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tônicas e pretônicas e são pronunciadas como [I,~,U] nas palavras '~úri, jure, gota, 16.2. Vogais .

postônicas mediais
mato" e nas formas verbais "(ele) come, (ela) fala, (eu) como". Defina a distribuição
das vogais postônicas finais em seu dialeto. Considere os exemplos como referência. Vogais postônicas mediais ocorrem entre a vogal tônica e a vogal átona final em
palavras proparoxítonas. Na palavra "ótimo" a vogal i ocupa aposição de vogal


37 [I] - [i] júri ['3 UfI] ['3 Ufi ] postônica mediaI. Há grande variação de pronúncia de vogais postônicas mediaTs no
[1]- [e] jure ['3 UfI ] ['3 ufe] português brasileiro. Apresentamos duas distribuições, as quais relacionamos a dife-
[~] - [a] gota ['got~ ] ['gota] rentes estilos de fala: formal e informal. Em estilo formal temos para a grande maioria
[u] - [o] mato ['matu] ['mato] dos dialetos do português brasileiro as vogais [i,e,a,o,u] ocorrendo em posição postônica
mediaI. Em alguns dialetos, como por exemplo da região Nordeste, as vogais [e,o]
ocorrem em posição postônica mediai em estilo formal. Os exemplos ilustram estas


38 Transcreva as palavras observando as vogais postônicas finais em Seu idioleto.
Grupo 5 duas possibilidades:
safari ____ doce _ _ _ _ __ bola _ _ _ _ pulo _ __
álibi _ _ _ _ mole _ _ _ __ vela _ _ _ _ foto _ __ Estilo formal Dialeto 1: [i,e,a,o,ul Dialeto 2: [i,e,e,a,O,o,u]
tráfico tráf[i]co tráf[i]co


sôfrego sôfr[e]go sôfr[e]go '39
Relembramos aqui que na grande maioria dos dialetos do português brasileiro a número núm[e]ro núm[e]ro
vogal postônica final das palavras "júri" e '~ure" será idêntica. Em casos de diferentes sílaba síl[a]ba síl[alba
pronúncias, temos a vogal final nas palavras "júri" e "jure": a vogal [e] em posição êxodo êx[o]do êx[o]do
postônica final em '~ure" e a vogal [i] em posição postônica final em 'júri". Contudo, pérola pér[o]la pér[O]la
apenas em alguns poucos dialetos (ou mesmo idioletos) as vogais [e] e [o] ocorrem em cédula céd[u]la céd[u]la
posição postônica final em palavras como "jure" e "mato". Por esta razão colocamos as
vogais [i,e,o,a] entre parênteses no quadro apresentado a seguir. Note que nestes exemplos, todos os dialetos apresentam as cinco vogais [i,e,a,o,u].
A especificidade de alguns dialetos dá-se quanto à ocorrência das vogais média-baixas
anterior central posterior [e,o]. Uma ampla descrição das diferentes variedades do português brasileiro determi-
arred não~arred arred não-arred arred não-arred nará as características da distribuição das vogais postônicas mediais. Este trabalho ain-
da deve ser feito. Um estudo piloto [Cristófaro Silva (1994)] demonstrou que a ocor-
alta (i) I U
rência das vogais [e,o] e [e,o] em posição postônica medial depende sobretudo da
média-alta (e) (o) vogal tônica que a precede. Agrupamos abaixo palavras que apresentam uma vogal
média em posição postônica mediai e em posição tônica ocorre uma vogal oral (grupo
média-baixa ~
6), ou uma vogal nasal (grupo 7) ou uma vogal nasalizada (grupo 8). Nas tabelas a
baixa (a) seguir colocamos entre parênteses uma palavra hipotética para os casos em que não
foram encontradas palavras do português.
Quadro das vogais postônicas finais do português

Tarefa
Tarefa Transcreva foneticamente as palavras do próximo quadro em estilo formal em seu
Nas páginas precedentes você identificou as vogais postônicas finais que ocorrem idioleto observando a ocorrência da vogal postônica mediaI. Lembre-se de que aS
em seu idioleto. Preencha a coluna de vogais postônicas finais no quadro de distri- transcrições fonéticas devem vir entre colchetes.
buição das vogais orais em relação à tonicidade na tabela fonética destacável.
Compare este conjunto de vogais àquele do quadro de vogais orais (ou seja, o pri-
meiro quadro da tabela fonética destacável). Caso seja necessário, complemente
tal quadro com as vogais postônicas orais aqui identificadas.
Grupo 6: Vogal tônica oral Grupo 9: Vogais postônicas mediais altas e baixa


Vogal posto mediai e o 43
Vogal posto mediai a u
Vogal tônica Vogal tônica /)"

i mísera ícone


40 sífilis sílaba centófuga
e pêssego êxodo
e êxito pêsames sêxtuplo
e célebre época
a tráfego átomo
e cético década cédula

O ópera cócoras a tráfico lábaro drácula


o sôfrego (sôfrogo)??? O cólica alcólatra rótula
u útero bússola o (pôlica) ??? esôfago (pôluca) ???
u súdito búlgara úvula
Grupo 7: Vogal tônica nasal
Observação
Vogal post. mediai e o Vale ressaltar que na grande maioria dos dialetos do português brasileiro as vogais
41 Vogal tônica médias nasais ou nasaJizadas são auditivamente perceptíveis como vogais média~

"
ll

i nasal síntese síncope alta [e,o]: "pêndulo, têmporas, côncavo, gôndola, cênico, tônico, trêmula, Rômulo •

Em dialetos que não apresentam a nasalidade de vogais - como algumas variantes


e nasal parênteses têmporas paulistas - temos uma vogal média-baixa em posição tônica seguida de consoante
a nasal crisântemo cânfora nasal: "c[e]nico, t[O]nico, tr[e]mula, R[O]mulo". Considerando-se tal alternância -
entre vogais nasais média~alta e média-baixa - assumimos que em exemplos como
o nasal almôndegas gôndolas
"cênica, tônica, trêmula, Rômulo" a vogal tônica relaciona~se a uma vogal médio~
u nasal (cúmpero)??? (cúmporo)??? baixa:[€,O]. Conseqüentemente excluímos exemplos como "trêmula, cônica, Rômulo"
para preencher as lacunas com interrogações no quadro acima (em que propomos
Grupo 8: Vogal tônica nasalizada as palavras hipotéticas "pôlica, pôluca"). Excluímos as palavras "cônica, Rômulo"
porque nestes exemplos temos uma vogal média ô seguida de consoante nasal.
Para preencheras lacunas corrrespondentes às palavras hipotéticas "pôlica, pôluca",
Vogal posto mediai e o devemos ter uma vogal média [o] segUida de consoante oral (nas palavras hipotéti-
Vogal tônica
cas sugeridas esta consoante é "I").
i nasalizado Inega sínodo


42 Você deve ter selecionado um grupo de cinco vogais - [i,e,a,o,u] -?uum grupo
e nasalizado efêmero anêmona
de sete vogais - [i,e,e,a,o,o,u]- para a posição postônica mediai em seu idipleto.
a nasalizado câmera cânone
o nasalizado ômega cômodo Tarefa
u nasalizado número . (númoro)??? Nas páginas precedentes você identificou as vogais postônicas mediais que ocor-
rem em seu idioleto. Preencha a coluna de vogais postõnicas mediaiS no quadro de
distribuição das vogais orais em relação à tonicidade na tabela fonética destacável.
Compare este conjunto de vogais àquele do quadro de vogais orais (ou seja, o pri-
Os grupos 6-8 apresentam uma vogal média - ou seja, [e,o,e,O l-em posição
meiro quadro da tabela fonética destacável). Caso seja necessário, complemente
postônica media!. No grupo 9 apresentamos palavras que ilustram uma vogal postônica tal quadro.
mediai que seja diferente de uma das vogais médias discutidas nos grupos 6-8.
Tratemos agora da distribuição das vogais postônicas mediais em estilo informal. 17. Vogais nasais
Na grande maioria dos dialetos do português brasileiro as vogais postômcas medIaIs
que ocorrem em estilo formal como [i,a,u] são reduzidas respectiv~ent~ ay,g,u] em Vogais nasais são produzidas com o abaixamento do véu palatino pemlitindo que
estilo informal. Os exemplos apresentados a seguir ilustram esta distrlbUlçao. o ar penetre na cavidade nasal. O abaixamento do véu palatino altera a configuração da
cavidade bucal e portanto a qualidade vocálica das vogais é diferente da qualidade
estilo formal estilo informal
vocálica das vogais orais correspondentes. Contudo, a diferença de qualidade vocálica


44 tráfico tráf[i]co tráf[l]co
das vogais orais e das vogais nasais correspondentes é pequena e adotamos os mesmos
sílaba síl[a]ba síl[g]ba
símbolos utilizados para representar as vogais orais para também representar as vogais
cédula céd[u]la céd[u]la
nasais. Um til colocado acima da vogal marca a nasalidade. A vogal [a]nasal por
exemplo deve ser transcrita como lã]. A maioria dos autores que trabalham com o
Consideremos agora a redução das vogais médias [e,e,o,:>] em posição poslÔnica português adota os símbolos das vogais [i,e,o,u] com til para representar estas vogais
mediaI. As vogais postônicas mediais [o,:>] são reduzidas a [u] na maioria dos dialetos nasalizadas. A vogal nasalizada correspondente a [a] tem sido transcrita por diferentes
do português brasileiro. Os exemplos abaixo ilustram esta distribuição. autores como [s,:i,Ã,ã,ií,ã]. Adotamos o símbolo lã]. O quadro abaixo lista as vogais
Dialetos com [i,e,a,o,n] Dialetos com [i,e,e,a,:>,o,n] nasais do português brasileiro.


45 estiloformal estilo informal estilo formal estilo informal
pérola pér[o]la pér[u]la pér[:>]la pér[u]la anterior central posterior

êxodo êx[o]do êx[u]do êx[o]do êx[u]do arred nãowarred arred não-arred arred não-arred

Os exemplos da coluna da esquerda referem-se aos dialetos que apresentam cinco alta I li

vogais postônicas mediais - [i,e,a,o,u]- e os exemplos da coluna da dIreIta referem-se média e Õ


aos dialetos que apresentam sete vogais postônicas mediais - [i,e, e,a, :>,o,u]. Quru:to
às vogais postônicas mediais [e,e], podemos dizer que este grupo apr~senta a m310r baixa ã
variação fonética dentre as vogais postônicas mediais. Faremos referên~la a este ~~po
como "e ortográfico postônico medial". Em alguns casos, o "e ortografico postomco Observe na tabela acima que Iê,õ] são classificadas como vogais médias nasais
medial" pode reduzir-se a [I]. Nestes casos temos pronúncias como "hipó[tJI]se; (sem distinção entre o grupo de vogais médias-alta [e,o] e o grupo de vogais médias-
almôn[d31]ga" em que a palatalização do tld demonstra a ocorrência da vogal alta baixas [e,:>]). Isto deve-se ao fato de que as línguas naturais não fazem diferenciação
anterior i. O "e ortográfico postônico mediaI" pode também se reduZIr a zero (ou seJ_a, entre vogais nasais médias-altas e médias-baixas. Isto significa que lê] e [s] são equi-
ser omitido). Neste caso temos grupos consonantais anômalos ocorrendo em pOSIÇao valentes. O mesmo é válido para [õ] e [5]. Por razões tipográficas adotamos aqui os
postônica: númro/número; hipótze/hipótese. Em algumas palavras, a omissão ~a vog~1 símbolos Iê,õ] para representar as vogais médias nasais. Nos exemplos a seguir trans-
postônica mediaI causa a omissão concontitante da consoante que a se~ue: numo/~~­ crevemos palavras com vogais nasais que ocorrem em final de palavra (coluna da es-
mero; cãma/cãmera. Um estudo detalhado do cancelamento de vogais postomcas mediaIs querda) e palavras com vogais nasais que ocorrem em meio de palavra (coluna da
e do cancelamento da consoante que a segue merece investigação nos vários dialetos do direita).
português para que possamos compreender este fenômeno. Temos também os casos em
que o "e 'ortográfico postônico mediai" pode se manifestar como uma "vogal cent~al Vogais Tônicas Nasais
alta não-arredondada" que transcreveremos por [i]. Tal vogal ocorre em posição postômca Final de palavra Meio de palavra
medial no português brasileiro, em fala informal, em palavras como "número, cérebro,
fi] ['situ]


vIm ['Vi] cinto
tráfego". No português europeu esta vogal corresponde ao e ortográfic? que pode s~: 45
opcionalmente ontitido: ['numru] - ['numiru] "número" ; ['pzar] - [pl'zar] "pesar ..
lê] (não há) cento ['setu]
[ã] lã ['lã] santo ['sãtu]
Certamente um estudo acurado das propriedades articulatórias e acústicas d~ vogal [I]
[õ] tom ['tõ] conto ['kõtu]
no português brasileiro e europeu merece ser desenvolvido. Encerramos aqUI a dlsc.us-
[u] jejum e u
[3 '3 ] assunto [a'sutu]
são das possibilidades de se reduzir as vogais postõnicas mediais. Espera-se que o leItor
seja capaz de avaliar o processo de redução de vogais postômcas em seu IdlOleto.
Observação 1 . , ' Nos casos discutidos as vogais nasais ocorrem em final de palavraeIl1Posição
Devemos marcar a tonicidade de sílabas com vogais nasais de maneira ano Ioga a tônica - como em "I[ã]" ou em posição postônica.:. como em "ím[ã]". Podéfi também
adotada para as sílabas com vagais arais. Portanto, colocamos o símbolo ['J prece- ocorrer em meio de palavra em posição tônica - como em"s[ã]IlÍ':>" __ oueIlIPosição
dendo a sílaba com vogal nasal: [llã]"lã" e [alsutuj "assunto", Vogais nasais tônicas pretônica - como em "c[ã]ntora", Nestes casos uma vogal nasal ocorreobrigatoriamen-
['lãJ"lã" e átonas são marcadas pelo til colocado acima da vogal: [kã'tof;:)J "canta-
te em qualquer dialeto do português. Denominamos tais casos de' nàs31ização, 'Note
ra" e [limã] "ímã",
que a não articulação da vogal nasal causa diferença de significado: "lállã; mito/minto;
Observação 2 . _ . cadeia/candeia".
Note que as vogais nasais nos exemplos acima ocorrem sem a man,festaça,o adlacen- Há um outro grupo de palavras em que a não articulação da vogal nasal marca a
te de uma consoante nasal na pronúncia (embora a consoante nasal esteiO presente variação dialetal e não causa diferença de significado: j[a]nela ou j[ã]nela."janela"
na ortografia). Alguns autores demonstram que em certos dialetos da português ocor~ ilustra este caso que denominamos de nasalidade. A nasalidade de uma vogal ocorre
re um elemento nasal imediatamente após a vogal nasal [cf. por exemplo Cagl,an
(1977)J. O elemento nasal é geralmente homorgânico à consoante seguinte, ou seja, quando uma vogal tipicamente oral é seguida por uma das consoantes nasais: [m,nJ1],
deve ter o mesma lugar de articulação. Na representação fonética, a elemento nasal Veja por exemplo as vogais seguidas de consoantes nasais nas palavras "cama, cana,
hamargânica é representada pela símbolo nasal colocado acima à d:reita ?a vogal manha", Como afinnamos anteriormente, a nasalidade marca a variação dialetal. Vari-
nasal. Assim, nos dialetos que apresentam tal elemento nasal homorganlco a conso- antes nordestinas parecem preferir a nasalidade. Variantes paulistas, por outro lado,
ante seguinte, as palavras "bomba, tonta, conga" devem ser transcritas como ['bõmb:)], expressam uma falta de preferência no uso da nasalidade.
['tõ't;:)J e ['kõug;:)J. Em dialetos que não apresentam a elemento nasal, estas palavras A nasalidade é mais perceptível auditivamente com a vogal central baixa a. Com
são transcritas coma ['bõb;:)L ['tõt;:)J e ['kõg;:)J. listemos a elemento nasal e as conso- as vogais médias e,o e as vogais altas i,u às vezes é difícil identificar se a nasalidade
antes hamargânicas carrespondentes:[mJ precede [p,bJ; ["J precede [t,dJ; [i'J precede ocorre ou não. Relembramos que com a vogal a ocorre uma alteração significativa do
[J,3, tJ,d3J e ['J precede [k,gJ. Exemplos são: campo, bamba, tanto, anda, goncho, trato vocal quando o véu palatino abaixa-se para produzir uma vogal nasal. Com as
anjo, antes, conde, manco, manga. A diferença entre um segmento nasal- digamos
vogais e,o,i,u a alteração do trato vocal não é significativa, Esta distinção articulatória
[mJ - e o elemento nasal a ele correspondente - [mJ - deve-se sobretudo ao tem~o
gasto na articulação. Certamente o segmento nasal requer mais tempo de art,culaçao faz com que a vogal a nasalizada seja mais perceptível auditivamente. Além do mais, o
da que o elemento nasal homargânico. Isto implica que ['bõmb;:)J apresenta uma breve fato da nasalidade não causar diferença de significado entre palavras (cf. j[a]nela ou
articulação nasal entre a vogal nasal e a consoante seguinte. Caso ocorresse um j[ãlnela '~anela") interfere na percepção destes segmentos pelos falantes, Casos de
segmento nasal - ['bõmb;:)J - tal segmento teria uma duração maior do que a do nasalização que causam diferença de significado são percebidos claramente pelos fa-
elemento nasal. Note que seguindo vagais nasais em final de palavra, o elemento lantes independente da vogal ser baixa, média ou alta ( cf. "lállã", "bobalbomba" ou em
nasal geralmente não ocorre seguindo as vogais nasais [ã,õ,u): [llã)llã"; (ltõ)"tom"i "mito/minto").
[a'tuJ "atum". Em alguns dialetos entretanto ocorre o elemento ['J seguindo as vogais
nasais posteriores [õ,uJ:[tõDJ 'tom' e [atu'J 'atum'. Se em final de palavra a vogal nasal
é [IJ ou o ditongo te}J pode-se alternativamente ocorrer um elemento nasal palatal em Transcreva as palavras abaixo observando a nasalidade em seu idioleto.
fim de palavra: ['ÇUlJ ou ['Sil "sim" ou ['bepJ ou ['be}J "bem". O elemento nasal palatal Grupo 11
segue a vogal [IJ em "sim" e o glide ~J em "bem" devida ao fato desta vogal e deste cama fino camada senha


glide serem produzidos com uma articulação anterior que relaciona-se à propneda- cana pano tônico vinho 47
de de palatalização. banha banheira tâmara sonho
Bruno manhã cênico punho
Transcreva oS dados considerando aS observações 1 e 2. Verifique o que ocorre em fome manha cúmulo cânhamo
Seu idioleto observando se o elemento nasal homorgânico é presente durante a Senna canavial cínica canhoto


46 transição entre a vogal nasal e a consoante que a segue. Preencha o quadro de
vogais nasais na tabela fonética destacável.
Grupo 10
rã Concluindo, denominamos nas31ização de vogais os casos em que uma vogal é
sim janta
obrigatoriamente nasal em qualquer dialeto do português: "lã" e "santa" (cf. grupo 10).
tonta som mundo
Denominamos nasalidade os casos em que a ocorrência das vogais nasais é opcional e
atum ginga vento
-- -_.. _---""-~~
marca variação dialetal: "fome" e "camareira" (cf. grupo 11).
~~::-:-~--------~--«
94 Fonética - Ditongos

Tarefa No dit?ngo [a\l] da palavra "pau" temos os segmentos laje [uJ..~oteque o seg-
Observe o comportamento da sua fala em relação aS especificidades das vogais mento [~] é mterpretado como vogal e representa uma unidade no padrão acentual por
nasaliiadas discutidas. Marque com um "x" as opções que sejam pertinentes ao seu constituir o piCO da sJ1aba. O segmento [u] é interpretado como glide e não recebe
idioleto e acrescente-as às observações na tabela fonética destacável. a~ento (ou seja, não pode constituir uma sílaba independente). Podemos dizer que o
glide é u:n segmento com. características fonéticas de uma vogal distinguindo-sépelo
O Uma vogal tônica é nasalizada quando seguida das consoantes [m,nl. Este pare-
fato de nao poder Co~stitUlr ~ma sílaba independente. Assim, o glide é sempre ligado a
ce ser o CaSo na grande maioria dos dialetos do português brasileiro: "cama,
uma vogal que constitUI o piCO da sílaba no ditongo.
Senna, fino, fome, Bruno".
Em oposição aos ditongos temos os hiatos que consistem de uma seqüência de
O Em alguns dialetos, a nasalidade nõo se aplica às vogais tônicas seguidas das vogaIS sendo que as vogais são pronunciadas em sílabas distintas: [ba1ul "baú". Trans-
consoantes [m,nl (descritas no item acima). Neste caso, aS vogais médias [E,:Jl crevem~s os ditongos por uma seqüência de símbolos correspondentes àsvogais, sendo
ocorrem em posição tônica seguidas de consoantes nasais: "c[alma, S[Elnna, q~e o slmbolo U deve ser colocado abaixo da vogal assilábica ou glide: [\I,)']. Os
f[ilno, f[:Jlme, Br[ulno". slmbol~s dos glides [\1,11 marcam o começo ou o fim do ditongo, em português.
O Quando a vogal seguida das consoantes nasais [m,nl ocorre em posição pretônica, Ha casos que ditongos apresentam uma seqüência de glide-vogal como por exem-
a nasalidade é geralmente opcional: c[almareira - c[ãlmareira "camareira" (cf. p~o nas palavras "acionista" [as)'olnist~] e "mágoa" [Irnag\l~]. Este tipo é denontinado
c[ãlma). Note que em "camareira" a primeira vogal- que é seguida da consoante ditongo crescente. Há outros casos em que ditongos apresentmn uma seqüência de •
[ml - pode ser oral ou nasal sem causar diferença de significado. A nasal idade v~gal-gli~e como por exemplo as palavras "pai"['pa)'] e "pau"['pa\l]. Este tipo é deno-
marca a variação dialetal. Outros exemplos são "bananeira, senador, fineza, nuna~o ditongo decrescente. Finalmente, gostaríamos de salientar que as seqüências
sonoplastia, brunela". Note que a opcional idade entre vogal oral e nasal ocorre tradiCionalmente denontinadas "tritongos" - como por exemplo em "quais" - são ana-
geralmente em posição pretônica. lisadas como uma seqüência de oclusiva velar-glide seguida de um ditongo decrescen-
O Quando a consoante nasal palatal ocorre (ou o segmento correspondente que é te: ['kWa]s] "quais". Denontinamos a seqüência de oclusiva velar-glide de consoaute
comple~a: [k , gW]. Evidência para esta proposta será fornecida oportunamente. A
W
um glide palatal anterior nasalizado [)iD, a vogal precedente é nasalizada na
maioria das variantes do português brasileiro: "banho, senha, vinho, sonho, pu- segUIr, listamos os ditongos orais e nasais do português agrupados em crescentes e
nho". Temos então b[ãlnha e não b[alnha para "banha". decrescentes e concluimos esta seção discutindo as consoantes complexas.

Tarefa < < c - - - - --- -< <-

D
««« «-- - - - - - - - - - - - - - - - - «

Terminamos aqui de descrever as vogais orais e nasais do português brasileiro.


Neste estágio você deve ter os segmentos vocálicos orais e nasais que ocorrem em seu A tab~la fonética destacável de ditongos é fornecida a seguir. Destaque-a e pro-
idioleto listados na tabela fonética destacável. ceda a caracterização dos ditongos em Seu idioleto. Bom Trabalho!

18. Ditongos
19. Ditongos crescentes
Um ditongo consiste de uma seqüência de segmentos vocálicos sendo que um
dos segmentos é interpretado como vogal e o outro é interpretado como um glide (cf. na Ditongos crescentes consistem de uma seqüencia de glide-vogal. O glide que ocorre
seção 10, para uma discussão dos aspectos fonéticos envolvidos na descrição de diton- parte mlclal de um ditongo crescente pode começarem [I] ou lu], Ditongos crescen-
gos). O segmento interpretado como vogal no ditongo é aquele que tem proeminência tes em português sao . L'Istamos os ditongos
- sempre orais. . crescentes que ocorrem em
acentuai (ou seja, conta como uma unidade em termos acentuais). O segmento interpre- português:
tado como gUde no ditongo não tem proentinência acentuaI. Em um ditongo, a vogal e
o glide são pronunciados na mesma sílaba - como em ['pa\l] "pau" - sendo que o
segmento interpretado como vogal representa o núcleo ou pico da sílaba.
Tabefa,destcfc6ver C

19.1. Ditongos crescentes com início em [I] Tabela de ditongos destacável


48
a. [1~] - [1a] séria, área c. [1u] -[10] sério, aéreo
b. [1i] -[1e] - [I] série, cárie d.[1o] estacionamento
Ditongos crescentes
Os dados (a-c) ilustram ditongos crescentes poslÔnicos e em (d) temos um diton-
go crescente pretônico. Variação de pronúncia pode ocorrer com os ditongos crescentes
Ditongo Exemplo Transcrição Ditongo Exemplo Transcrição
postônicos (cf. a-c). Isto se deve ao fato de haver variação das vogais postônicas finais
(que seguem o glide).Os falantes que possuem o conjunto de vogais orais postônicas fJol acionista [asJo'nist~1 [ 1 tênue
finais [i,e,a,o] apresentam o seguinte conjunto de ditongos crescentes que se iniciam [ 1 série [ 1 árdua
em [I]: I)i,Je,Ja,Jo]. (Note que os falantes que apresentam uma vogal média-alta em
posição postônica medial terão a pronúncia ['areal "área" em que uma seqüência de
[ 1 séria [ 1 vácuo
vogais ocorre em posição postônica). Os falantes que possuem o conjunto de vogais [ 1 sério
orais postônicas finais [I,~,U] apresentam o seguinte conjunto de ditongos crescentes
que se iniciam em [I]: [11, J~, JU]. As sequências segmentais [JI ] são geralmente
reduzidas a [I]: ['karI] "cárie" ou ['serI] "série". Ditongos decrescentes orais
O ditongo crescente pretônico [10] sempre ocorre em formas com o infixo "-ion"
[cf. (d) acima: "estacionamento"]. Falantes do português apresentam obrigatoriamente Ditongo Exemplo Transcrição Ditongo Exemplo Transcrição
um ditongo crescente pretônico nestes casos (cf. "nacionalista, opcional, sensacional",
[1 pai [ 1 pau
etc.). Note contudo que variação de pronúncia pode ocorrer em ditongos crescentes
pretônicos em formas que não apresentam o infixo -ion-. Temos por exemplo a alternância [1 lei [ 1 meu
entre uma seqüência de glide-vogal-[1o]- e uma seqüência de vogais - [io]- em uma [1 réis [ 1 céu
palavra como "gracioso" [gra'sJozu] - [grasi'ozu]. A preferência por uma seqüência [1 boi [ 1 sou
de glide-vogal (cf. [gra'sJozuJ) ou uma seqüência de vogais (cf. [grasi'ozuJ) parece se [1 mói
dar por questões dialetais (ou idioletais) e aspectos relacionados a estilos de fala. Al-
[ 1 VIU

guns dialetos parecem privilegiar uma seqüência de glide-vogal - corno no português


[1 fui
europeu por exemplo - enquanto outros dialetos privilegiam uma seqüência de vogais
- vários dialetos do português brasileiro. Em estilo de fala informal a seqüência de
glide-vogal ocorre mais freqüentemente. Note que nos casos em que há alternância Ditongos decrescentes nasais
entre glide e vogal- como em "gracioso" [gra'sJozu] - [grasi'ozu]- qualquer vogal
Ditongo Exemplo Transcrição Ditongo Exemplo Transcrição
pode preceder o glide (cf. "tietê, gabriela, pianista, graciosa, gracioso, biunívoca"). Em
casos em que a ocorrência do ditongo crescente pretônico é obrigatória (cf. "estaciona- [1 mãe [ 1 pão
mento") a vogal que segue o glide é sempre [o]. [1 põe [ 1 bem
[1 muito
Tarefa
Transcreva foneticamente as palavras que apresentam ditongos crescentes com
início em Ú'l que são listadas no quadro de ditongos crescentes da tabela destacável Consoantes complexas
de ditongos (coluna de transcrições). Ao fazer tais transcrições, você identificará
os ditongos crescentes com início em [i;] que ocorrem em seu idioleto. Indique oS C. compl. Exemplo Transcrição C. compl. Exemplo Transcrição
ditongos pertinentes ao Seu idioleto ao listá-los na coluna de "ditongos".
[ 1 aquarela 1 linguagem
19.2. Ditongos crescentes com início em [u]


a. [li;)] - [lia] árdua, mágoa 49
b. [111] - [lIe] tênue, cõngrue
c. [110] - [lIu] - [u] "árduo, vácuo"

Os exemplos (a-c) ilustram ditongos crescentes postõnicos que iniciam em [u]. Os


falantes que possuem o conjunto de vogais orais postõnicas finais [i,e,a,o] apresentam os
seguintes ditongos crescentes que iniciam em lu]: [lIe, lia, 110]

Os falantes que possuem o conjunto de vogais orais postõnicasfinais [I,;),U]


apresentam os seguintes ditongos crescentes que iniciam em lu]: [111, li;), lIu]. A
seqüência segmental [IIU] é geralmente reduzida a lu]: [Iafidu] "árduo" e [Ivaku]
"vácuo". Note que outra possibilidade de pronúncia é atestada entre falantes que apre-
sentam uma vogal média-alta. Estes falantes têm em posição postõnica mediai a pro-
núncia "mag[o]a" e uma seqüência de vogais ocorre em posição postõnica.

