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Teorias Enunciativas

e pragmáticas

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA


Instituto de Letras e Linguística – ILEEL
Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos
Disciplina: Teorias Linguísticas
Profa Dra Kátia Menezes de Sousa

Discentes: Camila Gonzaga, Heber Sales, Laura Guerrero


Pauta numa posição externalista da linguagem, não se
interessando apenas pelo sistema, mas da relação com o
mundo externo;

Peça importante para compreender o internalismo x


externalismo;

Edwiges Maria
Morato Toda ação humana, sua natureza social procede de
interação.
Complexa rede de relações que se
estabelece em torno das ações humanas
marcadas por condições materiais da vida
em sociedade;

A interação como categoria de análise vai


discutir a qualidade e a circunstância da
reciprocidade de comportamentos
humanos diversos em variados contextos,
práticos e situações;
Segundo Claudine Normand (1990,p.334),
a comunicação nos indica que o sujeito
“tem algo a dizer ou mostrar”

A significação nos indica que o sujeito


mostra explícita ou implicitamente a
maneira pela qual ele corre o risco de
interpretar e ser interpretado, de
representar ou dar “representabilidade”, as
coisas do mundo.
Etnometodologia: abordagem que descreve os processos
que caracterizam ou constituem a comunicação interpessoal,
analisando o modo como os indivíduos interagem e se
comportam em meio a diferentes situações específicas da
vida cotidiana. Harold Garfinkel (1967)
Relação entre Linguagem e Cognição:

Piaget- considera que a cognição humana se define em


função de estruturas ou esquemas que o organismo
desenvolve em torno de um conjunto de ações coordenadas
e em função da interação que mantêm com o meio
ambiente, determinante de formas possíveis de linguagem e
de outros sistemas cognitivos;
Vygotsky: “O pensamento não é somente mediado
externamente pelos signos. Ele é mediado internamente
pelos sentidos(...) A comunicação da consciência pode ser
realizada somente indiretamente, através de um caminho
mediado.”
Interação na prática social envolve relações entre reflexão e
ação;

De Lemos afirma: (...) “ Conversão do


discurso do outro em discurso próprio”(...) Seria a
conversão do discurso do outro em discurso próprio uma
condição para a conversão do discurso próprio em discurso
do outro?
Teoria da Ação ou de Ação Situada:

Descreve e analisa como os sujeitos planejam e executam


suas ações no decurso da interação na qual estão
envolvidos;
Mikhail Bakhtin: Introduz uma concepção histórico-
discursiva de sujeito e da afirmação de uma ordem social na
qual se inscreve a linguagem a partir de uma perspectiva
dialógica;

Interação verbal é a realidade da língua e o discurso o modo


pelo qual os sujeitos produzem essa interação, modo de
produção social da língua.
A concepção de interação para Bakhtin é constitutiva de
uma natureza dialógica da linguagem. Todo ato enunciado,
toda condição ou forma de existência da linguagem está
associado a um outro como interlocutor e como
interdiscurso.
A linguística interacional se firma com a dimensão social e
situacional nos estudos sobre a linguagem orientando a
linguística em direção aos fenômenos comunicacionais.
Essa tendência se confirma no campo da abordagem
A Interação como uma enunciativa e pragmática centrada nas atividades
linguageiras, práticas do sujeito em interação entre si , com
questão para a a linguagem e com o mundo, focando na linguagem tomada
como ação;
Linguística
Mondada(2001) elenca quatro tendências que favorecem o
interesse para a noção de interação em Linguística:

-O surgimento das gramáticas do uso oral;


A Interação como uma
-O estabelecimento de corpora orais autênticos,
questão para a sociolinguisticamente diversificados;

Linguística -O interesse da Sociolinguística Interacional, da Pragmática


e da Análise do Discurso pela interação verbal;

