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PORTUGUESA
Pronomes Oblíquos, Vozes Verbais,
Funções do SE, Crase e Estudo do QUE
SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
LÍNGUA PORTUGUESA
Pronomes Oblíquos, Vozes Verbais, Funções do SE, Crase e Estudo do QUE
Elias Santana
Sumário
Apresentação......................................................................................................................................................................3
Pronomes Oblíquos, Vozes Verbais, Funções do SE, Crase e Estudo do QUE. ...............................4
Bloco I: Pronomes Oblíquos e Colocação Pronominal. ................................................................................4
Pronomes Pessoais.........................................................................................................................................................5
Colocação Pronominal...................................................................................................................................................8
Bloco II – Vozes Verbais e Funções do SE.........................................................................................................18
As Vozes Verbais. . ...........................................................................................................................................................18
A Transposição da Voz Ativa para a Passiva. .................................................................................................19
A Voz Reflexiva. . ..............................................................................................................................................................26
Outras Funções do SE.. ................................................................................................................................................ 28
Bloco III – Crase...............................................................................................................................................................31
Preposição (por Regência) + Artigo....................................................................................................................33
Preposição (por Regência) + Pronome..............................................................................................................38
Locuções Femininas.....................................................................................................................................................40
Mais alguns Casos Especiais.. ................................................................................................................................42
Algo muito Especial: o Paralelismo Sintático..............................................................................................43
O que Cai, Elias?. . ............................................................................................................................................................45
Questões de Concurso................................................................................................................................................47
Gabarito............................................................................................................................................................................... 74
Gabarito Comentado....................................................................................................................................................75
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Pronomes Oblíquos, Vozes Verbais, Funções do SE, Crase e Estudo do QUE
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Apresentação
Olá, querido(a) amigo(a)! Como andam os seus estudos de língua portuguesa? Estamos,
a cada dia, avançando mais em nosso idioma, de uma forma lógica e objetiva. Agora, quero
abordar com vocês alguns assuntos que possuem íntima conexão com o que já vimos nos
PDFs anteriores. Falaremos sobre pronomes oblíquos, vozes verbais e funções do SE, crase e
funções do QUE.
Vamos fazer a nossa engenharia reversa:
As 30 questões que se encontram no final deste PDF estão assim divididas:
• Pronomes oblíquos: 7 questões
• Vozes e SE: 5 questões
• Crase: 8 questões
• QUE: 10 questões
Podemos observar que o último assunto tem maior peso, mas a média de questões entre
os conteúdos está bastante equilibrada.
Sobre os pronomes oblíquos, a AOCP só explora os átonos (tanto em verbos quanto em
locuções verbais). Há questões de coesão, sintaxe e colocação pronominal.
Acerca de vozes verbais, ela gosta de pedir a transposição da ativa para a passiva e vice-
-versa. Há uma nítida prioridade para a passiva analítica. Em relação às funções do SE, ela se
mostra interessada por todas!
Em crase, as questões são muito fáceis! Acredito que a banca se valha apenas do trauma
que as pessoas já carregam sobre o assunto. Quase todas as questões só querem saber o
motivo pelo qual o acento foi empregado.
Já no estudo do QUE, há uma predominância absurda do pronome relativo e da conjunção
integrante (vistos no PDF anterior). Eles também gostam de comparar as funções anteriormen-
te citadas com aquelas desempenhadas pelo QUE na tabela de conectivos (que você também
viu no PDF anterior). Por esse motivo, para não gastar seu tempo precioso, falaremos do QUE
agora apenas nos exercícios. Não há razão para repetir tudo o que foi dito no PDF 2. Eu só dei-
xei os exercícios para o 3 porque muitos alunos gostam de ver QUE e SE juntos.
Vamos juntos?
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EXEMPLO
(1) O professor está feliz! O professor tem alunos dedicados!
A sentença acima é perfeitamente compreensível para qualquer pessoa (até demais)! Note
que o professor que está feliz é o mesmo que tem alunos dedicados. Todavia, você há de con-
vir comigo que é uma construção linguisticamente pobre, uma vez que apresenta um mesmo
vocábulo duas vezes. Esse é um mecanismo chamado de coesão por repetição. Consiste em
repetir uma mesma palavra para formar a malha textual. Vale aqui um aviso importante: repetir
palavras não é um erro gramatical, mas é um recurso que, quando adotado desnecessária ou
abusivamente, torna o texto paupérrimo.
Sei que você já está pensando em inúmeras formas de escrever o texto acima. Quero te
apresentar uma possibilidade:
EXEMPLO
(2) O professor está feliz! Ele tem alunos dedicados!
Em vez de repetir uma mesma palavra, optei por usar um pronome substantivo. A coesão
foi estabelecida, mas com vocábulos diferentes. Preciso que você relembre o que é um prono-
me, assunto visto no PDF 1.
Agora, veja comigo essa outra construção:
EXEMPLO
(3) O professor estava em reunião. A diretora chamou o professor.
Mais uma vez, fiz uso da repetição de palavras na construção do texto. Como você já sabe,
o pronome é uma possibilidade que pode resolver essa questão. Mas o que você acha desta?
EXEMPLO
(4) O professor estava em uma reunião. A diretora chamou ele. *
Sei que essa é uma forma comumente falada em nosso cotidiano. Ela não é, entretanto,
aceita pela norma culta. Meu objetivo não é (e nunca será) mudar o jeito como você fala, mas
te ensinar os padrões previstos para a língua escrita, a fim de que você seja mais assertivo em
provas e redija melhor. Conforme a tradição gramatical, o correto seria:
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EXEMPLO
(5) O professor estava em uma reunião. A diretora chamou-o.
Professor, mas como saberei qual pronome usar? E esse pronome pode ficar antes do
verbo também?
Pronomes Pessoais
Você se lembra que, no PDF 2, eu apresentei as pessoas do discurso? Existem, na nossa
gramática, pronomes responsáveis por designar cada uma delas. Esses são os chamados
pronomes pessoais. Eles são assim divididos:
Pronomes pessoais
a eles, a elas, a
3ª p. do plural Eles os, as, lhes, se
sim, consigo
Para você entender bem o que esses pronomes fazem, precisamos voltar um pouco no
tempo e falar sobre o latim. Nesta língua, as funções sintáticas eram chamadas de casos.
Como o português é uma língua derivada do latim, alguns resquícios ficaram na gramática.
Em outras palavras, os pronomes que são classificados em casos já possuem funções sintá-
ticas pré-definidas! Os pronomes pessoais do caso reto, por exemplo, são usados em posição
de sujeito. Já os pronomes pessoais do caso oblíquo, em geral, ocupam a posição de com-
plementos! Isso explica o que ocorre nos exemplos que já foram aqui apresentados. Em 2, o
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pronome “ele” ficou adequado porque desempenhava a função de sujeito, mas não ficou bom
em 4 porque estava em função de objeto direto. Por isso, em 5, fiz uso de um pronome oblíquo
átono de 3ª pessoa do singular (“o”) para corrigir o texto. Aqui, algumas perguntas surgem:
Professor, mas pronomes como ele, ela, nós, vós, eles e elas aparecem tanto nos pesso-
ais do caso reto como nos pessoais do caso oblíquo tônico. Como vou diferenciá-los?
Não sei se você percebeu, mas os pronomes oblíquos tônicos são sempre dotados de
preposição! Essa é a diferença! Nem sempre será a preposição “a”, mas sempre haverá uma
preposição!
Não. Eles podem também desempenhar outras funções sintáticas, mas isso é pouco co-
brado em provas.
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EXEMPLOS
(6) Ela te encontrou na reunião.
(7) Ela te disse a verdade.
EXEMPLOS
(8) Ela nos viu durante o evento.
(9) Ela nos deu aquele lindo presente.
EXEMPLO
(10) Ela comunicou o ocorrido aos familiares.
Com a classificação sintática dos termos da oração, podemos determinar quais pronomes
usaremos. “O ocorrido” e “aos familiares” são pessoas de que se fala – por isso, terceira pes-
soa verbal. Como “o ocorrido” é um OD, devemos substituí-lo por “o” (“ocorrido” é masculino e
singular). Por sua vez, “aos familiares” é um OI e pode ser substituído por “lhes” (“familiares”
é singular). Claro que não empregaremos os dois pronomes ao mesmo tempo (essa era uma
possibilidade comum no português arcaico). No português contemporâneo, as construções
possíveis seriam:
EXEMPLOS
(11) Ela comunicou-o aos familiares. (“o”= o ocorrido)
(12) Ela comunicou-lhes o ocorrido. (“lhes” = aos familiares)
001. (IADES/2014) Em “deu-lhe uma bronca” (linha 6), no lugar do pronome destacado, pode-
ria ser empregado o pronome o.
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Note que, na construção, quem dá, dá algo (“uma bronca”=OD) a alguém (lhe=OI). A substitui-
ção sugerida é entre pronomes de funções sintáticas distintas.
Errado.
002. (CESPE/2013) Em busca de mais recursos, Marconi escreveu ao governo italiano, mas
um funcionário descartou a ideia, dizendo que era melhor apresentá-la em um manicômio.
No fragmento II, estaria mantida a correção gramatical do texto caso fosse inserido, logo após
a forma verbal “dizendo”, o pronome lhe ― dizendo-lhe ―, elemento que exerceria a função de
complemento indireto do verbo, retomando, por coesão, “Marconi”.
Pela semântica textual, é possível entender que o funcionário disse algo a Marconi. Colocar o
pronome lhe diante de “dizendo” significa tornar explícito o objeto indireto do verbo.
Certo.
003. (IBFC/2011) Assinale a alternativa que indica corretamente a substituição do nome des-
tacado pelo pronome.
Não contei a Paulo a verdade.
a) Não contei-lhe a verdade.
b) Não lhe contei a verdade.
c) Não o contei a verdade.
d) Não contei-o a verdade.
Primeiramente, preciso que você tenha certeza de algo: “a Paulo” é o OI do verbo “contei”. Por
isso, o pronome adequado é lhe. Isso nos permite dispensar as alternativas C e D. Mas surge
uma nova dúvida: qual é a posição correta do pronome? Antes ou depois do verbo “contei”? Por
enquanto, eu vou te deixar nessa expectativa!
Colocação Pronominal
Em linhas gerais, existem três posições para se colocar um P.O.A.: depois do verbo (êncli-
se), antes do verbo (próclise) ou no meio do verbo (mesóclise). Existem princípios e regras
para o uso de cada uma delas. Vamos conhecê-los:
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004. (IADES/2014)
Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando
A colocação do pronome em “Me dê um abraço” (linha 3) está correta.
005. (CESPE/2013) O filósofo francês Jacques Rancière critica a ideia de democracia que tem
estruturado nossa vida social — regida por uma ordem policial, segundo ele —, devido ao fato
de ela se distanciar do que seria sua razão de ser.
A correção do texto seria mantida caso o pronome “se”, em vez de anteceder, passasse a ocu-
par a posição imediatamente posterior ao verbo: devido ao fato de ela distanciar-se.
Questão simples: você notou que o verbo “distanciar” está no infinitivo? Conforme está em 2.1,
trata-se de um caso facultativo de colocação pronominal. Logo, o pronome pode ser colocado
em próclise ou em ênclise.
Certo.
006. (CESPE/2013) O cenário se repete neste início de 2013, com a redução no nível de água
dos reservatórios.
Em “se repete”, o deslocamento do elemento “se” para depois da forma verbal — repete-se —
preservaria a correção gramatical do trecho.
1
É possível ver P.O.A. após pontuação quando esta representa uma intercalação na oração. Ex.: O professor chegou atra-
sado; ele, todavia, nos dará aula.
2
Quando há um caso de sujeito explícito anteposto ao verbo interno a uma oração subordinada, só se pode usar a pró-
clise, deixando, portanto, de ser um caso facultativo. Falaremos sobre isso quando chegarmos ao período composto (em
outro PDF).
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Esta questão enquadra-se no princípio 2.2. Pergunte ao verbo: quem se repete? “O cenário”,
que é o sujeito da oração. Novamente, estamos diante de mais um caso facultativo!
Certo.
Regras
1. A ênclise é a regra geral! É a colocação em que primeiro devemos pensar! Só que exis-
tem casos em que ela não é aplicável. São eles:
• Quando há fator de atração antes do verbo;
• Quando o verbo estiver no futuro;
• Quando o verbo estiver no particípio.
Para resolver o primeiro caso, usamos a próclise. Para o segundo, a mesóclise. O último
veremos melhor quando estudarmos a colocação pronominal em locuções verbais.
2. A próclise é usada prioritariamente quando há um fator de atração antes do verbo (tam-
bém conhecido como fator de próclise). São algumas palavras que atraem o pronome para
perto delas, o que faz com que este fique antes do verbo. Eis a lista de fatores de atração:
• Palavras negativas (Ex.: Ele não se perdoa pelo ocorrido.)
• Advérbios (Ex.: Ontem me falaram a verdade.)
• Pronomes
− indefinidos (Ex.: Alguém te dará atenção.)
− interrogativos (Ex.: Quem lhe doou os cobertores?)
− relativos (Ex.: O homem que nos abordou era policial.)
• Conjunções subordinativas (Ex.: Ele disse que a ouviu atentamente.)
• Orações exclamativas ou optativas3 (Ex.: Que Jesus te acompanhe!)
• Em+gerúndio (Ex.: Em se tratando de gramática, não tenho dificuldades.)
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007. (CESPE/2013) Mas a opção entre o certo e o errado não se coloca apenas na esfera de
temas polêmicos que atraem os holofotes da mídia.
Devido à presença do advérbio “apenas” (R.18), o pronome “se” poderia ser deslocado para
imediatamente após a forma verbal “coloca”, da seguinte forma: coloca-se.
Uma palavra só é fator de atração se estiver anteposta ao verbo. Logo, “apenas” não influencia
na colocação pronominal. Além disso, veja que, antes do verbo, há uma palavra negativa.
Errado.
Conforme eu disse, o QUE é sempre fator de atração. Não quero, agora, que você se preocupe
em identificar a função dele. Agora, preocupe-se apenas com a colocação do pronome.
Certo.
3. Há casos em que nem próclise e nem ênclise são aplicáveis. É aí que entra a mesó-
clise. Veja:
EXEMPLO
(13) Contarei uma história aos meus alunos.
Vou fazer uso do OI – que será substituído por lhes nas minhas construções seguintes.
Veja o resultado:
• Contarei-lhes uma história. (errado, pois o verbo está no futuro – que não admite ênclise)
• Lhes contarei uma história. (errado, pois fere o primeiro princípio)
• Contar-lhes-ei uma história. (certo)
EXEMPLO
(14) Eu contarei uma história aos meus alunos.
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Eu contarei-lhes uma história. (errado, pois o verbo está no futuro – que não admite ênclise)
Eu lhes contarei uma história. (certo, conforme o segundo princípio – sujeito explícito)
Eu contar-lhes-ei uma história. (certo, conforme o segundo princípio – sujeito explícito)
EXEMPLO
(15) Eu não contarei uma história aos meus alunos.
Eu não contarei-lhes uma história. (errado, pois o verbo está no futuro – que não admite ênclise)
Eu não lhes contarei uma história. (certo, pois há respeito ao fator de atração)
Eu não contar-lhes-ei uma história. (errado, pois desrespeita a presença do fator de atração)
Primeiramente, note que o verbo colheria está no futuro do pretérito, o que já inviabiliza a ên-
clise. No trecho apresentado, a próclise também não é possível, na medida em que há um sinal
de pontuação anteposto ao verbo. A mesóclise é a única opção válida.
Certo.
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Neste caso, pode-se usar o pronome antes do auxiliar, entre o auxiliar e o principal e após o
principal (exceto quando este estiver no particípio). Atenção: cuidado para não ferir o princípio
1. Veja exemplos:
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EXEMPLO
(16) Eu vou encontrar novos caminhos.
Eu os vou encontrar.
Eu vou(-)os encontrar.
Eu vou encontrá-los.
EXEMPLO
(17) Estou construindo uma nova casa.
EXEMPLO
(18) Ele tinha imprimido o documento.
Obs.: Segundo muitos gramáticos, o emprego do hífen quando o pronome está entre o auxi-
liar e o principal é facultativo.
Neste caso, o pronome deve ser empregado antes do auxiliar ou depois do principal. Aten-
ção: cuidado para não ferir o princípio 1. Veja exemplos:
EXEMPLO
(19) Eu não vou encontrar novos caminhos.
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EXEMPLO
(20) Já estou construindo uma nova casa.
Já a estou construindo.
Já estou construindo-a.
EXEMPLO
(21) Ele nunca tinha imprimido o documento.
ADENDO – Apossínclise
Sempre há um aluno para me perguntar sobre essa quarta forma de colocação pronominal.
Ela é encontrada em registros literários antigos – e, ainda assim, raramente. Ocorre quando
há dois fatores de atração antepostos a um verbo.
O homem que se não respeita pode padecer.
Também seria gramaticalmente correto escrever
O homem que não se respeita pode padecer.
De coração: acrescentei isso por curiosidade de alguns! Não é uma preocupação para provas.
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GRAMÁTICA
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As Vozes Verbais
As vozes verbais dizem respeito a forma como o verbo estabelece sua relação com o sujei-
to. A tradição gramatical diz que ocorre voz ativa quando o sujeito pratica a ação verbal (sujeito
agente); a voz passiva, quando o sujeito sofre a ação verbal (sujeito paciente); a voz reflexiva,
quando o sujeito pratica e sofre a ação verbal.
Todavia, grande parte dos estudantes de língua portuguesa dão um tratamento errado a
esse conteúdo, por pensar que é uma descrição meramente semântica. Na verdade, o sentido
é fruto de uma estrutura morfossintática. Entenda: para dominar as vozes verbais, você deve
conhecer as estruturas gramaticais que as caracterizam. O sentido é uma mera consequência
dessa estrutura.
