fonéticas, 106
24. Exercícios complementares 3, 108
25. Exercício final, 114
Fonêmica, 117
I. Introdução, 117
2. A fonêmica, I 18
3. As premissas da fonêmica, 119 Introdução
4. Fonemas e alofones, 126
5. Os procedimentos da anál ise fanêmica, 135
O SISTEMA CONSONANTAL DO PORTUGUÊS, 136
I. Fonemas e alofones, 136
(Tabela fonêmica consonantal destacável D)
A ESTRUTURA SILÁBICA, 152 1. A linguagem
I. Introdução, 152
2 Sílabas constituídas de uma vogal, 153 Falantes de qualquer língua fazem reflexões sobre o uso e a forma da lingua-
3. Consoantes prevocálicas, 155 gem que utilizam. Estes falantes são capazes de fazer observações quanto ao "so-
4. Consoantes posvocálicas, 157 taque" e às "palavras diferentes" utilizadas por um outro falante . Qual o falante
5. Glides, 169
que não se lembra de ter um dia discutido o ')eito diferente de falar" de uma
6. Conclusão, 171
pessoa que seja de uma outra região geográfica? Pode-se também determinar se o
O SISTEMA VOCÁLICO ORAL, 171
falante é estrangeiro e muitas vezes precisar o país de origem daquele fal'8nte .
I. Fonemas vocálicos, 171
Qualquer indivíduo pode "falar sobre" a linguagem e discutir aspectos relaciona-
2. Alofonia vocálica, 173
(Tabela de alofonia vocálica destacável E)
dos às propriedades das línguas que conhece. Isto faz parte do "conhecimento
3. Conclusão, 180 comum" das pessoas. Contudo, há um ramo da ciência cujo objeto de estudo é a
4. Exercício final, 181 linguagem.
O ACENTO, 182 A lingüística é a ciência que investiga os fenômenos relacionados à lingua-
CONCLUSÃO, 185 gem e que busca determinar os princípios e as características que regulam as es-
truturas das línguas. Nas pr6ximas páginas apresentamos ao leitor os principais
Modelos fonológicos, 187 termos técnicos da lingüística que são adotados neste livro. Pretendemos também
I. Introdução, 187 indicar o objeto de estudo da lingüística e apontar áreas de trabalho que necessi-
2. O estruturalismo, 187 tam de profissionais com conhecimentos lingüísticos, especialmente nas áreas de
3. A fonologia gerativa padrão, 190 fonética e fonologia.
4. O modelo natural, 200 Sabemos que falar uma determinada língua implica um conhecimento que
5. O modelo de sílaba na fonologia não-lincar, 202
certamente transcende o escopo puramente lingüístico. Quando duas pessoas fa-
6. Fonologia de dependência, 209
lantes de uma mesma língua se encontram e passam a interagir lingüi sticamente,
7. Fonologia de governo, 211
certamente se dá uma interação ampla em que cada uma das pessoas envolvidas
8. Fonologia lexical, 214
passa a criar uma imagem da outra pessoa. Podemos identificar se a pessoa é falan-
9. Fonologia métrica, 215
te nativo daquela língua. Um falante nativo é um indivíduo que aprendeu aq uela
10. Teoria da otimização, 2 I 7
I I. Interface fonologia-sintaxe, 223 língua desde criança e a tem como língua materna ou primeira língua. Caso classi-
12. Fonologia de uso, 224 fiquemos o falante como sendo nativo, podemos afirmar se tal pessoa partilha da
13. Tópicos para pesquisa, 226 mesma variante regional daquela língua. Não precisamos nem mesmo ver um falan-
14. Conclusão, 229 te para determinar a sua idade ou sexo, e talvez seu grau de educação. Isto pode ser
facilmente atestado quando atendemos a um telefonema. Podemos também precisar
Respostas dos exercícios, 231 se o falante é um estrangeiro que tem a língua em questão como segunda língua. Na
índice remissivo, 257 grande maioria dos casos, falantes de uma segunda língua têm características de sua
língua materna transpostas para a língua aprendida posteriormente. Tem-se portanto
Bibliografia, 263 o "sotaque de estrangeiro" com características particulares de línguas específicas
(como "sotaq ue" de americano, japonês, alemão, italiano, etc.).
IntrOdução IJ

Para procedermos à análise de uma língua devemos delimitar a variante a ser vantes para a organização da gramática. Falantes do português têm, por exemplo,
investigada. Idealmente devemos definir parâmetros lingüísticos e não-lingüísticos, uma entrada lexical como "planeta", cujas propriedades listadas podem ser: subs-
buscando constituir uma comunidade de fala homogênea. Uma comunidade de tantivo, masculino. Cada palavra é associada a uma entrada lexical. No caso da
fala consiste de um grupo de falantes que compartilham de um conjunto específi- palavra "planeta" todos os falantes têm a mesma entrada lexical e as mesmas
co de princípios subjacentes ao comportamento lingüístico. Após definir-se a co- propriedades específicas: substantivo, masculino. Há contudo exemplos como
munidade de fala a ser analisada passa-se, então, à coleta de dados que irão formar "guaraná" ou "telefonema" que não apresentam a mesma entrada lexical para
o corpus. O corpus fornece o material lingüístico a ser analisado. Figueiredo (1994) todos os falantes. Para alguns falantes há a especificação de que estas palavras são
discute aspectos interessantes relacionados à coleta de dados e à seleção de infor- masculinas - "o guaraná, o telefonema" - e para outros falantes há a especificação
mantes. de que estas palavras são femininas - "a guaraná, a telefonema". Dizemos neste
Falantes de qualquer língua prestigiam ou marginalizam certas variantes regi- caso que para as palavras "guaraná, telefonema" o gênero é especificado
onais (ou pelo menos não as discriminam), a partir da maneira pela qual as seqüências lexicalmente podendo ter duas alternativas possíveis: masculino ou feminino.
sonoras são pronunciadas. Assim, determinamos variantes de prestígio e varian- Não há uma opção melhor-pior ou certa-errada. Dizemos que a lexicalização
tes estigmatizadas. Algumas vali antes podem ser consideradas neutras do ponto deste item para os falantes determina a forma a ser adotada. No caso de "guaraná,
de vista de prestígio. Temos em qualquer língua as chamadas variantes padrão e telefonema" temos que a mesma entrada lexical tem propriedades específicas
variantes não-padrão. Os princípios que regulam as propriedades das variantes diferentes.
padrão e não-padrão geralmente extrapolam critérios puramente lingüísticos. Na Há um outro caso de lexicalização que envolve palavras que têm a entrada
maioria das vezes o que se determina como sendo uma variante padrão relaciona-se lexical diferente e as mesmas propriedades específicas. Para alguns falantes as
à classe social de prestígio e a um grau relativamente alto de educação formal dos formas "vassoura, assovio" são substantivos sendo "vassoura" feminino e "assovio"
falantes. Variantes não-padrão geralmente desviam-se destes parâmetros. masculino. Para outros falantes as formas "vassoura, assovio" não existem. As
Vale dizer que as características das variantes padrão e não-padrão nem sem- formas cOlTespondentes com o mesmo significado e as mesmas propriedades es-
pre relacionam-se ao que é previsto pela gramática tradicional como correto. No pecíficas são: "bassoura, assobio". Estas formas são substantivos sendo "bassoura"
português de Belo Horizonte, por exemplo, a terminação "-ndo" das formas de feminino e "assobio" masculino. Pode ser que um falante tenha as entradas lexicais
gerúndio é pronunciada como "-no": "comeno, fazeno, quereno, dançano, vendeno, "vassoura" e "assobio". O falante faz uso da forma registrada em seu léxico. Fi-
etc". Note que a redução de "-ndo" para "-no" oCOlTe somente nas formas de nalmente, há casos de uma palavra apresentar duas formas lexicalizadas diferen-
gerúndio. A forma verbal "(eu) vendo" não permite a redução de "-ndo" para tes para o mesmo falante. Um exemplo é a palavra "ru im" que para inúmeros
"-no", e uma sentença como "*Eu venQ banana" não ocorre. Fazemos uso do falantes do português pode ser pronunciada como "ruím" - "rúim" (o símbolo -
asterisco antes de um determinado exemplo - como no caso de "*Eu veno bana- indica a alternância entre formas) .
na" - com Oobjetivo de explicitar que tal exemplo·é excluído ou não ocorre. Este Podemos concluir que não há variante melhor ou pior de uma língua. Há
recurso é adotado ao longo deste li vro. variantes de prestígio, estigmatizadas ou neutras. Para definir as propriedades
Vale ressaltar que a redução de "-ndo" para "-no" nas formas de gerúndio em a serem adotadas em sua variedade pessoal um falante conta com várias fontes
Belo Horizonte (e em outras regiões do país) desvia-se do esperado como padrão. de informação lingüística e não-lingüística de outros falantes. Mesmo que a
Contudo, sendo o fenômeno amplamente difundido entre os falantes, temos que a seleção não se dê conscientemente, definem-se opções e caracterizam-se assim
redução de gerúndio faz parte da variante padrão em Belo Horizonte. as particularidades da fala de um indivíduo: ou seja um idioleto. O que é inte-
Um exemplo de variante não-padrão pode ser ilustrado com as formas ver- ressante é que embora todo e qualquer indivíduo tenha características específi-
bais de primeira pessoa do plural. Em vários dialetos do português brasileiro tem- cas em sua fala, há uma enorme porção compartilhada com os outros indiví-
se duas formas pronominais para a primeira pessoa do plural: "nós" e "a gente". duos e definem-se assim os dialetos ou variantes de uma língua. Consideremos
Cada uma destas formas requer uma forma verbal distinta: "nós gostamos" e "a a seguir algumas variantes não-lingüísticas que deixam marcas na organização
gente gosta". Ambas as formas são aceitas como parte da variante padrão em lingüística.
vários dialetos. O que caracteriza a variante não-padrão é a troca de formas de A fala do homem e da mulher por exemplo se faz marcar na organização
pessoa com a forma verbal: "nós gosta" e "a gente gostamos". lingüística. Temos variantes de sexo (masculino ou feminino). No português
Há ainda casos de lexicalização. Simplificando podemos dizer que o léxico mineiro observamos que o uso do diminutivo é recorrente na fala feminina: "Olha
consiste de um conjunto de itens lexicais e de suas respectivas propriedades rele- que gracinha aquele vestidinho amarelinho!" Parece difícil imaginar um homem
14 Introdução Introdução 15

dizendo o mesmo enunciado. Geralmente, na fala masculina observa-se com me-


nos freqüência o uso do diminutivo. No caso do português, quando ocorre a vari- Exercício 1
ante de sexo, esta é expressa em termos de freqüência de uso. Não há em portugu- 1.1. Procure um colega de turma (ou um amigo) que seja de uma região diferente
ês marcas gramaticais, palavras específicas ou padrões de entoação que sejam da sua e liste cinco palavras que vocês pronunciam de maneira diferente. Indi-
somente utilizados por falantes de um único sexo. Contudo, isto ocorre em algu- que as regiões consideradas. Identifique a letra (ou letras) correspondentes ao
som (ou sons) que marcam esta diferença.
mas línguas. O japonês pode ser tomado como exemplo. A língua japonesa apre-
1.2. Como você categorizo a sua variedade lingüística individual em termos
senta as variantes masculina, feminina e neutra. Um exemplo que marca a dife-
comparativos com outras variedades do português? Tente comparar a sua va-
rença gramatical entre estas três variantes de sexo é o uso da partícula que segue riante com outras que você considera de prestígio, estigmatizadas e neutras.
um substantivo: na fala masculina é "da"; na fala feminina é "yo" e na fala neutra Compare a sua seleção com a de um colega e discuta os fatores que levaram a
é "desu yo". Várias outras marcas de sexo podem ser observadas em japonês. diferenças.
Contamos também com variantes etárias. Note que pessoas mais idosas, 1.3. Aponte um aspecto do português que marque a variação lingüística entre
por exemplo, são mais propensas a pronunciar O r final das formas de infinitivo faixas etárias diferentes. Ilustre com exemplos.
dos verbos (cf. "cantar"), ou os s plurais de substantivos ("os meninos"). Jovens
tendem a omitir estes sons nestes contextos (cf. "cantá" e "os menino").
Qualquer pessoa está ciente de variantes formais e variantes informais de Ao lingüista compete a tarefa de fOlmular explicações sobre o
sua língua. Estas variantes são estilísticas. Claro que namorar ou brincar com os subjacente à linguagem. Tal tarefa, em última instância, consiste da formalização
filhos envolve o uso de uma variante diferente daquela utilizada em um encontro da gramática de uma determinada língua. Entendemos que uma gramática deve
formal em uma entrevista de emprego ou numa Corte de Justiça. explicitar os princípios e as características da língua analisada. Tal proposta deve
Fazer uso da linguagem certamente leva-nos a compartilhar de princípios explicar todos os enunciados possíveis de ocorrer naquela língua e também ex-
sociais e lingüísticos. Estes princípios são determinados sem nenhum encontro cluir enunciados que não sejam atestados. Note que excluímos neste li vro referên-
específico dos falantes para tal finalidade ou de uma lei ou decreto criados especi- cia à gramática enquanto um volume que lista técnicas para a análise de sentenças
ficamente para este fim. Entretanto, tais princípios são comparti lhados pela co- em termos de suas partes (como sujeito, predicado, etc.). O termo gramática é
munidade em questão e são parte do universo dinâmico e passíveis de mudanças a tradicionalmente utilizado em referência às gramáticas prescritivas ou normativas.
cada instante. Certamente, a intuição de falante nativo contribui para a seleção da A gramática prescritiva ou gramática normativa explicita as regras de-
variante a ser usada em cada contexto. Em outras palavras sabemos o que falar, terminadas para uma língua qualquer. Contudo, é basicamente impossível encon-
para quem, como, quando e onde. trar um falante que faça uso de todas as regras gramaticais prescritas, sem viola-
Portanto, ao empreendermos uma análise lingüística devemos considerar ções. Há méritos nas gramáticas normativas, sobretudo quanto ao estabelecimen-
parâmetros lingüísticos e não-lingüísticos. Dentre os fatores não-lingüísticos res- to dos padrões que são compartilhados pelos falantes. Entretanto, a consulta a
saltamos: região geográfica, faixa etária, gênero (masculi no, feminino, neutro), uma gramática normativa deve ser feita criticamente, avaliando-se as particulari-
estilo (formal, não-formal), grau de instrução, classe social. dades da linguagem utilizada pelos falantes. Um exemplo no português brasileiro
Faremos uso do termo variante para caracterizar as propriedades é o uso do futuro simples: "Eu buscarei o livro amanhã". Para uma grande maioria
lingüísticas comparti lhadas por um grupo específico de falantes. Temos, assim, de fala ntes do português brasileiro o futuro simples não ocorre na língua falada.
variantes etárias, variantes de sexo, variantes geográficas (como por exemplo a Em seu lugar ocorre o futuro composto: "Eu vou buscar o livro amanhã". Note,
variante de Belo Horizonte), etc. O termo dialeto é também utilizado como contudo, que o futuro simples é utilizado na linguagem escrita e em algumas vari-
sinônimo de variante. Ao referirmos à fa la específica de um indivíduo adotamos antes do português brasileiro (e certamente no português europeu). Faz-se, por-
o termo idioleto. As propriedades particulares da fala de um indivíduo car'acte- tanto, pertinente registrar a norma que prescreve o uso do futuro simples. De
rizam seu idioleto. posse desta informação falantes podem fazer uso apropriado do futuro simples se
Gostaríamos de ressaltar que toda e qualquer variante de uma língua é ade- lhes for necessário.
quada lingüisticamente e é inapropriado dizer que há var'iantes piores ou melho- Temos também a gramática descritiva que tem por objetivo descrever as
res. Sugerimos que o leitor faça o exercício abaixo com o objetivo de retletir observações lingüísticas atestadas entre os falantes de uma determinada língua.
sobre a sua variedade lingüística pessoal. Sem prescrever normas ou definir padrões em termos de julgamento de correto-
inconeto, busca-se documentar uma língua tal como ela se manifesta no momento
16 Introdução Introdução 17

da descrição. Podemos dizer que no caso do futuro simples uma gramática descri- (1976) discute a proposta inicial de Chomsky a partir de exemplos do português. A
tiva deve documentar a sua ausência no português falado de vários dialetos e proposta teórica gerativa assume que à lingüística interessa o estudo da competência.
registrar suas características nas variantes em que ele ocorre. Tais gramáticas são A competência consiste do conhecimento subjacente e intemalizado que o falante tem
formuladas com O apoio teórico da lingüística. (ver Perini (1995». de sua língua (semelhante a língua para Sausurre). O uso que O falante faz de sua
língua é denominado desempenho. O desempenho relaciona-se ao que Sausurre de-
nominoufala. A grande diferença teórica entre língua-competência efala-desempe-
Exercício 2 nho pauta-se no argumento de Chomsky de que o conhecimento lingüístico do falante
Discuta com um exemplo do português a diferença entre a gramática prescritiva (em termos de competência) transcende qualquer corpus. Os falantes têm um conhe-
(ou normativa) e a gramática descritiva. cimento ilimitado de sua língua ao criarem e reconhecerem enunciados completa-
mente novos e ao serem capazes de identificar erros de desempenho. A intuição do
falante nativo de uma língua é a referência pru·a definir-se os parámetros gramaticais
Uma descrição lingüística pode ter um caráter diacrônico ou sincrônico. A (em termos de estruturas aceitáveis naquela língua). A análise lingüística, segundo
lingüística diacrônica, que é também chamada lingüística histórica, analisa a lingua- Chomsky, deve descrever as regras que governam a estrutura da competência.
gem e suas mutaçôes durante um detenninado período. Neste caso explicita-se o perí- Chomsky ru·gumenta que a lingüística pode contribuir para a compreensão da natu-
odo a ser considerado e o material lingüístico a ser adotado na análise. Para análises reza da organização da mente humana [(cf. por exemplo Chomsky (1986,1992)j.
diacrônicas do sistema sonoro do português ver Williams (1975), Mattos e Silva Um outro aspecto importante da proposta teórica de Chomsky é a postulação
(1991) e Tessyer (1997). A lingüística sincrônica investiga as propriedades de diferentes níveis da gramática e a inter-relação entre eles. O esquema abaixo
lingüísticas de uma determinada língua em seu estágio evolutivo atual. Deve-se expressa tal proposta.
explicitar a comunidade de fala observada e as condições da coleta do corpus a ser
adotado na análise. Gramótica
No início desta introdução definimos a lingüística como sendo a ciência que / I \
investiga os fenômenos relacionados à linguagem e que busca determinar os prin- Fonologia Sintaxe Semântica
cípios e as características que regulam as estruturas das línguas. Aceitando-se que
a lingüística investiga a linguagem humana, tentemos, então, delimitar mais espe- Os níveis básicos de representação assumidos são fonologia, sintaxe e se-
cificamente o seu objeto de estudo. Discutimos brevemente a seguir as propostas mântica. A fonologia estabelece os princípios que regulam a estrutura sonora das
de Sausurre e Chomsky. línguas, caracterizando as seqüências de sons permitidas e excluídas na língua em
A proposta de SausulTe (1916) é de cunho estruturalista e tem como mérito questão. A sintaxe analisa O mecanismo subjacente à estrutura gramatical, defi-
explicitar o objeto de estudo da lingüística de maneira clara e objetiva. A leitura nindo a organização dos constituintes internos das sentenças e estabelecendo a
deste trabalho - denominado "Curso de Lingüística Geral" - é essencial para os relação entre tais constituintes. A semântica estuda a relação entre conteúdo e
iniciantes em lingüística. Sausurre propõe a dicotomia entre língua efala. A lín- significado. Sugiro que o leitor escolha e consulte um livro de introdução à
gua constitui um sistema lingüístico compartilhado por todos os falantes da língua lingüística e faça o exercício abaixo.
em questão. A fala expressa as idiossincrasias particulares da língua utilizada por
cada falante. O lingüista busca seu material para análise nafala. Coleta-se um corpus
e busca-se definir e descrever um sistema lingüístico - ou seja, a língua - a partir da Exercício 3
análise das particularidades individuais e das semelhanças comprutilhadas pelos 3.1. Qual é o objeto de estudo da lingüística? Justifique a sua resposta.
indivíduos. Portanto, o sistema a ser definido e descrito pelo lingüista constitui a 3.2. Explique os objetivos dos seguintes níveis da gramática: fonologia, sintaxe
língua. A dicotomia entre línguaJala estabelece o objeto de estudo da lingüística: a e Semântica. Indique um tópico abordado na análise do português para cada um
língua . Tal objeto é investigado a partir de material proveniente dafala . destes níveis. Dê exemplos.
Chomsky (1965 e publicações subseqüentes) inova a ciência da linguagem por
associar o evento lingüístico à mente em termos psicológicos ao propor a Gramáti-
ca Gerativa. A Gramática Gerativa - ou Gramática Transformacional - contribuiu A análise lingüística requer que se observe, descreva e, idealmente, explique
para a mudança de foco teórico e metodológico da lingüística do século xx. Perini os fenômenos atestados. A observação de um fenômeno pode ser feita de vários
18 1ntrodução Introdução 19