Tarefa
Transcreva foneticamente aS palavras que apresentam ditongos crescentes com
início em [U) que são listadas no quadro de ditongos crescentes da tabela destacável
de ditongos (coluna de transcrições). Ao fazer tais transcrições você identificará
os ditongos crescentes com início em [u) que ocorrem em seu idioleto. Indique os
ditongos pertinentes ao Seu idioleto ao listá-los na coluna de "ditongos".

Resumindo a discussão sobre os ditongos crescentes, podemos afirmar que:


l. O ditongo crescente [lO] oriundo do infixo -ion- ocorre em posição pretõnica
(cf. "estacionamento"), ocupândo uma única sílaba: "es.ta.cio.na.men.to" (Note que
uma seqüência de vogais não pode ocorrer: "*es.ta.ci.o.na.men.to". Casos em que um
ditongo crescente alterna com uma seqüência de vogais (cf. "gracioso" [gfasi1azu] -
[gfalsJazuJ) caracterizam potencialmente variação dialetal ou variação de estilos de
fala específicos. Neste caso, o ditongo ocupa uma única sílaba na pronúncia [gfalsJozU]
"gra.cio.so" e temos uma seqüencia de vogais na pronúncia [gfasi1ozU] "grll..ci.o.so".
2. A manifestação fonética de ditongos crescentes postõnicos dependêâapronún-
cia da vogal final em palavras proparoxítonas (cf. "séria, série, sériil,f!Ífdua, tênue,
árduo"). Geralmente seqüências de glide-vogal de ditongos crescentes que apresentam
a mesma qualidade vocálica - [p] e [lIu]- são reduzidas e apenas uma vogal se mani-
festa (cf. "série, árduo").
Y:O' FOtiéfleO" .... 'EJifóilgOs' détfésCéillés
Fonétka - Ditong'ôs 'decrescentes' 99

20. Ditongos decrescentes 20.2. Ditongos decrescentes orais com término em[u]
Ditongos decrescentes consistem de uma seqüência de vogal-gUde. O gUde que [aI)] mau, saudade


[01)] Moscou, Couto 51
ocorre na parte final do ditongo pode se iniciar em [I] ou lu]. Ditongos decrescentes em [el)] judeu, eu riu, fugiu
português podem ser orais ou nasais: "sei" [Ise1] e "cem" ['se1]. Listamos inicialmente [e 1)] réu, bedéu
o grupo de ditongos decrescentes orais e em seguida o grupo de ditongos decrescentes
nasais que ocorrem em português.
Lembramos ao leitor que, conforme assumido na descrição dos segmentos
consonantms, o~ ca:os de seqüências segmentais de vogal-glide em que o gUde é prove-
20.1. Ditongos decrescentes orais cam término em [I] mente da vocallzaçao do "I" são transcritos como [vogal-w]: "mal" ['maw]. Note que
n?s casos aCIma a transcrição se dá como [vogal-glide]: "mau" [Imau]. Apontamos


50 [al] pai, gaita [01] boi, afoito mnda que a sequencIa
"- . [:>w] somente ocorre em casos de vocalização do - "I" (cf "sol
[el] seita, lei [:>1] mói, corrói anzol, volta, Olga", etc.). . ,
[q] réis, papéis [ul] fui, cuida ..................................... - ....................... _ __
.... .... --"---"',
Tarefa
Todos os ditongos decrescentes orais ilustrados acima ocorrem em sílaba tônica.
Ditongos decrescentes orais podem ocorrer também em sílaba pretônica. Contudo, em Trans~reva foneticamente as palavras que apresentam ditongos decrescentes orais
posição pretônica a seqüência de vogal-gUde pode alternar com uma seqüência de vogais com te~m,"o em [U] que são listadas no quadro de ditongos decrescentes da tabela
em um determinado grupo de palavras, como por exemplo "vai. da. de" - com três síla- destacavel ,de ditongos (coluna de transcrições). Ao fazer tais transcrições você
Identificara os ditongos decrescentes orais com término em [U] que ocorrem em
bas - e "va.i.da.de" - com quatro sílabas (cf. "maizena, caipira, moicano, juizado",
sde~, IdlOleto. Indique os ditongos pertinentes ao seu idioleto ao listá-los na coluna
etc.). Há um outro grupo de palavras em que uma seqüência de vogal-glide deve ocorrer e ditongos".
obrigatoriamente, como por exemplo "g[al]tista" (cf. "deitado, coitado, cuidado", etc.).

ão O ~itongo decrescente [oI)] pode ser reduzido a [o]: "couro" ['koru]. Esta redu- I
Tarefa ç ~e da na malOna dos substantivos e adjetivos, exceto quando o ditongo [ou] oCorre
il
"

I,I
Transcreva foneticamente as palavras que apresentam ditongos decrescentes orais em .fmal de palavra (cf'. "oscou,
M ", etc.). Em formas verbais, a redução -se dá em
grou I
com término em [I] que são listadas no quadro de ditongos decrescentes da tabela melO de palavra e em fmal de palavra: "dourar" [do'rah] e "sou" ['so]. I
destacável de ditongos (coluna de transcrições). Ao fazer tais transcrições você
identificará os ditongos decrescentes orais com término em [I] que ocorrem em
idioleto. Indique os ditongos pertinentes ao seu idioleto ao listá-los na 20.3. Ditongos decrescentes nasais com término em fI] e fu] I1
"ditongos".
Os .d!to~gos nasais em português são sempre decrescentes e constituem portanto I'
Alguns ditongos decrescentes podem ser reduzidos. Dos ditongos acima ressalta- ~ma.sequencla de [vogal nasal-glide]. Listamos os ditongos nasais decrescentes que II
J:
ermmam em [I] ou lu]:
mos [al] e [el]. Nestes casos de redução o gUde não se manifesta foneticamente. Exem-
plos são: "caixa" [Ikafa] e "feira" [Ifera]. A redução de ditongos se dá em substantivos, lã1] mãe, câimbra
adjetivos e formas verbais (cf. "caixa, baixa, abaixar" e "feira, faceira, cheirar"). O


[ÕI] põe, lições
ditongo que potencialmente pode ser reduzido não pode estar em final de palavra: "sai" 52
*[Isa] e "sei" *['se]. Há contudo casos em que a redução não se aplica: "gaita" *[Igata] [ul] muito, ruim
e "seita" *['seta]. A redução de ditongos decrescentes já mereceu atenção na literatura, fel] bem, item
mas merece ainda um amplo estudo nos diferentes dialetos do português (cf. Alvarenga [ãl)] pão, órfão
et ai (1989), Bisol (1989), Paiva (1996».
100 Fonética - Consoantes' complexas Fonética - Exercícios complementares' 2 101

Os ditongos lã!, Õ!, li!] sempre ocorrem em sílabas tônicas (cf. "mãe, põe, mui-
.53
falantes - como por exemplo "tranqüilo, aquoso, seqüela, lingüiça, linguagem", etc. Note
to"). Os ditongos fe!] e [ã\l] ocorrem em sílabas tônicas (cf. "bem" e "pão") ou em que uma palavra como "[kwa]dro" jamais será pronunciada como "[ka]dro". Já uma pala-
sílabas átonas (cf. "item" e "órfão"). vra como "[kwa]torze" pode apresentar uma pronúnica alternativa como "[ka]torze". As
Em todos os exemplos dados temos ditongos decrescentes nasais para qualquer consoantes complexas representam um resquício histórico do latim no português.
variedade do português (a palavra "ruim" pode ocorrer opcionalmente como "r[uílm"
- com uma seqüência de vogais" - para muitos falantes). ,
lureTQ
T~anscreva foneticamente as palavras que apresentam consoantes complexas que
Tarefa sao Iostadas na tabela destacável de ditongos (coluna de transcrições). Ao fazer
Transcreva foneticamente as palavras que apresentam ditongos decrescentes na- tais transcrições você identificará as consoantes complexas que ocorrem em seu
sais com término em [I,U] que são listadas no quadro de ditongos decrescentes da idioleto. Indique estas consoantes ao listá-Ias na coluna de "cons. complexa".
tabela destacável de ditongos (coluna de transcrições). Ao fazer tais transcrições
você identificará oS ditongos decrescentes nasais que ocorrem em seu idioleto.
Indique oS ditongos pertinentes ao seu idioleto ao listá-los na coluna de "ditongos".

22. Exercícios complementares 2


Há, contudo, casos de ditongos decrescentes nasalizados no português. Estes ca-
sos marcam variação dialetal. De maneira similar à nasalidade de vogais, os ditongos 1. Indique nos exemplos se a vogal tônica é uma vogal média-alta (fechada) -
decrescentes podem ser nasalizados quando ocorrem seguidos de consoante nasal: [e,o]- ou uma vogal média-baixa (aberta) - [e,o]. Siga os exemplos. Todas as palavras
"Ror[ã!]ma, p[ã!]neira" (a consoante nasal palatal [p.] ou o glide palatal nasal corres- abaixo são substativos ou adjetivos.
pondente [Si] não ocorrem em português após um ditongo decrescente: *[a,Ul] (cf. "ra- I. -1tl festa 11. teto 21. troco 31. ele
inha, bainha"). A pronúncia nasalizada dos ditongos decrescentes seguidos de consoan- 2.JQL corvo 12. __ janela 22. certo 32. chefe


tes nasais em palavras como "Ror[ã!]ma, p[ã!]neira" é típica da região de Belo Hori- 3.-kL peso 13. __ pelo 23. __ planeta 33. célebre 54
zonte (MG), por exemplo. Já em Boa Vista (RR), os ditongos decrescentes seguidos de 4.~sola 14.. severa 24. mesa 34. __ frevo
consoantes nasais manifestam-se foneticamente como uma seqüência de vogal-glide 5. _ _ seta 15. __ cela 25. cofre 35. soco
orais: "Ror[a,!]ma, p[a!]neira". Quando o ditongo decrescente seguido de consoante 6. _ _ bolo 16. __ copo 26. vela 36. cera
nasal termina em [u] a nasalização não ocorre em nenhum dialeto: *tr[ã\l]ma e *s[ã\l]na. 7. _ _ ovo 17. sólida 27. __ povo 37. arroto
8. _ _ cola 18. mole 28. medo 38. broto
9. _ _ trevo 19. avô 29. telha 39. __ pêssego
lO. _ _ berço 20. avó 30. __ vespa 40. __ grota
21. Consoantes complexas
2. Nos exemplos que se seguem, a palavra da coluna da esquerda é um substanti-
Em nossa análise, as seqüências tradicionahnente denominadas "tritongos" (cf.
vo ou adjetivo e a palavra da coluna da direita é uma forma verbal. Transcreva fonetica-
"quais") são analisadas como uma seqüência de oclusiva velar labializada que pode ser
seguida por uma vogal ou por um ditongo: "quase" [lkwazI] e "quais" ['kwa,!s]. Os segmen- mente estes exemplos observando a vogal média que ocorre em posição tônica para os


tos [kW,gW] são denominados consoantes complexas e correspondem a uma oclusiva ve- substantivos/adjetivos e para as formas verbais. Pode ocorrer uma vogal média-alta
55
(~chada~ -: [e,o]- ou uma vogal média-baixa (aberta) - [e,O]. Apresente as transcri-
lar labializada. Nestas consoantes articulamos a oclusiva velar - [k] ou [g] - con-
comitantemente com o arredondamento dos lábios. Os argumentos que corroboram tal çoes fonetlcas entre colchetes e marque a sílaba tônica com o símbolo [ I ].
I. o troco eu troco _ _ _ _ _ _ _ _ _ __
proposta são de natureza fonológica e são sumarizados na parte de fonêmica. Vale ressaltar
2. ojogo _ _ _ _ _ _ _ __ eujogo _ _ _ _ _ _ _ _ _ __
aqui que algumas palavras que geralmente apresentam consoantes complexas [kW,gW] na
3. o bolo _ _ _ _ _ _ _ __ eu bolo _ _ _ _ _ _ _ _ _ __
pronúncia de certos falantes, podem apresentar apenas uma oclusiva velar [k,g] na pronún- eusoco ______________
cia de outros: "li[kWi]dificador - li[ki]dificador" (ver também "quota, quatorze", etc.). 4. o soco
5.ochoco-----------
Contudo, em várias palavras a consoante complexa ocorre obrigatoriamente para todos os eu choco
--"~-,--"---~-,-

Fonética - Exercícios complementares -2 103

6. odedo _ _ _ _ _ _ _ __ eudedo _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ 5. Transcreva as palavras observando as vogais átonas finais. Siga o exemplo
7. o gelo _ _ _ _ _ _ _ __ eugelo _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ dado.
8. O apelo _ _ _ _ _ _ _ __ eu apelo _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ I. [lm::>II] mole 15. lua 29. telha
9. o azedo _ _ _ _ _ _ _ __ euazedo _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ 2. sala 16. vidro 30. banhq.
lO. o começo _ _ _ _ _ _ __ eu começo _ _ _ _ _ _ _ _ __ 3. todo 17. sólida 31. elefante
4. pulo 18. púdica 32. chefe


3. Transcreva foneticamente as palavras observando para cada par de palavras 5. cálido 19. foto 33. célebre 58
qual é a vogal média que ocorre em posição tônica nas formas da esquerda e quais as 6. tônica 20. crua 34. freira
56 vogais médias que ocorrem em posição pretônica nas formas da direita. Pode ocorrer 7. cênico 21. tribo 35 . fedorento
• uma vogal média-alta (fechada) - [e,o]- ou uma vogal média-baixa (aberta) - [e,::>]. 8. árvore 22. safari 36. júri
Apresente as transcrições fonéticas entre colchetes. 9. mesa 23. carteiro 37. padre
I. metrópole metropolitano _ _ _ _ _ _ _ __ lO. berço 24. livraria 38. beijo
2. herói heroína _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ 11. porta 25. cofre 39. pêssego
3. cola colagem 12. janela 26. vela 40. urso
4. copo copeiro 13. quarto 27. típico
5. capota capotagem 14. severa 28. meio
6. pagode pagodeiro
7. poeta poetiza
8. café cafezal 6. Transcreva as vogais postônicas mediais. Siga o exemplo dado.
9. capela capelão I. [I] cálido 15. êxodo 29. etíope
lO. pivete pivetada 2. cânfora 16. vítima 30. antídoto
I!. janela janeleiro 3. tétrico 17. sólida 31. hipódromo
12. panela panelada 4. número 18. lúdica 32. bávaro
5. álibi 19. cédula 33. dúvida


4. Transcreva foneticamente as palavras observando a ocorrência de vogais mé- 6. tônica' 20. cômica 34. mamífero
59
dias [e,o,e,::>]. 7. célebre 21. câmera 35. autóctone
I. a vela velar eu velo _ _ _ _ __ 8. árvore 22. fenômeno 36. drácula
2. ainveja invejar eu invejo 9. ópera 23. protótipo 37. glóbulo


57 3. a pele
4. a terra
5. a prova
6. a cola
7. a sola
8. a toca
pelar
aterrar
aprovar
colar
solar
eu pelo
eu aterro
eu aprovo
eu colo
eu solo
euentoco
lO.
I!.
12.
13.
14.
átomo
sílaba
crápula
túmulo
pérola
24.
25.
26.
27.
28.
âmago
anêmona 39.
cânhamo 40.
típico
vértebra
38. polígamo
pêssego
monótono

entocar
9. o zelo zelar eu zelo
lO. o aterro aterrar eu aterro 7. Transcreva as palavras dedicando atenção especial às vogais tônicas nasais..
I!. o apelo apelar eu apelo Siga o exemplo dado.


12. o cabelo descabelar eu descabelo I. [ba'tõ] 5. rum 9. som
batom 60
13. o soco socar eu soco 2. [Ikãfur::l] cânfora 6. junto lO. atum
14. o jogo jogar eu jogo 3. cento 7. lã I!. tímpano
15. o mofo mofar eu mofo 4. cinto 8. sim 12. têmporas
16. o nojo enojar eu enojo
l-tl2J ' Fonéffco"..;;rExercfcros':'compiemenfãres,,-'2'

13. lânguido 23. canja 33. encobre 10. Transcreva foneticamente as palavras dedicando atençãoespecial ao registro
14. santa 24. acento 34. conde dos d i t o n g o s . · . .
15. lenta 25. simples 35. freqüência 1. etérea 8. amém 15. gaitista _ _ _ __


16. assunto 26. ínterim 36. comum 2. nódoa 9. anão 16. ajeitado, _ _ _ __
60


17. acampa 27. ombro 37. jasmim 3. ódio lO. câimbra 17. cuidado _ _ _-"'-,,~ 63
18. assenta 28. compras 38. ambas 4. cárie _ _ _ _ _ _ 11. ruim 18. Moscou _ _ _ __
19. Corinto 29. antes 39. tanto 5. tênue _ _ _ _ _ _ 12. repõe 19. judeu _ _ _ __
20. presente 30. assim 40. príncipe 6. sábia _ _ _ _ _ _ 13. capitães 20. aurora _ _ _ _ __
21. Cândida 31. irmã 7. Mário _ _ _ _ _ 14. nacional 21. coitada _ _ _ __
22. trânsito 32. discordância
11. Dê um exemplo de palavra do português para cada vogal ou ditongo listado
8. Transcreva foneticamente as palavras observando se as vogais e ditongos de- abaixo. A vogal ou ditongo em questão deverá ocorrer em sílaba tônica. O símbolo [I]
crescentes são nasalizados quando seguidos de consoantes nasais. Apresente as trans- colocado antes da sílaba acentuada marca a tonicidade. Um til colocado acima da vogal
crições fonéticas entre colchetes. Vogais nasais são transcritas com um til colocado marca a nasalidade. Apresente os dados em transcrição fonética (entre colchetes). Siga
o exemplo dado.
acima da vogal correspondente. Se a vogal nasal é tônica esta recebe o til- que marca
1. [i] [salsi] 'Saci" 15. [eI] _ _ _ _ _ _ _ __
a nasalidade - e a sílaba deve ser precedida de [1]- que marca a tonicidade.
2. [e] 16. [01] _ _ _ _ _ _ __
1. cama 11. senha 21. rainha _ _ _ __
3. [e] 17. [:lI]
2. bacana 12. senhor 22. Jaime 4. [a] 18. [uI] - - - - - - - -
3. façanha 13. senado 23. reino
5. [:l] 19. [a~] _ _ _ _ _ _ __


61 4. camada 14. Iracema 24. boina


6. [o] 20. [eG] _ _ _ _ _ _ __
5. anáfora 15. vinho 25. arruinar 64
7. [u] 21. [e~] _ _ _ _ _ _ __
6. cânhamo 16. conhaque 26 medonha
8. [i] 22. [ou]
7 .. amada 17. tônico 27. Aimorés 9. lê] 23. [iu] - - - - - - - -
8. tâmara 18. atômico 28. cênica
lO. [ã] 24. [Ú] _ _ _ _ _ _~~
9. banhada 19. punho 29. Janaína
11. [õ] 25. [61] _ _ _ _ _ _ __
lO. manhosa 20. sumiço 30. queima 12. [u] 26. [uI] _ _ _ _ _ _ __
13. [a;] 27. rei]
14. [e;] 28. [ã~]--------
9. Transcreva foneticamente as palavras observando a ocorrência de vogais orais
e nasais. Apresente as transcrições fonéticas entre colchetes. Marque a vogal tônica
com o símbolo P] precedendo a vogal acentuada. Vogais nasais são transcritas com um 12. Transcreva foneticamente o seguinte texto:
til colocado acima da vogal correspondente. "Concluímos aqui os exercícios referentes aos segmentos vocálicos do português
1. Pelé lO. maçã _ _ _ __ 19. terretre _ _ _ __ brasileiro. A próxima seção é dedicada à discussão da natureza trtlrlscrições das
2. bocó 11. janta 20. terráqueo _ _ __ fonéticas." -"
3. jacu 12. vento 21. terreno _ _ _ __


62 4. ali
5. abará
6. agogô
7. pererê
8. Iansã
9. manta
13. tonta
14. tom
15. jejum
16. juntar
17. ginga
18. enfim
22. colegial _ _ _ __
23. colégio _ _ _ __
24. coleguinha _ _ __
25. pedrinha _ _ _ __
26. pedregulho _ __
27. corajosa _ _ _ __
:
.::::::::::::::.:::::::..::::.:•.••::••••..::..:: •••••:::':::::::::::::::::::::::'::::::::::::::.::::::::::::::::::::::::::::::::::::::.. ::•.•.:.:...::.•.•.•.. ......::.•.•.•:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::"
..............................................................................................................................................................................................................

................................................................................................................................................................................................................
l'OB Fonética Trariscriç?és fonéti'cos

23. Transcrições fonéticas entre.as vogais. Note que a escolha entre a transcrição ['::>IJus]e'[':lVuslimplica em
uma lllterpretação diferente da estrutura silábica: com cinco elementos (VCVVC) ou
Esta seção tem por objetivo discutir o uso de símbolos fonéticos para o registro de com quatro elementos (VCVC). Associando cada segmento fonético a uma vogal ou
dados em transcrições da fala, considerando-se especialmente a transcrição de dados consoante temos os esquemas abaixo:
do português. Para a discussão do desenvolvimento histórico da noção de transcrição V C VVC V CV C
fonética, bem como de aspectos teóricos e de categorização de diferentes tipos de
transcrições, veja Abercrombie (1967), Pike (1943,1947), Callou & Leite (1990). I I I I I I I I I
As línguas naturais apresentam palavras que têm seqüências sonoras idênticas [::> I JUs] [::> V u s]
com significados diferentes. Duas palavras pronunciadas da mesma maneira que
apresentam significados diferentes são chamadas palavras homófonas. Um par de Devemos então buscar argumentos que justifiquem a escolha entre uma das trans-
palavras homófonas em português é "cela" e "sela": ['sei;)]. O par de palavras homófonas crições [I ::>IJus] e [' ::>Vus] como sendo a mais adequada para representar a relação entre
"cela" e "sela" tem o registro ortográfico diferente para as duas palavras. Contudo, este seg~ento,s e a estrutura silábica nas palavras homófonas "óleos" e "olhos". Uma solução 66
não é necessariamente sempre o caso envolvendo palavras homófonas. Elas podem ter P?,SSIVel,; dada.a partIr d~ co?sideração de palavras derivadas a partir da ra,iz de "óleos" •
registro ortográfico idêntico. Veja por exemplo "manga (fruta)", "manga (de camisa)" e olhos . ConsIderemos llllclalmente a palavra "oleoso" (derivada de "óleo"). A palavra
e "manga (do pasto da fazenda)". "oleoso" pode ser pronunciada com uma seqüência de vogais pretônicas - [oJilozu]- •
Para falantes do português brasileiro a transcrição das palavras "cela" e "sela" é ou com um ditongo crescente ocorrendo em posição pretônica - [oIIJozu]. No último
praticamente invariável (pode haver variação apenas quanto ao registro da vogal átona caso - [oIIJozu]- temos uma seqüência de glide-vogal (Gv). Podemos argumentar que
final). A escolha dos símbolos fonéticos utilizados na transcrição fonética da palavra a alternância entre uma seqüência de vogais [io] e uma seqüência de glide-vogal ao]
['sei;)] é deduzível a partir de parâmetros articulatórios. O símbolo [s], por exemplo, em posição pretônica na palavra derivada "oleoso" fornece evidência para assumirmos
corresponde a uma fricativa alveolar desvozeada que é o segmento consonantal articulado a transcrição fonética ['::>IJus] para "óleos",já que palavras derivadas são formadas por
no início da palavra [Isel;)]. A vogal tônica [e] é uma vogal média-baixa anterior não- raiz+sufixo derivacional+sufixo de gênero. A partir da forma "gosto" derivamos
arredondada que é seguida por um segmento alveolar/dentallateral [I]. O último segmento "gostoso" em que a raiz "gost-" é seguida do sufixo derivacional "-os" e do sufixo de
é a vogal média-baixa central não-arredondada: [;)] (ou [a]). gênero "-o". Derivando de maneira análoga a palavra "oleoso" dizemos que a raiz
Consideremos outras duas palavras que geralmente são homófonas no português "ole-" seguida dos sufixos "-os" e "-o" forma a palavra "oleoso". Note que a raiz de
brasileiro: "óleos" e "olhos" (veremos em breve que estas palavras podem apresentar "óleos" e "oleoso" é "ole-''.; Esta raiz termina em vogal. Assumiremos que em "óleos"
pronúncias distintas para alguns falantes). Quando homófonas, as palavras "óleos" e a raiz "ole" é seguida do sufixo de gênero "-o" e do sufixo de plural "-s". Temos então
"olhos" têm na última sílaba uma consoante lateral alveolar ou dental seguida de uma (ole + o + s) com a estrutura silábica vcvvc que tem cinco elementos. A transcrição
seqüência de glide anterior+vogal - que abreviamos por GV - e tendo como último fonética de "óleos" como ['::>I;us] - em que o glide postônico é transcrito como um
m
segmento uma fricativa sibilante desvozeada ([s] ou dependendo do dialeto). Temos segmento vocálico - é justificada a partir de formas derivadas (como "oleoso").
então: [IGVs] (lateral+glide+vogal+ s), sendo que o s final pode ocorrer como [s] ou O elemento final da raiz que se manifesta como um glide em posição postônica-
m dependendo do dialeto. A questão que se coloca ao fazermos a transcrição fonética [1::>~lUs]- pode ocorrer como glide ou vogal em posição pretônica - [O'!JOZUlou [oJilozu].
das palavras homófonas "óleos" e "olhos" é quanto à escolha dos símbolos fonéticos a ConsIderamos aqui apenas a pronúncia ['::>!Jus] que é relevante para o assunto em questão.
serem utilizados para transcrevê-Ias. Mais especificamente, a questão de como transcrever A vogal final da raiz de "ole-" pode ocorrer também como [e]: ['::>le\Js] (quando temos
o glide na seqüência [IGVs] que ocorre na sílaba final das palavras homófonas "óleos" um dItongo decrescente postônico) ou ['::>Ieos] (quando temos uma seqüência de vogais
e "olhos". Temos pelo menos as seguintes alternativas para representar a seqüência de postônicas). A pronúncia que apresenta uma seqüência de vogais ['::>Ieosl"- seria uma
I'
.1
lateral+glide+vogal+ s nas palavras "óleos" e "olhos": ['::>I;us] e [I::>VUS]. Em [1::>I;us], eVIdência adicional para a proposta de assumirmos um segmento vocálico para trans-
assumimos que o glide é parte de um ditongo. Em ['::>Iius], assumimos que o glide é crever o glide em "óleos". De acordo com esta proposta a palavra "oleos" ['::>I;us] tem II
parte da lateral palatalizada [li]. uma estrutura silábica do tipo vcvvc com cinco elementos (cf. diagrama acima). II
No caso de adotarmos a transcrição ['::>I;us], estamos assumindo que a estrutura Consideremos agora uma forma como "olhada". Similarmente a pronúncia
II
silábica correspondente é (vcvvc) em que o glide é parte das vogais em ditongo. No [OI!JOZU] para "oleoso", a palavra "olhada" também apresenta uma seqüência de glide-
caso de adotarmos a transcrição ['::>Iius], estamos assumindo que a estrutura silábica vogal seguindo a lateral [I]. Contudo, "oleoso" apresenta duas pronúncias possíveis:
correspondente é (VCVC) em que o glide é parte da consoante palatalizada que se encontra [OI!JOZU] (com glide-vogal) e [oJilozu] (com duas vogais). Ao contrário de "oleoso", a
. ·-c-~-----_~~~

