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Introdução à Linguística: vol.

3 - fundamentos epistemológicos
Anna Christina Bentes e Fernanda Mussalim / Contexto

8. Virtudes e Vicissitudes do Cognitivismo

A Linguística Cognitiva é uma abordagem da linguagem perspectivada como


meio de conhecimento e em conexão com a experiência humana do mundo. As
unidades e as estruturas da linguagem são estudadas, não como se fossem
entidades autónomas, mas como manifestações de capacidades cognitivas gerais,
da organização conceptual, de princípios de categorização, de mecanismos de
processamento e da experiência cultural, social e individual.
São temas de especial interesse da Linguística Cognitiva os seguintes: as
características estruturais da categorização linguística (tais como prototipicidade,
polissemia, modelos cognitivos, metáfora e imagens mentais), os princípios
funcionais da organização linguística (iconicidade e naturalidade), a interface
conceptual entre sintaxe e semântica, a base pragmática e ligada à experiência da
linguagem-no-uso e a relação entre linguagem e pensamento (incluindo questões
sobre o relativismo e sobre os universais conceptuais).
Pela negação da tese da autonomia da linguagem (a linguagem como "sistema
autónomo" ou como "faculdade autónoma"), a linguística cognitiva opõe-se aos
dois paradigmas linguísticos anteriores (o estruturalismo e o gerativismo). O
estruturalismo linguístico, nas suas diferentes formas, entende e estuda a
linguagem como um sistema que se basta a si mesmo (com a sua própria estrutura,
os seus próprios princípios constitutivos, a sua própria dinâmica) e, por
conseguinte, o mundo que ela representa e o modo como através dela o
percebemos e conceptualizamos considera-os como aspectos "extra-linguísticos".
Por seu lado, a gramática gerativa (de Chomsky e seus discípulos) defende que a
faculdade da linguagem é uma componente autónoma da mente, específica e, em
princípio, independente de outras faculdades mentais; por conseguinte, o
conhecimento da linguagem é independente de outros tipos de conhecimento.
Consequentemente, a linguística cognitiva rejeita os postulados da linguística
moderna decorrentes do princípio de autonomia da linguagem: entre outros, a
separação entre conhecimento "semântico" (ou "linguístico") e conhecimento
"enciclopédico" (ou "extra-linguístico"), fundamentada no postulado da existência
de um nível estrutural ou sistémico de significação linguística (relativamente ao
qual se considera que se podem e devem definir e analisar as categorias
linguísticas), distinto do nível em que o conhecimento do mundo está associado às
formas linguísticas; o postulado saussureano da arbitrariedade do signo
linguístico; a afirmação da discrição e homogeneidade das categorias linguísticas; a
ideia de que a linguagem é gerada por regras lógicas e por traços semânticos
"objetivos"; a tese chomskyana da autonomia e da não-motivação semântica e
conceptual da sintaxe.
Relativamente à gramática gerativa — paradigma linguístico das últimas três
décadas — convém precisar que também ela é uma linguística cognitiva, na medida
em que o seu objeto de investigação é a linguagem como "sistema de
conhecimento" (Chomsky 1986: 24), como faculdade mental; também ela procura
estudar as estruturas mentais que constituem o conhecimento e também ela
reconhece que não pode haver conhecimento sem a existência de uma
representação mental, mediadora na relação epistemológica entre sujeito e objeto.
Mas há uma diferença essencial: a gramática gerativa interessa-se pelo
conhecimento da linguagem (tomando-a, portanto, não como meio, mas como

