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VII

INTRODUÇÃO

A Gramática do Português descreve, de modo tão exaustivo quanto possível, a língua


portuguesa na sua variedade europeia contemporânea. É inovadora em muitos
aspetos, destacando-se o facto de serem considerados todos os níveis de análise
linguística: fonético e fonológico (o estudo dos sons); morfológico (o estudo da
forma das palavras e da sua estrutura interna); lexical (o estudo da organização das
palavras no léxico); sintático (o estudo da maneira como as palavras se combinam
para formar orações e frases); semântico (o estudo do tipo de significado que os
vários elementos linguísticos apresentam).
As línguas não são entidades monolíticas; ou seja, não são faladas do mesmo
modo por todos os seus utilizadores. Pelo contrário, são entidades altamente
diversificadas, apresentando variação de acordo com a origem geográfica, o nível
de instrução, a profissão e a idade dos falantes, entre outros fatores. A variação que
apresentam está na origem da existência de dialetos (ou variedades).
A variação manifesta-se também a nível individual, quer na fala quer na escrita.
Em primeiro lugar, o vocabulário, as regras e os princípios gramaticais dos indiví-
duos que falam o mesmo dialeto nunca são exatamente idênticos, podendo, assim,
falar-se na existência de idioletos. Em segundo lugar, os falantes usam a língua de
maneira diferente também em função da formalidade da situação de comunicação
ou do grau de familiaridade entre os interlocutores. Para este tipo de variação, os
linguistas usam o termo registo, ou estilo, que pode ser mais ou menos coloquial,
mais ou menos familiar, mais ou menos cuidado ou mais ou menos formal.
Na dimensão geográfica, a variedade da língua portuguesa manifesta-se não só
entre os falantes dos diferentes países que a usam como língua materna ou segunda,
mas também, dentro do mesmo país, entre falantes de regiões diferentes, e afeta a
pronúncia, o vocabulário e aspetos da estrutura sintática. Em Portugal, um destes
dialetos – por razões históricas, políticas, sociais e culturais, o falado nas zonas
urbanas do litoral-centro, aproximadamente entre Lisboa e Coimbra – adquiriu um
estatuto social e cultural privilegiado, que se manifesta no facto de ser a variedade
ensinada nas escolas, usada pelos meios de comunicação social (jornais, revistas,
rádio e televisão) e, sobretudo na escrita formal, pela generalidade dos portugueses
com uma instrução média ou superior. A este dialeto chama-se português-padrão,
e também variedade (ou variante) culta do português. Por motivos sociológicos,
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metodológicos e práticos, esta Gramática tem sobretudo como objeto de estudo o


português-padrão.
Tal não significa, no entanto, que se tenha descurado a variação linguística,
que tem, aliás, uma longa tradição nos estudos sobre o português, quer em Portugal
quer no Brasil. Muito pelo contrário: em primeiro lugar, no âmbito das gramáticas
sobre a língua portuguesa, a presente obra é pioneira por conter capítulos onde
se descrevem (de forma necessariamente breve) as principais características lin-
guísticas não só do português falado no Brasil como também do português falado
em África (com especial incidência sobre as variedades de Angola e Moçambique).
Em segundo lugar, a maioria dos autores, embora centrando a sua descrição sobre
a variedade culta, dá conta igualmente de fenómenos de variação dialetal, indivi-
dual e de registo, em particular nos casos em que essa variação é mais notória, ou
quando constitui motivo de controvérsia sobre o uso tido como “correto” da língua
portuguesa. Finalmente, e este é um ponto importante que queremos salientar,
esta Gramática contém um capítulo que constitui um dos estudos mais completos
e sistemáticos sobre as variedades regionais do português apresentado numa gra-
mática. Em suma, com esta Gramática, o leitor terá uma visão da heterogeneidade
da língua, tomando consciência da multiplicidade dos seus usos.
A língua é um sistema dinâmico em constante mudança. A comparação de
textos escritos na época medieval, clássica e moderna não deixa dúvidas a este
respeito. Com o decorrer do tempo, o português mudou em todos os seus aspetos:
nos sons, no vocabulário, na forma e ordem das palavras, e nos significados das
palavras e das expressões. Ao estudo histórico da evolução fonética, lexical, sintá-
tica e semântica das línguas chama-se linguística diacrónica (de modo mais geral,
linguística histórica). Apesar de o objeto de estudo central desta Gramática ser o
português contemporâneo, considerou-se importante dar a conhecer um pouco
da sua história, no que respeita às suas origens, às suas diferentes fases de forma-
ção e à sua evolução geral. Procurou-se, também, situar brevemente o português
no conjunto das línguas românicas, isto é, daquelas que derivam do latim. Estes
contributos constituem um ponto de partida para que o leitor interessado possa
aprofundar esse tipo de conhecimentos.
De modo geral, os estudos gramaticais são pautados por uma de duas pers-
petivas distintas. Numa delas – chamada prescritiva ou normativa –, dá-se parti-
cular atenção ao dialeto -padrão da língua, centrando-se a descrição sobre as suas
características, apresentadas como correspondendo à “maneira correta de falar”;
concomitantemente, relega-se para segundo plano a variação linguística, ou seja,
os restantes dialetos e os registos coloquiais ou menos formais. Na outra perspetiva
– chamada descritiva –, os gramáticos não fazem juízos de valor sobre a correção
ou incorreção das variantes linguísticas, descrevendo-as sem preconceitos quando
as suas características são relevantes para os fenómenos em análise. Embora, pelas
razões assinaladas acima, esta Gramática tenha essencialmente como objeto de
estudo o português-padrão, a perspetiva adotada na sua elaboração é estritamente
descritiva, e não prescritiva. Isto significa que o leitor não encontrará regras nor-
mativas que valorizem uma determinada variante em detrimento de outra, ou
que se considerem incorretas opções gramaticais que não sejam as do português-
-padrão. Muitos dos usos que são considerados erros ou desvios à norma ocorrem
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regularmente, são uma consequência natural da existência de variação linguística