Fonética -- Exercícios complementares 3 Fonéti'ca - "Éx;~~r~'i-os '~~~pi~;;;'~ntares ,3 'fÓ9'


palavra "olhada" deve obrigatoriamente apresentar uma pronúncia de glide-vogal 3.1. Problema: como transcrever seqüências de consoantelateral-glide
seguindo a consoante lateral [I]. Ou seja, uma pronúncia como *[oJilada] "olhada" é em posição intervocálica? .
excluída. Note que a palavra "olhada" deve sempre apresentar uma seqüência de glide-
vogal em posição pretônica porque o glide faz parte da consoante lateral - que é Exemplo: "óleos" e "olhos"
palatalizada: [Ij]. Transcrevemos foneticamente a palavra "olhada" como [o'ljad;)] em Proposta: ver proposta nas páginas precedentes.
que o glide corresponde à palatalização da consoante lateral. Na forma "olhada" temos
a raiz "olh" seguida dos sufixos "-ad" e "-a" - (olha + ad + a) -> [o'Vad;)]- e temos a
estrutura silábica VCVCV (com cinco elementos). Deduzimos que a forma "olhos" Transcreva foneticamente aS palavras:
apresenta quatro elementos em sua estrutura silábica: VCVc como em [I:JVUS] (cf. (Grupo 1) (Grupo 2) (Grupo 3)
diagrama acima). cartilha fanulia _ _ _ _ _~ palhaçada _ _--,._ _
Gostaríamos de salientar aqui a natureza distinta entre pronúncia e representação velha _ _ _ _ _ _ camélia _ _ _ _ _ _ telhado _ _ _ _ __
fonética A pronúncia reflete a maneira como algo foi pronunciado e a transcrição julho Júlio bagulhada _ _ _ __
fonética reflete a maneira mais adequada de se registrar aquela pronúncia. Consideremos
novamente as palavras "cela-sela" e "óleos-olhos". Podemos dizer que as palavras "cela'
sela" são homófonas e apresentam transcrições fonéticas idênticas: ['sel;)]. Note Verifique se a parte final das palavras dos grupos I e 2 são homófonas para você.
em ['sei;)] os segmentos consonantais e vocálicos podem ser inferidos a partir dos Ou seja, ilha em "cartilha" e ília em "farmlia" soam de maneira idêntica? Se sua resposta
parâmetros articulatórios envolvidos em sua produção. As palavras "óleos-olhos" são for afirmativa, é bastante provável que você tenha nma lateral palatalizada [V] nas palavras
homófonas e apresentam transcrições fonéticas distintas: [1:JIJus] e [':Jljus]. Note que do grupo 1 (por exemplo "ve[V]a") e que você tenha uma seqüência de lateral-vogal
em [':JIJus] e [':Jljus] os segmentos consonantais e vocálicos podem ser inferidos assilábica de um ditongo para as palavras do grupo 2 (por exemplo "Camé[IJ]a"). Se
considerando-se os parãmetros articulatórios exceto pela seqüência postônica de glide- sua resposta for negativa, é bastante provável que você tenha uma lateral palatal para as
vogal (Gv) que deve ser analisada em termos da estrutura silábica da língua. palavras do grupo I (por exemplo "ve[Á]a") e que você tenha uma seqüência de lateral-
Concluímos então que uma transcrição fonética reflete não apenas os aspectos' vogal assilábica de um ditongo para as palavras do grupo 2 (por exemplo "Camé[ll]a").
fonético-articulatórios de uma seqüência sonora, mas também a interpretação ou As consoantes laterais das palavras do grupo 3 apresentam símbolos idênticos àq~eles
do componente sonoro da língua. Os exercícios complementares apresentados a seguir assumidos para o grupo 1.
têm por objetivo discutir e avaliar aspectos controvertidos de transcrições fonéticas
português. A parte da ciência que busca recursos metodológicos e formais para o estudo 3.2. P.r(~ble~a: como transcrever as seqüências de vogal-glide em po-
da cadeia sonora da fala é a fonêmica ou fonologia. Na próxima parte deste livro slçao final de sílaba em português?
apresentamos os princípios básicos da fonêmica - o modelo fonológico estruturalista-
com ênfase na análise do português brasileiro. Exemplos: IIcauda-calda" e "jirau-mural"
Proposta: Temos por objetivo diferenciar a transcrição fonética das seqüências
de vogal-glide em posição final de sílaba pelos seguintes motivos:

1. Em todos os dialetos do português, um grupo de palavros apresenta0 seqüência


24. Exercícios complementares 3 vogal-glide em final de sílaba pronunciada de maneiro idêntica (cf. '7irau(e "cauda").
Por outro lado, há um grupo de palavros em que as seqüências que. se (flanifestam
Estes exercícios têm por objetivo discutir aspectos controvertidos que se relacionam como vogal-glide em alguns dialetos ocorrem como vogal-consoante/aterol em
à transcrição fonética do português brasileiro. As conclusões dos exercícios - outros dialetos (cf. /ínuror e /caldo/J.
aos símbolos adotados nas transcrições fonéticas - deverão determinar os símbolos 2. Há diferença nas formas plurois de palavros que terminam com uma seqüência
fonéticos que OCOrrem em seu idioleto para as consoantes em questão. de vogal-g/ide: /7irau-jiraus// (e não #íii-ois/j e por outro lado Ilmural-murais ll (e
não u/muraus7

Com o objetivo de expressar esta diferença de comportamento no sistema sonoro


do português assumimos que símbolos diferentes devem ser utilizados para representar
110 Fonética":': Exercícios complementa'res 3

como em :'Laura" - o tipo de "r" que segue o glide é o "rfraC:Q"(ou seja o tepe ou
as seqüências de vogal-glide em final de sílaba. Utilize o símbolo [1,1] para representar
vlbr~te slmpl~~) eternos "Lau[f]a" e não "*LautR]a". Nóte'qúeerrifõrmasem que
o glide nas seqüências de vogal-glide que são consistentes em qualquer dialeto do
o ghde na sequenCla de vogal-glide é geralmente interpretado como um segmento
português (cf. "jirau, cauda"). consona~tal - como em "chilrar" - o tipo de "r" que segue o gUde é o "R" forte e
De acordo com esta proposta, formas como 'jirau, cauda" serão transcritas
temos [Jlw1RaR]. If'
respectivamente como ['ka1,1d~] e [3i1ra1,1]. Em posição final de sílaba e palavra-
Apresentamos a seguir alguns dados que devem ser transcritos foneticamente
como em "jirau" - as formas plurais deste grupo são formadas a partir do acréscimo
de acordo com a proposta dada (utilizamos o símbolo [R] para transcrever o "R"
de um "s": "jiraus". O símbolo [1,1] identifica que o glide corresponde a um segmento
forte. Você ~oderá utilizá-lo ou pode fazer uso do símbolo correspondente ao "R"
vocálico na estrutura silábica. forte em seu ldlOleto). Alguns dos exemplos antes discutidos são ilustrados no quadro
Afirmamos que há seqüências de vogal-glide que são consistentes em qualquer
que ~e segue c~mo referência. Agrupamos os dialetos como aqueleserrique ocorre
dialeto do português em exemplos como "jirau, cauda". Isto quer dizer que todos os
ou nao a vocahzação do [I].
falantes do português terão invariavelmente uma seqüência de vogal-glide nas formas
"jirau, cauda" (e demais palavras do mesmo grupo). Há, contudo, um grupo de palavras
em que o glide na seqüência de vogal-glide pode ser manifestado como uma consoante Palavra Dialetos sem vocalização do I Dialetos com vocalização do I
lateral velarizada dependendo do dialeto: "mura[t], ca[t]da". A lateral pode ser
vocalizadaem posição final de sílaba - "mural, calda". Sugerimos transcrever o glide jirau
nestes casos com O símbolo [w]. De acordo com esta proposta, formas como 'mural, cauda
calda' são transcritas respectivamente como [mu'faw] e [Ikawd~] quando o I em
mural [mu1fat] [mu'faw]
posição final de sílaba é vocalizado. Nos dialetos em que a consoante lateral velarizada
ocorre temos ['katd~] e [mu'fat]. O símbolo [w] identifica que o glide corresponde calda
a um segmento consonantal na estrutura silábica. museu
Note que falantes do português identificam tais formas (cf. "mural, calda") e as
Europa
diferenciam de outros casos em que o glide não é proveniente da vocalização do I (cf.
("jirau, cauda"). Isto se dá a partir da alternância dialetal entre [w]-[t] (em formas Brasil
como "mural, calda"), o que não ocorre em formas do grupo "jirau, cauda". Falantes
Silva
contam também com a formação de plural em cada grupo de palavras. As formas
plurais de palavras que alternam [w]- [t] em posição de final de sílaba e palavra-
como em "mural" - são formadas com O cancelamento do glide (ou da lateral
velarizada) e do acréscimo de "is": "murais". Formas plurais do grupo de palavras 3.3. Problema: como transcrever as seqüências de (oclusiva ve/ar-glide)
"jirau" são formadas apenas pelo acréscimo do [s]: "jiraus". em português?
De acordo com a proposta apresentada acima em seqüências de vogal-glide em
português, há casos em que o glide corresponde a uma vogal (cf. "jirau") e há casos Exemplos: "mágoa" e "míngua"
em que o glide corresponde a uma consoante (cf. "mural"). Para fundamentar tal Proposta: A transcrição de (oclusiva velar-glide) em posição postônica (em ,formas
proposta apresentamos um argumento que demonstra o comportamento dos glides co mo "magoa,
, ,
mingua ") deverá ser deduzida a partir de formas deriv"dqsem que
em seqüências de vogal-glide como segmentos vocálicos ou consonantais o comportamento do glide (ou vogal) que segue a oclusiva velar deveser,observado
português. Tal argumento baseia-se na distribuição do "r" em português. Temos o "r em posição pretônica. Consideremos as formas "magoado" e "ming,uado", Em
fraco" que se manifesta como tepe ou vibrante simples - em "careta" por exemplo- "magoado", a oclusiva velar pode ser seguida de glide ou de vogal quando o "o"
e o "r forte" que apresenta inúmeras variantes dialetais e transcreveremos aqui como ortogr~fico se manif:sta como u. Temos então pronúncias da palavra "magoado"
com tres ou quatro s!labas: (ma.gua.do) ou (ma.gu.a.do). Na palavra "minguado"
[R]- e ocorre em "carreta" por exemplo. Estes dois tipos de "r" ocorrem em posição
apenas o glide pode seguir a oclusiva velar e temos sempre três sílabas: (min.gua.do)
intervocálica - "careta-carreta". Contudo somente o "R" forte ("carreta") ocorre
- mas_nunca '(min.gu.a.do). Propomos que as seqüências de oclusiva velar-glide
seguindo consoantes heterossilábicas. Ou seja, o tipo de "r" que segue uma consoante q~e nao permitem a alternância do glide com a vogal - como em "minguado" -
em sílaba distinta é sempre o "R" forte: "Israel" e "desrespeito". Em formas em que selam transcritas como consoantes complexas [kW,gw] que representam uma lIoclusiva
o glide na seqüência de vogal-glide é interpretado como um segmento vocálico
velar labializada" (note que a labialização da oclusiva não depende da vogal seguinte registrar. Tais formas refletem o registro lexical que oJalantetemdapalavraem questão
ser uma vogallabializada: "quadro, seqüela, lingüiça", etc.). A forma "minguado" (cf. a discussão referente aos registros léxicos apreséntada na lÍ1trôdll~ãb), Transcreva
será transcrita então como [mi'gWadu]. Casos em que a seqüência de oclusiva os dados que se seguem de acordo com a proposta apresentada. .
vefar-gfide permite a altern6ncia do glide com uma vogal (como em "magoado")
temos um segmento oclusivo seguido do segmento vocálico [V) (ou da vogal [ui
!Transcreva foneticamente ~~-pal~~;';;--~~·_·-
quando o glide não ocorre). A pronúncia da forma "magoado" com três ou quatro .
I: magoa cueca quase , - - - - - - -
sílabas é explicada: [ma1gvadul - [magu1adul· Note que nossa proposta explica
também que a pronúncia de "minguado" com quatro sílabas - '(min.gu.a.do) - I magoado seqüela aquarela _ _ _ _ __
não ocorre porque neste caso o glide corresponde a parte de um segmento mingua quadrado lingüiça
consonantal (e portanto não pode alternar com um segmento vocálico pois isto minguado tranqüilo Guarapari _ _ _ __ I
l.. ............._.. . . ................1
implicaria em mudança de categoria do segmento).

De acordo com esta proposta, uma forma como "cueca" será transcrita 3.4_ Problema: como transcrever glides palatais intervocálicos? (Note
foneticamente como "[kue]ca" quando a oclusiva velar é seguida de glide, e será que geralmente o glide intervocálico é palatal. O glide posterior
transcrita como "[kue ]ca" quando a oclusiva velar é seguida de uma seqüência de vogais. ocorre em posição intervocálica em algumas poucas formas de
Por outro lado, uma forma como "seqüela" será transcrita como "se[kWe]Ia" (note que origem nas línguas africanas ou indígenas como por exemplo:
a ocorrência de uma vogal substituindo Oglide pretônico é impossível: "*se[kue]la"). "Cauê, Ananindéua, Piauí").
Podemos então deduzir a interpretação do glide quando uma seqüência de oclusiva
velar-glide ocorre em posição pretônica. Ou o glide é parte de uma consoante complexa Exemplos: "saia, goiaba, apoio"
_ como em "seqüela" - ou o glide corresponde à um seg~ento voc~ic~ - como ~m Proposta: Assumimos que glides intervocálicos correspondem a segmentos vocálicos
"cueca". Quando o glide é parte da consoante complexa, nao há alternancla entre ghde e serão transcritos por ~I. O glide intervocálico pode ser ligado à vogal precedente
e vogal em posição pretônica: "se[kWe ]Ia" - mas nunca "*se[kue ]Ia". Já n~s casos em ou à vogal seguinte. Podemos ter uma seqüência de vogof-gfide expressa nas
que o glide é interpretado como um segmento vocálico, o glide pode opcIOnalmente seguintes divisões de sílabas: (sai.a), (goi.a.ba), (a.poi.o). Ou podemos ter uma
alternar com uma vogal em posição pretônica: "[kue ]ca - [k\{e]ca". seqüência de gfide-vogaf expressa nas seguintes divisões de sílabas: (sa.ia),
Acabamos de observar que nos casos em que o glide é interpretado como uma (go.ia.ba), (a.po.io) ..
vogal há alternância entre glide-vogal em posição pretônica: "[kue]ca - [k\{e]ca".
Contudo, em posição postônica a dedução quanto à interpretação do glide às vezes não Evidência para assumirmos que glides intervocálicos correspondem a segmentos
é possível. Isto é porque podemos não encontrar formas derivadas que demonstrem o vocálicos é proveniente da distribuição do acento primário em português que pode ser
comportamento do glide em posicão pretônica. Queremos dizer com isto que ao final, penúltimo ou antepenúltimo (cf. "sabiá, sabia, sábia"). Em outras palavras, o
considerarmos formas como "magoado" e "minguado" inferimos a representação acento primário pode cair na primeira, segunda ou terceira vogal a partir do final da
fonética de "mágoa" [Imag\{;)] e "míngua" [lnUgW;)] quando o glide ocorre em pos!çãO palavra (o acento na quarta vogal -*fárnilia - não reflete o padrão acentual recorrente
poslÔnica. Em "mágoa" [Imag\{;)], o glide é interpretado como um segmento vocahco do português). Quando consideramos formas com glides intervocálicos().bs~~amos
(de maneira análoga a "magoado"). Em "míngua" [lnUgW;)], o glide é interpretado como que o acento primário não pode ser antepenúltimo: *"góiaba" e *"ápoio"n~osãóformas
parte da consoante complexa (de maneira análoga a "minguado"). possíveis em português. Esta restrição deve-se ao fato do glide interygçálico ser
Note contudo que ao transcrevermos uma forma como "anágua" - que não apresenta lllterpretado como um segmento vocálico que, como tal, é levado em cOlÍsldefação em
formas derivadas - podemos teoricamente propor as transcrições "aná[gW]a" ou termos acentuais. Formas como *"góiaba" e *"ápoio" são excluídas porque o acento
"aná[gu]a". Não temos como definir qual seria a transcrição fonética mais adequada. primário cairia na quarta vogal a partir do final da palavra o que não corresponde ao
Finalm~nte, vale ressaltar que certas formas podem ser pronunciadas com uma seqüência padrão acentual recorrente do português. Transcrevemos os glides intervocálicos com
de oclusiva velar-glide ou apenas com uma oclusiva velar: "quatorze, quota, o símbolo Dl
liquidificador". Isto significa que pronúncias como "[kW]atorze" ou "[k]atorze", "[kW]ota" Para finalizar a discussão sobre os glides intervocálicos, gostaríamos de lembrar
ou "[k]ota" e "li[kW]idificador" ou "li[k]idificador" são possíveis. Nestes casos ao leitor que algumas palavras que apresentam consoantes laterais palatais ou
transcrevemos as formas com ou sem o glide de acordo com a pronúncia que desejamos palatalizadas em posição intervocálica - como em "te[Á]a" ou "te[lj]a" - podem
alternativamente apresentar um glide palatal em posição intervocálica dependendo de //Os órgãos que utilizamos na produção da fa/q não /§m como função primária a
variação dialetal (ou mesmo idioletal). Nestes casos adotamos o símbolo [y] - como ~rf~"cu/ação_ de sons. No verdade! não existe nenhuma parie dc} êorpó:'húrrwno cujo
em ['teya] "telha" - para representar o glide intervocálico que corresponde à consoante umca funçao esteio apenas relacionada com o falo. As partes do corpo humano que
lateral. Esta proposta considera que o glide intervocálico em ''te[y]a'' comporta-se como utilizamos na produção do falo têm como função primário outras atividades diferentes
um segmento consonantal. Note que em "teia" [Itela], o glide intervocálico comporta- do fala comO por exemplo" mastigar; engolir; respirar ou cheirar. Entretanto" JíK1(O
I

se como um segmento vocálico. Nossa proposta é que em "teia" - e formas semelhantes produzirmos qualquer som de qualquer língua fazemos uso de uma parte específica
do corpo humano que denominaremos de aparelho fanador. "'(Texto extraído da parte de
_ o glide palatal intervocálico seja transcrito com o símbolo Ul associado à vogal fonética)
precedente ou seguinte.

Transcreva foneticamente os dados de acordo com a proposta apresentada


teia cuia Cauê _______ .......................................................................................................................................................
maia boiada Piauí _ _ _ _ _ __
apoio areial Ananindéua _____
saiote feioso Cuiabá _______ .......................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................
A forma "Cuiabá" pode ser pronunciada como [kyialba] ou [kU]alba]. Justifique .......................................................................................................................................................
estas pronúncias quanto ao comportamento da primeira sílaba que pode ocorrer como· .
uma seqüência de yogal-glide - como em [kulalba] - ou pode ocorrer como uma .......................................................................................................................................................
seqüência de glide-yogal - como em [kyialba]. Dica: note que os dois segmentos
.......................................................................................................................................................
vocálicos da primeira sílaba são aqueles que podem potencialmente ser manifestados
como glides em português. ................................................. ......................................................................................................
Apresentamos a seguir um exercício que deve ser feito com um colega. Tal exer- ..
cício tem por objetivo avaliar o seu desempenho em termos prático e teórico dos tópi- ..............................................................................................................................................
cos discutidos nas páginas precedentes. .. ............................. ........................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

25. Exercício final ......................................................................................................................................................

................. .......................................................................................................................................
1. Transcreva foneticamente o texto abaixo. A transcrição fonética deve
entre colchetes (um colchete inicial e um colchete final para o texto todo). As pal:1VrlIS. ............... .. ......................................................................................................................................
devem ser tnrnscritas individualmente com um espaço entre cada uma delas. A reallizaçãid
de alguns segmentos em final de palavra pode ser afetada por segmentos da
seguinte: "fazemo[s]" mas "fazemo[zu]so". Mesmo nestes casos as palavras devem 2. Compare a sua transcrição à de um colega e liste pelo menos três aspectos em
transcritas individualmente como em: [.. .falzemuz 'UZU ... ]. Marque as vírgulas que vocês apresentam registros diferentes. Dê exemplos e tente justificar a natureza dos
uma barra transversal (!) e os pontos finais com duas barras transversais (j/). Note diferentes registros. Tome o exemplo dado como referência. Entre os aspectos que mais
este recurso tem como objetivo apenas marcar as referências de um texto escrito. recorrentemente marcam a variação dialetal (OU idioletal) temos a distribuição das vogais
caracterizarmos o ritmo e entoação da fala devemos utilizar outros recursos quanto ao acento primário (pretônicas e postônicas); manifestação de vogais altas e
[cf. por exemplo Cagliari (1981); Massini-Cagliari (1992); Reis (1995)]. ghdes em posição pretônica e postônica; manifestação do "R" forte; manifestação do s
em final de sílaba; nasalidade; vocalização do I; manifestação da lateral palatal Ih;
mamfestação da nasal palatal nh.
Diferença de registro Exemplos do texto acima Justificativa
Fonêmica
Palatalização ou não das u[ti]lizamos ou u[tSi]lizamos A palatalização ocorre
oclusivas t/d quando t/d são seguidos
ar[ti]culação ou ar[tSi]culação
das vogais orais [i] e [I]
verda[dI] ou verda[d3I]
(cf. "atividade"). Pode
a[ti]vida[dI] ou a[tSi]vida[d3I] também ocorrer quando a 1, Introdução
[di]feren[tI] ou [d3i]feren[tSI] vogal [i] segue t/d ("tinta,
mas[sti]gar ou mas[JtSi]gar dinda"). A organização da cadeia sonora da fala é orientada por certos princípios. Tais
princípios agrupam segmentos consonantais e vocálicos em cadeia e determinam a or-
ganização das seqüências sonoras possíveis de uma determinada língua. Falantes pos-
suem intuição quanto às seqüências sonoras pennitidas e excluídas em sua língua. Con-
sideremos um exemplo concreto do português. Mesmo sem sabennos o significado de
uma palavra como "sali" sabemos que a cadeia de segmentos é possível de ocorrer em
uma palavra do português. Portanto, falantes do português interpretam "sair' como
sendo uma palavra possível do português. Por convenções ortográficas inferimos que
tal palavra é oxítona e a pronunciamos [sa'li]. Entretanto, uma palavra como "spali"
não tem a mesma interpretação - uma vez que falantes sabem que a seqüência "sp" não
ocorre em início de palavra em português. Certamente a palavra "spali" é interpretada
como uma palavra estrangeira para falantes do português. Claro que se lançarmos um
sabonete no mercado com o nome de "spali" os falantes do português serão capazes de
pronunciar este nome: "spali". Contudo, os falantes farão as devidas alterações na se-
qüência sonora para que esta palavra adeque-se aos princípios de organização da cadeia
sonora do português. Assim; um "i" será inserido antes do "s" inicial porque a lírigua
portuguesa não permite "s" seguido de outra consoante em início de palavra. As pro-
núncias possíveis para "spali" são [ispa'li] ou [is'pali] dependendo da interpretação que
o falante dê ao acento tônico.
Portanto, os segmentos consonantais e vocálicos organizam-se em estruturas silá-
bicas fonnando palavras possíveis em uma determinada língua. Línguas variam quanto
aos seus inventários fonéticos (ou seja, quanto aos sons que ocorrem naquela língua) e
quanto à organização da estrutura silábica (ou seja, seqüências sonoras possíveis em
uma língua podem ser excluídas em outra).
Outro aspecto importante na organização da cadeia sonora da fala éa maneira
como segmentos consonantais e vocálicos afetam segmentos adjacentes (que os pre-
Na parte que se segue tratamos dos princípios básicos da análise fonêmica - o cedem ou que os seguem). Sendo a fala um contínuo, observamos que um segmento
modelo estruturalista da fonologia. Pretendemos que o instrumental da fonêmica forne- pode ser alterado por um segmento que o precede ou que o segue. A alteração de um
ça ao leitor uma compreensão ampla da organização da cadeia sonora do português segmento a partir de segmentos adjacentes se dá pelo fato de os segmentos em ques-
tão compartilharem de certas propriedades fonéticas. Um exemplo do português é a
brasileiro.
palatalização de consoantes velares - [k,g] - quando estas são seguidas da vogal i:
"quilo" e "guia". A propriedade de ser anterior da vogal i é compartilhada pela con-
soante precedente [k,g].
I·" 1:8"'Fonêmica A Foriê"i'niCó

A análise fonêmica a ser apresentada nas próximas páginas tem por objetivo A relação entre uma representação fonética - entre colchetes - e uma representa-
analisar a organização da cadeia sonora da fala do português a partir de pressupostos ção fonêmica - entre barras transversais - não será' necessariamente idêntica como o
teóricos de tendência estruturalista. O termo fonologia passa a ser utilizado por mo- exemplo da palavra "babá": [ba'ba] e /ba'ba/. Podemos ter, por exemplo, a representa-
delos pós"estruturalistas que analisam a organização da cadeia sonora da fala - ou ção fonética [pi'toh] "pintor" que relaciona-se com a representação fonêmica/piN'toR/.
componente fonológico. Portanto, ambos os termos fonêmica e fonologia referem-se Observe que no exemplo da palavra "pintor" a representação fonética - [pi'toh]i'!.c é
a modelos que tratam do estudo da cadeia sonora da fala. Na parte final deste livro diferente da representação fonêmica - /piN'toR/. Para que possamos compreender me-
discutimos modelos pós-estruturalistas. O mérito de apresentarmos e discutirmos aqui lhor os níveis de representação fonética e fonêmica passemos então à apresentação das
as bases metodológicas e teóricas da análise fonêmica deve-se ao fato de tal modelo quatro premissas básicas postuladas pelo modelo.
constituir a tentativa inicial de formalização da cadeia sonora da fala cuja terminolo-
gia e premissas são presentes (mesmo que de modo subjacente!) em modelos
fonológicos subseqüentes.

3_ As premissas da fonêmica
Apresentamos nesta seção as quatro premissas básicas da fonêmica. Premissas
2. A fonêmica secundárias - denominadas subpremissas - são discutidas em detalhes em Pike (1947).
Fica aqui um convite para a leitura do livroPhonemics: a techinique to reduce languages
Um dos objetivos centrais dafonêmica é fornecer aos seus usuários o instrumen- to writing para que o leitor obtenha uma visão detalhada do modelo fonêmico e das
tal para a conversão da linguagem oral em código escrito. Observe o título do livro conseqüências desta proposta de análise quando aplicada às línguas naturais.
Fonêmica: uma técnica para se reduzir línguas à escrita (Phonemics: a technique to
reduce languages to writing) de Pike (1947). Kenneth Pike é membro do Summer Institute 3.1. Premissa 1
ofLinguistics (SIL) cuja base financeira é proveniente da Wycliffe Bible Translators. O
SIL é uma organização que treina missionários para atuarem principalmente na África e Os sons tendem a ser lrlOdificados pelo ambiente em que se encontram.
nas Américas com o objetivo de aprender línguas nativas e convertê-las a um código
escrito. O objetivo final de converter a linguagem oral ao código escrito é a tradução da Interpretando-se a falà como um contínuo, observamos que os sons sofrem altera-
bíblia com propósitos religiosos. ções dependendo do ambiente em que se encontram. Ambiente ou contexto é o"que
Missionários desta organização atuam no Brasil desde 1959 e hoje possuem uma precede ou segue um determinado segmento consonantal ou vocálico. Os ambientes ou
ampla sede em Brasília (DF). A atuação lingüística, educacional, religiosa e política do. contextos que mais freqüentemente causam alteraçãà na cadeia sonora são:
SIL no Brasil é discutida criticamente em Leite (1981).
Apresentamos a seguir uma explanação teórica do modelo de análise fonêmica. (1) Ambientes ou contextos propícios à modificação de segmentos
Adotamos os pressupostos metodológicos e teóricos propostos por Pike (1947). Aspec- a. sons vizinhos (precedentes ou seguintes)
tos da análise do português seguem a proposta de Mattoso Câmara (1972). O texto é b. fronteiras de sílabas, morfemas, palavras e sentenças
organizado em seções teóricas seguidas de exercícios. Espera-se que o leitor faça os c. a posição do som em relação ao acento
exercícios antes de dar continuidade à leitura do texto. Ênfase é dada à análise fonêmica
do português brasileiro. Alguns símbolos são formalmente utilizados para caracterizar os CQntextos mais
Neste modelo assume-se que as estruturas das línguas são uniformes e portanto os freqüentes, conforme ilustrado no quadro a seguir. Observe que na caracterização dos
procedimentos metodológicos adotados serão adequados à análise de qualquer língua. contextos listados no quadro o espaço sublinhado (por exemplo entre as vogais em
Aceitam-se portanto algumas premissas que se relacionam às características universais V_V) indica o local em que se encontra o segmento cujo contexto desejamos descre-
das línguas. O material lingüístico a ser trabalhado em uma análise fonêmica será aque- ver. Portanto, se desejamos fazer referência ao [r] intervocálico podemos escrever: [r]
le corpus transcrito foneticamente entre colchetes: [ba'ba] "babá". Após adotarmos os OCorre V_V (ou seja, [r] ocorre entre vogais).
procedimentos de análise a serem apresentados nas próximas páginas, teremos uma
representação fonêmica que será transcrita entre barras transversais: /ba'ba/ "babá".
O mesmo processo de assimilação de vozeamento discutido parlt.assibilantes
ocorre também com o "R forte" em posição final de sílaba em alguns dialetos. Verifi-
v v representa o contexto intervocálico (entre vogais) que o que ocorre em seu idioleto considerando as palavras: "arpa, urbano porta, gorda,
circo, argola, garfo, árvore".
# representa o início de palavra; Finalizando a discussão da primeira premissa - que estabelece que os sons teud~
# representa o final de palavra a ser modificados pelo ambiente em que se encontram - discutiremos alguns aspectos
relacionados à nasalidade no português brasileiro. A nasalidade uo português brasileiro
__ + _ representa um limite de morfema
relaciona-se ao fato de uma vogal ser nasalizada quando seguida de consoante nasal. Há
__ $ _ representa um limite de sílaba. contudo, grande variação quanto à nasalidade no português brasileiro dependendo do
dialeto em questão [cf. Vandressen (1975), Shaw (1986), Bisol (1998)]. EIll'lários dia"
letos da região Sudeste, uma vogal tônica é obrigatoriamente nasalizadaquando segui-
Consideremos a seguir as modificações que ocorrem com as sibilantes [s,z.s,3] da de consoante nasal - "c[ã]ma". Contudo, se a vogal seguida de consoante nasal
em português quando em posição final de sílaba. Pretendemos investigar de que manei- ocorre em posição pretônica a nasalidade é opcional: "c[a]mareira" ou "c[ã]mareira".
ra uma consoante vozeada ou desvozeada interfere na realização fonética da sibilante Já em certos dialetos do estado de São Paulo, nenhuma vogal seguida de consoante
em posição final de sílaba. Faça o exercício seguinte: nasal é nasalizada: "c[a]ma" e "c[a]mareira". Em vários dialetos do Nordeste do Brasil
toda vogal (tônica ou pretônica) seguida de consoante nasal é obrigatoriamente nasalizada:
-----------Exercício 1----------- "c[ã]ma" e "c[ã]mareira". Quando a consoante nasal é palatal (ou o glide nasal corres-
pondente) as vogais tônicas e pretônicas são geralmente nasalizadas na grande maioria
Transcreva foneticamente os dados abaixo observando o vozeamento das con- dos dialetos do português brasileiro: "b[ã]nho" e "b[ã]nheiro". Os dados a serem discu-
soantes adjacentes em limite de sílaba. tidos a seguir são do português de Belo Horizonte [Cristófaro Silva (1994)].
a. cuspe b. esbarro
c. festa d. desdém
e. casca f. vesga (2) Nasalidade
g. esforço h. desvio a.cama ['kãm~] *['kam~] d.camareira [kãmãlre1f~] - [kamalre~r~]
b.sono [Isõnu] *['s:lnU] e.soneira [sõlnelr~] - [solne~r~].
c.cana ['kãn~] *[Ikan~] f. canavial [kãnavi1aw] - [kanavi1aw]
Você deve ter observado que os segmentos desvozeados [p,t,k,fl são precedidos
de segmentos desvozeados na sílaba precedente (que pode ser uma das sibilantes [s,m.
Por outro lado, os segmentos vozeados [b,d,g,v] são precedidos de segmentos vozeados Os dados em (2) mostram que uma vogal tônica deve ser obrigatoriamente
(que pode ser uma das sibilantes [Z,3D. nasalizada quando seguida de consoante nasal (cf. 2a-c). Quando a vogal seguida de
OS exemplos do exercício 1 ilustram que a propriedade de vozeamento de uma consoante nasal ocorre em posição pretônica (cf. 2d-f) a nasalidade é opcional. Portan-
sibiliante fricativa em posição final de sílaba é decorrente da propriedade de vozeamento to, os exemplos em (2) mostram que a nasalidade de uma vogal seguida por consoante
da consoante que a segue na sílaba seguinte. Em outras palavras, em posição final de nasal ocorre obrigatoriamente em posição tônica e, opcionalmente em po~jç~9IlFetônica.
sílaba as sibilantes são desvozeadas - [s] ou [J] - quando seguidas de consoantes Note que não apenas a presença da consoante nasal, mas também a posiç~,9lt,'1ogal em
desvozeadas e as sibilantes são vozeadas - [z] ou [3]- quando seguidas de consoantes relação ao acento tônico influencia a modificação da vogal- que passaa;S~~lh~alizada.
vozeadas. A nasalidade de vogais seguidas de consoantes nasais ilustrada nos exemplos em (2)
O processo discutido acima ilustra um caso de assimilação. Em casos de assimi- reflete um outro caso de assimilação, em que uma vogal assimila a nasalidade da con-
lação, uma propriedade articulatória própria de um segmento é compartilhada por ou- Soante seguinte dependendo da posição do acento tônico da palavra.
tro segmento adjacente. No caso das sibilantes, o segmento consonantal que ocorre no Os processos de alteração segmental discutidos - vozeamento e nasalidade - ocor-
início da sílaba e a sibilante que o precede compartilham da mesma propriedade de rem por assimilação ou ajuste fonético. Estes processos refletem a premissa 1, a qual
vozeamento. Dizemos que a sibilante assimila o vozeamento da consoante que a segue. estabelece que "os sons tendem a ser modificados pelo ambiente em que se encon-
tram". Passemos então à segunda premissa do modelo fonêmico.
, ......... -,,,O,,O,," ... U ; .... _p.O .................... , .. "u, (U

3.2. Premissa 2 3.3. Premissa 3

Os sistemas sonoros tendem a ser foneticamente simétricos. Os sons tendem ajlutuar.

