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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

Faculdade de Letras
Introdução à Linguística Descritiva - ILD
Docente: Sinval Martins S. Filho

Discente (s): ANDRÉ VINÍCIUS SOARES MARTINS


DAIANE GOMES LOBATO
SYLVIA DE VASCONCELOS MILHOMEM

Prova bimestral de ILD 13/12/2023

Escolha 3 questões e as desenvolva(m)/responda(m).

Questão 1.
No capítulo “Linguagem, língua, linguística” do Volume 1 da coleção Introdução à Linguística,
organizada por FIORIN e colegas (FIORIN, 2003a), é dito que:
“Com o objetivo de descrever a língua, a Linguística desenvolveu uma metodologia que visa
analisar as frases efetivamente realizadas reunidas num corpus representativo (conjunto de
dados organizados com uma finalidade de investigação). O corpus não é constituído apenas
pelas frases “corretas” (como a gramática normativa), também inclui as expressões “erradas”,
desde que apareçam na fala dos locutores nativos da língua sob análise. A descrição dos fatos
assim organizados não tem nenhuma intenção normativa ou histórica, pretende tão-somente
depreender a estrutura das frases, dos morfemas, dos fonemas e as regras que permitem a
combinação destes”. (FIORIN, 2003a, p. 21)
A partir do trecho acima e das entrevistas de Perini e Castilho (estudadas em sala/casa) e
observando os termos “corretas” e “erradas”, faça uma discussão sobre a concepção de língua
da (i) linguística e da (ii) gramática normativa.

RESPOSTA:
Do ponto de vista da linguística estrutural, destacamos aqui a visão de Saussure (2006: 17-22).
Esse linguista distingue a concepção de linguagem, língua e fala, da seguinte forma: a) a
linguagem é de natureza heterogênea, portanto, é multiforme e heteróclita, ao mesmo tempo
física, fisiológica e psíquica, além disso, pertence ao domínio individual e social. Para esse autor,
devido às dificuldades em inferir sua unidade, de não classificá-la em nenhuma categoria de
fatos humanos, a linguagem não pode ser o objeto da Lingüística; b) a língua é um produto social
da linguagem, constitui algo adquirido e convencional, compõe-se de um sistema de signos
aceitos por uma comunidade linguística. Esse sistema é homogêneo, estável, social,
representado em termos de relações de oposição e de regras; c) a fala é um ato individual de
vontade e inteligência do indivíduo que usa a língua, é acessória e mais ou menos acidental.
Baseado nos conceitos acima, Saussure (2006: 28) define que a Lingüística propriamente dita é
aquela cujo único objeto é a língua. Esta opção teórica é compartilhada pelos estruturalistas,
conhecidos também como formalistas, descritivistas. Eles se interessam apenas pelo estudo do
sistema da língua, excluindo, portanto, os aspectos sociais, culturais, históricos, ideológicos que
interferem no seu uso. Já para Bakhtin (1986), o autor escolhe como objeto de estudo a
linguagem em uma perspectiva sociointeracionista. Afirma que é o fenômeno social da interação
verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações, que constitui a realidade
fundamental da linguagem, compreendida pelo princípio dialógico: “a palavra constitui
justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a
um em relação ao outro” (BAKHTIN, 1986: 113). Nessa concepção, o ser humano usa a
linguagem para agir no contexto social, pois língua e linguagem são concebidas como atividades
interativas, como forma de ação social, como espaço de interlocução possibilitando a prática
social dos mais diversos tipos de atos. Na concepção de língua, Bakhtin afirma que ela é uma

