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Unidade 1

ORIGEM, HISTÓRIA E DOMÍNIO DA LÍNGUA PORTUGUESA


Caro aluno(a)

A disciplina PORTUGUÊS DIACRÔNICO tem por objetivo


proporcionar aos graduandos o acesso ao conhecimento inerente aos
fundamentos e mecanismos da descrição morfológica e sintática a fim de que
sejam desvendadas as mudanças que ocorreram na língua materna. O intento,
nesta unidade é evidenciar um pouco da história dessa língua e, para tal, parte
de questões inerentes a sua origem latina, discorre sobre fatos históricos e
apresenta suas fases evolutivas, fornecendo assim subsídios que possibilitem
o inicio de uma caminhada nos meandros de uma evolução lingüística.
Para iniciar os estudos, é pertinente fomentar uma discussão acerca
da origem, história e domínio da Língua Portuguesa, tecendo considerações
sobre linguagem, língua e dialeto, como também, a respeito do Latim clássico
e vulgar e línguas românicas e português arcaico.
Desta forma, ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

• diferenciar língua, linguagem e dialeto.


• fazer correspondências entre latim clássico, latim vulgar, línguas
românicas e português arcaico.

Bom estudo!

1.1 LINGUAGEM, LÍNGUA E DIALETO

A linguagem é a capacidade específica à espécie humana de estabelecer o


processo comunicativo por meio de um sistema de signos vocais.
Saussure assinala que a linguagem apresenta dois componentes: a língua
e a fala. O primeiro definido como “produto social” e o outro como “componente
individual da linguagem”. A língua comporta duas modalidades: a escrita e a
falada e possui um léxico (conjunto de palavras usadas por uma comunidade
linguística).
O léxico de uma língua, segundo Vanoye (1991), é teoricamente ilimitado,
tanto que, na prática, o usuário da língua conhece somente uma pequena
parte de um vasto conjunto. É, necessário no estudo das palavras, diferenciar
o campo lexical - conjunto de palavras empregadas para designar, qualificar,
caracterizar, significar uma noção, uma atividade, uma técnica , uma pessoa –
do campo semântico - conjunto das significações assumidas por uma palavra
num certo enunciado.
As línguas, quanto ao uso, podem ser:

TIPOS CARACTERÍSTICAS
VIVA ● instrumento diário de comunicação entre os indivíduos de uma comunidade.
MORTA ● não é mais falada, com informes sobre ela por meio de documentos escritos.
EXTINTA ● desapareceu sem deixar memória documental.

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A glotologia, ciência que estuda a origem e o desenvolvimento da


linguagem, distribui as línguas em grupos ou famílias, adotando três critérios:
geográfico (regiões), etnológico (raças dos falantes), morfológico (estrutura
dos vocábulos) e genealógico (grau de parentesco).
Pelo critério morfológico, as línguas são consideradas como
monossilábicas (monossílabos isolados – chinês), aglutinantes (as flexões
nominais e verbais se exprimem por meio de partículas combinadas às
palavras - japonês) e flexivas (palavras sofrem modificações em suas formas –
português).
Mattoso Câmara Jr. (1979, p. 11) propôs como definição de dialeto:
“modificação regional de uma língua, ou ainda, são línguas regionais que
apresentam entre si coincidências de traços linguísticos essenciais”. Em outras
palavras, dialeto é uma forma de língua que tem o seu próprio sistema léxico,
sintático e fonético, usada em um ambiente mais restrito que a própria língua.
O autor ainda enuncia que:

A diferenciação dialetal explica-se, sempre, em parte, pela


história cultural e política e pelos movimentos de população e,
de outra parte, pelas próprias forças centrífugas da linguagem
humana, que tendem a cristalizar as variações e criar dialetação
em qualquer território, relativamente amplo, e na medida direta
do maior ou menor isolamento das áreas regionais em referência
ao centro linguístico irradiador. (CAMARA JR., 1979, P.11)

A dialetação é entendida como o processo pelo qual uma língua


apresenta variedades regionais ou sociais, em virtude de assumir diferentes
características oriundas das regiões e dos grupos sociais, onde é falada/
utilizada. Precisamos atentar que, no decurso da história aconteceram e ainda
acontecem inovações na pronúncia, no significado e na forma das palavras, na
construção das frases, enfim, no uso da língua efetivada por diversos grupos
de falantes, fato que concorre para a constituição de diversas variedades da
língua – os dialetos -, ou de novas línguas.
São vários os fatores que concorrem para isso aconteça:

• tendência natural à variação no tempo e no espaço, como qualquer


instituição social;
• criação de novas palavras e novas construções sintáticas a partir de
recursos da própria língua para fazer face às necessidades expressivas dos
falantes;
• mudanças fonéticas propiciadas por fatores internos à língua;
• fatores externos (história dos povos) que induzem o contato entre
línguas, resultando na adoção de traços de uma língua por outra.

Sem esquecer, no entanto, que razões geográficas, políticas, sócio


econômica e culturais também interferem na propagação das inovações que
ocorrem em uma determinada língua.

