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Curso: Licenciatura em Letras- Português/Espanhol

Disciplina: Introdução aos Estudos da Linguagem


Unidade 1

AULA 1

Complexidade conceitual de língua/gem

Nesta unidade, procuramos compreender as definições de língua e linguagem


no âmbito dos estudos da Linguística, caracterizando a linguagem humana e
identificando sua complexidade.

Leituras obrigatórias:

DELLAGNELO, A. C. K.; RIZZATTI, M. E. C. Introdução aos estudos da


linguagem. Florianópolis: LLE/CCE/UFSC, 2008. p. 9-32.

MENDES, E. O conceito de língua em perspectiva histórica: reflexos no ensino e na


formação de professores de português. In: LOBO, T.; CARNEIRO, Z., SOLEDADE,
J.; ALMEIDA, A.; RIBEIRO, S. (Orgs.). Rosae: linguística histórica, história das
línguas e outras histórias. Salvador: EDUFBA, 2012, p. 667-678.

Ao conceituar linguagem é importante que você perceba dois pontos de vista


teóricos: a visão formalista e a visão sociologista.

[...] há, na trama histórica que enreda o pensamento linguístico,


duas tendências principais. Uma que se ocupa do percurso
psíquico da linguagem, observando a relação entre linguagem e
pensamento. Busca o que é único, universal, constante. É chamada
de formalismo. Do outro lado, o sociologismo é a tendência
que se aplica em estudar o percurso social, explorando a relação
entre linguagem e sociedade. Procura o que é múltiplo, diverso,
variado. Essa divisão, que atravessa a história da Linguística,
opõe os partidários de que existe uma ordem interna, própria da
língua, àqueles que defendem a idéia de que essa ordem reflete a
relação da língua com a exterioridade, incluindo suas determinações
históricas e sociais.
(ORLANDI, 1986, p. 18).
Nos estudos linguísticos encontramos ao menos três concepções de
língua/linguagem1: a linguagem como expressão do pensamento, a linguagem como
instrumento de comunicação e a linguagem como forma de interação.

Leia algumas concepções de linguagem:

1. A linguagem como expressão do pensamento: a expressão linguística se


constrói no interior da mente e o pensamento é exteriorizado pela linguagem.

2. A linguagem como instrumento da comunicação: concebe a língua como um


código que transmite uma mensagem de um emissor para um receptor.

3. A linguagem como forma de interação: a linguagem é tomada como prática


social, sócio historicamente situada. Nesse sentido, a linguagem é o lugar da
interação humana como construtora de relações intersubjetivas.

A demarcação da língua como objeto de estudo da Linguística teve amplo


desenvolvimento a partir do século XX, sendo que é possível pensarmos em
linguagem a partir da perspectiva de diferentes escolas linguísticas: a Estruturalista,
a Gerativista e a Funcionalista.
Do ponto de vista da escola Estruturalista, Ferdinand de Saussure
compreende a língua como um sistema de signos arbitrários, que pertence tanto ao
domínio social (langue), quanto ao individual (parole). Saussure propôs a
abordagem sistêmica de língua, pois para ele a linguagem é a faculdade humana
que permite ao ser humano a comunicação verbal, ao passo que a língua é a
convenção social que permite o exercício da linguagem.

1
Nos estudos linguísticos mais contemporâneos não faz sentido estabelecer uma distinção rígida
entre língua e linguagem. De acordo com Mollica e Braga (2003), linguagem é um conceito mais
abrangente que supõe os usos das competências verbais em forma plena, por sua vez, o termo
língua indica um sentido mais focalizado na forma como os discursos são socialmente veiculados.
O conceito de signo linguístico desenvolvido por Saussure merece nossa
atenção, visto que é um dos conceitos mais importantes discutidos na linguística
moderna. O significado (conceito, ideia) e o significante (forma, imagem acústica,
símbolos, sinais) correspondem às duas faces do signo linguístico: essa união existe
todos os signos de uma língua. Por exemplo, a palavra livro é composta de uma
imagem acústica: soma dos sons l + i + v + r + o (significante) cujo resultado evoca
um significado.
Para os gerativistas, língua é concebida como um conjunto infinito de
expressões e de sentenças geradas por um número finito de regras. De acordo com
as teorias inatistas de Chomsky, ao fazermos uso da língua para fins de
comunicação, estão envolvidos elementos de ordem psicológica e social que são
externos à língua. O processo de comunicação está ligado ao uso da língua
previamente estruturada em nossa mente.
As escolas Estruturalista e Gerativista possuem um pensamento de base
formalista. Por sua vez, a Escola Funcionalista estuda as estruturas linguísticas a
partir da Pragmática, ou seja, focaliza fenômenos ligados ao uso da língua(gem) e a
entende pelo viés da interação social.
Pela vertente interacionista, a língua é entendia como advinda das práticas
sociais, ou seja, pela interação verbal em situações concretas de uso. Os construtos
dessa concepção de língua estão ancorados principalmente pelos estudos de Lev
Vygotsky e do Círculo de Bakhtin.
A proposta sociointeracionista de Vygotsky argumenta que a língua(gem)
funciona como uma mediação simbólica no processo da interação social, uma vez
que por meio da língua(gem) elaboramos conceitos e organizamos a realidade.
Portanto, a questão central nas teorizações de Vygotsky é a interação do sujeito
com o outro como essencial para a apropriação de conhecimentos. A mediação
torna-se um conceito chave, nessa abordagem, para explicar que a relação do
sujeito com o mundo é mediada por sistemas simbólicos.
Um dos princípios da perspectiva assumida por Bakhtin (1997, [1979]) é o de
que a língua não pode ser tomada apenas na sua materialidade linguística, pois nos
processos de comunicação discursiva nos valemos de enunciados reais, com
sentidos completos, e não de fragmentos de textos. Nessa perspectiva, a língua se
constitui por meio do fenômeno social da interação verbal. Na proposta do Círculo
de Bakhtin, o enunciado é formulado como unidade da comunicação verbal, em
oposição à oração/frase como unidade da língua, sendo que, durante a enunciação
coexistem ações responsivas, intersubjetivas e dialógicas com os enunciados do(s)
outro(s).
Assim, o enunciado se constitui elemento da interação do locutor e do
interlocutor ou, ainda, como um elo entre a subjetividade e a coletividade na qual
nos definimos em relação ao outro, estabelecendo-se uma relação dialógica.
Portanto, no processo interlocutivo a língua(gem) é constantemente (re)construída.

Por ora, recomendamos a leitura dos materiais e a realização da atividade da


unidade.

Referências:

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: _____. Estética da criação verbal. Trad. Maria
Galvão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997 [1979]. p. 277-326.

DELLAGNELO, A. C. K.; RIZZATTI, M. E. C. Introdução aos estudos da linguagem.


Florianópolis: LLE/CCE/UFSC, 2008. p. 9-32.

MENDES, E. O conceito de língua em perspectiva histórica: reflexos no ensino e na


formação de professores de português. In: LOBO, T.; CARNEIRO, Z., SOLEDADE, J.;
ALMEIDA, A.; RIBEIRO, S. (Orgs.). Rosae: linguística histórica, história das línguas e outras
histórias. Salvador: EDUFBA, 2012, p. 667-678.

VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. Trad. Paulo Bezerra.


São Paulo: Martins Fontes, 2001 [1934].

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