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Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Sociais e Educação


Licenciatura Plena em Letras – Língua Portuguesa
Disciplina: Linguística I
Prof.: Dinair Barbosa de Freitas
Aluna: Larissa Rebecca Xavier dos Santos

TRÊS MOVIMENTOS: teoria, gramática e ensino.

Belém – PA
2023
SUMÁRIO

1. GRAMÁTICA TRADICIONAL
1.1 – TEORIA E GRAMÁTICA
1.2 – IMPLICAÇÕES NO ENSINO

2. ESTRUTURALISMO
2.1 – TEORIA
2.2 – GRAMÁTICA
2.3 – IMPLICAÇÕES NO ENSINO

3. GERATIVISMO
3.1 – TEORIA
3.2 – GRAMÁTICA
3.3 – IMPLICAÇÕES NO ENSINO

4. FUNCIONALISMO
4.1 – TEORIA
4.2 – GRAMÁTICA
4.3 – IMPLICAÇÕES NO ENSINO

5. REFERÊNCIAS
GRAMÁTICA TRADICIONAL

Antes da linguística se constituir como ciência autônoma, os estudos acerca


da linguagem eram realizados pelos filósofos gregos, durante a Antiguidade Clássica.
Nesse período, tinha-se como primazia o raciocínio lógico e racional, características as
quais impactavam como era o estudo sobre a língua e o ensino.

Inicialmente, sabe-se que a linguagem é definida como todos os


instrumentos/recursos que podem ser utilizados para comunicar-se. Além disso, o ser
humano desde muito jovem, interage com o mundo por meio da língua e foram
concepções as quais nortearam o início das pesquisas sobre ela. Tendo em vista o dito, o
primeiro recorte de análise feito da linguagem era ela como expressão do pensamento.

Tal visão tem origem grega e, como os seus princípios são regidos por uma
certa logicidade, as investigações gramaticais começaram com o intuito de preservar a
cultura da Antiguidade e fizeram isso por meio da literatura, com os considerados “bons
textos”, e, assim, evitar a corrupção da língua com os “erros”, praticados por aqueles
que não eram filósofos.

Como é possível visualizar, essa corrente teórica não envolve uma descrição
do funcionamento da língua, visto que isso levaria a admitir a existência de variadas
formas de falar e da influência do sujeito nessa variação linguística. Sendo assim, o
estudo tradicional da língua é prescritivista, tendo como base a análise da língua escrita
encontrada na literatura clássica, a qual modela como o “bom” escrever e falar.

Nessa perspectiva, a natureza da avaliação da língua é com a ideia de


homogeneidade, ou seja, todos “devem” ter um mesmo modo de fala e escrita, assim,
passa a ter um critério avaliativo fundamentado em um padrão sociocultural elitista, a
fim de um padrão de língua ideal, no caso, o ático.

A sua gramática não diverge quanto aos princípios da corrente teórica, pois
como objetiva preservar a cultura clássica grega, é recorrido à prescrição das regras
gramaticais, seguindo o modelo literário, a fim de alcançar uma unidade linguística
entre os indivíduos.
IMPLICAÇÕES NO ENSINO

Baseado nessas características, o ensino da língua portuguesa ocorre, como


mencionado, a partir dos preceitos lógicos e racionais. Além disso, é importante
salientar que o ensino de língua é confundido com o de gramática.

Sabendo disso, o âmbito da leitura, o procedimento consiste na captação das


ideias do autor do texto estudado, compreendendo uma forma de interpretação do
conteúdo principal abordado pelo escritor, além de entender o que o outro quis dizer e
no qual a opinião do leitor fica do lado de fora, nesse contexto. Para isso, tem-se como
exemplo, os questionários realizados após a leitura do texto.

Na produção textual, o foco é voltado a redação de resumos. Essa era a


única forma que havia de expressar o próprio pensamento. Ainda assim, era por meio
dela que se realizava as correções ortográficas dos desvios.