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abstração quando concebida isolada da situação social que a determina. Para o autor, “a língua
vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta, não no sistema linguístico
abstrato das formas da língua nem no psiquismo individual dos falantes” (BAKHTIN, 1986: 124).
A linguagem constitui o mecanismo fundamental de transformações do desenvolvimento
cognitivo, já que participa como mediadora entre o indivíduo, a sociedade e a cultura. A
linguagem desempenha papel mediador da aprendizagem que ocorre nas interações entre os
sujeitos, buscando nela a chave da compreensão para as principais questões epistemológicas
que atravessam as ciências humanas e sociais. São três as concepções de língua/linguagem:
linguagem como expressão do pensamento, linguagem como instrumento de comunicação e
linguagem como forma ou processo de interação.
Assim, nosso entendimento é que a língua serve para representar o mundo, o pensamento e o
conhecimento; é um código com o qual um emissor comunica a um receptor determinadas
mensagens; é ação interindividual finalisticamente orientada e a prática dos mais diversos atos
de linguagem. Linguagem e língua se confundem, mas a primeira é condição de existência da
segunda. Assim, a língua expressa o pensamento, é instrumento de comunicação e, sobretudo,
processo de ação interindividual. A linguagem está nos animais, a linguagem está no homem, a
linguagem está na natureza. A linguagem verbal diferencia o homem dos outros animais e, por
isso, mesmo diante de impasses, chegou-se à conclusão de que a Linguística seria a ciência
ocupada do estudo da linguagem humana.
A Linguística é a ciência da linguagem verbal, eminentemente humana. No entanto, ne
m sempre os estudos vinculados à linguagem foram considerados como pertencentes a um
campo
do conhecimento que se pudesse considerar como ciência. Foi somente graças aos estu
dos do linguista suíço Ferdinand de Saussure que a Linguística ganhou o status, os métodos e
os resultados suficientemente relevantes para que passasse a ser considerada tão ciência
quanto a Física, a Biologia, a Astronomia, a Psicologia, a Medicina.
Porém, diferentemente de todas as outras ciências, que possuem um objeto de estudo
claramente definido, a Linguística fluidifica-se em seu próprio objeto, uma vez que é de extrema
dificuldade delimitar critérios que possam servir como definidores do que seja linguagem. A
linguística não se limita ao estudo de uma língua específica, nem ao estudo de uma família de
línguas. Ela não é nem o estudo isolado do português, do japonês, do árabe, da língua de sinais
americana, da libras, nem é o estudo de um conjunto de línguas aparentadas, como as línguas
indo-europeias, as línguas orientais, as línguas semíticas, as línguas bantas, as línguas de sinais
descendentes da língua de sinais francesa, etc. A linguística é o estudo científico da língua como
um fenômeno natural. É claro que quanto mais avançamos nossos conhecimentos sobre as
características das mais variadas línguas naturais, mais bem formamos um entendimento do que
é a língua como um todo. Como tudo o que se refere ao homem, a língua envolve vários
aspectos. Por isso, a linguística faz interface com várias outras ciências, como a biologia, a neuro-
fisiologia, a psicologia, a sociologia. Por exemplo, a língua é parte da biologia humana. Cada vez
mais, os estudos linguísticos têm se interessado pela parte biológica da língua. A língua é sem
dúvida parte da cognição humana. Por isso, a linguística investiga a relação entre língua e
pensamento, e suas conexões com nossa capacidade motora, com nossa percepção visual e
auditiva, e como essas conexões operam na construção da significação. Pelo fato de a língua ser
social, a linguística precisa entender as relações entre língua e cultura, entre língua e classes
sociais, e entre uma língua e outras línguas que estão em contacto com ela. Essas relações são
importantes porque elas estão associadas a alguns fenômenos de grande interesse, como a
variação e a mudança lingüísticas.
O suíço Ferdinand de Saussure pode ser considerado o pai da linguística moderna. Nos anos de
1907, 1908 e 1910, ele deu três cursos na Universidade de Genebra, na Suíça. Alguns de seus
alunos tomaram notas de suas aulas, e, em 1916, publicaram a famosa obra intitulada Curso de
Lingüística Geral, contendo uma boa parte do pensamento de Saussure, que tinha morrido em
1913. Portanto, o Curso de Lingüística Geral, de Saussure, é uma obra póstuma. O que Saussure

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pensa é que os homens têm uma capacidade para produzir sistemas simbólicos, ou seja,
sistemas de conceitos associados a uma determinada forma, como a língua, as artes plásticas, o
cinema, o teatro, a dança. Essa capacidade é a linguagem. Para Saussure, a capacidade da
linguagem não pode ser o objeto de estudo de uma única ciência como a linguística, na medida
em que ela tem características de naturezas diversas: física, fisiológica, antropológica, etc. O
objeto da linguística deve ser a língua, que é um produto social da faculdade da linguagem, e
que é uma unidade. Pontos importantes do pensamento de Saussure – que na sua teoria
somente a língua deveria ser estuda: a) língua e linguagem; b) língua e fala; c) sintagma e
paradigma; d) sincronia e diacronia.
Uma outra teoria linguística, diferente de Saussure, foi desenvolvida pelo americano
Noam Chomsky, que é conhecida como Gramática Gerativista. Para Chomsky, a língua é um
sistema de princípios radicados na mente humana. É esse sistema de princípios mentais que é o
objeto de estudo da Gramática Gerativa. Por isso, dizemos que a Gramática Gerativa é uma
teoria mentalista. Ela não se interessa pela análise das expressões lingüísticas consideradas em
si mesmas, separadas das propriedades mentais que estão envolvidas em sua produção e
compreensão. Ela também não se interessa pelo aspecto social que a língua apresenta. Seu foco
está no aspecto mental da língua. Chomsky parte da hipótese de que existe um módulo
linguístico em nossa mente, constituído de princípios responsáveis pela formação e
compreensão das expressões lingüísticas, e especificamente dedicado à língua. Esse módulo
linguístico é chamado de faculdade da linguagem. Essa faculdade da linguagem é inata, ou seja,
todos os seres humanos nascem dotados dela. A faculdade da linguagem é parte da dotação
genética da espécie humana. Para a Gramática Gerativa, a língua pode ser comparada a um ser
vivo: ao nascer, esse ser traz em seus genes a capacidade de crescer, de se desenvolver, de
amadurecer. Se esse ser vivo recebe nutrientes, ele cresce e se desenvolve. Se não, ele não
sobrevive. O mesmo acontece com a informação genética da faculdade da linguagem: em seu
estado inicial, que é a gramática universal, ela tem uma pré-disposição genética para crescer e
se desenvolver e se tornar uma gramática estável, como a do português, do japonês, da libras,
da ASL. Mas, para isso, ela precisa receber nutrientes, ou seja, ela precisa ser exposta a um
ambiente linguístico; se isso não acontecer, essa informação linguística inata não vai sobreviver.
O que Chomsky afirma é que, apesar de todos começarmos com um mesmo conhecimento
linguístico, que é a gramática universal, esse conhecimento vai se desenvolver de maneira
diferente, caso vivamos em um ambiente em que se fale o português, o alemão, ou alguma
língua de sinais. É da interação da gramática universal com o ambiente linguístico que se
desenvolvem as gramáticas dos falantes do português, do alemão, ou de qualquer língua de
sinais.
GRAMÁTICA NORMATIVA: A gramática nada mais é do que a organização de uma língua com
foco no estudo do seu sistema de funcionamento. Contudo, a gramática está sujeita a diferentes
concepções linguísticas, e isso faz com que existam diferentes tipos como: gramática normativa,
gramática descritiva, gramática histórica e gramática comparativa.
A gramática normativa é a que aprendemos na escola, descreve a norma culta da língua
portuguesa. Em outras palavras, ela estabelece o padrão de regras para os falantes da língua,
define o certo e o errado na fala e na escrita. A gramática normativa é aquela que prescreve as
regras, normas gramaticais de uma língua. Ela admite apenas uma forma correta para a
realização da língua, tratando as variações como erros gramaticais. Atualmente é muito criticada
pelos gramáticos, pois já se admitem outras gramáticas como a descritiva, a gerativa, etc. O
estudo que trata da gramática de uma língua em termos de “certo e errado” chama-
se gramática prescritiva ou gramática normativa.
A Gramática Normativa toma como base as regras gramaticais tradicionais e o uso da língua por
dialetos de prestígio como por exemplo obras literárias consagradas, textos científicos, discursos
formais, etc. As variedades linguísticas faladas são tratadas como desvio da norma até que sejam
dicionarizadas e oficialmente acrescentadas às regras gramaticais daquela língua.