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objeto da relação epistemológica) e procura saber como é que esse conhecimento é
adquirido, ao passo que a linguística cognitiva interessa-se pelo conhecimento
através da linguagem e procura saber como é que a linguagem contribui para o
conhecimento do mundo. Quanto à questão da aquisição da linguagem, embora
ainda não tenha construído uma teoria explícita, a linguística cognitiva possui
elementos que lhe permitem rejeitar a tese gerativista de que a aquisição da
linguagem envolve mecanismos e condicionamentos que são específicos da
linguagem. Em particular, os estudos de linguistas cognitivistas que têm
demonstrado que a conceptualização de domínios abstratos é feita, geralmente, em
termos metafóricos a partir de domínios concretos e familiares (tais como o
domínio espacial) constituem um bom elemento de uma futura teoria não-
autonomista da aquisição da linguagem.
Ainda em oposição à gramática gerativa, a linguística cognitiva procura
demonstrar que os alegados fenómenos "formais" que estiveram no centro da
formação da teoria gerativa envolvem fatores semânticos e funcionais. Quer isto
dizer que para a linguística cognitiva a linguagem deve ser explicada em termos
semânticos e funcionais (perspectiva que ela partilha, aliás, com outras teorias
linguísticas pragmática e funcionalmente orientadas), e, portanto, uma sintaxe
formal e autónoma revela-se pouco adequada.
A linguística cognitiva é cognitiva no mesmo sentido que o são outras ciências
cognitivas (Psicologia Cognitiva, Neurociência, Inteligência Artificial,
Antropologia, Filosofia, etc.): também ela assume que a nossa interação com o
mundo é mediada por estruturas mentais. Mas é, por natureza, mais específica, já
que se ocupa unicamente da linguagem como um dos meios de conhecimento.

9. O Interacionismo no Campo Linguístico

O que é Interacionismo? Representa uma postura epistemológica, ou seja, um


conjunto de ideias construídas por diversos autores ao longo de um determinado
período de tempo, que entende a origem do conhecimento por meio da interação
do sujeito com o objeto ou com o meio em que vive.
O que é Interacionismo? Os dois principais teoricos do Interacionismo são
Jean Piaget e Lev Vygotsky.Vale ressaltar que, o pressuposto de que ambos são
interacionistas não pode mascarar o fato de que há divergência centrais entre os
dois autores que precisam ser explicitadas para que não se corra o risco de tornar
igual, o que, por essência, é diferente.
De acordo com Morato (2004), essa noção é essencial para se pensar o debate
internalismo X externalismo no campo da linguística, colaborando na compreensão
epistemológica das relações entre linguagem e exterioridade. Ela define o termo
como ação conjunta que coloca em cena dois ou mais indivíduos, sob certas
circunstâncias que em muito explicam seu próprio decurso (p. 316). Além disso, a
autora aponta que um dos desafios à apreensão da abordagem interacionista é a
ideia de que a relação entre interação e linguagem (ou entre interação e aquisição,
interação e comunicação, interação e cognição) não é necessariamente isomórfica
(p. 312).
Faraco (2005) compartilha a ideia de enfatizar o estudo sobre o termo
interação:

A interação e a linguagem na interação continuam recobertas por


aquilo que o filósofo Heidegger (2002) chamava de duplo

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incontornável: não podemos, pela sua relevância para a
compreensão das questões humanas, escapar de estudá-las (não
podemos contorná-las no sentido de desviar delas; e não dispomos
de qualquer teoria capaz de contorná-las (no sentido de traçar uma
linha teórica que as contenha). (FARACO, 2005, p. 214)