No campo da análise linguística, o estudo é feito apenas em dois níveis: o


morfológico e o sintático, no que diz respeito as frases, consistindo em exercícios de
identificação e classificação das classes gramaticais e do reconhecimento das funções
sintáticas estabelecidas entre os elementos.

Por fim, compreende-se que essa corrente teórica carecia de dados


empíricos reais, deixava do lado de fora a fala, os fatos linguísticos, o sujeito e a
variação são desconsiderados das análises, tendo em vista querer privilegiar uma
determinada língua em detrimento de outras.

ESTRUTURALISMO

A linguística moderna surgiu como estudo autônomo da língua, a partir de


1970, com o suíço Ferdinand de Saussure, quando ele sistematizou tudo o que já havia
sobre e determinou conceitos específicos dessa área. Assim, esse linguista carrega o
título de “Pai da Linguística Moderna” devido aos feitos mencionados.

Tal acontecimento se mostra de grande para o âmbito acadêmico,


principalmente, aos estudantes de Letras – português, porque ao estudar o
estruturalismo analisam como deverão trabalhar os conteúdos escolares, por meio dos
conceitos aprendidos dentro dessa corrente teórica.
A fim de relembrar, sabe-se que dentro do estruturalismo o recorte teórico é
definido a partir da linguagem como código. Ao assumir esta visão, a língua é entendida
como transparente e, devido a isso, não tem produção de duplos sentidos. Ou seja,
aquilo que se lê é o que é visto, não havendo possibilidade de ambiguidades.

Concomitantemente, Saussure trabalha outras noções, como langue/parole,


signo linguístico (Se/So), sincronia/diacronia e sintagma/paradigma. Como é possível
perceber, ele sempre trabalha com duas faces, pois, em sua percepção, não há como
concebê-los sem analisar o outro lado, ou seja, como dicotomias, porque a oposição era
utilizada para compreender o sistema, por meio da categorização e divisão em classes
gramaticais.

[...] o fenômeno linguístico apresenta perpetuamente duas faces que se


correspondem e, devido a isso, uma só vale graças à outra. (Saussure, 2021,
P. 51)

O autor do livro “Curso de Linguística Geral”, começa a fazer um recorte


para poder definir o seu objeto de estudo. Para isso, Saussure entende o termo
linguagem como todos os instrumentos usados para a comunicação verbal, ideia ampla
acerca da temática. Dentro dela, foi extraído as concepções de língua/fala, cada uma
tendo uma característica que se opõe a outra.

Para ele, a língua é concreta, integral, produto social, convencional,


adquirida, submetida ao instinto natural, norma para todas as outras formas de
comunicação, determinada e essencial da linguagem código e forma. Tais ideias vieram
do fato de que ela se concretiza por meio da escrita, adquirida no convívio cotidiano
com a comunidade linguística e na escola, sendo preexistente aos indivíduos. Enquanto
isso, a fala é individual, ato de inteligência, realização da língua, acessória e substância.
Fora dessa maneira que o linguista recortou o que iria vir a estudar: a língua.

Como mencionada, a língua passa a ser vista como forma, o que implica
entender que:

1. Ela se torna visível e passa a ser analisada por meio de níveis: fonético e
fonológico, morfológico e sintático;
2. O sujeito deixa de existir, trazendo a característica de imutabilidade do
objeto frente ao falante.
As dicotomias saussurianas trabalham com relações de oposição, ou seja,
uma só é porque a outra não é, ou seja, é, a partir dessa perspectiva, que Saussure faz a
sua análise descritiva do sistema. Para estudá-la, era necessário revelar qual elemento
constituía a estrutura linguística, chamado signo linguístico.

Ele, como todas as outras unidades de análise, possui duas faces,


denominadas significante e significado. A primeira é compreendida como a imagem
acústica, ou seja, a própria palavra vinculada a sua pronúncia, e a segunda, como o
conceito definido pela sociedade.