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No entanto, devemos lembrar que a língua é mutável e vai se adaptando ao longo do tempo de
acordo com ações dos falantes. Além disso, as regras da língua, determinada pela gramática
normativa, não inclui expressões populares e variações linguísticas, por exemplo as gírias,
regionalismos, dialetos, dentre outros. Este grupo entende que não existe uma forma “certa”
ou “errada” dos usos da língua e que o preconceito linguístico, gerado pela ideia de que existe
uma única língua correta (baseada na gramática normativa), colabora com a prática da exclusão
social. Nas correntes linguísticas atuais, a ideia de uma gramática regradora do uso da língua foi
abandonada. Hoje se afirma que a gramática não pode ser normativa; não é norma para a língua
de ninguém, pelo contrário, a língua é que é a sua própria norma. O conceito de certo e errado
já não decorre de imposições da gramática escolar, e não tem cabimento uma gramática
normativa. Certo é o que está em harmonia com os usos de determinada situação linguística;
errado é o que destoa da trdição ou dos hábitos de determinado tipo de linguagem. A
Linguística, como disciplina descritiva, diferentemente da Gramática, normativa, não faz
distinção entre o que se convenciona chamar de falar certo e falar errado. De modo geral, ela
apenas comprova que em tal época e em tal lugar se emprega esta ou aquela forma. Essa
atitude, cientificamente correta em escala globalizante, vem contudo criando em nossas
escolas, mormente as públicas, o cômodo e falso entendimento de que os alunos hão de se
expressar com naturalidade e desembaraço, sem maiores preocupações com o que a norma
culta elegeu como certo ou errado, apenas seguindo o aceitável num determinado meio, em
dada época. O resultado dessa política de liberalidade no falar e no escrever faz até algum
sentido quando o aluno não alimenta aspiração alguma de continuidade dos estudos ou de
ascensão social. Mas pobres daqueles que concorrem ao ingresso numa escola de padrão mais
alto ou pretendem sucesso na prestação de concursos públicos, onde impera o mais acirrado
tradicionalismo gramatical, com questões elaboradas no intuito não de medir conhecimento,
mas de detectar o que os candidatos não sabem. Hoje é cada vez maior a possibilidade de um
aluno semianalfabeto chegar à faculdade, formar-se nela e depois exercer tarefas profissionais
que exigem conhecimentos mais fundamentados, pesquisa permanente e a consciência de ser
o ensino tarefa das mais importantes. Em todos os países que almejam melhoria de nível
cultural, técnico e científico de seus jovens, além de veículo transmissor dos valores de cidadania
e solidariedade social, esse preparo dos professores é algo muito sério. Hoje há uma conflituosa
mescla de perspectivas: convivem “velhas” e “novas” práticas de ensino de Língua Portuguesa,
ou seja, o jeito “tradicional de ensinar gramática ainda está presente, ao passo que novas
práticas já são encontradas.

Gramática Normativa ou Prescritiva


Baseada em convenções linguísticas e sociais, a Gramática Normativa ou Prescritiva é
amplamente aceita como a forma padrão de escrever e falar uma língua.
A gramática normativa abrange tópicos como ortografia, pontuação, concordância verbal e
nominal, regência verbal e nominal, colocação pronominal, entre muitos outros. Visa, portanto,
estabelecer as normas e regras para uma comunicação padronizada, clara e eficaz.
No entanto, é importante ressaltar que a gramática normativa não é imutável ou definitiva, pois
a língua é uma entidade viva e em constante evolução. Deste modo, as normas e regras
gramaticais podem e devem mudar ao longo do tempo.
Por considerar "erradas" outras variantes linguísticas que não obedecem suas normas, a
Gramática Normativa também pode gerar o preconceito linguístico. Este fenômeno social
ocorre quando determinados grupos são discriminados e desvalorizados pela maneira como
falam ou escrevem.
A gramática normativa é sinônimo de norma culta. Ela estabelece os usos certos e errados em
oposição ao uso popular. Isso porque, apesar de ser compreensível, no cotidiano, há sérias
transgressões ao modelo estabelecido. Essa é a gramática oficial e, portanto, é a ensinada nas
escolas.

