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Nome: Celso Cipriano Manuel 12ªclasse D

Docente: dr. Saíde Amido

Caracterização das categorias narrativas presentes no texto literário intitulado Niketche


da autoria de Paulina Chiziane.

Vou visitar a tia Maria, e ela conta-me histórias da poligamia. Teve um príncipe no ventre.
Foi amada loucamente por um guarda real de quem teve dois filhos.
- Como conseguiu viver num lar com vinte e cinco esposas, tia Maria? A velha oferece-me
um olhar de infinita ternura.
—Filha minha, a vida é uma eterna partilha. Partilhamos o ar e o sol, partilhamos a chuva e o
vento. Partilhamos a paz e o cachimbo. Partilhar um homem não é crime.
— Foi feliz, tia Maria?
— Era ainda espiga, os meus olhos ainda reflectiam sol e lua. Não conhecia ainda o
significado da amargura. Éramos um grande rebanho de mulheres aguardando cobertura.
Soltávamos crias que voavam sobre ervas como pirilampos, estrelas desprendidas iluminando
a savana escura.
Conheci o rei de facto quando tinha uns treze anos. No nosso mundo não havia haréns—
explica-me ela.
órgão — assembleia das esposas do rei—onde discutíamos a divisão de trabalho, decidíamos
quem iria cozinhar as papas matinais do soberano, quem ia preparar os banhos e esfregar os
pés, cortar as unhas, massajar a coluna, aparar a barba, pentear-lhe o cabelo e outros
cuidados. Participávamos na feitura da escala matrimonial de Sua Majestade, que consistia
numa noite para cada uma, mas tudo igual, igualzinho.
A mim, o rei tinha-me quantas vezes queria, mas no meu caso ninguém tocava, estatuto nem
era questionado. As mulheres todas se rendiam ao meu encanto. Fui uma grande dama,
sabes?
Nome: Celso Cipriano Manuel 12ªclasse D
Docente: dr. Saíde Amido
Ficha de leitura da disciplina de português

Referências bibliográficas
1. CINTRA, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Edições João Sá da Costa, 1991, Lisboa
2. GONÇALVES, Perpétua, A construção de uma gramática do português de Moçambique: aspectos da estrutura argumental dos verbos, Lisboa,
1990
3. HAMILTON, Russell, A literatura dos países africanos de língua oficial portuguesa. Edições Cosmos e Cátedra Jorge de Sena, Rio de Janeiro,
2000
4. MATEUS, Maria Helena Mira, Português europeu e português brasileiro: duas variedades nacionais da língua portuguesa. Gramática da Língua
Portuguesa, 5.ª ed., Lisboa, 2003
Pág Fundamentação teórica Observação
. Variação da língua portuguesa no espaço: Brasil e Moçambique Todas as variedades linguísticas são
estruturadas e correspondem a sistemas e
A língua portuguesa, também designado português, é uma língua românica flexiva originada no
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galego-português falado no Reino da Galiza e no norte de Portugal. Com a criação do Reino de subsistemas adequados às necessidades dos
Portugal em 1139 e a expansão para o sul como parte da Reconquista deu-se a difusão da língua seus falantes. Mas o facto de a língua estar
pelas terras conquistadas e mais tarde, com as descobertas portuguesas, para o Brasil, África e fortemente ligada à estrutura social e aos
outras partes do mundo. Porém nestas regiões encontramos algumas diferenças no que diz respeito sistemas de valores da sociedade conduz a
à ortografia, semântica e fonética da língua portuguesa. São estas diferenças que serão muito bem uma avaliação distinta das características
esclarecidas neste trabalho em particular às diferenças do português Moçambicano e Brasileiro. das suas diversas variações diatópicas,

A língua varia no tempo e no espaço da sua utilização, ao longo da sua própria história, bem como diastráticas e difásicas.
da vida dos seus falantes, decorrente de determinantes sociais, culturais, históricas, geográficas,
profissionais e académicas. Isto pode ocorrer em todos os níveis (fonético, fonológico, sintáctico,
semântico, morfológico, paradigmático.

Factores influenciam nas variações do português Brasileiro e Moçambicano.


