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15/11/2023, 17:04 Dialeto – Wikipédia, a enciclopédia livre

Dialeto
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Um dialeto (AO 1945: dialecto) (do grego διάλεκτος, translit. diálektos: 'conversa, conversação,
discussão por perguntas e respostas; maneira de falar, linguagem própria de um país) é a forma
como uma língua é realizada numa região específica. Trata-se de uma variedade ou variante
linguística. A variante dialetal é também chamada diatópica ou geolinguística.

Falantes de uma mesma língua apresentam diferenças nos seus modos de falar, de acordo com o
lugar em que estão (variação diatópica), com a situação de fala ou registro (variação diafásica) ou,
ainda, de acordo com o nível socioeconômico do falante (variação diastrática).

Dialeto é uma variante linguística constituída por características fonológicas, sintáticas,


semânticas e morfológicas próprias.

Uma língua pode-se dividir em inúmeras variedades dialetais, desde as mais abrangentes (e. g.
português europeu e português brasileiro) até às subvariedades mais específicas - a exemplo do
grupo dialetal transmontano-alto-minhoto, que se inclui nos dialetos portugueses setentrionais e o
grupo dialetal gaúcho, que se inclui no grupo dialetal do sul do Brasil.

Os critérios que levam a que um conjunto de dialetos seja considerado uma língua autônoma e não
uma variedade de outra língua são complexos e frequentemente subvertidos por motivos políticos.
A Linguística considera os seguintes critérios para determinar que um conjunto de dialetos faz
parte de uma língua:

Critério da compreensão mútua: se duas comunidades conseguem facilmente compreender-


se ao usarem o seu sistema linguístico, então elas falam a mesma língua.
Critério da existência de um corpus linguístico comum: se entre duas comunidades existe um
conjunto de obras literárias que são consideradas patrimônio de ambas (sem que haja
necessidade de tradução), então elas falam a mesma língua.

Um dialeto, para ser considerado como tal, tem de ser falado por uma comunidade regional. As
características da língua que não são específicas de um grupo regional são consideradas socioletos
(variedades próprias de diferentes grupos sociais, etários ou profissionais) ou idioletos (variedades
próprias de cada indivíduo).

As regiões dialetais são estabelecidas por linhas de fronteira virtuais a que se dá o nome de
isoglossas.

Norma e norma padrão


Todos os dialetos (sem exceção) têm uma norma. Essa norma é o conjunto de regras que garante
a unidade do dialeto, limitando a variação e a evolução linguística na comunidade. Quando uma
língua se institucionaliza - através da criação de instrumentos normativos como a gramática
normativa e a ortografia - tende a escolher um dos seus dialetos como norma padrão. Por
exemplo, a norma padrão para a língua castelhana é, atualmente, a norma do dialeto de Madrid.

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É importante sublinhar que a escolha da norma padrão é algo de puramente político e que,
geralmente, está relacionado com a localização das capitais políticas, culturais ou econômicas dos
países. Assim, não existem dialetos melhores ou piores do que outros. É tão legítimo dizer-se bint
(para "20"), à moda da cidade do Porto, como vintchi, à moda do Rio de Janeiro.

Por vezes, os critérios políticos que interferem na língua podem estar muito distantes dos critérios
científicos. Há países, em que autênticas línguas são consideradas apenas dialetos da língua oficial,
quando, na realidade, não o são de todo. Não é preciso ir muito longe. Até ao século XX, a língua
galega foi considerada um dialeto da língua castelhana. Na realidade, a linguística demonstrou, ao
longo do século, que o galego é um dialeto pertencente ao sistema linguístico do português, tal
como são os dialetos do Brasil e de Portugal. De um ponto de vista legal, o galego é considerado
uma língua autônoma, ainda assim, ela é estudada em muitas universidades como uma variante do
sistema linguístico galego-português.

Outro exemplo semelhante é o do mirandês. Vista até há poucos anos como um dialeto do
português, provou-se que se trata de um dialeto da língua leonesa, língua considerada morta, do
grupo ásture-leonês.

A norma padrão da língua portuguesa


A língua portuguesa usou como norma padrão, a partir do século XIV, os dialetos falados entre
Coimbra e Lisboa, com especial relevo para este último. No Brasil, a norma padrão evoluiu do
dialeto de Lisboa para o do Rio de Janeiro (com a fuga da corte para o Brasil em 1808) e, desde
então, para uma influência partilhada pelas variedades cultas em uso nas maiores cidades do
país,[1] em especial as duas maiores metrópoles globais na costa da região Sudeste.

