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ESBOÇO DE UMA TEORIA POLIFÔNICA DA

ENUNCIAÇÃO
OSWALD DUCROT
OBJETIVO DO CAPÍTULO

Contestar a unicidade do sujeito falante


Bakhtin aborda tal temática, sobretudo ao analisar a produção da
literatura popular. Foco no texto ou na sequência de enunciados
A proposta de Ducrot é de desfazer a unicidade do enunciado.
Pressuposto: “um enunciado isolado faz ouvir uma única voz”
(p.161)

07/14/2021
07/14/2021
UM VISLUMBRE DE NÃO UNIVOCIDADE DO ENUNCIADOR

Ann Banfield (1979) discurso indireto livre como não sendo parte
do discurso relatado e tendo um sujeito que é diferente do autor do
enunciado – sujeito da consciência. Ex: Então Paula corria o mais
que podia para tentar resolver a situação. Logo a mim, logo a mim
isso tinha que acontecer! Ela não sabia se conseguiria chegar a
tempo e resolver aquela confusão. Tomara que eu consiga!

07/14/2021
DUAS INTERPRETAÇÕES

Só é possível que haja um sujeito da consciência


Quando há um sujeito da consciência não há um locutor
Locutor designado no enunciado por marcas de primeira pessoa
Produtor empírico não pode ser levado em conta apenas por um
descrição linguística

07/14/2021
A ESCOLHA PELA UNICIDADE

 Quando há em um enunciado o locutor (marcas de primeira pessoa) e um


ponto de vista, a autora descarta essas retomadas, classificando como
discurso relatado, como em: “Ah, eu sou um imbecil, muito bem, você
vai ver...”
 “não se pode, em um enunciado que se apresenta como próprio, exprimir
um ponto de vista que não seja o próprio”

07/14/2021
DEFINIÇÕES

 Pragmática linguística – “dar conta do que, segundo o enunciado, é feito


pela fala [...] descrever as imagens de enunciação que são veiculadas pelo
enunciado” (p. 164).
 Frase - objeto teórico – objeto da gramática
 Enunciado – autonomia relativa (coesão e independência). Exs: Pedro
está aqui. Coma para viver! – Fragmento do discurso

07/14/2021
COESÃO E
INDEPENDÊNCIA

07/14/2021
Segmentar em texto uma pluralidade
TEXTO de enunciados sucessivos
Texto é um discurso que se supõe
objeto de uma única escolha, e cujo
fim, por exemplo, já é previsto pelo
autor no momento em que redige o
começo (DUCROT, 1987, p.166)

07/14/2021
 Entidade observável – Enunciado
FRASE E  Entidade teórica – Frase
ENUNCIADO
 Diferença metodológica
 “Fazer a gramática de uma língua é
especificar e caracterizar as frases
subjacentes aos enunciados realizados
através desta língua”. (p. 167)
 Ex: página 167-168

07/14/2021
Atividade psico-fisiológica implicada
ENUNCIAÇÃO na produção de um enunciado
3 acepções Produto de atividade do sujeito
falante = enunciado
Acontecimento constituído pelo
aparecimento de um enunciado.
Realização de um enunciado

07/14/2021
 Significação – caracterizar semanticamente uma
SIGNIFICAÇÃO E frase (
SENTIDO  Sentido – caracterização semântica do enunciado
(observável). Um enunciado é suscetível a tais
interpretações
 Sentido significação da frase + situação de discurso
 Diferença de estatuto metodológico e de natureza
 Ex: O tempo está bom
 Sentido – descrição da enunciação

07/14/2021
 Um enunciado que serve para realizar um ato
ilocutário A tem por sentido indicar que o sujeito
falante realiza o ato A por meio deste enunciado (p.
SENTIDO
172)
Representação da enunciação:  “[...] interpretar uma produção linguística consiste,
1) Ato ilocutário
entre outras coisas, em reconhecer nela atos, e que
2) Argumentação
este reconhecimento se faz atribuindo ao enunciado
3) Frases exclamativas
um sentido, que é um conjunto de indicações sobre
a enunciação”. (p. 173)
 Ex: A ganha quase X cruzados por mês –
argumentação

07/14/2021
 Frases exclamativas (p.175)
SENTIDO  Exs: Pedro é inteligente
Representação da enunciação:  Como Pedro é inteligente !
1) Ato ilocutário
2) Argumentação
 Interjeições que funcionam como resposta
3) Frases exclamativas – enunciado (xiii)
 Interjeições que qualificam a enunciação
por meio de um enunciado (ah!)

07/14/2021
 Sujeito:
 Dotado de toda a atividade psico-
“O” SUJEITO
fisiológica necessária a produção do
A unicidade da enunciação
enunciado
 Ser autor, a origem dos atos ilocutórios
realizados na produção de um enunciado
 Ser designado em um enunciado pelas
marcas da primeira pessoa

07/14/2021
 O enunciador (do eu digo aqui – ego,hic,
NÃO UNICIDADE nunc) não é assimilável ao locutor
DA ENUNCIAÇÃO
 Exs: Na semana passada, eu estava em
Lyon
 “Ah, eu sou um imbecil, muito bem, você
não perde por esperar”
 P.181