e indiciam, por vezes, uma mudança linguística em curso. Querendo contribuir
para a compreensão do sistema linguístico do português de forma tão abrangente
quanto possível, entendemos ser mais importante fornecer ao leitor indicações
relevantes sobre estas questões do que dar-lhe a conhecer tão-somente aquilo que
é aceite pelas normas oficialmente em uso. Neste sentido, são esclarecidas mui-
tas das dúvidas e hesitações sobre construções frequentemente produzidas pelos
falantes, ainda que não sejam sancionadas pela norma-padrão. Um exemplo é a
seguinte passagem, extraída do Cap. 23, sobre a concordância verbal com a locução
pronominal a gente quando esta tem a função de sujeito:
“A locução a gente […], semanticamente, é de 1.ª pessoa do plural (visto que é
usada pelo falante para representar um grupo no qual se inclui), mas gramatical-
mente é de 3.ª pessoa do singular, na norma-padrão do português (cf. a gente, logo,
vai ao cinema). Note-se, no entanto, que, para alguns falantes, num registo coloquial
menos cuidado, a gente determina frequentemente concordância na 1.ª pessoa do
plural (cf. a gente, logo, vamos ao cinema), embora esta variante seja estigmatizada
na norma-padrão”.
A variação dialetal não implica de forma alguma que não existam princípios
e regras gramaticais que se aplicam à língua de maneira geral, e que determinam
se uma expressão é correta ou não do ponto de vista da própria gramática, o que
se traduz na aceitabilidade ou inaceitabilidade dessa expressão por parte dos falan-
tes. Assim, e para dar apenas alguns exemplos extremos, são claramente incorretas
e sentidas como inaceitáveis pela totalidade dos falantes expressões como a gente
logo ir ao cinema (faltam no verbo marcas de tempo e de concordância), ambas
crianças foram ao cinema (falta o determinante definido as entre ambas e crianças),
ou as que ganharam a lotaria pessoas são do Porto (o antecedente pessoas do pronome
relativo que tem de ocorrer antes dele).
Os exemplos incorretos, chamados “exemplos negativos”, permitem explicitar
com maior clareza as regras e os princípios que compõem o sistema gramatical,
e são usados frequentemente ao longo desta Gramática. Para se distinguirem dos
exemplos aceitáveis, e seguindo a prática da linguística contemporânea, assinalam-
-se com um asterisco inicial (“*”): *a gente logo ir ao cinema, *ambas crianças foram
ao cinema, *as que ganharam a lotaria pessoas são do Porto.
Nalguns casos, os exemplos são de aceitabilidade duvidosa, ou seja, um número
significativo de falantes não tem juízos claros sobre o seu estatuto gramatical.
Segundo o seu grau de marginalidade, esses exemplos são marcados com um ou
dois pontos de interrogação (“?”, “??”) – por exemplo, ?[que lhe deem já a notícia]
é melhor (a maioria dos falantes prefere que a oração subordinada entre parênteses
retos ocorra no final da frase – é melhor [que lhe deem já a notícia].
A marcação de um determinado exemplo com um asterisco, com um ponto
de interrogação ou com dois exige “juízos de gramaticalidade” que nem sempre
são fáceis de decidir. Na verdade, muitas expressões suscitam hesitações sobre a
sua aceitabilidade, devidas, frequentemente, à existência de variantes dialetais
ou individuais com regras gramaticais parcialmente distintas. Nesse sentido, os
falantes (incluindo os linguistas) nem sempre estão de acordo sobre o estatuto mais
ou menos gramatical de algumas frases. Este é um problema incontornável dos
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estudos linguísticos. Nesses casos, a perspetiva geralmente adotada pelos gramá-


