Você está na página 1de 2

Serviço Público Federal

Ministério da Educação
Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
FAALC - Curso de Letras

Lista de exercícios: Questão 2 (Prazo 20/04/2022)

Nos estudos da linguagem reconhece-se que a comunicação teve e tem papel


essencial. [...] No início do século XX, a afirmação de Saussure de que a língua
é fundamentalmente um instrumento de comunicação constituiu uma das
rupturas principais da linguística saussuriana, em relação às concepções
anteriores dos comparatistas e das gramáticas gerais do século XIX.
(BARROS, 2003, p. 25).

Diante de tal afirmação, discorra:

a) A respeito do modelo de comunicação empreendido pela teoria da


informação, dentre as quais uma das propostas mais conhecidas entre os
linguistas é a de C.F. Shannon. Em que medida Bertil Malmberg (1969), Roman
Jakobson (1969) e Ignácio Assis Silva (1972), procuraram mediante o
desenvolvimento de suas propostas, “ampliar” ou “completar” o modelo de
comunicação excessivamente simplificado da teoria da informação?

Bertil Malmberg (1969) e Roman Jakobson (1969), entre outros linguistas ou


teóricos da informação, são os que fazem parte do primeiro grupo. Em suas
propostas eles procuraram uma maneira de “completar” ou “ampliar” o modelo de
comunicação simplificado da teoria da informação.
Malmberg produziu uma descrição teórica geral do processo de comunicação a
partir do modelo da teoria da informação, onde ele introduziu no código como
elementos discretos, os signos; representou a relação atualizada das unidades
linguísticas, situando-as entre o código e o emissor; mostrou a relação de estímulo
que existe entre o universo dos fenômenos extralinguísticos, contínuos, e o emissor;
apresentou a representação da realidade formada pelo receptor onde não coincide
com a do emissor; e apontou diferentes fases na codificação e na decodificação da
mensagem.
Entretanto, apesar de Malmberg ter feito a “complementação” da teoria da
informação, a “ampliação” mais conhecida entre os linguistas é a de Roman
Jakobson. Para Jakobson, há na comunicação um remetente que envia uma
mensagem a um destinatário, e essa mensagem, para se tornar eficaz, requer um
contexto a que se refere, isto é, um canal físico e uma conexão psicológica entre o
remetente e o destinatário, que os capacitem a entrar e a permanecer em
comunicação. Ademais, tanto na proposta de Jakobson e na explicitação de Assis
Serviço Público Federal
Ministério da Educação
Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
FAALC - Curso de Letras

Silva, as principais contribuições foram a da relação com o contexto, com a


experiência comunicada, e a questão da representação do código e dos subcódigos.
Em síntese, as principais contribuições de Jakobson para o estudo da comunicação
foram: a introdução da variação linguística no modelo de comunicação, por meio de
códigos e subcódigos e de suas intersecções na relação entre remetente e
destinatário; o reconhecimento de que os homens se comunicam com diferentes
finalidades, tendo em vista a variedade de funções da linguagem que ocorrem no
processo de comunicação; o exame das funções metalinguísticas, e principalmente
poética, que contribuiu para o estudo dos textos poéticos na perspectiva dos
estudos da linguagem. Dessa maneira, deve ser destacado que o modelo de
Jakobson tem o caráter mecanicista da teoria da informação, ou seja, não examina
adequadamente as relações sócio-históricas e ideológicas da comunicação.

b) Sobre a diferença entre os modelos lineares e circulares de comunicação.

Primeiramente, existem dois tipos de modelos na comunicação: o modelo linear e o


modelo circular. A maioria dos modelos apresentados na teoria da informação são
essencialmente lineares, onde trata da transmissão da mensagem de um emissor a
um receptor, sem ocupar-se da reciprocidade ou da circularidade da comunicação
humana. A partir dos modelos lineares, houve uma reação nos Estados Unidos,
durante os anos 1950, com estudos de B. Bateson, E. Hall e E. Goffman, onde eles
propuseram um modelo “circular” para a comunicação. Dessa maneira, surgiu
assim, a teoria da nova comunicação.
Desse modo, a comunicação deve ser repensada não mais como um fenômeno de
mão única, do emissor ao receptor, mas como um sistema interacional, onde, nesse
sistema, importam não apenas os efeitos da comunicação sobre o receptor, como
também os efeitos que a reação do receptor produz sobre o emissor.
Além disso, a reciprocidade da comunicação é a garantia de que haverá, ao menos,
um equilíbrio de poder entre os interlocutores de uma dada comunicação. Por
exemplo, nos regimes autoritários não há direito de resposta. Os pais costumavam
dizer ao filho que ele é muito respondão ou, em outras palavras, que ele teve a
ousadia de usar a reciprocidade característica da comunicação humana e tomar a
palavra em resposta

Você também pode gostar