Para facilitar a nossa vida, criei um quadro-resumo, que será detalhado ao longo deste PDF:
Locução verbal
SER+PARTICÍPIO
(analítica4)
Passiva Paciente
OU
Verbo-SE (pronome
apassivador) (sintética)
4
A voz passiva analítica também pode ser formada pela locução verbal ESTAR+PARTICÍPIO.
Ex.: O prédio está cercado pela polícia.
Mas peço que você não se prenda a isso. A locução SER+PARTICÍPIO domina as provas de concursos públicos.
5
Nem sempre, haverá a semântica de agente, conforme explicita Bechara (2008). Você entenderá isso melhor quando eu
falar sobre a diferença entre “voz passiva” e “passividade”.
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EXEMPLOS
(1) O carro foi levado pelos ladrões durante a madrugada.
(2) Encontrou-se uma nova evidência no local do crime.
(3) Aquele rapaz se olhava no espelho.
(4) O professor chegou atrasado.
(5) As crianças sofreram com a perda do avô.
Em 1, note a presença da locução “foi levado”. Ela indica que a frase está na voz passiva
(analítica). Em 2, além do pronome “se”, veja também que, na oração, ninguém praticou a ação
de encontrar – por isso, voz passiva (sintética). Em 3, também há o pronome “se”, todavia po-
demos identificar que alguém pratica a ação verbal de olhar: “aquele rapaz”. O pronome, aliás,
tem a função de revelar que a ação verbal foi praticada e sofrida pelo sujeito, uma vez que
“aquele rapaz” olhava a si mesmo – portanto, voz reflexiva. Agora, olhe com carinho para as
frases 4 e 5. Você está vendo alguma locução verbal? Você está vendo algum pronome para
ser classificado como apassivador ou reflexivo? NÃO, para as duas perguntas. Isso é o sufi-
ciente para afirmar que 4 e 5 são orações na voz ativa.
Tenho certeza de que você não tem dúvidas acerca da classificação da oração 4, mas deve
estar se remoendo com a 5. “Elias, mas as crianças sofreram! Ninguém pratica a ação de so-
frer!” Eu concordo com você, mas preciso que você tenha objetividade: as orações 4 e 5 não
possuem estrutura gramatical de voz passiva ou reflexiva, e isso deve bastar a você. O que
ocorre em 5 foi explicado na Moderna Gramática da Língua Portuguesa, de Evanildo Bechara.
A oração 5 possui semântica de passividade, mas estrutura de voz ativa! Isso porque a voz
passiva, depende, primeiramente, de uma estrutura morfossintática.
Detalhe: não vá pensando que, com essa explicação, você já sabe tudo sobre o assunto!
Eu te garanto que, na frase 2, o “se” é um pronome apassivador, assim como, a frase 3, o “se” é
reflexivo. Mas esse pronome não seria tão famoso se possuísse apenas duas funções, não é
mesmo? Depois das vozes verbais, falaremos das funções do SE!
EXEMPLOS
(6) As mulheres dominaram a sociedade.
(7) O delegado comunicou as medidas à população.
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Tente, em sua mente, colocar essas cinco construções na voz passiva. Acredito que você
só tenha obtido êxito nos exemplos 6 e 7. Sabe por quê?
COLOCAR UMA ORAÇÃO NA VOZ PASSIVA (OU APASSIVAR UMA ORAÇÃO) SIGNIFICA
TRANSFORMAR O OBJETO DIRETO EM SUJEITO PACIENTE.
Queridos, a condição para que uma frase possa ir à voz passiva é que ela apresente, inicial-
mente, um objeto direto, e só funciona com esse tipo de complemento, uma vez que ele, via de
regra, não é preposicionado. Em 6 e 7, existem objetos diretos (“a sociedade” e “a situação”).
Em 8, o verbo é transitivo indireto; em 9, intransitivo; em 10, de ligação.
Agora, analise comigo como é a transposição da voz ativa (VA) para a voz passiva analí-
tica (VPA):
Note que a única parte que se preservou foi “a sociedade”. “Dominaram” passou a ser “foi
dominada”, e “as mulheres” passou a ser “pelas mulheres” (agente da passiva, que é quem
pratica a ação verbal na voz passiva). O verbo que, na voz ativa, concordava com “as mulheres”
passou a ser uma locução verbal que concorda com “a sociedade”.
Primeiramente, perceba que “as medidas” deixou de ser objeto direto e passou a ser sujeito
paciente. “Comunicou” passou a ser “foram comunicadas”, e “o delegado” passou a ser “pelo
delegado”. Nada ocorreu com “à população”, uma vez que o objeto indireto não participa da
formação da voz passiva.
E se colocarmos os trechos acima na voz passiva sintética (VPS)? Qual será o resultado?
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As mulheres dominaram a
sociedade. Dominou-se a sociedade.
Os palestrantes permaneceram
calados. Permanece-se calado.
O que quero que você entenda: nem todas as cinco orações admitem a voz passiva, mas
todas admitem uma reescritura com o pronome “se”! As duas primeiras, por aceitarem a voz
passiva, possuem pronome apassivador. As três últimas, que não podem ser apassivadas,
apresentam índice de indeterminação do sujeito (IIS).
Vamos sistematizar a análise das cinco construções com o pronome “se”:
• Entre as cinco orações possuem algo em comum: em nenhuma delas, é possível
identificar quem pratica a ação verbal6.
• A partícula apassivadora serve para transformar objetos diretos (não preposiciona-
dos7) em sujeitos pacientes (que também não são preposicionados). Nesses casos,
como há sujeito, o verbo deve concordar com ele. A PA só ocorre com VTD ou VTDI.
• O índice de indeterminação só aparece quando não é possível apassivar. Isso ocorre
com o VTI, VI e VL. Nesses casos, como não há sujeito, o verbo deve ficar sempre no
singular.
6
Existe uma diferença entre identificar quem pratica a ação verbal e identificar o sujeito da oração. Identificar quem pratica
a ação verbal é completamente semântico (e nem sempre será o sujeito); identificar o sujeito da oração é sintático (e nem
sempre será quem pratica a ação verbal), pois sujeito é o termo com quem o verbo estabelece concordância.
7
Na língua portuguesa, existem os chamados “objetos diretos preposicionados”. Nesses casos, o verbo não é responsável
pela presença da preposição. Ela aparece para garantir algum efeito semântico ou para conferir ênfase. Veja:
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Primeiramente, nome que, no texto, não há quem pratica a ação de observar. Como o verbo
está no plural, sabemos que o pronome “se” é uma partícula apassivadora. O sujeito paciente é
a expressão “as obsessões dos portugueses”. Como o núcleo do sujeito é feminino e plural, e
o verbo está no presente do indicativo, a correta transposição para a voz passiva analítica seria
são observadas as obsessões dos portugueses. “Foram observados” está no pretérito perfeito
do indicativo, e o verbo no particípio está no masculino.
Errado.
No texto, a forma “é realizada” está na voz passiva analítica, e o sujeito paciente tem como
núcleo o vocábulo “avaliação”. Para transpor para a voz passiva sintética, além da presença do
pronome apassivador, é necessário observar a concordância, o tempo e o modo verbal. Ambas
as construções estão no singular e no presente do indicativo. Portanto, não haveria prejuízo à
correção gramatical.
Errado.
Ex.: O aniversariante comeu do bolo. (A preposição só aparece para dar a ideia de que o aniversariante comeu apenas uma
parte do bolo.)
Ex.: Eu não vejo a ele desde o Natal. (Os pronomes oblíquos tônicos são sempre preposicionados.)
Ex.: O pai ama ao filho. (A preposição aparece para conferir ênfase, para garantir o entendimento de quem pratica e quem
recebe a ação de amar.)
Aí vem um detalhe: essas construções não podem ser apassivadas. Portanto, uma oração como “comeu-se do bolo” possui
um índice de indeterminação do sujeito, e não uma partícula apassivadora. Veja, novamente, como a voz passiva está com-
pletamente ligada à estrutura morfossintática. A ausência de um objeto direto sem preposição impede a possibilidade de
formação da voz passiva.
Observação importante: esse assunto praticamente não aparece em provas!
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A locução verbal “foram registrados” está no plural para concordar com o núcleo do sujeito “ca-
sos”. Coloque uma ideia em sua cabeça: o que é sujeito para a voz passiva analítica também
é sujeito para a voz passiva sintética! Portanto, não há motivos para que o verbo “registrou-se”
seja empregado, uma vez que está no singular. O correto seria registraram-se.
Os efeitos da seca espalham-se no campo e são 1 visíveis nos incontáveis animais mortos por
onde passam as rodovias sertanejas.
Errado.
013. (2013/CESPE/MI) Os efeitos da seca espalham-se no campo e são visíveis nos incontá-
veis animais mortos por onde passam as rodovias sertanejas.
Em “espalham-se”, o termo “se” indica que o sujeito da oração é indeterminado.
Primeiramente, lembre-se de que o “se” só será índice de indeterminação do sujeito com ver-
bos no singular (o que já é suficiente para julgar o item). O verbo possui um sujeito paciente,
que é “os efeitos da seca”. O pronome é PA.
Errado.
Em I, a expressão “vários medicamentos” é sujeito paciente (uma vez que o “se” é PA). Por-
tanto, o correto seria prescreveram-se. Em contrapartida, a II está correta, pois “de doenças
graves” é um objeto indireto. O pronome é um IIS, e o verbo deve permanecer no singular.
Letra b.
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A forma verbal “precisa” é transitiva indireta, a expressão “de funcionário com experiência” é
o OI, e o pronome é IIS. Nesse caso, a frase está na voz ativa (só seria voz passiva se o “se”
fosse PA).
Letra b.
016. (2013/IBFC/PGE-SP) Assinale a alternativa em que a oração não está na voz passiva.
a) Necessita-se de funcionários capacitados.
b) Comentou-se o caso do sequestro.
c) O aluno foi reprovado no exame.
d) As ruas foram cercadas pela polícia.
e) Alugam-se salas.
Na letra A, a forma verbal “necessita” é transitiva indireta, e a expressão “de funcionários capa-
citados” é o objeto indireto. O pronome funciona como um índice de indeterminação do sujeito.
Detalhe importantíssimo: quando o “se” é IIS, a oração está na voz ativa! Nas alternativas B e
E, há a voz passiva sintética. Nas alternativas C e D, voz passiva analítica.
Letra a.
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Agora, estamos falando de casos em que o pronome “se” está associado a locuções verbais.
O procedimento será:
• Buscar a transitividade no verbo principal;
• Verificar a concordância no verbo auxiliar.
Em I, o verbo “pensar” é transitivo indireto, a expressão “em todos os aspectos do problema” é
o OI. Portanto, o “se” é IIS, e o verbo auxiliar deveria estar no singular. Em II, o verbo “analisar” é
transitivo direto, e a expressão “todos os aspectos do problema” é o sujeito paciente, uma vez
que o “se” é PA (e o verbo auxiliar está em concordância com o sujeito). Detalhe: as locuções
verbais apresentadas na questão são formadas pelo verbo auxiliar DEVER e pelo verbo princi-
pal no INFINITIVO. Nada de pensar em voz passiva analítica, ok?
Letra d.
A Voz Reflexiva
Antes de iniciarmos a terceira seção, quero fazer um comentário importante: até aqui, vi-
mos a parte da matéria que cai em 90% das questões sobre funções do SE (e esse percentual
ainda pode ser maior)! A verdade é que PA e IIS dominam as provas de concursos!
Compare comigo as seguintes orações:
EXEMPLOS
(11) Vendem-se casas de praia.
(12) Não se depende de novas políticas públicas.
(13) Maria olhou-se no espelho.
(14) João se deu um carro novo.
Há algo em comum entre 11 e 12: não é possível identificar quem pratica a ação verbal.
Há algo em comum entre 13 e 14: é possível identificar quem pratica a ação verbal. Esse é o
primeiro passo que você deve dar sempre que for analisar as funções do “se”! Veja este quadro
e grave-o na sua memória:
SITUAÇÃO RESULTADO
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Isso vai mudar a sua vida para sempre! Você precisa ter essa consciência antes de tentar
identificar a função do pronome! Sabemos agora que 11 e 12 possuem ou PA ou IIS, assim
como sabemos que 13 e 14 não podem apresentar PA ou IIS.
Em 11, temos PA, pois “casas de praia” é sujeito paciente. Em 12, temos IIS, pois “de novas
políticas públicas” é objeto indireto.
Já em 13 e 14, note que a ação verbal que é praticada pelo sujeito recai sobre o próprio
sujeito! Maria poderia olhar outra pessoa, mas olhou a si mesma. João poderia dar algo a outra
pessoa, mas deu a si mesmo. Estamos diante da chamada voz reflexiva8, também conhecida
como voz medial. Nesses casos, o “se” é classificado como pronome reflexivo, e pode assumir
a função de objeto direto (como ocorre em 13) ou de objeto indireto (como ocorre em 14).
018. (2011/CESPE/CFO-BM) Acorriam todos os aguadeiros com suas pipas, e também os po-
pulares, que faziam longas filas até o chafariz mais próximo, transportando de mão em mão os
baldes de água, ao mesmo tempo em que se improvisavam escadas de madeira para efetuar
salvamentos, retirando-se os moradores, antes que eles se atirassem das janelas dos sobrados.
As partículas “se” destacadas exercem a mesma função sintática em ambas as ocorrências.
Note: pela estrutura textual, não é possível identificar quem praticou a ação de retirar, mas é
possível identificar quem praticou a ação de atirar (eles=os moradores). O primeiro “se” é uma
partícula apassivadora, ao passo que o segundo é um pronome reflexivo.
Errado.
019. (2011/CESPE/CORREIOS) Nos primeiros anos como seminarista, em Bois le Due, na Ho-
landa, Erasmo dedicou-se mais à pintura e à música do que à filosofia e à religião.
Na Universidade de Oxford, terminou os estudos da língua grega — idioma dominado apenas
por eruditos. A partir de então, conheceu o filósofo Juan Colet, que lhe apresentou a primeira
versão da Bíblia. O acesso ao livro foi decisivo para Erasmo se afastar da filosofia escolástica.
As formas verbais “dedicou-se” e “se afastar” estão na voz reflexiva.
Primeiramente, é possível identificar quem pratica a ação verbal, nos dois casos. Erasmo dedi-
cou a si mesmo. Erasmo afastou a si mesmo.
Certo.
8
A voz reflexiva também pode ser praticada com outros pronomes oblíquos. Tudo depende da pessoa verbal.
Ex.: Nós nos olhamos no espelho.
Ex.: Eu me dei um carro novo.
Todavia, em provas, esse assunto sempre aparece vinculado ao pronome “se”.
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É fácil dizer que o “se” não é reflexivo, pois, no texto, não é possível identificar quem pratica a
ação de registrar. O pronome é PA.
Errado.
Outras Funções do SE
Agora que você já conhece a partícula apassivadora, o índice de indeterminação do sujeito
e o pronome reflexivo, posso afirmar que você já sabe 99% da matéria! O pronome “se” possui,
na língua portuguesa, outras funções, mas são pouco exploradas em provas. Mas não pode-
mos deixar de falar sobre elas, não é mesmo?
EXEMPLOS
(15) Kurt se matou.
(16) Kurt se suicidou.
Semanticamente, as duas construções são semelhantes, pois ambas indicam que alguém
tirou a própria vida. Todavia, gramaticalmente, as duas construções são diferentes, pois os
verbos apresentam entendimentos diferentes. O verbo “matar” significa “tirar a vida”, que pode
ser a vida de alguém ou a do próprio sujeito que pratica ação. Portanto, podemos afirmar que a
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reflexividade da oração 15 é de inteira responsabilidade do pronome, pois é ele quem faz com
que a ação recaia sobre o sujeito.
Já o verbo “suicidar-se” significa “tirar a própria vida”. É inconcebível a ideia de que “alguém
suicida outra pessoa”. Isso mostra que a reflexividade não está no pronome, mas no próprio
verbo. Vou ser ainda mais explícito: na língua portuguesa, não existe o verbo “suicidar”, mas
apenas “suicidar-se”. Ele só existe com o pronome! Por isso, o “se” é conhecido como parte
integrante do verbo, e o verbo que possui esse tipo de estrutura é conhecido como verbo
pronominal.
A parte integrante do verbo acompanha apenas verbos intransitivos ou transitivos indire-
tos. Eles podem indicar sentimentos (arrepender-se, queixar-se, lembrar-se, esquecer-se, or-
gulhar-se, alegrar-se, admirar-se) ou ações do ser que são praticadas em relação a si próprio
(suicidar-se, concentrar-se, precaver-se).
EXEMPLOS
A samaritana se arrependeu dos pecados cometidos.
A aluna se concentrou antes da prova.
Pronome Expletivo
EXEMPLOS
Ela se riu da situação. → Ele riu da situação.
Ele se tremeu durante o assalto. → Ele tremeu durante o assalto.
O show se acabou. → O show acabou.
Ele se foi sem dizer nada. →Ele foi sem dizer nada.
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O verso em questão apresenta nove sílabas poéticas (chamado também de verso eneas-
sílabo). Quero que você olhe com carinho para as sílabas 2 e 7. Veja que, nelas, a vogal que
termina uma palavra e a que inicia a próxima se encontram. Isso ocorre porque, foneticamente,
os sons vocálicos se unem! Faça um teste: leia o verso em velocidade normal, como se você
estivesse fazendo uma declamação! Perceberá que os sons vocálicos destacados se fundem.
Quando as vogais que se encontram são diferentes (como na sílaba 7), chamamos de elisão.
Quando as vogais que se encontram são iguais (como na sílaba 2), chamamos de crase.
O fenômeno da crase é, portanto, originário dos estudos poéticos. Sempre que quaisquer
duas vogais iguais se encontram, chamamos, em literatura, de crase. “Importamos” essa no-
ção para os estudos gramaticais, uma vez que algumas fusões também ocorrem fora da po-
esia. Aliás, em gramática, só consideramos a fusão do som do a. Para sinalizar essa mistura,
usamos (`), conhecido como acento grave.