ângulos. fornecendo-se assim diversas formas de interpretação. Geralmente a ma- lantes [(cr. Crystal (1995)]. O português é língua oficial e majoritária no Brasil,
neira de observação assumida é decorrente dos pressupostos teóricos e metodológicos em Portugal e nas ilhas atlânticas da Madeira, dos Açores e de São Miguel. Al-
adotados na descrição. A descrição de qualquer fenômeno deve ser pautada em uma guns países da África, cuja colonização foi feita por Portugal. têm o português
teoria que regule os princípios de tal descrição. A explicação dos fenômenos obser- como língua oficial embora, em conjunto, as línguas nativas sejam majoritárias.
vados e descritos se dá a partir da fundamentação teórica adotada. É essencial que Dentre estes destacamos Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São
qualquer análise adote um modelo teórico e que tal proposta seja adotada integral- Tomé e Príncipe. Na Ásia o português é falado em Macau, Damão, Diu Goa e na
mente (embora com criticidade!). Teorias diferentes possuem premissas diferentes Oceânia o português é falado em Timor Leste.
e a combinação de teorias deve ser feita cuidadosamente. Sem o devido cuidado, a Há ainda as chamadas línguas crioulas que são derivadas do português. Tais
mescla de modelos teóricos pode incorrer na criação de uma teoria nova sem pres- línguas surgiram como línguas francas com o propósito de perrrtitir o comércio
supostos teóricos e metodológicos que sejam coerentes. Ao analisar qualquer mate- entre falantes do português e de outras línguas. Criou-se então uma língua distinta
rial, o cientista depara-se com fatos que porventura podem não ter sido considera- baseada no português e na(s) língua(s) nativa(s). Em seu estágio inicial tal língua é
dos anteriormente e pode ter, então, que complementar um modelo teórico. Contri- denominada pidgin. Ao ter falantes nativos e adquirir um status dinâmico de lín-
bui-se, assim, para com o progresso da ciência. Pode-se também sugerir que um gua natural, tal língua passa a ser denominada crioulo [cf. Holm (1988) e Couto
determinado aspecto de um modelo teórico deva ser alterado a partir de evidências (1995)]. Há crioulos baseados em outras línguas além do pOltuguês (como, por
da análise. Teorias devem ser vistas como recursos a serem utilizados e alterados se exemplo, francês, inglês, etc). Dentre os crioulos derivados do português que se
for necessário. encontram na África temos o da ilha de Cabo Verde, os das ilhas do golfo da Guiné
Além de não haver língua melhor ou pior, não há línguas primitivas ou mais (São Tomé, Príncipe e Ano Bom), o da Guiné-Bissau e o de Casamance (no Senegal).
evoluídas. Toda língua permite a expressão de qualquer conceito. Caso seja ne- Na Ásia temos os crioulos de Malaca (na Malásia), de Macau (em Hong Kong), do
cessário incorpora-se vocabulário novO ampliando-se o léxico da língua em ques- Srilanca (em Vaipim e Baticaloa) e na Índia temos crioulos em Chaul, Korlai,
tão. Isto faz parte do caráter evolutivo das línguas. Todas as línguas mudam con- Tellicherry, Cananor e Cochim. Na Oceânia há o crioulo de Tugu (perto de Jacarta).
tinuamente.
Precisar exatamente as fronteiras geográficas de uma determinada língua
pode muitas vezes ser difícil. Ao viajarmos de Portugal à Espanha passando pela Exercício 4
Galícia não perceberemos nenhuma mudança abrupta do ponto de vista lingüístico. Consulte um atlas e identifique as áreas em que se falam o português e os criou-
Contudo, se sairmos de Portugal e viajarmos diretamente à Espanha identificare- los baseados na língua portuguesa.
mos as características do pOltuguês falado em Portugal como bastante distintas do
es-panhol falado na Espanha. O mesmo fenômeno pode ser observado em regiões
de fronteira do Brasil com outros países da América do Sul. O português e o espa- Neste livro tratamos da organização do sistema sonoro com ênfase na descri-
nhol da fronteira tem várias características comuns. Portanto, definir uma língua ou ção do português brasileiro. Referência a outras variedades do português e a ou-
um dialeto transcende o caráter puramente lingüístico. Muitas vezes fatores políti- tras línguas se dá quando não podemos exemplificar um determinado fenômeno
cos e sociais têm forte influência nas delimitações geográficas das línguas. ou um certo aspecto teórico com exemplos do português brasileiro.
Línguas que se desenvolvem sem interferência formal externa são chamadas Tratamos do sistema sonoro do português do ponto de vista prático e teórico.
línguas naturais. O português é uma língua natural por evoluir de acordo com O objetivo básico deste livro é fornecer ao leitor o instrumental necessário para a
parâmetros gerados pela própria língua a partir do uso feito pelos falantes. Há caracterização de sua fala. Pretende-se também fomentar o interesse pelos estu-
também línguas artificiais (também chamadas línguas auxiliares). Uma língua dos fonológicos. Este livro se divide em três partes: Fonética, Fonêmica e Mode-
artificial é uma língua inventada com o propósito específico de comunicação ou los Fonológicos. A primeira parte. intitulada Fonética, é dedicada ao estudo da
para fins de linguagem computacional. O esperanto é geralmente a língua artifici- fonética articulatória aplicada ao português. Tratamos dos parâmetros envolvidos
al mais difundida (criada em 1887 pelo polonês Ludwig Lazarus Zamenhof). O na articulação dos segmentos vocálicos e consonantais e da organização de tais
léxico de tal língua foi construído com influência de línguas da Europa ocidental segmentos na estrutura silábica. Espera-se que ao fazer os exercícios que acompa-
e há influência de línguas eslavas na sintaxe e na ortografia. nham o texto o leitor identifique as características articulatórias específicas dos
O português é classificado como pertencendo a família de línguas românicas segmentos consonantais e vocálicos que ocoo'em em seu idioleto, descrevendo
do tronco indo-europeu. Estima-se que há aproximadamente 160 milhões de fa- assim, a sua variedade lingüística individual. Como conclusão temos que as res-
20 Introdução Introdução 21

postas a vários exercícios da parte de Fonética podem diferir de uma pessoa para Ensino de língua estrangeira: O professor de língua estrangeira deve conhecer bem
outra. A segunda parte, intitulada Fonêmica, apresenta os princípios teóricos e a língua que ensina e ser capaz de compará-Ia ao português. A comparação permüe
metodológicos da análise fonêmica. O leitor deve fazer os exercícios e postular avaliar problemas de interferência lingüística de uma língua na outra e formular pro-
um sistema fonêmico para o português. Tal sistema é idêntico para todos os falan- postas para bloquear tal interferência. Formação: Graduação em Letras - português
tes do português (sendo correlato ao sistema da língua proposto por Sausurre). As e outra língua.
particularidades dafa/a de cada indivíduo são expressas na análise de cada idioleto. Planejamento lingüístico-social: A variedade lingüística em um país com a dimen-
Finalmente, a terceira pane que é intitulada Modelos Fonológicos, apresenta uma são territorial do Brasil impõe desafios. Em áreas com grande migração nacional
visão da trajetória pós-estruturalista da análise do componente sonoro: a fonologia. depara-se com as diferenças lingüísticas entre o educador e os educandos. Muitas
Apontamos os princípios gerais de cada modelo e indicamos referências biblio- vezes alunos com excelente potencial são excluídos do sistema educacional devido
gráficas primárias. Quando possível fornecemos bibliografia em português e refe- ao fato de sua fala desviar da norma prescrita. A exclusão OCOlTe às vezes na mesma
rências de análises que demonstrem a aplicabilidade de um determinado modelo a região geográfica sendo que educador e educando compartilham de variedades
dados da língua portuguesa. Sugerimos ainda uma série de tópicos teóricos e apli- lingüísticas diferentes e problemas até mesmo de inteligibilidade podem surgir. Cabe
cados que podem potencialmente gerar trabalhos de monografia, dissertações de ao planejador educacional avaliar situações de con flito e propor alternativas para os
mestrado ou teses de doutorado. problemas existentes. Formação: Graduação em Letras, Pedagogia. Sociologia e
Assistência Social. Pós-graduação em áreas afins com pesquisa específica em .
Pretendemos, portanto, introduzir o leitor ao estudo do componente sonoro
planejamento.
da linguagem com ênfase no português brasileiro. Não se espera qualquer conhe-
cimento prévio e assume-se que ao concluir a leitura e exercícios propostos o Tradução e interpretação: A tradução e interpretação tornam-se áreas de trabalho
leitor deve ser capaz de avaliar as características de sua fala e de outros falantes. muito relevantes no mundo globalizante em que vivemos. Tradutores necessitam
Espera-se também que o leitor possa discutir os pressupostos teóricos da análise conhecer os sistemas sonoros das línguas com que trabalham para explicar aspectos
fonêmica e avaliar criticamente aspectos controvertidos do sistema sonoro do que muitas vezes são opacos em textos escritos (a tradução de poesias e canções é
português. Com a discussão apresentada na parte final deste livro espera-se con- um caso explícito). Para o intérprete, o conhecimento dos sistemas sonoros das
guas com que trabalha é fundamenta l para que o mínimo de incompreensão incorra
tribuir para que o leitor amplie seus conhecimentos teóricos dos vários modelos
durante uma sessão de trabalho. Formação: Graduação em Letras. Tradução e pós-
fonológicos.
graduação em áreas afins.
Para finalizar, apontamos áreas de trabalho que requerem profissionais com
formação em lingüística e mais especificamente nas áreas de fonética e fonologia. Dramaturgia: A expressão oral tem um papel fundamental na dramaturgia. ·Pense
por exemplo que um ator/atriz às vezes desempenha um papel cujo personagem tem
um sotaque diferente do seu. Colaboração profissional entre atores e profissionais
que trabalham com a linguagem se faz necessária. O lingüista pode também ensinar
2. Áreas de trabalho aos atores o melhor meio de utilizar os mecanismos que permitam o liSO pleno das
partes do corpo envolvidas na linguagem. Formação: Graduação em Letras, Teatro
e Escolas de Dramaturgia.
Lingüística: O teórico da linguagem busca explicar os mecanismos subjacentes aos
sistemas lingüísticos. A compreensão dos sistemas sonoros das línguas, bem como a Fonoaudiologia: O profissional que trabalha com aspectos relacionados à patologia
relação destes sistemas com os demais componentes da gramática (como morfologia, da fala é o fonoaudiólogo. Este profissional deve conhecer bem os aspectos
sintaxe. semântica) consistem no trabalho do pesquisador. Teóricos da linguagem articulatórios e acústicos envolvidos na produção da fala e também ser capaz de
podem investigar um determ inado aspecto da linguagem do ponto de vista sincrôn ico avaliar a organização fono lógica do sistema da língua em questão. Aspectos como a
ou podem empreender uma pesquisa de um aspecto diacrônico da língua escolhida. gagueira ou a "troca de sons" na fala são tratados por fonoaudiólogos ou terapeutas
Formação: Graduação em Letras e Lingüística e pós-graduação em áreas afins. da fala. Formação: Graduação em Fonoaudiologia e pós-graduação em áreas afins
(como Lingüística, por exemplo).
Ensino de língua materna: Ao conhecer em detalhes a estrutura sonora da língua
portuguesa. o profissional pode avaliar problemas enfrentados por estudantes e for- L inguagem de surdo-mudo: Os sistemas de comunicação de pessoas que não escu-
mular propostas para solucioná-los. Tal conhecimento é sobretudo valioso aos tam ou que não falam têm uma complexidade gramatical específica e em princípio
alfabetizadores e professores de português. Formação: Curso Normal (segundo grau) estão sujeitos a mudanças lingüísticas semelhantes às que ocorrem nas línguas natu-
e Graduação em Letras - português. rais. Há vários sistemas de sinais utilizados por mudos. Alguns surdos podem utilizar
Infroduçoo

a linguagem oral se adequadamente orientados por profissionais. Formação: Gra-


duação em Letras e áreas afins. Também o desenvolvimento de pesquisas em cursos
de pós-graduação em áreas afins (como a Lingüística. por exemplo).
Fonética
Lingüística computacional: Um dos grandes desafios da ciência computacional é
encontrar correlatos acústicos da fala que sejam conversíveis em sinais digitais. Muito
tem sido desenvolvido nesta área nos últimos anos. Um exemplo da relação lingüística-
computação é a possibilidade de se obter e passar informações por telefone entre um
ser humano e um computador (via telefonia, por exemplo). Ao definir-se os aspectos 1 . Introdução
acústicos e articulatórios da língua e seu sistema fonológico. pode-se aperfeiçoar
mecanismos já existentes. Desafios são impostos sobretudo na área da sintaxe e se-
Esta parte é dedicada ao estudo da produção da fala do ponto de vista fisio-
mântica. Formação: Graduação em Computação, Física e Lingüística e pós-gradua-
ção em áreas afins.
lógico e articulatório. Inicialmente, descrevemos O aparelho fonador e discutimos o
mecanismo fisiológico envol vi do na produção da fala. Em seguida, consideramos
Ciência da telecomunicação: A transmissão da fala em termos físicos impõe desa- as propriedades articulatórias envolvidas na produção dos segmentos consonantais
fios para a ciência. O som deve ser transmitido nitidamente para que não se perca e vocálicos. De posse deste instrumental podemos descrever, classificar e trans-
conteúdo de informação. A transmissão dos meios de comunicação - como rádio e crever os sons da nossa fala. O instrumental a ser apresentado nas próximas
televisão - depende de pesquisa nesta área. Obter-se um meio eficaz. rápido e
páginas permite-nos descrever qualquer som de qualquer língua natural. Neste
econômico de transmitir a fala são ambições desta área de pesquisa. Formação:
livro enfatizamos a descrição dos sons do português brasileiro.
Graduação em Computação. Física e Lingüística e pós-graduação em áreas afins.
A fonética é a ciência que apresenta os métodos para a descrição, classifi-
Zoo-Biologia: Definir os parâmetros envolvidos na comunicação animal e caracteri- cação e transcrição dos sons da fala, principalmente aqueles sons utilizados na
zar a organização dos sistemas lingüísticos animais são tópicos de pesquisa na área linguagem humana. As principais áreas de interesse da fonética são:
de zoa-biologia. Linguagens de chimpanzés. golfinhos. baleias e abelhas são relativa-
mente bem estudadas. Faz-se relevante caracterizar as relações de comunicação en- Fonética articulatória - Compreende o estudo da produção da fala do
tre diversos membros de lima mesma espécie em diferentes regiões do planeta. For- ponto de vista fisiológico e articula/ório.
mação: Graduação em Lingüística, Biologia. Zootecnia e pós-graduação em áreas
afins. Fonética auditiva - Compreende o estudo da percepção da fala. '
Lingüística forense: A fa la de um indivíduo apresenta características específicas e
únicas. Estudos têm sido realizados para caracterizar as particularidades da fala indi- Fonética acústica - Compreende o estudo das propriedades físicas dos
vidua i e definir os parâmetros do q ue corresponde à "impressão digital" da fala. sons da fala a partir de sua transmissão do falante ao ouvinte.
Espera-se que o progresso nesta área de pesquisa permita a uLilização de evidências
da fala em tribunais. Formação: G raduação em Lingüística com complementação Fonética instrumental - Compreende o estudo das propriedades físicas
das :lreas de Física e Direito. Pós-graduação em áreas afins. da fala, levando em consideração o apoio de instrumentos laboratoriais.
Lingüística indígena: Temos hoje aproximadamente 120 línguas indígenas faladas
em todo o território brasileiro. Destas, apenas umas poucas foram amplamente estu-
Nas próximas páginas, investigamos aspectos fonéticos do português brasi-
dadas. Do ponto de vista teórico o estudo destas línguas permite a ampliação do leiro do ponto de vista articulatório com O objetivo de entendermos a produção dos
conhecimento dos mecanismos que regulam as línguas naturais. Do ponto de vista sons que utilizamos em nossa fala.
prático registra-se tecnicamente a língua nativa que pode serevenlualmente utilizada
em projetos educacionais se for de interesse da comunidade. Formação: Graduação
em Lingüística. Letras, Antropologia e pós-graduação em áreas afins.

NOIa: Os trechos do livro que possuem informações complementares no site (www.cditoracontexlo.com.br.


na área "Contexto especiar·) estão indicados pelo ícone ( ). acompanh:\do do número da faixa respectiva.
24 Fonética - O aparelho fonador
Fonética - O aparelho fonador 25

2. O aparelho fonador a entrada de comida nos pulmões por meio do abaixamento da epiglote. A epiglote é a
parte com mobilidade que se localiza entre a parte final da língua (ao fundo da gargan-
Os órgãos que utilizamos na produção da fala não têm como função primária a ta) e acima da laringe (cf. figura I). O ato de engasgar envolve o fato de que a epliglote
articulação de sons. Na verdade, não existe nenhuma parte do corpo humano cuja única não obstruiu a entrada de alimento no sistema respiratório. O ar dos pulmões sai então
função esteja apenas relacionada com a fala. As partes do corpo humano que utilizamos visando a impedir a entrada do corpo estranho (o alimento) no sistema respiratório.
na produção da fala têm como função primária outras atividades diferentes como, por O sistema articula tório consiste da faringe, da língua, do nariz, dos dentes e dos
exemplo, mastigar, engolir, respirar ou cheirar. Entretanto, para produzirmos qualquer lábios. Ou seja, das estruturas que se encontram na parte superior à glote (cf. figura I).
som de qualquer língua fazemos uso de uma parte específica do corpo humano que São várias as funções primárias desempenhadas pelos órgãos do sistema articulatório.
denominaremos de aparelho fonador. Estas funções relacionam-se principalmente com O ato de comer e podemos salientar:
Com o objetivo de compreendermos O mecanismo de produção da fala e da arti- morder, mastigar, sentir o paladar, cheirar, sugar, engolir.
culação dos sons é que passamos, então, à descrição do aparelho fonador. Podemos Os três sistemas descritos acima caracterizam o aparelho fonador e são fisiolo-
dividir em três grupos os órgãos do corpo humano que desempenham um papel na gicamente responsáveis pela produção dos sons da fala. Levando-se em consideração
produção da fala: o sistema respiratório, o sistema fonatório e o sistema articulatório. as características fisiológicas do aparelho fonador, podemos afirmar que há um número
limitado de sons possíveis de ocorrer nas línguas naturais. Isto deve-se ao fato de sçr
fisiologicamente impossível articular um som em que a língua toca a ponta do nariz.
Por outro lado, sons cuja articulação envolve a língua tocar os dentes incisivos supe-
Sistema articulatório
(faringe língua, nariz, palato,
riores são atestados em inúmeras línguas. Em outras palavras, enquanto certas articula-
dentes, lábios) ções são fisiologicamente impossíveis, outras são recorrentes.
Considerando-se, portanto, as limitações fisiológicas impostas ao aparelho fonador,
podemos dizer que o conjunto de sons possíveis de ocorrer nas línguas naturais é limi-
tado. Na verdade, um conjunto de aproximadamente 120 símbolos é suficiente para
Sistema fonatório
categorizar as consoantes e vogais que ocorrem nas línguas naturais.
(laringe onde está agiote)
Considerando que seres humanos sem patologia apresentam um aparelho fonador
semelhante (variando quanto às dimensões dos órgãos), podemos deduzir que toda e
qualquer pessoa sem deficiências fisiológicas seja capaz de pronunciar todo e qual-

---
quer som em qualquer língua. Tal afirmação é verdadeira. Porém, parece que na ado-
Sistema respiratório
(pulmões, músculos pulmonares ,
lescência a capacidade das pessoas de articularem sons novos (de línguas estrangei-
brônquios, traquéia) ras) passa a ser reduzida. Precisar exatamente esta idade e as razões que levam a essa
perda da capacidade de produção de sons novos, certamente nos levaria muito além
do objetivo deste livro. O que podemos explicar aqui é o fato de que a maioria das
Figura 1: Os sistemas respiratório, fonatório e articulatório crianças que venham a estar expostas a uma segunda língua falarão esta língua sem
qualquer sotaque. Adultos que sejam expostos a uma segunda língua, quase que em
Consideremos cada um dos sistemas ilustrados acima. O sistema respiratório sua totalidade apresentam sotaque com características de sua língua materna.
consiste dos pulmões, dos músculos pulmonares, dos tubos brônquios e da traquéia. O Descrevemos acima o aparelho fonador. Nas próximas páginas discutimos a pro-
sistema respiratório encontra-se na parte inferior à glote, que é denominada cavidade dução de segmentos consonantais e vocálicos que são possíveis de ser articulados pelo
infraglotal (cf. figura I). A função primária do sistema respiratório é obviamente a aparelho fonador. Nosso objetivo é fornecer um instrumental que permita a descrição e
produção da respiração. classificação dos sons do português brasileiro. Portanto, damos ênfase à caracterização
O sistema fonatório é constituído pela laringe. Na laringe localizam-se múscu- dos segmentos consonantais e vocálicos que ocorrem nesta língua. Outras línguas po-
los estriados que podem obstruir a passagem da corrente de ar e são denominados dem ser utilizadas para ilustrar aspectos que não ocorrem no português. Descrevemos
cordas vocais. O espaço decorrente da não obstrução destes músculos laríngeos é inicialmente os segmentos consonantais e, posteriormente, consideramos a descrição
chamado de glote. A função primária da laringe é atuar como uma válvula que obstrui dos segmentos vocálicos.
26 Fonético - A descrição dos segmentos consonantois Fonético - A descrição dos segmentos consonontois 27

Ql. Qual o mecanismo da corrente de ar?


3. A descrição dos segmentos consonantais PDuces sens produzides per seres humanDS podem ser descrites sem levarmes em
censideraçãe e mecanismo. da cerrente de ar. Entre es sens que não. fazem uso. de meca-
TDdas as línauas naturais pDssuem CDnSDantes e vDgaiS. EntenderemDs pDr seg- nismo. de CDrrente de ar em sua produção. e mais cenhecide é e ranger des dentes. A
mento um SDm que seja produzido. CDm algum tipo. de DbstruçãD nas cerrente de ar pode ser pulmenar, gletálica DU velar. Os segmentDs censenantais de
cavidades supraglDtais de maneira que haja Dbstruçãe tDtal eu parcial passagem da pDrtuguês são. prDduzides CDm e mecanismo. de cerrente de ar pulmenar. Este é o. meca- 2
cerrente de ar pDdendD DU não. haver fricção.. PDr Dutre lado., naprDduçae de um seg- nismD utilizado. nermalmente no. ato. de respirar. O mecanismo. de CDrrente de ar gletálicD
mento vocálico a passagem da CDrrente de ar não. é interremplda lInha e não. Dcerre em pertuguês e o. mecanismo. de cerrente de ar veláricD ocerre em algumas
pertante não. há Dbstruçãe DU fricção.. CertDs segmentes têm carac:enstlcas fenetlcas exclamações de debeche e negação..
não. tão. precisas, seja de censeante eu de vegal. Estes segmentes sae na
literatura de semiveaais, semicentóides eu glides. AdDtames e termo. gltde (prenuncla- Q2. A corrente de ar é ingressiva ou egressiva?
se "gl[ai]de") para a tais segmentDs. Segmentes vecálices e glides são. tratades Em SDns produzides cem a cerrente de ar egressiva e ar se dirige para fDra des
após a descrição. des segmentes cDnsDnantais. . _. . pulmões e é expelido. per meio. da pressão. exercida peles múscules de diafragma. Os
A descrição. apresentada abaixo. segue parâmetres Há a pes- segmentes censenantais de pertuguês são. produzides CDm a cerrente de ar egressiva. Já
sibilidade de caracterizar segmentes adetande-se parâmetres acustlcDS. TaIS parametres nDS SDns preduzidDS cem uma cerrente de ar ingressiva o. ar se dirige de fDra para dentro.
descrevem as propriedades físicas des sens da fala. Recemenda_mes leItura de Fry dDS pulmões (ceme se estivéssemes "engDlinde" ar). A CDrrente de ar ingressiva ocerre
(1979) aDS interessades em investigar aspectes teórices da descnçae acustlca. Um texto. em exclamações de surpresa de certDs falantes do. francês e não. ecerre em pertuguês.
em pertuguês que abDrda aspectes acústices da fala é Metta MaIa (1985).
Classificames as censeantes de aCDrde cem a prDpesta apresentada em Q3. Qual o estado da glote?
AbercrDmbie (1967). Embera tenha sido. publicado. há tres décadas o. texto. de A glete é e espaço. entre es múscules estriades que pDdem eu não. ebstruir a passa-
AbercrDmbie eferece recurses teórices ai nda atuais, sendo. a ebra mats adequada para a gem de ar dDS pulmões para a faringe. Estes múscules são. chamadDs de cDrdas vecais.
caracterização. des parâmetres articulatóries des SDns da fala. Na preduçãe de Diremes que e estado. da glete é vozeado (eu senero) quando. as cerdas vecais estive-
tes censDnantais es seguintes parâmetres são. relevantes: e mecanIsmo. e dlreçae da rem vibrando. durante a produção. de um determinado. sem. Em eutras palavras, durante
cerrente de ar' se há eu não. vibração. das cerdas vecais; se o. sem é nasal DU Dral; quatS a produção. de um sem vezeade es múscules que fermam a glete apreximam-se e devi-
são. DS envDlvides na preduçãe des SDns e qual é a maneira utilizada na do. a passagem da CDrrente de ar e da ação. des múscules ecerre vibração.. Em epesiçãD,
Dbstruçãe da cerrente de ar. A descrição. articulatória de qualquer segmente deneminamDS e estado. da glete de desvozeado (eu surdo.) quando. não. heuver vibração.
é pDssível a partir das respDstas a estes parâmetres. Faremes use das questees abaIXo. das cerdas vocais. Não. há vibração. das cDrdas vDcais nem ocerre ruído. durante a produ-
para a melher cDmpreensãe desta descrição.. ção. de um segmente desvezeade. Isto. se dá porque DS múscules que fermam a glete
encentram-se cempletamente sepat'adDs de maneira que e ar passa livremente. Na ver-
Ql. Qual o. mecanismo. da cerrente de ar?
dade as categerias vozeado e desvozeado podem ser interpretadas CDme limites de um
Q2. A CDrrente de ar é ingressiva eu egressiva? centínue que faz uma gradação. de sens vezeadDs a sens desvezeades (passando. per
sens que têm características de vezeamente intermediárias). Per exemplo., DS sens [b,d,g]
Q3. Qual o. estado. da glete? no. pertuguês são. preduzides cem a vibração. das cDrdas vecais e são. pertante sens
vezeades. Já em inglês es sens [b,d,g] são. preduzidDs cem a vibração. das cerdas vecais
Q4. Qual a pesiçãD de véu palatine? em um grau mener de que aquele DbservadD para o. pertuguês. Embera es SDns [b,d,g]
sejam vezeades tanto. em pertuguês quanto. em inglês ao. fazermDs uma descrição. destes
Q5. Qual e articuladDr ativD?
SDns em cada uma destas línguas devemDs caracterizar es diferentes graus de vDzeamentD:
Q6. Qual e articulader passive? cempletamente vezeades em pertuguês e parcialmente vDzeades em inglês. Entretanto.,
estas duas medalidades - vozeado e desvozeado - são. suficientes para e propósito. da
Q7. Qual e grau e natureza da estritura? descrição. des segmentDs censenantais apresentada aqui. Observe a vibração. (eu não.)
das cerdas vDcais na prDduçãe des SDns v e f.
Passemes então. a censideraçãe de cada uma destas perguntas em detalhes.
28 Fonético - A descrição dos segmentos consonantois Fonética A descnção CIo segmentos- consonomors L'"

possível (somente as vogais devem ser pronunciadas!). O que você deverá observar é
Tarefa que durante a produção da vogal a a úvula deverá estar levantada portanto O ar não terá
Coloque a sua mão espalmada contra a parte central anterior do pescoço (onde nos acesso à cavidade nasal e não haverá ressonância nesta cavidade. Temos então um som
homens temos o "Pomo de Adão"). Pronuncie então o som inicial da palavra "vá" de oral. Na produção da vogal ã a úvula deverá estar abaixada e o ar deve então penetrar na
maneira contínua (verifique que apenas a consoante esteja sendo pronunciada). cavidade nasal havendo ali ressonância. Temos então um som nasal. Concentre-se agora
Agora pronuncie da mesma maneira continuada o som inicial da palavra "fé". Faça a
na posição assumida por sua própria úvula na produção de um segmento oral e nasal.
alternância entre ve f algumas vezes (Pronuncie apenas a consoante l ). Você deve
3 observar que durante a produção de v haverá vibração transferida para a sua mão
e que durante a produção de f a vibração não ocorre. O som v é vozeado e o som f
é desvozeado.
Tarefa 4
Alterne a pronúncia de a e ã sentindo a mudança de posição da úvula.