Variações geográficas ou diatópicas — as variedades linguísticas que, em certa região,
apresentam características bastantes para as diferenciarem da língua comum de uma determinada
2.
sociedade. São os dialectos ou falares regionais.
Variações sociais ou diastráticas — variações linguísticas provocadas pelas características de
falante e de grupo e pelas circunstâncias da situação comunicativa. São os dialectos sociais, níveis
ou registos de língua. Tal como sublinha Moura (2009: 265), um falante pode usar diferentes níveis
de língua (corrente, popular, cuidado, familiar e literário, sem excluir o calão e a gíria); Variações
difásicas: – diferenças entre os tipos de modalidade expressiva (língua falada, língua escrita, língua
literária.
«Exemplos das variações entre o português de Moçambique e o português do Brasil Todas as
variedades linguísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e subsistemas adequados as
necessidades dos seus usuários. Mas o facto de a língua estar fortemente ligada a estrutura social e
aos sistemas de valores da sociedade conduz a urna avaliação distinta das características das suas
diversas modalidades diatópicas, diastráticas e difásicas», defendem Cunha & Cintra (1991).
Actualização de uma língua apresenta diferenças no espaço geográfico, na medida em que os
falares diferem de continente para continente e até de região para região. A essas diferenciações
quanto à forma de falar em cada região ou local chamamos variações diatópicas

Exemplos das variações do português Moçambicano e Brasileiro


A Língua Portuguesa apresenta algumas diferenças quanto à utilização que dela se faz em alguns
países do mundo. Entre o português falado em Moçambique (PM) e o português falado no Brasil
(PB), por exemplo, Existem algumas diferenças.
Ex.1:
Enquanto no português moçambicano dizemos «Hoje, a Maria não apareceu por aqui», no
português brasileiro diz-se «Hoje, Maria não apareceu por aqui».
Portanto, o que há de diferente nas duas construções é que na primeira construção temos o artigo a
anteceder o substantivo ou nome (Maria), ao passo que na segunda construção, verifica-se que o
Substantivo ocorre sem nenhum artigo a antecedê-lo. Podemos, assim, depreender deste exemplo
que no omitem-se os artigos, ou seja, os substantivos ou nomes ocorrem sem determinantes ou
artigos a antecedê-los, enquanto não se verifica tal irregularidade.
Ex.2:
PM: Vou comprar o meu vestido. PM: Não conheço a sua mulher.
PB: Não conheço sua mulher. PB: Vou comprar meu vestido.
Tomando como base os exemplos acima apresentados, podemos salientar que, quanto ao nível
morfológico e sintáctico, no PB é habitual, antes do possessivo pronominal, a ausência do artigo.
Pelo contrário, no PM temos sempre o artigo a anteceder o possessivo pronominal, salvo nos casos
em que a frase é construída incorrectamente. As regras, porém, ditam a colocação do artigo antes
do possessivo pronominal ou antes do substantivo.
Resumo
Variações diatópicas — são as que se referem a falares locais, regionais e intercontinentais (como é o caso do português do Brasil e do português de
Moçambique).
Variações diastráticas — são as que se referem às diferenças verificadas na linguagem das várias camadas socioculturais.
Variações difásicas — são as que dizem respeito aos diferentes tipos de modalidade expressiva (língua falada, escrita, literária). Neste contexto, é ainda
importante distinguir dialecto de língua padrão.
Os acontecimentos históricos, os contactos com falantes de outras línguas, o tempo, entre outros factores, determinaram que o português se fosse
progressivamente diferenciando de região para região. Sofreu numerosas mudanças à medida que se foi implantando em diferentes espaços geográficos,
são essas mudanças que deram origem a diversas variedades. Em cada região encontramos uma variedade distinta, com os seus traços particulares. No
Brasil não se fala um português idêntico ao de Moçambique e mesmo em Moçambique há diferenças entre o falar de um falante do Norte e o de um
falante do Sul. Chamamos variedades geográficas, dialectos regionais ou, simplesmente, dialectos a estas diferentes forma que a língua apresenta
consoante as regiões em que é falada.

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