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Questão 2.
A piada abaixo tem base em pelo menos um fenômeno fonológico e um morfológico do
português brasileiro. Faça uma análise da piada do ponto de vista da sua estrutura gramatical,
discorrendo sobre o funcionamento dos fenômenos relevantes de morfologia e fonologia
responsáveis pelo efeito de humor.
"A minha irmã sempre ri quando vê comercial de remédio na televisão. Será que o Ministério da
Saúde a diverte?"

RESPOSTA:
A piada se apoia em jogos fonológicos e morfológicos, criando uma ambiguidade intencional
que leva a uma interpretação dupla da frase. Esse tipo de humor muitas vezes envolve a
exploração de similaridades sonoras e ambiguidades linguísticas para surpreender o ouvinte,
proporcionando um momento de revelação que gera risos. O fenômeno fonológico, brinca com
a similaridade fonética entre "diverte" e "da Saúde". O trocadilho se baseia na ambiguidade
sonora entre a terminação "te" da palavra "diverte" e a combinação "da" e "Saúde".

a. Ambiguidade semântica: duplo sentido em “diverte”

O uso do verbo "diverte" pode ser interpretado de duas maneiras: como a terceira pessoa do
singular do presente do indicativo do verbo "divertir" ou como a terceira pessoa do singular do
presente do indicativo do verbo "diverter". A ambiguidade é explorada, já que "diverte" pode
tanto indicar que o Ministério da Saúde proporciona entretenimento à irmã quanto sugerir que
o Ministério da Saúde cria uma dívida para ela. Essa ambiguidade, resultado da escolha
morfológica, é fundamental para o efeito humorístico da piada.

b. Troca de Fonemas e ambiguidade na função da “Saúde":

A ambiguidade morfológica está presente na interpretação da expressão "da Saúde". O ouvinte


pode inicialmente entender "da Saúde" como referindo-se ao Ministério da Saúde. No entanto,
a piada revela que a ambiguidade é intencional, pois "diverte" é interpretado tanto como "faz
rir" quanto como uma possível forma verbal do Ministério da Saúde.

c. Ambiguidade semântica: duplo sentido em “diverte”

O uso do verbo "diverte" pode ser interpretado de duas maneiras: como a terceira pessoa do
singular do presente do indicativo do verbo "divertir" ou como a terceira pessoa do singular do
presente do indicativo do verbo "diverter". A ambiguidade é explorada, já que "diverte" pode
tanto indicar que o Ministério da Saúde proporciona entretenimento à irmã quanto sugerir que
o Ministério da Saúde cria uma dívida para ela. Essa ambiguidade, resultado da escolha
morfológica, é fundamental para o efeito humorístico da piada.

Este grupo entende que uma troca de elementos linguísticos (sejam eles a nível fonético ou
morfológico) causará o efeito desejado na piada. Na análise do discurso, o riso, antes de ser
remédio, é uma sintonia – pois denota aspectos sociais e comportamentais de uma dada
comunidade.

Questão 3.
"Pilhei a senhora num erro!", gritou Narizinho. "A senhora disse: 'Deixe estar que já te curo!'
Começou com o Você e acabou com o Tu, coisa que os gramáticos não admitem. O 'te' é do 'Tu',
não é do 'Você'"... "E como queria que eu dissesse, minha filha?" "Para estar bem com a

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gramática, a senhora devia dizer: 'Deixa estar que já te curo'." "Muito bem. Gramaticalmente é
assim, mas na prática não é. Quando falamos naturalmente, o que nos sai da boca é ora o você,
ora o tu; e as frases ficam muito mais jeitosinhas quando há essa combinação do você e do tu.
Não acha?" "Acho, sim, vovó, e é como falo. Mas a gramática..." "A gramática, minha filha, é
uma criada da língua e não uma dona. O dono da língua somos nós, o povo; e a gramática - o
que tem a fazer é, humildemente, ir registrando o nosso modo de falar. Quem manda é o uso
geral e não a gramática. Se todos nós começarmos a usar o tu e o você misturados, a gramática
só tem uma coisa a fazer..." "Eu sei o que é que ela tem a fazer, vovó!", gritou Pedrinho. "É pôr
o rabo entre as pernas e murchar as orelhas..." Dona Benta aprovou . (...)
Monteiro Lobato. Obra Completa. Fábulas, São Paulo, Editora Brasiliense.
Tomando como base o texto de Lobato, acima, escreva um texto de, no máximo, uma página
que especifique as concepções de gramática e de língua assumidas nele. Deixe claro quais são
as concepções assumidas por Castilho (vídeo e textos).

RESPOSTA:
O texto de Monteiro Lobato, através do diálogo entre os personagens, revela uma concepção
da gramática e da língua que contrasta com a visão prescritiva tradicional. Dona Benta expressa
uma visão mais flexível e democrática, enquanto Pedrinho reflete a perspectiva de que a
gramática deveria se curvar à língua falada pelo povo.

Concepções de Gramática:
Dona Benta defende a ideia de que a gramática é uma "criada da língua e não uma dona". Essa
concepção sugere que a gramática deve refletir e registrar o modo como as pessoas realmente
falam, em vez de impor normas rígidas e desvinculadas do uso linguístico cotidiano. Para ela, a
gramática deve ser humilde e acompanhar as mudanças naturais na língua.

Concepções de Língua:
A visão da língua apresentada é democrática e dinâmica, destacando que o povo é o "dono da
língua". Dona Benta enfatiza que o uso geral da língua é o que realmente importa, e a gramática
deve ajustar-se a essas práticas linguísticas. A língua é percebida como algo vivo, moldado pelas
práticas comuns e pelas mudanças na linguagem falada.