No diagrama abaixo ilustramos o caso em que as cordas vocais estão vibrando e


portanto temos um segmento vozeado ou sonoro (esquerda) e o caso em que as cordas Observar a posição da própria úvula durante a produção de segmentos consonantais
vocais não estão vibrando e temos um som desvozeado ou surdo (direita). não é tão simples, mas vale a pena tentar verificar se o véu palatino encontra-se levanta-
do na produção dos segmentos orais p,1 em oposição ao seu abaixamento na produção
dos segmentos nasais m,n. Para isto, articule cada um destes segmentos consonantais
cordas vocais
vocais alternadamente observando a mudança de posição da úvula, (articule somente a consoan-
te!). A figura abaixo ilustra uma articulação com o véu palatino levantado - quando
ocorre um segmento oral (esquerda) - e uma articulação com o véu palatino abaixado-
glote ---'V-'''r-- glote quando ocorre um segmento nasal (direita). Qualquer segmento produzido com o véu
palatino levantado obstruindo a passagem do ar para a cavidade nasal é chamado de
oral (figura à esquerda). Um segmento produzido com o abaixamento do véu palatino
de maneira que haja ressonância na cavidade nasal é chamado de nasal (figura à direita).

Figura 2: O estado da glole em segmentos vozeados (esquerda) e desvozeados (direita).

Na figura da direita os músculos que formam as cordas vocais estão separados e


não vibram com a passagem da corrente de ar que vem dos pulmões. Na figura da
esquerda os músculos que fornlam as cordas vocais vibram com a passagem da corren-
te de ar que vem dos pulmões.
Q4. Qual a posição do véu palatino?
Para observarmos a oposição entre um segmento oral e um segmento nasal deve-
mos nos concentrar na posição do véu palatino. Para isto, podemos acompanhar o que Figura 3: A posição da úvula na produção de segmentos orais (esquerda) e segmentos nasais
acontece com a úvula, pois ela localiza-se no final do véu palatino ou palato mole. A (direita)
úvula é comumente chamada de "campainha". É aquela "gota de carne" que vemos
quando observamos a boca de uma pessoa aberta (por exemplo para ver se a pessoa está Q5. Qual o articulador ativo?
com dor de garganta (consulte a figura 5). Peça a um colega para alternar a pronúncia da Os articuladores ativos têm a propriedade de movimentar-se (em direção ao
vogal a (como em "lá") com a vogal ã (como em "lã") mantendo a boca o mais aberta articulador passivo) modificando a configuração do trato vocal. Os articuladores ativos
30 Fonética - A descrição dos segmentos consonontols - . . . . , . - - - - - -"'fo"n"e"'ftca - AaescriÇõOdos segmentos consonantais J I

são: O lábio inferior (que modifica a cavidade oral), a língua (que modifica a cavidade
oral), o véu palatino (que modifica a cavidade nasal) e as cordas vocais (que modifi-
cam a cavidade faringal). Eles são denominados articuladores ativos devido ao seu
papel ativo (no sentido de movimento) na articulação consonantal (em oposição aos alvéolos
articuladores passivos que são discutidos abaixo). Identifique cada um dos articuladores
na figura abaixo.
úvula

lâmina

Figura 5: Esquema ressaltando os alvéolos, o ápice e lâmina da língua e a úvula

Note que tanto o ápice quanto a lâmina da língua localizam-se ·na parte mais
i' frontal da língua. Enquanto o ápice localiza-se na borda lateral frontal da língua, a
lâmina localiza-se na borda superior frontal da língua. Nos segmentos consonantais do
português não é relevante se o articulador ativo é o ápice ou a lâmina da língua. Contu-
do, tal parâmetro articulatório é relevante em outras línguas.

Q6. Qual o ar!iculador passivo?


1. Cavidade oral 8. Palato duro 15. Parte anterior da lingua Os articuladores passivos localizam-se na mandJbula superior, exceto o véu palatino
9. Véu palatino (ou palato mole) 16. Parte média da língua
2. Cavidade nasal que está localizado na parte posterior do palato. Os articuladores passivos são o lábio
10. Úvula 17. Parte posterior da língua
3. Cavidade nasofaringal superior, os dentes superiores e o céu da boca que divide-se em: alvéolos, palato duro,
11. Lábio inferior 18. Epiglote
4. Cavidade faringal
5. Lábio superior 12. Dentes inferiores 19. Laringe véu palatino (ou palato mole) e úvula conforme ilustrado na figura 4. Nôre que o véu
13. Âpice da língua 20. Esôfago palatino pode atuar como articulador ativo (na produção de segmentos nasais) ou como
6. Dentes superiores
14. Lâmina da lingua 21. Glote
7. Alvéolos articulador passivo (na articulação de segmentos velares).

Vejamos a relação entre articuladores ativos e passivos. A partir da posição do


Figura 4: O aparelho fonador e os articuladores passivos e ativos, as cavidades oral, nasal,
faringal e a glote (cordas vocais) articulador ativo em relação ao articulador passivo (podendo ou não haver o contato
entre eles) podemos definir o lugar de articulação dos segmentos consonantais de
A língua é dividida em ápice, lâmina, parte anterior, parte mediai e parte poste- acordo com as categorias listadas abaixo. Os números que se encontram entre parênte-
rior. O céu da boca é di vidido em alvéolos, palato duro, véu palatino (ou palato mole) e ses indicam o número correspondente ao articulador - ativo ou passivo - na figura 4.
úvula. Observe que o véu palatino pode também ser denominado palato mole. Identifi- Observe que as letras em negrito referem-se a pronúncia associada a tal letra. A relação
que o ápice e a lâmina da língua, a úvula e os álveolos na figura 5 apresentada a seguir. letra/som não é uma relação direta um-a-um. Temos casos em que uma letra corresponde
- - - -3Z--Fonehca A descnçoo dos segmentos consonontols dos segmentos consonontois 33

a dois sons diferentes - como por exemplo c em "cá" e em "cela". Temos também ção da corrente de ar causada pelos articuladores durante a produção de um segmento.
casos em que o mesmo som é representado por duas letras diferentes - como por exem- Identificando o "grau e natureza'da estritura" (ou seja, a maneira como se dá a obstru-
plo c em "cela" e s em "sela". O leitor deve estar atento para o fato de que nos exem- ção da corrente de ar) estamos caracterizando a sua maneira ou modo de articulação.
plos apresentados aqui estamos interessados nos sons produzidos e não nas letras cor- As categorias referentes ao grau e a natureza da estritura são listadas abaixo responden-
respondentes a estes sons. Para uma discussão detalhada da relação letra/som veja Lemle do a sétima e última pergunta proposta por Abercrombie (1967).
(1987), Cagliari (1989) e Faraco (1994). Listamos a seguir as categorias de lugar de
articulação que são relevantes para a descrição do português. Q7. Qual o grau e natureza da estritura?
Estritura é o termo técnico para a posição assumida pelo articulador ativo em
relação ao articulador passivo, indicando como e em qual grau a passagem da corrente
Lugar de articulação
de ar através do aparelho fonador (ou trato vocal) é limitada neste ponto [Abercrombie
Bilabial: O arliculador ativo é o lábio inferior (11) e como arliculador passivo lemos o (1967:44»). A partir da natureza da estritura classificamos os segmentos consonantais
lábio superior (5). Exemplos: pá, boa, má. quanto à maneira ou modo de articulação. Definimos abaixo as categorias de estritura
relevantes para a descrição do português.
Labiodental: O articulador ativo é o lábio inferior (11) e como articulador passivo le-
mos os dentes incisivos superiores (6). Exemplos: faca, vá.
Dental: O articulador ativo é ou o ápice ou a lâmina da língua (13 ou 14) e como Modo ou maneira de articulação
articulador passivo lemos os dentes incisivos superiores (6). Exemplos: data. sapa. Zapata.
nada, lata. Oclusiva: Os aniculadores produzem uma obstrução completa da passagem da corrente
de ar através da boca. O véu palatino está levanlado e o ar que vem dos pulmões encami-
Alveolar: O articulador ativo é o ápice ou a lâmina da língua (13 ou 14) e como articulador nha-se para a cavidade oral. Oclusivas são portanto consoantes orais. As consoantes
passivo temos os alvéolos (7). Consoantes alveolares diferem de consoantes dentais oclusivas que ocorrem em português são (brevemente identificaremos os símbolos fonéti-
apenas quanto ao articulador passivo. Em consoantes dentais ternos como articulador cos que serão utilizados em transcrições): pá. lá, cá. bar. dá. gol.
passivo os denres superiores. Já nas consoantes alveolares temos os alvéolos como
articulador passivo. Exemplos: data, sapa. Zapata, nada, lata. Nasal: Os aniculadores produzem uma obstrução completa da passagem da corrente de
ar através da boca. O véu palatino encontra-se abaixado e o ar que vem dos pulmões
Alveopalatal (ou pós-alveolares): O articulador ati vo é a parte anterior da língua (15) e
dirige-se às cavidades nasal e oral. Nasais são consoantes idênticas às oclusivas diferen-
o articulador passivo é a parte mediai do palato duro (8). Exemplos: tia, dia (no dialeto
ciando-se apenas quanto ao abaixamento do véu palatino para as nasais. As consoantes
carioca). chá, já.
nasais que ocorrem em português são: má, nua, banho.
Palatal: O articulador ativo é a parte média da língua (16) e o articulador passivo é a
Fricativa: Os articuladores se aproximam produzindo fricção quando ocorre a passa-
parte final do palato duro (8). Exemplos: banha, palha.
gem central da corrente de ar. A aproximação dos articuladores entretanto não chega a
Velar: O articulador alivo é a parte posterior da língua (17) e o articulador passivo é o causar obstrução completa e sim parcial que causa a fricção. As consoantes fricativas
véu palatino ou palato mole (9). Exemplos: casa, gata, rata (o som r de "rata" varia que ocorrem em português são: fé. vá, sapa, Zapala, chá. já, rala (em alguns dialelos o
consideravelmente dependendo do dialeto em questão. Indicamos aqui a pronúncia ve- Som r de "rata" pode ocorrer como uma consoante vibrante, descrita a seguir, e não
lar que ocorre tipicamente no dialeto carioca. Uma discussão detalhada dos sons der em como uma consoante fricativa indicada aqui. O r fricativo ocorre tipicamente no portu-
português será apresentada posteriormente). guês do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. por exemplo).
Glolal: Os músculos ligamentais da glote (21) comportam-se como articuladores. Exem- Africada: Na fase inicial da produção de uma africada os articuladores produzem uma
plo: rata (na pronúncia lípica do dialeto de Belo Horizonle). obstrução completa na passagem da corrente de ar através da boca e o véu palatino
encontra-se levantado (como nas oclusivas). Na fase final dessa obstrução (quando se
As categorias listadas acima caracterizam os lugares de articulação dos segmen- dá a soltura da oclusão) ocorre então uma fricção decorrente da passagem central da
tos consonantais relevantes para a descrição do português. Uma vez definido o lugar corrente de ar (como nas fricativas). A oclusiva e a fricativa que formam a consoante
de articulação de um segmento sabemos qual é o articulador passivo e qual é o africada devem ter o mesmo lugar de articulação, ou seja. são homorgânicas. O véu
articulador ativo envolvido na articulação. Além de identificarmos o lugar de articula- palatino continua levantado durante a produção de uma africada. Africadas são portanto
ção de um segmento, devemos caracterizar a sua maneira ou modo de articulação. consoantes orais. As consoantes africadas que ocorrem em algumas variedades do portu-
A maneira ou modo de articulação de um segmento está relacionada ao tipo de obstru- guês brasileiro são tia. dia. Imagine as pronúncias "tchia" e "djia" para estes exemplos.
Fonético - Articulações secundárias 35
34 Fonética - Articulações secundários

Para alguns falantes de Cuiabá, consoantes africadas em palavras ."chá" dizemos que a labialização é uma propriedade articulatória secundária da consoante em
e "já" (que são pronunciadas como "tchá" e "djá" questão. Propriedades articulatórias secundárias geralmente ocorrem de acordo com o
dialetos do português brasileiro lemos uma consoante fncatlva nas palavras chá c Já . contexto ou ambiente, ou seja, a partir de efeitos de segmentos adjacentes. Para marcar-
Tepe (ou vibrante simples): O articulador ativo toca rapidamente o passivo mos uma propriedade articulatória secundária utilizamos um diacrítico ou símbolo adi-
ocorrendo uma rápida obstrução da passagem da corrente de ar atraves da boca. O tepe cional junto à consoante em questão. A propriedade adicional de labialização descrita
ocorre em português nos seguintes exemplos: cara, brava. acima é condicionada ao fato de uma consoante ser seguida de uma vogal produzida
com arredondamento dos lábios. Abaixo listamos as articulações secundárias dos seg-
Vibrante (múltipla): O articulador ativo toca algumas vezes o passivo
sando vibração. Em alguns dialetos do português ocorre esta .vanantc em mentos consonantais relevantes para o português.
como "orra meu!" ou em palavras como ·'marra". Certas .vanantes do estado Sao Labialização: Consiste no arredondameto dos lábios durante a produção de um seg-
Paulo e do português europeu apresentam uma consoante Vibrante nestes exemp os. mento consonantal. A consoante que apresenta a propriedade secundária de labialização
Retroflexa: O palato duro é o articulador passivo e a ponta da língua é o articulador é seguida de uma vogal que é produzida com o arredondamento dos lábios. A labialização
ativo A produção de uma retroflexa geralmente se dá com o levantamento e encurvamento geralmente ocorre quando a consoante é seguida de vogais arredondadas (orais ou na-
da língua em direção do palato duro. Ocorrem no dialeto "caipira" e no sotaque sais) como em "tutú, só, bolo, rum, som". Utilizamos o símbolo w colocado acima à
direita do segmento para marcar a labialização: p''', b t d k''', g.... f"', v"", sW, zV/, JV/, 3"',
W
,
W
,
W
,
de nOrle-americanos falando português como nas palavras: mar. carta.
X"", h"", m"", n'" .1"", r W
', fw; J"'.
Laterais: O articulador ativo toca o articulador passivo e a corrente de ar é obstruída
Palatalização: Consiste no levantamento da língua em direção a parte posterior do pa-
linha central do trato vocal. O ar será então expelido por ambos os lados desta obstruçao
lato duro, ou seja, a língua direciona-se para uma posição anterior (mais para a frente da
tendo portanto saída lateral. Laterais ocorrem em português no.s segullltes exemplos: lá.
cavidade bucal) do que normalmente ocorre quando se articula um determinado seg-
palha, sal (da maneira que "sal" é pronunciada no sul do Brasil ou em Portugal).
mento consonantal. A consoante que apresenta a propriedade secundária de palatalização
apresenta um efeito auditivo de seqüência de consoante seguida da vogal i. A palatalização
Classificamos os segmentos consonantais quanto ao mecanismo da corrente de ar geralmente ocorre quando uma consoante é seguida de vogais anteriores i, e, é (orais ou
(egressiva); ao vozeamento ou desvozeamento; a oralidade/nasaltdade; ao lugar e modo nasais). Ocorre mais freqüentemente com consoantes seguidas da vogal i como em "aliado,
de articulação. A notação dos segmentos consonantais segue a segumte ordem: kilo, guia". Pode ocorrer também em consoantes seguidas da vogal e como em "letra.
leva, tento". Utilizamos o símbolo j colocado acima à direita do segmento para marcar
a palatalização: k', gJ, 1', dJ, I'.
Notação dos segmentos consonantais
Velarização: Consiste no levantamento da parte posterior da língua em direção ao véu
(Modo de arlÍculação + Lugar de articulação + Grau de Vo::.eamellto) palatino concomitantemente com a articulação de um determinado segmento consonantal.
A consoante lateral) apresenta a propriedade articu latória secundária de velarização em
Exemplos: certos dialetos do sul do Brasil e do português europeu. O contexto em que a velarização
[p] Oclusiva bilabial desvozeada ocorre é quando a lateral encontra-se em final de sílaba: sal, salta. Utilizamos o símbolo
rb] Oclusiva bilabial vozeada rt] para transcrever a lateral velarizada que acabamos de descrever.
A seguir tratamos de aspectos de articulações secundárias que podem ser produzi- Dentalização: Algumas consoantes em português podem ser articuladas como dentais
dos concomitantemente com uma determinada articulação consonantal. ou alveolares. Por exemplo a pronúncia de t em "tapa" pode se dar com a ponta da
língua tocando os dentes (sendo portanto uma consoante dental) ou pode se dar com a
ponta da língua tocando os alvéolos (sendo portanto uma consoante alveolar). Consoantes
dentais têm como articulador passivo os dentes incisivos superiores e consoantes alveo-
lares tem C0l110 articlllador passivo os alvéolos. Pode-se articular um segmento dental ou
4. Articulações secundárias alveolar com o ápice ou com a lâmina da língua como articu lador ativo. Note que o fato
da consoante ser dental ou alveolar expressa uma variação lingüística dialetal (ou de
Segmentos consonantais podem ser produzidos com uma propriedade ar- idioleto) e não uma variação que seja condicionada pelo contexto (como é O caso de
ticulatória secundária em relação às propriedades articulatónas fundamentats deste articulações secundárias apresentadas acima). Geralmente as consoantes listadas abaixo
. .. - . a como su cenamente apresentam a propriedade de dentaJização no dialeto paulista enquanto no dialeto mi-
segmento. Por exemplo, quando pronuncIamos uma sequencl .
arredondamos os lábios durante a articulação da consoante s. Uma vez que a neiro OCOrre lima articulação alveolar para as mesmas consoantes. Marcamos a dentalização
ção de segmentos consonantais normalmente não envolve o arredondamento dos lablos com o símbolo r _1 colocado abaixo da consoante em questão: !. 7,. C, 1·
- -3O-Fon ICO - o setÕo-"'Oo,"n"'efffltClo"-'c,,"o",nr![sOO"n"hO"'nh",,,,on,' - - - - - - - - - - - -"1"1ron-e:tlcO - !abero tonétlco consonantal :37

Você deve avaliar o comportamento de sua fala em relação as articulações secun-


Articulação Dental
dárias discutidas acima. Ao fazer o registro fonético de palavras do português omitiremos Maneira Lugar
Bilabial labJodental ou Alveopalatal Palatal Velar Grota!
as propriedades articulatórias secundárias (exceto a velarização da lateral [t]). Nossa Alveolar

escolha pauta-se em dois tipos básicos de transcrições que podem ser assumidas. Podemos Oclusiva desv p t k
voz b d
ter uma transcrição fonética ampla ou uma transcrição fonética restrita [(cf. "
o
Ladefoged (1982)]. Ao transcrevermos foneticamente uma palavra como "quilo" pode- Africada desv
voz
Ir
mos por exemplo registrá-Ia como ['kiiIW u] ou como ['kilu]. A transcrição ['kiil'u] d3
explicita todos os detalhes observados articulatoriamente. Este tipo de transcrição é Fricativa desv f s r x h
voz v z
denominado transcrição fonética restrita. Note que na transcrição ['kiil'u] 3 y fi
explicitamos a palatalização de [k] seguido de [i] e também a labialização de [I] segui- Nasal voz m n J1 Y
do de [u]. Tanto a palatalização quanto a labialização são previsíveis pela ocorrência Tope voz r
do segmento seguinte: consoantes tendem a ser palatalizadas quando seguidas de [i] e Vibrante voz f
consoantes tendem a ser labializadas quando seguidas de [u].
Relroflexa voz
Consideremos agora uma transcrição como ['kilu]. Este tipo de transcrição explicita J
Lateral voz
apenas as propriedades segmentai s e omite os aspectos condicionados por contexto ou I t Á IJ
características específicas da língua ou dialeto. Queremos dizer com isto que a ..
Tabela. 51mboJos fonetfcos consonantals relevantes para transcrição do português
palatalização e labialização não foram registradas em ['kilu] (poi s tanto a palatalização
quanto a labialização são previsíveis pela vogal seguinte). No regi stro do [I] pode-se o quadr? abaixo lista exemplos de palavras que ilustram cada um dos segmentos
interpretá-lo como um segmento alveolar ou dental sem haver a necessidade de uti li- da tabela fonetlca apresentada acima. No exemplo ortográfico a letra (ou letras) em
zar-se o símbolo [ ! ]. Isto porque a generalização quanto aos segmentos serem negnto corresponde(m) ao segmento consonantal cujo símbolo fonético é apresentado
dentalizados deve ser expressa para a língua como um todo. No caso da língua fazer na pnmelra coluna. A segunda coluna lista a nomenclatura do seomento consonantal. A
distinção entre segmentos alveolares e dentais faz-se então relevante acrescentar o forma ortográfica do exemplo é apresentada na terceira coluna; a representação foné-
diacrítico [ _) à transcrição fonética. Denomina-se transcrição fonética ampla aque- tIca correspondente é fornecida na quarta coluna. Finalmente, a última coluna apresen-
la transcrição que explic ita apenas os aspectos que não sejam condicionados por con- ta ob:ervações quanto a região dialetal predominante de ocorrência do seomento em
texto ou características específicas da língua ou dialeto: como ['kilu] (em oposição a Note que as transcrições fonéticas encontram-se entre colchetes. Adotamos o
['kJil'u] que é uma transcrição fonética restrita). s,lmbolo [a] para as vogais transcritas abaixo (exceto para [i] em "tia, dia"). O símbolo
Neste trabalho adotamos a transcrição fonética ampla. Ao registrar os segmentos [ ] precede a suaba acentuada
consonantais omitimos o registro das propliedades articulatórias secundárias previstas por Simbolo Classificação do Exemplo Transcrição
contexto da vogal seguinte (palatalização, labialização) ou a dentalização (que pode ser segmento consonantal ortográfico fonética Observação· 5
interpretada como uma característica dialetal). Marcamos, contudo, a velarização da late- p Oclusiva bilabial pala ['pata) Unifomlc cm todos os dialetos do português
ral [t] cujo contexto de ocorrência depende da estrutura silábica: posição final de sDaba. desvozeada brasileiro.
b Oclusiva bilabial bala
vozeada
['bala) Un ifonne em todos os dialetos do português
brasi leiro.
t Oclusiva alveolar tapa ['tapa] Unifonne em lodos os dialelos do português
desvozeada
5. Tabela fonética consonantal brasi leiro podendo ocorrer com articulação
alveolar ou dental.
d Oclusiva alveolar
Apresentamos abaixo uma tabela consonantal que lista os segmentos consonantais vozeada
data ['data) UnifomlC em todos Os dialetos do português
brasileiro podendo ocorrer com articu lação
que ocorrem no português brasileiro. A coluna da esquerda li sta o modo ou maneira de alveolar ou den[al.
articulação a partir da natureza da estritura conforme definido anteriormente. Quando k Oclusiva velar capa
dCSVozcélda
['kapa) Unifonne em todos os dialctos do português
relevante, foi indicado o estado da glote separando, portanto, segmentos vozeados e brasilciro.
desvozeados. Na parte superior indicamos o lugar de articulação definido conforme a g Oclusiva velar gata [[gata]
vozeada UnifomlC em lodos os dialetos do português
relação entre o articulador ativo e o articulador pass ivo. brasileiro.
3-S Fonético Tobefo foné tiCO consono n to l
Fonético - Tabelo fonét ico con sononto l 39