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1.2 LATIM CLÁSSICO E VULGAR

Em Roma, naqueles tempos, existiam duas modalidades lingüísticas,


bastante distintas - o latim clássico e o vulgar -, decorrentes do uso
despreocupado da língua, pelo povo. Tal fato ratifica o que dizia Serafim da
Silva Neto1 :
O latim clássico era sempre escrito, perpassado pelo rigor dos literatos
enquanto o latim vulgar era a linguagem do povo que transmitia suas idéias
sem a preocupação com os preceitos gramaticais. Não eram duas línguas
diferentes e sim, duas modalidades da mesma língua coexistindo simultânea
e paralelamente.
O latim vulgar era corrente entre as diversas classes da sociedade romana,
ou seja, falado pela classe média (familiar), classe baixa (plebeu), soldados
(castrense), marinheiros (náutico), operários (proletário) e camponeses (rural).
Com essa diversidade apresentava diferentes aspectos, os quais configuraram
a sua designação que não conceitua uma língua, mas um agrupamento de
falares de vários tipos.
O Latim clássico e o vulgar, considerando o léxico e aspectos fonéticos e
morfossintáticos, apresentam diferenças, tais como:

ASPECTOS LATIM VULGAR EXEMPLOS


FONÉTICA Tendência para evitar vocábulos Álacrem > álacre > alegre
proparoxítonos.
LÉXICO Predominância do uso de vocábulos Equus > caballu > cavalo
mais populares e afetivos com sufixos Ignis > focu > fogo
diminutivos. Auris > Aurícula > orelha
MORFOLOGIA Tendência para o uso de formas Líber > illu/unu libru > o/um livro
analíticas.
SINTAXE Uso de preposições e redução das O latim clássico exprimia a função
desinências casuais. sintática das palavras na frase por
Ex: illu/uno libru (nominativo – meio de desinências chamadas
sujeito) casos. Ex: líber (nominativo – sujeito)

Segundo Edwin B. Williams (1961, p.16) o latim como língua viva estava
sujeita a constantes modificações. Enquanto a língua das classes cultivadas
(o latim clássico) se tornava cada vez mais uniforme sob a influência
estabilizadora da cultura e do aprendizado, a língua do povo (o latim vulgar)
se tornava cada vez mais diversificada na medida em que se disseminava
com a expansão do vasto Império Romano. O latim clássico se tornava uma
língua morta, enquanto o latim vulgar se desenvolvia nas chamadas línguas
neolatinas ou românicas.
A tradição não nos legou uma grande literatura para atestar a existência
do latim vulgar, por conseguinte, é uma língua reconstruída de fragmentos
heterogêneos e em grande parte
na base de hipótese. Nosso
conhecimento dele deriva das
seguintes fontes:
Com a queda e fragmentação
do Império Romano, suprimidos
os elementos unificadores do
idioma, o Latim Vulgar, já

1 - Intelectual do século XX que soube representar, por meio de seu discurso, as idéias de seu tempo e de suas
referências culturais, em específico, as relativas à história da língua portuguesa. 11
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bastante modificado pela ação do substrato lingüístico2 peninsular passou a


se desenvolver, independentemente, em cada região, isto é, dialetou-se3 . Tal
dialetação tem, pois, como causas, a invasão bárbaro-germânica e a ação do
substrato lingüístico.
Para exemplificar ocorrência de dialetação podemos citar as línguas
românicas oriundas da diversificação do latim vulgar.

b e m c o m o is s o aconteceu?
Sa
Durante o processo de colonização do Brasil, o português trazido para
a colônia, já era heterogêneo, pois foi trazido por falantes de várias regiões
de Portugal, e em diferentes momentos. Chegando aqui entrou em contato
com outras línguas, sobretudo as indígenas e africanas, foi utilizado em outras
situações de uso, a serviço de outras comunidades diferentes das usuais. Assim
tornou-se um português diferente do português europeu.

1.3 LÍNGUAS ROMÂNICAS E PORTUGUÊS ARCAICO

No século V ocorreu o fracionamento da unidade lingüística do Império


Romano e a dialetação do latim vulgar, o qual passou a se desenvolver
diferentemente em cada região.
Os falares regionais já não podiam ser chamados de latim em virtude
das grandes modificações introduzidas, entretanto ainda não se configuravam
como instrumentos lingüísticos de novas unidades sociais e políticas. Essas
formações dialetais do Latim Vulgar foram denominadas de romanços ou
romances, falas intermediárias entre o Latim Vulgar e as línguas românicas
ou neolatinas.
Para Mattoso Câmara, considerando as questões históricas e político-
sociais, alguns fatores contribuíram para a diversificação linguística da
România, dentre eles se encontram:

• Fator cronológico – o latim recebeu diferentes influências, nos diversos


momentos de sua evolução, pois as regiões foram romanizadas em momentos
diferentes.
• Contato entre a cultura romana e as diferentes culturas dos porvos
conquistados.
• Grande diversidade socioeconômica das regiões conquistadas.
• Édito de Caracala – estabelecimento do direito de cidadania aos
indivíduos livres do Império, com perda de privilégios para Roma (212).
• Descentralização política e administrativa do Império – com a criação
de 12 dioceses, Roma perde o poder de ditar a norma lingüística.
• Mudança da sede do Império para Bizâncio (330).
• Divisão do Império Romano, provocada pela morte de Teodósio
(395), em Império do Oriente e Império do Ocidente (não resiste às inúmeras
invasões).

