Você está na página 1de 8

2787

AS VARIÁVEIS DE GÊNERO E FAIXA ETÁRIA NO CORPUS DO ATLAS LINGUÍSTICO


DO AMAZONAS

Márcia Verônica Ramos De Macêdo Sousa – UFAC

Introdução

Há diferenças na fala de homens e mulheres? Em que limite e de que forma fenômenos


linguísticos variáveis estão correlacionados ao sexo e a faixa etária do informante?
Esses são alguns dos questionamentos que tentaremos responder nesse estudo.
Inúmeros trabalhos apontam a existência de diferenças no comportamento linguístico das
mulheres e dos homens. Tanto o gênero quanto a faixa etária têm sido fatores observados nos estudos
sociolinguísticos. No entanto, muitas respostas ainda estão por serem respondidas.
Os estudos desenvolvidos revelam que as mulheres tendem a ter um vocabulário mais
conservador e selecionam seu léxico baseado na variante de maior prestígio, evitando, assim, as
formas estigmatizadas. Para os homens, segundo Trudgill (1974) “a hipótese é a de que eles atribuem
um prestígio encoberto1 às formas linguísticas”. Assim, se um indivíduo deseja integrar o grupo, deve
partilhar, além de suas atitudes e valores, a linguagem característica desse grupo. Os estudos
demonstram que as diferenças mais acentuadas entre a fala de homens e mulheres se dão mais no
plano lexical e também podem ser acentuados em função da classe social a que pertencem.
Em relação à faixa etária há uma tendência para afirmar que a faixa mais nova (F1) é mais
inovadora que as demais faixas (F2, F3).
Desse modo, devido à investigação dialetológica aliada à sociolinguística é que se tem podido
conhecer as variáveis espaciais e sociais, respectivamente, fato esse que têm influenciado na análise
da variação linguística.
Neste trabalho, examinaremos as variáveis gênero e faixa-etária nas cartas léxicas do Atlas do
Amazonas – ALAM, sub-campo semântico O Homem e a Natureza a fim de verificar de que modo os
fatores sociolinguísticos influenciam na fala de homens e das mulheres.

Como se sabe o léxico de uma língua é o conjunto de palavras criadas e assimiladas pelo
homem que o utiliza para interagir com a sociedade. É através dele que se evidenciam características
próprias dos falantes, visto que cada indivíduo imprime as suas características na língua devido a
diferentes fatores que propiciam a variação linguística. Tais fatores podem ser chamados de variáveis
que podem ser de sexo, de nível de escolaridade, de faixa etária, de classe social, de lugar.
Este estudo focaliza a questão da variação lexical do homem amazonense, orientado pelos
pressupostos teóricos fornecidos pela Dialetologia e pela Geolinguística e levando em conta variáveis
sociolinguísticas como idade e gênero.

1 Referencial Teórico

De acordo com CALVET (2002, p. 143) “o objeto de estudo da lingüística não é apenas a
língua ou as línguas, mas a comunidade social sob seu aspecto lingüístico”. É necessário conceber a
abordagem dos fatos da língua como um vasto continuum, que vai do analógico ao digital, das relações
sociais à minudência dos fatos lingüísticos.
Na verdade, as línguas mudam todos os dias, elas evoluem e tais mudanças estão relacionadas
tanto à variação diacrônica (do grego dia + kronos = ao longo de, através de + tempo) quanto à
variação sincrônica (do grego sy'n = simultaneidade). Assim, numa mesma língua podemos perceber a
coexistência de formas diferentes para um mesmo significado, como por exemplo, as lexias lago,
riacho, rio estreito, cabeceira, lagos, entre outras para designar igarapé (carta léxica I do ALAM).

1
(covert prestige, Labov, 1972).
2788

Podemos ter ainda as variáveis geográficas, na qual a mesma língua pode ser pronunciada
diferentemente, ou ter um léxico diferente em diferentes pontos do território.
Desse modo, no Brasil, o mesmo tubérculo pode ser chamado de aipim na Bahia, macaxeira,
no Acre e mandioca em São Paulo, por exemplo. Entende-se por variável o conjunto constituído pelos
diferentes modos de realizar a mesma coisa (um fonema, um signo) e por variante cada uma das
formas de realizar a mesma coisa, como nos exemplos descritos.
A palavra léxico, segundo J. Dubois (1993, p. 364), “designa o conjunto das unidades que
formam a língua de uma comunidade, de uma atividade humana, de um locutor”.
Mattoso Câmara (1999, p. 157) entende léxico como

Sinônimo de vocabulário, o conjunto de vocábulos de que dispõe uma língua dada.