ticos e pelos linguistas é simplesmente a de assinalar as potenciais discordâncias
e tentar explicar a sua causa; é esta a abordagem seguida nesta Gramática e que o
leitor deverá ter em conta. Nesse sentido, note-se que os juízos assinalados com “?”
ou “??” são os dos autores dos capítulos, sendo possível que o leitor discorde deles.
A descrição dos fenómenos gramaticais apresentada na Gramática apoia-se em
resultados da linguística contemporânea, da filosofia da linguagem e da lógica
moderna. No entanto, não se pressupõe da parte do leitor qualquer conhecimento
prévio destas áreas. De facto, sempre que uma determinada descrição gramatical
assenta sobre conceitos linguísticos, filosóficos ou lógicos, procura-se explicá-los
em termos tão simples quanto possível, de modo a que o leitor possa ter uma visão
clara da sua relevância relativamente aos fenómenos gramaticais em discussão. Para
além disso, evita-se ao máximo a utilização de aparatos formais, explicitando-se
com clareza as convenções e os termos técnicos utilizados. Finalmente, apesar da
multiplicidade de autores, procedeu-se a uma harmonização da terminologia e dos
conceitos usados na Gramática.
Uma das características da Gramática que mais útil pode ser ao leitor é a abun-
dância de exemplos, frequentemente apresentados em paradigmas (no sentido
aqui em causa, um paradigma é um conjunto de exemplos numerado e destacado
do texto). Os exemplos visam essencialmente sustentar de forma direta a descri-
ção dos factos linguísticos em discussão e são de tipo diferente e complementar:
(i) construídos pelos autores, (ii) abonações extraídas de diversas fontes textuais,
entre as quais corpora eletrónicos. Para os exemplos do segundo tipo, recorreu-se a
textos orais, formais e informais, recolhidos em diferentes regiões e em diferentes
situações de comunicação, e também a textos escritos, que consistem em obras
literárias, técnicas, científicas, textos publicitários e artigos de jornais e de revis-
tas, o que constitui um enriquecimento desta Gramática, permitindo dar conta de
diferentes usos da linguagem. A acompanhar cada um destes exemplos, fornece-se
uma informação sucinta da sua fonte e, no final de cada capítulo, a sua referência
completa. O uso de corpora pelos autores permitiu-lhes ainda verificar a frequência
de ocorrência de certas construções, fator importante na descrição de determinados
fenómenos gramaticais.
Questões teóricas mais complexas ou que suscitem controvérsia entre lin-
guistas, mas que sejam relevantes para o tópico em discussão, são abordadas em
“caixas” tipograficamente diferenciadas relativamente ao corpo do texto. Também
algumas questões históricas e etimológicas relevantes são tratadas nesse formato.
A leitura das caixas não é necessária para a compreensão do texto principal, sendo
essencialmente destinada a permitir ao leitor interessado uma compreensão mais
aprofundada dos fenómenos.