2 - Substrato lingüístico – língua de um povo vencido sobre a qual se superpõe a língua do vencedor.
3 - Segundo Mattoso Cãmara, dialeto é a modificação regional de uma língua, ou ainda, são línguas regionais que
apresentam entre si coincidências de traços lingüísticos.

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Dentre os vários romances, formados no período entre século V e IX,


se destacam: o castelhano, o leonês, o galo-provençal, o lusitânico, do qual o
português é um prolongamento.

As dez línguas neolatinas estão assim distribuídas geograficamente:

LÍNGUA LOCAL
PORTUGUÊS (*) • Portugal e suas ilhas e colônias na África e Ásia
• Brasil
ESPANHOL (*) • Espanha e suas colônias na América
ITALIANO (*) • Itália, Córsega e Sicília
FRANCÊS (*) • França, Bélgica, Suíça, Canadá, Tunísia
ROMENO (*) • România e norte da Macedônia
RÉTICO (*) • Tirol, Friul, Cantão dos Grisões (Suíça)
GALEGO • Galiza
PROVENÇAL • Provença (sul da França)
CATALÃO • Catalunha, Ilhas Baleares
SARDO • Sardenha
DALMÁTICO • Antes era falado na Dalmácia (Iugoslávia), atualmente é língua morta

(*) – Línguas oficiais

Falar em português arcaico é tratar do período histórico da língua


portuguesa, situado entre os séculos XIII e XV, embora tal afirmativa seja
bastante simples, diante do fato de que qualquer tentativa de periodização
histórica é arbitrária. Mas, historiadores e filólogos que comungam dessa
afirmativa, o fazem em virtude de que a língua portuguesa, nesse momento,
aparece documentada pela escrita. Para eles o período que o precede é o pré-
literário, subdividido em:

• pré-histórico – documentação remanescente sem traços de uma futura


variante;
• proto-literário – situado a partir do século IX, caracterizado por traços
de uma futura variante, nos documentos escritos no chamado latim bárbaro.

O século XVI se constitui como marco divisório de duas fases da língua


portuguesa - a arcaica e a moderna – pois, a partir dele, começam a surgir
traços que a diferenciam da usada em Portugal, nos séculos anteriores. São
assinaladas no vocabulário, na fonética, na morfologia e na sintaxe as diferenças
entre o português arcaico e o moderno.
O século XVI se constitui como marco divisório de duas fases da língua
portuguesa - a arcaica e a moderna – pois, a partir dele, começam a surgir
traços que a diferenciam da usada em Portugal, nos séculos anteriores. São
assinaladas no vocabulário, na fonética, na morfologia e na sintaxe as diferenças
entre o português arcaico e o moderno.

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ÂMBITO OCORRÊNCIAS NO PORTUGUÊS ARCAICO


● algumas palavras não guardaram a mesma forma.
VOCABULÁRIO
● outras empregadas com acepção diferente da que tinham.
● distinção perfeita entre o valor do s e ç, do s intervocálico e z, do ch e z.
● ditongo -ão era representado por -om nos substantivos latinos terminados
em –one e –udine (sermon<sermone) e verbos latinos terminados em –unt
FONÉTICA (amaron<amarunt).
● reunião de vogais em hiato (maa > má).
● permanência da nasalidade (coroa < corona).
● sufixo –vel com a forma de –bil (terríbil) ou –vil (semelhávil).
● uniformidade nos nomes terminados em –nte, -or, e –ês. – língua
português.
● nomes flexionados no plural – (ourivez – ourivezes).
● nomes com gêneros diferentes – mar, cometa (femininos) – tribo,
MORFOLOGIA coragem, linguagem (masculinos).
● 2ª pessoa do plural dos verbos terminava em –des – (amades, devedes).
● particípio passado dos verbos da 2ª conjugação terminava em –udo –
(perdudo, escondudo).
● 3ª pessoa do pretérito era –om – (ouverom, amarom).
● variação do particípio passado junto aos verbos ter e haver – (averás
passadas as atribulações).
● preposição sem regendo o gerúndio – (sem levando-a).
● uso do caso-complemento do pronome pessoal pelo caso-sujeito – (o
coraçom pode mais ca mim).
● uso do artigo precedendo a expressão um e outro – (a ūa ouve nome
dona Maria Soarez, a outra ouve ...) .
● verbos de movimento seguidos da preposição em – (veerom da Gallya
em Espanha).
● emprego de home como sujeito indefinido – (home nõ poderia mostrar).
SINTAXE ● sujeito coletivo do plural com verbo no singular – (hi morreo grandes
gentes).
● uso de cujo como interrogativo – (Cuja é esta glória?).
● uso de se e si com valor de assim – ( si Deus mi perdon).
● frequência de pleonasmos – (oje em este dia).
● uso de em com valor de demonstrativo – (ei noj’e pesar em).
● liberdade na colocação dos pronomes oblíquos – (mas farei-te hua
cousa).
● o de como segundo termo de comparação – (Desej’ eu mui mais doutra
REM).