Em sentido especializado, a parte do vocabulário correspondente às palavras, ou
vocábulos providos de semantema, ou vocábulo que é lexema. Neste segundo
sentido, o léxico se opõe à gramática, porque é a série dos semantemas da língua,
vistos através da sua integração em palavras.

Tomando por base as definições acima, pode-se concluir que o vocabulário de uma pessoa é
apenas parte de seu léxico. Desse modo, o vocabulário está para o léxico assim como a fala está para a
língua.
De acordo com Ferreira & Cardoso (1994, p. 11), “em uma língua histórica, existem três tipos
fundamentais de diferenças internas: 1) diferenças de espaço geográfico ou diferenças diatópicas; 2.
diferenças entre os distintos estratos socioculturais de uma mesma comunidade idiomática, ou
diferenças diastráticas; 3. diferenças entre os tipos de modalidade expressiva, de estilos distintos,
segundo as circunstâncias em que se realizam os atos de fala ou diferenças diafásicas”.
E a esses três tipos acrescentam-se as diferenças etárias, geracionais, assim definidas:
1) variação diagenérica - trata-se da variação relacionada ao gênero (masculino e/ou
feminino) do informante;
2) variação diageracional - diz respeito à variação relacionada à faixa etária do informante.
Assim, as variações lingüísticas são as diferentes manifestações e realizações da língua
decorrentes de fatores de natureza histórica, regional, social ou situacional.
Nesse trabalho serão consideradas as variações diageracionais e diagenéricas.
Por ser um estudo de base dialectológica e sociolingüística cabe, aqui definir e distinguir essas
duas ciências:
De um lado, temos a Dialectologia que analisa a relação existente entre a língua e o espaço
geográfico e, de outro, a Sociolingüística estuda a relação entre a língua e a sociedade.
Como diz Silva-Corvalán (1988, p. 8):

Sociolingüística e dialectologia se tem considerado até certo ponto sinônimas uma


vez que ambas as disciplinas estudam a língua falada, o uso lingüístico e
estabelecem as relações que existem entre certos traços lingüísticos e certos grupos
de indivíduos. Assim como a sociolingüística, a dialetologia reconheceu desde cedo
a existência da heterogeneidade lingüística.

O termo Dialectologia usado, às vezes, como simples sinônimo de Geografia Lingüística,


segundo Dubois (1993, p. 185), designa:

a disciplina que assumiu a tarefa de descrever comparativamente os diferentes


sistemas ou dialetos em que uma língua se diversifica no espaço, e de estabelecer-
lhe os limites. Emprega-se também para a descrição de falas tomadas isoladamente,
sem referência às falas vizinhas ou da mesma família.

Câmara Jr. (1991, p. 94-95)13 define a Dialectologia como “o estudo do arrolamento,


sistematização e interpretação dos traços lingüísticos dos dialetos”. Apresenta duas técnicas para o
desenvolvimento da Dialectologia: a da geografia lingüística, que busca a distribuição geográfica de
cada traço lingüístico dialetal, consolidado nos Atlas Lingüísticos, e a da “descrição dos falares por
meio de monografias dedicadas a uma dada região” compondo gramáticas e glossários regionais.
2789

Carreter (1974, p. 209) caracteriza Geografia Lingüística como o método de investigação


lingüística, consistindo em situar sobre o mapa da região estudada cada uma das formas com que se
expressa um conceito ou alternância. Para cada noção ou alternância emprega-se um mapa distinto. O
conjunto de mapas constitui um Atlas Lingüístico. O autor transcreve o que diz Jaberg (1940) sobre a
Geografia Lingüística:

A idéia fundamental da geografia lingüística consiste em transpor o estudo da língua


de um determinado lugar para outro campo, em não considerar o fato lingüístico
localizado em sua origem e em sua evolução, senão em colocá-lo em seu âmbito
geográfico, em estabelecer sua área.