Daí o entendimento de que o signo, unidade constituinte do sistema


linguístico, resulta da associação de um conceito com uma imagem acústica.
(Martelotta, 2010, P. 119)

É relevante observar que a relação entre essas duas faces do signo é


considerada arbitrária ou motivada? É sabido que a língua é convencionada, sendo
assim, elas não têm qualquer relação entre si. Não há nenhum sinal ou característica no
significante que faça lembrar qual o seu significante.

O método de investigação adotado pela teoria estruturalista é o sincrônico.

É sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa


ciência, diacrônico tudo o que se diz respeito às evoluções. Do mesmo modo,
sincronia e diacronia designarão respectivamente um estado de língua e uma
fase de evolução. (Saussure, 1975, P. 96).

Na percepção desse linguista, o estudo sincrônico é priorizado pois, a partir


dele, podia-se fazer o estudo para entender as relações internas entre os seus
constituintes em um determinado momento, no qual não era necessário ter informações
sobre a etimologia das palavras que são utilizadas.

Assim, a última dicotomia formulada pelo autor foi a sintagma/paradigma. Ela


consiste no eixo o qual a extensão do signo será analisada. A relação sintagmática diz
respeito às relações feitas em presença e, as paradigmáticas, em ausência.

A primeira, analisará, no nível morfológico, por exemplo, que só algumas das


categorias gramaticais podem preencher determinadas posições e, somente, uma por
vez. No segundo caso, é analisado um termo que está em presença em um determinado
contexto sintático com outras possibilidades de formação.
Por fim, esses foram os conceitos que consolidaram a linguística como uma
ciência autônoma, a qual possui um objeto de estudo e métodos científicos para estudá-
lo, configurando uma nova fase aos estudos da linguagem.

GRAMÁTICA

A gramática estrutural objetiva descrever a estrutura gramatical das línguas,


observando-a como um sistema autônomo, constituído por elementos os quais se
organizam em uma rede de relações de acordo com as leis internas. Essas regras são
exteriores ao indivíduo e interiorizadas coercitivamente pelos usuários.

Como mencionado, a língua é sempre vista como um sistema, cujos elementos


não podem ser analisados isoladamente. A partir desse conceito, é que se desenvolve as
ideias de conjuntos de elementos, os quais definem o seu valor quando estão em um
relação opositivas aos outros e a existência de regras que regem a combinação deles
para a formação de unidades maiores.

O teórico representante dessa corrente defende que só é possível estudar aquilo


que é recorrente e sistemático, ou seja, restringe-se a observação do conhecimento
compartilhado dos falantes. Assim, ao analisar como a língua se organiza, é visto que
ocorre de maneira convencionada, pois cada uma representava uma realidade específica
de uma comunidade linguística, acontecendo de maneira diferenciada com cada língua.

Esse conhecimento linguístico é condicionado à experiência. Para Saussure,


não há uma estrutura inata do pensamento adjacente às línguas. Ele salienta a existência
de uma faculdade da linguagem, mas ela é arbitrária, cultural e a qual dita o
pensamento.

Como o estruturalismo possui filosofia empirista, todas as suas conclusões são


baseadas na análise dos dados e o método indutivo auxilia a chegar a uma lei geral, não
universais, que descrevem a língua e suas peculiaridades.

IMPLICAÇÕES NO ENSINO

A teoria estruturalista ainda é muito presente no estilo em como os alunos


são ensinados dentro das salas de aula, no Brasil. Dessa forma, quando os professores
de língua portuguesa possuem a visão de língua como código, tem a concepção de que
ela é transparente, não havendo, assim, a produção de um sentido sem ser aquele o qual
foi expresso.
Ademais, o ensino é percebido de maneira passiva, no qual o aluno está ali
para somente receber o conteúdo, visto que a matéria já está pronta. Então, quais seriam
as outras consequências para o ensino de língua?