EXEMPLO DE TEXTO ANTIGO

TESTAMENTO (1193)

In Christi nomine. Amen. Eu Eluira Sanchiz offeyro o meu corpo aas vir-
tudes de Sam Saluador moensteyro de Vayram, e offeyro co, no meu corpo
todo o herdamento que eu ey em Centegãus e as tres quartas do padroadigo
d´essa eygleyga e todo hu herdamento de Crexemil, assi us das sestas como
todo u outro herdamento: que u aia u moensteyro de Vayram por em saecula
saeculorum. Amen.

(Apud Leite Vasconcelos, Textos Arcaicos, p: 14-15).

1.4 ORIGEM, HISTÓRIA E DOMÍNIO

Muitos séculos a.C., a Península Ibérica era habitada pelos iberos, povo
agrícola e pacífico. Pelo século VI a.C., os Celtas, povo turbulento e guerreiro,

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pertencente à família árica e procedente do sul da Alemanha, se fixou,


principalmente na Galécia e nas regiões altas do centro de Portugal. Por muito
tempo, coabitaram com os iberos no solo hispânico, interação que resultou na
formação do grupo dos celtiberos.
Pelos tempos adiante, outros povos, os fenícios, os gregos e os cartagineses,
estabeleceram colônias comerciais em várias regiões da península e, diante
da pretensão dos cartagineses em tomar posse dela totalmente, os celtiberos
chamaram os romanos em seu socorro.
No século III a.C., os romanos invadiram a Península (2ª Guerra Púnica)
com o intuito de sustar a expansão de Cartago, que constituía séria ameaça ao
domínio do mundo mediterrâneo, pretendido por Roma. Com a derrota de
Cartago, as legiões romanas dominaram toda a Península, a qual se tornou
província romana em 197 a.C. Essa dominação, no entanto, não foi apenas
político militar, mas, e principalmente, cultural, pois, paralelamente, à sua
conquista territorial, Roma foi realizando a conquista linguística, impondo aos
povos vencidos a sua língua: o Latim. Os romanos abriram estradas ligando a
colônia à metrópole, para sustentar a unidade da língua evitando a expansão
das tendências dialetais, e também o latim como língua oficial.
Homens experimentados em séculos de conquistas, os romanos usaram
de verdadeira tática para que sua civilização e sua língua fossem implantadas
de modo geral e eficiente na Península Ibérica. Para tal, levaram para a região
elementos de civilização que não existiam, ou seja, escolas, estradas, templos,
correios, comércio, etc. Além disso, foram intransigentes na imposição do uso
do Latim nas transações comerciais e nos atos oficiais.
Já no século I d.C., a Península Ibérica, em sua totalidade, estava
romanizada4 , com exceção da região norte - o país Basco – na qual a língua
basca foi conservada, sendo falada até hoje. Nesse momento, os povos
conquistados são submetidos ao poderio bélico e à estrutura socioeconômica
dos conquistadores. O fator linguístico torna-se uma peça chave no processo
de romanização, pois para se comunicarem com os colonizadores, os povos
conquistados foram obrigados a aprenderem o latim.
A romanização, em termos lingüísticos, foi um processo gradativo, ou
seja, a assimilação da cultura e língua romanas ocorreu de forma paulatina até
culminar na mistura de suas antigas culturas com a cultura dos romanos. Mais
tarde, com a queda do Império Romano, essas misturas se transformaram em
culturas e línguas distintas - as dez principais línguas românicas - italiano,
francês, português, castelhano, romeno, catalão, sardo, dalmático, provençal
e rético. Não foi um processo tão simples, em virtude do reflexo das culturas
dominadas na própria língua romana e da presença do latim vulgar.
No processo de romanização são observados vários fatores, dentre os
quais se destacam:

• o latim levado às regiões conquistadas pelo exército romano;


• a instalação das colônias militares;
• a instalação de colônias civis como uma espécie de tribunal de pequenas
causas para resolução de demandas de terra entre os colonizados;
• a administração romana;
• as obras públicas;
• o comércio.

4 - Romanização ou latinização entendida como a assimilação cultural e linguística dos povos incorporados ao
universo da civilização latina

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A península sofreu invasão de povos bárbaros germânicos (vândalos,


suevos e visigodos) no século V da era cristã. Esses povos possuíam cultura
pouco desenvolvida, assim aceitaram a cultura e língua peninsular, embora
tenham influenciado a língua local com o acréscimo de novos vocábulos,
favorecendo sua dialetação, pois o latim era falado de formas diferentes por
cada povo bárbaro.
Com a queda do Império Romano, os elementos unificadores da língua
desapareceram, oportunizando a modificação do latim.