Organização interna da Gramática do Português


A presente Gramática compreende três volumes e divide-se em cinco grandes partes:
Parte 1 – História e geografia do português; Parte 2 – Léxico; Parte 3 – Sintaxe e
semântica; Parte 4 – Morfologia; Parte 5 – Fonética e fonologia.
A Parte 1 articula-se em duas vertentes: uma tem como objeto de estudo a
história e a geografia do português europeu, incluindo capítulos sobre a origem e
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a evolução da língua em relação com dados da história social e cultural, sobre as


mudanças ocorridas na gramática e no léxico ao longo dos séculos e sobre a varia-
ção dialetal. A outra inclui capítulos sobre o lugar do português no contexto das
línguas românicas, sobre as zonas do mundo em que se fala português e sobre as
principais características do português falado no Brasil e em África (com especial
incidência em Angola e em Moçambique), incluindo o quadro histórico em que
se formaram estas variedades. Faz-se ainda uma breve referência aos crioulos de
base portuguesa e à sua distribuição geográfica.
Na Parte 2, apresentam-se os vários tipos de relações semânticas que existem
entre as palavras e que estruturam a organização do léxico. Discute-se o processo
gradual de lexicalização de determinadas sequências de palavras em grupos formal
e semanticamente coesos, com um comportamento semelhante ao de unidades
lexicais simples, bem como o processo progressivo e contínuo de gramaticalização
de certas unidades linguísticas e as mudanças funcionais, semânticas e formais
que, neste processo, podem alterar profundamente a sua forma e o seu sentido.
Na Parte 3 – a mais extensa da Gramática –, discutem-se fenómenos sintá-
ticos e semânticos organizados em nove grandes blocos assinalados por letras
maiúsculas: no Bloco A, discute-se a organização geral da frase; o Bloco B é dedi-
cado a questões semânticas, nomeadamente o tempo, o aspeto, a modalidade e
o modo; no Bloco C, descrevem-se as propriedades dos constituintes da frase:
sintagma nominal, sintagma verbal, sintagma adjetival, sintagma preposicional
e sintagma adverbial; o Bloco D é dedicado à organização textual e às frases
constituídas por mais do que uma oração, nomeadamente em estruturas de coor-
denação e estruturas de subordinação; o Bloco E aborda um determinado número
de estruturas sintáticas, nomeadamente construções de grau, os diferentes tipos
de interpretação dos pronomes e a posição das formas pronominais clíticas; o
Bloco F trata de fenómenos de omissão de pronomes e da elipse de alguns consti-
tuintes; no Bloco G, descrevem-se fenómenos de concordância verbal e nominal;
no Bloco H, discutem-se aspetos linguísticos que se situam na fronteira entre a
sintaxe, a semântica e a pragmática; finalmente, o Bloco I é constituído por um
único capítulo e trata de alguns contrastes gramaticais entre o português do Brasil
e o português europeu.
Na Parte 4, após uma introdução que apresenta as questões básicas da mor-
fologia do português, a descrição centra-se na estrutura das palavras simples e
nas propriedades morfológicas de diferentes classes de palavras, com especial
relevância para nomes, adjetivos e verbos (incluindo-se um apêndice com tabelas
de conjugação). Descrevem-se seguidamente os processos de formação de palavras
por afixação (sufixação, prefixação e parassíntese), conversão e composição. Estes
processos permitem determinar os tipos de estruturas das palavras não simples do
português. Relativamente a vários dos fenómenos descritos, é feita a articulação
entre morfologia e léxico, fonologia e sintaxe.
Na Parte 5, apresenta-se a componente sonora da gramática do português
europeu padrão, focando os seus aspetos mais relevantes e indicando diferenças
em relação a outras variedades da língua. Descrevem-se as vogais e consoantes
tendo em conta a sua estrutura interna, a sua distribuição na palavra e as alter-
nâncias regulares em que participam. São também objeto de descrição aspetos da
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organização prosódica como o acento ou o agrupamento dos segmentos em sílabas