A Dialectologia ao estudar as variações de um sistema lingüístico, procura lançar em mapas


lingüísticos (ou cartas lingüísticas) as alterações que a língua apresenta numa determinada região
delimitada geograficamente. A reunião dos mapas lingüísticos é tarefa da Geografia Lingüística.
O levantamento geográfico de uma língua está relacionado ao mapeamento que se faz da
região ao assinalar onde ocorre qualquer desvio da língua em qualquer de seus planos: fonético,
morfológico, sintático, semântico.
Enfim, no olhar de Silva-Corvalán (1988, p.8)8 :

A dialetologia é uma disciplina com larga tradição, com uma medotologia bem
estabelecida e uma rica e valiosa literatura. É indiscutível que a dialetologia trouxe
contribuições de importância à sociolingüística e à lingüística geral.

Para Dubois (1993, p. 561) “A sociolingüística é uma parte da lingüística cujo domínio se
divide com a etnolingüística, da sociologia, da linguagem, da geografia ling6uística e da dialetologia”.
E continua afirmando que “A sociolingüística tem como tarefa revelar, na medida do possível,
a covariação entre os fenômenos lingüísticos e sociais e , eventualmente estabelecer uma relação de
causa e efeito”.
Assim, a Sociolingüística é a ciência que estuda a língua da perspectiva de sua estreita ligação
com a sociedade onde se origina. Se para certas vertentes da lingüística é possível estudar a língua de
forma autônoma, como entidade abstrata e independente de fatores sociais, para a sociolingüística a
língua existe enquanto interação social, criando-se e transformando-se em função do contexto sócio-
histórico.
A sociolingüística, desenvolvida em grande parte por William Labov (1969, 1972, 1983),
permitiu o estudo científico de fatos lingüísticos excluídos até então do campo dos estudos da
linguagem.

3 Metodologia

Na feitura desse estudo seguiram-se os pressupostos da Dialectologia, Geolingüística e da


Sociolingüística e os métodos utilizados são o da Geografia Lingüística e o método Laboviano de
quantificação dos resultados.
O corpus utilizado para análise faz parte do Atlas Lingüístico do Amazonas – ALAM, fruto da
tese da professora Maria Luiza de Carvalho Cruz, defendida na Universidade Federal do Rio de
Janeiro, em 2004.
Em função da riqueza de dados, o que tornaria o trabalho bastante extenso, delimitou-se para
esse estudo a análise de 13 cartas lexicais do ALAM, no campo semântico 1 – Meio Físico, sub-campo
semântico: O Homem e a Natureza, dispostos em nove pontos do inquérito do Estado do Amazonas:
Barcelos, Tefé, Benjamin Constant, Eirunepé, Lábrea, Humaitá, Manacapuru, Itacoatiara, Paritins.
As treze cartas analisadas foram: 1. igarapé, 2. redemoinho (de água), 3. vazante, 4. tipitinga,
5. restinga, 6. cipó-timbó, 7. cova, 8. redemoinho (de vento), 9. raio, 10. garoa, 11. arco-íris, 12.
orvalho, 13. nevoeiro.
Em cada ponto de inquérito conta-se com seis informantes sendo um homem e uma mulher
nas seguintes faixas etárias: faixa 1 (18 a 35), faixa 2 (36 a 55) e faixa 3 (56 em diante), totalizando,
assim, 54 (cinqüenta e quatro) informantes cujo o grau de escolaridade varia de não-alfabetizados,
2790

semi-alfabetizados e com 1º grau até a 4ª série. Todos são naturais da cidade objeto de estudo e com
boas condições de fonação.
Efetuou-se, primeiramente, o levantamento das ocorrências (basicamente composta de
substantivos e adjetivos) levando-se em consideração somente a lexia de maior freqüência, a qual
aparece registrada nas cartas léxicas como a primeira da legenda. Elaboramos algumas tabelas
contendo:
1. A variação semântico-lexical encontradas nas cartas referentes aos fenômenos da natureza
presentes no ALAM (1 a 13) de acordo com a faixa etária e o gênero do informante;
2. A significação das lexias com a datação, a significação do termo, classe morfológica e a
etimologia de acordo com a versão eletrônica do dicionário Antônio Houaiss, 2008;
3. A freqüência das lexias encontradas nas cartas referentes aos fenômenos da natureza
presentes no ALAM (1 a 13) de acordo com o gênero e as faixas etárias;
4. Uma tabela geral de todos os dados coletados de acordo com o gênero e as faixas etárias dos
informantes.
Após esses levantamentos, cinco gráficos foram elaborados, a fim de dar uma visão melhor dos
dados obtidos.