E
UMA CURIOSIDAD
No século VIII, os árabes, vindos do norte da África, invadiram a
Península. Portadores de uma cultura superior à da Península, eles impuseram
sua língua como oficial, embora os peninsulares tenham continuado a
falar o romance, ou seja, o Latim Vulgar já modificado. Esta não aceitação
da civilização árabe pelos habitantes da Península deveu-se às extremas
oposições de raça, língua e religião entre os mouros e os vencidos. Algumas
povoações receberam diretamente a influência dos árabes, formando os
moçárabes5 .
CURIOSIDADE Os árabes, mesmo permanecendo por mais de sete séculos na Península
Ibérica e, apesar de seu alto nível cultural e elevado grau de civilização, pouca
Segundo Ilari (200,
p.50) România
influência exerceram no tocante à língua portuguesa, a qual se restringiu ao
vem de Roma- léxico, por conta de, mais ou menos, mil vocábulos de origem árabe existentes
nus, forma que nela, os quais, de modo geral, são caracterizados pelo prefixo AL (artigo
os povos latiniza- definido árabe): álgebra, álcool, alface, algarismo, alfazema, alcachofra,
dos usaram para
almofada, alfinete, algema, algodão, alqueire, etc.
distinguir-se das
culturas bárbaras,
consideradas m in-
feriores.
Romanus > Ro- Os árabes - século VIII d. C. -, tomaram conta da Península Ibérica por
manice (advérbio vários séculos. Nessa época, começou a luta pela reconquista das regiões
= à maneira ro-
dominadas, a partir do Norte, nos reinos de Galícia e Astúrias, surgindo os
mana, segundo o
costume romano)
reinos de Navarra, Leão, Castela e Aragão.
> Romance (nova Os cristãos, principalmente os do norte, não aceitando o domínio
língua atestada em muçulmano, organizaram um movimento de expulsão dos árabes, denominado
documentos) de Reconquista. A guerra chamada de “santa” ou “cruzada” ocorreu por volta
Com tal evolução é
do século XI, embora a expulsão completa dos árabes tenha ocorrido por volta
possível inferir que
o termo Proto-ro-
do século XV.
mance abrange as Os bárbaros adotaram a civilização e a língua latina, mas causaram a
mudanças sofridas dissolução da unidade política do império; fecharam as escolas, pois julgavam
pelo latim vulgar que a instrução enfraquecia o espírito guerreiro dos homens; com eles houve
nas diversas regi-
o desaparecimento da nobreza romana, que cultivava as letras latinas; ocorreu
ões da România,
as quais origina-
a tentativa de conservar a língua clássica nos mosteiros, mas a leitura dos
ram o aparecimen- clássicos.
to do Romance e, Para os filólogos e lingüistas, o latim vulgar falado na Península Itálica
posteriormente, não pode ser considerado a língua originária do português ou as demais
das diversas lín-
línguas românicas, visto que ele sofreu inúmeras modificações até alcançar o
guas românicas,
também chamadas
estágio conhecido como Proto-romance, que depois foi se consolidando como
de novilatinas ou língua falada até chegar ao Romance.
neolatinas.

5 - Moçárabe – “misto árabe” – na linguagem, costumes, exceto religião.


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Mas, convém lembrar que não foi o Latim visto nas obras dos grandes
escritores latinos – o Clássico -, que foi levado à Península, mas o Latim usado
pelo povo no trato comum. Com o prestígio de língua oficial, era ensinado
nas escolas, usado nas relações comerciais, suplantando os demais idiomas
falados pelos peninsulares.
A língua portuguesa é um prolongamento do latim levado pelos romanos
à Lusitânia, região situada ao ocidente da Península Ibérica, tanto que, existe
um entrelaçamento entre o seu histórico e a história da Península.

Um grande número de línguas


da Europa e da Ásia provém de um
mesmo “ramo” lingüístico designa-
do pelo termo indo-europeu. Mas,
dados indicam que, por volta do II CURIOSIDADE
milênio a.C., houve uma interação
No sul de Portugal
entre povos que falavam línguas
e na baixa Anda-
indo-européias (germanos, eslavos, luzia, haviam-se
celtas, úmbrios, latinos, oscos, dó- estabelecido os
rios) e aqueles que falavam outras turdetanos ou tar-
línguas (íberos, aquitanos, lígures, téssios, que se
supunha estarem
etruscos, sículos).
etnicamente liga-
Com exceção do basco, todas dos aos iberos,
as línguas oficiais dos países da eu- mas cujo parentes-
ropa ocidental pertencem a quatro co não foi até hoje
ramos da família indo-européia: o comprovado.
Informes na Bí-
helênico (grego), o românico (portu-
blia e em Heródo-
guês, italiano, francês, castelhano, to falam sobre as
etc.), o germânico (inglês, alemão) e o céltico (irlandês, gaélico). Um quinto grandes riquezas
ramo, o eslavo, engloba diversas línguas atuais da Europa Oriental. minerais existen-
tes no território, as
quais suscitaram
a cobiça de outros
Pouco informes existem sobre os povos que habitavam o solo peninsular povos, como os
antes da invasão romana (séc. III a. C.). Dentre eles, são citados: o cântabro- gregos e fenícios
pirenaico e o mediterrâneo, dos quais se teriam originado, respectivamente, que disputaram a