Para o plano da leitura, o discente é ensinado apenas a decodificar o código,


reconhecer, identificar e localizar a respeito do sentido. Dessa maneira, o ler se torna
uma atividade passiva para o educando. Tal prática é visível nas perguntas acerca do
texto e as respostas prontas retiradas de dentro dele, impossibilitando uma atitude
reflexiva por parte do objeto da aprendizagem.

Posteriormente, na área da escrita, o aprendiz tem de codificar, ou seja,


escrever textos utilizando a norma-padrão, com as devidas correções ortográficas por
parte do educador, as concordâncias verbais, nominais etc. Com análises feitas a partir
da forma, na superfície, sem observâncias no conteúdo.

No ponto de vista da prática oral, na sala de aula, ela não é frequentemente


realizada. Entretanto, quando há, os discentes são coagidos a falarem da maneira a qual
se escreve e com valorações da língua.

Por fim, na questão da análise linguística, os alunos realizam o estudo


ortográfico, classificatório, de identificação das categorias gramaticais e as regras de
uso em frases e períodos. Dessa maneira, a educação é tradicional, engessada e chata na
percepção daquele que está ali como estudante.

GERATIVISMO

A linguística gerativa surgiu nos Estados Unidos, no ano de 1957, com a


publicação do livro “Syntatics Structures”, do linguista Noam Chomsky. Essa corrente
linguística foi formulada como uma proposta teórica formal, a qual respondia e rejeitava
o modelo behaviorista da descrição dos fatos da linguagem.

Segundo a perspectiva comportamental mencionada, a linguagem seria um


“fenômeno externo ao indivíduo, um sistema de hábitos gerado como resposta à
estímulos e fixados pela repetição” (Martelotta, 2011, P. 128). Isso quer dizer que o ser
humano agiria como alguém que apenas repetiria as estruturas sintáticas, as quais
tivesse sido exposto ao contato, em determinados contextos. Assim, sendo visto como
não constituído de criatividade. Entretanto, a criatividade é a principal característica do
comportamento linguístico e a qual distingue a linguagem dos seres humanos da
comunicação dos animais.

Essa teoria revitalizou a concepção racionalista em oposição ao empirismo


estruturalista de Saussure. Porque Chomsky via o comportamento linguístico como
resultado de um dispositivo inato, uma capacidade genética e, portanto, interna ao
organismo humano. Assim, passou a ser nomeada a Faculdade da Linguagem e, coube
ao gerativismo, constituir um modelo teórico capaz de descrever e explicar a natureza
do funcionamento dela.

Segundo Fiorin (2004), o conhecimento linguístico, que é estudado no


gerativismo, constitui um conjunto de hábitos comportamentais, os quais levam os
falantes a determinado comportamento linguístico, em um dado contexto e não outro.

Sendo assim, o Gerativismo passou por três fases: transformacional,


universal e modular.

A primeira se constitui por um momento no qual o objetivo girava em torno


da descrição dos constituintes que compunham o sintagma e como eles podiam se
transformar em outras infinitas sentenças, quando era feita a aplicação das regras
advindas do conhecimento linguístico inato que todos os falantes/ouvintes têm da
língua. Além disso, tinha como modelo de representação a árvore sintática, como
também, o entendimento de que o usuário da língua fazia a distinção entre as sentenças
gramaticais e as agramaticais.

A segunda fase, posteriormente, busca explicar o conhecimento linguístico


inconsciente presente no falante (competência linguística), na qual define se uma
sentença é gramatical ou não, relacionando-se com a aceitabilidade e compreensão do
falante em relação a ela.

