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Língua Portuguesa II – Prof.

Cesar Casella

Mudança linguística

UnU Goiás – Segundo Semestre de 2013


AS LÍNGUAS MUDAM COM O TEMPO

► A mudança linguística é o objeto de estudo da Linguística


Histórica.
► A configuração estrutural das línguas se altera ao longo do
tempo, mas elas não perdem nunca a sua plenitude estrutural
e nem seu potencial semiótico.
► Os falantes tem mais a sensação de permanência do que a
percepção da mudança.
► Alguns exemplos de mudança são trazidos por Faraco:

1). Uma tenção de Pedr' Amigo; 2). Uma Lenda do Rei Lear;
3). A conservação do /l/ em final de palavras; 4). A colocação
do /s/ em todos os itens de um sintagma no plural.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
PESQUISA DO SIGNIFICADO DO VERBO 'GRACIR'

FONTE: http://cipm.fcsh.unl.pt//
PESQUISA DO USO DO ADJETIVO 'RAFECE'

FONTE: http://cipm.fcsh.unl.pt//
PESQUISA DO USO DO ADJETIVO 'RAFECE'

FONTE: http://rae.es/
A LÍNGUA ESCRITA E A MUDANÇA

► A língua escrita é normalmente mais conservadora que a


língua falada, por isso o contraste entre as duas nos faz
perceber os fenômenos inovadores. Um exemplo é o da
utilização de preposições nas orações relativas (p. 25).
► A escrita é mais conservadora pois é mais duradoura e
sujeita a maior controle social, além de estar mais ligada a
contextos de uso mais formais.
► Entretanto, nem todas as diferenças entre fala e escrita são
indícios de mudança. Muitas das diferenças são fruto de
características próprias da oralidade e da escrita.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
MUDANÇA LINGUÍSTICA E VALORES SOCIAIS

► A primeira reação dos falantes frente às formas inovadoras


é frequentemente negativa. Estas reações ('feia', 'errada',
'imprópria') esquecem que a mudança é inevitável e não afeta
a plenitude estrutural e o potencial semiótico das línguas.
► Juízos de valor sobre a língua são juízos de valor dos
falantes desta língua.
► O processo de expansão de uma inovação se dá com a
quebra progressiva dos estigmas que afetam os usos.
► “A mudança linguística está envolvida por um complexo
jogo de valores sociais que podem bloquear, retardar ou
acelerar sua expansão de uma para outra variedade da
língua” (p. 29).

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
O TRATO DA MUDANÇA LINGUÍSTICA

► Um exemplo de mudança linguística desencadeada como


diferenciação cultural é trabalho de William Labov em
Martha's Vineyard (p. 28).
► O linguista que trabalha com Linguística Histórica deve
cuidar para que:

1). se use uma metodologia que apreenda cientificamente a


relação entre mudança e valorização social da língua;
2). não se transfira juízos de valor próprios para o trabalho;
3). se entenda a língua como uma realidade heterogênea.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
RESPOSTAS AO ESTUDO DIRIGIDO

► Os falantes têm uma sensação de permanência mais do que


uma percepção da mudança, entre outras coisas porque:

A). As mudanças são lentas; B). As mudanças são parciais em


relação ao sistema; C). As mudanças são refreadas pela escrita.

► Há situações em que os falantes pode perceber melhor a


mudança, em que aparece um nítido contraste entre a imagem da
língua e a sua realidade:

A). Exposição aos textos antigos; B). Convívio com gerações mais
distantes; C). Interação com falantes de classes sociais/culturas
mais oralizadas; D). Inadequação em certas estruturas da escrita.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
RESPOSTAS AO ESTUDO DIRIGIDO

► A implementação das inovações é feita principalmente pelos


mais jovens e por grupos socioeconômicos intermediários. Dizer
que “nem toda variação implica mudança, mas toda mudança
supõe variação” significa que as mudanças emergem da realidade
heterogênea da língua, do fato de que ela varia, embora nem todo
fato que demonstre a variação seja uma mudança. Assim, não é
qualquer diferença de fala (entre gerações ou grupos sociais) que
indica mudança linguística.

