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INTRODUÇÃO À

LINGUÍSTICA

Debbie Mello Noble


Língua e linguagem
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Diferenciar língua de linguagem.


 Reconhecer diferentes concepções de língua para a linguística.
 Identificar mitos referentes à língua.

Introdução
O conceito de linguagem não é igual ao de língua. A linguagem é mais
ampla que a língua, uma vez que abarca outras possibilidades para além
do campo linguístico. Pode ser verbal — escrita ou oral — e não verbal
— dança, imagem, gesto. No âmbito linguístico, os estudos da linguagem
inauguram a linguística moderna com Ferdinand de Saussure. Com base
nos estudos desse autor, a língua passa a ser observada como um objeto
sistematizado. Desta ideia, partem diversas outras concepções de língua.
Neste capítulo, você vai estudar a língua conhecendo as diferenças
entre língua e linguagem, algumas visões sobre o que é língua para a
linguística e os mitos mais comuns a respeito desse conceito.

O que é linguagem?
É comum que se pense que linguagem e língua são a mesma coisa. Com essa
confusão, a linguagem é reduzida ao âmbito da língua, como se só existisse
uma forma de linguagem, que geralmente é aquela associada à forma verbal.
No entanto, a linguagem é muito mais ampla que a língua.
Segundo Pinheiro (2011, documento on-line), linguagem abrangeria, além
de todas as línguas, “[…] todos os sistemas simbólicos humanos e não huma-
nos, inclusive a comunicação artificial, a linguagem das abelhas a linguagem
informática ou ainda a linguagem da arte, da moda etc”.
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Conforme John Lyons (1987), a linguagem tem dois lados interdependen-


tes: o biológico e o cultural. Biologicamente, a aquisição da linguagem se
daria por fatores universais, como a capacidade de produzir e compreender
sentenças, determinada pelas faculdades cognitivas da mente. Por outro lado,
haveria os fatores não universais, ou seja, a especificidade de cada língua,
que dependeria da cultura em que o sujeito está inserido.
Para Émile Benveniste (1991, p. 85), a linguagem está relacionada a uma
faculdade humana universal. O que caracteriza o homem é a linguagem, uma
vez que “[…] não atingimos nunca o homem separado da linguagem e não o
vemos nunca inventando-a. […] É um homem falando que encontramos no
mundo, um homem falando com outro homem, e a linguagem ensina a própria
definição do homem”.
Eni Orlandi (1995) entende linguagem como o meio pelo qual homem e a
sociedade se relacionam. É ela que media essa relação, já que é necessária para
que o sujeito compreenda a realidade. Essa mediação pode se dar de diversas
maneiras, não somente pela língua. Isso significa que há diferentes linguagens.
É por isso que falamos em linguagem verbal e linguagem não verbal.

Linguagem verbal e não verbal


A linguagem não verbal é aquela que não utiliza a língua, seja falada seja es-
crita, para expressar algo. Muitas vezes, a linguagem não verbal é compreendida
pelos sujeitos por meio de uma convenção estabelecida, como é o caso dos
símbolos que formam as placas de trânsito, por exemplo. Eles se valem, na
maioria das vezes, da linguagem não verbal, mas também podem utilizar
as linguagens verbal e não verbal ao mesmo tempo, o que é denominado de
linguagem mista, como ilustra a Figura 1.
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Figura 1: Placa de trânsito: linguagem verbal e não verbal.


Fonte: Cerca... (2018, documento on-line).

Por meio da linguagem corporal, de símbolos, sons, imagens e gestos ex-


pressamos diferentes sensações e sentimentos ou comunicamos algo. As artes
plásticas, por exemplo, utilizam-se da linguagem não verbal trabalhando com
imagens, texturas e diferentes recursos visuais. Já a dança e o teatro constituem-
-se primordialmente da expressão corporal e da riqueza dos movimentos e
gestos para expressar e gerar sensações diversas, como mostra a Figura 2.

Figura 2: A dança como linguagem não verbal de expressão.


Fonte: Romanen ([200-?], documento on-line).
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Mas não é somente no âmbito artístico que há linguagem não verbal. As


pessoas se expressam por meio de gestos, expressões faciais e sons. Quando
acena para um amigo do outro lado da rua, você está usando linguagem não
verbal. Quando responde afirmativamente ou negativamente com a cabeça
também. Veja na Figura 3 outro exemplo desse tipo de linguagem.

Figura 3: Linguagem não verbal: a expressão facial.


Fonte: Alvarez ([200-?], documento on-line).