Classificação do Exemplo Transcrição Classific ação do


Sím bolo Observação Símbolo Exemplo Transcrição
segmento consonantal ortográfico fonética segmento consonantat Observação
ortográfico fonética
tf IAfricada alveopalatal I tia ['tf ia] Pronúncia típica do Sudeste Corres- h Fricati va total sílaba quando .'iCguido por consoante desvozeada:
Ó ponde ao primeiro som da palavra "tcheco-eslo-
!:o: desvozeada desvozea a "carta" e em final de sílaba que coincide com
váquia" em tod<k> os dialetos. Ocorre também
final de palavra: "'mar"'.
E em oulras regiões menos delim itadas (como
fi
'5 Norte e Nordc.ste). Fricativa glotal carga ['kafiga] Pronúncia típica do dialeto de Belo Horizon-
E vozeada tc. Não ocorre fricção audível no trato vocal.
A d3 Africada alveopalatal d ia ['d3 ia] Pronúncia típica do Sudeste brasileiro. Ocorre
também em outras regiões menos delimitadas Ocorre em final de sílaba seguida de consoan-
E vozeada te vOteada.
c (como Norte e Nordeste).
m Nasa l bilabial mala ['mal a] Unifonne cm todo!' os dialetos do ponuguês
o f Fricativa labiodental faca ['faka] Uniforme em todos os dialetos do ponuguês vozeada bra!>ileiro.
desvozeada brasileiro.
:;;
'co n Nasal alveolar nada ['nada]

-5 v Fricativa labiodent al vaea ['vaka] Unifomle em todos os dialetos do ponuguês Unifonne em os dialetos do português
2 vozeada brasileiro, podendo ocorrer Com articulação
vozeada brasileiro.
alveolar ou dental.
s Fricativa alveolar sala ['sala] Unifonnc em início de sílaba em todos os dia-
Nasal palata l
> caça [' kasa] lelOs do português brasileiro podendo ocorrer J1 banha ['bãJ1 a] A consoante nasal palatalLPJ ocorre na fala de
desvozeada o.." vozeada
"O
paz l'pas] com an iculação alveolar ou dental. Marca poucos falantes do ponuguês brasileiro, Ge-
y ou ra lmente um glide palatal nasa li zado que é
o variaçrío dialetal em final de sílaba: paz; vasta.
Õ
.c ['bãya] transcrito como !YJ ocorre no lugar da conso-
c Z Fricativa alveolar Zapata [za' pata] Uniforme em início de sílaba em todos os dia- ante nasal palatal para a maioria dos fa lantes
vozeada casa l'kaza] leto!, do português brasileiro podendo ocorrer do português brasileiro. Esla variação será dis-
'"o paz ['paz] com articulação alveolar ou dental. Marca cutida em breve.
o variação dialetal em fi nal de sílaba: rasga.
r Tepe alveolar cara [' kara] Unifomle em posiçiio in tervocálica e seguindo
Fricati va alvcopalatal chá ['f a] Unifomle em início de sílaba em todos os dia- vozeado prata ['prata] consoante em todos os dialetos do português

:g'"
o
f
desvozeada acha ]
['a f IClos do português brasileiro. Marca variação mar ['mar ] brasilei ro, podendo ocorrer com articu lação


paz S
l'pa ] dialetal em final de sílaba: pa7, vasta. car ta ['kafta] alveolar ou dental. Em alguns dialetos ocorre
em final de sílaba cm meio de p:llavra: "carta"
3 Fri cativa alveo palatal já ['3 a] Unifonne em infcio de sílaba em todos os dia-
ou em final de sílaba que coi ncide com fina l de
o vozeada haj a ['a3 a] letos do portuguê!' brasi leiro. Marca variação palavra: '" mar".
o dia-letal em fina l de sílaba: rasga.
f Vibrante alveola r Ocorre em alguns dialelos (ou idioletos)
vozeada rata [fatal
X Fricativa velar rata [' Xata] Pronúncia típica do dialeto carioca. Ocorre do português brasilei ro. Pronúncia típica do
"o
."
desvozeada marra ['maXa] fricção audível na região velar. Ocorre em ini- marra ['mara] português europeu c ocorre em certas varian-
"'ê mar [' maX] cio de sílaba que seja precedida por silêncio tes do ponuguês brasileiro (por exemplo em
E carta l' kaXta] e portanto encontra-se em início de palavra: cenos dialetos do ponuguês paulista), Ocorre
::; "'rata": em início de sílaba que seja precedida em início de sílaba que seja precedida por si-
o por vogal: "marra" c em início de sílaba que lêncio: "rata"; em início de sílaba que seja pre-
o
"O seja precedida por consoante: "Israer'. Em al- cedida por vogal: "marra" e em início de sl1a-
ê dialetos ocorre em final de sílaba quan- ba que seja precedida por consoante: " Israel",
.!::l
E do seguido por consoante desvoleada: "car- J Retrofl exa alveolar mar f'maJ ] Pronúncia lípica do dialeto caipira do r em fi-
.2 ta"' e em final de sílaba que coincide com fi- vozeada nal de sílaba: mar, cana. Adota-se também o
§ nal de palavra: "mar".
símbolo f{ J."
,,," y Fricativa velar carga ['kay ga] Pronúncia típica do dialeto carioca. Ocorre I Lateral alveo lar lata ['lata] Unifomle em início de sílaba e seguindo con-
.;? vozeada fricção audível na região velar. Ocorre em fi- vozeada
ü nal de sílaba seguida de consoante vozeada.
plana [' plana] soante em todos os dialelos do ponuguês bra-
g h Fricativa 9/otal rata [' hata] Pronúncia típica do dialeto de Belo Horizon-
silei ro, podendo ocorrer com articulação
alveolar ou dental.
" desvozea a marra ['maha] te. Não ocorre fricção audível no traIo vocal. t Lateral alveolar sal ['sat] Ocorre em fin al de sílaba em alguns dialetos (ou
ma r ['mah] Ocorre em início de sílaba que seja precedida vozeada velarizada ['saha] idioletos) do português brasileiro, podendo ocor-
carta por silêncio e portanto encontra-se em
OU salta
""
"-
['kahta"]
de palavra: "filla": em iníciode sílaba que scJa l'saw] rercom aniculação alvcolarou dental. Podeocor-
;; w rer a vocalização da lateral cm posição fi nal de
precedida por vogal: "marra" e em início de ['sawta]
= sílaba que seja precedida por consoante: " Is-
sílaba e neste ea.w temos um segmento com as
;;: rae)"'. Em alguns dialetos ocorre em final de
características <lnicuJatórias dc ullla vogal do tipo
• [ui que é transcrito como [wJ .
Fonético - Tabelo fonético consonontol 41

8 Exemplo Transcrição
O alfabeto internacional de fonética (revisado em 1993, atualizado em 1996 *)
Sfmbolo Classificação do segmento consonantal Observação
ortográfico fonética
Consoantes (mecanismo de corrente de ar p ulmonar)
Á Laleral palalal vozeada malha [tmaÁa] A consoante trllcral pala· bilabial lábi!HlenlD.l dental J a1l'oolar jpós-al\'colar retrolle:<a palatal
OU tal IÁl ocorre na fala de pou- uvular fanngal glolal
IJ OU cos falantes do português bra- Oclusiva p b 1 d qctkgqG
sileiro. Geralmente uma lateral Nasal m t1J n Jl N
['ma"a] alveolar (ou dental) paJatalizada
que é transcrita por IV] ocorre
Vibrnnrc B , R
para a maioria dos falantes do Tepe (00 ncpc) r [
português brasileiro. Esta varia- FriCllliva <I> P f v 9 I s 'I S ç .i ,
"
Ô 3 I' X Y X h
ção será discutida em breve. h fi
Fricati\'81alCr.1l
Pode ocorrer a vocali/..àção da
i li
l:ltct"JI palatal c neste caso IC-
Apn)xlm.lnIC U , { j Uj
Aprox. lateral
mos um segmento com as ca- I I !. L
racterísticas aniculal6rias de Em pares de símbolos tem-se que o símbolo da direita representa uma consoante vozeada. Acredita-sc ser impossivel as aniculaçõcs
uma vogal do tipo lil que é nas áreas sombreadas.
transcrito como IY]: ['maya]."
Consoantes (mecanismo de corrente de ar não-pulmonar) Suprasegmentos
Tons e acentos nas palavras
Cliques Implosivas vozcantes
o leitor deverá encontrar um subconjunto dos segmentos consonantais apresentados o bilabial 5 bilabial
Ejecllvas
como em
aeeol o primário
Nível
é ou 1 muito
Contorno
ou Ailscendente e
acima para caracterizar as consoantes que ocorrem em seu idioleto. Os símbolos listados den!.11 á dental/alveolar p' bil3bial acento secundário alta
acima devem ser suficientes para caracterizar a fala sem distúrbios de qualquer falante do ! p6s-alveoJar I palatal I' dcntaV ,foun:l'tiS<)O é "1 alta é descendente
pOltuguês brasileiro. Tais símbolos são propostos pela Associação Internacional de Foné- alveolar : longa e: -/ média é 1alto ascenden
"
Õ
palato-alveolar 9 velar k' velar
tica. Observa-se contudo na literatura a utilização de alguns símbolos concorrentes aque-
les li stados na tabela acima. Por exemplo, para representar um segmento "africado
lateral alveolar G" uvular s' fricativa
31veol3r
semi-Ionga
muito brevc
e'
C- .
é ....I baixo ascendI j
l: muno ê' ascendente- 1
alveopalatal desvozeado" a Associação Internacional de Fonética propõe o símbolo [tfl divisã o silábica J i.rekt b.1ixo descendente (
(este é o segmento inicial da palavra "tcheco"). Na literatura, encontra-se o símbolo [cl I grupo acentua! menor J.downstcp /' ascendência
para representar o mesmo segmento africado al veopalatal desvozeado (cf. "tcheco" ). O Vogais N grupo Cntonativo principa! (quebra brusca) global
símbolo [cl é geralmente utilizado na literatura none-americana. Listamos abaixo símbo-
y-\-
anterior _ ligação (ausencia dc divisão) t upstep
ccntrnl posterior '" descendcncia
fech3da (subida brusca) global
los fonéticos conCOITentes aos do alfabeto da Associação Internacional de Fonética. (ou alta)
i w u
IY u Diacríticos Pode-se rolocar um diacrítico adma de simbolos ruja
Símbolos propostos pela Associação
Internacional de Fonética
Simbolos concorrentes meia-fechada
(ou media-alta)
c 0-, e-y O representação seja prolongada lia parte inrl'f'ior, por exemplo Jj

I s , O

3 z
meia-abena
(ou média-baixa) ce-s \<3-A , •
desvoze3do voz. sussurrado b a dental d

11 C ou ts abena (ou baixa) "a <Elo o


,,\'ozeada t I. _ voz tremu!ante yapical d

d3 J ou dz os símbolos aparecem em pares aqucle da


haspirnda Ih d h _ linguolabiaJ d
c
larninal
c
d
c
Jl Õ direita representa uma vogal arredondada.
) mais arredo q wlabializado IW d W - nasalizado e
Na página seguinte apresenlamos a tabela proposta pela Associação Interna- Outros símbolos
< menos arred. 'l jpalataJizado <fÍ nsoltura nasal dn
fricativa
cional de Fonética. Tal tabela propõe símbolos para transcrever qualquer som das çz fricativas
lábio-vclar desvozcada
línguas nalurais. A panir dos parâmetros aniculatórios descritos anteriormente o lei- W aproximadamentc vozeadas epígtotal + avançado u
+
Yvclarizado rr dy lsohura lateral di
tor deverá ser capaz de inferir e pronunciar todos os segmentos consonantais li stados J flepc

na tabela. Os segmentos vocá licos serão tratados posteriormente. Aos interessados


lábio-vclar vozcada
4 aproximadamentc
fj
al"colar lateral
anieulação
_retraído 5< ç faringalií'.3do
I' d' 'sohura nào-audivel d'

em ter as fonles para tais símbolos, estas podem ser obtidas gratuitamente pela internet lábio-pal3tal \·07.cada
simultânca de S "centralizada C - vcJarií'.ada ou faringalizada
no seguinte endereço: http://www.sil.orglcomputinglfontslLanglsilfonts.html(consulte H fricativa epiglotal ox , centraliz. mcd . ,
também: http://www2.ans.gla.ac.ukllPNipa.htmlpara obter informações detalhadas Pam representar consoantes " c levantada .: (: '" frieativa bilabial vozeada)
desvozcada
desta associação). ç africadas c uma aniculação du-

Logo após a tabela da Associação Internacional de Fonética, apresentamos uma série


fricativa epiglotal
vozcada
pIa uti!i7.3-se um elo ligando os
dois símbolos em questão.
, silábica abaixada (e:. aproximantc alveolar vozeada)
de exercícios que tem por objetivo sedimentar os aspectos teóricos apresentados nas pági- OClusiva epiglotal
KP não silábica da lingua avançada
!l "
nas precedentes. Respostas aos exercícios propostos são apresentadas no final do li vro.
• ... roticil".3çào a-a. !--raiz da Jingua rctraida
A ASSOciação . I d F .. .
\;maCtona e onctlca gent Ilmente autorizo li a reprodução desta Tabela Fonética,
... '--
42 Fonética - Exercícios complementares 1 Fonético - Exercícios complementares 1 43

6. Exercícios complementares 1 3. Liste os articuladores passivos e os articuladores ativos no quadro abaixo.

l. Complete o diagrama denominando cada uma das partes do aparelho fonador Articuladores ativos Articuladores passivos
apontadas para identificação. Siga o exemplo dado. lábio inferior dentes superiores úvula
ápice da língua palato duro
cavidade nasolfaringal partes anterior, média e posterior da lingua palato mole ou véu palatino
palato duro Cavidade nasal Glote alveolos lábio superior
alveolos
dentes superiores
4. Complete os diagramas do aparelho fOllador apresentados a seguir. O primeiro
lábio superior cavidade oral véu palatino ou palato mole exercício foi feito como exemplo para a consoante lateral [l]. Para cada diagrama indi-
camos uma consoante cujo símbolo fonético é apresentado ao lado superior esquerdo.
úvula Você deverá classificar tal consoante quanto ao modo de articulação no espaço forneci-
do após o símbolo fonético (lateral, fricativa, oclusiva, etc.). Caracterize ainda os se-
ápice da língua guintes parâmetros: vozeamento, posição do véu palatino e articuladores passi vo e
ativo. Uti lize as seguintes marcas para caracterizar estes parâmet.ros:
Cavidade faringal
Vozeamento: Desenhe urna linha reta cruzando a glote para os segmentos desvozeados. Para
os segmentos vozeados desenhe uma linha em zig-zag cruzando agIote.
lábio inferior
dentes inferiores Posição do véu palatino: Complete o desenho com o véu palatino levantado se o segmento
lamina da língua epiglote for oral. Se o segmento for nasal complete o desenho com o véu palatino abaixado.
laringe
parte anterior da lingua Articuladores: Desenhe uma seta saindo do articulador ativo que vá até ao articulador passivo.
parte media da lingua esofago
parte posterior da lingua glote
[l] _tawrd
_ _ _ __ nasal
[m] _ _ _ _ _ _..:....

2. Complete o quadro abaixo indicando os articuladores ativos e passivos na pro-


dução de cada lugar de articulação. Siga o modelo.

Lugar de articulação Articulador ativo Articulador passivo

Bilabial

Labiodental Lábio inferior Dentes incisivos superiores


Dental ápice da língua Dentes incisivos superiores
Alveolar ápice da lingua alveolos
Alveopalatal parte anterior da lingua medial do palato duro
Palatal parte média da lingua palato duro
Velar parte posterior da lingua véu palatino ou
palato mole
...",_ _- - - - - - - - - - - - - - - -IFOnéfiCã - Exercícios complementares 1 45
44 Fonética Exercícios complementares
oclusiva
[pl _ _ _ _ __ [el _ _ou_
tepe _ _ _ __
róticos
fricativa
[zl _ _ _ _ __ fricativa

5. Categorize os segmentos consonantais do português quanto ao modo de articu-


lação. Siga o exemplo.

[kl _ _ _ _ __
[nl _ _ _ _ _ __
nasal
oclusiva Segmento consonantal Modo de articulação

p, b, t, d, k, g

Africadas
f, v, s, z, J, 3, x, y, h, fi fricativa

m,n,j1 nasal

e tepe

f vibrante

J
retroflexa

lateral

6. Categorize os segmentos consonantais listados. Observe que a notação segue a


seguinte ordem: modo de articulação + lugar de articulação + vozeamento + articula-
ção secundária (se houver).
Fonético - Exercícios complementares 1 47
46 Fonético - Exercícios complementares 1

Categoria do segmento
Símbolo do 03 04 05 06 07
Símbolo segmento VozlDesv. Oral/Nasal Artic. ativo Artic. Passivo Estritura

[p] du0"'l,ada
[p] de4w;eado o'UIi
[m] nasal bilabial vozeada [b] oral labio superior oclusiva
vozeado labio inferior
lÍ] fricativa alveolopalatal desvozeada [l] desvozeado oral ápice da lingua alveolo oclusiva
[Á] lateral palatal vozeada
[d]
[v] fricativa labio dental vozeada
[k]
[e ] tepe alveolar vozeada [gJ
fJl] nasal palatal vozeada [tI ]
[s] fricativa alveolar desvozeada [d3]

[3 J fricativa alveolo palatal vozeada [f]

[f] fricativa labiodental desvozeada [v]

[g] oclusiva velar vozeada [sJ

[n] nasal dental vozeada ou alveolar vozeada [z]


[k] oclusiva velar desvozeada lÍ]
alveolopalatal vozeada [3]
[d3] africada
[X]
[z] fricativa alveolar vozeada
[h]
7. Complete o quadro que é apresentado a seguir de acordo com os parâmetros de- [rn] <»;eado otMd otMd
finidos nas perguntas relevantes à classificação dos segmentos consonantais (cf. seção 3). [n]
Excluímos as respostas às questões I e 2 (mecanismo da corrente de ar e direção da corren-
te de ar) uma vez que todos os segmentos consonantais do português são produzidos com fJl]
o mecanismo de corrente de ar pulmonar egressivo. As demais questões e as respostas [e]
potenciais para cada uma delas estão reproduzidas abaixo. [r]

Q3. Qual o estado da glote? [J]


1J.;eado o« de4w;eado? [I]
Q4. Qual a posição do véu palatino? [Á]
O'Uli o« _ai?
Q5. Qual o articulador ativo? 8. Complete a coluna da esquerda com o símbolo correspondente ao segmento
lájzia. {tMte _ . {tMte.ddi4. . .ia Consonantal listado à direita. Apresente o símbolo fonético entre colchetes.
lo« palato <MIe) o« ..uúu """"'? 1. [b] Oclusiva bilabial vozeada 6. [ ] Tepe alveolar vozeado
Q6. Qual o articulador passivo? 2. [ ] Nasal palatal vozeada 7. [ 1Fricativa glotal desvozeada
LáduJ •. de4a "'iUW.... .ia lo« palato <MIe) o« palato d«... ? 3. [ ] Fricativa alveolar desvozeada 8. [ 1Oclusiva velar vozeada
4. [ ] Africada alveopalatal vozeada 9. [ ] Nasal alveolar vozeada
Q7. Qual o grau e natureza da estritura?
5. [ ] Lateral palatal vozeada 10. [ 1Fricativa labiodental desvozeada
otMd. úpe. "" Wcta1?
looelo oeSTocovel A
48 on ICO o Sistema consonO TliOi 00 pu,

7. O sistema consonantal do português brasileiro Tabela fonética consonantal destacável

Apresentamos uma série de exercícios que têm por objetivo contribuir para a
Articulação Dental
identificação dos segmentos consonantais que ocorrem em seu idioleto. As palavras Bilabial labiodental ou Alveopalatal Palatal Velar Glotal
Maneira lugar alveolar
li stadas ortograficamente devem ser transcritas foneticamente de acordo com os sím-
bolos apresentados na tabela fonética. Oclusiva desv

Tarefa voz
A tabela fonética destacável de segmentos consonantais é fornecida na página
seguinte. Você deverá preenchê-Ia à medida que fizer oS exercícios. Você deverá
selecionar um subconjunto dos segmentos consonantais do português que foram Africada desv
apresentados na seção anterior. Destaque a tabela fonética e proceda à caracteri-
zação das consoantes em seu idioleto. Bom trabalho!
voz

Transcreva todas as vogais com o símbolo [a) (os segmentos vocálicos são descri-
tos na próxima seção). Seja consistente na transcrição de [a). Utilize sempre o mesmo Fricativa desv

símbolo: [a) , [a) ou [a), etc. Verifique que cada palavra transcrita foneticamente en-
contra-se entre colchetes como no exemplo [ai rara) "arara" (veremos mais tarde que voz
transcrições fonêmicas são representadas entre barras inclinadas como em la'rara/). O
símbolo [I) deve preceder a sílaba tônica ou acentuada. Os exemplos foram agrupados
de maneira a facilitar a identificação dos segmentos consonantais que ocorrem em seu
Nasal voz
idioleto. Nos exercícios que se seguem cada som ou segmento consonantal identificado
na transcrição dos dados deve ser colocado na tabela fonética destacável. Ao final dos
exercícios apresentados nesta seção você terá uma tabela fonética que contém os seg-
mentos consonantais que ocorrem em seu idioleto. Para colocar os segmentos na tabela Tope voz
no lugar adequado você deverá tomar como referência a tabela da seção anterior.

9
Transcreva fonet icamente as palavras abaixo. Observe cuidadosamente o segmen-
to correspondente ao "r" ortográfico. Apresente a transcrição fonética entre col-
Vibrante voz
chetes.
Grupo 1
arara [ai rara) marajá ____ prata _____ graxa ____
cara _____ barata parada _ __ Retroflexa voz
brava _____

Você deve ter observado que o som con·espondente ao "r" 0110gráfico em todas as
palavras do grupo 1 acima é o tepe (ou vibrante simples): [r). Os contextos típicos em Lateral voz
que o tepe ocorre no português brasileiro são: seguindo uma consoante que ocorre na
mesma sílaba (como em "prata, graxa, brava, fraca") ou em posição intervocálica (como
em "arara, marajá, cara, barata, parada").
101lenco U Slsrem"c conso-ncnTCI co pOrTugues oreSllelro 4'1'

Tarefa
Você acabou de registrar a ocorrência do tepe alveolar (ou dental) [C] em seu
idioleto. Coloque este símbolo no lugar adequado na tabela fonética destacável.