► Pode-se postular uma escala progressiva da mudança (que não


é uma obrigatória): fala informal de grupos socioeconômicos
intermediários → fala informal de grupos socioeconômicos mais
altos → situações formais de fala → escrita.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
RESPOSTAS AO ESTUDO DIRIGIDO

► É preciso, primeiramente, romper com a visão de que existe


uma língua homogênea, como nos faz crer os estudos gramaticais
escolares, que cristalizam uma das variedades e a identificam
como a 'melhor'. “Do ponto de vista exclusivamente linguístico (isto
é, estrutural, imanente), as variedades se equivalem e não há
como diferenciá-las em termos de melhor ou pior, de certo ou
errado: todas têm organização (todas têm gramática) e todas
servem para articular a experiência do grupo que a usa” (p. 33).
Toda e qualquer língua é um conjunto heterogêneo de variedades.

► Plurilinguismo social: A língua é heterogênea pois a sociedade é


heterogênea.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
O QUE PODE MUDAR NA LÍNGUA

► Qualquer parte da língua pode mudar:

A. Aspectos da Fonética e/ou da Fonologia;


B. Aspectos da Morfologia;
C. Aspectos da Sintaxe;
D. Aspectos da Semântica;
E. Aspectos do Léxico;
F. Aspectos da Pragmática.

► A língua é um sistema de sistemas: as mudanças, muitas


vezes, afetam mais de um deles ao mesmo tempo.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
MUDANÇAS FONÉTICO-FONOLÓGICAS

► É o nível mais estudado em Linguística histórica e por isso


tem metodologia e terminologia mais refinada e fixa.

► A mudança fonética é uma alteração de pronúncia de


alguns segmentos em determinados ambientes sem acarretar
alterações nos fonemas: a substituição do /l/ por /w/ no PB.

► A mudança fonológica acarreta alteração nos fonemas: o


surgimento de /ɲ/ e /ʎ/ na passagem do latim ao português:
manha/mana, malha/mala.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
MUDANÇAS MORFOLÓGICAS

► São mudanças que alteram a estrutura da palavra:

1). Palavras autônomas tornam-se morfemas derivacionais:


placare > sub + placare > supplicare (latim).

2). Sufixos desaparecem e passam a integrar a raiz: artus >


articulus > artelho. (-ulu- indicador de diminutivo).

3). Mudança do sistema flexional: desaparecimento do


sistema da flexão de caso na passagem do latim ao
português: dare lupo alimentum > dar alimento ao lobo.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
MUDANÇAS SINTÁTICAS

► São mudanças que afetam a organização da frase:

1). Da ordem flexível para a ordem fixa: Paulum Maria amat


ou Maria Paulum amat > Maria ama Paulo.

2). Da ordem sintética para ordem analítica: Dare lupo


alimentum > dar alimento ao lobo.

2). Gramaticalização: vossa mercê > vosmecê > você > cê.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
MUDANÇAS SEMÂNTICAS

► São mudanças que afetam o sentido:

1). Por processos que reduzem o significado de uma palavra:


'Arreio' significava, na Idade Média, qualquer enfeite.

2). Por processos que ampliam o significado: na origem a


palavra 'revolução' era somente um termo da astronomia.

► Um estudo tradicional desta área é a etimologia (p. 41).

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
MUDANÇAS PRAGMÁTICAS E LEXICAIS

► As primeiras são mudanças que afetam o uso:

1). O falante modifica a estrutura gramatical a partir de suas


necessidades: Vossa mercê (pronome de tratamento) > Você
(pronome pessoal).

► As segundas são mudanças que afetam o léxico de língua:


empréstimos e neologismos, tais como deletar, bidê,
desinvenção..