07/14/2021
 Locutores – o plural se refere a uma pluralidade de
LOCUTORES E
responsáveis distintos e irredutíveis. No sentido do
ENUNCIADORES
enunciado apresentado como responsável. – eu e marcas de
primeira pessoa.
 Locutor # produtor empírico Ex. abaixo assinado
 Ao assinar torno-me o locutor
 Enunciados históricos – não atribuem a um locutor a
responsabilidade de sua enunciação
 Se Pedro diz “João me disse: eu virei” – dois locutores

07/14/2021
 Informa um discurso realizado
 Contém termos de um discurso suscetível de ser
RED realizado por um locutor diferente daquele que faz o
relato
Relato em Estilo Direto
 No RED há as palavras produzidas pela pessoa de
quem se quer conhecer o discurso.
 Classificado frequentemente como dupla enunciação
 Apresentação da enunciação como dupla
 Ex: Pedro disse: “estou contente” – dois locutores

07/14/2021
 Enunciação – “ação de um sujeito único falante, mas a
imagem que o enunciado dá dela é de troca, de um
diálogo, ou ainda de uma hierarquia das falas” (p.187)
RED
 Locutor – ficção discursiva
 Sujeito falante – é um elemento da experiência
 O discurso realizado não precisa ser uma reprodução
literal
 “A diferença entre estilo direto e indireto não é que o
primeiro daria a conhecer a forma, o segundo, só o
conteúdo” (p. 187)

07/14/2021
 L – responsável pela enunciação
 λ – locutor enquanto ser no mundo. “pessoa completa” –
LOCUTOR E SER NO
entre outras propriedades é origem do enunciado
MUNDO λ
 Nenhum dos dois equivale ao ser no mundo. L e λ são seres
do discurso
 Uso das interjeições – se atribui o sentimento a L e a λ são
atribuídos os enunciados declarativos
 O pronome eu designa λ
 Ethos – L
 O que o orador poderia dizer de si, enquanto objeto da
enunciação - λ

07/14/2021
 Questiona o valor de ato de certos performativos
explícitos, como o do verbo desejar. Distingue a
L - λ diferença entre ato e a descrição psicológica desse
Performativos explícitos desejo por meio das categorias L e λ .
 Eu desejo
 Ordem psicológica - λ
 O ato de desejar não existe senão na fala em que
se realiza - L. L realiza o ato de desejar
afirmando que λ deseja

07/14/2021
 Eu não estou bem
 Eu não estou bem: Não creia que você vai me
comover com isso
 Desdobramento do locutor
POLIFONIA
 Enunciadores – vozes que não são de um locutor
 Enunciador está para o locutor assim como o
personagem está para o autor
 O ator x – sujeito falante
 Um primeiro locutor – interprete que pode dizer
eu enquanto titular deste papel
 Um segundo locutor – personagem vivida pelo
interprete - se designa igualmente como eu
07/14/2021
 Parte de Genette (1972)
 Locutor = narrador
LOCUTOR E
 Autor =sujeito empírico
ENUNCIADOR
 Enunciador – centro de perspectiva (pessoa de cujo ponto de
vista são apresentados os acontecimentos)
 Narrador é quem fala
 Centros de perspectiva – é quem vê
 Ex : Em busca do tempo perdido
 “Por fim, o navio partiu; e as duas margens, cobertas de
lojas, de estaleiros e de fábricas, desenrolaram-se como duas
largas fitas”.

07/14/2021
 Ironia
 “ Vocês veem, Pedro não veio me ver”
 Locutor- expresso pelas marcas da primeira
pessoa
ENUNCIADOR
 Enunciador – alocutário
 “meu teckel é um antigo São-Bernardo” –
Locutor dessa enunciação e o enunciador que se
expressa nesta enunciação
 Enunciador – pode ser o alocutário ou alguém
diferente
 Vocês veem bem, está chovendo – L e λ
 Na ironia, o locutor não assume nenhuma das
posições expressas em seu enunciado.
07/14/2021
 A fala permite ironia, mas essa figura pode ser lida como
uma subversão da língua.
IRONIA  Negação – Pedro não é gentil
 E1 – Pedro é gentil
 E2 – assimilado ao locutor – Pedro não é gentil
 Negação – choque entre duas posições antagônicas, uma
positiva exposta por E1 e outra negativa, por E2
 Não haveria na afirmação também uma negativa embutida?
 Pedro não é gentil, ao contrário é insuportável

07/14/2021
 Metalinguística – contradiz os próprios termos
de uma fala a qual se opõe. Um enunciado
NEGAÇÃO negativo responsabiliza um locutor positivo
correspondente: Pedro mão parou de fumar; de
fato ele nunca fumou na sua vida”
 Polêmico – Pedro parou de fumar – E1 e E2
 Negação descritiva – descreve um estado de
coisas. Não há nenhuma nuvem no céu.
 Expressões de polaridade negativa – marcas de
um ponto de vista rejeitado.

07/14/2021
 Palavras que expressam negação por si só. Fulano não fez grande
coisa – Pourtant
 Desdobramento de locutor e enunciador
NEGAÇÃO  Ironia com negação
 Você vê, não terminei o artigo a tempo
 E1 – Enunciador identificado ao locutor que prevê a conclusão do
artigo o prazo
 E2 – enunciador que pressupõe a não conclusão do artigo – coloca
em dúvida (N)
 Outra possibilidade
 E1 – Z
 E2 – N (ligado a E0) – não há locutor

07/14/2021
ATO PRIMITIVO E
DERIVADO Primitivo – assimilação do
locutor e do enunciador
Derivado – enunciadores com
suas atitudes

07/14/2021

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