Transcreva as palavras do grupo 2 considerando os segmentos consonantais relaci-


onados ao "r" ortográfico (e "rr"). Entre oS segmentos que você poderá utilizar
temos [X, h, c, t, J]. Lembre-se que cada palavra transcrita foneticamente deve vir
entre colchetes e o acento tônico ['] deve preceder a sílaba acentuada.
Grupo 2
marra ____ banaca ____ jan'a _ _ __ farra 10
rala _____ rapaz rama _____ rala _ _ _ __

Você deve ler selecionado para o grupo 2 um (ou lalvez dois) dos segmentos [x,
h, t, J] para representar o "r" ortográfico (ou "rr"). Note que o grupo 2 engloba o
contexto intervocálico (como "marra, barraca, jarra, farra") e o contexto de início de
palavra (como "rata, rapaz, rama, rala"). O mesmo segmento que você identificou para
o contexto de início de palavra no grupo 2 (cf. "rata") deverá também representar o "r"
ortográfico seguindo uma consoante que se encontra em sílaba diferente, como em
"Israel". Transcreva agora as palavras do grupo 3:

Transcreva foneticamente as palavras. Utilize os colchetes para a transcrição fo-


nética e marque a sílaba acentuada com [']. 11
Grupo 3
mar bar _ _ _ _ _ harpa _ _ __ carta _ _ __
farsa _ _ __ lar _ _ _ _ _ dar _ _ _ __ marcha _ _ __

Para o grupo 3 uma das consoantes [x, h, c, J] também deve ocorrer representan-
do o "r" ortográfico. O grupo 3 representa o contexto de final de sílaba. A sílaba pode
estar em final de palavra (como em "mar, bar, dar. lar") ou a sílaba pode ser seguida de
Consoante (como em "farsa, carta, harpa, marcha").
Salientamos que alguns falantes terão o mesmo segmento consonantal para os
grupos 2 e 3 enquanto outros falantes terão um segmento para o grupo 2 e outro seg-
mento distinto para o grupo 3. Falantes que tenham a mesma consoante para os grupos
2 e 3 podem por exemplo ter o "r" ortooráfico pronunciado como [h] em palavras como
" o
marra, rata, Israel, mar, farsa". Falantes que tenham consoantes distintas para os gru-
pos 2 e 3 podem por exemplo ter o "r" ortográfico pronunciado como [h] para o grupo
50 Fonética O sistema consonantoJ do português orasileiro ====ro
Fonético - O sistema consonanfal do português brasileiro 51

2 (em palavras como "marra, rata, Israel") e o "r" ortográfico pronunciado como [J) desvozearnento de r em final de sOaba caracteriza uma especificidade da distribuição
para o grupo 3 (em palavras como "mar, farsa"), consonantal do português.
Para concluirmos a discussão sobre os segmentos relacionados ao "r" ortográfico
apresentamos a noção de assimilação. A assimilação é caracterizada pelo fato de um
segmento adquirir uma propriedade de um segmento que lhe é adjacente (como por Transcreva foneticamente as palavras (lembre-se que as transcrições devem vir
exemplo a propriedade de vozearnento ou nasal idade). Esta propriedade será então entre colchetes!). Marque a sílaba tônica com ['lo Observe o vozeamento de r em
compartilhada pelos dois segmentos adjacentes envolvidos no processo. Observe o som limite de sílaba.
de s nas palavras "casca" e "rasga". Você deve ter notado que o s é desvozeado (e Grupo 4
a. farsa _ _ __ carta _ _ __ harpa _ _ _ _ marcha _ _ __ 12
ocorre como [s) ou [Í)) em "casca". Note que em "casca" o segmento adjacente ao s é
a consoante desvozeada [k). Na palavra "rasga" o s é vozeado (e ocorre como [z) ou b.carga _ __ larva _ _ __ arma _ _ _ _ farda _ _ __
[3)) por ser adjacente ao segmento vozeado [g). Em suma, o s em final de sOaba assimi-
la a propriedade de vozeamento do segmento seguinte.
O processo de assimi lação de vozeamento discutido para o s em posição final de Você deve ter observado que para o grupo 4a o r ortográfico corresponde a um
sOaba, aplica-se ao r no mesmo contexto. Concluímos então que em uma palavra como dos segmentos desvozeados [X,h). Para o grupo 4b o r ortográfico corresponde a um
"arca" o r em posição final de sílaba será desvozeado (por estar adjacente ao segmento dos segmentos vozeados [V,fi). Apresentamos no quadro a seguir algumas das distri-
desvozeado [k)). Na palavra "carga" o r será vozeado por estar adjacente ao segmento buições possíveis para o r e rr ortográfico. Os dialetos de "Belo Horizonte. Rio de
vozeado [g). Janeiro, caipira, Portugal" refletem a pronúncia de alguns falantes destas regiões.
A observação do vozeamento ou desvozeamento de s em final de sílaba quando
seguido de outra consoante não apresenta dificuldade para falantes do português. As- Belo Rio de
Ambiente Exemplo Caipira Portugal
sim o s em "casca" é percebido como desvozeado e O s em "rasga" é percebido como Horizonte Janeiro
vozeado. A observação do vozeamento ou desvozeamento de r em final de sílaba quan-
do segu ido de outra consoante apresenta desafios em termos auditivos para os falantes Intervocálica caro [e] [e] [e] [e)
do português (cf. a percepção do r desvozeado em "arca" e do r vozeado em "carga").
[r] [e] [e) [e) 13
A percepção auditiva do vozeamento em limite de sOaba para s e a não percepção Seguindo C na mesma sílaba prato
auditiva de vozeamento em limite de sOaba para r deve-se ao fato de que como falantes
do português temos que distinguir as consoantes desvozeadas [s,S) e as consoantes Intervocálica carro [h) [X] [f] [f]
vozeadas [z,3) como consoantes diferentes. Caso contrário não distinguiríamos as pa-
lavras "selol zelo" ou "chá! já". A percepção de s em limite de sílaba requer a identifi- Início de palavra rua [h] [X] [i] [f)
cação dos segmentos: [s) e [z) (ou [J.3) em alguns dialetos). A consoante desvozeada
[s) (ou [Í)) antes de consoante desvozeada: "casca". A consoante [z) (ou [3)) antes de Seguindo C em outra sílaba Israel [h] [X] [f) [f]
consoante vozeada: "rasga".
Quanto ao r, não temos um par de palavras em que a distinção de vozeamento se Final de palavra mar [h) [X] [J] [e]
faz relevante (como para slz temos "selol zelo" ou "chá! já"). Portanto, percebemos
auditivamente os sons de r da mesma maneira. Contudo, representaremos os sons de r Final de sílaba antes de C voz. gordo [li] [V] [J] [e]
fricativos em final de sílaba por um símbolo vozeado ou desvozeado dependendo do
vozeamento da consoante que o segue. Os símbolos desvozeados são [X,h) e seus cor- Final de sílaba antes de C desvoz. torto [h] [X) [J) [e)
respondentes vozeados são [V,Ii). Em posição de final de sOaba que coincide com final
de palavra, por exemplo "mar", ocorrem os segmentos desvozeados. Vale ressaltar que O quadro que se segue caracteriza os ambientes de ocorrência do r ortográfico no
as observações de vozeamento do s e r ortográficos discutidas acima podem ser corro- português brasileiro. Você deve estar apto a identificar os segmentos consonantais rela-
boradas por análises experimentais em que o vozeamento dos segmentos é observado e cionados ao r ortográfico que ocorrem em seu idioleto. Complete a terceira coluna do
quantificado. O fato de falantes do português perceberem auditivamente o vozeamentol quadro abaixo com O segmento correspondente a cada um dos exemplos da coluna da
desvozeamento de s em final de sOaba e não perceberem auditivamente o vozeamentol direita.
52 Fonético O si stema consonontal do português brasileiro Fonéhco O sistema consonontal do português brasileiro 53

Grupo Ambiente ou contexto Símbolo Exemplo Transcreva os dados observando o comportamento da propriedade de vozeamento
Mara
do s ortográfico em limite de sílaba seguido por consoante. 15
102 Posição intervocálica
Grupo 6
marra
a. casca _ _ _ _ _ _______ pasta _ _ _ _ _ _
1 Seguindo C na mesma sílaba brava b. rasga _________ ___________ Gasbrás _______
2 Inicio de palavra rata

2 Seguindo C em silaba distinta Israel O s ortográfico pode manifestar-se de duas maneiras nas formas do grupo 6. A
Final de sílaba e palavra mar primeira alternativa é a ocorrência de uma das fricativas desvozeadas [s,n quando a
3
consoante seguinte for desvozeada (como em 6a) e a ocorrência de uma das fricativas
4 Final de sílaba antes de C desv arca vozeadas [z, 3] quando a consoante seguinte for vozeada (como em 6b). Esta alternati-
Final de sílaba antes de C voz carga va é selecionada por exemplo pelo dialeto de Belo Horizonte. Entre falantes do dialeto
4

Quadro da distribuição do "r" ortográfico


rn
do Rio de Janeiro temos a ocorrência da fricativa alveopalatal desvozeada quando a
consoante seguinte for desvozeada (como em 6a) e a ocorrência da fricativa alveopalatal
vozeada [3] quando a consoante seguinte for vozeada (como em 6b). Falantes do diale-
to de Belo Horizonte selecionam [s] quando a consoante seguinte for desvozeada (como
Tarefa em 6a) e selecionam [z] quando a consoante seguinte for vozeada (como em 6b).
Você acaba de identificar os segmentos que correspondem ao r ortográfico em seu Neste estágio podemos concluir que os segmentos [s,Lz] podem ocorrer em final
idioleto. Acrescente à tabela fonética destacável os símbolos adotados em seu de sílaba e palavra (como em "paz," cf. grupos 5). A escolha de um destes segmentos
idioleto que foram atestados acima. aponta para uma variedade dialetal (por exemplo [s] no dialeto de Belo Horizonte, [J]
no dialeto do Rio de Janeiro e [z] no dialeto de Teófilo Otoni.). Observamos também
Discutimos a seguir a ocorrência das fricativas [s,z,L3] que denominaremos que nos casos em que a fricativa ocorre em limite de sílaba seguida por consoante,
sibilantes. temos o segmento desvozeado - [s] ou [J] - quando a consoante seguinte é desvozeada
(como em "casca", cf. grupo 6a) e temos o segmento vozeado - [z] ou [3]- quando a
Transcreva os exemplos para caracterizar a ocorrência de fricativas sibilantes em consoante seguinte é vozeada (como em "rasga" cf. grupo 6b).
final de palavra em seu idioleto (Lembre-se: transcrições fonéticas entre colche- Para finalizarmos a discussão do S ortográfico em limite de sílaba, vale ressaltar
14 tes l). Marque a sílaba acentuada. que em certos dialetos, como por exemplo o de Recife, temos uma distribuição diferen-
Grupo 5 te daquelas apresentadas acima. Falantes de Recife pronunciam a fricativa alveolar
paz _ _ _ _ _ __ rapaz _______ gás ________ desvozeada [s] em final de sílaba e palavra (como em "paz" ['pas], cf. grupo 5). Em
ás ______________ favas _ _ _ _ __ sapas _________ limite de sílaba segu ido de consoante não-alveolar os segmentos [s] ou [z] ocorrem
dependendo do vozeamento da consoante seguinte ("aspas" ['aspas] e "asma" ['azma],
cf. grupo 6). A particularidade dialetal de Recife (e outras regiões no Nordeste) é marcada
Você deve ter selecionado um dos segmentos: [s,f,z] para representar o s e o z quando o s ortográfico ocorre em limite de sílaba seguido de uma das consoantes
ortográficos nas palavras acima. O grupo 5 ilustra as fricativas sibilantes em final de alveolares: [t,d,n,l]. Neste caso a fricativa alveopalatal - [J] ou [3] - ocorre. Temos
palavra. Neste contexto a variante [s] ocorre tipicamente por exemplo no dialeto de Belo então um segmento alveopalatal correspondendo ao s ortográfico em ['vaSta] (e não
Horizonte, a variante [J] ocorre tipicamente no dialeto carioca e a variante [z] ocorre *['vasta]) e ['a3nu] (e não ['aznu]) dependendo do vozeamento da consoante seguinte.
entre falantes da região de Teófilo OlOni (MG). Um destes segmentos deverá represen- Ao mesmo tempo temos "aspas" ['aspas] e "asma" ['aZlna] que apresentam um segmen-
tar o s ou z oltográfico em final de palavra em seu idioleto. Note que tanto o s quanto o to alveolar correspondente ao s ortográfico (pois [p,m] não são consoantes alveolares).
z ortográfico em final de palavra devem ser transcritos pelo mesmo símbolo: [s,1.z]. Assim, entre falantes do dialeto de Recife o S OI1ográfico se manifesta como [s]
Vejamos agora a representação fonética do s ortográfico em limite de sílaba se- ou [z] em limite de sílaba quando a consoante seguinte não for alveolar (cf. "aspa,
guido por consoante em palavras por exemplo como "casca". Vimos anteriormente que casca, rasga, asma"). Quando a consoante que segue o s ortográfico for alveolar (ou
o s ortográfico apresenta um processo de assimilação de vozeall1ento semelhante aque- rn
seja, um dos segmentos [t,d,n,l]) temos então ou [3] dependendo do vozeamento da
le descrito para o r ortográfico em palavras do grupo 4. Consoante segu inte (cf. "vasta, asno").
54 Fonética O sistema consonontol do Fonéhco o SI ema consononfOf do braSileirO :J:J

Considere as palavras do grupo 7 que ilustram fricativas sibilantes (correspon-


dentes ao s ortográfico) em limite de sílaba seguidas de consoantes alveolares/dentais. c. rasga, asma _______________________
d. pasta, desde, asno, islã ___________________
e. sala, Zapata, chá, já _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __
Transcreva somente o segmento correspondente ao s ortográfico em limite de f. assa, asa, acha, haja __________________----''-
16 sílaba seguido de consoonte olveolarldental em seu idioleto. g. farsa, cerzir, marcha, argila ___________________
Grupo 7
pasta _ _ __ desde _ _ __ asno _____ islã _ _ _ __
Tarefa
Vimos acima que as fricativas [s,f,z] podem ocorrer em final de sílaba e palavra Complete a terceira coluna no quadro abaixo com o símbolo fonético adequado. Lem-
(cf. Grupo 5). As fricativas [s,z,S,3] ocorrem em posição final de sílaba concordando bre-se de acrescentar à tabela fonética destacável os símbolos fonéticos que serão
em vozeamento com a consoante que a segue (e considerando 0$ segmentos alveolares listados e que correspondem às sibilantes do português.
em alguns dialetos).

Ambiente ou contexto Grupo Símbolo Exemplo


Transcreva as palavras abaixo para finalizarmos a discussão da ocorrência das
fricativas sibilantes no português (nas palavras "cerzir" e "argila" as vogais [e] e [i] Final de sílaba e palavra 5 jazz
ocorrem. além de [a]). Final de sílaba seguido de C desv 6a casca, caspa
17 Grupo 8
Final de sílaba seguido de C voz 6b rasga, esbarra
a.sala ____ Zapata chá _____ já _ _ _ _ __
b.assa _ _ __ asa _____ acha haja _ _ _ __ Final de sílaba seguido de C alveolar 7 pasta, desde, asno, islã
c. farsa ____ cerzir _____ marcha _ _ __ argila _____ Inicio de silaba e palavra 8a sala, Zapata, chá, já
Intervocálico 8b assa, asa, acha, haja

Em (8a) [s,z,J.3] ocorrem em início de palavra e em (8b) os mesmos segmentos Inicio de sílaba precedido de C 8c farsa"cerzir, marcha, argila
ocorrem em posição intervocálica. Em posição pós-consonantal temos os segmentos Quadro da distribuição das sibilantes [s,z,S,3]
[s.z,J.3] (cf. 8c). Note que nos grupos 5 a 7 haverá variação dialetal sendo que um
subconjunto dos segmentos [s,z,J,3] é selecionado. No grupo 8 a distribuição das sibi- o quadro acima define a distribuição das consoantes fricativas sibilantes em seu
lantes é uniforme para o português (exceto para alguns falantes de Cuiabá que pronun- idioleto. Certifique-se de que os símbolos adotados para as sibilantes sejam acrescenta-
ciam "acha" [latSa] e "haja" [lad3a]). Podemos concluir que em posição final de sílaba dos à tabela fonética destacável. Consideramos a seguir as fricativas labiodentais [f,v].
as sibilantes caracterizam variação dialetal (sendo que há concordância de vozeamento
com a consoante seguinte (cf. grupos 5 a 7). Em contextos diferentes de final de sílaba
as sibilantes são uniformes em qualquer variedade do português (cf. grupo 8). Conside- Transcreva os dados observando especificamente a ocorrência das fricativas
re os dados do grupo 9 e indique os ambientes discutidos acima para a distribuição das labiodentais. Lembre-se de que as transcrições fonéticas devem vir entre colche-
18
tes e que as sílabas tônicas devem ser acentuadas.
sibilantes.
Grupo 10
arfar _____ safada _____ fraca _____ fava _ _ _ __
Indique a fricativa sibilante e o ambiente em que esta consoante ocorre. Siga o vala _ _ __ savana _____ lavra _____ parva _____
modelo.
Grupo 9
Preencha o quadro abaixo observando a distribuição dos segmentos [f] e [v]
a. jazz, vacas [s] "'" {i>«ú <Ú e fuda<n4 <Ú dialet. fM<Ú "" [J])
b. casca, aspa _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ em relação aos contextos em que estes segmentos ocorrem e considere os dados do
grupo 10.
56 Fonética - O sistema consonantal do português brasileiro Fonético O sistema consonantal do português brasileiro 57

Ambiente ou contexto Símbolo Exemplo Tarefa


Inicio de palavra [f] ['faka] "faca" Acrescente os segmentos oclusivos [p, b, t, d, k, g] à tabela fonética destacável.
[v] lJvaka] " vaca"
Posiçao intervocálica
Descrevemos a seguir um processo que ocorre em certos dialetos do pOltuguês
Seguido de C na mesma silaba brasileiro, principalmente na região Sudeste. Denominamos tal processo de palatalização
de oclusivas alveolares. Nos dialetos em que este processo aplica-se as oclusivas tld
Seguindo C em silaba distinta manifestam-se como africadas alveopalatais tíld3 quando seguidas da vogal i (oral ou
nasal). Nestes dialetos temos [tíi'tíia] para "titia" e ['d3ika] para "dica"(Cristófaro Silva
(1999c». Os dialetos que não têm este processo apresentam as pronúncias [ti 'tia] "titia"
Quadro da distribuição de [1] e [v]
e (idika] "dica". Caso o processo de palatalização de oclusivas alveolares ocorra em seu
o quadro acima expressa a distribuição das consoantes fricativas labiodentais em idioleto transcreva os dados abaixo de acordo com a sua pronúncia. Caso contrário tente
seu idioleto. Observe que os segmentos [f,v] combinam-se na mesma sílaba com o tepe encontrar um falante que seja de uma variedade dialetal que apresente este processo.
[r] e com a lateral [I] (cf. "l ivraria, flor"). Contudo, [vi] ocorre apenas nos nomes Uma outra alternativa é tentar inferir como seria a pronúncia das palavras abaixo em
"Wladmir, Vlamir" e [v r] não ocorre em início de palavra ''['vridu]. (Atestei, (ivridu] dialetos que apresentam a palatalização das oclusivas tld. Além da vogal [a] você deverá
'vidro' entre falantes de classe baixa de Belo Horizonte. Estes mesmos falantes também utilizar o símbolo [i] para transcrever as vogais que ortograficamente ocorrem como i e
falam (ipff:da'] 'pedra'. Para este fato ver Cristófaro Silva (2000) e Freitas (no prelo)). as vogais átonas finais que ortograficamente ocorrem como e (como em "bate") que na
maioria dos dialetos do português brasileiro se manifesta foneticamente como [i].

Tarefa
Acrescente os segmentos labiodentais [f,v] à tabela fonética destacável. Transcreva foneticamente os dados.
Grupo 12 20
a. dia ____ tia _ _ _ __ vadia _ _ __ ártica _ _ __
O grupo 11 listado abaixo visa a identificação dos segmentos oclusivos que ocor- típica _ __ dica tipití _ _ __ mártir _____
rem no português brasileiro: [p,b t,d,k g]. b. arde _ __ bate abade _ _ __ arte ______