e em unidades rítmicas e entoacionais maiores.
Nalguns casos, capítulos cuja temática está fortemente relacionada são ante-
cedidos por um texto introdutório comum, que auxilia o leitor a relacionar as
questões neles tratadas.
O Volume I da Gramática inclui as Partes 1 e 2 e o início da Parte 3, nomeada-
mente os Blocos A, B e a primeira parte do Bloco C. Inclui-se também neste volume
uma secção introdutória que fornece as informações necessárias para uma fácil
consulta da obra. O Volume II trata unicamente de sintaxe, incluindo a restante
parte do Bloco C e os Blocos D, E e F. Finalmente, o Volume III contém a parte final
da sintaxe – Blocos G, H e I – e as Partes 4 e 5. Neste volume inclui-se um anexo
sobre ortografia e um índice remissivo.
No início de cada volume apresenta-se a lista dos autores que nele colaboram
e o índice pormenorizado dos capítulos que o integram e respectivos autores. No
início de cada parte (ou de cada bloco, no caso da Parte 3) são indicados os capí-
tulos que a compõem e os respetivos autores. No final de cada volume, inclui-se a
bibliografia mencionada nesse volume.
Em cada capítulo, a seguir ao índice, são sucintamente apresentados o tema
e os objetivos desse capítulo. Para que o leitor compreenda como se articulam as
várias questões e possa aprofundar ou recapitular a informação que vai sendo
apresentada, frequentemente é explicitado o interesse em consultar outro ou outros
capítulos; esse percurso é geralmente sugerido através da inclusão de referências
cruzadas entre capítulos ou secções de capítulos.
Na Comissão Organizadora, foram responsáveis pelas diferentes áreas: Luísa
Segura – história e geografia do português; Maria Fernanda Bacelar do Nascimento
– léxico; Eduardo Buzaglo Paiva Raposo e Amália Mendes – semântica; Eduardo
Buzaglo Paiva Raposo – sintaxe; Maria Antónia Coelho da Mota – morfologia; Maria
do Céu Viana – fonética e fonologia.
Para finalizar, damos algumas indicações sobre o modo de proceder à leitura
da Gramática. De maneira geral, não recomendamos nenhuma ordem sequencial
de leitura dos capítulos. O leitor decidirá em função do seu interesse por tópicos
particulares ou para resolver dúvidas que lhe sejam suscitadas pelo uso e estru-
tura de alguns aspetos gramaticais do português. No entanto, para o público sem
formação linguística, recomendamos que se proceda à leitura do Capítulo 11
antes da leitura dos restantes capítulos das Partes 2 e 3 da Gramática. De facto,
este capítulo apresenta, de forma clara e sucinta, as bases de natureza teórica que
lhe permitirão abordar de modo mais profícuo o conteúdo dos restantes capítulos
dessas partes. De modo semelhante, o Capítulo 20, da área do sintagma nominal,
apresenta uma panorâmica geral das questões levantadas nos vários capítulos dessa
área. Consideramos também importante a consulta prévia da lista de convenções
e abreviaturas, para a adequada compreensão dos capítulos.
A Gramática foi redigida segundo as normas do Acordo Ortográfico de 1990.
Os capítulos da responsabilidade de autores brasileiros foram adaptados à sintaxe
e ao léxico do português europeu, com o acordo dos mesmos.
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O projeto Gramática do Português


A Fundação Calouste Gulbenkian endereçou, no ano de 2000, um convite a Maria
Fernanda Bacelar do Nascimento, investigadora do Centro de Linguística da Univer-
sidade de Lisboa (CLUL), para a elaboração de uma nova gramática do português.
Foi expressamente solicitado que a obra fosse dirigida a um leitor com instrução
média-alta, interessado em esclarecer dúvidas ou em aprofundar questões sobre
a língua portuguesa para as quais não encontrasse resposta nas gramáticas exis-
tentes, por serem ou demasiado sucintas ou demasiado especializadas. Este leitor
seria conhecedor, de modo intuitivo e informal, dos conceitos e da terminologia
mais comuns utilizados pela abordagem tradicional da gramática (nome, verbo,
sujeito, complemento direto, modificador adverbial, etc.), mas não teria conhecimentos
linguísticos especializados.
A investigadora contactada considerou que o projeto devia ser assumido pelo
Centro de Linguística, pelo que apresentou essa proposta ao Conselho Científico da
instituição, que a aceitou, em maio de 2000, tendo-se então constituído o projeto
Gramática do Português. A mesma investigadora propôs a formação de uma Comissão
Organizadora que se encarregaria da tarefa. Em julho de 2000, foi apresentada à
Fundação Calouste Gulbenkian a previsão dos primeiros trabalhos a realizar para
a apresentação da proposta de plano, que incluiriam a discussão, com um grupo
de consultores, de problemas de caráter teórico e prático essenciais à conceção e
planificação da obra.
Tendo a Fundação Calouste Gulbenkian acolhido favoravelmente a proposta,
foi possível, entre outubro e novembro de 2000, constituir a Comissão Organiza-
dora da Gramática, inicialmente formada pelos membros do CLUL Maria Fernanda
Bacelar do Nascimento, Luísa Segura, Maria Antónia Coelho da Mota e Maria do
Céu Viana e por Eduardo Buzaglo Paiva Raposo, da Universidade da Califórnia,
Santa Bárbara. A estes membros da Comissão Organizadora juntou-se mais tarde
Amália Mendes, também do CLUL. Nessa fase inicial, contámos com a colaboração
dos seguintes consultores: Claire Blanche-Benveniste (Universidade de Aix-en-Pro-
vence), Dominique Willems (Universidade de Ghent), Sílvia Brandão (Universidade
Federal do Rio de Janeiro) e Violeta Demonte (Universidade Autónoma de Madrid).
Em dezembro de 2000, a Comissão Organizadora apresentou o projeto à
Fundação Calouste Gulbenkian, que deu o aval definitivo para o seu início em
janeiro de 2001.
O projeto deu origem a uma obra de caráter coletivo. Com o atual desenvol-
vimento dos estudos gramaticais, seria impossível elaborar uma gramática com a
profundidade que esta adquiriu sem o recurso a especialistas nos diversos domínios.
Assim, é de toda a justiça valorizar a colaboração dada a esta obra por quarenta
autores ligados a várias universidades portuguesas e a centros de investigação em
linguística a elas associados (Universidade de Lisboa, Universidade Nova de Lisboa,
Universidades do Minho, do Porto, de Coimbra, dos Açores e do Algarve), a três
universidades brasileiras (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade
Federal da Bahia e Universidade Estadual de Campinas) e ainda à Universidade
da Califórnia, Santa Bárbara, à Universidade Eduardo Mondlane, de Maputo, à
Universidade de Estocolmo e à Universidade em Buffalo, Universidade Estadual
de Nova Iorque.
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A Gramática apresenta homogeneidade na escrita, na organização e na maneira