Relação entre Gramática e Língua:


Dona Benta argumenta que a gramática deve registrar o modo de falar das pessoas, indicando
uma relação de serviço da gramática à língua falada. Ela sugere que a gramática não deve impor
regras inflexíveis, mas sim refletir as nuances e a riqueza da fala popular.

Segundo Castilho, a linguística não é uma ciência do futuro, mas sim do presente e do passado.
É um autor que valoriza os desvios da norma culta praticados no país, ou seja, das diferentes
maneiras de falar do brasileiro. A proposta de Castilho , ou seja, sua concepção, é que a língua
é um conjunto de processos mentais que acionam quatro sistemas quando falamos ou
escrevemos, sistemas esses compostos de categorias organizadas em um multissistema,
deixando claro que não se pode reduzir a língua a um único sistema – digamos que seria uma
teoria multissistêmica. O autor explicita que uma boa gramática é a que precisa desempenhar
suas duas funções principais – como descrever as formas da língua, sua fonologia, sua
morfologia e sua sintaxe, e em segundo lugar, explicitar o relacionamento dessas formas com o
significado que veiculam. Castilho também em sua teoria dá muito destaque à conversação,
principalmente o que ele chama de “conversação falada”, pois para ele é a mais básica das
funções linguísticas e independe do seu grau de instrução, qualquer conversa. Outro fator
importante para Castilho é o papel do aluno – que não pode ser visto como um agente passivo,
que tudo absorve sem nada questionar. Para ele, o aluno precisa ter voz ativa, ser um
pesquisador, manifestar interesse, e o professor é o principal responsável para que isso

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aconteça, proporcionando o ensino reflexivo sobre os usos da língua. Outro ponto interessante
é o fato de Castilho não utilizar da língua literária em sua gramática, pois, segundo ele, os
escritores não trabalham com o intuito de abastecer os textos dos gramáticos de regras
gramaticais. Outro aspecto muito interessante é sobre a apresentação das classes das palavras,
onde ele enumera as seguintes subclasses: das palavras variáveis e invariáveis (pois ele
considera no português as seguintes classes gramaticais – verbo, substantivo, artigo, pronome,
adjetivo, advérbio, preposição e conjunção, excluindo a interjeição. Ressalta-se também na
teoria em questão sobre o modo de falar dos analfabetos e cidadãos que, não falariam da
mesma forma, pois utilizam o português popular, sendo que as pessoas escolarizadas usam o
português culto, ou variedade padrão, aprendida na escola ou no ambiente familiar. Pelo
exposto, o autor reafirma que a gramática é um sistema linguístico constituído de estruturas
cristalizadas ou em processo de cristalização, e que corresponde a um setor da língua, e analise
como uma palavra combina com outra na construção de um enunciado na interação verbal; e é
no processo comunicativo pelo qual muitas línguas se estruturam e se modificam, pois a
gramática constrói significados e estrutura o texto. Assim, em sua concepção, ensinar gramática
é explanar sobre termos de gramática, ensinar ao aluno como as palavras se estruturam em uma
frase, em um texto, em uma conversação. E isso vai além de decorar regras gramaticais,
implicando a reflexão, a compreensão dos sentidos, dos usos. Nesse sentido, um bom estudo da
gramática possibilita ao aluno, além de conhecer a língua e refletir sobre ele, reconhecer e
respeitar outras variedades da língua, não só a que ele aprendeu no convívio familiar. Um bom
conhecimento linguístico se refaz continuamente nas situações concretas de fala, o que deixa
claro que a língua é sempre dinâmica e criativa, pois ensinar gramática é ensinar língua.

Questão 4.
Levando em conta que “o linguista deve estar apto a falar ‘sobre’ uma ou mais línguas, conhecer
seus princípios de funcionamento, suas semelhanças e diferenças” e que ele “procura descrever
e explicar os fatos [...] sem avaliar aquele uso em termos de outro padrão: moral, estético ou
crítico” (PETTER, 2004, p.17), com base nos textos estudados no curso de ILD, relacione a língua
(como objeto de estudo) às perspectivas descritiva e explicativa dos estudos linguísticos em,
pelo menos, um nível e ilustre sua explicação (análise) com exemplo: fonético, fonológico e/ou
morfológico.

RESPOSTA:
A língua pode ser estudada sob diferentes perspectivas (descritiva, social, cognitiva, etc.). Cada
língua pode ser estudada como um sistema fechado, ou seja, focando o conjunto da sua
gramática e de seu léxico, assim como podemos achá-los nas descrições gramaticais e nos
dicionários, ou pode ser analisada em seu uso concreto, que é em boa medida diferente, mais
complexo e dependente de muitas variáveis não estritamente lingüísticas. Geralmente o estudo
descritivo da linguagem é divido em vários níveis. Aqueles tradicionalmente tidos como os
principais são: o nível fonético-fonológico, o nível morfológico, o nível sintático. Esses três níveis
constituem a gramática de uma língua. A esses níveis deve-se acrescentar o léxico, ou seja, o
conjunto das palavras que compõem uma língua e que são usadas respeitando as regras da
gramática. O estudo dos significados das palavras e das frases (ou dos enunciados) é objeto da
semântica e da pragmática, dependendo se o foco está no estudo do significado puramente
linguístico ou da língua inserida em seu uso concreto. O fundador da linguística geral, o suíço
Ferdinand de Saussure, distingue entre langue, a língua como sistema abstrato, mental e social,
e parole, a língua como conjunto de elementos concretos realizados pelos indivíduos. A langue
lida com a competência mental do sistema linguístico que os falantes compartilham entre eles.
É o fato que uma determinada comunidade compartilha a competência de um código (ou seja,
de uma langue) que faz com que os indivíduos daquela comunidade se entendam. A langue é,
portanto, um sistema estruturado e em equilíbrio, que sofre lentas mudanças, mas que antes