Transcreva foneticamente os dados. Apresente as transcrições fonéticas entre


Em dialetos em que a palatalização de oclusivas alveolares ocorre - como Ode
colchetes.
Belo Horizonte por exemplo - todos os tld ortográficos no grupo 12 são foneticamente
Grupo 11
segmentos africados [tLd3] (seguidos de [i]). Nestes dialetos ocorrem também os seg-
19 pá tapa cá gata
mentos [t,d] seguidos de vogais diferentes de [i] ou seguidos das consoantes [I,r]. Em
ataca dá bata aba
dialetos em que a palatalização de oclusivas alveolares não ocorre temos foneticamente
cada paga babá data
apenas [t,d] con'espondendo ao tld ortográficos nos dados do grupo 12. O que condiciona
brava praga clava ladra
a ocolTência dos segmentos africados [tí,d3] nos dialetos que apresentam a palatalização
graxa atlas barba harpa de oclusivas alveolares é o fato da vogal imedi atamente seguinte ser [i] [(embora orto-
lasca farda rasga gasta graficamente a vogal possa ser registrada como e (cf. "bate", "arde")].
Uma outra alternativa de pronúncia para os dados aci ma é atestada entre falantes
Você deve observar que os segmentos oclusivos ocorrem em início de palavra do dialeto de Curitiba. Neste dialeto o tld ortográfico das palavras listadas no grupo
(como em "pá, tapa, cá, bata, dá, gata"); em posição intervocálica (como em "tapa, 12a manifestam-se como segmentos africados [tí,d3]: ['d3ia]. As palavras do grupo
ataca, aba, cada, paga"); seguindo consoante na mesma sílaba (como em "praga, atlas, 12b entretanto são pronunciadas como segmentos oclusivos [t,d] embora a vogal ime-
clava, brava, ladra, graxa") e seguindo consoante em sílaba diferente (como em "harpa, diatamente seguinte seja pronunciada como [i]: [a'badi]. POItanto, embora os tld orto-
gasta, lasca, barba, farda, rasga"). gráficos sejam seguidos de [i] nos grupos 12a e l2b - por exemplo em "dia" e "abade"-
no dialeto de Curitiba a consoante africada ocorre apenas quando a vogal [il não Concluindo a discussão sobre segmentos africados vale mencionar uma particula-
cOITesponde ao sufixo de gênero (o que é o caso em 12b: "aba[di]"). ridade que ocorre entre falantes do dialeto de Cuiabá. Certos falantes deste dialeto
Observe que enquanto falantes de Belo Horizonte pronunciam "hepatite" como apresentam os segmentos africados [t1,d3l onde os segmentos fricativos ocorrem na
[epa'tSitSil (com os dois últimos segmentos consonantais sendo africados), os falan- grande maioria dos outros dialetos do português brasileiro. Os exemplos do grupo 14
tes de Curitiba pronunciam [epa'tSitil "hepatite" (onde o último segmento consonantal ilustram ·este caso para os dialetos de certos falantes de Cuiabá e Belo Horizonte.
que é seguido pelo sufixo de gênero é uma oclusiva e a penúltima consoante é uma
africada).
Consideramos a seguir um processo relacionado à palatalização das oclusivas tld. Grupo 14 Belo Horizonte Cuiabá
Tal processo palataliza o "s" ortográfico em limite de sílaba quando segllldo por [t1,d3l chá ['Sal ['tSa]
e é atestado entre falantes do português de Belo Horizonte. Quando o "s" ortográfico acha ['aSa] ['atSa]
que ocorre em posição final de sílaba é seguido de uma das africadas [tS,d3l - por já ['3 a] ['d3a] 22
exemplo em palavras como "castiga, desdisse" - ocorre a palatalização do "s" ortográ- haja ['a3a] [' ad 3 a]
fico. O "s" ortográfico manifesta-se foneticamente então como [1,3]: [kaS'tSigal "casti- chia ['Sia] ['tSia]
ga" e [d3i3'd3isil "desdisse". gia ['3 ia] ['d3 ia]
Temos, portanto, uma seqüência defricativa alveolapalatal+africada alveopalatal: tia ['tSia] ['tia]
[JtJl e [3d3J. Observe que tal processo aplica-se em limite de sílaba e não é atestado em dia ['d3 ia] ['dia]
todos os dialetos do português brasileiro. Há dialetos (ou idioletos) em que o "s" orto-
crráfico secruido de africadas ocon·e como uma fricati va alveolar (ou dental). Neste caso
"temos uma" seqüência defricativa alveolar (ou dental)+africada alveopalatal): [stS1e Tarefa
[zd3l (para a seqüência de consoantes em "castiga" e "desdisse" respectivamente). Há
ainda dialetos em que o "s" ortográfico é sempre palatalizado em posição final de Caso os segmentos (IS,d31 ocorram em Seu idioleto acrescente-os a tabela fonética
destacável.
sílaba independente dos segmentos adjacentes. Este é por exemplo o caso do dialeto
carioca que sempre apresenta [1,3] em posição final de sílaba.
Para verificar o comportamento do "s" 0110gráfico em seu idioleto no contexto de
Até O momento identificamos os seguintes segmentos consonantais: os segmentos
posição tinal de sílaba quando seguido de consoantes africadas, transcreva as seqüên-
correspondentes ao r ortográfico (que compreende um subconjunto dos segmentos
cias de st ortográficos nos exemplos do grupo 13. Pedimos que sejam transcritos ape-
[X,y,h,fi.f,f,lD; as fricativas sibilantes [s,z,J,3]; as fricativas labiodentais [f, v]; as oclusivas
nas os segmentos correspondentes à seqüência ortográfica st porque estes segmentos
[p,b,t,d,k,g] e as africadas [tS,d3J. Certifique-se de que um subconjunto destes segmentos
são aqueles envolvidos no processo de palatalização do s ortográfico. Como ainda não constam de sua tabela fonética destacável.
apresentamos o instrumental para transcrever os segmentos vocálicos transcreva ape-
Note que uma consulta à tabela fonética destacável indica que devemos identifi-
nas os segmentos relevantes para o tópico em discussão.
car ainda os segmentos nasai s e laterais. Consideramos primeiro as consoantes nasais.
Transcreva as palavras listadas no quadro que se segue. Utilize o símbolo [m] para
Transcreva foneticamente somente as seqüências de st ortográfico. transcrever a consoante nasal bilabial que ocorre por exemplo no início da palavra
21 "má". O segmento nasal que ocorre no início da palavra "nata" deverá ser transcrito
Grupo 13
triste _ _ _ _ _ __ vestido _ _ _ _ __ haste _ _ _ _ _ _ __ como [n] (observe contudo se a articulação é alveolar ou dental).
lástima _ _ _ _ __ poste _ _ _ _ __ estilo _ _ _ _ _ __

Transcreva foneticamente os dados. Certifique-se de que as transcrições fonéti-


Se para você o st ortográfico nas palavras acima man ifesta-se como uma seqüên- cas estejam entre colchetes e que a sílaba tônica seja marcada. 23
cia defricativa a/veopa/atal + africada alveopalatal, ou seja [JtJl ou [3d3], temos Grupo 15
então que o processo de palatalização de s posvocálico aplica-se por meio de limite de a.mala _ _ __ mamá _ _ _ _ carma ____ anlada _ _ _ __
sílaba para você. Caso contrário (se o st ortográfico ocorre como [stJl ou [zd3D o b. nata _ _ __ ananás _ _ _ _ sarna _ _ __ sanada _ _ _ __
processo não se aplica em seu idioleto.
60 Fonético - O sistema consonantal do português brõsileiro Fonético O sistema consonanfal do português brasileiro 61

o segmento nasal bilabial [m] exemplificado no grupo 15a ocorre consisten- to, uma palavra como "banha" pode ser transcrita foneticamente como ['bãJ1a] ou como
temente em todos os dialetos do português. Os ambientes em que o segmento [m] ocor- ['bãYa]. Vejamos os parâmetros articulatórios envolvidos na articulação dos segmentos
re são: início de palavra (cf, "mala"), seguindo consoante em sílaba distinta (cf. "carma") [)!] e [y]. Se em uma palavra como "banha" você pronuncia uma consoante nasal pala-
e em posição intervocálica (cf. "amada"). Lembramos aqui que estamos nos refenndo a tal em posição intervocálica - ou seja lJ1)- você deverá observar a obstrução da passa-
articulação fonética do segmento em]. Observe que ortograficamente a letra m ocorre gem da corrente de ar pela cavidade oral.
em fim de sílaba e em final de palavra (como em "campo" ou ·'fim"). Neste caso a letra Lembre-se de que segmentos nasais são produzidos com o véu palatino abaixado e
m marca a nasal idade da vogal anterior e não a articulação de uma consoante nasal. a corrente de ar tem acesso às cavidades oral e nasal. A obstrução a que nos referimos
O segmento nasal que ocorre no grupo 15b pode ser alveolar ou dental, dep:n- aqui é aquela que ocorre na região palatal da cavidade oral. A obstrução na cavidade oral
dendo do dialeto (ou mesmo idioleto). Os ambientes em que o segmento [n] ocorre sao: é causada pela parte média da língua tocando o palato duro (que é uma articulação
início de palavra (cf, "nata") ' :seouindo
;:'
consoante em sílaba distinta (cf.
C
"sarna")
i· d
e em característica de consoantes palatais). A obstrução da passagem da corrente de ar se dá
posição intervocálica (cf. "sanada"). Nos referimos aqui à articulação lonetlca o seg- uma vez que as consoantes nasais são por definição oclusivas. Se você pronuncia uma
mento [n]. Observe que ortograficamente a letra n ocorre em final de sílaba na consoante nasal palatal em uma palavra como "banha" a sua língua tocará a região pala-
palavra "santa". Neste caso a letra n marca a nasal idade da vogal antenor,.e nao a tal causando obstrução. Você deverá pOl1anto sentir o contato da língua tocando o céu da
at1iculação de uma consoante nasal. Note que em algumas palavras do portugues temos boca. Neste caso a transcrição fonética correspondente a palavra "banha" será ['bãJ1a].
ortograficamente a letra n precedida de outra consonante como em "pneu, pneumo- Consideremos agora casos de falantes que articulam um segmento vocáliC1)
nia". Contudo, no português brasileiro sempre ocorre uma vogal entre as duas consoan- nasalizado - ou seja [y)- em posição intervocálica na palavra "banha". Foneticannente
tes em questão: [pi'neu] ou [pe1neu]. . o dígrafo "nh" corresponde à um segmento vocálico [i) nasalizado (como a vogal de
Complete a tabela da distribuição das consoantes nasais apresentada a segUIr.
"sim"). Neste caso não há contato da língua com o céu da boca (o que ocorre na produ-
Tente na medida do possível encontrar seus próprios exemplos.
ção do segmento nasal palatal [)!) que acabamos de discutir acima). O que articulamos
de fato então é uma vogal nasalizada com a qualidade vocál ica de [i]. Contudo, em
Símbolo Exemplo
Ambiente ou contexto termos distribucionais tal vogal ocupa a posição de uma consoante na estrutura silábica
(no caso, o segmento correspondente ao dígrafo "nh"). Representamos tal segmento
Início de palavra [ml
por [y]. Note que na articulação de [y) a língua não toca a região palatal. Isto se dá uma
[nl
vez que vogais são articuladas sem causar obstrução no trato vocal (trataremos das
Seguindo C em sílaba distinta [ml vogais em detalhes na próxima seção). Portanto, na articulação do segmento .[y) não
[nl haverá obstrução da passagem da corrente de ar na região palatal. Assim, a sua língua
[ml não deve tocar a região central do palato durante a articu lação de [Y]. Neste caso a
Posição intervocálica
[nl palavra "banha" será transcrita como ['bãYa). Como vimos acima, na articulação da
consoante nasal palatal [)!) ocorre obstrução da passagem da corrente de ar pelo trato
Quadro da distribuição das nasais [m, n] vocal e a língua toca a região média do céu da boca. Já na produção do segmento [y)
nenhuma obstrução da passagem da corrente de ar pelo trato vocal ocorre. Vale ressal-
tar que na maioria dos dialetos do português brasileiro o som correspondente ao dígrafo
Tarefa "nh" é um segmento vocálico nasalizado. ou seja [y). A seguir apresentamos uma ma-
Não se esqueça de acrescentar à tabela fonética destacável os símbolos corres- neira de verificar se você pronuncia [)!) ou [y) para o dígrafo ·'nh".
pondentes às consoantes nasais [m, nJ.

Tarefa
Consideremos aoora o seomento que na ortografia é representado pelo dígrafo Pronuncie a palavra "baia" observando cuidadosamente a articulação do segmento
(lnh" como por exemplo na pal:vra "banha". Tal segmento em que ocorre entre as duas vogais. Na produção do segmento intervocálico na palavra
posição intervocálica e a vogal precedente é geralmente nasahzada. No portugues bra- "baia" você deve observar que a corrente de ar passa livremente pela cavidade oral.
sileiro temos oeralmenteduas manifestações possíveis para o segmento que corresponde Em outras palavras não há obstrução da passagem da corrente de ar. Note que a
ao dígrafo '·nh". Podemos ter uma consoante nasal palatal que será transcrita como lJ1] língua não toca o céu da boca. Pronuncie agora alternadamente as palavras "baia" e
ou podemos ter um segmento vocálico nasalizado que será transento como [y]. P0I1an-
62 Fonetlca o sistema consonanfal do portugues brasileIro

"banha" observando a articulação dos segmentos intervocálicos correspondente ao Passemos agora a considerar os segmentos consonantais laterais que ocorrem no
i e nh ortográfico. Se você pronuncia o segmento6')
na palavra "banha" você deverá pOItuguês brasileiro. Você deverá observar que o "I" oItográfico corresponde a um
observar que a diferença articulatória dos segmentos intervocálicos de "baia" e segmento lateral vozeado podendo ter articulação alveolar ou dental, dependendo do
"banha" se dá apenas quanto a nasalização. Se você pronuncia o segmento [Jl) na dialeto (ou mesmo idioleto). Estas são as duas alternativas possíveis para qualquer
palavra "banha" você deverá observar que a diferença articulatória entre oS seg- falante do pOItuguês brasileiro nas palavras listadas no quadro que se segue,
mentos intervocálicos de "baia" e "banha" se dá quanto a dois parâmetros: a
nasalidade (em "banha")/a oralidade (em "baia") e quanto à obstrução (em "ba-
nha")/não-obstrução (em "baia"). Transcreva foneticamente oS dados. Lembre-se de que as transcrições fonéticas
devem estar entre colchetes e a sílaba tônica deve ser marcada.
Grupo 16 24
Resumindo , a articulação do seomento
o intervocálico em "ba[I]a" e "ba[)í]a" será a. lata lar lava _ _ _ _ _ __
idêntica em relação a todos os parâmetros articulatórios com exceção da posição do véu b. placa atlas clava
palatino: em "baia" o véu palatino encontra-se levantado (e temos um segmento oral) e c. ala sala calada _______
em "ba[)í]a" o véu palatino está abaixado (e temos um segmento nasal). Em ambos os
casos temos a articulação correspondente a vogal i em posição intervocálica sendo que
esta é oral em "baia" e nasal em "banha", Os exemplos do grupo 16 ilustram os contextos em que a lateral alveolar (ou
Se você pronuncia o segmento 1]1] na palavra "banha", você observará que ocorre dental) ocorre no pOItuguês. Estes são: início de palavra (como em "lata"); seguindo
obstrução da passagem da corrente de ar (quando a língua toca o céu da boca na região consoante na mesma sílaba (como em "placa") e em posição intervocálica (como em
do palato). Já na aIticulação do segmento intervocálico na palavra "baia" não ocorre "ala"). O mesmo segmento que você identificar para o grupo 16 em seu idioleto deverá
obstrução na aIticulação do segmento intervocálico. Resumindo, a articulação do seg- também representar o "I" oItográfico que ocon·e seguindo consoante em sílaba distinta
mento intervocálico em "ba[I]a" e "bal]1]a" distingue-se quanto a dois parâmetros: a como em "orla" ou "islã".
posição do véu palatino e a obstrução da passagem da corrente de ar no trato vocal. Em
"baia" temos um segmento oral (quando o véu palatino está levantado) e não ocorre
obstrução do trato vocal. Em "bal]1]a" temos um segmento nasal (quando o véu palatino Tarefa
está abaixado) e OCOITe obsu·ução do trato vocal (quando a língua toca o palato). Acrescente o segmento lateral alveolar ou dental [I] à tabela fonética destacável.
Finalmente, temos a pronúncia de ceItos falantes de Belém do Pará em que uma
consoante nasal alveolar palatalizada - ou seja, [ni ] - corresponde ao dígrafo "nh".
Note que neste caso a ponta da língua levanta-se e toca os alvéolos. Para estes falantes Consideremos agora a distribuição do "I" ortográfico em final de sílaba. Temos
o segmento intervocálico de "banha" deve ser transcrito como "ba[nJ]a". Observe qual duas alternativas possíveis para transcrever o "I" OItográfico no final de sílaba (como
seomento con·esponde ao díorafo "nh" em seu idioleto. Acrescente o símbolo corres- por exemplo nas palavras "sal" e "salta"). Na primeira delas uma consoante lateral
o o
pondente à tabela fonética destacável. alveolar (ou dental) é articulada juntamente com a propriedade articulatória secundária
de velarização: [t]. Neste caso formas como "sal, salta" são transcritas como ['sat] e
['safta], respectivamente. Esta alternativa aplica-se geralmente a certos dialetos do sul
Tarefa do Brasil e de Portugal. Na maioria dos dialetos do pOItuguês brasileiro, o que ocorre é
Considerando os parâmetros articulatórios descritos acima, determine o segmen!o um processo de vocalização do I. De acordo com tal processo, articulamos um seg-
correspondente ao dígrafo "nh" em seu idioleto. Selecione um dos símbolos 1]1], [y] mento com a qualidade vocálica de u na posição correspondente ao "I" oItográfico em
ou [n'] e o acrescente à tabela fonético destacável na posição correspondente à posição final de sílaba: "sal, salta". Adotamos o símbolo [w] para transcrever tal seg-
consoante nasal palatal. [(Lembre-se que símbolo lY] corresponde a uma articula- mento. Neste caso formas como "sal, salta" são transcritas foneticamente como ['saw]
ção vocálica nasalizada. Contudo o incorporaremos à tabela fonética consonantal e ['sawta], respectivamente. Considerando-se as possibilidades de transcrever o "I"
uma vez que tal segmento corresponde a uma posição consonantal na estrutura Ortográfico em posição final de sílaba como [t] e [w], faça o exercício do grupo 17.
silábica (que corresponde ao dígrafo "nh")].
Fonético O sistema consonontol do português brasileiro 65

Transcreva os dados observando a articulação do segmento correspondente ao "I" tal que apresenta a obstrução da passagem da corrente de ar na região palatal (O ar
25 ortográfico em posição final de sílaba. escapa lateralmente). Neste caso o falante levanta a parte média da língua em
Grupo 17 direção ao palato duro. Ou seja, a região central da língua quase toca o céu da
a. sal matagal _____ tal _ _ _ _ _ __ boca. Utilizamos o símbolo [Á] para representar este caso e uma palavra como
b. salta _ _ _ _ __ malvada _ _ _ __ calva _ _ _ _ _ __ "palha" será transcrita como ['paÁa].
A segunda alternativa articulatória relacionada ao dígrafo "Ih" representa os ca-
sos em que uma consoante lateral alveolar (ou dental) é articulada juntamente com a
Preencha o quadro abaixo com os símbolos fonéticos adequados para representar propriedade articulatória secundária de palatalização. Neste caso, o falante levanta a
o ''I'' ortográfico em seu idioleto. ponta da língua em direção aos alvéolos ou aos dentes incisivos superiores (como na
articulação da lateral em "bala"). Concomitantemente, a região média da língua é le-
Ambiente ou contexto Símbolo Exemplo vantada em direção ao palato duro. Temos então uma consoante lateral alveolar
palatalizada que é transcrita como [11]. Uma palavra como "palha" é então transcrita
Início de sílaba e palavra lata como ['palja].
Seguindo C na mesma sílaba placa Finalmente, há falantes que pronunciam as palavras "teia" e "telha" de maneira
Posição intervocàlica ala idêntica. Nestes casos, temos que uma vogal com a qualidade vocálica de i ocupa a
Seguindo C em sílaba distinta orla posição consonantal correspondente ao dígrafo "Ih". Transcreveremos tal segmento
como [y] uma vez que estamos nos referindo a uma posição consonantaI. Uma palavra
Final de palavra sal
como "palha" é então transcrita como ['paya].
Final de sílaba salta Resumindo, na articulação da lateral palatalizada [Ij] haverá O levantamento da
Quadro da distribuição da lateral [I]
ponta da língua em direção aos alvéolos (ou dentes inci sivos superiores) e
concomitantemente, a região média da língua levanta-se em direção ao palato duro. Já
Você deverá selecionar um subconjunto dos símbolos [I,t,w] para o seu idioleto. na articulação da lateral palatal [Á] a parte média da língua levanta-se em direção ao
A orande maioria dos fa lantes selecionará dois segmentos: [I,w] ou [I,t]. Alguns falan- palato duro e a ponta da língua enCOnlra-se abaixada próxima aos dentes frontais in-
tes"podem ter os símbolos [I,t,w] sendo que [t,w] ocorrem sempre em posição final de feriores. Nos casos em que o segmento [y] ocorre, temos uma articulação de qualidade
sílaba. Acrescente os símbolos que você selecionou à tabela fonétJca destacável. Colo- vocálica de i ocupando a posição consonantal correspondente ao dígrafo "Ih".
que o segmento [w] na posição da tabela correspondenteàs laterais, alveolares/dentais. Portanto, um dos símbolos [Á], [I'] ou [y] deve ser utilizado na transcrição fonéti-
[(O símbolo [w] corresponde a uma articulação com qualidade vocallca de u. Contudo. ca do segmento correspondente ao dígrafo "Ih". Uma maneira de identificar se você
o incorporamos à tabela fonética consonantal uma vez que tal segmento corresponde a produz o segmento lateral palatal [Á] oU o segmento lateral palatalizado [P] consiste em
uma posição consonantal na estrutura silábica (que corresponde ao "I" em posição final verificar se há diferença de pronúncia entre as palavras "olhos/óleos"; "a malha/Amá-
de sílaba)]. lia" e "julho/Júlio". Caso você tenha distinção articulatória entre estas palavras é pro-
vável que a lateral palatal [Á] OCOrra em seu idioleto correspondendo ao dígrafo "Ih".
Se você pronuncia "olhos/óleos"; "a malha/Amália" e ')ulho/Júlio" da mesma maneira
Tarefa é prOvável que você tenha o segmento lateral palatalizado [lj] em seu dialeto correspon-
Acrescente o segmento lateral velarizado [tJ ou o glide recuado [wJ à tabela foné- dente ao dígrafo "Ih". Considere as palavras do grupo 18.
tica destacável.

Transcreva foneticamente as palavras. Transcrição fonética entre colchetes e mar-


Consideramos a seouir a consoante lateral palatal que ocorre em português ca-se a sílaba acentuada.
Grupo 18
26
apenas em posição inter:ocálica e corresponde na ao dígrafo "Ih"
palha _ _ _ _ _ __ palhaçada _ _ _ __
na palavra "palha". Vejamos as alternativas artlculatonas relaCIOnadas ao Ih canalha _ _ _ _ _ __
malha _ _ _ _ _ __ malhada ______ lalhada _ _ _ _ __
ortográfico. Na primeira alternativa, o falante articu la uma consoante lateral pala-
- - - -,ou _ _ __
- - - - - - ---r."Orn!nê"frccr=-At:fescnçoo dos segmentos voc61icos 67

Tarefa - - - - - - - - - - Exercício 1
Acrescente à tabela fonética destacável o segmento correspondente ao dígrafo I. Pronuncie em seqüência as vogais i e a. A posição da língua encontra-se mais
"Ih" em seu idioleto, Coloque o segmento escolhido na posição correspondente à alta durante a posição de qual vogal? Classifique uma destas vogais.como alta e
lateral palatal (mesmo que você selecione a lateral palatalizada [I') ou o segmento [y)), a outra como baixa
---
2. Pronuncie em seqüência as vogais ê (cf. "ipê") e a. A posição da língua encon-
Acabamos de investigar os segmentos consonantais que ocorrem em seu tra-se maIS alta d,urante a posição de qual vogal? Classifique uma destas vogais como
idioleto, Neste estágio você deverá ter a sua tabela pessoal dos segmentos fonéti- alta e a outra como baixa
---
cos consonantais que foi preenchida na tabela destacável à medida que você fez os
exercícios desta seção, Guarde esta tabela pois ela será utilizada na segunda parte , 3. Pronuncie em seqüência as vogais ê (cf. "ipê") e é (cf. "pé"). A posição da
deste livro quando analisamos o português do ponto de vista fonêmico. Na próxi- Imgua encontra-se maIS alta durante a posição de qual vogal? Classifique uma destas
vogaIS como alta e a outra como baixa
ma seção descrevemos um método de registrar segmentos vocálicos e discutimos o ---
sistema vocálico do português brasileiro. 4. Pronuncie em seqüência as vogais i (cf. "vi"); ê (cf. "ipê"); é (cf. "pé") e a.
Como temos quatro vogais classifique-as em quatro níveis de altura começando da
maIS alta e Indo para a vogal mais baixa. (nível [: alta) (nível 2: média-
alta) (nível 3: média-baixa) (nível 4: baixa) _ _ __
8, A descrição dos segmentos vocálicos
, 5. Pronuncie em seqüência as vogais ô (cf. "avô") e ó (cf. "avó"). A posição da
Apresentamos a segu ir os parâmetros articulatórios relevantes na descrição dos hngua encontra-se mais alta durante a posição de qual vogal? Classifique uma destas
segmentos vocálicos. Na produção de um segmellto vocálico a passagem da corrente vogaIS como alta e a outra como baixa
---
de ar não é interrompida na linha central e portanto não há obstrução ou fricção no trato
vocal. Segmentos vocálicos são descritos levando-se em consideração os seguintes as- 6. Pronuncie em seqüência as vogais u (cf. "jacu"); ô (cf. "avô"); ó (cf. "avó")
pectos: posição da língua em termos de altura: posição da língua em termos anterior/ e a: Como temos quatro vogais classifique-as em quatro níveis de altura começando da
posterior; arredondamento ou não dos lábios. Vejamos cada um destes aspectos. maIS alta e Indo para a vogal mais baixa. (nível [: alta) (nível 2: média-
alta) (nível 3: média-baixa) (nível 4: baixa) _ _ __
8.1. Altura da língua 7. Assumimos que há quatro níveis de altura (1-4). As vouais i e u são altas e
pertencem,ao (nível I). A vogal a é baixa e pertence ao (nível 4). Como você classifica
Este parâmetro refere-se à altura ocupada pelo corpo da língua durante a articula- as vogaIS e (cf. "ipê") e é (cf. "pé") em termos do (nível 2) e (nível 3)? E como você
ção do segmento vocálico. A altura representa a dimensão vertical ocupada pela língua vogais ô (cf. "avô") e ó (cf. "avó") em termos do (nível 2) e (nível 3)?
dentro da cavidade bucal. Há um ponto alto em oposição a um ponto baixo e pode haver (mvel 2: medra-alta) (nível 3: média-baixa)
alturas intermediárias. Ladefoged (1984) propõe que a altura das vogais pode variar em
---
quatro valores (de I a 4). Na descrição do português devemos considerar quatro níveis 8.. Classifique as vogais i, ê (ipê), é (pé), a, ó (avó), ô (avô), u nas seguintes
categonas:
de altura: alta, média-alta, média-baixa, baixa. Alguns autores referem-se à altura em
---
Alta:
termos de abertura/fechamento da boca. Neste caso os quatro níveis de altura são: fe-
chada, meio-fechada, meio-aberta, aberta. Isto que dizer que os seguintes termos são
equivalentes: alta=fechada, baixa=abeIta (e os termos intermediários também são cor-
----- Média-alta: _ _ _ _ Média-baixa: ____ Baixa: ____

respondentes). Neste trabalho geralmente adotamos os termos: alta, média-alta, média-


baixa, baixa. Faça os exercícios abaixo observando a posição da língua na dimensão 8.2. Anterioridade/Posterioridade da língua
vertical.
Este parâmetro refere-se à posição do corpo da línuua na dimensão horizontal
durante
' . a articulaç'
' ao do segmento voc,ál ICO.
' O"IVlde-se a caVidade
" . bucal em três partes
SIIUétrlcas. Uma parte localizada a frente da cavidade bucal (anterior) e uma parte loca-
- - - -<O"O,---noFommco A OéSeFlç:dO dOS SéglfielifOS
T ,onen co A aescnçoo dos segmentos vocólicos 69

lizada na parte final da cavidade bucal (posterior). Entre estas duas partes tem-se uma
prute central. Lá bios estendidos Lábios arredondados