Nessa norma padrão oral tácita do


português brasileiro, a letra S é sempre
pronunciada /s/ em coda silábica
(enquanto no estado do Rio de Janeiro
seria sempre pronunciada /ʃ/, e por vezes
variando entre um alófono e o outro em
outras regiões do país, como o Norte, o
Nordeste, o Espírito Santo, a Zona da Mata
Mineira e a Ilha de Santa Catarina);
enquanto a letra R é pronunciada /ʁ/ –
tendo AFI: [x], [ɣ], [χ], [ʁ], [h] e [ɦ]
como possíveis alófonos – na mesma
situação, como dominante nas regiões
Norte, Nordeste, na Ilha de Santa Catarina
e em todo o Sudeste porém no estado de
São Paulo (onde, como no Rio Grande do
Sul ou na Europa, seria pronunciada como
vibrante simples alveolar, ou /ɾ/, ou como
no Paraná, no Mato Grosso do Sul, em
Goiás e em uma boa parte do Sudoeste de
Minas, como aproximante alveolar, ou /ɹ/). Dialetos do português brasileiro
Neste padrão linguístico, o deletamento de 1 - Caipira 7 - Nordestino 13 - Carioca
/ʁ ~ ɾ ~ ɹ/ em coda silábica em final de 2 - Costa norte 8 - Nortista 14 - Brasiliense
palavra comum na fala cotidiana, informal, 3 - Baiano 9 - Paulistano 15 - Serra amazônica
do português brasileiro, quase universal, 4 - Fluminense 10 - Sertanejo 16 - Recifense
especialmente entre as classes de renda 5 - Gaúcho 11 - Sulista
mais baixa, é considerado um desvio. 6 - Mineiro 12 - Florianopolitano

https://pt.wikipedia.org/wiki/Dialeto 2/4
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O Acordo Ortográfico de 1990 representa, do ponto de vista da linguística política, um processo


inédito a nível das grandes línguas mundiais. Pela primeira vez, a ortografia de uma língua é
discutida globalmente pelos diversos países que a usam e não imposta por uma das partes. Em vez
de se basear na norma de um dos dialetos da língua, este acordo ortográfico vai ao encontro de
diversos dialetos, tentando encontrar um compromisso entre eles.

Mitos sem fundamento científico


É comum circularem algumas ideias sobre dialetologia que são erradas e sem fundamento.

"Um dialeto é uma língua menor".

Um dialeto não é uma língua, é uma variedade de uma língua. Por outro lado, qualquer
língua, por menos prestígio que tenha, não deixa de ser língua e não passa a ser dialeto só
por isso. Línguas como o tétum (de Timor-Leste) ou o potiguara (do Brasil) não são dialetos
do português.

"O português de Coimbra é a língua portuguesa e em Minas Gerais fala-se um dialeto ou


corruptela".

O dialeto falado em Coimbra é tão correto como o dialeto mineiro e vice-versa, são apenas
maneiras diferentes de realizar a mesma língua. Não há nenhum critério científico que valide
a superioridade de uma variedade em relação a outra. Assim, qualquer produção linguística
de qualquer falante insere-se sempre numa variedade dialetal, não existindo qualquer região
em que se possa dizer que, nela, se fala a verdadeira língua e não um dialeto.

"Um dialeto é um linguajar sem regras".

Não existe nenhum dialeto sem a sua norma. Qualquer dialeto tem as suas regras
gramaticais, fonológicas, morfológicas, sintáticas, semânticas e lexicais. Qualquer falante de
um dialeto conhece todas as suas regras intuitivamente (Gramática implícita).

"A diferença entre dialeto e sotaque é que nos sotaques os falantes se entendem, enquanto
nos dialetos não se entendem".

De acordo com a definição do dicionário Houaiss, um dialeto é qualquer variação regional


de um idioma que não chegue a comprometer a inteligibilidade mútua entre o falante da
língua principal com o falante do dialeto. As marcas linguísticas dos dialetos podem ser de
natureza semântico-lexical, morfossintática ou fonético-morfológica.

Sotaque é um conceito de uso popular, que, em termos científicos, nem existe, e que
costuma designar apenas uma mudança na entonação da palavra, ou a pronúncia
imperfeita de alguns fonemas realizada por um estrangeiro. Dessa forma, os dialetos do
português falados no Brasil, tal como os falados em Portugal, ou os ingleses nos Estados
Unidos ou no Reino Unido, são verdadeiros dialetos, enquanto os chamados "dialetos" de
países como a China são na realidade idiomas distintos - uma vez que nem sempre há
inteligibilidade mútua - e apenas carecem de estatuto oficial.

"Uma língua é um dialeto com exército e marinha".

Uma língua não é um dialeto. Não; são os dialetos subconjuntos das línguas.

Ver também
(linguística) Diassistema Socioleto
Variação
Sociolinguística Isoglossa Jargão
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dialeto 3/4
15/11/2023, 17:04 Dialeto – Wikipédia, a enciclopédia livre

Idioleto Crioulo de base Acordo Ortográfico Gramática


Português europeu portuguesa de 1990 normativa
Português Patuá Corpus linguístico Preconceito
brasileiro Pidgin linguístico

Referências
1. * Paul Teyssier. História da língua portuguesa. 6.ª edição. Lisboa. Livraria Sá da Costa Editora.
1994. ISBN 972-562-129-8

Bibliografia
Cunha, Celso e Cintra, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 12.ª edição.
Lisboa. Edições João Sá da Costa. 1996. ISBN 972-9230-00-5
Cintra, Luís Filipe Lindley. Estudos de Dialectologia Portuguesa. 2.ª edição. Lisboa. Livraria Sá
da Costa Editora. 1995. ISBN 972-562-327-4
Teyssier, Paul. História da língua portuguesa. 6.ª edição. Lisboa. Livraria Sá da Costa Editora.
1994. ISBN 972-562-129-8

Ligações externas
«Qual a diferença entre língua, idioma e dialeto?» (http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/dife
rencas-entre-lingua-idioma-dialeto.htm)

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