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de tudo fica estável. Se assim não fosse a gente não poderia se entender. Por outro lado, as
realizações concretas da língua, como a pronúncia de um som, de uma palavra ou de uma frase,
pertencem à parole. Elas são manifestações concretas percebíveis através dos sentidos (o
ouvido percebe a fala e a vista percebe a escrita) e mensuráveis como realizações físicas. São os
indivíduos enquanto pessoas concretas que realizam os atos de parole. Quando a gente troca
uma interação, se trata sempre de indivíduos concretos, que falam (ou escrevem) elementos
concretos da língua. É importante manter distintos os níveis do sistema abstrato e estruturado
(langue) e da realização concreta da língua como comunicação.
Fonética e Fonologia Começamos aqui por uma explicação básica do primeiro nível descritivo,
aquele fonético-fonológico. Olhamos logo para a diferença entre a fonética e a fonologia. A
fonética é a disciplina que estuda os sons humanos assim como eles se manifestam
concretamente, ou seja como são concretamente executados pelo aparato fonatório humano
ou recebidos pelo aparato acústico humano. Eles podem também ser medidos por
equipamentos apropriados. Os sons, quando indicados foneticamente, são representados
segundo o alfabeto fonético entre colchetes; portanto a transcrição fonética das palavras casa
e vasa é [’kaza] e [’vaza]. O ‘símbolo ’ indica que a sílaba seguinte possui acento. A fonologia é a
disciplina que estuda os sons como são representados mentalmente e como eles se agrupam
pela capacidade de atribuir distinções de significado às palavras. Por exemplo, em português
chocar e tocar foneticamente são representados como [ςo’kar] e [to’kar]: ou seja, o primeiro
som de chocar (que na escrita é representado com dois símbolos gráficos, ch) corresponde ao
que no alfabeto fonético é representado por [ς]; ao contrário o primeiro som de tocar, que tem
a mesma representação tanto no nosso alfabeto gráfico quanto no alfabeto fonético, é [t]. O
acento, na representação fonética é colocado antes da sílaba ao qual se refere. Portanto,
podemos dizer que as duas palavras [ςokar] e [tokar] se distinguem unicamente por um som.
Elas constituem um par mínimo, ou seja um par de palavras diferentes que têm tudo em comum
menos um único som. E esse som é suficiente para distinguir o significado delas. Isso significa
que esses sons têm uma representação mental diferente e que a seqüência de sons é por isso
fonologicamente relevante. Quando queremos dar a representação fonológica colocamos os
sons entre barras oblíquas: /ςo’kar/ e /to’kar/. A situação muda se comparamos em português
os sons [t] e [tς]. O primeiro é o som inicial de teto; o segundo o som inicial de tchau. Em
português, com a exceção dessa palavra de origem estrangeira (e grafada com 3 símbolos
gráficos, tch), o som [tς] não distingue significados. Tanto que a mesma palavra, por exemplo
tia, é pronunciada como [‘tia] em algumas partes do Brasil e como [‘tςia] em outras partes. Mas
ninguém pensa que as duas formas possam ter significados diferentes. Isso significa que a
representação mental de [t] e [tς] é, em português, geralmente a mesma. Acusticamente
percebemos a diferença entre eles, mas é uma diferença que não muda o significado. Ao
contrário, a diferença entre [p] e [b], que acusticamente é bem menor daquela entre [t] e [tς], é
mentalmente uma diferença mais significativa, tanto que [piko] e [biko], [pasta] e [basta] são
palavras diferentes somente porque no lugar de um [p] há um [b]. O objeto da fonética são os
fones. Um fone é um som concreto. O objeto da fonologia é o fonema, ou seja, uma
representação mental de um som que é capaz de distinguir significados. A fonologia estuda, por
assim dizer, a dimensão cognitiva do som. De fato, apesar de todos os seres humanos terem as
mesmas potencialidades fisiológicas para produzir e escutar sons, sabemos que um brasileiro,
um italiano ou um chinês não conseguem com a mesma facilidade produzir todos os sons nem
decodificá-los quando os escutam. O que acontece é que tanto o aparato fonatório quanto o
aparato acústico são de fato comandados pela nossa cognição; e essa cognição é de fato
“moldada” a partir do nosso nascimento de diferentes maneiras em diferentes lugares. A
cognição de um brasileiro é moldada diferentemente daquela, por exemplo, de um chinês.
Assim, a cognição brasileira é moldada para diferenciar claramente os sons [r] e [l], enquanto
aquela de um chinês não. A cognição de um italiano é moldada para diferenciar claramente as
consoantes intensas das simples, e para diferenciar assim o significado da palavra /palla/ (bola)
daquele da palavra /pala/ (pá), enquanto um estrangeiro geralmente não consegue nem

