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LÍNGUA INGLESA
Introdução
A sociolinguística é um ramo da linguística que estuda a língua a partir de seu
contexto social, levando em consideração fatores linguísticos e extralinguísticos e
sua influência para os fenômenos de variação e mudanças presentes em todas as
línguas. Para os sociolinguistas, a língua é heterogênea, e a variação, uma realidade
social, de modo que existem diferentes opções de realizações possíveis para deter-
minada função linguística, as quais não afetam o processo de comunicação. Ou seja,
as variantes constituem os diversos modos de se dizer a mesma coisa, remetendo ao
mesmo estado de coisas, em um mesmo contexto de interação verbal. No entanto,
esses modos não são aleatórios. De acordo com Labov (2008), a teoria da variação
linguística pressupõe que a heterogeneidade é inerente a todas as línguas, sendo
ordenada por restrições linguísticas e extralinguísticas. Essas restrições levam o
falante a usar certas formas e não outras ao fazer uso de sua língua.
2 Sotaques da língua inglesa
Para Mattoso Câmara Júnior (1996, p. 279), “[...] sotaque, também dito
impropriamente acento, é o conjunto de traços fonológicos específicos que
caracterizam a pronúncia numa modalidade regional de uma língua, ou a
pronúncia de uma língua falada por estrangeiros aloglotas [de língua distinta]”.
Portanto, o sotaque é uma variação determinada pelo contexto geográfico,
classificada como diatópica (do grego dia = através de, e topos = lugar). Em
relação à classificação dessas variações, tem-se quatro tipos, um diacrônico
e três sincrônicos, conforme Alkmim (2001 apud MESSIAS, 2015, p. 220):
e 'r' fraco). O inglês britânico é não rótico, ou seja, não se pronuncia o /r/ nas
palavras, a menos que ele seja seguido por uma vogal, como em /red/ ou /
bedroom/. Por exemplo, /hard/ é pronunciado como /haad/, e /car/, como /
caa/. Já o inglês estadunidense é rótico, ou seja, o /r/ é pronunciado, de modo
que, nos exemplos anteriores, as pronúncias seriam /hard/ e /car/, com o “r”
marcado. Outra característica marcante no inglês estadunidense é que o “t”
entre vogais é pronunciado como um “d” suavizado, o que faz as palavras
writer e rider terem pronúncias bastante similares. Os falantes britânicos
geralmente pronunciam o “t” como /t/.
Na língua inglesa, falada por uma enorme quantidade de pessoas em todo
o mundo, é natural que existam muitas variedades, mas as mais significativas,
das quais derivam as outras, são: o inglês britânico, falado com variações na
Inglaterra, na Escócia, no País de Gales, na Irlanda do Norte e na Irlanda; e
o estadunidense. Apesar do código oficial, tanto no Reino Unido quanto nos
Estados Unidos, existem variantes regionais e sociais, e a língua socialmente
mais aceita é tida como modelo e entendida por todos. Pode-se comparar
essas variações entre o inglês norte-americano e o britânico com o caso do
português falado em Portugal e no Brasil e as variações existentes nas regiões
desses países. A língua portuguesa é a mesma, compreendida por todos os
falantes, porém há diferenças de pronúncia, de ortografia e de léxico.
Como visto, fonologicamente, existem algumas diferenças principais
entre os sotaques norte-americano, britânico e australiano, bem como o
inglês falado por canadenses, sul-africanos, neozelandeses, entre outros.
Essas modificações na produção de sons da língua se devem aos contextos
daquelas regiões. A seguir, serão apresentados alguns exemplos de variações
fonológicas no inglês australiano, canadense e sul-africano para ilustrar
essa afirmação.
Muitas vezes, a variação diatópica está associada à etnia colonizadora de
uma comunidade, uma vez que a língua do povo colonizador acaba influen-
ciando a língua da região colonizada. A Austrália, por exemplo, foi mapeada
e reivindicada para a Grã-Bretanha pelo oficial da Real Marinha Britânica,
James Cook, em 1770, para funcionar como colônia penal. O contato com
aborígenes e a chegada gradativa de britânicos influenciaram a constitui-
ção do chamado inglês australiano. Fonologicamente, esse tipo de inglês
se diferencia das demais variantes do inglês, principalmente na pronúncia
das vogais. Em algumas palavras, o som /ei/ é pronunciado /ai/. A palavra
day, por exemplo, é pronunciada como /dai/, e não /dei/, como na maioria
das outras variantes. Outras palavras, como mate (parceiro) e fate (destino),
soam, respectivamente, como /mait/ e /fait/. No geral, a pronúncia do inglês
Sotaques da língua inglesa 5
minado país. Elas variam em alguns aspectos na pronúncia, mas não há muita
variação nos aspectos gramaticais. As variedades não padrão do inglês, ou
Non Standard English, são variações do dia a dia, dialetos de diversos grupos
sociais que não seguem as regras do inglês-padrão; como exemplo, tem-se
os patoás (patois), que são diferentes formas, mais ou menos rudimentares,
de comunicação entre falantes de línguas diferentes.
Segundo Monteiro (2008, p. 46), dialeto “[...] é uma variedade subordinada
a uma dada língua, que assim seria entendida como a soma de vários diale-
tos”. O autor afirma, ainda, que, em geral, um dialeto se circunscreve a uma
zona ou região territorial, que frequentemente coincide com as fronteiras ou
barreiras geográficas. Já para Câmara Júnior (1996, p. 115), os dialetos são “[...]
falares regionais que apresentam entre si coincidência de traços linguísticos
fundamentais. Cada dialeto não oferece uma unidade absoluta em todo o
território por que se estende”. Observando essas definições, pode-se dizer que
dialetos são subconjuntos da língua e possuem menos prestígio do que ela.
Referências
ALKMIM, T. M. Sociolingüística: parte 1. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (org.). Introdução
à lingüística. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005. v. 1, p. 21-47.
BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística.
São Paulo: Parábola, 2007.
CARTER, R. et al. English grammar today: an A-Z of spoken and written grammar. Cam-
bridge: Cambridge University, 2011.
KACHRU, B. B.; KACHRU, Y.; NELSON, C. L. (ed.). The handbook of world Englishes. West
Sussex: Wiley-Blackwell, 2009.
Leituras recomendadas
CRYSTAL, D. English as a global language. 2nd ed. Cambridge: Cambridge University, 2003.
MELCHERS, G.; SHAW, P. World Englishes. 2nd ed. London: Hodder Education, 2011.