Um dos pontos principais é tentar estabelecer uma aproximação da noção de


interação e de interacionismo entre diversas vertentes. Essas vertentes que se
reconhecem interacionistas e que postulam em suas teorias a interação, ou, dito de
outra forma, “construir a interação entre as diferentes interações”. Na tentativa de
compreender um pouco mais sobre interação, e devido à importância do tema,
propomo-nos, então, a investigá-lo.
De acordo com Faraco (2005), a interação foi tema de estudos filosóficos no
século XVIII e começou a ser objeto de estudo a partir do século XX. Ele situa
como pioneiro neste estudo o pragmatista americano George Herbert Mead, na
psicologia social. É um teórico que concebe a linguagem como ação (e não como
estrutura) e o sujeito como efeito da interação.
Posteriormente, esse estudioso abriu caminho para a sociologia e a
antropologia. Mais tarde, a etnometodologia também adotou a interação como
tema de estudo e, a partir daí, as diferentes vertentes da análise da conversa que
dela se originaram. É possível elencar, ainda, a etnografia da comunicação e a
sociolinguística interacional.
Na linguística aplicada e em leituras da educação, encontramosreferência à
interação como co-operação, isto é, colaboração mútua entre professor e aluno, o
que equivale, em Richter (2008), à “relação de contratualidade”, no intuito de
motivar o processo de ensino-aprendizagem.
De modo semelhante, em Coracini (2005), encontramos a noção de interação
no contexto de sala de aula. No entanto, essa interação constitui-se não apenas
entre sujeitos, mas entre um sujeito e um texto, entre um sujeito e uma língua ou
um saber. Também são considerados fatores externos como equívoco, a
contradição, o imprevisto, o incidente, o conflito, que, segundo ela, constituem o
sujeito e as relações intersubjetivas. Para complementar, Gumperz (apud
CORACINI, 2005, p. 200) assegura que falar é interagir; mas, evidentemente, não
basta falar; é preciso falar com alguém e, para isso, fazemos uso de procedimentos
fáticos para nos assegurarmos da escuta do destinatário. Logo, notamos que a
definição de Gumperz traz uma concepção de interação na perspectiva
comunicacional. Isto porque aponta para a comunicação que se estabelece a partir
da linguagem entre dois ou mais sujeitos.
O autor buscava compreender as características específicas do homem através
do estudo da origem e do desenvolvimento da espécie humana. Por isso, considera
como processo diferenciador o surgimento do trabalho e a formação da sociedade
humana. Ele também buscava entender a relação do pensamento com a linguagem
e suas implicações no processo de desenvolvimento intelectual. Para este teórico, o
sujeito age sobre a realidade e interage com ela, construindo seus conhecimentos a
partir das relações intra e interpessoais. Assim, de acordo com este autor, é na
troca com outros sujeitos e consigo próprio que ele internaliza conhecimentos,
papéis e funções sociais.
Para Bakhtin/Volochinov (1988), a verdadeira natureza da linguagem é a
interação socioverbal. Nessa perspectiva, o homem é essencialmente social e a sua
linguagem é ideológica. Logo, essa concepção tem a linguagem primordialmente
como interação.

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Nesse sentido, percebemos alguns pontos convergentes na obra de Vygotsky e
de Bakhtin, porém não se pode afirmar que tenha havido um encontro na vida
desses dos dois autores. Mas Freitas (1997), em Bakhtin, dialogismo e construção
do sentido, escreve sobre a obra deles e salienta um dos pontos a que referimos.
Ela destaca que o outro é peça importante e indispensável de todo o processo
dialógico que permeia ambas as teorias.
Bronckart (2009, p. 13) tem como base a teoria desses dois autores,
entendendo as condutas humanas como ações situadas cujas propriedades
estruturais e funcionais são, antes de mais nada, um produto da socialização.
A palavra interacionismo originou-se de interação. De acordo com Morato
(2004), o interacionismo, no âmbito da linguística, marcou a metade do século XX
como uma reação das posições teóricas externalistas contra o psicologismo que
impregnava a ciência da linguagem naquela época. A mesma autora sustenta que
podem ser considerados interacionistas aqueles domínios da linguística que se
baseiam numa posição externalista sobre a linguagem. Entre essas vertentes, ela
destaca: a sociolinguística, a pragmática, a psicolinguística, a semântica
enunciativa, a análise da conversação, a linguística textual e a análise do discurso.
Pode-se afirmar que o termo partiu de uma conceituação ampla e se manteve
ampla. Sobre isso, Morato (2004) esclarece que é preciso situar o que se entende
por “linguagem” e por “social” em determinada construção teórica. Daí obtém-se a
base necessária para se identificar o tipo de interacionismo que se reivindica ou
anuncia. Dessa forma, entendemos que definir os limites entre um interacionismo
e outro é um terreno escorregadio, porque não é apenas a relação entre indivíduo e
sociedade, ou entre reflexão e ação, ou entre linguagem e cognição, ou entre
locutor e interlocutor que está em jogo, mas a forma como se entende interação e
como ela origina a vertente a se estudar. Em linhas gerais, essa abordagem coloca o
conhecimento sócio-culturalcognitivo que se constrói e se expressa nas interações
face a face como foco central de análise. Tal conhecimento está na base das
interpretações sobre a situação comunicativa, dos papéis desempenhados e dos
enunciados produzidos pelos participantes. (SCHIFFRIN, 1994 apud OLIVEIRA,
2009). Outra linha é a etnografia, a qual é constituída do estudo das formas
costumeiras de viver de um grupo particular de pessoas associadas de alguma
maneira. Segundo Paraná (2005), essa abordagem surgiu por volta do final do
século XIX e início do século XX, tendo como objetivo revelar o significado
cotidiano no qual as pessoas agem, assim como encontrar o significado das suas
ações. Uma informação relevante é que a etnografia assume o seu significado a
partir do interacionismo simbólico, que é uma das principais escolas de
pensamento da sociologia. A última abordagem é o Sócio-interacionismo ou
Interacionismo social; e sobre esta trataremos mais detalhadamente. Essa teoria
parte de um materialismo dialético, apoiando-se na concepção de um sujeito
interativo que elabora seus conhecimentos sobre os objetos, em um processo
mediado pelo outro. Assim, tal concepção entende que o conhecimento se dá a
partir das relações sociais, sendo produzido na intersubjetividade e marcado por
condições culturais, sociais e históricas.
Nesse sentido, Vygotsky considera que tudo nasce da interação com o outro, a
criança, antes de controlar o próprio comportamento, começa a controlar o
ambiente com a ajuda da fala. Esta é tão importante quanto a ação para atingir um
objetivo, de acordo com a perspectiva deste teórico. Ele postula que quanto mais
complexa é a ação exigida pela situação e menos direta a solução, maior é a
importância que a fala adquire na operação como um todo.