como se apresentam e desenvolvem os vários temas. Nesse sentido, os membros da
Comissão Organizadora, independentemente da área pela qual foram responsáveis,
leram, comentaram e discutiram todos os capítulos com os seus autores, procurando
uniformizar os termos técnicos usados, assegurando clareza na apresentação dos
conceitos e visando coerência estilística na forma de redação. Pela qualidade dos
seus contributos e pela cooperação havida, a Comissão Organizadora agradece a
todos os autores.
Os volumes foram organizados por Eduardo Buzaglo Paiva Raposo, Maria
Fernanda Bacelar do Nascimento, Maria Antónia Coelho da Mota, Luísa Segura e
Amália Mendes. Do terceiro volume foi também organizadora Maria do Céu Viana.
A Comissão Organizadora beneficiou da colaboração de Graça Vicente (na revisão
de capítulos, na preparação do manuscrito e na revisão de provas) e de Rita Veloso
(na revisão de capítulos). Luísa Alice Santos Pereira recolheu e organizou materiais
constantes de corpora para dar resposta aos pedidos dos autores. Para a bibliografia,
a Comissão Organizadora contou, em momentos diferentes, com o apoio de Aline
Bazenga, de Maria João Colaço e de Luísa Alice Santos Pereira, que colaborou na
sua organização e fez as verificações finais.

Agradecimentos
A Comissão Organizadora sente-se muito honrada pela confiança nela deposi-
tada pela Fundação Calouste Gulbenkian, na pessoa dos seus Administradores.
Pelo incondicional apoio recebido e pela compreensão e encorajamento, o nosso
caloroso agradecimento ao Sr. Dr. Carmelo Rosa, nosso interlocutor na Fundação
Calouste Gulbenkian.
Aos Autores queremos apresentar o nosso reconhecimento por terem aceitado
participar neste ambicioso projeto do CLUL e terem cooperado com a Comissão
Organizadora de modo a que esta obra pudesse alcançar as características desejadas.
Os colaboradores da Comissão Organizadora foram uma peça fundamental
para a realização do Projeto; a todos estamos muito gratos, e apraz-nos destacar a
colaboração de Graça Vicente, que, durante a maior parte do projeto, contribuiu,
com o seu saber, competência, dedicação e empenho, para que levássemos a bom
termo este trabalho. Um agradecimento ao Ministério da Educação por, durante três
anos letivos (2002-2005), ter autorizado a equiparação a bolseira desta professora
para participar no projecto Gramática do Português. Agradecemos, ainda, a João
Lavinha e a Dulce Leiria Åberg, a quem solicitámos a leitura de alguns capítulos
da Gramática.
O nosso reconhecimento vai também para as diferentes direções do Centro
de Linguística da Universidade de Lisboa pelo apoio recebido ao longo dos anos.

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