Por fim, foi criada a gramática universal, dividida em duas fases


voltadas ao estudo sintático. Ela é compartimentada em léxico, fonologia, morfologia e
semântica, partes as quais são tratadas como módulos autônomos. Ademais, é baseada
em princípios (válido para todas as línguas) e parâmetros (possibilidade de variação
entre as línguas).
GRAMÁTICA

A gramática gerativa busca analisar a estrutura gramatical das línguas, as quais


são observadas como um reflexo de um modelo formal de linguagem preexistente às
línguas naturais e isso constitui o objeto de análise.

Ela é baseada em dois princípios: do inatismo e de modularidade da mente. O


primeiro, formula que cada indivíduo, independente de qual língua fale, possui um
conhecimento inicial, geral dela.

O segundo princípio prevê que a mente humana é dividida em módulos


independentes, correspondendo a alguma atividade cognitiva e existe um específico
para a faculdade da linguagem.

Essa parte inata da faculdade linguística é, igualmente, dividida em


competência e desempenho. Chomsky, assim como Saussure, privilegia o estudo apenas
de uma dessas concepções, no caso, a competência, visto que também não sofre
variações pelo falante, sendo sugerido como idealizado.

“Em razão desse interesse central na competência lingüística, os estudos


clássicos do gerativismo não costumam usar dados lingüísticos reais (performance)
retirados do uso concreto da língua na vida cotidiana” (Martelotta, 2011, p. 134). Como
essa gramática busca analisar o conhecimento universal dos falantes/ouvintes, as
questões sociais e interativas são deixadas, novamente, de fora. O que difere essa
corrente estruturalista é o método de análise, sendo o dedutivo, o qual parte de uma
verdade universal para chegar em uma verdade menos universal.

Por fim, ela transpassa o nível de ciência descritiva, para tornar-se descritiva-
explicativa, pois cria suas hipóteses teóricas e confirmam-nas ou não ao verificar os
dados e, assim, predizer informações novas.

IMPLICAÇÕES NO ENSINO

Como também, tem uma visão formalista da língua, assim, o ensino do


português da perspectiva gerativista se dá a partir da pesquisa linguística vinculada a um
reflexão sobre os aspectos formais da língua, a fim de despertar o gosto pela inquirição
científica e que o aluno não a perceba como um instrumento de comunicação, mas
trabalhe de maneira mais calculada a estrutura sintática.
Isto porque todo texto é um conjunto (por vezes, unitário) de
frases, que constituem uma unidade semântico-pragmática: semântica,
por veicular significados distintos daquele de cada uma das frases
tomada isoladamente; pragmática, por constituir um ato de
comunicação, destinado a atuar sobre o ouvinte/leitor de determinado
modo. (Souza e Silva; Koch, 2002)

Como se viu, a escrita começa a partir da formulação de frases, que, não é muito
voltado à exercer a função comunicativa e, sim, na forma como os elementos
linguísticos são organizados segundo certos princípios que a consideram como
estrutura.

Além disso, a análise linguística se daria por meio da análise distribucional.


Vamos nos referir à análise linguística efetuada nestes termos como ‘análise
distribucional', disse Chomsky (1955c, p. 127, apud Mussalim; Bentes, 2011, p. 105),
pois essa maneira seria como uma representação adequada do sistema computacional,
que existe na mente/cérebro dos falantes, o qual, parcialmente, era capaz de previr
determinados comportamentos linguísticos.

FUNCIONALISMO

O Funcionalismo corresponde a uma corrente teórica que se ocupa da análise


gramatical e do contexto comunicativo no qual ocorrem. Ela teve início no ano de 1926,
também na Escola de Praga, tendo como precursor Roman Jakobson e a extensão do
entendimento da noção de função da linguagem.

Além disso, tal teoria objetiva analisar a relação entre a linguagem e a


sociedade, da estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos de comunicação
na qual são utilizadas, além de explicar as regularidades observadas no uso interativo e
as condições que levam a serem usufruídas. Tendo em vista que quer entender a relação
mencionada, tornou-se obrigatória a tarefa de explicar o fenômeno linguístico com base
nas relações que contraem o falante, o ouvinte e a pressuposta informação pragmática,
dentro do contexto sociointeracional.