No cotidiano, a linguagem não verbal foi, por muito tempo, menos valori-
zada que a verbal. Isso ocorre porque a cultura ocidental sempre esteve muito
ligada ao verbal, com a escrita e a oralidade, não havendo tanta valorização
das formas não verbais de expressão. No entanto, com um olhar um pouco
mais atento ao seu dia a dia, você pode perceber a importância desse tipo de
linguagem. Atualmente, a comunicação não verbal vem adquirindo outro
espaço em virtude das redes sociais e da comunicação pelos emojis, gifs e
outras formas de imagem que têm dominado a internet.
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Quando nos referimos à linguagem verbal não estamos nos referindo à língua. Como
mencionado anteriormente, os conceitos de língua e linguagem são distintos, embora
intrinsecamente relacionados.

Linguagem verbal é, no entender de Petter (2007, p. 11), “[…] a matéria


do pensamento e o veículo da comunicação social”. Para autora, linguagem e
comunicação estão intrinsecamente ligadas. Isso porque, do mesmo modo que
“[…] não há sociedade sem linguagem, não há sociedade sem comunicação”.
Assim, a autora entende que “[…] tudo o que se produz como linguagem
ocorre em sociedade, para ser comunicado, e como tal, constitui uma realidade
material que se relaciona com o que lhe é exterior, com o que existe indepen-
dentemente da linguagem”.
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Linguística: ciência da língua e da linguagem


A ciência que estuda língua e linguagem é denominada Linguística. A linguística
moderna foi fundada por Ferdinand de Saussure, professor da Universidade de Genebra,
que teve sua obra publicada postumamente. O livro, chamado Curso de Linguística
Geral (CLG), de 1916, que o tornou famoso foi, em verdade, uma publicação organizada
por dois de seus alunos, Charles Bally e Albert Sechehaye. É composto por escritos de
Saussure e por anotações de aula de alguns alunos. No prefácio do CLG, os editores
explicam:

Após a morte do mestre, esperávamos encontrar-lhe nos manuscritos


[…] a imagem fiel ou pelo menos suficientemente fiel de suas geniais
lições; entrevíamos a possibilidade de uma publicação fundada num
simples arranjo de anotações pessoais de Ferdinand de Saussure, com-
binadas com as notas de estudantes. Grande foi a nossa decepção; não
encontramos nada ou quase nada que correspondesse aos cadernos de
seus discípulos (SAUSSURE, 2006, p. 2).

A publicação estabelece um novo paradigma nos estudos linguísticos. Até então,


os estudos eram realizados em um nível histórico-comparativo entre as línguas. Com
o CLG, passa-se à análise do funcionamento da língua como um sistema, o que faz os
estudos linguísticos se constituírem pela observação dos fatos da língua. Para Saussure,
a linguagem e a língua não poderiam ser pensadas como a mesma coisa: a língua, para
o autor, seria somente uma parte — ainda que uma parte essencial — da linguagem.

As diferentes concepções de língua


A língua não é somente um conjunto de regras, como aquelas que são ha-
bitualmente ensinadas na escola, na disciplina de língua portuguesa. Não
equivale também aos idiomas. Pensar a língua como conceito teórico é uma
abstração, uma maneira de observar seus funcionamentos por meio do modo
como os falantes a empregam nas mais variadas situações. Você vai ver, a
seguir, algumas concepções de importantes estudiosos da linguagem que, ao
longo do tempo, refletiram acerca desse conceito e que compõem, atualmente,
um diverso quadro teórico da linguística.
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O corte saussureano: de um lado a língua, de outro a


fala
Com o CLG, há uma sistematização dos estudos da linguagem, separando-a
em língua e fala. Essa separação foi denominada corte saussureano e é fun-
damental para os estudos linguísticos, uma vez que instaura um novo ponto
de vista sobre a linguagem como objeto de estudo. Para Saussure, a língua
é o lado social da linguagem, com convenções que nos permitem executar a
faculdade da linguagem. Já a fala estaria associada ao lado individual da
linguagem.
Na concepção saussureana, a língua é entendida como um sistema que, por
ser constante e social, é passível de ser analisada no que tange a sua organização
e seu funcionamento. A fala, por sua vez, seria o lado individual e variável da
linguagem, resultado das combinações que o sujeito falante realiza com base
no código da língua. Esse foi um corte epistemológico realizado por Saussure
para possibilitar a delimitação do objeto de estudo: a língua. Portanto, o lado
da linguagem considerado variável — a fala — ficou de fora desse estudo.
Saussure negava o pensamento tradicional de que a língua seria uma lista
de palavras que nomeariam coisas já prontas e fixas no mundo. O autor en-
tão definiu língua como um sistema de signos: uma unidade de dupla face,
composta por um significado e um significante. Isto é:

signo = significado + significante

O significado está relacionado ao conceito, à ideia que se faz de algo. O


significante, por sua vez, está associado à imagem acústica. Para elucidar
isso, vejamos o que afirma o CLG:

O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma
imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a
impressão (empreinte) psíquica desse som, a representação que dele nos dá
o testemunho de nossos sentidos; tal imagem é sensorial e, se chegamos a
chamá-la “material”, é somente nesse sentido, e por oposição ao outro termo
da associação, o conceito, geralmente mais abstrato. O caráter psíquico de
nossas imagens acústicas aparece claramente quando observamos nossa
própria linguagem. Sem movermos os lábios ou a língua, podemos falar
conosco ou recitar mentalmente um poema (SAUSSURE, 2006, p. 106,
grifo nosso).
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Um dos princípios que o autor estabeleceu sobre o signo linguístico é


que a relação entre significado e significante é arbitrária. Isso quer dizer
que um não motiva o outro. Portanto, chamamos “mar” de “mar” porque foi
convencionado assim, e não porque possa haver qualquer relação entre a ideia
de mar e a imagem acústica (significante) que temos dele. Uma prova disso
seria que, em línguas diferentes, temos imagens acústicas diferentes.
Considerando o lado social da língua, o fato de o signo linguístico ser
arbitrário não quer dizer que:
[…] o significado dependa da livre escolha do que fala ([…] não está ao
alcance do indivíduo trocar coisa alguma num signo, uma vez que esteja ele
estabelecido num grupo linguístico); queremos dizer que o significante é
imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem
nenhum laço natural na realidade (SAUSSURE, 2006, p. 83).
O signo, portanto, não é estabelecido individualmente, mas coletivamente.
É no coletivo que a língua se faz.

Leia mais sobre Ferdinand de Saussure no link a seguir:

https://qrgo.page.link/o7u1R

Benveniste e o homem na língua


Émile Benveniste e sua teoria da enunciação foram outro marco para os
estudos da linguagem. Baseado na teoria proposta no CLG, de Saussure, o
autor reflete sobre a linguagem como uma faculdade humana universal, que
se diferenciaria da língua. No entanto, é contrária à proposta saussureana na
medida em que inclui a subjetividade em seus estudos da linguagem, isto é,
o lado individual.
Benveniste questionou os conceitos de língua e fala propostos por Saussure,
afirmando que existiria uma instância entre eles: a enunciação, que se refere
ao ato de dizer. A enunciação é entendida como um conjunto de categorias
que auxiliam no processo de passagem da língua para a fala. O enunciado, por
sua vez, seria o que é ou foi dito. Essas categorias se referem aos elementos
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dêiticos e embreadores — eu (pessoa), aqui (espaço) e agora (tempo) — que


indicam respectivamente: o indivíduo presente no enunciado, o espaço expli-
citado ou não no enunciado e o tempo no enunciado. Para o autor, portanto, a
enunciação é o ato individual de colocar a língua em funcionamento. Nesse ato,
o locutor “[…] mobiliza a língua por sua conta” (BENVENISTE, 1989, p. 82).
O que Benveniste fez foi uma descrição da língua, mas considerando as
formas que marcam o elemento subjetivo. Ele explica:
A ‘subjetividade’ de que tratamos aqui é a capacidade do locutor para se
propor como ‘sujeito’. Define-se não pelo sentimento que cada um experi-
menta de ser ele mesmo […] mas como a unidade psíquica que transcende a
totalidade das experiências vividas que reúne e que assegura a permanência
da consciência (BENVENISTE, 1989, p. 286).
Ou seja, por meio de certas marcas presentes naquilo que diz, o locutor se
apresenta e se constitui como sujeito. Por exemplo, por meio dos pronomes
pessoais: quando alguém diz “eu”, é preciso compreender que somente “eu”
posso ser o “eu” daquele ato de enunciação em que me dirijo a um “tu”.
Com essa concepção, fundamenta-se a subjetividade na forma de pensar
a língua, que é determinada, segundo o autor, “[…] pelo status linguístico da
pessoa”, ou seja, os pronomes pessoais, que está presente em qualquer língua.
Isso atestaria também o caráter universal da linguagem (BENVENISTE,
1989, p. 286).