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► A mudança é contínua. Todas as línguas mudam e cada


estado dela é sempre resultado de um longo e contínuo
processo histórico.

► O desaparecimento de uma língua só ocorre com o


desaparecimento da sociedade que a usava (aniquilamento
ou assimilação total da sociedade). Há casos, como o do
latim, em que o fluxo histórico não se interrompeu: as línguas
românicas são uma continuidade do latim.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► A mudança é lenta e gradual. Ela não se dá abruptamente


e nunca ocorre de forma global. Um exemplo da longa cadeia
evolutiva é a passagem de medicina (latim) à mezinha (PE).

► Por isso, “a mudança não é discreta, ou seja, x não é


trocado diretamente e de imediato por y; ao contrário, há
sempre, no processo histórico, períodos de coexistência e
concorrência das formas em variação até a vitória de uma
sobre a outra” (p. 46).

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
FONTE: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=mezinha
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► Apesar da mudança ser lenta e gradual, costuma-se


trabalhar com a periodização da história das línguas. Por isso
se fala em 'português arcaico', 'português clássico' e
'português moderno'.

► Estas divisões são cortes arbitrários e se utilizam, em


geral, dos séculos ou dos grandes períodos históricos como
referência. É uma ferramenta auxiliar de análise para a
Linguística Histórica.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► A mudança é relativamente regular. “Desencadeada a


mudança, há regularidade e generalidade no processo,
atingindo de forma bastante sistemática o mesmo elemento,
dadas as mesmas condições, em todas as suas ocorrências”
(p. 50). O exemplo é a passagem do encontro consonantal /kl/
e /pl/ do latim para /ʎ/ e /ʃ/ em espanhol e português:

clamare – llamar – chamar plenu – lleno – cheio


clave – llave – chave plicare – llegar –
chegar

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► A regularidade não pode ser entendida como absoluta. Ela


é, “em geral, relativizada pelo modo não-uniforme como se dá
a difusão de uma mudança, tanto no interior da língua (…)
quanto entre os diversos grupos de falantes (...)” (p. 54). As
“leis fonéticas” não são absolutas e a troca não é direta:

/kl- > ky- > ktš- > tš- > š-/

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► Múltiplos fatores interferem no processo histórico e geram


fatos que não estão em conformidade com as tendências
regulares da mudança. Há, portanto, dados que fogem à
regularidade esperada:

plaga, pleno, clave, clamar


(conservação do /pl/ e /kl/)

praia (de plaga), cravo (de clauum)


(substituição por /pr/ e /kr/)

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► Questões que se abrem a partir destas constatações:

1. Encaixamento estrutural e encaixamento social;


2. História interna e história externa da língua;
3. Formas básicas de correlação entre as histórias externa e
interna: aditiva e integrativa.

► A mudança emerge da heterogeneidade. É preciso integrar


o interno e o externo da língua nos estudos históricos, ou
melhor, “o núcleo do estudo histórico das línguas é o
complexo jogo dialético entre o social e o estrutural” (p. 68).

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► Dentro desta perspectiva, é importante a questão dos


contatos entre falantes e línguas. Estudos linguísticos, desde
o início do século XX, já tratam da questão com os conceitos
de substrato, superestrato e adstrato.

► A partir disto, mais questões se apresentam:

1. Conflitos de concepções de mudança linguística;


2. Motivação da mudança;
3. Causas e condições da mudança;
4. Degeneração e progresso das línguas;
5. Questão da teleologia nas mudanças.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

A). A mudança é contínua.


B). A mudança é lenta e gradual.
C). A mudança não está subordinada à periodização histórica
arbitrária da língua, construída para efeito de estudo.
D). A mudança é relativamente regular.
E). A mudança é decorrência da heterogeneidade linguística.
F). A mudança é tratada diferentemente a partir de
perspectivas teóricas de abordagens diferentes.
G). A mudança não é progresso nem degeneração da língua.
H). A mudança não é teleológica.

Com base em: FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da


história das línguas. 2ª ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

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