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O autor também destaca que essa unidade de percepção, fala e ação provoca a
internalização do campo visual. A partir disso, este teórico investigou a fala
egocêntrica de crianças envolvidas em atividades e concluiu que a fala egocêntrica
está ligada à fala social das crianças através de muitas formas de transição. De
acordo com o autor, primeiramente, a linguagem tem uma função interpessoal, à
medida que a criança recorre verbalmente ao adulto para resolver um problema.
Em seguida, a linguagem adquire uma função intrapessoal, no momento em que a
fala socializada é internalizada, a partir daí, as crianças passam a apelar a si
mesmas, além de realizar uso interpessoal da linguagem.
Então, para Vygotsky (1998), a história do processo de internalização da fala
social é também a história do intelecto prático das crianças. Ele postula que os
processos elementares são de origem biológica, enquanto as funções psicológicas
superiores são de origem sociocultural. E do entrelaçamento dessas duas linhas,
nasce a história do comportamento da criança, na concepção desse estudioso. Por
isso, Vygotsky (ibid.) considera a história natural do signo como estudo
fundamental para a história do desenvolvimento das funções psicológicas
superiores e concebe o uso de instrumentos e a fala humana como as raízes do
desenvolvimento.
A abordagem sociointeracionista exerce uma grande influência sobre o
quadro teórico que trataremos a seguir.
Em continuidade aos princípios do interacionismo social, Jean-Paul
Bronckart desenvolve o Interacionismo sociodiscursivo. Essa abordagem tem
muitos elementos em comum com a abordagem anterior, tanto que é considerada
um prolongamento dela, adotando três princípios gerais. De acordo com Bronckart
(2006, p. 9), o primeiro princípio defende que o problema da construção do
pensamento consciente humano deve ser tratado paralelamente ao da construção
do mundo dos fatos sociais e das obras culturais. É por isso que ele considera os
processos de socialização e individuação como vertentes indissociáveis do
desenvolvimento humano. O segundo princípio trata do questionamento das
Ciências Humanas, o qual deve apoiar-se na filosofia (de Aristóteles a Marx) e
preocupar-se ao mesmo tempo com questões de intervenção prática. O terceiro
princípio fundamenta-se nas problemáticas centrais de uma ciência do humano,
acreditando que elas implicam relações de interdependência entre os aspectos
psicológicos, cognitivos, sociais, culturais, linguísticos, e também os processos
evolutivos e históricos. No entanto, é necessário apontar o que diferencia uma
abordagem da outra. Sendo assim, Bronckart concebe a linguagem como
instrumento fundador e organizador de processos psicológicos superiores (como
percepção, cognição, emoções e sentimentos). Com isso, esclarece que a abordagem
do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) tem como unidades de análise a
linguagem, as condutas ativas e o pensamento consciente. Dos três aspectos
mencionados, a linguagem destaca-se como o elemento central na abordagem do
ISD e, por conseguinte, para uma ciência do humano. Inclusive, o ISD defende que
os signos da linguagem fazem parte da gênese da constituição da consciência.