Assume-se que os sistemas sonoros tendem a ser simétricos. Por simetria espera- Para ilustrar a premissa número três discutimos aspectos relacionados à artie'úla-
se que para cada som de uma língua seja encontrado um outro som correspondente. ção das consoantes oclusivas vozeadas e desvozeadas na língua krenak (falada emMG:
Assim, se encontramos um segmento "oclusivo bilabial desvozeado" [p] esperamos nação Krenak) e os comparamos ao português. Salientamos que as categorias vozeado/
encontrar o seu correspondente vozeado [b]. No caso de vogais devemos, p~rtanto, desvozeado são rótulos que abrigam inúmeros graus em termos fonéticos. A discussão
buscar sons correspondentes que sejam anterior/posterior e arredondado/~ao~arre­ que se segue considera o parâmetro de vozeamento/desvozeamento em termosfonêmicos.
dondado. Contudo, a simetria não é obrigatória, mas reflete apenas uma tendencla das Esta observação deve ficar mais clara a seguir. Pretendemos demonstrar que em krenak
línguas naturais. A fonêmica prevê que uma solução final em relação à simetria de um o vozeamento de oclusivas é previsível por contexto. Assim, segmentos oclusivos em
sistema deve ser obtida a partir de uma análise global da língua, sendo que todos os krenak podem variar a pronúncia entre vozeados/desvozeados sem causar prejuízo para
sons da língua e seus respectivos contextos de ocorrência sejam levado~ em consIdera- a compreensão da língua [dados de Cristófaro Silva (1986)]. Já em português, o
ção. Ilustramos a questão da simetria com a discussão dos sistemas vocahcos do portu- vozeamento deve ser marcado em categorias distintas: vozeado e desvozeado. Vejamos
guês, japonês e bardi que são apresentados abaixo. alguns exemplos para clarear esta discussão.
u Em krenak temos os segmentos oclusivos desvozeados [p,t,k] e os segmentos
u W
o OclUSIVOS vozeados [b,d,g]. Os segmentos oclusivos desvozeados [p,t,k] ocorrem em
e o & o
a início de palavra (como em [p:Jk] "fechar", [t:Jn] "feio" e [krOt] "mamão"); ocorrem
& o a
a em final de palavra (como em [W;)p] "chorar", [knrit] "folha" e [krak] "faca", e ocor-
bardi rem entre vogais (como em [kuparak] "onça", [Xataran] "arara" e [Xakukan] "coru-
português japonês
ja"). Os segmentos oclusivos vozeados [b,d,g] ocorrem sempre precedidos de consoan-
o sistema vocálico do português é bastante simétrico, apresentando sete vogais. te nasal homorgânica (como em [mb:Jk] "peixe", [nd;)l)] "torto" e [l)gr:Jt] "grosso").
Observe que para cada vogal anterior - [i,e,e]- há uma vogal posterior corresp~ndente Observe que o vozeamento de oclusivas em krenak é previsível pelo contexto: os seg-
_ [u,o,:J]. As vogais anteriores são não-arredondadas e as vogaIS posteno~es sa? arre- mentos oclusivos vozeados [b,d,g] ocorrem precedidos de consoante nasal homorgânica
dondadas refletindo a tendência dos sistemas vocálicos das línguas naturaIs. O sIstema e os segmentos oclusivos desvozeados [p,t,k] ocorrem nos demais contextos.
vocálico do japonês possui cinco vogais. Para cada vogal anterior - [i:e] - ~á u~a O que é interessante é que falantes de krenak podem variar o grau de vozeamento
vogal posterior correspondente - [W ,:J]. Contudo, ambas as vogais altas [I,W] sao nao- das oclusivas sem prejuízo para o sistema sonoro da língua. Queremos dizer Com isto
arredondadas. Seguindo a tendência das línguas naturais, se esperaria que a vogal alta que mdependente do grau de vozeamento utilizado na pronúncia de uma oclusiva _
posterior fosse arredondada: [uI e não [w]. Tal sistema é portanto semi-simétrico. Isto se vozeado ou desvozeado - o falante de krenak identifica o segmento como vozeado
porque há uma vogal correspondente para cada vogal em termos de g:au de altura: ou desvozeado em termos fonêmicos, ou seja, em termos do comportamento destes
[i,W] e [e,:J]. A assimetria se dá quanto ao grau de arredondamento dos lablOs: . segme~tos na estrutura da língua. Para ilustrarmos este fato tomemos como exemplo
se que vogais anteriores sejam não-arredondadas e vogais posteriores sej~ a pronuncIa de uma palavra como [nd;)l)] "torto" que pode variar de uma forma em
das, o que não é o caso em japonês. Finalmente, temos o sIstema vocáhco do que a oclusiva seja completamente vozeada - [nd;)I)]- ou o vozeamento. da oclusiva
[língua da farm1ia Nyulnyulan/ Austrália (fonte de Maddieson (1984)] que pode ser parcial- [n9;)1)]- ou o vozeamento pode não ocorrer durante a produção da
apresentando quatro vogais. A assimetria do sistema vocálico do bardi é,decorrente da oclUSIva -[nt;)I)]. O mesmo pode ocorrer com uma forma como "feio" [t:Jn] em que
falta de uma vogal média anterior [e] que viesse a ser correspondente a vogal uma oclusIva desvozeada ocorre no início da palavra. Nesta forma a oclusiva pode
posterior [:J]. .. . alternativamente ocorrer com vozeamento parcial- [9:Jn]- ou pode ocorrer comple-
A discussão dos três sistemas vocálicos acima tem por objeuvo !lustrar a tendêrl-' tamente vozeada- [d:Jn].
cia à simetria observada em sistemas fonéticos. Contudo, sistemas assimétricos Note que flutuação de vozeamento não é fonemicamente relevante em krenak
rem nas línguas naturais - como em bardi por exemplo. Os sistemas _vo~álicOS (embora foneticamente os diferentes graus de vozeamento sejam relevantes). Na verda-
consonantais do português são ambos bastante simétricos. Passemos entao a de, Ovozeamento de oclusivas em krenak é previsível- vozeadas quando precedidas
premissa do modelo fonêmico. por consoantes nasais e desvozeadas nos demais contextos. Portanto, independente da
produção fonética das oclusivas permitir a flutuação do vozeamento, a interpretação A primeira questão que se coloca aos dados aapresentadosé guaiJ,t?àinterpreta-
fonêmica é inferível por falantes de krenak. ção fonêmica da forma (4e): [ia] "lua". O segmento inicial [i] deve ser interpretado
Veja que em português o vozeamento é fonemicamente relevante. Temos [t] em como vogal ou consoante? Foneticamente não há dúvidas de que o segmento [i] é uma
"tato" e [d] em "dado", que não podem ser confundidos em termos de vozeamento. O
segmento [t] é desvozeado e o segmento [d] é vozeado. Isto implica que o vozeament~
vogal, uma vez que este é um segmento produzido sem obstrução na parte central do
...
trato vocal (cf. "Fonética"). A questão que se coloca aqui é quanto ao comportamento
é distintivo em português (cf. "tato" e "dado"). Já na língua krenak, o voz~a~e~to e fonêmico deste segmento em relação ao sistema sonoro da língua. O segmento [i] pode
previsível por contexto, portanto não tem caráter distintivo. Uma vez ~ue a d~s.unçao de ser fonemicamente interpretado como vogal ou consoante. Tendo mais de uma inter-
vozeamento é fonemicamente relevante em português, os falantes tem faCilidade em pretação possível, o segmento [i] passa então a ser um segmento suspeito. Vogal ou
agrupar segmentos vozeados e desvozeados em línguas em que o vozeamento nao - é
consoante? Sua interpretação na língua é dada pelo comportamento do sistema sonoro
distintivo, como em krenak. Em outras palavras, falantes do português são capazes de como um todo. Mais especificamente a interpretação fonêmica do segmento [i] faz-se a
identificar os segmentos oclusivos vozeados e desvozeados em uma palavra do krenak partir da análise da estrutura silábica da língua hipotética cujos dados são apresentados
como "feio" [t:ln]- [d:ln] (pode haver dificuldade na interpretação de segmentos par- na premissa 4. Em tal língua não se observa a ocorrência de segmentos vocálicos em
cialmente vozeados em krenak como na pronúncia - [çbnJ). . início de sílaba. Todas as sílabas são constituídas de seqüências de consoante-vogal
Enquanto na articulação de consoantes oclusivas, falantes de krenak vanam o (chamadas línguas cV). Portanto, para a língua hipotética ilustrada nesta última pre-
grau de vozeamento de um modo mais vozeado até a ausência de vozeament~, os falan- missa a interpretação fonêmica do segmento [i] deve ser assumida como uma consoan-
tes do português separam as oclusivas vozeadas e desvozeadas em grupos dlsuntos em te (e não como vogal pois esta língua não permite vogal sem uma consoante que a
palavras do krenak. Por outro lado, falantes de krenak mterpretam palavras do portu- preceda). Temos então que a forma fonética [ia] "lua" é transcritafonemicamente como
guês como "tato" e "dado" como sendo homófonas. Iya!. O símbolo Iyl indica que o segmento [i] é fonemicamente interpretado como uma
Uma conseqüência da terceira premissa é que, em português, devemos empregar consoante. Note que a interpretação de [i] como consoante (e não como vogal) segue o
símbolos distintos no sistema escrito para caracterizarmos [t,d] que ocorrem foneuca- padrão silábico recorrente na língua (que é a sílava cV).
mente. Isto porque o vozeamento é fonemicamente relevante em portugues '(f"tt"e
~. a o Uma outra questão abordada em relação aos dados ilustrados nesta premisa refe-
"dado"). Por outro lado, em krenak será adequado apenas o emprego de um slmbolo no re-se à interpretação de seqüências suspeitas de segmentos: como interpretar a seqüên-
sistema escrito para caracterizarmos os segmentos que foneticamente ocorrem como cia consonantal [ts] no exemplo [tsa] "dez" ilustrado em (4f)? Na verdade, temos uma
- 'c
[t,dl (e suas variantes semi-vozeadas), uma vez que o vozeamento nao_e ,~n~mlc~
ente
seqüência de dois segmentos (t e s) ou os dois segmentos devem ser analisados como
relevante em krenak ( [t:ln] - [d:ln] - [d:ln] "feio"). Passemos entao a dlscussao da uma unidade (tS)? Novamente aqui, após uma análise detalhada da língua como' um
última premissa do modelo fonê~ico a ser considerada aqui. todo, temos indícios de que a seqüência de segmentos t e S deve ser interpretada como
uma unidade que será transcrita fonemicamente como um segmento africado alveolar ItSI
3.4. Premissa 4 o qual conta como uma unidade consonantal. Esta proposta interpretativa pauta-se no
fato de que a língua não apresenta encontros consonantais, ou seja, todas as sílabas
Seqüências características de sons exercem pressão estrutural na i~terpretação nesta língua são formadas por seqüências de consoante-vogal. Assumindo a unidade
fonêmica de segmentos suspeitos ou seqüências de segmentos suspeItos. segmental/tSI temos fonemicamente uma sílaba cv na palavra [tsa] -> Itsa! "dez".
Note que a sílaba cv segue o padrão recorrente da língua.
A noção de segmentos suspeitos ou seqüências de segmentos suspeitos decorre As premissas listadas oferecem parte do instrumental necessário,.pa.ra·prosse-
das possíveis interpretações silábicas que podem ser dadas a um segmento ou a uma guirmos à análise fonêmica. Nas próximas páginas discutimos alguns conceitos bási-
seqüência de segmentos. Entende-se por interpretação silábica a análise de um seg~~n­ cos adotados pela teoria fonêmica para que possamos partir, então, para a análise do
to como consonantal ou vocálico em relação à estrutura silábica ou estrutura fonotatlca português.
da língua. Pike (1947) ilustra o aspecto prático desta premissa com o exemplo abaiXO
(língua hipotética):

(3) a. [ma] "gato" d. [sal "folha"


b. [bo] "correr" e. [ia] "lua"
c. [sul "céu" f. [tsa] "dez"
segmentos [s] e [z] foram apontados pelo contraste em ambiente análogo ":'."sumirl
4. Fonemas e alofones zunir" - e confirmados por um par mínimo - '~cincolzinco'" ~ 'que demonstra o
Um dos objetivos de uma análise fonêmica é definir quais são os sons de uma contraste em ambiente idêntico.
língua que têm valor distintivo (servem para distinguir palavras). Sons que estejam Note que no caso discutido para [s] e [z] encontramos um par mínimo para de·
em oposição - por exemplo [f] e [v] em "faca" e "vaca" - são caracterizados como monstrar o contraste em ambiente idêntico ("cincol zinco"), embora tenhamos f'éito
unidades fonêmicas distintas e são denominados fonemas [cf. Jones (1931), Twaddell preliminarmente o uso do contraste em ambiente análogo em nossa análise ("sumirl
(1935) e Schane (1971) para uma discussão teórica deste termo]. zunir"). Trabalhar com uma língua que você conhece bem certamente contribui para
O procedimento habitual de identificação de fonemas é buscar duas palavras que os dados necessários para a análise sejam encontrados e quase que certamente
com significados diferentes cuja cadeia sonora seja idêntica. As duas palavras cons- pares mínimos são identificados para todos os fonemas da língua. Contudo, o procedi-
tituem um par mínimo. Assim, em português, definimos Ifl e Ivl como fonemas mento metodológico de se fazer uso de contraste em ambiente análogopára a caracte-
distintos (observe o uso de barras transversais para transcrevermos fonemas) uma rização de dois sons como fonemas faz-se útil em análises preliminares de línguas
vez que o par mínimo "faca" e "vaca" demonstra a oposição fonêmica. Dizemo~ que total':,lente desconhecidas. Na análise do português a ser discutida nas prôximas pági-
o par mínimo "faca/vaca" caracteriza os fonemas If,vl por contraste em ambiente nas nao se fez necessário utilizar o procedimento de contraste em ambiente análogo.
idêntico (CAI). Um par de palavras é suficiente para caracterizar dois fonemas. Do ponto de vista de representação temos aqui dois níveis: o fonético e o fonêmico.
Quando pares mínimos não são encontrados para um grupo de sons em uma N~ plano fonético temos fones que transcrevemos entre colchetes, por exemplo [a].
determinada língua, podemos caracterizar os dois segmentos em questão como Sao fones todos aqueles segmentos consonantais e vocálicos identificados na transcri-
fonemas distintos pelo contraste em ambiente análogo (CAA). Assim, duas ção fonética do corpus. Em outras palavras, fones são os segmentos encontrados no
palavras que ocorram em ambientes similares podem caracterizar o contraste em quadro fonético. No plano fonêmico temos fonemas que transcrevemos entre barras
ambiente análogo, desde que as diferenças entre os sons não seja atribuída aos transversais, por exemplo Ia/. A determinação de fonemas se dá a partir da identifica-
sons vizinhos (devido a processos de assimilação, por exemplo). Ilustramos o con- ção de,rares mínimos para um grupo de dois segmentos. Uma questão que se faz perti-
traste em ambiente análogo com os sons [s] e [z] em português. Sabemos que em nente e se devemos buscar pares mínimos entre todos os segmentos da língua. Certa-
posição intervocálica os segmentos [s] e [z] são fonemas distintos, pois tem~s mente quanto mais conhecemos uma língua, mais disporemos de dados para identificar
pares mínimos que demonstram o contraste em ambiente idêntico entre estes dOIS pares mínimos para quaisquer segmentos desta língua. Entretanto, há grandes chances
sons: "assa/asa". de que segmentos como I e k sejam fonemas distintos em qualquer língua. Assim,
Consideremos, contudo, o contraste entre [s] e [z] em início de palavra. Su- mesmo que não tenhamos encontrado ainda pares mínimos para eles, podemos postular
ponha que não encontremos um par mínimo que demonstre o contraste em, amb.ien- que I e k são fonemas distintos. Isto se dá porque I e k não têm nenhuma similaridade
te idêntico entre [s] e [z] em início de palavra. Para prossegUirmos a analIse f?nética a não ser o fato de serem ambas consoantes. O segmento I é uma consoante
fonêmica, podemos buscar um par de palavras bastante semelhante que caracterize lIqUida, alveolar e vozeada e k é uma consoante oclusiva, velar e desvozeada. A falta de
a oposição fonêmica em início de palavra entre [s] e [z] por contraste em ambiente similaridade fonética nos leva a previamente interpretar I e k como fonemas distintos.
análogo. Um par de palavras que demonstre o contraste fonêmico em ambiente Em alguns casos não encontramos pares mínimos e a falta de similaridade fonéti-
análogo apresenta diferença segmental em relação a mais de um segmento (leme ca nos leva a postular dois segmentos como fonemas distintos. Um bom exemplo para
bre-se que em contraste em ambiente idêntico há diferença apenas em um segmen- Ilustrar este ponto é a distribuição dos segmentos [h] e [1]], em inglês,;Enquanto o
to em cada palavra do par mínimo ). Um exemplo para demonstrar o contraste segmento [h] ocorre em início de sílaba - "house (casa), hat (chapéu), home;(lar)" - o
fonêmico em ambiente análogo entre [s] e [z] em posição inicial é o par de palavras segmento [1]] ocorre em final de sílaba - "king (rei), tongue (língua), uncIei(tiO)"(caso
"sumirl zunir". Note que em "sumirl zunir" além da diferença segmental de [s] e e
você ~ão saiba a pronúncia destas palavras, procure um falante de inglês teste as suas
[z] temos a diferença entre [m] e [n] precedendo a vogal tônica. Não há razão para habilidades de transcrição fonética e verifique a ocorrência de [h] e [1]]). Note que os
supormos que as consoantes nasais [m] e [n] possam influenciar a ocorrência de [s] s~gmentos [h] e [1]] ocorrem em ambientes exclusivos, ou seja, onde um ocorre o outro
e [z] (por assimilação, por exemplo). Portanto, o par de palavras "sumirl zunir" nao ocorre. Portanto faz-se impossível encontrar um par mínimo que caracterize o con-
demonstra o contraste em ambiente análogo entre [s] e [z] em posição inicial. Ou· traste fonêmico entre [h] e [1]]. Contudo, devemos caracterizar [h] e [1]] como fonemas
tros exemplos seriam "sapato/Zapata; "sambar/zombar". Eventualmente encontraría- dlstmtos em mglês devido à falta de semelhança fonética entre estes segmentos. Esta
mos o par de palavras "cinco/zinco" que demonstra o contraste em ambiente idên- paruculandade - de caracterizar dois segmentos sem semelhança fonética como fonemas
tico entre [s] e [z] em posição inicial. Portanto, os indícios do status de fonema dos apesar da ausência de pares mínimos - não se aplica ao português. .
Fonêmico - Fonemas e ol6fones

h. o-u
Lembremos que no estágio inicial de descrição de uma língua, o objetivo central
i. p- b
é identificar como se organiza a cadeia sonora da fala. Assim sendo, basta que encon- j. s-z
tremos pares mínimos para sons foneticamente semelhantes (SFS). Sons fonel1~~- k. )1- n
.
mente semelhantes - aqueles que comparu'Iham de uma ou mais propriedades
sao . fonel1-
caso Um par de sons foneticamente semelhantes constitui um par suspeIto. Um par
suspeito corresponde a um par de sons para os quais devemos buscar um e:emplo. de I. S.-:- v~==-==-==-==-==-==-==-=========-
par mínimo para atestarmos o status de fonema dos segmentos em que~tao. AssIm, Vimos então que na busca de identificarmos os fonemas de uma língua listamos
procuramos pares mínimos apenas para os pares suspeitos (de sons fonel1c~ente se- os pares suspeitos (sons foneticamente semelhantes) de segmentos consonantais e
melhante) da língua que está sendo analisada. Os casos mais freqüentes de sumlandade vocálicos. Passamos então a buscar um par de palavras que venha a constituir um par
fonética são listados abaixo. mínimo para determinarmos os fonemas em questão. É evidente que a busca de um par
mínimo pode ser infrutífera. Assim, quando não encontramos pares mínimos (ou aná-
(4) Sons foneticamente semelhantes logos) para dois segmentos suspeitos, concluímos que os segmentos em questão não
a. um som vozeado e seu correspondente desvozeado. . _. A • são fonemas (note que aqui estamos considerando "sons foneticamente semelhantes".
b. uma oclusiva e as fricativas e africadas com ponto de artzculaçao ldentlco ou Isto exclui pares de segmentos sem similaridade fonética como [h] e [U] em inglês). Se
muito próximo. . , . não conseguirmos caracterizar dois segmentos suspeitos como fonemas distintos deve-
C. as fricativas com ponto de articulação mUlto proXlmo. mos buscar evidência para caracterizá-los como alofones de um mesmo fonema.
d. as nasais entre si. Alofones (ou variantes) de um fonema são identificados por meio do método de distri-
e. as laterais entre si. buição complementar. Quando dois segmentos estão em distribuição complementar,
f. as vibrantes entre si. eles ocorrem em ambientes exclusivos. Em outras palavras, onde uma das variantes ou
g. as laterais, vibrantes e o tepe. ,. . ,. alofone ocorre, a outra variante não ocorrerá. Esta distribuição deve ser válida para
h. sons com propriedades articulatorlas mUlto proXlmas. . , . . todas as palavras da língua em questão (veremos oportunamente que exceções caracte-
i as vogais que se distinguem por apenas uma propriedade artIculatorla. AssIm,
rizarão palavras estrangeiras ou empréstimos). O procedimento de identificação de
. [e e] constituem um par suspeito porque estas vogais diferem apenas q~anto_a
aJofones a partir do método de distribuição complementar é ilustrado abaixo conside-
u;"a propriedade articulatória (referente à altura). Por outro lado, {1,U] na~
rando-se a distribuição dos segmentos [tn e [t] no português de Belo Horizonte (pro-
representam pares suspeitos uma vez que estes seg'!:entos diferem quanto a
núncia que geralmente ocorre em áreas da região Sudeste). .
anteriorização/posteriorização e arredondamento/nao-arredondamento.

