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Estudos Linguísticos 2 – Luciana Vedovato

Anotações Lari
08/08/23
As nossas relações com a língua não são estabelecidas a priori, os
sentidos não são imanentes. Por muito tempo o sentido era atrelado à
palavra, a forma e sintaxe da língua. Até o funcionalismo (Chomsky)
pensava-se na língua como algo inato, com um sentido único, a língua
como algo transparente.

Na realidade há um desdobramento de possibilidades, de acordo com


contextos e realidades subjetivas dos sujeitos que utilizam a língua.
Sentidos, condições sociais na produção dos sentidos, subjetividade do
leitor etc.

A entrada da subjetividade no campo da linguística é um ponto de


virada. Diversos teóricos abordam caminhos diferentes para chegar ao
conceito de Enunciação ou Enunciatividade.

Condições de produção: contexto, lugar social, formação social


(capitalismo...), ideologia (ordem da evidência).

Marxismo e filosofia da linguagem. A linguagem é atravessada pelo


social. Teoria desenvolvida no contexto da Revolução Russa.

Para Saussure (estruturalismo): Signo: significado + significante +


referente. Para Volochinov o signo é ideológico, retrata e reflete
realidades distintas e contraditórias. As condições de produção
portanto são contraditórias, pois o referente é sempre ideológico, cada
sujeito vai ter uma “visão” de referente de acordo com a ideologia que
o sustenta.

O signo ideológico marcaria então nossas relações com as condições de


produção.

Na linguística a contradição é constitutiva humana.

Os estudos materialistas da linguagem a percebem, assim, a partir dos


fatores sociais, filosóficos, econômicos e ideológicos, se opondo a uma
perspectiva estruturalista da linguagem.
Diálogo / Dialogismo – uma troca de informações que vem
carregadas com a formação histórica, cognitiva, memorial, ideológica
e social que produz os sentidos.

Há uma crítica do autor tanto ao subjetivismo idealista (Vossler)


quanto ao objetivismo abstrato (Saussure – signo linguístico é objeto
da linguística = significado + significante, arbitrário, desmotivado.
Pensa a língua a partir do sintagma e paradigma), pois nem o sujeito
sozinho pode ser origem da língua já que ela é de origem social e
responsiva, nem se pode pensar na língua como algo abstrato, objetivo
e puramente estruturalista justamente por ela ser algo material e
social.

A linguagem é origem da atividade humana coletiva. A língua não pode


ser fruto simplesmente da subjetividade, tampouco é apenas resumida
à sua estrutura, mas trata-se de uma construção social.

15/08
O que é a ideologia – ordem da evidência. Todos estamos
ideologicamente atravessados, todos temos uma ideologia ou várias
ideologias, não existe neutralidade.

O círculo de Bakhtin? Intelectuais em um mesmo contexto de produção


(Revolução Russa). Um mundo polifônico na obra dos teóricos
soviéticos. – Medvedv; Bakhtin; Volóvchinov.

Os anos posteriores à revolução foram marcados por intensa atividade


cultural das correntes teóricas de inspiração marxista, contrapondo os
quadros teóricos tradicionais vigentes nas humanidades e ciências
sociais. Eles refletiam filosoficamente sobre os diversos campos da
cultura, sendo a língua um deles.

22-08
Signo = ideologia. (Para Volochinov)

Concepção da Ideologia alemã marxista - olhar para o mundo a partir


de um espelho de uma realidade invertida/falsa consciência.
Ideologia na concepção de Volochinov é a ordem da evidência;
psicologia do corpo social; funcionamento das formas da consciência a
partir da coletividade. Assim, o arranjo social dá a conhecer o signo.

Processo de interpelação – associações de ideias que parecem


naturalizadas, e que são criadas ou construídas a partir da ideologia.

A partir dessa concepção, a língua deixa de ter uma visão transparente,


e passa a ser vista como opaca. Ou seja, deixa de ter um sentido óbvio
e claro, para carregar diversos sentidos a partir de um questionamento.

De acordo com Volochinov há duas ideologias – da superestrutura


(possui os meios de produção; classes dominantes) e da infraestrutura
(classes subalternas), baseada na tópica marxista de organização da
sociedade.

De acordo com Bakhtin cada signo é um fragmento da realidade, parte


de um todo inatingível. O signo só pode ser compreendido na relação
de contradição, pois ele reflete e refrata a realidade. Quando o sujeito
assume a enunciação ele toma lugar no mundo e passa a mobilizar
efeitos de sentido. Não é possível pensar em signo ideológico fora de
uma relação com a história e com o simbólico. O signo é
constitutivamente polissêmico, e existe na consciência coletiva.

O enunciado não é a fala pura e simples, mas o ponto de interação de


dois indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não haja um
interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio
do grupo social ao qual pertence o locutor.

O enunciado já é em si a resposta, pois traz o outro no interdiscurso e


carrega também o diálogo.

O gênero para Bakhtin é um raio X de uma visão de mundo específica,


uma cristalização dos conceitos peculiares a um dado tempo e a um
dado estrato social em uma sociedade determinada. Um gênero, por
conseguinte, encarna uma ideia historicamente específica do que
significa ser humano.

A utilização da língua efetuava-se em forma de enunciados (orais e


escritos), concreto e únicos, que emanam dos integrantes de uma ou
outra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições
específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu
conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção
operada nos recursos da língua, mas também e sobretudo, pela
construção composicional.

Os gêneros estão associados às diferentes esferas sociais, considerando


as regras coletivas vigentes e as trocas interacionais entre os sujeitos.
Esferas do cotidiano = jurídica, literária, jornalística, religiosa, política,
comercial, acadêmica.

Gênero primário – não colocam o a o locutor e o interlocutor em uma


situação complexa de interação social. Pertencem a ordem do
cotidiano.

Gênero secundário – envolve situações mais elaboradas, com maior


comprometimento cultural e social. É alimentado constantemente pelo
gênero primário. São institucionalizados.

Estilo e gênero são indissociáveis, e o estilo é determinado pela


finalidade e objetivo do gênero.

Dialogismo:

O diálogo é visto como a relação histórica entre os enunciados. A língua


não é o discurso, o discurso se constrói entre a vida e a língua. O
diálogo é o interdiscurso, acionamento de memórias discursivas que eu
faço funcionar para construir um sentido. O diálogo não é
simplesmente uma relação imediata, mas uma relação histórica.

Todos os enunciados são dialógicos, pois fazem parte de relações


históricas.

29-08
- Não é só estrutura, nem só criatividade do falante.

Língua – qual é a relação com o social?

- é uma materialidade (aquilo que se pode perceber) que


só existe em relação com a ideologia – ordem da evidência: “tudo o que
organiza o simbólico da nossa existência”.

- Produz sentidos nas relações sociais.

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