o basco e o ibero. Mas, são noticiados, também, os celtas , fenícios, gregos e posse da região.
Os gregos foram
cartagineses. expulsos e os fení-
Já enunciado, inúmeras lutas se travaram para a expulsão dos mouros cios se instalaram
do território peninsular. Nessas lutas, já em fins do século XI, muitos fidalgos na costa mediter-
vieram militar sob a bandeira de D. Afonso VI, rei de Leão e Castela, dentre rânea da Penínsu-

eles destacou-se D. Henrique, conde de Borgonha, que, por serviços prestados la, no ano de 1100
a.C. Mas, como vi-
à coroa e à causa cristã, recebeu em casamento D. Tareja, filha de D. Afonso VI, viam da navegação
e como dote o governo do Condado Portucalense6 . e do comércio, não
Por morte do conde D. Henrique, coube, primeiro à sua esposa, e se preocuparam
posteriormente, a seu filho D. Afonso Henriques lutar para fazer do condado um com a colonização,

estado independente do reino de Leão e Castela. Houve incessantes combates oportunizando o


desaparecimento
contra os mouros e leonenses. Em 1139 ocorreu a batalha de Ourique, entre das colônias, as
muçulmanos e portugueses. Antes do início da luta, os soldados portugueses, quais foram absor-
com o brado lusitano “Real, Real, por El-Rei D. Afonso Henriques!” aclamaram vidas pelas popula-
o comandante das tropas como rei de Portugal. Mas, somente em 1143, foram ções indígenas.

6 - Território situado na costa ocidental da Peninsula Ibérica, entre os rios Douro e Minho.
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reconhecidos a independência do Condado Portucalense e o título de rei a


D. Afonso Henriques. Assim, definitivamente, foi fundado um novo reino –
Portugal – e apareceu no mundo europeu uma nova nação – a portuguesa.
Após a morte de Afonso Henriques, em 1185, os mulçumanos dominavam
somente o sul de Portugal. Assumiu o comando o rei D. Sancho, que continuou
a lutar contra os mouros até sua expulsão total. Dessa forma consolidou-se a
primeira dinastia portuguesa: a Dinastia de Borgonha.
Nessa região, onde foi fundada a monarquia portuguesa, era falado o
dialeto galeziano, ou galego-português, expressão comum à Galiza e Portugal.
No entanto, à medida que Portugal estendia seus domínios para o sul,
estabelecendo seus limites atuais, e absorvendo os falares ou romances que
existiam, iam se processando as diferenciações lingüísticas, entre o falar dos
galegos, que permaneceu estacionário, e o falar dos portugueses7 , que evoluiu
a ponto de tornar-se independente do galego8 .

Com a Reconquista, os grupos populacio-


nais do norte foram-se instalando mais a sul,
dando assim origem ao território português, da
mesma forma que, mais a leste na Península Ibé-
rica, os leoneses e os castelhanos também foram
progredindo para o sul e ocupando as terras que,
muito mais tarde, viriam a se tornar no território
do Estado espanhol.
Com o início da reconquista cristã da Pe-
nínsula Ibérica, o galego-português consolida-
-se como língua falada e escrita da Lusitânia. Em
galego-português são escritos os primeiros do-
cumentos oficiais e textos literários não latinos
da região, como os cancioneiros (coletâneas de
poemas medievais):
● Cancioneiro da Ajuda - Copiado (na épo-
ca ainda não havia imprensa) em Portugal no
final do século XIII ou princípios do século XIV.
Encontra-se na Biblioteca da Ajuda, em Lisboa.
Quase todas as suas 310 cantigas são de amor.
● Cancioneiro da Vaticana - Trata-se do có-
dice 4.803 da biblioteca Vaticana, copiado na Itália no final do século XV ou
princípios do século XVI. Entre as suas 1.205 cantigas, há composições de to-
dos os gêneros.
● Cancioneiro Colocci-Brancutti - Copiado na Itália no final do século XV
ou princípios do século XVI. Descoberto em 1878 na biblioteca do conde Paulo
Brancutti do Cagli, em Ancona, foi adquirido pela Biblioteca Nacional de Lis-
boa, onde se encontra desde 1924. Entre as suas 1.664 cantigas, há composi-
ções de todos os gêneros.

A partir do século XV, com a expansão marítima de Portugal, a Língua


Portuguesa foi levada às regiões conquistadas. Estendendo o seu domínio
geográfico, atingiu vários domínios, em termos lingüísticos:

7 - Português – continuou sua evolução e tornou-se língua de uma nacionalidade.


8 - Galego – absorvido pela unidade castelhana.
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UNIDADE 1 - Origem, História e Domínio da Língua Portuguesa

CONTINENTAL ● falado em Portugal.


INSULANO ● falado nas ilhas da Madeira e Açores.
● brasileiro.
● indo-português – dialetos crioulos de Damão, Diu, Goa
(Ásia).
● dialeto crioulo de Ceilão (Ásia).
PORTUGUÊS ● dialeto crioulo de Macau (Ásia).
● malaio-português, com os dialetos crioulos de Java,
ULTRAMARINO
Malaca, Singapura (Ásia).
● português de Timor (Ásia-Oceânia).
● dialeto crioulo de Cabo Verde (África).
● dialeto crioulo de Guiné (África).
● português de Angola, Moçambique, Zanzibar,
Mombaça, Melinde e Quiloa (África).