A linguagem pressupõe certas instrumentalidades mediante as quais os


homens consciente e intencionalmente representam seus pensamentos
com a finalidade principal de torná-los conhecidos de outros homens,
isto é, a expressão na linguagem deve estar a serviço da comunicação
(Whitney, 1987, apud DeLancey, apud Mussalim; Bentes, 2011,
p.166).

Como menciona Whitney, o recorte teórico da corrente funcionalista é a


linguagem como instrumento da interação verbal. Dessa forma, quando dois ou mais
indivíduos se comunicam, há uma questão pressuposta a esse ato. Sendo o principal
objetivo dela, que, no caso, seriam a intenção de transmitir informações para o outro.

Igualmente, o Funcionalismo veio contrapor as correntes teóricas anteriores


em relação ao conceito e a visão de linguagem que carregam. Primeiramente, porque a
linguagem não constitui um conhecimento específico no ser humano como o
gerativismo propõe, além de não separar intransponivelmente a língua e fala, signo e
significante, sincronia e diacronia e paradigma e sintagma, nem considera os desvios da
gramática normativa como erro, concepções apresentadas pelas duas teorias iniciais,
respetivamente, pois refletem uma tendência resultante da necessidade de comunicação,
refletindo os processos gerais de pensamento, adaptados às diferentes situações de
comunicação.

Segundo Votre & Naro (1989, apud Mussalim; Bentes, 2011, p. 174), autores
contrários às teorias formalistas, afirmam que há alguns princípios fundamentais no
funcionalismo: “a forma linguística deriva-se de seu uso no processo real de
comunicação e a estrutura gramatical é dependente das regularidades das situações de
fala”. Isso quer dizer que o uso de uma determinada forma ou estrutura irá depender do
objetivo que o falante pretende alcançar e das ocorrências frequentes presentes no
discurso, parâmetros que são externos à língua.

Muitas foram as vertentes funcionalistas, que tinham um ponto em comum:


analisar as estruturas linguísticas levando em consideração a interação social, ou seja,
considerar que o componente discursivo desempenha um papel importante na gramática
da língua. Assim, alguns temas são vistos como relevantes nessa corrente teórica. Tem-
se, inicialmente, a organização textual da sentença, a informatividade, a iconicidade, a
marcação, a transitividade, o plano do discurso e a gramaticalização, sendo esses dois
últimos de extrema importância.
Acerca da organização do texto por meio da sentença, é um conceito
apresentado pela Escola Linguística de Praga, a Perspectiva Funcional da Sentença.
Nela, a sentença, há o ponto de encontro entre os falantes e a informação a ser
partilhada entre eles. Esse movimento do ponto de partida em direção ao objetivo do
discurso representa o movimento da mente. Tal visão foi mostrada por Henry Weil
(1844, apud Mussalim; Bentes, 2011, p. 177).

Com essa nova forma de analisar o discurso, o Funcionalismo apresenta três


abordagens sintáticas de estudarem ele, que seriam nos níveis semântico, gramatical e o
da organização textual. Nesse último, ainda inclui-se o dinamismo comunicativo,
classificado como a maneira que um determinado elemento linguístico contribui para o
desenvolvimento da comunicação.

Outro preceito importante da sentença é a linearidade dela. Essa característica


foi mostrada por Firbas (1974) para demonstrar que a teoria da Perspectiva Funcional da
Sentença era dependente desse conceito, pois representava a ordem normal e natural dos
fenômenos da realidade extralinguística.

Em seguida, Chafe (1976, apud Mussalim; Bentes, 2011, p. 180) propõe


outro aspecto fundamental aos estudos funcionalistas: “a língua funciona apenas se o
falante leva em conta o que está na mente da pessoa com quem está falando”, ou seja,
refere-se à questão da informação velha e nova, pois a mensagem só será apreendida
pelo ouvinte, se o falante adequar a sua fala conforme o que o ouvinte tem em mente.
Essa adequação de informações é chamada de empacotamento.