4 Análise dos Dados

4.1 Nome da carta seguida da lexia de maior freqüência: As cartas analisadas foram as descritas
abaixo seguidas das lexias de maior freqüência: 1. Igarapé, maior freqüência foi igarapé; 2.
Redemoinho (de água), maior freqüência foi redemoinho de água; 3. Vazante, a de maior freqüência
foi seca; 4. Tipitinga sendo que a forma de maior freqüência foi toldada; 5. Restinga, a forma de
maior freqüência foi várzea; 6. Cipó-timbó, a forma de maior freqüência foi timbo; 7.Cova, a forma de
maior freqüência foi cova; 8.Redemoinho (de vento), a forma de maior freqüência foi redemoinho de
vento; 9. Raio, a forma de maior freqüência foi raio;10. Garoa, mas a forma de maior ocorrência foi
chuvisco; 11. Arco-íris, a forma de maior freqüência foi arco-íris; 12. Orvalho, mas a forma de maior
freqüência foi sereno; 13. Nevoeiro, sendo que a forma de maior freqüência foi neve.

4.2 Tabelas sobre a freqüência das lexias encontradas nas cartas referentes aos fenômenos da
natureza presentes no ALAM (1 a 13) de acordo com o gênero e as faixas-etárias:

LEXIAS 1 2 3 TOTAL
M F M F M F M F
1. Igarapé 6 2 6 5 6 3 18 10
2. Redemoinho 4 5 - 3 - 1 04 09
3. Seca 3 2 5 2 5 3 13 07
4. Toldada 1 1 2 - 1 - 04 01
5. Várzea 7 2 5 4 5 2 17 08
6. Timbó 4 - 7 4 7 2 18 06
7. Cova 3 - 4 5 4 3 11 08
8. Redemoinho 5 5 4 9 6 7 15 21
9. Raio 4 5 6 8 3 4 13 17
10. Chuvisco 3 5 2 3 3 3 08 11
11. Arco-íris 4 4 1 5 4 5 09 14
12. Sereno 3 3 4 6 7 3 14 09
13. Neve 1 1 2 4 5 5 08 10
TOTAL 48 35 48 58 56 41 - -
Assim representada no gráfico abaixo:
2791

41
Faixa 3
56

58 Mulher
Faixa 2
48 Homem

35
Faixa 1
48

Gráfico 1 Distribuição de freqüência por gênero e faixa etária no ALAM – 2008.


O gráfico 1 demonstra a soma das ocorrências nas 3 faixas etárias dos gêneros masculinos e
femininos. Nas faixas 1 e 2 do masculino foram registradas 48 ocorrências, já na faixa 3 foram 56
ocorrências no total. No tocante ao gênero feminino a freqüência na faixa etária 1 foi de 35, de 56 na
faixa 2 e 41 na faixa etária 3.
Com base nos dados, observa-se que das 13 lexias estudadas, as que apresentaram o maior
número de ocorrências foram relatadas pelos homens, num total de 7 (sete), sendo: a) igarapé (18); b)
seca (13); c) toldada (4); d) várzea (17); e) timbó (18); f) cova (11); g) sereno (14), conforme se
observa no gráfico 2 seguinte:

Homem

20

15

10

0
Igarapé Seca Toldada Várzea Timbó Cova Sereno

Homem 18 13 4 17 18 11 14

Gráfico 2 - Lexias de maior freqüência no ALAM, campo semântico O homem e a natureza de


acordo com o gênero masculino – 2008.
Com base nos dados, observa-se que das 13 lexias estudadas, as que apresentaram o maior
número de ocorrências foram relatadas pelos homens, num total de 7 (sete), sendo: a) igarapé (18); b)
2792

seca (13); c) toldada (4); d) várzea (17); e) timbó (18); f) cova (11); g) sereno (14), conforme se
observa no gráfico 3 abaixo:

Mulher

25

20

15

10

0 Redemo inho 1 Raio Arco -íris Chuvisco Neve Redemo inho 2

M ulher 9 17 14 11 10 21

Gráfico 3 - Lexias de maior freqüência no ALAM, campo semântico O homem e a natureza de


acordo com o gênero feminino – 2008.
Em relação ao gênero feminino, as mulheres apresentaram 06 (seis) lexias com mais
freqüência que os homens, sendo: a) redemoinho de água (9) em relação ao homem que foi de 4
ocorrências; b) redemoinho de vento (21) ocorrências em relação às 15 ocorrências faladas pelo gênero
masculino; c) raio, 17 ocorrências da mulheres e 13 dos homens; d) chuvisco, 11 ocorrências enquanto
o homem só falou 08 vezes; e) arco-íris, com 14 ocorrências do gênero feminino e 09 do gênero
masculino; f) neve, sendo 10 ocorrências no sexo feminino e 08 no masculino. Resumindo, podemos
sintetizar os dados nos gráficos da variação diagenérica da seguinte forma:

Variaç ão diag enéric a


25

20
n.º de oc orrênc ias

15

10

0
io

ve
va
é

no
da

Ar o
a
ca

is
1

2
ap

c
e

-í r
Ra
o
o

Co

Ne
m
Se

re
is
rz

nh
nh
ar

ld

co
uv
Ti

Se

To
Ig

oi

oi

Ch
m
m

de
de

Re
Re

Mas c ulino

F orma s lex ic a is F eminino

Gráfico 4 - Lexias de maior freqüência no ALAM, campo semântico O homem e a natureza de


acordo com o gênero feminino – 2008.
Sob o ponto de vista das lexias estudadas, podemos afirmar que os dados são equivalentes,
pois enquanto os homens utilizaram um total de 7 das 13 lexias levantadas, as mulheres utilizaram 6
dessas lexias, o que representa que os dados são proporcionais.
Na variação diageracional, temos:
2793

Variaç ão diag erac ional


14
12
10
n.º de oc orrênc ias

8
6
4
2
0

io

ve
va
é

no
a

A r co
a
ca

is
1

2
ad
ap

-í r
Ra
o

o
Co

Ne
m
Se

re
is
rz
nh

nh
ar

ld

co
uv
Ti

Se

To
Ig

oi

oi

Ch
m

m
de

de
Re

Re

F orma s lex ic a is F1 F2 F3

Gráfico 5 - Lexias de maior freqüência no ALAM, campo semântico O homem e a natureza de


acordo com o gênero feminino – 2008.
Por outro lado, temos, na soma das lexias variação diageracional e diagenérica, as seguintes
freqüências das lexias:

Lexia Masc. Fem. Total F1 F2 F3 Total


Igarapé 18 10 28 8 11 9 28
Redemoinho1 4 9 13 9 3 1 13
Seca 13 7 20 5 7 8 20
Toldada 4 1 5 2 2 1 5
Várzea 17 8 25 9 9 7 25
Timbó 18 6 24 4 11 9 24
Cova 11 8 19 3 9 7 19
Redemoinho2 15 21 36 10 13 13 36
Raio 13 17 30 9 14 7 30
Chuvisco 8 11 19 8 5 6 19
Arco-íris 9 14 23 8 6 9 23
Sereno 14 12 26 6 10 10 26
Neve 8 10 18 2 6 10 18
TOTAL 152 134 286 83 106 97 286

Assim, na soma das lexias temos 152 no masculino e 134 no feminino, perfazendo um total de
286 lexias. A tabela demonstra que os homens realizaram mais as formas analisadas do que as
mulheres. Em relação à faixa etária, temos na faixa 1 um total de 83 realizações, na faixa 2
encontramos 106 lexias e na faixa 3 um total de 97 lexias o que demonstra que a faixa 2 teve maior
freqüência.

Considerações Finais

A abordagem dos aspectos de gênero e faixa etária neste estudo demonstra que a língua é um
fato social, heterogênea e que está sempre recebendo variações no léxico. Ela é dinâmica.
Assim, de acordo com o levantamento nas 13 cartas léxicas do Atlas Lingüístico do Amazonas
– ALAM constatou-se um total de 286 lexias registradas no gênero masculino e feminino sendo 152, e
134, respectivamente, o que representa 3,24% de diferença de um sexo em relação ao outro (18
lexias), demonstrando, desse modo, que os dados são equivalentes. De qualquer modo, mesmo que a
2794

