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MUDANÇA EM FENÔMENOS DISCURSIVOS VIA VARIAÇÃO E GRAMATICALIZAÇÃO: O

PAPEL DOS FATORES SOCIAIS*


(CHANGE IN DISCURSIVE PHENOMENA VIA VARIATION AND GRAMMATICALIZATION:
THE ROLE OF SOCIAL FACTORS)

Edair Maria GORSKI (UFSC)


Carla Regina M. VALLE (PG-UFSC)
Cláudia Andréa ROST (PG-UFSC)
Maria Alice TAVARES (PG-UFSC)

ABSTRACT: Through the combination of theoretical presuppositions of Variacionist Theory and funcionalist
studies on grammaticalization, we discuss the influence of social factors over discursive phenomena. Analyzing
samples from VARSUL Project, we stress the role of age in apparent-time linguistic changes and in the
grammaticalization process of discursive items.

KEYWORDS: variation; grammaticalization; discursive items; age.

0. Introdução

Fenômenos de variação e mudança têm sido abordados, notadamente a partir dos anos 70, sob duas
importantes vertentes teóricas: da Teoria da Variação e Mudança, de inspiração laboviana; e do paradigma da
Gramaticalização. No âmbito da variação, em especial, a conhecida polêmica entre Labov e Lavandera acerca
do estatuto sociolingüístico e do nível de abrangência da regra variável abriu espaço para uma gradual
implementação de estudos variacionistas de fenômenos de natureza morfossintática, semântica e discursiva (cf.
Labov, 1978; Lavandera, 1978; Silva & Macedo, 1996; Sankoff et al., 1997; Naro, 1998, entre outros). Na
perspectiva da gramaticalização, tem-se estudado não só a emergência de itens gramaticais propriamente ditos,
mas também a de marcadores discursivos de vários tipos (cf. Traugott, 1995; Martelotta et al., 1996;
Androutsopoulos, 200–; entre outros). Nota-se, então, um ponto de convergência: fenômenos discursivos em
mudança analisados sob a ótica da variação e da gramaticalização[1].
O grupo tem por objetivos: (i) discutir aspectos teórico-metodológicos da interface gramaticalização e
variação; (ii) averiguar o condicionamento de fatores sociais sobre fenômenos variáveis de natureza discursiva;
(iii) interpretar resultados variacionistas como indícios de gramaticalização. São analisadas amostras do banco
de dados VARSUL[2], com recortes de três variáveis lingüísticas[3] no continuum multifuncional[4] de itens
discursivos, seja com valor mais textual, funcionando como conectores seqüenciadores – estudo de Maria
Alice Tavares (aí ~ daí ~ então ~ e); seja com matizes mais pragmáticos, atuando no nível interpessoal como
´requisitos de apoio discursivo´ – trabalho de Carla Regina Valle (entende? ~ sabe? ~ não tem?) ou como
´chamadores de atenção do ouvinte´ – estudo de Cláudia Rost (olhe ~ veja). Foram analisadas entrevistas de
36 informantes de Florianópolis/SC, estratificados de acordo com as variáveis sociais sexo, idade (15 a 21; 25
a 49 e acima de 50 anos) e escolaridade (primário, ensino fundamental e ensino médio).
Dentre os condicionamentos sociais analisados, vamos evidenciar, prioritariamente, o papel da idade
em casos de mudança em progresso decorrente tanto de um processo de variação como de gramaticalização.

1. Mudança via variação e gramaticalização

Mudança e variação são contempladas nas duas visões teóricas acima mencionadas, mas com pontos
focais distintos. A relação entre gramaticalização e variação pode ser assim resumida: no decorrer de sua
evolução um dado item passa a desempenhar múltiplas funções, que podem abranger apenas mudanças
semânticas ou ser acompanhadas de mudanças categoriais[5] (uma forma[6] com mais de uma função – foco da
gramaticalização). Nesse percurso, seu uso pode expandir-se para um domínio funcional já codificado por
outro item, passando a disputar com ele o direito à representação da função/significado (mais de uma
forma com uma função/significado – foco da variação). Prioriza-se então, respectivamente, a história de uma
forma ou a coexistência e concorrência de formas em dado momento de sua evolução. (cf. Gorski et al., a sair)
Esse duplo enfoque teórico é respaldado pelos seguintes aspectos, entre outros: a) a prioridade
atribuída, em ambas as abordagens, à língua em uso, cuja natureza heterogênea abriga a variação e a mudança;
b) a previsão, na perspectiva da gramaticalização, de que ao mesmo tempo em que as línguas buscam
regularidade e iconicidade eliminando anomalias e variação, novos padrões emergem introduzindo novas
anomalias e nova variação (cf. Lichtenberk (1991:76); c) a importância dada, tanto pela teoria variacionista
como pelos estudiosos da gramaticalização, ao tratamento empírico com quantificação estatística,
especialmente à freqüência de uso (cf. Givón, 1995; Bybee & Hopper, 2001), como evidência para atestar
fenômenos de variação e mudança; d) o interesse que vem sendo demonstrado por alguns teóricos da
gramaticalização acerca da importância do contexto social (cf. Androutsopoulos, 200–; Bisang, 1998), fator
que é crucial para os variacionistas. Os dois últimos aspectos são os que nos interessam mais nesse momento.
Destacamos, em especial, a influência do fator social idade.