10. Teoria do Discurso

A AD – Análise do Discurso é uma área da Linguística que tem como objeto


de estudo o discurso do locutor. O estudo deste campo de análise é amplo e visa à
sociedade como pesquisa. Segundo Althusser, seguidor da concepção marxista, a
linguagem se materializa por meio da ideologia. Fez uma releitura de Marx e parte
do pressuposto de que as ideologias têm existência material, portanto, devem ser

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estudadas como um conjunto de práticas materiais que produzem as relações de
produção. O aparelho repressivo do Estado (ARE) funciona como repressor das
instituições como escola e religião que se veem subordinadas a ele. O projeto da AD
se inscreve num objetivo político e a Linguística oferece meios para abordar a
política. Althusser designa um determinado momento histórico, um estado de
relações como aliança entre as classes sociais de uma comunidade, uma vez que
visa à definição de uma ciência da ideologia que não fosse ideológica. Diversos
teóricos das inúmeras áreas contribuíram para definir o vocábulo, ideologia, bem
como a finalidade da AD diante da intepretação dos discursos oriundos de vários
segmentos da sociedade.
Para o estruturalismo saussuriano, a autonomia da linguagem é unanime, não
é apreendida na sua relação com o mundo, mas na estrutura interna de um sistema
fechado sobre si mesmo. Na dicotomia de Saussure, a língua/ fala é concebida
como abstrata e sistêmica, de modo que difere da concepção de Pêcheux apesar de
se nortear através da dicotomia saussuriana. Entretanto, não concebe nem o
sujeito, nem os sentidos como individuais, mas como históricos e ideológicos. De
acordo com a concepção estruturalista, cada elemento adquire sua identidade fora
de si, por sua vez definem os elementos. Lacan faz uma releitura da teoria de Freud
a partir da descoberta do inconsciente como uma cadeia de significantes, pois o
sujeito sofre uma alteração substancial, uma vez que seu estatuto de homogênea
passa a ser questionado. Deste modo, o inconsciente é o lugar desconhecido, uma
vez que impera o discurso do pai, da família, da lei, entre outras. Relação que
define o sujeito e ganha identidade. Lacan define que o sujeito substancializado
não está onde é procurado, no consciente. Apoia-se na teoria de Jakobson por meio
da teoria da comunicação, uma vez que cria mecanismo que exemplifique um
sistema composto de elementos – remetente, destinatário, código, mensagem,
contexto, canal. Tais meios que forma um circuito comunicativo entre emissor e
receptor. O sujeito não é livre para dizer o que quer, mas é levado, sem que tenha
consciência do fato.
A especificidade da AD é o núcleo que se ocupa do estudo da língua como se
fosse apenas conjunto de regras, não considera a língua enquanto conjunto
histórico e social. A partir de gêneros discursivos, alguns elementos contidos nos
discursos serão analisados, tanto no âmbito gramatical, semântico. Entre outras
áreas capazes de refletir a língua como objeto de estudo.
Há o objetivo de explicar o modo que a AD se difere dos campos das ciências
humanas, entende-se que a palavra discurso observa o modo que a língua funciona.
Para entender a área da Linguística, Análise do Discurso, campos como o histórico,
antropológico, sociológico, cognitivo, entre outros falam sobre este campo. A
analista do discurso Sírio Possenti discorre neste capítulo com o objetivo de expor
aspectos da concepção de discurso, bem como a ótica da ruptura. O vocábulo
ruptura é compreendido no texto que há uma quebra com a ideologia à medida que
se instaura uma problemática diante da cientificidade. Ainda menciona cientistas
de campos distintos como uma linguística, liderada por Saussure, a psicanálise por
Freud e a Física de Copérnico.
A AD é uma teoria que tem a função de analisar conteúdo por meio da
filologia cuja função se deve a hermenêutica, portanto, da interpretação. O
rompimento da AD com a linguística reivindica uma semântica como um de seus
componentes que são rompidos com a AD. A filologia é considerada a mais difícil
arte de ler, pois o filólogo tem a função de conhecer a significação que é conservada
por meio da escrita. Quanto ao âmbito da ruptura, a análise do discurso não é anti-
linguística, pelo contrário, não há esta área sem a linguística, ela reconhece sua

