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Gabriel Neto
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Resumo: A pesquisa aqui apresentada tem por objetivo demonstrar de forma mais
superficial a variação linguística existente no concelho de Bragança, o que é possível
comprovar através da análise de enunciados textuais desta zona geográfica. Além de uma
análise geral, tendo em conta que não possuo os conhecimentos técnicos específicos da
área da Linguística dei preferência a realizar uma tradução de alguns textos para o
Português tido como norma, dando enfase à variação lexical e elaborar um breve
glossário, tanto de palavras assim como de expressões próprias da região que ainda são
utilizadas nos dias de hoje.
1. Introdução
Como consequência da Expansão marítima a partir do século XV, a língua portuguesa foi
difundida em três continentes: América, África e Ásia.
A presença dos portugueses nestes territórios foi um dos fatores principais para a língua
portuguesa ter sido adotada como língua oficial e ainda ser falada por mais de 260 milhões
em todo o mundo.
No entanto sabemos que é apenas um idioma que está longe de ser apresentado como
igual em toda a extensão continental, ou seja, não se fala apenas um português, mas
variações dessa mesma língua. Tal acontece, porque a língua é um instrumento de
comunicação diversificado e complexo e por esta mesma razão está sujeita a uma
variação.
Ao longo dos anos foram definidos vários mapas dialetais do português europeu, no
entanto baseei-me na proposta do Professor Lindley Cintra, lançada em 1973. Nesta
proposta de classificação dos dialetos portugueses existem apenas dois dialetos: os
dialetos setentrionais e os dialetos centro-meridionais, que por sua vez se dividem em
subdialetos. Este último supramencionado compreende o centro-litoral e centro-interior,
enquanto no dialeto setentrional diz respeito ao transmontano, alto-minhoto e baixo
minhoto- duriense beirão.
Quando falamos sobre variação dialetal, falamos das diferenças entre as formas de falar
das pessoas nos diferentes lugares. Cada região tem a sua própria forma de falar, com
pronuncia e termos próprios dessa região. Desta forma, podemos afirmar que existe uma
relação intrínseca entre dialeto e regionalismo, pois referem-se às caraterísticas
linguísticas de uma determinada região. Os regionalismos podem ser entendidos como
uma forma de diversidade linguística dentro da mesma região. É ainda importante
ressaltar que a variação dialetal e os regionalismos não são considerados erros
linguísticos, mas sim manifestações legítimas da diversidade linguística que enriquecem
a língua e contribuem para a riqueza cultural de cada região.
No entanto, é importante compreender que os regionalismos podem também trazer alguns
desafios de compreensão entre falantes da mesma região e até levar a mal-entendidos,
pois são termos desconhecidos e que podem ser interpretados de forma igualmente
diferente. Por exemplo, ao analisarmos um texto que apresenta um dialeto transmontano
é provável que se encontre uma série de regionalismos daquela região, como por exemplo
os termos “bardino” e “gandulo”, termos que servem para designar alguém que é
delinquente, ou seja significam o mesmo, que são ditos no concelho de Bragança, mas
em pontos diferentes.
Podemos abordar assim as variedades urbanas e as variedades rurais, onde os indivíduos
que vivem na zona rural acabam por preservar a cultura desta região. No entanto há um
processo, no qual o afastamento leva ao desaparecimento de alguns traços característicos
desta linguagem transmontana. Outra influência das zonas urbanas para a perda de uma
identidade é a instrução dos jovens, o que resulta no desenraizar desta linguagem mais
típica da região e por essa mesma razão é que observamos alguns vocábulos típicos do
dialeto transmontano a caírem em desuso no centro mais urbano.
4- Corpus para análise
Para textos de análise foram escolhidos 2 textos retirados de blogues reconhecidos na
região no que diz respeito aos falares/dizeres transmontanos, apresentando assim uma
visão mais arcaica dos falares transmontanos, que vai desaparecendo com as novas
gerações. No entanto, os termos demonstrados nestes textos são muitas vezes termos que
se vão ouvindo regularmente no quotidiano de um transmontano, principalmente nas
aldeias, onde a população é mais idosa e tem um nível de escolaridade mais baixa.
A seleção destes enunciados foi resultado de uma primeira leitura, onde estes
apresentavam uma maior incidência nos vocábulos próprios da região, o que seria
profícuo, tendo em conta a necessidade de demonstrar ao leitor estas variantes do dialeto
transmontano. Assim a intenção é identificar alguns processos e de seguida fazer uma
espécie de tradução para o português “corrente”, na medida em que for possível, sem me
afastar muito da construção frásica apresentada, e de seguida elaborar um glossário do
léxico transmontano como forma de ferramenta de desconstrução, tendo em conta os
textos analisados e ainda outros termos e expressões idiomáticas que considere serem de
relevância.