2. Variação e mudança em tempo aparente: o papel da idade

Os sociolingüistas chamam a atenção, quanto à estratificação etária, para a seguinte ambigüidade


encontrada nos estudos em tempo aparente: um perfil gradiente pode significar ou indivíduos móveis numa
situação estável (age grading) – caso em que um comportamento lingüístico se repete a cada geração, de
modo geralmente regular e predizível, como marca de um estágio de maturação, caracterizando uma situação
de variação estável; ou indivíduos estáveis numa situação móvel – caso em que ocorre uma mudança em
progresso (cf. Labov, 1994; 2001; Chambers, 1995). Em geral, observa-se na fala dos jovens (abaixo de 20
anos) um declive acentuado, com uma freqüência mais intensa de variantes não-padrão. A situação de variação
estável ou de mudança em progresso vai ser captada nas faixas etárias mais velhas: na primeira situação, essas
faixas vão apresentar uma distribuição plana; na segunda, os mais velhos vão apresentar uma distribuição
linear decrescente.
Entender os efeitos da idade sobre a língua requer entender as mudanças nas relações sociais ao
longo das histórias de vida dos falantes. Essas mudanças envolvem afiliações a sucessivos grupos de
referência, aquisição e uso do capital simbólico e o relaxamento das normas da sociedade dominante quando
idosos (cf. Labov, 2001). Pode-se identificar três períodos formativos: a) na infância, o vernáculo se
desenvolve sob influência da família e amigos; b) na adolescência, as normas vernaculares tendem a se acelerar
sob influência de redes densas; c) no início da vida adulta, a estandardização tende a aumentar e, uma vez que
os traços do socioleto estão estabelecidos na fala, eles permanecem relativamente estáveis para o resto da vida
(cf. Chambers, 1995).
A adolescência (13 – 21 anos) é caracterizada como a transição para o individualismo, etapa
movimentada, turbulenta e longa nas sociedades industrializadas. Os adolescentes, ao mesmo tempo em que
buscam uma identidade que marque sua separação dos mais velhos, acelerando o uso de certas variantes
lingüísticas já disponíveis na região, necessitam de ligações com seus pares, como compensação pela perda da
segurança do grupo domiciliar. Daí as duas forças sociais: distinção em relação aos mais velhos e solidariedade
com os pares – forças que se combinam fazendo com que, sociolingüisticamente, os adolescentes sejam o
ponto focal para a inovação lingüística e mudança. (cf. Chambers, 1995)
Alguns estudiosos da gramaticalização também têm voltado sua atenção para o contexto social.
Bisang (1998), por exemplo, afirma que a mudança lingüística é motivada por fatores pragmáticos (estratégias
cognitivas que levam à mudança semântica de um signo lingüístico); pelo papel do falante e do ouvinte; e por
fatores sociolingüísticos (comunidades lingüísticas e diferentes tipos de contato) – sugerindo que fatores
sociolingüísticos podem, inclusive, ser mais importantes que os cognitivos. A gramaticalização é impossível
se as motivações pragmáticas que incrementam padrões de reanálise e analogia em indivíduos não se
espalharem para outros indivíduos.
Também Androutsopoulos (200–) considera os grupos sociais ou estilos lingüísticos em que uma
instância da gramaticalização ocorre. O autor enfatiza a emergência de marcadores discursivos de vários tipos,
ocorrendo predominantemente na fala da faixa etária mais jovem – campo promissor de pesquisa
sobre gramaticalização em andamento. Padrões habituais de gíria, por exemplo, sujeitos a pressões
pragmáticas e sociolingüísticas, induzem a gramaticalização, especialmente em certos domínios semântico-
pragmáticos. A questão é saber se o padrão se tornará ou não parte da gramática da comunidade de fala mais
ampla.
O espraimento de mudanças em andamento depende dos valores sócio-simbólicos associados às
inovações lingüísticas. Uma nova variante carrega a função indexical da inovação como marca da identidade
de um grupo (cf. Kotsinas, 1997, apud Androutsopoulos (200–). O modelo de inovação e mudança na língua
dos jovens proposto por Kotsinas representa a difusão sociolingüística de um traço como uma série de estágios
intermediários: uma inovação se espalha do grupo de pares em que é originada para redes adolescentes
maiores; então para a língua geral das pessoas jovens (supra-regional); daí para registros coloquiais da língua
adulta; e eventualmente entra na língua padrão. Em cada estágio, o traço adquire um novo valor sócio-
simbólico.
Considerando-se a variável social idade e o fato de que as divisões no contínuo etário devem ser
consoantes às etapas de vida, na distribuição de faixas por nós controladas contemplamos: a) 15 a 21 anos
(envolvimento em grupos adolescentes, finalização da escolarização secundária e orientação ao grupo de
trabalho mais amplo e/ou universidade); b) 25 a 49 anos (emprego regular e responsabilidades familiares;
engajamento total na força de trabalho); c) acima de 50 anos (diminuição da força de trabalho e aposentadoria).