No item (4) listamos os casos mais freqüentes de similaridade fonética. A partir (5) Considere os dados:
desta informação, faça o exercício que se segue. a. tatu [ta1tu] e. tipo ['tSipu] i. pátio [lpatSJ:u]
b. tudo ['tudu] f. cantiga [kã1tSig;>] j. teto [Iteto]
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Exercício2 - - - - - - - - - -
c. tinge ['tS131] g. tingido [tSII3idu] k. ética ['etS1k;> ]
d. trevo [Itrevu] h. Kátia ['katSJ:;>] I. atlas ['atl;>s]
Você deverá marcar sim se O par de sons constituir um par suspeito de sons fone-
ticamente semelhantes (SFS). Marque não se o par não constitui um par deSFS. Jusl1fI- Observe que os segmentos [t] e [tn correspondem respectivamente a uma oclusiva
que sua resposta. Siga os exemplos. e uma africada com pontos de articulação próximos. De acordo com os principais gru-
a. k - g Sim temos um som d es yo2eadQ e Seu çorrespondente Y02eado ,
pos de sons foneticamente semelhantes (SFS) listados em (4), uma oclusiva e uma africada
b. a - e Não, distinguem-se por mais de uma propriedade: central/anterior e com pontos de articulação próximos constituem um par suspeito. Para um par suspeito
média-baixa/baixa (cf, 50 de sons devemos encontrar um par mínimo (ou análogo) que caracterize os segmentos
c. 1- r em questão como fonemas distintos. Se não encontramos um par mínimo (ou análogo)
d. t-I devemos constatar a distribuição complementar identificando então a distribuição dos
e. u-i alofones. Uma análise preliminar dos dados acima nos mostra que [t] ocorre seguido de
f. tS - d3, [a,u,u,r,e,l] e que [tn ocorre seguido de [i,I,1]. Podemos então formular uma hipótese
g. m-n·
de investigação. Tal hipótese tem por objetivo definir os ambientes em que [t] e [tS]
Se você procedeu corretamente deverá ter enqontradocinco'tradnhos preenchen-
ocorrem. do o quadro superior à esquerda e nove tracinhos preenchend.o o quadro inferior à
direita. O quadro superior à direita e o quadro inferior à esquerda devem ter ficado
(6) HipÓtese: O segmento [tS] ocorre seguido de [i] e suas variantes [i,r] e o segmen-
to [t] ocorre nos demais ambientes (NDA).
vazios. Este resultado demonstra que no ambiente em que um determinado segme.n.to.
ocorre o outro não ocorre, caracterizando portanto a distribuição complementar dos
segmentos [t] e [tS].
Para verificarmos a veracidade da hipótese proposta devemos ampliar nossos da- A tabela ilustrada em (7) mostra que [t] e [tn complementam-se em relação aos
dos e nos demais ambientes (NDA) devem estar presentes as outras vogais do portu- ambientes em que ocorrem. Do ponto de vista da análise fonêmica, dizemos que [t] e
guês (além de [i] e suas variantes). Devemos considerar também as consoantes [r,l] [tn são alofones de um mesmo fonema. A ocorrência de um alofoneéprevisível pelo
como possíveis segmentos a seguirem [t] em encontros consonantais tautossilábicos contexto ou ambiente determinado pela análise de distribuição complementar: [tS] ocorre
(ou seja, grupos de consoantes que ocorrem na mesma sílaba, cf. "trote"). diante de [i] e suas variantes e [t] ocorre nos demais ambientes. .
Alguém poderia questionar nossa análise - que assume que [t] e [tn são alofones-
ao apresentar pares mínimos como "tal-tchau" ou "tê(letra)-tchê(sulista)". Em princípio,
_~~~~~~~~~_ Exercício 3 -~~~-~~-~--
estes pares míuimos demonstram o status de fonemas distintos de [t] e [tn. Contudo, o •
Transcreva foneticamente os dados. Caso o seu dialeto não apresente a variante fato de pares mínimos como "tal-tchau" ou "tê(letra)-tchê(sulista)" ocorrerem em portu-
[tn, procure um falante que a apresente em sua fala e faça a transcrição dos dados de guês, não invalida a análise de distribuição complementar. Isto ocorre porque em todos os
acordo com a pronúncia deste falante. Alternativamente você pode inferir como se dá a dados de pares mínimos para [t] e [tS], as palavras que ilustram o exemplo com O [tS]
pronúncia das palavras abaixo em dialetos que apresentam o segmento [tn· devem ter foneticamente um [tn em todo e qualquer dialeto do português ("tchau, tchê",
a. trote ['tf:Jt[I] e. careta i. pista _ _ _ _ __ por exemplo). As palavras que apresentam [tS] em qualquer dialeto do português - tchau,
b. tupã f. tio j. útil _ _ _ _ __ tchê, tcheco-eslováquia, tcheco, tchurma - constituem um grupo restrito e são justificá-
c. tinta g. intriga k. toca _ _ _ _ __ veis como empréstimos. Os casos de distribuição complementar discutidos acima - em
d. tango h. antigo I. tribo _ _ _ _ __ que [tS] ocorre seguido de [i] e variantes - marca variação dialetal. Há dialetos em que
[tn ocorre (cf. "[tnia") e há dialetos em que [t] ocorre (cf. "[t]ia"). Temos também o
dialeto de alguns falantes de Cuiabá (MT) em que [tn ocorre diante de qualquer vogal-
Levando em consideração os dados do exercício 3 preencha o quadro abaixo dis- chapa, cheque, cheiro, china, chove, choro, chuva- (o [tS] corresponde ao ch ortográfi-
tribuindo os dados de acordo com a ocorrência de cada segmento naqueles ambientes co). Neste caso, [tS] deve ser analisado ao estar em oposição fonêmica a outros sons
definidos pela hipótese. Por exemplo, para uma forma como [ltr:JtSr] "trote" marcamos foneticamente semelhantes como [t] e [s]. As palavras "tapa, sapa, chapa" ilustram pares
um tracinho no quadro superior à esquerda porque [tn ocorre seguido de [r] e marca- minimos que demonstram o status de fonema de It,s,tSI para estes falantes de Cuiabá.
mos um tracinho no quadro inferior à direita porque [t] ocorre seguido de [r] (que está Concluímos então que a análise de distribuição complementar proposta - que
incluído NDA). O quadro a seguir deve apresentar quatorze ocorrências de [tn e [t] define [t] e [tn como alofones - é adequada. O próximo passo é definir um fonema
oriundas dos dados do exercício 3. Você deverá distribuir doze tracinhos no quadro que represente os alofones envolvidos na distribuição complementar dos segmen-
abaixo (dois tracinhos já foram marcados para a palavra "trote"). tos [t] e [tn. Tanto [t] quanto [tn são considerados alofones e devemosse1ecionar
um destes segmentos para representar o fonema. Optamos por representar.os alofones
(7) Distribuição de [tDe [t] [t] e [tn pelo fonema Itl na distribuição complementar discutida acinúhAescolha
do fonema geralmente se dá por aquele alofone que tenha uma ocorrência mais

~
[tS] [t] abrangente ou mais geral em termos de distribuição. O outro alofone - geralmente
Ambiente
com ocorrência mais restrita ou específica - representará um dos alofones daquele
fonema. Escolhemos Itl para representar o fonema dos alofones [t] e [tn porque o
seguido de [i] (e suas variantes [i,r]) I alofone [t] ocorre de maneira mais abrangente [NDA, cf. (7)]. O alofone [tn tem
Nos demais ambientes I ocorrência específica: diante de [i] e variantes. O alofone selecionado como fonema
bem como os demais alofones devem figurar na listagem dos alofones. Em (8)
temos a organização da distribuição complementar de [t] e [tn feita por arranjo.
(8) ItI ocorre como [tJl diante de [i] e suas variantes ticas: ['tipo], ['tfipo], ['tipu], PVipu], etc. Todos osfalantes compartilharnarepresen-
ocorre como [t] NDA tação fonêmica I'tipo/, embora possam al?resentai qualquerull1àdasrepresentações
fonéticas: ['tipo], ['tJipo], Ptfipo], ['tipu], ['tJipu], ['tfipu], etc. Asalofonias consonantais
Lê-se: O fonema ItI ocorre como o alofone [tIl diante de [i] e suas variantes, e o e vocálicas explicam as pronúncias de cada idioleto. Faça o exercício observando cui-
fonemaltl ocorre como o alofone [t] nos demais ambientes. dadosamente a ocorrência dos alofones [t,tIl nas transcrições fonéticas e a ocorrência
Note que o fonema é transcrito entre barras transversais e os alofones são transcri- somente do fonema /ti nas transcrições fonêmicas.
tos entre colchetes caracterizando diferentes níveis de representação - fonética (en- - - - - - - -_ _ _ Exercício 4 _ _ _ _ _ _ _ _ __
tre colchetes) e fonêmica (entre barras transversais). Do ponto de vista prático, pode-
mos também adotar um formalismo que explicite os mesmos fatos mas que interprete a Faça a transcrição fonética dos dados. Observe o uso de colchetes para a transcri-
distribuição complementar como um processo. A possibilidade de organizar a distri- ção fonética e o uso de barras transversais para a transcrição fonêmica. Compare cada
buição complementar por processo é ilustrada abaixo: uma das transcrições fonéticas à transcrição fonêmica correspondente.
Ortografia Fonética Fonêmica
(9) ItI -> [tJl/- [i] (e variantes) troca ['tf:Jk;}1 l'tf:Jka!
tipo l'tiQol
O processo acima explicita que o fonema /ti manifesta-se foneticamente como frita Nfita!
[tIl quando seguido pelo segmento [i] (e suas variantes). Note aqui também que o tigela lti'3 el a!
fonema é transcrito entre barras transversais e o alo fone é transcrito entre colchetes. pote 1'[2:Jtel
Uma barra transversal marca que a especificação que se segue é o ambiente em que o pata I'Qata!
processo ocorre. Utilizamos um traço para identificar o local onde o fonema a ser alte- ateu la'teu!
rado se encontra. No exemplo apresentado em (9) o ambiente em que o processo ocorre tigre /ltigfel
é 1- [i] (o fonema/tl seguido por [i] e suas variantes). Se tivessemos por exemplo um luta Muta!
ambiente como I [i] - , então diríamos que o ambiente em que o processo ocorre é pátio I'patiol
quando [i] precede o fonema ItI. Uma vez definido o fonema e seus alofones, vale
ressaltar que na transcrição fonêmica apenas os fonemas são presentes. Os alofones
são representados por seus respectivos fonemas na representação fonêmica. Assim, Você deve observar que na coluna da esquerda - das transcrições fonéticas -
uma palavra como "trote" será transcrita foneticamente (entre colchetes) como ['tf:JtfI] ocorrem os alofones [t] e [tIl (entre outros segmentos). Já na coluna da direita - de
e será transcrita fonemicamente (entre barras transversais) como l'tf:Jte/. Note que na transcrições fonêmicas - ocorre apenas o fonema ItI representando os alofones [t] e
transcrição fonêmica apenas os fonemas são utilizados. Você deve observar que algu- [tf]· A alofonia discutida acima - de [t,tIl - caracteriza uma alofonia posicional. A
mas palavras terão a representação fonética e fonêmica idêntica: [a'te] e la'tel "até". ocorrência dos alofones depende da posição, ou seja, ambiente ou contexto em que
Outras palavras apresentam a representação fonética e fonêmica diferente: ['tf:JtfI] e estes ocorrem. Alofones cuja ocorrência depende do contexto são denominados alofones
l'tf:Jtel "trote". Observe que a vogal final de "trote" ocorre como [I] na transcrição ou variantes posicionais. Em termos da análise fonêmica, dizemos que "os alofones
fonética e como lei na transcrição fonêmica. A discussão do status fonêmico dos seg- [t] e [tIl são variantes posicionais do fonema ItI". Um outro tipo de alofonia tratada
mentos vocálicos será apresentada posteriormente. neste modelo não depende do contexto e os alofones são chamados de variantes !i-
a
Relembremos aqui dicotomia "língua/fala" proposta por Sausurre (1916) (cf. v.res. Dois segmentos em variação livre ocorrem no mesmo ambiente.selÍ),iprejuízo de
slgmficado. Ou seja, temos duas pronúncias possíveis. Um exemplo de;'\fariação livre
Introdução). A língua constitui um sistema lingüístico compartilhado por todos os fa-
lantes da língua em questão. A fala expressa as idiossincrasias particulares de cada em português é a altemãncia de vogal oral e nasal em posição pretônicacem palavras
falante. Em termos fonético/fonêmico podemos dizer que fonêmica-língua e fonéti- não-derivadas: [ka'mad;}]- [kã'mad;}] "camada". Teorias pós-fonêmicas que analisam
ca-fala são termos relacionados. A fonêmica relaciona-se à língua (em termos de siste- a variação e mudança lingüística demonstram que a "variação livre" na verdade é con-
ma lingüístico) por definir um sistema sonoro compartilhado em princípio por todos os dicionada por fatores extralingüísticos como localização geográfica, grau de escolari-
falantes. A fonética relaciona-se àfala e expressa as particularidades da fala de cada dade, classe social, sexo, idade, entre outros. A disciplina que investiga o papel de
indivíduo. A relação entre a fonêmica (língua) e a fonética (jala) permite que associe- tais fatores é a sociolingüística. O exemplo de variação livre ilustrado acima -
mos uma representação fonêmica como /ltipol a qualquer uma das representações foné- [ka'mad;}] - [kã'mad;}] "camada" - envolve a nasalidade em português que requer
Ih " , .. hj4 FonemlcO' ronemds··e '-dIÓroheã'

um tratamento bem mais complexo. Contudo, com propósito ilustrativo tal exemplo ..•.......... .•

é pertinente. Vejamos então como tratar a alofonia de variação livre no modelo . Conceitos básicos da fonêmica
fonêmico. Os dados seguintes mostram a variação livre entre oclusivas alveolares- .; a. Fone - unidade sonora atestada na produção da fala; precedendo qualquer
[t] - e oclusivas dentais - [t ] análise. Os fones são os segmentos vocálicos e consonantais encontrados na
transcrição fonética.

(10) Variação livre das oclusivas [t] e [t ] b. Fonema- unidade sonora que se distingue funcionalmente das outras unida-
des da língua. Método de identificação de um fonema: par mínimo (ou análogo).
a. tapa ['tap;)] ['! a p ;)]
b. batata [ba'tat;)] - [b a ,! a! ;)] c. Alofone - unidade que se relaciona à manifestação fonética de um fonema.
c. terra ['t8M] ['! 8 h ;)] Alofones de um mesmo fonema ocorrem em contextos exclusivos. Método de
identificação: distribuição complementar.
d. toca ['t:>k;)] ['! :> k ;)]
d. Variantes posicionais - são alofones que dependem do contexto e varian-
tes livres são alofones que não dependem do contexto.
Os dados acima mostram que uma oclusiva alveolar [t] ocorre em variação livre
com a oclusiva dental [ ! ]. Isto quer dizer qne se pronunciarmos [t] ou [ ! ] não e. Par suspeito - representa um grupo de dois sons que apresentam caracterís-
ticas fonéticas semelhantes (SFS) e devem ser caracterizados ou como fonemas
alteramos o significado da palavra. Dizemos que "os alofones [t] e [! ] do fonema lti ou como alofones.
encontram-se em variação livre". Uma análise cuidadosa do corpus do português deve-
ria investigar se todos os segmentos alveolares e dentais em português - "t,d,s,z,n,r,l" -
ocorrem em variação livre.
Apresentamos abaixo o formalismo fonêmico de arranjo que caracteriza a alofonia
do fonema/ti em português. Alofones posicionais devem ser seguidos da especificação 5. Os procedimentos da análise fonêmica
do contexto em que ocorrem. Alofones em variação livre bastam apenas ter a indicação
de seu status. Consideramos abaixo os alofones [t, ! , tn. Os conceitos e procedimentos metodológicos discutidos nas páginas anteriores
oferecem o instrumental necessário para procedermos à análise fonêmica do português.
(11) Alofonia de ItI Apresentamos a seguir os procedimentos fonêmicos definidos pelo modelo de análise
lti - ocorre como [tn diante de [i] e suas variantes fonêmica proposto por Pike (1947). Tais procedimentos visam a caracterizar o inventá-
- ocorre como [t] ou [! ] nos demais ambientes em variação livre rio de fonemas da língua é seus respectivos alofones.

-~~~~~~~~~- Exercício 5 ------~~--- Procedimentos da análise fonêmica


Pl: Coletar o corpus.
Tente formalizar a distribuição acima em termos de processo e discuta com um
colega as diferenças de cada formalismo: arranjo e processo. Tome como referência a P2: Colocar todos os segmentos encontrados no corpus na tabela fonética.
discussão da alofonia de [t] e [tn (cf. (8,9). P3: Identificar os sons foneticamente semelhantes (SFS).
P4: Identificar fonemas e alofones caracterizando a distribuição complementar
ou listando os pares mínimos relevantes.
Na páginas precedentes discutimos casos de alofonia com variantes posicionais e P5: Colocar os segmentos na tabela fonêmica.
livres fornecendo assim uma caracterização geral da distribuição complementar no
modelo fonêmico. A partir de um quadro fonético - que foi preenchido a partir dos segmentos
Ao fazer os exercícios acima você deve ter sedimentado os conceitos apresenta- consonantais e vocálicos encontrados no corpus - pretende-se chegar a um quadro
dos e também praticou o método da distribuição complementar. Relembramos no qua- fonêmico. No quadro fonêmico, apenas os fonemas estão presentes. Abaixo do quadro
dro que se segue os conceitos básicos discutidos nas página anteriores. fonêmico relaciona-se os alofones da língua em questão e suas respectivas distribuições:
Consideremos cada um dos procedimentos apresentados acima. Assumimos que
as condições para o procedimento Pl- de coleta do corpus - é satisfeito uma vez quê
se tenba acesso aos dados da língua em questão. O procedimento P2 define que "todos
Fonêrhica - O sistema consonantal 'do português 1-37

os segmentos encontrados no corpus devem ser colocados na tabela fonética". O proce- (1) Sons foneticamente semelhantes do português
dimento P3 requer "a identificação dos sons foneticamente semelhantes (SFS)". Deve-
se fazer uma lista de pares suspeitos. Pares suspeitos são definidos a partir dos sons um som vozeado e seu correspondente desvozeado plb; tldj k1g; tJ/d3; fJv; s/z; I/3j Xfy; b1fi
foneticamente semelhantes (SFS). Uma análise dos pares suspeitos caracteriza os dois uma oclusiva e as fricativas e africadas com ponto tis; diz; til!; dld3; !It!; yd3
segmentos em questão como fonemas distintos ou como alofones de um mesmo de articulação idêntico ou muito próximo '"
fonema. Tal procedimento é requisitado pelo procedimento P4 que solicita "a identifi- as fricativas com ponto de articulação muito próximo s/J; zJ3j Xlhj y/fi
cação dos fonemas e alofones caracterizando a distribuição complementar ou listando as nasais entre si m/n; m1flj n/fi
os pares mínimos relevantes". À medida que se identifica os fonemas e alofones da as laterais entre si 1/'\; lIJi; PIÁ; vt
língua em questão preenche-se a tabela fonêmica satisfazendo assim o procedimento
as vibrantes entre si rll
P5 e concluindo a análise fonêmica. Baseando-se nos procedimentos fonêmicos apre-
sentamos a seguir uma série de exercícios que têm por objetivo propor uma análise as laterais, vibrantes e o tepe IIcj Vt
fonêmica para o português. Analisamos inicialmente o sistema consonantal. sons com propriedades articulatórias muito próximas nJ~; ni/j1;Jl/y; nlfye !Jy; J.i!y

Note que nem todos os pares de sons listados acima ocorrem em seu idioleto. Os
pares de sons foneticamente semelhantes relevantes para a análise de sua variedade
dialetal são aqueles cujos segmentos foram registrados em sua tabela fonética consonantal
destacável. Utilizando tal tabela e a listagem apresentada acima, selecione os pares de
o SISTEMA CONSONANTAL DO PORTUGUÊS sons foneticamente semelhantes que são relevantes para o seu idioleto. Faça o exercício
abaixo seguinte.
~ Exercício 1-----------
1. Fonemas e a Iofones Preencha o quadro com os SFS que são relevantes para seu idioleto.
um som vazeado e seu correspondente desvozeado
. Levando-se em consideração os procedimentos metodológicos da fonêmica, pro- uma oclusiva e as fricativas, e africadas com ponto
pomos uma série de exercícios que têm por objetivo caracterizar o sistema consonantal de articulação idêntico ou muito próximo
do português. Consideremos cada um dos procedimentos da análise fonêmica. as fricativas com ponto de articulação muito próximo
Assumimos que as condições para o procedimento Pl- de coleta do corpus - é
as nasais entre si
satisfeito uma vez que dados da língua portuguesa são acessíveis a todo momento.
as laterais entre si
Passemos então ao procedimento P2: "colocar todos os segmentos encontrados no corpus
na tabela fonética". O leitor deverá ter em mãos a sua própria tabela fonética consonantal as vibrantes entre si
destacável. Tal tabela satisfaz o procedimento P2 por apresentar o registro de todos OS as laterais, vibrantes e o tepe
segmentos fonéticos que ocorrem em seu idioleto. De posse de tal tabela, você deverá sons com propriedades articulatórias muito próximas
acompanhar a análise apresentada nas próximas páginas e adequá-la à sua variedade.
Independente das diferenças individuais na tabela fonética, devemos ter uma tabela Ao selecionar os sons foneticamente semelhantes concluímos o procedimento P3.
fonêmica uniforme para todos os falantes. Ao final da análise fonêmica do português Passemos então ao procedimento P4 que solicita "a identificação dos fonemas e alofones
aqui proposta, devemos ter dezenove fonemas consonantais para qualquer idioleto. A caracterizando a distribuição complementar ou listando os pares mínimos relevantes".
uniformidade quanto ao número de segmentos que ocorrem no quadro fonêmico deve- Para satisfazer tal procedimento você deverá tentar encontrar pares míninos para cada
se à relação com o sistema que denominamos"língua". A diversidade do quadro foné- um dos pares de sons foneticamente semelhantes listados no exercício 1. Um par mínimo
tico deve-se à relação com o sistema que denominamos "fala" (cf. Introdução). O pro- demonstra o contraste fonêmico entre os sons em questão. Por exemplo, o par mínimo
cedimento P3 requer "a identificação dos sons foneticamente semelhantes (SFS)". A fim "pato/bato" demonstra o contraste fonêmico entre [p1e [bl. Cada par mínimo encontra-
de satisfazermos tal requisito, listamos os pares suspeitos de sons foneticamente seme- do classifica os dois segmentos em questão como fonemas do português. No caso de
lhantes que podem ser encontrados em português: "pato/bato" dizemos que Ipi e /bl ~ão fonemas distintos no português. Caso não se encon-
138 Fonêmica - O sistema con~onantal do português Fonêmica - o sistema consonantal do português 1 39

tre um par mínimo que demonstre o contraste entre os dois sons em questão faz-se uma No quadro abaixo listamos os sons foneticamente semelhantes possíveis de ocor-
análise para verificar se tais sons encontram-se em distribnição complementar. Se os rer no F?rtuguês brasileiro [cf. (1)]. Quando possível, exemplificamos pelo menos um
dois sons estiverem em distribuição complementar eles serão classificados comoalofones. par mllllmo para cada dupla de sons. Quando pares mínimos não foram encontrados
Investigamos inicialmente a possibilidade de identificar pares mínimos para os sons sombreamos a linha em questão. Ir

foneticamente semelhantes. Tem-se por objetivo identificar os fonemas do portugnês. (2) Exemplos de pares mínimos e/ou identificação da ausência de pares mínimos
Para isto. preencha a tabela abaixo. Na coluna da esquerda você deverá listar todos os para os sons foneticamente semelhantes (SFS) do português brasileiro.
pares de sons foneticamente semelbantes identificados no exercício I. Algnns pares de
SFS já se encontram na tabela para efeito ilustrativo. Tais pares de sons ocorrem para
todos os falantes. Se você encontrar um par mínimo para o par de sons em questão apre-
sente o registro ortográfico das duas palavras envolvidas na coluna do meio. Na coluna da
direita faça a transcrição fonética das duas palavras que foram registradas ortografica-
mente. Caso pares mínimos não sejam encontrados, deixe as duas colunas finais sem
preencher (é bastante provável que na tabela abaixo algumas linhas fiquem em branco).
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _~ Exercício 2-----------
SFS Exemplo ortográfico Transcrição fonética

1. plb pato bato ['palO] ['balO]


2. Vd
3. k/g
Na página seguinte apresentamos a tabela fonêmica. Destaque-a. Tal tabela deve Tabela fonêmica consonantal destacável
ser preenchida com os fonemas e alofones do português. Para tal, propomos uma série
de exercícios. Fonemas consonantais
Articulação Dental /I"
Bilabial labiodental ou Alveopalatal Palatal Velar Glotal
maneira lugar alVeolar
Tarefa I Oclusiva desv
Selecione oS fonemas identificados no exercício 2. Cada fonema deve ser colocado voz
na tabela fonêmica destacável no local adequado. Lembre-se que os fonemas são
Africada desv
aqueles sons para os quais pares mfnimos foram encontrados. Utilize lápis ao pre- voz
encher a tabela fonêmica pois a análise pode ser alterada à medida que fizermos os
Fricativa desv
exercícios. voz
Nasal voz
Os segmentos Ip, b, t, d, k, g, f, v, s, z, S, 3, m, n, I, ri devem ser selecionados para Tepe voz
todos os dialetos do português. (exceto dialetos como o de Cuiabá que não apresentam
[5,3]). Tais segmentos devem portauto ter sido colocados na tabela fonêmica. Além destes Vibrante voz
dezesseis fonemas, o leitor pode também ter selecionado um ou mais dos seguintes seg- Retroflexa voz
mentos: [tS, d3,Jl, oi, y, f, Ii., li, y]. A seleção dos segmentos deste grupo se dá porparticu: Lateral voz
laridades dialetais que serão discutidas nas próximas páginas. Há ainda um terceiro grupO
de segmentos para o qual os pares de SFS não apresentam pares mínimos. Os pares de Alofonla consonantal
segmentos deste grupo encontram-se sombreados na tabela (2). Consideremos tal grupo.
Tipo de alofonia Fonema Alofones Contextos e exempfos
Uma vez que pares mínimos não são encontrados para este grupo, investigamos a
Vozeamento 1: IR!
possibilidade dos segmentos em questão estarem em distribuição complementar. Caso
prove-se afirmativa a hipótese de distribuição complementar, caracterizamos os sons Vozeamento 2: /81
em questão como alofones. Se as alofonias discutidas abaixo forem relevantes para o
seu idioleto, liste-as no quadro de alofonias da tabela fonêmica destacável. Palatalização de
O preenchimento da tabela fonêmica satisfaz o procedimento P5. Conclui-se as- oclusivas alveolares It,dl

sim a análise fonêmica. Ao concluirmos a análise fonêmica teremos identificado os Laleral palatal
fonemas e alofones do português.
Passemos então à investigação dos alofones. Consideramos inicialmente a possi- "I" posvocálico
bilidade dos segmentos [X,y,h,fi] estarem em distribuição complementar [cf. dados
(7,8) e (17,18) no quadro apresentado em (2)]. Considere os dados em (3). "Dialeto I" Nasal palatal
reflete a pronúncia de alguns falantes da cidade do Rio de Janeiro e "Dialeto 2" reflete
a pronúncia de alguns falantes de Belo Horizonte. Em todos estes exemplos o "r" orto- Consoantes posvocálicas
gráfico pode ser manifestado como um dos segmentos [X,y,h,fi].
Consoante posvocállca Ortografia Representação fonética Representação fonêmica
Nos exemplos da coluna da esquerda, o "r" ortográfico encontra-se nos seguintes:
ambientes: posição intervocálica; início de palavra; final de palavra; início de sílaba ISI paz; pasta l'paSI; IlpaSta/
precedido de consoante. Na coluna do meio o "r" ortográfico encontra-se em limite de IR! mar; marca limaR!; l'maRka/
sílaba seguido de consoante desvozeada. Na coluna da direita o "r" ortográfico encon- 111 sal; salta I'sal/; 1' salta/
tra-se em limite de sílaba seguido de consoante vozeada. Em cada um dos exemplos a
INI lã; lanche /IlaN/; /IlaNSel
seguir observe a manifestação fonética do "r" ortográfico em termos dos ambientes em
que tal segmento ocorre (o símbolo - indica que uma forma alterna com a outra). Estrutura silábica'• C 1 C 2 V V C 3 C 4
(3) Dialeto 1
carro ['kayu] - ['kaXu] torto T'!oXlo] corda ['koyd:l]
rato ['yalO] - ['XalO] corpo ['koXpu] carbono [kay'bonu]
mar ['may] - [lmaX] arte [laXtJr] tarde [ltayd3r]
Israel [iJyal&w]- [iJXal&w] porca ['poXk:l] larga ['laygjJ
terço ['teXsu] Herzog [eY'zOgr]
garfo ['gaXfu] árvore ['ayvorr]
marcha [lmaXJ:l] surge ['suY3r]
arma ['aym:l]
carne [Ikaynr]
orla ['oyl:l]
Dialeto 2
carro ['kafiu]- [lkahU] torto ['tohlO] corda ['kofid:l]
rato ['fialO] -['halO] corpo ['kohpu] carbono [kafi'bonu]
mar [Imafi] - ['mah] arte ['ahtJr] tarde ['tafid3r]
Israel [isfia'&w]- [isha'&w] porca ['pOhk:l] larga ['Iafig:l]
terço ['tehsu] Herzog [efi1zogr]
garfo ['gahfu] árvore ['afivorr]
marcha ['mahJ:l] surge [lsufi3r]
arma [Iafim:l]
carne ['kafinr]
orla ['ofi1:l]

Você deve ter observado que a variante vozeada [y] (ou [fi]) ocorre sempre antes
de consoante vozeada (cf. dados da coluna da direita). A variante desvozeada [X] (ou
[h]) ocorre antes de consoantes desvozeadas (cf. dados da coluna do meio). Nos demais
ambientes (que são: posição intervocálica; início de palavra; final de palavra; início de
sílaba precedido de consoante) pode ocorrer a variante vozeada ou desvozeada (cf.
dados da primeira coluna).
Os dados da primeira coluna mostram que os segmentos [X. y] e [h,fi] podem
alternar livremente na mesma palavra. Dizemos que nos contextos de "posição
intervocálica; início de palavra; final de palavra; início de sílaba precedido de consoan-
te" há variação livre dos segmentos [X, y ,h,fi].
Já em limite de sílaba (cf. colunas 2 e 3) observamos que a distribuição dos segmen-
tos [X,y] (ou [h,fi]) depende do contexto, ou seja, a consoante seguinte. Podemos postu-
lar que os segmentos vozeados [y] e [fi] ocorrem antes de consoantes vozeadas e que os
segmentos desvozeados [X] e [h] ocorrem antes de consoantes desvozeadas. Dizemos
que há variação posicional em limite de sílaba sendo que os segmentos [X,y,h,fi] são
alofones posicionais que relacionam-se a um úníco fonema. Para efeitos da análise apre-
sentada aqui utilizamos o símbolo !Ri para representar o fonema que relaciona-se aos
a1ofones [X, y,h,fi] em posição final de sílaba. Em (4) formalizamos em termos de arran-
jo a alofonía de vozeamento de /RI, a qual denominamos "a1ofonia de vozeamento 1".
I-'~' '. ,ü...,;t;: 1.Qj.lelI IIca :-,5C,,'SISléffiO-,eohsondhtdl 'do'portoguês~
Fonêmica - o sistema consonantal do português 143

(4) Alofonia de Vozeamento 1


do por consoante (cf.Israel). Note que nos três contextos o IR! - ou seja, o "R" forte
Tipo de alofonia Fonema Alofones Contextos e exemplos - encontra-se em início de sílaba (carro, rua, Israel). O "R" forte será transcrito
Vozeam:ento 1 IRI [X,h] e [y,fi] • o alofone posicional [y] (ou [fi]) ocorre em limite
foneticamente corno IRI e pode se manifestar foneticamente corno as fricativas [X,h]
de sílaba antes de consoante vozeada. Exemplo: ou a vibrante múltipla [i]. Finalmente, lembramos ao leitor que em final de sí,laba a
l'kORdal ['koyda] (ou ['kofida ]). representação fonêmica do "r" ortográfico é !RI. A distribuição fonêmica destes seg-
mentos é apresentada abaixo:
• O alofone posicional [X] (ou [h]) ocorre em limite
de sílaba antes de consoante desvozeada. Exemplo:
/'toRtol ['toXtu] (ou ['tohtu]). (7) Quadro ilustrando algumas distribuições possíveis de [r,R,R]