A iconicidade se refere à correlação natural e motivada entre o código


linguístico e o significado. Segundo Martelotta (2011, p. 167),

Contudo, estudos sobre os processos de variação e mudança, ao


constatar a existência de duas ou mais formas alternativas de dizer "a
mesma coisa", levaram à reformulação dessa versão forte. Na língua
que usamos diariamente, em especial na língua escrita, existem, por
certo, muitos casos em que não há uma relação clara, transparente,
entre expressão e conteúdo. Nesses casos, a relação entre forma e
significado é aparentemente arbitrária, uma vez que o significado
original do elemento lingüístico se perdeu total ou parcialmente, assim
como a motivação para sua criação.

Dessa maneira, a forma não corresponde diretamente ao significado que


carrega, pois, com o passar do tempo, em algumas situações comunicativas, a
morfossintática do código é vazia.
Por outro lado, a marcação se dá no contraste de dois elementos de dadas
categorias linguísticas, quando se verifica em um deles uma determinada característica,
assim, sendo considerado marcado, e ausência dela no outro, sendo chamado de não-
marcado. Esse contraste é chamado por linguistas, como Monteiro Lemos e Margotti &
Margotti (2002), de flexão, pois o princípio que o rege é a oposição de morfemas.

Posteriormente, a transitividade está intimamente ligada ao plano discursivo e


consistiria na maneira que o falante organiza o seu discurso, dependendo dos seus
objetivos comunicativos, focalizando diferentes ângulos de transferência da ação de um
agente para um paciente. As partes que contêm o maior grau de transitividade se
posicionam no centro do discurso, enquanto as de menor grau ficam nas margens. Com
base em Hopper e Thompson (1980, apud Martelotta, 2011, p. 172), em qualquer
situação de fala, algumas partes que se dizem mais relevantes que outras, destacam-se
em um fundo que lhes dá sustentação, mas não traz contribuição crucial para os
objetivos do falante.

Por fim, a gramaticalização foi uma proposta que remonta a Meillet (1965
[1912]), a qual constituiria na necessidade de se refazer a gramática quanto à mudança
de determinados itens lexicais para outras categorias gramaticais, devido à mudança de
função, pois a gramática deve emergir a partir do uso do falante. Isso se dá por meio de
uma perspectiva diacrônica, na qual recebe propriedades funcionais e há mudanças
morfológicas, fonológicas e semânticas, processo o qual é chamado de recategorização
por Castilho (1997, p. 32).

Dessa forma, na perspectiva dessa corrente teórica linguística, a linguagem é


vista como um instrumento de interação verbal, assim, compreende-se que a língua irá
variar em função do contexto comunicativo, dos participantes envolvidos, do objetivo
do evento de fala e todos os elementos extralinguísticos que podem influenciar
determinado uso.

GRAMÁTICA

A gramática funcionalista abrange várias correntes do funcionalismo europeu


e/ou norte-americano. De modo geral, ela analisa a estrutura gramatical, mas também, a
situação comunicativa inteira, qual o intuito do evento de fala, seus falantes e o contexto
discursivo, tendo em vista que ela influencia na maneira como é estruturada a sua
gramática.
Para Dik (1981, 1989, apud Mussalim; Bentes, 2011), a Gramática Funcional
deve conformar-se com três princípios de adequação explanatória, principalmente, na
descrição: pragmática, psicológica e tipológica. Essas características adicionadas à
perspectiva funcionalista vieram preencher as lacunas que foram deixadas pelas outras
teorias linguísticas, dentre as quais estão o sujeito real, contexto comunicativo e a
performance da língua, elementos considerados externos ao sistema linguístico.