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perceber acusticamente nem executar foneticamente essa diferença. Portanto, se todos os sons
são em princípio igualmente produzíveis e recebíveis para o aparato fonatório e acústico de
todos os seres humanos (trata-se portanto de uma capacidade da espécie), não todos são de
fato realizados e percebidos com a mesma facilidade. Os falantes de uma língua produzem com
maior facilidade certos sons do que outros e percebem mais facilmente certas diferenças de
sons do que outras. Um brasileiro, por exemplo, não tem dificuldade em perceber a diferença
entre /pãu/ e /pau/ mas para um estrangeiro essas duas sequências podem parecer iguais,
exatamente como para um brasileiro podem parecer iguais as sequências italianas /kasa/ (casa)
e /kassa/ (caixa) ou as sequências inglesas /tin/ (lata) e /θin/ (magro, fino). A percepção
obviamente se reflete na realização: o que é difícil de ser percebido é também difícil de ser
realizado. Isso depende do fato que os fonemas são “decididos” de maneira diferente em cada
língua. Um som que é fonema em uma língua pode não ser fonema em outra língua. Assim,
enquanto o português considera os sons [t] e [tς] (o som inicial nas duas pronúncias de tia) como
duas realizações possíveis do mesmo fonema, o italiano considera esses dois sons como dois
fonemas diferentes, e diferencia os pares mínimos /tindζere/ (tingere segundo a grafia normal,
ou seja tingir) e /tςindζere/ (cingere segundo a grafia, ou seja cercar). Enquanto em português
ou em italiano, substituindo o som [t] com o som [θ] não muda o significado em nenhuma
palavra, e no máximo podemos achar esquisita a pronúncia da pessoa, em inglês essa
substituição tem o poder de mudar o significado de várias palavras. Em conclusão, se os fones
que o ser humano pode produzir são infinitos, os fonemas de cada língua são limitados: por volta
de 30 em boa parte das línguas. E os fonemas são decididos autonomamente em cada
comunidade de falantes, ou seja em cada língua. Enquanto o português diferencia como
fonemas /ã/ e /a/, e, em geral, as vogais nasais das vogais orais, o italiano percebe esses sons
como diferentes realizações do mesmo fonema. Ao contrário, enquanto o italiano percebe como
diferentes fonemas /t/ e tς/, o português não atribui a esses sons o poder de diferenciar
significados. Essa é uma das razões que torna difícil aprender uma língua estrangeira quando o
cérebro de um falante está já moldado e portanto acostumado a agrupar cognitivamente os
fones em fonemas. As distinções que são importante na língua que queremos aprender mas que
não são importantes na língua que falamos são as distinções mais difíceis. Assim, é fácil ouvir
um brasileiro ou um italiano que pronunciam a palavra think do inglês como se fosse tink ou
sink. Isso porque tanto o português quanto o italiano possuem os fonemas /t/ e /s/ mas não
possuem o fonema /θ/ do inglês. Contudo, nós não pronunciamos o mesmo fonema usando
sempre o mesmo fone. Isso pode depender de vários fatores. Entre os mais importantes tem o
fator diatópico, ou seja geográfico, e o fator contextual, ou seja o contexto criado pelo som
imediatamente antes e imediatamente depois daquele que queremos pronunciar. Se em Belo
Horizonte se pronuncia [tςia] em outros lugares do Brasil se pronuncia [tia]. Essa é uma diferença
diatópica, ou seja geográfica. Um outro exemplo é a pronuncia do s final no Rio, que é realizada
como se fosse um ς, muito parecido ou até igual ao primeiro som da palavra chocar /ςokar/.
Portanto, em chocar o som ς é um fonema (tanto que substituindo-o com t mudamos o
significado); mas na pronúncia carioca de amigos, que é mais ou menos [amiguς], o ς final é
apenas uma realização diferente do fonema /s/. Podemos dizer que quando dois fones servem
para realizar o mesmo fonema são alofones. O [ς ] final do Rio é portanto um alofone de /s/,
assim como o [tς] mineiro um alofone de /t/. O fator contextual também é muito importante.
Por exemplo, o fonema /s/ é pronunciado /ς/ no Rio somente em algumas posições e quando
vem antes de alguns outros sons: basicamente em posição final e antes de consoante.
Analogamente o fonema /t/ é pronunciado /tς/ em Belo Horizonte somente quando o som que
vem depois é /i/ ou /e/. Essas duas vogais são chamadas de vogais palatais, porque são
pronunciadas mais na frente e colocando a língua perto do palato. Ao contrário as vogais /o/ e
/u/ são chamadas de velares, porque são pronunciadas mais atrás no aparato fonatório e
levando a língua perto do veu palatino. Assim, na frente de vogais palatais o fonema /t/ pode
ser realizado com um som palatal, como é o som [tς], que se pronuncia colocando a língua em
contato com o palato. Isso significa que o som [t] em palavras como tia, forte, arte, tirar, etc.

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Pega uma característica do som que vem depois. Isso chama-se assimilação. Nesse caso é uma
assimilação regressiva, porque o som que vem depois gera um efeito no som que vem antes. Se
fosse o contrário seria uma assimilação progressiva.