Ambiente Exemplo Belo Horizonte Rio de Janeiro Caipira Portugal


Em (5) formalizamos a alofonia de vozeamento I:
o Intervocálica caro Ir! [r] Irl [r] Ir! [r] Irl [r]
(5) Alofonia de vozeamento 1 <:; u
-~
As fricativas [X,y,h,fi] quando em final de sílaba concordam em vozeamento Seguindo C na mesma sílaba prato Irl [r] Irl [r] Irl [r] Irl [r]
com a consoante seguinte.
Deve-se observar que !RI ocorre sempre em posição final de sílaba (corno em Intervocálica carro IRI [h] IRI [X] IRI [f] IRI [r]
"cor") e quando em final de sílaba em meio de palavra (corno em "corda, torto"). Neste le ~• Início de palavra rua IRI [h] IRI [X] IRI [r] IRI [r]
último caso há concordância de vozeamento com a consoante seguinte. Note que na
formulação de alofonia apresentada em (5) não indicamos o fonema referente a tais Seguindo C em outra sílaba Israel IRI [h] IRI [X] IRI [r] IRI [r]
alofones. Tal omissão é proposital e !RI não deve constar da tabela fonêmica pelo mo-
mento. Discutiremos o status fonêmico de !RI na seção seguinte ao tratarmos do
..
o
~
Final de sílaba antes de C voz. corda IRI [fi] IRI [y] IRI [J] IRI [r]
"R"posvocálico" .
Os segmentos [X,y,h,fi] relacionam-se a !RI em posição final de sílaba. Em ou- -
ã: u
~
o
o.
Final de sílaba antes de C desvoz torto IRI [h] IRI [X] IRI [J] IRI [r]

tros contextos os segmentos [X,y,h,fi] relacionam-se ao "R" forte. Adotamos o símbo- Final de palavra mar IRI [h] IRI [X] IRI [J] IRI [r]
lo !RI para representar fonemicamente o "R" forte. Em posição intervocálica há o con-
traste fonêmico entre o "R" forte e o "r" fraco. O ''r''fraco sempre se manifesta em
português corno o tepe [r]: "caro, prata". Adotamos o símbolo IRI para representar o Salientamos que Irl e IRI são fonemas pois contrastam em posição intervocálica
"R"forte que varia consideravelmente no português brasileiro, tendo sobretudo as se- em todas as variedades do português: carol carro (cf. 6).
guintes manifestações fonéticas: [X,h,r]. Observe os exemplos em (6):
Tarefa
(6) Contraste fonêmico entre o "r fraco e o "R forte"
a. caro I'karol carro l'kaRol Incorpore o símbolo IR! à tabela fonêmica na posição correspondente ao segmento
b. careta /ka'reta/ carreta /ka'Reta/ que representa o "R" forte em seu dialeto. Veja a sua pronúncia para a palavra "carro".
c. era I'eml erra l'eRa/ Você deve escolheer um dos segmentos [X,h,i']. Preencha a parte referente a "alofonia
de vozeamento 1" em sua tabela fonêmica de acordo com o apresentado em (5)
O contraste fonêmico entre Ir! e IRI - ou seja o "r" fraco e o "R"forte - somen-
te é atestado em posição intervocálica (cf. (6)). Consideremos os ambientes de O exercício seguinte tem por objetivo fixar a distribuição de r, R, R Você deve
ocorrência do "r" fraco e do "R" forte. O "r" fraco relaciona-se ao tepe [r] e completar os espaços subliuhados com o fonema pertinente selecionando r, R, R To-
ocorre em todos os dialetos do português em posição intervocálica (cf. caro) e memos como exemplo as palavras "caro", "carro", "mar" e "carta". Você deve sele-
seguindo consoante na mesma sílaba (cf. prata). O "r" fraco é sempre representado cionar o fonema Irl para a palavra "caro" I'karo/, e o fonema IR! para a palavra
fonemicamente por Ir!. O "R" forte IRI ocorre em posição intervocálica (cf. car- "carro" l'kaRol e !RI para o "r" posvocálico em mar I 'maR! e 'kaRta/. Você deve
ro); em início de sílaba em começo de palavra (cf. rua) e em início de sílaba precedi- apresentar também a transcrição fonética para seu idioleto.
144 Fonêmico.....; O sistema consondn'tal do pórtug'uês

_ _~_ _ _ _ _ _ _- Exercício 3------------ Note que na formulação de alofonia apresentada em (9) nãoindicamos o fonema
refer~ntea tais alofones. Tal omissão é propositaL Retomamos' este tópico na seção
Para cada exemplo abaixo complete as lacunas com um dos seguintes fonemas: segumte ao tratarmos do arquifonema ISI em português.
Irl ou /RI. Apresente a transcrição fonética correspondente. Siga o modelo dos exem-
plos. Observe que a transcrição fonêmica deve estar entre barras transversais e a trans- Tarefa
crição fonética deve estar entre colchetes. De posse da tabela fonêmica destacável, preencha a parte referente à "alofonia de
Ortografia Fonêmica Fonética vozeamento 2", Para isto, considere o quadro acima observando as características
a. cara Ika 'f.a! particulares de seu idioleto. Note que ISI não deve constar da tabela fonêmica.
b. rasa I'Raza!
c. prata IIp_ata! (10) Alofonia de vozeamento 2
d. carma I'ka_ma!
e. arame la'_amel Tipo de alofonia Fonema Alofones Contextos e exemplos
f. garça I'ga_sa! Vozeamento 2 ISI [s] (ou [J]) • O alofone posicional [s] (ou [1]) ocorre em posição
g. sarna lisa_na!
e [z] (ou [3]) posvocálica seguido de consoante desvozeada.
h. azar la'za-.J
Exemplo: /'kaSka/ ['kaska] (ou [lkaIka]) "casca".
i. cabra I'kab- a!
/ba'_aka! • O alofone posicional [z] (ou [3]) ocorre em posi-
j. barraca
ção posvocálica seguido de consoante vozeada.
Exemplo: /'aSma/ ['azma] (ou [la3ma]) "asma".
O processo de "alofonia de vozearnento I" descrito relaciona-se à asssimilação de
vozeamento do fonema /RI em limite de sílaba. Há em português um outro processo Lembre-se de que apenas os fonemas ocorrem na transcrição fonêmica. Portanto,
semelhante que envolve os segmentos [s,z,1.3]. Denominamos tal processo "alofonia para ~epresentar fonemicamente os segmentos [s,z,J ,3] em posição final de sílaba deve-
de vozeamento 2". Considere as formas em (8). "dialeto I" representa a premúnci,a se utIhzar o símbolo /S/. Exemplos são apresentados abaixo:
típica do português de Belo Horizonte e "Dialeto 2" representa a pronúncia típica do
(11) Fonêmica Dialeto 1 Dialeto 2
português do Rio de Janeiro.
a. caspa l'kaSpa! [Ikaspa] [lkaIpa]
(8) Dialeto 1 Dialeto 2 b. casca l'kaSka! [Ikaska] [lkaIka]
a. caspa ('kaspa] ('kaIpa] c. rasga I'RaSga! ('hazga] [IXa3ga]
b. casca [Ikaska] ('kaIka] d. asma /laSma! ('azma] ('a3ma]
c. rasga ('hazga] ('Xa3ga ]
d. asma ('azma] ['a3ma] A transcrição fonêmica é igual para todos os dialetos. As particularidades fonéti-
~a~ de cada variante em questão são expressas na transcrição fonética [veja as duas
ultnn~ colunas em (11)]. Salientamos que /SI é utilizado para representar fonemicarnente
Observamos nos exemplos em (8) que o s ortográfico em posição final de sílaba
assIbIi~tes [s,z,J,3] somente em posição final de sílaba. Em outros ambientes (que
concorda em vozeamento com a consoante que o segue. Em (8a,b), o s ortográfico é
sejam dIferentes de final de sílaba) deve-se utilizar as sibilantes que correspondem aos
desvozeado por ser seguido de consoante desvozeada. Em (8c,d), O s ortográfico mani-
fonemas Is,z,1.3f. Os exemplos em (12) ilustram os fonemas Is,z,1.31 em posição
festa-se como uma consoante vozeada por ser seguido de consoante vozeada. Note
mtervocáhca, demonstrando o contraste fonêmico entre estes segmentos.
a distribuição da consoante fricativa (que corresponde ao s ortográfico) em posição
final de sílaba depende do contexto, ou seja, da consoante seguinte. Temos portanto um (12) Ortográfico Fonêmico Fonético
caso de distribuição complementar. Formulamos esta alofonia como: a. assa flasa! ('asa]
b. asa flaza! [Iaza]
(9) Alofonia de vozeamento 2 c. acha IlaIa! ('ala]
As fricativas [s,z,J,3] quando em final de sílaba concordam em vozeamento com d. haja f la3a! (ia3a]
a consoante seguinte.
/···I.,qq -I mIE#iiICQ; . C!i·-SISleIIIO. q)jISOnQif(Oi"O.u-PO'FIU9U.e:'5~'''' ,,' ,g

Considerando-se os dados em (12) podemos afinnar que/s,z,J,31 são· fonemas do o quadro anterior expressa que o fonema ItI ocorre como o alofone [tn diante
português (pois estes dados são pares ntinimos que demonstram o contraste fonêmico). A de [i] e suas variantes, e o fonema ItI ocorre como o alofone [t] (dental ou alveolar)
perda de contraste fonêmico entre Is,z,1.31 em português OCOrre apenas em posição final nos demais ambientes. E, o fonema IdI ocorre como o alofone [d3] diante de [i] e
de sílaba e consiste de um caso de neutralização que justifica o fato de ISI não constar da suas variantes, e o fonema IdI ocorre como o alofone [d] (dental ou alveolar) nos
tabela fonêmica. A neutralização em português é discutida nas próximas páginas. demais ambientes. É'

Casos em que pares ntinimos foram encontrados para tltJ (cf. tê/tchê; talltchau)
-----------Exercício 4 -----------~ não invalidam a análise de distribuição complementar. Os exemplos com [tn (como
Complete as lacunas com um dos seguintes símbolos: Is,z,1.3,S/. Apresente a tchê, tchau) ocorrem sempre com o segmento [tn em qualquer variedade do português
transcrição fonética correspondente. Siga o modelo. A transcrição fonêmica deve estar mdependente de haver ou não a alofonia de palatalização das oclusivas alveolares tld.
entre barras transversais e a transcrição fonética deve estar entre colchetes. O que ocorre é um grupo restrito de palavras (geralmente empréstimos) que apresen-
Ortografia Fonêmica Fonética tam o segmento [tn em qualquer dialeto do português: tchau; tchê; tcheco-eslováquia;
a. cajá /ka13a! tcheco; tchunna. Há ainda o fato de nestes casos o comportamento de tJ/d3 ser
b. asma IlaSma! assimétrico. Enquanto há exemplos com o segmento [tn em qualquer dialeto (cf. tchau;
c. caçada /kal_ada! tchê) o mesmo não ocorre com o segmento [d3].
d. azar la'_aR! Verifique se os segmentos [tn e [d3] encontram-se em sua tabela fonêmicã
e. abastada laba_'tada! destacável. Eles podem ter sido colocados na tabela fonêmica pois pares mínimos como
f. gasta liga_ta! "chia!tia" e "gia!dia" em princípio demostram o contraste fonêmico. O desenrolar da
g marcha limaR_a! análise, avaliando a distribuição complementar é que caracteriza a "alofonia de
h. salada ,-a'iada! p~latalização de oclusivas alveolares" demonstrando que os segmentos [tn e [d31 não
i. chata sao fonemas. Se a "Alofonia de palatalização de oclusivas alveolares" aplica-se ao seu
j. jarra idioleto, retire os segmentos [tn e [d3] da tabela fonêmica destacável. Isto se dá porque
~stes segmentos são alofones dos fonemas ItI e IdI. Os alofones [tn e [d3] devem ser
listados na parte de alofonia.
A discussão sobre alofonia iniciou-se por não tennos encontrado pares mínimos
Lembre-se que somente os fonemas são representados fonemicamente. Portanto a
para os seguintes pares de sons: Xly; hlfi; tltL dld3; Xlh; y/fi; li/Á; IIt; ni/Jl;.J1IY; ni;y; representação fonêmicade palavras como "tia" e "dia" é respectivamente /'tia! e 1' dia!
Ã/y; li/y. Nas páginas precedentes consideramos a "alofonia de vozeamento I" que em dialetos que apresentam a "alofonia de palatalização de oclusiva alveolar": [ltJi<l] e
explica a ausência de pares mínimos para os segmentos: Xly; hlfi; XIh; y/fi. Conside- [ld3i<l]. Faça o exercício abaixo.
ramos também a "alofonia de vozeamento 2" que se refere a ISI em limite de sílaba.
Resta-nos analisar os demais pares de sons para os quais pares mínimos não foram
-----------Exercício 5 - -_ _ _ _ _ _ _ __
identificados. Estes são: tltJ; dld3; li/Á; IIt; ni/Jl;.J1IY; ni;y; Ã/y; li/y. Consideremos ini-
cialmente os pares tltJ; dld3. Para cada exemplo complete as lacunas com um dos fonemas It,dI. Apresente a
Falantes cujo inventário fonético apresenta os segmentos tltJ e dld3 geralmente transcrição fonética correspondente. Siga o modelo. Observe que a transcrição fonêmica
têm em seu sistema sonoro a "alofonia de palatalização de oclusivas alveolares". Tal deve estar entre barras transversais e a transcrição fonética deve estar entre colchetes.
alofoniajá foi discutida anterionnente [ver (6) a (12) na seção de fonêmica). Fonnali- Ortografia Fonêmica Fonética
zamos abaixo a "alofonia de palatalização de oclusivas alveolares". a. ditado ldi ' t ad oI [d3i'tadu]
b. tarde 1'_aR_el
(13) "Alofonia de palatalização de oclusivas alveolares". c. teatro '-eal_fol
d. ardido laR'_Lol
Tipo de alofonia Fonema Alofones Contextos e exemplos
e. fonética Ifo'nE_ika!
Alofonia de /ti e IdI [tn e [d3] • Os alofones posicionais [tf] e [d31 ocorrem prece w
f. triste 1'_fiS_el
palatalização de dendo a vogal alta anterior [i] e suas variantes [I, T]. g. atirado la_ilfa_ol
oclusivas alveolares • Os alofones livres dental ou alveolar ocorrem NOA
___________ Exercício 6 ---,...;.,.....,...;.,-----
h. castigo lkaS'_igol
i. disco 1'_iSkol Transcreva foneticamente as palavras abaixo observando a ocorrência do fonema
j. cordialid=a=d=e~_~Ik-=o:R,:::::ial=i'=:a:=:e~/_-========_ _ _ __ lateral palatal / ÁI. A transcrição fonética deve estar entre colchetes. Note que na trans-
crição fonética você deve utilizar o(s) símbolo(s) que representa(m) as caracterísl,icas
Analisaremos a seguir os segmentos lilÁ; Á!y; lily para os quais pares mínimos articulatórias de seu idioleto (um ou mais dos símbolos [Á, P,y D. Em seguida, comple-
não foram encontrados. Considere os dados em (14). te a coluna de transcrição fonêmica com o fonema consonantal pertinente. Você deve
selecionar para cada lacuna um dos seguintes fonemas: Ip, b, t, d, k, g, f, v, s, z,f, 3,m,
(14) Distribuição da lateral palatal n, I, r, R, Á!
Ortografia Fonética Fonêmica
Ortografia Dialeto 1 Dialeto 2 Dialeto 3 Fonêmica
bagulho '-a'_u_ol
palha ['paÁ:l] ['pali:l] ['pay:l] l'paÁa!
palhoça l_a'_'J_a!
bolha ['boÁ:l] ['boli:l] ['boy:l] l'boÁa!
velho 1'_E_ol
agulha [a'guÁ:l] [a'guli:l] [a'guY:l] la'guÁa!
galho I'_a_ol
pilha 1'_La!
Os dialetos listados acima têm caráter ilustrativo. É importante observar que o bilhete '-i '_e_el
uso de qualquer uma das variantes [Á, li, y] não altera O significado da palavra. Pode-se abelhudo la_e'_u_ol
encontrar falantes que façam uso de mais de uma variante. Por exemplo, um falante malharia '-a_a'_ia!
pode alternar formas como ['paÁ:l] - ['pali:l] "palha". Temos então que a alternância bedelho I_e'_e_ol
entre [Á, li, y] não causa mudança de significado e também que a ocorrência de [Á, li, y] baralho I_a'_a_ol
não é definida por contexto. Podemos então assumir que os segmentos encontram-se
em variação livre. A "alofonia da lateral palatal" aplica-se individualmente ou em gru-
pos. O fonema I Á! pode relacionar-se a um único a1ofone - que pode ser um dos seg- Tratamos acima da "a1ofonia da lateral palatal". Consideramos agora o par de
mentos [Á, li, y]. Pode-se também ter os três a1ofones livres:[Á, li, yJ. Alternativamente, segmentos laterais [I] e [i] para os quais pares minimos não foram encontrados. Obser-
o fmlema lÁ! pode relacionar-se a pares, por exemplo [Á, li] ou [li, y]. O leitor deve ve os exemplos. "Dialeto ["reflete a pronúncia típica de Portugal. "Dialeto 2" reflete a
avaliar a a1ofonia da lateral palatal para seu idioleto. Adotamos o fonema I Á! para pronúncia típica do Brasil (exceto alguns dialetos do sul).
representar os alofones [Á, li, y]. Formalizamos abaixo a "a1ofonia da lateral palatal".
(15) Ortografia Dialeto 1 Dialeto 2
a. lata ['lat:l] ['lat:l ]
(15) Alofonia da lateral palatal
b. placa ['plak:l ] ['plak:l]
c. bala ['bal:l ] ['bal:l ]
Tipo de Alofonia Fonema Alofones Contextos e exemplos
d. orla [''Jrl:l] [''Jfil:l]
Lateral Palatal lÁ! [ Á], []i], [y] • Variação livre. Exemplo: l'paÁa! -> ['paÁ:l] e. sal ['sai] ['saw]
individual -['paP:l] - ['pay:l] "palha" f. salta ['saft:l ] ['sawt:l]
ou em grupos ['s'Ji] ['s'Jw]
g. sol
h. selva ['sdv:l] ['SEWV:l]

Tarefa Nos exemplos (l5a-d), a manifestação fonética da consoante lateral é idêntica


para os dois dialetos: uma lateral alveolar (ou dental). Os contextos em que tal lateral
Observe quais dos segmentos [Á, li, y] ocorrem em seu idioleto. Caracterize a OCOrre são início de palavra (lata); seguindo consoante na mesma sílaba (placa); em
alofonia da lateral palatal e registre-a no quadro de alofonias da tabela fonêmica ,I
posição intervocálica (bala); e seguindo consoante em sílaba distinta (orla). Nos exem-
I destacável. O fonema lÁ! deve constar da tabela fonêmica destacável pois há con-
plos (l5e-h) há diferença dialetal. No dialeto 1 - de Portugal - temos uma lateral \i
traste fonêmico entre laterais (cf. "mala/malha").
------~
velarizada: [t]. No dialeto 2 - do Brasil- a lateral é vocalizada e manifesta-se fonellca- i'·'·.I.'

'I'iI
Jlrl.
.----~.--~"~ -- ~--, "-~." ",-.~- '".- .... -, ,-,-. ., .... ,

mente como o glide [w]. A velarização da lateral em Portngal e a vocalização da lateral (17) Ortografia Dialeto 1 Dialeto 2
no Brasil ocorrem no contexto de posição final de sílaba. Temos ambientes exclusivos a. banho ['bãj1u] - ['bãyu] f'bãJ1U] - ['bãniu]
para a distribuição da lateral alveolar ou dental [cf. (15a-d)] e da lateral velarizada [i] b. sonho (isõj1u] - (isõyu] ['sõJ1u] - (isõniu]
ou glide recuado [w] [cf. (15e-h)]. Ambientes exclusivos caracterizam a distribuição c. lenha (ileJ1;;1] - ['leY;;l] ['lej1;;1] - (ileni;;l]
complementar. Formulamos a seguir a "alofonia do I posvocálico". p

Os exemplos em (17) indicam um caso de variação livre entre ()1,y,ni]. Adotamos


(16) Alofonia do I posvocálico o fonema/J1l para representar os alofones ()1,y,ni]. Em (18), formulamos a "alofonia da
nasal palatal".
Tipo de alofonia Fonema Alofones Contextos e exemplos

Velarização /lJ [I] e [i] • O alofone posicional [i] ocorre em posição de final (18) Alofonia da nasal palatal
do I posvocálico de sílaba. Ex: I'sall ['sai] "sar" e I'salta! ['saha]
(Dialeto 1 - típico " salta". Tipo de Alofonia Fonema Alofones Contextos e exemplos
de Portugal) • O alofone posicional [I] ocorre NDA.
Nasal Palatal IJ1I (J1], G], [ni] Variação livre podendo marcar característica dialetal.
Vocalização /lI [I] e [w] • O alofone posicional [w] ocorre em posição de final
do I posvocálico de sílaba. Ex: I'sall ['saw] "sal" e I'salta!
(individual Exemplo: l'baJ101 -> ['bãJ1U] -['bãyU ] -
ou em grupos) ['bãniU] "banho"
(Dialeto 2 - típico ['sawta] "salta".
do Brasil) • O alofone posicional [I] ocorre NDA.

Tarefa
-----------Exercício7 - - - - - - - - - - - Selecione os alofones da nasal palatal que ocorrem em Seu idioleto. Preencha o
Transcreva foneticamente as palavras abaixo. Note que a transcrição fonética deve quadro referente à alofonia da nasal palatal na tabela fonêmica destacável. O fonema
estar entre colchetes. Complete em seguida, na coluna de transcrição fonêmica, o espa- Ipi deve estar na tabela fonêmica na posição correspondente ao segmento nasal
ço sublinhado com o fonema consonantal pertinente. Você deve selecionar para cada palatal.
lacuna um dos seguintes fonemas: Ip, b, t, d, k, g, f, v, S, z, S, 3, ro, D, 1, f, R, Á/
Ortografia Fonética Fonêmica
a. cultural I_u _ _ u '_a-.l
Os procedimentos de análise fonêmica considerados acima nos levaram a identi-
b. almejado la__&'_a_ol ficar os fonemas e alofones do português. Identificamos dezenove fonemas: Ip, b, t, d,
c. capital Ca_ i '_a-.l k, g, f, v, s, z, J, 3, m, n,J1, I, Á, f, RI. Este grupo de fonemas é idêntico para todos os
d. gol 1'_0_1 dialetos do português (exceto para falantes de certos dialetos, como por exemplo de
e. atol la'_'J_I Cuiabá, que não apresentam os fonemas IJ,31 em "chá,já"e sim os fonemas ItJ,d3 I na
f. azul l'a_u_1 posição inicial nestas palavras). Os fonemas devem ter sido adicionados à tabela fonêmica
g. canil Ca'_LI destacável à medida que os exercícios desta seção foram concluídos.
h. ultraje IU_' __a_el Considerando-se as particularidades dialetais identificamos as seguintes alofonias:
vozeamento I (de fRf); vozeamento 2 (de IS1); palatalização de oclusivas alveolares;
lateral palatal; I posvocálico; nasal palatal. As alofonias consonantais relevantes para o
, seu idioleto devem ter sido listadas nos quadros que se encontram abaixo da tabela
Finalmente vamos considerar os pares de sons foneticamente semelhantes nifJ1; .'. fonêmica consonantal.
.J1IY; nifj para os quais não foram encontrados pares mínimos. Investigamos a .' Resta-nos, finalmente, considerar as consoantes complexas [kw, gW] que ocorrem em
de alofonia de variação livre. "Dialeto I" representa uma pronúncia possível para fa- palavras como "quadro" e "lingüiça". A representação fonêmica de consoantes complexas
lantes do Sudeste do Brasil. "Dialeto 2" representa uma pronúncia possível para falan-, é Ikw, gwI. Assim, temos que a representação fonêmica das palavras "quadro" e "linguiça"
tes de Belém do Pará. Considere os dados:
F- 'hJZ--1 Ollellilca A-esll,qIUI'U-SiIOO,CO-
Fonêmico - A'estruturo silábka l53-

são respectivamente: I'kwadrol e/liN'gWisa/. As análises do português excluem os fonemas


Os pontos de interrogação - ??? - indicam qUe potencialmente pode-se encontrar
!kw, gWI do inventário fonêmico (e portanto estes segmentos não. constam da tabela fonêmica).
e~e~pl?s_para tais categorias (aparentemente a falta de exemplos representa lacunas na
Isto deve-se ao fato dos fonemas !kw, gWI representarem um resquício histórico do latim,
que ainda. hoje está em evolução no português. Mais especificamente, há um grupo de dlstnbUlçao). Uma linha pontilhada indica ausência de dados. Palavras entre parênteses
palavras em que a consoante complexa pode alternar com uma consoante oclusiva, como cons:stem, do único ~xemplo encontrado para aquela categoria; ou representaIl,).um
em "li[kW]idificador!li[k]idificador". E há um grupo de palavras em que a consoante com- padrao ano~al~ rel~clOnado a palavras estrangeiras incorporadas ao português; ou ex-
plexa deve ocorrer: "[kW]adro", mas não "*[k]adro". Temos vários argumentos para postu- pressam varIaçao dIaletal.
lar que a representação fonêmica das consoantes complexas é!kw, gWI. Dentre os principais
argumentos destacamos: as seqüências !kw, gWI comportam-se como uma única consoante
na estrutura silábica (exclui-se a representação !kw, gwf); restrições acentuais (*lín[gW]iça,
*íni[kW]a); e restrições em alternâncias morfológicas ("iní[kW]a/ini[kW]idade" e "inó[ku]a/ 2. Sílabas constituídas de uma vogal
ino[ku]idade"). Estes argumentos são discutidos detalhadamente em Cristófaro Silva (1995).
Consideramos a seguir a estrutura silábica do português. Adotamos a análise de O quadr~ abaixo ilustra exemplos de palavras que apresentam pelo menos uma
Mattoso Câmara (1970) com complementações da autora. A distribuição das consoan- sílaba constitulda apenas de vogal. As vogais das palavras entre parênteses podem apre-
tes na estrutura silábica do português é essencial para a compreensão global do sistema sentar uma outra vogal correspondente em certos dialetos do português.
fonêmico desta língua.
(2) Sílabas constituídas apenas de vogal
\bgcl Inicio de palavra Melo de palavra Final de palavra
tônica prefônlca tônico pretônica/posfônlca tônica postônlca

A ESTRUTURA SILÁBICA [i] [i]da [i]greja cu[i]ca ju[i]zado hava[i] --


[e] [e]le [e]levador co[e]lho jo[e]lhada fuzu[e] (cári[e])
[e] [e]ra (h[e]rege) po[e]ta (co[e]rente) obo[e]
1. Introdução [a] [a]ve [a]viador '. pi[a]da di[a]rista ali [a] (áre[a])
[o] h[o]ra ([o ]régarto) cari[o]ca (ge[o]logia) curi[o]
Sílabas são constituídas de vogais - que representamos por V - e consoantes -
que representamos por C. A estrutura máxima de uma sílaba do português é apresenta- [o] [o]vo [o]dor le[o]a le[o]nino pare [o] (6di[o])
da a seguir (versão preliminar). A vogal é sempre obrigatória e as consoantes podem [u] [u]til [u]vular gra[u]do mi[u]deza ba[u] --
ser opcionais conforme os critérios listados: [I] -- -- -- perdo[!]
[~]
(1) Cl C2 V C3 C4 (versão preliminar) -- olimpí[~]da -- di[~]

[u] -- perí[u]do -- páti[u]


A vogal é o núcleo da sílaba e as consoantes ocupam as partes periféricas. O [i] [i]ndio [i]mperador Co[i]mbra co[i]ncide Ca[i]m --
núcleo ou pico da sílaba pode receber o acento primário (ou tônico) ou secundário
(átono). Geralmente os núcleos das sílabas em português são preenchidos por segmen- [e] [e]nlre ([e]ncanto) co[e]ntro do[e]ntio ???
tos vocálicos (uma das poucas exceções em que uma consoante ocupa O núcleo da [ã] [ã]njo [ã]ntigo adi[ã]nta adi[ã]ntar (souti[ã]) --
sílaba é o sinal de silêncio: ps! [ps]). Uma sílaba do português requer então que a
posição da vogal seja preenchida, o preenchimento das posições consonantais é opcional. [õ] [õ]nde [õ]mbreira a[õ]nde ??? ??? --
Qualquer vogal tônica ou átona do português brasileiro pode ocupar tal posição. [u] [u]m [u]mbilical ori[u]ndo ??? pi[u]m
Apresentamos os quadros que ilustram exemplos de sílabas possíveis do portu-
guês: constituídas apenas de vogal, constituídas de uma ou duas consoantes prevocá-
licas e constituídas de uma ou duas consoantes posvocálicas. Para sílabas constituídas apenas de vogais podemos observar as segnintes restrições:
11
.1I
1
' ' ' ' C - o _.~-~~~- --~~'--'-~F6ii'én;'lid::l"-:.;:;;,r'A:'*'e'strútura silábicà 155
w·,'" ' '1-054'FonemlCO' AO' eSfrotOfQ'"SliOOi~U,