Ela sempre utiliza diálogos ou textos em situações interativas, correspondendo à


descrição pragmática, pois compreende-se que não se pode estudar a competência
desvinculada de seu uso. A gramática funcionalista parte de uma perspectiva filosófica
chamada Realismo Corporificado, corrente a qual vê que a percepção humana é limitada
à característica física.

Depois, há a descrição psicológica. Elas tem haver com a descrição gramatical e


as hipóteses psicológicas de como as expressões linguísticas são produzidas pelo falante
e como o ouvinte processa e as interpreta. E a última, referente à adequação tipológica,
é que se deve dar subsídios para explicar as similaridades e as diferenças entre os
diversos s sistemas linguísticos.

Além disso, o mecanismo de organização da estrutura gramatical das línguas,


não se dá de maneira totalmente arbitrária, porque há dois fatores que a influenciam.
São elas: conhecimento das práticas sociais e experiência humana sensorial.

Como ela vem diferenciar-se das outras duas correntes, essa gramática
abandona a dicotomia empirismo/racionalismo. Pois analisa que os universais
conceptuais não delineiam de maneira rígida e definitiva o pensamento humano, além
de perceber que o uso da linguagem implica a percepção de todas as circunstâncias que
modificam a interação verbal.

Ademais, é adotado um novo método de estudo: o abdutivo-analógico.


Abdutivo, pois, por meio da intuição, vai-se atrás de chegar na conclusão através da
interpretação de sinais, indícios e signos.

Por fim, tem um caráter explicativo-universalista, aceitando que existe


universais conceituais e compreende que podem diferir de uma língua a outra. É em
razão disso, que se adota uma terceira posição, a qual seria fazer uma relação entre
biologia e cultura, além de se fazer observações empíricas dos fatos linguísticos.
IMPLICAÇÕES NO ENSINO

O ensino de gramática, na corrente teórica funcionalista, se dá por meio da


pesquisa linguística de diferentes textos retirados de situações reais, para análise real
dos diversos usos da língua.

Em relação à prática da oralidade, a produção de textos orais é sempre voltada


às especificidades dos contextos de produção. Dessa forma, ela privilegiará o uso das
variedades linguísticas, tendo em vista a valorização dos fatores que influenciam a
interação verbal, como por exemplo, os participantes do processo comunicativo.

Na análise linguística, toma-se por unidade básica de estudo o texto, pois, a


partir dele, é que os alunos poderão entender que, determinados itens lexicais,
dependendo do contexto de uso, podem ser agrupados em distintas categorias
gramaticais e exercerem papéis multifuncionais.

Quanto à produção escrita dos alunos, o ensino de língua buscaria a


apresentação de diferentes tipologias textuais de acordo com um determinado gênero,
assim, permitindo a esse educando ter o contato com diversas estruturas linguísticas.
Com o estudo de textos escritos pertencentes a um mesmo gênero, imagina-se que o
discente reconhecerá a língua, as expressões e palavras mais frequentemente utilizada
por eles.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRITO, Luan Talles de Araújo. et. al. O Funcionalismo e o Ensino de Gramática:


contribuições para a prática pedagógica do professor de Língua Portuguesa. Rio Grande
do Norte: Realize, 2014.

FIORIN, José Luiz. Introdução à Linguística (org.). 3.ed. São Paulo: Contexto, 2004.

MARTELOTTA, Mário Eduardo. Manual de Linguística. 2.ed. São Paulo: Contexto,


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MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Ana Christina. Introdução à Linguística:


fundamentos epistemológicos. 5. ed. São Paulo: Cortez: 2011.
NETO, José Ferrari A GRAMÁTICA GERATIVA E O ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA. PROLÍNGUA, [S. l.], v. 10, n. 2, 2016. Disponível em:
https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/prolingua/article/view/27892. Acesso em: 10
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SAUSSRE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral.1ª. ed. São Paulo: Parábola,
2021

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