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especificidade, mas limita o domínio, uma vez que não aceita uma palavra em seu
sentido óbvio, tem a finalidade de verificar o que ocorre nas entrelinhas, portanto,
implícito no discurso do emissor. Para a pragmática, a AD tem a intenção de se
desvencilhar deste campo, visto que para a pragmática o sujeito é consciente e
dotado de um saber e não desconhece um quadro social no interior do qual a
interlocução se dá. Como consequência desse rompimento, há a ruptura com outro
campo, a psicologia, pois a AD considera o sujeito quanto o discurso é afetado pelo
inconsciente e pela ideologia, concepção desconsiderada pela psicologia.
Para Análise do Discurso (AD) francesa, o texto não é uma unidade de análise,
uma vez que decorre decorre o fato de que cada texto é parte de uma cadeia. Teoria
que leva em consideração os conhecimentos conhecimentos prévios dos locutores e
interlocutor. No entanto, o sentido de uma palavra pode ser substituído substituído
por outra, no interior da FD (Formação Discursiva). No interdiscurso que é uma
das principais príncipais características da AD, há diversos nomes como: polifonia,
dialogismo, heterogeneidade, intertextualidade. O verbete “interdiscurso” é
entendido como um conjunto de unidades discursivas com as quais um discurso
entra em relação explícita ou implícita. Em suma, a AD rompe com a concepção de
sujeito uno, livre, este ramo da linguística depende das demais áreas, visto que não
é ciência, é o reconhecimento do interdiscurso do qual produz conhecimentos.
Diversas áreas contribuíram para definir ideologia. A Análise do Discurso
(AD) francesa tem contribuído por meio das ideias, crenças e valores que se
materializam no discurso e na língua/linguagem de forma geral. A ideologia se
apresenta como falsa consciência, ou seja, uma visão invertida da realidade, uma
vez que um determinado grupo tem a função de difundir ideias e valores através de
determinado seguimento social. Na filosofia a partir de Marx e Engels, este campo
desenvolveu a noção de ideologia e buscava refletir sobre o funcionamento social e
suas transformações históricas, de modo que o tipo de leitura dependia da leitura e
interpretação como fato social do interlocutor. Em analogia ao sujeito e aos fatos
sociais, a história é um desenvolvimento de ideias, de modo que a ideologia é
constituída pelo processo de afinidades sociais.
Para Émile Durkheim, a ideologia é considerada como o conhecimento da
sociedade, que é impregnado de subjetividade, diferente do científico. Segundo
Chauí, de acordo com a concepção marxista, tem o sujeito como participante do
processo social. O sujeito vê, reage diante dos fatos sociais de dominação e
subordinação. Outro filósofo contribui para definir o conceito de ideologia, ele
afirmou que as bases da teoria marxista de criação ideológica estão relacionadas
aos problemas de filosofia da linguagem, pois a palavra é um fenômeno ideológico,
uma vez que atua por analogias. Althusser demonstra o lugar das manifestações
das ideologias através dos aparelhos ideológicos de estado. Para Eagleton, o
filósofo afirma que a ideologia é uma questão de discurso e através da linguagem
surti efeitos discursivos concretos, por sua vez, a significação se volta para práticas
sociais. Já Pêcheux diz que as palavras recebem sentido da formação discursiva na
qual são produzidas e o discurso é reconhecido por meio da formação discursiva
que o domina e é considerado como sujeito.

11. Teoria Semiótica

• Teoria semiótica greimasiana é essencialmente uma teoria do texto.


• Estudos linguísticos estiveram por muito tempo circunscritos a questões do
âmbito da língua e da dimensão da frase.