(3) Restrições em sílabas constituídas de uma vogal 3. Consoantes prevocálicas


a. As vogais orais [i,e,e,a,a,o,u] podem ocupar a posição de vogal em sílabas
constituídas apenas de vogais, sendo que qualquer uma destas vogais pode mos e~:~~:i~!~~;~~~c~~~: ~~d:~~~:~~u~a ou duas ~onsoantes em português. Te-
ocorrer em início de palavra ou em meio de palavra em posição tônica ou consoanteprecedendoonúcleo)ouC C·V:C - CIV; (quando temos ap';!)as uma
átona dependendo do dialeto. tes precedendo o núcleo). I 2 I C2 VV (quando temos duas consoan-
b. As vogais átonas postônicas [I,ô,U] geralmente ocorrem em posição definal
de palavra. parafalantes que apresentam seqüências de vogais postônicas em Tratemos de cada caso indi VI.dualmente. O quadro apresentado abaixo ilustra ex
los em
palavras como "cárie, área, ódio", ternos um subconjunto das vogais [i,e,a,o,u] p que ocorre apenas uma consoante prevocálica: C I V _ C I VV' . em-
em posição átona final.
c. Vogais nasais em sílabas constituídas apenas de vogais geralmente ocorrem (5) Somente uma consoante prevocálica
em início de palavra em posição tônica ou átona. Quando em meio de palavra,
a vtJgal nasal em sílaba única deve ser precedida de uma vogal oral (cf Coimbra, Início de palavra Meio de palavra
Consoante
OI CW' OI CW
ainda, reinstalar). Ipi Ip/á Ip/ai calp/a chalp/éu
Lembramos ao leitor que ditongos são interpretados como seqüências de vogais. Ibl Iblala Ibloi sa/b/e aca/b/ou
Sendo assim, em uma palavra como "oito" temos duas sílabas constituídas apenas de
ItI Itlapa Itleu paltla altleu
vogais: "o.i.to". As duas sílabas formadas apenas por vogais combinam-se formando
um ditongo decrescente que consiste de uma seqüência de vogal-glide: "['01]to". Duas IdI Idledo Idleu caldlê beldléu
sílabas formadas apenas por vogais podem combinar-se também para formar um diton- lkI lkIasa lkIai palkla peIkIou
go crescente que consiste de uma seqüência de glide-vogal: "estacUo]namento". Deve-
IgI Iglato Iglaulês lalg/o min/glau
mos assumir então que a estrutura da sílaba em português apresenta duas vogais: VV.
[note que em (I) assumimos apenas uma vogal na estrutura silábica]. Resta-nos definir Ifl lfIaca If/oi balf/o orlfleu
quais das vogais na seqüência é o pico ou núcleo da sílaba. Para efeito de descrição da Ivl Ivlaca Ivlai lalv/a calv/ou
estrutura silábica, assumimos que o pico de qualquer sílaba do português é V. A vogal
181 /s/acC) Is/ei als/a pals/eio
correspondente ao glide _ que pode ser prevocálica ou posvocálica - será descrita como
V'. De acordo com estes critérios a estrutura silábica do português apresentada em (I) Izl Izlero Iz/eus alz/a calz/ei
deve ser reescrita como: 111 II/ave IIleira alI/a alJ!ei
131 13/ato 13/eito al3 /a al3/eita
(4) Cl C2 V V' C3 C4 ou Cl C2 V' V C3 C4 (versão definitiva)
IR/ IR/ato IR/ei caIR/o colR/eu
Os segmentos consonantais _ que são opcionais - são representados por C. O /fi calrlo salr/ou
núcleo da sílaba é um constituinte obrigatório que é representado por V. O glide - que
é opcional- é representado por V. Na primeira representação em (4), a estrutura silábi- Im/ Im/ato Im/au almlor almlei
ca CI C2VV' C3 C4 apresenta uma seqüência de vogal- glide (ou ditongo decrescente) e In/ In/ata In/oite aln/o baln/iu
as consoantes são opcionais. Na segunda representação em (4), a estrutura silábicà 1]11 (I]1Ioque) bal]1lo solj1lei
CIC2V'VC3C4 apresenta uma seqüência de glide-vogal (ou ditongo crescente) e
consoantes são opcionais. Retomamos a interpretação fonêmica dos glides no . 111 IIlata Il/ei mallla aba/l/ei
lÁ/ (lÁ/ama) alÁ/o malÁ/ei
desta seção.
Consideramos a seguir os segmentos consonantais cuja ocorrência é opcional
estrutura das sílabas do português. As consoantes preenchem as partes periféricas Paraobservações:
sílabas constituídas de apenas uma consoante prevocálica podemos fazer as
sílaba podendo ser prevocálicas - quando ocorrem antes da vogal- ou po:svoçálica:s- seguintes
S
quando ocorrem após a vogai. Consideremos inicialmente as consoantes pnwcáliclI .,
r'"" ~~ ~
iL::5o'" Fonemlca ~,.;...'/}Sf,esl1 0101 <;:1' :SI IbUICO "._A,

(6) . - em SIOabas com uma consoante prevocálica


Restnçoes •. ir!. não ocorre.
a. Em posição inicial $,fJ ocorrem somente em ::F:;e:~'~f:e~os uma sílaba CVe a Para sílabas que apresentam encontros consonantais tautossilábicos em posição
Quando apenas uma consoante ocorre precede sgconsonantais listados ante-
prevocálica, podemos fazer as seguintes observações:
d
Á ri 6 fionema
consoante po e ser quaiqu er um dos dezenove correm em posição intervoca'I'lca. (8) Restrições em sílabas com duas consoantes prevocálicas
riormente. Entretanto, os fonemas $, , "s "l°ha "Estas palavras são emprés-
Exceções ocorrem par,a 'In/
JU.
e IM' "nhoque, .e alternativa
ma . em que a voga 1['] I prece- a. Quando C} e C2 ocorrem, a primeira consoante é Uma obstruinte (calegoria que
timos e geralmente apresentam uma pron.unclO " inclui oclusivas e fricativas pré-alveolares) e a segunda consoante é uma líqUida
. . I "['] hoque" e "[,]lhama . d' (categoria que inclui /I,rl).
de a consoante mclO .' I n Á. fi em osição inicial só podem ser prece 1-
b. Sílabas que apresentam os fonemas 1J1: p e lJ1 Á ri ocorrem somente em b. Idll não OCorre e lvI/ OCOrre apenas em um grupo restrito de nomes próprios que são
das de uma sílaba com vogal or~l (VImos aCIma qUantals 'que iniciam uma sz1aba empréstimos (ex: Wladmir, Wlamir, etc.).
. T ) O demaiS fonemas conson .
posição mtervoca Ica. s I ralou nasal ou que termme em
podem ser precedidos de uma sz1aba com voga o c. Ivfl e Itll não ocorrem em início de palavra e apresentam distribuição restrita, ou
consoante posvocálica. seja, COm poucos exemplos.

. resentam duas consoantes prevocálicas: Tratamos das restrições segmentais impostas às consoantes prevocálicas do por-
Consideramos a segurr sílabas que ap • hamado de encontro consonantal
V C C VV' O conjunto das duas consoantes e c tuguês. Para que possamos compreender a distribuição das consoantes Posvocálicas,
C 1C2 - 1 2Em encontros
tautossilábico. . consonantaI.s tautossilábicos as duas consoantes são parte devemos introduzir as noções de neutralização e arquifonema. Tais noções são al?re-
da mesma sílaba. Considere o quadro: sentadas na próxima seção ao considerarmos o arquifonema ISI do português.

(7) Duas consoantes prevocálicas

Consoante
Início de palavra Meio de palavra 4. Consoantes posvocálicas
CC! COIV' CC! CCVV'
/prl Ipr/ece Ipr/eito a/pr/eço com/pr/ou 4.1.0 arquifo nema /5/
Ipll Ipllauo Iplleura a/pllica a/pllauso
Certos segmentos que apresentam contraste fonêmico (isto é, que podemos en-
/brl /brlasil /br/eu a/br/e a/br/iu
contrar pares minimos que caracterizem os segmentos como fonemas) podem apresen-
/bll /blloco (/bl/au) emlbllema ?17 tar a perda do contrastefonêmico em um ambiente específico. Temos em português a
IU:I Itr/ato Itr/eis a/u:/ás en/tJ:Iou oposição fonêmica entre Is,z,J,3/. Os pares mínimos "assa, asa, acha, h'\ia" caracteri-
zam o Contraste fonêmico dos fonemas Is,z,J,3 1 em posição intervocálica. Os pares
Itll a/tllas
mínimos "(ele)seca, Zeca, (ele)checa, jeca" caracterizam o contraste fonêmico dos
Idrt Idrlácula Idrluida a/ctr/o enqua/dr/ei fonemas Is,z,J,31 em início de palavra. Note que caso haja a troca de um fonema pelo
Idll outro haverá mudança de significado da palavra. Observe contudo que em posição final
de sílaba, o contraste fonêmico dos fonemas Is,z,J,31 desaparece. Queremos dizer com
Ikrl Ikr/avo Ikr/ei alkrle lalkrlei
isto que em posição final de sílaba qualquer um dos segmentos [s,z,J,3J pode ocorrer
Ikll Ikl/ave Iklláusula ca/blloco ??? sem causar prejuízo de significado. Observe nos exemplos apresentados a seguir a rea-
Igrl Igr/ave Igr/ou ma/gr/a san/gr/ei lização fonética da consoante que ocorre no final de sílaba na palavra "mes": ['mesJ ou
[lmeJJ ''mes''; [mezbu'nituJ ou [me3bulnituJ "mes bonito" e [mezatra1zaduJ "mes atra-
Igll Igllutão Igllauco en/glloba ???
sado". Em todos estes exemplos podemos depreender o significado da palavra ''mês''.
Ifrl Ifr/aco Ifr/aude Álfflica con/fr/ei Note contudo que a consoante final da palavra "mês" nestes exemplos ocorre como
IflI Ift/ama Ift/euma a/flIuente a/flIui qualquer um dos segmentos [s,z,J,3J. Concluímos então que os fonemas Is,z,J,31 apre-
sentam contraste fonêmico em início de palavra (cf. "(ele) seca, Zeca, (ele) checa,
Ivrt li/vr/o li/vrlei
jeca") e em posição intervocálica (cf. "assa, asa, acha, h'\ia"). O contraste fonêmico
Ivll (Ivlladmir) contudo não é atestado em posição de final de sílaba (cf. ['mes] ou [lmeJJ "mes";
[mezbwnitu] ou [me3bulnitu] "mes bonito" e [mezatra1zadu] "mes atrasado").
1':58 ,- Fonêmica A ~st~'utur~, silÓbic6

Devemos então buscar uma maneira de expressar este tipo de compórtamentp, ou Ortografia
seja, o fato de certos fonemas perderem o contraste fonêmicoem ambientes específi- Fonética Fonêmica
fugaz
cos. Para isto, utilizamos a noção de neutralização e arquifonema. Dizemos que há 'I_u'_a_/
arroz
neutralização dos fonemas /s,z,L3/ em posição final de sílaba em português. Para /a'_o_/
atroz
representarmos a consoante que ocorre em posição final de sílaba - que corresponde a /a' __ 3_1
luz
um dos segmentos [s,z,L3] - utilizamos o símbolo /S/ o qual representa um /'_u_/
susto
arquifonema. Portanto, um arquifonema expressa a perda de contraste fonêmico, ou /'_u__o/
vespa
seja, a neutralização - de um ou mais fonemas em um contexto específico. Em (9) /'_e__a/
lesma
apresentamos a distribuição do arquifonema /S/ em português. /'_e__a/
vesga
/'_e__a/
mês
/'_e~
(9) Distribuição do arquifonema ISI em português mês passado
/_e__a '_a_oi
a. Ocorre como [zi (ou [3i dependendo do dialeto) em limite de sílaba seguido por mês bonito
/_e__o '_i_oI
consoante vozeada (cf "esbarro, desvio"). mês alegre
b. Ocorre como [si (ou [fi dependendo do dialeto) em limite de sílaba seguido por
/_e_a' e e/
consoante desvozeada ou quando em posição de final de palavra (cf "pasta, asco,
mês, luz"). Pod~mos concluir a. discussão dizendo
sua propnedad ".
que os quatro fonemas /s z r 3/ perdem a
' ,J,
c. Ocorre como [zi em qualquer dialeto quando um segmento inicialmente em posição final de íl e contrastiva (que os Identifica como fonemas distintos) em posição
final de sílaba (por exemplo, o segmento final de "luz") passa a ocupar a posição SI aba sendo representados neste contexto pelo arquifonema /S/.
inicial de sílaba (o primeiro segmento da segunda sílaba "luzes"). Retomemos então à q C"'al
/SI- UalS . - ues ao ImcI que nos levou à investigação do arquifonema
. qb sado as consoantes que podem Ocorrer em posicão posvocáJica em português?
Aca amos everqueoar'~ /S/' .
Postulamos acima o arquifonema /S/. Tal segmento pode manifestar-se foneti- R áJ' qUi onema e uma destas consoantes. Tratamos a seguir do
camente como [s,z,S,3] em posição final de sílaba. Observe que o arquifonema é posvoc ICO que OCOrre em posição posvocáJica em palavras como "mar" e "marca".
transcrito entre barras transversais tendo portanto um status fonêmico. O arquifonema
/SI será utilizado somente na transcrição fonêmica nos contextos em que a neutralização 4.2. O "R" posvocálico
se aplica: posição final de sílaba. Note que uma palavra como "pasta" pode ser trans-
ml'nl'm ) os em portUgUêS:~ "r fraco" e o "R forte". Contraste fonêmico (ou seja p~es
crita foneticamente como ['pastg] ou ['paStg] dependendo do dialeto em questão. Tem
Contudo, a transcrição fonêmica de tal palavra será idêntica para qualquer dialeto: os entre estes dOIS tipos d "R'" '
" / e somente e atestado em posição intervocálica'
/'paSta/. Observe que em /'paSta/ o arquifonema /S/ ocorre em posição final de síla- caro carro; careta/carreta' sarar/s "O" f " .
"caro, careta, arara")'~ ' arrar .. r raco (que ocorre em palavras como
ba. O mesmo ocorre com uma forma como "paz" que pode ocorrer foneticamente e I . mam esta-se foneticamente como um tepe ou vibrante simples
como ['pas] ou ['paS] dependendo do dialeto e que fonemicamente apresenta a se- c: qua querr dialeto do português: [r]. O "R forte" Ocorre em início de sílaba (cf
guinte transcrição: /'paS/. ro, rua, srael). A realizaça-o' ét' d "R'" . . '. .
dial' lon Ica o lorte varra conSideravelmente de
Temos então que o arquifonema deve ser utilizado somente na transcrição fonêmica capI':~ para dialeto (para a descrição do "R forte" e do "r fraco" em sellidiol~to ver o
nos contextos em que a neutralização se aplica. No caso de /S/ em português o contexto 'do antenor). Nesta seção estamos particularmente interessados no "R"'llosvocálico
da neutralização é em posição final de sílaba. Ao considerarmos palavras como "assa, Consl ere os exemplos em ( 1 0 ) . ' ,...... .' .
asa, acha, haja" devemos utilizar o fonema que representa o segmento intervocálico:
(lO) Ortografia
I'asa/; /'aza/; /'aSa/; /'a3a/.
par
Belo Horizonte São Paulo Foriêfui~á ".
['pah] ['par] /'paRI .
parto (lpahtu]
----------~. Exercício 1 - - - - - - - - - - ator ['partu] /'paRto/
[a'toh] [a'tor] /a'toR!
Transcreva fonética e fonemicamente os dados apresentados. Observe que as trans- torcida [tuh'sidg]
crições fonéticas estejam entre colchetes e as transcrições fonêmicas entre barras trans- [tur'sidg] /toR'sida/
cor ['koh]
versais. (lkor] /'koR!
corte ['k3htSI] ['k3ftI] /'k3Rte/
Fonêmico-- estrutura si/óbica 161

Os exemplos de (lO) refletem uma pronúncia possível para o dialeto de Belo (12) Amostra de distribuição do "R forte", "r fraco" .e"R posvocálico" nos
Horizonte (segunda coluna) e da cidade de São Paulo (terceira coluna). Note que em dialetos de:
Belo Horizonte ocorre o segmento [h] em posição final de sílaba e neste mesmo con-
texto ocorre O tepe [r] em São Paulo. Lembramos que há O contraste fonêmico em "r fraco" BH Pará de Minas
posição intervocálica entre [h] e [r] (cf."caro/carro") sendo que [h] relaciona-se ao "~ a. Posição intervocálica: V_V ['karu] ['karu] fo.""caro"
forte e [r] relaciona-se ao "rfraco". O "R forte"varia consideravelmente no portugues b. Seguindo C na mesma sílaba: $_CV$ ['pratU] ['pratu] "prato"
brasileiro e o representamos por IR! sendo que este segmento sempre ocorre no início "R forte"
da sílaba. O tepe é sempre representado por [r]. A perda de contraste fonêmico entre o c. Posição intervocálica: V_V ['kahu] ['kahU] "carro"
"R forte" e "r fraco" é nentralizada no português em posição de final de sílaba. Isto d. Início de sílaba precedido de vogal: V$_ ['hatu] ['hatU] "rato"
quer dizer que neste contexto pode ocorrer foneticamente segmento correspondente ao e. Início de sílaba precedido de consoante: C$_ [isha'!:w] [isha'!:w] "Israel"
"R forte" ou o "r fraco". Neste contexto - de posição final de sílaba - utilizamos o "ArquifonemalRl"
arquifonema /RI para representar fonemicamente o "R posvocálico". O arquifonema f. Final de silaba e palavra:_$# ['mah] ['maJ] "mar"
/RI ocorre somente em posição final de sílaba - seja em meio de palavra (cf. carta) .ou g, Final de sílaba seguido de consoante:_$C ['kaht;J] ['kaJl;J] "carta"
em final de palavra (cf.mar). Como dissemos anteriormente, há contraste fonêrruco
entre o "R forte" e "r fraco" apenas em posição intervocálica (cf. '::caro/carro"~ Os Os dados apresentados em (12) refletem uma das pronúncias possíveis parã o
demais ambientes em que o "R forte", o "r fraco" e o arquifonema IRI ocorrem sao: português [Cristófaro Silva (1994)]. No português de Belo Horizonte (MG) o "R for-
te" manifesta-se como uma fricativa glotal [h]. A distribuição do "R forte" no dialeto
(11) Exemplo de distribnição do "r fraco" e "R forte" e do arquifonema IRJ de Pará de Minas (MG) pode ser resumida assim: a fricativa glotal [h] ocorre em
"r fraco" início de sílaba [cf. (12c-e)] e a retroflexa [J] ocorre em posição final de sílaba [cf.
Entre vogais: caro I'karol (12f-g)].
Seguindo consoante na mesma sílaba: prato I'pratol Há contraste fonêmico entre o "r fraco" e o "R forte" em posição intervocálica [cf.
"R forte" (12a) e (12c)]. Em posição não-intervocálica há neutralização das oposições entre o "r
Entre vogais: carro l'kaRol fraco" e o "R forte" em proveito do último [Mattoso Câmara (1970:48)]. Assim, pode-
Início de palavra: rato I'Ratol mos assumir que o dialeto de Belo Horizonte tem [h] como a representação do "R forte"
Seguindo consoante em outra sílaba: Israel liSRa'!:V e "R" posvocálico ( c[(12c-g». O dialeto de Pará de Minas tem [h] para o "R forte" e
"Arqnifonema 1Rf' [J] para o "R" posvocálico (cf.(12c-g». De acordo com esta proposta as transcrições
Final de palavra: mar l'maR! fonêmicas dos exemplos apresentados em (12) são as seguintes:
Final de sílaba: carta I' KaRta/
(13) Ortografia Fonêmica
Em todos os dialetos do português haverá o contraste fonêmico em posição a. caro I'karol
intervocálica entre o "r fraco" e o "R forte" (cf. "caro/carro"). Este contraste fonêmico b. prato I'pratol
pode manifestar-se pelo número de vibrações da língua na articulação do segmento c. carro l'kaRol
consonantal: vibrante simples em "caro" ['karu] e vibrante múltipla em "carro" ['kafu]. d. rato I'Ratol
Alternativamente o "R forte" pode manifestar-se como uma consoante fricativa [X, y, e. Israel liSRa'!:l/
h, fi] ou retroflexa [J]. Seguindo consoante tautossilábica (na mesma sílaba), também f. mar l'maR!
temos o "r fraco" para qualquer dialeto (cf. "cravo, primo"). O "r fraco" se manifestará g. carta l'kaRta/
foneticamente como um tepe ou vibrante simples em todos os dialetos do português. A
variação lingüística ocorre de maneira bastante ampla nos demais contextos em que o Observe que as transcrições fonêmicas são idênticas para qualquer dialeto. Na
"R forte" ocorre. Em (12), ilustramos a distribuição do "R forte" no dialeto de Belo transcrição fonêmica temos o "R forte" representado por IR! e o "r fraco" representado
Horizonte e no dialeto de Pará de Minas (MG). por Ir/. O "R" posvocálico é representado pelo ljfquifonema /RI. A variação dialetal é
expressa na representação fonética que pode apresentar um subconjunto dos segmentos
[r, X, y, h, fi, J, r]. Faça o exercício abaixo.
___________ Exercício 2 - -.............- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Exercício 3------~~~---
Transcreva fonética e fonemicamente os dados abaixo e discuta a distribuição do Transcreva fonética e fonemicamente os' dados a.seguir. Note que a transcrição
fonétlca deve refletlr as pronúncias de dialetos que apresentam avocalização do /l/-
"r fraco", do "R forte" para a sua variedade dialetal.
Dialeto I - e dialetos em que uma consoante lateral ocorre em posição final de sílaba _
era JIf;_aI
l_u'~1
Dialeto 2. As transcrições fonêmicas são idênticas para os dois dialetos. ,.
guri Ortografia Fonética Fonêmica
arara la'_a_aI
I' _ _a_ol Dialeto 1 Dialeto 2
cravo a. papel l_a'_E-1
I' _ _i_ol
primo b. selva 1'_E __aI
aprova la' _ _O_aI
1'_E_ol c. sol 1'_0-1
reto d. solstício 1_0_ _ '_i_iol
rapaz I_a'_a~
l_E '_a_oi e. cachecol l_a_E'_O-1
cerrado
israelita li _ _ aE '_i_a f. sul 1'_u_1
amor la'_o~ g. vulto I'_u __ol
1'_E _ _ol h. marechal l_a_E'_a_1
certo
forte I'_o __el i. colcha 1'_o__aI
j. Brasil 1_ _a'_i-1
Ao concluir o exercício anterior você deve ser capaz de discutir a distribuição do
"R forte", do "r fraco" e do "R" posvocálico em seu idioleto. Compare o seu exe:cício Como conclusão temos que além do arquifonema ISI e do IR! posvocálico, o
ao de um colega ou tente formular uma outra distribuição possível para o portugues que fonemalll também ocorre em posição posvocálica em português (cf.I'paSI "paz"; l'maR!
seja diferente da sua. A seguir tratamos da ocorrência do IlJ posvocálico. "mar" e I'kalJ"caI"). Assurmmos
. para o português um quarto elemento posvocálico
que denominamos arq~ifonema nasallNl. O arquifonema nasallNl é atestado por exem-
plo em uma forma fonêmica como 1'laN/- que corresponde à forma fonética [lã] "lã".
4.3.0 li! posvocálico O arquifonema nasal é,discutido em detalhes nas próximas páginas quando considera-
Outra consoante que também ocorre em posição final de sílaba é o fonema Ill. mos o sistema fonêmiéo vocálico do português. Apresentamos a seguir o quadro das
Lembremos que em início de sílaba (cf. "leve, lata, lindo") ou quando. precedIdo de quatro consoantes posvocálicas do português e as restrições segmentais impostas a tais
consoante na mesma sílaba (cf. "atlas, plano, aclive"), o fonema III manIfesta-se fone- consoantes.
ticamente como uma consoante lateral alveolar (ou dental) em qualquer dialeto do Em (13) listamos as consoantes posvocálicas do português e apresentamos um.
português. Em posição final de sílaba (cf. "cal, atol, alça, selva"), o fonemalll tem du~s exemplo de transcrição fonêmica correspondente a tal consoante.
possibilidades de realização fonética. Na primeira possibilidade, o fonema III em POSI-
ção final de sílaba pode ocorrer como uma lateral alveolar (ou dental) velarizada [i]. (13) Consoantes que ocorrem em posição posvocálica
Neste caso, palavras como "cal, alça" são transcritas foneticamente como: ['ka~]e ['ais~], Consoante posvocálica Representação fanêmica Ortografia
pronúncia de variedades do Sul do Brasil e de Portugal. A segunda posslblhdade e a
ISI , paz; pasta
vocalização do fonema IlJ em posição final de sílaba, esta típica da mawna dos dlaleto~ l'paSI l'paSta!
do português brasileiro e palavras como "cal, alça" são transcntas fonetIcamente como. IR! l'maR! , l'maRkal mar; marca
['kaw] e ['aws::>]. Veja que uma forma como "cal" - que pode ser pronuncIada ['kai] ou III I'sall , I'salta/ sal; salta
['kaw]- terá a representação fonêmica I'kall em qualquer dialeto. Similarmente, uma INI filaNl , 1'laNJel lã; lanche
forma como "alça" cuja representação fonêmica é I'alsa! pode ser transcnta fonetlca,
mente como ['ais::>] ou ['aws::>] dependendo do dialeto em questão.
1----------"- em seqüência - os segmentos posvocálicos podem sofrer alterações. Por exemplo, se
Tarefa uma palavra termina em ISI e a palavra seguinie começa com uma vogal - como em
Complete a coluna de "representação fonética" na tabela de consoantes posvocálicas "paz + imediata" - temos que a consoante final que se encontrava em posição posvocálica
que é apresentada na parte inferior da tabela fonêmica destacável. (em (lpas] l'paSI "paz") passa a ocupar uma posição prevocálica. Observe que no exemplo
"paz + imediata": Ipa.zi.me.di.'a.ta/ o ISI posvocálico de "paz" passa a ocupar uma
Lembre-se que a estrutura silábica do português é: CIC2VV'C3C4 [cf. (4)]. As posição prevocálica ao formar sílaba com a vogal inicial da palavra "imediata". O "s"
consoantes posvocálicas correspondem à C3 e C4. Listamos a seguir as restrições silá- posvocálico permanece em posição posvocálica em casos que este seja seguido por
bicas impostas a tais consoantes no português. uma palavra que começa em consoante: "paz + conquistada": IpaS.koN.kiS.'ta.da/.
Concluímos aqui a discussão sobre a estrutura silábica do português. Considera-
(14) Restrições impostas às consoantes posvocálicas mos a seguir o arquifonema nasal rNI que foi anteriormente proposto e introduzimos a
a. A ocorrência de C3 elou C4 é opcional. análise fonêmica do sistema vocálico do português.
b. Quando C3 ocorre, esta consoante deve ser um dos segmentos: IS/,/RI,/l/,/NI (cf
JlpaSI "paz"; JlmaR/ "mar"; Jlkal/ "cal" eJllaNI "lã" ouJlpaSta/ "pasta"; JlmaRka/ 4.4.0 arquifonema INI
"marca"; Jlkalma/ "calma" e JllaNSeI "lanche"). Geralmente apenas uma consoan-
te - ou seja C3 - é permitida em posição posvocálica em português. . Lembremos que em posição tônica em português temos sete vogais orais :...
c. Quando C4 ocorrem, esta consoante deve ser /S/ e o segmento correspondente à [1,e,e,a,:J,o,u] - e cinco vogais nasais - [i,e,ã,õ,ií] (cf. Fonética). A questão que se
consoante C3 será um dos segmentos: lI/, IR/, INI (cf IsolS'tisiol "solstício"; coloca na análise das vogais nasais - em oposição às vogais orais - é se temos doze
IpeRSpek'tiva/ "perspectiva" e ItraNS'toRnol "transtorno"). fonemas vocálicos distintos (sete orais e cinco nasais) ou se as vogais nasais consistem
da combinação de uma vogal oral com o arquifonema nasal rNI. A proposta de que há
Vimos em (14) que a estrutura máxima das sílabas em português é C 1C2VV' C3C4' fonemas distmtos para as vogais orais e nasais implica em assumir-se um conjunto de
O núcleo da sílaba é a vogal V, que é o único elemento obrigatório. O glide e as consoantes dozefonemas vocálicos (sete orais e cinco nasais). Já a proposta de que as vogais nasais
são elementos opcionais. A sílaba do português em que encontramos o maior número consistem da combinação de uma vogal oral com o arquifonema nasal rNI implica em
de elementos é (CCVCC). Um exemplo em que tal sílaba ocorre é "trans.por.te". assumir-se um conjunto de sete fonemas vocálicos (os fonemas orais que se combinam
. Vale dizer que quando o glide posvocálico ocorre na estrutura de uma sílaba e tal com o arquifonema rNI para formar as vogais nasais correspondentes).
glide é seguido de uma consoante, tal consoante ocupa a posição final da palavra, por Entre os autores que defendem a oposição fonêmica entre vogais orais e nasais
exemplo "cais". A consoante em posição final de palavra que segue o glide posvocálico temos Head (1964), Pontes (1972) e Back (1973). Segundo estes autores pares mini-
é sempre IS/. Em outras palavras, as consoantes posvocálicas /RJ,flI e rNI não ocorrem mos como (lIa] "lá" e ['lã] "lã" ou ['mitu] "mito" e ['niítu] "minto" caracterizam a
seguindo glides: 'cáir, 'cáil ou 'cáim. Note contudo que as consoantes posvocálicas oposição fonêmica entre as vogais orais e nasais no português.
IS/,/RJ,flI,rNI ocorrem seguindo vogais acentuadas: país, cair, Abigail ou Caim. Exclu- Em oposição a esta abordagem - de contraste fonêmico - temos a análise defen-
em-se também formas em que um glide posvocálico ocorre seguido de consoante em dida por Mattoso Câmara (1970) que argumenta que as vogais nasais do português
meio de palavra: *cáista, 'cáirta, 'cáilta, *cáinta. A palavra "câimbra" parece ser o consistem da combinação de uma vogal oral com o arquifonema nasal rNI. De acordo
único exemplo em que uma seqüência de vogal-glide posvocálico ocorre seguido de com esta proposta, as vogais nasais [i,e,ã,õ,ií] devem ser representadas fonemicamêhte
um elemento consonantal posvocálico: l'kaiNbra/. Opera em português a restrição ge- como liN, eN, aN, oN, uNI. Certamente esta é uma análise de caráter mais abstrato do
ral de excluir-se consoantes posvocálicas após glides. que a análise que argumenta pelo contraste fonêmico. O caráter abstrato decorre do fato
Temos que quatro consoantes é o número máximo que podemos encontrar em de não atestarmos foneticamente em português a ocorrência de consoantes nasais
uma seqüência em uma única palavra: l'moNStrol "monstro" (duas consoantes Posvocálicas, como por exemplo ['kampo] ou ['sin]. O que há para alguns falantes do
posvocálicas - NS - seguidas de duas consoantes prevocálicas - tr). português é a presença de um elemento nasal que ocorre após vogais nasais:
ft
Devemos observar que consoantes posvocálicas ocorrem em final de palavra - ['kãmpUl"campo" ou ['sl ] "sim" [cf. Cagliari (1981)].
(lpas] "paz" - ou em meio de palavra - (lpast~] "pasta". Quando consoantes posvocálicas Vejamos então quais são as conseqüências da proposta de Mattoso Câmara (1970).
ocorrem em meio de palavra, como em ['past~] "pasta", a sílaba seguinte deve iniciar- Note que ao assumirmos que as vogais nasais são fonemicamente caracterizadas como
se por consoante (no caso de "pasta" a sílaba que segue a consoante posvocálica s uma vogal oral seguida de arquifonema nasal - ou seja NNI - assumimos também que
começa com t). Note que em juntura de palavras - ou seja, quando colocamos palavras as vogais nasais possuem a estrutura silábica de uma sílaba fechada. Sílabas fechadas
F66- Fonêmica A estn.ltlú·o' sil6biCci"
FEOnêm,ca':'::>pt~~t~ijtura silóbica 1'67
ou travadas são aquelas que terminam em uma consoante. Por exemplo, em ['us] /'uS/
seguida de uma consoante nasal (e - d .
"os" temos a sílaba travada pelo arquifonema /S/ e em ['u] /'uN/ "um" temos a sílaba que segue a vogal nasalizada d nao, e arq)-ufonema!): /ba'nana/. A consoante nasal
travada pelo arquifonema IN/. Mattoso Câmara argumenta que a vogal nasal comporta- , po e Ser m,nJ1l.
Gostanamos de finalizar d' - d .
se de maneira semelhante às vogais que ocorrem em sílaba travada por consoante. Isto vogais médias nasais e nasaliza~ Iscussa? este t6J.:ICO abordando a representação de
lante de qualquer dialeto do Portu~~ê~~~:;~?'~~:~;~~l~e~~re.nasaislparda q~a1quer fa-
porque quando uma palavra que termina em vogal nasal é seguida de uma palavra
iniciada por vogal não há crase: "lã azul" e "jovem amigo" seriam exemplos disto. nasallzadas ou orais de end d ' . gaIS nasa Iza as podem ser
Outro argumento do autor em defesa de caracterizar as vogais nasais como vogal segui- [ba'nan<l] A uestão p en o de dIaleto: "banana" /ba'nana/ [ba'nãn<l] [bã'nãn<l] .
da de arquifonema nasal baseia-se na distribuição dos "r,s" na estrutura silábica do quando n~sai; ou nas~:a::re~os ~~~:~ar é.quanto! representação de vogais médias
português. Ele argumenta que sílabas travadas são seguidas do "R forte" (cf. "Israel") e contrastem vogais médias nas~s p '. : ~IS~ ~on':llliCO desconhece-se línguas que
é esta variedade do "r" que ocorre seguindo vogais nasais (cf. "genro"). Mattoso Câma- nas línguas naturais Querem dOu seja. e/e e o/:J nao apresentam contraste fonêmico
ra argumenta ainda que temos hiatos em português (cf. "piada") e entretanto não temos como [lema]-[ISma]' ou [tõme~~[f~zer]com Issohque ~ão. há língua que tenha palavras
hiatos com a primeira vogal nasal (ou seja, *plada não ocorre). Quando potencialmente Levand . me que ten am slgmficados diferentes
O-se em conSIderação e t f t .
poderíamos ter hiatos com vogal nasal o que ocorre é que ou a nasalidade desaparece nasais do português como lê õ] A s e a?, opta~os em transcrever as vogais médias
(como em "boa") ou o segmento correspondente ao segmento nasal passa a ocupar uma todos os dialetos. Assim tem;s . tr s voga2 s nas~s sempre ocorrem como nasais em
posição consonantal na sílaba seguinte (como em "valentona"). Finalmente Mattoso presentação fonética ['lelU] ou [~Ie~n]sc~çao fonemlCa I'le::/tol "I~nto" associada à re-
Câmara aponta que não devemos considerar que vogais nasais tenham o status de fonemas to" aSsociada à _ , . u. !emos a transcnçao fonelllica l'poNtol "pon-
em línguas que não apresentem o contraste entre vogais nasais seguidas de pausa - por representaçao fonetlCa ['POIU] [I -, ] E
médias são transcritas como: leNI lê] e/oNI [õ] ': po_ lU. mresu~o,. as vogais nasais
exemplo ['bõ]- e vogais orais seguidas de consoantes nasais - por exemplo ['bon]- e são sobretudo de caráter tipográfico. o. s razoes em assulllirtaIs representações
entre estas e a vogal oral correspondente - por exemplo ['bo]. Segundo o autor o fran-
Quanto à representação ~ A • d . .
cês demonstraria esta propriedade em formas como: ['bo] "beau"; ['bõ] "bon" e ['bon] símbolos le :JI segu'd d onemlCa as vogaIS nasallzadas médias, adotaJ11os os
"bonne". Lüdtke (1952) argumenta que pelo menos no português europeu ocorre tal , I os e uma consoante nasal ( d I
a transcrição fonêmica I'le " " . que po e ser m,nJll). Temos então
contraste que seria exemplificado em formas como ['vi] "vi" ['Vi] "vim" e ['vim] "vime" ['Iem<l]. E temos a t ~~ le~a aSSOCIada à representação fonética ['Iem<l] ou
[cf. Callou & Leite (1993:86)]. ranscnçao fonelllica jIf:J I " [ . " . ,
fonética ['fõmI] ou ['f:JmI . A o _ me ome as!oclada a representação
Salientamos aqui que, do ponto de vista teórico, ambas as análises são possíveis. variação das vogais . r] d pçao por estas representaçoes deve-se sobretudo à
Se assumimos que há contraste fonêmico entre vogais orais e nasais teremos que admi- preende a maioria d~:~ I(~ as em termos dialetais. Em certos dialetos (que com-
tir doze fonemas vocálicos para o português (sete orais e cinco nasais). A segunda seguidas de con . Ia .e o~ do BrasIl) temos que as vogais médias acentuadas
proposta - de interpretarmos as vogais nasais como uma vogal oral seguida de ['fõmI] Já soantes ~asaIs sao nasahzadas: /Ilema! "lema" [Ifem<l] e/'f:Jmel "fo "
. em outros dIaletos (como c rt . me
arquifonema nasal NN/ - permite-nos postular um conjunto de sete fonemas vocálicos mesmas vogais são orais' l'l~ma/ "1 e" a[slvanaIltes do estado de São Paulo) estas
para o português (correspondentes às vogais orais) e um arquifonema nasal IN/ - que
ocorre em posição posvocálica. Neste trabalbo adotamos a análise de Mattoso Câmara
,. . ~
CICIO seguinte tem por ob'e!" f
nasais e nasalizadas.
ema' em<l] e jIf:Jm I"~ "[ f
e ome ':Jmr]. exer-
~ IVO Ixar a representação fonética e fonêmica de vogais
°
discutida acima e transcrevemos fonemicamente as vogais nasais como uma seqüência
de vogal oral seguida de arquifonema nasal: [ã] /aN/. Contamos então com um sistema
vocálico de sete fonemas orais - [i,e,e,a,:J,o,u] (e não de doze vogais como previsto ----------Exercício 4 - - -_ _ _ _ _ __
pela análise de contraste fonêmico). Além do mais, uma vez que temos os arquifonemas Transcreva fonética e fonemicaJ11ente da .
/S/ e /RI no português não é ad hoc postularmos um arquifonema nasal. e vogais nasalizadas. Lembre-se de os d?s_ abaIXO ~ara as vogais nasais
Lembramos ao leitor que a seqüência de vogal oral e arquifonema nasal IN/ repre, colchetes e as transcriçõed A qude as traIl.scnçoes fonétIcas devem vir entre