O mundo lusófono9 abrange cerca de 230 milhões de falantes. O português


é a língua oficial em oito países de quatro continentes:

● Angola
● Brasil
● Cabo Verde
● Guiné Bissau
● Moçambique
● Portugal
● São Tomé e Príncipe
● Timor Leste

O português é uma das línguas oficiais da União Europeia (ex-CEE) desde


1986, quando da admissão de Portugal na instituição. Em razão dos acordos
do Mercosul (Mercado Comum do Sul), do qual o Brasil faz parte, o português
é ensinado como língua estrangeira nos demais países que dele participam.
Em 1996, foi criada a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),
que reúne os países de língua oficial portuguesa com o propósito de aumentar
a cooperação e o intercâmbio cultural entre os países membros e uniformizar
e difundir a língua portuguesa.
Segundo Leite de Vasconcelos, a evolução da língua portuguesa apresenta
três fases: pré-histórica, proto-histórica e histórica.

1 – Fase Pré-Histórica - começa com as origens da língua e vai até ao século


IX. Entre o século V e o século IX temos o que geralmente se denomina romance
lusitânico. Ao longo deste período encontramos somente documentação em
Latim Vulgar.
2 – Fase Proto-Histórica - estende-se do século IX ao século XIII. Nesta
fase encontram-se, nos documentos redigidos em Latim Bárbaro10 , palavras
e expressões originárias dos romances locais, entre os quais aquele que deu
origem ao Português. Com isso se deduz que a língua já era falada, mas não
escrita.
3 – Fase Histórica - inicia-se no século XII e estende-se até aos nossos
dias, compreendendo dois períodos:

A – Período do Português Arcaico - vai do século XII ao século XV.


O primeiro texto inteiramente redigido em português, data do século XII.
Por muito tempo foi considerado como tal a Cantiga da Guarvaya, também

9 - Mundo Lusófono – que fala o português


10 - Latim dos notários e tabeliães da Idade Média. 19
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PORTUGUÊS DIACRÔNICO

chamada “Cantiga da Ribeirinha”, dedicada a D. Maria Paes Ribeiro, a


«Ribeirinha», amante de D. Sancho I. Entretanto, mais tarde, foi constatado que
o autor desta composição se inseria no segundo terço do século XIII e não no
século XII, como Carolina Micaëlis havia suposto, ao considerar esta cantiga
como escrita em 1189 ou 1198.

CANTIGA DA RIBEIRINHA
Paio Soares de Taveirós

“No mundo non me sei parelha,


mentre me for’ como me uay
ca ia moiro por uos e ay!
mha senhor branca e uermelha,
queredes que uos retraya
quando uos eu ui en saya!
Mao dia me leuantei,
que uos enton non ui fea!
E, mha senhor, des aquel di’ ay!
me foi a mi muyn mal,
e uos, filha de don Paay
Moniz, e ben uus semelha
d’ auer eu por uos guaruaya
pois eu, mha senhor, d’ alfaya
nunca de uos ouue nem ei
ualia d’ üa correa.” (colocámos o ü por não dispormos de meios para
grafar u com til.)

(Cancioneiro da Ajuda)

VOCABULÁRIO

parelha = semelhante, igual;


mentre = enquanto, entrementes;
ca = pois, porque;
moiro = morro;
queredes = quereis;
retraya = retrate, evoque;
que uos enton non ui fea = que então vos vi linda (por litote);
mi = mim;
semelha = parece;
guaruaya = manto escarlate próprio dos reis.

Tudo parece indiciar que a Notícia de Torto (antes de 1211) e o Testamento


de Afonso II (1214) sejam os mais antigos documentos não literários escritos
em português. Segundo López Aydillo, o primeiro poeta a escrever em idioma
português seria João Soares de Paiva, a quem se deve uma cantiga de maldizer,
datada de 1196. Outros textos de poesia surgem e, mais tarde, os primeiros
textos em prosa.
O português arcaico aparece nas poesias trovadorescas reunidas nos
“Cancioneiros” e em forma de prosa, nas “Crónicas” de Fernão Lopes, Gomes
Eanes Zurara e Rui de Pina.
Em 1290, D. Dinis, o rei ‘Trovador’, torna obrigatório o uso da língua
portuguesa e funda, em Coimbra, a primeira Universidade.
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B – Período do Português Moderno - do século XVI até aos nossos dias.


