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Ministério da Educação
Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Faculdade de Educação (FaEd)
Primeiramente, é importante destacar que em um mesmo país, que possui uma mesma língua, há
diferenças na sua fala dependendo da região desse país. Um exemplo que pode ser citado, é o fato que
conseguimos detectar diferenças entre o português falado em São Paulo, e o português que se fala no
Rio de Janeiro. Entretanto, essas diversidades não impedem a comunicação entre os falantes do país.
Porém, dependendo da região há problemas no diálogo, devido a cultura diferente de cada um,
principalmente no vocabulário de cada pessoa. Por exemplo, para o falante que não conhece a palavra
“jerimum”, usada principalmente na Bahia, provavelmente não sabe que essa palavra remete a “abóbora”.
Esse caso pode ser chamado de variação no léxico do português: palavras que se diferem uma da outra,
porém possuem o mesmo significado. Além disso, mesmo que o falante possa não saber o significado de
um vocábulo, ao ouvi-lo pela primeira vez, ele não questiona o fato de que ambos são palavras do
português, pois reconhece os sons que participam de sua constituição e também reconhece o seu padrão
silábico.
Tendo em vista a situação acima, podemos chamar esse tipo de variação de variação lexical, que é
apenas uma das maneiras que a língua pode variar. Ou seja, quando há uma referência a um elemento
com mais de um termo, significa que a língua variou. De acordo com Beline (p.122) em uma mesma
língua, a mesma palavra pode “mudar” conforme o lugar - variação diatópica - e situação - variação
diafásica - (formal ou informal). No primeiro caso de variação diatópica, o exemplo que pode ser dado
para essa variação é o que foi dado acima, onde há uma palavra diferente na Bahia, mas que possui o
mesmo significado para “abóbora” em São Paulo. Resumidamente, a variação diatópica acontece devido
a região de cada país.
Além disso, focalizando agora na variação dos sons, podemos lembrar a clara diferença entre os falantes
do Rio de Janeiro e de São Paulo: a maneira em que eles pronunciam o -r em final de sílaba. Paulistanos
tendem a pronunciar tal -r como uma vibrante simples - um “flap”, como costumam dizer os foneticistas -,
enquanto os cariocas são conhecidos por aspirar o mesmo -r. Essa condição nomeia-se por variação
diatópica no nível fonético, e quando falamos em termos deste tipo de variação, é comum ter mais de
duas variantes em uma mesma variável; em suma, a variável linguística é um conjunto de duas ou mais
variantes. Outrossim, muita das vezes não falamos o -r no final da palavra, como por exemplo: um
paulistano, embora possa aspirar o -r em final de sílaba, parece nunca fazê-lo; o mesmo paulistano por
outro lado, pode dizer “andar” ou “andá”, “fazer” ou “fazê”, “sair” ou “saí”. Desse modo, podemos imaginar
que o uso da variante -r em verbos estaria numa relação diretamente proporcional à escolaridade do
falante: quanto maior o nível de escolaridade, maior a frequência de uso da variante.
fronteiras entre os diferentes falantes de uma língua. Desse ponto de vista, interessa ao pesquisador
verificar se os falantes de uma mesma língua apresentam diferenças nos seus modos de falar de acordo
com o lugar em que estão inseridos (variação diatópica), de acordo com a situação de fala, ou registro
(variação diafásica), ou ainda de acordo com o nível socioeconômico do falante (variação diastrática).
Tendo em vista os limites da variação, ao definir a língua delimitamos nosso objeto, criando-o; porém,
enquanto a língua, embora seja um fato presente em nossa vida cotidiana, não existe como objeto
científico antes de sua definição
Visando o fato de que a língua é um sistema totalmente variável, nos damos conta de que os linguistas
que estudam essa variedade são chamados de sociolinguistas e variacionistas. O cientista mais
conhecido da teoria variacionista é William Labov. Desse modo, a opção científica de que a língua
inerentemente variável não exclui a possibilidade de ver a língua como um sistema homogêneo, em que
a variação ocupa um lugar não central.
Segundo Beline (p.130), para estudar a variação linguística, torna-se necessário usar um modelo de
análise que opere com quantidades de dados. De acordo com o autor, "distinguimos comunidades
quando as diferenças entre elas são categóricas: uma comunidade tem um traço e a outra não o tem [...]
Além das diferenças categóricas, somos capazes de perceber distinções mais sutis, que se revelam não
na presença ou ausência de uma determinada forma linguística, mas na quantidade com que tal forma
aparece na fala de um indivíduo ou de um grupo. Desta forma, podemos pensar no mesmo tipo de
fenômeno variável - o apagamento do fonema /r/ - no caso do PB. Já vimos que podemos dizer “andá”
em vez de “andar”, “comê” em vez de “comer”. De uma perspectiva variacionista quantitativa, contudo,
temos de lembrar que haverá falantes brasileiros que vão apagar o /r/ muito mais frequentemente do que
outros. Como exemplo, segue a tabela abaixo:
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Faculdade de Educação (FaEd)
Entretanto, os falantes podem apagar o /r/ em final de sílaba de modo variável. Podemos ter falantes que
apagam mais o /r/ nos verbos em forma infinitiva e falantes que o apagam também consideravelmente em
substantivos, como “colhé” e “senhô”. Estamos falando de contextos linguísticos relacionados à aplicação
de uma regra. Trata-se de uma regra variável, à medida que é aplicada ou não conforme fatores
linguísticos, tais como classe de palavras, e também conforme fatores extralinguísticos, tais como idade e
nível econômico do falante.
Assim sendo, temos duas dimensões quantitativas na variação linguística. Na primeira delas, temos o
quadro geral da variação: o fato de que, numa língua, um mesmo sentido pode ser veiculado por mais de
uma forma, cada uma delas com uma determinada frequência de uso. Na segunda dimensão
quantitativa, temos o efeito dos contextos linguísticos sobre a variação, de modo que as quantidades de
A e A’ podem variar de indivíduo para indivíduo e de comunidade para comunidade. A teoria da variação
vai prestar atenção a basicamente dois fatos: falantes que compartilham os mesmos números (pesos
relativos) quando aplicam uma regra de acordo com os contextos linguísticos, ainda que possam
apresentar números diferentes dentro do quadro geral (identidade estrutural - mesma gramática); e
falantes que apresentam pesos diferentes, com relação aos contextos linguísticos, mas que têm um
mesmo comportamento dentro do quadro geral (gramáticas diferentes, contextos linguísticos diferentes).
Em suma, o trabalho do sociolinguista seria um tanto braçal, uma vez que ele teria a tarefa de
estabelecer os limites de uma comunidade de fala, estudando a proporção com que diferentes variantes
linguísticas são usadas em diferentes comunidades e verificando que comunidades são, linguisticamente,
mais próximas entre si e quais são mais distantes.