3. Seqüenciação de informações: o papel dos jovens

A seqüenciação retroativo-propulsora de informações estabelece uma relação coesiva de


seqüenciação, continuidade e consonância entre enunciados, no sentido em que o primeiro serve de base para
o que será dito no segundo (cf. exemplos (1) e (2)). Tomamos suas formas codificadoras mais freqüentes, os
conectores e, aí, daí e então, como variantes, verificando como se dá a influência de diferentes grupos de
fatores condicionadores de natureza lingüística e social. Para a realização deste estudo, consideramos os trinta
minutos finais de 36 entrevistas com florianopolitanos.

(1) E a cabo de uns anos [foi <te->]- terminou a venda e o meu pai sempre falava que a venda terminou
porque ela dava quase tudo pra pobreza. ENTÃO a luta dela foi essa. (FLP12:802)
(2) Porque é toda segunda-feira, AÍ cada segunda um aluno que dá aula. DAÍ vai ficando uma coisa diferente,
vai ficando legal, não vai ficando uma coisa chata, monótona. (FLP08J:659)

Nossa hipótese para o grupo de fatores idade se motiva no fato de aí e daí serem formas mais
recentes na língua, em comparação com e e então. Formas inovadoras geralmente destacam-se na fala de
pessoas mais jovens, especialmente quando são relacionadas a estilos menos formais ou mesmo quando são
estigmatizadas em certos contextos, caso de aí e daí (cf. Tavares, 1999). Observem-se:

IDADE E AÍ DAÍ ENTÃO TOTAL


Ap./Tot. % Ap./Tot. % Ap./Tot. % Ap./Tot. % Ap./Tot. %
15 a 21 421/1.265 33 310/781 40 160/201 80 113/675 17 1.004/2.922 34
25 a 29 383/1.265 30 283/781 36 27/201 13 273/675 40 966/2.922 33
+ de 50 461/1.265 37 188/781 24 14/201 07 289/675 43 952/2.922 33
Tabela 01: A variável idade e o uso dos seqüenciadores

A distribuição do e é semelhante ao longo das faixas etárias (de 30 a 37%); aí é mais freqüente na
fala de pessoas com menos de 50 anos (76%); daí é largamente favorecido pelos adolescentes
(80%); então predomina na fala das pessoas de mais de 25 anos (83%). O que podemos inferir desses
resultados? Parece estar havendo uma disputa especialmente entre daí e então: os falantes mais jovens estão
impulsionando bastante o uso do daí e reduzindo fortemente o uso do então. O fato de haver um uso intenso
da forma mais inovadora na adolescência e uma grande retração da forma mais antiga na mesma faixa etária,
além do fato de as duas faixas etárias adultas apresentarem uma distribuição linear decrescente para daí e
crescente para então, pode ser tomado como indício de uma mudança vigorosa em andamento (cf. Labov,
2001). Já o aí talvez esteja passando por uma mudança menos vigorosa, pois seu uso diminui gradualmente
com o avanço da idade, com uma queda mais acentuada entre as duas faixas mais velhas. E aparenta estar em
uma situação estável, evidenciando uma distribuição etária quase plana, com um pequeno retraimento de uso
na faixa intermediária e um pequeno acréscimo entre as pessoas idosas.