Saiba mais sobre a obra de Émile Benveniste no link a seguir.

https://qrgo.page.link/MJTih

A concepção discursiva de língua


Esta concepção discursiva de língua é embasada pela teoria do discurso
concebida por Michel Pêcheux no final dos anos 1960, na França. Para essa
teoria, a noção de língua é central, porque é entendida como a base material
do discurso, que é seu objeto de análise.
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A língua, na concepção discursiva, é inseparável do sujeito e do que em


outras concepções seria exterior a ela. Isso porque o sujeito, a história e as
condições de produção do que se diz constituem a língua e, portanto, não
podem estar isolados.
Seria, então, impossível pensar que há sentidos literais ou previamente
concebidos para uma palavra ou expressão. Quando a língua é analisada em
suas condições de produção, abre-se espaço para as possíveis falhas, equívocos
e ambiguidades, bem como para a multiplicidade de interpretações do sentido.
No entanto, nem toda interpretação é possível. Os sentidos se determinam de
acordo com a posição ideológica daqueles que interpretam. Para compreender
melhor esse funcionamento, veja a Figura 4.

Figura 4: Ambiguidade na língua.


Fonte: Armandinho (2019, documento on-line).

Na tirinha do personagem Armandinho, de Mauricio Beck, é possível


perceber a multiplicidade de interpretações para a palavra “vendo”, que gera
o humor e o aspecto crítico da tirinha. De um lado, há o entendimento de
“vendo” como conjugação do verbo “vender”, atribuído por um adulto. Esse
entendimento é baseado no fato de o adulto estar inserido na lógica capitalista,
em que tudo se vende e se compra. Por outro lado, está a interpretação da
criança, que consegue ver o mundo com outros olhos e, neste caso, atribui,
para “vendo” o sentido da conjugação do verbo “ver”.
Por esta breve análise, é possível perceber que o conceito de língua anali-
sado no discurso não é o de uma estrutura estanque, nem de um sistema em
que é possível isolá-la da fala. Na concepção discursiva, quando o indivíduo
atribui determinados sentidos, e não outros, para uma palavra ou expressão,
ele está se constituindo como sujeito, pois é por meio da língua, da história e
da ideologia que o afetam que ele se constitui como tal.
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As diferentes concepções de língua (a da enunciação, de Benveniste, e a discursiva)


também possuem diferenças em relação ao sujeito. Para Benveniste, o sujeito já é
“[…] um homem falando no mundo”, ou seja, um sujeito enunciador, que escolhe e
produz intenções no que enuncia. A concepção discursiva, por sua vez, propõe um
“[…] sujeito interpelado, assujeitado ideologicamente e produto de determinações,
por influência direta do materialismo histórico” (FERREIRA, 2010, documento on-line).
Portanto, o sujeito na concepção discursiva é um sujeito afetado por três ordens: a
linguagem, a ideologia e o inconsciente. É a ideologia que interpela os sujeitos e que
os leva a interpretar de um jeito e não de outro. Dessa forma, é possível dizer, com
Orlandi (2012), que a ideologia é a condição para a constituição do sujeito e dos sentidos.

Mitos sobre a língua


Por conta de uma tradição positivista do estudo e do ensino da língua, alguns
mitos sobre esse conceito passaram a fazer parte do senso comum. Um dos
principais é o de que a língua é homogênea, ou seja, de que a língua não
apresenta variação. Com base nessa ideia, funda-se uma ideia de erro e acerto.

Para que você compreenda melhor essa questão, pense na língua portuguesa. Não
existe apenas uma forma de falar português. O português falado no Brasil não é igual
ao falado em Angola ou em Portugal. Em cada região do País, há diferentes formas
de se referir a mesma coisa. Por exemplo, a macaxeira, no Nordeste, e o aipim, no Rio
Grande do Sul. Expressões e gírias também são exemplos de variações que podem
ocorrer de acordo com a região, como é o caso das interjeições “Oxe!”, no Nordeste,
e “Bah!”, no Rio Grande do Sul.