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• Preocupações com a semântica, na década de limitações da Linguística
tornaram as 1960, insustentáveis.
• Semântica estrutural desenvolveu princípios e métodos para estudar o plano
do conteúdo, delimitado por Hjelmslev.
• Contribuições da foram indicar a pequenas, mas necessidade de romper as
barreiras entre a frase e o texto e o enunciado e a enunciação.
• Se a Semiótica tem por objeto o texto, dentro do âmbito da comunicação,
faz-se necessário definir o que é texto.
• Primeira definição de texto: um todo de sentido, objeto da comunicação
estabelecida entre um destinador e um destinatário.
• Primeira definição coloca o texto como objeto de significação. Para
desvendar essa significação, é preciso realizar uma análise interna e estrutural do
texto.
• Segunda definição: texto é um objeto de comunicação, cultural, inserido
numa sociedade e determinado por formações ideológicas.
• Segunda definição implica exame das condições sócio-históricas de
produção e recepção dos textos, remetendo a uma análise externa de seu conteúdo.
• Métodos de análise interno e externo são muitas redutores ou limitados,
vezes vistos como corruptores dos textos.
• Semiótica tem se esforçado para realizar a análise tanto da organização
interna do texto quanto dos mecanismos relacionados a sua enunciação.
• Texto estudado pela semiótica pode ser verbal, não verbal ou sincrético.
Diferentes possibilidades da manifestação textual tendem a convocar análises
especializadas em linguagens específicas, o que faz com que se perca a
possibilidade de comparação entre expressões distintas.
• Semiótica concebe plano do conteúdo como percurso gerativo do sentido.
• O percurso gerativo do sentido pode ser resumido em cinco apontamentos:
• 1) sua direção é sempre do mais simples e abstrato ao mais complexo e
concreto;
• 2) é dividido em três níveis, cada qual com sua própria gramática, mas
dependente dos demais;
• 3) o nível fundamental ou estrutura fundamental consiste no
estabelecimento de uma oposição semântica mínima;
• 4) o nível narrativo ou das estruturas narrativas é constituído a partir de um
sujeito, e estabelece os actantes narrativos e o desenvolvimento da narrativa;
• 5) o nível do discurso é aquele em que a estrutura narrativa é assumida pelo
sujeito da enunciação.

• Nível discursivo: • Actantes recebem revestimento figurativo. • Enunciados


narrativos são apresentados por instâncias de enunciação: personagens,
narradores, pontos de vista.
• Narrador é projetado no “eu”: efeito de subjetividade. Indeterminação do
sujeito no início. Investimento figurativo de dono de animal doméstico e de gatos
de rua.

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• Oposição fundamental, assumida como valores narrativos, é recoberta
figurativamente por temas e figuras.
• Dois actantes do enunciado elementar: sujeito e objeto, em relação
transitiva.
• Enunciados de estado: sujeito está em junção (conjunção ou disjunção) com
o objeto.
• Enunciados de fazer: transformação do estado do sujeito em relação ao
objeto por meio de alguma ação.
• Programa narrativo é ação principal: programa de base.
• Programa narrativo auxilia a ação principal: programa de uso.
• Programas narrativos que atuam sobre objetos valor representados por
categorias da competência do sujeito (querer, dever, saber, poder) são modais.
• Programas narrativos que atuam sobre objetos valor representados por
valores materiais ou imateriais são descritivos.
• Programas que têm atores diferentes para enunciados de fazer e de estado
são transitivos.
• Programas que têm o mesmo ator para enunciados de fazer e de estado são
reflexivos.
• Programas aquisitivos transitivos são programas de doação.
• Programas aquisitivos reflexivos são programas de apropriação.
• Programas privativos transitivos são programas de espoliação.
• Programas privativos reflexivos são programas de renúncia.
• Cada programa narrativo pressupõe um outro. A doação de alguns pode ser
espoliação de outros.
• Se dois sujeitos atuam em relação a um mesmo objeto-valor, e a apropriação
de um corresponde à espoliação do outro, e vice-versa, teremos uma relação sujeito
– antissujeito.
• Essa relação é muito comum nos contos populares e nas histórias de heróis.

12. Três Caminhos na Filosofia da Linguagem

Há três diferentes visões gerais da linguagem, que definem três paradigmas


hoje disponíveis para os estudos linguísticos – realismo, mentalismo e
pragmatismo.
A Filosofia (e também a Linguística) preocupa-se com o sentido.
As três tendências apontadas são ângulos não necessariamente
excludentes para pensar a questão do sentido.
O fenômeno da linguagem exige um tratamento complexo.
A Filosofia é uma proposta de busca dos sentidos alternativa em
relação ao mito: enquanto a primeira é marcada pelo discurso justificado
(passível de discussão), o segundo é pautado pela adesão (não questionável).
A Filosofia busca, a partir de um método racional, a “verdade”.

Os três caminhos em busca da “verdade”

SOFISMO
A realidade não pode ser apreendida, não pode ser significada.
O real é “aquilo que se manifesta para nós como tal no discurso” (p. 452).