Para a gramática, essa fusão é ainda mais delimitada. Só ocorre entre preposição e artigos
OU preposição e pronome, da seguinte forma:
Mas, agora, precisamos discutir um outro ponto: você sabe diferenciar as ocorrências do
a? Isso é mais que fundamental! Eu até digo mais: muitas pessoas não sabem o assunto crase
por não saberem morfologia! Isso mesmo! O PDF 1 é pré-requisito para este PDF!
Veja os seguintes exemplos:
EXEMPLOS
(1) A Criança esperta sempre fala a verdade.
(2) Eu comprei uma casa parecida com a que você possui.
(3) Ela doou brinquedos a meninos carentes.
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Sem esse conhecimento – que é simples – você jamais será capaz de entender crase! Te-
mos um defeito: quando estamos diante de uma questão sobre crase, o nosso hábito nos faz
olhar para o acento grave, o que é um erro! O acento é uma mera consequência! O que preci-
samos saber é investigar as causas que proporcionam (ou não) a ocorrência do acento! Você
está preparado(a) para isso?
Para facilitar nosso aprendizado, dividi o estudo da crase em três casos:
1. Preposição (por regência9) + artigo;
2. Preposição (por regência) + pronome;
3. Locuções femininas.
Chegou a hora! Sei que, ao fim deste PDF, você estará pronto para acertar muitas questões
sobre esse assunto!
9
A preposição por regência ocorre quando um vocábulo (que pode ser um verbo, um substantivo, um adjetivo ou um advér-
bio) exige a presença de uma preposição para introduzir o seu complemento. É importante que você tenha duas informa-
ções claras:
• Nem toda preposição é exigida (nas locuções, por exemplo);
• Não só o verbo exige preposição.
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No trecho, o substantivo “restrições” exige a presença da preposição “a” para introduzir o seu
complemento, e o substantivo “transformações”, por ser feminino e plural, admite a ocorrência
do artigo “as”.
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O vocábulo “prestados” exige a presença da preposição “a” para introduzir o seu complemen-
to. Por isso, retirar o acento grave significa abrir mão da preposição e manter apenas o artigo
“as”, o que é um equívoco gramatical. Portanto, entendemos que a crase, no primeiro caso, é
obrigatória. No segundo caso, o substantivo “saúde” faculta a ocorrência do artigo “a”. Como o
artigo e a preposição apresentam a mesma grafia, é possível afirmar que o emprego do acento
grave é facultativo.
Errado.
025. (2011/CESPE/TCDF) fim da Idade Média, no século XV, e o ressurgimento das cidades, no
período renascentista, representaram profundas mudanças para a sociedade da época, mas,
do ponto de vista político, assistiu-se a uma concentração ainda maior do poder nas mãos dos
soberanos, reis absolutos, que, sob o peso de sua autoridade, unificaram os diversos feudos
e formaram vários dos Estados modernos que hoje conhecemos. Exceção a essa regra foi a
Inglaterra, onde, já em 1215, o poder do rei passou a ser um tanto limitado pelos nobres, que o
obrigaram a pedir autorização a um conselho constituído por vinte e cinco barões para aumen-
tar os impostos.
No trecho “Exceção a essa regra”, é opcional o emprego do sinal indicativo de crase no “a”.
O vocábulo “exceção” exige a presença da preposição “a”, mas a expressão “essa regra” rejeita
a ocorrência de artigo.
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No texto original, perceba que foi empregada a preposição “a” (exigência de “vulnerável”) e o
artigo “as” (porque “mudanças” é um substantivo feminino e plural). O que a questão quer sa-
ber é se o artigo é facultativo. Veja comigo o teste do sujeito:
• Mudanças climáticas ocorreram. (oração aceitável)
• As mudanças climáticas ocorreram. (oração aceitável)
Notamos, portanto, que o emprego do artigo antes de “mudanças climáticas” é gramaticalmen-
te facultativo. Portanto, é correto usar tem-se mostrado cada vez mais vulnerável às mudan-
ças climáticas (preposição+artigo) ou tem-se mostrado cada vez mais vulnerável a mudanças
climáticas (só preposição).
Errado.
EXEMPLO
(2) Eu comprei uma casa parecida com a que você possui.
Como você pode constatar, há uma preposição “com”, exigida pelo adjetivo “parecida” e um
pronome demonstrativo substantivo “a”, usado para retomar “casa”.
Agora, o que aconteceria se trocássemos o adjetivo “parecida” por diferente?
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Cuidado para não confundir os casos! No caso 1, o fenômeno da crase ocorre em função
da preposição com o artigo feminino e, por isso, não há a possibilidade de se empregar o acen-
to grave antes de palavra masculina. No caso 2, a fusão ocorre entre a preposição a e aquele
(esta palavra se inicia com o mesmo som da preposição). Agora você entende por que é im-
portante entender o que é o fenômeno da crase? Você domina a lógica do processo, e não uma
mera memorização de formas.
Há ainda também o caso de fusão da preposição a com os pronomes relativos a qual e as
quais. Mas falaremos melhor sobre isso no próximo PDF, que é quando vou te explicar detalha-
damente o que é um pronome relativo!
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Pela construção textual, percebemos que a crase ocorre em função da fusão entre preposição
(exigida por “semelhante”) e pronome demonstrativo (que retoma “configuração territorial).
Certo.
028. (2013/CESPE/MME) Suas turbinas produzem entre 90 e 94-95 milhões de MWh, anual-
mente, uma oferta de energia superior à que vem conseguindo a hidrelétrica chinesa de Três
Gargantas.
Em “superior à que vem conseguindo”, o elemento “à” está acentuado em razão de sua subor-
dinação sintática à forma verbal “vem conseguindo”.
Quando a questão cita que o sinal indicativo de crase foi empregado em razão da “subordi-
nação sintática à forma verbal ‘vem conseguindo’”, ela quer dizer que “vem conseguindo é
responsável por exigir a preposição! Todavia, a crase foi empregada porque “superior” exige a
preposição a e o pronome demonstrativo a retoma o termo “oferta”.
Errado.
Locuções Femininas
Compare comigo as seguintes construções:
EXEMPLOS
(4) Ele vendeu o prazo.
(5) Ele vendeu a prazo.
Você reconhece a diferença de sentido entre elas, certo? Em 4, entende-se que o prazo foi
vendido (o objeto da venda); em 5, “a prazo” é o modo como a venda foi feita. Em 4, o verbo
“vendeu” é transitivo direto; em 5, é intransitivo. Se levarmos em consideração a análise mor-
fossintática, sabemos que “o prazo” é objeto direto, formado por artigo+substantivo, ao passo
que “a prazo” é um adjunto adverbial de modo (sintaxe), uma locução adverbial (morfologia)
formada por preposição+substantivo.
Agora, veja a próxima oração:
EXEMPLO
(6) Ele vendeu a vista.
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Eu te pergunto: a vista foi vendida ou diz respeito à modalidade de venda? Melhor dizendo:
O vocábulo “a” é uma preposição ou artigo? Temos uma certeza: a oração 6 está ambígua! Mas
há uma forma de resolver o problema:
• Ele vendeu a vista. (“a vista” foi vendida=OD)
• Ele vendeu à vista. (“à vista” é o modo de venda=locução adverbial de modo).
A inserção do acento grave é necessária para desfazer o duplo sentido – que pode ocorrer
quando o núcleo da locução for feminino. Mas concorda comigo que seria muito mais compli-
cado ter de ler a oração, analisar se há ambiguidade para decidir sobre o emprego do acento
grave? Por isso, a gramática definiu que, em casos de locuções (adjetivas, adverbiais, preposi-
tivas ou conjuntivas) com núcleo feminino, o emprego da crase é obrigatório!
Vamos ver casos em que isso ocorre:
EXEMPLOS
(7) À noite, Maria ainda trabalhava.
(8) O marido preparou um jantar à luz de velas.
(9) Bolt estava à frente dos demais corredores.
(10) À medida que estudamos, aprendemos mais.
029. (2014/IADES/SEAP-DF) Nas passagens “Eu era ligado à MPB de Caetano”, “Depois que
Renato Russo veio à redação do Correio” e “À época, a Plebe era a mais falada.”, o emprego
da crase é
a) obrigatório nas três situações.
b) facultativo nas três situações.
c) obrigatório nas duas primeiras situações e facultativo na terceira.
d) obrigatório apenas na segunda situação e facultativo nas demais.
e) proibido apenas na primeira situação.
As duas primeiras orações estão ligadas ao caso 1 de crase: “ligado” exige a preposição a e
“MPB de Caetano” obriga a presença do artigo a; “veio” exige a preposição a e “redação
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do correio” obriga a presença do artigo a. Na última, temos um caso de locução com núcleo
feminino (por isso, o emprego da crase é obrigatório)! “Á época” indica quando a Plebe era a
mais falada!
Letra a.
EXEMPLO
(11) Comi um camarão à Rio de Janeiro.
A expressão “à Rio de Janeiro” é uma locução adjetiva que caracteriza o substantivo “ca-
marão”. Sei que “Rio de Janeiro” é masculino, mas temos implícita a expressão à moda do. Por
isso, a crase passa a ser obrigatória!
Veja mais um:
EXEMPLO
(12) Ele só se veste à Clodovil!
“À Clodovil” é uma locução adverbial que indica modo. “Clodovil” é um substantivo mascu-
lino, mas temos implícita a expressão a maneira de. A crase é, novamente, obrigatória!
DICA
Só se tem as expressões a moda de ou a maneira de implícitas
quando, na locução, há nomes de pessoas ou lugares, pois a
ideia é transmitir que algo é feito conforme o estilo de alguém
ou de alguma região. Por isso, em “comi um frango a passari-
nho”, não há crase, pois passarinho não é pessoa ou lugar. “a
passarinho” é uma locução adjetiva com núcleo masculino e
dispensa o uso do artigo.
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Essa questão envolve paralelismo sintático. Veja que a expressão “de quarta-feira a domingo”
é única, não divisível (não há sentido usar só “de quarta-feira”, por exemplo). O paralelismo sig-
nifica dar tratamento igualitário a formas coordenadas ou correlatas. Na prática é muito mais
fácil! Se “quarta-feira” recebeu apenas preposição, “domingo” só pode receber apenas preposi-
ção; Se “8h” recebeu preposição+artigo, “14h” deve receber preposição mais artigo!
Letra a.
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1º – encontrar o termo que pede a preposição “a” (pode ser substantivo, verbo,
adjetivo ou advérbio)
CASO 1
2º – analisar se o artigo é PROIBIDO, OBRIGATÓRIO ou FACULTATIVO (fazer o
teste do sujeito).
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Mas é preciso que você tenha paciência e dedicação. Dos casos apresentados, o mais cobrado
em provas é o primeiro. Você deve dominá-lo bem!
Lembre-se ainda de que, abaixo, você também encontrará questões sobre as funções do
QUE. Se você tiver dúvidas nelas, visite o PDF anterior!
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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (2017/AOCP/CODEM-PA/ADVOGADO)
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tem, e maior a frequência com que ela posta, mais narcisista tende a ser – e maior a chance de
fazer comentários agressivos.
Esse último resultado é bem surpreendente, porque é contraintuitivo. Ora, uma pessoa que
tem muitos amigos supostamente os conquistou adotando comportamentos positivos, como
modéstia e empatia. O estudo mostra que, no Facebook, tende a ser justamente o contrário.
Adaptado de Superinteressante. Disponível em:
http://super.abril. com.br/tecnologia/o-lado-negro-do-facebook/
O termo destacado em “uma de suas hipóteses é a chamada inveja subliminar, que surge sem
que a gente perceba conscientemente”, no contexto, é
a) partícula expletiva.
b) conjunção integrante.
c) conjunção subordinativa causal.
d) conjunção subordinativa consecutiva.
e) pronome relativo.
Estabelecer pontes entre a ciência e a arte não é tarefa fácil. Se a revolução científica,
com sua valorização da metodologia experimental e sua necessidade de rigor, trouxe avanços
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inegáveis para a humanidade, por outro lado também tornou o trabalho científico distante do
homem comum. Com isso, distanciou-o também da arte, que talhada para captar a essência
humana, o faz de maneira basicamente intuitiva. Tentativas de reaproximação até existem,
mas a inconstância e variabilidade no seu sucesso atestam a dificuldade da empreitada. Um
dos diálogos mais interessantes entre ciência e arte se deu nas primeiras décadas do século
20, na relação entre o surrealismo e a psicanálise.
Os sonhos eram considerados proféticos e reveladores, até que, em 1899, Sigmund Freud
apresentou uma das primeiras tentativas de interpretá-los cientificamente no livro A Interpre-
tação dos Sonhos.Simplificando bastante, sonhos seriam um momento em que conteúdos
inconscientes surgiriam para nós, ainda que disfarçados, e caberia à psicanálise desmascarar
seu real significado.
O movimento artístico do surrealismo imediatamente se apropriou dessas teorias. Os sur-
realistas já nutriam um interesse especial pelo inconsciente, tentando retratar esses conteú-
dos em suas obras, mas após a tradução do livro de Freud para o espanhol, o pintor catalão
Salvador Dalí tornou-se um dos maiores entusiastas da obra freudiana. Segundo ele mesmo, o
objetivo de sua pintura era materializar as imagens de sua “irracionalidade concreta”.
Desde que se tornou fã declarado do médico austríaco, Dalí tentou se encontrar com ele.
Tanto insistiu que conseguiu, quando Freud já estava idoso e bastante doente. A reunião não
foi das mais frutíferas, já que os dois eram incapazes de conversar: Dalí não falava alemão
nem inglês, e Freud, além do câncer de mandíbula, não estava ouvindo bem. A interação ficou
limitada: Freud analisou um quadro recente de Dalí, enquanto esse passava o tempo desenhan-
do o psicanalista e o observava a conversar com o amigo e escritor Stephan Zweig.
O resultado tímido do encontro poderia bem ser emblemático da complicada engenharia
que é construir pontes entre tão distantes universos. As conversas nem sempre são frutífe-
ras, as trocas muitas vezes são frustrantes. Mas a retomada desse episódio na peça Histeria,
do dramaturgo Terry Johnson, mostra que não desistimos, e que novas maneiras podem ser
tentadas. Usando a liberdade que só se encontra na arte, Johnson expande o diálogo que não
aconteceu, mostrando – ainda que numa realidade alternativa e em chave cômica – que os
caminhos que ligam arte e ciência podem ser acidentados, mas não deixam de ser possíveis.
Embora a psicanálise não seja mais considerada científica pelos critérios atuais e o surrea-
lismo já não exista como movimento organizado, o encontro dessas duas formas de saber,
no alvorecer do século 20, persiste como emblema de um diálogo que, mesmo que cheio de
ruídos, não pode ser abandonado.
Adaptado de: http://m.cultura.estadao.com.br/noticias/teatro-e-danca,analise-o-dificil--maspossivel--dialogo-en-
tre-a-arte-e-a-ciencia,10000048930 Acesso em 17 de maio de 2016.
Assinale a alternativa em que o “que” destacado possui a mesma função exercida pelo “que”
presente em: “[...] distanciou-o também da arte, que talhada para captar a essência humana, o
faz de maneira basicamente intuitiva.”.
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a) “Os sonhos eram considerados proféticos e reveladores, até que, em 1899, Sigmund Freud
apresentou uma das primeiras tentativas de interpretá-los cientificamente [...]”.
b) “Tanto insistiu que conseguiu [...]”.
c) “A reunião não foi das mais frutíferas, já que os dois eram incapazes de conversar [...]”.
d) “[...] a retomada desse episódio na peça Histeria, do dramaturgo Terry Johnson, mostra que
não desistimos [...]”.
e) “[...] Johnson expande o diálogo que não aconteceu [...]”.
Perdoar e esquecer
Quando a vida se transforma num tango, é difícil não dançar ao ritmo do rancor
Ivan Martins
Hoje tomei café da manhã num lugar em que Carlos Gardel costumava encontrar seus par-
ceiros musicais por volta de 1912. É um bar simples, na esquina da rua Moreno com a avenida
Entre Rios, chamado apropriadamente El Encuentro.
Nunca fui fã aplicado de tango, mas cresci ouvindo aqueles que a minha mãe cantava
enquanto se movia pela casa. Os versos incandescentes flutuam na memória e ainda me emo-
cionam. Soprado pelo fantasma de Gardel, um deles me veio aos lábios enquanto eu tomava
café no El Encuentro: “Rechiflado en mi tristeza, te evoco y veo que has sido...”
Vocês conhecem Mano a mano, não?
Essencialmente, é um homem falando com a mulher que ele ama e que parece tê-lo tro-
cado por uma vida melhor. Lembra, em espírito, o samba Quem te viu, quem te vê, do Chico
Buarque, mas o poema de Gardel é mais ácido e rancoroso. Paradoxalmente, mais sutil. Não se
sabe se o sujeito está fazendo ironia ou se em meio a tantas pragas ele tem algum sentimento
generoso em relação à ex-amante. Nisso reside o apelo eterno e universal de Mano a mano –
não é assim, partido por sentimentos contraditórios, que a gente se sente em relação a quem
não nos quer mais?
Num dia em que estamos solitários, temos raiva e despeito de quem nos deixou. No outro
dia, contentes e acompanhados, quase torcemos para que seja feliz. O problema não parece
residir no que sentimos pelo outro, mas como nos sentimos em relação a nós mesmos. Por
importante que tenha sido, por importante que ainda seja, a outra pessoa é só um espelho no
qual projetamos nossos sentimentos – e eles variam como os sete passos do tango. Às vezes
avançam, em outras retrocedem. Quando a gente acha que encontrou o equilíbrio, há um giro
inesperado.