4. Requisitos de apoio discursivo: o comportamento dos jovens

Nesta pesquisa, tomamos como regra variável os itens sabe?, não tem? e entende?, derivados de
verbos e conhecidos como requisitos de apoio discursivo (RADs), que, segundo Macedo e Silva (1996), atuam
como elementos de contato entre interlocutores, ocorrendo, quase sempre, no final de enunciado e tendo como
principal função a manutenção do fluxo conversacional.

(03) Eu mesmo não posso ler muito, sabe? me prejudica muito as vistas. (FLP15:143)
Eu mesmo não posso ler muito, não tem? me prejudica muito as vistas.
Eu mesmo não posso ler muito, entende? me prejudica muito as vistas.

Observe-se:

IDADE SABE? NÃO TEM? ENTENDE? TOTAL


Ap./Tot. % Ap./Tot. % Ap./Tot. % Ap./Tot. %
15 a 21 92/203 45 156/205 76 58/113 51 306/521 59
25 a 29 64/203 32 33/205 16 31/113 28 128/521 24
+ de 50 47/203 23 16/205 8 24/113 21 87/521 17
Tabela 02: A variável idade e o uso dos RADs
Verifica-se que o mesmo resultado escalar é obtido para cada item, às vezes mais e outras menos
polarizado. Sabe?, por estar melhor distribuído entre os informantes, é o que apresenta a escala mais regular.
Por outro lado, não tem? e entende? apresentam um grande salto entre a faixa etária dos jovens e daqueles de
25 a 49 anos – fato parcialmente devido à alta concentração, especialmente desse último item, na fala de um
informante jovem. Com a eliminação desse informante, os resultados para entende? passam a opor os jovens
(29%) aos mais velhos, que se aproximam entre si (71%). Temos, assim, um comportamento bastante
característico dos jovens com um pico visível de uso de não tem?.
Verificamos em nossa análise que não tem? é o item que mais mantém seu caráter de interpessoalidade,
sendo bastante presente em contextos com presença de estímulos, hesitações e pausas, o que indica que ainda
retém fortes características de seu sentido inicial de checar existência. Isto talvez se deva ao fato deste item
ter entrado mais recentemente no papel de RAD, o que é indicado pela sua ocorrência restrita às regiões
litorâneas de Santa Catarina e, principalmente, por ser muito mais recorrente entre os mais jovens.
Possivelmente seja o item menos gramaticalizado dos três.
A análise mostrou ainda que sabe? parece ser o item mais distanciado de seu sentido origem e,
conseqüentemente, o de uso mais generalizado, mostrando-se, em muitos contextos, com uma atuação mais
textual de encadeador do discurso oral – o que o caracteriza como o mais avançado no processo de
gramaticalização.

5. Olha e veja: exigências sociais?

Ao observarmos a atuação dos itens olha e veja, verificamos que, em certos contextos, através de
referência metafórica, o foco da atenção deixa de apontar para o espaço e aponta para o texto do falante. Isso
significa que esses elementos estão expandindo seu significado lexical de base, derivando outros sentidos mais
abstratos e pragmáticos, associados a uma possível mudança categorial (de verbo a marcador
discursivo). Nesse caso, tendem a funcionar como elementos chamadores da atenção do ouvinte para o espaço
discursivo/textual, conforme o exemplo a seguir:

(04) E: Tânia, me diz uma coisa agora, dentro da educação, que tu achas da Língua Portuguesa? O que é falar
bem a língua portuguesa pra ti?
F: Olha, pra mim, eu acho assim, que falar bem a língua portuguesa. Olha, eu nem sei te explicar bem
[o] a língua portuguesa, porque eu tenho tão pouco tempo de estudo, que eu nem conheço bem a língua
portuguesa. (POA12:1024)

Em (04), a forma imperativa canônica, devido a convenções culturalmente compartilhadas e implícitas


de polidez, apresenta-se enfraquecida, mostrando um duplo deslocamento: desbotamento do conteúdo
semântico-gramatical com ganho pragmático-discursivo e mudança gradativa de estatuto categorial.
A tabela a seguir mostra a distribuição por idade.

