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Lista de exercícios de Linguística I – 2021.

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Profa. Dra. Sueli Maria Ramos da Silva

Acadêmico: Camila Medina Corselha_______________________________________________________

Questão 4) (6,0 pontos)


A linguística é definida, na maioria dos manuais especializados, como a disciplina que estuda
cientificamente a linguagem. Diante da salutar importância de Ferdinand de Saussure, por meio da
publicação póstuma do Curso de Linguística Geral, Pietroforte (2003, p. 77), apresenta a exposição das
dicotomias saussurianas. Segundo Pietroforte (2003, p. 77), “embora não haja menção ao termo dicotomias
no CLG (Curso de Linguística Geral, é assim que se costuma chamar os quatro pares de conceitos, que
fazem uma síntese das propostas de Saussure para a criação de um novo objeto teórico para a Linguística”
[...] Uma dicotomia em Saussure diz respeito a um par de conceitos que devem ser definidos um em relação
ao outro, de modo que um só faz sentido em relação ao outro”. Há quatro dicotomias em Saussure: sincronia
vs. diacronia (1969, p. 94-116), língua vs. fala (p. 26-28), significante vs. significado (p. 79-93) e paradigma
vs. sintagma (p. 142-147). Discorra sobre cada uma das dicotomias saussurianas.4
De acordo com o Curso Geral de Linguística de Saussure, a intervenção do tempo é um fator necessário para
criar para a Linguística certas dificuldades particulares; sendo que essas dificuldades colocam a ciência à
frente de duas rotas completamente distintas. Como na maioria das outras ciências o tempo não produz
efeitos particulares, então elas ignoram essa dualidade. Há uma necessidade em dividir a Linguística em
duas partes, sendo que cada uma tem o seu princípio próprio.
Na ciência da Linguística estamos perante a noção de valor, sendo ele um significado e um significante.
Ainda de acordo com Saussure “a língua constitui um sistema de valores puros que nada determina fora do
estado momentâneo de seus termos”. Ademais, mesmo que um sistema de valores seja complexo e
rigorosamente organizado, é ainda mais necessário, devido a sua complexidade, estudá-lo sucessivamente de
acordo com os seus dois eixos. Em nenhum outro sistema se apresenta esse caráter tanto quanto a língua; em
nenhuma parte se encontra um número tão grande e uma diversidade tamanha de termos. A multiplicidade
dos signos é quem nos impede absolutamente de estudá-los juntamente com as relações do tempo e do
sistema.
Para distinguirmos duas Linguísticas, os termos Linguística Evolutiva para o termo evolução será usado, e
para a ciência dos estados da língua será usado a Linguística Estática; onde esses dois termos são
completamente opostos. E para melhor compreensão dessa oposição os estudiosos preferem designar em
Linguística Sincrônica e Linguística Diacrônica. É sincrônico tudo aquilo que se relacione com o aspecto
estático de nossa ciência, e diacrônico tudo que se diz respeito às evoluções, ou seja, respectivamente, elas
irão designar um estado da língua e uma fase de evolução.
Para se estudar os fatos da língua, devemos entender que, para o indivíduo falante, a sucessão dele no tempo
não existe, ele apenas se acha diante de um estado. Na língua não podemos descrevê-la nem fixar normas
para o seu uso sem nos colocarmos num estado determinado. Porém, quando se estuda a evolução da língua,
ele vai de uma ponta a outra para anotar os deslocamentos da perspectiva.
Desde que a Linguística moderna existe, é possível dizer que se absorve primeiro a diacronia. A
gramática-comparada do Indo-Europeu utiliza dados para reconstruir hipotéticamente algum tipo de língua
antecedente. E ela faz essa reconstrução do passado pelo método da comparação. Esse método é o mesmo
para o estudo particular dos subgrupos (línguas românicas, línguas germânicas, etc). Dessa maneira, aqueles
que procederam os estudos sobre a língua, descrevem em seus trabalhos os estados, de maneira
extremamente sincrônica. Onde na gramática de Port Royal ela ignora partes inteiras da língua, como por
exemplo, a formação das palavras.
A oposição entre o diacrônico e o sincrônico se manifesta em todos os pontos. Um exemplo que pode ser
citado é a questão da importância, eles não tem uma importância igual. O aspecto sincrônico sempre
prevalece sobre o outro devido a massa falante, e ele constitui a verdadeira e a única realidade. Também
constitui para o linguista o fato de que se este se coloca na perspectiva diacrônica, não é mais a língua o que
percebe, mas sim uma série de acontecimentos que a modificam. Segundo o livro “Introdução à Linguística”
de José Luiz Fiorin, a diacronia se designa pelas mudanças que ocorrem na língua durante o tempo; já a
sincronia é vista como um sistema em que um elemento se define pelos demais elementos.
Dessa maneira, foi necessário escolher entre a língua e a fala, e agora há uma encruzilhada entre a diacronia
e a sincronia. Em suma, a Linguística Sincrônica se ocupa das relações lógicas e psicológicas que unem os
termos coexistentes e que foram sistemas, tais como são percebidos pela consciência coletiva. E a
Linguística Diacrônica se ocupará das relações que unem termos sucessivos não percebidos por uma mesma
consciência coletiva e que se substituem mutuamente sem formar sistema entre si.
Já na dicotomia língua vs fala, o Curso de Linguística Geral de Saussure cita que todos os elementos da
linguagem que constituem a fala vêm por si próprios estabelecer uma relação com essa primeira ciência, e é
graças a essa relação que todas as partes da Linguística se encontram em seu lugar natural. Um exemplo que
pode ser dado à situação acima é a produção de sons necessários à fala: os órgãos vocais são exteriores à
língua como os aparelhos elétricos que servem para transcrever o alfabeto Morse são estranhos a esse
alfabeto. Ademais, a execução das imagens acústicas não afeta o sistema linguístico em si. A partir desse
aspecto, pode-se fazer a comparação entre a língua a uma sinfonia, cuja realidade não depende da maneira