O brasileiro já se acostumou a ligar o noticiário da TV para assistir


ao desfile de carros da Polícia Federal, de onde saem homens parrudos de

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colete negro para algemar cidadãos apanhados de surpresa em suas casas
e escritórios, além de carregar computadores e pilhas de documentos.
Promovidas com previsível espalhafato, essas ações costumam receber
nomes poéticos, como Operação Pasárgada, destinada a apurar fraudes em
prefeituras, ou sensacionalistas, como a Operação Sanguessuga, que
investigou desvios na compra de ambulâncias, ou mesmo de
inspiração infantil, como Pinóquio, em torno de crimes ambientais. [...]
Época, 14 jul. 2008, p. 41

Relativismo: é impossível “estabelecerem-se verdades universalmente válidas,


autônomas com relação às circunstâncias concretas, contingentes e variáveis da
experiência humana” (p. 450).

Não há lugar para o “ter sentido”, mas para o “fazer sentido”, que se
estabelece a partir de consensus três caminhos em busca da “verdade”

REALISMO
Há a verdade, que prevalece sobre o consenso.
No sofismo, há uma oposição entre aquilo que é dito e aquilo que não é dito;
não há espaço para a verdade (ou, melhor dizendo, a verdade é o consenso), pois a
linguagem só trata “do que é”.
No realismo, há oposição entre aquilo que é verdadeiro e aquilo que é falso –
é possível a linguagem dizer algo que não é.

A verdade ou a falsidade é verificada pela confirmação no real.


Exemplo:
VALDINAR (indivíduo);
ESTÁ MINISTRANDO UMA AULA (atividade);
ESTÁ ROUCO (estado).
Pelo mero fato de serem proferidos, o enunciados tratam daquilo que é.
Portanto, enunciados como (1) “Valdinar está ministrando uma aula” e
(2) “Valdinar está rouco” são, ambos, plausíveis

Contudo, ambos não são obrigatoriamente verdadeiros; apesar de suas partes


tratarem daquilo que é, a articulação entre elas pode não imitar fielmente a
realidade, como é o caso do enunciado (2).
Há um critério objetivo a ser considerado quanto à busca pelos sentidos: a
correspondência com o real, o qual reflete uma essência (ideal) que lhe é
subjacente.
A principal função da linguagem é, portanto, a nomenclatura: dar a cada
entidade o nome mais adequado que ela possa ter, para que se exprima uma
essência.
“As diferentes línguas humanas, se representam corretamente a realidade,
têm, a despeito de sua aparente variabilidade, a mesma estrutura conceptual
profunda” (p. 461)
Os três caminhos em busca da “verdade”

MENTALISMO
Realismo e mentalismo são primos carnais. A diferença reside no “tipo de
entidade extralinguística que se supõe em cada caso constituir o significado
das expressões” (p. 463).

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No mentalismo, entre a linguagem e o real, há a alma (ou a mente). O “mundo
das ideias” de Platão, onde se encontram as essências que orientam nossa
observação das coisas do mundo, é substituído pelo intelecto humano.
A mente humana é capaz de promover sentidos universais, pois filtra as
imperfeições decorrentes das percepções individuais.
O raciocínio é a poderosa ferramenta que orienta o conhecimento. A lógica
determina as formas de raciocínio “perfeitas”.

Todo cachorro é um animal.


Um pitbull é um cachorro.
Logo, o pitbull é um animal.

B está contido em A.
c pertence a B.
Logo, c pertence a A

Reflexo dos três paradigmas nas teorias e disciplinas da Linguística


O paradigma realista-mentalista foi hegemônico
Durante muitos séculos. No século XX, o realismo pode ser associado ao
Estruturalismo, enquanto o mentalismo ainda é o pilar do Gerativismo.
Todas as perspectivas calcadas na enunciação (que surgiram como
contraposição aos estruturalismos) privilegiam o paradigma sofista, chamado
modernamente de pragmático.

Reflexo dos três paradigmas nas teorias e disciplinas da Linguística


O paradigma realista-mentalista foi hegemônico
Durante muitos séculos. No século XX, o realismo pode ser associado ao
Estruturalismo, enquanto o mentalismo ainda é o pilar do Gerativismo.
Todas as perspectivas calcadas na enunciação (que surgiram como
contraposição aos estruturalismos) privilegiam o paradigma sofista, chamado
modernamente de pragmático.

Linguística = estudo da linguagem = estudo do sentido veiculado pela comunicação


para que serve a linguagem

apresentar a realidade
(objetivismo)

exprimir o pensamento
(mentalismo)

agir no mundo,
"influenciar" as pessoas
(perspectiva sociocultural)

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