Por isso as ambiguidades de Mano a mano nos pegam pelas entranhas. É difícil deixar para
trás o sentimento de abandono e suas volúpias. É impossível não dançar ao ritmo do rancor.
Há uma força enorme na generosidade, mas para muitos ela é inalcançável. Apenas as pessoas
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que gostam muito de si mesmas são capazes de desejar o bem do outro em circunstâncias
difíceis. A maioria de nós precisa ser amada novamente antes de conceder a quem nos deixou
o direito de ser feliz. Por isso procuramos com tanto afinco um novo amor. É um jeito de dar e
de encontrar paz.
No último ano, tenho ouvido repetidamente uma frase que vocês já devem ter escutado:
Não se procura um novo amor, a gente simplesmente o encontra. O paradoxo é bonito, mas me
parece discutível. Supõe que o amor é tão acidental quanto um tropeção na calçada. Eu não
acho que seja. Imagina que a vontade de achar destrói a possibilidade de encontrar. Isso me
parece superstição. Implica em dizer que se você ficar parado ou parada as coisas virão bater
na sua porta. Duvido. O que está embutido na frase e me parece verdadeiro é que não adianta
procurar se você não está pronto – mas como saber sem procurar, achar e descobrir que não
estava pronto?
É inevitável que a gente cometa equívocos quando a vida vira um tango. Nossa carência
nos empurra na direção dos outros, e não há nada de errado nisso. É assim que descobrimos
gente que será ou não parte da nossa vida. Às vezes quebramos a cara e magoamos os outros.
O tango prossegue. O importante é sentir que gostam de nós, e que nós somos capazes de
gostar de novo. Isso nos solta das garras do rancor. Permite olhar para trás com generosida-
de e para o futuro com esperança. Não significa que já fizemos a curva, mas sugere que não
estamos apenas resmungando contra a possibilidade de que o outro esteja amando. Quando
a gente está tentando ativamente ser feliz, não pensa muito no outro. Esse é o primeiro passo
para superar. Ou perdoar, como costuma ser o caso. Ou esquecer, como é ainda melhor.
No primeiro verso de Mano a mano, Gardel lança sobre a antiga amante a maldição terrível
de que ela nunca mais voltará a amar. Mas, ao final da música, rendido a bons sentimentos,
oferece ajuda e conselhos de amigo, quando chegar a ocasião. Acho que isso é o melhor que
podemos esperar de nós mesmos. Torcer mesquinhamente para jamais sermos substituídos
- mas estarmos prontos para aceitar e amparar quando isso finalmente, inevitavelmente, dolo-
rosamente, vier a acontecer.
(Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2016/01/perdoar-e-esquecer.html)
No que se refere às regras de colocação pronominal, assinale a alternativa em que NÃO é per-
mitida a mudança do posicionamento do pronome oblíquo em destaque para depois do verbo.
a) “um deles me veio aos lábios”.
b) “mas me parece discutível”.
c) “Nossa carência nos empurra na direção dos outros”.
d) “a gente se sente em relação”.
e) Isso nos solta das garras do rancor”.
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a) sujeito.
b) objeto direto.
c) complemento nominal.
d) objeto indireto.
e) vocativo.
Abandonar um texto logo nas primeiras linhas é um direito inalienável de qualquer leitor.
Talvez você nem esteja lendo esta linha: ao ver que a primeira frase deste texto era uma
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obviedade, nada mais natural do que clicar em outra aba do navegador e conferir a tabela da
copa. Ou talvez você tenha perseverado e seguido até aqui. Mesmo assim eu não comemora-
ria. É muito provável que você desista agora. A passagem para o segundo parágrafo é o que
separa os fortes dos fracos.
A internet é um enorme banquete de informações, mas estamos todos fartos. Não aguen-
tamos mais do que as duas ou três primeiras garfadas de cada prato. Ler um texto até as
últimas linhas é uma arte perdida. No passado, quem desejasse esconder um segredo num
texto precisava criar códigos sofisticados de linguagem para que só os iniciados decifrassem
o enigma. Hoje a vida ficou mais fácil. Quer preservar um segredo? Esconda-o na última frase
de um texto – esse território selvagem, raramente explorado.
Lembro-me que, no Enem do ano retrasado, um aluno escreveu um trecho do hino de seu
time favorito no meio da redação. Tirou a nota 500 (de 1000), foi descoberto pela imprensa e vi-
rou motivo de chacota nacional. Era um mau aluno, claro. Se fosse mais estudioso, teria apren-
dido que o fim da redação é o melhor lugar para escrever impunemente uma frase de um hino
de futebol. Se fizesse isso, provavelmente tiraria a nota máxima e jamais seria descoberto.
Agora que perdi a atenção da enorme maioria dos leitores à exceção de amigos muito
próximos e parentes de primeiro grau, posso ir direto ao que interessa. Quem acompanhou as
redes sociais na semana passada deve ter notado uma enorme confusão causada pelo hábito
de abandonar um texto antes do fim. Resumindo a história: um jornalista publicou uma colu-
na em que narrava uma longa entrevista com Felipão num avião. A notícia repercutiu e virou
manchete em outros sites, até que alguém notou que o entrevistado não era Felipão, mas sim
um sósia dele. Os sites divulgaram erratas e a história virou piada. No meio de todo o barulho,
porém, alguns abnegados decidiram ler o texto com atenção até o fim. Encontraram lá um pa-
rágrafo enigmático. Ao final da entrevista, o suposto Felipão entregava ao jornalista um cartão
de visitas. No cartão estavam os dizeres “Vladimir Palomo – Sósia de Felipão – Eventos”. A
multidão que ria do engano do jornalista o fazia sem ler esse trecho.
Teria sido tudo uma sacada genial do jornalista, que conseguiu pregar uma peça em seus
colegas e em milhares de leitores que não leram seu texto até o fim? Estaria ele rindo sozinho,
em silêncio, de todos aqueles que não entenderam sua piada?
A explicação, infelizmente, era mais simples. Numa entrevista, o jornalista confirmou que
acreditava mesmo ter entrevistado o verdadeiro Felipão, e que o cartão de visitas do sósia ti-
nha sido apenas uma brincadeira do original.
A polêmica estava resolvida. Mas, se eu pudesse escolher, preferiria não ler essa história
até o fim. Inventaria outro desenlace para ela. Trocaria o inexplicável mal-entendido da realida-
de por uma ficção em que um autor maquiavélico consegue enganar uma multidão de leitores
desatentos. Ou por outra ficção, ainda mais insólita, em que o texto revelava que o entrevistado
era um sósia, mas o autor não saberia disso porque não teria lido a própria obra até o final.
Seria um obituário perfeito para a leitura em tempos de déficit de atenção.
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Se você chegou ao último parágrafo deste texto, você é uma aberração estatística. Estudos
sobre hábitos de leitura demonstram claramente que até meus pais teriam desistido de ler há
pelo menos dois parágrafos. Estamos sozinhos agora, eu e você. Talvez você se considere um
ser fora de moda. Na era de distração generalizada, é preciso ser um pouco antiquado para
perseverar na leitura. Imagino que você já tenha pensado em desistir desse estranho hábito
e começar a ler apenas as primeiras linhas, como fazem as pessoas ao seu redor. O tempo
economizado seria devidamente investido em atividades mais saudáveis, como o Facebook ou
games para celular. Aproveito estas últimas linhas, que só você está lendo, para tentar te con-
vencer do contrário. Esqueça a modernidade. Quando o assunto é leitura, não há nada melhor
do que estar fora de moda. A história está repleta de textos cheios de sabedoria, que merecem
ser lidos do começo ao fim. Este, evidentemente, não é um deles. Mas seu esforço um dia será
recompensado. Não desanime, leitor. As tuas glórias vêm do passado.
(http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/danilo-venticinque/noticia/2014/06/arte-perdida-de-bler-um-texto-a-
teo-fimb.html)
No trecho “um jornalista publicou uma coluna em que narrava uma longa entrevista com Feli-
pão num avião.”, o termo em destaque pode ser substituído, sem mudança do sentido, por
a) da qual.
b) na qual.
c) onde.
d) de quem.
e) pela qual.
Ambiental - Biologia
A felicidade é deprimente
Contardo Calligaris
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Em 1859, Baudelaire escrevia à sua mãe: “O que sinto é um imenso desânimo, uma sensa-
ção de isolamento insuportável, o medo constante de um vago infortúnio, uma desconfiança
completa de minhas próprias forças, uma ausência total de desejos, uma impossibilidade de
encontrar uma diversão qualquer”.
Agora, Baudelaire poderia procurar alívio nas drogas, mas ele e seus contemporâneos não
teriam trocado sua infelicidade pelo sorriso estereotipado das nossas fotos das férias. Para
um romântico, a felicidade contente era quase sempre a marca de um espírito simplório e de-
sinteressante.
Enfim, diferente dos românticos, o deprimido contemporâneo não curte sua fossa: ao con-
trário, ele quer se desfazer desse afeto, que não lhe parece ter um grande charme.
Alguns suspeitam que a depressão contemporânea seja uma invenção. Uma vez achado
um remédio possível, sempre é preciso propagandear o transtorno que o tal remédio poderia
curar. Nessa ótica, a depressão é um mercado maravilhoso, pois o transtorno é fácil de ser
confundido com estados de espírito muito comuns: a simples tristeza, o sentimento de inade-
quação, um luto que dura um pouco mais do que desejaríamos etc.
De qualquer forma, o extraordinário sucesso da depressão e dos antidepressivos não
existiria se nossa cultura não atribuísse um valor especial à felicidade (da qual a depressão
nos privaria). Ou seja, ficamos tristes de estarmos tristes porque gostaríamos muito de ser-
mos felizes.
Coexistem, na nossa época, dois fenômenos aparentemente contraditórios: a depressão e
a valorização da felicidade. Será que nossa tristeza, então, não poderia ser um efeito do valor
excessivo que atribuímos à felicidade? Quem sabe a tristeza contemporânea seja uma espécie
de decepção.
Em agosto de 2011, I. B. Mauss e outros publicaram em “Emotion” uma pesquisa com
o título: “Será que a procura da felicidade faz as pessoas infelizes?”. Eles recorreram a uma
medida da valorização da felicidade pelos indivíduos e, em pesquisas com duas amostras
de mulheres (uma que valorizava mais a felicidade e a outra, menos), comprovaram o óbvio:
sobretudo em situações positivas (por exemplo, diante de boas notícias), as pessoas que per-
seguem a felicidade ficam sempre particularmente decepcionadas.
Numa das pesquisas, eles induziram a valorização da felicidade: manipularam uma das
amostras propondo a leitura de um falso artigo de jornal anunciando que a felicidade cura o
câncer, faz viver mais tempo, aumenta a potência sexual – em suma, todas as trivialidades
nunca comprovadas, mas que povoam as páginas da grande imprensa.
Depois disso, diante de boas notícias, as mulheres que tinham lido o artigo ficaram bem
menos felizes do que as que não tinham sido induzidas a valorizar especialmente a felicidade.
Conclusão: na população em geral, a valorização cultural da felicidade pode ser con-
traprodutiva.
Mais recentemente, duas pesquisas foram muito além e mostraram que a valorização da
felicidade pode ser causa de verdadeiros transtornos. A primeira, de B. Q. Ford e outros, no
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“Journal of Social and Clinical Psychology”, descobriu que a procura desesperada da felicidade
constitui um fator de risco para sintomas e diagnósticos de depressão.
A pesquisa conclui que o valor cultural atribuído à felicidade leva a consequências sérias
em saúde mental. Uma grande valorização da felicidade, no contexto do Ocidente, é um com-
ponente da depressão. E uma intervenção cognitiva que diminua o valor atribuído à felicidade
poderia melhorar o desfecho de uma depressão. Ou seja, o que escrevo regularmente contra o
ideal de felicidade talvez melhore o humor de alguém. Fico feliz.
Enfim, em 2015, uma pesquisa de Ford, Mauss e Gruber, em “Emotion”, mostra que a valo-
rização da felicidade é relacionada ao risco e ao diagnóstico de transtorno bipolar. Conclusão:
cuidado, nossos ideais emocionais (tipo: o ideal de sermos felizes) têm uma função crítica na
nossa saúde mental.
Como escreveu o grande John Stuart Mill, em 1873: Só são felizes os que perseguem outra
coisa do que sua própria felicidade.
Adaptado de: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2015/10/1699663-a-felicidade-
-edeprimente.shtml Acesso em 10 de março de 2016.
Considerando o período “as pessoas que perseguem a felicidade ficam sempre particularmen-
te decepcionadas”, em qual das sentenças a seguir identifica-se sublinhado um termo que
apresenta a mesma função do termo destacado?
a) “Alguns suspeitam que a depressão contemporânea seja uma invenção.”
b) “[...] as mulheres que tinham lido o artigo ficaram bem menos felizes [...]”
c) “[...] duas pesquisas foram muito além e mostraram que a valorização da felicidade pode ser
causa de verdadeiros transtornos.”
d) “A pesquisa conclui que o valor cultural atribuído à felicidade leva a consequências sérias
em saúde mental.”
e) “[...] em 2015, uma pesquisa de Ford, Mauss e Gruber, em ‘Emotion’, mostra que a valoriza-
ção da felicidade é relacionada ao risco e ao diagnóstico de transtorno bipolar.”
Segundo pesquisa, 71,2% dos entrevistados pelo IBGE haviam se consultado com um mé-
dico pelo menos uma vez no último ano. Entre elas, o índice foi de 78% - contra 63,9% deles.
As mulheres brasileiras vão mais ao médico do que os homens. É o que mostra uma pesqui-
sa divulgada nesta terça-feira, realizada em conjunto entre o Ministério da Saúde e o IBGE. A
publicação revelou que 71,2% dos entrevistados haviam se consultado pelo menos uma vez
nos 12 meses anteriores à entrevista. Entre as mulheres, o índice foi de 78%, contra 63,9%
dos homens.
Elas também são mais aplicadas nos cuidados com os dentes: 47,3% das brasileiras dis-
seram terem ido ao dentista uma vez nos 12 meses anteriores, ante 41,3% dos homens. A
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diferença também aparece na questão da higiene bucal: 91,5% do público feminino pesquisa-
do respondeu que escova os dentes duas vezes ao dia, ao passo que a taxa foi de 86,5% no
masculino.
A pesquisa também investigou o atendimento nos serviços de saúde, público e privado. De
acordo com os resultados, 71% da população brasileira procura estabelecimentos públicos de
saúde para atendimento. Destes, 47,9% afirmaram que utilizam as Unidades Básicas de Saúde
como principal porta de entrada para atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS).
Além disso, o levantamento mostrou ainda que os serviços públicos mais procurados de-
pois das Unidades Básicas de Saúde são os de emergência, como as Unidades de Pronto Aten-
dimento Público - com 11,3% da população - e hospitais e serviços especializados como ambu-
latórios, com 10,1% da população. Já os consultórios e clínicas particulares atraem 20,6% dos
brasileiros e as emergências privadas são procuradas por 4,9% deles.
A Pesquisa Nacional de Saúde coletou informações em 64 000 residências brasileiras em
1 600 municípios entre agosto de 2013 e fevereiro de 2014.
(Com Estadão Conteúdo) Adaptado de: < http://veja.abril.com.br/noticia/ saude/mulheres-
cuidam-mais-da-saude-do-que-homens> Acesso em 06 jun. 2015.
No excerto “[...] 71,2% dos entrevistados haviam se consultado pelo menos uma vez nos 12
meses anteriores à entrevista [...]”, o acento grave foi utilizado
a) inadequadamente, pois a palavra “anteriores” está no plural.
b) para indicar a contração da preposição “a” com o artigo “a”.
c) para mostrar que o “a” é uma palavra tônica.
d) inadequadamente, pois o correto seria “ao”.
e) para indicar que a palavra tem timbre aberto.
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Tránsito López, funciona como um guia de saúde, apresentando dezenas de alimentos que
podem ser grandes aliados na prevenção contra o câncer. Todos os alimentos podem ser facil-
mente introduzidos ao cardápio diário.
O livro também orienta sobre o preparo dos alimentos e a quantidade consumida. Esti-
mase, por exemplo, que pessoas com 13 quilos a mais passam a ter mais predisposição ao
câncer, principalmente o de mama e de útero. Isso porque o excesso de tecido adiposo pode
alterar os níveis de hormônios sexuais, desencadeando, portanto, o surgimento das doenças.
Mas atenção: frente a qualquer suspeita da doença, é fundamental ter a orientação médi-
ca. Algumas substâncias anticâncer podem fazer mal em determinadas situações. Tomese
como exemplo, o chá verde. A bebida é um potente antioxidante, mecanismo associado ao
câncer. No entanto, ela é contraindicada para grávidas e pessoas com problemas de epilepsia,
úlcera gastroduodenal, insônia e alterações cardiovasculares graves.
Tomate
Rico em licopeno, a substância responsável pela sua cor avermelhada, o tomate tem inten-
so efeito contra o câncer, inibindo a proliferação das células cancerígenas. Estudos mostraram
que o consumo frequente de tomate – fresco ou cozido – é um grande aliado, sobretudo, con-
tra o câncer de próstata. Isso ocorre porque o licopeno protege as células da próstata contra
oxidação e o crescimento anormal – duas características dos tumores malignos.
Alho
Estudos científicos mostraram que o consumo de alho pode reduzir o risco de desenvolver
alguns tipos de câncer, como o de mama e o gástrico. Seus compostos fitoquímicos são capa-
zes de induzir a morte das células cancerígenas por meio de um processo de apoptose – elas
se suicidam – e, dessa forma, evitam a formação de um tumor.