Questão 5.
“A definição que se tornou clássica, a de que morfemas são unidades mínimas do léxico, e de
que existem morfemas constituídos por formas presas e livres, de Bloomfield (1933), por
exemplo, encontra ancoragem nos estudos atuais. No Brasil, em especial, soma-se à definição
que Câmara Jr. (1959) dá às formas dependentes, as quais, segundo o autor, são aquelas em que
os morfemas nunca aparecem isolados, porém apresentam maior autonomia que as formas
presas e menor que as formas livres (dependem). Com isso, o vocábulo se redefine como forma
não presa mínima, considerando-se como vocábulos formais tanto formas livres quanto formas
dependentes, tais como artigos, preposições, conjunções e pronomes clíticos.” (SOUSA FILHO,
2007, p. 82).
A partir da citação acima, bem como de seu conhecimento teórico sobre o tema, escreva um
texto sobre a importância de se compreender o processo de formação de palavras. No seu texto,
defina e exemplifique pelo menos três tipos de processos morfológicos.
RESPOSTA:
Este grupo entende que só é possível conhecermos de fato uma língua se dominarmos todas as
suas estruturas. Neste sentido, é fundamental que tenhamos ciência dos elementos que
constituem cada uma das palavras do nosso idioma. Para nosso vocabulário atingir todo o grau
de riqueza e complexidade que apresenta hoje, as palavras passaram e ainda passam por
diversos “estágios” de formação. Às palavras que existem de modo “originário” em nossa língua,
damos o nome de palavras primitivas, e aquelas que advêm das primeiras, sofreram um
processo de formação. Então, de que maneira um idioma pode crescer, aumentar o número de
palavras que o compõe? Cada língua tem seus mecanismos próprios de formação de palavras.
Para entendermos o processo de formação das palavras da língua português, é preciso lembrar
que elas podem ser decompostas em partes menores. Existem dois processos de formação de
palavras: a derivação e a composição – que são processos morfológicos, ou seja, permitem a
formação de novas palavras a partir de uma palavra primitiva. Assim, existem três tipos de
palavras: palavra primitiva, palavra derivada e palavra composta.
Palavra primitiva: é toda palavra que não nasce de outra, dentro da língua portuguesa. Ela pode
servir de ponto de partida para a formação de outras palavras. Exemplo: rua, sol, pedra cidade,
etc.
Palavra derivada: é toda palavra que se forma a partir de uma outra palavra pré-existente.
Exemplo: novidade (novo), ensolarada (sol).
Palavra composta: é toda palavra que se forma a partir da reunião de duas ou mais palavras (ou
radicais). Exemplo: pontapé (ponta+pé), azul-claro (azul+claro).
Existem dois processos principais de formação: derivação e composição.
Derivação: É o processo pelo qual uma palavra nova (derivada) forma-se a partir de uma única
outra palavra já existente (chamada primitiva). Em geral, a derivação se dá pelo acréscimo de
prefixo ou sufixo à palavra primitiva.
A derivação pode ocorrer das seguintes maneiras: prefixal, sufixal e parassintética.
Derivação prefixal: quando acrescentamos um prefixo à palavra primitiva.
Exemplo: RE (prefixo) + fazer (palavra primitiva) = refazer (deriv. prefixal)
Derivação sufixal: quando acrescentamos um sufixo à palavra primitiva.
Exemplo: ponta (palavra primitiva) + EIRO (sufixo) = ponteiro (deriv. sufixal)
Derivação parassintética (ou parassíntese): ocorre quando a um determinado radical
acrescentam-se, ao mesmo tempo, um prefixo e um sufixo.
Exemplo: RE (prefixo) + pátria (palavra primitiva) + AR (sufixo) = repatriar (parassíntese)

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OBS: A palavra só é formada por parassíntese se, ao tirarmos o prefixo ou sufixo, ela deixar de
ter sentido. Não existe, por exemplo, patriar. Se, tirando o prefixo ou sufixo, a palavra continuar
com sentido, dizemos que ela foi formada por derivação prefixal e sufixal. Ex.: infelizmente
Derivação regressiva: nesse caso, ao contrário dos anteriores, a palavra não aumenta sua forma,
e sim diminui, reduz-se. Esse processo dá, principalmente, origem a substantivos a partir
de verbos e ocorre com a substituição da terminação do verbo pelas desinências A, E, O.
Convém notar que todo substantivo formado por derivação regressiva termina em A, E ou O e
indica uma ação. Para exemplificar esse processo, vamos considerar as duas palavras grifadas
na frase:
O resgate dos passageiros foi feito através da âncora.
resgate: termina em e e indica a ação de resgatar, portanto é formada por derivação regressiva
âncora: termina em a, mas não indica ação, portanto não é formada por derivação regressiva.
Trata-se de uma palavra primitiva.
Derivação imprópria: é a passagem de uma palavra que pertencente a determinada classe
gramatical (substantivo, adjetivo, advérbio etc.) para outra classe.
Exemplo: fumar (é verbo) --> o fumar (é substantivo) claro (é adjetivo) --> ela fala claro (é
advérbio)
Note que a palavra muda de classe gramatical sem sofrer modificação em sua forma.
Composição: Uma palavra é formada por composição quando, para constituí-la, juntam-se duas
ou mais palavras (ou radicais). A composição pode ser de dois tipos: justaposição e aglutinação.
Composição justaposição: quando as duas (ou mais) palavras que se juntam não perdem
nenhum fonema, mantendo, por isso, a pronúncia que apresentam antes da composição.
Exemplo: passatempo (passa + tempo); couve-flor (couve + flor); girassol (gira + sol); pé-de-
moleque (pé + de + moleque)
Composição por aglutinação: quando pelo menos uma das palavras que se unem perde um ou
mais fonemas, sofrendo, assim, uma mudança em sua pronúncia.
Exemplo: petróleo (petra + óleo); fidalgo (filho + de + algo)
Além dos dois processos principais acima descritos (derivação e composição), temos ainda dois
outros processos que, embora menos importantes, também contribuem para a formação de
novas palavras em português. São eles:
Hibridismo: uma palavra é formada por hibridismo quando na constituição dela entram palavras
pertencentes a idiomas diferentes.
Exemplo: sócio (latim) + logia (grego) = sociologia
Onomatopeia: quando a palavra nasce de uma tentativa de reproduzir os sons da natureza.
Exemplo: tique-taque, reco-reco, zunzum.

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