As três posições que podem ser assumidas pela língua são: anterior, central e
posterior. Faça o exercício abaixo observando a posição do corpo da língua. Alta

Exercício 2
Média-alta cO
I. Pronuncie em seqüência as vogais i e u. Observe a posição da língua durante a
articulação destas vogais. Classifique uma vogal como anterior:
posterior: _ _.
e a outra Média-baixa <:> o
2. Pronuncie em seqüência as vogais ê (cf. "ipê") e ô (cf. "avô"). Observe a
posição da língua durante a articulação destas vogais. Classifique uma vogal como
Baixa C> o
anterior: ___ e a outra como posterior: ____
A seguir apresentamos um quad ro fazendo uso dos símbo los adotados pela As-
3. Pronuncie em seqüência as vogais é (cf. "pé") e ó (cf. "avó"). Observe a sociação Internacional de Fonética para a transcrição dos segmentos vocálicos . Note
posição da língua durante a articulação destas vogais. Classifique uma vogal como que há quatro graus de altura. Em si stemas vocálicos em que apenas três graus de
anterior: ___ e a outra como posterior: ____ altura são relevantes, temos as segu intes categorias para a altura da língua: alta,
média e baixa. Você deverá utilizar os critérios ru·ticulatórios descritos acima para
4. Classifique as vogais i, e (ipê), é (pé), a, ó (avó), ô (avô), u nas segui ntes caracterizar os segmentos vocálicos do quadro. Por exemplo a vogal [IU] difere-se
categorias (note que a vogal a já encontra-se classificada como uma vogal central): da vogal [u] somente quanto ao arred ondamento dos lábios. Temos então que [IU] é
Anterior: Central: a Posterior: ________ um [u] produzido com os lábios esten didos. Da mesma maneira a vogal [y] difere-se
da vogal [i] somente quanto ao arre dondamento dos lábios (que são arredondados
em [y]). Temos então que [y] é um [i] produzido com os lábios arredondados. Se-
8.3. Arredondamento dos lábios guindo os critérios articulatórios tent e pronunciar as vogais ilustradas abaixo.

Durante a articulação de um segmento consonantal os lábios podem estar esten- anterior central posterior
didos (distensos) ou podem estar arredondados. Estes dois parâmetros são suficien- arred arred não-arred arred não-arred
tes para a descrição dos segmentos vocálicos. alta y i \I I u IU
Exercício 3 média-alta 0 e e (') o 1r
I. Pronuncie as vogais i, ê (ipê), é (pé), a, ó (avó), ô (avô), u. Observe a posição média-baixa re 1: (3 3 :) A
dos lábios durante a articulação destas vogais. Classifique estas vogais como arredon-
dadas: e como não-ru-redondadas: _________ baixa CE éB a a o
Figura 8: Classificação das vogais quanto ao arredondamento dos lábios, anterioridade/
posterioridade e altura
A tabela abaixo ilustra a relação eno·e o aITedondamento (ou não) dos lábios e a
altura da língua na articulação de segmentos vocálicos. Mais especificamente, ilustra- Das vogais listadas acima selecionamos sete que ocorrem em posição tônica no
se a posição a ser assumida pelos lábios em termos dos diferentes graus de altura que português:
podem ser assumidos pela língua.
- - -TO roHéfled ro"tIR',-cu""'ç;<5l!'"s",",,""''iCf1ffiC
, "'s-alo55s;-,s"'!:ilffi....oOS-V'vo5'cEõT'iCc,oo;rs- dos segmentos voc61icos 71

9.1. Duraçãa
Simbolo Exemplo

A duração de um determinado segmento só pode ser medida comparativamente


[i] vi [Ivi] em relação a outros segmentos. Em outras palavras, a duração é uma medida relativa
entre segmentos. Os diacríticos abaixo são utilizados para marcar a duração. dos seg-
[e] ipê [ilpe]
mentos vocálicos. Todos os exemplos são ilustrados com a vogal a, mas os diacríticos
27 [t:] pé [Ipt:] podem acompanhar qualquer segmento vocálico. Por exemplo: [a:] duração longa; [a.]
duração média; [a] duração breve.
[a] pá ['pa] Se em uma determinada língua a duração não se faz relevante, o símbolo utilizado
sem nenbum diacrítico corresponderá às vogais daquela língua. Isto porque a duração é
[::!] avó [ai v::!] obrigatoriamente comparativa. Outros fatores, como O acento tônico, por exemplo, in-
[o] avô [alvo] fluenciam na duração de uma vogal. Assim, vogais acentuadas tendem a ser mais lon-
gas. Se este for o caso na língua a ser descrita, pode-se assumir que a duração é causada
[u] jacu [3 alku ] pelo acento e não em oposição a outras vogais do sistema daquela língua. Em algumas
línguas a duração é extremamente importante na produção dos segmentos vocálicos,
Para precisarmos exatamente a descrição de uma vogal podemos utilizar um dos como O inglês por exemplo. Note que em inglês as palavras têm significados diferentes
diacríticos abaixo. se a vogal forlonga ou breve: "to leave"sair [li: v] e "to live"viver [liv]. Em português
este não é o caso, embora as vogais acentuadas sejam percebidas como mais longas em
• mais alto qualidade mais alta
relação as vogais não acentuadas (cf. Cagliari & Massini-Cagliari (1998)).
... mais baixo qualidade mais baixa
< retraído qualidade mais posterior
9.2 . Desvozeamento
> avançado qualidade mais anterior
Normalmente, segmentos vocálicos são vozeados, isto é, durante a sua produção
A presença de um destes diacríticos indicará a alteração da qualidade da vogal
as cordas vocais estão vibrando. Contudo, segmentos vocálicos podem ser produzidos
que estamos descrevendo em relação a uma vogal cardeal tomada como referência. Os com a propriedade articulatória secundária de desvozeamento. Neste caso, as cordas
diacríticos são colocados abaixo dos símbolos fonéticos utilizados para caracterizar um vocais não vibram durante a produção da vogal (de maneira análoga a consoantes
segmento vocálico. Por exemplo, um símbolo como [.il indica que tomamos como desvozeadas). Faremos uso de um pequeno círculo colocado abaixo do segmento vocálico
referência [i], mas que há uma qualidade vocálica mais retraída ou posterior. Se quiser- para caracterizar a propriedade secundária de desvozeamento. Assim, caracteriza o
mos indicar que a vogal que estamos descrevendo é mais retraída e também mai s baixa segmento [a] com a propriedade de desvozeamento. Em português o desvozeamento de
devemos colocar os diacríticos < e • abaixo dos símbolo da vogal que tomamos como segmentos vocálicos geralmente ocorre em vogais não acentuadas em final de palavra,
referência. Procedemos a seguir a descrição das propriedades articulatórias ou articula- como por exemplo as vogais finais das palavras "pata, sapo, bote".
ções secundárias das vogais que contribuem para uma descrição mais precisa dos seg-
mentos vocálicos. 9.3. Nasalização

Se durante a articulação de uma vogal ocorrer o abaixamento do véu palatino,


parte do fluxo de ar penetrará na cavidade nasal sendo expelido pelas narinas e produ-
9. Articulações secundárias dos segmentos vocálicos zindo assim uma qualidade vocálica nasalizada. Faremos uso de um til, isto é [ -],
colocado acima do segmento vocálico para marcar a nasal idade. Assim, [ã] caracteriza
Discutiremos algumas das propriedades articulatórias secundárias observadas o segmento [a] com a propriedade de nasalização.
durante a produção de segmentos vocálicos. Tomamos como referência para a descri- Ressaltamos que a nasal idade (causada pelo abaixamento do véu palatino) e a altura
ção apresentada a seguir os trabalhos de Abercrombie (1967) e Cagliari (1981). da língua na articulação das vogais estão intimamente relacionadas. Para uma vogal que
é articulada com a língua na posição elevada - como i ou u - ser nasalizada, é necessário
apenas um pequeno abaixamento do véu palatino pennitindo então o acesso do fluxo de
ar à cavidade nasal. A configuração do trato vocal é portanto bastante semelhante durante
72 FonétIco Articulações secund6nas dos segmentos vocoltcOS Fonética - Uttongos 7;j

a produção das vogais i e u orais e das vogais i e u nasais. As vogais articuladas com o 6. [a)
gradativo abaixamento da língua necessitam de um abaixamento também gradativo do 7. [ã)
véu palatino, de modo que haja a integração da cavidade faríngea com a cavidade
8. [:J)
nasofaríngea. Portanto, uma vogal que seja articulada com a língua na posição mais abai-
9. [o)
xada possível - como a - necessita de um abaixamento relativamente grande do véu
10. [õ)
palatino para que seja percebida como nasalizada. A configuração do trato vocal é bastan-
11. [u)
te diferente durante a produção da vogal a oral e da vogal a nasal.
12. [ü)
9.4. Tensõo
Exercício 5
Segmentos tensos estão em oposição a segmentos frouxos (ou lax). Um seg-
mento tenso é produzido com maior esforço muscular do que um segmento frouxo. Dê o símbolo da vogal correspondente às classificações abaixo. Siga o exemplo
Segmentos frouxos ocorrem no português brasileiro em vogais átonas finais: "patu, dado.
safari". As vogais altas frouxas (e átonas postônicas) em "patu, safari" podem ser I. [1) vogal alta anterior não-arredondada nasal
contrastadas com as vogais altas tensas (e tônicas) em "jacu, saci". 2. [ ) vogal alta posterior arredondada nasal
3. [ ) vogal baixa central não-arredondada
O recurso descritivo apresentado acima é amplamente utilizado na caracterização 4. [ ) vogal média-baixa anterior não-arredondada
dos sistemas vocálicos. Este sistema agrupa as vogais em relação às seguintes caracterís- 5. [ ) vogal média-alta anterior não-arredondada
ticas: a) arredondamento ou não dos lábios: b) anterioridade ou posterioridade da posi- 6. [ ) vogal média-baixa posterior arredondada
ção da língua (que também pode ser central): e c) quanto à altura da língua, que pode ser 7. [ ) vogal média-alta posterior arredondada
dividida entre três ou quatro grupos dependendo do sistema vocálico em questão. Há,
8. [ ) vogal alta anterior não-an'edondada
contudo um outro método de descrição dos segmentos vocálicos que se denomina Méto-
9. [ ) vogal baixa central não-arredondada nasal
do das Vogais Cardeais. Aspectos teóricos e metodológicos de tal método são apresenta-
dos em Abercrombie (1967) e Cristófaro Silva (1999b). O Método das Vogais Cardeais 10. [ ) vogal alta posterior arredondada
utiliza critérios auditivos e articulatórios na descrição dos segmentos vocálicos.
Do ponto de vista de classificação, as vogais são categorizadas quanto a três
parâmetros na seguinte ordem: (altura+al1lerioridade+arredondamenlO). Assim. a clas-
sificação da vogal [i) é: "vogal alta anterior não-arredondada". Propriedades articulatórias 10. Ditongos
secundárias - duração, vozeamento, nasalização e tensão - são indicadas como último
item na classificação. Assim, um segmento como [i) é classificado como "vogal alta Ditongos são geralmente tratados como uma seqüência de segmentos. Um dos
anterior não-arredondada nasal". As vogais nasais [e,õ) são classificadas como "vogal segmentos da seqüência é interpretado como uma vogal e o outro é interpretado como
média anterior (ou posterior) nasal". A omissão da categoria "média-alta" (em favor de "semivocóide, semicontóide, semivogal, vogal assilábica" ou de "gUde". Faremos uso
média apenas) será justificada posteriormente. do termo glide em detrimento destes outros termos (pronuncia-se "gl[ai)de"). Apre-
sentamos a seguir um recurso descritivo da fonética para a caracterização de ditongos.
Exercício 4 Do ponto de vista fonético o que caracteriza um segmento como vocálico ou
Classifique as vogais abaixo seguindo os dois primeiros exemplos. Note que a ordem consonantal é o fato de haver ou não obstrução da passagem da corrente de ar pelo trato
notacional é quanto à altura, anterioridade-posterioridade. arredondamento e nasalidade vocal. Segmentos vocálicos apresentam a passagem livre da corrente de ar. Segmentos
(omitimos o parâmetro de nasal idade quando este não ocorre). consonantais apresentam obstrução ou fricção. Glides podem apresentar características
I. [i) l'Q9al alta anterior não-arredondada fonéticas de segmentos vocálicos ou consonantais. É a função dos segmentos na estru-
2. li] vogal alta anterior não-arredondada nasal tura sonora que justifica a análise mais adequada para os glides em cada língua em
3. [e) particular. Em português, classificamos os glides como segmentos vocálicos. A análise
4 fe) que justifica tal proposta é discutida na pane de Fonêmica.
5. [<:) Um ditongo é uma vogal que apresenta mudanças de qualidade continuamente
dentro de um percurso na área vocálica. As vogais que não apresentam mudança de
74 Fonético - Ditongos Fonético - Ditongos 75

qualidade são chamadas monotongos e foram descritas anteriormente. Um ditongo Segundo a nossa proposta, palavras como "fui" e "viu" são transcritas respectiva-
pode ser descrito e identificado com referência ao segmento inicial e final do contí- mente como ['ful] e ['vi\!]. Note que nestas transcrições o símbolo [J marca o glide de
nuo. Ao representarmos o ditongo [al] da palavra "pais" estamos expressando que um ditongo. Em seqüências de vogais que ocorrem em sílabas distintas não há diacríticos:
ocorre um movimento contínuo e gradual da língua entre duas posições articulatórias [3 u'izu ] ')uizo". Concluindo, podemos dizer que em seqüências de vogais em sílabas
vocálicas: de [a] até [I]. Em tal articulação, os dois segmentos [a] e [r] ocupam uma distintas - como em ')uizo" [3u'izu] - nenhuma marca especial é presente entre as
única sílaba. Um destes segmentos é o núcleo da sílaba (no caso de "pais" o núcleo da vogais. Em ditongos - como em "fui" ['ful] e "viu" ['vi\1] - temos o símbolo [, ]
sílaba é [a]). O outro segmento é assilábico não podendo ser núcleo da sílaba e marcando o glide e a conseqüente falta de proeminência acentuaI.
corresponde ao glide. Colocamos o símbolo [J abaixo do glide para marcar a Consideremos agora as transcrições possíveis para uma palavra como ')uizado"
assilabicidade (no caso de "pais" o glide é f.l:]): [Ipals]. em português. Podemos ter uma pronúncia que apresenta uma seqüência de vogais: 29
O movimento articulatório de um ditongo difere do movimento articulatório de [3ui'zadu]. Neste caso a palavra será pronunciada com quatro sílabas:[3u.i.'za.du] (uti-
duas vogais em seqüência, sobretudo quanto ao tempo ocupado na estrutura silábica e lizamos um ponto para marcar o limite das sílabas). Outras pronúncias possíveis apre-
quanto à mudança de qualidade vocálica. O par de palavras "pais" e "país" ilustra um sentam três sílabas: [3uJ'za.du] e [3\1i. 'za.du]. Observe que em [3UPza.du] a primei-
28 ditonao - na primeira palavra - em oposição a uma seqüência de vogais - na segunda ra sílaba apresenta um ditongo que inicia com proeminência acentuai na área vocálica
Durante a articulação de duas vogais em seqüência - como na palavra "país"- de [u] e tennina sem proeminência acentual na área vocálica de [I]: temos uma
cada vogal ocorre em uma sílaba distinta e cada vogal apresenta qualidade vocálica l
seqüência de vogal-glide. Por outro lado, em [3\!i. za.du] a primeira sílaba apresenta
específica. Neste caso dizemos que há um hiato. Já em ditongos - como na palavra um ditongo que inicia sem proeminência acentual na área vocálica de [u] e termina
"pais" - os segmentos vocálicos [a] e [r] ocorrem na mesma sílaba e há uma mudança com proeminência acentual na área vocálica de [i]: temos então uma seqüência de
contínua e gradual entre as vogais em questão. glide-vogal. Note que a diferença básica entre as formas [3uJ'za.du] e [3\1i.lza.du] é a
Portanto, um ditongo distingue-se de uma seqüência de vogais pelo fato do diton- proeminência acentual do ditongo. Em [3uJ'za.du], a primeira vogal da seqüência tem
go ocorrer em uma única sílaba enquanto que na seqüência de vogais cada vogal ocorre proeminência acentuai enquanto que em [3\1i.lza.du] a segunda vogal da seqüência
em sílaba diferente. Observe ainda que em seqüências de vogais - como na palavra tem proeminência acentuaI. Em uma seqüência de vogais que corresponde a um diton-
"país" - cada uma das vogais tem proeminência acentuai constituindo o pico de sílaba. go, chamamos de ditongo decrescente aqueles em que a proeminência acentuai ocor-
Já nos ditongos, apenas uma das vogais tem proeminência acentuai e constituirá o pico re. na primeira vogal como em [3ul.lza.du]- em que temos uma seqüência de vogal-
da sílaba. A outra vogal do ditongo não pode ocupar um pico silábico - caso contrário ghde. Em oposição, chamamos de ditongo crescente aqueles em que a proeminência
esta vogal ocuparia uma sílaba distinta e teríamos uma seqüência de vogais. As vogais acentuai ocorre na segunda vogal como em [3\1i.lza.du]-em que temos uma seqüência
que não ocupam o pico silábico nos ditongos - por exemplo o i de "pais" - são aquelas de ghde-vogal.
comumente referidas como "semivocóide, semicontóide, semi vogal, vogal assilábica" Vimos acima que um ditongo está em oposição a uma seqüência de vogais pelo
que denominamos neste trabalho de "glide". O termo glide refere-se portanto às vogais fato de ambas as vogais no ditongo ocorrerem em uma única sílaba enquanto que na
sem proeminência acentuai nos ditongos. seqüência de vogais os dois segmentos vocálicos ocorrem em sílabas distintas. Na se-
Transcrevemos foneticamente as vogais com proeminência acentuai dos ditongos qüência de vogais de um ditongo a vogal sem proeminência acentuai corresponde ao
com os símbolos - identificados anteriormente - adotados para as vogais. Como gene- ghde. A seguir vamos explorar a noção fonética de sílaba.
ralização para o português fazemos uso dos símbolos f1l e [\1] para caracterizar o glide
nos ditongos. Em outras línguas pode-se ter outras vogais além de [1] e [\1] - - - - - - - - - - - Exercício 6 - - -
correspondendo ao glide. No inglês britânico temos por exemplo o segmento [;l] repre- Cada uma das palavras abaixo apresenta um ditongo. Classifique como D os
sentando a parte sem proeminência acentuai em ditongos, ou seja, [;l] representa o ditongos decrescentes (vogal+glide) e classifique como C os ditongos crescentes
glide: ['d::>ª] door - "porta". (glide+vogal). Siga os exemplos. 30
As vogais [r] e [u] diferem das vogais [i] e [u] pelo fato de as primeiras serem I. D ['Ie]] 5. _ 9. _ [palpqs] 13. _[kf!a'tfivu]
levemente mais centralizadas e articuladas com menor esforço muscular. As vogais 2. ç [lvafIas] 6. _ [mOS'ko\!] 10. _ [3u'de\!] 14. _[alsõ!s]
[i,u] são denominadas vogais tensas e as vogais [r,u] são denominadas vogais frouxas 3. _ ['afid\!a] 7. _ [nas!onallista] 11. _[say'dad3I] 15. _[lm::>J]
(ou lax). As vogais [r,u] ocorrem em português não apenas como glides em ditongos,
mas ocorrem também como monotongos em posição átona final em palavras como
"safari" e "pato", - 4. _ ['tenye] 8. _ [almell 12. _['k!etu] 16. _['O!tu]]
76 Fonético A síloDo Fonéfico - A tonicidode 77