Couve
A família das crucíferas (couve-flor, couve-manteiga, brócolis, repolho...) é uma das mais
conhecidas pelo seu potencial quimiopreventivo. Diversas pesquisas mostram que esses ve-
getais podem prevenir contra vários tipos de tumores, como de pulmão, de mama, de bexiga,
de próstata e do aparelho digestivo. O fato é que a família das crucíferas tem alta concentração
de glucosinalatos, compostos que, ao se romperem, dão lugar a isotiocianatos e indóis – nu-
trientes com propriedade protetora contra tumores.
Vitamina C
Presente em frutas, como laranja e limão, a vitamina c pode ser usada entre as pessoas
que já sofreram da doença e estão seguindo algum tipo de tratamento contra ela. Além disso,
estudos indicam que a vitamina c também ajuda na hora da prevenção. Seu efeito antioxidante
bloqueia a ação dos radicais livres, além de inibir a formação de nitrosaminas – substâncias
cancerígenas. “Esses alimentos podem proteger o organismo contra substâncias potencial-
mente tóxicas”, diz Paulo Hoff.
Chá verde
A grande quantidade de catequina, um fitonutriente do chá, proporciona grande atividade
antioxidante e ativadora do metabolismo. A catequina também apresenta atividade antiinflamatória
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e induz a morte de células cancerígenas. O ideal é que seja consumida uma xícara por dia na
forma de infusão. Mas atenção: o chá verde é contraindicado para grávidas e pessoas com
problemas de epilepsia, úlcera gastroduodenal, insônia e alterações cardiovasculares graves.
6. Uva
Para se proteger das agressões externas, as uvas produzem uma substância chamada
resveratrol, encontrada em suas sementes e pele. Pesquisas mostram que esse composto tem
propriedade antinutagênica, por isso previne contra o início do processo canceroso. É por esse
motivo que o vinho tinto também se torna um aliado. O consumo, porém, dever ser moderado.
A Organização Mundial da Saúde recomenda não mais do que uma taça para as mulheres e
duas para os homens, diariamente.
Adaptado de:<http://veja.abril.com.br/noticia/saudades/os-seis-alimentos-anticancer-que-não-podem-faltar-no-
seu-cardapio> Acesso em 06 jun. 2015
No excerto “Estima-se, por exemplo, que pessoas com 13 quilos a mais passam a ter mais
predisposição ao câncer, principalmente o de mama e de útero.”, se a palavra câncer fosse
substituída por uma palavra feminina, o termo em destaque deveria
a) ser grafado também no feminino, recebendo o acento grave: “à”.
b) ser grafado também no feminino, no entanto, sem receber o acento grave: “a”.
c) continuar sendo grafado no masculino: “ao”.
d) ser substituído pela preposição “em”.
e) ser substituído pela preposição “com”.
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DIREITO DO IDOSO
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d) “...e acreditam que um voto consciente agora pode influenciar futuramente na vida de seus
filhos e netos”.
e) “O idoso afirma que sempre incentivou sua família a votar”.
Alguns anos atrás, fui convidado para dar uma entrevista ao vivo para uma rádio AM de
Brasília. A entrevista foi marcada na estação rodoviária, bem na hora do rush, quando trabalha-
dores mais humildes estão voltando para suas casas na periferia. A ideia era que as pessoas
dessem uma parada e ouvissem o que eu dizia, possivelmente fazendo perguntas. O entrevis-
tador queria que falasse sobre a ciência do fim do mundo, dado que havia apenas publicado
meu livro “O Fim da Terra e do Céu”. O fim do mundo visto pela ciência pode ser abordado de
várias formas, desde as mais locais, como no furacão que causou verdadeira devastação nas
Filipinas, até as mais abstratas, como na especulação do futuro do universo como um todo.
O foco da entrevista eram cataclismos celestes e como inspiraram (e inspiram) tanto narra-
tivas religiosas quanto científicas. Por exemplo, no antigo testamento, no Livro de Daniel ou na
história de Sodoma e Gomorra, e no novo, no Apocalipse de João, em que estrelas caem dos
céus (chuva de meteoros), o Sol fica preto (eclipse total), rochas incandescentes caem sobre o
solo (explosão de meteoro ou de cometa na atmosfera) etc.
Mencionei como a queda de um asteroide de 10 quilômetros de diâmetro na península de
Yucatan, no México, iniciou o processo que culminou na extinção dos dinossauros 65 milhões
de anos atrás. Enfatizei que o evento mudou a história da vida na Terra, liberando os mamífe-
ros que então existiam -- de porte bem pequeno -- da pressão de seus predadores reptilianos,
e que estamos aqui por isso. O ponto é que a ciência moderna explica essas transformações
na Terra e na história da vida sem qualquer necessidade de intervenção divina. Os cataclismos
que definiram nossa história são, simplesmente, fenômenos naturais.
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Foi então que um homem, ainda cheio de graxa no rosto, de uniforme rasgado, levantou a
mão e disse: “Então o doutor quer tirar até Deus da gente?”
Congelei. O desespero na voz do homem era óbvio. Sentiu-se traído pelo conhecimento.
Sua fé era a única coisa a que se apegava, que o levava a retornar todos os dias àquela estação
e trabalhar por um mísero salário mínimo. Como que a ciência poderia ajudá-lo a lidar com
uma vida desprovida da mágica que fé no sobrenatural inspira?
Percebi a enorme distância entre o discurso da ciência e as necessidades da maioria das
pessoas; percebi que para tratar desse vão espiritual, temos que começar bem cedo, trazendo
o encantamento das descobertas científicas para as crianças, transferindo a paixão que as
pessoas devotam à sua fé para um encantamento com o mundo natural. Temos que ensinar a
dimensão espiritual da ciência -- não como algo sobrenatural -- mas como uma conexão com
algo maior do que somos. Temos que fazer da educação científica um processo de transfor-
mação, e não meramente informativo.
Respondi ao homem, explicando que a ciência não quer tirar Deus das pessoas, mesmo
que alguns cientistas queiram. Falei da paixão dos cientistas ao devotarem suas vidas a ex-
plorar os mistérios do desconhecido. O homem sorriu; acho que entendeu que existe algo em
comum entre sua fé e a paixão dos cientistas pelo mundo natural.
Após a entrevista, dei uma volta no lago Sul pensando em Einstein, que dizia que a ciência
era a verdadeira religião, uma devoção à natureza alimentada pelo encantamento com o mun-
do, que nos ensina uma profunda humildade perante sua grandeza.
Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloglei
ser/2013/11/1372253-a-ciencia-e-o-vazio-espiritual.shtml. Acesso
22nov2013.
Em “...que o levava a retornar todos os dias àquela estação...”, o emprego do sinal indicativo de
crase ocorre porque se trata de uma expressão de base nominal que funciona como
a) adjunto adverbial.
b) complemento nominal.
c) adjunto adnominal.
d) objeto indireto.
e) objeto direto.
Amores imperfeitos
A pessoa que você mais gosta é cheia de defeitos?
Existe uma explicação
Cristiane Segatto
1.§ Quantos dos seus amigos descrevem o parceiro (ou parceira) de uma forma estranha-
mente dúbia? A pessoa é o amor da vida dele e, ao mesmo, o ser que mais o incomoda. É uma
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reclamação tão corriqueira que começo a achar que estranha é a minoria que parece satisfeita
com o que tem em casa.
2.§ Tolerar os defeitos do companheiro e entender que, ao firmar uma parceria, compra-
mos um pacote completo (com tudo o que há de agradável e desagradável) parece, cada vez
mais, uma esquisita característica de uma subespécie em extinção.
3.§ O grupo majoritário parece ser o dos apaixonados intolerantes.
4.§ Há quem se dedique a tentar entendê-los. Li nesta semana uma reportagem interessan-
te sobre isso. Foi publicada na revista Scientific American Mind. É baseada no livro Annoying:
The Science of What Bugs Us (algo como Irritante: a ciência do que nos incomoda), dos jorna-
listas Joe Palca e Flora Lichtman.
5.§ Uma das pesquisadoras citadas é a socióloga Diane Felmlee, da Universidade da Ca-
lifórnia. Ela conta a história de uma amiga que vivia reclamando que o marido trabalhava de-
mais. Diane pediu que a mulher se lembrasse das qualidades que enxergava nele quando o
conheceu na universidade. A resposta foi sensacional: “A primeira coisa que chamou minha
atenção foi o fato de que ele era incrivelmente trabalhador. Logo percebi que se tornaria um
dos melhores alunos da classe”
6.§ Não é curioso? Por alguma razão, uma característica que é vista como uma qualidade
no início do relacionamento se torna, com o passar do tempo, um defeito. Exemplos disso es-
tão por toda parte. No início do namoro, o cara parece muito atraente porque é desencanado,
tranquilão. Não perde a chance de passar o dia de bermuda e chinelo, ouvindo música e be-
bendo com a namorada e os amigos. Quatro anos depois passa a ser visto pela amada como
um sujeito preguiçoso, acomodado, que não tem objetivos claros na vida e veio ao mundo
a passeio.
7.§ Em outra ocasião, a socióloga Diane perguntou a um garoto por que ele gostava da úl-
tima namorada. A resposta foi uma lista de várias partes do corpo da moça - incluindo as mais
íntimas. Quando a professora perguntou por que o relacionamento havia acabado, a justificati-
va foi: “Era uma relação baseada somente no desejo. Não havia amor suficiente.”
8.§ Uma aluna disse que se sentiu atraída pelo ex porque ele tinha um incrível senso de
humor. Algum tempo depois, passou a reclamar que “ele não levava nada a sério”. Nesse caso,
também, o que era qualidade virou defeito. Deve haver alguma explicação para isso. Nas últi-
mas décadas, Diane vem realizando estudos com casais para tentar entender o fenômeno que
ela chama de atrações fatais.
9.§ Ela observou que quanto mais acentuada é a qualidade reconhecida pelo parceiro no iní-
cio da relação, mais incômoda ela se torna ao longo dos anos. Até virar um traço insuportável.
10.§ Diane acredita que a explicação está relacionada à teoria da troca social. Essa teoria
parte do pressuposto de que as relações humanas são baseadas na escolha racional e na
análise de custo-benefício. Se os custos de um dos parceiros superam seus benefícios, a outra
parte pode vir a abandonar a relação, especialmente se houver boas alternativas disponíveis.
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“Traços extremos trazem recompensas, mas também têm custos associados a eles, principal-
mente numa relação”.
11.§ Um exemplo é a independência. Ela pode ser muito valorizada numa relação. Um ma-
rido independente é capaz de cuidar de si próprio. Mas se ele for independente demais, pode
significar que não precisa da mulher. Isso acarreta custos para a relação.
12.§ A receita para evitar que as relações naufraguem é a boa e (cada vez mais) escassa
tolerância. É preciso aprender a relativizar os hábitos irritantes para continuar convivendo com
uma pessoa que tem muitas outras qualidades.
13.§ Ninguém é totalmente desprovido de qualidades e defeitos. Temos os nossos, apren-
demos com eles e com os deles. Além de tolerância, precisamos exercitar a capacidade de
apoiar o parceiro quando as coisas vão mal e de celebrar quando ele tem alguma razão para
isso. Inventar programas novos e interessantes (zelar para que isso aconteça com frequência)
pode realçar as qualidades de quem você gosta e amenizar as características e manias irritan-
tes. Irritante por irritante somos todos. Mas também podemos ser incrivelmente interessantes.
Adaptado de http://revistaepoca.globo.com/Saude-e-bem-estar/ cristiane- segatto/noticia/2012/01/amores-im-
perfeitos.html em
01/12/2012
Monteiro Lobato?
Não com o nosso dinheiro
Leando Narloch
1.§ O movimento negro me odeia. Desde que mostrei, com o livro Guia do Politicamente
Incorreto da História do Brasil, que Zumbi mantinha escravos no Quilombo de Palmares, os
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ativistas das cotas não estão contentes comigo. Do lado de cá, eu também me irrito com boa
parte do que eles defendem. Mas, existe um ponto em que eu preciso concordar com eles: a
polêmica dos livros do Monteiro Lobato.
2.§ Se você acaba de despertar de um coma, o que aconteceu foi que, em 2010, o Conselho
Nacional de Educação decidiu impedir a distribuição do livro Caçadas de Pedrinho em bibliote-
cas públicas. Disseram que esse clássico da literatura infantil era racista por causa de frases
como “Tia Anastácia trepou que nem uma macaca de carvão” ou “Não vai escapar ninguém,
nem Tia Anastácia, que tem carne preta”. Muita gente esperneou contra a decisão, afirmando
que se tratava de um exagero, uma patrulha ideológica e um ato de censura contra um dos
maiores autores brasileiros.
3.§ É verdade que é preciso entender a época de Monteiro Lobato, quando o racismo era
regra não só entre brancos, mas mesmo entre africanos. Até Gandhi, o líder mundial do bom-
-mocismo, escreveu e repetiu frases igualmente racistas nos 20 e poucos anos que viveu na
África do Sul.
4.§ A questão, porém, é outra: o governo deve investir em obras que parecem preconceitu-
osas a parte da população? O Conselho Nacional de Educação não defendeu a proibição dos
livros de Monteiro Lobato: foi contra apenas a distribuição bancada pelo governo. Pois bem:
o Ministério da Educação deve gastar seu disputado dinheiro com esses livros? Eu acredi-
to que não.
5.§ Os negros que pagam impostos e os outros contribuintes que consideram Monteiro
Lobato racista não devem ser obrigados a bancar edições do escritor. É mais ou menos essa
a posição do economista Walter Williams, um dos principais intelectuais libertários dos EUA.
Defensor da ideia de que o Estado deve se meter o mínimo possível na vida, nas escolhas e no
bolso das pessoas, esse economista negro prega a liberdade de se fazer o que quiser desde
que isso não implique violência a terceiros. Se um grupo quiser, por exemplo, criar um clube de
tênis só para brancos, ou só para negros, tudo bem – desde que não use verba pública e não
tente proibir manifestações de repúdio. Se tiver verba pública, não pode discriminar.
6.§ Para libertários como Williams, ninguém, nem o governo, tem o direito de ameaçar ou
praticar violência contra indivíduos pacíficos. Não é correto ameaçar um indivíduo de prisão
por sonegação fiscal se ele não topar contribuir com essa ou aquela prática do governo. Um
grupo de políticos que defende uma guerra com o Iraque não deve obrigar os cidadãos a contri-
buir para essa guerra. Do mesmo modo, se uma turma acredita ter uma boa ideia ao criar uma
universidade, um estádio de futebol ou um festival de curtas-metragens, essa ideia deixa de ser
boa quando implica a ameaça contra aqueles que não querem contribuir.
7.§ Nada impede, é claro, que os autores dessas ideias tentem convencer as pessoas de
que seus projetos merecem contribuições. É o que fazem há séculos as melhores universida-
des americanas, as instituições de caridade, alguns tipos de fundos de investimento e, há pou-
cos anos, os sites de crowdfunding, o “financiamento coletivo”. Nada impede, também, que os
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026. (2013/AOCP/INES/ENFERMEIRO)
1.§ Muitos previram o fim do mundo nos últimos 200 anos. Thomas Malthus (1766-1834)
falava em risco de catástrofe humana. Para ele, como a população crescia em progressão
geométrica e a produção de alimentos em progressão aritmética, a fome se alastraria. Assim,
para controlar a expansão demográfica, Malthus defendia a abstinência sexual e a negação
de assistência à população em hospitais e asilos. O risco foi superado pela tecnologia, que
aumentou a produtividade agrícola.
2.§ Hoje, o alarmismo vem de ambientalistas radicais. A catástrofe decorreria do aque-
cimento global causado basicamente pelo homem, via emissões de dióxido de carbono. Em
2006, o governo britânico divulgou relatório de grande repercussão, preparado por sir Nicholas
Stern, assessor do primeiro-ministro Tony Blair. Stern buscava alertar os que reconheciam tal
aquecimento, mas julgavam que seria um desperdício enfrentá-lo. O relatório mereceu dura
resposta de Nigel Lawson, ex-ministro de Energia e da Fazenda de Margaret Thatcher, hoje no
grupo dos “céticos”, isto é, os que duvidam dos ambientalistas. No livro An Appeal to Reason
(2008), Lawson atribuiu objetivos políticos ao documento, que não teria mérito nas conclusões
nem nos argumentos.
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3.§ Lawson afirma que o aquecimento não tem aumentado desde a virada do século e que
são comuns oscilações da temperatura mundial. Há 400 anos, o esfriamento conhecido como
“pequena era do gelo” fazia o Rio Tâmisa congelar no inverno. Mil anos atrás, bem antes da
industrialização — que se diz ser a origem da mudança climática —, houve um “aquecimento
medieval”, com temperaturas tão altas quanto as atuais. “Muito antes, no Império Romano,
o mundo era provavelmente mais quente”, assinala. De fato, sempre me chamou atenção o
modo de vestir de gregos e romanos, que aparecem em roupas leves em pinturas da Grécia e
da Roma antigas. Nunca vi um deles metido em pesados agasalhos como os de hoje.
4.§ Entre Malthus e os ambientalistas, surgiram outros alarmistas. Em 1968, saiu o livro The
Population Bomb, do biologista americano Paul Ehrlich, no qual o autor sustentava que o ta-
manho excessivo da população constituiria ameaça à sobrevivência da humanidade e do meio
ambiente. Em 1972, o Clube de Roma propôs o “crescimento zero” como forma de enfrentar a
exaustão rápida de recursos naturais. Ehrlich defendia a redução do crescimento populacional;
o Clube de Roma, a paralisia do crescimento econômico. Nenhum dos dois estava certo.
5.§ Em artigo na última edição da revista Foreign Affairs, Bjom Lomborg, destacado “cético”,
prova o enorme fracasso das previsões catastróficas do Clube de Roma. Dizia-se que em uma
geração se esgotariam as reservas de alumínio, cobre, ouro, chumbo, mercúrio, molibdênio,
gás natural, petróleo, estanho, tungstênio e zinco. As de mercúrio, então sob forte demanda,
durariam apenas treze anos. Acontece que a inovação tecnológica permitiu substituir o mercú-
rio em baterias e outras aplicações. Seu consumo caiu 98%; o preço, 90%. As reservas dos de-
mais metais aumentaram e outras inovações reduziram sua demanda. O colapso não ocorreu.