diferença seja pequena, ficou demonstrado que os homens utilizam mais o vocabulário proposto no
ALAM, no campo semântico O homem e a natureza seja por estarem mais envolvidos nas atividades
de subsistência como caça e pesca ou no exercício de seus trabalhos. Daí, terem apresentado uma
utilização de 7 lexias em relação às mulheres que foi de 6.
Por outro lado, na variação diageracional as mulheres apresentaram uma freqüência maior na
faixa-etária 2 com um total de 58 lexias enquanto o homem apresentou 48 lexias, conforme tabela 4.4
e gráfico 1. Observou-se que as lexias mais utilizadas referem-se aos fenômenos de natureza como
raio, arco-íris, redemoinho (1 e 2), chuvisco e neve.
Em relação às faixas 1 e 3 o maior número de ocorrências foi encontrado no gênero
masculino.
Assim, podemos concluir que no tocante às variações diagenéricas e diageracional pode-se
considerar que o gênero masculino se sobressaiu tanto em relação ao número de ocorrências das lexias
(152) quanto nas faixas etárias 1 e 3, especificamente.
De acordo com o levantamento feito no dicionário eletrônico Houaiss constatou-se a
dicionarização de 12 lexias, com exceção de toldada que não está dicionarizada, mas que tentamos dar
uma significação de acordo com nosso conhecimento da região.
Salientamos que para nossa surpresa a carta semântico-lexical (11) arco-íris não obteve
nenhuma variante, haja vista a difersidade encontrada em outros atlas brasileiros como o Atlas prévio
dos Falares Baianos que registra para essa forma as variantes: arco da velha, arco de boi, arco celeste,
entre outras. Por outro lado, cartas como a 1 – igarapé recebeu 12 variantes: lago, riacho, lago,
afluente, paraná, lagoa, cabeceira, rio estreito, laguinho, poço, estreito, repartimento de cabeceira.
As demais variaram como a carta 10 chuvisco encontramos 10 variantes e a carta 8 – redemoinho (de
vento) com duas variações: redemoinho e furacão.
Por fim, foi importante a pesquisa no ALAM, primeiro por ser o primeiro atlas lingüístico, no
Brasil, a controlar, de forma sistemática, a variável faixa etária. Segundo, porque o mesmo é uma
significativa contribuição para a delimitação das áreas lingüísticas brasileiras, sobretudo por ter sido
elaborado numa região na qual os trabalhos dialetais ainda são pouco explorados.

Referências

BRANDÃO, Sílvia Figueiredo.A geografia lingüística no Brasil. São Paulo: Editora Ática, 1991.
CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística: uma introdução crítica. Trad. Marcos Marcionilo. São
Paulo: Parábola, 2002.
CÂMARA JR., Mattoso. Dicionário de lingüística e gramática. 20ª ed., Rio de Janeiro, Petrópolis:
Vozes, 1999.
CARRETER, Fernando Lázaro. Diccionario de términos filológicos. Madrid: Gredos, 1974.
CHAMBERS, J. K. & TRUDGILL, Peter. Dialectologia. Trad. De Carmen Morán González. Madrid:
Visor Libros, 1994.
CRUZ, Maria Luiza de Carvalho. Atlas Lingüístico do Amazonas - ALAM. Vol. 1 e 2. Rio de Janeiro:
UFRJ. Faculdade de Letras. Tese de doutorado, 2004.
DUBOIS, Jean et al. Dicionário de Lingüística. 9 ed. São Paulo: Cultrix, 1993.
FERREIRA, CARLOTA; CARDOSO, Suzana Alice Marcelino. A dialetologia no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1994.
JABERG, K. & JUD, J. Spraach und Sachatlas Italiens und der Südschweiz, I-VIII. Zofingen: Rieger
& Co., 1940.
MOLLICA, Cecília & BRAGA, Maria Luíza (Orgs.).. Introdução à Sociolingüística: o tratamento da
variação. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2007.
MOTA, Jacyra Andrade & CARDOSO, Suzana Alice Marcelino (Orgs.). Documentos 2: Projeto Atlas
Lingüístico do Brasil. Salvador: Quarteto, 2006.
OLIVEIRA, Maria Thereza Indiani & LOPES, Célia Regina dos Santos (Orgs.). Sexo – uma variável
produtiva – vol. 4 – Estudos sobre a fala culta carioca. Faculdade de Letras Vernáculas, Rio de
Janeiro, 1995.
SILVA-CORVALÁN, C. Sociolingüística. Teoria y análisis. Madri: Alhambra, 1988.
TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ática, 1997.
TRUDGILL, P. Sociolinguistics: an introduction. Great Britain, Penguin Books, 1974.

Você também pode gostar