senta casos de vogais nasais que ocorrem como vogais nasais em qualquer dialeto do onemlcas evem vIr entre barras transversais.
português: /'siN/ ['Si] "sim" ou /'siNto/ ['Situ] "sinto". Enquanto as vogais nasais são Vogais Nasais
consistentes em todos os dialetos do português, as vogais nasalizadas variam conside- Ortografia Fonética Fonêmica
ravelmente de dialeto para dialeto. Lembre-se que vogais nasalizadas OC()ITem ~;eg'uid,as a. conde
de uma consoante nasal que se manifesta foneticamente: [ba'nãn<l] ou [bã'nãn<l] [ba'naJl<lJ b. manto I'_o _ _el
"banana". A transcrição fonêmica de uma vogal nasalizada consiste de uma vogal c. cantiga I'_a _ _ol
I_a_'_i_a/
68 Fonêmica A_estrutura

d. centavo I_e_'_a_ol me-se que o desaparecimento do arquifonema - em laNo/, 10Ne! e laNe/- causa a nasali-
e. anzol la_'_':>_1 zação da vogal do ditongo que ocorre como [ã~]. No caso das formas em "ão" - que
I'a _ _ol podem terruinar em laNo/, 10Ne! ou laNe!- temos a alternância dos ditongos nasais nas
f. anjo
I'a _ _u_ol formas plurais: [ã\.!s], [õ;s] ou [ã;s] (cf. "capitão", por exemplo). Note contudo que nas
g. ângulo formas terruinadas em loNa! o arquifonema não causa a nasalização da vogal precedente
h gente I'_e _ _el
(cf./boNa! ['bou~]- ['bo~] "boa".
i. tinta I'_i _ _a!
A interpretação dos ditongos nasais do português tem sido foco freqüente de aten-
J. onde I'o _ _el ção na literatura [cf. por exemplo Lacerda & Head (1966); Mattoso Câmara (1970);
Mateus (1975); Callou & Leite (1990)]. Remetemos o leitor à bibliografia pertinente
Vogais Nasalizadas
uma vez que uma discussão detalhada da representação fonêmica dos ditongos nasais
nos desviaria do tópico em consideração no momento: o sistema vocálico do português.
Ortografia Fonética Fonêmica Concluímos aqui a interpretação fonêmica das vogais nasais em português que certa-
a. cama I'_a_a! mente é um tópico bastante polêmico. Tratamos a seguir de outro tópico controvertido:
b. sanar I_a'_a.--l a interpretação de glides no português.
c. banho I'_a_ol
d. camada I_a'_a_a!
e. panela l_a'_E_a!
f. cena 1'_E_a! 5. Glides
g. remo 1'_E_ol
h. fome I'_':>_el Uma outra discussão controvertida na análise da cadeia sonora do português é a
i. sonata I_':>'_a_a! interpretação dos glides posvocálicos (cf. "gaita, pau"). Na discussão fonética sobre os
j. sonho 1'_':>_01 ditongos, vimos que os glides correspondem a vogais assilábicas e fazem parte de um
contínuo em que há mudança de qualidade vocálica. Os glides em português são trans-
m
critos foneticamente como e [\.!]. Observe contudo que do ponto de vista fonêmico
taJDbém podemos transcrever os glides como [y] e [w]. Esta proposta sugere que os
Concluindo a discussão sobre as vogais nasais do português, vejamos a representa- glides comportaJD-se de maneira análoga aos segmentos consonantais na estrutura silá-
ção fonêmica dos ditongos nasais. Por coerência com a interpretação dada às vogais na- bica. Mattoso Camara (1953) argumenta que os glides em português devem ser interpre-
sais - como vogal oral seguida de arquifonema nasal NN/- assunumos que os ditongos tados como fonemas consonantais independentes: Iy, w/. Esta abordagem baseia-se na
nasais são representados por uma vogal oral seguida de arquifonema nasal. O ~qwfo~ema interpretação dos glides na estrutura silábica. Ao analisarmos os glides como consoantes
pode ocorrer em posição final de sílaba (e palavra) e temos uma representaç~o fonenuca podemos associar uma forma como "pau" à representação fonêmica I'pawl em que te-
como 1'laNI para ['lã] "lã". O arquifonema pode ocorrer também entre vogais como por mos uma sílaba travada do tipo CVc. Sabemos que sílabas travadas ocorrem em portu-
exemplo em I'maNo/- ['mã\.!] "mão". Note que quando o arquifonema nasal ocorre em guês (cf. "mês, amor, sol, sim") e tal proposta incorpora os glides aos segmentos possí-
posição fmal de sílaba (e palavra) a vogal que o precede pode ser qual.9uer uma das vogais veis de ocuparem a posição posvocálica em sílabas travadas em português. Em outras
/i,e,a,o,u/: /lsiN/ "sim"; /lbeN/ "bem"; /llaN/ "lã"; /lboN/ "bom" e /IRuN/ "rum". Contu- palavras, analisando glides como segmentos consonantais podemos interpretar a estru-
do, quando o arquifonema ocorre entre vogais, a vogal que precede o arquifonema INI tura silábica de formas como "pasta' e "pausa" por um lado e "paz" e "pau" por outro
pode ser la,ol e a vogal que segue o arquifonema pode ser Ia,o,e/: l'boNa! "boa"; liR'maNol lado de forma análoga: todas estas formas apresentaJD uma sílaba travada por um seg-
"irmão"; lle'oNel "leão" e l'paNel "pão". A interpretação fonêmica dos ditongos na~als é mento consonantal posvocálico. Em "pasta" e "paz", a sílaba é travada pelo arquifonema
bastante complexa pois depende da análise das vogais nasais e também da mo~olog~a ~as ISI. Em "pausa" e "pau" a sílaba é travada pelo segmento consonantal/w/. O argumento
formas que apresentam ditongos nasais. Muitas vezes postula-se a representaçao fonenuca básico para adotar-se esta posição é o de que teremos um sistema fonotático (que repre-
de formas que apresentaJD ditongos nasais a partir de informação proveniente do compo- senta a estrutura das sílabas) mais simples, em que o padrão silábico (C)VC expressa a
nente morfológico. Por exemplo, assume-se representações como 1l~'oNel "leãO",? l'paNe! interpretação de glides e dos demais segmentos posvocálicos em português. Note que de
"pão" com o arquifonema nasal intervocálico porque em formas denvadas como leomno, acordo com esta proposta devemos acrescentar os fonemas consonantais Iy, wI aos
panificadora" ocorre uma consoante nasal intervocálica (que indicaJDos em negnto). Assu- dezenove fonemas consoantais do português. Teremos então 21 fonemas consonantais.
170 Fonêmica '....: A estr'utura' sil6bica

Uma proposta alternativa é a de que os glides sejam analisados como segmentos Adotamos a proposta de Mattoso Camru;a (1970). Portanto.o sistema fonotático
vocálicos e devem ser interpretados como vogais na estrntura silábica. Desta ma~el~a do português é: CIC2VVC3C4' Glides correspondem a um segmento opcional V e
uma forma como "pau" teria a representação fonêmica I'pau! com uma estrntura silábI- podem seguir a vogal (cf. "gaita") ou podem preceder a vogal (cf. "nacional"). Do
ca CVv. Note que neste caso além do padrão CVC teremos que incorporar um padrão ponto de vista da representação segmental, os glides correspondem às vogais altas li,ul
silábico do tipo CVV à estrutura silábica do português. De acordo com esta proposta em posição átona, que se manifestam foneticamente como segmentos assilábicos 11,\11.
teremos um sistema fonotático mais complexo (adicionalmente com sílabas CVV). Os glides são sempre associados a uma vogal e nunca podem ser núcleo de sílaba (e
Contudo, manteremos os dezenove fonemas consonantais do português (sendo que os conseqüentemente um glide não pode receber acento).
glides são tratados como vogais).
Comparemos então estas duas propostas de interpretação de glides em portug.uês.
A primeira proposta trata os glides como segmentos consonantais sendo parte posvocáh~a
da sílaba travada CVc. Nesta abordagem devemos incluir os fonemas Iy,wl aos demaiS 6. Conclusão
dezenove fonemas consonantais do português. Portanto, embora tenhamos um sistema
fonotático mais simples (que exclui sílabas CVV), temos um sistema fonê:mco .m.ais Vimos acima que a estrntura silábica do português é: C IC2 VVC3C4' Pelo menos
complexo (que inclui os fonemas Iy,wl). A segunda proposta assu~e o padrao sl~ab~co uma vogal deve ocorrer em uma sílaba bem formada do português. Se duas vogais
CVV para interpretarmos os glides. Excluímos os fonemas Iy,wl do mventário foneIllico ocorrem, uma será assilábica (glide). O glide pode preceder ou seguir a outra vogal.
mas temos um sistema fonotático mais complexo (que inclui sílabas CVV). Neste está- Temos sílabas com uma ou duas consoantes prevocálicas. Caso duas consoantes
gio da análise do português, a escolha entre as duas propostas parecia ser sem motiva- prevocálicas ocorram, a segunda deve obrigatoriamente ser uma líquida: !I,r/. As restri-
ção ou fundamento. A primeira opção seria complicar o inventário fon.êmico (acre!- ções segmentais em sílabas prevocálicas são listadas em (6) e (8). Analisamos as conso-
centando os fonemas Iy,w/) e simplificar o inventário fonotático (exclumdo o padrao antes posvocálicas discutindo os arquifonemas ISI e INI. Consideramos também os seg-
silábico CVV). A outra opção seria complicar o inventário fonotático (acrescentando o mentos fRJ e IV que podem ocorrem em posição posvocálica. Caso ocorram duas conso-
padrão silábico CVV) e simplificar o inventário fonêmico (excluindo os fonemas Iy, w). antes posvocálicas, a última delas será obrigatoriamente IS/. Consideramos finalmente
Mattoso Câmara (1953) adota a primeira opção e interpreta os glides como segmentos a representação fonêmica dos glides em português. A análise mais adequada interpreta
consonantais representados pelos fonemas Iy,w/. Ainda de acordo com esta opção, o os glides como segmentos vocálicos que podem seguir ou preceder uma outra vogal.
glide é interpretado como uma consoante posvocálica em sílabas do tipo CVC: "pai" e Concluímos assim a descrição do sistema fonotático do português. Na seção seguinte
"pau" demonstrariam este padrão silábico. determinamos os fonemas vocálicos do português e discutimos a alofonia vocálica.
Em (1970), Mattoso Câmara revê a proposta assumida em 1953 e demonstra que
os glides em português devem ser analisados como segmentos vocálicos. Esta análise
apresenta um sistema fonotático mais complexo (que inclui o padrão CVV) e mterpreta
os glides como segmentos vocálicos (não havendo necessidade de assumir-se os fonemas
Iy,wl). O argumento central que apóia a análise de glides como vogais baseia-sena
distribuição dos "r,s" em português. O autor argumenta que quando sílabas do tipO
o SISTEMA VOCÁLICO ORAL
CVC são seguidas por outra sílaba que se inicia com a consoante "r" teremos aí o "R
forte": liSRa'eV "Israel" e não */iSra'eVou 1'3eNRoI e não */'3eNrol "genro". Se os
glides comportam-se como consoantes posvocálicas em sílabas travadas do tipo CVC, 1. Fonemas vocálicos
espera-se que o "r" que segue o glide seja o "R forte". Isto porque o "R forte" segue
consoantes em sílabas travadas (cf. "Israel, genro"). O sistema vocálico do português deve ser analisado em relação ao sistema acentuai.
Contudo, exemplos como "beira" ou "europa" mostram que é o "r fraco" (e não o
Temos em português vogais tônicas (ou acentuadas) e vogais pretônicas e postônicas
"R forte") que segue o glide. Uma vez que o "r fraco" ocorre entre vogais (cf. ."pera)
(ou átonas). Apresentamos em (I) o quadro fonético das vogais orais do português.
e entre glide e vogal (cf. "beira"), o autor sustenta a análise segundo a qual os ghdes sao
Pode haver diferença entre este quadro e o quadro de vogais que voçê preencheu na
interpretados como segmentos vocálicos. Contra exemplos a esta análise são as pala-
vras "bairro" e suas formas derivadas (cf. "bairrista"). Contudo, nos demais casos em tabela fonética destacável. Isto deve-se a variação dialetal ou idioletal. O quadro abaixo
que o "r" segue o glide posvocálico temos o "r fraco": "pairar, amoreira, instaura, tem por objetivo listar o inventário fonético mais abrangente possível. As diferenças
que possam ocorrer não alteram a análise a ser apresentada.
pleura, touro, etc.".
(I) Quadro fonético das vogais orais mais de uma propriedade articulatória. Identificamos então um grupo de sete fonemas
anterior central posterior
vocálicos no português:
arred não-arred arred não-arred arred não-arred
alta i I 1 U U
(2) Fonemas vocálicos do português: li,e,e,a,:>,o,ul
média-alta e o
média-baixa e ~ :> Tarefa
baixa a Preencha o quadro de fonemas vocálicos do português com os sete fonemas vocálicos
/i,e,e,a,:>,o,u/. O quadro de fonemas vocálicos encontra-se na tabela destacável de
alofonia vocálica. Observe que temos sete fonemas vocálicos para qualquer dialeto
Tarefa do português. As particularidades de cada dialeto - ou idioleto - são caracteriza-
Compare as vogais que você selecionou em Sua tabela fonética destacável com as das pelas alofonias vocálicas. A tabela destacável de alofonia vocálica é apresenta-
vogais listadas em (1). Escreva as vogais orais que você identificou para o seu da a seguir. Destaque-a e proceda à investigação. Bom trabalho!
idioleto:

Lembramos ao leitor que devemos analisar fonemicamente apenas os segmentos


vocálicos orais. Isto deve-se ao fato das vogais nasais serem interpretadas como seqüência 2. Alofonia vocálica
de vogal e arquifonema nasal: NNI (por exemplo l'siNI "sim" e l'siNtol "sinto"). Note
contudo que as vogais nasalisadas - que ocorrem por exemplo em "banana" - serão consi- Discutimos a seguir a distribuição alofôuica das vogais orais do português. Note
deradas como alofones como será discutido abaixo. O primeiro passo para a análise fonêmica que nas transcrições fonêmicas cada segmento vocálico é obrigatoriamente representa-
das vogais é identificarmos os pares míuimos para os pares suspeitos de SFS (sons foneti- do por um dos fonemas li,e,E,a,:>,o,uI. Como mencionamos anteriormente, a análise
camente semelhantes). Em seguida identificaremos a alofonia vocálica. Relembremos, fonêmica do sistema vocálico do português deve levar em consideração a posição do
em primeiro lugar, os parâmetros de identificação de pares suspeitos para SFS relacionados segmento vocálico em relação ao padrão acentuaI. Devemos considerar também a ocor-
aos segmentos vocálicos: "as vogais que se distinguem por apenas Ulna propriedade rência de vogais médias le,o,e,:>1 em relação às demais vogais da palavra. As vogais
articulatória". Listamos a seguir os pares de SFS para as vogais do português. assilábicas ou glides ocorrem apenas com as vogais altas li,ul átonas e podem anteceder
ou seguir outra vogal. Consideramos finalmente a ocorrência de vogais nasais em rela-
-----------Exercício 1 - - - - - - - - - - - ção às demais vogais da palavra e a ocorrência de vogais nasalizadas em relação ao
acento e à consoante nasal que a segue.
Identifique pares mínimos para os pares suspeitos listados para os segmentos Em cada um dos quadros da tabela destacável de alofonia vocálica há um exemplo
vocálicos. Pode ser que não exista exemplos para alguns dos pares listados abaixo! ortográfico. A vogal relacionada ao alofone em questão encontra-se em negrito no exem-·
a. ile e. aI~ pio ortográfico. As áreas sombreadas indicam que aquela categoria não se aplica para o
b. ele f. ilI fonema em questão. As seguintes particularidades justificam as áreas sombreadas: as
c. :>/0 g. ulu vogais assilábicas do português relacionam-se apenas aos fonemas li,uI; assumimos
d.o/u que as vogais médias seguidas de consoantes nasais são vogais médias abertas le,:>/; em
posição postônica medial apenas as vogais le,:>1 podem apresentar variação alofônica
se a vogal acentuada também for uma vogal média aberta elou uma vogal nasalizada.
Para compreendermos a alofouia vocálica propomos que o leitor faça uma série de
Você deve ter encontrado pares mínimos para os pares de SFS listados em (Ia-d). exercícios que consideram individualmente cada um dos fonemas li,e,e,a,:>,o,uI. Ao fazer
Exemplos são encontrados para os pares ile; ele; :>/0; olu listados no exercício I: p[i]ral tais exercícios você deverá preencher a tabela destacável de alofouia vocálica. Passemos
p[e]ra; s[e]de/s[E]de; f[o]rmalf[:>]rma; m[o]rro/m[u]rro. Para os pares aI~; i/I; ulu pa- então aos exercícios. Cada exercício apresenta na coluna da esquerda um conjunto de
res mínimos não são encontrados. Ao encontrarmos pares mínimos para os pares i/e; el palavras em sua forma ortográfica. Na segunda coluna você deve transcrever foneticamen-
e; :>/0; olu caracterizamos estes segmentos como fonemas. Temos então que são fonemas te o alofone correspondente. O registro fonético deve representar o seu idioleto. Na tercei-
vocálicos do português os seis segmentos li,e,e,:>,o,uI. Devemos acrescentar a este ra coluna listamos os contextos da alofonia. Na última coluna apresentamos a transcrição
grupo o fonema laI que se distingue dos demais segmentos vocálicos do português por fonêmica e o registro ortográfico que correspondem ao contexto dos alofones analisados.
1-74 Fonêmica '- O sistema vbcálico oral

2.1.Alofonia de li! Tabela destacável de alofonia vocálica


___________ Exercício 2 - - - - - - - - - - - Fonemas vocálicos: / , , , , , , /
Contexto Exemplo
Fonema Alofone
Ivi! vi
li! [ ] posição tônica Alofones
] posição pretônica seguido de consoante oral ltipi'ti! tipiti
[
[ ] posição postônica final 1'3uri! júri liJ lei lei la! 101 101 lul

] posição postônica mediai


I'alitol hálito Tônica [i] [o] [u]
[ avô
I'gaita/ gaita vi
[ ] posição assilábica em ditongo decrescente
Pretônica [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ]
posição assilábica em ditongo crescente I'sabia/ sábia vovó agogô lugar
[ ] seguida de tipití bebê pelé Sabará
posição tônica seguida de consoante nasal/m,nl la'sima/ acima consoante oral
[ ] hino
/linol Postônica final
posição tônica seguida de consoante nasal/J1l l'viJ101 vinho
[ ]
posição pretônica seguida de consoante nasal/m,nl Isi'mula/ simula Postônica
[ ] mediai diferente
Ipi'nell pine!
de le,ol
posição pretônica seguida de consoante nasal !J1l Ivi 'J1edol vinhedo
[ ]

o quadro acima lista OS alofones do fonema li!. Um subgrupo dos segmentos'


vocálicos [i,I:i] (ou talvez todos estes segmentos) podem fazer parte do grupo de alofones
que você listou no exercício 2.
[ ]
viu
Exercício 3
Faça a transcrição fonética (entre colchetes) e a transcrição fonêmica (entre bar, Assilábica em [ ]
ditongo vácuo
ras transversais) das palavras abaixo. Ocorrem os fonemas vocálicos li,a/. crescente
Ortografia Fonética Fonêmica
Pretônica antes
aqui [a'ki] la'kiI de V nasal
titia
safari Tônica seguida
pálida de C nasal/m,nl
une
pairar
[ ]
pátria unha
prima [ ]
Pretônica
primata seguida de C fumar
sina nasal/m,nl unir
sinal Pretônica
linha seguida de C
alinhar nasal/J1l

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