- A difusão da Análise Conversacional de inspiração


etnometodológica.
Uma abordagem interacionista de base sociocognitiva à
qual podemos associar autores como Modada (1994, 2001),
Salomão (1999), Marcuschi (2003), Koch (2002) dá uma
resposta sobre o papel do uso social da linguagem na
A Interação como uma construção do conhecimento:

questão para a “Nas investigações sobre cognição a ideia de situar o foco


mais nas atividades de construção do conhecimento e
Linguística menos nas atividades de processamento, tal como se fez nas
décadas de 1970 e 1980 no campo da Psicologia
Experimental, quando se considerava a cognição no nível
do indivíduo.”
“Ao analisar as atividades de construção pode-se ter uma
visão mais clara de como emergem as práticas públicas as
propriedades da cognição e assim captar o dinamismo dos
processos que dão origem a estruturas conceituais tão
A Interação como uma complexas como as metáforas, metonímias, ironias,
idiomatismos, polissemias, indeterminação referencial,
questão para a dêiticos, anáforas etc., chegando a própria noção de
contexto(...) quando se considerava a cognição no nível do
Linguística indivíduo. A explicação caminha na direção das atividades
linguística situadas e não da língua desencarnada de seus
usuários. Esse é o caminho que vai do código para a
cognição e, neste percurso, tudo indica que o conhecimento
seja um produto das interações sociais e não de uma mente
isolada e individual.(...)” Marcuschi (2003)
No campo de ensino-aprendizagem de linguagem,
pesquisadores do grupo de Roxane Rojo faz uma revisão da
noção de interação dos trabalhos de Vygotsky a partir da

A Interação como uma postura Bakhtiniana. Três vertentes foram identificadas:

questão para a Cognitivista-centrada no aspecto intrapessoal;

Linguística Interacionista: centrada no aspecto interpessoal;

Discursiva: tende a não dissociar interação, discurso e


conhecimento e tem como base de análise a linguagem e
não a interação ou os conceitos. Faraco (2001, p. 171).
Críticas aos estudos Interacionistas no campo linguístico:

- Dificuldades em definição de interação e a maneira que a


Linguística tem acolhido os termos e conceitos emprestados

O Interacionismo no de outras searas como “outro”, “social”, “sujeito”, “ação”;

Campo Linguístico : -Identificação da concepção de linguagem e de social no


âmbito de um determinado construto teórico é essencial

Pretexto e para a identificação do tipo de interacionismo que se


reivindica ou proclama;
Reivindicação -Amadurecimento da teorização linguística a respeito de
certas questões -fetiche como competência, reflexividade,
significação;

-Linguística Interacional, dimensão interacional dos fatos da


linguagem ou perspectiva interacionista da linguagem?
LINGUÍSTICAS ENUNCIATIVAS

Têm uma crítica à Linguística da


língua e um desejo de estudar fatos
de FALA: A produção de
enunciados por locutores na
situação real de comunicação.

Benveniste (1995) sobre a


linguística da língua vs. a
linguística de fala.
Essa oposição é necessária,
embora seus caminhos se cruzem a
todo instante.
Origens da linguística da fala
Emerge a partir de uma crítica aos postulados da linguística da língua em 1970. (1) e (3) dão origem à linguística da
enunciação

Postulados da L. da língua Crítica ao postulado

1. Linguística do código Código sem realidade empírica, manifestação no discurso


não especifica.

2. Unidade de anális: a frase Há unidades de funcionamento superior à frase

3. Mecanismo de produção é simples Todas as unidades linguísticas fazem parte da construção do


sentido (fónicas, gráficas, rítmicas, etc)

4. Modelo ´ideal` de Jakobson Ignora fracassos, regulagens, fenômenos inconscientes, etc

5. Postulado de imanência: desconsidera É necessário considerar outros estudos (ex: fenômenos


o extralinguístico linguageiros e contextos de produção
1. GÊNESE DA NOÇÃO DE ENUNCIAÇÃO
● Pai da teoria enunciativa: Émile Benveniste (1950 e 1960)
● O interesse surgiu em 1910-1920 (por uma polêmica sobre o discurso indireto livre exposto por
Bally), mas foi interrompido pelo estruturalismo. As análises de Bally foram nos planos da
enunciação.
● Bakhtin defende a concepção interativa da linguagem. Não distingue o enunciado da
enunciação, nem a forma do sentido-> a materialidade e a idealidade formam um todo.