Por influência dos humanistas do Renascimento, houve um aperfeiçoamento
e enriquecimento lingüísticos, com os escritores voltados para a imitação dos
modelos latinos. Para coroar esse processo, aparece, em 1572, a obra de Luís de
Camões, «Os Lusíadas», marco histórico do nosso idioma e monumento literário
e linguístico. Surgem, também, as primeiras tentativas de gramaticalização da
língua: em 1536, Fernão de Oliveira edita a primeira Gramática da língua
portuguesa, intitulada «Gramatica da Lingoagem Portugueza» e em 1540,
João de Barros escreve, com o mesmo título, a segunda gramática da língua
portuguesa.
A partir do século XVI, com o aparecimento das primeiras gramáticas
que definem a morfologia e a sintaxe, a língua entra na sua fase moderna: em
Os Lusíadas, de Luis de Camões (1572), o português já é, tanto na estrutura da
frase quanto na morfologia, muito próximo do atual. A partir daí, a língua
sofre mudanças menores: incorporação de palavras castelhanas (como bobo e
granizo) durante a fase em que Portugal foi governado pelo trono espanhol
(1580-1640); afastamento entre o português da metrópole e o falado nas
colônias devido à influência francesa no século XVIII.
Nos séculos XIX e XX o vocabulário português recebe novas contribuições:
surgimento de termos de origem grecolatina para designar os avanços
tecnológicos da época (como automóvel e televisão) e termos técnicos em inglês
em ramos como as ciências médicas e a informática (por exemplo, check-up
e software). O volume de novos termos estimula a criação de uma comissão
composta por representantes dos países de língua portuguesa, em 1990, para
uniformizar o vocabulário técnico e evitar o agravamento do fenômeno de
introdução de termos diferentes para os mesmos objetos.

1.5 A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL

No início da colonização portuguesa no Brasil (a partir de 1500) foi usado


como língua geral na colônia, ao lado do português, o tupi, mais precisamente,
o tupinambá11 . Isso ocorreu graças aos padres jesuítas que haviam estudado e
difundido a língua.
Em 1757, a utilização dessa língua foi proibida por uma Provisão Real,
devido ela estar sendo suplantada pelo português, em virtude da chegada
de muitos imigrantes da metrópole. Com a expulsão dos jesuítas em 1759,
o português fixou-se definitivamente como o idioma do Brasil. Das línguas
indígenas, o português herdou palavras ligadas à flora e à fauna (abacaxi,
mandioca, caju, tatu, piranha), bem como nomes próprios e geográficos.
Com o fluxo de escravos trazidos da África, a língua falada na colônia
recebeu outras contribuições, oriundas, principalmente do iorubá12 , falado
pelos negros vindos da Nigéria e do quimbundo angolano (palavras como
caçula, moleque e samba).
A língua falada no Brasil colonial, durante o século XVIII, não
acompanhou as mudanças ocorridas no falar português devido à influência
francesa, mantendo-se fiel, basicamente, à maneira de pronunciar da época da
descoberta.

11 - Tupinambá – uma língua do litoral brasileiro, da família tupi-guarani.


12 - Influência do Iorubá - vocabulário ligado à religião e cozinha afrobrasileira
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PORTUGUÊS DIACRÔNICO

Uma reaproximação entre o português brasileiro e o europeu ocorreu


entre 1808 e 1821, quando a família real portuguesa, em razão da invasão do
país pelas tropas de Napoleão Bonaparte, transferiu-se para o Brasil com toda
sua corte, ocasionando um reaportuguesamento intenso da língua falada nas
grandes cidades.
O português falado no Brasil sofreu influências de imigrantes europeus
que se instalaram no centro e sul do país, após a independência (1822). Tal
ocorrência explica certas modalidades de pronúncia e algumas mudanças
superficiais de léxico que existem entre as regiões do Brasil, que variam de
acordo com o fluxo migratório que cada uma recebeu.
A distância entre as variantes do português (portuguesa e brasileira)
aumentou durante o século XX, em razão dos avanços tecnológicos do período.
Sem um procedimento determinado para a incorporação de novos termos
à língua, certas palavras passaram a ter formas diferentes nos dois países
(comboio e trem, autocarro e ônibus, pedágio e portagem).
Vale ressaltar que o individualismo e o nacionalismo, que caracterizam
o movimento romântico do início do século, intensificaram o projeto de
criação de uma literatura nacional expressa na variedade brasileira da língua
portuguesa. Tal postura foi retomada pelos modernistas que defendiam, em
1922, a necessidade de romper com os modelos tradicionais portugueses e
privilegiar as peculiaridades do falar brasileiro, o que consagrou, em termos
literários, a norma brasileira.
A fala popular brasileira surpreende por apresentar uma relativa unidade,
em um país tão vasto. Ainda são insuficientes as informações científicas sobre
as diferenças existentes entre as variedades regionais encontradas no Brasil,
o que não possibilita uma classificação ampliada. A classificação existente é
simplista, realizada com base nas diferenças de pronúncia, ocasionando a não
representação de algumas variações dialetais.

SÍNTESE DA UNIDADE

A língua portuguesa, em razão das navegações portuguesas nos séculos


XV e XVI, tornou-se um dos poucos idiomas presentes na África, América,
Ásia e Europa, sendo falado por mais de 200 milhões de pessoas. Mas, para
chegar a esse estágio, ela passou um processo evolutivo marcado de influências
históricas mudanças lingüísticas.
Nessa unidade, fizemos uma viagem no tempo. Falamos sobre o início,
apogeu e decadência do Império Romano, entrelaçando fatos históricos com a
história da língua portuguesa até chegarmos na língua portuguesa falada no
Brasil.

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