11. A sílaba detalhado da distribuição dos segmentos consonantais e vocálicos na estrutura silábica
do português.
Adotamos a noção de sílaba descrita em Abercrombie (1967). Tal teoria - pro- Vimos então que toda sílaba apresenta obrigatoriamente um pico ou núcleo.
posta por Stetson (1951) - explica a sílaba em termos do mecanismo de corrente de ar O núcleo de uma sílaba pode ser acentuado ou não. O acento é uma propriedade
pulmonar. Na produção do mecanismo de corrente de ar pulmonar o ar não é expelido caracterizada pela tonicidade que será tratada na seção seguinte.
dos pulmões com uma pressão regular e constante. De fato, os movimentos de contração
e relaxamento dos músculos respiratórios expelem sucessivamente pequenos jatos de
ar. Cada contração e cada jato de ar expelido dos pulmões constitui a base de uma síla-
ba. A síJaba é então interpretada como um movimento de força muscular que intensifica-
se atingindo um limite máximo, após o qual ocorrerá a redução progressiva desta força, 12. A tonicidade
conforme O esquema abaixo [tal esquema é apresentado em Cagliari (1981: 101)].
Uma sílaba tônica ou acentuada é produzida com um pulso torácico reforçado.
Portanto, na produção de uma sílaba acentuada temos um jato de ar mais fOlte (em
relação às sílabas não acentuadas ou átonas). A vogal acentuada é auditivamente perce-
bida como tendo duração mais longa e também como sendo pronunciada de maneira
mais alta (no sentido de falar alto). Este aumento de volume permite-nos identificar as
vogais acentuadas das vogais não acentuadas - que são pronunciadas com O volume
mais baixo e portanto percebidas auditivamente de maneira distinta.
Vogais acentuadas ou tônicas carregam o acento mais forte ou acento primário
e as vogais não-acentuadas - átonas pretônicas ou postônicas - carregam acento se-
Parte periférica Parte periférica cundário ou são completamente isentas de acento. Adotamos o termo vogal tônica
de intensificação de redução para denominar uma vogal que tenha proeminência acentuaI em relação às outras vo-
de força de força
gais. Marcamos uma vogal tônica colocando um apóstrofo precedendo a vogal (ou
sílaba) acentuada - ['la) "lá". Alternativamente, certos autores optam por marcar a
Figura 1: Esquema do esforço muscular e da curva da força silábica vogal tônica com um acento agudo: [lá). As vogais tônicas estão em oposição às vogais
átonas. Vogais átonas podem ser pretônicas ou postônicas. Vogais pretônicas ante-
cedem o acento tônico e vogais postônicas sucedem O acento tônico. Vogais átonas
Temos portanto três partes na estrutura de uma sílaba. Uma parte nuclear que é podem ter acento secundário ou serem isentas de acento. Marcamos o acento secundá-
obrigatória e geralmente é preenchida por um segmento vocálico (pode ser que um rio Com um apósu'ofo colocado na parte inferior: [,pa'ra) "Pará". Alternativamente
segmento consonantal nasal, líquida (I ou r) ou [s) ocorra nesta posição em determi- pode-se utilizar o símbolo de acento grave para marcar a vogal acentuada secundaria-
nadas línguas). As outras duas partes na estrutura silábica são periféricas, opcionais e mente: [pàrá) "Pará". Vogais isentas de acento não apresentam nenhuma marca distin-
são preenchidas por segmentos consonantais. Quando estes segmentos consonantais tiva. Na palavra "Sabará" a primeira vogal tem acento secundário, a segunda vogal é
ocorrem eles podem apresentar uma ou mais consoantes. Se a sílaba apresentar ape- isenta de acento e a terceira vogal tem acento primário: [,saba'ra) ou [sàbará).
nas o segmento vocálico, este preencherá todas as partes da estrutura da sílaba. A A relação entre o acento primário, o acento secundário e a ausência de acento leva
sílaba inicial da palavra "atrás" por exemplo apresenta apenas o segmento vocálico. à construção do ritmo da fala. O ritmo da fala organiza a cadeia sonora de acordo com
A sílaba tinal da palavra "atrás" apresenta a parte periférica à esquerda preenchida a distribuição do acento nas síJabas. O ritmo tem a função lingüística de organizar a
por duas consoantes: tr. A parte periférica à direita é preenchida pela consoante s. O cadeia segmental a uma estrutura acentuaI. Nem todas as línguas fazem uso do acento
pico silábico da sílaba final da palavra "atrás" é a vogal a que se encontra entre as Como o português. Há línguas tonais cujos núcleos ou picos silábicos carregam tons.
consoantes tr e s. Um tom é definido por parâmetros melódicos (pitch). Temos tons alto, médio, baixo ou
Seamentos consonantais e vocálicos são distribuídos na estrutura silábica das lín- tons de contorno como "médio-alto" por exemplo. Várias línguas indígenas brasileiras
"
guas determinando as palavras bem formadas naquela língua e excluindo palavras mal apresentam um sistema tonal. Entre estas temos por exemplo a língua tikuna (falada
formadas. Na segunda parte deste livro, ao tratarmos da fonêmica, faremos um estudo pela nação Tikuna; AM). O mandarim chinês é um outro exemplo de língua tonal, que
78 Fonético - O sistema voc6lico do português brasileiro Fonética - Vogais tônicos orois 79

apresenta quatro tons. Algumas línguas combinam aspectos acentuais e tonais. Entre chamadas de vogais postônicas não-finais - OCOITem em palavras proparoxítonas do
estas temos o sueco e o japonês. português ocupando a posição vocálica que segue o acento tônico. As vogais postônicas
Complementando O ritmo temos os padrões entoacionais da fala. Os padrões mediais nas palavras ['arIdu] "árido" e [lpaIIdu] "pálido" têm o símbolo [I]. Uma vez
entoacionais definem os parâmetros melódicos nas línguas acentuais. Aspectos do ntmo, que não abordamos aspectos do ritmo e entoação, optamos por marcar somente o acen-
dos tons e da entoação relacionam-se à análise suprasegmental da fala. Suprasegmentos to primário ou tônico. A distribuição das vogais apresentada abaixo agrupa cada con-
e segmentos (vogais e consoantes) interagem na concepção da fala. Qualquer falante do junto vocálico de acordo com a tonicidade: vogais tônicas, pretônicas e postônicas
português é capaz de diferenciar uma sentença como "Ela já chegou?" de uma sentença (mediais e finais). Faz-se relevante tratar cada um destes grupos separadamente uma
como "Ela já chegou!". Note que os segmentos utilizados para formar as palavras nes- vez que a distribuição das vogais pretônicas e postônicas caracteriza a variação dialetal
tas duas sentenças são os mesmos. Estas duas sentenças diferenciam-se quanto aos as- no português brasileiro. As vogais tônicas consistem de um conjunto homogêneo em
pectos suprasegmentais. Os aspectos suprasegmentais de uma língua definem os traços todas as variedades do português.
prosódicos que são relevantes para a análise lingüística da fala. ., .
Além dos traços prosódicos as línguas fazem uso de certos traços
para expressar significados específicos. Estes são determinados traços paralIngUlstlcoS Tarefa
e oeralmente são interpretados por falantes como "tom de voz". Temos por exemplo A tabela fonética destacável de segmentos vocálicos é fornecida na página seguin-
to;;" de voz arrogante, tom de voz charmoso, tom de voz chatinho, etc. As línguas te. Destaque-a e proceda à caracterização das vogais em Seu idioleto. Bom Traba-
podem utilizar um mesmo traço paralingüístico com significados bastantes lho! (Esta tabela tem frente e verso)
Em português Ouso de voz sussurrada geralmente expressa sensualIdade. EmJapones,
por exemplo, a voz sussurrada expressa respeito e submissão.
Uma discussão dos aspectos suprasegmentais da fala nos levaria além dos propó-
sitos deste livro. Como referência sugerimos ao leitor consultar Cagliari (1981), Reis
(1995) eScarpa (1999). Na análise do sistema vocálico que é apresentada a seguir
discutimos a relação entre o padrão acentuaI e a distribuição dos segmentos vocálicos 14. Vogais tônicas orais
no português brasileiro.
A distribuição das vogais tônicas orais é homogênea em todas as variedades do
português brasileiro. O quadro abaixo lista as vogais tônicas orais do português brasi-
leiro. Exemplos das vogais listadas abaixo são: vida, modelo, (eu) modelo, so-
gra, sogro, tudo.
13. O sistema vocálico do português brasileiro
anterior central posterior
Nas páginas seguintes descrevemos o sistema vocálico do português brasileiro. arred arred não-arred arred
Consideramos a seguir as vogais que ocorrem no português brasileiro apresentando a alta u
distribuição vocálica em relação ao acento tônico. Tal classificação tem por objetivo
auxiliar o estudante em suas transcrições fonéticas do português e na caracterização das média-alta e o
vooais de seu idioleto. Em primeiro lugar, discutimos a distribuição das vogais orais, e média-baixa
en:'seguida consideramos a distribuição das vogais nasais. A distribuição dos ditongos
é apresentada na parte final. baixa a
As vooais orais em português podem ser tônicas, pretônicas ou postônicas. Vogais Quadro das vogais tônicas orais do português
tônicas o acento primário. Como vimos anteriomlente, O diacrítico [I] deve
preceder a sílaba acentuada para marcar a tonicidade: ['Ia] "lá". Vogais pretônicas pre-
cedem a vogal tônica e vogais postônicas seguem a vogal tônica. Na palavra [abaka'íl]
"abacaxi" as vogais pretônicas são todas [a]. Vogais postônicas podem ser classificadas
como postônica final ou postônica mediaI. Vogais postônicas finais nas palavras ['matu]
"mato" e [Inumeru] "número" têm o símbolo lu]. Vogais postônicas mediais - também
80 oneflCO Vogols tonlcas orOIS Tabelo destac6ve! B

Transcreva foneticamente os dados abaixo. Marque a vogal tônica com o símbolo [I]
Tabela fonética vocálica destacável
precedendo a sílaba acentuada. Lembre-se que transcrições fonéticas devem estar
entre colchetes!
Vogais orais
Grupo 1
[iJ Vl _ _ _ _ __ saci ________ aqui
cadê _ _ _ _ __ ipê anterior central posterior
31 [e]lê _ _ _ __
arred não-arred arred não-arred arred não-arred
[eJ fé _ _ _ __ chalé _ _ _ _ __ acarajé _ _ _ _ __
[a] pá _ _ _ __ mamá _ _ _ _ __ cajá ________ alta
f-
[:JJ avó xodó _ _ _ __ pó----- média-alta
[o) avô alô agogô ________ f-
urubu _ _ _ _ __ média-baixa
[u) anu ______ caju f-
baixa

As vogais tônicas orais indicadas no grupo 1 são basicamente idênticas para


todos os dialetos do português. Variação de vogais tônicas ocorre em um grupo restrito
de palavras. As palavras '(ele) freia'; '(você, ele) fecha'; '(ele foi) pego'; 'extra' e
Distribuição de vogais orais em relação à tonicidode
'poça' são as formas em que identifiquei a variação de pronúncia de vogais tônicas
Pretônica Tônica Postônica mediai Postônica final
orais. Pronúncias ilustrativas destas palavras são: ['frep]- ['frel;l] '(ele) freia'; ['fef;l]
32 Vogais orais
- ['fef;lJ '(você,ele) fecha'; ['peguJ - ['peguJ ·Cele foi) pego'; ['estr;lJ - ['estr;lJ L.....
'extra' e ['pOS;l] - ['p:JS;lJ 'poça' (cf. Alves (1999)). Em certas variantes paulistas
algumas formas como '"homem" e "fome" são pronunciadas com vogais orais: .'[:J Jmem"
e "f[:JJme". Formas como "homem, Jome·' apresentam tipicamente uma vogal nasal
na maioria dos dialetos do português: "[õ]mem" e "f[õJme". Portanto, o grupo das Observaçães sobre vogais pretônicas
sete vogais listadas acima - ou seja, [i.e,e,a,:J,o,u] - correspondem as vogais tônicas
orais que ocorrem em seu idioleto.

Tarefa
Os sete símbolos vocálicos identificados acima para aS vogais tônicas devem ser
colocados no quadro de vogais orais da tabela destacável.
Tabe la destocóvel B Fonético - Vogais pretônicos orais 81

Observações sobre vogais postõnicas 15. Vogais pretônicas orOls


o quadro abaixo lista as vogais pretõnicas orais do português brasileiro.
anterior central posterior
arred não-arred arred não-arred arred não-arred

alta u

média-alta e o
média-baixa (1:) (:l) (J )

baixa a
Quadro das vogais pretônicas orais do português

Vogais nasais As vogais [i,e,o,u] quando pretõnicas são geralmente pronunciadas de maneira
central posterior idêntica em qualquer variedade do português brasileiro. Exemplos são ilustrados nas
anterior
arred não-arred arred não-arred arred não-arred palavras: vital, dedal, modelo, cueca. Note, contudo, que em alguns dialetos do portu-
guês ocorre [e,o] pretônicos em palavras como "d[e]dal, m[o]delo" enquanto que em
alta outros dialetos Ocorre [i,u] pretônicos nas mesmas palavras: "d[i]dal, m[u]delo". Há
média-alta ainda a possibilidade de ocorrer [1:,J] nestas mesmas palavras: "d[1:]dal, m[:J]delo".
Esta variação ocorre entre as vogais [1:,J], [e,o] e [i,u] em posição pretônica [cf. Viegas
média-baixa (1987); Castro (1990); Oliveira (1991); Yacovenco (1993); Callou, Moraes & Leite
baixa
(1996)]. A variação entre os segmentos vocálicos [1:,J]-[e,o]-[i,u] marca sobretudo
variação dialetal.
A pronúncia típica do a ortográfico pretônico é [a]: abacaxi. Em alguns dialetos
- como por exemplo o carioca - ocorre uma vogal central média-baixa que transcreve- 33
Observações sobre vogais nasais e nasalizadas mos por [:l]: [:lb:lk:lrJi] "abacaxi". A vogal [:l] ocorre por exemplo em alguns dialetos
paulistas quando o a ortográfico é seguido de consoante nasal: cama, cana. A vogal [:l]
pode ainda marcar variação de idioleto em fala informal.
Tratemos agora das vogais [1:] e [J] que encontram-se entre parênteses no quadro
acima. Os parênteses aqui indicam que a ocorrência destas vogais em posição pretônica
é sujeita a celtas condições específicas. Geralmente a ocorrência das vogais [1:] e [J]
em posição pretônica acarreta marca de variação dialetal geográfica ou mesmo de
idioleto. Veja por exemplo pronúncias como "d[1:]dal, m[J]delo". As especificidades
das vogais [1:,J] em posição pretônica são apresentadas nas próximas páginas para que
você possa avaliar a distribuição destas vogais em seu idioleto.
82 Fonético - Vogois pretônicos orois Fonético - Vogais pretônicos orais 83

Transcreva foneticamente os dados observando a distribuição das vogais pretônicas. Transcreva foneticamente os exemplos e observe a ocorrência das vogais (E,::>] e
Marque sempre a vogal tônica para determinar que as vogais pretônicas são aquelas [e,o] em posição pretônica no seu idioleto. Trancreva o sufixo "-mente" como (metr],
que precedem a vogal acentuada e apresente as transcrições fonéticas entre col- [melte] ou [meltJI] marcando a vogal nasal com um til colocada acima da símbolo
34 chetes.
correspondente à vogal [e].
Grupo 2
Grupo 3
final pirar _ _ _ _ _ _ _ _ _ __
terreno terrinha
legal serrar
beleza belíssimo 35
parar sabiá
seriedade seriamente
remoçm povoar
pedal pezinho
Aracaju tutor
moleza molíssimo
sobriedade sobriamente
Para uma grande maioria dos falantes do português brasileiro as vogais pretônicas bolada bolinha
das palavras do grupo 2 são: [i,e,a,o,u]. As vogais [1:] e [::I] podem ocorrer para alguns poeira pazinha
falantes em formas como "legal, serrar, remoçar, povoar". Tais falantes terão as vogais
[1:] e (::I] em posição pretônica nos contextos especificados abaixo. As observações que
se seguem listam as especificidades dialetais - ou de idioleto - referentes à ocorrência Considere as palavras do grupo 3. Na coluna da esquerda as palavras podem
das vogais (1:,::1] em posição pretônica no português brasileiro. apresentar (e,o] ou [1:,::1] em posição pretônica dependendo de variação dialetal ou
mesmo idioletaL As palavras derivadas da coluna da direita apresentam uma vogal
Observação 1 média-baixa [1:,::1] em posição pretônica, Note que as palavras derivadas da coluna da
As vogais ocorrem em posição pretônica em formos derivadas com os sufixos: direita apresentam um dos sufixos "-mente, -inh, -zinh, -íssim".
-mente, -inh, -zinh ou -íssim quando o radical do substantivo/adjetivo apresento
[1:,::11 em posição tônica. O radical agrega as palavras da mesma família, dando Observação 2
uma base comum de significado. Consideremos formas como "séria" e "mole" cujos Uma vogal média-baixa IE,::I) ocorre em posição pretônica quando a vogal tônica
radicais apresentam uma vogal média-baixa em posição tônica: s[1:lria e m[::Ille. da palavra é uma vogal médio-baixa: 'perereca' IPEf1:'f1:kg), 'pororoca' Ip::lf::l'f::lkg),
Dos radicais que estão entre parênteses em (s[Elri)a e (ml::l)I)e podemos derivar 'precoce' Ipf1:'k::lsI) e 'colega' Ik::lIfEgg). Para os falantes que apresentam as pro-
palavras como "seríssima, seriedade, moleza, molinho". As palavras derivados núncias acima, a vogal prefônico será médio-baixa quando a voga) tônica for tam-
"sl1:)ríssima, m[::I)linha" apresentam uma vogal média-baixa IE,::I) em posição bém uma vogal média-baixa (mesma que uma seja nôo-arredondodo 11:) e outra
pretônica. As palavras derivadas "s[e)riedade, mlo)leza" apresentam uma vogal média- arredondada 1::1): cf. "precoce, colega") . Para outros falantes, a vogal média-baixa
alto [elo] em posição pretônica. A ocorrência de uma vogal pretônica média-alta pretônica deve ser idêntica em termos de arredondamento à vogal tônico. Estes
le,o) - em "seriedade, moleza" - ou de uma vogal pretônica média-baixo 11:,::1) - em falantes apresentam uma vogal médio-baixo em formas como 'perereca'
"seríssima, molinho" - pode ser explicado pelo presença de determinados sufixos. [p1:'f1:kgj ou 'pororoca' Ip::lf::l'f::lkg), mas nôo "prIE)coce, cl::l)lega". Um outro
Palavras derivados com os sufixos "-mente, -inh, -zinh" ou "-íssim" apresentam uma determinada grupo de falantes sempre apresenta uma vogal médio-alto le,o) em
vogal médio-baixa 11:,::1) em posição pretônico se o radical apresento uma vogal posição pretônico, mesmo que em posição tônica ocorra uma vogal médio-baixa
média-baixo [1:,::1). Esta generalização aplica-se para o vasta maioria das dialetos [1:,::1). Estes falantes terão as formas: "perereca" Ipefe'f1:kg), "pororoca" IPOfO'f::lkg),
do português brasileiro. Observe os palavras derivadas de "sério" e "mole" que "precoce" Ipfe'k::lsI) e "colega" Ikolf1:gg).
apresentam um dos sufixos "-mente, -inh, -zinh" ou "-íssim": "s[8]riamente, s[8]rinho,
s[1:)riazinha, sl1:)ríssima" e "ml::l)lemente, m[::I)linho, m[::I)lezinho, ml::l)líssimo". Em
todos estes exemplos uma vogal média-baixo ocorre. Há pronúncias como Verifique o comportamento de [1:,::1] pretônicos em seu idioleto transcrevendo as
"sIE)ril1:)dade" e "m[::I)leza" em que [E,::I) ocorrem em posiçôo pretônica. Marcan- palavras: 36
do variação dialetal estas pronúncias ocorrem em formas que apresentam sufixos Grupo 4
diferentes de: li-mente, -inh, -zinh, -íssim"; cf. grupo 3, a seguir. O comportamento severa _ _ _ _ _ __ bolota _ _ _ __ devota _ _ _ _ __
discutido acima para formas derivadas com os sufixos 'I-mente, -inh, -zinh" e "- peteca _ _ _ _ _ __ porosa _ _ _ _ __ soletra _ _ _ _ _ __
issim" parece ser uniforme para o português de um modo geral.
54 pre onlcas orQlS Fonético - Vogais postônicas orais 85

Observação 3
Uma ampla descrição das vogais pretônicas no português brasileiro ainda se faz
Uma vogal média-baixa lE,::>] ocorre em posição pretônica sem que qualquer outra
necessária. Entre pesquisas já concluídas, destacamos Callou, Moraes & Leite (1996);
vogal média-baixo ocorro na palavra. Exemplos são formas como "beleza" [b1:ilez:l],
Silva (1994); Yacovenco (1993); Callou et ali i (1991); Nina (1991); Silva (1989); Cas-
"gostoso" [g::>s'tozu], "separa" [s1:'por:l).
tro (1990); Viegas (1987); Bisol (1981).
O estudo da variação dialetal das vogais pretônicas no português brasileiro ain-
da merece uma investigação detalhada [(cf. Viegas (1987); Castro (1990); Oliveira
(1991); Yacovenco (1993); Callou, Moraes & Leite (1996)]. O que podemos concluir Tarefa
enquanto generalização é que todos os dialetos do português brasileiro apresentam Nas páginas precedentes você identificou as vogais pretônicas que ocorrem em seu
[i,e,a,o,u] em posição pretônica. Todos os falantes também apresentam as vogais [1:,::» idioleto. Preencha a coluna de vogais pretônicas no quadro de distribuição das vo-
em posição pretônica em formas derivadas com os sufixos "-mente, -inh, -zinh, gais orais em relação à tonicidade na tabela fonética destacável. Compare este
-Íssim" cujos radicais apresentam as vogais tônicas [1:,::>] (ver Observação I mencio- conjunta de vogais àquele do quadro de vogais orais (ou seja, o primeiro quadro da
nada anteriormente). O que é específico de cada dialeto (ou mesmo idioleto) é a distri- tabela fonética destacável). Caso seja necessário, complemente tal quadro.
buição de [1:,::>] em posição pretônica em contextos que não apresentam estes sufixos.
Observação 4
Uma vogal médio-baixa [1:,::» ocorre em posição pretônica quando em posição
tônica ocorre uma vogal nasal que na ortografia é marcado por "em/en" ou "om/ 16_ Vogais postônicas orais
on": setembro, noventa, colombo, redondo.
Observação 5 A vogais postônicas orais são agrupadas em "vogais postônicas finais" e "vo-
Uma vogal médio-baixa [1:, ::» ocorre em posição pretônica quando seguida por gais postônicas mediais". Tratamos cada um destes grupos separadamente, Faz-se
consoante que ocorre no mesma sílaba. Sendo que o consoante é s: "destino, cos- relevante tratar de cada grupo separadamente, uma vez que a distribuição das vogais
tume". Sendo que a consoante é r: "vertical, cordeiro". Sendo que o consoante é I: em cada grupo é distinta. A distribuição das "vogais postônicas finais" e das "vogais
"selvagem, soldado". postônicas mediais" caracteriza variação dialetal (ou mesmo idioletal) no português
brasileiro.
Tarefa
Observando o comportamento da sua fala em relação às especificidades nas Ob-
servações você deverá ser capaz de identificar a ocorrência de [1:,::>] em posição 16.1. Vogais postônicas finais
pretônica em seu idioleto. Marque com um "x" as opções que sejam pertinentes ao
seu idioleto e acrescente-as às observações quanto às vogais pretônicas na tabela Em posição postônica final O segmento vocálico oral corresponde morfologicamen-
fonética destacável. te ao sufixo de gênero em substantivos e adjetivos e à vogal temática em verbos. O
O As vogais [1:,::>] ocorrem em posição pretônica em formas derivadas com os sufixo de gênero e a vogal temática são ortograficamente representados por i,e,a,o. As
sufixos "-mente, -inh, -zinh, -íssim" (cf. Observação 1). palavras 'Júri, jure, gota, mato" e as formas verbais "(ele) come, (ela) fala, (eu) como"
O As vogais [1:,::>] ocorrem em posição pretônica quando em posição tônica ilustram substantivos e verbos cuja vogal postônica final é uma das vogais i,e,a,o. A
ocorre uma das vogais [1:,::>]. Neste caso as vogais tônicas/pretônicas podem pronúncia de i,e,a,o postônico final depende de variação dialetal (ou idioletal). A se-
ser idênticas ou podem ser diferentes entre si (cf. Observação 2). guirdiscutimos as distribuições possíveis para as vogais postônicas finais. Você deverá
O As vogais [1:,::>] ocorrem em posição pretônica sem que qualquer outra vogal definir O conjunto de vogais postônicas finais em seu idioleto e incorporar os respecti-
média-baixa ocorra na palavra (cf. Observação 3). vos símbolos fonéticos à tabela fonética destacável.
O As vogais [1:,::>] ocorrem em posição pretônica quando em posição tônica Em alguns poucos dialetos do português, temos que em posição postônica final
ocorre uma vogal nasal que na ortografia é marcada por "em/en" ou "om/on" ocorrem as vogais [i,e,a,o] em palavras como: "júri, jure, gota, mato". Falantes destes
(cf. Observação 4). dIaletos pronunciam em posição postônica final nestas palavras as vogais [i,e,a,o] da
O As vogais [1:,::>] ocorrem em posição pretônica quando seguida por consoante mesma maneira como pronunciam as vogais [i,e,a,o] nas palavras "vi, vê, vá, avô" com
que ocorre na mesma sílaba: s, r e I (cf. Observação 5). exceção de que no último grupo de palavras a vogal é tônica. Contudo, para a maioria
dos falantes do português brasileiro as vogais postônicas finais são distintas das vogais

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