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Prova escrita

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS


PROCESSO SELETIVO 2016 – PROVA ESCRITA

INSTRUÇÕES
 Esta prova é constituída de duas questões sobre temas distintos. Cada questão vale
cinco pontos (5,0).
 Você deve responder às duas questões na ordem em que figuram na prova.
 Você tem três horas para concluir a prova e entregá-la. Não lhe será permitido nenhum
tempo adicional para correções, revisões ou redação da versão definitiva da prova.
 Você recebeu duas folhas de papel almaço rubricadas: a primeira folha, sem nenhuma
identificação, poderá ser utilizada como rascunho; a segunda folha, personalizada apenas
com o seu número de inscrição, deverá ser utilizada para a composição do seu texto
definitivo. As duas folhas deverão ser entregues ao examinador ao final da prova.
 Você não deve se identificar nas folhas de respostas, nem nas folhas de rascunho.

QUESTÃO (1)
Considere o fragmento abaixo:
“Desde a publicação do célebre estudo em que Malinowski (1923) apresenta sua noção de
contexto, vários pesquisadores de diferentes vertentes teóricas interessadas no
conhecimento da linguagem humana têm procurado esquadrinhar, segundo a sugestão do
próprio Malinowski, essa (...) nebulosa que envolve [o emprego das unidades linguísticas].
Em todas essas vertentes, alarga-se, em muito, o alcance da noção de contexto.”
KOCH, I. G. V.; MORATO, E. M.; BENTES, A. C.. Ainda o contexto: algumas considerações
sobre as relações entre contexto, cognição e práticas sociais na obra de Teun van Dijk.
Revista Latinoamericana de Estudios del Discurso, v. 11(1), p. 79-91, 2011.

No trecho dado, a autora afirma que a noção de contexto tem seu alcance alargado em
diferentes vertentes teóricas. Considerando essa afirmação, redija sua resposta levando
em consideração os diferentes sentidos que podem ser atribuídos à noção de
contexto com base na leitura dos fragmentos I, II e III (mas sem necessariamente se
restringir a eles). Ao elaborar sua resposta:
(a) desenvolva a ideia de que as unidades linguísticas não significam por elas mesmas;
(b) descreva em que medida a noção de contexto permite resolver (mesmo que
parcialmente) esse problema.

I.
“Comecemos pelas menores unidades da língua dotadas de significado, os chamados
morfemas, por exemplo o sufixo /-ist/. No código gramatical do inglês este morfema indica
um grau superlativo. Grau em relação a que qualidade? A resposta é dada pelo contexto ao
qual pertence o sufixo. A palavra é o contexto dos morfemas, assim como a sentença é o
contexto verbal das palavras e o discurso é o contexto verbal das sentenças, enquanto que
um morfema por seu lado é o contexto dos fonemas”.
JAKOBSON, R. A afasia como um problema linguístico. In: COELHO, M.; LEMLE, M. Novas
perspectivas linguísticas. Petrópolis: Vozes, 3ª ed. 1973, p. 48.

II.
“(...) na enunciação, a língua se acha empregada para a expressão de uma certa relação
com o mundo. A condição mesma dessa mobilização e dessa apropriação da língua é, para o
locutor, a necessidade de referir pelo discurso, e, para o outro, a possibilidade de co-referir
identicamente, no consenso pragmático que faz de cada locutor um co-locutor. A referência é
parte integrante da enunciação.”
BENVENISTE, E. Problemas de Linguística Geral II, Trad. Marco Antônio Escobar. Campinas:
Pontes, 1989, p. 84.

III.
“A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e
únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O
enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não
só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada pelos
recursos da língua (...), mas também, e sobretudo, por sua construção composicional. Esses
três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se
indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de
uma esfera de comunicação”.
BAHKTIN, M. Estética da Criação Verbal. Trad. Maria Ermantina Galvão Gomes Pereira. São
Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 279.

QUESTÃO (2)
Considere o fragmento abaixo:
“a participação social do sujeito dá-se graças à [participação] da linguagem, pois é por meio
dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e difunde seu ponto de
vista, partilha e constrói no mundo, produz conhecimento”.
LIMA DA SILVA, M. do R. Os estrangeirismos e a construção de identidades. In: LAFACE, A.
et al. Estudos Linguísticos e Ensino de Línguas. São Paulo: Arte e Ciência, 2006, p. 107.

No texto apresentado, discute-se a importância da comunicação na vida humana. A partir


dos fragmentos abaixo sobre a relação língua(gem)/comunicação: (i) apresente uma síntese
das ideias neles expostas; (ii) relacione-as; e (iii) apresente o seu posicionamento frente a
esse tema.

IV.
“(...) é mister uma perspectiva sumária dos fatôres constitutivos de todo processo
lingüístico, de todo ato de comunicação verbal. O REMETENTE envia uma MENSAGEM ao
DESTINATÁRIO. Para ser eficaz, a mensagem requer um CONTEXTO a que se refere (ou
“referente”, em outra nomenclatura algo ambígua), apreensível pelo destinatário, e que seja
verbal ou suscetível de verbalização; um CÓDIGO total ou parcialmente comum ao remetente
e ao destinatário (ou, em outras palavras, ao codificador e ao decodificador da mensagem);
e, finalmente, um CONTACTO, um canal físico e uma conexão psicológica entre o remetente e o
destinatário, que os capacite a ambos a entrarem e permanecerem em comunicação”.
JAKOBSON, R. Lingüística e Comunicação. Trad. Isidoro Blikstein e José Paulo Paes. 4a ed.
Revista. São Paulo: Cultrix, 1970, p. 122-123.

V.
“ (...) ‘comunicar’ é um fenômeno mais complexo do que propagam alguns trabalhos
especializados em comunicação, pois não consiste apenas em transmitir uma informação.
(...) ‘Comunicar’ é proceder a uma encenação. Assim como, na encenação teatral, o diretor
de teatro utiliza o espaço cênico, os cenários, a luz, a sonorização, os comediantes, o texto,
para produzir efeitos de sentido visando um público imaginado por ele, o locutor – seja ao
falar ou ao escrever – utiliza componentes do dispositivo da comunicação em função dos
efeitos que pretende produzir em seu interlocutor”.
CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: modos de organização. Org. Aparecida Lino Pauliukonis,
Ida Lúcia Machado; Coord. da equipe de tradução: Angela M.S. Corrêa e Ida Lúcia Machado. São
Paulo: Contexto, 2008, p. 68.

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