Crítica ao esquema de comunicação de Jakobson (p.175)


● Desenha uma comunicação homogênea e linear-->compreensão parcial
● O código se situa exteriormente à comunicação-->constituído pelos saberes internos dos
participantes
● Ignora competências extralinguísticas→ conhecimento enciclopédico, psíquico e cultural
● Não integra modelos de produção nem interpretação
https://campus.usal.edu.ar/mod/book/view.php?id=25464&chapterid=11383
O SUJEITO DA ENUNCIAÇÃO
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2. O APARELHO FORMAL DA ENUNCIAÇÃO:
BENVENISTE
São as marcas de colocação em funcionamento da língua. Há três categorias:
● A situação da enunciação: constituída pelo conjunto dos parâmetros que permitem a comunicação: o
locutor, o interlocutor, o lugar e o momento da interlocução. Eles se inscrevem por meio da dêixis (grego: fato
de mostrar, indicador), refere-se à identificação linguageira dos parâmetros da enunciação.
Benveniste: dêiticos pessoais (eu-tu-não pessoa) e dêiticos espaço-temporais (demonstrativos, advérbios e
locuções adverbiais, apresentativos, tempos verbais) (p.181)

Maingueneau (1998): plano de enunciação embreado (com dêixis) não-embreado (sem dêixis)

● As modalidades de enunciação: distinção antiga entre modus (maneira de dizer) e dictum (o que é dito)
julgamento afetivo e intelectual do sujeito. No nível de frase há 4 tipos: assertiva, interrogativa,
exclamativa e imperativa. (p.183)

● As modalidades de enunciado: Exprimem a atitude do locutor em relação ao conteúdo do enunciado: há


modalidades lógicas e apreciativas.
3. TEORIA DE ENUNCIAÇÃO E POLIFONIA:
DUCROT

A polifonia enunciativa diz respeito ao sujeito da enunciação e às vozes que ele deixa aparecer no
enunciado. O sujeito falante reúne três instâncias: 1) o sujeito falante; 2)o locutor responsável pela
enunciação; e 3) o enunciador responsável pelos atos ilocucionários, pelos efeitos produzidos sobre
seu destinatário. (p.185)

¨a ordem será mantida custe o que custar¨

POLIFONIA E NEGAÇÃO POLIFONIA E IRONIA

Um enunciado negativo pressupõe um ponto de O locutor L apresenta sua enunciação como o ponto de vista de
vista oposto. Locutor 1 enuncia um pensamento um enunciador E do qual ele se distancia. É outra voz
inverso do locutor 2 representada como ilógica, incoerente ou ridícula
4. AS OPERAÇÕES ENUNCIATIVAS: CULIOLI

Culioli fundamenta seu trabalho teórico sobre uma reflexão de ordem epistemológica.
● Retoma a questão de natureza da linguística e a distinção entre língua e linguagem. Considera que a
¨elaboração teórica pode e deve se fazer a partir das produções dos locutores (os textos)no quadro de sua língua
de uso¨ (p.186)
● Propõe 3 níveis de fenômenos:
1) Nível nocional: representações mentais, cognitivas e afetivas, às quais não temos acesso.
2) Nível das representações linguísticas: traços da atividade do nível 1, trata-se do nível empírico
3) Nível metalinguístico: comentário analítico do locutor sobre suas produções linguageiras.

Objetos metaliguísticos
● Lexis
Conjunto prelinguístico de dados de sentido (exemplo: Pedro, vir)
● Noção ou domínio nocional
Lista de propriedades físico-culturais apreendidas na atividade enunciativa (exemplo: /animado/ -->humano, adulto,
criança, inanimado, etc.
RECAPITULANDO

● O terreno de análise da teoria enunciativa é o Enunciado (não a frase) que permite


englobar todas as produções do sujeito falante.