Desta forma segue-se o primeiro texto retirado do blog “Memórias…. e outras coisas…”:
1
Disponivel em < https://5l-henrique.blogspot.com/2018/05/falares-e-dizeres-aldeias-transmontanos.html
~
Possível tradução:
O segundo texto foi retirado de uma página sobre os Falares Transmontanos, onde o
objetivo é demonstrar expressões típicas da região ao mesmo tempo que se apresenta uma
opinião da sociedade.
Possível tradução:
Breve Análise
Neste texto também podemos ver que também ocorre o processo de substituição do “v”
pelo “b”, como por exemplo no vocábulo “criabouse”, que corresponde ao verbo criar, e
onde se deveria ler criavam-se (3ª pessoa do plural, pretérito imperfeito).
2
Disponível em < https://www.facebook.com/falarestransmontanostiacacio
Temos ainda a troca de vogais, “mou” em vez de “meu” e uma fortificação do som “ch”,
ao colocar a letra [t] antes da palavra, como acontece na palavra “tcheios”.
Este Glossário vai conter apenas 20 entradas que vão ter por base os textos já
supramencionados, assim como outros termos que foram acrescentados, de forma a
obtermos uma ferramenta de auxílio a quem queria desconstruir o “falar transmontano”.
No entanto não significa que os termos aqui apresentados sejam exclusivamente desta
região.
A estrutura desde glossário vai ser a seguinte: Em primeiro lugar vamos optar por uma
ordem alfabética, depois vai conter uma definição do termo e ainda pelo menos um
sinónimo.
Abondar
Verbo abundar; Significa o mesmo que dar, no sentido de dar o objeto para as mãos de
outro.
Sinónimo: entregar;
Albarda
Quando alguém traz uma peça de vestuário que aparenta ser larga para o tamanho do
individuo.
Sinónimo: casaco comprido
Amarrar
Inclinar-se para baixo. Pôr-se de cócoras.
Sinónimo: agachar; abaixar
Arrebunhar
Ferir com as unhas.
Sinónimo: arranhar
Barduada
Golpes com um pau ou objetos semelhantes
Sinónimo: pancada; paulada
Bô
Uma palavra com vários significados. Tanto pode significar admiração, medo,
desconfiança ou até para dar confirmar a resposta a algo. Tudo depende da entoação que
o individuo utiliza assim como depende do contexto em que se insere.
Burridades
Comportamento habitual de uma criança;
Sinónimo: asneiras; traquinices
Canelha
Normalmente serve para designar um espaço estreito num ambiente rural
Sinónimo: viela; quelha; rua apertada
Carabunhas
Parte dura de alguns frutos como a cereja.
Sinónimo: caroço
Carambelo
Formação de camadas de gelo.
Sinónimo: geada
Cucho
Animal doméstico; Mamífero da família dos canídeos.
Sinónimo: cão
Encanrranxada
Colocar-se sobre o animal com o uma perna para cada lado
Sinónimo: montar;
Estoubada
Alguém que não tem juízo.
Sinónimo: estouvado; maluco; despassarado
Furgalhos
Sobras de algo. Habitualmente refere-se a sobras do pão.
Sinónimo: pedaço; migalhas
Ganapáda
Normalmente utiliza-se para designar um conjunto de jovens que andam pelas ruas a
brincar.
Sinónimo: gaiatos; traquinas; grupo de garotos
Guixo
Por vezes é escrito desta forma – Guitcho. Significa alguém que demonstra perspicácia.
Sinónimo: inteligente; esperto; astuto
Lapouço
Tem uma conotação negativa. Serve para designar alguém que come de forma desajeitada
e que se suja todo ou que deixa cair comida para o chão enquanto come.
Sinónimo: sujo; porco; alguém que come de forma alarva.
Malga
Recipiente que serve para comer cereais ou sopa.
Sinónimo: tigela
Pinchar
Habitualmente tem como significado lançar-se com impulso de um lugar para outro. No
entanto também pode significar uma ordenação para sair de um local. Ex: “Pincha-te daí”,
significa o mesmo que sai daí.
Sinónimo: saltar; pular; sair
Prosmeirices
Pode significar alguém vaidoso; alguém que tem muitas manias ou ainda alguém que não
tem atitude.
Considerações Finais
BIBLIOGRAFIA