que é executada.
A separação da fonação e da língua impedirão as transformações fonéticas, as alterações de sons que se
produzem na fala, e que exercem influência tão profunda nos destinos da própria língua. Se atacam a língua
enquanto sistema de signos, fazem-no apenas indiretamente, pela mudança de interpretação. Porém, para a
ciência da língua, sempre bastará apenas comprovar as transformações dos sons e calcular-lhes os efeitos. E
diremos que a fonação será verdadeiramente tocante a todas as outras partes da fala. A atividade de quem
fala deve ser estudada num conjunto de disciplinas que, somente por ter relação com a língua, deve ter um
lugar na Linguística.
No entanto, o estudo da linguagem é dividido em duas partes: a primeira, que é essencial, é o objeto da
língua, que tem a sua essência social; a segunda é o objeto individual da linguagem, ou seja, a fala. Com
toda certeza, esses dois objetos estão totalmente ligados e se requerem mutuamente. A língua é necessária
para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos, porém a fala é necessária para que a língua se
estabeleça; no quesito histórico o fato da fala vem sempre antes. Dessa maneira, é ouvindo os outros que
aprendemos a língua materna, ela se fixa em nosso cérebro somente após inúmeras experiências. Em suma, é
a fala que faz a língua evoluir: são as impressões recebidas ao ouvir os outros que modificam nossos hábitos
linguísticos.
Por outro lado, a língua existe na coletividade sob a forma de soma de sinais fixados em cada cérebro, mais
ou menos como um dicionário cujo exemplares são todos iguais e depois fossem distribuídos entre os
indivíduos. Trata-se de algo que está em cada um dos indivíduos, embora seja comum a todos. Essa
existência pode ser representada pela fórmula: 1+1+1+1… = I (padrão coletivo). A fala está presente nessa
coletividade pela soma do que as pessoas dizem e compreende, como as combinações individuais, e os atos
de fonação voluntários. Entretanto, não existe nada coletivo na fala, pois as suas manifestações são
individuais e momentâneas.
Em suma, por todas as razões citadas acima, seria impossível reunir sob o mesmo ponto de vista a língua e a
fala. O conjunto global da linguagem é impossível de conhecer, já que ele não é homogêneo. Essa é a
primeira bifurcação que se encontra quando se procura estabelecer a teoria da linguagem. Pode-se, com
obstinação conservar o nome da Linguística para cada uma dessas disciplinas e falar em uma Linguística da
fala. Porém, é necessário que não se confunda com a Linguística propriamente dita, que o único objeto é a
língua.
Agora falando sobre Significante e Significado, o Curso de Linguística Geral diz que o signo linguístico une
não uma coisa e uma palavra, mas sim um conceito e uma imagem acústica. Esta não é o som material, uma
coisa física, mas a impressão psíquica desse som, onde ele busca na nossa memória referências daquilo. O
caráter psíquico de nossas imagens acústicas aparece quando observamos nossa própria linguagem.
O signo linguístico é uma entidade psíquica de duas faces, que se representa pelo conceito e pela imagem
acústica. Esses dois elementos estão intimamente ligados e um evoca o outro. Para explicar de uma maneira
melhor, o signo é a combinação do conceito e da imagem acústica, por exemplo: a palavra maçã, não há
nada que lembre na palavra a sua imagem acústica - a fruta nesse caso. Dessa maneira, o signo linguístico
exibe duas características primordiais, sendo eles a arbitrariedade do signo, e a linearidade do significante.
Primeiramente, o laço que une o significante ao significado é arbitrário. Assim, a ideia de mar, por exemplo,
não está ligada por relação alguma interior à aquela sequência de sons m-a-r que lhe serve de significante.
Para Saussure, o signo não exige nenhuma relação necessária entre o som e o sentido. Por conta disso, a
arbitrariedade da relação significante e significado quer dizer que ela é convencional, ou seja, repousa em
uma espécie de acordo coletivo entre os falantes. Ademais, a noção de absolutamente arbitrário e
relativamente arbitrário está presente no Curso de Linguística Geral. Um signo ser absolutamente arbitrário
designa que ele não tem nenhuma motivação na relação que liga significante e significado; entretanto, um
signo como dezenove lembra dois outros signos o dez e o nove, ou seja, ele é relativamente arbitrário, pois
lembra dois outros signos
Essa motivação aparece na formação de palavras por composição ou derivação. A limitação relativa da
arbitrariedade estabelece um princípio de ordem e de regularidade na língua. Entretanto, a arbitrariedade do
signo não se aplica a todas as linguagens, pois há linguagens que têm signos em que a relação entre
significante e significado é motivada, um exemplo que pode ser citado é as linguagens visuais, onde na foto
de uma paisagem é um signo em que o significante e o significado estão unidos por semelhanças.
Por outro lado, o significante há a sua linearidade, que é quando a escrita, ao representar a fala, representa
essa linearidade no espaço. A linearidade é uma característica das línguas naturais, segundo a qual os signos
dispõem-se uns depois dos outros numa sucessão temporal ou espacial. Devido a essa característica, não se
pode produzir mais de um elemento linguístico de uma vez; um som tem que vir um depois do outro, uma
palavra depois da outra, e não se podem produzir dois sons ao mesmo tempo ou duas palavras ao mesmo
tempo. Há linguagens, como por exemplo na pintura, cujo significantes não são lineares, e portanto, eles se
apresentam simultaneamente para quem vê o quadro.
A língua possui dois eixos de organização, o eixo sintagmático e o eixo paradigmático. O eixo sintagmático
é definido como eixo da combinação e o paradigmático como o eixo das escolhas, ou seja, são as
possibilidades de combinações e escolhas disponíveis dentro do campo de alternativas. Esses eixos
contribuem para o funcionamento da língua, que funciona a partir de seu encontro dentro da cadeia
linguística, e podem ser representados assim:

O eixo sintagmático é representado pela fala, e o eixo paradigmático é representado pela língua, porém,
ambos estão no domínio da língua, pois possuem relações com os elementos que constroem o sistema. As
relações paradigmáticas referem-se à seleção entre elementos, onde o selecionado exclui os outros, ou seja,
ocorrem na ausência, já as sintagmáticas ocorrem pela presença de elementos relacionados. Em virtude do
caráter linear dos significantes, há a impossibilidade de que os signos linguísticos ocorram simultaneamente
na cadeia da fala. Assim, enunciados um após o outro, eles formam um alinhamento que os distribui em
relações de combinação entre, no mínimo, dois elementos. Há, portanto, relações de combinação entre os
signos A essas relações, Saussure chama de sintagmática (1969- 142), do grego sintagma, Que quer dizer
"coisa posta em ordem’’.
Além das relações sintagmáticas, baseadas na combinação, há também relações baseadas na seleção dos
elementos que são combinados (Saussure, 1969-143). Apresentando algo em comum, um signo pode ser
associado a outros signos por, pelo menos, três modos; por meio de seu significado, com seus antônimos e
sinônimos; por meio de seu significante, com imagens acústicas semelhantes; e por meio de outros signos,
em processos morfológicos comuns. A diferença entre as relações sintagmáticas e as paradigmáticas não é a
mesma que existe entre língua e fala (Saussure, 1969:26-28). Aquelas, por relacionar no mínimo dois
elementos linguísticos, são um tipo de relação em que os elementos relacionados se encontram em presença
um do outro, já as relações paradigmáticas, porque dizem respeito à seleção entre elementos, são um tipo de
relação em que o elemento selecionado exclui os demais elementos da relação.
Assim, as relações paradigmáticas entre os elementos linguísticos ocorrem em ausência, ao contrário das
sintagmáticas, que ocorrem pela presença dos elementos relacionados (Saussure. 1969:143). Já a língua se
distingue de fala porque a definição de língua coincide com a de sistema de signos e a de fala refere-se à
realização desse sistema em um ato individual de fonação (Saussure,1969:27). Assim, tanto as relações
paradigmáticas quanto as sintagmáticas estão no domínio da língua, e não da ala, porque dizem respeito às
relações entre os elementos que formam o sistema da língua, Como a fala é uma realização do sistema
linguístico, ela realiza as relações de combinação determinadas por esse sistema.
Logo, se signo for confundido com palavra, as relações paradigmáticas se dão entre as palavras de uma
língua e as relações sintagmáticas são as relações sintáticas dessa língua. Contudo, essa confusão entre signo
e palavra não deve ser feita. Embora uma palavra seja um signo, um signo não é, necessariamente, uma
palavra.

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