● O interesse da TE é o significado do enunciado no que respeita ao resultado das


condições de produção (o extralinguístico, modalidades, tempo, espaço, etc) p.188
● Alguns teóricos preferem o termo co-enunciação do que enunciação porque é
importante reconhecer a natureza cooperativa da comunicação que inclui o processo
de produção e reconhecimento dos participantes. ¨o emissor é também seu próprio
receptor e o receptor é um emissor potencial¨ p.188
Pragmática
Pragmática & Linguística

● Virada linguística na filosofia.

● Língua perfeita X linguagem natural (vernacular).

● Crítica ao reducionismo lógico.

● Segundo Wittgenstein: a função da comunicação na linguagem vernacular.

● Pragmática como um ciência do contexto.


● circunstancial: ambiente físico imediato
Contextos ● situacional: ambiente cultural do discurso

● interacional: formas do discurso

● epistêmico: crenças e valores


Teoria dos atos da fala: Austin

● Desafia o primado da frase afirmativa da concepção representacionista.

● Primeira hipótese: performatividade.

● Segunda hipótese: ilocucionária.

● Taxonomia de valores ilocucionários:


○ veridictivos;
○ exercitivos;
○ promissivos;
○ comportamentativos;
○ expositivos.
Reformulação de Searle

● Reformula teoria dos atos da fala, identificando 5 forças ilocucionárias:


○ assertivas;
○ diretivas;
○ compromissivas;
○ expressivas;
○ declarativas.

● Condições para interpretação


○ Restrições para-linguísticas conferem à intenção um valor coletivo;
○ Capacidades do "plano de fundo" desafiam o sentido literal;
○ Contextos de conhecimento orientam como são as coisas e como fazer as coisas.
Crítica Cognitivista

● Adota perspectiva descritivista, dispensando a força ilocucionária.


● Reduz para três classes baseadas em critérios linguísticos:
○ dizer que (declarativa);
○ dizer a (imperativa);
○ perguntar se (interrogativa)
Crítica Gerativista

● crítica à hipótese performativa:


○ se duas ou mais frases têm a mesma estrutura profunda, elas têm a mesma
condição de verdade.
Teoria da conversação: Grice

● Significação não natural: a exigência da intenção.


● Crítica da razão comunicacional.
● Adesão tácita ao princípio da cooperação segundo lógica conversacional:
○ Quantidade (informatividade & exaustividade ;
○ Qualidade (sinceridade);
○ Relação (pertinência);
○ Modalidade (inteligibilidade).

● A questão da universalidade da categorias:


○ expressões específicas do princípio da cooperação;
○ ariantes reguladas pelas diferentes formações culturais.
A alternativa retórica: Perelman

● Crítica a uma racionalidade lógico-matemática:


○ O discurso acomoda valores e crenças.

● Quatro princípios de argumentação:


○ visar à adesão do auditório;
○ adaptar-se ao auditório, usando suas teses como ponto de partida;
○ dirigir-se ao auditório universal por meio de seu auditório real;
○ dialética entre dados supostamente aceitos X dados construídos.
A alternativa retórica:
Perelman
_

A maquinaria do sentido
Rendimento do modelo de Ducrot

● O implícito e suas razões:


○ Razão cultural;
○ Razão política.

● Posto X pressuposto.
○ Caráter polêmico do pressuposto.

● Pressuposto X subentendido.
○ Subentendido resultado do sentido e depende da recepção.

● Topoi como pontos de apoio ao raciocínio.


○ Intrínsecos (convenções linguísticas);
○ Extrínsecos (construções do discurso).
Pragmática cognitivista: Sperber-Wilson

● Retorno ao primado da função descritiva (Grice).


● Substituição do código pela inferência.
● Êxito da comunicação depende do princípio da pertinência (teoria da pertinência).
O locutor fornece por meio
do enunciado uma expressão
interpretativa do seu
pensamento.
Escola de Palo Alto

● Realidade como construção cultural.


● Contexto determinante da comunicação.
○ O código e a significação se apóiam nele.
○ O uso do código pode ser restrito ou elaborado.

● Interação como sistema aberto:


○ Sujeitos participam da comunicação.

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