IDADE OLHA VEJA TOTAL


Ap./Tot. % Ap./Tot. % Ap./Tot. %
15 a 21 39/152 26 4/35 12 43/187 23
25 a 29 39/152 26 19/35 54 58/187 31
+ de 50 74/152 48 12/35 34 86/187 46
Tabela 03: A variável idade e o uso dos itens olha e veja

Em termos gerais, há uma escala decrescente de uso dos itens à medida que diminui a faixa etária: mais
velhos (46%) < faixa intermediária (31%) < mais jovens (23%) – resultado inverso à nossa hipótese inicial. A
baixa freqüência de uso entre os jovens concentra-se no item veja (12%), forma que é francamente preferida
pelos adultos (54%). A distribuição de freqüência sugere que veja seja a forma mais recente nessa função de
marcador. A faixa etária intermediária teria um comportamento diferenciado dos mais jovens e dos mais velhos
devido a pressões sociais (mercado de trabalho, por exemplo)? Como aparentemente não há vestígios de
estigma nos itens, esta interpretação não nos parece muito consistente. Um aprofundamento dessa análise
precisa ser feito para que possamos dispor de mais evidências.

6. Considerações finais

Utilizamos um procedimento metodológico típico da sociolingüística variacionista para análise em


tempo aparente (a estratificação etária) que também se mostra significativo para a gramaticalização na medida
em que: a) mostra o nível de espraiamento dos itens inovadores ou em fase de “desaparecimento” na língua
oral/informal; b) indica gramaticalização em andamento em si: o fato de um item não ser tão freqüente em
certas faixas etárias, mas passar a sê-lo entre as faixas etárias mais jovens pode significar que a mudança está
avançando; c) essa freqüência intensa leva o item a ter suas possibilidades de uso sintáticas e semântico-
discursivas expandidas. O uso intensificado de um item pelos jovens também pode influir na “velocidade” de
avanço do processo de gramaticalização desse item. Se ele passa a ser uma marca de identidade de um certo
grupo etário, pode sofrer espraiamento de usos e mesmo sofrer abstratização de significado (ou de função-
significação).
O papel dos mais jovens na mudança por gramaticalização, por ser raramente levado em conta, deve ser
melhor investigado. Seriam eles “decisivos” apenas nos fenômenos de natureza discursiva? Ou também se
destacam como inovadores e transmissores de mudança na fonologia e na morfossintaxe? Qual o papel dos
jovens em processos como analogia sintática e semântica e abstração crescente de itens em seu percurso rumo
a níveis cada vez mais gramaticais? Essas são algumas questões importantes a serem aprofundadas...

RESUMO: Associando postulados teóricos da Teoria Variacionista e de estudos de gramaticalização de base


funcionalista, o grupo discute a influência de fatores sociais sobre fenômenos discursivos. Analisando
amostras fornecidas pelo Projeto VARSUL, destacamos o papel da idade em mudanças lingüísticas em tempo
aparente e em processos de gramaticalização de itens discursivos.

PALAVRAS-CHAVE: variação; gramaticalização; itens discursivos; idade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VALLE, Carla Regina Martins. Sabe?~não tem?~entende?: itens de origem verbal em variação como
requisitos de apoio discursivo. Florianópolis: UFSC, 2001. Dissertação de Mestrado.

*
As discussões são motivadas por pesquisas de dissertações e teses vinculadas ao projeto
integrado Gramaticalização/discursivização de itens de base verbal e adverbial: funções e formas
concorrentes, desenvolvido na área de Sociolingüística do Programa de Pós-Graduação da UFSC.
[1]
Uma discussão mais ampla desse aspecto é feita em Gorski et al. (a sair). Fenômenos discursivos: resultados
de análises variacionistas como indícios de gramaticalização. In: Português brasileiro – contato lingüístico,
heterogeneidade e história (livro organizado pelo GT de Sociolingüística da ANPOLL).
[2]
Variação Lingüística Urbana na Região Sul do Brasil.
[3]
No caso de uma variável lingüística discursiva, a noção laboviana de mesmo significado, que remete ao
plano representacional, precisa ser ampliada de modo a abarcar o plano funcional (os conectores, por exemplo,
mais funcionam do que significam). Lidamos, então, com a noção de função/significado (cf. Nichols, 1984),
que remete ao papel discursivo dos elementos lingüísticos. Assim, não são os itens em estudo que carregam
funções/significações, mas estas são depreendidas a partir do contexto de ocorrência daqueles.
[4]
Na ótica da gramaticalização, o termo função pode recobrir tanto mudanças categoriais (aí advérbio e
conector, por exemplo), como mudanças semânticas (aí espacial e temporal, por exemplo). Freqüentemente,
mas não necessariamente, os dois tipos de mudança co-ocorrem.
[5]
A variação, nesse caso, aparece como pano de fundo.
[6]
Sob a ótica da gramaticalização, forma pode ser tomada como equivalente a item, com ênfase na unidade
ou construção codificada, independentemente de eventual mudança categorial ou redução fonética. Por
exemplo: então é uma única forma, seja funcionando como advérbio ou como conector.

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