6.§ Como o Clube de Roma pode ter errado tanto? Segundo Lomborg, seus membros des-
prezaram o talento e a engenhosidade do ser humano e “sua capacidade de descobrir e inovar”.
Se as sugestões tivessem sido acatadas, meio bilhão de chineses, indianos e outros teriam
continuado muito pobres. Lomborg poderia ter afirmado que o Brasil estaria mais desigual e
não haveria a ascensão da classe C.
7.§ Apesar de tais lições, volta-se a falar em limites físicos do planeta. Na linha do Clube
de Roma, defende-se o estancamento da expansão baseada no consumo de bens materiais.
Se fosse assim, inúmeros países seriam congelados em seu estado atual, sem poder reduzir a
pobreza nem promover o bem-estar.
8.§ Mesmo que o homem não seja a causa básica do aquecimento, é preciso não correr
riscos e apoiar medidas para conter as emissões. Mas também resistir a ideias de frear o con-
sumo. Além de injusta, a medida exigiria um impossível grau de coordenação e renúncia ou
um inconcebível comando autoritário. Desprezaria, ademais, a capacidade do homem de se
adaptar a novas e desafiantes situações.
Revista Veja, edição 2.285. p. 24.
Assinale a alternativa em que está adequada a passagem da voz passiva para a voz ativa da
construção “tivessem sido acatadas” (6.§)
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a) tinham acatado.
b) estivesse acatado.
c) tinha sido acatado.
d) tivessem acatado.
e) estivesse sido acatado.
Novo fôlego
Bernardo Esteves
1.° A disseminação das redes sociais e dos tablets tem ajudado a dar popularidade na in-
ternet a um gênero jornalístico que se consagrou no meio impresso: a grande reportagem. Es-
timulados pelo sucesso do formato, dois jornalistas britânicos resolveram lançar uma revista
dedicada a textos de fôlego sobre grandes questões de ciência e tecnologia.
2.° A nova onda de popularidade das grandes reportagens se explica em parte pela facilida-
de de leitura nos dispositivos móveis. Textos longos que não se deixam ler com facilidade no
computador agora podem ser salvos para serem lidos depois, com a ajuda de aplicativos como
o Read it Later. Assim, podem ser apreciados nas circunstâncias de preferência do leitor – na
cama, em sua poltrona favorita, numa viagem de avião.
3.° O jornalista Lewis Dvorkin atribui o interesse crescente pelos textos de fôlego ao declí-
nio dos grandes portais, que aconteceu em paralelo à ascensão das redes sociais. “Agora, as
notícias digitais estão nas mãos de cada um, e não de uma elite restrita”, escreveu ele no site
na Forbes. “O desenvolvimento de novas plataformas digitais e a fragmentação da audiência
formam uma combinação que está mudando dramaticamente a natureza do conteúdo que
está sendo distribuído através da web social.”
4.° ‘Recomendação’ é a palavra-chave da popularidade das grandes reportagens na inter-
net. Têm feito sucesso na rede agregadores que reúnem textos de fôlego de várias publicações
recomendados pelos leitores. [...]
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“O jornalista Lewis Dvorkin atribui o interesse crescente pelos textos de fôlego ao declínio dos
grandes portais, que aconteceu em paralelo à ascensão das redes sociais.”
O sinal indicativo de crase foi empregado para marcar a introdução de uma expressão que
funciona como
a) objeto indireto.
b) adjunto adverbial.
c) agente da passiva.
d) complemento nominal.
e) adjunto adnominal.
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I – O fragmento “minhas duas filhas estão se preparando” pode ser substituído por “estão
preparando-se”.
II – O fragmento “que se tratava de transposições” pode ser substituído por “se tratavam”.
III – O fragmento “Não vou me deter” pode ser substituído por “Não deter-me-ei”.
IV – A próclise, em “Aí tudo se torna” e “Já me deparei”, ocorre devido à presença de expres-
sões indefinidas.
Está(ão) correta(s)
a) apenas I.
b) apenas III.
c) apenas I e II.
d) apenas II e IV.
e) apenas II, III e IV.
Condenados à tradição
O que fizeram com a poesia brasileira
Iumna Maria Simon
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Nos fragmentos abaixo, extraídos do texto, a colocação pronominal foi alterada. Assinale a
única alternativa correta.
a) Ou que voltaram-se todos para o passado (6º parágrafo)
b) Maior do que esperaria-se (último parágrafo)
c) Tradição é o que cultua-se por todos os lados. (7º parágrafo)
d) E seguiu-se a manifestações antiformalistas (2º parágrafo)
e) Não trata-se de um tradicionalismo conservador (3º parágrafo)
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GABARITO
1. e
2. d
3. d
4. e
5. e
6. b
7. b
8. b
9. e
10. b
11. a
12. b
13. b
14. a
15. b
16. e
17. e
18. c
19. d
20. a
21. a
22. a
23. b
24. c
25. a
26. d
27. d
28. d
29. a
30. d
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GABARITO COMENTADO
001. (2017/AOCP/CODEM-PA/ADVOGADO)
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tem, e maior a frequência com que ela posta, mais narcisista tende a ser – e maior a chance de
fazer comentários agressivos.
Esse último resultado é bem surpreendente, porque é contraintuitivo. Ora, uma pessoa que
tem muitos amigos supostamente os conquistou adotando comportamentos positivos, como
modéstia e empatia. O estudo mostra que, no Facebook, tende a ser justamente o contrário.
Adaptado de Superinteressante. Disponível em:
http://super.abril. com.br/tecnologia/o-lado-negro-do-facebook/
O termo destacado em “uma de suas hipóteses é a chamada inveja subliminar, que surge sem
que a gente perceba conscientemente”, no contexto, é
a) partícula expletiva.
b) conjunção integrante.
c) conjunção subordinativa causal.
d) conjunção subordinativa consecutiva.
e) pronome relativo.
Troque o “que” por a qual. Você notará que a mudança é possível O pronome relativo em ques-
tão é responsável por retomar “inveja subliminar”.
Letra e.
O vocábulo “acesso“ exige a presença da preposição “a” para introduzir o seu complemento. O
vocábulo “internet” exige a presença do artigo definido feminino singular.
Letra d.
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A banca quer saber qual é a classificação dos termos destacados. Na letra A, trata-se de uma
conjunção integrante. Na B, um pronome indefinido; na C, um pronome oblíquo átono. Na E,
uma conjunção subordinativa temporal. Na letra D, basta trocar “que” por a qual.
Letra d.
Estabelecer pontes entre a ciência e a arte não é tarefa fácil. Se a revolução científica,
com sua valorização da metodologia experimental e sua necessidade de rigor, trouxe avanços
inegáveis para a humanidade, por outro lado também tornou o trabalho científico distante do
homem comum. Com isso, distanciou-o também da arte, que talhada para captar a essência
humana, o faz de maneira basicamente intuitiva. Tentativas de reaproximação até existem,
mas a inconstância e variabilidade no seu sucesso atestam a dificuldade da empreitada. Um
dos diálogos mais interessantes entre ciência e arte se deu nas primeiras décadas do século
20, na relação entre o surrealismo e a psicanálise.
Os sonhos eram considerados proféticos e reveladores, até que, em 1899, Sigmund Freud
apresentou uma das primeiras tentativas de interpretá-los cientificamente no livro A Interpre-
tação dos Sonhos.Simplificando bastante, sonhos seriam um momento em que conteúdos
inconscientes surgiriam para nós, ainda que disfarçados, e caberia à psicanálise desmascarar
seu real significado.
O movimento artístico do surrealismo imediatamente se apropriou dessas teorias. Os sur-
realistas já nutriam um interesse especial pelo inconsciente, tentando retratar esses conteú-
dos em suas obras, mas após a tradução do livro de Freud para o espanhol, o pintor catalão
Salvador Dalí tornou-se um dos maiores entusiastas da obra freudiana. Segundo ele mesmo, o
objetivo de sua pintura era materializar as imagens de sua “irracionalidade concreta”.
Desde que se tornou fã declarado do médico austríaco, Dalí tentou se encontrar com ele.
Tanto insistiu que conseguiu, quando Freud já estava idoso e bastante doente. A reunião não
foi das mais frutíferas, já que os dois eram incapazes de conversar: Dalí não falava alemão
nem inglês, e Freud, além do câncer de mandíbula, não estava ouvindo bem. A interação ficou
limitada: Freud analisou um quadro recente de Dalí, enquanto esse passava o tempo desenhan-
do o psicanalista e o observava a conversar com o amigo e escritor Stephan Zweig.
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Assinale a alternativa em que o “que” destacado possui a mesma função exercida pelo “que”
presente em: “[...] distanciou-o também da arte, que talhada para captar a essência humana, o
faz de maneira basicamente intuitiva.”.
a) “Os sonhos eram considerados proféticos e reveladores, até que, em 1899, Sigmund Freud
apresentou uma das primeiras tentativas de interpretá-los cientificamente [...]”.
b) “Tanto insistiu que conseguiu [...]”.
c) “A reunião não foi das mais frutíferas, já que os dois eram incapazes de conversar [...]”.
d) “[...] a retomada desse episódio na peça Histeria, do dramaturgo Terry Johnson, mostra que
não desistimos [...]”.
e) “[...] Johnson expande o diálogo que não aconteceu [...]”.
Perdoar e esquecer
Quando a vida se transforma num tango, é difícil não dançar ao ritmo do rancor
Ivan Martins
Hoje tomei café da manhã num lugar em que Carlos Gardel costumava encontrar seus par-
ceiros musicais por volta de 1912. É um bar simples, na esquina da rua Moreno com a avenida
Entre Rios, chamado apropriadamente El Encuentro.
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Nunca fui fã aplicado de tango, mas cresci ouvindo aqueles que a minha mãe cantava
enquanto se movia pela casa. Os versos incandescentes flutuam na memória e ainda me emo-
cionam. Soprado pelo fantasma de Gardel, um deles me veio aos lábios enquanto eu tomava
café no El Encuentro: “Rechiflado en mi tristeza, te evoco y veo que has sido...”
Vocês conhecem Mano a mano, não?
Essencialmente, é um homem falando com a mulher que ele ama e que parece tê-lo tro-
cado por uma vida melhor. Lembra, em espírito, o samba Quem te viu, quem te vê, do Chico
Buarque, mas o poema de Gardel é mais ácido e rancoroso. Paradoxalmente, mais sutil. Não se
sabe se o sujeito está fazendo ironia ou se em meio a tantas pragas ele tem algum sentimento
generoso em relação à ex-amante. Nisso reside o apelo eterno e universal de Mano a mano –
não é assim, partido por sentimentos contraditórios, que a gente se sente em relação a quem
não nos quer mais?
Num dia em que estamos solitários, temos raiva e despeito de quem nos deixou. No outro
dia, contentes e acompanhados, quase torcemos para que seja feliz. O problema não parece
residir no que sentimos pelo outro, mas como nos sentimos em relação a nós mesmos. Por
importante que tenha sido, por importante que ainda seja, a outra pessoa é só um espelho no
qual projetamos nossos sentimentos – e eles variam como os sete passos do tango. Às vezes
avançam, em outras retrocedem. Quando a gente acha que encontrou o equilíbrio, há um giro
inesperado.
Por isso as ambiguidades de Mano a mano nos pegam pelas entranhas. É difícil deixar para
trás o sentimento de abandono e suas volúpias. É impossível não dançar ao ritmo do rancor.
Há uma força enorme na generosidade, mas para muitos ela é inalcançável. Apenas as pesso-
as que gostam muito de si mesmas são capazes de desejar o bem do outro em circunstâncias
difíceis. A maioria de nós precisa ser amada novamente antes de conceder a quem nos deixou
o direito de ser feliz. Por isso procuramos com tanto afinco um novo amor. É um jeito de dar e
de encontrar paz.
No último ano, tenho ouvido repetidamente uma frase que vocês já devem ter escutado:
Não se procura um novo amor, a gente simplesmente o encontra. O paradoxo é bonito, mas me
parece discutível. Supõe que o amor é tão acidental quanto um tropeção na calçada. Eu não
acho que seja. Imagina que a vontade de achar destrói a possibilidade de encontrar. Isso me
parece superstição. Implica em dizer que se você ficar parado ou parada as coisas virão bater
na sua porta. Duvido. O que está embutido na frase e me parece verdadeiro é que não adianta
procurar se você não está pronto – mas como saber sem procurar, achar e descobrir que não
estava pronto?
É inevitável que a gente cometa equívocos quando a vida vira um tango. Nossa carência
nos empurra na direção dos outros, e não há nada de errado nisso. É assim que descobrimos
gente que será ou não parte da nossa vida. Às vezes quebramos a cara e magoamos os outros.
O tango prossegue. O importante é sentir que gostam de nós, e que nós somos capazes de
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gostar de novo. Isso nos solta das garras do rancor. Permite olhar para trás com generosida-
de e para o futuro com esperança. Não significa que já fizemos a curva, mas sugere que não
estamos apenas resmungando contra a possibilidade de que o outro esteja amando. Quando
a gente está tentando ativamente ser feliz, não pensa muito no outro. Esse é o primeiro passo
para superar. Ou perdoar, como costuma ser o caso. Ou esquecer, como é ainda melhor.
No primeiro verso de Mano a mano, Gardel lança sobre a antiga amante a maldição terrível
de que ela nunca mais voltará a amar. Mas, ao final da música, rendido a bons sentimentos,
oferece ajuda e conselhos de amigo, quando chegar a ocasião. Acho que isso é o melhor que
podemos esperar de nós mesmos. Torcer mesquinhamente para jamais sermos substituídos
- mas estarmos prontos para aceitar e amparar quando isso finalmente, inevitavelmente, dolo-
rosamente, vier a acontecer.
(Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2016/01/perdoar-e-esquecer.html)
No que se refere às regras de colocação pronominal, assinale a alternativa em que NÃO é per-
mitida a mudança do posicionamento do pronome oblíquo em destaque para depois do verbo.
a) “um deles me veio aos lábios”.
b) “mas me parece discutível”.
c) “Nossa carência nos empurra na direção dos outros”.
d) “a gente se sente em relação”.
e) Isso nos solta das garras do rancor”.
Gabarito: LETRA E, mas a questão deveria ser anulada! É uma questão importante para conhe-
cermos o perfil da AOCP. Nas letras A, B, C e D, garantidamente, o pronome oblíquo pode pas-
sar à posição enclítica. Na E, uma polêmica: outrora, os gramáticos consideravam o pronome
demonstrativo como fator de atração, mas hoje a regra dominante diz o contrário!
Letra e.
É uma questão acerca da sintaxe de pronomes oblíquos átonos. O pronome está colocado
em uma locução verbal (“ter trocado”). O verbo principal exige complemento direto, exercido
pelo pronome.
Letra b.
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A substituição por onde é adequada por duas razões: há a preposição “em” e uma referência
a “lugar”.
Letra b.
Primeiramente, note que, morfologicamente, o primeiro “se” é um pronome, ao passo que o se-
gundo é uma conjunção. O primeiro tem a função de apassivar a sentença (partícula apassiva-
dora). A segunda é uma conjunção integrante que introduz a oração subordinada substantiva
subjetiva (e não objetiva direta, ok?).
Letra b.
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Abandonar um texto logo nas primeiras linhas é um direito inalienável de qualquer leitor.
Talvez você nem esteja lendo esta linha: ao ver que a primeira frase deste texto era uma obvie-
dade, nada mais natural do que clicar em outra aba do navegador e conferir a tabela da copa.
Ou talvez você tenha perseverado e seguido até aqui. Mesmo assim eu não comemoraria. É
muito provável que você desista agora. A passagem para o segundo parágrafo é o que separa
os fortes dos fracos.
A internet é um enorme banquete de informações, mas estamos todos fartos. Não aguen-
tamos mais do que as duas ou três primeiras garfadas de cada prato. Ler um texto até as
últimas linhas é uma arte perdida. No passado, quem desejasse esconder um segredo num
texto precisava criar códigos sofisticados de linguagem para que só os iniciados decifrassem
o enigma. Hoje a vida ficou mais fácil. Quer preservar um segredo? Esconda-o na última frase
de um texto – esse território selvagem, raramente explorado.
Lembro-me que, no Enem do ano retrasado, um aluno escreveu um trecho do hino de seu
time favorito no meio da redação. Tirou a nota 500 (de 1000), foi descoberto pela imprensa e vi-
rou motivo de chacota nacional. Era um mau aluno, claro. Se fosse mais estudioso, teria apren-
dido que o fim da redação é o melhor lugar para escrever impunemente uma frase de um hino
de futebol. Se fizesse isso, provavelmente tiraria a nota máxima e jamais seria descoberto.
Agora que perdi a atenção da enorme maioria dos leitores à exceção de amigos muito
próximos e parentes de primeiro grau, posso ir direto ao que interessa. Quem acompanhou as
redes sociais na semana passada deve ter notado uma enorme confusão causada pelo hábito
de abandonar um texto antes do fim. Resumindo a história: um jornalista publicou uma colu-
na em que narrava uma longa entrevista com Felipão num avião. A notícia repercutiu e virou
manchete em outros sites, até que alguém notou que o entrevistado não era Felipão, mas sim
um sósia dele. Os sites divulgaram erratas e a história virou piada. No meio de todo o barulho,
porém, alguns abnegados decidiram ler o texto com atenção até o fim. Encontraram lá um pa-
rágrafo enigmático. Ao final da entrevista, o suposto Felipão entregava ao jornalista um cartão
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No trecho “um jornalista publicou uma coluna em que narrava uma longa entrevista com Feli-
pão num avião.”, o termo em destaque pode ser substituído, sem mudança do sentido, por
a) da qual.
b) na qual.
c) onde.
d) de quem.
e) pela qual.
