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Serviço Público Federal

Ministério da Educação
Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Faculdade de Educação (FaEd)

Acadêmico: Camila Medina Corselha


Lista de exercícios II - Questão 3 - Mudança Linguística (Nota e presença): Discorra sobre o
conceito de mudança linguística, tal como apresentado por Paulo Chagas.
Primeiramente, Paulo Chagas introduz o conceito de mudança linguística dizendo que a língua passa por
mudanças durante o tempo, que pode ser percebido de mais de uma forma. Uma dessas formas é o
contato com pessoas de diferentes faixas etárias, dessa maneira, quanto maior a diferença de idade,
maior a probabilidade de encontrar-se diferenças na forma de falar. Portanto, podemos perceber
pequenas diferenças, seja no vocabulário, construções diferentes, pronúncias diferentes de algumas
palavras ou de alguns sons. Por outro lado, uma outra forma de percebermos a realidade da mudança
linguística é se entrarmos em contato com textos escritos ou falados de outras épocas.
De acordo com Paulo Chagas, a língua escrita é sempre mais conservadora do que a língua falada, ou
seja, enquanto a língua escrita já se encontra em um estado normalizado, sujeita a regras já
estabelecidas e estáveis, ela pode dar a impressão de certas mudanças ocorrem em saltos muito
grandes, o que, para todos os teóricos, não é verdade. De certa forma, o contato com textos escritos filtra
bastante a nossa percepção da ocorrência de mudanças linguísticas. Esse afastamento da língua escrita
e da língua falada é algo normal e que pode ser verificado em qualquer língua que seja representada
graficamente. Entretanto, é necessário antes de tudo saber interpretar o que o texto escrito nos diz para
não ficarmos em um quadro falso de como a língua é, de como ela já foi e, portanto, também no que
mudou.
Paulo Chagas explica que os textos dos séculos XIII e XVII possuem várias diferenças entre o português
daquela época, com o português atual. Dessa maneira, devido a confiabilidade do texto escrito e seu uso
como representação da língua falada, devemos ser cautelosos ao atribuir a qualquer distinção ortográfica
ao status de mudança linguística, muita das vezes, várias dessas distinções são, provavelmente, apenas
mudanças ortográficas. Muitos dos textos do século XIII, por exemplo, têm como característica o fato de
não apresentarem uma ortografia oficializada, ou seja, não estarem sujeitos a regras de ortografia
estabelecidas e aceita por todos. Dessa forma, autores diferentes podiam grafar a mesma palavra de
forma diferente. Todavia, nos dias atuais já temos uma língua constituída, que não estaria, portanto,
sujeita a mudanças como em períodos anteriores. Por outro lado, além dos textos escritos em outras
épocas, podemos perceber a mudança linguística conversando com pessoas de outras faixas etárias.
Dessa maneira, podemos perceber que as mudanças não se restringem apenas a um nível de gramática,
podendo ocorrer em qualquer um deles.
Um dos questionamentos que Paulo Chagas faz durante o capítulo é “Por que as línguas mudam?".
Podemos ver no início do capítulo que a língua escrita não reflete todas as mudanças que ocorrem na
língua falada, havendo frequentemente uma discrepância entre o aparecimento de mudanças na língua
falada e o momento em que elas passam a ser aceitas na língua escrita. O estudo da língua falada pode
ser direcionado pelo Sociolinguísta Variacionista, Labov. De acordo com esse estudo, Labov não tinha
uma visão estruturalista, descendente de Saussure, e nem a visão gerativista, iniciada por Chomsky.
Diferente dessas duas perspectivas, a abordagem sociolinguística variacionista não procura eliminar da
análise o que é variável e mutante, muito pelo contrário, ela faz da variação e da mudança linguística
objetos centrais de estudo, relacionando-as justamente a alguns dos aspectos que Saussure e Chomsky
quiseram manter fora da análise da língua: a estrutura da sociedade e a sua história. Para Labov, toda
língua apresenta variação, que é sempre um desencadeador de mudança. Como a mudança é gradual, é
necessário passar primeiro por um período de transição em que há variação, para em seguida ocorrer a
mudança.
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De acordo com Paulo Chagas, a língua sempre se refaz. A cada geração, ou mesmo em cada situação
de fala, cada falante recria a língua, dessa forma ela está sujeita a alterações nessa recriação. Por outro
lado, depende de uma tradição, já que cada falante diz as coisas de determinada maneira em grande
parte porque é daquela maneira que se costuma dizer. Há então, um delicado jogo de continuidade e de
inovações, sempre em menor número. Como a língua está sempre sendo recriada, ela comporta o
surgimento de inovações a todo momento. O crucial é que nem toda inovação vinga, nem toda inovação
é realmente incorporada e difundida pelos falantes de uma determinada comunidade (p.150).
Como a língua está a todo momento se equilibrando entre tendências potencialmente conflitantes, e até
mesmo opostas, está sujeita a sofrer mudanças, pois esse equilíbrio pode vir a ser alterado por qualquer
tipo de fator, interno ou externo. Dessa forma, tanto a língua quanto a sociedade podem apresentar uma
grande heterogeneidade. Essa heterogeneidade é no fundo a raiz de toda a mudança e podemos
verificar que a heterogeneidade na sociedade pode gerar heterogeneidade na língua,e vice-versa. No
caso dos reflexivos expostos, a heterogeneidade linguística gerou uma variação que gera reações
diversas, ou seja, externas à língua. Qualquer outra variação que surja por motivos que não seja os
internos à língua constitui também uma heterogeneidade dentro da própria língua.
Ademais, as línguas mudam, de acordo com a perspectiva variacionista, de maneira que essa mudança
pressupõe a variação, ou seja, para que a mudança ocorra a língua tem necessariamente de passar por
um período em que há variação, em que coexistem duas ou mais variantes. Entretanto, é importante
lembrar que pode haver fatores de duas espécies que favorecem ou dificultam a mudança: fatores
linguísticos e fatores extralinguísticos. Os fatores linguísticos se relacionam à forma como a língua está
organizada, como funciona o seu sistema, quais são seus elementos, suas regras, etc. E os fatores
extralinguísticos relacionam-se à forma como a língua está inserida e organizada na sociedade

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