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AULA 1
Leituras obrigatórias:
1
Nos estudos linguísticos mais contemporâneos não faz sentido estabelecer uma distinção rígida
entre língua e linguagem. De acordo com Mollica e Braga (2003), linguagem é um conceito mais
abrangente que supõe os usos das competências verbais em forma plena, por sua vez, o termo
língua indica um sentido mais focalizado na forma como os discursos são socialmente veiculados.
O conceito de signo linguístico desenvolvido por Saussure merece nossa
atenção, visto que é um dos conceitos mais importantes discutidos na linguística
moderna. O significado (conceito, ideia) e o significante (forma, imagem acústica,
símbolos, sinais) correspondem às duas faces do signo linguístico: essa união existe
todos os signos de uma língua. Por exemplo, a palavra livro é composta de uma
imagem acústica: soma dos sons l + i + v + r + o (significante) cujo resultado evoca
um significado.
Para os gerativistas, língua é concebida como um conjunto infinito de
expressões e de sentenças geradas por um número finito de regras. De acordo com
as teorias inatistas de Chomsky, ao fazermos uso da língua para fins de
comunicação, estão envolvidos elementos de ordem psicológica e social que são
externos à língua. O processo de comunicação está ligado ao uso da língua
previamente estruturada em nossa mente.
As escolas Estruturalista e Gerativista possuem um pensamento de base
formalista. Por sua vez, a Escola Funcionalista estuda as estruturas linguísticas a
partir da Pragmática, ou seja, focaliza fenômenos ligados ao uso da língua(gem) e a
entende pelo viés da interação social.
Pela vertente interacionista, a língua é entendia como advinda das práticas
sociais, ou seja, pela interação verbal em situações concretas de uso. Os construtos
dessa concepção de língua estão ancorados principalmente pelos estudos de Lev
Vygotsky e do Círculo de Bakhtin.
A proposta sociointeracionista de Vygotsky argumenta que a língua(gem)
funciona como uma mediação simbólica no processo da interação social, uma vez
que por meio da língua(gem) elaboramos conceitos e organizamos a realidade.
Portanto, a questão central nas teorizações de Vygotsky é a interação do sujeito
com o outro como essencial para a apropriação de conhecimentos. A mediação
torna-se um conceito chave, nessa abordagem, para explicar que a relação do
sujeito com o mundo é mediada por sistemas simbólicos.
Um dos princípios da perspectiva assumida por Bakhtin (1997, [1979]) é o de
que a língua não pode ser tomada apenas na sua materialidade linguística, pois nos
processos de comunicação discursiva nos valemos de enunciados reais, com
sentidos completos, e não de fragmentos de textos. Nessa perspectiva, a língua se
constitui por meio do fenômeno social da interação verbal. Na proposta do Círculo
de Bakhtin, o enunciado é formulado como unidade da comunicação verbal, em
oposição à oração/frase como unidade da língua, sendo que, durante a enunciação
coexistem ações responsivas, intersubjetivas e dialógicas com os enunciados do(s)
outro(s).
Assim, o enunciado se constitui elemento da interação do locutor e do
interlocutor ou, ainda, como um elo entre a subjetividade e a coletividade na qual
nos definimos em relação ao outro, estabelecendo-se uma relação dialógica.
Portanto, no processo interlocutivo a língua(gem) é constantemente (re)construída.
Referências:
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: _____. Estética da criação verbal. Trad. Maria
Galvão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997 [1979]. p. 277-326.