Segundo Marcos Bagno ([200-?], documento on-line), a palavra língua


leva a uma ilusão de uniformidade que difere da realidade. Isso porque, ao
falar-se em língua portuguesa, por exemplo, se apaga “[…] a multiplicidade
de modos de falar decorrente da multiplicidade das sociedades e das culturas
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em que as línguas são faladas”. Os distintos modos de falar são, na realidade,


parte da variedade linguística, característica da natureza da língua.
Apesar de mais evidente, não são somente os fatores regionais que in-
fluenciam na variação linguística. É preciso considerar fatores como: classe
social, idade, renda, grau de escolarização, profissão, acesso às tecnologias
de informação, usos escritos e usos falados.
Para Bagno ([200-?]), a observação de que a língua é variável está rela-
cionada ao surgimento da disciplina de gramática na Antiguidade, uma vez
que essa disciplina estaria a serviço do bem-falar e do bem-escrever. Logo,
criou-se um modelo de língua para unificar as variações da língua grega, o
que contribuía para uma ideia de unificação territorial e de difusão da língua
supostamente una. Nas palavras de Bagno ([200-?], documento on-line):
[…] a consequência cultural desse processo histórico é que o termo língua
passou a ser usado, no senso comum, para rotular exclusivamente esse modelo
idealizado, literário, enquanto todos os usos reais, principalmente falados,
foram lançados à categoria do erro.
Atualmente, apesar de as diferentes vertentes dos estudos linguísticos con-
siderarem a variação linguística e, sobretudo, entenderem que cada variedade
possui sua própria lógica gramatical, há ainda uma tradição de homogeneização
da língua no ensino de língua portuguesa. Isso está associado à ideia de que o
ensino de língua é equivalente ao ensino de regras e modelos únicos.
No entanto, Bagno afirma que ensinar as diferentes variantes linguísticas é
importante para que os alunos aumentem o seu repertório e sejam capazes de
se comunicar nas situações em que houver necessidade. É o que ele denomina
novo projeto de educação linguística, uma forma de fazer o aluno se apoderar
da escrita e dos diferentes gêneros discursivos associados a ela, sem rejeitar
as variedades linguísticas, “[…] valorizando-as, ao contrário, como elementos
formadores de sua identidade individual e social e como patrimônio cultural
do país” (BAGNO, [200-?], documento on-line).

Saiba mais a respeito da concepção de Marcos Bagno sobre a língua no livro Preconceito
Linguístico, publicado em 1999. Para complementar a sua leitura, confira o link a seguir:

https://qrgo.page.link/DXKVq
Língua e linguagem 13

ALVAREZ, J. In: PIXABAY. [S. l.: s. n., 200-?]. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/
gestos-colagem-linguagem-n%C3%A3o-verbal-2158259/. Acesso em: 16 dez. 2019.
ARMANDINHO. [S. l.: s. n.], 2019. Disponível em: https://tirasarmandinho.tumblr.com/.
Acesso em: 16 dez. 2019.
BAGNO, M. Variação linguística: glossário Ceale. Brasília: UNB, [200-?]. Disponível em:
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/variacao-linguistica.
Acesso em: 16 dez. 2019.
BENVENISTE, É. Problemas de linguística geral I. Campinas: Pontes, 1991.
BENVENISTE, É. Problemas de linguística geral II. Campinas: Pontes, 1989.
CERCA de 40 placas de trânsito são trocadas por mês em Paranágua. Folha do Litoral,
abr. 2018. Disponível em: https://folhadolitoral.com.br/transito/cerca-de-40-placas-de-
transito-sao-trocadas-por-mes-em-paranagua/#.Xfgs7NJKhdg. Acesso em: 16 dez. 2019.
FERREIRA, M. C. Análise do discurso e suas interfaces: o lugar do sujeito na trama do
discurso. Organon, v. 24, n. 42, 2010. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/organon/article/
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ORLANDI, E. Texto e discurso. Organon, Porto Alegre, v. 9, n. 23, 1995.
ORLANDI, E. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2012.
PETTER. M. M. T. Línguas africanas no Brasil. Portal de Revistas da USP, São Paulo, 2007.
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Acesso em: 16 dez. 2019.
ROMANEN. In: PIXABAY. [S. l.: s. n., 200-?]. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/
bal%C3%A9-dan%C3%A7a-bailarina-cena-1376250/. Acesso em: 16 dez. 2019.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006.

Leitura recomendada
BENVENISTE ON-LINE. Porto Alegre: UFRGS, 2019. Disponível em: http://www.ufrgs.br/
benvenisteonline/. Acesso em: 16 dez. 2019.
PRECONCEITO linguístico — 20 anos depois. [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (57 min). Publicado
pelo canal Parábola Editorial. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UN_-
nPdQfm8. Acesso em: 16 dez. 2019.
SAUSSURE: biografia e livros de Ferdinand de Saussure. In: COLUNAS TORTAS. [S. l.: s.
n.], 2019. Disponível em: https://colunastortas.com.br/ferdinand-de-saussure. Acesso
em: 16 dez. 2019.
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