O pronome relativo “em que” foi usado para retomar “coluna”, que é feminino e singular. Além
disso, a substituição por “na qual” mantém a mesma preposição originalmente empregada.
Letra b.
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Primeiramente, é preciso identificar o objeto direto da oração original, que é “o enigma”. Ele
será transformado em sujeito paciente. Na voz passiva sintética, é necessário empregar a lo-
cução verbal SER+Particípio. Por fim, é preciso manter o mesmo tempo e modo verbal.
Letra a.
Ambiental - Biologia
A felicidade é deprimente
Contardo Calligaris
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confundido com estados de espírito muito comuns: a simples tristeza, o sentimento de inade-
quação, um luto que dura um pouco mais do que desejaríamos etc.
De qualquer forma, o extraordinário sucesso da depressão e dos antidepressivos não
existiria se nossa cultura não atribuísse um valor especial à felicidade (da qual a depressão
nos privaria). Ou seja, ficamos tristes de estarmos tristes porque gostaríamos muito de ser-
mos felizes.
Coexistem, na nossa época, dois fenômenos aparentemente contraditórios: a depressão e
a valorização da felicidade. Será que nossa tristeza, então, não poderia ser um efeito do valor
excessivo que atribuímos à felicidade? Quem sabe a tristeza contemporânea seja uma espécie
de decepção.
Em agosto de 2011, I. B. Mauss e outros publicaram em “Emotion” uma pesquisa com
o título: “Será que a procura da felicidade faz as pessoas infelizes?”. Eles recorreram a uma
medida da valorização da felicidade pelos indivíduos e, em pesquisas com duas amostras
de mulheres (uma que valorizava mais a felicidade e a outra, menos), comprovaram o óbvio:
sobretudo em situações positivas (por exemplo, diante de boas notícias), as pessoas que per-
seguem a felicidade ficam sempre particularmente decepcionadas.
Numa das pesquisas, eles induziram a valorização da felicidade: manipularam uma das
amostras propondo a leitura de um falso artigo de jornal anunciando que a felicidade cura o
câncer, faz viver mais tempo, aumenta a potência sexual – em suma, todas as trivialidades
nunca comprovadas, mas que povoam as páginas da grande imprensa.
Depois disso, diante de boas notícias, as mulheres que tinham lido o artigo ficaram bem
menos felizes do que as que não tinham sido induzidas a valorizar especialmente a felicidade.
Conclusão: na população em geral, a valorização cultural da felicidade pode ser con-
traprodutiva.
Mais recentemente, duas pesquisas foram muito além e mostraram que a valorização da
felicidade pode ser causa de verdadeiros transtornos. A primeira, de B. Q. Ford e outros, no
“Journal of Social and Clinical Psychology”, descobriu que a procura desesperada da felicidade
constitui um fator de risco para sintomas e diagnósticos de depressão.
A pesquisa conclui que o valor cultural atribuído à felicidade leva a consequências sérias
em saúde mental. Uma grande valorização da felicidade, no contexto do Ocidente, é um com-
ponente da depressão. E uma intervenção cognitiva que diminua o valor atribuído à felicidade
poderia melhorar o desfecho de uma depressão. Ou seja, o que escrevo regularmente contra o
ideal de felicidade talvez melhore o humor de alguém. Fico feliz.
Enfim, em 2015, uma pesquisa de Ford, Mauss e Gruber, em “Emotion”, mostra que a valo-
rização da felicidade é relacionada ao risco e ao diagnóstico de transtorno bipolar. Conclusão:
cuidado, nossos ideais emocionais (tipo: o ideal de sermos felizes) têm uma função crítica na
nossa saúde mental.
Como escreveu o grande John Stuart Mill, em 1873: Só são felizes os que perseguem outra
coisa do que sua própria felicidade.
Adaptado de: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2015/10/1699663-a-felicidade-edepri-
mente.shtml Acesso em 10 de março de 2016.
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Elias Santana
Considerando o período “as pessoas que perseguem a felicidade ficam sempre particularmen-
te decepcionadas”, em qual das sentenças a seguir identifica-se sublinhado um termo que
apresenta a mesma função do termo destacado?
a) “Alguns suspeitam que a depressão contemporânea seja uma invenção.”
b) “[...] as mulheres que tinham lido o artigo ficaram bem menos felizes [...]”
c) “[...] duas pesquisas foram muito além e mostraram que a valorização da felicidade pode ser
causa de verdadeiros transtornos.”
d) “A pesquisa conclui que o valor cultural atribuído à felicidade leva a consequências sérias
em saúde mental.”
e) “[...] em 2015, uma pesquisa de Ford, Mauss e Gruber, em ‘Emotion’, mostra que a valoriza-
ção da felicidade é relacionada ao risco e ao diagnóstico de transtorno bipolar.”
Tanto o “que” destacado no enunciado quanto o que está na letra B são pronomes relativos.
Nas demais opções, são conjunções integrantes.
Letra b.
Segundo pesquisa, 71,2% dos entrevistados pelo IBGE haviam se consultado com um mé-
dico pelo menos uma vez no último ano. Entre elas, o índice foi de 78% - contra 63,9% deles.
As mulheres brasileiras vão mais ao médico do que os homens. É o que mostra uma pesqui-
sa divulgada nesta terça-feira, realizada em conjunto entre o Ministério da Saúde e o IBGE. A
publicação revelou que 71,2% dos entrevistados haviam se consultado pelo menos uma vez
nos 12 meses anteriores à entrevista. Entre as mulheres, o índice foi de 78%, contra 63,9%
dos homens.
Elas também são mais aplicadas nos cuidados com os dentes: 47,3% das brasileiras dis-
seram terem ido ao dentista uma vez nos 12 meses anteriores, ante 41,3% dos homens. A
diferença também aparece na questão da higiene bucal: 91,5% do público feminino pesquisa-
do respondeu que escova os dentes duas vezes ao dia, ao passo que a taxa foi de 86,5% no
masculino.
A pesquisa também investigou o atendimento nos serviços de saúde, público e privado. De
acordo com os resultados, 71% da população brasileira procura estabelecimentos públicos de
saúde para atendimento. Destes, 47,9% afirmaram que utilizam as Unidades Básicas de Saúde
como principal porta de entrada para atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS).
Além disso, o levantamento mostrou ainda que os serviços públicos mais procurados de-
pois das Unidades Básicas de Saúde são os de emergência, como as Unidades de Pronto
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No excerto “[...] 71,2% dos entrevistados haviam se consultado pelo menos uma vez nos 12
meses anteriores à entrevista [...]”, o acento grave foi utilizado
a) inadequadamente, pois a palavra “anteriores” está no plural.
b) para indicar a contração da preposição “a” com o artigo “a”.
c) para mostrar que o “a” é uma palavra tônica.
d) inadequadamente, pois o correto seria “ao”.
e) para indicar que a palavra tem timbre aberto.
O adjetivo “anteriores” exige a presença da preposição “a”, ao passo que “entrevista” aceita o
artigo definido feminino singular.
Letra b.
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câncer, principalmente o de mama e de útero. Isso porque o excesso de tecido adiposo pode
alterar os níveis de hormônios sexuais, desencadeando, portanto, o surgimento das doenças.
Mas atenção: frente a qualquer suspeita da doença, é fundamental ter a orientação médi-
ca. Algumas substâncias anticâncer podem fazer mal em determinadas situações. Tomese
como exemplo, o chá verde. A bebida é um potente antioxidante, mecanismo associado ao
câncer. No entanto, ela é contraindicada para grávidas e pessoas com problemas de epilepsia,
úlcera gastroduodenal, insônia e alterações cardiovasculares graves.
Tomate
Rico em licopeno, a substância responsável pela sua cor avermelhada, o tomate tem inten-
so efeito contra o câncer, inibindo a proliferação das células cancerígenas. Estudos mostraram
que o consumo frequente de tomate – fresco ou cozido – é um grande aliado, sobretudo, con-
tra o câncer de próstata. Isso ocorre porque o licopeno protege as células da próstata contra
oxidação e o crescimento anormal – duas características dos tumores malignos.
Alho
Estudos científicos mostraram que o consumo de alho pode reduzir o risco de desenvolver
alguns tipos de câncer, como o de mama e o gástrico. Seus compostos fitoquímicos são capa-
zes de induzir a morte das células cancerígenas por meio de um processo de apoptose – elas
se suicidam – e, dessa forma, evitam a formação de um tumor.
Couve
A família das crucíferas (couve-flor, couve-manteiga, brócolis, repolho...) é uma das mais
conhecidas pelo seu potencial quimiopreventivo. Diversas pesquisas mostram que esses ve-
getais podem prevenir contra vários tipos de tumores, como de pulmão, de mama, de bexiga,
de próstata e do aparelho digestivo. O fato é que a família das crucíferas tem alta concentração
de glucosinalatos, compostos que, ao se romperem, dão lugar a isotiocianatos e indóis – nu-
trientes com propriedade protetora contra tumores.
Vitamina C
Presente em frutas, como laranja e limão, a vitamina c pode ser usada entre as pessoas
que já sofreram da doença e estão seguindo algum tipo de tratamento contra ela. Além disso,
estudos indicam que a vitamina c também ajuda na hora da prevenção. Seu efeito antioxidante
bloqueia a ação dos radicais livres, além de inibir a formação de nitrosaminas – substâncias
cancerígenas. “Esses alimentos podem proteger o organismo contra substâncias potencial-
mente tóxicas”, diz Paulo Hoff.
Chá verde
A grande quantidade de catequina, um fitonutriente do chá, proporciona grande atividade
antioxidante e ativadora do metabolismo. A catequina também apresenta atividade antiinfla-
matória e induz a morte de células cancerígenas. O ideal é que seja consumida uma xícara
por dia na forma de infusão. Mas atenção: o chá verde é contraindicado para grávidas e pes-
soas com problemas de epilepsia, úlcera gastroduodenal, insônia e alterações cardiovascula-
res graves.
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6. Uva
Para se proteger das agressões externas, as uvas produzem uma substância chamada
resveratrol, encontrada em suas sementes e pele. Pesquisas mostram que esse composto tem
propriedade antinutagênica, por isso previne contra o início do processo canceroso. É por esse
motivo que o vinho tinto também se torna um aliado. O consumo, porém, dever ser moderado.
A Organização Mundial da Saúde recomenda não mais do que uma taça para as mulheres e
duas para os homens, diariamente.
Adaptado de:<http://veja.abril.com.br/noticia/saudades/os-seis-alimentos-anticancer-que-não-podem-faltar-no-
seu-cardapio> Acesso em 06 jun. 2015
No excerto “Estima-se, por exemplo, que pessoas com 13 quilos a mais passam a ter mais
predisposição ao câncer, principalmente o de mama e de útero.”, se a palavra câncer fosse
substituída por uma palavra feminina, o termo em destaque deveria
a) ser grafado também no feminino, recebendo o acento grave: “à”.
b) ser grafado também no feminino, no entanto, sem receber o acento grave: “a”.
c) continuar sendo grafado no masculino: “ao”.
d) ser substituído pela preposição “em”.
e) ser substituído pela preposição “com”.
A ocorrência de “ao” se deve ao fato de que “predisposição” exige a preposição “a”, ao passo
que “câncer” aceita artigo masculino definido singular. Com a troca por uma palavra feminina,
naturalmente haveria a mudança do artigo, o que resultaria em emprego do acento grave.
Letra a.
Cuidado! Falamos acerca desse “se” ao longo do estudo teórico. O verbo suicidar-se é essen-
cialmente pronominal.
Letra b.
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O vocábulo “que” é um pronome relativo responsável por retomar “alimentos” e por introduzir
uma oração subordinada adjetiva restritiva.
Letra e.
É impressionante que uma questão assim tenha aparecido em uma prova de nível superior!
Nos dois casos, há termos que exigem a presença da preposição “a” e substantivos que admi-
tem artigos.
Letra e.
DIREITO DO IDOSO
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que há estudiosos falando em uma revolução dos idosos. E não é para menos. Mais de dois
bilhões de pessoas terão mais de sessenta anos até 2050, o que representará um contingente
expressivo, considerando a população total do planeta.
Ora, se um contingente tão grande de pessoas passa a ter uma idade a partir da qual é ca-
racterizada como idosa, isso significa que direitos específicos desse contingente populacional
precisam ser garantidos.
É preciso destacar que o Estado brasileiro não se preparou para o impacto que o envelheci-
mento populacional acarretou nos sistemas previdenciário e de saúde, por exemplo. Não hou-
ve planejamento, de modo que o sistema previdenciário, uma espécie de seguro para garantir
dignidade ao ser humano na velhice, corre riscos de continuidade, mantidos os parâmetros
atuais. Da mesma forma, o sistema de saúde apresenta uma dinâmica incapaz de atender às
demandas dos idosos, os quais são os principais clientes desse sistema, porquanto mais vul-
neráveis a doenças, inclusive algumas próprias dessa fase da vida, como câncer, hipertensão,
osteoporose, demência, para só citar algumas.
Portanto, o impacto que as pessoas que acumulam muitos anos provocam na sociedade,
considerando apenas esses dois sistemas, e a necessidade de que os direitos fundamentais
desse segmento populacional sejam efetivamente garantidos, já se revela suficiente para que
se perceba a importância da disciplina Direito do Idoso. Vale destacar que o envelhecimento
não é um fenômeno estático. Na medida em que as condições sociais e econômicas melho-
ram, as pessoas têm oportunidade de viver mais. Caso se associem a esses elementos os
avanços da tecnologia médica em todas as suas dimensões, a expectativa de vida pode real-
mente surpreender.
É a vitória da vida.
Sendo, portanto, o envelhecimento a oportunidade de uma vida mais longa, pode ser tradu-
zido como o próprio direito de existir, na medida em que viver é ter oportunidade de envelhecer.
Ora, se é assim, o envelhecimento é um direito e, mais do que isso, é um direito fundamental,
na medida em que se traduz no direito à vida com dignidade, o que quer dizer que as pessoas
não perdem direitos na medida em que envelhecem. Pelo contrário, demandam mais direitos
para que possam usufruir plenamente o direito à liberdade em todos os aspectos, patrimônio
do qual nenhum ser humano pode abdicar.
Apesar de a expectativa de vida no Brasil vir aumentando ano após ano, ainda não estão
sendo oferecidas condições de vida adequadas para os velhos. O processo de envelhecimento
no país apresenta nuances artificiais, na medida em que as pessoas têm suas vidas alonga-
das mais pela universalização da tecnologia médica {notadamente do sistema de vacinação,
que abortou mortes prematuras causadas por doenças endêmicas) do que propriamente pela
experimentação de padrões sociais e econômicos de excelência, a exemplo dos países de-
senvolvidos.
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É claro que, se o pronome oblíquo está posposto ao verbo, ele se encontra em posição de ênclise.
Letra c.
Trata-se de duas ocorrências de pronome relativo. Nas letras B e C, são conjunções integran-
tes. Na A, conjunção comparativa. Na E, integra uma locução conjuntiva final.
Letra d.
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Basta trocar “que” por a qual. Nas demais alternativas, são conjunções integrantes.
Letra a.
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O verbo “foram” (conjugação de ir) exige a presença da preposição “a”, ao passo que “urnas”
admite a existência de artigo definido feminino no plural.
Letra a.
Alguns anos atrás, fui convidado para dar uma entrevista ao vivo para uma rádio AM de
Brasília. A entrevista foi marcada na estação rodoviária, bem na hora do rush, quando trabalha-
dores mais humildes estão voltando para suas casas na periferia. A ideia era que as pessoas
dessem uma parada e ouvissem o que eu dizia, possivelmente fazendo perguntas. O entrevis-
tador queria que falasse sobre a ciência do fim do mundo, dado que havia apenas publicado
meu livro “O Fim da Terra e do Céu”. O fim do mundo visto pela ciência pode ser abordado de
várias formas, desde as mais locais, como no furacão que causou verdadeira devastação nas
Filipinas, até as mais abstratas, como na especulação do futuro do universo como um todo.
O foco da entrevista eram cataclismos celestes e como inspiraram (e inspiram) tanto narra-
tivas religiosas quanto científicas. Por exemplo, no antigo testamento, no Livro de Daniel ou na
história de Sodoma e Gomorra, e no novo, no Apocalipse de João, em que estrelas caem dos
céus (chuva de meteoros), o Sol fica preto (eclipse total), rochas incandescentes caem sobre o
solo (explosão de meteoro ou de cometa na atmosfera) etc.
Mencionei como a queda de um asteroide de 10 quilômetros de diâmetro na península de
Yucatan, no México, iniciou o processo que culminou na extinção dos dinossauros 65 milhões
de anos atrás. Enfatizei que o evento mudou a história da vida na Terra, liberando os mamífe-
ros que então existiam -- de porte bem pequeno -- da pressão de seus predadores reptilianos,
e que estamos aqui por isso. O ponto é que a ciência moderna explica essas transformações
na Terra e na história da vida sem qualquer necessidade de intervenção divina. Os cataclismos
que definiram nossa história são, simplesmente, fenômenos naturais.
Foi então que um homem, ainda cheio de graxa no rosto, de uniforme rasgado, levantou a
mão e disse: “Então o doutor quer tirar até Deus da gente?”
Congelei. O desespero na voz do homem era óbvio. Sentiu-se traído pelo conhecimento.
Sua fé era a única coisa a que se apegava, que o levava a retornar todos os dias àquela estação
e trabalhar por um mísero salário mínimo. Como que a ciência poderia ajudá-lo a lidar com
uma vida desprovida da mágica que fé no sobrenatural inspira?
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Em “...que o levava a retornar todos os dias àquela estação...”, o emprego do sinal indicativo de
crase ocorre porque se trata de uma expressão de base nominal que funciona como
a) adjunto adverbial.
b) complemento nominal.
c) adjunto adnominal.
d) objeto indireto.
e) objeto direto.
A formulação da questão poderia ser melhor, mas o trecho “àquela estação” funciona morfo-
logicamente como uma locução adverbial com núcleo feminino. E falamos sobre as locuções
femininas durante a explicação de crase, certo?
Letra a.
Amores imperfeitos
A pessoa que você mais gosta é cheia de defeitos?
Existe uma explicação
Cristiane Segatto
1.§ Quantos dos seus amigos descrevem o parceiro (ou parceira) de uma forma estranha-
mente dúbia? A pessoa é o amor da vida dele e, ao mesmo, o ser que mais o incomoda. É uma
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reclamação tão corriqueira que começo a achar que estranha é a minoria que parece satisfeita
com o que tem em casa.
2.§ Tolerar os defeitos do companheiro e entender que, ao firmar uma parceria, compra-
mos um pacote completo (com tudo o que há de agradável e desagradável) parece, cada vez
mais, uma esquisita característica de uma subespécie em extinção.
3.§ O grupo majoritário parece ser o dos apaixonados intolerantes.
4.§ Há quem se dedique a tentar entendê-los. Li nesta semana uma reportagem interessan-
te sobre isso. Foi publicada na revista Scientific American Mind. É baseada no livro Annoying:
The Science of What Bugs Us (algo como Irritante: a ciência do que nos incomoda), dos jorna-
listas Joe Palca e Flora Lichtman.
5.§ Uma das pesquisadoras citadas é a socióloga Diane Felmlee, da Universidade da Ca-
lifórnia. Ela conta a história de uma amiga que vivia reclamando que o marido trabalhava de-
mais. Diane pediu que a mulher se lembrasse das qualidades que enxergava nele quando o
conheceu na universidade. A resposta foi sensacional: “A primeira coisa que chamou minha
atenção foi o fato de que ele era incrivelmente trabalhador. Logo percebi que se tornaria um
dos melhores alunos da classe”
6.§ Não é curioso? Por alguma razão, uma característica que é vista como uma qualidade
no início do relacionamento se torna, com o passar do tempo, um defeito. Exemplos disso es-
tão por toda parte. No início do namoro, o cara parece muito atraente porque é desencanado,
tranquilão. Não perde a chance de passar o dia de bermuda e chinelo, ouvindo música e be-
bendo com a namorada e os amigos. Quatro anos depois passa a ser visto pela amada como
um sujeito preguiçoso, acomodado, que não tem objetivos claros na vida e veio ao mundo
a passeio.
7.§ Em outra ocasião, a socióloga Diane perguntou a um garoto por que ele gostava da úl-
tima namorada. A resposta foi uma lista de várias partes do corpo da moça - incluindo as mais
íntimas. Quando a professora perguntou por que o relacionamento havia acabado, a justificati-
va foi: “Era uma relação baseada somente no desejo. Não havia amor suficiente.”
8.§ Uma aluna disse que se sentiu atraída pelo ex porque ele tinha um incrível senso de
humor. Algum tempo depois, passou a reclamar que “ele não levava nada a sério”. Nesse caso,
também, o que era qualidade virou defeito. Deve haver alguma explicação para isso. Nas últi-
mas décadas, Diane vem realizando estudos com casais para tentar entender o fenômeno que
ela chama de atrações fatais.
9.§ Ela observou que quanto mais acentuada é a qualidade reconhecida pelo parceiro no iní-
cio da relação, mais incômoda ela se torna ao longo dos anos. Até virar um traço insuportável.
10.§ Diane acredita que a explicação está relacionada à teoria da troca social. Essa teoria
parte do pressuposto de que as relações humanas são baseadas na escolha racional e na
análise de custo-benefício. Se os custos de um dos parceiros superam seus benefícios, a outra
parte pode vir a abandonar a relação, especialmente se houver boas alternativas disponíveis.
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“Traços extremos trazem recompensas, mas também têm custos associados a eles, principal-
mente numa relação”.
11.§ Um exemplo é a independência. Ela pode ser muito valorizada numa relação. Um ma-
rido independente é capaz de cuidar de si próprio. Mas se ele for independente demais, pode
significar que não precisa da mulher. Isso acarreta custos para a relação.
12.§ A receita para evitar que as relações naufraguem é a boa e (cada vez mais) escassa
tolerância. É preciso aprender a relativizar os hábitos irritantes para continuar convivendo com
uma pessoa que tem muitas outras qualidades.
13.§ Ninguém é totalmente desprovido de qualidades e defeitos. Temos os nossos, apren-
demos com eles e com os deles. Além de tolerância, precisamos exercitar a capacidade de
apoiar o parceiro quando as coisas vão mal e de celebrar quando ele tem alguma razão para
isso. Inventar programas novos e interessantes (zelar para que isso aconteça com frequência)
pode realçar as qualidades de quem você gosta e amenizar as características e manias irritan-
tes. Irritante por irritante somos todos. Mas também podemos ser incrivelmente interessantes.
Adaptado de http://revistaepoca.globo.com/Saude-e-bem-estar/ cristiane- segatto/noticia/2012/01/amores-im-
perfeitos.html em
01/12/2012
Troque, na letra C, “que” por os quais. Nas demais alternativas, os termos destacados são pro-
nomes relativos.
Letra c.
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Monteiro Lobato?
Não com o nosso dinheiro
Leando Narloch
1.§ O movimento negro me odeia. Desde que mostrei, com o livro Guia do Politicamente
Incorreto da História do Brasil, que Zumbi mantinha escravos no Quilombo de Palmares, os
ativistas das cotas não estão contentes comigo. Do lado de cá, eu também me irrito com boa
parte do que eles defendem. Mas, existe um ponto em que eu preciso concordar com eles: a
polêmica dos livros do Monteiro Lobato.
2.§ Se você acaba de despertar de um coma, o que aconteceu foi que, em 2010, o Conselho
Nacional de Educação decidiu impedir a distribuição do livro Caçadas de Pedrinho em bibliote-
cas públicas. Disseram que esse clássico da literatura infantil era racista por causa de frases
como “Tia Anastácia trepou que nem uma macaca de carvão” ou “Não vai escapar ninguém,
nem Tia Anastácia, que tem carne preta”. Muita gente esperneou contra a decisão, afirmando
que se tratava de um exagero, uma patrulha ideológica e um ato de censura contra um dos
maiores autores brasileiros.
3.§ É verdade que é preciso entender a época de Monteiro Lobato, quando o racismo era
regra não só entre brancos, mas mesmo entre africanos. Até Gandhi, o líder mundial do bom-
-mocismo, escreveu e repetiu frases igualmente racistas nos 20 e poucos anos que viveu na
África do Sul.
4.§ A questão, porém, é outra: o governo deve investir em obras que parecem preconceitu-
osas a parte da população? O Conselho Nacional de Educação não defendeu a proibição dos
livros de Monteiro Lobato: foi contra apenas a distribuição bancada pelo governo. Pois bem:
o Ministério da Educação deve gastar seu disputado dinheiro com esses livros? Eu acredi-
to que não.
5.§ Os negros que pagam impostos e os outros contribuintes que consideram Monteiro
Lobato racista não devem ser obrigados a bancar edições do escritor. É mais ou menos essa
a posição do economista Walter Williams, um dos principais intelectuais libertários dos EUA.
Defensor da ideia de que o Estado deve se meter o mínimo possível na vida, nas escolhas e no
bolso das pessoas, esse economista negro prega a liberdade de se fazer o que quiser desde
que isso não implique violência a terceiros. Se um grupo quiser, por exemplo, criar um clube de
tênis só para brancos, ou só para negros, tudo bem – desde que não use verba pública e não
tente proibir manifestações de repúdio. Se tiver verba pública, não pode discriminar.
6.§ Para libertários como Williams, ninguém, nem o governo, tem o direito de ameaçar ou
praticar violência contra indivíduos pacíficos. Não é correto ameaçar um indivíduo de prisão
por sonegação fiscal se ele não topar contribuir com essa ou aquela prática do governo. Um
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grupo de políticos que defende uma guerra com o Iraque não deve obrigar os cidadãos a contri-
buir para essa guerra. Do mesmo modo, se uma turma acredita ter uma boa ideia ao criar uma
universidade, um estádio de futebol ou um festival de curtas-metragens, essa ideia deixa de ser
boa quando implica a ameaça contra aqueles que não querem contribuir.
7.§ Nada impede, é claro, que os autores dessas ideias tentem convencer as pessoas de
que seus projetos merecem contribuições. É o que fazem há séculos as melhores universida-
des americanas, as instituições de caridade, alguns tipos de fundos de investimento e, há pou-
cos anos, os sites de crowdfunding, o “financiamento coletivo”. Nada impede, também, que os
admiradores de Monteiro Lobato se organizem, reúnam doações e publiquem quantas edições
quiserem das ótimas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Revista Superinteressante, edição 312, de dezembro de 2012.
A I está correta, pois, além de ser locução verbal, o VP está no infinitivo. A II está correta, por-
que há um sujeito explícito. A III está errada, porque “também” é um advérbio (fator de atração).
A IV está correta pelo mesmo motivo da II. A V está errada, pois há uma conjunção integrantes
(fator de atração).
Letra a.
026. (2013/AOCP/INES/ENFERMEIRO)
1.§ Muitos previram o fim do mundo nos últimos 200 anos. Thomas Malthus (1766-1834)
falava em risco de catástrofe humana. Para ele, como a população crescia em progressão
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7.§ Apesar de tais lições, volta-se a falar em limites físicos do planeta. Na linha do Clube
de Roma, defende-se o estancamento da expansão baseada no consumo de bens materiais.
Se fosse assim, inúmeros países seriam congelados em seu estado atual, sem poder reduzir a
pobreza nem promover o bem-estar.
8.§ Mesmo que o homem não seja a causa básica do aquecimento, é preciso não correr
riscos e apoiar medidas para conter as emissões. Mas também resistir a ideias de frear o con-
sumo. Além de injusta, a medida exigiria um impossível grau de coordenação e renúncia ou
um inconcebível comando autoritário. Desprezaria, ademais, a capacidade do homem de se
adaptar a novas e desafiantes situações.
Revista Veja, edição 2.285. p. 24.
Assinale a alternativa em que está adequada a passagem da voz passiva para a voz ativa da
construção “tivessem sido acatadas” (6.§)
a) tinham acatado.
b) estivesse acatado.
c) tinha sido acatado.
d) tivessem acatado.
e) estivesse sido acatado.
Concentre-se apenas na locução verbal. Ela sai do formato passivo analítico e passa para a
estrutura apenas de tempo composto.
Letra d.
Na letra A, o correto seria “o fim do mundo foi previsto”. Na C e D, já há voz passiva. Na B, não
é possível praticar a voz passiva.
Letra d.
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Novo fôlego
Bernardo Esteves
1.° A disseminação das redes sociais e dos tablets tem ajudado a dar popularidade na in-
ternet a um gênero jornalístico que se consagrou no meio impresso: a grande reportagem. Es-
timulados pelo sucesso do formato, dois jornalistas britânicos resolveram lançar uma revista
dedicada a textos de fôlego sobre grandes questões de ciência e tecnologia.
2.° A nova onda de popularidade das grandes reportagens se explica em parte pela facilida-
de de leitura nos dispositivos móveis. Textos longos que não se deixam ler com facilidade no
computador agora podem ser salvos para serem lidos depois, com a ajuda de aplicativos como
o Read it Later. Assim, podem ser apreciados nas circunstâncias de preferência do leitor – na
cama, em sua poltrona favorita, numa viagem de avião.
3.° O jornalista Lewis Dvorkin atribui o interesse crescente pelos textos de fôlego ao declí-
nio dos grandes portais, que aconteceu em paralelo à ascensão das redes sociais. “Agora, as
notícias digitais estão nas mãos de cada um, e não de uma elite restrita”, escreveu ele no site
na Forbes. “O desenvolvimento de novas plataformas digitais e a fragmentação da audiência
formam uma combinação que está mudando dramaticamente a natureza do conteúdo que
está sendo distribuído através da web social.”
4.° ‘Recomendação’ é a palavra-chave da popularidade das grandes reportagens na inter-
net. Têm feito sucesso na rede agregadores que reúnem textos de fôlego de várias publicações
recomendados pelos leitores. [...]
5.° No exterior, grandes reportagens de ciência e tecnologia são publicadas rotineiramente
em revistas como a New Yorker, a Wired ou a Slate. Mas não havia ainda uma publicação des-
tinada exclusivamente a textos de fôlego sobre o tema.
6.° A lacuna será preenchida pela revista Matter (‘Matéria’, em tradução imperfeita), cujo
lançamento foi anunciado no fim de fevereiro. Seus fundadores são os jornalistas Jim Giles,
com passagem pelas revistas Nature, The Atlantic, The Economist e New Scientist, e Bobbie
Johnson, ex-repórter do Guardian e colaborador de várias outras publicações.
7.° Com a promessa de mobilizar “repórteres investigativos extraordinários” para fazer “o
melhor jornalismo sobre o futuro”, Giles e Johnson não foram nada modestos ao apresentar os
objetivos da revista: “Matter vai se concentrar em fazer excepcionalmente bem uma única coi-
sa. A cada semana, publicaremos uma reportagem de fôlego sobre grandes temas de ciência
e tecnologia. Nada de resenhas baratas, artigos de opinião sarcásticos ou listas dos dez mais.
Apenas uma matéria imperdível.”
8.° Matter será uma revista eletrônica com versões para web e dispositivos móveis Apple e
Android. O conteúdo será pago – provavelmente 99 centavos de dólar por matéria, segundo a
previsão dos editores (“fazer bom jornalismo não é barato”, justificaram-se).
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9.° Eles aproveitaram para passar o chapéu junto aos leitores. E o resultado do crowdfun-
ding foi surpreendente: em uma semana, conseguiram cerca de 85 mil dólares de quase 1.200
doadores, que investiram cotas que iam de 10 a 3 mil dólares. Os leitores que contribuíram
com pelo menos 25 dólares poderão ajudar a pautar a publicação; quem deu mil dólares será
considerado editor convidado e poderá participar da formatação de matérias desde o esbo-
ço da pauta.
10.° Se os editores honrarem suas promessas, Matter será uma experiência única no jorna-
lismo de ciência. Boa sorte a eles na empreitada.
Revista Piauí, edição 65.
“O jornalista Lewis Dvorkin atribui o interesse crescente pelos textos de fôlego ao declínio dos
grandes portais, que aconteceu em paralelo à ascensão das redes sociais.”
O sinal indicativo de crase foi empregado para marcar a introdução de uma expressão que
funciona como
a) objeto indireto.
b) adjunto adverbial.
c) agente da passiva.
d) complemento nominal.
e) adjunto adnominal.
Veja por que você estudou adjuntos adnominais e complementos nominais. Quem exige a pre-
posição é “em paralelo” e, por isso, o termo com crase é um complemento nominal.
Letra d.
Está(ão) correta(s)
a) apenas I.
b) apenas III.
c) apenas I e II.
d) apenas II e IV.
e) apenas II, III e IV.
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Na I, como é uma locução verbal com o VP no gerúndio, o pronome pode ser deslocado. Na
II, a mudança do verbo para o plural não é permitida, pois o “se” é IIS. Na III, o fator de atração
impede a mesóclise. Na IV, “já” é advérbio, e não expressão indefinida.
Letra a.
Condenados à tradição
O que fizeram com a poesia brasileira
Iumna Maria Simon
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projeção de nossas expectativas, ou aquilo que reconfigura o presente. Ficou reduzido, sim-
plesmente, à condição de materiais disponíveis, a um conjunto de técnicas, procedimentos,
temas, ângulos, mitologias, que podem ser repetidos, copiados e desdobrados, num presente
indefinido, para durar enquanto der, se der.
Na cena contemporânea, a tradição já não é o que permite ao passado vigorar e permane-
cer ativo, confrontando-se com o presente e dando uma forma conflitante e sempre inacabada
ao que somos. Não implica, tampouco, autoconsciência crítica ou consciência histórica, nem
a necessidade de identificar se existe uma tendência dominante ou, o que seria incontornável
para uma sociedade como a brasileira, se as circunstâncias da periferia pós-colonial alteram
as práticas literárias, e como.
Não estou afirmando que os poetas atuais são tradicionalistas, ou que se voltaram todos
para o passado, pois não há no retorno deles à tradição traço de classicismo ou revivalismo.
Eles recombinam formas, amparados por modelos anteriores, principalmente os modernos. A
tradição se tornou um arquivo atemporal, ao qual recorre a produção poética para continuar
proliferando em estado de indiferença em relação à atualidade e ao que fervilha dentro dela.
Até onde vejo, as formas poéticas deixaram de ser valores que cobram adesão à experiên-
cia histórica e ao significado que carregam. Os velhos conservadorismos culturais apodrece-
ram para dar lugar, quem sabe, a configurações novas e ainda não identificáveis. Mesmo que
não exista mais o “antigo”, o esgotado, o entulho conservador, que sustentavam o tradiciona-
lismo, tradição é o que se cultua por todos os lados.
Na literatura brasileira, que sempre sofreu de extrema carência de renovação e variados
complexos de inferioridade e provincianismo, em decorrência da vida longa e recessiva, maior
do que se esperaria, de modas, escolas e antiqualhas de todo tipo, essa retradicionalização
desculpabilizada e complacente tem inegável charme liberador.
Revista Piauí, edição 61, 2011.
Nos fragmentos abaixo, extraídos do texto, a colocação pronominal foi alterada. Assinale a
única alternativa correta.
a) Ou que voltaram-se todos para o passado (6º parágrafo)
b) Maior do que esperaria-se (último parágrafo)
c) Tradição é o que cultua-se por todos os lados. (7º parágrafo)
d) E seguiu-se a manifestações antiformalistas (2º parágrafo)
e) Não trata-se de um tradicionalismo conservador (3º parágrafo)
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